A NAÇÃO : SANGUE E TRADIÇÃO Por Ernst Jünger Tradição: para uma estirpe dotada da vontade de voltar a situar a ênfaseno âmbito do sangue, é palavra brava e bela. Que a pessoa singular não viva somente no espaço. Que seja, pelo contrário, parte de uma comunidade pela qual deve viver e, sucedida a circunstância, sacrificar-se, esta é uma convicção que cada homem com sentimento de responsabilidade possui e que postula à sua maneira particular com os seus meios particulares. A pessoa singular não se encontra, no entanto, ligada a uma comunidade superior unicamente no espaço, mas, de uma forma mais significativa, ainda que invisível, também no tempo. O sangue dos antepassados está latente, fundido com o seu, ele vive dentro de reinos e vínculos que eles criaram, custearam e defenderam. Criar, custear e defender: esta é a obra que ele recebe das mãos daqueles e que deve transmitir com dignidade. O homem do presente representa o ardente ponto de apoio interposto entre o homem do passado e o homem do futuro. A vida relampeja como o rastilho incendiado que corre ao largo da mecha que ata, unidas, as gerações… queima-as, certamente, mas mantém-nas enlaçadas entre si, do princípio ao fim. Em breve também o homem presente será igualmente um homem do passado mas, para conferir-lhe calma e segurança, permanecerá a ideia de que as suas acções e gestos não desaparecerão com ele mas antes constituirão o terreno sobre o qual os vindouros, os herdeiros, se refugiarão com as suas armas e instrumentos. Isto transforma uma acção num gesto heróico que nunca pode ser absoluto nem completo como fim em si mesmo e que, pelo contrário, encontra-se articulado por meio de um conjunto dotado de sentido e orientação, dados pelos actos dos predecessores e apontando ao enigmático reino daqueles que ainda estão para vir. Obscuros são os dois lados e encontram-se mais para cá e mais para lá da acção, as suas raízes desaparecem na penumbra do passado, os seus frutos caem na terra dos herdeiros… a qual não poderá nunca vislumbrar quem actua e que é todavia nutrida e determinada por estas duas vertentes nas quais justamente se funda o seu esplendor intemporal e a sua sorte suprema. É isto que distingue o herói e o guerreiro face ao mercenário e ao aventureiro: e é o facto de que o herói extrai a sua força de reservas mais elevadas do que as que são meramente pessoais, e que a chama ardente da sua acção não corresponde ao clarão ébrio de um instante mas ao fogo cintilante que funde o futuro com o passado. Na grandeza do aventureiro há algo de carnal, uma irrupção selvagem, e em verdade não privada de beleza, em paisagens variadas… mas no herói cumpre-se aquilo que é fatalmente necessário, fatalmente condicionado: é o homem autenticamente moral e o seu significado não repousa unicamente em si mesmo, nem só no seu dia de hoje, mas é para todos e para todo o tempo. Qualquer que seja o campo de batalha ou a posição perdida na qual se esteja, ali onde se conserva um passado e se deve combater por um futuro, não há acção que esteja perdida. A pessoa singular certamente pode andar perdida mas o seu destino, a sua sorte e a sua realização, valem em verdade como o crepúsculo que favorece um objectivo mais elevado e mais vasto. O homem privado de vínculos morre, e a sua obra morre com ele, porque a proporção dessa obra era medida só em relação a ele mesmo. O herói conhece o seu crepúsculo mas o seu crepúsculo assemelha-se àquele sangue vermelho do sol que promete uma manhã nova e mais bela. Assim devemos recordar também a Grande Guerra: como um crepúsculo ardente cujas cores já antecipam uma alvorada sumptuosa. Assim devemos pensar nos nossos amigos caídos e ver no seu crepúsculo o sinal da realização, o assentimento mais duro dirigido à própria vida. E devemos olhar longe, com um desprezo imundo, perante o juízo dos negociantes, daqueles que sustêm que “tudo isto foi absolutamente inútil”, se queremos encontrar a nossa fortuna vivendo no espaço do destino e fluindo na corrente misteriosa do nosso sangue, se queremos actuar numa paisagem dotada de sentido e significado, e não vegetar no tempo e no espaço onde, nascendo, tenhamos chegado por casualidade. Não: o nosso nascimento não deve ser uma casualidade para nós! Esse nascimento é o acto que nos radica no nosso reino terrestre, o qual, com milhares de vínculos simbólicos, determina o nosso posto no mundo. Com ele convertemo-nos em membros de uma nação, por meio de uma comunidade estreita de laços nativos. E daqui vamos depois ao encontro da vida, partindo de um ponto sólido, mas prosseguindo um movimento que teve início muito antes de nós e que muito depois de nós terá o seu fim. Nós percorremos apenas um fragmento desta avenida gigantesca, neste trecho, todavia, não devemos transportar apenas uma herança inteira mas devemos estar à altura de todas as exigências do tempo. E agora, certas mentes abjectas, devastadas pela imundície das nossas cidades, surgem para dizer que o nosso nascimento é um jogo de azar, e que “poderíamos perfeitamente ter nascido franceses como alemães”. Certo, este argumento vale precisamente para quem assim pensa. Eles são homens da casualidade e do azar. É-lhes estranha a fortuna que reside no sentir-se nascido por necessidade no interior de um grande destino e de sentir as tensões e lutas desse destino como nossas, e com elas crescer ou inclusive perecer. Essas mentalidades sempre surgem quando a sorte adversa pesa sobre uma comunidade legitimada pelos vínculos do crescimento, e isto é típico delas. Reclama-se aqui a atenção sobre a recente e bastante apropriada inclinação do intelecto de insinuar-se parasitariamente e nocivamente na comunidade de sangue, e a nela falsear a essência em nome do raciocínio… isto é, através do conceito, à primeira vista correcto, de “comunidade de destino”. Da comunidade de destino, no entanto formaria também parte o negro que, surpreendido na Alemanha ao início da guerra, foi envolto no nosso caminho de A nação não é uma casa na qual cada geração. Ai daquele que corta as próprias raízes!. isso sim. e todavia. neste sentido. O nacionalismo moderno. dos direitos humanos comuns. Assim a vida cresce numa maior unidade.sofrimento. incentivada por novas necessidades. Quanto mais comum é algo. vê a obrigação de impor importantes modificações. Rever-se e apoiar-se nas massas. todavia. o particular é valorizado e apreciado. equivale a considerar que a essência do indivíduo é unicamente a sua pertença a uma determinada espécie de mamíferos. por meio de um espaço preestabelecido de uma vez por todas. e que forma uma unidade inquebrantável. Ele não quer o socialismo das exigências. o sentimento básico de um novo género de homem cansado até ao vómito da oca fraseologia da Ilustração. e assim devém ela mesmo unidade. como se encontra ligada à raça. das obrigações comuns. Talvez se possa dizer que somente durante o Renascimento ou na idade barroca tenha existido uma construção perfeita. uma razão de orgulho. Prontamente. um palácio burguês. esse converter-se-á num homem inútil e num parasita. por vastos mares: tal é o mundo no qual a vida de uma estirpe nacional se imprime no espaço. e portanto uma segurança instintiva. cada pedra é substituída. Um castelo. mas aquilo que existia então permanece de algum modo oculto no que existe hoje. Ele não quer nenhuma igualdade. são as características e as exigências das massas. deva acrescentar tão-somente um piso mais. intelectualmente. o da Personalidade. mas o do dever: o socialismo de um mundo duro e estóico. em que cada um esteja disposto a sacrificarse pelos demais. uma orientação de fundo que lhe é conferida em dote conjuntamente com o sangue e que não precisa das luminárias mutáveis e vacilantes de conceitos complicados. na melhor das hipóteses. por outro lado. Ele não quer massa e extensão. O que é odiado. Quando acontece que trespasse esses confins. cientificamente. menor é o valor que contém. As características e as exigências comuns. mas antes demonstrá-los com a sua própria existência. por férteis vales. comummente… A vontade particular. perdura um sentido do todo específico: a mesma realidade que foi num princípio. tem pelo menos a vantagem de não ser comum. o que é rechaçado pelas superficiais correntes do progresso. Uma “comunidade de destino”. Nós rechaçamos o culto das verdades comuns. vazia de justiça e liberdade. A mãe deste novo nacionalismo é a Grande Guerra. o firme compromisso. Fundada numa tradição e orientada para um futuro longínquo: assim se imprime ela no tempo. que só fundamenta exigências. mas somente o Direito que possui a vida para viver. não sucede nunca que flua sem forma para além deles mas de modo a alargar com isso o seu espaço no futuro e no passado. é constituída por passageiros de um barco a vapor que se afunda. antes de tudo. cuja ordem se define no conteúdo dos valores interiores e da energia viva. do liberalismo e da democracia. reconhecer a própria força espiritual. pelo contrário. por si mesmo. Ele não quer uma meticulosa medição de peso e medida dos seus direitos. A sua força reside no facto de possuir uma direcção. mal ou bem. uma nova geração. de destino. subsiste um perigo grande: o de esquecer-se do futuro. O comum é contado e pesado. ou onde. Muda a fachada. queira ou não a ciência. nem um qualquer “espírito livre” prefere. dir-se-ão construídos de uma vez para sempre. Negar o passado significa também renegar o futuro e desaparecer entre as ondas esquivas do presente. significa ser a medida de si mesmo. muito diferentemente da comunidade de sangue: formada esta pelos homens de um navio de guerra que descende até ao fundo com a bandeira ondulando. Significa. equivale a acreditar que a força do próprio peso é um mérito em si e não das leis da gravidade. Ou. Possuir uma tradição comporta o dever de viver a tradição. mas sim o que permanece mais profundamente próprio interior: vigor espiritual. aos pedantes e a um exército de oportunistas e farsantes. ter razão objectivamente. A ideia de valorizar a Humanidade como o bem mais alto e puro. não sirva outra coisa que continuar a existir. Claramente definido pelos seus confins. O nacionalismo moderno tão pouco se rege por alguma ideia de independência que vagueie pelos espaços vazios. pois cada um dos seus instantes reingressa numa conexão dotada de sentido. quer. A vontade comum significa ser incapaz de encontrar um valor específico em si mesmo. Ele não quer demonstrar os seus direitos mediante estudos científicos como faz o marxismo. Ele não quer o domínio das massas. nas senhas do pão racionado. *** NACIONALISMO EM MARCHA Enst JUNGER Nós auto-denominamo-nos nacionalistas – uma palavra que nos foi consagrada através do ódio à populaça inculta. da baixeza comum – consequência última de tudo o que é comum. do direito ao voto comum. com a sua própria existência. quer o particular. por rios sagrados. a construção pode acabar por arder num incêndio. por outro lado. ou terminar destruída. O homem nacional atribui valor ao facto de haver nascido entre confins bem definidos: nisto ele vê. sem sentir a sorte de se ser o que se é. sentir a própria responsabilidade. O que literatos ou intelectuais escrevam sobre . Por acaso então se detinha uma linguagem de formas válida para todos os tempos? Não. como se fosse um novo estrato de corais. Nós não exigimos o comum. Para o homem nacional. e então um edifício renovado e transformado vem a ser construído sobre os antigos cimentos. Nós saudamos os que vêm. sendo hora de abrir novos. tão pouco liberal nem reaccionária. pois nós preferimos viver num mundo cheio de sentido a viver numa papinha movediça. saudamoste! TRADIÇÃO E SANGUE Por Ernst Jünger "Não: o nosso nascimento não deve ser uma casualidade para nós! Esse nascimento é o acto que nos radica no nosso reino terrestre. tampouco negra. está à altura de qualquer luta. O soldado alemão chegou da frente. que nasceu dos nossos corações e que somente desde eles pode ser cosida. Concedamos tempo às colunas para definir a direcção da marcha. É quanto muito uma bandeira ao vento. E daqui vamos depois ao encontro da vida. A marcha está a caminho. aquela força. partindo de um ponto sólido. não podem ter morrido em vão. Chegará o dia. é próprio da alma fáustica não sair com as mãos vazias nem sequer do Inferno. sem carácter. Nós não voltamos dali com um mero niilismo. mundo esse em que os velhos caminhos já acabaram. Porém. me estranhou que aquele bosque me tivesse . e que também recusou a mentalidade dessa revolução de demagogos e charlatães. nem o prático. pois a guerra não só afectou os alemães. Nós percorremos apenas um fragmento desta avenida gigantesca. Mais claramente que as vermelhas chamas do fogo da guerra. mas que se transformou em brasas e fogo. força nascida do sangue. que. e ao qual se seguirão muitos mais escritos. neste trecho.ela não tem para nós qualquer interesse. não devemos transportar apenas uma herança inteira mas devemos estar à altura de todas as exigências do tempo. tem um interesse unicamente psicológico. mas prosseguindo um movimento que teve início muito antes de nós e que muito depois de nós terá o seu fim. Para além do horror das vítimas. Nós não queremos o útil. vermelha e dourada. em breve as linhas convergirão numa só e imparável coluna. Aquele que procure mesurar a guerra com uma maior ou menor superficialidade. Daí que os nossos valores sejam heróicos. por meio de uma comunidade estreita de laços nativos. diferenciada pelas características de cada povo. O núcleo da juventude alemã não viveu a guerra nos cafés nem em cómodos escritórios. após termos sido ofuscados daquela maneira pelo mais horrendo. uma nova visão. não conseguirá eliminar a Guerra nem o que esta criou. dependente da brisa que sopre em cada ocasião. nem o cómodo. Em todas as partes vemos. Nós saudamos os mortos. Esta juventude conquistou a consciência. para nós é unicamente a aparência externa. nuvens de gás. tudo isto pode ser essencialmente brutal e cobarde. vimos brilhar a luz da Vontade. sem forma e sem personalidade. no qual te saúdo como irmão. o grande sacrifício. nem negra. Neste escrito. assistimos a este nascimento em todos os povos da Europa. Permaneçamos conscientes sobre o sentido desta tradição. nas paragens mais horrendas do mundo. e a nossa colheita será a mais rica. o tétrico pano de fundo de que um novo homem. Mais. que exige novas formas. mas nós vimos aquele fogo dantesco com uma intensidade infinitamente maior. Nós saudamos aquele sangue que não se queimou na luta. esquerda. ficam abarcados os quatro pilares do nacionalismo moderno. cresça a semente. O que aí não foi destruído. Direita. passando o tempo. determina o nosso posto no mundo. havia nascido. O tristemente famoso manifesto pacifista dos literatos. o intelectual pacifista francês. está desfilando. A guerra é a nossa mãe. porém. e ao centro. reconhecemos o verdadeiro valor do homem e da força do seu posto. manifestou-se-nos o poder da Ideia. cada um para si mesmo. devemos esperar. companheiro de luta e amigo. no entanto. todavia. Alegremo-nos todos. É necessário um tempo para tomar consciência. Alemanha. vermelha e branca. Ele pode ter estado no Inferno. o qual. ela gerou-nos no ardente regaço das trincheiras como uma nova raça. cujos espíritos permanecem nas nossas consciências. senão o necessário: aquilo que o Destino exija. Acima do poder da matéria. em que poderá ondear livremente. Eles correspondem à atitude de uma juventude que não é doutrinária. Este novo nacionalismo não é um fenómeno que se limite apenas à Alemanha. Granadas. A nossa bandeira não é vermelha. com milhares de vínculos simbólicos." DESTINO E MORTE “Perdidos na vastidão da paisagem. A guerra é o resultado do sangue: aqui pouco importa o que os homens tenham para dizer sobre ela. veículos blindados. os valores do guerreiro e não os do tendeiro que pretende medir o mundo com o seu diminuto padrão. gritemos uns aos outros “Sede fiéis ao que sois!”. aqueles que serão unidos pela profundidade dos velhos rigores. A nossa tradição comum é a guerra. acima de tudo devemos recordar: que a guerra nos tocou da forma mais dura. os acontecimentos que lá embaixo se desenrolavam tinham um aspecto inofensivo e diminuto. pode ter visto ali o que quiser. Acabará por acontecer que todos iremos em direcção ao mesmo ponto. Barbuse. e separados de mim por uma grande distância. Com ele convertemo-nos em membros de uma nação. Não. a nossa bandeira é a bandeira de um novo grande Reich. e nós reconhecemos com orgulho a nossa origem. no fundo. quando escassamente uma nuvem aparece para escurecer o céu. por vezes. quando de repente a tempestade dos martelos e das rodas que nos rodeia se silencia. Através dos infortúnios e perigos o mortal é atraído à esfera superior de uma ordem mais elevada. Trecho de "Sobre o Perigo") O TRABALHADOR “Visto na plenitude do seu ser. Pois este movimento é uma alegoria da força mais íntima. ou seja. posto que os Deuses aparecem nos elementos. Por sua vez. o espanto por o ouvido julgar perceber. Tão somente podemos conjecturar que essas coisas que aqui ocorrem formam parte de uma grande ordem. por exemplo. e que em algum lugar se atam. A relação do progresso com a realidade é de uma natureza derivada. Aquilo que é visto é a projeção da realidade na periferia do fenômeno. estão não obstante condenadas. do artista. e a cidade em chamas ou tomada pela insurreição é um campo de atividade intensificada para o criminoso. É assim que. aos olhos do guerreiro." (Ernst Jünger. para formar um sentido cuja unidade nos escapa. o conflito trágico. O que distingue as grandes escolas do progresso é faltar-lhes a relação às forças originárias e a sua dinâmica ser fundada no curso temporal do movimento. e na violência de um cunho que apenas começou. aparece à distância. tal pode-se mostrar em todos os grandes sistemas do progresso e vale também para a sua . Não há acidente ocultando-se por trás desse fato mas uma mudança compreensiva do mundo interior e exterior. a do guerreiro." (Ernst Jünger. como desprovido de sentido. e do criminoso. por um instante. Se existisse um grande ser ao qual não lhe custasse nenhum esforço abarcar com um só olhar o espaço que desde os Alpes se estende até o mar. declara suspenso o trabalho por um intervalo de minutos. e isso eleva este ato a uma dignidade de culto. Tempestade de Aço) O APEGO BURGUÊS A SEGURANÇA "Entre os signos da época na qual nós entramos pertence a crescente intrusão do perigo na vida diária. Ela ser-nos-à assim manifesta. como a grande tarefa de uma estirpe que vivia há muito numa paisagem originária. em instantes em que nenhum fim e nenhuma intenção perturbe a meditação como poder subjacente e pré-formado. a figura do trabalhador aparece em si rica em contradições. as fontes mais profundas que alimentam o curso temporal do movimento. a tranquilidade que se esconde atrás da desmedida do movimento parece contrariar-nos quase corporalmente. como a sarça em chamas não consumida pelo fogo. que se atribuem uma relação elevada ou baixa em relação ao elemental. no sentido em que o significado misterioso de um animal se manifesta o mais claramente possível no seu movimento. esses fios dos quais pendemos e em cujo extremo realizamos contorções aparentemente absurdas e incoerentes. veria toda aquela andança como uma engraçada batalha de formiga. para honrar os mortos ou para gravar na consciência um instante de significado histórico. e é bom o costume que no nosso tempo. ele está sempre ali: ele busca com constância elemental romper as represas com as quais a 'ordem' cercou a si mesma. Experimentamos isto nós mesmos na medida em que tomamos parte no progresso e assumimos. de uma espantosa unidade e completude em relação ao destino. no entanto. irracional.impressionado tanto no dia anterior. A peculiaridade da relação burguesa com o perigo reside em sua percepção dela como uma contradição insolúvel com a ordem. A pessoa burguesa é talvez melhor caracterizada como uma que coloca a segurança entre os valores mais elevados e conduz sua vida de acordo. e por isso nosso pequeno Detino nos esmaga e a Morte nos aparece com uma figura terrível. a desembocar no niilismo. Porém. para o escritor. é um processo que se completa dentro de uma ordem superior. voltar a produzir o vínculo imediato com a realidade. como uma suave martelada em uma mesma obra. Seus arranjos e sistemas são dedicados a garantir seu espaço contra o perigo que às vezes. Nós vemos isso claramente quando nos lembramos que importante papel havia sido assignado ao conceito de segurança na época burguesa apenas passada. Mas o espanto sobre a sua suspensão e. Assim a batalha. é uma condição na qual o sentido mais profundo da vida deve ser compreendido muito claramente. como por um comando supremo. os valores burgueses possuem tão pouca validade para o crente. tensões e. Nisso ele se coloca à parte de outras figuras como. Porém nós vemos unicamente uma percela minúscula. Tal é a razão pela qual as suas conclusões. sendo por si persuasivas. como por uma matemática diabólica. de vez em quando. o trabalhador. para a qual tudo isto é apenas um armamento para combates e rebeliões insuspeitados. A nossa tarefa não é ser o adversário do tempo. e há um orgulho nas proezas técnicas. Também ele conheceu aqueles instantes de que precisamente se falou. que possui uma suspeita da mais misteriosa vontade de poder. no começo do domínio ilimitado sobre o espaço. também o progresso não está sem pano de fundo. mas a sua última cartada. do mesmo modo que o iluminismo é mais profundo que o iluminismo. aparece como o portador da substância heróica fundamental que determina uma nova vida.relação ao trabalhador. Neste sentido." (Ernst Jünger. Daí que para nós esteja fora de questão aquela atitude que procura contrapor ao progresso os meios inferiores da ironia romântica e que é a característica segura de uma vida enfraquecida no seu núcleo. no entanto. Há uma embriaguez do conhecimento que é mais do que de origem lógica. E. cuja entrada em ação deve ser concebida tanto na sua extensão como na sua profundidade. O pormenor que tão vincadamente os nossos pais iluminaram muda o seu significado quando é visto numa imagem maior. e precisamente por isso tão valioso e necessitado de um cuidado ainda mais afetuoso do que o que um guerreiro dedica às suas armas. para além do pormenor que o progresso lhe assinalou. Trecho de "O Trabalhador") . O prolongamento de um caminho que parecia conduzir à comodidade e à segurança entra doravante na zona daquilo que é perigoso.