v15n3a08

March 16, 2018 | Author: Giovani Asbahr Trolesi | Category: Faith, Liberty, Death, Existentialism, Time


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Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356, set./dez.2010 345 Logoterapia e o sentido do sofrimento: convergências nas dimensões espiritual e religiosa Neir Moreira¹ – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil Adriano Holanda – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil Resumo O presente artigo tem o objetivo de analisar o sentido do sofrimento em Logoterapia – psicoterapia do sentido que propõe a compreensão da existência através dos fenômenos tipicamente humanos, especificamente das convergências nas dimensões espiritual e religiosa. Com base no resgate do conceito de vontade de sentido, pretende-se estabelecer tanto uma relação entre os conceitos de pathos, finitude e morte quanto sua articulação com a perspectiva do Homo patiens em Logoterapia; assinalando o lugar da culpa, da doença, da dignidade, da responsabilidade e do sentido nesse contexto. Ademais, considerando a natureza do sofrimento como inerente à constituição humana, a teoria de Viktor Frankl considera a resiliência uma adaptação positiva do homem em resposta às adversidades, as quais possibilitam ao homem superar-se. O texto também pontua as dimensões essencialmente humanas, enfatizando a dinâmica do Homo religiosus e a dimensão noética como fatores fundamentais no processo de identificação, enfrentamento e superação do sofrimento. Palavras-chave: Logoterapia, Viktor Frankl, Sofrimento, Resiliência, Sentido. Logotherapy and the meaning of suffering: convergences in the spiritual and religious dimensions Abstract This present article has the purpose of analyzing the meaning of suffering in Logotherapy – psychotherapy of meaning that seeks to comprehend existence by typical human phenomenon, specifically through the convergences in the spiritual and religious dimensions. From the rescue of the meaning‟s will concept, it intends to establish a relation both in the concept of pathos, finitude and death, as well as its articulation with Homo patiens perspective in Logotherapy; distinguishing the place of guilt, disease, dignity, responsibility and meaning in this context. Furthermore, considering the nature of suffering as inherent to the human constitution, the theory of Viktor Frankl considers resilience a positive adaptation of man in response to adversities, which enables him to overcome them. The text also indicates the essentially human dimensions, emphasizing the Homo religiosus dynamics and the noetic dimension as fundamental factors in the process of identifying, confronting and overcoming suffering. Keywords: Logotherapy, Viktor Frankl, Suffering, Resilience, Meaning. A1 Logoterapia é uma escola psicológica de caráter multifacetado – de cunho fenomenológico, existencial, humanista e teísta –, conhecida também como a “Psicoterapia do Sentido da Vida” ou, ainda, a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia. A teoria de Viktor Emil Frankl (1905-1997) concebe uma visão de homem distinta das demais concepções psicológicas de seu tempo ao propor a compreensão da existência mediante fenômenos especificamente humanos e a identificação de sua dimensão noética ou espiritual, a qual pela sua dinâmica própria pode despertar a vivência da religiosidade. Se Copérnico ousou retirar a Terra do centro das órbitas planetárias e Kant ousou retirar o objeto do conhecimento do centro mesmo da epistemologia, pode-se afirmar que Frankl livrou a psicoterapia do introspectivismo, desconstruindo a noção de uma autorrealização solipsista do centro das motivações primárias do ser humano (Pereira, 2007). A questão não deveria ser “o que eu ainda devo esperar da vida”, Endereço para correspondência Rua Senador Xavier da Silva, 467, Centro Cívico – 80530-000 – Curitiba-PR E-mail: [email protected] 1 porém, “o que a vida espera de mim”. Kierkegaard utiliza a seguinte metáfora para relacionar o esforço humano na busca da felicidade: a porta da felicidade abre-se “para fora”, ou seja, ela fecha-se exatamente para quem tenta empurrá-la para dentro; já Frankl, a partir de sua experiência nos campos de concentração, foi mais longe, apontando para uma dimensão que só Deus pode mensurar, na fidelidade ao sentido da existência, à missão do ser humano sobre a face da terra. “Não se trata da busca de um, mas da busca do sentido” (Gomes, 1988, p. 31). Para a logoterapia “o método fenomenológico é o que deve ser tomado, pois o fenômeno não é a aparência, e sim, a manifestação ou revelação de que há a coisa mesma ou o ser em si, sendo o abrir-se e o manifestar-se da própria realidade vivida pelo sujeito” (Pettengill & Angelo, 2000, p. 92). A logoterapia se caracteriza pela exploração da experiência imediata com base na motivação humana para a liberdade e para o encontro do sentido de vida. Ela inaugura também um novo campo, o qual Frankl define como uma psicoterapia orientada para o espírito. A rigor, para Frankl, a logoterapia origina-se “do” espiritual, enquanto a análise existencial se dirige “para” o espiritual. A análise existencial focaliza a luta do homem pelo sentido – não apenas o do sofrimento, 346 Moreira. Nesse contexto. Niilismo é negação de sentido. segundo o qual quanto mais o homem persegue uma ideia acabada de felicidade. valor. Frankl critica as concepções de saúde mental a partir do ideal do equilíbrio homeostático. pois segundo ele. isto é. O ser humano precisa não de homeostase. em detrimento da realização de sentido. mas sim o que Frankl chama de vontade de sentido. estamos fazendo referência ao significado. Holanda. 1978. 2005). é a própria dinâmica existencial. Afinal. 1978). o mesmo problema – a preocupação com um equilíbrio interno. A noodinâmica é a tensão essencialmente humana. p. prazer ou sucesso. seria possível comunicá-lo? A sociedade contemporânea satisfaz praticamente a maioria das necessidades do homem e algumas delas são criadas principalmente pelo consumismo. p. é a tensão que se estabelece entre o homem e o sentido. O sentido tem um caráter objetivo de exigência e está no mundo./dez. (Pereira. Ao falar de sentido. a felicidade surge automaticamente como efeito colateral” (Pereira. 263). p. constituindo-se. mas não uma doença. 2007. p. O de que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões. não no sujeito que o experiencia. entre o ser e o dever-ser. mais ele se distanciará desse objetivo. Para Frankl. A. quando se esquece de si mesmo a serviço de uma causa. mas daquilo que chamo de “noodinâmica”. numa perene busca pela cessação de tensão. é o que eu sacrifico que adquire valor” (Frankl. Em sua especificação como análise existencial. necessita dele. preço. 15. N. 1985. as coisas relativas apenas provam. de “prazer” ou de “poder”. A vontade de sentido Viktor Frankl reconheceu – especialmente na psicanálise freudiana e na psicologia individual adleriana. como objetos da busca última do homem. A logoterapia objetiva a conscientização do espiritual. pois à medida que houver uma razão para ela. por mais paradoxal que possa parecer. não se deve buscar a felicidade. v. o fim de toda atividade que envolva a vida. por sua vez. as coisas têm valor para serem sacrificadas. então ela decorrerá espontânea e automaticamente. “Todo o niilismo se caracteriza pelo ceticismo em relação ao sentido. mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena. enquanto fundamento vital da existência humana (Frankl. é a vida realmente destituída de sentido? E se o tivesse. o dito autor denomina noogênica (Perez. como objetivo maior da gratificação dos instintos e da satisfação das necessidades. o qual apenas volta ao lançador se o seu alvo não tiver sido atingido. que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio.. n. 2007 citado por Frankl. p. Dar sentido quer dizer entregar-se. 3. assim. o homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa. Essa responsabilidade. documentam e testemunham a existência do absoluto que as condicionou. 1988. p. 2010 . a vontade de sentido é orientada para uma realização de sentido. é a fundamentação teórica da logoterapia com a finalidade de proporcionar o saber necessário para uma leitura de mundo a partir dos seus conceitos fundamentais. Todavia. Logoterapia e sofrimento mas também o sentido da vida (Frankl. ela esforça-se especialmente em levar o homem à consciência do seu ser-responsável. num sacrifício. Tanto o valor quanto o sentido são aplicados às coisas na medida em que o são assumidos em nome de algo mais elevado. todavia. E é exatamente aqui que consiste a verdadeira relatividade dos valores. “O que sacrifica dá ao sacrifício sentido. uma determinada tensão é necessária para a existência humana. 38). nem a vontade de prazer (como em Freud). acompanhado de um relativismo quanto aos valores” (Frankl. em vez de constituir uma refutação do absoluto. na verdade. Assim. Não é o que eu guardo comigo que retém valor. como já mencionamos. esta frustração existencial pode desembocar em uma sintomatologia neurótica que. 2007. p. Na logoterapia. p. E essa busca patológica de uma felicidade incondicional foi denominada por Frankl como “princípio autoanulativo”. Ao utilizar o termo noodinâmica. a qual provê uma razão para a felicidade. ceticismo esse. 95-96). É como o olho. Porém. 127) O que de fato impulsiona o homem não é nem a vontade de poder (como aponta Adler). ou no amor a uma pessoa. são negadas. 129). significa sempre responsabilidade perante um sentido. à coerência. Para Frankl (1991). só uma necessidade nada Psico-USF. 261). E nela está presente a liberdade a qual permite escolher uma ou outra possibilidade (Roehe. à busca de propósito e finalidade. Ele inclusive utiliza a metáfora do bumerangue. Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche: “Quem tem um por que viver pode suportar quase qualquer como” (Frankl. set. “com uma razão para ser feliz. 1978. contradiz o caráter auto-transcendente da existência humana” (Pereira. por amor a alguém. 2003). se transformada num fim em si mesmo. Curiosamente. Frankl nos expressa como o homem que perdeu o sentido cai em um vazio existencial e sofre. a “auto-realização. A logoteoria. 1997. 65). 345-356. Padecer de vida sem sentido é um sofrimento. as noções de “felicidade”. O relativo. uma tarefa escolhida livremente. por exemplo). Pathos e logoterapia Na história da humanidade. 2007). se considerarmos as estatísticas. 15. 19). os dados apenas têm aumentado geometricamente./dez. “E nessa busca o homem é orientado pela consciência. a culpa e a morte – é possível encontrá-lo. sua vontade de sentido. mesmo que de modo bastante geral. ou seja. pobreza.Moreira. mas deve ser encontrado. pandemias. É a vontade de sentido na práxis da existência humana. Hodiernamente. A vida só adquire forma e figura com as marteladas que o destino lhe dá quando o sofrimento a põe ao rubro. Holanda. “Nenhum desses elementos se pode separar da vida sem se lhe destruir o destino. o sentido não só deve ser achado. Logoterapia e sofrimento 347 recebe. O sentido da vida simplesmente existe: trata-se apenas de encontrálo. em qualquer situação humana o indivíduo pode encontrar o sentido. nos campos de concentração. Um exemplo apontado por Frankl: o que deprime as pessoas não é o desemprego em si (comum na sociedade atual). E mais. 16). p. como ele pode ser achado. E o desafio se Psico-USF. O sentido não pode ser dado ou criado. Privar a vida da necessidade e da morte. “experimentou e concluiu que a liberdade máxima do ser humano está em escolher a atitude diante das situações limite da vida e da morte. n. pode fazer. mas a sensação de falta de sentido decorrente disto. N. que designa como o homem cumpre com sua orientação ontológica para a realização de sentido. Segundo Frankl. nenhum homem inventa o sentido da vida: cada um é cercado e impelido pelo sentido da própria vida. Pathos e sentido A análise existencial tem demonstrado que o sofrimento tem um sentido. A busca desse sentido de caráter objetivo funda-se no mundo. o sofrimento sempre se fez presente. 2003). 2010 constitui em decidir o que fazer diante dele. Inclusive ele traz sentido à vida em diferentes graus de intensidade ao longo da existência. valores vivenciais e valores de atitude. quer dizer: o pressuposto da . Só quando o homem já não tem nenhuma possibilidade de realizar valores criadores. 2007. O sentido não é moldado pela mente. desnutrição. E a conjuntura social contribui para isso de uma forma que não ocorria nas sociedades tradicionais” (Silveira. Até diante daquilo que Frankl (1993) chamou de “tríade trágica” – a dor. 13). a forma” (Frankl. Ademais. Analisando o problema do sentido da vida é possível distinguir. Em uma palavra. e ela é a necessidade de sentido do homem. A vida. considerando-se serem dois critérios não excludentes de análise. Obviamente. Viktor Frankl. Conclusivamente. bem como o desespero apesar do êxito. já na terceira categoria. 2008. Em vez de criar um sentido. p.. 3. e que além do sofrimento. e constitui o fim último de toda a atividade que envolve a existência humana (Pereira. a mente tem de submeter-se a ele. ele somente se realiza quando algo se tem que aceitar precisamente tal qual é. não obstante o sofrimento e apesar do fracasso. e absolutamente mais ninguém. A. e sim as pressões psíquicas sofridas pelos desempregados (Frankl. uma vez encontrado. v. mas uma razão para ser feliz. o sentido da vida é uma realidade ontológica e não uma criação cultural. a necessidade. Enquanto na primeira categoria o homem se realiza mediante um fazer. set. do destino e do sofrimento. mas a mente pelo sentido. na atuação psicológica. etc. p. três categorias de valores: valores criadores. A decisão consiste em “entregar-se” passivamente ou “assumir ativamente” a luta por algo ou alguém – dignos dessa dor e sofrimento. O sofrimento é inerente ao ser humano. senão também no sofrimento (Frankl. não apenas no criar e gozar. 345-356. não no sujeito. mesmo se todas as tradições desaparecerem e mesmo se nenhum valor de aplicação geral se mantiver. só quando ele já não está realmente em condições de configurar o destino – só então pode realizar os valores de atitude. ele se realiza através de uma passiva acolhida (pela arte. “a questão do sofrimento humano tem chamado muito a atenção. o que o homem procura não é a felicidade em si. o sentido da vida é encontrado mediante uma investigação do paciente e do terapeuta em busca de resposta à questão sobre o que somente o paciente. na segunda. 2003. violência (no seu mais completo termo). O sofrimento está muito presente. A essência de um valor de atitude reside precisamente no modo como um homem se submete ao irremediável. diz Frankl (1978). só nessa altura tem algum sentido “carregar a sua cruz”. E isso significa que a vida humana pode atingir a sua plenitude. Para Frankl. 1978. seria como tirar-lhe a configuração. permanecerá dotada de sentido. é a capacidade de descobrir o sentido único e irreprodutível que se esconde em cada situação” (Frankl. 1990). a consciência é o órgão do sentido. O desmembramento de ambos os eixos permite o entendimento de por que é possível a satisfação apesar do fracasso. mesmo no último momento da vida há possibilidades de tê-lo. o destino e a morte fazem parte da vida. Outro conceito importante na logoterapia é a concepção de Homo patiens. O peso maior não é ônus financeiro. 154). p. p. Universal no seu valor e individual no seu conteúdo. decorrente de vários fatores: guerras. Existe sempre algo ou alguém que mereça a luta pela sobrevivência” (Sulzbach. quando o homem busca intencionalmente um sentido. 198). evidentemente. Frankl (2003) afirma que há situações em que o homem se pode realizar plenamente a si mesmo no puro sofrimento e apenas no puro sofrimento. Psico-USF. para além da racionalidade. (Rodrigues. Holanda. uma vez que o circuito seria retroalimentado pelas tendências inconscientes. Segundo Viktor Frankl. e quando evidenciado. 15. Frankl (2003) afirma que o arrependimento tem o sentido e a força de fazer com que um fato externo se converta em algo nãoacontecido. set. Não pode.348 Moreira.. n. Tal possibilidade de converter o já acontecido em algo de fecundo para a história interior do homem nem de longe está em contradição com a sua responsabilidade. Viktor Von Weizsäcker já afirmara que o doente enquanto sofredor está de alguma forma acima do médico que o atende. O sofrimento é tão inerente ao humano – como já definiu Jaspers – que eventualmente o não-sofrer pode ser uma doença. pode apagar uma culpa: não. o sofrimento tem um sentido inerente quando ele brota da culpa existencial ou real. Logoterapia e sofrimento verdadeira realização dos valores de atitude consiste em se tratar realmente de qualquer coisa de irremediável (Frankl. sofrimento e doença não se equivalem. é apenas num tempo tardio e. 167) A rigor. 1991. 51). O sentido do sofrimento nem sempre é evidente. um sentido que naquela ocasião não lhes era patente” (Lukas. 3. visa motivá-lo a mudar e crescer. Crescimento este que só pode se realizar se o paciente aceitar sua culpa. Ou seja. p. a liberdade espiritual do homem lhe concede a oportunidade até o último instante de tornar sua vida plena de sentido. doença e dignidade É necessário fazer uma distinção fundamental entre as doenças (incluindo as mentais) e o sofrimento. a busca de poder e prazer conduz. ou seja. uma vez que o momento do erro já está no passado e não pode ser restaurado. mas sim no sentido em que este. Pathos. O homem pode sofrer sem estar doente. ou “adversidade inescapável”. Para a psicologia clássica. ainda que possa valer muito bem. se a vida tem um sentido. a uma procura do sofrimento e da penitência para o alívio. Se o homem pode estar doente sem “sofrer” no sentido verdadeiro e próprio do termo. as técnicas psicoterapêuticas. Com isso. 1989. enquanto a tristeza do luto tem o sentido e a força de fazer com que aquilo que existiu de algum modo continue a existir. no sentido de que ela deixe de ser imputada ao respectivo sujeito. Com efeito. a culpa é considerada a “síndrome inescapável”. p. tanto o luto quanto o arrependimento têm o seu sentido na história interior do homem./dez. 2003. apesar da ameaça de destruição. quais os fatores determinantes na intervenção logoterapêutica? A medicação farmacológica específica. Agora é possível compreender por que razão Dostoievski afirmou que só uma coisa tinha que temer: o não ser digno das suas penas. 345-356. que oferece os máximos recursos. exatamente por não sofrer. afinal. trata-se do padecimento puramente humano que se insere na essência e sentido da própria vida humana. conquanto o sofrimento seja inevitável (Frankl. Em contrapartida. é restritivo. p. 2010 . Com efeito. Assim sendo. se soergue. Os exemplos geralmente são extraídos da própria experiência. há nas emoções humanas uma profunda sabedoria. aceitar as adversidades e as consequências de seus atos errôneos. E há estados psíquicos doentios nos quais o homem. Pathos e culpa Para a logoterapia. 152). Para Rodrigues (1991). Tanto a psicanálise quanto as demais teorias imanentistas asseguram a autodestruição irremediável sem quaisquer possibilidades de interferência. Entretanto. o tornarse culpável pressupõe responsabilidade (Frankl. ou o apoio e a empatia? Na verdade. mas é a dimensão noética que envolve a decisão de valores. e estar doente sem sofrer. A. isto é. Ademais. portanto. que o preenchimento de um sentido é possível apesar de um sofrimento. N. 2003. p. na culpa. v. p. 1990. mas antes numa relação dialética. então também o sofrimento tem um. o sofrimento passa a ser um enfrentamento intencional desses condicionamentos e não uma situação penitente inconsciente. por assim dizer. inconscientemente. o homem se depara com as consequências inevitáveis dos seus equívocos. ser suficientemente ressaltado que o sofrimento não é de forma alguma necessário para se preencher um sentido. ele também sofre para além de todo o ser-doente. porém. “donde se depreende que algum fato realmente doloroso em sua vida bem pode ter tido. sofre (Frankl. a conjugação de todos esses fatores contribui intensamente. desafiando a sua dimensão espiritual na sua capacidade mais profunda de autotranscendência. na dimensão do logos. 1990). a partir de uma visão mais tardia. 155). conforme Scheler salientou. p. A premissa existencialista assegura ao indivíduo que a adversidade tem um real sentido. que preconiza a culpa como secundária. E o arrependimento. chorar o que se perdeu parece ao senso comum algo tão inútil e destituído de sentido como o próprio arrepender-se de uma culpa. ao renascer moralmente. Segundo a logoterapia. mas facultativamente incondicionado. mas não destruir por uma enfermidade psicofísica” (Frankl. a dignidade do homem permanece intacta mesmo depois da perda da utilidade em razão da desorganização psicofísica da pessoa espiritual. quando assim sucede. 345-356. p. se a vida tem um sentido. em certa medida. Se quisermos levar nossos pacientes à consciência de sua responsabilidade. 2003. Um mergulho na essência da responsabilidade humana nos permitirá um estremecimento pela dualidade: temível-sublime. o que com ela “criar no mundo”. compassivo. 158). 1993. p. 3. e cessa quando deixa de ser responsável” (Frankl. Da mesma forma que a pessoa espiritual está “atrás” do fato mórbido psicofísico. “a pessoa espiritual deixa-se perturbar. “O ser humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido. Frankl acrescenta que enquanto não estivermos profundamente convencidos da invulnerabilidade dessa dignidade será apenas uma questão de maior ou menor foco quanto à possibilidade de flertarmos com a eutanásia. É que. ao „porquê‟ do sofrimento é sempre uma resposta sem palavras. realmente. p. teremos que tornar presente o caráter histórico da existência e. Holanda. culpa e morte – em Frankl. no mundo físico. reiteremos. N. p. 120). Pathos e responsabilidade A “tríade trágica” – sofrimento. E o objetivo primordial da intervenção logoterapêutica não é outro senão o apelo à consciência da responsabilidade. O padecimento. do prisma da fé num super-sentido. não faz mais do que falhar (Frankl. que em cada momento realizo ou desperdiço uma possibilidade. a humanidade atingiu um ponto máximo de ciência. mas ao mesmo tempo. “a resposta que o homem sofredor dá. folheando sua biografia e se detendo exatamente no capítulo referente ao momento atual e que. p. a um máximo de responsabilidade. p. Além disso. mas. Não é apenas o somático que se abre ao psíquico. igualmente a sua dignidade está “acima” da perda do valor biossocial. 1978. condenando todas as outras simultaneamente ao não-ser. Psico-USF. 283). 15. a responsabilidade do homem para com a vida. Cada momento encerra milhares de possibilidades. todavia.. Enquanto o corpóreo precisa do psíquico para a sua realização. da mesma forma depende do espiritual para a sua plena realização. ao assumi-lo num sereno sofrimento. em última análise. é uma possibilidade de algo pleno de sentido. 122). Só o ser humano tem o privilégio de eleger uma atitude frente ao sofrimento que se apresenta como tal. tão significativo quanto o próprio sofrimento é o seu caráter cooperativo. tanto o meu próprio como o das coisas e o dos homens que me rodeiam. por exemplo. no final da vida. que todas as decisões. de consciência e de saber. 1978. A responsabilidade significa aquilo por que somos “atraídos” e a que “nos subtraímos”. as de menor e as de maior monta. uma autêntica realização. a única significativa” (Frankl. 1978. na esfera das realizações médicas. porque é uma „necessidade‟ espiritual” (Frankl. o sofrimento também o tem. leva a cabo. Admite-se que o sofrimento purifica o homem. o médico fica impotente e incapaz de arrancar a vítima à morte./dez. por pequena que seja. set. O homem é factualmente condicionado. e isto também “para toda a eternidade”! Não obstante. 2010 . Assim como o destino. a possibilidade deste momento preciso e único. p. 2003. v. com isso. 229).Moreira. 175). Assim sou. Ao paciente sentado diante de nós na hora da consulta recomendamos que aja como se estivesse. p. depende da decisão que eu tomo em cada instante. 19). o médico. no plano metafísico. p. a um mínimo da consciência da responsabilidade. p. diante de um doente incurável ou de um moribundo. Afinal. A. lhe fosse permitido decidir o conteúdo do capítulo seguinte e corrigir o que lhe parecesse passível de alteração (Frankl. o sofrimento também faz parte da nossa vida. ela é. 84) Apenas diante daquilo que é decisão puramente sua é que a pessoa é responsável. 2003. por meio do „como‟. De acordo com Frankl (1978). ou seja. responsável por tudo (Frankl. O que eu realizar com essa decisão. por milagre. é „realizada‟ pelo psíquico. a sensação de não se poder aproximar dele sem uma certa vergonha. sofrimento necessário significa sofrimento permeado de sentido. enquanto necessário. 66-67). n. Ademais. preservando-o da caducidade (Frankl. é a manifestação da característica antropológica da análise existencial em logoterapia. ou seja. enquanto o paciente surge como um homem que enfrenta com firmeza o seu destino e. Para ele. “Se alguma coisa corporal é „possível‟. é sublime o saber que o futuro. é qualquer coisa que ponho a salvo na realidade. 1978. Temível é saber que a cada momento arco com a responsabilidade pelo momento seguinte. Logoterapia e sofrimento 349 Um médico que tenha a suficiente finura de sensibilidade para os imponderáveis de uma situação sempre terá. (Xausa. o ser-humano-é-finito. Sofrimento desnecessário é sofrimento destituído de sentido. aliás. 1978. mas eu só posso escolher uma delas para realizá-la. A resposta sobre o sentido do trágico é encontrada na atitude mesma que elegemos ante uma situação que se nos apresenta tragicamente. são decisões “para toda a eternidade”. mas igualmente o psíquico ao espiritual. A. ela é sempre algo pleno de sentido. p. p. a logoterapia. cujo nome assume Viktor Frankl. 2007. sim. 345-356. Dessa forma. inclusive. 2008). sentir o que o outro sente e compreendê-lo (Frankl. por trás da dor e do psicológico (Sulzbach. mantendo a esperança. profissionais e todos envolvidos na promoção da resiliência. necessidades e deficiências do indivíduo. porém insuficiente para clarificar o que subjaz e motiva a resiliência. p. trauma. alguém com quem se possa compartilhar vivências e em quem se possa confiar. ou seja. é possível articular a relação com a resiliência. desde que possível. a capacidade de pedir auxílio. a religião e a espiritualidade podem agir como um consolo além da nossa compreensão. um parente. Silveira & Mahfoud. Recuperando o conceito de autotranscendência em Viktor Frankl. a cada escolha. Para a logoterapia nenhum sofrimento humano é comparável. a flexibilidade. Ou seja. “o sentido e realização no passado. uma diferença. p. p. n. que pode ser entendida como a possibilidade do sujeito tornar-se capaz de se colocar no lugar do outro. cognitivos e socioculturais que influenciam o desenvolvimento humano. constituem-se em força para viver melhor o presente e suportar as adversidades” (Silveira. 15. N. A resiliência pode ser definida como uma adaptação positiva em resposta a determinada adversidade. superando-a. a saber: 1) a noção de adversidade. a capacidade de controlar impulsos fortes. o cuidado com a saúde é um fator importante. e Psico-USF. “a busca de sentido envolve uma perspectiva de futuro” (Silveira. (Silveira & Mahfoud. a resiliência não é de responsabilidade apenas do indivíduo. Ao invés de se concentrar nas enfermidades. v. Ademais em todas as pesquisas feitas sobre resiliência sempre se encontrou a importância de existir a relação entre a pessoa resiliente e um outro – um amigo. Holanda. um conhecido. a partir do sofrimento. foi um modelo de resiliência. nem tampouco traz obrigatoriamente o empobrecimento do sentido da existência consigo. 2010 . é preferível um modelo de prevenção e promoção de saúde com foco nas potencialidades tanto da pessoa quanto do meio em que vive (Silveira. o conceito de resiliência é usado como fator protetor do psiquismo e de transformação dos comportamentos negativos em novas possibilidades. e 3) o processo que considera a dinâmica entre os mecanismos emocionais. sem perder a chance de concretizá-la. em busca dos recursos que fomentem a resiliência. quer seja amigos. 2008). pode-se desenvolver resiliência – a resistência diante da adversidade” (Silveira. p. é a diferença entre sofrimento com e sem sentido” (Frankl. 2) a adaptação positiva ou superação da adversidade. para as possibilidades de superação. que realmente importa. mas comprometer-se em uma nova dinâmica de vida. risco ou ameaça ao desenvolvimento humano. Silveira (2007) distinguiu três componentes essenciais ao conceito de resiliência. 1990. 100). set. As pesquisas realizadas sobre a resiliência têm evidenciado a importância da relação entre o resiliente e o outro. O padecimento humano é único. quando encontra um sentido para ir adiante. Pode inclusive significar um ganho existencial. o senso de humor é fundamental para lidar com a adversidade. 14). porém. Via de regra. singular e original. “Falar das diferenças de grandeza do sofrimento seria por princípio sem sentido. pois o homem sempre pode avançar para além das suas dificuldades. Ao contrário. a logoterapia é a expressão fiel de uma filosofia encarnada. assim como o é cada indivíduo. A rigor. pode jorrar luz. Desenvolver a resiliência é algo construído a cada momento. 2007.350 Moreira./dez. desde que seja deslocado o foco da dor para além dela. entre os pólos sucesso e insucesso. as quais são importantes na dinâmica da resiliência. ou seja. o conceito de resiliência é bem formulado. p. é vital vivenciar a melhor atitude. a criatividade na dimensão noológica (espiritual). Para ele. Considerando a transitoriedade do tempo. sobrepor-se e sair fortalecido pelas experiências adversas. Significa não apenas suportar uma situação adversa. relembrados. mas de toda a ecologia na qual está inserido. Logoterapia e sofrimento Sentido e Resiliência Resiliência é entendida como a capacidade do homem enfrentar as situações. 1990). 2008. Em logoterapia. Silveira (2007) alista os diversos pilares para o desenvolvimento pleno da resiliência: adaptação às situações adversas. o reconhecimento do valor mútuo no encontro existencial. 2008. 2007. A resiliência faz a pessoa encontrar motivos que favoreçam a descoberta de valores além. quer seja família. a alteridade no contexto da resiliência (Silveira & Mahfoud. “através da atitude da pessoa de buscar sentido para a vida. o homem superar tanto a si mesmo quanto em relação ao próprio contexto e existência? A resposta é positiva. a liberdade do homem o permite se posicionar diante do sofrimento. 81). assumir uma atitude positiva diante das dificuldades é o que significa resignação ativa. diante da adversidade. Ele. É possível. 2007. 573) Fica claro que doença não significa perda de sentido. 91). de Viktor Frankl. 3. enfim. É a partir do sentido que a pessoa golpeada pela vida motiva-se para reconstruir-se.. o homem se movimenta em um nível horizontal. 105). obviamente. a autoestima como consequência da busca do sentido. a esperança e a fé. e a empatia. Nesse vácuo. 2003. além de desespero. 1978. em virtude da distinção dimensional. ao Homo sapiens. resiliente ao sofrimento. Os elementos constitutivos do sentido da vida humana são dois: o “caráter de algo único” e a irrepetibilidade. E ele somente será um “todo” quando sua vida terminar. Todavia. E ambos os aspectos essenciais da existência humana manifestam-se simultaneamente na finitude do homem. Na logoterapia. No processo de aprendizado da e na adversidade. a existência humana se nos oferece a sua maior profundidade. a máxima da análise da existência poderia ser assim compreendida: Vive como se vivesse pela segunda vez e como se da primeira vez tivesses feito tão falsamente como agora está quase a fazer. sem. p. Para Frankl (2003). Para Frankl (1978). superação. 151). o qual preenche o sentido e realiza-se. um filme no qual já não se pode retroceder para desfazer o que foi “tomado”. mas sempre “vem a ser”. Em contrapartida. set. O fato de que somos mortais. surge a necessidade da resiliência. “Sofrer. O sentido da existência humana funda-se essencialmente no seu caráter irreversível. Nesse contexto. Assim. A finitude e a temporalidade neste contexto não são apenas um adicional à vida humana. independente do tempo no qual se dê a morte. então. Ao contrário. contudo receber “cortes”. satisfazer. a essência do homem é ser um sofredor – Homo patiens. aproveitar e preencher o tempo. “O sentido da resiliência. que nossa vida é finita. N. A propósito. e nunca teria a menor importância o realizá-las agora. de igual modo a vida o faz no momento da morte. e não algo que lho tire. (Rodrigues. p. 15. p. É possível também imaginarmos a vida como um filme que estamos “filmando”. 1991. n. somente então seu “mundo” será concluído. realizar. A morte significa a pressão para tal. enquanto o instinto de conservação. A propósito. pouco importando que seja um happy-end” (Frankl. Holanda. é o homem que sofre. 345-356. mas ilimitada no tempo? Se fôssemos imortais. Igual a uma linha circular que se fecha sobre si mesma. amanhã ou daqui a dez anos. a paixão. A. 1991. notadamente quando esta morte não se enquadra no padrão e tempo considerados normais. que se torna a operacionalização para o encontro com o sentido da vida. 181) Obviamente. a morte não pode corroer o sentido que caracteriza a vida. vemo-nos obrigados a aproveitar o tempo de vida que dispomos e a não deixar passar em vão as ocasiões consideradas irrepetíveis. p. é a busca de sentido da vida que se traduz em criatividade. na qualidade de ser histórico. A rigor. é no ser-passado que está tudo preservado. As situações extremas conduzem o homem a alcançar tanto a liberdade interior quanto a maturidade. seja ele qual for. p. ou seja.Moreira. não obstante o sucesso. O homem não é apenas um ser essencialmente individual. a dimensão do homo patiens está no nível vertical. por sua vez. p. Não tanto a morte em si. p. 1978. das situações em que se desenvolve. E. é possível haver satisfação apesar do insucesso. e das pessoas envolvidas. aproveitar uma oportunidade. 181). as pessoas têm diante de si uma situação de dor e sofrimento. não significa apenas esforçar-se. sem dúvida. Ademais. o passado é inevitável. aprendizado. então. são necessariamente constitutivos do seu sentido. ao tomar conhecimento da morte. 3. Este. 105). é claro que o que mais importa é que o filme tenha um fim. não consegue sequer dar um sentido à vida” (Frankl. A propósito. mas completamente histórico. mas igualmente enriquecer-se” (Frankl. 2007. O medo da morte nas pessoas normais leva a uma série de reações de defesa muito conhecidas na rotina do dia a dia: a sensação comum de que “o tempo está passando” irreversivelmente e estamos envelhecendo vem quase sempre imbuída de uma dose de ansiedade (Rodrigues. a morte constitui o fundo . mas o simples conhecimento de que sua vida se extinguirá irreversível e inescapavelmente. “quando se vai ao cinema. Finitude e morte A morte é. tendo em vista a morte como uma fronteira intransponível do futuro e limite das nossas possibilidades. Tal finitude representa algo que de alguma forma concede sentido à existência. O indivíduo que se eleva acima de si mesmo caminha para a maturidade. os pólos são satisfação e desespero. não ao futuro. poderíamos adiar as nossas ações infinitamente. o nosso futuro está à frente da nossa decisão e da nossa responsabilidade” (Frankl. 111). que resiste. o homem que cumpre sua orientação ontológica na busca do sentido. Logoterapia e sofrimento 351 esta é a dimensão do homo sapiens./dez. que nosso tempo é limitado e nossas possibilidades limitadas. É claro que a finitude da vida é ansiogênica e também uma razão de sofrimento. 2010 precisamos é respeito ao passado. v. esse fato é que principalmente faz com que pareça pleno de sentido empreender algo. 241). crescer e amadurecer. por exemplo. a despeito do sofrimento e apesar do fracasso. 1978. o futuro. Frankl assegura que “o de que nós Psico-USF. o homem jamais “é”. a maior adversidade com que o homem se defronta. 245). cuja soma “finita” significa precisamente a vida toda. “O sacrifício é capaz de dotar de sentido até a morte. crescimento” (Silveira. p. contrapõe-se o Homo patiens.. o que aconteceria se a vida não fosse finita temporalmente. Não se julga a biografia de uma pessoa. A morte se revelou plena de sentido na medida em que funda a singularidade da nossa existência e com ela nosso ser responsável. Mesmo porque o ser passado. 1993). Ela é a melhor tradução do original alemão geist que se refere ao noológico. fundamentalmente. N. quer cotidianas. poderá ser contemplado de tal maneira que nem Deus poderia observar diferentemente” (Frankl. neste sentido. pelo número de páginas da obra que o apresenta. em Frankl. mas um ser-ante-amorte. quer excepcionais. Uma vida longa não a torna necessariamente plena de sentido. o que sucede é que a morte faz parte dela! Mas também não é possível “dominá-la”. 15. O espírito não é substância. Ou seja. v. 129) Ademais. o psíquico é dirigido pela educação. seja de que modo for. mas antes plena de sentido. existe como pessoa. do morrer. como julga fazer o homem que quer “eternizar-se” pela procriação. A singularidade da vida. O termo “espiritual”. A dimensão espiritual mostra-se. psicológica e social. Holanda.91). A vida não se transcende a si mesma longitudinalmente – no sentido da sua própria propagação – . segundo Frankl. Em nenhum momento a logoterapia afirma que o homem é “composto” de corpo. portanto. p. enquanto teleologicamente orientada para um sentido. Na medida em que o homem é espírito. “O ser humano não é apenas um ser-para-a-morte. p. (Frankl. Ademais. o espírito constitui e garante a unidade. mas pelo seu conteúdo. é a forma mais segura de ser. 2001). total e nova. alma e espírito. Em suma. Sendo assim. 84). mas determinante da existência (Coelho Jr. a morte pertence à vida tanto quanto o sofrimento. em realidade. significa falar. A realidade aqui referida não é ôntica. não tem conotação essencialmente religiosa. 1990). 345-356. 3. e caminhar para o derradeiro fenômeno da existência humana de cabeça erguida. Não é possível apreender o eu porque nós próprios o somos. Psico-USF. todavia. aquilo que irradiamos no mundo será exatamente o que permanecerá de nós quando já tivermos partido. p . mas “em altura”. pois ante ela se decide e toma uma atitude” (Xausa. p. 1990. o homem “tem” corpo e alma. a irrepetibilidade do tempo e a irrevocabilidade daquilo que preenchemos nossa existência (e até a sua ausência) traz real significação à nossa existência.352 Moreira./dez. todavia. e nova. Una. portanto. porque a existência é intransmissível. Na verdade. Na logoterapia. E falar de existência. trata-se de lutar pelo sentido da morte. & Mahfoud. como uma dimensão não determinada. n. neste sentido. porém. separar a morte da vida.. a existência propriamente humana é existência espiritual. 2010 . como ser. porque inadicionável. como a dimensão da vivência da liberdade e da responsabilidade. 75). p. o homem difere dos animais por possuir também a dimensão noética. mas “é” espírito. porque indivisível. o espírito não está no corpo e também em parte alguma do espaço. Ou seja. pois até na morte se satisfaz verdadeiramente o sentido da vida. 1990. porque. torna-se essencialmente insignificante a duração da vida humana. ele é tudo isso unitariamente. pois é falsa a tese de que o sentido da vida se radica na descendência (Frankl. p. Não se trata aqui da liberdade das condições biológicas. a rigor. De acordo com Husserl. set. Afinal. a “transitoriedade” não pode mais causar dano algum (Frankl. Sujeito e objeto são completamente entrelaçados. do “ser-responsável” e do “ser humano consciente de sua responsabilidade” (Frankl. “em” outro ente espiritual. quando apreendido no modo „absoluto‟. Logoterapia e sofrimento sobre o qual o nosso ser é exatamente um ser responsável (Frankl. enquanto o físico é dado hereditariamente. pode-se também dizer que a sua existência é una. A morte é o resultado da finitude e da transitoriedade da existência humana. 2003. o espiritual – não podendo ser educado – tem de ser realizado. da mesma forma que a sua eventual brevidade não a destitui de sentido. “Saber morrer sua morte” em logoterapia significa integrar a morte com o pleno sentido no todo da existência. Não é necessário. e sim ontológica: o ente espiritual “é”. Ao ser que guardamos no “passado”. a essência da existência do homem reside na dimensão espiritual. na sua dimensão espiritual. mas movimento puro. psicológicas e sociais – comum à humanidade – mas da liberdade para uma decisão diante das circunstâncias. Homo Religiosus e Dimensão Noética A humanidade e a animalidade são constituídas pelas dimensões biológica. 1978. 2003. 1978. assim como uma mão não se pode agarrar a si mesma. 112). 78). “o fenômeno (igual à essência) „vermelho‟. na medida em que – agora visto positivamente como um valor – apresenta-se como algo que constitui a originalidade de nossa essência (Frankl. total. da mesma forma evidencia-se agora a nós a imperfeição do homem que. a dimensão espiritual é compreendida. Assim sendo. Diante da ameaça da morte. necessita de sentido. p. A. sobretudo. A inclusão das demais dimensões inferiores garante a totalidade do homem. uma vez que nenhum dos dois torna a existência do homem sem sentido. Apesar das três dimensões. só o conhecimento existencial pode ser absoluto. Frankl (1991) propõe que. 275). mas direcionar o seu olhar para o mundo exterior. o relacionamento com o transcendente revela-se como uma característica distintamente humana. esta distância entre existência e essência são inerentes à vida humana como tal. de uma relação constante com o transcendente. 1978. com os quais está em comunicação existencial. uma das características mais distintas dessa dimensão é a “autotranscendência”. ele se autorrealiza exatamente na proporção em que “se esquece de si mesmo” ao dedicar-se a um trabalho ou a uma pessoa. há sempre uma discrepância entre. Frankl investigou o inconsciente noético 2 a partir da análise de sonhos e constatou a presença de conteúdos religiosos reprimidos. ou seja. A. mas também que se auto-transcende” (Frankl. mesmo em pessoas irreligiosas (Coelho Jr. Dessa forma. 117). Frankl a considerou como uma “fé inconsciente”. 1978. possibilidade realizada. ou seja. Holanda. só se aplica ao organismo psicofísico. Frankl o denomina de homo religiosus. no instrumento. mas antes de decisão” (Frankl. a saber. Para Frankl. A partir desses estudos com análises de sonhos foi possível confirmar a existência no inconsciente noético de uma religiosidade no sentido relacional com o tu. considerando esta última como uma das manifestações da dimensão noética. porém. Deus é uma congruência de ser e ser-assim. Frankl (1993) diferencia a dimensão espiritual da experiência religiosa. de existentia e essentia. n. tal como os processos instintivo-inconscientes (dimensão psicológica). o tratamento somático as restitui. mas um pensar acrescido da existência daquele que pensa” (Frankl. “A verdadeira religiosidade não tem caráter de impulso. este relacionamento com o Tu também pode estar oculto. 3 Êxodo 3. na qual a pessoa fica tão absorvida em seus atos espirituais que não é passível de reflexão na sua essência através de um processo indutivo a partir de três fenômenos especificamente humanos (Coelho Jr. o homem a partir da intencionalidade é dirigido para algo ou para alguém fora de si próprio. Na referida obra. Contudo.Moreira. p. & Mahfoud. e não o espírito. A relação transcendental pode ser apreendida pelo sujeito por meio da experiência do diálogo. Para Frankl. 1990./dez. Afinal. tanto a doença quanto o tratamento atuam exclusivamente no aparelho. 232) Assim. Ademais. vendo. a fé não deve ser rígida. Psico-USF. Logoterapia e sofrimento 353 Ressalte-se que o corpóreo é condição e não causa do psicoespiritual. dando-lhe novas oportunidades. na significação geral de „ser doente‟. Ao homem que experiencia tal possibilidade. Para Frankl. 1978. 1978. o eu (nous) em sua origem é inconsciente. inconsciente ou reprimido. o espiritualexistencial em sua dimensão profunda é sempre inconsciente. ontológica. mas da transcendência – algo maior que o homem – por se constituir “autoridade” que dirige o querer eficazmente em direção à realização do sentido de vida. o eu não pode autoobservar-se. Adoecer. 3. É o psicofísico que adoece. potência atuada. p. o autor fala sobre a possibilidade da espiritualidade se manifestar no inconsciente. quem está seguro na sua fé dispõe das mãos livremente e as estende para os seus semelhantes. 2001). encontrar resposta para a busca do sentido absoluto não está ao alcance do homem. 345-356. o ser e. de outra. apenas na execução de atos espirituais. mas firme. o poder e o dever. E pode fazê-lo porque é actus purus. Já sabemos que a psicose não é uma enfermidade da pessoa espiritual. (Frankl. 1993. “a fé não é um pensar diminuído da realidade da coisa pensada. p. quem não sente firme em sua fé se agarra com ambas as mãos a um dogma inalterável. A propósito. o homem apresenta fenômenos noético-inconscientes (dimensão noética). N. A logoterapia como referencial orientado para o sentido certamente há de se ocupar necessariamente do fenômeno da fé.. de uma parte. (Frankl. p. não pode ver a si mesmo. & Mahfoud. Assim. Isso é definido como “realidade de execução”. Para Frankl. 29). a pessoa espiritual permanece intacta. no qual o transcendente é definido como um “Tu”. o caráter de “dever” da consciência moral não procede do homem. é verdadeiramente uma somatose. A rigor. Em função da sua “autocompreensão ontológica pré-reflexiva”. Referindo-se à teoria freudiana. E por meio desta autotranscendência o espírito se realiza. Enquanto a doença física limita as possibilidades de desenvolvimento da pessoa espiritual. p. falar de um relacionamento inconsciente com Deus ou ainda dessa presença divina como pano de fundo da consciência moral não significa afirmar que o inconsciente seja divino ou que Deus esteja “dentro” do homem e preenchendo o seu inconsciente. Para Frankl. Apenas Deus pode afirmar de si mesmo “Eu Sou o que Sou”3. p. 2001). mesmo na psicose – o espírito não é afetado pela patologia “do” espírito. mas o homem está sujeito a ele. assim como o olho que. v. 2 . No homem. 2010 “O homem não é apenas um ser que reage e ab-reage. A pessoa profunda. Engano igual também seria admitir que o inconsciente seja onisciente. (Frankl. em busca do sentido. set. 56). 15.14. isto é. Esta discrepância. p. 280) O anseio mais profundo do homem não é olhar para si mesmo. bem como acreditar que esta relação inconsciente provoque um contato do homem com Deus. A humanização está. 1978. o supersentido não necessita de comprovação.354 Moreira. está inserida na senda para uma vida plena de sentido. a “tríade trágica” – integrante básica de nossa existência – é humanamente viável de ser superada pelo enfrentamento com os meios espirituais. Considerações finais Na medida em que o homem espiritualmente livre não precisa deixar-se absorver por qualquer situação. (Frankl. Afinal. sim. a alma do homem. 235) Em Frankl (2003). n. Ou seja. vivenciando esta missão como uma busca do encontro com esta instância. por sua vez. isto é./dez. 2010 . quem decide. com minha ajuda ou sem ela. permitindo-se ser conduzido por Tu e orientado na dinâmica da própria consciência (Coelho Jr. quer seja entendido como conceito-limite ou em termos religiosos. Segundo Lukas (1990). funda-se no amor. a libertação repentina da opressão que perdurou um determinado tempo pode colocar em risco a própria estabilidade da alma (Frankl. Tal fé é criadora. Assim. Logoterapia e sofrimento Viktor Frankl afirma que o homem é precisamente um ser médio. é definido como actus purus. ou seja. a humanidade tem sempre uma oportunidade para progredir e se desenvolver. Afinal. A. por último. um ser que se situa entre potentia e actus. em certo sentido. o homem religioso é o homem de audição mais aguda que o irreligioso. inacabada. 3. a fim de se expandirem nossas vivências e experiências existenciais. o homem irreligioso não foi capaz de questionar para além de sua consciência. a consciência moral – a voz da transcendência – guia o homem em suas respostas às questões que a vida lhe proporciona mediante as situações reais e concretas. não há. o homem pode realizar suas potencialidades na autotranscendência quando encontra um sentido fora dele mesmo. obviamente. torna-se mais firme quando experiencia uma determinada “carga”. é a pessoa espiritual. “liberdade de” algo e “liberdade para” algo. E mais. p. até certo limite. O super-sentido. situacional –. em última instância. 15. O homem religioso é capaz de assumir a sua vida como uma missão a ser cumprida. a despeito da irreversibilidade da situação factual. Frankl destaca que a humanização se revela não como criação. A partir da possibilidade de se confrontar o espiritual (logos) do homem com o psicossomático isso significa uma tomada de posição perante as dores e isso representa invariavelmente também se situar “acima” das dores e mazelas. essencialmente. porém. A experiência religiosa.. Holanda. Ou seja. situar-se sempre “acima” de qualquer situação. A alma humana parece comportar-se igual a uma abóbada que. set. E tal liberdade é. prestes a ruir. mas concebe-a como uma crença ampliada no sentido. p. é sustentada pelo peso que lhe é imposto. como o ser humano pode suportar o sofrimento? Por que certas pessoas enfrentam heroicamente as grandes provações Psico-USF. Para o crente. E brotada duma força interior esta fé torna o homem mais forte. 2001). portanto. 1990. & Mahfoud. 1990). A rigor. o homo religiosus foi capaz de completar a dinâmica ontológica. que por sua vez permite desvelar o sentido dos valores da existência com-ooutro. a ausência de sentido da totalidade. Para ele. então ele tem a possibilidade de libertar-se para encontrar um sentido real para a sua existência. ele pode. A logoterapia não concebe da mesma forma o fenômeno da fé como crença em Deus. nada sem sentido. E esta capacidade de estar acima das coisas também permite a possibilidade de ele estar acima de si próprio. 345-356. mas como capacitação do homem. no encontro autêntico com o outro. na qual o homem explora a força de sua dimensão espiritual. A experiência de ser com-o-outro como dimensão da existência possibilita a vivência da conduta moral – sempre concreta. Deus. Segundo Frankl. a fé no plano do suprassentido tem grande importância psicoterápica e psico-higiênica. é legítimo que ela não se ocupe apenas com a “vontade de sentido”. Segundo Moreira. no momento em que opta pela responsabilidade. ao mesmo tempo. Nele. mas também com a vontade de um sentido último. 58). um “superssentido”. “crer em Deus significa ver que a vida tem um sentido” (Frankl. 1978). A logoterapia representa. é que deveria ser provada. ou seja. Na experiência religiosa. Para Ludwig Wittgenstein. a fé religiosa é uma crença no superssentido”. a “terapêutica causal. sendo assim. com minha cooperação ou sem me levar em consideração. N. a iniciação na dimensão supra-humana. não na intenção. evidentemente. impor-se-á independentemente do que eu venha a fazer ou deixe de fazer. Abreu e Oliveira (2006). Sendo assim. a posição pessoal em relação à posição natural. Recuperando o conceito de Sabath. À queda espiritual-psíquico-física somente uma psicoterapia que tratasse. e esta aguarda a sua autorrealização (Frankl. aquela terapêutica que inclui na sua ação apenas a última e verdadeira „causa‟” (Frankl. E quando o homem assume uma atitude de aceitação ante dos condicionamentos. v. Por sua vez. p. ser responsável e ser consciente se dão simultaneamente. sobretudo de dar apoio espiritual e de possibilitar a descoberta do conteúdo e sentido da vida teria condições de um restabelecimento e restauração à existência humana. 1978). efetivada na fé. O super-sentido aparece no “efeito”. Frankl. D. Frankl. Quem basicamente acredita num sentido na sua vida. A. A. Em busca de sentido. V. M. O. Rio de Janeiro: Zahar. N. R. E cada instante ou momento permite infinitas possibilidades! E eu posso escolher apenas uma. E. 12(2). Psicoterapia e sentido da vida. The will to meaning. S. Moreira. (1988). Embora haja situações impossíveis ao homem de compreender racionalmente o seu sentido. pela fé e pelo amor é possível aproximar-se dele. 627-635. M. apesar de ter seu prazer reduzido (Lukas. Holanda. (2007). Rodrigues. “a verdadeira religiosidade não tem caráter de impulso. (2003). Petrópolis: Vozes. 345-356. 104). M. 125-136. E. Lukas. Petrópolis: Vozes. (1997). M. Psicología em Estudo. independentemente se menor ou maior. 2010 Frankl. K. Frankl. Sulzbach. São Paulo: Casa do Psicólogo. Z. Campinas: Papirus. & Angelo. Belo Horizonte. é uma decisão “para toda a eternidade”. V. Frankl. M. & Oliveira. (1985). Frankl. Mentalização e saúde. Psico Porto Alegre. Referências Coelho Jr. Gomes. 95-103. R. Campinas: Papirus. N. E. 91-98. Lukas. conclui-se que a logoterapia.. (2000). Pettengill. “O ser humano é o ser que decide o que vai se tornar” (Silveira. Pereira. Petrópolis: Vozes. Logoterapia: a força desafiadora do espírito. C. (2007). E mais. (2008). (1990). A. 36(3). 1990. V. M. Brasil. (1990). Ademais. E. M. E. (2005). Minas Gerais. Perez. 65-69. (2003). Universidade Federal de Minas Gerais. E. E. Roehe. p. que cada decisão. (1989). D./dez. V. Estudos de Psicologia (Campinas). Curitiba. Frankl (1993). Psicologia USP. (1988). 173). J. 14(1). (1991). o qual dá sentido a todo sofrimento humano. C. V. (2008). Petrópolis: Vozes. E. considerando a resiliência como um fator determinante na identificação e enfrentamento do sofrimento inerente à vida humana e partícipe do seu sentido. Psicologia USP.Moreira. Contribuições de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência. (1991). A. São Paulo: Quadrante. também é capaz de suportar um grande sofrimento. Xausa. Parece terrível saber que em cada momento sou responsável pelo próximo. J. (1978). possibilidade de momento. 11(3). Moralidade e sociabilidade em Frankl: um norte para superação da violência. Afinal. ao distinguir a dimensão espiritual da experiência religiosa. (Dissertação de Mestrado). Abreu. permite a possibilidade da superação da existência humana para além da essência do homo patiens. G. O sentido do cuidar da criança e da família na comunidade: a experiência da aluna de enfermagem. 311-314. Frankl. D. V.. Revista Cubana de Psicología. R. em cada momento eu realizo ou desperdiço uma possibilidade. C. v. E as demais eu as condenei e rejeitei a um jamais-ser. Resgate da dignidade pessoal: uma experiência religiosa. São Paulo: Loyola. 1993). 25(4). A prática da psicoterapia existencial: logoterapia. (2001).. A. As dimensões espiritual e religiosa da experiência humana: distinções e inter-relações na obra de Viktor Frankl. A questão do sentido em psicoterapia. Silveira. n. Logoterapia e sofrimento 355 do destino e outras entram em pânico ou se entregam ante uma aflição mínima? A capacidade de uma pessoa para superar o sofrimento depende da intensidade de sua realização interna de sentido. . Revista da Escola de Enfermagem da USP. não obstante as limitações deste estudo. Nova Iorque: Meridian Books. A vontade de sentido na obra de Viktor Frankl. Psico-USF. (2006). V. Brasil. M. Fundamentos da logoterapia na clínica psiquiátrica e psicoterápica. O sentido da resiliência: a contribuição de Viktor Emil Frankl. O sentido dos sonhos na psicoterapia em Viktor Frankl. Paraná. ao resgatar o conceito de homo religiosus. & Mahfoud. (Monografia de Conclusão do Curso de Especialização em Logoterapia). A presença ignorada de deus. 567-576. p. E neste contexto o homo religiosus encontra os recursos fundamentais para a superação de todo e qualquer padecimento. I. mas antes de decisão” (Frankl. & Mahfoud. Afinal. 2007. Revendo idéias de viktor frankl no centenário de seu nascimento. V. existe o mundo do suprassentido. A psicoterapia na prática. 34(1). Petrópolis: Vozes. p. acima do mundo humano. (1993). set. V. porque sua vida permeada de sofrimento não perde seu sentido. 3. I. 15. Silveira. 18(1). elege esta última como uma das expressões da dimensão noética. Perdida de sentido y neurosis existencial. E. Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Religiosidade. pós-graduado em Educação pela FTBP. A. é autor de diversos livros e artigos em Fenomenologia. e bacharel em Teologia pela FTBP. 15. GEstaltTerapia e Pesquisa Qualitativa. 345-356. 2010 . Holanda.. p. n. doutor em Psicologia. v. Logoterapia e sofrimento Recebido em março de 2010 Reformulado em junho de 2010 Aprovado em agosto de 2010 Sobre os autores: Neir Moreira é mestrando em Teologia pela PUC-PR. 3.356 Moreira. set. Adriano Holanda é psicólogo. Editor da Revista da Abordagem Gestáltica. psicólogo formado pela UFPR. professor adjunto da Universidade Federal do Paraná./dez. Professor adjunto na FATADC. Psico-USF. N.
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