Tese de Mestrado - Hipnose e Psicoterapia Etiologia e Práxis

March 22, 2018 | Author: Luiz Otávio Kunty | Category: Hypnosis, Ayahuasca, Science, Mantra, Advertising


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Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis - 20061 INTRODUÇÃO Embora faça parte do cotidiano dos indivíduos de várias formas e em diferentes situações, o hipnotismo é desacreditado por alguns, equivocado na opinião de outros, temido ou pouco conhecido para a maioria. As explicações sobre o transe hipnótico e seus efeitos, por conta de sua vinculação com práticas religiosas e crenças no sobrenatural, é cercada de mitos, magias e preconceitos. Mesmo entre pessoas com alto nível de escolaridade, o desconhecimento sobre este tema é bastante generalizado e, no conceito popular, a descrença de que os efeitos hipnóticos existam ou possam ser provocados é geralmente substituído por um temor supersticioso. Transe hipnótico é o estado mental resultante de alterações na neurofisiologia e decorre de várias situações. Pode ser provocado por ingestão de substâncias químicas, mas também pode ser produzido por simples estímulos sensoriais normais; auditivos, visuais, táteis e olfativos, além de situações como jejuns nutricionais, isolamento social, sono intenso sem possibilidade de dormir, abstinência sexual, comportamento motor intensivo, meditação, relaxamento físico e mental ou atitudes contemplativas de fundo religioso ou místico. Efeitos da hipnose sempre aconteceram na história da humanidade, em atos religiosos têm presença marcante, quanto mais solene ocorre um ritual associado a forças incompreensíveis, místicas ou mágicas, maior é o efeito hipnótico. Porém, não é apenas relacionado a situações que se prendem ao misticismo; ao longo da história foi produzida ou observada também pela perspectiva do materialismo cientifico ou simultaneamente por ambos. Definida com vários termos e diferentes sentidos, a hipnose é patrimônio da filosofia e da medicina ocidental e oriental, tanto a antiga quanto a contemporânea. No oriente os efeitos hipnóticos, geralmente com objetivos de cura, fazem parte de culturas milenares e se mantiveram quase que inalterados através dos séculos. No ocidente foram se adequando ao imaginário dominante, se ajustando á representação de cada nova realidade, se identificando com diferentes correntes do pensamento, valores, fantasias e mistérios que surgiam com as migrações e miscigenações étnicas culturais. A maior e mais rápida diversificação dos procedimentos hipnóticos ocorreram na Europa, devido à fusão étnica cultural do seu povo, ampliada em suas ações colonizadoras. Esse viés antropológico do hipnotismo constitui a principal abordagem histórico-lógica e teórica dedutiva deste livro. 2 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. Embora sugestão não seja sinônimo de hipnose, é certo que toda e qualquer hipnose começa pela sugestão e o transe hipnótico é o momento em que a sugestão atinge o ponto mais alto da sua ação. A execução desse processo é bem simples e os resultados se aproximam de fatos extremamente compensadores, podendo em alguns casos proporcionar efeitos terapêuticos inexplicáveis e até mesmo inacreditáveis. Nem sempre uma sugestão representa a possibilidade de desencadear o transe hipnótico, mas é, no mínimo, o preâmbulo imprescindível para que isso ocorra. Por isso, é comum o uso de um nome como se fosse o outro, às vezes chama-se sugestão de hipnose e, hipnose de sugestão. No entanto, deve ser chamada de sugestão hipnótica aquela que se perfaz no transe hipnótico ou a sugestão que permeia a aplicação de métodos e técnicas com o objetivo de atingir os efeitos da hipnose. Através da sugestão o pensamento se concentra numa idéia cujo resultado ou tendência é provocar determinado efeito, impele muitas ações humanas, tanto construtivas como destrutiva. A maior parte do resultado da vida das pessoas é conseqüência da sugestão; desde o desfrutar de sentimentos de alegria, paz e prazer, até situações negativas como doenças físicas e morais. Mas, situações negativas podem ser reversíveis pelo mesmo processo que se instalam, isto é, o que a sugestão faz, a sugestão desfaz. Da sugestão podem resultar ações inconscientes, compulsivas ou hipnóticas, que podem decidir o curso da vida das pessoas. E, a melhor maneira de fazer as sugestões produzir bons efeitos é através da hetero-hipnose e da auto-hipnose. No primeiro caso um hipnotista funciona como um guia que influencia através de sugestões as ações inconscientes de alguém. No segundo caso é o próprio hipnotizado quem o faz. Um indivíduo razoavelmente instruído poderá conduzir e controlar as ações do seu próprio inconsciente, em seu próprio benefício. Do início do século XIX até hoje termos como hipnose, inconsciente e sugestão caminham juntos, um tentando explicar o outro. No início de suas pesquisas Freud se valia do hipnotismo como procedimento de acesso ao inconsciente e, o conceituou como sendo uma espécie de porão onde fica guardado o que não se quer mostrar, onde fica depositando fatos e sentimentos que o indivíduo não tem coragem de contar nem para si próprio e, por isso, guardou e esqueceu. No entanto, pesquisas modernas revelam um conceito de inconsciente bem diferente desse estabelecido há cem anos. A explicação mais aceita hoje é a de que o inconsciente, longe de significar uma parte física localizada em uma determinada região Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 3 do cérebro, é uma espécie de programa operacional capaz de processar, ao mesmo tempo, milhares de informações paralelas, enquanto o consciente executa suas tarefas de forma serial, uma atrás da outra. Fornecendo informações ao consciente sob forma de intuição, o inconsciente é hoje compreendido como uma ferramenta de trabalho mental que executa tarefas fundamentais e pode determinar, em certas circunstâncias, atitudes que uma pessoa deve tomar. Modernamente o inconsciente é considerado como uma segunda inteligência, hábil também em executar tarefas sem que o consciente perceba; relaciona e toma decisões, determinando o que uma pessoa deve ou não fazer. As pessoas agem em determinadas situações, compelidas pelas sugestões ou informações que foram instaladas em seu inconsciente. Conscientemente, não sabem o que estão fazendo, mas fazem. O inconsciente tem um mecanismo de realimentação de sugestões; o que é depositado nele é retro-alimentado para o consciente e vice-versa. Toda pessoa, a menos que possua uma patologia psiquiátrica séria, é sugestionável e, um meio eficaz de fazer a sugestão funcionar é a sua repetição; com isso, imprime-se no inconsciente uma idéia que realimentará o consciente. É comum na infância se ouvir dos adultos algumas palavras ou frases repetidas, até que o inconsciente da criança aceite a idéia do que isso representa e depois a execute. Neste sentido podem acontecer situações que definirão, de forma positiva ou negativa, uma vida inteira. Na atualidade os efeitos da sugestão, agindo com extraordinária força hipnótica, são observados em diferentes veículos de comunicação, através de mensagens explicitas ou subliminares embutidas na informação principal. Esse tipo de comunicação pode determinar o comportamento de massa e, existem organizações que são responsáveis pela difusão de sugestões sistematizadas e repetidas que agem modelando o comportamento social. Por isso alguns efeitos hipnóticos devem ser entendidos como fato social normal que não se restringe só a momentos especiais. Embora os seres humanos vivam como se estivessem sob efeito hipnótico é, ironicamente, por não perceber essa possibilidade que podem ser manipuladas ou modeladas por idéias alheias à sua própria vontade. Na comunicação de massa, cada vez mais, esse recurso tem sido instituído e serve como instrumento a serviço da mídia na propaganda política, comercial e ou religiosa. 4 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. Efeitos hipnóticos estão presentes em diversos setores da comunicação, mas sem dúvida, é a propaganda que mais aplica este recurso. Utilizando-se da sugestão subliminar como estratégia para atingir seus objetivos, a chamada hipnose de massa é bastante evidente nos modernos processos publicitários, porque hipnotizar é antes de tudo convencer e a propaganda tem este propósito. Isso tem evoluído muito nos últimos tempos; já existem sistemas de publicidade, sobretudo na chamada publicidade indireta, capazes de criar no ânimo dos consumidores um desejo quase sempre irresistível para fazer ou deixar de fazer alguma coisa, como adquirir determinado produto, preferir marca ou modelo e alimentar o consumo desnecessário, deixando-os num estado que se assemelha bastante à hipnose clássica. Assim, identificar esses processos é uma forma de defender-se quando for preciso. A mídia é capaz, de uma só vez, de modificar conceitos e comportamentos de grande parte da sociedade através da repetição da informação que, às vezes, são equivocadas ou são ideologicamente construídas e nem sempre desprovidas dos interesses da dominação. Tem a mídia, através da sugestão, o poder de influenciar e convencer os coletivos sociais estabelecendo conceitos e preconceitos, alterando costumes, modificando hábitos, gerando consumo e formando opiniões. O recurso da sugestão hipnótica é também fortemente utilizado quando a religião determina o comportamento das pessoas com base na idéia de céu e de inferno, virtude e pecado, santos e demônios. Uma vez sugestionado o indivíduo pode ampliar ao máximo, por si só, o poder da sugestão que recebeu. O resultado desse processo depende de como foi, direta ou indiretamente, sugestionada a agir e, agindo, reforça a sugestão que recebeu em uma realimentação constante, aumentando cada vez mais o seu grau de convencimento em torno do objetivo induzido. O ritual religioso quando associado ao transe hipnótico, produz efeitos que ultrapassam a compreensão pela racionalidade. Curas inexplicáveis acontecem e, através de linguagens simbólicas, promovem profundos aumentos da percepção convencional. Algumas religiões milenares, que chega a contemporaneidade, sabem produzir melhor esta associação. O transe não apenas produzido através de estímulos dos sentidos normais, pode ser desencadeado por ingestão de substâncias que agem no organismo com este propósito. Nas sociedades primitivas estas substâncias hipnotizadoras foram encontradas na natureza, geralmente em forma de vegetais, e incorporadas às liturgias. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 5 Entre os grandes clássicos do hipnotismo europeu, é comum a referencia inicial ao Padre Gassner que praticava na Alemanha, por volta de 1770, métodos e aplicações de técnicas hipnóticas, associadas à crença católica, com objetivo de curar enfermidades. Para ele as doenças e os demônios estavam quase sempre juntos e uma pessoa doente poderia ser alguém possuída. Aquele que se sentia com o diabo no corpo, e por conseqüência doente, vinha ou era trazido ao Padre para que ele o expulsasse e, assim, promovesse a cura. Franz Anton Mesmer assistiu várias apresentações de Gassner e não se conformando com a explicação do Padre, deu uma versão não menos fantástica para as curas através do hipnotismo, em lugar de responsabilizar demônios pelas enfermidades, responsabiliza os astros. Para ele a doença resulta da freqüência irregular dos fluidos astrais e a cura depende de sua adequada regulagem. Acreditava que certas pessoas teriam o poder de controlar esses fluidos, podendo comunicá-los a outrem, direta ou indiretamente, por intermédio de objetos magnetizados pelo seu contato. Os efeitos hipnóticos saíam da explicação religiosa indo para a explicação da influência astral, tese segundo a qual os fluidos magnéticos invisíveis regulam a vida das pessoas e, por volta de 1780, o Mesmerismo se espalhou pela Europa; Mesmer dizia que o crucifixo de metal usado por Gassner era responsável por concentrar e transmitir para os enfermos um fluido magnético curativo. Cria assim a doutrina do Magnetismo Animal, que foi logo bem recebida por legiões de adeptos. Foi ele um dos maiores mistificadores do que mais tarde seria conhecido como hipnose. O magnetismo animal prossegue com o Marquês de Puységur, um dos discípulos de Mesmer. O Marquês, casualmente, enquanto magnetizava um camponês com objetivo de curá-lo de enfermidade, percebeu que o paciente caía em um estado de sonambulismo, como se mantivesse em sono profundo, com movimentos respiratórios tranqüilos. Nada havia das clássicas agitações provocadas pelo Mesmerismo. Puységur percebeu, com surpresa, que o camponês podia falar sem sair do sono hipnótico e com lucidez maior que a habitual, indicou sua própria doença como sendo uma infecção pulmonar e para sua própria cura indicou remédios precisos. Puységur chamou isso de sonambulismo artificial, e descobriu o estágio mais profundo do transe hipnótico que até hoje é chamado de sonambúlico. O magnetismo tomou outro rumo através do médico e filósofo, Denizard Hippolyte Léon Rivail. Em 1850 o Mesmerismo atraiu a sua 6 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. atenção, passando a integrar o grupo dirigido pelo Barão Du Potet, dirigente da Sociedade Magnética de Paris. Inicialmente Rival freqüentou sessões de magnetismo Mesmerista em busca de solução para os casos de enfermidades de pacientes a ele confiados e tornou-se mais tarde o codificador da doutrina espírita. Em 1859 com o pseudônimo de Allan Kardec publica o Livro dos Espíritos e cria outra versão para o magnetismo, a de que a força curativa era atribuída aos espíritos. A estruturação de sua doutrina tem por base o pensamento de Platão (427-347 a.C.), sobre a existência da alma, herda as teorias do magnetismo e se desenvolve absorvendo práticas Mesmeristas. O espiritismo segue sua própria escola e o Mesmerismo acaba sendo substituído pelo hipnotismo. Vários foram os homens famosos que desenvolveram e aplicaram as idéias de Mesmer. Mas foi James Braid, médico escocês que usou pela primeira vez, por volta de 1841, a palavra hipnotismo. Deve-se sua iniciação nos estudos da hipnose ao famoso Mesmerista suíço Lafontaine (1802-1892), discípulo de Puységur. Em 1843, Braid publica seu livro sobre o assunto; dizia que a fixação do olhar era o processo para o efeito Mesmerista. Batizando esses efeitos como hipnos, nome do deus grego do sono, anexado ao vocábulo ismo, que significa estudo, cria à expressão hipnotismo e, disso derivando outros nomes como hipnose, hipnótico, hipnólogo, hipnotizador e hipnotista. Hipnotista é quem induz o transe hipnótico de forma metódica, técnica e sistemática, é teórico e prático na área da hipnose. Hipnotizador é quem casualmente hipnotiza sem possuir conhecimento teórico, às vezes não sabe se quer o quê significa a hipnose ou até mesmo como provoca seus efeitos. Hipnólogo é o teórico, estudioso do assunto, conhecedor das técnicas hipnóticas, mas nem sempre hábil na prática de hipnotizar. Hipnotizado é quem está sob a ação do hipnotismo, é também chamado de paciente quando a hipnose é produzida para tratamento médico. Liébaut foi quem acrescentou a sugestão verbal à fixação do olhar desenvolvido no método de Braid. Sua técnica tranqüila e discreta baseava-se nas palavras e no tom de voz. Em 1864, lendo um exemplar da obra de Braid, fez-lhe renascer o interesse pelo assunto que não mais deixaria por toda a sua vida. Seus clientes eram pessoas humildes e camponesas e a eles Liébaut dizia: “Se quiser tratamentos com drogas, terá que pagar a consulta, mas se permitir que faça o tratamento pelo hipnotismo, não terá de pagar nada”. foi quem definiu os efeitos pós-hipnóticos da sugestão como elemento provocador de ações inconscientes compulsivas. como Krafft-Ebing na Áustria. Com tanta gente estudando e teorizando. quando analisou o fenômeno baseando seu estudo nos reflexos condicionados. Os estudos acadêmicos ortodoxos quando se aproximaram desta área foi com receio e cautela. davam novos impulsos à hipnose. Nasceu daí a histórica controvérsia entre as duas escolas francesas de hipnotismo. forneceram muitas pistas que lhe permitiu os primeiros passos para o desenvolvimento da teoria e da técnica da psicanálise. estavam presentes importantes personalidades e. a outra na Cidade de Nancy. cada vez mais. Heidnhain na Alemanha. Estas escolas serviram de base para Freud e. cada um tentando compreender e difundir a hipnose pelo mundo. foram obrigados ao exame deste tema e muitos médicos. Felkin na Escócia. McDougall e Phineas Puimby nos Estados Unidos.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 7 Por volta de 1880. principalmente. a hipnose ganha impulso na aplicação terapêutica e cresce através de demonstrações recreativas. Suas hipóteses para enquadrar as explicações nos princípios do paradigma mecanicista não prosperam. Assim. muito se deve ao cientista russo Pavlov. as investigações com o uso da hipnose. uma no hospital La Salpêtrière em Paris e. destacaram-se por arrebatarem multidões para demonstrações de hipnose recreativa através de grandes espetáculos. a cerca da natureza destes espetáculos. Donato e Hansen. cada qual procurou interpretar a seu modo este fatos estranhos. e propôs aplicar isso como terapia. Nesta mesma época. Forel na Suíça. ambos no fim do século XIX. que tão vivamente incitavam a curiosidade pública. e descobriu que podia induzir sintomas histéricos através de sugestões hipnóticas. Violentas controvérsias explodiram pela impressa. o hipnotismo alcançou mais intensamente o debate nas academias. Bernheim apontou a Charcot os seus erros. a partir daí. as tentativas da . Nas platéias. professores e cientistas se interessavam pelo assunto. Pavlov na Rússia. Das tentativas para explicar a hipnose cientificamente. Bernheim foi o primeiro a perceber que o estado hipnótico era normal em todas as pessoas e. Wetterstrand na Suécia. Bramwell na Inglaterra. Não concordando. Das duas clássicas escolas de hipnotismo resultaram muitos outros pesquisadores. por meio do palco. Charcot achava que a hipnose era uma forma de histeria. Os homens de ciências. mostrando-lhe que as características histéricas não eram critérios para o transe hipnótico e que os sintomas da histeria podiam ser provocadas artificialmente por mera sugestão. solicitados. É através de cursos e apresentações que os participantes podem analisar os efeitos hipnóticos a que estão sujeitos no cotidiano e. Dr. invariavelmente. Mesmo que convivam com ela. promovendo o desenvolvimento da auto-estima e da compreensão de si mesmo. requisito indispensável para a solução de muitos problemas e conflitos. normalmente as pessoas não acreditam na hipnose. mais ainda. Charles Baudouin e Pierce. Pode também representar um caminho para que seja atingida a melhoria da qualidade de vida. necessariamente. ciência neste campo foram vagas e os resultados obtidos nas pesquisas foram sempre imprecisos.8 Antonio Almeida Carreiro. em breve. Embora vagos os conhecimentos científicos disponíveis para explicar a hipnose. está sendo cada vez mais utilizada. Nos dias atuais o hipnotismo é apontado como uma arma eficiente de que dispõe a humanidade em sua incessante luta contra alguns males. Somando-se a isso o fato da ciência estar caminhando para um novo paradigma. Na atualidade estudos sistematizados já despontam em grandes centros de pesquisa como na Universidade de Harvard. que podem desmistificar . Sc. a maioria só acredita quando presenciam demonstrações práticas que não devem ser simples espetáculos de curiosidade. muito difundida na Europa e que entrou em moda nos Estados Unidos na metade do século XX. mas se deve a Emile Coué a sistematização desse processo. deixando de ser privilégio de alguns para ser conhecida pelo grande público. juntamente com a Universidade Stanford. Com o avanço dos novos recursos tecnológicos aplicados como instrumentos de pesquisa. sem que para isso seja preciso. grandes revelações sobre os efeitos da hipnose já ocorrem em laboratórios do mundo científico. Suas idéias e frases estão. ganhará a respeitabilidade da comunidade cientifica acadêmica. a hipnose sairá. O domínio da auto-hipnose pode ajudar na eliminação das doenças psicossomáticas ou eliminar efeitos psicológicos que agravam doenças orgânicas. escreveram sobre o assunto. entre outros. do conceito de pseudociência. O uso da sugestão hipnótica em benefício próprio dá lugar ao conceito conhecido como auto-sugestão ou auto-hipnose. Foi ele quem formulou vários princípios e leis que fundamentam a aplicação da auto-sugestão e desenvolveu o célebre método que chamou de “Domínio de si mesmo pela auto-sugestão consciente”. escritas nos livros de auto-ajuda. muito antes de ser descartada. Sua prática permite a descoberta da autoconfiança. crer ou seguir doutrinas ou ser convencido a colaborar de forma econômica para pessoas ou organizações. As discussões acadêmicas representam o melhor caminho para difundir e desmistificar a hipnose e a Faculdade é o fórum ideal para esse trabalho. tem-se uma exposição de fatos que são reproduzidos para efeito de aprendizagem. O capítulo I trata da história da hipnose no decorrer dos séculos e. morais e científicos. Seu estudo deve ser claro e baseado. O capítulo IV trata da auto-hipnose. como base para a compreensão das principais teorias que fundamentam as psicoterapias e estuda a etiologia da hipnose através das diferentes correntes de pensadores e cientistas. . portanto válido pelo sentido útil que se traduz na apropriação do conhecimento teórico e prático revelado nas demonstrações.científico. envolvendo situações específicas e naturais do cotidiano. para compreender sua prática predominantemente terapêutica. na verdade e nos princípios éticos. A prática é muito importante para quem deseja aprender além da capacidade teórica. O capítulo II inicia apresentando breve análise da evolução do pensamento. a habilidade e a competência nesta área não se adquire através de simples leitura. problemas de caráter terapêutico.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 9 desvendando como é processada a sugestão ou a auto-sugestão e conhecer seus efeitos. principalmente. Os aspectos abordados nesta introdução são tratados com detalhes neste livro. representa a soma de conhecimentos. do mítico ao filosófico . Nessa oportunidade não se tem um mero espetáculo de curiosidade. competências e habilidades estudadas nos capítulos anteriores. ao máximo. Este último aspecto é de grande importância para o leitor que busca soluções para problemas existenciais e. neste espaço as apresentações fogem àquele sentido superficial e comum de espetáculo. No capítulo III o estudo é dedicado à práxis. seu objetivo é reconhecer a sintomatologia do estado hipnótico. a aplicação de fórmulas de indução e seus efeitos. estuda atores clássicos do hipnotismo. são formas de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos deuses. gestos.410 a. Sc. descrevendo procedimentos de médicos colocando suas mãos sobre as cabeças de pacientes e. o hipnotismo é envolvido em uma atmosfera de mistérios. como exemplo. Os cultos e sacrifícios religiosos.) e ao pitagorismo. apontando fatos a respeito da teoria e da prática da medicina egípcia. O mais antigo relato do que podem ter sido sessões de hipnotismo foi registrado nos Papiros de Ebers por volta do século XVI a. são formas de se tentar a cura para as enfermidades ou alcançar favores divinos. cores. a hipnose manteve sempre.C. exercia as funções de sacerdotes.10 Antonio Almeida Carreiro. constituíam parte do conhecimento experimental praticado na Índia. CAPÍTULO I . construído com base na cultura e na história de cada sociedade. adornos.C. músicas. seus praticantes se dizem. ao mesmo tempo. locais e circunstâncias particulares de cada povo. independente das transformações na forma de pensar ao longo dos séculos. elementos culturais de alto valor simbólico que emanam força hipnótica incontestável e induzem transes e êxtases. a identidade dos princípios que desencadeiam seu processo. Fatos e procedimentos identificados como hipnóticos sempre ocorreram associados com práticas religiosas e ou curativas. Na maioria das vezes. Sua prática. simples instrumentos da vontade misteriosa de forças sobrenaturais.HIPNOSE E TERAPIA Não importa a forma como se justifica ou o grupo social no qual se apresenta. praticados nas sociedades humanas de qualquer etnia. . pinturas e máscaras. principalmente relacionadas à cura. na religião do orfismo e nos mistérios de Elêusis. Dr. causas efeitos e finalidades. cantos. cercados de transes. cujas influências se estendem à escola filosófica de Pitágoras (485 . Sua manifestação geralmente expressa a aliança entre o ideário do sagrado e do humano. recitavam estranhos mantras que sugeriam curas. magistrados e médicos. esculturas. foi se ajustando à época. no decorrer dos séculos. freqüentemente. Caldeia. em qualquer época. que chega na atualidade com a mesma força do passado. afirmando possuírem poderes sobre-humanos. Egito e Grécia antiga por uma casta privilegiada que. danças. de transes inexplicáveis cercado de superstições. rezas. Sempre envolveram juntos ou separadamente crendices. Assim também acontecia na Grécia antiga. criando diferentes crenças para justificar seus efeitos. Mahavita e Rama entre outros. como um rosário. técnicas de respiração e meditação. 1 os gregos realizavam peregrinações ao templo de Esculápio ou Asciénio. Os sacerdotes de Caem recorriam à hipnose para abrandar descontentamentos coletivos e as sacerdotisas de Ísis.C.C. 1947. é a composição das sílabas “man”. Nesse processo. por um guru. os egípcios Osíris. mantendo o corpo totalmente imóvel. livros sagrados dos indianos. A descoberta revelou inscrições datadas do século IV a. Seus seguidores acreditam em tais sons como uma espécie de oração que. trazendo paz e abrindo o canal de comunicação com o divino. hipnotizadas. Paris. Buda. três mil anos a. antigo idioma da Índia. tendo a finalidade de atingir um estado mental contemplativo. para que produzam os melhores efeitos hipnóticos. postas em transe. sonoridade e ritualidade. revelava 1 DELCOURT. quando invocavam a presença de uma divindade para indicar os possíveis expedientes de cura. ajudam a manter a mente quieta e pacifica. interrompendo o fluxo de pensamentos intermitentes. os sons podem ser repetidos até centenas de vezes em ambiente silencioso. palavra ou frase pronunciada segundo prescrições ritualísticas e musicais. Antigas civilizações sempre tiveram um deus ligado a um mantra. e “tra” que pode ser entendida como entrega ou proteção. o mesmo acontece com relação à Crisna. deus da medicina e filho do deusprofeta Apolo. Seu templo mais famoso foi o de Epidauro em Argólia na Grécia. Durante a vocalização. os gregos Apolo. a palavra é traduzida como “proteção da mente”. Os primeiros mantras foram retirados dos Vedas. e são hipnóticos pela repetição e monotonia. No sentido cultural significa silaba. Na tradição hindu. descoberto nas escavações ocorridas em 1850. vocalizados e repetidos várias vezes. . filosofia indiana milenar que combina exercícios físicos. Neste caso o mantra não pode ser revelado para mais ninguém. manifestavam o dom da clarividência. explicando como peregrinos eram submetidos à hipnose pelos sacerdotes. Essas técnicas e atmosfera mágica relacionada com o divino são próprias do hipnotismo. os mantras são considerados sons sagrados que ajuda o ser humano a entrar em estado de meditação. que significa mente ou pensamento. De modo geral. usando a técnica da respiração lenta e profunda.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 11 O termo mantra vem do sânscrito. Algumas vertentes da yoga. Marrie. Segundo Delcourt. pode-se usar ou não um objeto que facilite a contagem. os hindus Brahrma. conhecido como japa. Les grands sanctuaires de la Grèce. utilizam mantras em seu dia-a-dia e acreditam que para ser mais efetivo deve ser dado. para a pessoa que irá vocalizálo. combatidos e dizimados pelos romanos e mais tarde pelos cristãos. Acontecimento semelhante ocorria nos oráculos. onde existiam os Templos dos Sonhos que eram locais apropriados para se aplicar nos pacientes sugestões terapêuticas enquanto dormiam. alguns eram considerados intermediários entre os deuses e os homens. Também exerceu notável influência na . cânticos e magia. está sendo largamente utilizada e institucionalizada com este fim. elaborou uma série de técnicas de indução de sugestões de melhorias para o ser humano. Na Gália foram considerados bruxos. que no ocidente ficaria conhecido como Avicenna. Também os Azstecas e os Mayas utilizavam a hipnose para tratar dos doentes. aliviava suas dores e curava doenças. Dentre os hindus. nascido nas proximidades de Bukhara morreu perto de Hamadã (atual Irã). chineses e tibetanos. Semelhantes fatos já ocorriam na velha civilização babilônica. cercadas de mistérios. persas. é destaque o médico e filosofo árabe Ibn Sina (980-1037). a hipnose vem sendo exercida há milênios em meio a rituais religiosos e. alguns sobreviveram em sua prática religiosa. é fácil observar que assim ainda prosseguem na atualidade. Nas ilhas britânicas o chefe religioso dos Druidas punha seus fiéis recostados e. induzindo-os a um sono artificial. A hipnose e a religião estão sempre próximas. Dr.12 Antonio Almeida Carreiro. sem aparentar sentir dor. Na Índia. na Irlanda. atualmente. na Grécia. seus rituais. articulavam suas profecias depois que entravam em convulsões sob o efeito do transe auto-hipnótico. realizavam curas com o uso de ervas. Dentre os grandes homens sábios. Inúmeras gravuras daquela época mostram sacerdotes-médicos colocando presumíveis pacientes em transe hipnótico. práticas de torturas. que se submetiam às maiores torturas sem dar o menor sinal de sofrimento físico. Pela auto-hipnose se explica a anestesia dos mártires. ao Faraó fatos distantes ou ainda por ocorrer. filósofos e líderes religiosos que se dedicaram ao hipnotismo. Eles prediziam o futuro. Influenciado pelas idéias das primeiras escolas filosóficas sobre a importância do cosmo sobre a doença e a saúde. quando as sibilas prediziam o futuro. aconteciam nas florestas. quando não juntas nos ritos religiosos e. o faquir produz o transe auto-hipnótico para suportar. mongóis. Sc. sob sigilo. na Roma antiga e no Egito. A hipnose provavelmente também teve um papel importante nas práticas religiosas e nas artes curativas dos Druidas Sacerdotes de religião pré-cristã da Gália e da Bretanha que depois se espalharam por toda a Europa Ocidental. se poderia agir sobre o corpo humano”. A busca do transe hipnótico por ingestão de meios químicos é o método mais direto para o ser humano entrar. das Américas e da Oceania. São Paulo editora Mercado de Letras. alguns são classificados como alucinógenos. os Cogumelos. formulou hipóteses de que certas moléstias eram causadas por pequenos organismos presentes na água e na atmosfera e elaborou vários procedimentos de diagnósticos. Elementos e efeitos hipnóticos estão também presentes nas religiões das tribos indígenas da África. Segundo Labate 3 na natureza existem cerca de 100 vegetais que podem desencadear o processo hipnótico. Em diversas regiões da América do Sul o chá Ayahuasca é o mais conhecido.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 13 medicina moderna. & Hofmann. A. México. 1982. o sarampo e o diabetes. Orígenes del uso de los alucinógenos. em mundos fascinantes do seu inconsciente. dentre as quais a Iboga que é utilizada por aproximadamente um milhão de pessoas na África. os padecimentos podiam ser curados.E. Dizia que a “imaginação humana tinha poderes e força e. Schultes. O Uso Ritual da Ayahuasca. da palavra. A Jurema é consumida na forma de chá. assim. enquanto as sementes do Yopo são maceradas e seu pó é consumido pela via intranasal (cheirado). 2 o uso destas plantas permitia ao curandeiro realizar cura. No campo da hipnose Avicenna. Diversos vegetais com propriedades hipnóticas têm sido utilizados com esta finalidade. para o contato com divindades e outras forças do mundo espiritual. por tribos indígenas como meio de produzir transes. da vontade e da persuasão e. através dela. que já apareciam em registros hindus da Antiguidade. analisou uma série de doenças como a varíola. Segundo Schultes & Hofmann. como a Jurema e o Yopo. Plantas de los Dioses. Sua obra Cânom foi leitura obrigatória no ensino de medicina na Europa por muitos séculos. 3 Labate. 2 . desde as antigas civilizações. no decorrer de ritos religiosos. Na região amazônica algumas plantas são utilizadas. apresentando um papel importante em ritos religiosos. no século X. R. ser possível atuar fisiologicamente através da imaginação. 1998. entre seus efeitos. foi quem primeiro descreveu a anatomia do olho humano e o funcionamento das válvulas do coração. Bia e Wladimyr Sena. cacto amplamente consumido no México e nos EUA cuja substância ativa é a mescalina. Fondo de Cultura Económica. pode transportar a mente humana para o autoconhecimento. temporariamente. já afirmava. o Peiote. fazer adivinhações e orientar a tribo nas estratégias de guerra. A explicação é que. Há relatos do uso do chá ayahuasca em toda a Amazônia. Em contato com diferentes povos. Essas visões. mas isso não quer dizer que várias das ervas nativas indicadas pelos pajés e xamãs não tenham princípios químicos ativos que. os rituais dos xamãs se popularizaram e se transferiram para fora das aldeias. Descrições dessas experiências podem ser encontradas ao longo de todo o caminho que vai da Sibéria às Américas. incorporaram parte de outras cultura e crenças. O xamantismo. permanece por vários dias em estado de êxtase. bem como contra ataques de feras da floresta. extremamente monótono e repetitivo. no ritual de cura dos indígenas ocorrem sons produzidos pela voz humana e ou instrumental.14 Antonio Almeida Carreiro. geralmente é usada em ritual religioso com propósitos de cura ou para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas. Dr. passou por uma experiência de sentir sua sexualidade transfigurada. Sc. inclusive. Entre algumas nações indígenas o xamã é um homem ou mulher que. Tudo isso revela condições hipnotizadoras que. percorre lugares distantes. enquanto um espírito estranho encarna para realizar trabalhos de cura e adivinhação. vêm sendo objeto de pesquisa científica e que já compõem vários remédios produzidos pelos laboratórios farmacêuticos. É iniciado através de rituais. guiadas e manipuladas pelos xamãs e . sua alma vai para longe do corpo. lida principalmente com a fé. prevenção contra espíritos malévolos. independente de ingestão de qualquer substância. é que se observa nos centros urbanos. no final da infância. assim como dos primitivos habitantes da Europa e da Ásia. segundo a crença indígena. Essa mescla. entidades que indica procedimentos de cura. bem como na costa do Panamá. uma categoria especial de médico-pajé que entra em transe e. Entre as diversas tribos da bacia Amazônica é percebida como uma poção mágica. às vezes muito distanciada das explicações originais. assim como muitas outras medicinas alternativas. com pelo menos quarenta nomes diferentes. é caracterizado por um conjunto de práticas realizadas pelo xamã. Foi reconhecida nesta região em pelo menos setenta e duas tribos indígenas. chegando à costa do Pacífico no Peru. de origem divina. A prática do ritual de cura dos indígenas. a partir daí leva a vida voltada inteiramente para dentro de si. Independente do uso de vegetais. podendo também acontecer danças com movimentos corporais lentos. depois disso consegue facilmente entrar em transe para servir de intermediário entre os homens e os espíritos xaporis. Colômbia e Equador. antiga religião da Ásia que existe até hoje. podem levar pessoas ao transe. síncronos e repetidos. O cipó é cortado em pedaços de 20 cm de comprimento e amassado. Vinho de Deus ou Vinho dos Espíritos entre outros. carregada de conhecimentos sagrados". Os desdobramentos sócio-histórico-culturais ocorridos nesta região. na etnologia lingüística aya quer dizer corda ou cipó dos espíritos ancestrais e waska significa chá ou vinho. no fim do século XIX. bebida de cor marrom claro e de gosto amargo fabricada em diversas regiões da América do Sul. Bejuco de Oro. No Brasil o consumo do chá ayahuasca por não indígenas surge do contato entre seringueiros e xamãs da região amazônica. propiciaram a expansão do seu uso para outros contextos distintos de suas origens e dá início às religiões que se espalham rapidamente para os centros urbanos. Caapi. Os métodos de preparo do chá ayhuwasca variam conforme o grupo. junto cipó e folha. Segundo suas crenças. geralmente. A transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca. A palavra ayahuasca pertence à língua quéchua. do Equador. As religiões criadas no século XX que fazem uso do chá ayahuasca são consideradas. Pindé. É evidente o poder hipnótico do chá ayhuwasca. Na mistura para a sua produção pode ou não ser acrescentado mais de trinta outras espécies de vegetais. Onde se cultua o chá é recorrente a expressão “o cipó dá a força e a folha. Também pode ser amassado. Natema. juntado duas medidas de cipó para uma das folhas e posto a aquecer até a fervura. voltando ao mesmo conforme a vontade. Kahi. como a folha de outro cipó conhecida na Colômbia como chagro panga (Diplopterys cabrerana). Mihi. luz”. acreditam que a experiência com ayahuasca é a vida real. no auge da exploração da borracha. ao passo que a realidade cotidiana é apenas uma ilusão. podem se repetir de forma coletiva. com água fria. Dápa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 15 fundamentada no ideário de crença do grupo. É um longo processo. leva quase um dia. O chá ayahuasca é conhecido em diferentes culturas por outros nomes como Yajé. como . a partir do cozimento concomitante de talos socados do cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis caapi) e da folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis). mas também é conhecido no Brasil como "Chá do Santo Daime" ou "Vegetal". Os índios Jivaro. nas primeiras décadas do século XX. entre os efeitos produzidos "facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo. Originariamente o chá ayhuwasca era produzido e usado nos rituais indígenas. (Schultes & Hofmann). do ponto de vista antropológico. e deixa em descanso por aproximadamente vinte e quatro horas. envolve santos da igreja católica e orixás do candomblé. síncronos e monótonos. O nome Daime vem do próprio verbo "dar". criou a Barquinha. migram para zonas urbanas e para grandes centros como Salvador. pelo menos. 4 Várias comunidades na Amazônia passam a cultua o chá ayahuasca e. Quantitation of N. As novas religiões que fazem uso do chá ayahuasca associam ações esotéricas do mundo indígena com tradições de outras crenças religiosas. dois para um lado. em seu ritual. é a menos espalhada pelo Brasil. formas de neoxamanismo. a floresta. fundou a Doutrina "Santo Daime".N-dimethyltrytamine and harmala alkaloids in human plasma after oral dosing with Ayahuasca. Raimundo Irineu Serra fundou a vertente religiosa ayahuasqueira conhecida como Alto Santo. após uma intensa iniciação com bebida Ayauasca através de um Xamã na floresta amazônica. a religião do Santo Daime no Rio Branco. maranhense que se mudou para o Acre. embora menor. concentra-se na região amazônica. Rio de Janeiro e São Paulo. Dr. Foi tomando essa bebida que o Mestre Irineu teve a visão (miração) de Nossa Senhora da Conceição e. Sc.16 Antonio Almeida Carreiro. J Anal Toxico. que em 1930 em Rio Branco-Acre. et al. a paz e a alegria. 1996. segunda afirma. é a mais antiga. daí avançando para todos os Estados da federação brasileira e também para a América do Norte e Europa. reverenciam a mata. no sentido Daí-me Luz! Daí-me Amor! Daí-me Força! 4 Callaway. colocando a etnia branca em contato com. conhecido como "Mestre Irineu". Em todas elas os efeitos decorrentes da ingestão do chá são atribuídos ao processo de purificação da alma e tem como objetivo transmitir aos homens "uma prática ordenada pela força superior no sentido de ensiná-los a se conduzir sobre a terra" (Callaway).C. a cerimônia envolve uma dança coletiva de passos repetidos. . recriam rituais xamãnicos agregando novos elementos culturais e religiosos. passando pelo catolicismo popular. l 20(6): 492-7. era um negro seringueiro de dois metros de altura. Raimundo Irineu Serra. em doses diferentes. pelo candomblé e pela umbanda. Bastantes sincréticas combinam. dois para outro. típico dos rituais de influência africana. Em 1945. fragmentos de tradições religiosas milenares. desde o xamanismo indígena até o kardecismo. Ás vezes essa dança dura uma noite inteira. Por volta de 1930. Tem início com os mestiços da região amazônica. admite a incorporação do "Preto Velho". J. no Estado do Acre. Daniel Pereira de Mattos. foi lhe passando os fundamentos da Doutrina. Ao lado de cânticos que geralmente têm inspiração ecológica. É o Centro Espírita Luz. uma entidade poderosa no universo da Barquinha. e assim começa a viagem. dentro da igreja. músicas que teriam sido inspiradas por guias espirituais invisíveis. conduzido pelo Mestre Juarez. supostamente se manifestam para afastar as forças negativas. o trabalho na Barquinha está encerrado. conecta o homem com o divino. A cortina se abre para revelar o altar onde pontifica São Francisco das Chagas. Sua estrutura. No seu ritual os adeptos. Acredita-se que várias entidades descem ao terreiro para expulsar os espíritos malignos. começa a celebração da Noite de São Pedro e. discípulo do Mestre Irineu. nos anos 90. orações e salmos são entoados. tomam o chá ayahuasca que. todos saem para o terreiro de umbanda. Existe outro centro da Barquinha situado às margens do Rio Acre. A bebida provoca o transe. com outros seres divinos. na França. Após beber o chá. Quando as cortinas se fecham. mas também é de umbanda. até os pés de Jesus Cristo. com mais de oitenta anos de idade. ele estaria incorporando um encantado. pelo mar sagrado do Santo Daime. com roupas de marinheiro. natural de Eurinepé. divulgando de forma explicita seus objetivos e práticas religiosa. permite que os diversos segmentos. No dia 29 de junho. se organizando melhor através de ajustes e correções em sua estrutura básica. O CEFLURIS. É uma crença cristã. como revistas e Internet. onde está a salvação. um patriarca da floresta. resultou sua expanção pelos centros urbanos brasileiros e para o exterior. entidades espirituais. entre outros paises. na Holanda. Mestre Juarez assovia. cuja missão seria resgatar almas dos mortos que sofrem no mundo espiritual e levá-las. utilizem bem os meios de comunicação. apareceu outra ramificação do Santo Daime. o comandante que pilota a Barquinha. Essa interação com o publico permitiu sua divulgação e aponta para o seu crescimento acelerado no Brasil e no mundo. conhecidas como caboclos. onde são feitas as chamadas "obras de caridade". esotérica e cristã. espalhados pelo país. já possui núcleos no Japão. . Amor e Caridade.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 17 Forma-se mais uma religião denominada Barquinha. Todos cantam os salmos. chamando a força do Daime. o CEFLURIS – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra. o Príncipe Dragão do Mar. fundamentada em crenças xamânica. Amazonas. na Itália e nos Estados Unidos. liderada por Sebastião Mota de Melo. Na década de 1970. horizontal e democrática. Uma boa característica dessa organização é o fato de ser a mais abeta à comunidade externa. segundo a crença. um seringueiro e construtor de canoas. segundo Mestre Gabriel. Todos. Dr. melhor compreensão dos fundamentos da espiritualidade. significa uma “força estranha. segundo seus dirigentes. além de postura socialmente ética sobre todos aspetos. segundo seu fundador. Não permite o uso de ayahuasca. sem danças. No ritual. No início . no Estado de Rondônia. Durante a sessão. Por orientação do Mestre Gabriel. simultaneamente bebem e ficam esperando a "burracheira" como é conhecido o transe. formou-se o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV) em Porto Velho. o Mestre vai de um em um e pergunta “Como vamos? Tem luz? Tem burracheira?”. A UDV indica para os associados regras disciplinares rígidas como o não consumo de álcool e de fumo. considera inadequado o uso indiscriminado por parte de pessoas não-iniciadas e sem a orientação de um dirigente (Mestre). para sair do recinto. o Mestre preside e dosa a quantidade do chá para o consumo de cada um em particular. além de sessões de iniciação. Na década de 1960. Atualmente figura como uma das maiores e bem organizada religião que faz uso do chá. Durante o ritual todos permanecem sentados e em silêncio. é preciso permissão do Mestre. é um veículo de concentração mental e seu efeito amplia a percepção e permite. Isso vale para prevenir vertigens e outras situações imprevistas durante o transe. seu ritual é discreto. e em algumas sessões kardecistas até a primeira metade do século XX. É contrária ao uso do chá fora do contexto religioso. “este é o sentido da força”. preservação da instituição familiar.18 Antonio Almeida Carreiro. a circulação das pessoas no salão se faz no sentido anti-horário que. sem exceção. Na UDV ocorrem sessões regulares (de escala) duas vezes ao mês e sessões extras convocadas pelo Mestre. no fim do século XIX. principalmente em função das reações do chá que iniciam após trinta a quarenta minutos e vai até três ou quatro horas. através de José Gabriel da Costa. Decorrido cerca de uma hora e meia. denominado apenas como Hoasca ou Vegetal. O novato ao sair é seguido por um ou dois associados que o vigia em tempo integral. Essa prática também acontecia nas sessões mesmeristas. um baiano que foi para a região amazônica trabalhar nos seringais. Sc. por pessoas que não sejam membros efetivos ou alguém indicado por um associado e aprovado pelo líder da organização. a UDV adota a fundamentação cristã e reencarnacionista e o transe é conhecido como burracheira que. a presença da força e da luz do Vegetal na consciência daquele que bebeu o chá”. é mais fechado à comunidade externa e sua estrutura é vertical e hierarquizada. José Gabriel passa a dirigir um rito sincrético afro-indígena. O fenômeno do chá e a religiosidade cabocla. que associa. etc. em Porto Velho. Este momento foi considerado ANDRADE. foi um importante personagem bíblico. Segundo a crença da União do Vegetal. Gabriel passa a atender pessoas. o Rei Salomão. Conselheiro. Em abril de 1959. como freqüentou sessões espíritas kardecistas e terreiros de candomblé em Salvador e seu trabalho na extração da borracha no Estado de Rondônia. 5 . no seringal Guarapari. São Bernardo do Campo. Gabriel recebeu pela primeira vez o chá ayahuasca de um seringueiro chamado Chico Lourenço. na região da fronteira boliviana. que representava uma tradição indígena-mestiça de uso xamânico do chá. A Burracheira é alusão ao termo borracheira. em 1961 José Gabriel reuniu as pessoas e disse: “Eu quero falar pra vocês que tudo que o Sultão das Matas faz eu sei: Sultão das Matas sou eu”. na prática. tudo é controlado rigorosamente seguindo uma hierarquia. para justificar seu retorno ao seringal onde abre seu próprio terreiro.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 19 do transe coletivo são entoados cânticos (chamadas). Associado e diferencia-se um dos outros por fardamento. Dissertação de Mestrado na PósGraduação em Ciências da Religião do Instituto Metodista de Ensino Superior. Caiano teria nascido de novo na Bahia. Mestre. Relata seu envolvimento com o catolicismo popular. conhecida nos seringais amazonense como o período decorrido após a extração do látex e sua defumação para produção da borracha. 1995. quando todos estão sob o efeito do vegetal. Um estudo centrado na União do Vegetal. jogando búzios e relata com detalhes como. com o nome de José Gabriel da Costa. A autoridade é amplamente ostensiva. uma forma de xamanismo assemelhado à pajelança amazônica. Ao abrir seu próprio terreiro. função e tarefas. Afrânio Patrocínio de. no qual “recebia” o caboclo Sultão das Matas com o fim de curar pessoas. Decorrido cerca de três horas. Torna-se Mestre Gabriel após conhecer a hoasca nos seringais de Rondônia e fundar a União do Vegetal. Conta como. ouvem gravações de MPB. orientar caçadas. em sua casa. quem descobriu o vegetal e passou esse conhecimento a um homem chamado Caiano. Séculos depois. Segundo Andrade. ainda no interior da Bahia onde nasceu. Andrade 5 conta com detalhes a trajetória de vida de José Gabriel. em plena "burracheira". elementos religiosos afros kardecistas e do catolicismo popular. quando e porquê se torna Ogã e Pai do Terreiro de Mãe Chica Macaxeira. que tem como proposta transmitir ensinamentos. Condições indispensáveis para elevação da auto-estima. instaladas na mente humana durante um transe. Trinta a quarenta por cento fica em nível intermediário e cinco a dez por cento apresenta características de níveis profundos. midríase (dilatação das pupilas). Essa descrição é perfeita para caracterizar um transe hipnótico. o que permite entrar ou sai do estado hipnótico. tremores. Como se diz na UDV no decorrer da burracheira “há uma potencialização dos sentimentos. ilusões sinestésicas. A ordem religiosa estabelecida lembra e introduz na mente de cada um a idéia do merecimento a uma vida digna. ajustadas e adaptadas. superações e curas. Cerca de oitenta por cento. de forma consciente ou não. criando fortes sensações de felicidade e contentamento. no período de três a quatro horas pode ocorrer o aumento de bem-estar do indivíduo. é justificado como sendo a percepção de uma força desconhecida que age dentro de cada um. Sc. Mestre Gabriel nega a incorporação dos cultos de caboclo. palpitação. sonambúlicos e plenos. em vez de incorporação agora ocorre iluminação. No transe produzido pelo chá hoasca. perda da discriminação espaço-temporal. variando na intensidade ao nível do transe produzido que é caracterizado por náuseas. Relatam . Mestre Gabriel reconhece um novo tipo de transe e o denomina de burracheira. das percepções e da consciência”. apresenta sintomatologia de transe leve. Dr. vômitos intensos. É certo que sugestões de melhorias. Após o transe aqueles que experimentam efeitos mais profundos relatam sensações de vôo pelos ares. dependendo da necessidade e de sua vontade. suor excessivo. curas. ao direito da pessoa ser feliz e de fazer o próximo feliz. ampliadas. pelo ritual e dogmas que induz princípios universais da ética e da moral. Os efeitos provocados pela ingestão do chá ayahuasca iniciam aproximadamente em trinta minutos e prolonga-se por até quatro horas. Não obstante a essas situações adversas. funciona de forma poderosa. diarréias. superações de adversidades e vicissitudes. o transe deixa de ser entendido como mediúnico. incluindo aí o Mestre. Ao postular para si mesmo o poder antes atribuído à entidade Sultão das Matas. taquicardia. idas à lugares distantes. pelo ambiente. como de grande iluminação.20 Antonio Almeida Carreiro. estas sugestões são elaboradas. não há incorporações nas sessões. Cerca de noventa e oito por cento das pessoas que experimenta o chá entra em transe. visões envolvendo locais e pessoas (miração). pelo Mestre. por cada pessoa. perda ou diminuição de controle psicomotor e vertigens. A partir daí. predomina o entendimento fundamentado no Direito Constitucional de liberdade de culto e religião (CFR de 1988. Nos anos 90 à União do Vegetal começa a se expandir pelos centros urbanos brasileiros e para o exterior. inciso VI).368/76). por votação unânime.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 21 ainda a sensação de comunicação com divindades.ONU. Em 21/2/2006 a Suprema Corte de Justiça dos EUA deu autorização. como resultado deste estudo. 22 de fevereiro de 2006. se ajustam à crença e ao ideário de cada um. Devido a esses efeitos a mistura dos dois vegetais para a composição do chá. por analogia do Direito. é proibido pela Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas da Organização das Nações Unidas . tendo sido organizada uma nova comitiva que reafirmou a decisão anterior de liberalização do consumo para fins religiosos. substância presente na folha do arbusto que compõe o chá ayahuasca. o consumo do chá foi autorizado. 6 O DMT. o (extinto) Conselho Federal de Entorpecentes elaborou parecer retirando a substância da ilegalidade. aprovado em 1994. firmada em Viena em 1971. Também foi considerado o fato que de nada consta na legislação penal brasileira sobre os componentes ativos contido nos vegetais que compõem o chá. foi e continua sendo utilizada com finalidade mística em ritual religioso. Por conta das restrições da ONU. seu uso é facultado (Lei de entorpecentes. para prática do culto em território americano. na grande maioria indígenas. Os índios norte-americanos possuem o Ato de Liberdade de Religião Indígena. entrando nos EUA e na Espanha. . enquanto neste mesmo período. uma multidisciplinar comissão estudou as formas de consumo do psicoativo proibido e. houve uma nova tentativa de proibição do consumo do DMT no Brasil. As narrativas são variadas e. usarem em seus rituais um chá composto por peiote. o DMT foi incluído na lista das substâncias psicoativas proscritas da Divisão de Medicamentos do Ministério da Saúde brasileira durante os anos de 1985 a 1987. Na decisão o tribunal levou em conta a permissão dos membros da Igreja Nativa Americana. da qual o Brasil é signatário. Em 1992. por tanto. que especifica autorização para o uso do cacto Peiote para fins religiosos e. Oito juízes do tribunal recusaram os argumentos do governo americano de que uma das substâncias contidas na bebida ayahuasca está na lista de entorpecentes proibidos pela legislação em vigor nos Estados Unidos. 6. Hoje não há restrições quanto ao seu uso. 6 Revista Consultor Jurídico. artigo 5º. de certo modo. não têm condições de ser assistidas pela medicina convencional. a interação entre esses alcalóides e a DMT permite que a bebida produza alterações no corpo e no psiquismo. Difícil também será explicar como acontece a produção do transe. a DMT é decomposta pela monoaminoxidase (MAO). o que de fato acontece quando é ingerido. N. que tem semelhança estrutural com a serotonina. a literatura científica sobre o tema é controversa. no sentido de reconsiderar o uso do chá ayahuasca em ritos religiosos. Já se sabe que a folha do arbusto chacrona (Psychotria viridis) contém um princípio ativo. Estes "Doutores dos Vegetais” ajudam as pessoas das áreas rurais e as populações pobres de áreas suburbanas que. no âmbito de sua convenção internacional. devido às suas características de provocar diarréias. doentes. através de meras sugestões verbais e que podem até ser praticada por autosugestão. O cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis caapi) contém alcalóides beta-carbolinas: a Harmina. Bolívia. com sintomatologia e efeitos iguais. suas diferentes formas de produção e efeitos. tornando-se inativa. agem no ser humano. que são induzidos sem a ingestão de quaisquer substâncias. pode contribui para uma interpretação diferenciada para o efeito do chá ayahuasca. No Peru o chá é conhecido também como la purga. contidos na bebida. Conhecer a sintomatologia do transe hipnótico. A ciência caminha no sentido de esclarecer como os elementos. mas são questões difíceis de respostas para a ciência atual. a Tetrahidroharmina e a Harmalina. que são entendidas como . ora considera como alucinógeno e não recomendado. Esses alcalóides inibem a atuação da enzima MAO. Quando administrada por via oral. Assim. como e si são mantidas suas propriedades originais quando interage com tantos outros elementos do metabolismo e do psiquismo.22 Antonio Almeida Carreiro. Na Colômbia. isoladamente identificadas a partir de pesquisas reducionistas. Venezuela e Equador é tradição o consumo e a administração do chá ayahuasca sem envolvimento religioso. Existem discussões acadêmicas quanto aos efeitos do chá ayuwasca. Sua aplicação é feita por uma espécie de médico naturalista que se referem a si mesmos como vegetalistas. Sc. Também existe uma ação processual em curso na ONO para regularizar a situação. ora considera como inofensivo à saúde e indicado como terapia. a DMT (N. um importante neurotransmissor do sistema nervoso central. o que evita que esta inative a DMT contida na folha. Dr. Dimetiltriptamina). Dentro da perspectiva sistêmica fica complicado saber como as propriedades do chá ayahuasca. Peru. diferenciando apenas quanto à ocorrência de vômitos e diarréias. age no organismo humano. Com o passar do tempo. A história do sincretismo religioso no Brasil inicia com os jesuítas incumbidos de doutrinar os índios e depois os negros. vieram da área cultural banto. com essa mesma finalidade é denominada el remedio. também de uso nos rituais indígenas. associado ao sincretismo religioso. Macumba. Essa mistura de cultos cria ramificações como os Conjuros. proibindo seus cultos sagrados. por populações não indígenas. passou a ser conhecida como vinho da jurema e . antes apenas indígena. Os rituais africanos associados aos rituais indígenas deram origem ao Candomblé de Caboclo e. dando origem a outros cultos. Canjerê. Os índios também fumavam. Nações que contribuíram para a formação cultural dos iorubás e os ewê-fons. um preparado com a raiz desta planta e. É produzida com a casca do caule e da raiz da planta jurema (Mimosa Hostilis Benth). Os Juremeiros consomem uma bebida. estudiosos levantam hipóteses de que o chá ayahuasca contenha propriedades antimicrobianas. principais fontes para as atuais vertentes do candomblé praticado no Brasil. de nome jurema. por meio de cachimbo. natural da região nordeste do Brasil. Sem envolver religião. É só Brasil que tem início o uso. a força curativa é atribuída aos espíritos de índios e negros. Estas origens se interpenetram tanto no Brasil como na África. realizados nos terreiros das senzalas. Os negros escravos. Catimbó. No culto afro-brasileiro a composição da bebida jurema.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 23 processo de desintoxicação. acrescida de mel e outra bebida fermentada de teor alcoólico. circunscritos principalmente aos atuais territórios da Nigéria e Benin. Quimbanda e Jurema ou Juremeiros. neste caso. o que o tornaria efetivo no combate a vermes ascarídeos e protozoários. utilizando muitas cores. por não terem alternativa. sons e ritmos. em rituais com elementos simbólicos riquíssimos. onde hoje estão os países da Angola. Formou-se assim a associação entre o orixá do candomblé e o santo da igreja católica. alguns terreiros começaram a misturar os rituais do Candomblé com os da Pajelança. construíam altares com imagens e gravuras dos santos do catolicismo e associava essas imagens aos orixás. O candomblé tem vários ritos e diferentes ênfases culturais. tanto o hábito de fumar como de ingerir a bebida foi incorporado aos rituais de origem e influência africana. Em certas regiões da Colômbia. Zaire e Moçambique e da região sudanesa do Golfo da Guiné. Gabão. mas sempre neles ocorrem transes. como a única forma de continuarem com suas crenças de origem. Congo. As culturas africanas. outros ingredientes foram acrescentados além da cachaça e o mel. o pó de guaraná. Universidade de São Paulo. mesmo que naturais. além ZANINI. espaço. indígenas e católicas. distorção de percepção de tempo. é produzir alterações de senso-percepção e. Em rituais sua principal característica. visões e êxtases. atabaques e jogos de búzios. entre seus efeitos podem ocorrer a alterações do humor. põe-se uma pitada de dandá na boca. naturais do rito africano. gengibre e dandá. forma e cores e alucinações visuais. & Oga. desenvolvida pela sugestão prévia embutida na cultura religiosa. cantam-se hinos em homenagens as divindades cultuadas. 1979. canela. midríase. como o vinho tinto. manifesta imediatamente a incorporação do espírito de um caboclo. Nos transes hipnóticos produzidos por qualquer processo. também conhecido como tiririca ou junca apontando no meio cientifico como sendo a espécie Fuirena umbellata Rotbb. São Paulo. cravo-daíndia. 7 . Enquanto a bebida é servida. Atheneu Ed. pois juntos o dandá e a jurema aceleram o processo do transe. produzido por ou com a ajuda de elementos químicos. Dr. porém reconhece que seu uso não causa dependência física ou psíquica e seu abandono não causa síndrome de abstinência. O vinho e o dandá são também servidos à assistência. Sc. Em alguns terreiros de nação Angola. auditivos e rituais sem ingestão de qualquer substância. Farmacologia aplicada. freqüentemente. S. hipertemia no tórax e cabeça associado a hipo-termia nas extremidades das mãos e pés. algumas vezes. antes de se beber jurema. produzem experiências místicas. Umbanda mistura tradições religiosas africanas. Acredita-se que a pessoa que bebe. Zanini & Oga 7 afirma que o vinho da Jurema produz efeitos semelhantes aos do LSD 25 e de outras drogas desse grupo. Os cânticos para os orixás. sendo susceptível ao transe e envolvido com a crença no culto. despersonalização. Há uma tendência acadêmica de se classificar qualquer tipo de transe. são substituídos por práticas desenvolvidas na Europa como sessões de passe com a imposição das mãos e consulta aos espíritos através de médiuns. ansiedade. a rapadura. A C. A esses sintomas. são acrescidas idéias delirantes de grandeza ou perseguição.24 Antonio Almeida Carreiro. inclusive visuais. O Candomblé de Caboclo associado ao Kadercismo cria também a Umbanda. que admite a manifestação de espíritos de pessoas mortas. Logo não é tão semelhante assim. como sendo mera ação de uma substância alucinógena. com euforia e depressão. amaldiçoados pela religião dominante. o preto-velho e espíritos dos antepassados que servem de guias ou conselheiros aos fiéis. além de mantidos à margem da lei. ou pelo menos são de grande poder sugestivo. O transe hipnótico foi e é também produzido com a associação de idéias de demônios. seja nas sessões de sonambulismo ou no meio de rituais religiosos. Por volta de 1840. conselhos e adivinhações de vida futura.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 25 dos orixás. por volta de 1770. Notáveis também foram os transes do sonâmbulo de Prevost. narrava o que acreditava como sendo conselhos do além para o bem da humanidade. anjos. Aparece camuflado. As rezas e as bênçãos. serviu de base para. a sonâmbula Adèle Marginot em transe descrevia estar vendo e ouvindo anjos. cultuam o caboclo. mesclado ou associado as mais diferentes ou tradicionais liturgias. além da reza tradicional. desenvolver experiências com “mesas girantes” e. também podem exercer efeitos hipnóticos. utilizado desde a idade média na Europa. os videntes. na Alemanha. garrafadas. o Kadercismo que surge afirmando uma nova concepção de cura. a família Fox. santos ou deuses. cidade alemã onde viveu Frédérique Hauffer. editou. espíritos. mais a figura do curandeiro se faz presente e mais numerosos e populares são os adivinhos. por conseqüência. com base em Adèle. O fato. as cartomantes e todas as metamorfoses e alterações semânticas que envolvem o hipnotismo. ou preparam e receitam chás. em 1847. um Padre católico de nome Johann Joseph Gassner (1727 . dando assim origem ao termo raizeiro ou curandeiro. conhecido também como feiticeiro ou milagreiro. em 1850. Na Europa. arcanjos. banhos e ungüentos.1779) que viveu em Klosters. Em 1847 nos Estados Unidos da América. como transcorriam as sessões e como Hauffer em transe descrevia situações envolvendo anjos. O benzimento é uma forma antiga no tratamento de várias doenças. alguns benzedores indicam para reforçar o efeito de cura o uso de plantas como amuletos protetores. no sul . o livro Os Arcanjos da vida futura revelada. representa a transição entre a fase de anjos e demônios para a fase dos espíritos desencarnados. No Brasil. Parece que quanto mais uma civilização evolui e a ciência oficial se desenvolve. Cahaganet. Estes são proscritos pela medicina oficial. em 1829. que passou a ser entendido como uma comunicação com espíritos de pessoas mortas. Seu hipnotizador Justinus Kerner publica. praticadas pelas rezadeiras e benzedores. arcanjos. sob a orientação de seu hipnotizador Alphonse Cahaganet. Nessa época os doentes eram simplesmente entendidos como possuídos pelos demônios e Gassner divulga a crença de que podia curar os enfermos. no entanto. usava ambiente solene. atribuía às doenças à possessão demoníaca. além de profunda palidez. segurando o crucifixo com a mão estendida ao alto. 8 Gassner era um tanto teatral. ficando com a aparência que pode ser confundida com uma pessoa morta. da Alemanha.26 Antonio Almeida Carreiro. isso era o pensamento padrão no século XVIII.). A catalepsia é um estado que envolve a súbita suspensão da sensação e da volição. pelo contrário. Se hoje as doenças são. Suas idéias não desapareceram após a associação do transe com a idéia de anjos. de braços estendidos. bem como a paragem parcial das funções vitais. Isto era o primeiro passo para expelir todas as formas de mal existentes em quem se sentia possuído. que foi recuperada. dependendo da técnica de Manifestações de possessões demoníacas e procedimentos exorcistas. Ao ser tocado pelo crucifixo o doente entrava em estado cataléptico. do A. Sc. Dr. a Igreja Católica admitiu em determinadas épocas. arcanjos e espíritos desencarnados. segurando um grande crucifixo de ouro cravejado de diamantes. eram conduzidos na igreja a uma sala parecida com um pequeno teatro onde se acomodavam. atribuídas às forças malignas. obtendo o consentimento para suas ações através da afirmação de que Deus estava agindo através dele. para assegurar-se da aprovação da igreja. Ocorre. que ganham popularidade a cada dia. para grande parte da humanidade. decorações lúgubres e falava em latim com voz cava e não fazia segredos de seus métodos. O estado cataléptico é provocado por emoções fortes e prolongadas como um susto ou um medo violento e. no timing de sua entrada. queda acentuada da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. aplicava seu método de tratamento como se fosse processo de exorcismo. Paulo VI eliminou a figura do exorcista. por João Paulo II (N. Freqüentemente permitia que médicos observassem sua prática e. ao mesmo tempo. 8 . o corpo se torna rígido. Em milhares de pessoas. em outras não. Com o objetivo de melhorar ainda mais o espetáculo. são idênticas às produzidas por Gassner. Algumas práticas. Então o doente era posicionado numa espécie de palco no centro desta sala para esperar o Padre. aparecia à sua clientela vestido todo de preto. Gassner caminhava até a plataforma através de um longo promontório negro. resfriamento das mãos e dos pés. por sugestão hipnótica induzia curas espetaculares e. os médicos que se apresentavam para observá-lo em ação. não sentindo pulso. até cessarem completamente. declara a jovem morta.para que ela se aquietasse como se nada houvesse ocorrido de anormal. a paciente reagiu instantaneamente. não ouvindo batidas do coração declarava-o como morto.Agitatur bracium sinistrum .Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 27 indução e do nível de suscetibilidade ao transe. e essa. manifestando todos os sintomas característicos da loucura. e relata o método utilizado: Entrando de maneira dramática no aposento. e a jovem pronuncia o idioma que normalmente lhe é desconhecido. Seus músculos seriam relaxados totalmente e morreria. a prova consistia essencialmente numa fórmula de conjuração que ele fazia acompanhar do sinal da cruz. 9 WEISSMANN. logo após. Ed. O hipnotismo. Weissmann 9 descreve uma dessas sessões. o paciente “ressuscitava” e levantava-se completamente curado. enquanto jaziam prostrados ao chão. estendida no chão. espantado. Finalmente. realizada por volta de 1774.o braço se imobilizara. 1958. E ao comando . Prado. não percebendo sequer vestígios de pulso ou de respiração. E o médico. caso afirmativo iniciava a sua própria sessão de cura. o Padre lhe sugere que está louca e a jovem com o rosto horrivelmente desfigurado. a jovem. ainda que apenas temporariamente.o braço esquerdo da jovem começou a mover-se numa crescente velocidade. recebe a sugestão de que suas pulsações se iriam reduzir cada vez mais. Falando-lhe em latim. Quando o doente era trazido. O Padre Gassner nesta altura lhe ordena falar em latim. o pulso se acelera. O Padre Gassner sorri confiantemente. na qual foi hipnotizada uma jovem de nome Emilie. Ao comando contrário. antes de empregar o exorcismo. o Padre Gassner tocou a jovem com o crucifixo. Gassner fazia um teste para certificar-se de que a doença era atribuída ao demônio. À ordem . Rio de Janeiro. Bastou a ordem enérgica . Todos eram instruídos a “morrer” quando tocados pelo Padre e. como que fulminada. Gassner expulsaria os demônios de seus corpos devolvendo-lhes a vida normal. então o Padre ordenava que o demônio partisse e. Ato contínuo. Se o demônio não respondesse através de crises convulsivas a três invocações seguidas. caiu ao chão em estado de desmaio. Depois que algum médico examinava o paciente. . concluía ele que a doença era de origem natural e deixava para os médicos curar. chegando a 120 pulsações por minuto.Pacet . Em seguida. voltando à posição anterior. Karl. algumas pessoas hipnotizadas alcançam rapidamente este estado.Cesset . corre furiosamente pela sala. ordena à moça uma redução nas batidas do coração. E o médico presente constata uma diminuição na pulsação. Apertis oculis nihil videat .Ela ficou encolerizada contra todos os presentes (cerca de vinte pessoas) . sua boca abriu-se amplamente. As pernas se levantaram até a altura da mesa.Sua fisionomia ficou com palidez mortal. a moça. Sc. ut minister Christi et ecclesiae. abriu os braços.28 Antonio Almeida Carreiro. cujo poder supera a força do demônio e a isso seria atribuída a sua cura.Paroxysmus veniat interum vehementius. virou os olhos de maneira assustadora.Surgat de sella et aufugiat . Emilie entendia latim): Praecipio tibi in nomine Jesu. 1987. Dr.Tremat ista creatura in toto corpore . Os olhos ficaram abertos. Zahar.Sai irata omnibus praesentibus . mas estavam revirados . . desperta e agradece sorridente ao Padre o milagre de sua cura (WEISSMANN). De olhos abertos.Sis quase mortua .Hebeat augustia circa cor .Cessat paroxysmu . veniat agitatio brachiorum quam antecedenter habuist .Nisso as mãos de Emilie começaram a tremer . afirmando que possuía o dom de transmitir esta aptidão às pessoas que tratava.Ela afundou na cadeira para trás e estendeu com inteira impotência os dois braços . Bastou a ordem sua para que a jovem retornasse gradativamente à vida. tristissima.Depois de um momento levantou-se de sua cadeira e foi para a porta Sit melancholica. Alfred.A crise começou de novo.Ela começou a soluçar e lágrimas desceram pela face .Tremor no corpo todo . Rio de Janeiro. Finalmente Gassner procedeu ao exorcismo e.Daí em diante passou a responder perguntas. E com o demônio devidamente expulso de seu corpo. Ao deixá-la explicou aos presentes que tudo o que havia ocorrido só acontecera através 10 LORENZER. Lorenzer 10 descreve também. Dois homens fortes não puderam dobrar seus braços. Gassner começava advertindo que ela podia depor sua confiança em Deus e em Cristo.Levantou-se de repente de seu lugar e parecia saudável e serenamente alegre . desfigurou a fisionomia e seu pescoço entumesceu . dedos e braços ficaram rígidos. Emilie senta-se numa cadeira em frente ao Padre e ele pronuncia as seguintes palavras em latim (para este autor. sentindo-se como nascida de novo. ut ante fuit et quidem per totum corpus .gitentur brachia tali paroxysmo qualem antecedenter habuisti . Arqueologia da psicanálise: Intimidade e infortúnio social (Traduzido por Wilson de Lyra Chebabi). os olhos perderam aquela expressão. fleat . depois disso. e assim por diante (LORENZER). dizendo nada ver. a sessão com Emilie. deu algumas instruções a Emilie de como ela própria poderia proteger-se da enfermidade. o pulso ficou tão fraco que o cirurgião presente dificilmente pode senti-lo . passo a passo.Emilie levantou os ombros. o milagre de sua cura. rapidamente passava um pequeno e espesso manto preto e. Rio de Janeiro. realmente acontecia. disfarçado como exorcismo. o seu método. Acreditando ter se livrado do demônio. Auto-hipnose. na fé. especialmente se houver música e ritual. sobre a cabeça da primeira até a última pessoa. implicitamente. Gassner deu início à sistematização de induções ao estado de transe hipnótico associando a idéia do exorcismo.. E com o demônio devidamente expulso a pessoa agradecia. M. os quais embora freqüentemente instalados nas pessoas. entre outras oportunidades. Ato contínuo o Padre retirava do transe aqueles que permaneciam mais profundo sob alegação que seriam libertados do mal. nestes casos a cura. Record. para grande maioria dos males. o retorno do transe. . ligeiramente modificado. O método de indução era reforçado pela solenidade do ambiente. os pacientes ou fiéis também acreditavam na sugestão subjetiva pós-hipnótica. após a explicação do que deveria ocorrer. na crença ao sobrenatural. muitos dos presentes 11 LeCRON Leslie M. também por sugestão. Não resta dúvida de que Gassner era um perito hipnotista e que hoje. exorcismado. ed. já passados quase três séculos. para depois ser. 1979. Algumas sessões de hipnose realizadas por Gassner eram coletivas. comportavam-se como quem se livrou ou libertou-se por assim dizer e. e na expectativa em torno do acontecimento. As técnicas utilizadas eram bem próximas das atuais. A técnica consistia em formar uma fila e. tudo isso junto criava uma atmosfera propícia para o transe imediato. na igreja. O argumento era do exorcismo de pequenos demônios. ainda surte efeitos em muita gente. Lecron 11 lembra que a hipnose de massa geralmente ocorre de forma indireta ou dissimulada e que sua utilização é possível. para isso também contribuía a própria crença que associava as doenças aos “maus espíritos”. era previamente anunciado de forma lenta e enfática. Ed. 2. as pessoas eram induzidas a admitir estarem possuídas pelos demônios. Primeiro era expressamente induzido por sugestões o estado possesso. como que fulminados todos caíam para trás.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 29 da graça de Deus e só devia servir ao reforço e glorificação do evangelho. Aqueles que se sentiam com o “diabo no corpo” vinham ou eram trazidos ao Padre para que ele o expulsasse. sem dúvida. em alguns cultos e ritos de caráter religioso conforme sinaliza: “Em muitas cerimônias religiosas. Não só através da utilização de métodos e aplicações de técnicas hipnóticas. não resistiam à expulsão. O veículo para a aplicação do método hipnótico é a fé dos participantes que. Afirmam efusivamente que para ele ficar livre definitivamente do problema que o atormenta deve voltar. enquanto induz verbalmente a sugestão direta do comportamento que espera. O demônio é primeiro induzido para depois ser exorcizado e. pode ser imaginado como transcorre uma reunião ou sessão com estas características. Situações consideradas como manifestações de espíritos ou demônios podem ser interpretadas como sendo induzidas por sugestão. um método hipnótico. entram em cena dando início à indução hipnótica direta e individual. os mais suscetíveis começam a balançar o corpo de forma oscilatória. para que seja constatada a presença da hipnose é bastante que seja analisada se nas “manifestações” está ou não sendo aplicado.”. mesmo que ligeiramente adaptado. Entre as sugestões pós-hipnóticas são clássicas as que induzem o hipnotizado à dependência de continuar participando e colaborando com o processo desenvolvido nas reuniões ou sessões. representam os sintomas e comportamentos induzidos através de sugestões durante o transe.. alguns auxiliares identificam quem mais oscila e. Sc. o que indica alto grau de suscetibilidade hipnótica. Apareça.. através de sugestões pós-hipnóticas. Geralmente inicia com um dirigente que fala com emocionada oratória (reza). Em alguns casos. imediatamente. com regularidade de freqüência. tudo não passa de sugestão hipnótica. podem os líderes ou dirigentes apresentar-se com perfil de comportamento assemelhado ao do Padre Gassner e a aplicação do método hipnótico varia apenas no grau de intensidade e no vocabulário que é adaptado à época e ao ato religioso. Manifeste. As técnicas mais utilizadas situam-se nos procedimentos do hipnotizador. sendo exemplo freqüente o fato de este colocar uma das mãos na testa e a outra na nuca ou no alto posterior da cabeça do hipnotizado e efetuar pequenos e enérgicos movimentos circulares.30 Antonio Almeida Carreiro. a prática que acabara de experimentar e ou alertam para o dever de colaborar com a continuidade da organização ou da obra religiosa onde a tal prática foi realizada. Após a introdução inicial. ficarão em estado de hipnose espontânea”. Em tais casos. falando mais ou menos assim: “Sai demônio. inconscientemente cumpridas. Essas sugestões pós-hipnóticas geralmente se transformam em ações compulsivas e.. dirigindose às pessoas que ficam de pé e com os braços levantados... .. Dr. Não resista. Para melhor análise da produção do transe hipnótico em meio de um ritual de cura religiosa.. ou posterior. no decorrer do processo. portanto.. Nesta fase. Diz que o contato dele com a pessoa doente era uma espécie de reforço para a prece e. o dirigente da sessão daria continuidade ao processo. Mas. Francis O. a energia do corpo desfalecia a ponto da pessoa não poder ficar em pé”. a imposição das mãos. (titulo original: “The power to heal”. diziam-se curados de suas doenças. que tinha poder em si mesmo. enchia de tal forma a pessoa com uma consciência íntima elevada e. Charles e Frances Hunter. tudo isso são características clássicas do transe. desta forma. fica evidente que ele desencadeava transes hipnóticos coletivos. curas através de orações e imposição das mãos sobre os doentes nos quatro cantos do mundo. Na história da igreja católica são comuns relatos sobre o transe hipnótico usando a expressão “arrebatado em êxtase”. Nesta fase é possível observar a sintomatologia dos diferentes graus de aprofundamento da hipnose. empreenderam. os olhos ficam brancos. empregavam para definir o transe a expressão “cair sob poder”.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 31 Os mais suscetíveis entram em rigidez cataléptica. . Descrevendo o que acontecia nas sessões. Pelas descrições de MacNutt. caíam no chão e permaneciam como mortos. durante a prece. Fato é que em média de quarenta por cento das pessoas. MacNutt diz que “o poder do Espírito Santo. não propensos a falar. 12 MACNUTT. Falava que o poder curador de Jesus penetraria em cada célula do corpo de cada um e que força do Espírito Santo vinha promover a cura assim que ocorresse. P. 12 empenhado no processo da renovação carismática da igreja católica. E. após alguns minutos. Padre Francis MacNutt. se o nível de transe hipnótico for profundo. Edições Loyola. às vezes se contorcendo ou tremendo o corpo e. tradução de C. companheiros da equipe de MacNutt. Quando retornavam ao estado normal. se dirigia ao público explicando como aconteceria o milagre da cura. A palavra êxtase vem do grego e se refere ao espírito que é “levado para fora do corpo”. por isso. principalmente nos Estados Unidos. na Inglaterra. de Andrade) São Paulo. Antes do início das sessões. por volta de 1970. aplicando as sugestões hipnóticas e pós-hipnóticas que garantam os objetivos esperados. F. 1980. Os Padres católicos. no México e várias nações africanas. MacNutt trata de se afastar destas expressões. conta como ele e uma equipe composta por mais dez Padres. além de vários auxiliares. O Poder de Curar. expressão sinônima de “morrer no espírito”. ficando com os dedos contorcidos e sem movimentos. apenas respondem resumidamente o que lhes for perguntado. os toques falavam mais forte do que as palavras. na Colômbia. Sc. ouvir e sentir as coisas do espírito. prefiro não falar dele como “morrer no Espírito” que só se refere à parte externa do corpo que cai no chão. Padre Michel Scanlan e eu discutimos o nome melhor para dar a esse fenômeno. MacNutt escreve uma espécie de receituário para produzir curas através de preces e imposição das mãos. não com um sono corporal. curas podem ser induzidas e apresentam resultados .32 Antonio Almeida Carreiro. ouvir e sentir com as forças do espírito (Santa BRIGIDA da Noruega apud MACNUTT). com detalhes. no verão de 1975. Nas sessões de hipnotismo. MacNutt não se conforma totalmente com a expressão “ser dominado pelo Espírito” e. Tu ordenas a meu corpo que durma. Tentando justificar os acontecimentos e o significado do transe. quando esse fenômeno começou a se produzir numa assembléia católica na Inglaterra. de Santa Brígida da Noruega”. afirmando que a imposição das mãos e os toques são fundamentais para que o fenômeno ocorra e produza cura. assemelha-se mais a um excesso de vida tal que o corpo não agüenta. Por isso estou evitando a palavra “morto”. Com estas questões na cabeça. empregando exatamente estas palavras. qual estranho o que me fizeste! Porque Tu puseste a dormir meu corpo. durante a liturgia católica ou fora dela. Chegamos à conclusão de que iríamos nos referir a ele como “ser dominado pelo Espírito”. diz que “existe maravilhosa descrição do repouso no espírito. que conota violência. centenas de casos nos quais eram produzidos transes hipnóticos e seus resultados curativos. e minha alma Tu a acordas como de um transe para ver. Já que a maioria das pessoas que sente esse fenômeno narra que estão mais vivos do que nunca interiormente. essa expressão ficou. MacNutt cita como uma santa da igreja católica o descreveu. E. É exatamente contrário de ser “morto”. camuflados com se fossem rituais religiosos. e acordaste minha alma para ver. Sem dúvidas. Este termo designa de modo mais adequado o que realmente acontece (MACNUTT). atribuindo como sendo suas as palavras: Oh! Suavíssimo Deus. Quanto Te apraz. Dr. se o chamassem de “um toque de dominação”. ele muito contribuiu para as práticas hipnóticas nas igrejas que se espalham pelo mundo a partir de 1980. Monsenhor Jon O’Connor sugeriu que os ingleses iriam entender e aceitar o fenômeno. Insiste sobre a importância da repetição da prece por várias vezes até a saturação. obviamente para ele “obra e graça do Espírito Santo”. passando aceitar “ser dominado pelo espírito” como correto para definir o processo hipnótico que deflagrava. mas com o repouso do espírito. Descreve. Faz referencia a Santa. na forma de pensar e agir. se somando ou se divergindo. No século XVIII Mesmer. A prática da imposição das mãos também é muito praticada no oriente de onde migra para o ocidente com o nome de reiki. Era conhecida e empregada como meio de cura pelos magos da Caldéia e se propagou das Margens do Eufrates ao Egito e à Índia. conceitos. na proporção que outros conceitos e reflexões forem surgindo. . Uma técnica de cura redescoberta no final do século XIX por Mikao Usui num livro budista tibetano de 2. equivocadas como foram nas sessões realizadas por Gassner. fortalece corpo e mente. a prática do Reiki amplia a consciência. os padres do Deus dos Judeus foram seus depositários e os cristãos o herdaram deles. Tesle 1845. Mas. a autoconfiança.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 33 satisfatórios. relaxa. no mínimo. mas quem dá Reiki não está passando a própria energia e sim servindo de canal da energia universal.500 anos. apud Alphonse Bué. 1919). Acreditam que o receptor suga a quantidade de energia que lhe falta. Reiki significa Energia Vital Universal. e de Roma para Gálias de onde migraram para o mundo (A. Nas igrejas messiânicas a prática da imposição das mãos é conhecida como Jorei. assim como as adquirem por sugestão. em Kioto. Predominante essas explicações são propositadamente distorcidas ou. a auto-estima. teorias e práticas curativas que envolvem aplicação da hipnose e como aconteceu sua adaptação e readaptação diante das mudanças. A técnica curativa da imposição das mãos é muito antiga e provavelmente sempre foram de natureza hipnótica. Depois dos sacerdotes de Isis. MacNutt e seus seguidores. aumenta o poder de observação. Da Grécia passou a Roma. Posteriormente sua fórmula foi amplamente apropriada e adaptada por outras crenças que também praticam a cura pela fé. promove o crescimento espiritual. ameniza o estresse. no decorrer dos séculos. o espírito de caridade. curas podem ocorrer pelo fato de as pessoas suscetíveis serem mais propensas às doenças psicossomáticas. com a própria sugestão se curam. no Japão. Na seqüência vão ser apresentadas as principais personagens e suas idéias. não só pratica imposição das mãos como também teoriza. Segundo a crença. mas é contestável a explicação sobre o procedimento e sobre forma como foi produzida. seja qual for a justificativa. A leitura até aqui realizada talvez se ajuste e se esclareça. inova e espalha por toda a Europa uma nova justificativa de cura. Magnetismo Curador. sagrada e curativa que passa através das mãos do doador para o receptor. disso não se duvida. diminui e anula dores e aumenta a criatividade. seus adeptos a definem como uma energia dourada. ). metais magnéticos foram utilizados como forma de proteção contra doenças. Paracelsus defendia também que a fé e a imaginação pudessem curar doenças. cantos. em particular aquelas que provêm das estrelas. os farmacólicos transformaram minerais magnéticos em pó e utilizaram como elixir nas aplicações tópicas. o médico e escritor grego Galeno acreditava que ao aplicar ímãs naturais em partes do corpo. orações. esse tipo cura também foi praticado pelo médico escocês William Maxwell que. ao seu tempo. Essas idéias foram aproveitadas cem anos depois por Mesmer que. Segundo Alphonse Bué (Magnetismo Curador. comandava sessões de hipnose individuais e coletivas através de danças. Empregava ímãs metálicos para promover curas e esse procedimento transforma-se. na base de uma nova escola médica. no século II a. com objetivo de curar pessoas. sendo o pólo norte constituído pelos pés e o pólo sul pela genitália. Dr.34 Antonio Almeida Carreiro. conhecido como Paracelsus. em 1676. por volta de 1770. atribuía poderes aos imãs naturais de efetivar curas para as enfermidades humanas. eram capazes de agirem sobre as pessoas através de ondas invisíveis. O filósofo grego Aristóteles já registra o que acreditou ser propriedades terapêuticas dos imãs naturais e. rituais e palavras. Admitia a existência de um sistema que relacionava os seres humanos aos astros e que forças magnéticas. no inicio do século XVII Van-Helmont dedica quarenta anos de sua vida trabalhando e meditando sobre a cura magnética. . desenvolve nova teoria com base nos seus antecessores e cria a tese do magnetismo animal. Desde então. do mesmo modo como poderiam causá-las e desenvolveu uma teoria segundo a qual o corpo humano teria as características de um verdadeiro ímã.C. a dor ocasionada por numerosas enfermidades poderia ser aliviada. Na Idade Média. Acreditava-se que os imãs possuíam vida e ao exercerem atração ao ferro dava-lhe vida também. Magnetismo e Mesmerismo Influenciados pelas escolas filosóficas e as Idéias dos elementos primordiais da natureza. publica um tratado sobre o tema com o titulo de “Medicina Magnética”. William Gilbert de Colchester. Por volta de 1670. 1919). Há relatos que a magnetita e hematita foram aplicadas como remédio contra enfermidades da Rainha Isabel I da Inglaterra por seu médico. Sc.. Na primeira metade do século XVI o médico alquimista Aureolus Theophrastus ou Philippus Theophrastus Bombast von Hohenheim (1493-1541). o grego antigo (século III a.C. em Viena. O Padre Maximilian Hell. água. três autores que valorizavam o lado mágico e oculto da arte de curar através dos astros e dos elementos primordiais da natureza. na cidade de Ulena. Aos 32 anos Mesmer obteve o título de médico e. um jesuíta que foi diretor do observatório de Viena e professor de astronomia da Universidade de Viena. para isso. terra.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 35 Franz Anton Mesmer (1734 – 1815) nascido em 23 de maio de 1734. vômitos. pessoa envolvida na alta sociedade vienense que sofria com convulsões. em Iznang. desistiu da carreira religiosa para seguir o estudo da medicina. delírio melancólico e . Sua teoria ganha o mundo através de seus discípulos e seguidores. teve suas primeiras instruções em uma escola religiosa e aos 15 anos ingressou num colégio de jesuítas onde obteve elevado conhecimento em filosofia. sufocação e paralisia. embora decadentes no século XVIII. circularidade. cegueira. Swabia. com base na hipótese do magnetismo metálico de Paracelsus. realizado uma das sessões do tratamento de Osterlin: Há dois anos ela apresentava crises convulsivas acompanhadas de febre. A base teórica para o desenvolvimento da sua pesquisa foi fundamentada no conhecimento filosofico. Franziska Osterlin. matemática e biologia. delírios. somadas as idéias de Paracelsus. harmonia. apresentou na escola de medicina de Ingolstadt. concepções sustentadora do núcleo central do pensamento filosofico que. vômitos. muito influenciou as idéias de Mesmer. A percepção do cosmo ligado às idéias de ordem. publicada em 1766. Mesmer influenciado pelos êxitos de Hell também aplica ímãs naturais em seus pacientes. febre. Disso resultou a notícia de curas magnéticas espetaculares em doentes desenganados. Helmont e William Maxwell. ar e fogo. ainda influentes nos séculos XVI e XVII. Interessando-se também pela física. era o ponto de partida para compreender a natureza das coisas e dos homens. em 28 de abril de 1774. É do próprio Mesmer a descrição de como foi. a Dissertação físico-médica sobre a influência dos planetas (De Planetarium Inflexu). Em 1773 Mesmer montou em Viena sua clínica de magnetismo e aplica ímãs naturais pela primeira vez em uma jovem de 28 anos. uma aldeia na margem do lago Bodensee perto de Konstranz na Alemanha. serenidade e a beleza representada pelos astros e pelo espaço celeste e a importância dos quatro elementos primordiais. crises de rigidez. Percebia o cosmo como receituavam os filosofos gregos antigos. em 1770 resolveu também intentar curas reorganizando os “pólos magnéticos humanos” através de aplicações de ímãs naturais. cegueira. Os que assistiam a esse tratamento horrorizavam-se com os gritos. concentrado e transportado. Pode ser acumulado. Mesmer tratou de conceituar como impossíveis de serem provocados somente pelo uso dos magnetos naturais e sim por um “outro agente essencial”. O corpo animal é diretamente afetado pela insinuação deste agente na substância dos nervos. propriedades análogas às do ímã. pouco a pouco. após ter medicado Osterlin com infusões à base de ferro. maníaco. Referindo-se ao que conceitua como magnetismo animal e seus efeitos. um magnetismo animal. Dito agente causa em corpos humanos. em forma de coração. comunicado. propriedades comuns a uma multidão de outros agentes que a natureza nos . Este magnetismo pode ser transmitido a outros corpos. Mesmer conta que. O ímã e a eletricidade artificial têm. às quais atribuí um caráter astronômico. O magneto natural utilizado funcionou apenas como um acessório. Imediatamente Osterlin experimentou uma dor abrasadora e dilacerante que percorreu todo o seu corpo. Quanto aos efeitos positivos sobre a cura de Osterlin. conta que após isso Osterlin sentiu descer com impetuosidade as dores que tinham atormentado as partes superiores de seu corpo e. era a ação do seu próprio magnetismo. procurei modificar seu curso. Dizia que as correntes magnéticas foram provocadas pela paciente através de um fluido que se havia acumulado em sua própria pessoa. a Terra e a natureza. propagado. afirma: Há uma ação e reação recíproca entre os planetas. motivo por que é chamado “magnetismo animal”. As mesmas regras se aplicam à propriedade contrária. pode ser aumentado e refletido por espelhos. prendeu um ímã em cada pé da paciente e um outro. os sintomas desapareceram. crises de rigidez. sufocação e paralisia. Percebendo a periodicidade das crises. Apesar da reação da assistência. por intermédio de um constante fluido universal sujeito a leis mecânicas ainda desconhecidas. seguindo os eixos das peças imantadas.36 Antonio Almeida Carreiro. Eu planejei estabelecer em seu corpo uma espécie de maré artificial com a ajuda do ímã e de forma a reproduzir artificialmente as revoluções periódicas do fluxo e do refluxo da corrente magnética (MESMER). por ser esse metal bom condutor do magnetismo. O imã é suscetível de magnetismo e de propriedade oposta. com referência à moléstia. como um reforço. Mesmer não hesitou em acrescentar mais dois outros ímãs aos pés da paciente e. sobre o peito. Sc. Dr. e acumulado pelo som. responsabilizava esse fluido como causa de doenças ou como força curativa. em sua publicação Principia (1713). vasilhas contendo água.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 37 apresenta. energia e força vital. uns sobre os outros. Isaac Newton. são devido ao magnetismo animal (MESMER). Em 1785 Mesmer publica em Paris uma série de vinte e sete aforismos. Los fundamentos del magnetismo animal. Aforismo de Mesmer y comentarios del Dr. Admitia como princípio a existência de uma corrente universal que em tudo penetra e abraça. como anunciado por Paracelsus e pelo Padre Hell. 13 . 1954. cristais e vários outros instrumentos. Tradução para o espanhol e prólogo de Edmundo Gonzáles Blanco. B. em particular aquelas que provêm das estrelas. era a ação do magnetismo próprio do ser humano. já explicitava o que acreditava ser “a presença do espírito extremamente sutil que permeia e se oculta em todos os corpos densos”. Mesmer encontrou justificativa suficiente para estabelecer a idéia da existência de um fluido invisível e miraculoso que agia sobre os seres vivos através da influência dos astros e dos planetas e. descrevendo os princípios de sustentação da tese do magnetismo animal e como seus seguidores poderiam por em MESMER A. entre os quais gravidade. gases. F. Kier. e se o uso destes for seguido de resultados úteis. Antes de Mesmer a idéia de fluidos invisíveis já fazia parte do imaginário de muitos homens cultos. influíam sobre as pessoas através de ondas invisíveis. podendo também ser armazenado em árvores ou transportado por varinhas. nas práticas de Paracelsus e outros autores. agindo de forma mútua entre todos os corpos da natureza. Respaldado em estudos sobre o pensamento filosofico. bastaria impor as mãos sobre o doente para que este recebesse a transferência dos fluidos magnéticos. Defendia a tese de que não era preciso o ímã metálico. É a esse movimento provocado por influências astrais. O cientista sueco Carlos Lineu (1707 . O magnetismo animal poderia passar das mãos do magnetizador para os pacientes. 13 Mesmer inova a hipótese até então existente. Caullet de Veaumoreu. espelhos. Aires. num movimento alternativo e perpétuo assemelhando-se ao fluxo e refluxo do mar. não era o magneto natural que provocava curas. Paracelsus acreditava que forças magnéticas.1778) dizia que na vida dos vegetais ocorria a presença de um “fluxo magnético sutil” camuflado sob os mais variados nomes. que ele atribuía a saúde e a doença. Livros como O Espírito das Leis. incentivava a criação de uma imensa gama de teorias. divulgado por seus antecessores. viveu uma época de grandes transformações para a humanidade. prática essa complicada teoria. É nesta atmosfera que Mesmer propaga sua teoria que ganharia o mundo através de seus discípulos e seguidores. principalmente em Paris. A Ordem Natural das Sociedades Políticas. de Montesquieu (1748). as idéias de ação e reação. atração dos corpos. aliando o conhecimento com a tecnologia e a ciência. Neste cenário o homem acreditava que. de Voltaire (1773).38 Antonio Almeida Carreiro. uma fase de efervescência de idéias filosóficas sobre o sentido da vida e de explicações científicas para esclarecer os fenômenos físicos. O mundo vivia o que se chamava na Europa Le bélle epoque. publicado em 1785 por Caullet de Veaumoreu. em particular na França. fazendo analogia com a física e com as aplicações terapêuticas dos metais magnéticos. Título original. As formulações científicas na área da física. o poder da ciência podia explicar tudo e o grande público demonstrava interesse cada vez maior pela explicação científica dos fenômenos presentes na natureza humana. Les aphorismes de Mesmer dicté a l’assemblé de ses élèvem.). É nesta fase que Mesmer. cuja tendência era a de misturar pesquisa experimental com pensamento especulativo e místico. Estava também o mundo vivendo as grandes descobertas da matemática e da física. induziam o povo a pensar ampliando seus conhecimentos e a percepção de si mesmo como cidadão capaz e merecedor de melhorias. do. de La Riviére (1767). Sc. a descoberta do eletromagnetismo e do pára-raios fascinava a todos. sobretudo numa fascinação pelos fenômenos de natureza magnética e elétrica. 14 . Traduzido para vários idiomas e publicado em muitos países (N. com isso. inclusive as que explicassem o ser humano e sua complexidade. viveu Mesmer glória e fracasso. O Contrato Social. era época de revelações. tudo isso foi considerado como revolucionário e extremamente racional. 14 Na Europa o Mesmerismo foi um dos assuntos mais divulgados entre 1779 e 1789 e. de Rousseau (1762). por nada nem ninguém e. O Mesmerismo e o magnetismo animal faziam parte do imaginário cosmológico desta época. No conceito popular. Na segunda metade do século XVIII a sociedade européia. Dr. idéias e explicações e o povo acreditava que havia resposta para tudo. a eletricidade e seus efeitos eram objetos de estudos intensos. esse otimismo. A. imagina sua teoria. Cartas Filosóficas. não seria jamais limitado. o eletromagnetismo. assim. para logo em seguida magnetizar seus pacientes que entravam numa espécie de convulsão e promovia cura. Mesmer sustentava que massageando ou Mesmerizando os pólos magnéticos do corpo se efetuaria a superação do obstáculo que impedia a circulação do fluido universal e. Pensando o corpo humano como um grande ímã. estabelecia a cura das doenças. insônia entre outros. poderiam acumular grande quantidade dessa força invisível. Dizia que essa força invisível era semelhante à força do imã que atrai o ferro. A cura dependeria da retirada ou destruição do obstáculo para que o fluido pudesse voltar a circular normalmente. vítima de seu próprio pai numa relação incestuosa forçada. sendo recebidos dos astros através da cabeça e da Terra através dos pés. superfícies espelhadas. embora ninguém possa ver. igual à força magnética que. Sustentava Mesmer que a força invisível que existe entre os astros e o planeta Terra possui uma influência capaz de controlar a saúde dos seres animados que aqui habitam. Mesmer dá a sua explicação para o fenômeno que desencadeava. Mesmer . apresentava as fases da Lua agindo sobre as marés. Neste instrumento deixava escorregar os dedos das mãos até que a fricção produzisse um som que ele interpretava como sendo gerado pela acumulação do seu magnetismo animal. Também com o mesmo objetivo. friccionava com as mãos tecidos de seda. plumas e outros objetos macios. existe. sofria com freqüentes crises e sintomas severos como vertigens. utilizando o novo método. entre elas destaca-se Maria Theresa Paradis. no corpo humano sadio circulava num fluxo contínuo e impedir este fluxo traria como conseqüência uma enfermidade. várias pessoas foram tratadas por Mesmer. tentando no máximo se aproximar da ciência dominante. como um instrumento de cerâmica em forma de cone que encerado. alguns metais e principalmente a água. além dos passes magnéticos. Encarregado do tratamento. não obteve cura. que agia nos seres vivos. era posto a rodar. Atendida por muitos médicos. dores de cabeça. universalmente difundido. a força do Sol atraindo a Terra para mover-se em sua volta. composto por vários ímãs pequenos. Acreditava que os cristais. 21 anos de idade. associando essa prática com a produção e efeitos da eletricidade estática. molhado e acionado por um pedal. pianista. Além de cegueira histérica. como justificativa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 39 Satisfazendo a expectativa da sociedade. Em Viena. Defendia a existência de uma influência mútua entre os corpos celestes e. Inventou alguns aparelhos que reforçavam sua tese. entre eles o influente vienense Doutor Stoerk. Dizia que tal influência se manifestava através de um fluido. lhe devotava carinho.40 Antonio Almeida Carreiro. 20 anos mais velha do que ele. vários pólos magnéticos e que. disso resultou sua expulsão da cidade em 1776. que lhe proporcionava recursos necessários para realizar seus estudos e promovia seu acesso à classe dominante. os pacientes eram tocados com uma vara de metal para provocar as convulsões terapêuticas. de nome Marie Anna Von Posch. segurando-lhes as mãos. por isso. com a rica viúva de um Tenente-Coronel do exército. Mesmer descartou o tratamento das enfermidades repulsivas como deformidades físicas permanentes ou congênitas. tinham que ser arrumados através de passes com a imposição das mãos. com a imposição das mãos. Mesmer cria os passes magnéticos. Talvez por isso. Esses casos na verdade nunca apresentaram resultados positivos com o tratamento memesrista. assim produzia as mesmas convulsões. filho de um ”guarda-caça”. Dizia. como fazia em Viena. Mesmer teve origem pobre. sustentando a hipótese que. Franklin na invenção do pára-raios. Em 1778 Mesmer já estava estabelecido em Paris onde encontrou definitivamente um campo propício para difundir suas idéias. Os três insuflam os médicos de Viena e iniciam forte campanha difamatória contra Mesmer. A princípio. era o assunto de todos os salões. eram transmitidos de uma pessoa para outra. Sua fama alastrou-se pela Europa. movida pelo ciúme. Mais tarde passou a acreditar que há no corpo humano. em 10 de janeiro de 1768. o Mesmerismo tornou-se moda na aristocracia francesa. em analogia com a teoria da eletricidade que afirma “os elétrons fluem de um corpo para outro pelas extremidades”. atenção e amor até que a paciente recuperou a visão. logo após a mudança para Paris. Marie Anna. chagas. fluidos magnéticos. iguais às obtidas com o processo anterior. Dr. saindo pelos dedos. alia-se ao pai de Theresa Paradis e ao Doutor Stoerk que não reconhecia a tese do magnetismo animal como verdadeira. casou-se. encarregado de zelar e preservar certos locais e espécies de animais e servir a nobreza no esporte da caça. Mesmer passou a magnetizar e a produzir convulsões em seus pacientes quando. Sc. Embora em Viena fosse tentado tratar pelo método do magnetismo qualquer tipo de doença. portadores de loucura agressiva e casos de idiotia. dois anos depois de sua graduação. muda constantemente de lugar provocando doenças e. ainda. função semelhante a guarda-florestal. que alguns pólos magnéticos do corpo humano são estáveis como os dos dedos e do nariz. a maior parte deles. Este enunciado (lei das pontas) fundamentou B. fitava-lhes os olhos . Um método engenhoso de hipnotizar por sugestão indireta e promover curas coletivas que. eram colocadas dentro da tina para que quando transportadas para outros locais pudessem produzir os mesmos efeitos. dispensando seu toque pessoal no cliente. Mesmer recorreu à magnetização indireta. com ligeiras modificações. os doentes. de vez em quando. O argumento era que garrafas contendo água acumulavam fluidos. Garrafas cheias de água. Da parte superior da caixa saíam varas de ferro. medindo aproximadamente um metro e oitenta centímetros de diâmetro por setenta centímetros de profundidade. Em Paris. com extremidades externas curvas e móveis. assentavam-se em volta de uma tina contendo água. Expediente este que no decorrer da história foi aproveitado e adaptado. ia descendo vagarosamente quase sem tocar no corpo. sentados ao redor da tina aplicavam sobre suas partes enfermas as varas de ferro. Prosseguia descendo as mãos. o itinerário seguia pressionando levemente as coxas até chegar aos joelhos.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 41 durante alguns minutos. As sessões de curas foram evoluindo e já não podendo atender individualmente à numerosa clientela. Estabelecendo contato com essas varas. com o objetivo de produzir curas durante rituais religiosos ou filosóficos. Na versão mais avançada a tina é descrita como sendo uma caixa redonda de madeira de carvalho. conquista proporções espetaculares. Dali retornava. depois. ligadas por fios de seda a uma haste metálica central. No seu interior. sendo até hoje. em busca da cura. usado de várias formas e em larga escala. em Paris. que Mesmer afirmava ser o fio condutor do magnetismo. os participantes em busca da cura eram acometidos das convulsões terapêuticas. com hastes metálicas que saíam através das rolhas. a explicação do funcionamento tinha que ser “científica”. parava um pouco nos olhos exercendo com os dedos indicadores uma ligeira pressão na base do nariz do paciente. para melhor atrair o magnetismo. tinha um lastro de limalha de ferro e. assim como o capacitor eletrolítico acumulava eletricidade. em número de vinte a trinta. iniciava os passes apontando os dedos em direção da cabeça. por cima do lastro. parando à altura do tórax onde fazia uma leve pressão. experimentando as mesmas estações intermediárias até alcançar novamente a cabeça. havia uma lamina de água para ser magnetizada. era amarrado na vara central e comprida o suficiente . Estes. era adicionado vidro em pó e. da qual saiam várias varas metálicas. Uma corda de seda. Tudo era feito para manter semelhança com o funcionamento de uma pilha elétrica. depois no estômago. num recinto meio escurecido por cortinas e ao som de músicas suaves. de vez em quando. parando. J. verbalizando sua teoria. eles passavam a reagirem de formas inesperadas. num outro compartimento. Ali mulheres batiam com as mãos contra as paredes ou rolavam sobre o assoalho coberto de almofadas. Hipolyte Bailliére. Subitamente esses estranhos atores atiravam-se. uns aos braços dos outros ou então se repeliam com expressões de horror. outros entravam em transe e gritavam. Dr.42 Antonio Almeida Carreiro. uns sentiam convulsões. apresentava-se outro espetáculo. François Deleuze. choravam ou DEULEZE. gemidos e crises de pranto se alternavam. Mesmer. P. Enquanto isso. 4. destinada aos pacientes com ataques convulsivos violentos e a celebre tina de madeira. 15 . Respirações semelhantes às de moribundos e outros sintomas horríveis se viam por toda parte. estabelecia contato imediato por meio de seu dedo indicador. para que os participantes a colocassem frouxamente em torno de seus membros. enquanto lhe segurava ambas as mãos. assistia os trabalhos de magnetizações. Mesmer esforçava-se. movia-se soberanamente. ocorriam diariamente cenas extraordinárias. diante de uma das pacientes mais excitadas. F. para provocar nos pacientes o máximo possível de tensão emocional e. (Vol. enquanto com movimentos ultra-rápidos cruzava e descruzava os braços. às vezes passavam a corda na cintura. envergando um casaco de seda lilás. Além disso. Indivíduos atirando-se para trás contorcendo-se em convulsões espasmódicas. com acessos de sufocação. Fitandolhe firmemente os olhos. na época. Tapetes espessos. publica um livro sobre o assunto e descreve uma dessas cenas: Num dos compartimentos. compunham o ambiente onde se realizavam as sessões. Sc. Gargalhadas satânicas. Nas sessões. sob a influência das varetas. Histoire critique du magnestisme animal [Reprin]. um aparelho de tanta eficácia que dispensava até a presença de Mesmer nos rituais. A compreensão da ligação do Mesmerismo com o hipnotismo atual inicia por analisar o interior da clínica. aplicada às diversas partes do corpo. existia uma sala de crises forrada de colchões. para executar os passes finais (DELEUZE). Paris. e de mãos dadas reforçavam a ação do fluido magnético. onde tudo era disposto de forma a provocar uma forte indução sugestiva no paciente. misteriosas decorações astrológicas nas paredes e cortinas cerradas. Também operava fortes correntes. abrindo as mãos e esticando os dedos. 1819) 1956. No meio dessa multidão ofegante e agitada. 15 um bibliotecário que. com as paredes devidamente forradas. que saíam de garrafas contendo água magnetizada. chegou a magnetizar uma árvore em frente do salão para que nela. Mesmer induzia os pacientes para formarem uma corrente. Tudo isso era responsável pela criação de uma atmosfera propícia aos devaneios da imaginação dos homens do século XVIII. Em pouco tempo as pessoas começavam a sofrer convulsões. Mesmer efetivamente acreditava no que afirmava. o iluminista La Fayette entre outros nomes da nobreza e da intelectualidade parisiense. vez por outra. Na fase de gloria atendia a mais de mil pessoas por dia e. Assim como aconteceu em Viena acontece também em Paris. os de choro alto e risos histéricos que eram conduzidos à sala de crise. Mas. era convicto das suas “verdades científicas”. instigado . facilitando a ocorrência e o aprofundamento do transe. demônios e encantamentos. O sucesso de Mesmer em Paris foi muito rápido. o legislador Montesquieu. por monstros. o rei Luís XVI. alternando-se homens e mulheres (análogo à polaridade elétrica. sendo colocados uns ao lado dos outros. o argumento explicativo baseava-se em que a força do magnetismo era ativada pelas mãos e facilmente conduzida pelas coxas. sem dúvida. como a corrente elétrica. Durante as sessões.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 43 gargalhavam. era esta a intenção. o certo é que curas espetaculares aconteciam. Para garantir a formulação do sofisma que mais convencesse tudo era associado a um fato científico. por gritos ou soluços convulsivos de alguns pacientes. Mas. conta à história. Em 12 de março de 1784. comprimindo as coxas entre eles. como não podia atender a todos. a classe médica enciumada lhe moveu mais um processo de perseguição. capaz de receber cento e trinta pacientes por sessão. a atmosfera geral possuía um clima de harmonia que só era interrompido. No início da sessão era mantido um silêncio absoluto. Neste ambiente atendeu a rainha Maria Antonieta. positivo negativo). Na fase mais avançada de sua carreira. Essa ruidosa sala ficou conhecida como a Câmara das Crises ou o Inferno das Convulsões. havia assistentes para retirarem os que fossem afetados de modo mais violento. Todo esse impacto sofrido pelo suscetível colocava-o numa situação ainda maior de suscetibilidade. uma imaginação ainda povoada pelo maravilhoso. em transe convulsivo ou cataléptico. chegando a alugar um palácio Place Vendôme e faz da sala principal seu novo consultório. caindo no chão e. tocasse em busca de curas. o que provavelmente provocava uma indução ainda maior nas pessoas que se encontravam no salão e. quem não mais cabia do lado de dentro. preliminarmente. tudo era explicado como sendo fruto de fraude e farsa. c) Jean-Sylvain Bailly. Uma sátira ao magnetismo animal foi publicada. Indignado. em jornais e panfletos que circulavam por toda Paris. foi ignorada. estadista e Prefeito de Paris. Era o início do fracasso de sua teoria. Todos encarregados de investigar a legitimidade do fluido magnético e das curas anunciadas. pelos médicos.44 Antonio Almeida Carreiro. o mesmo que oito anos depois inventaria a guilhotina. Mesmer começou a enfrentar críticas de acadêmicos ilustres que iniciaram forte campanha contra sua prática. de ser o detentor e criador de uma doutrina secreta. Uma petição dirigida por Mesmer à Academia Francesa. Não obstante milhares de curas realizadas. em 1780. d) o médico Joseph-Ignace Guillotin. recusou-se por à prova suas verdades e não ofereceu resistência às acusações. nomeou uma comissão de sábios para investigar a natureza do fenômeno Mesmeriano. b) o químico Antoine-Laurent Lavoisier. As duas primeiras trataram de instituir a comissão de investigação oficial composta por: a) Benjamin Franklin. requerendo a investigação científica para seu método de cura sequer foi indeferida. com caricaturas de um corpo de homem com cabeça e rabo de cavalo e uma mulher sendo magnetizada. Sc. médico pela Universidade de Montpellier. posteriormente quando procurado pela comissão oficial. Mesmer era acusado. em data anterior à nomeação da comissão. e) Antoine Laurent de Jussieu. Dr. astrônomo conhecido pelos cálculos da órbita do cometa Halley e pelos estudos sobre os quatros satélites de Júpiter. Caricatura contra o Mesmerismo (1780) As críticas mais contundentes contra o Mesmerismo vieram da Faculdade de Medicina. Diretor do Jardim Real e membro da Academia de Ciências de Paris. deixando sua defesa a cargo dos fatos e de seus discípulos. cientista conhecido como o pai da química moderna. na ocasião embaixador americano em Paris e inventor do pára-raios. que só se dispunha revelar aos . da Academia de Ciências e da Sociedade Real de Medicina. Jussieu recusou-se a assinar e contestou o relatório. o que não lhes provocou os efeitos esperados. Complementa a acusação o fato de que a magnetização não ocorria se o indivíduo não soubesse que estava sendo submetido a tal prática. O Coração e a Razão: A hipnose de Lavoisier a Lacan. Assim. Diante da negativa de Mesmer. não deveria ter assumido tal compromisso desde quando fora iniciado na Sociedade da Harmonia. por tanto fez votos de sigilo e devia fidelidade a Mesmer. os sócios aprendiam a concentrar os fluidos magnéticos e a comunicar para outras pessoas. Enfiaram as mãos na tina do banho magnético. a conclusão do relatório era que a predisposição do sujeito enfermo era condição para atingir a cura. 1990. ed. Zahar. Mas. tradução de Vera Ribeiro) Rio de Janeiro. Entretanto. de Lavoisier à Lacan. Para D`Eslon a condenação do Mesmerismo não era pertinente. 16 . nada de fluido ou coisas semelhantes foi registrado. com exceção de Jussieu... local onde os membros da sociedade da harmonia atendiam pacientes em busca de cura. médico respeitado e professor da Faculdade de Medicina de Paris. criada por ele para formar novos magnetizadores. Léon e STENGERS. afirmava que não havia efeitos benéficos e que os tratamentos eram à base de excitação da imaginação e de pura imitação mecânica.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 45 membros subscritos da “Sociedade da Harmonia”. mas ficou supresso com os resultados e como os membros da comissão procederam. nada há que prove a existência do fluido magnético animal. Afirma Chertok 16 que D`Eslon se comprometeu com os comissários para: 1) constatar a existência do magnetismo animal 2) comunicar seus conhecimentos sobre essa descoberta 3) provar a utilidade do magnetismo animal no tratamento das enfermidades. Dito de outra forma. nada de crises ou de convulsões. Após cinco anos de estudos. Com a ajuda de Luis XVI e Maria Antonieta. CHERTOK. “a imaginação separada do magnetismo produz convulsões. os cientistas limitaram-se a presenciar as demonstrações realizadas por D`Eslon. durante a fase de investigação. mesmo assim assumiu com intenção de provar que a teoria era verdadeira. Sob promessa de sigilo. e o magnetismo sem imaginação nada produz. (Titulo original: Lê coeur et la raison – L’ hypnose em question.. a comissão tratou de investigar as práticas Mesmeristas realizadas pelo seu discípulo Charles D`Eslon.”. Isabelle. o que estava sendo julgado era a prática do magnetismo animal e. instalou também o “Instituto Magnético”. que se prontificou com os investigadores a compartilhar a totalidade do seu saber e da sua experiência. a comissão apresentou volumoso relatório condenando o Mesmerismo.. 17 Caricatura do século XVIII . mas a argumentação da defesa de 17 JUSSIEU (JUSSIEU.46 Antonio Almeida Carreiro.1952] 1784). Laurent de. por entender que somente a imaginação não explicava muitos aspectos que por ele fora observado na fase de investigação. principalmente a veracidade das curas que presenciou. um grande avanço para a medicina?”. referindo-se ao primeiro julgamento dizia ter ouvido inúmeras vezes o argumento de que todas as curas comprovadas foram provocadas pela imaginação do próprio paciente. Dr. só por isso. Franklin apresentando o relatório contra o Mesmerismo Com base na condenação do magnetismo animal. .B. Indignado. E. Sc. a Sociedade Real de Medicina resolveu processar Mesmer. Paris. Insistia em que a prova fosse buscada nos efeitos curativos do fluido hipotético. Rapport de l’um des commissaires. Agora era ele quem deveria ser julgado na sua conduta médica. Questionava D`Eslon o júri do segundo julgamento. defendendo o Mesmerismo. D`Eslon assumiu a defesa. “E se for verdade? Se o segredo do Doutor Mesmer é manipular a imaginação para fazê-la operar em pró da harmonia física e mental do paciente? Isso não seria. [Reprin. apresentando um contra-relatório á Corte Francesa e á Academia de Ciências. em Berlim. Mesmer foi condenado como charlatão. porém. Paralelo a essa proibição surge um movimento de grupos de ilustres personalidades da sociedade de Paris que. sob sua orientação. iniciam a criação das Sociedades Magnéticas. dirigido por Roger Spottis Woode. no início secretamente e depois a tornaram pública com o nome de Sociedades Magnéticas.). Oficialmente desacreditado e sofrendo grande pressão da crítica. considerado impedido de praticar a medicina. é nossa opinião que deveria entrar no quadro do ensino da Medicina e ser empregado por médicos ou. mas seu conteúdo foi considerado pela crítica da época como informações sem crédito. retrata-se da decisão anterior. sob pena de ser excluído do seu quadro. Retrata o trabalho de MESMER em Viena e em Paris e a rejeição da comunidade médica do seu tempo às suas idéias. em 1814. Mesmer foi intimado a prestar esclarecimentos Em 1994 foi produzido um filme por Wiland Schulz-Keil e Lance Reynolds. com o título de Dr. Mesmer abandonou Paris em 1794 seguindo para a Bélgica onde não obteve boa recepção. derivadas da Sociedade da Harmonia.do A. A. 19 18 Título original do livro de MESMER publicado por Herausgegeben von Wolfart. a Faculdade de Medicina de Paris proibia qualquer médico declarar-se partidário do Magnetismo Animal. 19 publicado em 1814. do. System der Wechselwirkungen. detalhando o entendimento teórico e as práticas que desenvolvera durante sua vida. por especialistas comprovados”. . 18 A partir do resultado do segundo julgamento. Mesmer o feiticeiro. Enfrentando mais um processo promovido pela Academia de Ciência de Berlim. foi para a Alemanha onde concluiu a redação do seu livro mais completo. Alemanha. Adeptos de Mesmer mantiveram funcionando as Sociedades da Harmonia. favorável às idéias de Mesmer.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 47 nada valeu. vilipendiado pela classe médica. Theorie und Anwendung des Thierischen Magnetismus als die allgemeine Heilkunde zur Erhaltung des Menschen “Sistema de ação e reação: Teoria e prática do magnetismo animal como meio geral de cura e manutenção da integridade humana” (N. Em 1837. Em 1831. que mais tarde se transformam nas Sociedades Mesmeristas e se espalham pela Europa com objetivo de promover tratamento das enfermidades. Retrata o julgamento da Sociedade Real de Medicina que condena MESMER como charlatão (N. Finaliza a redação da nova sentença: “Considerando o magnetismo como agente de fenômenos fisiológicos ou como elemento terapêutico. e nega a existência dos fluidos.). membros da Sociedade Magnética de Paris elaboram um minucioso relatório e encaminha à Faculdade de Medicina de Paris solicitando a reabertura do processo que condenara o Mesmerismo e obtiveram revisão do julgamento. associando à teoria do magnetismo animal. nos cristais e nos espelhos. Na fase final de suas pesquisas. uns a favor outros contra. religião ou ciência. a hipótese da influência dos astros nas vidas das pessoas para muita gente é válida até hoje e. acreditava que sua técnica era uma forma de superação ou cura dos sofrimentos conseqüentes da própria historia de vida de cada um. inovando e discutindo o tema do hipnotismo. Decorridos mais de dois séculos. por via astral através da pessoa magnetizadora. muitos autores escreveram sobre o assunto. A crença de Mesmer na força que podia ser acumulada na água. Entre 1790 e 1820 o magnetismo animal foi relegado à categoria de “acontecimento sem importância”. novas interpretações aconteceram. Mesmer. em completo esquecimento. o famoso Charcot. apontar sua versão para o significado terapêutico das práticas Mesmeristas. sobre sua teoria e sua prática. Em suas ultimas conclusões relacionava os sintomas dos pacientes às violentas emoções por eles vivenciadas. Sc. capaz de aliviar ou eliminar sofrimentos humanos. acreditando nisso. em 05 de março de 1815. as conclusões de Mesmer incentivaram os estudos de um neurologista francês. se religiosa. a partir de suas idéias foi possível uma série de descobertas que deram origem a novos conceitos. . mística ou mágica. no início do século XX. Na atualidade.48 Antonio Almeida Carreiro. sorte e saúde. na cidade de Weiler. mas o Mesmerismo continuou ativo depois da morte de seu fundador. ora envolvendo filosofia. Na década de 1880. Sofrendo grandes perseguições na Alemanha. novas hipóteses surgem e são modificadas a cada dia por novos autores. É incontestável que o ritual. também ainda encanta muita gente. que associou a terapêutica do seu antecessor ao estudo da histeria e lhe deu novo impulso. sem reconhecer essa relação. muitos ainda recorrem a consultas astrológicas e a mapas astrais para obterem respostas sobre a vida. tendo depois voltado para Iznang na Áustria onde morreu aos 81 anos de idade. Para ele o transe e seus efeitos eram produzidos através de uma força emanada. as quais se aproximam muito das explicações modernas. usa como processo de indução o ritual dos passes e da tina. não importa qual seja a justificativa. Tudo isso contribuiu para Freud. sem abandonar as idéias iniciais Mesmer acrescenta outras. O Mesmerismo serviu de base para várias idéias e sua importância para o desenvolvimento de algumas crenças é incontestável. Mesmo sendo a maior parte das suas conclusões equivocadas. Dr. fugiu para Inglaterra onde viveu por pouco tempo sob nome suposto. quanto mais solene mais eficaz será para produzir o transe. que sofria de uma afecção pulmonar. localizada no sul da França. que não hesitou em rotular de sonambulismo artificial e percebendo um novo aspecto do fenômeno hipnótico. Puységur continuava a empregar os métodos de Mesmer até o dia quando magnetizando com passes Mesmeristas um jovem camponês de 18 anos. Puységur estava diante de um fenômeno. em busca da cura.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 49 No sentido religioso a influência do Mesmerismo é evidente. o paciente se conduzia como um sonâmbulo. dormindo. com o qual obteve pleno êxito. de nome Vietor Race. também invocam ou recorrem a uma espécie de poder sobrenatural do qual se dizem condutores ou instrumento. É geralmente nesta fase que ocorrerem fenômenos hiperestésicos e clarividentes. Mesmerismo e sonambulismo Dentre os discípulos de Mesmer que fizeram reviver o Mesmerismo. Puységur agia em . muito superiores à sua cultura rudimentar. na maioria das vezes. o indivíduo fica inconsciente. o Marquês Armand-Marie-Jacques Chastenet du Puységur (1751-1825). Viveu dividindo seu tempo entre a vida militar e seu castelo. convulsões histéricas. Vietor não se detinha no sono. que ainda era conhecido como magnético. chegando mesmo a indicar um tratamento para a sua própria enfermidade. passou a explorá-lo sistematicamente. gritos. Assim como Mesmer fazia quando invocava os fluidos astrais. movia com suavidade os lábios e sua fala parecia reproduzir pensamentos alheios. No mais. usava uma linguagem mais inteligente do que quando em estado normal. crise de choro ou riso aparentemente voluntário. os passes magnéticos e recipientes com água das práticas Mesmeristas foram mais tarde utilizados como elementos facilitadores da cooperação entre o espírito e o médium. uma gigantesca propriedade que possuía por herança de seus antepassados. O transe hipnótico quando atinge o nível do sonambulismo. na aldeia de Bezancy região da Soissons. figura também uma personalidade influente. um oficial de artilharia que se distinguiu no cerco de Gilbraltar. prantos e desmaios. freqüentemente os dirigentes de rituais religiosos. por mera casualidade verificou que o expediente magnético podia produzir um estado de sono e repouso em lugar das clássicas crises de convulsões. Enquanto os Mesmeristas provocavam crises nervosas. Em outras ocasiões pode manifestar intensa excitação mental expressada através de convulsões. Quevedo 20 esclarece o que ele denomina de “Incitação do Inconsciente pela Hipnose” e apresenta casos nos quais afirma que a hipnose favoreceu a ocorrência desses e de outros fenômenos. reproduz os seus movimentos. além de observar como decorrente da hipnose fenômenos hiperestésicos e clarividentes. cortando as frases no meio de uma palavra e modificava completamente seu curso (DOMINIQUE. apud QUEVEDO). sem que 20 QUEVEDO. como exemplo. É relativamente comum a observação destes fenômenos em sessões de hipnotismo. podem ocorrer com algumas pessoas em estado hipnótico. O mesmo fato ocorria com relação à visão. a ele se devem os primeiros critérios corretos para a análise da hipnose e da suscetibilidade hipnótica. Descreve o conteúdo de uma carta escrita pelo próprio Marquês. Embora continuasse a usar passes conjuntamente com a sugestão para indução ao transe. Outras vezes observava que os sentidos sofriam uma transposição diferente. comunica ter observado que nas experiências com o sonambulismo. sentido contrário. de olhos vendados e de costas para o hipnotizador. só com o pensamento. com um dos seus pacientes. para a ponta dos dedos da mão ou dos pés. algumas pessoas manifestavam fenômenos estranhos. que relata o acontecido quando Mesmerizava um dos seus pacientes: Eu pensava simplesmente na presença dele e ele me compreendia e me respondia.. Gonzáles. . ele não tinha necessidade de falar para dar as sugestões. Quando ele se mostrava disposto a dizer mais do que eu julgava prudente deixar entender. O. o fenômeno da clarividência. descobrira que. sugerindo aos Mesmerizados paz. Entre outros. interrompia imediatamente suas idéias. Jacques Henri Désiré Petétin (1744 . se o hipnotista levanta o braço. Dr. entretanto.1808). no seu livro Animal magnetism. ouviam perfeitamente se as palavras lhes eram sussurradas ao nível do estômago.50 Antonio Almeida Carreiro. o hipnotizado também levantará. Em 1787. publicado em Londres em 1874. onde o hipnotizado. São Paulo. eu. datada de oito de março de 1784 e citada por Dominique de Sé. Electricité Animal (1808). cura e ausência de dor.. Em sua obra. Loyola. deu um impulso decisivo ao hipnotismo moderno. Já em 1784. A face oculta da mente. Alguns pareciam surdos quando a voz era dirigida aos seus ouvidos. de Lyon. 1971. repouso. ed. também descobriu como levar um paciente ao transe sonambúlico. premonição e transmissão de pensamento. o sujeito mostrava-se capaz de “ver” com a região correspondente ao estômago. Sc. ..... ele cairá com o corpo no mesmo sentido. Mas. Baseado nas experiências de Mesmer. Seu método.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 51 para isso se diga uma palavra. bem calma. Para Puységur. surpreendentemente.. Está totalmente se desligando da pessoa que segura pelas mãos. Puységur chegava a reunir até 130 pessoas. com isso. Foi o Marquês... estará livre de seus problemas. Dois.. Puységur introduziu na hipnose uma experiência curiosa que consiste em aprofundar no transe uma pessoa bastante suscetível.... desenvolveu outra técnica utilizada em tratamento coletivo.. O hipnotizado logo dizia que estava enxergando tudo. Um.... Puységur acreditava que podia magnetizar árvores e. sugerindo-se que ela terá sua visão aumentada.. até hoje é posto em dúvida embora seja verdadeiro e até fácil de ocorrer.. em torno das famosas árvores de . hipnotizados. esse fato revelado por Puységur. no qual o próprio doente indicava o seu remédio. Feito isso. Seus pacientes postos em contatos com outra pessoa doente viam e descreviam seus órgãos internos como raios-X e. Vá observando o funcionamento de todos os órgãos internos dela. Solte as mãos. Vá observando vagarosamente. Sugeria que. era dito: • Agora você já pode observar todo o funcionamento dos órgãos internos desta pessoa com que você está em contato. o criador do termo sonambúlico para representa o estágio mais profundo da hipnose. Observe bem. mesmo sem ter grandes conhecimentos de anatomia.. Como exemplo: • Agora está tudo bem. Três. Vou contar até três para você acordar.. com os braços apoiados sobre os joelhos. que eram executados na presença de espectadores curiosos e entusiasmados pelo novo método. que terá condições de enxergar internamente a pessoa que está à sua frente. Ambas de frente uma para outra.. ao mesmo tempo. fez com que Puységur enveredasse para a pesquisa do maravilhoso.. Descreva seu funcionamento. Você está livre de qualquer interferência.. está livre de qualquer dor ou mal-estar... Assim. Segundo Alphonse Bué (1919). bem tranqüila. o hipnotizado tinha condições de sentir as reações do outro e descrever suas dores. Ao soltar suas mãos.. O retorno dessa prática consistia também de sugestões especificas. em contato pelas mãos. também faziam observações do que se passava à distância. se o hipnotista apenas afasta as mãos. além de ver.. com essas experiências podiam ser obtidos diagnósticos perfeitos e com grande precisão. com detalhes descrevia o funcionamento dos órgãos.. Depois de um tempo o mestre mandava que cada um dissolvesse a corrente se soltando dos polegares do outro para posteriormente cada um esfregar as próprias mãos. Chamando a atenção dos cientistas para a nova forma de curar. Com isto acordavam e não se lembravam de nada. Bezancy.. de 12 anos. Essas pessoas. agora chamadas de “médicos”. a prática de Puységur abriu caminho para uma nova perspectiva. um olmo antigo em cujo pé brotava uma fonte de água clara. Embora em média apenas dez por cento dos suscetíveis ao transe hipnótico atingem o nível do sonambulismo com possibilidades de apresentar efeitos extra-sensoriais. descobre o . Escolhia então alguns deles e com o toque de seu bastão de ferro. apareceu uma garota de nome Pigaire. próximo ao castelo do Marquês. um fluido que corria através deles. mostrou que podia ver perfeitamente objetos. seria recompensado o hipnotizador que respondesse positivamente ao desafio e acreditava-se que jamais qualquer pessoa passaria na prova. Apresentada á comissão. chegaram à conclusão de que embora com os seus olhos rigorosamente blindados. estabelecendo uma recompensa de alto valor em dinheiro para quem apresentasse um sonâmbulo capaz de enxergar através de obstáculos opacos.52 Antonio Almeida Carreiro. que se recusava a aceitar no que parecia ser um absurdo e nomeou comissões para estudarem os casos descritos pelo Marquês. Questão encerrada. não era cega. Uns relatórios foram a favor e outros contra. No centro da praça da pequena aldeia de Bezancy. para por fim as dúvidas. Pois bem. de que os anais magnéticos assinalam numerosas curas. Puységur comunicou esse novo rumo dado à hipnose à Academia de Medicina. em 1837 instituiu-se a ultima comissão que. levava-os ao nível de transe sonambúlico. os camponeses se sentavam ou eram amarrados nos principais ramos em torno do tronco. Para acordá-las de seu sono magnético Puységur mandava beijar a árvore. de Beaubourg e de Bayonna. na medida mais intensa ou débil. O procedimento de cura começava com a formação de uma corrente de pessoas que se seguravam pelos polegares em volta da árvore e descreviam sentir. cuja clarividência havia sido comprovada por Puységur. a sua faculdade da visão não podia ser descartada por ter ela uma vista fisiológica normal. Processo arquivado. o veredicto dos doutos acadêmicos foi contrário. Mas. podia ser vista uma grande árvore. de olhos totalmente vendados pelos experimentadores. cercada de palhoças. Ao contrário do que se esperava a prova não envolvia qualquer demonstração de cura pela hipnose.. logo podia enxergar. Sc. diagnosticavam enfermidades dos outros e indicavam tratamentos. Dr. publicou em 1824 a Gramática Francesa Clássica e um ensaio sobre o aperfeiçoamento do ensino no seu país. O Barão foi um entre outros que muito contribuiu para o desenvolvimento das sessões Mesmeristas envolvendo sonâmbulos. Na Inglaterra ocorreram fatos semelhantes e migram para a América . clinicar como médico. desse envolvimento. nascido na França. Com intenção de trabalhar como professor. algumas sessões de magnetismo passam a incorporar sonâmbulos com efeitos espetaculares e manifestação de fenômenos hiperestésicos e clarividentes ocorreram por toda a Europa. com o pseudônimo de Allan Kardec. entre 1835 e 1845. entre eles o Barão Du Potet e Charles Lafontaine e. Magnetismo e kardecismo O magnetismo em sua trajetória histórica envolve o sonambulismo europeu com algumas manifestações ocorridas na América e. Denizard Hippolyte Léon Rivail (1804 – 1860). na Alemanha são notáveis a sonâmbula Adèle Marginot e Gottlieben Dittus. sua principal atividade profissional. decorreu sua conversão para a doutrina espírita através do médico. o pastor presbiteriano Edward Irving pregava curas enquanto falava em sua igreja em língua estranha (fato comum durante transes hipnóticos). o codificador da doutrina espírita. fechado em 1835 por dificuldades financeiras.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 53 estado sonambúlico do hipnotismo. Rivail freqüentou sessões de mesmerismo em busca de solução para casos de enfermidades de pacientes a ele confiados e tornou-se mais tarde. passando então a ensinar em sua casa filosofia. além de. Vários homens importantes na sociedade européia seguem seus passos. anatomia. na cidade de Lyon. No início de sua carreira Rivail foi Guarda-livros no jornal O Universo. realizavam curas e atribuíam aos espíritos. Rivail interessou-se pelo magnetismo de Paracelsus e. fundador do Journal du Magnétisme e dirigente da Sociedade Magnética de Paris. a partir daí. Embora se considerasse modesto magnetizador. se formou em Letras e em Medicina. o mesmerismo atraiu a sua atenção passando a integrar o grupo dirigido pelo Barão Du Potet (1796-1881). Foi também um dos iniciadores de Allan Kardec. mais tarde transformados em médium espíritas. Antes da doutrina de Kardec. fundou o Instituto Rivail. filósofo e professor de francês. na mesma época. química. Na Escócia. a quem coube o desenvolvimento e a codificação da doutrina espírita. que a partir dele passa a ser conhecida como kadercismo. astronomia e física. eventualmente. ambos no meio de sessões de magnetismo. em 1850. rapidamente. 21 Seguiu-se o mesmo número de raps ao das palmas batidas por Margareth. bateu palmas. no início século XIX. sua esposa Margareth e três filhas. funcionavam mais de cinqüenta centros dedicados à prática do espiritismo. depois associa-se ao Mesmerismo para mais tarde transformar-se em prática da doutrina Kardecista. Foi em 1848. como qual a idade de cada uma. grupo de religiosos místicos ingleses que. só em Nova Orleans. Katharine e Ana Lrah de. cidade americana de fortes raízes francesa. A casa virou um lugar onde afluíram várias pessoas para presenciar os fatos e. por causa de muita freqüência. mas certa noite os barulhos intensificaram-se e acordaram a todos. . respectivamente. as pancadas responderam acertadamente. Chega à França e transforma-se em reuniões em torno de mesas girantes e de escritas automáticas. como se fora alguém invisível querendo se comunicar. e para espanto da família. os fenômenos pararam.). portanto tinham possibilidades de manifestar certos efeitos parapsicológico. admitia-se sua existência e a crença de que eles agiam influenciando de alguma forma na vida das pessoas. inicialmente como curiosidade e passatempo de salão.54 Antonio Almeida Carreiro. As duas irmãs mais velhas eram sonâmbulas. Margareth. três. A notícia espalhou-se pela região e. Em seguida. a mais velha. faça o que eu faço”. do A. os Fox já estavam se acostumando com a casa. numa granja em Hydesville. através dos shakers. As duas filha mais velhas logo perceberam que as batidas respondiam a seus estalos de dedos e palmas batidas. Embora nestas sessões a comunicação direta com espíritos não era cogitada. composta por Johon. em Nova York nos Estados Unidos. Sc. a família resolveu mudar-se dali e. replicou: “Agora faça exatamente como eu. sendo imitada nos sons pelo que acreditou ser um espírito. Outras perguntas foram feitas pela mãe das meninas. que aconteceu pela primeira vez um fato envolvendo a família Fox. No fim da década de 1840. dizia: “Senhor pé rachado. dois. E. chegaram aos Estados Unidos como colonos. Margareth. para o resto do país e para o outro lado do Atlântico. 21 O termo “pé rachado” deve-se à maneira que os nortes-americanos se referiam ao demônio ou “cabra” (N. levando na brincadeira e cantando em ritmo de raps. 15. 12 e 09 anos. Conte um. Dr. com a sua saída da casa. que ficou conhecido como a primeira ocorrência de comunicação direta de pessoas vivas com espíritos. quatro”. apesar de sempre ouvirem pequenos ruídos e batidas. Em dezembro de 1847 a família Fox foi residir numa casa de madeira que tinha fama de mal-assombrada. proferida por alguém do grupo e. . Quando o efeito começava. A iniciação de Allan Kardec no espiritismo ocorreu após reencontrar com um amigo de nome Victorien Sardou que discorreu acerca do que acreditava ser a intervenção dos espíritos em uma sessão de magnetismo e o convidou para assistir. Foi em 1850 que surgiram na Europa as mesas girantes. o que apenas era diversão. Mantida em equilíbrio sobre uma folha de papel. Em maio de 1855. independente da vontade consciente de quem está com as mãos sobre a mesa ou com o dedo sobre a cesta. passou a ser entendido como se fosse comunicação com espíritos. a pessoa não provocou os movimentos. O movimento das mesas girantes. cada pancada do pé da mesa no chão passou a ser entendida como confirmação de uma letra.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 55 O fato ocorrido com a família Fox passou a ser entendido como uma comunicação com espírito. na Europa. Como. associadas com práticas Mesmeristas. Isto evoluiu para o que veio a se chamar escrita automática. atinge proporções espetaculares quando essas pessoas são sonâmbulas. a junção das letras. O que pode ser entendido como uma prática simples envolvendo hipnotismo. pode acontecer quando as sessões conta com a participação de pessoas suscetíveis e. estas notícias serviram de base para o inicio. na qual se amarava um lápis com a ponta para baixo. em 1850. o fenômeno das batidas como respostas as provocações das meninas prosseguiu á vista de outras pessoas que trataram de divulgar a história pelo mundo e. formava resposta para determinada pergunta. das experiências com “mesas girantes”. para alguns passou a ser observado como se fosse obra de espíritos comunicando-se com os vivos. assim como a escrita automática. conscientemente. Essa prática virou mania nas casas e salões e logo. o sonâmbulo encostava o seu dedo na cesta e ela se deslocava escrevendo. no decorrer das sessões de magnetismo. o próprio ambiente e a ritualidade das sessões provoca o transe hipnótico. de forma sutil. geralmente se ouvia um pequeno estalido na mesa. criar os movimentos. uma cesta com de 15 a 20 centímetros de diâmetro. Acreditava-se que os fluidos magnéticos de uma ou mais pessoas do grupo proporcionavam as condições para que isso acontecesse. acredita-se que o efeito ocorre por ação do seu inconsciente que é capaz de controlar sua musculatura e. várias pessoas em torno de uma mesa colocavam as mãos sobre o móvel que começava a girar ou levantar os pés. isso era o prelúdio do movimento. contando sempre com a presença de sonâmbulas e. Interessou-se pelas explicações transmitidas pelo magnetizador quando dizia "parece que já não é somente pessoas que podem magnetizar". Platão. como os pitagóricos e outras linhagens de pensadores filosóficos. entre outras coisas. então. ao adentrar um novo corpo. porém. pela primeira vez. prometeu orientá-lo na tarefa de escrever a nova doutrina. a de que a força curativa era atribuída aos espíritos (Obras Póstumas de Allan Kardec). quando. Mas. ao tempo dos druidas. . Em 1857 Allan Kardec acredita ter tido contato. que lhe diz. com um espírito de nome Zéfiro. Roger. Sc. ocorreu para alguns mesmeristas a suspeita de que existia algo além do fluido e do magnetismo agindo nas sessões de sonabulismo e o sonanbulo passa a ser conhecido como médium. A premissa de Kardec. traços dessa contemplação permaneciam no espírito e podiam ser eventualmente reativados. acreditava que a alma existia antes do corpo. Em 1859.56 Antonio Almeida Carreiro. definindo aqueles sonâmbulos que entravam em transe com o propósito de “intermediar” a comunicação entre os vivos e os mortos. Dr. foi à casa de uma sonâmbula. continuava a existir após a morte e posteriormente entrava em novo corpo prestes a nascer. ocorria um choque e produzia-se o esquecimento. Maximilian Hell. além de outros membros do novo grupo. presenciou a prática das mesas girantes que saltavam e corriam e viu também alguns ensaios de escrita automática. conheceu o seu magnetizador. Mesmer e Puységur. Allan Kardec e. era a alma capaz de contemplar sem obstáculos o mundo no qual vivemos. é presente nas escolas filosóficas. praticado por William Maxwell. tê-lo conhecido em uma precedente existência. A partir da ocorrência das mesas girantes e da e das escritas automáticas. na origem da própria filosofia para explicar o humano e seu mundo. Em estado puro. viviam juntos na Gália e ele se chamava. o Senhor Fortier. publica com esse pseudônimo o Livro dos Espíritos criando outra versão para o magnetismo. Essa visão. Nome advindo do latim que significa “meio”. herda as teorias do magnetismo e se desenvolve absorvendo as práticas Mesmeristas. Foi quando. fundamentada na filosofia antiga que a tudo respondia com base na reflexão do pensamento mítico. a Sra. através do pensamento mítico. A estruturação de sua doutrina tem por base o pensamento de Platão e deriva do magnetismo desenvolvido por Paracelsus. através de um médium. Assim. Ao escrever a primeira edição da Revista Espírita. Kardec exerce sua formação acadêmica de escritor e produz a bibliografia clássica da nova crença. do sonambulismo e do êxtase. diferindo apenas pela potência e rapidez da ação do magnetismo que o transmitia. composta por cinco livros: o Livro dos Espíritos (1859). faz referencia as curas através da ação do fluido universal e invisível. e A Gênese (1868). A viagem e a transmigração estão. mas a união da alma com um corpo. é um espírito encarnado (N. Em 1858. funda e dirige a Sociedade Parisiense dos Estudos Espíritas e cria a Revista Espírita. Quando morre um corpo. em março de 1858. destaca que o magnetismo preparou o caminho do espiritismo. enfrentando o ridículo. Revista Espírita. que terminamos com uma justa homenagem aos homens de convicção que. unindo-se a ele de forma temporária e acidental. se somado a essa coleção as Obras Póstumas de Allan 22 O conceito de Alma. contudo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 57 Para Platão (na obra o Fédon) a alma 22 é uma substância independente do corpo. Referindo-se a importância da terapia praticada nas sessões mesmeristas. Conhecendo bem filosofia e vivenciando as práticas do magnetismo mesmerista.do A. não faz desaparecer traços da vida antes incorporada. e diz que sua conexão é tal que é impossível falar de um sem falar de outro. o Evangelho segundo o espiritismo (1864). derivou as manifestações espíritas. o Livro dos Médiuns (1861). “O princípio é sempre o mesmo: é o fluido que desempenha o papel de agente terapêutico. estes traços vão sendo substituídos à medida que as experiências e a educação despertam na nova vida formas mais evoluídas. afirmando que dos fenômenos magnéticos. E conclui seu artigo homenageando os praticantes do mesmerismo como sendo seus legítimos antecessores: Devíamos aos nossos leitores esta profissão de fé.). o sarcasmo e os dissabores. para o Kardecismo. Kardec em 1868 ao escrever a quinta e última obra básica da sua doutrina. 1858). condicionada pelos atos praticados na vida anterior. . dedicaram-se corajosamente à defesa de uma causa tão humanitária (KARDEC. O céu e o Inferno (1865). Entusiasmado com os primeiros resultados das suas idéias. a alma transmigra para outro. e o efeito está subordinado à sua qualidade e circunstâncias especiais”. é eterna. Pelo contrário. o novo corpo em que reencarnam pertence a uma pessoa com um estatuto social mais elevado que o anterior. A Gênese. Kardec inicia uma nova concepção de cura. destacando que as curas fluídicas seriam variedades da ação do magnetismo. onde populariza sua teoria. o orgulho.58 Antonio Almeida Carreiro. Esses livros contribuíram prodigiosamente para dar ao espiritismo o aspecto dogmático e religioso que seus continuadores têm conservado e respeitam estritamente. na acepção de destino. A doutrina Kardecista defende como princípio a existência de Deus. Segundo Kardec. Kardec considera o homem como o único responsável por sua felicidade. onde o nosso seria um daqueles em que o espírito se manifesta. fazer revelações e aconselhar os vivos. a hipocrisia e prega o amor ao próximo como meio de atingir a maturidade espiritual. Dr. em alguns casos. Sc. . Isso acontece por meio da psicografia ou escrita automática que neste caso é entendida como se o próprio espírito escrevesse através do médium ou da incorporação. escrevem de modo sedutor e sob forma tão persuasivas. força cósmica criadora do universo. Admite também o carma. O médium é a pessoa a quem os espíritos recorrem para contar como estão após da morte do corpo físico. que estabelece a lei de causa e efeitos. Fundamentado na crença da existência do espírito independente do corpo e em seu retorno à Terra em sucessivas encarnações até atingir a perfeição. inclusive paralelos e invisíveis para a maioria das pessoas. capacidade natural de comunicação entre eles e os homens. Kardec. quando o espírito apodera-se do corpo do médium para falar aos vivos. que encanta a imaginação e adormece o senso crítico da maioria dos leitores. segundo o qual nossa vida seria uma decorrência da conduta que tivemos em vidas anteriores. já que tudo depende de seus atos. numa prestação de contas que regula as sucessivas encarnações. Como o corpo é um instrumento para voltar à Terra. Cada vez mais a literatura espírita reúne verdadeiros talentos de autores. Admite ainda a pluralidade de mundos. Todas as faltas podem ser reparadas e. Defende o conceito de reencarnação como o processo que permite os espíritos voltar ao plano material para expiar os erros do passado ou para estimular o progresso dos outros seres humanos. defeitos físicos são considerados como parte do processo de purificação. Os espíritos superiores provem o bem e os inferiores dão más orientações. Afirma que as reencarnações permitem a evolução gradativa do espírito para se redimir de erros passados. e a existência do espírito que se liga ao corpo físico e a memória dos atos praticados. Condena o egoísmo. quando o espírito atinge a perfeição não precisa mais reencarnar. os espíritos interferem na vida terrena pela mediunidade. e pago com a ingratidão por aqueles a quem tinha prestado serviços. da injúria. na Alemanha. como a tolerância para diferentes crenças religiosas e múltiplos fatores sociais e culturais de fáceis ajustes a nova doutrina. nas Américas foi rapidamente difundida e aceita. Na atualidade o Brasil é considerado como a nação que congrega maior número de espíritas no mundo. sucumbi. as minhas melhores instruções têm sido desnaturadas. da calúnia. São 2. desde o seu aparecimento até os dias de hoje. algumas sessões mesmeristas passaram a ser aceitas como espíritas. Mas. na Escócia e na Inglaterra de onde migram para os Estados Unidos. Mas. não encontra boa receptividade na Europa. tenho sido traído por aqueles em quem depositara confiança. em 1867. da inveja e do ciúme. Considerando que o Kadercismo é um viés do mesmerismo. tem-se-me alterado a saúde e comprometido a vida (Obras Póstumas de Allan KARDEC). Na Espanha o catolicismo combateu fortemente as idéias de Kardec. inclusive promovendo queima em praça pública dos seus livros. e que. A Sociedade de Paris tem sido um contínuo foco de intrigas. segundo censo de 2001 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas IBGE. O Kadercismo segue sua própria escola e o mesmerismo acaba sendo substituído mais tarde pelo hipnotismo. assim se exprime: Tenho sido alvo do ódio de implacáveis inimigos. Kardec. baseados na filosofia de Platão e nas práticas de curas realizadas por Puységur e seus sonâmbulos. Aqui encontra ótimas condições para prosperar. Fortemente difundido nos Estados Unidos da América do Norte. a Federação Espírita Brasileira estima em mais de 30 milhões de pessoas que freqüentam cerca de 10 mil centros ou instituições espíritas espalhadas pelo País. chegando ao Brasil por volta de 1865. resta definir precisamente as diferenças e semelhanças entre essas concepções de conceitos. Não mais tenho conhecido o repouso. bem antes de Kardec. é justificado pelo fato de que. têm sido publicados contra mim infames libelos. conquistando progressivamente uma imensa legião de adeptos e simpatizantes.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 59 A doutrina Kardecista. sob o excesso do trabalho. em parte. mais de uma vez. após dez anos da primeira edição de O Livro dos Espíritos. principalmente na França onde surgiu. Isto. urdidas por aqueles que se diziam a meu favor. mostrando-se amáveis em minha presença. o Kadercismo percorre as Américas. Disseram que aqueles que adotava o meu partido eram assalariados por mim com o dinheiro que eu arrecadava do Espiritismo. .3 milhões de espíritas no Brasil. Quanto à repercussão de sua doutrina na França. na França. me destratavam na ausência. não sendo estas forças explicadas como efeito da sugestão. esta tese é defendida por Alphonse Bué. Bué descreve como obteve. por H. 24 Padre católico. através do magnetismo. absolutamente contrário à teoria Kardecista. existe consenso de que. Sc. Segundo afirma. Editora Mestre Jou. magnetizador e seguidor fiel do mesmerismo. Contudo. foi impressa a segunda edição pelo departamento editorial da FEB com objetivo de ensinar. aos praticantes do espiritismo. como conduzir as sessões de “passes”. Certo é que muitas vertentes interpretativas assumiram explicar o mesmerismo.60 Antonio Almeida Carreiro. ensina como magnetizar pontos anatômicos e seus efeitos. Justifica a eficácia do magnetismo com base nas idéias de Mesmer. O segundo retrata a teoria mesmerista. editora Loyola. No livro Magnetismo Curador (1919). Dr. e. ora religiosos e até fisiológicos. Publicado em dois volumes. Jagot 23 nega o espiritismo e afirma que magnetismo. Paul C. Sugestão. Também é consenso que o transe do médium (manifestando espírito) apresenta idêntica sintomatologia observada no sujeito hipnotizado (transe hipnótico). Raimundo Nonato Corrêa). em 1946. Assim também pensa Quevedo. As forças físicas da mente. concretamente chamadas de magnetismo animal”. a qual denomina de telergia. seu livro serve como mais um manual para prática de “passes” nas sessões espíritas. Hipnotismo. São Paulo. sob os auspícios da FEB . “algumas pessoas parecem ser dotadas. I. para afirmar-se que as manifestações espíritas são explicadas pelos mesmos principios. é um manual prático. 24 . diferenciando do hipnotismo com base nas práticas de Charcot (escola de Paris). Garnier. embora não se refira ao espiritismo. sua transferência pode ser facilitada pelo transe hipnótico. Tem quem afirma que o mesmerismo é diferente do hipnotismo. centenas de curas de pacientes desenganado e. QUEVEDO. capazes de liberar certas forças parapsicológicas. Magnetismo. 1959. Oscar Gonzáles. e da sugestão com base nas práticas de Liébeaut (escola de Nancy). livreiro e editor. São Paulo. v. (Trad. ora atribuindo conceitos filosóficos. nega qualquer possibilidade de manifestação de espíritos de pessoas mortas e acredita que no mesmerismo ocorre sim a transferência de uma espécie de energia entre pessoas. o primeiro baseado nos aforismos de Mesmer. hipnotismo e sugestão são diferentes entre si. 23 JAGOT Paul C. Tem quem não acredita no espiritismo e também afirma que o mesmerismo é diferente do hipnotismo. 1992. Em 1940 foi traduzido para o português e impresso no Rio de Janeiro.Federação Espírita Brasileira. Utilizava como anestesia local para diminuir a dor durante cirurgias. introduziu o uso do estetoscópio na Inglaterra. médico inglês e uma das figuras mais eminentes da história médica britânica. pediu demissão. havia de se beneficiar porque.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 61 Mesmerismo e psiquiatria John Ellioston (1781 – 1868). em 1830 foi nomeado Presidente da Royal Medical and Surgical Society e um dos fundadores do University College Hospital. da melancolia acompanhada de delírio. demonstrava nisso fortes indícios de pouco comprometimento das suas funções cerebrais. Os métodos de tratamento de Ellioston não tardaram em criar uma onda de oposição. Mesmo tendo Ellioston obtido resultados satisfatórios no tratamento da neurose histérica. ainda conhecida como mesmerismo. na dispsomania e na psiconeurose e. E o Conselho Universitário acabou por proibir o uso do Mesmerismo no hospital da Universidade onde trabalhava. ao desejar tratar-se. Em virtude disso. Foi quem primeiro usou a hipnose. das idéias fixas e nos casos mais benignos das psicopatias. Assistiu algumas demonstrações de mesmerismo e começou a trabalhar essa técnica com seus pacientes. condição necessária para ser induzido ao transe. pois. Todas as outras considerações são secundárias. Aconselhava que o Mesmerismo para fins psiquiátricos só pudesse ser empregado quando o doente se apresentava para o tratamento por sua livre e espontânea vontade. no tratamento da histeria dentro do ambiente hospitalar. nas pessoas praticamente normais que apenas apresentavam desequilíbrio emocional temporário. juntamente com os métodos de se examinar o coração e os pulmões da forma que são utilizados até hoje. começou também a introduzir o “sono magnético” na prática hospitalar para aliviar dores dos pacientes. . deixando a famosa declaração: A Universidade foi estabelecida para o descobrimento e a difusão da verdade. descartando esse método de tratamento para loucos e retardados. em tal caso. Em suas experiências pode observar que a hipnose se mostrava eficiente nos casos em que o quadro psicopático estava ligado a uma neurose histérica. Nós devemos orientar o público e não deixar-nos orientar pelo público. naturalmente. Embora seu primeiro objetivo tenha sido a utilização da hipnose como expediente nos tratamentos psiquiátricos. em Londres. percebeu logo de início que não se consegue hipnotizar portadores de graves enfermidades mentais. A única questão é saber se a coisa é ou não verdadeira (ELLIOSTON). Demitido da Universidade. Seus pacientes sofriam as mais severas intervenções cirúrgicas. suas primeiras experiências de anestesia magnética com excelentes resultados. Do ponto de vista da ciência estes fatos eram desacreditados e. formou-se em medicina em 1830. Rio de Janeiro. Ed. Inspirado na leitura dos trabalhos de Ellioston realizou mais de três mil intervenções cirúrgicas com pacientes sob efeito do “sono 25 WEISSMANN. . Sc. Mesmerismo e anestesia James Esdaille (1800 – 1859). Jeanne Oudt comunica à Academia Francesa de Medicina seus sucessos magnéticos obtidos em extrações de dentes. em 1845. quando poderia ter aceitado o fenômeno e rejeitada apenas a teoria. enquanto o magnetizador Phineas Quimby atuava como anestesista. em relação ao Mesmerismo. Dr. na Áustria. da psicologia cerebral e suas aplicações para o bem-estar humano. em toda parte do mundo. Albert Wheeler remove um pólipo nasal de um paciente. Acontece que. Na América. conhecia os trabalhos de Ellioston e começou a clinicar na Índia onde fez. mas também os fatos. afirmando ter realizado mais de 200 intervenções cirúrgicas absolutamente sem dor. mas eram apontados pela medicina ortodoxa como “um grupo de endurecidos e renitentes impostores que sofriam sem reclamar só para provar uma mentira como verdade”. mas bem antes médicos adeptos do Mesmeric Hospital. Em 1829 Jules Cloquet usou o mesmo recurso anestésico numa mastectomia. 1958. nem mesmo os fatos eram aceitos (WEISSMANN). Ali muitos médicos aprenderam o novo método de cura. Ellioston morreu em 1868. médico nascido em Perth. Prado. Posteriormente fundou em Londres o Mesmeric Hospital. na Escócia. inclusive amputações sob sono magnético. Ellioston continuou seu trabalho com o Mesmerismo e em 1843 fundou o Ziost. no qual o mesmerismo era largamente utilizado. O jovem cirurgião escocês começou sua prática como médico da British East India Company. na Índia. na França e nos Estados Unidos realizavam intervenções cirúrgicas sob sono magnético. neste sentido observa Weissmann: 25 É curioso registrar que a ciência ortodoxa de então rejeitava não somente as teorias Mesmeristas. Na Alemanha. Karl. O lugar de Esdaille na história do hipnotismo se justifica por ter sido ele um pioneiro na luta pelo reconhecimento da hipnose como um instrumento valioso na cirurgia. principalmente anestésicos.62 Antonio Almeida Carreiro. anunciavam seus feitos terapêuticos. um jornal que tratava do novo método de tratamento. O hipnotismo. Esdaille. Idêntico argumento foi usado contra Benjamin Franklin. soprava-lhes levemente a cabeça. Deviam ser expulsos da classe profissional. quando publica sua experiência na Índia.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 63 magnético”. os médicos faziam circular a notícia de pacientes que haviam sido comprados para simular a ausência de dor. 1852. Esdaille relata inúmeros casos de cirurgias sob o efeito mesmerista. 26 As publicações médicas recusavam-se a aceitar as comunicações do cirurgião escocês e o Caleutta Medieal College moveu-lhe insidiosa campanha de desmoralização. enquanto o paciente magnetizado acompanhava com o outro olho o andamento da operação sem pestanejar. J. em circulação até 2001. ao passo que olhava de perto os olhos e concentrava as pancadas na área a ser operada. empregava expedientes magnéticos do ritual mesmeriano. a qual. além dos milhares de intervenções cirúrgicas leves e centenas de operações profundas. até que o paciente estivesse em condições de sofrer a intervenção cirúrgica sem anestesia. era sacrílega a anestesia do magnetizador”. a mais velha revista médica inglesa. Essa prática só diminuiu quando surgiu o emprego do éter e do clorofórmio como agentes anestésicos. Contudo. o pára-raios era condenado como uma tentativa ímpia de anular a vontade de Deus. Qualquer médico que envia um doente a um charlatão Mesmerista devia perder sua clientela para o resto dos seus dias (The Lancet). Os fatos eram de esmagadora evidência. sem anestesia e sem dor. 26 ESDAILLE. realizou dezenove amputações apenas sob o efeito da anestesia hipnótica. portanto. ainda não existia. na época publicou a seguinte admoestação: O Mesmerismo é uma farsa demasiadamente estúpida para que se lhe possa conceder atenção. Esdaille foi julgado pela Sociedade Britânica de Medicina e uma testemunha. Mesmerism in Índia and its Pratical Applications in Suurgery and Medicine Londres. na época. Hyppolite Baillière. Consideramos seus adeptos como charlatões e impostores. Ainda. a anestesia não valia como prova de coisa alguma e. Em Calcutá. disse ter assistido a extirpação de um olho. inclusive o bíblico: “Deus instituíra a dor como uma condição humana. contra Esdaille todos os argumentos eram empregados. os olhos e a boca. depondo em seu favor. The Lancet. mas os passes eram acompanhados de leves pancadas pelo corpo do paciente. assim como Ellioston. . em intervalos regulares. Esse processo prolongava-se geralmente por uma hora ou mais. embora ninguém duvide dos fatos narrados. Esdaille teve que abandonar o hospital e. fisiologistas e até filósofos saber por que esses 120 milhões de orientais (mesmo que os suponha macacos) são tão suscetíveis às influências mesméricas a ponto de permitirem intervenções cirúrgicas e outros benefícios. Mudouse posteriormente para a Inglaterra. que jamais teve clínica particular. Hypnosis in medicine and surgery [Reprin]. porém. Julian Press. onde não teve melhor sorte. Sofrendo grande perseguição. não seria interessante para cirurgiões. Sc. Estou convencido de que em um ponto concordamos: todos gostam de tirar as próprias conclusões e ninguém deve se submeter à venda nos olhos ou a ser conduzido pelo nariz das pessoas que pagamos para que nos mantenham bem informados dos novos eventos e do progresso alcançado pela nossa profissão em todo o mundo. (ESDAILLE). J. deveríamos ser encorajados a escrever o suficiente a fim de. mais rapidamente e efetivamente. Ouvi dizer que foi dada como razão para a não publicação do meu trabalho o fato de que. médicos. Cherburgo e etc. nem inseriu um só dos numerosos casos já verificados em Londres. 27 ESDAILLE. Supondo. Mas. Foi este também rejeitado por sua “impraticabilidade”. um homem como eu. não tem permissão de se fazerem ouvir no seu órgão de classe. como se estivessem contrariando os interesses e as convicções pessoais dos editores. remeti então um trabalho mais amplo contendo um panorama de todos os meus casos cirúrgicos. pelo que eu saiba. que só aos nativos da Índia se aplique o Mesmerismo. por sua conta. não posso entender assim. Paris. 27 . Suas comunicações científicas nos órgãos especializados ingleses foram recusadas. completamente desacreditado. Tais fatos não são admitidos ou levados ao conhecimento de outrem por medo das conseqüências. (1846) 1957. do qual se destaca o depoimento: Meu artigo não foi publicado. sermos desmascarados e expostos. Pretender que haja uma imprensa médica livre na Grã-Bretanha é uma pilhéria e uma desilusão.64 Antonio Almeida Carreiro. nenhum jornal médico admitiu até hoje a realidade das operações mesméricas indolores mesmo na Índia. Porém. Mas. A prova disso é que os médicos que dispõem de imaculada reputação profissional e privada honestidade de suas realizações. consegue publicar um protesto em 1846. aplica-se apenas aos nativos da Índia. naturalmente por disposições hereditárias? Tem sido dito aos leitores desses jornais que seus colegas médicos que se dedicam ao estudo do Mesmerismo são tolos ou charlatões.. Se formos idiotas. voltou à Escócia. New York.. Dr. fitava-lhe firmemente os olhos e em seguida ordenava em voz alta: “DURMA!” A ordem era várias vezes repetidas e observava que. onde iniciou seus estudos que concluiu em Roma. forças invisíveis. . magnetismo. Abade Faria recomendava ao hipnotizável o relaxamento muscular. estimulado pelo Marquês. mais conhecido como Abade Faria. passou boa parte da sua vida como anônimo e morreu no mais completo ostracismo. Abade Faria muito contribuiu para o desenvolvimento daquilo que. em 1788. um século e meio mais tarde. após a interdição. Contam seus biógrafos que. Não obstante ordenar o sono. Em Paris o Abade Faria travou relações com o Marquês de Puységur e. para ele. É dele a frase bastante citada na historia do hipnotismo: “Não posso conceber como a espécie humana foi procurar a causa deste fenômeno na tina de Mesmer. tudo. cristais. Em 1780 foi ordenado sacerdote e recebeu o titulo de doutor em teologia. nos arredores de Goa. adiantou-se ao mestre em muitos pontos. era uma questão de sugestão. nada de fluido misterioso. Mesmerismo e sugestão No mesmo ano em que faleceu Mesmer. reconheceu o lado subjetivo do fenômeno em toda sua extensão e propagou que a hipnose se produzia e se explicava em função do hipnotizado e não do hipnotista. Regressou a Portugal e posteriormente. nascido e criado em Condoline de Bardez. descendia de uma família de brâmanes hindus convertida ao cristianismo no século XVI. se instalou na França. suas teorias eram despidas de toda ingerência mística. segundo informam seus biógrafos. capital das Índias Portuguesas e que. isso era o bastante para entrarem imediatamente no transe. O Abade foi o primeiro hipnotista na acepção da palavra. onde participou do movimento revolucionário. ou na vontade externa. na época da conturbada reestruturação política francesa. em alguns indivíduos. Dizia que o transe estava no próprio hipnotizado e não era devido a nenhuma influência magnética.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 65 A Sociedade Britânica de Medicina acabou por interditar a Esdaille o exercício profissional. apareceu em Paris um português. ou a mil extravagâncias ridículas deste gênero”. passes ou água magnetizada. se chamaria de hipnose acordada. Em sua pesquisa. entregou-se de corpo e alma à carreira do hipnotismo. Aos 15 anos chegou em Lisboa. José Custódio de Faria (1756-1819). Desenvolveu um método de indução que era praticamente o atual e iniciou a doutrina da sugestão. Foi o primeiro a mostrar que hipnose não era sinônimo de sono. . a doutrina da sugestão.. autor de O Conde de Monte Cristo publicado por volta de 1845. em Esterel. Sc. declara que o Abade Faria foi o autor que mais contribuiu para o entendimento da hipnose moderna: O Abade Faria viu o problema da hipnose em suas próprias bases com uma grande precisão e com clareza. Separando a hipnose da doutrina Mesmerista ele inicia outra. El Abade Farias en la história de la hipnosis. porém. Aires. Foi ele o primeiro a marcar a hipnose nos seus limites naturais. textos e livros sobre hipnose. depois que a polícia lhe proibira as experiências de hipnotismo em Nimes. ele não escapou à perseguição maliciosa dos seus contemporâneos e. Foi ele que defendeu. O mais importante. horas de glória e de fracasso. a doutrina sobre a interpretação dos fenômenos do sonambulismo. sofreu muita perseguição. B. Ed. A maior contribuição do Abade Faria para a hipnose foi no sentido de identificar o fenômeno hipnótico como sendo resultado apenas do hipnotizado e por efeito de sugestão. Egas Moniz.. é a sua contribuição à doutrina da sugestão (MONIZ).66 Antonio Almeida Carreiro. sem nunca ter estudado medicina. Em Paris abriu uma escola de hipnose. tornou-se personagem de uma das mais famosas obras de ficção. Mesmo explicando a verdade sobre o hipnotismo. perto de Marselha. foi proclamado membro da Ordem dos Médicos. onde fora lançado por motivos políticos. 28 O nome do Abade Faria era muito popular na França. Em um dos muitos trabalhos que escreveu sobre o tema. Foi professor da cadeira de Filosofia na Academia de Marselha e. Egas. Assim. Conta à história que o Abade teria morrido encarcerado no castelo da ilha de If. deixando toda sua fortuna para um companheiro condenado devido a uma denúncia falsa. prêmio Nobel de Medicina e um dos maiores expoentes da psiquiatria. ao mesmo tempo. Dr. 1963. Seria o Abade o verdadeiro personagem que morreu na prisão. sua figura era vista com freqüência nos salões da nobreza e da alta sociedade parisiense onde viveu. Sua vida foi descrita por um antigo funcionário da polícia parisiense que afirma ter sido ele o caso verdadeiro que serviu de fonte inspiradora para o romancista Alexandre Dumas (1802-1870). Sua forma de perceber a hipnose chega ao século XXI como se fosse atual. Poblet. na primeira metade do século XX publicou artigos. O 28 MONIZ. ponto de partida de toda sua doutrina filosófica. envolvido nas agitações da política francesa. pela primeira vez. Ele não acreditava nos fluidos astrais nem em forças estranhas e sobrenaturais que constituíam a maioria das explicações dos magnetizadores. ele tinha de encontrar uma causa física para o fenômeno. diante de um fato e em busca de uma resposta que não fosse a do magnetismo animal. a fez cair em sono profundo. onde viveu até sua morte. Depois de trabalhar na Escócia durante um curto período de tempo. um magnetizador suíço discípulo do Marquês de Puységur. uma semana depois. sua curiosidade fez com que assistisse. Braid saiu de lá impressionado. em Fifeshire. Um dos presentes. mas não a explicação. nenhum gesto. mudou-se para Manchester. no dia 13 de novembro de 1841. Era a velha prevenção contra tudo o que é invisível. que na ocasião se exibia em sensacionais espetáculos públicos na Inglaterra.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 67 Abade Faria é transformado pelo autor romancista como um dos seus principais personagens. A primeira vez que assistiu a demonstração de Lafontaine não convenceu Braid. Para não incorrer no que acreditava ser um charlatanismo. Às escondidas. ainda persiste na época atual. tudo que não é concreto e palpável. oftalmologista. concluiu Braid que a causa física do transe era o cansaço visual. ele marcou o início do fim do magnetismo animal que passaria a ser conhecido como hipnose e o termo Mesmerismo conhecido como hipnotismo. o Doutor Wilson. Braid espetou um alfinete na magnetizada e não houve nenhuma reação. Seu estudo sobre a hipnose foi tão importante que seu método passou a ser chamado de Brandismo. aí. a uma demonstração do famoso Charles Lafontaine. Na sessão. Estava Braid. Prevenção essa que. nascido em Rylaw House. Braid e outros colegas médicos cercaram a paciente na intenção de verificar uma possível fraude. Por volta de 1841. Tendo observado que Lafontaine olhava fixamente nos olhos da hipnotizada. a uma segunda demonstração e. encontrando-as fortemente dilatadas. Foi Braid assistir em Londres. lembrou-se de examinar as pupilas levantando as pálpebras da jovem. por considerar esta uma afronta à dignidade científica da época. no entanto. Experimentou reproduzir o fenômeno . com o propósito de desmascará-lo. passou a acreditar que a fascinação ocular era responsável pela indução. Brandismo James Braid (1795-1860) médico cirurgião escocês. aceitou o fenômeno. de certo modo. uma jovem foi induzida ao transe profundo quando o magnetizador fixando-lhe o olhar e segurando-lhes os polegares. Inglaterra. mecânico. O processo da indução hipnótica pelo cansaço visual passou a fazer escola. preocupado em estabelecer as causas físicas dos fenômenos psíquicos. Mas. Nos três o intento foi positivo. em posição tão acima da testa. Para Braid o transe assemelhava-se a um estado de sono que podia ser induzido através do cansaço visual. todos entraram em transe. Sentimentos estes que ele denominava de idealidades. benevolência. No começo de suas experiências. No tórax. sendo adotado um objeto brilhante entre o dedo polegar e o médio da mão esquerda. na altura do peito. Dr. em casa. convulsionava a vista e fatigava. Sc. afetividade e proteção. entre outros. mandando que a sua esposa olhasse para o ornato da tampa de um açucareiro de porcelana e que o cunhado e um criado fixassem a visão olhando firmemente o gargalo de um vaso ornamental. Fricções suaves nos lados do rosto despertariam sentimentos como autoestima. “passes”. segurança e confiança. para que o paciente fixasse o objeto. Os pontos localizados no alto da cabeça. espelhos giratórios e outros objetos que prendesse a atenção do paciente olhando fixamente como se fascinado.68 Antonio Almeida Carreiro. fricções e insuflações (sopros). para facilitar a indução inventa equipamentos como bolas brilhantes. antes de Braid. Para a fixação do olhar. minerais ou sobrenaturais. mandava ainda seus pacientes olharem fixamente para a chama de uma vela acesa. Braid. a obrigação de conservar constantemente os olhos dirigidos sobre um objeto tão próximo. fraternidade e caridade. O objeto brilhante que mais fácil dispunha era o seu relógio de bolso. era algo físico. de ordem fisiológica. o que muitas vezes forçava-os a abandonar a experiência antes do fim. fica também convencido da existência de pontos na cabeça dos pacientes aos quais chamou de termomagnético. numa distancia de 25 a 45 centímetros dos olhos. na nuca e no pescoço. nem de influências astrais. Foi necessário modificar o processo. despertaria relaxamento e tranqüilidade. Baseado em suas hipóteses. Acreditava que uma leve pressão nesses pontos provocava a manifestação de sentimentos específicos. esses pontos também são referidos nos aforismos de Mesmer como sendo aqueles que promovem curas através de magnetizações com a imposição das mãos. No abdome. Braid ligava uma rolha de garrafa à testa do paciente e fazia com que ele a olhasse atentamente. . que se tornava necessário o maior esforço dos olhos e das pálpebras. não dependia de poderes do magnetizador. provocavam sentimentos de carinho. daí a idéia do relógio que balança ante os olhos do hipnotizado. London. associando isso aos conceitos neurofisiológicos que aprendera na medicina. 29 . sendo muito usada na segunda metade do século XIX e o início do século XX. tentou mudar a designação de hipnose para monoideísmo. nervous sleep. 1958]. derivada do vocábulo grego hipnos. deu-nos a palavra hipnotismo. termo que mais adequadamente descreve o fenômeno como sendo um pensamento único. passou a descrever o transe como sendo um sono nervoso provocado. com o seguinte título: “Como diferençar as aranhas novas das velhas pelo exame dos respectivos palpos”. Em 1874. Já quase no fim de sua carreira. fazendo com que estes olhassem para uma luz ou objetos brilhantes. Quando Braid se convenceu de que hipnose não era sono. or the rationale of nervous sleelp [Reprin]. Essa técnica tornou-se clássica. com o nome de procedimento de Braid. Não tardou em descobrir que também o sono não era necessário para produzir o fenômeno hipnótico. BRAID. Depois de muita observação e experiências. Recusaram-no. passou a dar maior importância à sugestão verbal e a toques físicos no corpo do paciente. até hoje. pois descobriu que podia hipnotizar cego ou pessoas em recintos obscurecidos. Isto não impediu que Braid divulgasse sua teoria sobre hipnose. que significa sono. Neuropnology. Medical Section a inclusão de seu nome para uma comunicação. é o nome que vigora até hoje. 1899 [Reprin. o Dicionário de Medicina aceita publicar seus conceitos que são traduzidos em diversos países. os livros populares sobre hipnotismo insistem em ensinar o desenvolvimento do método pela fadiga ocular através do deslumbramento de pontos ou objetos. Em 1843. 29 A publicação de Braid encontra melhor aceitação na França e na Alemanha do que na sua terra natal. Todavia.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 69 Braid procurou demonstrar que o transe assemelha-se a um estado de sono e que podia ser induzido por agente físico. pois havia uma outra muito mais importante. Braid descartou-se em parte do seu método do cansaço visual pela fascinação. o sono hipnótico não se confundia com o sono normal e. certo ou errado. publicou seu livro no qual expõe seu método para o tratamento de enfermidades nervosas. Dessa observação em diante. No entanto. George Redway. Braid. a palavra hipnotismo já estava muito divulgada e se havia firmado de tal forma no uso popular que. Depois dele. Braid solicitou da Bristih Association. James. Continuou no procedimento com seus pacientes. baseando o transe num princípio onírico. o hipnotismo entra definitivamente em uma nova fase de pesquisas e controvérsias. The major symptoms of hysteria. Três anos mais tarde lançou um segundo trabalho. Foi também um dos pioneiros a aconselhar o uso da hipnose como agente terapêutico e. Em 1823. 30 JANET. e a de Braid na Inglaterra. só contribuíram com uma formulação mais clara destes conceitos. Dr. mesmo que essas fossem muito mais brandas do que as movidas contra os seus antecessores. Foi o primeiro a afirmar francamente que o sonambulismo artificial podia explicar-se simplesmente à base das leis da imaginação. não passavam de meras sugestões do magnetizador agindo sobre a imaginação de um paciente. Os historiadores consideram Bertrand e o abade Faria como sendo o ponto de transição entre o magnetismo e o hipnotismo.70 Antonio Almeida Carreiro. Braid também não tenha escapado às campanhas maliciosas da classe médica. Assim. sofreu pressões da classe médica. E. embora. Sc. O hipnotizado dorme simplesmente porque pensa em dormir e acorda porque pensa em acordar. 1920. uma sugestão aplicada. New York. o jovem médico de Paris que praticava Mesmerismo. Se Bertrand tivesse vivido mais tempo – ele morreu aos 36 anos de idade – talvez houvesse antecipado a aceitação pela classe médica do transe induzido por sugestão como procedimento de cura. por isso. afirmando o papel importante da sugestão nos fenômenos atribuídos ao magnetismo animal. o transe coletivo e o sonambulismo e chega à conclusão de que as curas e demais sintomas. dizia. A publicação do Abade Faria e do general Noizet na França. desenvolvendo esta interpretação psicológica em forma mais precisa (JANET). o sucessor de Charcot: 30 Bertrand antecipou-se ao Abade Faria e a Breid. agora esquecidas antigas denominações como magnetismo ou sono magnético. antes do Abade. explicando a hipnose como um fenômeno produzido por sugestão. muito antes dele. Du Magnétisme Animal en France. antes atribuídos ao magnetismo animal. Macmillan. Sobre isso escreveu Pierre Janet (1859 -1947). mas sem que os fatos possam ser negados nem se duvide da respeitabilidade e do valor dos seus estudos. Mesmerismo ou sonambulismo. Alexander Bertrand (1795-1831) já apontava o estado hipnótico como sendo tudo. cuja sugestionabilidade foi aumentada pelo processo de indução. Mesmo considerando Braid como pai do hipnotismo. o Abade Faria tinha idéias modernas e corretas. . Ele observara a conexão entre o sono magnético. Pierre. Bertrand publicou o livro Traité du Somnambulisme. Em seguida comprimia a mesma área com o dedo indicador e. MacGraw-Hill Book Company. F. 03. Hypnosis in dentistry. elaborasse uma adaptação ao método de Moss para aplicações em odontopediatria. em pacientes que tinham horror a agulhas. fingindo quedando-se muscularmente relaxado. pela primeira filmagem do uso da Hipnose na Odontologia e desenvolveu um método que resulta de um ligeiro relaxamento muscular. e até ao barulho produzido pelo maquinário odontológico. Segurando a mão da criança picava levemente com uma agulha ou outro instrumento pontiagudo. Depois de Oudt quem mais se destacou nesta área foi o dentista Aaron A. que tal?” O pequeno paciente responde nesta situação “sono.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 71 Hipnodontia Faz parte também da histórica da hipnose a sua aplicação em odontologia. 32 também dentista. v. A. 6. o êxito da sugestão era mais fácil e mais rápido. em 1966. KUEHNER. A. usava-se ainda a terminologia Mesmerista para designar o fenômeno. ou coisa parecida. Oudt iniciara a prática da hipnose nos tratamentos odontológicos para solução do problema da dor em extrações. G. The Bristtish Journal of medical hypnotism. perguntava. F. New York. Kuehner. dói. 1955. próprias do ambiente do gabinete dentário. Assumida essa postura. 32 . etc. Ato contínuo ele fechava os próprios olhos diante do paciente. noite. a brocas. n. “e agora o que está sentindo?” A resposta provável seria não dói ou está apertando ou coisa semelhante. Moss. pioneiro da hipnodontia na América do Norte e o terceiro presidente do Instituto Americano de Hipnose. A resposta poderia ser. perguntava de novo. 31 MOSS.” Guardando mentalmente as palavras proferidas para serem usadas ao proceder à indução. 1956. “e agora. mas com o passar do tempo passou a ser usada também para melhorar as reações psicofísicas. Em 1837 o dentista francês Jean Tienne Oudt comunicou à Academia Francesa de Medicina haver extraído molares sob o sono magnético. essa prática é conhecida como Odontohipnose ou Hipnodontia. A novidade era usar na indução a própria linguagem do paciente infantil. The comfident dentist can eliminaté gagging. 31 A indiscutível eficácia da hipnose na odontologia fez com que G. Ele foi responsável. cama. exercício de respiração e sugestão especifica. perguntando à criança pela sensação que experimentava. da salivação. 3.72 Antonio Almeida Carreiro. por iniciativa da ABO . o paciente pode ser submetido à intervenção odontológica. esta região ficará completamente insensível. Transe leve: Habituar o paciente à prótese e ao aparelho de ortodontia. em Moorbead. Estágio preambular ou hipnoidal: Sugestões contra náuseas e sensações afins. independente de nova indução e na ausência do hipnotista. Cada estágio ou grau de hipnose oferece suas possibilidades terapêuticas próprias. o uso da hipnose em odontologia se espalhou pelo mundo sem contestadores. Passará muito bem”. gengivectomias. porém sem qualquer sensação desagradável. com a criação de uma cadeira de hipnodontia na Faculdade de Odontologia de Concórdia. ansiedade. apreensões. Conter sangramento excessivo. apresentam quatro pontos: 1. Sc. 2. Continuando é dito: “ao levantar da cadeira do dentista. relaxamento muscular e sugestões contra temores. é dito ao paciente: “quando você assentar-se na cadeira do dentista. 4. Devidamente hipnotizado. intervenções no maxilar. completamente anestesiada”. dos espasmos. No Brasil. Dr. O controle da náusea. Como. genericamente. Esta sugestão é repetida com a devida ênfase. tornará a sentir esta região. os pacientes submetidos ao transe de nível médio podem ser anestesiados pós-hipnoticamente. passando a mão no campo operatório. Em odontologia pode ser utilizada a sugestão pós-hipnótica. apalpando com a mão a região a ser anestesiada. a Hipnodontia ou Odontohipnose é objeto de estudo da Odontologia. Foi implantado como estudo acadêmico em 1948. desde 1955. Em 1952 já havia registro de mais de trinta mil pacientes atendidos por esse processo nos Estados Unidos.Associação . o que é feito quando o hipnotista (não necessariamente dentista). por exemplo. Diante da sua evidente eficácia. Dentro desta variância podem ser organizados esquemas de procedimentos e. mesmo inclusos. Transe profundo: Extrações de dentes. sua aplicação é reconhecida para cirurgiõesdentistas e. sugere as condições específicas para a anestesia produzir efeito. e polpa dentária. Transe médio: Preparação de cavidade profunda e obturações profundas. A hipnose na odontologia não depende sempre de um nível de transe profundo. fobias e objeções ao tratamento. Preparação de cavidade e obturações leves. Influenciar o pós-operatório para controlar hemorragia e a regeneração do tecido facilitando o processo da cicatrização. principalmente quando o transe atingido pelo hipnotizado é de nível médio ou profundo e quando as sugestões produzidas pelo hipnotista representam idéias de bem-estar físico e mental. agradável. duas opções: remédios convencionais pagos ou tratamento por hipnose grátis. me permitir que vos hipnotize. dentro de um ambiente médico. por seu trabalho no uso da hipnose para o tratamento de vários tipos de enfermidades. foi médico na zona rural em Point-Saint-Vincent. se tornou conhecida no mundo como o berço da Hipnoterapia. Na atualidade a maioria dos dentistas perde o interesse pela hipnodontia pelo fato da anestesia química ser eficaz e de efeito imediato. que o chamava de Le bon père LiébauIt.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 73 Brasileira de Odontologia foi implantado como curso de extensão universitária em várias Faculdades. o farei. o paciente pré-induzido por sugestão pós-hipnótica administrada na sessão anterior entra em transe imediatamente ao sentar-se na cadeira odontológica. iniciou a aplicação da hipnose na cura de várias enfermidades. entretanto. além de Capital do Hipnotismo. Possibilidade de cura existe até mesmo no decorrer de demonstrações de hipnose de palco. Hipnoterapia Ambroise August Liébault (1823 . ora explícita. Liébault já residia em Nancy. uma aldeia próxima da cidade de Nancy. quase todos humildes camponeses: “Se desejais que vos trate com drogas. foi a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia a única que manteve. ministrada pelo professor Giuseppe Mazzoni. para o seu uso. Ao estudar a obra de Braid. Foi ele o fundador da sugestão verbal sistemática aplicada como tratamento clínico. no currículo do curso de graduação como disciplina regular. em sua clinica dava aos pacientes. . cidade que. contudo nas sessões seguintes isso não ocorre. mas tereis de pagar-me como antes. Porém sua aplicação objetiva. na França.1893) nasceu em Lothringen. farei o tratamento de graça”. Na verdade. até 1993. a primeira sessão demanda um pouco de tempo. na França. tem início em 1864 quando um exemplar da obra de Braid caiu nas mãos de Liébault. para solucionar os mais variados problemas de saúde. Se. Mas. A função terapêutica sempre está presente nas sessões de hipnose. ora subjacente a um ritual ou ao ambiente onde transcorre a indução. Dizia ele aos seus clientes. bondoso e estimado pelos pobres. Liébault é descrito pelos seus biógrafos como tendo sido um homem sereno. Deve ser evitada a fala rápida. contrariamente ao exemplo de Mesmer. No método verbal a voz deve passar equilíbrio. melodia e ênfase nas palavras de valor sugestivo. empatia. visitou Liébault e deixou a seguinte descrição de sua atividade hipnoterapêutica: No verão de 1889. BRAMWELL. devidas provavelmente a características raciais. Ao método de fixação ocular de Braid.. J. Philaephia. Seguiam-se as sugestões e as anotações. fazendo caso omisso do método de tratamento e algumas ligeiras diferenças. ele era modesto e sem aparato teatral. sempre movimentada. its history. quase que exclusivamente. da sua própria voz como principal elemento de indução. Foi o criador da escola verbal.. Dr. Deve o hipnotista falar pausadamente. compreendia dois compartimentos que davam pelos fundos em um jardim. Quase todos os pacientes dos que eu vi foram hipnotizados de uma maneira fácil e rápida. evita outros tipos de estímulos sensoriais. practice and theory.. Com a diferença de que os pacientes falavam um pouco mais livremente entre si e se dirigiam ao médico de uma maneira mais espontânea do que se costumava ver na Inglaterra. Hypnotism. mas Liébault me informou que os nervosos e os histéricos eram mais refratários (BRAMWELL). Seu interior não apresentava nada de especial que pudesse atrair a atenção. ele acrescentou ênfase na sugestão verbal. com ansiedade. B. Com efeito. com ritmo. passei uma quinzena em Nancy a fim de ver o trabalho hipnótico de Liébault. M. para controlar tensão ou falta de coordenação da respiração e da voz. entonação. sempre de maneira natural e expressiva para criar nos hipnotizados uma idéia clara e facilitar a introspecção das sugestões. É certo que todos que lá iam com idéias preconcebidas sobre as maravilhas do hipnotismo tinham de sair decepcionados. 1930. M. 33 médico que praticava hipnotismo na Inglaterra.. J. Em seguida induzia-se o paciente rapidamente à hipnose. Lippincott. Liébault soube conquistar a simpatia e a cooperação dos seus pacientes. nada de equipamentos ou métodos que envolvessem contatos físicos com qualquer parte do corpo dos hipnotizados. convicção e emoção. articuladas nitidamente em tom cava.74 Antonio Almeida Carreiro. Eram chamados por turno. Sc. Preferiu utilizar-se. a impressão que se tinha era a de estar em um departamento público. Bramwell. J. quer na sua apresentação indumentária. Sua clínica. 33 . numa pensão ou num hospital de clínica geral. quer no ambiente da sua clínica. e no livro dos casos clínicos registrava-se sua anamnese. confiabilidade. resolveu em 1881 visitar Liébault em Nancy. Cético e com propósitos hostis. presumivelmente para desmascará-lo como charlatão. publicada em 1884. ao menos como uma possibilidade. isto pelo fato de ter tratado. que utilizando estímulos aos sentidos em vez da sugestão verbal se intitulava como a escola do hipnotismo sensorial. considerés surtout du point de vue de l' action de la morale sur le physique. Liébault trabalhou durante dois anos em sua obra Du Somneil et des états analogues. Afirma ainda Bramwell que Liébault vendeu exatamente um exemplar de sua publicação. ou seja. do grand hipnotisme. Insistindo ainda no caráter subjetivo. a princípio contrário ao hipnotismo. Hospital Escola da Universidade de Paris. as conjeturas que se faziam em torno de sua estrutura e dinâmica. insiste na necessidade do estudo da técnica sugestiva e as características da sugestibilidade. muitos historiadores conferem a ele a paternidade do hipnotismo médico. sem ser muito molestado pelos colegas por ser discreto e pobre e não aceitar dinheiro dos pacientes que tratava por hipnose. Casos de impressionantes bons resultados que atraiu para Nancy grandes nomes. homem de reputação inatacável. Entretanto. compreendeu esse fenômeno em bases mais amplas. com fracasso. tratou mais de 12 mil pacientes em sua clínica de hipnose. embora o psíquico ainda fosse misterioso e praticamente inexplorado.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 75 Em Nancy. mostrando que a sugestibilidade não se limitava aos indivíduos histéricos conforme se proclamava no Salpêtrière. Em sua obra. Liébault. foi o fundador da Escola Mental e. estava no caminho certo. Sugestão pós-hipnótica Hyppolite Henri Bernheim (1840-1919). representado pelo professor Jean-Martin Charcot. podia progredir modesta e tranqüilamente. vislumbrando na hipnose um estado psicológico normal. juntamente com Bernheim. essencialmente psicológico da hipnose. eram baseadas em suposições empíricas e intuitivas. durante seis meses um caso de ciática que foi posteriormente curado por Liébault. Liébault ressaltava a influência do psíquico sobre o físico. De la suggestion. . entre eles Freud. não obstante. Conforme se infere do próprio título de sua obra principal. um dos expoentes da medicina na França. logo se convenceu da autenticidade do fenômeno e tornou-se amigo e discípulo do modesto médico rural. O prestígio de Bernheim muito contribuiu para que o mundo acadêmico acolhesse a cura pelo hipnotismo. Translated by CA Herter. University Books. que apresenta grandes possibilidades terapêuticas. por ser neste grau que se estabelece BERNHEIM. 1956. Dizia Bernheim: “Todos nós somos sugestionáveis. lhe seja aplicado sugestões póshipnóticas de cura e bem-estar.76 Antonio Almeida Carreiro. a hipno-análise é um método de análise do ser humano. temos a nossa credibilidade natural”. Tudo isso são conceitos moderníssimos que mostram a visão ampla e profunda que transcendeu os limites convencionais de sua época. vários foram os nomes ilustres que a utilizaram e a evoluíram. a hipno-análise serviu de ponto de partida para Freud criar hipóteses e fundar a psicanálise. Hipnoanalysis. M. todos somos alucináveis ou alucinados”. Próximo da hipnoterapia iniciada por Liébault. uns mais outros menos. através de lembranças ou respostas despertadas ou reveladas pelo próprio indivíduo durante o transe ou em sonhos provenientes de sugestões pós-hipnóticas. 36 Bem anterior ao método psicanalítico. como também atingirem o fim terapêutico. George Allen and Unwin Ltd. B. através de técnicas. Hipno-análise A hipno-análise não possui uma paternidade definida. Sua prática acontece quando as pessoas já em estado de hipnose são iniciadas em um treinamento através de técnicas que permitem não somente aprofundar o nível do transe. desenvolvido com base em técnicas de hipnose. Hypnosis and suggestion in psychotherapy: A tratise on the nature of hypnotism [reprint]. H. Afirmava que os indivíduos são potenciais ou efetivamente alucinados durante boa parte de suas próprias vidas. 1951. quando ocorre o transe de nível médio. C. Lindner 35 e B. Bernheim 34 definiu os efeitos pós-hipnóticos da sugestão como elemento provocador das ações inconscientes e compulsivas e propôs aplicar como terapia. MacGrawHill Book Company. R. New concepts of hypnossis: an Adjunkt to psychotherapy and medicine. estabelece como condição indispensável que antes do retorno do hipnotizado para o nível consciente. A hipno-análise pode ser iniciada. Dr. além de sistematizar o preâmbulo do relaxamento muscular progressivo. Guindes. London. methods and techniques. New Hyde Park. C. New York. 35 34 LINDNER. 36 GUINDES. (1889) 1964. Dizia ainda que “Todos temos a nossa propensão inata à crença. New York. Seu método de indução é o que oferece as maiores possibilidades de êxito e. Sc. Dois autores que melhor sistematizam essas técnicas e que apontam como utilizá-las são R. Além de perceber que o estado hipnótico era normal em todas as pessoas. . Para a psicanálise. Freud moderniza esse conceito. antes de dormir. encontrando dificuldades para isso quando despertadas durante o sono dito ortodoxo. os olhos se movimentam rapidamente. Apesar da intensidade de reações do organismo é na fase REM que se atinge o ápice do relaxamento e as funções do sono são potencializadas ao máximo. atonia muscular e variação da freqüência das ondas cerebrais. progressivamente. Também é a .A interpretação dos sonhos parece ser tão antiga quanto a própria história da civilização humana. O estágio I ocupa aproximadamente cinco por cento do período do sono. ocorrem ereções. Psicodrama ou técnica cinematográfica e Escrita automática. Durante as fases de I a IV. classificado como alfa. Segundo esses autores.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 77 o contato mais direto com o inconsciente. Aserinski e W. de natureza muitas vezes profética. vale-se também da interpretação dos sonhos. o sonho é um conjunto de fenômenos psíquicos. Dentre as técnicas usadas em hipno-análise incluem-se: Indução de Sonhos. além de ter sido responsável pelo seu aperfeiçoamento. há ainda um estado intermediário entre o sono e a vigília. Kleitman dividiram o sono ortodoxo e o paradoxal em quatro níveis. o II cinqüenta por cento. Recordar e Reviver. É provável que a maior parte dos sonhos ocorra durante os períodos de sono chamados paradoxal. REM. III e IV (fase delta) vinte e cinco por cento e o estágio final. que involuntariamente ocorrem durante o sono. Indução de Sonhos . E. recordam e relatam sonhos com grande riqueza de detalhes. há uma desaceleração do sistema nervoso. oitenta por cento das pessoas acordadas nessas ocasiões. a psicanálise. na fase REM as coisas mudam: a temperatura oscila. além de uma fase chamada REM (rapid eyes movment) que se caracteriza pelo rápido movimento dos olhos. até meados do século XIX os sonhos eram tidos como reações sobrenaturais. Em 1953. Contudo. entre outros recursos. considera o sonho como a “estrada real que conduz ao inconsciente” e. Espelho ou Bola de Cristal (Cristalomancia). A hipnose amplia o sono e por conseqüência os sonhos que podem ser fontes da criatividade ou de revelações para a hipno-análise. vinte por cento. do batimento cardíaco. Nessa fase podem ser superados problemas existenciais através de interpretações dos fatos revelados no transe ou em função deste. a temperatura e a atividade mental caem e a musculatura é relaxada. a pulsação acelera. Neste sentido. Através dos atos falhos. fase de sonhos reveladores.. tal como as parapraxias ou atos falhos e. os sonhos são como um veículo para a satisfação de desejos recalcados. dessa forma. 1998. Power Sleep. ocorre quando se comete um erro de linguagem. comunicações da pessoa que sonha. Ato falho. ou simplesmente não sonhando com o que não querem lembrar-se. pergunta-se. N. desempenhando papel importante na manutenção da saúde mental. Na análise é preciso perguntar ao sonhador sobre o que o seu sonho significa (FREUD). a psicanálise aperfeiçoa a técnica da indução de sonhos preconizada pela hipno-análise. Com a hipno-análise essa dificuldade é fácil de contornar por não analisar apenas sonhos espontâneos. os sonhos são produtos. Freud declara: . os sonhos passaram a ser visto como manifestações simbólicas do inconsciente e de seus conflitos. embora tenha proporcionado grande impulso no uso dessa técnica. são ininteligíveis. esquecendo o que sonharam. Algumas pessoas em estado hipnótico apresentam características como se estivessem na fase REM. mas psíquicos” e. não entendemos seu sentido. Para Freud. York. pode se chegar ao conteúdo da repressão. a hipno-análise já trabalhava com procedimentos de interpretar sonhos. Dr. quando alguém fala. A premissa que Freud trabalha para estabelecer um início para a investigação dos sonhos enuncia que “os sonhos não são fenômenos somáticos. Mas. inclusive para fins terapêuticos. contudo. 37 Freud retrata o sonho como um dos modos de se conhecer os processos psíquicos inconscientes. Essa regra fundamental estabelece uma ruptura radical com a tradição antiga em que havia um intérprete para os sonhos. Sc.. os sonhos também se tornaram tema da pesquisa psicanalítica. A partir da psicanálise. Harper Perennial. freqüentemente as pessoas resistem à devassa do seu inconsciente. muito tempo antes da psicanálise. sem querer. para a psicanálise. em relação à técnica de interpretação dos sonhos. Mas. James B. segundo ele. os sonhos teriam um sentido. . uma palavra no lugar de outra.78 Antonio Almeida Carreiro. Na hipno-análise o hipnotizado recebe uma sugestão para sonhar com a situação correspondente aos conflitos que desafiam 37 MAAS. Quando não se entende. Este ato pode indicar uma idéia ou sentimento reprimido no inconsciente que tem tendência a se manifestar. como também pode acontecer quando o simbolismo do sonho ou do sintoma neurótico é interpretado. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 79 soluções e exames conscientes. Tais sonhos, que podem ser induzidos na hora ou pós-hipnoticamente, apresentam um quadro muito mais fácil de interpretar do que os sonhos espontâneos. Pode ser induzido ao hipnotizado que sonhe com um incidente específico ocorrido em sua vida, reproduzindo fatos esquecidos com todos os detalhes e que, ao terminar de sonhar, acorde e anote o conteúdo do sonho em uma folha de papel. Os resultados se mostram, às vezes, surpreendentemente elucidativos. Para os hipno-analistas a simbologia dos sonhos induzidos ou estimulados hipnoticamente costuma ser mais transparente do que a dos sonhos comuns e, nessa transparência fica mais fácil elucidar os enigmas do inconsciente. Já para os psicanalistas é o estudo dos conteúdos dos sonhos comuns, e não induzidos, que ajuda estabelecer a causa do problema ou a natureza de um traumatismo sofrido, isto é, do abalo que, por sua violência ou por sua duração, foi reprimido no inconsciente e aflora nos sonhos, às vezes, de forma simbólica. A indução de sonho por meio de sugestão hipnótica é um método útil para se obter rapidamente material de sonho limitado a um determinado assunto, problema, situação ou conflito. O sonho pode ocorrer no transe hipnótico ou num subseqüente sono natural. Em qualquer dos dois casos, fornecerá importantes revelações do inconsciente. Muitas vezes o indivíduo terá dificuldades em associar, no estado desperto, os significados do seu sonho, no entanto poderá obter imediatas associações no estado de transe. Pode ainda os sonhos ser resultado de processos mentais que geram ansiedade ou exagerada expectativa, caso do qual decorre inconscientemente uma espécie de auto-indução aos sonhos como busca de soluções. Neste sentido afirma Platonov. 38 Às vezes encontra-se a solução aos problemas da vida cotidiana e mesmo aos problemas científicos que ocupam o espírito, não em estado de vigília, porém à noite, durante o sono. Foi o caso, por exemplo, do químico alemão F. Kekule que viu em sonhos a fórmula do benzol. E de Mendeliev, que um sonho ajudou a colocar em ordem a classificação periódica dos elementos químicos. O compositor Tartine ouviu uma vez a execução de uma sonata, quando dormia. Voltaire sonhou com uma nova variante da ‘Henriade’. Os deuses, dizia Homero, utilizam o sono para comunicar aos homens sua vontade. As vésperas de resolver difíceis questões políticas, os éforos, magistrados de Esparta, iam dormir nos templos, na esperança 38 PLATONOV, C. Faça seu teste psicológico, Rio de Janeiro, Ed. Edimax, 1966. 80 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. de que o sono (PLATONOV). lhes inspirasse uma decisão sábia Grandes gênios do passado realmente receberam seus conhecimentos e efetuaram grandes descobertas enquanto sonhavam. Entre eles, figura o inventor Thomas Edison (1847-1931), para quem a maioria de suas grandes invenções ocorreu durante sonhos, os quais assim que acordava escrevia. Desse modo, descobriu o filamento da lâmpada elétrica depois que tentara centenas de vezes por formas diferentes aperfeiçoar a invenção. Uma noite, teve um sonho em que foi informado como criar um filamento que teria grande duração. Conta à história também que Jules Verne profetizou apuradamente o futuro e, para isso, se teria valido dos sonhos para prever com toda precisão a energia atômica, as viagens à lua, as invenções do avião e do balão dirigível, o submarino, as espaçonaves, as explorações submarinas e muitas outras coisas, que mais tarde se transformaram em realidade. Assim, também, aconteceu com o presidente americano Abraham Lincoln quando, durante um sonho, teve uma visão do seu próprio assassinato uma semana antes da tragédia ocorrer. A história revela que o dom da profecia e ou visões do próprio futuro é uma faculdade que se manifesta também em sonhos. O químico alemão Friedrich Auguste Kekulé (1829-1896) contou que estava muito esgotado quando tentava desenhar o benzeno, molécula-chave dos compostos orgânicos, quando cochilou e sonhou com grupos de átomos se juntando para formar uma espécie de cobra coral que tentava morder o próprio rabo. Acordou como se um raio tivesse iluminado sua mente e veio a idéia de que essa era a resposta que procurava; dessa forma, ele descobriu que os seis átomos do carbono do benzeno se ligam em anéis como a imagem da serpente de seu sonho. Recordar e Viver - O hipnoanalista começa por incitar o hipnotizado a recordar-se, para fins crítico e informativo das situações passadas. Este revê o passado indicado pelo analista e, sem revivê-lo propriamente dito, apenas informa para efeito de registro. Vencida essa etapa, processa-se a regressão a uma fase determinada. Aí não só apenas recorda, mas revive e repete afetivamente o episódio que pode ser a fonte de seu comportamento atual e, assim, será possível conhecer a origem dos conflitos nas suas bases históricas traumáticas e, através da própria sugestão, removê-los. Na prática, aconselha Lindner que se proceda assim: Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 81 Vou pondo a mão em sua testa e contando até dez. Quando eu terminar a contagem, você terá voltado a fase X de sua vida. Você verá nitidamente e com nitidez cada vez maior, todos os detalhes que interessam ao caso. Verá tudo, não omitirá nada. Não vai querer excluir coisa alguma... (LINDNER). Espelho ou Bola de Cristal (cristalomancia) - No estágio de hipnose profundo ou sonambúlico, o hipnotizado pode abrir os olhos sem afetar-lhe o transe. Quando induzindo, pode ser dito: • Dentre em breve mandarei você abrir os olhos... À sua frente você verá um espelho (ou uma bola de cristal)... Nela você visualizará a solução dos problemas que o afligem... Vá dizendo tudo que aparecer na bola de cristal (ou espelho)... Pronto... Pode abrir os olhos... Você está enxergando nitidamente a sua situação, como nunca enxergou... Esse processo ainda é conhecido por cristalomancia por utilizar um cristal em forma de bola ou outra forma qualquer. Se um cristal não estiver disponível, um copo transparente de água poderá ser usado com igual efeito simbólico. O hipnotizado é posto em transe profundo e dizendo-se que depois de abrir os olhos, ele deve olhar o cristal (ou a água): • Você verá um retrato ou a representação de um remoto incidente esquecido, do qual você não tem conhecimento consciente... Quando você o vir descreverá verbalmente. A primeira revelação pode exigir interpretação ulterior quando se revela obscura ou simbólica. Neste caso, pode também ser utilizado, como recurso, uma combinação de regressão e cristalomancia. Depois que o hipnotizado for levado de volta a uma época anterior no tempo, nesse estado de regressão é induzido a cristalomancia. Isso, às vezes, revela lembranças profundamente enterradas no passado e que, embora não lembradas conscientemente, podem estar perturbando a vida do indivíduo. Pode-se ajudar o hipnotizado, como no caso do sonho, induzindo-o a visualizar cenas específicas e fazer com que ele as descreva com toda clareza nos menores detalhes, sempre lembrando o objetivo terapêutico do que se está passando. “Vai resolver os problemas que o atordoam, dissipar as dúvidas e os temores etc.”. Psicodrama ou técnica cinematográfica - B. C. Guindes apresentou uma técnica que denominou de cinematográfica, que constitui uma variedade atualizada do antigo Psicodrama e da Bola de Cristal. Sugere o autor que, uma vez em estado de transe profundo, o hipnotizado receba a indução seguinte: 82 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. Dentro em breve pedirei a você que abra os olhos. Ao abri-los você se encontrará em uma sala de projeção. Bem diante de você uma tela. Nessa tela você verá passar um filme. E o filme que vai assistir é a história de sua própria vida. Neste filme serão incluídos todos os detalhes importantes de sua existência. E tudo na ordem cronológica. E você vai dizer tudo que vê, já que eu não posso ver a tela. Agora vou lhe pedir para abrir os olhos. Repare. Bem à sua frente está a tela (GUINDES). Como seria de esperar, o hipnotizado ao abrir os olhos mostrase impressionado com o que vê e começa a relatar tudo a que assiste. Em certas passagens começa a rir. Em outras passagens, mostra-se contrariado e mesmo enfurecido, continuando, entretanto, a descrever o que se passa na tela. Muitas vezes fica nervoso, choroso, visualizando situações e coisas penosas que aconteceram em sua vida. Por último, a Escrita Automática pode ser utilizada para induzir o hipnotizável a revelar fatos de memória que de outra forma não poderia ser obtida por causa de resistência forte às lembranças reprimidas. Deve ser dito que a mão dele escreverá automaticamente, sem que ele tenha disso conhecimento consciente. A escrita resultante revela freqüentemente situações surpreendentes, podendo ser realizada durante o transe ou, como resultado de sugestão pós-hipnótica, após o hipnotizado retornar ao estado normal. Durante a conversa com o hipnotizado, é-lhe feita uma pergunta importante, como por exemplo: Qual é a causa do seu temor? E, ele pode responder oralmente: Eu não sei, enquanto simultaneamente a mão escreve uma resposta significativa e relacionada à pergunta. Neste estado acontece a expressão de dois pensamentos ao mesmo tempo como estar falando sobre seu último trabalho e escrevendo uma poesia, a qual conheceu na sua infância. A escrita pode apresentar, de início, uma informação vaga, mas se torna mais clara à medida que a prática prossegue. Nos casos em que a escrita é simbólica, na forma e no conteúdo, o próprio hipnotizado poderá melhor interpretá-la, quer através de livre associação oral no transe acordado, quer através de mais escrita automática orientada para interpretar símbolos ou palavras enigmáticas que porventura tenham sido reveladas na etapa anterior. Isso ocorre quando a primeira etapa revela apenas o “portão” do segredo e, para abrir a passagem e revelar o “santuário”, é necessária a segunda etapa, que consiste em, após produzir a escrita enigmática, ser dito ao hipnotizado: Sua mão vai agora Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 83 escrever o segredo que você tem escondido de mim. Esse pode ser o meio de produzir uma rápida revelação. Na atualidade novos conceitos e teorias se incorporam á hipnoanálise como a Inteligência Emocional e a Análise Transacional trabalhada por Eric Berne. O analista transacional observa posições psicológicas tomadas pelo indivíduo e reveladas pelas palavras, tom de voz, expressão facial, gestos, postura corporal, etc. (Os papeis que vivemos na vida, James & Jongeward). O ser humano pode adquirir comportamentos inconscientes que representam a imagem de pai, de adulto ou de criança. Na hipno-análise moderna esta teoria pode ser de grande valia para elucidar conflitos vivenciados pelo hipnotizado. Histeria e hipnose Concomitantemente com a escola de Nancy representada por Liébeault e Bernheim, existia outra em Paris que se intitulava como a escola do grand hipnotisme e funcionava no La Salpêtrière, representada por Jean-Martin Charcot (1825-1893), nascido em Paris, onde viveu a vida inteira. La Salpêtrière, construído por volta de 1630, hoje é uma dependência do Hospital Geral de Paris. 39 O nome vem do fato de ter sido construído no local de uma antiga fábrica de pólvora, cujo componente principal é o salitre, em francês La Salpêtrière, em 1656 foi orfanato público além de albergue, abrigava toda categoria de mendigos. Em 1661 já abrigava 1460 pessoas; recebia inclusive filhas de nobres pobres, as quais gozavam de tratamento especial, recebiam ensinamento religioso, alfabetização e artes habilitadoras. Eram mais de 800 as Filles du roi (filhas do rei) e, entre 1663 e 1673, as moças mais pobres foram treinadas em prendas domésticas e enviadas para as colônias para constituírem famílias com colonos franceses. Em 1680 passou a funcionar como Hospital Geral e, em pouco tempo, a Instituição degenerou em um repugnante depósito de loucos. Além de abrigar mendigos, epilépticos, paralíticos, aleijados e vítimas de doenças mentais, também funcionava como prisão para prostitutas e malfeitores. As loucas mais agitadas ficavam acorrentadas até morrer. Gemidos e gritaria todo o tempo e a infestação de ratos infernizavam a vida dos internos. Um dos mais hediondos episódios da Revolução Francesa aconteceu ali, Le massacre de La Salpêtrière, no dia 3 para 4 de setembro de 1792, um bando de vândalos invadiu o prédio e, após libertar as prostitutas, arrastaram para a rua os doentes mentais, alcoólatras e portadoras de deformações físicas, sob o argumento de que davam prejuízos ao Estado, todos foram massacrados à vista do povo. No início do século XIX o psiquiatra Philippe Pinel determinou a remoção das correntes e a humanização dos doentes. Na segunda metade do século XIX, com mais de 4.000 internos, tornou-se um mundialmente famoso centro de estudos psiquiátricos e Hospital Escola da Universidade de Paris. Recebia estudantes de todo o mundo para assistir experimentos e aulas sobre doenças mentais, especialmente as aulas de Charcot com demonstrações de hipnotismo que influenciaram decisivamente Freud na criação da teoria psicanalítica (N. do A.). 39 84 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. salpêtre. O prédio era dividido em três unidades: Bicêtre para os homens, La Pitié para jovens, La Salpêtrière para mulheres. Este terceiro setor foi destinado aos cuidados de Charcot que, entre 1862 e 1893, ali desenvolveu sua carreira de médico, pesquisador e professor da disciplina anatomia comparada. A partir de 1870 a administração do Salpêtrière decidira separar os doentes alienados das mulheres histéricas e das epilépticas, juntando essas duas últimas patologias numa mesma enfermaria. Rapidamente as histéricas assimilavam os sintomas epilépticos e aprendiam a simular. Com o uso da hipnose produzida por estímulos sensoriais, Charcot provocava paralisia histérica em seus pacientes para demonstrar aos alunos suas teses. Na histeria, o distúrbio se traduz por perturbações intelectuais e por sintomas físicos dos mais variados como instabilidade emocional, mitomania, afonia, abulia, amnésia, aerofagia, anestesia, hiperestesia, dispepsia, tiques, soluços, crises de choro ou riso, perturbação motora, vômitos e convulsões. O histérico pode chegar ao ataque maciço, espetaculoso como os que Charcot exibia na Salpêtrière e nada têm ver com os ataques epiléticos. O nome histeria é derivado da palavra grega hystera, que significa útero, conhecida desde a antiguidade oriental e clássica, foi associada aos deuses e demônios. Embora a histeria não seja vinculada a gênero e, seus sintomas, também podem ocorrer por imitação em pessoas suscetíveis ao transe hipnótico que convivam com histéricos, no início era comum apenas às mulheres; acreditavase ser uma doença provocada pelos fluidos do útero. Também se acreditava, erroneamente, que a carência sexual das mulheres principalmente sacerdotisas, virgens e viúvas, era sua causa próxima. Em seus estudos experimentais sobre a histeria, Charcot valiase da hipnose para diferenciação diagnóstica e induzia sintomas espetaculares nas histéricas, de modo a provar o caráter neurótico dessa doença. Suas aulas e demonstrações atraiam estudantes de todas as partes do mundo e, em determinado ponto de sua carreira, Charcot acreditou ter descoberto uma nova doença, que ele chamou de "histero-epilepsia", os sintomas incluíam convulsões, contorções, desmaios e falha transitória da consciência. Suas conclusões e vários exemplos da nova doença eram apresentados aos alunos. Mas, um aluno cético chamado Joseph François Félix Babinsky (1857-1932), decidiu que Charcot tinha inventado, e não descoberto, a histero-epilepsia. Nesta perspectiva defendia que hipnose poderia ser produzida por meios puramente físicos sensoriais e acreditava que um indivíduo podia ser hipnotizado sem seu próprio conhecimento ou permissão. eram continuamente sujeitas a viver naquela ala e. foi pesquisador do Salpêtrière e criador do termo piti. Charcot valia-se da hipnose para induzir sintomas sob sugestão hipnótica. racional e. Assim pretendia evitar a simulação e acreditava que separava a hipnose da imaginação do paciente e do poder de sugestão do hipnotista. além da produção mecânica de sons soporíficos. as histéricas. Durante as aulas. produzidos por instrumentos que eram colocados perto do ouvido do paciente. inseparável do método anátomo-clínico. como estímulo . respeitável de se estudar. era baseada na excitação sensorial. começavam a imitar os ataques que repetidamente testemunhavam nas epilépticas e acabavam por exibirem os mesmos sintomas por simulação inconsciente. o histérico seria um simulador inconsciente. Evitando deliberadamente tudo que pudesse ser reconhecido como sugestão verbal. A ele se deve a primeira aproximação entre histeria e simulação. Embora colocassem em uso as mesmas técnicas de seus antecessores e tenha sido a maioria das suas conclusões sobre a hipnose equivocadas. a audição. que conservava a sugestão como fator explicativo. Charcot recomenda aos seus alunos que do antigo fenômeno hipnótico só devia ser preservada a dimensão somática. no sentido de mentira. e a hipnose só pôde retornar à cena cientifica depois de despojada de toda áurea mística. em Nancy. a fascinação de objetos brilhantes e luzes coloridas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 85 Supunha Babinsky que o fato de alojar as pacientes epilépticas e histéricas juntas. Durante o processo de hipnotizar Charcot obrigava seus auxiliares fazer uso de toda sorte de manipulações sensoriais. Babinsky por muitos anos. já vulneráveis à sugestão e à persuasão. inclusive após a morte Charcot. portanto um fenômeno “objetivo”. para definir sintomas histéricos como fingimento ou simulação de doença. preferia não verbalizar. entre eles. ao contrário da escola rival. utilizava apenas meios sensoriais para hipnotizar como a visão. usando vários recursos complementares para a indução. do ponto de vista acadêmico. o tato. Charcot afirmava que sua prática de hipnotizar. mas nesta época o positivismo científico estava na sua melhor forma. Nesse clima de ciência. somando-se isso com os exames hipnóticos neuropsiquiátricos de Charcot. o paladar e o olfato. depois da voz humana. enquanto que certos perfumes como o almíscar. 40 Aplicava com as mãos toques no corpo ou colocava placas de metais como ímãs. sensorial auditivo. Mesmer empregava freqüentemente este último instrumento. Magnetismo curador). zinco e ouro. ou ainda abrindo-se os olhos de uma pessoa que estivesse em estágio letárgico. “Os instrumentos mais favoráveis ao desenvolvimento da ação magnética são. para produzir instantaneamente um efeito soporífico. Jagot 41 descrevendo sobre o hipnotismo sensorial praticado na Salpêtrière revela que também era induzido o transe hipnótico pelo paladar e pelo olfato. mais ou menos.86 Antonio Almeida Carreiro. água de louro-cerejo e valeriana e que odores violentos exalados de substancias como o amoníaco podia produzir o transe instantaneamente. como um ponto de mira. forçando-a para que olhasse em direção contrária de uma luz. Também o uso de um disco de zinco. Raimundo Nonato Corrêa). cujo centro era formado por um prego de cobre encravado em outro metal. Logo que absorvido nessa contemplação sem oscilar as pálpebras. do corpo na altura da cintura. a harpa e a cítara. como início do processo de hipnotizar. Para ele. do que os de um instrumento que não magnetizado” (Alphonse BUÉ. bastaria exercer uma leve pressão com a mão no alto da testa. Para isso. sem pestanejar e concentrado toda a atenção. muitos magnetizadores acreditavam que os sons que partiam de um instrumento magnetizado faziam mais efeito num doente. vez por outra era comum o uso de rum. de dois centímetros de diâmetro. as quais devidamente estimuladas provocavam e aprofundavam o transe. O estágio de sonambulismo poderia ser produzido por meio da atenção fixa ou ser causado pela fricção do alto do crânio e da nuca de um indivíduo em estagio letárgico ou cataléptico. Acreditava que o estágio cataléptico podia ser produzido por um forte ruído repentino. Paul C. Charcot acreditava também na existência das chamadas zonas hipnógenas. o uso de uma vela acessa. Em práticas de curas. cobre. Magnetismo. Sc. fixando o olhar do paciente na luz da chama. Dr. Hipnotismo. sobre o qual devia o paciente fixar os olhos durante quinze a vinte minutos. no cotovelo ou no dedo polegar. conservava-se este botão a 45 centímetros. o hipnotista fechava-lhe os olhos por meio de brandas e A utilização de sons como elementos hipnóticos também eram usados pelos Mesmeristas. São Paulo. (Trad. Como Braid. na raiz do nariz. a alfazema e vários tipos de incensos adormeciam gradualmente a consciência. Sugestão. 41 40 JAGOT Paul C. 1959. a flauta. . No Hospital Salpêtrière era comum. Editora Mestre Jou. que atacavam e faziam vibrar o sentido do ouvido. este contato os inquieta. sudorese e formigamento. além de violentas batidas em instrumentos de percussão. Ele pensava que o temperamento de cada pessoa correspondia a um metal especifico e que era possível determinar a “sensibilidade metálica individual” utilizando a metaloscopia. Se aplicada um metal sobre a pele de um paciente. a catalepsia e o sonambulismo. como a pressão dos globos oculares ou dos polegares. O terceiro estágio. O ouro possui uma virtude calmante. Teorizando sobre a hipnose. Formulou a teoria dos três níveis hipnóticos: a letargia. estabeleceu a premissa segundo a qual somente os histéricos podiam ser hipnotizados. Afirmava que o contato do ferro é geralmente insuportável a todos os sonâmbulos. La Pitié e La Salpêtrière) em 1849. defendida pela escola de Nancy. encaixados em dois pedaços prismáticos de madeira. podia produzir o fechando simplesmente os olhos do hipnotizado e caracterizava-se pela mudez e pela surdez.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 87 suaves fricções e punha-lhe uma das mãos sobre a cabeça. O segundo estágio. com 20 centímetros aproximadamente. dissipa as dores locais e resolve as contrações. Às vezes os procedimentos eram acompanhados de ligeiras variantes. estes permanecendo na posição em que o hipnotista os largasse. durante a epidemia de cólera. além de espelhos em formatos de fragmentos. O primeiro estágio. Esta técnica foi usada nas unidades do hospital geral de Paris (Bicêtre. não passando o estado de hipnose de um estado de histeria. fricções do alto da cabeça e nuca. experimentava sensações de calor. a letargia. Foi Victor-Jean-Marie Burq (1822-1884) quem inventou a metaloterapia. . como um cata-vento. Empregavam ainda um fole para insuflar. para provocar no paciente perturbação e fadiga do aparelho ótico. era marcado por um misto de rigidez e flexibilidade dos membros. repetidas de forma monótona. dispostos em cruz. e torna-se para certos sensitivos um excitante que provoca contrações e espasmos. com um eixo no centro. Os instrumentos hipnóticos de Charcot substituíam a indução por sugestão verbal. aplicando-lhe fortemente o dedo polegar à testa. sendo ele sensível a este metal. a aplicação de metais por via interna e externa com fins curativos. o sonambulismo. soprando o nariz e a testa do paciente. se produzia friccionando energicamente a parte superior da cabeça e a nuca do hipnotizado. a que se imprimia um movimento de rotação. a catalepsia. Charcot que só lidava com histéricas e epilépticas. irrita e queima. fazendo-o cair no estado de transe. segundo a qual a cura de certas doenças dependia tão-somente do uso correto dos metais que eram aplicados nos pacientes enfermemos. neuralgias. Por esse e outros motivos. Burq publicou sua obra Metaloterapia: tratamiento de las enfermedades nerviosas. a letargia. Luys e Dumont Pallier para avaliar essa teoria. presidente da Sociedade de Biologia de Paris. metalltherapie et hipnotism [Reprin]. convulsiones. Lecrosnier et Babe. para hipnotizar associava as técnicas do Brandismo e do Mesmerismo à teoria metálica de Burq. após a morte de Charcot. dispepsia. reumatismos. Em 1871. asma. dentro do ambiente médico e cultural da época. [Reprin. e a analgesia. Este fato representaria o retrocesso às teorias fluidas e magnéticas defendidas por Mesmer. desenvolvida por Burq. procurou reabilitar a superada teoria da ação magnética. denunciava os equívocos e as dificuldades de Charcot em lidar com a hipnose. Parálisis. Entre as severas criticas a Charcot está à contestação ao livro Oeuvres completes. a catalepsia. Charcot. foram consideradas como muito importante e encantava Charcot. amargamente. Dizia que o efeito dos metais era apenas sugestivo e que seu mestre muitas vezes percorreu o estreito caminho que separa a curiosidade cientifica do descrédito e do ridículo e. Não concordando. hipocondria. Tentou também convencer os discípulos de que aplicando um ímã em determinado membro este se paralisava e. Em 1876 Claude Bernard. etc. 42 Nesta publicação. passaram a aplicar como tratamento da histeria e meio de provocar o sonambulismo. espasmos. com isso. Paris. com os eletroímãs e ferros imantados. Sc. histeria. migraña. significava ignorância em relação à hipnose e. Oeuvres completes. Charcot de novidade prática sobre o hipnotismo nada criou. Charcot demonstra total convicção em relação a teoria metálica. J. Charcot dizia que podia induzir sintomas histéricos através de sugestões póshipnóticas. M. . tome IX. metalltherapie et hipnotism. Dr. Achando que a hipnose era uma forma de histeria. Estas inocentes e crédulas experiências de Burq. Os três concluíram favoráveis e passaram a utilizar este método de cura além de investigar intensamente a metaloscopia e suas relações com a eletricidade. gastralgia.88 Antonio Almeida Carreiro. designou três importantes médicos. a expressão “retroceder a Charcot” ficou sendo usada como termo pejorativo pelos defensores da escola de Nancy contra a Salpêtrière. 1948] 1890. Bernheim dizia que as características 42 CHARCOT. seu discípulo Babinsky o ridicularizou publicamente várias vezes. além de incompetente por não hipnotizar pessoalmente seus pacientes.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 89 dos sintomas da histeria podiam ser provocadas artificialmente por mera sugestão. Os dirigentes desta última classificaram o hipnotismo daquela de hipnotismo cultivado. Hypnotism and Psychotherapy [Reprin]. ao passo que o mesmo não acontece. realizado no Salpêtrière. a do Hospital Salpêtrière e a da Cidade de Nancy. descreve o que considera sobre as opiniões de Charcot: Sou obrigado a protestar contra os que querem levar o hipnotismo para a histeria. em um congresso de psicologia. Afirmavam ainda que as análises de Charcot foram prejudicadas pelo fato de lidar exclusivamente com internas de sua enfermaria. entre elas. Seu ponto de vista. no espaço de três anos e os refratários eram raras exceções. nenhum histérico. (1907) 1988. Liébeault rebatia como sendo absurdas as hipóteses de Charcot. não se vinculavam com a hipnose. compareceram como 43 FOREL. provando que há vinte anos hipnotizava os tipos mais variados de pessoas. era acusado de incorporar ao processo de indução teorias superadas. deixando essa tarefa a cargo de auxiliares. Sem falar dos Drs. 43 também se colocando contra a teoria do Salpêtrière. Em 1889. cujo valor em relação ao hipnotismo de verdade se comparava ao da pérola cultivada em confronto com a pérola natural. Charcot acusava os membros da escola de Nancy de só hipnotizar pacientes histéricos. Em compensação. repele às vezes as sugestões. É com o cérebro que se opera para realizar fenômenos hipnóticos e os cérebros são tanto mais fáceis de impressionar. Liébeault e Bernheim. em Estocolmo. Nasceu daí a histórica controvérsia entre as duas escolas. cheios de caprichos. August. em geral. Em 1889 Charcot organizou o que denominou de Primeiro Congresso Internacional de Hipnotismo Experimental e Terapêutico. em Nancy. publicado em 1907. Neste evento. sem encontrar. apresenta suas observações que ainda são válidas na atualidade. . É absolutamente inexato. Allied Books. com os indivíduos não neuróticos em sua maioria (FOREL). agitados e volúveis. os quais se deixavam iludir pela argumentação e pela dependência que devotavam aos médicos. quanto mais sadio forem. O cérebro dos histéricos. eu quero lembrar que Wetterstrand hipnotizou quatro mil pessoas. Forel. disso resultou a equivocada hipótese de que a hipnose era uma característica do histerismo. entre eles o psicólogo americano William James. Charcot descreveu os sintomas da ataxia locomotora. Dr. (diferenciou da atrofia muscular progressiva de AranDuchenne). artropatías dos joelhos. Embora com relação ao hipnotismo Charcot tenha sido bastante contestado. rapidamente espalhando novas conceituações pela Europa e Estados Unidos. os historiadores apontam a popularidade da psicanálise e a pessoa de seu fundador. Centrando seus estudos sobre a histeria. grandes descobertas na área médica foram devidas a sua dedicação á pesquisa. A cada publicação gerada na Salpêtrière. o médico e criminalista italiano Cesare Lombroso. Sigmund . publicou em cinco volumes. anatômico e fisiológico. criou no hospital Salpêtrière o que viria a ser a maior clínica neurológica da época. Leçons sur les maladies du système nerveux. explicar e difundir a hipnose pelo mundo. epilepsia e outras desordens neurológicas.90 Antonio Almeida Carreiro. Na atrofia muscular. todos tentando compreender. Conduziu pesquisa para localização dos centros cerebrais responsáveis por funções nervosas e descobriu os aneurismas miliaria (dilatação das pequenas artérias que alimentam o cérebro). fundou o Museu Anatomopatológico e os laboratórios fotográfico. foi a forma mais rápida para a hipnose conquistar novas adesões de estudiosos. Hipnose e psicanálise Depois de Lindner. Foi o primeiro a descrever a desintegração dos ligamentos e das superfícies das juntas (Síndrome de Charcot ou Junta de Charcot. como a perda de mielina e a proliferação de fibras e núcleos gliais. uma degeneração da medula espinhal e dos feixes nervosos. além de estabelecer características e princípios que permitiram a classificação várias patologias. pélvis e outras articulações). Sc. a neuropatia de Charcot-Marie-Tooth e a esclerose múltipla da qual fez a primeira descrição histológica das lesões estabelecendo características importantes. seus estudos permitiram o surgimento da teoria que fundamenta o estudo da neurologia moderna. Guindes e Charcot. Anexo à clínica. (Lições sobre as doenças do sistema nervoso). Desse Congresso resultou a publicação de uma revista especializada em artigos sobre hipnose. a controvérsia. Como responsável por esse eclipse. palestrantes importantes personalidades do mundo acadêmico. Descobriu enfermidades e síndromes neurológicas como a esclerose lateral amiotrófica. dando-lhe impulso científico-terapêutico. em Nancy surgia outra contrariando e. Em 1882. e o jovem Sigmund Freud. demonstrando sua importância na hemorragia cerebral. houve um período de esquecimento da hipnose e da hipno-análise por mais de trinta anos. ingressou na Universidade de Viena em 1873. outros profissionais interessados no assunto que fizeram avançar a teoria psicanalítica. . por Stanley Hall. mas a genialidade e a coragem fizeram Freud continuar e. 1974. a maior parte dos ataques lançados contra ele vinha dos próprios colegas. mas procurou aplicar suas teorias a muitas áreas da atividade humana e mesmo tendo sido essa sua única visita a América. 44 Até hoje a psicanálise encontra forte resistência na classe médica. a atividade do psicanalista é proibida para médicos: A atividade exclusiva de psicanálise não caracteriza exercício da medicina. formando-se em medicina em 1881.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 91 Freud (1856-1939). em Viena. A titulação médico-psicanalista não tem amparo 44 FREUD. mas insistia para que seus ouvintes as descobrissem por si mesmo. Edição Standard Brasileira das Obras Completas. objetadas e discutidas. no Primeiro Congresso Internacional de Psicanálise apresentou oficialmente. na República Tcheca. Imago. Premissas e técnica de interpretação. tudo fizeram para desmoralizar seu autor. Após ter escapado ao nazismo. que eram contra a afirmação da influência do inconsciente nas ações humanas e a ligação dos impulsos sexuais com as neuroses. essa oportunidade definitivamente marcou sua carreira. além de médicos. Quando tinha quatro anos. onde trabalhou não só nos aspectos médicos da psicanálise. Assim. Sigmund. Indignados com a nova teoria. ao atrair atenção mundial para seus trabalhos. hoje Pribor. em 1903. Nas conferências expunha suas opiniões para serem contestadas. sua família transferiuse para Viena na Áustria. seus estudos. Durante a fase inicial da sua pesquisa Freud foi vítima de hostilidade. antiga porção da Áustria. Massachussets). Freud considerava que a psicanálise não era uma área de particularidade médica. nascido em 6 de maio de 1856. muito além do consenso médico de sua época. nos Estados Unidos. Em 1909 foi convidado. os médicos de Viena. Antes de apresentar oficialmente suas idéias. In: Conferências introdutórias sobre psicanálise. para proferir conferências na Clark University (Worcester. em 1910. não dogmatizava verdades acabadas. onde ele passou a maior parte da sua vida. Rio de Janeiro. no dia 23 de setembro de 1939. por isso assistiam suas conferências. Freud fundou a Sociedade Psicanalítica de Viena e numerosos discípulos principiaram a se reunir em torno dele. mudou-se para Londres onde faleceu aos 83 anos de idade. em Freibeg na região da Moravia. acontece com a própria psicanálise. Freud afirma claramente “Quando constatei que. Parecer do CFM nº 02/1998. a não ser a descrença e o demérito da hipnose no meio acadêmico que tem início na rejeição da classe médica ao Mesmerismo. à indústria farmacológica e à ciência cartesiana behaviorista. como os sonhos. que o 45 (LEX. pode revelar pistas dos males que afligem o paciente. é possível que lhe faltasse a qualidade de um bom hipnotista e. rev. tem por base os conceitos teóricos da escola Freudiana ortodoxa. Seus colegas ofereciam resistência às suas idéias e contestavam sua teoria. 1989). apud CHRTOK. out. 7. isso também teria contribuído para ele abandonar o método da hipnose (weissmann). ou do que é verbalizado. legal.a análise . por isso. Talvez Freud tivesse dificuldades para hipnotizar.. não sendo. abandonando-os sem fortes razões. A mídia.é buscar a origem do sintoma. apesar de todos os meus esforços. isto é. 46 . os delírios e as associações livres. decidi abandonar esse método” (FREUD. Freud afirma rejeitar o hipnotismo e a hipno-análise como método terapêutico de forma paradoxal. no momento em que estamos vivendo. teve Freud de abandonar ou declarar que abandonara a prática da investigação do inconsciente através das técnicas de hipnose explicita. aliada à classe médica. 45 A Psicanálise é uma técnica de investigação de processos mentais ou método clínico de tratamento da mente. A função primordial da clínica psicanalítica . 59. 1998). Enquanto método de investigação. portanto. O material reprimido no inconsciente fica escondido e só aflora por meio dos sonhos ou de sintomas em forma de charadas e atos falhos. sem critérios de cientificidade e. nº 98. busca o significado oculto daquilo que é manifesto através de ações e palavras ou das produções imaginárias. integrar os conteúdos inconscientes na consciência com o objetivo de cura ou de autoconhecimento. No passado os psicanalistas afirmavam que a hipnose e a hipno-análise seriam totalmente substituída pela psicanálise por ser mais científica. Se esse afloramento for bem interpretado. obsoleta. ainda mais quando essa vinha associada à hipnose. permitida a sua utilização (Parecer do CFM nº 02/1998). p. Dr. a psicanálise caracteriza-se pelo método interpretativo. In: Medicina Conselho Federal. p.92 Antonio Almeida Carreiro. Isso. Brasília DF. tem tratado de divulgar como verdade conclusiva que a psicanálise está ultrapassada. 46 Esse seria um dos motivos a mais dificultando a psicanálise para se afirmar no meio acadêmico e. muitas vezes. pois teria inicialmente usado esses conhecimentos. Sc. só conseguia colocar em estado de hipnose uma pequena parcela de meus doentes. ou do comportamento manifesto. através de um simbolismo. muito laborioso. Fato é que tanto a hipno-análise como a psicanálise passa por caminhos que dependem de habilidade e sensibilidade para se ver além do óbvio. seguido. são interpretadas como piti. no futuro os cientistas achariam o trabalho com a psicanálise. capaz de aliviar muitas dores e curar muitas doenças. podem ser aplicados em casos similares. uma pessoa pode sentir tremores incontroláveis nos membros. termo derivado do radical peitho. de cirurgia e só em última hipótese seria recomendado uma breve psicoterapia. Assim. o que pode estar ocorrendo é a tentativa de afloramento do inconsciente da pessoa. utilizado por François Félix Babinsky. provocado por acontecimentos que para o indivíduo é grave e de tamanha intensidade que ele não consegue assimilá-lo e dar uma resposta adequada. Piti na linguagem popular significa fingimento ou simulação de doença. às vezes até somatizando. para a psicanálise. De fato. mas. Tudo isso já tinha sido previsto por Freud. a ciência pôde criar uma possante indústria de medicamentos. Nesse caso. carente de garantias e deduções mais científicas. fonte de vários sintomas que atormentam a qualidade de vida do ser humano. ver além do que pode esclarecer a pesquisa cartesiana reducionista. uma vez conhecidos. Por exemplo. que faz com que esse sintoma exista. como se isso fosse o último recurso para tratar o que não foi possível de resolver pela prática convencional. por isso trata de esquecer o fato que fica no seu inconsciente e aflora por meio de sintomas. com incertezas. porém pode ser que não existam causas realmente físicas para tais tremores. receituários ou mecânicos que. muito inseguro. (pitiatismo de Babinsky) para definir os sintomas histéricos. a receita prescrita para o mal-estar contemporâneo é composta prioritariamente de medicação. se for o caso. no entanto não consegue lidar bem com as implicações do desejo e do prazer. muitos sintomas considerados patológicos podem advir de traumas psíquicos reprimidos no inconsciente. Sua prática não se perfaz com procedimentos repetitivos. . O hipnotismo seria uma ferramenta para a cura do sintoma e compreensão da causa. fabulação ou mentira de pretensa doença.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 93 homem moderno exige decisões rápidas e eficazes para superar suas dificuldades. Doenças ou sintomas que não se explicam pela etiologia ou que não têm causa orgânicas ou explicações que as justifiquem. quando no início do século advertiu que. Para a psicanálise. para a psicanálise e para a hipno-análise pode ser um sintoma de causas inconscientes que atormentam. por isso devem ser tratados. Na psiquiatria é conhecido como síndrome da mitomania. uma certeza que não deixará de despertar. a qual considerava de indiscutível importância terapêutica: Seria um equívoco pensar que é muito fácil praticar a hipnose com fins terapêuticos. No início de sua pesquisa. R.59. etc. uma jovem torna-se manca. para com seus pacientes. também nestes.Hipnose. A doença física pode ter causa psíquica. a rigor. Somatizar significa transferir para o corpo o que é insuportável para a mente. a técnica de hipnotizar é um método tão difícil como qualquer outro. Como exemplo dessa linguagem. Corpo e mente funcionam como vasos comunicantes: quando um está cheio. Pelo contrário. sobra para o outro. tremores. Imago Editora Ltda.94 Antonio Almeida Carreiro. Somatizar não é fingir doença. Freud escreve um artigo 47 no qual de forma inequívoca revela as dificuldades para o médico dominar e aplicar a técnica do hipnotismo. Dr. necessário. é desenvolver um problema orgânico ou comportamental devido a causas psíquicas que não foram enfrentadas conscientemente. 47 . Sc. a fim de obter êxitos em mais de alguns poucos casos. obras psicológicas completas de Sigmund FREUD. Depois. c) Para deslocar seu sentimento de culpa proveniente de um “passo em falso na vida afetiva”. In: Textos escolhidos de psicanálise: Artigos sobre Hipnotismo e Sugestão . a expectativa de mais um êxito terapêutico (FREUD). Extraído do Volume I. em algumas circunstâncias. uma senhora queixa-se de mil falsos problemas de saúde. haverá de abordar o assunto com toda a seriedade e firmeza que nascem da consciência de estar empreendendo algo útil e. vários os casos que podem ser citados: a) Em lugar de declarar abertamente sua repugnância por determinada pessoa. deverá ter tido bastante experiência própria. Janeiro. e vice-versa. 45 . b) Em vez de admitir sua infelicidade conjugal. como hipnotizador experiente. flutuações da pressão arterial. edição standard brasileira. d) Não podendo superar o conflito da vida diária. nem conhece conscientemente a solução. sudorese. como se houvesse apenas torcido o pé. 1986. mesmo depois disso. Esse meio de expressão mais tarde se denominaria como a linguagem orgânica da alma. o qual não compreende bem. Um médico que deseja hipnotizar deve tê-lo aprendido com um mestre nessa arte e. o indivíduo padece de inexplicáveis distúrbios cardiovasculares. A rememoração de tantas outras curas realizadas pela hipnose conferirá à sua conduta. o indivíduo se queixa de náuseas e sente vontade de vomitar. O emprego da hipnose nunca exclui o emprego de qualquer outro tratamento. não terá motivos para se surpreender com seus fracassos. preferentemente. pela experiência e pela leitura. dietético. sempre que surgir uma intensa resistência contra o uso da hipnose. Quando a hipnose tem êxito. é melhor. Se o tratamento hipnótico é dirigido somente contra os sintomas. aceite a idéia de ser hipnotizado: Devemos ter como regra não procurar impor ao paciente o tratamento pela hipnose. deveria. sob a influência de outras informações. o fracasso é garantido: Todo aquele que se põe a hipnotizar com ceticismo. E não há nenhuma justificativa para a acusação de que a hipnose só é capaz de influenciar sintomas. Portanto. conquanto inexperientes nesse assunto) de que a hipnose é um procedimento perigoso (FREUD). Caso a hipnose se tenha defrontado com fenômenos residuais de um processo já concluído. que se renuncie ao método e espere até que o paciente. se as causas que produzem os sintomas ainda estiverem em atividade e com sua força não diminuída. da realidade e da importância da influência hipnótica (FREUD). por sua expressão. Entre o público acha-se difundido o preconceito (realmente reforçado por alguns médicos conceituados. deixar esse método de tratamento para outros médicos capazes de praticálo sem se sentirem feridos em sua dignidade médica. e apenas por breve período de tempo. está seguindo justamente o mesmo caminho que todos os demais métodos de tratamento são obrigados a trilhar. não esperar nada da experiência. Não há dúvidas de que a área coberta pelo tratamento hipnótico é mais extensa do que a de outros métodos de tratamento de doenças nervosas. recomenda Freud que se tenha cautela sobre o ceticismo. o processo seria impossibilitado diante da ansiedade e do sentimento angustiante do paciente de estar sendo dominado. pois quando isso ocorre em qualquer das partes envolvidas no processo de hipnotizar. a estabilidade da cura depende dos mesmos fatores que a estabilidade de todas as curas conseguidas por outros métodos. naqueles em que os sintomas . e que talvez se afigure cômico a si mesmo nessa situação e que revele. Mas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 95 Em seu artigo sobre a hipnose. de vez que se convenceram. mecânico ou de algum outro tipo. Freud é contundente quando conclui: Tudo que se tem dito e escrito a respeito dos grandes perigos da hipnose pertence ao reino da fantasia. Em numerosos casos .ou seja. sua voz e seus modos. Diz ainda Freud que se tentássemos impor a hipnose a alguém que acreditasse ser uma prática perigosa. é provável que haja uma recaída. e não contra os processos patológicos... a cura será permanente. que apresentava os sintomas clássicos da histeria. Dr. uma vez que a universidade de Viena não admitia mulheres. Por esforço próprio tornou-se fluente em francês e inglês. paralisia dos membros. na história do desenvolvimento da psicanálise. tendo por ponto de partida as experiências hipnóticas do médico Josef Breuer (1842-1925). a psicanálise é a administradora dos bens deixados pelo hipnotismo (FREUD). são de origem psíquica . nascida em Viena. essa paciente histérica entra para os anais da psicanálise. além de sua língua materna. anestesias e perturbações da visão e da fala.). de 22 anos. Parece claro que Freud sempre reconheceu o valor e importância terapêutica da hipnose. Alemanha. diz: A importância do hipnotismo. bem como a ligação desta com seus novos métodos de análise. a jovem Anna O. com o pai. fazer perguntas e infundir calma ao paciente em hipnose profunda geralmente proporciona o mais brilhante êxito (FREUD). Não fosse pela sua associação com Freud. Sc. é o nome fictício citado em Estudos sobre a Histeria para identificar a paciente Bertha Pappenheim. Inicialmente tratada com aplicações das técnicas de hipno-análise. em 1867 forma-se em medicina e. dominava também italiano. Freud reconhece aí o berço da psicanálise cujo princípio Breuer nasceu em Viena. associa-se a Freud e pesquisa a Histeria através de práticas hipnóticas (N. em 1859 e falecida em Iselberg. não deve ser subestimada. tosse nervosa intensa. em 1936. companheiro de pesquisas de Freud. 48 Breuer. em Nápoles. é o que diz a vasta literatura sobre a teoria e a técnica da psicanálise ortodoxa e seu grande envolvimento com o hipnotismo. relatou a Freud como empregara a hipnose em uma paciente. Áustria. dificuldades em manter a cabeça erguida. Anna O. do A. referindo-se à importância e à eficácia da hipnose.a hipnose preenche todos os requisitos que se pode exigir de um tratamento causal. pelo fato de ter morado muitos anos. teria permanecido como um episódio isolado na prática de Breuer. Esses sintomas haviam aparecido pela primeira vez quando ela se dedicava ao seu pai muito enfermo. Sua formação ficou restrita ao estudo em um colégio feminino católico até os 16 anos. repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas.96 Antonio Almeida Carreiro. nessas circunstâncias. Tanto sob o aspecto teórico quanto terapêutico. 48 . O próprio Freud. em 1884. Entretanto. apesar de sentir sede. em 1884. o alemão falado na Áustria. o caso de Anna O. ela narrava uma série de fatos passados e profundamente dolorosos que não faziam parte do conhecimento consciente da paciente. Os problemas de Anna O. melhoravam as suas condições de saúde. Com a hipnose. em 1885. Esse método de Breuer foi o princípio da doutrina de Freud que entusiasticamente adotou a hipnose como método de cura e ambos compartilhavam das investigações. Sentindo as limitações de Viena no tocante às possibilidades de aperfeiçoamento e estimulado por Breuer. A terapêutica fundada nesse princípio consistia em fazer com que o paciente se recordasse de tais cenas e as reproduzisse sob hipnose. a cura pela conversa (talking cure). ora a de uma pessoa normal. mesmo estando com fome e sede. pela primeira vez. entrando em pormenores sobre o seu desenvolvimento e.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 97 fundamental estabelecia a relação entre os sintomas e o chamado trauma psíquico. tinha distúrbios visuais. liberando assim a carga emocional reprimida pelo trauma. Aí surgira. em outras acreditava estar impossibilitada de deglutir e por algum tempo não conseguia comer ou ingerir líquidos. o alemão. a paciente sentia-se aliviada e os sintomas iam desaparecendo. porém esquecidas. com uma combinação da recuperação de lembranças ocultas e da conversa entre ela e seu terapeuta enquanto se encontrava em transe hipnótico. de modo que sua personalidade ora era a de uma deficiente. Anna historiava o começo de sua própria doença. Em certas ocasiões se acreditava paralítica. tosse nervosa. e recorria ao francês ou inglês para se comunicar. desde os primeiros sintomas. Hipnotizada. Por vezes sentia-se incapaz de falar seu idioma. Durante o transe Breuer induzia a moça falar. quanto a paciente saía do transe. O Tratamento de Anna teve a duração de cerca de um ano e meio. Em outras ocasiões. havia a reconstituição das cenas vivenciadas ao lado do pai e. Hipnotizada. paralisia das extremidades e contraturas musculares. curando-se. Quando despertava do sono hipnótico ela podia reconstituir esta etapa do seu próprio passado e os sintomas desapareciam. a fim de assistir aos cursos proferidos por Jean-Martin . Freud foi até Paris. eram depressão e nervosismo e quadro de hipocondria com os mais diversos sintomas. conseguia lembrar-se do trauma passado e revivê-lo efetivamente e a carga afetiva que determinava o sintoma podia ser eliminada. perda de sensibilidade na pele. representado pelos resultados de cenas impressionantemente vividas. com a elucidação dos fatos responsáveis pelas suas dificuldades e sofrimentos atuais. passando algumas semanas a observar e. Neste mesmo ano ganhou uma bolsa de estudos para um período de especialização no Hospital Salpêtrière e após realizou o curso de mestrado em neuropatologia. Tornando-se aluno do professor Charcot. parecia convencer a quantos o assistisse. A seguir. apenas. De 1885 a 1886. mas sem sucesso. Após ter despertado. manifestamente. ansioso por aprender mais. como sendo o estado de histeria. E ela finalmente começa a relatar todos os acontecimentos que haviam ocorrido durante o estado sonambúlico e que. a Capital do hipnotismo naquela época. sob a orientação de Charcot prosseguiu os estudos sobre hipnose. Charcot. tentou de todas as formas se fazer notado. mas. Como Charcot lidava apenas com pacientes histéricos. preocupado unicamente com o fenômeno da histeria. Freud discorda e. suas conclusões não eram de se estranhar. e que elas poderiam ser reproduzidas por insistência verbal do médico. em 1889 foi a Nancy. Com Breuer. estudou dedicadamente os processos da histeria e hipnotismo. ostensivamente. assim. Suas teorias sobre hipnose eram equivocadas. o que provoca um outro estado de consciência. Bernheim insistiu que ela se recordaria de tudo. em estado de sonambulismo. Continua Freud descrevendo o que assistira na clínica de Bernheim e como resolvera aplicar a hipnose em seus pacientes: . As demonstrações de Charcot. fazendo surgir e desaparecer sintomas como a paralisia dos membros. Freud aprendeu o termo talking cure (cura pela fala) e o uso da hipnose na cura da histeria. Charcot. ela de nada lembrava no estado de vigília (FREUD). uma alucinação negativa de que ele não estava mais presente. a própria identidade do transe hipnótico. em Paris. Por exemplo. embora suas teorias sobre histeria fossem as mais avançadas da época. ele perguntou se a paciente se lembrava do que havia feito durante todo o tempo em que ela pensava que ele não estava presente. acompanhada de pressão das mãos. pressionando com uma mão a fronte da paciente. Charcot lhe chamou a atenção para o fato de que os problemas dos pacientes (particularmente das mulheres) eram provocados por questões do foro sexual. Sc. Ali ingressou na clínica dirigida por Liébeault e Bernheim. esquecidas no estado de vigília.98 Antonio Almeida Carreiro. Ela replicou que não sabia de nada. via na hipnose apenas um sintoma histérico. Dr. ele provocou em uma paciente mulher. descreveu o que assistira: Eu mesmo presenciei Bernheim demonstrar que as lembranças provocadas pelo sonambulismo eram. Interrogados sobre o motivo de seu 49 SARTRE. . e que só era necessário forçá-los à lembrança. é isso que você está procurando. Referindo-se aos benefícios do tratamento dos pacientes através da hipnose.Através da pressão de minhas mãos você vai se recordar. O que mais impressionou Freud nas experiências de Bernheim foram os fenômenos pós-hipnóticos. Segundo Sartre. . massagens e banhos de água fria. sobre ele era despejada grande quantidade de água. Dos banhos frios. no momento em que eu retirar essa pressão você verá algo defronte de si. adormecia. Muito bem. ou alguma coisa surgirá em sua mente que você deve notar.Desde quando você tem esses sintomas? . Os pacientes executavam póshipnoticamente atos sugeridos durante o transe. ed. aplicados à noite e na fria Europa. certos de agirem por sua livre e espontânea iniciativa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 99 Essa impressionante e instrutiva experiência passou a ser meu modelo. Nova Fronteira. . RJ.Realmente. 49 o procedimento terapêutico da época. aproximando-se uma escova de metal eletrizada com alta tensão e baixa corrente elétrica. Freud bem o distingue dos métodos anteriores à base de choques elétricos. quase sempre. ao longo da nuca e sobre o cabelo. parecia então oferecer um substituto satisfatório para o malogrado tratamento elétrico (FREUD). perguntava . Eu decidi supor que meus pacientes sabiam de tudo que pudesse ter um significado patogênico. geralmente decorria um quadro de pneumonia que. ou o que veio em sua mente? (FREUD). Quanto ao método hipnótico como terapia. Freud além da alma: Roteiro para um filme. Os banhos de água fria consistiam em amarrar o paciente numa cadeira onde permanecia por dois ou três dias sem dormir. Vencido pelo sono.E se a resposta fosse . ele reconhece ser melhor que os anteriores: O tratamento pela sugestão durante a hipnose profunda que aprendi através das impressionantes demonstrações de Liébeault e Bernheim.colocava uma das mãos na fronte do paciente. Sempre que eu atingia um ponto em que minhas perguntas não eram satisfeitas. com base na eletricidade. 1986. consistia de uma cadeira onde o paciente era sentado com braços e pernas amarrados e apoiado num degrau isolante. eu não sei .Eu procedia da seguinte forma. 168. o que você viu. encostada no rosto do paciente. que começava a crepitar. Freud até atribuiu os poucos êxitos dos banhos frios e choques elétricos no tratamento de doentes nervosos por efeito da pura sugestão de melhoria. resultava no óbito do paciente. p. ou pressionava sua cabeça com ambas as mãos e dizia. 50 NUTTIN. A partir dessa análise. Estes fenômenos mostraram para Freud que os elementos. dava uma ordem ou uma incumbência.100 Antonio Almeida Carreiro. que sugeriram a Freud a significação que o inconsciente adquiriu em psicanálise. Segundo Nuttin 50 foram às descobertas de Bernheim. em 1895. descreve Freud: Nos conhecidos fenômenos da chamada sugestão póshipnótica. uma parte na personalidade humana desconhecida do próprio indivíduo a influir e a determinar a sua conduta. no estado normal. Um ou outro desses “elementos recolhidos” conseguia burlar a sentinela. estranho procedimento. A hipnose era ainda o instrumento de penetração a esse obscuro e desconhecido inconsciente. portanto. para realizar certo ato em determinada hora. disfarçados simbolicamente ou somatizados. Freud relaciona e analisa esses fatos que manifestam a atividade do inconsciente e. Psicanálise e Personalidade. 1967. incomodavam pelo barulho (sintomas) perturbando a “paz da consciência”. Joseph. tentando forçar o caminho para o consciente. Sc. Freud já pensava em mecanismos mentais que iriam. entretanto. tem-se um esplêndido modelo das influências que o estado inconsciente pode exercer no consciente. Dr. mais tarde. associando aos fenômenos hipnóticos observados em Paris e em Nancy. por exemplo. Enquanto não conseguissem arrombar a porta de seu cárcere. acordava de seu sono hipnótico e. . valendo-se dos mais engenhosos expedientes de disfarces. serem englobados no seu conceito de inconsciente. sem ter a menor consciência da ordem recebida. imperiosamente cumprida. conjuntamente com o que ouvira de Breuer. então. Havia. inicia a elaboração de sua complexa doutrina. Talentos. modelo esse que permite sem dúvida compreender o que ocorre na manifestação da histeria (FREUD). Muitos deles vinham à tona transformados. O paciente. não permanecem necessariamente em estado de impotência e de inatividade. executava o ato mandado. ed. presentes de maneira latente ou inconsciente no psiquismo. Um elemento pode permanecer inconsciente e. Sobre isso. na hora fixada. Rio de Janeiro. Era o inconsciente a governar o consciente. relativas aos fenômenos da sugestão pós-hipnótica. Ali estavam encarcerados e ativos os afetos represados. os pacientes demonstravam que não se lembravam das ordens recebidas em estado de transe. em estado de transe. em que uma ordem dada durante a hipnose é depois. Bernhiem praticava hipnose em seus pacientes e. intervir ativamente no comportamento. motivo do comportamento por uma explicação razoável e segura. náuseas. 8. porém assustador. pressionando-os para o inconsciente. sudorese. de forma clara ou simbolicamente. Repressão . Desfazer . pode ser usado o método hipnótico. Regressão . Formação reativa . São os principais: 1. Sublimação . Para que se tenha acesso às informações ocultas. Suas descobertas. como exemplo. retira do indivíduo não só a percepção necessária para lidar com os desafios externos. Além disso. Introjeção . 6. A sós. é possível obter algumas “pistas” sobre o inconsciente se forem observados alguns lapsos. 51 . etc. afetos ou desejos perturbadores da consciência. 3. 4. porém. Deslocamento . 7. opostos ao impulso inconsciente temido.sentimentos próprios indesejáveis que são atribuídos a outra pessoa. devido a sua insistência na importância do fator sexual. podem ser resolvidos alguns sintomas sem aplicação de medicação.substituição do verdadeiro. busca-se o cancelamento da experiência prévia e desagradável. afeto ou desejo na consciência. 10.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 101 As distorções reveladas nos casos de disfarce simbólicos ou somatizações funcionam como mais um mecanismo de defesa. sonhos e mudanças instantâneas no comportamento. Negação . Racionalização . O indivíduo em transe esclarecesse. 2. ao tomar para a própria personalidade certas características de outras pessoas. Por esse método. 51 Disso pode sobrevir o alívio e a supressão da necessidade de se externar indiretamente e disfarçados por meios de sintomas simbólicos negativos.estreitamente relacionada com a identificação. abandonou a luta.através de uma ação. Freud abranda Mecanismos de defesa são medidas tomadas pelo inconsciente com a finalidade de proteger o Ego de emoções ou situações desagradáveis. De posse desse conteúdo reprimido. do A). mas também a capacidade de valer-se de estratégias de sobrevivência adequadas. erros. conteúdo este atiçado e interpretado durante o transe pelo hipnotista. começaram a levantar celeumas e críticas acerbadas. flutuações da pressão arterial.retorno a forma de gratificação de fases anteriores. tremores.parte da energia investida nos impulsos sexuais é direcionada à consecução de realizações socialmente aceitáveis (N. Breuer e Freud ainda eram associados e juntos publicaram um trabalho Studien ueber hysterie. os conteúdos traumáticos se libertariam.redirecionamento de um impulso para um alvo substituto. com a responsabilidade do movimento iniciado por ambos.retirada de idéias. visa resolver alguma dificuldade emocional do indivíduo. Projeção . centrado no princípio do complexo edipiano e na etiologia das doenças nervosas. isso permite que se abra a válvula que prende o conteúdo reprimido no inconsciente. 5. Breuer temendo prejudicar sua clínica e ressentido com as investidas maliciosas dos colegas. 9. devido aos conflitos que surgem em estágios posteriores do desenvolvimento.fixação de uma idéia. seu conteúdo represado no inconsciente.recusa consciente para perceber fatos perturbadores. No entanto. e. O que se requer é que o paciente suprima suas manifestações. começando por se afastar da hipnose que tão fértil fora. mas um grau suave de hipnose. a distinguir sugestão direta (mecanismo da hipnose). com seu agudo senso lógico. Freud passa. não por oposição. também. Para Freud. Considerava que nem todos os pacientes reagiam adequadamente ao trabalho de indução e achou que a técnica hipnótica precisava de aperfeiçoamento. tem-se uma ilusão da presença de uma inteligência superior fora da consciência do paciente. você não está preocupado com as causas. mas faz uso de pressão das mãos sobre o paciente para que esse se recorde de fatos vividos. Dr. dizia repetidamente. uma luta entre sua autoridade e as causas subjacentes à moléstia. as feições tranqüilas e os membros imóveis” e admite que Lucie R. analisa o caso de uma paciente de nome Lucie R..102 Antonio Almeida Carreiro. teria alcançado. Era exatamente a pressão das mãos. em conseqüências e ensinamentos. com os olhos cerrados. em um grau de relativa sugestibilidade. Nesta luta. Sc. . também buscava facilitar nos seus colegas a aceitação da psicanálise. não conseguiu atingir o estado de sonambulismo. pouca diferença faz que você coloque o paciente em transe hipnótico ou não. mas por substituição à hipnose (FREUD). a técnica sugerida por Charcot para induzir o transe hipnótico. e que encontrou uma forma engenhosa de retornar ao consciente (FREUD). a qual sistematicamente armazena uma grande quantidade de material psíquico para um propósito significativo. durante as suas próprias pesquisas. e sugestão indireta (sugestão no estado de vigília). aí descobre que neste grau poderia se processar a análise. admitindo que nesse estado se possam obter os mesmos resultados da hipnose. o estado de sonambulismo. Devido aos resultados obtidos através da pressão das mãos. os descontentamentos. com isso. Freud trabalha com um grau mais suave do transe e nega que se utilizava o método hipnótico. Sobre isso afirma: A sugestão direta incide diretamente contra as formas tomadas pelos sintomas. Esse grau é reconhecido pelos hipnotistas modernos como sendo o estado hipnoidal. que sendo induzida ao transe hipnótico. no final de 1892. Para livrar-se das criticas de seus pares. que a teoria psicanalítica se constrói. Bernheim. Em resumo. de relativa sugestibilidade. o conceito de transe hipnótico representava a fase mais acentuada da hipnose. não o grau profundo. que por si só já assustava. Freud relata que a paciente se encontrava “calma. e quando associada com a hipnose era mais desacreditada e repelida. embora reconheça a possibilidade de estar aplicando mecanismos da hipnose. Quando passou a mencionar que a associação livre parecia ser uma forma substitutiva do método hipnótico. Posso mesmo dizer que ele jamais me falhou. Ele sempre me apontou o caminho a seguir. uma idéia de que o cunhado agora estava livre. mesmo sabendo que a imposição das mãos era uma forma de sugestão hipnótica: Ao aplicar esse método pela primeira vez.. nega essa explicação.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 103 São inúmeros os casos em que Freud faz uso da pressão das mãos e. Freud. quando a moça chegou ao leito da morta. logo depois veio a falecer e ela fora chamada urgentemente e. isso.. podendo desposá-la. denunciando-lhe à consciência o intenso amor que sem saber tinha ao cunhado. que se mascarava por disfarce de ternura familiar. Freud relata: É-nos lícito admitir como certo que esta idéia. foi logo entregue à repressão pelos próprios sentimentos revoltados. fiquei surpreso por obter tudo que precisava. queria dizer que assim todo o processo passava pela consciência. Esse método me ensinou bastante e em todas às vezes auxiliou na obtenção de meus objetivos. pela elaboração. permitindo que a análise se processasse sem o sonambulismo. mas os mecanismos da hipnose são tão enigmáticos para mim que eu preferiria não recorrer a eles para uma explicação (FREUD).. e através destas. descrevendo sobre seu procedimento com Elizabeth Von R.. reproduziu o incidente com sinais de intensa emoção. num recinto meio escurecido. Para explicar sua eficácia. Mas recordou-se de tudo durante o tratamento. instituindo como regra fundamental que o paciente deitado em um sofá. Com referência ao tratamento desse caso de neurose de ansiedade através de sessões de hipnose. como acontece quando relata o caso de uma jovem com neurose de ansiedade. por rápido instante. não passa de uma técnica de sugestão. deveria exprimir livremente . correu-lhe na mente. marido de sua irmã mais velha. Fräulein Elizabeth Von R. ele viria a descobrir o que chamou de inconsciente. A jovem adoeceu com graves sintomas histéricos e quando comecei a tratá-la tinha esquecido não só aquela cena junto ao leito da irmã como também o concomitante sofrimento indigno e egoísta. Esta irmã adoeceu. e curou-se (FREUD). paciente que tinha uma simpatia particular para com um cunhado. As investigações com o uso da hipnose forneceram para Freud muitas pistas. poderia mesmo pensar que se trata de certa e momentânea induzida hipnose. Substituiu a técnica hipnótica pela livre associação das idéias. analisa seu efeito e. sem hipnose. Essa técnica permitiu o nascimento da psicanálise em substituição ao método da hipno-análise.104 Antonio Almeida Carreiro. quando adolescente foi tratada por Jung. assim. Segundo Freud quanto mais sugestionável mais tendente será a transferência: Em 2003. e com Jung e sua paciente Sabina Spielrein. no tratamento psicanalítico. a própria paciente tentará lhe seduzir e. na Rússia. Conta como Sabina Spielrein. Freud descobre o que chamou de transferência e aponta que na transferência encontra-se. A transferência consiste na reprodução das emoções relativas a experiências reprimidas. Agora. e como após alguns anos a paciente torna-se também psicanalista e monta e dirige. transferindo para estes o amor que tinha reprimido em relação ao pai. Livre associação das idéias é uma técnica psicanalítica básica que consiste em estimular o paciente a expressar todos os pensamentos que afloram em seu consciente. 52 O problema da transferência no tratamento psicanalítico seria proporcional à própria sugestionabilidade do paciente. 52 . Reportando-se a Bernheim.). jovem de 19. a primeira creche que usa noções de psicanálise no tratamento de crianças. que sofria de histeria e recebeu tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique. quando Jung aplica pela primeira vez as teorias do mestre Freud. Sc. a sugestão. também. com a substituição de alguém por outra pessoa. A partir de certo momento. na Suíça. quando se envolveu com Maria Theresa Paradis. do A. posteriormente. Enquanto isso. ainda que lhe pareçam desconexos ou banais. a fim de trazer à tona o trauma responsável pela perturbação nervosa do paciente. As associações seriam determinadas pelo inconsciente e o terapeuta deveria interpretá-las. associações isentas de críticas e independentes de toda reflexão consciente. Constitui um dos mecanismos de defesa e. como eles se apaixonam. o paciente fica livre para falar o que lhe vier à mente. Breuer enfrentou pela primeira vez o problema da transferência quando tratava de Anna O. como alvo dos impulsos reprimidos. o filme “Jornada da Alma”. Sabina seduz Jung de forma implacável e com ele mantém um longo relacionamento amoroso. em 1905. de quem fora discípulo em Nancy. sem preocupação de omissão ou de seleção. fazendo. a fim de captar seus conflitos inconscientes. pode o terapeuta se tornar o objeto da transferência. tentara seduzir Freud. fora da vista do paciente. seus pensamentos. (N. Assim acontece também com Mesmer. foi produzido e distribuído por Meduza Produzione/PlayArte. Dr. o psicanalista se manteria assentado atrás. Referindo-se a este aspecto Weissmann 53 afirma que: Entre analista e paciente se repete correlativamente a vida afetiva intrafamiliar. O hipnotismo. de estar. Ed. como objeto de investimento. pela sua universalidade. despreocupadamente. dando a nítida impressão de não estar mais interessado no trabalho. não atribuindo mais importância às instruções que lhe foram dadas. Karl. . Portanto. no sentido de dizer tudo que lhe vem à cabeça e de não permitir que obstáculos críticos impeçam de fazê-lo como se estivesse fora do tratamento e 53 WEISSMANN. admiração e desprezo ao substituto materno ou paterno). 1958. Freud refere-se a um momento em que o paciente não mais quer colaborar com o psicanalista: Nuvens aparecem. Seria deveras estranho se tal traço humano. de alguma forma. é uma capacidade de todos os indivíduos normais. Mas isso foi já feito. O analista representando o papel de pai ou de mãe em relação ao paciente. No tratamento. surgem dificuldades no tratamento. o paciente declara que nada mais lhe acode à mente. negativa (ódio e desprezo pelo analista) ou ambivalente (o paciente liga ao mesmo tempo ódio e amor. O que ele chamou de sugestionabilidade. A psicanálise se define até hoje como um método terapêutico que utiliza como instrumento principal o fenômeno da transferência. Bernheim com sua perspicácia infalível baseou sua teoria da manifestação hipnótica sobre a proposta de que todos os seres humanos. Rio de Janeiro. nada mais é do que uma tendência à transferência (FREUD). psicanálise. as repetisse estereotipadamente nas sessões. jamais tivesse sido observado e pessoa alguma nunca tivesse feito uso dele. Em A dinâmica da transferência Freud fala de um bloqueio da associação livre causado pela ativação inconsciente da transferência feita pelo paciente que dificulta em muito o trabalho da psicanálise. significa essencialmente análise da resistência e da transferência (WEISSMANN). no sentido ortodoxo da palavra. encontram-se mais ou menos abertos à sugestão.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 105 A capacidade de irradiação da libido em direção a outra pessoa. são sugestionáveis. A prática analítica arquitetada por Freud passa também a ser explicada pela transferência. Prado. que fazia com que o paciente incapaz de rememorar suas reações emocionais infantis em relação aos pais. mas um pai ou mãe aperfeiçoado e psicológico (o paciente se toma de simpatia e admiração pelo analista). a chamada tendência que o neurótico tem em transferir representa apenas uma intensificação excepcional de uma característica universal. demonstrava afastar-se da hipnose em sua prática terapêutica. muitas vezes. Pelo novo método. A transferência ainda pode ser artificialmente imposta ao paciente. Quanto a isso diz Weissmann: . não houvesse feito acordo algum com o médico. vencendo essa fase inicial. as dificuldades para o paciente colaborar com sua própria analise diminuiriam. Quando a relação do hipnotizado com o hipnotista opera-se apenas à base da transferência positiva. Através da interpretação dos sonhos e da livre associação. É uma situação perigosa para o tratamento (FREUD). anulando todos os demais aspectos negativos ou ambivalentes da rejeição ao tratamento psicanalítico. Até hoje grande parte dos pacientes abandonam o tratamento. nem sequer lembradas em virtude de seu caráter comprometedor. se apegam na situação agradável da transferência em caráter perpétuo. Eram as coisas que não podiam ser proferidas em voz alta e. era preciso vencer a resistência consciente e inconsciente da analisada. trocando a arrogância pela humildade e o receio pela confiança. mas pretende mantê-lo consigo próprio. Freud. Precisamente. Freud pensava encontrar mais informações sobre a mente humana do que através da hipnose. que a simbologia do sonho era complexa para uma interpretação precisa e que a livre associação não era livre até o ponto em que se esperava. o analisado tinha de exercitar a tolerância. Freud pode observar que uma paciente. humilhantes. Não tardou em descobrir. Sc. Outro problema da psicanálise ortodoxa é o de segurar o paciente até que se tenha iniciado proficuamente a exploração do inconsciente. renunciar às suas ilusões. Está visivelmente ocupado com algo. Dr. deprimentes. formular novos conceitos de personalidade à medida que se ia aproximando do término da análise. sob um pretexto ou outro. fantasiava a verdade do que teria realmente acontecido em seu passado e. E há os que. dizia que para tornar efetiva a cura. Afirma Weissmann que com ajuda da hipnose. mesmo hipnotizada. no entanto. as coisas que interessavam mais à análise se viam impedidas de vir à tona.106 Antonio Almeida Carreiro. não queria saber dessas facilidades. Observou que em alguns casos certos pacientes só com grande dificuldade conseguiam associar livremente. na intenção de diminuir a rejeição de seus pares às suas idéias. eram demasiadamente ridículas. para que tal verdade viesse à tona. entretanto. ao sentirem as primeiras intervenções. julgava indispensável que o paciente se mantivesse o mais consciente possível e participasse ativamente de todos os incômodos do ato de ser analisado. para referir-se aos três sistemas da personalidade. que tem partes consciente e inconsciente. Aos que insistem no prolongamento indefinido da análise. O correto é: o Isso. mas esta é apenas consciente. As primeiras traduções para o português foram feitas a partir de uma incorreta tradução inglesa do original alemão.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 107 Com o uso da hipnose esses problemas desaparecem. é a parte mais primitiva. marcando-lhes o comparecimento obrigatório para a próxima sessão. Dizia que. dissolve-se hipnoticamente a transferência com o devido tato e habilidade. o Supereu. Sobre os sonhos Freud define que são mensagens mascaradas do inconsciente. Este estudo reforça a teoria do inconsciente como determinante dos comportamentos. Freud vai buscar. Aos pacientes desertores dá-se uma sugestão pós-hipnótica. das Ich. dos desejos não identificados. entre 1920 e 1923. enquanto dormimos. da Es. elaborou um método para analisar os sonhos e explicou como funciona a mente enquanto dormimos. Durante o sonho. Novamente . que revolucionou todos os conceitos existentes na época sobre esta matéria. O Supereu também tem partes consciente e inconsciente e funções de juiz e sensor. do Supereu e dessa realidade. o Eu. publicou A interpretação dos sonhos (Die Traumdeutung). Id. nossa mente constrói uma série de barreiras ou repressões que nos impedem de conhecer nossos pensamentos traumáticos. Quando estamos acordados. O Eu. proporcionandolhes assim a cura dos seus problemas (WEISSMANN). também. A partir dessa premissa. É intermediário entre as exigências do Isso. Afloram então do inconsciente as repressões que em estado de vigília somos incapazes de reconhecer. em novembro de 1899. desenvolve-se quando o isso entra em contato com a realidade externa. Ego e Superego. Posteriormente imagina o aparelho psíquico formado por Id. lugar das paixões. determinando-lhes a necessidade de continuar com o tratamento. O Eu também exerce censura. o corpo relaxa e as defesas da mente se debilitam. ego. essas barreiras se tornam mais fracas e do inconsciente pode aflorar com mais facilidade o conteúdo da repressão. Afastando-se cada vez mais da referência ao uso dos métodos hipnóticos Freud. totalmente inconsciente. “são os caminhos que levam ao inconsciente”. O Isso. chegando a denominar os sonhos como a “via real para o inconsciente”. das Über-Ich. superego – é a segunda teoria do aparelho psíquico estabelecida por Freud. nos fenômenos hipnóticos uma analogia para os sonhos que permita fortalecer sua idéia. admitindo que o sonhador tenha noção do que sonhou. De início. tal como nos atos falhos. a teoria de Freud foi contestada por seu discípulo Carl Gustav Jung (1875-1961). o que havia ocorrido durante o sono hipnótico. Interpretar o sonho seria uma maneira de vencer as inibições que nos impedem de conhecermos inteiramente ou de forma clara seu conteúdo ou de nos livramos de alguns problemas que não conhecemos conscientemente. Sc. remete-se a Nancy. Jung postula a existência de dois inconscientes: o individual e o coletivo. é preciso entender o que o inconsciente nos quer dizer durante o sono e isso seria possível através de uma livre associação de idéias e imagens. sistematicamente.108 Antonio Almeida Carreiro. seguido de uma série de outros. psicólogo e psiquiatra suíço. Jung afirma que os sonhos não são representações dos desejos insatisfeitos ou de determinadas repressões. trabalha questão de como tornar acessível a ele o conhecimento que tem e como fazê-lo falar disso ao psicanalista. Transferindo essa situação para a sua prática clínica. Este último é constituído de símbolos universais transmitidos de geração a geração e cristalizado nos arquétipos. o paciente nada lembrava. O . vagamente. porém sinta que é capaz de encontrar a origem do círculo de pensamentos do qual surgiu tal sonho. cujos elementos sejam claramente perceptíveis. Esta análise se daria não simplesmente através de todos os sonhos e de livres associações. Freud afirma que. Aos poucos. em 1889. com quem trabalhou de 1907 a 1913. esta função se realiza inconscientemente enquanto dormimos. ia recordando alguns elementos até que conseguia reconstituir por completo a experiência vivida sob hipnose (hipno-análise). Jung discordava ainda de que a sexualidade fosse a única fonte de todos os conflitos humanos. Estabelecendo como regra não exigir do paciente que diga abertamente o sentido do seu sonho. realizado por Liebault e Bernheim. Neste caso. Mais tarde. Contrariando seu mestre. seria necessário interpretar o que sonhamos. mas sim com base nos sonhos repetitivos. Os mitos e os arquétipos seria a fonte da criatividade humana. com demonstrações de indução aos sonhos com hipnose em pacientes pobres da classe trabalhadora. Bernheim pedia para o paciente relatar. Afirmava ainda que. Caso contrário um dos primeiros sintomas é o mau humor. Dr. mas sim um grito de alerta de nossa mente para que prestemos atenção a áreas que estão sendo descuidadas. depois de despertado. quando testemunhou o trabalho de hipno-análise. Freud. se tivermos uma vida equilibrada. Portanto não podem ser destruídos através da recusa em admitir a entrada de seus conteúdos na consciência. em qualquer lugar. que é o mesmo em todo lugar. como a herança biológica. porém não expressa a imagem ou motivo definido e não passam de representações conscientes. e não varia de homem para homem. em Orleans. é respirado por todo mundo e não pertence a ninguém. Para Lacan os escorregões verbais podem funcionar como uma porta de acesso ao inconsciente bem mais eficaz do que os sonhos. Seus conteúdos (chamados arquétipos) são condições ou modelos prévios da formação psíquica em geral. mais do que ao conteúdo que elas expressam. Lacan recorda a afirmação de Freud de que tudo depende da linguagem e que o inconsciente está estruturado como uma linguagem. e destaca a importância dos recursos da metonímia e . O inconsciente coletivo é como o ar. O inconsciente coletivo é natureza. Por isso. sem perder sua configuração original. nem sempre clara. mas eles próprios não têm essa capacidade. os lacanianos dão muita ênfase às palavras do paciente. chegando a sugerir que o paciente durma com um caderno de anotações ao lado para anotar e lembrar-se depois do sonho.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 109 inconsciente coletivo é comum a todos os seres humanos. Seu destino é o resultado da colaboração entre o consciente e o inconsciente. porque correspondem freqüentemente a temas mitológicos que reaparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diferentes. Os arquétipos são também chamados por Jung de imagens primordiais. manifestase nos sonhos por meios de símbolos chamados de arquétipos. Os arquétipos são estudados como estruturas psíquicas que servem para organizar ou canalizar o material psicológico e. onde estão incluídos materiais psíquicos não provenientes da experiência pessoal. os jungnianos dão enorme importância à interpretação dos sonhos. Os conteúdos de um arquétipo podem ser integrados na consciência. No inconsciente coletivo está escrita toda a história da humanidade e cada ser humano nasce com esta herança que é essencialmente a mesma. durante a sessão. por isso. residem no inconsciente coletivo. necessita da mente humana a fim de funcionar para os propósitos do homem que sempre busca os propósitos coletivos e nunca seu destino individual. Outro brilhante seguidor de Freud foi Jacques Lacan (19011980). nasceu na França. formou-se em medicina e trabalhou como neurologista e psiquiatra até o fim da vida. O arquétipo é uma tendência a formar tais representações de um motivo que podem variar muito em detalhes. sobre cuja repressão se funda a realidade social. sobretudo do estruturalismo de Saussure e de Lévi-Strauss. Hegel. em que aquilo que aparece sob forma de sonho ou devaneio é por vezes a verdade oculta. Zilboorg relaciona magnetismo e hipnotismo com a linguagem da psicanálise quando diz: . Outros desdobramentos da psicanálise são atribuídos a Alfred Adler que destacou a importância do sentimento de inferioridade na motivação que nasce das três relações básicas que mantêm o indivíduo como o trabalho. Os últimos desdobramentos foram de Erich Fromm. além de ser possível considerar a técnica da livre associação das idéias como mais uma técnica hipnótica. Contudo lançou uma inovação importante no método psicanalítico ao entender que as leis do inconsciente são análogas às leis que estruturam a linguagem. rompeu com a IPA International Psychoanalytical Association. Para Lacan a verdade tem a estrutura de uma ficção. da metáfora como formas de encobrir o verdadeiro sentido a ser capturado. tornou-se posteriormente responsável pela sua ressurreição. cuja obra teve uma grande influência no desenvolvimento da psiquiatria e da psicologia das fantasias inconscientes. o conceito do inconsciente na proposição Freudiana tenta explicar tanto a psicanálise quanto o fenômeno hipnótico. mas não com Freud. os amigos e seu objeto amado. Na década de 50. Lacan buscara criar ou descobrir uma gramática para o inconsciente valendo-se das teorias de Platão. além de Melanie Klein. Mas. a hipnose e a hipno-análise que já encontravam opositores por ser considerada técnicas não acadêmicas. o fenômeno da hipnose se justifica e fundamenta com base nos conceitos da psicanálise. Karen Horney e Harry Stack Sullivan. Lacan foi o seguidor de Freud que mais contribuiu e deu continuidade à sua obra. passaram a viver um período de maior descrédito. Heidegger e. O hipnotismo em bases modernas é largamente ligado à psicanálise.110 Antonio Almeida Carreiro. Otto Rank introduziu uma nova teoria da neurose atribuindo todas as perturbações neuróticas ao trauma inicial do nascimento. Dr. Freud nunca abandonou o hipnotismo. Visto assim. dissimulou seu uso e contribuiu para sua evolução. Observa-se também que atualmente a psicanálise tem se reaproximado da hipnose e que as técnicas modernas da hipnose são conseqüências diretas das orientações dos conceitos de consciente e inconsciente. Na atualidade. A partir daí. Sc. Partido da leitura de Freud. embora Freud tenha substituído a hipno-análise pela psicanálise. deixe seus pensamentos fluírem livremente e diga tudo que lhe vier à cabeça”. proferida em homenagem ao aniversário dos 75 anos de Freud. muito freqüentemente. em que a análise não trás. longe de se esquivar do problema. Relata o que entendeu como hipnose em suas relações com os pacientes: No curso de qualquer associação livre. nem novas perspectivas nem progresso terapêuticos. Em 1931 em sua conferência. reafirmou nitidamente. que Freud admitia ser básica na aplicação do seu método psicanalítico. a despeito das severas críticas. Sandor Ferenczi. por vezes – comigo. Ferenczi assumiu ter sempre usado a hipnose no processo psicanalítico e. afirma que a livre associação é um processo que induz o paciente ao estado de hipnose. se quisermos. quando ele assume um ar. Freud não teria abandonado a hipnose em favor de outra técnica mais eficaz. deite-se. o . senão exclusivamente. criando uma técnica mais suave indução. por tanto efeitos hipnóticos: Nos casos aparentemente imersos em dificuldades. defende a aplicação da hipnose na psicanálise. era uma forma de produzir nos pacientes pensamentos. o convite para ir mais adiante e mais fundo conduz. em Viena. Ferenczi viu que. para ele. Por diversas vezes. entretanto. tenho a sensação de que isso a que chamamos associação livre ainda continua a ser uma seleção consciente de pensamentos. com suas colocações. interpreta que a sugestão indireta não deixava de ser hipnose ou que a sugestão direta. nas profundas reações inconscientes do hipnotizado (ZILBOORG). de auto-hipnose. havia chocado seus colegas e. discípulo de Freud. meus pacientes o chamam de bom grado de estado de transe (FERENCZI). a um abandono mais total às impressões. confessemos com franqueza – ao aparecimento de um êxtase mais profundo. mas elaborou uma forma para dissimular sua aplicação. alucinatório. tendências e emoções sem a censura consciente. Assim. “Em que medida o que faço com meus pacientes é sugestão ou é hipnose?” Diferenciado sugestão de hipnose na maneira Freudiana relembra as instruções do psicanalista quando recomenda “Agora. podemos denominá-lo. digamos. tendências e emoções internas que surgissem de maneira inteiramente espontâneas (FERENCZI). depois de muito tempo. cita o que entendia como sendo a presença da hipnose no processo psicanalítico. impeli os pacientes a um ‘relaxamento’ mais profundo. são inevitáveis alguns elementos de êxtase e de auto-esquecimento.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 111 Ninguém duvida atualmente de que a influência e os efeitos do magnetizador ou do hipnotizador se fundam essencialmente. Textos.61. 1980. 38.A Interpretação dos sonhos (1900a). principalmente eficiente com pacientes muito susceptíveis. 14-21-2.O Inconsciente. A psicoterapia da histeria (tradução de José Luiz Meurer e Christiano Monteiro). 18-287. Richard Webster. 19-23 . 19-23 Hipnose (1891d). 280. seu pensamento encontra atualmente alguns opositores.112 Antonio Almeida Carreiro. que não existe nenhum motivo para dissociar o tratamento psicanalítico de um processo de hipnose de longo prazo. autor de The Hidden Freud (Por que Freud errou). casos referidos ou citados: FREUD. Para Webster. Outros admitem que do eficiente uso da hipnose dependa o pleno êxito do tratamento psicanalítico. parece que a psicanálise moderna volta a se encontrar claramente com a hipnose.. A partir dele. o novo método. Prefácio à tradução de suggestion de Bernheim. Embora os conceitos formulados por Freud estejam presentes em quase todas as áreas do conhecimento. S. 23. (1915e). Alguns já admitem. pelo menos. S.Josepf Breuer (1925g) 19-349. Dr. 1998. Rio de Janeiro. Traz à tona fatos que parecem colocar em xeque o método psicanalítico. Imago Ltda. ao referir-se freqüentemente em suas publicações ter feito uso da hipnose para a elaboração de sua teoria. 25. provou incontestavelmente sua validade e autenticidade. 2:14 -15. 16-305. 20 -31-4. O ego e o Id. 1-117 Mecanismo psíquico dos histéricos (Breuer e Freud). 271. 18-287 . 1986. 7 . divã. originadas pelos sucessivos equívocos de Mesmer à Charcot. 264-265. Traduzidas por Jayme Salomão. No 54 FREUD. Hipnose. A proposta da análise obrigatoriamente não passava pela hipnose. 301. não comprometeria o psicanalista. o preconceito não é apenas sobre a hipnose também ocorre contra a psicanálise e contra o seu criador. Artigos sobre hipnotismo e sugestão. 14-191 . 319. Obras completas de Sigmund Freud. 49. 11-13 -18. 344. In: Textos escolhidos de psicanálise. Ed. eficaz com pacientes histéricos. Freud. 35-36. 44-47.Anna O. Fugindo das críticas contra o hipnotismo. Elizabeth Von R.. só por absoluto desconhecimento ou preconceito pode se duvidar da ocorrência dos transes hipnóticos e seus efeitos terapêuticos. na sua versão mostra um Freud descomprometido com a verdade e ansioso por ser famoso. Mas. Imago. 1/228n. Sc. Com base na leitura trabalhada 54 e pela atual visível mudança nos procedimentos terapêuticos de alguns psicanalistas. 1-109. Resenha de Hipnotismo de August FOREL.A teoria da libido (1923a). Rio de Janeiro. Prefácio à segunda edição alemã. 324n.4. . 63-91. 19 -241-2. bem como da sua importância para o êxito do tratamento psicanalítico. Imago. 249. 24. (1923b). Ed. 27. 238 262. 3-34 . Freud foi uma fraude e a psicanálise é uma grande mentira. artigos. (1923 e [1931]) . 269n. sexualidade infantil e complexo de Édipo. livre associação. psicólogos. a criação e o desenvolvimento dos métodos . sob o código CBO 090/9. Sartre. Ser psicanalista é uma exclusividade dos Freudianos. o roteiro foi traduzido para o português por Jorge Laclette e publicado pela editora Nova Fronteira S/A. sua formação é feita nas Sociedades Psicanalíticas instaladas em várias cidades do país que oferecem cursos. 8 horas de projeção. inventa a psicanálise. mais precisamente sobre a época em que ele. o cineasta o cineasta John Huston propõe ao filósofo francês Jean-Paul Sartre que escrevesse um roteiro cinematográfico sobre Freud. colégios. professores. no mínimo. através da hipnose. Psicanalista é função e não profissão. pedagogos. Se utilizado no seu todo. Em 1986. para pessoas com qualquer formação superior independentemente da área de conhecimento. como também. nem escola superior oficializada. Em 1958. Os lacanianos são Freudianos. Os junguianos e os adlerianos não o são. Os seguidores de Jung são analistas e não psicanalistas. advogados etc. Tanto o roteiro (1958) como o filme (1961) cumpre a função de mostrar a origem da psicanálise e seu envolvimento com a hipnose. O trabalho cobre o período da vida de Freud entre a graduação em Medicina até a defesa pública da teoria psicanalítica. clinicas e instituições que atuam na área de saúde mental e no tratamento da psiconeurose. mostra o início dos trabalhos de Freud e como se desenvolveu sua teoria e a rejeição da comunidade médica às suas idéias. não tem conselho federal. filósofos. nem sindicato. com duração média de dois anos. Psicanalista não é sinônimo de analista. todo psicanalista é Freudiano. o roteiro se transformaria em um filme de. repressão.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 113 entanto é preciso questionar quantos psicanalistas podem se tornar bons hipnotistas. sendo regulada pelo Aviso nº 257 de 1957 do Ministerio da Saúde e pode ser exercida em consultórios. Sartre se apóia na completíssima biografia sobre Freud escrita por Ernest Jones e nos livros Estudos sobre a histeria e A interpretação de sonhos. Atuar na função de psicanalista é livre no Brasil. Como introdução aos conceitos da psicanálise e seu envolvimento com a hipnose. rompeu com o cineasta. A função de psicanalista clínico é classificada na portaria 1334 de 21/12/1994 do Ministério do Trabalho. é recomendado conhecer um clássico do cinema americano Freud além da alma: Roteiro para um filme. por isso Huston aproveitou apenas vinte por cento. não aceitando os cortes. os keianianos também. Rio de Janeiro. Revela como ocorreu o início da descoberta dos conceitos de: transferência. na fase da autoanálise. estas lembranças lhe vêm à mente. no qual se via envolvido com os sintomas de seu paciente. diferencia-se do ciúme patológico. mas não reconhece este ódio. sentiu ciúmes de sua mãe e quando adulto. São experiências que. Este processo também ocorre com as meninas (complexo de Electra). Dr. Freud. é responsável pelas neuroses. ainda criança. Freud teve que se aprofundar cada vez mais no seu passado para admitir a existência de atividade sexual nos primeiros anos da sua própria infância. teria por ciúme tentado contra a vida do próprio pai.114 Antonio Almeida Carreiro. irá interferir na idade adulta. seu desenvolvimento irregular. reprimida pelo superego e pelas convenções sociais. Deixam marcas profundas na estruturação da personalidade. durante uma viagem de trem. São Paulo. FREUD: Uma vida para o nosso tempo. Freud denominou o complexo de Édipo como um conjunto de relações que vinculam a criança a seus pais. mas também de seu pai. tomando como ponto de partida o caso de um paciente que. ele reluta em aceitar que sentiu ciúmes não só de seu irmão. quando a viu nua (GAY). por exemplo. processo pelo qual a energia da libido. A arte por ser produto da sublimação. 55 55 (GAY. Companhia das Letras. Peter. e o pai é o rival que impede seu acesso ao objeto desejado. Associando o caso com a interpretação de um sonho que tivera. a grande maioria de pensamentos e desejos reprimidos refere-se a conflitos de ordem sexual. . se não resolvido até a puberdade. pois isto é errado. ocorrem na vida infantil (2 a 4 anos). de análise através da interpretação dos sonhos e da livre associação das idéias. é desviada para outros fins social e moralmente permitida. Recorda que sua libido em relação a sua mãe havia despertado com quatro anos de idade. A ansiedade também seria um sintoma resultado da repressão da libido e. por desejo inconsciente por sua própria mãe. o ciúme neurótico pode ser explicado por um conflito edipiano mal resolvido e. sendo invertidas as figuras de desejos e de identificação. um dos mecanismos de defesa é a sublimação. as meninas a mãe. em que a pessoa tem certeza de estar sendo traído. 1986). Isto gera um conflito que. reprimidas. Descreve como Freud desenvolveu a teoria da libido. mesmo que todas as evidências mostrem o contrário. Sc. Relações que constituem o núcleo central da personalidade e. Para a psicanálise. Os meninos odeiam o pai. A base da teoria é fundamentada na crença de que o filho sente ciúmes da mãe que é o objeto de desejo do menino. se confirmam como origem dos sintomas neuróticos na vida adulta. E diferente da psicose por ser uma forma externa de desorganização da personalidade. os tipos principais são: Neurose Histérica e Neurose Obsessiva. W. Uma análise do comportamento. raramente exige hospitalização. com esse argumento. fobias. dificilmente se comporta de modo perigoso para si ou para os outros.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 115 Segundo Lundin. Emoções. a hipnose passa a ser exclusivamente analisada em bases materiais. raramente deixa de estar voltado para seu ambiente. imprevisível. Sensibilidade. Sua vida dedicada à pesquisa acadêmica inicia uma fase nova para a hipnose quando a interpreta como um fenômeno neurofisiológico. Para a escola russa. 56 neuróticos são indivíduos que não são nem psicóticos nem psicopatas. de fisiologia. descontrolado emocionalmente. contesta também as 56 LUNDIN. neurótico não é termo pejorativo. Histérico é o neurótico de comportamento inconstante. embora possa demonstrar o contrário. Existem diferentes graus de neurose. posteriormente. Leningrado) e. São características das neuroses: perturbações cognitivas e emocionais menos severas. Em 1870. tem alguma compreensão da natureza do seu comportamento. a atividade psíquica nada mais é do que a atividade do cérebro e. Imaginação. baseada no critério da observação de dados que podem ser medidos e comprovados. com idéias e atos que se repetem em rituais. reação do obsessivo-compulsivo. a hipnose ganha novos conceitos. palavras como Transe. Hipnose e fisiologismo A partir dos estudos do russo Iwan Petrowitch Pavlov (18491936) nascido em Riaza. tem mania de perfeição e é obstinado. Pavlov ingressou como estudante na Universidade de Petrogrado (hoje. Sugestionabilidade. Assim. reação da conversão. fisiológicas e orgânicas. A explicação de Pavlov enquadra a hipnose na estrutura físicoorgânico-cerebral e representa a tentativa de uma visão puramente científica. prefere “estado alterado de consciência”. aos 41 anos. ganhou a cátedra de professor de farmacologia e. por isso. Neste caso. O tipo obsessivo é o neurótico com comportamento constante e previsível. às vezes até de hospitalização. continua mais ou menos em contato com a realidade. o psicótico não é moralmente responsável pelas suas ações e necessita de tratamento médico-psiquiátrico. Desejos e Sentimentos não são termos válidos e devem ser evitados. Lundin define reações neuróticas como sendo ansiedade. . R. Por exemplo. no lugar de “transe hipnótico”. Sugestão. 1992. 1976. entre 1841 a 1948. Por sua vez. Sobre isso escreveu no seu livro. como teria magnetizado uma série de animais. hipóteses que sustentam a teoria psicanalítica. fundamentado nos aforismos de Mesmer. seus adeptos defendem que é possível hipnotizar animais não racionais. são facilmente postos em catalepsia por meio de manobras físicas de excitação sensorial. pode agir sobre animais e vegetais. I. foram induzidos animais ao estado cataléptico. répteis. Sc. Dr. Bué. batráquios. segundo a escola russa. mas permitiu a possibilidade da hipnose ser admitida como um fenômeno científico. Lafontaine acredita que a ação do magnetismo. O embate entre a escola russa e as demais escolas gerou e continua gerando muita polêmica. P. a hipnose é. A hipnose baseada na sugestão verbal (escola de Nancy). teve por subsídio o famoso trabalho de Pavlov sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão. Zahar. entre outros animais. argumentando que os resultados práticos da cura dos sintomas neuróticos constituem uma prova suficiente da veracidade dos seus métodos. dois processos que. Reflexos condicionados e inibições. Bué diz ainda como esta ação também pode agir sobre vegetais. devemos também a doutrina da inibição da excitação e inibição cortical. A escola russa considera que esse processo não difere daquele produzido no mesmerismo. para Weissmann.116 Antonio Almeida Carreiro. baseado nos princípios da interpretação materialista da atividade nervosa. além do ser humano. associada ao Reflexo Condicionado e. que podem ser entendidos como estímulos para reflexos neurofisiológicos (escola russa) ou resultado de ações magnéticas através de toques físicos (escola mesmerista). defendem-se os freudianos. os estímulos que provocam uma ou outra dessas 57 PAVLOV. o quê muda é a explicação teórica. “curando-os quando estão doentes ou apressando-lhes o crescimento e a florescência”. A isso também se reporta Bué em seu livro O magnetismo curador. A hipnose. . explica a atividade nervosa superior dos animais e dos seres humanos. Seus seguidores consideram que os psicanalistas não têm prova suficientemente palpável do inconsciente humano para afirmá-lo como verdadeiro. simplesmente. pela ação magnética. volume II. por isso. A arte de magnetizar. Rio de Janeiro. relata como. só é admitida como possível em humanos e não depende de toques físicos. Mas. Outras escolas sustentam que “condicionamento” é bem diferente de “sugestionamento” e que irracionais são condicionáveis e não sugestionáveis. Aves. 57 Às suas experiências com cães. Vista por este ângulo. Seguidores da escola de Nancy. age apenas pelo seu instinto. os cães salivavam quando a campainha soava. para hipnotizá-la basta um fisiólogo reflexologista. portanto. diz que diferentemente do ser humano. A salivação era o reflexo condicionado que fora estabelecido. opositores da escola de Pavlov. o cão. embora não recebessem o alimento. Para induzir um cão bastam os expedientes fisiológicos e sensoriais. Weissmann. foco este que seria o . então. quando estava com fome. mas apenas com a preocupação de analisar por todos os ângulos através dos quais se tenta explicar o fenômeno hipnótico.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 117 duas atividades são relativamente fáceis de controlar em animais. Pavlov conduzia os famosos experimentos com cães e demonstrava como os reflexos condicionados se desenvolviam. aplicando-lhes os estímulos fisiológicos na dosagem necessária o cão dormirá. Tocava-se uma campainha sempre que o cão. não tem resistência maior aos intentos do hipnotista que o faz dormir. dos simples condicionamentos. era alimentado e. um sono parcial produzido pela irradiação progressiva de uma inibição a partir de um foco excitatório ativado no córtex. não há perigo de no momento assinalado passar-lhe pela cabeça algum propósito mais importante e mais excitante do que comer. devem ser visto mais detalhes do que diz a tese de Pavlov. não dispensa a colaboração do hipnotista para a sua complexa interpretação (WEISSMANN). A hipnose seria um fenômeno análogo ao sono. nada questiona. Em resumo. satisfeito em sua necessidade. com a constante repetição disso. antes de ser um fenômeno fisiológico cortical. Para levar um animal à hipnose não é necessário apelar para a lei da reversão dos efeitos dominantes que é baseada na atividade imaginativa. é baseado mais nas leis da imaginação do que no fisiologismo. tornando-se complicados no ser humano. a campainha estimulava o fluxo da saliva. contestam afirmando que o estado hipnótico é. O hipnotismo humano difere. um fenômeno extremamente racional. aliado com os autores contrários à tese da escola russa. Sem perigo de cair no excesso da interpretação fisiológica. sem a emoção que é privativa do ser humano. Isso diferencia bem o efeito hipnótico do condicionamento: Uma cadelinha pode ser condicionada para que ao som de uma campainha ingira alimentos em quantidade determinada. Quanto ao ser humano. Tinham aprendido a associar o som da campainha ao alimento e. E. mas acordam imediatamente a um leve choro do bebê. Pavlov 58 chamou a este fenômeno de indução recíproca e a este foco excitatório de ponto de vigil. cada órgão do corpo humano é controlado pelo córtex que estabelece o contato entre o meio externo e o interno. transmitindo-se então os comandos através do condicionamento. Também é comum que pessoas que não usam despertador e que necessitam de acordar a certa hora da madrugada. estímulo hipnótico. Isto ocorre por causa de estímulos que sentia antes da amputação. Pode-se agir. calor. sensações fisiológicas (frio. Para os pavlovianos. 603-608. entusiasmo. New York. 58 . Sc. mesmo com a perna amputada poderá sentir dores como se a tivesse. do meio exterior até o córtex. mesmo que se batam portas ou façam barulhos enquanto dormem.). etc. É uma PAVLOV. Explica o processo hipnótico a partir da tese de que o córtex é o órgão central de todas as reações orgânicas. zona de transferência ou ponto do rapport. Durante o sono fisiológico.118 Antonio Almeida Carreiro. Dr. tristeza. B. Diz ainda a escola russa que o condicionamento da camada cortical pode ser tão forte que um indivíduo. Weissmann citando J. são poucos os reflexos incondicionados. os condicionamentos podem permanecer ativos em nosso córtex. dor ou sua supressão) ou psíquicas (alegria. Estes seriam como “pontos de vigília”. Scientifc Monthly n° 17. através do estímulo da palavra. O córtex cerebral é a central diretora que pode ser utilizada pela hipnose a fim de comandar movimentos musculares. Essas impressões têm o nome de reflexos condicionados que são inatos a cada espécie animal. Burza apresenta exemplo fatos: Mães com os filhos pequenos que costumam dormir profundamente. A função terapêutica da hipnose seria possível através do descondicionamento dos reflexos nocivos e o condicionamento de outros para proporcionar benefícios ao indivíduo. P. 1923. I. em comparação com os condicionados. estabelecidos de acordo com certos fins e a disposição para atender às necessidades de cada um. Estes são indispensáveis aos problemas de adaptação e sobrevivência da espécie. através de excitações emanadas de cada órgão. The Identity of inhibition with sleep and hypnosis. equilibrando o sistema nervoso central e o neurovegetativo. Para fundamentar essa teoria. Assim. Uma sugestão hipnótica pode removê-los com relativa facilidade. o consigam mesmo que estejam cansadas. ele superintende as funções viscerais. pela hipnose. de modo indireto. parto sem dor e a NLneurolingüística que aparece como mais uma explicação para a hipnose e aplicada como princípio terapêutico na medicina psicossomática russa. diz: “Então o hipnotizador faz o hipnotizado retornar na memória até o tempo ou acontecimento no qual o reflexo foi estabelecido removendo-o”. Diz ainda Burza que o estado de hipnose significa uma inibição irradiada. Edimax. nos Estados Unidos. produzido na Rússia e impresso na Inglaterra. dos gestos e da forma de comunicação mais adequada para produzir a sugestão. Pode-se dizer que toda a teoria cortical. Ambos publicam A Estrutura da Magia onde mostra que a hipnose obedece a uma estrutura de linguagem. o reflexo é uma condição instalada no indivíduo e a hipnose é o processo que pode ser utilizado para sua remoção. somando as idéias de Pavlov com aplicações da hipnose na medicina. C. 1963.Programação Neurolingüística. Da mesma maneira a palavra (a voz) do hipnotizador penetra no cérebro do hipnotizado através desse ponto de vigília. Platinov afirma que muitos outros psiquiatras de seu país recorrem à hipnose “para fazer emergir os reflexos condicionados e seus estímulos”. Fundamenta-se no uso das palavras. sugiram deste famoso congresso. Assim. Ed. por Richard Bandler e Jonn Grinder. que é como se fosse uma luz acesa e cercada de sombras dormentes (WEISSMANN. . apud BURZA). Quem também aponta diferenças entre hipnose e reflexo condicionado é o psiquiatra russo Platinov. publicado com o nome de o metamodelo de linguagem. Rio de Janeiro. a NL foi transformada. Disso também deriva termos novos como sonoterapia. 59 No livro The word. que alguns autores se referem quando tratam da hipnose médica. ele diferencia uma coisa da outra. em PNL. Faça seu teste psicológico. havendo sempre pontos de vigília e excitação concentrada. quando grandes contribuições ocorreram. Criam o primeiro modelo PNL. através do qual o hipnotizável escuta o que falamos e obedece às nossas sugestões. porém não total.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 119 espécie de auto-sugestão hipnótica que o indivíduo dá a si próprio quando ainda acordado e que é capaz de nos despertar na hora certa. 59 PLATINOV. Nos anos 70. por um sistema de cálculo de tempo cerebral. em seguida estudando com Erickson escreveram Os Padrões de Linguagem Hipnótica de Milton Erickson. Nesse sentido. Em 1950 foi realizado em Moscou o I Congresso Pavloviano. cujo mecanismo a ciência ainda não consegue explicar. El alma lo es todo. irrite. orgânicos. do A. a pressão arterial. A justificativa neurofisiológica para explicar a hipnose parece sofismática. era considerada nesse meio como uma heresia científica. amedronte ou o faça muito feliz. Funciona como um mecanismo de sobrevivência e adaptação. excesso de cobrança e frustração. por 60 61 VOLGYESI. crenças religiosas. para seus seguidores. ressaltando o papel do córtex frontal. Na medida em que o cérebro interpreta estes fatores como ameaças à saúde. Sc. Volgyesi não aceita a hipótese de Pavlov que afirma ser a irradiação cortical a única explicação para o fenômeno hipnótico e propôs que o fenômeno seria devido a uma redução temporária e reversível do fluxo sangüíneo em determinadas áreas do cérebro. Essa teoria não recebeu muita repercussão devido à ascendência de outras idéias sobre o assunto. Dr. os batimentos cardíacos. A teoria da irradiação cortical para explicar o hipnotismo continuou forte até a década de 60. como decorrente de processos emotivos. o corpo fica em estado de alerta geral. sinais vitais mensuráveis. transe hipnótico e outros fatores podem afetar. que evidenciava a participação de estruturas subcorticais no fenômeno. sempre foi e é contestada até os dias atuais. F. Por essa época.). No entanto. não obstante as grandes contribuições de Pavlov no campo neurofisiológico. A concepção pavlovianada para a hipnose estabeleceu afinidades com muitos fatores ordinários da fisiologia e. O entendimento do processo do estresse 61 vem dessa mudança o entendimento atual que o estresse e os efeitos psicossomáticos passam a significar conteúdos de estudo acadêmicos regular. 1983.120 Antonio Almeida Carreiro. ansiedade exagerada ou ambiente excessivamente barulhento. até de forma inexplicável. não é mais uma heresia médica dizer que relaxamento. afastou dela inteiramente o céu de mistérios que a envolvia. A escola russa permitiu a aceitação de fatos físicos. . etc. O esforço da escola russa para caracterizar a hipnose como inserida nos padrões e na linguagem científica teve como resultado a aceitação do fenômeno por parte da classe médica que. por isso. antes disso. "Estresse" é a denominação dada a um conjunto de reações orgânicas e psíquicas que o organismo emite quando é exposto a qualquer estímulo que o excite. parte de afirmações verdadeiramente comprovadas. essa explicação não é contundente e. Isso é “estresse” (N. a cada dia é mais aceita a interação entre mente e corpo. como o funcionamento de órgãos do corpo humano. mentira ou simulação. Barcelona. No cotidiano as pessoas se defrontam com vários fatores estressantes com briga com o par afetivo. Volgyesi 60 já havia proposto outra teoria neurofisiológica para a hipnose. estimulando o organismo diante de uma experiência ou ambientes novos que causam pressões psicológicas. até que o fato passe ou o sujeito se adapte a nova situação. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 121 ser mensurável. . teta e delta. na tentativa de justificar a hipótese de que a hipnose é um resultado meramente físico-orgânico-cerebral. o cérebro adota o mesmo padrão de freqüência emitido por ele e correspondentes aos variados níveis de transe que se quer produzir no hipnotizado.ciclos por segundo . a maior parte delas derivadas da psicanálise ou do refino no uso da hipnose. os que lidam com o tratamento dos distúrbios da mente. De um lado. ao longo do século XX. estavam divididos em dois grupos. que podem ser medidas por instrumento próprio. permitiu que o tratamento das doenças psicossomáticas caminhasse por duas perspectivas. que a freqüência cerebral medida em c/s . a tese pavloviana sobre hipnotismo é tão duvidosa quanto a tese mesmerista. em estado de relaxamento. Embora faça uso de termos da linguagem acadêmica. sabe-se hoje. a psicofarmacologia trabalhando no aperfeiçoamento de remédios. acompanhado de um par de fones que difundem pulsos sonoros rítmicos ou sugestões especificas. para inferir conclusões pouco prováveis. Pessoas stressadas possuem freqüência de 21 ou mais c/s. Essa prática é questionada. os terapeutas investiam na criação de terapias cada vez mais eficazes. associada ao conceito de auto-ajuda ou de filosofias que resultassem em soluções dos problemas existenciais humanos. os seguidores da escola russa associam os diferentes níveis de transe com ondas cerebrais do tipo alfa. do ponto de vista das provas científicas. concentrando a pesquisa para explicar o cérebro. Os óculos e os fones são conectados a um pequeno circuito eletrônico. ondas Deltas (1 a 3 c/s). Para demonstrar a relação do transe hipnótico e o estado fisiológico do cérebro utilizam um instrumento. Modernamente. não mensuráveis. que são produzidas pela atividade eletroquímica do cérebro e. Do outro lado. em estado de vigília aparecem ondas Betas (13 a 20 c/s). que alterna a freqüência dos ritmos luminosos de acordo com o som ou com a sugestão desejada. Acreditam que quando usam esse instrumento. Uma representada pela medicina convencional. De fato. composto de óculos estroboscópico com pequenas lâmpadas na parte interna e que piscam rente aos olhos. ondas Alfas (9 a 12). ondas Tetas (4 a 8 c/s) e em hipnose profunda. gama. beta. é a freqüência luminosa que induz o transe ou trata-se de mera sugestão indireta? Depois de Freud e Pavlov. A herança deixada por Freud e Pavlov. o “sintetizador de ondas cerebrais”. durante o transe leve.é associada aos estados emocionais. Os dois grupos se olhavam reciprocamente com desconfiança e extrema rivalidade. analisou o encéfalo de pacientes com fobia. 63 Revista VEJA. O predomínio de um ou outro recurso de cura varia de caso para caso. Neurologistas esquadrejaram o cérebro usando as mais modernas técnicas de ressonância magnética. ano 37. O resultado é que hoje se conta com um conhecimento incrivelmente maior para tratar os problemas da mente. O resultado de seus estudos mostrou que a terapia altera o funcionamento cerebral tanto quanto a química dos medicamentos. p. Por mais que a farmacologia tenha se beneficiado de novas descobertas. 307. Esse tipo de imagens a partir de dados eletrônicos é chamado tomografia. o equilíbrio do conceito de alma e de cérebro parece próximo no início do século XXI. A ciência encontrou muitas respostas. a criação de medicamentos que curem definitivamente todos os sofrimentos da mente. o sueco Tomas Frmark trabalhou uma pesquisa. Sc. incluindo principalmente a questão da somatização. concentrando estudos para explicar a alma humana. PET . embora o aumento seja pequeno.122 Antonio Almeida Carreiro. John Wilei & Sons.The Sciences: Na Integratwd Approach. é no mínimo um horizonte muito distante. Dr. O equilíbrio do cérebro e da Alma. ele é mensurável por imagens eletrônicas. 63 62 Positron-Emisson Tomography . o alemão Klaus Grawe. York. geneticistas mapearam a transmissão dos transtornos mentais por meio do DNA e biólogos detalharam a química dos neurônios. É uma ferramenta importante para explorar o funcionamento do cérebro. p. Imaginem as possibilidades de alterações quando o paciente passa por terapias envolvendo a hipnose. pesquisador da Universidade de Berna. São Paulo. cientistas de varias especialidades estudaram a mente humana numa intensidade inédita. 48. dez/2004. e. o fluxo de sangue para a região aumenta. 1995. Na década de 1990. 62 Comentando esse estudo. Editora Abril. N. Utilizado a técnica de obtenção de imagens do cérebro através da tomografia por emissão de pósitrons (PET). Outra representada pelas psicoterapias. Quando os neurônios disparam. 116 – 122. n.Positron-Emisson Tomography (Tomografia por Emissão de Pósitrons). finalmente os estudiosos concordam que as melhores terapêuticas são aquelas que combinam remédios e psicoterapias. período conhecido nos meios médicos como “a década do cérebro”. . Um grupo havia se tratado unicamente com terapias psicológicas. Mas. e outro grupo havia recorrido a remédios convencionais. mas surgiu também um grande número de novas questões. destacou o fato de que experiências de vida alteram o cérebro tanto quanto remédios. tipo grupo controle. baseado na teoria do consciente e inconsciente. nem a religião nem a medicina reconhecerem sua eficácia e até negarem sua prática. é considerado o pai da Auto-Hipnose e seu nome está associado às pesquisas sobre o "Efeito Placebo". logo ao deitar. de que pode resistir a doenças e curar-se. e todas as noites. A originalidade do método consistia em apelar para a auto-sugestão. ao acordar. vence invariavelmente a idéia“. com esse nome criou escola e estabeleceu a lei da reversão dos efeitos ou do efeito contrário que. A partir de seus estudos. onde o tratamento de seus pacientes era exclusivamente gratuito e por auto-sugestão. era farmacêutico e começou a estudar hipnotismo com Bernheim e Liébaut. para ser repetida todas as manhãs. com os olhos fechados. eu estou melhorando cada vez mais”. Esta frase. finalmente a hipnose sai do domínio das aplicações médicas. de todas as formas. na França. cada pessoa pode auto-sugestionar. desenvolveu um método de terapia. faz parte do célebre método que ele chamou de “domínio de si mesmo pela auto-sugestão . Coué estabeleceu certo número de regras e exercícios. Uma vez automatizados. eles continuam a agir. A partir daí. na verdade. exercida de forma clara e sistemática.. Efetuou muitos estudos sobre comportamento pela sugestão e. Todas as sugestões efetivas devem ser ou são transformar em auto-sugestões (COUÉ) Coué preferiu chamar auto-hipnose de auto-sugestão. é a sugestão que é aceita pela mente do paciente. Sistematizando a hipnose como processo de auto-ajuda formulou vários princípios e leis que fundamentam sua aplicação. Coué abriu e dirigiu uma clínica em Nancy. em síntese. a fim de ouvir as próprias palavras. e sem fixar a atenção ao que se diz.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 123 Auto-Sugestão Émile COUÉ (1857 – 1926) nasceu em Troyes. Até então a hipnose era praticada por religiosos ou médicos sem. contudo. com os quais organizou um sistema que permite a qualquer um persuadir-se de que está passando bem. terapêuticas ou religiosas e finalmente é revelada como ferramenta de auto-ajuda para solução de vários problemas humanos. Coué propunha obter a transformação de certos atos conscientes em inconscientes pela repetição.. Dizia que uma vez que no fundo toda sugestão não passa de autosugestão. Também desenvolveu frases que orientam a auto-sugestão como: “Todos os dias. não é a sugestão que o hipnotizador faz que realiza qualquer coisa. diz: “Num impacto entre a vontade e a idéia. sendo o efeito mais forte do que quando induzida por um hipnotizador: . Semelhante a este princípio é o efeito de usar a palavra “tentar” com relação a alguma coisa. que quase sempre eram bem sucedidas. na vida de quem a exercite. consciente”. Porém. Como a frase abrange tudo que é preciso melhorar. que evitava deliberadamente explicar ao inconsciente como alcançar um propósito. depois decidiu ser mais eficaz através da utilização da sugestão não específica. É válido o conceito segundo o qual a hipnose corresponde a esse breve momento. No novo processo. mas mecânica possível e sem o menor esforço. a mera repetição da frase. primeiro pela técnica da repetição e segundo porque a mesma frase deve ser muito repetida. quando as sugestões são admitidas sem a crítica do consciente e. Para ele. A relação da técnica e do método de Coué com a hipnose é clara. Sc. é o momento em que a mente inconsciente está mais aflorada e mais propensa a aceitar sugestões. A tese de Coué demonstra. quanto mais se esforça. o antagonismo existente entre a “força imaginativa e a força de vontade”. Coué afirmou que. é desnecessário fazer qualquer auto-sugestão para casos específicos. com precisão. Dr. transformadas em sugestão hipnótica. Uma dessas frases seria alojada no inconsciente no exato momento situado entre o estado de vigília e o sono. é suficiente para causar mudanças para melhor. portanto.124 Antonio Almeida Carreiro. a sugestão específica era prévia e o maior objetivo era o aprofundamento do nível do convencimento para que a idéia pudesse ser vitoriosa. as forças curativas estão no âmago de cada indivíduo. Este é um método não só curativo como também preventivo. Explicando sua lei da inversão dos efeitos. A fórmula deve ser repetida no tom em que se rezam as ladainhas. Esta força que ele chamou de “o nosso segundo eu” pertence ao indivíduo e encontra-se escondida no inconsciente de cada um. só resta fazer uso dela para promover a própria cura e bem-estar. Suas idéias e frases estão invariavelmente escritas nos livros de auto-ajuda. Dizer “tentarei” implica duvidar. se a pessoa pensar “eu devia gostar de fazer isto. Esta autosugestão deve ser feita da maneira mais simples. assim consegue-se introduzi-la mecanicamente no inconsciente. mas não consigo” (um pensamento negativo). de maneira sistemática. ao acordar e antes de adormecer. Nos primeiros trabalhos Coué sugeria verbalizações definidas e minuciosas. menos conseguirá. Neste caso não se trata de uma sugestão tão consciente como insinua ser. Segundo Coué. . Depois que se toma conhecimento dessa força. é mais uma forma simples e bem prática de auto-hipnose. neste caso. é provável que a pessoa despencasse lá de cima ou nem se aventurasse a atravessá-la porque o medo e a dúvida se insinuariam e a lei da inversão do efeito tomaria conta da sua mente. caminharia sobre ela até de olhos fechados. Mudemos porem. sem dúvida. Se a tábua estiver no alto. cria a impossibilidade absoluta de realizar os passos mesmo que tenha vontade. apesar de todos os esforços de vontade. que também explica o modo como a lei da inversão dos efeitos atua. Quem terá. então. e começa a pensar em outra coisa. e. Se a tábua for estendida entre dois edifícios de dez andares. totalmente esgotado.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 125 isto é como se a pessoa ficasse na tentativa do fracasso. E. E. É assim que Coué expressa esse pensamento: Suponhamos que há no solo uma tábua de dez metros de comprimento por vinte e cinco centímetros de largura. Deve ser dito vamos fazer. cita como mais um exemplo desta lei: Uma pessoa que está aprendendo a andar de bicicleta ainda não se equilibra direito. sem pôr o pé fora dela. vê uma árvore à sua frente e imediatamente ela tem a certeza de que se chocará com a . apenas necessário um pouco mais de cautela. Antes de darem dois passos. Como exemplo da lei da inversão do efeito. começarão a tremer. Se a colocasse entre duas cadeiras. seria. é ver mentalmente. descreve Coué que se alguém colocasse no chão uma tábua com dez metros de comprimento por vinte e cinco centímetros de largura. assim. A tentativa de realizar algo deve ser encarada de forma positiva. e. imaginar é visualizar. é o caso do indivíduo com problema de insônia quando se deita com o pensamento de que não conseguirá dormir (uma sugestão negativa): Uma pessoa supondo que não conseguirá dormir tenta e quanto mais se esforça para adormecer. não somente tentar. Imagina que vai cair. as condições da experiência e façamos de conta que está colocada à altura das torres de uma catedral. as pessoas realizam aquilo que imaginam. Quando pára de tentar algum tempo depois. Estando a tábua no chão imagina que é fácil ir de uma ponta a outra e consegue sem medo. Em outras palavras. Outro exemplo comum lembrado por Coué. a pessoa vai cair porque imagina que não pode. pega no sono em questão de minutos (COUÉ). Está claro que todo mundo é capaz de ir de uma ponta a outra dessa tábua. a um metro do chão. ainda assim não teria dificuldades em andar de uma ponta a outra. coragem de avançar um metro apenas? São os senhores que me lêem? Não. fatalmente cairão ao solo (COUÉ). mais acordado fica. sentem essa dor de cabeça. Rio de Janeiro. Coué recomenda que: Isole-se uma pessoa em um quarto. tal coisa vai acontecer’. de fato. mas vai fatalmente ao seu encontro (COUÉ). Essas pessoas mesmas causam seu mal. 2ª Edição. Assim. que se sintetiza como “uma idéia sempre tende a se concretizar e a emoção mais forte neutraliza a mais fraca”. se obtém exatamente o contrário. é bastante pensar que sofre para imediatamente iniciar o sofrimento. a imaginação sempre vence” Isto significa. Tão grande é a sua ação sobre o nosso organismo que ele pode não somente reparar o mal que nos fez como também curar doenças reais. Recomenda Coué que só se pode pensar em uma coisa de cada vez. Ed. predizendo em que circunstâncias. e. Coué fez ainda a observação: “Quando a imaginação e a vontade estão em conflito. mas não se sobrepor”. Auto-hipnose. Outra contribuição de Coué foi o que denominou de lei do esforço dominante. Record. se o nosso inconsciente é a fonte de muitos dos nossos males. Portanto.. isto é. para Leslie M. mas isso não sucederá”.. ele diz que basta uma pessoa pensar que uma dor vai passar. se conseguirmos fazer crer a um doente que vai acabar o seu sofrimento. se a gente pensa: “quero que tal coisa aconteça”. Recomenda ainda que a vontade não deva intervir na prática da auto-sugestão. para sentir realmente a dor desaparecer pouco a pouco. nas circunstâncias anunciadas. . além de não conseguir o que se quer. diz: Conheço certas pessoas que prognosticam que. LeCron. no dia assinalado. inversamente. árvore. 1979.. Exemplificando. sente-se numa poltrona. 64 que “o inconsciente sempre derrotará o consciente na disputa”. se o seu inconsciente aceitou a sua idéia. 64 LeCRON Leslie M.. se ela não está de acordo com a imaginação. porque. em determinado dia. desesperadamente procura evitá-la. feche os olhos para evitar distração e pense unicamente durante alguns instantes que ‘tal coisa está para desaparecer. Neste caso. Se for realmente feita a autosugestão. assim como outras se curam pela auto-sugestão (COUÉ). Dr. Diz ainda que. vão sentir dor de cabeça. com grande admiração verá realizar-se aquilo em que havia pensado (COUÉ). também pode trazer a cura das nossas doenças morais e físicas. isto é. este de fato desaparecerá e. para que isso possa ser provado. e. “duas idéias podem se justapor. e a imaginação diz: “tu queres.126 Antonio Almeida Carreiro. Sc. Além disso.Que digo e que faço . os conceitos e técnicas de Coué possibilitam uma maior aproximação deles com o mundo dos estudantes. é traduzido para o português 65 e logo encontra no Brasil uma legião de seguidores. além de vários outros conhecimentos acumulados pela educação e pela psicopedagia. Em Genebra. . é a forma mais eficaz de evitar a lei do efeito contrário. favorecendo o 65 COUÉ. técnicas didáticas. é importante imaginar e ver-se vencedor. metodologia. mas quando Coué fez uma série de conferências nos Estados Unidos. em 1920. suas idéias representam a base dos livros de auto-ajuda. em 1956. não é a vontade e sim a imaginação que nos faz agir. Auto-sugestão consciente . facilitando o estabelecimento de uma comunicação eficaz dentro do espaço da escola. O professor deve. a hipnose passa a ser um recurso instrumental com possibilidades de uso nas mais variadas áreas do conhecimento. Para os professores que buscam qualidade no ensino. mas pode complementar seu saber com um trabalho sistemático e consistente na aplicação de técnicas sugestivas que encantem o aluno no desejo de aprender. A auto-sugestão ganha o mundo.O domínio de se mesmo. No entanto o futuro lhe reservou a recompensa. mas sim imaginar. jornalistas céticos ridicularizaram suas idéias. revelando profunda admiração e respeito por seu método e ensinamentos. principalmente no ensino formal. Não é importante querer. Minerva. Não é importante querer ser vencedor. os europeus aplicaram sua teoria e a consideram de grande valor. Charles Baudouin publica o livro Sugestão e Auto-sugestão e dedica esta obra ao seu mestre Coué. hoje ele é citado por centenas de autores americanos e milhares no mundo. Hipnose e psicopedagogia Com base na teoria de Émile Coué. E. fundamentos de organização escolar. Rio de Janeiro. Não basta apenas o recurso da hipnose no processo de ensinar e aprender.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 127 O importante é a imaginação e não a vontade. a facilitação de compreender a si mesmo para poder lidar eficientemente com as dificuldades identificadas no ambiente escolar. ser competente e dominar conteúdos. O livro de Coué. deverá permitir nele próprio. inclusive como possível solução de problemas relativos a processos de ensino e aprendizagem. Visualizar a cena futura como se ela estivesse acontecendo. É “vendo” que as coisas acontecem como de fato se quer. 1956. antes de tudo. Pode ser uma ferramenta bastante útil na motivação dos alunos pelo professor e também para motivação do professor por ele mesmo. professor e aluno. promove a qualidade do relacionamento entre os próprios alunos. táteis e outras é extremamente ativado no aluno. descobrir e se apropriar do saber. Usando processos hipnóticos. com essa ferramenta o professor pode aprimorar a comunicação com seus alunos. envolvendo confiança. que é atributo da racionalidade. as dificuldades de memória e de concentração. Com isso. com base na pedagogia da autonomia. pesquisar e descobrir suas próprias respostas. o aluno coloca sua emoção a serviço do sucesso. com isso sente maior confiança em si próprio. articulando a teoria e práticas vivenciadas nas disciplinas. estes atores passam das operações de instrução e aprendizagem para a motivação e desejo no desempenho de seus papéis. ajudando o aluno a desenvolver a capacidade de dar respostas adequadas e originais às situações problemas que lhes são apresentados. Até mesmo com o simples exercício diário de relaxamento. processo da construção do conhecimento. respeito. fluem . ou pelo menos diminuindo. através da investigação científica orientada. assim como terá maior facilidade na compreensão das questões e na memorização dos conceitos e fórmulas. São esses fatores que aumentam as possibilidades de cada um. permitindo a aplicação dos conhecimentos e habilidades adquiridos para análise de situações. seriedade e abertura para a comunicação entre ambos.128 Antonio Almeida Carreiro. As respostas desprovidas da autocensura. Sc. adquire mais coragem para enfrentar os problemas e fica motivado para estudar. auditivas. produzindo informações precisas que permita o estabelecimento de relações de confiança e. Após as práticas com a hipnose. isto é. vencendo o medo de que não pode aprender. o professor afetivamente inter-relacionado com os alunos. um conjunto de sensações visuais. Com a hipnose fica estabelecido o rapport. propiciar o aumento da qualidade de suas aulas. o relacionamento entre o professor e o aluno. aprenda. ocorre a elevação da auto-estima e. Neste sentido pode também aumentar a eficiência do docente em seu papel. desse modo. Dr. algumas barreiras para a aprendizagem podem ser derrubadas. Também através deste exercício. A hipnose ajuda o professor a seduzir o aluno para que ele deseje aprender e. A hipnose coloca no mesmo patamar de importância a inteligência e os sentimentos. Como efeito paralelo o estudante pode concentrar-se mais nas lições para absorvê-las melhor. desejando. com espontaneidade e criatividade intuitiva que é proveniente de sua emoção. incentivando o trabalho em grupo para conquistar a auto-educação. elaboração de soluções ou mesmo criação de novas situações-problemas. eliminando. Diante do enfrentamento das situações problema. se volitiva intelectual ou emotiva. A hipnose favorece. portanto. Isto se deve ao fato de que a hipnose é pela sua própria natureza concentração. um princípio importante dentro de qualquer contexto educativo é a relação conhecimento-emoção. desenvolvendo assim habilidades e competências. intelectual e emotivo. A intuição é. a afetividade.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 129 com emoção. porque são recuperados vínculos humanos como o prazer. fruto da interação da emoção com a inteligência e a vontade. o saber e. assim. ou atenção concentrada. é toda a personalidade que se debruça sobre algo que a intriga. desenvolve a confiança em sua própria intuição. que são volitivos. Proporciona ainda o desenvolvimento da concentração ou atenção concentrada e. Neste processo há maior apreensão e expressão do conhecimento. tranqüilizando o aluno. principalmente. além de reforçar o desejo pelo estudo. Para Dilthey a intuição é de natureza volitiva: Para Husserl é de natureza intelectual e para Bergson de natureza emotiva. Tranqüilo. Embora na maioria das práticas didáticas seja aplicado o exercício da razão. poderá obter um melhor aproveitamento da informação que lhe é apresentada. A controvérsia é saber qual é a essência da intuição. tanto a auto-hipnose como a hetero-hipnose têm revelado efeitos surpreendentes em alunos com dificuldade na apropriação e assimilação de conhecimentos. São muitas as experiências que provam essas hipóteses. elemento indispensável na aprendizagem. Intuição é espécie de visão direta sem auxílio de raciocínio explícito para apreensão e compreensão de um conhecimento. quando tem de se ajustar e ficar preso ao rigor formal e metodológico do ensino. É a emoção que abre as portas do conhecimento quando motiva o aluno que não tem interesse em aprender. aulas ministradas a alunos que praticam hipnose prometem um rendimento didático muito maior e a capacidade retentiva de conhecimentos aumenta consideravelmente com esta prática. mais solto. a auto-estima. se justifica a receptividade do indivíduo em relação às sugestões . contará com mais liberdade para expressar o que revela sua intuição e o seu conhecimento acumulado. Neste campo. As experiências demonstram que a hipnose influencia aumentando a capacidade da memória. que formam a essência e a base da estrutura da personalidade de cada ser humano. A intuição pode ser fruto de todos os atributos da vida interior do indivíduo. sua prática tem provado que é fácil recuperar fatos da mais remota infância. concernentes à melhoria da atenção e da memória e. estimulará a sua capacidade de "sonhar" e sua criatividade. O mais comum é a associação do estresse com o desinteresse. isoladamente ou conjugadas: • Estresse provocado principalmente pelo medo. por conseqüência. pela ansiedade ou pelo excesso de cobrança. estimulados pela auto-estima baixa. à melhoria do aprendizado. o ritmo respiratório. "concentrar-se no estudo" não significa despejar toda ansiedade e toda vontade no ato de aprender. Conseguir lembrar-se de uma grande quantidade de conhecimentos. • auto-estima baixa que pode ter sido provocada pelo excesso de críticas ao seu desempenho escolar ou profissional. A concentração ótima para a aprendizagem não é aquela em que a pessoa estimula o seu "estado de alerta" que faz aumentar os batimentos cardíacos. fortalecerá sua confiança e os problemas de memória desaparecerão facilitando a aprendizagem. a auto-hipnose ou hetero-hipnose pode ser um recurso didático a mais. Para resolver o problema de memória é preciso tão-somente ter sua auto-estima levantada. processar e divulgar qualquer tipo de informação pode melhorar incrivelmente quando a autoestima é conquistada. Isto aumentará seu poder de concentração. A concentração ótima é a concentração passiva. organizadas. • desinteresse pelo assunto em questão que pode também ser provocado pelo antagonismo ou aversão ao professor. Para melhorar os resultados da aprendizagem. essa "falha" normalmente acontece porque as pessoas são habituadas a fazer anotações lineares. Neste caso a pessoa estressa com facilidade e se torna ansiosa. E. podendo melhorar bastante a capacidade de memorização. mas sim "divertir-se com o estudo".130 Antonio Almeida Carreiro. Como normalmente se imagina. item por item. Não faz sentido estudar alguma coisa e não conseguir lembrarse depois. quando a pessoa não está "preocupada em aprender". a tensão muscular. Dr. aperfeiçoando radicalmente a habilidade de concentração e percepção. Quando se assiste um filme sobre História. A capacidade de ler. Desde que não haja uma história de doença grave que sempre é diagnosticada antes mesmo da memória fraquejar. depende do estado emocional do aprendiz. Sc. se aprende muito mais sobre o fato do que quando se debruça sobre um livro de forma ansiosa e se tenta decorar tudo. medrosa e ás vezes até agressiva. . principalmente no estudo de matérias discursivas. acumular. a dificuldade de memorização pode ser relacionada a três causas. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 131 Também com a ajuda da hipnose. o aluno remove sentimentos de rejeição a determinada disciplina. no Child Center. o segundo grupo alcançou aquela porcentagem depois de vinte e duas aulas. selecionando e explorando as condições mais favoráveis para alcançar os objetivos do ensino e. eles se visualizariam lendo fluentemente. Formulou-se. Uma experiência descrita por Peter Mutke. MUTKE. então. Record. Autodomínio através da auto-hipnose. demonstra como a hipnose pode ajudar no desenvolvimento da aprendizagem. com o aluno mais participativo e motivado. no Monterey Peninsula College. A velocidade. Enquanto o primeiro grupo obteve um aproveitamento de setenta e oito por cento na interpretação de leituras complexas em apenas cinco aulas. criando a condição propícia para absorver novas informações competências e habilidades. Uma vez hipnotizados. O método Dan-Ro é utilizado para habilitar alunos que apresentam determinadas dificuldades de leitura e interpretação de textos. estas crianças foram testadas e o seu desempenho foi comparado a outro grupo formado por crianças que também apresentavam dificuldades de leitura. Dois meses mais tarde. a sugestão pós-hipnótica e que eles se transformariam em pessoas que leriam bem e sentiriam prazer na leitura. o professor vai descobrindo. contra apenas quatro meses para as crianças que não haviam sido hipnotizadas. ROGER. EUA. os sentimentos otimistas que tinham em relação a si mesmas aumentaram dez vezes mais em relação à auto-estima do grupo que não praticou a hipnose. Em seguida. com um grupo de alunos com idades de 8 a 12 anos. Bernhardt Roger 67 descreve outra experiência realizada na Califórnia. ou seja. The American Journal of Clinical hypnosis. abril de 1967. ensinou-se o método Dan-Ro de leitura corretiva a um grupo de estudantes hipnotizados e a outro grupo de estudantes não hipnotizados. em Kentfield. sem esforços. Além disso. Bernhardt. a precisão e a compreensão aumentaram no nível de conteúdo equivalente a mais de um ano e oito meses para as crianças submetidas à hipnose. Rio de Janeiro. Peter. Califórnia. 66 realizada na Califórnia. Durante a experiência. a auto-estima das crianças submetidas à auto-hipnose. aplicar os conteúdos selecionados no seu planejamento. 67 66 . Neste novo cenário. com prazer. os alunos recebiam instruções para que visualizassem a si mesmos lavando o próprio cérebro com uma mangueira para retirar todas as idéias velhas que interferissem com o processo de aprendizagem. 1976. Pela primeira vez essa faceta inteligente do inconsciente foi comprovada de forma laboratorial. este se dê conta. Foi pedido aos participantes que acionassem um botão quando o número projetado fosse menor que cinco e. faz seus próprios julgamentos e dá palpites nas decisões conscientes. p. acionavam outro botão quando o número projetado fosse maior. 68 pediram que um grupo de doze voluntários olhasse para a tela de um computador enquanto eram projetados números tão rapidamente que os olhos não conseguiam captar. é uma espécie de programa operacional capaz de SUPER Interessante.65. pode ser analisado o fato de que no inconsciente é que se realizam praticamente todas as atividades mecânicas. É hábil em executar tarefas sem que o consciente perceba e. os voluntários não respondiam. alguns cientistas franceses em recente experiência feita no Instituto Nacional de Saúde e da Pesquisa Médica da França. Dr. São Paulo. mas os resultados foram indicados corretamente pelo mesmo principio anterior. 61. O inconsciente faz tudo isso sozinho sem que se perca tempo. Funcionando de forma subjetiva. Uma explicação bem aceita hoje é a de que o inconsciente não é uma parte física. determinando o que uma pessoa deve ou não fazer. r. Como exemplo dessa proeza. 1999. maio. Sobre isso. A Segunda Inteligência. sem que. É por meio dele que o coração sabe quando tem que bater mais rápido por causa de um esforço físico ou disparar a sensação de fome se o nível de glicose no sangue baixar. relaciona e toma decisões. é uma ferramenta poderosíssima e não apenas uma caixa em que se depositam informações ou se escondem lembranças traumáticas. localizada em uma determinada região do cérebro. com a outra mão. Também foram realizadas operações aritméticas de forma tão rápidas que se tornavam absolutamente imperceptíveis. o inconsciente interfere o tempo todo na rotina de uma pessoa. A hipnose ou a auto-hipnose estabelece a comunicação rápida com o inconsciente que é considerado como uma segunda inteligência. Sc. Assim também acontece com a sede e com os instintos sexuais. ao menos. O inconsciente percebe informações que não são percebidas conscientemente. O resultado provou que o cérebro não só reconhecia as informações como também às interpretava. têm sua fonte nos estados biológicos e não consciente do organismo. 68 . Para andar não é preciso calcular quanto cada perna tem que ser flexionada ou a distância entre um passo e outro. e nestas horas. Em alguns momentos era projetado apenas o número cinco.132 Antonio Almeida Carreiro. muito rápido. odiava a matéria.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 133 processar. por conseqüência. Após a auto-hipnose. além de ser capaz de resolver problemas com grande facilidade e satisfação. foi aconselhada a fazer uso da autohipnose e no semestre posterior contou que seguira o conselho durante as férias e. revelou ser extremamente suscetível. enquanto dirigia de volta para casa. Será um sinal do inconsciente? O motorista pode ter ouvido no rádio dias antes que a estrada não está boa (e nem prestou atenção) e. olhou para o céu e viu nuvens escuras se formando. da hipnose. A segunda inteligência. 60 . um serviço extra que as células cinzentas realizam. (SUPER Interessante. mais ainda. dizia que quanto mais estudava menos compreendia e não conseguia esforçar-se para estudar da forma apropriada. O cérebro juntou a informação como um recado para o consciente: quem sabe não é uma boa idéia viajar hoje? Isso é intuição. 01. enquanto o consciente executa suas tarefas de forma serial. . maio. 1999. são facilmente aceitas pelo mundo acadêmico. O cientificismo cria diferentes teorias para compreender e explicar a aprendizagem e o processo educativo. Algumas dessas formas afastam-se da psicanálise e.10. milhares de informações paralelas. p. o caso da aluna que tendo participado de duas sessões de hipnose..65).. foram criadas em ambientes experimentais e. por isso. uma atrás da outra. em certas circunstâncias. Vários alunos foram bem sucedidos com auto-hipnose. Salvador. passou até a gostar da professora que antes era vista como sendo muito antipática. atitudes que um indivíduo deve tomar. Resultados semelhantes também vêm sendo repetidos com outros alunos em diferentes disciplinas.95. no seu regresso às aulas. Para superação deste problema. São Paulo. o inconsciente pode determinar. vem àquela sensação de que não se deve ir. como exemplo. Através das técnicas de hipnose ou da auto-hipnose é despertada e ampliada essa programação para utilizar mais os conhecimentos que estão armazenados no inconsciente: Alguém planeja uma viagem de carro e. 69 Ela que tinha grande dificuldade em compreender determinada disciplina. Fornecendo informações ao consciente sob forma de intuição. r. estudar o assunto lhe dava prazer. ao mesmo tempo. além de se estenderem para o campo da terapia dos distúrbios psicológicos. de repente. publicada no Jornal Bahia Hoje. que se encarrega de disseminar os novos conceitos e 69 Sessão realizada pelo autor. não só obteve altas notas nas avaliações como conseguia agora entender com facilidade conceitos e definições. Quando o rato aperta a alavanca sob as condições estabelecidas pelo experimentador. entre outros trabalhos. Após o rato ter fornecido essa resposta. recompensando assim o rato. como ciência. o experimentador pode colocar o comportamento do rato sob o controle de uma variedade de condições de estímulo. uma bolinha de alimento cai na tigela de comida. Indiana e Minnesota e. um aparelho adequado para estudo do comportamento animal. era se deter sobre a realidade observável dos transtornos e seus tratamentos. 70 SKINNER lecionou nas Universidades americanas de Harvard. desenvolvendo intensa atividade no estudo da psicologia da aprendizagem. Sc. por exemplo. Burrhus Frederic Skinner (1904-990) 70 é o principal nome da escola comportamental. publicou os livros: Behavior of Organisms (o comportamento dos organismos). Verbal Behavior (comportamento verbal). entre as mais importantes. como queria Freud. o comportamento pode ser gradualmente modificado ou modelado até aparecerem novas repostas que ordinariamente não fazem parte do repertório comportamental do rato. como uma disciplina definidora dos modos associativos do pensamento. No entanto. no tratamento utilizado para fobias o paciente é incentivado a enfrentar aquilo que teme e. Desenvolveu o que se tornou conhecido por "Caixa de Skinner". Ambas surgidas nos Estados Unidos entre 1950 a 1960 que defendiam um olhar mais pragmático sobre o fenômeno psicológico. educadores e psicólogos. Science and Human Behavior (comportamento científico e humano). Skinner realizou a maioria de suas experiências com animais inferiores. Dr. conhecimentos como indispensáveis para professores. Sua teoria se baseia nos conceitos de estímulos. passou a estudar o comportamento operante.134 Antonio Almeida Carreiro. parece que nem uma dessas novas formas invalida a hipnose como recurso facilitador da aprendizagem. O tratamento científico de todos os fenômenos inicia o psicologismo e a filosofia ficou fora de moda. achava que mais importante do que abrir a caixa-preta da mente. Um rato é colocado dentro de uma caixa fechada que contém apenas uma alavanca e um fornecedor de alimento. Para muitos as soluções dependem agora de uma psicologia científica vinculada ao positivismo Os psicologistas passam pelo entendimento da lógica (domínio da filosofia) positivamente. projeta-se a corrente comportamentalista e a corrente cognitivista. principalmente o rato branco e o pombo. Devido à sua preocupação com controles científicos estritos. Além disso. influenciado pelos trabalhos de Pavlov e Watson. resposta e reforço. . Surgem novas teorias e. através de livros. basta aplicar-lhe o estímulo descoberto. Em escolas. se quiser que uma pessoa aprenda um novo comportamento. Em um momento da história essas duas correntes se encontraram. Isso significa que. Em 1932 relatou suas observações e. Aaron Beck é o criador da vertente cognitivista. analisando o comportamento de seres animados. e desse encontro deriva a maioria das diferentes teorias consideradas. Suas pesquisas se encaixam no modelo do ambiente laboratorial de investigação com o . como eficientes nos tratamento dos distúrbios psicológicos e problemas na aprendizagem. o comportamento de alunos pode ser modelado pela apresentação de materiais em cuidadosa seqüência e pelo oferecimento das recompensas ou reforços apropriados. deve-se condicioná-la a essa aprendizagem. mas outros pensadores localizaram-se na fronteira deste conflito intelectual. Com base nos argumentos fornecidos pelo próprio paciente. um paciente deprimido que acha que não tem condições de trabalhar é incentivado a escrever num caderno várias situações em que foi chamado a desempenhar tarefas e se saiu bem. seus estudos permitiram criar métodos de ensino programado. descobrindo-se qual o estímulo que produz certa resposta num organismo. enfatizam a utilização da experimentação em laboratórios. mas não se podem conhecer experimentalmente os processos internos que fazem com que determinado estímulo leve a uma dada resposta. que podem ser aplicados sem a intervenção direta do professor. aprendizagem é igual a condicionamento. A corrente comportamentalista e a corrente cognitivista são estritamente cartesianas e se afastam de hipótese não estruturada nesta mesma linha. apostilas ou mesmo máquinas de ensinar. Um dos princípios da teoria do condicionamento de Skinner é que as pessoas são como “caixas pretas”. De fato é possível conhecer os estímulos que as atingem e as respostas que dão a esses estímulos. Por exemplo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 135 O êxito em experiências de comportamento condicionado levou Skinner a acreditar que as leis de aprendizagem se aplicam também ao ser humano. quando se pretende obter a mesma resposta desse organismo. achava que grande parte das doenças psíquicas se devia a percepções distorcidas da realidade. o terapeuta tenta convencê-lo de que ele é capaz. Em oposição ao behaviorismo radical surgiu outra maneira de “ver” os fenômenos humanos. e caberia ao terapeuta corrigir essas distorções. por muitos psicólogos e educadores. Os behavioristas tendem ao usar métodos científicos rigorosos. De acordo com essa teoria. incluídos também aí questões da aprendizagem. Watson. experimentos e teorias em psicologia. Princípios de Psicologia da Gestalt. que daria conta dos conflitos e problemas humanos e afastaria as incertezas das teorias dialéticas. O behaviorista John B. Por fim. E. Cultrix. infere deduções e criam teorias. “Gestaltismo” significa Organização. estavam os reflexos e os reflexos condicionados. Nas pesquisas obtidas com animais. Watson afirmando que o pensamento era apenas uma fala subvocal e Pavlov afirmando que a linguagem não passava de "um segundo sistema de sinais". no mesmo patamar de observação estavam ratos. A mesma impressão fora dada por Pavlov. afirmando que a psicologia deveria ser redefinida como o estudo do comportamento. "uma investigação da atividade fisiológica do córtex cerebral". 1982. emoção ou criatividade humana. O termo “Gestalt” vem do alemão. na realidade. Nada. publicado mais ou menos na mesma época. Capitaneados por Max Wertheimer. elaborada através de dados que são medidos e comprovados cartesianamente. W. tinham a dizer a respeito de intenções. Estrutura. Entre os fatos de que dispunha. propósitos. em 1913. K. parece que o comportamento humano não tem características distintivas. O resultado do conjunto destas investigações possibilitou a construção de outra teoria denominada Psicologia da Gestalt. pombos. Wolfgang Kohler 71 e Kurt Koffka 72 realizaram uma série de investigações relacionadas com o estudo da percepção. São Paulo. Eles acentuavam a promessa de uma ciência do comportamento. . Dr. Procuram fatos que são quantificados e comparados. Psicologia da Gestalt. fez empréstimos da anatomia e da fisiologia. O reflexo sugeria um tipo de causalidade mecânica compatível com a concepção de ciência do século XIX. cães e seres humanos. e Watson explorou-os ao máximo. critério da observação de dados que possam ser medido e avaliado. embora não aponte qualquer observação direta do sistema nervoso que esclarecesse o comportamento. KOFFKA. Forma. Designa um conjunto de princípios. Sc. 1980. quando insistiu que seus experimentos sobre o comportamento eram. relativo ao comportamento. lançou um manifesto chamado A Psicologia tal como a vê um behaviorista. Belo Horizonte. Itatiaia. resultante do 71 72 KOHLER. métodos. Pavlov vai mais longe.136 Antonio Almeida Carreiro. ou quase nada. da aprendizagem e da solução terapêutica para os problemas da mente humana. Tudo válido para apoiar a afirmação de que a psicologia é uma ciência. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 137 movimento iniciado no começo do século XX, na Universidade de Berlim, sob a orientação de Max Wertheimer. Tendo começado como um estudo do processo perceptivo, a “Gestaltypsychologie” acabou por abarcar o estudo da memória, do pensamento, do desenvolvimento individual, da motivação e do comportamento dos grupos, constituindo-se como um sistema psicológico análogo ao Behaviorismo – apesar de lhe ser oposto teoricamente – cuja pretensão era a de explicar a totalidade dos processos psicológicos. A Gestalt induz acreditar, que no processo de aprendizagem, a experiência e a percepção são mais importante que as respostas específicas dadas a cada estímulo. A experiência e a percepção englobam a totalidade do comportamento e não apenas respostas isoladas e específicas. Quando um indivíduo vai iniciar um processo de aprendizagem qualquer, ele já dispõe de uma série de atitudes, habilidades e expectativas sobre sua própria capacidade de aprender. Visto assim, o sucesso da aprendizagem vai depender de suas experiências anteriores e de muitas informações que estão em níveis inconscientes, neste caso o processo hipnótico pode fazer aflorar essas informações com mais facilidade. Para os gestaltistas a aprendizagem ocorre, principalmente, por insight, ou seja, é uma espécie de estalo, de compreensão repentina a que se chega depois de tentativas infrutíferas em busca de uma solução. Em relação ao trabalho escolar, pode-se afirmar que a teoria da Gestalt é mais rica que a teoria do condicionamento, pois tenta explicar aspectos ligados à solução de problemas. Explica, também, como ocorre o trabalho científico e artístico que, muitas vezes, resulta de um estalo, de uma compreensão repentina, depois que a pessoa lidou bastante com o assunto. A Psicologia da Gestalt, como a própria nomenclatura em alemão sugere (forma, configuração, reunião das partes de determinada forma e que a partir da qual, gera-se um todo que se distingue do somatório das partes), propõe que a aprendizagem não pode ser entendida como uma aquisição de conhecimentos devidos a ensaio e erro sobre uma situação específica. Ao contrário, diz que tal aquisição se faz pela percepção do campo visto como um todo. Isto conduz a uma súbita alteração do campo perceptual e coloca uma série de comportamentos novos. O problema para o gestaltista não é como o dado é solucionado, mas como é estruturado. Subjacente a estes e a outros conceitos, na psicologia da gestalt está a diferença entre a realidade psíquica (o que eu percebo) e a realidade objetiva (o mundo das coisas) e a impossibilidade de compreender o homem sem uma 138 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. visão holística do mesmo. Que agrupe numa Gestalt (numa configuração) as partes deste homem bem como sua relação com os outros homens e com a natureza. Esses dois universos podem ser considerados como a percepção lógica (racional e consciente) e a percepção emocional do mundo (intuitivo e inconsciente). Idéias e conceitos próximos da Teoria Gestalt representa também a Teoria de Campo ou Topológica, seu principal formulador foi Kurt Lewin (1890 - 1947). De acordo com essa teoria, são as forças do ambiente social que levam o indivíduo a reagir a alguns estímulos e não a outros; ou que levam indivíduos diferentes a reagirem de maneira diferente ao mesmo estímulo. A influência dessas forças sobre o indivíduo dependeria, em alto grau, das próprias necessidades, atitudes, sentimentos e expectativas do próprio indivíduo, pois são estas condições internas que constituem o campo psicológico de cada um. O campo psicológico seria um ambiente, incluindo suas forças sociais, da maneira como é visto ou percebido pelo indivíduo. Assim, muitas vezes, um capítulo de história ou um trabalho de geografia são vistos como problemas a serem resolvidos pelo professor ou por alguns alunos, mas não por outros, cujo campo psicológico é diferente, e que têm outras prioridades no momento. Tratando-se de aprendizagem infantil, a fim compreender o campo psicológico das crianças, os professores precisam desenvolver sua sensibilidade em relação aos sentimentos e atitudes infantis. Como os gestaltistas e cognitivistas, os teóricos da fenomenologia também dão grande importância à maneira como o aprendiz percebe a situação em que se encontra. Além disso, entendem que a criança aprende naturalmente, que ela cresce por sua própria natureza. A teoria fenomenológica defende a aprendizagem a partir da própria experiência da criança, por meio da utilização de material que tenha sentido pessoal para ela e do aproveitamento do impulso universal para o desenvolvimento das potencialidades pessoais. A palavra «fenomenologia» (Phänomenologie) tornou-se conhecida como o termo que assinala uma postura filosófica preconizada por Edmund Husserl (1859-1938). É um movimento que se dedica a descrever as estruturas da experiência como se apresentam à consciência, sem o recurso da teoria, dedução ou pressupostos de outras disciplinas. Compreende-se a concepção fenomenológica como tentativa de resgatar o significado original da filosofia que, em determinado período na Grécia, definiu sua tarefa dentro da dicotomia opinião (doxa) e verdade (epísteme). Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 139 Das linhas da psicologia, a Fenomenologia Existencial é, provavelmente, a mais filosófica. Diferentemente da Psicanálise, que partiu de uma discussão médica e chegou ao conceito de inconsciente, ela nasceu do debate sobre a relação do homem com o mundo. Surgiu como uma contestação ao método experimental e é o ponto de partida de Husserl. Crítica as teorias científicas, particularmente as de inspiração positivas, apegadas à objetividade, à crença de que a realidade se reduz àquilo que percebemos pelos sentidos e à noção de que o cientista e o objeto que pretende conhecer são completamente separados e independentes. Para que se possa chegar a isso, Husserl 73 propõe que o indivíduo suspenda todo o juízo sobre os objetos que o cercam. Que nada afirme nem negue sobre as coisas, adotando uma espécie de abandono do mundo e recolhimento dentro de si mesmo. Tal atitude é denominada de redução fenomenológica ou epoquê. Entre os teóricos da psicologia da educação destaca-se também Jean Piaget (1896-1980), nascido em Neuchâtel, na Suíça. Na maior parte seu de trabalho, dedicou-se a estudar a teoria do conhecimento; como ela se desenvolve, como se estrutura, quais são suas principais características, abordando problemas relativos à formação da inteligência infantil. Para isso, deixou de lado estudos tradicionais, como as teorias behavioristas, skinnerianas, entre outras, para criar a Epistemologia Genética, propondo o retorno às fontes e à gênese propriamente dita do conhecimento, do qual a epistemologia tradicional conhecia apenas os estados superiores, isto é, certas resultantes finais de um complexo processo de formação. 74 HUSSERL, E. Investigações Lógicas: sexta investigação. Elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento). In: Coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1980. O interesse de estudo de PIAGET se estendia ao campo da religião, biologia, sociologia e filosofia. Através da biologia suspeitou que os processos de conhecimento poderiam depender dos mecanismos de equilíbrio orgânico, convencendo-se de que tanto as ações externas quanto os processos de pensamento admitem uma organização lógica. Com seus estudos em laboratório, PIAGET convenceu-se de que o caminho para conciliar a filosofia e a psicologia deveria ser explicado na experimentação. Sua fama mundial foi adquirida após desenvolver estudos sobre a criança. Mesmo sendo nomeado titular de filosofia dando aulas de Psicologia e Sociologia, não deixou de lado a investigação experimental sobre a lógica e ontologia infantil. Seus primeiros trabalhos de epistemologia genética surgiram quando foi professor de história do pensamento científico. Seu projeto de elaborar uma epistemologia baseou-se nas ciências positivas concretizando-se em 1955 quando inaugurou o Centro Internacional de Epistemologia Genética (N. do A.). 74 140 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. Para Piaget, a capacidade para aprender está relacionada à forma de organização da atividade mental sob seu duplo aspecto: o motor ou intelectual e o afetivo que, segundo ele, são denominados “estágios de desenvolvimento”, os quais estão distribuídos de acordo com a idade da criança: o primeiro é o estágio sensório-motor (do nascimento até os dois anos de idade); o segundo dividi-se em dois, o de preparação para as operações lógico-concretas (2 a 7 anos) e o de operações lógico-concretas (7 anos a adolescência). A partir daí até a idade adulta, configura-se o estágio da lógica formal, é quando o pensamento lógico alcança seu nível maior de equilibração. No conceito de Piaget a inteligência é adaptação e, sua estrutura muda através dessa adaptação a situações novas, enfatizando o desenvolvimento da criança como sendo uma adaptação desta ao ambiente ou ao mundo que a circunda, ou seja, os indivíduos não apenas respondem a este, mas também atuam sobre ele. E, para isso, utiliza-se de dois componentes: a assimilação (que seria o processo cognitivo de classificar novos eventos em esquemas existentes) e a acomodação (a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado). Sendo que o balanço entre assimilação e acomodação chama-se adaptação. Outra variável interveniente na teoria de Piaget é a motivação do estudante, onde o educador deve estruturar o ambiente de modo a proporcionar uma rica fonte de estimulação ao aluno, permitindo que ele se desenvolva no seu próprio ritmo, guiado pelos próprios interesses de modo bastante livre. Se a educação, como Piaget sugere, for planejada para permitir que o estudante manipule os objetos do seu ambiente, transformando-os, encontrando sentido para eles, dissociando-os e fazendo variar seus diferentes aspectos, até adquirir condições de fazer inferências lógicas, desenvolvendo novos esquemas e estruturas, o estudante chegará através de uma seqüência de desequilíbrios sucessivos, seguidos de adaptações, ao conhecimento. No entanto, a diferença que se encontra entre o estudante criança e o adulto, é que quando o adulto ingressa na escola todos os estágios de desenvolvimento já foram percorridos, tornando-se um desafio para o educador recuperar sua capacidade de combinação e interação, principalmente quando tratarem de idéias abstratas que é uma das maiores dificuldades demonstradas pelos estudantes. Tendo assim, o educador, que se preocupar em dar para o aluno condições de receber novas informações e conseqüentemente operá-las. Piaget, em seus estudos, afirmou que a inteligência está ligada à ação e o organismo (a mente) só recebe Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 141 uma nova mensagem se estiver “sensibilizado”, ou seja, preparado para recebê-la. Outra teoria sobre educação que envolve processos de aprendizagem é do russo Lev Semenovich Vygotsky. 75 Profundamente marcado pelo materialismo-dialético e pelas suas concepções sobre a interação entre o homem, a natureza, a sociedade, o trabalho humano e o uso de instrumentos, construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Vygotsky e Luria 76 explicam que na área da percepção, a criança no início de sua vida tem apenas sensações orgânicas tensão - dor - calor, principalmente nas áreas mais sensíveis. Quando a criança deixa de sofrer influência desses processos biológicos, passa a perceber a realidade. A percepção da realidade requer processos biológicos como determinantes de experiência, permitindo que seu organismo passe a ser afetado por fatores externos, mas só a realidade dos fatores externos não determina completamente essa percepção. A informação de que esses processos biológicos tornam-se disponível no organismo é organizado pela própria criança através de experiência social e cultural. A criança passa a ver o mundo com sua própria visão, administrando sob seu ponto de vista. Para Vygotsky, 77 a percepção, memória, emoções e causas que são mediadas socialmente substituem sensações orgânicas e habilita para o contato com o mundo e, o meio social, passa a ser o responsável pela condução da pessoa para a realização de todas as suas potencialidades. A concepção de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano é em base biológica, com peculiaridades que definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores, Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), nasceu na cidade de Orsh, em Bielarus, país da extinta União Soviética, onde também faleceu, vítima de tuberculose, aos 37 anos. Vasta foi a sua produção intelectual, se estendia desde a neurologia até a crítica literária, passando pela psicologia, linguagem, deficiência, educação etc. (N. do A.). VYGOTSKY, L. S., LURIA, A. R. e LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo, Editora da USP, 1988. 77 76 75 VYGOTSKY, L. - Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988. 142 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. como a linguagem e a memória, são construídas ao longo da história social do ser humano, em sua relação com o mundo. As funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem. Vygotsky analisa as relações entre desenvolvimento e aprendizagem sob dois ângulos: um que se refere à compreensão da relação geral entre o aprendizado e o desenvolvimento, que tem início desde o primeiro dia de vida de uma pessoa; e outro que diz respeito às peculiaridades dessa relação no período escolar, quando o aprendizado passa a produzir algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança. Para elaborar as dimensões do aprendizado escolar, Vygotsky apresenta um conceito novo, zona de desenvolvimento proximal e o aprendizado escolar é o responsável maior por sua criação: ... zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY).78 Para Vygotsky o aprendizado é considerado como um aspecto necessário e fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores, visto que o desenvolvimento pleno do ser humano depende do que ele aprende num determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos de sua espécie. Nessa perspectiva, é o aprendizado que possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento, garantindo a constituição das características psicológicas especificamente humanas e culturalmente organizadas. Vygotsky identifica dois níveis de desenvolvimento: um que se refere às conquistas já efetivadas, que ele chama de nível de desenvolvimento real, e outro, o nível de desenvolvimento potencial, que se relaciona com as capacidades em vias de serem construídas. O nível de desenvolvimento real pode ser entendido como referentes àquelas conquistas que já estão consolidadas na criança, aquelas funções ou capacidades que ela já aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem assistência de alguém mais experiente (pai, mão, professor, criança mais capaz etc.). Nas escolas, na vida cotidiana e nas pesquisas sobre o desenvolvimento VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 4ª. ed., São Paulo, Martins Fontes, 1991a 78 então. da colaboração. supõe-se que somente aquilo que ela é capaz de fazer. sem a colaboração dos outros. ou seja. embora se realize com base no nível de desenvolvimento já alcançado.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 143 infantil. A distância entre aquilo que alguém é capaz de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de desenvolvimento potencial). tradicionalmente. O nível de desenvolvimento potencial se refere àquilo que a criança é capaz de fazer. a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de desenvolvimento que. costuma-se avaliar a criança somente neste nível. ela será capaz de fazer sozinha amanhã. aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje. Esse nível. O processo pedagógico deve direcionar-se para a ampliação da zona de desenvolvimento proximal para que desenvolva as . da imitação. O conhecimento adequado do desenvolvimento individual envolve. a criança realiza tarefas e soluciona problemas através do diálogo. tanto a consideração do nível de desenvolvimento real quanto do potencial. da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas. Suas idéias a respeito da relação entre o aprendizado e o desenvolvimento das potencialidades humanas consideram que a educação antecede o desenvolvimento. ao invés de "frutos" do desenvolvimento. Nesse caso. só que mediante a ajuda de outra pessoa (adultos ou crianças mais experientes). Esses processos se internalizam e passam a fazer parte do seu desenvolvimento individual. Essas funções poderiam ser chamadas de "brotos" ou "flores" do desenvolvimento. É por isso que Vygotsky afirma que aquilo que é a zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã. é que é representativo do seu desenvolvimento. para Vygotsky. caracteriza o Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento proximal e define funções ainda não amadurecidas. mas que estão em processo de maturação. merecendo destaque as projeções para a condução do processo pedagógico que se constitui num poderoso amparo para o desenvolvimento pleno do aluno. seriam impossíveis de ocorrer. sem a ajuda externa. na medida em que. isto é. O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal. As implicações pedagógicas da teorização de Vygotsky são amplas. é bem mais indicativo do seu desenvolvimento do que aquilo que ela consegue fazer sozinha. em interação com outras pessoas. 144 Antonio Almeida Carreiro. Sc. realizando ações pedagógicas que permitam seu desenvolvimento. Para Vygotsky. (1983) Liberdade para aprender nos 80 (N. etc. 79 nascido em Ilinois. (1961) Tornar-se pessoa. (1980) Um jeito de ser. Foi professor em diversas universidades: Ohio. é necessário considerar não somente o que o aluno já é capaz de realizar sozinho. as aquisições já consumadas. como sujeito transformador de seu mundo. Para ampliar a zona de desenvolvimento proximal. concluiu seu mestrado e. mas também aquilo que esse conhecimento possibilitou em termos de novas aquisições.). do A. realizada através da apropriação das experiências sócio-culturais acumuladas pela humanidade. 1977) Sobre o poder pessoal. mas também para ações de orientação. passou a interessar-se pelas ciências naturais e pela agricultura. conseqüentemente. que permitam ao aluno. (1970) Grupos de encontro. então. foram ocupando espaços nas Organizações. a escola deve se comprometer com a condução adequada do desenvolvimento da pessoa. mas que se manifesta através das ações transformadoras do mundo. para a produção de um novo desenvolvimento. Aprendizagem. Graduou-se em Ciências Físicas e Biológicas. Para que isso aconteça. o ensino deve estar voltado não apenas para ações práticas e executivas. desde então. Dr. propor ações executivas necessárias para a solução de novos problemas. Nesse sentido. foi morar em uma fazenda e. ou seja. o processo pedagógico deve ser capaz de promover. Em oposição à pedagogia tradicional que tem como valores a disciplina. (1972) Novas formas de amor. obteve o título de doutor na área de Psicologia. Em 1928. Um deles foi o norte-americano Carl Ranson Rogers (1902-1987). Suas idéias. mas também nortear ações para que novas potencialidades se desenvolvam. em 1931. Estados Unidos. Escolas. Chicago e Wisconsin. Com isso Carl Rogers passa a ser conhecido como o criador do 79 Rogers. desafios cada vez maiores para que ela possa realizar-se como "sujeito do aprender" e. projetando-se. potencialidades de aprendizagem do aluno. Para que o ensino alcance seus objetivos. Educação. a transmissão de conteúdos do professor para o aluno e a memorização. tendo sido propostas inicialmente para o campo psicoterapêutico. com base nas potencialidades da pessoa. O conhecimento das potencialidades do aluno deve se constituir não apenas numa base para orientar o desenvolvimento daquilo que ele já é capaz de desenvolver. . surgiram vários autores propondo novos pontos de vista voltados para a chamada educação humanista. formou-se em História e Psicologia. é necessário partir da idéia de que a aprendizagem é um processo de transformação que tem lugar no psiquismo humano. conhecendo a realidade. Suas obras principais foram: (1951) Terapia centrada no paciente. aos doze anos. um organismo em processo de integração de uma pessoa. Carl Rogers preferia chamar os professores de facilitadores. mas apenas repetição de idéias de um autor já demarcado). ainda que isso seja feito com a justificativa de tornar as pessoas mais felizes. Nessa abordagem. pois. que se baseia fundamentalmente numa crença na potencialidade interna e num respeito pela individualidade e singularidade humana. Segundo Carl Rogers. Nesta perspectiva. . Exemplos disso são os professores que no primeiro dia de aula dividem os assuntos pelos diversos alunos e os mandam depois apresentar o resultado dessa pesquisa (que quase nunca é pesquisa. Essa postura não aceita qualquer projeto social que seja baseado no controle e na manipulação das pessoas. Para esse autor. no sentido tradicional do termo. A relação de autodescoberta entre aluno e ensino é fundamental.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 145 "ensino centrado no estudante" a partir da Abordagem Centrada na Pessoa. o facilitador é alguém que transfere a responsabilidade de aprendizado para o aluno. somente quando o homem sente-se incondicionalmente aceito. o objetivo da educação é a realização plena do ser humano e o uso pleno de suas potencialidades e capacidades. o indivíduo é capaz de dirigir-se a si mesmo. As pessoas devem ser acostumadas desde pequenas à autonomia e a assumirem a responsabilidade das suas decisões pessoais. na educação humanística só há aprendizado quando há envolvimento emocional. o aluno não é um simples depositário de conhecimentos e a função do professor não é apenas transmitir informações. e não deve se envolver emocionalmente. não é aceito por Carl Rogers. na qual os sentimentos e experiências exercem um papel muito importante como fator de crescimento. mas principalmente criar condições para que os alunos aprendam. Para muitos. não é o mestre que deve dar algo ao aluno e sim o aluno que deve descobrir de que precisa. o professor deve se manter o mais distante possível do aluno. de encontrar na sua própria natureza o seu equilíbrio e os seus valores e sua alienação consiste em não ser fiel a si mesmo. essa palavra foi deformada com o tempo e perdeu quase completamente seu significado original. Para Carl Rogers o homem deve visto como uma totalidade. O ato de ensinar. Os conhecimentos não são comunicáveis. Enquanto na educação tradicional. ele se atreve a aceitar-se como é e abrirse para o processo de aprendizado. implica uma pressão sobre o aluno que é inútil. as religiões africanas. Pedagogia da Esperança. Seu método parte do princípio de que é necessário aproximar a cultura ao vocabulário dos alunos. Carl Rogers mostra que a educação deve ser centrada no aluno. Dos debates e da força das palavras geradoras. etc. Pedagogia da Liberdade. mas principalmente afetiva. Além disso. O facilitador. Na sua concepção. pode-se levá-los a tomar consciência da realidade que os cerca. criticando a proposta simplificadora que se limita ao repetir de idéias alheias e à memorização de palavras e letras. e depois compartilharem suas descobertas com os colegas. após uma aula sobre a África. o aluno poderia se aprofundar em temas como o tráfico de escravos. alguém que se converte em um membro do grupo e participa ativamente do ato coletivo da aprendizagem. como alguns têm entendido a proposta humanística. de estudar. ensinando-o a pensar a partir . mas que o professor deve providenciar-lhe uma base que lhe permita aprender. Dr. chega-se ao domínio do código escrito. É muito diferente de simplesmente deixar os alunos darem aulas no lugar do professor. desvelando-se a realidade subjacente às palavras geradoras em debates. Sc. a cultura e a história de vida dos alunos. Paulo Freire revoluciona os métodos de alfabetizar pessoas adultas usando-se os mesmos procedimentos utilizados com crianças. facilitador é alguém que cria condições para o aprendizado. o processo de alfabetizar deve permitir ao alfabetizando a compreensão do ato de ler. Outra grade contribuição para se entender o aprendizado e a prática educativa foi de Paulo Freire que considera a educação como uma prática política. Defende a idéia de que a educação não pode ser um depósito de informações do professor sobre o aluno tais como os depósitos bancários. ele ensina a importância da afetividade no processo educacional. incentivando os alunos a se aprofundarem nos assuntos de acordo com seus interesses. Por exemplo. Em seus trabalhos. é alguém que tem confiança na relação pedagógica e cria um clima apropriado para a convivência apresentando aos alunos uma base para que eles possam avançar e aceitar o grupo e cada um de seus membros como eles são.. Em seus livros Paulo Freire reflete sobre a alfabetização. A aceitação deve ser não só intelectual. Os alunos só aprenderão se for estabelecido um clima de amizade. Ou seja. para Rogers.146 Antonio Almeida Carreiro. em que todos sejam aceitos com suas próprias características. discutindo-a criticamente. Respeitando-se a linguagem. Sua pedagogia é conhecida como: Pedagogia do Oprimido. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Educação e mudança. Pedagogia da Autonomia . Cartas a Guné-Bissau. A relação dialógica estabelecida entre os dois. Ed. (1966). Paulo Freire é um educador com profunda consciência social. Paulo Freire. Pedagogia do oprimido. Paz e Terra. À sombra desta mangueira. a hipnose pode acrescentar condições favoráveis para a aprendizagem eficaz e contribuir para a educação facilitando ato pedagógico. Pedagogia da esperança. mais do que ler escrever e contar. num processo que partia da própria palavra do educando. 1996. faz-se com que este aprenda a aprender. a aprendizagem e o desenvolvimento humano. iniciou seu trabalho com cinco adultos analfabetos e os alfabetizou em 30 horas. Palavra e imagem se reforçavam a seu ver. 81 Em 1958. em Pernambuco. A importância do ato de ler. Respeita-se o aluno não o excluindo da sua cultura. a prática de um diálogo conscientizador e gerador de uma reflexão crítica e libertadora.Saberes necessários à prática educativa. Ao se descobrir como produtor de cultura. 23ª Edição. Cartas à Cristina. A partir de pesquisa sobre o universo vocabular dos alunos. (1977). As breves considerações apresentadas neste livro a respeito das diferentes teorias sobre a educação. estimulando. (1996). organizando-se temas de interesse dos alunos. 80 A base da pedagogia de Paulo Freire é o diálogo libertador e não o monólogo opressivo do educador sobre o educando. Freire: (1959) Educação e atualidade brasileira. (1993). Educação como prática da liberdade. eram selecionadas palavras geradoras que davam origem a debates. (2000). Paulo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 147 da realidade social que o cerca. (1995). no II Congresso de Educação de Adultos. Para ele. (1970). . do A. (1988). as palavras aliadas a imagens eram subdivididas em sílabas que. não invalidam o uso da hipnose como recurso instrucional ou educacional. Usando método próprio. (1994). fazendo-o de mero depositário da cultura dominante. (1992). assim. a escola tem o compromisso de desvelar para os homens as contradições da sociedade em que vivem.). Extensão ou comunicação. os homens se vêem como sujeitos e não como objetos da aprendizagem. A partir daí. Pedagogia do oprimido. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos (N. 81 80 FREIRE. davam origem a outras palavras. Política e educação. Sobre educação (diálogos). (1976). (1981). (1982). Principais publicações de P. (1971). Por qualquer hipótese teórica aqui sinalizada. reorganizadas. discute o ciclo de miséria gerado pelo analfabetismo e defende os meios audiovisuais para alfabetizar adultos. É um ponto de interseção de várias correntes do pensamento. elaborada pelo filósofo grego Pitágoras (485 a. lembradas nesta parte da leitura. É uma reação contra a Escolástica. . No mundo acadêmico. É um antropocentrismo reflexivo. podem ajudar na compreensão da etiologia da hipnose. As diferentes correntes de pensadores. a Psicanálise. a Teoria Organísmica de Goldstein. A hipnoterapia pode ser lembrada quando novos conhecimentos reúnem conceitos antigos. como o cristianismo. extinguindo ou criado soluções para os conflitos humanos através de novas reflexões e teorias. deriva a Gestalt-terapia que é uma filosofia de vida além de uma prática psicoterápica.148 Antonio Almeida Carreiro. Hipnoterapia e outras psicoterapias Para o conhecimento mais amplo do que pode ser entendido como hipnose. que tenta conciliar razão e fé. Compreender qual a resultante do somatório de contribuições tão distintas é talvez descobrir o ponto de equilíbrio entre a razão e a emoção ou o consciente e o inconsciente que norteiam a vida do ser humano. é qualquer sistema filosófico que situe o homem no centro de sua reflexão. se incluído aí filosofias de vida e concepções de mundo. pelo menos em linhas gerais. algumas se tornam mais aceitas em relação às outras. Tais correntes tão diversas possuem ou assumem concepções de vida também diversas ou antagônicas entre si. O Humanismo pode ser entendido como uma doutrina que tem como princípio a idéia de que o homem é a medida de todas as coisas. à sua literatura. Da teoria da Gestalt. O termo humanismo é usado também para descrever o movimento cultural e literário que se dissemina na Europa nos séculos XIV e XV. e 410 a. o conjunto das doutrinas oficiais da Igreja Católica. ou seja. objeto de estudo do próximo capítulo deste livro. é importante saber. a análise Reicheana do Caráter. modificando. Surge como movimento nas Artes. Dr.C. o conhecimento do homem pelo homem. como única maneira de restaurar e valorizar a dignidade do espírito humano. Nesse sentido. Em sentido mais amplo. o Taoísmo e o Zen-budismo. na Literatura e na Filosofia durante o pré-renascimento italiano. suas fontes de influências são: o Humanismo.C. Sc. o Existencialismo. opõe-se potencialmente às religiões reveladas. O humanismo renascentista considera a volta à cultura e aos ideais da antiguidade greco-romana e.). a Fenomenologia. ou ainda quando várias correntes de pesadores se fundem ou se tangenciam. o que diz as principais teorias que fundamentam as psicoterapias. que tem como objetivo valorizar o ser humano como ser autônomo. em particular. segundo Husserl. lançam as bases do movimento humanistas. A Fenomenologia na perspectiva de Martin Heidegger compreende a verdade com um caráter de provisoriedade. mas acrescenta que o ser humano. ou seja. A Gestaltterapia também o compreende assim. ele é um ser bio-psico-social e. que se dá como objeto intencional. Lorenzo VALLA (14071457) e Desiderio Erasmo (1467-1536). ao se alienar de . estável e absoluta. volição. A partir do século XIX. ao se identificar com apenas algumas de suas partes que são valorizadas por ele ou pelo meio no qual vive. sendo a singularidade da vida individual produto da configuração de cada um. A Fenomenologia orienta o seu olhar para o fenômeno. O ser humano é este “todo” composto de “partes”. etc. O método fenomenológico se define como aquilo que aparece à consciência. As essências ou significações noema são objetos visados de certa maneira pelos atos intencionais da consciência noesis. o homem deve abstrair-se de toda crença religiosa e construir seu futuro com base apenas no potencial humano. caracterizamse pelo seu inacabamento. Mostra como a compreensão de aspectos isolados deste ser e não permite ilações sobre o mesmo. Toda consciência é “consciência de alguma coisa”. holístico. pensadores alemães como Ludwing Feuerbach (1804-1872). ou seja. mutabilidade e relatividade.). No século XX. é necessário que se faça uma redução fenomenológica ou Epoché. paixão. pela possibilidade de sempre serem visadas por noesis novas que as enriquecem e as modificam. e. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Nietzsche (1844-1900) elaboram concepções filosóficas humanistas. o humanismo é retomado pelo existencialismo. isto é. que só assim. Afim de que a investigação se ocupe apenas das operações realizadas pela consciência. imaginação.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 149 Os italianos: Francesco Petrarca (1304-1374). pode ser de fato entendido. Isso representa o rompimento do clássico conceito sujeito/objeto. Afirma que o ser humano só existe no todo. Leonardo Bruni (1374-1444). mas uma atividade constituída por atos (percepção. especulação. Essa é uma das razões por que se diz que a Fenomenologia é uma postura ou atitude (um modo de compreender o mundo) e não uma teoria (modo de explicar o mundo). radicalmente diferente do entendimento que pressupõe a verdade una. A teoria Gestalt assume uma concepção de humano como um ser total. Coluccio Salutati (1331-1406). do ponto de vista moral. com os quais visa algo. As coisas. Segundo elas. de como cada sujeito em particular agrupam-se e arranjam-se suas partes. Assim sendo. isto é. na relação sujeito-objeto (ser-no-mundo). coloque-se entre parênteses toda a existência efetiva do mundo exterior. a consciência não é uma substância. 82 ROGERS. Dr. a terapia praticada pela regressão hipnótica. O campo psicológico seria um ambiente. que são vistas como inadequadas. em alto grau. Um exemplo para o conflito de identificação X alienação seria alguém não querer ver o seu próprio egoísmo. ou seja. sem jogos. Moraes Editores. tornase fundamental conhecer mais o pensamento de Carl Ranson Rogers. A influência dessas forças sobre o indivíduo dependeria. tornando-se inteiro. pois são estas condições internas que constituem o campo psicológico de cada um. sentimentos e expectativas do próprio indivíduo. da maneira como é visto ou percebido pelo indivíduo. de fato. ficam comprometidas. mudar. e aí se ele quiser poderá. Sc. também suas. R. seu principal formulador foi Kurt Lewin. Esta terapia. ser cooperativo. Para tanto. Dessa forma. a integração e organização humanas. mas continua nele a agir. gera em si mesmo um conflito de identificação X alienação. outras partes. Para que este processo de auto-realização ocorra o ser humano precisa: ser libertado de suas peias internas e ser capaz de um contato íntimo com outras pessoas. receptivo e amoroso. Lisboa. sem máscaras. das próprias necessidades. C. atitudes. responsável pela paternidade da Terapia Centrada na Pessoa. o organismo fica dificultado na sua busca de equilíbrio (homeostase) e na obtenção da autorealização. 1974. . Esse processo se assemelha. de crescimento e de realização. Afirma que o homem apela para a vida por meio de auto-realização. ou que levam indivíduos diferentes a reagirem de maneira diferente ao mesmo estímulo.150 Antonio Almeida Carreiro. Entre as teorias convencionais do ambiente acadêmico. A partir desta alienação ou não percepção. também é chamada de Terceira Força. precisa crias novos projetos. pois tem o potencial de desenvolvimento. é contra o behaviorismo e tem forte base humanista. que para ele passa a não existir. (1951) Terapia Centrada no Paciente. na forma e no efeito. Também deriva da Gestalt a Teoria de Campo ou Topológica. incluindo suas forças sociais. De acordo com essa teoria. são as forças do ambiente social que levam o indivíduo a reagir a alguns estímulos e não a outros. 82 Um dos seus livros mais importante “Tornar-se pessoa” afirma que um dos principais objetivos do ser humano é buscar uma vida mais rica e plena. o organismo tem como motivo básico a sua automotivação. Para a reversão desta situação faz-se necessário um trabalho de tomada de consciência continuada (awareness continuum) que colocará o sujeito em contato com as partes que ele alienou. então se aliena dele. reforçado e ativado quando ocorre fatores motivacionais que favoreçam a elevação da auto estima. buscava novos caminhos para a sociedade que surgia. Neste campo amplo das terapias é necessário também refletir mais o pensamento do soviético Lev Semenovich Vygotsky. Trabalhando com vítimas da guerra e da revolução russa. três condições são exigidas do terapeuta nesta relação: Autenticidade. Ele precisa ter oportunidade para fale' refletir sobre o seu ' . apoio e aceitação para que um ambiente seguro seja instalado. enquanto membro da espécie humana e participante de um processo histórico. propõe que o sujeito em análise ' . funcionando como um espelho. que o indivíduo traz. A teoria rogeriana indica ainda que entre o cliente e o terapeuta deve existir um clima emocional de cordialidade. Resumindo. Esse potencial de autocrescimento e autoregulação é atualizado. quando ele fazia parte de um grupo de estudiosos que. a construção de uma nova psicologia. através da união entre a produção científica e o regime social recém implantado na Rússia. Seu trabalho ocorre na Rússia pós-revolucionária. inicialmente postulou a existência de um processo direcional na vida que denominou de tendência realizadora. mais especificamente. Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sóciohistórico. que . Ele defendeu. enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. em grupos de encontro e exercícios que promovam o crescimento pessoal. em si. que superasse as tendências do início do século (psicologia como ciência natural ou como ciência da mente). A auto-realização pode ser alcançada pelo treinamento da sensibilidade. ao longo da sua carreira. na qual o homem pudesse ser abordado enquanto corpo e mente. não-diretiva ou rogeriana. a tarefa do terapeuta é clarificar a vida do seu cliente. imensos recursos para a autocompreensão e atualização de seus autoconceitos e autonomia atitudinal latente. trabalhando num ambiente de grande efervescência intelectual. sendo essa teoria considerada históricosocial. enquanto ser biológico e ser social. A terapia centrada na pessoa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 151 Carl Rogers. Com esses pacientes verificou que poderiam ser tratados com artefatos sociais. na sua abordagem centrada na pessoa. Aceitação incondicional e Empatia. Vygotsky e seus colaboradores buscavam. como o Braille e a quirologia. revelar a consciência que tem de si mesmo e eu' como avalia o seu próprio comportamento. Para tanto. Vygotsky deparou-se com uma variedade de traumas somáticos e psicológicos. a atenção. controla movimentos e organiza as relações de espaço entre indivíduos. a Antropologia. desencorajar). Inicialmente. Essas compensações permitem ao indivíduo desenvolver suas funções. elevação da auto-estima. símbolos. Experiência social inclui a maneira como as pessoas estimulam e dirigem entre si. eles absorvem os artefatos culturais. Identificando-se com a linguagem utilizada na hipnoterapia. a uma compreensão do corpo como uma totalidade. Belo Horizonte. E. 83 Estes pensamentos lembram em certa medida uma mescla da teoria de Mesmer (energia) e de Freud (sexualidade). argumentando. valorização do corpo através de constante processo sugestivo. É um apelo constante a uma volta ao corpo. Entre as técnicas psicoterapicas. Dr. & POLSTER. compensando as deficiências físicas e psicológicas. para ele a repressão dos desejos manifesta-se na contração seletiva dos músculos. A terapia é então devotada ao afrouxamento desta rigidez corporal. 83 . por fim. a Física etc. Reich descreveu a contração da musculatura corporal como sendo o ato habitual de repressão. do ponto de vista da emoção. M. o comportamento padrão. Interlivros. ajudaram a compensar os prejuízos físicos como a visão e audição. (encorajar. dentro do mesmo enfoque. a Epistemologia. a Biofísica. fenômenos psicológicos são sociais. Artefatos culturais são sinais. no território cósmico. De acordo com Vygotsky. de forma a liberar a excitação para o comportamento natural que o indivíduo havia reprimido e o restabelecimento da função orgástica é o foco principal da terapia. na dimensão biofísica. depois. a obra do médico e naturalista Wilhelm Reich (1897-1957) é a mais completa. Gestalt-terapia integrada. As lembranças devem ser acompanhadas dos afetos ligados a estas lembranças e o corpo deve estar presente no ato psicoterapêutico. condições lingüísticas. outras psicoterapias usam. Sc.. 1979. a Sociologia. o fio condutor de sua pesquisa sempre foi a investigar o que denominou de processos energéticos básicos. a uma compreensão do chamou de bioenergia das emoções (organobiofísica). lendo. nos domínios psíquico e social.152 Antonio Almeida Carreiro. industrialização de objetos e instrumentos. comunicando. POLSTER. a uma visão mais ampla e aberta da sexualidade. termos que expressam sentimentos humanos. dependem de experiência social e tratamento. Tratamento social e produtos socialmente produzidos geram e caracterizam fenômenos psicológicos. O apoio social torna-se um fator de encorajamento e orientação. Embora Reich tenha circulado pelas mais variadas áreas do conhecimento. como a Psicanálise. nomeado como "energia orgone cósmica". K. American Book Co. mas também no cosmos. Simultaneamente à pesquisa sobre os processos energético-vitais. então. estudioso da neurologia. Iniciou seu trabalho na década de 1920. a vegetoterapia caractero-analítica (1934-1939) e a orgonoterapia (1939-1957). no vivo e no inanimado. The organism. integrada e consistente. que associa as dimensões qualitativas e quantitativas na pesquisa orgonômica (a Orgonometria). um novo método de pensamento e pesquisa (o Funcionalismo Orgonômico) e uma técnica de ordenação das funções naturais. Reich desenvolve sua teoria inicial por mais dezoito anos (até sua morte. afeta o todo. em 1957) em várias dimensões: Orgonoterapia. o que ocorre em uma parte. tendo como principal objeto de estudo o funcionamento da "bioenergia" ou "a função bioenergética da excitabilidade e motilidade da substância viva". as quais ele seleciona e 84 GOLDSTEIN. 3) o ser humano possui um impulso dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado. Com a teoria de Reich. E. 1939. o organismo é uma só unidade. Física. 4) o ser humano tem dentro dele as potencialidades que regulam seu próprio crescimento. embora possa e receba influências positivas de crescimento do meio exterior. esse tipo de energia foi experimentalmente comprovado por Reich no período 1939-1940 e. elaborou no decorrer de seu percurso. três técnicas terapêuticas: a análise do caráter (1923-1934). A Teoria Organísmica assume que: 1) a pessoa é una. O encaminhamento desse trabalho conduziu-o à hipótese de que existe uma "força básica” que atua não só nos seres vivos. 2) o organismo é um sistema organizado. senão a partir da consideração do organismo-como-um-todo. chegou à conclusão de que um sintoma não podia ser considerado ou compreendido a partir apenas de uma lesão orgânica. Goldstein. Orgonometria etc.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 153 Desenvolveu ampla pesquisa sobre o que acreditou ser “processos energéticos primordiais e vitais”. expressa. também. além de indicar esse novo conhecimento. também. . Segundo acreditam seus seguidores. o conjunto da produção intectual reichiana). com o todo diferenciado em suas partes. New York. (O termo "orgonomia". Com o pensamento de Kurt Goldstein 84 nasce a Teoria Organísmica. Astrofísica e Biofísica Orgone. se dedica ao estudo das manifestações da energia orgone no micro e no macro cosmos. compreende o homem como um ser em busca de equilíbrio (homeostase) para a obtenção da auto-realização. nasce a Orgonomia. Pedagogia Orgonômica. São Paulo. em outros o perde.cientifica do mundo ocidental. Para Goldstein o ser humano se compõe com o ambiente e ou redistribui intensamente sua energia pelo organismo. Quando os letrados da mais baixa classe ouvem falar de Tao. “por-se de acordo” com o ambiente. Sc. É a mãe de todas as coisas (LAO-TSÉ ). o homem perfeito é quem aprende a fluir com o Tao. riem-se dele. o budismo e o taoísmo. ainda que permeie todas as formas. se interessam pela sabedoria intuitiva e não pelo reconhecimento racional. Grandes pesadores orientais. enquanto funções isoladas. O Taoísmo com suas raízes provenientes da cultura chinesa. distante e antecedente da preocupação com lógica .154 Antonio Almeida Carreiro. ele não empurra os acontecimentos. a verdade e a meta. Mesmo que não se riam isso não significa que o 85 LAO-TSÉ. ele o segue com zê-lo. é uma questão de consciência: Quando um letrado da mais alta classe ouve falar do Tao. É o caminho. este em especial. em certos momentos o segue. também contribuem para a compreensão do que pode ser determinado como terapia holística. Quando um letrado médio ouve falar da Tao. Dr. São conceitos dinâmicos de Goldstein: a) equalização e centragem como processo de redistribuição de energia pelo organismo. . ajudam na compreensão do organismo total. sem forma. Para Lao-Tsé. sobreposição aos problemas que surgem a partir do contato com o mundo. mas reconheceu que a mudança mais importante é a interna. Pensamento. É a integração dinâmica do Yin e Yang. do positivo e do negativo. O hinduísmo. O livro do caminho perfeito. assim se refere o escritor taoísta Lao-Tsé:85 É como um grande rio cósmico que flui através de todas as coisas. ainda que através dele se manifeste o mundo. 5) a utilização dos princípios da Psicologia da Gestalt. b) a autorealização como o motivo único do organismo. ou seja. utiliza. holístico. tem como base o Tao que se define como a causa primeira e fundamental de tudo. mas deixa a onda cósmica levá-lo. 1990. a partir daí. O Tao é invisível. é o princípio orgânico pelo qual o organismo se desenvolve plenamente. Lao-Tsé deu várias instruções sobre como viver melhor. harmonização do organismo compondo-se com o ambiente e. c) Composição. como percepção e aprendizagem. num segundo momento. com paz total e harmonia. Ele é liberto do Ego e do mundo. Definindo o que pode ser entendido como Tao. do macho e da fêmea. que o leva a um estado de tensão normal. O objetivo último da disciplina Zen é a aquisição do satori. Essa frase é muitas vezes alógica ou até risível. Não consiste em produzir uma condição pré-determinada. mas sim adquirir um novo ponto de vista ao olhar para as coisas. por pensar-se intensamente nela. Os taoístas preconizam a integração humana. Possui três escolas principais: As duas primeiras são Soto. Contribui com o pensamento do Tao. que enfatizam a meditação ou o Zen sentado. isto é. C. em paz e harmonia. afirmação e repetição. a simplicidade. o que resulta em um estado espiritual de esclarecimento. enfatiza o Koan que é uma frase oferecida a cada discípulo. contradição. a integração se dá através de uma mudança interna que denominam de consciência. 1969. O Budismo de feição Zen 86 estima e valoriza o despojamento. a naturalidade. fundamentalmente. Introdução do Zen-budismo. de acordo com a sua natureza. a adoção de um novo ponto de vista para olhar a essência das coisas. introduzida na China pelo monge Bodhidharma. através disso objetivam impulsionar o discípulo até o limite último da reflexão a fim de obter os segredos da mente. A terceira escola é Rinzai. mas não se sabe qual é o som produzido por uma mão só. ou doutrina do coração de Buda. São Paulo. isto é. Há uma tradição antiga que diz: O Tao iluminado para muitos é obscuro (LAO-TSÉ). Os Koans não são apenas enigmas ou observações misteriosas. suas forças conflitantes devem ser trazidas a balanço e harmonia. o gosto por paradoxos e pelos “koans”. sem explicações. A sentença que talvez se aproxime do pensamento Zen é: “pouco adianta falar. isto é.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 155 sigam. considera que para o ser humano evoluir. o Zen. ultrapassagem dos opostos. O Zen é uma técnica que adota os seguintes recursos: paradoxo. Assim ele passa a ser centrado. A concepção do ser humano subjacente ao taoísmo é a de um ser que para se realizar deve torna-se integrado. a coisa mais importante é sentar e meditar. Obaku. muito menos escrever. Os pássaros cantam e o sol surge diariamente. e frisam o desapego egoísta para que. a assimilação por parte do homem de todas as coisas disponíveis e que conformam o Tao. Mostram que. um dos grandes reformadores do budismo tradicional. o homem possa ser levado pela “onda cósmica”. . Assim deve ser em todas as 86 SUZUKI. Pensamento. concebe a iluminação como uma necessidade que o ser humano tem de dar sentido à sua própria existência. D. Exemplo: quando se bate com uma mão de encontro com a outra se ouve um som. Dr. no estudo de seus objetos ideais. Alguns fenomenologistas também salientam a necessidade de se estudar os modos pelos quais os fenômenos aparecem na consciência intencional (direcionada ao objeto) do homem. Uma grande contribuição para o fortalecimento das teorias que tentam compreender a essencialidade do ser humano e facilitar a percepção da subjetividade das ações do inconsciente. Simplesmente”. São como os universais de Platão. é alógico. simplesmente. Allan Watti. foi a do filósofo Edmond Hesserl. A concepção de homem implícita no Zen é a de um ser em busca de iluminação. mas pode ser percebido. fala do Zen e. do conhecimento. Mais. de alguém que precisa aprender ou reaprender a lidar com si e com o mundo de uma forma mais plena e total para que possa de fato. Para os Zen-budistas a busca da iluminação consiste em. com a consciência do aqui e agora. fora do alcance do homem. prendia-o em uma caixa. basta existir no mundo ideal para ser pesquisado. ao fazê-lo. a ênfase de Husserl sobre a intuição deve ser entendida como uma refutação de qualquer abordagem meramente especulativa da filosofia. o Ser somente é acessível a ele como um correlato do ato de consciência. Mas. a . Para os Zen-Budistas o Zen não se explica. Mais tarde ampliou a fenomenologia à totalidade do pensamento. trata do fenômeno dos vários modos de consciência e de percepção das coisas. e. sem preocupações com o depois que acontecerá naturalmente. ele precisa se conscientizar de que. metaforicamente. ser e encontrar a si mesmo e com o mundo. com o método fenomenológico. o que deve o filósofo examinar é a relação entre a consciência e o Ser. próprias do positivismo. criando. e o que tinha não era mais vento e sim ar estagnado.156 Antonio Almeida Carreiro. Sua abordagem é concreta. podem ser examinados e classificados. O objeto não precisa existir no mundo real. Na filosofia fenomenológica. Enfrenta o Psicologismo na tentativa de restaurar a filosofia e a "lógica pura" como forma de respostas para as questões humanas e pretende que a Filosofia se liberte do psicologismo utilizando-se da observação e da sistematização. Husserl definiu a fenomenologia em termos de um retorno à intuição (Anschauung) e a percepção da essência e não da existência das coisas. como tem de acontecer. refere-se a alguém que querendo examinar o vento. do ponto de vista da epistemologia. Sc. coisas. existem na mente humana como fenômenos mentais. uma "filosofia fenomenológica" afirmando que os objetos ideais têm realidade. viver a vida com a consciência do momento presente. em Meaning of Happinen. simplesmente. que existiam apenas no "mundo inteligível". Dentro da filosofia. Sartre segue estritamente o pensamento de Husserl na análise da consciência em seus primeiros trabalhos. "O Ser e o Tempo". A fenomenologia. Heidegger dedicou a Husserl sua obra fundamental. porque isto significa tentar objetivar o não objetivável. sereno. nos quais faz a distinção entre a consciência perceptual e a consciência imaginativa aplicando o conceito de intencionalidade de Husserl. este não leva em conta a complexidade da estrutura intencional da consciência que o homem tem dos fenômenos. de sua situação e de si mesmo. mas logo surgiram diferenças entre ele e o mestre. que os objetos dos fenômenos psíquicos independem da existência de sua réplica exata no mundo real. dados não sensíveis (categoriais) como as relações de valor. parece que pouco ou nada se diferencia dos objetivos ou se afasta da prática da hipnose pura. mas também psicólogos e sociólogos. o movimento fenomenológico toma forma. que precisa esta constantemente em busca de si mesmo. os críticos da fenomenologia são principalmente os existencialistas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 157 fenomenologia não restringe seus dados à faixa das experiências. do seu próprio pensar. E “o si mesmo” . Na psicologia. principalmente. precisamente por serem intencionais. examina a relação entre a consciência e o Ser. Através de onze volumes da publicação Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung (1913-30). Isto equivale. o que é pouco provável. que em muitos aspectos são fenomenologistas. Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty que se intitularam fenomenologistas. do qual Husserl foi o principal autor. Esse movimento influiu não somente sobre filósofos. Sein und Zeit (1927). L' Imagination (1936) e L' Imaginaire: Psychologie phénoménologique de l' imagination (1940). Os existencialistas que o seguiram foram. Martin Heidegger. de 1874. como afirma Husserl. mas consideram a existência humana imprópria para análise e descrição fenomenalógica. Para isso é necessário que o terapeuta tenha uma intuição desses aspectos inteiramente livre do seu próprio eu. De quase tudo que foi visto até aqui. integrado. Tudo gira em torno do ser humano holístico. Franz Brentano afirma: "Podemos assim definir os fenômenos psíquicos dizendo que eles são aqueles fenômenos os quais. a objeção é contra a possibilidade de se viver com o paciente sua própria visão do mundo. Femonomenologia não é o fenomenalismo. No livro Psychologie von empirischen Standpunkte (A Psicologia de um ponto de vista empírico). Foi seu discípulo. diferentemente do fenomenalismo. contem neles próprios um objeto". admite em igualdade de termos. da sugestão e do Mesmerismo. no final de século XX a hipnose reaparece com diferentes nomes e explicações. das idéias clássicas e isoladas que sustentam as diferentes e antagônicas explicações do hipnotismo. na sua maioria. em livros que tratam de Terapia por Vidas Passadas. sem saber conscientemente por que está praticando. ou associado-a com novos conceitos. entre 1950 a 1960. por isso. Também ocorre perfeita identidade. Tudo leva a crer que autores modernos pensam que renomeado a hipnose. conceituado de inconsciente. por influencia da escola russa. em síntese. parece que esses novos títulos são produzidos a partir de compilações e plágios. pode ser entendido como um lado da mente. Poder do Subconsciente. Impregnada por várias correntes do pensamento. e que às vezes o surpreende quando pratica determinadas ações. . Dianética e Neuro Lingüística. espíritos e até demônios. Curas Subconscientes e Psicotranse entre outros. como Energia do Corpo e da Mente. não lhe concedeu a ciência e. Projeções do Corpo Astral. influência de metais. injustamente. porém. Durante esse período eram comuns apresentações dos efeitos da Letargia em demonstrações públicas e múltiplas eram as explicações a seu respeito. basicamente sem mudanças nos resultados e na sua forma prática. responsável por uma subjetiva metade de cada pessoa em particular. Dr. Sc. parece ser o sutil substrato dos seus conteúdos. Ressurge na maioria das vezes com nome diferente. fluido energético e ou astrais.158 Antonio Almeida Carreiro. Relaxamento. Seria este lado obscuro que se manifesta através de complicados mecanismos de crença e convencimento. Ser Interior. como se fosse à ação do magnetismo ou a força de certa forma energia vital ou ainda como força da sugestão. a hipnose ressurgiu fortemente com o nome de Letargia. negam propositadamente o seu verdadeiro nome. Quando novos títulos são analisados aparecem facilmente semelhanças com formas antigas de interpretação dos fenômenos hipnóticos e concepções e termos já superados reaparecem como o efeito magnético. a qual o próprio sujeito não conhece conscientemente. conquistem dos leitores maior atenção ou maior credibilidade que até então. uma verdadeira babel de conceitos. É pelo menos curioso porque. No Brasil. autores que tratam desses novos temas não revelam sua proximidade ou não lhes associam à hipnose que. A hipnose reaparece com maior ou menor intensidade de tempos em tempos. Quando confrontados com outras leituras. tanto de princípios como de métodos. A hipnoterapia agora vem embutida nos mais diversos títulos. Isto aconteceu também na época dos grandes clássicos quando era conhecida como se fosse prática exorcista. busca a credibilidade por ser o novo nome mais coerente com o pensamento dominante. e ULMANN. declinaram e morreram porque foram substituídas por metáforas mais de acordo com o vocabulário corrente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 159 Krasner e Ullmann 87 defendem que os termos que foram atribuídos à hipnose. São Paulo. ed. Modificações de comportamento. Não importa a veracidade da explicação ou a lógica que se dê. ora a religião ou filosofia. KRASNER. 1983. uma vez que alguém é convencido de sua possibilidade. EPU. o importante é convencer. durante sua história. Parece que cada termo novo que se aplica para representar ou explicar a hipnose. são metáforas. 87 . ora inclinado para a ciência. Em cada época essas metáforas tiveram uma vida. o fenômeno hipnótico ocorrerá no indivíduo que acreditou. crenças e convenções que determinam as verdades ou respostas aos problemas humanos. o conhecimento dominante sempre foi agregado a paradigmas – um conjunto de valores. persas e hebreus. Por isso. indianos. trataram do tema das terapias. no decorrer dos séculos. em parte. É importante lembrar parte da história do desenvolvimento do conhecimento que orientou teorias sobre a natureza dos homens.. principalmente.ETIOLOGIA DA HIPNOSE Processos e efeitos hipnóticos envolvendo rituais religiosos e procedimentos de cura são características humanas. Cada povo tinha. egípcios. mesmo quando se aproximam do pensamento cientifico contemporâneo. o mito representava mais que uma invenção ou ficção ou uma fábula. a hipnoterapia. babilônios. nos quais se destacam diferentes orientações para o pensamento e na forma de pesquisar respostas. uma visão própria da natureza e maneiras diferenciadas de explicar os fenômenos e processos naturais.160 Antonio Almeida Carreiro. Dr. Uma reflexão histórico-filosófica sobre a compreensão do mundo é indispensável para melhor compreender os autores que. das coisas e do Universo. chineses. especificamente. na filosofia ou na religião. preservam heranças e envolvem uma babel conceitual e pré-conceitual que chega até a contemporaneidade como sofismas atormentadores. O mito era extremamente precioso por seu caráter exemplar. o porquê e a gênese das práticas curativas. CAPÍTULO II . Cada paradigma representa longos períodos. o mito era a forma de resposta para as questões humanas praticada em diferentes sociedades antigas como assírios. Para o povo antigo.C. manifestadas em diferentes fases do desenvolvimento da percepção e do pensamento. com base em seus mitos. Isso talvez explique. Enquanto o senso comum revelava-se pela cultura acumulada. as que se expressam como conhecimento dominante e que tem origem no mundo acadêmico. Não apenas as formas construídas pelo senso comum. explicações sobre o hipnotismo passam por caminhos de muitos vieses. no decorrer da evolução das civilizações. embora contraditórias entre si. mas. Sc. incorporam conceitos e pré-conceitos centrados no pensamento mítico. ora radicalizadas no mito. que possuem formas tão antagônicas e se apresentam ora centrada na perspectiva da ciência cartesiana. As diferentes fases da evolução das idéias. Diferentes formas de pensar e a conseqüente revelação do conhecimento sempre fascinaram o ser humano. incluído as psicoterapias e. dogmático e . Até o século V a. A chave da explicação do mundo e da experiência humana estaria então. assim. e não fora dele. o funcionamento da natureza e dos processos naturais. Os mitos sobrevivem e muitos elementos chegam às sociedades . misterioso e divino. no próprio mundo. O pensamento mítico se caracteriza como uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive. são governadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural. Forças superiores. VI a. ou seja. as causas dos fenômenos naturais. Eles serviam como intermediários ou pontes entre o mundo humano e o mundo divino. o sagrado e magia. dos espíritos. Como proposta para o homem tentar entender o mundo sem recorrer ao misterioso e dogmático surge. aquilo que acontece aos homens. Assim. na Grécia no séc. que não se pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana. O povo grego antigo tinha essa percepção de mundo e o próprio termo grego mythos significa um tipo bastante especial de discurso que pressupõe adesão e aceitação dos indivíduos para a explicação mágica de sua experiência do real. o que veio a se consistir no chamado naturalismo. Mas. Sempre se acreditou que apenas sacerdotes e magos eram capazes de interpretar os mistérios do mundo. o pensamento filosófico. separando o corpo da alma e dando-lhe eternidade. nem se presta ao questionamento. dos astros e das estrelas do céu. A explicação dada pelo pensamento mítico esbarra. não se fundamenta.. para o mistério. a origem do mundo. a origem e o destino das pessoas. baseada essencialmente em causas naturais. O mito não se justifica. O pensamento mítico tem uma característica paradoxal. capazes de influir e governar a natureza e o destino dos homens é crença muito antiga. Portanto. superior.C. na impossibilidade do conhecimento. isso não significa o desaparecimento do mito como forma explicativa. ou seja. É neste sentido que se justifica a tentativa dos primeiros filósofos da escola jônica de buscar uma explicação do mundo natural na física (physis). universais e invisíveis provindas dos deuses. à crítica ou à correção. sempre verdadeiro. para esses pensadores. É com base nesta forma de pensar que Platão (427-347 a. Um dos elementos centrais do pensamento mítico é a forma de explicar a realidade apelando para o sobrenatural. por tanto inquestionável. mas recorre ao mistério e ao sobrenatural. através dos rituais praticados nos oráculos e nas sociedades secretas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 161 sagrado. Pretende uma explicação da realidade. no inexplicável. exatamente àquilo que não se ser explicado.) justifica a condição de mortal do ser humano. confirmado na vida social. Significava modelos para a conduta humana.C. bem como seus valores básicos. começam a surgir cidadesEstado. com a presença de diversas línguas. É nesse contexto que a filosofia encontrará as condições favoráveis para o seu nascimento. mas nas antigas colônias gregas do Mediterrâneo oriental. Tales de Mileto pode ser considerado o primeiro filósofo. Para lá eram levadas mercadorias que eram embarcadas e transportadas para outros pontos do Mediterrâneo que os gregos cruzavam com suas embarcações. que torna possível uma nova forma de pensar e alimenta as primeiras escolas do pensamento filosófico no séc. Sc. Com seu apelo ao sobrenatural e aos mistérios. isto é. mais preocupada com a realidade concreta. fossem bastante tolerantes. talvez também de Índia e China. O pensamento filosófico surgiu. Esparta.C. A religião vai tendo seu papel reduzido paralelamente ao surgimento de uma nova ordem econômica baseada agora em atividades comerciais e mercantis.. a influência do pensamento mítico permanece por muito tempo ativo também nas escolas de pensamento filosófico. como no pitagorismo e na obra de Platão. o imaginário coletivo. Nas cidades gregas do Mediterrâneo oriental conviviam de forma harmônica diferentes culturas.162 Antonio Almeida Carreiro. com a atividade política mais intensa e com as trocas comerciais. Tebas ou Micenas. VI a. A partir da invasão da Grécia pelas tribos dóricas vindas provavelmente da Ásia central. dentre as quais se destacaram Mileto e Éfeso. sobretudo os gregos fundadores das cidades. Pérsia. cultos e mitos. em torno de 900 a 750 a. não nas cidades do continente grego como Atenas. pois o interesse comercial fazia com que os povos que ali se encontravam. Considerando o fato de que cada povo tem sua forma . As colônias gregas do mar Jônico eram então cidades cosmopolitas imersas no pluralismo cultural.C. no mar Jônico. o pensamento mítico vai deixando de satisfazer às necessidades da nova organização social. nas quais ocorre uma participação política mais ativa dos cidadãos. território que hoje faz parte da Turquia. Essas colônias. e. na península da Anatólia. Dr. superstições e fantasias. sustentado por uma aristocracia militar e mantido por uma economia agrária. eram importantes portos e entrepostos comerciais. O pensamento mítico fez parte de uma sociedade baseada em uma monarquia divina em que a classe sacerdotal tinha grande influência e o poder político era hereditário. contemporâneas e se manifestam como crenças. A perda do poder explicativo baseado no mito resulta de um longo período de transição e de transformação da sociedade. Mas. costumes. locais de encontro das caravanas provenientes da Mesopotâmia. Aristóteles (Metafísica I e II) chama os primeiros filósofos de physiólogos.C. a partir de causas puramente naturais. os assim chamados filósofos pré-socráticos. Algumas das características centrais desse novo tipo de pensamento exercem influências em quase todos os pensadores daquele período (séculos VI e V a. Explicar passa a ser relacionar um efeito a uma causa que o antecede e o . • o conceito de arqué ou elemento primordial. de dar explicações absolutas e verdadeiras sobre os questionamentos humanos. Com isso. • o logos como explicação racional do kosmos. A principal contribuição dos primeiros pensadores ao desenvolvimento do pensamento filosófico e. Segundo esse tipo de visão. A natureza das coisas é interpretada em termos puramente naturais. • a concepção de kosmos (Universo racionalmente ordenado). as tradições míticas e religiosas vão perdendo progressivamente sua importância. estudiosos ou teóricos da natureza (phvsis). • a causalidade em termos estritamente naturais. seus costumes e valores. Suas teorias buscam dar uma explicação causal dos processos e dos fenômenos da natureza. ou seja. A causalidade Essa noção é a característica central da explicação da natureza pelos primeiros filósofos. também científico. por terem vivido antes de Sócrates. Nas sociedades gregas. é possível que o confronto entre as diferentes tradições míticas tenha contribuído para o enfraquecimento do poder do mito. O estabelecimento de uma conexão causal entre determinados fenômenos naturais constitui a forma básica da explicação filosófico-científica. surge o tipo de pensamento inaugurado por Tales e pela chamada Escola de Mileto. • o caráter crítico. pode-se dizer. a compreensão da realidade natural encontra-se nesta própria realidade e não fora dela. isto é.). a partir de alguns conceitos básicos que rompem com a narrativa do mito. A noção de physis O objeto de investigação dos primeiros filósofos-cientistas é o mundo natural. dedicadas às práticas comerciais e aos interesses pragmáticos. foi construir um conjunto de noções para tentar explicar a realidade. discussão e não dogmatismo. encontráveis no mundo natural e concreto. O pensamento das primeiras escolas de filosofia toma por base: • a noção de physis (natureza). e não em um mundo sobrenatural ou divino como nas explicações míticas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 163 de ver o mundo. a exposição levaria ao inexplicável. A busca por um elemento primordial (água) que dá unidade à natureza é a contribuição mais importante de Tales. Neste ponto nasce a noção de arqué (elemento primordial). Na narrativa da guerra de Tróia na Ilíada de Homero. fenômenos humanos e naturais têm. por sua vez. num processo sem fim. É . um princípio. mares e lagos. pois. provavelmente. a um mistério tal como no pensamento mítico. não era simplesmente a substância encontrada em rios. determina. que possa servir de ponto de partida para o processo racional. Portanto. e assim sucessivamente. ou seja. O primeiro a formular essa noção é justamente Tales de Mileto. Tales escolheu a água como elemento primordial influenciado. mas é importante. É a existência desse nexo que torna a realidade inteligível e permite considerá-la como tal. Para ele. Trata-se de uma explicação causal. É a possibilidade de buscar uma causa anterior – mais básica – até o infinito. ou um conjunto de princípios. A água. A explicação causal possui um caráter regressivo. porém dada através da referência a causas sobrenaturais.164 Antonio Almeida Carreiro. Isso invalida o próprio sentido da explicação. os deuses tomam partido dos gregos e dos troianos e influenciam os acontecimentos em favor de um ou de outro. principalmente em locais próximos a deltas de rios. Cada fenômeno poderia ser tomado como efeito de uma nova causa. que. por antigos mitos do Egito e da Mesopotâmia – regiões áridas onde a água teve um papel crucial para o desenvolvimento de civilizações. nesse caso. seria efeito de uma causa anterior. entretanto. é reconstruir o nexo causal existente entre os fenômenos da natureza. causas sobrenaturais. que o nexo causal se dê apenas entre fenômenos naturais. Sc. considerando que o pensamento mítico também estabelece explicações causais entre fenômenos naturais e sobrenaturais. O conceito de arqué Para evitar a regressão ao infinito da explicação causal surge a necessidade de se estabelecer uma causa primeira. explica sempre uma coisa por outra. enquanto princípio para a explicação do mundo. em quase tudo que existe na natureza. é tomar um fenômeno como efeito de uma causa. em seus três estados físicos (líquido. a água (hydro) era o princípio e o fim de tudo. Assim. os filósofos começam postular a existência de um ponto de partida para todo o processo do pensamento. mais uma vez. Outro fator que pode ter influenciado Tales é presença da água. sólido e gasoso). Dr. Demócrito de Abdera acrescenta mais um elemento. indefinido. No imaginário coletivo a água vai se tornando referencia indispensável para a explicação de todas as coisas questionáveis. o kosmos. o mais primordial. o termo “cosmético” como símbolo de beleza. se transforma em um elemento mágico capaz de promover curas e purificações do ser humano. Heráclito dizia ser o fogo o princípio explicativo para tudo que fosse questionável. A concepção de kosmos Para os filósofos compreender o mundo era necessário outro principio. presente em todas as coisas em maior ou menor grau. com o seu poder de exercer a fascinação. chegando até o período moderno nas especulações da alquimia no Renascimento até o surgimento da moderna química no século XVIII. passa a representar mais uma facilidade na relação do humano com o divino. o fortalece. inteiramente contido na esfera dos céus. ar. circularidade. Aromatizar o ar passa a ser entendido como forma de melhor sentir sua presença e logo esse elemento passa a ser entendido como também capaz de promover grades benefícios para o ser humano. tese retomada por Platão e difundida em toda a Antigüidade. Paradoxalmente a filosofia que surge em substituição ao pensamento mítico. daí. serenidade e beleza representadas pelos astros. Diferentes pensadores buscaram eventualmente diferentes princípios explicativos. acreditava que tudo era composto por átomos e vazio e o atomismo passa a ser a medida para explicar tudo. os sucessores de Tales na Escola de Mileto. assim. A idéia de um Cosmo finito.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 165 um principio simbolizado um elemento real. o mais básico. um como perfeito e o outro imperfeito. posteriormente de lamparinas e velas. O significado do termo para os gregos liga-se diretamente às idéias de ordem. o imperfeito corruptível e perecível se opõe ao perfeito que é eterno e imutável. bem como o espaço celeste. subjacente à própria natureza. fechado sobre si mesmo. o átomo. Empédocles de Agrigento realizou uma síntese filosófica em quatro elementos: água. Passa a ser a fonte de explicação para o que não se pode compreender. A visão do Cosmo distinguia a natureza celeste da natureza terrestre. fogo e terra. aliás. o mundo supralunar e o mundo sublunar que se opunham. harmonia. A beleza resulta da harmonia das formas vista no cosmo. um princípio abstrato significando algo de ilimitado. e a chama de fogueiras. esférico. por exemplo. já não se limitam apenas às iluminações de ambientes. a . Anaxímenes e Anaximandro adotaram respectivamente o ar e o apeíron. natural e ordenado de acordo com certos princípios racionais. é um logos. O logos como racionalidade Para o grego compreender o mundo faltava outro princípio. como explicação dos processos e fenômenos naturais e como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do Universo. portanto. É porque este real pode ser compreendido que se pode fazer ciência. O logos enquanto discurso difere fundamentalmente do mythos. a argumentação da realidade. se opõe ao caos que seria precisamente a falta de ordem. Terra imóvel em seu centro e fora do qual. o discurso. entendido como ordem. sempre girando em torno de um ponto central do qual não se afasta nem se aproxima. O discurso dos primeiros filósofos explicando o real por meio de causas naturais. passam a representar o modelo para a vida humana. serenidade e equilíbrio. o discurso racional em que as explicações são justificadas e estão . representa a idéia de perfeição que deveria influenciar o humano. a astrologia é envolvida pelo pensamento mítico. em que certos elementos são mais básicos e se constitui de forma determinada. nem tempo. Os astros celestes. Assim. principalmente os noturnos como a Lua e as Estrelas. Daí se origina o termo “cosmologia”. os astros celestes eram vistos como circular.166 Antonio Almeida Carreiro. Dessa idéia filosófica deriva a convicção da influencia dos astros na vida e no destino das pessoas. como dizia Aristóteles. O cosmo. frutos não de uma inspiração ou de uma revelação. em Heráclito de Eféso. espelham harmonia. próprio dos seres perfeitos e eternos que habitavam os céus. Sc. mas ao contrário da Terra. isto é. tendo a causalidade como lei principal. de movimento uniforme. O logos é. Há na concepção grega o pressuposto de correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real para a compreensão do cosmo. O termo grego logos significa literalmente discurso. O logos é uma explicação em que razões são dadas. significando aí a existência de princípios e leis que regem e organizam essa realidade. nem lugar. sem começo nem fim. eterno. suas atitudes e sua existência. narrativa de caráter poético que recorre aos deuses e ao mistério na descrição do real. por exemplo. nada existe. As coisas terrestres eram imperfeitas. e é com tal acepção que é explicitado. o logos. mas simplesmente do pensamento humano aplicado ao entendimento da natureza. O cosmo passa a ser contemplado pelos pensadores como o mundo real. Logos são razões argumentativas. perfeito. tentar explicá-lo teoricamente. Dr. É a racionalidade do mundo que o torna compreensível ao entendimento humano e a ordem do cosmo é vista como uma ordem racional. do mito. à reformulação. Em lugar de uma transmissão dogmática da doutrina. como o ar e o apeiron como tendo esta função. encontra-se uma tradição crítica da doutrina. a única exigência era que as propostas divergentes pudessem ser justificadas. discípulo de Tales. A explicação parece ser . O caráter crítico Para construir o logos era necessário o crítico. em si mesmas e. mas sim uma nova atitude em relação aos mitos. no decorrer dessa discussão crítica. duvidam de sua veracidade. um dos aspectos mais fundamentais do saber que fundamenta as primeiras escolas de pensamento. em lugar da teoria tradicional. O caráter crítico impedia que as teorias formuladas fossem dogmáticas. Anaxímenes e Anaximandro. quando não aceitaram a idéia do mestre de que a água seria o elemento primordial e postulam outros elementos. a correções. Nas escolas filosóficas o debate. na qual todo o interesse consiste em preservar a tradição autêntica. Heráclito caracteriza a realidade como tendo um logos. Daí deriva o termo “lógica”. tenha também divergido de modo consciente da doutrina de seu mestre. Um dos pressupostos básicos da visão dos primeiros filósofos é a correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real. Como se trata de construções do pensamento humano. a atitude crítica. estão sempre abertas à discussão. e não de verdades reveladas de caráter divino ou sobrenatural. e que pudessem por sua vez. de suscitarem divergências e discordâncias. ou seja. de idéias de um filósofo. não é a substituição dos mitos por algo mais “científico”. a observação é adotada como testemunha dos fatos. Não foi por mero acaso que Anaximandro. de permitirem formulações e propostas alternativas. a dúvida e a crítica tornam-se agora parte da tradição da filosofia. mas como teorias passíveis de serem discutidas. apresentadas como verdades absolutas e definitivas. e que Anaxímenes. discípulo de Anaximandro. O que é acrescentado de novo na filosofia grega. como aconteceu na escola de Mileto com os dois principais seguidores de Tales. explicadas e fundamentadas por seus autores. encontra-se a tradição das teorias que criticam.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 167 sujeitas à critica e à discussão. Uma tradição superior que substitui a preservação tradicional do dogma e. sobretudo na escola jônica. ser submetidas à critica. a divergência e a formulação de novas hipóteses eram estimulados. desenvolveu uma teoria que divergia explícita e conscientemente de seu mestre. Outros pensadores começam a fazer perguntas a respeito do mito. o que tornaria possível um discurso racional sobre o real. uma racionalidade que seria captada pela razão humana. benzida. os minerais. Mais forte do que o imã era a crença no elemento primordial hydro. inclussive defendidas por Charcot e outros médicos ilustres de Paris. o uso de incensos se faz necessário para evidenciar o ar como meio de invocação do sobrenatural para garantir a virtude e a saúde humana. que o próprio fundador da escola tenha desafiado seus discípulos a criticarem sua teoria. é considerada incontestável como remédio contra enfermidades do corpo. Mesmo com o avanço do conhecimento produzido pelos pensadores astrônomos. No século XVI e XVII a medicina e a igreja caminhavam juntas. perfeitamente . Dr. passam a representar elementos mágicos. Do elemento terra são inferidos as mais fantasiosas hipóteses. a tradição da escola. tinham como pressuposto básico a existência de um mundo perfeito acima da Lua. encontrada na mãe Terra. E a água passa a fazer milagres. Os astros. Acreditava-se que os imãs possuíam vida e ao exercerem atração ao ferro dava-lhe vida também. e que eles tenham transformado. a dor ocasionada por numerosas enfermidades poderia ser aliviada. trocando o dogma pela reflexão do pensamento. principalmente os metais magnéticos. A crença prestigia também o ar como mais um elemento poderoso na promoção da saúde e aromatizar é a forma mais prática de sentir sua força e presença. os cristais de rocha. com esta atitude de fazer crítica. mesmo sendo uma época de grande progresso da ciência. o mito prossegue exercendo grande influencia e projetando as mais variadas hipóteses. O poder de cura da argila. vão incentivar muitas outras hipóteses de curas. Acreditavam que esse mundo cósmico exercia enorme influência sobre as formas de vida existente na Terra. O povo grego acreditava que aplicando ímãs naturais em partes do corpo. no século XVI e no início do XVII o pensamento ainda estavam impregnados do ocultismo e da magia envolvendo a astrologia. habitado por seres perfeitos. mais perfeitas e divinas. superiores sobre o mundo imperfeito das coisas terrestres. Essas idéias atravessam os séculos e chegam até o fim do século XIX e. A “medicina magnética” é largamente praticada no hospital La Salpêtrière até o inicio do século XX. Sc. Com base no conhecimento filosófico. A Igreja defendia a idéia de que o mundo acima da Lua era reservado à habitação das substâncias mais puras. Aos imãs naturais eram atribuídos poderes de curas para as enfermidades humanas.168 Antonio Almeida Carreiro. fluidificada ou magnetizada é entendida como o elo de ligação entre o humano e o divino. principalmente do ponto de vista das terapias. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 169 lisos, perfeitamente esféricos, descrevendo órbitas perfeitamente circulares, era oposto ao mundo imperfeito do dia-a-dia dos homens. A concepção da Terra não perfeita, não lisa como os astros do céu, induzia a crença de que as montanhas existiam em virtude do pecado dos homens que habitavam esse mundo fechado, no topo do qual, formando seu “teto”, estava a segurança do céu habitado por Deus, lugar para onde se dirigiam os homens bons depois da morte. A certeza da influencia dos astros na vida, na saúde e sorte das pessoas fez surgir a medicina astrológica, objeto de grande interesse científico na Europa. Tycho Brahe, estudioso da medicina da época, chega mesmo a elaborar uma lista de equivalência entre os astros e a saúde: ao Sol equivalia o coração, o estômago, o cérebro, os nervos e o olho direito; à Lua, o braço, a cabeça, o ventre e o estômago da mulher; a Vênus, o fígado, o umbigo, e assim por diante. Paracelsus, no século XVII, elabora todo um estudo das doenças causadas por influências cósmico-climatológicas, apontando o poder dos astros na saúde e na doença dos seres humanos, cada parte do corpo humano estava sujeita a um astro. Essas idéias encantam Mesmer na segunda metade do século XVIII que, com base na visão de um fluido astral associado ao poder dos metais magnéticos influenciando a vida na terra, elabora sua teoria do “magnetismo animal”, marco teórico inicial para se entender os efeitos da hipnoterapia. Influenciados pelas escolas de filosofia quanto à concepção de cosmo, na Grécia antiga aparecem os pensadores astrônomos que, fazendo especulações sobre os astros celestes, iniciam a quebra do dogmatismo. Aristóteles de Estagira explicou que as fases da Lua dependem de quanto da parte de sua face é iluminada pelo sol e está voltada para a Terra. Explicou também como ocorre um eclipse. Heraclides de Pontus propôs que a Terra gira diariamente sobre seu próprio eixo e que Vênus e Mercúrio orbitam o Sol. Aristarco de Samos foi o primeiro astrônomo a propor que a Terra se movia em volta do sol, antecipando Copérnico em quase dois mil anos. Eratóstenes de Cirênia, bibliotecário e diretor da biblioteca Alexandrina de 240 a 194 a.C. foi o primeiro a medir o diâmetro da Terra. Hiparco de Nicéia, considerado o maior astrônomo da era précristã, construiu um observatório na ilha de rodes, onde fez observações durante o período de 160 a 127 a.C. O último astrônomo importante da antiguidade foi Ptolomeu que, afirmando ser a terra o centro do Universo, cria o modelo geocêntrico. 170 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. Entre a Baixa Idade Média (século XI a XV) até a Idade Moderna (século XV ao XVIII), a observação dos astros celestes continua encantando muitos outros pensadores, entre eles Nicolau Copérnico que estabeleceu o Modelo Heliocêntrico (O Sol como centro do Universo) e criou conceitos importantes. Observou que a Terra é um dos seis planetas, então conhecidos, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, girando em torno do Sol. Deduziu que quanto mais perto do Sol está o planeta maior é sua velocidade orbital. Baseado em Copérnico, Kepler cria a Lei das Órbitas Elípticas, afirma que a distância do Sol ao planeta varia ao longo de sua órbita. Cria também a Lei das Áreas, afirmando que a reta unindo o planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais. Finaliza com Lei Harmônica, estabelecendo que planetas com órbitas maiores se movem lentamente em torno do Sol. Até o século XVI e no início do XVII, mesmo com o avanço do conhecimento sobre o Universo, a igreja conservava o pensamento dos antigos filósofos, impregnado do ocultismo, e trava o desenvolvimento da ciência. Francis Bacon contesta a igreja, afirmando que o seu papel não é explicar a natureza e sim a religião. Segundo ele, deveria a igreja responder apenas questões sobre Deus. Quanto à natureza, dizia, era da competência humana investigar através da observação e da experimentação dos fenômenos, cabendo assim ao ser humano investigar a natureza para ela revelasse seus segredos. Bacon inaugura nova forma de pensamento, tendo como principal edificador Galileu Galilei. Embora a tradição filosófica do saber aristotélico, incorporado à teologia católica sustentada pela igreja e ensinada nas escolas, viesse sendo cautelosamente criticada, Galileu foi quem mais frontalmente se opôs, embora outros o tenham antecedido como Giordano Bruno, Copérnico, Bacon; além dos seus contemporâneos, Descartes, Kepler e Campanella. Mas foi Galileu o primeiro a formular o método experimental para se chegar à resposta, o primeiro a formular o problema crítico do conhecimento. Entre todos os astrônomos da Idade Média até a Moderna Galileu Galilei foi o mais brilhante, nascido nas proximidades de Pizza, em 1564, inventa a luneta, um instrumento que possibilitava o ser humano transcender o limite da visão e dos conhecimentos da época. Através dela, Galileu viu o espetáculo celeste que ninguém antes dele tinha visto; as montanhas da lua, as manchas do sol, os satélites de Júpiter e o anel de Saturno, as estrelas novas e as fases de Vênus, a constituição da Via Láctea e de várias nebulosas. Essa Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 171 nova visão do cosmo contribui decididamente para consolidar o modelo heliocêntrico, embora a igreja ainda impusesse o modelo geocêntrico, Galileu sustentou a nova verdade contrária ao dogma da igreja. Do ponto de vista da historia do conhecimento, Galileu foi o primeiro a estabelecer uma linguagem adequada para interrogar a natureza através do método teórico experimental, o seu método estabelecia passos como a observação dos fenômenos, análise dos elementos constitutivos desse fenômeno, a indução de hipóteses, a verificação das hipóteses, a generalização dos resultados e a confirmação das hipóteses. Cria com o método experimental e a teoria das experiências coincidentes, estabelecendo o principio de Causa e Efeito para explicar os fenômenos. Com isso inaugura o processo de pensamento no qual a resposta se revela por dedução a partir dos fatos observados. Galileu rompe com a filosofia tradicional e cria seu método cientifico. Baseava-se nas observações, nas vinculações do que via com as demonstrações quantitativas, matemáticas dos fatos. Criando assim dois princípios inseparáveis para a construção da pesquisa; a observação e a dedução. Da experiência sensível dos fatos e a dedução necessária, seria inferida a solução do problema investigado. Seu método pode ser resumido em quatros momento: • A observação imediata do fenômeno na sua complexidade. • Resolução da complexidade nos elementos simples traduzíveis em relações quantitativas, ou em linguagem matemática. • Formulação de uma hipótese explicativa (momento teórico). • Verificação da hipótese como cálculo e experimento (experimentação). Galileu passa, assim, dos fatos à idéia da sua conexão racional, e desta, volta aos fatos, mas com a dedução de questionamentos. Dessa forma, as observações das montanhas na Lua, das manchas no Sol, das Estrelas novas, eram provas e documentação da unidade e igualdade entre a natureza celeste e a natureza terrestre que a tradição aristotélica medieval e a igreja opunha como contrárias. Sua descoberta é prova que Copérnico tinha razão, o Sol, fonte de luz do mundo, estava no centro do Universo e a Terra gira em torno dele e em torno do seu eixo. Com essas descobertas, o homem perde a certeza dos céus depois da morte, perde a certeza de sua saúde baseada na serenidade dos astros. Tudo conta contra aos dogmas da igreja e Galileu é, por isso, julgado e condenado pela Inquisição em 1633 e obrigado a renegar suas afirmações. Morreu em 1642, aos 78 anos de idade, 172 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. completamente cego, sendo que sua cegueira foi atribuída pelo clero como castigo divino. O desenvolvimento das navegações, do comércio, da manufatura, as novas terras que são incorporadas ao circuito comercial europeu, a afirmação da burguesia mercantil por trás de quase todos os grandes empreendimentos, especialmente nas cidades portuárias, origem do sistema capitalista, modifica a maneira de viver da sociedade européia ocidental e afeta o plano das idéias, contribuindo para queda da produção cultural. Os intelectuais ligados diretamente à igreja começam a ser substituído por outros não comprometidos com dogmas religiosos. No plano do conhecimento, quando a racionalidade do sentido da vida, também ocorrem mudanças e, entre os séculos XIV e XV, reaparece o humanismo, doutrina que tem como princípio a idéia de que o homem é a medida de todas as coisas, elaborada pelo filósofo grego Pitágoras (485 a.C. e 410 a.C.). O século XVI é marcado pelo humanismo, ou seja, o conhecimento do homem pelo homem. É a idéia de que o homem se faz por si mesmo. Trata-se agora não do ser humano contemplar a natureza, mas intervir nela, atuar sobre ela. O humanismo ressurge como movimento nas artes, na literatura e na filosofia durante o pré-renascimento italiano que considera a volta à cultura e aos ideais da antiguidade greco-romana e, em particular, à sua literatura, como única maneira de restaurar e valorizar a dignidade do espírito humano. É uma reação contra a escolástica, o conjunto das doutrinas oficiais da igreja católica que tenta conciliar razão e fé e, nesse sentido, opõe-se potencialmente às religiões reveladas, como o cristianismo. Na primeira metade do século XVII, René Descartes (15961650), filósofo e matemático francês, foi considerado o fundador do racionalismo moderno, repensou a filosofia da sua época, desenvolvendo um corpo doutrinário segundo a imagem da “árvore do conhecimento”, cujas raízes são a metafísica, o tronco, a física, e os ramos, as ciências derivadas, de modo especial a medicina, a mecânica e a moral. Descartes se afasta dos processos indutivos de Galileu e propõe o método racionalista-dedutivo, afirmando ser o único meio científico para se chega à certeza. Seu método (cartesiano) é executado quando se pesa, mede, quantifica, etc. É totalmente fundamentado nas leis da física e instrumentalizado, sobretudo com o uso da Matemática. Descartes postula quatro regras básicas para se chegar á verdade cientifica: Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 173 • Regra da evidência – Não acolher jamais como verdadeira uma coisa que não reconheça como tal. • Regra da Análise – Divide cada um das dificuldades em tantas partes quanto necessárias para resolvê-las (reducionismo). • Regra da Síntese – Conduzir ordenadamente os pensamentos, ou seja, ordenando através de complexidade crescente. • Regra da Enumeração – Realizar enumeração cuidadosa para ter certeza de não haver omissões. Descartes utilizava a dúvida metódica como instrumento básico de raciocínio contra o dogmatismo vigente na época “penso, logo existo”. O seu método é analítico e implica na decomposição do objeto em seus componentes básicos. Na visão de Descartes (cartesiana), toda a natureza divide-se em domínios distintos e independentes: o da mente (res cogitans) e o da matéria (res extensa); “coisa pensante” e “coisa extensa”, alma e corpo, sendo ambas determinadas por uma terceira, eterna e infinita substância, Deus. Sob sua orientação intelectual, surgiu a concepção mecanicista: o homem-máquina habita o grandioso Universomáquina, regido por leis matemáticas perfeitas. Com sua teoria do conhecimento, Descartes tornou-se o pai do conhecimento moderno e profeta do racionalismo. Descartes cria o método da investigação cientifica, da organização sistemática, e faz surgir a metodologia cientifica dando uniformidade ao pensamento cientifico. A certeza agora vem através da razão e a verdade se revela a partir da: a) Observação do fenômeno b) Análise dos elementos constitutivos desse fenômeno c) Indução de hipóteses d) Verificação das hipóteses e) Generalização dos resultados e) Confirmação das hipóteses. O método de Descartes é fundamentado em quatro princípios básicos: a) Jamais aceitar alguma coisa como verdadeira sem ter certeza de que esta o é, ou seja, evitando a precipitação e a prevenção. b) Dividir os conceitos complexos em conceitos cada vez mais simples (reducionismo), facilitando o seu entendimento e análise. c) Ordenar os pensamentos de forma a começar pelos mais simples avançando até os mais complexos, de maneira a assegurar uma melhor compreensão dos mesmos (reducionismo). e) Fazer o máximo de possibilidades para poder escolher a mais genérica e fazer o máximo de revisões possíveis, para ter certeza de não esquecer de nada. Utilizando os princípios dedutivo e indutivo e as regras de Descartes, no início do século XVIII, Isaac Newton (1642-1727) matemático, físico, astrônomo e teólogo inglês, tem como obra 174 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. exponencial “Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, que constitui a mais ampla e acabada sistematização da física clássica, expondo os princípios e a metodologia da moderna pesquisa científica da natureza. Graças a ele, estabeleceu-se a visão do mundo como uma espetacular e perfeita máquina, movida por leis causais. Newton Inicia o novo paradigma, que estuda as partes para se chegar ao todo e, nesta perspectiva, tudo é visto como uma máquina e deve se entender cada peça para se entender o que é à máquina (o todo), reduzindo-se a sua menor parte, melhor será o entendimento pela simplificação do problema. A verdade cientifica tem explicação mecânica (indutiva) e não inferitiva. Esse novo método em busca de respostas passa a ser conhecido como paradigma Mecanicista Reducionista Cartesiano-Newtoniano. Isaac Newton é o fundador da Mecânica clássica, foi quem estabeleceu, a lei gravitacional defendida no seu livro Principia (1713), obtida a partir da observação dos fatos particulares, chega-se por indução ao estabelecimento da lei geral e, a partir desta, por dedução, outros fatos particulares são também inferidos. Superando o método empírico-indutivo de Bacon e Galileu e o racional-dedutivo de Descartes, o seu sistema de pensamento cientifico unificou a metodologia da experiência e da matematização. Foi Newton quem deu a explicação completa ao movimento e à forma como as forças atuam criando a Lei da Inércia, Lei da Força, Lei da Ação e Reação e estabeleceu os grupos de conceitos que conformam o substrato conceitual da ciência moderna; os conceitos de espaço e tempo absolutos e o de partículas materiais, que se movimentam e interagem mecanicamente no espaço tridimensional. Estabeleceu os conceitos de forças fundamentais distintas da matéria e a descrição dos fenômenos em termos de relações quantitativas, e o conceito de rigoroso determinismo e da possibilidade de uma descrição objetiva dos fenômenos naturais. O paradigma cartesiano-newtoniano consolidou-se no século XVIII, influenciando o chamado Iluminismo, sendo um dos principais mentores desse movimento John Locke (1632-1704), filósofo inglês que, influenciado por Hobbes, advogava o empirismo filosófico reduzindo o conhecimento ao seu aspecto psicológico. Criticava a teoria do inatismo (idéias inatas existentes no espírito humano) e considerava não existir nenhuma verdade autônoma, a mente era como um tipo de papel em branco, onde todo o conhecimento seria gravado a partir da experiência sensível e da reflexão. É considerado o grande representante do individualismo liberal (diferente de Hobbes Bertallafly desenvolve a teoria geral dos sistemas e. A. Considera que cada parte. o holismo. pode-se dizer. afirmando que tudo é relativo. facilitando a visão Holística. investigado a natureza subatômica da matéria inaugura o modo de “fazer ciência” na modernidade e pósmodernidade. porque a compreensão dos espaços vazios entre os elementos do átomo de uma matéria sólida passa a negar as concepções da física ortodoxa. Nesse paradigma tomase a aparte como componente de um todo (holos) ou sistema. com seus grandes pilares: a Mecânica. a Física Clássica encontrava-se em pleno apogeu. O subsistema isoladamente possui características. percebe o universo como uma rede de inter-relações dinâmicas e orgânicas. quando analisada isoladamente. inicia o paradigma Holístico ou Sistêmico como uma nova tendência do pensamento. sem negar as características mecânicas que se apresentam na natureza. Cria a teoria da relatividade. do todo se pode entender a parte e não da parte se pode entender o todo (nega o reducionismo). elementos e padrões que no todo se alteram. encontra-se hoje em oposição com o paradigma da chamada ciência holística. isto quer dizer que cada parte no conjunto sistêmico se transforma e para se entender a parte é preciso conhecer o todo. Com as contribuições dos pesquisadores . A partir dele. A partir daí o objeto de investigação passa a ser considerado como um subsistema que faz parte de sistemas maiores. apresenta características que no todo se modificam. Einstein. desencadeado por Newton. No final do século XIX. A noção cartesiana-newtoniana do mundo como uma espetacular máquina torna-se obsoleta e insustentável. elabora a linguagem de bloco que é base para a análise sistêmica. perguntando como se explica de forma mecânica a transmissão da luz e das ondas eletromagnéticas através de espaços com ausência de matéria. O mecanicismo vê o Universo como uma máquina determinística. a Termodinâmica e a Eletricidade. O paradigma mecanicista começou a ser abalado seriamente pela pesquisa dos fenômenos elétricos e magnéticos nas primeiras décadas do século XX e começava a surgir uma nova Física. o todo é composto de subsistemas interdependentes e auto-organizados.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 175 que defendia a teoria do despotismo) e era contra o poder inato (de origem divina). O paradigma científico mecanicista. Questiona o mecanicismo. facilitando o surgimento de um novo paradigma. mas o “todo” não contém a “parte”. de certo modo. de teia de interconexão. nele subjacente.176 Antonio Almeida Carreiro. é complexa teia de relações onde todos os fenômenos são determinados por suas conexões com a totalidade. não aceitando nenhuma constante. a abordagem Holística pode ser sintetizada nas seguintes características: a) Integra e ultrapassa a . Essa filosofia abandona a idéia de constituintes fundamentais da matéria. Surge uma realidade onde só há espaço. A realidade criada pela nova física apresenta-se viva e essencialmente dinâmica. não há inércia. que supera e transcende a concepção clássica e linear de causa e efeito. diz que cada elemento de um campo é um evento refletindo e contendo todas as dimensões desse campo. essa abordagem consiste na consideração de que todos os fenômenos ou eventos se interligam e se inter-relacionam de uma forma global. passividade ou imutabilidade. instantâneas e imprevisíveis. Defende que o “todo” é maior que a soma de suas “partes”. Essas conexões podem ser locais e não-locais. onde cada partícula. É uma visão na qual o todo. conduzindo a uma nova noção de causalidade estatística. o Universo é uma teia dinâmica de eventos interconectados. sendo que cada parte contém o “todo”. o conceito de não-separatividade. isso evolui para o quê passa a ser conhecido como a Teoria Sistêmica da Vida. não há lugar para teorias definitivas. em interações constantes e paradoxais. modernos. nada vive isoladamente. de correlação. Se uma parte for dessecada e conhecida. o conceito do mundo é de um todo unificado e inseparável. mas diversos modelos do Universo. consiste em todas as demais partículas. estão estreitamente ligadas. no conjunto passa a ser desconhecida porque vai adquiri outras propriedades que isoladamente não se revelam. Então. Na Física moderna. No paradigma holístico. e cada uma de suas partes. As recentes idéias científicas criaram uma visão de Universo inacessível à mentalidade cartesiano-newtoniana. Sc. onde toda fronteira é criação da mente humana. tudo é interdependente. O paradigma holístico desenvolveu-se a partir de uma concepção sistêmica. O Universo com ilimitado potencial de manifestação onde não existe um. sem nenhuma divisão. A Natureza é transcende a toda e qualquer noção de entidade ou elemento. cuja estrutura é determinada pela coerência total de todas as suas inter-relações. tudo vibra e se renova perpetuamente e o único que permanece é a mudança. Dr. lei ou equação fundamental. O universo é descrito como uma “teia dinâmica de eventos inter-relacionados”. todos os ramos do conhecimento devem ser abrangidos pela transdisciplinaridade. O novo paradigma do século XX deve. de acordo com os padrões de ciência do século XIX. proporcionar caminhos para a descoberta de um "novo" ser humano. A verdade é que o pensamento cientifico. a noção de verdade depende. respostas para as verdades do homem e da natureza. metódico. sistema filosófico idealizado por Augusto Comte (1798-1857). Se esta nova metáfora é realmente a solução para verdadeiras respostas. antes de tudo. além do raciocínio crítico. Este pesquisador deve ser racional e intuitivo para buscar. Na fase atual da pesquisa acadêmica. só o tempo e as aspirações do conhecimento dirá. numa abordagem aberta e evolutiva. Aristóteles denominou de física à filosofia e esta abrangia a lógica. os filósofos tinham uma compreensão total da realidade. a ser aquele produzido em laboratórios. De certa forma. A partir daí. que postulava a necessidade de um maior rigor científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas e recomendava a explicação teórica para as observações práticas. necessariamente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 177 dualidade e a dialética. com o uso de instrumentos de observação e medição. ficou ainda mais forte com o desenvolvimento da teoria . De certa forma. sistemático. que não distinguiam filosofia e mística. d) Estimula e encoraja a pesquisa de novos caminhos. a própria filosofia adapta-se aos novos tempos. Como alguém que encara os acontecimentos não como ocorrências separadas. ciência de poesia e arte. no sentido de construir uma ciência. c) Transcende com resposta e amplia as metas preestabelecidas. então. Com o surgimento do Positivismo. mas como elos num sistema. responsável pelo grande salto da humanidade. a ética. a transdisciplinalidade é que induz o questionamento do real. de contar com o aval da ciência. tem pouco mais de três séculos. Hipnoterapia e ciência Trazer a hipnose para o conhecimento científico nasce quando. a Física subatômica retoma este conceito holístico original. O aspecto mecanicista-reducionista que se apresenta na ciência atual foi consolidado definitivamente com os extraordinários sucessos da física clássica do século XVIII e. Na nova visão de ciência é preciso um tipo de pesquisador diferente daquele que rejeita tudo que não se enquadra na filosofia de síntese dos dados científicos. b) Estimula a integração transdisciplinar. Sem negar a especialidade. e o conhecimento científico passa. volta aos présocráticos. a estética e fenômenos da natureza. tecidos. Hosfstadter. 88 Desta forma. suas hipóteses tentaram se enquadrar no paradigma científico baseado no mecanicismo reducionista Newton cartesiano.seu cérebro. Neuroanatomia e Neurofisiologia. antes. ninguém pode negar que um organismo é uma coleção de átomos. por exemplo. Dr. embora existam. nem ocupa nenhum lugar no espaço e. 1986. R. O pensamento de uma pessoa não pode ser pesado ou medido. afirma que a ciência teima em retratar a vida como um acidental processo linear. partindo das premissas científicas. O fato de um conceito ser abstrato em vez de concreto ou substancial não o torna. Sc. por não lhe ter dado todas as respostas. Segundo D. Para Davies autor de Deus e a nova física. o DNA (Fritjof Capra). A emoção. entropia e informação não 88 CAPRA. juntamente com outros biólogos sistêmicos. O erro está em se supor que ele é nada mais que isso. por isso. Demonstra. A ciência atual mecanicista-reducionista-cartesiana.178 Antonio Almeida Carreiro. sonhos. moléculas. a explicação para a hipnose começa a trilhar os caminhos da Fisiologia. Fritjof. Ilya Prigine. passa a ser necessário compreender o mecanismo e o funcionamento da máquina de pensar do homem . o sentimento e o próprio pensamento. a biologia e a medicina enveredaram pelo mesmo caminho. à teologia e até a própria arte e a magia. coisa que falta às máquinas convencionais. atômica da matéria. a partir de Pavlov é vista pela perspectiva de ligar-se à ciência. contudo. não responde as questões de vários temas humanos. CULTRIX. irreal ou ilusório. não podem ser medidos nem pesados. Com o exemplo dado pela física e o reconhecimento que esta ciência obteve nos meios intelectuais. a hipnose não se liberta o suficiente para abandonar os padrões anteriores. mas. . provoca reações de muitos críticos. Se. etc. São Paulo. A Teia da vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. são sistemas autotranscendentes e auto-organizadores. a hipnose estava subordinada à filosofia. não são possíveis de comprovações científicas. que um organismo biológico é um sistema aberto. Ed. tendo como um dos pontos altos a descoberta dos componentes e das estruturas dos organismos vivos. Assim. Conceitos como pensamentos. ele é parte integrante do que ela é. obtendo grandiosos sucessos em revelar as bases moleculares da vida. por isso. Prêmio Nobel de Química. que são sistemas fechados. A idéia de que o método reducionista é o único válido para responder as questões humanas. para se conhecer o psiquismo humano. não se deve supor que a ciência atual ensina tudo o que se pretende estudar. a análise leva sempre a mais análise. ou sistêmica. nos últimos três séculos e meio. e. remete para as exigências de uma abordagem multidimensional do ser humano e uma revisão dos pressupostos antropológicos dos atuais métodos de cura. Falando sobre a demasiada importância devotada a sofisticada tecnologia médico-instrumental . O estudo da cooperação e da atividade integrativa. hoje em dia. afirma que o erro fundamental reside no fato de a ciência não levar realmente em conta que um conjunto pode muito bem apresentar propriedades que não se encontram nos seus componentes individuais. freqüentemente. Fritjof Capra (A Teia da vida). holística. se apresenta como sendo de profunda importância para o esclarecimento de muitos problemas que não podem ser equacionados dentro da estrutura conceitual mecânico-reducionista.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 179 envolvem objetos ou corpos definidos. o fato de que se confunde a vida com os seus elementos constituintes. mais se perde a visão de relação macro-sistêmica ou a visão do conjunto da vida em si em suas manifestações dinâmicas. o problema original fica sem solução (CAPRA). Dentro destas duas concepções a investigação científica caminha em sentido oposto. baseado na visão menos fragmentária ou menos sectária. mas para os pensadores holísticos. Quando se refere à terapia. O reducionismo ainda é a ênfase na pesquisa científica atual. A distinção fundamental entre uma perspectiva reducionista e uma outra de conjunto. a ciência reducionista não responde amplamente as questões investigadas. o conflito entre o paradigma mecanicista-reducionista e o holístico. a ciência não pode explicar esses conceitos. e se destacam deles. é representada por duas abordagens paradigmáticas distintas: a abordagem mecanicista e a abordagem holística. Para Capra. como ocorre nas práticas terapêuticas convencionais. Pretende-se com isso ter uma visão compreensiva e mais aprofundada do que seja a vida. referindo-se aos possíveis equívocos dos cientistas na formulação de determinados conceitos. tem sido mecanicistareducionista. quanto mais e mais se aprofunda no conhecimento das estruturas microscópicas. Só que. Aponta como erro básico do paradigma científico mecanicista reducionista e subjacente ao modelo biomédico. Mas. mas relações e condições entre objetos. Nesta concepção epistemológica são difíceis respostas para questões que não são facilmente mensuráveis: A ênfase básica e característica da ciência acadêmica oficial. até hoje os métodos terapêuticos convencionais não eliminaram os métodos de curas alternativas que. Uma das características da medicina atual na busca da cura é procurar tratar as doenças de forma multidisciplinar. Visto assim. se considerar o ser humano como um ser bio-psicosocial. a ciência atual não é o único caminho para respostas sobre o ser humano e. rev. que de fato é. Medeiros 89 afirma que conhecer o homem significa mais do que compreender seu mecanismo fisiológico. A cura de seu paciente também depende de sua influencia pessoal. quando os cientistas reduzem um todo a seus constituintes fundamentais. Um passo importante nesta relação é explicar. Conselho Federal. a conversa pode diminuir a frustração e a desconfiança do paciente e isso servirá de base sólida para o sucesso da ação terapêutica. 1998.. até contraditório. Damião Nobre de. isso implica na melhor relação médicopaciente.. 89 . Dentro da visão puramente científica. o conceito da presumível doença. se é um hipnotista poderá sugestionar nesse sentido em grau máximo. Dentro desta concepção afirma Capra: . mas também penetrar nos sentimentos. p. sua ação e expectativas. ‘MEDEIROS. funcionam. sejam eles células. apenas “se sentem doentes” e até mesmo “querem ficar doentes” (MEDEIROS). In: Medicina. por isso.180 Antonio Almeida Carreiro. outubro. é preciso penetrar nos seus sentimentos: Conhecer este ser vivo chamado homem é não apenas conhecer o mecanismo fisiológico e bioquímico dos diversos aparelhos e sistemas.. Além da interpretação etiológica. suas limitações de êxito ou fracasso. que muitas vezes não estão doentes. de seu prestigio. nestas condições. eles perdem a capacidade de entender as atividades coordenadoras do sistema como um todo. na medida do possível e com linguagem clara. A vitória da máquina. fica complicado e. (CAPRA). Sc. o corpo humano ainda é visto como uma máquina e. Brasília DF. genes ou partículas elementares. na alma de pessoas. moderna. o que ajuda diminuir as conseqüências adversas às vezes provocadas pelo estresse decorrente do próprio quadro. Cada paciente deve ser abordado de forma individual. e tentam explicar todos os fenômenos em função desses elementos. Dr.. dos conselhos consoladores que sabe dar. 28. embora deles se duvidem. o médico deve ouvir o doente para avaliar se suas queixas não estão associadas a distúrbios psicossomáticos (emocionais) como estresse e depressão. Se a solução não aparecer após as primeiras intervenções. nº 98. tudo o que é contraditório é impensável. paixão entre outros. portanto não científico. por sua natureza. para explicar-se àquilo que é contraditório e dialético. No livro Critica da razão prática (1788). entre as diversas concepções teóricas. Isto é fetichização científica. não pode apresentar explicações concludentes sobre os contraditórios fenômenos hipnóticos. por isso mesmo é que ela é cartesiana. tudo aquilo fora destes padrões fica difícil para a linguagem da ciência. conceitos como alma. Segundo o princípio estabelecido na obra Crítica a razão pura (1781) do alemão Immanuel Kant (1724–1804). Na maioria das explicações sobre hipnose. estudos científicos têm sido realizados.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 181 Cientificamente. passa a determinar valores científicos e a formular sobre o objeto da pesquisa características de pseudociência. os quais. Seria a possibilidade de estabelecer a adequação entre a coerência lógica explicativa e a realidade empírica ou observada As verdades da ciência estão subordinadas à racionalidade do método cartesiano. deixa de ser científico. dentro do paradigma atual. foge aos padrões da verdade única da ciência que. não podem ser medidos ou observados. logo. O mesmo acontece com os fenômenos hipnóticos. isto é. aquilo que não pode ser compreendido pelo reducionismo. na ciência a contradição não existe. Também afirma Kant que a razão teórica tem o papel de estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento (explicativa). sensibilidade. a ciência. são totalmente inadmissíveis. é o abandono do pensamento da contradição. é confuso e sinônimo de irracional. Sendo o objeto do estudo cientifico fora deste padrão o resultado é fetichização científica. da dialética. Mesmo assim. quando a ciência estuda aquilo que não está integralmente na área científica. até porque não faz parte de sua dimensão de estudos. . é observado o princípio do contraditório. Mas. em sua complexidade não pode ser totalmente compreendido pela ciência reducionista. se é ampliada a dimensão do objeto de estudo a contradição surge e. Kant afirma que a razão prática aplicada no campo da ação humana permite que o homem tome suas decisões ao agir baseado em princípios. por ser contradição. A extrema cientificação da humanidade só se tornou possível com as previsões dos comportamentos humanos numa visão behaviorista. A contradição não pertence ao mundo científico por não possuir instância lógica. A ciência resolve apenas os problemas para os quais seus métodos e conceitos são adequados. como é praticada. espírito. Com base nestes fatores. não se descobriu com precisão o porquê. nem como ocorre a hipnose. Os seguidores da escola russa passam então a trabalhar a hipnose com investigações em laboratórios. atualmente dominante. 90 SUPER Interessante. Na atualidade.182 Antonio Almeida Carreiro. Sc. . eles foram sugestionados a acreditar que a mesma figura colorida vista outra vez. pelo menos a reconhece como verdadeira e o tema do hipnotismo já conta com o aval do reconhecimento científico. hoje emergente. e conseguem imagens do cérebro funcionando durante o transe. revista mensal. Ainda assim. utilizando instrumentos de observação. Dr. Visão hipnótica. Uma maneira de se minimizar as diferenças entre o paradigma reducionista cartesiano. Editora Abril. maio de 1998. a hipnose poderá sair do conceito de pseudociência e obter explicações mais sustentáveis. Mais tarde os mesmos voluntários foram induzidos a ver cores em imagens onde elas não existiam e os resultados negam as possibilidades de farsa. utilizaram equipamentos modernos. juntamente com professores da Universidade Stanford. com a ciência caminhando para a visão holística. São Paulo.45. permitindo diferentes modos de percepção e de compreensão dialética da realidade do ser humano (abordagem fenomenológica). cientistas americanos. Contudo. as pesquisas científicas sobre o tema do hipnotismo encontram sérios problemas metodológicos. p. Se ainda não explica. com certeza. que o cérebro hipnotizado ativou uma região que inibe a visão das cores e passou a ver em preto e branco. confirmando que o cérebro estava mesmo vendo colorido. Partindo deste princípio haverá de surgir novas explicações para o fenômeno hipnótico diferentes das obtidas e não convincentes até aqui. talvez possa ser por meio da associação da ciência e da filosofia para o entendimento do problema. nos Estados Unidos. e o paradigma holístico. medição e controle das variáveis. era toda cinza. Na fase atual. mas. porque foram isoladamente produzidas pelo reducionismo mecanicista da ciência vigente ou produzidas pelo devaneio fantasioso da imaginação. através de instrumentos computadorizados (PET). O importante nesta questão é que a ciência se aproximou da hipnose. na tentativa de explicações neurológicas para a hipnose. Uma experiência realizada na Universidade de Harvard. 40 . 90 relata que dezesseis voluntários observavam imagens em cores pintadas em uma tela e depois de hipnotizados. já se sabe. Neste instante os cientistas observaram. é verdadeira. a hermenêutica ganha relevância neste estudo. instrumento que mostra com precisão quais regiões cerebrais estão sendo ativadas a cada momento. Referindo-se a isso. o PET. A esta conclusão acrescentam-se os motivos que justificam as possibilidades das explicações fluírem pela lógica filosófica. A hipnose enquanto filosofia está relacionada à alma humana. . não se justificava a sua explicação apenas pela hipótese da verdade da científica positivista. passou a ser usado para investigação da hipnose. atualizados com informações de pesquisas credenciadas por publicações científicas recentes. dentro da compreensão interdisciplinar. O simples fato de existirem tantas explicações para o hipnotismo é uma prova de que não há nenhuma na qual se possa qualificar de certa ou verdadeira. 1945. alguns já afirmam que ninguém sabe como. Na década de 1990 cresce o interesse do mundo acadêmico pelo assunto. crença. New. já admitem o poder da cura pela hipnose como fato incontestável. Deve ser valorizado o diálogo e a integração de diferentes áreas de conhecimentos para descobrir. York. e hoje.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 183 Desde 1996. Wolberg 91 reconheceu que. por mais paradoxal que possa 91 WOLBERG. aquilo que foi apenas sugerido. Para a realização do processo de indução hipnótica são necessários critérios como confiança. descende da escola de Nancy. Pelo menos. R. Hypnoanalysis. mas não informaria se o indivíduo hipnotizado estaria mesmo enxergando. as bases axiológicas do fenômeno hipnótico que só pode ser revelado a partir da diversidade explicativa. este instrumento substitui o EEG . mas que a hipnose cura. não se discute. Ela é. Grune & Stratton. ele disse: Meu trabalho pessoal com a hipnose convenceu-me de que o estado de transe não pode ser explicado quer em bases psicológicas. Profissionais da saúde. uma reação psicossomática complexa que abrange os elementos psicológicos e fisiológicos (WOLBERG). A interpretação do que pode ser a hipnose depende da análise das múltiplas faces desse fenômeno e a reflexão dialética sobre a diversidade dos saberes até então acumulados.eletro encefalograma usado em experiências anteriores que podem até mostrar a região da visão sendo ativada. fé e uma série de valores que transcendem o psicológico convencional e o orgânico fisiológico conhecido. antes. quer em base fisiológica exclusiva. mesmo não aceitando nenhuma das explicações teóricas dadas até então ao fenômeno da hipnose. L. cura. Assim. e subordiná-los à investigação científica. Na visão puramente científica a hipnose está baseada no critério da observação de dados que possam ser medidos e comprovados. ou tipos de programas operacionais do pensamento. tão freqüentes como importantes. mas se constituem de estados psíquicos. é um estado eminentemente transitório”. não pode ser visto como parte de uma máquina. estabelecidas por Freud. através de entrevistas e do convívio diário com pacientes. com efeito. embora as pesquisas tenham sido produzidas para soluções de problemas quase que exclusivamente especulativos. por sua vez. o inconsciente e o consciente não são interpretados como órgão ou lugar definido do cérebro e. As principais teorias para explicar a hipnose surgiram a partir de dois ambientes: o clínico e o de laboratório. parecer. afirmam que partes do psíquico. mas somente . Permite-lhe. modernamente. são compreendidos como métodos de trabalho mental. originadas no ambiente clinico. Dr. chegar à compreensão dos processos patológicos da vida anímica. O próprio Freud já afirmava que “o consciente. Estes. No ambiente laboratorial surgem os fisiologistas que se opõem às idéias psicanalíticas. por isso. Os fisiologistas consideram que os psicanalistas não têm prova suficientemente palpável do inconsciente humano para afirmá-lo como verdadeiro. seguindo o que se chama na ciência de Método Cartesiano de Investigação.184 Antonio Almeida Carreiro. por tanto. Ou. De fato. espaço e tempo e. Sc. No segundo caso a pesquisa é feita com análises e experimentações formais. seu estudo não está limitado pelas fronteiras impostas pela lógica. Assim como a psicanálise. a hipnose também é um processo que se vincula ao conceito de inconsciente. No primeiro caso seu desenvolvimento tem por base a busca da cura para algum problema que perturba alguém. dito de outro modo: a psicanálise não vê na consciência a essência do psíquico. utiliza ferramenta da estatística para chegar a uma conclusão. tem origem no hospital Salpêtrière e ganha impulso com as idéias Pavloviana que tenta enquadrá-la na estrutura físico-orgânico-cerebral. não científicos. defendem-se argumentando que os resultados práticos da cura dos sintomas neuróticos constituem uma prova suficiente da veracidade dos seus métodos e. mas para ele isso não deixa de ser objeto de investigação científica: A diferenciação do psíquico em consciente e inconsciente é a premissa fundamental da psicanálise. podem até não ser áreas fisicamente delimitadas e mapeadas do cérebro humano. encontra amparo teórico quando se aproxima das teses que sustentam as idéias psicanalíticas. embora nenhuma delas satisfaça isoladamente. Esta última atribui à hipnose razões puramente fisiológicas. A primeira. T. ora no desconhecido ou em conceitos espiritualistas. SARBIN. como Sugestão. 57 . poderá ser assumida preferências ou definidas convicções pessoais. alinha os autores que usam em suas explicações terminologias próximas. 1950. contribuem decididamente para aprimorar o conhecimento sobre a natureza humana. Psychol. que nem sequer podemos determinar-lhes as medidas. outras dezenas ainda vão surgir. rev. Contribution to roll-taking theory in hypnotic behaviour. Leis e explicações da Hipnose Para efeito de posição inicial quanto à questão de se tentar entender como se processa o fenômeno hipnótico pode ser analisada. 92 . ora centrada na psicanálise.255. etc. e declara que as variantes interpessoais inerentes ao fenômeno hipnótico são tão complexas. não pode ser negada a importância prática das diversas hipóteses sobre hipnotismo. A segunda centrada no fisiologismo. Existem dezenas de explicações. duas variáveis que vão além do paradigma da razão e da verdade científica atual. Alma.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 185 uma qualidade do psíquico que pode ser somada a outras ou faltar em absoluto (FREUD). além de permitir a convicção que precisamos para interpretar o significado do processo hipnótico. por que e como ocorre a hipnose. de quando. Pelas diferentes interpretações considera-se a indefinição teórica da hipnose como fato. representada originalmente pela escola russa e fundamentada na teoria dos reflexos condicionados. transcendem em sua complexidade os limites das próprias explicações que conhecemos. Mas. R. Subconsciente ou Inconsciente. O que se pode concluir é que ela se divide em duas grandes correntes: Uma com base na essência e outra na existência do ser humano. A partir daí. Sarbin 92 vê na hipnose uma das manifestações mais generalizáveis do comportamento social. contém cada uma. É evidente que há uma discórdia considerável com respeito à natureza dos fenômenos hipnóticos. sem tomar partido. com visão plural das argumentações. as principais explicações e leis que se conhecem a respeito. aproveitadas em conjunto. É um fenômeno permeado pela emoção e pela intuição. parcela maior ou menor da verdade e. mas não existe uma abrangente e definitiva. Transferência. vai acontecer. a reversão de efeitos. está a dificuldade que é experimentada quando. não precisamente entre duas vontades. reage desesperadamente contra a sugestão. Para que a referida lei funcione.que digo e que faço . 93 . alguém quer lembrar um nome. Semelhantemente.O domínio de si mesmo. E por ser a vontade dele. Justamente no momento em que mais precisa do nome. ele não vem à mente. Quanto mais forte aquela. estratégica e metodicamente elaborada. em qualquer circunstância. é preciso que o hipnotista convença. Assim sintetiza a lei da reversão dos efeitos de Emile Coué: 93 “Num impacto entre a vontade e a idéia. sugere-se que ele não consegue articular uma determinada palavra. Sc. Dentre os exemplos mais típicos da lei da reversão dos efeitos. ligando uma chave ou apertando um comutador. vence invariavelmente a idéia”. uma forte e outra fraca. de súbito. tanto mais vitoriosa esta última. Minerva. a idéia (no fundo. a reversão de efeitos se produz artificialmente pela intensa e súbita mobilização da vontade do hipnotizável. Auto-sugestão consciente . que não consegue abrir os olhos. o que só acontece se for o indivíduo devidamente convencido de que. de fato. Este é o efeito. não será capaz de dizer seu próprio nome.186 Antonio Almeida Carreiro. É o impacto da idéia do esquecimento contra a vontade imperiosa da lembrança a bloquear a memória. o que se observa é um impacto entre a vontade do hipnotizado e a imaginação ou a idéia do hipnotista. maior a dificuldade. subsidiariamente. isto é. é preciso que o hipnotizável esteja convencido da autenticidade da experiência e. A lei reversão dos efeitos não se põe em ação com a mesma simplicidade com que se põe a funcionar um engenho mecânico. E. dramatizadas para fins COUÉ. à medida que é renunciado ou é moderada a vontade da lembrança. a produzir os resultados espetaculares que ocorrem nas demonstrações de hipnotismo. para tanto. 1956. E. Nas sessões de hipnotismo. A Lei do efeito dominante afirma que a técnica hipnótica consiste na animação e ativação de idéias. O nome invocado vem à mente. Dr. também da vontade que o fato ocorra. Sendo dito ao hipnotizado que ele é incapaz de lembrar de seu próprio nome. quanto maior o esforço. Rio de Janeiro. vontade dele) de provocar o fenômeno. poderia hipnotizar qualquer pessoa. Não fora assim. ou seja. que está preso na cadeira. qualquer pessoa. Começando por analisar a afirmação de que. bastaria proferir uma sugestão para ser obedecido. Quanto maior a pressa. ou melhor. numa sessão de hipnotismo observa-se um impacto. Para os estudiosos do comportamento. condicionando as sugestões às experiências emocionais mais fortes do hipnotizado. o desejo do hipnotizável. repulsa. o desejo do hipnotista tem de refletir. Exemplo: uma pessoa está sob a emoção do prazer quando lhe sobrevém uma situação de perigo. projeta sobre a pessoa do hipnotista os efeitos de sua própria vontade. etc. ocorre grande efeito sugestivo quando é sugerido para o hipnotizado viver situações como tempestade. vinham ocupando as energias anímicas do indivíduo. toda hipnose. ou seja. por ser o sucesso uma das emoções mais poderosas. a hipnose pode ser vista como um fenômeno de projeção. assim como projeta sobre ele suas próprias fantasias e seus próprios desejos de realizar o inusitado. sem se dar conta do fato. maestro. uma emoção mais forte sobrepuja uma emoção de intensidade menor. como amor. A idéia externa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 187 determinados. alegria. ou seja. o hipnotizado sucumbe à sua própria vontade. entre outros. que é uma emoção mais forte do que o prazer. Este conscientemente. ataque de insetos. em última análise. a idéia interna. nos indivíduos. auto-sugestão. pescaria no lago. o fenômeno da projeção é um mecanismo de defesa. ciúme. O expediente psicológico da emoção é válido quando se torna necessário reavivar. Uma pessoa hipnotizada transforma-se facilmente em instrumentista. Na linguagem psicanalítica. É que a idéia de sucesso representa um dos efeitos dominantes. tem de valer-se da seleção de efeitos emocionais dominantes. orador ou personagem histórico. montaria a cavalo. em última análise. é auto-hipnose e para produzir efeito tem de basear-se na reciprocidade. É por esse fato que. de certo modo. consiste na atribuição a outros de impulsos que o indivíduo não pode aceitar. tristeza. que se confunde pela projeção com a idéia ou a imaginação do hipnotista. Coué e Pierce acrescentaram a isso o princípio da reversão dos efeitos e a lei do efeito dominante. inundações ou passeio no campo. a própria autocrítica. nas sessões de palco. ou seja. o medo de ser exposto ao ridículo. Produzindo o perigo. cantor. o sentimento de prazer desaparece à medida que o de perigo ganha proporções. Fenômeno de projeção Entre outras explicações. capaz de fazer desaparecer momentaneamente outras que. Isto significa que. Baudouin. medo. fortalecer ou aprofundar o processo hipnótico. desaparece facilmente diante da emoção toda poderosa do êxito. Por esta hipótese. até então. Não se pode esquecer que toda sugestão é. mas que são provenientes de seu . Dutton. New York. 94 95 96 ESTBROOKS. 94 referindo-se a sugestão como elemento que desencadeia a estado hipnótico. tanto no sentido positivo como negativo. Dictionary of psychology. G. C. cujo objetivo é levar uma pessoa a agir independentemente das suas funções críticas. nas suas diversas graduações. Aplleton . C. É na teoria de Hull sugestibilidade aumentada ou generalizada. HULL. podendo afetar todas as funções vitais do organismo. An: Experimental approach. Sentimentos próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas. seja qual for a parcela de verdade que contenha e o grau de sua importância prática. Um estado tendente a aguçar a sugestibilidade quase equivale a dizer que hipnose é. próprio aparelho psíquico. melancólico ou bravo. sem importância para a nossa vida.188 Antonio Almeida Carreiro. se o indivíduo é sugestionável. crença. diz que “O hipnotismo é um estado de exagerada sugestionabilidade induzida por meios artificiais”. define a sugestão como sendo a condição para levar uma pessoa a agir independentemente das suas funções críticas. Há uma tendência de desmerecer o fenômeno da hipnose com o argumento de que tudo não passa de sugestão. WARREN. Acontece que a sugestão representa uma das forças dinâmicas mais ponderáveis da condição humana. do princípio ao fim. Sc. como se a sugestão fosse necessariamente uma coisa superficial ou desprezível. D. L. Afirma que é a indução ou tentativa de indução de uma idéia. que é a sugestão. Baseia-se no princípio de que. Por intermédio das palavras. 95 um dos mais acatados dicionários de termos psicológicos. Estbrooks. 1933. é possível interferir no seu estado emocional. H. 1934. decisão ou ato realizado na pessoa alheia. torná-lo alegre ou triste. poderá por sugestão ser levado ao estado hipnótico. Não acarreta unicamente alterações sensoriais e modificações de memória. afirmando ser a hipnose o resultado da sugestão. É também com base nestes argumentos a definição do Warren. . Hipnose é sugestão Esta tese defende a relação entre hipnose e sugestionabilidade. Hipynotism. Dr. 1943. por meio de estímulos verbais ou outros estímulos.Century. 96 Qualquer teoria ou conceito sobre hipnose. sugestão. H. New York. Hypnosis and suggestibility. não valem senão à medida que elucida as motivações e os mecanismos desse fenômeno eminentemente natural. Hougton Miffin. ainda que seja veiculada por vias indiretas como ambientes e fatos que dispensam a sugestão verbal. Sugestão é prestígio O prestígio do hipnotista é um dos fatores decisivos na indução hipnótica. defende-se como tese que a sugestão é uma força que domina a todos. fazendo com que ela aceite coisas imaginárias como se fossem reais. com base nesta afirmação questiona-se o que determina a tendência de uma pessoa agir a mando ou sob influência alheia. Rio de Janeiro. geralmente só se consegue hipnotizar pessoas junto às quais se tem o prestígio. Seria. O prestígio deriva quase sempre da idéia de poder. Weissmann 97 define sugestão como sendo a tendência que o indivíduo tem de agir sob o mando ou influência de outrem: Por sugestão entendemos comumente a tendência que o indivíduo tem de agir sob o mando ou a influência de outrem. Theorie und technik der psychoanalyse. Considerando que sugestão não é hipnose. 98 “a expressão inconsciente instintiva e automática da submissão frente à autoridade materna ou paterna”. e aceitar coisas imaginárias como se fossem reais. quer por meio de uma ordem ou instrução direta. 1958. Boni & Liveright. de competência ou de carisma que por sua vez. . é possível que todas ou quase todas as pessoas fossem hipnotizadas se o hipnotista aplicasse o método adequado para induzir a sugestão. crenças ou impulsos. em grau maior ou menor. pode até definir o modo de viver. conhecimento ou atitudes de uma pessoa. 1927. Karl. S. o prestígio se forma em virtude de uma situação de transferência. Prado. Ed. O prestígio do hipnotista resultaria da confusão inconsciente do hipnotizado que confunde a pessoa do hipnotista como sendo seu “pai” ou “mãe”. Essa explicação começa por analisar a definição da sugestão como sendo “a tendência que a pessoa tem de agir sob o mando ou a influência de outrem”. A sugestão hipnótica poderia ser definida ainda como um processo de comunicação que resulta na aceitação convicta de idéias. seria pelo menos o preâmbulo da hipnose. não exerce apenas uma ação superficial ou acidental em nossa vida. citando Sandor Ferenczi. É a tendência a criar na pessoa uma atitude. FERENCZI. Assim.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 189 A sugestibilidade. sem necessidade de fundamento lógico. pelo contrário. toda e qualquer hipnose começa pela sugestão. quer por outros meios quaisquer (WEISSMANN). O hipnotismo. é um fenômeno rigorosamente geral. 97 98 WEISSMANN. embora sujeita a variação de grau e de natureza. Para os psicanalistas. demanda da aparência. independentemente das suas emoções pré-formadas. Acreditar. o primeiro a associar o estado de hipnose ao estado onírico foi o Marquês de Puységur com a teoria do sonambulismo artificial. Braid chamou o estado de hipnose de sono nervoso provocado (nervous sleep) para diferenciá-lo do sono natural. Sc. sua parcela de razão. Nos primórdios do hipnotismo clássico. assim a hipnose poderia ser um sono parcial. com a teoria do neurohipnotismo. no fato de que uma pessoa pode ser hipnotizada praticamente por qualquer hipnotista.190 Antonio Almeida Carreiro. Binet. embora sim em épocas anteriores. o que na prática não se verifica. senão unicamente na parte onírica (WEISSMANN). esse ponto de vista psicanalítico não é sempre aceito. A hipnose passou a ser sono ou uma espécie de sono para a quase totalidade dos pesquisadores. porém. Fere. as pessoas hipnotizadas seriam incapazes de executar atos inteligentes. Até hoje são reconhecidos os indivíduos sonâmbulos como sendo ótimos hipnotizáveis. de certo modo. Para ele. É nesse sentido a opinião de Weissmann: Reflexo condicionado pode prevalecer. o sono hipnótico apresentaria uma inibição cortical menos completa do que a do sono fisiológico. Pavlov também descreve o estado hipnótico em termos oníricos. atingem um estágio muito profundo da hipnose denominado como sonambúlico. Afirma que a diferença entre o “sono hipnótico” e o “sono natural ou fisiológico” é de grau e não de natureza. Ele tinha. não concordando. dentre os quais Liébeault. Insiste ainda que a hipnose representa uma inibição das funções cortical superiores. sem dúvida. Bernheim e muitos outros nomes mais ou menos eminentes. fenômeno este que. Segundo Weissmann. afirmam que se esse ponto de vista correspondesse à realidade. Outros autores. enquanto o hipnotista masculino só induziria indivíduos habituados ao mando do pai. Dr. como explicação científica do sono fisiológico e do sono artificial. Hipnose é sono No tempo de Mesmer o hipnotista ainda não era o homem que faz dormir. O primeiro a intentar uma discriminação mais acirrada entre o sono natural e o sono hipnótico foi Braid. mas não explica a hipnose humana. . nem sempre se confirma. considerando que nesse caso o hipnotista feminino só conseguiria hipnotizar quem fosse dominado pela autoridade materna. levando em conta que o fator prestígio não se forma exclusivamente à base da experiência infantil da autoridade parternal-maternal. na realidade. não chega a invalidar essa tese. não ocorrendo no sono fisiológico. São Paulo. Mesmo contando com os muitos pontos em comum. Existe no sono hipnótico uma série de efeitos extraordinários tais como a rigidez cataléptica. Se o indivíduo estivesse em um estado próximo do sono. a amnésia pós-hipnótica. ou que se trate de um sonâmbulo. É válido o conceito segundo o qual a hipnose corresponde ao breve momento que medeia o estado de vigília e o sono. com outras áreas ativadas. Editora Abril. no estado de transe ou no sono fisiológico mergulhamos nos meandros do inconsciente. o hipnotista continuará. o que não ocorre na hipnose.45. para todos os efeitos e ainda por muito tempo. No entanto. a anestesia. 99 Logo. põem definitivamente fim na discussão. a hipnose não pode ser considerada como sono. a não ser que tenha sido convertido o sono natural em sono hipnótico. o 99 SUPER Interessante. Visão hipnótica. mas também pela motivação afetiva do hipnotizado que. E os sonhos. como sendo o homem que faz dormir. Esse breve momento seria artificialmente induzido e prolongado pelo hipnotista. Entrega amorosa Por esse ângulo a hipnose é vista como um paralelo traçado entre a hipnose e o apaixonamento. Freud formulou sua explicação para o estado hipnótico nesta base. são dois estados diferentes. na definição de Freud. A pessoa fisiologicamente adormecida não reage aos estímulos sensoriais da mesma forma pela qual reage o indivíduo hipnotizado. maio de 1998. recentes pesquisas com o PET. definitivamente hipnose não é sono. para o público de um modo geral. O estado de hipnose apresenta fenômenos que se assemelham aos mecanismos da dinâmica dos sonhos. segundo ele. “a vida mental durante o sono”. inconscientemente. encontra identidade de valores (reais ou transferidos) no hipnotista e promove o que se denomina de entrega amorosa. revista mensal. o que não se justifica unicamente por mecanismos sugestivos. que são próprios da hipnose.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 191 Dentro da própria psicanálise podem ser vistos ainda pontos em favor dos conceitos oníricos da hipnose. p. sem falar dos efeitos sugestivos de um modo geral. Enquanto o hipnotizado fica atento ao mais leve sussurro. o mapa cerebral demonstrado no exame seria completamente diferente. 40 . mas. a área cerebral da atenção é acionada como se ele estivesse em vigília. por sua vez. para fazer ouvir o adormecido alguém tem de falar alto ou mesmo gritar. representam. Os resultados mostram de forma clara e precisa que embora o hipnotizado pareça adormecido. . conta que uma jovem o abraçou muito afetivamente ao sair do transe. Neste sentido o transe estaria relacionado com a aceitação do hipnotizado a uma figura autoritária. Para aqueles que defendem essa hipótese. estado de hipnose corresponderia a uma entrega amorosa e para justificar. regredida a um estágio de dependência infantil. Para ele a hipnose pode ser . Sc. somente na criança face aos seus pais amados. a uma crise de pranto. as reações e a própria expressão fisionômica de muitos pacientes femininos indicam visivelmente estados emocionais que colaboram com essa explicação Freudiana. essas reações talvez traduzam. Dentro dessa perspectiva.192 Antonio Almeida Carreiro. ou como resultado do seu desejo de satisfação de impulsos eróticos ou masoquistas inconscientes. para ela. liga-se emocionalmente com o hipnotista que fica revestido de qualidades excepcionais. podendo então fazêlo obedecer. demonstram comportamento e expressão facial de quem está apaixonada. em determinados momentos. parece que depende de valores afetivos. pode ocorrer nas sessões de hipnose embora não seja regra. em sua autobiografia. Também é dentro da perspectiva psicanalista que se encontra a tese que associa a imagem do pai ou da mãe como uma figura autoritária que. encontra-se. Dr. de fato. quando sobressairia o pensamento mágico e simbólico. Concluiu Freud que a hipnose traz certo grau de satisfação de caráter libidinal. A mente do hipnotizado. é confundida com o hipnotista. Isso. em outros casos. aprovação e ou arrependimento do hipnotizado pelas emoções que acabaram de experimentar. Freud justifica a entrega amorosa afirmando que a credulidade como a que o hipnotizado se dispõe a ter para com o seu hipnotizador. Pode também o hipnotizado. podendo chegar. A teoria psicanalítica descreve o estado hipnótico como resultado do desejo do hipnotizado de ser controlado por uma pessoa que. na vida real. para o hipnotizado o hipnotista representa a imagem do pai ou da mãe e a hipnose seria uma evocação infantil da relação masoquista erótica. mesmo que inconscientemente. ao submeter-se à hipnose. que se manifestam mais livremente no transe ou logo após. o que provocaria uma regressão emocional representada pela volta a uma fase anterior do desenvolvimento emotivo. se parece com um dos pais (transferência). durante a hipnose. fora da hipnose. ainda que não cheguem a abraçar o hipnotista. representar neste ato um desejo latente de proteção e segurança que se materializa na transferência. nutrido independente do processo hipnótico. Muitos ao despertarem do estado de hipnose. Freud deu muita relevância ao lado sexual e. Contudo. Em geral. toca-se no inconsciente pela associação com o processo da amamentação. O hipnotizado é verbalmente amamentado pelo hipnotista. vários foram os que se afastaram um pouco de uma parcela das suas teorias e formaram as chamadas teorias neofreudianas. cujas palavras monótonas. Alfred Adler. Alguns dos mais importantes são: Carl Jung.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 193 entendida como uma relação amorosa com plena entrega. na hipnose pela sugestão verbal. Harry Sullivan e Erik Erikson. o amor. Mamadeira hipnótica Fundamentada no desdobramento da teoria Freudiana. Muitos autores se posicionam contrariando essa e outras explicações baseadas nas hipóteses Freudianas. nas explicações de origem Freudiana. Em síntese. por causa disso. esta explicação afirma que a hipnose se identifica com a experiência infantil da lactação. defende que o indivíduo em transe agarra-se às palavras do hipnotista. a coincidência da estima exclusiva com a obediência crédula caracteriza. integrado às relações materno paternal. atrelou quase que totalmente a suas conclusões. mais ou menos como a criança se apega ao seio materno. A hipótese da mamadeira hipnótica tenta provar que. constantes e fluentes atuam como um substitutivo simbólico do leite materno. desta forma a própria voz do hipnotista é um dos elementos notoriamente importantes no trabalho de indução. Karen Horney. por permitir uma . A “mamadeira” a alimentar o transe são as palavras suaves e monótonas do hipnotista. Todos eles são considerados neofreudianos e o ponto de divergência principal com o mestre é justamente excessiva importância dada ao elemento sexual. Ao elevar o lado sexual e dar menor importância aos aspectos sociais e culturais. dá-se uma excessiva importância ao elemento sexual. a isso. encontrou em seus próprios seguidores muitos dissidentes e. sobretudo. Apresenta uma forma de prazer libidinoso inconsciente. é muito difícil a comprovação dessa importância na relação entre o hipnotizado e o hipnotista. De acordo com a teoria psicanalítica. se incorpora ao Ego do paciente como se fosse leite a amamentá-lo. Sarbin. entre eles. quando afirma “A hipnose representa uma forma de comportamento psicológico social mais generalizado do que a simples entrega amorosa ou o apaixonamento”. a hipnose reproduz os processos normais do desenvolvimento do Ego infantil. Karl. Sc. Sem estar hipnoticamente afetado. mas em um objeto externo ao indivíduo . que é o primeiro dos três estágios marcantes da evolução libidinal para a genitalidade madura e adulta. eu os fizera ‘mamar’ durante o transe. localizadas em partes do corpo. segundo declarações feitas a mim ou a outras pessoas. Weissmann demonstra uma forte tendência para aceitar as explicações Freudianas. 101 100 WEISSMANN. ou seja. finalmente. E. 1958. É uma manifestação daquilo que designamos pelo nome de rapport. vem um período de latência. quando o objeto de erotização ou desejo não está mais no próprio corpo. Prado. 101 Gênero dramático Neste caso a explicação seria a de que o hipnotizado é um artista animado pelo desejo de representar o papel do indivíduo hipnotizado. desde que não contrarie os interesses vitais ou morais. fase anal (a zona é o ânus). fase fálica (a zona é o órgão sexual). aqueles indivíduos ‘mal desmamados’ que se fixaram em sua evolução instintiva à fase pré-genital. desenvolvem-se progressivamente. tiveram a impressão de que. De acordo com a teoria psicanalítica mais moderna. constitui uma característica inerente à hipnose. figuram os chamados tipos orais. Weissmann apresenta como exemplo o paralelo da intoxicação etílica: Nos primeiros tempos de vida o corpo é erotizado e as excitações sexuais. em seguida.o outro (N. recapitulação da própria infância. o “ator” não se dispõe a colaborar com tanta docilidade. Para fundamentar essa tese. essa explicação não indica. nem tampouco compromete a idoneidade dos “atores”. Dr. . entre outras coisas. dentre as pessoas mais hipnotizáveis. O desejo de representar e ou de cooperar com o hipnotista e obedecerlhe. É uma recapitulação da própria infância (WEISSMANN). Weissmann observa a esse respeito: Muitos dos meus pacientes. Ed. da sua evolução libidinal 100 para a genitalidade madura e adulta. a fase genital. representando o papel de hipnotizado de forma tão perfeita e convincente. denominada fase oral. O hipnotismo. E note-se que. que se prolonga até a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das atividades sexuais.). ceticismo quanto à autenticidade dos fenômenos hipnóticos. necessariamente. embora seja moderado quando revela suas convicções. do A. a hipnose reproduz os processos normais do desenvolvimento do Ego infantil. fato que o caracteriza como sendo um entre os melhores autores sobre o tema do hipnotismo.194 Antonio Almeida Carreiro. No entanto. Freud postulou o desenvolvimento psicosexual em: fase oral (a zona de erotização é a boca). Rio de Janeiro. na adolescência é atingida a última fase. Para Weissmann. A lógica nos diz que o objeto que o hipnotizado não vê. mas bebe precisamente por ser assim. o hipnotizado tem de localizar e identificá-lo primeiro. sob pena de desobedecer à sugestão do hipnotista (WEISSMANN). sem justificativa plausível. o hipnotizado representa o papel do indivíduo em transe. participe ativamente da dor a que é submetido. pois para poder eliminar do campo visual o objeto suprimido pela sugestão pós-hipnótica. que sofriam as intervenções cirúrgicas mais severas. por exemplo. capaz de suportar . Diz ainda o autor que idêntico argumento tem sido usado contra a autenticidade das alucinações negativas: O hipnotizado em transe profundo recebe a sugestão seguinte: “Ao abrir os olhos. no fundo. A fim de poder representar convincentemente seu papel predileto. duvidam da hipnose (WEISSMANN). da influência do álcool pelo fato de o indivíduo conservar a lembrança parcial ou total do que ocorreu enquanto influenciado pela bebida. uma extração de dentes sem anestesia. o simples desejo de representar o papel do indivíduo hipnotizado não será o bastante para que uma pessoa sofra uma dor séria. Admitindo que não esteja anestesiado no sentido próprio da palavra e que. Contudo. é visto e não visto ao mesmo tempo. assim como o alcoólatra representa o papel do ébrio. como entre outras. o ébrio tem de recorrer ao álcool e o hipnotizado também não dispensa as condições inerentes ao transe para poder desincumbir-se devidamente de sua função. Da mesma forma. você terá poderes para enxergar tudo. tampouco. Isso não obsta que se veja ainda nesses casos um sacrifício feito ao mero desejo de representar e de impressionar os outros. Weissmann discordando da simples e pura dramatização se refere ao sofrimento dos hipnotizados quando. de quem resolveu não tomar conhecimento do sofrimento físico. inclusive amputações.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 195 Ninguém põe em dúvida a realidade da intoxicação alcoólica ao descobrir que o ébrio não é assim porque bebe. Os pacientes de Esdaille. menos uma determinada coisa ou pessoa”. o fato é que em estado normal ele não consegue assumir essa atitude. Nesse caso a hipnose se for entendida como um gênero dramático terá um esforço de simulação todo especial. E não se duvida. os céticos acreditam no álcool e. Embora efetivamente queimado o hipnotizado não reage. se produzem bolhas de queimadura na pele por efeito de sugestão hipnótica. fingindo simplesmente ignorá-lo. eram apontados pelos adversários do hipnotismo daquele tempo como “um grupo de endurecidos e renitentes impostores”. Ao abrir a porta do inconsciente. dores. para obtermos uma notável redução do mecanismo dissociativo. demonstrados nesse instrumento. acordado. ainda que condicionalmente. à medida que entra em transe. se tornam verdadeiras para o seu cérebro. mesmo que as sugestões sejam falsas. apressa-se em declarar que não se recorda de nada do que ocorreu. que já não constituem requisito e critério de hipnose. A hipnose efetivamente inibe as funções do consciente (o Ego). Os resultados dos exames. porque seu consciente estava fechado ou adormecido e só o inconsciente. A amnésia e outros fenômenos decorrentes da dissociação são. Desde 1996. A consciência moral (sensor crítico) continua alerta no estado hipnótico. liberta.196 Antonio Almeida Carreiro. do que se passou. o que equivale a dizer que são mais artificiais do que reais. quando. impostos por sugestão. seu consciente se apague e seu inconsciente se manifeste. a qual. Hipnose como dissociação Uma das explicações mais populares sobre hipnose é a da dissociação da personalidade. o hipnotizado quase sempre não se recordava dos incidentes ocorridos durante o transe. ele instintivamente se esforça por corresponder a esse imperativo categórico do transe hipnótico. Basta esclarecer aos hipnotizados que o clássico estado de inconsciência e a conseqüente amnésia pós-hipnótica não são essenciais. às vezes. ao menos em parte. É parte fundamental e convencional do indivíduo hipnotizado. de um modo geral o hipnotizado aceita o que lhe convém e rejeita o que não lhe convém. com algum esforço. negam as possibilidades de ser o transe hipnótico apenas dramatização. Isso não invalida completamente a tese da dissociação. Prova que quando o hipnotizado é induzido a sentir. nem dos papéis que desempenhara nesse estado. Ao acordar. vê ou fazer alguma coisa. Sc. Logo não é só dramatização. o inconsciente (o Id). mas não . está de acordo com a divisão psicanalítica da personalidade em consciente. a hipnose é um meio de acesso ao inconsciente. poderia recordar-se. Dr. e de outros efeitos que não são possíveis em estado normal. inconsciente e consciência. de certo modo. segundo a qual. de certo modo. Esse fenômeno da dissociação opera dentro da expectativa do próprio hipnotizado quando este espera que. já se pode observar através do PET o funcionamento do cérebro. a hipnose fecha a do consciente. Algumas experiências modernas eliminam por completo a dúvida da dramatização na hipnose e põe um ponto final na questão. por assim dizer. os métodos de indução momentaneamente provocam o desligamento do consciente e. Hipnoticamente divididas. dos quais. et al. as peculiaridades da personalidade humana não se modificam em sua essência. Myers. Seria. Estado normal Por este ângulo a hipnose é um estado normal. o hipnotizado agiria durante o transe em estado de inconsciência. Tenta provar a tese de que a diferença de comportamento do indivíduo acordado para o indivíduo hipnotizado é uma diferença quantitativa e não qualitativa. Seria a hipnose um fenômeno inconsciente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 197 tem poder sobre a consciência (o Superego). Suas manifestações seriam conseqüências do que lhe foi sugerido pelo hipnotista ou simplesmente fantasias dos seus desejos. 41. obtendo-se a ligação com o inconsciente. portanto. crenças ou fatos distantes que ocorreram em sua própria vida. mas apenas aumentam ou diminuem. . Six-month prevalence of psychiatry disorders in three communities. apontam-se dissidências e desarmonias intrapsíquicas como resultantes dissociativas. os três aspectos da personalidade citados não representam compartimentos estanques. Tischler GL. logo o Superego não é tão vigilante nem o Ego tão inconsciente quanto se supõe. neste instante. que continua vigilante no mais profundo transe hipnótico para proteger o hipnotizado. São as pessoas que vivem em dissidência consigo mesmo. uma parte da personalidade pode entrar em conflito com a outra. com base nas formulações Freudianas. 102 assim como Émilie Coué. 1984. Sob o efeito do transe hipnótico. Para eles. é a clássica falta de unidade de propósitos que Freud assinalou como sendo uma das características fundamentais dos indivíduos neuróticos. J. (1980-1982). In: Arch Gen Psychiatry. Diz a teoria do estado normal que 102 MYERS. Weissman MM. Assim. Entretanto. Neste caso.. não obstante as alterações psicossomáticas que produz. Esta última é a “polícia interior”. K. afirma que o ser humano possui duas consciências: a supraliminar (o consciente) e a subliminar (o inconsciente). Além do fenômeno da amnésia. alinham-se a essa explicação para descrever o estado hipnótico. num conflito permanente entre os deveres e os desejos. uma diferença de grau e não de natureza. a hipnose ocorrerá. 959-967. ocorre a revelação ou o afloramento do inconsciente. porém é este um aspecto comum à psicodinâmica. o hipnotizado não se lembra conscientemente. Hypnosis and suggestion in psychotherapy: A tratise on the nature of hypnotism [Reprin]. a velocidade e a intensidade dos processos psíquicos e produz no hipnotizado. Na hipnose. Nunca deixa de ser o que é apenas deixa. como critério de suscetibilidade hipnótica. representa o paradigma da normalidade e é. Sc. modificações fisiológicas transitórias. A experiência tem mostrado que o grau de subordinação ao hábito costuma servir. uma hipnose permanente. trazendo assim à frente a mente subjetiva. 103 . o hipnotista induz a mente objetiva do hipnotizado a retroceder. a hipnose pode ser definida como uma condição em que se consumou uma troca nas posições relativas das mentes subjetiva e objetiva. cair a máscara. em vez de vir à frente. A mente objetiva é a que controla os sentidos: audição. Universrsity Books (1889) 1964. Mas.198 Antonio Almeida Carreiro. e em que a subjetiva foi posta em evidência na expectativa de ser BERNHEIM. A subjetiva é a que controla a memória. de acordo com a sua própria dinâmica e estrutura psíquica. de acordo com as sugestões. Compreender o indivíduo hipnotizado equivale a compreendê-lo em seu estado normal. suas próprias tendências. A mente subjetiva é capaz somente de raciocínio dedutivo. tato e olfato. New Hyde Park. por definição. Translad by CA Herte. Exclusão psíquica relativa Essa explicação também tenta demonstrar que as pessoas têm duas mentes. conforme as circunstâncias. New York. lembra-se o clássico conceito de Bernheim. unicamente. A hipnose altera. Por essa explicação. denomina uma de objetiva e a outra subjetiva. eventualmente. a dinâmica se exacerba ou diminui. ela vem esperando ser controlada por sugestões do hipnotista. visão. O que equivale a dizer que todos vivem em regime mais ou menos hipnótico à força da própria necessidade e do hábito. não podendo raciocinar por indução. 103 segundo o qual “somos indivíduos potenciais e efetivamente alucinados durante a maior parte das nossas vidas”. mas o indivíduo não muda de personalidade. como uma gangorra e. manifestando. sem ser controlada ou submetida à sugestão externa. normalmente policiadas ou reprimidas. gustação. de certo modo. cada pessoa reage à sua maneira. para assegurar o estado hipnótico. como vem no sono comum. As duas mentes estão sempre presentes em cada indivíduo. H. Para reforçar essa explicação de que a hipnose representa um estado psicológico normal. O hábito. Dr. num estado relativo de equilíbrio. esse nosso aliado. A mente objetiva é capaz de raciocínio tanto indutivo quanto dedutivo. O controle. para o hipnotizado. ocorre o que se chama de auto-hipnose ou auto-hipnotismo. por mais bem sucedida que possa ser a hipnose. Os instintos e as opiniões variam entre diferentes indivíduos. Quando induzida por um hipnotista. pode ser mantido ou ampliado pela simples sugestão. e a mente subjetiva avança na expectativa de ser controlada pela objetiva em recesso. Raphael H.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 199 controlada pelo hipnotista ou pela mente objetiva em recesso. estão enraizadas firmemente e não cedem facilmente a uma contra-sugestão durante a hipnose. está circunscrita pelo grau em que a mente objetiva do hipnotizado. qualquer sugestão daí por diante assume. 104 a quem se atribui a autoria do conceito de mente objetiva e subjetiva. essa explicação é suficiente e supera todas as outras. a fidelidade é um princípio profundamente arraigado. com freqüência. 1972. Na verdade essa forma de interpretar a hipnose não contraria as explicações anteriores e até pode ser identificada como apenas reformulação de conceitos sinônimos aos já conhecidos. A amplitude do controle não é ilimitada. o chamado hipnotismo ocorre por controle externo. é impossível dominar certos instintos básicos e opiniões profundamente arraigadas do hipnotizado. a natureza de incontestável. Hipnotismo sem mistérios. O controle. uma vez estabelecido. É por isso que. pois a sugestão de manutenção ou extensão é aceita pela mente subjetiva como uma verdade a ser cumprida. logo que a mente subjetiva do hipnotizado aceita o hipnotista como sua fonte de sugestões. éticos e espirituais assumem proporções significativas para muitas pessoas. 104 . Rio de Janeiro. Record. Neste caso. Por exemplo: a maioria das pessoas tem um instinto básico de autopreservação muito apurado. Para Rhodes. se acha em recesso. embora presente. a mente subjetiva avança na expectativa de ser por ele controlada. O processo que alcança tal resultado é o hipnotismo. Fluxo de memória Explicações parecidas com a anterior também surgiram trocando apenas as palavras “objetiva e subjetiva” por “consciente e RHODES. Quando o próprio indivíduo induz a troca subjetiva e objetiva. depois que for assumido. Ed. O mesmo é verdade com relação às crenças religiosas que. pode ser mantido e prolongado à vontade do hipnotista. outros valores morais. Para uma grande percentagem de mulheres. De modo semelhante. representam suas próprias matrizes inconscientes. mas o grau atingido é uma questão individual. Para explicar o processo hipnótico. Dr. construídas por várias vezes repetidas na história de vida de cada um. o hipnotizado permanece imóvel. processa e externa informações memorizadas (arquivadas) no inconsciente. como se fosse uma janela que comunica as duas mentes. e justificam a ocorrência das intuições. Do ponto de vista didático. “razão e emoção”. em estado cataléptico. pode ser associado metaforicamente o consciente à memória volátil dos sistemas computadorizados que analisa. O consciente pode ser entendido como se fosse apenas um processador de informações que são requeridas do inconsciente onde está localizada a grande memória. é um coordenador que processa a informação do inconsciente e externa de forma psicomotora. Aproveitando o transcurso da era da microeletrônica. Imagine que as informações sobre conhecimentos normais só sobem ao consciente quando solicitadas. Quando alguém entra em hipnose. pode ser entendido como tentativas para atualizar a linguagem sobre a explicação dos fenômenos hipnóticos com os novos conhecimentos. as matrizes rompem facilmente a barreira da janela e sobem despercebidas pelo consciente. Tudo isso. mas compulsivamente capazes de impelir alguns dos nossos comportamentos ou sensações. e o inconsciente ao disco rígido do computador (Winchester) como um grande arquivo de informações. essa associação parece ser eficaz para o entendimento desse tema tão complexo. esta seria enviada pelo inconsciente para ser processada e executada pelo consciente que é apenas um coordenador. geralmente representadas de forma inconsciente. como se as sugestões fossem verdades contidas na sua própria memória. a explicação do hipnotismo e seu envolvimento com termos psicanalíticos. Isso não acontece com as matrizes que são informações mais fortes. Sem ação. Sc. . Mais modernamente essas palavras têm aparecido como “memória de curto prazo e memória de longo prazo”. até que lhe seja sugerida qualquer atitude ou situação. não processa a memória do inconsciente. São as palavras do hipnotista que assumem essa função controladora capaz de fazer com que o hipnotizado processe a sugestão e a manifeste sem análise. ainda. subconsciente” ou “consciente e inconsciente” ou. o consciente diminui de ação. imagine o consciente como uma esfera menor tangenciando outra esfera representando o inconsciente e no ponto de tangência uma passagem. isto é.200 Antonio Almeida Carreiro. endereça e arquiva informações. Quando o consciente necessita de uma informação. sem ação. O retorno ao estado normal representa o fechamento da janela e a conseqüente regulagem do fluxo de informações da memória. só passa uma informação de cada vez e quando requerida pelo consciente. a informação seria requerido do grande arquivo e. os sentidos convencionais durante o transe. Essa abertura estaria limitada à capacidade de processamento do consciente. passa através da abertura da janela para o coordenador. pronta para entrar em ação quando o transe estivesse estabelecido. cantar ou escrever. sendo a ausência total de movimentos a justificativa para a rigidez cataléptica que pode ser observada em determinado nível de transe. quando a janela abre. A pessoa neste estado não tem qualquer manifestação psicomotora. uma . a menos que lhe seja sugerido. Assim. O hipnotizado não dispõe. Consciente (coordenador) Janela (passagem) Inconsciente (arquivo) A partir desse modelo didático pode ser considerada outra hipótese. antecipadamente. Assim. essa passagem pode variar na velocidade. seria o retorno ao nível da capacidade de processamento do consciente do hipnotizado. o hipnotizado já sabe. Se um indivíduo deseja fazer algo como falar. o hipnotizado permanecerá imóvel até que lhe é apresentada uma sugestão. o consciente tornar-se-ia provisoriamente inativo. a de que o método hipnótico possa provocar a expansão da abertura da janela que liga as duas esferas e. Talvez assim seja possível explicar muitas situações presentes no transe hipnótico: a rigidez. o que poderá manifestar no transe e. Nestas condições. manifesta.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 201 Pela janela que funciona como uma restrição. seria o hipnotista o coordenador externo que substitui o consciente do hipnotizado. seria a absoluta falta de coordenação motora que é uma função consciente. dependendo da velocidade do processador. por exemplo. sobe mais informações do que seria possível o consciente processar (coordenar). sem capacidade de processamento. neste caso. não vê e não sente dor e depende das sugestões externas geradas pelo consciente do hipnotista. seria assim explicado o raciocínio rápido ou lento dependendo do fluxo de informações. controlada. Na auto-hipnose existiria sugestões prévias do próprio hipnotizado. por isso não dispõe de oitiva. O mesmo acontece na auto-regressão: de alguma forma. no comportamento. Há outros que quase instantaneamente entram em transe profundo. a pressão pode subir um pouco. Níveis e Características A indefinição teórica da hipnose é evidente. Ao iniciar-se o transe. não obstante também apresentar o aumento da percepção dos sentidos. mas sim uma representação didática e simbólica do funcionamento da mente humana. Pequenas diferenças podem ocorrer de um indivíduo para outro. variação de calor para mais (hipertemia) no tórax e cabeça. ora de forma cooperativa a tudo que se disse sobre o assunto. figura geralmente uma baixa na pulsação. gritos. conservando-se geralmente assim durante todo o transe.202 Antonio Almeida Carreiro. podendo até assumir outra personalidade. A hipnose é um fenômeno que se explica e se produz em função do hipnotizado. Dr. Durante o transe geralmente o hipnotizado apresenta-se como estivesse experimentando um relaxamento geral. a pessoa manifestará aquilo que ficou anteriormente sugerido como sentimentos de alegria. Mas. Não pretende ser um modelo teórico. Serve. a depender do indivíduo. nas sensações. é pela reação do hipnotizado que o hipnotista avalia a autenticidade e a profundidade do transe. ocorrendo quedas mais ou menos acentuadas na pressão arterial. Na pessoa bem hipnotizada observa-se geralmente uma mudança na temperatura periférica. como identificar a sintomatologia. Alguns alcançam os níveis mais profundos no transcurso de várias sessões. associando com variação de calor para menos (hipo-termia) nas extremidades das mãos e pés. talvez para aclarar. mas isso não impede que a partir das observações práticas seu estudo não possa ser sistematizado. Equivale a dizer que. sem contestar outras formas de explicar o complexo fenômeno hipnótico. vez no transe. Nas mudanças fisiológicas que se produzem em conseqüência do nível do transe. seguida de vaso-dilatação que se vai prorrogando até o momento de acordar. Esta explicação sobre o que ocorre no transe hipnótico funciona ora de forma subsidiária. reconhecer as características e dividir o transe hipnótico em níveis diferenciados. crise de choro ou riso. na percepção. por isso é possível que as expectativas sejam variadas tanto para mais como para menos. costuma haver vaso-constrição. tristeza ou afeição. Alguns hipnotizados podem manifestar intensa excitação mental expressada através de convulsões. Ocorre na pessoa hipnotizada mudança no estado físico e mental. podendo produzir alterações no fisiologismo. ás vezes . Sc. no começo os batimentos cardíacos se aceleram. nos sentimentos e na memória. mas à medida que o transe se aprofunda tende a cair. Estes autores.hipnose profunda. Ao acordar. entre outras coisas. declara quando perguntado que seu transe durou apenas 5 ou 10 minutos. sobretudo se outras pessoas hipnotizadas estiverem presentes. ficam como se estivesse sonolento por várias horas após o transe. Porém. New York. divide o estado hipnótico em cinco fases e suas respectivas mudanças fisiológicas espontâneas que se produzem naturalmente durante o transe com cinqüenta diferentes características. Hypnotism today. Quem experimenta o processo hipnótico perde a noção do tempo. 2. Estes sintomas são mais genéricos e outros ocorrem na medida em que o transe evolui para seus diferentes níveis. não sabe explicar porque seguiu corretamente as sugestões do hipnotista ou porque permaneceu imóvel enquanto durou a sessão. Bernheim em nove. inclusive. porém. é de Le Cron e Bordeaux 105 a escala considerada como a mais completa. Àqueles que atingem um nível maior declara sentir a sensação de bem-estar mais profunda. Nesses níveis ocorrem as seguintes características: • Hipnose ligeira. Grune and Stratton. Liébeault acreditava em cinco níveis. Davies e Husband. também chamada de sonambúlica: costuma ocorrer. as pupilas ficam dilatadas. quanto ao estado de hipnose que experimentou. Não terá dúvida. É comum a divisão da hipnose em três estágios ou níveis genéricos: 1. 105 LeCRON. poderá inclusive retornar espontaneamente para o transe. a amnésia póshipnótica. • Hipnose profunda. após pesquisar mais de quatro mil pessoas hipnotizadas. Leslie M. ou superficial: o hipnotizado tem consciência de tudo que acontece. a impressão de que nem sequer está hipnotizado. quando na verdade transcorreu em uma ou duas horas. e se permanecer no ambiente onde acabou de ser hipnotizado. 3. A noção de tempo e espaço fica distorcida e. Dará e terá. declara não se recordar de nada do que se passou. e. Geralmente quem passa por esta experiência revela que aumenta muito o nível do sono fisiológico e dorme mais profundamente na noite posterior a sessão. . 1947. de olhos abertos. • Hipnose média: a pessoa conserva uma lembrança parcial do que se passou durante o transe.hipnose média. apresentam uma escala com trinta níveis e suas características correspondentes. Mas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 203 alternadamente. and BORDEAUX Jean.hipnose ligeira. 3 . Sc. 8 . já não quer mover-se ou mudar de posição. durante o transe. porém declara sempre que. pensar. a catalepsia dos membros e a rigidez cataléptica.Contrações oculares ao despertar.Tremor das pálpebras. 10 .Aumento de batimento cardíaco. Não obstante os sintomas. São características dos diferentes níveis da fase I: 1 . (Os músculos do corpo ficam enrijecidos durante o estado de hipnose. 2 . 14 . foi possível identificar uma seqüência de reações espontâneas e mudanças fisiológicas no hipnotizado. FASE II . O hipnotizado não tosse. 12 . Dr.Contrações espasmódicas da boca e do maxilar durante a indução. quando submetidos à hipnose.Aparente sonolência. 5 . pelo menos se enquadram nesta fase. evolui para esta fase.204 Antonio Almeida Carreiro. 13 Rapport entre hipnotizado e o hipnotista. esta fase não é considerada como um transe perfeito. pouca inclinação a falar. quando retorna do transe diz que se lembra de tudo que aconteceu. Mostram uma expressão de cansaço.Catalepsia ocular. Começam a sentir os membros pesados e finalmente todo o corpo pesado. Com base no referencial teórico estudado. apresenta-se no hipnotizado a catalepsia ocular. 15 . principalmente na escala de Le Cron e Bordeaux e em observações práticas.Lassidão acentuada (sem disposição para se mover. freqüentemente tremores nas pálpebras e contrações espasmódicas nos cantos da boca e nas mãos e aumento de batimento cardíaco.Noventa e oito por cento dos candidatos são hipnotizáveis e.Aceita sugestões pós-hipnóticas simples.Transe ligeiro – Oitenta por cento dos candidatos. Experimentam um estado de alheamento. embora conserve ainda plena consciência de tudo que se passa ao redor.Fechamento dos olhos. Neste estágio.Contrações espasmódicas. 11 . embora possa oferecer resistência às sugestões mais complicadas.Catalepsia parcial dos membros.Relaxamento mental e físico. Entre outros sintomas. tentou mover-se em vão. São características dos níveis da fase II: 7 . 6 . agir). 4 . quando submetidos à hipnose. falar. 9 Rigidez de pequenos grupos musculares. Essas situações não são induzidas pelo hipnotista. porém não existe a fadiga muscular).Hipnoidal . surgem em conseqüência da evolução ou aprofundamento do transe que pode ser divido em fases de I a V e na numeração de um a cinqüenta: FASE I .Respiração mais lenta e mais profunda. . age como se não estivesse criticamente afetado pelo que acontece no ambiente e a respiração é mais lenta e mais profunda. o hipnotizado obedecerá às sugestões mais simples. mantém-se sério e imóvel. o hipnotizado fica com os olhos entreabertos aparecendo a parte branca inferior da córnea. influindo .Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 205 16 .Rigidez muscular nos braços e pernas.Sensação de peso no corpo inteiro. O hipnotizado permanece com os olhos totalmente abertos. a amnésia parcial. 27 .Sensação de alheamento parcial. já não oferecem resistência às sugestões. apresentam uma expressão impressionantemente fixa com as pupilas visivelmente dilatadas. 25 . alucinações motoras.Setenta por cento dos candidatos. nesta fase. Nesta altura se produze a catalepsia completa dos membros e do corpo. salvo quando estas contrariam seu código moral ou seus interesses vitais. por debaixo das pálpebras. alucinações positivas e negativas dos sentidos e alucinações cinestéticas. No aprofundamento ocorre o fechar dos olhos e o movimento não coordenado dos globos oculares.Alucinações olfativas.Mudanças de personalidade.O hipnotizado reconhece estar em transe.Transe médio .Hiperacuidade das condições atmosféricas (frio ou calor do ambiente.Vinte a trinta por cento dos candidatos. Ocorre espontaneamente a glove anestesia. FASE III . Embora conservem alguma consciência do que se passa. 22 . quando submetidos à hipnose evoluem para esta fase.Transe profundo ou sonambúlico . 24 – Ocorrências de ilusões do gosto. quando submetidos à hipnose. o hipnotizado ainda que reaja com maior ou menor presteza às sugestões do hipnotista. sua aparência é a de quem está submerso num sono profundo. auditivas e táteis 28 . razão por que é o estágio indicado para pequenas cirurgias. Freqüentemente. 26 . Neste estado são aceitas sugestões pós-hipnóticas bizarras e o hipnotista pode assumir o controle das funções orgânicas do hipnotizado. mas não aparece a íris (olhos brancos). movem-se em todos os sentidos. 17 .Glove anestesia (anestesia das mãos). 21 Amnésia parcial é acentuada. evolui para esta fase.Rigidez geral dos membros e do corpo inteiro). embora não o descreva. FASE IV . Freqüentemente na fase IV. 23 – Presenças de ilusões sinestésicas. uma hiperacuidade em relação às condições atmosféricas com elevada sensação de frio ou calor. estão efetivamente hipnotizados. 18 . 20 .Hiperacuidade olfativas. é o transe no sentido superlativo do termo. São características dos níveis da fase III: 19 . No transe médio já se consegue efeitos analgésicos e mesmo anestésicos locais. preferentemente para cima. Nota-se ainda. lembra-se apenas de parte dos fatos que ocorreram durante o transe. se sentirá atraído. não ouve. 37 . 45 . Sc.O hipnotizado permanece com os olhos totalmente abertos. A anestesia hipnótica completa. 41 .Olhar fixo. A regressão de idade. ouve. andando como se fosse sua sombra ou inclinando o corpo em sua direção. A isso pode ser acrescentada a anestesia e. negativas (vê e tem sensações táteis. o que é mais importante.Anestesia é completa. por meio de sugestões no ritmo das pulsações cardíacas. 33 . 34 . indicando a região a ser anestesiada. alterando a pressão arterial. pressão. resfriamento de parte ou do corpo todo. o hipnotizado manifesta inquietude.Regressão de idade com absoluta precisão de lembranças de fatos mesmo que ocorridos na fase mais infantil. são outros tantos atributos do transe sonambúlico. quando a anestesia deve produzir efeito. a anestesia pós-hipnótica.Olhos se fecham e apresentam movimentos não coordenados. a hora ou local. determina as condições específicas como o dia. Quando o hipnotista se afasta. 31 .Amnésia é completa ou sistematizada por sugestão pós-hipnótica. O hipnotista. 38 . mas não aparece a íris (olhos brancos). com a incidência de luz as pupilas dilatadas não contraem (midríase). São características dos níveis da fase IV: 29 .Alheamento total a tudo que ocorre no ambiente. 39 . etc.Alucinações visuais e auditivas positivas pós-hipnóticas. 32 . Dr. além de ser um dos fenômenos clinicamente importantes. 44 . 35 .Anestesia pós-hipnótica.Comporta-se como um sonâmbulo (sonambulismo artificial). não sente cheiro ou gustação de algo que existe). esgazeado e.Estimulação de .Alucinações visuais e auditivas negativas pós-hipnóticas. 42 . 40 Lembrar coisas esquecidas. independente de nova sessão e na ausência do hipnotista. 30 . é uma das provas mais convincentes do transe profundo.206 Antonio Almeida Carreiro. aproximando a mão. em certas ocasiões o segue embora não o veja. Outra situação que pode ocorrer no transe sonambúlico é quando o hipnotizado “se liga” mentalmente ao hipnotista. os processos metabólicos. Assim poderá ser submetido à intervenção médico-odontológica. 43 .Alterações das funções orgânicas por sugestão. digestão.Sugestões póshipnóticas bizarras. mesmo sem ele vê.Sensação do desaparecimento e a aproximação da voz do hipnotista. as alucinações pós-hipnóticas visuais e auditivas. 36 . no sono normal. ritmo da respiração. alterações da pulsação. sente cheiro ou gustação de algo que não existe) e positivas (não vê e não tem sensações táteis.Estimulação de sonhos durante o transe ou pós. Cinco a dez por cento dos candidatos. ou ainda. Salvo em casos nos quais as mudanças fisiológicas ou as reações indicadas sejam produzidas por efeito de sugestão direta. apresentam movimentos descontrolados do globo ocular. aparece a bolha como se fosse provocada por uma queimadura. Mantém a Boca seca e entreaberta. Ouvir. Atração pelo hipnotista por hiperestesia 46 Hiper sensações olfativas. 49 . é mover objetos sem contato normal. aromáticas e odores. tem de se levar em conta as variantes das reações individuais. audição.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 207 hiperestesias. 48 Movimentos descontrolados do globo ocular. 50 . Encostando-se um objeto frio na pele do hipnotizado e dizendo ser uma brasa. ou indiretamente veiculada pelo hipnotista. ou pode surgir naturalmente sem sugestão específica. o hipnotizado está profundamente ligado e pronto para executar as sugestões do hipnotista. telecinesia é termo derivado das palavras gregas tele e kinesis. significam “movimentar de longe”. FASE V . o estado de sonambulismo e a hiperestesia. No entanto. ver a distancia e poder descrever qualquer lugar que lhe seja solicitado. ver ou sentir através da mente. contorno dos olhos e unhas roxas além de mudança de voz.Transe pleno .Somatização das sugestões.Inibição de todas as atividades espontâneas. Na linguagem da parapsicologia. que significa um extraordinário aumento dos sentidos convencionais como tato. Manifestações hiperestesicas em forma de clarividência. São características dos níveis da fase V: 47 . um olho move para cima e o outro para baixo. da visão e do olfato. Apresentam ausência total de reação mesmo quando submetidos a fortes estímulos do tato. . em alguns casos características do transe profundo podem ocorrer no transe médio e até mesmo no ligeiro. da audição. Pode ocorrer a somatização das sugestões. É possível sugerir-se ao hipnotizado. esta capacidade de visão indireta significa ver além do olhar ou da visão convencional. dentro desse esquema. um olho para um lado e o outro em sentido contrário. quando submetidos à hipnose evoluem para esta fase.Pode ser observada a ocorrência de forte hiperestesia. clariaudiência e telecinesia (a clariaudiência é para o ouvido o que a clarividência é para a vista). alta palidez. visão. clarividência e até telecinesia associado a transfiguração de fisionomia. paladar e olfato. estas mudanças devem aparecer de forma espontânea e correspondem a cada nível de aprofundamento do transe atingido pelo hipnotizado. Mas. entre 8 e 25 anos. isto é.208 Antonio Almeida Carreiro. embora pouco freqüente. Hypnotism. não apresenta fatores de inibição ou resistência ao processo hipnótico. Lippincott. practice and theory. Enquanto isso. Quem é Suscetível ou Insuscetível Um a dois por cento dos candidatos é insuscetível a hipnose. Existem listas organizadas indicando. permanecendo no ambiente onde ocorre a sessão. Sc. Um fracasso do hipnotista quase sempre repercute para este de forma depressiva. independente de sugestões do hipnotista. Quanto ao sexo é também consenso que entre a suscetibilidade do homem e a da mulher não há diferença. são mais facilmente hipnotizáveis os intelectuais. Em princípio os loucos e retardados mentais não são hipnotizáveis e os pouco inteligentes oferecem bastante resistência. apresenta sintomatologia de nível hipnoidal ou médio e. Para evitar o fracasso. J. é imperioso que antes das sessões o hipnotista possa identificar. 106 . É característica do insuscetível a ausência de toda e qualquer reação aos testes de suscetibilidade. os homens sensíveis e inteligentes. Estes são conhecidos como do tipo “liga-desliga”. os curiosos. pode voltar ao estado anterior. embora perfeitamente normais. os românticos e todos aqueles que têm força de vontade. os psicóticos e os excessivamente preocupados. a realidade mostra exatamente o contrário. 1930. que pode até inviabilizar novas práticas. São apontados como impossíveis ou dificílimos de ser hipnotizado. ou pretendendo indicar. Ist history. acredita ser o hipnotista dotado de “força” ou “poder”. J. 106 noventa e oito por cento dos indivíduos apresentam alguma suscetibilidade. Existe ainda. B. saem do transe espontaneamente como também. não apresenta reação de espécie alguma. as pessoas mais hipnotizáveis ou quem é mais suscetível. Imagina que os hipnotizáveis não têm vontade forte ou são fracos de “energia”. principalmente se outros estiverem hipnotizados. De acordo com a estatística organizada por Bramwell. mesmo assim. os artistas por excelência. com precisão. O grande público ainda preso a superstições. mesmo assim. o tipo de hipnotizado que entra no transe. Philaephia. como exemplo: portadores de patologias psiquiátricas sérias. alcançariam os níveis mais profundos do transe BRAMWELL. Dr. quais os tipos indivíduos são mais suscetíveis. incompatibilidade com o hipnotista ou com o ambiente da sessão e. sobretudo se não têm o seu prestígio firmado. De dez a vinte por cento das pessoas mais jovens. uma capacidade de concentração focalizada que. Bernhardt. Ed. dependentes ou preocupadas. In: Tratado de psiquiatria. Concordando com Roger. Já parece estabelecido que a suscetibilidade hipnótica cresça em razão da inteligência e na razão direta da capacidade individual para as atitudes abstratas (WEISSMANN). se existir. Rio de Janeiro. computam-se de vinte e cinco a trinta por cento das pessoas como propensa ao estágio sonambúlico. Contrariamente ao que ensinam os livros populares. 1993. mas sim. Record. que possuem uma acentuada capacidade de concentração e trazem consigo uma grande motivação (ROGER). pelo menos oitenta por cento do grupo presente responde positivamente aos testes de suscetibilidade hipnótica. a fé inabalável no hipnotismo e a vontade forte não constitui atributos fundamentais e diretos do hipnotista. Autodomínio através a auto-hipnose. crédulas. Talbott et al. os grandes mestres do hipnotismo como Liébaut e Bernheim conseguiram esse estágio em aproximadamente vinte e cinco por cento. . É. do hipnotizado. Nas apresentações públicas. executar e dramatizar as situações sugeridas. ed. 108 SPIEGEL. antes. está associado à ausência de perturbação psiquiátrica e neurológica séria. O indivíduo tem que ter pelo menos a inteligência ou a vivacidade intelectual suficiente para interpretar. 108 capacidade hipnótica ou suscetibilidade não é um sinal de fraqueza mental. acrescenta Weissmann: Não se consegue hipnotizar loucos nem débeis mentais. Para Spiegel. Levantando outros fatores positivos para caracterizar pessoas suscetíveis destacam-se. Hipnose. mas pode caracterizar pessoas felizes que. diz Weissmann: “dentre os elementos femininos as moças bonitas e animadas sejam as mais fáceis de induzir do que as suas companheiras menos favorecidas pela natureza e pela sorte”. A 107 ROGER. Porto Alegre.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 209 hipnótico. Atualmente. Artes médicas. Ser suscetível não caracteriza pessoas subservientes. Roger 107 simplifica a questão ao afirmar: Os indivíduos mais sensíveis à hipnose são justamente aqueles que apresentam uma inteligência média ou superior. não vivem em guarda contra o mundo. não tendo sido decepcionadas. a imaginação e a capacidade de concentração como condições para se obter o transe. David. a inteligência. Por isso. Org. 1978. Quanto mais a pessoa é determinada pelo seu Id. ou de vontade forte aliada a muita fé. tanto para o hipnotista quanto para o hipnotizado. uma espécie de reação compensatória a uma frustração instintiva. mas inconscientemente deseja. pelo menos. ou seja. Philaephia. automática e inconsciente da personalidade humana. Apesar disso. a hipnose representa para a maioria dos hipnotizáveis uma oportunidade de escapamento.210 Antonio Almeida Carreiro. instintiva. Sc. a hipnose consiste inicialmente na inibição das funções da personalidade consciente. isto é. 110 109 TUCKEY. É preciso. experiência mostra que os melhores hipnotizáveis são precisamente os tipos impulsivos. a sua parte irracional. 1930. crer para que se dê o transe hipnótico. Segundo as estatísticas apresentadas Bramwell. Usando a terminologia psicanalítica. inversamente. Lippincott. 1921. its history. os voluntariosos. o transe ocorrerá aparentemente contra a vontade. Daí. A outra parte chamada Id é irracional. Outro ponto importante é a vontade inconsciente de ser hipnotizado. Assim. O contrário também é válido. uma fuga temporária das censuras e coerções do Ego. é bem possível que pessoas idosas sejam hipnotizáveis e que. practice and theory. as pessoas de muita vontade. A suscetibilidade hipnótica alcança seu máximo potencial entre 8 e 14 anos e começa declinar entre 25 e 30 anos. London. L. do Ego. declara que deseja. portanto. Baillère Trindall Cox. ou seja. de ação automática. as quais a sugestão hipnótica se enquadra: BRAMWELL. Uma vez identificado um. serão geralmente também suscetíveis os irmãos e. um dos pais. enquanto apenas sete por cento das pessoas acima dos 60 anos chegariam a níveis hipnóticos de igual profundidade. o valente e brigão. Treatment by hipnotism and suggestion. Geralmente a suscetibilidade se apresenta como um dom de família e é possível encontrar-se verdadeiras famílias de suscetíveis. C. 109 cinqüenta e cinco por cento das crianças alcançam os transes mais profundos. Tuckey 110 diz que a suscetibilidade hipnótica é um traço de personalidade decididamente condicionado a repressões e mecanismos de defesa e de impunidade. o tipo impulsivo. pode ser que conscientemente declare que não quer. Dr. se mostram mais suscetível às impressões externas e às reações instintivas estereotipadas. tanto mais propensa se mostrará à indução hipnótica. Hypnotism. crianças possam decididamente resistir à hipnose. . mas inconscientemente é refratário. instintiva e automática. J. Há pessoas. outros com lentidão. é capaz de praticar atos que. tanto espontâneos como em resposta as sugestões verbais ou de outra natureza. mas normal na concepção de que não é patológico e é sempre temporário. Na hipnose. ao sair do transe. nos rituais místicos. fala e se locomove. Experimental demostration of the psychopathology of everyday life. em especial na fase da infância ou da adolescência. chama a polícia e move um processo contra o agressor (TUCKEY). agride um adversário que o insultou. no decurso do qual podem ocorrer vários fenômenos. nas mesmas circunstâncias. que entram em transe espontaneamente. Atribuiu ao transe caráter terapêutico e o definiu como sendo um momento especial e diferenciado. as características do transe são as mesmas. é muito mais fácil de hipnotizar do que um outro que. repensou a hipnoterapia com o uso de metáforas que serviam para alcançar o inconsciente do paciente e tratar as causas dos sintomas. New York. A Bristish Medical Association define o transe como um temporário estado alterado de consciência e atenção do sujeito. Há outras que entram em transe profundo quase que instantaneamente. durante o qual o paciente tem condições de quebrar. Há pessoas que apresentam um tipo de transe passivo. religiosos e nas sessões de hipnose. Trata-se de um estado diferente da consciência habitual. 111 psiquiatra americano. 1939. que regem a dinâmica de sua vida.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 211 Um indivíduo que num gesto impulsivo. às impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos com referencia as condições do ambiente e aos acontecimentos onde e enquanto transcorre o transe. Salvo raríssimas exceções. O transe É um conceito básico no estudo e na prática da hipnose que se caracteriza pelo fato do sujeito manifestar certa indiferença temporária. com mais facilidade. Milton Hyland Erickson (1901 – 1980). puramente automático. não lembra e nem sabe explicar o acontecido. induzido por um hipnotista. M. relativa ou completa. Alguns reagem rapidamente. embora cada caso tenha seu propósito e sua própria explicação. Fenômeno relativamente comum ocorre em situações diversas como no sonambulismo. há pessoas que alcançarão um transe satisfatório no transcurso de várias sessões. suas limitações e a estrutura dos seus sistemas de crença pessoais e supostas realidades. H. a pessoa em transe não se mostra inclinada a 111 ERICKSON. . já outros se manifestam pela exacerbação dinâmica. Pode-se ter certeza do estado profundo de hipnose. quanto mais lentos os movimentos sugeridos. muito embora estas últimas sejam tão precisas quanto às primeiras. uma tendência de acreditar mais nas provas físicas do que nas provas demonstradas nos comportamentos. . Na segunda. Neste caso. Pica-se a mão do hipnotizado sem aviso prévio e sem que ele possa perceber. mais próximos de simulação. não muda de posição e mantém-se sério. Dentre os sinais físicos de hipnose. o mais preciso é a anestesia dos sentidos. que pode ser verificada pela ausência do tato. Sinais de hipnose Para afirmar que o indivíduo está ou não hipnotizado. se o hipnotizado revirar totalmente os olhos de forma que. de certo modo. é quando a respiração é suave. as reações do indivíduo hipnotizado se dividem em duas categorias fundamentais: a dramatização das situações sugeridas e as alterações psicofísicas que se processam no hipnotizado. visse ou sentisse espontaneamente. Geralmente fala baixo. por uma ausência de iniciativa e de espontaneidade. maior é o nível do transe. para esse efeito. Sc. As técnicas de indução ao transe hipnótico têm de variar de acordo com a suscetibilidade específica do hipnotizado. E nota-se. mais profundo será o transe hipnótico. quanto mais lenta a resposta da sugestão do levantamento dos braços. salvo em demonstrações públicas quando deve ser adotado um método mais ou menos estereotipado que resultem no transe satisfatório na maioria dos participantes. Quando coagido a falar. Os bons suscetíveis logo aparentam palidez.212 Antonio Almeida Carreiro. mais profundo é o transe. positiva ou negativamente. Dr. A ausência de reação indica transe médio ou profundo. sendo por isso. os sinais físicos são mais confiáveis para que se possa acreditar que a hipnose está instalada. e quanto mais lenta for a representação das situações sugeridas. Quanto mais imóvel. durante o transe hipnótico. Na primeira categoria. Todos os demais testes catalépticos são realizados com a participação da sugestão verbal. profunda e rítmica. por meio de movimentos com a cabeça. toma as recomendações ou ordens muito ao pé da letra. falar. manifestando-se na linguagem. De um modo geral. é como se nada ouvisse. não se deixa contagiar com o que ocorre no ambiente. como em tudo mais. às vezes bem acentuada. além da boa escolha dos suscetíveis. tem uma tendência de responder às perguntas que se lhe fazem. o “Método da Estrela” é recomendado como padrão. o hipnotista recorre às provas características. freqüentemente envolve a suspeita de que pode haver simulação. ou seja. Outro teste consiste em levantar o braço e ou a perna do hipnotizado e deixá-la erguida. O indivíduo pode mostrar-se assustado. não se deve retornar ao estado normal subitamente como que arrancando de forma violenta ou indelicadamente do transe em que se encontra. Pode. etc. sairá para beber água porque estará com muita sede. sua relação com o hipnotista e ocorrem efetivamente casos que o ato de acordar se prolonga. Não obstante tudo que ocorre numa sessão de hipnose ainda pode persistir a dúvida. por exemplo. em hipótese alguma. lhe fosse aplicada uma sugestão pós-hipnótica do tipo: “ao acordar se sentirá muito bem. perfeitamente normal. feliz. queixar-se de sentir dor de cabeça. até que saia espontaneamente. Em certos casos. Isso. No caso do prolongamento do transe. para se ter certeza se houve ou não a ocorrência do estado hipnótico. Se permanecer na posição em que o hipnotista largou. insistem em prolongar o rapport. a ponto de auto-sugestionar-se que o transe lhe fez mal. um recurso sutil e altamente convincente é a sugestão pós-hipnótica. porém. de efeito pós-hipnótico.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 213 com as pálpebras levantadas não apareça a íris. deve constituir-se em motivo de pânico para o hipnotista. ou que mesmo acordado não pode se mexer. ainda que as reações do hipnotizado assumam proporções espetaculares. quando é apresentada ao participante uma sugestão de efeito retardado. antes de acordá-lo. ficam totalmente brancos.”. Ato de acordar Acordar o hipnotizado constitui um ato delicado. Tudo isto efetivamente acontecerá. ou que continua com as pernas imóveis. fazendo preceder a contagem para atingir o resultado esperado . ou ainda. Há pessoas que. ou mesmo impressionado. como exemplo: Pode ser dito ao hipnotizado que ao acordar. é preciso que se tenha produzido um transe de nível médio ou profundo. o hipnotizado deve ser surpreendido com uma ação mais enérgica do hipnotista e. ou seja. que quando ouvir determinada palavra ou frase entrará novamente em sono profundo. Este teste não oferece a mesma margem de segurança que a anterior. sem ele falar nada. o que jamais aconteceria se. isto é. no transe. Para tanto. tanto para o hipnotizado como para o hipnotista e para quem assiste. é sinal de transe médio ou profundo. se mesmo assim persistir em não acordar ignore-o. Uma das técnicas de acordar consiste em contar até dez. já que o simples gesto de levantar o braço vale por uma insinuação e pode ser considerado como uma sugestão. Vou começar a contar. ao expediente da fixação ocular . Se não terminasse a contagem ele acordaria assim mesmo.. 10. Vai acordando suavemente. A técnica indutiva é basicamente igual as anteriores... sem induzir o hipnotizado ao sono.. levitação dos braços. os fenômenos clássicos inerentes ao estado de hipnose. você já está praticamente acordando. Pronto.. Acordará sentindo-se tranqüilo e muito bem disposto.... livre de qualquer desconforto ou qualquer impressão desagradável. Utilizando toda a sua capacidade mental para o pleno êxito de sua vida.. Já está quase. como alucinações positivas e negativas dos sentidos. 5.. 4. Sc.. Antes mesmo de terminar. amnésia... as letras uma a uma: • À medida que eu for soletrando seu nome.. catalepsia... Você será capaz de vencer suas adversidades. (tempo registrado). ou praticamente todos.. livre de qualquer desconforto. 1.. Uma sensação de grande bem-estar.. exceto na parte da sugestão do sono. Vai acordar bem disposto... Dr.. Antes de chegar aos dez. Ao dizer a última letra de seu nome. com grande sensação de bem-estar. sem submergir o hipnotizado no sono hipnótico......... Você vai sentir-se maravilhosamente bem disposto. alterações de memória e regressão de idade. 6. Dentro deste prazo o sono hipnótico transforma-se em sono fisiológico e o hipnotizado desperta normalmente.. simplesmente.. 3. entre outras coisas. para dar ao hipnotizado o tempo para voltar ao seu estado normal.. 7. interpolando-se sugestões adequadas a alguns toques físicos.. Acordou.214 Antonio Almeida Carreiro. Já está começando a acordar. 9. inibições motoras... Por exemplo: • Agora.. no máximo após duas horas... Hipnose acordada Podem ser induzidos todos... você vai acordando. dizendo.. Pode ser conseguida toda série de demonstrações.. você estará perfeitamente acordado e maravilhosamente bem disposto. Outra técnica de uso freqüente para despertar o hipnotizado consiste em soletrar o seu nome.. Seu inconsciente estará trabalhando em seu benefício. 2. você estará praticamente acordado.. 8.. É de uso recorrer para esse efeito. A razão da contagem para efeitos de acordar é.. Invariavelmente deve ser acrescentada antes de acordá-lo sugestões pós-hipnóticas positivas como: • De hoje em diante.. sua mente estará trabalhando em seu benefício.. vou começar a acordá-lo contando até dez. Atenção.. Será sempre feliz... 112 . à medida que vá largando de novo. Se o hipnotizado correspondeu a todas ou à maioria dessas provas. O paciente cai. já dispensado e fora do transe.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 215 (método de Braid). The genuiness of some hypnotic phenomena: hypnosis and its therapeutic application. Frank Pattie. sugiro o balanço e os movimentos correspondentes. você obedecerá a uma ordem minha. O hipnotista tem de demonstrar maior domínio e maior grau de confiança. Mac Grew-Hill Book Comp. A impossibilidade de deslocar um pé do chão. Em seguida sugiro a incapacidade de articular o próprio nome. A queda é inevitável. a lembrança do que acaba de executar. pelo menos para produzir os primeiros efeitos. Não evitará a queda. e voltam sem sequer desconfiarem de que foi hipnotizado. 1956. e é amparado pelo assistente. pela hora ou pelo anel. New. passa-se à demonstração da amnésia. Dessa vez. Largo a mão do paciente e peço-lhe um anel ou um relógio. segurando a mão do hipnotizável: Vou largar-lhe lentamente a mão. Diz Pattie. Repito a experiência. No momento em que eu largá-la de todo. O grau de autenticidade da amnésia se verificará pela sua reação (PATTIE). e tornará a segurar a minha mão. mas terá uma pessoa para ampará-lo. muitos indivíduos rebeldes à hipnose são levados aos níveis profundos do transe. Esse método de hipnotização exige atitudes mais autoritárias e maior desembaraço do que os processos que envolvem o “sono“. Um dos assistentes.. devidamente instruído. e sugiro que. PATTIE. a catalepsia das mãos. Ordeno ao paciente que dê um passo para trás a fim de evitar a queda. (PATTIE). Já não pode dar o passo para trás. Inicialmente. sugiro ao paciente um estado de rigidez nos joelhos dizendo que seus joelhos endureceram. etc. se desvaneça de sua mente. enquanto embolso o objeto pedido. perguntará depois ao hipnotizado. quando atuando sobre uma pessoa de olhos abertos. Passo para as provas catalépticas. isso exige maior perícia do hipnotista e maior suscetibilidade do hipnotizado. para frente e para trás. 112 dá sua versão sobre a hipnose acordada: Fitando os olhos do paciente. porém. York. Torno a segurar-lhe a mão. F. Substituindo a sugestão do sono pela recomendação do relaxamento muscular e do exercício respiratório. PRÁXIS DA HIPNOSE Os efeitos práticos da hipnose são proporcionais ao domínio e aplicação dos métodos e técnicas pelo hipnotista ou pelo próprio hipnotizado no caso da auto-hipnose. Sc. CAPÍTULO III . se o hipnotista executar passos de dança diante dele. Obedece na certeza de estar agindo por sua própria vontade ou porque quer obedecer. tudo vai passar”. A ordem só atingirá os mais submissos. deve ser dito “logo estará tudo bem com você. Até atingir o transe ligeiro as sugestões são menos incisivas. a ordem deve ser indireta.216 Antonio Almeida Carreiro. mais o hipnotizado saberá interpretar e executar a sugestão indireta. Em lugar de dizer “sua dor de cabeça já passou”. retiradas estratégicas e avanços se for preciso. O efeito autoritário da sugestão hipnótica é enormemente atenuado em virtude do próprio hipnotizado que passa a experimentar as determinações proferidas pelo hipnotista como se fosse à expressão de sua própria vontade. Um indivíduo desses resistirá à sugestão verbal direta. Já outros aceitam sugestões diretas e incisivas desde o início do processo de indução. também. assim a “ordem” é substituída por uma sugestão indireta visual. mesmo no transe hipnótico profundo reagem e se recusam a obedecer. O hipnotista tem de reservar-se a si mesmo uma margem para eventualidades. esse procedimento não deve refletir timidez ou . Os pensamentos e os sentimentos do hipnotista afiguram-se para o hipnotizado.dance mas. Existem indivíduos que não admitem o mando formal. Do transe médio em diante as sugestões são mais impregnadas de autoridade e sugestões diretas. a ordem de dançar . Para a indução é aconselhável um método progressivo e relativo ao nível do transe. levando-se sempre em conta as condições da pessoa e as particularidades de sua psicodinâmica. a critério do indivíduo. preferentemente sugestões indiretas. provavelmente não deixará de condescender com a tentação de imitar. a essas. como se fossem os seus próprios pensamentos e sentimentos. por exemplo. Deixamos assim. Invariavelmente a ordem indireta faz parte do método sugestivo. Dr. é muito melhor convencer e sugerir do que mandar. isto é. O método que contempla a ordem indireta da sugestão deve. enquanto a sugestão atinge a todos e quanto mais inteligente e convencido pelo hipnotista. valer-se da técnica da sugestão graduada. Todavia. salvo raríssimas exceções. Há pessoas que não aceitam ordens nem de si mesmas e. o tempo para este tornar efetiva a sugestão iniciada. elas se dirigem ao inconsciente e no inconsciente conservam seu valor original e. por outro lado. Esse vai passar tem de merecer a devida atenção. que explora o fato de corresponder a um apelo à capacidade da imaginação do hipnotizado. todos marcavam oito. Na técnica sugestiva é aconselhado evitar a palavra “não”. ver mentalmente e o método de indução conhecido como “Método da Estrela” tira desse princípio sua comprovada eficiência. se incluindo aí poderes além do real. ou seja. envolvidos em lendas associadas às mais variadas superstições. Imaginar é visualizar. do resultado a que se propõe. Quanto a isso. a uma platéia impaciente. Mas. ainda . O hipnotista aparece e simulando surpresa com os protestos. como exemplo. cujo nome e lugar variam no tempo. com um atraso de três ou quatro horas. ou seja. representam fielmente as idéias correspondentes. Ato contínuo. O consenso popular sempre atribuiu ao hipnotista. sem exceção. exigiu que a platéia consultasse os relógios e. O hipnotista No passado hipnotizar não era coisa que se aprendesse. Weissmann é enfático quando comenta que as restrições que se vêm fazendo ao hipnotismo. está a do hipnotista X que se apresentou no local Y. a hora marcada para o início. era considerado um dom extremamente raro. ali. em lugar de dizer “você não vai se sentir mal” pode ser dito “você vai se sentir bem”. assim se refere Weissmann: Segundo o testemunho direto ou indireto da maioria de quem espalha lendas sobre hipnose. esta recomendação se baseia na experiência. em vez de meia-noite. para não dizer a infalibilidade. segundo a qual as sugestões afirmativas são mais fortes do que as sugestões negativas. As palavras dirigidas ao indivíduo em transe devem ser cuidadosamente escolhidas. é verdade que o hipnotista dispensa qualidades excepcionais para o exercício da indução hipnótica. habilitação ou qualificação profissional especifica. pode ser dito “você vai ter ânimo”. Outro princípio da técnica sugestiva é a preferência pelos motivos visuais. principalmente os de palco.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 217 falta de segurança por parte do hipnotista. traços de caráter mágico. Jamais este fato aconteceu e. suscitar a expectativa e a firme convicção do hipnotizado quanto à autenticidade. Um bom hipnotista não depende de nenhuma formação. em lugar de “você não vai desanimar”. o hipnotista declarou encerrada a sessão e era este o seu número único e suficiente. não é de se admitir que a platéia tivesse a paciência de esperar quatro horas para o início da apresentação (WEISSMANN). a quase totalidade das pessoas o imaginem dotado de olhos vivos e penetrantes. Isso depende mais do conhecimento tácito e menos do teórico. Isso explica porque muitas vezes pessoas escoladas e conhecedoras da teoria da hipnose fracassam. Quem é competente não teme concorrência. é motivo de ciúme e exige exclusividade. Em outras palavras. Para que a sugestão seja eficaz. na realidade não é preciso olhos especiais. o hipnotista tem que. mas convincente. destreza. O êxito do hipnotista está em função da credibilidade e da suscetibilidade do hipnotizável. representa a condição. entra na simbologia do ideário da crença do hipnotizável. enquanto indivíduos dotados apenas de conhecimento tácito sobre hipnotismo conseguem bons resultados. deve ser preferentemente grave. agindo dessa forma é provável que diminua a credibilidade e ou a confiança em relação à sua competência. monótono e suave. no dia a dia. Um fator que induz à hipnose e que comporta algum tempo de treino é a voz (método de Liébault). Para o êxito na prática da hipnose é preciso ter vocação. Para estes a hipnose é prestígio que. Um traço de caráter indispensável ao exercício proficiente da hipnose é certo grau de autoridade. ninguém jamais se manifestou contra sua própria prática. obtida sempre pela competência demonstrada ou pelo carisma pessoal. rítmica e repetitiva. simples. a pessoa se deixa hipnotizar porque é suscetível e por que confia no hipnotista ou lhe atribui poderes mágicos. Um bom hipnotista seria o indivíduo que possa reunir estas qualidades. A persuasão direta ou indireta. pelo menos durante a indução. seus gestos e palavras devem refletir um alto grau de autoridade e de confiança para conquistar . mas competente. O hipnotista deve ser suave. que eruditas e sensatas. Ao hipnotizar. por sua vez. Alguns hipnotistas não poupam sacrifícios para neutralizar uma possível concorrência e tentam passar a idéia de que são perfeitos e mais competentes. sentir o que pensa e como pensa seu hipnotizável.218 Antonio Almeida Carreiro. adquirindo sua confiança e credibilidade. mas de toda pessoa que deseja triunfar. não apenas do hipnotista. franca ou oculta. mas. até hoje. habilidade e sensibilidade para exercer a persuasão. Não pode demonstrar timidez ou falta de autoconfiança. é contra apenas o hipnotismo praticado pelos outros. funciona como estímulo sensorial. Sc. A crença popular segundo a qual o hipnotista domina pelos olhos. sempre excluem automaticamente a primeira pessoa. o hipnotista entra no código de valores e de fé. em qualquer atividade. faz com que. Dr. instintivamente. barulho de ventiladores. Se as pessoas de grande prestígio e vitoriosas em outras carreiras se dedicassem à hipnose. O hipnotizável tem de sentir. É por isso que. deve haver circulação de ar natural. George Allen and Unwin Ltd. B. deve possuir um dom especial. Quanto ao ambiente para se realizar as sessões. ruídos do trânsito. presenças de curiosos e de pessoas com opiniões sem fundamentos. 1951. tanto o hipnotista como o hipnotizável não pode estar preocupado com outros compromissos. mãe. nível intelectual ou social. . advogados. Isto se explica porque a atenção do hipnotizável volta-se para os familiares em lugar de concentrar-se no hipnotista. credo. em determinados 113 GINDES. cônjuges. a mágica presença de um indivíduo capaz de entrar em seu inconsciente e agir em função das suas expectativas. muitos seriam grandes hipnotistas. London. mas no exercício do hipnotismo este fator é duplamente necessário. buzinas e motores. Também pode perturbar a sessão. 113 diz que este sexto sentido “é a capacidade de colocar-se no lugar do outro”. levam vantagem pessoas já tradicionalmente prestigiadas. líderes religiosos. para tanto é recomendado desligar telefones. etc. médicos. irmãos. Outro fator negativo é a preocupação em relação ao tempo. Também não é aconselhável o uso de aparelhos de ar condicionado. artistas. culto ou ignorante. é recomendada iluminação fraca e indireta pelo menos até a indução surtir os primeiros efeitos. Gindes. para hipnotizar. suscitando expectativa e convicção do hipnotizável quanto a sua habilidade. A presença de familiares consangüíneos ou afetivos como pai. B. evitar o bater de portas. gênero. Nas sessões o ambiente não deve ser abafado. idéias negativas ou duvidosas. C.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 219 atenção. Em tais casos é preferível adiar a sessão. ou aquilo que popularmente se costuma designar por sexto sentido. podem dificultar a indução de seu parente. Perfil do hipnotista Antes de qualquer divisão de categorias de hipnotistas deve ser considerado o fato que no cotidiano. não só pelo frio como também pelo barulho que produzem. A crença popular insiste quando afirma que o hipnotista. independentemente de cultura.. É preciso ter prestígio em praticamente todas as atividades. tais como professores. New concepts of hypnossis: as an adjunkt to psychotherapy and medicine. etnia. tem que ser no máximo possível silencioso: deve ser evitado ruído de qualquer natureza. algumas pessoas divulgam falsas afirmações de proibição na tentativa de talvez limitar essa prática como exclusiva para determinada categoria profissional. porém. momentos e dependendo das circunstâncias. Dr. motivadas pelo desconhecimento ou atitudes egoísticas ou corporativistas. Mesmo assim. pratica o estudo metódico e sistemático da hipnose como disciplina obrigatória em seus currículos. o processo da auto-hipnose é uma faculdade intrínseca do ser humano que pode ser usada de forma consciente ou não. 000011 de 21/1/1991. O presidente Jânio Quadros assinou o Decreto-Lei n. .aprovado em 20/08/99. Embora jamais obedecida. sua divulgação ou aplicação por qualquer pessoa e em qualquer local. as pessoas normais são ora hipnotizadores. O Conselho Federal de Psicologia.Parecer 2. tenha oferecido estudos da aplicação da hipnose em odontologia como disciplina regular. Sc. alguns conselhos de classes profissionais reconhecem e autorizam o uso da hipnose no exercício da profissão. O hipnotismo geralmente é rejeitado como conhecimento acadêmico. até 1993. principalmente em programas televisivos. em nível de graduação ou de pósgraduação. porque shows de hipnose direta ou disfarçadamente sempre ocorreram. trinta anos depois o presidente Fernando Collor de Mello revogou totalmente essa norma através do Decreto-Lei n. seu estudo quando raramente ocorre é como extensão ou como rápidas citações complementando outros conhecimentos. A hipnose e sua prática passam longe de ser um saber monopólio de qualquer profissão. através da Resolução 013 de 20/12/2000. CFM .172/97 . Do ponto de vista legal nada proíbe a prática da hipnose.009 de 22/7/1961 proibindo a apresentação de espetáculos de hipnotismo de palco em televisão. 51. aprovou e regulamentou o uso da hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo.081 de 24/08/66 que regulamenta a profissão dos Cirurgiões-Dentistas. Também o Conselho Federal de Medicina reconhece a hipnose como recurso terapêutico e autoriza seu uso. E mais ainda. rádio ou outros veículos de comunicação de massa. nenhum outro curso de qualquer área do conhecimento. O uso da hipnose esta autorizada no artigo 6º da Lei 5. ora hipnotizados. Embora a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia.220 Antonio Almeida Carreiro. Não existe proibição legal quanto ao uso da hipnose no Brasil. até hoje no Brasil. Esta foi a única norma proibitiva que tratou desse tema no país e visava evitar o uso da hipnose para apregoar crenças supersticiosas ou sensacionalistas e com objetivos financeiros. o empresário. com curso de hipnose em nível de extensão. Hipnoeducadore .Professor Licenciado. Sua prática deve ter o objetivo de abrir canais. Odontólogo. o artista. Pode-se mesmo dizer que não há especialidade em que não haja indicações do seu aproveitamento. Pratica demonstrações de hipnose. proporcionando não simplesmente lazer e ou entretenimento. Atuação em salas de aula. .Médico. hospitais e clínicas especializadas. ocorre à possibilidade do agrupamento por habilitação em.Recomendável formação superior e curso de hipnose em nível de extensão. Deve realizar pesquisas nesta área juntamente com outros profissionais de nível universitário. o treinador físico. cinco categorias: 1) Hipnotista de Cátedra. Utiliza a hipnose em procedimentos no seu campo de trabalho para alívio ou eliminação da dor. Transmite conhecimento sobre hipnose em níveis de extensão.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 221 Nenhuma formação acadêmica habilita alunos ou sequer os inicia nesta área. nesses casos. o dentista e tantos outros profissionais que são impossíveis enumerar ou limitar seu uso ou aplicação. com curso de hipnose em nível de extensão. alguns profissionais atuam ou podem atuar com esse recurso em suas atividades de formação acadêmica e. Atuação em ambientes acadêmicos. Hipnotista de Cátedra . pelo menos. Hipnotista de palco . podem fazer uso da hipnose o professor. o advogado. mas principalmente esclarecimentos. Hipnoanalista – Profissional de formação superior. Enfermeiro ou Fisioterapeuta. 3) Hipnoanestesista. 2) Hipnoeducador. Atuação em consultórios. 4) Hipnoanalista 5) Hipnotista de Palco. trabalhos publicados de reconhecido valor. elevada formação acadêmica.Peritos Hipnotista. Utiliza a hipnose em trabalhos terapêuticos. o médico. com curso de hipnose em nível de extensão. mas por questões meramente corporativistas alguns profissionais se declaram “donos da hipnose”. o vendedor. graduação e pós-graduação. Hipnoanestesista . Ledo engano. Psicólogo ou Fonoaudiólogo. preferencialmente da área de saúde. Utiliza a hipnose como instrumento ou recurso facilitador do processo de ensino-aprendizagem. de forma artística e bem criativa. Médico. Mesmo não sendo a prática da hipnose privilégio de ninguém. Atuação em consultórios. sua aplicação é tão vasta que seria impossível qualquer tentativa de limitação a procedimentos exclusivos de qualquer categoria profissional. se por seus valores. Hipótese essa que não se restringe aos hipnotistas de palco. Sc. através de apresentações. de doenças. auditórios. ao menos teórica. sobre a relatividade do poder da hipnose. O poder do hipnotista O fascínio que a prática e as lendas sobre o hipnotismo exercem sobre as pessoas. de corrupção e de suborno. estou convencido da possibilidade. de burlar e subornar a polícia interior em muitos casos. como uma “polícia interior” que continua vigilante no mais profundo transe hipnótico (WEISSMANN). inclusive. Com esse argumento da polícia interior. para que pessoas interessadas possam iniciar-se nesta área. No entanto. Atuação em escolas. e por outro. O poder da hipnose sofre as limitações impostas nos códigos morais e éticos. instintiva e automaticamente. senão também aos médicos e aos . além das conveniências vitais da personalidade do hipnotizado. explica-se pela mentalidade mágica e as fantasias de onipotência que ainda nos dominam. sobre a relatividade da eficiência dessa polícia interior. por um lado. Embora jamais o diga aos pacientes. não só tiraria a roupa como faria isso teatralmente. Podia dar-se o caso de um hipnotizador não estar eticamente à altura da confiança que nele se deposita. esse ato fosse plausível. Mas. É só considerar a quase absurda confiança que a maioria dos hipnotizados deposita na pessoa do hipnotista. Dr. Todos nós temos um mecanismo de defesa que funciona inconsciente. poderia até sair do transe. o hipnotizado não é esse autômato indefeso e de obediência indiscriminada que geralmente se acredita. ou mesmo que inconscientemente admitisse a idéia como válida. o poder do hipnotista é relativo. Weissmann elimina a possibilidade de se induzir uma pessoa hipnotizada a um ato lesivo a si mesmo ou a outrem. de acordo com seu caráter e valores intrínsecos à sua personalidade. lhe é permitido fazer.222 Antonio Almeida Carreiro. certamente não concluiria a sugestão. O exemplo mais comum seria se o hipnotista sugerisse a uma pessoa hipnotizada que tirasse a roupa em público. à maneira da polícia externa. O hipnotizado só fará aquilo que. é suscetível de fraquezas. polícia essa que. admite a possibilidade do hipnotista burlar esse sensor interno quando analisa a questão e afirma seu ponto de vista: Cabe-nos ponderar. esta reagiria de duas formas: se o ato de desnudar-se em público fosse de encontro com sua estrutura de pensamento ou comportamento ético. clubes e associações. faculdades. Na realidade. Ajuda-te pela nova auto-hipnose. Para fazer com que uma pessoa aja contra sua própria vontade. Mas. Neste caso não há violação da vontade ou da força moral (ADAMS). e já viram pessoas fazendo coisas que ordinariamente não fariam. Neste caso o hipnotista deve retirá-la para que ele não fique em conflito entre aceitar ou resistir. São Paulo. acendeu um ADMES. com certeza bastante difícil. Na realidade. mas. Ed. e apresenta o convincente argumento: É muito remotamente possível e. mais tarde. um processo de convencimento em longo prazo. Adams 114 admite essa hipótese. etc. como exemplo. cheia de água azul e limpa e que o mergulho lhe fará bem. se for o caso. Seria assim. certamente ele não fará e é possível até que acorde. Em seguida acordou o aluno e. embora difícil. mesmo que remotamente. pode ser entendido como uma alteração no código moral do hipnotizado. Quando um indivíduo voluntariamente se dispõe a ser hipnotizado em uma sessão num teatro ou num clube. É pouco provável. Paul T. Bestseller. está seguro na suposição de que um indivíduo hipnotizado não violará sua vontade. Poderia parecer que estou aqui negando o que há pouco disse sobre a violação da vontade própria. não é impossível que o “campeão de saltos” pule. embora remotamente possível.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 223 odontólogos. Paul T. pode se burlar o sensor crítico. notando-se em favor do primeiro o fato de atuarem em público. se o hipnotizado for convencido que está em um trampolim de uma linda piscina. 114 . 1972. e o público é notoriamente vigilante (WEISSMANN). Nesse sentido Eastbrooks conta um caso típico: Um professor hipnotizou um estudante universitário e disse: Quando eu acender meu cigarro. o hipnotizador precisaria ter contato diário com ela usando técnicas de lavagem cerebral e subterfúgios. você vai tirar o às de espada do baralho que está sobre a mesa e vai entregá-lo para mim. segundo Adams. motivo de riso. fazer o papel de hipnotizado e ser. o autor diz que. durante longo tempo (ADAMS). No entanto. tal não se dá. que uma pessoa infrinja seu código moral. Se for sugerido a alguém hipnotizado que se jogue de uma altura muito elevada do solo. automaticamente ele está dando seu consentimento para ser enganado. Cita como exemplo: Muitos de vocês têm visto hipnose de palco. porque com esses argumentos sua polícia interior foi burlada. Pode também o hipnotizado apenas resistir à sugestão ou até mesmo a uma sugestão pós-hipnótica. Espera-se algum tempo e.Monotonia. em casa continuava com vontade de cumpri-la. O professor não removera a sugestão. voltou onde se dera a sessão. • Técnica da Repetição .Um dos grandes segredos da força sugestiva reside na repetição. Ora. dizendo novamente ou mais uma vez seu braço se levanta. aborrecido. dirigia-se para o baralho. despediu-se sorrindo de todos e foi para casa. As mais aplicadas são: Repetição Contagem . o hipnotista repete a sugestão. o que você vai fazer? Disse o professor. conclui com uma clara demonstração do poder compulsório da sugestão pós-hipnótica: O aluno lutava com grandes dificuldades. é o da contagem. O hipnotizado tem a impressão de que já obedeceu e sente a sua resistência quebrada. cigarro.Quero dar-lhe o às de espadas .224 Antonio Almeida Carreiro.Escada . apanhou o às de espada e levou até a casa do professor. fazendo de conta que foi obedecido da primeira vez. implica a idéia de uma repetição e costuma.Aposto um dólar como fará. devolvendo a carta do baralho e dois dólares (EASTBROOKS). É como se uma voz lhe dissesse: “Isso já aconteceu e vai acontecer de novo”. Seguiu imediatamente em direção ao baralho. depois se sentava. • Técnica da Contagem . O estudante aceitou a aposta (EASTBROOKS). produzir surpreendentes resultados. Quatro horas mais tarde.Não vou executá-la. Esse novamente. o estudante interessava-se pelo hipnotismo e estava familiarizado com seu uso. Não podia aquietar-se. respondeu o professor. Inquieto. Técnicas de indução São muitas as técnicas que facilitam a indução do transe. É preciso dar tempo ao hipnotizado para que as . Sc. O aluno. Dr. respondeu . levantava-se e caminhava pela sala. trata-se mesmo de uma sugestão pós-hipnótica. depois parou de repente e disse .Muito bem.Leveza e Respiração . recebeu o dólar do professor. mais uma vez. É muito provável. que deseja fazer? . . normalmente é comum sua aplicação antes do método e. Mas resistiu e. depois de uma hora e meia. Entretanto. Continua Eastbrooks descrevendo o comportamento do aluno e. em alguns casos. desistiu da luta. universalmente aprovado em técnicas hipnóticas. o às de espadas o perseguia em todos os pensamentos. quando bem aplicada é suficiente para produzir até o mais profundo nível de transe. em muitos casos. seu tormento apenas começara. mas dominava-se.acho que isso é uma sugestão pós-hipnótica.Outro recurso sugestivo. logo subjetivos.Esta técnica faz bom uso da metáfora de aprofundar ou elevar. com cada expiração. utiliza-se de 5 a 10 degraus. longe de dar tempo ao hipnotizado para mobilizar-se em sentido contrário. as coisas se tornam hipnóticas pela monotonia e monótonas pela repetição. com ênfase na afirmação da sugestão progressiva. recorrem ao expediente da contagem.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 225 sugestões iniciadas se tornem efetivas. de 1 a 5 ou de 1 a 10 para produzir certos efeitos sugestivos. A contagem deve ser feita vagarosa e pausadamente. também. A contagem. de certo modo. embora o sujeito possa pensar que há.. Respire profunda e lentamente”. dependendo da receptividade do sujeito. De qualquer maneira menos de 5 pode parecer breve e mais de 10 pode ser longo. É esta a razão por que todos os métodos de indução. a cada degrau que desce mais se aprofunda no transe. pede-se ao hipnotizável que se imagine descendo uma escada e. pelos expedientes imaginativos e ideativos. a monotonia do hipnotista tem de sintonizar-se. geralmente se aplica uma sugestão que aumente a expectativa para o próximo passo.A ação sugestiva da repetição vem confirmar um fator mais decisivo e fundamental para a indução hipnótica: a monotonia. ou seja. • Técnica da Leveza e Respiração . A monotonia externa. Também pode ser sugerido que o corpo é tão leve que o sujeito se sente como se flutuasse ou que se vai introduzindo. mais relaxado se sentirá”. Ao final da escada. “Quanto mais leve se torna o corpo.Sugere-se que cada parte do corpo começa a torna-se mais leve. É como quem assinala o momento preciso de um disparo inevitável ou uma explosão iminente. flutuando. o sujeito vá entrando em um estado mais profundo de relaxamento ou transe. dos mais antigos até aos mais modernos. em um transe cada vez mais profundo. Geralmente.. • Técnica da Monotonia . A técnica da leveza pode ser associada à técnica da respiração: “Concentre-se em sua respiração. mas parece não haver uma correlação exata entre o número de degraus utilizado e a profundidade final do transe. A contagem serve para elevar ao máximo a expectativa do hipnotizado. A monotonia não se produz unicamente por vias sensoriais. Sugere-se que. De um modo geral. com a . senão. paralisa-lhe toda a defensiva e induz a uma grande expectativa. O número exato de degraus que se empregam pode variar. É uso comum contar de 1 a 3. • Técnica da Escada . Após a indução. produzir nele uma reação defensiva. a monotonia subjetiva do hipnotizado. Não se deve assustar o hipnotizável e. além de recomendações no sentido de um progressivo relaxamento muscular. O intérprete mais adequado e potente da monotonia hipnótica é a voz. Fixando firmemente os olhos do hipnotizável. como por exemplo. é bom verificar alguns detalhes que os antecedem nas induções propriamente ditas. Em muitos casos não observar essas recomendações é o bastante para obstar em definitivo uma indução hipnótica. independentemente do resultado negativo ou positivo do intento hipnótico. . o hipnotista pode assegurar-se. Os seguidores da escola de Liébault acreditam que a hipnose resulta de um estímulo sensorial monótono e suave e dentre esses estímulos sensoriais a produzir o transe hipnótico. O hipnotizado. o quê se deve ou não dizer nas sessões. monotonia interna. Deve ser evitada uma linguagem arrogante. A velha crença na força do olhar é um elemento que não se deve desprezar. tem de obedecer a uns tantos requisitos fundamentais. em certos casos. com ligeiras variantes. de realizar etc. sobretudo quando o hipnotizado se confessa propenso a esse tipo de ação sugestiva. o aprisionamento da atenção do paciente é a monotonia no olhar. O hipnotista tem de manter certa independência crítica e emocional diante do público e não insistirá para que alguém se submeta à hipnose. de conquistar. assim como projeta sobre o mesmo. O expediente da fascinação deve vir acompanhado de uma sugestão verbal adequada. na voz e nos gestos. Quanto ao teor da sugestão verbal para efeito de indução. o hipnotista se impõe à admiração e ao respeito. A voz deve ser preferentemente grave e sempre monótona. A monotonia da voz costuma superar a monotonia dos gestos e a monotonia do olhar ou da expressão fisionômica. Dr. trocando a arrogância pela humildade e o receio pela confiança. controle apropriado de respiração que deve ser lenta e profunda. Métodos de indução Antes da aplicação dos métodos. No entanto. conseqüentemente. seu próprio desejo de ter.226 Antonio Almeida Carreiro. o auditivo é o mais eficiente. projeta sobre a pessoa do hipnotista os efeitos de sua própria monotonia interior. Sc. o que não obsta que o convide para que participe por vontade própria. ou seja. sempre de acordo com as condições emocionais e culturais do hipnotizável. Suave com uns e mais enérgica com outros. os quais. mobilizando a sua resistência. são os mesmos em todos os métodos. maior controle sobre a atenção requerida para a indução. sem se dar conscientemente conta do fato. Esse processo de indução hipnótica prolongava-se geralmente por uma hora ou mais. pelo menos em potencial. é importante revisar os chamados elementos de indução. A partir daí. independentemente da pergunta a esse respeito. condições para serem emocionalmente autocontroladas. era o método da fascinação prolongada. como a imposição das mãos e passes complicados. como falsamente se diz. E. produzia convulsões e fenômenos subjetivos em seus pacientes. Antes da leitura de tais métodos. Usava vencer o paciente pelo cansaço ocular. Por isso. até que os pacientes estivessem em condições de sofrer a intervenção cirúrgica. convém informar que caso o hipnotista não acorde o hipnotizado este acordará por si só. momento este extremamente agradável. Mesmer. a ponto de congestionar os olhos e lacrimejar. Braid introduziu na hipnose o uso de bolas brilhantes e espelhos giratórios. através de expedientes mágicos. Braid mudou de tática já quase no fim de sua carreira. Também Esdaille empregava passes magnéticos do ritual Mesmeriano. era recomendado que concentrasse a mente na idéia do sono. Convém lembrar ao hipnotizável que em hipótese alguma correrá para ele perigo moral ou mental e que o hipnotista não adquire. Um dos temores sempre questionado por quem desconhece os mecanismos e a natureza da hipnose é a idéia de não acordar e de não voltar ao seu estado normal. porque possuem. concluindo. afirma-se que as pessoas hipnotizáveis são favorecidas. domínio sobre a sua pessoa. A hipnose é universalmente aceita como um fenômeno de caráter essencialmente sugestivo. Para terminar. como objetos de fascinação. acrescentado leves e ritmadas pancadas pelo corpo do paciente. Dessa . explica-se ao interessado. pode ser iniciada a sessão. passando do sono hipnótico para o sono natural e deste desperta normalmente. Às vezes esses procedimentos bastam para concretizar o transe hipnótico. A constatação desse fato justifica a preferência moderna pelos métodos subjetivos de indução. quando descobriu que podia hipnotizar cego ou pessoas em recintos completamente escuros. Terminada a sessão explica-se ao hipnotizado tudo quanto ele queira saber. em momento algum. que a hipnose se compara ao momento que medeia entre estar acordado ou estar dormindo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 227 A confiança entre o hipnotizável e o hipnotista é indispensável para o êxito da indução hipnótica e deve sempre ser observado o maior respeito pelos princípios éticos e morais nesta relação. Enquanto o hipnotizável cansava o nervo óptico. Tudo isso em função das reações do hipnotizado. sentimentos de carinho. Também falam que um abraço amigo envolvendo o corpo inteiro seria suficiente para acalmar uma crise de ansiedade ou forte distúrbio emocional. Acreditam que no centro do abdome são localizadas zonas que tocadas despertam sentimentos de tranqüilidade e paz. estava convencido da existência dos chamados pontos termos-magnéticos da cabeça. dispensando a utilização de equipamentos e muito menos de contatos físicos com qualquer parte do corpo dos hipnotizados. Afirma a teoria que uma pressão exercida pela mão do hipnotista no tórax do hipnotizado.228 Antonio Almeida Carreiro. na parte alta do externo e logo abaixo do peito. Os pontos hipnógenos localizados no rosto e na face despertam sentimentos como auto-estima. depende da prática. para produzir instantaneamente um efeito soporífico e. admitidos por Braid e desenvolvidos na Salpêtrière. Sc. na região que melhor possa sentir com os dedos o ictus cárdio. no pescoço. provocam. Weissmann acredita que não passam de uma sugestão indireta e relata: . fraternidade e caridade. Para surtir os efeitos esperados os toques devem ser feitos no nível de transe ideal e nos pontos precisos. no cotovelo ou no dedo polegar. Acreditava na existência das chamadas zonas hipnógenas. O método de indução predileto de Charcot era baseado na excitação dos sentidos. da habilidade e da destreza do hipnotista. entre outros. Conhecidos desde Mesmer. passou a dar maior importância ao fator imaginação. Bastaria exercer uma leve pressão com a mão no alto da testa. Os localizados no alto da cabeça. pode provocar o sentimento de calma e passividade. na raiz do nariz. benevolência. mais nada. segurança e proteção. são os pontos anatômicos hipnógenos os mais usados. ainda. Só a voz. na nuca e. preocupado em estabelecer as causas físicas dos fenômenos psíquicos. No conceito de Liébeault. Dr. Dentre os recursos de indução que complementam a sugestão verbal. a voz é o principal elemento de indução. as quais devidamente estimuladas provocavam e aprofundavam o transe. na maioria dos casos é suficiente para induzir o transe. logo. Acreditava que uma leve pressão nesses pontos provocava no hipnotizado a manifestação de sentimentos. observação em diante. com a preponderância do uso da sugestão verbal e ao detalhe da voz. friccionava a cabeça e a nuca para induzir o estado sonambúlico. Braid. Quanto a esses elementos de indução. a pressão deve ser adequada na intensidade e na duração. baseado nas idéias de Charcot. revelam os efeitos hipnóticos das cores. podem servir como sugestão subjetiva e despertar determinados pensamentos ou sensações. Diz ainda Roth que no Tibet os chefes religiosos usam vestes cor de ouro para induzir o estado de altas meditações e inspirações porque o amarelo proporciona grande inspiração. Escusado será dizer que essas zonas hipnógenas podem ser localizadas e multiplicadas à vontade. Rio de Janeiro. 1968. Nestas 115 ROTH. que representa altruísmo. . ordenava-se-lhe em voz tonitruante: DURMA! O indivíduo tímido é destarte empurrado violentamente ao estado de transe por uma espécie de indução relâmpago. Segundo Weissmann. Ernest.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 229 Charcot friccionava a cabeça e a nuca para induzir o estado sonambúlico. a cor correta quando usada no ambiente pode produzir bons pensamentos. segundo ele. mantendo entrelaçarem os dedos da mão esquerda com os da direita. empregavam também muito flash. Roth relata algumas experiências que. Os hindus arianos usam a cor preta para absorver os pensamentos excessivos. (WEISSMANN). é uma espécie de estrangulamento nervoso por meio de uma pressão sobre certos feixes de nervos na nuca. por trás da cabeça. Diz Roth. Um susto ou um choque. tornando-se calmas e amistosas num cor-de-rosa. Métodos para hipnotizar In: As cores do hipnotismo. 115 a indumentária do hipnotista e o ambiente da sessão que reflitam cores combinadas ou jogo de luzes. funcionava no Salpêtrière e fora dela e funciona até hoje à base da sugestão indireta (WEISSMANN). a cabeça do hipnotizado é abraçada pelo hipnotista. como descreve: Enquanto se projetava uma luz instantânea e forte no rosto do paciente. comprimindo-lhe fortemente. e assim podem atingir o monoteísmo ou estado de um só pensamento que se torna poderosíssimo pelo aumento da concentração em torno de uma só idéia. Descreve como pessoas se mostram violentas num aposento de cor vermelho. as pessoas que têm medo injustificado não devem usar roupas desta cor.. Para Ernest Roth. A cor branca reflete e o preto absorve todos os pensamentos produzidos pelas vibrações das cores. Temos ainda o Judô Japonês. portanto. Outro elemento físico de indução que nasceu na escola russa é o Judô Japonês. Logo aos primeiros sinais positivos da indução verbal. O castanho indica egoísmo e deve ser contrabalançado pelo azul. os hipnotistas antigos.. Tecnoprit. Afirma que o cinzento está relacionado com o medo e. . Diz Bernheim: Eu começo por hipnotizar da seguinte maneira: dizendo ao paciente que acredite que grandes benefícios virão para o seu caso. Método de Bernheim Dentre os métodos subjetivos de indução hipnótica.. Já com outros é preciso repetir. Sc. preste mais atenção.230 Antonio Almeida Carreiro. Acrescento que nada há de perigoso ou de estranho nesse processo. em primeiro lugar vem o de Bernheim.. E.. Sua vista cansada começa a piscar. Mais concentração”. e insistir dizendo: “Preste mais atenção nas minhas palavras. Induzia intensivamente a idéia do sono: As suas pálpebras estão pesadas. Se necessário. a fim de mostrar-lhe que nada é doloroso nesse processo. Bernheim referindo-se à aplicação de seu método de indução dizia que há hipnotizáveis que fecham os olhos e entram em transe quase instantaneamente..... Você já não enxerga nitidamente. em vão... Suas pálpebras estão cada vez mais pesadas. Seus olhos vão se fechando. Suas pernas já não sentem o corpo... estado esse que restaura o equilíbrio do sistema nervoso. Todos os demais métodos modernos são variantes do seu método fundamental. ou então um estado de torpor. Suas mãos estão imóveis. Seus olhos estão se fechando. embora demonstre.. facilita muito o processo de indução hipnótica. ou seja.. hipnotizo uma das pessoas na presença do candidato.. querer livrar-se. Seus braços estão ficando pesados. Dr. e que não há sensações estranhas a acompanhar o estado hipnótico. que é um sono no sentido normal da palavra.. que pode ser produzido em qualquer pessoa... a isso. Estão úmidos..... considerado o fundador da escola mentalista.. que é perfeitamente possível curá-lo. basta acrescentar o estímulo sensorial auditivo produzido pela voz do hipnotista... ou pelo menos melhorar o seu estado de saúde por meio da hipnose. E agora já não consegue abrir os olhos.. Fecharam (BERNHEIM). fechando.. digo-lhe: Olhe para mim e pense unicamente no sono. da escola psicológica. A prática demonstra que estando o hipnotizável com os braços esticados e levantados ou com as mãos entrelaçadas sobre a cabeça. condições observa-se que o hipnotizado não só aprofundará no transe como não resiste ao hipnotista. O paciente já não se mostra desconfiado e refratário ao nosso intento. Já não consegue manter os olhos abertos. Ato contínuo. estão se fechando. nos mais suscetíveis isso é suficiente para induzir o transe. através da terapêutica sugestiva. Assim que ele notava que uma das sugestões estava sendo aceita aproveitava para formular a indução. esta ordem tem ação decisiva e resolve o problema. recomendava ao paciente acompanhar a experiência por meio de movimentos com a cabeça e dizia: “Peço-lhe que faça um sinal afirmativamente com a cabeça”. no máximo. v. Dirigindo-se ao paciente. [Há um ponto qualquer para esse fim. O hipnotizado fecha imediatamente os olhos e fica influenciado pela hipnose. dizia ele ao paciente: Está vendo como funciona bem.. como está respondendo. Agora solte o corpo. Vou fazer agora. senão da segunda ou terceira sessão em diante. Se o paciente tenta baixar o braço. etc. E conclui: “Nas sessões seguintes fita-se a pessoa durante dois segundos e profere-se a ordem simultaneamente: DURMA! É o quanto basta”.. . Fixe esse ponto.. como se a cabeça fosse um ímã (BERNHEIM)..? Seu sono está se aprofundando realmente.Enquanto seus olhos fixam esse ponto.. em muitos casos. The Bristtish Journal of medical hypnotism. pausadamente. com o relógio na mão. com que seu braço seja atraído pela sua própria cabeça. suave e sem titubear. após este tempo as instruções dadas em voz monótona. A. Quanto mais se esforça para baixar o braço. A resposta era considerada uma conquista e era preciso aproveitá-la para outras consecutivas. 1955. 116 . A. Em (BERNHEIM). Método de Moss Uma versão atualizada do método subjetivo de Bernheim é o método de A. The comfident dentist can eliminaté gagging.. Você fica ainda mais descansado. dizendo: Não adianta.. A.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis Vai dormir. Insiste o mesmo autor em que não se deve fazer o hipnotizável fixar a vista demasiado tempo. Continuava então: MOSS.. situado de modo a forçar um pouco a vista do paciente para o alto].. Às vezes.. MOSS. totalmente (MOSS). Um minuto. n°03.. Afrouxe os músculos rapidamente... Bernheim aconselha não sugerir a catalepsia dos braços. Já não consegue baixar os braços. Moss recomenda esperar dez minutos. eu lhe resisto. 116 dentista e um dos pioneiros da hipnodontia na América do Norte.. Seus braços cada vez mais pesados. mais o seu braço vai se levantando..... tom imperativo acrescento: 231 DURMA Para Bernheim. 6. Moss lhe dizia: Sente-se na cadeira da maneira mais cômoda possível. Suas pernas pesadas. mais profunda.... Só ouve minha voz.. que não quer acordar. descansando tão bem... Seu corpo está se tornando pesado... Durma. Sc.......... É como se estivesse flutuando nas nuvens.. Agora você está no sono profundo. Só obedece a mim. Muito pesado (espera dez segundos).....”. Mais. uma dormência.. ele omitia o parágrafo seguinte. estão se fechando.... Todo seu corpo pesado... Seus braços pesados. Durma.. Você começa a sentir um formigamento... o hipnotista lhe fechava os olhos com a própria mão e dizia: Agora você está descansando profundamente. Suas pernas já estão ficando pesadas (esperar dez segundos).... Se os olhos apresentavam um aspecto vítreo. Mais. Mais.. Neste caso. Seus músculos estão se relaxando cada vez mais. dava a ordem: “Feche os olhos...... Sua respiração está se tornando mais lenta. Durma profundamente (MOSS)...... Mais.. Seus músculos continuam a afrouxar-se cada vez mais... Muito cansadas. Seu sono continua agradável e profundamente. De começo na nuca e depois envolvendo lentamente o corpo todo.... em virtude de seu caráter antecipatório e confirmativo... Ao fechar os olhos sentirá um extraordinário bem-estar....... Você não sente mais nada. Agradável... Nada o molesta.. Nem a cadeira em que está assentado... Muito cansadas.. Sua mente não abriga nenhum pensamento. Fechando. Você está totalmente surdo.... Caso contrário continuava dizendo: “Seus olhos estão se sentindo cada vez mais cansados.. Está descansando comodamente.....232 Antonio Almeida Carreiro.. Mais. Ele começa por sentir-se cansado. Ele reprisava essas palavras quatro ou cinco vezes se os olhos não se fechavam. Está descansado... Fechando”. da nuca para baixo.. Você já está querendo fechar os olhos. Este método é considerado standard.... Você ouve minha voz como se estivesse vindo de longe.. trata-se de sugestões que atuam largamente. Seus músculos estão num estado de perfeito relaxamento (MOSS). Enquanto eu falo você vai entrando num sono profundo... Já não há ruído capaz de despertá-lo. Suas pálpebras pesadas . isto significava que o paciente estava em transe. Continue a afrouxar os músculos cada vez mais... profundamente.... Você está tão profundamente adormecido. Nada o incomoda.... Se os olhos do suscetível se fechavam.. Estão se fechando.... Muito longe. Mais (pausa maior).. Seus músculos estão de tal forma relaxados que agora sente também as pálpebras pesadas.. Entrará num repouso profundo (pausa maior)... pois as sensações que vão sendo sugeridas ao indivíduo parecem corresponder às reações ao próprio estado de hipnose..... Afrouxando os músculos cada vez mais.. Dr..... Só eu posso acordá-lo. Você está se sentindo maravilhosamente bem.. Sem preocupação.. Mais um pouco. preferentemente para cima.. Ele iniciava com um preâmbulo falando sobre as vantagens do tratamento dentário com uso do relaxamento. mandando que olhasse. o hipnotista ainda pode observar o movimento dos globos oculares. Repete com ligeiras variações a recomendação anterior. É própria do transe ainda uma sensação de peso dos membros e uma dormência envolvendo o corpo. Para ajudá-lo a relaxar.. 1956. Em seguida passava à recomendação do relaxamento muscular. Respire profundamente. debaixo das pálpebras. muitas vezes. Agora suas pálpebras já estão ficando pesadas.. pintei aquele ponto que poderá fixar.... Agora solte todo o ar dos pulmões. Acreditava que essas palavras. Está bem.... Estão querendo fechar. À medida que você vai fixando este ponto vai relaxando cada vez mais os músculos. enchendo bem os pulmões e expirando vagarosamente. completamente. Em virtude do relaxamento muscular seus membros vão ficando pesados. .. Solte o ar dos pulmões. o modelo descrito: Vamos afrouxar primeiro bem os músculos. TRÊS.. Hypnosis in dentistry.. New York. Kuehner 117 elaborou uma adaptação do método de MOSS para aplicações específicas em seus pacientes. bem como a sensação de flutuar e a impressão de que a voz do hipnotista. MacGraw-Hill Book Company. mesmo estando o hipnotizado de olhos fechados... O relaxamento muscular vai lhe proporcionar instantes muito agradáveis. De olhos fechados.. UM. profundamente.. constituindo-se em empecilho insuperável no intento da indução.. Método de Kuehner G. com ligeiras variantes.. Seu procedimento fundamenta-se na supressão das palavras “hipnose” e “sono”. Mais um pouco. Observa-se que a hipnose afeta mais rapidamente a vista e os músculos oculares. E.. F.. o relaxamento muscular 117 KUEHNER. DOIS. G. Outra vez.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 233 tendem a fechar. movendo-se em todos os sentidos. assustavam o paciente. F.. Recomendava este autor que as sugestões fossem espaçadas com pausas de cinco segundos. a princípio poderosamente envolvente.. um ponto preto pintado na parede e que media aproximadamente vinte centímetros de diâmetro. profundamente. em frente. porém sempre serão ouvidas as sugestões. Vou contar até três para que você possa relaxar completamente. se vai afastando cada vez mais... Manifestam-se freqüentemente tremores nas pálpebras e contrações espasmódicas nas mãos e nos cantos da boca.. O seu processo de indução seguia. da nuca para baixo.. Terá de respirar umas três vezes. Respire assim. ... de UM a TRÊS para acordar.... Ao sair vai sentir-se bem disposto e repousado.... Dentro de alguns instantes vou lhe pedir para sair do relaxamento.... Vou agora levantar o seu braço. O êxito da sugestão era mais fácil e mais rápido quanto mais o hipnotista conhecia e usava a forma de expressão da criança. Dr.. os gestos. Vê. Neste ponto Kuehner largava o braço do paciente e observa a reação. nenhum mal estar. É esta uma sensação muitíssimo agradável (KUEHNER).... o braço continuava na posição em que o largou o hipnotista.... já tínhamos a rigidez cataléptica. se completa. Agora você vai contar. Vamos voltar com o braço à sua posição anterior. Está se sentindo completo e... Sugeria que primeiro fosse observado a melhor forma de comunicação... E o pouco incômodo que por ventura experimentar. Seus músculos estão profundamente. não será motivo para despertá-lo do estado agradável em que se encontra agora (KUEHNER). Para ele... Nunca em toda sua vida você esteve com os músculos tão profundamente relaxados.. Continuará completamente relaxado como está agora. mentalmente. você entrará rápida e profundamente no estado de relaxamento muscular... E prosseguia: Está bem.. À medida que vou levantando seu braço você vai relaxando ainda mais os músculos. sempre que voltar para algum tratamento. agradavelmente relaxado. considerava o uso da própria linguagem do paciente como condição para a indução ao transe..... Sentir-se-á bem disposto e descansado. Quando tudo corria de acordo com o esperado. O autor recomendava essa alusão a um possível pequeno incômodo para favorecer a atitude do paciente em se manter inerte.. Nada incomoda. bastando que eu peça para você relaxar... Sc.. Se isso acontecesse. Primeiro o que está mais próximo de mim.. afrouxado. Ao dizer TRÊS estará bem acordado e sorridente (KUEHNER).234 Antonio Almeida Carreiro.. enquanto eu trabalho. De agora em diante. isso funcionava como um estímulo à vaidade de quem sabe suportar algum sofrimento. até alcançar o relaxamento mais completo. Você está profundamente relaxado. completamente afrouxados.. . E ao despertar sentirá uma sensação desagradável. E terminando o trabalho dizia: Por hoje é só. Já está quase completo o seu estado de relaxamento. os costumes e os valores... Por motivo algum você vai querer sair desse agradável estado. Kuehner elaborou ainda um método hipnótico engenhoso para a odontopediatria... a linguagem. ocorrem curas. R. Sugere Erickson que o hipnotista. nos EUA. no lugar de falar diretamente com o paciente sobre seu problema. Embora esses dois autores tenham trabalhado para o desenvolvimento do método. ainda que ilusoriamente. independentemente de sugestões específicas. As palavras de maior poder sugestivo são precisamente aquelas que o próprio paciente usa. 118 ERICKSON. L. implementa uma linha de interpretação comportamentalista ao processo hipnótico e. em função do próprio transe. Wolberg 119 deram. disso. intensificado e aumentado a reatividade de uma idéia ou série de idéias. de tal maneira que pode experimentar outros modelos de crença e. 1939. New York. se beneficiar. Ambos consideravam o estado hipnótico como um estado de atenção e receptividade. Hypnoanalysis. maior será a fé do hipnotizado e mais rápido e eficaz será a cura. inclusive para induzir o estado de hipnose. Grune & Stratton. reconhece este estado como sendo o período durante o qual o hipnotizado tem condições de quebrar as suas próprias limitadas estruturas e sistemas de crença. H. por isso. fundador da American Society of Clinical Hypnosis. Para uma criança o hipnotista tem que falar na linguagem dela usando o seu próprio vocabulário. R. maior divulgação a esse recurso técnico utilizando em seu método de indução. passou a ser preferido entre os estudiosos do comportamento quando analisam este tema. Do que se pode concluir que no estado hipnótico ocorre o aumento da fé nas palavras do hipnotista e.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 235 Para impor à atenção concentrada de um suscetível. Milton Hyland Erickson (1901-1980) 118 conjuntamente com L. O hipnotista sugere esse movimento a título de reforço e de antecipação. no mais possível sua própria linguagem. entre outras coisas suas. usando. sua prática é conhecida como hipnose ericksoriana. Erickson. New York. por essa razão. Valoriza o transe hipnótico como recurso terapêutico e. A levitação dos braços pode ocorrer. Experimental demostration of the psychopathology of everyday life. WOLBERG. 1945. o hipnotista tem que se colocar. no lugar dele. recorra ao uso de metáforas como forma de sugestão para eliminar os sintomas. Quanto maior for a capacidade e habilidade do hipnotista. 119 . Método de Erickson e Wolberg A tendência de iniciar o processo hipnótico com a sugestão do levantamento dos braços e das mãos vem-se generalizando desde os primórdios do hipnotismo. M. .. os dedos vão-se abrindo. as pontas dos dedos vão-se levantar. À medida que as suas mãos se aproximam de seu rosto. Está se sentindo perfeitamente bem. o seu sono (ou hipnose) se aprofunda... Wolberg e Erickson iniciam o processo de indução com estas palavras: Afrouxe os músculos... Agora. também as mãos vão começar a se levantar. No entanto. quando não o impossibilita de vez... Procure registrar tudo que sente em relação a elas. É uma sensação agradável de . Aliás. indo formulando sugestões em função das reações apresentadas. Ao tocarem o rosto. nesta condição a hipnose se perfaz com facilidade.. você estará em sono profundo.... As mãos sobre os joelhos. Preste atenção. um formigamento.. um dos dedos começará a se mover.. Repare... Será o primeiro dedo da mão direita?. Também os braços se levantam... defronte ou do lado do hipnotizável.. perdendo-se aí oportunidade da obtenção do transe em nível desejado. Sua mente vazia. Qual deles se moverá primeiro?.. O método ericksoriano tem a vantagem de permitir que o hipnotizável dê o próprio passo para entrar e aprofundar no transe.... Ou um da esquerda?. deixa que o próprio hipnotizado dê prosseguimento ao processo... Em breve.. Sc.... Vá prestando toda atenção em suas mãos.. O polegar?... Agora. Estão-se separando cada vez mais.. um já começou a mover-se. o hipnotista interpreta o significado dos movimentos que demonstra o hipnotizado e vai reforçando para incentivar e aprofundar as sensações reveladas Parece que esse método só funciona quando encontramos simultaneamente duas variáveis: um habilidoso hipnotista e um suscetível ao transe médio ou profundo e que apresente predisposição dinâmica. Repare agora a imobilidade das mãos.... Nada o molesta nada o preocupa. O indicador. Durma tranqüilamente.. É possível que sinta o calor ou peso das mãos sobre as pernas. independente de método... apresenta desvantagem quando o paciente não demonstra o comportamento dinâmico.. O mínimo?. O método de Wolberg e Erickson consiste em que o hipnotista... Seja a sensação que experimentar. O que importa é registrá-la. Não se pode prever... Quando as suas mãos chegarem à altura do rosto.. As pontas se levantam. você estará profundamente adormecido. Outro... Você está perfeitamente à vontade.. preferentemente sentados.. o que nem sempre é facilmente visível... Em síntese..236 Antonio Almeida Carreiro.. após a indução inicial.... Como estão imóveis. Dr....... Às vezes... após a indução inicial. Agora....... Também requer muita habilidade do hipnotista para criar a seqüência do processo hipnótico com base nas reações do hipnotizado. foge da linha dos métodos anteriores por ser profundamente subjetivo e de grande efeito simbólico. com o movimento da cabeça ou da mão).. Método da Estrela De autoria desconhecida. você vai também entrando num profundo sono... enquanto puder. dormindo....Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 237 perfeito bem-estar. é ver mentalmente. este método foi aplicado em toda a Europa por Afredo Baron d’Hont apelidado de Donato (entre 1875 a 1886) e Karl Hansen (a parir de 1880) em suas conferencias e experiências públicas com demonstrações de hipnose coletiva (JAGOT) 120. por isso. Você vai sentindo sono também.. Hipnotismo. Só eu posso acordálo. . refratárias a assimilar sugestões prontas. Algumas pessoas. E imaginar é visualizar.. São Paulo... enquanto a sua imagem é visualizada de olhos fechados. Sugestão. etc. dormindo? (O hipnotizado responderá afirmativamente. poltrona ou leito... (Trad. Como exemplo de sua imagem. Você está conseguindo imaginar-se a si mesmo de olhos fechados. Mas. são excelentes candidatas naturais aos processos de auto-hipnose.. o hipnotista pede que feche os olhos. você continuará de olhos abertos. com todos os músculos bem relaxados.. enquanto ele próprio se esforçará durante algum tempo por manter os olhos abertos.. Método da Autovisualização Um dos métodos mais tipicamente subjetivos. Já se disse que a hipnose se baseia acima de tudo nas leis da imaginação. Pensando em si mesmo de olhos fechados. Em seguida. (WOLBERG e ERICKSON). a pessoa recebe a recomendação de imaginar-se com os olhos fechados. Já está querendo dormir também.. Você vai sentindo sono também. o processo é iniciado: 120 JAGOT Paul C. Acomodada em uma cadeira. contam com essa facilidade e. Este método tem-se mostrado particularmente eficiente com certas pessoas refratárias aos processos menos subjetivos de indução. A sugestão é processada na forma imaginativa: • Imagine-se de olhos fechados. Magnetismo.. Editora Mestre Jou. 1959. Raimundo Nonato Corrêa). e instruído quanto à maneira de colocar as mãos sobre os joelhos e recostar a cabeça.. não se sabe ao certo a quem se atribuir autoria. Estando o hipnotizável bem acomodado na cadeira. Etc. Conhecido desde o fim do século XIX. Só ouve minha voz. A cada respiração o sono se aprofunda mais. Continuo: • A estrela continua a se aproximar. dois aliados indispensáveis na indução hipnótica. Aqui termina o método da estrela... Há quem.. Vai desaparecer... Até a estrela desaparecer completamente no céu.. À medida que a estrela se aproxima.... Como o hipnotizável ainda não sabe o que vem pela frente. A estrela vem se aproximando lentamente.. A estrela vem chegando cada vez mais perto. Não se determina o desaparecimento da estrela. Sc. Uma pausa deve determinar o término da aproximação da estrela... A estrela se aproxima cada vez mais. cobrem os olhos. Pode-se. após uma pausa de pelo menos dez segundos é dito: • Uma estrela solitária no céu. seu brilho aumenta. Fixe bem esta estrela.... A estrela se aproxima cada vez mais. Ela vem chegando cada vez mais perto. Respire profundamente.... Dr.... embora fechados. vem a ordem de respiração: • Respire profundamente. O sono se aprofunda a cada respiração.. • Você agora vai usar de toda sua capacidade de concentração nas minhas palavras.. nesta altura. Mais perto. Com os olhos de sua mente você vai enxergar aquilo que vou lhe dizer... este fica a critério do hipnotizado...... A estrela vem chegando cada vez mais perto. Mais perto. A estrela se aproxima cada vez mais. E continua: • Agora que a estrela está próxima. O hipnotizável ainda não sabe o que vai ser sugerido. se afasta para o céu distante. Vamos agora acompanhar a estrela em sua fuga pelo espaço.. e isso prende a atenção e aumenta nele a expectativa. nesta altura. A estrela é cada vez mais brilhante. a fim de proteger a vista contra o deslumbramento da luz da estrela... execute com a cabeça movimentos característicos de quem está acompanhando com a vista um movimento da estrela.. não deixam de surtir efeito.. eventualmente. Lentamente a estrela se aproxima de você. Vai desaparecer........238 Antonio Almeida Carreiro.. A cada respiração o sono se aprofunda .... Após a indução inicial. repetidas com uma monotonia rítmica....... Essas frases.. observar movimentos oculares dos hipnotizados por debaixo das pálpebras. Desaparecer. Toda sua força de imaginação nas minhas palavras.. Há pessoas que. . Nada será capaz de incomodar você agora. Leves. Profundamente. afirma que a estrela vai fugindo. vinha meramente seguindo as instruções do hipnotista. já indica estado de hipnose. Seus braços continuam a levitar. quando efetivamente correspondidas. de surtir efeito. o hipnotizável... A estrela que o hipnotizável (mais auditiva do que visual) não consegue visualizar é por ele trocada. pela voz do hipnotizador.. servem de preâmbulo para o estado hipnótico propriamente dito.. é que se sabe como está indo o andamento do transe. a sugestão pode ser reforçada fisicamente. Lenta. Seus braços se levantam lenta mais irresistivelmente. outros têm por base a escala de suscetibilidade hipnótica do testado. Seus braços vão-se tornar leves.. a referida sugestão deixa.. de olhos fechados.... Nem por isso. Uma das demonstrações ideomotoras utilizada para iniciar o processo sugestivo. até sumir de vista. Uma força estranha puxa seus braços para cima. o .. Em 1854. Em casos mais difíceis. Há pessoas que levam a recomendação muito ao pé da letra. O esquerdo ou o direito. Essas provas.. entra a voz do hipnotista.. Alguns desses foram organizados em tarefas seqüenciais e ideomotoras. Em seguida. observada uma pausa maior. O hipnotista ajuda com as mãos as pessoas a levantarem os braços e. Quando o hipnotista.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 239 mais.. ao levantar. A sugestão pode ser dada para que um só dos braços levante.. Testes de suscetibilidade Há vários testes que podem ser utilizados para avaliar a capacidade para o transe. Em lugar de uma estrela que se aproxima e depois se afasta até desaparecer no céu. é o teste de suscetibilidade chamado Pêndulo de Chevreul.. Até então. que não conseguem ver estrela alguma. Observar a pausa de cinco segundos a cada repetição. é a sua voz que foge aos ouvidos conscientes dos hipnotizados até adormecerem. freqüentemente. os braços começam a levantar.. A levitação dos braços. Afirmam laconicamente. é sugerida a levitação dos braços: • A primeira coisa que você vai sentir é uma atração nas mãos e nos braços. alguns estudiosos começaram o estudo de pêndulos como instrumentos de adivinhações. Dorme profundamente.. distanciando-se cada vez mais. A partir de 1800. em muitos casos... mais irresistivelmente. porém... M. de acordo com a prova que acaba de dar. um suscetível prende entre o polegar e o indicador um barbante de aproximadamente vinte e cinco centímetros de comprimento. de cuja extremidade pende um pequeno peso como um anel ou uma arruela de ferro. o movimento começa por esboçarse na direção que indicará a resposta para a pergunta formulada. Confirmado o efeito da indução. bastando que se pense com a devida intensidade. ou pelo menos a maioria dos pensamentos. não quero responder à pergunta. convencendo que. a partir da publicação. Sc. movimentar o pêndulo. O pêndulo pode ser ainda utilizado para se realizar predições ou adivinhações. Olha-se fixamente para o pêndulo. De la varilla advinatoria. de forma sutil. o pêndulo se moverá sozinho para determinar as respostas. Barcelona. todos. 121 CHEVREUL. O teste do Pêndulo de Chevreul é feito com o cotovelo apoiado sobre uma mesa. recomenda-se que a pessoa não faça voluntariamente o movimento do pêndulo. Fazendo-se perguntas. o hipnotista aproveita o ensejo para prosseguir. a pessoa deve. movimentar-se nas quatro direções básicas. Se isso ocorrer. 1938. Na maioria dos casos. que será inconsciente. Dr. tem o testado. o pêndulo ganha o seu nome. tendem a traduzir-se em realidade. a pessoa não provocou os movimentos. . Nesta altura. editora Humanitas. O pêndulo poderá independente da vontade consciente da pessoa que o está segurando. o segundo não. Sugere-se à pessoa o movimento do pêndulo. movê-lo em todas as quatro direções para depois conservá-lo imóvel de propósito. inicialmente. conscientemente. Ao segurar o pêndulo. Chevreul 121 publica suas conclusões sobre o assunto e. o terceiro seria não sei e o quarto. imaginando que se mova e o peso moverá de acordo com os ponteiros do relógio ou na direção inversa. Isto acontece quando é estabelecido que o primeiro movimento realizado pelo pêndulo significa sim. Como. a possibilidade de ser um bom suscetível hipnótico. cientista francês M. quando não sensitivo.240 Antonio Almeida Carreiro. del pendulo explorador y de las mesas giratórias. assim como de um lado para o outro ou para frente e para trás. limitando-se a segurar o barbante. acredita-se que isto ocorreu por determinação do seu inconsciente que é capaz de controlar sua musculatura e. o indivíduo geralmente já se encontra a caminho do transe. que deverá acompanhar as linhas traçadas sobre a mesa. . uma espécie de corrente elétrica ou formigamento.. Esprema o limão no copo.. comece cortando um limão ao meio. Agora. Novamente tem de confirmar o cheiro. a anunciar a abertura do segundo frasco.. anunciando ao paciente a essência que o mesmo contém.. mostra-se ao indivíduo meia dúzia de frascos devidamente rotulados. os olfativos e os térmicos.. os testes podem variar de tipo. Pegue um copo. está pelo meio de suco.. O suscetível fecha os olhos e. Um a um. Pegue alguns limões. pela sua facilidade de aplicação e importância prática... Para selecionar suscetíveis em um grupo de pessoas. Agora beba o suco. estará selecionado positivamente. Beba. Pergunta ao suscetível se ele sente alguma sensação estranha. servem para medir a ação motora da sugestão hipnótica.. Imagine que você está indo até a cozinha de sua casa. Os testes térmicos apresentam variações quanto à forma de execução.. O hipnotista coloca o indicador sobre o dorso da mão ou o pulso do suscetível. O suscetível não pode negar o perfume anunciado.. Dentre os testes sensoriais destacam-se. uma essência específica e condizente com o rótulo.. Pegue uma faca. Olhe o copo.... .Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 241 Embora tenham aplicações de caráter geral. sendo o mais fácil de executar o chamado teste térmico do dedo. contendo cada um. Para a aplicação do teste olfativo. conforme as finalidades específicas que se tem em vista. abre um dos frascos. a essência é ilusória.... Contêm apenas água. Do quarto frasco em diante. O hipnotista passa. o processo pode ser desenvolvido dizendo-se: • Feche os olhos. Já os testes sensoriais indicam a ação sensorial da hipnose. o hipnotista a uma distância de dois ou três metros.. porém. Faça isso com todos os limões. Pessoas que reagem negativamente ao teste motor podem reagir positivamente ao teste sensorial e vice-versa. algum aumento de calor. Beba.... Respondendo afirmativamente. No primeiro caso. contendo outra essência por ele especificada. Os testes citados são ideomotores. pois o conteúdo dos últimos frascos não corresponde aos rótulos anunciados pelo hipnotista.. Vá até a geladeira.. uma vez que o mesmo existe. Em seguida recomenda uma forte concentração em relação à área que se encontra sob a pressão do seu dedo... então. pode ser utilizado o teste que provoca sensações de paladar ou induz a sensação de resfriamento térmico. Coloque em cima da pia.. não se baseando em nenhum expediente de cansaço físico ou sensorial. pede-se que a pessoa feche os olhos e imagine-se sentada em frente a uma grande barra de gelo. produzindo a sugestão na seguinte forma: • A barra de gelo está em sua frente... é possível que surja no local uma bolha ou pelo menos uma coloração avermelhada. normalmente. eventualmente. dizendo-lhe que se trata de um cigarro acesso. Dr. por exemplo: “Você está ficando com as pálpebras pesadas.. com todas as suas características aparentes. Prova é que.. Balanço de Corpo. pode resultar em efeito somático. Sc. quem ficou com a mão fria. Pergunta-se: Quem sentiu. o cansaço físico. horas seguidas. Mas. A pessoa testada espera. Agora pegue no seu braço esquerdo com a mão direita que estava sendo passada na barra de gelo.. mesmo nos processos citados anteriormente.. é possível quando hipnotizado. Embora eventualmente possam ser utilizados os testes anteriores.. E note-se que. Os testes citados fazem parte dos processos subjetivos da sugestão. Comece a passar a mão direita sobre a barra. logo se podem observar as respostas nos indivíduos testados. Atar as mãos e Atração magnética.. Querendo fechar... crê que vai e deve sentir os efeitos pressupostos na indução e os sente sem nenhuma necessidade específica ou física de sentir tal cansaço. Passe mais a mão. por exemplo.242 Antonio Almeida Carreiro.. É sempre produto de sugestão.. como se de fato tivesse sido a pele queimada.É sugerido o sono ilusório e subseqüente à fadiga que se produz em função da fé e da expectativa.. ao expediente da fixação ocular com a concomitante sugestão do cansaço. como. Neste caso. No segundo caso. recorre-se. Cansadas. em alguns casos. Cansaço ocular . quer numa leitura.. Uma vez estabelecidas condições psicológicas para a indução. Vão . Quando o teste é aplicado com base nos métodos subjetivos. ou sentiu a sensação de resfriamento na mão ou no local do braço por ela tocado? Os que responderam afirmativamente apresentam fortes indícios de suscetibilidade. se o hipnotista encostar um objeto em qualquer parte do corpo do suscetível.. Mais uma vez.. no primeiro teste. as pessoas podem permanecer de olhos abertos. no caso da barra de gelo: a mão do sugestionado pode realmente resfriar. sem cair em transe e sem se ressentir sensivelmente da fadiga visual. é ilusório. os mais aplicáveis são: Cansaço ocular.. Lentamente a mão escorrega da esquerda para a direita. quer na contemplação de um objeto. a boca encher de saliva? Quanto ao segundo teste.. . Fechem os olhos e se concentrem totalmente em mim..... Essas respostas positivas devem durar. fechem os olhos. entre um número e outro.. Para frente. As pessoas mais suscetíveis balançam por meio minuto e nesse tempo. sem cair. só ouvindo minha voz. Todos balançando para frente e para trás. Você verá que vão fechar.”.. O método de indução é aplicado através da voz.. No teste das mãos e no teste do balanço.... Balançam cada vez mais.. Feita essa recomendação.. maior será o grau da suscetibilidade testada.. dizendo-se as palavras aduzidas na seqüência certa. pontas dos pés afastadas como formando um triângulo.. Vou contar de um a cinco e vocês vão sentir o corpo balançar.. na seqüência das palavras ditas com voz calma e confiante: • Um. Vocês estão sentindo o balanço.. Três. o teste não será . Os participantes são solicitados levantar-se e largar os objetos que porventura tenha nas mãos.. Para trás. porém firmes: • Vou contar até cinco.. vocês sentirão um balanço. etc. de um a cinco. Todos ficam de pé. porque os mais suscetíveis podem cair no chão. aproximadamente. Respirem lenta e profundamente. no tom certo..... de preferência com o calcanhar junto. e dará resultado em média de oitenta e cinco por cento de presentes na sessão... fazendo pausa de cinco segundos. Estão calmos e tranqüilos.. o hipnotista deve observar todos com cuidado. Agora vocês se concentram. não se apoiar na cadeira ou em outra pessoa vizinha.. Cada vez mais balançam. lentas. as respostas são quase instantâneas e. no máximo.É um teste de suscetibilidade.. geralmente aplicado em grupo com mais de vinte pessoas (teste coletivo). será individualmente atendido por auxiliares.. Quatro.. Fiquem calmos e concentrados em mim.... Mas ficarão com os pés firmes no chão.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 243 fechar. Em síntese. quanto mais rápidas as respostas.... Dois. o tempo em que o hipnotista profere as instruções e conta até cinco. Caso aconteça alguém cair.. é aplicada a sugestão e são observados seus efeitos nas reações do indivíduo. Liguemse em mim mentalmente.. Os pés estão firmes no chão.... Antes de chegar aos cinco. Cinco. as técnicas para os testes e para a própria indução hipnótica pouco se diferenciam umas das outras.. Balançam.. Vamos iniciar o exercício.. Recomenda-se.. Balanço do corpo .. inicia-se então a contagem.. De resto. Mais fortemente agora... para citar apenas estes. passa-se à aplicação do teste. Após uma pausa de meio minuto.. em seguida. Esse fenômeno que ainda está por explicar é observado em pessoas bem suscetíveis. Para um lado. por trás da cabeça.. Pronto.. Dada essa instrução.. acompanhando as mãos do hipnotista. respire profundamente.. Balançam...244 Antonio Almeida Carreiro. a suscetibilidade... em seguida. Uma variante do teste do balanço é o da oscilação do corpo. atinge o grau de sonâmbulo hipnótico. E tudo voltará ao normal.. Ao terminar a contagem..... Ao propor o teste mostram-se primeiro. Pode um indivíduo balançar e depois ser refratário à indução.. Este teste é bem fácil e dá resultados até com pessoas pouco suscetíveis. Entrelaçando firmemente os dedos”... Três. portanto quem não balançar.. Se.. sem receber sugestão verbal específica. mas o grau e o modo do balanço indicam. Atar as mãos .. Ao aliviar a pressão das mãos e... Dois.. Podem abrir os olhos. com relativa margem de segurança. pode ser considerado bom para a hipnose e. Para o outro.. não é raro... E continua a instrução: • Continue com as mãos nesta posição.... todos param de balançar. Balançando. os participantes não conseguirem separar as mãos.. Provoca-se. pede-se para as pessoas fecharem os olhos. Ato contínuo. dizendo-se: “Faça (ou façam) como eu estou fazendo. respirarem fundo e prenderem a respiração. Conta-se pausadamente até cinco. O suscetível que reage satisfatoriamente a essa prova. na nuca ou na frente do corpo à altura do umbigo. E.. acrescentam-se as palavras: • Vou contar de um a três. Dr.. interrompido.. se sentirão leves. Quando eu lhe pedir. Para encerrar o teste. prenda a respiração até eu terminar de contar até cinco.. o balanço lateral dizendo-se: Vou contar até três e vocês vão balançar de um lado para o outro. entrelaçarem os dedos da mão esquerda com os da direita.... Dois. em todos os detalhes. Assim. porém suas mãos continuarão presas e cada vez mais presas.. soltará a respiração. em que se colocam as mãos sobre os ombros do hipnotizável enquanto o mantemos de olhos fechados.. Três.Este teste é coletivo e consiste no fato de pessoas. quando induzido. Um.. suprimir o contato físico. como se fora atraído por uma força magnética. oscila. Um.. Vocês irão parar de balançar quando chegar a três. Balançam. os movimentos a serem executados. sentadas ou de pé. ele mesmo.. deve ser excluído definitivamente das próximas experiências. finalmente. ao terminar a contagem. Continuam balançando. As pessoas que mais balançaram ou as que caíram são as mais suscetíveis. não estarão apenas ... Sc.. .. Se o indivíduo não apresentar resultado positivo com este teste será categoricamente classificado como não ou pouco suscetível. Profundamente.. E. Já estão completamente presas. Minhas mãos estão cada vez mais magnéticas. Quanto mais força para soltar. espalmadas e em movimentos circulares... Cada vez mais forte. Três. e com ele deve ser evitada tentativa de indução hipnótica pelo menos em público. senão também profundamente sugestionados.. (Se alguém continuar com as mãos presas. Agora você já está livre.. Atração Magnética . ao tempo em que o hipnotista começa a esfregar suas mãos uma na outra. eles ouvem: • Respirem tranqüilos. elas vão ficando magnéticas. Desprenda as mãos. Com as mãos presas..É um teste de aplicação individual de grande influência sugestiva. Cinco...... de olhos fechados..... O ímã esta cada vez mais forte. mais presas estas ficarão... quando não hipnotizados.. depois na nuca. Vamos. Um.. As mãos estão ficando presas.. É impossível soltar as mãos.. Estão ficando como um ímã. dizendo as seguintes palavras: • Estou esfregando minhas mãos.. Depois de aproximadamente um minuto... Ficando presas. agora. Soltas.... Colocando-se a pessoa em pé. Começa-se a contar pausadamente. apropriados para aplicação de induções não convencionais e específicas para seu estado emocional.... Quanto mais força. Já estão todos libertados e sentindo-se muito bem.. Sua indução provavelmente só acontecerá em ambientes fechados e confortáveis..... Só quando chegar a cinco pode soltálas... continua a fala: • Vou contar de um a três e todos se libertam.. Sentindo-se muito bem... passa-se a mão sobre a dele e diz): Pronto...... Três.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 245 selecionados... Pronto.... Encostando-se levemente uma das mãos na testa da pessoa. fazendo um intervalo de dez segundos entre cada número: • Um.. Dois...... As mãos estão ficando cada vez mais presas.. Vou contar de um a cinco e vocês vão ficar com as mãos presas uma à outra. em que eles tentaram inutilmente soltar as mãos. Dois. Quatro... mais presas ficam. de olhos fechados.. Cada vez mais. Podem soltar... em seguida encostam-se as mãos espalmadas nas costas dizendo-se: . Após receber a sugestão de que seu corpo irá endurecer até alcançar a rigidez completa.. embora de fácil consecução. o hipnotizado é estendido entre dois apoios.... É apenas um teste de suscetibilidade mais aprofundado.. Você sente atração.. Devido ao seu caráter espetacular e popularmente convincente.. ficando o corpo sustentado apenas na nuca e nos pés.. Logo após a inclinação para trás.. Com ajuda de dois colaboradores. é denominada como sendo a prova da rigidez cataléptica. Agora coloco as minhas mãos nas suas costas. Estou afastando.. fazendo-se a atração para frente ou para os lados.246 Antonio Almeida Carreiro. Quando eu afastá-las. para isso. sempre com muito cuidado para não cair totalmente.. Rígido como uma barra de ferro. o hipnotizado é seguro pelas pernas e pelo ombro e colocado apoiado apenas nos pés e na cabeça. Duro como uma barra de ferro. Reto como uma tábua. é uma das provas físicas da suscetibilidade mais espetaculares.Embora muito impressione os espectadores é uma demonstração fácil.. Bastante forte agora. O hipnotista prepara-se neste momento para aparar a pessoa que está sendo testada. deve possuir autoconfiança inabalável. fazendo com que retroceda à sua posição normal. estando o hipnotizado apoiado entre duas cadeiras. comportando em cima do abdômen um peso bem superior ao seu... Totalmente rígido. Ponte humana . a menos que esteja bastante seguro de que pode e. requer apenas o transe hipnótico de nível leve. você sentirá uma atração irresistível para trás.. entre duas mesas ou dois bancos. você cairá para trás.. a pessoa é empurrada levemente para frente.. você ficará totalmente rígido. Uma variante da demonstração da ponte é aquela em que.. Quando já estiver nesta . uma pedra é colocada em cima do tórax e partida a golpe de marreta. dizendo-se: • Quando eu passar as minhas mãos sobre seu corpo. nas laterais da cabeça e descendo-as até os pés do candidato. de leve quase sem tocar. permanecendo duro à semelhança de uma tábua.. sendo antes aparada pelo hipnotista ou por voluntários.. A ponte. Sc. Dr. • Quando eu afastar as mãos.. É a atração cada vez mais forte. Este mesmo teste pode ser repetido. esse tipo de apresentação é um clássico nas demonstrações de hipnotismo. evitando que ela caia de costas.. O teste da ponte é feito esfregando-se as mãos uma na outra e depois se passando as mãos... porém não é aconselhado para hipnotistas iniciantes. Muito forte. . e ele nada sentirá. QUATRO. Três.... Feliz.. coloca-se o hipnotizado de pé ou deitado no chão. Um. tudo agora está bem. rigidez dos braços.. Deve-se. Nestas condições. Dois... Após a aplicação do método de indução adequado.. Pode ainda ser colocada uma pedra sobre o peito do hipnotizado e quebrá-la com golpes de marreta. aplica-se a indução: • Vou contar até cinco e seu braço vai ficando frouxo.. Usará de todo o seu potencial mental em seu próprio benefício. dizendo-se: • De hoje em diante sua mente estará cada vez mais trabalhando em seu benefício... Você se sente muito bem. começando a descer lentamente.. Convidam-se os espectadores a tentar dobrar o braço do hipnotizado.. poderão ser sugeridas várias situações que alteram o estado físico do hipnotizado. portanto. Fica rígido. Você acordará. Nada o perturba. procede-se com a indução pós-hipnótica para... podendo andar de um lado para o outro e até pular se quiser.. estando. Bem disposto. Para desfazer a sugestão hipnótica do braço rígido. por exemplo.... evitar que a platéia se exceda. quando o processo for concluído com êxito.. quando chegar em baixo. está perfeitamente normal.... instalado o estado de hipnose no nível médio.. aproxime-se de um dos hipnotizados e diga: Seu braço está sendo atraído lentamente para cima.. Ninguém conseguirá dobrar seu braço... DOIS. o que não acontecerá por mais força que se aplique..... às vezes várias pessoas tentam. está descendo e afrouxando. pede-se para que alguém suba sobre o hipnotizado... por fim. está afrouxando. acordá-lo. Vou contar até três. ficando de pé.. Você está muito bem.. TRÊS. Para isso... estará totalmente relaxado. Você será capaz de superar os seus problemas. de uma só vez. . Para tirá-lo do transe. quebre o braço.... como. Alegre por ter participado dessa experiência. vai subindo e cada vez mais rígido. dobrar o braço do hipnotizado e isso poderá fazer com que ele caia no chão ou até. no entanto. com ajuda da assistência. CINCO... Quando chegar a três.. Seus músculos são fortes e estão ficando cada vez mais rígidos... pela força excessiva.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 247 posição então se dirá: Nada o incomoda.. UM.. . ao passar perto da cadeira. então. UM. por exemplo. etc. se aplica a indução: • Assim que você passar perto da folha de papel. e quando pisar nela vai ficar preso. será por ela fortemente atraído.. Pedindo-se ao hipnotizado para que conte novamente. após esfregar uma mão na outra.. Coloca-se a folha de papel no chão. É o que se conhece como Amnésia de Número. Se forem feitas perguntas como. feito isso. não existe.. DOIS.. Pode-se. diz-se ainda para que ele conte de um a dez. nesta mesma apresentação. sentirá uma atração violenta e se jogará de qualquer maneira para cair sentado. sentindo-se muito bem. dizendo-lhe que. passa as mãos na perna do hipnotizado. Pode-se ainda. responderá “não sei”. Após verificação da amnésia de número.. Por fim. Você está sendo atraído pela folha. diz-se. pode ser demonstrada. Sem sair do lugar.. livre. Desfaz-se a sugestão. será obrigado a sentar-se. e continuará até dez. dizendo-se: • Vou contar até três e você estará completamente livre. em que o hipnotizado pode esquecer determinado assunto através da sugestão hipnótica. Quanto mais se esforce.... pedindo-se ao hipnotizado que conte de um a dez. pedindo para que o hipnotizado passe perto dela. Dr. Pode isto ser feito com qualquer outro número ou letra do alfabeto. O hipnotista.. Isto ocorre quando se diz ao hipnotizado que ele poderá falar perfeitamente sem acordar. ela irá atrair sua perna. pode sair. fazer à mesma experiência. que o número três desapareceu. o hipnotizado tentará inutilmente sair do lugar. Uma situação bastante convincente. mais preso. que o número três está de volta. o hipnotizado acordará como nas formas anteriores. Sc. sugerindo que uma cadeira está magnetizada. provavelmente ele fará uma pequena pausa entre os números dois e quatro.. induzir sugestões pós-hipnóticas que serão cumpridas imediatamente após o .. está começando. ainda.248 Antonio Almeida Carreiro. quase solto. TRÊS. A sugestão se processa com a ajuda de uma folha de papel brilhante. após passar as mãos no hipnotizado.. Manda-se que ele efetue alguns cálculos simples que envolvam o número três. Você sente que ela o está atraindo... Outra demonstração semelhante é a atração magnética da perna.. Depois de ter pisado na folha de papel. quanto é dois mais um ou sete menos quatro. enquanto isso se aplica a sugestão de que a perna dele ficará magnetizada. que ele existe. ou pós-hipnótica. ao mesmo tempo em que. sugere-se várias vezes. por exemplo: que. deverá abraçar determinada pessoa. Condenam a hipnose de palco. após ouvir determinada palavra ou frase. Os mais eruditos autores não são contra a hipnose de palco. segundo a qual os hipnotistas de palco são leigos ou mal formados. sair para beber água porque estará com muita sede. um fracasso em público é para ele algo desastroso. deverá. como. imediatamente. após suas apresentações realizava cursos. sem nada dizer. Karl Hansen entre 1880 a 1900. principalmente para médicos e dentistas. sobretudo no hipnotista novo ainda necessitando de estímulo. Isso serve para demonstrar aos presentes como a sugestão pós-hipnótica é poderosa. dizendo que a . Enquanto um insucesso numa indução de gabinete repercute de forma depressiva. ou ainda. É por isso que o hipnotista de palco tem a imperiosa necessidade de êxito. quando ele acordar. consagra o hipnotista quando narra os fatos acontecidos. Foi ele sem dúvidas. geralmente. principalmente àqueles que injustamente se posicionam contra a hipnose e aos hipnotistas de palco. é a clássica afirmação. a frustração é suficiente até para inibir outra tentativa. porque o público é exigente. dando seu testemunho de veracidade. entre eles Weissmann que reconhece o valor e a importância das apresentações públicas e chama a atenção censurando quem a isso se opõe. percorrendo a Europa apresentavam demonstrações públicas e proporcionavam às platéias grandes espetáculos. cometido pela quase totalidade dos autores de livros sobre hipnose médica.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 249 hipnotizado sair do transe. entrar em transe profundo. Donato entre 1875 a 1886. ou deverá imediatamente. autocontrole e presença de espírito e tem que ser o mais proficiente dos hipnotistas. e particularmente propenso a ver tudo como um processo fraudulento. Um erro digno de correção. O hipnotismo de palco exige do hipnotista a chamada força moral. Hipnose de palco No final do século XIX e no início do século XX surgiam grandes nomes que se dedicaram à hipnose de palco. o responsável pela iniciação de outros tantos grandes nomes no hipnotismo brasileiro. Embora este público seja generoso quando acredita no que vê. no período de 1940 a 1955. A mais complexa sessão de hipnose é a demonstração pública porque nesta não se admitem falhas e a indução coletiva exige muita atenção que é redobrada em função do número de assistentes e dos hipnotizados simultaneamente. direta ou indiretamente. No Brasil. Karl Weissmann lotava teatros por todo o país para demonstrações de hipnose e. não desfrutam das grandes gratificações emocionais provenientes da consagração pública (WEISSMANN). Neste aspecto.250 Antonio Almeida Carreiro. às vezes por ciúmes ou para neutralizar uma possível concorrência ou. com certeza não é competente para realizá-la e. isto não deve ocorrer em apresentações públicas. por medo e ou ignorância. beber vinagre como se fosse vinho. Às vezes. Entre esses absurdos. Pior ainda. além de revelar expressão de inveja e ciúme pelo fato de que. ciúme. E. com agulhas ou estiletes. dificilmente terá êxito em qualquer outro tipo de hipnose. um pouco de tendenciosidade. Dr. • Quanto ao tipo . Pior ainda são as constrangedoras demonstrações de perfurar. algumas dessas mentiras são inescrupulosamente publicadas. tais como raiva. contam estórias como se fossem verdades. mesmo sendo o hipnotista habilitado para fazer diagnósticos de saúde. Também é absurdo apregoar crenças religiosas ou utilizar conscientemente de processos hipnóticos como se fosse parte de um ritual religioso. afirmam que existe uma lei proibindo o uso da hipnose a não ser por determinada categoria profissional.Não é aceitável em nenhuma condição. embora isto seja impossível. mas o tipo. diz que a hipnose é perigosa ou que a pessoa hipnotizada pode não retornar do transe. Também não é aceitável induzir situações de emoções negativas como demonstração de desconforto ou dor. ou ainda aspirar amoníaco como se fosse perfume. Na verdade quem é contrário a demonstrações públicas de hipnose. nessa generalização. geralmente. Demonstram. e muito menos em uma sessão pública. ódio e outros. geralmente quem afirma isso pertence a essa categoria “privilegiada”. ou queimá-los como prova de anestesia hipnótica. alguém hipnotizado ser colocado em ridículo. Também é antiga e igualmente falsa a afirmação de que alguém faleceu após ter recebido uma sugestão de choque de alta tensão elétrica. a pele do hipnotizado. muito menos . maioria dos hipnotistas que a praticam como espetáculo são desqualificados. a finalidade e a qualidade da apresentação. Sc. discreta e anonimamente. quem não é capaz de praticar hipnose coletiva. o que merece ser avaliado não é o hipnotista ou a hipnose de palco. ou para reavivar sentimentos negativos. realizando os mesmos processos de indução. Weissmann escreve que algumas pessoas espalham antigas lendas e boatos sobre a hipnose. ou que se determine ao hipnotizado comer cebola como se fosse maçã. sem habilitação formal. leituras e debates sobre a história e a prática deste conhecimento. selecionadas nos testes de suscetibilidade. descreverão pessoas. Se for sugerido que está chovendo. . O hipnotizado reage como se 122 O Código Penal Brasileiro proíbe que.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 251 prometer curas.Deve ser acompanhada de aprofundamento teórico suficiente. piano. realizarão os movimentos de quem está verdadeiramente pescando. pelo menos. Na escolha do método deverão ser observadas as características do grupo selecionado. 122 Estes expedientes demonstram má fé do hipnotista que não sabe respeitar a confiança indevidamente nele depositada pelo hipnotizado e pelo público. inciso III). • Quanto à finalidade . Se sugerido que estão pescando. deve ser praticada no meio acadêmico. Negar por negar a possibilidade das apresentações públicas é uma postura egoísta daqueles que não partilham o que sabe. verão e sentirão o perfume de flores. por isso a demonstração prática é o veículo indispensável para que se possa transmitir a hipnose como conhecimento. sem mistérios ou fantasias. com cisnes e pássaros. que estejam dispostas a participar da experiência. Uma vez que atinjam o estado de. Dificilmente alguém poderá compreender e praticar hipnose apenas por ter lido sobre o assunto. • Quanto à qualidade . mesmo que no ambiente não haja música. for mais conveniente ao hipnotista. os hipnotizados vãos ver e viverão ilusoriamente as sugestões apresentadas pelo hipnotista. transe leve poderá ser sugerido que as pessoas são instrumentistas de uma grande orquestra.Defende-se que não se realize sessão de hipnose apenas para proporcionar espetáculos para curiosos. eles se sentem molhados e com frio. Nestas situações. dando-lhes um caniço. alguém faça diagnósticos de saúde (artigo 284. desmistificando e aproximando as pessoas para discussões. no momento. sugerido que estão às margens de um lago. Preferencialmente. ouvirão música imaginária. violão ou outro instrumento qualquer. Deve ter as demonstrações finalidade esclarecedoras. pelo menos para desencadear um processo de aprendizagem eficaz. animais e locais que dirão reais. que vão tocar violino. por exemplo. Aplica-se um dos métodos de indução que. Na hipnose de palco podem-se induzir sugestões de ilusões coletivas com as pessoas. mesmo que de forma gratuita. ou sabem pouco para partilhar. e eles tocam ou têm a ilusão que estão tocando e. educativas e didáticas. como. como se estivessem debaixo de chuva. Esse boneco representa você.. Um número muito curioso e popularmente apreciado é o que se chama de sensibilidade exteriorizada. Dito isso. no entanto. Pode. CINCO. Tenho nas mãos uma agulha e um boneco.. trabalhando em seu próprio benefício.. Vou contar até cinco e disparo um canhão. No momento preciso em que a agulha perfurar a mão direita do boneco.. também. Deve-se se aproveitar o momento em que a pessoa está em contato direto com seu inconsciente.. como por exemplo: • A partir deste momento.. Sua mente estará. embora além dos literalmente hipnotizados.. para sugestioná-la positivamente.. Sc. Quando eu o acordar... como por exemplo: Que forte perfume. Nunca o hipnotizado deverá sair de transe sem sugestões pós-hipnóticas de bem-estar.. Alguns se atiram ao chão. começando pela alucinação olfativa. DOIS. Para obter esse efeito. vocês sentirão a picada da agulha no dorso da sua mão direita.. estivesse vivendo realmente a cena sugerida. Na sessão podem ser demonstrados os fenômenos alucinatórios. Todos os hipnotizados tampam os ouvidos. Ato contínuo: • Pronto.. sem que. É um perfume delicioso.. por este motivo é que só devem ser sugeridas situações agradáveis.. Para outra demonstração pode ser dito: • Atenção. de maneira que a assistência possa ver. Apenas o susto. UM. outras pessoas suscetíveis presentes na sessão afirmarão existir um forte perfume.. Atenção. Mesmo à distância percebe-se o perfume....252 Antonio Almeida Carreiro. paz e felicidade... O perfume não existe. Ao indivíduo que acabou de cheirar um perfume inexistente. Dr. acuse cheiro algum. de agora em diante. Vencer suas dificuldades. As ilusões sensoriais podem ser demonstradas sob a sua forma positiva e negativa... pode ser apresentado um vidro contendo amoníaco. se sentirá maravilhosamente bem disposto. etc.. é anunciado: • Atenção! Outra experiência. você terá maiores condições de superar seus problemas.. TRÊS. o hipnotista se dirige para trás dos hipnotizados e com as mãos levantadas.... nestas apresentações ser induzida sugestão pós-hipnótica que será cumprida imediatamente após o hipnotizado sair do transe... . QUATRO.... Acabou.. preparar o canhão. A angustia do “desmemoriado” termina quando é anunciado que. Terminada a contagem. Mas. Às vezes. menos o seu próprio. antecipadamente. Vá dizendo nomes a esmo. quando o hipnotista pergunta.. de efeito não menos interessante. o da própria imaginação.. respectivamente a amnésia e a hiperamnésia. é perguntado ao hipnotizado pelo nome. Alguns hipnotizados. e os atos a serem executados podem ser os mais variados e até bizarros. é escrita por pessoas presente na platéia uma relação de 15 a 20 nomes. a memória do hipnotizado voltará. reagem os mais profundamente hipnotizados. ou mesmo toda a relação. É anunciado para os presentes que. quando acordados e me ouvirem pronunciar a frase a chuva faz a grama crescer. Em conexão com esse tipo de experiência pode ser produzido outro fenômeno inerente ao estado hipnótico. acerta por acaso o seu. Isso pode ocorrer quando. A mesma experiência pode ser repetida com a variante apenas da mão sugestivamente afetada. mais uma vez. Ele será perfeitamente capaz de se lembrar de seu nome. .Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 253 executa o gesto anunciado. são capazes de reproduzir pela ordem em que foi escrita. “Vá dizendo nomes. Salvo raríssimas exceções. Tate. especialmente os sonambúlicos. O limite para esse número é. A frase convencionada para voltar ao transe pode ser outra como Tote. quem sabe. ao terminar uma contagem até cinco..”. as alterações de memória. Às vezes acerta o seu. os hipnotizados a sentem no da mão esquerda. Toda demonstração pública de hipnotismo deve incluir uma ou mais provas do fenômeno pós-hipnótico. desde que não contrarie os códigos morais.. a ponto de não se lembrar do próprio nome. que constitui um dos aspectos mais convincentes da hipnose. Não obtendo resposta. Para isso. é selecionado entre os mais profundamente hipnotizados. o hipnotizado pronuncia todos os nomes possíveis e impossíveis. Essa experiência se torna espetacular quando apresenta natureza hiperestésica. adormecerão como agora estão adormecidos. grande parte dos nomes constantes da relação. A essa experiência.. é aparentemente facilitado o processo de memorização.. ao ouvir contar novamente até cinco. Tiza. Em lugar de sentirem a agulhada no dorso da mão direita. determinado hipnotizado terá perdido a memória. nem os interesses vitais dos hipnotizados. e lhes é dito: • Vou acordar vocês. logo em seguida. se ele responder que está escuro. Sc. Pode ser sugerido que esta . porque sente esfriando o local do qual se aproxima.. ele imediatamente afastará a parte do corpo envolvida. pergunta-se o que está fazendo uma pessoa que está atrás. continua-se perguntando. de qual parte do seu corpo está próximo. repete às sugestões de que ele pode ver perfeitamente bem. insistindo-se na sugestão de que ele tem condições de dizer onde está o objeto. quem apresenta respostas positivas no processo de hiperestesia. mesmo com os olhos fechados. Se o objeto for aproximado por trás dele. que não consegue ver.. Hiperestesia e clarividência Embora ocorrências de fenômenos de hiperestesia e clarividência hipnótica sejam restritas a pessoas extremamente suscetíveis e especiais.254 Antonio Almeida Carreiro. quando apontado para a cabeça ou para seus pés. ele já observava em muitos dos seus hipnotizados esses fenômenos. Aproxima-se sem encostar um objeto nele. e que também pode ser praticada nas sessões é a da clarividência hipnótica. repetem-se as mesmas sugestões.. que poderá ver com clareza tudo que está acontecendo. através da mente. Hipnose. dizendo-se que sua visão. Isto é possível com alguns hipnotizados. Se ele responder corretamente. Dr. sugerindo-se que o objeto está realmente frio. Geralmente. pergunta-se o que ele está vendo. sem que para isso seja dita uma só palavra. Poderá ver com a mente e. Depois do hipnotizado dizer que está enxergando. Sua descoberta teve início nas induções provocadas pelo Marquês PUYSÉGUR. portanto sem ele ver. terá condições de falar (fazendo-se alguma pergunta simples para testá-lo). e que. está aumentando. sem acordar. Mesmo estando de olhos fechados. não é tão raro assim. Quando perceber que ele já está no ponto certo.. também se revela clarividente hipnótico. Após repetir esta sugestão várias vezes. e recebeu sugestões de que. induzindo-o a que sinta a frieza. Para se obter essa experiência. ele não poderia enxergar seus movimentos. Você está enxergando perfeitamente de olhos fechados. como uma pedra de gelo. por isso. Se ele responder que não enxerga. de fato. deve ser dito: • Agora você pode enxergar tudo o que se passa à sua volta. deve-se induzir um suscetível a um nível profundo. Desde 1784. que essa visão é muito melhor que a convencional. Outra experiência descoberta pelo Marquês de PUYSÉGUR. e que agora ele já pode ver. . que já chegou ao seu destino e está vendo tudo que está se passando.. saiu pelo corredor.. confirmado posteriormente ou até simultaneamente ao relato. se portará exatamente como a outra com quem se ligou ou de quem assumiu a personalidade.. (diz novamente o nome). que ela tem condições de sentir tudo que a outra pessoa está sentindo. é descrita sua ida até lá. mas também o que se passa em outros lugares. sugerindo que ela é. mesmo que lá nunca tivessem ido. Para induzir um suscetível ao estado hiperestésico é dito: Agora você é. como também em um local a quilômetros de distância. Poderá dizer corretamente o que acontece. Sessão realizada pelo autor. No estado de hiperestesia são surpreendentes os resultados. ocorre quando o hipnotizado é colocado em contato com outra pessoa pela junção das mãos.. Alguns hipnotizados são capazes de dar descrições nítidas do local sugerido. A sugestão para obtenção deste fenômeno se processa quando é dito para o hipnotizado que ele está indo. quem está lá naquele momento. o que está fazendo. após alguns segundos. Finalmente afirma-se que o hipnotizado é a outra pessoa e pensará como ela. publicado no Jornal do Brasil. etc. pergunta-se o nome dela e ela dirá que é a pessoa que está em contato pela mão. Sente tudo como.09. 123 . Rio de Janeiro.. se isto não ocorrer. O hipnotizado clarividente pode não só descrever o que está se passando em um aposento pegado. por exemplo. mentalmente.95. dizendo que foi até a porta. ele está indo para uma sala ao lado da que se encontra no momento da indução e.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 255 pessoa não só pode enxergar tudo o que se passa a sua volta. (dizendo-se seu nome) e que se desfez completamente a ligação. 123 Outro fenômeno é a hiperestesia. Depois de fazer várias vezes esta sugestão. (o nome da pessoa que está ligada a ela). Perguntam-se. como também são capazes de dar informações exatas sobre as pessoas que lá se encontram. para um lugar. deve-se ter o cuidado de “desligar” a pessoa hipnotizada da outra. saberá tudo que a outra estará pensando. de 10. Terminada a experiência. deve ser novamente repetida as sugestões anteriores. o hipnotizado poderá dar informações que só a outra pessoa sabe de forma consciente ou até inconscientemente. fazendo-se a sugestão (diversas vezes) de que tem condições de ligar-se inteiramente na pessoa que está em contato. os quais seriam impossíveis de relembrar sem estar no estado de hipnose. o hipnotizado reage como quem está lembrando o que passou. principalmente acontecimentos festivos. afirma-se que tem dez anos e a letra será outra. sobretudo quando o hipnotizado remonta aos acontecimentos da sua mais remota infância. Sc. não apenas recordar. afirma-se ao hipnotizado que ele está no jardim de infância. Ele poderá. De forma imaginária. Na regressão hipnótica. Contará. brincará com seus amigos e com os brinquedos preferidos. a linguagem e os conhecimentos adquiridos até aquele momento regredido. realizando verdadeiros prodígios. ainda. nomes que. reproduzindo nos mínimos detalhes os garranchos das primeiras letras. que está inteiramente livre de todos os sintomas e preocupações da outra pessoa. sempre que lhe for sugerida outra data. É uma experiência fascinante. Esse é o tipo de regressão que mais ocorre. o hipnotizado passará a viver e a enxergar fatos de dez. reagindo de acordo com a idade. não seria capaz de rememorar. Dr. que está sentindo-se muito bem. quem foi que o ensinou e dirá que está vendo a pessoa junto a si. Tais reminiscências muitas vezes são confirmadas por parentes e amigos presentes à sessão. exatamente iguais aos que realmente desenhou na época referida. usa linguagem infantil. ou descreve de maneira semelhante a um espectador vendo desenrolarem-se os fatos à sua frente. vinte anos atrás. descrevendo os fatos acontecidos como se estivessem ocorrendo no momento. acontecerá. mas efetivamente reviver os fatos acontecidos. Regressão hipnótica Praticamente há dois tipos de regressão. e ele citará com exatidão os nomes dos antigos colegas e da sua antiga professora. ou desenhos. aos seis anos (se lhe for induzido esta idade).256 Antonio Almeida Carreiro. Regressando à idade de seis anos. é também o tipo que mais impressiona. Continuando. correspondendo sempre à caligrafia da idade sugerida. a regressão não se dá através da memória. Numa delas. como se estivesse usando e vendo a roupa que vestiu em determinada fase da sua mais remota infância. Lembrará com detalhes. Assim. se intimado a escrever ou desenhar sobre uma folha de papel. discorrendo sobre fatos do dia sugerido na regressão e desconhece tudo que aconteceu ou experimentou após essa idade. . Assim. Descreve. o hipnotizado vive realmente o passado. quinze. poderá regressar praticamente até o seu nascimento. a memória se aguça. em estado normal. No outro tipo. escreverá o seu próprio nome. seriam impossíveis de ter sido realizada. Algumas experiências são excelentes. é indiscutível o consenso que afirma haver na regressão um extraordinário aumento da memória. deitando-se no chão e encurvando o corpo. que participou de uma experiência de hipnose regressiva. desenvolveu o método usado até hoje na pediatria para analisar o desenvolvimento neurológico de crianças recémnascidas. simular ou mesmo inventar. Se a sugestão prossegue regredindo no tempo. . efetivamente. Apresentou também uma acentuada transfiguração na aparência do rosto. o teste comprova que o hipnotizado reage de acordo com a idade sugerida. quando acordado nada lembrará ter dito e. Ao regredir 40 anos antes de nascer. certamente dirá qualquer outro menos o seu verdadeiro. regredido na idade e. possivelmente dirá que nada vê. do A. À interpretação da regressão às vidas passadas. apresentarem elementos suficientes para a decisão de excluir uma das duas diferentes interpretações. as reações diferem entre crianças de meses de vida e idade mais avançada. Um dos testes que impressionam os pesquisadores é o sinal de Babinsky. Se perguntado o que sente neste momento.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 257 O hipnotizado responde a testes que comprovam ter ele. No entanto. de 25 anos de idade. ela se apresentou como se fosse um homem. como. Um caso que muito impressionou a todos que assistiram. Quando sugerida a regressão para a idade fetal. 30 ou 40 anos antes de nascer. sem. denominado de sinal de babinsky (N. com certeza. Nessa fase. assumirá esta posição. pelo menos de forma consciente. por exemplo. Isto é. Mas. foi de uma jovem professora.). fundamentase basicamente em duas correntes opostas: a tese da fantasia do inconsciente e a tese da reencarnação. sempre demonstram que o hipnotizado agiu com a mais absoluta boa fé. falando de forma muito assemelhada à voz masculina. contudo. fricciona-se a sola de um dos pés e. mas que escuta ruídos e batidas rítmicas. com impressionante mudança na voz. verdadeiros ou não. os resultados correspondem ao nível mental e à inteligência da idade induzida hipnoticamente. nada do que disse foi com o propósito de enganar. Este aspecto da hipnose é muito controvertido. durante todo o transe os relatos. 124 Neste teste. na pessoa hipnoticamente regredida. na verdade os cientistas não têm uma explicação uniforme e completa sobre esse fenômeno. Dizia que seu nome era José 124 Joseph François Félix Babinsky. por ele. a regressão sofre o crivo severo da crítica científica. descreve estranha situação que. as quais descrevem assemelhando-as a batimentos cardíacos. e for perguntado qual é o seu nome. .. Dizia também ter consigo moedas de uso na década de trinta. está voltando.. UM.” Descrevia-se trajando calça branca engomada e usando “Parada”. Onde você está que lugar é esse? Tem alguém com você? O que . dá cá o meu. transporte que efetivamente circulava nos locais e épocas descritas.258 Antonio Almeida Carreiro... A sessão para regressão hipnótica deve ser longa. falava nomes e marcas de produtos que dizia ver impressos em cartazes de propagandas. etc. Roberto Alves de Faria... 1985. A regressão depende de um bom aprofundamento do transe e da aplicação de um método adequado. outros falam com mais facilidade.. 1987.. TRÊS... Mais para trás. 1988.. 1986. Em alguns casos indica que na regressão mudou de gênero e muda também de voz.. como: “sossega leão. DOIS. diga. as pessoas regredidas falam quase sussurrando. falava expressões populares de uma época bem passada. Você está em 1984.... armazéns e lojas. quando prossegue o hipnotista dizendo mais ou menos assim: • Dorme profundamente.... Os prédios não mais estão edificados. 1984. Alguns hipnotizados precisam ser mais incentivados para falar... 1991... os produtos não mais existem. Você agora vai entrar em um túnel.. 1990. Ocorre.. também na regressão à períodos anteriores ao próprio nascimento... inclusive escrevendo com a ortografia da época. Agora você está voltando mais rapidamente. Descrevia prédios e estabelecimentos comerciais como empórios. começando a voltar... Só acontece após ocorrer o estado hipnótico. Vai voltar no tempo. não deve comportar muitos observadores. Para a maioria das pessoas presentes. CINCO. Você está em 1990.. Dr. 1992. 1989.... Quando chegar a cinco estará em 1990. e acreditaram que Roberto realmente vivera naquela época. dizia estar no interior de um bonde. QUATRO.. está voltando. marca de chapéu masculino de uso no Brasil no período aproximado entre 1935 e 1955. Conto até três e você começará a voltar... que idade você tem?.. geralmente apenas se limitam a respostas bem objetivas. Mudança de voz é comum na regressão de idade à própria infância. os locais foram transformados com o tempo. Depois das respostas continua o processo de regressão: • Continua dormindo profundamente.. quando o adulto regredido fala com voz infantil.. os nomes que dizia estar lendo nos letreiros.. 1993... sai pra lá violão. os fatos narrados foram verdadeiros... Sc... 1981. É comum.... pode ser sugerida a regressão para a vida fetal e antes dela: • Você está com seis meses antes de nascer. está voltando.... DEZ. Por exemplo: • Agora você está voltando. chorando como um bebê e fazendo seus movimentos típicos. QUATRO. QUATRO... SEIS. Você sente alguma coisa?.. TRÊS. Seus colegas?. Feliz... UM.. Calmo. Com certeza. Agora você está na sua idade atual... intercalandose na contagem de retorno sugestões de bem-estar.. Vou contar até dez e você estará com 20 anos antes de nascer....... para cada nova época sugerida. Tranqüilo. 1982... 1995. Bem disposto... Vou contar até cinco e você acordará. Como é esse lugar?... pode comportar-se como se fosse de sexo diferente do seu.... DOIS. Descreva o que está vendo. Com essa mesma técnica. realiza-se o processo inverso. Como é o nome da sua escola. a regressão não terá limite no tempo e.. OITO.. paz e felicidade pós-hipnótica. Com quem está... por exemplo. induz-se a sugestão até praticamente o nascimento............. fazendo-o retornar até sua idade atual.. Para acordar o hipnotizado. UM.... 1980. Pronto. Nesta fase.. Como é seu nome?. Onde você está.. Quando regredido para a fase infantil.... O que você está vendo? Descreva quem está com você..Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 259 você está vendo? (Depois das respostas prossegue-se). o hipnotista sugerir que o hipnotizado é um grande artista... DOIS. Pode mudar de voz. Pronto.. Se o hipnotizado disser que está brincando.. TRÊS.... NOVE... Está na escola?.. 20 anos antes de nascer. de seis meses de idade. Prossegue-se a regressão com a contagem dos anos: • 1983.. Contará outra estória de vida completamente diferente da anterior.. normalidade. Etc.... Onde você está?.. dependendo do desempenho do hipnotizado. o hipnotizado dirá que possui outro nome. nas sessões de regressão hipnótica...... e ele se disporá a manuseá-lo como se fosse seu verdadeiro brinquedo.. 1990. descrevendo estórias surpreendentes... Normal. CINCO... Seguindo esse método... está voltando. o hipnotizado poderá reagir. o hipnotizado dirá um nome diferente do seu e contará uma vida bem diferente da sua. às vezes com a voz infantil. então lhe será entregue qualquer objeto como se fosse o que ele descreveu.. e até falar outro idioma.. SETE. como um pintor ou . CINCO. dizendo-se que o tempo está correndo para frente e que ele votará a sua idade atual. Hipnose e terapia por vidas passadas A possibilidade de vida e morte serem mais do que processos biológicos. mesmo que ele não se lembre conscientemente deste fato.. DOIS. Sc. Terapia por Vidas Passadas pode ser analisada pela hipótese da fantasia do inconsciente ou da reencarnação....Terapia por vidas passadas.. Como é seu nome? A resposta é surpreendente. mesmo que em sua remota infância. esvaziando.. Um Pintor.. de fato.. Se o artista ou sua obra foi conhecido pelo hipnotizado. Agora outra personalidade vai incorporar você.. Um grande artista. UM.. mas convencer não significa mistificar enganosamente. Mas é comum em sessões de regressão hipnótica a pessoa hipnotizada descrever situações como se estivesse vivendo em outra época ou em outra vida e.... a existência da alma e a idéia de viver várias vezes são temas que agitam discussões filosóficas e religiosas deste os tempos remotos. De fato ele pintará com muita destreza e com detalhes impressionantes.260 Antonio Almeida Carreiro. após o transe ocorrem melhorias e até curas nas pessoas que “regrediram”. mudando de voz e até a forma de caligrafia. O mesmo acontece com relação à sugestão que referem escritores ou poetas.. QUATRO. Neste caso. CINCO. Mostre sua arte... Para hipnotizar é necessário convencer. ambiente no qual vive. A isso se convencionou chamar de TVP . completamente vazia. Para isso. Seu trabalho em muito será fiel ao que ele armazenou em sua memória... Essa última hipótese pode ser descartada quando o caso apresenta exagero ou incoerência ou é propositadamente mistificado. é bastante que o transe esteja estabelecido e a sugestão se processe na seguinte forma: • Vou contar até cinco. sua mente estará completamente vazia.. pode ser o nome de um artista famoso e se for dado ao hipnotizado material de pintura.. ao andar sem rumo por um percurso com voltas e sinuosidades que conduzem ao raciocínio caótico ou a conclusões dogmáticas.... Dr. O problema é que não existem provas contundentes negando ou afirmando tais conceitos. Inclusive declara seu nome. TRÊS. É bom sempre lembrar que se argumentos sérios . ele começa a pintar ou escrever como se verdadeiramente fosse a personalidade sugerida. escritor famoso. Quando chegar a cinco. no transe hipnótico lembrará com clareza e representará uma pintura bem parecida.. certamente ele pintará. vazia. Para que tal efeito possa surgir. o que leva pesquisadores para as divagações. idade. Tudo passa a ser bem diferente das características da vida do hipnotizado. pode ser dito: Pinte. algumas pessoas podem convencer outras através do dogma. Essas práticas ocorrem em ambiente solene. Pede-se ainda que um dos seus parceiros fale em uma língua estranha e supostamente antiga que aprendera em uma de suas “experiências”. no ambiente. que podem até ter função terapêutica. etc. calor. O tom da voz é cava. sentiram alguma emoção mais forte como arrepios. energias e dizem que são. pede-se que todos fechem os olhos. Pede-se que . faz um preâmbulo dizendo mais ou menos que “na memória de cada um dos presentes estão arquivadas todas as lembranças de outras vidas. O palestrante anuncia suas “convicções” em vidas passadas. anjos. pronunciados como se fosse um idioma desconhecido. A sociedade. Aí se ouve uma série de sons sem sentido. além de declararem ser portadores de alta escolaridade. invariavelmente. alegria ou tristeza? Confirma-se assim o teste de suscetibilidade aplicado anteriormente. Assim. mesmo quando se observa bom nível de escolaridade. respirem fundo e se preparem para as “lembranças” (técnicas hipnóticas). mistificar é o caminho mais fácil para enganadores e personagens que vendem milagres ou. os participantes são convidados para uma sessão de “ocultismo”. nota-se a presença de um palestrante que sempre vem acompanhado de mais um ou dois parceiros. fala de força. onde se processará “regressões para vidas passadas”.. Após alguns testes de suscetibilidade. espíritos. está mais apta a ser convencida com argumentação excêntrica e rodeada de ocultismo do que com explicações sérias e lógicas.. Após se elogiarem mutuamente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 261 não estão ao alcance. será concentrado o processo de indução. suave e repetitivo (o método). santos. Algumas dessas apresentações podem ser descritas através dos procedimentos padrões.”. mas mistificadas como se fossem curas realizadas por forças ocultas. estão estabelecidas nos presentes a expectativa e a fé que permitirão a indução hipnótica que logo se processará. O orador pergunta aos presentes. recheados de cursos e experiências espirituais. na sua maioria. do mistério e da magia. Inicialmente apresentado o “currículo” do orador e seus pares. pois esses são decididamente suscetíveis. vidas passadas. exploram a fé pública. com pouca luz e invariavelmente música suave de fundo. de alguma forma. Contam até visitas que fizeram a outros planetas. envolvidos com extraterrestres. o que aconteceu enquanto ouviam a experiência. Aí entram algumas técnicas hipnóticas. chegam já présugestionadas. luz. que podem ser localizadas e revividas. portanto. Nas pessoas que respondem afirmativamente a esse último teste. porém geralmente também falsa. Mesmo que idéias reencarnacionistas não façam parte da crença religiosa ou filosófica de quem pratica TVP. é repetida a fala como se com eles estivesse alguém conversando. Neste tipo de indução não se dá. são atribuídos a civilizações extintas e desconhecidas quando não de outro planeta. com sugestões pós-hipnóticas de bem-estar. ainda. longe de seus hábitos e da sua própria história de vida. paz. elas cumprem a função de trazer à tona problemas mal resolvidos e traumas reprimidos. Ficaria assim difícil iludir o hipnotizado e convencer as pessoas com facilidade. De forma proposital. sensações e sentimento despertados durante o processo não sejam lembranças reais. novamente fechem os olhos e agora. Com esse processo. pelo menos. cura. efetuando-se a técnica da contagem de um a três ou cinco. essas são induzidas de forma incisiva pelas sugestões proferidas. Mesmo que as imagens. a presença de seres de outro mundo! A pergunta é: porque não um idioma conhecido? A resposta é: porque não seria do conhecimento do indutor e nem do induzido e. isto é. junto aos suscetíveis. porque se induz também. a oportunidade do inconsciente do hipnotizado criar suas próprias fantasias. Dr. e sim formas simbólicas representativas do inconsciente. poderia ser do domínio de algumas pessoas presentes. felicidade etc. não se pode deixar de reconhecer. Para efeito terapêutico não faz diferença se as . A saída do transe é feita da forma convencional. nessas sessões. O indutor transforma sua fala em cântico e inicia movimentos de dança (sugestão indireta) e é imediatamente seguido por imitação pelo “regredido”.262 Antonio Almeida Carreiro. o ”regredido” retornará feliz do transe. É importante lembrar que os idiomas não existem. O orador anuncia a consumação da regressão a uma época remota cujo dialeto não se conhece. Os que passam pela experiência de assumir outras personalidades ficam fascinados quando sabem que revelaram ter vivido como alguém bem diferente. a maioria resolve problemas psicológicos ou de saúde que a medicina ou terapia convencional não deram conta de sanar. o transe hipnótico é mascarado como se fosse regressão a uma vida passada. mesmo nestes casos que os efeitos da sugestão pós-hipnótica são eficazes. Sc. quando não curado de um mal psicossomático. Após alguns segundos os “regredidos” iniciam a falar também sons parecidos com os produzidos pelo seu indutor. a eficácia da terapia estará garantida. Por outro lado. através das sugestões pós-hipnóticas que lhe são aplicadas. como as dermatites e verrugas. em síntese. são doenças psicossomáticas. as análises . porque tem por base revelação doutrinária ou intuitiva e. um preâmbulo de indução e finalizam descrevendo um método indiscutivelmente hipnótico. Para criar essas metáforas. lembranças praticamente perdidas. A mente cria dramas que ajudam a enfrentar diferentes situações. As análises dessas ocorrências devem ser com neutralidade de valores. Geralmente os sintomas são associações de crises asmáticas e outras disfunções respiratórias. úlceras. Vários livros que tratam de Terapia por Vidas Passadas relatam casos que são. dores de cabeça e alguns distúrbios gastrointestinais. Para muitos não cabe explicação e sim aceitação. o que para acontecer só depende da atmosfera gerada na sessão e pelo ritual criado para que isso se estabeleça. pois já chegam hipnotizados. é preciso que antes sejam descartados todas as possibilidades explicativas e evitar a tendência de acreditar na transcendência do ser humano que. mas as respostas. imagens de filmes. hipertensão. que bem podem ser nomeados de Hipnoterapia por Regressão. sendo suscetível a hipnose revela-se um sucesso nas sessões de regressões. trechos de conversas conscientemente esquecidas e até situações traumáticas apagadas da consciência. faz parte das que se manifestam a partir de “gatilhos emocionais”. Algumas situações despertam mais questionamentos. O importante é que a “regressão” é um potente veículo que o inconsciente encontra para manifestar-se e produzir cura. Nesta linguagem inconsciente os problemas são tratados metaforicamente. em sua maioria. podendo por isso até espontaneamente entrar em transe. A maioria das doenças tratadas com sucesso pela “regressão”. Geralmente quem lê esse tipo de livro. parece. isso pertence a cada indivíduo em particular. que reagem de uma maneira ou de outra a determinadas situações emocionais. algumas situações possam ser aceitas do ponto de vista da reencarnação espírita. também como doenças de pele. a mente recorre a todos os seus recursos disponíveis. na sua essencialidade vai além do corpo físico. e não de forma direta.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 263 memórias reveladas são verídicas ou não passam de elaboração mental. Por mais que pareça não existirem elementos suficientes para negar que. ficam comprometidas aos dogmas religiosos e as convicções pessoais de quem analisam. mas geralmente quando a regressão antecede o nascimento. de certa maneira. às vezes. Swedenborg (1688-1772) já apontava o que hoje é incontestável. Em transe essas lembranças com detalhes afloram. É freqüente o caso de pessoas que. atreladas a fantasias que funcionam como mecanismo de atenuação da intensidade dos traumas psíquicos. Alguns desses fatos aparecem na lembrança como uma sombra e. O inconsciente é um perfeito gravador. Na linguagem da parapsicologia isto é conhecido como Pantomnésia. os casos de regressões obtidos com hipnose não revelam verdadeiramente vidas passadas. fica alojado como idéias ou sensações e afins em sua memória. Dr. vê e sente de qualquer modo. inconscientemente. Tudo aquilo que o homem ouve. e ou problemas. Sc. falou ou fez.264 Antonio Almeida Carreiro. . Este mecanismo inconsciente é também conhecido como deliriogênia. assim. As lembranças despertadas e permitidas pela hipnose podem aparecer. mas em ambos os casos as imagens podem ser informações contidas no inconsciente sem a lembrança consciente. “Nada é eliminado no inconsciente. não importa se ocorreram na sua primeira infância ou na sua extrema velhice. Essa afirmação é antiga. e tudo aí se conserva sem nada se perder. ás vezes sem que se tenha ciência disso. às vezes envoltas em fantasias e. o hipnotizado. em qualquer fase de nossa vida. e ou conflitos. Nela também se acham inscritos todos os fatos particulares e íntimos que em qualquer tempo pensou. Parece que na representação do fenômeno da regressão a vidas passadas. declaram que já o conhece sem nunca terem estado lá. às vezes claras. ainda que as lembranças fiquem obliteradas em sua memória. registra tudo e nada esquece. trata-se da imaginação fantasiosa do inconsciente do hipnotizado. chegando a determinado lugar. Em princípio. A interpretação dos sonhos). ao qual nada escapa. de forma subjetiva ou sutil. revela o seu próprio desejo. Esse fato conhecido como déja-vu (Já visto) pode ocorrer inclusive em sonhos recorrentes. através de um ideário simbólico e fantasmagórico do contido no seu inconsciente. nada é superado ou esquecido” (Freud. Muitos casos de dejá vu se explicam pela memória do inconsciente. situação capaz de transformar fantasias latentes em bem elaborados delírios de autoreferência. e observações indicam que. os fatos descritos foram acontecidos na própria vida do hipnotizado e que podem ser percebidos pelo hipnotista. São revelações simbólicas dos conteúdos reprimidos. também acontece quando alguém afirma sentir a sensação de já conhecer algo que se vê pela primeira vez. porém diz que. brincava. No entanto. Assim como não é justificável o argumento daqueles que não se pronunciam sobre o assunto sob alegação de que têm de respeitar a crença alheia. finalmente confessa. Sugerida a idade fetal. isto é. ainda vive triste. quando reprimidos permitem a existência civilizada da sociedade humana (N. São vários os casos de regressão hipnótica que poderiam ser confundidos como regressão para vidas passadas. do A. pressionando para o inconsciente. Entre eles. Perguntado sobre a tristeza. segundo a psicanálise. No entanto. assim se comportou. em certa medida é inevitável como na repressão dos impulsos sexuais e de agressão.). Novamente perguntado sobre a tristeza. É a retirada de idéias. mostrava-se de forma dinâmica. Mas. Sugerida que estava com 60 anos antes de nascer. respeitar a crença alheia e também a sua própria crença. ela declara possuir outro nome e falava como se tivesse outra vida. se realmente é uma manifestação de vida passada ou uma fantasia do inconsciente em torno de um fato real da vida do hipnotizado ou simplesmente induzido por sugestões especificas. era como se algo extremamente reprimido estivesse a incomodá-la e. assim aconteceu por mais uma regressão. a explicação do fato não deve ser apenas sob a ótica religiosa ou mística. Perguntada sobre o motivo da tristeza não respondia. Sugerida que estava com 150 anos antes de nascer. escrevia e falava como criança. Após três sessões de regressão hipnótica. E. Quando regredida. Encontra-se na origem das neuroses e psicoses. Quando é evidente o uso da hipnose como condição para a indução. ainda se mostrava triste. revela que naquela suposta vida era espancada pelo marido. o conteúdo de sua repressão 125 se mantinha em segredo. a omissão pode revelar um comportamento enganoso quando não oportunista. dois podem ser citados como ilustrações: O primeiro caso é de uma mulher de 28 anos que aparentava sentimento de tristeza e sinais de depressão. afeto ou desejos perturbadores da consciência. Estes procedimentos parecem significar o desejo de manter alguém em erro ou equívoco. algumas pessoas evitam se posicionar quanto à questão com afirmações de que o importante não é a explicação e sim a cura. revelava outro nome. é o mecanismo de defesa através do qual um impulso ou outro conteúdo psíquico desagradável ou inaceitável é suprimido da parte consciente da mente. vez por outra. Deve sim. respondia que era espancada pelo marido. seu relacionamento com o esposo é semelhante ao que teria Repressão. mas. durante o transe mostrava-se triste e chorosa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 265 Na regressão á vidas passadas obtida por indução hipnótica deve ser questionado o mérito. mesmo em transe. contava outra estória de vida. 125 . Exemplo disso foi o caso de uma mulher de 34 anos que sentia pânico quando permanecia em recintos fechados e ou escuro. Agora nada mais a impede de falar do seu problema conjugal. se libertar das repressões livrando-se da culpa e da vergonha que a punia. sem que para isso seja preciso uma regressão à “vidas passadas”. sobre a alegação de furto. quando regredida à sua infância. Dr. é plausível concluir que suas estórias foram apenas mecanismos fantasiosos. e aí. Quando regredida mostrava-se dinâmica. e não ela própria estivesse falando sobre os problemas que tanto lhe incomodavam. Ficando curada. Este parece ser o motivo que inconscientemente a impedia. revela que quando tinha seis anos. É como se outra pessoa. Quando regrediu aos cincos anos mostrava-se chorosa e declarava medo. Essas lembranças estavam tão reprimidas que. dentro de uma loja de brinquedos. agora adulta. por ser “outra pessoa”. de entrar em lojas. Compreendeu seu silêncio e seu constrangimento e resolveu lutar contra isso para mudar de vida. só sendo permitido revelar quando sua mente pode simular ser outra existência. dizia que estava em um lugar muito escuro. Sc. porém não revelava o porquê do pânico. revela que quando . a teria posta de castigo para que nunca mais furtasse. porque quando furtara os dados. Em outras situações. A mãe. a pessoa hipnotizada pode relembrar com facilidade e superar o problema que a incomoda. furtara de dentro de uma caixa de jogo um par de dados e que o fato só foi percebido pela mãe quando retornaram para casa. mesmo hipnotizada. Um segundo caso aconteceu com uma mulher de 32 anos que não conseguia entrar em lojas de departamentos. Perguntado o que teria furtado. Continuando.266 Antonio Almeida Carreiro. simbolicamente. responde que era muito pobre e teria furtado pão para dar a própria mãe faminta. ela declara está sendo perseguida por policiais. não as revelava. era uma criança e não sabia da gravidade do que estava fazendo. sem culpa. estava na verdade se desculpando. pode. contudo em determinada fase entrava em pânico. em companhia da mãe. Sugerida outra vida. dizia que “era muito pobre e teria furtado pão para dar à sua mãe faminta”. realiza outra e. Após duas sessões. revelado seu inconsciente durante as sessões. Nestes casos a intensidade do trauma psicológico é pequena. hipnotizada. Assim. os sintomas podem desaparecer apenas com lembranças da própria infância. Quando ela. após puni-la fisicamente. agora nada mais a impede de entrar em qualquer loja. encontrados pela sua inconsciência para liberar o que a incomodava (fato real) e que a moralidade social a impedia de dizer. chorando e tremendo de forma convulsiva. principalmente se nas lojas tivessem seção de brinquedos. 31. Este ficará imóvel. algumas vezes apresentando rigidez e contratura muscular nas mãos. a famosa convulsão terapêutica parece que agora retorna como se fosse novidade para a cura através da hipnose. estamos constantemente bombardeados de sugestões de todos os tipos. esta a fechou dentro de um armário durante alguns segundos. perguntar ou sugerir ao hipnotizado. nada de sugestões. quando chega de manhã ao serviço.95. após a indução ao estado de transe médio ou profundo. está com uma aparência terrível”. fulano. Minutos depois. Nada de regressões. A porta foi logo aberta. mas isso foi suficiente para gerar muito medo. Se não absorvemos as positivas que nos fará bem. Sugestão desejada e indesejada A sugestão pode funcionar negativa ou positivamente. Curiosamente era isso que acontecia nas sessões de Mesmer. fica surpreso com tal afirmativa. Durante o transe ficou esclarecido para ela que a porta foi fechada acidentalmente e que nenhuma conseqüência séria havia para se preocupar. braços. pernas ou até generalizada. em transe. o hipnotizável deseja curar-se de alguns sintomas. nada se dizer. Como pressuposto básico da cura está a pré-sugestão de que. outras vezes com ligeiros tremores. Outros colegas complementam “Veja se fulano não está com febre”. O indivíduo é vítima de uma brincadeira de mau gosto no ambiente onde trabalha. ou ainda.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 267 brincava com sua irmã. O principal efeito da terapia decorre do fato de que. Neste estado ocorre o processo automático de curas porque assim o hipnotizado estará se libertando de suas repressões. após a sessão o sintoma desapareceu. Salvador. O fato ocorrido era inconscientemente associado quando ela entrava em recintos fechados e ou escuros. 126 A nova tendência teórica sobre terapia hipnótica é a de que não é necessário.08. em crises de choro. alguém comenta casualmente: “Esta manhã você está de ressaca? Você parece mal”. um companheiro o saúda com a seguinte observação: “Minha nossa. refazendo seus valores e revendo sua vida. ao submeter-se ao processo. A esta Sessão realizada pelo autor e publicada no Correio da Bahia. apenas o transe hipnótico. Daí vinha seu medo injustificado. que se sentia bem disposto. você deve ter tido uma noite horrível. ele por si só entra contato com o seu inconsciente e enfrenta os traumas conseqüentes de situações que vivenciou. 126 . Fulano. nem sempre podemos nos livrar das negativas que certamente nos fará mal. 268 Antonio Almeida Carreiro. exceto se você não aceitar o que foi dito. quando este tipo está presente é bom estar de sobreaviso. Se não fora a sugestão hipnótica uma força de eficiência social cotidiana incomparável. que ocupam a maior parte de quase todos os órgãos de imprensa. por exemplo. isto é. Você é a única pessoa que pode prejudicar-se e isto poderá acontecer se acreditar e aceitar as coisas Baixo astral . e estão quase sempre próximas de tipo baixo astral 127 que. Dr. Ainda há pessoas que passam essas sugestões negativas de outra forma como. Ajuda-te pela nova auto-hipnose. É muito importante que as pessoas saibam identificar as sugestões negativas e prejudiciais que possam afetá-las. Para esse autor. o que quer que alguém possa dizer a você.Termo de linguagem popular que classifica pessoas que podem influenciar outras a serem pessimistas. sem motivo justificável. Nada entra no inconsciente. a menos que a aceite como fato. As pessoas trazem cotidianamente a possibilidade de serem contaminados por sugestões negativas. altura fulano está sentindo-se péssimo e é provável que com a continuação desses comentários volte para casa realmente doente. como que sob má influência astral (AURÉLIO. não será afetado por esta afirmativa. São Paulo. bem como é preciso localizar rapidamente a sua fonte e neutralizá-la. queixoso. infeliz. ADMES. ao qual se diz que ele não é bom. estão sempre cheios de revolta e pessimismo. Veja o que diz Admes 128 sobre as possibilidades da eficácia das sugestões cotidianas e a lei do efeito contrário: O que alguém diz ou pensa a seu respeito não afeta seu inconsciente. Certamente podem induzir um injustificado mal-estar. Sc. Só assim alguém pode ficar imune às suas induções e. assim como falta de esperança ou firmeza de bons propósitos. a menos que você aceite as sugestões. os anúncios. uma vez imune. O jovem. Indivíduo que está ou vive mal-humorado. salvo se vem da mente consciente. Embora nem sempre se tenha consciência de sua influência. além dos dispendiosos patrocínios de rádio e de televisão. a indústria publicitária. Besteseller. não se justificaria a mais abrangente de todas as indústrias modernas. Ed. Se for capaz de ‘controlar’ seu fluxo de pensamento. na realidade ele terá sua autoconfiança aumentada (ADMES). Paul T. ou simplesmente afastar das pessoas próximas a tão necessária alegria. por mais horrível que seja. Buarque de Holanda Ferreira. é possível até ajudá-lo. 128 127 . 1972. poderá ser nocivo. aquelas que sempre reclamam de tudo. Novo dicionário da língua portuguesa). ou circunstância. Esqueça-as. a vontade inconsciente não se opõe ou vice-versa. Lembre-se que nós somos aquilo que pensamos e que inconscientemente acreditamos ser. Isto se aplica ao tipo na . muitas vezes. Deixe de reprisá-las na mente. Aconselha Admes. Pode ser tão sutil que as pessoas envolvidas (hipnotizador e hipnotizado) não se dão conta do processo e. Geralmente se verifica uma falta de unidade de propósitos. Imagine um sujeito insistente que. É. poderá conseguir seu intento. Quando as pessoas enfrentam o hipnotista com propósitos de desafios. contra vontade do induzido. geralmente são ótimos hipnotizáveis. ao mesmo tempo em que a pessoa quer ser hipnotizada. O que vai determinar o êxito do processo hipnótico é a vontade inconsciente e não o que declara a pessoa. geralmente. A hipnose pode ainda colher a pessoa de surpresa. um expediente provocativo de um masoquismo disfarçado. Tudo se deu de uma maneira tão inesperada e rápida”. neste caso. se não for repelido de imediato. Resta saber se a vontade que tradicionalmente subordinamos a hipnotização é sincera. Hipnose contra a vontade É possível a hipnose contra a vontade? A resposta a essa pergunta implica aspectos mais sutis do que pode parecer à primeira vista. quando começam a se dar conta da situação. e ponto final. e havendo uma sugestão pós-hipnótica no sentido de voltar ao transe a um dado sinal ou condição. de um reflexo da convicção íntima de sua suscetibilidade. Trata-se de indivíduos no fundo desejosos de passar pela experiência hipnótica e sua atitude desafiante não passa. Esqueça-as. não quer e vice-versa. para que elas não se gravem no inconsciente e lá permaneça retroalimentando sua consciência para aborrecê-lo. Enquanto a vontade consciente se opõe à experiência hipnótica. não lhe dando tempo para usar a própria vontade.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 269 desagradáveis que são ditas a seu respeito. chegando a ponto de apostar. Não é difícil sistematizar uma conjectura plausível para analisar as possibilidades de uma indução. Muitos declaram “não estavam preparado para uma situação tão fulminante. a princípio. já está no transe. a possibilidade de resistir é mínima. “você deve jogar tais coisas fora”. A hipnotização contra a vontade do hipnotizável é tanto mais fácil quando se trata de pessoa anteriormente hipnotizada. Somos passíveis de sugestão o tempo todo. linguagem popular conhecido como conversa mole. embora depois de revelar-se inteiramente. mas se a sugestão não for boa e não for rebatida pelo nosso senso crítico. em meio a uma multidão. leréia (AURÉLIO. Convence. Este comportamento é evidente quando. porque quem dá a segunda oportunidade está. não demora muito e várias pessoas também tossem compulsivamente. neste caso. lero-lero. de má qualidade e de alto custo. e não sendo portador dos atributos desejados. dela não nos livramos. se o elemento de convicção apresentado for suficientemente forte. a cada vez que reaparece. mesmo sendo o produto. suas idéias são rejeitadas. sem motivo orgânico que justifique. se não for rápido e energicamente repelido.270 Antonio Almeida Carreiro. Ocorre também a sugestão. consegue convencer pela insistência. ser mais convincente. quando voltará o hipnotizador a insistir no seu firme propósito. conversa vazia. com todas essas “qualidades”. Sugestão hipnótica no cotidiano Em qualquer momento somos acessíveis à sugestão e para justificar esta afirmativa basta lembrar que somos inclinados ao comportamento imitativo. não dando tempo de a pessoa refletir sobre seu consentimento ou conseqüências disso. querendo acreditar. Esse processo de indução pode ocorrer de duas formas: Primeiramente. mentiroso. conversa fiada.Termo de linguagem popular que classifica pessoas que utilizam argumentação sem procedência ou sentido. por qualquer motivo que lhe interesse. fica no ar a dúvida permitindo uma segunda oportunidade. quando um comercial de televisão anuncia um alimento com deliciosa aparência e. aparece nos telespectadores vontade de comer. admitindo-se que isso não ocorreu porque os argumentos não foram claramente válidos. ou ainda. Dr. Tudo isso prova o quanto somos sugestionáveis e isso significa que se nos aprofundarmos em uma idéia estaremos a um passo da irresistível compulsão hipnótica. Assim acontece com o vendedor que insiste muito na venda. 129 . coitadinho ou sonhador. a ação será instantânea. A mente consciente possui o que denominamos “senso crítico” que é um filtro para que possamos ou não aceitar as variadas Conversa mole . Esses exemplos são possibilidades de induções hipnóticas que passam despercebidas no cotidiano da vida das pessoas. Novo dicionário da língua portuguesa). de repente. consciente ou inconscientemente. 129 geralmente ignorante e brincalhão. poderá convencer o “cliente”. oca. objeto da venda. Sc. mesmo assim. a tendência é. Mas. alguém começa a tossir. Conversa sem nenhum resultado prático. Buarque de Holanda Ferreira. mas hipnotizam mesmo sem saber como. os guardas. Não raramente a hipnose pode ser exercida sem o conhecimento do hipnotizado. de forma enganosa. demora a vida toda. as sugestões seguem diretamente para o inconsciente e. quando a mente consciente está relaxada. enquanto ele (detento) orava em voz baixa. Na ficha constava que o preso conseguira evadir-se engenhosamente de diversos estabelecimentos penais. suas mãos começarão a sentir tal peso. serrar a grade e fugir. sente-se o que não acontece. Neste caso. Quando este senso crítico é relaxado. a sugestão transforma-se em realidade. este. Algumas pessoas ignoram suas qualidades de hipnotizadores. objetos estranhos de toda ordem e mais os retratos dos guardas a serem ‘beneficiados’. com uma simbologia: velas de cabeça para baixo. Quando a mente consciente está relaxada. porque o inconsciente. Mas. o próprio detento confiou-me o segredo de sua técnica fugitiva. convencendo-os de que possuía uma reza secreta capaz de ‘endireitar-lhes’ a vida. Estes últimos. às vezes. e sugerir a si mesmo que sentirá as mãos pesadas como dois blocos de chumbo. entravam em transe. Bastava que eles (guardas) compartilhassem de sua fé e participassem com sua presença de uma reza. a consciência. assentados. Entre esses hipnotizadores podem ser encontrados até elementos analfabetos e ou desprovido de respeitabilidade social. permitindo assim ao preso subir à janela. Interrogado. literalmente aceita as sugestões. além da recomendação de fecharem os olhos e se concentrarem mentalmente. dispostos em semicírculo. portanto. Weissmann reforça essa posição descrevendo sua experiência: Lembro-me de um paciente. Sua mente consciente fará o julgamento e dirá que “minhas mãos não são dois blocos de chumbo. Angariava a confiança dos guardas da prisão. um recluso. apresentou-se em meu gabinete de psicologia. perdemos o poder de julgar e discernir. recebiam do detento uma colher de água com açúcar. não sinto tal peso”. poderá estar sempre convencendo. como também sem o conhecimento do próprio hipnotizador.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 271 sugestões diárias. Isto. que acompanhado de ficha antropológica bastante desfavorável. de fuzil em punho. até se tomar consciência da realidade. ou seja. Se você estiver relaxado. Se você estiver em estado normal. homem rústico e analfabeto. Passados poucos minutos. Na própria cela. através de uma realimentação constante. com seu senso crítico em pleno funcionamento. e acredita-se no absurdo. isto não acontecerá. vê-se o que não existe. assentados. o presidiário improvisava o altar. Quando os policiais . até que o senso crítico volte a atuar. sua técnica aplicada no fato narrado foi correta. coitado de mim. Quando Weissmann 130 perguntou ao preso a que ele atribuía o fato de os soldados terem dormido assim. perseguido pela família. mesmo sem motivo plausível. já estão envolvidas nas mais absurdas odisséias. não sei se digo. severamente injustiçado por tudo e por todos. revela-se. na fé e na expectativa. mesmo sem nunca ter ouvido sequer a palavra hipnotismo em sua vida. no entanto. Determinados indivíduos hipnotizam inconscientemente e até possuem perfis de comportamentos definidos que revelam seus métodos de indução. como psicólogo na Penitenciária de Neves. atingem a sensibilidade afetiva e o sentimento de proteção 130 Segundo sua autobiografia Weissmann foi hipnotista de palco e de gabinete.272 Antonio Almeida Carreiro. quando quer convencer alguém fica. e o sonhador. acordavam. Isso acontece através de um processo de indução cujo efeito se assemelha à hipnose. do A. pelo menos. na década de 40. Dr. não sei se choro. no Estado de Minas Gerais (N. Para isso primeiro se convence de suas elucubrações e. o (WEISSMANN). só Deus pode me ajudar. nem se dão. invariavelmente. É aquele que. ele respondeu: “É a minha reza que tem esse poder”. três tipos: o mentiroso. Por incrível que pareça. de fuzil na mão. podem ser observados. O coitadinho é o tipo que se caracteriza pela lamúria de vida. etc. ou desviada. Neste processo quando as pessoas se dão conta da realidade e.”. quando ouvem repetidamente suas mentiras. o coitadinho. Entre eles. O mentiroso engendra uma série de mentiras sobre fantásticas fantasias e apresenta como se fossem verdades. baseada na atenção concentrada. o preso aplicou nos guardas do presídio um engenhoso método de indução hipnótica. como sendo uma pessoa sempre muito frágil. ninguém me liga. uma vez convencido. Com isso.). fugitivo já estava longe da prisão Diz ainda Weissmann. diante dessa pessoa e sempre afirmando coisas como: “ninguém me quer. falsamente. Sc. mal compreendido ou mal amado. às vezes. O preso trazia a prece numa pequena bolsa de couro pendurada ao pescoço. E. será suficientemente convincente a ponto de envolver alguém de seu interesse em suas infundadas estórias. trabalhava. profundamente. . aceitam como verdades. geralmente com dificuldades insuperáveis. o máximo de tempo que pode. em síntese. meus sonhos são impossíveis. como diria Gindes. Geralmente revela-se. como religioso quando afirma que só Deus o ajudaria na solução dos seus problemas. algumas pessoas diante desse tipo podem perder o senso crítico. em situações que eles mesmos geralmente não acreditam. diz o Griffith Williams. isto é. 131 131 WILLIAMS. as matas e os animais que são freqüentemente evocados em suas argumentações como símbolos de pureza e inocência. embora tais situações não sejam denominadas hipnose. deixa-se ser usado até que ocorra se e quando ocorrer. ama a natureza e seus elementos. Consegue aniquilar o senso crítico do amigo. Nessa condição de proteger. O mundo fantástico e sem problema é seu abre-alas. É importante lembrar que nem sempre o mentiroso sabe que é mentiroso. ou sabe o que é hipnose. O tipo sonhador é o que menos lógica requer da pessoa com quem se relaciona. Nova York. Sobre estes estados espontâneos da hipnose. assim. Experimental Hypnosis. defende como verdade a utopia. Só nesta oportunidade é que poderá “acordar”. o restabelecimento do seu senso crítico. Muita gente pode ser hipnotizada sem saber. 1956. parentes e conhecidos. ser mentiroso. hipnoticamente. a terra. no entanto. não tem quem resista. se fazem acreditar pelas pessoas que podem. E o sonhador quase nunca acredita nos seus próprios sonhos. convenhamos. . as pessoas são literalmente convencidas por esses tipos de hipnotizadores a acreditarem. ou se rebate de logo ou será fatalmente induzido na sugestão. inconscientemente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 273 latente nos indivíduos e. suas investidas são terríveis. o mar. Com isso. arrependido. Convencido de que é aquele Deus que o amigo precisa. a indução hipnótica se perfaz rapidamente. verdadeiramente. Macmillan. o luar. estes desviam sua atenção da realidade para concentrar-se apenas na obstinada e hipnótica vontade de ajudar o “coitadinho” convencido de que é seu maior protetor. Mas. ao mesmo tempo. porque o rapport será facilmente estabelecido. se esse hipnotizador inconsciente consegue reunir “qualidades” que se somem como. coitadinho e ainda por cima sonhador. Leva o sonhador a “viajarem” consigo pessoas as quais consegue tirar da realidade para embarcarem nas suas irresistíveis fantasias. sem compreender como pôde ser usado de forma tão injustificável. assim como quem hipnotiza nem sempre sabe que utiliza um método hipnótico. Griffith. acreditar nos seus argumentos. através da hipótese do maravilhoso e do sonho. ed. o sol. dependendo da idade algumas ficaram em transe vários dias. Todos eles. Assim como o coitadinho nem sempre acredita que ele mesmo seja tão sofredor como se revela. neste caso. Pessoas entram em hipnose espontânea praticamente centenas de vezes. a repreende várias vezes. talvez leve. relaxados no volante.274 Antonio Almeida Carreiro. alguém diz repetidas vezes que “você só consegue fazer bobagens” e a pessoa que ouve aceita estas idéias.. H. vira a curva. como medo. Dr. e de repente percebem que já passaram por uma cidade. menos acerta. G. ed. quando se acha capaz de dirigir suas atitudes fluem automaticamente. New York. são seus procedimentos de motorista realizados inconscientemente. . o pai ou a mãe ou até mesmo uma incompetente professora. Quando essas idéias são aceitas. Sonhar acordado nada mais é do que um estado hipnótico. olhos presos na faixa branca da estrada. mas não se recordam de tê-lo feito. 1979. sem se dar conta de como está fazendo. Assim também acontece se alguém ouve de vizinhos. enfim. LeCRON. No entanto. quanto mais deseja. 132 133 ESTBROOKS. isto resultará em um terrível complexo de inferioridade. Hipynotism. faz tudo muito bem. raiva. durante a vida. não consegue definir bem o que fazer na seqüência dos procedimentos para pôr o veículo em movimento e. 2. Estbrooks 132 vai além e diz que: “é até provável que o estado de hipnose ocorra sempre que experimentamos uma forte emoção. Dutton. M. sobre isso diz: Quase todos os motoristas lembram-se de situações que estimulam a hipnose . Todo comportamento realizado mecanicamente é inconsciente. se uma criança não se adapta bem nos estudos e. 1943. Estiveram em hipnose. Rio de Janeiro. Também ocorre se. tal como na leitura de um livro. tendemos a entrar em transe (WILLIAMS). passa marchas. Quando alguém está aprendendo a dirigir um automóvel. em um filme ou um programa de televisão ou até mesmo no trabalho. o ruído monótono do motor. Sc. talvez profundo. Leslie M.viajando na estrada deserta. Quando nos concentramos bastante em alguma coisa. disto resultará o êxito certo. é possível que a criança aceite tais observações. amigos e parentes que ele é um indivíduo bom e agradável e que tem bom futuro. Record. experimentaram sintomas de amnésia e depois despertaram por conta própria (LeCRON). acredite nelas e então se torne incapaz de aprender com facilidade mesmo sendo inteligente. ou paixão”. alimentando com elas o seu inconsciente. Auto-hipnose. Ed. O processo hipnótico pode ser construído em um indivíduo desde a sua infância. LeCron 133 estende o estado de hipnose para as atividades comuns do cotidiano e. com comentários do tipo “você é incapaz de aprender”. é capaz de dirigir por longa distância sem se dar conta de como está fazendo isto. como exemplo. Roger Bernhardt 136 sintetiza essa questão fazendo-nos algumas perguntas cujas respostas para ele podem representar o fato ter ocorrido um transe hipnótico: 1. se encontrou perdido em pensamentos ou se esqueceu por um momento de onde estava ou mesmo não ouviu quando o chamaram pelo nome . se não for pela compulsão inconsciente? 135 Como se explica. mostrando assim que a hipnose é efetivamente um estado normal e bastante comum. porque durante o processo histórico de vida. ed. entre outras coisas. .). dependendo do nível de crença do supersticioso. do A. Porém. isto é desipnotizar 134 ou hipnotizar para retirar sugestões negativas instaladas no inconsciente. alguma vez.pode dizer que já esteve hipnotizado. sair do sono ou anular o seu efeito (N.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 275 alimentam o inconsciente e este realimentará de volta a consciência. Como explicar o comportamento supersticioso. ou de determinada cor. essas idéias foram alojadas em seu inconsciente e passam a determinar suas ações. do A. até se tornam realidade. essas sugestões podem ser novamente processadas. Significa acordar. Se você. acreditam. do grego an hypnotizó. Isto só se justifica. que gato preto provoca azar. em alguma ocasião. ouvia uma música. 135 134 Na psicanálise. Rio de Janeiro. Autodomínio através a auto-hipnose. 2. assistia a uma peça ou filme . não passam por baixo de escada. Bernhardt.você pode dizer que esteve hipnotizado. O inconsciente pode ser alcançando e convencido corretamente.). Estas situações. Na vida cotidiana ocorrem situações que reproduzem os mais engenhosos expedientes da hipnotização. mas que escapam ao âmbito da consciência e não podem ser lembrados por esforço da vontade consciente (N. de que até os mais céticos são portadores. já experimentou a sensação de se ter desligado de tudo enquanto lia um livro. Record. ou que pé de coelho provoca sorte. 136 ROGER. Algumas pessoas foram sugestionadas com idéias repetidas por longo tempo e disso resultam comportamentos inexplicáveis como alguns hábitos e superstições. ou como se justifica o fato de que muitas pessoas não vestem determinada roupa. O ato de desipnotizar é chamado de anipnotizar. Se você. 1978. compulsão inconsciente se refere ao conjunto dos processos e fatos psíquicos que atuam sobre a conduta do indivíduo. se apaixonou perdidamente. até fanáticos. as pessoas de alguma forma já passaram por estes processos espontâneos da hipnose. Hipnose na Mídia A hipnose pode ser observada também na propaganda através dos diferentes veículos de comunicação. utiliza platéia durante o comercial. isso pode até ser ridículo. porque exerce nos telespectadores o efeito da sugestão por comportamento imitativo. Visto assim. as empresas passaram a procurar novas linguagens de comunicação com seus clientes. característicos no comportamento de indivíduos bastante sugestionados. surge o conceito de marketing. agindo de forma consciente ou inconsciente na vida das pessoas. O fato é que esses mecanismos hipnóticos podem afastar das ações humanas a autocrítica. o transe hipnótico é um fenômeno muito normal.então. inconscientemente. sem saber por que estão também correndo. Além disso. um sistema destinado a promover e distribuir produtos e serviços para compradores atuais e futuros. A mídia. Se você. várias outras farão o mesmo. Uma agência publicitária apresenta produtos na tevê e. Dr. 137 Na década de 1950. mas funciona. se algumas pessoas correm sem motivo em uma direção. em algum momento. através de mecanismos sutis de sugestão. Sendo um processo natural. pode colocar grande contingente humano em situações próxima ao transe hipnótico. você já esteve hipnotizado. 3. conhecendo seus mecanismos estará protegida para não sofrer induções hipnóticas que não sejam plenamente desejadas. O processo hipnótico pode ocorrer na mídia como estratégias de marketing. a primeira até então líder de mercado. estabelecendo preferências de consumo ou implantando ideologias. A platéia. 137 induzindo a moda. Os efeitos hipnóticos podem se revelar como atos coletivos compulsivos e. em seus mais ínfimos detalhes.276 Antonio Almeida Carreiro. Equivale a dizer que.pode dizer que já esteve hipnotizado. permanecendo cego aos desejos de outra pessoa a ponto de não dar ouvido a mais ninguém . do A. se sentiu como que transportado durante suas orações . após a apresentação aplaude efusivamente o apresentador. em alguma ocasião. não tem justificativa para sustentar a apreensão ou o medo de ser hipnotizado ou de utilizar a auto-hipnose em seu próprio benefício. . às vezes. Com a disputa entre as marcas de Coca-Cola e Pepsi. 4.). Se você. As pessoas se decidiam pela compra de uma marca estimulada por truques de marketing (N. Sc. para o convencimento de seus consumidores. Através da publicidade é criado o homem da moda. a resposta convicta será. tudo tem a sua própria moda e. quando lhes é formulada a próxima pergunta bem que poderiam dizer “sim”. pode até falar ou concordar com absurdos. mas assim estará quebrada a resistência dos mais suscetíveis. mesmo sem ver nada. tanto para quem pergunta como para quem é perguntado. “Cristóvão Colombo”. elas são bombardeadas com perguntas do tipo: Você está satisfeito com o que tem? Você tem tudo que precisa para viver bem? Você quer passar a vida toda trabalhando? Obviamente a resposta será não. a dominação social utiliza à mídia de forma indiscriminada. Por terem sido induzidos através de verdades a dizerem “não”. como se não tivessem sido decididos por mentes de dominadores. pode surgir um calombo ou um colombo?” Não importa a resposta. o seu senso crítico. várias outras pessoas vão imitá-la sem saber por que. com freqüência. Interesses particulares são transmitidos como se fossem acontecimentos naturais. “se você for picado no braço por um inseto. Um dos maiores êxitos da classe dominante consiste em conquistar adeptos entre suas próprias vítimas através da propaganda. compelidas pela propaganda a mudarem sua própria forma de apresentação pública. Como exemplo disso pergunta-se a alguém. Manifesta como se fossem de interesse geral seus próprios interesses. Essas atitudes e comportamentos passam a ser planejados e executados por uma grande maioria que agem. a mulher da moda. ato continuo pergunte.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 277 Assim também é quando alguém fica no meio da rua olhando para cima. mas perdem o senso crítico e afirmam “não”. o nome da moda. destruindo o que a população deveria possuir de melhor. Através de palavras uma pessoa pode ser induzida a erros. as pessoas são. impedindo os grupos subalternos de visualizarem sua real situação e de exprimirem suas próprias aspirações. diante dos olhos das pessoas que os . sendo estes facilmente induzidos para aceitarem a próxima idéia que é falsa ou pelo menos duvidosa. porém é um sofisma. Para colocar em prática seus objetivos. Para evitar o senso crítico das pessoas e convencê-las a desempenharem tarefas difíceis e injustificadas. A propaganda transforma o nosso corpo em um receptor de consumo para os mais variados produtos. sejam as próprias formas do corpo. seja para melhorar o cabelo. “quem descobriu o Brasil?” Mais de 80% incidem em erro. Outra forma de sugestão é através do convencimento com o uso de sofismas. o tipo de roupa. ou para o quê estão olhando. em função disso. ). além do limite da atenção consciente ou da memória. atua para alcançar um efeito desejado (N. inconscientemente. Tudo isso só acontece se as pessoas acreditarem ou aceitarem como verdade o que lhes foi sugerido. Na propaganda. ingerindo medicamentos em bases sugestivas e efetivando aquisições de objetos supérfluos. sobretudo. tudo de acordo com as novelas e as reportagens que assistem. Dr. Como afirma Mc Luhan “os anúncios não são endereçados ao consumo consciente.define um estímulo aos órgãos dos sentidos que não é suficientemente claro para que o indivíduo fique consciente de sua existência. 138 a mídia determina atos sociais coletivos. A propaganda permanece adormecida num estado subliminar. De acordo com as sugestões da propaganda.278 Antonio Almeida Carreiro. As rápidas intuições que geram decisões de consumo são frutos da propaganda subliminar. mas aceitar ou acreditar pode ser resultado de um processo sugestivo induzido. Sc. Diante da televisão até os sentimentos das pessoas mudam. do A. vêem ou que desejariam que os vissem. sendo exatamente esses estímulos que produzem os efeitos hipnóticos. como se fossem atores representando papéis ditados pela propaganda. ora complacentes. na expressão do corpo. as ações populares passam a corresponder aos componentes objetivos da indução. passam a ser ora agressivos. Neste sentido. Capazes de criar no ânimo dos consumidores um desejo irresistível e às vezes inconsciente de adquirir determinados produtos. e esse tipo de publicidade foi reconhecido no início como Subliminar . isto é. portanto hipnótico. os conceitos subliminar e hipnótico são coincidentes. São como pílulas para o inconsciente. O exemplo mais convincente da eficácia do poder da sugestão é o hipnotismo de marketing dos modernos processos publicitários. Estas mensagens que pouco a pouco levam à adesão constituem a Propaganda Subliminar através da Multimídia. nas formas de vestirem-se. com a finalidade de exercer um feitiço hipnótico”. que passam a ser materializado nas pessoas. afirma Weissmann: Já existem sistemas de publicidade. mas. A Propaganda Subliminar surge na década de 50 nos Estados Unidos. pelas preferências de marcas de bens de consumo. 138 . a chamada publicidade indireta. conforme as mensagens publicitárias que desencadeiam atitudes inconscientes. ambos baseados em estímulos abaixo do limiar da consciência. De forma subliminar. deixando-os num estado que se avizinha bastante da hipnose (WEISSMANN). em 1963. quando Jim Vicary incluiu mensagens por frações de segundos. A. descrevendo melhor o processo que aconteceu na cidade de Nova Jersey: Jim VICARY instalou em um cinema de Nova Jersey um segundo projetor especial. insinuado o consumo de produtos sem que os espectadores percebessem conscientemente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 279 Hipnotismo Comercial. As autoridades da Comissão Federal de Comunicações do Governo de Washington foram alertadas para evitar possíveis abusos dessa inovação. a descrição da tal técnica e o responsável pelo seu desenvolvimento.7% e da pipoca de 18. Tratava-se de uma nova entidade publicitária chamada Subliminal Projection Company Inc. Só. como. o taquicoscópio. Weissmann. cuja projeção era ao ritmo de 24 fotogramas por segundo. em 1956. O livro de Packard não tinha a preocupação de relatar com exatidão ou de pesquisar com rigor científico. Brown. Apenas descreve superficialmente os efeitos subliminares experimentados em um cinema de Nova Jersey. Técnicas de persuasão: da propaganda à lavagem cerebral. mas faltavam maiores dados. ou melhor. a qual. fora colocado ao lado do projetor do filme. por exemplo. Uma matéria publicada no Jornal Sunday Times de Londres. Packard desencadeou a polêmica em torno do tema. vem acrescentar novos dados sobre esse histórico experimento.10% (BROWN). professor de jornalismo em New Canaan. que utilizava uma engenhosa projeção inconsciente que consiste na apresentação de frases-relâmpago. o partido que um Hitler ou um Stalin poderiam tirar de tal invenção. não lançasse sua obra The Hidden Persuaders. o qual projetava intermitentemente na tela frases como “Beba Coca-Cola” ou “Coma Pipoca”. pela sua própria natureza tem de ser sugestiva (WEISSMANN). Com este experimento observou-se que houve o aumento da venda da Coca-Cola em 57. tal como faz o hipnotizador. comentando o assunto e desencadeando interesse por esse tipo de propaganda. é comparado a um tipo de projetor de slides que projeta um único slide na velocidade 1/3000 de segundo. desse aperfeiçoamento da velha técnica publicitária. nos Estados Unidos. durante várias sessões do filme Férias de Amor. de J. e ficava repetindo a imagem sobreposta ao . referindo-se à propaganda subliminar. outro livro. C. Embora a mensagem seja imperceptível à visão consciente dirige-se ao inconsciente. sob o título Sales Through the Subconscions . acrescenta o comentário: Assusta pensar. No cinema. Um segundo projetor utilizado por Jim Vicary. em 1956.Invisible Advertisement passaria despercebida se Vance Packard.. 139 COSTA. a cada cinco segundos. à semelhança de sugestão pós-hipnótica. R.. igualmente. Alice no país subliminar. O metrô é subliminar. Com isso. na sua sedução. etc. deve-se. ante um anúncio publicitário ou ante qualquer imagem suspeita de apresentar no seu conteúdo mensagens subliminares. a diagramação. Na programação visual subliminar pode-se orquestrar uma campanha publicitária abrangendo todas as formas de comunicação visual com efeitos subliminares planejados. veiculando a mesma mensagem em diversas mídias: cinema. Tudo que é visto. que os conteúdos destas mensagens podem variar desde a manipulação na venda de produtos. Dr. revista. são subliminares no seu efeito.280 Antonio Almeida Carreiro. Os shopping centers são subliminares. para dar a ilusão de movimento. As mídias são subliminares. quadrinhos. filme. a projeção subliminar visual em velocidade taquicoscópica é uma forma de propaganda invisível que pode ser empregada no cinema e na televisão. no seu apelo. Folha de São Paulo. citam como exemplo a ordenação dos textos.. . mesmo depois de perceber que pesa. Para ele. 9/10/84. placas de lojas. Costa 139 afirma que todo discurso gráfico é subliminar. do hamburguer à roupa do cozinheiro. Esta técnica pode ser muito mais fácil de produzir com as novas tecnologias. toda a produção gráfica e editoração criam a imagem da empresa. escolha da família das letras. em suma. se utilizada em gravações de comercias para tevê através de mídias eletrônicas como CD. jornal. a identidade visual táctil do veículo. Wilson Bryan Key pesquisou as bases fisiológicas para a compreensão dos fenômenos e processos subliminares. Ele explica que os cursos de leitura dinâmica baseiam-se na recepção de mensagens sem o crivo crítico da consciência. cor de tinta. As lanchonetes modernas todas paginadas. como exemplo. Sc. outdoors. Evidencia-se. tipo de papel. para emagrecer ou parar de fumar. videogame ou softwares de computador. na obra Subliminal Seduction. as palavras eram projetadas tão depressa que a mente consciente não as podia perceber. televisão. até o uso clínico. que é difícil de digerir? (COSTA). Assim. Mauro S. Por que você sempre volta ao McDonald’s. Wilson Bryan Key foi quem melhor desenvolveu um método para detectar mensagens dentro da mensagem principal. Pode ainda ser adaptada em programas de computador ou outras formas de recursos similares. ouvido ou sentido sem a crítica da consciência é armazenado no inconsciente e lá permanece de forma subliminar. Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 281 primeiramente, tentar relaxar ao máximo, para então deixar o olho percorrer lentamente, sem destino e sem focar nenhuma área de interesse específica, toda a imagem, diversas vezes, observando cada linha, sombra ou canto. Sugere que uma segunda leitura deve ser crítica e checar cada mínimo detalhe da imagem, cada cenário, cada borrão ou sombra ou reflexo em vidros, dobras de tecidos, nuvens no céu, manchas em paredes e todo o padrão pode parecer de forma confusa, irregular e caótica, cuja desordem aparente serve de camuflagem e disfarce para uma imagem subliminar. É nessa segunda leitura que se presta o máximo de atenção a tudo que possa parecer sem importância. Segundo Key, o anúncio publicitário é desenhado para ser lido em um ou dois segundos, pois ninguém compra uma revista e lê todos os anúncios. As pessoas folheiam revistas e pulam os anúncios, no máximo lendo de relance os títulos. O mesmo se passa com os cartazes e outdoors; são planejados e diagramados para uma leitura instantânea, os detalhes de fundo dos desenhos ou fotos nem são olhados, sendo os fundos subliminares captados pela visão periférica, o canto do olho. Logo, uma boa quantidade de informação entra pela visão periférica, percebida e registrada num golpe de vista de um segundo. Para Key, o efeito subliminar não começa em um ponto estatístico invariável para qualquer receptor da mensagem; pelo contrário, a percepção de subliminares pode mesmo ser consciente, dependendo do grau de destreza do público. Os limites de percepção consciente variam de pessoa para pessoa, variam também de acordo com o sexo, a idade, o grau de instrução e o nível cultural. Todas essas variáveis são condicionantes subliminares; precisam ser levadas em consideração ao se confeccionar as mensagens subliminares. Em seu livro, Key apresenta fotografias contendo os subliminares embutidos e, para fundamentar, remonta até a arte grega. Conta que foi no século XVI que o italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) desenvolveu uma técnica sistematizada, denominada efeito Arcimboldo, que consistia em combinar elementos diversos para formar a imagem da face dos aristocratas da época. Arcimboldo desenvolveu uma linguagem visual própria onde conchas representam orelhas; um joelho curvado forma um nariz. Foi ele quem apurou a incrível técnica de implantar mensagens dentro de mensagens. Visto de longe ou de relance, um retrato é um rosto comum; visto de perto ou detalhadamente com a atenção concentrada, apresenta-se como um discurso visual subliminar de 282 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. alta complexidade. Key explica uma forma de imagem embutida, abordando as anamorfoses: Anamorfose é uma técnica de distorção de imagens visuais percebidas apenas no nível inconsciente. Pode ser definida como uma imagem intencionalmente deformada ou produzida por um método que a torne irreconhecível, a não ser que seja vista de certo ângulo ou com um dispositivo ou condição do observador que a reconstitua: Holbein retratou Jean de Dienteville, embaixador da França, e seu amigo, o bispo Georges de Selve. Os dois nobres são retratados cercados de objetos, artefatos de comércio, ciência e arte, arrogantes aparentam poder. Contudo, observado por quem entra pela direita no salão de baile onde o quadro é exposto, em um ângulo de 5 a 10 graus, surge o vislumbre de uma caveira humana, “subliminar” (KEY). Tanto quanto os recursos visuais, a tecnologia subliminar recorre também aos sonoros e é possível ser aplicada em processos de aprendizagem. Por exemplo, o aparelho que ensina as pessoas quando estão dormindo, pois a lição é gravada e um fone toca subliminarmente sob o travesseiro. A engenharia de emoções tem o objetivo de alterar o comportamento sem a consciência do receptor, que é manipulado subliminarmente por sons, cores e imagens. A pessoa é manipulada inconscientemente, recebendo a mensagem pela visão e pelo ouvido, atingindo o inconsciente para estabelecer uma sugestão de efeito pós-hipnótico. O efeito da música e todos os seus elementos, sons, ritmos, melodias e harmonias, se tornam aliadas no processo de indução ao transe. A melodia, por sua vez, está ligada à efetividade, podendo levar o ouvinte a estado de alegria, relaxamento, nostalgia etc. As utilizações dos mantras, sons vocalizados por hidus, budistas e yogues, por ser repetitivos e monótonos podem exercer um poderoso efeito hipnótico. As cores têm efeitos subliminares psicossomáticos, elas entram pelos olhos, pela consciência e, sem serem percebidas, alcança regiões subliminares onde funcionam hipnoticamente, cada uma gerando uma emoção diferente; conseqüentemente, o emprego errado de cores ou sua má articulação com áudio, vídeo, olfato, tato ou paladar pode anular completamente os resultados de uma orquestração subliminar multimídia. A cor tem seu significado; mesmo que não seja consciente, pode induzir a escolha de uma embalagem na prateleira de um supermercado, pode levar o Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 283 empregado a trabalhar mais tranqüilamente, pode curar a pressão arterial ou ser relaxante. Segundo Roth, 140 o organismo psíquico é sensível às vibrações das cores. O vermelho estimula a iniciativa; o azul celeste acalma o ímpeto; o roxo cura; o verde agrada porque desperta paz e harmonia; o alaranjado ilumina o pensamento e favorece a criatividade; o amarelo penetra dando convicção sobre determinada idéia; o cinzento amortece as iniciativas; o violeta elimina vontades, o castanho repousa e descansa eliminando o estresse; o cor-de-rosa desenvolve sensações de paz. Uma imagem onde aparecem cores básicas se sobrepondo em degradê desperta atenção, curiosidade e concentração na mensagem subseqüente e, isto já é usado em mídias visuais. O merchandising, 141 também, é subliminar. O termo assume vários significados dentro das diferentes áreas do marketing, da propaganda e da publicidade. De uma maneira geral, o conceito é aplicado de acordo com os profissionais que o manipulam. Na verdade, esta técnica de se veicular um produto ou serviço embutido em outra mensagem, ou seja, mensagem dentro da mensagem, rotulada de merchandising já é antiga; segundo o publicitário Jorge ABID, apareceu nos anos 20, quando o governo americano teve uma super safra de espinafre e, criando o Popeye, acelerou o consumo entre crianças. Para Flávio Calazans, com as quantias absurdas gastas com o merchandising, começaram a surgir mega contratos para filmes, já que contavam com todo o custo operacional pago por multinacionais, surgindo também os primeiros investimentos nas novelas, ampliando as áreas de sua extensão e alcance. Incluía-se determinado produto no meio das novelas, sendo “naturalmente” usado pelas personagens. São tantos produtos que são lançados nas novelas, Ernest ROTH. Métodos para hipnotizar In: As cores do hipnotismo, Rio de Janeiro, Tecnoprit, 1968) O conceito de merchandising é diferenciado entre autores: A) Convencionou-se chamar de merchandising em propaganda a aparição dos produtos no vídeo, no áudio ou nos artigos impressos, em situação normal de consumo, sem declaração ostensiva da marca (TAHARA, Mizuho. Contato imediato com a mídia). B) Nova modalidade de comercialização de espaços sem o rótulo da propaganda. Batizouse a idéia como Merchandising (SIMÕES, Roberto. O que é merchandising? Revista Marketing). C) Compreende um conjunto de operações táticas efetuadas no ponto de venda, para se colocar no mercado o produto ou serviço certo, na quantidade certa, no preço certo, no tempo certo, com impacto visual adequado e na exposição correta. É basicamente o cenário do produto no ponto de venda (COBRA, Marcos. Administração de marketing). 141 140 284 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. através do recurso do merchandising, que viram moda e se difundem numa sociedade voltada para a mídia, provando a massificação dos meios de comunicação e, cada vez mais, a utilização da propaganda indireta. Todos possuem um sistema de defesa, mas o merchandising consegue burlá-lo: por exemplo, quando os intervalos comerciais começam, imediatamente o nosso sistema de defesa é acionado, mas é quando recomeça o programa ou novela que os telespectadores estão vulneráveis, e não percebem que estão sendo atacados pelo merchandising. Para o autor, os bombardeios diários de outdoors, anúncios de rádio, televisão, cartazes e tantos outros tipos de mídia, contribuem para seduzir e formar uma consciência alienante a respeito do produto anunciado. Embora os anúncios subliminares sejam antiéticos, não há lei explicitando ser uma tecnologia ilícita quando aplicada com fins comerciais, eleitorais ou religiosos. Porém, o que se sabe a respeito do efeito subliminar é o suficiente para se intimidar, para se temer e se prevenir por ser este recurso voltado para o direcionamento do consumo de determinado produto ou ideologia, contribuindo para que, cada vez mais, o consumidor haja pelo inconsciente na sua tomada de decisões. A modernização cada vez mais sofisticada da tecnologia de persuasão, na segunda metade do século XX, mudou as antigas regras da propaganda. À medida que a indústria de publicidade e relações públicas torna-se cada vez mais habilidosa em manipular a opinião, as crenças, as posturas e os sistemas de valores, torna-se necessário que se conheçam esses processos para destes defenderse. A manipulação da percepção não pode ser alcançada se for reconhecida. No momento em que pessoas aceitam como verdade uma informação externa sem o crivo do consciente, elas tornam-se vulneráveis, manipuláveis e eminentemente exploradas. Elas deixam de agir como indivíduos autônomos, criativos e pensantes. Quando a mídia, o marketing e a religião se associam e usam como instrumento alguns expedientes hipnóticos para focalizar suas metas, atingem mais seguramente seus objetivos. Podem, neste caso, formar opinião e ditar costumes, modelando de forma alienada e, por vezes, contraditória grande contingente humano. Hipnose no Direito A medicina e a religião não foram os únicos campos onde se discutiram o alcance dos fenômenos hipnóticos, o hipnotismo se apresentou sob aspectos que também interessavam às Faculdades de Direito. Numerosos foram os sábios que se dedicaram à hipnose Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 285 forense e tomando partido pró ou contra os fenômenos hipnóticos envolvendo questões da psicologia jurídica destam-se: Liégeois, de Nancy; Delboeuf, de Liéfe; Raoul e Emele Young, de Genebra; Ochorowics, de Lamberg; Focachon, de Charmes (Moselle); Cesare Lombroso, de Turim na Itália. Em Paris: Paul e Pierre Janet, Victor Meunier, Peirre Veron, Feré, o Padre de Meissas, o coronel de Rochas, Mas, nesta área, quem mais se destacou foi August Henri Forel (1848 – 1931). 142 Forel, em 1866, foi estudar medicina na Universidade de Zurique e atraído pelos cursos e estudos clínicos sobre psiquiatria, devotou-se também ao estudo da psicologia, sem deixar de lado o estudo das ciências naturais. O seu interesse pela psicologia e sociologia, aliado a psiquiatria e ao direito, conduziram-lhe a efetuar na Suíça inúmeras reformas, não somente psiquiátricas, mas também contribuiu para mudanças importantes no código penal suíço. A pesquisa sobre a hipnose fascinou-o também e escreveu muito sobre esse assunto, tornando-se autoridade no que veio a ser conhecido mais tarde como hipnose forense. Fundou o Jornal de Hipnose de Zeitschrif e, em 1902, o nome mudou para Jornal de Neurologia e Psicologia e, em 1954, foi rebatizado como Jornal da Pesquisa Cerebral. Sua última publicação ocorreu em 1998. A possibilidade teórica de um crime ser cometido por sugestão hipnótica foi estudada exaustivamente por August Forel. Após pesquisar sobre a possibilidade de um indivíduo cometer um crime devido a sugestões durante sessões de hipnose, Forel chegou à Forel nasceu na cidade de Morges na costa do Lago Genebra na Suíça. Em 1879 foi nomeado professor de psiquiatria na Universidade Médica de Zurique bem como diretor do importante Asilo Cantonal Burghölzli em Zurique. Foi o primeiro a conseguir amostras cerebrais da espécie humana. Seus estudos sobre regiões particulares do cérebro tornaram-no um mestre do desenvolvimento da anatomia microscópica do sistema nervoso. Em 1875 fez a primeira secção completa de todo o cérebro e formulou o conceito das unidades celulares e funcionais (denominada mais tarde de Teoria do Neurônio); realizou estudos notáveis sobre a topografia dos nervos trigeminal, pneumogástrico e hipoglossal e deu uma descrição precisa do hipotálamo – nos dias atuais, o núcleo do hipotálamo é chamado de Campo de Forel ou Corpo de Forel em sua homenagem. Em 1877 descreveu diversas estruturas ainda desconhecidas do cérebro, chegando a descobrir, em 1885, a origem do nervo acústico no cérebro. Sua vida foi impressionante; fundou pelo menos vinte instituições, fez inúmeras pesquisas, bem como invenções em diferentes campos, autor de mais de 1.200 publicações científicas, livros e artigos em jornais em quase todos os assuntos imagináveis. Em 1912, Forel sofreu um acidente vascular cerebral tendo por resultado a hemiplegia do lado direito e corajosamente superou; aos 64 anos de idade aprendeu a escrever com sua mão esquerda e permaneceu ativo até sua morte em 27 de julho de 1931, aos 83 anos. 142 286 Antonio Almeida Carreiro, Dr. Sc. conclusão de que pessoas normais podem sempre resistir a sugestões criminais; mas por outro lado, pessoas eticamente fracas, psicopaticamente inferiores, infantis, faltando o contrapeso e a resistência moral, podem ser induzidas a cometer crimes reais através da sugestão hipnótica. Forel publicou, em 1889, um artigo sobre a importância forense do hipnotismo e, em 1907, publicou um livro detalhando seu entendimento sobre terapia em casos psiquiátricos com o uso da hipnose, envolvendo ainda análises da conduta criminosa, psicológica e psiquiátrica do marginal social. 143 Ao relatar a hipótese de que, teoricamente, o crime hipnótico pode ser viável se, pelo menos, preexistir no hipnotizado uma predisposição latente para o ato criminal sugerido, recebeu comentários e críticas de Freud que, elaborando uma resenha 144 na qual conclui: Como sabemos, até o momento, os “crimes sugeridos” são simplesmente uma possibilidade para a qual os juristas estão se preparando, e que os romancistas podem prever como “não tão improváveis que não possam acontecer algum dia”. De fato, em laboratório, não é difícil induzir um bom sonâmbulo a cometer um crime imaginário. Mas, depois das perspicazes críticas de Delboeuf aos experimentos de Liégeois, deve permanecer em aberto a questão de até que ponto a consciência de se tratar apenas de uma experiência facilita à pessoa hipnotizada a execução do crime (FREUD). Experiências feitas com o fim de averiguar a possibilidade de indução ao crime, não se validaram em virtude de seu próprio caráter experimental, como exemplo de um hipnotizado que recebe do hipnotista um copo contendo ácido com a devida explicação sobre seus efeitos. Em seguida recebe a ordem de atirar o ácido ao rosto de alguém e, sem hesitar, obedece. Acontece que o rosto da “vítima” está protegido, conforme seria de esperar, por uma parede de vidro a qual não é possível de ser percebida por estar o hipnotizado portando vendas nos olhos. Pode ainda ser analisado um segundo exemplo; um hipnotizado é armado de um punhal para investir contra a pessoa do próprio hipnotista e investe, mas o punhal é de borracha, embora o hipnotizado não tenha sido avisado. 143 FOREL, August. Hypnotism and Psychotherapy [Reprin]. Allied Books, (1907) 1988. 144 Extraído do Volume I da edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund freud. Resenha de hipnotismo, de August Forel. In: Textos escolhidos de psicanálise de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Ed. Imago Ltda. 27 44, 1969. Talbott et al. Isto levou à prisão e condenação dos seqüestradores. 145 acrescentando que para a realização do crime induzido seria bastante a predisposição inata do indivíduo para o comportamento criminal. inconscientemente. Estudo sobre o Hipnotismo. relata a possibilidade de um sonâmbulo realizar um crime. as Posições da Lua e os Acessos das Alienações Mentais. trabalhos recebidos com muitas reservas pelos cientistas. pode-se supor que nas experiências os hipnotizados tenham agido de boa fé. Suas Causas e Soluções (N. a hipnose se volta para o campo da investigação. Acreditava que o meio social. 1986. Porto Alegre. De fato. representado por alguém que acredita em suas falsas Lombroso (1835-1909) Nascido em Verona. foi diretor do hospício provincial de Pesaro (1871). do A. envolvendo o motorista de um ônibus escolar seqüestrado em Chowchilla. na Califórnia. notícias quanto à aplicação da hipnose neste campo têm ocorrido com resultados espetaculares. seria preciso reconstituí-las em bases reais. no ensaio. (1899) O crime. seja por. Para que tais experiências se revestissem de validez.). no ano seguinte Relações entre a Idade. sem nenhum aparato protetor. Em 1882. In: Tratado de Psiquiatria. Apesar de forte oposição. cinco anos depois ensinava medicina legal e higiene pública na Universidade de Turim. Em 1864. seja pela extrema confiança no hipnotista. intimamente convencidos do caráter inofensivo dos atos sugeridos. David. aliado às influências astrais. que uma testemunha hipnotizada forjará material e se tornará o que foi chamado de um mentiroso honesto. Artes médicas.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 287 Nos dois casos citados. onde foi também professor de psiquiatria e clínica psiquiátrica. perceber a proteção que invalida a ação agressiva. escreve Ações dos Astros e dos Cometas sobre a Mente Humana e. suas idéias relacionam certas características físicas à psicopatologia criminal ou a tendência inata de indivíduos para o crime. publicou o livro Gênio e Loucura. preparasse para a ação criminosa indivíduos cuja natureza fosse anti-social. 146 145 . 687-690. Ed. A esta conclusão também chegou Cesare Lombroso. Spiegel 146 aponta duas delas: Duas acusações são feitas à técnica: uma é a de confabulação. Entre seus livros mais famosos estão: (1876) O Homem Criminoso. Saindo da expectativa de explicar a ação do criminoso. em alguns casos com o propósito de refrescar lembranças de testemunhas e vítimas de crimes. Hipnose. Org. Não obstante bons resultados em procedimentos investigativos de crimes. tem havido sérias críticas ao uso de hipnose com testemunhas e vítimas. como no caso conhecido nos tribunais americano “o Povo verso Schoenfeld. o motorista foi capaz de dar o retrato falado perfeito do bandido e lembrar os números e letras da placa do carro que interceptou o ônibus. Itália. Em 1867. SPIEGEL. Sob hipnose e não antes. 1980”. 1982”. nesse caso a condenação de um estuprador foi da mesma forma derrubada. Seu depoimento melhorou dramaticamente. Neste caso. Outro processo citado é o de “o Povo verso Guerra. verso Corte Suprema. Spiegel afirma que os tribunais têm sido uniformemente relutantes em admitir o testemunho de uma pessoa hipnotizada durante um julgamento. No entanto. 1983) e Nova Jersey (o Povo verso Hurd. A literatura legal tem fornecido exemplos de casos processuais nos quais ocorreu o uso da hipnose. 1984”. a Suprema Corte da Califórnia deixou em aberto a possibilidade de que pudesse ser mantido o testemunho de uma vítima. entre . Sc. cuja memória dos detalhes de uma agressão sexual questionável foi obscurecida devido a ela ter ingerido uma quantidade substancial de álcool. recentemente. será mais convincente para um júri do que poderia ser (ORNE.288 Antonio Almeida Carreiro. a acusação foi derrubada pela Suprema Corte de Justiça do Estado da Califórnia. 1979 e DIAMOND. emergirá dele com uma convicção aumentada de que suas memórias são corretas e. O tipo de situação na qual a hipnose tem maior probabilidade de valer é aquela na qual há uma amnésia traumática para os eventos de um crime. que determinou que qualquer testemunha ou vítima que fosse hipnotizada para depor sobre os fatos de um crime não poderia testemunhar subseqüentemente ao processo hipnótico. 1982) recuou de sua posição extrema e adotou um padrão mantido em Nova York (o Povo verso Hugher. tendo passado pelo processo de hipnose. cuja história não mudou apesar de um interrogatório sob hipnose. foi hipnotizada por um membro da equipe da acusação na noite anterior ao seu testemunho. Relata ainda que. uma mulher. declarações por desejo de agradar ao hipnotizador ou simplesmente como resultado de estar no próprio estado hipnótico não racional. Dr. Referindo-se aos processos judiciais americanos. A outra é a de concreção. portanto. Entretanto. os tribunais também começaram a excluir testemunhos de pessoas que foram antes hipnotizadas para depois depor sobre os fatos acontecidos. 1980). o indivíduo. 1980 apud SPIEGEL 1986). uma vez que detalhes críticos relativos à natureza do ataque foram fornecidos pela testemunha apenas durante uma sessão de hipnose na qual foi aplicada pressão considerável para que ela recordasse ter sido penetrada pelo agressor. neste caso. como no processo “o Povo verso Shirley. A Suprema Corte de Justiça do Estado do Arizona (Estado verso Collins. que mesmo que novas informações não sejam forjadas. o uso da hipnose criou um problema mais de admissibilidade do que de peso dado ao próprio testemunho. A comissão recomendou que fossem seguidas orientações semelhantes àquelas delineadas na legislação do Estado da Califórnia. Também contribui o silêncio nas sessões de julgamento. juizes . A legislatura da Califórnia (1985) fez passar uma lei sustentando o uso da hipnose com testemunhas desde que certas orientações fossem seguidas. A recomendação é de que a hipnose não deve ser usada como substituição ao trabalho policial de rotina. apresenta o papel do advogado e do promotor de justiça no convencimento dos jurados através de argumentações.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 289 outros estados americanos. No Brasil a hipnose pode ocorrer durante os processos judiciais de forma subjetiva. além da vestimenta dos advogados. que os tribunais devem pesar os efeitos de qualquer cerimonial hipnótico sobre uma testemunha. principalmente em Tribunais do Júri Popular que. resultando em novas memórias. ajudar uma testemunha traumatizada e amnésica a recordar detalhes. alguns estudos demonstraram um aumento na confiança atribuída por indivíduos hipnotizados e suas memórias. quando a hipnose for utilizada em um processo legal. em certos casos. Tribunais do Júri julgam como culpados ou inocentes os acusados de crimes contra a vida humana na forma dolosa. Ao mesmo tempo. constituída para apresentar parecer sobre o uso da hipnose em processos judiciais. A longa duração da fala da defesa e da acusação representa bem a técnica hipnótica da monotonia. durante e após as sessões de hipnose. Uma comissão de especialistas americanos. Além disso. diz ainda Spiegel: Certamente é evidente que a hipnose não é o soro da verdade e. apresentou relatório concluindo que as evidências existentes indicam que o uso da hipnose tende a aumentar a produtividade da testemunha. a hipnose pode. em seu rito. não acessíveis através de métodos convencionais de interrogatório (SPIEGEL). uma vez convencidos pelas argumentações. Jurados são os Juizes de Fato e. A esse respeito. Estas orientações incluem o acompanhamento de um profissional especializado como consultor em hipnose. documentação cuidadosa da memória da testemunha antes da hipnose. votam pela condenação ou absolvição dos réus. a forma solene em que transcorrem. após examinar a questão. que é admitir que tais testemunhas possam depor sobre suas lembranças pré-hipnose dos acontecimentos. assim como a réplica e a tréplica do argumento representa a técnica hipnótica da repetição. registro eletrônico de todas as interações antes. promotores. Ao longo da sessão de um julgamento que às vezes duram dias. na maioria das vezes. e serventuários da justiça. conhecendo ou não as técnicas hipnóticas. . Dr. Sc. todos de beca e paramentados. Talvez se deva a esse fato quando o veredicto é absolutamente contrário às provas produzidas na fase de instrução do processo. se beneficiar da própria atmosfera dos tribunais para “convencer” melhor o corpo do júri com as suas argumentações que. são muito mais emotivas do que lógicas ou técnicas. já estão hipnotizados pelas palavras monótonas e repetitivas dos oradores. quando não todos. Assim. cria no ambiente o clima de atenção concentrada. pode a defesa ou a acusação. alguns dos sete jurados.290 Antonio Almeida Carreiro. se sua dúvida ou necessidade é satisfeita. vem a insegurança. em suas concepções mais variadas. pareciam ser a melhor solução para o seu problema. que desde a origem trazem dentro de si para ser usado em benefício de sua evolução. mas uma força que nelas existe e da qual eu lhes ensino a se utilizarem (COUÉ). em sua própria dimensão interior. numa terceira sessão pode até ser induzida por um hipnotista. na primeira. Não sou eu quem age. Esta dimensão pode ser o que. às vezes. . e sim.que digo e que faço . mas as sessões posteriores devem ocorrer por iniciativa e conta exclusiva do hipnotizado. e outras dúvidas ou necessidades vão-se sobrepondo. espírito ou outra rotulação qualquer. Apenas auxilio as pessoas a fazer aquilo que desejariam e que elas se julgam incapazes de fazê-lo. a hipnose é lembrada e um hipnotista é procurado. como amigos para conversar. Desde criança. Rio de Janeiro. Mas a hipnose ainda é uma solução que vem de fora e pode não satisfaz plenamente como resposta porque. se vence a insegurança. como explica Émile Coué: 147 Não imponho coisa alguma a ninguém. mente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 291 CAPÍTULO IV . é esta uma das razões por que a maioria dos seres humanos funciona muito abaixo de suas reais condições de potencialidade. Mas. é chamada de alma. Não é uma luta. Neste caso geralmente antes procurou um médico e não teve uma doença definida ou um tratamento indicado e outras soluções também foram buscadas. filosofias ou religiões que. Ocorrendo isso. Auto-sugestão consciente . segunda e. E. de forma completa. no mundo exterior e. precisa-se de amor. surge outra. Esgotadas as alternativas. uma solução para seu problema e aí a auto-hipnose entra em cena. vem a ansiedade. para algumas pessoas. se vence o desejo. no máximo. mas podem procurar também como forma alternativa para alivio de um sofrimento. uma associação que se exige entre elas e eu. sem resultado positivo. só o próprio interessado poderá construir. viagens. As pessoas não estão habituadas a confiar na existência do grande potencial que pertence a cada uma em particular. Minerva. vem o desejo. 1956. sempre foram condicionadas a colocar a atenção para fora. Foram acostumadas a esperar as soluções dos outros e não buscar respostas em si mesmo. 147 COUÉ.O domínio de si mesmo. Em princípio.AUTO-HIPNOSE As pessoas buscam conhecer a hipnose por curiosidade ou para ampliar o conhecimento sobre o assunto. fazendo julgamentos sobre as coisas que os cercam. Os seres humanos passam a vida toda analisando situações. limita a capacidade de reagir em situações simples. Editora Pensamento. na forma como vivem e se relacionam com o mundo. mas aquele que se compreende é mais inteligente. é certo que esta dimensão existe. sem 148 Afirmação filosófica atribuída ao chinês Lao-Tsé. A ajuda de outras pessoas parece uma solução muito cômoda. Procurar dentro de si aquela força. não dependem de soluções externas. O nome de Lao-Tsé é também escrito como Lao-Tzu. e o de Tao-Te King como Tao Te’Ching. Usada eficazmente. Sc. efetuando as modificações necessárias para reeducar a mente. não necessitam de ser conduzidas. Um dia. na força interna que determina o seu modo de vida. São poucos os que sabem fazer uso adequado deste poder incrível que possuem. para aliviar seus sofrimentos as pessoas vão saber buscar as soluções de seus conflitos na sua força inata. nem como fazer. no futuro. para isso. São Paulo. que passará a pensar de uma maneira nova e saudável. mas. em parte. Enquanto buscam. escrita por Tao-Te King. podem e devem conduzir o seu próprio destino. às vezes. Richard. as respostas estão bem perto. O Livro do caminho perfeito. Nada impede que. . aquela determinação que resulta na segurança para o enfrentamento das dificuldades e superar as próprias deficiências. Neste sentido é a afirmação de Lao-Tsé. presente em qualquer pessoa para melhorar seus estados orgânicos e emocionais. sobre como manter a saúde física e mental equilibrada. descobrindo como usá-la pode ser eliminada a dependência de soluções externas. as próprias frustrações. mas nenhuma dessas conjecturas é mais importante que aquela que fazem sobre si mesmo. mas aquele que se domina é ainda mais poderoso (LAO-TSÉ). a auto-hipnose pode ser uma ferramenta poderosa. 1982).292 Antonio Almeida Carreiro. quando pensam como funcionam interna e externamente. As pessoas podem escolher como querem ser e. (WELHELM. Dr. 148 Aquele que sabe muito sobre os outros pode ser instruído. Aquele que controla o outro pode ser mais forte. a necessidade que tem a maioria das pessoas de viverem buscando através de religiões ou filosofias soluções ou explicações para seus conflitos. sobretudo quando não sabem por onde começar. A auto-hipnose estimula essa capacidade inata de autocura. Com ela pode ser desenvolvida e utilizada ao máximo a potencialidade e modelar o próprio destino. pelo contrário. estão em seu próprio íntimo. A dependência externa é que explica. Mas. não terá necessidade de movimentar as próprias pernas. enquanto o consciente executa suas tarefas de uma forma serial. Muitas pessoas tornam-se mais infelizes ao se apoiarem excessivamente em objetos. o inconsciente continua incansável em sua missão de revelar soluções para problemas diários e isso ocorre quando alguém está agindo pela intuição. dois componentes básicos da auto-estima. Uma das explicações mais aceita é de que o inconsciente é capaz de processar informações paralelamente. Pode ser melhorada a memória. maior controle emocional. É através das técnicas de hipnose ou da auto-hipnose que é despertada e ampliada a programação da função inconsciente e revelar soluções. A auto-hipnose revela o inconsciente e. desta revelação. Enquanto os cientistas buscam as causas de tamanha eficiência. Se alguém for carregado. a vida deve ser desenvolvida por cada um. o cansaço. insegurança.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 293 desprezar outras formas de ajuda. pessoas ou sistemas. Quando o individuo concentra a atenção para dentro de si constata que muitas soluções dependem unicamente dele mesmo. a intuição e a capacidade para programar e ampliar a auto-estima e o prazer de viver. enfim. quando se apóiam em alguma coisa externa. Para as neurociências. Isso é possível com a autohipnose. vencer a insônia. verifica que o mundo exterior é conseqüência do seu mundo interior e vice-versa. se pode obter benefícios em várias áreas. deixará de utilizar a sua capacidade total e ficará cada vez mais dependente. melhor qualidade de vida. a concentração e. aprender a superar hábitos indesejáveis. uma ferramenta que pode promover o autoconhecimento. Em resumo. Permite superar com facilidade as chamadas doenças psicossomáticas. é um mecanismo que permite o aumento da autoconfiança e do auto-respeito. utilizando mais e melhor os conhecimentos que . é um desafio desvendar como o processo de autocura acontece. descobre quem é e como pode ser conscientemente. Também pode eliminar fobias. ao mesmo tempo. uma atrás da outra. inibe e limita a sua própria capacidade de se auto-ajudar. ainda. todos façam a sua parte para a solução de muitos dos seus próprios problemas. sob sua responsabilidade. tornando-se cada vez mais vítima fácil de inúmeras dependências. no sentido de alcançar maiores resultados profissionais. Descobrindo o seu lado inconsciente. desenvolver a criatividade. o medo. Praticar auto-hipnose é uma forma de compreender como usar mais e melhor o próprio potencial. ansiedade. saúde física e mental. a tensão e o estresse. Quando o problema for difícil. o inconsciente digere o problema e revela as saídas. A auto-aprovação e a auto-aceitação no agora é a chave para mudanças positivas. Cada uma das chamadas “doenças” em nosso corpo é criada por nós (HAY). Diz Hay. O relaxamento é o preâmbulo da auto-hipnose. Louise L. nestas horas ele tocava violino. Einstein dizia que pensava 99 vezes e nada descobria. levava seu companheiro Watson a um concerto sempre que a trama que teria de desvendar se tornava complicada. Devemos estar dispostos a começar a aprender a nos amar. Para que isso ocorra. é preciso que se relaxe a mente para que as melhorias possam ser programadas pelo inconsciente. Beethoven fazia longa caminhada. Quando uma pessoa está muito preocupada com determinado problema e esgota os caminhos convencionais para a solução. deve deixar de pensar no caso por algum tempo e a solução poderá aparecer de repente. Você pode curar sua vida. Hay relata como despertar idéias positivas. deve-se relaxar e deixar o inconsciente trabalhar. são padrões de pensamento mais prejudiciais. estão armazenados no inconsciente. mas. é necessário que se vença a preocupação por alguns instantes. 1996). deixava de pensar e a verdade era revelada. Dr. Este processo mental livra o indivíduo da crítica excessiva do seu próprio consciente e permite que a intuição possa fluir com mais facilidade. o mais importante é o tipo de pensamento que a nutre e mudar a forma de pensar pode ser a superação de problemas da saúde. superar doenças e viver plenamente (HAY. São Paulo. Devemos nos libertar do passado e perdoar a todos. tudo na vida funciona. o famoso detetive dos livros de Conan Doyle. além de relaxar. Gandhi costumava tecer. Sherlock Holmes. Sobre isso conta a história. Sc. Churchill era menos musical e preferia empilhar tijolos. a culpa e o ressentimento. Best Seller. Ed. Cada vez mais vem se tornando consenso a necessidade de tranqüilizar a mente como forma de tratamento de doenças.294 Antonio Almeida Carreiro. Enquanto se prática outra coisa. passo decisivo para a busca de soluções. removê-los representa cura para muitas enfermidades: Quando realmente amamos a nós mesmos. Neste caso. isso é apenas um pensamento e um pensamento pode ser modificado. 149 . Louise L. a crítica. Hay 149 defende a tese de que o pensamento cria o futuro e norteia a vida e alerta que todos sofrem de culpa e ódio voltados contra si próprio e que a frase presente na maioria das pessoas é “sou incapaz”. frustrações e descobrir outras fontes de gratificação na sua relação com o mundo. uma pessoa pode viver em situações difíceis e de sofrimento tão intenso que pensa que algo vai arrebentar dentro de si. Facilitará a compreensão dos conteúdos que lhe causa o transtorno. perdoar os outros e ter sentimento de carinho. em casos nos quais deverá resolver sozinho tal . Diz que é preciso haver uma perfeita sintonia entre a mente e o corpo e. será merecedor apenas de mais raiva. bastante difundida. Se o pensamento reflete esperança. a vida será cheia de dificuldades. a possibilidade de doenças que têm seus sintomas agravados por pensamentos que são acumulados durante longo tempo e reagem negativamente no organismo. em situações em que o indivíduo se vê com muitas dúvidas e não percebe a possibilidade de pedir ajuda. Segundo Hay. assim como seu destino pode ser determinado por aquilo que ela tem inconscientemente como objetivo de vida (HAY). assim como para sentir paz e calma é preciso alimentar o inconsciente de pensamentos pacíficos. a mente gera as doenças físicas: Não se pode mais ignorar que o pensamento e a fé influenciam a saúde da pessoa. Para alguém ser merecedor de alegria. é preciso pensar em alegria. Os pensamentos são os alimentadores do estado físico e mental e. parece verdade que os pensamentos que as pessoas mais utilizam compõem o quadro de suas vidas. projeto de vida. Isto pode ocorrer quando se perde alguém muito querido. Se o pensamento reflete conflitos. a agressão e o ressentimento. que não vai suportar. em situações muito estressantes. mais agressão e mais ressentimentos. A auto-hipnose é um instrumento que dará o suporte que permitirá ao indivíduo mudar a forma de pensar. amorosos. Lembra ainda. a vida será cheia de realizações. se a saúde não anda bem as razões devem ser buscadas no desequilíbrio dessas duas forças. não bastando o ataque frontal a determinada doença.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 295 Lembrando a crença. de que as doenças só se manifestam quando pensamos nelas. Hay afirma que cultivar pensamentos negativos é um passo para a evolução de doenças ou sentimentos nocivos. Em muitos momentos da vida. fica a ponto de acreditar que vai enlouquecer. aprender a conviver com perdas. A escolha dos tipos de pensamentos que vai alimentar o inconsciente determina o modo de viver. Para reorganizar a vida e ser merecedor de bem-estar é preciso ter pensamentos positivos. o que poderá levá-lo a uma reorganização pessoal quanto a valores. Se escolher a raiva. que vai perder o controle sobre si mesmo. saudáveis e ricas. é entrar em contato com um lado. acabam atraindo pelo poder da palavra e do pensamento a situação da qual reclamam. Conhecer o emocional do ser humano. Sc. estará trabalhando para atingir uma situação de melhoria. com certeza. mas que influencia a sua existência. Na atualidade as pessoas vivem as turbulências da vida. a autohipnose vai permitir perceber que isso não passa de uma situação transitória ou de um equívoco. logo acabará melhorando. Mesmo que alguém se encontre numa situação infeliz. Existem dois tipos de pessoas: aquelas que estão sempre com a expressão triste. às vezes meio esquecido. o restabelecimento de sua organização pessoal e de seu equilíbrio. isto é. em acirrada competição com os outros e até consigo mesmas. A essas pessoas não brotam pensamentos construtivos que as tornem prósperas. . o retorno àquelas condições anteriores de rotina de sua vida. Como o ser humano não é apenas racional e crítico. duvidoso ou impaciente. da falta de saúde. mas somente pensamentos de destruição. isso afasta a tristeza e faz esquecer o sofrimento. busca a superação desse sofrimento. não tremia o corpo de forma injustificada. Não é possível apenas se falar de doença física nesses casos e a auto-hipnose pode ser uma boa ajuda. da pobreza. do salário. não chorava a toda hora. Pessoas que passam a vida reclamando da crise econômica. problema. é preciso conhecer onde ficam as suas emoções e como elas atuam em seu cotidiano. jamais se deve ficar aflito.296 Antonio Almeida Carreiro. em busca desenfreada da satisfação imediata em um mundo cada vez mais competitivo. repletos de alegria e gratidão. Ao tranqüilizar a mente. onde a racionalidade e a crítica são imperiosamente cobradas. então. O importante é perceber que a situação ruim é momentânea e mesmo que não se verifique uma melhora imediata. A pessoa. Pessoas que estão sempre reclamando têm uma vida infeliz. reclamando como se estivessem sempre insatisfeitas e infelizes e aquelas que mantêm somente pensamentos radiantes. A auto-hipnose facilita o reviver de boas emoções. Dr. da maldade alheia. É preciso na lembrança reviver estes fatos. em que não tinha insônia. enquanto aquelas que vivem sempre repletas de alegria têm uma vida feliz. Neste lado que estão armazenadas as lembranças prazerosas. as boas lembranças vão permitir que se viva sempre na expectativa de dias melhores. desesperança e automutilação. fatos acontecidos nos dias felizes e em momentos generosos que foram vivenciados. Segundo Brun. de mais grandioso. apenas deve gostar de coisas simples e de um modo de vida não luxuoso. se prejudicam. A fé de Epicuro. conhecido como o médico da alma. manter-se longe dos antagonismos da vida pública. Para Epicuro e seus seguidores. 150 o filósofo grego Epicuro (341 . cultivar a amizade. acabam se tornando de fato seres pequeninos e escravos do destino. satisfazer apenas necessidades imediatas. Quando a dor é moral devem ser revistos os valores que orientam a vida.). Lisboa. Jean. as adversidades da vida. Trad.270 a. quando a dor é física dever ser eliminada rememorizando uma situação prazerosa do passado ou uma esperança do futuro. depende exclusivamente de como cada um administra sua própria vida. João Amado.C. Uma pequena aspiração atrai pequenas realizações. Uma grande aspiração atrai um grandioso destino. Se a dor existe deve ser curada. E quando se pensam assim pequenas. as vicissitudes da sorte. . sem temor. A felicidade não é doada nem outorgada por ninguém nem por divindades. conquistar sempre mais conhecimento e rejeitar o medo da morte. Afirmava enfaticamente que todos e qualquer um nasce com o direito a ser feliz. procurar os prazeres moderados. mas também se deve estar preparado para enfrentar. viver bem. corajosamente. pelo contrário. porque assim se adquire meios para enfrentar. Aconselha Epicuro que para alguém viver bem e feliz. O epicurismo. 1987. ao filósofo cabe cuidar das doenças e dos sofrimentos da alma. não obstante a existência do sofrimento. ter prazer. do jogo de interesse. afirmava que podemos desviar à dor recorrendo a lembranças agradáveis ou idéias prazerosas. Benjamim. Rio de Janeiro. Pessoas que não conseguem realizar um grandioso sonho só conseguem realizar pequenas obras. 1968. FARRINGTON. O remédio para uma vida serena é se afastar da turbulência das competições egoísticas. da arrogância. dela não tira o proveito que pode. São consideradas como pessoas que acabam desvirtuando o canal que comunica com a sua força interior e. Os períodos de uma existência rica devem ser aproveitados. viver sereno e morrer sereno e feliz. Setenta. afastada através de mecanismos que o próprio ser humano possui. assim como o médico se ocupa das doenças e dos sofrimentos do corpo. Tornar o 150 151 BRUN. de mais elevado pode acontecer. Zahar. Para Farrington 151 A terapia de Epicuro significa o princípio de que o prazer efetivamente existe. Aqueles que têm pequenas aspirações vêem-se como pigmeus e diminuem a si próprio.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 297 somente o que há de melhor. gagueira. Seu uso é ainda referido para o tratamento de dores. Por isso. os livros indicam a aplicação da auto-hipnose. irritação. síndrome do pânico e tantas outras doenças que é impossível relacionar todas em só lista. a pessoa acorda com fortes dores nos dentes e músculos da articulação das mandíbulas. insegurança. raiva ou hostilidade.298 Antonio Almeida Carreiro. também. desenvolvam uma maternidade serena no período de sua gravidez e no parto. do A. agressividade reprimida. quem acredita piamente na sua concretização. Os episódios vivenciados pelo individuo. tristeza ou depressão.). resfriados crônicos. proporcionando uma estabilidade emocional. brotará em mim uma força redobrada. afirmam que certos medos comuns na gravidez podem ser aliviados quando a hipnose for aplicada à gestante entre 152 Bruxismo se caracteriza pelo fato do individuo ranger fortemente os dentes em movimentos involuntários que produz o desgaste dentário. além de anorexia nervosa. A hipnose tem sido aplicada para que mulheres. bruxismo 152 e outros hábitos nervosos. como falha na oclusão dos dentes. Sc. Não há quem tenha realizado algo grandioso sem se considerar merecedor. raiva. como recomenda Émile Coué. comer em excesso. coceiras e asma. insônia. cansaço ou fadiga. Existe uma verdade que diz que as pessoas se tornam exatamente como se crêem ser. obesidade. alergias. ódio. O bruxismo acaba sendo um acumulo de sentimentos que encontra uma descarga no ranger dos dentes. entre outras. não deve ser dito “não consigo realizar isso”. A ordem é acreditar. . uso de drogas. A causa pode ser física. Dr. conseguirá alcançar o seu grandioso objetivo. alcoolismo. soluços. roer unha. Pesquisadores na Universidade da Flórida. acredito que no final virá somente a vitória”. geralmente ocorre durante o sono e de forma despercebida. Ultimamente. além de restaurar as funções do sono (N. destino grandioso ou insignificante depende de como se enxerga. principalmente adolescentes. nos Estados Unidos. Não é considerada uma doença e sim uma disfunção do aparelho mastigador. O tratamento pela hipnose pode remover as causas psicológicas. Tudo acontece exatamente como se crê. quem tem uma grande aspiração. também tem sido indicada para cura de doenças de pele como psoríase e vitiligo. tensões acumuladas que tornam as mandíbulas rígidas e friccionadas. Quem idealiza para si um grandioso sonho. pode ser tênue ou severa. para eliminação de hábitos como tabagismo. podem variar bastante e a descarga emocional. síndromes pós-traumáticas. frustrações do dia-a-dia. “o que quer que aconteça. ansiedade e tensão. Também indicam como solução de distúrbios emocionais como tremores e fobias. Provoca o desgaste do esmalte dentário e o deslocamento da mordedura. Haja o que houver durante o percurso. bulimia. ou psicológica provocada por tensões emocionais ligada à ansiedade. Geralmente. timidez. Seja o que for não há quem consiga realizá-lo acreditando que não irá conseguir. bom humor. etc. ao proferir ou pensar uma determinada palavra ou frase. a pessoa dá a si mesma as sugestões que deseja e inclusive as sugestões pós-hipnóticas necessárias para o progressivo aprofundamento. buscando soluções e não apenas enfrentando os problemas. recorrer ao auto-engano para efeitos sugestivos. Também é indicada para desenvolver ou ampliar habilidades da mente e do corpo. Poderá sugerir a si mesmo: “hoje o transe será mais profundo do que o de ontem. melhor desempenho atlético ou esportivo. revista. . a sugestão pós-hipnótica não surtirá efeito. avaliar seus pontos fortes para enfrentar desafios e obter sucessos. para produzir o efeito desejado. a necessidade de reforçar a dose de anestésico. criando através da sugestão a expectativa positiva de que vai ganhar um presente. aumento da criatividade e habilidades. e não apenas reagir. 153 A hipnose induz a grávida a criar uma expectativa positiva. por exemplo.”. determinação e coragem. e convencer-se. Aprende a agir. 47. para melhorar a qualidade de vida. diminui. E esse autoconvencimento. Não adiantará. assim. O indivíduo tem de preparar-se como se estivesse preparando outra pessoa para ser hipnotizada. e o de amanhã mais satisfatório ainda do que o de hoje. retirando obstáculos para seguir no caminho que foi definido para si mesmo. afetividade. Construindo um modelo mais eficiente de pensamento. reduzindo a ansiedade na reta final da gravidez e as dores do parto. fazendo simplesmente de conta que está (ou esteve) hipnotizado. eficiência e organização. A hipnose é indicada também para desenvolver atitudes e sentimentos positivos. julho de 2001. tem de ser mais seguro e mais severo do 153 SAÚDE. numa determinada posição. A prática da auto-hipnose pode permitir o controle sobre pensamentos. p. o praticante aprende a definir e alcançar objetivos. como amor. desempenho profissional. direcionado para o que realmente é importante. entretanto. dez ou vinte. Como na hetero-hipnose. emoções. agindo de modo mais eficiente sobre o pensamento e o que está fazendo. ao contar até cinco. permitindo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 299 a vigésima e a vigésima quarta semana de gestação. Como praticar auto-hipnose Um indivíduo pode habituar-se a entrar no transe hipnótico ao ler um determinado texto. também a auto-hipnose vem precedida de uma espécie de preâmbulo. ações e destino. Conseguindo o transe inicial. ensina a relaxar e apaga fantasias negativas. a hetero-hipnose. exigindo nesta segunda hipótese uma atitude passiva do próprio indivíduo em face das palavras proferidas ou imaginadas por ele mesmo. seguramente. Dr. Os mais suscetíveis conseguem induzir o estado autohipnótico sem ajuda alheia ou de qualquer recurso eletrônico. como a superação de problemas pessoais. Sc. A auto-hipnose. a auto-hipnose funciona à base de sugestão. C. Aplleton Century. Outra forma também rápida é com a utilização de gravação de músicas para ajudar na indução e o som de voz própria ou de outrem. descobrem e se antecipam sem qualquer iniciação formal. inicialmente. o melhor deles é a pessoa antes ser heterohipnotizada e receber uma sugestão pós-hipnótica de que. Na prática isto quase não acontece e só se recorre a ela nos momentos críticos. primeiro deveriam aprender a se autohipnotizar. o estado de sugestionabilidade aumentada ou generalizada. neste caso conta contra alguns fatores como ansiedades. nestes casos. que é a condição para o transe hipnótico. de conquistar. New York. In: Experimental approach. por sua própria conta. citada teoria de Hull. antes de tudo. com palavras que induza ao transe. D. o êxito na auto-hipnose depende da confiança e do crédito moral que a pessoa tem que depositar em si mesma. a partir daí. Esta seria uma auto-hipnose no sentido mais justo da palavra. L. Assim como na hetero. a auto-estima e a fé na possibilidade da auto-ajuda. vincula-se a propósitos sérios. assim. isto é. sem propósitos emergentes. dúvidas e frustrações. será capaz de se auto-hipnotizar. Descobrem. o indivíduo tem de sentir-se credor de sua própria confiança e consideração. não se obtém resultado com as pessoas junto às quais não se tem prestígio necessário. mas as pessoas deveriam capacitar-se ao seu uso. pela sua própria natureza. para depois aplicá-la na solução de seus problemas. articulando ou simplesmente pensando em fórmulas sugestivas. 1933. Sem esses fatores. Century. pelo menos inicialmente. . 154 São vários os caminhos para se chegar à auto-hipnose. Produz-se. Hypnosis and suggestibility. como hipnotizar a si mesmos. 154 HULL. nem sempre estará a ajuda ao alcance de quem a almeja e. Na hetero-hipnose. Também na autohipnose ocorre algo semelhante. normalmente iniciadas por técnicas de relaxamento.300 Antonio Almeida Carreiro. a melhor saída será. que o convencimento destinado aos ouvidos e às consciências alheias. York. 1947. você 155 LeCRON. Isto é possível segundo Leslie M. Grune and Stratton. como no caso de um incêndio. New. Hypnotism today. Para facilitar o relaxamento muscular bastará respirar profundamente. fixe os olhos em um ponto do teto. and BORDEAUX J. A técnica que mais se recomenda para o desenvolvimento da prática da auto-indução é. Pode também manter a vista fixa vagamente na área cinzenta imaginária da visão comum. É do conhecimento geral. . do exercício de concentração e da propensão individual para as atitudes abstratas. o mais profundo possível. muito embora. Já não estranhamos as propaladas facilidades dos espíritas nesse domínio. Se. fite algum ponto imaginário. M. Durante a hipnose você se manterá alerta. Para tanto. Em seguida comece a respirar lenta e profundamente. bastará acomodar-se confortavelmente. Sabemos que a suscetibilidade hipnótica cresce em razão da fé. por exemplo. Para acordar bastará dizer-se a si mesmo: Agora vou acordar. ou seja. Ele assim se refere: Entre as pessoas particularmente propensas à auto-hipnose espontânea apontam-se. um misto de auto e hetero-hipnose. perfeitamente capaz de dar-se a si mesmo as sugestões que quiser.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 301 Neste sentido. Contará até três e estará perfeitamente acordado. L. pois ao chegar à décima respiração estará em transe profundo. Você poderá assim induzir em você mesmo qualquer fenômeno hipnótico que desejar. é só fechar os olhos e dizer-se a si mesmo: Agora entro em estado de hipnose. tiver necessidade de acordar antes para atender ao telefone ou a uma situação de emergência. LeCron e Jean Bordeaux 155 que apontam o recurso da hetero-hipnose como primeira condição para se chegar à autohipnose: Colocar o candidato em transe profundo. os médiuns espíritas. porventura. Uma vez com os músculos relaxados. paradoxalmente. Uma vez no transe necessário dizer o seguinte: De hoje em diante você poderá chegar sozinho a um transe igual a este e até mais profundo. a auto-hetero-hipnose. freqüentemente. de olhos fechados. entre eles. Se encontrar dificuldade na concentração inicial. que os espíritas são particularmente sensíveis à hipnose. Esta frase você poderá proferir em voz alta ou apenas em pensamento. assentado ou deitado e relaxando os músculos conforme lhe ensinei. Não será preciso contar. a verdadeira natureza de semelhantes fenômenos anímicos costuma ser deliberadamente ignorada (WEISSMANN). Weissmann aponta os médiuns espíritas não só como pessoas altamente propensas a serem hipnotizadas.. ou então. como também à auto-indução. para depois poder ser hipnotizada. Nesse seu estado de auto-hipnose você poderá ainda ouvir a minha voz e seguir as minhas instruções como se eu estivesse presente (LeCRON e BORDEAUX). por isso deve ser evitados a ansiedade com os resultados. Não se deve ser excessivamente analítico quando se quer conquistar a auto-hipnose. o transe será difícil de ser atingido. por isso.302 Antonio Almeida Carreiro. se dá tempo ao tempo. Através dessa prática. será impossível reagir favoravelmente à hipnose. A calma é o que trará resultados. Assim também. Isto acontece com um estudante tenso que se transforma em um mau estudante e aprende pouco. observandose cuidadosamente as outras recomendações. Dr. mas é uma constante nos indivíduos que vivem em grandes cidades onde a rotina diária é estressante. acordará instantânea e automaticamente. prejudica seus próprios esforços e. Quando uma pessoa deseja ardentemente ser hipnotizada. Quem se preocupa se estão ou não sob hipnose. a maior parte do tempo consiste no processo de acalmá-la e relaxá-la antes. em vez de examinar-se. os resultados virão. Isto dará a confiança necessária e a segurança de que precisa o indivíduo e. Não só aplicado com propósitos hipnóticos. sempre com o objetivo de aliviar tensões físicas e . a ponto de tornar-se ansiosa e tensa. deve o exercício acontecer sempre na mesma hora e no mesmo lugar. apenas deve relaxar e deixar que as coisas sigam seu curso. se não passam no teste que impõem a si mesmas. todos os dias. assim não se consegue bons resultados. nestas condições. Sc. Toda vez que se anseia muito por uma coisa. o relaxamento está presente em várias outras propostas (às vezes religiosas ou filosóficas). elimina-se o estado de tensão que em nada contribui para a vida. Para obter melhores resultados. Relaxamento O êxito da auto-hipnose é um bom relaxamento. condição básica usada de forma vestibular para a aplicação do método hipnótico. fica-se nervoso e tenso. sentese como se não estivessem fazendo progressos. se começar a analisar todos os movimentos que fizer e duvidar da eficácia do que está fazendo. nada há a recear. Quando se começar a aprender auto-hipnose. o maior inimigo da hipnose é a tensão. A atitude de tirar a prova impedirá a eficácia. deixa as coisas acontecerem em seu curso normal. Começa-se como principiante e relaxa-se. espera-se que apenas aconteçam. Esta última recomendação é necessária para manter o rapport entre o auto-hipnotizado e o hipnotista. etc.). 156 Em qualquer caso. Nessa fase. Durante o sono. Power Sleep. preocupações. porém segue uma linha básica que norteia sua aplicação. são encontradas saídas para alguns problemas que antes pareciam intransponíveis. quando é alcançado um bom nível de relaxamento. acalmando excitações nervosas (ansiedades. O sono pode provê condições para o desempenho de diversas atividades de maneira altamente eficiente. . angústias. trará grandes modificações na vida do praticante. quando promove a liberação de tensões musculares e. Algumas pessoas na prática do transe hipnótico apresentam sintomas como se estivessem na fase REM do sono. edição. James B. A. o relaxamento antecede e amplia a fase do sono REM (rapid eyes movment) que se caracteriza pelo rápido movimento dos olhos. Faça Yôga antes que você precise. cada experiência não deverá durar mais do que um minuto e isso poderá se tornar parte de um ritual tranqüilizador que. inicialmente. O relaxamento inicia-se pelo físico (corpo) e completa-se pelo relaxamento da consciência (mente) permitindo. começando pelo nível físico. N. A influência do sono sobre o nível de aprendizado é boa.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 303 emocionais. a partir daí. a instalação do estado hipnótico. em um estado de calma e tranqüilidade. sem tensões ou sobrecargas. Todo método de auto-hipnose inclui a fase de relaxamento. O relaxamento facilita o sono e isso também representa solução para muitos problemas. Editora União Nacional de Yôga. em torno de quinze minutos até que se domine a técnica e sinta-se familiarizado com ela. 1995). assim. também no humor e na capacidade de memória. a mente consegue uma extraordinária habilidade para controlar procedimentos e objetivar soluções. calma e serenidade. antes de dormir. entre outros lideres. independente da hipnose plena. resultando. Esses exercícios duram.S. e à noite. York. 6 . 157 MAAS. com a seqüência que determine as fases descritas: 156 O relaxamento faz parte das práticas recomendadas. É recomendado ser praticado pela manhã. após o despertar. Para os iniciantes deve ser falado por outra pessoa ou gravado com a própria voz. quem dorme mal tem problemas para se lembrar de fatos recentes. São Paulo. É nesta fase que se atinge o ápice do relaxamento e as funções do sono são potencializadas ao máximo. 157 O método de relaxamento é muito variado. Mais tarde. L. com clareza. Harper Perennial. 1998. pelos a Mestres da Yôga (DeRose. no nível mental. Cada vez mais pesado.... A partir de agora aumenta o poder de concentração em tudo que penso.. Sc.. vejo à frente uma escada... Duas... Procuro visualizar tudo que da maneira que mais agradável... OITO. QUATRO......304 Antonio Almeida Carreiro..... Esqueço o corpo. nele... NOVE. muito agradável. Dr..... A mente vazia sem pensamentos. Imagino meu corpo. calma. aos poucos... Olho para cima e vejo imensas copas das árvores.. Conto e vejo que tem dez degraus.. Absorvendo tranqüilidade...... Chegou o topo da escada... Mais pesado. Vejo uma enorme porta que se abre permitindo que eu entre numa sala ampla. Sem preocupações.. Estou mais confiante e mais leve... também.. Essa escada é bonita e a sombra das folhas se projeta em seus degraus. Um imenso lago . UM.. • Fase V.... nem frio. Em qual posição estão os pés ou pernas. Relaxo plenamente.. Relaxo os músculos da cintura. Estou relaxado profundamente.. Apenas percebo um círculo luminoso à altura da testa. Seguro... Muito prazer... Libertando as preocupações. Relaxo os músculos da face e dos olhos. • Fase IV. O gramado é macio... (Após. esqueço.. • Fase I. Essa subida dá prazer. Relaxo o abdome........ a desaparecer. antebraços e mãos. Respiro fundo. Relaxo os músculos das coxas. Ganho confiança e fico mais leve..... DEZ. Fecho os olhos............. Relaxo os pés. Relaxo a musculatura do peito. o pensamento começa.... O relaxamento mental é pleno. Lentamente....... A partir de agora entro em completo relaxamento........ Visualizo um gramado..... Procuro sentir todo corpo... vou subir. Uma. O círculo é cada vez mais forte..... Relaxo a nuca..... Três. CINCO.. gostoso. Começo a subir. Deixo o corpo pesar.. SEIS. • Fase II. Sinto uma vontade enorme de subir esses degraus e.. Isso vai durar algum tempo. Cinco vezes... Relaxo as pernas. Isso vai durar alguns minutos. com os olhos da mente. TRÊS.. • Fase III. Na proporção que respiro.. Um bosque de verde intenso. pelo menos três minutos de silêncio)... Relaxo a testa. Tudo em volta é em cores suaves.. Estou neste bosque... Raios de luz que passam por entre as folhas. Relaxo o pescoço.... Sinta que meu corpo está ficando cada vez mais pesado.. Começo a visualizar uma floresta e. SETE....... avista um lago. À medida que subo. Já foi a metade da escada e. Quatro.. Respiro fundo. Nem calor. Apenas percebo. Relaxo os braços... A temperatura é agradável...... É difícil saber qual posição estão os braços. Estou muito leve.. DOIS... a mente fica vazia.......... física e mentalmente.... ..... Vou chegar ao outro lado..... De hoje em diante.. nestes casos o relaxamento pode ser atingido com as proposições construídas a seguir: • Faço uma respiração profunda e relaxo ao expirar. Atravesso.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 305 de água tranqüila... A partir de agora vejo que tudo vai melhorar em minha vida.. e acordará quando for necessário.. se a pessoa estiver deitada e podendo continuar assim... corro.. Relaxo o corpo todo como se estivesse derretendo e. Algumas pessoas preferem um método mais direto. O lago espelha em sua superfície muita calma. Relaxo profundamente e deixo a mente serena.. Retornando... Caso necessite de sair do relaxamento. À medida que respiro fica mais seguro. Esse lugar representa uma nova vida. procedera como a seguir indicado... Retorno plenamente. Abro os olhos. Olho os detalhes dessa ponte. tudo é determinado.... Irradiando descontração pela coluna vertebral e desta para o corpo todo. Movimento todos os músculos.. Sinto que tudo vai melhorar. Estou retornando... TRÊS. Respiro fundo e absorvo a grandeza deste lugar.. É um lugar macio.... Respiro toda a energia desse lugar... A ponte era uma etapa que foi vencida. terei a mente trabalhando em meu benefício. sentindo mais a força de atração da terra puxando meu corpo para baixo. Tornando a respiração mais suave....... Faço outra respiração profunda e relaxo ao expirar. Cada vez mais.... UM.. Vou começar a contagem e retornar feliz e bem disposto.. A partir de agora estarei sempre bem disposto. Agora relaxo o corpo todo... Vou contar até cinco e retornarei ao nível de consciência normal.. este lugar é maravilhoso. brinco.. Na fase VI..... Respiro fundo e absorvo essa tranqüilidade. tudo é constante.. Essa tranqüilidade transmite segurança.. • Fase V.. Percebo uma ponte..... estarei revigorado pela energia da natureza.. É um lugar melhor que o anterior... Observo a natureza...... e experimento tudo que mais gosto de fazer..... DOIS... Respiro profundamente e ao expirar preparo minha mente para sair do relaxamento. Neste gramado imenso. menos metafórico.. Relaxando e .... sem olhar para trás.. CINCO.. Absorvo essa constância e essa determinação.. Vou atravessar a ponte. se identificam com a linguagem clara e precisa.. revigorado e bem disposto. saberei superar problemas e vencer adversidades.. apenas adormece. Este lugar é maravilhoso. seguro das coisas que quero.. De hoje em diante... sobre uma parte estreita do lago.. QUATRO.. sentirei tudo isso de maneira mais forte.. Dr... Soltando e descontraindo os maxilares... 5.. Respiro profundamente e estou completamente alerta. 1.. Todas as sensações da hipnose deixam o meu corpo. Agora. estarei aprofundando mais ainda. Estarei cheio de energia.. Sinto uma transbordante disposição para viver.. Olhos. 7. De hoje em diante. contemple-os mentalmente e imagine que estão grudados com cola.. 8...... A cabeça... 2....... Agora um estágio mais profundo.. Feliz e bem disposto.. Nariz.. Imagine ainda que ao redor das unhas haja fortes cintas de esparadrapo.. À .306 Antonio Almeida Carreiro. Sobrancelhas.... QUATRO..... Braços. Coxas. Ao mesmo tempo... Dedos... Cada vez mais saberei superar problemas e vencer adversidades. o segredo está em descobrir de que modo se é mais sugestionável.. 4.. Relaxando os pés. TRÊS...... Conhecer os testes de auto-sugestão e praticar um teste diferente por dia.. Estou despertando..... relaxo e descontraio o pescoço....... Saúde e felicidade. também relaxando e descontraindo os órgãos do abdome. Quando começar a abrir os olhos... Vou contar de dez a um e. é a forma mais rápida de criar os elementos básicos que permitirão o emprego da auto-hipnose.... Testes para auto-hipnose Noventa e oito por cento dos indivíduos são hipnotizáveis.... 10. 3. a cada número regressivo........ deve ser escolhido aquele em que se aprofundou mais e... DOIS.Junte as pontas do polegar e do dedo indicador e aperte.. Os olhos se abrem. UM.. De muita leveza.. neste estado agradável de relaxamento. unindo-as mais fortemente.. Sinto-me invadido por um bem-estar indescritível. • Teste I ... Órgãos do tórax... Agora. Pernas. Agora. Relaxando e descontraindo até a medula. 6. Tornozelos.... continuar a praticá-lo até o fim da segunda semana para adquirir proficiência prática..... preparo a saída do relaxamento. Abandonando. Face.. ao expirar........ A testa e o couro cabeludo.. Estou ficando cada vez mais desperto e maravilhosamente bem. Trabalhar e Sorrir.... mais receptivo a boas sugestões e mais saudável... pelo menos uma vez por dia durante duas semanas.. músculos e nervos.. conto até cinco e estarei completamente despertado. CINCO. Mãos. Vou contar até cinco e retornar ao nível de consciência normal... Desconcentrando. Sc. Relaxando os ombros.. Lábios.... Joelhos. Soltando.. Descontraio.. Depois de praticar todos os testes. descontraindo a pele.... 9.. Relaxo por inteiro..... terei a mente trabalhando em meu benefício. Respiro profundamente e... Pense o seguinte: Minha mão está ficando muito leve.Junte bem as mãos e estenda os braços a sua frente.. Quando você testar-se desta forma. Diga a você mesmo o seguinte: Minhas mãos estão ficando cada vez mais pesadas. • Teste III .. será impossível levantá-las. Tão leve como uma pluma. Imagine-as como um sólido bloco de madeira. Minhas mãos sentem-se preguiçosas e cansadas. tanto quando lhe seja possível ver suas mãos como um sólido bloco.... À medida que você for imaginando.. vá apertando as mãos gradativamente. • Teste II .... Feche os olhos e imagine que as mãos estão sendo fundidas... Sinto que são muito grandes e pesa como nunca. • Teste IV . para mim. A maioria das pessoas reagirá favoravelmente a este teste. mais grudados eles ficarão. Diga a você mesmo: Minha mão está sendo colada completamente.. imagine que suas mãos são dois pesos de chumbo. Minha mão está ficando cada vez mais leve. desde que dêem tempo ao tempo e façam bom uso da imaginação. Quando eu contar até três. até que eu diga JÁ. a coisa mais difícil é levantá-las. Começará a flutuar. Se você reagir de maneira satisfatória a esse teste. Sinto a mão como uma pluma soprada pelo vento. Neste momento. diga a você mesmo que as pontas dos dedos estão ficando cada vez mais afixadas entre si e que não se separam.. não se preocupe com o tempo e vá tentando. Feche os olhos e relaxe. uma na outra.Uma vez mais se sente confortavelmente numa cadeira reta... deixe que as mãos fiquem caídas. Quando a mão começar a erguer-se. sem esforço. Deixe que o corpo relaxe e olhe mentalmente para a mão.. Quando eu contar até três. diga a você mesmo: Minha mão . Se sua reação não for tão favorável. não terá dificuldades em aprender a hipnotizar-se. Dentro em pouco ficará mais leve que o ar... porque estão cansadas e preguiçosas.. não se aborreça. Quando você contar até três. o dedo indicador e o polegar não se separam até que você diga JÁ. porque eventualmente você encontrará sua área de sugestibilidade.Sente-se confortavelmente numa cadeira reta.. Quanto mais você tentar separá-los.. Coloque as plantas dos pés contra o chão. Os que reagem bem a este teste deverão ter imaginação forte. Deixe uma das mãos descansar relaxadamente sobre a coxa. logo acima do joelho. serei incapaz de separá-las até que diga JÁ. ao longo de cada um de seus lados..Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 307 medida que for exercendo maior pressão. como se não existissem. deixe o corpo completamente solto. Repita várias vezes esse procedimento. móveis. mas houve também fatores físicos fortemente envolvidos. Dê tempo ao tempo e permita que o ponto se materialize. • Teste VI . deixe a mente derivar lentamente para a ocasião. Esse teste geralmente surpreende aos que por eles passam. Agora. Os próximos testes dependem inteiramente da imaginação. sem pressa. comece a ouvir e a dizer mentalmente tudo que você falou.Deite-se de costas numa superfície plana. Relaxe mais ainda. é sinal de que o praticante vai indo muito bem. Feche os olhos. • Teste VII . retenha a respiração por dois segundos. Relaxe. Veja-se naquele ambiente. Finalmente. Vá devagar e reviva integralmente. Vá devagar. na mesma ordem cronológica. até que outras cores se formem sem que você as determine. Dr. e continuará a subir até que eu diga JÁ. sinta emoções.Deite-se de costas para fazer este exercício mental. Os que reagem bem a esse teste são capazes de conseguir muito êxito com auto-hipnose dentro de bem pouco tempo. Sc. Só a luz. Pense em suas pernas até não senti-las. relembre detalhadamente o que conversou. depois um círculo azulado. A ênfase agora recai sobre a imaginação e a aptidão para criar imagens mentais.308 Antonio Almeida Carreiro.Feche os olhos e. então expire lentamente outra vez. veja a cor das paredes. Quando o ponto aparecer. depois inspire. Com os olhos fechados. o tórax. o . lentamente expire. continuará a ficar mais leve. poderá aparecer a cor branca. Veja a luz no meio de sua testa. reviva o detalhe que lhe deu mais prazer. visualize um ponto preto no meio de sua testa. porém. após o relaxamento. Veja as outras (se houver) pessoas presentes. reviva tudo que lhe deu prazer. Imagine seus pés. Esse teste consome mais tempo do que os outros. não pense mais em nada. • Teste V . como um tapete no chão. se os resultados forem satisfatórios. porque sentem uma calma e um relaxamento profundo logo depois. amarelada ou rosa. você verá o ponto se transformar em uma luz. veja formar-se um círculo vermelho ao seu redor. após o relaxamento comece a pensar num momento que lhe foi agradável e em que experimentou uma forte emoção. comece a sentir-se no lugar. Fique deitado com os braços estendidos ao longo do corpo. depois não os sinta mais. detalhes. Os primeiros quatro usaram a imaginação. Comece a ver à sua volta. As fórmulas são divididas em quatro momentos. Sinta-se como se estivesse andando. Cada vez mais. Só abra os olhos após contar até cinco e quando você disser JÁ. Relaxe. depois inspire. esqueça-os. É esse. Sente uma sensação de estar flutuando. Retenha a respiração por dois segundos. Veja-se bem. tanto hetero-hipnose como auto-hipnose. Se reagir bem ao teste sete ou oito. a partir desse momento. Relaxe. como preâmbulo para aplicação do método que levará ao transe. Acorde devagar. Nesta experiência.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 309 abdômen. com detalhes. esqueça a boca. Inicie o processo. continue a fazer até não perceber como está fazendo. terá início à indução hipnótica. a segunda é a indução. aquele em que se foi mais bem sucedido. A primeira contém o relaxamento progressivo. aprofundando o relaxamento do corpo. então expire lentamente outra vez. deve-se escolher um dos testes já apresentados. Relaxe. Deixe o corpo completamente solto. entre todos os testes. até o relaxamento completo. Conte até cinco e acorde. Agora você vê apenas uma luz. Não se assuste. Comece a sentir-se como se fosse uma bola cheia de ar lentamente esvaziando. Nada o incomoda. Agora você só vê um círculo em torno de seus olhos. Vá andando até a porta. Você não mais os sente. Olhe devagar para trás. antes de finalizá-lo a pessoa deverá dizer a si mesmo que. a terceira é a sugestão real (matriz) dada para a reação pós-hipnótica e a quarta parte é o chamado processo de despertar. é sinal que já está muito próximo ao transe hipnótico. Repita esse procedimento por dez vezes. Está se separando de você mesmo. Agora você se verá deitado. veja bem.Deite-se como no teste anterior. Ao acordar experimentará uma paz como nunca sentiu antes. Métodos de auto-hipnose Os métodos são fórmulas que conduzem ao estado hipnótico. Antes de se adotar um método. O círculo começa a brilhar. os móveis. Você agora só sente sua cabeça. Feito o teste. pense que sua mente está sendo separada de seu corpo. Faça isso durante cinco minutos. Vê apenas uma luz. Sinta os braços e esqueça-os. o mais gratificante e só depois dele deverá praticar o próximo. como se você fosse outra pessoa. pense que você está se desligando do seu próprio corpo. . as pessoas retornam com uma sensação de leveza indescritível. não pense em mais nada agora. • Teste VIII . Lentamente expire. Uma sensação extremamente agradável toma conta de mim.. sem força. Dr. Sinto minha garganta descontraída e relaxando.. Esta sensação de relaxamento sobe aos tornozelos. Presto atenção apenas aos pensamentos voltados para mim mesmo. Estou cada vez mais relaxado. Relaxando as costas e os ombros. Estou entrando em hipnose.. Minha mente está relaxando e experimentando esta maravilhosa sensação de paz e tranqüilidade..... O método auto-hipnótico apresentado deve ser aplicado após a pessoa escolher numa posição na qual se sinta mais confortável possível.À medida que fecho os olhos. Sc.... isto me faz relaxar mais e mais.. Toda tensão..... O peito está relaxando. Agora.. centralizo a atenção nos meus pés. Todo o corpo está afrouxado. preocupação e dúvida .. Dizendo a si mesmo: • 1º Passo ... completamente relaxados...... que se tornam frouxas e relaxadas. que estão ficando frouxos e sem movimento. Sinto o fluxo do ar entrando nos meus pulmões e isso me faz relaxar mais profundamente ainda. Meu pescoço está relaxando...... Os músculos das costas estão se afrouxando.. Minha mente está relaxando como meu corpo.. Os dedos estão se afrouxando... Agora.. Cada vez mais profunda. Agora me sinto completamente confortável e à vontade. Isto sobe para as mãos.... Vagarosamente sobe para os braços. Cada vez que respiro aprofunda o relaxamento. Começando a relaxar pelos dedos dos pés.. normal e suave...... Sinto essa sensação de relaxamento deslocar-se pelo pé até o calcanhar. Minha respiração é fácil. Esta maravilhosa sensação calmante agora sobe da nuca até o alto da minha cabeça. Uma paz toma conta de minha mente.. sinto-me maravilhosamente leve.... Os pés estão frouxos. mais e mais... dos joelhos para as pernas inteiras. Começo a relaxar os dedos das mãos. Cada vez que respiro. Aprofundo-me mais e mais a cada vez que respiro... que o meu cabelo se afrouxa.. meu corpo todo está no mais completo relaxamento. relaxando.. Não sinto nada.310 Antonio Almeida Carreiro... A sensação sobe para os joelhos...... Uma sombra.... Esta sensação sobe pelas pernas. O alto da minha cabeça está tão relaxado. Todos os fios estão frouxos..... Uma paz. que ficam completamente frouxos........... A sensação sobe mais...... O relaxamento começa a chegar às costas.. A sensação de relaxamento chega ao abdômen... Nada será capaz de me perturbar agora... Eu sou apenas uma sombra. Estão relaxadas. Meus ombros estão relaxando..... entro em completo estado de relaxamento.. Toda contração muscular desapareceu. As pernas estão totalmente relaxadas frouxas... Perfeitamente relaxado... Uma sombra. . Mais profundo ainda. quando eu quiser chegar a este estágio da hipnose. uma paz profunda.. Apenas vejo uma luz.. DEZ. Profundo.. • 2º. Cada vez mais profunda.. aprofundando-me neste estado até entrar em contato com meu inconsciente.. Além da voz poderá também ser gravado um fundo musical suave.. Quando encontrá-lo. aprofundando-me cada vez mais. Vejo a luz. ZERO.. TRÊS.. OITO... que é o primeiro estágio da auto-hipnose e.... por exemplo: • 3º. a expectativa de vida e as possibilidades de melhoria em todos os sentidos. O som deverá ser ligado sem muito esforço físico. profundo. descendo cada vez mais. absoluto.. mais nada. .. para baixo.. tudo que for informado ao inconsciente será obedecido.... se não houver uma matriz prioritária. relaxe.. se for necessário.No futuro. Agora estou em contato direto com meu inconsciente. pleno. serão essas que orientarão a vida daqui para frente... Passo . Pode acrescentar qualquer sugestão desejada e formar novas matrizes no inconsciente. relaxe agora.. Estou pronto para receber boas sugestões. estabelecer metas e atingir os objetivos de vida desejados. Encontrei o meu Eu. A luz do meu inconsciente... mais profundo. normalmente utilizando-se de músicas clássicas ou específicas para esse fim. reprogramar em parte ou no todo o pensamento. Um estado de relaxamento profundo. Meu inconsciente está ficando receptivo aos bons pensamentos e idéias que logo darei a mim mesmo.. não só poderá estabelecer novas metas. fica mais próximo ir ao encontro do “Eu Interior”.. é aconselhado seguir algumas sugestões preliminares como... Para baixo... como também poderá suprimir matriz antiga que estão a dificultar a vida.. no mais absoluto relaxamento.. mais profundo... Muito relaxado.Agora estou sentindo uma sensação de profunda leveza.. Sinto o mais absoluto silêncio. SETE... SEIS.... DOIS. Nesta fase. A partir daqui. para baixo.. Estou começando a descer a escada que me levará ao meu inconsciente....... Vou começar a contar de 10 a 0. Poderão ser superados problemas.. Quando eu disser essas palavras a mim mesmo... aconselha-se o uso de controle remoto. Nesta fase estará completado o relaxamento. NOVE. relaxe. Será a última etapa da fase anterior. si pode conversar com ele e colocar as matrizes que quiser. Só a luz.... UM. Neste terceiro passo. Cada vez maior... QUATRO... Vamos.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 311 desapareceram.. tudo o que terei a fazer é instalar-me confortavelmente e dizer a mim mesmo. CINCO. poderá ser usado um meio eletrônico para reproduzir o áudio que si deseja ouvir. Passo . . QUATRO.. Dr... desenvolvo a faculdade de controlar minha própria vida e felicidade e. assim. vendo imagens mentais. com determinação para merecer sempre a vitória.. Estou ficando cada vez mais desperto e sinto-me maravilhosamente bem... feliz e bem disposto.. Cada vez será mais rápida e mais profundamente do que a anterior....Agora voltarei ao meu estado normal de consciência. estarei aperfeiçoando isso.. Estarei.. ouvir sons e ter sensações. automaticamente conseguirei melhor equilíbrio entre a minha mente consciente e a minha mente inconsciente..... Respiro profundamente e estou completamente alerta..... Estou agindo.. a cada dia. Amanhã serei melhor do que hoje e. geradoras de mudanças na vida das pessoas através da conquista de novas metas.. continuarei melhorando constantemente.... Assim é possível programar uma linguagem que seja eficaz para convencer o inconsciente.. Ponho em uso a minha mente e desenvolvo novas potencialidades em todos os instantes do dia.. DOIS. Estas sugestões estão agora penetrando em meu inconsciente.. no momento mais adequado. Sc. imediatamente entrarei em hipnose.. Meu inconsciente automaticamente realimentará estes pensamentos em minha vida consciente.... Jamais me aborreço... Meus olhos se abrem. A partir de agora. . Todas as sensações da hipnose deixam o meu corpo..... Tipos de matrizes Matriz é a sugestão elaborada para convencer o inconsciente e fazer com que aconteçam ações compulsivas. minha mente estará alerta e o meu corpo perfeitamente coordenado. Estou despertando... UM. Tudo que eu imaginar de bom realizar-se-á em curto prazo e com exatidão.... Cada vez que me hipnotizar.... Quando despertar. Estarei cheio de energia. Conto até cinco e estarei completamente despertado. • 4º. falando a si próprio.. Hoje serei melhor do que ontem.. em estado normal. É preciso saber também usar os sentidos internamente.. Para formular uma matriz é preciso saber como pode ser direcionado o processo de elaboração dos pensamentos e como os sentimentos e estados emocionais influenciam neste resultado. Boas soluções sempre vão surgir em minha vida. vigor e vitalidade.. CINCO. Descansado e rejuvenescido... TRÊS. Cada vez que me hipnotizar....312 Antonio Almeida Carreiro. de todas as maneiras possíveis. Passo . conseguirei fazê-lo melhor. Estou no caminho certo para adquirir tudo de positivo para o meu corpo e minha mente... inconscientemente. justamente a que "não" era para ser projetada. o inconsciente procura transformar aquela visão em realidade. Quando uma pessoa ouve ou pensa palavras. “não soluçarei mais” reforçara o soluço. Outro exemplo é quando a mãe dirigindo-se ao filho e diz "Agora. logo em seguida. não posso. devem ser suprimidas quando se formula uma Matriz. Se os pensamentos. verdadeiramente. Quando alguém tenta "não" imaginar um gorila rosa. projeta a imagem positiva do fato negado. Para obter êxito o problema tem que ser esquecido por inteiro. primeiro imagina o gorila para depois tentar esquecer em vão. isto significa ignora o negativo. pretende enfatizar o positivo. Uma vez que a imagem visual é criada. ed. se disser. Algumas palavras como não. mas. 1978. para se evitar a formação de imagens que favoreçam o efeito contrário do que representam as palavras. A criança estava "imaginando" o leite derramado pela mesa e. não derrame seu leite". querido. pelo contrário. A técnica da distração não visa apenas substituir o pensamento negativo pelo positivo. lembra da dor e a reforçara. Embora a mãe a repreenda por "não prestar atenção". Rio de Janeiro. Bernhardt. o braço bate "acidentalmente" no copo. Para Roger 158 as pessoas são aquilo que pensam. Quanto a palavra “não” aconselha que deve evitada porque ela fatalmente reforçará a lembrança do que não se quer lembrar. fará isso acontecer. porque inconscientemente está procurando trazer para a realidade a imagem visual que está vendo. diz que existem duas maneiras pelas quais a sugestão é processada. uma é a sugestão guiada pelas palavras. agiu em sentido contrário. a imagem visual criada imediatamente na mente da criança é o leite derramando e. estava atenta ao que a mãe disse. “não permanecerei acordado a noite inteira”. freqüentemente. mas na verdade. a imagem criada no cérebro é contrária à idéia que as pessoas estão tentando comunicar com palavras. A imagem visual não processa imagem negativa expressa pela palavra não. Se alguém disser. o cérebro imediatamente processa como imagens e. Record. imaginam e percebem. reforçara a insônia. a mente deve ser ocupada com outro fato diferente. a criança. . a outra é guiada pelas imagens visuais que as palavras geram na mente. não devo.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 313 Quando Émile Coué explica a lei do efeito contrário. que fará esquecer o anterior. pode evitar seus efeitos distraindo a atenção do aspecto negativo e concentrando no positivo e. “não sentirei dor”. 158 ROGER. Autodomínio através a auto-hipnose. imagens e percepções são destrutivos. quando.. poderá ser instalado como matriz. sentir. como forma de evitar o uso de frases mal formuladas. A meta precisa ser elaborada em termos positivos. Sc. a auto-hipnose pode ser uma ferramenta poderosa para efetuar as modificações que sejam necessárias para reeducar a mente. uma meta negativa do tipo eu não quero. cria o efeito contrário. A meta precisa ser estabelecida antes do processo hipnótico.. É preciso deixar claro previamente ao processo da auto-hipnose. Instalando novas matrizes. Deve ser determinado o que quer. E. sons e sensações. após o relaxamento. As sugestões instaladas no inconsciente são chamadas de matriz e vão realimentar o consciente fazendo com que a pessoa execute atos compulsivos até atingir suas metas. Frases devem ser conscientemente escolhidas para formular a imagens mentais positivas. isso só depende de cada um. O ser humano tem em seu interior todos os recursos necessários para obter (ou não obter) o sucesso. com quem etc.. passa a ser verdadeiro na vida de uma pessoa e é capaz de afetá-la física e emocionalmente para gerar transformações. para as quais são difíceis as explicações. Esse esquecimento do problema pode ser iniciado conscientemente e. etc. o quê especificamente vai ver. não cometerei muitos erros ou não passarei no teste. Exemplo: eu quero parar de. ouvir e estar fazendo durante o transe. em que contexto. podem ser usadas metáforas (técnica de Milton Erickson) que. é imperativo que reeduque o seu inconsciente. Usada eficazmente. determinando sua maneira de agir. Também devem ser substituídas palavras do tipo quero. talvez. como uma pré-sugestão. embora perca a especificidade. acreditará e será feliz em todas e quaisquer circunstâncias. Eu quero viver sem. tentarei. em uma linguagem programada com o uso de imagens.. Dr. Em vez de. Neste sentido. mas não posso. Em parte. o que este acredita é enviado de volta à sua vida consciente. Quando o inconsciente se convence de um fato verdadeiro ou falso. a pessoa passará a pensar de uma maneira nova e saudável. A concretização de objetivos de felicidade e qualquer outra coisa necessária para desfrutar uma vida completa depende . acertarei o máximo e a nota no teste será excelente. é através desse fenômeno que se pode explicar as curas religiosas. deve ser.314 Antonio Almeida Carreiro. A pessoa é aquilo que seu inconsciente acredita e. escolhendo as palavras para comunicar a idéia de maneira correta. só assim. Antes do processo de relaxamento é preciso especificar exatamente o que se quer. onde. ganham por favorecer a construção de imagens mentais de metas positivas. Se uma pessoa não é feliz. As pessoas podem desenvolver e aperfeiçoar essa técnica de imaginar qualquer coisa que quiser. isto é. que realimentará as idéias que programar ou permitir que sejam programadas. a teoria mais recente sobre o assunto diz que existe um outro caminho. e o poder de cura desenvolvido. ao mesmo tempo. As possibilidades de curas ou de sucesso são plausíveis. através da hipnose todo o conhecimento de vida interior está disponível para . figurando ou concebendo fantasias e imagens como se fossem verdadeiras. estará contribuindo para que de fato aconteça. “vendo” o quadro com imagens vivendo a situação desejada. não deve se preocupar. eliminar. é como se fosse uma auto-reprogramação. Mentalizar ou imaginar é formar uma imagem mental. qualquer pessoa poderá surpreender-se em curto prazo. deve remover as matrizes velhas que não sejam boas. Ao estabelecer novas matrizes. O poder de visualização mental é chamado de mentalização. é operar mentalmente. Nesta hipótese entra-se em transe hipnótico e permite que. Também específico e determinando exatamente o que quer. é se ver na cena imaginada como se estivesse acontecendo. a falta de confiança. Se alguém estiver confuso na maneira de conduzir a reprogramação do seu inconsciente. Como bem ensinou o Marquês de Puységur. Quando verdadeiramente atingir a nova condição. Depois deve implantar a confiança. Inicialmente. assim. consiste na capacidade que têm as pessoas de pensar em algo e imaginá-lo nas formas e cores que quiser. Deve ser realista e. e. Determinando a meta um pouco mais alta do que se senta capaz de realizar no momento. Fazendo isso. depois apenas relaxa-se e deixa-se o inconsciente trabalhar. principalmente. eliminar o pessimismo. idéias de autopunição que são terríveis por serem autodestruidoras. automaticamente ocorram mudanças curativas na mente e no corpo. otimista na programação. a pessoa deverá definir bem as metas para sua própria vida. e assim sucessivamente. conscientemente deve-se pensar nas mudanças. avança na meta para outro patamar acima do conquistado. Para isso.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 315 exclusivamente da programação que for estabelecida no seu inconsciente. considerando que nesta situação o potencial do inconsciente pode ser revelado. imaginar-se e “ver-se” conquistando novas metas. visualizando mentalmente. ele executará a autoprogramação. Concluída essa etapa. a auto-estima e idéias de auto-realização. reprograma seu inconsciente implantando as metas que pretende atingir. 316 Antonio Almeida Carreiro. por prioridades entre todos os anseios. tornam-se mais claros os conhecimentos. a saúde. Tratamento de saúde e estética do corpo A matriz sugerida a seguir é para tratamento de saúde e estética do corpo. Dr. 4) Tratamento da dor. Curando qualquer coisa que seja necessário curar. Funcionará como um remédio natural para garantir a saúde perfeita do corpo e da minha mente. Sc. outra deve ser proposta. 3) Solução de gagueira. Projeto atenção sobre meu corpo.. Poderá ser usada auto-hipnose para atingir a informação e a solução que se precisar e. beneficiando com esta prática o seu .. O inconsciente sabe como resolver o problema de cada um e.. e a hipnose. só após a conquista de uma meta. parte a parte. com o seu Eu inconsciente. e assim sucessivamente. de sua forma de ver o mundo e nele melhor viver.. Depois de elaboradas. pela própria experiência. como: 1) Tratamento de saúde e estética do corpo. as Matrizes devem ser repetidas até que o inconsciente aceite e ponha em prática. mas deve ser aplicada uma de cada vez. a criatividade.. torna-se mais eficaz porque a pessoa aprende a viver em harmonia com o seu Eu interior. retirando ou acrescentando sugestões: • Ao ingerir qualquer alimento. quatro são clássicas. 2) Ativadora de maior memória e facilidades para a aprendizagem. a aprendizagem ocorrerá sem necessidade de submeter-se a um elaborado sistema de autodisciplina. a liderança e a comunicação entre pessoas. a intuição natural desvendará os mistérios. À medida que a mente se torna mais leve através do relaxamento.. não é necessário conhecer exatamente os mecanismos pelos quais funciona a mente. Entre muitas outras matrizes que podem ser criadas pelo próprio interessado e especificamente para sua necessidade. sabe muito bem o que é melhor para cada caso. Mentalizo meu corpo para que permaneça sempre saudável e perfeito. São infinitas as possibilidades de geração de matrizes que devem ser construídas de acordo com as necessidades do hipnotizado. de seus hábitos. Não se deve instalar mais de uma matriz numa mesma sessão e. Ocorrerá naturalmente melhoria no seu modo de vida. As criações de novos modelos podem ser desenvolvidas para melhorar a aprendizagem.. imagino automaticamente que o alimento sólido ou líquido será muito bem digerido e assimilado. para isso. porque sabe a resposta certa. e dentro dessa concepção poderão ser feitas adequações específicas para o hipnotizado.. qualquer pessoa. . assimilando todo o oxigênio que precisar para a utilização de cem por cento de sua capacidade.. por conseqüência. Aprenderei com facilidade e lembrarei de tudo que estudar. Dentro dessa concepção. Projeto beleza física ao meu aspecto exterior. datas e números que eu tenha visto.... ouvido ou lido uma única vez. Imagino meu corpo todo com aspecto perfeito e agradável. mas com dinamismo. Imagino minha pele. os colegas e professores. para que permaneça jovem e bonito. mantendo-a com musculatura firme. ordenando saúde. Estarei sempre melhor... Imagino meu cabelo. poderão ser feitas as adequações que identificam as necessidades do hipnotizado. em todas as disciplinas. para proporcionar a cura de meu corpo.. Projeto atenção sobre meu cérebro. proporcional e elegante. Para o bom resultado é aconselhado visualizar a sala de aula. porque bons são meus colegas e meus professores. Ativadora da memória Outra matriz freqüentemente utilizada por alunos de qualquer grau de estudo é a ativadora de maior memória e. O método de auto-indução começa por um processo de relaxamento convencional e para o aprofundamento passa pela autocontagem de 1 a 10.. De agora em diante. Terei prazer em aprender e facilidade para estudar qualquer disciplina. cada vez mais saudável.. para que se torne cada vez mais bonita e saudável.. A visualização pode ser complementada com o pensamento a seguir: • A partir de agora minha memória torna-se infalível e poderei recordar de todos os fatos. tranqüilidade. Minha capacidade de concentração melhora consideravelmente... na sua melhor forma. Projeto atenção sobre meu sistema nervoso.. Imagino minha cintura. Serei capaz de reproduzir com exatidão a qualquer momento que desejar. minha memória será fiel.. O ambiente da minha escola será sempre bom.. Minha atenção e memória dia a dia ficam mais eficientes. ordenando saúde e que aumente sua potência. A partir de agora minha mente controla meu corpo.. reflexos rápidos. Meu cérebro esta ativando. É importante que meu corpo seja perfeito interna e externamente. imaginando a situação desejada.. mas sob controle. Meu poder de . Ele transforma-se para atingir a forma que desejo..Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 317 funcionamento perfeito...... sem exceção. nesta fase lhe é introspectado no inconsciente uma auto-sugestão que pode ser elaborada nos seguintes termos: • Dia a dia minha memória melhora. melhores facilidades para a aprendizagem... Serei capaz de concentrar minha atenção no que for útil ou necessário para ser ótimo aluno.. Cada vez melhor.. sentirei uma vontade irresistível de estudar. acumular.”. obterei excelentes resultados nas verificações escolares”. imediatamente.. A capacidade de ler.. Quando estiver estudando. Conseguirei lembrar de uma grande quantidade de conhecimentos. por exemplo: “a partir de hoje gostarei sempre de estudar e farei isso sempre que for possível. Sc. uma impressão agradável de quem está progredindo.. como a sugestão nas primeiras vezes foi limitada no tempo “amanhã.... O estudante sentirá com intensidade as emoções sugeridas e estudará com entusiasmo. da minha concentração imediata e profunda. sentirei um prazer extraordinário e o farei com grande aproveitamento e atenção.. sentirei uma sensação de alegria intensa. Logo. Cada vez mais serei capaz de concentrar. Exemplo: • Meus olhos e centros visuais do meu cérebro desenvolvem a propriedade da leitura rápida com assimilação integral. Tudo que eu me propuser a aprender. se ocorrer.. processar e comunicar qualquer tipo de informação irá melhorar muito. aprenderei rapidamente para nunca mais esquecer.. Posso aprender sem nenhuma dificuldade.... Posso fazer citações do texto dizendo o número da página em que se encontra impresso.. aumenta a quantidade de palavras assimiladas por minuto de leitura. Sempre que for possível estudarei com prazer e com aproveitamento.. pelo menos. as sugestões podem ganhar o conteúdo mais geral. Nas primeiras sessões as sugestões para facilitar o aprendizado devem ser específicas quanto ao objetivo desejado e o tempo para o aluno efetivar seus efeitos. de quem está vencendo na vida.... aperfeiçoando radicalmente a habilidade de concentração e percepção. a ponto de simplesmente folhear um livro e absorvê-lo por inteiro. meu pensamento com perfeição naquilo em que quiser. Enquanto estiver estudando. concentração se amplia e se desenvolve aceleradamente. (repetir). Quando acordar amanhã.. ruídos e outros estímulos. duas vezes. você estudará. minha inteligência aumenta cada dia mais.. durante duas horas. Exemplo: • Quando eu for estudar as lições. Porém. a partir daí. A cada dia que passa. Dr. ajudarão a aprofundar mais a concentração. Minha memória ..318 Antonio Almeida Carreiro... Por conseqüência da minha memória clara e rápida. Saberei usar com equilíbrio e harmonia os conhecimentos que acumulo em minha memória. bastará eu pensar no título de um livro ou então no nome do autor e recordarei bem do seu conteúdo.. Estas sugestões devem ser claramente expressas e repetidas. deverá nas sessões posteriores se ampliar.... em até cinco ou seis sessões. intimidado. meu interesse será maior. A causa dessa fobia (ou dificuldade) reside invariavelmente em alguma experiência traumática do passado infantil... Quando iniciar a falar. ainda que inconscientemente diante de um possível castigo... Seguro. 1958. Um trauma psíquico equivale a uma impressão. Vejo um grande relógio de pêndulo. é a expressão neurótica de um traumatismo emocional da infância. .. mais forte ainda do que a sugestão que produziu o sintoma indesejado poderá produzir a cura.... E tudo se repetirá. De um lado para outro.. Prado. sua cura completa comportará pelo menos uma dezena de sessões devidamente dramatizadas. uma impressão deriva de uma sugestão original que continua efetiva no inconsciente (WEISSMANN). Ritmado. a cura da gagueira pela hipnose se inclui entre as mais trabalhosas. Preciso.. pede. O ato de falar produz no gago (e não apenas no gago. A idéia do ritmo pode estar contida na própria sugestão da forma seguinte: • Falarei num ritmo de um pêndulo de um grande relógio... Rio de Janeiro. estados nervosos de angústia e inibições fóbicas.. ou então por uma análise elucidativa (o que pode ocorrer com o auxilio da hipno-análise). via de regra. A gagueira corresponde a uma fobia oral. dez sessões realizadas com intervalos de dez a quinze dias. desculpas por estar dizendo o que não devia dizer.. Considera Weissmann que uma sugestão só se neutraliza com outra sugestão mais efetiva.. Quanto a isso Weissmann afirma: A gagueira corresponde a uma fobia e as fobias são mais difíceis de eliminar hipnoticamente do que meros atos obsessivos. É assim que sairão as palavras quando eu falar. O gago. Cada dia que passe. pelo menos... cada vez que for a hora do estudo. 159 WEISSMANN. Karl. O gago. Solução de gagueira É freqüente a aplicação da auto-hipnose na solução de alguns tipos de gagueira. mas como precisa aprender a ajustarse a um ritmo. eu sentirei muita disposição para estudar.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 319 estará clara e eficiente. Segundo Weissmann: 159 A gagueira.. os resultados devem ser obtidos ao longo de.. Ed. Portanto. Isso equivale a dizer que só uma sugestão hipnótica... sob efeito da sugestão pós-hipnótica.. senão freqüentemente também nos que ouvem). Sempre exige uma série de sessões (WEISSMANN). Em caso de gagueira. por assim dizer. (repetir).. Por sua vez. provavelmente aceitará a sugestão corretiva. O pêndulo balança lentamente.. O hipnotismo. Vou acordar contando vagarosamente até dez. provocada por lesão ou por estado anômalo dos órgãos e.. Sem gaguejar... Temia a crítica e a censura dos outros.... Tratando-se de sintoma de alguma doença.. A causa da gagueira era o medo de tropeçar nas palavras... Quando eu emergir deste estado hipnótico. ou se sente adoentado... ainda é usada por alguns dentistas e médicos em casos em que os pacientes são alérgicos à anestesia.. Ao terminar a contagem. Como se estivesse ouvindo o compasso do pêndulo do relógio... é através dela que se tem a condição de saber se alguma região do corpo não se encontra bem. Posso. serena e despreocupadamente.320 Antonio Almeida Carreiro.. Posso falar tão fluentemente quanto cantar. lembrarei inconscientemente do movimento desse pêndulo e falarei nesse ritmo... Tratamento da dor É significativa a relação entre a capacidade para o transe e a capacidade de controle da dor. Em termos acadêmicos a dor é definida como uma sensação desagradável.. é necessário que se certifique antes dos motivos de sua origem... Este medo desapareceu.. descobrirei que sou capaz de falar e cantar fluente e ritmicamente. À medida que eu vou contando vou acordando. De hoje em diante vou falar no ritmo do pêndulo. Sc. A idéia do pêndulo eliminará por completo o medo e o temor de falar.. Posso falar livre. Ao falar... Nas sessões posteriores. antes da sua aplicação no controle da dor e outros males físicos. estarei acordado e em condições de falar perfeitamente sem gaguejar... a partir de hoje. deve procurar um médico... estarei satisfeito comigo mesmo. como exemplo: • Posso de agora em diante articular perfeitamente todas as palavras. Falarei fluentemente e sem embaraços. penso no movimento do pêndulo. Terei autoconfiança para desenvolver ótimo desempenho da fala. A cada número.. vou falar com prazer. é bom lembrar que só médicos tem prerrogativas legais para fazer diagnóstico de saúde. sem atropelos. falar fluente e fácil. se alguém sofre de alguma dor. por isso a hipnose foi muito utilizada por cirurgiões antes da invenção dos anestésicos químicos e. sem nenhuma dificuldade. O recurso da hipnose não deve ser .. Por isso.. o reforço pode ser complementado por sugestões que reafirmem os argumentos anteriores de forma mais decisivas... Proferindo minhas palavras com segurança e firmeza..... Mas.. No compasso do pêndulo do relógio. a dor representa um mecanismo de alerta. Dr.. ou suspeita de que há algo errado com seu organismo ou seu psiquismo. sem gaguejar.. também está o grau de atenção.628.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 321 considerado terapia alternativa. Por isso. é opção paralela. especialmente a ansiedade. As primeiras experiências do indivíduo influenciam seu comportamento perante a dor. enquanto os pensamentos positivos normalmente a diminuem. perceptivos. Ed. Org. 160 . b) Fatores Emocionais . uma pessoa pode perceber e ampliar a dor em função de fatores cognitivos. Vicente E.. e tendo pensamentos positivos sobre a própria capacidade para afrontá-la. uma cena tranqüila na praia. Os indivíduos relativamente desocupados são especialmente vulneráveis à experiência de dor. então os indivíduos podem ficar muito nervosos enquanto espera o começo da dor. por exemplo. emocionais. Hipnoterapia. o que só serve para intensificá-la quando ocorrer.A experiência de dor pode causar também uma grande quantidade de emoções. ansiedade e distração. É possível diminuir a experiência de dor desviando sua atenção. A expectativa da dor é o bastante para aumentar a ansiedade e conseqüentemente a dor sentida. comportamentais e interpessoais. In: Manual de técnica de terapia e modificação comportamental. É fato que a experiência da dor é um fenômeno tanto físico como psicológico. São Paulo. Os pensamentos negativos geralmente aumentam a dor. Entre outros fatores de agravamento da dor. Se uma pessoa concentra a atenção numa situação potencialmente dolorosa. Somente então é que se deve recorrer à hipnose para eliminar ou atenuar a sensação de dor. Quando o tipo de dor é esporádico. Este efeito recíproco pode ser um fator importante no agravamento da dor. envolvendose em imagens incompatíveis. L.Os indivíduos com dor tendem a pensar nela constantemente e de modo catastrófico. adquirida na infância persistem na idade adulta. Thomas. a influência das atitudes dos pais sobre a criança representa seu comportamento quando adulto. Caballo. algumas famílias ficam agitadas com pequenos golpes e contusões insignificantes. Santos. se há uma anomalia é necessário tratá-la de forma convencional. enquanto que outras têm tendência a dar pouca atenção a ferimentos de certa gravidade. tende a sentir dores mais intensas do que o normal. não se propõe substituir tratamento convencional. E. perante a dor. como. 1987. Peça para o médico esclarecer se há uma causa para o mal que o aflige. DOWD. Ocorrendo um problema de saúde o médico deve sempre ser consultado. 609 . Assim Dowd 160 descreve esses fatores: a) Fatores Cognitivos e Perceptivos . As observações cotidianas levam a pensar que as atitudes. Artes Médicas. Corroborando as afirmações de Dowd. Os indivíduos com dor recebem mais reforçadores sociais provenientes de outras pessoas de seu ambiente. geralmente manifesta muito “comportamento de dor”. Além disso. Com uma conversa 161 SPIEGEL.322 Antonio Almeida Carreiro. a técnica mobiliza e focaliza a experiência cognitiva enquanto produz um senso de relaxamento físico. algumas destas atividades. In: Tratado de psiquiatria. 162 . Talbott et al. Visto que a experiência de dor é tanto psicológica como física. Evelin. lamentos. Spiegel 161 assim se refere: A capacidade de indivíduos hipnotizáveis de focalizar a atenção e alterar suas respostas à percepção enquanto ao mesmo tempo provocam um estado físico de relaxamento lhe dá uma oportunidade incomum de reestruturar suas experiências de dor e. Ed. 1993. em determinada fase de suas vidas. Além de servirem como estímulo que constantemente os lembram que têm dor. Resumo de Tese de Doutoramento (Jornal Correio da Bahia. andar rigidamente. a tensão na dor situa-se principalmente no cérebro (SPIEGEL). Saúde.A dor é também um fenômeno social. Há mulheres que hoje estão com a vida feliz. cria uma dor adicional. e por isso não podem inconscientemente abandoná-la. David. Afinal de contas. Ela pode ser especialmente útil para dar aos indivíduos um senso de domínio. Dr. como o contrair e tornar rígidos os músculos. 6. mas sentem muitas dores pelo corpo. GOLDENBERG. como queixas verbais. 162 Ela explica que os traumas resultantes da violência sexual trazem danos à saúde da mulher e afirma que 10% das mulheres com fibromialgia. Sc. 23/04/2004). Vítimas de violência sexual sentem mais dor durante a vida. estável. tanto físico como psicológico. A dor apenas como psicológica é tema da tese de doutorado apresentada na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) pela médica reumatologista do hospital Albert Einstein. Hipnose. algumas pessoas com dor se beneficiam com a atenção para si por outras pessoas. d) Fatores interpessoais . Org. esfregar a zona dolorida e tencionar os músculos. sofreram abuso sexual. p.A pessoa com dor. Isto pode converter-se em algo muito reforçador socialmente e pode persistir inclusive após ter desaparecido a base física da dor. deste modo. desenvolver um senso de domínio sobre elas. Evelin Goldenberg. Porto Alegre. c) Fatores Comportamentais . por sua vez. arranha o joelho e começa a chorar? Se for uma garotinha podemos distraí-la da dor chamando-lhe a atenção para o vestido lindo que está usando ou para as flores à sua volta. Milagrosamente.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 323 percebemos que as dores são frutos de alguma violência sofrida no passado. Bernhardt. site internacional de publicação médica. não encontrou quaisquer causas orgânicas para a sua dor ou. apontam também dificuldades para dormir e evitar situações a que antes da violência se submetia espontaneamente. Considerando a presença dos diferentes componentes psicológicos que contribuem para sensação dolorosa. mesmo algum tempo depois do ato de violência sofrida. uma Matriz com esse objetivo deve ser elaborada. E. porque a mente humana permite que nos concentremos somente em uma única coisa de cada vez. mas nunca conseguem um diagnóstico. ed. A fibromialgia se caracteriza por dores generalizadas na coluna e no corpo. podemos até mesmo permanecer consciente das outras coisas à nossa volta. Também revela perda de interesse pelos estudos e uma conseqüente queda no desempenho escolar. descobriu realmente uma anomalia orgânica que já está sendo tratada e. É uma técnica simples e poderosa. as lágrimas param de rolar e o choro diminui quando ela. o procedimento mais aplicado utiliza a técnica da distração. Após a indução usual ao estado de relaxamento. As mulheres vítimas de abuso ou violência passam a vida inteira fazendo exames para determinar a causa da dor. e dados publicados pelo Centro Feminista de Assessoria – CEFEMEA têm demonstrado que o trauma emocional da violência leva muitas crianças e adolescentes a sentirem dores abdominais. 163 . Neste sentido. Nestes casos. 163 podemos esquecer a dor se concentramos nossa atenção no prazer. as reações ou sintomas dos traumas observados em crianças. tenha em mente proposições onde palavras como “dor” ou “lesão” devem ser evitadas ROGER. Autodomínio através da auto-hipnose. qualquer que seja o caso. passa a concentrar-se no vestido ou nas flores (ROGER). então. (GOLDENBERG). Para Roger. cita como exemplo: O que acontece quando uma criança cai. mas só nos concentramos em um único alvo. cansaço permanente e depressão. uma das maiores expectativas da hipnose e da auto-hipnose é sua cura. você deseja combater a dor. Pesquisas publicadas na Medscape. distraindo sua atenção da dor. 1978. Partindo do princípio de que você consultou um médico que. Rio de Janeiro. Record. Estou participando ativamente desta cena.. Agora apenas respiro. Dois. Minha mente dará a ordem infalível ao meu corpo.. Todo o meu corpo está em perfeita sintonia com minha mente. Dr. Meu corpo é totalmente comandado pela minha mente..... relaxar novamente e verei este lugar. O corpo sente o que a mente permite. Agora visualizo neste lugar especial uma cena agradável... Poderá substituir uma sensação desagradável por outra que represente bem-estar... Agora estou concentrado na minha mente. Desenvolverei o controle sobre meus sentidos. Contarei até quatro e esta cena realimentará meu consciente. Formo uma imagem do meu corpo com saúde e praticando uma atividade que .. Toda vez que qualquer desconforto estiver me ocorrendo.. desenvolverei cada vez mais habilidades de controlar as sensações do meu corpo.. Sem esforço. por isso passarei a controlar mais e melhor meu corpo.. permitindo ou rejeitando qualquer sensação que possa me ocorrer. Sc.. incentivadas “relaxamento”. palavras do tipo “conforto”.... Eu posso sentir ou deixar de sentir o que desejar.. Quatro.. Relaxo ainda mais... Respiro regularmente. Meu cérebro demonstrará que é o senhor de meu corpo. Antonio Almeida Carreiro.. Mesmo estando consciente. Meu cérebro é capaz de alterar seu mecanismo e ignorar sensações que incomodam.... Minha mente desenvolve plenamente o controle das sensações......324 e.. Toda vez que necessitar suprimir uma sensação desagradável... Três... “bem-estar” e • À medida que for aprofundado o transe... A cada dia. Um.......... Posso sentir ou deixar de sentir o que quiser... Conto até quatro.. Agradável. Tranqüilo...... Seguro. Nesse lugar eu estou seguro e relaxado.. Quero viver bem.. aumento o controle sobre meu corpo.. Sou capaz de direcionar meu corpo e minha vida. Concentrarei minha mente em situações boas.. Solto mais ainda o corpo...... Qualquer hora do dia ou da noite que eu necessitar bastará sentar e fechar os olhos... Passo algum tempo apreciando esse lugar. posso comandar meu corpo e todas as sensações que nele possam ocorrer..... assumo total controle sobre minha mente e meu corpo. dono das minhas sensações..... Minha mente está em perfeita harmonia com o meu corpo.. Imagino um lugar muito especial....... Sou o senhor de meu corpo. e minha mente entra em perfeita harmonia com o meu corpo. A partir de hoje e cada vez mais..... Sem esforço. Posso me livrar de qualquer sensação que se apresente em meu corpo. fico cada vez mais confortável em todos os sentidos. eu trocarei automaticamente esta sensação por lembranças de cenas agradáveis..... Apenas sinto o quero sentir.. e vou usála em meu benefício. minha mente estará trabalhando neste sentido.Hipnose e psicoterapia: Etiologia e práxis 325 gosto. Estou aprendendo a usar mais a minha mente..... cada vez mais. o pleno controle das sensações em meu corpo. . Promovendo... A partir de agora..... Vou aproveitar este estado de harmonia e equilíbrio interior para imaginar meu completo bem-estar. 326 CONCLUSÃO Antonio Almeida Carreiro. incluindo-se aí profissionais de nível superior. Tanto na vida acadêmica quanto no conhecimento popular. existem razões especiais. tão contraditórias. desde o ímã milagroso de Paracelsus. pelo magnetismo de Mesmer e. A hipnose já percorreu um grande caminho. este livro apresentou argumentos de modo perspicaz. Cabe ao leitor caminhar em busca de suas próprias respostas. a hipnose é importante sim e também funciona. Sc. Longe de desaparecer está sendo direta ou indiretamente cada vez mais utilizada e instituída. ocorre lamentável desconhecimento e enorme preconceito sobre a hipnose. sob o falso argumento de que não é importante ou não funciona. Não há porque duvidar. pelo menos em parte. resta a certeza de que muito ainda pode ser esclarecido. continua empírica como sempre foi. mas não foi doutrinário. permitiu ao leitor refletir e se definir pela sua própria descoberta e. Neste campo. passando pelas expulsões demoníacas do Padre Gassner. Dr. mas já se sabe o suficiente para eliminar preconceitos e fundamentar uma pesquisa profunda nesta área. algumas questões são polêmicas e as explicações teóricas ainda não satisfazem. No domínio das hipóteses para explicar o processo hipnótico ocorreram poucos avanços. seus efeitos podem atingir grandes coletivos sociais. Quando transformada em instrumento de manipulação através dos meios de comunicação de massa. baseadas na história e na prática. alguns problemas que tanto afligem o ser humano. Por isso é importante que muitos autores estejam preparados para correr o risco de uma hostilidade por parte de quem tenta silenciar o debate sobre hipnose e seus efeitos no cotidiano dos indivíduos. para que se possa acreditar nas possibilidades que tem a hipnose de resolver. Considerando as dúvidas ainda existentes. demonstrando as controvérsias sobre as explicações teóricas e apontando fatos práticos. Por haver fatos sobre os quais ainda não se chegou a consenso. embutida nos mais diferentes rituais e procedimentos de cura. Após a leitura deste trabalho. apenas incentiva mostrando um caminho. . talvez sejam válidas apenas como base para o estudo deste assunto. Embora não aceitando algumas explicações. as opiniões conhecidas não respondem todos os questionamentos e as conclusões até então existentes. como qualquer professor. chega até hoje produzindo os mesmos efeitos. REFERÊNCIAS Admes. 5.hypnosis applied to dentistry. 1943. Ciência da natureza humana. A. Scheicher. 8. 1977. Jean. L. Paris. 3. Rio de Janeiro. João Amado. Philaephia. técnicas e aplicações. P. Magnetismo Curador. Sugestões noturnas. 1985. Lippincott. Ed. São Bernardo do Campo. H. 1983. Seleções Odontológicas. Bernheim. Washington. London. Burgess. Autodomínio através da auto-hipnose. Ed. Braun BG. practice and theory. R. George Redway. 13. 9. precipitating. Sachs RG. 1945. Besteseller. Braid. 2. Barreto. 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