Ufpr 2008 2f Comentada Filosofia

March 27, 2018 | Author: Paulo Schneider | Category: Jean Paul Sartre, Socrates, Niccolò Machiavelli, Plato, René Descartes


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     FILOSOFIA — 2ª Fase ‐ UFPR/08      O texto a seguir é referência para as questões 01 e 02.    No  livro  VII  de  A  República,  Platão  apresenta  a  passagem  conhecida  por  “Alegoria  da  Caverna”.  Platão  usa  essa  alegoria  para  representar  o  processo  correto  de  educação  do  ser  humano.  Leia  o  seguinte  trecho  da  República  no  qual  o  personagem  Sócrates  fala  àqueles  que  foram  educados corretamente:     Mas a vós, nós formamos‐vos, para vosso bem e do resto da cidade, para serdes como os chefes e os reis nos enxames de abelhas, depois de  vos  termos  dado  uma  educação  melhor  e  mais  completa  do  que  a  deles,  e  de  vos  tornarmos  mais  capazes  de  tomar  parte  em  ambas  as  atividades.  Deve,  portanto,  cada  um  por  sua  vez  descer  à  habitação  comum  dos  outros  e  habituar‐se  a  observar  as  trevas.  Com  efeito,  uma  vez  habituados,  sereis  mil  vezes  melhores  do  que  os  que  lá  estão  e  reconhecereis  cada  imagem,  o  que  ela  é  e  o  que  representa,  devido  a  terdes  contemplado  a  verdade  relativa  ao  belo,  ao  justo  e  ao  bom.  E  assim  teremos  uma  cidade  para  nós  e  para  vós,  que  é  uma  realidade,  e  não  um  sonho,  como  atualmente  sucede  na  maioria  delas,  onde  combatem  por  sombras  uns  com  os  outros  e  disputam  o  poder,  como  se  ele  fosse  um  grande  bem.  Mas  a  verdade  é  esta:  na  cidade  em  que  os  que  têm  de  governar  são  os  menos  empenhados  em  ter  o  comando,  essa  mesma  é  forçoso que seja a melhor e mais pacificamente administrada, e naquela em que os que detêm o poder fazem o inverso, sucederá o contrário.  (PLATÃO, A República, Livro VII, 520 b – d)    01 ‐ Por que, de acordo com o personagem Sócrates, aqueles que receberam a educação proposta na República devem governar?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Para  Sócrates,  o  homem  filósofo  é  o  único  na  sociedade  (na  “polis”  grega,  no  caso)  a  desprezar  o  poder  e  honrarias  políticas,  estará  ele,  então,  no  comando  da  sociedade  e  sob  sua  tutela  estarão  todos  os  demais  cidadãos,  a  quem  ele  deverá  guardar  e  para  quem  deverá  buscar  o  bem  comum.  Sendo  ele  aquele  que  “saiu  da  caverna”,  tem  o  saber  verdadeiro  e  é  o  melhor  para  estar  na  condução  da  cidade  e  dos seus cidadãos, aquele que livrará a cidade de suas calamidades, sendo um governo consciente.    02 ‐ De acordo com o personagem Sócrates, como se davam efetivamente as disputas políticas nas cidades?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    Platão  expressa,  por  meio  do  personagem  Sócrates,  a  falsa  idéia  de  governo  numa  sociedade  (ou  cidade)  onde  os  governantes  “combatem  por  sombras  uns  com  os  outros  e  disputam  o  poder,  como  se  ele  fosse  um  grande  bem”.  Assim,  Sócrates  demonstra  como  é  ilusório esse tipo de governo porque ele não almeja “a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom”.    03  ‐  Segundo  Platão  no  Livro  VII  de  A  República,  quem  contempla  o  bem  prefere  não  retornar  aos  afazeres  humanos  quotidianos.  Mesmo  assim,  Platão  afirma  que  na  cidade  por  ele  concebida,  aqueles  que  realizaram  a  ascensão  para  fora  da  caverna  e  contemplaram  o  bem  devem  ser  obrigados  a  retornar  ao  convívio  daqueles  que  não  o  contemplaram  e  a  dedicar‐se  à  administração  da  cidade.  Após  o  personagem  Sócrates  apresentar  essa  tese,  o  personagem  Glaucon  adota  uma  posição  que  lhe  é  contrária.  Glaucon  afirma  que  a  obrigação  de  fazer  com  que  os  que  contemplaram o bem dediquem‐se ao governo da cidade é uma injustiça contra eles. Contra a opinião de Glaucon, Sócrates responde:  Esqueceste‐te, novamente, meu amigo, que à lei não importa que uma classe qualquer da cidade passe excepcionalmente bem, mas procura    que  isso  aconteça  à  totalidade  dos  cidadãos,  harmonizando‐os  pela  persuasão  ou  pela  coação,  e  fazendo  com  que  partilhem  uns  com  os  outros  do auxílio que cada um deles possa prestar à comunidade; ao criar homens destes na cidade, a lei não o faz para deixar que cada um se volte para  a atividade que lhe aprouver, mas para tirar partido dele para a união da cidade.  (PLATÃO, A República, Livro VII, 519 e 520 a).     Em outras palavras, qual foi a resposta de Sócrates?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:   Sócrates  demonstra  o  compromisso  daquele  que  “saiu  da  caverna”  (que  alcançou  o  mundo  inteligível,  para  o  além  do  sensível)  de  procurar que o bem aconteça à totalidade dos cidadãos, pelo convencimento ou pela coação, para que partilhem uns com os outros aquilo  que deve ser o bem para todos.    04 ‐ Leia o seguinte trecho:  Resta agora ver quais devem ser os modos e os atos de governo de um príncipe para com os súditos ou para com os amigos. E porque sei que  muitos escreveram sobre isso, temo, escrevendo eu também, ser considerado presunçoso, sobretudo porque, ao debater esta matéria, afasto‐me  do  modo  de  raciocinar  dos  outros.  Mas,  sendo  a  minha  intenção  escrever  coisa  útil  a  quem  escute,  pareceu‐me  mais  convincente  ir  direto  à  verdade  efetiva  da  coisa  do  que  à  imaginação  dessa.  E  muitos  imaginaram  repúblicas  e  principados  que  nunca  foram  vistos,  nem  conhecidos  de  verdade.  Porque  há  tanta  diferença  entre  como  se  vive  e  como  se  deveria  viver,  que  quem  deixa  aquele  e  segue  o  que  se  deveria  fazer  aprende  mais  rapidamente  a  sua  ruína  que  sua  preservação:  porque  um  homem  que  deseja  ser  bom  em  todas  as  situações,  é  inevitável  que  se  destrua    w w w . d o m b o s c o . c o m . b r / c u r s o        1 | P á g i n a      pág.  Considerando  Deus  a  fonte  de  toda  a  verdade  e  perfeição.  mas  a  sua  indolência:  porque.  é  necessário  a  um  príncipe  que  deseja  conservar‐se  no  poder  aprender  a  não  ser  bom. uma vez que seria destituído de sentido agir de forma diversa daquela preconizada racionalmente. 2007. b r / c u r s o            2 | P á g i n a     . 1973.  pensaram  em  fugir  e  não  em  se  defender.  ou  seja. E somente as defesas que dependem de ti e de tua própria virtú são boas. Sem uma possibilidade filosoficamente justificada  de crença em seus sentidos. com o imponderável. o  homem não disporia de meios para julgar o que percebesse. O príncipe sábio é aquele que. que são sua fonte de  observação da realidade sensível.)  08 ‐ Qual a relação.  a  tempestade  –. etapa necessária para a boa aplicação da dúvida metódica.  a  aplicação  da  razão  aos  fenômenos  que  se  queira  compreender.    O texto a seguir é referência para as questões 08 e 09. d o m b o s c o .  a  humanidade  inteira. o imprevisível.  não  é  seguro  para  ti.  e  esperam  que  o  povo. Quarta Parte.  mais  do  que  uma  confissão  de  fé  de  Descartes.  Este  argumento  é  importante  porque  dá  credibilidade  aos  sentidos do homem.  é  inevitável  que  se  destrua  entre  tantos  que  não  são  bons”  evidencia  esta  preocupação  do  autor. as tivesse posto em nós sem  isso.  pensado  que  poderiam  mudar  –  o  que  é  um  defeito  comum  dos  homens.  totalmente  compromissado  com  a  humanidade.  O  que  ou  não  acontece..  O  candidato  deve.  Sua  concepção  da  natureza  da  política  é  a  de  que  o  sucesso  não  pode  ser  obtido  pela  observância  dos  princípios  éticos  cristãos  habituais.  e  não  sobre  “como  deveriam  viver”. In: “Os Pensadores”. qual é.  se  acontece.  colocada  nas  “Reflexões”  da  obra  do  “Discurso  sobre  o  Método”.    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    O  exercício  do  julgamento  é. XV.  não  levar  em  conta.  que a evitam.  ao  mesmo  tempo  que  a  si  próprio.  o  “bem  proceder”  torna‐se  conseqüência  óbvia  de  uma  aplicação  correta  da razão.  ao  mesmo  tempo. Discurso do Método.  insatisfeito  com  a  insolência dos vencedores. cap.  A  partir  desta  constatação.)    Com base nesse trecho.  (MAQUIAVEL.  O  príncipe  virtuoso  não  conta  com  a  misericórdia  alheia  e  considera  durante  todo  o  tempo  a  “tempestade”.  mas  sim  pela  utilização  sistemática  de  condutas  convenientes à conquista. não devemos nunca nos deixar persuadir.    w w w .  mostrar  que  compreendeu  o  conteúdo  do  texto  e  da  obra  de  Maquiavel  como  um todo. a diferença entre sua obra e outros textos políticos?  b) Para Maquiavel. entre angústia e compromisso?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    A  angústia.  antes. São Paulo: Ed. responda: como fortuna e virtú se relacionam para a manutenção do poder do Estado?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    A fortuna é identificada. sua  competência em governar.  para  Sartre.  Sua  abordagem. segundo o texto. e não de nossa imaginação nem de nossos sentidos.  não  acusem  a  fortuna. quando  não há outras. Assim também. que quem  deixa aquele e segue o que se deveria fazer aprende mais rapidamente a sua ruína que sua preservação: porque um homem que deseja ser bom em todas  as  situações.  tem  sentido  filosófico  na  busca  da  verdade. os chamassem de volta..  não  tendo  nunca.  Caso  bem  aplicada  através  da  dúvida  metódica.  quando  depois  vieram  os  tempos  adversos. A afirmação “porque há tanta diferença entre como se vive e como se deveria viver.  ou.  (SARTRE. 15.)  a) De acordo com o trecho acima.  com sua virtù  (virtude em tradução literal). é boa.  Ter  que  decidir  pela  sua  própria  existência  é  a  única  solução  possível. inteiramente perfeito e inteiramente verdadeiro. Decerto há muita gente que não vive em ansiedade.  por  acreditar  que  encontrarás  quem  te  acolha. pois não seria possível que Deus. Hedra. J. P.  A  angústia  se  dá  pelo  fato  de  não  ser  o  homem  uma  essência  pronta  ou  não  ter  nada  no  qual  se  possa  apegar.  Descartes  afirma  a  existência  da  centelha  da  perfeição  no  homem.  criador  inclusive  do  homem. E convém frisar que digo de nossa  razão. Esta decisão. Hedra. senão pela evidência da nossa razão. ainda que “más”.  Significa  isso:  o  homem  ligado  por  um  compromisso  e  que  se  dá  conta  de  que  não  é  apenas  aquele  que  escolhe  ser.  faz  parte  do  próprio  ato  de  existir. ou  seja. não é por vermos o sol muito claramente que devemos julgar que ele seja do tamanho  que o vemos (.  que  estes  nossos  príncipes  que  estavam  há  muitos  anos  nos  seus  principados. São Paulo.  em  última  análise. cap.  não  poderia  escapar à sua total e profunda responsabilidade.  tornando  o  homem  totalmente  responsável  pela  sua  escolha  e.  (DESCARTES.  Observe  que  a  transcrição  do  fragmento  não  é  necessária  para  a  elaboração  da  resposta.  portanto.  mas  de  que  é  também  um  legislador  pronto  a  escolher.  entre  tantos  que  não  são  bons.    06 ‐ Quer estejamos despertos ou adormecidos. a máxima de que "todas as nossas idéias ou noções devem ter algum fundamento de verdade" aplica‐se também às idéias que nos surgem  através dos sentidos e da imaginação?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:     A  questão  da  existência  de  Deus.    05 ‐ Considere o trecho abaixo:  Portanto. certas e duráveis. XXIV. O Príncipe.    O  existencialista  não  tem  pejo  em  declarar  que  o  homem  é  angústia. aquilo que tanto pode auxiliar a consecução dos objetivos políticos  quanto prejudicá‐los.  sem  se  dedicar  a  divagações  de  natureza  teórica. Mas a razão nos dita que todas as nossas idéias ou  noções devem ter algum fundamento de verdade. segundo Maquiavel.  pois  cada  escolha  sua  é  também  uma escolha (possibilidade) para todos os homens. está prevenido em  relação  às  agruras  da  fortuna.  e  sê‐lo  e  não  sê‐lo  conforme  a  necessidade.  (MAQUIAVEL.      b)  A  vantagem  é  a  conservação  eficiente  do  poder. na obra de Maquiavel. e quando se lhes diz: e se toda gente fizesse assim?.  é  calcada  na  observação  da  realidade. ou sua ruína. O Príncipe.  nos  tempos  de  paz. c o m .  por  tê‐los  perdidos  depois. certamente muitas pessoas acreditam que ao agirem só se implicam nisso a si próprias.  a  razão  conduz  ao  conhecimento  verdadeiro.)    Por que.  mesmo  estando  ela  camuflada  pelos  indivíduos.  Maquiavel  dedica  especial  atenção  ao  tratamento  dos  súditos  e  amigos  porque  nasce  desta  relação a estabilidade do poder do soberano.  na  bonança.  definitivamente  existente.  Assim. O existencialismo é um humanismo. mas é muito ruim ter deixado os outros remédios  por este: porque  nunca  se  deve  desejar  cair. São Paulo: Ed. mas é nossa convicção que esses tais disfarçam sua angústia. 2007.  questão  central  da  Filosofia. para Descartes. A atitude previdente é a melhor garantia do sucesso da manutenção do poder.  a  possibilidade de enfrentar a adversidade política. qual é a vantagem de sua abordagem?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    a)  A  principal  diferença  consiste  no  fato  de  que  Maquiavel  afirma  escrever  sobre  como  “os  homens  vivem”.  por  ser  esta  defesa  vil  e  não depender de ti. manutenção e exercício do poder.    07 ‐ Explique a relação entre ação e razão na tese de Descartes de que “é suficiente julgar bem para proceder bem”. eles dão  de ombro e respondem: nem toda gente faz assim.): pois a razão não nos dita de modo algum que o que assim vemos ou imaginamos é verdadeiro.   o homem não se define previamente a si próprio mas em função de seu presente individual.  No  entanto  se  abre  ao  homem  todo  o  sentido  da  sua  existência  porque  nada  existe  anterior  a  ele  –  a  natureza  ou  determinações  divinas  –  que  lhe  dê  uma  essência  própria.  o  poder  que  o  homem  tem  de  decidir  sobre  seu  próprio  existir  e  abrir  caminho  para  que  todos  os  outros homens possam também ter a mesma possibilidade de escolha que aquele homem individual escolheu para si.  como  é  sua  única  opção  de  existência:  ter  que  escolher.  ao  mesmo  tempo.   (SARTRE. não há uma legislação anterior  ao homem. O existencialismo é um humanismo.  para  Sartre. J.  é. Não há uma natureza humana que  se lhe anteponha. pág. Antes do mais ele é sua existência no momento presente. São Paulo.)    Segundo o texto.  isso  já  é  uma  escolha. Há uma legislação construída com o próprio homem e próprio homem.     w w w . e está fora do determinismo natural. c o m . In: “Os Pensadores”. 21. Muito bem. b r / c u r s o        3 | P á g i n a     .  mesmo  quando  ele  pensa  (ou  decide)  por  não  escolher.  ao  mesmo  tempo  que  é  uma  contingência  –  ter  que  escolher  –  é  também  uma  permanente possibilidade de ser “dono” do seu ato de existir. 1973.  mas é‐lhe dada  uma existência específica num dado momento.    10 ‐ Leia com atenção o seguinte trecho:    O homem apresenta‐se como uma escolha a fazer. Assim. por que é possível ao homem escolher?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    Não  somente  é  possível  o  homem  escolher.  09 ‐ O que é ser um legislador na concepção apresentada no texto acima?    SUGESTÃO DE RESPOSTA:    Ser  legislador. P.  Assim. d o m b o s c o .
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