Skinhead - Um modo de Viver.pdf

March 31, 2018 | Author: Fernando Meyer | Category: Entertainment (General)


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@pr_s_nt[ção“Primeiro, para ser skinhead você deve amar seus Dr. Martens, deve amar a música ska, deve ter a atitude correta, no coração e na cabeça, deve gostar de futebol, deve gostar de dançar mais do que outros de outras subculturas, e acima de tudo, penso que você deve ser antirracista!” Buster Bloodvessel, vocalista do Bad Manners (entrevista para o documentário Skinhead Attitude) Skinheads NÃO são racistas! Oi! Oi! Oi! Orgulho sem preconceito! Pela preservação da verdadeira e autêntica cultura Skinhead!!!! Skinheads NÃO são nazistas! Pesquise antes de julgar!!! Intro^ução O movimento Skinhead é o mais duradouro dentre todos os movimentos juvenis, tendo surgido no final dos anos 1960 e mantendo-se forte até hoje. Mas também é o mais odiado e o menos compreendido. Muitos esforços têm sido feitos para mostrar a verdadeira face de um skinhead e este livreto é mais uma dentre outras obras com este objetivo. Espero poder esclarecer, ou pelo menos fazer surgir a dúvida naqueles que creem tão firmemente que esses jovens de cabelo curto, botas e suspensórios não passam de gangues de neonazistas, ou um grupo de valentões racistas. Começarei aqui com uma pequena digressão histórica. Veremos depois, separadamente, as bases do movimento skinhead, ou seja, sua estética, sua ligação com a música e o comportamento que ele pressupõe. Por fim, veremos as dissidências do movimento, assim como o porquê do movimento ter se tornado tão infame perante os meios de comunicação e a sociedade em geral. ... No final dos anos 1950, um grupo de jovens britânicos começou um movimento juvenil bastante distinto: os mods. A palavra “mod” deriva de modernist, moderno, e eles se chamavam assim por serem fãs do jazz moderno, ou bebop. Os mods possuíam um visual bem alinhado, vestindo ternos italianos e sapatos caros. Eram fãs de camisas Ben Sherman e Fred Perry, e de jeans Levi. Eram inspirados pela boemia dos beats e pelo culto narcisista por boas roupas dos Teddy Boys, movimento juvenil britânico dos anos 1950. Outras paixões dos mods eram a música soul e R&B, e rachas de lambretas. Algumas bandas tipicamente mods também surgiram como os Small Faces, The Smoke, e principalmente, The Who. Em meados dos anos 1960, surgiu uma vertente dos mods, os hard mods. Eles começaram a usar o cabelo mais curto, e grupos de hard mods apresentavam comportamentos mais agressivos. Mais ou menos nessa época, uma grande leva de imigrantes jamaicanos chegava à Grã-Bretanha. Dentre eles estavam alguns dos rude boys, grupo de jovens que gostavam de usar terno, mas com a calça bem curta e eram fãs do ska, o ritmo jamaicano por excelência. É desta mistura de mods e rude boys que surge o movimento skinhead. Apaixonados por ska, rocksteady e reggae, adotam muitos dos padrões da moda mod, mas adaptados para seu estilo operário e da classe trabalhadora: adicionam o suspensório e trocam os sapatos caros por botas resistentes (a confortável e firme Dr. Martens rapidamente se torna a favorita). O cabelo bem curto, de modo que se possa ver o escalpo, se torna bem comum, nomeando o movimento (originalmente, não se usava o cabelo todo raspado). A paixão pelo futebol e pela cerveja se manifestou logo no início. As mulheres aos poucos começaram a fazer parte do movimento, e ficaram conhecidas como skinhead girls, ou skingirls. O auge do movimento ocorreu em 1969. Desde então, todos os skinheads tradicionais buscam resgatar o “Espírito de 69” da cultura original. Nos primeiros anos da década de 1970, os skins originais foram adotando outras características, e algumas categorias surgiram: os suedeheads (que deixavam o cabelo crescer um pouco mais, a ponto de poderem modelá-lo com um pente), os smoothies (que mantinham o cabelo longo, até os ombros) e os bootboys (com cabelo mediano, apaixonados por futebol e muitas vezes associados à confusões de torcidas organizadas, o hooliganismo). No final dos anos 1970, ocorreu o ressurgimento do movimento skinhead. Inspirados pela revolução social que estava sendo promovida pela música punk, mas revoltados pela comercialização pela qual ela estava passando, estes novos skinheads aderiram ao chamado street punk, o punk de rua, em oposição às bandas que se “vendiam” para as gravadoras. Uma das bandas pioneiras foi a Sham 69, famosa pelo grito “Skinheads are back!”. O street punk ouvido por skinheads ficou conhecido como oi!, e teve as bandas The 4 skins e The Cock Sparrer como grandes representantes. Ao lado destas bandas, aconteceu um renascimento do interesse pelo ritmo preferido dos skins originais: surgiu o 2 tone, uma nova onda de música ska, liderado por bandas como The Specials, Madness e Bad Manners. Foi nesta época que o movimento começou a ser corrompido, com o surgimento dos boneheads, conforme veremos mais adiante. Ao longo dos anos 1980 e 1990 observou-se a infiltração política em grupos skinheads, com grupos tão diversos quanto comunistas, anarquistas e fascistas assim se autodenominando. Ao mesmo tempo, os grupos de skinheads tradicionais nunca desapareceram. Graças aos esforços deles, a subcultura tradicional vem se recuperando e hoje está crescendo novamente no mundo inteiro. A internet e as mídias independentes têm ajudado muito a preservar e divulgar o movimento em seus moldes originais. O documentário document Skinhead Attitude (Daniel Schweizer, 2003) e o filme This is England (Shane Meadows, 2006) ajudaram a criar uma nova geração de skins conscientes e mostrar a diferença de skinheads e boneheads. É importante observar, no entanto, que o movimento de hoje hoje não é uma cópia ou um simulacro do movimento original, mas sim sua continuação natural, e é adaptado aos dias de hoje, hoje, amadurecido por seus percalços históricos. Mas sempre, eternamente, inspirado pelo Espírito de 69. E enquanto houver skinheads zelosos e orgulhosos de sua cultura e tradição, o Espírito de 69 viverá! Estéti][ O modo de se vestir é um dos pilares da subcultura skinhead, sua marca registrada e o modo como são mais prontamente reconhecidos. O cabelo curto para os rapazes é a distinção mais óbvia. Ao contrário do que muita gente pensa, os skinheads originais não usavam o cabelo completamente raspado, mas sim bem curto, herança dos hard mods, passando a máquina 1(ou mais curto), 2 ou 3. A cabeça raspada vai aparecer no ressurgimento da cultura no final dos anos 1970, e ainda é muito usada hoje em dia. Havia variações: na nuca, o corte podia ser arredondado ou quadrado, ou seguir a linha do cabelo. Não se usava barba, e o visual “barba por fazer” era inadmissível, mas era comum deixar uma costeleta que chegava até ao maxilar. Para as skingirls, o corte de cabelo mais comum era o “feathercut” ou “Chelsea”, bem curto no meio, mas com uma franja curta e cabelos bem mais longos nas laterais. O uso de botas e suspensório é obrigatório! A bota mais amada pelos skins é a Doctor Martens (também chamada de Doc Martens). Antes dela, usava-se botas de mineiros, militares ou com biqueira metálica. As cores mais populares são preto, marrom e vermelho-cereja. Originalmente se usavam botas com 8 a 10 ilhoses (par de furos), mas recentemente tem se usado também as com 12 ou mais ilhoses. Os suspensórios vêm em dois modelos, em X ou em Y, e ambos são usados indistintamente. Dentre as calças, as mais populares são os jeans e as calças “sta-press” (pronuncia-se como “stay pressed”, ou “permanece passada”, estilo de calça que não amarrota) da Levi, embora qualquer jeans básico sirva. É costume que a barra seja dobrada de modo que a bota possa ser exposta, lembrando o estilo dos rude boys de usarem calças curtas. Camisas polo e sociais são usadas de modo geral. As marcas favoritas são Ben Sherman e Fred Perry (herança dos mods), Lonsdale e Brutus. Camisões de lã eram usados às vezes no inverno. Jaquetas Levi 501, Harrington (mais leves) ou de aviador também são apreciadas. Crombies (capotes usados como sobretudo), especialmente da marca Abercrombie e chapéus “pork pie”, de aba estreita e revirada (copiados dos rude boys), eram por vezes usados. Skingirls usavam também minissaias. O livro “Skinhead”, de Nick Knight, nos dá os seguintes guias: AVISO IMPORTANTE: A estética skinhead, seu “bem vestir”, não tem a ver com a moda social, com os ditames da mídia ou da indústria. O rigor skinhead resiste à transitoriedade da moda. Um ditado skin que resume isto é: Dressing hard, dressing smart (ser duro no vestir é ter apuro no vestir), que justifica o rigor com que skinheads se vestem de acordo com a própria moda, e não segundo os interesses comerciais exteriores ao movimento. Conforme George Marshall nos adverte, “não existe lugar para o esnobismo num movimento que se orgulha de ser proletário” e não é por ter um guarda roupa mais caro que você é melhor do que alguém que só pode ter uma camisa Ben Sherman e um par de botas. O que importa “é o que seu coração veste”. Além do vestuário, tatuagens são há muito tempo uma constante no estilo skin. Embora nem todas as usem, algumas são bem comuns: um skinhead crucificado, simbolizando o sofrimento da classe trabalhadora, bem como a “crucificação” que os skinheads sofrem da mídia e da população em geral, responsabilizados pelos erros dos outros; teia de aranha, geralmente tatuada nos cotovelos, simbolizando que os cotovelos ficam muito tempo apoiados na mesa do bar, ao se beber cerveja (mas em alguns lugares há quem interprete como um símbolo racista ou de presidiário, portanto, cuidado ao escolhê-la); uma cruz, tatuada na mão, entre o polegar e o indicador, ou na testa, entre os olhos, começou a ser usada na segunda geração skin e pode ter o mesmo simbolismo do skinhead crucificado, ou simbolizar a cruz de São Jorge; botas, simbolizando o skinhead como orgulhoso de sua condição de proletário; uma andorinha, antiga tatuagem de marinheiros, simbolizando lealdade e fidelidade; um buldogue, personificação animal do Reino Unido; nomes de bandas, a palavra “skinhead” ou outras tatuagens também são muito usadas. Observe que as interpretações e significados de cada tatuagem podem variar muito. Músi][ O movimento skinhead é fortemente baseado no gosto musical, e não pode ser separado dele. Foi o amor aos ritmos jamaicanos ska e early reggae (o reggae antes da influência religiosa do rastafári) que reuniu os jovens jamaicanos e ingleses, o que foi o ponto de partida do movimento. Por isso, a frase de Roddy Moreno (vocalista da banda The Opressed) é absolutamente perfeita: “Nenhum dos verdadeiros skins pode ser racista. Sem a cultura jamaicana, os skinheads não existiriam. Foi a cultura deles, misturada com a cultura da classe operária britânica, que fez do skinhead o que ele é”. Laurel Aitken O ska surgiu na Jamaica no final dos anos 1950, pela fusão de ritmos caribenhos como o mento e o calipso com ritmos estadunidenses de origem negra, como o boogie e o R&B. As músicas precursoras são “Boogie in my bones” (1958) e “Boogie Rock” (1960) de Laurel Aitken e “Oh, Carolina” (1960), dos Folkes Brothers. Laurel Aitken se mudaria na década de 1960 para a Inglaterra e seria idolatrado por todas as gerações de skinheads. A maior parte dos clássicos dessa primeira geração do ska foi lançada pela gravadora Trojan. Até hoje, o símbolo desta gravadora é muito usado em bottons, camisetas e tatuagens pelos skins tradicionais. Dentre os maiores nomes do ska estão: Laurel Aitken, Desmond Dekker, The Maytals, The Pioneers, The Skatellites, Symarip, Prince Buster, The Upsetters e The Ethiopians. Músicas Essenciais: • • • • • • • • • • • • • • • Skinhead, Laurel Aitken Sally Brown, Laurel Aitken 54-46 was my number, The Maytals Skinhead Girl, Symarip Train to Skaville, The Ethiopians 007 Shanty Town, Desmond Dekker King of Ska, Desmond Dekker Skinhead Moonstomp, Symarip Long Shot Kick De Bucket, The Pioneers Reggae Fever, The Pioneers Mad about you, Laurel Aitken Israelites, Desmond Dekker Guns of Navarone, The Skatellites Retrn of Django, The Upsetters Skinhead Train, Laurel Aitken A segunda geração skinhead foi marcada pelo advento do gênero oi!, nome skinhead para o street punk. Teve como precursores Sham 69, Cock Sparrer e The Cockney Rejects, e se consolidou com The 4 skins, The Last Resort, The Business, The Blitz, The Opressed, Angelic Upstarts e muitas outras. Dentro da música oi! Muitas vezes são encontradas referências políticas, mas há bandas que tentam manter a pureza musical tradicional sem incluir tais referências. O oi! continua crescendo no mundo todo, e há até mesmo bandas que misturam ska e oi! Músicas Essenciais: • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Argy Bargy, Cock Sparrer Working, Cock Sparrer England Belongs to Me, Cock Sparrer Closedown, Cock Sparrer Oi! Oi! Oi!, Cockney Rejects Here we go again, Cockney Rejects Urban Soldiers, The Opressed Joe Hawkins, The Opressed Chaos, 4 Skins A.C.A.B., 4 Skins Angels with Dirty Faces, Sham 69 If the Kids are United, Sham 69 Hurry up, Harry, Sham 69 Working Class Kids, The Last Resort Johnny Barden, The Last Resort Guttersnipe, The Business Drinkin’ and Drivin’, The Business Birra, oi!, divertimento, Los Fastidios Guarda Avanti, Los Fastidios Cock Sparrer Paralelamente ao surgimento do oi!, vimos que o ska ressurgia com força total na forma de 2 tone, assim denominado graças à estampa xadrez, branca e preta, da gravadora de mesmo nome, simbolizando justamente o antirracismo. Os maiores nomes da 2 tone são The Specials, Madness, The Special A.K.A., Bad Manners, The Selecter e The Beat. Músicas Essenciais: • • • • • • • • • • • • Pressure Drop, The Specials A message to You, The Specials Ghost Town, The Specials Nite Klub, The Specials The Prince, Madness One Step Beyond, Madness Too Much Too Young, The Special A.K.A. Gangsters, The Special A.K.A. This is Ska, Bad Manners Buffalo Ska, Bad Manners Return of the Ugly, Bad Manners Save it for Later, The Beat No Brasil, a cena oi! e ska é bastante underground, sendo divulgada exclusivamente pela mídia independente (internet, fanzines, boca a boca, etc.). A banda Paralamas do Sucesso lançou algumas boas músicas no ritmo ska que devem ser conferidas (por exemplo, “Ska”, “Lourinha Bombril”, “melo do Marinheiro”, “Óculos”). A título de exemplo, aqui está a letra de “Não desista”, da banda Escuderia, fundada em Recife, em 2009: “Ouça nossas botas marchando pela cidade, nosso orgulho, nossa força e a nossa lealdade. Vivemos numa sociedade ignorante a alienada que nos crucifica, nos apedreja sem saber de nada, não nos derrubarão pois iremos resistir, lutaremos contra isso, não iremos desistir. Não desista Oi! Oi ! Nunca abra a mão de tudo aquilo que conquista. Não desista! Oi ! Oi ! Sua imagem não foi feita pra ser capa de revista! Vemos a mídia querendo nos derrubar com suas falsas ideias sempre a nos julgar, estão nos derrubando nos jornais e na TV, usando a nossa imagem pra poder se promover, já estamos fartos disso, todos temos consciência de que não somos seu conduto pra te dar mais audiência, querem acabar conosco, vocês podem até tentar, mas nada do que façam vai fazer eu me entregar!!!” Comport[m_nto Ser skinhead vai muito além de adotar um visual ou gostar de certos tipos de música. É uma maneira de ser, um modo de viver. Mas o que fazem os skinheads? Diferentemente do que muitos pensam, os skinheads não são gangues de arruaceiros que se divertem espancando mendigos, negros, gays, estrangeiros, nordestinos, ou outro tipo de gente. São homens e mulheres, de todas as raças, origens, idades, opções sexuais e convicções, unidos por uma cultura comum que os aproxima e os enche de orgulho. Skinheads e skingirls adoram agitar. Depois de uma semana de trabalho duro, encontram prazer em se reunir nos fins de semana para dançar durante uma noite inteira, dar um role pela cidade, assistir um jogo de futebol e torcer muito. Tudo regado a muita cerveja, é claro! A cultura skinhead coloca grande ênfase na questão do orgulho. Andamos de cabeça erguida, mesmo sendo pobres, mesmo não tendo muito, temos orgulho do suor de nossos rostos, de nossas botas e suspensórios, orgulho de nossos amigos e de nossa família. Mas e a questão da violência? Este é um ponto delicado que deve ser bem pensado e discutido. Skinheads não são anjos. Quando alguém se torna um skinhead, não há nada que exija de você tornar-se uma pessoa boa. Mas, e isso é muito importante, não há nada que faça você tornar-se mau. Assim como há roqueiros bons e maus, rappers bons e maus, você encontrará skinheads bons e maus e todas as outras variações na escala moral. Simplesmente porque é um grupo formado por seres humanos, de todos os tipos. A mídia distorce informações e tenta a todo custo taxar os skinheads como jovens baderneiros. Isso não pode continuar. Para cada skinhead problemático que recebe cobertura da imprensa, há centenas de pessoas, homens e mulheres, trabalhadores que curtem sua cultura e vivem sua vida sem atrapalhar a de ninguém. Dois fatos ajudaram a consolidar a visão de rebeldes sanguinários: o paki bashing (“malhação do paqui”) e associação midiática dos skins com os hooligans. O paki bashing foi a perseguição que os paquistaneses sofreram no começo dos anos 1970 na Inglaterra. Muitas vezes, podia-se encontrar skinheads entre os grupos de perseguidores, o que fez a imprensa concluir que todos os skinheads eram racistas e contra a imigração. Nada poderia estar mais invertido. Para começar, o ódio contra os paquistaneses foi um sentimento generalizado sentido por ingleses da classe média e operários, gerado principalmente graças à notícias sensacionalistas publicadas pela imprensa marrom inglesa. Muitos se envolveram com o paki bashing. Dentre eles, alguns skinheads, e dentre eles, skinheads negros e jamaicanos! O fato de jamaicanos também perseguirem os paquistaneses demonstra que este fenômeno deplorável não poderia ser simplesmente explicado como ódio racial ou ódio a imigrantes! Os skinheads que eram contra o paki bashing jamais tiveram espaço nos jornais para defender sua posição. Com o hooliganismo, ou seja, o comportamento destrutivo e violento envolvendo torcidas de futebol, ocorre algo parecido. O termo já era usado desde o final do século XIX, e os hooligans já haviam aprontado muito décadas antes de aparecerem os primeiros skins! O que ocorre é que, como fãs de futebol, é certo que alguns skinheads pertencem a torcidas organizadas e é certo que alguns se envolvem em disputas violentas e podem ser considerados hooligans. Mas isso também ocorre com fãs de futebol que não são skinheads. Na verdade, a imensa maioria dos hooligans e arruaceiros do futebol não escuta ska ou oi!, não usa suspensórios, não se importam com Dr. Martens, enfim, não tem nada a ver com a cultura skinhead! É o que eu disse antes, ser skinhead não determina suas escolhas, não faz com que você se torne um arruaceiro. Skinheads gostam de sua postura durona, e grupos rueiros eventualmente têm de lidar com a violência. Não porque são skinheads, mas porque esta é a realidade da rua. Nada há de violento na subcultura em si, e o movimento não deve responder por atos de indivíduos desprezíveis que têm a infelicidade de se denominarem skinheads. Tais indivíduos existem em todo lugar, e condenar toda a cultura por causa deles seria o mesmo que dizer que todos os padres são pedófilos, todos os advogados são desonestos, todos os políticos são corruptos, etc., apenas porque uma pequena parcela merece estes rótulos. Políti][ _ ^issi^ên]i[s Chegamos ao ponto mais triste de nosso relato: como a política veio se infiltrar no movimento skinhead, na tentativa de macular algo que era puro. A história começa com uma banda inglesa de street punk, inicialmente apolítica, a Skrewdriver, muito popular entre os skinheads da época. Após um hiato, esta banda volta à cena influenciada pelo partido de extrema direita britânico, o National Front. Aos poucos, a banda vai influenciando fãs para que adotem ideias da extrema direita, e logo o patriotismo, a rejeição à imigração e o racismo começam a fazer parte das letras da banda. Isto gerou um cisma imediato: é impossível ser racista e skinhead! Os skinheads repudiaram as ações da Skrewdriver, e os fãs desta, por outro lado, começaram a se distanciar do movimento original (eles não ouviam mais ska ou reggae, e o visual também foi alterado, sendo adotadas calças e jaquetas militares, e coturnos de cano longo, quase até o joelho). Ao se distanciarem do movimento, os skins passaram a chamá-los de boneheads (algo como cabeça-dura ou cabeça-oca). Para a mídia, no entanto, todos eram skinheads e logo, apenas aqueles com aspirações nazistas ou racistas ganharam o “status” de skinhead. Será apenas a partir de meados dos anos 1980 que a situação começa a se reverter. Para mostrar ao mundo que a imagem de um skinhead racista é ridiculamente contraditória, um grupo de Nova Iorque fundou a S.H.A.R.P. (Skinheads Against Racial Prejudice, Skinheads Contra o Preconceito Racial), para que todos vissem estampados em suas camisas, jaquetas e bottons que o movimento era antirracista. A banda britânica The Opressed começou a divulgar a ideia da SHARP na Europa e a ideia rapidamente ganhou popularidade. Como era apolítica, no começo dos anos 1990 veremos um fenômeno diametralmente oposto ao que ocorreu no fim dos anos 1970: grupos de extrema esquerda, incomodados com o fato da SHARP ser apolítica, se aliaram a anarquistas e fundaram a R.A.S.H. (Red and Anarchists Skinheads, Skinheads comunistas e anarquistas). Não apenas antirracistas, estes grupos são antifascistas e se envolvem em confrontos diretos contra boneheads, fazendo da cidade o campo de batalha entre esquerda e direita, e esquecendo-se se cada vez mais do verdadeiro Espírito de 69. No Brasil ocorreu algo bastante curioso. No início dos anos 1980, em São Paulo, uma dissidência punk influenciada pelo street punk, mas não ligada a cultura skinhead original, fundou o grupo Carecas do Subúrbio, e logo veio uma dissidência, os Carecas do ABC, ABC, depois se espalhando para outras regiões do Brasil. Inicialmente baseados no culto à violência e no patriotismo, o grupo é inspirado no integralismo, o fascismo brasileiro, e apesar de ser antirracista, é contra homossexuais, imigrantes e consumo de drogas, drogas, possuindo uma ideologia confusa. Apesar de taxados de skinheads, jamais representaram a cultura skinhead e não são dignos desse nome. Símbolo da RASH Felizmente, a cultura skinhead original jamais morreu. A partir do começo dos anos 2000, vários skinheads e skingirls tradicionais têm mostrado as caras e revelado para todos suas verdadeiras raízes, seu orgulho sem preconceito, sua cultura e sua tradição. E o movimento está aumentando! O Espírito de 69 não só não morreu, como fica mais forte a cada dia. Vida Longa ao Espírito de 69! Im[g_ns P[r[ t_rmin[r... Para terminar, gostaria de agradecer a todos os que mantêm o Espírito de 69 vivo. Em especial, meu amigo Daniel Robson que me ajudou muito neste livrinho. Continuem lendo e estudando. Recomendo muito o documentário Skinhead Atitude, e o livro “Espírito de 69 – a Bíblia do Skinhead”, de George Marshall, que apesar de ser muito criticado por enfatizar a violência, permanece um clássico. Gostaria de agradecer a todos os autores das fotos deste livro. Encontrei-as pela internet, e não sei de quem são. Elas não pertencem a mim, e posso creditálas ou retirá-las se alguém me enviar essas informações. Algumas são de Gavin Watson, do livro Skins, livro obrigatório para todo skinhead que se preze. A gente se encontra por aí, num bar, pub, ou durante alguma partida do Glorioso. Espírito de 69, porra!!!
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