Uma História Luso Brasileira

March 20, 2018 | Author: Paulo Alexandre Baía Mourinha | Category: Spiritism, Mediumship, Portugal, Rio De Janeiro, Brazil


Comments



Description

UMA HISTÓRIALUSO-BRASILEIRA Dedicado a Gentil, Maria Salustiana, Alexandra, Susana, Paula e Inês Os meus agradecimentos especiais a Eduardo Carvalho Monteiro (Póstumo) Vítor Mora Féria Ana Gomes João Marcos Weguelin Paulo Alexandre Baía Mourinha UMA HISTÓRIA LUSO-BRASILEIRA Copyright © 2015 by FEDERAÇÃO ESPÍRITA PORTUGUESA – FEP © (2015) - 1ª edição - 90 exemplares Impressão: Gráfica Comercial ISBN: 978-989-8788-61-0 Depósito Legal: Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sem autorização do detentor do copyright. FEDERAÇÃO ESPÍRITA PORTUGUESA - FEP Casal de Cascais, lote 4, r/c, A; Alto da Damaia, 2720-090 Amadora, Portugal www.feportuguesa.pt [email protected] +351 214 975 754 servindo de informação para as vindouras gerações e dando a conhecer de onde vieram. realmente. para implementar a sua certeza na doutrina nascente e levá-la além fronteiras. indivíduos que tiveram a coragem de atravessar o oceano das dificuldades e o campo das diferenças de culturas e valores. 7 . os que foram responsáveis pelo crescimento e estabilização dos princípios. das dificuldades e das vitórias que foram sendo conseguidas ao longo dos tempos. daquilo que constituirá a história do ontem. estiveram ligadas à nossa doutrina. razão por que se reveste de grande importância o registo. de algum modo. a tantos que estavam sendo preparados para a receber.À guisa de prefácio A falta de referências àqueles que nos precederam permite que se perca no tempo esse conhecimento. um ato de justiça. é. Relembrar personalidades que. Permite-nos tomar consciência do desafio que esta prova representou para os nossos antepassados. resultante das memórias de alguns e dos poucos registos de outros. para além de tudo o mais. Paulo. a lista de trabalhadores. portanto." 8 9 . partindo de suas terras. os seus trabalhos. o nosso percurso mais fácil. sofrendo tantas vezes a incompreensão dos seus pares. ao influxo das falanges de Ismael. Muitas são as versões acerca da chegada da mensagem espírita às terras de Vera Cruz. por nos ofereceres num só tabuleiro. para que hoje seja esta doutrina florescente nos dois lados do Atlântico. Muito antes da codificação kardeciana. com sementes lançadas em todos os Continentes. que fariam da medicina homeopática verdadeiro apostolado. abrindo caminhos nas tuas investigações. conheciam ambos os transes mediúnicos e o elevado alcance da aplicação do magnetismo espiritual. nem sempre assim foi. por teres empreendido esta tarefa que. possamos aumentar. Pedimos a Jesus as suas bênçãos e orientação. que possas continuar a recolher esses testemunhos e. Outras evidenciam a importância do surgimento dos estudiosos do magnetismo e das energias. numa próxima oportunidade. e seus testemunhos para desbravar os caminhos que tornam. as suas origens. Umas destacam a importância de sociedades secretas que terão aberto as portas a uma visão não sacerdotal ou dogmática das questões fundamentais para a evolução espiritual da humanidade. esta diversidade de personalidades. convém.Uma História Luso-brasileira Se hoje é fácil assumirmos a opção de sermos espíritas. lembrarmos estas pessoas que. Como nos conta Humberto de Campos. desde a primeira hora. abraçam princípios que os mobilizam para que os seus testemunhos frutifiquem. Obrigado. chegavam dois médicos humanitários ao Brasil. Pátria do Evangelho: "Por volta de 1840. em número. Eram Bento Mure e Vicente Martins. hoje. na obra Brasil. através da psicografia abençoada de Chico Xavier. como por exemplo os médicos homeopatas (especialmente um francês e um português…) que chegaram ao Brasil em meados do século XIX. certamente. Coração do Mundo. do aconchego de suas famílias. nos enriquecerá no conhecimento. Almancil 6 de janeiro de 2015 VITOR MORA FÉRIA Introdução Falar da implantação do Espiritismo no Brasil é contar uma história de trabalho e sacrifício em português. sem embaraço da verdade podemos afirmar que. Essa necessidade senti-a quando numa reunião pública num centro de Lisboa ouvi de uma das assistentes a seguinte interrogação: por que razões só temos informações do mundo espiritual através de médiuns brasileiros. Em Portugal não sabemos no geral quase nada da importância que os seus filhos tiveram na formação do movimento espírita mais ativo a nível mundial. Essa falta de compreensão às lições do mestre Nazareno levou a que. Os colonos portugueses surgiam no novo mundo comprometidos com uma religiosidade altamente definida pelo culto e ritual da Igreja Católica. de onde retiravam o temor a Deus. ontem foram os pioneiros espíritas lusos a plantar a mesma boa nova que hoje recebem. mas ainda não o apelo ao amor. será que não existem médiuns portugueses? A pergunta foi legítima. E se hoje são os nossos irmãos brasileiros a nos trazer lições de inegável valor. com as falhas maiores do velho mundo. os europeus em geral e os portugueses em particular. 11 . de França ao Brasil. diferentes mas surpreendentemente convergentes. Nada mais justo e mais de acordo com a providência divina. os escravos trazidos das terras africanas vêm trazer às plagas de Santa Cruz mais um elemento determinante para a fixação de uma nova ideia de Deus e de Homem no mundo: a idealização da Liberdade Suprema. não por qualquer provincianismo exacerbado. 10 Por isso é muito justo dizer que apesar da chegada de outros europeus (incluindo franceses) ao Brasil e com eles chegando a mensagem espírita. vieram a fazer do Brasil um terreno ímpar para a implantação de uma nova Doutrina. Mas como o Universo se aproveita até do mal para criar o bem. A reunião destas realidades. História essa que merece ser contada. algo que os espíritos rentabilizaram da melhor forma.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Qualquer uma destas versões tem algo de verdade. chegassem aos novos horizontes encontrados para lá do imenso mar. mas apenas por ser da mais elementar justiça a contar. instituído pelo maior profeta trazido ao orbe terreno: Jesus Cristo. mas acreditamos que a semente havia sido implantada muito antes e até aí tendo em conta das peculiaridades e idiossincrasias do povo Português como elemento aglutinador (nem sempre da melhor forma) de outras etnias que já pontificavam nas terras brasileiras e outras que foram para aí trazidas pelos colonizadores portugueses. como meta maior a atingir por toda a vida. Os indígenas do Brasil tinham consigo uma proximidade aos ritmos e espíritos da natureza que naturalmente abriam portas a uma ideia de espiritualidade não ritualizada. nomeadamente o esclavagismo. há uma história portuguesa. Por exemplo. que André Luiz – mais uma vez através de Chico Xavier – nos revela que a colónia Nosso Lar. São também fortíssimas as ligações entre Leão Pitta e Cairbar Schutel e Jeronymo Ribeiro e Anália Franco. Também não é por acaso. asilos. a Doutrina começava com ele. Existem ligações de tal forma fortes que por vezes parecem fazer parte de um todo global. Fernando Lacerda. concatenando o velho e o novo. Não são apenas as relações políticas. o implementador de uma nova era para o mundo. é de uma beleza e genuinidade que enternece os corações. um dos maiores médiuns que o Espiritismo conheceu. nela participou ativamente. As amizades criadas entre o povo português e Divaldo Pereira Franco. mas uma ligação verdadeiramente espiritual. E o país que serviu de berço ao Espiritismo precisou que o seu precioso rebento caminhasse para o outro lado do mundo e nesse momento. assim como outros espíritas brasileiros. mas também aquele que mais ligações emocionais deixou com a parte do mundo que tocou indelevelmente. Na realidade esta primeira edição é mais o juntar de uma coletânea de textos que foram escritos por vários e diligentes companheiros (identificados nas referências bibliográficas) e algumas coisas que fui descobrindo nas minhas viagens para o Brasil – que conheço há mais de 20 anos e para onde viajo com frequência – bem como pesquisas e partilhas feitas em Portugal e fora dele por mim próprio e amigos que merecem toda a minha gratidão. o mais periférico dos países europeus.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Como Kardec tão claro deixou. nem comerciais. país colonizado. jardins. Não terá sido também por acaso que o mesmo Chico Xavier teve os "seus" textos pela primeira vez publicados por dois portugueses: Inácio Bettencourt e José Machado Tosta. centros. Por estas e outras razões. onde os destinos de ambos se encontram unidos. não acabava com ele. Possuo cerca de 60 biografias de trabalhadores portugueses com obra no Brasil e dedicarei o próximo ano a investigar as suas histórias e a dilatar as histórias daqueles que nesta edição vos trago. Um livro que está muito longe de estar terminado. que se encontra em cima da cidade do Rio de Janeiro. foi emissário de trovas e poesias de muitos dos imortais que viriam a se manifestar na grande obra do maior médium do século XX: Chico Xavier. acredito valer a pena um livro como este. grande parte dos homens e mulheres aqui biografados foram imortalizados no seu país de adoção através de ruas. Portugal e Brasil estão muito mais interligados do que apenas a relação habitual entre país colonizador e 12 13 . o hábito e a mudança. foi fundada por portugueses. assumiu o papel de emigrante e não tendo sido o único veículo ou sequer. hospitais e escolas. desejo a todos uma boa leitura! PAULO ALEXANDRE BAÍA MOURINHA ANTÓNIO GONÇALVES DA SILVA "BATUÍRA" 28 de Dezembro de 1838 . Nascido numa família muito humilde. em busca de horizontes mais largos e melhores condições de vida. Certo de que este é um diálogo interrompido que retomaremos mais à frente. a Capital do Império. Terá chegado à Baía da Guanabara a 3 de Janeiro de 1850 e durante 3 anos trabalhou no comércio da que era então. 14 15 . freguesia de S.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Este não é o "meu" trabalho mas o "nosso" trabalho e para isso contarei com os subsídios e correções de todos.22 de Janeiro de 1909 Primeiros Anos António Gonçalves da Silva Batuíra nasceu a 26 de Dezembro de 1838. Tomé do Castelo. completou as primeiras letras em Portugal e logo seguiu para o Brasil para casa do seu irmão. no lugar de Vila Meã. concelho de Vila Real. Espero no entanto que este pequeno esforço essencialmente de compilação sirva para "abrir o apetite" de todos e ajude a que a grande tarefa de recuperar o espólio deixado por estes nobres homens e mulheres se concretize. não apenas pela envolvência de Batuíra com os ideais republicanos e abolicionistas já referidos e a possibilidade de se familiarizar com as ideias de indivíduos como José do Patrocínio. através da imprensa escrita. voltaria a casar com D. Joaquim Gonçalves Batuíra. surgiram em torno de 100 novos periódicos. São Paulo estava longe de ser a megametrópole que é hoje. Brandina. O viúvo.. no estado de São Paulo. como Batuíra). contando com um número de habitantes pouco superior a 30 mil. Maria das Dores Coutinho e Silva. criando o Teatro da Cruz Preta. inicialmente como vendedor de jornais (o que chamamos de ardinas). que também o deixaria viúvo em 1916 e também lhe daria um filho de nome Joaquim. capaz de olhar os outros homens independentemente de raça ou cor como seus irmãos. dando provas do homem que viria a ser. em cerca de 10 anos.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Findo esse período que não deve ter sido nada fácil para uma criança acabada de chegar de uma realidade rural totalmente diversa da cosmopolita cidade do Rio de Janeiro. parte para a cidade de Campinas. É nesse mercado emergente que António se vai envolver. em Portugal conhecida como Borrelho e no Brasil. Luís Gama e Rui Barbosa. mas também porque lhe vão dar o gosto e a motivação para vir a ser um grande propagandista da ideia espírita. Finalmente em 1856. faz a curta viagem que o separa da cidade de São Paulo e por lá fica. E como era ele um homem de ação. Desde 1850 que a arte tipográfica estava em crescimento no Brasil e. Brandina Maria de Jesus. Batuíra casa-se com D. transformou essa paixão em obra. mas produziria um filho. 16 17 . O Teatro Outra das paixões de Batuíra era o Teatro. Sendo um jovem de ideais e bem integrado na sociedade. outras espécies. desde cedo se envolveu no movimento abolicionista. e tão eficiente e rápido era no cumprimento das suas funções que o povo começou a chamá-lo de Batuíra (ave rápida do género Charadrius. Por essa altura também. A sua associação profissional ao "Correio Paulistano" teve uma maior importância do que inicialmente se poderia supor.. Nasce Batuíra Por essa época. Lamentavelmente a união não duraria muito tempo em virtude do falecimento de D. também conhecido como Teatro Batuíra. e merecedores de todo o respeito e cuidado. o que o tornou imensamente popular pela cidade. António passou a usar Batuíra como apelido. no entanto. onde trabalhou na lavoura. charutos. mas hoje chama-se: Rua Espírita. passou a confecionar e comercializar Mas nada o poderia preparar para a tempestade que se aproximava inexoravelmente da sua casa. Batuíra demonstrava a sua elevação de espírito. Batuíra acolheu dezenas de pessoas acometidas pelo surto variólico de 1873. era também um espaço de dinamização cultural e de ensino das artes cénicas. onde construiu a sua residência e iniciou um bairro. quando eles já haviam perdido a esperança de os encontrar. O Consolador Em tudo o que fazia. 18 19 . que Batuíra viria a acolher escravos e a ocultá-los dos seus algozes. no caminho. logo que aparecia em cena". tanto assim que agradava. e sem ter a certeza do quê. seu segundo filho. Batuíra Verdade e Luz: "Não imaginem que ele tinha então aquelas venerandas barbas de apóstolo (e ele o é na verdade) que hoje lhe adornam o rosto. não." Foi nessa residência e propriedades em volta. a quem ajudou a recuperar a saúde. coisa em que foi pioneiro. e que era recebido com palmas e versos. embora fizesse geralmente os papéis de "Centro". onde a primeira das ruas a ser aberta recebeu o seu nome. comprando as suas cartas de alforria. ao mesmo tempo em que dava récitas. ele sabia-o. para Batuíra até a sua residência teve de se tornar um hospital e um porto seguro para aqueles que necessitavam de auxílio. não tinha uma figura de espantar crianças.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira O Teatro. Lavapés Por esta altura. algo faltava na sua vida. o que lhe proporcionou prosperidade e lhe permitiu adquirir algumas propriedades na zona do Lavapés. o seu caráter nobre e a renúncia só possível às almas superiores. A importância deste espaço é confirmada pelas referências e alusões que vários historiadores lhe fazem nas suas obras sobre a cidade de São Paulo. Nessa mesma casa. Como vemos. mas com as economias realizadas e com o seu instinto comercial arguto. Importa também referir que frequentemente Batuíra atuava nas peças encenadas. Contudo. E a violência da mesma apanhou Joaquim Gonçalves Batuíra. criando uma estratégia junto com o famoso abolicionista Luís Gama que se constituía de fazer ofertas aos "proprietários" desses escravos. já Batuíra não era um vendedor de jornais. Como podemos ler no seguinte excerto tirado da obra do malogrado Eduardo Carvalho Monteiro. Os versos referidos no texto são estes: "Salve grande Batuíra/Com seus dentes de traíra/Com seus olhos de safira/Com tua arte que me inspira/Nas cordas de minha lira/Estes versos de mentira. Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Filho de Batuíra com D. Maria das Dores Coutinho e Silva, nascera a 15 de Maio de 1871 e agora a 23 de Maio de 1883, poucos dias depois do seu décimo segundo aniversário, partia já para esse continente invisível aos nossos olhos, onde apenas vivem os espíritos. Espíritos esses que Batuíra ainda não conhecia, nem procurava, mas que desde aqui seriam o impulso para uma vida mais ampla e consistente. Meu querido filho vive. Por isso, não chorem mais! Eu só quero alegria a partir deste instante!”. A morte de Joaquim havia sido em si mesma, de uma simbologia atroz, tendo a sua carne sido corrompida pelo tétano após um simples contacto com o espinho de uma linda rosa. A morte foi repentina e apanhou a família de surpresa, principalmente o seu pai que entrou em profundo pesar. O velório foi muito concorrido e consternador, os lamentos e choros ecoavam pelo salão principal da casa Batuíra e os espelhos estavam cobertos por panos negros, honrando uma tradição fúnebre que se perde nos tempos. A dado momento Batuíra sente-se inquieto, com dificuldade para conter a sua emotividade. É então que se levanta da cadeira onde estava sentado e caminha em direção ao seu quarto, fechando a porta atrás de si. Uma meia hora terá passado até que Batuíra saiu do quarto. A sua expressão era outra, assim como a sua disposição. Batuíra então dirigiu-se à multidão nestes termos: “Não quero que ninguém mais chore aqui. Meu filho não morreu. 20 Apesar de a paz aparentemente ter tomado posse da expressão de Batuíra, as pessoas não queriam acreditar no que ouviam. Teria o pai enlouquecido com a morte do filho? Para aumentar a perplexidade dos circunstantes, Batuíra sai á rua e volta com uma banda! Que não só não interpreta temas de tristeza e luto, mas começa mesmo a tocar temas alegres como marchas festivas... Para uns heresia, para outros o sinal de uma mente enlouquecida pela dor. Apenas Batuíra compreendia a razão da sua alegria. Seu filho não estava morto! O que aconteceu naquele quarto? O próprio Batuíra o relataria mais tarde: "Entrei disposto a qualquer coisa naquele quarto, porque Deus tinha que dar uma resposta à minha dor e não sairia de lá enquanto Ele não me respondesse. Foi então que vi uma luz se formando, que não era aquela do candeeiro e nem a luz do crepúsculo que ainda penetrava pela janela... a luz foi se tornando diáfana, vaporosa e um vulto surge-me suavemente à frente... meus olhos encheram-se, então, de lágrimas, a emoção atingiu o mais alto grau que um humano poderia suportar e eu reconheci naquela sombra o Quinho, filho querido: Pai, não fique triste — disse-me ele. — Eu não morri. Estou mais vivo do que nunca. Seus lábios sorriam... seu semblante estava calmo e transmitia muita paz. Em seguida, suas mãozinhas acenaram para mim, da mesma maneira como o fazia quando se despedia em vida, e sua 21 Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira imagem foi suavemente se apagando na tinta gasta da parede. Não sei quanto tempo duraram aqueles instantes e quanto ali fiquei, até derramar a última lágrima pela sua passagem para uma outra vida. Meu filho não morreu. Nós não morremos. Esta vida é apenas uma etapa da Vida Verdadeira. Em algum lugar, eu e o Quinho nos reencontraremos..." (muito embora só tenha sido registado e ganho estatuto oficial em 1904). Desse dia em diante, Batuíra tomou um caminho novo, uma espécie de Estrada de Damasco lhe havia aberto os olhos. Por esta altura, já os temas espiritualistas e mesmo espíritas já eram comentados (principalmente por intelectuais) na sociedade Paulistana e Batuíra logo se tentou inteirar mais acerca do assunto, que lhe era agora irresistível. As respostas que buscava começam a ser dadas através do Dr. Ramos Nogueira – um grande pioneiro do Espiritismo em São Paulo – e juntou-se às reuniões de estudo e prática mediúnica na sua residência, na companhia de Aristides Vasconcellos e Ângelo Torterolli. Alguns dados históricos merecem aqui destaque. Desde 1890 que Batuíra já visitava a FEB e a partir de 1895 passou a ser um seu associado (sócio honorário), participando das suas ações e Congressos e foi precisamente após o Congresso da FEB no Rio de Janeiro em 1904, que Batuíra considerou ser importante constituir o GEVL como uma Entidade Jurídica. Era por essa altura o Presidente da FEB Leopoldo Cirne. Ramos Nogueira era uma pessoa de grande prestígio para a FEB, que lhe dedicava bastantes e muito favoráveis artigos através do seu meio de comunicação, o Reformador. Verdade e Luz I A relação de grande parceria entre Batuíra e a FEB levou a que ele constituísse, a 24 de Maio de 1908, a União Espírita do Estado de São Paulo, que viria a regular os centros espíritas e grupos familiares de todo o Estado de São Paulo. A Luz que despertou Batuíra para uma nova realidade viria a deixar marcas em várias áreas de atividade do novel espírita. Assim, em 1890 Batuíra já restaurara e colocara em funcionamento o Grupo Espírita Verdade e Luz. Tendo a sua inauguração oficial acontecido no dia 16 de Abril de 1890 Tinha como Presidente e Vices respetivamente, António Raposo de Almeida (Coronel), Batuíra e Studário Cardoso. 22 23 Também a União Espírita Mineira, com sede em Belo Horizonte, contou com o incentivo e esforço do homem de Águas Santas. Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Verdade e Luz II A 25 de Dezembro de 1904, ganha vida a Instituição Christan Beneficente "Verdade e Luz". Instituição que tem como Objetos: - Asilar viúvas desvalidas, providenciando alimentação, medicamentos e ocupação adequada; - Recolher obsedados (loucos) de ambos os sexos e providenciar-lhe todo o auxílio; É muito interessante observar que Batuíra coloca como regime da Instituição o vegetarianismo e doa todos os seus bens imobiliários à Instituição! O seu desprendimento e conduta moral deixam os seus contemporâneos de boca aberta. Todos sabiam que Batuíra adquirira a sua fortuna por meios absolutamente honestos e legítimos e agora os colocava ao dispor dos outros sem nada exigir em troca... Desde 1889 que Batuíra era o agente exclusivo do Reformador em São Paulo, mas o agora mais experiente e lúcido dirigente espírita percebeu da importância de ter em São Paulo o seu próprio meio de comunicação doutrinário. Na realidade, o gosto e interesse pela atividade jornalística nunca abandonou Batuíra desde os tempos em que ainda jovem vendia o Correio Paulistano pelas ruas da cidade. Hoje percebia melhor a necessidade de espalhar a Boa Nova através de um veículo que chegasse a cada vez mais pessoas, ao mesmo tempo em que também pudesse cobrir o cada vez mais ativo movimento espírita paulistano. Algo que apenas no Evangelho estavam habituados a Se bem o pensou... melhor o fez. ver. Antes apenas tinham existido 2 verdadeiras tentativas para criar um periódico espírita na região de São Paulo. A saber: União e Crença - Areias, jornal mensal propriedade do Grupo Espírita Fraternidade Areense. Numa época de divisão 24 25 Nos últimos anos sob a direção de Batuíra. Em 1890. Explicava conceitos evangélicos à luz do Espiritismo e narrava curas importantes obtidas dentro da casa espírita. em que Batuíra defendeu os postulados espíritas com brio e vigor contra os ataques constantes destas muito católicas senhoras. eram eles: Durante todo esse tempo. Espiritualismo Experimental . mais dedicado à Ciência Espírita e que curiosamente teve como representante no Rio de Janeiro outro extraordinário trabalhador espírita português. Modesto de Araújo Lacerda e Silvestre Evangelista dos Santos. Anália Franco. Edla de Morais Cardoso. o até então jornal passa a sair com formato de revista (após 1900) com 32 páginas e periodicidade mensal.São Paulo. Augusto José da Silva.. Pitris. nomes grandes do Espiritismo como Ewerton Quadros. Colaboraram ao longo dos tempos no jornal. tanto no centro quanto no quotidiano. Os primeiros números tinham apenas 4 páginas e 3 colunas. num formato de 26 x 38 cm. apresentava ele uma visão religiosa do Espiritismo. onde Batuíra demonstrou os benefícios da prática do Espiritismo. Luís Ferreira. Casimiro Cunha. Apenas em Setembro de 1908.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira entre espíritas científicos e místicos. Urias. sendo Batuíra o editor e tipógrafo. O Regenerador ( Belém). João Lourenço de Sousa. Reformador (Rio de Janeiro). Antônio Pinheiro Guedes. Foram oito anos de diálogo. em 1890 existiam apenas 5 jornais espíritas de circulação nacional no Brasil. Ficaram famosas as trocas de ideias com as Damas da Caridade da Diocese. Paulo Vero. ele se permitiu assinar como "Alguém". Rapidamente cresceu em tamanho. Verdade e Luz (São Paulo). jornal mensal. Augusto Elias da Silva. no centésimo número do jornal. Manuel José da Fonseca. Valado Rosas.. Batuíra finalmente teve a possibilidade de adquirir uma tipografia e a 25 de Maio de 1890 surgiu o jornal "Verdade e Luz". fundado em Setembro de 1886. 26 27 . A Luz (Curitiba) e a Revista Espírita (Curitiba). qualidade e tiragem até atingir já em 1897 o fantástico número de 15 mil exemplares (número muito semelhante aos jornais generalistas da época). Traumer. Fundado em 24 de Março de 1881. E uma tiragem de 2 mil exemplares. Para termos uma ideia. ele sempre assinou os seus artigos como "Ninguém". O fundador do Reformador. há 19 anos. Cairbar Schutel. Alciro Valadão. Deus o chame a Seu Regaço. a "Verdade e Luz". 29 . que incontestavelmente cooperou para o desenvolvimento da Doutrina que abraçou. Fundou. interessante caso de conversão do médico e dentista Alciro Valadão." OPINIÃO DE CAIRBAR SCHUTEL Espírito liberal – simples na sua caridade. Ataques que vinham tanto de fora como de dentro. de janeiro de 1909. vamos apoiar-nos uma vez mais na obra de Eduardo Carvalho Monteiro. destacando-se as escolas e os orfanatos. com justiça cognominada A Grande Dama da Educação Brasileira. ele que havia sido tão rico. foi contemporânea e grande amiga de Batuíra.. ALGUNS CASOS FAMOSOS E TESTEMUNHOS ACERCA DE BATUÍRA Para este segmento da biografia. Anália fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo. Outro projeto a que o velho transmontano das barbas brancas se dedicou foi uma livraria espírita onde os livros eram gratuitos para que mais facilmente pudessem chegar a todas as pessoas. É fora de dúvida que foi um batalhador na prática do bem. BATUÍRA E ANÁLIA FRANCO Anália Franco (1853-1918). expusera-me os motivos que o levaram a aceitar o Espiritismo. e terminou do Plano Espiritual. Foi precisamente este desapego de Batuíra que o levou a viver os últimos anos da sua vida na mais perfeita miséria. No número 62 de A Voz Maternal.Paulo Alexandre Baía Mourinha Aliás. NUNCA É DEMASIADO TARDE. que Batuíra iniciou. ilustre clínico desta Capital. que mantinha vários 28 Uma História Luso-brasileira serviços assistenciais à população. Extraímos da obra O retumbar da trombeta. Anália noticia o desencarne de Batuíra: "Na madrugada de 22 presente baixou ao túmulo o ancião de 69 anos. Antônio Gonçalves da Silva Batuíra. durante as duas décadas de atividade do jornal. que nos oferece vários e ricos subsídios para ilustrar quem foi António Gonçalves da Silva Batuíra. enquanto encarnado. O nosso confrade Dr. Sr. assim se referiu a ele outro abnegado apóstolo da Causa Espírita em São Paulo. de Amadeu Santos (Ed. Mas Batuíra preferiu as riquezas do outro mundo em vez de as cultivar aqui. sempre em prol da divulgação do Espiritismo. 1942).. muitos foram os combates. Batuíra Verdade e Luz. grande na sua simplicidade. FEB. Foi um devotado apóstolo do bem. ) Batuíra. Ed. pude conduzir-te aos umbrais do templo do Espiritismo. E tenho ouvido lamentáveis opiniões a seu respeito. com tendências para a prática do bem. precisa precaver-se. visto que era um moço inteligente. fixara residência no Rio de Janeiro. causada pela impressão agradável que lhe proporcionara aquele discurso erudito e oportuno. Valadão foi obrigado a estudar a consoladora Doutrina dos Espíritos. instalara o seu grupo de estudo e caridade na Rua Lavapés. dela se tornando um adepto consciente e fervoroso. disse-lhe o Dr. viu-se de permeio a uma numerosa assistência que. então. passeando despreocupadamente por determinada rua da Capital viu-se compelido por uma força estranha. aquele que acaba de falar por intermédio do teu 30 AO PÉ DO OUVIDO (Psicografia de Chico Xavier constante no livro Almas em Desfile. de quem se tornou amigo. a subir a escada de determinado prédio. Certo dia." Diante do ocorrido. Cesário. Conversa vai.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Tendo feito o curso de odontologia. quando um médium desenvolvido do centro cai em transe e diz: "– Meu amigo.. houve a feliz oportunidade — narra ele — de conhecer Batuíra. Foi. o Apóstolo do Espiritismo na capital paulista. do Espírito Hilário Silva. em homenagem ao patrono da Casa. onde se formou em ciências médicas e cirúrgicas. E muitos assistentes vinham dar-lhe os parabéns pela brilhante peça oratória que acabara de produzir. de atualidade doutrinária e científica espírita. para seduzi-las. porque médium inconsciente. em S. mas admiro-lhe a sinceridade. discorrendo por algum tempo sobre os mais elementares princípios doutrinários do Espiritismo. o Dr. Paulo. com residência no Rio. ouvia um orador que dissertava sobre assuntos espíritas. irresistível. meu amigo. em nome da prece. nem saber explicar o que havia sucedido. mesmo desencarnado. Dizem por aí que você adota o nome de médium para explorar a bolsa pública. então deputado federal. que você está rico de tanto enganar incautos e dizem também que você se isola com mulheres. Cesário Motta. resgatar a promessa de que havia de te tornar espírita. aparelho. bem sei. 31 . Nesse tempo esposava ele ideias materialistas. em gabinetes. FEB. para cumprir com a palavra. quando numa reunião social foi abordado pelo Dr. ao pé do ouvido: Você. Adeus. eu sou o Batuíra. grande médico e higienista. matriculando-se na Academia de Medicina. Poucas palavras do orador ele pôde ouvir porque logo caiu em transe.. Estuda-o com isenção de ânimo e com carinho. Vencida a escada. silenciosamente. e Batuíra lhe dissera que ainda o tornaria espírita. com o auxílio das excelentes faculdades mediúnicas que o Pai te confiou. Tudo calúnias. Deixando São Paulo. Não sou espírita. Terminada a alocução. mas hoje. ao que ele lhes respondia não conhecer nada do Espiritismo. toda a assistência deixava transparecer uma emoção profunda. conversa vem. Não o consegui na minha vida material. e terás o consolo para a tua Alma. enfermos para quem pedi seu amparo receberam a sua melhor atenção. Mal houvera se colocado entre a plateia. embora vomitassem lama em forma de sangue.Paulo Alexandre Baía Mourinha E que sugere o senhor? – perguntou o amigo. sereno. Mas para quem se julgava de posse de uma armadilha. Pelo fato de o senhor encontrar tanta podridão nos corpos. afirmando. que os Espíritos colocariam os remédios na água para que a cura de sua esposa se concretizasse. sim. doutor – falou Batuíra. não seria possível. e falou: Sim. batendo nos ombros do velho amigo. 33 . já vi o senhor tocar as feridas de muita gente.. É importante que você se abstenha do Espiritismo. O fazendeiro. desenganada pelos médicos. satisfeito. poderia desistir da medicina? O Dr. Ao encontrar a esposa.. quem teve o choque da surpresa foi o próprio fazendeiro. como o orgulho falasse mais alto. Mas. Ardiloso... esquecia-me de que há podridão também nas almas. mas voltou no dia seguinte para nunca mais se afastar dos trabalhos do grupo. entregoulhe o líquido da fraude e disse-lhe: é para você tomar uma colher de sopa quatro vezes ao dia.... Disciplinada.. o fazendeiro retirou-se do recinto. Envergonhado. encontrou uma nascente de água límpida e encheu a garrafa que portava e que serviria para trazer tais remédios e voltou para casa. tão poderoso quanto orgulhoso. a esposa iniciou "o tratamento" e começou a apresentar melhoras para surpresa do fazendeiro. certo de ser possuidor de grande trunfo para desbancar o charlatão.. altaneiro.. E. você tem razão. a contragosto atendeu o pedido 32 Uma História Luso-brasileira da companheira.. Batuíra interrompeu a palestra e dirigiu-se diretamente a ele: o senhor perdeu seu tempo vindo até aqui.. Quando terminar eu volto para buscar mais. ele arma um plano para desmascarar o "charlatão espírita".. tendo ouvido falar de Batuíra e suas curas através da homeopatia.. esposa de rico fazendeiro. o senhor é médico e tem sido o nosso protetor na extinção da febreamarela e da varíola em São Paulo. A BICA DO CONVERTIDO Certa vez uma senhora.. A meio caminho. encerrou a questão. porém. Cesário sorriu... faça isso e nada mais. alegre: Vamos continuar. Lá vai ele. pediu ao marido que fosse até a Rua Espírita buscar tais remédios. com humildade –. O dia escolhido foi por ocasião de palestra pública.. Era só encher de novo a garrafa com a água daquela bica... nunca vi o senhor desanimar. Atrás de si. trabalho e mais trabalho".Mais Luz (Obra Completa) . Uma das parcerias que estabeleceu com o mundo dos ditos "vivos" foi com o excelente médium de Uberaba.Luz no Lar . Batuíra continua a honrar o seu lema. de onde partimos e ao qual é esperado que regressemos mais ricos em virtudes.Calendário Espírita .Irmãos Unidos . . a saber: Depois de ter doado todos os seus bens a instituições que criou e apadrinhou.Dicionário da Alma . 34 35 . Chico Xavier. E fatalmente no dia 22 de Janeiro de 1909 pela uma da manhã. seu lema de sempre.Bênçãos de Amor . mais fortes e mais experientes.Praça da Amizade . de ter até comprado uma chácara1 para servir de hospital e abrigo para os obsedados e pelo caminho ter tido dois casamentos e dois filhos já desencarnados.Recados da Vida . Batuíra manifestou-se em várias obras.Seguindo Juntos .Chico Xavier pede Licença (co-autoria de Herculano Pires) . Batuíra vivia só com a sua mulher e estava já bastante doente e cansado quando chegamos a 1909. uma vida balizada por "Trabalho. deram destaque da sua passagem. que é a experiência da carne.Escultores de Alma . Diário Popular e o Reformador. trabalhando em prol da humanidade.Vozes do Grande Além . Batuíra por Chico Xavier Do outro lado da vida. O São Paulo.Paulo Alexandre Baía Mourinha O Regresso a Casa Uma História Luso-brasileira Através da sua mediunidade límpida e maleável. entre outros. de ter criado editoras e jornais. o grande Apóstolo regressa ao ponto de partida desta viagem. os jornais A Platea. de ter transformado a sua casa num sanatório.Antologia da Paz Sobre ele.Coragem . 1 Quinta. À sua frente o continente do espírito. desde o momento em que chegou ao Brasil. Se este é o "nosso" Elias da Silva ou não. Certo é que António Augusto Elias da Silva foi. havendo inclusive um António Augusto Elias da Silva que terá emigrado para o Brasil em 1862. 18 de Dezembro de 1903 Nota Prévia: Apesar de não existirem certezas quanto ao local de nascimento de Elias da Silva. 37 .Uma História Luso-brasileira ANTÓNIO AUGUSTO ELIAS DA SILVA Lisboa 1848 – Rio de Janeiro. ainda precisa de ulterior investigação. vários dados parecem levar a investigação para Lisboa. uma das figuras mais importantes para o desenvolvimento e implantação da Doutrina Espírita. embora longe de modificar minhas ideias. geralmente supersticiosas e inclinadas ao sobrenatural. levou-me a solicitar que me permitissem a continuação da frequência às suas sessões. não tendo a menor parcela de dúvida sobre a não existência da alma. explorando a ignorância das massas. Deus me perdoe os falsos juízos que então formei da ilustre diretoria que dirigia os destinos da Sociedade. Não admitindo os fenômenos das diversas religiões. ficou-me a mais dolorosa impressão. quanto à imortalidade da alma. ou então convencê-los do seu erro. a despeito da corte de nossos contraditores. O desejo de desmascarar os membros da Sociedade. forçando os ávidos de conhecimentos a procurar descortinar os. Não é minha opinião que essas afirmações sejam importante subsídio como elemento de propaganda doutrinária.Paulo Alexandre Baía Mourinha A Estrada de Damasco Acerca da sua conversão ao Espiritismo podemos ler as suas palavras na revista "Reformador" de 1 de Setembro de 1891: “Cidadão redator: Amigo e confrade. se os reconhecesse especuladores. devo o 39 . rua da 38 Uma História Luso-brasileira Alfândega n. e. com raríssimas exceções. Porém. fui convidado a assistir a uma sessão na sala da Sociedade Acadêmica Deus. Dos trabalhos que presenciei. na mais absoluta imobilidade. vamos ao caso. os quais fazem uso e abuso da arma do ridículo. até há pouco ocultos. Em 1881. Pelos trabalhos de minha profissão conheço a dificuldade de tal posição no estado normal e a esse fato. Abro um parêntesis para declarar que estas ideias até hoje só se modificaram tão somente quanto aos fundamentos das seitas religiosas. os desvios que tenho notado na história da vida sacerdotal de todos os tempos. caiu ajoelhada da cadeira em que se achava. Cristo e Caridade. médium que não tendo nessa ocasião produzido trabalho algum intelectual. tais são. a fim de nos forçarem ao silêncio. É por esse motivo que igualmente me julgo no dever de empunhar mal aparada pena. em estilo sem o atavismo estético dos cultores das letras.º 120. Tem sido ultimamente publicadas por alguns de nossos confrades as razões pelas quais se converteram às nossas crenças. porém creio que tem suas vantagens como elemento comprobatório da diversidade de fenómenos que por toda a parte se apresentam. e nessa posição ficou mais de vinte minutos. em estado sonambúlico. pondo de parte mal entendidos e preconceitos. As minhas convicções nesta época eram as do mais lato indiferentismo religioso. braços erguidos. venham publicamente afirmar suas convicções. isto é. Na segunda que assisti. só via nelas agrupamentos de ociosos e amigos de dominar. trabalhou como médium sonâmbulo a esposa do nosso confrade Monteiro de Barros. expor também as razões que concorreram para firmar as minhas convicções. é muito para louvar que esses confrades. segredos do mundo espiritualista. se fossem visionários. A essa sessão assistiam umas cinquenta pessoas e entre elas algumas de reconhecida capacidade científica. também espontaneamente manifestado. para melhor dar seguimento à sua vontade de servir. Assim. dizendo que sofria muito por ter cometido atos que eu ignorava completamente. Em outra sessão manifestou-se espontaneamente um meu amigo. onde gradativamente fui recebendo as provas mais robustas da manifestação dos que eu chamava mortos. porém. Pela leitura. porém assinada por extenso. estimulando-me ao estudo da Doutrina Espírita. pois foi ele que em mim despertou o desejo de investigação das leis que o determinaram. na qual ainda morava a família do falecido. Assim nascia o Grupo Espírita Menezes. é porque foram eles que me desvendaram os horizontes resplandecentes do mundo espiritual. Solicitando explicações sobre esse fato. Em um grupo solicitei fosse evocado um meu parente e amigo falecido havia muito tempo. Procedi a mais rigorosa investigação desses fatos. 40 41 . Cristo e Caridade. foi-me aconselhado à leitura das obras do imortal Kardec. da qual fiz parte. tenho conhecido. sendo a assinatura duma exatidão inexcedível confrontada com outras do evocado. e comecei a frequentar as sessões dos grupos e sociedades então existentes. tornou-se membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus. Uma multidão de fatos. Elias da Silva. onde colaborou com extrema devoção e ardor. quando desencarnou. No dia imediato.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira grande benefício de minha crença na imortalidade da alma. Esta associação muitos benefícios espalhou. feitas durante a vida terrena.” O Grupo Espírita Menezes Após a sua conversão. se me refiro a estes somente. sendo a assinatura por extenso. Cristo e Caridade. Após a sua "comissão de serviço" na Comissão. e seu mentor espiritual. fundou uma associação em homenagem ao já falecido diretor da Sociedade Acadêmica Deus. uma comissão. solicitando que orasse por ele. Um outro espírito. António Carlos de Mendonça Furtado de Menezes. a qual nada conteve de particular. limitando-se a conselhos morais. bem como as complementares e tornando-se cada vez mais ativo na sua fé e principalmente nas suas ações. citarei alguns. chegando à conclusão de serem eles verdadeiros. Entre os fatos observados. e acabou por receber os sócios da associação que a precedeu. dirigiu-se à casa indicada. para mim completamente estranho. Elias tornou-se um verdadeiro estudioso da Doutrina. foi o encarregado de obter a comunicação. mas que bastante concorreram para dissipar as dúvidas que eu nutria quanto ao agente das manifestações. despertou-se-me o desejo de verificar experimentalmente as teorias que ia bebendo. conquanto muito comuns. Um médium psicógrafo. lendo avidamente as obras da Codificação. declarou o nome e a casa em que morava. alguns mais extraordinários. em vários números. era. que com naturalidade escreveu. Elias da Silva contraporia a sua indomável vontade e a sua indestrutível resiliência. a então rua da Carioca (exSão Francisco de Assis) n. surgira. de forma a entibiar o animo dos espíritas mais resolutos. 43 . esclarece-nos muito bem acerca do tamanho do empreendimento e as resistências e dificuldades do caminho: "Fundar e conservar um órgão de propaganda espírita. menos forte. grandes tarefas que o esperavam. na qual o Antigo Testamento era astuciosamente citado para contraditar as comunicações mediúnicas. sua sogra D. Todas as baterias do Catolicismo estavam assestadas contra o Espiritismo. no entanto. com os recursos tirados do seu próprio bolso.º 120.º andar (Rio de Janeiro). que cumpria abater." Maiores obras no entanto estavam ainda para realizar. naquela época. Maria Balbina da Conceição Batista e sua esposa D. os novos hereges. Antes desta Pastoral. na Corte do Brasil. fora distribuída ao Episcopado brasileiro uma Pastoral do Bispo da Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. mas homens desta cepa porfiam até ao fim. e tão anticristão e violento era o zelo daquele prelado. Elias estava agora preparado e por isso. Um velho provérbio árabe diz que quando o poço está pronto. 2. Em grande parte. há muito. uma outra do mesmo autor. a certeza do caminho a fazer e isso faz toda a diferença. Amparado e incentivado dentro do lar por duas almas boas e valorosas. referindo-se aos espíritas: “Devemos odiar por dever de consciência”. ambas espíritas convictas. Um pequeno excerto do livro “Grandes Espíritas do Brasil”. Muitos se desencorajam facilmente. A ela respondeu a “Revista da Sociedade Acadêmica Deus. encontravam-no agora em condições de as levar a bom fim. Cristo e 42 A todas estas dificuldades. em 15 de julho de 1881. principalmente dos da Capital. porque trazia agora na alma. de Zeus Wantuil. Dos púlpitos brasileiros. onde também residia com sua família. Datada de 15 de junho de 1882. a água chega. Matilde Elias da Silva. de quem teve um filho também chamado Augusto. choviam anátemas sobre os espíritas. mas que não deixava de qualificar os espiritistas de possessos. dementes e alucinados. principiando em Agosto de 1881. Elias lançou o Reformador em 21 de Janeiro de 1883. situando a redação e oficinas em seu atelier fotográfico.Paulo Alexandre Baía Mourinha O Reformador Uma História Luso-brasileira Caridade”. um número especial do “Reformador”.º andar. então com limitadíssima tiragem. Dizendo bem alto que ninguém se poderia considerar espírita se julgasse possuir qualquer criatura humana sob o regime de escravidão. Contudo. Havendo. n. Em 31 de março de 1883.Paulo Alexandre Baía Mourinha O desafio maior de todos os meios de comunicação. E essa ajuda surgiu na forma de outros abnegados trabalhadores. em papel couché. que se achava à Rua do Hospício (hoje Buenos Aires).º 102. 44 45 . para onde também se transferiu a Federação Espírita Brasileira. mas especialmente aqueles que estão ao serviço de ideais superiores – como é o caso – é a sobrevivência. qual o fez em junho de 1883. “Reformador” teve a sua secretaria e tesouraria na Rua da Carioca. que. ao mesmo tempo. Saía à luz de quinze em quinze dias. “simboliza o alicerce do edifício moral e social que será erguido pela confraternização humana”. O "Reformador”. sendo abertamente abolicionista. protestando junto ao Governo Imperial contra um ato de fanatismo praticado. como o Major Francisco Ewerton Quadros entre outros trabalhadores incansáveis que se associaram a Elias da Silva na longa e árdua tarefa de levar este empresa a bom porto. de comunhão entre eles mesmos. poucos assinantes e a falta de publicidade a ocupar as páginas do jornal e ainda o fato de a grande maioria dos jornais serem entregues gratuitamente. Elias fazia imprimir. 120. não contra espíritas. numa época em que essa era uma muito perigosa ideia. inúmeras vezes Elias da Silva pôs-se à frente de movimentos altruísticos. O certo é que não podia faltar aos espiritistas brasileiros um órgão de disseminação das novas ideias e. necessidade de mais espaço para o desenvolvimento daquela publicação. por essa época. mas contra um pastor protestante. com quatro páginas de texto.º de fevereiro de 1888. A sua tiragem irrisória. o que não é de se admirar conforme o que dissemos anteriormente. perseguido pela Polícia da Paraíba. de mãos dadas com um padre católico. no local de residência e trabalho de Elias. Até 1. Uma História Luso-brasileira Desde o início o novel jornal pugnou pela defesa de valores universais de defesa dos direitos de todos os seres.º 25) da então rua do Clube Ginástico. na expressão do corajoso fotógrafo português. o Alto fez por proteger esta nave contra todas as tempestades. notando-se que uma boa quantidade de exemplares era remetida para Lisboa. a Diretoria resolveu instalar a secção do “Reformador” no prédio n. Caráter rígido e sempre disposto a defender os oprimidos. hoje Silva Jardim. 2. E o Reformador teve um início difícil. seriam à partida razões mais que suficientes para que o navio naufragasse. feição que conservou até Dezembro de 1902. dedicado todo ele a Allan Kardec. era impresso em formato de jornal. sendo um extraordinário exemplo de associação entre irmãos deste e do outro lado do Oceano.º 17 (depois n. os companheiros que mais de perto o auxiliavam no “Reformador”. um quarto das quais pertencia ao sexo feminino. impresso. aquele infatigável lidador reuniu em sua residência. Rua da Carioca) n.” . “Acha-se em via de organização a Federação Espírita Brasileira. Cristo e Caridade”. como sempre o fazia semanalmente. Nessa memorável noite de 27. muito pouco conseguiam a prol da almejada união. firmava-se entre os presentes o ideal de fundar-se uma Sociedade nova. com segurança. à Rua São Francisco de Assis (hoje. à noite. 46 47 Fitando o largo horizonte da propaganda escrita. fazer avançar a Doutrina entre os cipoais que tentavam impedir-lhe a marcha. Eram doze individualidades ao todo.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira É um facto incontestável que a Espiritualidade Superior entrega as maiores obras aos trabalhadores mais aptos. mas. com as palavras: A “Sociedade Acadêmica Deus. Elias pensou fundar uma Instituição que congregasse os elementos dispersos para a obra relevante da unificação. Em todos os ambientes agitava-se um ideal que se tornava imprescindível cristalizar: a união dos grupos espíritas existentes. principalmente pela imprensa e pelo livro. em sessão preparatória.” Em vinte e sete de dezembro de 1883. O que dizer então de Elias da Silva e da sua obra? À vista disso. “como a indicar” – conforme escreveu o saudoso Dr. que federasse todos os Grupos através de “um programa equilibrado ou misto” e que difundisse por todos os meios o Espiritismo. como é natural. e certamente inspirado pelos mensageiros de Ismael. de evangelização”. antes dessa data. Só assim se teria maior probabilidade de. "O movimento espiritista nacional atravessava um período que não mais podia comportar esperas e indecisões.º 120. Guillon Ribeiro – “quão importante viria a ser a parte que caberia à mulher na obra. anunciava o fato auspicioso. A Federação Espírita Brasileira. o Centro da União Espírita do Brasil” e o “Grupo Espírita Fraternidade” eram os únicos que podiam desempenhar aquelas funções. acreditamos que prestará serviços da máxima importância para a vulgarização dos princípios filosóficos do Espiritismo. O “Reformador” de 1. que então se encetava. por apresentarem falhas em seus programas e pela discórdia então reinante entre eles.º de janeiro de 1884. através de uma Sociedade que seria a diretoria e orientadora do movimento geral. segundo informações de Fernandes Figueira. A. as reuniões ordinárias da Diretoria. por delegação. 48 49 Manuel Fernandes Figueira – informa-nos o ilustrado Dr. reconhecendo-se “grato à Federação pelo testemunho que ela imerecidamente lhe dispensava”. sendo justo notar que as ofertas feitas posteriormente pelo Dr. F. Pouco mais tarde. às quais compareciam também alguns sócios fundadores mais chegados à Sociedade. A. A esse ofício Elias humildemente respondeu. é. exarada na ata um voto de agradecimento e louvor ao ex-tesoureiro Elias da Silva. . sob a Presidência do Dr. primeiro passo para a instrução No princípio. Ainda por esse motivo é que Elias. Noya Junior. não mais apareceu depois de 31 de Dezembro de 1886. vice-presidente.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Nessa sessão. tesoureiro. o Comendador Paulino Pires Falcão. regularidade e atividade que empregou durante sua gestão. da Silveira Pinto. já que Elias estava prestes a ausentar-se da Corte. O nome de Elias. pedia aos amigos. Canuto Abreu – tira do bolso um papel e lê interessante acróstico de FEDERAÇAO ESPIRITA BRASILEIRA. fora aclamada uma Diretoria provisória. não o incluíssem na chapa para a eleição da nova Diretoria de 1887. A. pela boa ordem. Zeus Wantuil. numa sala gentilmente por ele cedida. Fernandes Figueira. então aprovado. ficou assentado que se lhe oficiasse. que muito raramente deixava de figurar nas Atas das sessões. como Manuel de Sousa Santos Moreira. à noite. que ficou assim constituída: presidente. secretario. afora os nomes citados na ata. com a constante ajuda de muitos confrades. daqueles que se iniciavam na Doutrina dos Espíritos e que não possuíam meios para adquirir livros. Dias da Cruz. Pinheiro Guedes lhe deram um impulso bem marcante e a transformaram. indissolúvel laço / A crente comunhão espírita brasileira. Elias inaugurava modesta e pequenina biblioteca espírita. Manuel da Silva Tavares. Esta biblioteca foi crescendo lentamente. Xavier Pinheiro. M. Foi então substituído nas funções da Tesouraria pelo seu velho companheiro F. dizendo-lhe do agradecimento da Federação pela boa vontade que sempre demonstrara no correr do triénio de sua administração na Tesouraria. Xavier Pinheiro. Elias da Silva." Grandes Espíritas do Brasil. João F. Carlos Joaquim de Lima e Cirne. além disso. reeleito para o cargo de tesoureiro em 2-1-1885 e 5-1-1886. José Agostinho Guimarães e. mas o “Reformador” continuou ainda à Rua da Carioca. para gestão até a quarta-feira (2 de Janeiro). de 27 de dezembro de 1883. arquivista. A este ato compareceram ainda. realizavam-se na residência de Elias. No dia 2 de Janeiro de 1884. R. em fins de 1886. Diretoria composta apenas de três membros: presidente. e só a partir de 17 de Dezembro de 1886 passaram a ser efetuadas na casa de Santos Moreira. Manuel José de Oliveira Quintana. Major F. Na reunião de 14 de Janeiro de 1887. na maior biblioteca espírita do País. por proposta de um dos membros da Diretoria. 120. escrito em 31 de Dezembro de 1883. ficando estabelecido que no dia acima aprazado seria feita à eleição da Diretoria na forma do regulamento. outros espíritas convictos e trabalhadores. secretário e tesoureiro. em cujos dois últimos versos se assinalou a verdadeira finalidade da agremiação: "Reunindo em um forte. Ewerton Quadros. Elias reuniu os membros instaladores e procedeu à eleição e posse da primeira diretoria. Mas isto não impediu que ele continuasse a frequentar as sessões da FEB. Quem quiser dar-se ao trabalho (que traz satisfação) de averiguar o que afirmamos. como alguns confrades supõem hoje. Por ser Elias humilde e modesto ao extremo. da biografia daquele a quem a sessão é consagrada. recémdesencarnado. 153 e depois continuadas no amplo salão da Guarda Velha.º 153. Elias volta a ocupar o cargo de tesoureiro. “É praxe entre nós encarregar-se o orador oficial do panegírico. mostra esta humildade a que nos referimos e que ofereceu interpretação falsa sobre seus verdadeiros dotes intelectuais: “É lutando com quase invencível embaraço que ouso vir desempenhar as funções de orador oficial. Pode-se dizer que. onde encontrará alguns dos belos e instrutivos discursos por ele pronunciados. Os homens mais ilustrados e representativos do movimento espírita da 51 . um homem inculto e incapaz de produções admiráveis. por isso mesmo se retraía a ponto de não deixar se lhe conhecessem devidamente as qualidades. porque me faltam o cultivo intelectual e os dotes oratórios precisos para poder acompanhar em seu vôo arrojado pelas mais vastas regiões da mentalidade humana (e desenhar-vos com as cores próprias as grandes fases desta vida) as produções esplêndidas deste gênio maravilhoso. e estas não poucas vezes lhe deram a representação junto à FEB. foi na Terra conhecido com o nome de Vítor Hugo. ora a Federação. Foi este o último ano em que exerceu funções diretas na Diretoria. em solenidades espíritas levadas a efeito em Sociedades várias. para discursar em nome delas. que o mundo contempla extasiado. com eles estudando um sem número de questões e problemas relacionados a pontos de doutrina e à orientação geral do Espiritismo em nossa terra. ombro a ombro com os antigos companheiros de lides doutrinárias. porque tenho consciência da minha fraqueza para apresentar-vos um trabalho que corresponda à grandeza do assunto. quase até ao fim da vida terrena de Elias. lar a que dedicou todo o seu amor e trabalho. por sua própria deliberação. em sua última encarnação. ora o “Reformador”. iniciadas em 17 de Agosto de 1885 numa sala da Rua da Alfândega. Em Junho de 1884. além do que propagava da tribuna os princípios espiríticos. Elias alugou para a FEB uma sala na Rua da Alfândega n.” São memoráveis as conferências públicas promovidas pela Federação Espírita Brasileira. em homenagem a Vítor Hugo. Não foi Elias. nesta sessão em que a Federação Espírita Brasileira busca render uma homenagem de alto apreço ao Espírito eminente que. nas eleições de 2-3-1888. onde foram pronunciadas eloquentes conferências públicas. Por diversas vezes Elias foi ali (e posteriormente em outros locais que a FEB ocupou) o orador oficial de sessões comemorativas e de homenagens a confrades desencarnados.Paulo Alexandre Baía Mourinha Retornando ao Rio de Janeiro. a 5 de Junho de 1885. Pequeno trecho de um discurso que ele proferiu na FEB. basta folhear as 50 Uma História Luso-brasileira coleções antigas do “Reformador”. escritas ou faladas. Comumente era incumbido de representar. tarefa esta que me creio incapaz de bem cumprir. à fluência e correção da linguagem se casavam num estilo pleno de beleza e vigor literários e profundo conhecimento da Doutrina dos Espíritos e de diferentes ramos do saber humano. Ao contrário. a Federação Espírita Brasileira foi para ele o seu segundo lar. entre as quais a de excelente orador. sem ter ainda podido bem compreendê-lo. ” Por último.º 83 da Rua Imperatriz (atual Camerino). a luz que lhes é oferecida. Na sessão comemorativa do sétimo aniversário da FEB. em linguagem simples e enérgica. a inconsequência. em 2 de Novembro de 1885. em pouco tempo à Casa de Ismael aderiram inúmeras Sociedades. entre outras coisas: “Aceitando amplamente a grandiosa ideia da federação de todos os grupos espíritas do Rio de Janeiro. apesar das provas mais evidentes e racionais. o novo Código Penal. dizia. ele mais uma vez aproveitou o momento para dar corpo àquilo a que aspirava. Manuel Fernandes Figueira e Manuel Rodrigues Fortes. “Depois de historiador o septénio de triunfos e vicissitudes da Sociedade que fundara. a Sociedade Espírita Fraternidade. demonstrando com argumentos sólidos. realizada no 2. em fins de 1890. Finda esta conferência. O convite conciliador feito por Elias ecoou favoravelmente em todos os ambientes espiritistas da Capital. Elias recordou os esforços e cuidados com que. Antônio Pinheiro Guedes. após o Dr. que era a Federação.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Corte. o Dr. com seu antigo companheiro de lides espíritas na Casa de Ismael. e ao surgir. trazendo sua palavra serena e refletida. quando o homenageado fora seu presidente. dos serviços prestados à Federação. e Elias da Silva foi o sexto conferencista. assinado pelo Vice-presidente João Kahl. apelou para os espíritas declararem abertamente a sua crença. conforme registou o “Reformador”. frivolidade e injustiça dos antagonistas do Espiritismo. a mais antiga de todas as existentes. os quais se mostram renitentes em repelir. dizendo. e vem agremiar-se à Federação 53 . Quadros no mister simultâneo de redator e revisor. cujo ofício de adesão. Na sessão que elegeu a Diretoria da FEB para 1891. Elias. Ante um auditório que enchia literalmente a sala. aproveita a oportunidade que se lhe depara. 52 A união dos espíritas brasileiros em torno da Federação foi sempre o ideal de Elias. que podia conservar para si todas as glórias daquele período inicial. de nada valeu. Abriu o ciclo de conferências o Major Ewerton Quadros. ainda. nas listas do Recenseamento de 31 de Dezembro de 1890. entretanto. o que. A proposta foi unanimemente aclamada. Santos Moreira e alguns outros companheiros. importantes subsídios nas discussões com Dias da Cruz. o orador foi vivamente aplaudido pelos ouvintes. Elias da Silva colaborou ativamente na organização dos primitivos Estatutos da FEB. se multiplicou o Coronel. mostrou a gravidade da hora. que trouxe inquietação em todas as Sociedades espiritistas. Elias da Silva foi o orador oficial. Elias fez um rápido e completo resumo dos ensinos espíritas. durante os primeiros cinco anos de “Reformador”. repartia-as. Justificando a proposta. visto que os espíritas só viriam a ser incluídos no Censo de 1940 e nos que se lhe seguiram. Francisco Raimundo Ewerton Quadros. enfrentando com desassombro o ridículo com que então era guerreado o Espiritismo. e concitou a família espírita a cerrar fileira em torno da entidade incontestavelmente mais prestigiosa. subiram à tribuna a fim de espalhar publicamente a consoladora doutrina. Lima e Cirne. Francisco Siqueira Dias. foi apresentada por Manuel Tavares e Elias da Silva uma proposta que considerasse Presidente Honorário da Federação o Coronel Dr. inclusive a velha Sociedade Espírita Fraternidade. nobre e humildemente.º andar do prédio n. por várias vezes. A crise atingiu o auge em 1895. é e representa o verdadeiro Centro Espírita do Brasil. que afinal prometeu dar uma resposta categórica após ouvir seu guia espiritual. baseada no Evangelho. foi eleito presidente da Casa de Ismael e neste cargo empossado por Elias da Silva. de que só a união faz a força e que só pela fraternidade podemos obter mais e melhor. As incompreensões e o espírito de vaidade que dominaram de novo entre alguns adeptos e bem assim as revoluções políticas por que atravessava o País. voltando a reinar a calma no movimento político nacional. e reunir e congregar de novo a família espírita.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Espírita Brasileira que hoje. Fernandes Figueira. “Já é tempo. E a resposta veio a contento de todos. então todo disperso. Bezerra de Menezes. na assembleia geral extraordinária de 3 de Agosto de 1895. para que ao menos possamos sair do abc!” Infelizmente foi esta uma vitória que não durou muito.” Após o mês de Março de 1894. tudo em vão. que lutava com graves problemas financeiros. que anteriormente havia participado da Diretoria da FEB. Mas. e. Prontamente estabeleceu Bezerra nova orientação. encarnados e desencarnados. porque destinos de cada vez mais dilatada magnitude lhe estavam reservados”. e constituída por Elias. para a Presidência da mesma. Francisco Casemiro Alberto da Costa. pareceria – e com efeito foi – a única em condições de salvar a Federação. Canuto Abreu que aqueles quatro homens nobremente desistiram de qualquer cargo administrativo. para que Bezerra ficasse inteiramente à vontade. e por ela haviam empenhado os maiores sacrifícios. “a Federação tinha que vir. Apesar de ser estatuído um programa de harmonia. diminuíram sensivelmente os recursos financeiros da Federação. Elias da Silva. de abandonarmos as quimeras e os desvios por onde falsos profetas. a cuja Presidência Júlio César Leal renunciou no meio do ano. e convictos. Como por encanto. Tanto instaram com ele. aos trabalhos da Sociedade. restabelecido o equilíbrio nas finanças da Federação Espírita Brasileira. até mesmo para editar o “Reformador”. juntamente com Fernandes Figueira e Alfredo Pereira procuraram reanimar as forças da FEB. Elias. “Foi então que as vistas dos que amavam aquela Casa. pela imposição dos fatos. reunindo as mais peregrinas virtudes e saber a um legítimo prestígio no seio dos espíritas. nos têm dirigido. como devemos estar. como frisou Leopoldo Cirne. Uma comissão nomeada pela FEB. Além das divergências profundas entre líderes espiritistas. com efeito. Alfredo Pereira (gerente do “Reformador”) e Dias da Cruz foram então convidar o Dr. 54 55 . se voltaram para uma individualidade que. menos difícil foi a coordenação do movimento espiritista. E conta o Dr. unamo-nos de uma vez para que a luz de um supra o outro. o caminho tornou-se mais limpo de obstáculos. voltou a paz ao seio do movimento espiritista nacional. tudo concorreu para o desmembramento e a desordem. Fernandes Figueira e um novo companheiro. angariaria permanentemente “meios materiais para sustentação e ampliação da propaganda espírita”. Adolfo Bezerra de Menezes. Os anos de 1892 e 1893 foram para a Federação de aspérrimas dores e quase a elas sucumbia. condescendente em suas linhas gerais. em Abril de 1886. mas sim convencidos pelo raciocínio. ante a presença de vários sócios. no dizer de outro não menos venerável fundador da Federação – Manuel Fernandes Figueira.Aliás. o nome venerável de Augusto Elias da Silva. no ano de 1887. em 23 de Agosto de 1887. . concedeu diplomas de sócios honorários. no qual a FEB se instalasse condignamente. julgando o estudo como o melhor meio de convencer. levou-a a efeito e por muito tempo foi a alma dessa instituição”. fundado por Elias da Silva em sua residência. e obtinham-se mensagens 56 57 . cuja fundação se deu em 31 de Março de 1897. É preciso. bom espírita”. mas só em 1897 ficou organizada a Livraria propriamente dita. Elias já dizia incisivamente: “O Espiritismo não quer crentes. Nesse tempo.” . entre os quais se destacavam Alfredo Pereira. Em 15-11-1898. citar em primeiro lugar. Elias se une a alguns abnegados companheiros da Federação e juntos contribuem com uma considerável quantia para o desenvolvimento da Livraria. o Centro Psicológico Português “Amor e União Universal”. tinham em vista obter com os rendimentos excedentes da Livraria uma verba especial para a compra de um prédio. em sessão de diretoria da FEB. bom amigo. “bom filho. no 5. Uma História Luso-brasileira Dados Relevantes da Vida de Elias da Silva . 120. Livraria da FEB Segundo o “Esboço Histórico”. Nélson de Faria. a Livraria da FEB teve como ponto de partida uma doação em dinheiro feita por Elias. cumpre. todavia. Santos Moreira. . “quem teve a ideia.A Sociedade realizava sessões de estudos doutrinários e de desenvolvimento mediúnico.Em 1886. Cristo e Caridade. a só base de uma convicção inabalável. entretanto. contrários à presença de “curiosos” em sessões práticas e de doutrinação de Espíritos. foi reaberto em 27 de Abril de 1889 sob a Presidência do fundador. só em 1911 este sonho pode tornar-se realidade.A Ewerton Quadros e Elias da Silva. acompanhada de uma coleção de muitos exemplares das obras fundamentais codificadas por Allan Kardec. Dias da Cruz e o nosso biografado manifestaram-se. num discurso pronunciado em 11 de Dezembro de 1884. Elias. por dever de consciência.º aniversário de desencarnação de António Carlos de Mendonça Furtado de Menezes. . entre os seus abnegados servidores. à Rua da Carioca. Almeida Campos. e que constituíram o objeto do primeiro comércio da Livraria. esclarecer que desde 1893 se vendiam livros espíritas na sede da Federação. Pinheiro Guedes e Fernandes Figueira.Paulo Alexandre Baía Mourinha No entanto. se essa Casa é o que é hoje.O Grupo Espírita “Sete de Março”. Almeida Reis. que fizera parte da primeira Diretoria da Sociedade Acadêmica Deus. e demonstrou a marcha vitoriosa do Espiritismo no Brasil até àquele momento. de Lisboa. historiou a vida do Grupo desde a sua fundação à última sessão. que foi. . concretamente o de Elias da Silva. e tendo como orador oficial o Dr.” . em 21 de Abril de 1889. espírita desde 1877. seu primeiro presidente. F.A diretoria da Sociedade Propagadora das Belas Artes.Em 22 de Dezembro de 1889. grande historiador brasileiro. semeando saber e luz com várias gerações de estudantes. entre os nomes dos Drs. do falecimento de Elias da Silva. e que desencarnara em 1882.° aniversário da perseguição do Espiritismo no Brasil. mesmo. na qual figurava. na época um dos mais famosos fotógrafos do Rio. . Sr. mandou cerrar as portas do edifício e hastear. a passagem do 16. pelo menos. Tal Centro desempenhava as funções que outrora estiveram a cargo de outro Centro de igual nome. que eram comentadas pelos presentes. nesse ano. . em 1892. “médico da pobreza”. tendo sido proposto pelo 58 . prestou-se homenagem à Diretoria da Sociedade Acadêmica Deus. em funeral. foi assinada por uma Comissão especial. No dia seguinte. comemorou. diz do seu valor. outrossim. que ainda hoje é patente aos olhos de todos: “O Liceu não é só educador. ali gravada numa placa de bronze.Foi sob a Presidência de Elias da Silva que o Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil. resolvendo. da Costa Guimarães. Júlio César Leal. aos 28 de Agosto de 1897. renunciaram a seus postos no Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil. Cristo e Caridade que obstou os passos dessa primeira tentativa de perseguição. a “Sociedade Propagadora das Belas Artes”. como sócio remido. o pavilhão. Dias da Cruz. a Federação Espírita Brasileira resolveu unanimemente enviar ao Governo Provisório Brasileiro uma mensagem de congratulações pelo advento da República. Uma frase de D. Cristo e caridade. criado em homenagem ao Dr. J. moralizador. . Pinheiro Guedes e outros.O “Liceu de Arte e Ofícios”. que também fundara. que na ocasião era membro do seu Conselho Fiscal. Alexandre José de Melo Morais. A referida instituição durou. pelo Dr. em 3 de Outubro de 1881. também.Segundo o “Reformador” de 1-1-1893. ainda sob a Presidência de Elias da Silva. inaugurado em 1858 pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva.Em fins de 1897. criado na Sociedade Acadêmica Deus. Elias da Silva para ele entra. em 1903. tomar parte em todas as manifestações fúnebres que se realizassem. sociedade de prestígio na época e que fora instalada na FEB. A referida mensagem. até princípios de 1890. em 1856. Elias. datada de 23. do Centro da União Espírita do Brasil. foi famoso centro de cultura. ao ser cientificada. . reunido em Congresso Espírita Permanente. cerca de meia dúzia de diretores dentre os quais Elias da Silva. era um dos médiuns psicógrafos do Grupo “Sete de Março”.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira do Além. é. Elias foi eleito presidente. Pedro II.Reconhecendo a grande contribuição do Liceu para o progresso da mente humana. reconhecendo 59 . A. mantenedora do Liceu. Adolfo Bezerra de Menezes. De vez em quando suspendia a mãos à altura de alguns centímetros e a prancheta pareceria parada. visitou-me Luís Molica e sua esposa D. foi o primeiro a levantar a voz de alerta contra os propósitos de alguns dos diretores. reorganizado pelo Prof. o de unir a família espírita brasileira. Um pouco convencido já pela leitura doas obras de Allan Kardec. Alguns dias depois. a fim de. servindo-se a médium D. o qual esteve nos Estados do Pará e Amazonas durante 26 anos.º de Março de 1890: “No ano de 1883 veio ao Rio de Janeiro meu irmão António Elias Rodrigues dos Santos e Silva. Este negociante. foi naturalíssimo que eu procurasse convence-lo das verdades do Espiritismo. e o primeiro a desligarse mas só mais tarde os fatos vieram confirmar suas asserções. e reconhecendo quão precária é no mundo espiritual a sorte daqueles que voluntariamente procuram a morte. logo que se oferecesse ocasião. tirar uma prova de identidade para si e ao mesmo tempo para a família do evocado. ficando perturbado com o falecimento de um filho que muito estimava e com a perda total de um vapor e carga de que era proprietário. confrontando a letra. acusado por um leve ranger de lápis sobre o papel. fiz algumas evocações daquele Espírito. fazer o trabalho como meu irmão desejava. Elvira Molica. tendo sido naquele empregado do conhecido comerciante Manuel Pinheiro. o qual se sentia. sobre a qual colocou levemente os dedos. que frequentou com assiduidade. dizendo 61 . O referido Centro.º 9 e editou a “Revista Espírita do Brasil”. pois desejava poder ser útil aquele que tinha sido seu patrão. fizemos a evocação do mencionado Manuel Pinheiro. Julguei durante o trabalho não obter mais do que alguns sinais sem significação. suspendida a prancheta. ciência essa em que nesse tempo me iniciava. de pequena duração. um fato espírita narrado por Elias e publicado em “Reformador” de 1. daí resultando o afastamento de vários outros. porém. . quando residente na capital do Pará. lembrei-me de obter por eles a comunicação almejada. Sendo ambos médiuns de efeitos físicos e a senhora também sonambúlica. pois desejava obter uma comunicação por um médium mecânico. verifiquei estar desenhada uma pequena cabeça em perfil. Elvira de uma prancheta. pediu-me que organizasse uma sessão. ele procurou confirmação das teorias nos trabalhos experimentais. Estando no Rio esse meu irmão. mesmo quando os dedos estavam fora da prancheta. a seguir. Angeli Torteroli em 1894. atualmente residentes na cidade de Valença. igualmente um dos diretores desse Centro. suicidou-se. tão lento era o seu movimento. funcionava à Rua Silva Jardim n. 60 Prometi. Um fato interessante Transcreveremos. Aceito o convite. Tendo assistido no Grupo Antônio de Pádua à manifestação do Espírito de um suicida. porém não ficou meu irmão satisfeito. Atendendo a tão justo pedido.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira publicamente que ele fracassara em seus objetivos.Bezerra de Menezes. por entre as preces dos amigos invisíveis e visíveis. que em certo trecho dizia assim: “Era um bom homem. No dia seguinte pedi-lhe para tirar um livro do armário. na Terra chorava-se a perda de um grande trabalhador da Seara. . De mais alto. que. a Federação Espírita Brasileira exaltou a memória do seu benemérito fundador. o Espírito de Elias desatou-se dos débeis vínculos da carne. como habitualmente se costuma dizer. rumo à verdadeira Pátria universal.” Com estas palavras o genial poeta latino. pegou no desenho. causou grande pesar a todos quantos lhe conheceram os dotes de coração. que é médium vidente. logo ao abri-lo. dirigimo-nos todos à mesma morada. O “Jornal do Brasil”. Augusto Elias da Silva. de 19.como obtiveste isto? É o Manuel Pinheiro sem tirar nem pôr! Não temos dúvida de que seu leito permanecia rodeado carinhosamente dos luminosos Espíritos que foram na Terra sua sogra e sua esposa. guardei o desenho em minha casa. tuberculose pulmonar. esse ativo trabalhador.. e bem assim de companheiros desencarnados que com ele haviam mourejado no Espiritismo. afinal. 114. cheio de surpresa. que lhe amenizavam os sofrimentos e lhe proporcionavam serenidade e fortaleza de ânimo. Ovídio. E enquanto nas regiões etéreas o fiel servo da Verdade era recebido em festa de regozijo. ser o retrato do Espírito que vira. cuja morte.. Imediatamente guardou o retrato no bolso.” Elias residia ainda naquela mesma casa em que fora fundada a Federação. Minado o seu organismo pela Pelo “Reformador” de 1. exclamou:. No dia seguinte. único que conhecia o mesmo.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira minha mulher. desciam sobre aquele missionário chuvas de bençãos reconfortantes. Não estando presente meu irmão. rendia ao ilustre morto homenagem sincera. saía da rua da Carioca. num armário de livros. Grandes Espíritas do Brasil: No dia 18 de Dezembro de 1903 cessaram. o féretro com o prestimoso invólucro mortal de Elias em direção ao Cemitério de S. com tal precaução. que não me foi possível obter dele que eu o visse outra vez.” O Adeus “Ou mais devagar ou mais depressa. Suavemente. os derradeiros esforços vitais do conceituado fotógrafo. às 11 horas. na palavra ardorosa do articulista. quando lá fosse. a fim de ser visto por meu irmão. à morte. em bela página apologética. aguardava ele sobre uma cama a hora em que passaria desta vida. Francisco Xavier. sem dúvida. mais uma vez na sua grande obra. e. fora “um dos mais intrépidos 62 63 « Findava o ano de 1903. lembrava aos homens o fatal instante em que a alma terá de despedir-se do corpo. Entreguemos a descrição do momento de regresso de Elias da Silva ao Mundo Espiritual a Zeus Wantuil.° de Janeiro de 1904. em seus momentos de desfalecimento. para que outros companheiros. Toda a página é grandiloquente. porque tu. implorando hoje e sempre paz e luz ao Espírito de escol de AUGUSTO ELIAS DA SILVA!” E assim concluía sua singela homenagem: 64 65 . é tua! é nossa! cada vez mais forte e mais prestigiada pelos Espíritos das Alturas. sacrificando seus haveres e sua saúde ao bem-estar de seus irmãos.” Ewerton Quadros. Augusto Elias da Silva. tocados. são os votos de seu velho amigo e companheiro de lides. com a nossa sociedade. a doutrina que lhe dera origem.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira combatentes da primeira hora”.” Como encerramento desta biografia. com sacrifícios inauditos. mas há um trecho que para nós sobressai aos demais. e que transcrevemos a seguir. na Federação Espírita Portuguesa. sem jamais esmorecer com os golpes que recebia dos ingratos e inconscientes. que saia do seu ostracismo voluntário para vir a público. “um dos mais fortes sustentáculos da Doutrina nesta Capital”. o Espírito que acaba de alar-se ao outro mundo sacrificou por mais de uma vez os interesses materiais dos seus. ao mesmo tempo que lhes transmitirás. inspirando os que por ele mourejam. pelo mesmo entusiasmo e fieis. a luz e a força precisas para prosseguir na tarefa ingente que aqui empreendeu. a 18 de Dezembro de 1953. não tendo senão uma ambição: ver prosperar. como tu foste. durante muitos anos. lançaste os alicerces de uma obra inexpugnável no tempo – a Casa de Ismael. e pleno de confiança nas promessas do Cristo. Sylvio Brito Soares. sacrificou os seus interesses pessoais. A elas. da tua abnegação! Meus amigos: Com os nossos espíritos genuflexos. ó Elias. antes do retorno à Terra. continuassem esta tua obra querida! Ela aí está. o tonus vital e revigorante da tua coragem. por bem merecêlo: “A fé que Elias depositava. sem anunciar ao som da trombeta os atos de caridade que praticava. rivalizava com o desassombro em sustentar as suas convicções. as suas comodidades. homenageando António Augusto Elias da Silva: "Tu. da tua fé. no futuro da Causa que em boa hora esposara.” “Que Deus lhe conceda a calma. Lembrando ter sido Elias o principal elemento da fundação da Federação Espírita Brasileira e do seu órgão publicitário. prestar ao seu inolvidável amigo de antanho as homenagens do coração. também. vale a pena destacar o discurso proferido pelo Dr. jamais deixaste e jamais deixarás de velar por este património. com desmedidos esforços. elevemos os pensamentos ao Pai Celestial. aos compromissos assumidos no Espaço. e assim continuará pelo tempo em fora. Uma outra página de justo elogio ao Espírito de Elias da Silva foi escrita por Ewerton Quadros. “Sua morte mesmo foi uma consequência de seu desapego dos interesses materiais deste mundo. entre outras coisas escrevia ainda o primeiro presidente dessa Casa: “Sempre pronto a ir em auxílio dos que sofrem neste mundo de provações e expiações. através do “Reformador” de 15-1-1904. no dia 30 de Abril de 1877. com D. a limitação dos horizontes e expectativas terá sido uma das razões que o levou para terras de Vera Cruz.Uma História Luso-brasileira JERONYMO RIBEIRO 17 de Março de 1854 . Principalmente a partir do momento em que se casa. Maria Rosa da Conceição Oliveira.5 de outubro de 1926 Quis a Providência Divina que Jeronymo Ribeiro nascesse a 17 de Março de 1854 em Lamas. 67 . Acerca dos seus primeiros anos em Portugal pouco se sabe. distrito de Coimbra. mas provavelmente era ele proveniente de uma família humilde e sem grandes hipóteses de lhe oferecer uma instrução que ultrapassasse o ensino básico. uma bonita aldeia no concelho de Penela. que a levou a transferir-se junto com Alice para Coimbra. Anália Franco. Sendo por um lado um auxiliar extraordinário nos trabalhos dessa corajosa mulher e por outro ele o iniciador de várias campanhas e projetos. 68 69 . os pobres e os doentes. Jeronymo era também um médium bastante dotado.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Ambos terão então partido para o Brasil. tendo a 16 de Abril de 1905 Alice casado com um aluno de medicina. que tinha como objetivo. Jeronymo contactou uma pessoa que viria a ser uma grande amiga e uma grande companheira de divulgação e instrução da alma: Anália Franco. Passou cerca de um ano e continuaram elas em Portugal. Corria o ano de 1904.qual peregrino . É importante referir que foi o casamento à revelia de seu pai e que por esse motivo. desde o primeiro momento. de seu nome José Maria Barbosa Tamagnini de Matos Encarnação. A outro nível. que em grande medida viria a inspirarse no trabalho de Anália e a ela se associou em vários projetos de auxílio ao próximo. sendo capaz de ouvir os espíritos e servir de instrumento para a escrita mediúnica. O casal teve prosperidade ao ponto de adquirir e manter um armazém de produtos alimentares. Esta era uma área que desde sempre muito tocou o coração de Jeronymo. Maria Rosa é acometida por doença insidiosa .provavelmente anemia .não apenas por terras do estado Paulista. O cisma foi de tal forma intenso. quando D. recebendo mensagens e orientações das inteligências do outro lado da vida e que tantos benefícios trouxeram aos dois lados da vida. Vendia revistas espíritas e fazia peditórios para as crianças. viajou o Português . em data imprecisa mas que certamente foi anterior a 1888. que daí em diante nunca mais se encontrou com nenhuma das duas. os idosos. cortou relações com a sua filha e com a sua mulher. As suas viagens tinham como objetivo a divulgação da Doutrina dos Espíritos e a angariação de donativos para as obras assistenciais de que era responsável ou colaborador. uma vez que por essa altura já estavam eles a residir em São Paulo e a serem pais de uma linda menina de nome Alice que nasce precisamente a 15 de Setembro desse ano. foi aquilo que podemos considerar uma missionária da educação. fundado em 1901 a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo. mas viajou através do Vale do Paraíba. em 1900. alcançando o estado do Rio de Janeiro. apenas comunicando com elas por carta. tendo Mas a sua atuação foi bem mais longe que os dois estados vizinhos. Ciente da necessidade de divulgação dos ensinamentos ministrados pelos espíritos. por ela apoiados e acompanhados. amparar as crianças desvalidas. corajoso. Em dado momento. . foi batendo de porta em porta. Como dissemos. enfurecido.Peço para os órfãos!.Ainda estás aí? Já não tiveste o suficiente? Jeronymo. Por isso vale muito a pena.Esmola? Tens coragem de aborrecer-me. Alguns piedosamente. fazendo percursos descalço com os sapatos na mão. fez um plano para angariar recursos financeiros para os órfãos e saiu. batendo a porta atrás de si. calmo. Caminho-de-ferro. não gastar os seus próprios sapatos. Veio atender o dono da casa que não estava num dos seus melhores dias. "Certo dia. em completo domínio das suas emoções.. 2 . mais espetacularmente ainda.. outros. pois não conhecia o que era timidez.Fundação EspíritoSantense de Pesquisa Espírita. agora dê aquilo que é para os órfãos.Eu já recebi o meu. chega ele ao Espírito Santo. seu charlatão e explorador da miséria alheia? . a "Leopoldina". dizendo: . O homem voltou e deparou-se novamente com o corajoso pedinte: . alcançou uma pequena varanda da entrada e bateu palmas. Jeronymo Ribeiro. tornou a bater na porta. Havia uma série de residências a serem visitadas e ele. doavam algum dinheiro. deu-lhe um tapa no rosto. a história real que se segue e que foi recolhida da extraordinária obra de Lamartine Palhano Júnior. Subiu a escada da frente. géneros alimentícios. O homem. de aparência muito boa.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Beneficiando da estrada de ferro2 entretanto construída. olhando o infeliz bem nos olhos. alcançando a sua capital: Vitória. 70 71 . confortável residência. vai até Pernambuco por barco (sendo por essa ocasião presenteado com uma obra do artista Oséias. respondeu-lhe: . Estava zangado e muitas coisas o perturbavam. todos os recursos das suas viagens tinham sempre como fim a melhoria das condições de vida dos pobres e doentes. Espero poder contar com alguns trocados de sua bolsa farta. um quadro a óleo de seu nome "O Mendigo").Eis aí o que mereces! E entrou. sabendo estar diante de uma alma perturbada. . principalmente na região de Juiz de Fora e. inclusive.Venho em nome dos órfãos pedir uma esmola para mitigar-lhes a fome. procurando.Quem és. editado pela FESPE . ó estranho? O que queres a essa hora? Não percebes que estás incomodando? Peregrinou também em Minas Gerais. Elza Archanjo e Walace Fernando Neves: "Dossiê Jeronymo Ribeiro". deparou-se com uma casa bem delineada. inclusive. passou a ser um dos assíduos colaboradores das obras de Jeronymo Ribeiro. no estado do Espírito Santo. Jeronymo havia sido avisado pela Espiritualidade de que seria esse o local onde o seu trabalho seria mais importante e deixaria uma obra memorável. Não sendo possível para já apurar a data exata da sua chegada a Cachoeiro de Itapemirim. pois as reuniões eram realizadas na residência do Presidente. tendo como companheiros de direção Valentim Soares Vicepresidente. por certo.º secretário e Ricardo Gonçalves como Tesoureiro. Parou por um minuto. principalmente por Pedro da Rocha Costa. avisando-os da sua chegada. "Vai para Cachoeiro de Itapemirim. Jeronymo foi eleito Presidente do Centro Espírita "Fé. Esperança e Caridade". venerável companheiro espírita e pioneiro nessas terras.º Secretário. olhou bem para Jeronymo Ribeiro." Desde logo contactou os espíritas de Cachoeiro. e entregando-a ao peregrino dos órfãos. ali levantarás um farol que iluminará o mundo!" Desde aquele dia. Assim. Francisco de Oliveira ficou como 1. Foi apresentado então ao grupo de espíritas que havia formado o Centro Espírita “Fé. As palavras exatas seriam: Foi ao interior da casa e voltou com uma soma de dinheiro.Aguarda um pouco. mas resolveu: Essa mensagem seria confirmada por clariaudição numa reunião mediúnica orientada por Cairbar Schutel. no dia 13 de Abril de 1913. Esperança e Caridade” que. Ao chegar em Cachoeiro foi recebido pelos espíritas que por ali residiam. uma confusão de sentimentos em seu íntimo. não possuía sede. Fortemente influenciado pelo trabalho de Anália Franco. .Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira O moço pareceu ter recebido um choque. Antes de empreender a viagem para territórios Capixabas. 72 Logo o engajamento foi total e o seu valor comprovado pelos companheiros que logo lhe entregaram cargos de direção. Houve. tudo indica que terá sido por volta de 1912. Antônio da Silva Marins. Jeronymo decide (com o aval da restante diretoria) 73 . Maciel Nunes Machado o 2. Os trabalhos intensificaram-se e a Associação.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira mudar o nome do centro para Associação Espírita Beneficente e Instrutiva. doutrinárias e mediúnicas. Manoel Quintão. Nesta fase a revista era um pequeno jornal. o homem de Lamas. Algo muito importante e merecedor de destaque é o facto de a revista ser completamente executada e impressa nas oficinas da Escola Profissional do Asilo de Deus. portanto em apenas 3 meses. Francisco Cândido Xavier. Cristo e Caridade. homens da grandeza de Cairbar Schutel. coragem e perseverança. entre tantos outros. um albergue noturno para aqueles que chegavam à cidade e não tinham onde ficar. Mas muito mais mudanças haveriam de vir. já que Jeronymo com o seu dinamismo.. distribuída por vários pontos do País e até ao seu encerramento em 1972. em 1916. O seu dia de nascimento foi. 75 . além das tarefas espíritas. visto que ali muitas crianças e adultos eram instruídos gratuitamente. desenvolveu campanhas para a construção da associação. Leopoldo Machado. Pedro Camargo "Vinícius". o que conseguiu em tempo recorde. mantinha gratuitamente uma escola primária e. Amaral Ornellas.. sendo o redator. nos fundos do prédio. foi sem dúvida a Revista Alpha. Vianna de Carvalho. mas esta seria apenas a primeira fase da revista que durou até 15 de Maio de 1918. Um dos maiores projetos de Jeronymo. criou a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo. A Associação chegou a receber verbas municipais mensais. António Correia de Oliveira. a 14 de Julho do mesmo ano. que nasceu para levar a mensagem espírita a um número mais vasto de pessoas. Num esforço maior. mais tarde Liga Espírito-Santense. com o objetivo de combater de frente o analfabetismo. Contudo uma segunda e mais importante fase deste periódico surgiria a 31 de Março de 1923. Luiz de Oliveira. 3 de Maio de 1916. a sede estava pronta. 74 A Revista Alpha teve grande aceitação junto do público e até de anunciantes e veio a ter uma tiragem bastante elevada. por esta altura já como revista. Humberto de Campos. Jeronymo era o Diretor. o órgão de informação da Associação Espírita Beneficente e Instrutiva. teve entre os seus colaboradores. foi mais uma fonte de receitas para a Instituição e a confirmação da confiança e respeito que Jeronymo merecia de todos. O Governador Nestor Gomes solicitou que recebesse doentes mentais que estavam sob responsabilidade do Estado. Além das terras que conseguia adquirir para ampliação das obras já existentes. Em 1918 fundou o Asilo Deus. 76 77 . perseguições dos preconceituosos.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Além dessa importância enquanto órgão de comunicação espírita. faleciam em torno de 20% dos pacientes velhos e doentes. Jeronymo. viajou muito para arrecadar recursos para as suas obras. os doentes recebiam recursos homeopáticos. invejosos e fanáticos de todos os tipos. num tempo em que a Igreja Católica ainda tinha muito poder. então. comprou o Sítio Santo Fé. pois não havia instituição no Espírito Santo que pudesse realizar esse serviço. trabalhava ele em cantaria. em 1922. num lugar chamado Amarelo. Além de tratamento alopático. passes e água fluidificada. Como já referido. e da forma como o seu caráter impoluto tocava as pessoas à sua volta. Para tal. fica também na história por ter sido a primeira publicação espírita do Estado Capixaba. como também o nomeou cuidador do espaço. simples. permissão à Prefeitura para construir um cemitério. de dois quartos. Quando da inauguração. Pessoalmente. no distrito de Vargem Alta. velho e alienados. Sofria perseguição da classe médica porque curava os enfermos do corpo e da mente com os recursos espíritas. carpintaria e outros afazeres que pudessem render em favor das obras assistenciais. Jeronymo solicitou. Cristo e Caridade para abrigar órfãos. O índice de cura no Asilo era bastante alto (40% ao ano). Ao longo das mesmas. que muitas vezes eram mais de 80. ele adquiriu terrenos em outras regiões e adquiriu um em particular. o Prefeito. velhos e doentes mentais. Isto foi-lhe concedido. de início abrigou 12 indigentes. Augusto Lins. situado a 4 km do centro da Cidade. onde. entre crianças. Mais uma história reveladora do nível moral deste homem. a ponto de serem reconhecidas como de utilidade pública. junto com companheiros de primeira hora. recuperamos agora do livro "Dossiê Jeronymo Ribeiro": Como. anualmente. enfrentou. Havia ali uma casa de fazendeiros. todas as instituições criadas por ele foram vencendo os preconceitos e firmando-se na sociedade pelo exemplo do trabalho de abnegação junto aos desvalidos. onde construiu um sanatório para crianças doentes. o que apesar de caricato para um homem que prezava mais o culto à vida do que o culto à morte. Jeronymo passou. Dr. Aos poucos. tanto do sexo feminino quanto do masculino. recebendo verbas governamentais. a receber verbas específicas a fim de manter esses pacientes. tanto pelas autoridades municipais quanto pelas estaduais. o que seria feito sem ónus para o Município. O seu trabalho foi reconhecido. não só deu a permissão para o funcionamento. Manoel Jorge Gaio. A sua honestidade foi testemunhada pelo comerciante Gil Moreira. envolto num lençol. doou a Seu Jeronymo uma certa quantia em dinheiro. louças. tranquilidade e coragem. a não ser o amor do meu próximo. aos considerados loucos e obsidiados. então. A caridade marcou seus passos. o suficiente para a compra de um camião. no dia certo. E assim foi. e eis que o desenlace se opera. apontando-me o braço: ‘deite um pouco de azeite à lamparina. Seu Jeronymo. comerciante do Rio de Janeiro. fazendo-me chamar (pois que eu tentara.Paulo Alexandre Baía Mourinha Um Certo Camião Ford " Jeronymo Ribeiro era contrário à utilização de animais para o trabalho e a alimentação. juntamente com Pedro da Rocha Costa (Vovô Pedrinho). artigos dentários. em colapso cardíaco. Muitas testemunhas afirmaram que ele andava. Jorge Manoel Gaio. do Cemitério do Sítio de Santa Fé. regressando o nosso dilectíssimo e profundamente saudoso Amigo à Pátria Espiritual”. móveis. foi reconhecido como o Apóstolo do Bem. madeira. que o bom velhinho expirou nos meus braços. andava muito. material de costura. Isto ocorreu por ocasião da serraria. enviava sempre alguém com o valor da prestação de “mil réis”. com necessidade de deslocamento e translado de toras. por sua dedicação às crianças órfãs. em cuja casa comercial Jeronymo mantinha uma conta de crédito. Assim ele nunca se utilizava deles para o próprio sustento nem para seu transporte pessoal. material de construção. sendo que poucos momentos antes. Carlos Lomba que o assistia quando do desenlace: “Pois bem foi em 5 de outubro de 1926. vidros. nada quero da terra. vindo a falecer 5 dias depois com um sorriso no rosto. Possuía uma cardiopatia e ao aproximar-se do dia em que deveria partir deste mundo. O Sr. e quanto a sua disposição para com ela. Jeronymo Ribeiro desencarnou a 5 de outubro de 1926. Eu vivo exclusivamente para estes! Custe o que custar. Fica o registo de um depoimento do Dr. armarinhos. etc. em Cachoeiro de Itapemirim. são o meu próximo. Gil Moreira & CIA. situada na Praça 78 Uma História Luso-brasileira Jeronymo Monteiro. que está quase a se apagar…’ E assim me pedia ele. declarou: “(…) Eu. um ligeiro repouso físico após 5 dias e 5 noites de vigília). Jorge Gaio. o Sr. em Amarelos. adoeceu visivelmente. que eu lhe fizesse a última injeção de óleo canforado. seguirei a Jesus. já quase sem forças para falar. tintas. Foi enterrado como era de seu desejo. na quadra de mendigos. são meus companheiros. com o fácies sereníssimo. subitamente. sabendo disso e também da dificuldade existente no Asilo para o transporte de lenha. como deve ser a morte de um justo. Poucos momentos após. e assim segredou a meus ouvidos. fornecia material elétrico. sejam quais forem as barreiras…”." Em vida. Essa informação foi prestada à FESPE pelo filho do Sr. etc. A consternação da população de 79 . já moribundo. calçados. aos 72 anos de idade. lívido. ferramentas. mas com impressionante lucidez. o carinhoso conforto aos que sofrem!!! Os que sofrem com paciência e resignação. dedicação e grande melhora pela terapia do trabalho. Existem em Cachoeiro de Itapemirim: O Centro Espírita “Jeronymo Ribeiro”. um de seus mais valiosos cidadãos. uma espécie de estudo sistematizado da Doutrina Espírita. As obras cresceram e marcaram. Do Mundo Espiritual. Na Associação Espírita Beneficente e Instrutiva implantou. teve como seu sucessor Luiz de Oliveira. naquele 5 de outubro. para que todos tomassem conhecimento do conteúdo de cada livro. amor. Jeronymo Ribeiro – O Apóstolo do Espiritismo no estado do Espírito Santo. o início de um movimento espírita forte no estado. quando as obras de Kardec eram estudadas em regime de rodízio. mais tarde. tudo devido ao espírito de trabalho. rua calçada de paralelepípedos. Os perturbados mentais internados encontraram lar amigo. a Escola de Música “Jeronymo Ribeiro” pertença do Asilo e que era dirigida pelo maestro Alfredo Herkenhoff. à palavra esclarecida e ao exemplo do cidadão honrado do sr. e a antiga estrada que conduzia do centro da cidade ao Asilo hoje é uma comprida 80 81 .Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Cachoeiro foi geral. As instituições por ele criadas passaram a ter o seu nome. chamada Rua Jeronymo Ribeiro. de modo pioneiro. O Asilo. tidos como loucos. Jeronymo Ribeiro continuou a sua obra. orientando os trabalhos espíritas de assistência social e importantes tarefas de desobsessão. A sua fama de médium curador espalhou-se pelo estado. Usou a mediunidade como instrumento de amor. praticamente. como Associação Espírita Beneficente e Instrutiva “Jeronymo Ribeiro” e o Asilo passou. hoje denominado Lar Jeronymo Ribeiro. deslocando-se a qualquer hora para socorrer quem quer que lhe necessitasse da presença amiga e vigorosa. escritor e poeta da Academia Mineira de Letras. O seu lema era “o Espiritismo deve ser divulgado por palavras e atos”. foram aliviados na sua presença. Muitos obsidiados. a ser denominado Lar Jeronymo Ribeiro. A cidade inteira compreendeu que perdia. indicado pelo próprio Jeronymo Ribeiro. Em Vila Velha (ES) existe um Grupo Espírita denominado “Jeronymo Ribeiro”. através de abnegados médiuns sensíveis à sua influência benfeitora. Uma História Luso-brasileira CLAUDINO DIAS 5 de Novembro de 1860 – 31 de Dezembro de 1935 Claudino Dias nasceu em Coimbra. Na cidade de Barra do Piraí. 83 . uma ideia nova que havia surgido na cidade. era um verdadeiro arrojo as pessoas declararem-se espíritas. um cidadão português de nome Claudino Dias professava o protestantismo com grande dedicação. no dia 05 de novembro de 1860. ao ouvir frequentemente os pastores de sua igreja atacarem o Espiritismo. onde prevalecia a intolerância religiosa. Entretanto. ele interessou-se pelo estudo dessa doutrina. bem perto do "Bazófias". No século passado. principalmente nas cidades do interior. animado do propósito de também combater essa religião que os seus pastores apregoavam ser herética. Claudino Dias já era um espírita dos mais convictos. Em 1908 foi inaugurado o Albergue São João Batista. sem a mais pequena dúvida. fundou. foi cedido para a Prefeitura da cidade. na cidade de Barra do Piraí. na sede da Casa Espírita. Em 1886. uma das primeiras instituições espíritas desse género. as instalações do Grémio foram cedidas para o atendimento dos pacientes acometidos por aquela enfermidade. levantando bem alto a bandeira do Espiritismo. um dos poucos espíritas existentes na cidade. estabelecendo. O seu nome tornou-se fonte de referência para todos que quisessem falar sobre os seareiros espíritas. Em 1906. um sistema de estudo sistemático das obras que constituíam a base da Doutrina dos Espíritos. Jamais esmoreceu diante das dificuldades. 85 . Desta forma. Em 1920 surgiu o Asilo Santo Agostinho e em 1927 o Hospital de Pronto Socorro (hoje Hospital da Cruz Vermelha). que posteriormente passou a ser Grémio Espírita de Beneficência (um dos 10 mais antigos centros espíritas no Brasil ainda em atividade). em vez de se tornar um detrator do Espiritismo.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Após alguns estudos. no Brasil. o qual. posteriormente. Junto com outros companheiros. os quais. graças ao dinamismo e diligência de Claudino Dias. foi fundado o Colégio Ismael. que os ensinamentos do Espiritismo preenchiam a ânsia de conhecimento do seu espírito e satisfaziam velhas indagações que pululavam em seu intelecto. 84 Hospital da Cruz Vermelha da Barra do Piraí Claudino Dias foi. assim. o Grupo Espírita São João. aliando-se a Manoel Chaves. Por ocasião da gripe espanhola de 1918. destinado aos filhos dos associados e à criança carente. abraçou-o com convicção. um dos mais autênticos desbravadores espíritas da região. notou. que causou inúmeras vítimas. Turma do Asilo Santo Agostinho Dessa Instituição surgiram os primeiros focos de divulgação do Espiritismo. logo se propalaram a outras cidades da vizinhança. no entanto. um ente da luz que o Astro irradia. e muitos outros.18 de Fevereiro de 1943 Allan Kardec "Mestre! Na constelação brilhante da moral. Claudino Dias desencarnou em Barra do Piraí . espero com fé a radiosa aurora. Sócrates. Vós sois o satélite rutilante que. Platão. na escuridão descrente do século das luzes. a 31 de Dezembro de 1935.Rio de Janeiro. Jesus é o AstroRei.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira fazendo com que a doutrina se tornasse admirada por todos e que a obra espírita se destacasse como expressão do que pode ser feito onde existe o idealismo e a firme disposição para o trabalho. de paz e de amor. Filho de vossa clareante doutrina. INÁCIO BETTENCOURT (BITTENCOURT) 19 de Abril de 1862 . viestes iluminar a inteligência humana e dar crença à alma sedenta de amor e de verdade. Confúcio. fulguram na noite do passado. o amplexo doce e sorridente que nos trará 86 87 . de futuro próximo. Moisés. Mestre. uma centelha mais de sua luz." Por ainda não ser possível dar uma resposta definitiva em relação a esta teoria. onde morou o resto da sua vida. Foi um Inácio já bastante desanimado mas ainda com uma réstia de esperança que procurou um médium chamado Cordeiro. Inácio aos 13 anos já habitava no bairro de Botafogo. de que vós. na estrada do progresso. A explicação pode passar pelo facto de os portugueses abrirem pouco as vogais e os terceirenses ainda menos. que era por essa altura presidida por Bezerra de Menezes. nem ao tempo de Inácio. de outubro de 1895 e de outubro de 1949 Nascido a 19 de Abril de 1862. residente na Rua da Misericórdia. tendo recebido como resposta: “Leia O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos. no Rio de Janeiro. que. Bittencourt é um apelido Francês e não Português.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Aquele. o que posteriormente pode 88 Aos 20 anos de idade. Estarrecido com os acontecimentos (pelo fato do médium não ser médico. Inácio conheceu o Espiritismo. não ter indagado quais eram os seus padecimentos ou sequer lhe tocado). sois o transmissor da moral e da verdade. Daí em diante o seu trabalho brilhou a grande altura: tanto como médium receitista e curador. no século das luzes. na Ilha Terceira. Apesar de graficamente ele surgir frequentemente como Bittencourt. foi a luz do século. ter levado a uma alteração nas consoantes a que Inácio não ofereceu resistência. e pede. Tudo começou quando ficou muito doente. tendo abraçado a Doutrina Espírita e entrando para a Federação Espírita Brasileira. 89 . o que pode ter levado os brasileiros a entenderem o nome como escrito com "i" e não "e". De volta à narrativa… Inácio Bettencourt. seja no alto das tribunas doutrinárias da FEB. mantenho as duas grafias até poder investigar a certidão de nascimento. publicada no “Reformador”. Inácio fez exatamente isso. Uma referência é necessária fazer no que diz respeito ao nome de Inácio. Inácio buscou explicações. um átomo mais do seu puro amor. Arquipélago de Açores. e que conseguiu de facto recuperá-lo dos seus padecimentos. na realidade não existia nenhuma família Açoriana com essa grafia no apelido. consciente de ser ouvido. para mais e mais irradiar amoroso. Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo. nem atualmente. Bem alto voou esse barbeiro que pouco contacto teve com a escola enquanto criança. ala-se meu ser humilde aos pés do Pai. nos Açores apenas existem Bettencourts. Medite bastante e neles encontrará a resposta para a sua indagação”. Inácio fundou. mas igualmente como médium apto a receber inspiração do Alto. Inúmeras vezes. E. a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade”. “Embora não fosse dotado de cultura académica. ouvi-lo. um mês após o seu falecimento: que ele assomava às tribunas doutrinárias. em consequência e em muitíssimas ocasiões. por ele dirigido durante anos”. porém já descriam. o Centro Cáritas. operando-se. Neste mesmo número do Reformador. a ele. por seu intermédio. um apelo de Inácio Bettencourt era o recurso extremo e a volta da saúde ao enfermo se verificava. onde nasceu a “Tribuna Espírita”. Paulo Alves Godoy aponta outras realizações de Inácio Bettencourt. encontramos outra descrição: “E as curas. O simples fato de dirigir um jornal de grande penetração. assumindo não poucas o caráter de assombrosas. e pasmo geral. ainda segundo o confrade autor. com espanto dos que ansiavam. que não lograra dispor de ampla cultura intelectual. Nesse mesmo livro. que seriam de impressionar e abalar os ouvintes. até com eloquência muitas vezes. sempre 90 91 . se manifestou notória e admirável. como o foi “Aurora”.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira As descrições desse seareiro do bem em ação impressionam. “durante alguns anos exerceu também a vice-Presidência da Federação Espírita Brasileira. do seu restabelecimento. escrevia artigos doutrinários de forma surpreendente e fazia uso da palavra em auditórios espíritas de forma bastante eloquente. a estima e a admiração de todos. presidindo-o até a data de sua desencarnação. demonstra a fibra e o valor desse seareiro incomparável e incansável”. principalmente à da Federação Espírita Brasileira. “Era então de causar pasmo. Sobre esse assunto – o estudo e a cultura – escreveu Paulo Alves Godoy. juntamente com Samuel Caldas e Viana de Carvalho. que. se multiplicavam. presidiu o Centro Humildade e Fé. surpreendentes conversões ao Espiritismo”. Uma delas foi a que o Reformador publicou em Março de 1943. durante larga fase do seu mediunato. discorrer de maneira fluente. sobre o ponto em estudo. considerado perdido o caso. Além das já citadas. proferindo discursos ricos de belas imagens e de conceitos profundos. mesmo quando enunciados por mentalidades de vasta erudição científica e filosófica”. no livro “Grandes Vultos do Espiritismo”: “Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bettencourt granjeou a notoriedade. Teve parte ativa na fundação da União Espírita Suburbana. 20. possibilitou milhares de curas”.Paulo Alexandre Baía Mourinha Também Zeus Wantuil escreveu. Como médium receitista. cujos exemplos de caridade. conquistou tal popularidade em todo o país pelas curas operadas. em demanda dos seus gloriosos destinos”. organizador e estimulador de vários Centro Espíritas na Guanabara”. de Ramiro Gama. à pregação do Evangelho. “Foi um dos fundadores do Abrigo Tereza de Jesus e fundador. vidente. graças à proteção do Alto. em seu modesto consultório. valoroso na humildade. “Orador inspirado e conhecedor profundo do Espiritismo. encontramos muitas informações valiosas sobre Inácio Bettencourt: “Foi um verdadeiro Apóstolo da Caridade. fez milhares de maravilhosas conferências. E mais: “Apreciando em seu justo valor esse dom e em sua legítima significação. uma jurisprudência favorável ao Espiritismo consolador e curador de corpos e almas”. ante o lema da doutrina a que servia com inteiro devotamento e abnegação: “Sem Caridade. com seus casos. exerceu-o o saudoso lidador como verdadeiro sacerdócio. dedicando-se. entre 500 e 600 pessoas”. Inácio Bettencourt. possibilitando que fosse criada. disposto a todos os sacrifícios que lhe adviessem da necessidade de dar cumprimento ao dever. como no interior do País”. em pouco tempo. inspirado. diariamente. tenacidade e humildade constituem uma bússola para todos quantos porfiam por entrar no reino de Deus. não há salvação”. pregando e praticando a Doutrina. consciente da responsabilidade imensa com que lhe onerava o Espírito. Médium receitista. Para a Revista Internacional do Espiritismo. “Foi chamado várias vezes a processo criminal. No livro “Seareiros da Primeira Hora”. Fundou o ótimo jornal “Aurora”. que atendia. não só na Capital Federal. tal se revelou constantemente este velho companheiro de lides espiritualistas e amigo muito benquisto”. sobre Bettencourt. por realizar a medicina ilegal. perseverança. “Desencarnou bastante idoso. Mais outro trecho interessante: “Estudando. em 18 de fevereiro de 1943”. Inácio Bettencourt era “um dos mais devotados trabalhadores da seara cristã. à Rua Voluntários da Pátria. clarividente. mas. famintos da luz e do amor. foi sempre absolvido. 92 “Era médium inspirado e receitista. com especialidade. aqui e pelo Brasil afora. que a sua consciência cristã lhe impunha. impertérrito na caridade. de 15 de Março de 1943. no livro "Grandes Espíritas do Brasil": Uma História Luso-brasileira Inácio “Forte na fé. tornou-se um dos oradores mais apreciados. que realizou um serviço inestimável no jornalismo Espírita”. 93 . sempre trabalhando pelos pobres e doentes. amparar crianças órfãs. valendo-lhes com a medicina. que se chama Inácio Bettencourt – nome constantemente invocado por milhares de sofredores – é intimado a comparecer perante o Tribunal para responder por crimes que. em Valença. contando com colaboradores como Casimiro Cunha. o mais importante dizendo respeito ao escritor Coelho Neto. dos quais cinco faleceram antes do desencarne de Inácio. Botafogo. conforme informou o “Reformador” naquela época (e não a 1 de maio de 1912. como consta em algumas das suas biografias). o respeito e prestígio à Lei e levantar os corações combalidos com a força suprema da Fé”. onde era localizado o Centro. no Rio de Janeiro. Dr. Hoje não existe mais a sua casa – o local é apenas um estacionamento. Centro Espírita de Valença. na Rua Voluntários da Pátria. O casal morava na Rua Rodrigo de Brito. 94 Em primeiro lugar. pregar o amor ao próximo. com quatro páginas. Rio de Janeiro. 20. hoje existem consultórios de médicos homeopatas. RJ. com móveis em madeira e vidros antigos – na parede está escrito “Pharmacia”. Maia Barreto e Cairbar Schutel. 18. se fossem citados no Código Penal. é conveniente esclarecer que existiram outros jornais com o nome de “Aurora”.. novos dados são apresentados. hoje funciona a Homeopatia Nóbrega.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Na obra de Ramiro Gama. restaurando lares destruídos. reconhecer transviados. tiveram 14 filhos. União Espírita Suburbana. tinha uma tiragem de 4 mil exemplares. O Jornal “Aurora” “E são eles: sarar enfermos. agasalhar anciãos. Inácio Bettencourt Filho foi jornalista e Ismael Bettencourt diretor do Café Globo. um estudioso da vida de Inácio Bettencourt: “E esse homem. mitigar desesperos. Entre os filhos.. Na sobreloja. em 1919. mantendo ainda o número 24 na entrada. Já no local onde era o Centro Cáritas. seriam esplendores. O jornal era quinzenal. reconciliar desavindos. 95 . Botafogo. com a dieta e com o desvelo. “Os Mortos Estão em Pé”. A redação do “Aurora” ficava na Rua Voluntários da Pátria. O jornal possuía como subtítulo: “Órgão Oficial do Círculo Cáritas de Botafogo. e. O jornal “Aurora” foi fundado a 1 de maio de 1913. Um deles foi fundado em 15 de abril de 1909. promover os meios de legitimar ligações. Associação Espírita Beneficente e Instrutiva (Cachoeiro do Itapemirim) e Federação Espírita do Estado do Rio (Niterói)”. Botafogo. Este jornal é encontrado na Biblioteca Nacional. como são as estrelas dentro da noite”. Inácio Bettencourt e Dona Rosa estiveram casados quase 60 anos. Artur Azevedo.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Os colaboradores do “Aurora” eram Pedro Camargo "Vinícius" e Viana de Carvalho. Bezerra de Menezes. no entanto. na íntegra. no primeiro relatório de Inácio Bettencourt sobre o Abrigo. A maior curiosidade deste ano de 1919 é uma nota de 15 de novembro de 1919. Auta de Souza. Tereza de Jesus. Em 1921. além de mensagens de Paulo. Max e outros. com certeza. Bettencourt Sampaio. João Evangelista. Alguns destaques de 1919 foram uma comunicação de Tomaz de Aquino. condenada pela Igreja”. de Allan Kardec. 97 . de Victor Hugo. Maximiano da Silva Leite. Tereza D'Ávila. que informava que a Igreja Católica havia mandado publicar uma nota em todos os jornais cariocas: “A Câmara Eclesiástica do Arcebispado fez baixar ontem o seguinte aviso aos católicos: de ordem do Monsenhor D. 96 Em 15 de outubro de 1920. e. Vigário Geral do Arcebispado. o Abrigo já tinha 890 associados matriculados. aviso aos católicos que o Abrigo Tereza de Jesus para a Infância Desvalida. Léon Denis. estava a de que. é uma Associação Espírita e. Há matérias de Guerra Junqueiro (que também publicara no ano anterior). entre outros. O jornal publica “O Livro dos Espíritos”. Outros grandes destaques são: a inauguração do Abrigo Tereza de Jesus. Agostinho. Amaral Ornellas e colaboração de Carlos Imbassahy. recebida no Círculo Cáritas. 30 de outubro de 1919”. sendo ele o redator do jornal. Pedro o Apóstolo. a tiragem já era de 10 mil exemplares. entre muitas informações. Aura Celeste. no exemplar de 1 de maio de 1920. a matéria principal era sobre a inauguração da sede definitiva do Abrigo Tereza de Jesus. mas. Tereza Cristina. como tal. a tiragem do jornal já era de 20 mil exemplares e o “Aurora” recebeu nesse ano mensagens de Thiago. além de ser o responsável por todo o jornal. Vicente de Paula. no 1. como foto do prédio e das primeiras asiladas.º de Janeiro de 1919. Inácio Bettencourt não assina nenhuma matéria. com sede provisória à Rua São Cristóvão no 33. sendo aos católicos vedado concorrer com donativos para a propaganda dessa instituição. Rio de Janeiro. uma mensagem intitulada “Post Scriptum de Minha Vida”. até aquela data. é o autor da primeira matéria de cada exemplar. e os dados periódicos sobre a instituição. Há também uma foto do Abrigo Tereza de Jesus. Erasto. Leopoldo Cirne. uma matéria de Coelho Netto e uma gama enorme de mensagens do Além: de Cáritas. Em 1920. na Rua Ibituruna (onde permanece até hoje). como é familiarmente conhecido em todo o bairro. Coelho Netto. aparece a foto das 20 abrigadas. não faz ele profissão de curar. e é a própria medicina oficial e burocrática que 98 99 . fazendoos ingerir drogas venenosas em cuja dosagem possa errar. Aos que recorrem aos conselhos de sua experiência. Segundo. (Em maio iniciou o Ano XVII). também há diversas matérias. De 1928 a 1933. S. às vezes. além de muitas outras matérias de Adelaide Câmara. 20. ele atende. cozimentos. com mensagens psicografadas por Adelaide Câmara. da Penha ou para S. estava no Ano XVI e Inácio Bettencourt aparecia como Redator e Gerente. ou melhor. Inácio e a Saúde Pública (Publicado em “A Notícia”. Sobre esse assunto.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira No relatório que Inácio Bettencourt fez do Abrigo Tereza de Jesus. além de mensagens de Victor Hugo. não somente em Botafogo como em grande parte da cidade. em matéria de intolerância. garrafadas. Inácio Bettencourt. Os maiores destaques desse período foram: a publicação do livro “Flores do Céu”. ou de esmola para a igreja do seu credo. defendendo Inácio Bettencourt. a todos atende com bondade e espírito cristão. desesperada da medicina oficial e clássica. Ele se limita a indicar os conhecidos medicamentos homeopatas. O jornal ainda tinha quatro páginas. São Francisco Xavier e Santo Agostinho. Sebastião. em 26 de fevereiro de 1921) O novo regulamento da Saúde Pública é de uma severidade inquisitorial: conseguiu bater. de Cairbar Schutel aos jornais. Ao contrário. Em suma: direta ou indiretamente não aufere lucros do seu serviço. que há algumas dezenas de anos vive a socorrer desinteressadamente a gente pobre que o procura e lhe pede remédios para os seus males. se o doente declara a sua pobreza. que agora já sofria o processo movido contra ele pela Saúde Pública. não vive a cavar clientes. barbeiro em Botafogo. Carlos Imbassahy. ou de presente. Não. a liberalidade dos códigos positivistas. Aconselha ao doente as aguinhas homeopáticas. Vinícius. mas de tosquiar cabeleiras e raspar queixos. o “seu” Inácio. Não indica farmácia nenhuma onde deva o medicamento ser comprado. Acaso põe ele em perigo de vida os doentes. não recebe vintém a título de pagamento. infusões de ervas de propriedades duvidosas? Agora mesmo caiu-lhe sob as garras o Sr. Um destaque é uma carta. na Rua Voluntários da Pátria. que o tornaram querido e popularíssimo. ele ainda fornece o remédio e. O Bettencourt. É “seu” Inácio um curandeiro. apela para ele como apela ao mesmo tempo para N. não! Primeiro. a dieta. se lhe permitem as suas “avultadas” rendas de barbeiro de arrabalde. não se anuncia. sem sequer indagar o nome da criatura aflita que. a foto das novas instalações do “Aurora”. no sentido em que a lei considera essa classe de infratores? Absolutamente. Tinha o “Aurora” a tiragem quinzenal de 40 mil exemplares. não se apregoa virtude de mão santa. pois. mas também não matando. Foi por intermédio 101 . sinal frisante de que o seu nome é conhecido até fora do cenário espírita. fora justo processar os vigários que recebem oblatas e ex-votos. tenacidade e humildade. não curando. o Bettencourt acaba por abandonar a tesoura. Capital Federal. no dia 18 do mês passado. constituem uma bússola para todos quantos porfiam por entrar no reino de Deus. Inácio Bettencourt. (Autor da matéria: Alceste). cujos exemplos de caridade. 24. os interessados no assunto. Fica.. que se libertou dos liames materiais aos 81 anos. o desencarne desse vulto do Espiritismo. mormente nestes tempos de confusão. Aceita a teoria. as finanças. É possível.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira afirma serem as aguinhas Hahnemannianas absolutamente anódinas. que há doentes que se tratam com o “seu” Inácio e que morrem. à Rua Rodrigo de Brito.. Mas. quando cura não cobra. deixou aberta. como em quase todos os Estados do Brasil. Porque. o fato é que há nesta cidade milhares de pessoas que afirmam terem sido curadas ou terem tido pessoas da família curadas pelo “seu” Inácio. porém. então. por provar que os tais medicamentos curativos não despacharam mais depressa o paciente para o céu das minhocas.. 100 Obituário Publicado na Revista Internacional de Espiritismo (15 de março de 1943) Mais um pioneiro do Espiritismo acaba de regressar à Pátria Espiritual. imensa lacuna. perseverança. Milhares. em pagamento de curas feitas pelos santos dos seus templos. Inácio Bettencourt. E é isso que não agrada nem pode agradar à medicina de anel no dedo: o Inácio faz-lhe uma concorrência desleal. A notícia do seu passamento espalhou-se rapidamente não só na Capital Federal. e muito mais ainda se o doente bate o trinta e um. Alguns diários dos mais importantes da imprensa profana. os que lhe devem benefícios.. E a ética profissional manda cobrar sempre.. pelas 2 horas da madrugada. noticiaram. à falta de medicamentos que curam. e justo fora ainda que os próprios santos fossem multados por exercício ilegal da medicina. a navalha e o sabão e fundar um banco. onde Inácio Bettencourt conta com inúmeros admiradores. ninguém se lembrará de processá-lo. tamanha severidade? Responderão os médicos diplomados.. que não será tão fácil de ser preenchida. no seio da grande família espírita brasileira. E. subscreverem o que teriam que pagar ao médico. A “Noite” abriu uma subscrição para pagar a multa imposta ao curandeiro barbeiro de Botafogo. em sua modesta residência. em demanda por seus gloriosos destinos. embora laconicamente. um dos mais devotados trabalhadores da Seara Cristã. em que o personalismo parece sobrepujar as virtudes que devem exornar o espírito dos que se afirmam verdadeiros cristãos. Se todos. por mais que ilegalmente ele exerça a medicina e. exercendo a sua profissão à Rua Voluntários da Pátria. em seu modesto consultório. os quais. Inácio Bettencourt. Sayão. era presidente da FEB. o cargo de vice-presidente e estava sempre em contato com os luminares do Espiritismo dessa época: Bezerra de Menezes. Bettencourt Sampaio. processaram-no várias vezes. de Allan Kardec. não só por palavras como principalmente por obras. albores da Verdade e o desejo de dar início a uma tarefa que deveria alcançar a magnitude que alcançou. em 1919. Como médium receitista. amor e consideração. 20. Fundou o “Aurora”. numa demonstração de solidariedade à família desolada. Ao correr a notícia do seu passamento. logo entrou em cena o trabalho anticristão dos que se julgavam prejudicados com as receitas gratuitas de Inácio Bettencourt. pretos e brancos. que é 103 . altas personalidades. Inácio Bettencourt era. ao tempo em que ingressou no Espiritismo. Ao tempo em que Leopoldo Cirne. adquirido a barbearia onde trabalhava. foram. que atendia. como esse apóstolo da caridade estivesse sob a proteção do Alto. Capital Federal. O seu ingresso no Espiritismo deveu-se pela porta do estudo. destinado a abrigar a infância desvalida. dirigiu-a até os seus últimos momentos de vida terrena.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira de um desses diários de grande circulação que soubemos do passamento desse companheiro. Mas. etc. Dando cumprimento ao seu programa de ação no campo da Doutrina. as sentenças sempre lhe eram favoráveis. um modesto oficial de barbeiro. pelas curas operadas. à Rua Voluntários da Pátria. mais tarde. outro Apóstolo do Espiritismo. Estudando. como nós. animado por aquela fé caraterística dos grandes missionários do Bem e da Verdade. começou a romaria à residência desse Apóstolo do Espiritismo. Como presidente perpétuo dessa instituição. tornou-se um dos oradores mais apreciados. conquistou tal popularidade em todo o país. Ricos e pobres. com especialidade. pela derradeira vez. pregando e praticando a Doutrina. Inácio Bettencourt fundou. depois de ter sido testemunha de um desses fatos extraordinários que obrigam o indivíduo a desviar o rumo de suas ideias para um campo mais amplo e promissor: o da espiritualidade. à pregação do Evangelho. Com a multiplicação. diariamente. dedicando-se. Lera “O Livro dos Espíritos”. em pouco tempo. tendo. desconhece a atuação de Inácio Bettencourt na Doutrina. Inácio Bettencourt exercia. como no interior do país. intelectuais e os artistas em geral. não só na Capital Federal. sob pretexto de que ele exercia ilegalmente a medicina. Cremos que nenhum Espírita. nessa entidade. contemplar o corpo daquele justo. entre 500 e 600 pessoas. O seu trabalho se desenvolveu sem tréguas e. num culto de estima. ele traçou e cumpriu à risca um programa que constituiu o principal objeto de suas nobres e cristãs aspirações: pregar a doutrina evangelicamente. e isso fora o suficiente para fazer penetrar-lhe na alma os primeiros 102 Era um médium inspirado e receitista. o Abrigo Tereza de Jesus. cumprindo fielmente as verdades evangélicas. na Indústria e no seu Meio Social. Demorou-se. Há cinco anos. por último. O sepultamento do corpo de Inácio Bettencourt realizou-se nesse mesmo dia. 1968) Isto nos surpreendia e nos fazia pensar. O “Fé e Esperança”. José Vaz. Não titubeava. em nome da família Espírita brasileira. a calhar. tão calmo se nos parecia. culto. começou a falar. citando fatos obtidos entre seus consulentes. que ali chegara. À beira do túmulo. acometido por pertinaz enfermidade e já alquebrado ao peso dos anos. 104 105 . contentou. no Estado do Rio. Citou fatos. o Dr. que terminou a sua belíssima oração concitando os Espíritas a seguirem as pegadas de Inácio Bettencourt. estimado industrial. Bebeu água e olhou o auditório. às 17 horas. Henrique de Andrade. das quais foi um dos lídimos representantes. pelo Abrigo Tereza de Jesus. Demonstrou-no-lo como Ciência. Deslumbrou-nos. com ampla circulação por todo o país. Estava cumprida a sua tarefa neste mundo. Com gestos comedidos. por último. estava com seu grande salão de conferências completamente lotado. Sylvio de Brito Soares. Parecia que alguém o vestia de luz. obtendo grande clientela. Proclamava o Espiritismo como algo sublime. de Três Rios. demonstrando-nos como o Espiritismo consola e salva. como Religião. Zacheu Esmeraldo era um médico inteligente. doentes da alma e do corpo. Inácio Bettencourt foi um dos primeiros oradores espíritas que ouvimos e quando não tínhamos nenhuma simpatia pelo Espiritismo. Em seguida. E seu olhar possuía algo que nos comovia. foi obrigado a deixar definitivamente as suas atividades. Editora ECO. Calmo. depois como Filosofia e. A curiosidade era grande. Inácio Bettencourt. mais ou menos. (Retirados do Livro “Seareiros da Primeira Hora”. Foi dada a palavra a Inácio Bettencourt. na necrópole de São João Batista. A palavra lhe saía dos lábios fácil como uma água cristalina de uma fonte. sensibilizou-nos Conforme escrevemos em nosso livro “Lindos Casos de Bezerra de Menezes”. convidou o que Três Rios possuía de valor nas Artes.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira um dos baluartes da imprensa espírita. usou da palavra. com enorme acompanhamento. Estava também na assistência. falou o confrade Dr. limpou a pencinez com um lenço alvo. Lembrou as perseguições sofridas no apostolado mediúnico. alimentou de luz a enorme assistência. no Comércio. o presidenciava. que só espalhou o Bem e a Caridade. Vinha-lhe a ideia espontânea. Espírita convicto e que Satisfez. mas tão pouco compreendido e. combatido. Dias depois. E. mesmo quando o corpo ia descansar. Somos apenas humildes e desvaliosos intérpretes da sua Vontade. amando e passando. Era um pai aflito. o Servidor Leal de Jesus. E esse alguém lhe respondeu inspiradamente: — No Espiritismo é assim. um trabalho do Senhor! Uma História Luso-brasileira Outro Caso De entre tantos Casos Lindos de Inácio Bettencourt. em Espírito.. O Espiritismo era mesmo uma Verdade. Cá fora. respondeu-lhe. não deixava de pedir ao Amigo Celeste para permitir que. registamos aqui apenas este e por ele veremos como servia até quando seu corpo descansava. Pela primeira vez. são os que merecem. era preciso que o procurássemos. mais humildes. dormindo. E fomos para casa. telefona para a casa de Inácio Bettencourt. como ele realizou. porque.. 106 107 . alta noite. Nosso Senhor! E. que é Jesus.. meu filho. o Médico dos Pobres. que sabia que ninguém o acordou e que não havia dado nenhuma receita pelo telefone. Inácio ora a Jesus e lhe agradece o auxílio. como Inácio mereceu. levando dentro de nós o comentário ouvido. os que se fazem menores. como fora. vestidos de humildade.. mas que nos dava bem-estar. pelo menos. depois. permitisse que. com a filha desenganada pela Medicina da Terra. ouvimos que Zacheu Esmeraldo comentava com alguém: — Fiquei surpreso. a cura de sua filha ao Divino Médico. a ajuda do Alto e realizar. ao deitar. alguém atende. Como pode saber tanto uma criatura que foi meu barbeiro na rua Voluntários da Pátria!.. O pai aflito toma nota dos medicamentos e da maneira como administrá-los. que desejava apelar para a sua mediunidade de receitista. para ser compreendido. — Agradeça. começamos a pensar nessa Virtude e traduzir porque Bezerra de Menezes havia deixado títulos e honrarias para ser. melhorada a filha. receita. uma alegria interior. quando lhe telefonou. Da casa do velho Servidor de Jesus. Alguém. sensibilizado: Então.. tinha de ser assim. E Inácio. E. sempre. vai ele ao consultório de Inácio para lhe agradecer o sacrifício de o haver atendido naquela hora da noite. continuasse servindo.Paulo Alexandre Baía Mourinha A sessão terminou deixando no ar algo que não entendíamos. inteirado do que se passa. a sós. são o que dá ao homem a primazia e superioridade que o caracteriza como rei da Criação. ascendendo a haurir no seio de Jesus – Verbo de Deus – a compensação às torturas porque te fizeram passar os homens a quem tanto beneficiaste. sempre pronto ao perdão e à indulgência por todos os seus filhos. sejam admitidos à bem-aventurança a que os destinas. o que se passa na vida espiritual. pelo muito que te devem. em complemento de sua missão. meteoros da Providência na noite caliginosa da vida terrena. 1951. os tributos dos corações gratos. que representa o amor de Jesus. para nós incalculável. que os missionários de Deus se elevam acima de suas épocas e. apagados os seus últimos vestígios. que é muito difícil entender. iluminando com o fulgor do seu génio as eras da ignorância e preparando as gerações para a escalada do futuro. e cujo número. Roga ao Pai por aqueles em cujos corações germinam as primeiras sementes de tua Doutrina. pedindo ao bom Deus. Mestre! Nesta data em que o teu alevantado espírito reconquistou a liberdade. de pronto. antes de tudo. além da morte. com grandeza da mesma serena coragem. se tornam os luzeiros guiadores da humanidade à conquista das virtudes. amado Mestre. que é o seu objetivo superior.Paulo Alexandre Baía Mourinha Ao Mestre (Publicada no “Reformador”. consente que 108 Uma História Luso-brasileira aqueles que já têm a felicidade de te conhecer entoem os hinos de gratidão a ti. fazendo-nos conhecer esse Criador terno e justo. bem o sentimos. 109 . e eu devo dizer. não deve deixar de suscitar. FEB) Você pergunta quais as primeiras sensações do “eu”. o nome Teu. neste dia. como enviado do Bom Pai. É abrindo as estradas do progresso. a grossa camada de véus que envolvem a mente humana. na carne. Mas roga também por aqueles que não sabem o que fazem! Inácio Bettencourt. pela alegria e pela luz que nos trouxeste. a reanimar os fracos. esclarecer os cegos e levantar os caídos na estrada de Damasco. Mensagens de Inácio Bettencourt (Como Espírito) Visão Nova (Retirada do livro “Falando à Terra” de Francisco Cândido Xavier. ou a Virtude e o Saber. pela felicidade e pela paz. misericordioso e bom. As ilusões da vida comum são demasiado espessas para que o raio da verdade consiga varar. só Deus conhece. fulgura. até que. Mestre! A luta está travada. que não pode. de 31 de março de 1905) As conquistas do Amor e da Verdade. Na constelação de altos espíritos prepostos ao progresso da Terra. jamais lhes recusando os meios de reparação de suas faltas. permita que bem cedo baixe de novo o teu espírito. Se deixamos débitos sob resgate. na posição do aprendiz necessitado de estímulo. compete-me afirmar que é ainda muito remota para nós qualquer transferência definitiva para outros lares 110 E as constelações mais próximas? Você já imaginou o que seja o Espaço. Contudo. continua a ser. quase na condição de ameba pensante. assim. que não somos nem santos nem criminosos.. um grande e abençoado sonho. o obreiro prestimoso. os Espiritistas. comparativamente.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Há vastíssima classe de pessoas que se agarram às situações interrompidas pelo túmulo com o desespero somente comparável às crises da demência total. suspensos da nossa comunidade planetária. achamse a milhões e milhões de quilômetros. muito menor que uma formiga no corpo ciclópico da montanha onde se oculta. o que também ocorre aos investigadores da estratosfera que vocês conhecem aí: viagens apressadas e rápidas. A própria Lua. esse domínio imenso. importantes companheiros. Marte. é. quando é possível observar. Júpiter. O que nos agradava é. Sempre nos supomos figuras centrais no mundo e acreditamos ingenuamente que o nosso desaparecimento perturbará o curso dos seres e das coisas. tão celebrada por nós. em que. de quando em quando. razão para dissabores. naturalmente constrangidos a singulares metamorfoses do senso íntimo. mas sempre condicionado a horário curto e a possibilidades restritas de permanência fora do seu habitat. onde a luz viaja com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo? Francamente. grandes vultos da Humanidade gloriosamente vivem em outros climas celestes. entretanto. por força da autocrítica. E se algum bem material legamos 111 . no dia imediato ao de nossa partida. A intimidade com os outros mundos. pensamentos pungentes daí se desfecham sobre nós. é agraciado com uma ou outra excursão de mais largo vôo. depois do transe carnal. À nossa frente. falando da esfera em que nos encontramos. rola a centenas de milhares de quilômetros. Vênus. Mercúrio. Para nós. com limitação de ausência e reduzidos recursos sustentação. reparamos que os corações mais afins com o nosso providenciam medidas rápidas para a solução de quaisquer problemas nascidos de nossa ausência. Saturno. Há transformações fundamentais em tudo o que nos cerca. hoje creio que um homem. dentro de nosso reino solar. Só então percebemos a nossa condição de átomos conscientes. os valores diferem numa sucessão de mudanças imprevisíveis. as impressões iniciais de além-túmulo são de quase aniquilamento. povoado de forças espirituais que ainda não conseguimos compreender em seus simples rudimentos? Já calculou o que seja esse plano infinito. cercando-nos de aflições purgatoriais. comumente. e o que desprezávamos passa a revestir-se de importância máxima. somos. Urano e Netuno.. Mas. Sentindo-nos. considerada dependência terrestre. no sistema presidido pelo nosso Sol. incontestavelmente. como sempre. que possuímos algum discernimento. irmão de seu pai. diante das transformações inelutáveis da morte. nosso Mestre e Senhor. penetrar nos serviços da Espiritualidade Superior. Somos. de imediato.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira aos descendentes. recomeçar humildemente aqui o velho curso de aperfeiçoamento moral. assim. em casa de um tio abastado. pois. prossegue imperturbável e nós precisamos acompanhar-lhe o ritmo na ação renovadora e constante. Não será mais possível prosseguir com as ilusões a que nos agarrávamos entre os conceitos provisórios e os títulos convencionais e nem podemos. mas os discípulos da verdade. Inácio Bettencourt. por nos faltarem credenciais de luz íntima. quando nos comunicamos entre os homens de boa-vontade. Aos 13 anos de idade seguiu para Lisboa. A vida. é preciso invocar a serenidade para contemplarmos sem angústia os tristes aspectos mentais que se desenham ao redor do espólio. com o amor e a sabedoria por bases. no presente imperecível. porém. não obstante a nossa demora multissecular em pleno jardim da infância. Resta-nos. edificados na integração mais perfeita com os princípios de Jesus. FERNANDO AUGUSTO DE LACERDA E MELLO 1865 – 1918 Fernando Augusto de Lacerda e Mello é dos nomes mais importantes de sempre e a nível mundial quando falamos de mediunidade de psicografia. 112 113 . atribulados por enormes problemas. é natural não sejamos os espíritos iludidos de ontem. Nascido em Loures a 6 de Agosto de 1865. onde viveu até aos 18 anos. reaprendendo antigas lições de simplicidade e de serviço. Fernando Lacerda viveu os seus primeiros anos em Loures – paredes meias com Lisboa – onde vivia com os seus pais: Francisco Augusto de Lacerda e Mello e Maria de Gertrudes Rita. E. declararia mais tarde ter professado ideias republicanas. Passada a fase das manifestações iniciais. começou a notar que a mão. e que escrevia com a mesma caligrafia e assinatura que lhe conhecera em vida. " " (…) A situação chegou a ser tão insustentável e angustiosa para mim. Foi essa a época da minha generosa mocidade e das minhas ilusões. maldizentes. era o próprio conteúdo.) Quando a minha razão começou a ver. agora viúvo. A faculdade causou-lhe verdadeira surpresa.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Nesse período. e deixei a política. tendo o fenômeno perdurado por largo tempo. cheio de tédio pelos homens que diziam querer reformar a sociedade e eram aquilo. (. (." De regresso à casa paterna (1884). na sua maior parte. para lhe pedir um produto do roubo a título de empréstimo. tendo-se desiludido com as intrigas da política e.. e. uma confraria de indivíduos que diziam mal uns dos outros. envolveu-se com o socorro aos aflitos. intriguistas. Desse modo." Mais tarde. Suas palavras: "Fui republicano dos 13 aos 18 anos. tendo-se sempre destacado por sua probidade e competência. chegando alguém a incitar-me um dia a que roubasse um meu tio. ensinando-os a ler e a escrever. e que se manifestou a sua mediunidade no terreno da psicografia (1889).. Voluntários de Loures.. em casa de quem eu estava.. de que foi escolhido como primeiro comandante (29 de Junho de 1887). dedicou-se aos analfabetos. passou a auxiliar o pai. assinadas por 115 . O teor dessas mensagens era sarcástico e injurioso contra o próprio médium. gradualmente. da minha simplicidade e da minha toleima.. que sugavam quanto eu tinha. pior do que isso. Foi também nesta época. juntamente com alguns jovens de sua idade e outros tantos adultos. ascendeu até chegar ao cargo de subinspetor. perdido a fé religiosa materna. Não era só a letra e a assinatura firmante neles. em Lisboa. rematado sempre pela assinatura duma individualidade que em vida conhecera . Nesse período. Não me expatriei mas deixei Lisboa. fundou a Associação dos Bombeiros 114 Como nos esclarece Manuela de Vasconcelos no mais completo livro acerca deste extraordinário médium: ". via-me a cada passo assediado de exploradores da minha generosidade e boa fé. e que iria juntar-se ao muito que já me tinha sugado e que nunca mais vi. herdou de um tio a Fábrica a Vapor de Baguettes e Galerias. até mesmo. que se intrigavam. Fernando de Lacerda começa a receber diversas mensagens do plano espiritual. contra sua vontade... na criação dos irmãos mais novos..). que quis expatriar-me. a partir de Outubro de 1906.. uma vez que o seu braço era tomado involuntariamente por uma entidade que conhecera encarnada. que se acusavam. em 1898 ingressou na polícia administrativa do Governo Civil onde. cuja gestão também assumiu.... lhe traçava escritos que era forçado a atribuir a uma inteligência estranha. encontrei em volta de mim. e preocupou-se com as questões comunitárias. entre 1886 e 1887 que iniciou a sua colaboração na imprensa. No ano seguinte (1899). em estado de vigília.. M.. Obedecendo. António José da Silva Pinto.. Também ouvia. normalmente.. os nomes que as assinam saem também. Napoleão Bonaparte. via-o em seguida. Júlio Dinis. Por vezes. sai o segundo volume e é reeditado o primeiro. sento-me à mesa e a minha mão vai arrastada a escrever coisas em que não penso.." Contudo o desfalecimento foi vencido e a fé fortaleceuse.)".. Entre todos. naturalmente. queridos e vivos na memória popular: Eça de Queiroz. as palavras que uma segunda personalidade lhe queria ditar. Lacombe e outros. o médium dirigiu-se a sua mesa de trabalho. e o Português conseguiu levantar obra enorme. e. António Vieira. por vezes sinto uma voz a falar-me.. e quase com o talhe da letra dos autores. Fialho de Almeida.. chegou a receber duas mensagens simultaneamente. Segundo descreveria mais tarde. rapidamente. uma noite percebeu uma voz emanada de uma entidade invisível. A. 117 . com frequência. foram publicadas em livro – Do Paíz da Luz – já em 1908. com o uso das duas mãos. Simultaneamente foi Eça um organizador. Enquanto o médium. sentes-te dominado por uma ideia fixa de desfalecimento e de receio que nada justifica. já desencarnados.. saem essas coisas belas de que os senhores tanto gostam. eram encaminhadas aos jornais. vem-me um estremecimento. das quais participam A. Émile Zola. Martins Velho. vigoroso polemista e conhecido escritor. entre muitos outros que figuram nos quatro volumes da obra. E nunca li a maior parte dos autores citados. coligidas. mantinha conversação com os encarnados presentes. (. cuja primeira edição logo se esgotaria. em muitas ocasiões conversando com várias pessoas e. Fernando de Lacerda sentia a aproximação do Espírito que desejava se comunicar. portugueses e estrangeiros. no fim. como neste exemplo. Camilo Castelo Branco. João de Deus ou Antero de Quental. Sousa Couto. tomou do lápis e imediatamente recebeu comovedora mensagem de Camilo Castelo Branco ao seu amigo encarnado. 116 Uma História Luso-brasileira As comunicações recebidas em reuniões mediúnicas. desconhecendo muitas vezes o significado de palavras e expressões. De modo geral... Alexandre Herculano. pela curiosidade em torno das palavras de autores desencarnados. As primeiras mensagens. "Não serei eu que furte a minha voz ao concerto geral que pretende insuflar-te fé.Paulo Alexandre Baía Mourinha escritores renomados e personalidades do mundo social.. informando que desejava transmitir uma mensagem a uma personalidade conhecida no mundo das letras. o lápis que empunhava rapidamente preenchia as laudas de papel. logo sendo conhecidas e comentadas num verdadeiro fenómeno nos media portugueses da época. mas também um reflexo claro do íntimo de Fernando Lacerda. Nessas ocasiões encontravase alheio ao teor das mensagens. sem uma rasura. Nesse mesmo ano. Eça de Queiroz foi o Espírito que mais se comunicou ao longo dos quatro livros do Paíz da Luz. bem como fatos nelas referidos. ". º dos livros: Fernando de Lacerda dividia o tempo entre as suas funções na polícia. Por essa época conturbada.O Médium Português: "E entre o seu cargo na polícia. que conduzem o homem na direção da Cosmoplenitude e afastam-no da ego-vacuidade tão bem descrita pelo filósofo Huberto Rohden. defensor público do conceito de Deus.º volume. A." Apenas uma fé que encontra raciocínio e alimenta a alma pode de facto vencer os infortúnios do mundo e semear flores em campos queimados pela perfídia dos homens. Portugal mergulha em profunda crise político-institucional. Lacombe e outros mais) o auxílio que vai ministrando. intensificando-se as lutas em torno das ideias republicanas. Sousa Couto. com a mesma idade de Laura. eu cria ainda que de ti não ficaria mais do que a saudade no coração dos que te adoravam. ao sair de sob a tua vista. na Biblioteca Nacional de Lisboa. não pode resistir às correntes dominantes no meio em que me encontrei. Fernando Lacerda. Lacerda entrega. divulgadas pelos periódicos portugueses. e Fernando. M. 2 exemplares do 1. Fernando Lacerda encontrou-a no intercâmbio com os imortais. espírita-cristão declarado. da alma e da vida após a morte através das mensagens que psicografava de figuras desaparecidas e respeitadas no mundo literário português. na certeza que os postulados espíritas são libertadores e consoladores. a educação de Laura.º volume do livro de comunicações mediúnicas 118 119 . "Quando abandonaste este mundo. Fernando continuou a trabalhar arduamente. também órfão de mãe. como nesta dedicatória feita à sua mãe no 1. Martins Velho. Voltemos à obra de Manuela Vasconcelos. sua sobrinha. através do passe depois do prólogo que pede ao advogado e amigo Dr.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira No entanto esta luta contra o desalento e a melancolia ficou imortalizada em vários textos. Carlos e do príncipe Luís Filipe (1908). Sousa Couto para o 1. órfã de mãe desde os 2 anos de idade. Consumando-se o regicídio do rei D. e o trabalho mediúnico. editado este. filho do gerente da fábrica. Servidor público identificado com a monarquia. Fernando de Lacerda não ficará imune à queda da monarquia e consequente implantação da República no país (1910). que me ensinaste em pequeno. a assistência às reuniões mediúnicas (nas quais participam A. A fé religiosa. ainda. em 22 de Fevereiro. a preocupação com a educação dos seus pequeninos. por causa da grande teoria do amor livre. entrega essa que ficou registrada nas folhas 103 do Livro 1.. paga-as do seu bolso. Apesar de aparentemente nada mais poder ser apontado ao subinspetor. o que é raro. mas 1908 é um ano mau para os portugueses e dele se ressente. dando-lhes leite.. voltado para o teatro amador. instrução e educação. através de intensa campanha que lhe foi movida pelo advogado e jornalista Fernão Botto Machado. " gente. Multas. não só os protege como os tem em casa. Lacerda pelo passaculpas. que chegou a frequentar esporadicamente.. um clube recreativo.º do registro de obras ali entregues! religioso. por vezes. Contudo. esmolas valiosas e constantes aos que dele se abeiram envoltos em lágrimas. É. Todos os desgraçados.. Nunca protegeu nenhuma mulher. Nunca os manchou. toda a Dá colocação aos sem trabalho.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira obtidas por Fernando de Lacerda. É digno. sem os sugar... no bairro da Graça. quando mais aflitos." Como vemos. quando não pode livrar delas os desgraçados. provando-se apenas que o subinspetor da Polícia era culpado de ser demasiado tolerante com os seus subordinados.. profissional e pessoalmente. Botto Machado continuou o seu expediente pútrido e corrosivo. vão colher uma esperança e um alento junto dele.. Fernando de Lacerda. que. Não se lhe conhece um acto indigno. Isto di-lo em Lisboa. também. Os livros são procurados e esgotam-se rapidamente nas livrarias. segundo mo comunicam.. são poucos. Tão inteligente como honesto. os próprios inimigos. Pode ter entrada nos lares honestos. Ajuda todos como pode. com um prólogo do Dr. a verdade é reposta por caminhos inesperados. Fernando de Lacerda pediu uma sindicância de seus próprios atos na função pública. Nunca ninguém o procurou em vão para uma obra piedosa. às vezes. Sousa Couto. afinal. um caráter inatacável vai sempre granjear admiração mesmo nos mais insuspeitos. geralmente. conhecido o Sr. Órfãos. e é um jornal nortenho de caráter religioso e até de alguma forma antipático aos ideais de Fernando Lacerda que deita abaixo a prosa malévola do causídico: ".. Tendo a sua integridade questionada.. pão. é profundamente justo.. na 120 121 .. não lhe negam nenhuma daquelas qualidades. para lhe impor uma baixeza. Um defeito lhe apontam: ser fraco pela sensibilidade que o leva à maior abnegação. tendo Fernando de Lacerda aceitado patrocinar. é puro.. é bom. Profundamente Num outro plano (mas que vai se entrechocar com o mundo profissional). de crocodilo. seu amigo particular. 123 . Mais tarde. em Lisboa. com destino ao Rio de Janeiro. que o conhecera numa viagem realizada a Portugal alguns anos antes. seu amigo. a 10 de Julho de 1911. e por este apresentado. se sentia obrigado a recusar. onde aportou a 23 de Julho. na última semana do mês. ao arrumar-lhe os pertences pessoais. Com um empréstimo que aceita do médico da Polícia. com as mesmas regalias e melhor vencimento. Brasileira. onde imediatamente foi convidado a participar da sessão que ali se realizava. com a única condição de que teria que se naturalizar brasileiro. informado por amigos de que a sua demissão da função pública era iminente. colocou em prática um estratagema: faz a Fernando de Lacerda uma venda fictícia de dois sobrados na antiga praia do Flamengo. o Dr. que até então educadas na sua residência. Sem função. Fernando de Moura. vindo a descobrir que as dependências do mesmo eram utilizadas para a prática de jogos de azar. anos mais tarde. então inscritos em projeto de demolição pela municipalidade. no mesmo dia. minoradas pelos esforços do Dr. como conivente com aquela prática ilegal. onde lhe foi oferecido o mesmo cargo que desempenhara em Lisboa. informava aos leitores que. evitando que o médium português se sentisse constrangido pela situação de dependência em que vivia neste exílio auto-imposto. Fernando de Lacerda. o que era contrário à lei. então já com 12 anos. agradeceu a generosa oferta que. A nota informava que Fernando de Lacerda estava suspenso de suas funções. recebeu a notícia da sua demissão. por essa razão. que com os seus familiares muito o estimava. Embarcou. António José de Almeida. entregando aos seus irmãos a direção da fábrica. Fernando de Moura. mesmo diante do abandono a que a sua própria pátria o votava naquele transe. sendo acolhido e albergado por outro amigo. Fernando de Lacerda alugou um quarto num sobrado com quartos para solteiros e começou a busca por emprego. preparou-se para embarcar para o Brasil. encontrada pelo seu afilhado. cuja situação financeira não era das melhores à época. Inicialmente dirigiu-se à Polícia do Rio de Janeiro. Fernando de Lacerda foi admoestado no sentido de que não poderia mais continuar a exercer o seu cargo na polícia. em uma operação policial contra o clube recreativo ao qual ele havia pertencido. chamou a atenção dos dirigentes e se afastou da agremiação. pouco depois. à época. adquiriu a passagem de navio. Em Fevereiro de 1911. passando o médium a viver dos magros proventos advindos dos seus apartamentos. confirmada por carta do Dr.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira medida da disponibilidade de suas obrigações. Devido à repercussão do caso. à Federação Espírita 122 De Portugal. bem como a educação das crianças. É ele quem. passaram a estudar em escolas públicas. havia sido descoberta a prática de jogos de azar. Poucas semanas depois. com a consequente detenção de jogadores e apreensão de mobiliário. veio a conhecer privações. uma vez que os cargos públicos não podiam ser exercidos por estrangeiros. o periódico Vanguarda estampou na primeira página um novo artigo sobre a sindicância de Fernando de Lacerda à Polícia e. cidadão e patriota português. trabalhava na preparação do quarto volume de “Do Paíz da Luz”. vindo a falecer de septicemia no dia 6 de Agosto de 1918. quando ainda ontem te supunhas firme em serviço da tua pátria. concluído o curso de Contabilidade. Mágoas nos teus verdugos não as há. Cemitério do Alto de São João À época de sua desencarnação. em última homenagem à sua mãe. o médium continuou a receber as comunicações dos amigos espirituais.). que parecia dever esmagar-te. quando ainda ontem te podias considerar rico desacreditado. sentindo mais as dores dos outros que as próprias! Que rija têmpera a tua! Que nobre exemplo tu dás! Ver-te hoje pobre.. vinha trabalhar no Banco Nacional Ultramarino (BNU). Um amigo retomou os originais deixados pelo médium. no bairro de Botafogo. vindo os seus restos a ser transladados.º capítulo do 4. não as creias! Os que se vingam e os que são considerados instrumentos da vingança. um texto publicado no 25. fortuna.. para um jazigo que ele próprio mandara erguer. uma hérnia que há muito o fazia sofrer rebentou.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira No Brasil. e do montão de escombros. 124 125 . em Setembro de 1939. ". no Cemitério do Alto de São João. na serenidade da tua consciência. vindo a ser publicado o último volume da série. não merecem a tua consideração. lugar. sendo o médium conduzido a um hospital para uma cirurgia de emergência. onde os imortais se encontraram para cantar a grandeza do universo.. em Lisboa.) A esta memorável tarefa a que Fernando Lacerda se dedicou. por volta das 18 horas. futuro! Antes. E nem uma acusação acre. entregando-as aos jornais cariocas para publicação. no Cemitério São João Batista.. tranquilo e sereno. Encerramos esta pequena súmula de uma vida por demais preenchida para caber no papel. nem um queixume severo contra os que te roubaram reputação.. seguir-se-ia a monumental obra de um dos mais extraordinários médiuns que o mundo conheceu: Chico Xavier.. à qual não resistiu. (.º tomo do Paíz da Luz: Com a chegada ao Rio de Janeiro do seu afilhado que. pensas só nas mágoas que podem ter os teus verdugos pela injustiça que praticam! Mágoas? (. enquanto prosseguia a sua tarefa mediúnica de doutrinador dos Espíritos em sofrimento. O seu corpo foi sepultado no dia seguinte. veio para o Brasil sem o consentimento 126 127 . a sua propensão era norteada no sentido de ser admitido na Marinha portuguesa. onde estudou num colégio particular e alcançou um grau de instrução ao nível do secundário. Entretanto.11 de Fevereiro de 1957 João Leão Pitta fez os seus primeiros estudos no Funchal. Nessa altura surgiu um imprevisto: seus pais alimentavam a ideia de fazer com que ele seguisse a carreira eclesiástica e se ordenasse padre católico. Terminados esses estudos deliberou ir para o continente a fim de se aperfeiçoar e escolher uma carreira.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira JOÃO LEÃO PITTA 11 de Abril de 1875 . Não conseguindo estudar o que aspirava. Foi ali que conheceu um médium receitista. vítimas de uma epidemia. instalou uma fábrica de bebidas. onde se ocupou da profissão de tecelão. tal a sua operosidade e honestidade a toda prova. resolveu procurar um Centro Espírita. Tomou então a deliberação de convocar alguns amigos. o médium não admitia discussões com referência à Doutrina Espírita e deulhe alguns livros para que os lesse. Todos lhe negavam serviço. como decorrência não conseguiu emprego na cidade e ficou sem crédito por mais de um ano. sem recursos para sustentar sua numerosa prole e atender à enfermidade da filha. Um acontecimento. mudou o rumo de sua vida. decidiu transferir-se para a cidade de Piracicaba. no entanto. que mais tarde se tornou o famoso Vinícius. aportando no Rio de Janeiro com apenas 16 anos de idade e com 400 réis no bolso. e ele. onde se casou com D. empregou-se numa padaria. como pretendesse melhorar a sua situação económico-financeira. de cuja ligação teve o prolífico número de 12 filhos. pelo menos. Maria Joaquina dos Reis. a fim de propiciar melhor educação para seus filhos. Viu-se então face à dura 129 . em companhia de outros confrades. fundar. Paulo. as reuniões espíritas eram realizadas mais por curiosidade de que por apego aos estudos. sua esposa costurava para ganhar algum dinheiro. Não se sentindo bem na antiga Capital Federal. mas. Conhecedor do Espiritismo. Pitta tinha o hábito de discutir. a pioneira das instituições espíritas da cidade. Não estava animado do propósito de haurir os benefícios doutrinários do Espiritismo. demonstrando-lhes a responsabilidade moral de cada um. chegando a ser contramestre da fábrica. Porém. sua esposa. na cidade. Nessa firma trabalhou durante 20 anos. conseguiu arranjar emprego numa loja de ferragens de propriedade de Pedro de Camargo. mas sim de obter a cura da sua filha. tinha acomodação e alimentação. Nos idos de 1926 a 1929. mais de 200 contos de réis. Fez as primeiras leituras com manifesta má vontade. fez com que a família voltasse de novo para Piracicaba. onde.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira de seus pais. 128 Logo após a fundação do Centro Espírita. Logo após. Não tendo conhecidos nem parentes. chegando a ser sócio interessado. cumulada de profundos desgostos. após o que conseguiu. no Estado de S. Uma de suas filhas ficou bastante doente. Tudo ia bem. aos poucos. a "Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação". Com a desencarnação de três de suas filhas. conseguindo assim amparar a família e superar a crise. como estivesse sempre pronto a atender aos amigos e aos necessitados. o clero católico moveu-lhe acerba campanha e. apesar de ser homem honesto e trabalhador. acabou perdendo tudo. Nesse período crítico de sua vida. compenetrados do caráter sério e nobilitante da Doutrina dos Espíritos. não perdeu tempo e logo descobriu que. impulsionado pelo seu bom coração. Posteriormente voltou para o Rio de Janeiro. foi tomando interesse e estudou as obras básicas da codificação kardequiana. verdadeira fortuna naquele tempo. Porém. no ano de 1904. Nessas extensas caminhadas. levava o conhecimento de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" a milhares de pessoas e lares. praças públicas e cinema. alimentando-se e dormindo mal. auxiliava os mais necessitados com os recursos que ia amealhando. percorrendo vários estados do Brasil. Minas Gerais. fazia suas pregações doutrinárias. Rio de Janeiro. Santa Catarina e Rio Grande do Sul. a cavalo. Espírito Santo. perdendo-a por excesso de amor ao próximo. Socorria muitas pessoas.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira contingência de hipotecar a sua própria moradia. de trem. Em todas as cidades por onde passava. Os transportes por ele utilizados eram dos mais precários. quando não identificados na vida 130 131 . fazendo propaganda e angariando assinaturas para a "Revista Internacional de Espiritismo" e para o jornal "O Clarim". Deixou o convívio sossegado do seu lar. sentindo-se sempre inspirado pelo Alto. Mato Grosso. suas palavras eram cadenciadas e precisas. Era modesto no trajar. Em 1930. Crianças que ele adorava e com quem brincava e tentava orientar. comprar óculos. para viajar pelo Brasil. tornando-os inteligíveis para todos. Muitas vezes fazia longas caminhadas a pé. percorrendo centenas de cidades. dando-lhes dinheiro para consultar médicos. sem distinção de crença religiosa. sem lamúrias. Sofria sempre calado. notadamente Goiás. Profundo conhecedor dos textos evangélicos. Tinha imenso prazer em atender aos convites que lhe eram formulados e. adquirir mantimentos e para outros fins. esmiuçavaos com profundidade e com bastante clareza. Possuía longas barbas brancas e as crianças o confundiam com o Pai Natal. de seus filhos. Paraná. São Paulo. Fez milhares de conferências em Centros Espíritas. algumas de muitos quilómetros. de caminhão e de autocarro. pregando o Evangelho e disseminando aquelas publicações e as obras espíritas do grande missionário que foi Cairbar Schutel. Quando falava. Nessa obra missionária viveu 21 anos ininterruptos. resolveu trabalhar na divulgação do Espiritismo. consciente de que os sofrimentos na Terra. Com a idade de 75 anos. são por vezes oriundos de transgressões cometidas em vidas anteriores. chamaria de “apóstolo do Espiritismo no Brasil”. João Leão Pitta era uma figura irradiante de simpatia e de bondade”.Paulo Alexandre Baía Mourinha presente.O Apóstolo de Kardec. da cidade de Matão. João Leão Pitta deixou várias monografias inéditas. teve ligeiro atrito com outro grande e saudoso pregador da doutrina. meu amigo: se tu és lobo. sobrancelhas bastas. E Herculano Pires. a quem Herculano. Pitta sabia falar ao povo. E sobre sua oratória: “Orador fluente. a exemplo das parábolas evangélicas. Leão Pitta pronunciou entre Minas Gerais e Rio Grande do Sul 4 mil conferências. Forte amizade os uniria. sincero. por ocasião de sua desencarnação meses antes do seu aniversário aos 82 anos de idade. Herculano Pires assim o descreveu: “De longas barbas brancas. E relata a propósito o seguinte episódio pitoresco: “Em Botucatu. Na obra. ardendo de verdadeiro amor pela doutrina. Servia-se. no dia 11 de fevereiro de 1957. foi acometido de insidiosa enfermidade e submetido a delicada intervenção cirúrgica. A figura de Leão Pitta lembrava a de um velho profeta bíblico. num dia em que pronunciava uma palestra sobre a paciência. Como este o acusasse de ter perdido a paciência. como costumava dizer. Era idoso quando Herculano Pires conhece-o. Jorge Rizzini recolhe o testemunho de Herculano. mais tarde. acerca do seu encontro com o Madeirense Pitta. que se domava a si mesmo. faces coradas. Vale muito a pena ler este texto que Jorge Rizzini publicou no seu livro acerca de um dos maiores pensadores ao serviço da Doutrina: Herculano Pires . nessa mesma crônica publicada no Diário de São Paulo em 1958. acrescenta que era Pitta “um homem de temperamento impulsivo. grande amigo de Cairbar Schutel e divulgador de sua obra. olhos azuis. para transmitir os mais elevados ensinamentos doutrinários”. vindo a desencarnar 6 anos mais tarde. Pitta respondeu com muita graça: “Não te esqueças. e não gostava de ser considerado nem queria passar como santo”. de imagens da vida prática. Encontro com João Leão Pitta Jorge Rizzini Uma História Luso-brasileira – um português natural da Ilha da Madeira. eu ainda sou leão!”. José Mariano de Oliveira Lobo. segundo informações do jornal O Clarim. A primeira palestra doutrinária a que Herculano Pires assistiu foi realizada em Cerqueira César por João Leão Pitta 132 133 . nascido em 11 de abril de 1875. é um assunto bastante polémico. Pitta rangeu os dentes fortes de português da Madeira. de Marília. levando a que as Ilhas de São Miguel e a de Jesus Cristo fossem respetivamente a segunda e a terceira (de 9) a serem "encontradas". arrombador de cercas. Fiz milhares de pregações e me arrependo de meus entusiasmos. Na verdade. relata mais este apólogo real: João Leão Pitta. Mas de um homem ruim nada se aproveita. Inconteste. que assistira a outra palestra de Leão Pitta na cidade de Marília. a carne. falando sobre a dignidade humana. 27 de Abril de 1929 A descoberta das ilhas Açorianas. sendo no entanto a história oficial. Ensine o que souber. E Herculano Pires. os ossos. só uma pessoa havia aprendido alguma coisa: eu mesmo. Morto. conversando depois com os ouvintes que me elogiavam. tive a surpresa de verificar que de todos os meus falatórios. É pior que o pior dos animais. “um pregador espírita novato procurou o velho João Pitta para consultá-lo sobre o que devia pregar. o dono o mata e aproveita tudo o que o seu corpo oferece: o couro. De outra feita. terem elas sido encontradas por marinheiros portugueses ao serviço do Infante D. Henrique. provocando uma gargalhada geral. Uma História Luso-brasileira JOSÉ MACHADO TOSTA Ilha Terceira. 29 de Dezembro de 1875 Rio de Janeiro. os chifres e até mesmo os cascos. Progredindo então no sentido Oeste. tem que ser enterrado às pressas para não empestar a casa com o seu mau cheiro”. que vive chifrando os outros bois. depois de haver lido e estudado Kardec. é que Diogo Velho terá chegado à Ilha de Santa Maria em 1431. Um boi ruim. Foi precisamente na Ilha de Jesus Cristo . disse: “O homem ruim é a pior coisa que existe no mundo.que viria a receber o nome "Terceira" por ter sido a terceira a ter sido encontrada . uma vez que aparentemente elas estão presentes em mapas genoveses do século XIV.que José Machado Tosta viria a nascer. seus olhos brilharam por baixo das pestanas brancas de Papai Noel e ele disse: “Não pregue nem faça discursos. que aprendi a conter a língua”. no Centro Luz e Verdade.Paulo Alexandre Baía Mourinha E Pitta riu-se. 134 135 . no entanto. o notável médium Inácio Bettencourt. fundou o Centro Espírita Fraternidade. Rio de Janeiro. tornou-se notável divulgador. no dia 27 de abril de 1929. convidando sempre os melhores oradores da época. por exemplo. nomeadamente de outro dos nossos biografados. órgãos publicados em Matão . uma vez que todos os Terceirenses possuem bem perto da sua vista o Monte Brasil… Ingressando nas fileiras espíritas. em companhia de Carlos Imbassahy. de quem se tornou porta-voz na cidade do Rio de Janeiro. entre eles Vianna de Carvalho. Promoveu também numerosas conferências no Rio de Janeiro. fazia-se dedicado professor dos seus sobrinhos e de seus filhos. "O Jornal" e "Gazeta de Notícias". como. tradicionais órgãos da imprensa carioca. Foi escriturário no Departamento de Correios e Telégrafos e. tornando-se figura querida de todos que tiveram oportunidade de o conhecer. 136 Machado Tosta foi representante do jornal "O Clarim" e da "Revista Internacional de Espiritismo". nasceu em 29 de dezembro de 1875. no recesso do lar. à época. Destacou-se Machado Tosta também pelo seu empenho e coragem em publicar colunas espíritas em jornais. José Machado Tosta foi ainda criança para o Brasil. No ano de 1925. de Marechal Hermes .RJ. Foi parceiro de trabalho e prestimoso auxiliar de vários trabalhadores espíritas. 137 .Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Mais precisamente. Ao mesmo tempo promovia intensa divulgação das obras desse incansável trabalhador. na Ilha Terceira e desencarnou em Marechal Hermes. O que não deixa de ser interessante.SP pelo grande pioneiro espírita Cairbar Schutel. Interessante (como citado anteriormente) o facto do excelente médium Chico Xavier ter sido lançado. Não deixa de ser curioso o facto de Agostinho ter saído do séc. tendo sido pioneiro na divulgação das novas mensagens através do jornal "Gazeta de Notícias". deixou um número razoável de composições em forma de versos. por José Machado Tosta. nos Açores. em Pedro Leopoldo. Coloquemo-nos agora na posição de um jovem de 12 anos acabado de chegar ao Rio de Janeiro em busca de um lugar para trabalhar. José Machado Tosta entusiasmou-se de forma inusitada pelas produções vindas do Além. XIX e abraçado o séc. Amigo e companheiro do grande poeta Amaral Ornelas. ensaiando seus primeiros passos no campo da psicografia. bem como grande bagagem literária. Quando surgiu. por Inácio Bettencourt.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Foi um autêntico trabalhador da seara espírita. nascidos na Ilha Terceira. AGOSTINHO PEREIRA DE SOUSA 28 de Novembro de 1889 – 12 de Outubro de 1955 Agostinho nasceu na velha cidade do Porto no final do século XIX (mais precisamente a 28 de Novembro de 1889). conseguindo atrair para essa grandiosa doutrina muitas pessoas de boa vontade. e aportados no Brasil ainda bastante jovens. do Rio de Janeiro. Ambos os jornalistas eram portugueses. e. na imprensa espírita. 139 . Foi amigo intransigente da verdade e um elemento de profundo enriquecimento para a cultura espírita. Filho de Manoel Sebastião Pereira de Souza Júnior e Dona Maria Luiza Ramos de Souza. na imprensa leiga.   138 Dele não sabemos muito acerca dos seus primeiros anos passados na Cidade Invicta. XX em terras Brasileiras. o médium Francisco Cândido Xavier. contudo é certa a sua chegada ao Brasil em 1901. Casou-se com Dona Deolinda Veloso de Souza Agostinho. Passou por sérias dificuldades na vida. mas nunca se deixou abater. chegando a ser uma das maiores firmas no mercado de confeções de camisas no Rio de Janeiro.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Do seu lado a sua diligência. No primeiro aniversário da desencarnação de sua idolatrada esposa. bem como os seus colaboradores e parceiros comerciais (como hoje se chama). mesmo diante dos mais difíceis problemas. Honesto como era. contra si. De tal forma era ele justo e generoso que a determinada altura ofereceu participação na sua firma aos seus empregados. “Fábrica Confiança”. uma linda associação amorosa que frutificou em seis lindos rebentos. O desaparecimento de Agostinho do cenário espírita do Rio de Janeiro causou grandes saudades e profunda tristeza entre os seus companheiros de trabalho. na razão de suas possibilidades. “O Camiseiro”. Agostinho era pessoa muito respeitada e estimada a todos os níveis. exatamente no dia 12 de outubro de 1955. para o devido socorro. na maior serenidade. a 140 141 . recebendo cada um participação nos lucros de acordo com o interesse e a capacidade por eles demonstrados. facilmente ganhava o coração dos seus clientes. Progrediu consideravelmente. e usando o critério de observar a necessidade de cada um. Os prós foram largamente superiores aos contras e Agostinho foi um vencedor. como: “América-Japão”. “Camisaria Universo”. Uma perda irreparável pelo grande amor que demonstrava à causa. primeiro do mundo e depois e muito mais importante dos valores eternos. a 1 de maio de 1919. ajudando indiscriminadamente a quantos dele necessitassem. deixa-o viúvo no dia 12 de outubro de 1954. Foi um grande golpe para Agostinho. “O Cysne” e por fim a “Camisaria Brandão”. após rápida enfermidade. Depois passou por várias outras firmas. partindo em busca de sua doce companheira de romagem terrena. teve a ventura de se desprender do corpo físico. Espírito humanitário. tanto pela sua freguesia. sempre de acordo com a sua capacidade e empenho. No campo de suas atividades comerciais. honestidade e perseverança. O seu primeiro emprego foi na Alfaiataria “O Fonseca”. de onde saiu para fundar a sua própria firma. Agostinho. numa prova inconteste de que eram realmente almas irmãs. era bastante estimado. como por seus empregados. na Rua do Ouvidor. através do conhecimento da imortalidade da alma. Agostinho Pereira de Souza tinha inabalável fé em Jesus. Dona Deolinda era médium de dúctil e nobre expansão mediúnica. colaborava em quase todas as obras de assistência à criança e à velhice desamparadas. a inexperiência e o desconhecimento do mundo que agora habitava. os quais tornaram-se interessados na firma. que o suportou com aquela paciência nascida na Doutrina Espírita. Depois de um curto período de insidiosa enfermidade. dedicado ao bem. “Barbosa Freitas”. que muito trabalhou em prol da Doutrina dos Espíritos. deu início à construção do Hospital Espírita “Pedro de Alcântara”. hoje já não ostenta em seu frontispício o nome Espírita. o magnânimo Pai e Criador de todas as coisas. sua direção não é espírita. Esse majestoso Hospital. coadjuvado por uma plêiade de outros dinâmicos companheiros. embora sendo propriedade da Associação Espírita “Obreiros do Bem”. que na oportunidade pretendia construir um Hospital para Doentes Mentais.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira sua fé suplantava todas as vicissitudes. Por sugestão de Leopoldo Machado. junto a Leopoldo Machado. de cuja personalidade herdou o nome. Os diretores e companheiros da Instituição não podem aplicar a terapêutica espírita nos doentes mentais ali internados. ex-diretor do Hospital foi ameaçado de processo. supre sempre as nossas deficiências. doou o terreno na Rua Santa Alexandrina. Jamais Agostinho se afastou dos postulados da Doutrina dos Espíritos. infelizmente. conforme o ideal de seu fundador e de toda a sua equipa de trabalhadores. fundou a Hora Espírita Radiofônica na antiga Rádio Transmissora. por médicos estagiários. ao lado de seu fundador Manoel Jorge Gaio. sendo obrigado a abandonar suas funções de diretor do Hospital. e sob sua Presidência. Um médico. 142 143 . recomendada por Jesus. Agostinho ainda organizou junto ao Hospital a Casa de Saúde e Maternidade “Santo Agostinho”. ali internada como doente mental. certo de que Deus. Foi um dos baluartes na realização do I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil. Falar da obra de Agostinho Pereira de Souza é um nunca acabar. porque aplicava um passe numa criatura obsidiada. e fez parte da Fundação Marieta Gaio. em homenagem ao grande Agostinho do Cristianismo. desde que entremos em sintonia com Ele. Fez parte do Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira. no Rio Comprido. procurou a direção da Associação Espírita “Obreiros do Bem”. era membro da diretoria do Grupo Espírita “Anthony Leon” da Tijuca. porque tem tudo para nos dar. esforço e tenacidade. Juntamente com Leopoldo Machado. depois do sucesso de uma grande promoção em sua casa comercial. segundo a Codificação dada a Allan Kardec pelo Espírito Verdade. Sua crença na imortalidade da alma era fundamentada na Doutrina Espírita. pois. através da fé. Interessou-se pela obra. uma obra de grande envergadura. Na sua ânsia de servir. não houve uma só realização dentro do terreno espírita no Rio de Janeiro em que o seu nome não figurasse em primeira linha. levaram-no a sublimes exemplificações. O seu batismo deu-se sete dias após seu nascimento. na freguesia de Campelo. foi reconhecidamente humilde em todas as suas realizações. pregando o Evangelho não só por palavras. temperamento cristão. em 5 de maio.22 de setembro de 1979 José Borges dos Santos nasceu na manhã do dia 29 de Abril de 1891 na localidade de Vilares. distrito do Porto. Orador fluente.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Lins de Vasconcellos. Escreveu vários opúsculos baseado nos seus conhecimentos doutrinários e muito ajudou Leopoldo Machado na publicação de seus livros. seu amor a Jesus. mas acima de tudo pelo exemplo. JOSÉ BORGES DOS SANTOS 29 de Abril de 1891 . No dia 06 de dezembro de 1922 chega José ao Brasil. na Igreja Paroquial de São Bartolomeu na freguesia de Campelo no concelho de Baião. suas atitudes. Ambos vêm para trabalhar na construção. acompanhado de seu irmão António Borges. por todo o antigo Distrito Federal. tomou parte em diversas Semanas Espíritas e no constante “Ide e Pregai”. calmo. Carlos Imbassahy e tantos outros. comedido. dirigiu-se para a construção do Açude de Pilões em São João do Rio do Peixe 144 145 . Coração bondoso. Filho de Justino José Borges e Emília Rosa Borges. seu devotamento à Causa Espírita. Seus atos. Agostinho Pereira de Souza. concelho de Baião. Após breve estada na região amazónica. em 1932. dão-se várias alterações a nível laboral. viria a ser um dos fundadores do Grupo Espírita Auxiliadores dos Pobres. José Borges dos Santos. o que levou a que ambos se encontrassem. ainda hoje considerado o maior edifício do mundo no seu género (completamente construído em alvenaria).Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira na Paraíba como Mestre-de-obras. respetivamente: Orlando e Milton Borges. é tratada pelo médium António José Cerdeira do Centro Espírita Cearense com medicação homeopática. Grupo Espírita Auxiliar dos Pobres Em 26 de Julho de 1928. conhece José aquela que será a sua companheira para a vida: D. Os primeiros passos tinham sido dados para a hercúlea tarefa de divulgação que José Borges dos Santos assumiria nessa encarnação. tendo sido eleito pela primeira vez presidente do Grupo Espírita Auxiliar dos Pobres no dia 26 de Julho de 1931. continuação lógica das reuniões doutrinárias que tinham lugar na casa de António Alves de Linhares. Viria a trabalhar nessa profissão até à sua aposentadoria em 1959. viria a ter uma carreira repleta de sucesso e marcada por obras de enorme visibilidade para a época e que ainda hoje são exemplos de boa construção e arquitetura. tendo inicialmente José Borges assumido uma posição como auxiliar do comércio num armazém. mas que na realidade nunca foi terminada) e o Excelso Hotel. acaba por divulgar a Doutrina por todos os lugares por onde passava. O que certamente já estaria programado no plano espiritual. 146 147 . propriedade de António Ferreira Paços e após 2 de Janeiro de 1944 passa a ser caixeiroviajante em representação desse mesmo armazém. A partir de 1931. a atividade de José tornou-se ainda mais agitada. Aproveitando a possibilidade de viajar pelo interior do Ceará. Por essa altura José estava a iniciar-se como frequentador desse mesmo Centro. Dois deles viriam a tornar-se alguns anos mais tarde. Viriam a casar-se no dia 1 de fevereiro de 1927. é reeleito para o mesmo lugar. Por essa altura. e em seguida rumou para o Ceará. oito rapazes e cinco meninas. acometida por uma enfermidade. construída para suceder à velhinha Ponte Metálica (que no projeto deveria se tornar o Porto de Fortaleza. como são os casos de duas obras iniciadas na década de 20. Em termos da área profissional que escolheu. Na década de 30. onde viria a fixar-se definitivamente. que foi uma Uma vez que os mandatos eram de apenas um ano. e dessa feliz união nasceriam 13 filhos. Francisca Maciel que. já em Fortaleza: A Ponte dos Ingleses. Presidente e Vice-Presidente da União Espírita Cearense. nos anos 50. foi escolhido em assembleia geral para ocupar o cargo de Presidente da novel entidade. José Feliciano da Silva e Joaquim Manoel de Carvalho. Centro Espírita Pedro. espaços nos órgãos noticiosos como o Correio do Ceará. e conseguiu Continuando o seu trabalho ciclópico. Centro Espírita Joana D’Arc (1938) e inúmeras outras. É muito importante notar. José de Alencar. Apoiou a fundação da Legião Espírita Feminina de Ester Sales e da Casa de Saúde Antônio de Pádua com José Ferreira Mota. que escreveu uma belíssima homenagem ao nosso biografado. com a criação do Pacto Áureo. Teodorico Barroso. Euclides César e Humberto Cruz. o Apóstolo de Jesus (1936). ainda que libertado de seguida em virtude da admiração que todos tinham pelo seu caráter impoluto. este corajoso homem foi um lutador tremendo em nome da Doutrina. teve de lutar na clandestinidade e chegou a ser detido pelas autoridades.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Todas as iniciativas do movimento alencarino (diz-se daquele que nasceu na cidade do famoso escritor." Entre os seus companheiros de luta. sendo reeleito sucessivamente para os biênios de 47/48 e 49/50. E em decorrência direta desta memorável passagem da Caravana da Fraternidade a União Espírita Cearense é fundada no dia 05 de agosto de 1951 e José Borges dos Santos é aclamado presidente da UEC para a qual foi reeleito sucessivamente até o seu último mandato (sétimo). União Espírita Cearense (anteriormente Grupo Espírita Auxiliar dos Pobres). que na segunda metade da década de 30. 148 149 . promoveu a criação de uma livraria espírita. mais precisamente a 5 de Agosto de 1951. correndo riscos imensos por altura do Estado Novo de Getúlio Vargas. tais como: Liga Espírita Léon Denis (1933). entidade agregadora do movimento espírita para o biênio 45/46. Grupo Espírita Allan Kardec (1933). Grupo Espírita Deus e Caridade (1934). "Na década de 40 é eleito Presidente da Confederação Espírita Cearense. Fortaleza) por essa altura tinham sempre a sua presença e labor. tendo sido José Presidente da antiga Confederação. Unitário e O Jornal para a divulgação dos postulados espíritas pela pena de diversos colaboradores. sendo perseguido e alvo de polémica por homens do Clero e por indivíduos de poder público. liderada por Leopoldo Machado juntamente com outros caravaneiros no sul do país chegam a Fortaleza com o propósito de Unificação da família espírita dos estados do nordeste e do norte do Brasil em torno do Pacto Áureo. onde permaneceu por largos anos. Jornal Espírita "A Voz do Alto" Aqui vamos dar a palavra a André Luiz Borges. Participou com outros companheiros de ideal. Neste período publicou os jornais “Ceará Espírita” com José Elias de Correia e o “A Voz do Alto” com Antônio Isaías de Jesus. de entre eles Manoel Coelho da Silva. Nos dias 21 a 23 de novembro de 1950. na consolidação das sociedades espíritas que surgiram naqueles dias. a Confederação Espírita Cearense transformou-se no que é atualmente. 1963/64. contam-se os nomes de: Antônio Ferreira Passos. Concomitantes as suas atividades espiritistas. Sabia de cor diversos poemas e orações famosas. 151 . Em 1957. A partir de 1956. Foi. apesar do avanço da idade. José Borges ainda dirigiu de 1966 a 1969 a Presidência da Sociedade Beneficente Portuguesa Dous de Fevereiro (fundada em 02/02/1872). provocando um litígio que durante sete anos. que reconheceu a ilegalidade da ação militar e a imediata restituição da instituição hospitalar para sua legítima patrona. a União Espírita Cearense. espírito de iniciativa e grandes dotes oratórios. em 1954 criou o Departamento de Infância e Juventude da União Espírita Cearense. Mantinha-se atualizado pelas constantes correspondências com as diversas (antigas) colónias portuguesas da época. como na realização de verdadeiras caravanas de companheiros que visitavam as casas de outros confrades com o fim de implementar o Evangelho no Lar. seu espírito aguerrido. um grande divulgador e o responsável direto pela implantação da Doutrina dos Espíritos no Ceará. União Espírita Cearense (antigo GEAP) Em 1953 fundou o Centro Espírita Jardim Evangélico Bezerra de Menezes. a ponto de saber recitar com a sua extraordinária memória os versos dos Lusíadas. como não pode deixar de ser. o Primeiro Centenário da Codificação do Espiritismo! Essas comemorações tiveram lugar na famosa praça José Bonifácio.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Entre diretores e trabalhadores das diversas associações em que deu o seu contributo. Demonstrou essas qualidades em vários momentos. ainda teve de enfrentar as agruras do regime que influenciado por interesses escusos de terceiros tomou de assalto a Casa de Saúde António de Pádua (que fundou conjuntamente com José Ferreira Motta). conseguiu a sua última vitória no Supremo Tribunal Federal em Brasília. campanha que tantos benefícios trouxe às famílias Cearenses. sem dúvida. José sempre se destacou a grande altura em virtude das suas qualidades humanas associadas a uma inteligência muito viva. 150 Era realmente um orador eloquente que sabia como poucos levar a mensagem doutrinária com entusiasmo. Durante a ditadura militar de 1964. após recorrer e vencer em todas as instâncias da lei. prepara as comemorações do dia 18 de Abril de 1957. fé e profundos conhecimentos. organiza as Confraternizações de Mocidades Espíritas e no mesmo ano realiza as Confraternizações dos Centros Espíritas Cearenses. Paulo Alexandre Baía Mourinha Casa de Saúde António de Pádua Em relação aos últimos anos deste extraordinário trabalhador espírita, retomemos as palavras de André Luiz Borges: "Em decorrência da hercúlea luta as forças vitais do velho guerreiro não resistiram às deceções, traições e infortúnios outros que lhe abalaram a saúde, e provocando seu desencarne em 22 de setembro de 1979 aos 88 anos de idade em Fortaleza, retornando ao Lar Espiritual, para dar continuidade às suas tarefas, na condição de espírito liberto das limitações humanas. Partia assim, para o Mundo Maior, o grande e último responsável pela implantação do Movimento Espírita do Estado do Ceará, dignificado pelo trabalho e devotamento à Doutrina Espírita. Pela primeira e única vez, saiu da sede da União Espírita Cearense, um cortejo de despedida da Casa que viu surgir e abrilhantar na história do movimento espírita cearense, um de seus mais ilustres seareiros. Centenas de admiradores, amigos, familiares, funcionários da Casa de Saúde Antônio de Pádua, representantes de sociedades espíritas, maçonaria, beneficência portuguesa e os dirigentes e trabalhadores do GEAP/UEC estiveram lado a lado para dar o último adeus àquele que é o maior ícone do espiritismo cearense do século XX." 152 Uma História Luso-brasileira Cerimónia de despedida a José Borges dos Santos A atestar da importância do homem e do seu trabalho, lembremos que, do seu esforço, incessante, nasceram numerosos centros espíritas, alguns dos quais desapareceram através dos tempos, mas outros continuam a sua rota, a saber: C.E. Aurora Redentora (R. Professor Wilson Aguiar, 432, Fortaleza); C.E. João Batista (Rua Ametista, 500, Monte Castelo, Fortaleza); C.E. Ismael, Caridade e Luz (Rua Boa Vista, 841 - Mucuripe, Fortaleza); C. E. Fé, Esperança e Caridade (Av. Ten. Lisboa, 1345, Jacarecanga, Fortaleza); Grupo E. Auxiliar dos Pobres (Av. Tristão Gonçalves, 1695, Benfica, Fortaleza); C.E. Léon Denis (Av. Emílio Menezes, 727, Bom Sucesso, Fortaleza). Além disso, esteve também na fundação da Legião Espírita Feminina, da Legião Espírita Léon Denis, assim como a Mocidade Espírita Cearense. Fez parte também da Direção da Beneficência Portuguesa. Em 3 de Outubro de 1980, por proposta do Vereador Joaquim Pinheiro de Almeida, foi dado o nome de José Borges dos Santos a uma rua no bairro Sapiranga, em Fortaleza. 153 Paulo Alexandre Baía Mourinha Certamente que, do Alto, este notável homem continuará a proteger e a trazer inspiração aos trabalhadores que continuam a sua obra, uma obra que é tão importante lembrar quanto proteger. Uma História Luso-brasileira ANTÓNIO PIRES DO RIO 27 de Julho de 1891 - 2 de Agosto de 1946 Nasceu em Condeixa (Portugal) a 27 de Julho de 1891 e desencarnou em Araçatuba a 2 de Agosto de 1946. Chegou ao Brasil em 1914, indo residir inicialmente em Santos. Procedente de São José do Rio Preto, chegou em Araçatuba no ano de 1921. Casado com D. Conceição Pires do Rio, tiveram os filhos: Conceição, casada com Mário Lino; Albertina, casada com Nelson Porto; Ruth casada com Arthur Evangelista de Souza; Áurea, casada com Francisco de Camargo Penteado; José, casado com Luzia Herbeler. Aqui, trabalhou em comércios de secos e molhados, às ruas Marechal Deodoro e General Glicério. A partir de 1932 154 155 Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira passou a administrar e residir na fazenda do Dr. José Teodoro de Lima, que era um dos proprietários do Cartório do 2.º Ofício da Comarca de Araçatuba e depois a fazenda do Dr. Pedro Garaude. Em 1939 adquiriu uma "jardineira", como eram conhecidos os ónibus/autocarros na época, que transportavam pessoas e alguma carga e com esta percorria o trecho da cidade até ao bairro de Jacutinga. Por essa época iniciou as suas atividades espíritas, orientado pelo amigo Vicente, que lhe ofereceu provas da imortalidade dos espíritos. O Dr. Teodoro de Lima mudou-se de Araçatuba e pouco depois faleceu. Certo dia, o sr. Pires do Rio, foi convidado para conhecer uma médium e, durante o contacto com esta, houve uma manifestação espontânea do espírito Teodoro de Lima. O visitante reconheceu o espírito comunicante e, a partir daí, tornou-se espírita. Pires do Rio construiu um salão no terreno de uma das suas residências, à Rua Cussy de Almeida, entre a Rua Duque de Caxias e a Praça Getúlio Vargas. Em sua homenagem o seu nome foi colocado numa rua situada no Jardim da Amizade. Sobre António Pires do Rio, muito ainda há para descobrir, mas o seu nome é frequentemente citado entre os pioneiros do Espiritismo em Araçatuba. De outra forma, não teria este valoroso trabalhador uma rua em seu nome na sua cidade de acolhimento. Fica aqui a promessa de uma investigação muito mais profunda acerca deste português de nascimento, mas brasileiro pela obra. Neste Centro Espírita, dirigiu reuniões e atendia pessoas necessitadas, atividades de evangelização, desobsessão e de curas. Para isso contou com a colaboração de seu amigo Sebastião de Silos. À Época, os seus familiares não eram espíritas, mas a irmã do seu futuro genro Francisco, de seu nome Maria de Lourdes Camargo Pinto, já era bastante atuante no movimento espírita araçatubense. 156 157 mais precisamente em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. já com família constituída. Em busca de melhorar a sua qualidade de vida. casa.7 de Julho de 1978 Nascido a 2 de Setembro de 1892. emigra para o Brasil em 1912 (tinha na altura 20 anos) e vai fixar-se no Sul do país. em localidade incerta na Beira Alta.. para receber um passe e orientação. fica viúvo e passa por sérias dificuldades financeiras Numa visita ao atelier de alfaiataria de um seu amigo. 158 159 .Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira JOSÉ SIMÕES DE MATTOS 2 de Setembro de 1892 . José assim o fez. No mesmo ano (1922). acaba por receber como conselho a visita a um centro espírita.. Cedo José Mattos se casou e cedo também enviuvou. após a comunicação do mentor da casa. porque a sua situação iria melhorar. pois não só o animou mas o deixou tranquilo quanto às suas escolhas. que o informou que Jesus o viria socorrer e que nada temesse. acabam por faltar ao compromisso. estudou com afinco os livros da Codificação exatamente como lhe havia sido sugerido e passou a frequentar o Centro Espírita com assiduidade. onde a sua filha vem a ser curada poucos dias depois. Em 1932. é equivocadamente chamado no Brasil. A partir daí o nível de envolvimento de José Mattos com o movimento espírita aumentou exponencialmente e tamanho foi o seu esforço e denodo que veio a ser eleito em 1928 para a Direção da Sociedade Espírita Paz e Amor. 160 161 . de António de Pádua). como tantas vezes ocorre. Apesar de já desperto para a mensagem espírita. A sua mensagem foi particularmente importante para José. um triste evento ocorre. Contudo este foi um momento de viragem na sua vida. Em poucos dias conseguiu uma nova colocação e em 1926. José havia sido criado numa família com crença católica. como a maior parte dos seus compatriotas.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Muitos são aqueles que. a convite dos confrades Ildefonso da Silva Dias e Conrado Ferrai. tendo mesmo frequentado a igreja. A sua filha adoece gravemente e. órgão oficial da Federação do Rio Grande do Sul. Nada mais nada menos que Santo António de Lisboa (que por ter trabalhado e morrido em Pádua. voltou a contrair matrimónio. chamados pelo amor ou pela dor. Em 1934 começa a colaborar ativamente no periódico espirita "A Reencarnação". De notar que. Por essa altura também. ainda não estava José verdadeiramente engajado com o movimento espírita e foi através da intercessão de amigos que ele encontra a Sociedade Espírita Paz e Amor. na medida em que deixou claro que a sua ida para o Brasil tinha sido com o seu incentivo e proteção. é desenganada pela medicina oficial que lhe dá pouco tempo de vida. era já vice-presidente da Associação sob a Presidência de Ernesto Teixeira. Exortou-o a ter confiança em Deus. Mas o português buscou e por isso encontrou uma resposta para os problemas da sua vida e uma nova esperança na forma de uma comunicação que lhe foi endereçada pelo patrono dos trabalhos do centro. mas nunca teve grande interesse em questões religiosas (como viria a confessar mais tarde). manifestou-se o seu próprio protetor. Ao longo de todo esse tempo. º Aniversário da FERGS Quando desencarnou a 7 de Julho de 1978.º Seminário de Avaliação da Unificação Espírita do Rio Grande do Sul. evento de grande importância e sucesso para o movimento. Em 1943 aceita ser presidente da Sociedade Espírita Paz e Amor. Paulo Hecker. ocasião onde ocorreu o 1.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Veio também a colaborar com muitos outros jornais e revistas. 162 163 . José assume a vice-Presidência da Federação Espírita do Rio Grande do Sul no ano de 1937 e em 1938 é designado para representar a Federação na inauguração da primeira emissora de rádio espírita do Brasil. Extremamente respeitado no movimento espírita "Gaúcho". a Rádio Piratininga. Mas o seu trabalho no movimento ainda não estava completo e em 1966 foi eleito para o cargo mais elevado da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Este acontecimento vem a inspirá-lo a lançar um programa radiofónico de cariz espírita em Porto Alegre. Foi também ele esforçado auxiliar do Hospital Espírita de Porto Alegre e no seu jornal Desobsessão. Programa esse que viria a ser conduzido pelo Dr. cargo que viria a desempenhar com entusiasmo durante 36 anos. em São Paulo. como a revista Estudos Psíquicos de Portugal e o Constância da Argentina. sempre reeleito por pedido dos seus companheiros de Diretoria. nacionais e internacionais. 50. mas que tocou almas de vários quadrantes. Sede da FERGS em 1971 Ocupou o cargo durante 3 mandatos e foi sob a sua direção que a FERGS comemorou os seus 50 anos de existência. José Simões de Mattos deixou atrás de si uma obra que ultrapassou em muito as dimensões regionais. a Presidência. em especial no que tange à evangelização da infância e da juventude. Toda a infância passou na sua terra natal. perante a FEB). A todos os presidentes e a todos que na obscuridade dos bastidores e do trabalho abnegado ergueram o monumento que é hoje a instituição máter do Espiritismo gaúcho. tendo desde cedo começado a trabalhar no pastoreio de cabras. alcançando importância nacional. paredesmeias com Espanha. nosso sincero obrigado. Angel Aguarod foi a pedra fundamental para o nascimento da entidade e para a nascente Unificação (já no plano espiritual será o impulsionador do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita). dentre outras bandeiras que ergueu em nome da FERGS. os quais também serão objeto de trabalhos em separado nesta edição especial. evangelho no lar.. além de ser o pioneiro em diversas campanhas.. no Nordeste Transmontano (distrito de Bragança). em Torre de Moncorvo. encontramos este texto na página oficial da Federação Espírita do Rio Grande do Sul: " (. Filho de Aníbal Ernesto Guerra e Emília Santos Guerra. as caravanas do Evangelho aos lares. 164 165 . Aos 14 anos viajou com a sua família para o Brasil. situada no topo da margem direita do rio Sabor e nas proximidades do núcleo de vida pré-histórica do Baldoeiro.14 de Agosto de 1968 Nasceu a 23 de Maio de 1898. ambos naturais desta belíssima região do Nordeste Luso.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira A seu respeito. Spinelli foi o grande empreendedor (inaugurou a nova sede e a livraria. homens cujas histórias se confundem com a história da própria FERGS. Angel Aguarod e de José Simões de Mattos. e Mattos foi grande entusiasta da família. queremos aqui destacar apenas os nomes de Francisco Spinelli." MANOEL MARTINS GUERRA 23 de Maio de 1898 . nascida no período medieval a partir de Vila Velha de Santa Cruz da Vilariça.) Em que pese a importância capital de todos os presidentes. sendo desde logo convidado para assumir o lugar de Segundo Tesoureiro da diretoria do grupo. Amélia. conseguiu dominar os conceitos académicos de tal forma que após algum tempo passou a ministrar aulas a seus amigos e vizinhos. Da mesma forma. angariou fundos para a construção e manutenção de outras obras como. Aurora. Com muito trabalho e a colaboração dos seus filhos. Mas a sua maior conquista viria a surgir em 1941. A sua natureza esforçada e trabalhadora levou-o a tornarse um empresário bem sucedido. amanhando as terras férteis de Guararapes. Dolores.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Não teve a oportunidade de frequentar a escola. tendo recebido as primeiras letras em casa por ação do seu pai. Sebastião. na sua maioria órfãs. em 1948. A angariação de alimentos era feita com dificuldade em fazendas vizinhas. feiras e mesmo em espaços comerciais que ficavam sensibilizados pela obra profundamente assistencial a que o Grupo se entregava. Adolfo Bezerra de Menezes" em Guararapes. Foi em grande parte através do seu esforço e diligência que. estava por essa altura em Tanabi (SP). Alguns anos depois. Quando um dos seus genros desencarnou. na medida em que Manoel começou a gerir uma empresa de transportes coletivos que servia a população local. Essa união viria dar origem a 9 filhos: Emília. para trabalhar numa fazenda rural. Em 1921. Gilberto. Tendo estado presente na reunião inaugural que levaria à fundação do Grupo Espírita "Dr. onde em conjunto com a sua mulher. dando mostra do seu enorme espírito humanitário. Contudo. ano em que começou a estudar a Doutrina Espírita. 167 . deu-se uma alteração bastante grande no "modus vivendis" do casal. Manoel mais uma vez demonstrou a grandeza da sua alma criando os seus seis netos como se de filhos se tratassem. graças à sua inteligência e força de vontade. o Grupo conseguiu adquirir o prédio que doravante viria a ser a sua sede. Manoel Guerra terá chegado a Guararapes em 1928. Encarnação. que hoje em dia é conhecido como Casa Assistencial "Francisco Cândido Xavier". Adolfo Bezerra de Menezes" ajudou de forma indelével um número incontável de meninas carentes. natural de Mococa (SP). Tudo isto no final de um árduo dia de trabalho passado na lavoura sob o sol forte. 166 É aqui importante referir que o trabalho desenvolvido por Manoel Guerra e restantes companheiros do Grupo Espírita "Dr. cuidava da lavoura e da criação de alguns animais. a empresa começou a crescer e a comprar mais ônibus (autocarros) e estabelecer carreiras para cada vez mais cidades vizinhas. o Albergue Noturno. Augusto. casou-se Manoel com Amália Lopes Rodrigues. João. 168 169 . Manoel estava sempre preparado para alargar a ajuda. A atividade de Manoel na casa espírita foi sempre constante e ativa. no dia 14 de Agosto de 1969. como a evangelização e as reuniões de estudo. Contava ela a idade de 68 anos. Sendo por isso sempre igual e um exemplo a reter na arte de viver de acordo com as suas convicções.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Possuindo um caráter verdadeiramente solidário. aplicando a filosofia espírita em todos os momentos da sua vida. deixando atrás de si um rasto de trabalho ao serviço do seu semelhante e um largo número de corações gratos pelo seu amor. sempre presente nas reuniões de estudo doutrinário e todos os que o conheciam atestam da sua sede de conhecimento bem expresso através da leitura constante das obras da Codificação e as complementares. e também ela grande trabalhadora do bem. que desde cedo foram incentivados à participação nas atividades do centro adequadas à sua idade. Paralelamente foi sempre ele entusiasta e diligente estudioso da Doutrina. Este paladino da causa espírita veio a desencarnar na sua terra de acolhimento (Guararapes) no dia 6 de Outubro de 1989. De tal forma foi efetiva essa educação espírita nos seus filhos. Manoel Martins Guerra era um homem coerente. que não só eles mas os netos e bisnetos se tornaram também eles trabalhadores da seara espírita. algo no geral tão difícil de conseguir. chegando mesmo a albergar na sua casa pessoas necessitadas que o procuravam em busca de auxílio espiritual. partiu mais cedo para casa. Amália a sua devotada companheira de jornada. Esse cuidado estendia-se também aos seus filhos. tendo feito sempre parte da diretoria do Grupo "Bezerra de Menezes". deixando larga obra que permanece ainda entre nós. Isso não quer dizer que Henrique Alves da Cunha Magalhães tenha desencarnado com 300 anos… mas apenas que o seu nascimento a 4 de Dezembro de 1900 (último ano do séc. 170 171 . XIX e o XXI. porém. mas sim a sua jornada de crescimento espiritual e o seu trabalho nas plagas brasileiras. Não foram.2004 São poucas as pessoas que tiveram o privilégio de atravessar 3 séculos diferentes. permitiu-lhe fazer a ligação entre o séc. XIX) e o facto de a sua longevidade o ter mantido no corpo até ao dia 2 de Julho de 2004.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira HENRIQUE ALVES DA CUNHA MAGALHÃES 1900 . os 104 anos passados na orbe terrestre que o distinguiram. para uma pequenina e pobre cidade. a 4 de Setembro de 2000: “Compreendi o quanto estava distanciado de Jesus e de Deus. Até 1920. Chega ao Rio de Janeiro a 11 de Novembro de 1912. como comerciante. de Allan Kardec. onde se estabeleceu definitivamente. sofria com uma contundente epidemia de meningite que não escolhia as suas vítimas somente entre a população pobre da cidade. então ainda a mais nova. em definitivo. aceitou a sugestão de obter uma receita homeopática e de receber um tratamento prolongado de fluidoterapia aconselhado pelos Espíritos. obrigaram-no a retornar à casa paterna. contraída em 1919. à época. portuguesa de nascimento e. apesar da dedicação e empenho em tentar curála. formada por um pequeno 172 Operou-se a “milagrosa” cura e Henrique começou a estudar o livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Bem cedo (quase 12 anos). mas as sequelas da “gripe espanhola”. para tal. distrito do Porto. uma das quais. regressou ao Brasil. parte na companhia de uns primos de sua mãe para o Brasil. um excelente padrão de vida. não obstante sua aversão ao Espiritismo. atividade que lhe proporcionaria. e Henrique após visitar os pais. Foi incontinentemente repelida por ele. todos os métodos e remédios conhecidos na época. contraiu a terrível doença que se agravou a ponto de seu próprio médico de confiança manifestar a sua descrença em mantê-la viva por muito tempo. pode estabelecer-se. grupo de espíritas que buscavam recursos para amenizar os sofrimentos de crianças carentes e idosos abandonados. Cinco anos antes tinha casado com Dona Zulmira. revela ele o momento de inspiração do Alto que o levou a empreender uma obra de grande relevo no panorama espírita e assistencial: 173 . mais precisamente na freguesia de Telões. a conselho de seu médico particular. com o passar do tempo e com a sua extrema dedicação. na Serra Imperial. a sua segunda filha. no bonito concelho de Amarante. aprisionado no egoísmo…”. Em 1931. Henrique. Foi filho de Manoel Alves da Cunha Magalhães e de Ana Augusta da Cunha Coutinho. companheira de uma longa jornada de 73 anos. Como ele próprio o diz em entrevista concedida ao periódico da Federação Espírita Brasileira "O Reformador”. Durante a viagem a enfermidade cedeu por completo. situada a quase mil metros de altitude. Abastado comerciante. trabalhou arduamente no comércio para ganhar o pão de cada dia. Ainda na mesma entrevista. razão pela qual. era sempre procurado por instituições de caridade para prover doações. Teresópolis. dado que repudiava energicamente este tipo de crença. De volta ao Rio de Janeiro. como o seu apelido denuncia. dando espaço a uma nova visão sobre a vida e à necessidade de uma espiritualidade mais natural e destituída de dogmas. nasceu no Norte de Portugal. as sequelas da doença que o acometeu anos atrás agravaram-se. usando. com as economias que fez enquanto empregado de comércio. embora nunca se tivesse detido a estudar e entender suas origens e seus propósitos. vendo-a piorar apesar dos cuidados médicos. fixou residência na pequena e tranquila cidade de Teresópolis. desta harmoniosa união nasceram as suas três filhas.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Henrique Magalhães. tive a alegria e felicidade de fundar. pelo Espírito do Doutor João de Freitas. prestados em Teresópolis – Creche e Lar Isabel a Redentora. e no Rio de Janeiro – Hospital Maternidade e Ambulatório Dr. aos órfãos e crianças pobres que ajudou a educar. ao amor pelos velhinhos e velhinhas abandonados. Importante é referir. Grupo Escolar Isabel a Redentora –. A partir daí a instituição passa a ser presidida por Henrique Magalhães.Em Prol da Mediunidade – Pequena História do Espiritismo (1998). a missão de criar uma Instituição de assistência material e espiritual da infância desvalida. com uma enorme gratidão. em 1940. sob a orientação e proteção do Plano Superior e junto com um grupo de idealistas e abnegados. que Henrique Magalhães desde cedo se dedicou. . já tendo abraçado a Doutrina Espírita com convicção e denodo e.Casa da Mãe Pobre.A Casa da Mãe Pobre – 50 anos de Amor (1991). deixa um testemunho de inegável valor acerca da sua saga de mais de seis décadas de dedicação exclusiva à caridade. às quais sempre deu um tratamento digno das melhores instituições de Saúde. Sob a sua condução. . que foi presidida pelo Dr. 175 . um dia antes de completar 28 anos de permanência em minha nova Pátria. inspiradas no amor da Mãe Santíssima. as seguintes obras: . Assim surge em 1941 a muito honrada Instituição Maria de Nazareth . o Brasil. Creche Marieta Navarro Gaio. recebi do Plano Superior. além de ter destinado a totalidade do lucro dos seus livros às obras assistenciais. 174 Como o nosso biografado conseguiu. João de Freitas. expandem-se sob a forma de serviços assistenciais de diversa natureza. vestir e alimentar e às grávidas e mães pobres. ano da sua morte. as atividades da Instituição. Coriolano de Góis. de gestantes sem recursos e de velhinhos e velhinhas que não mais podiam prover os seus próprios sustentos. O autor. Abrigo Sylvia Penteado Antunes e Lar Lucílio Ribeiro Torres.Como Fundar e Manter Obras Assistenciais (1995). sobretudo. é algo que só se explica pela grande capacidade de gestão de tempo e enorme energia conferida pela Providência Divina àqueles que carregam nas costas a responsabilidade de um trabalho da magnitude daquele que Henrique Magalhães realizou. deixar também para a posteridade obra literária. além de todas as atividades que empreendia.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira “Por volta de 1937. a “Casa da Mãe Pobre”. que todas estas obras teriam sido impossíveis sem o trabalho de angariação de fundos e recrutamento de boas almas para a Doutrina. Foram pois da sua autoria. até 1946. dos quais cuidou com imenso carinho. na qual fui sempre um modesto trabalhador. Mansão dos Velhinhos. à semelhança de outras sentidas palavras que foram ditas ao longo da cerimónia. Destaque-se a presença de Lauro de O. 176 177 . entre outros textos. no bairro de São Cristóvão. além de um complexo formado por ambulatórios. Ao contrário do que infelizmente acontece com muitas boas almas. Juvanir Borges de Souza. na revista "Reformador" de novembro daquele ano. Por ocasião do seu centenário de nascimento.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Ainda hoje. dentro e fora do Espiritismo. O seu velório e funeral ocorreram respetivamente na sede da Instituição Maria de Nazareth . por iniciativa de Francisco Bispo dos Anjos. creches. A relação entre o português e a FEB foi sempre bastante estreita. São Thiago (Diretor da FEB) e pelo ex-Presidente da FEB. em Brasília. O trabalho e o bom ânimo foram a marca desta nobre alma até que lhe foi permitido o regresso à pátria espiritual. no Rio de Janeiro. figuram dados biográficos de Henrique Magalhães. e do Departamento Gráfico. todos tratados de forma gratuita. Henrique Magalhães recebeu homenagens várias. por tempo indeterminado. tendo ele colaborado para a construção da Sede Central. como é o caso da homenagem que lhe foi feita pela Conferência Espírita Brasil-Portugal (16 a 19/3/2000). em Niterói. Também a Federação Espírita Brasileira. dedicou-lhe. responsáveis pelo acompanhamento de grávidas (pré-natal). a Federação Espírita do Estado da Bahía publicou um folheto em que. e pelo tratamento pós-parto. Seguramente a Instituição protegeu e cuidou de centenas de milhares de nascimentos. a Instituição Maria de Nazareth – Casa da Mãe Pobre administra diversos abrigos de idosos no Rio de Janeiro e em Teresópolis. tendo o Diretor da Federação Affonso Soares feito uma breve homenagem em forma de discurso ao grande homem de Telões. por parte de federações e entidades espíritas.Casa da Mãe Pobre e no Cemitério do Parque da Colina. grupos espíritas e uma escola de ensino fundamental. A Terra despedia-se assim. aproveitando a feliz ocorrência. companheiros de trabalho e criaturas que por ele foram tocadas ou beneficiadas foram imensas. de um homem que deixou o seu planeta melhor do que antes da sua chegada… e isso é algo que todos deveríamos ambicionar. o que veio a acontecer como referido anteriormente no dia 2 de Julho de 2004. membro de seu Conselho Superior desde 1975 e representante do Ceará no Conselho Federativo Nacional de 1951 a 1985. Foi membro de seu Conselho Fiscal durante 20 anos. tanto da mãe como do recém-nascido. A afluência de amigos. o artigo “Henrique Magalhães no seu Centenário”. ela trouxe para junto de si os seus quatro sobrinhos. Apenas em 1918 veio ele buscar o resto da família. Ana da Silva Pereira. após o desencarne do seu irmão em Portugal.26 de Fevereiro de 1966 Maria Cardoso nasceu no Porto no dia 8 de Dezembro de 1904. Curiosamente foi precisamente nesse ano que casou Maria com José Cardoso (tinha ela apenas 14 anos). que criou como filhos. Era Maria uma criança ainda quando o seu pai viajou para o Brasil. Alma de uma bondade extrema. deixando em Portugal a mulher e quatro filhos. Desse casamento nasceram duas filhas. 179 .Uma História Luso-brasileira MARIA CARDOSO 8 de Dezembro de 1904 . Clara e Glória. Seus pais foram Francisco António Pereira e D. n. Leopoldo Machado. Fez muitas angariações de roupas e alimentos para os necessitados e não se inibia de visitar até mesmo as colónias de hansenianos (leprosos) de Curupaiti e Venda das Pedras. o então Presidente da FEB.ª 20 e dali para a Rua Pedro Américo. n.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Maria Cardoso aderiu à Doutrina Espírita em 1936.º 22 . segundo esclarecimentos deste. n.sobrado. por término de contrato da casa.º 214. na qual organizou-se um programa destinado ao estudo e à divulgação da Doutrina. Em 1948. excecional.ªs feiras. As reuniões eram realizadas às 4. na antiga sede da Confederação Espírita Brasileira. a sede do Centro instalou-se à Rua do Consultório. sob a direção de Ângelo Torteroli. uma médium de trabalho. residência do irmão Jarbas Ramos.º Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil e foi Maria Cardoso a principal animadora do movimento 181 . para a Rua Bento Lisboa n. nos asilos. que ocupava o cargo de Presidente. Neste ano. Mas onde Maria se viria a distinguir a grande altura seria no campo da assistência social e da evangelização. 180 Porfírio Duarte era um médium curador de grandes capacidades e logo percebeu em Maria Cardoso.º 214. Por essa altura foi encaminhada para o Centro Espírita Cristófilos. e que o exerceu até o ano de 1918.º 41. o Centro passaria a designar-se Centro Espírita Cristófilos que. significa: "Amigos do Cristo". à Rua do Catete. às oito horas da noite. era ela sempre mais facilmente vista. em São Cristóvão. naquela pacata e acolhedora cidade mineira. quando a sua mediunidade se manifestou de forma ostensiva. o CEC transferiu-se para um local maior. o Centro foi instalado na Rua General Pedra. promoveu o 1. ela lá estava. Em maio de 1918 e ainda por sugestão do mentor Antônio de Oliveira. aquela que na Cruz assumiu o trabalho deixado pelo seu filho muito amado. depois para a Rua Buarque de Macedo.mais conhecido pelo ceguinho do Catete . A história deste centro é muito interessante e por essa razão vale a pena recuperar a informação disponível na webpage do centro: "No dia 1 de maio de 1904. Daí em diante. Onde quer que existisse sofrimento. Com o aumento cada vez mais da frequência. relembrando uma outra Maria. n. na Rua do Catete. devido ao aumento de frequência. a seguir. já então no Rio de Janeiro. Em 1912.na sede do Centro de então. fundaram o "Centro Espírita Beneficente de Leopoldina". com regular e dedicada assistência. asilos e prisões. orfanatos." Maria Cardoso foi portanto recebida por Porfírio Duarte Bezerra . acaba por desencarnar.. que era bem conhecido por todos.. fazendo ela também parte da Casa do Porto. bem como a prática das artes e o espírito associativo e solidário entre todas as mocidades. a sua alegria contagiante e dando sempre prova da sua fé e do seu ânimo. que rompendo o véu que separa os planos da existência. fazendo peditórios para as crianças necessitadas. não só pelo interior do Rio de Janeiro.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira juvenil. expondo a sua personalidade magnética. lhe transmite encorajadora mensagem. Após a pequena reunião e já regressados os participantes a sua casa. da qual foi dinamizadora por muitos anos. Fazia parte do Grupo Cáritas. marcaria o desencarne do seu companheiro de sempre. levou à criação da Evangelização da infância na Associação e à divulgação de uma campanha muito meritória designada de Semana da Criança. José Cardoso. dentro e fora do universo espiritista. 182 183 . Maria convida alguns amigos mais próximos para em conjunto fazerem uma prece em favor do querido companheiro partido. que mesmo certo da vida para além da vida não deixa de sofrer a dor da saudade. Através desse Rancho foram feitas diversas apresentações que serviram para angariar fundos para obras sociais. no ano de 1964. mas por todo o País. Mesmo fora do Espiritismo. Naturalmente este foi um choque capaz de abalar até o mais convicto espírita. Dois anos depois. Era altura de Maria Cardoso regressar a casa e abraçar todos aqueles que o amor uniu para sempre. Para a sua grande alegria. O seu amor pelas crianças. Foi sempre sua preocupação o estudo doutrinário. responsável por excursões de natureza educativa e de lazer. onde ela tinha um papel preponderante na direção do Rancho Folclórico. Primeiro. departamento feminino do Centro Espírita Cristófilos. Maria Cardoso continuava a espalhar a alegria e a boa disposição. sendo a sua criação a Mocidade Espírita Cristófilos. onde fez muito trabalho social e prestou muito amparo espiritual. onde se deslocava a locais muito frequentados. que lhe alimenta a alma e serena o coração. a gentil Maria sente-se mal e apesar de socorrida e encaminhada para o hospital. Maria Cardoso foi ainda Diretora da Caixa de Excursões Espíritas. O dia 26 de Fevereiro viria a ser uma data muito importante na vida de Maria Cardoso. breve foi a comunicação do seu amado. uma associação de natureza cultural e recreativa. tais como Tânia de Sousa Lopes (Diretora do Departamento de Assistência Social) e os confrades Lúcio Dordon. em sua casa . vários membros da Federação Espírita Brasileira em sua representação. Marlene Teixeira de Oliveira e Marley Souza Lopes. contava na altura 90 anos. Ricardo Lopes Gouveia. no dia seguinte à sua morte.vítima de insuficiência cardiorrespiratória. José Francisco dos Santos. 185 . todos colaboradores do mesmo Departamento. Rio de Janeiro .Uma História Luso-brasileira RICARDO LOPES GOUVEIA 16 de Março de 1906 .14 de Novembro de 1996 No dia 14 de Novembro de 1996 entregava a sua alma a Deus. estiveram presentes na cerimónia no cemitério do Irajá. No seu sepultamento. Ana Maria Rodrigues dos Santos.No bairro de Colégio. Mas. muita vez incompreendido em razão de possuir forte caráter. em virtude de um dente! "Vez por outra. manifestada sem convencionalismos nem rapapés. não deixava de tirar do 186 Mais precisamente de um abcesso dentário. na alma ou no corpo. junto com os seus pais e irmãos. advertências. Ilha da Madeira (possibilidade ainda não totalmente verificada até à data de saída deste livro). nunca o havia conseguido atrair às reuniões da Federação. e tão-somente para instruir-nos sobre a maneira de trabalhar dos antigos obreiros da Federação. Cedo terá partido para o Brasil. sobretudo. que colhemos algo em torno da personalidade desse velho lidador da Federação. todo tecido de nobreza.mas nunca desrespeitosa . conservado em nossa memória. mas que logo entendíamos ser extremamente úteis ao nosso desempenho de espíritas a serviço da Casa de Ismael. pequena biografia na qual me baseio para algumas partes deste texto. de longe. provavelmente no início da Grande Guerra. na Camacha. crendo que o fazia às ocultas. e em nome dela não nos regateava conselhos. compaixão pelos que sofriam. que o biografou para a Revista "O Consolador" da Federação Espírita Brasileira. Passos em busca de um alívio. a sua humildade e vontade de anonimato foram sempre tão grandes que muito pouco ainda hoje se sabe acerca desse trabalhador da Casa de Ismael. Estávamos então nos anos 30 e apesar da sua mãe já frequentar a FEB. em desespero foi visitar o dentista que dava plantão no gabinete instalado no n. que havia conhecido até a fome.º 30 187 . senão apenas à própria consciência. Federação Espírita Brasileira (antigas instalações)." A esse respeito. Av. o movimento discreto de sua mão a oferecer uns trocados que certamente lhe fariam falta. algumas bem calorosas. lealdade e. o velho Ricardo. Passos n. de urna migalha. usar de linguagem franca . principalmente os que visitavam o venerando casarão da Av. bolso os poucos recursos de que dispunha para ofertá-los a um ou outro necessitado ali em trânsito. Contudo. o estimado amigo era obrigado a mencionar algo de suas próprias atividades. sincera. Sempre pobre. quem convivia mais de perto com o querido companheiro logo notava que o exterior incompreendido não correspondia absolutamente ao interior. sem perceber que já acompanhávamos. vivendo de minguada aposentadoria. Contudo.e não se preocupar em agradar a quem quer que fosse. A sua ligação à Doutrina Espírita aconteceu da forma mais inusitada. vale a pena retomar as palavras de Affonso Soares. com os quais conviveu.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Ricardo terá nascido a 16 de Março de 1906. de um socorro. Sua amizade era pura.º 28 da Avenida Passos (antiga Rua do Sacramento) sede da Federação Espírita Brasileira. E é desse material... se perdemos o convívio material de um excelente companheiro. Demos de novo a palavra a Affonso Soares para mais extensa e perfeita descrição. bem como ao desporto. mas plenamente coerente com os objetivos de vida de uma alma apostolar. procurando viver a pura essência do Evangelho. confiadas somente à responsabilidade de pessoas capazes para tanto. tendo sido remador no Clube de Regatas Vasco da Gama. trabalho a que o ex-Presidente se dedicava com extremo carinho. Ricardo não somente executava a parte. que era nessa altura conhecido como Assistência aos Necessitados. desincumbiu-se provisoriamente do serviço de correspondência com as instituições adesas à Federação. que em boa hora soube juntar a beleza e retidão do seu caráter com a tarefa que apenas o aguardava para ser cumprida. Ricardo também era membro do Conselho Superior. a Casa ganha. integrando a Comissão de Assistência. épocas diferentes. visitando necessitados para as sindicâncias que os habilitariam ao socorro da Assistência. Em sua juventude. até ao dia em que adoeceu gravemente e ficou preso ao leito até à sua desencarnação. percorreu com zeloso desempenho quase todos. Contou-nos o velho Ricardo que. passou Ricardo a frequentar a Casa. mas acrescentava algo de Muito fica ainda por descobrir e principalmente preservar acerca deste verdadeiro Corifeu da Diáspora Lusitana. por intermédio da ação protetora daquela Caravana que jamais se desfaz . sua experiência e sentimento. Nos últimos anos. . juntando às respostas as mensagens espirituais cabíveis e. cuidava. em contrapartida. de um seguro orientador. com o qual sabe que contará incondicionalmente. prática vespertina. dedicara-se ao bel-canto. queremos dizer que. que trabalhou longos anos. possuía uma bagagem intelectual extraordinária. certamente adquirida em anteriores existências e aqui recordada graças ao cultivo da boa leitura. 188 189 Se Deus permitir. da Casa de Ismael. amante que era dos grandes clássicos e do gênero operístico. atuando como médium psicógrafo nas sessões públicas. Nomes diferentes." É de facto impressionante o testemunho aqui exarado. na gestão de António Wantuil de Freitas. de conferência. serviu modesta mas intensamente. diária. "Na Assistência.é o sincero desejo de todos os obreiros da Casa de Ismael. os setores de sua atividade. mais um devotado e vigilante servidor desencarnado. ininterruptamente. aditando algumas palavras ditadas por seu coração para alívio especial de certos casos ali expostos. as graves funções de Tesoureiro. incansavelmente. Deus ampare o querido companheiro. por ocasião da desencarnação do Presidente Guillon Ribeiro. senão todos. da volumosa correspondência dirigida por sofredores ao Departamento de Assistência Social. mas a mesma necessidade e a mesma vontade de ajudar por parte do denodado Ricardo Gouveia. realizando os estudos da chamada "Reunião da Prece". Como últimas palavras. ficando profundamente comprometido com o Departamento de Assistência Social. da boa música. Embora não houvesse tido a oportunidade de se ilustrar com cursos nas instituições terrenas. com inexcedível carinho. Também exerceu. técnica. Enfim. sem alardes.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira A partir daí. mesmo. a ele retornaremos em breve. participando das reuniões mediúnicas. por assim dizer. Muito estudiosa. Foi para o Brasil com 12 anos de idade.8 de Setembro de 2001 Nasceu em Portugal. hoje UFRJ.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira ARMANDA PEREIRA DA SILVA 14 de Novembro de 1908 . Cursou a antiga Escola Nacional de Música. como disciplinas obrigatórias para o bom desempenho de futura missão. formando-se em piano e canto orfeónico pelo Maestro Villa Lobos. 190 191 .. diplomou-se em letras. filha de Armando Pereira da Silva e Ana Correia da Silva. dominando bem o inglês e francês. O destino.. num internato de freiras. a forja do sacrifício pessoal e da resignação fariam parte também de sua educação. porém. reservava-lhe provas duras. a 24/11/1908. A sua educação iniciou-se em Portugal. A infância foi tranquila. de comprometer os destinos da Casa.. As que não o esperam.nos últimos anos de vida.e ainda faz! . autodisciplina e perseverança compensam. tarefa que desempenhou também com extrema dedicação.. qualquer limitação por inexperiência ou despreparo. nosso fundador e orientador geral. A jovem e promissora Armanda abandona. Aquela senhora tímida. As muitas horas à cabeceira do leito da sua mãe eram agora preenchidas com o formidável manancial da literatura espírita.. inclusive o noivado. do segundo grupo. esvaziava-se a cada dia a cooperação humana. que tinha consumido anos e anos de sua vida cuidando da mãe doente. então. não confundia descanso com ócio. porém. a sua progenitora só movimentava os olhos. exatamente. A esta altura. viu-se guindada à condição de orientadora da CRBBM para sua surpresa e .. todos os projetos pessoais. assim. no entanto.verdadeiro desespero! Tinha então 62 anos! Foram dias e dias de aflição. Justo seria que a filha prestimosa. o seu padrasto adoece. sobejamente. agora.. Em pouco tempo tínhamos uma nova mestra no ensino da matéria. Alexandre e António) e outros colaboradores. por isso. já estava quase cego e... via-se agora à frente de um 193 . e mais tarde seu pai também se foi.parte. As horas de consolo e refrigério reduziamse na proporção em que o acúmulo de tarefas impediam-na de frequentar as reuniões espíritas.. depois. iluminando-as. em 1969. o casamento dos irmãos (tinha dois. Armanda já de há muito procurara ajuda e retempero de forças na doutrina espírita. desta maneira. do merecido descanso. Corria o ano de 1963 e. tão importante quanto a prova em família. a ideia da Casa formar um grupo de tradutores de livros em braille. solteira.por que não dizer? . que tinha vivido sempre em prol do lar.. Mal sabia. a aguardava logo de seguida. Nossa irmã Armanda fazia . como a missão lhe havia sido conferida por Bezerra de Menezes (Espírito) e pelo próprio Azamor. depois de quase 30 anos (!) de sacrifícios e vigílias noturnas. dispondo-se então a acompanhá-lo no estudo da escrita de cegos. agora livres. surgindo.. Armanda. e decidiu aproveitar as horas. logo se viu 192 É sempre a mesma história: as pessoas que mais anseiam o poder e o comando são. Primeiro. que outra missão. estudava braille no Instituto Benjamim Constant. Logo em seguida à desencarnação do fundador e orientador geral. dedicando-se à causa espírita. Armanda chegou à CRBBM. no bairro de Botafogo. A solução foi procurar um centro mais próximo da sua residência. Azamor Serrão. a sua mãe contrai uma doença cruel. para dedicar-se integralmente à mãe. melhor ainda.. Nessa época. embora não lhes faltassem recursos financeiros. juntos. ou que não se julgam preparadas. decidiu afinal aceitar o pesado fardo. que enfrentara com tanto mérito e dignidade. Os anos seguintes foram testemunhas de uma verdadeira revolução pessoal. quase sempre surpreendem com exemplos de vida.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira Logo que chega à idade adulta. extremamente sensibilizada com as dificuldades dos deficientes visuais. porém.. certamente. só aumentavam. frequentando sessões num centro no Estácio. reconfortando-as e. Tendo-o acompanhado por algumas vezes. as que se mostram mais despreparadas para o seu exercício. A sua mãe desencarnou pouco depois. de receio de não corresponder às expectativas de todos. As dificuldades. que não teve tempo de ver o tempo passar gozasse. que produz paralisia progressiva. onde humildade. Assim o fez por várias décadas. Azamor Serrão. . nos seus braços generosos. No último dia 08 de setembro. também.o Esperanto . avançava sempre nas horas. tão digno. de acertar sempre. Desencarnou no Rio de Janeiro em 1.Paulo Alexandre Baía Mourinha centro espírita com quase 50 médiuns . Em tenra idade revelava acentuadas tendências artísticas: canto. Que o nosso querido Bezerra de Menezes possa tê-la recebido. surgindo em plena infância. gerenciando algumas das lojas de maior evidência na época. preservando assim como zelo férreo as atividades. Profissionalmente firmou-se no comércio de roupas masculinas. atuando também com bastante sucesso e fama como vitrinista. pertencente ao concelho de Murça. "dura". pintura. Armanda Pereira da Silva foi. em torno das 5 horas da manhã. participando com sucesso em grupos de teatro amador.. A sua mediunidade também foi precoce. pagamentos e toda a sorte de providências que a gestão de uma casa como essa costuma solicitar. mesmo que a preço da incompreensão e da crítica dos arautos dos "novos tempos". desenho.com mais de 80 anos de idade. é e será sempre entre nós. Acordava sempre cedo. "para botar o trabalho em dia"! Adotou a disciplina como bandeira. Emigrou para o Brasil com 6 anos incompletos. jamais poderia adivinhar o coração puro e a alma grandiosa que habitavam aquele corpo tão pequeno e delicado.1 de Agosto de 1969 Nasceu em Portugal. artes dramáticas. Uma História Luso-brasileira AZAMOR SERRÃO 23 de Janeiro de 1915 . no plano espiritual. verdadeiro SAL DA TERRA. nossa irmã se foi. firme e alegre. na dúvida. teve que desenvolvê- 194 195 . contas. quando julgava necessário. A insegurança e o medo de errar pareciam-lhe espinhos permanentemente incrustados na pele. em 23 de Janeiro de 1915. estendendo o dia ao limite das forças físicas. trabalhando afanosamente até às 23 horas ou mesmo virando noites. os horários e a cultura interna da Casa. Quem a via sempre ali. não suportou mais a energia intensa desse espírito tão corajoso. que ela prossiga. fazendo votos... Mais recentemente. procurava manter sempre tudo exatamente como havia recebido. aprendeu a língua internacional . Na tentativa de fazer bem. tão operoso. forte.hoje. rígida. no posto.º de agosto de 1969. são 150 -. passando então a lecioná-lo semanalmente para um grupo de alunos. em sua nova etapa. cansado. na freguesia de Jou. Por ser de família católica. O corpo. na província de Trás-os-Montes. aproveitando o gozo de uma consciência tranquila e de uma vida bem vivida. é o nosso desejo. alimentados por pensamentos puros de mentes já iluminadas para orientar as atitudes fraternas de paz e amor a serviço do Cristo de Deus. a revelar-se para que as forças do mal não conduzam para as trevas os que buscam a luz. cessaram as reações anómalas que tanto intrigavam os médicos que tratavam de sua diabete. A Casa De Deus Fundou a Casa de Recuperação em 1961 sob inspiração e orientação de Bezerra de Menezes. logo outros expoentes do meio espírita vieram trazer o seu apoio à firmeza e dedicação de Azamor Serrão.se tal fosse necessário que ele era à semelhança da exortação do Mestre Nazareno em Mateus V 13-16: A Luz do Mundo e o Sal da Terra. tão bem representado pelo espelho sublime que sua imagem reflete: JESUS. então. a suprema alegria. destacando-se entre eles Indalício Mendes. Azamor viu confirmar-se. Para terminar. para orientar-lhes a caminhada pela estrada da vida. interrompeu a atividade mediúnica e só voltou a um centro espírita aos 35 anos de idade. Fernando Flores e Ivo de Magalhães. o atendimento semanal já beneficiava centenas de aflitos. 196 197 O nosso Mestre amado ensina-nos em seu Evangelho de amor o caminho da Verdade. esclarecem as ovelhas a fim de que não se desviem do caminho verdadeiro. é o universo inteiro. passando a transmitir com regularidade receituário de Bezerra de Menezes e orientações filosóficas de Ali-Omar. Casou-se com jovem católica e conservadora mas. fica um texto recebido por Azamor Serrão que incentiva à universalidade do amor e da fé e constata a presença de Deus em todas as coisas. Com o reinício das atividades mediúnicas. filhos. responsabilizando os choques de insulina como causadores das repentinas perturbações. no Grupo António de Pádua. em roteiro seguro para a perfeita união com o Pai. próximo da loja em que trabalhava. Em pouco tempo. o que já sabia desde a infância: os incómodos provinham da mediunidade abandonada. Chamando a atenção pela condução fraterna e pelos seguros princípios cristãos-espíritas de seu fundador. que ficava no centro da cidade. Não foram necessários mais que quatro anos para que atingisse a plenitude mediúnica. todos então renomados colaboradores da FEB. tendo a sua atuação tanto na vida pública quanto privada demonstrado . A CASA DE DEUS. fazendo de nossos corações. para não desagradá-la. . Azamor Serrão sempre foi um baluarte dos valores defendidos pelo Espiritismo. que é o supremo amor. sofrendo de intenso assédio de espíritos sofredores. porque Deus está em toda parte.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira la sem o consentimento de seus pais e por iniciativa própria. as bênçãos e as respostas que os céus enviam às almas da Terra. onde as almas se reúnem para o maravilhoso encontro com Deus. Sim ali. onde pudessem falar com Deus e seus anjos(ou Espíritos). 198 199 . que os homens construíram seus templos. o povo veio alegremente para as ruas para recebê-lo. Mas certos orientadores religiosos é que não querem entender a Divina Mensagem do Mestre. Assim. de prece. bem claro ficou seu pensamento. quando disse a João: “Não proibais que curem em meu nome.Paulo Alexandre Baía Mourinha Uma História Luso-brasileira fazendo das casas de oração casas de comércio. por onde sobem as preces. pelos arredores e dentro do Templo. Naquele acumulado de vibrações de amor. está unido com o Cristo. as súplicas. É ali que as almas se abrem. com o consentimento dos sacerdotes.Azamor Serrão in " O Cristão Espírita – Abril/Maio/Junho de 2000" Jesus foi ao Templo. as manifestações de amor e gratidão. Ali é a famosa escada de Jacó. de perdão. porque Ele disse: “Eu e meu Pai somos um”. se fazia mercado de animais. não desobedecendo as suas determinações e procurando estar com Ele tanto quanto Ele está connosco. Foi para terem aquele recanto reservado. Então. em catadupas de amor. Jesus mandou que se retirassem dali com suas súplicas das criaturas a seu Criador. Pelos pátios. Pois. Quando Jesus fez sua entrada triunfal em Jerusalém. esses não são contra mim”. na explosão da sua fé e confiança em Deus. interrompendo a caminhada para Deus. Por isso o Divino Senhor espantou daquele lugar sagrado os que o maculavam com sua cobiça e egoísmo. necessário se faz cumpramos seus ensinamentos evangélicos. sereias e tudo quanto aquela gente possuía para vender. O Mestre Jesus nos adverte quanto a isso de forma bem concisa. não se permite nem um só gesto que identifique qualquer transação comercial. Profanar um templo é grande crime. porque lá estão as vibrações puríssimas do Amor do Pai para suas criaturas. por isso Ele disse: “A minha casa é casa de oração”. Ele estava ali na manifestação da mais alcandorada efusão de amor para com Deus. porque o ouro traz a ambição e a ambição pelo ouro é que perde as almas. e. bradando em vozes fortes e cheias de entusiasmo: Viva Deus nas alturas e Jesus entre os homens! E para que estejamos com Cristo. cheias de fé. e onde quer se faça oração. as criaturas achavam-se em Jesus. Médium . que não deixa nem uma dúvida. e por onde descem. http://www. Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes. O Apóstolo da Caridade.inf.br/ . Manuela Vasconcelos. 1993. 1ª Edição.universoespirita.Batuíra Verdade e Luz. 1ª Edição. 200 201 .html .Paulo Alexandre Baía Mourinha Referências bibliográficas Uma História Luso-brasileira Internet: . Lúmen Editorial Lda.org. Federação Espírita do Estado de São Paulo. 1999.http://www.Fernando de Lacerda.espirito. Centro Espírita Léon Denis.Personagens do Espiritismo. António de Souza Lucena.http://www.casarecupbenbm.feparana. Paulo Alves Godoy.geae. Zeus Wantuil. 1990. 1ª Edição. Lamartine Palhano Júnior.Grandes Espíritas do Brasil.Pioneiros de Uma Nova Era. 1ª Edição. . .br/ .Inácio Bittencourt. . Comunhão Espírita Cristã.http://bvespirita.org. . Federação Espírita do Estado de São Paulo. 1ª Edição. Elza Valadão Leite Archanjo´. O Médium Português. 1982. Eduardo Carvalho Monteiro.http://www. António de Souza Lucena. 1997.com/ . .br . 1992. .Os Grandes Vultos do Espiritismo.Dossiê Jeronymo Ribeiro. 3ª Edição. Federação Espírita Brasileira.org. . 2ª Edição. Walace Fernando Neves.br/ . Fundação Espírita Santense de Pesquisa Espírita.com. João Marcos Weguelin.br/index.http://www. Paulo Alves Godoy.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.