teologia-sistematica-franklin-ferreira-espirito-santo.pdf

March 30, 2018 | Author: Rodrigo Dayane Torricelli | Category: Trinity, Holy Spirit, Saint, God, Calvinism


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C APÍT U L0 1 7A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO Definição do problema este ponto de nosso estudo, será bom relembrar o que já foi estudado. Consideramos a revela­ N ção que Deus faz de si mesmo e sua existência trina; depois, estudamos seus atributos e obras, na criação e na providência, assim como a criação do homem e os efeitos desastrosos da queda. Consideramos também a pessoa de nosso salvador, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem, seus três ofícios, sua morte redentora na cruz e sua ressurreição. Esta é a chamada obra objetiva de Deus, que, por meio da morte de Cristo na cruz, é capaz de reconciliar os pecadores com o próprio Deus. Começaremos, agora, a considerar a aplicação da redenção aos eleitos, conhecida como a obra subjetiva de Deus. Examinaremos a pessoa do Espírito Santo, e a graça que ele livremente aplica aos cristãos. Estudaremos, também, sobre a igreja, sobre a comunhão dos santos, sustentada e alimentada pelo Espírito, e sobre a consumação da redenção na restauração de todas as coisas. A maioria das religiões entende que existe uma força divina na natureza. Por causa disso, o ser humano é incuravelmente religioso. Nem sempre as pessoas demonstram muito interesse por doutrinas e filosofias abstratas. Preferem estudar uma experiência transcendente. Encontrar e experimentar a força divina é o alvo dos que buscam as religiões; a religião, porém, que não consegue produzir essa experiência em pouco tempo não consegue reunir adeptos. Ao estudar a doutrina do Espírito Santo, abordaremos as questões relacionadas com a experiência do transcendente, sob a ótica da fé cristã. É por meio da obra do Espírito que os benefícios da salvação se tomam realidade concreta na vida do crente. A natureza dessa realidade será o tema dos capítulos seguintes. Primeiro, é conveniente estudar a própria pessoa do Espírito Santo. Nosso conhecimento de Deus não seria completo sem conhecer a natureza daquele que traz as bênçãos da salvação para nossa vida, no dia a dia. Dificilmente experimentaremos uma prática e uma experiência saudáveis, se entendermos de forma errada a pessoa que é a fonte dessas duas dinâmicas na vida cristã. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 661 Várias idéias sobre a natureza do poder divino na experiência da humanidade nos são apresentadas. É o Espírito Santo uma pessoa ou uma força impessoal usada por Deus para influenciar o mundo? Ao final do estudo sobre a doutrina da Trindade, concluímos que ele é uma pessoa distinta de Deus Pai e de Deus Filho. No entanto, as três pessoas são iguais em sua essência divina. Como podemos, então, responder às diversas idéias das seitas e religiões sobre a presença divina no mundo? Qual a natureza da relação entre o Espírito Santo, o Pai e o Filho? Que papel ele exerce na obra da redenção e em relação ao mundo não redimido? Estas são algumas das questões que serão respondidas neste capítulo. Estudo histórico e comparativo As religiões que negam a doutrina da Trindade têm dificuldade com a doutrina do Espírito Santo. É natural que isso aconteça. Essas religiões têm, basicamente, três opções. Primeiro, podem identificar o Espírito Santo com a divindade unipessoal ou impessoal em que crêem. Isto equivale a negar a existência do Espírito. Outra possibilidade é identificar o Espírito Santo como uma das divindades de um sistema politeísta. A terceira é reduzir o Espírito Santo a uma espécie de força impessoal, algo como o poder de Deus implementado na criação. Encontramos as três opções no estudo das religiões e seitas. As religiões O Espírito Santo como uma pessoa distinta é uma idéia única na fé cristã. Por este motivo, é difícil achar um paralelo nas demais religiões. Não se pode falar do Espírito Santo nas religiões de origem africana, a não ser que isso seja feito a partir de influências cristãs. Anteriormente, notamos que o sincretismo afro-brasileiro fez com que fosse criada uma correlação entre os orixás e o conceito de Deus e dos santos da tradição católica. Na umbanda, vimos que a divindade suprema — Olorum — é diferente das três divindades subordinadas — Obatala (Pai), Oxalá (Filho) e Ifá (Espírito Santo).3 No Candomblé, Ifá é o orixá de “sabedoria e consulta”.4 Isto não é um paralelo exato, mas é interessante notar que ambos, Ifá e o Espírito Santo, são porta-vozes do divino. Além disso, seria um erro confundir categorias tão diferentes como a fé cristã e as religiões afro-brasileiras, na busca de paralelos que, na verdade, são superficiais. Também no kardecismo existe muito pouco a respeito do Espírito Santo. Ao citar João 3.8, Kardec tratou o Espírito Santo como o Espírito de Deus, mas também confundiu o Espírito com a alma e, daí, usou o texto para apoiar a doutrina da preexistência das almas.5De qualquer maneira, não aparece no kardecismo uma distinção entre o Espírito Santo e Deus, sendo que ambos são considerados uma única pessoa. Podemos concluir que, no kardecismo, o conceito do Espírito Santo é de pouca importância. O islamismo se desenvolveu como uma reação a várias idéias e doutrinas cristãs, embora seja altamente provável que Maomé não tenha entendido muito bem o significado das doutrinas 3Harmon A. Johnson, Authority over the spirits', Brazilian spiritism and evangelical Church growth, p. 49 e Esther Pressel, “Umbanda, trance and possession in São Paulo, Brazil”. In: Trance, healing, and hallucination; three field studies in religious experience,(ed.), Irving I. Zaretsky, p. 138. 4Volney J. Berkenbrock, A experiência dos orixás, p. 442. sAllan Kardec, O evangelho segundo o espiritismo, p. 80. 662 [P A R T E 6] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO básicas do cristianismo. No Alcorão, a Surate 2.116 dá a impressão de que ele entendeu que a Trindade fosse composta de Deus Pai, o Filho e Maria.6O mais provável é que isto seja uma indicação de um culto a Maria já bem desenvolvido, na área onde Maomé atuou. A doutrina da unidade absoluta de Deus elimina qualquer noção do Espírito Santo do ensino muçulmano. O islamismo entende a promessa de Jesus quanto à vinda do Espírito Santo como uma profecia a respeito de Maomé. Os muçulmanos não entendem que Maomé é o Espírito Santo, mas que, quando Jesus falou, em João 14.16, do TTapáKÀr]TOÇ (paraklêtos), o Consolador que viria, na verdade ele falava de Maomé. Assim, Maomé, como o profeta final, seria o espírito da Verdade, Consolador e Mensageiro de Deus .7 Segundo Higgins, o texto grego deve dizer periklutos ao invés de paraklêtos. O motivo para essa opinião é que a palavra do texto representa uma palavra do aramaico, a língua falada por Jesus, e que foi traduzida erroneamente para o grego como paraklêtos. Higgins diz que periklutos significa “famoso ou ilustre”, que em arábico é o significado do nome Maomé. A mudança no texto existe porque os manuscritos mais antigos, segundo Higgins, foram destruídos pelos cristãos.8Ulfat cita também o Evangelho de Barnabé, que contém uma profecia que nomeia Maomé como o profeta final que haveria de vir.9Podemos concluir, então, que o islamismo nega a doutrina do Espírito Santo como pessoa distinta, que vem para habitar e regenerar os que crêem em Deus. As seitas O ataque das seitas surgidas no século xix contra a doutrina da Trindade continua, ao abordarmos a doutrina da pessoa do Espírito Santo. As tendências incluem a negação de sua existência como pessoa distinta, a afirmação de que ele nada mais é do que uma força impessoal, ou de que ele é um ser divino inferior ao Deus todo-poderoso. A negação da pessoalidade do Espírito Santo é evidente no ensino da seita Testemunhas de Jeová. “O uso que a Bíblia faz de ‘espírito santo’ indica que se trata duma força controlada que Jeová Deus usa para realizar uma variedade de propósitos. Até certo ponto, ela pode ser comparada com a eletricidade, uma força que pode ser adaptada para realizar grande variedade de operações”.10As testemunhas de Jeová descrevem a ação do Espírito como revelador, não por meio da comunicação entre pessoas, mas como “ondas de rádio que transmitem mensagens entre pessoas distantes umas da outras”.11Textos bíblicos que falam do Espírito Santo como se fosse uma pessoa são interpretados como figuras de linguagem, da mesma forma em que a lei ou a sabedoria são tratadas como se fossem pessoas, em alguns textos bíblicos .12Nesse caso, o Espírito é visto não como uma pessoa, mas como uma força poderosa que emana de Deus para cumprir a sua vontade.13 6Samuel Zwimmer, The moslem doctrine o f God, p. 80. 7Ulfat Aziz-Us-Samad, A comparative study o f Christianity and Islam, p. 41-43. 8Godfrey Higgins, An apology for Mohamed § 171-178, apud: Ulfat Aziz-Us-Samad, A comparative study o f Christianity and Islam, p. 42. Cf. Godfrey Higgins, An apology fo r the life and character o f the celebrated prophet o f Arabia called Mohamed or the illustrious, p. 180-184. 9Ulfat Aziz-Us-Samad, A comparative study o f Christianity and Islam, p. 42. iaD eve-se crer na Trindade, p. 20. 1[D eve-se crer na Trindade, p. 22. nReasoningfrom the Scriptures, p. 407. 1'Reasoningfrom the Scriptures, p. 381. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 663 Os mórmons têm uma visão do Espírito Santo muito diferente da visão das testemunhas de Jeová, e que é consistente com seu politeísmo. Eles ensinam que o Espírito é uma divindade distinta de Jesus e de Deus Pai. Para eles, estas são as três pessoas que compõem a Trindade: o Pai e o Filho — pessoas de carne e osso — e o Espírito Santo — pessoa somente espiritual. Algumas autoridades antigas entre os mórmons tinham dúvidas se o Espírito Santo existiria como uma pessoa distinta ou não. O ensino atual, entretanto, afirma que ele existe como um ser distinto. É uma pessoa masculina e divina.14Quanto à origem e o destino do Espírito Santo, nada é conhecido .15 De maneira semelhante ao Pai e ao Filho, o Espírito Santo é limitado pelo espaço e pelo tempo. Não pode ser onipresente, porque, mesmo sem corpo físico, ele tem um corpo espiritual, finito e limitado. Apesar disso, sua inteligência, influência e poder podem ser onipresentes em todas as obras de Deus. Embora afirme a pessoalidade do Espírito, isto fica obscurecido pelo uso de uma linguagem semelhante à das testemunhas de Jeová, que o representa como energia, poder e influência de Deus, por meio do que ele cumpre seus propósitos.16O Espírito emana de Deus, e é o revelador que dá testemunho dele e santifica as almas. No mormonismo, o Espírito Santo tem o importante papel de selar e ratificar as ordenanças do Senhor, como o batismo e o casamento para a eternidade, no templo.17Enfim, o Espírito Santo é o administrador das obras de Cristo e do Pai, na terra. Neste sentido, segundo o mormonismo, ele é subordinado ao Pai e ao Filho. Na história da igreja Em meados do século u, Justino de Roma afirmou a existência das três pessoas divinas, às vezes citando fórmulas oriundas do batismo e da ceia, outras vezes refletindo o ensino catequético eclesial. Traços de uma doutrina trinitária são perceptíveis em seus escritos, quando, ao falar do Espírito como “Espírito Profético”, alega que Platão tomou emprestado de Moisés seu conceito do terceiro Um, e o costume pagão de erigir estátuas de Cora junto às fontes, o que teria sido inspirado na figura bíblica do Espírito movendo-se sobre as águas.18Justino interpretava Isaías 11.2 como uma indicação de que, com a vinda de Cristo, a profecia cessaria entre os judeus; daí em diante, o Espírito seria Espírito de Cristo e outorgaria seus dons e graça aos cristãos.19Assim, ele é a fonte de iluminação que faz do cristianismo a filosofia suprema.20Seu pensamento era confuso neste aspecto, chegando a sugerir que os profetas foram inspirados pelo Logos,21 e ele estava longe de conseguir elaborar o padrão tríplice da fé da igreja num esquema coerente.22 Numa passagem que se aplica a Justino, Kelly afirma: 14Jerald e Sandra Tanner, The changing w orld o f mormonism, p. 189. I5Bruce McKonkie, Mormon doctrine, p. 359 ,6Reasoningfrom the Scriptures, p. 752-753. 11Reasoning from the Scriptures, p. 361-362. 18Cf. 1 Apologia, 60.6; 64.1. 19Cf. Diálogo com Trifao, 87.2. 20Cf. Diálogo com Trifao, 4.1. 21Cf. 1 Apologia, 33.9; 36.1. 22J. N. D. Kelly, Doutrinas centrais da f é cristã, p. 75-77. Confissões triádicas aparecem de forma contínua em suas obras, que eram usadas na liturgia cristã: 1 Apologia, 6,2; 65,3; 67,2; 13; 61,3; 61,10; 46; 21,1; 31,7; 42,4; 46,5 e Diálogo com Trifão, 63,1; 85,2; 126,1; 132,1. Em meados do século iv. Cf. ele está visando a economia da salvação. uAdversus Haereses. não foi dada atenção à natureza do Espírito Santo. Foi por meio deles e neles que fez todas as coisas. o canal que sai do rio é o terceiro a partir da nascente e o ponto de luz no facho é o terceiro a partir do sol ”. assim como a fruta que nasce do galho é a terceira a partir da raiz. XIII. p. e que o único Deus tem um Filho. o Filho e o Espírito. 2iAdversus Praxean. Isso é compreensível. IV. cit. também Fernando A. que distribui a unidade na Trindade. 121: “Creio que não se possa acusar Justino de subordinacionismo. p. ele tem junto de si o verbo e a sabedoria.29.29 Nós cremos em um único Deus. II apud: J. IV. 75. o Espírito é o “representante” ou “delegado” do Filho .. Doutrinas centrais da f é cristã.7. não tratando da natureza e da substância do Espírito. 25Adversus Haereses.) O mistério da economia. p. 84. Trinitas unius divinitatis. N. ocorrido em 325. Trinitas.30 Como foi visto no capítulo 5. [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO O que os apologistas tinham para dizer sobre o Espírito Santo era tão escasso que nem merecia o nome de teologia científica. posto que este.. de fato.25 Para Tertuliano. sendo ministros leais. Doutrinas centrais da f é cristã. que procedeu dEle mesmo. Estes se declaravam dispostos a atribuir honra ao Filho. “desde sempre. em que o Pai se revela na palavra pronunciada (o Logos). no século m. liderados por Eustácio de Sebaste. Filho e Espírito como Três.27 O Espírito também é uma “pessoa”. era inferior ao Pai e ao 23J.. de acordo com Sua promessa. XII. a partir do Pai e do Filho. 1.26Ele procede do Pai por meio do Filho. que é nossa palavra para designar economia. “sendo o terceiro. p. 37.20. em suas palavras. que condenou o arianismo.24 Deus criou o mundo não por necessidade. surgiram os chamados pneumatômacos — os “opositores do Espírito” — . D e Praescriptione Haereticorum. XI. Kelly. o Concílio de Nicéia. Em latim. 84. como fazem alguns de seus intérpretes. XI.1. assumiram a tarefa de proclamar a fé da Igreja. 29Adversus Praxean. em Gênesis 1.26. Figueiredo. o Concílio de Nicéia declarou a divindade e consubstancialidade do Filho.13. Ele não deseja definir a vida e o modo da geração intratrinitária. p. mas para manifestar e comunicar sua glória. III. As instituías.28de maneira que a divindade é uma “Trindade”. . Cf. v. a partir do Pai (. Bengt Hãgglund. No entanto. D. Cf. quando escreve: ‘e foi gerado quando no princípio criou e ordenou por seu meio todas as coisas’. op. mas não ao Espírito Santo. D. Sua palavra. 30Adversus Praxean. 27D e Praescriptione Haereticorum. que é também a proclamação da inexprimibilidade de Deus: Ele é o Logos coexistindo com Deus”. N. declarou Jesus Cristo consubstanciai ao Pai. Devemos notar que João Calvino afirmou que o testemunho de Justino confirmava a doutrina trinitária ortodoxa. no entendimento deles.20. contudo sujeito a esta dispensação. Mesmo quando estabelece a relação do Logos com a criação. Kelly. enquanto apenas afirmou a fé “no Espírito Santo”. XIII apud: J. Doutrinas centrais da f é cristã. e este Filho enviou então o Espírito Santo. Justino está falando da economia divina manifestada na criação. Curso de teologia patrística...23 Ireneu de Lion identificava o Espírito com a Sabedoria divina e. pois o problema básico que os ocupa era a relação de Cristo com a Divindade. N. apresentando o Pai. Kelly. o Paracleto. I. Nesse Concílio. e foi a eles que Deus dirigiu as palavras “façamos o homem”. 26Cf. D. soberanamente e com toda liberdade”. Na verdade. cujo padrão era evidentemente triádico. conseqüentemente. numa tentativa de defender a unidade de Deus. O que estava em jogo nesta diferença era a afirmação da divindade do Filho e do Espírito Santo. se não tiver o Espírito. . e ao que recusa aceitar o Espírito que a sua fé no Pai e no Filho é vã. Para Macedônio. não crê no Filho quem não acredita no Espírito. Basílio demonstrou que a glória divina pertence tanto ao Espírito Santo como ao Pai e ao Filho: Atesto a todo aquele que confessa o Cristo. 8. proferimos a doxologia ao Pai com o Filho. possui com o Pai. falamos como falavam nossos pais.). porém.. junto com ele. abandonaríamos o modelo de salvação que recebemos? (.. a mesma glória..) Como Deus e Filho.16. 90-93. Enquanto o texto mais conhecido dizia: “Glória ao Pai. com o Filho. afirmou que o Espírito Santo era subordinado ao Pai e ao Filho. Tratado sobre o Espírito Santo. (. p. Macedônio. que era bispo de Constantinopla e semi-ariano. Mediante toda uma série de argumentos bíblicos e teológicos. e ao que recusa aceitar o Espírito que sua fé no Pai e no Filho cairá num vazio.. o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo foram igualmente dados.. ele [o Espírito Santo que é um] se religa ao Pai.) Tomem conhecimento de que o Espírito é nomeado com o Senhòr do mesmo modo que o Filho com o Pai. que também é um.25-26. mediante o Filho e no Espírito Santo”. pelo Filho e pelo Espírito Santo. Dicionário ilustrado dos intérpretes da fé . Basílio de Cesaréia buscou refutar ambas as posições . Por outro lado. Dois anos depois.46. que se trate de tradição dos pais. pois no primeiro caso se poderia dizer que a glória pertence somente ao Pai. enquanto que no segundo. Efetivamente. 17.. uno com a “natureza divina e bendita” e inseparável do Pai e do Filho. (. afirmando que ao Espírito Santo deve ser concedida a mesma glória e louvor que são concedidos ao Pai e ao Filho: Mas não atenuaremos a verdade..) Cientes da salvação operada pelo Pai... o Espírito Santo não tinha a dignidade divina do Filho. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 665 Filho. (.32 Basílio escreveu esse tratado a partir do texto da doxologia que era empregada na liturgia oriental.) O Senhor nos transmitiu como doutrina obrigatória e salvífica que o Espírito Santo está na mesma ordem que o Pai. mas rejeita o Filho que sua fé é vã. negando. que Cristo em nada o ajudará. sendo um ministro.. Com efeito. uma espécie de anjo.33 O argumento de Basílio é centrado na divindade do Espírito Santo. porém. juntamente com o Espírito Santo”. Não basta. um intérprete.43.17. ele afirmou que o Espírito Santo deve ser reconhecido como intrinsecamente santo. nem 31Justo L. Eles próprios seguiam o conteúdo da Escritura e extraíam os princípios dos testemunhos da Escritura. e por si completa a Trindade bem-aventurada. que a glória é comum ao Pai e ao Filho. 32Basflio de Cesaréia. por isso. como está implícito na fórmula batismal. 33Basílio de Cesaréia. deu um passo a mais. 18. González (ed. mas renega a Deus. (. digna de todo louvor..) Por meio do Filho que é um. Tratado sobre o Espírito Santo.. 7. 10. Dou testemunho ao que invoca a Deus. em seu Tratado sobre o Espírito Santo.31 No começo da controvérsia. a glória corresponde aos três: Nós. nem mesmo poderá possuir a fé. escrito em 374. nem por temor trairemos nossa aliança. Basílio preferia dizer: “Glória ao Pai. a divindade do Espírito Santo. 43.) Há um só Deus Pai.36. E se fosse conveniente ‘co-numerar’. 35Basílio de Cesaréia. neste século e no século futuro.34 Por isso. conforme as promessas. um só Filho Unigénito. . pois é o Espírito quem aplica a salvação de Deus aos cristãos. pois ainda que cada uma delas seja designada como uma. a graça dos bens que nos estão reservados.37 Para Basílio. possibilita-nos participar da graça de Cristo. 17. bem como no poder e imensidão de sua operação. Por meio do Espírito Santo realiza-se a restauração do paraíso. Basílio criticou a prática de numerar as pessoas da Trindade. não nos deixaríamos levar por rude enumeração a uma idéia politeísta. e ao Filho e ao Espírito Santo. Com efeito. 195-202. tanto com o Pai quanto com o Filho .. e como em contemplar. como somente o Espírito Santo opera a nossa salvação. por uma única palavra.35 Basílio apelou à experiência cristã da salvação. tanto no Ocidente como no Oriente. que são: a ênfase das Escrituras na grandeza e na dignidade do Espírito. não existindo nenhuma subordinação entre as três pessoas. D. renovais a mesma doutrina ímpia [o politeísmo dos pagãos]. Tratado sobre o Espírito Santo. e sempre (será) pelos séculos dos séculos”. que está no seio do Pai. “subenumerais” o Filho. traz a influência de Basílio. (.36 Kelly resume os destaques do argumento de Basílio. a subida ao reino dos céus. p.44. em boa parte. e argumentou que. Doutrinas centrais da f é cristã. O Tratado sobre o Espírito Santo foi a base para um tratado semelhante. não se somam entre si. 37J. 666 [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO crê no Pai aquele que não crê no Filho. e (é) agora. Se. ser posterior à origem. este o deu a conhecer”. Kelly. A doxologia passou a afirmar: “Glória ao Pai. Anunciamos cada uma das hipóstases singularmente. a associação do Espírito com o Pai e o Filho em tudo o que eles realizam. partilhar a glória eterna e. Tratado sobre o Espírito Santo. a não ser no Espírito Santo.. verificar-se-á simultaneamente uma restauração de todas as blasfêmias contra o Unigénito. de modo que a doutrina do Espírito Santo. 15. e cuja fruição aguardamos pela fé . ter o nome de filhos da luz. É ele quem nos dá a ousadia de chamar a Deus de Pai. de fato. 18. 11. existir desigualdade quanto à essência. o retomo à adoção filial. especialmente em sua obra de santificação e glorificação. desde já presente. Tratado sobre o Espirito Santo. ele só pode ser Deus. um só Espírito Santo. 34Basílio de Cesaréia. a não ser no Espírito da adoção filial. A razão para isso é que a natureza divina que compartilham é simples e indivisível. escrito por Am- brósio (que. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Unigénito.27. nem é possível invocar o Pai. haver diminuição de dignidade. “ Basílio de Cesaréia. a saber. recebermos a plenitude da bênção. em resumo. e o relacionamento pessoal do Espírito. De fato. Acha-se também excluído da verdadeira adoração aquele que renega o Espírito. N. pois somente Deus pode salvar. em uma palavra. o Espírito Santo não pode ser separado do Pai e do Filho. é impossível adorar o Filho. se limitou a traduzir o que Basílio tinha escrito). como era no princípio. “ninguém pode dizer: Jesus é Senhor a não ser no Espírito Santo”. Em 589. “A data exata em que o papado sancionou uma mudança wCf. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 667 B asílio contribuiu para o triunfo final da doutrina da Trindade que o con cílio de N icéia tinha confessado. O Espirito Santo . proclamar a divindade do Espírito Santo. Para a igreja oriental. A igreja ocidental enfatizou a natureza divina. na A lem anha e até m esm o no norte da Itália. Senhor e vivificador. p. assim com o Atanásio. a que foi acrescentado: Credimos in Spiritum Sanctum qui a Patre F ilioque procedidit — “Crem os no Espírito Santo. é adorado e glorificado. N o entanto. Para a igreja do Oriente. portanto. p. C om o foi visto no capítulo 5. A m bos ajudaram B asílio a influenciar a igreja em direção à adoção da doutrina ortodoxa da Trindade. pouco antes de o con cílio de Constantinopla. inseriu-se a cláusula Filioque na versão latina do Credo de Constantinopla. G regório N azianzo. som ente do Pai e ao Pai deve inclusive o seu proceder do Filho — é este o sentido da formulação oriental. pois morreu em Io de janeiro de 379. na França. 0 Espírito Santo é o vínculo de unidade entre o Pai e o Filho. por isso. A tradição oriental destacou o caráter da origem primeira do Pai em relação ao Espírito. E le trabalhou a fim de que um novo con cílio ecum ênico ratificasse as d ecisões de N icéia e acabasse com a heresia ariana e as brigas que ela causara. Por isso. Foi também pronunciado um anátema contra quem se recusasse a crer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. D ois dos convocados para esse serviço foram seu am igo. especialm ente. procede dos dois. o Espírito procede do Pai por m eio do Filho. destacando a comunhão consubstanciai entre o Pai e o Filho. e seu irmão caçula. . 95-103.. por causa da influência da teologia trinitária de A gostinho. conjuntamente. no Terceiro C oncílio de T oledo. B asílio não pôde ver essa vitória. que procede do Pai e do Filho". A Trindade. 0 Filho é Filho porque pelo Pai tem um Pai. seus seguidores acusam a igreja ocidental de erro. 15. digno de receber a m esm a glória que o Pai e o Filho: “E [crem os] no Espírito Santo.9Sinclair Ferguson. no ano 381. N o sentido de uma origem pura e sim ples.17.29. a cláusula Filioque diminui a igualdade perfeita das três pessoas da Trindade. A s diferenças entre o entendim ento de B asílio e o de A gostinho sobre a relação das pessoas da Trindade podem ser assim esquem atizadas:411 Basílio de Cesaréia Agostinho de Hipona 0 Pai não é gerado. sendo afirmada em credos usados na Espanha. que procede do Pai. o O cidente explicou que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho'8 — a chamada cláusula Filioque. . que com o Pai e o Filho. 4l’Adaptado de Gerald Bray. que falou por m eio dos profetas". e. entendendo que esta considera o Pai e o Filho com o duas origens do Espírito Santo. O Pai é Pai porque tem um Filho. E já no século viu esta posição prevalecia por toda a igreja no Ocidente. 159. Gregório de N issa. A doutrina de Deus. nom eou bispos de sua confiança para o ajudarem. 0 Filho é gerado. form ulação que tam bém foi m encionada em alguns concílios regionais ocorridos na Espanha. o Espírito Santo procede. Com este propósito. O Espírito Santo procede do Pai (por m eio do Filho). ... As instituías.. cf.......... p........ conseguiram ser tão claros...... As institutos...... mas ao Espírito se assinala o poder e a eficácia da ação... Efésios.. todavia não é vã ou supérflua a observância de uma ordem.. oração..... então se diz que o Filho procede dele........ 152... também reafirmou a cláusula Filioque.. 124...... não se distinguiria do Filho........18...... 43João Calvino.............. Calvino tem sido chamado de “o teólogo do Espírito Santo” por suas contribuições à teologia cristã. E o Concílio de Lion ii. 1-2.. 1.. os meios de graça.. ao Filho....44 Toda a obra de Calvino pode ser interpretada como um esforço para formular uma vida no Espírito baseada na Palavra de Deus. E a meta de toda a vida cristã é a nossa união com Cristo: “Nossa verdadeira plenitude e perfeição consiste em estarmos unidos no Corpo de Cristo”..41 Seguindo Agostinho.. a saber................ justificação.... a relação entre a Palavra e o Espírito”...... pois.... antes dele. foi João Calvino quem mais deu atenção à pessoa do Espírito Santo.14-20... o conselho e a própria dispensação na operação das coisas......43 A convicção desses conceitos reflete-se nas suas obras e em sua abordagem dos mais varia­ dos temas teológicos.... p... Podemos resumir suas contribuições da seguinte maneira: 1) “Calvino foi o primeiro a sistematizar de forma clara o ensino bíblico sobre o Espírito Santo. p.. 668 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO . a escolástica medieval afirmou que o Espírito Santo procede do Filho.............. 45João Calvino.. 42Para o tratamento de Calvino sobre a divindade do Espírito.. Em 1215.42Ele escreveu: Entretanto. posto que Deus jamais pôde existir sem sua sabedoria e poder.. não houvesse escrito sobre o assunto... III... Não é que ninguém........ o Espírito procede de ambos.......... nem se deve buscar na eternidade antes ou depois..... mas o ponto culminante desta controvérsia se deu em 1054... como por exemplo. antes e depois de Calvino...]............ a sabedoria... negação de si mesmo.. com a ruptura entre a igreja ocidental e a igreja oriental.. divisão que persiste até hoje.. Não existe praticamente nenhum assunto teológico em que Calvino não se refira.. a fonte e manancial de todas as coisas.. o Concílio do Latrão iv professou a processão do Espírito a partir do Pai e do Filho..... finalmente... santificação. ainda que a eternidade do Pai seja também a eternidade do Filho e do Espírito... em seu tratamento... simples e bíblicos”.... Com efeito... não convém passar em silêncio a distinção que observamos expressa nas Escrituras. como regeneração. se assim não fosse...... Durante a Reforma.......... 41Donald MacLeod. Sua abordagem era moldada por sua compreensão bíblica de que a ação do Espírito Santo é dar proeminência ao Pai e ao Filho . o teólogo do Espírito Santo-.............. A pessoa de Cristo............ à obra do Espírito. cf.... 2-3.... Para a aplicação da obra da redenção...13.................... 3) “Calvino resgatou alguns aspectos da doutrina do Espírito Santo que estavam soterrados debaixo da teologia medieval [.. 1. santificação... As instituías.... ....... 2) “Calvino integrou indissoluvelmente a doutrina do Espírito Santo aos demais temas e áreas da teologia....... 44Augustus Nicodemus Lopes........ vivida no contexto da igreja e direcionada para a glória de Deus....... ocorrido em 1274... Calvino. É que poucos.. enquanto o Pai é tido como sendo o primeiro.... arrependimento.45O terceiro livro das Instituías é um tratado sobre a vida cristã no qual Calvino elabora as doutrinas da fé e regeneração. seu ensino sobre o Espírito Santo e a Palavra de Deus. e esta consiste em que ao Pai se atribui o princípio de ação. e o conhecimento de Deus”........13............-a no texto autorizado do credo não é certa”.. revelada nas Escrituras...... a razão é que preferiram escrever nove capítulos em vez de apenas um . iluminando sua mente para que compreendam o significado da Bíblia. e que reconheça a comunhão do Pai e do Filho. Segundo o pensamento de Barth. não é nossa fé. Bromiley. o Espírito Santo é o sujeito da criação. 20. no entanto. 1/1 §12. surge a fé. Barth segue a indicação adicionada ao Credo Niceno. devemos destacar que a mesma abordagem de Calvino pode ser encontrada na Confissão de Fé de Westminster. em conexão com a espiritualidade cristã. Seus dons especiais são a filiação e a liberdade. desde que tenha uma base na economia do duplo envio do Espírito. Para encerrar. será estudado o desenvolvimento posterior da obra do Espírito Santo. ele mesmo. ele não é o Cristo. 49Geoffrey W. instrução e testemunho. 47Geoffrey W. E. O Espírito é Deus. 3. e age sobre os pregadores. “E do Filho” (filioque) pode certamente ser incluído. este mesmo Espírito é quem inspira e preserva as Escrituras. No capítulo 20. surgiram novos enfoques sobre a aplicação da obra do Espírito. em presença autodoadora. Ele está resumindo o argumento presente em CD. Como sugeriu B. contudo. e especialmente em fins do século xvni e começo do século xx. a Palavra de Deus. . 48Geoffrey W.48 O Espírito Santo é Deus como ato de amor. portanto. Bromiley. p. “Processão” significa não a criação. O Espírito Santo é o Senhor eterno. Calvino. mas a emanação de outro modo ou modos de ser e. ele é Deus em seu terceiro modo de ser. devemos destacar a doutrina da graça comum. É verdade que os teólogos puritanos que a prepararam não escreveram um capítulo exclusivo sobre a pessoa e obra do Espírito. e desde que veja no Espírito Santo o amor do Filho tanto quanto do Pai. Warfield. Por meio do Espírito. 20-21. com a qual ele está também conectado. e relacione o Espírito Santo com a revelação e a reconciliação tanto quanto com a criação. se por um lado o testemunho interno do Espírito nos leva a crer que as Escrituras são. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 669 eleição e ressurreição. mas na revelação em nós. feitas no século xx. Antes. de fato. seguiremos a mesma metodologia. B. O Espírito Santo não é apenas o Espírito Santo na revelação para nós. An introduction to the theology o f K arl Barth.47 Para completar o que ele quer dizer sobre o eterno Espírito. distinto (em unidade) deles. Ainda que as Escrituras o chamem de Espírito de Cristo. p.46Nesta seção. p. é relacionado a eles como seu fator comum ou fator de comunhão. distinto do Pai e do Filho. O trabalho redentor do Espírito serve como garantia de nossa participação. O teólogo do Espírito Santo-. será proveitoso revisar a relação entre os cristãos 46Augustus Nicodemus Lopes. segundo Barth pensa. porém.49 0 cristão e a cultura Em conexão com a pessoa do Espírito Santo. por meio do qual a redenção é distinta. e suas diferenças de “gerado” permanecem necessariamente um mistério para nós como também o foi para Agostinho. p. An introduction to the theology o f K arl Barth. 20. A partir do século xvn. Ele é distinto do Pai e do Filho. Como “doador da vida”. como foi visto nos capítulos 2 e 4. é por meio do Espírito que chegamos à fé e em quem a revelação é e está “sendo revelada”. Precisamos ainda mencionar as contribuições de Karl Barth à doutrina do Espírito Santo. ele é tanto o “dom” quanto o “doador”. seu ensino sobre o Espírito Santo e a Palavra de Deus. O significado preciso do termo. An introduction to the theology o f K arl Barth. obra geral do Espírito em toda a criação. Bromiley. em conexão com a obra do Espírito Santo. Kwast. Atualmente. talvez não exista nenhuma outra palavra com sentido mais abrangente do que a palavra ‘cultura’. Pois a primeira coisa que cremos é que para a fé. se faz violento nas conjecturas. Esta posição foi afirmada no Didaquê. 1987).htm.. O miserável Aristóteles! Que lhes proporcionaste a dialética. n De Praescriptione Haereticorum. 1987). p.05. língua e vida artística de uma nação.50 Para Niebuhr. p. a existência social de um povo ou nação. Para uma bibliografia introdutória. Ele escreve: “A origem da nossa palavra ‘cultura’ encontra-se na língua latina. Pereira.). onde permaneceu até sua morte. cit. que fomenta contendas. se relacionaram com o mundo ao seu redor.51 A primeira categoria é aquela que mostra o cristão contra a cultura. Ele também afirma que o conceito moderno e secular de cultura sustenta-se sobre três pilares: as idéias de totalidade. disponível em: http://www. p. [. Relativizando (Rio de Janeiro. molesta a si mesmo. a partir de 1931. 437-441. e também o sentido de ‘adorno’. 31-32. entre os hereges e os cristãos? Nossa formação nos vem do pórtico de Salomão.. Winter & Steven C.. ‘enfeitar’. sempre recolocando problemas antes mesmo de nada resolver. Rocco. “Entendendo o que é cultura”. esse artífice hábil para construir e destruir. Carlos Alberto M. O vocábulo latino cultus (particípio de colo) tem. op. Reflitam. portanto. intérprete temerária da natureza e da ordem de Deus. ele oferece uma esquematização clássica das diferentes maneiras como os cristãos. ‘educação’. é a filosofia que equipa as heresias.52 50Cf. Reinhold. O que é cultura (São Paulo. Este último escreveu: A filosofia é a matéria básica da sabedoria mundana. vil apud: Henri Bettenson. 40-51.com. também Michael Horton. esse versátil camaleão que se disfarça nas sentenças. Helmuth Richard Niebuhr.. Por ela. Hawthome (orgs. foram os líderes do equivalente americano para a neo- ortodoxia européia.. Gilson Carlos de Souza Santos... uma concepção ampla de cultura. 1986). interesses. O verbo assumiu o sentido de ‘cuidar de’. 670 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO e a cultura. entre a Academia e a Igreja. aceitou um cargo na Faculdade de Teologia de Yale. Este foi o mal de Atenas. juntamente com seu irmão. naturalidade e neutralidade. Estas categorias tomaram-se ferramentas indispensáveis para descrever a forma como os cristãos encaram questões sociais. portanto. que tem o sentido original de ‘cultivar’. Que pesquisa necessitamos mais depois do Evangelho? Possuidores da fé. no decorrer dos séculos. De fato. Richard Niebuhr.] Utilizamos aqui. . ‘ocupar-se de’. políticas e econômicas. ou então de grupos no interior de uma sociedade”. e a forma como isto é ilustrado na história da igreja. Brasiliense.2007.. Cristo e cultura. 1986) e Roberto Damatta. proliferam essas intermináveis fábulas e genealogias. na Primeira Epístola de Clemente. nada mais esperamos de credos ulteriores. ‘adornar’. esses discursos que se alastram. O que é contracultura (São Paulo. pois. 5lCf. O radical da palavra é o riquíssimo verbo latino colo. ‘querer bem’. Em seu livro Cristo e Cultura. Os que seguem esta corrente enfatizam que. Brasiliense. qual caranguejos. ‘moda’. para referir-se ao cultivo de hábitos. os que andam propalando seu cristianismo estóico ou platônico. Missões transculturais'. que diz respeito a tudo o que caracteriza uma realidade social. H. acordadas às tradições humanas. ‘tratar de’. Ora que há de comum entre Atenas e Jerusalém. uma perspectiva cultural (São Paulo. Para uma definição de “cultura” cf. Depois o sentido de ‘civilização’. acessado em 12. os alemães tomaram a palavra ‘cultura’ num sentido mais amplo. mas contrárias à providência do Espírito Santo”. não existe objeto ulterior. O cristão e a cultura.. In: Ralph D. Mundo Cristão. Richard Niebuhr foi pastor da Igreja Evangélica Reformada e. diante da natureza caída da criação. duro nos argumentos. éticas.br/htm/post-024. José Luiz dos Santos. Mais recentemente. inicialmente o sentido de cultura da terra. Que novidade mais precisamos depois de Cristo?.gilsonsantos. existem cinco categorias para classificar a tensa questão de buscar relacionar o cristão e a cultura. essas questões estéreis. ‘decoração’. na língua portuguesa. e nos escritos de Tertuliano. Gilson Santos menciona Lloyd E. e contra os quais o Apóstolo nos adverte na sua carta aos Colossenses: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com suas sutilezas vazias. ah nos ensinou que o Senhor deve ser buscado na simplicidade do coração. é necessário que se criem estruturas alternativas que sigam mais de perto o chamado radical do evangelho. Três pilares no conceito secular de “cultura”. 54 O cristão acima da cultura integra a terceira categoria analisada. que é o cristão da cultura. para não termos comunhão com isso e não nos perdermos na confusão dessas abominações. Os escritos dos teólogos anabatistas. p. o qual nos libertou da escravidão da nossa natureza pecaminosa e nos tomou aptos para o serviço de Deus.) E por isso que o arminianismo dá tão certo nos Estados Unidos e o calvinismo é tão desprezado. Além disso. unimos nossas forças no que diz respeito à separação do mal. volta-se para a segunda categoria. Aliás. Esta posição busca uma unidade entre o cristão e a cultura. 54Michael Horton. crentes e incrédulos. no arminianismo. garantindo os valores e pressuposições básicas da cultura americana. é Deus quem julga e justifica. 1527 em John Howard Yoder (compilador). Em alguma medida. onde toda a sociedade aparece hierarquizada. influenciado principalmente por Clemente de Alexandria e Tomás de Aquino. 53”Union Fraternal” de Schleitheim. Abelardo de Paris e os teólogos liberais do século xix e xx esposaram esta posição. Devemos nos afastar do mal e da perversidade que o diabo semeou no mundo. para não passar pelos sofrimentos e dores que o Senhor enviará sobre eles. Na teologia reformada. ele será nosso Deus e nós seremos seus filhos e filhas. os templos de Deus e dos ídolos. Deles não poderão acrescentar ou surgir nada mais do que coisas abomináveis. p. O cristão e a cultura. o homem é quem decide e se ergue. 159-160. Textos escogidos de la reforma radical. trocou seu nome para Igreja do Reich. Este é o conceito católico. e seus pregadores juraram obediência a Hitler. Quando isso ocorre. trevas e luz. Apesar das objeções que são comumente lançadas a esta solução. o próprio fundamentalismo americano acabou espelhando esta posição. O problema é a institucionalização da igreja e do evangelho e a absolutização do que é condicionado culturalmente. pelo qual nos ordena que nos afastemos e nos mantenhamos longe dos maus. ele nos exorta a abandonar a Babilônia e o paraíso terreno egípcio. por meio do Espírito que nos ortogou. Não existe nada mais no mundo e em toda a criação do que o bem e o mal.. o cristianismo cultural produziu uma confiança inusitada na capacidade do espírito americano de conseguir fazer o que quisesse. por influência deste entendimento. Os gnósticos. unida ao Senhor Deus. no século xvi. A igreja evangélica na Alemanha. O calvinismo jamais servirá ao individualista idealista ou otimista que acredita haver algo de especial no caráter nacional que predisponha um pecador a tomar-se um santo através do trabalho duro. (. Para nós. Horton escreve: No evangelicalismo norte-americano. Cristo e Belial.) Devemos nos afastar de tudo isso e não participar com eles. é obvio o imperativo do Senhor. apresentam o cristianismo como uma forma de viver completamente à parte da cultura. 44-45. todos que não aceitaram a fé e não se uniram a Deus para fazer a sua vontade são uma grande abominação aos olhos de Deus.. que nos tomam odiosos diante do nosso Senhor Jesus Cristo. (.. Porque tudo isso não passa de abominações. ela tem exercido forte influência na história da igreja. . e nenhum deles poderá ter comunhão um com o outro. Assim. Por exemplo. onde os ensinos do evangelho têm íntima relação com as estruturas ocidentais.. pois.53 A segunda categoria mostra o cristão da cultura. e o cristão se acomoda à cultura. a Confissão de Fé de Schleichtheim afirma: Quarto. os que estão no mundo e fora do mundo. . do Deus imutável........... porém.... ele entendeu que todo o bem que permanece na criação... com algumas distinções........ 5SA Doutrina Cristã........ 6 72 [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO » . O cristão e a cultura....... que João Calvino.... .. As instituías. 111.. e foi desenvolvida especialmente por Abraham Kuyper e Herman Bavinck.................. podemos encontrar traços dessa doutrina na teologia patrística.. a Palavra de Deus.19......... A relação do cristão com a cultura é marcada por uma tensão dinâmica entre a ira e a misericórdia........ enquanto a mão direita.. 56II Apologia........ Deve-se notar. é uma confusa exposição da doutrina bíblica da revelação geral..58 Todo bom e verdadeiro cristão há de saber que a Verdade.. A graça com um Como decorrência da afirmação de que o cristão é agente transformador da cultura.. e do meu Deus toda a minha salvação”. celeste............... com certeza...7. o conceito de logos spermatikos... o Verbo....59 55Michael Horton.. defendeu a doutrina dos dois reinos. pertence a nós... 13........ Por mais iníquas que sejam certas instituições...... cristãos............... entre os séculos xix e xx. Justino pôde escrever: “Portanto. elas não estão fora do alcance da soberania de Deus...... 1.. no século v.. me vêm todos os bens.. nem se pode tentar acomodar a fé aos modos seculares de pensamento”. Por causa desse conceito........ mas enfatizando que..... 2............ é propriedade do Senhor...... A quarta categoria é a posição comumente associada a Martinho Lutero.... os que estão nesse grupo de cristãos enfatizam que o objetivo da redenção é transformar a cultura. 57Confissões.... não tenha usado a expressão “graça comum”.. em qualquer parte onde se encontre..4..... era para elas igualmente um bem....... Sua compreensão é de que a cultura deve ser levada cativa ao senhorio de Cristo.. a criação era boa..... Cf.......... em que o cristão e a cultura permanecem em paradoxo.... do qual não eram elas a origem................. prólogo. no princípio...... mas sim daquele que é a Verdade... Agostinho. Assim é que escreveu em suas Confissões: “O bem....... porque nós adoramos e amamos depois de Deus. Não se pode tentar coagir a fé.. tudo o que de bom foi dito por eles [os pagãos]........ mas intermediárias dele... porque de ti... Esta posição mantém firmemente o entendimento bíblico da queda e da miséria do pecado...... mesmo após a queda.. Esta doutrina é um dos elementos distintivos da tradição reformada. Jonathan Edwards e Abraham Kuyper são alguns dos que entenderam que os cristãos são agentes de transformação da cultura... posição que é exposta nesta obra.... segue-se a doutrina da graça comum..............19.. não viria dessa pessoa humana.. é dádiva de Deus. 44-45.. mundana.... isto é.. delas recebido.. considerada no capítulo 3.. Entretanto.15. “Lutero enfatizou este tema com sua doutrina dos ‘dois reinos’: a mão esquerda...... 59A Doutrina Cristã........... .............57Agostinho desenvolveu esse tema especialmente em sua obra A doutrina cristã: Aquele varão [Moisés] sabia que de qualquer pessoa de quem procedesse conselho verdadeiro..... John Wesley.... na teologia de Justino de Roma....... 28..... João Calvino... segura a espada do poder no mundo... ainda que tenha se desenvolvido especialmente na Holanda.56 Ainda que Agostinho...... 7... e o chamado para se lidar com a cultura.....55 A quinta categoria mostra o cristão como agente transformador da cultura.......... Sem desconsiderar a queda e o pecado........ p.... Por exemplo........ entretanto... ó Deus. segura a espada do Espírito... que procede do mesmo Deus ingênito e inefável”.. em alguma medida. Temos. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 6 73 Os que são chamados filósofos. de certas minas fornecidas pela Providência divina. dá-se o mesmo em relação a todas as doutrinas pagãs. . Ora. às formas tradicionais estabelecidas pelos homens. o que promove o desenvolvimento da sociedade. possibilitando uma vida ordenada. assim é igualmente pequena a ciência — se bem que útil — recolhida nos livros pagãos. porém. sem alarde. o que não aprendeu em nenhuma parte. mas antes que reivindiquemos essas verdades para nosso uso. mas também se conduziram de maneira honesta por toda a sua vida. por certo. E quanto ao culto do único Deus. é preciso não somente não serem eles temidos nem evitados. na intenção de dar a elas melhor emprego. será permitido ao cristão tomá-las e guardá-las a fim de convertê-las em uso comum. dessa miserável sociedade pagã. E quando cada um tiver encontrado tudo o que aprendeu de proveitoso em outros livros. Porque tudo o que um homem tenha aprendido de prejudicial alhures. prata e vestes tiradas do Egito por esse povo hebreu em comparação com as riquezas que lhe sobrevieram em Jerusalém. Não foram os pagãos que os fabricaram. João Calvino desenvolveu a doutrina da graça comum. verificamos que os egípcios não apenas possuíam ídolos e impunham pesados cargos a que o povo hebreu devia abominar e fugir. pois vemos que alguns. dos quais faziam mau uso.41. Calvino escreveu: Estes exemplos parecem que nos dirigem a pensar que a natureza humana não é de todo viciada. sendo marca distintiva dessa tradição. derramando incontáveis bênçãos sobre os seres humanos e distribuindo dons a estes.43. Elas possuem. Ao lado da doutrina da graça eletiva. que cada um de nós. para a pregação do evangelho. aí está ensinado.60 Quanto é pequena a quantidade de ouro. descobrirá muito mais abundantemente aí. e tudo o que aprendeu de bom. porém. enunciar teses verdadeiras e compatíveis com a nossa fé. Mas eles possuem. em justo uso. da educação e da arte. mas reprime o poder do pecado. 6ÍA doutrina cristã. como alguém que retoma seus bens a possuidores injustos. assim como quantidade de vestes. e que apareceram sobretudo com o rei Salomão (lRs 10. em comparação com a ciência contida nas divinas Escrituras. por vezes. tendo-se tomado cristão. 60. somente encontrará na admirável superioridade e profundidade destas Escrituras. dessas riquezas (Êx 3. Quanto às vestes dos egípcios. 2. pela inteligência. De fato. ficções mentirosas e supersticiosas. isto é. mA doutrina cristã. o povo hebreu. alguém se separa. por inclinação natural. bastante apropriadas ao uso da verdade e ainda alguns preceitos morais muito úteis. Ora. deve rejeitar e evitar com horror. mas sob a ordem de Deus (Êx 12.61 A doutrina da graça comum. mas tinham também vasos e ornamentos de ouro e prata. apropriou-se. 2. pesada carga de trabalhos supérfluos.24-25). A graça comum não perdoa nem purifica a natureza humana e não efetua a salvação dos pecadores. Quando. da ciência. especialmente os platônicos. deve aproveitar- se dessas verdades. sob a conduta de Cristo. ao deixar a sociedade dos pagãos.35-36). ao deixar o Egito. que são como o ouro e a prata deles. E não tratou de fazê-lo por própria autoridade.22). por vezes. a ordem moral do universo. da qual não podemos ser privados nesta vida. desenvolveu-se especialmente em círculos reformados. artes liberais. a serviço do demônio. 63. mas os extraíram. as quais se espalham por toda parte e das quais usaram. E o que é mais. quando puderam. mas adaptadas às necessidades de uma sociedade humana. aí está condenado. não somente fizeram obras heróicas. E os egípcios lhe passaram sem contestação esses bens. por assim dizer. encontramos nos pagãos algumas coisas verdadeiras. igualmente. mantendo. de maneiras diversas.4) escritos contra o arminianismo também afirmam: É verdade que há no homem depois da queda um resto de luz natural.14. (..) Assim Deus. . 411. que ele não a usa apropriadamente nem mesmo em assuntos cotidianos. o homem a polui totalmente. p. por sua providência. mas também a confirma muitas vezes pela dispensação de sua providência. Como em nós reside alguma aptidão para aprendê-las.3. 64As insíiíuías. os Cânones de Dort (3-4. Teologia sisíem áíica. Porque. II.) Todas essas virtudes — ou melhor. (.. Assim.2 “ Para as objeções que arminianos e anabatistas têm feito à doutrina da graça comum... no contexto do chamado eficaz. Louis Berkhof. A doutrina da graça preveniente será considerada no capítulo 19.2. não nego que sejam dons de Deus todas as virtudes e excelentes qualidades que são vistas nos infiéis.66No século xrx. (. 6 74 [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO então. que ordem restará no mundo? Por isso não só o Senhor gravou a distinção entre atos honrados e ímpios na mente dos próprios homens. vivificar e mover com a virtude desse mesmo Espírito todas as criaturas.63 Se alguém perguntar: o que o Espírito Santo tem a ver com os ímpios que estão tão longe de Deus? Respondo que ao dizer que o Espírito de Deus reside unicamente nos fiéis.2. Mas o homem está tão longe de chegar ao conhecimento salvífico de Deus e à verdadeira conversão por meio desta luz natural.4) destaca. que admitir que a corrupção universal da qual falamos.. Deus não cessa de encher.. 65As insíiíuías. porém. vê-se então que o entendimento humano possui alguma virtude. mas não a cura interiormente. Mas. Assim ele retém ainda alguma noção sobre Deus. que cada um em particular deve reconhecê-lo como uma graça especial de Deus. mas para reprimi-la e restringi-la interiormente. sobre as coisas naturais e a diferença entre honra e desonra e pratica alguma virtude e disciplina exterior. conhecimento tão universal. III. temos que entender que tratamos de santificação pela qual somos consagrados a Deus como seus templos. Antes. não para consertar a perversão natural.) Pois existe tamanha diferença entre o justo e o injusto que ela aparece mesmo em seus retratos. qualquer que seja esta luz. Deve-se notar que a Confissão de Fé de Westminster (x. ele se faz indesculpável perante Deus.16.64 Em primeiro lugar. em sua aplicação especial ao pecado entendido como corrupção de nossa natureza. II.) Estes exemplos claramente demonstram que existe certo conhecimento universal do entendimento e da razão. (. 61As insíiíuías. “algumas das operações comuns do Espírito”.62 Seguem-se as artes tanto as mecânicas como as liberais. Abraham Kuyper escreveu: Prossigo agora para considerar o dogma da “graça comum”.65 No século xvn.. entretanto. 14. Pois vemos que concede muitas bênçãos da vida presente sobre aqueles que cultivam virtudes entre os homens.. refreia a perversidade natural para que esta não se irrompa. visto que nada é de algum modo louvável que não venha dele. se confundirmos essas coisas. 409. naturalmente impresso em todos os homens. II. O pecado coloca-nos diante de um dilema 62As instituías. a conseqüência natural do princípio geral como apresentei a vocês. cf. dá algum lugar para a graça de Deus.3. imagens de virtudes — são dons de Deus. e a detém pela injustiça. o espírito une o poder de ser com o sentido de ser. Teologia sistemática.) e h t i c . o naturalismo filosófico não tem lugar para uma doutrina do Espírito Santo. entre outros. dentre outros. diante desses assuntos. então parece que. e inclinado a todo mal”. a mutilação física. O evangelho. como a idolatria. de que este deveria receber de volta a Onésimo.70No terceiro nível. No segundo nível. Mas isto está longe de ser nossa experiência na vida atual. que poderia ser acrescentada aos costumes de segundo e terceiro níveis. 13. ou “assuntos indiferentes” (adiaphoros). assim tolerando temporariamente tais práticas. trataria de assuntos sobre os quais há controvérsias no meio das igrejas. necessariamente. poligamia. Paul Tillich. Elwell (ed. 17-18. sistema de castas. há alguns costumes cujas objeções não são relevantes para o evangelho.In: Walter A. e parte dela é de inspiração demoníaca. Nesse caso. transformando aquele povo. os missionários devem dar prioridade à evangelização e à implantação de igrejas. propôs um modelo hierárquico de ação sobre a entrada do evangelho na cultura. o governo da igreja. Por causa da queda e do pecado do homem. entre outros. conhecido como Relatório de Willowbank.71 A teologia liberal Obviamente. estão as questões escatológicas. vestimentas. por exemplo. uma vez que o homem é criado por Deus. o sistema tribal. adiaforistas”. como a escravidão. 470. 128. “Adiáforo. mas sempre é o seu juiz e redentor. devam ser toleradas na sociedade contemporânea. que pode ser de grande auxílio em nosso trato com a cultura ao nosso redor. Contextualização\ uma teologia do evangelho e cultura. toda a sua cultura — inclusive os usos e costumes — está manchada pelo pecado. a vingança. Isto fica evidente no trabalho de alguns teólogos liberais. como inimizade contra Deus. p. como um irmão em Cristo. F. J.68 Neste contexto. os costumes alimentares. até que seja possível influenciar a sociedade no meio da qual atuam. entre outras. hábitos de higiene pessoal. como. 68Bruce J. todas as pessoas incrédulas e não regeneradas devem ser homens maus e repulsivos. Nicholls. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 6 75 que em si mesmo é insolúvel. podemos ter liberdade de análise. é ilustrativa deste princípio de acomodação (cf. 1985. 47. e se você descreve um pecador como sendo “totalmente incapaz de fazer qualquer bem. entre outros. Talvez seja necessário tolerá-las. p.69No primeiro nível. e por causa disso salvável somente se Deus mudar seu coração pela regeneração. p. a prostituição ritual. o canibalismo. estão alguns costumes que não podem ser tolerados. p. 71Cf. em casos de missionários que sirvam numa sociedade estrangeira não-cristã. onde ainda existam essas práticas. . Outra categoria.67 A afirmação de que o cristão é um agente transformador da cultura pode ser resumida na compreensão de que. a poligamia. Fm 16). v . a ceia e o batismo. mO Evangelho e a Cultura. Para ele. p. para que mudanças estruturais e culturais profundas ocorram. estão alguns costumes que podem ser temporariamente tolerados. o mundo incrédulo leva vantagem em muitas coisas. então. o infanticídio.72O “Espírito Santo” não representa 67Abraham Kuyper. A exortação de Paulo a Filemom. 1. entre eles. Se você vê o pecado como um veneno mortal. às vezes. ™Queremos deixar bem claro que não acreditamos que práticas como escravidão. seu escravo fugitivo. Johnson. Calvinismo. ao examinar a relação entre o evangelho e a cultura. e. 72Paul Tillich. como levando à condenação eterna. nunca é hóspede de qualquer cultura. parte de sua cultura será rica em beleza e bondade. o sistema de castas. devemos destacar que um grupo de trabalho da Comissão de Lausanne. Pelo contrário. como o costume de o homem e a mulher sentarem separados nos cultos. ..... o que se aplica à revelação do Espírito em particular: O Antigo Testamento se assemelha a um salão ricamente mobiliado... mas parcamente iluminado... 676 [ FARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO uma pessoa.. B.... B. e que representa os meios concretos por meio dos quais o Ser se revela no seu “dar-se” e “manifestar-se”.. p. Banner o f Truth. Tillich vincula o símbolo do Espírito Santo com a experiência de êxtase.. 73PauI Tillich.. Não obstante... Teologia sistemática.. 178.. Principles o f Christian theology...... p. o trabalho do “Espírito Santo” não seria único na tradição cristã... mas tem outros sentidos importantes que contribuem com nosso entendimento do conceito de espírito....... p.. quando o espírito humano experimenta a autotranscendência... apud: Sinclair Ferguson. Especificamente... “ar em movimento”.. O sentido fundamental da palavra é “soprar”.. Isto cria dentro do homem uma “vida-sem-ambigüidade”............ 201-202.. Deus. põe em relevo com maior nitidez muito do que mal se via anteriormente.. Assim.. a revelação de Deus no Antigo Testamento não é corrigida pela revelação mais plena que se lhe segue.....75 A implicação é que o mesmo Ser se revela por símbolos diferentes em outras religiões.. Assim.. 74John Macquarrie...... devemos atentar para o que B....... no pluralismo e no universalismo..... simplesmente... 36.... Biblical doctrines (Edinburgh... O mistério da Trindade não é revelado no Antigo Testamento. 76B... Warfield afirmou sobre a revelação da Trindade no Antigo Testamento.... mas é... segundo o pensamento liberal. 471.. um elemento da salvação ... 141-142... Warfield.... aquele aspecto do Ser que unifica os seres com o próprio Ser. mas o mistério da Trindade está subentendido na revelação do Antigo Testamento. a introdução de luz nada lhe realça que nele não existisse antes. 1988).. . A palavra Dl”) (rüah) é usada para significar “espírito”.....76 No Antigo Testamento......... O Espírito Santo é o Ser “unidor”. em contraste com o politeísmo... Essa unidade é simbolizada na unidade da igreja e nos sacramentos.. Assim... Macquarrie afirma que a linguagem teológica é simbólica..... A ênfase da palavra não está tanto no fato do *...73 Assim.... O Espírito Santo.. p. Êxtase é o termo clássico que descreve a possessão pelo Espírito.... que era normal nas culturas que circundavam o povo de Israel.. realçando o monoteísmo........ e aqui e acolá é quase possível vê-lo.. 75John Macquarrie.. . do Filho e do Espírito Santo. 1985...... a expressão representa a experiência da presença do fundamento do ser.. prolongada e ampliada.. mas é um símbolo do fundamento do ser.. a revelação do Espírito de Deus como uma pessoa divina distinta não é tão clara quanto no Novo Testamento.74 O Santo Ser se revelou na comunidade cristã no simbolismo do Pai.. mas nos faz ver mais..... ou mesmo que não houvesse sido percebido.... “vento”. Estudo bíblico Antigo Testam ento Ao começar nosso estudo sobre a pessoa do Espírito nas Escrituras. idéia que desemboca no sincretismo. aperfeiçoada. p... o Espírito Santo está presente no Antigo Testamento fazendo sua obra distintiva na administração da criação e no plano de redenção.. A ênfase do Antigo Testamento está na unidade de Deus.. .. Principles o f Christian theology.. mas somente seria uma manifestação possível do Ser. Ela inclui as atividades como o pensamento e a tomada de decisões .. O Espírito Santo. p......80É o modo da presença do poder de Deus entre seu povo . 19.. Jr.. Kaiser....... por exemplo. I..... 83Cf...... Por outro lado.... e que os purifica do pecado”... A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 6 77 ....... este versículo insinua a pessoalidade do Espírito.77 O conceito de rüah como o “sopro de Deus” no nariz (Jó 27... 18-19.. mas na energia que se manifesta no movimento . o que significava a saída do espírito. o Ser divino..... 90: “É um fato notável que. mas evidente pelos resultados de sua ação... p. Ele controla o vento.....83Ele é superior aos ídolos dos deuses falsos e a todas as nações..... na Igreja...... 84M.. D.... “ Sinclair Ferguson. “Espírito do Senhor” (yhwh). V.. pelos antigos hebreus....... n i d o t t v .. se achar no Antigo Testamento uma doutrina plena da existência do Espírito Santo. Louis Berkhof. Jr......... I... é vivo..]... 1073.... Isaías 40. De qualquer maneira....... e o verso poderia ser intepretado como uma pergunta retórica sobre quem poderia guiar a mente do Senhor. 19....85 E rüah aparece em vários contextos em relação à obra de Deus no mundo........ a palavra rüah está associada com o nome próprio do Senhor Deus.. isto se deve ao fato de que foi especialmente no Espírito e sua obra santificadora que Deus se revelou como santo. The m ajor prophets.. p... rüah significa um vento forte. o ensinou?”.... O Espírito Santo na Bíblia.. o Novo Testamento raramente aplica o adjetivo ‘santo’referindo-se a Deus de maneira geral. enquanto o Velho Testamento repetidamente aplica a Deus o título ‘o Santo de Israel’ [.... C..... que os separa para Deus............... 85Cf.. onipresença.. Block. Harbin lembra que isto não apóia a noção de que o Espírito seja uma força impessoal... é nítido aqui o vínculo entre o rüah e a pessoalidade de Deus.. 79Byron Harbin.. C.. 81Sinclair Ferguson....... Kaiser...... conhecimento infinito e compaixão. na Igreja...79A imagem é de poder e energia.. O Espírito Santo na Bíblia.... O significado disso não pode ser exagerado... vinte e cinco vezes... “O IT...... mas o utiliza freqüentemente para caracterizar o Espírito. Van Pelt.12-31 proclama a grandeza de Deus e revela seus atributos de eternidade........ O Espírito Santo.. onipo­ tência... como uma pessoa distinta de Deus Pai.. 3.84A palavra denota a mente.. Smith.. ..... na História........ Teologia sistemática. O Espírito Santo na Bíblia........ A morte foi vinculada com a cessação da respiração. Somente pessoas têm a capacidade de se entristecer..... ativo e pessoal.... p.82A questão da pessoalidade do Espírito tem de ser decidida a partir do estudo de toda a revelação bíblica.. para.... 82Byron Harbin. O que interessa ao nosso estudo neste capítulo é o versículo 13: “Quem guiou o Espírito do S e n h o r ? O u ..... a palavra pode referir-se também à natureza espiritual de Deus.......... A palavra rüah também pode significar o local da cognição e da vontade.. Em Isaías 63.« ar que se move................ Ninguém pode ensiná-lo a sabedoria ou lhe dar conselhos... É o Espírito Santo que faz sua habitação no coração dos crentes.... W.... Ferguson indica que é quase uma força violenta e esmagadora.. W..... 24-26. na Igreja.............. 21.. A palavra 'ãtsab neste texto descreve um estado de dor emocional.. o terremoto e o fogo./?Ö V T \ p. a expressão “Espírito de Deus” é encontrada onze vezes. p....... B lock....3) é associado com o princípio da vida...... na História...... O Espírito do Senhor é niiTpnTI (rüah yhwh)..10. como seu conselheiro... o profeta diz que os israelitas “contristaram (3^1? [ ‘ãtsab)) o Espírito Santo” por causa de sua rebeldia. O texto mostra que Deus......... literalmente “o Espírito de Yahweh”. Por isso.... na História. Com toda a probabilidade. No Antigo Testamento.. Aqui..81Em IReis 19...... 1075......78 A noção do rüah de Deus é o poder de Deus ativo no mundo........ e “Espírito Santo”... 78Byron Harbin... p.. Ela (a palavra hebraica é feminina) é invisível.......11-13.... A conotação é da energia da vida em Deus .. três vezes .... O sentido é que o povo entristeceu profundamente o Espírito...... dando ênfase ao poder de Deus para atuar sobre a criação. Van Pelt..... entre os homens e na criação.... que é distinto do Senhor. James E... e D... p......... 77M. V................... 90 O último exemplo mostra a possibilidade da ação interior do Espírito Santo na vida das pessoas. 87M.8. Devemos notar. A palavra hãdãsh é “novo”. “coisa nova” ou “novidade”. Van Pelt. com o qual ele dota as pessoas. em O Cristo dos pactos. Introdução à teologia sistemática. 1075. o que O.34. V.4 ). Erickson. A respeito de Bezalel.] porquanto eles anularam ("113 [pãrar]) a minha aliança. o Espírito de Deus. Kaiser. 88M.10) e líderes militares (Jz 6.17). V. 1076.. C.31-32 diz que a nova (U?in [hãdãsh]) aliança seria feita “não (iÒ [lõ ’]) conforme a aliança que fiz com seus pais. e não há razão suficiente para indicar que aqui a expressão não teria o mesmo significado. Em outros versículos. 270-271: “Nada na velha aliança tinha a eficácia necessária realmente para reconciliar o pecador com Deus.. cf. pedindo que o Senhor não retirasse dele o Espírito Santo (Salmos 51.13). Van Pelt. porém. Block. no sentido de impedir que reinasse (ISm 16. e não apenas a um vento impessoal. Zc 7. Block. C. Jr„ D.2). p. em bronze. O rei messiânico ainda não tinha vencido seus inimigos. como no caso de Saul (ISm 10. para toda sorte de lavores” (Ex 31. para lapidação de pedras de engaste. e a ação interior do Espírito é um dos elementos de descontinuidade entre ambas as alianças. Não tinha sido ainda ungido com o Espírito Santo. Somente em antevisão da obra cumprida por Cristo é que o ato de renovação do coração podia ser efetuado sob as estipulações da velha aliança. Van Pelt. “011”. p. em outros casos..89O Espírito capacitou os anciões que ajudaram Moisés (Nm 11.12 ).. Ele as capacitou para reinarem sobre uma nação. Block. de habilidade. Deus disse: “. Na velha aliança. “OH”. O Espírito foi retirado de Saul. no ato da criação (Gn 1. Não devemos. O Espírito também inspirou os profetas com a palavra do Senhor (Mq 3. Kaiser. concluir que a ação do Espírito. O batismo do Espírito Santo é um fenômeno inédito na antiga aliança. Jr„ D. encontramos (rüah ’èlõhim). p. rüah ’èlõhim significa o Espírito de Deus. o rei não estava na posição de derramar o espírito de sua unção sobre seu povo. Kaiser. I.87 A criatividade é um atributo de Deus. 20.14). que. p.6) e Davi (16. O Espírito Santo capacitou e inspirou os artistas que trabalharam na criação do tabernáculo. I. p. sua presença parece intermitente e atrelada a uma atividade ou a um ministério específico que deve ser exercido”. assim como juizes (Jz 3. 353: “O Antigo Testamento retrata o Espírito Santo produzindo as qualidades morais e espirituais de santidade e bondade na pessoa a quem chega ou em quem habita. O Espírito está envolvido na providência de Deus. Millard J. talvez estivesse temendo que acontecesse com ele o mesmo que acontecera com Saul. V. 91Ainda assim. Palmer Robertson escreveu. Ferguson afirma que a referência aqui deve ser ao Espírito de Deus. W. p. porém. 13. embora em alguns casos essa obra interna do Espírito Santo pareça permanente.11).3-5). o Espírito renova a face da terra.”. em prata. E lõ ’ significa a negação da idéia “ Sinclair Ferguson. de inteligência e de conhecimento. na antiga aliança. C. Jr„ D.25). W. por meio do Espírito Santo. e o enchi do Espírito de Deus. W.91 Jeremias 31.86No Salmo 104. . I. A forma de ministração da velha aliança foi de acordo com seu contexto pré-messiânico.. em todo artifício. para elaborar desenhos e trabalhar em ouro. E Jó atribui a sua criação ao Espírito (Jó 33. Mas na antevisão do dia em que todas essas expectativas se tomariam realidade. O Espírito Santo. a forma figurada da ministração da velha aliança participava das poderosas realidades da nova aliança”.30). é igual à sua ação na nova aliança. [. confundir a presença do Espírito neste sentido com a questão da salvação. 89Cf. para entalho de madeira. 678 [PARTE 6] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO Logo no início da história bíblica.88 Não se deve. realizando seu propósito na vida das pessoas. E quando Davi orou. tal como no livro de Juizes. no ato criativo de Deus (104.. porém. 1976. 90M. “DTl” . “Sob a nova aliança.8. Na verdade. James Swanson. Porque ela trará à plena fruição aquilo que Deus se propõe na redenção.33). Os textos de Isaías 55. 26).34). o cumprimento dos compromissos anteriores da aliança (Jr 31. Os homens virão a Sião para juntar-se ao Senhor em uma aliança que não será esquecida (Jr 50. 930 . e a davídica (2Sm 7. 132.1-5 e 61. Assim.1. Portanto.25).7. 32. p. Jápãrar significa anular ou quebrar um voto. 26). Jeremias 3. “T B ”. 37. porque todos os que dela fazem parte já o conhecerão (Jr 31. O Cristo dos pactos. que é o tempo causativo. . 830.9-16).94 Qual seria a natureza das distinções entre a antiga e a nova aliança? Principalmente o fato de que a membresia na nova aliança será restrita às pessoas que conhecem o Senhor. Is 24. Ez 37. 33. O contexto mostra que fazer um voto é uma coisa muito séria.5). todos conheceriam o Senhor imediatamente”.11-12).15s) e o caráter perpétuo da Nova Aliança: O reconhecimento do caráter perpétuo da nova aliança é essencial à apreciação completa da natureza distintiva da nova aliança. 50. SI 89. Desde o menor até o maior. Outras passagens em paralelo com Jeremias 31 são Jeremias 32.15-28. também Ezequiel 34.60-63. 23).) Por esta aliança. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 6 79 anterior. “"ITS” d i t a t . 950 . Nm 30. a renovação interna pela obra do Espírito de Deus (Jr 31. Ela não é apenas a nova aliança. o pleno perdão dos pecados (Jr 31. Hamilton.8.3..33). 50. Victor P. que desenvolve o conceito de “aliança de paz” (v.92O texto coloca isto em contraste à aliança que virá. verbete 1829. 257. Ez 37. Palmer Robertson. 253.. O Cristo dos pactos. é afirmado o retomo de Israel do exílio à Terra Prometida (Jr 30. que foi anulada.23. quando Deus declara que trará seu povo de volta à terra que ele havia dado a seus pais (Jr 30. algo muito sério.4 cf Ez 34. 271.15.21.37. e b d b .3). SI 105. em vez de 92Cf.38-40 cf.40 cf.95 A lei será impressa em seu coração e mente (Jr 31. 50.13. Neste sentido. p. p. A idéia é que o povo causou e provocou o fracasso da aliança. esta característica foi também atribuída às ministrações divinas anteriores. Todas estas passagens referem-se auma “aliança perpétua”.10). A aliança abraâmica é caracterizada como perpétua (Gn 17. como se acha em Jeremias 31 e em outras passagens. o propósito de Deus de redimir um povo para si mesmo encontra cumprimento consumado. a palavra é empregada para descrever o processo que deve ser seguido.31. (.27-44. As anteriores alianças de Deus podem ser consideradas “perpétuas” somente na medida em que elas encontram sua realização na nova aliança. não (Jõ’ ) como a antiga. também. aunião de Israel e Judá (Jr 31. Palmer Robertson.11- 18 e 33. no caso de uma mulher que não pode cumprir um voto (cf. que será inédita (hãdãsh). Mas o caráter perpétuo da nova aliança parece implicar uma dimensão escatológica.14. p.93 Neste contexto. Esta profecia precisa ser entendida em seu contexto mais amplo.3-4. é a última aliança. 50. por meio de sua infidelidade. Hamilton nota que a palavra tem uma conotação moral. 940 .1-9 também fazem referência à aliança perpétua. O Cristo dos pactos. e quebrá- lo (pãrar) este voto é. 24.6-18 cf.20).16.33. não seria necessário mediador para a comunicação da vontade de Deus ao seu povo. d b l h . assim como a mosaica (Êx 40. 32. a restauração plena da bênção sobre a terra da promessa (Jr 31.1-26 também agrupam elementos essenciais associados com a nova aliança. jamais será suplantada por aliança subseqüente. assim como Ezequiel 16. Ez 37.4ss e Ezequiel 37.1-31. Cf. A palavra aparece no hiphil. não será mais necessário ensinar o povo da aliança a conhecer o Senhor. Toda a linguagem do versículo enfatiza um forte elemento de descontinuidade entre as alianças.34. Palmer Robertson.34.5).12. verbete 7296. Lv 16. ...... O Cristo dos pactos...... cf..32. Palmer Robertson. fundamentadas em tais sacrifícios animais. 98Ainda assim..96E todos os pecados do povo da aliança serão perdoados para sempre (Jr 31.34).... (. Na antiga aliança...) A nação de Israel da velha aliança figurou tipologicamente a realidade da nova aliança do povo escolhido de Deus reunido como uma nação consagrada a Deus. 262: “A renovação constante dos sacrifícios pelos pecados sob a velha aliança ofereceu a indicação clara de que o pecado não era realmente removido... Em virtude da total incapacidade do homem de observar a aliança de Deus. 13.. p. porque a sua pessoa não estava plenamente revelada.. e a nova aliança agora está em vigor.98 Todavia........... 20. Jr 2.. para explicar os sinais que acompanharam a vinda do Espírito no Pentecostes (At 2.. Introdução à teologia sistemática. devemos destacar que “a substância da lei da aliança proverá uma base de continuidade entre a velha e a nova aliança”... como na velha aliança... nenhum propósito permanente será servido mediante um futuro estabelecimento desse mesmo relacionamento de aliança....17-21 cf. 32)... Como um povo unificado....." “No testemunho do Antigo Testamento acerca do Espírito.. Depois de descrever o cumprimento dado por Jesus à sua missão....... 353... tribos e povos.. Erickson. Palmer Robertson escreveu.. Palmer Robertson..28-32). A presença e a atividade do Espírito Santo revelam-se desde a inauguração da nova aliança.. Deve-se reconhecer um fator de continuidade... Essa aliança não terá carater nacional ou étnico. os participantes da nova aliança hoje são ‘Israel.... p........ O Cristo dos pactos.’ “... então os que constituem o povo de Deus nas circunstâncias presentes devem ser reconhecidos como o ‘Israel de Deus’.... Novo Testamento O Novo Testamento relata a inauguração de uma nova etapa da história da redenção.. No Novo Testamento. Pedro citou a profecia de Joel sobre a novidade da obra do Espírito na nova aliança..... .. . 680 [PARTE 6] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO ser apenas um padrão exterior escrito em tábuas de pedra..5.. Jeremias 31....... Em vez de ter sacrifícios animais que meramente representam a possibilidade de morte vicária em lugar do pecador.. que incluía as pessoas não-regeneradas... O Cristo dos pactos. 960 ... (. Condena Israel por quebrar a aliança (Jr 31. 100Millard J.......) Ao dizer que os pecados não seriam mais lembrados. "O..... a obra do Espírito foi mais limitada... Jeremias não condena a velha aliança. (.. Palmer Robertson......... realizada com a vinda de Jesus.... J1 2... 260....100No Novo Testamento..31 diz que a aliança será feita com “a casa de Israel e com a casa de Judá”.... mas apenas não levado em conta. existe um anúncio de uma época em que o ministério do Espírito será mais completo”... p.97 Fica implícita a idéia da ação do Espírito dentro de cada pessoa. p.. Jeremias antevê o fim do sistema sacrificial do Antigo Testamento”... Jeremias prevê o dia em que o real substituirá o simbólico. Jeremias vê o dia em que os pecados realmente serão perdoados para jamais serem lembrados.......) Se o povo da nova aliança de Deus é a realização verdadeira de uma forma tipológica... o Espírito será revelado como o Consolador. 267: “O Israel da velha aliança pode ser considerado representação tipológica do povo eleito de Deus.. a novidade da nova aliança não deve colocar-se em absoluta contradição com as alianças anteriores.... Por outro lado... não podiam efetuar a remoção real das transgressões... A nova aliança será uma aliança somente com os que respondem em fé .. 260..... Se o sacrifício do dia da expiação realmente tomava a pessoa justa de uma vez para sempre aos olhos de Deus. por que era a cerimônia repetida anualmente? O sangue de bois e de bodes não tinha poder inerente de remover pecados na estrutura da justa ministração de Deus ao mundo... '"O........ . p..... que levará a cabo a obra inédita de chamar um povo para Deus em meio a todas as nações. em O Cristo dos pactos. Como conciliar esta afirmação corporativa com a afirmação de que a lei será gravada no coração de indivíduos? O... As cláusulas da velha aliança. atos que também só se praticam contra pessoas.102No contexto. A palavra grega TTV£0|ia (pneuma) tem um campo de significado semelhante a rüah. “fôlego”. Neste evento. Não se pode pecar contra uma força impessoal. O Espírito Santo é soberano (At 2. existem pecados que podem ser cometidos especificamente contra o Espírito Santo. No fim. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 681 o Novo Testamento prossegue. a igreja. porque é uma violação do santo padrão da sua justiça. e o ato de matá-lo significava a rejeição do Espírito por parte dos judeus. aprendemos mais sobre o papel distintivo do Espírito Santo na salvação. sinal do começo de uma nova vida para o convertido. O vento tem poder. Estêvão estava cheio do Espírito. querendo expressar “vento”. por suas palavras. 6. a água e o fogo. em que Jesus assumiu a natureza humana. todo pecado é pecado contra Deus. É impossível prevê-lo. a história dos atos do Espírito Santo.13-17. a gravidez de Maria é obra do Espírito Santo (Mt 1.14).11). “irveOuct“. mas à própria pessoa de Deus. p. A pomba que veio sobre Jesus é um símbolo da presença do Espírito com ele. mas também é um segundo nascimento. Jesus disse que é necessário “nascer de novo” para entrar no reino de Deus (Jo 3. verbete 540. João falou de Jesus como o que “batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3. não algo que a pessoa possa realizar por suas próprias forças. os dois significados fazem sentido. O Espírito Santo desceu sobre a igreja em forma de línguas feitas de fogo (At 2). Isto é várias vezes repetido na passagem. v. a água viva satisfaz as necessidades (Jo 7. Entre outros.101 Os Evangelhos mantêm o sentido do Antigo Testamento. Assim. Em todo o seu ministério e vida. Marcos 3. dos céus. porque é ato soberano do Espírito Santo.32-34). como o poder de Deus para realizar seus planos.21-22. Lc 3. A pomba é apenas um dos símbolos do Espírito Santo citados no Novo Testamento. Jesus deu o exemplo de um homem capacitado e guiado pelo Espírito. Mc 1. Além de purificar. Entretanto. estando a palavra ysvváw [gennaõ (gerar. ao descer sobre Jesus em forma de pomba. Ananias e Safira mentiram e tentaram o Espírito Santo. ao assassinar Estêvão. Toda a vida de Jesus foi uma revelação do poder de Deus no Espírito.21) ou purificar (Tt 2. e não apenas como uma força. Moisés encontrou o Espírito de Deus no fogo da sarça ardente. podemos destacar o vento. é evidente no Novo Testamento. O fogo pode proteger (Êx 13. Esse insulto ao Espírito l01Hermann Kleinknecht. 1O2“ävu 0ev”. A palavra âvwGev (anõthen) pode significar “de acima” ou “de novo ”. validaram o início do ministério público de Jesus (Mt 3. na verdade. Um evento muito signficativo foi a revelação da Trindade santa no batismo de Jesus. O dom da presença vital do Espírito Santo se tomou a característica principal da bênção da nova aliança. Em sua pregação. sendo uma essência. narrando a história da nova comunidade.51-55). diferente da antiga vida. e o Espírito. A água do batismo é uma figura usada para representar a vinda do Espírito Santo na vida do crente. que é. 335. o que mostra que esta é uma ação do Espírito na pessoa. td n t. A resistência do povo. Jo 3). . O Pai. DBLG. nascer)] na voz passiva. Em outro caso.37-38). “vida” e “alma”. “respiração”.28-30). não era meramente a resistência a uma força impessoal.9-11. revelada pelo Espírito Santo (At 7. Muito menos podemos supor que essa exortação não seja literal. mas não pode ser controlado pelos homens. Jo 1. as três pessoas foram reveladas como distintas. Uma prova disso é a questão do pecado contra o Espírito Santo (cf. em João 3.20). A revelação do Espírito Santo como uma pessoa. e isto começa já com o ato da encarnação. O novo nascimento é de Deus.3). no plano de redenção. No discurso de Jesus. O Espírito seria a garantia de que as palavras de Jesus seriam preservadas sem corrupção. ao afirmar que a obra de Jesus. Já paraklêtos é “advogado”. Teologia do Novo Testamento. 682 [PARTE 6] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO Santo foi uma ofensa contra a pessoa de Deus. O Espírito Santo. p.103 A identidade do Espírito como uma pessoa divina distinta se tomou mais clara no ensino de Jesus. A palavra allos realça a identidade diferente daquele que virá.26). 422-423. feita pelo poder do Espírito. sendo enviado pelo Pai. Outros dizem que a blasfêmia contra o Espírito Santo é a rejeição final de Jesus Cristo. A última hora então chegou”. Em João 14. e a atribuição dos atos do Espírito nessa revelação ao diabo. 16. . de novo.31-32.43. da mesma forma que Jesus (16. Isso implica em que Jesus já tinha sido um Paracleto para seus discípulos. É claro que o cristão não se deve preocupar em ter ou não cometido o pecado. que. é necessário estar.17). da mesma forma que o Pai deu o Filho (3. 423. Neste sentido. Além disso.27-28) veio da parte do Pai.104 Jesus falou da vinda do Espírito como “outro (allon) Paracleto” (14. envolve a negação do fato de as obras do Espírito na história terem sido obras de Deus.16). Vale destacar que uma força impessoal não é atingida pela tristeza. Mesmo cristãos podem entristecer o Espírito com seu pecado (Ef 4. porque não é possível que um cristão perca a salvação. é digno de destaque o fato de a promessa do ministério de instrução do Espírito Santo ser enfatizada. 104George Eldon Ladd. para cometer esse pecado. como também Jesus veio ao mundo (5.37). como também Jesus veio em nome do Pai (5.43). p.16). Ele diz: “K. É a última vez em que o senhorio de Deus é perturbado’. O Paracleto virá. A declaração revela a seriedade da situação. O Paracleto será enviado em nome de Jesus-. automaticamente. Esse fato fica muito evidente na similaridade de linguagem usada com relação tanto ao Espírito quanto a Jesus. em vez de empregar o pronome neutro èiceivo (ekeino). p. No versículo 24 do mesmo capítulo. João empregou o pronome masculino e k e í v o ç (ekeinos). O Pai enviará o Paracleto.26 103Cf. 105George Eldon Ladd. O Paracleto virá da parte do Pai. Jesus declara que a blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoada. e resultou no julgamento dos dois (At 5.105 Por intermédio deste Espírito. Em Mateus 12. no caso.30). a afronta. pertence à hora imediatamente antes do juízo de Deus bater meia-noite e o dia da salvação chegar ao fim. os fariseus blasfemam contra o Espírito Santo. o que tem levado alguns teólogos a sugerir que. 65-66. foi obra do diabo. a presença de Deus estaria sempre com o seu povo. Jesus prometeu enviar o “outro consolador” (âAAoç T r a p á K À r } T O Ç [allos paraklêtos]). Esse é um pecado que representa o total afastamento de Deus. literalmente na presença de Jesus. Em João 15. Sinclair Ferguson. resiste e amaldiçoa. A pessoa que vem não é o Filho e. seria o correto. “consolador”. no entanto. Rengstorf sublinha aseriedade do resultado [da blasfêmia contra o Espírito Santo]: ‘Tal pecado se comete quando umapessoa reconhece a missão de Jesus pelo Espírito Santo e. A essência desse pecado foi a rejeição da revelação de Deus na história. Embora a palavra pneuma seja grama­ ticalmente do gênero neutro. Teologia do Novo Testamento. a blasfêmia contra o Espírito. “instrutor”. é também diferente dele. O contexto do pecado foi a presença de Jesus. 18. e que o Espírito viria para assumir seu lugar e continuar seu ministério com os discípulos. que. O Pai dará o Paracleto a pedido de Jesus.1-11). como também Jesus foi enviado pelo Pai (3. É importante notar o uso dos pronomes no texto. de que Cristo fala. registrado em João 14.28. por meio de Jesus. ele revelará tudo o que for necessário (Jo 14. Quem não tem o Espírito não tem Cristo (Rm 8..... Rm 13...13-14 [cf.16.13.. ICo 3. as Escrituras ensinam que o Espírito Santo merece o mesmo louvor.... os cristãos têm todos os benefícios da salvação.... o povo de Deus..... . em cumprimento às profecias antigas e.... A Bíblia ensina sobre a existência de uma graça de Deus que refreia o pecado na vida dos que não são seu povo (Gn 20...10-1 l ) e onipotência (ICo 12.......... no capítulo 5. que o Espírito derrama sobre todo o povo de Deus. e não a forma neutra.... também... como onipresença (SI 139. mas a forma masculina é utilizada..3-4...Rm 11......16). da igreja e das últimas coisas.... como a criação (Gn 1. 2Pe 1. e 16... Como membros da nova aliança... constituído como tal pelo mesmo Espírito.. como seria natural. começa o processo de santificação...... 3) o Espírito Santo realiza obras divinas.106 O texto identifica nitidamente o Consolador com este Espírito e.....21).. Característica desta nova etapa da história da redenção é o fato de que o Espírito Santo habita em seu povo (1 Co 3.... vemos no texto que o Espírito tem atributos pessoais. Paulo mostra a igualdade essencial entre eles na bênção com que ele encerra 2Coríntios: “A graça do Senhor Jesus Cristo. Estes são aplicados na vida da igreja e a cada cristão pelo Espírito Santo. Rm 15. Assim.... amor e serviço que nós oferecemos ao Pai e ao Filho......5). IPe 2.. podemos confessar a divindade do Espírito Santo.. obras e com a mesma dignidade que o Pai e o Filho têm... o fruto do Espírito. assim..24-28.... ....... quem nasce de novo é nascido pelo Espírito. Teologia do Novo Testamento... a parte atribuída especificamente ao Espírito Santo é a obra da aplicação dos benefícios da salvação aos eleitos....16.. Isso inclui a dádiva dos dons do Espírito Santo e o fruto do Espírito na vida do cristão.. Rm 1. produzindo uma nova qualidade de vida... ICo 2. e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (13... O derramamento do Espírito Santo marcou o início da igreja. afirmando que: 1) ao Espírito são atribuídos os nomes divinos (Êx 17. Estar em Cristo significa ter o Espírito Santo e.. como sinal da natureza sobrenatural da nova comunidade de Deus (At 2)..2....7-9]. At 5...7-10). Por isso. nosso estudo sobre o Espírito Santo nos leva naturalmente ao estudo das doutrinas da salvação.. não pode vir a Cristo sem a obra do Espírito em sua vida (ICo 2..... os dons do Espírito. novamente.......... pela natureza da atividade do Consolador.. onisciência (Is 40.. 2Tm 3. Além da graça de Deus.. mostrou como o Espírito Santo é dotado com os nomes.... e a vida no Espírito florescem no contexto da igreja.5-11)..... que também é efetuado pelo Espírito Santo... devemos concluir que o Espírito é considerado uma personalidade”.....6...... assim. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 683 * .14).... seguir as coisas de Deus e não as do mundo..... 424...... Isto é necessário porque o pecador não aceita as coisas de Deus e.34].. p................. A partir dessa evidência.................... '“ George Eldon Ladd.19)... Depois da regeneração. e o amor de Deus. O Espírito Santo convence pecadores do pecado (Jo 16:8-11)... E o Espírito Santo quem justifica..4..... regenera e santifica o cristão. Hb 3....13-14). 2) ao Espírito Santo são concedidos os atributos divinos. “o vocábulo pneuma está em conexão direta com o pronome..11.. No plano de salvação... Estudo sistemático Como foi visto no capítulo 5... Nossa discussão da matéria bíblica sobre a Trindade. reverência. atributos....3... ele exerce uma influência benéfica no mundo em geral...... Por sua pessoa e obra.. edifica a igreja e cumpre o plano de Deus na história.13)....7 [cf. A regeneração é obra do Espírito Santo (Tt 3..... A Escritura mostra o Espírito relacionando-se com outras pessoas.. nem pode ser considerado como nome de alguma influência abstrata. Quem realiza estas coisas não pode ser um simples poder ou influência... 113DonaId MacLeod..35.. 4..... As Escrituras conferem ao Espírito Santo atributos pessoais.39....... criar. “coloca os três juntos..... e depois até o trono na glória. O Espírito realiza também atos próprios de uma pessoa..109 Um fato que indica que o Espírito Santo é uma pessoa é que ele............ p... 684 [PARTE 6] A DOUTRINA DA PESSO A E OBRA DO ESPÍRITO SANTO *... Ef 4... é colocado ao lado de Cristo como o consolador que estava para partir (cf.. chamado de paraklêtos (Jo 14..16). Louis Berkhof...112Como já foi visto.. Introdução à teologia sistemática... interceder...13).... ICo 12.. . Tratado sobre o Espírito Santo. entre outros. 27. como sondar..7........ a Escritura distingue entre o Espírito e o seu poder (cf.... como Consolador.... p... ordenar. Podemos resumir o ensino bíblico sobre o Espírito Santo com as seguintes considerações: 0 Espírito Santo é um ser pessoal As Escrituras nos apresentam o Espírito como um ser pessoal (Jo 16... em saudação...0 apóstolo Pedro...10.. 2Co 13.. falar...26. explicável não em termos de inseminação humana (nem de um ato mítico de geração divina).5. Teologia sistemática. lJo 2. .108 Isto é evidenciado na fórmula batismal (Mt 28.. mas tem de ser um ser pessoal. Por último. a regeneração (Jo 3.113 107Louis Berkhof.. At 10. Erickson........ lwCf... Rm 15...13..107 Erickson comenta: “Nossa consideração final defendendo a divindade do Espírito Santo é sua associação com o Pai e com o Filho em uma base de aparente igualdade”. 91. desde o ventre materno até o túmulo.35).110Ericskon afirma: “Todas essas considerações levam a uma conclusão....11)...13...... 4) ao Espírito Santo é prestada honra (Mt 28... Rm 8..........2).... 6. O Espírito Santo é uma pessoa. revelar.. Teologia sistemática....19) e na bênção apostólica (2Co 13. Erickson. p.. 92... vontade (At 16... É possível perceber isto ao se substituir o nome “Espírito Santo” pela palavra “poder” ou “influência”..........1).... Introdução à teologia sistemática... 16..... “consolação”... 347.... p. Teologia sistemática...1... lutar.38.30).. sua encarnação foi obra do Espírito Santo (Lc 1..111 Je s u s e o Espírito Santo Podemos ver a presença poderosa do Espírito em toda a vida de Jesus. A pesso a de Cristo. “A sua gravidez é um ato da graça divina. 108MíIlard J. Lc 1. 90: Este termo não pode ser traduzido por “conforto”. não uma força. Jó 26..14). Tt 3... texto que será considerado no capítulo 2 1 ... tais como inteligência (Jo 14. 349. Rm 9.. e tal pessoa é Deus... 15.14. p.... observando seus respectivos papéis no processo da salvação” (IPe 1.. p...5) e a ressurreição dos mortos (Rm 8.7). 112Basílio de Cesaréia..4).. vivificar os mortos.. assim como na discussão dos dons espirituais onde os três membros da Divindade são considerados juntamente (ICo 12. testificar. 15. o Pai e o Filho. como os apóstolos.. 110Louis Berkhof. luMillard J....19..26. Berkhof destaca que estes textos não fariam sentido se fossem interpretados com base no princípio de que o Espírito é pura e simplesmente um poder impessoal.. Cristo... o que implica sua personalidade...... mas em termos do pode criador do Espírito Santo”. na mesma dimensão e da mesma forma que o Pai e o Filho ”..26.. Basílio observou que o Espírito Santo era o companheiro inseparável de Jesus Cristo: “toda atividade de Cristo se manifestava na presença do Espírito Santo”.4)...4-6)...11) e sentimentos (ls 63. 16..13)....26.. 33..... ICo 2..... mas cósmicas. 49.3. justamente como ele trouxe ordem e plenitude ao informe e vazio da criação original. Seu triunfo demonstrou que ‘o reino de Deus está próximo’ e que o conflito messiânico havia começado”.114 O anúncio do ministério de Jesus.16. feito por João Batista. Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo à situação em que ocorreu a tentação (Mc 1. porém. amorteceu seus ataques e o obrigou a retirar-se (cf. Ez 16. Isso se evidencia de maneira inegável no ensino de Jesus. a fim de produzir o “segundo homem” e através dele restaurar a verdadeira ordem.25-27). presente também logo no início do seu ministério público. Mt 2. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 685 Ecos da criação e do Êxodo sugerem que a obra do Espírito na encarnação pode ser interpretada numa visão dupla. devemos resistir de maneira semelhante. ele sofreu uma série de tentações no deserto.. Mc 1. há certo vínculo comum entre suas tentações e as nossas: ele é real e pessoalmente confrontado pelos poderes das trevas.32) são provas de que o que havia acabado de fazer fora feito pelo poder do Espírito Santo. tão eloqüentemente expresso em todo o Antigo Testamento (cf. p.1ss). é o início da redenção. ele opera em materiais já existentes (a humanidade de Maria).12).11 e. é uma obra divina da nova criação.. quando ele passou a ministrar nas sinagogas. o Deus das batalhas que luta em favor de seu povo e em prol de sua (do povo) salvação (cf. 62: “Tem sido comum interpretar as tentações de Jesus como análogas ou quase um modelo para a tentação do cristão: Cristo foi tentado como nós somos. especialmente. mas não é ex nihilo. SI 98. Lc 3. Segundo. Jesus ficou “cheio do Espírito Santo” (Lc 4. se alguém falar contra o Espírito Santo..” (12. o novo exodus.28). Suas tentações constituem um evento memorável. Erickson lembra: Vale notar que não há indícios de crescimento da presença do Espírito Santo na vida de Jesus. a obra do Espírito é de novo. Ao contrário. Êx 15. Primeiro.13).15). Erickson.1).22. mesmo em estado embrionário.31) e seu alerta de que “.32 cf. mas resistiu. At 10. Imediatamente após o batismo. O que parece existir. Mt 4. Como na criação original. Parece que a antítese entre o Espírito Santo e o mal no mundo precisava vir à tona”. portanto. tem aqui seguimento no cuidado do Espírito pelo Filho encarnado (a quem igualmente chamou do Egito. 354.1ss. 115Cf. Toda a vida de Jesus foi vivida “no Espírito Santo” (cf. Ele foi conduzido ao deserto como uma força de assalto.14). Temos evidência da ação do Espírito na vida de Jesus também em seus milagres. p. Seu teste foi posto no contexto de uma guerra santa na qual ele entrou nos domínios do inimigo. apenas a concepção e o batismo. Não há nenhuma série de experiências da vinda do Espírito Santo. mas especialmente na expulsão dos demônios (Mt 12. Sua condenação às palavras dos fariseus como “blasfêmia contra o Espírito” (12. Introdução à teologia sistemática. O cuidado de Deus pelo filho que ele chamou do Egito. destaca o lugar do Espírito Santo (Mc 1. Constituem a tentação do último Adão.. De fato. Lc 4.8). mas na singularidade e unicidade das experiências de Jesus Cristo. Em conseqüência. Lc 10. 21).1). Jo 1. Jesus avançou como o divino guerreiro. No poder do Espírito. Mas isso conduz a uma interpretação parcial e negativa de suas experiências. O Espírito pairava sobre o Filho legítimo de Deus ao longo de suas tentações no deserto e ao longo de toda a sua vida e ministério (cf. .. u6Millard J. no momento do seu batismo (Mt 3. Não são meramente pessoais. O Espírito Santo..38).10. por exemplo.17. Lc 4. Mas o destaque e significação do evento não estão no fato de nossas tentações serem como as suas.115 Erickson destaca: “deve-se notar aqui que a presença do Espírito Santo na vida de Jesus o conduz a um conflito direto e imediato com as forças do mal.116 O restante do ministério de Jesus foi também conduzido no poder do Espírito Santo (Lc 4. é uma prova crescente da presença U4Sinclair Ferguson. Dt 8. p. Sinclair Ferguson. não lhe será isso perdoado.1. 22. O Espírito Santo. O Espírito Santo é Deus. Em sua exaltação. o Espírito procede do Filho assim como do Pai.124O conceito de 117Millard J. como prometera. assim também o Espírito Santo. foi o envio do Espírito Santo.19).118 Devemos destacar que a primeira obra que Cristo realizou. a menos que tenha vida em si mesmo. Jo 14. a qual ele preserva para a vida eterna. para ser morto (Hb 9. igualmente com o Pai. 122Herman Bavinck. Cristo recebeu do Pai o Espírito Santo prometido no Antigo Testamento.26. 355. p. 365. .14).11).w Cristo. foi concedido a Cristo pelo Pai. O Espírito que Cristo concede procede do Pai. pelo Espírito. e uma vez tendo vida em si mesmo. do Pai e do Filho. U9Herman Bavinck. sendo este um dos elementos que distinguem o Espírito Santo das outras pessoas da Trindade. Tratado sobre o Espírito Santo. mas procede do Pai e do Filho. junto com o Pai e com o Filho. Fp 1. envia o Paraklêtos (Jo 15. p. p. 154.119 0 Espírito Santo procede do Pai e do Filh o O Credo de Constantinopla fala do Espírito Santo “que procede do Pai e do Filho”. 121Herman Bavinck. “não por geração. ele pôde. De acordo com isso. A body o f doctrinal Divinity.120 Bavinck afirmou: “Assim como todas as coisas são do Pai e através do Filho. uma vez que ele é o autor da vida biológica e espiritual do ser humano. assim como o Pai tem vida em si mesmo. Erickson.121 Assim. 686 [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO do Espírito.46. e o Filho tem vida em si mesmo. 16. depois de sua exaltação à direita do Pai. O Espirito Santo. Teologia sistemática. é chamado o Espírito da vida. 69. p. 168.4).33). Tendo em vista os problemas com que se defrontou a igreja de Corinto e os fenômenos do Pentecostes e das experiências subseqüentes registradas em Atos. p. 123Basflio de Cesaréia. assim. ele mantém o mais íntimo relacionamento com ambos”. no mesmo sentido em que ele é o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos (Rm 8. Teologia sistemática. pode-se considerar que o Filho. Também não se encontram indícios de fenômenos extáticos na vida de Jesus ou de algum ensinamento que ele tenha deixado sobre o assunto. p. juntamente com o Pai e o Filho. lz4John Gill. 166.11) e derramar o Espírito da promessa (At 2.49. p. 120Donald MacLeod. Nas Escrituras. compartilhando plenamente toda a essência de Deus. John Gill escreveu: “Tal é o Espírito de Deus. “Mas apesar de ser distinto de Deus.9). portanto. deve subsistir por si mesmo ”. Por isso. o Espírito existe necessária e eternamente. concedê-lo aos seus discípulos (At 2. mas como Espírito da boca de Deus ”. Ferguson. ofereceu-se.6. todas elas existem e repousam no Espírito Santo”. Da mesma forma. pois. 18. Teologia sistemática. sem pecado. como o Filho. como o Filho. ressuscitou e foi estabelecido em poder (Rm 1. ele é o Espírito do Filho (G14.17) para batizar no Espírito Santo (Mt 3.33 ). m Sinclair J.26). 423. o Espírito Santo não é gerado. A pessoa de Cristo. o que ele jamais poderia ser. mais uma ilustração de que as opera a d extra trinitatis indivisa sunt — “as obras externas da Trindade são indivisíveis ”. O Espírito é o Espírito de Cristo (Rm 8. e. Introdução à teologia sistem ática. e é concedido por Cristo à igreja (Lc 24.123Mas a processão do Espírito não dá lugar a alguma subordinação do Espírito às outras pessoas divinas. é surpreendente que nem a vida pessoal do Salvador nem seus ensinamentos nos dêem algum sinal desses charismata.122De fato. dentro da Deidade (ontologicamente. pela doação eterna deste último ao Filho.47.125Em segundo lugar. mas de ambos. I27Louis Berkhof. fora do tempo. porém. ele é descrito como aquele que mantém com o Pai e o Filho a mais estreita relação possível (cf. Devemos notar os seguintes pontos de distinção entre a geração e a processão: em primeiro lugar.17). e assim recebe do Pai para que dele proceda. é distinto das outras pessoas da Trindade. neste sentido). o mesmo Espírito Santo. do Pai e do Filho. o Espírito Santo procede também do Filho. que o gerou [o Filho] fora do tempo. que não poderia ser mais misterioso. há uma comunicação da total substância da essência trina. E resulta um agnosticismo em relação ao ser real de Deus. Agostinho observa: “O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e.10-11. o qual procedeu de ambos. Se as relações econômicas da Trindade iluminam as relações ontológicas dentro da Trindade (que é o caso em todo o Novo Testamento). Entenda também que. é apropriado pensar nele como procedendo pessoalmente. assim deu ao Filho para que dele também proceda o mesmo Espírito Santo. p. '“ Sinclair Ferguson. de tal modo que a vida que o Pai deu ao Filho ao gerá-lo. mas só conhecimento da relação econômica entre o Filho e o Espírito. não é somente o Espírito do Pai. Teologia sistemática. visto que o Espírito procede. recebe-o do Pai. 91. e então. 15. 15. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 687 processão. E em terceiro lugar. de ambos. mas o Espírito Santo não adquire esse poder. Por isso. como aquele que foi enviado. laço que une um ao outro [o Pai ao l25A Trindade. no capítulo 5.127 Disse Agostinho: “O Espírito Santo. a processão do Espírito Santo é obra do Pai e do Filho. e uma área do conhecimento de Deus à qual não pertence o princípio de que ele é como se revela ser. nem somente o Espírito do Filho. de ambos. assim como o Pai tem vida em si mesmo.126 Devemos lembrar. p. é uma tentativa de entender a maneira com que o Espírito. E pelo fato de dizer-se que o Espírito Santo procede do Pai. a geração precede a processão. 47.129 Em virtude de o Espírito proceder do Pai e do Filho.26. para que dele proceda o Espírito Santo. . também se aplica à processão do Espírito Santo. ICo 2. O Espírito Santo. 2Co 3. Na processão. então. O que foi dito a respeito da geração do Filho. pela geração. é co-etema à vida do Pai que a deu. a geração do Filho é obra exclusiva do Pai. 102-103. escreveu Agostinho: “[O Espírito Santo é a] suma caridade. deve-se entender que o Filho recebe-o do Pai. em sua missão. assim como na geração. porém. 15.27. Entenda. que isso tudo não implica nenhuma subordinação essencial do Espírito Santo ao Filho. de modo que o Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho . do Pai e do Filho em comunhão”. Isso deixaria uma lacuna prima facie em nosso conhecimento de Deus como ele é em si mesmo. do Pai e do Filho. I28A Trindade. E essa certeza insinua-se a nós acerca dessa caridade mútua com que o Pai e o Filho se amam mutuamente”.128Ferguson escreve: Não é uma consideração sem importância que sem o Filioque não temos conhecimento da relação tanto ontológica quanto econômica do Pai com o Filho e com o Espírito. 126A Trindade. Pois o que o Filho tem. conforme as Escrituras. o Filho é habilitado a tomar parte na obra de processão. mantém-nos na nova vida em Jesus Cristo. justificando. livrando-nos do erro e preparando-nos para o descanso eterno.132Em tudo isto. Estes temas serão estudados nos capítulos 18 a 20.14-15). o Espírito Santo age como o doador da vida (Gn 1. E o Espírito é Verdade. é ele quem opera a fé no coração dos eleitos e quem. regenerando e santificando o crente. 6. SI 104.2.1. que intercede por nós com gemidos inexprimíveis e que dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.22. 2. deste modo. 131Louis Berkhof. foi o Espírito Santo quem inspirou a Escritura e. trouxe aos homens a revelação especial de Deus (ICo 2. .130A obra para a qual o Espírito Santo foi enviado à igreja.22.134 Caminhando para o fim desta exposição sistemática. 23. 12. no que se refere ao Filho. l32Donald MacLeod. 16. É ele quem nos regenera e nos conduz à verdade. Gregório Nazianzo. será analisada a realidade de o Espírito Santo dar forma e crescimento à igreja. 111.133 0 Espírito Santo na criação e na salvação Na esfera da criação.13. 133Basílio de Cesaréia. aí está o Espírito de Deus.13.13-14).3. mas não se comete exagero ao afirmar que toda a vida cristã é vivida no Espírito e por meio dele. em nosso estudo sobre a graça comum. Assim Ireneu de Lion escreveu: “Onde está a igreja. Tratado sobre o Espírito Santo. estava baseada em sua unidade com o Pai e com o Filho. 3. E é o Espírito quem aplica os benefícios da salvação aos cristãos. Estes temas serão desdobrados nos próximos capítulos. Com relação a isso. 91-92.21). que nos preserva até o dia de nossa redenção.24. Assim como. No capítulo 21. A pessoa de Cristo. 158.131 “O Pai gera o Filho. é o Espírito que dá o toque final à obra da criação. 18.30). e onde está o Espírito de Deus. tais como o trabalho na ciência e nas artes. 7.6. Por isso os que se afastam dele e não se alimentam para a vida aos seios da Mãe. 688 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO ■ Filho]. o Espírito é o último na revelação das pessoas da Trindade. O Pai e o Filho exalam o Espírito. p. Ele é o penhor de nossa herança eterna. Ao falarmos da processão do Espírito. deve­ mos ter claro em nossa mente que sua maneira de vir a ser permanece “inefável”. Ele é nosso Consolador. e tomá-la sua morada (Ef 1. entre outros (Êx 28. O Espírito veio como o paraklêtos. 23 e 24.4). insere- nos na comunidade cristã e prepara-nos para o céu. o amigo de Basílio de Cesaréia. como será visto a seguir. Como foi visto no capítulo 4. devemos tomar cuidado de não ir além dos limites bíblicos. 31. esta obra de revelação estava firmada em sua unidade com o Pai. ICo 3. assim explicou esta progressão como parte da “pedagogia da condescendência divina”: l30A Trindade. Jó 26. 2Pe 1.3. aí está a igreja e toda a graça. O Espírito glorifica o Pai e o Filho”. por meio desta fé. devemos destacar mais uma questão. [MAdversus Haereses. e nos submete a eles ”. para assumir o lugar de Cristo e realizar sua obra na terra. faz com que compartilhemos em Cristo de todos os seus benefícios alcançados na cruz.16.6. E o Espírito Santo inspira e qualifica os homens para suas tarefas. no dia de Pentecostes. a obra do Espírito baseia-se em sua unidade com o Pai e com o Filho (Jo 16. não recebem nada da fonte puríssima que procede do corpo de Cristo”. 35. p.46. pela regeneração e santificação. e edificando a igreja. Teologia sistemática. Todavia.35: ISm 11. O Espírito Santo é quem desperta nossa fé. que infecta os cristãos. Ainda que as Escrituras afirmem a depravação total da humanidade.135 A fé no Espírito Santo como Ser pessoal e Deus verdadeiro. É bem possível ser totalmente corrompido pelo mundanismo até mesmo quando estamos enfurnados no gueto cristão. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 689 O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai. ligando-a com a pessoa do Espírito Santo: 135Citado no Catecismo da Igreja Católica. após a queda. O Novo manifestou o Filho. no espaço e na história. Como foi visto no capítulo 11. métodos e estilos de vida conforme o mundo. mas porque na criação Deus age em seu plano de redenção. A. literatura. em oposição a todo o dualismo pagão. é o resumo da fé cristã. como foi visto no capítulo 12 desta obra. o culto é transformado em consumismo dirigido pelo mercado. moldando suas idéias. e quando achamos que a popularidade visível e o sucesso numérico são a medida do ministério. Horton diz: Muitos de nós fomos criados em igrejas onde esse “mundanismo” era associado com vocações seculares. 177. 137Michael Horton. Esta redenção ocorre na criação. mas o mundanismo se toma uma doença recorrente. Isso não é o mundanismo descrito nas Escrituras. prestativas e honestas. Mas. Não apenas porque Deus declarou que a criação era boa. beber. 136Herman Bavinck. proclamar abertamente o Filho e. quando ainda não se confessava a divindade do Pai. . crenças. mas obscuramente o Filho. mesmo não sendo cristãs.137 O mundo foi criado bom por Deus. com o próximo e com a criação. Com efeito. Teologia sistemática.. e categorias terapêuticas ou políticas começam a substituir a ênfase bíblica nas nossas igrejas. É através de avanços e de progressões “de glória em glória”. criativas. nem a santificação podem ser sustentadas”. Hodge define assim a doutrina da graça comum. fez entrever a divindade do Espírito.. quando a divindade do Filho ainda não era admitida. rádio e televisão e igrejas cristãs podem tomar-se portadores do vírus do mundanismo sem que tenhamos que nos incomodar com o mundo. sucesso financeiro e dançar. que a luz da Trindade resplandecerá em claridades mais brilhantes. mas a queda perverteu a imagem divina com a qual o homem fora criado. Agora. nem a criação. p. escolas. o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão clara de si mesmo. e isto se reflete em sua relação com Deus. um com o Pai e com o Filho. Nossa música. Tornamo-nos mundanos quando nos tomamos obcecados pelas questões “práticas” em lugar de sólido discipulado. para usarmos uma expressão um tanto ousada. Se Deus não refreasse a miséria humana seria impossível viver neste mundo. Deus ordenou aos homens que cuidassem da criação. nem a redenção. Como explicar isso? A resposta bíblica é a doutrina da graça comum. A. 174. não era prudente. O cristão e a cultura.136 0 Espírito Santo e a graça com um A Escritura se opõe a toda tendência que despreze a criação. p. fumar ou freqüentar lugares onde essas atividades ocorriam. na mesma medida em que a Bíblia se opõe ao dualismo e afirma que a criação pertence a Deus. § 684. “Sem ela. acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar. ela também se opõe ao mundanismo. conhecemos pessoas que. Tomamo- nos mundanos quando os “papos” de apresentadores de televisão substituem os sermões. no tempo. são habilidosas. 402-403. A graça comum é resistível. que o pecado sofre restrição. a graça que alcança toda a humanidade. a inteligência e a consciência. Da mesma forma. 2. realidade alguma que não procede de Deus. 4) A graça especial muda o coração.19. 141Louis Berkhof.. 690 [ PARTE 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO A graça comum é a influência restritiva e persuasiva do Espírito Santo. mas também bens médios e outros inferiores. operando somente por meio das verdades reveladas no evangelho. Esta graça não remove a culpa do pecado e não suspende a sentença de condenação. nem redime. essas podem ser vistas por aquilo que é experimentado na vida dos que ainda permanecem mortos em pecado. Deste modo. aumentando o natural efeito moral dessas verdades sobre o coração. sem regenerar. sem remover a miséria humana. esta ação do Espírito deve ser distinta da sua operação efetiva no coração dos eleitos. Hodge. (. onde e quanto lhe parece bom fazê-lo ”. refreando assim 138A. p. Esboços de teologia. Deus deve ser glorificado. por todos eles. pôs à nossa disposição não somente grandes bens. l40Santo Agostinho. Teologia sistemática. É uma graça que refreia o pecado. a água e alimento.140 Devemos destacar as diferenças entre a graça comum e a graça especial. sem renovar o coração. unicamente um aumento do poder natural da verdade. O livre arbítrio. 2. enquanto a graça comum atinge todos os seres humanos. Agostinho afirmou: Assim Deus. o ser humano. mas não a extingue. Todavia. permitindo que incrédulos profiram muitas verdades e produzam muitas obras boas. 1) A graça especial atinge somente os eleitos. por graça comum. 54. enquanto a graça comum não perdoa. que Deus dá a todos os homens indiscriminadamente.141 Em termos negativos. A. ou por meio da luz natural da razão e da consciência. de maneira que o homem continua sob o juízo de Deus. porém. a ordem é mantida na vida social. 139Louis Berkhof. pois não provoca mudanças internas no coração do pecador. a graça comum muda apenas a atitude. mas não muda a natureza. mudando o coração do homem e tomando-o desejoso de crer e se arrepender. roupa e abrigo. Restringe a manifestação do pecado. exerce tal influência sobre o homem por meio da sua revelação geral ou especial. mais pelos bens médios do que pelos pequenos. e a justiça civil é promovida” e também derramadas “as bênçãos gerais. Deus evita que todo o potencial do homem para o mal se manifeste. 50. entende-se uma graça que restringe a manifestação do pecado na vida.20. p. . Essa bondade divina deve ser glorificada de preferência pelos grandes bens doados. Teologia sistemática. Esta obra do Espírito Santo é chamada de “comum” para contrastar com a graça especial também chamada de “graça eficaz”. Pela operação do Espírito. 402. mais do que pelos médios. A mudança realizada pela graça comum é apenas moral e não espiritual. 3) A graça especial é irresistível.. Não envolve mudança do coração. como a chuva e o sol. Não há. a graça comum restringe a manifestação do pecado. por meio da qual ele os regenera. devemos entender “as operações gerais do Espírito Santo pelas quais ele. 625-626. p. uma ação restritiva das más paixões e um aumento das emoções naturais em face do pecado. na superabundância e na grandeza de sua bondade.) Todo bem procede de Deus. 2) A graça especial redime e perdoa.139 Então. e efetivamente sofre maior ou menor resistência. sim.138 Por graça comum. de fato. do dever e do interesse próprio. A graça comum refreia o pecado. e. .... porquanto o mesmo procede de Deus.....15.......... Se não for dirigida pela consciência....... o homem é incapaz de...146 Por causa da graça comum. ..... os pecadores são capazes de realizar boas coisas.. que “são ordenados por Deus para a manutenção da boa ordem na sociedade”. toda verdade é verdade de Deus. sendo-lhes concedido os bens necessários à existência... o sol. 145João Calvino.. 406............ Teologia sistem ática.... 2) através do Estado e dos governos civis..... do bom e do belo. 318. que mal haveria em empregar... 407: “É devido à graça comum que Deus não executou plenamente a sentença da morte no pecador. se algum ímpio disser algo verdadeiro......... será uma poderosa influência para o mal”... o pecador é capacitado para fazer boas coisas................ A s pastorais. refreando o mal existente no mundo. de religião”.. 3) por meio dos relacionamentos sociais ou da opinião pública..... Como foi visto no capítulo 12.143 Em termos positivos. por isso.. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 691 ...... sem dúvida não deixa de estar ainda adornado e enriquecido com excelentes dons de D eus..2.... Berkhof escreveu: “Deve-se à graça comum que o homem ainda conserva alguma noção do verdadeiro. visto que todas as coisas procedem de Deus......... Louis Berkhof.... Ele disse: “Visto que toda verdade procede de Deus..... de certa forma... ou pela Palavra de Deus.. p... e. tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma?”145Em outro lugar ele observa: Quando ao lerm os escritores pagãos vem os n eles aquela admirável lu z da verdade que res­ plandece em seus escritos.. o derramar da ira divina. Teologia sistemática. Porque os dons do Espírito não podem ser m enosprezados sem que e le m esm o seja m enosprezado .. Se ele as realiza.... não devemos rejeitá-lo..... 143Louis Berkhof.. e recompensa as ações que se harmonizam exteriormente com a lei divina”..... Por causa da graça comum... mas mantém e prolonga a vida natural do homem e lhe dá tempo para arrependimento... Então..... p..... tais como a chuva...144 A partir desta compreensão da graça comum......142 Podemos destacar os meios pelos quais o pecado é restringido: 1) por meio da revelação geral de Deus....... que “só será um meio da graça comum quando formada sob a influência da revelação de Deus.... o alimento.. As instituías....... que é “primariamente a luz da revelação de Deus que brilha na natureza e ilumina todo homem que surge no mundo”.... é por causa da graça de Deus.. porque ainda possuem a imagem divina e são dotados pela graça comum de Deus... p. 4) e por meio das punições e recompensas. A incredulidade dos homens não é motivo para que eles não recebam bênçãos divinas.... João Calvino teve uma ampla apreciação pela cultura....... 406-407..... e muitas vezes aprecia estas coisas num grau até surpreendente... fazer essas boas coisas. p..... S e reconhecem os no Espírito Santo a única fonte de manancial da verdade não m enosprezarem os a verdade donde quer que saia... a não ser que queiram os fazer um a injúria ao Espírito de D eus... Além disso... da moralidade externa e mesmo. tirando com isso qualquer motivo para desculpa e justificando a vindoura manifestação da sua ira sobre os que persistirem no pecado até o fim”.. e revela desejo da verdade... por m ais que seja caído e degenerado de sua integridade e perfeição..... é por causa da graça comum que o pecador é objeto da bondade de Deus.. Ele não dá logo fim à vida do pecador... a água. por si mesmo.. o vestuário e o abrigo.... 146João Calvino.. o que é comum tem 142Cf.. entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas. eles nos devem servir com o testem unho de que o entendimento humano.. Teologia sistemática. nesta vida.. mas lhe dá oportunidade paraarrepender-se. II.. para sua glória.. pelas quais ele “visita a iniqüidade dos homens neles mesmos.... 144Louis Berkhof... e não o faz agora.. agindo em harmonia com a luz da natureza......... criados à imagem de Deus. Dois princípios entraram em ação com a Reforma: o primeiro princípio afirma a aceitação do mundo como este é de verdade. 191. . mas não para “levá-los de volta” ou redimi-los. e que hoje está em declínio. Michael Horton. Contudo.150A imagem que recebemos da vida de Lutero no lar retrata uma família sentada em volta da mesa orando. criado por Deus. sob o cuidado de Deus. Não é especificamente cristã (ou seja. p. Isso era algo considerado mundano. O cristão e a cultura. O cristão e a cultura. A atividade civil é a concretização da tarefa conferida a Adão e à sua posteridade no mandado cultural. O que isso significa para nossa vida? Por exemplo. Os cristãos devem estar envolvidos nesses campos. a família foi valorizada e estabelecida. O povo de Deus tem a responsabilidade de participar na construção da cultura. pois está sob o comando do mandado cultural. a espiritualidade católica diminuiu o valor do lar. por causa da crença na ação de Deus no âmbito comum. O segundo princípio defende a idéia de 147Cf.147Horton destaca: Isso não quer dizer que aqueles que tentam construir pontes entre cristianismo e filosofia. redimida). Uma segunda esfera em que a Reforma exerceu influência foi a arte. mas está livre para criar ou apresentar música secular pelo simples prazer e diversão. Michael Horton. evangelísticas ou relacionadas com a igreja. mas deve divertir e expressar excelência artística. e. O músico cristão não precisa escrever ou cantar apenas música evangélica. Esse artista ainda é cristão em tudo isso. p. mas Lutero e os outros reformadores causaram um grande escândalo ao dizer que eram também com propósito de prazer e comunhão no relacionamento conjugal”. 692 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO valor. Assim. Por isso. jogando e brincando. Devem estar nesse meio a fim de cumprir sua vocação divina à qual foram chamados dentro deste mundo. tomando suas realizações religiosas. durante a Reforma do século xvi. mas é dizer que o âmbito da graça comum. p. por ser parte da criação de Deus. O cristão e a cultura. Michael Horton. tanto cristãos como não-cristãos. que queriam fazer de tudo para promovê-lo. os cristãos mais devotos deveriam se separar dessas preocupações e concentrar-se em sua ascensão espiritual na escada da experiência cristã. como já vimos no capítulo 11. portanto.148 Quando pessoas comuns descobriram o evangelho. não sendo possível separar nossas convicções espirituais de nosso trabalho. e a ciência estejam errados. Ele é senhor tanto das esferas civis como da esfera do culto. 19-33. 14SCf. Horton destaca que as “relações sexuais eram consideradas um mal necessário com propósitos de procriação. p. podemos destacar que o artista cristão não precisa justificar sua vocação. Em que áreas a Reforma exerceu influência?149 Uma primeira área foi a família. é exatamente isso: comum. Sua arte não precisa redimir. foram de tal forma transformadas. comum. 149Cf. 150Michael Horton. tocando instrumentos. entregue pelo Deus criador e redentor a todos os seres humanos. embora caído. as artes. 21. são por ele comandados no cumprimento do mandado cultural. morais. lendo a Bíblia e cantando. Martinho Lutero é considerado o pai do modelo de família que se tomou parte da herança ocidental. ainda que Deus reine sobre ela e garanta que a cultura prospere. Na Idade Média. 70. O cristão e a cultura. no sentido de não considerar que criar uma família redundasse em glória para Deus. no afã de se tomar uma vocação aceitável para os cristãos. nosso trabalho no mundo não precisa revelar explicitamente essas convicções. .. no sentido daquilo ■ 151Michael Horton..... o louvor a Deus brotava de sua gratidão pela ajuda recebida. Tolkien. Bach pedia: Jesu Juval — “Jesus... o uso que fizeram da fantasia e da ficção científica para comunicar verdades cristãs reflete o pano de fundo da doutrina da graça comum ...... R.......... a cosmovisão reformada libertou a arte do jugo religioso..... Contudo..... também são exemplos de artistas que exerceram sua vocação tanto na esfera musical quanto na esfera do culto. ajuda!”...... quando esteve em Köthen.... e quando a ciência provou ser falsa a cosmologia geocêntrica...... A igreja confundiu a ortodoxia bíblica com Aristóteles.................153 O mesmo pode ser dito sobre as peças teatrais que surgiram nessa época... surgiu o romance moderno.. A criação é uma esfera legítima em si mesma.. assim..... (.... 23.. Palmer (ed. datam dessa época os Concertos de Brandenburgo... no seu final. p.... p.... mas confessava também a sua fé em Jesus como seu Salvador.... R.. como a Paixão Segundo São Mateus e a Paixão Segundo São João\ mas... Outra esfera que a Reforma influenciou foi a música.. 23.... 350-389... que era membro da igreja reformada. In: Michael D.... literária. S...... Bach escreveu música para culto.) Quando a igreja confunde as Escrituras com determinado sistema filosófico em particular.). Johann Sebastian Bach talvez seja a melhor ilustração do impacto da doutrina da graça comum nesta esfera............. ainda que elas apresentassem um determinado ideal religioso....... C... “S........... p....... ‘“ Michael Horton.. 153Devemos notar que Ulrico Zwinglio proibiu a arte e a música na igreja porque insistiu na centralidade da pregação e dos sacramentos.” No início da obra....... 152Cf........... ......... John Donne. O cristão e a cultura........... Bach confessava não somente sua indignidade e inabilidade para fazer algo agradável aos olhos de Deus sem a ajuda divina............ 154Cf.. G.. musical ou política.... que não é necessário santificar a arte.152Todos eles tinham em comum a paixão pelo evangelho recém-descoberto pelos reformadores............ Apesar de não serem reformados............ exigindo que ela sirva a interesses morais ou religiosos da igreja.. que refletem esta mesma compreensão: a busca pela excelência e a glória de Deus.. Ao iniciar a composição. Na época. ... A Escritura não é um manual de teoria artística............. ela facilmente fala onde a Escritura não falou...... sem confundir nem subordinar uma à outra........ D..... gravava: Soli Deo Gloriai — Somente a Deus a glória... O cristão e a cultura.. Lucas Cranach e Albrecht Dürer são alguns dos artistas de destaque deste período....... na corte do príncipe Leopold von Anhalt- Köthen.. Edmund Spencer. Eles se moviam entre as duas esferas como âmbitos legítimos e divinamente ordenados.............. que musicaram os salmos cantados pela igreja reformada em Genebra.......” e........ J.. fruto da Reforma.... permitindo que ela se tomasse um empreendimento puramente comum....... ele tocava instrumentos e fundou a orquestra de Zurique. tanto na esfera do culto como na esfera da música..... e... p. George Herbert. Clement Marot e Louis Bourgeois. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 693 ■.. muitos concluíram que a Bíblia simplesmente fora sobrepujada pelos fatos”..154 Uma outra esfera influenciada pela Reforma foi a ciência.... Lewis e J..... não pode também ser vista como livro- texto de ciência ...... Michael Horton.. os estudos históricos e uma variedade de experimentos literários.............. não pôde escrever música para o culto........... John Milton e John Bunyan são alguns dos principais representantes dessa era dourada da literatura inglesa. Ao finalizá-la... 26: “Não há melhor exemplo da confusão e do domínio da igreja sobre os empreendimentos científicos do que no caso de Copémico.......... Panorama do pensamento cristão..... depois de escrever a última nota.. Twila Brown Edwards....... “O lugar da literatura no pensamento cristão”.. Outra esfera que sofreu influência da Reforma foi a literatura. Rembrandt van Rijn..151 Mesmo que a cosmovisão medieval tenha produzido muitas obras bonitas de arte.... ficando restrito à música instrumental...155Horton nos faz lembrar: “tudo nas Escrituras é verdade.. Sayers..... O cristão e a cultura....... essa tradição foi continuada com os escritos de Dorothy L.... enfraquecendo a autoridade bíblica quando as afirmativas dogmáticas da igreja são impossíveis de ser reconciliadas com os fatos.................... No entanto. Quase todas as obras de Bach têm no seu princípio as letras “J..... No século xx...... Johannes Vermeer....... ........ “A ‘filosofia educacional’ de Calvino e a fundação da Academia de Genebra” In: Fides Reformata v. Itália...... A commentary on Genesis. Hoykaas.. McGrath.... 694 [P A R T E 6] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO para o que foi escrito pelo autor original. McHargue. 150-180. Cícero.. Alemanha.. Nancy R.160Entre 1645 e 1660. em Cristo.......... sem que tivesse os que não eram peritos nas ciências julgando suas observações.. botânica.... Palmer (ed.... Na Academia de Genebra. não apenas aprendiam a ler a Bíblia em sua língua original e a conhecer a teologia.... e Lawrence T.... potencialmente........ A alma da ciência.... e cinco... n. In: Michael D........ Ovídio.... . das vinte e sete preleções semanais. Homero.. O cristão e a cultura.. história e medicina ........... é considerado o fundador do ensino público gratuito........ Héber Carlos de Campos. sobre hebraico e Antigo Testamento.. Aristóteles...... Cientistas como Johannes Kepler..... Francis Bacon e Isaac Newton criam que a criação se harmonizava com as Escrituras... continuou com essa atitude afirmativa para com a ciência e ajudou a contribuir para a sua ascensão . excedeu seus limites......... Robert Boyle... sobre dialética e retórica.......... Fundamentos do diálogo entre ciência e religião-. mas também estudavam matemática. Pearcey e Charles B... três.156Uma vez que foi dado espaço à observação empírica para explorar a criação... pelo simples fato de algumas pessoas delirantes estarem habituadas a rejeitar abruptamente tudo o que lhes seja desconhecido”.... 86..... 156Michael Horton...... E os que estavam se preparando para o ministério. cinco. “O cristão e a ciência natural”.. Calvino disse que “este estudo não deve ser reprovado... 158John Calvin... 161Cf.. sobre ética. mas explicar — na linguagem mais comum e mais básica possível — o progresso da obra salvífica de Deus.).. Apenas seis anos após a chegada dos puritanos na Baía de Massachusetts....................... Holanda......... Panorama do pensamento cristão. já que Deus era o autor de ambos. Alister E.... o cientista ganhou liberdade para seguir sua vocação.... Leland Ryken. poesia. os puritanos como realmente eram.. sobre física e matemática............. o Tribunal Geral votou para que fossem aplicadas quatrocentas libras na fundação de uma escola ou faculdade... p. Ele é visto por a-. filosofia.. fé cristã e filosofia natural... 160Cf.... 167-181.. 1. nem esta ciência condenada.... foi chamado o “Instrutor da Alemanha”.... 159As obras básicas sobre este tema são: R..... ela poderia trazer para o modo como se entendia o universo. oito..... além de ele ter ajudado a reformar oito universidades e a fundar outras quatro. Escreveu numerosos livros didáticos para uso nas escolas e. Santos no mundo-........ Escócia e Inglaterra foram estudar lá ......... enquanto os puritanos dominaram o cenário político na Inglaterra...... p..... 26-27....159 Outra esfera alcançada pelos efeitos da Reforma foi a educação........ Platão e Plutarco. física...... Pessoas da França. 41-56....... em Harvard.... Da mesma sala de aula vinham o ministro.... p... Thaxton. após o lluminismo..... como foi visto no capítulo 3. Pelo menos cinqüenta e seis cidades procuraram sua ajuda na reforma de suas escolas. p.. o número de escolas de ensino fundamental dobrou. através da história da redenção”.. que caiu na mesma confusão presente na igreja medieval. Os textos incluíam trabalhos de Virgílio........ mas o propósito das Escrituras não é nos contar tudo sobre todas as coisas.... astronomia.....161 Philipp Melanchthon. inaugurada em 1636..... 157Foi somente quando a ciência.. E o educador polonês Jan Amos Comenius “procurou integrar sua visão reformada do mundo com a visão da educação pública universal..... três...158E. tanto na Inglaterra como no continente.. mais tarde...... sobre oradores e poetas gregos. o protestantismo posterior.... A religião e o desenvolvimento da ciência moderna........ Assim surgiu a faculdade de Harvard. tendo tirado as escolas do controle privado.. o servidor civil e o leigo......... três eram sobre teologia.157 Enquanto muitos cristãos ficaram temerosos com o surgimento da astronomia e com as mudanças que.... 5..... p.. o amigo de Lutero.. química.... C. é evidente que Jesus nunca predisse a vinda de Maomé como Consolador. O documento pode ser acessado em: http:// www. desde o século iv a. Sobre Comenius.22). Ele glorifica a Cristo. Harvard. Os muçulmanos também erram quando afirmam que o Consolador previsto por Jesus foi Maomé. Ele roubou a glória de Jesus. Maomé faz exatamente o contrário. soprou nos discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20. “TiapáKÁr|Toç”. Amsterdam.26).html. segundo as Escrituras. Isto representa uma clara deturpação da fé cristã. Gigantes da fé. antes de ascender aos céus. p. I64Cf.14). Os puritanos restauraram Oxford e Cambridge. Pesquisas feitas sobre o chamado Evangelho de Barnabé revelam que este é um documento falsificado. com o significado de “advogado” e “ajudante”. p. 142-150. provavelmente escrito entre os séculos xiv e xvi. p. e as igrejas luteranas e reformadas na Alemanha reconstruíram a decadente Universidade de Heidelberg. Norman L. Não existem manuscritos mais antigos do que os da Idade Média. com uma discussão sobre sua origem. Estudo apologético 0 islam ism o Uma vez que. “A arte de ensinar tudo a todos Jan Amos Comenius e a Didática Magna.au/arts/bamabas/Entry. Não obstante. elementos islâmicos. . Uma leitura das palavras de Jesus em João 14 a 16 revela que o Consolador é identificado como o Espírito Santo (cf. 29. por Rodney Blackhirst.latrobe. isto é. Leiden. 259- 299.162Avançada para o seu tempo. A partir da tradição reformada surgiram as universidades de Zurich. porque o Espírito foi dado à igreja. Yale e Princeton. cf. 5. em busca de glória própria (Jo 16. O documento contém vários erros geográficos.26). Johannes Behm. Longe de serem antiintelectuais ou terem receio do estudo secular.0rg/Bamabas/saleeb. Geisler & Abdul Saleeb Answering Islam\ the crescent in the Light o f the cross. sua filosofia pedagógica revolucionou profundamente a educação na Europa. A idéia de uma troca de palavras de periklutos para paraklêtos não tem respaldo nos manuscritos antigos do texto do evangelho de João. p. Geneva. Jesus. Strasburgh. t d n t . o Salvador do mundo. não aponta para si mesmo. O cristão e a cultura. Para mais informações sobre a filosofia pedagógica de Philipp Melanchthon. A acusação de que os manuscritos foram destruídos ou sistematicamente alterados também não é levada a sério pelos eruditos de história antiga. cf. não tem apoio em nenhuma confissão de fé ou tradição ortodoxa. Marilene do Amaral Silva Ferreira. Essa noção. O texto tem. e o mais antigo manuscrito desse suposto evangelho foi escrito em italiano. v . os herdeiros da tradição reformada acreditavam que o cristianismo só poderia se desenvolver em meio a um povo que lesse e fosse educado. Edinburgh. 801. podemos afirmar que não há respaldo para a noção muçulmana que identifica o Espírito Santo com Maria.edu.muitos como o pai da educação moderna”. Utrecht. foi o Espírito Santo quem gerou o prometido em Maria.164O documento nega a divindade de 162Michael Horton. Isto foi cumprido no dia de Pentecostes. em Atos 2.163 A obra do Espírito Santo é testemunhar sobre a pessoa de Cristo (Jo 15. mesmo tendo sido confirmada por algumas pessoas que se chamavam cristãs. Além disso. naquela época. 14. 163Cf.html#6.. Cf. É muito provável que um documento autêntico não contivesse esse tipo de erros. o que deixa a impressão de que foi escrito por um muçulmano. também. o Espírito confirma que Jesus Cristo é o Filho de Deus. deturpação esta presente no Alcorão. o uso da palavra paraklêtos é bem atestado no grego antigo. http://answering-islam. Franklin Ferreira. ao negar sua divindade e ao exaltar a si mesmo como um profeta superior. . cf. toma decisões. cf........ 11.7-11......28. para se fazer progresso espiritual... Como foi visto no capítulo 4... sua energia.28). para tomar o cristianismo desacreditado.... Mt.. e aponta Maomé como o profeta. Além de tudo isso..... Assim. administra (ICo 12...... põe obstáculo (At 16. clama (G1 4.. segundo os mórmons.. 189-191. Jo 14. p... não serve como evidência a favor do islamismo... declara e ouve (Jo 16.166O Espírito passa a ser identificado com uma força impessoal ou com uma energia divina que permeia tudo.... as testemunhas de Jeová grafam Espírito Santo com letras minúsculas: “espírito santo”. reduzindo assim a noção de Deus ao panteísmo..... 20... então........... dirige e dá testemunho (At 8.. O problema se toma pior à luz do ensino de algumas autoridades mórmons de que a negação da oportunidade de uma encarnação física foi a punição que Satanás sofreu por causa de sua rebelião contra Deus ....... Ele guia...... as características individuais de pessoalidade. Ilustram a relação entre Jeová e o Espírito Santo da seguinte forma: Jeová é uma usina elétrica..6-7). é resistido (At 7...10.. ICo 12. em que o mesmo se diz a respeito de Jesus Cristo). é provável que o original tenha sido escrito por um muçulmano. 21...30.... ... o Espírito Santo inspirou as Escrituras e falou por 165Jerald e Sandra Tanner. no grande salão do universo do Ser impessoal. pode ser enviada a qualquer parte.. designa...... Primeiro.. Resta. ordena..34... 11. Mas a Bíblia afirma que o Espírito Santo é um Ser pessoal.. é mencionado entre outras pessoas (At 15.... cf...... 12... 8. SI 78..66Poderá viver pa ra sempre no paraíso na terra.. conhece e atinge as profundezas de Deus (ICo 2. o Espírito faz coisas que somente uma pessoa pode fazer. The changing w orld o f mormonism.10). Por tudo isso.. 0 m orm onism o A noção do Espírito Santo ensinada pelos mórmons sofre dos mesmos defeitos que estão presentes em toda a sua doutrina de Deus.. pode ser contristado (Ef 4... É apenas mais uma parte da mobília...... cf..... ao poder de Deus ativo no mundo. comissiona (At 20.....26)... é um grande mistério...... 39. ele é reduzido a uma força impessoal..10. na verdade. Cristo.... sem portar. porém.27 e Lc 10..... no entanto. ensina (Lc 12.... Is 63...13). ou seja.29.. a saber.. uma pergunta: como o Espírito Santo............ implora e intercede (Rm 8.. como na filosofia de Hegel...6)............ o Espírito é limitado ao espaço e ao tempo.....28. cf... Por isso.30).37.. Um ensino fundamental do mormonismo afirma que.23).. proíbe. fala... em que a mesma atribuição é dada a Jesus Cristo)...10-11). chegou a ser exaltado como divindade? Isto.17-19). 696 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO ...... Is 63.. todo ser espiritual tem de nascer num corpo de carne e osso e obedecer às leis do mormonismo..... p. a idéia dos mórmons quanto ao Espírito é completamente incoerente.. o Espírito Santo.14-15. para conseguir se tomar uma divindade...... ele não é digno do título de Deus.22..... segundo o ensino mórmon.. lança luz sobre as incoerências presentes em todo o ensino mórmon. É também um grande mistério para os que estudam o mormonismo.....12....165Este problema.. Mesmo sendo um espírito sem corpo... Por essa teoria..51 cf. o fato de que os deuses mórmons são finitos.26-27.. U m a força im pessoal Uma heresia comum é a negação da existência do Espírito Santo como pessoa. ama (Rm 15.. ... na baixa Idade Média.11). Ef 4....... que os mórmons admitem nunca ter tido uma encarnação física..... Já que o documento é fradulento... que está em determinado lugar... o Espírito Santo. como se fosse algo como a força da série de filmes Guerra nas Estrelas.. enquanto negam o conteúdo essencial da cosmovisão cristã.1.......... da encarnação de Cristo (Mt 1...26-27).. como vimos antes..... se essa força não fosse uma pessoa (cf... As religiões são apenas símbolos para expressar essa experiência. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 697 .. o Espírito Santo não pode ser mais que uma forma de representar o potencial para experimentar uma união mística com o Ser.. Lc 1.... como Cristo. assim como Cristo.... 168Cf... cf. 88. com o Pai.. Existem os espíritos malignos..13.. um pai de santo ou um médium. como Cristo...18...27... lJo 2... Rm 8.. segundo a revelação bíblica. como a teologia de John Hick. Para ele. É evidente nas Escrituras que o Espírito Santo possui características pessoais.......... como Cristo..... O Espírito Santo não é uma energia para ser empregada com fins humanos.. que pode habitar em uma pessoa.1)... o Espírito Santo..3). Ef 3. Ef 4. Lc 10... nas Escrituras.30-35). o Espírito Santo participou.. Otto identificou 167Para uma refutação bem detalhada deste aspecto do ensino das testemunhas de Jeová..19)... Mas o único Espírito bom........ o Espírito.30... para o liberal comprometido com o naturalismo filosófico....... da mesma forma que o Filho o conhece (Mt 11.. p........35....26-27. 8. junto com o Pai e o Filho. mas impessoal.25-27). P or que abandonei as Testemunhas de Jeová. 16.. que pode ser manipulada por uma espécie de shamã..7-11). como uma perfeita comunidade (Rm 8. Rm 8.9... cf..... ninguém mente a um ser impessoal. Jo 14.. intermédio dos profetas e apóstolos (Atos 28. o Espírito revela o senhorio de Cristo (ICo 12..... p..14. pertencendo-se mutuamente.... Podemos destacar a interação existente entre o Pai... mas é possível mentir ao Espírito Santo (Atos 5. como no espiritismo...... é nosso Intercessor (Rm 8......25).6 cf..54)...14.. toda experiência religiosa é inefável. Hb 7...28... 17... é o Espírito Santo de Deus..10-11).168Isto também segue o ensino de Rudolf Otto.. 26... mas uma pessoa divina....3-9).. Isto se encaixa muito bem em esquemas universalistas... o Espírito Santo... este poder do Espírito não pode ser considerado como se fosse meramente uma força. Aliás. É impossível imaginar que uma força impessoal possa interceder em oração em prol do povo de Deus...... Uma vez que Deus é pessoal......... o Espírito ama da mesma forma que o Pai e o Filho (Rm 15. Apesar dos argumentos fora de contexto levantados pelas testemunhas de Jeová.16. 201-223... A teologia liberal A redução da pessoa do Espírito Santo a um símbolo é o único recurso para os teólogos que querem aparentar ser cristãos. 2Co 13...22. que exige submissão completa ao plano de Deus.. é nosso Ajudador (Jo 14...... 2Co 5. Tais coisas simplesmente não existem..... A força divina no universo não é o axê do candomblé. 8... orar é uma atividade que acontece pressupondo-se que o alvo de nossas orações é um Ser pessoal.. que estudamos no capítulo 10.......... que aparentam ser bons para enganar as pessoas... o Espírito glorifica a Cristo... Aldo dos Santos Menezes.167 O fato de o Espírito Santo ter uma natureza pessoal lança por terra todo e qualquer tipo de panteísmo e animismo.20.. No livro O sagrado. cf...4-5.. fazendo para o Filho o mesmo que o Filho faz para o Pai (Jo 16... o Espírito conhece o Pai. é a Verdade (lJo 5... John Hick. cf...... .... é uma pessoa divina... sejam estes os Jedis..34........ G od has many names.. uma força vital....... e nem a mana ou outro conceito panteísta que os antropólogos descobriram pes­ quisando tribos animistas. o Filho e o Espírito Santo. Além disso.... ICo 2.. Essa relação entre as três pessoas divinas tem mais a nos revelar acerca da personalidade e da divindade do Espírito Santo: o Espírito Santo é de ambos — do Pai e do Filho — .7 cf. Mt 10.. designa homens para guiar a igreja de Deus (At 20. Assim. cf. O Espírito não pode ser reduzido a uma força divina que permeia a natureza..20)..16).. o Espírito Santo.... ... Então.. A negação do Espírito é uma forma de reprimir sua voz. O sagrado é o misterioso. Estes raciocinaram que.. .. na tradição de Tillich.. entre as igrejas reformadas e as igrejas presbiterianas. é vontade de Deus que eles morram..... o Pai.... Filho e Espírito Santo... surgiu nos Estados Unidos....... quando ele convence do pecado. pois o fato de negar que algo proposicional seja conhecido sobre o sagrado já é uma declaração sobre sua natureza...... Isto tem dois efeitos. Johnson... tirou do Espírito Santo a sua pessoalidade. Primeiro.. Para um resumo da história da controvérsia...........org/ journal.. A imagem de Deus... para significar o temor e fascinação que existe ao se defrontar com o sagrado.. Entre os cristãos reformados.. pelo estudo dos atributos de Deus.. março-abril de 1987. no caso. como Ezequiel 18..23..... não seria verdadeira a afirmação de que Deus capacita o incrédulo para realizar boas obras em seu trabalho ou em áreas da cultura. mas que provoca uma resposta de reverência e pavor.. defendiam a idéia de que era errado dizer que Deus não tem prazer na morte do perverso.. houve uma retirada geral da participação cristã em questões culturais e políticas. É. indiscriminadamente....... Herman Hoeksma.. e não há nada de bom no que é produzido por ele....... entre outras. como a literatura e a música.. 698 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO * ...........169 Essa teoria sofre do defeito de abrir as pessoas para todo tipo de experiência religiosa....... isto seria uma negação de predestinação.. Segundo.... Mesmo os atos de altruísmo praticados por não- cristãos eram essencialmente atos maus.... a essência da religião com a experiência do sagrado.....trinityfoundation....... Textos que afirmam isto. Ele cativa as pessoas.. inconsistente.. se o homem é totalmente depravado. ao povo eleito.. característica que era marcante da fé evangélica americana. não se pode entrar em relacionamento pessoal com um ser impessoal. também........ disponível em: http://www. invocando-lhes o amor e a piedade.. Na mesma época....... Reformed dogmatics. não se precisa dar ouvidos ao Espírito Santo... rouba ao cristão o seu Consolador e conforto em tempos de tribulação.. considerados no capítulo 6.05. o totalmente outro... que se revela como Pai. As tentativas de interpretar o Espírito Santo como se fosse uma divindade feminina são refutadas com facilidade. ele deve ser totalmente incapaz de fazer qualquer obra que Deus considere boa. com uma defesa por parte dos críticos da graça comum. Rouba ao cristão a única fonte da presença pessoal de Deus em sua vida... “The Myth of Common Grace”.... Usou a expressão mysterium tremendum et fascinans.. quando foi demonstrado que Deus transcende as categorias de gênero masculino e gênero feminino... é igualmente refletida no homem e na mulher....... O sagrado...... Não é o caso de uma pessoa da Trindade. cf........ Rudolf Otto.... nos séculos xviH e xix. Tudo o que o pecador faz é mau. uma controvérsia sobre a graça comum. cf. A graça com um Por volta de 1920... Garret P..php?id=28. se o texto de Ezequiel fosse uma referência a todas as pessoas... 169Cf... ...... A possibilidade de que nem todas as experiências místicas sejam boas ou benignas é ignorada... sem poder distinguir entre o que é a verdade ou não.170 Além disso. não tendo valor positivo diante de Deus ... acessado em 21.....2007...... A teologia liberal... no seio do recém- surgido movimento fundamentalista..... Essa teologia. ser mais refletida pelo homem ou pela mulher.. 170Para a principal defesa desta posição.. porém..... as objeções surgiram porque alguns entenderam que a doutrina da graça comum insinuaria a negação das doutrinas calvinistas da depravação total e da predestinação. que não pode ser nomeado racionalmente...... Para os que negam a graça comum. Quanto aos reprovados...... em Trinity review... fariam referência somente ao povo de Israel.. o que levou os cristãos a abandonarem qualquer participação em atividades culturais. Os fundamentalistas entendiam que o mundo “secular” era mau. Neste sentido. Estudamos anteriormente a distinção entre a vontade preceptiva e a vontade decretiva de Deus. A vontade decretiva de Deus inclui o decreto de que o pecado se tomaria uma realidade. O fato de salvar uma vida é um ato de bondade louvável. numa referência à sua vontade decretiva. A música cheia de beleza é objetivamente boa. Ele decreta permitir o mal para demonstrar sua graça na redenção e na revelação de sua justiça contra o pecado. Uma vez que o mundo é tido como um lugar que carece totalmente da graça de Deus. mas isto não . corrupto e. Contar a verdade diante de um tribunal é uma ação moralmente boa. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 699 Na mesma época. se tomaram instrumentos que corromperam os valores cristãos responsáveis por sustentar a fé e a liberdade nas sociedades herdeiras da Reforma. como produto. porque mesmo seus atos bons têm como motivo a manutenção de sua autonomia rebelde contra Deus. inclusive entre os arminianos. como cinema. Se fizermos uma distinção entre dois tipos de decretos. nesse grupo e entre os fundamentalistas. embora seja o homem quem peque. O que agrada a Deus é que o homem busque ser obediente e que viva em relacionamento com seu Criador. em vez de ser um veículo para espalhar a cosmovisão cristã no mundo. dois problemas principais surgem com a negação da graça comum. surgiu uma preocupação com o “mundanismo”. portadora da imagem de Deus. O mesmo erro lógico se encontra na afirmação de que o incrédulo não possa fazer nada que é bom. A atividade política foi também percebida como perda de tempo. em seu estado de rebeldia contra Deus está pecando. gostaríamos de salientar que a conclusão de que Deus possa não ter prazer em decretar alguns eventos que acontecem é perfeitamente lógica. a possibilidade da transformação da sociedade por meio da influência do evangelho e da ação da graça comum.41).32). Negou-se. A falta da participação de cristãos nos centros de poder. ela está falando em outro sentido. esse tipo de reação é quase inevitável. a aparente contradição apontada entre a graça comum e a predestinação desaparece. para evitar que o cristão fosse contaminado por ele. e depois a televisão. muito menos deveriam os cristãos se importar. sem que isso signifique que Deus tem prazer no pecado. isto não é uma contradição. quando as Escrituras afirmam que Deus não tem prazer na condenação do pecador. O inferno foi criado para “o diabo e seus anjos” (Mt 25. o ato praticado está corrompido pelo mal. Assim. O não-cristão que realiza estas obras. Primeiro. já que o mundo estava condenado a se deteriorar cada vez mais. e serve como um vislumbre da beleza de Deus. fonte de toda beleza e talento. seria necessário separar-se o máximo possível de qualquer influência mundana. Além disso. e isto é confirmado no fato de Deus não ter prazer na morte de ninguém (Ez 18. na prática. a nova indústria de filmes. teatro e outras formas de entretenimento “secular”. A vontade preceptiva tem a ver com a lei moral de Deus. Este raciocínio é falho porque não faz distinção crítica entre a obra em si. e a pessoa que a realizou. Quando a Bíblia diz que Deus faz tudo que lhe apraz. podemos entender isto à luz de sua vontade preceptiva. Assim. O resultado prático dessa reação contra o mundo foi que os centros de influência e poder foram entregues de vez nas mãos dos inimigos do evangelho. E sempre uma tragédia o pecador não se arrepender. e com o fato de Deus sempre odiar o mal e se ofender quando sua lei é violada. e também nos meios de comunicação que influenciariam a opinião pública. Se Deus não se importa com o mundo. garantiu que as políticas e leis implementadas fossem cada vez mais inconsistentes com a ética revelada nas Escrituras. pois quem a salvou demonstrou valorizar e proteger a vida humana. Isto é uma receita para o desastre. em nada. 700 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO significa que o produto seja mau. 173Millard J. Introdução à teologia sistemática. a mesma glória que damos ao Pai e ao Filho. bem como fazer súplicas ao Deus Trino. 365. a depravação total do homem pode ser afirmada. Assim. . sem negar que. com quem podemos ter um relacionamento pessoal. Como foi afirmado no Concílio de Constantinopla. afastam-se da sociedade. abandonando- a sem luta. Erickson destaca: “em tais orações devemos agradecer-lhe a obra singular que realiza em nós e. que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. não uma força ou energia impessoal.173 Essa compreensão da bendita pessoa do Espírito é ilustrada 171Millard J. 350. é um dos meios pelos quais a graça comum alcança a sociedade. 172Millard J. a escuridão avança. agora. pela graça comum. que é plenamente divino. embora na economia da Trindade às vezes ele pareça subordinado ao Pai e ao Filho.171 Devemos dar ao Espírito Santo. 350. chamados para ser o “sal da terra” e a “a luz do mundo” (Mt 5. cremos “no Espírito Santo. Necessitamos afirmar que o Espírito Santo é uma pessoa. Erickson. Somente por causa da graça comum é que a situação não está muito pior do que deveria ser. serão destacadas nos próximos capítulos. relativismo e perda de sentido. Enfim. p. habita em cada pessoa que nele crê. é algo contrário à Bíblia a atitude de entregar a cultura aos incrédulos. Deus toma as obras produzidas pelo não-cristão em bênçãos que contribuem para a manutenção da civilização e progresso de seu reino. devemos pedir- lhe que continue a realizá-la”. devemos orar para que essa graça se manifeste no mundo. assim como ao Pai e ao Filho. A presença do cristão. Agir de outra forma é cair em algum tipo de subordinacionismo. Senhor e vivificador. Concluímos que não há base. pois é na pessoa do Espírito que o Deus Trino chega até nós. ligadas à obra do Espírito. Erickson. Deus restringe a maldade dos ímpios. Introdução à teologia sistemática. porém. p. de fato. inferior ao Pai e ao Filho. destacar algumas aplicações práticas. Por isso. para se negar a doutrina da graça comum. afirma que o Espírito Santo é um com o Pai e com o Filho. A compreensão ortodoxa da Trindade. mas minimiza essa sua ação quando existe a forte presença de seu povo nas diversas esferas da sociedade. Isto se evidencia na capitulação das sociedades ocidentais diante da maré de imoralidade. Outras aplicações relevantes. nossa discussão da graça comum mostrou que esta doutrina é apoiada nas Escrituras. para a glória de Deus. Introdução à teologia sistemática. podemos afirmar que é correto orar ao Espírito. Foi visto no capítulo 5 que. Pelo contrário. e que por isso sua obra é a execução do que os três planejaram juntos na eternidade. Aplicação prática Devemos. em especial. decorrentes de uma compreensão correta da pessoa do Espírito Santo. E. e estamos colhendo atualmente o fruto amargo desta retirada da cena pública. não havendo tensão entre as três pessoas ou suas obras. atuando em todas as áreas da cultura. Ele é um Ser pessoal. para que possamos viver em paz e realizar o trabalho de evangelizar este mundo.172 Em decorrência deste ponto. nem na Bíblia nem na prática cristã. Na medida em que os cristãos. Erickson. o Espírito Santo não é. tão perto que. em sua essência. o qual procede do Pai e do Filho. p. como destaca Erickson.13-16). é por meio do Espírito Santo que Deus não está distante. és fonte. e o Filho teu. Estudando as doutrinas da Bíblia. e nos céus. Por isso. Dotado com teus sete dons o dedo és na mão de Deus. o celestial Consolador. 212. o Grande. 6. já destacamos anteriormente a abrangência de esferas em que o Espírito Santo nos leva a desempenhar nossa vocação na criação. do espírito és o ungüento bom. amém. no século vi. 175Bruce Milne. devemos 174”Vem. nossa alma segura está.175 Quanto à doutrina da graça comum. teu favor. A versão de Martinho Lutero foi composta em 1524. Vem-nos na fé fortalecer. Cristo Jesus. 7: vida em comunidade. e tua paz nos dá. Do Altíssimo o precioso dom. fogo e amor. A astúcia do inimigo vil afasta. pois. além de ser digno de nosso louvor. Espírito criador). avivando-as até se transformarem em fogo ardente de louvor e glória ao nosso Deus”. ó vem morar no coração dos filhos teus. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 701 no hino latino Veni creator Spiritus (Vem. para as celebrações do Pentecostes. p. provavelmente composto por Gregório. aqui. . Ressoa o verbo em altos sons na terra. 5.174 1. Deus Criador. 7. Ao Pai e ao Filho seu louvor que ressurgiu. 2. do Espírito dá-nos luz. Ó Pai. criados por tua mão. Sustenta a fraca carne em nós por teu poder. 3. Consolador. depois também ao Espírito Consolador p’ra sempre. Portanto. p. Espírito. Espírito Santo”. Deus criador. Seguindo a teu guiar gentil. Na mente acende a tua luz. 4. no coração põe santo amor. é o mesmo Espírito divino que se agrada em soprar repetidamente as débeis chamadas de nosso senso de gratidão e louvor. v. 525-527. Amém. “em nossa adoração. In: Martinho Lutero: obras selecionados. nos faze conhecer. 13.......... O Mistério do Espírito Santo.... Cultura Cristã.. entretanto. São Paulo. Introdução à teologia sistemática.. Teologia sistemática.....R. 399-412. 79-93..... 343-350..... s/d. C a l v in o . São Paulo. Herman....... Cultura Cristã........... H orton.... latina de 1559. Cultura Cristã. Bibliografia para aprofundamento B a v in c k . 2001. 1999.. conheça a pessoa e a obra do Espírito vivo do Deus vivo. p. L opes... p .... 1997. A Trindade.... São Paulo. 1 9 8 7 .. Cultura Cristã. 702 [P A R T E 6 ] A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DO ESPÍRITO SANTO . Por isso... São Paulo. S pr ö u l. .1... M en ezes.. F erguson.. São Paulo. Michael. Por outro lado............ As Instituías ou Tratado da Religião Cristã.. O cristão e a cultura. Teologia sistemática.... a despeito da condição pecaminosa do homem. 2007.......... 2 0 0 1 ....... São Paulo. O Espírito Santo.. B erkhof.. 1997.... Cultura Cristã. Por que abandonei as Testemunhas de Jeová. 1994... 155-174... S a n t o A g o s t in h o . Sinclair. Homilia sobre Lucas 12... a graça comum nos ajuda a explicar a possibilidade de se construir civilização e cultura na criação........ São Paulo.. E r ic k so n .. M il n e ..... Os Puritanos. São Paulo.João. Augustus Nicodemus... A doutrina de Deus..... Vida Nova..........Hi destacar que a graça comum nos ajuda a afirmar a malignidade do pecado... São Paulo. Tratado C e s a r é ia .. Basílio de.... Gerald. reconhece os dons e talentos que os não-cristãos evidenciam como dons de Deus..... p..... Millard J.. 2000..... B ray.. São Paulo.. abu.. Bruce. C.. so cep.... São Bernardo do Campo... um estudo sobre o ensino de Calvino sobre a Palavra e o Espírito. impulsionando-nos a cumprir o mandado cultural. Vida....... sobre o Espírito Santo. Aldo dos Santos.... O teólogo do Espírito Santo.. São Paulo. Homilias sobre a origem do homem... Louis.... p e s . São Paulo...... 2002... Paulus. Estudando as doutrinas da Bíblia... Paulus. 1998... 2006.. Ed. p. 4 vol... 1 8 2 -2 1 5 ...
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