verve21-dobras

March 17, 2018 | Author: Jo_o_Henrique__5533 | Category: Anarchism, Leo Tolstoy, Russia, International Politics, Politics (General)


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dobras21 2012 sarbod VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/ Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP. Nº21 ( Maio 2012 - ). - São Paulo: o Programa, 2012 semestral 1. Ciências Humanas - Periódicos. 2. Anarquismo. 3. Abolicionismo Penal. I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. ISSN 1676-9090 VERVE é uma publicação do Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP (coordenadores: Silvia Helena Simões Borelli e Edison Nunes); indexada no Portal de Revistas Eletrônicas da PUC-SP, no Portal de Periódicos Capes e catalogada na Library of Congress, dos Estados Unidos. Editoria Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária. Nu-Sol Acácio Augusto, Aline Passos, Anamaria Salles, Andre Degenszajn, Beatriz Scigliano Carneiro, Edson Passetti (coordenador), Eliane Knorr de Carvalho, Flávia Lucchesi, Gustavo Ferreira Simões, Gustavo Ramus, Leandro Alberto de Paiva Siqueira, Lúcia Soares da Silva, Luíza Uehara, Maria Cecília Oliveira, Mayara de Martini Cabeleira, Rogério H. Z. Nascimento, Salete Oliveira, Sofia Osório, Thiago M. S. Rodrigues. Conselho Editorial Alfredo Veiga-Neto (UFRGS), Cecilia Coimbra (UFF e Grupo Tortura Nunca Mais/RJ), Christina Lopreato (UFU), Clovis N. Kassick (UFSC), Doris Accioly (USP), Guilherme Castelo Branco (UFRJ), Heliana de Barros Conde Rodrigues (UERJ), Margareth Rago (Unicamp), Rogério H. Z. Nascimento (UFPB), Silvana Tótora (PUC-SP). Conselho Consultivo Christian Ferrer (Universidade de Buenos Aires), Dorothea V. Passetti (PUCSP), Heleusa F. Câmara (UESB), João da Mata (SOMA), José Carlos Morel (Centro de Cultura Social – CSS/SP), José Eduardo Azevedo (Unip), José Maria Carvalho Ferreira (Universidade Técnica de Lisboa), Maria Lúcia Karam, Nelson Méndez (Universidade de Caracas), Pietro Ferrua (CIRA – Centre Internationale de Recherses sur l’ Anarchisme), Robson Achiamé (Editor), Silvio Gallo (Unicamp), Stéfanis Caiaffo (Unifesp),Vera Malaguti Batista (Instituto Carioca de Criminologia). ISSN 1676-9090 verve revista de atitudes. transita por limiares e instantes arruinadores de hierarquias. nela, não há dono, chefe, senhor, contador ou programador. verve é parte de uma associação livre formada por pessoas diferentes na igualdade. amigos. vive por si, para uns. instala-se numa universidade que alimenta o fogo da liberdade. verve é uma labareda que lambe corpos, gestos, movimentos e fluxos, como ardentia. ela agita liberações. atiça-me! verve é uma revista semestral do nu-sol que estuda, pesquisa, publica, edita, grava e faz anarquias e abolicionismo penal. n.Resistir à sina: 447 notas d’a plebe sobre os anarquistas presos na Clevelândia Luíza Uehara 449 A Plebe. 245 Tolstoi e Proudhon 458 Jean Bancal 463 A morte de Durruti Luis Pérez Infante Para além da tela: 470 primeira nota sobre as invenções audiovisuais do nu-sol Gustavo Simões Mirando libertariamente outros espaços 482 Nu-Sol 495 Receitas explosivas Eliane Knorr sumário . voltam distintas na seleta que explicita conservadorismos. um poema de thiago rodrigues e outro para o anarquista espanhol buenaventura durruti. novas governamentalidades e as urgentes resistências voltadas ao agora. atiçando atualidades e lutas no presente. que vibra junto com a que comemora dez anos de verve. experimenta vervedobras. visar novos ângulos. estão. atravessando-os. desde 2010. dos gestos e do pensar.verve há dez anos está atenta às relações de poder nos fluxos eletrônicos da sociedade do controle. junto delas. também. espaços. pintor anarquista afogueado na comuna de paris e presente nas páginas de verve em sua primeira década. desdobram-se anarquistas de ontem e hoje. flechas velozes disparadas no semestre que passou. nessa edição. há o foucault libertário que interessa ao nu-sol. receitas de bombas convidando ao deslocamento de ar. há quadros de gustave courbet (1819-1877). os bravos anarquistas que se negaram a morrer no campo de concentração da clevelândia. imagens. inventando conversações entre o que está impresso na página e nos bits da rede: vervedobras. palavras. com explosão que não encerra. cores. links. vervedobras soa com verve 21 nos seus dez anos! saúde & resistências nos fluxos! . mas descerra. o relato de jean bancal do encontro entre proudhon e tolstoi. desdobrar-se eletronicamente como resistência. nos vídeos dirigidos por edson passetti e apresentados por gustavo simões. disponibiliza os pdf das verves esgotadas no site do nu-sol e. 1866.gustave courbet. . A origem do mundo (L’origine du monde). foi inaugurada. publicado no número 11 da revista. campo de concentração destinado àqueles tidos como os mais perigosos da época. Luíza Uehara é pesquisadora no Nu-Sol. a Colônia Penal Clevelândia. bacharel e mestranda em Ciências Sociais pela PUC-SP. o sapateiro anarquista fala da violência do campo no Oiapoque e de como os anarquistas recusaram o destino a que lhes condenaram. vervedobras. A história da Clevelândia apareceu ao longo dos 10 anos de verve em textos como o de Pedro Catallo.vervedobras Resistir à sina. com destaque para os anarquistas. remota fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Apesar da dura perseguição. inventando fugas. e a lei de repressão ao anarquismo de 1921. A Clevelâdia fez parte de uma política repressiva voltada.. Nele. intitulado “Subsídios para a história do movimento social no Brasil”. em 1907. Conta Catallo como Domingos Passos. resistir à sina: nota d’a plebe sobre os anarquistas presos na clevelândia luíza uehara No Oiapoque. 2012 447 . principalmente. a persistência na luta dos anarquistas levou a um enrijecimento ainda maior da repressão. redundando na construção dessa isolada prisão da qual nenhum contestador deveria sair vivo. aos anarquistas. 21: 447-457. que incluiu uma lei de expulsão de estrangeiros envolvidos em subversões.. conhecida como Lei Adolfo Gordo. durante o governo de Arthur Bernardes (1922-26). a fome. Além de Domingos Passos.o número 245 do jornal libertário A Plebe. Outros sucumbiram. terem como voltar ao Brasil e à sua militância. comunicavam a situação em que os libertários se encontravam. a fim de que pudessem ser apoiados onde estavam para.Em 12 de fevereiro de 1927. Nelas. Pedro Motta. que fora diretor desse jornal. os rios e correntezas. Assim. além dos tremores e espasmos da febre palustre que contraíra no Amapá. informando sobre quem havia morrido e sobre quem conseguira fugir. A resistência impressa nas páginas d’A Plebe vibrou em sintonia com a dos corajosos anarquistas mandados para o isolamento. Nos recortes d’A Plebe estampados em verve dobras escancara-se e comemora-se a fuga dos anarquistas para a Guiana Francesa e a situação precária em que se encontraram depois. negando com vigor a sina que o Estado e a sociedade brasileira procuraram lhes impor.21 2012 anarquista negro. a Clevelândia registrou outras fugas de anarquistas. são transcritas aqui uma seleta dessas notas. num futuro próximo. um dos mais importantes do anarquismo brasileiro da primeira metade do século XX. entre eles. além de imagens do próprio jornal. mas seu destino tornou-se ato de luta nas páginas libertárias d’A Plebe. doença e morte no Oiapoque. trouxe cartas de deportados às regiões inóspitas do norte. onde não deixou de atuar nos círculos anarquistas. Sem pretender construir mártires. Passos venceu todos esses obstáculos. Os textos dessa edição reproduziam tais cartas e notas para dar informações sobre a situação dos companheiros presos. Muitos puderam fugir. – fundado por Edgar Leuenroth em 1917 para intensificar a divulgação dos anarquismos às vésperas de greve geral daquele ano –. 448 . conseguindo chegar ao Rio de Janeiro. conseguiu fugir enfrentando a selva. A Plebe buscou dar notícias daqueles de quem não se sabia o paradeiro. . de São Paulo. sucumbiram em consequência das torturas. e Domingos Brás. por terem fugido a tempo. de Petrópolis. Domingos Passos. José Maira Fernandes Varella. Manoel Ferreira Gomes. os seguintes camaradas: Pedro Augusto Motta. Se são exatas as informações colhidas. das misérias. em Santos e noutras cidades. de São Paulo. Não temos notícias certas dos camaradas José Baptista da Silva. porém. Antonio da Costa. assassinados por sustentarem os princípios anarquistas. do Rio de Janeiro. que esteve nas Ilhas do Rio de Janeiro longos meses. de São Paulo. 450 . conseguiram escapar à morte certa no Oyapock. parece que teremos de registrar a morte de mais algumas vítimas da ferocidade burguesa. os camaradas Pedro Carneiro. aqui no Rio. grande foi o número de militantes libertários que estiveram presos. do Rio de Janeiro. Thomaz Derlitz Borche. José Alves do Nascimento. da fome e da falta de assistência médica no Oyapock. Além do camarada José Oiticica. sofrendo toda a sorte de humilhações.21 2012 Os militantes libertários vítimas da reação Pelas informações que conseguimos obter. Biofilo Panerasta. que haviam fugido do Oyapock para a Guiana Francesa. chegando alguns a serem espancados. Nicolau Paredas. Infelizmente. envia-nos a nova direção.vervedobras A fuga da Clevelândia A fuga da Clevelândia: a saúde de alguns ainda resistia aos horrores do sofrimento Uma carta de Manuel Ferreira Gomes: “Saint George. Para ir à Cayenne é preciso passaporte. livramo-nos das humilhações e tirania de que éramos vítimas em Clevelândia. A ocasião é propícia. à margem do rio Oyapock. uma povoação francesa. 36 anos. 29 anos. Está nisso toda a dificuldade. 14-12-1925. Saudações. Camarada: Esta tem por fim informar-te do lugar em que nos encontramos e dar-te o nosso novo endereço. uruguaio. empregado 451 . A doze do corrente conseguimos fugir da Clevelândia e aportamos em Saint George. pernambucano. Os camaradas que aqui se acham são os seguintes: José Baptista da Silva. lembra aos camaradas um recurso que nos poderia ser útil: procurassem outros meios adquirir-nos salvo-condutos. se achassem recursos. É verdade que daqui também é difícil sair e é quase impossível a vida. Thomaz Deslitz Borche. por falta de trabalho. Se for possível. porém. De acordo com o que disseste em a última carta. pedreiro. Daqui a única saída é por Cayenne. Manuel Ferreira Gomes. idade e profissão de cada um de acordo com a que demos para orientando-se no caso de conseguirem salvo-condutos. lembranças a todos camaradas. Varella. Pedro Augusto Motta. Motta comunica a morte de Nino.21 2012 do comércio. Vie Coyenne. pedreiro. Saint George – Guiana Francesa. cearense. nacionalidade. Manuel Ferreira Gomes. 39 anos. Domingos Braz. Estamos todos com saúde. destinada à aquisição da nossa liberdade. Mando os nomes. Nota – comunique esta direção e os nomes para os camaradas de São Paulo. 30 de dezembro de 1925 – prezados camaradas – Saúde! – Acuso recebida em 8 do corrente mês a importância de 400$000. português. 22 anos. Sem outra razão. Como as coisas pelo lado brasileiro não oferecem as vantagens de quando chegamos ao Centro Agríco452 . italiano. 31 anos. Paradas e Nascimento Carta de Saint-George São Jorge. tipógrafo. professor. reunimo-nos em entendimento e o último caminho foi passar para esse lado (São Jorge). já são falecidos. porém. os camaradas concluirão que o primeiro passo para a nossa liberdade está dado. todavia não tem sido fácil. a não ser quando chega algum barco com descarregamento e carregamento de mercadoria ou algum navio. apresentou-se-nos oportunidades de nos transportar a Belém.vervedobras Motta anuncia. Manoel Ferreira Gomes (do Rio). que nos faltou adquirir uma canoa que nos conduzisse até um ponto além de Diamantina. 453 . Nino. Sem mais. – Os 400$ foram divididos entre os 5. meios que facilitem a nós pô-los em prática. Logo após os primeiros dias que aqui chegamos. Aconteceu. Pedro A. abraços de todos os camaradas. Aqui chegados. Ao todo somos cinco: Domingos Braz. Martins. faltando-nos. Estamos reduzidos a 200$000 e temos que comer diariamente.. Diante do exposto. onde são revistadas todas as embarcações brasileiras. uma vez que facilitemos o transporte ao ponto acima referido. bem como os 200$ vindos dos camaradas do Rio. Os camaradas Varella.. tratamos de procurar trabalho. Motta. Conforme conversação com os proprietários do barco conseguimos saber que no próximo fim de janeiro eles estarão de volta e se disseram prontos para nos conduzir a Belém. Thomaz Derlitz Borche (de Florianópolis) e eu. o que fizemos em data de 11 para 12 do andante. porém. De sorte que esperamos dos camaradas a manifestação do espírito de solidariedade para a conquista de nossa liberdade. la Clevelândia. Paradas e José Nascimento. faço-o na intenção de quem espera ser atendido. na Guiana Francesa. Quando chegamos a S. pois estou persuadido de que não regatarás o que te peço. Não sabemos se essa carta foi entregue. esses recursos se esgotaram e ficamos em uma situação crítica. pois não há trabalho. Antônio Salgado da Cunha baixou hoje no 454 . O camarada Pedro A. O certo é que não recebemos reposta. porém. de aqui estarmos um mês e tanto. De todos os camaradas que vieram para aqui apenas restam três. Camarada: se não fosse a situação horrível e desoladora por que estamos passando neste momento. Ao dirigir-me a ti. Jorge. 2-2-1926 Camarada: Cordiais saudações. devido à falta de medicamentos e de alimentação.21 2012 Uma carta que é um grito da agonia “Saint-George. como outros têm falecido. ainda tínhamos alguns recursos enviados daí pelos companheiros. Motta faleceu aqui no dia 12 de janeiro. não te pediria coisa alguma. comunicamos para aí o nosso endereço mandando pedir os nossos salva-condutos. Assim que aqui chegamos. Depois. Peço-te que faças o possível de falar com outros camaradas a fim de nos arranjar recursos para nos tirarem desta situação que jazemos. frieiras e outras moléstias próprias daqui. Essa é a situação miserável em que aqui nos encontramos. E só nestas condições se consegue obter um lugar no hospital. regressou. 455 . Thomas Borche e Manoel Ferreira Gomes. Ao bom amigo e a todos os companheiros trabalhadores que com ele regressam.vervedobras Domingos Passos chegou ao Rio hospital de Guiana em mísero estado. do Oyapock. sócio da Construção Civil. Nós estamos quase na mesma condição. o nosso fraternal abraço. Estamos aqui José Baptista da Silva. o nosso dedicado camarada Domingos Passos. o que quer dizer que quando um indivíduo está quase morto é que é admitido no hospital. ativo militante do Rio de Janeiro. no dia 3. em companhia de mais de uma leva de vítimas da ferocidade burguesa. Domingos Passos chegou ao Rio Pelo vapor Manaos. com os pés quase podres de bichos. . Proudhon. 1865.gustave coubet. . sobre sua obra literária. e a permissão que o escritor russo pediu para utilizar o título do livro A guerra e a paz. No entanto. especialmente por intermédio de Alexander Herzen. como o livro Proudhon. O primeiro indício disso é a grande influência que Proudhon teve sobre toda intelligentsia russa. verdadeiramente contundente. E não agiu somente sobre suas concepções econômicas e políticas. 2012 . na qual relata esse encontro.21 2012 tolstoi e proudhon1 jean bancal A maioria dos biógrafos franceses de Tolstoi. muitos dos quais parecem conhecer apenas superficialmente a obra de Proudhon. 458 vervedobras. Jean Bancal (1926-2008) foi um sociólogo e economista francês. em março de 1861. a influência que Proudhon exerceu sobre Tolstoi foi profunda. E ninguém antes dele havia mencionado as opiniões surpreendentes de Proudhon sobre a Rússia ditas por ele a Tolstoi. são as próprias declarações de Tolstoi. mencionam somente a visita de Tolstoi a Proudhon. como Henri Troyat. 21: 458-461. mas também. ardoroso admirador de Proudhon e amigo de Tolstoi. citam a carta de Proudhon a Gustave Chadey. de 1970. em sua maior parte inéditas em francês. São raros os que. professor na Sorbonne e autor de análises sobre Pierre-Joseph Proudhon. do anarquista. duradoura e múltipla. O segundo indício. . Os intelectuais de todas as tendências lhe escreviam pedindo conselhos. a obra de Proudhon foi comentada e divulgada com ardor. Seu nome era citado constantemente como um dos mestres do pensamento contemporâneo. Herzen escreveu. o eminente especialista em Rússia.. que “você é o único pensador autêntico da Revolução. os direitos de autor. incitado pelo infatigável entusiasmo de Herzen. O último item. está na importância que os próprios críticos russos atribuíram a essa influência de Proudhon sobre o príncipe da literatura russa. quando a censura o permitiu. ou distribuído de forma clandestina e lido com avidez. conhecera alguns dos seus livros em francês. a ascendência de Proudhon sobre Tolstoi era anterior ao encontro de 1861 (a data da primeira visita foi quatro ou cinco de março). são as numerosas passagens textuais. A extraordinária celebridade e a surpreendente difusão do pensamento e dos livros de Proudhon são amplamente demonstradas por Raoul Lebry. na sua obra Herzen et Proudhon. Suas ideias e suas teses foram profusamente comentadas nos jornais. e pelo crítico soviético Eikhenbaum. temos um culto por você”. aqui no Norte.vervedobras Tolstoi e Proudhon Um terceiro elemento comprobatório. a guerra e a paz provocaram encarniçadas controvérsias nas revistas. Cada livro do grande socialista foi traduzido imediatamente. destacado frequentemente pelos críticos russos. que reforça os anteriores. 459 . Suas opiniões sobre a mulher. Tolstoi havia lido muitos comentários sobre a obra de Proudhon e. os temas e comentários variados e essenciais que Tolstoi tomou emprestado a Proudhon. Como podemos ver por esses acontecimentos prévios. em 1865. Na Rússia. 21 2012 Uma nota inédita até sua publicação em 1934. a sociedade russa começa a compreender que. sobretudo em Justice. Mendelson. escrita pelo Sr. ainda que essa tendência assumisse. ‘É possível que seja isso?’. às vezes. Proudhon. contornos cômicos e que se transformasse numa espécie de moda. Respondi que. e que já havia encontrado na leitura de Proudhon um programa extremamente preciso sobre educação popular. É um fragmento de um artigo encontrado entre seus rascunhos sobre pedagogia. Se menciono essa conversação com Proudhon é para demonstrar que. Trata-se de um elogio considerável se pensamos que provém de um homem que viajara toda Europa consultando todos os especialistas em educação. sem instrução para o povo. nenhum Estado pode organizar-se sobre bases sólidas. disse com certa inveja. Ainda que breve. o porvir pertence a vocês russos’. Transcrevo-o na íntegra: “No ano passado. Ele escrevia. ele era o único que compreendia a importância que têm a educação e a imprensa em nossa época”. me perguntou. de acordo com minha experiência pessoal. no seu quinto estudo sobre “A educação” e no sexto sobre “O trabalho”. até onde posso avaliar. ‘Se é assim como me diz. Contei-lhe os últimos acontecimentos ocorridos na Rússia – a liberação dos camponeses – e lhe disse que entre as classes dirigentes se observava uma forte tendência a fomentar a educação do povo. é um testemunho pessoal de Tolstoi sobre esse famoso encontro. Tradução do espanhol por Thiago Rodrigues 460 . um livro sobre o direito da guerra. acaba por ser importante para que se possa ter uma ideia da profunda impressão que o encontro em Bruxelas produziu em Tolstoi. Proudhon levantou-se e começou a caminhar pelo quarto. tive a oportunidade de falar sobre a Rússia com o Sr. então. pp. 461 . Fondo de Cultura Económica.vervedobras Tolstoi e Proudhon Notas 1 Esse excerto foi selecionado por Bernard Voyenne para o livro Pierre-Joseph Proudhon. apuntes autobiográficos. 1975. México. volume 181. 225-227. 1987. Extracto de los procesos judiciales y memorias de la Academia de Besançon. pp. 06-14. a partir do texto de Jean Bancal intitulado “La rencontre de deux cultures: Proudhon et Tolstoi”. gustave courbet, Proudhon e suas crianças (Proudhon et ses enfants), 1853. vervedobras A morte de Durruti a morte de durruti1 luis pérez infante I. MADRI EM PERIGO Nos frontes de Aragão travava-se grande batalha quando chegou a notícia que de Madri se aproximavam cinco exércitos rebeldes com as mais modernas armas: tanques e metralhadoras, morteiros que a longa distância arruinariam a cidade. Junkers, Capronis2... (O Papa promete sua benção para maior eficácia). Buenaventura Durruti, que em Aragão lutava, quando soube estas notícias assim falou à brava gente: - Companheiros! Temos que ir Luis Pérez Infante nasceu em Galorza, Espanha, onde foi militante republicano durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Com a vitória de Franco, foi ao exílio, morrendo em Montevidéu, em 1968. vervedobras, 21: 463-469, 2012 463 21 2012 à capital da Espanha, onde o fascismo pretende cravar sua sangrenta garra. Em Castela lançamos uma decisiva carta nesta dura guerra contra a morte que temos travada. Iremos, então, a Castela vamos logo, camaradas, que para todo o corpo quando o coração para, e vocês sabem que Madri é o coração da Espanha. II. DURRUTI EM MADRI Buenaventura Durruti, pelo no peito, dura barba3, com seus homens mais valentes vai às terras castelhanas. Seus olhos levam o mar até as planícies pardas – abraço para Castela Da Catalunha, sua irmã – Os ventos do planalto sopram gentis. Queimam do ardor nascido na neve e que aguçou a distância a coragem em si acesa das tropas catalãs. Empurrado pelo vento 464 que de Marrocos veio ao som de falsas promessas. da verdadeira Espanha. fresca e ardente seiva. que o que lhe falta em água lhe preencherá o rubro-negro do meu sangue libertário.vervedobras A morte de Durruti e empurrado por suas ânsias chegou Durruti a Madri com o clarear da aurora. − Quem diria. pequeno rio sem água. III. que seu leito haveria de ser nosso limite com a África!4 Que se sua margem direita pisam Franco e sua ralé. viva. Meados de novembro. Prometo-lhe. antes que ver por Madrid as sepulturas africanas. aquela dos trabalhadores que não reconhecem castas. vidros 465 . A MORTE Madri. da sua esquerda brota. Quando não granizos. Manzanares. Do telhado ao alicerce estremeciam as casas. sólida quando em combate. Manzanares. era um chover cartucho. Por quem procura. a encarando olho no olho. pelo no peito. Beunaventura Durruti. o relampejar do canhão… Lutava-se. baixa. voando de casa em casa. Morte. (A Morte. Minha foice… . o rodeava. intimando a morte a Morte.) 466 .21 2012 a chuva acompanhavam. Por todo o lado vaga.Quero aquele que me desafia com seu peito e sua arrogância procuro aquele que veio a minha procura de tão longe. densa.Durruti…! O vento se espanta.Mas me diga. com toda sua brava gente. Morte?! Responde! (Uma voz rasga o ar) . como se chama…? . o rodeava. muito densa. me diga seu nome. A luz. dura barba pelos frontes de Madri. frieza pairando no ar. cega em sua ira. como uma sombra. . E a Morte. companheira? Qual será a garganta que você persegue. O céu. o nome do camarada. Morte. todo uma nuvem cinza. por desgraça. pêlo no peito. O que aconteceu? Ninguém sabe nem responde. Loucas. abraçado com a Morte. alvo encontram. a Morte de Durruti. às quatro. dor de Barcelona! Pelas ruas. imóvel. PROMESSA DE VINGANÇA Ai. qquele que a Morte intimara. Um destes projeteis detém subitamente a marcha de todos os catalães. e nele são cravadas. ventos sibilam e sibilam as balas que.vervedobras A morte de Durruti .) Os catalães avançam. pelas praças passa o enterro de Durruti. Silenciosamente avança5 467 . Propaga-se o espanto. dura barba Buenaventura Durruti. IV. perdidas.Companheiros! Ao ataque! A bayoneta preparada! Que não fique vivo um mouro! Que aumente a fama nossa com esse combate! Que não possam superá-la os mais valentes do mundo! (Passo a passo se aproximava muda. no campo ficava. que é a dor de toda Espanha! Punhos ao alto prometem levar a cabo a vingança: − A vingança é atacar Com fúria sem igual. Ai. eterniza-se na distância. Se Madri inteira disse “Não passarão!” – e não pasam É chegado enfim o momento que soe por toda a Espanha outra ordem que diga: “Passaremos!” A palavra multiplica-se no vento. 1937.). os punhos. dor de Barcelona. a barba. retirado do El Mono Azul. Notas 1 Publicado em 14 División nº5. Buenaventura Durruti nasceu em León em 1896. que apertam. composta por milhares de camaradas que fecham. agita o mar em suas águas. firmes.T. Tradução do espanhol por Syntia Alves. Desde 468 .21 2012 a comitiva. 11 de fevereiro de 1937 (N. rudes. A multidão abarrotada sofre calada pelo cadáver que passa. para que o choro não transborde. espalha ondas sem fim. T.E. Sobre a morte de Durruti sugere-se consultar o livro de Joan Llarch. em contato com os princípios anarquistas. No momento do levante liderado por Francisco Franco. dura barba”. escapou para Barcelona onde fundou o grupo “Os solidários”. Llarch (ver primeira nota) estima em trezentas mil o número de pessoas que compareceram ao enterro. com a instauração da República e fez parte das lutas revolucionárias dos anos 1930. Chile.). onde foi morto. coragem e teimosia (N. O poema se refere à presença das tropas africanas enfrentadas pelas colunas anarquistas que protegiam essas posições.). passou com “Os solidários” pela Argentina. levou uma coluna de milicianos a Madri. 2006 (N. Durruti estava em Barcelona onde se destacou na consolidação das forças libertárias na Catalunha. vinculado à Federação Anarquista Ibérica (FAI). Ediciones Aura. em 1931.). 1973 (N. o tenente coronel Carlos Asensi tentou em três ocasiões ocupar a Cidade Universitária atravessando o (rio) Manzanares com tropas marroquinas e locais. Em novembro de 1936. O grupo. Emma Goldman. contudo vivo”. “Durruti está morto. burgueses e altos funcionários públicos. Em novembro de 1936. México. Detido e condenado à prisão. Cf. no dia 19 do mesmo mês. Exilado na América Latina. respectivamente. Peru. lutava contra os grupos de matadores mantidos por empresários catalães e executou atentados contra bancos. Ambas as expressões que significam. Em verve. 4 Em Barcelona uma grande manifestação de dor popular caracterizou o enterro de Durruti. Cuba entre outros países. em 1936. respectivamente (N. O cortejo fúnebre saiu da sede da CNT e o caixão foi levado nos ombros por milicianos da coluna “Durruti”. participou ativamente na luta social do proletariado.)  Em espanhol “pelo en pecho. Nu-Sol. defendendo a Cidade Universitária. Regressou à Espanha.T.vervedobras A morte de Durruti sua juventude. verve 09. 4 469 . La muerte de Durruti. 2 3 Aviões de combate alemães e italianos.T. em 1923. até mesmo o amor” 1. segundo ele. “tudo era livre. Isabelle Marinone mostra como certos artistas apoiaram as lutas por libertação da prisão de anarquistas como Germaine Berton. 21: 470-478. conhece os artistas plásticos Marcel Duchamp e Francis Picabia em 1917. anarquistas e artistas dadás reuniram-se em torno de questões ético-estéticas. Em contrapartida. após o início de correspondência com Tristan Tzara. Ray. na casa de Jacques Vilon. o jornal Le Libertaire inventava no interior de suas páginas uma coluna dedicada exclusivamente a críticas de cinema. redigida semanalmente por Jean Mitry. Ray parte em viagem a Paris visando seguir a parceria instaurada com Duchamp em Nova Iorque. que havia irrompido no mundo das artes estadunidenses uma década antes no espaço libertário da Ferrer School. Em 1921. que a dupla filma várias sequências de disGustavo Simões é pesquisador no Nu-Sol e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. e o cineasta Man Ray produz. E é precisamente na França. Em “Cinema e anarquia”. há a coluna “Le libertaire cinégraphique”. 2012 . 470 vervedobras. No mesmo período. o filme “O retorno à razão”.21 2012 para além da tela: primeira nota sobre as invenções audiovisuais do nu-sol gustavo simões Desde a década de 1920. na qual. Não por coincidência. desde cedo conviveu com militantes anarquistas e. se no início dos anos 1920 dadás e libertários encontraram-se em atividades ético-estéticas. Clairvaux e nas inúmeras outras prisões pelas quais passou nas primeiras décadas do século XX. Todavia. mais precisamente em 1928 .vervedobras Para além da tela: primeira nota. narrativa sobre a revolta de crianças num colégio interno francês. Vigo mergulha na história de um dos companheiros de luta de seu pai. a bandeira de pirata marca a libertação dos garotos: a galé. Do alto do telhado da escola. Eugene Dieudonné foi julgado e condenado à morte pelo governo francês. três anos após sua estreia como cineasta. em muitas ocasiões. Na segunda metade da película. grupo anarquista que realizou assaltos a bancos e à burguesia de Paris entre 1911 e 1913. ‘Viva a revolta!’. “Os bordões foram: ‘Abaixo os bedéis!’. os “bandidos trágicos”. o filme foi rodado no mesmo espaço em que o cineasta estudara durante uma das detenções de seu pai. seguida das invenções do cineasta francês Jean Vigo . ambas películas de Luis Buñuel (a primeira em parceria com Salvador Dalí). ‘Liberdade ou Morte!’.com o lançamento de Um cão Andaluz e logo depois A Idade do Ouro. entre 1906 e 1912. é no final desta década. Vigo exibe Zero de Conduta.. Acusado de pertencer ao Bando de Bonnot.. teve de visitar o pai em Santé.que cinema e anarquia se entrelaçam com ainda maior intensidade. Antes de morrer. Em 1933. os garotos tomam a parte superior do colégio avacalhando as autoridades espalhadas pelo pátio. cos óticos fixados numa bicicleta em movimento e que mais tarde animarão o anemic cinema. 471 . libertário que esteve à frente da edição do jornal antimilitarista francês La guerre sociale. filho de Almereyda. a cela viram lugar de insurreição”2. Vigo. em 1934. “privados da liberdade e dos prazeres da vida”: “Existem atualmente na Cadeia Pública 6 crianças. a 9 anos. Para Marinone. Vigo foi aconselhado a abandonar o desejo de contar a história de um dos homens mais procurados pela polícia do país. Curiosamente. a 11 anos. como autores de vários furtos. um depoimento”3. condenado a 12 anos de prisão. depois de ter sofrido censura pelo governo francês quando decidira filmar a existência libertária de Almereyda.. em 1919. Os nomes e as penas desses infelizes são os seguintes: José Natal. por pouco que fosse. após iniciar o projeto recebe a grata notícia de que ele havia escapado do encarceramento na Guiana Francesa. Anos antes. por meio de Dieudonné..21 2012 Vigo reuniu seus depoimentos e de alguns companheiros de prisão. Relatos descrevem que Dieudonné fugiu em uma balsa construída com troncos de palmeiras rumo ao Brasil. Mais do que reencontrar: fornecer. o jornal anarquista A plebe denunciava o sequestro da existência de seis crianças. de idade entre os 11 e os 16 anos. com o qual tantas ligações e lembranças ele tinha: o mundo de Almereyda. como Jean Vigo. Brasil. Ao mesmo tempo em que dadás e anarquistas estreitavam suas relações e inventavam um cinema liberador. o mundo dos anarquistas de antes da guerra. Mario Nicola. onde teria vivido por alguns anos no fim da década de 1920. Luiz Fancini. João Paschoal. “esse projeto lhe oferecia a oportunidade de reencontrar. 472 . início do século XX. o título do projeto inicial do filme era precisamente Um fugitivo da prisão. entre eles muito provavelmente filhos de anarquistas. . Contudo. Numa passagem de fucô-fico. em seu primeiro Hypomnemata. Dirigido por Edson Passetti o vídeo aponta. Consiste em momentos-frame”6.110 técnicos. As fugas e as ubíquas imagens do Massacre são seguidas pela vitalidade da estética de punks espalhados pelas ruas da cidade e. 473 . intitulado “Manifesto Abolicionista”. assim como as proposições Cosmococa de Hélio Oiticica e Neville de Almeida. jovens escapam da FEBEM com o áudio da voz de Michel Foucault ao fundo. entre elas o Código de Menores de 1979. “Os juízes e promotores não sabemos quantificar. fundada em 1964. Mas sabemos que o crime gera empregos úteis!”5.400 jovens encarcerados. É precisamente um ano após a invenção do primeiro Hypomnemata. 80 anos transcorridos.vervedobras Para além da tela: primeira nota. a 11 anos”4 noticiava o periódico libertário. administrados por 1. o Nu-Sol publicizou o breve texto “estamos todos presos”. a 11 anos e Urias Balado. com as políticas implementadas durante a ditadura civil-militar. que o Nu-Sol inventa o vídeo fucô-fico. não é narrativa. consolidando a FEBEM.. que após listar os inúmeros alvos do sistema penal no Brasil como “negros. em 1992. que se encerra com as fotos do Massacre do Carandiru. Em 1999. para um filme que “não é espetáculo. recupera o escrito de A plebe para analisar como. por fim. os prédios da FEBEM abrigavam 3. A combinação das imagens afirma o posicionamento singular e libertário do Nu-Sol diante das prisões. pelas fotos de alguns índios. na virada do século XX para o XXI. nem um enredo contado quadro a quadro.. o Nu-Sol. No mesmo ano da exibição de fucô-fico. a prisão de crianças e jovens não somente cresceu como se ampliou exponencialmente. conclui: “dizem que somos livres. presente em Anarquismo Urgente. Não se abre mão da vitalidade”10. mas vivemos prisioneiros dentro do território nacional. é também uma questão de espírito e de conceito. que está se tornando um país de velhos. exibido em 2004. dá-se ao luxo de destruir esta juventude? Não é só uma questão política.21 2012 nordestinos. manos”7. Entretanto. para além da constatação do abominável extermínio dos povos indígenas empreendida pelos homens brancos e seu aparelho de Estado. É salutar ressaltar que pouco tempo decorrido do Massacre. Passetti reitera a singularidade desta afirmação ao utilizar imagens de “Manto Tupinambá”. bichas. Os colonizadores chegavam ao requinte de espalhar roupas com varíolas nas praias. Somos antropoêmicos e estamos todos presos”8. Pape atualiza a questão para o presente e questiona: “O que o Carandiru faz? Prepara as pessoas para a morte. mas ainda não aprendemos com as sociedades primitivas a ser antropofágicos. em outro audiovisual. Foucault último. ateus. O vídeo que se inicia no escuro. desempregados. Foucault Último. de Pape. apresenta em movimento não somente o “Manto tupinambá”. canção de Caetano Veloso. pequenos ladrões. concluiu. com os primeiros acordes de “Terra”. Marcel Duchamp. No ensaio “Arte e amizade”. Temos medo de subversão. o índio vestia e contaminava aldeias inteiras” afirmara a artista carioca9. Dizem que somos civilizados. Quatro anos seguidos a fucô-fico. Pape construiu a instalação “Carandiru”. entre outros. explicita o erotismo libertário de Man Ray. do jovem poe474 . jovens. invenção da artista plástica Lygia Pape. Como é que o Brasil. Passetti transcreve um texto no qual Pape apresenta sua invenção: “Toda a população tupinambá que vivia na costa do Brasil foi dizimada. este perguntou: ‘Quem é este cara com quem vocês estão me algemando?’ E o guarda respondeu: ‘Um ladrão. ele deveria ser transferido para o Palácio de Justiça. como tem um certo desprezo por todas as formas de movimento de ação políticos organizados na França”11. Caetano Veloso recorda: “esse acercamento sensual que se insinua na consideração de que 475 . Foucault Último é inaugurado com os primeiros versos de “Terra”. integrante do Nu-Sol que. propõe em contrapartida liberada um “safo sex”. mesmo distantes. ta francês do século XIX. é com a incorporação por Passetti de Chant d’ amour. Jean Nicolas Arthur Rimbaud e também de Thiago Rodrigues.. isto é. que nos deparamos com um erotismo que é insuportável para a sustentação das paredes carcomidas da prisão. ao safe sex. mas também ao seu posicionamento contundente no interior das lutas contra as prisões: “durante a guerra. em tempos de AIDS. os amantes trocam flores entre o vão das celas e por fim fazem um fino furo na parede por onde tragam a fumaça do cigarro que vem do outro lado. Entretanto. película de Jean Genet. Todavia. investimentos de pacificação do sexo amparados por argumentos relacionados à segurança. Em entrevista realizada em 1974.vervedobras Para além da tela: primeira nota. sou um comunista e me recuso a ser algemado com um ladrão’. Depois desse dia. Um dia. Genet era prisioneiro na Santé. Chant d’amour apresenta dois homens separados pelas grossas paredes de um edifício prisional. Eu sou um prisioneiro político. o outro detento se esticou todo e disse: ‘Eu me recuso. sobre a prisão de Attica. Michel Foucault refere-se à importância não somente da literatura de Jean Genet. No momento em que iam algemar Genet com outro detento. Sobre a canção.’ Então.. Genet me disse que não só desconfia. Provavelmente uma canção escrita por ele a Ceci. me veio a mente sem dúvida por causa das outras fotografias que mais me impressionaram na cela do PQD: as de mulheres seminuas que me enchiam de desejo e com que sonhava todas as noites”12. na década de 1920. também fui apresentado por Edson aos filmes 476 . Ouvimos junto aos créditos a voz de Aracy de Almeida entoando “Último Desejo”. A canção. Ainda como estudante. Afinal. parou seu fusca ao lado de um táxi e pediu informações sobre qual o melhor percurso para chegarem aos arcos. ainda era um estudante de graduação em Ciências Sociais da PUC-SP. sete anos depois de Foucault Último. para invenções dadás de Man Ray. derrete as grades com fogo e sexo”13. Machado contou que. Pediu carona a Roberto Machado para chegar a seu destino. a anarquia. diante das prisões. recém-chegado de uma temporada de estudos que culminaram em seu doutorado na Bélgica. Por fim. como Noel. em seguida. Em 1973. como escrevera Passetti. embora no instante de fazer a canção eu não me desse conta. transposta como cama para os gestos firmes e ágeis de Foucault e. sua grande paixão e frequentadora assídua. A canção do desfecho não é mais a “Terra” de Caetano Veloso. Rio de Janeiro. numa de suas viagens ao Brasil. os últimos frames do vídeo apresentam o deslizamento de fotos noturnas de alguma cidade. de Noel Rosa. Foucault visitou o bairro carioca. Na época. Foucault brincou: “‘você mora no Rio de Janeiro e não conhece o bairro mais interessante da cidade?’”14. Em 2011.21 2012 a Terra não estava ‘nua’ nas páginas de revista. Foucault último foi a primeira invenção audiovisual do Nu-Sol a que assisti. Duchamp e de Lygia Pape. da boemia noturna do bairro da Lapa. torna-se ainda mais sensual em Foucault Último. “arrebenta as jaulas. faz a própria existência mover-se. 477 . p. Azougue. Tradução de Adilson Mendes. de Jean Vigo e às invenções dadás. 142. para além de apresentar a espectadores as imagens deslizando na tela. Desde então. Hoje. traçando roteiros. é movimento.org/hypomnemata/boletim. Ver o primeiro Hyppomnemata em: http://www. entre elas. Um cinema liberador pode mudar o roteiro esperado para nossas vidas. Mas sobre isto deixo para escrever em outras páginas. assim que descobri essa paixão. abri-las a outros percursos. 103. Cinema e anarquia. em grego. ultrapassando as salas fechadas e as projeções sob uma superfície. Idem.. amores e adversidades. Desde as primeiras décadas do século XX. Notas 1 2 Depoimento de Man Ray in Isabele Marinone. 5 Idem. seguem inventando cinemas para afirmar as lutas no presente. Isabele Marinone. pesquisando. 2009.vervedobras Para além da tela: primeira nota. Tradução de Adilson Mendes.php?idhypom=7.. O querer que animou este breve texto foi afirmar o que apreendi assistindo. p.nu-sol. anarquistas inventaram um cinema ligado à flor-da-pele de seus embates. agora. participei de algumas produções. Cinema. Publicado neste número de verve impressa. Rio de Janeiro. filmando e editando no Nu-Sol. Azougue. Apreendi fazendo vídeos e ainda descubro com cada vez maior intensidade que inventar uma estética libertária não está apartado da construção permanente de uma vida liberada. Cinema e anarquia. Um cinema liberador. 140. p. as três séries de antiprogramas ágora. 2009. Rio de Janeiro. Foi o que aconteceu comigo. 3 4 Idem. Caetano Veloso. Anarquismo Urgente. “Sobre a prisão de Attica” in Ditos & Escritos. 6 Ver em “verbetes” no site do Nu-Sol: http://www.nu-sol. Rio de Janeiro. 140. São Paulo. 2007. Anarquismo Urgente.org/verbetes/index. Acesso em 15/05/2012. 7 8 9 Idem. Rio de Janeiro. p. Achiamé.folha. br/ilustrissima/918570-as-viagens-de-foucault-ao-brasil.Tradução de Vera Lucia Avellar Ribeiro. Companhia das letras.392-393. 258. vol. 9. 2004. 2003.uol. 1997. Achiamé. Forense. IV.com. p.21 2012 Beatriz Carneiro. Rio de Janeiro. Ver “As viagens de Foucault no Brasil” em http://www1.shtml. 10 11 Michel Foucault. Imaginário. p. Idem. p. 22. Edson Passetti. p. Verdade Tropical. 12 13 14 Edson Passetti. 2007.php?id=58. São Paulo. Acesso em 15/05/2011 478 . Relâmpagos com claror. 1866. O sono (Le sommeil). .gustave courbet. 2012.f belo thiago rodrigues. belofeio. . . .o gustave courbet. 1862. Mulher nua deitada (Femme nue couchée). diante da modorrenta utilização do termo “ação direta” pelos jovens acampados no Anhangabaú.21 2012 mirando libertariamente outros espaços nu-sol No mesmo semestre em que o Nu-Sol produziu sua vigésima primeira verve. O boletim semanal analisou. também. afirmando em breves escritos uma perspectiva política anarquista frente aos acontecimentos no planeta. a apropriação canalha pelo “circo legalista” defensor de castigos ditos suportáveis sobre os corpos de crianças. Atenta às celebrações em torno dos trinta anos de um festival musical de São Paulo. a flecheira libertária seguiu acompanhando de perto o fogo advindo da coragem dos jovens gregos nos embates anticapitalistas travados contra o governo nas ruas de Atenas. completando dez anos de práticas autogestionárias na lida com textos libertários e abolicionistas penais. assim como a captura de práticas anarquistas pelos chamados “novos movimentos”. 21: 482-494. semanalmente. versão brasileira do “ocuppy wall street”. Todavia. há a exposição do conservadorismo que graça em certas universidades brasileiras com o consentimento pluralista de professores e alunos que admitem a emergência ignara de posicionamentos fascistas. a flecheira foi ao ar. Na seleta de flechas desse semestre. a flecheira problematizou a 482 vervedobras. 2012 . como o “ocupa sampa”. reunida aqui. afinal: “policia e tortura formam um casamento indissolúvel”. como o acontecimento de Haymarket. O presente é enfrentado pelos breves textos como atualizações de contundentes questionamentos anarquistas. promovidas pelas centrais sindicais. que fizeram irromper a data como memória das lutas libertárias. Seis anos de flechas lan483 . nos dez anos de verve. Para além das afirmações daquela que foi apontada pelo governo estadunidense como a mulher mais perigosa da América. Por fim. os textos expuseram que carnaval e polícia não combinam e que tais reivindicações explicitam a ausência de profanação combinada com a reiteração de “pirações previsíveis” e “lararás redundantes”. no Brasil. são contrapostas à história dos confrontos radicais. O crescente interesse por jovens em redes sociais dedicadas exclusivamente ao casamento é demolido pela retomada da verve libertária de Emma Goldman. ultrapassando as discussões acerca das punições ou da revisão da Lei de Anistia. Frente aos reclames por mais segurança na folia. a flecheira libertária fez avançar as discussões provocadas pela aprovação e nomeação dos integrantes da Comissão da Verdade. questionando se a boutade no future não teria se transformado nos dias de hoje em mais um bem cultural imaterial. Sugeriu que para além de apresentar as histórias e os efeitos das violências do Estado sobre as vidas de homens e mulheres resistentes à ditadura civil-militar. flecheira libertária completa seis anos de existência. é preciso explicitar a continuidade das torturas diárias em delegacias e prisões brasileiras.vervedobras Mirando libertariamente outros espaços consolidação e apaziguamento da cena punk na cidade. A reivindicação pela garantia de segurança no carnaval foi também escancarada com humor libertário. as festas de 1º de maio. Em 2012. 21 2012 çadas ao ar todas as terças-feiras. mas neoconservador. voam certeiras nos fluxos. uma chapa denominada UCC (União Conservadora Cristã) concorreu ao DCE da USP. mirando outros espaços. assim. deslocamentos e problematizações. Fato notado. os breves textos voltados para os acontecimentos do presente passaram a frequentar os fluxos eletrônicos de verve dobras. intervenção militar para combater a corrupção parlamentar e disposição para o enfrentamento físico. hoje. muitas vezes sem coragem de se nomear. Voltaram essa semana ao noticiário eletrônico por seu relativo sucesso nas eleições (ficaram em quinto lugar.]. mas ecoado. defesa da propriedade. com jovens alinhados aos mais variados rótulos ideológicos de esquerda: a 484 . Em 2011. As flechas anarquistas projetadas por gente interessada nas lutas por liberdade têm percursos surpreendentes. tenta. Dá forma desavergonhada ao rosto fascista do atual conservadorismo que graça. dar um ar rebuscado à sua canalhice e vontade de extermínio. Ano IV. um estudante do curso de geografia. numa eleição com 11 chapas) e por suas relações com skinheads. direita Recentemente. discurso político. encontra lugar para seu anacrônico. registrado e flechado aqui [n. propiciando outras conversas. O rapaz diz não ser neonazista. à esquerda e aos alternativos Uma pergunta dirige-se aos estudantes e demais integrantes de uma Universidade que já teve muitos de seus professores interceptados pelos militares e conta. traço que admira nos skinheads. Seu líder. fala abertamente em fidelidade conjugal. 30 de novembro de 2010. 185. Esses e outros encontros estão acontecendo em diversos locais da cidade como forma de reagrupar para uma nova ocupação anunciada. o que mais as ocupações que marcaram esse ano são capazes de mostrar? sobre a ação direta e ocupados A história das lutas anarquistas noticia que ação direta.vervedobras Mirando libertariamente outros espaços tolerância. 221. Estratégias e Segurança”. mas expressão escancarada do intolerável. se antecipa à lei e ao fato revolucionário [ver 485 . 04 de outubro de 2011]. O curioso é notar que mais e mais o léxico dos ocupados se vale de palavras que pertencem às práticas históricas dos libertários sem se dizerem anarquistas ou contra o Estado. violenta ou não. o pluralismo e a retórica democrática chegam à hipocrisia de aceitar a coexistência e o reconhecimento de adversários que os tomam como inimigos privados? Ou a aceitação da canalhice alternativa levou-os a ter que engolir um fascista? Ao contrário do que apregoam fascistas e conservadores. Segundo seu site oficial. Como mostra a história das lutas libertárias. ação política enérgica e vigorosa não é sinônimo de violência. Chamam isso de “Oficinas de Ação Direta”. ocupação e palavras que circulam nos novos movimentos A versão dos ocupados em São Paulo abandonou as ruas mais rápido que em outros lugares do planeta. mas recusa à representação e ataque franco contra os solapadores de liberdades! [n. ação direta não é derramamento de sangue. dedicam-se à promoção de oficinas de “Táticas. posicionando-se apenas como apartidários. no momento. Além do efeito espetacular. para lembrar Nova lei para regulamentar o uso da força sobre crianças. juristas sobre a dificuldade de quantificar a força da punição. [n. A ação direta está ligada à antirrepresentação e à autogestão como jeito de fazer que favoreça a expansão da liberdade. impossível vinculá-la à necessidade de segurança. 232. Especialistas babam citações a respeito do sofrimento. Sua especificidade não está no uso da violência. aos poucos. há muito tempo. Não se trata de abolir o castigo. está conhecida como lei da palmada. 20 de dezembro de 2011]. O circo legalista apenas rouba a expressão de uma prática libertária para transformá-la em índice de castigo suportável. propõem o fim das internações a partir deste critério.. 486 .21 2012 hypomnemata 124 em www. Os “indignados” e “ocupados” parecem querer renovar a política do liberalismo a partir de práticas que são próprias dos libertários. Os abolicionistas penais.org]. ela não se ocupa de segurança ou proposições.. que cada caso é um caso. mas na capacidade de abrir conversações e fazer soar a revolta diante do intolerável. Ainda que possa ser tomada como uma tática ou uma estratégia de ação. a lei se apresenta como remoduladora de condutas. abordando uma situação-problema e possíveis respostas-percurso. quando falam de ação direta e associada à segurança. Concluem. para além e aquém de maus-tratos e lesão corporal. mas simplesmente discutir qual a tabela de cálculo de efeitos de agressões mais adequada a ser usada para enquadrar as dores suportadas fisicamente por uma criança. Mais uma vez.nu-sol. [n. Enquanto isso. e de extrema esquerda. Há uma diferença considerável em atacar bancos. em especial os neonazistas que perseguem e matam ciganos. o justo meio liberal quer igualar como alvo de sua repressão o que está em diametral oposição. 233. empresas e instituições do governo e atacar violentamente pessoas na rua. ou seja. É preciso lembrar que antes de analistas e políticos falarem em crise. 27 de dezembro de 2011]. por meio da ONU. a chamada comunidade internacional. os fascistas que visam exterminar com sua covardia pútrida parte da população que identificam como principais culpadas de seu infortúnio e libertários que corajosamente não se calam diante da investida do Estado e afirmam por ações que a liberdade é mais importante do que segurança e pão. Os porta-vozes da comunidade internacional dizem se empenhar em ações contra os grupos de extrema direita. externa suas preocupações com o crescimento dos extremismos e dos terrorismos no velho continente. os donos das soluções O justo meio liberal que tende a aproximar pelas pontas o radicalismo de esquerda e de direita reitera sua hipocrisia em achar que está sempre com ele a solução para os problemas. os jovens libertários gregos já alertavam para o desastre que o livre mercado produzira na Europa. judeus e árabes. 487 . com destaque aos grupos anarquistas na Grécia.vervedobras Mirando libertariamente outros espaços terrorismos Além dos inúmeros relatórios e programas que anunciam soluções ou paliativos à crise europeia. Da mesma maneira. que esteja revestido de muito brilho e plumas. Por quatro dias abrem-se as comportas da regulação para transgressões que depois apaziguarão os humanos sob os céus do sagrado.21 2012 grécia em chamas: alerta! Há dois dias. diversas cidades na Grécia seguem em greve geral com uma grande manifestação de rua convocada para o domingo. seja destaque e passista de escola de samba pelos 488 . sonhar. capitalismo ou liberdade!”. os anarquistas. mudar de gênero. profanação com segurança 1 O carnaval é a histórica festa profana que restitui o santificado. Enquanto o governo buscava acordo. beber e se intoxicar. mascarar-se. Vale: amor de carnaval. cobiçar e ser cobiçada(o). reiteram que o alvo não são as medidas do governo. 12 de fevereiro. ser rei e burguês. desde 2006. mas o capitalismo. As notícias informam que leis municipais de limpeza urbana foram ativadas para prender jovens anarquistas que espalham cartazes pelos muros. desnudar-se. a repressão aos rebeldes se intensificou. debochar dos políticos e das sentinelas das doutrinas. com soluções fiscais e empréstimos junto à União Europeia e o FMI. correm o risco de mais uma vez servirem de aríete para os negócios dos dirigentes políticos de esquerda e de direita. vestir-se de fantasias. não é a UE ou o Euro. que. se for trabalhador. soltar o sexo. delirar. que foram os primeiros na Grécia a se levantarem contra o governo e os tratados da UE. cantar pelas ruas. mas o governo. desfilar. por sua vez. o partido comunista e os dirigentes sindicais avançam contra o que classificam de irresponsabilidade dos jovens anarquistas. Com gritos de “Abaixo a Ditadura e seu regime! Revolução ou submissão. Ih. Agora. polícia é polícia Pouco importam a um libertário as disputas partidárias em torno das ações repressivas dos governos estatuais liderados pelo partido x ou y. pule atrás do trio elétrico. uma festa com promoter. um pega-pega planejado. até o Diabo que é abençoado por Deus. ouvir policiais militares choramingando contra repressões injustas e acossamento de suas mulheres e filhos. Então não há mais profanação. entre e saia dos blocos de rua. só choubis com suas celebridades. Cantar. uma profanação normalizada. como relembra a marchinha conhecida. contra crianças. cinzas. Depois. Epa! Que notícia é essa? Como o carnaval pode estar ameaçado por falta de policiamento? Ops! Então não é nem mais carnaval! As autoridades marcam presença nas negociações e as greves devem acabar para celebrarem um acordo para que a população local e a de turistas brinquem com segurança. pirações previsíveis e lararás redundantes. é próprio da covardia de quem se encontra na posição de autoridade no momento. mulheres e homens.vervedobras Mirando libertariamente outros espaços sambódromos. lembra o ditado (que nem sempre são inadequados): spray 489 . marche pelo enredo ou faça parte da ópera popular. dançar junto com deuses profanos aceitáveis por quatro dias. É intolerável avançar armado. Tampouco as comoções que se pretendem inquestionáveis em nome da compaixão pelas vítimas também. só baixa com proteção policial? Carnaval virou mesmo um negócio. profanação com segurança 2 Fevereiro de 2012: polícias ameaçam a segurança do carnaval com greve por melhores salários. Anarquistas nas ruas em Atenas vão além: gritam para quem quiser ouvir que a própria situação da população na Grécia (e que se reproduz em maior ou menor escala por diversas partes do planeta) não é nada mais. 235. se apaixonem Entre as novidades recentes das chamadas redes sociais estão as páginas nas quais jovens noivos compartilham fotos. Segurança e propriedade seguem sagrados. “É uma forma de dizer para as pes490 . 21 de fevereiro de 2012]. o que ela explicita é que é preciso (e é possível) inventar outras sociabilidades que prescindam do capital. como manda o figurino das revoluções burguesas. nada menos. 14 de fevereiro de 2012]. para não deixar o fogo apagar Se o que a Grécia está vivendo é uma crise econômica. 236. segundo o administrador de um site especializado. Estado é Estado e polícia é polícia! [n. dicas de hotéis para os convidados. nós anarquistas ecoaremos ações insubmissas ao redor do planeta.21 2012 de pimenta nos olhos dos outros é refresco. E se capitalistas e autoritários ao redor do mundo pretendem reduzir o problema a negociações e crises localizadas. Saúde aos anarquistas na Grécia! [n. lista de presentes. o histórico do namoro. que efeito de uma política capitalista. entre outras informações atualizadas diariamente até o dia das núpcias. A procura de tais redes sociais especializadas aumentou. perfil dos padrinhos. mais de 200% em um ano. no future? No próximo final de semana ocorrerá em umas das unidades da rede SESC um show em comemoração aos trinta anos 491 . diante do conservadorismo compartilhado nas telas. argumenta uma jovem noiva. dissimulações de sexo livre. nas camas e nas carinhas sorridentes.vervedobras Mirando libertariamente outros espaços soas: olha. desde o século XIX. recomendações. bem-casados. “Poderia haver alguma coisa mais ultrajante do que a ideia de que uma mulher saudável. perguntava a mulher mais perigosa da América. contratos. 240. nas redes. cheia de paixão e vida. minar sua saúde e quebrantar seu espírito. ter de reprimir seu desejo mais intenso. limpeza e Estado. bênçãos. libertariamente Há quase cem anos. Hoje. Os homossexuais noivos também já produzem seus castelos da felicidade! O casamento. um dos alvos da demolição de homens e mulheres libertárias. cabe perguntar até quando certas pessoas evitarão a grandeza e a liberdade de aprender os prazeres do sexo sem a sanção. [n. ter de negar as exigências da natureza. ter de aturdir sua visão e abster-se da profundidade e da glória da experiência do sexo. contrato de seguro. em plena idade. estou feliz”. a libertária Emma Goldman afirmava que o casamento era o oposto de paixão e consistia em arranjo econômico. 20 de março de 2012]. até que venha um ‘bom’ homem para tomá-la como esposa?”. é uma prática caquética travestida de descolada pelos usuários das redes sociais que repercute o nivelamento pelo direito. tristeza consagrada. 246. basta olhar para as festas e comícios que elas promovem. fala de uma cena consolidada nas quais as divergência e diferenças foram apaziguadas. e acabou com um embate contra a polícia na porta do SESC Pompéia. inclusive de crianças. Hoje. pela jornada de oito horas diárias e resultou.21 2012 do festival O Começo do Fim do Mundo. das lutas no presente Que o dia de luta dos trabalhadores já virou dia do trabalho. isso não é de hoje. no assassinato de oito trabalhadores. 1 de maio de 2012]. tida como inimigo comum em 1982. empreendedorismo e compartilhamentos. Hoje. no EUA. Pulsava novidade e revolta. 27 de março de 2012]. Ele credita o apaziguamento ao fim da Ditadura Civil-Militar. pergunta-se: quais são as lutas dos trabalhadores? [n. [n. um dos organizadores do evento. A primeira edição se realizou com quase trinta bandas. Que as centrais sindicais são instrumentos de gestão da mão de obra em favor das melhorias do capitalismo. 492 . 241. O punk virou um bem cultural imaterial e já diz que tem futuro. na época pouco conhecidas. episódio que ficou conhecido como o massacre do Haymarket. com greve geral. Era um tempo em que o trabalho incidia sobre o corpo na forma de exaustão física e mutilação. quando as jornadas de trabalho se desdobram em conectividade. não se fala mais em movimento. em 1886. funcionário da rede SESC. O primeiro de maio emergiu de uma luta. trinta anos depois. a Comissão da Verdade deverá situar os efeitos desastrosos que o capitalismo provoca em cada um quando lança mão de regimes ditatoriais para progredir em seu desenvolvimento. Se toda criança e jovem deve saber o que se fez com os corajosos resistentes às ditaduras. sem o consentimento do Estado. Precisamos limpar o terreno deste “imbróglio” chamado segurança em nome da liberdade neoliberal e da obsessão dos cidadãos medianos pela punição como garantia de sobrevida. Pode ser que daí em diante ninguém mais se assuste com a corajosa atitude dos jovens que produzem escrachos e tampouco com a constatação que se tortura diariamente em delegacias. que nada se esgotará nos resultados da Comissão da Verdade e que muitas outras verdades libertárias devem ser pronunciadas. que toda pessoa livre tem o dever de impedir que qualquer autoridade meta mão no corpo de qualquer um. Não está em questão um julgamento. que polícia e tortura formam um casamento indissolúvel. Até quando os tolerantes governantes e seu respectivo rebanho sustentarão a necessidade da prisão para jovens? Dizem que entramos na era da cultura de paz. mas somente a exposição dos efeitos sobre os envolvidos (torturadores e torturados). é tempo também deles saberem que não há democracia sem dispositivos de exceção (dentre eles o voto obrigatório). mas ainda tratam a paz como gestão do negócio político fundado na cultura do 493 .vervedobras Mirando libertariamente outros espaços comissão da verdade: agora vai? Menos do que punir ou rever a lei da anistia. e para onde vai? Trata-se da coragem em pronunciar verdades e não de produzir mais um negócio político. o governo argentino roubou as crianças filhas de militantes que resistiam à ditadura. filhos. muitas mulheres foram sistematicamente violentadas ainda grávidas por homens abjetos como Coronel Ustra. assim como ocorreu pelas ruas de Buenos Aires. No Brasil. [n. 248. Algumas. expor por aqui o endereço e em que estão empregados hoje estes homens covardes que dedicaram suas vidas a derramar o sangue de mães. gerando novas institucionalizações do medo. responsável pelos partos no interior da Escola de Mecanica da Armada. o ditador Jorge Videla justificou tal roubo como uma “solução humanitária”. para mães e filhos Nos anos 1970 e início dos 1980. É preciso. irmãos e amigos destemidos. Todavia. entre outros canalhas.21 2012 castigo. Delegado Calandra. se na Argentina as ações de escraches organizadas pelos filhos dos “desaparecidos” expuseram homens desprezíveis como Jorge Magnaco. somente capturas de revoltas. 15 de maio de 2012]. Nisso não há paradoxo. Em entrevista concedida essa semana. torturadas diante de seus próprios filhos. 494 . no Brasil. e que perdeu o emprego e a casa em que morava depois de terem sido revelados os serviços que prestara a ditadura. a maior parte da população desconhece quem torturou em nome da segurança e do Estado. ou autoridades governamentais. em grande parte. explicitam a vontade de uma livre experimentação e uma recusa em aceitar passivamente o controle exercido sobre a vida de cada um. filme e quadrinhos. militantes respeitosos. não passou desapercebido por jovens inquietos. 2012 495 . diante de uma urgência de agir e de não ser governado. Ao mesmo tempo o livro foi atacado como sendo “inseguro” demais. Ele é. A fama do livro deveu-se. do proibido e do perigoso. o livro e suas receitas. A mistura inflamável de bombas e anarquia vervedobras. a resposta de um jovem à exigência de uma subserviente conduta. obedientes e tolerantes cidadãos de bem. inspirou livros homônimos. Não à toa. 21: 495-496. irresponsável em excesso. perigoso e ilegal exerce um certo fascínio em corpos jovens e ojeriza em conformados. Livro que atrai pela força impressa na palavra anarquista e pela possibilidade explosiva no conteúdo de suas receitas. que por vezes mantiveram em comum apenas o título. talvez. “imaturo” demais. no entanto. em suma. The Anarchist cookbook. Resposta demasiado forte para o próprio autor que se rendeu a uma vida pacificada.vervedobras Receitas explosivas receitas explosivas eliane knorr Tudo que é proibido. ao sensacionalismo em torno do excitante. renegando o que escreveu como “coisa de jovem”. que está presente em resenha em verve 21. Um tanto precipitado e apressado em sua construção. Mas não interessa aos anarquistas ícones nem modelos pré-estabelecidos. Alguns dos nomes em português foram adaptados aos elementos que nos são mais corriqueiros. por isso. Basta ter curiosidade e saber que o efeito que se espera é explosivo. que permite passar. menos incendiárias. uma lista com os compostos químicos geralmente utilizados na confecção de explosivos. vale a potência do fogo que explode muros. Para aqueles que se interessam. também. que abre caminhos. 496 . As receitas traduzidas aqui são algumas das mais simples apresentadas no livro. Bom apetite. nunca é demais uma pesquisa mais apurada. Há. avançar.21 2012 fez do livro de receitas uma referência abominada por uns e iconizada por outros. mas não. seguida de seus nomes mais familiares. ao contrário. contra carros. Preencha um tubo de papelão ou de metal com uma mistura de três quartos de clorato de potássio. São ótimos. um quarto de açúcar.Bomba-relógio incendiária O procedimento é muito simples. Quando o ácido entrar em contato com a mistura de açúcar e clorato de potássio. barricadas e portas de ferro ou aço. Este explosivo pode ser utilizado para destruir muros. também. lacrados nas extremidades e conectados no meio – o que permite que o torpedo tenha comprimentos diferentes. Faça um furo em uma das extremidades. e lacre. A tampa. insira um frasco invertido contendo ácido sulfúrico e tampe com uma rolha ou similar. Torpedo Bangalore São apenas alguns canos preenchidos com bananas de dinamite. o resultado será uma poderosa bola de fogo. deve conter um pequeno furo onde será inserido um fusível e a cápsula detonadora. em uma das extremidades. envolva as bananas de dinamite com camadas de . caminhões e mesmo trens. Se não encontrar os canos para a confecção do torpedo. Nesse furo. deixando um pequeno furo para o fusível. Esta lista não está completamente correta.fita isolante e fio de cobre. preenchana com uma camada de dinamite. Lacre a parte aberta da lata.) nomes de compostos químicos e o seu nome de uso mais comum.. Deve-se checar os as substituições antes de usar. para ter absoluta certeza de que é o que você quer. vazia e limpa. são necessárias várias camadas de cada um.. caso contrário. Uso comum [Na lista abaixo estão os] (. ligada a um cabo de madeira. Granada caseira A granada é feita com uma lata de leite condensado. ainda que possa parecer. Em seguida. Nesse caso. os elementos extras podem levar a resultados indesejados. . Certifique-se que o composto químico esteja isolado no ingrediente que substituirá. cosméticos etc.é o gás) tetracloreto de carbono (fluido de limpeza a seco) dicloroetano (nenhum elemento familiar) óxido de ferro (III) (ferrugem) glicose (melado) grafite (o mesmo utilizado em lápis e lapiseira) ácido clorídrico (ácido muriático é utilizado para limpezas. em soluções extremamente diluídas) peróxido de hidrogênio (água oxigenada) acetato de chumbo (antigamente utilizado em tintas.Composto químico (Nome comum) ácido acético (vinagre) óxido de alumínio (alumina) sulfato de alumínio e potássio (pedra-ume/cristais de alúmem) sulfato de alumínio (cristais de alúmem) hidróxido de amônio (branqueador de roupas.) . tintura de cabelo) carbonato de carbono (não encontrado) hipoclorito de cálcio (alvejante) óxido de cálcio (cal) sulfato de cálcio (gesso/giz de lousa) ácido carbônico (água tônica . tetróxido de chumbo (usado antigamente em tintas zarcão contra ferrugem) silicato de magnésio (talco) sulfato de magnésio (sais de Epsom e sais de banho) naftaleno (naftalina) fenol (desinfetante) bitararato de potássio (creme de tártaro e fermento químico) cromo (III) sulfato de potássio (não encontrado fora do contexto industrial) nitrato de potássio (salitre) dióxido de silício (areia) bicarbonato de sódio (mesmo nome. utilizado para limpeza na cozinha) borato de sódio (bórax) carbonato de sódio (presente em detergentes) cloreto de sódio (sal de cozinha) hidróxido de sódio (soda cáustica) silicato de sódio (água de vidro/ vidro líquido) sulfato de sódio (sal de Glauber/sal decahidratado) tiossulfato de sódio (fixador fotográfico) ácido sulfúrico (fertilizantes e bateria de automóvel) sacarose (açúcar) cloreto de zinco (thinner e água rás) . .gustave courbet. 1843-1845. Autoretrato (Auto-portrait). henrique oliveira. . detalhe). 2010. A origem do terceiro mundo (instalação.
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