Teorias Cognitivas Da Aprendizagem Ana Maria Lakomy

March 31, 2018 | Author: Lindy Moura | Category: Behaviorism, Learning, Thought, Psychology & Cognitive Science, Sociology


Comments



Description

FAC I N T E R Fa c u l d a de I n t e r n a c io n a l de C u r i t i b a Diretor-presidente Prof. Wilson Picler Diretor acadêmico Prof. Dr. João Correia Defreitas Psicopedagogia Teorias Cognitivas da Aprendizagem Ana Maria Lakomy 2ª edição revista e atualizada Curitiba 2008 ed.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão de conceitos. Ensino à distância – Curitiba (PR). Faculdade Internacional de Curitiba – Pós-graduação. Foi feito o depósito legal. Ana Maria Teorias cognitivas da aprendizagem / Ana Maria Lakomy. Educação – estudo e ensino (Pós-graduação) – Curitiba (PR). 2008. ed. Título. CDD 371. 319 Santo Inácio  CEP 82010-340  Curitiba  PR  Brasil Editor-chefe  Lindsay Azambuja Editores-assistentes  Adriane Ianzen.Rua Tobias de Macedo Junior. 3. – Curitiba: Ibpex. 2. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex.3 21. . 2. Jerusa Piccolo Análise de informação  Daniela Del Puente Revisão de texto  Schirley Horácio de Gois Hartmann Capa  Denis Kaio Tanaami Projeto gráfico  Raphael Bernadelli Diagramação  Regiane de Oliveira Rosa K68m Lakomy. rev. e atual. ISBN 978-85-99583-45-6 1. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9. I. 93 p. 51 2.57 2.15 1.61 .1 O construtivismo psicogenético .6 A teoria da aprendizagem significativa .4 A teoria da instrução .7 1 Uma breve introdução ao tema da aprendizagem .1 A teoria comportamental de Skinner .44 2.Plano de Curso .5 O método da aprendizagem por descoberta .25 2 As teorias cognitivas da aprendizagem .3 O construtivismo em sala de aula .2 A teoria sociointeracionista .2 A teoria cognitiva social .38 2.30 2.20 1.29 2. 89 .72 3 Nossas considerações sobre as teorias da aprendizagem .85 Referências .2.83 Referências por capítulo .8 A teoria das inteligências múltiplas .7 A teoria da afetividade .65 2. 1 Apresentação Este livro visa contribuir para uma melhor compreensão sobre o processo da aprendizagem no âmbito escolar. O estudo dessas diversas teorias permite uma reflexão sobre a prática docente em sala de aula. de forma que o professor seja capaz de identificar e utilizar as técnicas e os conceitos mais ade­ quados para estimular o processo de aprendizagem e o desen­ volvimento cognitivo de cada aluno de modo mais produtivo. . A denominação “teorias de aprendizagem” se refere a um con­junto de enfoques e perspectivas teóricas diferenciadas e/ou complementares que procuram oferecer explicações gerais sobre os elementos e os fatores envolvidos no processo de ensinoaprendizagem. tendo em vista cada situação. 8 Ana Maria Lakomy O desafio reside em o educador entender e articular os conceitos teórico-práticos expostos pelas teorias como instrumentos para a construção de uma prática pedagógica individual. 2 ementa O condutismo e o processamento da informação. teoria da aprendizagem de Vygotsky. condições e necessidades educativas no espaço escolar atual. crítica. pois. Aprendizagem por reestruturação: teoria gestáltica. teoria da equilibração de J. embora o processo da aprendizagem seja pleno de complexidades e de dúvidas frente aos diversificados desafios que se apresentam constantemente no espaço escolar. tendo em vista a diversidade de situações. na educação como um campo fecundo de pesquisa e prática docente. A reestruturação como um produto de instrução. teoria da aprendizagem significativa de Ausubel. criativa e condizente com as necessidades dos alunos. 3 Objetivos 3. criativas e inovadoras. Aprendizagem por associação. A análise das teorias de aprendizagem aparece. Piaget.1 Objetivo geral:  identificar e analisar criticamente as diversas teorias sobre o processo de aprendizagem com o objetivo de refletir e desenvolver práticas educativas histórico-críticas. . reflexiva e flexível.2 Objetivos específicos:  apreender os diversos conceitos de aprendizagem.  refletir criticamente sobre as possíveis hipóteses de práticas e soluções tendo em vista o processo de ensino-aprendizagem e.  identificar e analisar criticamente os fundamentos das várias teorias de aprendizagem. bem como analisar a sua aplicabilidade no âmbito educativo. sob a forma de auto-aprendizagem. O texto. 4 Metodologia e estratégias de aprendizagem A modalidade a distância. propor estratégias educativas inovadoras.  relacionar os conceitos teóricos apresentados pelas teorias da aprendizagem com o desenvolvimento de uma prática pedagógica crítica. também propõe atividades prá­ ticas e atividades de leitura complementar para que o aluno seja capaz de identificar as principais contribuições das diversas teo­ rias de aprendizagem. de caráter dialógico. compreende a leitura e a análise crítica. assim. O livro é desenvolvido com base em um suporte teórico disponível que permita a cada aluno efetuar um questionamento . compreensiva e interativa entre o autor e o leitor por meio dos textos analisados ao longo do livro.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 9 3. individual e escrita sobre os temas abordados. Como estratégia de aprendizagem.  a elaboração dos exercícios propostos ao longo do módulo.  a apresentação do trabalho de conclusão do módulo. .  a interação do aluno com seu professor-tutor e seus colegas de EaD. 5 Avaliação O processo de avaliação será realizado em função dos objetivos propostos e toma como base:  a leitura dos textos indicados.  a realização de uma avaliação final. assim como adquirir conhecimentos para desenvolver estratégias de ensino-aprendizagem inovadoras e condizentes com a realidade vivenciada por cada um no âmbito educativo.10 Ana Maria Lakomy crítico da sua prática educativa. os temas serão analisados teo­ricamente. possibilitando a interação professor/aluno em torno do conteúdo programático e da proposta metodológica. e os questionamentos dos alunos serão discutidos com os especialistas. et al. 2005. R. 1998. (Org. Porto Alegre: Artmed. FERREIRO. Atualidades de Jean Piaget. I. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. São Paulo: Loyola. Porto Alegre: Artmed. H. A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. D. BRUNER. K. DANTAS. E. COLL. 1995.). 1997. 1998. Rio de Janeiro: Vozes. São Paulo: Unesp. D. 1995. São Paulo: Manole. GOULART. Rio de Janeiro: Interamericana.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 11 6 bibliografia AUSUBEL. GARDNER. 1985. 1997. Psicologia para professores. Desenvolvimento psicológico e educação. Compreender o behaviorismo. A educação na perspectiva construtivista: reflexões de uma equipe multidisciplinar. 2001. W. ______. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Psicologia educacional. Porto Alegre: Artmed. FONTANA. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 1994. Porto Alegre: Artmed. 1997. CARRARA. Atos de significação. V. . C. Porto Alegre: Artmed. Porto Alegre: Artmed. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. J. Alfabetização em processo. 3v. 1995. Porto Alegre: Artmed. São Paulo: Cortez. et al. 1998. 1995. H. Porto Alegre: Artmed. BAQUERO. FONSECA. ______. Vygotsky e a aprendizagem escolar. BAUM. Porto Alegre: Artmed.12 Ana Maria Lakomy KASNER. M. L. NEWCOMBE. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes. ______.. 1996. São Paulo: Summus. L. PALANGANA. LURIA. . Porto Alegre: Artmed. 2004.). Y. 1997. I. F. MAHONEY. MOLL. São Paulo: Herder. L. 1980. A. (Org). 1998. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio. Vygotsky e a educação. 2004. 1999. 1990. Vygotsky. M. São Paulo: Loyola. et al. São Paulo: EPU. Wallon. MASINI. Aprendizagem: teoria do reforço. 1999. Brasília: UNB. LA TAILLE. Aprendizagem significativa. N. ALMEIDA. 1980. Piaget. Linguagem e pensamento da criança. 1997. ______. Henri Wallon: psicologia e educação. ______. Linguagem e desenvolvimento intelectual da criança. São Paulo: Plexus. Desenvolvimento infantil. KELLER. São Paulo: Loyola. Constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. PIAGET. (Org. A. J. O nascimento da inteligência na criança. 2000. E. MOREIRA. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky. 1999. Rio de Janeiro: Zahar. 1995. MOREIRA. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. Pesquisa sobre modificação de comportamento. São Paulo: Artmed. As origens do caráter na criança. 1995. São Paulo: Ícone. Vygotsky: uma síntese. 1988. MALOTT. São Paulo: Loyola.. Psicologia do ensino. A evolução psicológica da criança. desenvolvimento e aprendizagem. L. Questões recentes na análise comportamental. WALLON. F. São Paulo: Cultrix/Edusp. Henri Wallon. Psicologia da educação. 1988. São Paulo: Ática. WEREBE. 1995. ______. Sobre o behaviorismo. A. DER VEER. M. ______. 1999. R. VAYER. ______. Psicologia atual e desenvolvimento da criança. 1995. 2000. Porto Alegre: Artmed. P. R. 2005. 2000. São Paulo: Herder. São Paulo: Martins Fontes. . D.. VYGOTSKY. 2000. C. Linguagem. SKINNER. H. VALSIMER. NADEL-BRULFERT. São Paulo: Papirus. Porto Alegre: Artmed. A formação social da mente. et al. 1996. J.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 13 SALVADOR. São Paulo: Edição 70. WHALEY. J. São Paulo: Manole Dois. São Paulo: Nova Alexandria. WOOLFOLK. Princípios elementares do comportamento. 2000. . nada fala. sem problemas. Normalmente o professor não compreende adequadamente o que se passa de fato no interior do sujeito quando ele aprende. Por exemplo. ou seja. a escrever. Para muitos docentes.1 . sobre as operações mentais próprias do processo de construção do conhecimento que leva à aprendizagem. a aprendizagem é confundida com suas manifestações exteriores e os resultados que em si estas geram. portanto.Uma breve introdução ao tema da aprendizagem Qualquer pessoa pode responder. a dançar ou a utilizar a internet. para alguns autores. referindo-se apenas a comportamentos observáveis e mensuráveis. a ler. a aprendizagem ocorre por meio da repetição e pela imitação. temos em mente que aprender significa sermos agora capazes de fazer algo que antes não fazíamos. à seguinte pergunta: o que você já aprendeu até hoje? Ao tentarmos responder. aprendemos. por exemplo. Na realidade. de um fenômeno a partir do qual um sujeito toma para si uma nova forma de conduta. enfatiza de modo particular a maneira como cada indivíduo interpreta e tenta entender o que acontece. que procura de forma deliberada processar e categorizar o fluxo de informações recebido do mundo exterior. Estamos sempre aprendendo. português. mas um agente ativo no processo de aprendizagem. e os adultos podem aprender uma nova dieta de alimentação ou um novo estilo de vestir. O indivíduo não é um produto relativamente mecânico do ambiente. hábitos e atitudes novas. transforma a informação em conhe­cimento. intencionalmente ou não. Assim. desenho etc. como matemática. por exemplo. os adolescentes aprendem a tocar instrumentos musicais. durante toda a nossa vida.16 Ana Maria Lakomy O conceito de aprendizagem é complexo porque envolve a interação de diversos fatores e processos através dos quais compreendemos conceitos de temas específicos. pois. Esta abordagem. . Nesse processo. O aprendizado consiste em uma mudança relativamente persistente no comportamento do indivíduo devido à experiência. os bebês aprendem a brincar. acontece algo novo que não envolve uma simples reestruturação.2 A aprendizagem não é a simples passagem da ignorância ao saber. portanto. sem resistências e sem conflitos. Tratase. por exemplo. a aprendizagem não é um processo que resulta de uma simples maturação biológica ou esforço pessoal. isto é. um processo ativo:  primeiro resulta de uma ação cognitiva e motora individual.  ocorre também por meio da mediação. ao analisar . A aprendizagem ocorre quando. suas experiências e obje­tos ao seu redor. é necessário que haja uma interação ou troca de experiências do indivíduo com o seu meio ambiente ou comunidade educativa. mas. Ela também acontece quando mudamos nossos comportamentos. para a aprendizagem ocorrer. como. algo que resulta de uma ação própria e individual. por meio de uma experiência. a decisão de parar de fumar depois de assistir a uma palestra sobre as conseqüências nocivas do fumo à nossa saúde. É importante entendermos que. propriedades e finalidades para suas ações e experiências com fatos e objetos. As crianças. a criança vai construindo. Por meio dessas interações.3 Essa construção de significados pressupõe a identificação de características. por exemplo. gradativamente.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 17 Como uma operação do sujeito. comportamento ou conceito. aprendem a partir da interação com os adultos e com crianças mais experientes. Assim. da relação da criança com a comunidade social e cultural de aprendizagem de que ela faz parte. mudamos nosso conhecimento anterior sobre uma idéia. sim. significados para as suas ações. mas são pontos de partida para novas reflexões sobre a atividade docente. suas finalidades e aplicabilidade no cotidiano. por sua vez. apesar de não haver consenso de como é entendido o processo de aprendizagem. devemos ter noção de como ela ocorre e da teoria que defendemos. as explicações geradas pelas teo­rias da aprendizagem têm fornecido. podemos notar que sua concepção constitui o resultado de muitos anos de pesquisas e esforços para concebê-la. os conceitos apresentados pelas teorias permitem a elaboração de novas práticas de ensino. Algumas teorias concei­ tuam aprendizagem de forma diferente porque compreendem o processo de aquisição do conhecimento de forma diferenciada. suscitando a busca por alternativas e/ou ex- . podemos afirmar que o conhecimento dessas teorias. subsídios para a compreensão de como aprendemos. Conhecê-las é importante para propiciar uma profunda reflexão sobre a prática docente.18 Ana Maria Lakomy uma fórmula matemática. em particular no âmbito escolar. inspira o uso de estratégias sobre como o professor poderia estimular o desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem do seu aluno de forma mais produtiva e duradoura. Mas. entender o seu significado implica conhecer seus fundamentos básicos. Assim. As teorias cognitivas não fornecem “respostas prontas”. sem uma preocupação exclusiva com o processo de aprendizagem. Existem pesquisas que visam descobrir e analisar como cons­ truímos o nosso conhecimento e desenvolvemos a nossa inte­ ligência. Entretanto. Ou seja. Nesse sentido. de modo direto ou indireto. conseqüentemente. Para os teóricos comportamentais.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 19 plicações para o desenvolvimento de novas práticas peda­gógicas que ofereçam condições para o aluno desenvolver-se em todos os seus aspectos. o resultado da aprendizagem é uma mudança de comportamentos observáveis. geram informação que nos leva a conhecer como se processa interiormente a aprendizagem. causada por fatores externos ou estímulos ambientais ou reforços (punição ou recompensa).4 Apesar dos inúmeros avanços na área. . com a expansão da intitulada “revolução cognitivista”. O behaviorismo (comportamentalismo) se tornou um paradigma na psicologia a partir da década de 1920. os estudos e as pesquisas comportamentais ainda têm como referencial teórico-prático os trabalhos clássicos desenvolvidos por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) nos Estados Unidos. mantendo esse status até os anos 1960. por teóricos que se dividem basicamente em dois grupos: os teóricos comportamentais (behavioristas) e os teóricos cognitivistas (interacionistas). As teorias cognitivas formam conjuntos de proposições que procuram explicar o processo de construção do conhecimento hu­ mano e desenvolvimento da inteligência e. O processo de aprendizagem tem sido estudado. Elas são baseadas em idéias e conceitos desenvolvidos por Jean Piaget (1896-1980) na Suíça e por Lev Semynovitch Vygotsky (1886-1934) na Rússia. refletem e tomam decisões para que possam adquirir novos conhecimentos. apresentaremos as teorias cognitivas de Jerome Bruner. o processo de aquisição do conhecimento é a aprendizagem em si. David Ausubel. ao apresentar os trabalhos de Piaget e Vygotsky e suas implicações para o desenvolvimento da teoria construtivista. 1. Henri Wallon e David Gardner. Em seguida. os alunos são percebidos como agentes ativos que interagem constantemente com o ambiente interno e externo.1 a teoria comportamental de skinner Para os estudiosos que apóiam as chamadas teorias compor­ tamentais da aprendizagem. primeiramente. tendo em vista suas contribuições no âmbito educacional. a teoria behaviorista clássica de Skinner e sua influência no desenvolvimento da teoria cognitiva social de Albert Bandura. utilizam suas experiências anteriores. Ao contrário dos comportamentais. o resultado da aprendizagem é uma mudança ou aquisição de comportamentos observáveis causada por estímulos externos ou ambientais – esses comportamentos observáveis é que são os . Para esses cientistas. Abordaremos. uma teoria é considerada científica quando se apóia em dados experimentais e pode ser compro­ vada por meio de experimentos.20 Ana Maria Lakomy Na perspectiva cognitivista. Na seqüência. buscam e reorganizam informações. analisaremos as teorias cognitivistas. Teorias Cognitivas da Aprendizagem 21 resultados da aprendizagem. A modificação de um comportamento é entendida pelos comportamentalistas como o resultado de um processo de condicionamento. fisiologista russo que estudou. A esse reflexo aprendido Pavlov chamou de reflexo condicionante. mas também diante de estímulos que ocorriam antes disso: toda vez que um animal recebia alimento. Assim. soava uma campainha. assim como se esta­ belece uma resposta. Pavlov emparelhou dois estímulos: som e alimento. ele conseguiu que aqueles cães apresentassem o reflexo salivar ao ouvir a campainha. Se. sem que o alimento aparecesse logo após. por exemplo. o qual tem como base os trabalhos realizados por Ivan Petrivich Pavlov. mesmo que ainda não tivessem recebido alimento. . Isto é. o cientista observou que os cães salivavam muito quando ouviam esse som. o fisiologista descobriu que. pode-se também extingui-la. o reflexo condicionado a partir da observação do reflexo salivar de cães. Pavlov constatou que os cães salivavam não somente quando o alimento era colocado em suas bocas. Além disso. em 1901. o animal deixaria de apresentar o reflexo salivar ao ouvir aquele som. O objeto de estudo da psicologia é o estudo do comportamento com os objetivos de prevê-lo e até modificá-lo quando necessário. a campainha continuasse tocando repetidas vezes. Após algumas refeições precedidas do toque da campainha. Também advo­ gam que novos comportamentos são aprendidos mediante a utilização adequada de reforços (punição ou recompensa). Na década de 50. ou seja. Skinner desenvolveu uma máquina de ensinar e um novo método de ensino baseado na instrução programada: apresentação do material didático ao aluno em etapas de acordo com uma seqüência crescente de dificuldade. . o qual é reforçado por um estímulo. A teoria behaviorista é baseada na relação estímulo-resposta (e-r). Skinner*∗– o representante clássico do behaviorismo – e seus seguidores enfatizam a importância do estudo de comportamentos observáveis e os efeitos do meio ambiente na mudança desses comportamentos. onde iniciou seus estudos sobre o comportamento por meio de experimentos envolvendo ratos. O sujeito que aprende é visto como uma “tábula rasa”.22 Ana Maria Lakomy Influenciados pelos trabalhos sobre condicionamento rea­ lizados por Pavlov. dando continuidade ao crescente campo da psicologia experimental por ele iniciado. seja positivo ou negativo. Graduou-se em Psicologia na Universidade de Harvard. ele aprende passivamente enquanto processa as informações que vêm da realidade externa. Estados Unidos. A aprendizagem ocorre quando o comportamento é adquirido – o comportamento novo. tornou-se diretor do Departamento de Psicologia da Universidade de Indiana. Os trabalhos originais de Skinner constam como base de todas as teorias associacionistas da atualidade. O estudo da aprendizagem é baseado em experimentos envolvendo o com- * Skinner nasceu na Pensilvânia. Os behavioristas são interessados no efeito do reforço e da motivação externa sobre uma rede de associações e comportamentos aprendidos. Cada etapa deve ser seguida de um retorno imediato do professor (feedback) para que assim o aluno possa ou não avançar para a nova etapa. Em 1945. a criança fica satisfeita quando acerta a resposta e sente-se estimulada a seguir adiante no programa. o melhor método de ensinar a criança seria um método mecânico. apresentadas num grau de dificuldade crescente. e os estímulos aversivos são os castigos ou algo que venha a causar dor. ou seja. de acordo com as respostas emitidas. Para obtê-lo. Cabe às máquinas corrigir as respostas dos alunos.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 23 portamento de animais. isto é. para os quais os estí­mulos positivos são a comida e o agrado. programadas para estimular a aprendizagem. Mas como essa teoria se aplica às crianças? Para Skinner5. reforçando-os negativa ou positivamente. As máquinas de ensinar devem apresentar sistematicamente o conteúdo de . os reforços oferecidos ao aluno para manter a intensidade de seu comportamento. o reforço positivo (elogio) é emitido diante da resposta correta. Por exemplo. o autor propõe dividir a matéria da aprendizagem em passos muito pequenos. que parte de duas premissas básicas. reduzir ao mínimo os erros. com o objetivo de argumentar para receber os reforços necessários e. Dessa premissa surge a concepção de programa. uma série ou seqüência ordenada de partes pequenas do conteúdo. o ensino programado. em que se dirigem perguntas aos alunos que podem ser corrigidas imediatamente. de maneira eficiente. diante dos quais o aluno deve responder constantemente. A segunda premissa aponta para a necessidade do uso de má­ quinas de ensinar. assim. A primeira é a necessidade de programar.  a relevância de estabelecer similaridade entre os problemas resolvidos. ou a punição (por exemplo. .24 Ana Maria Lakomy ensino. seguindo uma ordem lógica e de dificuldade crescente. uma advertência verbal ou escrita).  a lei do exercício ou da prática.  a importância da motivação relacionada com a recompensa positiva (por exemplo. num processo de avaliação constante. elogio verbal ou escrito pelo professor). que enfraquece o comportamento ou resposta não desejada. ou seja. estimulando a resposta do aluno e corrigindo-a imediatamente. bem como repetição para favorecer o insight e a transferência da aprendizagem.6 Elementos para a aprendizagem Para que a aprendizagem se efetive. a constância dos exercícios e da prática com o objetivo de reforçar a aprendizagem. a teoria comportamental considera os seguintes fatores:7  a capacidade do aluno de elaborar associações condicionadas por meio de estímulos e respostas na aquisição de um novo comportamento. que estimula a aprendizagem. segundo o qual o ambiente. para estudar o processo de aprendizagem. Estados Unidos. Assim. como Skinner. ambiente físico) e fatores comportamentais (atos individuais ou escolhas). Bandura se preocupou com a questão da agressividade adolescente. Durante seu doutorado na Universidade de Lowa.2 A TEORIA COGNITIVA SOCIAL Os estudiosos comportamentalistas das décadas de 1970 e 1980 perceberam que o processo de aprendizagem é mais complexo do que julgavam os comportamentalistas tradicionais. vale destacar Albert Bandura*. o comportamento e as características psicológicas de uma pessoa (não observáveis) interagem para que o processo de aprendizagem ocorra. Em 1959. pensamentos.8 Dentre esses estudiosos. considerando um pouco simplista a idéia de que o meio pode conduzir a mudanças de comportamento. desenvolveu o conceito de determinismo recíproco. seria necessário considerar os processos cognitivos que não podem ser observáveis diretamente. . fatores ambientais (recursos. que desenvolveu a teoria cognitiva social. em 1949. quando passou a lecionar na Universidade de Stanford. Portanto. foi influenciado pela emergente teoria behaviorista da aprendizagem. concluindo que a perspectiva teórica em voga era muito tradicional e simplista para explicar o fato em questão. dese­jos e crenças). Para Bandura. procura enfatizar a interação de vários fatores que não só influenciam.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 25 1. como fatores pessoais (expectativas. mas também são influenciados uns pelos outros no processo de aprendizagem de um novo comportamento. O autor. estão envolvidos no processo de modelagem da aprendizagem os seguintes fatores: * Albert Bandura graduou-se em Psicologia na Universidade da Columbia Britânica. Cabe ao professor incentivar o aluno a estabelecer relações entre o conteúdo da aula com imagens mentais ou descrições verbais. os trabalhos de Skinner e Bandura contribuem para uma compreensão parcial do processo de aprendizagem. nervosismo. fatores como sono. . devendo ser considerados pelo professor.26 Ana Maria Lakomy  Atenção – a aprendizagem requer o estímulo da atenção do aluno. assim. seja por meio de incentivos futuros. mal-estar ou um estímulo competitivo têm o poder de interferir no nível de atenção do aluno. Quando essas relações se interiorizam.  Retenção – o aluno precisa lembrar-se daquilo que aprendeu. sendo que. Ainda. pois não enfatizam adequadamente os processos interiores que ocorrem durante a aprendizagem – processos internos aos alunos que não podem ser medidos. o reforço tende a provocar resultados mais positivos que a punição. por exemplo.9 Como podemos ver. na opinião do autor. o aluno é capaz de “trazer à mente” a imagem ou descrição e.  Reprodução – a reprodução de um comportamento ou aprendizagem requer prática e observação constantes.  Motivação – cabe ao professor motivar o aluno seja por meio do tradicional método reforço/punição. Suas teorias são consideradas por muitos estudiosos como incompletas. reproduzir aquilo que foi aprendido. por meio de uma apresentação dramática de um conteúdo. ______. W. incluindo o ambiente educacional. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. 1998. Ou seja. passivo e passível de qualquer tipo de manipulação vinda do meio ambiente. K. F. São Paulo: Cultrix/ Edusp. São Paulo: Unesp. previstos pelo professor. 2000. A. Questões recentes na análise comportamental. 2005. CARRARA. Psicologia da educação. São Paulo: Papirus. as formulações reducionistas baseadas na ênfase conferida ao meio como principal elemento modelador de novos comportamentos acabam por apresentar o homem como um ser neutro. muitas vezes. WOOLFOLK. Bibliografia recomendada BAUM. São Paulo: Martins Fontes. Porto Alegre: Artmed. 2000. Sobre o behaviorismo. Ciência e comportamento humano. 1998. Compreender o behaviorismo. 1995.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 27 observados e. SKINNER. Porto Alegre: Artmed. ______. . . É importante notar que. Coube a ele desenvolver a epistemologia genética. O teórico cognitivista Jean Piaget* enfatiza a importância do conhecimento no desenvolvimento da inteligência a ponto de ter dedicado sua vida a estudá-lo por meio de várias pesquisas que fundamentaram o desenvolvimento de uma das mais importantes e influentes teorias cognitivas da aprendizagem. a maturação biológica. a desenvolver sua inteligência. conseqüentemente. sem nunca ter se preocupado com o processo de aprendizagem em si. o construtivismo psicogenético. da aprendizagem. Seu interesse sempre esteve voltado para o processo de desenvolvimento da inteligência do indivíduo tanto de forma teórica como experimental. o conhecimento prévio. o desenvolvimento da linguagem. os trabalhos de Piaget contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento de idéias e estratégias de ensino no âmbito escolar. entendida como o estudo dos mecanismos que conduzem os seres humanos a adquirir o conhecimento e. o processo de interação social e a descoberta da afetividade são fatores de grande relevância no processo de desenvolvimento da inteligência e. .As teorias cognitivas da aprendizagem Para os teóricos cognitivistas. * Jean Piaget formou-se em Biologia e Filosofia na Suíça. con­seqüentemente. seu trabalho sobre o processo de aquisição do conhecimento trouxe contribuições importantes para compreendermos questões educacionais de aprendizagem. bem como pela complexidade de exercícios que realizam. a maneira como a criança elabora o processo do conhecimento para construir a sua inteligência. Daí a capacidade das pessoas em desenvolverem o seu intelecto pelos estímulos oferecidos pelo ambiente. A sua preocupação inicial foi epistemológica (como é originado o conhecimento humano) e não educacional.1 o construtivismo psicogenético Jean Piaget pesquisou.  as interações sociais que ocorrem por meio da linguagem e da educação. são quatro os fatores responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo da criança na teoria piagetiana1:  o fator biológico. a inteligência implica o desenvolvimento contínuo de estruturas que viabilizem a adaptação do organismo ao meio.30 Ana Maria Lakomy 2. um indivíduo só pode apreender um determinado conhecimento se estiver intelectualmente maturo e. por isso suas idéias são difundidas e incorporadas à teoria pedagógica. . preparado para recebê-lo. Assim. assim. mediante observações sistemáticas. em particular o crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso. Para o pesquisador. ou seja. Entretanto. como mecanismo de adaptação do indivíduo a uma situação inusitada.  os exercícios e as experiências adquiridos na ação da criança sobre os objetos. Atuar. que é obtido quando a resposta certa é incorporada à sua estrutura interna – processo de acomodação. seguido pela busca do equilíbrio. conta ou faz deduções mentais. repetida com ligeiras modificações.3 Por exemplo. é necessário que possua um esquema de ação. primeiramente. e assim permitir à criança atingir novos objetivos. ela começa a atuar e a modificar ativamente a realidade que a envolve. cognitivas e afetivas. um estado de desequilíbrio quando cabe à criança incorporar aquilo que lhe é novo – processo de assimilação –.2 Por exemplo. quando a . ou seja. em situações diferentes. Por meio do esquema. a criança mobi­liza seus esquemas de ações já existentes e modifica-os para poder resolver a questão colocada. Para a criança atuar. o que visa a um constante processo de equilibração – melhor adaptação ao meio.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 31  o fator de equilibração das ações que estimula a criança a encontrar respostas para novos problemas – situação que gera. mas também atividades internas. Ela desenvolve sua inteligência por meio de um inter­câmbio permanente com o meio. na solução de um problema. Assim. ela interpreta e organiza sua ação para que esta possa ser colocada em prática. não envolve necessa­ riamente ações e movimentos externos e visíveis. ordena. compara. À medida que a criança passa a interagir com o mundo ao seu redor. como acontece quando um bebê faz soar um chocalho. uma criança está mentalmente ativa quando. no sentido piagetiano. classifica. diante de um problema percebido como novo. O bebê não percebe diferenças entre seus dedos e outros objetos quaisquer. .4 Por exemplo. assim como outros objetos. o reflexo de sucção do recém-nascido transforma-se. podem ser chupados. Quando o bebê leva à boca tudo o que sua mão toca.32 Ana Maria Lakomy criança se encontra em uma nova situação. todos eles. A criança. a partir do seu exercício. ele associa esses objetos externos ao esquema de sucção. o que importa é a maneira como atuar com os dedos. ou seja. então. isto é. Assim. assim. que levam à produção de conhecimentos cada vez mais complexos. em um dos primeiros esquemas de ação do indivíduo. constrói novos esquemas de ação. Para ele. instala-se uma situa­ ção de desequilíbrio. adaptar-se e voltar a um novo estado de equilíbrio. Ele é utilizado pela criança como uma estratégia de ação generalizável para que possa adaptar-se às modificações do meio. procura novos esquemas ou formas para lidar com essa situação (que envolve uma crescente transformação das suas ações) para. o indivíduo em contato com o meio perturba-se e dese­ quilibra-se. da troca da criança com o meio. Para superar esse desequilíbrio e adaptar-se.5 O esquema de ação é a primeira condição da ação. Quando a assimilação e a acomodação acontecem de forma simultânea. a qual desempenha um papel muito importante no desenvolvimento cognitivo. Já a acomodação ocorre quando a criança reorganiza sua estrutura mental para que ela possa incorporar esses novos conhecimentos. Esse processo envolve dois mecanismos intermediários para que novos esquemas se desenvolvam e. São eles: assimilação e acomoda­ ção. a criança retorna a um novo e superior estado de equilíbrio6.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 33 Se as estruturas intelectuais disponíveis na criança são suficientes para operar com as novas situações. experiências ou informações e transformá-los para se ajustarem às novas exigências do meio. conseqüentemente. a inteligência seja construída. retorna a uma situação superior de equilíbrio. então ocorre o que Piaget chama de equilibração majorante. . ou seja. Ao ocorrer a acomodação. A assimilação é a incorporação de novos conhecimentos e experiências ou informações à estrutura intelectual da criança que não são modificados. a criança adapta-se às novas situações. Portanto. é por meio de um processo contínuo de desequilíbrios e de novas e superiores equilibrações que ocorre a construção progressiva do conhecimento da criança. Os estágios do desenvolvimento cognitivo O primeiro é chamado estágio sensório-motor (0 – 2 anos) 8 porque “à falta de função simbólica. Essa conduta. os recém-nascidos possuem reflexos básicos que vão sendo modificados à medida que ocorrem a maturação do sistema nervoso e a sua interação com o meio.34 Ana Maria Lakomy De acordo com Piaget7. que permitam evocar pessoas ou objetos na ausência deles”. A seqüência em que as crianças atravessam esses estágios é sempre a mesma. pois já começa a desenvolver uma capacidade . Esses fatores sensórios (as percepções) e motores (as ações) permitem que o bebê desenvolva seus primeiros esquemas de ação sem que haja representações mentais ou pensamentos. quando a criança passa a não ser dependente unicamente de suas sensações e movimentos. o bebê não apresenta pensamentos nem afetividade ligados a representações. possibilita que a criança construa esquemas de ação mais complexos que servirão de base para todas as futuras construções cognitivas. que se desenvolvem a partir das estruturas cognitivas construídas nos estágios anteriores.9 Ou seja. O segundo é o estágio pré-operatório (2 – 7 anos) 10. que é essencialmente prática. o desenvolvimento cognitivo compreende quatro estágios ou períodos. variando apenas o ritmo no qual cada uma adquire novas habilidades ou dispõe de novos esquemas de ação que possuem propriedades funcionais diferentes daquelas observadas em etapas anteriores. a criança desenvolve a capacidade de pensar de maneira lógica. palavra ou símbolo) daquilo que ele significa (o objeto ausente). mas não consegue compreender que 3 . se para a criança a banana verde dá dor de barriga. Por exemplo: ela sabe que 2 + 1 = 3. também dá dor de barriga.2 = 1. seu raciocínio vai do particular para o particular. No terceiro estágio. que é verde.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 35 simbólica. Por exemplo. As características que a criança adquire nesse estágio são as seguintes: . São características do primeiro e segundo estágios:  A criança ainda não dispõe do pensamento reversível. o abacate.  Seu pensamento também é animista. o das operações concretas (7 – 13 anos) 12.  A criança tem uma conduta egocêntrica ou pensamentos centrados em aspectos particulares da realidade. Entretanto.  O seu pensamento é antropomórfico. ou seja. atribui vida a seres inanimados. essa forma lógica de pensamento ainda está presa à realidade concreta. Por exemplo. a boneca está chorando porque está com sono11. Por exemplo. Os esquemas que a criança já possui permitem que ela seja capaz de distinguir um significante (imagem. Por exemplo. ou seja. isto é. os gatos falam. quando a criança vê a mãe com sua bolsa. ela sabe que a mãe vai sair.  A sua forma de pensar é transdutiva de caráter pré-lógico. a criança atribui características humanas a objetos e animais. o adolescente passa a pensar de modo lógico mesmo quando o conteúdo do pensamento é incompatível com a realidade. Ex. O estágio operatório-formal diferencia-se dos anteriores pelas seguintes características: .36 Ana Maria Lakomy  A criança tende a sair do seu egocentrismo e socializar sua forma de pensar o mundo. permitindo-lhe pensar e trabalhar com uma rea­li­ dade possível através do raciocínio hipotético-dedutivo. que é baseada em regras ditadas pela lógica e usadas por todas as pessoas.  O pensamento transdutivo (particular – particular) é substituído pelo pensamento indutivo (interiorização da ação ou previsão do resultado que vai do particular para o geral).  Na superação do egocentrismo. Ou seja. o seu pensamento liberta-se das limitações da realidade concreta.  Instala-se uma necessidade de comprovação empírica das elaborações mentais.  Ocorre o abandono do pensamento fantasioso. o operatório-formal (13 anos em diante) 14. de modo que este seja aceito pelos que a rodeiam. como também procura transmitir seu próprio pensamento.  A criança já possui um pensamento reversível.13 No quarto estágio. a criança busca compreen­ der o pensamento dos outros. apesar de começar a perceber suas próprias contradições.: 2 + 3 = 5 e 6 – 1 = 5. dependendo da estimulação vinda do meio. é apenas uma forma de expressão da criança. de formular hipóteses e testá-las sistematicamente independente da verdade factual. portanto. a inversão e a reciprocidade. por meio desses quatro fatores que o adolescente completa a construção dos mecanismos cognitivos. que é a capacidade de combinar entre si elementos de conjuntos diferentes para construir um outro conjunto – a correlação. . O pensamento é anterior à linguagem. Piaget privilegia a maturação biológica em que o desenvolvimento humano segue uma seqüência fixa e universal. que continuam desenvolvendo-se ao longo de sua vida.15 É. por sua vez.  A linguagem passa a ser instrumento da elaboração de hi­pó­teses e pesquisas.  O seu pensamento opera através de três processos: a análise combinatória.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 37  O adolescente é capaz de pensar em termos abstratos. Para ele os conhecimentos são elaborados espontaneamente pela criança – do individual para o social. já que a aprendizagem é subordinada ao desenvolvimento cognitivo. que. o contexto social e o desenvolvimento cognitivo humano caminham juntos. na Rússia. filosofia e artes. pesquisador contemporâneo de Piaget. p. e MARTÍ. Durante toda a sua vida. psicologia. mesmo assim. sem nunca ter havido um treinamento formal em psicologia. 2. sua teoria foi repudiada pelo governo socialista. para o autor era extremamente importante que o indivíduo aprendesse para que pudesse compreender e analisar o contexto histórico no qual estava inserido. et al. foi mantida.2 A teoria sociointeracionista A maior preocupação de Lev Semynovitch Vygotsky* (18961934). foi perseguido em função de suas idéias consideradas revolucionárias para o sistema político vigente. para Vygotsky. revisada e continuou a ser divulgada por seus seguidores. * Vygotsky desenvolveu. trabalhos nas áreas de lingüística. In: COLL. antropologia. C. um trabalho pioneiro sobre psicologia do desenvolvimento que influenciou profundamente a educação escolar na Rússia e depois no mundo. Depois de sua morte. Assim. Aprendizagem e desenvolvimento: a concepção genético-cognitiva da aprendizagem. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. C.38 Ana Maria Lakomy Bibliografia recomendada COLL. aos 28 anos. 2004. Entretanto. foi entender a influência da linguagem ou da comunicação no desenvolvimento cognitivo do indivíduo tendo em vista o contexto histórico no qual vivia – a Revolução Socialista. Porto Alegre: Artmed. . passou a desenvolver. 45-59. mas. E. Por isso. sociologia. Nesse processo de interação. pelo uso que ela faz de dois tipos de instrumentos que mediam sua interação com o meio: instrumentos de origem física e instrumentos de origem simbólica. em particular. Em suma.16 Por exemplo. Esse conhecimento é internalizado e transformado pela criança através da sua interação ou trocas sociais com as pessoas que a rodeiam. . Ou seja. As diferenças entre crianças se devem às diversidades qualitativas de interação social. na infância. a atividade cognitiva da criança é determinada pelo seu grau de desenvolvimento orgânico e. a linguagem desempenha. um papel fundamental na formação e na organização de um pensamento gradativamente mais complexo e abstrato. ela fala enquanto age. desde o nascimento da criança. A fala é tão necessária quanto os olhos e as mãos na execução de tarefas práticas. que ativam processos de desenvolvimento cognitivo diversos com as pessoas do seu meio. os experimentos de Vygotsky demonstram que a fala tanto acompanha a atividade prática ou física da criança como também desempenha um papel específico na sua realiza­ ção. quando a criança procura atingir um objetivo.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 39 Pressupostos da teoria sociointeracionista O desenvolvimento cognitivo da criança é um processo de assimilação ativa do conhecimento histórico-social existente na sociedade em que ela nasceu. os instrumentos são mediações. estavam em branco. os signos constituem um poderoso intermediário para a aprendizagem. ao ver as figuras. que servem para nos lembrar o que dizemos. Vygotsky. que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata. acionar a tecla correspondente. mas cujas teclas. É o que acontece quando anotamos compromissos. Baseado nessa idéia. numa primeira fase. houve poucos acertos. as teclas traziam marcas identificadoras que serviam para lembrar . concluiu que os homens precisam de signos para aprender. Desse modo. convergem. numa segunda fase. Os animais não criam instrumentos e não inventam signos como os homens de todas as culturas. Mas.”17 Outro pressuposto é a importância da mediação como um ins­ trumento fundamental no processo de aprendizagem. então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento. acontece quando a fala e a atividade prática. quando comparou a inteligência humana com o comportamento animal. apresentaram uma série de figuras que estavam numa espécie de máquina de escrever.40 Ana Maria Lakomy “O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual. Vygotsky e seus colaboradores fizeram experimentos com crianças para verificar a importância da mediação do signo ou do símbolo na aprendizagem. como os signos da escrita. As crianças deveriam. Com crianças de 5 a 6 anos. Nesse primeiro caso. Assim. ocorrendo em três fases:  Na fase da fala social (até os 3 anos). mudando a sua função. pois serve para orientar seu comportamento social. a ação das crianças é comparável à dos macacos antropóides.19 Por exemplo. Ao longo do desenvolvimento cognitivo. leite. pessoas ou fenômenos do meio.  Na fase da fala egocêntrica (3 – 6 anos). a criança é orientada a discriminar o essencial. Assim. nas situações diárias. Quando os adultos nomeiam objetos e estabelecem associações e relações. no perío­do préverbal. esta se transforma. Nessa segunda fase. quando a fala e os signos se incorporam à sua ação. refletindo as dificuldades que ela sente para solucionar as questões que lhe são colocadas. lembraram-se muito mais. mais tarde. e houve muito mais acertos. estão proporcionando elementos para a criança organizar sua percepção. a relação entre a fala e a ação se modifica. a fala acompanha as ações da criança. de forma dispersa e caótica. a fala passa a preceder a ação. Porém. quando pais ou outras pessoas chamam a atenção da criança para objetos. Por meio dessa interação. ela passa a fazer essa discriminação sozinha ao tentar compreender a realidade à sua volta. assumindo características humanas. Agora.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 41 as figuras: a faca pode lembrar pão. vaca etc. eles estão auxiliando a criança na construção de formas mais complexas e sofisticadas de conceber a realidade. ela passa .18 Outro pressuposto importante é o papel fundamental da lingua­ gem na sistematização das experiências da criança. 42 Ana Maria Lakomy a atuar como auxiliar do plano de ação já concebido, mas ainda não realizado.  Na fase da fala interior (após os 6 anos), a fala externa da criança vai desaparecendo até tornar-se interna. A internalização progressiva da fala permite que a criança adquira a função de auto-regulação ou função planejadora, sendo, a partir daí, capaz de controlar seu comportamento e seu pensamento, percepção, atenção, memória e capacidade de solucionar problemas, mesmo quando estes não estão no seu campo visual.20 Outro aspecto essencial do processo de aprendizagem é o fato de que ele estimula vários processos internos de desenvolvimento através das interações sociais que não são avaliados pelo professor. Por isso, é importante que este também avalie as funções que estão em maturação com o objetivo de, numa visão prospectiva, estimular a criança a se desenvolver ainda mais.21 Por exemplo, aquilo que uma criança consegue fazer com a ajuda de outros pode ser, de alguma forma, indicativo do seu desenvolvimento. Com base nesses pressupostos, Vygotsky desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é entendida como a distância entre o desenvolvimento real da criança e o seu desenvolvimento potencial. O primeiro é caracterizado pela solução independente de problemas, e o segundo pela solução de problemas sob a orientação ou colaboração de um adulto ou colega.22 Teorias Cognitivas da Aprendizagem 43 Assim, a zona de desenvolvimento proximal permite ao professor delinear o que a criança é capaz de atingir, bem como identificar seu estado de desenvolvimento cognitivo. Nessa perspectiva, o professor não deve enfocar aquilo que a criança já aprendeu, mas o que ela realmente necessita aprender para atingir o seu desenvolvimento real. Os trabalhos de Piaget e Vygotsky têm sido de grande valia na busca pela compreensão do processo de aquisição do conhecimento e desenvolvimento da inteligência. Ambos apontam para um processo de ensino-aprendizagem composto de conteú­dos organizados, que são transmitidos por meio da interação social e que têm como finalidade o desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural e social de uma pessoa, a qual se torna um agente de transformação na sua comunidade. Assim, apesar das diferenças, suas teorias acabam se complementando, influenciando e servindo de base teórico-prática para inúmeros pesquisadores preocupados com o processo de aprendizagem. As propostas desenvolvidas por Piaget e Vygotsky devem ser sempre entendidas e analisadas como teorias complementares apesar de apresentarem algumas diferenças básicas. Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e biológicos sobre o desenvolvi­ mento cognitivo do indivíduo, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da interação social e da linguagem para 44 Ana Maria Lakomy o processo de desenvolvimento e aprendizagem social e histórica do sujeito. Ainda, ao contrário de Piaget, para o psicólogo russo, o pensamento e a linguagem são processos interdependentes, sendo que é a linguagem que reor­ganiza o pensamento e permite o desenvolvimento da imaginação, memória e planejamento, visto que a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo são entendidos como processos que se influenciam reciprocamente. Bibliografia recomendada CUBERO, R. e LUQUE, A. Desenvolvimento, educação e educação escolar: a teoria sociocultural do desenvolvimento e da aprendizagem. In: COLL, C. et al. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 94-106. 2.3 O construtivismo em sala de aula Influenciados por Piaget e Vygotstky, vários estudiosos, entre eles Emília Ferreiro*, desenvolveram o chamado método construtivista de ensino-aprendizagem.23 * Emília Ferreiro, psicóloga e pesquisadora argentina, radicada no México, fez seu doutorado na Universidade de Genebra sob a orientação de Jean Piaget. Na Universidade de Buenos Aires, a partir de 1974, iniciou seus estudos teórico-práticos sobre a psicogênese do sistema de escrita, em outras palavras, procurou observar e analisar o processo de construção da linguagem escrita na criança – campo não estudado por Piaget. 24 . presumivelmente. de equi­líbrio pessoal. possibilitam a compreensão da novidade. Desse modo. para poder integrá-lo e torná-lo nosso. interpessoais e as ca­ pa­c­idades motoras. é um sujeito ativo na construção do seu conhecimento por meio da sua interação com o mundo físico e social que o rodeia. interesses e conhecimentos prévios que. por sua vez. mas também interpretamos o novo de forma peculiar. de relações sociais. uma teoria psicológica. o indivíduo aprende quando consegue apreender um conteúdo e formular uma representação pessoal de um objeto da realidade. De acordo com a abordagem construtivista. onde os conteúdos da aprendizagem são produtos sociais e culturais. em que o conhecimento é fruto da construção pessoal e ativa do aluno. O professor é um agente mediador entre o aluno e a sociedade. ou seja.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 45 A concepção construtivista não é. Esse processo se desenvolve na escola ou numa instituição social. mas um referencial explicativo que interpreta o processo de ensino-aprendizagem como um processo social de caráter ativo. Esse processo é determinado por experiências. Essas práticas são importantes para o desenvolvimento global do aluno. num sentido estrito. Influencia o estabelecimento de práticas educativas que consideram o desenvolvimento da criança como social. contextualizado no mundo físico e social. e o aluno. pois envolvem capacidades cognitivas. intrapessoais. não só modificamos o que já possuíamos. a aprendizagem requer do aluno reflexão. Portanto. permitindo que ele explore várias possibilidades. O desequilíbrio facilita a aprendizagem. O professor precisa criar situações desafiadoras em contextos significativos ao aluno. que fazem parte do processo de aprendizagem. proporcionar ao aluno discussões. cabe ao professor permitir que os alunos coloquem suas próprias perguntas. ou seja. portanto. mesmo que sejam contraditórias ou falsas. não podem ser minimizados ou ignorados. Esse referencial está baseado nos seguintes pressupostos:25 Aprender não é o resultado do desenvolvimento. Sendo assim. execução de projetos pode auxiliar no desenvolvimento desse raciocínio abstrato em concreto. Assim. estamos sempre buscando organizar e generalizar experiências ou conhecimentos por meio de representações simbólicas. Por isso. são depois esclarecidas. O raciocínio abstrato é a força motora da aprendizagem. criatividade. experiências. os “erros” precisam ser percebidos como resultado de concepções do aluno e. gerem suas próprias hipóteses e testem a sua validade. As contradições. no decorrer do processo de ensinoaprendizagem.46 Ana Maria Lakomy As contribuições da teoria construtivista para a prática docente A concepção construtivista oferece ao professor um referencial para a reflexão e a fundamentação das decisões que toma no planejamento de uma aula. bem como critérios para compreender o que se passa em sala de aula. exploradas e discutidas. . participação e auto-organização das informações recebidas. mas é o desenvolvimento cognitivo ou aquisição de conhecimento. uma escola deve enfatizar os seguintes objetivos:26  proporcionar uma atmosfera favorável para uma aprendizagem baseada em objetivos claros e compartilhados entre os membros da comunidade educativa. sendo mediadores entre o meio e os alunos. prova. Os alunos. geralmente.  adotar um currículo flexível. são responsáveis pela defesa. e não o professor. de maneira interativa. Essas idéias serão aceitas à medida que fizerem sentido para a comunidade.  estimular atividades baseadas na utilização de fontes primárias de dados e material manipulável.  estimular o trabalho de professores em equipe. .Teorias Cognitivas da Aprendizagem 47 A comunicação entre os elementos do processo educativo estimula o pensamento. a sala de aula deve ser vista como uma comunidade educativa engajada em atividades de discussão. justificativa e comunicação de suas idéias para a comunidade da sala de aula. comprometendo-se com a inovação e responsabilizando-se pela avaliação da sua própria prática.  perceber os alunos como agentes ativos e pensadores de teorias e hipóteses sobre o mundo. participando das tomadas de decisão. Assim. colaborando no planejamento. Ao fundamentar-se nos pressupostos acima. reflexão e tomada de decisões. aberto a mudanças.  incentivar os professores a agirem.  valorizar as perguntas dos alunos. tenha bom senso crítico ao analisar a fase do desenvolvimento cognitivo da criança para então determinar quais capacidades ela possui ou não para trabalhar certos conteúdos. Com isso.  valorizar. entenda que o pro­cesso ensino-aprendizagem é uma espiral de conhecimentos.  desenvolver uma forma de avaliação que também envolva as observações do professor durante as aulas. e cada conhecimento serve de base ou pré-requisito para a aquisição do seguinte. o trabalho em grupo.  buscar o apoio ativo de toda a comunidade educativa (inclusive dos pais) com o objetivo de facilitar as mudanças necessárias em direção às características assinaladas acima. podemos dizer que aprendizagem é um processo dinâmico que envolve a interação do aluno com o meio e. . para que ela ocorra. estimule o processo de interação social da criança com todas as pessoas que participam do ambiente escolar como forma de promover seu desenvolvimento cognitivo e também estimule o uso da linguagem como uma forma de promover o desenvolvimento cognitivo da criança.48 Ana Maria Lakomy  proporcionar oportunidades para os alunos apresentarem seus pontos de vista para entender suas concepções e.  promover oportunidades de formação permanente de professores relacionadas com as necessidades da escola. assim. é necessário que o professor dê a devida atenção aos fatores que motivam o aluno a aprender. em princípio. usá-las nas atividades subseqüentes. Porto Alegre: Artmed. p. 258-265. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. 1998. Porto Alegre: Artmed. COLL. C. COLL. Porto Alegre: Artmed. Bibliografia recomendada COLL. 3v. C.  analisar as mudanças na prática docente e suas im­ pli­cações no processo de ensino-aprendizagem. In: ______.Teorias Cognitivas da Aprendizagem Atividade Veja o filme Mentes Perigosas buscando elaborar uma resenha conforme as regras da ABNT que tenha como objetivos:  identificar e comentar o tipo de prática pedagógica usada inicialmente pelo professor. et al. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar.  identificar as contribuições da teoria de Piaget e da teoria de Vygotsky tendo em vista o contexto educacional analisado no filme e a sua prática pedagógica em sala de aula. 2004. 49 . C. A teoria sociocultural da aprendizagem e do ensino. Psicologia do ensino. 2000. 2v. et al. PALANGANA. Y. 1996. ______. São Paulo: Cortez. 1997. ______. 2000. Alfabetização em processo. Porto Alegre: Artmed. MOLL. ______. 1997. Rio de Janeiro: Zahar. 2000. 1990. 1996. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. VALSIMER. Porto Alegre: Artmed. 1997. MATUI. ______.. São Paulo: Ática. I. Três dimensões educacionais. São Paulo: Plexus. 2000. PIAGET. Rio de Janeiro: Zahar. . 1980. São Paulo: Cortez. Vygotsky: uma síntese. Atualidade de Jean Piaget. L. Cultura. São Paulo: Moderna. DER VEER. J. Construtivismo: teoria sócio-construtivista aplicada ao ensino. Vygotsky e a educação. São Paulo: Loyola. 1988. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio. R. Linguagem e pensamento da criança. O nascimento da inteligência na criança. escrita e educação. J. ______.50 Ana Maria Lakomy FERREIRO. J. LA TAILLE. A construção do real na criança. 1998. E. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky. em 1960. 2. assim como o psicólogo russo.4 A teoria da instrução Jerome Bruner*∗é um psicólogo cognitivista que defende a aprendizagem como um processo interno. fundou o Centro de Estudos Cognitivos da Universidade de Harvard. São Paulo: Martins Fontes. L. a teoria da instrução. . preocupado em auxiliar diretamente educadores e melhorar a qualidade do ensino nos Estados Unidos. onde tem conduzido estudos e pesquisas científicas sobre a questão. Assim. na década de 1980. 1988. Os trabalhos de Bruner têm como ponto de referência Piaget e. ______. desenvolveu. desenvolvimento e aprendizagem. O autor. 1987.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 51 VYGOTSKY. Pensamento e linguagem. São Paulo: Ícone. valoriza a interação social e o diálogo no processo de * Jerome Bruner formou-se em Psicologia na Universidade de Duke. Tornouse um dos maiores defensores do método de aprendizagem por descoberta como elemento básico do trabalho educacional. em 1941. mediado cognitivamente. e não um produto direto dos fatores externos àquele que aprende. principalmente. O psicólogo norte-americano sempre teve como preocupação a identificação de estratégias voltadas para o desenvolvimento máximo das habilidades intelectuais da pessoa. São Paulo: Martins Fontes. 1988. Linguagem. ______. obtendo seu doutorado em Psicologia na Universidade de Harvard. O autor. A formação social da mente. Vygotsky. ou seja. Também.52 Ana Maria Lakomy aprendizagem do indivíduo. também confere grande importância à linguagem no processo de evolução do pensamento da criança. Como Vygotsky. Assim. tende a representar o mundo com o qual interage. Com a sua teoria. as histórias infantis são melhor . a criança passa por três níveis de representação cognitiva: (1) enativa. De acordo com a teoria da instrução. ela se comunica com as pessoas por meio da ação. em diferentes etapas de sua vida. quando a criança diz que “toma água com o copo”. Por exemplo. enfatiza as formas que os professores utilizam para apresentar os conteúdos ao aluno tendo em vista o seu desenvolvimento cognitivo. Por exemplo: para ensinar que o pássaro voa batendo as asas. Um dos principais aspectos do trabalho de Bruner – oriundo de diversos estudos e observações com crianças em sala de aula – é a sua concepção do desenvolvimento cognitivo do ser humano. ela está definindo a função da palavra “copo” pela ação de “beber água”. a criança repre­ senta o mundo pela ação. o pesquisador procura explicar como a criança.27 No nível da representação enativa ou ativa. imitando o pássaro. por isso as mensagens do adulto. nesse nível. (2) icônica e (3) simbólica. deverão ser expressas por meio de movimentos. A criança também compreende o mundo por suas próprias ações. o adulto ou o professor “batem os braços”. No nível da representação icônica (ícone = figura. seqüência e reforçamento. Ela também passa a compreender e apreciar figuras. Por exemplo: “pegar a bola que está no armário”.28 . bem como receber mensagens verbais mais complexas. Por exemplo. Faça comentários. a criança não precisa mais manipular diretamente os objetos.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 53 compreendidas e apreciadas quando dramatizadas em vez de serem apenas narradas verbalmente. A teoria da instrução é baseada em quatro princípios fundamentais: motivação. Ela também já é capaz de relatar experiências ou sentimentos por meio da linguagem oral. são melhor entendidos pela criança se acompanhados de ações como “bater palmas” ou “passar a mão na cabeça”. a criança passa a repre­ sentar e compreender o mundo por meio de símbolos ou de forma abstrata. estrutura. fotos e ilustrações na escola e em casa. Tente refletir sobre os meios diferenciados de comunicação nas diferentes fases da vida da criança. porque ela já é capaz de fazer representações mentais de algo ou de uma situação sem utilizar gestos ou ações. sem precisar utilizar ações ou imagens. por sua vez. No nível da representação simbólica. a criança já pode desenhar a figura de um copo sem representar o ato de beber algo. Elogios. imagem). Elas podem se sentir motivadas a aprender algo diante de fatores extrínsecos. Desse modo. Nascemos com um impulso intrínseco para “adquirirmos competências” e.54 Ana Maria Lakomy a) Motivação Todas as crianças possuem o “desejo de aprender”. freqüentemente. enquanto os fatores intrínsecos são compensadores por si mesmos e. ou seja. porém os efeitos desses fatores são transitórios ou passageiros. são automantenedores. Assim. ou seja. têm uma motivação interna ou intrínseca que as predispõe à aprendizagem. o princípio da motivação sugere que as crianças nascem com o “desejo de aprender”. cabe ao professor utilizar de forma estimuladora essa motivação para que a criança possa perceber que a forma organizada e formal de aprendizado pode ser mais satisfatória e significativa que a aprendizagem autodidata. Nascemos também com uma motivação ou necessidade de trabalhar de forma cooperativa com os outros. logo. levadas pela curiosidade. as crianças pequenas mudam. portanto. a participar de atividades nas quais se saem bem porque possuem as competências necessárias. na maioria das vezes. uma motivação que envolve a “reciprocidade”. Em suma. então. seu interesse pelos brinquedos. . crianças tendem a se sentir motivadas. Por exemplo. crianças e adultos nascem com uma grande curiosidade que estimula o seu desejo ou vontade de aprender sobre o mundo que os rodeia. estarmos preparados para enfrentar as situações-problema que nos são colocadas. Teorias Cognitivas da Aprendizagem 55 b) Estrutura Qualquer conteúdo pode ser transmitido e compreendido por qualquer aluno desde que ele esteja adequadamente estru­ turado ou organizado cognitivamente. a qualquer criança em qualquer fase do desenvolvimento”. de alguma forma intelectualmente honesta. mas também para que elas sirvam de estímulo para que ele continue querendo aprender mais sobre o assunto.  pela economia de apresentação: o professor deve ser econômico e conciso nas informações que transmite a um aluno. Ele não diz que uma criança de 6 anos pode aprender a teoria da relatividade. . mas.  pelo poder de apresentação: quanto mais simples e direta for a apresentação do assunto. não só para que ele seja capaz de conservá-las na mente por mais tempo. Assim. “qualquer assunto pode ser ensinado eficazmente.29 Um conteúdo pode ser ministrado de três maneiras:30  pelo modo de apresentação: a forma utilizada pelo professor para apresentar ou transmitir um conteúdo deve ser adequada ao nível de desenvolvimento cognitivo e à experiência da criança. se a explicação dada for adequadamente estruturada. que pode até dar sua própria explicação sobre essa teoria. maior será a capacidade do aluno de compreendê-lo. a idéia central de Einstein pode ser entendida pela criança. Por exemplo. figuras ou desenhos para explicar um tema. para crianças no nível enativo.56 Ana Maria Lakomy c) Seqüência A seqüência que um professor utiliza para apresentar um assun­to determina o grau de dificuldade ou facilidade do aluno em compreender aquilo que lhe é apresentado. nem muito cedo (para não confundi-los). já . que é seqüencial. o professor deve relacionar um assunto com mensagens que envolvam ações. no tempo certo. para uma criança que esteja na primeira fase. A seqüência também está relacionada com o grau de desenvolvimento intelectual da criança. parte da fase enativa para a icônica e finalmente para a simbólica. na última fase. cabe ao professor fornecer informações. o reforço mais adequado pode ser “bater palmas”. nem muito tarde (quando já incorporaram informações que podem ser incorretas). sobre os resultados obtidos pelos alunos. Quanto ao reforço utilizado pelo professor. pode transmitir sua mensagem por meio de palavras. Assim. na segunda fase. esse também deve ser adequado ao nível do desenvolvimento cognitivo da criança. Por exemplo. ele deve utilizar representações gráficas. ou seja. o professor deve seguir o desenvolvimento cognitivo da criança. o professor pode desenhar estrelas para demonstrar que ela realizou um bom trabalho. ou seja. para a criança no nível icônico. Assim. d) Reforçamento O aluno necessita receber um retorno sobre a qualidade do seu trabalho ou desempenho. Depois de uma série de estudos e pesquisas com professores e alunos. Assim. O método de aprendizagem por descoberta é uma forma de aprendizagem em que os alunos são estimulados pelo professor por meio de perguntas que geram estudos e pesquisas. um elogio pode ser eficaz. Por isso. podem descobrir. o autor tornou-se um dos seus maiores defensores no âmbito educacional. em última análise. algumas idéias ou princípios básicos relacionados com a questão colocada. refletir e corrigir seus próprios erros. sozinhos. Na busca por respostas. a instrução é um estado provisório cujo objetivo é tornar o aluno auto-suficiente. Entretanto. de acordo com a teoria da instrução. o docente:31  não deve confundir reforço com recompensa no sentido behaviorista (reforço ou punição).Teorias Cognitivas da Aprendizagem 57 para a criança no nível simbólico. deve ser capaz de perceber. ou seja. essa forma de aprendizagem baseia-se numa distinção .  deve saber administrar adequadamente esse reforço para não tornar o aluno dependente do professor porque. é ele que deve assumir uma função autocorretiva.5 O método da aprendizagem por descoberta Os estudos de Bruner influenciaram o desenvolvimento do método de aprendizagem por descoberta. 2. Com isso. experimentação etc. perguntas. ele se torna capaz de entender as relações entre os fatos. o professor ajuda-o a resolver o problema. discutindo as alternativas apresentadas. experimentação etc. na maneira expositiva de dar aula.58 Ana Maria Lakomy feita entre a maneira expositiva e a maneira hipotética de conduzir uma aula.33 A aprendizagem por descoberta pode ser utilizada em qualquer área do conhecimento desde que o professor:34  tenha conhecimento sobre o assunto. pesquisa.  apresente o conteúdo sob a forma de problema a ser resolvido de forma ativa pelo aluno por meio de investigação. perguntas. discutindo as alternativas apresentadas pelo próprio aluno. por meio de investigação. o professor traz o conteúdo sob a forma de problema. ou seja. pesquisa. . A aprendizagem realizada de maneira hipotética permite que o aluno atinja um nível de compreensão do conteúdo que vai além da simples memorização. a ser resolvido de forma ativa pelo aluno. Na maneira hipo­tética de ministrar aula. O professor ajuda-o a resolver o problema. o professor já traz o conteúdo pronto e o aluno torna-se um agente passivo do processo de aprendizagem.32 Por exemplo. aumentando gradativamente a complexidade das informações.  conheça a realidade da vida do seu aluno (sua classe socioeconômica. desenvol­ vê-los como uma espiral. 59 . portanto. o professor deve estruturar o conteúdo a partir dos conceitos mais gerais e principais do tema e. O erro. a qual deve estar voltada para a compreensão das relações entre os fatos e as idéias.  seja capaz de estruturar a matéria iniciando-a pelas idéias mais gerais. dificuldades.) para que a dinâmica tenha algum significado e importância para o contexto de vida do aluno. suas experiências. pois a verdadeira compreensão do aluno (em vez da simples memorização) é o principal objetivo da aprendizagem. sempre dos conceitos mais gerais para os particulares. Em outras palavras.  desenvolva e estimule uma atitude de investigação por parte dos alunos. a partir daí. sua família etc. a partir daí. o professor deve usar uma linguagem acessível e estar ciente dos conhe­cimentos anteriores da criança e do que ela é capaz de atingir de acordo com seus limites e possibilidades. única forma de garantir a transferência do conteúdo aprendido para novas situações. bem como seja capaz de motivá-lo.Teorias Cognitivas da Aprendizagem  entenda que esse é um processo lento de aprendizagem e que não pode ser apressado. deve ser instrutivo.  conheça e utilize a teoria piagetiana na qual as possibilidades e os limites da criança em cada fase do desenvolvimento estão claramente definidos. Por exemplo. reconduzi-lo ao raciocínio correto. elementares e essenciais.  reconstitua o caminho do raciocínio do aluno para encontrar o momento do erro e. como forma passiva de registro”. onde havia coisas que deviam ser transportadas. uma das melhores maneiras de propiciar a transferência do conteúdo aprendido para novas situações. A tarefa desses alunos era localizar. passivamente. Na classe A. ao lado de conjuntos arbitrários de água e de recursos.60 Ana Maria Lakomy Para efeito de ilustração do método. citamos um experimento realizado por Bruner com duas classes de 5ª série que estuda­ vam a geografia dos estados centrais dos EUA. . em locais arbitrários. sendo que foram dados aos alunos mapas contendo apenas a localização dos principais recursos naturais. Um grupo aprendeu geografia como uma forma de atividade. o grupo que aprendeu ativamente foi motivado internamente quando o tema foi apresentado na forma de problema a ser resolvido por meio de hipóteses e investigações. O estímulo à investigação permitiu que os alunos estabelecessem relações entre as idéias e os fatos. O outro grupo aprendeu. Um grupo aprendeu geografia como um conjunto de atos racionais de indução – as cidades surgiram onde havia água. sem consulta. recursos naturais. Segundo o autor.35 Conforme mostra o estudo. o outro guardou alguns nomes e algumas posições. o pesquisador utilizou a abordagem tradicional ou expositiva. foi utilizada a abordagem hipotética. as principais cidades e as estradas de ferro e de rodagem. Na classe B. que havia cidades arbitrárias. . 2004. possibilitando ao aluno uma gama de opções de associações de conceitos de modo a levar à consolidação do aprendizado ou a um novo aprendizado. 177-192. In: COLL.6 A teoria da aprendizagem significativa Defensor das teorias cognitivistas. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. p. ______. Porto Alegre: Artmed. 1997. que prioriza a organização cognitiva dos conteúdos aprendidos de forma ordenada. São Paulo: Edições 70. I. 2v. David Ausubel apresenta em 1985 a teoria da aprendizagem significativa. . ______. Orientação motivacional e estratégias motivadoras na aprendizagem escolar. O processo da educação.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 61 Bibliografia recomendada BRUNER. TAPIA. et al. MONTERO. Realidade mental. et al. Porto Alegre: Artmed. 2004. mundos possíveis. J. C. Atos de significação. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. J. Porto Alegre: Artmed. COLL. 2. Porto Alegre: Artmed. 1998. C. 1998. quando queremos ensinar à criança noções de cidadania. ajudá-la a compreender o conceito de cidadania.62 Ana Maria Lakomy Para Ausubel. mais tarde. Ausubel enfatiza a diferença entre aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa: . Podemos ensinar que o lixo deve ser colocado nas lixeiras disponíveis no caminho ou dar seu lugar no ônibus para uma pessoa idosa. Esses significados não são entidades estáticas. estabelece relações de significação. atribui significados à realidade em que se encontra. a estrutura cognitiva (os primeiros significados). podemos levá-la para dar uma volta na quadra e observarmos com ela tudo que se relaciona com cidadania. cognição é o Processo através do qual o mundo dos significados tem origem. Com base no conceito de integração de informações da estru­tura cognitiva. constituindo-se nos ‘pontos básicos de ancoragem’ dos quais derivam outros significados.36 Por exemplo. mas pontos de partida para a atribuição de outros significados. então. a criança atribuirá significados aos elementos observados durante essa experiência (pontos de ancoragem) que poderão. Assim. isto é. Tem origem. citado por Moreira e Masini. À medida que o ser se situa no mundo. à nossa estrutura cognitiva. Quando isso ocorre. nós relacionamos um novo conteúdo. associá-las a conceitos já existentes em nossa estrutura cognitiva. assim. de conceitos. 63 . segundo a teoria piagetiana. no entanto. somos capazes de absorver novas informações sem. idéias ou informações que são relevantes para a aquisição de novos conhecimentos. b) Na aprendizagem significativa. Por exemplo. ela não é capaz de relacionar o conteúdo da poesia com algum conhecimento que já possui na sua estrutura cognitiva e.37 A aprendizagem significativa está intimamente relacionada com os pontos de ancoragem – que são formados com a incorporação. para que possamos aprender conceitos novos. Se isso acontece. quando uma criança decora uma poesia sem entendêla. Por exemplo. os pressupostos da teoria de Piaget serão assimilados e servirão de pontos de ancoragem para as novas informações. essa nova informação é assimilada pela nossa estrutura. idéia ou informação com conceitos existentes na nossa estrutura cognitiva (pontos de ancoragem para a aprendizagem). ou seja. efetuar uma nova aprendizagem.Teorias Cognitivas da Aprendizagem a) Na aprendizagem mecânica. para que um novo conceito seja assimilado pela nossa estrutura cognitiva. é necessá­ rio que o conceito já esteja lá como ponto de ancoragem. elas podem servir de base para que possamos entender como se processa o jogo. assim. Com a aquisição dessas noções básicas (pontos de ancoragem). isto é. Esses contatos podem ser estimulados até que as crianças tenham condições cognitivas de perceber a existência de diferenças entre os seres e.64 Ana Maria Lakomy Assim. Com isso. Também é importante que o professor seja capaz de identificar as estruturas cognitivas que o aluno já consolidou para priorizar a utilização de um método de ensino que privilegie a associação de conceitos da matéria. elas nos acompanham durante toda a vida. não saber as regras do basquete –. as crianças serão capazes de aprender e categorizar os diferentes seres (novos conhecimentos). a aquisição de pontos de ancoragem e a aprendizagem significativa não estão presentes somente na escola. Em suma. temos então dificuldade para compreender o que se passa durante um jogo como esse. para que a aprendizagem significativa ocorra. . se recebermos informações. Mas. podemos afirmar que. Quando não possuímos pontos de ancoragem – por exemplo. adquirir as noções de seres vivos e seres inanimados. é necessário que o material a ser assimilado seja potencialmente significativo para que o aluno possa estabelecer os pontos de ancoragem. um professor pode incentivar o contato da criança com animais e plantas. elas são ativadas sempre que algum conteúdo novo precise ser aprendido. A aprendizagem significativa e a teoria da assimilação.7 A teoria da afetividade Henri Wallon* (1879-1962) desenvolveu. São Paulo: Moraes. C. 2. 1999. Sua teoria auxilia tanto no desenvolvimento pessoal quanto no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Em 1925. 1996. p. Brasília: UNB. Aprendizagem significativa. Porto Alegre: Artmed. Porto Alegre: Artmed. et al. . MARTÍN. In: COLL. 2004. fundou um laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes. MOREIRA. uma teoria psicogenética em que a dimensão afetiva ocupa lugar central no processo de aprendizagem. * Henri Wallon formou-se em Filosofia e Medicina na França. I. SOLÉ. M. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. MOREIRA. nas décadas de 1950 e 1960. 2v. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. E. M.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 65 Bibliografia recomendada COLL. 60-80.. 2v. E. p. 60-80. 2004. MASINI. et al.. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. C. É quando aprofunda seu interesse na psicologia da criança e nas suas implicações para a educação por meio de estudos e pesquisas. 66 Ana Maria Lakomy Com base nessa teoria. no segundo ano de vida. Quase simultanea­ mente. a afetividade e a inteligência desenvolvem-se juntas desde o primeiro ano de vida da criança. é dominado pelas relações emocionais do bebê com o ambiente (demonstrado por meio de reações fisiológicas de emoção em função do toque e da entonação de voz – afetividade emocional ou tônica). surge a função simbólica a partir do desenvolvimento da . a exploração sistemática do meio. Ambas se desenvolvem. Registre seus comentários sobre a colocação acima. apesar de a reciprocidade entre ambas se manter de tal forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanentemente. Esse período. andar) que permitirão. O desenvolvimento cognitivo. A afetividade dá lugar ao desenvolvimento cognitivo quando a criança começa a construir a realidade por meio do que Wallon chama de inteligência prática ou das situações. denominado impulsiva emocional. pegar. está voltado para a preparação das condições sensório-motoras (olhar. por meio das interações sociais. pelas interações interpessoais. por sua vez. Essa exploração permite que ocorra um processo de diferenciação entre afetividade e inteligência. segundo Wallon38. e a segunda. entretanto. A primeira se desenvolve pelas interações culturais. chamada afeti­ vidade categorial. Assim. Como esses momentos são integrados. Na puberdade. é chamada afeti­ vidade simbólica. Também sua personalidade se torna polivalente no sentido de que é capaz de assumir diferentes funções nos vários grupos sociais. igualdade de direitos.39 A partir desse momento. a afetividade. o que requer uma participação muito importante da inteligência. ainda assim. a construção do indivíduo passa por uma sucessão de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos. de conquistas rea­ lizadas no plano cognitivo.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 67 fala e das condutas representativas da criança que se torna a base para o pensamento discursivo. quando o indivíduo passa a expressar a sua afetividade através dos símbolos orais e depois escritos – a comunicação afetiva –.40 Na função simbólica. É nesse momento que ele se confronta com uma tarefa muito importante: manter um “eu” diferenciado e.41 O interesse do jovem é pessoal e concreto quanto à sua definição como sujeito. exigências de respeito mútuo. Quando essas exigências não são atendidas. integrado. baseia-se em exigências fundamentadas na racionalidade. instala-se na criança a chamada forma cognitiva de vinculação afetiva. isto é. para evoluir. Ou seja. a afetividade tende a se racionalizar. fazendo com que as suas formas infantis sejam dife­rentes das adultas. justiça etc. e vice-versa. a afetividade depende. . o adolescente tende a não se sentir amado pelos pais. muitas vezes. procura modificar. Cabe à educação. a maior contribuição de Wallon está na idéia de que a construção da inteligência está intimamente relacionada ao desenvolvimento da nossa afetividade. pensantes. capazes de participar da construção de uma sociedade contextualizada.68 Ana Maria Lakomy Em suma. com a visão de um aluno passivo e sem espaço para desenvolver sua personalidade) por não enfatizar o caráter afetivo. sejam quais forem suas origens familiares. sociais. dessa forma. segundo o autor. individual. A criança. social e político da educação. precisa interagir com o meio para desenvolver seus aspectos afetivos. eles devem ser apoiados no conhecimento do aluno e no seu meio. Sendo a educação um fato social. concreto e social.42 . autoritário. A função da educação é integrar a formação da pessoa e a sua inserção na sociedade e. sem criatividade. Elas não devem ter outra limitação além de suas aptidões”. ela deve refletir a realidade concreta na qual esse ser social vive. assim. atua e. ativos. têm direito igual ao desenvolvimento máximo que sua personalidade comporta. As contribuições da teoria da afetividade para a educação Henri Wallon foi um crítico do ensino tradicional (de caráter abstrato. assegurar sua plena realização. pois “todas as crianças. étnicas. A escola é a instituição que tem por finalidade prover atividades para desenvolver esses aspectos. Os métodos pedagógicos não podem ser dissociados desses enfoques. sociais e intelectuais. formar indivíduos autônomos. ambas estão a serviço da construção de um ser humano afetivo. a curiosidade e a vontade de cooperar são importantes para a aquisição de competências. procurando compreender os comportamentos e capacidades predominantes em cada etapa e ao que eles visam. respeitar as capacidades cognitivas. Portanto. a criança pode escolher seus amigos e grupos de acordo com sua preferência. também. “a confrontação com os companheiros permite-lhe constatar que é uma entre outras crianças e que.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 69 Ao realizar estudos em creches. Vemos que as teorias apresentadas neste capítulo evidenciam aspectos importantes para o professor como: ser capaz de considerar as diferentes fases do desenvolvimento cognitivo da criança para tirar melhor proveito no processo ensino-aprendizagem. pois. . Wallon43 defendeu a importância da escola no que concerne ao desenvolvimento afetivo e social da criança. Segundo Wallon*. na tomada de consciência sobre a sua própria personalidade. ao mesmo tempo. é igual e diferente delas”44. ela terá experiências de solidarie­dade que irão auxiliá-la na sua aprendizagem social e. a escola deve considerar os níveis do desenvolvimento cognitivo da criança. É preciso. perceber que a motivação. pois a ela são dadas maiores oportunidades de convivência com outras crianças. * WALLON. Nesse contexto. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Estampa. a fim de melhor orientar a ação educativa. 1986. Com esses grupos. H. bem como as necessidades afetivas da criança para que os conhecimentos apresentados sejam assi­milados e utilizados mais tarde. perceber que a afetividade é parte importante e inte­grante do processo de aprendizagem. cabe ao professor estabelecer relações afetivas com os alunos para que elas facilitem o processo de ensino-aprendizagem. trabalhos em grupo e outras atividades. já que ela acompanha o desenvolvimento cognitivo da criança. Ausubel e Wallon. Portanto. peculiar a todos os seres humanos. compare esses dois métodos didáticos com as propostas sugeridas por Bruner.70 Ana Maria Lakomy servem de estímulo aos alunos para a realização de investigação. estimular o desejo pela pesquisa. Atividade Assista ao filme Sociedade dos poetas mortos (Direção: Peter Weir. esclareça a proposta de trabalho do professor de literatura. desenvolver competências para utilizar a aprendizagem significativa em detrimento da aprendizagem mecânica. identifique as principais características do processo ensino-aprendizagem vigente na escola em questão. 2. O texto deve ter as mesmas características solicitadas nas atividades anteriores. por meio de práticas complexas e interativas. . 1989) para elaborar um texto que: 1. 3. MIRAS. et al. M. 2v. A. São Paulo: Loyola. 71 . 1999. emoções. A. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. MAHONEY. 2004.Teorias Cognitivas da Aprendizagem Bibliografia recomendada BRUNER. L. E. 2004. 1998. Porto Alegre: Artmed. Aprendizagem significativa. 1996. ALMEIDA. J. São Paulo: Manole. São Paulo: Edições 70.. Afetos. atribuições e expectativas: o sentido da aprendizagem escolar. mundos possíveis. ______. p. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. et al. C. São Paulo: Moraes. Brasília: UNB. MOREIRA. DANTAS. M. Realidade mental. 2004. 209-222. C. 1997. 2004. p. São Paulo: Loyola. Porto Alegre: Artmed. H. O processo da educação. COLL. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. MASINI. Constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. MOREIRA. Porto Alegre: Artmed. M. In: COLL. MAHONEY. Henri Wallon: psicologia e educação. et al. 2v. 209-222. 1999. Gardner45. São Paulo: Ática. que questiona essa concepção ainda vigente de inteligência. baseado em estudos cognitivistas de Piaget e Vygotsky. afirma que possuímos capacidades diferentes ou várias inteligências. J. São Paulo: Edição 70. NADEL-BRULFERT. 1999.. 2. M. A evolução psicológica da criança. conhecer os diferentes tipos de neve seria essen­cial. 2005. e que podia ser medida pelos testes de quociente intelectual (QI) . Howard Gardner.8 a teoria das inteligências múltiplas Por muito tempo. H. inventar uma máquina). 2001. propôs a teoria das inteligências múltiplas. WEREBE. resolver problemas (solu­ cionar uma equação. . ______. criar projetos (elaborar um projeto de pesquisa) e contribuir para o entendimento do nosso contexto cultural (se morásse­ mos no Alasca. as quais utilizamos para criar algo (compor uma música. São Paulo: Nova Alexandria.72 Ana Maria Lakomy WALLON. Na década de 1980. Henri Wallon. a concepção dominante de inteligência era a de que possuíamos uma inteligência única. As origens do caráter na criança. enquanto no Brasil seria um mero exercício). escolher o melhor trajeto para a escola). psicólogo e pesquisador da Universidade de Harvard. igual à das outras pessoas. nos Estados Unidos. para solucionar um problema de física.  essas combinações são únicas para cada um de nós. sociais e tecnológicos. talento e competência no campo da psicologia do desenvolvimento humano. portanto não podem ser medidas.  as inteligências podem se desenvolver mediante estimulação do contexto social e. musical. da escola. lógico-matemática. interpessoal. em particular. . criatividade. Gardner realizou pesquisas sobre a inteligência as quais nos mostram que:46  até agora existem pelo menos oito inteligências: lingüística. espacial. elaboração e produção.  as inteligências são um conjunto de habilidades que interagem.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 73 Principais pressupostos da teoria das inteligências múltiplas Interessado pelas relações entre inteligência. intrapessoal e naturalista.  as inteligências interagem constantemente nas atividades de solução de problemas. Também porque não existe uma única inteligência e também porque ela pode ser desenvolvida ao longo de toda a nossa vida mediante fatores biológicos. criação. culturais. mas a maneira como elas vão se combinar ou se desenvolver varia de pessoa para pessoa. são como nossas impressões digitais. espaciais e matemáticas. é necessário utilizar as competências lingüísticas. Por exemplo.  todos nascemos com essas inteligências. corporal-cinestésica. já que crianças cegas também podem. Está presente em arquitetos. navegadores. Além disso. matemáticos etc.  A inteligência espacial é a competência de relacionar padrões. certas inteligências. também. a execução de uma tarefa sempre envolve a interação entre inteligências e podem. publicitários. vendedores etc. existir outras inteligências que ainda não foram descobertas. Muitos músicos conhecidos não tiveram aprendizagem formal. jornalistas. jogadores de xadrez etc.  A inteligência lógico-matemática é a competência para raciocinar de maneira lógico-dedutiva e solucionar problemas envolvendo números e elementos matemáticos. são mais aparentes que outras. escritores.  A inteligência musical é a competência de pensar em termos musicais. pilotos de corrida. Está presente em cientistas. reconhecer tons e sons musicais. rela­ cioná-las e poder visualizá-las no espaço tridimensional. Está presente em poetas. por exemplo. motoras e sociais que se desenvolvem ao longo da nossa vida. desenvolver habilidades espaciais. Todos nós as possuímos de formas diferentes.74 Ana Maria Lakomy Os oito tipos de inteligência As oito inteligências são competências cognitivas. pelo tato. Para algumas pessoas.47  A inteligência lingüística é a competência de trabalhar criativamente com palavras e frases na expressão oral e escrita. físicos. perceber similaridades nas formas espaciais. Ela não depende da visão. observar como podem ser transformados e produzir criativamente música. advogados. . traçar o perfil da turma e.  A inteligência naturalista se relaciona à nossa sensibilidade e entendimento frente ao meio ambiente.  A inteligência intrapessoal é a nossa capacidade de nos conhe­ cer. atletas e malabaristas. bailarinos. Podem ser terapeutas. de conhecer nossos limites. alunos que assumem lideranças ou percebem quando um colega não está bem. mímicos. idéias e objetos. controlar e manipular nosso corpo para resolver problemas ou produzir conceitos. Ele foi elaborado para que você possa identificar as principais características de cada aluno. professo­res. desejos. assim. São os terapeutas e políticos etc. políticos. O quadro de características das inteligências múltiplas exemplifica. planejar atividades adequadas às especificidades individuais. as características das pessoas que apresentam as diferentes inteligências. Está presente em atores. vendedores. de maneira mais clara. mecânicos.  A inteligência interpessoal é a competência de compreender e relacionar-se com os outros. . de estar bem conosco. cirurgiões. atores.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 75  A inteligência corporal-cinestésica é a competência que nos permite utilizar. medos e de administrar nossos sentimentos de maneira a atingir nossos objetivos. H. percebe as intenções dos outros. ritmo. os objetos. construir maquetes. gosta de cantar ou tocar instrumentos. produzir textos criativos. Musical Sensível à entonação. bem como tem predileção por atividades ao ar livre. Naturalista Mostra habilidade de reconhecer objetos na natureza. boa argumentação.76 Ana Maria Lakomy Quadro 1 – As características das inteligências múltiplas Inteligências Características apresentadas de acordo com as inteligências Lingüística Gosta de ouvir.. tem habilidade para dramatização. reconhece e discute diferentes estilos e gêneros musicais etc. rochas. Sensível a campanhas de proteção ao meio ambiente. precisão. Espacial Gosta de geometria. oratória. gosta de atividades grupais. explicações claras. Gosta de colecionar objetos relacionados com a natureza. metas. ler. torna-se irrequieto ou aborrecido se fica muito tempo parado. escrever. poesia. Porto Alegre: Artmed. FONTE: GARDNER. M. Projeto Spetrum: teoria das inteligências múltiplas na educação infantil. boa sincronização de movimentos. 2001. gráficos e plantas. gosta de explorar o ambiente com movimentos.. de cooperar. pode manipular opiniões (poder de influenciar). bom em debates etc. memoriza melhor quando faz algo etc. esportes. facilidade para indicar trajetos e ler mapas. criar imagens e movimenta-se com facilidade entre objetos etc. KRECHEVSKY. animais. timbre e à emoção contida numa música. adapta-se facilmente etc. Intrapessoal É independente. LógicoMatemática Gosta de cálculos. resolução de problemas. . limites e possibilidades. Interpessoal Tem um bom relacionamento e comunicação. experimentar etc. distinguir plantas. ou seja. FELDMAN. brinca enquanto escuta. consciente dos seus sentimentos. mímica ou dança. CorporalCinestésica Controle excepcional sobre o corpo. deseja ser diferente do geral. motivado. H. estabelece um sistema de valores éticos etc. Essa prática valoriza. adota um currículo geral a ser ministrado para todos os alunos e possui métodos didáticos baseados em leis gerais de aprendizagem. tentaram-se modificações metodológicas. uso de técnicas e materiais variados para estimular o aluno a construir seu próprio conhecimento. de maneira geral. A escola deve ter como objetivo desenvolver as várias inteligên­cias dos alunos. portanto. aprendem de formas diferenciadas. Em razão de altos índices de repetência e evasão escolar. nenhuma das modificações considerou um novo conceito de inteligência como norteador das ações teórico-práticas dos docentes. É necessário perceber que o aluno pode ser inteligente em matemática ou língua portuguesa. portanto. mais inclinados a servir à sociedade de forma construtiva. hereditário e mensurável da inte­ ligência tem orientado a prática escolar em muitos países. qualificação profissional dos professores. por muito tempo. as inteligências lógico-matemáticas e lingüísticas. Entretanto. bem como auxiliá-los a encontrar seu próprio equilíbrio no espectro de suas competências para que se sintam mais competentes e. Ou seja. mas que ele também pode ser competente na maneira de se relacionar com os .Teorias Cognitivas da Aprendizagem 77 Contribuições da teoria das inteligências múltiplas no contexto educativo A idéia do caráter único. todas essas tentativas não têm a concepção de que as crianças possuem inteligências variadas e. Gardner48 vislumbra uma educação escolar diferente da atual. estimular a autonomia. alunos e outros educadores sobre essas diferenças. o professor precisa personalizar seus projetos educativos e sua forma de ensinar. em seus interesses. ou seja. Portanto. encontrar soluções e testar suas próprias conclusões. O docente deve entender que todo aluno tem o potencial para desenvolver suas “inteligências” desde que adequadamente estimulado. cabe ao professor:  compreender a existência de diferenças entre os alunos. ainda. a responsabilidade e a interação dos alunos para que estes possam gerar novos conhecimentos. aptidões e objetivos. a escola deve considerar as diferenças entre os alunos em vez de ignorá-las e garantir a cada um a possibilidade de desenvolver todo o seu potencial. Ele deve.  conversar com pais.  estimular o aluno a mostrar de forma consciente o que está aprendendo. Nesse ambiente. levantar hipóteses. Desse modo. Por isso.78 Ana Maria Lakomy colegas ou no modo de pintar um quadro. é função da escola enfatizar uma educação centrada no aluno. explorar perspectivas. trabalhar com as diferenças entre os alunos para que elas sejam usadas a favor deles.  proporcionar diversas oportunidades para o aluno aprender os conteúdos escolares .49 A escola deve proporcionar um ambiente que estimule o aluno a sentir interesse. questionar.  reconsiderar os métodos de avaliação. novas investigações e .  dramatizações. História. que o professor faça um trabalho interdisciplinar usando:  de incentivos à sua participação em projetos individuais ou coletivos.  trabalhos em grupo. Matemática. que são competências básicas envolvidas na comunicação. ler e escrever. falar. Para realizar essas atividades. . compreender seu processo de aprendizagem. Gardner50 sugere.  produção e leitura de textos.  a orientação para que os alunos sejam capazes de documentar seu trabalho e.  o encorajamento para a utilização de conhecimentos adqui­ridos na realização de tarefas fora da escola. os alunos precisam do entendimento das disciplinas básicas (Línguas. Ciências. finalmente. assim. Geografia e Artes).Teorias Cognitivas da Aprendizagem 79 explorar novos estímulos com base nos conteúdos apreendidos.  a comunidade para que os alunos realizem atividades extracurriculares. bem como ouvir.  leitura e interpretação de livros.  jogos pedagógicos. No preparo da aula. você deve ter clareza quanto aos seguintes pontos:  Quem é o aluno?  O que você pretende alcançar com os temas que vai desenvolver?  Como poderá atender às exigências de cada aluno?  Como iniciar.  observação concentrada em momentos de prova com ou sem consulta ou durante a realização de tarefas individuais ou em grupo. deve abranger vários instrumentos num longo prazo de tempo. O planejamento da aula é de fundamental importância. a reflexão sobre como melhorar as menos desenvolvidas.80 Ana Maria Lakomy A avaliação escolar de acordo com a teoria das inteligências múltiplas A avaliação escolar compreende a avaliação do aluno em processo – as perguntas que faz. Por exemplo:  observação contínua ao longo do período escolar.  registro das observações pessoais. Envolve uma reflexão permanente. pois a avaliação permite que ele decida como agir em relação a cada aluno. portanto. desenvolver e encerrar a aula ou as atividades propostas? . o atendimento é individualizado e existem possibilidades de estabelecer relações entre diferentes noções e significados. Ela também requer um desenvolvimento profissional do professor. A avaliação. conclusões e dúvidas logo após a atividade desenvolvida. pois o trabalho é flexível. a identificação das competências mais desenvolvidas. Atividades 1) Elabore uma atividade de tutoria utilizando como suporte teórico a teoria das inteligências múltiplas e a teoria da afetividade. ou seja. tornando-o capaz de dar um significado concreto ao conhecimento. desenvolvidos por Celso Antunes. por sua vez. motor. 2) Veja os vídeos intitulados Práticas em Inteligências Múltiplas I e II. .br). lingüístico e ético). afetivo.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 81 A teoria da afetividade. assume um papel muito importante como mediador no desenvolvimento desses aspectos em situações contextualizadas. Essas atividades devem estar voltadas para o desenvolvimento de cada uma das inteligências múltiplas na modalidade de EaD. O professor. a teoria da aprendizagem significativa e a teoria das inteligências múltiplas evidenciam uma concepção de aprendizagem segundo a qual o aluno é o centro do processo ensino-aprendizagem. que permitam ao aluno relacionar o conteúdo ministrado pelo professor (teoria) com o mundo que o rodeia (prática). bem como o construtor ativo do seu conhecimento e desenvolvimento global (cognitivo. social. produzidos e distribuídos pela ATTA Mídia e Educação ([email protected]. Porto Alegre: Artmed. . 1999. As artes e o desenvolvimento humano. [v. Porto Alegre: Artmed. Porto Alegre: Artmed.82 Ana Maria Lakomy Bibliografia recomendada ANTUNES. ______. KRECHEVSKY. ______. H. 2001. A teoria das inteligências libertadoras. São Paulo: Vozes. Porto Alegre: Artmed. 1997. Rio de Janeiro: Vozes. 1-3] ______. 1997. Projeto Spetrum: teoria das inteligências múltiplas na educação infantil. ______. ______. 2000. FELDMAN. A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. Rio de Janeiro: Objetivo. Inteligências múltiplas: a teoria na prática.. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Jogos para a estimulação das inteligências múltiplas. Inteligência: um conceito reformulado. 1995. GARDNER. 1994. Mentes que lideram. H. M. ______. Porto Alegre: Artmed. ______. C. 2000. Porto Alegre: Artmed. 1996. estabelecem um desafio para a pesquisa do ensino e da aprendizagem quando impõem a noção de sala de aula como contexto ou sistema constituído por vários elementos (os alunos. disciplinas . ativo e integrado de aprendizagem traz riscos. os materiais didáticos. mesmo que não autônomo.) que se relacionam e interagem entre si. pois está inse­rida em um sistema maior. atividades. os conteúdos. os instrumentos de avaliação etc. a concepção da sala de aula como um contexto formal. as atividades de ensino. professores. os professores. Por isso. o que ocorre na sala de aula se deve parcialmente a decisões ou a fatores cuja origem encontra-se nela – alunos. os de origem socioconstrutivista ou sociolingüística.Nossas considerações sobre as teorias da aprendizagem Os enfoques contemporâneos da aprendizagem. Nesse sentido. é muito importante perceber a sala de aula como um sistema de vida próprio. originando trocas responsáveis pelo processo de aprendizagem. Ou seja. tendo em vista que a escola encontra-se inserida num contexto maior. as práticas. Atividade final Realize um ensaio e identifique os pontos principais de cada teoria cognitiva da aprendizagem e suas implicações educacionais. nas quais a linguagem é o instrumento por excelência que permite a construção dos significados e a afetividade entre os membros. Concordamos. portanto. o sistema educacional. reconhecer que boa parte de sua dinâmica é modulada por fatores. a organização sócio-político-econômica e cultural da sociedade. Devemos. além de ser instrumento fundamental para a motivação e o desenvolvimento individual e grupal. bem como relacione as teorias entre si por meio da elaboração de um conjunto de sugestões de atitudes e práticas educativas a serem adotadas pelo professor em sala de aula. que a maneira de funcionamento de uma comunidade de aprendizagem deve ser a adoção da prática de atividades conjuntas entre professor e aluno em torno de conteú­ dos e tarefas escolares.84 Ana Maria Lakomy etc. Não devemos deixar de perceber que a sala de aula é uma comunidade de aprendizagem que tem o professor como coordenador que deve estimular o conhecimento por meio das várias teorias da aprendizagem e refletir sobre como gerir esse espaço para que seus alunos obtenham o maior benefício possível. decisões ou processos que se originam em outros sistemas – a escola. . pois. p. PIAGET. 2000. 1990. 2 Id. cit. 9 Capítulo 2 PIAGET. PIAGET. 5 COLL. 2000. 1980. 1997. cit. 1988. 1990. 1995. op. op.Capítulo 1 WOOLFOLK. 1997. 1995. 3 PIAGET. 1997. 6 SKINNER. 4 . MOLL. 3 COLL. 4 SKINNER. 157 2 COLL. 1 FONTANA. 7 WOOLFOLK. 8 BANDURA. 1998. 1 PIAGET. 2000. 1998. Id. . 8 Ibid. 11 12 13 14 Id. 16 17 VYGOTSKY. op.. 6 Ibid. 1988. 26 27 28 29 BRUNNER. 25 Ibid. Id. 2001. p. Id. 114 PIAGET. VYGOTSKY. 1997. Id. 22 23 COLL. 24 Id. Id. 10 Id. Id. 1995. Id. cit. 1988. p. 1988. Id. 15 VYGOTSKY. 7 PIAGET. 1982. 18 Id. 27 9 Id. 19 20 21 Id.86 5 Ana Maria Lakomy FERREIRO. Id. VYGOTSKY. 48 49 Id. GARDNER.. 25 44 WALLON.Teorias Cognitivas da Aprendizagem Id. 1999. Id. 34 Id. 35 MOREIRA. 42 43 WEREBE. 1999. GARDNER. 40 36 37 AUSUBEL. op. 1997. 30 Id. 47 GARDNER. 2001. cit. 1995. 38 39 Id. Ibid. 1999. 1996. Id. 46 GARDNER. 1997. 31 32 BRUNNER. p. 50 Id. 1995. p. 2005. 33 Id. GARDNER. 45 Id. 87 . WALLON. 40 41 Id. AUSUBEL, D. et al. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1985. BAQUERO, R. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 1997. BANDURA, A. Modificação de comportamento através de procedimentos de modelação. In: KRASNER, L. (Org). Pesquisas sobre modificações de comportamento. São Paulo: Herder, 1980. BAUM, W. Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Artmed, 1998. BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artmed, 1997. _______. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artmed, 1998. _______. O processo da educação. São Paulo: Edições 70, 1999. CARRARA, K. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. São Paulo: Unesp, 2005. COLL, C. et al. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 1995. 3v. 90 Ana Maria Lakomy DANTAS, H. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. São Paulo: Manole, 1997. FERREIRO, E. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1995. _______. Atualidades de Jean Piaget. Porto Alegre: Artmed, 2001. _______. Cultura, escrita e educação. Porto Alegre: Artmed, 2000. FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1995. FONTANA, D. Psicologia para professores. São Paulo: Loyola, 1998. GARDNER, H. A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Artmed, 1995. _______. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 1994. _______. Mentes que lideram. Porto Alegre: Artmed, 1996. _______. As artes e o desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 1997. _______. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 1997. _______. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetivo, 1999. _______; FELDMAN, H.; KRECHEVSKY, M. Projeto Spetrum: teoria das inteligências múltiplas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2001. 3v. GOULART, I. (Org.). A educação na perspectiva construtivista: reflexões de uma equipe multidisciplinar. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. Linguagem e pensamento da criança. _______. São Paulo: Plexus. Desenvolvimento infantil. Y. _______. KELLER. ALMEIDA. Rio de Janeiro: Zahar. MAHONEY. Vygotsky e a educação. Vygotsky. . 1998. Linguagem e desenvolvimento intelectual da criança. 1999. L.. São Paulo: Moraes. LURIA.Teorias Cognitivas da Aprendizagem 91 KASNER. F. São Paulo: Herder. 1999. PIAGET. (Org. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. J. Pesquisa sobre modificação de comportamento. Brasília:UNB. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio. A construção do real na criança. Constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. INHELDER. Henri Wallon: psicologia e educação. M. A. N. Aprendizagem: teoria do reforço. 2004. MOREIRA. São Paulo: Artmed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. 1999. L. Wallon. 2000. 1996. LA TAILLE. 1990. 1997. São Paulo: DIFEL. et al. _______. (Org). MOREIRA. A psicologia da criança. A. I. Porto Alegre: Artmed. 1988. Porto Alegre: Artmed. 1980. Loyola. São Paulo: EPU. MASINI. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky. PALANGANA.. NEWCOMBE. B. Piaget. L. 1980. Loyola. 1995. 1982. MOLL. _______.). 2004. M. São Paulo: Summus. Aprendizagem significativa. E. São Paulo: Loyola. H. Porto Alegre: Artmed. 1995. SALVADOR. A formação social da mente. São Paulo: Manole Dois. São Paulo: Nova Alexandria. . São Paulo: Ícone. São Paulo: Papirus. Psicologia atual e desenvolvimento da criança. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix/Edusp. R. _______. M. 1998. Iniciação ao desenvolvimento da criança. J. Psicologia do ensino. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Ática. Rio de Janeiro: Zahar. _______. Linguagem. São Paulo: Martins Fontes. RATNER. P. 1990.92 Ana Maria Lakomy PIAGET. Porto Alegre: Artmed. K. 1999. 2000. São Paulo: Martins Fontes. Vygotsky: uma síntese. 1997. _______. As origens do caráter na criança. F. SOARES. 1997. DER VEER. _______. A psicologia sócio-histórica de Vygotsky. O nascimento da inteligência na criança. São Paulo: Martins Fontes. et al. J. 1988. VAYER. Questões recentes na análise comportamental. 1995. VALSIMER. L. 1995. 2000. SYLVA. VYGOTSKY. WALLON. 1987. desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Martins Fontes. C. Linguagem e escola. C. 1998. Pensamento e linguagem.. 2000. SKINNER. Teorias Cognitivas da Aprendizagem 93 VYGOTSKY. Psicologia da educação. Henri Wallon. 1999. D. 2005. 1996. MALOTT. . WEREBE. NADEL-BRULFERT. São Paulo: Ática.. Princípios elementares do comportamento. J. Porto Alegre: Artmed. A. WHALEY. R. M. L. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Edição 70. 2000. WOOLFOLK. São Paulo: Herder. . . sobre papel offset 75 g/m².Este livro foi impresso no outono de 2008. . pela Reproset Indústria Gráfica.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.