SCHWARCZ, Lilia K. Moritz - A Era Dos Museus de Etnografia No Brasil_resenha

May 5, 2018 | Author: m.platini | Category: Museum, Science, Geography, Sociology, Brazil


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SCHWARCZ, Lilia K.Moritz - A Era dos Museus de Etnografia no Brasil Nas colônias do Novo Mundo, a instituição dos museus seguiu uma trajetória semelhante à Europa. Os primeiros museus se voltavam às Ciências Naturais e reuniam espécimes e objetos voltados a classificar, ordenar e apreender o mundo. Antes de colocarmos o foco sobre algumas instituições brasileiras, vejamos como se deu a influência do pensamento europeu nestas. Pensando a diferença como superioridade O século XIX foi um período de efervescência de teorias e nascimento de algumas ciências. Esse movimento influenciou as formas de colecionamento dos museus e outras instituições. Para compreender esse desenvolvimento, gostaria de concentrar alguns esforços em elementos importantes que influenciaram estudiosos, artistas e homens de ciência, que publicaram estudos, realizaram viagens e constituíram acervos na busca de comprovar suas teorias. Para tal, é importante perceber como a questão da alteridade se coloca para os europeus, sobretudo a partir do contato com o Novo Mundo. Lilian Schwarcz aponta que a Europa possui uma cultura já bem antiga de tratar a diferença dos outros povos em termos de inferioridade. A descoberta de que os homens eram profundamente diferentes entre si sempre levou à criação de uma cartografia de termos e reações. Os romanos chamavam de “bárbaro” a todos aqueles que não fossem eles próprios; ou seja, toda a humanidade que surgia no frágil continente europeu naquele contexto. A cristandade do Ocidente designou de pagão ao mundo todo que fugia ao universo cristão, como se fosse possível dividir os homens a partir de um único critério religioso. Da mesma maneira, a orgulhosa ciência determinista e positiva de finais do século, classificou como “primitivos” aos povos que não eram ocidentais, sobretudo os estranhos povos da América (Schwarcz, 2005, p. 113). O historiador Sergio Buarque de Hollanda afirma em seu livro Raízes do Brasil que quando do início da exploração comercial da Ásia e da África, era lá que se situava o paraíso terrestre. Na época da chegada dos europeus na América, essa concepção de paraíso foi transposta para o novo continente. Lilia Schwarcz coloca que a curiosidade européia estava mais interessada nessas novas gentes “tão estranhas em Nesse contexto. Com a imposição da noção de evolução estabeleceram-se as bases para a afirmação do paradigma dessa época. 2005. Schwarcz coloca que a publicação de “A origem das espécies” de Charles Darwin em 1859. Não apenas imperfeita. o canibalismo.seus costumes e civilização” do que propriamente na grande e exótica fauna e flora locais. do que ao momento da colonização” (Schwarcz. O naturalista argumentava que pelo pequeno porte dos animais existentes na América e pelo aspecto imberbe dos nativos. 2005. a América era decaída. passou a se afirmar a partir do século XIX. o continente tornou-se um grande “laboratório racial”. colocava um ponto final na disputa entre monogenistas e poligenistas. muito afastadas de qualquer possibilidade de perfectibilidade ou civilização” (Schwarcz. Esse orgulho e a afirmação da burguesia européia se faziam presentes principalmente nos avanços tecnológicos – do qual a ferrovia é um bom exemplo – e na ciência positiva e determinista. e de seus homens. pronto a ser estudado pelos viajantes estrangeiros. Esse autor introduziu um novo termo ao utilizar a noção de “degeneração” para designar o novo continente e suas gentes. 115). instintos e fraqueza mental” esses homens seriam “‘bestas’ decaídas. ou Mémoires intéressants pour servir à l'histoire de l'espéce humaine. Assim a tese da inferioridade do continente. Ninguém duvidava do progresso – de um progresso linear e determinado – e o único modelo de civilização parecia ser o ocidental. Se a fertilidade do solo. retardado em seu desenvolvimento natural. a designação Novo Mundo passava a referir-se mais à formação telúrica da América. Já o abade Corneille de Pauw lançou em Berlim Recherches philosophiques sur les américans. A partir de meados do século XIX. tratava-se de um continente infantil. 114). p. . “Assim. em sua obra Histoire Naturelle lançou a tese sobre a “debilidade” ou “imaturidade” do continente americano. Schwarcz coloca que “Assolados por uma incrível preguiça e pela falta de sensibilidade. Rapidamente expressões como “sobrevivência do mais apto”. O conde de Buffon. a burguesia européia orgulhosa com seus avanços passava a repartir e colonizar o mundo. p. equilíbrio do clima e força da vegetação apontava para um Éden na terra. a nudez e a poligamia escandalizavam as elites pensantes européias. chamado de “ciência da imutabilidade”. Em sua obra Princípios de Sociologia. A corrente “poligenista” recuperava as máximas de Darwin. como os Botocudos. Schwarcz coloca que esses autores – conhecidos como “deterministas sociais” em função do caráter premonitório de seu conhecimento –. linear e inquebrantável. os evolucionistas sociais pareciam dialogar com seu contexto: enquanto imperialistas. Schwarcz coloca que paralelamente tomava força a escola “evolucionista social”. vento. que iam da selvageria para a barbárie e desta para a civilização –. Teóricos como Auguste Comte pretendiam uma subordinação da filosofia ao positivismo. que escreveu uma vasta obra denominada History of the english civilization (1845). que possibilitava estudá-las como uma realidade ontológica.“adaptação”. elementos culturais. a utopia desses etnólogos sociais era tudo classificar. Frazer e Tylor essa escola concebia o desenvolvimento humano a partir de etapas fixas e pré-determinadas e vinculava. Comte argumentava que a humanidade evoluía a partir de formas pré-determinadas de pensar. 116-117). conhecidos como “darwinistas sociais” passaram a qualificar a diferença e a transformá-la em objeto de estudo. a partir dos três métodos de filosofar: teológico. “luta pela sobrevivência”. a representar a infância de nossa civilização (Schwarcz. Argumentava que a sociedade era regida por leis rígidas e que o progresso humano era único. poderiam ser divididos em dois tipos: deterministas geográficos e raciais. Os deterministas geográficos pautavam sua análise em fatores de ordem geográfica (clima. na qual a Europa aparecia destacada no topo e povos. na base. 2005. deixavam de ser terminologias exclusivas da Biologia e ganhavam espaço nas demais ciências. Herbert Spencer definia que as mesmas leis e princípios válidos para compreender a natureza poderiam ser utilizados para explicar o homem e suas produções. lançada em 1876. como Cecil Rhodes. destacando que a antiguidade na formação das raças era tal. Schwarcz coloca o exemplo de Buckle. Partindo da afirmação do caráter essencial das raças uma série de teóricos. Representada por teóricos como Morgan. p. de maneira mecânica. tendo a tecnologia como índice fundamental de análise e comparação. metafísico e positivo. vegetação). que marcava o nascimento de uma nova disciplina chamada Antropologia. para os evolucionistas a humanidade aparecia representada tal qual uma imensa pirâmide – dividida em estágios distintos. afirmavam que pretendiam tudo dominar (de países a planetas). solo. Apresentando uma forma de saber comparativa. Dessa forma. onde . tecnológicos e sociais. Afirmavam que o futuro de uma civilização estaria diretamente ligado a esses fatores. p. hostil à idéia do arbítrio do indivíduo (Schwarcz.dedicou algumas páginas ao Brasil. a segunda instituía uma continuidade entre caracteres físicos e morais. As teorias raciais implicaram em um ideal político. 2005. sobretudo por meio do projeto romântico nativista que selecionara o indígena como . p. não só racial como social. de outro os darwinistas sociais que “entendiam a diferença entre as raças como uma questão essencial” (Schwarcz. 118). p. Le Bon (1894). 118). Havia de um lado “os evolucionistas sociais. que pouco lugar sobraria para os homens e sua civilização” (Schwarcz. coloca Schwarcz. por princípio entendido como um erro” (Schwarcz. resultados imutáveis. o tema racial já vinha sendo explorado durante o Império. Em finais do século XIX. 119). Assim. “Longe do princípio da igualdade”. na prática. O autor concluía que “nesse país a vegetação era tão abundante. enaltecia-se a existência de “tipos puros” e compreendia-se a miscigenação como sinônimo de degeneração. se à primeira vista a noção de evolução surgia como um conceito que parecia apagar diferenças e oposições. No Brasil. Kid (1875) acreditavam que as raças constituiriam fenômenos finais. a primeira tese afirmava a realidade das raças. p. que reafirmavam a existência de hierarquias entre os homens. Schwarcz esclarece que os teóricos das raças partiam de três proposições básicas. na medida em que o sujeito era entendido apenas como uma somatória dos elementos físicos e morais da raça a qual pertencia. Os deterministas raciais excluíam a análise do indivíduo para insistir no grupo. lidava com a idéia de que a capacidade humana estava exclusivamente ligada à hereditariedade e pouco devia à educação. 118). “pensadores como Gobineau (1853). 2005. O termo “eugenia”. um diagnóstico sobre a submissão ou possível eliminação das “raças inferiores” cuja meta era intervir na reprodução das populações. criado em 1883 pelo cientista britânico Francis Galton. reforçou perspectivas opostas. Schwarcz argumenta que. 2005. conformando-se enquanto uma doutrina da psicologia coletiva. estabelecendo que existiria entre esses agrupamentos humanos a mesma distância encontrada entre o asno e o cavalo. sendo todo cruzamento. um terceiro aspecto apontava para a predominância do grupo “racio-cultural” ou étnico no comportamento do sujeito. 2005. porém acreditavam numa unidade fundamental”. determinando que a divisão do mundo entre raças corresponderia a uma divisão entre culturas. Lilia Schwarcz aponta que a maior parte desses estabelecimentos viveu momentos de maturidade e de aparelhamento institucional a partir dos anos 1870. Em artigo publicado em maio de 1888 em vários jornais brasileiros. negros e muitas frutas coloridas. No entanto. com alguns poucos indígenas. marca uma série de transformações importantes na então Colônia. Supõe-se uma igualdade jurídica entre as raças. já que lembrava a escravidão. como o Brasil. mascarando uma discussão mais abrangente sobre a cidadania. A monarquia brasileira investiu em uma simbologia que misturava elementos das tradicionais monarquias européias.símbolo de singularidade e identidade. 2005. Alguns autores destacaram os “perigos da miscigenação” e a impossibilidade da cidadania. um local onde a mistura de raças era mais interessante de ser observada do que a própria natureza. nem por isso a realeza abriu mão de pintar um país que se caracterizava por sua coloração racial distinta” (Schwarcz. Implicava em um verdadeiro “cotovelo cultural”. É quando se percebe não só uma maior autonomia. 120). estava fadada ao fracasso. p. Esses intelectuais entendiam a questão nacional a partir da raça. sem a qual não existiria o Direito” (Schwarcz. famoso médico da Escola Bahiana. vamos agora conhecer como se deu a implantação do museu no Brasil e algumas das principais instituições. p. mas um papel mais destacado de diferentes instituições brasileiras como as faculdades . pois levava a concluir que uma nação de raças mistas. que se impunha no contexto de implantação da jovem república brasileira. Entretanto. se era complicado destacar a participação negra. Nina Rodrigues. Schwarcz destaca que a adoção desses modelos não era tão imediata. O Brasil há muito tempo já era visto como uma espécie de laboratório racial pelos teóricos estrangeiros. 2005. concluía que: “os homens não nascem iguais. em 1808. 120). Alguns museus no Brasil A vinda da família real portuguesa para o Brasil. “Assim. Dado este pano de fundo acerca das teorias vigentes no período. nos anos 1870 surgiu uma oposição ao projeto romântico. entre elas a criação de estabelecimentos científicos. foram criadas duas escolas de Direito – uma em Recife. Mas a discussão racial não se restringiu apenas às faculdades de Medicina e Direito. positivo e católico se afirmou.de medicina e de direito. Schwarcz esclarece que havia a certeza de que os destinos da nação passavam por essas instituições e a confiança de que era necessário transformar seus conceitos em instrumentos de ação e de modificação da própria realidade. p. e “criar uma intelligentsia nacional. sobre ossaturas de povos extintos. um saber evolucionista. Na verdade. mais atenta ao problema racial. É somente a partir dos anos 1870 que essas escolas encontram-se mais aptas a interferir no panorama intelectual nacional. A autora desenvolve que assim como as demais instituições. no entanto. por exemplo. Em 1827. não há como analisar essas instituições sem ter passado por todo esse histórico: é essa moldura teórica e institucional que explica a importância dos museus nacionais nesse contexto (Schwarcz. p. outra em São Paulo. Schwarcz aponta que os museus brasileiros sofriam de uma sede de um saber classificatório. Museu Paulista e Museu Paraense – se detiveram mais sobre os grandes enigmas do pensamento evolucionista europeu e americano. . assim como ao perfil profissional característico de cada uma dessas instituições. Elas visavam atender às diferentes partes do país. Nesses locais. Nos museus etnográficos aconteciam mais debates com a produção que vinha de fora do que com as instituições locais. apta a responder as demandas de autonomia da nova nação” (Schwarcz. três dos grandes museus brasileiros – Museu Nacional. Enquanto a faculdade de São Paulo foi mais influenciada por um modelo político liberal. sobre critérios de cidadania ou acerca do caráter do Estado brasileiro. 124). crânios de grupos atrasados etc. “No entanto. a fachada institucional encobria diversidades significativas. do que se imiscuíram no debate local. os museus brasileiros tiveram seu apogeu nos anos 1870 quando foram aparelhados e dotados de pessoal capacitado. os museus nacionais voltavam-se a oferecer material. 2005. 122). 2005. Schwarcz afirma que. sobre o estágio infantil dos Botocudos. que dizem respeito à orientação teórica. Nos Institutos Históricos e Geográficos. a questão racial esteve presente ora como tema de análise. ora como objeto de preocupação. a de Recife. os institutos históricos e geográficos e os museus de etnografia. teve nas escolas darwinista social e evolucionista seus grandes modelos de análise. Assim. João. É por isso mesmo que é preciso pensar na sua releitura no Brasil e no papel específico que tomarão. “Cópia dos modelos europeus”. os museus tomarão parte num debate que se tratava acerca das perspectivas dessa jovem nação. Schwarcz destaca que se os primeiros museus de arte podem ser considerados uma criação da Ilustração. que entravam no Brasil sob muitas restrições. afirma Schwarcz. No período compreendido entre 1870 e 1930. que se . Por outro lado. “os museus brasileiros estabelecerão uma prática bastante isolada em relação aos demais estabelecimentos científicos nacionais. ao adotar modelos evolucionistas e darwinistas sociais. p. Assim. se os primeiros museus são uma criação do Iluminismo. pode-se dizer que a partir de 1890 se dá seu apogeu quando se estabelecem normas e padrões de funcionamento. submetida a uma lógica evolutiva. dialogando basicamente com o exterior. Schwarcz conclui que se os museus brasileiros demoraram a alcançar maturidade. Aos poucos se transformam em depósitos de cultura material. os museus começaram a desempenhar um importante papel como estabelecimentos dedicados à pesquisa etnográfica e ao estudo das chamadas ciências naturais. Este museu foi instalado primeiramente no prédio ocupado hoje pelo Arquivo Nacional. Criado a partir do decreto de 6 de julho de 1808. os estabelecimentos etnográficos remontam o período de refluxo do imperialismo europeu. 124). com os museus europeus e americanos” (Schwarcz. A fundação do Museu Nacional está profundamente associada a esse contexto e faz parte do pacote de medidas culturais implementadas por D. É só com a vinda da corte que a situação se alterou. o Museu Nacional tinha como função estimular os estudos de botânica e zoologia no local. os estabelecimentos etnográficos remontam a um período de refluxo do imperialismo europeu. 2005. João VI. É a partir dessa perspectiva que se pode entender a instalação e o desenvolvimento desses estabelecimentos no Brasil. Foi aberto com uma pequena coleção doada por D. O mesmo momento que marca o enfraquecimento do domínio colonial favorece a criação desse tipo de museu. Museu Nacional Até o início do século XIX toda a pesquisa científica era feita por naturalistas estrangeiros. p. na qualidade de presidente de província. O Museu Nacional guardou sempre a especificidade de contar.compunha basicamente de peças de arte. com cientistas nacionais com nomes como Lacerda. p. A instituição se revela sobretudo como um museu de ciências naturais: zoologia. coloca Schwarcz. A autora afirma que é só a partir da administração de Ladislau Netto (1874- 93) e de Batista Lacerda (1895-1915) que o estabelecimento ganharia nova estrutura e importância. quando. As loterias fracassaram porque as verbas eram alocadas pela Assembléia provincial para “fins sociais de necessidade mais imediata” (Schwarcz. Schwarcz enfatiza que é a partir da análise da revista que pode-se perceber a verdadeira feição do Museu Nacional. . botânica e geologia. O museu cumpria assim seu papel como detentor de um saber científico. Lilia Schwarcz fala das “loterias do Ypiranga”. em seus quadros. era com apreensão que se analisava as diferentes “raças” que compunham o país e. o museu guardava um aspecto basicamente comemorativo. a miscigenação. 2005. “Por isso mesmo”. era um arquivo de curiosidades sem qualquer classificação. os artigos de Ciências Naturais chegaram a 78% do total de trabalhos publicados. Criou-se a revista Archivos do Museu Nacional. Lucas Antonio Monteiro de Barros. artefatos indígenas. objetos de mineração. Ladislau Netto e Alípio Miranda. 126). pois não possuía recursos ou pesquisa” (Schwarcz. 2005. animais empalhados e produtos naturais. 127). De 1876 a 1926. ainda mais. pede contribuições voluntárias com o aceite de D. Em 1876 o museu foi reorganizado. “nos seus primeiros anos. Mas somente em 1870 intensificaram-se os esforços. gravuras. Pedro I para a criação de um museu e de um monumento grandioso em homenagem à emancipação política do Brasil. Longe do otimismo de meados do século. que objetivavam o levantamento de fundos para conclusão do projeto. Sem um grande acervo. veículo importante para a comunicação com os museus internacionais. Museu Paulista A criação do Museu Paulista data do contexto da independência. em 1824. Ocupava lugar privilegiado para definir os destinos da nação. seu desenvolvimento foi lento. . mobiliários. 2005.. (Schwarcz. nem ao menos uma academia ou escola de ciências naturais. von Ihering imprimirá ao museu um perfil profissional ao estilo das instituições européias.. retardava seu apoio e contribuição. Em 1893. Schwarcz aponta que em 1895 montava-se em São Paulo um projeto de museu enciclopédico com a pretensão de reunir exemplares de todo o conhecimento humano. No entanto. A maior parte dos museus do mundo tem a sua origem em coleções particulares . 1895) (Schwarcz. compostas por espécimes de história natural. 2005.. Tendo como base um saber evolutivo. p. jornais e objetos da cultura indígena. por meios científicos” (Schwarcz. Nessas condições não é difícil explicar o estado de atraso em que até hoje acha-se o estudo das ciências naturais no Brasil” (RMP. com o enriquecimento econômico da região.. 2005. Schwarcz informa que até então a elite política local. 2005. Logo na capa. p. No mesmo ano. c1assificatório e pautado em modelos da biologia. a construção começou em março de 1885. . representando a ascensão de uma nova província no cenário nacional” (Schwarcz. 128). 129). A obra foi concluída em 1890. Von Ihering afirmava a primazia e superioridade da nova instituição paulista em comparação aos outros museus. A partir desta aquisição. tendo até então apenas a função de monumento histórico. por indicação de Orville Derby (diretor da Comissão Geográfica e Geológica do Estado) é contratado o zoólogo Herman von Ihering para o cargo de diretor do museu. “um museu em São Paulo parecia constituir um suporte para outras significações. constava um breve currículo de von Ihering e um artigo defendendo a novidade do estabelecimento. o Museu do Paulista adquire as coleções pertencentes a Joaquim Sertório. Projeto do arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. Seja permitido congratular-me com a excelência do Estado por ter criado um museu sobre bases realmente científicas como até agora não existiu no Brasil . não vendo sentido prático na obra. o museu foi inaugurado oficialmente em 26 de julho de 1894. 129). que são transferidas ao governo e essa é a história do nosso museu . Era como se tudo começasse do zero: “Não temos até hoje universidade alguma no país. p. Abria-se então um novo museu etnográfico cujo objeto era “o estudo da história natural da América do Sul e em particular do Brasil.. Neste mesmo ano foi lançado o primeiro número da Revista do Museu Paulista. 128). p. aprovada por Pedro II como homenagem à independência brasileira. junto com uma gravura que representava a fachada do museu. O edifício permaneceu desocupado por alguns anos. segundo ele. a análise dessas revistas. secretário do estado do Pará. geográfica e histórica da região. Goeldi do posto de naturalista do Museu Nacional. a fauna. von Ihering provocava sobretudo o Museu Nacional que. Schwarcz aponta que com o fortalecimento econômico da região a partir do “boom da borracha”. jardins zoológicos e botânicos contíguos ao museu. no período que vai de 1894 a 1949. interessados em formar um museu nacional de história natural. Goeldi convidou uma série de naturalistas europeus. o museu cumpriria basicamente a função de atender os naturalistas estrangeiros. . foi palco de uma série de expedições científicas estrangeiras. O novo diretor organizou diferentes seções. houve interesse político local em transformar Belém em uma espécie de “Paris do Sol”. p. o governador Lauro Sodré. Em 1893. o museu cumpriu a função de auxiliar a documentação e registros das expedições desses pesquisadores. Abrigo seguro para os viajantes e cientistas europeus e americanos. o Norte do Brasil. era um estabelecimento pouco científico. coloca Schwarcz (2005. a região ainda era desconhecida dos cientistas nacionais. tendo como objetivo analisar a flora. resolve contratá-lo. revela o perfil singular desse tipo de instituição”. 131). uma biblioteca. a constituição genealógica. No entanto. Museu Paraense Durante todo o século XIX. Depois de criado. Com esta postura. Mas faltavam ainda recursos e pessoal capacitado. e organizou duas revistas – Boletim do Museu Paraense e Memória do Museu Paraense – o que dá certa notoriedade ao estabelecimento. Em 1866. procuraram Domingos Soares Ferreira Penna. em especial a Amazônia. “Por sinal. Goeldi assume a direção em 1893 e passa a elaborar uma nova estrutura para o museu. sabendo da demissão do zoólogo suíço Dr. alguns intelectuais paraenses. Emílio E.
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