Temas em Inclusão - DISLEXIA

March 29, 2018 | Author: Dhiane Cheila Bergamini | Category: Dyslexia, Inclusion (Education), Schools, Literacy, Communication


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LIVRO: "Temas em inclusão.Saberes e práticas" CAPÍTULO: DISLEXIA E INCLUSÃO: POSSIBILIDADES DE ADAPTAÇÕES METODOLÓGICAS E AVALIATIVAS Renata Mousinho1 I – INTRODUÇÃO Para entender a dislexia no âmbito da educação inclusiva é necessário rever alguns conceitos, incluindo sua própria definição e o contexto educacional em que está inserida. A dislexia é um transtorno específico de leitura que prejudica a precisão e a fluência de leitura, podendo prejudicar a compreensão do material lido, o que repercute em todas as áreas do conhecimento. A escrita fica igualmente prejudicada provocando falhas freqüentes no nível da ortografia e da redação (1). A Educação Especial passou por diversas etapas em função do cenário em que estava historicamente inserida. Grandes mudanças ocorreram no final do século XX tanto no Brasil como no mundo (2) . A perspectiva do “deficiente” como um cidadão que possui direitos, fruto de movimentos contra a discriminação, passou a ser pauta também no âmbito da educação. A mudança de enfoque começou a revelar-se: este cidadão sai do lugar passivo e digno de pena, para aquele ativo, que tem seu papel na sociedade; a sociedade, incluindo a escola, muda da posição assistencialista, caridosa, ao aceitar alguém fora de um padrão esperado, para adaptar-se às possibilidades de quem apresenta necessidades especiais. Um marco histórico nesta perspectiva foi a Declaração de Salamanca(3), estruturada sobre o tripé: preservação da dignidade humana, busca de identidade e exercício da cidadania. A educação passa a ter que ser de qualidade para todos, portanto as escolas deveriam se ajustar às necessidades de seus alunos. Relevante foi, igualmente, a ampliação do conceito de necessidades educacionais especiais, passando a incluir não só crianças portadoras de deficiência, mas também alunos com qualquer tipo de necessidade educacional especial. É neste 1 Professora da Faculdade de Medicina, Graduação em Fonoaudiologia UFRJ; Doutora em Lingüística UFRJ. ler as palavras corretamente. Para compreender. A LDB (Lei9394/1996) propõe que a educação especial aconteça preferencialmente na rede regular e sugere que a escola se organize para se adequar às necessidades dos alunos. Neste contexto. a inclusão passa a ser pauta de discussão e urge a questão central: como colocá-la em prática de modo que todos possam aprender. em busca de uma sociedade mais justa. falta preparo nas mais diversas áreas. a partir do ponto de vista dos serviços especializados e dos professores. a Constituição Brasileira de 1988 defende o direito à educação e acesso à escola para todos. do currículo. portanto. mais claramente. O objetivo deste trabalho é. seja de adaptação do espaço físico. Mas não é só. realizar inferências. Para que decorra tranqüilamente. da capacitação de profissionais. Existe uma queixa recorrente entre os professores sobre a falta de conhecimento no como atuar com alunos que precisam de atenção especial em algum nível (5). da escola. assim como da qualidade da leitura em termos de exatidão (precisão. sem adivinhações ou trocas). (4) No entanto. necessita de alguns requisitos. O que a escola e o professor podem fazer diante desta realidade? Como as respostas não estão prontas. . Este desafio. que depende do posicionamento da população. dentre outros. é importante extrair significado. A capacitação docente é outra questão que emerge. II – DISLEXIA A leitura é fundamental para o desenvolvimento humano. a compreensão depende da fluência (com uma velocidade que não favoreça muitas segmentações). No Brasil. da discussão sobre inclusão. merece o investimento de todos os cidadãos. habilidades que devem estar presentes também na língua oral (ESQUEMA 1). Pelo menos nos primeiros anos. independente de suas diferenças (5) . correlacionar ao conhecimento de mundo. do sistema avaliativo.contexto que a dislexia passa a fazer parte. urge a necessidade de discussão e organização de seus resultados. sistematizar os resultados da pesquisa sobre as possibilidades de adaptações para disléxicos em sala de aula. Dislexia é manifestada por dificuldades . Em tradução livre de texto linguagem. Estas dificuldades na decodificação de palavras isoladas são muitas vezes inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas e acadêmicas. a interpretação de textos lidos. freqüentemente a precisão e/ou a fluência de leitura estão alterados. Trata-se de uma dificuldade específica de constitucional. secundariamente. não são o resultado desenvolvimento generalizado de incapacidade ou deficiência sensorial. de origem (6) . decodificação de palavras isoladas. pode-se dizer que “Dislexia é um dos vários caracterizada por dificuldades na tipos de problemas de aprendizagem. normalmente refletindo insuficiência do processamento fonológico. Portanto. o que pode afetar toda a escolaridade. prejudicando.Esquema 1: Habilidades de leitura e compreensão F L U Ê N C I A C O M P R E E N S Ã O P R E C I S Ã O EXTRAÇÃO DE SIGNIFICADO CONHECIMENTO DE MUNDO INFERÊNCIA A dislexia é um transtorno específico da leitura. apesar do disléxico conseguir interpretar textos oralmente. often including. These difficulties in single word decoding are often unexpected in relation to age and other cognitive and academic abilities. tal qual pode ser observado nos quadros abaixo (7). Leitura sob esforço. não automatizada. com pouca entonação. Tropeços na leitura de palavras longas e não familiares. De qualquer forma. persistência de fala infantilizada. Dificuldade em aprender e se lembrar os nomes das letras. Substituição de palavras por aproximação lexical atrapalhando a interpretação geral (começa a ler e adivinha os resto da palavra) 2 “Dyslexia is one of several distinct learning disabilities. há características gerais que costumam descrever comportamentos de indivíduos disléxicos. incluindo. um problema com a aquisição da proficiência da escrita e da soletração.” . usually reflecting insufficient phonological processing. que atinge cerca de 10% da população. a conspicuous problem with acquiring proficiencyin writing and spelling. INDICADORES Possibilidade de atraso de linguagem. Dificuldade em ler legendas. in addition to problems with reading. Dyslexia is manifest by variable difficulty with different forms of language. Falha em entender que palavras podem ser divididas (sílabas e sons). para além das alterações de leitura. Dificuldade na aprendizagem de música com rimas. ainda é grande. Necessidade do uso do contexto para entender o que está sendo lido. o grau de severidade e as estratégias compensatórias criadas para tentar superar a dificuldade diferenciam bastante uns dos outros. DESDOBRAMENTOS COM O AVANÇAR DA ESCOLARIDADE Leitura lenta. It is a specific language-based disorder of constitutional origin characterized by difficulties in single word decoding. Substituição de palavras no mesmo campo semântico (Ex: mosca/abelha). Além dos vários tipos de dislexia.lingüísticas variadas. they are not the result of generalized developmental disability or sensory impairment. normalmente. Falta de compreensão do enunciado prejudicando outras disciplinas. Dificuldade em nomeação. Palavras pronunciadas incorretamente.” 2 A heterogeneidade dentro deste grupo. DIFICULDADES BÁSICAS Dificuldade de alfabetização. Adivinhações de palavras. Leitura oral entrecortada. A estratégia logográfica seria caracterizada pela correspondência global da palavra escrita com o respectivo significado. Ellis e Young referem a existência de duas vias de acesso: a rota fonológica e a rota lexical (8) . K/g. A autora descreveu três estratégias. biologia . pelas quais as crianças passariam durante o processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Dificuldades em escrever palavras irregulares (sem correspondência direta entre grafema e fonema – “dificuldades ortográficas”). f/v. inversões de grafemas – (surdo/sonoro: p/b. Essas rotas podem ser relacionadas à descrição de leitura e escrita proposta por Frith (9) . implica no processamento fonológico através de informações baseadas na estrutura fonológica da língua oral. As palavras seriam memorizadas como se fossem fotografias. HABILIDADES Excelente compreensão para histórias contadas. Na estratégia alfabética se iniciaria a alfabetização .Dificuldade para aprender outros idiomas. ALTERAÇÕES NA ESCRITA Omissões. Criatividade. A rota fonológica é responsável por tarefas como leitura em voz alta e escrita sob ditado. Seria uma produção instantânea das palavras de acordo com suas características gráficas. Para compreender. trocas. As alterações nestas rotas indicariam o tipo de dislexia (fonológica ou lexical). trita ao invés de trinta) e outros desvios fonológicos. arquivos que armazenam informações acústico/ortográficas. semânticas e fonológicas. artes. não há uma leitura propriamente dita. o aluno deve se ouvir. Já a rota lexical funciona através da identificação direta da palavra com acesso direto ao significado. Dificuldade na expressão através da escrita. x/j. s/z. Habilidade para gravar por imagens. computação. Imaginação.t/d. É necessária a decodificação de estímulos gráficos. em sílabas complexas: paria ao invés de praia.. Facilidade com raciocínio. sem possibilidade de análise.. tais como: matemática. Boa performance em outras áreas. quando não dependem da leitura. Dificuldades na concordância ( sem que apresente oralmente) Dificuldade na organização e elaboração de textos escritos. resultando em questões referentes à metodologia. A maior parte dos disléxicos apresentaria uma dificuldade mais importante na estratégia alfabética. permite o acesso visual direto da palavra. o seu futuro depende de forma imprescindível do meio. leriam menos. menos automática. apresentando. à avaliação e aos aspectos sócio-emocionais. Apesar da dislexia não ser causada por fatores ambientais. • Segmentar uma atividade em sala de aula em várias outras Se o professor solicitar que o aluno apresente pouco a pouco suas atividades. então. agilizando a leitura e atingindo o significado mais rapidamente. um dicionário mental (ou léxico) com um número reduzido de palavras. silenciosamente.11) . Por este motivo. III – ADAPTAÇÕES DO PONTO DE VISTA DOS SERVIÇOS ESPECIALIZADOS Baseada na literatura científica associações (12. dará oportunidade do aluno ter mediação mais freqüente. a partir da capacidade de segmentar a palavra em fonemas. Considerando que a leitura é um dos instrumentos mais fortes na escolarização formal. de modo a .. em materiais disponibilizados pelas . comum no leitor competente que já tem experiência suficiente com a leitura para montar um dicionário visual das palavras (léxico).13. de acordo com a natureza das mesmas. A escrita de palavras novas e inventadas torna-se possível. o que demanda consciência fonológica. Por isso a necessidade de buscar adaptações. Essa fase permite a escrita de palavras irregulares.14) (10. A estratégia ortográfica.. propôs-se a divisão didática em tipos de adaptações. Outros utilizariam a estratégia alfabética. sobretudo. Quanto à metodologia. uma educação que reconheça as dificuldades específicas destes alunos muito poderá contribuir para o seu desenvolvimento. mas sob muito esforço. tal como será melhor descrito na próxima seção.propriamente dita. 3. mas é feita com apoio total na oralidade. ficando presos a uma leitura do tipo logográfica. Este fato acarretaria uma leitura mais lenta. Portanto. o que diminuiria as possibilidades de interpretação do texto lido. tudo o que depende desta tarefa pode ser prejudicado em conseqüência desta dificuldade de base. Alguns teriam dificuldade de chegar a esta fase.1. assim como na experiência clínica. 3. além de tornar a interpretação mais difícil. problema central de sujeitos com dislexia. em sujeitos disléxicos. até o fim. ao menos a priori. Em alguns momentos. mas é necessário avaliar caso a caso para escolher a melhor opção. mas buscar estratégias que favoreçam a aprendizagem de indivíduos disléxicos.. a avaliação poderá ficar incompleta. Além de disponibilizar textos sobre algum assunto. mas a palavra de ordem tem sido precaução (16) .organizar a informação e não correr o risco de manter uma atividade começada de forma errônea. A explicitação do ensino até o nível fonológico torna-se imprescindível. Um longo texto causa um efeito negativo se comparado a alguns textos pequenos. nada mais justo do que ter um período mais longo para realizar as avaliações. ou a compreensão do material poderá ser prejudicada. Também favorece a auto-regulação da atenção. criar formas esquemáticas de apresentar alguns temas (reforçando também o item anterior). • Aumentar os recursos visuais O uso de recursos visuais é altamente indicado por vários estudiosos do assunto. Há discussões freqüentes sobre o estilo de aprendizagem que eles possuem(15). • Gravar as aulas Considerando que a dificuldade é específica na leitura. uma vez que não se conta com uma intuição lingüística. • Alterar a metodologia em função da dislexia A modificação da metodologia é mais comumente proposta na classe de alfabetização. não é imperativo mudar a metodologia propriamente dita. a orientação apresenta ainda outro objetivo: favorecer a motivação. • Ampliar o tempo de elaboração das provas Se o tempo de leitura é menor. Se a atividade for de leitura. disponibilizar um material em que a entrada da informação possa se dar desta forma é extremamente útil. Caso contrário.. e que a compreensão em nível oral é boa. . Imagens podem proporcionar ao aluno disléxico uma nova perspectiva do assunto.2 Quanto à avaliação. por falta de tempo hábil. forma mais requerida em testes formais. a divulgação científica do assunto e conscientização quanto à natureza das dificuldades é importantíssima para que os colegas entendam que as adaptações feitas não são diferentes do uso de lentes corretivas para a visão (óculos) para quem precisa delas. • Que o professor leia oralmente as questões das provas A interpretação de enunciados pode estar comprometida pela dificuldade de leitura que envolve secundariamente a interpretação.3 Quanto aos aspectos sócio-emocionais. • Permitir saídas constantes da sala de aula Tendo em vista a grande demanda de energia das tarefas acadêmicas. para “recarregar as baterias’”.• Realizar provas orais em substituição às escritas Tendo compreendido que a leitura está primariamente prejudicada e que a interpretação é falha apenas quando depende deste instrumento. para não prejudicar momentos cruciais. mas não sob livre demanda. Portanto. • Permitir a leitura oral das questões durante as provas Alguns alunos conseguem compreender um texto lido oralmente. Por isso a orientação de que haja um leitor para esses momentos. e que a escrita nem sempre consegue expressar o conteúdo desejado... Entretanto nada compreendem ao ler silenciosamente. 3. • Explicar aos outros as dificuldades (vale à pena?) . A perda dessa informação central nas avaliações escritas pode levar ao erro. este ponto não seria nem levantado. alunos disléxicos poderiam sair mais freqüentemente de sala de aula. • Realizar adaptações sem que os outros se sintam prejudicados Se a população geral fosse consciente das dificuldades específicas dos disléxicos. pode-se propor que as avaliações sejam feitas oralmente. já que a leitura faz parte de boa parte delas. já que essa modalidade favorece o feedback auditivo (ouvir a si próprio através da retroalimentação da informação). mesmo em questões que o aluno domine tranqüilamente. Esses momentos deveriam ser regulares. o professor poderia mesclar os grupos de forma a atender a todos. Por outro lado. Independente da opção.4 . normalmente associados a adjetivos como “burro” ou “preguiçoso”. Dessa forma. 2000). o professor deve reforçar os pontos positivos. fazendo com que tais adaptações se tornem cada vez menos necessárias. indispensável para que o indivíduo disléxico ganhe a autonomia desejada. educadores e políticos vêm dando mais atenção ao impacto positivo de programas de intervenção precoce sobre possíveis problemas de leitura (National Institute of Child Health and Human Development. Isso acontece já que. 3. as adaptações também poderiam ser minimizadas. portanto. Estudiosos (17) chamam a atenção para o fato de que. o foco da dificuldade está no nível fonológico. é importante que se apresente um laudo comprobatório e uma declaração de acompanhamento especializado. • Interferir nas escolhas de grupos de trabalhos Considerando que cada aluno tem uma habilidade maior em uma área e que há alunos que podem ser tutores (aqueles que têm mais possibilidades de ajudar os que possuem dificuldades). respostas mais lentas. extremamente complicada será em uma língua estrangeira. explicar à turma do qual faz parte. O desafio é detectar essas dificuldades em crianças que não receberam ainda instrução formal. nas últimas décadas. o porquê de alguns comportamentos inesperados. aqueles que continuassem a mostrar dificuldades precisariam de intervenção adequada. IV . Por esta razão. para garantir os direitos. deve-se considerar que é necessário ter um olhar ainda mais cuidadoso tanto no ensino quanto na avaliação deste tipo de disciplina.ADAPTAÇÕES DO PONTO DE VISTA DOS PROFESSORES . Se a relação entre sons e sua notação na escrita já é difícil na língua materna. a fim de melhorar a auto-estima e fazer saltar aos olhos dos colegas estes pontos. Um tratamento apropriado é.A fim de evitar comentários maldosos. erros mais numerosos.Pontos adicionais O ensino da segunda língua é um problema persistente na vida de quem tem dislexia. Sob este prisma. pesquisadores. como discutido na seção anterior. . Porém. • Aumentar os recursos visuais Houve concordância absoluta na incrementação das aulas com recursos visuais. As opções pelas propostas de adaptações foram baseadas em autores diversos. difícil e impossível.. incluindo a primeira fase do ensino fundamental. foi utilizado como instrumento um questionário estruturado. sendo favorável a todos. promovido pelo Sindicato de Professores do Rio de Janeiro. Os resultados serão descritos a seguir. A partir dos itens do questionário. tornar conteúdos mais esquemáticos.?”. • Segmentar uma atividade em sala de aula em várias outras Os professores consideraram que é possível subdividir um conteúdo maior em vários segmentos. especialistas no assunto. conforme descrito anteriormente. Mudar uma metodologia em que há sucesso para a maioria em função de um aluno especificamente não foi julgado interessante.A fim de conhecer o ponto de vista dos professores. ensino público e privado. foi marcado um dia de discussão sobre algumas questões levantadas sobre as necessidades desses alunos em sala de aula. Também foi considerada a variável etapa educacional. mas que as turmas menores favorecem este tipo de intervenção individualizada..1 Quanto à metodologia. As possibilidades de respostas variavam de totalmente possível. As observações mais recorrentes foram em relação ao como isto pode facilitar outros alunos sem dislexia. A fim de abalizar tal discussão. 4. se ater a fases em que a maioria . em que houve uma palestra sobre dislexia com participantes de escolas do ensino infantil ao ensino médio. possível com adaptações. inicialmente foi organizado um simpósio sobre educação inclusiva em 2006. as perguntas realizadas aos docentes eram precedidas da expressão “É possível. • Alterar a metodologia em função da dislexia Sentiu-se a necessidade de esclarecer qual seria a abrangência de uma mudança metodológica. à avaliação e aos aspectos sócio-emocionais. segunda fase do ensino fundamental e ensino médio. abrangendo estas mesmas questões referentes à metodologia. Em um segundo momento (mês subseqüente).. na coordenação. Por exemplo. que domina completamente o conteúdo. mas tem dificuldade de exprimir suas idéias por escrito. As maiores alegações giram em torno de problemas disciplinares e o temor do mau uso do material em outro momento (processos judiciais). • Ampliar o tempo de elaboração das provas Considerado viável e de fácil adaptação ‘a estrutura escolar. Entretanto. • Gravar as aulas Este ponto foi um consenso: nenhum dos participantes. independente da etapa de ensino. depois de uma nova argumentação. Há propostas para a continuidade da prova ser realizada em outra turma. Em alguns casos. Considerou-se a possibilidade do professor ler o enunciado sob demanda do aluno que estiver apresentando dificuldade em um ponto específico.. é uma atitude que já é feita para todos os alunos das primeiras séries do ensino fundamental. No entanto. viáveis. como DVD. concordou com a viabilidade da proposta.2 Quanto à avaliação. julgou-se melhor iniciar a realização da avaliação junto com seu grupo. foram pontos considerados menores.dos alunos consegue passar mais rápido e fornecer idéias para que os conteúdos possam ser explorados por outros meios.. • Realizar provas orais em substituição às escritas Não é uma idéia facilmente assimilada para aplicação na rotina escolar. julgou-se possível em situações específicas. CD-ROM e visitas. Houve um grupo de professores que defendeu que toda a prova seja realizada neste ambiente alternativo. Fornecer propostas individualizadas só foi considerado possível nas primeiras séries do ensino fundamental e em grupos . aluno em prova final de uma disciplina que não seja de língua portuguesa. uma parte dos representantes das escolas consideraram mais difícil manter esta postura em séries mais avançadas. 4. • Que o professor leia oralmente as questões das provas Com algumas exceções. na biblioteca ou com um professor de apoio. nem como meio de passar indevidamente informações.• Permitir a leitura oral das questões durante as provas Em se tratando da leitura oral do próprio aluno. desde que fosse feita de modo discreto.. • Explicar aos outros as dificuldades (vale à pena?) As palavras de ordem neste ponto da discussão foram BOM SENSO. • Permitir saídas constantes da sala de aula Com limites: esta foi a opinião da maioria. Daí a necessidade de laudo profissional com diagnóstico e com a justificativa daquela acomodação específica. • Interferir nas escolhas de grupos de trabalhos Depende da situação: unanimidade entre educadores presentes. Neste caso. naquele momento de tratamento. Em contrapartida. vale a pena um esclarecimento a todos. mas a livre demanda para entrar e sair poderia causar uma dificuldade de se auto-regular nestas situações. o que prejudica a qualidade da letra ou a velocidade da escrita por dificuldade na recuperação da forma da letra ou do movimento grafomotor. sem prejuízo para o outro aluno. Mas todas sabem que isto não deve dirigir uma conduta séria.4 Novos pontos levantados • Alunos com questões grafomotoras. não houve resistências à proposta. • Realizar adaptações sem que os outros se sintam prejudicados Há receio dos outros alunos e dos pais se sentirem prejudicados pelas adaptações a disléxicos: isso é fato. alguns . se o aluno com dislexia assim o desejar ou se estiverem surgindo muitas questões do grupo. Se os pontos positivos dos alunos com dislexia estiverem sendo valorizados ao longo do processo escolar. 4. sua participação nos grupos não será necessariamente vista de forma negativa.3 Quanto aos aspectos sócio-emocionais. Uma parcela dos alunos com dislexia apresenta disgrafia de execução. Se não houver demanda para essa explicação. talvez ela não seja necessária naquele momento. A sobrecarga de informação pode cansar. 4. afinal ensinar as diferenças é também um papel da educação.. ao invés de escrita à mão. solicitar que o professor leia oralmente os enunciados dos testes ou permitir que o aluno as leia oralmente. pressupondo um movimento da escola na direção dos alunos. metodologia. . A evolução do conceito de educação especial. Portanto. foi realizada uma discussão baseada num questionário.professores sugeriram o uso de aparelhos digitais onde a informação pudesse ser digitada. o que seria uma postura protecionista. V . não se estaria objetivando o desenvolvimento da pessoa com dislexia. defendendo educação para todos. algumas escolas se propuseram a fazer somente as adaptações recomendadas diretamente pelos profissionais que estariam acompanhando o aluno. Por este motivo. além de dar o apoio necessário em casa. ampliar o tempo de elaboração das provas. as adaptações metodológicas e avaliativas em ambiente escolar se tornam necessárias. As propostas de adaptações para alunos disléxicos puderam ser divididas em três áreas. avaliação e aspectos sócio-emocionais. a saber. aumentar os recursos visuais. e a proposta da educação inclusiva. assim como a qualidade da escrita. Após elucidar professores quanto à natureza da dificuldade dos disléxicos e o porquê das adaptações. Caso contrário. • Aluno deve estar em tratamento. Os dados coletados revelaram disponibilidade por parte das escolas em cumprir grande parte das propostas. A parceria escola-família-tratamento(s) foi considerada indispensável no sucesso de inclusão desses alunos. o que prejudica todas as áreas que dependam da mesma. vêm assegurar essa possibilidade. A compreensão do material lido é afetada. Os profissionais escolares mostram o incômodo diante das famílias que solicitam as acomodações sem fazerem sua parte: levar a criança para fazer um diagnóstico e para o tratamento.CONSIDERAÇÕES FINAIS Indivíduos disléxicos apresentam dificuldade específica de leitura. que passou a abranger qualquer criança que tenha uma necessidade educativa especial. como segmentar uma atividade em sala de aula em várias outras. políticos.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. É clara a importância nos cursos de pedagogia. Goldfeld. Brasília: CORDE.2° edição. de M. tais adaptações só foram amplamente assimiladas na primeira etapa do ensino fundamental. e não imposições. M. Escrita e seus Transtornos. Torna-se clara a demanda de capacitação docente quanto à inclusão. Existe a necessidade de esclarecimento aos professores sobre as especificidades dos indivíduos que precisam de adaptações. mas como um direito. possam lhes parecer infundadas. 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Fundamentos em Fonoaudiologia .JANNUZZI. propondo uma parceria com os profissionais escolares. Apenas uma pequena parte dos professores mostrou abertura para as adaptações antes do ciclo de palestras e discussões. espera-se que com uma abordagem preventiva. no entanto. 2004. 2003 . o que se intensificou nas finais. VII . indivíduos disléxicos já tenham maior domínio sobre suas dificuldades nestas últimas etapas. não é suficiente. Gilberta S. diminuindo o percentual de aceitação nas séries mediais. br/sugestoes_para_professores. CEFAC [periódico na Internet]. (pp 301-330). London: Erlbaum. Sally.br/ 14 .4. In K. Dicas especiais da ABD.uk/aboutdyslexia. Dislexia em Sala de Aula: o papel fundamental do professor. Marshall.Lyon.The British Dyslexia Association.Mousinho.57:33-50. Annals of Dyslexia.Frith.Vloedgraven & Verhoeven Screening of phonological awareness in the early elementary grades: an IRT approach. 2008 [citado 2008 Ago 02] . 10. 5. 8. 16 – Mortimore. e Shaywit.6.org. 9. 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