Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Disciplina: Sociologia IVProfessora: Letícia Veloso Aluna: Caroline Caillaud Trabalho sobre o livro “Comportamento em lugares públicos: notas sobre a organização social dos ajuntamentos.” Niterói 2010 tal expressão é vista como algo de uso essencialmente masculino. teatros. no Japão há diferenciação na fala entre homens e mulheres. das mensagens linguísticas ou linguagem corporal. no Brasil é considerado normal um casal de namorados se beijarem ou darem as mãos em público. salas de reunião e outros lugares de ajuntamento de qualquer comunidade nos dizem muito sobre suas formas mais difusas de organização social. a troca de carícias entre namorados é visto pela população em geral como algo que não deve ocorrer em público. deixamos passar o carro dos bombeiros ou a ambulância. Goffman analisa como se estabelece a estrutura da conduta pública. pois buscamos nesses ajuntamentos sermos aceitos socialmente pelos indivíduos participantes. sobre os códigos de conduta que direcionam as ações e atitudes dos indivíduos. como não falar alto. não disfarçamos o prazer quando encontramos pessoas que nos são estimáveis. pistas de dança. O nosso corpo. Goffman faz uma analise uma de como os indivíduos agem e quais os fatores que levam os leva a se comportam de uma determinada maneira em lugares públicos e semipúblicos. Ou da conduta que devemos ter em trens e metros. A regulamentação do envolvimento varia de local e ambiente. . Goffman cita a existência de diferenças regionais com relação ao envolvimento e ao autoenvolvimento permissíveis na presença de outros. alegres. entretanto na Finlândia o toque. não rir alto e a população é educada para segui-la com rigidez. no ocidente é normal ocorrer borborinhos nestes locais. submetem-se a tais convenções. todas elas são meios pelo qual o indivíduo disponibiliza informações aos participantes do engajamento. Como por exemplo. Somos educados a participar corretamente nas ocasiões sociais. respeitamos as convenções. por exemplo. Ou seja. “Regras de condutas em ruas. Goffman realiza reflexões sobre normas de etiqueta de comportamento em público. não fazemos alarde nas bibliotecas. seja através conduta do indivíduo. as mulheres que a usam são vista como mal educados e transgressoras de uma regra que deve ser seguida. uma mulher não deve fazer uso da expressão “boku (eu)”. exprimem. sérios. restaurantes. termo utilizado por ele.” Sua análise foi de grande importância na área das interações sociais. gargalhamos. lojas. Segundo o autor. mostrando que estamos atentos. Goffman considera que as diversas características da interação face a face ou engajamentos de face. no Japão há placas explicando o que deve ou não ser feito. parques. nossos gestos e as nossas atitudes atuam. com disciplina ou com espontaneidade. que segundo ele é muito negligenciada: o comportamento social em lugares públicos e semipúblicos.O objetivo de Goffman neste livro foi desenvolver um estudo capaz de abordar uma área. mas sim na intimidade do casal. adotamos determinados comportamentos adequados que são exigidos de acordo com as normas do ajuntamento e do ambiente em que nos encontramos e buscamos na maioria das vezes não transgredi-las. possui uma riqueza de fluxo de informações. as normas que irão direcionar a conduta do indivíduo mudam. o nosso corpo revela como nos situamos bem ou sentimos constrangimento. e quando um indica para o outro . III. Capítulo II .O problema Observa que a regra fundamental em todas as situações é a de que a pessoa deve permanecer no espírito ou no ethos da situação. Capítulo V . /Envolvimentos ocultos: estados delirantes.I. significa que ele está transmitindo algum tipo de informação. analisa quais formas pelas quais a presença insuficiente pode se manifestar. Atividade ocasionada /envolvimento principal /envolvimento lateral /envolvimento dominante /envolvimento subordinado.Interação focada Capítulo VI . a mera presença do indivíduo.Algumas regras sobre a alocação do envolvimento O envolvimento é a capacidade que um indivíduo possui de voltar a sua atenção de maneira concentrada a alguma atividade disponível. posturas. etc.Interação desfocada Capítulo III .Definições introdutórias Goffman exibe os conceitos a serem usados no livro e explora como o indivíduo pode estar numa situação totalmente capacitado socialmente e a partir disso. independentemente de sua conduta enquanto presente o indivíduo comunica alguma coisa./Distante: desvio de atenção do indivíduo por um momento “conscientemente”. Os indivíduos já começam uma comunicação só de estar na presença dos outros. Capítulo IV . A linguagem do corpo vai acontecer através de gestos. / A estrutura dos engajamentos de face/ Acessibilidade/ Direitos de partido Capítulo VII . o simples fato de estar em um engajamento. ações. II. vestimentas. O indivíduo deve transmitir e deixar de transmitir as mensagens certas para os outros de acordo determinados momentos.Conhecimento Ocorre quando dois indivíduos podem identificar pessoalmente o outro através de conhecimento que distingue este outro de todas as outras pessoas .Introdução Capítulo I .Algumas regras sobre os objetos do envolvimento Autoenvolvimento: próprio envolvimento do indivíduo com seu próprio corpo ou objeto associado ao corpo.Envolvimento Goffman analisa o envolvimento do corpo. quando o indivíduo não tem consciência que está distante.Engajamentos de face Desatenção civil: ainda que você não conheça uma pessoa haverá uma interação. Significações diferentes para as linguagens corporais de acordo com cada sociedade e com a época. Relação social de conhecimento/ Duas instituições do conhecimento: Reconhecimento Cognitivo e Reconhecimento Social/ Questão sobre o corte social/ Diferenças de comportamento variam entre sexos e sociedades/ Conhecimento formal e informal. Engajamentos acessíveis É quando um engajamento de face precisa ocorrer numa situação que contém espectadores. mantendo o que parecia ser desatenção em relação ao engajamento vizinho” p. os membros autorizados de um engajamento particular participarão em interação focada. uma jovem psicótica que observei sentava-se ao lado de sua mãe e olhava diretamente para frente enquanto estava engajada numa conversa com uma enfermeira. por sua mera presença.” 2. Fechamento de engajamento convencional São certas obrigações e esforços da parte dos participantes e espectadores para agir como se o engajamento estivesse bloqueado fisicamente do resto da situação. Todas as pessoas no ajuntamento em geral estarão imersas num conjunto de interação desfocada onde cada pessoa. 3. Ex: “Nos vários hospitais psiquiátricos em que as estações das enfermeiras é um posto de observação envidraçado.172 . 1. E além dessa participação. onde uma mensagem comunicada por uma pessoa tem a intenção de fazer uma contribuição específica ao assunto em questão e normalmente é endereçada a um receptor particular enquanto os outros participantes também devem recebê-la.Engajamentos entre os quais não se conhecem Goffman trata de circunstâncias onde é permissível algum tipo de engajamento entre pessoas que não se conhecem: Posições expostas/ Posições de abertura/ Abertura mútua/ Evasões e infrações. analisa as fronteiras das próprias situações sociais.Fronteiras de comunicação Goffman busca examinar as regulamentações que se aplicam a um engajamento de face depois que ele se formou. E Goffman trata de alguns elementos de organização social que este fechamento causa. Capítulo VIII . “Por exemplo. Como portas. IV Engajamentos acessíveis Capítulo IX . os pacientes precisam ser treinados a não ficar parados perto das janelas olhando o que acontece lá dentro. → Parasitismo convencional: a expressão de desatenção e não envolvimento exibida por aqueles que estão fisicamente próximos a um encontro do qual não participam.que este estado de informação mútua existe. modos e aparência transmite alguma informação sobre si mesma para todos na situação. Fechamento situacional convencional São barreiras comunicativas que criam a possibilidade de um “fechamento situacional convencional” quando há a ausência de um fechamento físico real. “Por exemplo. quer dizer. onde o engajamento do indivíduo pode ocorrer para não causar nenhuma ofensa para o ajuntamento como um todo e a ocasião social. Restrições Goffman trata das restrições quanto ao modo em que os indivíduos num encontro acessível podem se entregar apropriadamente um ao outro. quando o médico grita “Hora da boia!” ele está falando com o lugar inteiro. que retraiam os participantes do ajuntamento. Por exemplo: Um casal se agarrando ou discutindo no meio da rua. quer dizer. onde quer que o som de sua voz alcance. → Situação multifocada: é quando uma situação se transforma de uma com muitos encontros. incluindo também a questão de como e onde ele pode se apresentar para uma participação oficial. que as pessoas que falam umas com as outras num encontro não terão nenhuma obstrução física. tanto participantes quanto espectadores terão que regular a sua conduta apropriada. → O espaçamento garante que “linhas de fala” estejam abertas. envolver-se me envolvimentos mútuos que estão expostos a espectadores. ao meio-dia numa enfermaria do Hospital Central. Goffman dá o exemplo de um pate-papo em um velório que começa em voz baixa.180 Capítulo X – A regulação do envolvimento mútuo 1. em que uma se limita a um único engajamento que a tudo abrange.Ou em momentos onde os indivíduos podem ficar tão próximos que é impossível manter qualquer fingimento de não escutar. 3. Eles são obrigados a manter sua atividade sintonizada com o ethos da ocasião social. por exemplo.” p. → O cuidado que um espectador é obrigado a exercer com um encontro acessível. → Participantes e espectadores precisam ajudar a manter a integridade do engajamento. O indivíduo é obrigado a ter controle sobre todos os seus envolvimentos. evitando que ele seja tragado pelo ajuntamento. mantendo suas fronteiras. mas . é considerado uma invasão de questões privadas em lugares onde se exige uma orientação mais pública – Haverá tentativas de impedir envolvimentos mútuos inapropriados. Envolvimento mútuo ocasionado A regra obriga indivíduos a manter um envolvimento mútuo ocasionado. o significado de suas palavras também devem ser compreendido. e . dando a oportunidade de examinar o que os participantes do encontro devem ao ajuntamento geral. demonstrando um certo ânimo e envolvimento ocasionados. levando o indivíduo a obrigação de manter um envolvimento ocasionado com outras pessoas. Deriva O fenômeno da deriva ocorre quando uma ocasião social manisfeste um “contorno de envolvimento” e o indivíduo se desloca para longe do ajuntamento e de sua ocasião social. 2. V. Ou então quando alguém do ajuntamento encontra-se com a mente em outro lugar. As pessoas que praticam certo idioma de envolvimento sentem que essas regras nos ajuntamentos são cruciais para o bem estar da sociedade. Capítulo XIV . 4. Ele explora as formas de trair um encontro e abandoná-lo. formas de não totalidade de participação nos engajamentos. . E para que esse bem estar não tenha suas regras questionadas. enquanto ficavam parados lá. Certamente.Interpretações Capítulo XII . … comparecer a funerais … era obrigatório para estes enlutados ficar em pé quietos e calmos fora da cabana em que o falecido estava sendo velado.Participação incontida Goffman sugere que o comportamento do indivíduo numa situação é guiado por valores e por normas tratando dos envolvimentos com outros. infrator ou anormal por infringir. os indivíduos passam a olhar o infrator como ‘não ser humano’.193 Capítulo XI . o volume destas conversas e as expressões dos falantes eram modulados respeitosamente de acordo com os requerimentos funéreos. assim as infrações passam a ser reflexo do infrator e não do que ele ofendeu. sendo necessário ser trazido de volta ao ambiente.” p.Firmeza e frouxidão Goffman usa esses termos para explicar que há situações que cobram um comportamento e envolvimento firme dos indivíduos e outras situações que cobram um comportamento e envolvimento frouxo. Mas. Goffman mostra que a vida social conjunta sustentada pelo ajuntamento é uma incorporação da própria ocasião como um todo. pois através desses eventos que grande parte da nossa vida social é organizada. excluir dos ajuntamentos os que não respeitam. Ele foca em certas normas para não se parecer esnobado num ajuntamento e nem comprometer totalmente o outro indivíduo que fica desolado se um resolver sair de um engajamento.A estrutura e função de propriedades situacionais Com as noções de estrutura do envolvimento na situação / Propriedades situacionais e ocasião social / engajamento e ambiente. colocando-os como errado.acaba ficando cada vez mais alto até que sua interação se torne deslocada. Capítulo XIII . Esse comportamento varia conforme o grau de disciplina da situação. “Por exemplo. mas o conteúdo da fala seguia outra direção. Proteção Proteção é a possibilidade de manter uma atividade oculta dentro de conversas.A significância sintomática de impropriedades situacionais O estudo das situações ‘firmes e frouxas’ é importante. de forma que duas fases diferentes de uma ocasião social podem ocorrer simultaneamente no mesmo lugar entre os mesmos participantes. era bastante permissível entabular bate-papos animados com seus colegas. É uma maneira de conservar as regras. Para Goffman. um ambiente de possibilidades de monitoração em que um ingressante.” p. a saber.263 Goffman em seu estudo está preocupado com os comportamentos na interação face-a-face. O que ele pretende é . na comunicação com o corpo. envolvimento mútuo ocasionado) ou controlados (devido as normas de conduta que regem o comportamento dos indivíduos). expressivos e linguísticos. com os gestos. Por estarem numa situação social que estão. E é melhor que o indivíduo mostre que é um membro em boa situação. na presença de outros.Capítulo XV . A interação com o outro é cheia de obrigações de envolvimento. que ele chamou de de propriedades situacionais. especificamente o aspecto de ordem pública que trata da conduta dos indivíduos que ocorre devido a sua presença entre outros.Conclusão Este estudo se preocupou com o comportamento em lugares públicos. o segundo. e especialmente a atos cuja importância se estendia além de círculos de conversas para a situação em geral. estas regras governam a alocação do envolvimento do indivíduo dentro da situação. Três unidades sociais básicas: → Engajamento de face ou encontro: Consiste de um círculo. onde um único foco de atenção visual e cognitiva é ratificado como obrigatório mutuamente para os participantes. se tornaria um participante do ajuntamento localizado nele. Sua análise restringiu-se a regulação de atos comunicativos. por sua vez. → Ajuntamento social: Inicialmente foi definido como o conjunto inteiro de pessoas presentes mutuamente durante qualquer período contínuo de tempo. começou a receber um significado adicional. tipicamente de conversa. → Ocasião social: Consiste de uma unidade sociopsicológica mais ampla que fornecem o esquema de referência em termos do qual os engajamentos ocorrem. e sua presença delineava uma situação social. dentro de uma ocasião social. Goffman deu mais atenção a apenas alguns dos “círculos do eu” que pessoas presentes traçam em torno de si. em situações sociais em que os participantes precisam se comportar de maneira evasivos (desvios. “ Assim como enchemos nossos presídios com a queles que transgridem a ordem legal. expressado através de um idioma convencionalizado de deixas comportamentais. ao entrar em qualquer lugar dele. Segundo ele. para proteger nossos ajuntamentos e ocasiões. os indivíduos modificam sua conduta de muitas formas orientadas normativamente. e pelos quais o indivíduo é obrigado a demonstrar várias formas de respeito. Perto do final do estudo. enchemos nossos sanatórios em parte com aqueles que agem inapropriadamente – o primeiro tipo de instituição é usado para proteger nossas vidas e propriedades. pois a penalidade final por quebrar as regras é severa. o indivíduo é orientado por um conjunto especial de regras. Uma fato negativo que pode ser citado da obra de Goffman se dá ao fato de que sua análise ter como foco a sociedade ocidental. em co-presença. ele busca compreender a concepção de um espaço interacional no qual os indivíduos se movimentam. Comportamento em Lugares Públicos: notas sobre a organização social dos ajuntamentos. seus estudos não são muito bons para associá-lo as sociedades não ocidentais ou mesmos nas quais a própria sociedade americana não considera como ocidental. Esta sociedade consagra-se também pelos lugares públicos que são marcados por uma complexidade e automatismos onde ordenamos a nossa comunicação e onde a nossa imagem tem extrema importância. .centrar seu estudo na análise sobre a ordem pública que trata da conduta dos indivíduos em presença de outros. Referência bibliográfica: GOFFMAN. Folha utilizada na apresentação realizada em sala. um indivíduo está condicionado por regras mais ou menos pré-estabelecidas socialmente. Editora Vozes. Erving. onde todos os participantes ajudam inevitavelmente a estruturar. para compreender a estrutura normativa das interações face a face. 2010. tanto pode ser a relação em círculo social com conversa. a nossa autonomia é ditada pela forma como a respeitamos ou repudiamos os códigos normativos que nos são socialmente impostos. Logo. mas precisamente a americana sendo assim.