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Varnhagen - Ensaio Historico Sobre as Letras No Brasil (1)
Varnhagen - Ensaio Historico Sobre as Letras No Brasil (1)
March 25, 2018 | Author: polinha_182 | Category:
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Biblioteca VirtualbooksENSAIO HISTÓRICO SOBRE AS LETRAS NO BRASIL Francisco Adolfo de Varnhagen ******************************** Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através da Virtualbooks. A VirtualBooks gostaria de receber suas críticas e sugestões sobre suas edições. Sua opinião é muito importante para o aprimoramento de nossas edições:
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Estamos à espera do seu e-mail. Sobre os Direitos Autorais: Fazemos o possível para certificarmo-nos de que os materiais presentes no acervo são de domínio público (70 anos após a morte do autor) ou de autoria do titular. Caso contrário, só publicamos material após a obtenção de autorização dos proprietários dos direitos autorais. Se alguém suspeitar que algum material do acervo não obedeça a uma destas duas condições, pedimos: por favor, avise-nos pelo e-mail:
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para que possamos providenciar a regularização ou a retirada imediata do material do site. www.virtualbooks.com.br Copyright© 2000/2003 Virtualbooks Virtual Books Online M&M Editores Ltda. Rua Benedito Valadares, 429 – centro 35660-000 Pará de Minas - MG Todos os direitos reservados. All rights reserved. ******************************** 2 depois de arabizar-se muito. pois que essa ambição elevada se satisfazia melhor na África ou na Ásia. apesar desse polimento da língua e literatura portuguesa. durante o século XVI. Os troncos colonizadores não trazem. só chegou àquele resultado. que nisso se empenhavam: assim as línguas e literatura. ao colonizar-se ela. Com efeito. O castelhano. nem corromper o valor das articulações latinas. de adotar o gutural árabe. não é aos gozos. sempre em harmonia com a ascendência e decadência dos estados. como verdadeira decoração que são de seus edifícios. na época em que se colonizava o Brasil. subiam então pelas suas literaturas à categoria de línguas. nem mesmo às glórias terrenhas a que aspira: é à glória imortal. e de alterar insensivelmente outras articulações latinas. não passam elas com os novos colonos. ou antes. e as miras do literato alcançam mais alto. pois. fazer fortuna. Ao Brasil. O português poliu-se sem degenerar quase nada de sua filiação galego-asturiana. da árvore-mãe seiva poética bastante para produzirem frutos com ajuda do clima e da terra. 3 . A atividade intelectual que emigrava da metrópole nem bastava toda para se estender pelos Algarves d’Além e pela Índia. Mas. como se as letras se encolhessem com medo do Atlântico. tocavam então o maior auge. e o castelhano moderno serve a comprovar quanto o domínio de uma nação estrangeira pode fazer variar um idioma já bastante formado. O português de hoje é o mais legítimo representante do antigo castelhano e do domínio romano na Espanha. o castelhano e o português. achavam-se no seu maior esplendor as duas nações do extremo ocidental da Europa.ENSAIO HISTÓRICO SOBRE AS LETRAS NO BRASIL Ao descobrir-se a América. graças ao impulso que lhes davam os respectivos centros governativos. procedente da mesma filiação. que tiveram a sorte de passar primeiro que outras línguas do velho ao novo continente. ia-se buscar cabedais. Não era no Brasil que os ambiciosos de glória tratavam de buscar louros para colher. o teatro na Idade Média se conservou e se aperfeiçoou depois. começavam logo a ensinar a cantar aos pequenos catecúmenos filhos da terra e. a respeito deste último. ao som de tamborins e maracás. Ercilla. foi o fruto da observação e residência de dezessete anos na Bahia. que foi quem primeiro fez conhecer aos gregos as riquezas naturais da Ásia. daí proveio o primeiro impulso da poesia e do teatro no Brasil. acabando estas no consoante dos mesmos motes. Assim. Na América Espanhola sucedeu diversamente. feito em 1587. só ultimamente se imprimiu: referimo-nos à do colono Gabriel Soares. enquanto Camões combatia em África e se inspirava em uma ilha dos mares da China. A única obra que nesse primeiro século se escreveu com mais extensão sobre o Brasil. quando Os Lusíadas viam a luz (1572). Ao Brasil não passavam poetas.onde feitos heróicos se passavam. pois. como até se depreende da lei das Partidas. eram os mesmos músicos ou cantores que em geral tinham boas vozes. e. Os indígenas tinham um gênero de poesia que lhes servia para o canto. havia já três anos que corria impressa a 4 . um Castanheda e um Barros. um Corte-Real. necessário esperar que ele se civilize e que os poetas aí nasçam e vigorem seus frutos. pois. O improvisador. que na Ásia e na África se representavam. Do território hispânico não havia já mouros que expulsar e às Índias tinham de passar os que queriam ganhar glória. sucedeu neste país o mesmo que nos séculos anteriores se passara na Europa. mais tarde. e em prosa por um Gaspar Corrêa. e arremedavam pássaros. cobras e outros animais. ou autos sacros. Nos seus colégios. bailando ao mesmo tempo e ao mesmo lugar em roda. Os missionários jesuítas. soldado espanhol no Ocidente. é. ou improvisadora. como é sabido. conhecendo estas tendências. para eles representarem. cujo trabalho. Eram também grandes oradores e tanto apreciavam esta qualidade que aos melhores faladores aclamavam muitas vezes por chefes. as suas Índias eram só as ocidentais. nem Ásias. O assunto das cantigas era em geral as façanhas de seus antepassados. garganteava a cantiga e os mais respondiam com o fim do mote. um Vasco Mousinho. ocupando-se exclusivamente de assuntos religiosos. etc. Os acontecimentos. prezados até pelos inimigos. deixava gravada uma oitava sua no arquipélago de Chiloe. trataram de empregar a música e a poesia como meios de catequese. Assim. A Espanha não tinha Áfricas. os seus poetas. tantos como como passara na Pérsia o naturalista Ctésias. eram eternizados em versos por um Camões. improvisavam motes com voltas. mas eram demasiadamente monótonos. compunham até comédias. trovando tudo por comparações. não menos herói. a história dos espanhóis que. Mexia e os mencionados Oña. Diego de Hoje da a sua épica Christiada. Aí se mencionam. mais se ilustraram na América. às Epístolas d´Ovídio.primeira parte da Araucana. Com o título de elegias canta Juan de Castelhanos. desde Colombo. que. publicou em dezenove cantos o seu Arauco Domado. como mais distintos árcades. na mesma cidade. Cabello e Duarte Fernandes. os nomes de muitos sócios a introdução. Diogo d´Avalos y Figueroa imprimiu sua Miscelanea Austral y Defensa de Damas. no Chile. seguidos por Diego de Santistevan Osório e Pedro d´Oña (já filho d´América). que nunca se imprimiu. também em Lima. Montezuma. uma tipografia na qual. em 1608. e Fernando Alvarez de Toledo o seu Puren Indomito. em 1602. Com razão diz a tal respeito d. que o presbítero Miguel Cabello Balboa deixou manuscrita. feita por uma senhora. e não com formas nacionais. com falsidades na guerra. com a sede do ouro. autor da epopéia El Bernardo. Força é 5 . é. mas até a exaltar generosamente as proezas do mesmo Arauco que ele combatia com armas. O pequeno poema Grandeza Mexicana. mas aqui. apesar de suas hipérboles e exagerações sempre poéticas. fr. A regularmo-nos pelos tons dos cantos do berço. O México não deixava também de participar do estro ibérico. Nem sequer um canto de bardo se levantou a favor do. compunha. Gabriel Lasso (1588) e Antonio Saavedra imaginaram epopéias a Cortez. como no Chile. depois. por Pero Mexia. Por esse tempo. publicada em 1611. com ar de conquistador. Gabriel Gomes: Al valiente Araucano Alonso venció y honró: la ira Recompensó la lyra. estes montanhosos países da América Ocidental deveriam ter que representar um importante papel no desenvolvimento futuro da literatura americana. Já então se tinha organizado em Lima uma Academia Antártica e havia. Os passos de Ercilla eram. mas foram tão mal sucedidos como século e meio depois o mexicano Francisco Ruiz de León. que logo se começou a corromper: primeiro. em milhares de fluentes oitavas. onde o próprio poeta soldado é o primeiro. não só a confessar. obra que faz lembrar a Miscelanea Antártica y origen de Índios. publicado no México em 1604 pelo ao depois bispo Balbuena. o primeiro trecho de boa poesia que produziu a vista desse belo país. Da mencionada Academia Antártica nos transmite. em 1605. tão simpático. por enganado. de si terra pouco hospitaleira. de todas as que temos mencionado. temos nisso inteira fé. às vezes. aos quais melhor chamara capítulos) a sua História de la Nueva Mexico.americanos. uma completa insubordinação a todos os preceitos dos clássicos gregos e romanos. em vez de imitarem o que lêem. demasiado empolado. Deus o fade igualmente bem. Não. se inspirem da poesia que brota com tanta profusão do seio do próprio país e sejam. não há mais que segui-lo. e nesta descreve os feitos do Adiantado Oñate e seus companheiros. quando chegue o desengano de que a política atual quebranta a alma e deixa um vago no coração. mais que todos os outros. Mais poeta nos parece que seria o pe. por se haver ele inspirado. é. foi Saavedra e o capitão Gaspar de Villagra que. cansado dos esperançosos enganos da política! Deus o fade bem. quando as ambições se cansem por si mesmas. publicou em Alcalá ( em trinta e quatro cantos de verso solto. Não cabe aqui seguirmos a história das produções poéticas nos países que hoje constituem as diferentes repúblicas hispanoamericanas. e dos clássicos da antiga mãe-pátria. fazemos votos para que uma tal literatura se eleve à eminência de que é suscetível: o altíloquo Heredia e o mimoso Plácido abriram caminho. a trechos. o gênio terá que buscar. Mas a Argentina é também mais uma dessas histórias em verso que um poema. ocupou as atenções de Martín del Barco Centenera. a que mais abunda em cenas descritivas. antes de tudo. Todos os demais poetas queriam ser demasiado historiadores. originais . escrito em quadras. nos seus diferentes estados. por secarem. contudo. o mais seguro e mais glorioso refúgio. Haverá quem o siga? Quanto a nós. para que aqui venham as letras a servir de refúgio ao talento. Por nossa parte. obscuro e. para que os poetas. Mas que por este americanismo não se entenda. A América. de um dos grandes elementos que deve entrar em toda a elevada poesia americana: a majestade de suas cenas naturais. no que caiu algum tanto o próprio Ercilla e muito mais outros que chegam a ter a sinceridade de assim o declarar. mas. na cultura do espírito. em 1610. deve ter uma poesia. deixaremos consignado que tanta seiva emprestada de pouco lhes valeu. Deste número. Lancemos as vistas para o nosso Brasil. como se tem querido pregar nos Estados Unidos.confessar que a obra de Balbuena é. talvez. o deixa aparecer antes. Buenos Aires. com mira de fazer heróico o panegírico. infelizmente. uma revolução nos princípios. as árvores antes que as raízes fossem assaz vigorosas para nutrir novos rebentões. 6 . Rodrigo de Valdés. que deviam ser a um tempo espanholas e latinas. de quem possuímos a Fundação de Lima. . 7 . em vez de adotar e possuir-se bem dos preceitos do belo. voltando aos tempos em que deixamos as letras e a poesia entregues aos desvelos dos jesuítas. que escreveu em latim um poema da Paixão. Martinho e Salvador de Mesquita. Nessas aulas se educaria primeiro o franciscano. o escritor paulistano Manoel de Moraes. os ânimos. Delas saiu.) (Assumpção. de tempos a tempos. desprezasse todos os elementos da civilização. quando bem derramado. os distraiu da exclusiva ocupação de ganhos e interesses mesquinhos. e o segundo deixou tragédias e dramas sacros. Toda a guerra de alguns anos. que dos colégios destes que se haviam apoderado da instrução da mocidade. O contrário podia comparar-se ao que. finalmente. às nações. convém . por ventura. como diz o nosso poeta religioso: (. O sangue é fecundo. mas enganar-se-ia o que julgasse que para ser poeta original havia que retroceder ao abc da arte. c. Não será um engano. querer produzir efeito e ostentar patriotismo.. para promover a civilização e exaltar o ânimo a ações generosas. só filha da contemplação de uma natureza nova e virgem. para o magnificarmos pela religião.principalmente no descritivo. nas mesmas estudaria o seu compatriota. queimado em estátua pela Inquisição.) os vates em metro perigosos Que abusaram da musa (. nascido na Bahia. Mas é singular como a atividade literária só começa depois que a guerra dos holandeses. para ocupar-se mais em apreciar as artes do engenho. saíram os primeiros humanistas e os primeiros poetas que produziu o Brasil. exaltando as ações de uma caterva de canibais que vinha assaltar uma colônia de nossos antepassados só para os devorar?Deu-nos Deus a inspiração poética para o louvarmos. em 1564.. a memória de seus próprios avós! Mas. é. 2o ) Infeliz do que dela se serve para injuriar sua raça. e serão amaldiçoados.. e a conquista de glórias é tão necessária a um povo-nação como o aumento de suas rendas. por assim dizer. por exemplo. para as despertar de seu torpor. Domingos Barbosa. e autor de uma história do Brasil que existe manuscrita. despertando. Delas sairiam os dois amigos de Vieira. o Pe. seus correligionários e. sem dúvida. quando bem dirigida. para buscar originalidade. Vicente do Salvador. todos os preceitos da religião que nos transmitiram nossos pais. dos quais o primeiro imprimiu obras em Roma (1662-1670). que dos antigos recebeu a Europa. procedeu não só de que os primeiros descobrimentos e colonização foram feitos com ajuda de castelhanos. que se estende até a alguns modismos e usos. o primeiro brasileiro que se deu à poesia religiosa. Estas diferenças que. não obstante variar em algumas entoações e cacoetes segundo as províncias. diferente do acento de Portugal. a não ser que os nascidos em uma passassem a outra em tenra idade. essa mesma guerra foi a causa de que passasse ao Brasil um dos maiores homens. passaram outros muitos que aí ficaram estabelecidos. com seu gênio vivo e grande eloqüência. Alguma observação a este respeito nos chegou a convencer que as diferenças principais que se notam na pronunciação brasileira procedem de que a língua portuguesa no Brasil. Antes de passarmos adiante. etc. além disso. por meio de seus sermões. e até literária. sobretudo desde os oito aos dezesseis anos. pelo menos.O Pe. para a recuperação da Bahia contra os holandeses. escreveu por esta ocasião a Epanáfora bélica. esta alteração na pronúncia. como de que . que lembrou mais uma comédia ao imortal Lope de Vega. nem converter o o em u e em dar ao s no fim das sílabas o valor que lhe dão os italianos. consistem na transposição dos possessivos. que serviu de motivo de inspiração a Vieira de muitos de seus rasgos mais eloqüentes. sobre a expulsão dos mesmos holandeses de Pernambuco. como testemunha de vista. principalmente. a quem o novo monarca brindou com o título de principado na pessoa do herdeiro do trono. ou do sch alemão. Algum tempo depois da aclamação do duque de Bragança. e não o do sh inglês. um filho do Brasil. tanto espanhol como português e o contato dos negociantes de gados e tropeiros com estes países fez que se adotasse deles quase tudo quanto é nomenclatura da gineta. sem fazer elisões no e final. fala-se hoje. por uma notável singularidade. no interior da província do Rio Grande. além disso. diremos. que contam nos anais de literaturas Portugal e Castela: referimo-nos a d. Francisco Manoel de Mello que. Antônio de Sá e Eusébio de Mattos. no fazer ouvir abertamente o som de cada uma das vogais. além de outros pregadores brasileiros. foi. que foi um tônico para o povo. Este foi. 8 . Diogo Gomes Carneiro. a guerra contra os holandeses. E. da nova colônia. tem sempre certo amaneirado. desde o princípio. em poucas palavras. Vieira. se acastelhanou muito. por exemplo: lombilho. pelo qual as duas nações se conhecem logo reciprocamente. As suas lições e os seus estímulos deram ainda aos púlpitos. foi nomeado cronista geral deste país. um dos mais poderosos agentes que contribuíram para a regeneração moral. as nossas opiniões acerca do acento do Brasil que. em 1575. Quanto aos jesuítas. também nos refere uma procissão das onze mil virgens em que estas iam dentro de uma nau à vela (por terra) toda embandeirada. Cristóvão de Gouvêa. e sendo as mártires enterradas pelos anjos. parece óbvio que a pronunciação ou acento peculiar ao Brasil. fizeram representar em Pernambuco o Rico Avarento e Lázaro Pobre. a gozar da suave viração da tarde! . ou de alguma modinha das que devia de entoar a bela colona. disparando tiros. que cremos ter o sabor do primeiro século da colonização. talvez. de que adiante trataremos com mais extensão. celebrando depois o martírio dentro da mesma nau. insignificantes. ensinadas pelos jesuítas. portuguesa e castelhana. 30) como ouviram os índios representar um diálogo pastoril em língua brasílica. sabemos que. escrita por Fernão Cardim. na Bahia. sentada junto ao rio. Vieira. e de época incerta. Gregório de Mattos. Nos anos de 1583 e seguintes não temos mais que ler a narrativa da visitação às diferentes províncias do Pe.. que produziu o efeito de darem os ricos muitas esmolas. também o mesmo descreve a representação de certo diálogo (que se julgava composto por Álvaro Lobo) sobre cada palavra da Ave-Maria. já na época de que nos vamos ocupar. Das modinhas. tinham já um curso d’artes e duas classes de humanidades. mas não foi possível alcançá-la completa. Cardim nos dá notícia de uns versos compostos então ao martírio do Pe. também (pág. Desejáramos agora dar algumas amostras das primeiras cantigas religiosas. a do pe.Dadas estas razões. mesmo a de seu irmão. que será de ti!” glosada por Gregório de Mattos. o que parece comprovar9 . Na obra de Cardim se lê. língua esta que falavam com muita graça. pelo menos criado no Brasil desde muito moço. com danças e outras invenções devotas e curiosas. pois.Mas só o tempo poderá recolher esses monumentos da primitiva poesia nacional. etc. para nos convencermos dos muitos progressos que haviam feito os discípulos dos jesuítas que. poeta satírico. Inácio de Azevedo. Os escassos fragmentos que chegaram a nós de poesias principalmente religiosas em língua guarani não pertencem à presente coleção. Também sería a pronúncia de Eusébio de Mattos que nunca do Brasil saiu e. além de muitos epigramas que se faziam sobre vários assuntos. descendo a final uma nuvem do céu. essa mesma sabemos ser antiga. seria a mesma que hoje. a não ser a baiana: “Bangué. Não deixaremos de comemorar a do Vitu. poucas conhecemos e. Havia de ser. essas. não vou lá. Diz assim: “Vem cá Vitu! Vem cá Vitu! . não discípulo. segundo ele. o descontentamento e mal-estar o irritaram a ponto tal que. em vez de satírico. em geral demasiado prolixas. até os defeitos involuntários: os do corpo e os da geração.Água do monte o levou: “Não foi água. assim como sucede a este. nas sátiras pessoais temos sempre que lamentar que o poeta ultrapasse os limites da decência e que. e principalmente Rocha Pitta. que já em Coimbra. etc. mas escravo imitador de Quevedo. terra que. acerca dos seus versos satíricos. Se nas descrições das festas ou caçadas. e depois em Lisboa. dizer o que de outras cantigas análogas diz um ilustre contemporâneo: . que até as obscenidades se despejavam com um desembaraço digno de Catulo. e catanadas de abrir em dois até aos arções. Poderíamos. nas Academias dos Singulares e na dos Generosos. iam pelo claro as baldas públicas e secretas. não foi nada. Para botar algodão.” Mattos. deixe de ser cavalheiro. começara a manifestar as tendências de seu gênio. eram jambos de Arquiloco refinados. Cabe agora ocupar-nos do primeiro poeta que se fez notável no Brasil. isto tão sem resguardo nos termos. mas a vingança o movia contra esse representante do poder. iam os nomes estendidamente. eram estocadas de varar até as costas. nos entretém e diverte. era muita vez insolente. a que pertenceu. Foi cachaça que o matou” Igualmente antiga nos parece a modinha paulista: Mandei fazer um balaio. Passando ao Brasil. onde se formou. A maledicência que emprega contra o governador Antônio Luís.“Eram verdadeiros fascininos. que não a justiça. o criara para “mortal veneno”. portanto.se com ser em todas as províncias do Brasil tão conhecida. Foi o satírico Gregório de Mattos.Não vou lá. Marcial ou Beranger. fazem acreditar. se muitos lhe acham graça e chiste. a par dos elogios que de sua administração nos deixou Botelho. outros o acharão em oposição com o decoro de engenho. fez-se. algumas vezes. em vez de senhor 10 . não vou lá! “Que é dele o teu camarada?” . pelas tendências do seu caráter. surpreende e não comove. entre os dois irmãos Mattos. Aí confessa ele 11 . confessamos que nos inclinamos a que sejam pela maior parte de fr. quando quer ser filósofo.e gracioso.obra composta em 1689 por Diogo Grasson Tinoco e da qual era herói Fernão Dias Paes. harmoniosa e bela é a nossa língua para. foi ela inteiramente abandonada e. Não é este o lugar mais apropriado para entrar na questão da conveniência ou não conveniência do uso dos assoantes na poesia portuguesa. por esta razão. deixou muitas poesias manuscritas. muitas vezes. Quando muito. resenha destas obras. tornam-se monótonos se a rima os não abrilhanta e. mas descuidada. mas não inflama. Outro tanto terá sucedido aos Autos Sacramentais que compôs seu filho. Bernardo Vieira Ravasco. 35a e 61a. traz Mattos uma sandice. até às vezes se requer que aquela seja aturada. glosando o PadreNosso. que são para poesia menos elevada. o acharão cínico. Manuel Botelho de Oliveira foi o primeiro brasileiro que. em português. filho da Bahia. 27a . Com Quevedo e com os poetas portugueses dessa época. Fazemos votos para que o manuscrito que possuiu Cláudio ou algum outro venha a aparecer em Minas e seja dado ao prelo. cultiva os assoantes. mas não voa nem atura na subida. que damos por litigiosas. a par de um belo conceito. Seguia-se neste lugar tratarmos de um poema descritivo dos sertões brasileiros O Descobrimento das Esmeraldas . irmão do padre Antônio Vieira. o encontrarão truão e chocarreiro. ao depois vigário-geral da Bahia. um disparate ou uma indecência. de tal poema não conhecemos mais que as estâncias 4a . quanto a nós. salta com ímpeto e força. será de Gregório a glosa à Salve-Rainha. Das poesias. que não conhecemos. Só aos ouvidos mais delicados é dado apreciar a arte do assoante e. Fazemos aqui. Os redondilhos. Os espanhóis ainda hoje em dia conservam essa meia rima. Há nelas em geral mais unção religiosa e mais viva crença. mandou ao prelo um volume de poesias. de José Borges de Barros. Eusébio. Como de Quevedo. mas parece haverem-se perdido. com razão. e à comédia A Constância e o Triunfo. do Brasil. sobretudo nos romances. Gonçalo Ravasco. para chamar sobre elas a importância a fim de que se publiquem. nos líricos menores. se chegam a encontrar. o estilo é cortado e desigual. entretenimento semelhante ao de Quevedo. Infelizmente. O seu gênio poético faísca. Sua imaginação era talvez viva. no heróico elevado. que é natural ao gênio do poeta satírico. contentar-se com o solto. nunca ele será popular. que Cláudio Manuel da Costa transmite nas notas da sua Vila Rica. Amor. Quis passar pela vaidade de compor nas quatro línguas. pois vê-se uma certa forma para servir de pretexto a dizerem-se. Se existiu deveras a Anarda de Botelho. cumpre-nos dizer que ele. Botelho de Oliveira talvez nascesse poeta. se compreendem duas comédias. falta-lhe sempre o jeito de tal. do autor. que o autor possuía muito pouca arte. segundo o gosto da época. toma por modelo a Gôngora. O pior que ele fez foi querer demasiado imitar os poetas de Itália e Espanha (expressões suas) dessa época. demasiado extensos. nem que escrevesse primeiro em português e. porém. esses contemporâneos. e são seguramente. por quem ambos estavam apaixonados. Em ambas. um amigo cede a outro a dama. nos momentos em que não quer ser demasiado culto . pois mal das finezas amatórias que não foram inspiradas em algum sentimento ou alguma reminiscência da paixão do amor. lhe cambiasse as terminações. nunca destinou para o teatro estas composições. O enredo destas duas composições é mui insignificante. de uma e outra. tira-se de cuidados e manda muita vez cada qual à cena dizer o que lhe aconteceu e o que intenta fazer. nem sequer o autor soube para elas inspirar-se com os socorros de Calderón e outros poetas dramáticos dessa época. Ao seu castelhano. É o título da outra . apesar do seu grande talento. diz a comédia. só ele as sabia dizer com arte. uma das quais Hay amigo para amigo já antes fora publicada anônima entre as Famosas.três inimigos da alma.e nós hoje diríamos contorcido. No italiano e latim. que se dão nos amantes e no mundo todo. e melhor fora ter-se estreado em uma bem. italiana e latina.como então se dizia . Nas suas obras. nunca podia imitar-se. Na primeira. Nota-se. as jornadas ou atos são. em geral. pois coisas que ele diz. Botelho tinha nímia erudição para poder obedecer sempre às próprias inspirações e encher todo o seu extenso volume da Musica do Parnasso (que à imitação talvez de d. em que descreve a pitoresca ilha baiana da Maré. castelhana. a dificuldade da empresa prendeu-lhe a veia poética. depois. fala-se de amor e mais amor. por certo. descantes de trocadilhos e conceitos amorosos ou com pretensões de tais. de cujas poesias apenas se conhecem os títulos. portuguesa. e Gôngora.a existência de outros poetas que haviam então no Brasil. Em defensa. título que lhe quadra. enganos y zelos . a que chama Descante cômico reduzido em duas comédias. em vez de pôr em diálogo o que lhe convém. Além disso. pois. Francisco Manoel dividiu em choros). como se conhece quando segue sua natural inspiração. mas em ambas há pouca paixão. insensivelmente. com mais composições semelhantes à silva. ou pouco conhecimento deste gênero de literatura dialogada. e não lhe falta imaginação. duvidamos que se 12 . não só disso se prezou no seu nome. Ni la desgracia le abatió importuna. contém algumas belas oitavas. a afogar-se no Lethes. Y que à pesar del tiempo y del olvido. deixounos Botelho várias canções. e que ainda vivia em 1751. tão recomendado pelo assunto e que tem sido escolhido para empresa de mais de um poeta. para nos servirmos de uma expressão querida na época em que ele viveu. buen padre. ¿ quien fue el varon inimitable. no Florilégio. Que en paz y guerra. Roma se acordará de ser su cuna. como nos seus versos. Filho da baiana ilha de Itaparica. por pouco merecimento que se encontre nessa descrição da ilha de Itaparica. En una y outra suerte padecida. de ser condenado. Ni la felicidad le há envanecido: Aquel. ¿ como Eustaquio haya podido Llenar la tierra y mar de sus hazañas ¿ Como despues de poco haya caido De tanta altura ¿ como tan extrañas Aventuras sufrió! ¿ como há perdido El fructo de su amor y sus estrañas ¿ Como há pagado su valor el suelo 13 . que problemático há dexado. Antônio Montiel . das comédias e das poesias amorosas. siempre inalterable. y à si mismo Aquel hombre. buen marido. em que consagrou várias composições aos funerais do rei d. designamos pelo nome de Anônimo Itaparicano e hoje temos a certeza que era o pe. mayor que la fortuna. Si fue mas infeliz. fr. en la muerte y vida. Con exemplo notable de heroismo.enternecesse com tais declarações desenxabidas. da ordem seráfica. Além da silva. João V. Buen amigo. inspira favorable Conceptos à mi mente confundida: Dime. não inferiores às do moderno poema castelhano do pe. que afortunado. fr. Manuel de Santa Maria Itaparica. que começa com as três belas oitavas seguintes: Divina Musa. Siempre glorioso. com mais algumas outras suas composições. pues. acima mencionada. Quase contemporâneo a Botelho de Oliveira deve ter sido o autor que. que nos parece digno. Dime. O Eustaquidos. um panegírico em 34 estâncias ao marquês de Marialva. Sopo vencer al mundo. José de Anchieta. João Álvares Soares ocuparam-se de algumas insignificantes poesias à morte de d. Pedro II que correm impressas. poema sobre o descobrimento do Brasil. do qual diz Brito de Lima: “Nas loas do Parnaso as brancas aves Avantajou no harmônico e sonoro Luís Canelo. em vez de seguir a inspiração. e em prosa. no seu Orpheus brazilicus trata das virtudes do pe. da do tabaco. Bartolomeu Lourenço. também se exercitou na poesia latina o pe. natural da Cachoeira. o voador. que em métrica harmonia É modulado cisne da Bahia. autor de quinze livros latinos que podemos chamar Geórgicas Mexicanas. que então se exercitava na poesia latina. em que José Rodrigues de Mello trata da cultura da mandioca e outras raízes. Contentemo-nos com fazer menção da pernambucana d. publicá-los corria por conta dos adulados. etc.” (Poem. Mais tarde.¿Como há premiado su virtud el cielo Cabe aqui fazer menção de um jesuíta. pág. o segundo é o erudito Soares Bahiense. não compreendemos. naturalmente. O Carmem De Sacchari opificio de Prudêncio do Amaral só foi impresso no fim do século passado e corre incorporado nos quatro livros de rebus rusticis brazilicis. Gonçallo Soares da Franca e o pe. em nossa coleção. a busca em assuntos alheios a ele. O primeiro começou Brazilia. dedicava-os à adulação e. Francisco de Almeida. autor do Progymnasma Litterario. para lhes prestar servil acatamento! Cabe aqui consagrar algumas linhas à memória dos paulistas Alexandre de Gusmão e de seu irmão.. são seus os elogios dos bispos e arcebispos que acompanham as Constituições da Bahia. o qual. Conseguiu por isso mais fama e glória? Desgraçado do poeta que. Cumpre reconhecer que a obra brasileira tem menos desenvolvimento do que a de Raphael Landivar. Do primeiro. fest. 141) Este Brito de Lima foi um dos poetas da Bahia que mais versos conseguiu fazer imprimir. O mencionado Amaral nos deixou o Stimulus amandi Dei param que julgamos nunca foi impresso. nenhuma das 14 . Joana Rita de Sousa e de Luís Canelo de Noronha. ambos os quais cultivaram as letras. filho do Rio de Janeiro. quando assaltaram a ilha de Porto Rico. a não serem paródias. Para o fazer figurar na nossa coleção. Ao referirmo-nos às operas. desculpemos-lhes a hipocrisia. o mestre em artes João Mendes da Silva. cumpre dizer que não nos consta que fossem jamais 15 . Barbosa menciona um ofício da cruz em verso. em oitavas rimadas. natural. de cujo manuscrito se apoderaram os holandeses. remetendo o leitor para a sua biografia e para os trabalhos que sobre suas obras terá talvez já ora publicado o nosso amigo. Bastalhe que. por infelicidade. Notamos que. profissões de fé anti-judaicas. e ainda pior. que se pode sondar o gênio deste brasileiro. ou antes. quando essa. do Rio de Janeiro. correm em seu nome. como seu filho. na maior parte dos assuntos. queimando-lhe o corpo! É de saber que o pai de Antônio José. separamos de suas óperas alguns versos que publicamos. de Antônio José. zarzuelas. Queremos antes ver Alexandre de Gusmão presenteando sua pátria com a colonização das ilhas de Santa Catarina e Rio Grande. e enquanto esse ilustre político escreveu. um poema Christiados. Pouco diremos neste lugar do desgraçado Antônio José. Não admira. um hino a Santa Bárbara e. se contêm. É nestas obras. Seu irmão não foi entendido no seu tempo: contra a sua invenção choveram sátiras. pelo menos nos títulos. em tal caso. porém poesias de cálculo e. com as providências sobre o quinto do ouro e com a confecção do grande tratado de limites de 1750. e até uma comédia manuscrita vimos nós no Porto. também cultivava a poesia. tem sido a sorte de tantos outros homens de gênio. finalmente. talvez sem a ordem e as explicações necessárias e sem que se refiram ao Brasil. expressamente feita naquele tempo para o ridicularizar. mas. a tais composições. Pontes. sem a necessária autenticidade. só para que o não perseguissem? É certo que João Mendes morreu advogado da casa da suplicação quando a mulher e o filho sofriam os tratos dentro da Inquisição. mas cremos que não seriam elas obras de inspiração. a fábula de Leandro e Ero. por nos parecerem todas elas inferiores a tão grande homem. a perda de tais manuscritos não deve muito lamentar-se. Dedicar-se-ia ele. basta que a Santa Inquisição se vingasse do que ele escreveu. É sabido que Christiados fora o título de um poema latino do bispo Balbuena. nunca se imprimiram as obras que se lhe atribuem. Se as tais obras foram compostas para defender-se das perseguições destas. pois. por mais de um século. haja o público esquecido o seu nome. não se declarando este nas óperas e apelidando-as do judeu. para as levar a efeito. o Sr.composições ou traduções poéticas que. representaram. em 1729.representadas em teatros no Brasil. Antes tinha dado à luz vários escritos e composto poesias. mas de comédias. pelas quais pouco se recomenda o autor baiano. do Secretário de Estado do 16 . do mesmo Calderón. cumpre dizer que dela foi sócio o baiano Sebastião da Rocha Pita que. cômicos. O mesmo nos sucede com as do fluminense Manuel José Cherem. em que ainda. na Bahia. jesuíta pernambucano. além disso. se bem sejam de época um pouco anterior à das óperas de Antônio José. criada na Bahia em 1724. sabemos que se representaram. Fineza contra fineza. em 1742. Não negamos boa escolha nas produções acima. sob a proteção do vicerei. julgamos a notícia curiosa para não deixarmos de aqui a dar. El conde de Lucanor e os Afetos de ódio y amor de Calderón. O nome de esquecidos tomaram. na Bahia. Só por ocasião de festas se davam extraordinariamente representações. a regularmo-nos por alguns manuscritos que foram parar à biblioteca dos frades da Alcobaça e [que] tivemos ocasião de consultar. às vezes. atores capazes de desempenhá-las? Eis quando. ao depois. conde de Sabugosa. La fiero. um livrito de poesias que apenas tivemos ocasião de ver. de Moreto. Vasco Fernandes César de Menezes. em espanhol. Daquela Academia chegou a fazer memória o Mercúrio histórico de França. os sócios da circunstância de não haverem sido lembrados os seus na Academia de História que se criara em Lisboa. em 1720. mas os trabalhos delas eram de pouca importância. o que não era fácil encontrar em tempo. publicadas em Coimbra e com o culto métrico à Senhora da Conceição. desse mesmo ano. para no-lo contar. mas haveria ali. nem cômicos de profissão. Inácio Barbosa Machado e uma sobre a história eclesiástica do acima mencionado Gonçalo Soares da Franca. mesmo na capital do Estado. el raio y la piedra e El monstro de los jardines. em 1730. talvez. O pe. publicou uma História do Brasil que se recomenda pela riqueza das descrições e elevação do estilo que. entremezes e um pouco de dança. outra do dr. a saber: dissertações dos desembargadores Luís de Sequeira da Gama e Caetano de Brito e Figueiredo. algumas vezes. Já que falamos da Academia de História. com a notícia dos casamentos dos príncipes. Temos informação das representações feitas em duas dessas festas e. é para sentir que já não vivesse Gregório de Mattos. também publicou. vozes e músicos. Em janeiro de 1717. não havia teatro regular. João de Mello. são tais que mais parecem de um poema em prosa. Estamos chegados ao momento de dever dar conta da primeira sociedade literária regular que teve o Brasil: a Academia dos Esquecidos. La fuerza del natural e El desdén com el desdén. Exigiam elas (como os vaudevilles franceses de hoje). e esses. Do genetlíaco. porém. o marquês de Pombal para ali transferia a sede do vice-reinado. se tinha começado a organizar uma sociedade literária. do lente da Escola militar. É. José Fernandes Pinto Alpoim. José Pires de Carvalho. agora. o livro Exame de Artilheiros. por cujas obras poderíamos ajuizar do gênio do poeta. à Sociedade Literária. em 1752. exclusivamente panegíricas. em 1763. pelo talento de seus filhos. O mesmo sucedeu mais tarde. e sobretudo por se achar mais central para acudir de Pernambuco à Colônia do Sacramento. sob seus auspícios. contém muitas poesias de brasileiros. O livro deste último. por Antônio da Fonseca. Relação Panegírica. composto a uma senhora. Todas três possuía um amigo nosso. se criou. com o nome de Academia dos Seletos. e das dos Aplicados. muito inferiores da América Espanhola. de um bispo do Porto e de um dos duques de Cadaval nada teriam com o Florilégio. ou porque não poderia por si mesma sustentar-se. que. Este escritor baiano era tido por bom pregador. dos escritos do cônego João Borges de Barros. portuense. nada podemos aventurar. João V. pelo pernambucano Manuel Rodrigues Corrêa de Lacerda. pelo seu comércio. em 1747. quando tantas outras havia já em várias cidades. mas por julgá-las só próprias de uma Miscelânea. Esta tipografia emudeceu logo. Mais felizes fomos com impressos de fr. não por falta de merecimento. patenteado em Coimbra. no vice-reinado do marquês do Lavradio. a tratar de outra que chegou definitivamente a organizar-se. fora aí estabelecida. para sentir que em Olinda já em tempo de Jaboatão não se achassem os manuscritos do poema ao Espírito Santo e a tragicomédia de Santa Felicidade e seus filhos. Cinco anos antes da fundação da Academia dos Seletos. uma tipografia em que se imprimiu uma pequena relação composta por Luís Antônio Rosado e também. dos funerais (que consagrou à Bahia) à memória de d. Francisco Xavier de Santa Teresa. outra guerra com os elementos. Na cidade do Rio de Janeiro. as quais excluímos da nossa coleção. com as brenhas e entranhas da terra para extrair-lhe o ouro nelas escondido. segundo se crê. um século depois. ou porque a fizeram calculadas medidas de uma política desconfiada. Mas foi mais que tudo a província de Minas que (por ser pátria de uns literatos e residência de outros) imprimiu um novo e grande impulso na regeneração da literatura brasileira. 17 . em 1735. onde. O Rio. que não vingou. mas estas. da Academia de História. volveu-se.Brasil. mas não nos foi possível obter dele que no-las remetesse para nos servirem nesta notícia. o que não é para crer. Se esta nascera da atividade de uma guerra de armas. já tinha sobre a Bahia uma grande preponderância quando. mais partido e chegará. Se bem [que] destes poetas. Este poema. dicção clara e elegante. Silva Alvarenga vivia no Rio de Janeiro. em Coimbra. o irmão deste. por direitos de antigüidade. cumpre dizer que. Entretanto. Esta epopéia é das modernas de mais merecimento. Deixou-nos Cláudio mais de cem sonetos. o poema Caramuru oferece um tipo de resignação cristã e de virtudes conjugais. talvez. que se chamou Ultramarina. não só por darmos notícia de suas epopéias de assunto brasileiro. depois de ir a Minas. Às vezes. correu os sertões com o governador Lobo e foi protegido do conde de Valadares. a ser um dia popular no Brasil. Cláudio é o mais antigo. nele o poeta. Eram filhos dessa província. Durão deixou-nos o Caramuru. conseguiu fazer herói um indivíduo que estava longe de o poder ser. se a Eneida comove à piedade. se extremou pelo talento da harmonia imitativa. se os Lusíadas exaltam o patriotismo e a Jerusalém é um modelo de prudência e conselho. etc. porque deseja representar distância. trataremos antes dos ausentes. principalmente. vinte 18 . O Caramuru ganhará. como nas falas de Cacambo. José Basílio tinha-se familiarizado muito com a literatura clássica e italiana e deixou nisso freqüentes reminiscências. faz correr os versos fluidos e naturais. Se a imagem é audaz e viva. Gonzaga desempenhava o lugar de ouvidor em Vila Rica. espalhadas pelo poema. só pelo seu gênio.. serviu de secretário de Governo. também: todos formavam uma espécie de Arcádia. como por deixarmos ou outros para os atender. sossego ou brandura. Cláudio deve considerar-se o primeiro poeta mineiro. até diríeis que em casos duros e de batalhas. José Basílio e Durão. como quando fala Cepé. é de fácil e natural metrificação. mais acabado que o anterior. com pressa. pois já em 1751. e Antônio Caetano de Almeida. Cláudio e Alvarenga Peixoto. sabendo sempre adotar os sons às imagens. começou a imprimir algumas poesias. outras. faz precipitar os versos. demora no verso de propósito. se o Orlando inspira sentimentos de cavalheirosa abnegação. pelo mecanismo da linguagem. se da Ilíada se colhem estímulos de valor. E primeiro trataremos de José Basílio e do seu Uraguay. mas dela ausentes. conjuntamente.produziu a regeneração literária que já traz em si mesma o cunho de ser nascida daqueles sertões do coração do Brasil. eram nela nascidos e achavam-se aí residentes. de dia para dia. sabe fazê-los roçar asperamente uns com outros. O autor do Uraguay. se bem que o autor. irmão de José Basílio. não lhe desse todo o desenvolvimento. nos fatais acontecimentos posteriores. inclusivamente na prisão. bastantes para lhe tecer eterna coroa de poeta. em que mais abunda. um e outro eram como nascidos para égloga e elegia. como Petrarca. Mais delicados e ternos que sublimes. João Inácio. feitos de intento em um gênero erótico novo. pela sua prisão e desterro. pela morte do objeto amado. passava por ser o autor da famosa ode a Albuquerque que. ultimamente. cuja Marília de Dirceu já vai sendo traduzida em todas as línguas. À maneira de Petrarca. se deu de presente (não sabemos com que fundamento). às vezes. Era Cláudio. mas no poema Vila Rica não acertou bem com a embocadura da trombeta épica. pelo amigo Sr. porém. Alcindo. recordar a Petrarca. Gonzaga. alguns epicédios e romances líricos e um heróico. como ele. na segunda. Nos sonetos. alem de cantatas e cançonetas em italiano. muitas epístolas. a Vidal Barbosa. Ninguém como ele. Silva Alvarenga. a quem devemos os melhores ensaios. que não apareça o mais que comporia. um e outro constam de duas partes: no primeiro. 19 . distingue-se pela ternura dos afetos e pela naturalidade da versificação. tirou tanto partido para expressar seus sentimentos. acabando de sê-lo em castelhano. Se Gonzaga (Dirceu) nos deixou um cancioneiro por nome Marilia. Alvarenga Peixoto era dotado de grande gênio poético e o pouco que dele nos resta é bastante para lamentarmos que nos não deixasse muito mais ou. a rogo nosso. Seus ensaios eróticos de cor americana perdem por monótonos e convertem. de tudo quanto o rodeava. Maria I a passar-se à América são. As suas églogas parecem em tudo modeladas sobre as de Garcilasso. por si sós. amante da literatura italiana. por ventura. pulsou a lira. como este. mas nem sempre altíloquo no heróico. poético nas imagens. com a imagem da morte perante os olhos. As obras de Cláudio devem estudar-se como modelos de linguagem. temos outro de Silva Alvarenga (Alcindo) intitulado Glaura. sensível e melodioso nas redondilhas. É correto na linguagem. natural. a nosso ver. chora a perda deles: Dirceu. Seu irmão. O seu canto genetlíaco em 19 estâncias e a magnífica composição com que convida d. faz. tinha grande amor à poesia e elevadas ambições de poeta. canta o poeta os seus amores. Do irmão de José Basílio da Gama. exato na impressão e. e. nada podemos dizer. o poeta num namorado chorão e baboso.églogas. d. orçando pelo sublime na sua saudação à Arcádia Ultramarina. venha a convidar poucos à sua leitura. por não conhecermos composição alguma sua. Enrique Vedia. muita vez. de temer que o gênero bucólico. haviam amadurecido e a notícia de que se ia violentar o povo e satisfazer aquele tributo fez-se espalhar como conveniente para fazer rebentar a revolução que os conspiradores imaginavam teria tão feliz êxito como a que se acabava de levar a efeito nos Estados Unidos. Cláudio. os seus erros administrativos e o prestar-se ele em pequenas coisas ao ridículo. Em 1788. Talvez nenhuma outra história literária ofereça a novidade de se ver assim inseparável de uma conspiração política em que. sucedeu a Menezes no governo o visconde de Barbacena e. correu voz de que ia forçar a capitania ao pagamento de 700 arrobas de ouro que ela devia pela lei da capitação. cujo desgoverno foi a origem da primeira fermentação em Minas. as idéias de conspiração e revolução. Peixoto e. contra ele escreveu um dos poetas de Vila Rica. tiram os poetas a principal parte. graças à grande proteção que estes encontraram da parte da França e Espanha contra a Grã-Bretanha. As epístolas supõem-se dirigidas por Critilo a um Doroteu (Teodoro?) que estava na Corte. algumas expressões chulas e pouco decorosas. por ocasião dos casamentos dos infantes de Portugal e Espanha. deram assunto para a violenta sátira que. Correm precedidas de uns versos de outro autor que. A facilidade da metrificação. É. em certo lugar. a naturalidade do estilo e a propriedade da linguagem fariam atribuir esta obra a Cláudio.O governador Luís da Cunha de Menezes não soubera ganhar as simpatias da capitania. originadas no governo anterior. depois das festas. segundo parece. Tão pouco nos atrevemos a atribuí-las a Alvarenga Peixoto. isto é. são o corpo de delito de Cunha de Menezes. Entretanto. sem dúvida que tais versos eram de pessoa exercitada em o fazer e não havia então em Minas poetas neste caso mais que os dois e Gonzaga. em novo epístolas. A. não só do governador presente. Gonzaga. à sua chegada. A sátira foi escrita provavelmente em 1786. chamadas Cartas Chilenas. por se falar dele nas mesmas cartas. porém. em aparência. Alvarenga Peixoto estava entusiasmado pelo futuro da 20 . que fica excluído. Não faltam nas cartas verdades que deviam de ser duras aos ouvidos. que melhor podemos chamar mineiras. para a conspiração em que apareceram complicados como chefes e cabeças os poetas de que ultimamente fizemos menção. As cartas chilenas. O seu gênio vaidoso. como até de todos os mandões maus que lhe sucedessem. a não desmentirem da sua pena. nos previne a favor da nomeada de Critilo como escritor conhecido. cujo governo lhe fora confiado em 1783. de quem nenhuns versos possuímos deste gênero. Já neste século. Estas sentenças foram comutadas. ao princípio. Antes de rebentar a revolução. nascido na Vila deste nome. de Campos. Gaspar da Madre de Deus escreveram memórias históricas sobre a sua Província de São Paulo. Saturnino.nova nação. fr. Pedro Taques de Almeida Paes e fr. sua terra natal. só três publicamos do poeta fluminense Mendes Bordallo. alguns brasileiros ganharam celebridade nesta época: Alexandre Rodrigues Ferreira. Mas. improvisou-lhe a bandeira e propôs as providências que deviam adotar para criar partido e para resistir à guerra que. cuja condição humilde foi para nós grande recomendação para o contemplarmos. devia ter lugar. depois. José Joaquim Justiniano Mascarenhas foi feito bispo do Rio de Janeiro. Cláudio matou-se no cárcere. foram todos os suspeitos réus presos e depois julgados. é guardamor do Arquivo da Torre do Tombo. e a deste. em dez anos de degredo para Moçambique. e. em cuja Sé foi vigário capitular. natural da Bahia. era um eclesiástico de bastante saber. mas sim o de simples versejador a outro fluminense. principalmente desde o marquês de Pombal. depois. confiou-se a d. o Humboldt 21 . mais tarde. vemos filhos do Brasil ocupando os primeiros cargos do Estado e outros distinguindo-se com escritos que ganharam nomeada. Igual nome não daremos. além de outras que possuem seus netos. do Sabará. distinguiram-se os doutores Inácio Francisco Silveira da Motta. a d. em Angola. O báculo de Pernambuco. publicada em Coimbra em quatro tomos. José Joaquim de Azevedo Coutinho. Os seus versos devem guardar-se e podem alguns ler-se. publicou uma história da sua ordem seráfica no Brasil. Além dos advogados mencionados. d. é reitor e reformador da Universidade. com razão. Tomás da Encarnação. e como magistrado fez-se muito notável o desembargador Velloso. a degredo por toda vida para as Pedras Negras. a daquele em degredo perpétuo . José Monteiro de Noronha. Francisco da Assunção e Brito. Seu irmão. O poeta português Diniz foi um dos juízes signatários destas sentenças de seus colegas. dizia ele. Alvarenga Peixoto foi sentenciado à morte. João Pereira Ramos. O franciscano Jaboatão. enforcando-se com uma liga. infalivelmente. Diogo de Jesus Jardim. é autor de uma conhecida História Eclesiástica. para Ambaca. talvez inocente à conspiração. outro havia de quem nos restam algumas composições poéticas. e Gonzaga. para Dande e. um dos reformadores da Universidade. o bispo de Coimbra. do Pará. alguns conspiradores converteram-se em delatores. Referimo-nos ao sapateiro Silva. Francisco de Lemos. natural de Mariana e. a d. Também nas ciências. por uma Carta Régia de perdão. d. Na advocacia. d. como sucede tantas vezes. Possuímos dele elegantes quintilhas. a par de muitas composições insignificantes. também eclesiástico . uma vez. que se pode dizer. como se lhe tem querido chamar. encarregado dos tratados de limites e de levantamentos das cartas no Brasil e José Fel. de cujas poesias adiantando trataremos. lente em Coimbra. em geral. em suas extensas viagens pelos sertões do Pará. com um. deixou-nos. Pires da Silva Pontes. Fernandes Pinheiro (v. Coelho de Seabra escrevendo tratados de química. harmônicas estrofes e alguns sonetos. o poeta mais harmônico que tem dado Portugal. E. José Bonifácio de Andrada. a obra de Cardoso ganha muito em ser antes lida na tradução portuguesa. e vindo ambos reger cadeiras dessas ciências. Manuel Jacinto Nogueira da Gama (ao depois marquês de Baependi) distinguindo-se. empregado em explorações nas ilhas de Cabo Verde. outras que lhe devem conferir o nome de poeta. um filho da Bahia. José Francisco Cardoso. além de muitas dissertações científicas. para que o bei entregasse uns franceses aí refugiados. e outros de menos nomeada. o dr. improvisou a tal respeito a 22 . médico distinto da escola de Edimburgo. concluiu com ele seus dias: aludimos ao pardo Caldas Barbosa. diremos que este cantor de viola.o sublime Sousa Caldas. Assim. Conceição Velloso. do mesmo modo que Francisco Villela Barbosa (marquês de Paranaguá). nos quais só o muito desejo de criticar poderá encontrar senões. Não é por certo seu mérito a comparar com o seu xará. encontrando ao último em sociedade. o naturalista Manuel da Câmara Bittencourt e o fluminense Antônio de Nola. Rematemos o que falta dizer dos poetas deste século XVIII. merece mais consideração do que se lhe tem dado até agora. José Pinto de Azevedo. Do mesmo modo que o seu patrício (natural do Serro do Frio). nas matemáticas. O autor não era de imaginação mui rica. Conta-se que aquele reconhecia tanto essa superioridade que. ao depois. Além de que se ensaiou em todo o gênero de poesia. Silva Feijó. agora viajando como mineralógico pela Europa. trabalhando em uma grande Flora Fluminense e deixando impressos muitos tratados compostos ou traduzidos. com referência à sua biografia no Florilégio. Leopoldo) já magistrado e ocupandose das traduções de obras que podiam ter aplicação à indústria do Brasil. José Vieira do Couto. de S. que nesta cidade professou o ensino da gramática. compôs em latim um canto heróico sobre a expedição dirigida contra Trípoli e comandada pelo chefe de divisão Donald Campbell. em Coimbra. Nos fins deste século.brasileiro. mas este poema teve a honra de ser vertido em verso português por Bocage. naturalista em Minas. naturalista. pouco poético. seus versos estão longe da perfeição e o mesmo estilo é. que gentes. implora a benevolência da posteridade! Sem aguardar para mais longe. com tais versos. Francisco de S. ao poeta faltou-lhe em vida não só outro poeta amigo a quem pudesse dar a censurar suas composições. 8º . é belíssima e original. que nos meus suores Deveriam ter parte são piores. eu sou Caldas. é verdade. em vez de estímulo. mas as rimas pareadas serão fatais à popularidade do poema e glória do poeta. mas pela viveza das imagens. sabia ser festivo. já os que nascemos 23 . o autor da epopéia sagrada. não pelo sublime e correto. sempre que algum leitor. Queixando-se a esta.seguinte quadra: “Tu és Caldas.. sem fazer reparo a um que a outro lugar de menos castigado estilo. E devemos crer. Vê. que dos outros. a Assunção da Virgem.. Fr. passado em tempos em que aquela não era.” ( C. Carlos teve a coragem de se abalançar neste século a tratar um tal assunto e só pela fecundidade de seu engenho poderá sair bem da empresa. Na Assunção há mais poesia que no Uraguay e no Caramuru. e indiferentes A tão nobres vigílias. colorido e facilidade de expressão. mas já era do Eterno e o podia ser do Arcanjo seu núncio. nos diz: “Aqueles mesmos. isto é. Que estima pelas musas. só recebia sinais de indiferença. animado pelo assunto piedoso ou prevenido em favor do gênio poético do autor. sem mais valimento que o da sua musa. Com muita arte envolve a América e suas grandezas neste assunto divino. o verdadeiro jardim da terra. pelo que ele próprio nos diz. Tu és rico e eu sou pobre.” Souza Caldas é talvez o poeta brasileiro que mais orçou pelo sublime e também. que alto brio Produz o teu Janeiro o ilustre Rio. conhecida dos cristãos. pág. se dedique boamente à sua leitura. Igualmente a idéia de pôr no Paraíso terreal os frutos da América. Surdos se têm mostrado. 211) Quanta reputação e quanta glória não pudera ter adquirido um dos poderosos de então se houvesse querido e sabido proteger um pobre frade que. rivaliza com ele. Tu és Caldeira de prata. com seus versos líricos menores. Eu sou Caldeira de cobre. Como poeta sagrado. Infelizmente. e até o fim do poema se achara sozinho. força é dizê-lo. Tendência ao sublime se descobre também nas composições que temos do baiano Luís Paulino. Os quatro autores referidos. que terminam o nosso Florilégio. com quanta glória. quando se colijam. chamado da Paraopeba. são: José Bonifácio. As suas outras composições patrióticas e contra a invasão francesa em Portugal nem sequer tiveram voga na época de entusiasmo em que se deram à luz. Paranaguá. na graça e naturalidade que chega a iludir-nos. para o futuro. igualmente prometemos. se algum tivesse querido então sê-lo! De Manuel Joaquim Ribeiro. e que são convidados neste lugar. posteriormente. Assim. dos Odorico Mendes e de tantos outros poetas talentosos de nossos dias. é impossível deixar no olvido a exata e ingênua descrição desta província. Infelizmente. pois. Ao fazermos menção de Minas nesta época. Saldanha parece não ter tido mais modelo que as odes pindáricas de Diniz que já demasiado se parecem umas às outras. não citáramos aqui o Mecenas.depois. não possuímos composições bastantes. Deus faça subsistir por muito tempo os motivos porque deixamos aqui sem exame as poesias dos Pedra Branca e Alves Branco. dos últimos quatro autores poetas. em Goiás. possuímos alguns sonetos e várias liras e. Mais que estes se distinguiu. de quem devemos sentir que não sejam conhecidas maior número de produções. e dos vivos. lástima é que tantas destas composições não passem de puros encômios à pessoa do capitão-general. mais extensamente. creia preferíveis às outras suas. que às vezes o imitou. cantando os principais heróis que dirigiram a restauração da sua província contra o jugo holandês. o projeto de publicar um suplemento a esta coleção. Silvério. pulsava a lira de Píndaro o sublime Cordovil. feita em quadras pelo alferes miliciano Lisboa. um album. quando tenhamos juntado os materiais para ele. o pernambucano Saldanha. Januário e Álvaro de Macedo. Mineiro era também o Pe. que a nós se dirijam. com que termina o nosso Florilégio. Os 24 . quase condenamos todos os que então figuravam no Rio e com quanto prazer. não ousamos nós julgar e muito menos a par dos mortos. fornecerão uma pintura de muitos usos de nossos sertanejos. Restava ocuparmo-nos. De alguns outros modernos. Reservando-nos. no lírico elevado. Suas composições são recomendáveis pela muita originalidade e . contendo duas ou três das composições ou trechos de poesias que cada um dos poetas. falecidos. Mais para o interior. Vê-se que Ribeiro quis tomar por modelo a Dirceu e. para ele. professor régio de Filosofia em Minas Gerais. As composições amorosas. Não poetava por amor da arte. descobriu ele. na tribuna e até no púlpito. Januário foi o primeiro coletor de poesias brasileiras. quando o frio no Brasil não vem desse lado e que se lembre da flor da amendoeira. De Paranaguá. nem em política. sobretudo. De cada um destes dois últimos não pode contar a literatura mais que um pequeno poema. juntamente com o brasileiro Mello Franco. estrênuo e acérrimo campeão. e sobretudo as heróicas ao Fundador do Império.O Reino da Estupidez. matemático. Sentimos que o poeta fluminense preferisse entre as quadras do ano a que na Europa é mais risonha e fizesse menção de se ter acabado o frio do vento norte. Se o cônego Januário merece. com escasso desenvolvimento. por falta de outros modelos do autor. Não sabemos como haverá modificado a sua Primavera. que promoveu o gosto pelas letras americanas e delas foi. pois se há esta árvore em algum jardim de aclimatação. uma reputação muito maior do que a que lhe dão suas obras na poesia. e que ouvimos recitadas da própria boca do poeta. etc. Parece que. Isto em nada se opõe a que não sejam de superior mérito algumas poesias que nos deixou. nos diferentes ramos da literatura brasileira. pregador e Álvaro. mas em todos se ensaiou. mas onde faltava muita cor americana.laços de amizade e veneração que a eles nos prendiam. no século passado. quase nos apertam o pulso e fazem que a mão trema ao escrever deles um juízo crítico . que nenhum desses brasileiros talentosos cultivou a poesia. mas por fugir do tédio em horas que não queria pensar em ciências. demos a preferência. já como deputados e ministros. Não se afeiçoou a nenhum gênero. se bem que se educou na clássica. Seu estro. Todos eles dedicaram grande parte da sua atividade e tempo aos afãs da política. senão por distração de mais sérios estudos. muito concorreu para a confecção do poema satírico da Universidade de Coimbra . não é para nós um indício da primavera. profundo nos estudos da vária filosofia. e nos ligam às suas famílias. tão notável pelo estilo e metrificação. já como escritores e jornalistas. antes de tudo. com a correção com que as ia limando no decurso de sua vida. os seus serviços foram maiores do que os que indica o seu Nictheroy. Digamos. Januário. quando não abundam em nomes mitológicos. 25 . não pertence a nenhuma escola. cremos que irão à posteridade com unânime louvor e darão a Paranaguá mais glória do que a Primavera a que. José Bonifácio não se pode classificar como poeta.prematuro talvez. sobretudo as primeiras que publicou em Coimbra. na imprensa. faltam ao público a maior parte das composições. José Bonifácio era naturalista. Paranaguá. nos permitiram quase que assistir à composição dos últimos dois cantos do seu poema ao qual. onde servia como representante do Brasil. quase simplesmente. DE VARNHAGEN 26 . Essas queixas. A obra de Macedo ganhará. em proceder social e doméstico. com um trato tão alegre e galhofeiro quanto lho consentiam as queixas que tinha contra a sorte que pouco o favorecera na carreira que abraçara. mais popularidade e. por ora ao menos. etc. A. em política. reunidas à sua compleição débil. A muita convivência que. Lastimamos que não desse ainda mais desenvolvimento a este nosso pensamento quando. nascidas de paixões políticas às quais não foi estranho na idade madura este ativo eclesiástico. que consistem em faltas de desenvolvimento de certos pensamentos e no prosaísmo de alguns versos. apesar de seus defeitos.principalmente. Nela nos legou o autor uma verdadeira imagem da sua maneira sincera de pensar em religião. em tudo finalmente. figurará no país e na literatura mais do que hoje. a pedido nosso. é o nosso primeiro poema herói-cômico. em produções anônimas que. nomeia as frutas. talvez de dia para dia. com Macedo tivemos e a amizade que a ele nos ligava. lhe quebrantaram a existência aos quarenta e dois anos de idade. não podem pertencer à literatura. na qualidade de colega. Nela nos apresentou um espelho do seu caráter que conciliava à profissão de princípios severíssimos. pelas muitas personalidades que encerram. daqui a menos de um século. F. o autor decidiu dar uma cor mais americana na parte descritiva. A Festa de Baldo. Álvaro de Macedo era um moço de saber e conhecedor profundo da língua e literatura inglesa e desta grande admirador. Faleceu em Bruxelas. sem indicação explícita de autoria . Filho de Frederico Luís Guilherme de Varnhagen e de Maria Flávia de Sá Magalhães. em 1841. dirigido pelo grande historiador português Alexandre Herculano. Colaborou em "O Panorama". fruto das primeiras notáveis pesquisas sobre a época do descobrimento do Brasil. do qual se desligou três anos depois. Já licenciado do exército português tornouse sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (18 de julho de 1840). cujo curso freqüentou em 1832 e 1833. Áustria. ingressou na Academia de Marinha. Divulgou.Paulo) a 17 de fevereiro de 1816.Sobre o autor e sua obra Francisco Adolfo de Varnhagen Francisco Adolfo de Varnhagen nasceu em São João de Ipanema (S. a seguir. estudou no Real Colégio da Luz em Lisboa. Nomeado adido à legação do Brasil em Lisboa.apenas elaborada "por um sócio do Instituto Histórico do Brasil. Publicou em 1838 um ensaio intitulado "Notícia do Brasil". em 1854. a 26 de junho de 1878. É o patrono da Cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras. conseguiu editar a "História Geral do Brasil". foi incumbido de pesquisar documentos sobre a História e a Legislação referentes ao nosso país. Nesse mesmo ano passou a integrar o Imperial Corpo de Engenheiros do exército brasileiro. Tenente de artilharia do exército português aperfeiçoou-se em assuntos de natureza militar e de engenharia. Faleceu em Viana. 27 . de 1825 a 1832 e. o "Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa". natural de Sorocaba". Voltou à carreira de diplomata e. na qual. A extensa e bem documentada obra de Varnhagen inclui. "Épicos brasileiros". "tinha talvez razão. no Brasil."O Historiador da Pátria". que lhe anotou a "História geral do Brasil" . Américo Lacombe: "Toda aquela exaltação ocultava um coração límpio e. em Goiás."O pai de nossa História". Oliveira Lima chamou Varnhagen de "historiador pragmático". ora em Imperatriz. em 1868. "História completa das lutas holandesas no Brasil".Seguiu-se uma série de missões diplomáticas em vários países da América do Sul e. de Afrânio Peixoto . em 1872 no Congresso Estatístico de São Petersburgo."O descobrimento do Brasil". No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ocupou os cargos de 1º Secretário e de Diretor da "Revista" da entidade. Clado Ribeiro de Lessa. o maior estudioso da vida e obra de Varnhagen: "terrível e ardoroso polemista". "Florilégio da poesia brasileira". entre os mais notáveis de seus escritos . O monarquismo de Varnhagen era profundo e sincero. ingênuo". "Literatura dos livros de cavalaria". às vezes. em 1903. O diplomata Ronald de Carvalho assim se expressou sobre o grande historiador: "Francisco Adolfo de Varnhagen."Culminou numa História do Brasil" ainda a melhor das nossas". Goiás e Bahia. adverte Capistrano. visconde de Porto Seguro. em Viena. "Tratado Descritivo do Brasil em 1587". Em 1877 percorre. ora em São João del Rei e. Representa o Brasil. É agraciado pelo governo imperial com os títulos de barão e visconde de Porto Seguro (1874). Teve polêmica (a rigor. "O Caramuru perante a história". Apreciações sobre Varnhagen e sua obra: De João Francisco Lisboa . de Capistrano de Abreu. póstuma) com João Francisco Lisboa. "Cancioneiro". Originou sobre a interiorização da capital do Brasil. dedicando-lhe. finalmente. porém em que teve a habilidade de pôr todo o odioso de seu lado". o interior das províncias de São Paulo. drama histórico. um "Elogio fúnebre". "Amador Bueno". foi um dos mais ativos pioneiros de estudos 28 . Novamente Capistrano de Abreu: "Expunha complacentemente a sua opinião com tanta maior complacência quanto mais se afastava da opinião comum. pois. 29 . um infatigável ressuscitador de crônicas esquecidas nas bibliotecas e de documentos enterrados nos arquivos. tem mais direito do que ele no lugar de precursor dos estudos históricos em nossa literatura".. foi um ardente investigador. Oliveira Lima. capaz de sacrificar muitas vezes a clareza da dição. Ninguém. O traço dominante da individualidade de Varnhagen é a paixão da investigação histórica à qual subordinou todas as suas manifestações de escritor".históricos e o maior escavador de velhos documentos e arquivos de que temos ciência no Brasil. na mesma linha.. um valioso corretor de falsidades e ilustrado conhecedor de fatos. A feição principal de Porto Seguro é a do erudito consciencioso. à força do documento apenas para mostrar que o seu pensamento não está em erro. escreveu: "Francisco Adolfo de Varnhagen foi por certo o mais notório e o mais merecedor dos estudiosos do passado brasileiro.
Report "Varnhagen - Ensaio Historico Sobre as Letras No Brasil (1)"
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