FILOSOFIA — 2ª Fase ‐ UFPR/08 O texto a seguir é referência para as questões 01 e 02. No livro VII de A República, Platão apresenta a passagem conhecida por “Alegoria da Caverna”. Platão usa essa alegoria para representar o processo correto de educação do ser humano. Leia o seguinte trecho da República no qual o personagem Sócrates fala àqueles que foram educados corretamente: Mas a vós, nós formamos‐vos, para vosso bem e do resto da cidade, para serdes como os chefes e os reis nos enxames de abelhas, depois de vos termos dado uma educação melhor e mais completa do que a deles, e de vos tornarmos mais capazes de tomar parte em ambas as atividades. Deve, portanto, cada um por sua vez descer à habitação comum dos outros e habituar‐se a observar as trevas. Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reconhecereis cada imagem, o que ela é e o que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem. Mas a verdade é esta: na cidade em que os que têm de governar são os menos empenhados em ter o comando, essa mesma é forçoso que seja a melhor e mais pacificamente administrada, e naquela em que os que detêm o poder fazem o inverso, sucederá o contrário. (PLATÃO, A República, Livro VII, 520 b – d) 01 ‐ Por que, de acordo com o personagem Sócrates, aqueles que receberam a educação proposta na República devem governar? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Para Sócrates, o homem filósofo é o único na sociedade (na “polis” grega, no caso) a desprezar o poder e honrarias políticas, estará ele, então, no comando da sociedade e sob sua tutela estarão todos os demais cidadãos, a quem ele deverá guardar e para quem deverá buscar o bem comum. Sendo ele aquele que “saiu da caverna”, tem o saber verdadeiro e é o melhor para estar na condução da cidade e dos seus cidadãos, aquele que livrará a cidade de suas calamidades, sendo um governo consciente. 02 ‐ De acordo com o personagem Sócrates, como se davam efetivamente as disputas políticas nas cidades? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Platão expressa, por meio do personagem Sócrates, a falsa idéia de governo numa sociedade (ou cidade) onde os governantes “combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem”. Assim, Sócrates demonstra como é ilusório esse tipo de governo porque ele não almeja “a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom”. 03 ‐ Segundo Platão no Livro VII de A República, quem contempla o bem prefere não retornar aos afazeres humanos quotidianos. Mesmo assim, Platão afirma que na cidade por ele concebida, aqueles que realizaram a ascensão para fora da caverna e contemplaram o bem devem ser obrigados a retornar ao convívio daqueles que não o contemplaram e a dedicar‐se à administração da cidade. Após o personagem Sócrates apresentar essa tese, o personagem Glaucon adota uma posição que lhe é contrária. Glaucon afirma que a obrigação de fazer com que os que contemplaram o bem dediquem‐se ao governo da cidade é uma injustiça contra eles. Contra a opinião de Glaucon, Sócrates responde: Esqueceste‐te, novamente, meu amigo, que à lei não importa que uma classe qualquer da cidade passe excepcionalmente bem, mas procura que isso aconteça à totalidade dos cidadãos, harmonizando‐os pela persuasão ou pela coação, e fazendo com que partilhem uns com os outros do auxílio que cada um deles possa prestar à comunidade; ao criar homens destes na cidade, a lei não o faz para deixar que cada um se volte para a atividade que lhe aprouver, mas para tirar partido dele para a união da cidade. (PLATÃO, A República, Livro VII, 519 e 520 a). Em outras palavras, qual foi a resposta de Sócrates? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Sócrates demonstra o compromisso daquele que “saiu da caverna” (que alcançou o mundo inteligível, para o além do sensível) de procurar que o bem aconteça à totalidade dos cidadãos, pelo convencimento ou pela coação, para que partilhem uns com os outros aquilo que deve ser o bem para todos. 04 ‐ Leia o seguinte trecho: Resta agora ver quais devem ser os modos e os atos de governo de um príncipe para com os súditos ou para com os amigos. E porque sei que muitos escreveram sobre isso, temo, escrevendo eu também, ser considerado presunçoso, sobretudo porque, ao debater esta matéria, afasto‐me do modo de raciocinar dos outros. Mas, sendo a minha intenção escrever coisa útil a quem escute, pareceu‐me mais convincente ir direto à verdade efetiva da coisa do que à imaginação dessa. E muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca foram vistos, nem conhecidos de verdade. Porque há tanta diferença entre como se vive e como se deveria viver, que quem deixa aquele e segue o que se deveria fazer aprende mais rapidamente a sua ruína que sua preservação: porque um homem que deseja ser bom em todas as situações, é inevitável que se destrua w w w . d o m b o s c o . c o m . b r / c u r s o 1 | P á g i n a pág. Considerando Deus a fonte de toda a verdade e perfeição. mas a sua indolência: porque. é necessário a um príncipe que deseja conservar‐se no poder aprender a não ser bom. uma vez que seria destituído de sentido agir de forma diversa daquela preconizada racionalmente. 2007. b r / c u r s o 2 | P á g i n a . 1973. pensaram em fugir e não em se defender. ou seja. E somente as defesas que dependem de ti e de tua própria virtú são boas. Sem uma possibilidade filosoficamente justificada de crença em seus sentidos. com o imponderável. o homem não disporia de meios para julgar o que percebesse. O príncipe sábio é aquele que. que são sua fonte de observação da realidade sensível.) 08 ‐ Qual a relação. a tempestade –. etapa necessária para a boa aplicação da dúvida metódica. a aplicação da razão aos fenômenos que se queira compreender. O texto a seguir é referência para as questões 08 e 09. d o m b o s c o . a humanidade inteira. o imprevisível. não é seguro para ti. e esperam que o povo. Quarta Parte. mais do que uma confissão de fé de Descartes. Este argumento é importante porque dá credibilidade aos sentidos do homem. é inevitável que se destrua entre tantos que não são bons” evidencia esta preocupação do autor. as tivesse posto em nós sem isso. pensado que poderiam mudar – o que é um defeito comum dos homens. totalmente compromissado com a humanidade. O que ou não acontece.. O candidato deve. Sua concepção da natureza da política é a de que o sucesso não pode ser obtido pela observância dos princípios éticos cristãos habituais. e não sobre “como deveriam viver”. In: “Os Pensadores”. qual é. se acontece. colocada nas “Reflexões” da obra do “Discurso sobre o Método”. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O exercício do julgamento é. XV. não levar em conta. que a evitam. ao mesmo tempo que a si próprio. o “bem proceder” torna‐se conseqüência óbvia de uma aplicação correta da razão. ao mesmo tempo. Discurso do Método. insatisfeito com a insolência dos vencedores. cap. A partir desta constatação.) Com base nesse trecho. (MAQUIAVEL. O príncipe virtuoso não conta com a misericórdia alheia e considera durante todo o tempo a “tempestade”. mas sim pela utilização sistemática de condutas convenientes à conquista. não devemos nunca nos deixar persuadir. w w w . mostrar que compreendeu o conteúdo do texto e da obra de Maquiavel como um todo. a diferença entre sua obra e outros textos políticos? b) Para Maquiavel. entre angústia e compromisso? SUGESTÃO DE RESPOSTA: A angústia. antes. São Paulo: Ed. responda: como fortuna e virtú se relacionam para a manutenção do poder do Estado? SUGESTÃO DE RESPOSTA: A fortuna é identificada. sua competência em governar. para Sartre. Sua abordagem. segundo o texto. e não de nossa imaginação nem de nossos sentidos. não acusem a fortuna. quando não há outras. Assim também. que quem deixa aquele e segue o que se deveria fazer aprende mais rapidamente a sua ruína que sua preservação: porque um homem que deseja ser bom em todas as situações. tem sentido filosófico na busca da verdade. os chamassem de volta.. não tendo nunca. Caso bem aplicada através da dúvida metódica. quando depois vieram os tempos adversos. A afirmação “porque há tanta diferença entre como se vive e como se deveria viver. ou. (SARTRE. 15.) a) De acordo com o trecho acima. com sua virtù (virtude em tradução literal). é boa. Ter que decidir pela sua própria existência é a única solução possível. inteiramente perfeito e inteiramente verdadeiro. Decerto há muita gente que não vive em ansiedade. por acreditar que encontrarás quem te acolha. pois não seria possível que Deus. Hedra. J. P. A angústia se dá pelo fato de não ser o homem uma essência pronta ou não ter nada no qual se possa apegar. Descartes afirma a existência da centelha da perfeição no homem. criador inclusive do homem. E convém frisar que digo de nossa razão. Esta decisão. Hedra. senão pela evidência da nossa razão. ainda que “más”. Significa isso: o homem ligado por um compromisso e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser. faz parte do próprio ato de existir. ou seja. não é por vermos o sol muito claramente que devemos julgar que ele seja do tamanho que o vemos (. que estes nossos príncipes que estavam há muitos anos nos seus principados. São Paulo. em última análise. cap. não poderia escapar à sua total e profunda responsabilidade. tornando o homem totalmente responsável pela sua escolha e. (DESCARTES. Observe que a transcrição do fragmento não é necessária para a elaboração da resposta. portanto. mas de que é também um legislador pronto a escolher. entre tantos que não são bons. 06 ‐ Quer estejamos despertos ou adormecidos. a máxima de que "todas as nossas idéias ou noções devem ter algum fundamento de verdade" aplica‐se também às idéias que nos surgem através dos sentidos e da imaginação? SUGESTÃO DE RESPOSTA: A questão da existência de Deus. 05 ‐ Considere o trecho abaixo: Portanto. certas e duráveis. XXIV. O Príncipe. O existencialista não tem pejo em declarar que o homem é angústia. aquilo que tanto pode auxiliar a consecução dos objetivos políticos quanto prejudicá‐los. sem se dedicar a divagações de natureza teórica. Mas a razão nos dita que todas as nossas idéias ou noções devem ter algum fundamento de verdade. segundo Maquiavel. pois cada escolha sua é também uma escolha (possibilidade) para todos os homens. está prevenido em relação às agruras da fortuna. e sê‐lo e não sê‐lo conforme a necessidade. (MAQUIAVEL. b) A vantagem é a conservação eficiente do poder. na obra de Maquiavel. e quando se lhes diz: e se toda gente fizesse assim?. é calcada na observação da realidade. ou sua ruína. O Príncipe. nos tempos de paz. c o m . por tê‐los perdidos depois. certamente muitas pessoas acreditam que ao agirem só se implicam nisso a si próprias. a razão conduz ao conhecimento verdadeiro.) Por que. mesmo estando ela camuflada pelos indivíduos. Maquiavel dedica especial atenção ao tratamento dos súditos e amigos porque nasce desta relação a estabilidade do poder do soberano. na bonança. definitivamente existente. Assim. O existencialismo é um humanismo. mas é muito ruim ter deixado os outros remédios por este: porque nunca se deve desejar cair. São Paulo: Ed. mas é nossa convicção que esses tais disfarçam sua angústia. 2007. questão central da Filosofia. para Descartes. A atitude previdente é a melhor garantia do sucesso da manutenção do poder. a possibilidade de enfrentar a adversidade política. qual é a vantagem de sua abordagem? SUGESTÃO DE RESPOSTA: a) A principal diferença consiste no fato de que Maquiavel afirma escrever sobre como “os homens vivem”. por ser esta defesa vil e não depender de ti. manutenção e exercício do poder. 07 ‐ Explique a relação entre ação e razão na tese de Descartes de que “é suficiente julgar bem para proceder bem”. eles dão de ombro e respondem: nem toda gente faz assim.): pois a razão não nos dita de modo algum que o que assim vemos ou imaginamos é verdadeiro. o homem não se define previamente a si próprio mas em função de seu presente individual. No entanto se abre ao homem todo o sentido da sua existência porque nada existe anterior a ele – a natureza ou determinações divinas – que lhe dê uma essência própria. o poder que o homem tem de decidir sobre seu próprio existir e abrir caminho para que todos os outros homens possam também ter a mesma possibilidade de escolha que aquele homem individual escolheu para si. como é sua única opção de existência: ter que escolher. ao mesmo tempo. (SARTRE. não há uma legislação anterior ao homem. O existencialismo é um humanismo. para Sartre. J. é. Não há uma natureza humana que se lhe anteponha. pág. Antes do mais ele é sua existência no momento presente. São Paulo.) Segundo o texto. isso já é uma escolha. Há uma legislação construída com o próprio homem e próprio homem. w w w . e está fora do determinismo natural. c o m . In: “Os Pensadores”. 21. Muito bem. b r / c u r s o 3 | P á g i n a . mesmo quando ele pensa (ou decide) por não escolher. ao mesmo tempo que é uma contingência – ter que escolher – é também uma permanente possibilidade de ser “dono” do seu ato de existir. 1973. mas é‐lhe dada uma existência específica num dado momento. 10 ‐ Leia com atenção o seguinte trecho: O homem apresenta‐se como uma escolha a fazer. Assim. por que é possível ao homem escolher? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Não somente é possível o homem escolher. 09 ‐ O que é ser um legislador na concepção apresentada no texto acima? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Ser legislador. P. Assim. d o m b o s c o .