REY - Parasitologia - 16

May 29, 2018 | Author: Dan Souza | Category: Medical Specialties, Wellness, Animal Diseases, Medicine


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PARASITOLOGIAMÉDICA 16. ASCARÍASE Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro 1 Ascaris lumbricoides lumbricoides Ascaris ascaríase ee ascaríase A extremidade posterior das fêmeas é quase reta. fêmea. São vermes longos. sobretudo anteriormente. Os áscaris são conhecidos. popularmente. Localizam-se de preferência no duodeno e no jejuno.Ascaris Ascaris lumbricoides lumbricoides Ascaris lumbricoides: A. 3 . onde produzem um quadro clínico variado denominado ascaríase. B. como lombrigas ou bichas. macho É um helminto nematóide da família Ascarididae e o maior parasito habitual do homem. enquanto a dos machos é enrolada ventralmente em espiral. cilíndricos e com extremos afilados. é a obstrução intestinal por um bolo de áscaris. nas vias biliares ou pancreáticas. em crianças.Ascaris lumbricoides Em geral. Mais comum. 4 . p. vezes fatal. há em torno de 6 vermes por paciente. Chaia. ou em um brônquio chega a produzir um estado grave e por Ascaris lumbricoides – Doc. Mas um único helminto introduzindo-se. Mas esse número pode elevarse a 500 ou 700 em alguns casos. determinando o quadro de abdome agudo. Na maioria das vezes. a infecção é leve e clinicamente benigna. ex.. no apêndice. de G. j). O esôfago (k) é cilíndrico e com a luz tri-radiada. que emitem expansões dirigidas aos feixes nervosos e. i). chega o estímulo para as contrações musculares e a movimentação do parasito. Sob a hipoderme há miocélulas longitudinais (h). através das quais. e. de cor branco-marfim ou rosada.que apresenta 4 espessamentos ou cordões longitudinais (c. Corte transversal de um áscaris ao nível do esôfago. com estrias circulares.o hipoderma . 5 . Nos cordões correm os canais excretores (f) e os feixes nervosos (g.Morfologia dos Ascaris Os áscaris possuem uma cutícula lisa (a). Ela se apoia sobre uma camada sincicial (b) . brilhante. grande parte da cavidade geral (pseudoceloma) é ocupada pelos órgãos genitais duplos.Morfologia dos Ascaris A boca (M) fica centrada no extremo anterior e é cercada por 3 lábios grandes. O intestino é retilíneo e achatado. Aí. eles medem 1 metro de comprimento total. que se abre na cloaca. banhados pelo líquido do pseudo-celoma. enovelados. Nesta. que se movimentam e auxiliam a cópula. Extremidade oral do áscaris. úteros e uma vagina. nas fêmeas. Segue-se um esôfago musculoso e cilíndrico. próximo da extremidade posterior. Uma fêmea produz cerca de 200. Nas fêmeas. o canal deferente e o ejaculador. ovidutos. 6 .000 ovos por dia. longo e enovelado. e formados por ovários. Em conjunto. abrindo-se no ânus que. há milhões de óvulos em desenvolvimento. tem a forma de fenda transversal. providos de papilas sensoriais (flechas). há 1 testículo tubular. de tipo tubular. há 2 espículos curvos e iguais. Nos machos. crianças muito parasitadas podem eliminar alguns pela boca ou pelas narinas. nas alças jejunais (90%). em geral. onde são fertilizados os óvulos ao passarem. estômago ou outros lugares. o resto no íleo. Mas. movendose quase sempre contra a corrente peristáltica. Elas acumulam os espermatozóides amebóides (sem flagelos) no útero ou começo do oviduto. Aí. se nutrem de materiais semi-digeridos ou outros. visto em microscopia de varredura. Raramente migram para o duodeno. Os áscaris mantêm-se em atividade constante. .Fisiologia dos Ascaris Os vermes localizam-se. dispondo para isso de todas as enzimas necessárias. 7 O ovo. As fêmeas devem ser fecundadas várias vezes. mais alongados (C). as fêmeas podem por ovos inférteis. pela ação dos ventos. outra média. Mas podem permanecer aí infectantes durante um ou mais anos. Os ovos de áscaris são abundantes no chão do peridomicílio poluído com fezes humanas. e podem ser suspensos no ar. quitinosa. Eles têm uma delgada casca interna. 8 . que não embrionam. espessa e com rugosidades grosseiras. com a poeira.Fisiologia dos Ascaris Os ovos férteis são ovais ou quase esféricos e medem em torno de 60 x 45 µm (A). embrionam em 2 semanas (entre 20 e 30ºC) e se tornam infectantes dentro de outra semana (B). No solo. Quando isoladas ou mais numerosas que os machos. impermeável. e a mais externa é albuminosa. Mas.A A infecção infecção por por Ascaris Ascaris Ovos de áscaris podem ser ingeridos com os alimentos ou a partir das mãos sujas. onde chega em 4 ou 5 dias. Aí. são arrastadas pela corrente de muco dos bronquíolos e brônquios. No cecum do hospedeiro. os ovos embrionados são induzidos a eclodir (D) pela ação do CO2 e de outros fatores. invade a mucosa intestinal e vai pela circulação até o pulmão. ao fim de 2 meses. sendo deglutidas com as secreções brônquicas. As larvas de 3º estádio penetram nos alvéolos. Medindo agora 1 a 2 mm (E). passando a larva de 3º estádio após 8 ou 9 dias. sobem pela traquéia e laringe. liberando uma larva de 2º estádio. O crescimento continua até a maturidade. serem aspirados e depois deglutidos com o muco das vias aéreas. Ao chegarem ao intestino. também. 9 . que é aeróbia. dáse a 4ª e última muda que as transforma em adultos jovens. Esta. cresce e sofre nova muda. onde ocorre a 3ª muda. produzindo anticorpos contra os antígenos que são liberados durante as mudas. nos tecidos. A resistência do organismo contra esses parasitos faz-se com a inflamação provocada pelas larvas de 2º e de 3º estádios.Resistência Resistência aos aos Ascaris Ascaris Instalados no intestino. Em geral. intensamente. elas são destruídas principalmente nos pulmões. também. apenas uma de cada seis pessoas parasitadas apresenta manifestações clínicas decorrentes do parasitismo. não concorrendo para produzir anticorpos protetores como aquelas. A razão está no pequeno número de áscaris que elas carregam. O sistema imunológico reage. As larvas de 4º estádio e os adultos são menos antigênicos que as anteriores. os áscaris têm uma longevidade estimada em 1 a 2 anos. Em conseqüência. 10 . Se as larvas forem poucas e não houver hipersensibilidade. 11 . as lesões dependem do número de larvas. tosse. com inflamação em torno das larvas aí retidas ou destruídas. Mas. esses sintomas desaparecem em poucos dias sem deixar traços. do tecido em que se encontrem e da resposta do hospedeiro.Resistência Resistência aos aos Ascaris Ascaris Na fase invasiva. Nos pulmões ocorrerá a síndrome de Loeffler. as reações hepáticas serão insignificantes e as pulmonares discretas. alta eosinofilia e quadro radiológico com manchas isoladas ou confluentes nos campos pulmonares. Normalmente. com febre. em crianças pequenas e em pessoas hipersensíveis. Se forem muitas. haverá focos hemorrágicos e necróticos no fígado. a gravidade pode ser alta. anorexia e emagrecimento. dor epigástrica.Sintomatologia Sintomatologia Os áscaris podem permanecer nos intestinos sem molestar o paciente. sono intranqüilo. Também costuma haver irritabilidade. as manifestações mais freqüentes são: desconforto abdominal. Pessoas hipersensíveis podem apresentar quadros alérgicos. Em populações de baixa renda e crianças desnutridas. quando um deles for expulso com as fezes. cólicas intermitentes e má digestão. 12 . ranger de dentes à noite e coceira no nariz. durante um exame coproscópico de rotina. assim como náuseas. sendo descobertos. ocasionalmente. os parasitos agravam o mau estado nutricional. Ou pelo encontro de ovos. edemas e crises de asma que se curam com antihelmínticos. Nos casos sintomáticos. como urticária. são complicações dramáticas que podem levar o paciente à morte. volvo. cerca de 45% das obstruções por bolo de áscaris ocorrem em crianças com menos de 2 anos de idade. obstrução intestinal por um bolo de áscaris.. Segundo as estatísticas hospitalares. peritonite etc.Complicações Complicações na na fase fase crônica crônica Espasmos. Peça com obstrução intestinal por áscaris 13 . intussuscepção (invaginação de um segmento intestinal em outro). a penetrar no apêndice (causando apendicite) e no divertículo de Meckel ou em outros existentes. os vermes penetram na laringe ou nos brônquios. em estômago contendo contraste radiológico. Imagem negativa de um áscaris. mesmo. drogas ou. A capacidade migratória dos áscaris leva-os. sempre fatal. produzindo pancreatite aguda. e nas vias pancreáticas. anti-helmínticos. por vezes. subindo pelo esôfago. quando o parasitismo é intenso ou quando os vermes são irritados por certos alimentos. 14 . Outros quadros obstrutivos graves ocorrem quando.Localizações Localizações ectópicas ectópicas Não é rara a eliminação de um áscaris pela boca ou pelo nariz. Penetram nas vias biliares. de colelitíase ou de angiocolite. simulando os quadros de colecistite. Diagnóstico da ascaríase Os quadros clínicos não permitem distinguir a ascaríase de outras helmintíases intestinais A menos que um verme tenha sido eliminado durante uma defecação ou vomitado. Se for utilizado o método de sedimentação em vaso cônico (método de Lutz). 15 . é o exame parasitológico das fezes a melhor forma de se diagnosticar esta helmintíase. para estimar-se a carga parasitária do paciente. normais. o resultado aproxima-se de 100% de sensibilidade. basta um simples exame de fezes diluídas e colocadas entre lâmina e lamínula. O número de ovos por grama de fezes pode ser calculado pelo método de Stoll. 2 1 3 4 Ovos de áscaris vistos ao microscópio: 1 e 2. para que sejam reconhecidos ao microscópio (1 a 4). 3 e 4 inférteis (OMS). Dada a quantidade de ovos habitualmente produzida. Barras negras = 25 µm. Cura próxima de 100%. C – Levamisol é um anti-helmíntico de largo espectro. mas contra-indicado em epilépticos. D – Mebendazol. 16 Essas drogas não agem sobre larvas ou adultos fora dos intestinos. . que causa paralisia espástica e se mostra eficaz também contra outros nematóides. associado a um antiespasmódico enérgico. em uso há cerca de 3 décadas. B – Pamoato de pirantel é um produto sintético. insolúvel na água e pouco absorvível. E – Flubendazol. Recomendada na obstrução intestinal por áscaris. que produz paralisia muscular flácida do helminto e permite sua expulsão passiva. de largo espectro e mais eficiente quando micronizado. do grupo do mebendazol. composto pouco solúvel. Praticamente sem efeitos colaterais.Tratamento Tratamento da da ascaríase ascaríase Anti-helmínticos recomendados: A – Piperazina. do mesmo grupo que o mebendazol e também de amplo espectro. No material de varredura de quintais podem ser encontrados 100 a 250 ovos por grama de terra. Na Amazônia eram superiores a 60%. 17 . o peridomicílio mantém-se sempre rico em ovos. 36. No Brasil. 33% ou menos. na Tailândia. Pelo hábito de defecarem no chão. também. em uma localidade de Rangoon. Os óbitos por ano seriam da ordem de 20 mil. No sul do país. sobre 1 milhão de exames feitos pela SUCAM (em 1976). a população de mais alto risco.Ecologia e epidemiologia A ascaríase está amplamente disseminada em países tropicais e temperados. Incide mais em microclimas quentes e úmidos. O homem é a única fonte de infecção. estimando-se uma prevalência geral em torno de 30%.7% eram positivos para áscaris. mas variando muito segundo as regiões. Relação entre a idade e a carga parasitária. respectivamente. sendo as crianças em idade escolar e pré-escolar as principais poluidoras do meio e. assim como onde a higiene e as condições de vida são precárias. mas em Alagoas e Sergipe chegavam a 78 e 92%. falta pessoal de saúde.afeta populações pobres. caros e sem interesse para os gestores da economia de mercado. apenas quando a população rural chega a atingir os níveis econômicos suficientes para morar bem. nos altos escalões políticos. como outras parasitoses intestinais. pouco informadas e com pequeno poder reivindicatório. O problema costuma solucionar-se. pois: . .Controle Controle de de geo-helmintíases geo-helmintíases A ascaríase. como nos atuais países ricos. suficientemente remunerado e devidamente preparado. .geralmente. educar-se e educar seus filhos. falta também decisão.não se conta aí com a cobertura ampla dos serviços de saúde ou não estão estes preparados para uma política de saúde preventiva. tem sido em geral negligenciada nos países endêmicos. adquirir hábitos higiênicos. em número adequado. . para enfrentar problemas complexos. 18 . simplesmente. mais que suficientes para garantir um sucesso. Os conhecimentos necessários para o controle dessas endemias são. caso sejam postos seriamente em prática. em cada caso. o planejamento para o controle das geo-helmintíases deve estabelecer objetivos claros e as estratégias para alcançá-los: .apenas o controle para reduzir a mortalidade e a morbidade? . formar o pessoal necessário e assegurar os recursos materiais e financeiros para um programa que deve ser previsto para longo prazo.erradicação das endemias? . quando se decide privilegiar educação e saúde.Controle Controle de de geo-helmintíases geo-helmintíases Mas. atenção aos grupos de alto risco na população? Em função das opções: escolher os métodos adequados. atualmente.ou. 19 . é necessário mudar o comportamento das populações de modo a reduzir a poluição do solo e as re-infecções. a erradicação. inicialmente. Para consolidar os resultados. Educar as crianças e os adultos que delas cuidam (e devem dar o exemplo) implica em habituar: . só tardiamente. apenas as crianças em idade escolar. por muito tempo. O tratamento dos grupos mais afetados inclui. os ovos infectantes. e proteger os alimentos contra as poeiras. antes de comer ou de preparar alimentos. visto permanecerem no solo.a lavar as mãos após defecar. A repetição periódica dos tratamentos é indispensável.lavar as frutas e legumes consumidos crus. os insetos e outros vetores de infecção. 20 .Controle e educação sanitária Os programas de ação contra essas parasitoses devem ter por objetivo. também. Por razões logísticas preferemse os esquemas de tratamento com dose única e via oral. como no Japão. apenas o controle e. de regra. . e sempre que sujas de terra. por haver na comunidade geralmente casos não curados.ao uso constante das instalações sanitárias. . re-infectados ou importados de outras áreas endêmicas. Mas. em cada domicílio. COMPTON. & SZYFRES. Editora Guanabara. . REY. 2002 [380 páginas]. B. Rio de Janeiro. Beerse. 1997. – Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales.. D. NESHEIM. L. – Parasitologia. F. 1986. 2a edição.N. 2001 [856 páginas]. THIENPONT. Belgium.T. Editora Guanabara. 2a edição. ROCHETTE. REY. L. C. Rio de Janeiro. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Washington. – Ascariasis and its prevention and control..W. M.F. L. ilustrada. Taylor & Francis [406 pp]. London. Janssen Research Fondation. D. 1989. Rio de Janeiro. & VANPARIJS. Editora Guanabara. O. – Diagnosing helminthiasis by coprological examination. 2003 [950 páginas].S. – Bases da Parasitologia. Organización Panamericana de la Salud. REY.J. & PAWLOWISKI. 2a edição. P. Z.Leituras complementares ACHA. 3a edição.
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