Rudolf Bultmann

March 27, 2018 | Author: Aguinaldo Cabral | Category: Greek Mythology, New Testament, Jesus, Existentialism, Faith


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Um dos teólogos mais influentes do século XX, Rudolf Bultmann (18841976) se destacou com seus escritos históricos e interpretativos sobreo Novo Testamento. Ele foi, durante muitos anos, catedrático da Universidade de Marburg, na Alemanha. Segundo Bultmann, a tarefa da teologia é a de descobrir um “conceitualismo”, cujos termos pudessem aproximar a mensagem do Novo Testamento a cosmovisão moderna. Em correspondência pessoal, ele sempre afirmou sua intenção de proclamar uma mensagem contextualizada, ele se referiu certa vez a uma senhora que retornou à Igreja, depois de muito tempo afastada, por causa da leitura de um de seus livros. Apoiando-se num esquema interpretativo existencialista, bastante influenciado pôr Martin Heidegger 1, seu colega na Universidade de Marburg, Bultmann passou sua vida lendo o Novo Testamento, como se fosse um documento heideggeriano, e se valendo de métodos histórico-críticos para eliminar do texto os elementos resistentes ao sistema filosófico existencialista. Bultmann fez uma palestra em 1941 numa conferência para pastores, que posteriormente foi publicada, “O Novo Testamento e a Mitologia”. A tese de Bultmann: a humanidade contemporânea, que se acostumou com os avanços da ciência, não pode aceitar o conceito mitológico do mundo expresso nos escritos bíblicos. De acordo com Bultmann, “a concepção do universo do Novo Testamento é mítica”. O universo é considerado como dividido em três andares. No meio se encontra a terra, sobre ela o céu, abaixo dela o mundo inferior. O céu é a morada de Deus e das figuras celestes, os anjos; o mundo inferior é o inferno, lugar de tormento. Mas também a terra não é o só o lugar do acontecer natural e cotidiano, da previdência e do trabalho, que conta com ordem e lei; é também cenário do atuar de poderes sobrenaturais, de Deus e de seus anjos, de Satã e de seus demônios. Os poderes sobrenaturais interferem nos acontecimentos naturais e no pensar, querer e agir do ser humano; milagres não são nada raros. Satã pode lhe incutir pensamentos malignos. Mas Deus pode dirigir seu pensar e querer, pode fazê-lo ter visões celestiais, fazê-lo ouvir a sua palavra exortadora e consoladora, pode presentear-lhe a força sobrenatural de seu espírito. A história não percorre seu caminho constante e estabelecido pôr suas próprias leis, mas obtêm seu movimento e direção dos poderes sobrenaturais. Este eón encontra-se sob o poder de Satã, do pecado e da morte (que precisamente são considerados “poderes”). Rapidamente ela se encaminha para seu fim, mais explicitamente um fim próximo, que ocorrerá numa catástrofe cósmica. São 1 Martin Heidegger (1889-1976) foi um filósofo alemão da corrente existencialista. Foi considerado um dos maiores filósofos do século 20. Exerceu grande influência em intelectuais como Jean-Paul Sartre. (fonte: http://www.e-biografias.net/martin_heidegger/) 2 15. São Leopoldo. 20. e pode estar seguro de sua ressurreição para a salvação. RS. a ressurreição dos mortos. a vinda do juiz celestial. 4 Idem. Novo Testamento e a Mitologia. “O sentido do mito não é o de proporcionar uma concepção objetiva do universo. O mito não pretende ser interpretado cosmologicamente. Pág.eminentes as “dores de parto” do tempo final. Editor: Walter Altmann. pelo contrário. o Espírito. Este um ser divino preexistente. através do batismo e da ceia do Senhor. ele foi transformado em “senhor” e “rei”. A preocupação de Bultmann não era a eliminação dos mitos. A estes temas acima mencionados. se não se comportar indignamente. 5 Idem. sua morte na cruz. através da qual será aniquilada a morte. propicia expiação para os pecados dos seres humanos. ela é inverossímil para o ser humano hoje”3. Pág. que apresentam uma formulação ortodoxa e evangélica. mas antropologicamente melhor. Pág. In: Crer e Compreender. descobrindo a verdade que está inserida na concepção mítica do universo do Novo Testamento. Tudo isto acontecerá em breve. 3 Idem. então ocorrerá a ressurreição dos mortos e o juízo. Bultmann responde dizendo que “tudo isto é linguagem mitológica. nele se expressa como o ser humano se compreende em seu mundo. “É bem possível que numa concepção mística passado do universo possam ser descobertas de novo verdades que foram perdidas numa época de iluminismo” 4. Rudolf. então terão sido aniquilados o pecado. Retornará sobre as nuvens do céu. A proclamação emprega linguagem mitológica: eis que é chegado agora o tempo final. Sua ressurreição é o começo da catástrofe cósmica. ele procurou uma reinterpretação da linguagem mitológica da Bíblia. Artigos Selecionados. Deus enviou seu filho. à direita de Deus. aparece na terra como um ser humano. Ele se propõe para a teologia a tarefa de desmitologizar a proclamação cristã. a qual ele sofre como um pecador. 14. de um modo existencialista”5. 2 BULTMANN. Em se tratando de linguagem mitológica. a fim de consumar sua obra de salvação. “vindo a plenitude do tempo”. O Cristo ressurreto foi elevado ao céu. Quem pertence a comunidade de Cristo. A concepção mítica do universo corresponde a exposição do acontecimento salvífico. trazida ao mundo pôr Adão: os poderes demoníacos universais perderam seu poder. que constitui o conteúdo verdadeiro da proclamação neotestamentária.. Ao contrário.. 3 . está ligado ao seu Senhor. o julgamento para a salvação e perdição. Editora Sinodal. Os crentes já possuem o “penhor”. a morte e todo o sofrimento. a saber. que age neles e testifica sua filiação de Deus e garante sua ressurreição2. 2) A Escritura não se explica a si mesma. a língua alemã fornecia a Bultmann duas palavras correspondentes a “história”. Não passaria de um covarde que serviria tão somente de tema para peças teatrais profanas. 5) Bultmann ignora por completo o papel do Antigo Testamento na formação do Novo Testamento. é possível diferenciar entre o significado do evento e um fato real. poderia-se dizer que Jesus morreu na Historie. Na erudição neotestamentária atual. é o termo que subentende o significado ou relevância de um evento na história. 4) Os evangelhos não são a biografia de Jesus Cristo e sim a impressão dos apóstolos a respeito de Cristo. A desmitologização consiste em desnudar o mito do Novo Testamento e descobrir a Kerigma original. trocando em miúdos. contendo em seu escopo a vida e a obra de Jesus. como fez a antiga teologia liberal alemã. Ao contrário do idioma português. Nesta ênfase à fé. Pode referir-se ao conteúdo do evangelho. ou seja. Sendo assim. Geschichte. Bultamann diz não aos milagres para os dias de hoje. mas está sujeita a métodos da ciência autônoma e as conjecturas filosóficas. anulando assim à ação do sobrenatural no mundo natural.O alvo de Bultmann ao interpretar os mitos bíblicos era ressaltar a natureza da fé. conforme ensina a hermenêutica da reforma protestante. Com o uso destas duas palavras. 4 . Bultmann crê que o Novo Testamento contém a Kerigma6 salvadora de Cristo. o termo é usado para descrever o conteúdo da mensagem cristã primitiva. onde o verdadeiro 6 Uma palavra grega que significa “proclamação”. Historie. Síntese de alguns ensinos de Bultmann: 1) O Cristo dos evangelhos é em grande parte uma criação da Igreja Cristã primitiva. 3) Considera os conceitos neotestamentários mitológicos. à mensagem do sermão ou à pregação propriamente dita. ele não nega a existência do Jesus histórico. 6) ) Após a desmistificação dos evangelhos. manteve-se firme nas tradições de Paulo e de Lutero. é usada em relação aos fatos da história. o Jesus que resta é tão débil que jamais chamaria a atenção de alguém. A primeira. mas nega a realidade dos eventos sobrenaturais que o envolveram. mas sua real ressurreição se deu na Geschichte. Parte importante da interpretação de Bultmann é o seu modo de entender a história. A segunda. Ou seja. Em Bultmann. A fé que ele requer é a fé numa realidade objetiva. 7 Jesus Christ Superstar (Jesus Cristo Superstar) é um musical de rock de Andrew Lloyd Webber. O musical começou como um álbum conceitual de ópera-rock. Se Deus é compreendido como tendo a possibilidade de agir na história. Assim define George E. JUERP. Rio de Janeiro. Editora UnB. Teologia do Novo Testamento. e passa a ser mais uma boa filosofia de vida. 155. Toda a mensagem do Novo Testamento tem de ser repensada em categorias existenciais. Pág. em que a tradição passada remete à existência presente e vice-versa. uma abstração. 5 . sem dúvida alguma. e nunca será o vibrante cristianismo bíblico. Pág. Gilbert. A diferenciação entre Historie e Geschichte. retira a ação de Deus na história. 9 LADD. prisioneiro da temporalidade histórica. e desde então tem sido encenado em todo mundo.org/wiki/Jesus_Christ_Superstar 8 DURAND. 22. a ação deve estar sempre oculta nos eventos históricos. Apresentado em 1970. Embora a mensagem do cristianismo seja. indefinidamente” 8. cujo fundamento é a intervenção livre e sobrenatural de Deus na história. George E.wikipedia. “a realidade histórica deve ser compreendida em termos de uma imutável casualidade histórica. A Fé do Sapateiro. pois o conhecimento de Deus está perdido em meio aos mitos descritos no Novo Testamento. (fonte: http://pt. Brasília. a peça “Jesus Cristo Superstar”7. Como por exemplo. foi para a Broadway em 1971. Quando o cristianismo é privado de sua objetividade. essa religião se torna uma ideia vaga. um idealismo sem raízes. Um Ponto Crítico A erudição de Bultmann tende a transformar o pensamento cristão em um mero comentário a cosmovisão moderna. diria Bultmann. Deus não mais se relaciona objetivamente com o homem. Segundo Gilbert Durand. DF. existencial e contemporânea no sentido mais verídico. O conceito do Deus objetivo e pessoal apresentado na Bíblia se rende ao pensamento moderno. e exija a resposta subjetiva da fé. Devido ao seu sucesso. E nisto o evangelho perde o seu valor e sua força. sendo evidentes apenas aos olhos da fé”9. “as ideias de Bultmann são típicas do círculo em que mergulha todo pensamento que busca um sentido enquanto se satisfaz em dar voltas lineares. Cristo é o Senhor. mas não o Senhor de nossa história e sim de uma história existencial e subjetiva.herói seria Judas Iscariotes. com libreto e letras de Tim Rice. RJ. Ladd. destaca as lutas políticas e pessoais de Judas Iscariotes e Jesus. RS. RJ. Sérgio Bath. Artigos Selecionados. Schlupp e Walter Altmann. 1990. George E. Brasília. Trad. HENRY. 1993. Rio de Janeiro. 1987. DF. Editora Sinodal. Trad. Crer e Compreender. H. LADD. Casa Bautista de Publicaciones.Bibliografia BULTMANN. 233pp. Fronteiras na Moderna Teologia. 143pp. JUERP. 1995. 6 . São Leopoldo. Walter O. Trad. Gilbert. edição.2a. El Paso. Rudolf. Trad. Rio de Janeiro. TX. JUERP. Diccionario de Teologia Contemporanea. Carl F. Editor: Walter Altmann. DURAND. 1975. A Fé do Sapateiro. 140pp. Roger Velásquez Valle. Editora Universidade de Brasília. RAMM. RJ. Bernard. 584pp. Darci Dusilek e Jussara Marindir Pinto. 253pp. Teologia do Novo Testamento.
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