Trabalho de Ética de Karl Marx FINAL

March 17, 2018 | Author: ramiromarques | Category: Karl Marx, Communism, Marxism, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Dialectic


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Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção SocialIntrodução No âmbito da Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social do Mestrado de Educação Social e Intervenção Comunitária, foi proposto pelo docente Ramiro Marques a realização de um trabalho relacionado com a ética na qual me debrucei em Karl Marx, tomando por base o seu artigo publicado na internet no site da ESES em:http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/ tentando problematizar a questão e reflectir questões pertinentes e actuais relacionadas com o tema. Começarei por uma breve biografia de Karl Marx, contextualizando-o na sua época e enquadramento político e filosófico, tentando definir o seu estilo, para depois dar conta dos desenvolvimentos posteriores que a sua teoria política viria a ter, começando pelo seu vulgarizador Engels, e continuando depois pela tentativa de aplicação na prática política dessa teoria, graças ao triunfo da revolução soviética, apresentando-se assim como um modelo de desenvolvimento político-económico alternativo ao capitalismo. Depois de proceder a uma avaliação «a frio» e o mais imparcial possível do papel desempenhado pelo marxismo e pelo comunismo no século XX, em seguida tentarei fazer uma análise crítica do papel da ética em Karl Marx, como consequência (aliás desejada e anunciada pelo autor) da sua obra e pensamento, o que nos conduzirá à conclusão, simples opinião pessoal em jeito de negação: em vez de ética, parece mais adequado usar «não ética» ou mesmo «anti-ética», em Karl Marx. Breve biografia de Karl Marx De origem judaica, Karl Marx nasceu em Trier na Alemanha em 1818, numa família convertida por conveniência ao protestantismo. Depois de completar os estudos em filosofia, dedicou-se ao jornalismo, tomando o partido dos camponeses pobres alemães. Face à censura dos seus escritos abandona a Alemanha, casando-se em 1843 e indo viver para Paris, de onde acaba igualmente por ser expulso pelas mesmas razões. Refugia-se na Bélgica, onde dá continuidade às suas actividades de subversão e no ano de 1848, ano das grandes revoltas operárias, publica o Manifesto do Partido Comunista. Este Manifesto pretendia ser a «Bíblia» ou o «Manual» de uma utopia que o autor completou mais tarde com a redacção de O Capital. A sua obra valeu-lhe uma vez mais a expulsão, da Bélgica, optando desta vez por Londres, onde se instalou e viveria o 1 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social resto da sua vida, dedicando-se apenas ao estudo, financeiramente apoiado por Frederich Engels, seu admirador e posterior divulgador. O sentimento de rejeição poderá de alguma forma ter contribuído para a formulação do internacionalismo do pensamento político do autor, consubstanciado na noção de uma classe operária apátrida. Mas em que se baseava e consistia essa utopia? Era apenas «filosofia» ou misturava outras componentes? Não se limitando ao campo das ideias e pretendendo assumir um papel político directo sobre os acontecimentos, Marx pretende fazer acreditar a sua utopia política com base na ciência e naquilo que chama «determinismo histórico» que inevitavelmente conduziria a uma sociedade sem classes, na qual a mediação do dinheiro na sociedade se tornaria desnecessária. Os seus estudos históricos «provariam» (aureolando-os com o prestígio que tem a palavra «científico») as suas ideias. Mas a preocupação que evidencia em nada deixar ao acaso, em demonstrar a supremacia absoluta das suas teses, parece deixar um papel muito reduzido ao homem e às ideias. Para mim parece-me mais um acto quase «mágico», de imposição de uma utopia de «engenharia» social, de uma violência (para não dizer intolerância e arrogância inaudita) e falta de respeito pelo que une os homens, que é precisamente a sociedade em si, numa tradição continuada de convivência (nem sempre da melhor forma, mas enfim) consubstanciada na língua, nos conceitos, nas instituições, na ética. Na minha opinião, ao tempo do autor, manifestavam-se grandes tensões provocadas pela revolução industrial e científica, que o «antigo regime» tinha dificuldades em acompanhar, na sua «praxis» política (termo caro aos seguidores de Marx, precisamente porque este deixou poucas instruções práticas para a institucionalização do seu sistema). A revolução francesa já tinha, nessa altura, evidenciado a necessidade de reajustamento político da «ética», eliminando os resíduos de feudalismo e dando o mote para a era da burguesia e do capital internacional, mas também evidenciando claramente os riscos de descarrilamento da revolução, quando posta em marcha (o Terror). Criou-se então, em torno dos escritos de Marx, um «caldo cultural», essencialmente marcado por um sentimento positivista, por uma crença messiânica na infalibilidade da ciência e na continuidade do progresso, os quais supostamente 2 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social conduziriam, no âmbito da industrialização, a uma agudização da exploração do trabalho pelo capital, acumulação excedentária de valor nas mãos de uma minoria. É nesse antagonismo, na luta de classes, que o marxista projecta a sua «necessidade» de revolução. No entanto, em vez de criar uma nova ética, limita-se a tentar desconstruir as existentes. É mais na negação da ética, seja ela católica ou judaica ou mesmo capitalista («de classe»), que Marx sustenta uma teoria da revolução, cuja receita parece simples: desconstruir todos os alicerces da sociedade, numa estratégia de tábua rasa em relação ao passado, fazendo uso (e abuso) de um absoluto cepticismo. Ao apostar na crítica e na denúncia da ética como instrumento de dominação ao serviço das classes exploradoras, o marxismo parece ter «perdido a alma», enveredando por uma perspectiva «diabólica» de subversão dos valores enquanto «ética», o que me parece manifestamente redutor. Se recuarmos à raiz grega da palavra ética, encontramos o ethos, configurando o lado «superior» do mundo, das ideias, opondo-se ao pathos, a face obscura e informe, não raras vezes associado ao povo, em política, à anarquia e ao caos; estes dois conceitos, numa oposição dialéctica, eram mediados pelo logos, a palavra, que supostamente tinha o poder de reequilibrar o mundo. O facto é que a opção marxista manifesta e assumida pelo demo (o povo, em grego), parece ter fascinado (talvez o termo mais adequado seja mesmo enfeitiçado) os intelectuais, que nele viam uma oportunidade de promoção. Conceitos justificativos da ética de Marx Maxismo diz respeito ao conjunto de teorias sócio-economicas derivadas do pensamento Marx, e que a intelectualidade socialista do primeiro quartel do século XVIII, elevou a categoria de doutrina política. Dialéctica, Marx iniciou as suas noções nos escritos de Hegel, no qual desenvolveu o conceito de dialéctica (dia-ideia+léctica-ciclos). Visto que Hegel estuda a “ideia” como estrutura de um ciclo, porém Marx não se limita ao estudo das “ideias” mas da história materialista. Discordando da forma como Hegel propôs a sua dialéctica, mas em parte concordando com a mesma, inverteu o sentido do conceito visto que este pretende aplica-lo na sociedade. Enquanto “Hegel entende que a história é a evolução da 3 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social ideia e na evolução história o papel fundamental cabe à antítese”. Só a luta, a oposição ou mesmo a guerra é criadora, pois no confronto é que surge a síntese, e esta, comporta a novidade e mesmo a mudança. Sendo também que faz ouvir a história. Marx altera esta ideia e deu origem à ideia a que a “história é entendida como um produto de luta de classes e a luta de classes é vista como o motor da história”. Dito isto conclui-se que é Hegel utilizava um ciclo descritivo por tese, síntese e antítese, o qual Marx utilizou para aplicar na sociedade mas alterou a ordem, primeiro como Hegel tem a tese mas alterou para antítese e síntese. Marx afirma que as origens das mudanças sociais são todas materialistas. Luta de classe, diz respeito à designação dada por Marx: ideológico, comunista, em paralelo com Engels, para classificar o que tomava como confronto, entre o que consideravam os opressores – classe burguesa, e os oprimidos – o proletariado, considerados pelos mesmos como classes antagónicas, e absolutamente caracterizadoras do regime de produção capitalistas. Esta luta de classes é visível sobretudo nos domínios económicos, ideológicos e políticos. Segundo Marx, as sociedades assumem determinada estrutura, de modo a prever somente os interesses da classe que domina. A história evolui à medida que a luta de classes vai evoluindo. A partir do momento em que, tivermos uma sociedade sem classes assistimos deste modo ao fim da história. O comunista representa exactamente esse fim da história. Sociedade comunista, o comunismo é uma ideologia política e socioeconómica que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátria, baseada na propriedade comum e no controlo dos meios de produção e da propriedade em geral. Marx referiu que comunismo seria fase final na sociedade humana, o que seria alcançado através de uma revolução proletária. O “comunismo puro” no sentido Marxista refere-se a uma sociedade sem classes, sem estado e livre de opressão, onde as decisões sobre o que produzir e as politicas a implementar seriam tomadas democraticamente permitindo a cada membro da sociedade participar no processo, podendo decidir tanto na esfera política, económica, da vida e da sociedade. 4 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social O século XX e o desenvolvimento na prática O movimento de descrença assim iniciado, de desritualização do mundo, colocou em causa todos os conceitos, toda a possibilidade de uma «presença real» de algo superior, até nas próprias palavras, às quais foi negado o poder de significar, depois de submetidas a essa radical descrença, a esse desejo de desconstrução, para o qual tudo é «não-sentido». Surgiram novas disciplinas, como a psicologia, dedicada a explicar o comportamento da mente humana, mas reduzindo o carácter humano (onde reside precisamente a «ética» como factor positivo) apenas aos impulsos sexuais primários. Esta atitude de desafio e de negação conduziu aos sucessivos assassinatos das cabeças coroadas da Europa no início do século XX, incluindo no caso português. Tal como antes da revolução francesa, a revolução começou nos salões, onde se passeavam os intelectuais. Com o descrédito das instituições, qualquer alienado se sente legitimado nas maiores barbaridades. Mas a prova de fogo para a teoria marxista viria com a revolução de Outubro de 1917, na Rússia, que começou por seguir o padrão de uma revolução burguesa, como a portuguesa. No entanto, rapidamente a ala radical e marxista tomou o poder, resistindo a uma contra-revolução apoiada pelo exterior. Foi o seu primeiro líder, Lenine, que teve de fazer face à «irresponsabilidade» da utopia de criar um homem «radicalmente» novo. Ao idealismo puro e simples, opunha-se agora a tarefa de organizar um estado, num contexto cada vez mais internacionalizado. Nos primeiros anos da «revolução» ainda se tentaram aplicar algumas das ideias de Marx no campo da «ética», como a união livre entre homens e mulheres. Mas face à abrupta queda da natalidade, o líder que lhe sucedeu, Estaline, foi obrigado a proteger a família. A «revolução» só acabaria por se «consolidar» com Estaline, mas a um elevado custo humano, com a deportação em massa de povos inteiros e de franjas da população consideradas hostis. Foi imposto um sistema político totalitário (ao mesmo título que o Nazi), no qual o indivíduo era inteiramente colocado ao serviço do colectivo. A razão de estado, a «lógica» do sistema, presta-se a todos os atropelos, por conveniência e maquiavelismo político. Economicamente, o sistema apoia-se supostamente na poupança de recursos que representa a colectivização. Efectivamente, a lógica é a de que a livre concorrência implica um desperdício de recursos, sobretudo em meios de produção: qual o sentido de investir em 10 fábricas 5 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social para depois estarem a 10% da sua capacidade produtiva, se é possível ter apenas uma, bem gerida, com economias de escala por produzir muito? Ou seja, centralizando as decisões de produção, o Estado organizaria todas as esferas da vida social com mais sucesso e abundância que o sistema capitalista. Qual o resultado desta utopia, na realidade? O regime soviético terá correspondido às expectativas que gerou? A sua falência, com a queda do símbolo que representava a fronteira entre os dois «mundos», o muro de Berlim, em 1990, veio demonstrar que o sistema não conseguiu de forma nenhuma um desempenho económico consistente, revelando desajustamentos na logística, devido a uma pesada burocracia, omnipresente e inoperante, traduzida num planeamento económico quinquenal, por objectivos. Um caso típico: dezenas de vagões de trigo a apodrecer num terminal, porque a fábrica já tinha cumprido os seus objectivos no Plano de Produção. O regime soviético revelou-se incapaz de se renovar, e a utopia alimentada pelos comunistas transformar-se-ia numa dolorosa distopia, num pesadelo, que levou o escritor polaco de ficção científica Stanislaw Lem a afirmar contundentemente que “A tragédia do século XX consistiu em não ter sido possível experimentar primeiro em ratos as teorias de Karl Marx”. O seu percurso parece ter um paralelo na mitologia grega, com a queda dos Titãs, por terem ousado desafiar os Deuses. Análise crítica e reflexão Na minha opinião, o marxismo, com as suas pretensões de controlo «mental», acabou por criar uma aversão generalizada às suas ideias (eventualmente válidas), muitas das quais saíram prejudicadas pela associação a esta tendência política. A contrapartida parece ter sido, após a queda do regime soviético, a vitória por quase todo o mundo da concepção liberalista no âmbito do sistema capitalista, com uma generalizada redução do papel do Estado, mesmo em áreas da sua responsabilidade e nas quais se aplicam, por razões óbvias, os princípios das economias de escala. O próprio sistema capitalista, movido apenas por uma concepção monetarista do «valor» de mercado, parece hoje aproximar-se perigosamente de um ponto de ruptura. Há um claro retorno da questão de saber se será possível o mundo organizar-se apenas em torno de uma «ética» do dinheiro… Não estará, como pensava Marx, esta «ética» mais ao serviço da exclusão, que da inclusão pelo «valor» de mediação do dinheiro? O 6 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social sistema capitalista, depois de ter perdido o seu inimigo fidagal e principal competidor, o império soviético, ter-se-á ressentido com a falta de oposição? Na minha opinião, é actual e urgente uma síntese que permita abrir caminho a novos modelos político-económicos, para os quais se não devem excluir a priori as experiências políticas da História, como aquela que encarnou o marxismo: mesmo se a sua aplicação prática demonstrou a falácia de muitas das suas premissas, o seu quadro de análise continua a constituir um contributo válido, como abordagem teórica, tendonos deixado explicação para um conjunto de conceitos tão diversos como a dialéctica, o materialismo histórico, ou a mais-valia. Já no campo da «ética», entendida como num plano superior à moral (que dita apenas as regras a cumprir e os tabus a respeitar no âmbito da sociedade), ou seja, como a construção interna e informal (e não apenas externa e formal) de um homem melhor, houve uma clara lacuna das aplicações práticas e teóricas marxistas, talvez porque não seja coisa que se possa fazer «por encomenda», resultando da interacção histórica dos homens em sociedade; parece, de qualquer forma, extremamente imprudente, nesse campo, querer substituir violentamente o «natural» por um sucedâneo artificial! Parece tratar-se da substituição da «magia» do mundo, por um acto de feiticeiro. Pavel Annenkov descreve assim Marx: «Falava sempre com palavras imperiosas, que não admitiam contradição. (…) O tom expressava a firme convicção da sua missão de dominar a mente dos homens e de lhes ditar suas leis. Diante de mim erguia-se a encarnação de um ditador». Já o poeta Heinrich Heine, com quem Marx conviveu, dizia que este se julgava «um Deus ateu auto-nomeado». O marxismo, na minha opinião, representa sobretudo a «ideia» e a «força» psicológica, ao nível da consistência do discurso, que convenceu uma boa parte de várias gerações de elites intelectuais (mais do que a «classe operária» propriamente dita). Talvez por isso Raymond Aron se tenha referido ao marxismo com «ópio dos intelectuais». A clivagem e o antagonismo exacerbado da ênfase colocada na «luta de classes» impediu a génese de sínteses e a mediação nos conflitos ideológicos, que se me afiguram cada vez mais carentes de profunda reflexão, face à rápida evolução tecnológica, tanto ao nível da substituição da força de trabalho humana, como das tecnologias da informação. Termino defendendo que me parece mais adequado usar «não ética» ou mesmo «anti-ética» em Marx, sendo precisamente essa a maior lacuna que se lhe pode apontar. 7 Unidade Curricular de Ética e Deontologia na Intervenção Social Bibliografia    Aron, R. (1991). As Etapas Do Pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações D. Quixote. Freitas Do Amaral, D. (1998). História Das Ideias Políticas - Vol II. Lisboa: Edição De Autor. Marx, K. (1975). Textos Filosóficos. Lisboa: Editorial Estampa. Webgrafia    http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/ http://cavaleirodotemplo.blogspot.pt/2010/04/sobre-moralidade-de-karlmarx.html http://www.olavodecarvalho.org/convidados/ipojuca2.htm Docente: Professor Doutor Ramiro Marques Discente: Helena Espinho, nº 100225005 8
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