Vigotsky e a deficiência - rosana_borges

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃOROSANA STEVANATO BORGES A DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA DE VYGOTSKY CIANORTE 2010 ROSANA STEVANATO BORGES A DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA DE VYGOTSKY Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá – CRC, como requisito parcial para a obtenção de licenciatura plena. Orientadora: Profª. Ms. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar. CIANORTE 2010 Termo de aprovação ROSANA STEVANATO BORGES A DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA DE VYGOTSKY Trabalho apresentado como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, para a apreciação da seguinte banca examinadora: Aprovado em ____/____/____ _______________________________________ Profª. Ms. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar PROFESSORA ORIENTADORA ________________________________ Profª. Drª. Janira Siqueira Camargo (DTP/UEM) ________________________________________ Prof. Drª Sheila Maria Rosin (DTP/UEM) Cianorte 2010 A Deus, Senhor da vida, por ter aberto as portas e mostrado o caminho. Quem me deu força nos momentos mais difíceis. . mesmo quando o caminho parecia árduo demais. Em especial à Maria Luíza Batista e à Márcia Regina Paiva. que sempre me incentivou. ao longo destes quatro anos. contribuíram para a conclusão deste trabalho. tendo um olhar especial diante das minhas conquistas. direta ou indiretamente. A todos os amigos que. que me ajudaram durante as pesquisas. contribuíram para a minha formação acadêmica. Gizeli Ribeiro de Alencar. Ao meu pai. À minha mãe. em especial a minhas amigas Ednélia Francisco dos Santos e Simone Oliveira Maia. fornecendo materiais para estudo.AGRADECIMENTOS A Deus. Ms. competência e pelo incentivo constante. Aos meus professores da Universidade Estadual de Maringá que. disponibilidade. por todas as maravilhas que colocou em minha vida. Aos funcionários da Universidade Estadual de Maringá. Iluminou-me com sua sabedoria nos momentos de dúvidas. À minha orientadora Profª. pela paciência. que tanto me apoiou nas horas mais difíceis. que me acompanharam durante o período de vida acadêmica. . Prática educativa. de visão. O texto se dividirá em quatro eixos. em tempos de inclusão. a obra de Fundamentos de Defectologia e os respectivos processos de compensação que podem ocorrer junto à pessoa com deficiência. necessariamente. Seus pressupostos têm permitido avanços nos conhecimentos e nas derivações propositivas para a educação especial inclusiva. Uma das perspectivas que tem contribuído para a interdependência entre os termos possibilidades e responsabilidades é a abordagem histórico-cultural. No campo da educação para pessoas com deficiência. Por fim concluímos que o educador melhor direcionará a sua prática educativa se conhecer e entender os conceitos de deficiência biológica e social. assim como o conceito de compensação. Assim. a educação especial no Brasil. Tendo em conta que a formação da criança se dá. o objetivo deste estudo é identificar as contribuições dos pressupostos histórico-culturais vygotskianos para a educação de pessoas com necessidades especiais. transtornos emocionais e de conduta. Vygotsky e sua trajetória intelectual com vista à compreensão do processo de desenvolvimento do ser humano. de audição. deficiências múltiplas. a forma de conceber o meio e o educando com necessidades especiais devem ser compatíveis com este princípio.RESUMO É sabido que a educação especial é destinada a sujeitos que possuem algum tipo de deficiência intelectual. numa realidade social. Palavras-Chave: Deficiência. a literatura tem apontado para as possibilidades de desenvolvimento desses educandos e a responsabilidade do meio social nesse processo. sendo eles: a transição histórica da educação especial à inclusão. Compensação. ...SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................42 REFERÊNCIAS................................................................................................22 4 VYGOTSKY – PARA ALÉM DE SEU TEMPO...........................................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................11 2 DA EDUCAÇÃO ESPECIAL À INCLUSÃO...................1 O Desenvolvimento da Criança Deficiente............................................................................45 .............................................................................................29 5 A DEFICIÊNCIA NA COLETÂNEA FUNDAMENTOS DE DEFECTOLOGIA..................................................................25 4...................................................................1 Defeitos Primário e Secundário..13 3 EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL.....................................31 5......................... a forma de conceber o meio e o educando com necessidades especiais deve ser compatível com este princípio. o objetivo deste estudo é identificar as contribuições dos pressupostos históricos culturais vygotskianos para a educação de pessoas com necessidades especiais. Partimos da hipótese de que o educador melhor direcionará sua prática educativa se conhecer e entender os conceitos de deficiência biológica e social. motivou-nos a buscar mais subsídios para uma futura prática educativa. a deficiência intelectual. Todavia. como os pressupostos históricos e culturais que podem respaldar essas práticas pedagógicas específicas. No campo da educação para pessoas com deficiências.1 INTRODUÇÃO Durante o Curso de Pedagogia. Uma das perspectivas teóricas que tem contribuído para a interdependência entre os termos possibilidade e responsabilidade é a abordagem histórico cultural. assim como o conceito de compensação. Tendo em conta que a formação da criança se dá. na qual “poucos” possuem muito e “muitos” possuem pouco. portanto. Entre eles estão os inúmeros aspectos e conhecimentos que envolvem o processo de desenvolvimento do ser humano. ou seja. Assim. portanto. de audição. a literatura tem apontado para as possibilidades de desenvolvimento desses educandos e a responsabilidade do meio social nesse processo. deficiências múltiplas. Trata-se. Seus pressupostos têm permitido avanços nos conhecimentos e nas derivações propositivas para a educação especial e inclusiva. de uma pesquisa de cunho bibliográfico. em uma realidade social. ela não pode e não deve ser concebida como uma atividade deslocada e neutra. indubitavelmente. em tempos de discussão sobre a inclusão. as investigações e experiências voltadas para esta área ainda suscitam. em uma sociedade regida pelo capital. A educação especial e inclusiva. Suas bases históricas. de visão. não ocorre fora de um contexto sócio-histórico. foram estudados vários conhecimentos científicos. transtornos emocionais e de conduta. dos quais foi possível nos apropriar de alguns em maior proporção e outros em menor. estão correlacionadas às características do sistema social em que estamos inseridos. tendo por base a segregação e a exclusão. inúmeras questões que merecem ser levantadas e debatidas no campo educacional. É sabido que a educação especial é destinada a pessoas que possuem algum tipo de deficiência intelectual. . como prática educativa. e um em especial. necessariamente. O segundo trata sobre a educação especial no Brasil. as considerações finais. Por fim.Para melhor encaminhamento didático. o texto foi dividido em quatro eixos. por sua vez. Já o terceiro eixo faz referência a Vygotsky e sua trajetória intelectual com vista à compreensão do processo de desenvolvimento do ser humano. aborda a obra Fundamentos de Defectologia e os respectivos processos de compensação que podem ocorrer junto à pessoa com deficiência. No primeiro eixo. O quarto eixo. . é abordada a transição histórica da educação especial à inclusão. o homem do povo era valorizado somente quando a nobreza determinava. compreender como a sociedade. como: saúde. Essas pessoas chegam aos dias de hoje com perspectivas de construírem sua própria trajetória. O extermínio. possibilitou. A pessoa diferente. lazer. cuja função era divertir os senhores e hóspedes. mas que eram utilizados anteriormente. são considerados incorretos. é necessário conhecer e refletir sobre o contexto histórico. Os deficientes passaram a ser acolhidos por instituições religiosas. as sociedades têm demonstrado dificuldades para lidar com as diferenças entre as pessoas e aceitar as suas deficiências. Cumpre frisar que terminologias como deficiência. educação. na atualidade. com direitos e deveres como todos os cidadãos. Em decorrência dessa postura social. caminhando. participando dos diferentes segmentos da sociedade. portador de deficiência. eventualmente. portador de necessidades especiais são oriundas do século XX. na busca da superação de antigas concepções e ações. variando a forma de conceber e lidar com a deficiência ao longo dos séculos. era praticamente exterminada por meio do abandono. etnias. Essa valorização era associada a aspectos como características pessoais ou utilidade prática. Na Antiguidade. trabalho. segundo Mendes (1996). . assumindo a condição de filhos de Deus. em função das ideias cristãs. em todas as culturas. na história da educação especial. à medida que foi se transformando. e eram vistos como doentes. nesse contexto. tem se evidenciado muito lentamente a transposição de uma cultura segregacionista para uma cultura integradora. níveis sociais e econômicos. sendo assim. Mais que isto. com algum tipo de limitações funcionais e necessidades diferenciadas. mediante ações humanas e políticas. Com o surgimento do cristianismo na Idade Média. Encaminhamento diferente deste ocorria quando essas pessoas eram utilizadas como bobos ou palhaços. as pessoas com deficiências foram reconhecidas como portadoras de alma. poderemos fazer uso de termos que. na atualidade. No decorrer da história da humanidade. inválidos e incapazes.2 DA EDUCAÇÃO ESPECIAL À INCLUSÃO Para compreender os preconceitos que a sociedade teve e tem em relação à deficiência. para o contexto de escola inclusiva. que as pessoas com necessidades especiais obtivessem o atendimento devido para suprir as suas necessidades básicas de vida. Discordantes da igreja passaram a se manifestar cada vez mais ampla e impetuosamente. no período medieval. 2005. a . Assim como na Antiguidade. era tratada por meio da alquimia. da magia e da astrologia. as duas classes sociais nele envolvidas. Segundo Aranha (2005). percebe-se que várias foram as mudanças nesse período tanto em termos das estruturas social.. Desta forma. p. 9). Com a formação dos estados modernos e a consequente divisão do trabalho. nesse período. foi-se instalando uma situação generalizada de abuso e de manifestação de inconsistência entre o discurso religioso e as ações do clero. em lugar da aldeia. Dado o poder adquirido pela igreja católica no decorrer dos anos. consequentemente. passaram a viver com a compra e venda da força de trabalho respectivamente. contudo. etc. como material de exposição. evidenciando momentos de tensão. ou seja.] (PESSOTTI. entendida como uma besta demoníaca quando lhe vem a faltar a razão ou ajuda divina [. culminando com a implantação de uma nova forma de produção. iniciou-se um período de perseguição.. não alterou a visão sobre a deficiência. Os documentos orientadores da igreja conotavam ameaças e perigos também às pessoas com deficiência. como bobos da corte.não mais era admissível. Com os avanços científicos ocorridos no século XVII e. o capitalismo mercantil. ou seja. caça e extermínio de seus dissidentes. o da Inquisição da Igreja Católica e da Reforma Protestante.” (ARANHA. Contudo.. A hegemonia religiosa deixou de imperar a partir da revolução burguesa no século XVI. porque repousava em uma Visão pessimista do homem. para sua sobrevivência. 1984. esta passou a ser considerada de natureza religiosa. resultando na Reforma Protestante. a disseminação de tal processo passou a colocar em risco o poder político e econômico da igreja. defeituosas ou mentalmente afetadas eram ignoradas e deixadas à própria sorte. as pessoas doentes. 5-6). os donos de meios de produção e os operários..] expiador de culpa alheias. “alguns continuavam a ser “aproveitados” como fonte de diversão. A deficiência. evidencia-se uma concepção metafísica da deficiência. dois processos se instalaram e se sucederam. como um paraíso [. a vingança celeste. situação que culminou em cisão dentro da própria igreja. da boa vontade e da caridade humana. Esse processo. ou um aplacador da cólera divina a receber. Na tentativa de se proteger das manifestações. dependendo. política e econômica da sociedade como nas concepções filosóficas assumidas na leitura e análise sobre a realidade. p. contudo. predominava a institucionalização1 realizada em asilos. hospitais e residências clínicas como locais de educação especial. ampliou-se a compreensão da deficiência. mitos e preconceitos sobre esta questão. de acordo com Pessotti (1984). vão delineando a etiologia. o segundo trata-se paradigma de serviço e o terceiro o de suporte. sendo diagnosticada. fez com que as famílias buscassem meios para criar escolas especiais. de causas naturais. segundo Aranha (2005). era mais interessante o discurso da autonomia e da produtividade. A seguir pontuaremos três paradigmas que irão contextualizar a relação da sociedade com a parcela da população constituída pelas pessoas com deficiência: o primeiro refere-se ao paradigma de institucionalização. o século XX alimentou todo tipo de crença. para o sistema. devido à impossibilidade de acesso às escolas comuns. além disso. a deficiência começou a ser concebida e analisada como resultante de fatores naturais e não mais espirituais. conventos. a tese do desenvolvimento por meio de estimulação foi encaminhada para as ações de ensino. associada a outras áreas de conhecimento. Dentre os fatores que subsidiaram essas críticas. os direitos das minorias. dos deficientes. mas de forma lenta. hospitais psiquiátricos. como resultante de natureza orgânica. podemos citar a reflexão sobre os direitos humanos e. O paradigma de institucionalização. Neste contexto. Desta forma. O custo para manter os deficientes nas instituições. Somente a partir do século XVIII. que permanecera estagnada por mais de 500 anos. frequentemente situadas em locais distantes de suas famílias. 1 . a partir de então. do Institucionalização: retiravam-se as pessoas deficientes de suas comunidades de origem e eram mantidas em instituições-residenciais segregadas ou escolas especiais. aumentar a produção e a diminuição do custo e do ônus populacional. O uso de escolas. Outro aspecto salutar referese aos interesses do sistema capitalista. ou seja. na improdutividade e na condição crônica era demasiadamente alto. Segundo Aranha (2005) a evolução. a pessoa com deficiência ainda era concebida como um fardo para a sociedade. o funcionamento e o tratamento nessa área. produção e sistematização de novos conhecimentos da medicina sobre a deficiência. Conforme Aranha (2005). dentre outros. mais especificamente. a partir do século XX. recebeu críticas severas quanto à sua inadequação e ineficiência no que diz respeito à preparação ou recuperação dos deficientes para a vida em sociedade. ou seja.evolução da medicina. integrada ao convívio em sociedade. Nesse sentido. Estes aspectos específicos associados aos interesses de natureza políticoadministrativa favoreceram a reformulação de idéias e o estabelecimento de novas práticas no trato da deficiência. tornava-se necessária a efetivação de mudanças na comunidade. nos espaços físicos ou nas práticas sociais. então. o surgimento de um movimento a favor da desinstitucionalização teve como foco o ideário de educar ou de educação em ambientes menos restritos. Criou-se o conceito de integração. Aranha (2005). Aranha (2005) diz que na fase de integração. embora. Este se efetivou nas escolas especiais.2005). Como decorrência da mudança de mentalidade. aos demais cidadãos. integrar significava localizar no sujeito o alvo da mudança. duas formas de atendimento às pessoas com necessidades especiais coexistiam: as classes especiais para atender aos menos prejudicados e as escolas especiais para atender aos casos considerados mais graves. de forma que esta pudesse vir a se assemelhar. para tanto. Pretendia-se que os alunos com necessidades especiais alcançassem um nível educacional pré-estabelecido antes de frequentar a educação comum. Desta forma. procurando ajudá-la a adquirir condições para conviver com os padrões da vida cotidiana no nível mais próximo possível do normal. poder ser inserida. o mais possível. Esse modelo de atenção à pessoa com deficiência era denominado de Paradigma de Serviço. Parte dessas críticas era oriunda das . nas entidades assistencialistas e nos centros de reabilitação ( Aranha. Assim. dois novos conceitos começaram a circular no debate social: normalização e desinstitucionalização. afirma que o debate baseado na ideologia da normalização defendia a necessidade de inserir a pessoa com necessidades educacionais especiais na sociedade. O Paradigma de Serviço enfrentou várias críticas provenientes da academia científica e das próprias pessoas com deficiência que já se encontravam organizadas em associações e outros órgãos de representação.Para esta autora. Entendia-se que a comunidade tinha que se reorganizar para oferecer às pessoas com necessidades educacionais especiais os serviços e os recursos de que necessitassem para viabilizar as modificações que as tornassem o mais “normal” possível. A fase de integração pouco exigia da sociedade em termos de mudanças de atitudes. para. que se referia à necessidade de modificar “a pessoa” com necessidades educacionais especiais. a ideia de normalização começou a perder força (Aranha. o qual pode ser social.dificuldades encontradas no processo de “normalização” da pessoa com deficiência e outra em relação à expectativa de que a pessoa com deficiência se assemelhasse ao não deficiente. Esta concepção é denominada inclusão (Aranha. Como vimos no decorrer do trabalho no século XX. Em função desses debates.2005). 2005). caberia à sociedade se reorganizar de forma a garantir o acesso de todos os cidadãos a tudo o que os constitui e os caracteriza independentemente das peculiaridades individuais. intensificava-se o debate de ideias acerca da deficiência e da relação da sociedade com as pessoas com deficiência. O diferencial entre o Paradigma de Serviço e o Paradigma de Suporte repousa no fato de o segundo prevê intervenções nos processos de desenvolvimento do sujeito e no reajuste da realidade social. Está comprovado que o convívio com a diversidade proporciona à criança com necessidades educacionais especiais possibilidades de desenvolvimento acadêmico e social. e como se ser diferente fosse razão para decretar seu menor valor enquanto ser humano e ser social. Na educação. chegando ao século XXI com o direito de viver e conviver em comunidade. foi estabelecido o terceiro paradigma. ocorreram avanços significativos em relação às pessoas com necessidades educacionais especiais. Aliado a esse processo. De acordo com Aranha (2005). a opção política pela construção de um sistema educacional inclusivo vem coroar um movimento para assegurar a todos os cidadãos a possibilidade de aprender a administrar a convivência digna e respeitosa numa sociedade complexa e diversificada. econômico. Proporciona também para alunos e professores. com os mesmos direitos de determinação e de uso das oportunidades na sociedade independentemente do tipo e do grau de comprometimento que apresente. por conseguinte. como se fosse possível ao homem “ser igual”. Para garantir tais circunstâncias e. favorecer a construção do processo de inclusão social. físico e instrumental. Com base nesse preceito. ser considerado um cidadão como qualquer outro. com ou sem necessidades educacionais . denominado Paradigma de Suporte. desenvolveu-se o processo de disponibilização de suporte. ante o fundamento de que as pessoas com deficiência necessitavam de serviços de avaliação e de capacitação. Segundo Aranha (2005). Este paradigma se caracteriza pelo pressuposto de que a pessoa com deficiência tem direito à convivência não segregada e ao acesso imediato e contínuo aos recursos como os demais cidadãos. a inclusão envolve ações junto à pessoa com necessidades educacionais especiais e ações junto à comunidade. 1). assumiu o compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no país. econômico e cultural. próspero e ambientalmente mais puro. 8-9). a Convenção de Guatemala. no mundo inteiro”. sadio. a Conferência Mundial sobre Educação para Todos. de cor. de nascimento ou qualquer outra situação” (Art. a uma vida digna. esta Declaração assegura às pessoas com deficiência os mesmos direitos à liberdade. A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. de língua. estadual e federal. de religião. que resultou na Declaração de Salamanca (BRASIL.]” (Art. na Tailândia. nomeadamente de raça. O Brasil. A Conferência Mundial sobre Educação para Todos (Brasil. a tolerância e a cooperação internacional. 1997. e que. favoreça o progresso social.especiais. a inclusão está nos centro das discussões. Atualmente. de opinião política ou outra. Em relação às políticas públicas. ao mesmo tempo. entre os quais destacamos a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU. De maneira geral. ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da comunidade. realizada pela UNESCO. Declaram também que a educação é de fundamental importância para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades. sendo um elemento que pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro.. de fortuna. de sexo. teve como objetivo discutir a atenção educacional aos alunos . na qual foi proclamada a Declaração de Jomtien.] sem distinção alguma.. 1990) foi realizada em Jomtien. Nesta Declaração. orientada por documentos que fundamentam nossas políticas. E complementa: “[. aspectos fundamentais para a efetivação da democracia e da cidadania.. 1948) reconhece que “todos os seres humanos nascem livres e iguais. de origem nacional ou social. à educação fundamental. tem criado instrumentos norteadores para a ação educacional e documentos para apoiar a construção de um sistema educacional inclusivo nas diferentes esferas públicas: municipal.2). Para cumprir com este compromisso. os países lembram que “a educação é um direito fundamental de todos. em dignidade e direitos [. planos e propostas educacionais. vários foram os acontecimentos mundiais que propiciaram as mudanças e avanços na forma de tratar e abordar as deficiências. Conferência sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e qualidade.. ao assinar a Declaração de Jomtien. uma prática saudável e educativa da convivência na diversidade e da administração das diferenças no exercício das relações interpessoais. p. No artigo 208. uma vez que a expressão evita os efeitos negativos daquelas utilizadas no contexto educacional. Nesta Declaração. sem preconceito de origem. No âmbito nacional. emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano”. legisla a favor da inclusão do aluno .]”.com necessidades educacionais especiais. Este artigo evidencia-se importante no combate à segregação. física. tais como: excepcionais. construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos [. inciso III. por meio da Constituição Federal (BRASIL.. reafirmou que “as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos. sexo. o compromisso assumido pelo Brasil se fez presente nas políticas públicas. 2010). inclusive o de não ser submetido à discriminação com base na deficiência. inicialmente. exigindo essas mudanças substanciais na forma de abordar as deficiências. inciso IV. psíquica e sensorial. 3º inciso IV: “promover o bem de todos. No artigo 205. Esta política não faz uma reformulação das práticas educacionais regulares para que se contemple a aprendizagem da criança com necessidades especiais no ensino comum.. Entende que as escolas “constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias. Nesse aspecto. idade e quaisquer outras formas de discriminação”. garante atendimento educacional para todos. Outros aspectos são especificados no decorrer do documento.. também denominada Convenção de Guatemala (Brasil. pontua o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino”. na qual importantes medidas constitucionais foram estabelecidas em favor dos direito das pessoas com deficiência. que a elas devem se adequar [. mantém a responsabilidade da educação desses alunos para as escolas de educação especial. cor. Em seu artigo 203. lê-se que “a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração comunitária” representa o reconhecimento ao direito de viver e conviver em comunidade. e como princípio norteador que “as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares. acentua que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. incapacitados. superdotado. 1988).]”. raça. A Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. adota-se para essas pessoas a expressão: portadores de necessidades educacionais especiais.. A Constituição traz como objetivo fundamental em seu art. ao referir-se aos alunos com altas habilidades ou aos portadores de deficiência cognitiva. 069. 2001) instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Define ainda as normas para a organização da educação básica. 24. 02/2001 (BRASIL. níveis e modalidades preferencialmente no atendimento à rede pública de ensino. moral. o Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica nº 13/2009 (BRASIL. 1996) estabelece os rumos e os fundamentos da educação brasileira. destacando. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – Lei nº. 59 e 60 definem onde o atendimento deve ocorrer e indica o que é assegurado ao alunado. A oferta do AEE deve ser planejada para ser realizada em turno . 2009) estabeleceu normas para a elaboração de diretrizes operacionais. promulgada em 1990 (BRASIL. Sob esta legislação. 58. Essa política interpreta esta modalidade como não substitutiva da escolarização comum e define a oferta do Atendimento Educacional Especializado –AEE – em todas as etapas. a escola coloca-se à disposição do aluno. tornando-se um espaço inclusivo. espiritual e social. a partir de então. traz em seu bojo o reconhecimento legal dos direitos e oportunidades que a criança e o adolescente devem ter assegurados para que o desenvolvimento físico. A Resolução CNE/CEB nº. Lei nº 8. os Arts. Para dar subsídios para a educação inclusiva. reconhecendo a importância da educação especial. mental. junto a outras crianças. 2008). A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva passou a orientar os sistemas educacionais para a organização dos serviços e recursos da Educação Especial de forma complementar ao ensino regular. regulamentando o atendimento educacional especializado na Educação Básica. A matrícula dos alunos é obrigatória e os sistemas de ensino devem. 9. Esta Resolução representa um avanço na universalização do ensino e um marco da atenção à diversidade. se concretize. O Estatuto da Criança e do Adolescente. por sua vez. com oferta obrigatória e de responsabilidade dos sistemas de ensino. em condições de liberdade e de dignidade. inciso V.394/96 (BRASIL. a “possibilidade de avanços nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado”. modalidade Educação Especial. organizar-se para atender aos educando com necessidades especiais. no art.com necessidades educacionais especiais e estabelece que o atendimento educacional seja realizado em escolas comuns. manifesta o compromisso do país com o “desafio de construir coletivamente as condições para atender bem à diversidade de seus alunos”. No capítulo V. A partir de 2010. A elaboração e execução do plano de AEE são de responsabilidade dos professores que atuam nas salas de recursos multifuncionais ou centros de AEE. . Contudo. Este atendimento. confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. o atendimento educacional especializado não deve ser entendido como substitutivo da escolarização normal. Desta forma. será ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias. quando matriculados em classes comuns do ensino regular e no AEE. e sim como mecanismo que tem o intuito de viabilizar a melhoria da qualidade do processo educacional dos alunos com alguma deficiência. em articulação com os professores do ensino regular. transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotações na educação normal e disponibiliza serviços de apoios para complementar a formação dos alunos nas classes comuns da rede regular de ensino. esses alunos.inverso ao da escolarização. garante o acesso dos alunos com deficiência. serão contabilizados duplamente no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). por sua vez. mudando o nome para Instituto Nacional dos Cegos. pautação e douração para os meninos surdos” (MAZZOTTA. comuns na época. Atualmente denominado de Instituto Nacional de Educação dos Surdos. Em 1926. o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. do favor. em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. encadernação.. a escola passou a se denominar Instituto Benjamin Constant. após algum tempo de sua inauguração. por meio do Decreto nº 1. fundou no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. oficinas de sapataria.. iniciaram.] foram instaladas oficinas para a aprendizagem de ofícios. D. inspirados em experiências concretizadas na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte. o caráter assistencialista para a atenção à pessoa com deficiência e à educação especial. Em 1890. p. foi criada a primeira instituição de caráter privado e de forma isolada para as pessoas com deficiência mental. Em 1891. A instalação do Instituto Benjamin Constant e do Instituto Nacional de Educação de Surdos abriu possibilidades de discussões da educação das pessoas com deficiências. a organização de serviços para atendimento a cegos. em ambos os institutos.3 EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL Segundo Mazzotta (2005). alguns brasileiros. no século XIX. refletindo o interesse de alguns educadores pelo atendimento educacional dos portadores de deficiência” (MAZZOTA. período final do Brasil Colônia. porque as práticas da caridade.. Pedro fundou.428. segundo .] oficiais e particulares isoladas. já no governo republicano. “[. Em 26 de setembro de 1857. Esta introduziu no Brasil a concepção. deficientes mentais e deficientes físicos.. p. houve um grande descaso com a educação das pessoas deficientes. O atendimento escolar aos portadores de deficiência teve início no Brasil na década de l850. 2005. 27). 2005. por meio da Sociedade Pestalozzi. D. Oficinas de tipografia e encadernação para os meninos cegos e de tricô para as meninas. No período colonial. desde o seu início. Marechal Deodoro da Fonseca e Benjamin Constante Botelho de Magalhães assinaram o Decreto nº 408. Em 12 de setembro de 1854. surdos. 29). instituíram. no Rio de Janeiro. Segundo Mazzota (2005). Estas iniciativas caracterizaram-se como “[. Pedro II. ] caracterizava-se como entidade particular. A Sociedade Pestalozzi do Brasil foi responsável pela instalação das primeiras Oficinas Pedagógicas para deficientes mentais.. Foi transferida para Canoas em 1927. Em 1948. sem fins lucrativos. 42) que “o Instituto Pestalozzi funcionava em regime de internato. 45). p. a Sociedade Pestalozzi organizou o primeiro “Curso Intensivo de Especialização de Professores” (MAZZOTTA. Em 1952. semi-internato e externato. a . Como não existiam professores especializados para atender aos deficientes mentais. 12). atendendo parte de seus alunos mediante convênio com instituições públicas estaduais e federais”. em 1932. referente à “ortopedagogia das escolas auxiliares”. por convênios firmados com a Secretaria de Estado da Educação. no Rio de Janeiro. Explica Mazzotta (2005. O Instituto Pestalozzi contava com professores que atendiam as crianças mentalmente retardadas e com problemas de conduta e eram mantidos pelo governo estadual. atendendo a menores de 7 a 14 anos que indicavam possibilidades de aprendizagem. possibilitando-lhe obter recursos financeiros para montar uma biblioteca.Mazzotta (2005. seu objetivo era amparar os deficientes mentais e reeducar para uma vida melhor. p. diretor do Serviço Social de Menores da Secretaria da Justiça do Estado de São Paulo. nas palavras de Mazzotta (2005. a Sociedade Pestalozzi do Brasil. que. Segundo Mazzotta ( 2005) a professora Helena Antipoff. assistentes sociais. psicólogos e educadores foram estimulados a fundar a Sociedade Pestalozzi. Estadual e Municipal”. Caracterizava-se como instituição particular de caráter filantrópico. foi instalada a escola de pais e. Com o convênio firmado entre a Sociedade Pestalozzi e os serviços social de menores. Em 1970. assentada nas bases psicopedagógicas estabelecidas por Pestalozzi. Helena Antipoff fundou. Sob a iniciativa do Dr. estadual e municipal do Rio de Janeiro. José Maria de Freitas. com a colaboração de alunas da antiga escola de aperfeiçoamento de professores primários fundaram a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. “[. em 1957. p. a Sociedade Pestalozzi firmou um convênio com o governo federal. Foram criadas duas classes especiais e uma oficina pedagógica. p. 2005. hoje atual FEBEM. que desenvolvia trabalhos de marcenaria. de utilidade Pública Federal. a escola começou a funcionar. cerâmica e trabalhos manuais. um grupo de médicos. Contavam ainda com o apoio dos governos federal.. Em 1953. 44). foi fundada em São Paulo a Sociedade Pestalozzi. por contar com mais de duas mil unidades implantadas. Atualmente. com o objetivo de articular e congregar esforços mútuos entre as filiadas. como. o movimento contava com doze instituições especializadas e foi criada. professores estaduais à sua disposição.. 46). Já em 1967. . foram fundadas várias APAEs. em seu quadro de funcionários. que tinha como objetivo “[. Por meio da Federação. p. a Federação Nacional das APAEs. o Centro Ocupacional Helena Antipoff. por exemplo.. em 1972. 48). autônomas e de caráter filantrópico. Helena Antipoff participou do movimento das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) na cidade do Rio de Janeiro.] norte-americano Beatrice e George Bemis..Sociedade Pestalozzi passou a ter. tendo como base a orientação do casal “[. p. os Núcleos de Aprendizagem e Atividades Profissionais. os deficientes começaram a obter conquistas legais e a garantia a cidadania. fundou-se a Clínica de Diagnóstico e de Terapêutica dos Distúrbios do Desenvolvimento Mental. Foram criados. que foi o primeiro centro multidisciplinar para assistência a deficientes mentais e também para a formação de pessoas especializadas na área de deficiência mental. para preparar os adolescentes deficientes mentais treináveis e educáveis para o trabalho. Em 1962. então. que atendia a adolescentes deficientes mentais treináveis de ambos os sexos. a APAE de São Paulo inaugurou o Centro de Habilitação de Excepcionais. 2005. 2005. membros da National Association for Retarded Children –NARC – organização fundada nos Estados Unidos” (MAZZOTTA. Em 1971. Logo em seguida à criação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio de Janeiro. a de São Paulo e muitas outras instituições especializadas no atendimento à pessoa com deficiência. instalou-se a primeira unidade assistencial da APAE.] proporcionar habilitação profissional a adolescentes deficientes mentais do sexo feminino” (MAZZOTTA. as APAEs representam o maior movimento social de caráter filantrópico do Brasil e do mundo.. Em 1964. correlacionando o meio social às formas e conteúdos do comportamento e pensamento na formação dos indivíduos. com o intuito de teorizar sobre seu comportamento e romper com o determinismo biológico que confluía nos aspectos referentes a reflexos e reações fisiológicas. Desde as suas primeiras obras. p. Em seus trabalhos. 94). A primeira defende que a criança nasce pronta só esperando o amadurecimento para se manifestar.4 VYGOTSKY – PARA ALÉM DE SEU TEMPO Foi no contexto da Rússia a partir da Revolução Socialista que a trajetória intelectual de Vygotsky (2001) iniciou-se. embora estivessem ligados à psicologia e à educação. Para o autor. enfatiza que a necessidade de análise histórica é primordial para a compreensão do comportamento humano. o homem só pode ser entendido mediante as relações que estabelece em sociedade. os quais terminavam por igualar homens e animais. reafirmava a importância da compreensão das finalidades de uma dada situação histórica. tentava compreender o processo de interação entre o indivíduo e o meio físico e social em que vivia. que só reage frente a pressões do meio. Dedicou-se ao estudo das funções psicológicas superiores e.]” (TULESKI. Vygotsky (1997) traçou uma linha divisória entre o homem e o animal. Seus estudos.. Para tanto.. O autor também buscou compreender o comportamento do homem primitivo e do homem moderno. deixando de lado o determinismo biológico e colocando o homem como sujeito dessas transformações. ocupou-se em descrever o processo de apropriação. Ao passo que Vygotsky . Desta forma. a partir da qual se construiria uma psicologia também compatível com as transformações necessárias. desenvolvimento e integração da criança ao seu meio histórico-cultural. era necessário criar “a consciência da transformação da qual o homem é sujeito e objeto [. fez estudos com crianças para compreender o desenvolvimento humano. Em seus escritos. 2002. objetivando romper com a concepção universal da natureza humana. e a segunda concebe o indivíduo como uma folha de papel em branco. para comprovar suas ideias. Fez muitas críticas a respeito da concepção inatista e ambientalista do desenvolvimento humano. objetivavam dar respostas às necessidades da sociedade soviética no processo pósrevolucionário. Além destas questões. memorização ativa. ações conscientemente controladas. cuja estrutura e formas de funcionamento são moldadas ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. portanto. próprios da espécie humana. A mediação é a idéia central da concepção sobre o desenvolvimento humano como processo histórico-cultural. Estudou as chamadas funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores. pensamento abstrato. Dessa forma. tendo como pressuposto o método dialético. Defende que o homem não tem acesso direto aos objetos. processos voluntários que dão ao sujeito a possibilidade de independência em relação às características do momento e espaço presente. da interação dialética do homem e seu meio sociocultural. portanto. devido sua grande plasticidade. mas acessos mediados. atenção e lembrança voluntária. deu ênfase ao estudo dos mecanismos psicológicos mais sofisticados. Em outras palavras. São assim chamadas porque se referem a mecanismos intencionais. capacidade de planejamento. Cumpre frisar que Vygotsky (2001) não negligenciou. os quais são de origem biológica. as funções psicológicas superiores são de origem sociocultural. Para entender a concepção de Vygotsky (2001) sobre as funções psicológicas superiores e o desenvolvimento humano como processo histórico-cultural. é necessário compreender o conceito de mediação simbólica. compreende que a complexa estrutura humana é resultante do processo do desenvolvimento da história individual e social de cada pessoa. Pautado nas teses do materialismo histórico. Vygotsky (2001) concluiu que as origens das formas superiores de comportamento deveriam ser buscadas nas relações sociais que o indivíduo mantém com o mundo exterior. Defende o autor que esses processos se originam nas relações entre as pessoas e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento. resultam. a base biológica.(2001) vê o indivíduo como um ser ativo. Seus trabalhos evidenciaram que o controle consciente do comportamento. Suas análises objetivavam identificar as mudanças comportamentais que ocorrem durante o desenvolvimento do homem e a relação deste com o meio social. raciocínio dedutivo. porém entendia o cérebro como um sistema aberto. dentre outros são oriundos das funções psíquicas superiores. na vida prática. por meio de . as funções psicológicas têm sua origem nas relações do sujeito e o contexto cultural e social em que está inserido. capaz de modificar a si próprio e ao meio em que vive. Emergem dos processos psicológicos elementares. Segundo Vygotsky (2001). p. e funcionam como um objeto social mediador entre o sujeito e o mundo.recortes do real. [. Assim. 104). Elucida Tuleski (2002.]”. 104)... 1997. operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. De acordo com Fontana e Cruz (1997).. esses autores os comparam com o instrumento e os denominam como “instrumento psicológico”. com a linguagem as funções mentais superiores são socialmente formadas e transmitidas. visto que a linguagem é um sistema simbólico usado pelos grupos humanos. CRUZ. Dentre eles. “[. é possível afirmar que a interação do sujeito com o meio é sempre mediada. 59). que “[..] o acesso de todos aos bens culturais (instrumentos e signos) impulsionaria o desenvolvimento de todos os indivíduos em sociedade [.. neste sentido. que pode se apresentar por meio da aquisição de objetos ou signos. Desta forma. os instrumentos são considerados tudo aquilo que se interpõe entre o homem e o ambiente.. o desenho. Segundo Tuleski (2002. desta forma. ampliando e modificando suas formas de ação. É ela que fornece os conceitos. modificando o funcionamento psicológico do homem (VYGOTSKY apud FONTANA. mas pela mediação feita por outro ser social. Vygotsky (2001) esclarece que a construção do conhecimento não se dá na relação do sujeito sobre a realidade. a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. visando enfatizar a importância dos instrumentos na construção do conhecimento citaremos outros autores que fundamentados nos estudos de Vygotsky desenvolveram pesquisas acerca da função dos instrumentos na apropriação da cultura pelo homem. a construção do conhecimento se dá pela interação mediada por vários objetos.] enquanto o instrumento está orientado externamente. . para a modificação do ambiente. as formas de organização do real.. a linguagem se apresenta como signo mediador fundamental para a efetivação da interação do indivíduo com o contexto cultural e social. o signo é internamente orientado.. Os instrumentos configuram-se em elementos entre o sujeito e o objeto de ação que ampliam as possibilidades de transformação do meio social. os símbolos. [.. Em relação aos signos. A mediação configura-se de suma importância.. p.] tudo o que é utilizado pelo homem para representar. sendo concebida como os instrumentos técnicos e os sistemas de signos (ferramentas auxiliares). ou seja. evocar ou tornar presente o que está ausente constitui um signo: a palavra. p.] as funções psicológicas vão adquirindo um grau cada vez maior de complexidade à medida que os signos produzidos pelos homens são cada vez mais complexos”. É por intermédio da relação com o outro que o sujeito interioriza as formas culturais e organiza o mundo subjetivo de cada um. 119). Ressalta-se que as palavras e signos são para a criança um meio de contato social com as pessoas. A necessidade de o homem se dedicar ao trabalho fez com que se desenvolvesse a atenção voluntaria. De acordo com Tuleski (2002. Dessa forma. ao dirigirmos nossa atenção para os estímulos do meio. A interação social desempenha um papel fundamental na formação do sujeito. visto que. ocorre um salto qualitativo em seu desenvolvimento”. por sua vez. para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. uso de signos. “no momento em que a criança começa a desenvolver a linguagem. por organizar os signos em estruturas complexas e desempenhar um papel determinante na formação das características psicológicas humanas. destaca como ponto central de seus estudos o desenvolvimento do pensamento interligado à linguagem. As tarefas e desafios que o meio social apresenta conduzem o homem ao desenvolvimento do pensamento. o desenvolvimento psicológico do homem se dá no processo de interação com o meio social e as pessoas com as quais convive (o outro social). a princípio. dando significados à realidade. está clara a importância do processo de mediação simbólica. com a inserção da criança na sociedade. possuem um comportamento primitivo biológico. Em sua teoria. Vygotsky (2001). Demonstra quanto o pensamento verbal opera um salto qualitativo em todas as demais funções. A aquisição da linguagem. Como estas funções não estão prontas desde o nascimento. é concebida como um sistema simbólico basilar. por meio da interação com pessoas mais experientes e de seu meio social. as funções comunicativas e cognitivas da linguagem são base dos processos superiores. A fala (instrumento de comunicação e conjunto de signos) ajuda na organização da atividade prática e desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Assim. permite a superação qualitativa dos fatores biológicos existentes nas funções psicológicas. ao mesmo tempo que a criança se expressa também organiza o seu pensamento. evidenciando que estas se sobrepõem às funções biológicas e elementares. transformamos os mecanismos biológicos de atenção . Desta forma. ao estudar sobre o processo de formação das funções psicológicas superiores. vão se modificando e assumindo um caráter diferenciado.Nesta citação. p. A linguagem. o desenvolvimento do psiquismo humano é sempre mediado pelo outro. mas. 1 O Desenvolvimento da Criança Deficiente Para Vygotsky (2001).]. No processo de internalização.. na transmissão do conhecimento. os ruídos. porque evidencia que o processo de interação social é central e que a aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados. . está imbricado tanto o afeto quanto o intelecto. mas também o seu nível de desenvolvimento potencial. sendo assim. a aprendizagem é essencialmente social. 132). passam a fazer parte do arsenal psíquico de cada individuo (TULESKI. 4. ou seja. com a mediação do outro. que se refere ao caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas no seu nível de desenvolvimento real. mas ele esclarece que os conceitos cotidianos e científicos envolvem experiências e atitudes diferentes por parte das crianças e se desenvolvem por caminhos diferentes. que são aqueles que permitem responder automaticamente. na interação entre os indivíduos e. produzindo fenda nas zonas de desenvolvimento proximal. devemos considerar não apenas o desenvolvimento real da criança. A zona de desenvolvimento proximal é muito importante para compreender a teoria histórico-cultural. Na zona de desenvolvimento proximal. Chama a atenção em sua teoria que. e os transformamos em atenção voluntária. ou seja. A aprendizagem interage com o desenvolvimento. como.involuntária. posteriormente. a interação social e o instrumento linguístico são decisivos para o seu desenvolvimento. ou seja. aquilo que a criança já é capaz de fazer sozinha. as pessoas valem-se de suas condições físicas e psíquicas para afrontar/responder as demandas do meio. segue a mesma lei que Vygotsky postula para todas as funções psicológicas superiores. O desenvolvimento da atenção voluntária na criança. 2002. em uma atividade psicológica controlada. p. nas situações da vida prática.. sendo assim. o papel da escola. Ela se dá por meio da apropriação de conceitos. é de natureza diferente dos aprendidos na vida cotidiana. todas as funções surgem como necessidade do meio social. por exemplo. para compreender o desenvolvimento humano. objetos em movimento. a lei da internalização. ou seja. [. que é a capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos mais experientes. pode surgir processo de modificação de esquemas atuais de conhecimento. O professor. no processo de ensino. Na troca de experiências com os sujeitos. O aluno não é apenas sujeito da aprendizagem. já que uma auxilia a outra. papéis e funções sociais. Ele observou que a criança deficiente. vão se internalizando conhecimentos. Desta forma. interferindo na zona de desenvolvimento proximal. por meio de experiências com crianças deficientes mentais. sendo que o processo se constrói de fora para dentro. deverá provocar avanços nos alunos. o que permite a apropriação de conhecimentos e formação da consciência. .O desenvolvimento cognitivo é produzido pela interação do sujeito com o meio social. mas aquele que aprende junto com o outro o que os homens já produziram historicamente. quando trabalha em grupo. o desenvolvimento cognitivo se realiza por intermédio do outro. Vygotsky (2001) desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal. constitui situações de aprendizagem diferenciadas. Vygotsky (1997) estudou os processos de saturação na atividade da criança mentalmente débil e do normal. era dada uma nova posição na tarefa. Por conseguinte. Vygotsky (1997) aborda vários tipos de deficiência. Nessa obra. cegueira. renová-la para fazer que seu caráter negativo se tornasse positivo. ao sujeito que atingirá seu nível de saturação no trabalho. surdez-muda. lãs acuarelas e el pincel por tiza e um a pizarra. Para isso. 1997. a deficiência mental. Para isso. Seus experimentos abarcaram os aspectos afetivos e intelectuais durante a solução das tarefas correspondentes. ele realizou três séries de experimentos. a fim de que a criança mentalmente débil continue a atividade depois de se encher-se (VYGOTSKY. para as crianças com deficiência mental. para isso. era necessário substituir o lápis negro por um vermelho e azul. era necesario sustituir el lápis negro por uno rojo e azul. 270). la tiza común por tizas de colores.1 Desta forma. entre outros e propõe métodos diferenciados para que seja possível a superação da deficiência.renovarla para hacer que su carácter negativo se tornara positivo.hacerla más atractiva. as aquarelas e o pincel por tinta e um quadro negro. fazê-la mais atraente. inseria novos objetos para que a criança reiniciasse seu trabalho. este por un juego de lápices de color. propôs uma atividade de desenho e observou até a criança atingir o nível de saturação. era necessário modificar a própria situação para ficar mais atraente. desta forma. tomando como base os estudos comparativos da criança deficiente mental e da criança normal. a fin de que el niño mentalmente débil continuara la actvidad después de la saturación. era preciso modificar a própria situação. o abandono da tarefa ocorria quando alcançavam um nível da saturação. Já para a criança normal. Na criança mentalmente retrasada. por exemplo. . como. 1 En el niño mentalmente retrasado. tentava forçá-la a continuar a atividade a fim de descobrir com que meios atingiria isso. Vygotsky (1997) observou que. era preciso modificar la propia situación. era suficiente mudar o sentido da situação sem modificar nada na mesma. a tinta comum por tintas coloridas. Quando ela abandonava a atividade e manifestava sintomas de completa saturação e estímulos afetivos negativos provenientes do trabalho. esto último por acurelas e pincel. este ultimo por aquarelas e pincel.5 A DEFICIÊNCIA NA COLETÂNIA FUNDAMENTOS DE DEFECTOLOGIA Na coletânea Fundamentos de Defectologia. Na primeira série de experimentos. p. Por conseguinte. este por um jogo de lápis de cor. 1997. a tarefa adquiria um sentido diferente para ela. só demonstrava interesse pelo material da ação interrompida que estava à sua frente. se não que a novidade dos próprios sistemas dinâmicos podem depender diretamente do pensamento. p.(VYGOTSKY. imaginar y pensar en la acción interrumpida creaba la posibilidad de retener estos procesos y los impulsos afectivos ligados a ellos. ele pesquisou a tendência entre a pessoa voltar à ação interrompida ainda que o estímulo afetivo não houvesse sido atenuado. em uma situação visual direta. que as crianças modelassem um cão com massa de modelar. 270-271)3. Já as crianças normais se inquietavam independentemente da evidencia da situação.” (VYGOTSKY. “a própria possibilidade de recordar. pôde concluir que “não apenas certas possibilidades do pensamento encontram uma limitação em energia dos sistemas dinâmicos. Esta atividade era interrompida e 1 Así era suficiente pedir al niño. 270)1. asumía el rol de maestro o de instructor. como atividade fundamental. El niño se ponía en la posición de un experimentador. ou seja. se modificaba para él sentido de la situación. a terceira série de experimentos estudou o caráter da situação da tendência afetiva durante as ações interrompidas entre a criança normal e o débil mental. 2 la propia posibilidad de recordar. que havia abandonado o trabalho e se queixado de dor na mão e de uma completa impossibilidade de desenhar nem ainda que caricaturas o rabiscos. 3 . sino que la movilidad de los propios sistemas dinámicos puede depender directamente del pensamiento. que trabajara todavía un poço para mostrar a otro niño cómo debe hacerse. se modificava para ele o sentido da situação. Na segunda série de experimentos. Para realizar o experimento. assumia a relação de mestre ou de instrutor. foi solicitada. p. 1997. Diante desse primeiro experimento. A criança com deficiência mental manifestava interesse pelo geral. Por fim. que había abandonado el trabajo y se quejaba de dolor en la mano y de una completa imposibilidad de bibujar ni siquira caritas o rayitas. mesmo a criança continuando o trabalho anterior. que trabalhara todavia um pouco para mostrar a outra criança como deve fazer-se. se o material estava ou não à sua frente. Vygotsky (1997) concluiu que. Com este experimento. 270)2. no sólo ciertas posibilidades del pensamiento encuentran una limitación en la inércia de los sistemas dinâmicos. 1997.Assim era suficiente pedir a criança. A criança se colocaria na posição de um experimentador. p. Segundo o autor. imaginar e pensar em uma ação interrompida criava a possibilidade de reter estes processos e os impulsos afetivos ligados a eles” (VYGOTSKY. constituye la tesis fundamental sobre la cual. mas esta não é uma unidade imóvel e constante. a unidade do afeto e do intelecto. En tanto que la mayoria de los normales la tarea de significado análogo (dibujar um perro) actuaba en calidad de acción sustitutiva en mucho mayor grado que la tarea análoga por el carácter de la actividad (modelar los rieles). A tarefa de significado análogo não tinha quase nenhum valor substitutivo. Segundo Vygotsky (1997). La tarea de significado análogo por el carácter de la actividade en casi todos los casos evidenciaba una unidade de la acción presente y de la sustitutiva(Vygotsky. durante que a tarefa análoga por o caráter da atividade em quase todos os casos evidenciava uma unidade da ação presente e da substitutiva (Vygotsky. p. Las investigaciones demonstraron la diferencia sustancial en esta situación experimental entre los niños mentalmente débeis y los normales. p. p.como si fuese una piedra angular. concluiu que: As investigações demonstraram a diferença substancial nesta situação experimental entre as crianças mentalmente débeis e os normais. . que era modelar com a massa os trilhos para um vagão que estava sobre a mesa.debe ser construida la teoria sobre la natureraleza de la debilidad mental congênita en la infância. constitui a tese fundamental sobre a qual – como se fosse uma pedra angular – deve ser construído a teoria sobre a natureza da debilidade mental congênita na infância”2. 271). Vygotsky (1997. concluiu que “a unidade dos sistemas semânticos dinâmicos. 1997. Os processos afetivos e intelectuais representam uma unidade. en los débiles mentales se advertia claramente uma relación opuesta. 271). p. no entanto era substituída novamente por uma tarefa relacionada com a ação fundamental. mas na peculiaridade das relações que existem entre esta esfera da vida psíquica e as vias de desenvolvimento que abrem a relação dos processos afetivos e intelectuais. os estudos comparativos da criança deficiente mental e a normal demonstram que sua diferença não deve ser analisada em primeiro lugar nas particularidades do próprio intelecto ou do próprio afeto. que são de fundamental importância para todos os sujeitos. 271)1 1 2 La unidad del afecto y del intelecto. Com este experimento Vygotsky (1997. Em tanto que na maioria das crianças normais a tarefa de significado análogo (desenhar o cachorro) atuava na qualidade de ação substitutiva e muito maior grau da tarefa análoga por o caráter da atividade (modelar os trilhos) nos débeis mentais se advertia claramente uma relação oposta. 271)1. 1997. Com estas séries de experimentos.substituída por uma tarefa similar à primeira por seu significado (desenhar um cachorro através de um vidro). possibilita a reorganização dos sistemas psicológicos. muito frequente e violento conduzem a criança mentalmente retrasada a momentos negativos adicionais que. más formações orgânicas. ela se desenvolve de forma diferente.Nessa coletânea. .. portanto. O defeito primário consiste nos problemas de ordem orgânica. ou seja. ela está intimamente relacionada com as interações sociais com as quais está envolvido. 1997. é importante a distinção entre defeito primário e defeito secundário. e o secundário como defeito construído socialmente. o desenvolvimento da criança com deficiência é o mesmo que rege o desenvolvimento da criança “normal”. defeito biologicamente dado. Vygotsky (1997) defende que não é necessária nenhuma teoria específica. 1 Para la investrigación cientifica Ella despliega un plano completamente nuevo del desarrollo. o meio social pode facilitar ou dificultar novos caminhos para o desenvolvimento desta criança. Para tanto. as características físicas apresentadas pelos sujeitos considerados portador de deficiência.] para a pesquisa científica atual. De acordo com o autor. Sobre este prisma. Afirma ainda que qualquer insuficiência modifica a relação do sujeito deficiente com o mundo. é resultante da forma como o contexto cultural está estruturado e como os sujeitos reagem ao denominado defeito primário. Com a caracterização de tais defeitos.. manifestando-se nas relações sociais que esse sujeito estabelece com o outro. Nas palavras de Vygotsky (1997. como lesões cerebrais. A diferença repousa na formação dos processos superiores. “[. p.1 Defeitos Primário e Secundário Segundo Vygotsky (1997). justificando que. ou seja. 5. ela oferece um plano completamente novo para o desenvolvimento” (VYGOTSKY. 26. 142): Um ambiente mau e a influência que surge durante o processo de desenvolvimento de uma criança. o defeito primário é considerado como defeito biológico. p. ou seja. propõe estudos da criança com deficiência.) 1 . o autor chama-nos atenção para a forma como o sujeito que apresenta uma lesão orgânica ou alteração cromossômica se desenvolve. A ausência de uma educação adequada converte o defeito primário em secundário em certas condições sociais. e sim a compreensão e intervenção no processo de desenvolvimento desses sujeitos. O defeito secundário engloba as consequências psicossociais da deficiência. alterações cromossômicas. a criança encontra dificuldades e acumula complicações adicionais. Vygotsky (1997. de una negligencia pedagógica. a consecuencia de lo cual su retraso se acumula. à sua exclusão do ambiente cultural. que. diferenciando-os dos sintomas de segunda. Seus trabalhos mostram que o quadro pedagógico e psicológico que se apresenta frente a nós não é um todo homogêneo. A causa da insuficiência não sentiu oportunamente a influência do ambiente circundante. surgem às complicações secundárias2. durante a formação em um ambiente determinado. pelo contrário. e a criança estando pouco em contato com uma coletividade infantil. lejos de ajudar a superar el retraso . da “nutrição” ambiental. por el contrario. Desta forma. a su exclusión del ambiente cultural. remetem ao fato de o universo cultural estar constituído em função de um padrão de normalidade. Os sintomas que manifestam o atraso não podem ser postos no mesmo nível que o atraso mental. terceira ordem. que constituem o próprio núcleo da fraqueza. há tomado menos de lo que 2 . El desarrollo incompleto de las funciones superiores está ligado al desarrollo cultural incompleto del niño mentalmente retrasado. etc.. Isso faz com que se criem barreiras físicas. Essas limitações secundárias são mediadas socialmente e. educacionais e até atitudinais para a participação social e cultural da pessoa com deficiência. p. Con frecuencia las complicaciones secundárias son el resultado de uma educación incompleta. Com frequência as complicações secundárias são os resultados de uma educação incompleta. é necessária a separação das particularidades primárias. de negligência pedagógica. acumulando as características negativas e as complicações adicionais em forma de um desenvolvimento social incompleto. muy frecuente y violentamente conducen al niño mentalmente retrasado a momentos negativos adicionales que . aqui. A causa de la insuficiência. de la “nutrición” ambiental. acentúan y agravam su insuficiência inicial. Dessa forma. os sintomas que derivam diretamente da insuficiência biológica. é preciso dirigir a atenção ao desenvolvimento da criança com deficiência mental. no sintió oportunamente la influencia del ambiente circundante. então. Para isso. muitas vezes.distante de ajudar a superar o atraso. as estratificações sobre as formações primárias. a consequência do qual seu atraso se acumula. O ambiente onde cresce. se acumulan las características negativas. En el ambiente donde crece. ninguém tentou aproximá-lo ao ambiente. tem feito menos do que devia. 144-145) teoriza que: O desenvolvimento incompleto das funções superiores está ligado ao desenvolvimento cultural incompleto da criança mentalmente atrasada. e não para a natureza dos processos patológicos que estão em sua base. 1 Un ambiente malo y la influencia que surge durante el proceso de desarrollo del niño. las complicaciones adicionales en forma de um desarrollo social incompleto. acentuam e agravam sua insuficiência inicial1. significa não diminuir as dificuldades que derivam do defeito. as possibilidades compensatórias para a superação deste defeito. nadie intento acercarlo al ambiente . para estudar a criança com deficiência mental. Sob esta perspectiva acrescenta Goes (2008): o trabalho educativo deve privilegiar o domínio de atividades culturalmente relevantes. sino tensar todas las fuerzas para compensarlo. Elucida Vygotsky (1997) que. ou seja. estão dadas orientações opostas. ou seja. Para Vygotsky (1997). significa no atenuar las dificuldades que derivan del defeito. 1 .Segundo o autor. 47) 1. de forma que eleve o pensamento e passe a significar o mundo. vão acumulando uma série de formações secundárias que podem seguir a linha da correção ou provocar complicações secundárias no quadro original do retardo mental. entonces aqui pueden surgir las complicaciones secundarias. A compensação social que Vygotsky (1997) se refere consiste numa reação do sujeito diante da deficiência. não devemos nos restringir ao seu grau de incapacidade. 1997. nas crianças estão presentes influências de elementos positivos e negativos. y si el niño há estado poço em contacto con una colectividad infantil. Construir todo el processo educativo siguiendo las tendências naturales a la supercompensación. seguindo um caminho peculiar para o seu desenvolvimento. é importante conhecer como ela se desenvolve e não o defeito podia. e sim dar atenção a todas as forças para compensá-lo” (VYGOTSKY. no desenvolvimento de qualquer criança acometida por um defeito. a deficiência pode ser superada por meio do processo de compensação e a superação do defeito é um processo que deve ser pensado para qualquer sujeito. Desta forma. Portanto. Esta superação vai se consolidar nas relações e nas experiências que a criança estabelece com o meio social. a educação de crianças com diferentes defeitos deve basear-se no fato que. As vias alternativas de desenvolvimento na presença da deficiência seguem a direção da compensação social das limitações orgânicas. ao longo do seu desenvolvimento. As crianças com deficiência devem reinventar um novo caminho para transpor as suas deficiências. por meio das quais desenvolve as funções psíquicas superiores. junto com o defeito. o desenvolvimento da criança deve ser incluído no processo educativo como sua força motriz: “construir todo o processo educativo seguindo as tendências naturais da supercompensação. mas considerar seus processos compensatórios. Portanto. no sentido de superar as limitações com base em instrumentos que vão fazer uma mediação. p. por conseguinte. a lesão e insuficiência em uma das partes do aparelho de resposta dos órgãos (mutilação. ( VYGOTSKY. La primera se produce. invalidez de um membro e a insuficiência e lesão do 1 [. Os órgãos permanentes se desenvolvem em forma compensatória e assume a função do organismo afetado. en presencia de una lesión o extirpación de uno de los órganos pares. en la extirpación de um riñón. Mediante essa especificidade. cegueira-surdez). Allí donde la compensación directa es imposible. É necessário que o professor tenha clareza e conhecimento a respeito dos conceitos “defeito e compensação” para pensar sua prática educativa. p. em presença de uma lesão ou extração de um dos organismos pares.. de un pulmón.em si.. 197) 1. Por ejemplo. el órgano remanente se desarrolla en forma compensatori y asume las funciones del órgano afectado. Vygotsky constatou que a existência de um defeito faz com que o organismo busque alternativas para superá-lo. Essa insuficiência ou defeito termina por conter duplo sentido.] una directa o orgânica y otra indirecta o psíquica. seu organismo se estrutura como um todo único. O defeito está relacionado com o sistema nervoso central e o aparelho psíquico da criança. ressalta a necessidade de se diferenciar três tipos fundamentais de defeitos: a lesão e insuficiência nos órgãos perceptivos (cegueira. uma sobreestructura defensiva por medio de las funciones superiores que garantizan su trabajo.] uma direta ou orgânica e outra indireta ou psíquica. etc. Ali onde a compensação direta é impossível. os quais são contraditórios. A primeira se produz em maior parte das vezes. creando sobre el órgano enfermo o insuficiente. em uma extração de um rim. . de um pulmão. surdez. Considera o cumprimento de diferentes funções do sistema nervoso por meio dos aparelhos perceptivos de resposta e efeito e do sistema nervoso central e a insuficiência em qualquer um dos três aparelhos influi de maneiras distintas no desenvolvimento e educação da criança. 1997. Possui um fator negativo (deficiência) que quebra a atividade do indivíduo e um positivo resultante do estímulo ao desenvolvimento de outras funções. superar as dificuldades. Em suas pesquisas. el sistema nervioso central y el aparato psíquico del hombre se hacen cargo de la tarea. Por exemplo.. etc.. criando sobre o órgão enfermo e insuficiente uma subestrutura defensiva meio das funções superiores que garantem seu trabalho. visto que a criança não esta constituída apenas de defeitos. o sistema nervoso central e o aparelho psíquico do homem se fazem cargo da tarefa. la mayor parte de las veces. A compensação é classificada em duas classes fundamentais: [. o que impulsiona e estimula o organismo a uma atividade acentuada com vista a compensar a insuficiência existente e.. e sua personalidade vai sendo compensada pelos processos de desenvolvimento. afirma ele. Durante suas pesquisas. Vygotsky (1997) diferencia dois grupos de crianças com atraso: o atraso resultante de uma enfermidade e o atraso resultante de um defeito orgânico. vê-se forçada a vencê-los. tem lugar o processo compensatório. O nível de desenvolvimento não ultrapassa o de uma criança entre dois e sete anos de idade. Por isto. contudo. pode ser nervosa ou psíquica. distinguiu três graus de deficiência mental em três grupos diferentes de crianças. que já pré-existem na sua forma completa. Para cada um dos casos. Dessa forma. bem como um ritmo de desenvolvimento lento. esperando o momento adequado para emergir. para que ocorra o processo . os imbecis e os débeis. no processo de interação com o meio cultural. O seu nível de desenvolvimento equipara-se ao de uma criança de dois anos de idade. A maturação biológica é um fator secundário no desenvolvimento das formas complexas do comportamento humano. conservando os traços do intelecto infantil equivalente a uma criança de dez anos de idade. Os imbecis eram capazes de aprender os tipos mais simples de trabalho. No primeiro grupo. na maioria das vezes. da riqueza do que resta dos órgãos e funções do organismo que são incorporados para que haja compensação do defeito associado ao tipo de educação. os débeis. Os idiotas foram classificados como os incapazes de utilizar ferramentas e instrumentos e semicapazes de aprender a linguagem. Por terem o aparelho central afetado. porém eram incapazes de fazê-lo de forma independente. ou seja. a saber: os idiotas. para que o mesmo ocorra. manifestavam uma atividade reduzida das funções superiores. ao encontrar-se com algum tipo de dificuldade. que eram capazes de um aprendizado relativamente rico. O processo compensatório provocado pelo defeito depende da gravidade do próprio defeito. Por fim. estas crianças apresentavam uma reserva compensatória pobre e a possibilidade de desenvolvimento eram limitadas se comparadas às crianças normais. o tipo de compensação se processa de forma distinta. já o segundo grupo é composto pelo retardo mental e se constitui numa variedade de defeitos.sistema nervoso central – deficiência mental). já que estas dependem da interação da criança com a cultura. é necessária uma orientação consciente nesse processo. Vygotsky (1997) critica a ideia de que a mente da criança contém todos os estágios do futuro desenvolvimento intelectual. A criança. contudo. nesse desenvolvimento. o atraso é resultado de uma doença que. . 17) 2. senão que o desaparecimento de funções faz nascer novas formações que representam em sua unidade a reação da personalidade ao defeito. que podem ser adequadas ou empobrecidas [. com outros meios [. 99). “o funcionamento humano vinculado a alguma deficiência depende das condições concretas oferecidas pelo grupo social. nivela as funções psicológicas” (VYGOTSKY. sobre estrutura. A peculiaridade positiva da criança deficiente não se deve. Vygotsky (1997. como reacción de la personalidad al defecto da inicio a nuevos processos indirectos de desarrollo. Em seus estudos. p. No funcionamento humano.. sino a que la desaparicion de funciones hace nacer nuevas formaciones que representan en su unidad la reacción de la personalidad al defecto. la compensación en el proceso del desarrollo. é fundamental considerar as compensações sociopsicológicas. devem ser criadas situações em que a criança seja impulsionada a fazer a compensação. como reação da personalidade ao defeito. 99). Evidentemente. ater ao fato de que nela desaparecem tais ou quais funções observáveis em uma criança normal. dá início a novos processos indiretos do desenvolvimento. en primer término. por um caminho diferente.. substitui. p. 17) 3. a compensação no processo do desenvolvimento. deve incluir os processos compensatórios. “no homem. Desta constatação deriva o pressuposto de que o estudo da criança deficiente não pode limitar-se a determinar o nível e grau da insuficiência. As vias alternativas de desenvolvimento na presença da deficiência seguem a direção da compensação social das limitações orgânicas. Assim. p. nivela las funciones psicológicas. “A compensação. 1997. p. A Defectologia opera na reação do organismo e da personalidade da criança ao defeito. 2002. sustituye. sobreestructura. 1 2 La compensación. nas quais as possibilidades compensatórias se dão nas relações com os outros e no processo de apropriação da cultura. al hecho de que em el desaparezcan tales o cuales funciones observables en un niño normal. 14) afirma que “A tese central da defectologia atual é a seguinte: todo defeito cria os estímulos para elaborar uma compensação”1. ocorrem compensações de ordem orgânica. La peculiaridad positiva Del niño deficiente no se debe.]” (GOES. A criança cega ou surda pode conseguir o mesmo desenvolvimento que o normal. em primeiro término. El niño 3 . o desenvolvimento ocorre na qualidade dessas vivências. Segundo Goes (2002.] (VYGOTSKY. la tesis central de la defectologia actual es la siguiente: todo defecto crea los estímulos para elaborar una compensación. pelas quais um órgão substitui o outro ou realiza as funções destes”. 1997. porém as crianças com defeito conseguem de distintos modos.de desenvolvimento. p.. As vias de desenvolvimento são influenciadas pelas condições afetivas das pessoas circundantes que fazem com que a criança reinvente um caminho para adaptar a sua deficiência. a linguagem de libras para os surdos. ela deve receber da educação um tratamento qualitativamente distinto. mas à eliminação das dificuldades criadas por determinados defeitos. na ajuda social de outra pessoa mais experiente. Assim. o método braile para os cegos. e o profissional da educação deve investir em diferentes cenários. Vygotsky (1997) pontua que a criança com deficiência não apresenta um desenvolvimento incompleto e insuficiente em relação ao desenvolvimento da criança da mesma idade. próteses. do jogo. A compensação não ocorre livremente ela se dá nas relações sociais com outros sujeitos. só irão ativar suas funções psicológicas superiores no contato com o coletivo. que o diferencia em seus aspectos qualitativos. ciego o sordo puede lograr en el desarrollo lo miesmo que el normal. É fundamental considerarmos que a criança com deficiência mental está dominada pelos rudimentos do pensamento e da linguagem humana e das formas de trabalho. dos modos como as relações sociais cotidianas são organizadas e vividas e do acesso às práticas culturais. De acordo com Fontana e Cruz (1997. O desenvolvimento é um processo de internalização de modos culturais de pensar e agir. como. o desenvolvimento psicológico depende das condições sociais em que é produzido. a compensação social vai criar condições e estabelecer interações que possibilitem aos sujeitos portadores de deficiência se apropriar da cultura.] . p. por un camino distinto. 64). Sendo um processo constituído culturalmente. Os processos de aprendizagem transformam-se em processos de desenvolvimento. por exemplo. modificando os mecanismos biológicos da espécie. dentre outros.Podemos perceber em nossa sociedade que vários são os mecanismos de compensação que conhecemos em decorrência das necessidades biológicas das pessoas com deficiências. sobretudo as deficientes mentais. Segundo Vygotsky (1997).. Desta forma a aprendizagem da criança com deficiência mental é essencialmente social na perspectiva histórico cultural. por isso. pero los niños con defecto lo logran de distinto modo. os processos de compensação não estão dirigidos completa e diretamente ao defeito. que se inicia nas relações sociais por meio da linguagem.. con otros médios [. As crianças deficientes. mas o seu desenvolvimento é regido por um caminho peculiar. . A priorização no defeito limita a consideração da criança em si. 246) que: [.. conducir al niño con retraso profundo através del proceso de formación del hombre[.. Enfatiza Vygotsky (1997. é necessário mudar as práticas pedagógicas reprodutivistas e minimalistas que obscurecem as possibilidades de aprendizagem. conduzir a criança com retraso profundo através do processo de formação do homem[. mas precisa dar subsídios para que o deficiente alcance o conhecimento sistematizado. encaminhando o ensino por meio de treinamentos penosos ajustados à deficiência. Acrescenta que a escola especial não deve traçar suas metas aos limites preestabelecidos pela própria existência de um defeito... O autor faz críticas às escolas especiais quando afirma que estas se centram nas funções elementares. De acordo com Vygotsky (1997)..]1.porque a pessoa com deficiência ou não precisa de mediadores externos. desta forma. p. e por meio desta relação aprende a conhecer. E as vezes.. 1 [. é o único que também resulta capaz de recriar as funções faltantes ali onde não existem a causa da insuficiência biológica da criança.] la educación social del niño com retraso profundo es el único camino cientificamente válido para su educación. conceituar.].. Apenas a educação social pode superar a solidão da idiotia e do retraso de grau profundo. .] a educação social da criança com retardo profundo é o único caminho cientificamente valido para sua educação. a pessoa que conduz o processo de ensino aprendizagem pode viabilizar ou dificultar o processo da aprendizagem. a elaborar e a significar o mundo. A la vez. es el único que también resulta capaz de recrear lãs funciones faltantes allí donde no existen a causa de la insuficiência biológica del niño. Solo la educación social puede superar la soledad de la idiocia y del retraso de grado profundo. segundo Vygotsky (1997). desde o início. formação de turmas homogêneas. as leis gerais do desenvolvimento apontadas nas teorias. atualmente tão debatido e criticado. um esforço permanente. Seus estudos sobre o desenvolvimento da pessoa deficiente.CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudos de Vygotsky (1997) forneceram uma base de abordagens relevantes para a compreensão das deficiências. O desenvolvimento incompleto das funções psicológicas superiores na pessoa com deficiência intelectual. a afirmação de que a deficiência corporal antes de afetar as interações diretas com o ambiente físico afeta as relações sociais. através do qual os homens vão percebendo criticamente como estão sendo no mundo. e não privilegiar apenas as elementares. os alunos deverão assumir. urge buscarmos subsídios quanto aos aspectos referentes ao desenvolvimento psíquico e possibilidades de compensação para os alunos que apresentam deficiência intelectual. o papel de sujeitos criadores. dentre outros fatores culmina na marginalidade do diferente. com base em pesquisas científicas. . especialmente no que concernem às funções psicológicas superiores. é impossível pensar tanto o sucesso quanto o fracasso na aprendizagem quando se pauta apenas na capacidade ou incapacidade inata. é imprescindível compreender. contribuem de forma ímpar para a produção de novos significados para o processo de inclusão. não é consequência imediata e direta da patologia em si. À luz das considerações apresentadas. independente da condição de deficientes ou não. pode ser resultante de obstáculos secundários que aparecem nas relações sociais. De acordo com suas análises. Neste processo. é notório que a educação é um constante ato de desvelamento da realidade. No que diz respeito à pessoa com deficiência intelectual. A relação entre as interações sociais e o desenvolvimento cognitivo permite reconhecer quanto o processo de ensino pautado na comportamentalização do conhecimento. Se por este caminho que postulamos construir uma escola inclusiva. aos fundamentos de Defectologia. em sua obra Fundamentos de Defectologia. Há que se identificar como essas leis se procedem na pessoa com deficiência intelectual e como associá-las às condições externas. Dentre elas. para o plano da palavra e. apenas há que se levar em consideração que o tempo gasto para tal difere. com recursos alternativos e inovadores. para tanto. é de suma importância. impedindo-o de desenvolver potencialidades e as compensações necessárias para a superação de seus defeitos. finalmente. é mais lento. Logo. mas sim o papel de exclusão que a sociedade lhe impõe. contudo. sob a forma de ações exteriores. A possibilidade de desenvolvimento existe e não foge às regras do desenvolvimento da criança normal. operações intelectuais interiores. acredita-se que o conhecimento das possibilidades de desenvolvimento da pessoa com deficiência intelectual. pautado em suas potencialidades e não em suas limitações. primeiramente. quando o adulto interage com a criança. a criança deve efetuar processos cognitivos adequados. visto que o aspecto-chave da aprendizagem está na inter-relação social coletiva. pressupõe uma orientação consciente nesse processo. Os professores inclusivos devem adotar uma metodologia não convencional. . mas. se existe algo que pré-determina o destino dos portadores de necessidades especiais. por conseguinte da apropriação dos conhecimentos historicamente produzidos pelos homem. para que o mesmo ocorra. passando.Vygotsky (1997) afirma que é necessário um olhar atento tanto para as questões afetivas quanto cognitivas. Sem o contato com o coletivo as deficiências apresentadas pelas pessoas com deficiência tendem a se agravarem ainda mais. assim como ocorre com a criança dita “normal”. as operações mentais aparecem. de maneira inata. O professor deve rejeitar a hipótese de que a criança possui. sem a mediação da diferença. São diversos os desafios a serem enfrentados pelo educador no contexto inclusivo. não podemos negligenciar que. da riqueza do que resta dos órgãos e funções do organismo que são incorporados para que haja compensação do defeito associado ao tipo de educação. Dessa forma. com a criança deficiente. ou seja. Sendo assim. em seguida. ou seja. É por meio da linguagem que surge na criança a riqueza do saber acumulado pela humanidade: os conceitos sobre o mundo que a rodeia. a homogeneidade impera nas relações sociais. associado aos estudos desenvolvidos por Vygotsky (1997) sobre os mecanismos de compensação que podem estar presentes durante o desenvolvimento das funções psíquicas superiores e. O processo de compensação provocado pelo defeito depende da gravidade do próprio defeito. não são seus defeitos. as funções intelectuais e as operações cognitivas. compreendam os sujeitos com os quais estão lidando e tenham como objetivo não a acomodação perante a mesmice da realidade. ainda que minimamente. . que a sociedade inclusiva está acontecendo de forma gradativa e demanda trabalho. porém o que deve ser relevante é se queremos enfrentar este desafio. mas a vontade intrínseca de fazer diferente. todavia. uma vez que muitos professores não sabem ainda como fazer. Temos grandes desafios. transformar a normalidade em diferença. É necessário que os professores.É preciso reconhecer. 1988. Relação entre desenvolvimento humano. DF: Ministério da Educação. ed. ______. Psicologia e trabalho pedagógico.pdf>. Acesso em: 03 set. ______. CAIADO. 96 p. Porto Alegre: Mediação. Tereza Cristina. M. JESUS. ______.isocial. Denise Meyrelles (Org. M.gov. REGO. Legislação de Saúde). 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