Semantica e Aprendizagem

March 22, 2018 | Author: silvinholira | Category: Linguistics, Truth, Logic, Grammar, Word


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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife XXXXX Azevedo, Luciano Taveira de Letras: Semântica e Pragmática/ Luciano Taveira de Azevedo. - Recife: UPE/ NEAD, 2011. 60 p. il. ISBN XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX. Universidade de Pernambuco - UPE. II. Título. CDU XXXX Universidade de Pernambuco - UPE Reitor Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Vice-Reitor Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque Pró-Reitor Administrativo Prof. José Thomaz Medeiros Correia Pró-Reitor de Planejamento Prof. Béda Barkokébas Jr. Pró-Reitor de Graduação Profa. Izabel Christina de Avelar Silva Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim Pró-Reitor de Extensão e Cultura Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Prof. Renato Medeiros de Moraes Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Profa. Waldete Arantes Profa. Silvania Núbia Chagas Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti Profa. Eveline Mendes Costa Lopes Profa. Geruza Viana da Silva . Prof. Valdemar Vieira de Melo Igor Souza Lopes de Almeida Prof. Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Rafael Efrem Renata Moraes Rodrigo Sotero Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão Gerente de Projetos Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de Suporte Edição 2011 Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010 Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664 . os conceitos centrais e um conjunto de fatos a que as disciplinas Semântica e Pragmática se aplicam. Avaliação de competências. Não obstante a pluralidade de definições a que a Semântica se presta. Campos semânticos. Como o objetivo do livro não é resolver as divergências e controvérsias existentes no campo. No que diz respeito à Pragmática não é diferente. As semânticas estrutural e cognitiva. Neste livro. ou seja. e poderíamos nos antecipar dizendo que a Pragmática é o estudo da língua relativa aos usuários. mas dar uma noção geral dos conceitos basilares que orientam os estudos sobre o significado. Sabemos que essa definição é controversa e não dá conta dos fatos relativos ao sentido estudados dentro do campo da Semântica. Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária | 60 horas Ementa Semântica da palavra. antonímia e polissemia. . do texto e do discurso.5 Semântica e Pragmática Prof. Semântica e pragmática. podemos defini-la. Trocando em miúdos. podemos concluir dizendo que tanto a Semântica quanto a Pragmática estão interessadas nos processos de significação. A semântica do enunciado e da enunciação. genericamente. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. os falantes que se engajam em eventos comunicativos concretos e colocam a língua em funcionamento. Enunciado e Enunciação. Apresentação da Disciplina Estimado(a) estudante. preferimos abandonar essa questão e lançar mão da definição mais genérica. como a ciência que estuda a significação. Planejamento do ensino. Sinonímia. Enfoque epistemológico dos conteúdos. apresentamos a você as definições. Sentido e referência. Objetivo Geral Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acerca dos processos semânticos e pragmáticos envolvidos na construção do sentido. mas os investigam mobilizando diferentes perspectivas teóricas. . faremos uma breve reflexão acerca da importância do estudo da Semântica. como a Psicologia. Sociologia. a Semântica Argumentativa e a Semântica Cognitiva. a fim de darmos um panorama do caminho percorrido pela disciplina até atingir o estatuto de ciência. • Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos linguísticos agenciados na produção de sentido. Profº Luciano Azevedo . a compreensão do objeto da Semântica a partir da vertente teórica em que está inserido. De início. Psicanálise. campo da Ciência Linguística relacionado ao estudo do significado. Bom estudo. esperamos possibilitar a você. Em seguida. Durante este capítulo. apresentaremos os desenvolvimentos históricos e principais correntes teóricas da Semântica. Por fim. estimado(a) estudante do Curso de Letras. Filosofia. destrincharemos as três linhas teóricas que se destacam nesse campo dos estudos sobre o significado que são: a Semântica Formal. Assim. • Refletir acerca dos processos de construção do sentido a partir das perspectivas teóricas concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática. Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária | 15 horas Objetivos Específicos • Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática linguística. entre outros.Capítulo 1 1 Capítulo 7 Semântica: Perspectivas Teóricas Prof. Introdução Caríssimo(a) estudante. apresentaremos um pequeno excurso histórico da disciplina Semântica. uma vez que a questão do sentido tem ganhado centralidade em diferentes campos do saber. reflexões acerca Embora essa . Oliveira (2001:11) justifica a relevância dos estudos em semântica formal dizendo que “a reflexão formal sobre o significado tem importância porque auxilia a formação do cidadão. independentemente de ele estar diretamente interessado na descrição de línguas naturais. Por Que Estudar Semântica? Começamos com essa pergunta porque a questão do sentido é tão evidente para os usuários da língua portuguesa que o fato de transformá-lo em objeto de estudo parece não se justificar.. e não outros. a semântica nos auxilia na compreensão dos processos envolvidos na construção dos sentidos produzidos nas diversas práticas de interação verbal. de modo que a abordagem do sentido é determinada pelo lugar teórico-metodológico no qual o estudioso pisa. até a crença de que qualquer tradução é impossível e para compreender a significação de uma palavra ou frase se exige a participação direta em atividades de um determinado tipo (Ilari. nossa pretensão caminha na direção de motivá-los a partir do objetivo que lastreia a própria Semântica e é compartilhado entre os semanticistas. Oferecendo um amplo repertório teórico ao estudo do sentido. A quest reflexões de Santo também ocupará as ) que desenvolveAgostinho (354-430 bastante acurado rá um pensamento sinal. Desse modo. Nessa direção. isa co e signo. foram os is sistemática ao uma configuração ma e sua relação com problema da língua do significado ão o mundo.” Essa fala dos autores nos dá uma noção da diversidade de definições que são atribuídas ao significado e de como essas definições pendulam entre uma visão que afirma que a língua é uma etiqueta posta sobre as coisas do mundo a outra que vê o significado como resultante de um processo que implica o engajamento do falante em atividades específicas. serão explicitados. Ilari e Geraldi (1990) afirmam que a semântica constitui um domínio de investigação de limites movediços. a semântica contribui efetivamente para a construção de um cidadão crítico e engajado no processo de construção social. Uma vez que os sentidos não estão dados nem há uma relação direta entre língua e mundo. VOCÊ SABIA? icado remonta à O interesse pelo signif e já podemos enépocas muito antigas . o processo de produção de sentido receberá explicações diferentes porque diversos são os lugares de onde parte o olhar do pesquisador. até formas de relativismo extremado. Antes disso. Partindo do que foi desenvolvido até aqui. segundo as quais é a estrutura da língua que determina nossa capacidade de perceber o mundo. desde a crença de que a significação de uma expressão fica cabalmente caracterizada pela tradução em outra expressão. entre os estóicontrar no século I a. Isso nos faz concluir que é a partir da escolha teórica feita pelo semanticista que determinados aspectos dos processos de significação.C relação entre da cos. Fazendo isso. enquanto artefatos simbólicos que circulam socialmente. Essa formação do cidadão a qual a autora se refere encontra-se estreitamente ligada à interpretação dos textos. . sejam eles verbais ou não-verbais. decidimos iniciar nossa conversa sobre a Semântica apresentando algumas motivações para seu estudo. significado to parte das preorelação já tivesse fei de Platão e Ariscupações filosóficas óicos que deram est tóteles. Nós veremos como isso acontece nos tópicos subsequentes. as posições sobre o que é significado são inúmeras e extremamente matizadas e vão desde o realismo dos que acreditam que a língua se superpõe como uma nomenclatura a um mundo em que as coisas existem objetivamente.8 Capítulo 1 1.significatre en ão acerca da relaç do-referente. Esse objetivo não é outro senão explicitar os mecanismos envolvidos no processo de produção do sentido.Geraldi. Assim sendo. não temos a pretensão de convencê-los acerca da importância do ensino-aprendizagem de uma disciplina cujo objeto de estudo é o sentido: objeto evidente nas trocas mais cotidianas da produção de linguagem. Um dos aspectos que prevalece acerca da importância dos estudos semânticos é oferecer ao falante ferramentas que possibilitem uma leitura mais acurada dos textos com os quais se depara. podemos refletir melhor acerca da importância dos estudos semânticos para a interpretação das diversas linguagens. 1990:6). 2. no congresImagine que a lei aprovada sa situação: Nes (1). par ee5 idad de s é falsa. São elas: 1. a fim de entendermos o seu estatuto atual e as perspectivas que abre para o futuro. uma vez que foi M. devem ser extraídas da “observação” dos “fatos” de sentido (TAMBA-MECZ. caso seu o a tar. você sentaapo de de lida sibi pos a únic Logo. 2. que ter vai o entã o). Caminhos da Semântica Entender os desdobramentos históricos de uma disciplina – neste caso. Trier em 1931. próprias dos “fenômenos” semânticos. (. interessa aos semanticistas ligados a essa corrente as leis intelectuais gerais que presidem as significações.)Se você tem 75 ano ar torn a par . mas cuja origem e finalidade se encontram na atividade intelectual dos ho- .Capítulo 1 2. a corrente da modelização das línguas. Logo. serv de s ano 30 de também um mínimo ) -14 1:13 Oliveira (200 As publicações fundadoras que lançam as bases desse período incipiente da semântica são: As leis intelectuais da linguagem. Spencer e C. Bréal a usar pela primeira vez o termo semântica como ciência do significado. Conhecer esses movimentos e seus respectivos quadros teóricos é compreender como a questão do significado foi tratado em determinada época e por correntes específicas. pensando esse caminho em seus momentos de confluência e ruptura em relação às definições de significado e às formas de descrevê-lo. 60 anos de idade e 40 de serv aposense a par s ano o trabalhar mais cinc a em (1) tenç sen a .1. Darwin por volta dos anos 1857-1859” (Tamba-Mecz. iii) essas leis. A Perspectiva Estrutural Ainda conservando aspectos do período anterior. 2. 65 ” iço. a semântica tem seus princípios revistos e colocados sob um outro ponto de vista que é o da língua como sistema que só conhece sua ordem própria (CLG. 2. Esse deslocamento promove uma virada na concepção de significado. A Perspectiva Evolucionista 9 SAIBA MAIS! o esse traba“Vejamos um exemplo de com emos intuitisab lho de explicitar o que já nosso cotiem o cad apli vamente pode ser diano: 30 anos de (1) Aposentadoria: 65 anos e serviço. a semântica – possibilita situar os interesses dessa disciplina em relação ao passado. podemos circunscrever para a semântica três correntes teóricas que nos dão um panorama bastante amplo dos objetos construídos dentro dos campos que se desenvolveram em torno da questão do significado. pois em vez de considerar que a significação é uma propriedade inerente às palavras e a seus ajuntamentos. mos diga de serviço (registrado. Die Geschichte eines sprachlichen Feldes (O vocabulário alemão no campo semântico do entendimento. mas agora sob a influência da onda estruturalista que se iniciou com a publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure em 1916. esperar o seu centenário para e e de 30 idad de s Com menos de 65 ano aposenta. a corrente da linguística estrutural. Escrito por J. escrito por M. ii) essa evolução é comandada por “leis” gerais. em so seja a descrita Se você tem tar? sen apo se vai que quem é vai ter que iço. A história de um campo linguístico). no mínimo. Bréal em 1883. a citada publicação trata dos campos semânticos. Assim. A perspectiva evolucionista nasce da ruptura que M. A segunda publicação também lança os alicerces para o desenvolvimento de um campo científico que tem como objeto o significado: Der Deutsche Wortschatz im Sinnberzirk der Verstandes. Nesse sentido. Bréal opera entre “a noção retórico-lógica de mudança de sentido ao novo conceito de evolução – elaborado por H. 2004).. 2006:17). Essa publicação é considerada a “pedra fundamental” da disciplina semântica. sua ee idad de s ano doria é ter. se não bém tam de trabalho. 2006). a corrente da lingüística comparada de cunho historicizante e evolucionista. a doutrina compartilhada entre os semanticistas dessa época assentar-se-á sobre três pontos: i) A semântica tem por objeto o estudo da “evolução” das significações nas línguas. açã situ a l mais plausíve se aposentar.. Baseado nos pressupostos teórico-metodológicos das ciências-piloto da época. 3. por isso. 2006:27) (Grifos da autora). identificou-se o sentido das relações internas a um sistema que liga os diferentes elementos (Tamba-Mecz. veremos que os formalistas Saussure e Chomsky passam a questão significado/realidade para os filósofos e afirmam que cabe à filosofia resolver as questões que envolvem a relação entre língua e mundo. em 1980. posteriormente. O Período das Teorias Linguísticas Os três campos de trabalho que se encontram nesse período da história dos estudos semânticos serão desenvolvidos mais detidamente nos próximos sub-títulos e. ou melhor. Há uma relação direta. porém não referem” (Grifo da autora). questões relacionadas ao significado foram tratadas pelos filósofos gregos do tempo de Sócrates e. optamos por uma apresentação breve desse período. no desenvolvimento da gramática tradicional tornou-se hábito distinguir entre o significado da palavra e a “coisa” ou “as coisas” por ela “denominadas. Daí surge a seguinte questão: a relação entre “palavra” e “coisa” denominada. procura explicar a questão do sentido por meio de processos cognitivos. Todo o A é B Nessa abordagem. 2. semântica que liga as palavras às coisas é a de ‘denominar’” (Lyons. Após a leitura atenta. apenas nomeia. Todo o C é A Logo. 57).) e não com denotação” (Araújo. entre “nomes” e “coisas” é de origem natural ou convencional? Ainda segundo Lyons (1979). faça um breve resumo dos sub-títulos procurando ater-se aos conceitos e ideias centrais. de Methaphors we live by de George Lakoff e Mark Johnson. a palavra não refere. 1979:429). mas decorre das relações opositivas estabelecidas entre os signos linguísticos no interior do sistema. significam. 2004. O segundo campo reúne os trabalhos do linguista francês Oswald Ducrot e é denominado Semântica Argumentativa. Esse segmento teve seu marco inaugural com a publicação. querem dizer algo. os estudos semânticos desenvolvidos pelos filósofos gregos e que se encontram na base da gramática tradicional referem-se à relação entre “nome” ou “palavra” e “coisa” denominada. 2. A terceira orientação de estudos faz parte desse período e. entre outros. Veja o exemplo: Relação entre as proposições Premissa maior Premissa menor Conclusão Todo homem é mortal.3. denominada de Semântica da Cognição. a significação não provém de uma relação direta entre a palavra e a “coisa” no mundo. isto é.. o sentido resulta das relações estabelecidas entre os signos no sistema da língua em seu estado sincrônico. Ou seja. “uma vez que a linguística de veio estruturalista ocupa-se com a designação (. De acordo com esse postulado de base aristotélica. Todo o C é B Se considerarmos apenas as relações lógicas existentes entre as premissas. algumas relações de significado entre sentenças são autônomas e se dão independentemente dos conteúdos das sentenças. chegaremos à conclusão independente do significado de homem ou mortal e é por isso que essas relações são lógicas “ou for- . ou seja. aquela desenvolvida pelo filósofo grego Aristóteles. termo a termo entre “palavra” e “coisa. O primeiro deles é denominado Semântica Formal e seus princípios teórico-metodológicos estruturam-se entre 1963 e 1982 sob a influência da gramática gerativa desenvolvida pelo linguista americano Noam Chomsky. denomina. ATIVIDADE | Leia o capítulo 2 (A significação linguística: lugar e características dos sentidos na língua) do livro A semântica de Irène Tamba-Mecz (ver referência bibliográfica). Segundo Araújo (2004:35): “os signos designam.10 Capítulo 1 mens. nessa perspectiva. A Semântica Formal Como já dissemos em outro lugar. 2006:19).. Assentada na lógica aristotélica. Platão.3. a Semântica Formal “descreve o problema do significado a partir do postulado de que as sentenças se estruturam logicamente” (Oliveira. ou seja.” Nesse sentido.” Se dermos um salto histórico e também epistemológico.1. Para esses filósofos. Sócrates é mortal. De acordo com essa perspectiva de estudos semânticos. “a relação Sócrates é homem. Em (A). acerca da referência de uma sentença. De saída.. queremos esclarecer que a referência de uma sentença tem a ver com seu valor de verdade. ou seja. Tomando como escopo as relações lógicas estabelecidas entre as sentenças. pois se referem a um valor de verdade. 2006. Introdução rtez. proponho que diga qual a referência de: a capital da Inglaterra. Vamos pensar o seguinte: se o conceito de significado tem a ver com o de referência. M. veiculam sentidos diferentes. de modo que a veracidade daquilo que afirma deve ser verificada no mundo. em linguag Lógica e filosofia da Cultrix. se o sentido é o caminho que nos permite alcançar a referência. M. e tica ân estões de sem uma introdução a qu . o sentido possibilita alcançarmos um objeto no mundo. Nessa direção. 2006:21). In: MUSS OLIVEIRA. se por um lado. Semâ de do inas: SP: Merca ve introdução. vol. H. temos uma verdade óbvia. pois agora podemos nos referir ao mesmo objeto – nesse caso. Em seguida. “essa sentença pode ou não ser verdadeira porque seu valor de verdade (. nosso conhecimento sobre o mundo aumentou. Essa distinção entre as noções de sentido e referência será indispensável para dar conta do problema seguinte: A. Voltemos ao problema colocado acima. xto: Significação e conte MOURA. concluímos que a estrela da manhã denomina o mesmo objeto que denominamos estrela da tarde. Isso será sempre verdadeiro.Capítulo 1 mais. assim. 2001. o verdadeiro ou o falso. o planeta Vênus . o lógico alemão Gottlob Frege (1848-1925) abre caminho dentro do campo da semântica para a reflexão sobre a distinção entre sentido e referência (OLIVEIRA. Oliveira (2001:92) salienta que “dar significado a uma sentença é estipular em que condições ela é verdadeira. porque podemos representá-las por letras vazias de conteúdo. Londres é a capital da Inglaterra. Co : ulo Pa o Sã . R. uma vez que o verbo ser estabelece que um objeto é idêntico a si mesmo. F. após verificarmos. . pois aquele só nos permite conhecer algo se corresponde a uma referência. mas é só a partir da verificação das condições em que uma sentença pode ser verdadeira que podemos avaliar se essa sentença é verdadeira ou falsa. sentido e a referênc FREGE.de duas maneiras diferentes. Desse modo.” 11 A diferença entre as sentenças (A) e (B) só pode ser explicada se distinguimos sentido de referência. quando descobrimos que dois caminhos levam à mesma referência.. Florianó ia. então aprendemos que a estrela da manhã é a estrela da tarde e. 1978. Semântica. por outro lado. aprendemos algo sobre esse objeto. em (B) temos uma sentença em que o verbo ser estabelece uma relação de igualdade. A estrela da manhã é a estrela da manhã. mas que descrevem as relações de sentido” (Oliveira. No entanto. não há necessidade de verificar sua veracidade em relação ao mundo. 06 20 r.” ATIVIDADE | Para exercitar os conceitos de sentido e referência. 2001). Para Oliveira (2001:94). Camp Letras. sobre o mundo (Oliveira. ula polis: Ins pragmática. então as sentenças (A) e (B) são idênticas. B. descreva a cidade de Recife por meio de diferentes sentidos. P mínios do : ca ísti à Lingü BENTES. Sobre o : ulo Pa o Sã . dizer sentido é dizer referência. rereferência no quadro : a dos seguintes textos comendamos a leitur ALIN. 5.) depende das circunstâncias e do mundo em que é proferida. essas sentenças se referem ao mesmo objeto. R. 2006:21).. B. SAIBA MAIS! r a questão sentido/ Para entender melho teórico fregeano. 2. ed e fronteiras. Assim. Londres. ntica Formal: uma bre OLIVEIRA. 2006:20). ou seja. G. No caso de (A). Se. . A estrela da manhã é a estrela da tarde. pois aquilo que afirma independe dos fatos do mundo (Oliveira. pois. adquirir um conceito seguro sobre ele (Oliveira. 2001:26). Assim. então a pressuposição não remete a algo externo à linguagem.12 Capítulo 1 2. esses parâmetros que estão implicados no processo enunciativo e que são descritos como o locutor. 2008). o conceito de verdade. mas ilusões criadas pelo próprio jogo da linguagem. o interlocutor. 2006:27). a partir dele. o lugar e o momento são construídos no interior da frase e sua natureza é estritamente lingüística. 63 Para Ducrot. enquanto que o enunciado seria a realização histórica da frase. Para chegar a essa ideia. recomendo as e enunciação em Du leituras: e o dito. Assim. V. O conceito de polifonia levará a outro. um enunciado pode encerrar várias vozes. de acordo com o autor. Campinas: DUCROT. conforme os princípios da Semântica Formal. a linguagem é um meio para alcançarmos uma verdade que está fora da linguagem. sua abordagem é “fundamentalmente estrutural à medida que considera que a língua é passível de uma análise lógica diferente daquela que a reduz a operações de verdade e falsidade” (Flores. M. Pensando esse processo enquanto um aparelho formal de enunciação. 2008. . IRA. Afastando-se dessa perspectiva teórica que vê o sentido como caminho para alcançarmos uma verdade 1 Lingüista e gramático. de modo que não são objetos que se encontram fora dela. o primeiro. SAIBA MAIS! eito de enunciado Para entender o conc crot. aqui. Ducrot assume outro ponto de vista acerca do fenômeno da significação. reflete sobre a função dos dêiticos pessoais (eu-tu) e dêiticos espaço-temporais (esse. este. São Paulo: à Linguística da Enun -71. as representações dos enunciadores aparecem nos enunciados que são históricos e efetivamente realizados nas trocas comunicativas. tentar convencer nosso interlocutor da nossa verdade (OLIVEIRA. Essa verdade é construída e legitimada pela própria cena produzida por/em nossas interlocuções. A frase seria do nível gramatical e de domínio do gramático. também basilar na Semântica Argumentativa. O. o segundo. denominado significação é atribuído à frase. pois na Semântica Formal. mas para convencermos nosso interlocutor a entrar no nosso jogo argumentativo” (Oliveira. A Semântica Argumentativa O lingüista francês Oswald Ducrot. a Semântica Argumentativa entenderá que sentido e referência são construídos no próprio funcionamento da linguagem. enunciação e os processos semânticos envolvidos nos processos enunciativos. desenvolve uma reflexão sobre língua. mas é também construída no próprio jogo discursivo relativo à encenação que a linguagem constrói. a noção de enunciação e a definiu como a apropriação da língua pelo locutor que a coloca em funcionamento. Esse aspecto da enunciação leva Ducrot a lançar mão do conceito de polifonia. Émile Benveniste (1902-1976) desenvolveu. mas para construir um mundo e. pois. TEIXE ciação. Nesse sentido. N. 2006). amanhã etc) enquanto conjunto de marcas que envolvem uma situação de enunciação. dentro da corrente estruturalista.3. pois acredita que “usamos a linguagem não para falar algo sobre o mundo. que é o da pressuposição. ou seja. 2008:63). Embora Ducrot volte-se para os fenômenos relacionados à enunciação. Contexto. O dizer Pontes. fora da linguagem. Segundo ele. Introdução FLORES. 1987. chamado de sentido é atribuído ao enunciado e pertencente ao domínio dos acontecimentos (FLORES. A cada um corresponderia um valor semântico determinado. Em O dizer e o dito (1987). ele começa diferenciando frase de enunciado. de modo que não falamos sobre o mundo. o que nos permite falar objetivamente sobre o mundo e. a abordagem dada pela Semântica Formal ao estudo do significado é inadequada porque situa a referência. Ducrot apresenta vários conceitos cujo objetivo é fundamentar a ideia de que é possível identificar diferentes representações do enunciador no sentido do enunciado.2. Sobre esse aspecto do sentido de um enunciado. consequentemente. Para ele. A partir dessa ruptura com o quadro teórico da Semântica Formal. a linguagem é um jogo de argumentação emaranhado em si mesmo. p. o linguista francês afasta-se da abordagem dada pela Semântica Formal à questão do sentido. Ducrot argumenta que se a referência é uma construção interna à linguagem. influenciado pelos estudos de Émile Benveniste1 no que diz respeito à filosofia analítica e à vinculação do estudo da linguagem ao quadro saussuriano e à enunciação. no mundo. colocamos em cena vários enunciadores. Ducrot ap .Capítulo 1 “É porque falamos de algo que esse algo passa a ter sua existência no quadro criado pelo próprio discurso”. Antes de finalizar este tópico. Desse jogo discursivo. Já do en orr rec o. sky om Ch sure e Noam de Ferdinand de Saus mnte teórica que co Funcionalismo: verte sem e. Essa afirmação vai de encontro à abordagem gerativa que elege a sintaxe como central nos estudos linguísticos. diz Oliveira (2006:28). Assim. Embora recente. 1999). Além da centralidade dada ao estudo do significado. . cujas vozes dialogam no sentido de levar o ouvinte a aceitar essas vozes que se encontram pressupostas no enunciado.3. Esse campo dos estudos semânticos postula que o significado é que é central nos trabalhos sobre a linguagem. Semântica Cognitiva George Lakoff e Mark Johnson são os teóricos que lançaram. do movimento dos nossos corpos em interação com o meio que nos circunda” (Oliveira. por sua vez. de modo que possamos convencê-lo da nossa verdade. constroem o quadro que institui o espaço discursivo onde o(s) sentido(s) se constitui(em). VOCÊ SABIA? o s ditas formalistas vã Formalismo: as teoria inde o jet ob ística como eleger a forma lingu ento da função. 13 2.3. os pesquisadores desse campo asseveram que a forma é proveniente do significado e não o contrário. 2 Exemplo extraído do livro Introdução à lingüística: domínios e fronteiras organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes. ao enunciarmos. em uma relação de correspondência direta entre linguagem e mundo torna-se inviável. Enunciador. dentro desse quadro teórico. Essa mudança estabelecida pelos semanticistas cognitivos inscreve a Semântica Cognitiva na perspectiva de estudos linguísticos denominada funcionalismo. E²: Maria não fuma mais2. enco . desdobrado em dois ser de po por um locutor asserção (posto) e ato atos ilocutórios: ato de posto). reiteramos o fato de que um enunciado se constitui de vários enunciadores que. Pressuposição e Argumentação. E¹: Maria fumava. como pensam os formalistas. estabelece-se o quadro enunciativo que sustenta o(s) sentido(s) possível(is) para um enunciado. Enunciado. qu r uto ia do loc exclusiva competênc : rso cu dis do o çã liza rea vés dele. então pensar. qu s de linguistas preende os trabalho a forma em suas inrar ide ns deixar de co da prioridade à função vestigações. Nessa perspectiva. garante a faz o e s se encadeiam as novas informaçõe loposto possibilita ao ssu pre o progredir. a Semântica Cognitiva conta hoje com vários pesquisadores que investigam vários níveis de análise da linguagem. Polifonia. para a Semântica Cognitiva. 2006:34). os significados emergem da nossa relação sensório-corpórea com o mundo. Vejamos como isso acontece: Maria parou de fumar. Se. Desse modo. Essa enunciação põe em jogo dois enunciadores: um que diz que Maria fumava e refere-se àquilo que se encontra pressuposto no enunciado e outro que diz que Maria não fuma mais e tem a ver com o posto. VOCÊ SABIA? reresenta as primeiras Em 1969. ão siç po ssu pre de nceito flexões acerca do co o zid o enunciado produ De acordo com ele. “a significação lingüística emerge de nossas significações corpóreas. concretas de us língua em situações mo co os ric rspectiva. em 1980.se nessa pe man Jakobson. a Semântica Cognitiva afasta-se de uma visão de significado que se baseia na referência e na verdade. teó crevem. de á dito no enunciado responde ao que est aatr e. Ro e ay llid Ha Michael ATIVIDADE | Pesquise e elabore um quadro com os conceitos centrais da teoria da Semântica da Argumentação: Locutor. Nessa trim de em vestigação s ntram-se os trabalho vertente teórica. O posto corssu de pressuposição (pre . alg mente cutor dizer implicita mo are ret erp int . os alicerces conceituais da Semântica Cognitiva a partir da publicação de Metaphors we live by. deram Ins o. tos jun ao interlocutor para. que foi dito (GUERRA. São Paulo: Parábola Editorial. porque deriva de esquemas sensório-motores. J.br/php/ edicoes/v2n2/C_guerra. De acordo com a proposta teórica de Lakoff. M. de modo que passaremos de um conhecimento teórico à aplicabilidade desse conhecimento em análises de sentenças variadas. a criança. Semântica Argumentativa e Semântica Cognitiva) que se destacam no campo dos estudos do significado. acreditamos estar em consonância com aquilo que o curso propõe: criar situações de aprendizagem das noções gerais relativas à Semântica.. Viajei de Recife a Surubim. O significado nem é uma questão da relação da língua com o mundo nem dos enunciados entre si. 2008. São . L. Semântica. Assim. J. GUERRA.que sustenta o sentido da referida sentença. o que dá sentido a essa sentença não é sua relação direta com o mundo. FLORES. passamos do conhecimento histórico da disciplina Semântica aos campos epistemológicos que definiram diferentes pontos de vista para dar conta do fenômeno da significação e daí podemos apresentar as três abordagens teóricas (Semântica Formal. desenvolvemos um roteiro de estudo que permitisse. Disponível em: http://rle. LYONS. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. Introdução à linguística teórica. ancora o significado de nossas expressões linguísticas sobre o espaço. L. TEIXEIRA. as nossas ações no mundo que nos permitem apreender diretamente esquemas imagéticos espaciais e são esses esquemas que dão significado às nossas expressões linguísticas (Oliveira. Logo. assimila esquemas relacionados à noção de espaço ao se movimentar em direção a determinados alvos. dentro do espaço reservado a este capítulo. os semanticistas cognitivos nomearão CAMINHO. analisaremos diferentes fenômenos relacionados ao sentido das sentenças.ucpel. mas de cognição. o que dá sentido às nossas palavras são os esquemas cognitivos que se estruturam na relação que estabelecemos com o mundo. a apropriação das bases históricas que precederam o desenvolvimento dos estudos sobre o significado numa perspectiva das teorias linguísticas que se destacam no cenário dos estudos sobre a língua(gem). A pressuposição no jogo polifônico e argumentativo do discurso político. Segundo essa vertente dos estudos semânticos. V. ed. GERALDI.pdf ILARI. Daí a produção de sentidos em sentenças como: RESUMO Nesse primeiro capítulo. São. Esse esquema. M. V. portanto. Assim procedendo. No próximo capítulo. REFERÊNCIAS ARAÚJO. 2006:34). Introdução à Linguística da Enunciação. querido estudante. 1990. Com essa finalidade em mente. A esse esquema relacionado a deslocamentos espaciais. I. Por exemplo. São Paulo: Contexto. ATIVIDADE | Pesquise sobre os esquemas RECIPIENTE e BALANÇO dentro do quadro teórico de Lakoff e entenda melhor sua proposta teórica acerca do sentido. os significados estão ancorados nas experiências sensório-motoras que fazemos do mundo. no período de aquisição.tche. N. nossa intenção foi apresentar a você. 2004. os percursos históricos envolvidos na construção de um objeto de estudos: o significado.14 Capítulo 1 Agora vamos entender melhor como trabalha a Semântica Cognitiva. W. São Paulo: Editora Ática. mas o esquema imagético CAMINHO. R. o significado linguístico não é arbitrário. Assim sendo. É essa memória . que surge diretamente de nossa experiência corpórea com o mundo. 4.que tem a ver com o movimento . Curso de Lingüística Geral. P . Semântica Formal: uma breve introdução.. da Universidade de São Paulo. B. 2006. 26. 2006. São Paulo: Cultrix. ed. Semântica. ed. 2.São Paulo: Cortez. BENTES. Nacional: Ed. Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. Ferdinand de. R. 2004. vol. OLIVEIRA. 5. 2001. I.Capítulo 1 Paulo: Ed. In: MUSSALIN. F. 1979. 15 . Campinas: SP: Mercado de Letras. São Paulo: Parábola Editorial. R. OLIVEIRA. Semântica. TAMBA-MECZ. SAUSSURE. . Capítulo 2 2 17 Conceitos Fundamentais Prof. Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária | 15 horas Semântica: Ementa Semântica da palavra, do texto e do discurso. Campos semânticos. Sinonímia, antonímia e polissemia. A semântica do enunciado e da enunciação. As semânticas estrutural e cognitiva. Sentido e referência. Enunciado e Enunciação. Semântica e Pragmática. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Planejamento do ensino. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Avaliação de competências. Objetivos Específicos • Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática linguística; • Refletir acerca dos processos de construção do sentido a com base nas perspectivas teóricas, concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática; • Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos linguísticos agenciados na produção de sentido. Introdução Caro(a) estudante, Num primeiro momento dos nossos estudos de Semântica, privilegiamos o conhecimento acerca do percurso histórico que definiu um objeto de investigação para a Semântica e os desdobramentos teóricos que a disciplina sofreu após a delimitação do seu objeto: a significação. Neste segundo capítulo, procuraremos abordar alguns fatos que envolvem reflexões e problemáticas acerca da significação. Desse modo, não nos preocuparemos em eleger uma teoria, entre outras, para tratar esses fatos, mas traremos contribuições de diferentes teorias que não serão especificadas ao longo do trabalho, de modo que o tratamento das questões que envolvem o sentido receberá contribuições de teorias que se encontrarão diluídas na abordagem dessas questões. Além disso, este capítulo tem a pretensão de trazer reflexões que ajudem na construção de um estudante capaz de repensar os modelos semânticos estabelecidos pela Gramática Normativa, a fim de proble- 18 Capítulo 2 matizar modelos de apresentação dos fatos semânticos. Desse modo, esse estudo passa pela forma linguística e usos dessas formas em contextos específicos que determinam os processos comunicativos e seus respectivos efeitos de sentido. Assim procedendo, o estudante interessado nos processos de significação abrirá caminhos que não se aterão apenas à forma linguística descontextualizada e sem vínculo com a situação concreta de uso da língua, mas percorrerá aqueles caminhos que tomam a língua em seus aspectos formais e enunciativos. É com esse propósito que abrimos o segundo capítulo deste livro, de modo que convidamos você, caro estudante, a caminhar conosco, imbuído de um espírito reflexivo e disposto a debruçar-se sobre as questões que envolvem a produção de sentidos. Prof.º Luciano Azevedo (admitamos, por enquanto, a legitimidade destas) num dado contexto concreto. Para ele, o centro de gravidade da língua não reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire no contexto. A reflexão bakhtiniana sobre a linguagem e a realização dela partem desse lugar que traz na esteira da sua formulação o contexto e os sujeitos envolvidos na situação enunciativa. É no fluxo da comunicação discursiva que a língua se realiza sob a forma de enunciados concretos e os sentidos se atualizam. Embora a Semântica se ocupe da análise linguística, referida aos processos de produção de sentidos, procuramos antecipar reflexões que incluam a situação de comunicação que envolve e determina esses processos. 1. Sinonímia e Paráfrase SAIBA MAIS! O repertório lexical que determinadas línguas naturais dispõem permite que o falante utilize palavras ou expressões no lugar de outras sem que o sentido sofra alterações. Entretanto, nenhuma língua utiliza duas palavras ou expressões para dizer a mesmíssima coisa. Isso representaria um desperdício, uma vez que teríamos à disposição palavras e expressões que teriam sempre o mesmo sentido em qualquer contexto de realização (FERRAREZI, 2008). Desse modo, palavras sinônimas são aquelas que podem ser substituídas por outras, de maneira que o sentido permaneça basicamente o mesmo, ou seja, palavras que mantêm semelhança de sentido. Isso não significa dizer que as palavras sinônimas têm o mesmo sentido em todo e qualquer contexto comunicativo, mas que mantêm entre si uma relação de sentido que não é determinada apenas pela forma linguística, uma vez que o contexto é imprescindível quando consideramos processos de significação. Assim, a relação de sentido não deve ser referida apenas à forma linguística estruturada em frases ou orações, mas ao contexto comunicativo que determina os sentidos possíveis de uma palavra em processos enunciativos concretos. O pensador russo Mikhail Bakhtin (2006:271) declara: Na realidade, o locutor serve-se da língua para suas necessidades enunciativas concretas (para o locutor, a construção da língua está orientada no sentido da enunciação da fala). Trata-se, para ele, de utilizar as formas normativas nsamento do filósofo Para conhecer o pe -1975), indico a leiMikhail Bakhtin (1895 tura dos livros: ética da criação verBAKHTIN, Mikhail. Est . : Martins Fontes, 2006 bal. 4. ed. São Paulo sLOSHINOV, V. Marxi BAKHTIN, M. M.; VO s ma ble pro : guagem mo e filosofia da lin na ico lóg cio so o tod fundamentais do mé . 10. ed. São Paulo: ciência da linguagem Hucitec, 2002. agem e diálogo: as FARACO, C. A. Lingu Círculo de Bakhtin. ideias linguísticas do Editorial, 2009. São Paulo: Parábola BETH, Brait. Bakhtin Contexto, 2009. e o Círculo. São Paulo : A descrição das relações de sentido estabelecidas pela substituição de uma palavra por outra deve considerar as relações que se estabelecem no nível da forma/estrutura e da função/enunciação de uma língua dada. Com base nisso, podemos reconhecer relações de sentido entre construções gramaticais e efeitos de sentido originados em contextos enunciativos (ILARI; GERALDI, 1990). Capítulo 2 19 VOCÊ SABIA? “sinonímia imos quando mos são ditos sinôn erentes: ou dois ter dif es o (para uma çõ lad ep ac iso as do du num único enuncia tro A sinonímia pode ter ou os ao um m íre mos são ditos sinônim de se substitu rtante), ou os dois ter têm a possibilidade po m im ste tão exi en o é nã , os im tão de sinôn contextos. En palavra dada, a lista em biáveis em todos os am ês, gu erc rtu int o po sã em do lo, an qu r exemp (sinonímia absoluta) línguas funcionais (po mplos os senão entre duas recem numerosos exe im ofe ôn sin lar s pu iro po de ura rda lat ve nc me emno se a só e e a fic do ura cientí mesmo referi zoologia, a nomenclat s idades podem ter o un ma , as nte du , rde so ua dis ag m de a). Alé dúvida, um copo sem é, de sinonímia absolut ga s de pin ida de un poucas oport diferentes: o copo s restrições que há tai pregar em contextos de is e ma nd É pe . de ral ltu tro sociocu ou de ou os em conta o contexto o aparecimento de um , simplesmente a ercambiáveis se tiverm sim int as te , en e-á ilm r-s fac na tor em ela ia; ím de eles ser on sin de em substituíveis umas que se pode falar o significado e de ser sm em termos de graus me o em ter de o. [...] des do léxico a ou não, total ou nã tendência das unida de, então, ser complet po ia ím on sin A s. pelas outra tido (hiponímia, outras relações de sen as e qu is oo ma ito mu ito bem exprimir tud e do contexto, língua. Poder-se-ia mu A sinonímia depend à l ve sá en isp ind , 56) é, contudo antonímia). Ela não ois et alii, 2006:555-5 sinônimos. [...]” (Dub sem er diz e qu tem que se Para entender melhor a sinonímia, vejamos um exemplo: Leia o e-mail abaixo: Fonte: Cereja W.; Magalhães T. Gramática Reflexiva: texto, reflexão e uso. São Paulo: Atual, 2004 2008:157). não seria possível fazer a substituição da palavra menino por pulga. para ressaltar características positivas ou negativas de algo ou alguém que está sendo representado. Sansão vencedor. Inclusive. jovem e mulher aproximam-se mais da figura adulta. enquanto menina. mas isso só é possível dentro do contexto específico do poema. É o que acontece entre as palavras secar e enxugar. A sinonímia. essas palavras têm o mesmo referente. o referente” (Ferrarezi. de modo que “certas expressões possam ser substituídas por outras. São Paulo: Moderna. Peito de aço. Certamente em outro contexto comunicativo. Às vezes sou “o meu queridinho”. Esse tipo de sinonímia ocorre no nível do léxico e pode ser verificada entre pares de palavras cujos significados são semelhantes. Assim sendo. uma vez que dizemos e produzimos sentidos valendo-se de dizeres anteriormente produzidos. ex. mas sem alterar a coisa representada (. comprometendo um pouco mais o sentido geral do texto. Goleador! Mas o que importa O que pensam de mim? Eu sou quem sou.20 Capítulo 2 Esse e-mail apresenta palavras ao longo do texto que substituem Mirella. um menino. Embora algumas palavras denotem aspectos distintos do referente (p. A paráfrase é uma relação de semelhança de sentido entre frases. Palavras sinônimas podem servir de base para o estabelecimento das relações parafrásticas. então. com base no já-dito. “moleque malcriado”. Esse eu-lírico. “o meu queridinho”. jovem e mulher. destinatária da mensagem. Eu sou eu. Jogador campeão. jovem e mulher) são sinônimas. Para mim Tem vezes que eu sou rei. uma vez que substituem Mirella sem prejuízo de sentido. quando usamos paráfrases.. criança. concluir que essas palavras (menina. Herói voador. ou seja. algumas vezes. não podemos falar em textos e em sentidos desprovidos de relação com outros textos e sentidos historicamente produzidos.). Ainda segundo Ferrarezi (2008:160). de propósito. possuem o mesmo referente: o menino. . Cavalgando o arco-íris. ou seja. jogador campeão. embora. Podemos. (Pedro Bandeira. Sou menino. Sansão vencedor e peito de aço.. se mantenha o mesmo referente representado. Hércules. como a sinonímia. garota. ou seja. Que voa e se esconde De medo e vergonha. Desse modo. é imprescindível mobilizarmos uma série de elementos contextuais que tornam possíveis essas relações.. Sou mosca também. Identidade Às vezes nem eu mesmo Sei quem sou. 1993. garota. Essas relações. pode-se usar desse expediente. devem ser analisadas levando em consideração a forma da expressão e o contexto de uso em que são realizadas. Caubói lutador. criança. Sou assim. Vamos analisar outro texto. Esse é um caso típico de sinonímia lexical. Às vezes eu sou Hércules. ao longo do poema. entre outras qualificações. Às vezes sou “moleque malcriado”. Vamos ao exemplo. As relações de paráfrase vão bem além do exemplo apresentado abaixo. uma das peculiaridades desse tipo de substituição é a de que novos aspectos desse referente passam a ser enfocados e isso pode alterar bastante o sentido geral do texto. O eu-lírico do poema de Pedro Bandeira pode ser identificado como uma criança.) A relação de semelhança entre os sentidos dessas palavras é clara. nesse poema de Pedro Bandeira. Apenas fazendo referência e mobilizando os conhecimentos relacionados às situações e comportamentos vivenciados por uma criança é possível aproximar sentidos como os de menino e mosca. mas. para estabelecermos as relações de sentido entre as palavras sinônimas. São elas: menina. descreve as maneiras como é visto pelos outros de acordo com o comportamento que apresenta. garota e criança da figura infantil). cauboi lutador. Às vezes sou pulga. por exemplo. heroi voador. São Paulo. Mirella. também se dá no nível do léxico. de maneira que a substituição de menino por todas essas palavras e expressões sem que haja prejuízo de sentido só é possível considerando o contexto construído pelo próprio poema. A relação parafrástica é constitutiva da linguagem e os textos que produzimos sempre encontram outros textos nos quais se assentam. formule frases (com base na lista abaixo) em que essas palavras funcionem como sinônimas e frases em que elas não funcionem como sinônimas. uma vez que o referente permanece o mesmo em todas elas. estamos falando do mesmo referente: a cidade de Garanhuns. 1990:38) O eu-lírico. 21 2. emprega formas específicas. É o campo que invade esse pequeno espaço com suas aquarelas.” a palavra enxugar deixa de estabelecer uma relação de sinonímia com a palavra secar.” e esperar que o ouvinte atribua o mesmo sentido a essas palavras. rosas e camélias. margaridas. como orquídeas. Colhi flores ao longo do caminho. isso significa que se a é verdadeira. são como fadas disfarçadas. em seguida. o eu-lírico utiliza-se de uma forma mais geral.Capítulo 2 A Cidade de Garanhuns A Suíça pernambucana.” e “Eu enxuguei a louça. A cidade onde o Nordeste garoa. lemos: “a definição de acarretamento é a seguinte: se uma proposição a implica uma proposição b. Em Moura (2006:15). A relação de sentido entre as sentenças é resultado da relação de acarretamento ou consequência que se estabelece por meio das palavras flores e orquídeas. Esse par é normalmente usado como sinônimo. dar/oferecer c. ATIVIDADE | Atente para o par secar/enxugar. foram ressaltados aspectos positivos dessa cidade e apresentadas novas informações acerca do referente. as novas informações alteram o sentido das frases. o falante que afirma a não terá problemas em aceitar a verdade apresentada em b. É imprescindível relacionar a forma linguística ao contexto de uso. Pensando nisso. Nessas sentenças. mas não o referente. As relações de . cravos. A cidade cercada por sete colinas. Azuis. podemos concluir que a sinonímia é um fenômeno que não deve ser analisado levando em consideração apenas a forma das palavras. por exemplo: A Florista Na loja de flores orquídeas. Essa relação de sentido entre as palavras flores e orquídeas é denominado de hiponímia. b. Disso. de modo que uma pode ser usada pela outra sem prejuízo de sentido. firme/sólido b. essa relação é possível porque flores e orquídeas encontram-se inseridas num mesmo campo de significados. feliz/contente e. então b é necessariamente verdadeira. Assim. Hipônimo e Acarretamento Observe este conjunto de sentenças: a. expressa a alegria trazida pelas flores que representam um pedacinho do campo a expulsar o tédio característico do espaço urbano.” não há dúvida quanto à semelhança de significado existente entre esse par. a princípio. a. cão/cachorro d. rosas e camélias. Ele a aceita necessariamente. Isso estabelece entre essas sentenças uma relação de paráfrase. Embora o referente seja o mesmo em todas as sentenças. cravos. a fim de decidirmos pela semelhança ou não de sentidos existentes entre as palavras. Agora vejamos o seguinte: na frase “Após revisão. margaridas. belo/bonito No exemplo acima. de maneira que você não poderia dizer “Eu sequei o texto. flores e. nesse poema. difícil/complicado f. Colhi orquídeas ao longo do caminho. determina uma relação parafrástica. Para a florista as flores são como beijos são como filhas. de modo que nas frases “Eu sequei a louça. enxuguei o texto. A Semântica entende por palavras hipônimas aquelas que pertencem ao mesmo campo semântico.” Nesse exemplo. em todas as sentenças. É isso que. vermelhas e amarelas. Na primeira estrofe do poema. A terra de Simôa Gomes. varrem para longe o tédio da tarde. (Roseana Murray. nem tudo que dizemos encontra-se explícito nas palavras da língua. entre outras. falta de dinheiro O texto jornalístico abaixo exemplifica o uso de hipônimos e hiperônimos na construção do texto e suas implicações para o processo de compreensão.] 3. Assim. cravos. Lagamar tem espécies raras e ameaçadas Graças à variedade de plantas já registradas na região (cerca de 1. mero. rosas. de modo a evitar repetição de palavras e garantir a coesão textual. Ap rtantes para o enten po im s tro ou mo bem co pro a s que envolvem dimento dos processo s: ulo pít ca os seguintes dução textual. burro etc. talvez. guapuruvu. o autor especifica a variedade de plantas (caxeta. uma vez que formas hiperônimas (flores) podem ser retomadas ao longo do texto por formas hipônimas (orquídeas. o guapuvuru e o palmito juçara). Estabelecer essas relações de sentido quando processamos a leitura de um texto é fundamental para sua compreensão. de modo a conferir coesão e coerência ao texto. mero. 2008. pois conferem coesão a eles. guará.. lendo ando os segredos do KOCH. bola Editorial. onça-pintada. Sentidos Implícitos: Pressuposto e Implicatura Os sentidos produzidos em situações de comunicação verbal pelos falantes de uma língua dada não se esgotam na organização estrutural dessa língua. tartaruga-marinha-verde) presente na região do Lagamar e torna o texto mais interessante. Isso faz das orquídeas.” cã é o hiperônimo de :323). 2006 ATIVIDADE | Levando em consideração o que foi exposto acerca de palavras hipônimas e hiperônimas. 2006. co ma são empregados nu e progressão textual e to tex do o ud est o ra disciplina voltada pa a : ca ísti bárea da Língu que constitui uma su s. impossível. São Paulo 132. Essas retomadas ao longo do texto permitem acessar o mesmo referente por meio de diferentes sentidos.[. prolixo e. palmito juçara) e animais (papagaio-de-cara-roxa. guará. se a cada interação verbal tivéssemos que explicitar para nosso interlocutor tudo o que não está dito em nossas palavras. São Paulo: Paráde gêneros e compree p. I.. o das flores. A. O sentido do sentido do todo um todo é hipônimo nimo. O jogo que o autor realiza ao usar palavras pertencentes ao mesmo campo de sentido permite a retomada de referentes.200. L. garantindo seu encadeamento lógico e evitando repetições. 12 texto. onça-pintada. gato. Se assim fosse. V. VOCÊ SABIA? mo cuja significação “Hiperônimo é o ter sentidos) de um ou inclui o sentido (ou os mos chamados hide diversos outros ter do nome da parte de pônimos. o investimento linguístico num processo de comunicação verbal seria desgastante. rosas e camélias hipônimas de flores. análise MARCUSCHI. margaridas. construa pequenos textos com bases nas palavras hiperônimas elencadas na relação abaixo. macacos burgio e mono-carvoeiro (maior primata das Américas). dução textual. p. incluindo espécies características como a caxeta. de modo que o sentido dos textos que produzimos em toda e qualquer situação de comunicação dependem daquilo que está implícito em nossas palavras e que podem . Desvend 1: Cortez. a.22 Capítulo 2 sentido entre as formas específicas e a forma geral são dadas pela pertença dessas palavras ao mesmo campo semântico. camélias). referenciação Os termos coesão. O uso adequado desse mecanismo é fundamental para a construção da progressão textual. 5 ed. margaridas. macacos burgio e mono-carvoeiro. festa b. Dito isso. dinâmico e digno da credibilidade do leitor. Além disso. Lembre-se de que os hipônimos cumprem um papel importante na construção dos textos. podemos afirmar que nem tudo está dito nas sequências verbais que produzimos em nossas interações. Pro nsão. 93-139. mo ter es ess rofunde Linguística Textual. ou seja. o Lagamar é uma das regiões de maior diversidade de aves do planeta. Abriga também animais raros e ameaçados como papagaio-de-cara-roxa. qual seja. (Dubois et alii. tartaruga-marinha-verde. dinheiro c. animal que é o seu hiperô o. cravos. SAIBA MAIS! erência. b. parece uma tautologia representa uma ideia compartilhada e consensual entre os estudiosos da linguagem. a implicatura é “um tipo de inferência pragmática. baseada não no sentido literal das palavras. “Você tem mãe”.” Se o pressuposto é inferido valendo-se do sentido literal das palavras.”. 2. mas naquilo que o locutor pretendeu transmitir ao interlocutor” (Moura. Na esteira dos fenômenos ligados aos implícitos. citamos Ferrarezi (2008:174): Quando eu digo “O carro da sua mãe quebrou. 23 Atualmente esse princípio da implicitude que determina os sentidos representa um consenso entre os estudiosos da linguagem e parece não haver discordâncias em relação a esse aspecto constitutivo dos processos de significação. encontramos o pressuposto e a implicatura.Capítulo 2 ser acessados por meio do conhecimento de mundo. ou seja. ser capaz de compreender o sentidos implícitos. em a somos informados de que João parou de fumar e em b de que Maria quebrou o vaso. da situação de comunicação etc. Enquanto o garçom serve a mesa. Maria quebrou o vaso. imaginemos a seguinte situação: Um casal de namorados encontra-se num restaurante para comemorar o noivado. “Carros são do tipo de coisas que quebram. Num segundo nível. aceitar a verdade do posto implica aceitar a verdade contida no pressuposto. Assim. É a situação que permite esses outros sentidos serem “ouvidos” pelos interlocutores inseridos num processo comunicativo. a análise passa por dois níveis: o primeiro diz respeito ao posto. sabemos que. Desse modo. não queremos apenas mostrar que há uma mosca em nosso prato. Atente para o fato de que a moça não precisou dizer tudo ao garçom. a enunciação de a e b implicam a consideração de outras informações que não estão ditas literalmente nos enunciados. quando chamamos a atenção do garçom de um restaurante para uma mosca caída no prato. O garçom retira o prato e leva para a gerência avaliar a situação. denominamos.html . aqueles que vão além do que foi abertamente dito e também como somos capazes de suscitar esses implícitos usando uma língua natural. de conteúdo posto a informação literal das palavras de uma sentença. ou seja. eu estou “dizendo” mais algumas coisas que são necessárias para a compreensão da frase ou que dela decorrem. além de minha afirmação sobre a quebra do carro. De acordo com o conhecimento que temos desse tipo de situação. A fim de esclarecer melhor. Só para ilustrar. mas podem ser inferidas valendo-se dessas sentenças. àquilo que está explícito no enunciado e aponta para o sentido literal das palavras que o compõem. Nesse sentido. mas pedir providências. É comum encontrarmos nos manuais de linguística que tratam do assunto: nem tudo está dito no dito. 3. João parou de fumar. Ferrarezi (2008:174) diz que compreender integralmente os sentidos possíveis em uma língua engloba. Para entender a implicatura. O que. Assim.Tem uma mosca no meu prato. também. à primeira vista. podemos concluir que o conteúdo posto depende do conteúdo pressuposto. “Sua mãe possui um carro”. de acordo com Ducrot (1987). Algumas delas parecem bem claras: 1. Nessas duas sentenças. e de conteúdo pressuposto ou pressuposição as informações a serem inferidas com base na própria sentença. algumas informações podem ser inferidas valendo-se da sentença por meio de um raciocínio baseado na própria sentença ou por meio de um trabalho orientado pela situação comunicativa. pensemos na seguinte situação: Fonte: http://sallinos. pois o contexto permitiu que ele fizesse uma “leitura” daquilo que não estava dito no enunciado da moça. do contexto. na verdade. 2006:13). Vamos começar refletindo acerca do pressuposto tomando-se por base as sentenças abaixo: a.blogspot. inferimos de a que Pedro fumava antes e de b que o vaso está quebrado.com/2009/08/angeli. a moça o chama e diz: . Dito isso. Nesse texto. H. Assim. no ad a ric um é fab e. Os enunciados produzidos em anúncios publicitários representam um verdadeiro celeiro de sentidos implícitos. Significação e contexto: uma introdução a questões de Semântica e Pragmática. De acordo com isso. governos e instituições que relegam uma parcela significativa da sociedade à miséria. cuja ção s vezes vaga. o de um enunciado. to enunciado é o res an e sentido mais corrente qu qu s en ato a. Um en ou vários falantes. ca de discurso (enuncia as ísti gu lin às regras que regem (corpus) da análise possíveis em relação s os dados empíricos do cia un en os á os ou predir enunciados produzid s. 2006. VOCÊ SABIA? necessário esclamodo que julgamos de to. 85. M. se opõe a objetivo ão aç et linguistique français ric ato o fab é . Se assim o fosse. Introdução . tex do go lon i (2006): ção apareceram ao ística de Dubois et ali Enunciado e enuncia o Dicionário de Lingu do un seg s mo ter es recer melhor ess a emitida por um palavras de uma língu de a ad Enunciado ab ac antes ia nc uê período de silêncio designa toda seq é assegurado por um A palavra enunciado ser do cia de un po en do do cia un nto fechame tes. p. da rár do lite do a teoria utiliza un seg . mo ato co ultado desse dessa palavra. E isso é prova de pouca ou nenhuma inteligência. leia as frases de efeito retiradas de anúncios publicados na revista Veja de 17 de março de 2010 e aponte o que há de implícito nestes enunciados: 1 Sobre essa questão. a produção de implícitos nos anúncios faz parte das estratégias de convencimento. quando enunciamos uma sentença em que aquilo que é dito não tem aparentemente nada a ver com o que deve ser entendido. ou ras l lav tica pa ia de ciado grama e depois da sequênc de-se falar de enun fique o tipo de várias frases. econômica etc. . a linguagem verbal e não-verbal dialogam e constroem o sentido do texto que traz implicado uma crítica aos poderosos. Não é essa a sua intenção. recomendo a leitura do tópico Pressuposto e Acarretamento que se encontra em MOURA. compreendem fenômenos distintos e não devem ser tomados um pelo outro indistintamente1. o enunciador não produz o texto com a intenção de que o entendamos literalmente. Embora pressuposto e implicação constituam sentidos inferidos valendo-se do posto. Quando o enunciador põe em cena pai e filho conversando sobre um morro que está prestes a desabar e vivendo em condições subumanas. ati ios nc ram silê ag . do enunciado efetivamente realizado. Pode njunto de enun semântico ou assem didático etc). 15-17. p. po ou a um adjetivo que quali um do de cia un do en ma ao for tar cen s constitui res ac do cia -se ântico. política. a charge perderia sua função social que é promover uma reflexão acerca de uma situação social. ele não pretende afirmar a crença de que extraterrestres são seres detentores de uma inteligência superior a dos humanos. Sã do com a gramática 2001.24 Capítulo 2 Na charge acima. Assim de criação do falante. s gu do lín e s da utilização nto dos fatore é o ato individual de constituída pelo conju é o çã cia un en a . çã du pro a m ca vo pro ATIVIDADE | SAIBA MAIS! undar seus conheci Não deixe de aprof nme eta arr ac e posto mentos sobre pressu ro: liv do a tur lei a m to co à semântica: brincan ILARI. . temos um caso de implicatura. no ad do nh cia bli un su en foi a ia importânc ção opõe-se A enunciação. Florianópolis: Insular. xto nte Co : ulo Pa o . ou seja. com base nos sentidos implícitos ao texto. Um co . ico plicará os im lêm a po est io. O realizados pelos falan cal. Uma vez que a intenção da propaganda é convencer o interlocutor a comprar o produto que anuncia. R. Bally em seu Enunciação a . rpu co frases desse nérale livro Linguistique gé por CH. Enuncia cia ita un mu en o A çã o. M. b. em b participação em um trabalho e em d assume o sentido de roubo. Polissemia e Ambiguidade As palavras de uma língua não possuem apenas um sentido literal e fixo. b. tal como apresentados pelo dicionário. o autor lança mão da polissemia implicada nas palavras broto e mina e promove um deslocamento do sentido literal dessas palavras – rebento e jazida. as representações que os falantes constroem de si e do outro etc. Iniciado na década de 60. respectivamente – para sentidos que estão ligados a movimentos culturais e momentos históricos de uso da língua. geralmente usada para se referir às mulheres. Nossos engenheiros contam cavalos antes de dormir. A significação resulta de um processo determinado por fatores extralinguísticos. a Jovem Guarda não apenas implicou um estilo musical. O mesmo deslizamento de sentido é compartilhado pela palavra mina que tem o seu sentido deslocado e representa uma gíria bastante usada pelos jovens das últimas décadas. analisaremos o emprego da polissemia na construção do texto: 25 4. pois permite multiplicar os textos com o uso de um mesmo e menor conjunto de sinais do que seria necessário se cada sinal tivesse um e apenas um sentido (Ferrarezi. A secretária disse ao patrão que comprou seu almoço. a situação de comunicação. Paula tem uma mão para cozinhar que dá inveja! Vamos! Coloque logo a mão na massa! As crianças estão com as mãos sujas. A ambiguidade ocorre quando uma sentença admite interpretações alternativas.Capítulo 2 a. Exemplifiquemos: a. c. Suzuki SX4. uma vez que possibilita ao produtor de textos mover-se por processos de significação que extrapolam os limites do sentido fixo. mas podem assumir diferentes sentidos que lhes são atribuídos conforme o contexto em que figura. o sentido de uma palavra possui margens pontilhadas por outros sentidos que são potencializados pelo contexto de uso. Vale lembrar que o anúncio publicitário chama a atenção do leitor para o relançamento de sucessos do movimento musical que ficou conhecido no Brasil como Jovem Guarda. de modo que em a significa habilidade para fazer algo. quando mobilizada em determinados contextos. No caso de a. é imprescindível para a construção de um processo maior que envolve a interpretação e a compreensão textual. A polissemia constitui um recurso fundamental para a construção textual. mão foi usada em seu sentido literal e apresenta a significação atribuída pelos dicionaristas. admite sentidos diferentes do literal. E sofrem de insônia. mas também um estilo de vida e linguístico. No exemplo abaixo. Tão moderno que é o primeiro carro lançado no twitter. entre outras. d. o contexto mediato e imediato. de modo que algumas palavras e sentidos tiveram esse movimento como berço. conhecer os possíveis sentidos que uma palavra pode assumir. Pratique EcoSport 2011. Isso pode ser verificado na frase abaixo: a. que uma palavra abriga em seu horizonte enunciativo.com. Assim sendo. o sentido literal é apenas uma possibilidade de sentido. como os interlocutores. b e d.br . Nas sentenças acima. atraente. c. Desse modo. Audi S3. a palavra broto. 2008). Já em a. Em c. a palavra mão Fonte: http://baudodino. assume no contexto da Jovem Guarda dos anos 60 o sentido de mulher bonita. é importante destacar que essa multiplicidade de sentidos de um sinal é um recurso importante de economia para as línguas naturais. Ainda acerca da Polissemia. Nesse anúncio publicitário. Passaram a mão na minha bolsa e nem percebi. No que diz respeito à leitura. a alternativa é de que a secretária pode ter comprado o almoço dela ou do patrão. Assim. a palavra mão assume sentidos diferentes em relação ao contexto comunicativo em que é usada. O lado esquerdo! . Se por um lado. . . Assim está bem. Porto Alegre:RBS/Globo. Essa observação dos linguistas é bastante pertinente. . . mas da estrutura sintática em que o pronome é inserido. isto é. . mas você. Mais pra cima.Olha aí.. O diálogo que estrutura a narrativa apresenta marcas que constroem no leitor a expectativa de uma relação erótica.Mais depressa? . É comum encontrarmos esse tipo de ambiguidade em piadas e anúncios publicitários. (O rei do rock.. Agora você.Querido. Assim.Me diga como você quer. Rápido! .Para o lado. Nesses casos. dotada de um sentido único.1978.. Assim. Ao final do texto.Assim? . querido. . . eram indicativas da ação de coçar o outro.. essa expectativa é quebrada quando é revelado para o leitor que as marcas textuais que apontavam para uma relação sexual.Isso! Agora coça.Não.Está bem. espere. . . Agora.Assim? . produz efeitos de sentido que.. A ambiguidade pode gerar problemas de interpretação e deve ser evitada sempre que possível. Continue. poderíamos eliminar a ambiguidade presente em a por meio da seguinte alteração: A secretária disse ao patrão que comprou o almoço dela. .Eu já pedi desculpa! ..Deixa ver. O título do conto (Conto erótico nº 1) já direciona a interpretação e o leitor inicia a leitura esperando encontrar no texto a representação de uma cena tórrida de amor. eu.Puxa. uma vez que sentenças potencialmente ambíguas podem resultar em interpretações indesejadas (FERRAREZI. Observe que as interpretações alternativas produzidas pelo uso do pronome seu não são consequências do “duplo sentido” atribuído a esse pronome.. de modo a produzir a ambiguidade da sentença.Um pouco mais pra cima. a origem da ambiguidade encontra-se no pronome possessivo seu que permite a retomada de dois antecedentes (secretária e patrão).Aqui? . Diga quando estiver bem.. não representa problemas para o processamento textual nem a compreensão do sentido. . sim.Assim? Para a esquerda.Sim. . uma vez que o dito “duplo sentido” atribuído às expressões ambíguas pode ser resolvido quando operamos alterações na organização sintática da sentença. Nesse caso.Amor. . Isso pode ser constatado no exemplo abaixo: Conto Erótico Nº 1 . . sim.Quase.Ai! Ai! .. a ambiguidade pode gerar problemas relacionados à interpretação da sentença.Eu sei.Está bom? . na verdade.Aqui? .Você disse que.Mais.É.Não. ..Estava bem mas você. . Oh.Desculpe. a ambiguidade representa um recurso de expressão que atende às intenções do autor. . Agora para o lado. não. Ilari e Geraldi (1990:57) asseveram que a ambiguidade nada tem a ver com palavras de duplo sentido: cada uma das expressões que a compõem é unívoca. ... Um pouco mais par... Oh yes..Pronto.Não. Vamos recomeçar. mas um recurso imprescindível para produzir os efeitos de sentido pretendidos pelo autor. a ambiguidade não representa um problema que compromete o sentido global do texto. . . de modo que pode ser usada amplamente..26 Capítulo 2 Nessa sentença. Oh.Agora para o lado. .. por outro lado..Um pouco mais pra baixo. 2008). o que cria uma dupla possibilidade de interpretação é a estrutura sintática.. Sobre a ambiguidade.Estava perfeito e você.Você se descontrolou e perdeu o...Não. de acordo com o contexto em que circula e a finalidade pretendida.Assim? . . . Para o lado! . Vamos tentar outra vez. . .. ..Sim.Aqui? . .) Esse pequeno conto de Luis Fernando Veríssimo exemplifica o uso da ambiguidade como recurso de construção a fim de produzir determinados efeitos de sentido no interlocutor.Para cima! Um pouquinho. Está quase..Assim? . como jamais e nunca.. Esse quadro apresentado por Ilari dá uma noção das diversas possibilidades de negação que são agenciadas em contextos determinados. nas sentenças abaixo. Essas formas são determinadas pela situação social em que se usa a língua. fal tação na ro mentação em seu liv Ambiguidades de seg a m co do ca: brincan Introdução à Semânti a a). A menina disse ao colega que não concordava com sua reprovação.. nada.. a fim de produzir diferentes efeitos de sentido. Conhecer e apropriar-se dessas diferentes possibilidades de negar proporciona ao falante desenvolver sua habilidade expressiva e dispor de novos recursos linguísticos que poderão ser utilizados em diversas situações de comunicação. O conceito de negação apresentado pela gramática tradicional transmite a ideia de que a negação é uma função exclusiva do advérbio não. Para Ilari (2001:123). “não é verdade que. c. determinando diferentes possibilidades de interpretação.in/-853a36 udos! Aproveite e bons est 27 A negação nas línguas naturais ocorre quando excluímos uma possibilidade. ATIVIDADE | A ambiguidade que ocorre nas anáforas e nas catáforas é resultado da propriedade que certos pronomes têm de retomar ou adiantar elementos textuais. e. to sobre o assunto ab Desse modo. É o que acontece com os pronomes possessivos de terceira pessoa (seu. Identifique. prefixos etc que carregam um sentido negativo ou são revestidos desse sentido em situações específicas de uso. não é sempre fácil determinar de maneira exata o que se pretende negar.. a ambiguidade presente e proponha soluções para eliminá-la. expressões. • Pelos indefinidos negativos: nenhum..”. O pai pediu à filha seus livros. ninguém. A Negação VOCÊ SABIA? o baixar gratuitamente Você sabia que pode m co do an nc bri : mântica livro Introdução à Se LeRodolfo Ilari no site fº Pro do tica má a gra : site É só acessar o tras USP Download? / load. d. Encontrei meu cliente quando saía do escritório. fic grá lio bib ncia gramática (ver referê nme eci nh co de o óri ert fim de ampliar o rep ordado neste tópico.” • Por prefixos como não. nem. suas) que podem retomar ou adiantar elementos presentes no texto que foram colocados antes ou depois desses pronomes. os sem-terra. O professor comentou com o aluno as deficiências dele.wordpress.” SAIBA MAIS! ta casos em que a am Ilari (2001) apresen nme seg de o da falta biguidade é resultad a pena ler o capítulo le Va a. seus.. A negação interage com outras operações..” • Por conjunções como nem. entre outros meios: • Pelo “não” e por outros advérbios que combinam uma ideia de tempo. inclusive na construção correlativa “nem. A demissão do ministro causou impacto. uma vez que existem formas de negar quase imperceptíveis ou até mesmo grosseiras. . a.com http://letrasuspdown / p:/ htt k ri/ e clicar no lin category/rodolfo-ila lix.Capítulo 2 5.. Tudo o que eu queria era que João entregasse logo para José o rádio dele. “diante de uma frase negativa. b. sua. Ilari (2001:122) elenca algumas possibilidades de negação que vão além daquela apresentada pela gramática tradicional: a negação pode ser expressa. Essa exclusão pode ser verificada no uso de palavras. • Por verbos auxiliares como deixar de etc. • Por operadores antepostos à sentença como “é falso que. a negação não se restringe ao uso do advérbio não.ou sem-: os não-alinhados. f. guisticos/volumes/3 pdf br/paginas/ensihttp://www3. sempre que possível. Ducrot e Carel Segue a referência: paradoxo: paades lingüísticas do ed pri pro As b).etc. çã 01b. argum crot escreve As pro Du . polissemia e ambiguidade e negação. hipônimo e acarretamento.28 Capítulo 2 SAIBA MAIS! ATIVIDADE | Há na lingua portuguesa prefixos que servem para negar.b r/E nc on ht tp :// ww w. a fim de permitir a você. Fonte: http://onedown rot.br /e stu do sli nhtt p: //w ww. icas íst gu lin es ad ed pri da enunciação. Campinas: Ponte ísti gu lin s nto me tru ins . ce lsu negacao. apresentamos um panorama dos principais casos abordados pela Semântica. çã ga ne da is ma for radoxais e encontraades discutem as propried mento. ga ne radoxo e s. nº 8. o contato com as noções básicas que configuram esse campo do saber. un oxo seg rad No do pa momentos. Vimos que o significado de uma sentença resulta das relações que as palavras entretêm na estrutura da língua e das relações estabelecidas entre essa estrutura e o contexto em que o processo comunicativo encontra-se inserido. 101/04. 1930) ld wa Os ês teórica nc fra O linguista ntro da perspectiva ento da negação de rion tam Ma tra m no co s ia nte tor oe exp Em co-au entação e polifonia. acreditamos ter contribuído com uma reflexão sobre a língua que vai além daquela apresentada pela Gramática Normativa.o rg 8/EL_V38N1_26. se dividido em dois o. Durante esse percurso. des. pudemos entrar em contato com várias questões que envolvem a produção de sentido. moral b. 33-50.pdf tros/08/estudos_da_ RESUMO Chegamos ao fim de mais um capítulo. p. estudante do Curso de Letras a Distância.unisul.html duc aldosw 12/ 08/ com/20 VOCÊ SABIA? foi um dos grandes Ducrot (Paris. pressuposto e implicatura. 99 (19 Oliveira. 20 cos. Tomando-se por base esse olhar lançado sobre os fenômenos linguísticos. tam idade dos dis apresenta a especific igo art mo e do Ess . Verifique as formas de negação das palavras abaixo: a.htm no/pos/linguagem/0 l. como a-.blogspot. i-.o rg .ge l. fivetogo. Assim. Introduzimos. reflexões que permitissem ao estudante de Letras pensar os fenômenos abordados neste capítulo de maneira crítica. Línguas e Carel. Desse modo. Ducrot o de Sheila Elias de çã du Tra o. ista pagu s lin rso m cu bé Carel. trouxemos alguns casos que envolvem os processos de significação: sinonímia e paráfrase. necessário aixo e conheça Acesse os artigos ab o: mais sobre a negaçã . MURRAY. São Paulo: FTD. a palavra ou a sentença. São Paulo: Cultrix. 4. MELO. M. 2006. L. 1978. DUBOIS. Semântica para a educação básica. decidimos oferecer uma reflexão que passasse pela situação de comunicação em que essa palavra/sentença é realizada. aprofundaremos aspectos do contexto que determinam a produção de sentido. Celso Jr. M. R. REFERÊNCIAS BAKHTIN. P . No próximo capítulo. ed. VERÍSSIMO. Cavalgando o arco-íris. considerando a forma linguística. 1990: 38. Artes e ofícios. Assim. pudemos antecipar uma preocupação que cabe à Pragmática – disciplina que estudaremos no próximo capítulo – e possibilitar ao estudante uma maneira de entender esses processos dentro de uma perspectiva relacional. Dicionário de linguística. dedicado à Pragmática. 2006. BANDEIRA. 1993. et alii. Porto Alegre: RBS/Globo. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática. O rei do rock. 2006. FERRAREZI. Florianópolis: Editora Insular. interativa e contextual. São Paulo: Moderna. São Paulo: Martins Fontes. Estética da criação verbal. F. J. ou seja.Capítulo 2 29 Embora a Semântica aporte suas reflexões sobre o sentido. São Paulo: Parábola editorial. H. . 2008. Mikhail. . Em relação à Semânti- . Iniciamos este terceiro capítulo com a apresentação dos princípios teóricos que norteiam o campo da Pragmática. • Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos linguísticos agenciados na produção de sentido. Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária | 15 horas Ementa Semântica da palavra. do texto e do discurso. Objetivos Específicos • Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática linguística. bem como de negar determinados pressupostos teórico-metodológicos dessa disciplina. • Refletir acerca dos processos de construção do sentido com base nas perspectivas teóricas concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática. Durante nossa trajetória. Enunciado e Enunciação. não será difícil perceber que os campos da Semântica e da Pragmática não são dicotômicos nem excludentes. A semântica estrutural e a cognitiva. Avaliação de competências. contribuições oriundas da Semântica deram à Pragmática um amplo repertório de questões sobre as quais pôde definir seu campo de estudo. Semântica e Pragmática. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Sinonímia. Assim. A semântica do enunciado e da enunciação. Introdução Caro estudante. Planejamento do ensino. mas se encontram em permanente diálogo. antonímia e polissemia.Capítulo 3 3 31 Pragmática: Perspectivas Teóricas Prof. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Sentido e referência. Esse diálogo com a Semântica tanto se encaminha no sentido de fazer convergir. Campos semânticos. como algo que é preciso dominar. Embora tenha produzido uma ruptura em relação às abordagens que excluíram aspectos discursivos no trato da língua(gem). Bourdieu. de modo que. Desse modo. os interlocutores e a situação mais imediata na consideração do sentido produzido por uma sentença. significados estreitamente ligados à vertente . Assim. em suas primeiras investigações responder a perguntas do tipo: Que fazemos quando falamos?. Esses são chamados de filósofos lógicos: Frege. nem sempre essa definição foi livre de oscilações. a pragmática passa a ser central em diversas abordagens e interessa tanto à Linguística como à Filosofia. ou seja. convido você. Isso não significa que a Pragmática resolveu. ao longo da história. Carnap. assentou-se em diferentes aportes teóricos que orientaram a reflexão acerca daquilo que os falantes fazem com a língua(gem) quando a atualizam em enunciações específicas. seja para estabelecer filiações em torno do conhecimento que o campo produz. As pessoas que a estudam esperam explicar antes a linguagem do que a língua.” Essa análise da língua em uso. a Pragmática ainda repensa conceitos e métodos e faz avançar o campo. de uma vez por todas. Longe de manter-se imutável. relacionar os estudos pragmáticos às reflexões desenvolvidas no âmbito da Semântica. Bar-Hillel e Quine. há aqueles que vinculam o sentido de um enunciado ao uso que se faz desse enunciado em contextos específicos de uso: Wittgenstein. Na outra ponta do iceberg. aqueles filósofos que excluem o contexto. Além desses. Embora tenhamos introduzido este capítulo com a definição do termo pragmática. ou seja. é para tratá-la com a astúcia de um jodoca (Montague. a consideração dos falantes e do contexto. aparecem aqueles que vão relacionar os fatos da língua aos fatos sociais. Bakhtin. às vezes.32 Capítulo 3 ca. considerando aspectos extralinguísticos que determinam a forma e o sentido dos enunciados. no início das investigações pragmáticas. Assumindo concepções e arcabouço teórico-metodológico diversos. Em Pinto (2006:47). seja para se posicionar contra as diferentes perspectivas teóricas que passam a ter na Pragmática uma referência. seja para dizer que. identificamos uma tentativa notória em reduzir a análise do significado de uma sentença a suas condições de verdade. históricos. Que ação realizamos quando usamos a língua(gem)?. ou seja. a Pragmática busca. temos que “a Pragmática pode ser apontada como a ciência do uso linguístico. Carnap). isto é. Esse capítulo visa apresentar a disciplina em sua configuração histórica e teórico-metodológica e. Introdução Pragmática ao Campo da Os estudos que receberam o nome de pragmática receberam contribuições de diferentes vertentes teóricas oriundas da Linguística e da Filosofia. seja para dizer que a língua canônica da ciência deve se afastar dela (Frege. Em seus trabalhos. seja para dizer que é preciso reassimilá-la por eliminação ou cooptação (Russel. o problema da inclusão do sujeito e do contexto no processo de comunicação. reuni-los sob a mesma etiqueta. De que modo a situação determina o sentido do que é dito?. Gochet). Assim. 1. Austin. é praticamente impossível. a percorrer um trajeto que fascina porque desvela sentidos ancorados no uso que os falantes fazem da língua(gem). sempre que possível. discursivos. esses estudos encaminharam-se por diferentes abordagens e trouxeram para o âmbito da Linguística aquilo que havia ficado de fora dos estudos estritamente formais da língua. Strawson. De que modo elementos extralinguísticos legitimam o dizer? Essas são apenas algumas das questões que os pragmaticistas levantaram no início das investigações que se desenvolveram sob a etiqueta de pragmática. querido estudante. a fala. Russell. Armengoud (2006:10) afirma que Eles abordam a dimensão pragmática. como o sujeito e a situação de produção dos enunciados. Quine). De saída encontramos. a definição do termo passou por revisões as mais diversas e assumiu. Quem fala e para quem?. a Pragmática incluirá definitivamente aspectos que foram deixados de fora de uma abordagem do sentido estritamente formal. Só para citar alguns: Ducrot. Ainda sobre esses filósofos. de modo que uma sentença só é verdadeira quando encontra no mundo sua referência. entre outros. As reflexões desses autores se aproximam da abordagem pragmática quando incluem aquilo que foi excluído de uma abordagem estritamente formal do sentido: os interlocutores e as condições de produção dos discursos. Searle. Questões como essas ainda seriam tratadas dentro da pragmática linguística. Mais tarde. um dos seguidores de Peirce. Considerado um dos pais da Filosofia Analítica. ou seja. Va erentes definições rer em miúdos as dif miu ao longo do su que a pragmática as bibliográficas. mFonte: http://opovodemaxial. como publicações que tratam da psicopatologia da comunicação. assim. Fonte: http://www.. Ligado ao movimento que ficou conhecido como Analítica Filosofia da Lina sofi ou Filo dos grandes guagem Ordinária.jpg . Professor de filosofia da Universidade da Califórnia (Berkeley). de cunho behaviourista (LEVINSON. Essa relação foi verificada por Morris em estudos que levaram à reflexão de que expressões como Bom dia!. Austin é um “concebe a que nto ime mov expoentes desse e construída linguagem como uma atividad a linguagem – (.) pelos/as interlocutores/as mas ação” do. Aus de pensamento unda seg na ofo.foru -livre. de análise elaborado por Wittgen k. Austin efetiva nas inúmeras reviravoltas que em” (Pinto. Searle reforsofia da mente e filosofia soci atos de fala e mulou a teoria austiniana dos Em Speech ica. Levinson apreO linguista Stephen o interessante no senta uma discussã seu livro. Esse uso amplo do termo permitiu que a pragmática figurasse em produções científicas tão díspares. O termo pragmática apareceu pela primeira vez nos trabalhos desenvolvidos no fim do século XIX pelo filósofo Charles Peirce. foram atribuídos à Pragmática diferentes definições que emergiam de perspectivas distintas.com/t53-john-searle Ao longo da história da constituição do seu campo de estudos. Oh! e Venha aqui! só têm o seu sentido explicitado quando referidas aos usuários da língua. odo mét pelo ida mov pro ica uíst à guinada ling stein. É precisamente no artigo How to make our ideas clear que encontramos a palavra pragmatics. filoal. de 1969.philosophypag com/vy/aust1. suas enciaram o ideias sobre a linguagem influ o trabaque o mod de tin. no Colorado. Isso leva Morris a investigar as regras pragmáticas que definem os usos linguísticos.Capítulo 3 a que estava atrelada. os usuários dos signos. essas definições que se diversificam apontam para a tentativa de organização de um campo de estudos que buscam uma concisão teórico-metodológica e um objeto delimitado. descriç ). uíst Ling firmou-a no âmbito da abamento “ac um duz pro rle Sea acts. lho desenvolvido por esse filós o ulad vinc ará ontr enc se metade do século XX. mas Morris foi além e expandiu o alcance da análise pragmática segundo sua teoria específica da semiótica. Definições da Pragmática John Rogers Searle nasceu em 31 de julho de 1932. biológicos e sociológicos que ocorrem no funcionamento dos signos. ias nc tempo. mun do ão não é. Ver referê 2. Mas que significados foram atribuídos à disciplina que responde pelo nome de Pragmática? 33 SAIBA MAIS! VOCÊ SABIA? Langshaw John Austin nasceu em Lancaster. 2007).jpg C.gorodo net/pictures/ludwig09. Searle é célebre por sua contribuição à filosofia da linguagem. o filósófo Charles Morris (1938). Enfatizando aspectos diversos dos elementos constituidores do uso linguístico. no dia 26 de março de 1911 e faleceu em Oxford. em Denver. Ludwig Wittgenstein (1889 -1951) foi um filósofo que integrou o Círculo de Viena e contribuiu com os estudos sobre lógica matemática na década de 1920. 200 es. Fonte: http://wittgenstein. uag ling em sua reflexão sobre a 2006: 59-60). Essa expansão vai resultar numa definição bastante ampla do termo pragmática. de modo que Morris detalha seu conceito afirmando que esse campo deve abranger os fenômenos psicológicos. cujo tído capítulo primeiro le a pena percortulo é Pragmática. no dia 8 de fevereiro de 1960. 6:57 (Pinto. dará ao termo o uso que atualmente se faz dele e que pode ser assim entendido: pragmática é o estudo da relação dos signos com os intérpretes.. Nas palavras de Armengaud. o sentido é aquilo que nos permite chegar a uma referência no mundo. “a linguagem é concebida como um conjunto intersubjetivo de signos cujo uso é determinado por regras compartilhadas. ainda dentro atism. por exemplo. 3. encontramos estudos voltados para o sentido de promover análises que abordam as relações entre os signos organizados num sistema. De saída. Conheáfo positivista e pragm cido como um filóso ca óti mi âmbito da Se tico. mas absolutamente real: é instaurar um sentido e é. Armengaud (2006:11) diz que. o lugar e o tempo em que o processo comunicativo se realizava e respondia às perguntas: Quem fala? Para quem se fala? Qual o lugar de enunciação? Quando acontece o processo enunciativo? Esses aspectos do contexto criam as condições para que um ato de fala seja legitimado. são formuladas regras de boa formação das frases e das regras de transformação das frases em outras frases. O primeiro desses conceitos é o de ato de fala. o contexto referia-se à situação imediata em que se davam os atos de fala. encontramos uma definição que procura integrar diferentes aspectos pragmáticos determinantes da língua(gem). Desse modo.pragm jpg rris. que se entende-se por ações realizadas quando falamos. em linhas gerais. Para ela. Eles afirmam que a pragmática estuda a utilização da linguagem no discurso. alguns dos conceitos fundamentais para a inauguração e o desenvolvimento do campo como o lugar da análise daquilo que o falante faz quando usa a língua. desempenho é William Charles (1901s rri Mo 1979). /mo ges ima VOCÊ SABIA? . Essa situação envolvia os interlocutores. Armengaud (2006:12) diz que “falar é agir. Fundamentos da teoria do signo (1938). Em relação à primeira.” Tais regras compartilhadas pelos falantes constroem as condições de possibilidade do discurso. filósofo estadunidense.” O segundo conceito tem a ver com o contexto. é o primeiro projeto completo de uma semiótica. irc Pe ers nd Sa Charles Outra definição aparece nos textos de Anne-Marie Diller e François Récanati. Em um sentido óbvio: é. agir sobre outrem. Ela o constitui e o molda. O desempenho é o terceiro conceito basilar que se encontra na base do campo pragmático. mas agir. temos uma análise das relações entre as palavras/frases e o estado das coisas.34 Capítulo 3 dessa segunda perspectiva. de todo modo. A mobilização de conceitos que marcaram essa mudança do ponto de vista teórico acerca da língua(gem) foi determinante para a implantação de um campo que permitisse ver a língua em seus usos concretos.org/ Fonte: http://www. No que diz respeito à segunda abordagem. seu trabalho no de ias ide las nciado pe foi fortemente influe e. A exclusão de questões concernentes ao sentido e aos aspectos extralinguísticos em ambas faz surgir no campo dos estudos linguísticos uma terceira abordagem que se ocupará desses aspectos deixados de fora por uma abordagem estritamente formal da língua: a pragmática. cuja obra. Nessa perspectiva de análise semântica. para Jacques. fazer ‘ato de fala’. falar não é simplesmente produzir uma sequência delimitada de fones. a pragmática aborda a linguagem como fenômeno a um só tempo discursivo. comunicativo e social. Em um sentido menos aparente. posto que possibilitam a avaliação do que é dito. Em Francis Jacques. apresentaremos. A linguagem não é um artefato que serve tão somente para representar o mundo. Na apresentação desse conceito. Nas primeiras investigações pragmáticas. de modo que essa disciplina deveria ocupar-se do sentido das formas linguísticas em uso. O Surgimento do Ponto Vista Pragmático de Os estudos pragmáticos aparecem no cenário das investigações linguísticas em resposta às duas tendências predominantes no âmbito linguístico: a semântica de cunho formal e lógico e a abordagem sintática de expressão estruturalista/gerativista. Loyo nhos da Pragmática ico o artigo Os cami ind . mática na filosofia co ag -pr co ísti gu lin a avolt OLIVEIRA. Em seu artigo How to make our ideas clear. Desde Kant. A pragmática é fruto desse movimento em direção aos problemas relativos ao uso da linguagem. acarretando uma tendência análoga no âmbito da Linguística. seja integrando o exercício linguístico a uma noção mais compreensiva. a Filosofia iniciou um redirecionamento na forma de responder a suas perguntas. Peirce desenvolve um ponto de vista que passa por aspectos pragmáticos e. Go no ro liv São Paulo: do s ulo capít ntemporânea. recomendo a e ira ive Ol de jo aú edo Ar nea escrito por Manfr ogle Acadêmico. Em Pinto (2006:49). 01 no Brasil do 20 la. principalmente. seu saber e seu domínio das regras. inaugura-se outro ponto de vista sobre a língua(gem). assim. de 1878. (II) que aspecto do uso linguístico foi recortado por cada corrente.b http://www. defendendo principalmente que representação é antes linguística do que mental. Mais tarde. erca da ar o conhecimento ac e Pragmática e ampli a nheciofi co os Fil de os tre en mp ca ão a relaç s nos respectivos do lvi vo a fim de aprofundar sen de s mp gia filosofia conte orâ os e das metodolo ístico-pragmática na gu lin trajetória dos conceit s a un olt av alg vir ará Re ntr ro leitura do liv la. É importante destacar que esses conceitos foram cunhados na interface entre Linguística e Filosofia. a quem ele significa1. o objeto e o interpretante. (III) que contribuição cada corrente deu aos estudos pragmáticos. os estudos filosóficos passaram a ser entendidos como um conjunto de critérios para avaliar a maneira pela qual a mente é capaz de construir representações. seja atualizando a competência dos falantes. No final do século XIX. lemos que explicar a linguagem em uso e não descartar nenhum elemento não-convencional: esses dois pontos comuns aos estudos pragmáticos formam uma linha derivada da história da preocupação com o uso linguístico. inclui nos estudos linguísticos aquilo que havia sido deixado de fora: o interlocutor. objetivos filosóficos de discutir e descrever nossa representação do mundo respaldaram um movimento em direção às usuárias e usuários da linguagem. Ele faz isso com base no estabelecimento da tríade pragmática que envolve o signo. como a de competência comunicativa. lta. Pinto (2006:51) elucida a tríade pragmática nos seguintes termos: o que Peirce procurou destacar ao postular essa tríade foi a necessidade de se teorizar a linguagem levando-se em conta o que sempre foi lembrado na Linguística. mas também aquilo a que este sinal remete e. ou seja. os estudos filosóficos cunharam sua variante da filosofia kantiana. o sinal. Você enco publicado pela Loyo mento.sciel 4. O artigo ca áti De : gm da Pra lica da ap rso ística teórica e gu lin de Ainda sobre o percu ista rev na : opalan publicado de ser encontrado em Profº Kanavillil Rajag o em nosso país e po mp ca do nto me lvi arttext foca o desenvo 0300013&script=sci_ =S0102-4450199900 pid p? ph lo. então. no final do século XIX. 2. M.Capítulo 3 a realização do ato em contexto. ou seja. por Charles Peirce. e que se deve refletir antes em filosofia da linguagem que em crítica transcendental. cie r/s o. É precisamente isso que faremos agora: (I) entender como o campo da Pragmática diferenciou-se em correntes teóricas. Percorrer esse trajeto teórico-metodológico permite ao estudante vislumbrar um panorama mais amplo dos estudos pragmáticos. 35 Esses conceitos inicialmente permitem ao pragmaticista abordar os fenômenos que envolvem as diferentes realizações linguísticas. A. os atos de fala em situações específicas de enunciação. de modo que seu aparecimento resulta da preocupação de filósofos em responder acerca da relação entre representação e linguagem. devemos acompanhar também um pouco da história dos grupos filosóficos que a influenciaram. Assim. Pragmatismo Americano Com a fundação da Semiótica. ao estudarmos a constituição dessa área. 1 Grifos da autora. isto é. por isso. ed. a fim de entender como cada corrente constrói seu objeto de estudo e enriquece o campo com novas abordagens e propostas. SAIBA MAIS! Caro estudante. . Revir . a cooperação de três sujeitos. o signo não é marca ou etiqueta de um objeto. que são o signo. omunicacao. a linguagem não é um mero código que serve para codificar mensagens a serem decodificadas. ca óti mi Se de os ad ência dos signos cham IV. Seguidores de Peirce. em Linguística Interessado também cio Pragmatismo e a u do fun e História. importa conhecer. O filósofo ainda acrescenta que uma das propriedades fundamentais do signo é remeter a outro signo. 2006). dade Johns Hopkins rsi ive Un na e rd Harva gia olo Fil . a lógica e a semiótica experimentaram um novo impulso inovador. então o pensamento. de maneira que não há um sujeito anterior a essa atividade. Estados Unidos e faleceu em 19 de abril de 1914. ele . que se voltaria para os estudos sobre o significado. Morris. a intersubjetividade constitui-se na atividade linguística. mesmo que de maneira breve. ou que supõe. em (EUA). o processo pelo qual os signos se constituem e são intepretados. . reduzir-se a ação entre pares. em nenhum caso. forica de de Havard em Fís mou. ou seja. 2004). a sintaxe. remete a outro pensamento. Foi com base nessas contribuições que a filosofia da linguagem. temos a relação triádica que constitui a semiose. que se ocuparia das relações lógicas estabelecidas entre os elementos da sentença. Significar supõe aqui três termos.h VOCÊ SABIA? SanCharles ders Peirce nasceu em dia 10 de setembro de 1839. Essa concepção de signo inaugura uma nova concepção de sujeito. Essa relação ternária é assim expressa em Bougnoux apud Araújo (2004:46): Peirce partiu de um esquema triangular muito diferente do de Saussure (a quem. V. Essas ideias lançaram as bases para uma abordagem pragmática dos processos de significação.se na Universida la pe ica ím rou-se em Qu e Matemática e douto em a ofi os Fil ou . ou uma influência. Em contato com as pesquisas desenvolvidas pelo Círculo de Viena. não há para Peirce o sujeito com sua mente como se fosse uma substância plena de representações (ARAÚJO. que é. Ao sair dos limites impostos pela estrutura da língua como estabelecido pelo estruturalismo saussureano. de modo que o sujeito deixa de ser o centro da atividade linguística. Se assim o é. sem linguagem não há pensamento sem linguagem. ou seja. VI. a semântica. não conheceu): a relação de semiose designa uma ação. Fonte: http://antrodec tml com/2011/04/semiotica. Destacamos que as ideias de Peirce são complexas e não se esgotam nas linhas aqui apresentadas. a linguagem é o lugar de onde emergem as significações.blogspot. II. o uso de signos implica interpretação. Morris conhece a proposta de Rudolf Carnap em dividir as pesquisas acerca da linguagem em três esferas: I. seu objeto e seu interpretante. Peirce possibilita pensar a linguagem em relação aos sujeitos que a produzem. que é seu intepretante (ARMENGAUD. 2006). William James e Charles W. Por ora. que é um signo. Esta relação ternária de influência não pode. de modo que não serve apenas para designar ou nomear esse objeto. Milford i mapa de ho Fil temático. em Cambridge. aliás. difundiram suas ideias e apresentaram interpretações para sua obra. Ele fez um trabalho minucioso e extenso e buscou explicitar em detalhes sua teoria do signo na tentativa de explorar ao máximo sua capacidade interpretativa e seu alcance teórico (PINTO. III. II. Disso. o homem pensa por signos e o pensamento só existe nos signos. Ensin mesma universidade . Nessa perspectiva. linguagem e pensamento são constitutivos da realidade. não somente dois.36 Capítulo 3 De acordo com Peirce. físico e astrônomo. seu trabalho e a repercussão para as ideias que se desenvolverão. Ele próprio – o pensamento – é signo. Outros deslocamentos que o pensamento peirceano produzirá no âmbito da língua(gem) são os seguintes: I. ainda que esse gesto de Morris seja bastante apropriado ao pensamento de Peirce. o que. sen ca dé s ira me pri as ico. com Foundations of the theory of signs.Capítulo 3 III. combatendo a hierarquização dos três campos. ambas pensamen na virada do século cessa. compunha publicaram um manif to. e em 1938. economistas e SAIBA MAIS! . lo de Viena. busca minimizar a força da separação entre os três campos de estudo. eci nh co de o mentaçã rdade por causa nto possui valor de ve me eci nh co o que e qu ou po constat deiro na medida em Nesse sentido. Essa escolha teórico-metodológica direciona suas pesquisas por um caminho diferente daquele proposto por Peirce. embora mantenha pontos em comum com as ideias iniciais desse pensador. Esses aspectos da análise semiótica defendidos por Morris encontram-se em consonância com as ideias desenvolvidas por Peirce. co da ca dé daira fun a base de partir da prime a buscar nas ciências versidades alemãs. ou seja. Entretanto. um grupo de séc do surgiu na Áustria. 2006:55). forma juristas. o significado e os usos que os locutores fazem da língua(gem). do responsável das do século XX. é forte a ascendência do empirismo lógico em seu pensamento [. Contudo. “nenhuma das três disciplinas basta para definir seus próprios conceitos nem para se definir a si mesma em seu projeto” (Armengaud. defende a interdependência. de modo a extrapolar o campo da linguística e atingir uma amplitude que alcança todos os fenômenos da vida. por fim. lembra a tríade fundada por Peirce: signo-significado-interpretante. Ao fazer isso. ao mesmo tempo. Morris dá sinais de que sua pesquisa assumirá rumo distinto daquele proposto por Peirce. na déca Em 1929. mp co isto . afastaria. em alg tem ma o a çã e na ica mi e a deter andonar a lóg determinante a busca que não se pode ab ira ne ma ra cu de pro iam e xil qu au to. Carnap. a semântica ou o terreno mais amplo da pragmática. assim. ess m exp era à tiv o. vin th de da ura hn e Ne ram-se. a pragmática. Morris amplia o alcance da sua proposta teórica. ma s cu Cír seu o de o: o nd içã Mu nd passaram à co ção Científica do ep nc Co A o grupo cienlad o itu m int esto fos. tal gru nto científico é verda me eci iam nh nd co o ree é. for Schilick e Rudo ritz Mo lógico. mas é notória a presença do empirismo lógico em seu pensamento. Ha Hans Hahn. que abordaria a linguagem em uso. aquele que busca a interdependência entre os campos. co 45 áti -19 82 tem imentos ma Otto Neurath (18 lógica e dos proced Frank (1884-1966). Morris entusiasma-se com a proximidade entre os dois pensamentos – Peirce e Carnap -. Morris propõe um caminho contrário. na prática da pesquisa linguística. a doutrina pragmática de Peirce. Morris propõe a inter-relação entre as disciplinas uma vez que os três pontos de vista – sintático. consequentemente. O deslocamento promovido nas pesquisas em semiótica da primeira metade do século XX evidencia-se na busca por uma especialização que recairá sobre a sintaxe.. tistas. o p log ilip e Ph qu r p. Além desses filóso en vim mo e ess do Estava. mas. . a esse da conhecimento se pro o e xiliado pelas regras qu au s. Para Morris. A tav ten e qu o çã iga to de invest iniciou um movimen mentos verdadeiros. semântico e pragmático – são necessários à análise semiótica.] (Pinto. os três elementos da tríade pragmática. Esse movimento surgiu nas du itulada positivismo lóg “O Círculo de Viena int to en am s unins pe de corrente iva que prevalecia na pela criação de uma idealista e especulat fia íacos so str filo au à o fos çã so rea filó mo ulo. Assim.se positivismo lóg mi na experiência o va no de e ) s. os campos ganham independência e são estudados distintamente no âmbito da Semiótica. ob sã as en est dim e a qu um ca.. Nesse segmento de pesquisas. Morris atesta. desde 1938. pírica es filósofos da sua vinculação em eriência. ou em lor de verdade nou. po rna do Ca ma lf . 2006:52-53). Morris mostra-se fortemente influenciado pelo grupo de empiricistas de Viena. com o avanço áti se relaciona. 37 Assim. Essa tríplice relação entre a sintaxe. em õe es siç içõ po nd pro as das co su de o o ism im pir últ ico. A este grupo te. Assim. em situações específicas. Valendo-se desse pensamento. incorpora is ativos membros. o pragmatismo americano procurou.38 Capítulo 3 nsamenlo de Viena são: o pe los filósofos do Círcu pe e Frege. rec ad ias he nc de Russell. me a” fia idealista ou “ser” e “nad afirmações da filoso s centrais. Esse movimento ficou conhecido como Filosofia Analítica e teve uma repercussão determinante no rumo que os estudos da linguagem tomariam nos anos seguintes. ree da mp ain co . ra e em quais ela ser ade da sentença em em r a verdade ou falsid ca posições que contribu rifi pro ve s da de s as ica jad pír ali o em sã a s ísic da taf da . Nesse texto. contribuíram com a corrente americana de estudos pragmáticos: • William James: desenvolveu uma reflexão sobre os sinais e seus significados com base nas formulações de Peirce. . em suas investigações. a ad ess uid do big am os. Ancorado em perspectivas teóricas que ora se aproximavam. segun sua generalidade e enunciados metafísic trinta. ora se afastavam. ça çã ca ten rifi e condições tal sen possibilidade de ve qu em s r ica ind de o capazes ontar as possibilidade para aqueles que sã ndições equivale a ap co s as . tes Estados an os s. estreita vínculos com as ideias de Peirce e dar uma nova roupagem a essas ideias numa proposta que chamou de pragmatismo radical.co bre so go . Assim. esses autores. • Donald Davidson e Richard Rorty: tributários das ideias de James Dewey e Wittgenstein. Unidos e aliada às mo de-viena. . a Escola Analítica Inglesa – que conta com a contribuição de Strawson e Austin – volta-se para a linguagem usada no cotidiano pelos falantes que mobilizam os enunciados em situações concretas de enunciação. tais como mo ter ten s sen seu . Peter Frederick Strawson e Gilbert Ryle. tid sen de ças dessas filosofias em rec ca . White ica As principais influê lóg a ). entender os processos de significação. possi nto. a foi o fic nte só na ximo alcance filo má de Einstein. de modo que “é impossível discutir linguagem sem considerar o ato de linguagem. Com isso. ra so nem fal e de outros pa não são verdadeiros mudança de Carnap a m Co inicial. Davidson e Rorty deram aos estudos pragmáticos americanos uma perspectiva historicista e defenderam o ponto de vista de que é a coerência interna e não a verdade que apoia qualquer sistema interpretativo. • Willard V. esse autor empenhou-se em dar prosseguimento às ideias pragmatistas. sã çã o ep nã nc co e. Os partir da década de A o. John Austin. o que tor para a questão do co o passíveis de verifica o. o ato de estar falando em si – a linguagem não é assim descrição do mundo. Inicialmente filia-se ao empirismo lógico. as nto na me nheci ção. tai r do ica mo Ind sse . mas abandona em seguida a terminologia logicista. sim as o. 2006:57). mas ação” (Pinto. 5. sa De ia fal questão. A Teoria dos Atos de Fala A Teoria dos Atos de Fala nasceu da preocupação de alguns filósofos. entre eles. especi co ica fís ctatus da Tra as seu igm de parad A leitura bem como os novos sofia de Wittgenstein.” r. Determi ao ar lev funs po do gru ão empírica permitiu ao -la a uma interpretaç Logico-Phylosophicus orá orp inc .html sociofilosofia/circulobr/ m. Austin explica que a linguagem é uma atividade construída pelos interlocutores. Essa teoria foi exposta na conferência How to do things with words ministrada por Austin em 1962. ura movimento começou Ne e k ilic Sch rtes de Hahn. americano) demonstram particular interesse nos atos de fala que compreendem os interlocutores e a situação em que realizam a atividade linguística. em voltar-se para a linguagem ordinária a fim de resolver problemas filosóficos. A principal contribuição dessa guinada nos estudos filosóficos no campo da Linguística foi a teoria dos atos de fala. o rsa esã pe co a dis su a se o Círculo perdeu th. Ou seja. filo nsão a . com esse gesto. o sem significado. 16 bertas -19 sco 38 st Mach (18 almente as de to do positivista Ern ntemporânea. inclusive Wittgenstein e Searle (este último. s o ida an eb Pe . bilitand da nova lógica. o de verificabilidade Viena reside na noçã de lo a cu su à Cír o do ad es ion te relac contribuiçõ ão está intrinsecamen Uma das principais tido de uma proposiç possui significado sen o só e ça qu e ten nd sen ree da mp na Esta co dizer: determi er qu o Iss seria verdadeio. me eci nh co do s nto dame . relacionar signo e falante e.al /www Disponível em: http:/ Além de Peirce e Morris. Quine: tomando Peirce e James como base do seu pensamento. Esses três níveis atuam simultaneamente sobre o enunciado (Pinto. Ao pronunciar Ordeno. Vejamos um exemplo: a. aqueles que apenas afirmam algo sobre alguma coisa. Apenas faz-se uma afirmação acerca da condição material do livro. não ocorre uma ação enquanto o enunciado é proferido. Nesse caso. afirmar. entre outros. Por enunciados performativos entende-se aqueles que realizam uma ação pelo fato de terem sidos ditos e por enunciados constativos aqueles que realizam uma afirmação. Apoiado no pressuposto que afirma que a unidade mínima da comunicação é o ato de fala. por meio da teoria dos atos de fala. nesse deslocamento. pois para que o ato seja eficaz é necessário que alguns aspectos do contexto estejam presentes. “podemos dizer que os atos de um enunciado ocorrem simultaneamente. Por exemplo: b. . ou seja. declaram algo sobre alguma coisa. resolver alguns dos problemas com os quais a filosofia vinha se deparando. e atos perlocucionários. II. entrou definitivamente na agenda programática da Linguística. Esse empreendimento foi iniciado por Austin. Searle organiza e dá um acabamento às ideias desenvolvidas por Austin. Ordeno que você saia. podemos citar atos como descrever. são relativos ao contexto de fala e às pessoas que falam. sirva-se de mais uma caldeirada! Nesse exemplo. Considerando que os atos de fala geralmente podem apresentar ambiguidade em sua interpretação. aqueles que produzem certos efeitos e consequências sobre os/as alocutários/as. Por favor. o ato locucionário seria o conjunto de sons que estão organizados a fim de realizar um significado. No enunciado acima. sugerir. O livro está rasgado. Ele debruçou-se também sobre os atos constativos. hierárquica etc) de quem produz até a situação de enunciação. Assim sendo. John Searle. aqueles que refletem a posição do(a) locutor(a) em relação ao que ele(a) diz. prometer. de 1969. 2006:58) 39 Para entender melhor essa reformulação da teoria austiniana. acusar. O enunciado acima é performativo. III. É isso que caracteriza a performatividade. assim. temos a realização dos três atos concomitantemente: I. o ato perlocucionário é o efeito produzido no falante que ouve o enunciado.. os falantes costumam levar em conta a situação em que são proferidos e. que logo o abandonou ao convencer-se de que havia uma falta de nitidez para esse tipo de classificação. Austin “pretende com sua análise resolver ou pelo menos esclarecer os problemas filosóficos” (Araújo. Assim. sobre o/a próprio/a locutor ou sobre outras pessoas.. Austin lista alguns manifestando essa unidade. É nesse sentido que podemos dizer que Austin intenciona colocar a problemática filosófica num outro lugar e. que pode ser de coação a fazer algo não disposto ou não do agrado. 2006:59). No caso de c.. a pessoa que ordena deve estar em condições de realizar esse ato. Mas Austin não se ocupou apenas dos atos performativos. perguntar. Austin prosseguiu na construção de conceitos que dessem conta dos fenômenos investigados à época e desdobrou os atos performativos e constativos em três: atos locucionários. atos ilocucionários. o ato ilocucionário é a ação que o enunciado produz. e são interpretáveis com uma amplitude muitas vezes difícil de ser descrita nos limites de uma análise linguística” (Pinto. segue o exemplo: c. Isso pode ser comprovado na organização de um quadro taxonômico dos atos de fala. A primeira diferenciação que Austin apresenta em sua teoria é a de enunciados performativos e enunciados constativos. o falante realiza a ação de ordenar. o ato não pode ser confundido com a expressão ou a frase em que se realizou. atos ilocucionários e atos perlocucionários. uma vez que “realiza” uma ação enquanto é enunciado. ele propôs chamar atos locucionários aqueles que dizem alguma coisa. 2004:128). ordenar. criticar. Com a publicação de Speech acts. agradecer.Capítulo 3 Ao propor uma abordagem diferente dos atos de discurso. Essas condições vão desde a posição (social. trata-se de uma ordem que é dada com polidez. e. do mo do a e máxim máxima da relevância ury. Essa mudança epistemológica resultou na inclusão de aspectos extralingüísticos. A comunicação é vista. nas diversas sub-áreas da Linguística (Análise do Discurso. derno brado por sua udos que relacionam contribuição aos est linguístico. bem como é afetada pelas contradições sociais que se deixam evidenciar nos enunciados realizados em situações de comunicação. P (1913-1988) filósofo da linguagem que encontra se entre os fundos dadores estudos pragmomáticos lem é s. uma vez que. o que vemos é uma tentativa de abertura do campo a fim de incluir em sua margem de interesses objetos que ainda não receberam a devida atenção da Linguística. Grice G. nessa perspectiva. que estão presentes em todo processo de comunicação bem sucedido. VOCÊ SABIA? .” Ou seja. Seguindo a linha crítica de Mey. a noção de cooperação implica e sustenta a ideia de parceria social. Para Grice. um grupo de estudiosos da comunicação optou por verificar que enfoque estava sendo dado às questões relativas à comunicação no âmbito da Filosofia. . Mey severas críticas. a linguagem é constitutiva da realidade. como a diferença de classes. Valendo-se de releituras dos métodos e das propostas apresentadas por tais teorias. Nesse momento dos estudos pragmáticos. mas sem abandonar questões fundamentais para os pesquisadores dessa corrente. Segundo Pinto (2006:62). Análise da Conversação. Essa ampliação dos interesses da Pragmática pode oferecer uma contribuição consistente e relevante aos estudos da comunicação humana. A difusão dos estudos marxistas pela Europa levou ao aparecimento de novas questões sobre a língua(gem). Fonte: http://scottthornbgrice. A essas releituras.40 Capítulo 3 As repercussões da teoria dos atos de fala para os estudos linguísticos são evidenciadas na quantidade de pesquisas científicas que buscam apoio teórico nos conceitos cunhados por Austin e estudiosos. Linguística Textual. Nessa reavaliação dos estudos da comunicação. A Comunicação: Estudos Híbridos Os estudos da comunicação caracterizam-se por receber contribuição da Teoria dos Atos de Fala e do Pragmatismo americano.jpg wordpress. na leitura desse autor. ão aç ers nv geral na co mánv as co ersacionais: dobrado em máxim de. há trabalhos que trazem contribuição dessa teoria para montar seu arcabouço teórico-metodológico. Ela constrói e reconstrói realidades. Atualmente ainda é possível encontrar trabalhos científicos que ancoram suas investigações na teoria dos atos de fala. acrescentam a perspectiva filosófica historicista. Essa visão do processo comunicativo recebeu de Jacob L. da ali máxima da qu xima da quantidade. os estudos pragmáticos desenvolvidos atualmente descartam a ideia de língua neutra e de comunicação como ferramenta de transmissão do pensamento. “atuais pragmatistas apostam em comunicação como trabalho social. o conceito de cooperação elaborado por Herbert Paul Grice foi alvo de críticas. da Etnologia e das ciências sociais. Semântica etc).com/2010/03/ Assumindo outro direcionamento. os autores ligados a essa corrente inauguram um novo viés pelo qual a língua(gem) será abordada. Pinto (2006:61) assevera que “muitos autores e autoras se perguntavam o que significaria a diferença de classe social para a comunicação entre pessoas. que tem como equivalente a ideia da linguagem isenta de conflitos e desigualdades sociais. como a base material sobre a qual se desenvolvem processos sociais.” 6. que apresentaram uma releitura dos seus trabalhos e propostas. a comunicação é orientada por princípios de cooperação – que foram sistematizados naquilo que chamou de implicaturas conversacionais – e atende a regras .files. Grice postu falante e significado o tiv era op princípio co lou a existência de um e princípio foi desEss . nos estudos da comunicação. realizado com todos os conflitos consequentes das relações na sociedade. damentos da Pragm RESUMO A Pragmática – como campo de estudo dos usos que os falantes fazem da língua(gem) – longe está de formar um conjunto homogêneo. bem como repensa o objeto das suas investigações. L. São Paulo: Parábola Editorial.edu. C. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. São Paulo: Martins Fontes. seja em relação à teoria e à metodologia utilizadas em seu âmbito. REFERÊNCIAS ARMENGAUD.. OLIVEIRA. . a Pragmática ainda coloca questões acerca do alcance teórico-metodológico das suas propostas.Capítulo 3 ATIVIDADE | 41 VOCÊ SABIA? Leia atentamente a tira da Mafalda.html hk/~eng/1%20Seminar ) é proJacob L. 2. Ed. resumimos três pontos de vista nos quais a Pragmática se ancora. ARAÚJO. Mey (1926 tituto de fessor emérito do Ins nicação mu Co Linguagem e Sul da do de da da Universi guíslin a ion lec a.html . São Paulo: Parábola Editorial. Pragmática.blogspot. ca áti gm Pra de l na Jor dou o cs). as correntes teóricas que aqui apresentamos têm apenas a finalidade de fazer vislumbrar um panorama alargado pela inclusão de novos interesses e pela reelaboração dos métodos de pesquisa que visa dar conta da novidade que é a linguagem humana. arc Dinam em o çã za tica com especiali fun . Pragmática. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras.hkbu . I. Assumindo diferentes pontos de vista que partem de lugares teóricos distintos. seja em relação ao objeto de pesquisa do qual se ocupa. F. A pragmática. P .com/2010_03_01_archive. F. analise-a e aponte os atos de fala realizados nessa situação de comunicação. Ao longo do percurso que fizemos. São Paulo: Cortez. Fonte: http://fernandaisobe. In: MUSSALIN. R. que (Journal of Pragmati ão das aç ulg div permitiu a e funas uis sq pe es. BENTES. Vol. 2006. a fim de constituir-se como disciplina científica que dispõe de um corpo teórico suficientemente organizado e aplicável a diferentes fenômenos. 2006. Fonte: http://arts. 5. 2007. 2004. LEVINSON. Assim. discussõ ca áti . S. 77 19 Em pragmática. . • Refletir acerca dos processos de construção do sentido a partir das perspectivas teóricas concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática. Objetivos Específicos • Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática linguística. o caminho dos estudos que têm o sentido como o foco da sua abordagem e interesse científico. como os de dêixis. entre outros. A semântica do enunciado e da enunciação. Assim. Sentido e referência. Chegamos ao último capítulo do nosso curso. ganharão uma reflexão pormenorizada. Introdução Querido(a) aluno (a). Neste último. Campos semânticos. pressuposição. Sinonímia. Semântica e Pragmática. As semânticas estrutural e cognitiva.Capítulo 4 4 43 Pragmática: Conceitos Teóricos Prof. a fim de entendermos como os conceitos pragmáticos são operacionalizados no campo da Pragmática. atos de fala. Enunciado e Enunciação. • Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos linguísticos agenciados na produção de sentido. . aprofundaremos alguns conceitos fundamentais da Pragmática a partir da análise de sentenças e/ou textos. Avaliação de competências. antonímia e polissemia. ao longo desses quatro capítulos. do texto e do discurso. Planejamento do ensino. Temos por certo que percorremos. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária | 15 horas Ementa Semântica da palavra. implicatura conversacional. conceitos. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. de modo que aspectos extralinguísticos foram definitivamente incluídos nos estudos que deram prioridade aos usos da língua feitos pelos falantes em situações comunicativas. a comunicação reduz-se a um processo que envolve um emissor que codifica uma mensagem que é enviada a um receptor que a decodifica. nessa concepção da atividade linguística. 2004:17) e passa a figurar em contextos epistemológicos que a veem “como uma forma de atividade entre dois protagonistas” (POSSENTI. de um conhecimento do léxico e da gramática da língua. o sentido estaria. a quem o pronome Ela faz referência e se acesa refere-se a um estado (a lâmpada está acesa) ou a um comportamento (a criança está acesa) (MAINGUENEAU. cada enunciado carrega um sentido estável que foi dado pelo emissor e não se encontra sujeito a ambiguidades. de alguma forma. elegeram a língua como objeto de estudo por excelência e afirmaram que o sentido seria objeto de investigação de outra disciplina. agora. as palavras e os seus significados mantêm uma relação termo-a-termo. por exemplo. Segundo Maingueneau (2005:19). não mais se atêm à forma linguística. De acordo com uma linguística da forma. fornecendo os dados que permitem desfazer as eventuais ambiguidades dos enunciados. No que diz respeito ao contexto. traz para os estudos linguísticos elementos que haviam sido deixados de fora de uma análise linguística de cunho estruturalista. o sentido não se constituiu como o centro de preocupação dos linguistas fundadores dessas correntes. Essa postura em relação ao sentido assumida por correntes de base dos estudos linguísticos resultou no interesse de filósofos e linguistas pelos processos de significação que haviam sido negados nos estudos formais da língua. nesse entendimento do processo de comunicação. a contextualização será feita apenas para determinar se a palavra cachorro refere-se a um cão particular ou a classe dos cães. a saber: a semiologia e a semântica. com a língua como sistema de formas idênticas a si mesmas. 1988:48). essencialmente. . a questão do sentido ocupou o interesse de filósofos. filólogos e estudiosos da linguagem que se depararam com problemas que diziam respeito à relação entre língua e mundo. 2005). o contexto serve apenas como um acessório do qual se lança mão para se desfazerem possíveis ambiguidades e se garantir o sentido literal. Veja que. De acordo com esse esquema. esses trabalhos ampliam as perspectivas de abordagem que. objeto de sistematização e de especulações científicas de cunho positivista. Esses limites identificados nesses campos teóricos impulsionaram o aparecimento de novos olhares sobre o fenômeno semântico. O cachorro late ou Ela está acesa. Assim. Assim. a língua. Na história dos estudos linguísticos. Essa preocupação em incluir a questão do sentido leva ao aparecimento de diferentes abordagens que dão centralidade ao significado das sentenças. como o estruturalismo e o gerativismo. Filósofos e linguistas ligados a essa linha de estudos da linguagem entenderam que considerar apenas as relações formais entre os elementos do sistema linguístico não era suficiente para dar conta da questão do sentido. a partir do viés específico postulado por cada teórico. Na esteira de estudos que incluem aspectos do contexto de enunciação na análise dos enunciados. de modo que dizer isso equivale a um sentido único conferido pelo locutor. sofre um deslocamento naquilo que diz respeito à sua concepção enquanto “produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias. o contexto de enunciação passou a ser considerado nesses estudos que estavam mais preocupados com a fala e não. e sua compreensão dependeria. Com isso. considera-se que dizer. inscrito no enunciado. encontra-se a Pragmática. Enunciado e Contexto Como vimos em outro capítulo.1991). Ducrot (1988) e Austin (1990) que. o contexto desempenharia papel periférico. deslizes de sentido. Embora não tenham ignorado esse aspecto do fenômeno linguístico.44 Capítulo 4 1. Esse deslocamento aparece nos trabalhos de Benveniste (1989. equívocos. Entenderam mais ainda: entender o sentido apenas como um caminho para chegar a um referencial no mundo reduz a análise e compreensão do fenômeno semântico à verificação de verdade ou falsidade. Em algumas correntes dos estudos linguísticos. Essas abordagens compreendem desde uma concepção formal do sentido (Semântica Formal) até abordagens que entendem que o sentido de uma sentença não se esgota em seus aspectos formais ou nas condições de verdade que a legitimam. Esse sentido estável é decifrado pelo receptor que compartilha o mesmo código linguístico com o emissor. adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE. portanto. entendemos que o contexto em que os enunciados são produzidos não se refere a algo preestabelecido. implicaturas. É com Austin (1990) e sua teoria dos Atos de Fala que ocorre uma virada determinante no sentido de incluir definitivamente o sujeito e a situação de fala na agenda programática dos estudos linguísticos. Vejamos um exemplo sobre o que foi dito até agora. ou seja. Esse fator pragmático responde a pergunta Quem fala? Do outro lado. o que transforma a língua em discurso é.wordpress. etc)” (POSSENTI. a enunciação. essa intenção – que o caracteriza como fonte do sentido – é determinada pelo lugar social que ocupa. 1988:51). da enunciação em situações efetivas de comunicação. hipóteses e raciocínios são mobilizados. Dessa maneira. temos o alocutário que se engaja no processo comunicativo. para a análise da língua em contextos enunciativos reais. de modo que “a pessoa que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de indicações presentes no enunciado produzido. transforma-a em discurso. a Pragmática se ocupará prioritariamente da linguagem em suas múltiplas realizações sociais. Possenti (1988:47) assevera que “passaria a fazer parte do objeto da lingüística o estudo dos mecanismos pelos quais o falante. que então se desenvolve no cenário das investigações linguísticas. de um locutor a um alocutário (. Os estudos pragmáticos voltam-se. que poderíamos por enquanto chamar de discursivos e que são todos aqueles que não obrigam o locutor a ser absolutamente explícito (pressuposições. como se estivesse ao redor do enunciado. e o outro (destinatário).com/2007/08/26/nada-a-ver-tiras-da-mafalda/ . receptáculo desse sentido determinado e único. assim. Assim. É nesse sentido que podemos dizer que a interpretação de um enunciado implica um processo em que saberes. mas.Capítulo 4 mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes.. a partir dos estudos enunciativos e pragmáticos da linguagem. A teoria da enunciação. reclama a inserção “de outros elementos.. em suas primeiras produções. no âmbito da pragmática. Embora. Nessa visão. emissor/locutor e destinatário/alocutário não representam duas instâncias em que um (emissor) é a fonte do sentido. soma-se uma linguística da enunciação que relaciona essa estrutura às suas condições reais de produção e a vê como indissociável da atividade social dos sujeitos em interação. consideração de hábitos regulares. já é possível vislumbrar um deslocamento no sentido de relacionar essa estrutura aos seus contextos possíveis de realização. Dentro desses novos parâmetros. a reflexão sobre os processos de produção e compreensão dos enunciados teve seus horizontes ampliados e o contexto passou a figurar nessas reflexões como constitutivo dos processos de significação e não ficou restrito à condição de acessório. o locutor tenha uma intenção ao produzir o enunciado.). estivesse ainda bastante atrelada à estrutura linguística. apropriando-se da língua. mas nada garante que o que ela reconstrói coincida com as representações do enunciador” (Mainguenau. Em oposição à dicotomia saussureana língua/fala que privilegia a língua como objeto por excelência dos estudos linguísticos. 2005:20). Embora a teoria da enunciação. a um processo em que a construção e reconstrução da situação de enunciação pontilha a interação verbal entre interlocutores sócio-historicamente situados. a fim de entendermos melhor essa concepção de língua(gem) e processo comunicativo numa perspectiva pragmática: Fonte: http://juniorcba.” 45 A uma linguística da forma que tem como objetivo de trabalho a análise das relações internas à estrutura. 46 Capítulo 4 Nessa tirinha. atribuímos ao referido professor a análise sem deixar de acrescentar o ponto de vista que nos concerne. Fonte: http://buededicas. Mafalda – lançando mão de sua postura crítica e considerando o contexto mais amplo em que vivemos – entende a resposta da mãe como uma tentativa de fazer humor. mais jovem que sua mãe. mais jovem. Por sua vez. O primeiro fator que podemos citar é o estatuto dos enunciadores: I. e. levamos em consideração também as condições materiais de . Ao tomarmos consciência de que se trata de um enunciado. um sujeito responsável por sua formulação. Outro fator determinante para a compreensão dos enunciados é a condição material em que os enunciados são produzidos: trata-se de uma conversa informal. um certo sentido a produzir. provavelmente em casa. Dentre esses dispositivos. não conhece muito sobre o mundo. dialoga com a mãe sobre o porquê estamos no mundo. ou seja. Assim nos parece. Esse sujeito. Estamos trazendo para o nosso porque julgamos o exemplo esclarecedor dos vários aspectos pragmáticos mobilizados no momento da interpretação de um enunciado. Sem considerar esses fatores pragmáticos que constroem o contexto do processo comunicativo. podemos concluir que não basta o reconhecimento da sequência de signos produzida pelos interlocutores. A compreensão dos enunciados produzidos nessa situação de comunicação é determinada por fatores pragmáticos que devem ser considerados dentro desse processo. É nesse sentido que podemos dizer que a reconstrução do enunciado feita pelo alocutário pode não coincidir com a representação construída pelo locutor. a compreensão seria praticamente impossível. com efeito. ou seja. a mãe encontra-se em outra posição em relação à filha e. II. teria uma certa intenção. Além disso. É por que levam em consideração elementos extratextuais que constituem os sentidos produzidos nessa situação comunicativa que a mãe de Mafalda entende sua pergunta e responde prontamente. entre mãe e filha. porque desconhecemos todas as instâncias que mobilizamos a fim de interpretar esse enunciado. a interpretação do enunciado encontra-se submetido a uma série de dispositivos que são acionados no momento que o processo de compreensão é desencadeado. Mas não consideramos apenas o enunciado e o sujeito que o produziu. entende-se inexperiente. Desse modo. evidente. de maneira que falar em enunciado é falar em enunciação. ou seja. passamos à instância seguinte que é atribuir uma fonte enunciativa a esse enunciado.html O enunciado Proibido fumar colocado numa parede de um escritório ou consultório médico parece simples e seu sentido. Mafalda reconhece-se como filha e. Desse modo. Essas representações das posições sociais referentes à filha e à mãe são mobilizadas durante o processo de compreensão dos enunciados.com/2009/07/proibido-fumar-no-club. menina sempre preocupada em compreender o mundo. não podemos falar realmente do sentido de um enunciado”. capaz de responder e desfazer as dúvidas que carrega. pelo fato de ser mãe. O próximo exemplo aparece no livro Análise de textos de comunicação de Dominique Maingueneau. temos uma situação em que Mafalda. Por ter vivido bem menos que sua mãe. Não se trata de um debate nem de uma conferência sobre o sentido do mundo. por isso. a mãe reconhece o papel social assumido por Mafalda na interlocução: ela é filha. por conseguinte. ignorante das coisas do mundo. o processo que provê de significado a sequência de signos produzida por sujeitos em situações específicas. temos o reconhecimento da sequência de signos. Maingueneau (2005:20) diz que “fora de contexto. de uma sequência verbal que configura um enunciado. é tida pela filha como alguém que acumulou experiências e.blogspot. Essa situação imediata em que os enunciados são produzidos oferece pistas que orientam o reconhecimento da intenção dos interlocutores inseridos nesse processo. ao formular esse enunciado. Na verdade. com. os svendando os segred KOCH.). mas também. levante hipóteses acerca dos elementos extralinguísticos (pragmáticos) que precisam ser mobilizados quando da leitura desse enunciado. isto é. Levando em consideração que apenas a consideração dos aspectos linguísticos não é suficiente para atribuir sentido ao enunciado acima e compreendê-lo. lugar e por um enunciador que o assume e dirige a um co-enunciador. Ou seja. Ingedore. do texto. assinada no canto. Por outro lado. pretende instituir uma certa relação com o seu destinatário” (Maingueneau.br/cinema/o-menino-do-pijama-listrado/ O enunciado é produzido num determinado momento. pensam que se trata de um enunciado sério e importante. por meio de marcas linguísticas. Boa leitura! de ro liv do tulos 1 e 2 2. advérbios de tempo e lugar e muitas outras marcas linguísticas que apontam para a situação enunciativa. De a. 06 20 ulo: Cortez. as pessoas que se encontram na sala pensariam tratar-se de uma obra de arte e não. Maingueneau (2005) afirma que. protegida por um vidro. . uma vez que “não se trata simplesmente de um enunciado verbal: ele possui aqui um certo valor pragmático.Capítulo 4 apresentação – no dizer de Maingueneau (2005) – para que o enunciado produza os efeitos que se pretende. de modo a realizar o ato que pretende: proibir um determinado comportamento. p. ão aç textos de comunic Cortez. 2005. Análise MAINGUENEAU. tivéssemos uma placa toda colorida. temos a história de amizade entre duas crianças (um é judeu e o outro alemão) durante a Segunda Gerra Mundial. 5. demonstrativos. ao verem uma placa criada sob um certo padrão e colocada num lugar de destaque. Esses elementos extralinguísticos são codificados pelas línguas mediante o uso dos pronomes. certamente. ed 4. Do Paulo: o Sã . de um aviso proibitivo. tempos verbais. . as pessoas não se sentiriam intimidadas por ela nem proibidas de fumar. ed. A Dêixis Enunciar é pôr o sistema linguístico em funcionamento. os interlocutores. Se assim o fosse.omelete. o lugar e o tempo envolvidos no processo enunciativo. ex. mobilizamos uma série de dispositivos que não são apenas linguísticos. pragmáticos.” ATIVIDADE | Fonte: http://www. Além disso. 2005:21). se a proibição de fumar tivesse sido apresentada sob a forma de um objeto decorativo (uma obra de arte. São Pa no o mais detidamente O assunto é abordad píca e Maingueneau capítulo 1 do livro de Koch. Levinson (2007:65) afirma que “se há um modo pelo qual a relação entre língua e contexto se reflete nas estruturas das próprias línguas de maneira mais evidente. de modo que numa situação de enunciação ancoramos o enunciado nessa situação e indicamos. O texto foi produzido para funcionar como capa do filme O Menino do Pijama Listrado. Ao interpretarmos um enunciado. se em vez da sóbria placa com letras maiúsculas pretas. 47 SAIBA MAIS! o acerca da relação Aprofunde a discussã tuntexto a partir da lei entre enunciado e co : ra das seguintes obras de minique. Nisso consiste o valor pragmático de um enunciado. esse fenômeno é a dêixis. o enunciado deve “mostrar” aos seus interlocutores por meio de marcas linguísticas e pistas materiais que a fonte que o produziu é séria. No enredo. o enunciado deve reunir os aspectos necessários e instituidores de uma proibição. No diálogo do segundo quadrinho entre Mafalda e Susanita. • Os determinantes meu/teu.1. São paulo: Martins Fontes. “diz respeito às maneiras pelas quais as línguas codificam ou gramaticalizam traços do contexto da enunciação ou do evento da fala e. na resposta de Mafalda. portanto. o seu e suas formas no feminino e plural. Através desses elementos. para Levinson (2007:65). Dêixis de Pessoa Aos elementos que marcam no enunciado a categoria de pessoa. 1999. São eles: • Os pronomes pessoais de primeira e segunda pessoas: eu. nosso/vosso. Vamos ver quais são eles: . tu/você(s).É que este ano não vou poder sair nas férias com meus pais. Susanita encontra Mafalda e desencadeiam um processo comunicativo baseado em enunciados verbais e não-verbais. temos uma referência a um elemento extratextual. 2. situado fora da sequência linguística. Em Mafalda. Em seguida. também diz respeito a maneiras pelas quais a interpretação das enunciações depende da análise desse contexto de enunciação. identificamos o substantivo Mafalda que remete ao interlocutor. O exemplo acima fundamenta também aquilo que Maingueneau (2005:105) assevera acerca da dêixis: “a linguagem humana tem como característica o fato de que os enunciados tomam como ponto de referência o próprio ato enunciativo do qual são o produto. Vejamos um exemplo: Fonte: O irmãozinho de Mafalda. podemos identificar como elementos dêiticos o pronome demonstrativo este e a forma verbal temos que se encontra no presente do indicativo. o enunciado revela a presença do sujeito enunciador que o produziu. Assim. porque temos que esperar a chegada do meu futuro irmãozinho.48 Capítulo 4 Dêixis. Consideremos o exemplo: . • Os pronomes o meu/o teu.” Isso aponta para o fato de que as línguas naturais não são “indiferentes” à situação em que o processo de interação verbal acontece. aquele a quem ela dirige o enunciado. ou seja. nós vós. 13. Mafalda? . seu e suas formas femininas e plurais. aparecem alguns elementos dêiticos que referem à situação de enunciação.O que aconteceu. Assim. o demonstrativo este ancora ano no momento da enunciação. Na fala de Susanita. chamamos de dêiticos de pessoa. os enunciados possuem dispositivos indicadores ou marcadores da enunciação. A forma verbal temos também remete ao tempo presente e refere-se ao ano em que a enunciação se realiza. o nosso/o vosso. p. Essa tira da Mafalda ilustra bem o que acabamos de apresentar. É através da dêixis que se estabelece a relação entre a língua e o contexto. no tempo em que o processo enunciativo se desenvolve: o ano presente. ou seja. apresentam os interlocutores implicados no processo comunicativo. ou seja. ela diz: . É por meio do uso dos dêiticos temporais que podemos localizar um acontecimento presente. andarei. dentro de um ano designa uma duração de um ano a partir do momento em que se fala. Os dêiticos de tempo são apresentados pelos seguintes elementos: • marcas de presente.Capítulo 4 Nessa tira. daqui a um ano. ou seja. um elemento dêitico (você) que remete ao co-enunciador presente na situação de comunicação.2. Assim. passado e futuro acrescentadas aos radicais dos verbos. andei. • palavras ou expressões com valor temporal. que têm como ponto de referência o momento da enunciação.com/diversao/tirinhas-da-mafalda/ . Dêixis de Tempo As marcas dêiticas de tempo têm o momento da enunciação como referência. 2005:108).com/ Fonte: http://www.Sua danada! Você nunca disse que tinha tanto senso de humor! O pronome você. nesse exemplo.blogspot.sempretops. o advérbio ontem designa o dia anterior. como: ando. considerada pela menina como clichê. hoje. Essa expressão corresponde à primeira pessoa do plural e poderia ser substituída por nós. Outro elemento que podemos citar como exemplo de dêitico de pessoa é a expressão a gente usada por Mafalda no primeiro quadrinho. Mafalda questiona a mãe acerca do porquê estamos no mundo. Diante da resposta da mãe. amanhã. passado ou futuro em relação ao momento em que se fala. hoje designa o próprio dia da enunciação (MAINGUENEAU. Temos. a mãe de Mafalda. presente no enunciado do último quadrinho. Analisemos a tirinha: Fonte: http://clubedamafalda. dentro de um ano etc. 49 2. aponta para a segunda pessoa do discurso. como: ontem. sem ter o sentido comprometido. É a partir desse sistema de coordenadas que se realizam as operações de referenciação que tornam possível a significação. • lá designa um lugar distante em relação aos interlocutores. o momento da nome ele que repro do o dit ser mo pode um elemento do é e toma o termo Paulo qu de enunciação. esse/essa/isso e aquele/aquela/ aquilo fazem referência a objetos e pessoas localizados no processo enunciativo. A unidade dêitica ontem é uma entidade do sistema da língua que tem uma ligação imediata com a situação enunciativa. Esse gesto é de caráter verbal e realiza-se em enunciados concretos. Mafalda levanta uma questão que poderíamos denominar de filosófica ao perguntar a Miguelito: . ão aç situ cotexto e não. É nesse sentido que Levinson (2007:97) assevera que “a dêixis de lugar ou espaço diz respeito à especificação de localizações relativamente aos pontos de ancoragem no acontecimento discursivo. localiza o espaço onde Mafalda. a dêixis está relacionada com o gesto de apontar. o enunciado é ancorado na situação de enunciação que é anterior ao momento da sua produção. iticos apresentados Além dos casos dê ) 05 (20 au ne ue Maing Levinson (2007) e to. não. o planeta Terra. sequência de signos linguísticos e contexto de produção. de modo que permite organizar as coordenadas do processo comunicativo. é feita por meio do demonstrativo neste que aponta para um lugar próximo dos interlocutores implicados no processo enunciativo.Alguma vez você já se perguntou para que a gente está neste mundo? O demonstrativo neste. tex de ou rso cu dis falam da dêixis de respeito às referenEsse tipo de dêixis diz no interior do texto ciações que são feitas ntos ou parte do pró para retomar eleme fai va ) ueneau (2005 prio discurso.” 2. elementos que se localizam fora da língua são codificados pela língua e apresentados aos interlocutores dentro de um processo que envolve enunciado e enunciação. SAIBA MAIS! .3.com/ . Esses elementos não são muitos e estão restritos alguns advérbios e pronomes demonstrativos: • aqui designa o espaço onde falam os interlocutores. on rat ma uma ra. Por fim. • este/esta/isto. da Fonte: http://clubedamafalda. Vamos ver como isso acontece analisando o exemplo abaixo: Assim. Através desse expediente. Na véspe Paulo chegou no dia a. que aparece no primeiro quadrinho.blogspot. Mafalda conversa com Susanita sobre o fato de ter deixado o tinteiro cair em cima do caderno. Miguelito e toda a humanidade se encontram. ou seja. Nessa situação comunicativa. ele tinha corrido nesse exemplo a pa O autor afirma que de 15 ia nc erê mo ref lavra véspera tem co e elemento do texto um a. No momento em que fala.50 Capítulo 4 No primeiro quadrinho. A referência ao lugar mais amplo. Maing enunciado e exemlo pe ia nc lar de referê do seguinte: plifica com o enuncia 15 de maio. sej ou io. ma sme O enunciação. cujo significado encontra-se acorado na língua e nos fatores pragmáticos que os constituem. utiliza o advérbio ontem que refere ao dia anterior ao momento da enunciação. Dêixis de Lugar O lugar onde a enunciação acontece é marcado no enunciado por elementos que especificam a localização de pessoas e objetos relativamente ao ponto de referência constituído pelo espaço onde se dá a enunciação. com/ Fonte: http://revistaep -15228.com/ Fonte: http://neurasdeneuza.globo. como um enunciado pode significar algo além daquilo que foi literalmente expresso. Análise se do Discurso (1993 Cenas da Enuncia). nas tiras. Grice nos estudos pragmáticos provocou um impacto bastante significativo nesses estudos.00. Em Levinson (2007:126). relacionados à situação de enunciação. A fim de responder a essa inquietação intelectual. Os primeiros textos de Grice que receberam notoriedade no meio acadêmico foram produzidos entre os anos 1956-1957. Grice pensou na existência de regras que permitisse a um falante (A) transmitir algo além da frase e a um falante (B) entender essa informação que extrapola o que está explícito no dito. ras e. Grice propõe o conceito de implicatura conversacional.html 846 MI8 /0.. P. Em seus textos. A fim de entender esse fenômeno. tornou conhecida a sua teoria da comunicação que trazia os conceitos de significação natural e não-natural. entre as que foPublicou diversas ob s o português. aponte os elementos da situação de enunciação aos quais se referem. em seguida. do ção (2008) e Gênese Agora conclua: como esses fatores pragmáticos. os elementos dêiticos e.Capítulo 4 51 Dominique Maingueneau ensina ciências da linna guagem Un ive rsi da de Paris XII-Valde-Marne. escrito em 1957.com/p/prosa-e-desverso.html VOCÊ SABIA? oca. 05 (20 ão aç Comunic s Discursos (2008).se por fenônemos da enunciação e do discurso.blogspot. citamo ram traduzidas para áli An Tendências em as principais: Novas de tos Tex de ). Interessa.blogspot. ou seja. lemos que Fonte: http://clubedamafalda. Grice construiu um aparato teórico que permitisse entender os efeitos de sentido que vão além do que é dito.E oca /Ep Revista . A Implicatura Conversacional A teoria da implicatura conversacional introduzida por H. Meaning. Mas foi com Logic and conversation (publicado em 1975). que Grice apresenta sua maior contribuição teórica aos estudos da significação. constroem o sentido de um enunciado? ATIVIDADE | Identifique. texto que apareceu nas conferências proferidas na Universidade de Harvard durante um evento em homenagem a William James. 3. Ou seja. Grice identifica como diretrizes deste tipo quatro máximas básicas da conversação ou princípios gerais subjacentes ao uso cooperativo da língua. Nesse diálogo. que sete reféns ao todo foram libertados. há leis implícitas que governam o processo comunicativo. Desse modo. uma vez que afirma algo que ele não acredita para implicar que. em seguida. quando dois interlocutores estão dialogando. de modo que seu efeito é acrescentar uma inferência pragmática de tal maneira que o enunciado proferido seja o mais informativo numa determinada situação. II. relativamente ao contrato imposto a esse tipo de livro. que visa fornecer informações práticas. B. não diga o que acredita ser falso. pode-se considerar que a lei de informatividade foi transgredida. se. num guia turístico do Brasil. com máximas específicas: I. é impossível que o processo comunicativo ocorra sem a presença dessas regras. O que você acha do governo militar? Essa máxima conversacional especifica que sejam fornecidas informações completas. (A) e (B) dispõem da informação de que a grande acusação que pesa sobre os militares durante a ditadura militar é de que esses não são eleitos pelo povo e criam obstáculos às eleições diretas. de considerações racionais básicas e podem ser formuladas como diretrizes para o uso eficiente e eficaz da língua na conversação para fins cooperativos adicionais. Faça com que sua mensagem seja tão informativa quanto necessária para a conversação. 1 Exemplo extraído do artigo A Teoria Inferencial das Implicaturas: descrição do modelo clássico de Grice escrito por Jorge Campos da Costa – PUCRS. A máxima da quantidade determina que o enunciador deve dar a informação máxima. a ironia comanda a implicatura por sugerir justamente o oposto do que foi dito e não obedecer à máxima da verdade. Maingueneau (2005:36) disponibiliza dois exemplos bastante elucidativos: quando se lê em um artigo de jornal “Sete reféns foram libertados na embaixada do Japão”. deve-se querer que a ordem seja obedecida.) Da mesma maneira. 3. Analisemos o exemplo seguinte: A. não afirme algo para o qual você não possa oferecer evidência adequada. o governo militar é antidemocrático. deve-se estar em condições de garantir a verdade do que se diz. Democrático demais1. a máxima da qualidade não será respeitada. ao que parece. Algumas dessas regras conheceremos agora: 3. sem maiores precisões. 2005). No exemplo. Para ele. correspondem duas máximas: I. levando em consideração a situação. De acordo com essa máxima. Se o enunciador diz algo que não quer ver realizado ou se enuncia algo que saber ser falso. juntos. Máxima da Quantidade Essa máxima está relacionada à quantidade de informação fornecida numa mensagem. os interlocutores trabalham a mensagem de acordo com certas normas comuns que configuram o sistema cooperativo entre eles. há quebra da máxima da qualidade por não ser dada uma resposta necessariamente verdadeira.. A sugestão de Grice é que existe um conjunto de suposições mais amplas que guiam a conduta da conversação. é essencialmente uma teoria a respeito de como as pessoas usam a língua. Trocando a citação acima em miúdos.2. a princípio..52 Capítulo 4 a segunda teoria de Grice. na qual ele desenvolve o conceito de implicatura. II. (.1 Máxima da Qualidade A máxima da qualidade tem a ver. a resposta de (B) é irônica. não ordenar alguma coisa impossível ou já realizada (MAINGUENEAU. Não dê mais informações que o necessário. supõe-se que o enunciado deu a informação máxima. que. lê-se “O Rio está localizado a uma certa distância da Bahia”. podemos dizer que para Grice. expressam um princípio cooperativo geral. A esse princípio. Elas surgem. ao contrário do que diz. . com a supermáxima: Procure afirmar coisas verdadeiras e. para afirmar algo. isto é. para dar uma ordem. Grice vai chamar esse conjunto de regras implícitas ao processo comunicativo de princípio de cooperação. Desse modo. diferente daquele atrelado às palavras da frase e que poderíamos chamar de literal. Nesse diálogo. Hã. B. a pergunta de (B) pode implicar. Evite obscuridade de expressão. é uma mulher muito boa. que o do jogo”: por exemp de zido com a intenção du pro foi e qu “sério”. a máxima do modo é quebrada pela produção da ambiguidade provocada pelo uso da palavra boa que. Evite ambiguidade. Em sua formulação teórica. Sua secretária parecer ser eficiente. ite pe res as espera que o outro as e inconscientes como não são obrigatórias es çõ en nv co o sã logia. SAIBA MAIS! 3. vou sde ia tór retraçar a his para valer. Ev . em determinadas circunstâncias. decorrente da situação de enunciação. Sem dúvida. Seja breve (evite prolixidade desnecessária).” . sim direitos e deveres. Grice explicava aquilo que o inquietava quando elaborou as ideias que por ora apresentamos. Tais ‘le prefere denominar lei el ráv ide ns co um papel que desempenham um o sã s do cia un s en na interpretação do e cabe aos interlocuqu as rm no de nto conju ato do participam de um tores respeitar. não? Entre outras possibilidades. mas não inviabiliza a comunicação que pode ser garantida pelo princípio de cooperação. no contexto da cultura brasileira e quando referido às mulheres. ele chama de princípi dencípio.3 Máxima da 53 Relevância Essa máxima determina que o enunciador faça com que sua contribuição seja relevante e traduz-se no imperativo Seja relevante. III. Com essa pretensão em mente. para pro o e qu r po su ve de tação. a carac quem é dirigido. Essa problemá . rio pe su lei a um de leis na dependência ] o de cooperação. os parceiros Em virtude desse pri olab co e certo quadro vem compartilhar um m mu co e ad vid dessa ati rar para o sucesso orec um da ca e qu em que é a troca verbal. IV. Poxa! Como estou cansado hoje. Grice deu o seguinte exemplo para esclarecer essa máxima: A. o marido (B) quebra a máxima da relevância para implicar que não quer considerar a perguntar da mulher (A). as nhece seus próprios como os do outro. quan as ess a loc co ice rbal. o destinatário s gra “re respeita certas dutor do enunciado é do cia un en lo. você não acha? B.. Gr de comunicação ve que r. Assim. Seja ordenado. ito tác o ord ac um to explícito. [. o enunciado de (B) é irrelevante. veicula o sentido de mulher sensual ou com determinadas atribuições físicas. Vejamos um exemplo: Marido e mulher estão conversando e temos o seguinte diálogo: A. Não posso a: o simples fato de tez cer ter ra sa placa pa l de comunicação verba entrar num processo o. Se a máxima é violada.4. do cia un en no á não est rística de ser sério aret o para uma interp mas é uma condiçã em contrário. com o o americano Paul Gr ”. da sintaxe e da morfo na ida uz rod int foi tica tácitas. Grice pretendia fazer vir à tona os mecanismos que jogam no processo ição pensado por Gr O princípio de coopera au ne ue ing Ma hado por ce é assim destrinc ): -32 (2005:31 reconstruir uma interp “Como vimos. filósofo da linguagem um r po 60 de da ca dé á“m de me no ice. o sentido outro. Nesse diálogo. citamos o exemplo seguinte: A. mas por ação em tra En l. Para esclarecer essa máxima.Capítulo 4 3. rba ve e parável da atividad um nte conhecido: cada um saber mutuame e ras reg as a eit iro ac postula que seu parce ras reg as Ess . Máxima do Modo Essa máxima encontra-se ligada à supermáxima Seja claro e às submáximas apresentadas abaixo: I. “cuidado. para março até que o tempo está ótimo. Eu realmente acho que a sra. Esses princípios guiam-se por máximas que estão atreladas aos fatores pragmáticos que jogam no processo enunciativo. ou seja. pois o filho dela está bem atrás de você”. o sentido do enunciado pode ser outro. Trilhando esse caminho.. que na França se ais ion ac ers nv co ximas is’ s do discurso. jog do item as regras implica que se respe aermédio de um contr int r po Isso não se faz eins . se vejo va pro ção correta: até a ibição de fumar em um uma placa com a pro é iso av o e qu r mi su pre sala de espera. ueles a àq ito pe res diz e comunicar algo qu teidentemente. II. propôs os princípios cooperativos que são acionados no momento da interlocução. Você vai me dar um Renault? B. comunicativo. Jenkins é uma tagarela. 2006:58). Austin provoca uma ruptura entre o entendimento que a Semântica Formal carrega acerca do significado e inaugura outro que se encaminha pelos usos efetivos que os falantes fazem da língua quando se encontram em situações concretas de comunicação. Após revisões da teoria. há riscos de que falhe. ou seja. 3) A) Eu perguntei se você vai me dar a aliança? B) Em compensação. 4) A) – Paulo. expusemos o trajeto histórico da teoria dos atos de fala e tecemos comentários acerca das motivações que levaram ao aparecimento dessa teoria. Como exemplo. B) É. não? É nesse sentido que uma sentença como a) aposto cinquenta reais com você que o Sport vencerá no próximo jogo não é utilizada apenas para declarar alguma coisa. por que você me pediu para esperá-lo no quarto? B) – (Na frente da mulher e do filho pequeno). 2007:289). Designou os atos constatativos como aqueles que apenas declaram alguma coisa e os atos performativos como aqueles que realizam uma ação. eu tinha um assunto muito importante para tratar com você. do Filho e do Espírito Santo é necessário que tenha autoridade reconhecida para isso. realize-se com êxito. Com isso. quer dizer. você me entende. quando usamos a língua. 2) A) João foi internado numa clínica psiquiátrica. Pode um ato falhar ou dar errado? Segundo Austin. Esse enunciado não produzirá efeitos porque não atende às condições necessárias para que se realize. podemos citar o enunciado (c) Declaro-vos marido e mulher! pronunciado por um adolescente de 15 anos e dirigido a um casal. para efetivar uma proposição que diz alguma coisa sobre ‘eu’. acho que finalmente vai chover. . Assim. ele andava um pouco nervoso. definem o ato de fala como a unidade mínima da comunicação.54 Capítulo 4 ATIVIDADE | Em cada grupo de enunciado abaixo. 4.” (Pinto. Austin afirma que para que o ato implicado no enunciado performativo seja feliz. Bem. Quando as condições de realização desse ato não são atendidas. para que o padre realize o ato implicado no enunciado (b) Eu te batizo em nome do Pai. Trata-se da dimensão linguística propriamente dita. Por exemplo. Ao propor a análise da comunicação ordinária por meio da verificação dos atos que realizamos quando nos comunicamos.1. 4. faça uso dos gestos e instrumentos recomendados pela instituição e cumpra o ritual conforme prescreve a doutrina. fazer alguma coisa. Atos de Fala A teoria dos atos de fala nasceu da preocupação2 de alguns filósofos em introduzir na reflexão filosófica considerações sobre a linguagem corrente. não transmitimos o conteúdo do pensamento nem trocamos informações apenas. filósofos como Austin. Como já foi mostrado no capítulo 3. um assunto particular. Para Austin. é necessário que algumas condições pragmáticas sejam atendidas. 2 No capítulo 3. Austin pretendia desconstruir “a visão de linguagem que colocava as condições de verdade como centrais para a compreensão da linguagem” (Levinson. indique a máxima violada e a implicação obtida: 1) A) O que você pensa dos judeus? B) Um judeu é um judeu. Esses são alguns aspectos da situação que legitimam esse ato. Austin desdobrará os atos contatativos e performativos em atos locucionários. mas para realizar uma ação. Os Atos Locucionários Os atos lucionários correspondem ao “conjunto de sons que se organizam para efetivar um significado referencial e predicativo. Austin dividiu inicialmente os atos performativos dos constatativos. mas realizamos uma ação. ou seja. ilocucionários e perlocucionários. Em se tratando dos atos performativos. sim. há toda uma conjuntura extralinguística. “sendo tais efeitos contingentes às circunstâncias da enunciação” (Levinson. declaração etc.Capítulo 4 Nesse exemplo.pdf 4. ou seja. Essa situação constrói as condições de realização do ato expresso pelo enunciado. Vejamos um exemplo: Fonte: http://www. oferta. Esses efeitos produzidos pelos perlocucionários são indeterminados e encontram-se estreitamente atrelados à situação de enunciação. Esse conjunto de sons gramaticalmente organizados efetiva uma proposição que diz alguma coisa sobre a nova lavadora Brastemp. a lavadora que é igual a você: bonita e moderna. É nesse sentido que Levinson (2007:301) afirma que “o ato ilocucionário se realiza diretamente pela força convencional associada à emissão de certo tipo de enunciado em conformidade com um procedimento convencional (.html O anúncio publicitário do chocolate Baton da Garoto realiza o ato de ordenar através do enunciado Cooompre baton e o efeito perlocucionário de persuadir o consumidor a comprar o produto anunciado. temos a figura do político discursando num comício para uma multidão de eleitores. intimidar etc.blogspot. Esse tipo de ato é específico da situação de enunciação. Alguns atos definem-se pelas próprias regras da língua(gem) enquanto outros dependem do contexto para realizarem o ato implicado no enunciado linguístico.com/ 2006/06/garoto-o-puro-prazer-do-chocolate. .com/2010/09/prometo-mais-seguranca-charge. irritar.” 55 Fonte: http://www. Atos Ilocucionários Atos ilocucionários são aqueles que realizam alguma coisa ao serem ditos.. 2007:300). Analisemos um exemplo: Fonte: http://mundodasmarcas. De acordo com a teoria de Austin.). Esses atos “refletem a posição do(a) locutor(a) em relação ao que ele(a) diz” (Pinto. ou seja. Para que o ato realizado pelo verbo produza efeito. O verbo prometer enunciado nessas circunstâncias realiza uma ação e não se restringe a declarar apenas. um político – provavelmente um daqueles ficha suja – discursa durante um comício e enuncia: Prometo mais segurança. um procedimento tido como convencional que apoia e permite que a ação seja efetivada.2. 4. mas inclui todos os efeitos que se encontram em sua margem de possibilidade: emocionar.. produzem uma ação que pode ser de promessa. o ato locucionário nesse enunciado corresponde à sua organização gramatical dotada de sentido e referência.br/recursos/imagens/File/publicidade/monografia/2011/ mono_luana. de modo que não se orienta por uma convenção como os atos ilocucionários. temos uma declaração Nova Brastemp Twist.fa7.edu. 2006:58).3. Atos Perlocucionários Austin denominou atos perlocucionários aqueles que produzem certos efeitos e consequências sobre os alocutários pelo fato de terem sido enunciados. No caso dessa charge. papodepm.html Nesse anúncio publicitário da Brastemp. comandar. au ng me (Ar r” desafia protestar. E ainda be be e. Exemplos: de ou lor va um ca de .os ‘comissivos’: ele ões. ad ch s comprometem o lei . s consistem em pro“ – os ‘veridctivos’: ele nto (veredicto) funda nunciar um julgame erac s. considerar ssificar. cla terizar.1. reconar. agradecer. Um exemplo típico desse modo de exposição é a conversa que a mãe tem com o bebê ou a conversa entre familiares que visitam o recém-nascido. de seu comportamen icir-se. .com. pelo menos. por ser a primeira forma de linguagem a que somos expostos. garantir. Concordamos com Marcuschi (1991:15) quando afirma haver cinco características básicas da conversação: a. avaliar. s são utilizados para . nd afirmar. adometer-se por contrato aderir a um partido. dentro da grande área da Linguística. execução numa identidade temporal. carac analisar. .56 Capítulo 4 ATIVIDADE | Nos enunciados abaixo. amaldiço condolências. b) Ordeno que venha aqui! c) Desculpo todos os meus amigos. aponte o ato realizado e o efeito produzido sobre o interlocutor: a) Protesto contra o aumento da tarifa de ônibus. desejar boas-vi faar. a princípio. esclarece : los mp Exe . lar a utilização de pa mentação. 04 3-1 :10 05 20 da Conversação A conversação. A introdução cado Kanavillil Rajag contrada no site: do livro pode ser en http://www. zer um brind d. dois falantes. aç de ia nc uê seq tor com determinada fazer voto de. aben : r à saúde de. defen : onselhar assim como mendar. calcular. entendida como interação face a face entre interlocutores por meio da língua(gem). s consistem em formu . jurar. ac fea. uma troca de falantes. d) Juro falar a verdade. Exemplos: ordeaç de ia nc uê seq uma der. envolvimento numa interação centrada. A disciplina. que se ocupa dos fenômenos relacionados à conversação é denominada Análise da Conversação.br/dia 5. Algumas Características Organizacionais da Conversação A conversação caracteriza-se.parabola gfeicoes. d. respo rafrasear. suplicar. SAIBA MAIS! os percursos teóricoAprenda mais sobre gmática lendo o li-metodológicos da Pra : fases e feições de vro Nova Pragmática pelo linguista aplium fazer organizado opalan. Entende-se por conversação “aquele tipo conhecido e predominante de fala em que dois ou mais participantes se alternam livremente e que geralmente ocorre fora de contextos institucionais específicos.pdf editorial. ). provocar. b. relacionar pa r. c. negar. Aqui não nos ocuparemos em expor os pressupostos teórico-metodológicos da Análise da Conversação. estimar. fel Exemplos: desculpa ir rim exp r. s’ (behabitives): trata. ca lifi mp exe r. çoar. tica cri . tar uma convenção. referências vras. desculpar. de metas. Se ada como material tom ser ria ve de o çã sifica como algo definitivo: para discussão e não. jet ob er. Por isso. como serviços religiosos. pelo menos. declarar um mar. ndas tar. rtir ve ad a. Análise VOCÊ SABIA? s uma classificação do Austin (1962) propôs scla a ess . e) Suplico seu perdão. a conversação contribui efetivamente para o entendimento dos fatos pragmáticos que regulam a produção da linguagem em contextos específicos. salas de aula e semelhantes” (Levinson. aos acontecim es de atitudes acerca sõ res exp o sã .os ‘comportamentai mportamento dos ou -se de reações ao co em diz s lhe e entos qu tros. ert ab o sã ses a nomear. ele o gund atos ilocucionários. de modo que nos restringiremos a expor alguns aspectos pragmáticos que se encontram implicados na conversação.os ‘exercitivos’: ele de o tid sen no favor ou lar uma decisão em ões.os ‘expositivos’: ele conduzir uma argucompor concepções. assegurar as enc co ar. é a forma primeira de exposição ao fenômeno linguístico. 2007:361). ocorrência de. e. implorar. cla pro . Interação entre. presença de uma sequência de ações coordenadas. comproExemplos: prometer. descrever. ito respe to ou de seu destino. tribunais. õe raz em boas do na evidência ou um fato. 5. /: usado para indicar quando um falante corta uma unidade e provoca um truncamento brusco. fatores pragmáticos entram em jogo e são considerados pelos falantes que intencionam o sucesso da comunicação em curso. Esses fatores estão ancorados naquilo que é central na conversação: a interação verbal centrada. Turnos Uma das características básicas da conversação é o turno que pode ser definido – grosso modo – na frase: “fala um de cada vez”. nem todos falam ao mesmo tempo. ou seja. Em seguida. a professora procura retomar o turno e reparar a situação invocando normas que regem a conversação.2. Orientados pelas normas inerentes a essa situação de interação. aí. Pares Conversacionais Os turnos alternados são uma característica básica da conversação. Tomando como base a situação social específica em que se encontram... ou seja. cultural e da situação social em que estão inseridos. que disciplinam a conversação e permitem que todos se entendam durante o processo. Essa distribuição de turnos faz do processo conversacional uma ação disciplinada. A todo momento. Essa interação desenvolve-se durante “o tempo em que dois ou mais interlocutores voltam sua atenção visual e cognitiva para uma tarefa comum” (Marcuschi. Passemos a um exemplo: Kazue – Recife – 1984 – III (contexto: a professora realiza exercícios de soma e divisão com os alunos na aula de Matemática. O exemplo acima ilustra duas situações muito comuns ao processo conversacional: a alternância de turno e a tomada de turno quando há fala simultâneas por meio de mecanismos reparadores. vale ressaltar o papel dos interlocutores que mobilizam certos conhecimentos partilhados. Assim sendo. P : e agora como é que vou terminar isso” A1 : cinco sexto P : como cinco sexto A2 : [[quinze dividido por As : [[(incompreensível) ((muitos falando ao mesmo tempo)) P : olha/ peraí peraí não fala todos ao mesmo tempo ninguém consegue entender/ um de cada vez/ não é possível’ /. suas normas são ditadas por essa situação. Há normas tácitas. convite-aceitação/recusa 3 Códigos usados na transcrição: [[: usados para indicar que dois falantes iniciaram ao mesmo tempo um turno. a professora inicia o turno que é tomado por A1. Esses turnos. 57 5. um espera o outro concluir para tomar a palavra nem um só fala o tempo todo. Schegloff (1972) deu a essas sequências o nome de pares adjacentes devido à contiguidade entre elas e ao tipo de relações que estabelecem. professora e alunos iniciam uma conversa sobre o tema da aula.. pergunta-resposta b. como o conhecimento linguístico. são conduzidos por normas pragmáticas que orientam a realização das sequências linguísticas realizadas pelos falantes de maneira coordenada e cooperativa em situações de fala. aceitas por todos. Uma vez que a conversação se trata de um fenômeno empírico em que os falantes realizam a língua(gem) numa situação real de interação. O exemplo acima ilustra bem esse aspecto da comunicação. por sua vez. Levando em consideração que a conversação ocorre num determinado tempo e lugar. . 1999:23-24) 5. ordem-execução c.Capítulo 4 Essas características que constituem a conversação apontam para fatores pragmáticos que determinam o processo conversacional./3 (Kazue apud Marcuschi. A1 devolve o turno à professora que alterna com a turma que começa a falar ao mesmo tempo. 1991:15). incluindo. Algumas dessas sequências são altamente padronizadas no que diz respeito à sua estruturação. Marcuschi (1999) apresenta os seguintes tipos de pares adjacentes (ou pares conversacionais): a.. Logo após expor sua resposta. (+): para pausas e silêncios.” Durante a conversação. a possibilidade do silêncio. ( ): usado para marcar trechos incompreensíveis da fala. Marcuschi (1999:18) esmiuça dizendo que “o turno pode ser tido como aquilo que um falante faz ou diz enquanto tem a palavra.) .3. os falantes deixam-se guiar pelas normas pragmáticas que orientam e constituem o processo conversacional. so(1982). 4s ha re io_Marcuston An iz_ /Lu OxBq Qd J0 chi-Anlise_. Como não temos a pretensão de aprofundar os casos que interessam à Análise da Conversação neste livro. Apenas considerando fatores pragmáticos – como o largo sorriso – implicados na situação de enunciação de B. pedido de desculpa-perdão O par conversacional mais comum nas interações cotidianas é o par pergunta-resposta (P-R). na linha da ciou. paralinguísnhecimentos linguísti s que devem ser ticos e socioculturai a interação seja e partilhados para qu rspectiva ultrape a Ess bem. xingamento-defesa/revide f. Norseus mecanismos org o de que todos sic bá teou-a o princípio e interação social os aspectos da ação nados e descritos poderiam ser exami ização estrutural em termos de organ institucionalizaconvencionalizada ou dominância dos da. co m/ ge t/ ht tp :// ww w.58 Capítulo 4 d. . tação” (Marcuschi.J.se. acusação-defesa/justificativa g. Mais que o fator linguístico. que acha” ((num largo sorriso)) 4 SAIBA MAIS! nversação do Leia Análise da Co io Marcuschi tôn An linguista Luiz conhecimentos e aprofunde seus chamada Anáacerca da disciplina .html VOCÊ SABIA? ersação (AC) ini“A Análise da Conv 60. a AC deve ficação dos coeci bretudo. O livro pode ão aç lise da Convers ser baixado no link: d. 19 A partir dos exemplos acima. ão aç nais da convers servar outros asHoje. A pergunta pode aparecer sob a forma direta ou indireta. cumprimento-cumprimento e. é que podemos compreender seu sentido e entendê-lo como uma pergunta que responde a indagação de A. de maneira que a Análise da Conversação pode oferecer farta contribuição aos estudos que envolvem os falantes e os usos que fazem da língua. como no exemplo: .se na década de da Antropologia Etnometodologia e ou-se. com a descritud dos anos 70 sobre da conversação e ção das estruturas anizadores.sucedida. fatores pragmáticos determinam a estrutura e os sentidos construídos nessas interações. Isso explica a pre organizacionte estudos eminenteme . Lembro que a Pragmática está interessada nos fenômenos relacionados à língua em uso. concluímos que não é apenas o fator linguístico que vai determinar a estrutura e os efeitos de sentido produzidos pelos falantes em interações verbais situadas. ruturas e atinge passa a análise de est tivos presentes na os processos coopera al: o problema ion ac atividade convers o para a interprepassa da organizaçã 99:6). 4 Extraído de Marcuschi (1999:37). Esse interesse justifica-se pelo fato de que a Análise da Conversação trabalha com material empírico e coletado no momento em que a interação verbal acontece. Gumperz versacional. com a esp cos. Segund preocupar. ficou satisfeita” B. até meados Cognitiva e preocup o. tende-se a ob atividade conna s pectos envolvido o J.queria saber por que minha aposentadoria não saiu A resposta também pode variar quanto à sua estrutura e pode vir sob a forma de uma pergunta: A. apresentamos esses fenômenos para elucidar acerca do interesse que a Pragmática tem sobre os resultados advindos desse campo de pesquisa. os interlocutores levam em consideração alguns elementos pragmáticos que determinam a estrutura dos enunciados e os sentidos atribuídos a esses mesmos enunciados. como dêixis. mas é resultado da relação entre a língua e o mundo em que é realizada. entende que o sentido de um enunciado não se encontra ligado ao enunciado. Assim. implicatura conversacional. Leia atentamente a tirinha acima e aponte os aspectos pragmáticos que entram em jogo nessa conversa entre Mafalda e sua mãe. Nesse sentido. teoria dos atos de fala e análise da conversação. Em todos eles. debruça-se sobre fenômenos da linguagem e analisa a relação entre a situação de enunciação e as estruturas linguísticas.com/2008/08/ . Foi com esse intuito que trouxemos conceitos centrais nesse campo.wordpress. RESUMO A Pragmática interessa-se pela língua em uso. Fonte: http://vintum. procuramos apresentar neste capítulo alguns pressupostos teóricos que orientam os trabalhos realizados no campo da Pragmática. ou seja. fatores pragmáticos são mobilizados no sentido de explicar os processos de significação em sua relação constitutiva com o contexto.Capítulo 4 ATIVIDADE | 59 Durante o processo de interação verbal. Acreditamos que o conhecimento desses conceitos dá uma ideia da perspectiva e alcance da Pragmática. Sírio. A pragmática. Discurso. D. MAINGUENEAU. POSSENTI. Ed. 2006. 1999. SAUSSURE. A. Análise de textos de comunicação. Pragmática. R. S. BENTES. São Paulo: Martins Fontes. 2.60 Capítulo 4 REFERÊNCIAS ARMENGAUD. 4. 1988. MARCUSCHI. 2. 2004. Curso de Linguística Geral. Análise da Conversação. F. 2006. C. ed. ed. LEVINSON. São Paulo: Editora Ática. P . . 26. ed. 2007.. F. São Paulo: Cortez. OLIVEIRA. Pragmática. Ferdinand de. 5. L. estilo e subjetividade. São Paulo: Parábola Editorial. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Martins Fontes. São Paulo: Cortez. vol. In: MUSSALIN. 2005. São Paulo: Cultrix.
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