OcupacaOROGÉRIO SGANZERLA Ideias e imagens de um dos cineastas mais importantes do Brasil estão na Ocupação Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú Cultural, a exposição é uma oportunidade de o público conhecer o universo criativo da obra de Sganzerla, por meio de seus filmes, documentos e roteiros originais datilografados, marcados, reescritos à mão. Anotações, referências aos artistas e aos personagens que o inspiraram, além de fotos e objetos pessoais, compõem a montagem. Parte da exposição, esta publicação traz textos atuais de críticos, pesquisadores e daqueles que compartilharam com Rogério Sganzerla sua energia, suas histórias de vida, afeto, trabalhos, ideias, filmes. Com uma obra enigmática, cuidadosa no que se refere ao som e à construção de poesia em imagens, Sganzerla reposicionou a história do cinema brasileiro no mundo. Os caminhos e os percalços dessa trajetória são contados nos relatos, na entrevista, nas fotografias de acervo e nos desenhos a seguir, numa homenagem afetiva ao cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido da Luz Vermelha, considerado pela Unesco um Patrimônio Cultural da Humanidade. Instituto Itaú Cultural i m a g e m : f r a m e d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a Pré-OcuPaçãO de um visiOnáriO Joel Pizzini Rogério está no ar, na tela e no papel. A Ocupação Rogério Sganzerla pinta numa esquina de ponta da Avenida Paulista, evoca os signos do caos, atravessa o perigo negro do abismo e joga luz nas trevas através do mistério da criação. Não estava escrito em lugar nenhum qual o destino que aguardava aquele guri, que até os 5 anos não falava, aos 7 já lançava um livro de contos e aos 11 aprontava o primeiro roteiro de longa metragem. Conta sua mãe, Dona Zenaide, que Rogério, lá em Santa Catarina, quando criança, adorava brincar de mágica e hipnotizar os amigos. O que ela não adivinhava, contudo, é que seu filho ganharia o mundo, tirando “o cinema do quarto de brinquedos” e revelando, em quatro filmes, verdades e mentiras da passagem do mago Orson Welles pelo Brasil. A cinefilia de Sganzerla aflorou aos 13 anos, no Colégio dos Irmãos Maristas em Florianópolis, onde o padre Andreotti, ao perceber que seu aluno não tinha pendor para atividades físicas, o estimulou a frequentar o cineclube, que exibia um atrevido repertório de John Ford e Rene Claire a Rossellini. A escolha de Rogério pelo cinema se definiu em 1961, na mudança para São Paulo, após sobreviver a um trágico acidente de carro em Joaçaba. Decidiu se instalar numa pensão na Pauliceia aos 15 anos e virou rato da Cinemateca enquanto fazia direito no Mackenzie, curso que abandonou dois anos depois, ao ser convidado por Décio de Almeida para escrever no festejado Suplemento Literário do Estadão. Através da crítica, fez cinema com a máquina de escrever, não diferenciando o “escrever sobre cinema do escrever cinema”. Depois fundou, com Maurice Capovilla, uma página de cinema no Jornal da Tarde, tornou-se, ainda, redator da revista Visão, da Folha da Tarde e do Última Hora. Nesse período conheceu Andrea Tonacci e realizou seu primeiro filme de ficção, curiosamente chamado Documentário, que conquistou o disputado Prêmio JB Mesbla. Entregue pela atriz Helena Ignez, sua futura esposa e parceira, o prêmio lhe rendeu uma viagem para Cannes, que ele aproveitou para a cobertura do festival. Na viagem de volta, escreveu no navio o roteiro de O Bandido da Luz Vermelha. O resto é mar. A trajetória errática de Rogério desse ponto em diante todos conhecem: lançado em 1967, O Bandido provocou enorme impacto, arrebatou vários prêmios no Festival de Brasília, transformou-se em clássico outsider e, como não bastasse, virou fenômeno de público, autenticando a utopia de Oswald de Andrade – fabricar biscoito fino para o deleite das massas. Antes de tudo, o filme profetiza o AI-5 (“decretado o estado de sítio no país”, brada a locutora de rádio) e inova na incorporação do pop, do kitsch, de clichês, subgêneros e HQs. E, quando todos pensavam que estacionaria na sombra do próprio mito, Rogério apostou, em 1969, todas as suas fichas no popular e sofisticado A Mulher de Todos, um ousado modelo de indústria de Sganzerla para o audiovisual brasileiro – conforme o sócio e amigo Júlio Bressane. Um primor de roteiro, A Mulher de Todos escancara o talento de Helena Ignez, que revoluciona a arte de interpretar, explodindo os limites do enquadramento. Na sequência vem a radicalidade setentista da produtora Belair, que transpôs o deserto vigente no país e legou seis longas – marcantes viagens em apenas três meses de estrada. Da lavra de Sganzerla, três pérolas: Carnaval na Lama (desaparecido em mostra no Jeau de Paume, em Paris, em 1992), Copacabana Mon Amour e Sem Essa, Aranha. Enquanto filmavam com olhos livres e rompiam nós narrativos, o tempo se fechou e Rogério, Helena e Júlio se viram forçados a se exilar no Velho Mundo, onde concluíram parte dos filmes, que foram exibidos em Londres. Na volta ao trópico, no vácuo da contracultura, adotando seu singular método pré-colombiano, Rogério lançou com Helena o Abismu, salto no escuro que em 30 anos ainda reverbera com frescor sob a fuselagem sonora de Jimi Hendrix e a performance transcendental de Zé Bonitinho. O sonho acabou? No embalo dos esquisitos anos 1980, das aberturas políticas, da redemocratização e da globalização à vista, só um cidadão pode nos salvar: Welles. Ao lado, naturalmente, de três signos centrais do cinema de Sganzerla: Hendrix (desde Abismu), Oswald de Andrade (Perigo Negro) e Noel Rosa, inspirador de dois filmes: Noel por Noel (1980) e Isto É Noel Rosa (1990). Desse modo, Rogério Sganzerla dedica-se de corpo e alma a compor uma tetralogia sobre a passagem entre nós do cineasta norte-americano Orson Welles, nos anos 1940, quando It’s All True é abortado por contrariar interesses de políticos brasileiros e norte-americanos de suspeita vizinhança. Na primeira sessão do copião de O Signo do Caos em São Paulo foi que me aproximei mais de Rogério, que conhecia desde 1980, nos tempos de universidade, em Curitiba, quando apresentou seu filme Brasil, debatido, com a presença dele, em nossa turma de jornalismo. De lá pra cá, breves encontros, mas para mim intensos papos lunáticos. Que mistérios tem Rogério? Enfant terrible,internaciona- lista,cineasta com suingue que saiu determinado da província para desburocratizar mentes e desafinar o coro dos contentes com um corte cínico-utópico na cena audiovisual contemporânea. Para ser vista com olhos livres e sensibilidade atenta (parafraseando Oswald de Andrade), apresentamos pela primeira vez em nosso país parte significativa da vasta produção intelectual-criativa de Rogério Sganzerla, cuja memorabilia é revisitada e a vida-obra escancarada nos roteiros inéditos e nos caderninhos em que desde criança anunciava o crítico que se afirmaria na adolescência. A Ocupação Rogério Sganzerla é composta de nichos-sequência que compõem a trajetória do artista, homem e pensador. Sem cronologia rígida, a montagem espelha a lógica cinematográfica, onde coabitam livremente tempos, ideias, formas, sons. Por se tratar de um artista transgressor, que permanentemente rompeu esquemas, decidimos sinalizar, ao invés de demarcar, resguardando assim a dimensão enigmática de seus escritos e registros fílmicos. Os espaços da exposição evitam o tom saudosista e valorizam aspectos pictóricos e gráficos recorrentes na obra do autor. Uma projeção exibe em quatro telas pequenos filmes que buscam conexões na filmografia de Sganzerla, evidenciando seu estilo, características dos personagens e diálogos marcantes. Trata-se de um eixo central expositivo que proporciona ao visitante uma experiência sensorial que pretende antes despertar o interesse pela retrospectiva do diretor. A exposição extrapola as fronteiras do espaço e se prolonga no plano virtual, criando uma rede de dezenas de relatos através do site (www.itaucultural.org.br/ ocupacao), que permitirá uma compreensão mais abrangente do universo existencial e inventivo de Rogério, amplificando o alcance de sua obra. Na fase de prospecção e pesquisa, cerca de 4 mil imagens foram digitalizadas do acervo familiar, de instituições e de companheiros e amigos profissionais, para consequente seleção da curadoria. Os personagens “sganzerlianos”, com respectivos verbetes, ganham destaque na mostra, que revelará cenas familiares e exibirá o material bruto de dois filmes do cineasta catarinense: um inacabado, Fora do Baralho (1971), rodado no deserto do Saara, e Carnaval na Lama (1970), desaparecido em uma mostra que homenageava Hélio Oiticica em Paris, em 1992. Outro achado precioso é A Alma do Povo Vista pelo Artista (1991), filme-ensaio sobre a arte de Newton Cavalcanti, cujos originais estão desaparecidos, mas uma cópia recém-encontrada sem som será exibida. Os três signos medulares na constelação de Rogério – Noel Rosa, Orson Welles e Jimi Hendrix – ganharão espaços específicos. Atenção para o canto dedicado a Hendrix, que é o experimento interativo da mostra: uma guitarra com dispositivo midi, disponível para qualquer visitante tentado a aguçar o imaginário musical inerente ao cinema de RG. A guitarra emitirá sons e imagens em inesperadas combinações. O mar, elemento significativo nos filmes de Rogério, inundará uma tela sob forma de projeção, que o espectador descortinará ao incursionar no ambiente. O público estará, então, no interior de uma sala-tela- caixa, onde o imaginário do gênio protagoniza a cena, os personagens divagam e a luz projeta signos e profecias que refletem o novo milênio. Concebida sob uma perspectiva contemporânea, a Ocupação Rogério Sganzerla persegue três linhas de fuga: luz, abismo e caos – nodais no universo do autor. Sua plenitude da poética poderá também ser compartilhada em retrospectiva completa do cineasta, debates com íntimos conhecedores de sua trajetória no Brasil e no exterior, por meio de portal eletrônico, livros e esta publicação: ecos do espírito da mostra. Através da mobilização da família, que generosamente abriu seu acervo, de amigos e colaboradores e entidades de preservação, e do envolvimento da equipe do Itaú Cultural, ocupa-se, enfim, um espaço privilegiado para a expansão da linguagem de Rogério Sganzerla. E justo na cidade que Rogério filmou compulsivamente com sua máquina de escrever desde adolescente e onde produziu as obras-primas, O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos, que agora voltam reconhecidas para inscrever sua luz própria. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma iniciativa sem precedentes sobre um artista visionário que transita na terceira margem do cinema, intransigente em seu ideário e que finalmente recebe um tratamento à altura da contribuição para o cinema brasileiro com que sonhamos (neste caso, sua vida vale o sonho). Um evento de fôlego, que proporcionará a fruição de uma obra singular, radical e ainda pouco acessível ao público, por dificuldades de distribuição. Esperamos que em breve este esforço lance sólidas bases para a sistematização do inventário documental do artista, criando, assim, condições para um diagnóstico que desencadeie uma ação urgente e efetiva para a restauração desse patrimônio audiovisual sem limites. Autor de Glauces (2001) e Helena Zero (2006) – ensaio sobre Helena Ignez –, Joel Pizzini é casado com Paloma Rocha, enteada de Rogério Sganzerla. Ao lado da esposa, dirigiu Elogio da Luz (2003), sobre a vida e a obra do cineasta. Colaborou na montagem de Luz nas Trevas (inédito), de Helena Ignez, com roteiro de Sganzerla. Diretor de 500 Almas (2004) e vencedor de mais de 20 prêmios em festivais nacionais e internacionais, Joel Pizzini é o curador da Ocupação Rogério Sganzerla. i m a g e m : f r a m e d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a QuandO Palavra e imagem cOnvergem sObre O eixO dOs sentidOs Roberto Moreira S. Cruz Mais uma vez o cinema está exposto. No espaço e nas telas desta Ocupação. E nada mais apropriado que o escolhido fosse um realizador que em sua visão vertical da realidade brasileira construiu uma das mais originais e criativas filmografias do cinema nacional. Rogério Sganzerla é de uma geração de artistas que viraram do avesso os dogmas estabelecidos das regras de conduta da cultura brasileira. Realizou aos 22 anos, em plena época da ditadura, um filme improvável e revolucionário em sua forma e conteúdo. O Bandido da Luz Vermelha é atemporal e, aos olhos congestionados da cultura da imagem contemporânea, ainda brilha e ofusca pela sua originalidade. Em seguida produziu, em 1969, A Mulher de Todos, filme feito e perfeito para Helena Ignez, sua companheira por 34 anos e com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla. Ao lado de Júlio Bressane e da própria Helena Ignez na experiência Belair, uma produtora independente e anarquista, que em três meses produziu seis filmes, realizou Copacabana Mon Amour, Sem Essa, Aranha e Carnaval na Lama (filme desaparecido e cujos negativos estão parcialmente deteriorados). Cinema como resultado da força criativa de uma geração interessada antes de tudo no exercício da liberdade de criação. Exilado como tantos outros, viajou para a Europa e a África, onde filmou com a mesma intensidade criativa o material bruto do projeto inacabado Fora do Baralho. Ao regressar ao Brasil, retornou ao cinema com Abismu (1977), filme que reúne em atuações antológicas Wilson Grey, José Mojica Marins, Jorge Loredo e Norma Bengell. Foi nesse mesmo período que Sganzerla passou a se dedicar a uma vasta pesquisa sobre a presença de Orson Welles no Brasil, fato que ele referenciou nos filmes-ensaio Nem Tudo É Verdade, Linguagem de Orson Welles, Tudo É Brasil e O Signo do Caos. Com o mesmo olhar crítico e criativo, contou a história de Noel Rosa e celebrou Jimi Hendrix. Apesar do reconhecimento, a obra de Rogério Sganzerla está pouco preservada na memória audiovisual do país, e resgatá- la nesta exposição significa atualizar o que já se sabe sobre sua cinematografia, mas fundamentalmente o que pouco se mostrou e se pesquisou. Sganzerla era antes de tudo um homem da palavra e das ideias. Foi crítico de cinema, colaborou nos principais jornais do país, 1 deixou escritos roteiros inéditos e refletiu de forma brilhante sobre a necessidade de pensar e de fazer um cinema que fosse genuinamente brasileiro. Quando começamos a trabalhar no projeto desta exposição, um tesouro foi imediatamente revelado. O acervo particular do cineasta estava intocado desde sua morte, em 2004. O interesse em descobrir o que estava guardado naquelas dezenas de caixas, pastas e arquivos de um cineasta da envergadura de Sganzerla motivou o convite para a família do cineasta se aventurar na construção coletiva desta exposição. Com a contribuição do curador Joel Pizzini, de Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla e de uma equipe de pesquisadores, iniciou-se o processo de averiguação, manipulação e levantamento de milhares de páginas, anotações, manuscritos, 1 Com o apoio do Itaú Cultural, a editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) prepara uma edição especial em dois volumes das críticas e dos artigos publicados por Rogério Sganzerla nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. roteiros, cadernos, fotografias e sequências de filme. À medida que todo esse material era mexido e remexido, foi então se descobrindo um conjunto de rascunhos e textos, muitos deles desconhecidos da própria família, com traços evidentes de que, para o cineasta, a escrita servia de guia para suas ideias e para a elaboração de suas imagens. O próprio Sganzerla reconhecia em seus depoimentos que a escrita era a primeira etapa para a constituição do enunciado audiovisual. Como ele próprio afirmava: “Fazer cinema é como descrever um movimento impetuoso numa folha em branco pegando fogo”. Perceber as características desses textos, a forma muitas vezes aleatória e repetida com que as ideias eram escritas e anotadas, leva a supor que uma análise mais detida e metódica desses arquivos poderia revelar, sem dúvida alguma, outra abordagem sobre a linguagem e a narrativa de seus filmes. Desconheço alguma argumentação crítica que tenha se debruçado sobre a obra do cineasta a partir da hipótese de aproximação de sua linguagem audiovisual com sua escrita. Nesse sentido, a Ocupação Rogério Sganzerla quer trazer ao público essa dimensão sinestésica de seu cinema, em que palavra e imagem convergem sobre o eixo dos sentidos e se cruzam no campo da ambiguidade. Não é difícil notar que essa confluência nebulosa e pouco elucidativa entre imagem em movimento, língua e fala está na própria atonalidade narrativa de seus filmes, carregados de maneirismos, irreverência e contrastes estilísticos. Ver e ler os roteiros e as anotações de filmes como O Bandido da Luz Vermelha, A Mulher de Todos e Nem Tudo É Verdade é um exercício prazeroso e ao mesmo tempo desafiador, uma aventura da leitura que evoca as imagens em movimento e vice-versa! Da mesma forma, reconhecer nos manuscritos os indícios de uma sequência ou a opção por uma fala específica de um personagem incita a percepção e a curiosidade de como tantas ideias viraram filmes! E que filmes! Roteiros inéditos, originais de seus artigos e críticas, fragmentos e material bruto de filmes inacabados, objetos e equipamentos utilizados na realização de seus filmes constituem-se em referências e signos de sua cinematografia. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma experiência multissen- sorial, em que o cinema está expresso em sua dimensão plural de linguagens e sentidos. Em que as imagens, as palavras e os sons estão interpenetrados numa atmosfera sensorial e reflexiva, envolvidos pela força autoral e criativa de um cineasta com “C” maiúsculo. Roberto Moreira S. Cruz é gerente do Núcleo de Audiovisual do Instituto Itaú Cultural desde 2001, onde organiza e coordena projetos nas áreas de cinema e vídeo. É mestre em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), onde desenvolve pesquisa sobre cinema, narrativa e projeções no contexto da arte contemporânea. Foi professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) no curso de comunicação social entre os anos de 1989 e 2001. f o t o : a r q u i v o d a f a m í l i a d e S g a n z e r l a FluxO ininterruPtO de energia criativa Djin Sganzerla João Gilberto, de quem meu pai tanto gostava, cantou a saudade de forma singular. É com esse sentimento que “não sai de mim”, misturado a uma grande alegria, que vivo este ano de 2010. Um ano de reencontros e expansão. Um ano que culmina nesta “ocupação”, iniciativa belíssima do Itaú Cultural, com curadoria do Joel Pizzini, em que o público terá a chance de conhecer melhor essa personalidade, esse grande artista, escritor, cineasta único, Rogério Sganzerla. Em abril estive com Helena Ignez e Sinai Sganzerla no 12 o Festival de Cinema Bafici, em Buenos Aires, onde Rogério recebeu uma importante retrospectiva. Um festival instigante, de excelente curadoria, sua obra sendo “redescoberta” por um público encantado, interessantíssimas análises, salas lotadas, diversos convites internacionais – França, Alemanha, Áustria e uma retrospectiva completa no Lincoln Center, a convite do curador americano Scott Foundas, que disse que seus filmes eram absolutamente geniais. Tive a oportunidade de rever Nem Tudo É Verdade, uma poesia em movimento. Um filme magistral, com absoluta originalidade e liberdade, reconstrói a vinda do Orson Welles ao Brasil. Assistindo ao filme, me senti conversando com meu pai, vendo-o transformar em cinema tudo o que passava por suas mãos, fluxo ininterrupto de energia criativa. Depois da sessão, Quintin, crítico de cinema e ex-diretor do Bafici, veio emocionado conversar conosco. Contou que, em 2004, Roberto Turigliatto, então diretor do Festival de Turim, perguntou se ele conhecia a obra do Sganzerla, que em sua opinião era maior que Godard. Quintin respondeu que assistira apenas ao Bandido e achou que havia no comentário certo exagero. Mas agora, depois de acompanhar a retrospectiva de Sganzerla, percebia que Turigliatto estava certo, Rogério era maior que Godard. Assim tem sido seu reconhe- cimento. No ano passado, uma belíssima retrospectiva na Índia, e meses antes na Itália, em Trieste, entre tantas outras. Agora, em junho de 2010, Copacabana Mon Amour participa do 28 o Festival de Munique. Os filmes seguem depois para a França e para Viena. f o t o s : a r q u i v o d a f a m í l i a d e S g a n z e r l a No Brasil, o Itaú Cultural faz a mais completa das retrospectivas, como o próprio nome diz, uma Ocupação Rogério Sganzerla. Apresenta esse multiartista em sua completude: roteiros originais ainda não filmados, objetos pessoais, filmes, fotos de diversas fases de sua vida, debates sobre a obra etc. Somados a isso, o relançamento do CD da trilha original do Copacabana Mon Amour e a publicação de dois livros com artigos e críticas que escreveu no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo, na Folha de S. Paulo e no Jornal da Tarde. Meu sincero e carinhoso agradecimento a Joel Pizzini, esse curador/artista. Lembrei-me das nossas últimas caminhadas pelo centro de São Paulo, ele falando como filmaria o Bandido 2 (Luz nas Trevas), percebia como tudo ao seu redor era motivo de inspiração. Vimos um rapaz que consertava uma porta com um maçarico e meu pai logo comentou que criaria uma cena do Bandido usando um maçarico para acender um cigarro... Pouco tempo depois, no final de sua doença, comentou que somente uma câmera poderia salvá-lo. Hoje, em paralelo ao que mais amo fazer na vida, que é atuar, administro junto com minha mãe e com Sinai a Mercúrio Produções (em São Paulo). Em paralelo aos projetos que criamos, vejo esse nosso trabalho de difundir, preservar e relançar sua obra como um serviço ao cinema brasileiro, mantendo vivo o legado de um dos seus principais artistas. E ao mesmo tempo um hino de amor aos dois, pais queridos, que tanto fizeram e fazem pela nossa cultura. Revendo o material que foi entregue ao Itaú Cultural para compor a Ocupação Rogério Sganzerla, encontrei cartas magistrais que não conhecia, como o cartão carinhoso que ele enviou de Firenze para o Júlio Bressane, mandando um beijo para a “linda Helena”, então namorada do Júlio; como a carta que enviou à Sinai, que na época tinha 9 anos, contando que estava em um festival e que iria encontrar ninguém mais, ninguém menos do que mister Welles... Quando me convidaram para escrever, pensei no que dizer. Lembro-me de um sonho que tive alguns meses depois de sua partida; ele filmava, filmava, com uma alegria, um contentamento enorme, como um menino em cima de uma árvore. O próprio sonho parecia ser enquadrado pela sua câmera. Senti que ele estava fazendo, onde quer que estivesse, o que sempre mais gostou. E as projeções de sua obra nós fazemos aqui. Djin Sganzerla é atriz, estreou no cinema no longa-metragem O Signo do Caos, de Rogério Sganzerla. Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como Melhor Atriz de Cinema de 2008, pelo filme Meu Nome É Dindi, de Bruno Safadi. Também recebeu, entre outros, o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do 39 o Festival de Cinema de Brasília, pelo filme A Falsa Loura, de Carlos Reichenbach. Trabalha ao lado da sua mãe e da irmã na Mercúrio Produções, que lança neste ano o Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha, filme em que faz a protagonista feminina, Jane. foto: Marcos Bonisson Cronologia 1946 Rogério Sganzerla nasce em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, no dia 4 de maio. 1964-1965 Muda-se para São Paulo para cursar as faculdades de direito e administração. Inicia a atividade de crítico de cinema no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. 1967 Estreia na direção com o curta-metragem Documentário, que recebe o Prêmio JB Mesbla de Melhor Curta, o que lhe dá direito a ir ao Festival de Cannes. No retorno de navio ao Brasil, Rogério lê nos jornais brasileiros a bordo as notícias sobre um fora da lei conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”, que agia em São Paulo. Como vinha escrevendo um roteiro sobre um criminoso de traços semelhantes, decide adaptar sua história à daquele personagem tão frequente na crônica policial da época. 1968 Realiza O Bandido da Luz Vermelha, seu primeiro longa-metragem, um dos mais premiados flmes brasileiros de todos os tempos. Posteriormente, na condição de clássico, é indicado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Na flmagem, inicia sua relação com Helena Ignez, atriz considerada musa do Cinema Novo e que se tornou sua parceira artística afetiva por toda a vida. 1969 Lança A Mulher de Todos, seu segundo longa- metragem, estrelado, entre outros, por Helena Ignez, Paulo Villaça e Jô Soares. Sucesso de bilheteria. Ao apresentá-lo no Festival de Cinema de Brasília de 1969, aproxima-se de Júlio Bressane, que exibia seu O Anjo Nasceu. Realiza dois flmes com a codireção de Álvaro de Moya: os curtas HQ e Quadrinhos no Brasil. 1970 Em parceria com Júlio Bressane e Helena Ignez, funda a produtora Belair – que em apenas três meses realiza seis flmes. Sganzerla dirige três deles: Copacabana Mon Amour (com trilha original de Gilberto Gil), Sem Essa, Aranha e Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista), flmado, em parte, em Nova York. Exilado, Rogério Sganzerla segue com Helena Ignez para Londres. Depois, para Marrocos, Argélia, Tunísia, Níger, Nigéria, Daomé (atual Benin) e Senegal, onde o casal se estabelece por algum tempo. 1971 No deserto do Saara, flma o documentário inacabado Fora do Baralho. 1972 Em 25 de outubro nasce Sinai, sua primeira flha com Helena Ignez. 1976 Em 27 de fevereiro nasce Djin, sua segunda flha com Helena Ignez. Realiza o curta-metragem documental Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (Villegaignon), premiado pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. 1977 Dirige Abismu, primeiro longa após um considerável intervalo. Na verdade, é o único lançado entre 1971 e 1985. No elenco, Zé Bonitinho, Wilson Grey e José Mojica Marins. 1978 Realiza o curta-metragem Mudança de Hendrix. Participa como codiretor e montador do flme Horror Palace Hotel, de Jairo Ferreira. 1980 Realiza o curta-metragem Noel por Noel, primeiro flme seu sobre Noel Rosa. Edita Um Sorriso, Por Favor, flme de José Sette sobre o universo gráfco de Goeldi. 1981 Realiza o curta-metragem Brasil, com participação de João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 1984 O documentário O Petróleo Nasceu na Bahia é lançado e premiado nos Festivais de Caxambu e Gramado. 1986 Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Trata- se do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil (em 1942). 1990 Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Realiza dois vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e Incomum (sobre Antonio Manuel). 1991 Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles. 1992 Dirige o episódio Perigo Negro, que integra o longa-metragem Oswaldianas, baseado em Oswald de Andrade. 1998 Lança o ensaio documental em longa-metragem Tudo É Brasil. 2003 Após muitas difculdades, conclui O Signo do Caos, o último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil, lançado e premiado no Festival de Brasília. É seu último flme. 2004 Falece no dia 9 de janeiro. Deixa uma obra extensa de flmes e muitos escritos, na qual há roteiros não flmados, como o do longa-metragem Luz nas Trevas – Revolta de Luz Vermelha. A partir desse roteiro, cinco anos depois se iniciam as flmagens da continuação da trajetória do Bandido da Luz Vermelha, sob a direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. Atualmente, encontra-se em fase de fnalização. Filmografia Documentário – 1967 O Bandido da Luz Vermelha – 1968 A Mulher de Todos – 1969 Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969 Quadrinhos no Brasil – 1969 Copacabana Mon Amour – 1970 Sem Essa, Aranha – 1970 Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista) – 1970 Fora do Baralho – 1971 Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica – 1976 Ritos Populares, Umbanda no Brasil – 1977 Abismu – 1977 Mudança de Hendrix – 1977 Noel por Noel – 1980 Brasil – 1981 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981 Irani – 1983 Nem Tudo É Verdade – 1986 Isto É Noel Rosa – 1990 Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991 Anônimo e Incomum – 1990 Linguagem de Orson Welles – 1990 América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992 Perigo Negro – 1992 Deuses no Juruá –1997 Tudo É Brasil – 1998 B2 – 2001 Informação H. J. Koellreutter – 2003 O Signo do Caos – 2003 ZOnk! crash! bOOm! OrsOn, Oswald, nOel e JOãO na sganZerlândia ou tamanhO nãO é dOcumentO ou um POucO de lOucura Previne um excessO de tOlice Steve Berg i m a g e m : f r a m e d o f l m e B 2 “Uma nação que negligencia as percepções de seus artistas entra em declínio e depois de certo tempo cessa de existir para apenas sobreviver.” Ezra Pound Rarissimamente exibidos e mais raramente ainda objetos de qualquer reflexão crítica ou teórica dentro ou fora do Brasil, não surpreenderá a ninguém que os 20 curtas e médias-metragens dirigidos por Rogério Sganzerla ao longo de 37 anos (quatro dos quais estão desaparecidos ou em estado de deterioração) constituam a parte menos conhecida de uma filmografia por si só (e por um período de tempo quase obsceno) quase secreta. De Documentário (1967) até Informação H. J. Koellreutter (2003), o que salta aos olhos quando assistimos a esses filmes é sua profunda coerência e inte(g)ração com o restante da obra cinematográfica do autor [Eliot: “Em meu princípio está meu fim”: dois anos antes da explosão do Bandido através da fórmula Urânio=Mercury e 37 antes de O Signo do Caos, Documentário já contém referências a Orson Welles – em cartaz afixado à porta de um cinema, como integrante do elenco de O Terceiro Homem (1949), e em portrait/ homage que ocupa toda a tela por um instante] – seja pela mestria com a qual o autor navega por vasta gama de gêneros, temas e formatos (ficção, documentário, biografias romanceadas, musicais, institucionais e didáticos em bitolas de 16 e 35 milímetros e em vídeo com uso particularmente inspirado e dinâmico do table top), seja pela autoria de um cinema que se INVENTA apesar e por causa da precariedade de recursos, constante exercício de profundidade reflexiva e verve criadora raras na história do cinema brasileiro. Por esses 20 curtas e médias-metragens desfilam todas as grandes e pequenas obsessões do cineasta (por enumeração caótica: a história do Brasil, Orson Welles, Oswald de Andrade, a questão da cultura, os quadrinhos, Noel Rosa, João Gilberto, o FAZER artístico, a umbanda e o próprio cinema). imagens: frames do flme O Bandido da Luz Vermelha A poética A) LOGOPOEIA (a dança do intelecto entre as palavras): se o revolucionário Sem Essa, Aranha levou quase 40 anos para chegar ao grande público por meio de lançamento em DVD, o Sganzerla absolutamente clássico e seco (em termos de vocabulário da imagem e do corte) de Perigo Negro (1992), magistral filmagem do único roteiro cinematográfico do imenso Oswald de Andrade, escrito para integrar um dos três volumes inacabados de seu romance mural Marco Zero (1943-1946), é uma OBRA- PRIMA totalmente desconhecida de todos a não ser dos mais devotos “sganzerlianos” – uma tragédia amarga e cômica que só dói quando a gente ri e reitera o tema da ascensão e queda do gênio precoce, encenada por um incrível elenco de estrelas trouvées, que inclui desde Helena Ignez até Abraão Farc, Paloma Rocha, Guará, Conceição Senna, Ruddy, Paulo Moura, Jorge Salomão, Antonio Abujamra e Sandro Solviatti, entre outros. B) MELOPOEIA (a ênfase no SOM): os dois filmes sobre Noel Rosa (Noel por Noel e Isto É Noel Rosa, de 1980 e 1990, respectivamente). João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia em Brasil (1981). Do começo de Helena surge mais um fim (o último curta) – da formação da atriz na Universidade Federal da Bahia (UFBA) ressurge o professor, compositor e esteta Koellreutter: depoimentos com música. MOTZ EL SON. C) PHANOPOEIA (a poesia de IMAGENS VISUAIS), o lado POP: metralhadora de imagens em table top e narração nonstop em Histórias em Quadrinhos (Comics), de 1969. O domínio total em que se fundem história e presente na estratégia-mor “sganzerliana” de SELEÇÃO e COMBINAÇÃO de imagens, quando a fotografia e o material de arquivo cinematográfico SE VOLTAM SOBRE SI MESMOS, obsessivamente, em eterno retorno, círculos concêntricos de informação e possibilidade provindos de pedras/ provocações atiradas no espelho d’água da imagem da memória nacional. Trechos de Umbanda no Brasil ressurgem em Brasil. Linguagem de Orson Welles (1990) e Isto É Noel Rosa dão sequência a um jogo de espelhos cósmico – as mesmas imagens de arquivo que neles aparecem reaparecerão, reordenadas, em Tudo É Brasil (1998). O anti-institucional pós-tropicalista A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) (1981) pertence a essa categoria, bem como o martelo nietzschiano e as urnas quentes de Antonio Manuel que integram Anônimo e Incomum (1990), nas quais NADA e PIGMENTOS e TINTA se somam às participações aforísticas de Helena Ignez e Nonatho Freire e à fotografia das TELAS de Antonio Manuel – comprovantes do olho colorístico do cineasta, bem como ocorre em Deuses no Juruá (1997), com suas máscaras gregas, seus índios e suas cores saturadas. No outro extremo do espectro imagético, as cores delicadas dos cartógrafos em Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (1976) e os focos de luz e fumaça de América: o Grande Acerto de Vespúcio (1992), com interpretações icônicas e antológicas dos brilhantes atores-fetiches Paulo Villaça, como Villegagnon, e Otávio Terceiro, como Américo Vespúcio. D) O cinema ESTILHAÇO de Irani (1983) coloca en robe de parade o messianismo e a guerra santa no fragmento do projeto não realizado sobre a Guerra do Contestado (como filmar o conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro?). O misterioso e igualmente inacabado Ritos Populares – Umbanda no Brasil (1977-1986), no qual a câmera segue a figura do pai de santo Woodrow Wilson da Mata e Silva, o Mestre Yapacany da umbanda esotérica, narrando sua própria trajetória e a criação da umbanda esotérica em passeio por livraria e ruas do centro do Rio de Janeiro enquanto um plano do rosto de Cristo num altar torna e retorna e cenas de ritual na mata preparam seu próprio retorno mais adiante em Brasil (1981). Ações Plano de estudo: rever os curtas e médias-metragens de Rogério Sganzerla enquanto subsídios para investigação sobre narração paramétrica (repetição + imagem não significante + adição por subtração). O ESTILO alçado ao nível de força MODELADORA do cinema. Base do plano de estudo: geografia e (des)memória cultural – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Brasil. A Urca. Plano emergencial “arqueologia do cinema”: localização e restauro de Quadrinhos no Brasil, Mudança de Hendrix e Newton Cavalcanti – A Alma do Povo Vista pelo Artista. Não há outro modo de dizê-lo: os curtas e médias- metragens de Rogério Sganzerla são simplesmente magistrais, os mais ricos jogos de imagem, música e significado. Visão, som e sentido. Procurem conhecer melhor. VEJAM como fez o artista pra andar pra frente e pensar em vertical. VER DE NOVO. MAIS LUZ. Steve Berg é tradutor e pesquisador. Fez sua estreia literária na Navilouca em 1972. Traduziu para o inglês o “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade e toda a produção textual de Hélio Oiticica já publicada em língua inglesa, e é autor de ensaios sobre Douglas Sirk, Helena Ignez e os filmes de Belair, entre outros. Organizou retrospectivas de recortes da obra de John Ford e Fritz Lang, e foi curador da mostra Rossellini TV Utopia. Também acredita que é preciso tirar o cinema do quarto de brinquedos. i m a g e m : f r a m e d o f l m e A M u l h e r d e T o d o s QUE MISTÉRIOS TEM HELENA? Paolo Gregori e Pedro Jorge Tarde no centro de São Paulo, escritório da Mercúrio Produções. Entre cartazes de flmes, pastas vermelhas com páginas de roteiro e uma varanda repleta de plantas, a atriz e diretora de cinema Helena Ignez concede esta entrevista. Parceira criativa e companheira de Rogério Sganzerla, ela participou ativamente da concepção de sua obra. Agora, como resultado de seu trabalho (ao lado das flhas Sinai e Djin), o acervo do cineasta é cada vez mais ampliado e revelado ao mundo, como conta ela nesta conversa – um encontro entre três cineastas que, em comum, têm a paixão pela obra de Rogério Sganzerla e o desejo forte de transformar ideias em cinema. Antes de entrar nos temas bons, quero falar de um ruim: o cinema brasileiro. É o balcão de favores do cinema brasileiro. Como foi enfrentar 50 anos de cinema brasileiro? Um cinema dominado por políticas e não raro por pessoas egocêntricas e metidas a besta e, ao mesmo tempo, você conseguir fazer um cinema que é o oposto disso, um cinema revolucionário. O momento é bom, e muito próximo ao começo. Parece estranho, não é? Também é um momento de orgulho, de reunir forças. Realmente, é um momento extraordinário. Por um lado, que é o lado magnífco dessa história, trata-se do que está acontecendo em relação ao cinema de Rogério e o mundo. Há alguns anos atrás eu estive na Nova Zelândia, levei O Bandido da Luz Vermelha. Ao mesmo tempo, a Weelington Film Society deu a O Bandido da Luz Vermelha o título de um dos 50 melhores flmes do século XX. Essa descoberta do mundo [em relação ao cinema de Rogério Sganzerla] realmente explodiu com a morte dele. É como se tivesse destampado uma panela de pressão e então o cinema de Rogério começou a ser distribuído pelo mundo. A minha flha Sinai Sganzerla veio realmente conhecer o cinema do pai em 2006, numa casa lotada em imagem: frame do flme A Mulher de Todos Turim, com pessoas sentadas no chão. Antes, ela não tinha podido conhecer a dimensão do trabalho do pai no Brasil, e tinha feito com ele a trilha sonora de O Signo do Caos. Então, é um momento extremamente radioso e importante. Ao mesmo tempo, esse cinema de Rogério se torna popular na juventude. Em alguns lugares, como no Bafci [Buenos Aires Festival Internacional de Cinema Independente, em abril deste ano], tivemos casas lotadas. Rogério é muito mais visto fora do Brasil. Desde junho do ano passado tenho feito constantes viagens para levar a obra dele. Temos ainda um trabalho difícil de recuperação e de preservação de seus flmes. Mas considero que, apesar de tudo, o momento é muito bom. O Nem Tudo É Verdade foi convidado para uma mostra, no ano que vem, no Lincoln Center [em Nova York] e ainda há mais dois convites internacionais para este ano. Foi preciso o Rogério morrer para acontecer tudo isso? De alguma forma ele previa isso. Você sabe que só Strindberg lia Nietzsche quando ele estava vivo? Isso é uma coisa doida e extremamente dolorosa. Mas a loucura tem lugar no mundo? Tem. Dos internacionais consagrados, por exemplo, um flme de que gosto muito é o Anticristo [de Lars von Trier, 2009], e aquilo não tem pé nem cabeça. i m a g e n s : f r a m e s d o f l m e A M u l h e r d e T o d o s Mas O Bandido da Luz Vermelha nem chegou a ir para Cannes. O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes demora um pouco para acontecer. A própria trajetória do Orson Welles não foi muito diferente da do Sganzerla em termos de realização de filmes. Pelo tempo de carreira deles e pelo número de filmes realizados, tudo é muito proporcional. Será? Mas veja, Krzysztof Kieslowski foi descoberto em Cannes depois de praticamente 20 anos de carreira como documentarista. O Heneke [Michael Heneke] ganhou Palma de Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no ano passado, sendo que o cara faz filmes desde a década de 1970. Mas esses caras conseguiram sobreviver. Pois é. Godard conseguiu. Mas ele é um atleta, ele tem uma coisa física por trás. E é suíço, o que sempre é melhor [risos]. Talvez se Glauber e Rogério fossem franceses, eles tivessem resistido mais. Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas, não é? Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas, eu tenho outras porções. Mas tenho outra notícia muito interessante, o diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do festival deste ano, em sessão especial. Isso foi muito bom. Locarno sempre gostou dos nossos marginais, não é? Acho Locarno realmente encantador. Como é que você vê esse encontro de duas pessoas excepcionais, você e o Rogério, que criaram uma obra tão voraz? No caso, você dando vida às personagens e ele escrevendo essas personagens. Não sei como dizer, talvez dizer não dizendo. Mas, bom, se trata de pessoas. Eu, ele e esse encontro. Uma paixão... Por aí. Tem essa força. A força também de uma atriz que vinha sete anos antes dele vivendo isso, começando um movimento, mas de uma forma muito fresh, com o Glauber, na Bahia. Na adolescência e na infância eu me alimentava do cinema brasileiro, das chanchadas. Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. Me divertia e tudo, mas não era o que eu queria fazer. Mas tinha uma força de uma criação ali que começou com O Pátio [o primeiro flme de Glauber Rocha, de 1959] e que depois foi distribuída em outros flmes, numa criação que tinha bastante autoria, mas que, de qualquer forma, era condicionada a um pensamento que nem sempre era o meu. Depois disso encontrei com Rogério exatamente a liberdade de me expressar completamente como artista. Tinha tido um vácuo muito grande talvez antes dele, porque essa adolescência com o Glauber foi adoravelmente fértil e louca, e estragada por um casamento. Éramos dois meninos, com 19 anos, na Bahia. O casamento estragou aquela coisa e foi curto. Mas teve um período antes dele em que eu encontrei essa efervescência toda. Então, quando eu encontrei Rogério, eu tinha já esse fogo, esse fogo dessa atriz e desse encontro com Glauber, uma forma glauberiana de ser artisticamente, e isso encaixou, se tornou no cinema que eu fz como atriz com Rogério. No mais, foi uma imensa paixão, um grande amor extraordinário, e que fez inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu me afastar dele, talvez a carreira, talvez ambições nesse sentido. Eu queria estar ali, participar daquele momento de criação magnífco, que era a nossa presença com os flhos, isolados. Nós sempre fomos muito isolados. E então teve a ditadura, que nos baniu completamente, e depois a Embraflmes, que nos deixou fora de produção. Enquanto isso o Rogério escrevendo. Ele tem uma produção literária extraordinária, que vai começar também logo a aparecer, assim como os roteiros. E agora será publicado um livro com os trabalhos [como crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Paulo. Éramos muito afastados do cinema, graças a Deus. O que talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma intensidade de sempre. Retomar essa vontade de fazer cinema. Essa vontade já tinha vindo anteriormente, eu fz um curta, A Reinvenção da Rua, fui movida por uma indignação pela situação da parte mais desprovida da sociedade, que são os moradores de rua. Então fz a primeira coisa como diretora, diretora no sentido de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer aquilo. Eu não sou exatamente uma cinéfla. Eu adoro completamente um autor de quem às vezes eu conheço apenas um flme só, apesar de ele ter uma obra inteira. Eu me interesso por poucas obras e me fxo nelas. O Rogério já tinha mais isso, não, de ser mais cinéfilo? Ele era completamente conhecedor de cinema, com 17 anos ele já conhecia todas as fchas de flmes clássicos, de todo o cinema. Esses são o Rogério, o Glauber e o Júlio Bressane. Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são cinéflos. E tem o Carlão [Reichenbach] também. Como foi, na realidade, para você, ver o Rogério vivendo obsessivamente o trabalho do Orson Welles? Como era para você essa grande paixão dele pelo Welles e pelos filmes, você entrou nessa história de peito aberto? Era um enigma, essa convivência com o Rogério era uma grande viagem em mar revolto. Quando eu vi pela primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na mala tinha It’s All True, eu pensei “puxa, de novo”. Não era mais uma trilogia. Era o quarto flme. Em Locarno, numa mostra sobre Welles, eu ouvi um curador dizer que sem os flmes de Rogério a obra de Welles não seria completa. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é um enigma, e é um trabalho explosivo de alguém com um espírito extremamente cristão, um cristão trágico com essa concepção de saber que todo o trabalho dele só seria descoberto depois do trabalho fnal, fechando com O Signo do Caos, com o fogo da cremação. Um trágico total, desde A Mulher de Todos que ele trabalha com a tragédia. No final de O Signo do Caos tem-se uma repetição com a frase “acabou, acabou, acabou”. E parece que era o fechamento da própria obra do Rogério. Isso foi muito assustador para mim. Pois é, um fechamento dionisíaco, com fogo, com alegria, com vibração, “amém, amém”. Quando ele ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003], ele ouviu da flha [Djin] esse anúncio. Sabe o que eu acho meio doido, Helena, é que nas mostras internacionais os curadores estão vendo os filmes do Rogério como se tivessem sido lançados hoje, com o olhar da novidade. É incrível isso, e mostra que são flmes modernos acima de tudo. E sobre a Belair, Helena, era inevitável esse encontro entre você, o Bressane e o Sganzerla, o trio Belair? Eu acredito que sim. Eu lembro que, quando vi o Copacabana Mon Amour, no Festival de Cinema Latino-Americana [2008, em São Paulo], com uma cópia restaurada, então a Djin apresentou o filme dizendo “Ah, eles usaram uma lente que foi do Fellini”. Vocês tinham essa magia que passa uma coisa que eu não vejo mais, uma coisa de ídolo, jovial. Era uma lente pesada, parecia um fundo de garrafa. Mas hoje é difícil manter essa jovialidade, não é? Mas eles conseguiam fazer os flmes deles assim. Na verdade era um cinema construtivo, que entrava na cabeça de seus ídolos. (Pausa para uma conversa entre os entrevistadores e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova geração de cineastas brasileiros, a exemplo do pernambucano Tião e seu flme O Muro.) Mas vamos voltar ao assunto da entrevista, que é falar do Sganzerla. É que falar da vida é muito interessante, e eu acho que foi isso o que me preservou, um interesse múltiplo forte que tenho. Você acha que o que aconteceu com o Rogério por dentro foi um pouco essa coisa obsessiva pelo cinema? Sim, essa obsessão artística nietzschiana das pessoas anormais. Claro, porque eu acho que um gênio não é normal. Em toda a obra dele, mesmo no mínimo está contida a mesma qualidade em todos os flmes. E para mim o que me preservou foi ter conseguido arejar, sair. E talvez, não sei, mas de alguma maneira com isso eu possa até ter preservado a vida de Rogério. Porque na família ele podia descansar, e talvez do contrário não tivesse sido assim, talvez tivesse sido ainda mais difícil, como pode ter sido para o Glauber. Mas o momento é este, é de reconhecimento da obra de Rogério. E dessa forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla, dirigido recentemente por Helena Ignez] é um flme que abraça toda a obra de Rogério, é um flme que devora, se apodera antropofagicamente – como é da nossa família espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro flme. É um flme interessante, rico e contraditório. Porque é sobre a justiça, uma comédia criminal sobre a justiça, e um flme gay, imensamente gay. Como foi organizar esse roteiro? Foi uma loucura. Eu estou num momento muito forte também, porque várias decisões estão em volta desse flme e desse roteiro. Luz nas Trevas também foi convidado para o Festival de Locarno, em competição ofcial. E é um flme que nasceu em 2003, pela descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas pastas vermelhas. E Rogério, que em toda a vida não deixou de perder o humor cáustico, um dia me disse “Você abriu demais esse baú”. Porque exatamente quando ele ia retomar esse trabalho, ele teve a notícia – apesar de estar com a saúde boa, normal – do câncer no cérebro. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor está aqui, andando normalmente”. E ele perguntou “Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15 dias”. Em vez disso ele viveu oito meses, e foi exatamente nesses oito meses que eu extraí força. E dentro daquele momento terrível era de onde vinha a alegria; ela vinha desse roteiro, da vida, das palavras dele, em um roteiro muito engraçado, de um humor muito interessante, com falas extraordinárias shakespearianas, tudo isso muito entrelaçado em mais de 700 páginas. E no fnal ele se virou e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. E eu me vi com isso na frente, para organizar e criar e tudo isso dentro de um cinema brasileiro, sabendo de todas as difculdades que temos para flmar. E enfm o flme está pronto. No mais, é uma produção familiar, a produtora executiva é a Sinai Sganzerla, a Djin é a atriz protagonista, em um elenco maravilhoso, com grandes atrizes e atores, a exemplo do André Guerreiro Lopes, que é também o meu genro, e do Ney Matogrosso, companheiro da minha geração, um ícone. Então tem essa estrutura familiar, com elementos que não são familiares, como a própria pessoa que eu convidei para codirigir o flme comigo [Ícaro Martins], que vem de uma concepção mais burocrática de cinema. E a grande vitória é que o flme não sofre essa infuência burocrática que é fazer um flme no Brasil, em absoluto. É um flme radical, e radical na poesia. Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens, o último deles o documentário A Vermelha Luz do Bandido, sobre a obra de Sganzerla. Com a irmã, a diretora Mariana Jorge, codirigiu o documentário América Brasil, que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge. Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV, dirigida por Kiko Goifman). Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades (1993) e Mariga (1995). Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25 o Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz, de Portugal (com o curta O Feijão e o Sonho, 1996). Seu curta-metragem Tropiabbas teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais de 20 países, enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai, Hamburgo e Montevidéu. Atualmente fnaliza seu longa-metragem Chuva. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na Universidade Anhembi Morumbi. Edição | Mariana Lacerda fotos: arquivo da família de Sganzerla f o t o : a r q u i v o d a f a m í l i a d e S g a n z e r l a investigações sObre O cinema (Ou seJa, O hOmem) mOdernO: sganZerla críticO Ruy Gardnier Observando o século XX, fica difícil afirmar que o crítico é um artista frustrado. São muitos os casos anteriores ao século passado – Stendhal, Diderot, Baudelaire e Machado de Assis, para mencionar apenas quatro –, mas este século viveu uma proliferação impressionante de artistas que exerceram a atividade crítica, como Georges Bataille, Ezra Pound, T.S. Eliot, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard, Truffaut, Rohmer, Chabrol, Rivette), Glauber Rocha, Jonas Mekas, além de incontáveis livros teóricos e manifestos que envolvem pensamento crítico (Schoenberg, Messiaen, Klee, Kandinski). Quando um grande artista exerce a atividade crítica, inevitavelmente ela se torna uma extensão de sua personalidade e de sua força criativa, selecionando as afinidades eletivas e afinando os processos de pensamento para lapidar as bases de sua arte. Como a crítica surge frequentemente nos períodos formativos dos cineastas, geralmente antecipando e/ou coincidindo com os primeiros roteiros, curtas e longa-metragem de estreia, observar o trabalho de um crítico-futuro- cineasta acaba sendo a mesma coisa que presenciar o retrato do artista quando jovem. Com os primeiros escritos de Rogério Sganzerla dá-se exatamente isso. No período mais brilhante de sua crítica, 1964-1967, Sganzerla é um jovem intelectual que tenta compreender as modificações que o cinema sofreu ao longo da década de 1950. Manifestando certamente uma série de mutações no globo, o cinema foi do certo ao incerto, do mastigado ao obscuro, do simples ao complexo. E o jovem Sganzerla criou para si mesmo a tarefa de mapear as características desses filmes que davam um sopro de renovação ao cinema daquele momento. Onde muitos viram gratuidades estilísticas, incoerências narrativas e hermetismo esnobe, Sganzerla viu um novo cinema que delineava uma nova relação com a imagem (e com os personagens, com as tramas, com a duração dos planos etc.) e que significava uma nova relação com o mundo. Em resumo, o empenho do jovem Sganzerla era explicar o cinema moderno. “Moderno”, para ele, não é uma questão de afetação ou de moda: é o cinema que exprime as inquietações de seu tempo, no conteúdo e na forma. Vários conceitos surgiram em artigos do Suplemento Literário do Estado de S. Paulo: “herói fechado”, “câmera cínica”, “cinema do corpo”, “tempo solto”, com recorrentes menções ao cinema de Fuller, Godard, Resnais, Losey, Antonioni e, como precursores, Welles e Hawks. Por trás dos nomes “herói fechado” e “câmera cínica” está a ideia de que o filme não tem mais a função de explicar o mundo e os personagens, e sim a de evidenciar esse caráter de incompreensão das coisas, em que tudo que o espectador pode fazer é olhar. Isso claramente já antecipa todo o fascínio dos personagens-ícones de Sganzerla, figuras intencionalmente opacas que funcionam como personagens de vaudeville num palco sem chão: no vazio do entretenimento, o pitoresco se apresenta em seu furor violento (e de cabo a rabo no cinema de Sganzerla há uma forte violência do signo ligada à caracterização/ caricaturização dos atores). Sganzerla memorialista Nos anos 1980, outro período particularmente prolífico de sua atividade crítica, certos questionamentos do cinema moderno são retomados, mas a tônica geral é a melancolia advinda do rompimento de laços do cinema brasileiro com seu braço mais experimental. São recorrentes – e altamente justificadas – as reclamações de que o cinema brasileiro se rendeu à telenovela e esqueceu o que havia de genial em sua tradição experimental, prestigiando o “pornosoft” e o naturalismo sem ousadias. Na ausência, a seus olhos, de um presente vigoroso, Sganzerla transforma-se num memorialista, evocando épocas do passado em que o Brasil tinha a bossa. Como Ulisses cantando sua longínqua Ítaca, o Sganzerla dos anos 1980 é um cineasta que olha para o Brasil e vê seu adorado cinema moderno muito longe, soterrado pela televisão. O antídoto? Dá-lhe Orson Welles, dá-lhe João Gilberto, dá-lhe Noel Rosa, na esperança da volta de modernidade e inteligência no cinema exercido no Brasil. no rastro de sganzerla uma antifotonovela Nasci em Joaçaba (SC). Até os 5 anos eu não falava e com 7 anos eu escrevi um livro de contos infantis... Eu era um menino barulhento, diferente dos padrões catarinenses... Com 10 anos comecei a fazer roteiro de cinema. Fazia um atrás do outro... Não tinha cineclube, não tinha nada. Não tinha meio nenhum de ir mais longe. Resolvi sair. Fui morar em São Paulo... A partir daí foi um momento de primeiro encontro com o cinema. Estudava no Mackenzie e de cara já não acompanhava as aulas. Meu interesse era me envolver com cultura. Com 17 anos comecei a fazer crítica de cinema no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo... Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi dirigir. Mas gosto do que faço porque, enquanto pude, fz cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o escrever sobre cinema do escrever cinema. Quando eu fui fazer cinema, tinha, apesar de uma grande ingenuidade, uma malícia que os outros caras não tinham. Fiz um curta-metragem e viajei para a Europa... Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo N e s t a p á g i n a : f o t o s d o a r q u i v o d a f a m í l i a d e S g a n z e r l a ; f r a m e d o f l m e D o c u m e n t á r i o ; f r a m e s d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a No retorno ao Brasil, li nos jornais sobre um bandido mascarado. A onda de violência estava crescendo em São Paulo. Comecei o argumento do flme na evolução de um garoto no mundo do crime... Fiquei pensando... E usei o título dos jornais: O Bandido da Luz Vermelha Meu flme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um flme-soma. Decretado hoje estado de sítio no país. O dispositivo policial reforça todos os seus órgãos de segurança... Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele já praticou. Janete Jane, a escandalosa! Outro dia tive que assistir o parto da minha cunhada. O bandido mascarado não respeita a mulher nem a propriedade privada. Tá falando com o campeão de tiro ao alvo de Cuiabá. Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta adotado da Divina Providência, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... Eu sou um BANDIDO NACIONAL... O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. Vivo de pequenos furtos, empréstimo dos amigos... Posso dizer de boca cheia: eu sou um boçal! E o Terceiro Mundo vai explodir e quem tiver de sapato não sobra! N e s t a p á g i n a : t o d a s a s f o t o s s ã o f r a m e s d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a , e x c e t o a f o t o q u e S g a n z e r l a e s t á c o m a c â m e r a ( a r q u i v o d a f a m í l i a d e S g a n z e r l a ) Janete Jane, a namorada do Luz Vermelha, descobre a verdadeira identidade do pistoleiro mascarado. Que é que o secretário pensa da miséria? JB da Silva, o maior. Candidato à presidência da Boca do Lixo. Que miséria, meu flho? Um país sem miséria é um país sem folclore. O que é que a gente vai mostrar pro turista? Hahaha!! Até que saí bem no retrato falado. Prende esse anão boçal! Quem jogou a gatinha lá de cima? Fecha o cerco e manda bala nesse sacana! Estou esperando uma crítica inventiva, no nível do provável, e não da certeza idealista, das especu- lações sentimentais e das perspectivas do passado e do provinciano, principalmente... Defnitivamente, queria esquecer de uma vez, já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto numa poeira... Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender. N e s t a p á g i n a : t o d a s a s f o t o s s ã o f r a m e s d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a , e x c e t o a f o t o q u e S g a n z e r l a a p a r e c e e n c o s t a d o n a p a r e d e ( f o t o : M a r c o s B o n i s s o n ) Troquei a grande angular pela teleobjetiva. Meu novo flme é uma comédia inspirada na chanchada, onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. O que você quer, Flávio Asteca? Quer Angela Carne e Osso só pra você? Vamos passar o fm de semana na Ilha dos Prazeres? As aventuras sexuais de Angela Carne e Osso, uma das dez mais megalomaníacas. Aquela depravação de novo? Antropófagos invadem a Guanabara! Sou o único negro milionário do Brasil! Vampiro, você é um bacana! Angela, meu amor, a minha paixão por você aumenta de 15 em 15 minutos. Me chama de bitolado. Vai, BI-TO- hahaha! Dr. Plirtz, proprietário do truste das histórias em quadrinhos do país, das minas de prata do Guarujá e da rádio emissora El Dólar. Sim, sou eu mesmo, Dr. Plirtz, o grande bitolado! Neste fm de sema- na vou me dedicar aos boçais. Será este o marido nacional do século XXI? Do XVI ou do XXI? Angela, meu amor, é uma pena que vocês não podem me dar nada porque eu tenho tudo! Não quero mais homem bacana. Só dá trabalho. Não dá pé! Mulheres, boa noite. Homens, goodbye. Alô, garotas, eu sou o Zé Bonitinho, pi- rigote das mulheres, e só entro em cena ao rufo de tambo- res!!! Não sou batom, mas estou em todas as bocas. Garotas, vou dar para vocês um fapo do meu beijo! Engraçado, não, engraçado é um boi de dentadura postiça fazendo fu-fu para uma vaca no brejo! O trem que o mundo espera apita. Só me interessa a profecia. Tudo é uma coisa só e isso é tudo! Sobretudo de uma coisa só vem de tudo um pouco. Somos, fomos e criamos, que de tudo é uma só mente universal. Para chegar à mente livre, percorri um grande cinema estranho. N e s t a p á g i n a : f o t o s d e S g a n z e r l a ( M a r c o s B o n i s s o n ) ; d e m a i s i m a g e n s s ã o f r a m e s d o s f l m e s A M u l h e r d e T o d o s e A b i s m u vz Sinceramente, a solução mais adequada para você é o suicídio... Se mata, flho! O mundo é teu, boçal! De vosso recalque só pode vir a maior boçalidade possível... No abismo se desce ou sobe... Eu subo! Se a verdade estiver no fundo de um poço ou de um abismo, é preciso buscá-la, porque sem chute não há gol! Na caçapa de Joaçaba eu aprendi duas coisas em Tupi, frmeza e res- peito é uma coisa só! Primeiro mate o seu ego, depois venha falar comigo! Aqui no Brasil você não precisa dormir para sonhar! Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. Para evitar perguntas cretinas, devo dizer a todos que continuarei a seguir minhas diretrizes fundamentais, que são, nada mais nada menos, dar ao cinema uma noção de tempo, espaço e profundidade. Não sou um gênio... Nem tudo é verdade! A máquina de flmar é o instrumento mais mentiroso inventado pelo homem, disse alguém e tava certo! Todos os maus flmes já foram feitos. Os burocratas vêm liquidando o cinema. Meus flmes são uma propaganda da alma e do corpo brasileiro. Eu acho que o Jimi Hendrix foi um pen- sador, o homem que colocou nas letras, concretamente, a frase “eu posso mudar a sua mente”. Isso é a revolução. N e s t a p á g i n a : f r a m e s d o f l m e A b i s m u ; C r e a t i v e C o m m o n s ( f o t o H e n d r i x e W e l l e s ) ; f o t o d e S g a n z e r l a ( M a r c o s B o n i s s o n ) O primeiro livro que minha mãe me deu foi Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare. Eu tinha 6 anos. Sempre me considerei um vagabundo, um saltim- banco, um outsider em qualquer lugar do mundo. Mr. Welles, o que acha da crítica? Hahahaha! Detesto todo tipo de parasitas!!! Os astros são meus únicos aliados. O Brasil é o país que produz o melhor uísque falsifcado do mundo! As pessoas são in- críveis, me aplaudem até quando estou sóbrio!!! O cara vem flmar o berço esplêndido, as mulatas... Respeito é manga de colete. To see or not to see, that’s the question! A imagem do caos é o próprio CAAAAOS! Para o fechamento, um antiflme. Podem recolher todo o material... O cinema não me interessa, mas sim a profecia! Os cinco sentidos são tão tolos como uma criança, não sabem distinguir ilusão da realidade, o verdadeiro do falso. Acabou, acabou. Podem jogar tudo fora. O cinema teria de ser escrito em uma folha em branco pegando fogo para poder registrar esse movimento de captação do pensamento de um flme durante sua realização. Por um cinema sem limite... FIM. Não deram nenhum tostão para Noel Rosa. N e s t a p á g i n a : f r a m e s d o s f l m e s N e m T u d o É V e r d a d e , O S i g n o d o C a o s , A b i s m u e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a ; f o t o d e S g a n z e r l a ( M a r c o s B o n i s s o n ) i m a g e m : a p a r t i r d e f r a m e d o f l m e H i s t ó r i a s e m Q u a d r i n h o s Álvaro de Moya O arOma de curry nO meu OlfatO O arOma de curry nO meu OlfatO Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da Tarde, onde eu era colaborador, ainda na sede antiga, com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obra- prima, O Bandido da Luz Vermelha, em citação reverente ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Suas escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores prediletos, como Samuel Fuller. Walter George Durst tinha feito um programa na TV Tupi focalizando Silki. Ficara impressionado com alguém que passava fome para comer. O faquir ficava num esquife de vidro na Praça da Sé, sem se alimentar e sem água durante dias, atraindo multidões dia após dia. Tencionava fazer um filme, mas alguém se antecipou e realizou um longa, para frustração de Durst, que não gostou da versão. Também entrevistara o Bandido da Luz Vermelha na prisão e queria fazer um longa. Ficou chateado quando foi anunciada uma versão. Quando, porém, viu o que Sganzerla realizara em seu Bandido da Luz Vermelha, engoliu, pois reconheceu que dessa feita resultara num grande filme. Na minha opinião, um dos maiores e melhores longas-metragens da história do cinema nacional, tal como A Margem, de Ozualdo Candeias. Sganzerla era extremamente criativo e seu filme representa uma ruptura na linguagem brasileira – equivalente ao que Jean-Luc Godard fez com o cinema francês em Acossado. Na montagem, viu um rolo em 35 milímetros que era um teste de projeção com efeitos de sons e imagens, achou legal e incluiu em seu filme. Contou-me que, na montagem do som, num estúdio no bairro do Sumaré, perto da casa de Hebe Camargo, ouviu tiros, estranhou. Ele e o editor notaram que os tiros tinham i m a g e n s : a p a r t i r d e f r a m e s d o f l m e H i s t ó r i a s e m Q u a d r i n h o s filmáramos na véspera. Ele lia e achava ótimo, perguntava quem tinha escrito. “Eu”, respondia, candidamente. No dia seguinte, o mesmo diálogo, até ele acreditar que eu podia escrever sem citações. Quando filmamos uma vamp de Flash Gordon, de costas, com um longo vestido preto, ele se impressionou com a semelhança com uma mulher mais velha do que ele com quem tivera uma relação. A mesma imagem de Alex Raymond que Hector Babenco mostrou para Sonia Braga compor sua personagem em O Beijo da Mulher Aranha. Quando filmamos alguns quadrinhos nacionais, ele observou que era como filmar Rolls-Royce e misturar com um Aero Willys brasileiro. Vamos fazer dois curtas, um Comics e outro Quadrinhos no Brasil. Escolhi Orpheu Paraventi Gregori para fazer a locução. Fomos para a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, ou o que sobrara dela, para juntar tudo. Ao entrar no terreno, o odor de curry vindo de uma planta ficou na minha memória. vindo de fora. Correram para a rua e viram um morto caído no chão e duas crianças ao lado, com gente correndo. Era um americano. Tinha sido fuzilado – depois de julgado pelos terroristas, segundo a imprensa – diante de seus filhos que iam para a escola. Mais tarde, a revista americana Time revelou que ele era um agente do governo norte-americano, a mulher dele não era sua esposa, mas uma agente também, e aqueles não eram seus filhos. Uma falsa família hollywoodiana para espionar a luta armada contra a ditadura militar brasileira. Continuamos amigos e em contato, mesmo quando não mais fez críticas escritas. Depois de algum tempo, procurou-me e revelou que tinha direito de usar a Oxberry da Jota Filmes, na Avenida General Olimpio da Silveira, para fazer um table top e que seu curta focalizaria os quadrinhos. Convidou-me para ser codiretor, redator e montar com ele a produção. Não tínhamos nenhuma experiência. Levei um monte de livros e revistas da minha coleção particular e filmamos O Fantasma. Ele me perguntou quantos fotogramas e chutei um número qualquer. Quando fomos ver as primeiras tomadas na Rex Filmes, tudo passou em frações de segundos. Como uma propaganda subliminar. Ficamos perplexos. E aprendemos... Escrevia em casa o texto, passo a passo, sobre o que Só falávamos de Orson Welles, de Cidadão Kane. Eram tempos de crise. Íamos comer algo na cidade de São Bernardo. Eu entrava numa loja de móveis vazia de fregueses e fingia interesse numa mesa Luiz XV e perguntava se dava para fazer sob medida aquelas pernas tortas com outro móvel incompatível. O vendedor aceitava absurdos, desde que concretizasse uma venda. Rogério se segurava para não rir e tirava sarro de mim, já na rua depois de prometer voltar mais tarde com a patroa. O curta Comics, por sorte, foi programado para acompanhar o filme de Pasolini Teorema e foi muito visto. Levei uma cópia para o Salão de Comics, em Lucca, foi bem recebido, o então diretor do Festival de Cinema de San Sebastian, Luis Gasca, sugeriu que eu mandasse uma cópia para a Espanha. Entreguei ao Consulado Brasileiro na Itália e chegou à península ibérica após o término do conclave. Gasca lamentou, pois teria recebido um prêmio internacional, seguramente. Além disso, a diplomacia brasileira perdeu a cópia. Ganhamos um prêmio em Manaus. Rogério, vivendo no Rio, me telefonava e prometia uma cópia 16 milímetros e esquecia. Saiu em vídeo e nada. Até hoje não tenho um Comics. Mas ficou na minha lembrança a felicidade daqueles momentos juntos e o aroma de curry no meu olfato. Álvaro de Moya é jornalista,pesquisador e escritor. Publicou o livro Shazam! (Perspectiva), considerado um clássico sobre a trajetória da HQ no Brasil. Foi curador de exposições sobre quadrinhos, dirigiu ao lado de Rogério Sganzerla os documentários História em Quadrinhos (Comics) e Quadrinhos no Brasil. i m a g e n s : a p a r t i r d e f r a m e s d o f l m e H i s t ó r i a s e m Q u a d r i n h o s i m a g e m : f r a m e d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a cinema FOra da lei Manifesto de Rogério Sganzerla (escrito em 1968, durante as flmagens de O Bandido da Luz Vermelha) 1 – Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma; um far-west, mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann). 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia, enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas, meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha. 3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço. 5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais. 6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem. 7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás, das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico. 8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings. i m a g e n s : f r a m e s d o f l m e O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a 9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador. 10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray. 11 – Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto porque entendi que tinha de filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais – aliás, como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento. 12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil da década de 1960. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundo. 13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro liberador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens medrosos. Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento. i m a g e m : f r a m e d o f l m e C a r n a v a l n a L a m a FragmentOs de rOgériO Hernani Hefner Os filmes. Os filmes. Os filmes. Rogério sempre falou de tudo – do cinema, das pessoas do cinema, das sacanagens do cinema –, mas nada ficou acima dos filmes. Falava apaixonadamente, obsessivamente, dos seus e de todos os outros que considerasse instigantes, quer isso significasse Luís de Barros ou Samuel Fuller. Quase tudo era importante em alguma medida. Bastava começar uma conversa em torno do mais insignificante dos filmes, da mais banal das cenas, do mais reles dos planos, que a fala surgia num crescendo de frases rápidas, inacabadas, entrecortadas, com verbos no subjuntivo ou no pretérito imperfeito. O pensamento tinha de escoar, ganhar vida, apresentar-se de forma sugestiva, mas não como uma explicação ou uma lição de moral estético-histórica. A voz elevada, os braços agitados, a silhueta algo franzina agigantando-se num aparente corpanzil que dominava o pedaço, queria dar conta do que transformava o inerte, o monótono, em picada estimulante. Coisa de diretor de cinema atirado e incisivo que, diziam, ele era. Não nos conhecemos antes por causa dos filmes. Ou melhor, foi por causa de filmes, mas não os seus, que em geral levavam (poucos, no início) admiradores impactados a se aproximar dele. De certa forma, Rogério foi se tornando familiar para mim por causa de relatos de outras pessoas. Uma delas, José Marinho, ator “sganzerliano” de primeira hora, foi meu professor no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) no começo dos anos 1980. “Tarzan” propagandeava a maestria do diretor de O Bandido da Luz Vermelha. Outra pessoa foi Remier Lion, o mais antigo entusiasta, enaltecedor e profundo admirador que conheci da obra e do artista por trás da obra que se erigira após o sucesso daquele primeiro filme. Ele era um garoto quando pirou com os filmes e foi atrás do realizador daquilo que considerava mais do que uma lição de cinema, uma lição de arte e de vida. Ficaram amigos e fui absorvendo um pouco dessa relação ao estreitar a minha com o futuro programador, pesquisador, realizador e globe- trotter de cinema. Já tinha uma pequena ideia de quem era Rogério. Conheci-o antes de ele me conhecer, o vira no programa Cinemateca, transmitido pela antiga TVE do Rio de Janeiro no final dos 1970. Ele e José Carlos Monteiro eram os debatedores de uma emissão de A Marca da Maldade. Não me lembro do que disse, mas a imagem desse programa em particular ficou na minha memória. Não saberia dizer o porquê. Vi um filme seu algum tempo depois, novamente na televisão, antes de encontrá- lo pessoalmente já nos anos 1990. Era uma exibição do Bandido perdida em algum Corujão na Globo e não me deixou maiores marcas. Assisti mais porque era raro ver filme brasileiro na televisão. Diálogo A importância do momento do qual emergiu – ele não gostava dos termos “udigrúdi”, marginal etc., que considerava ideologicamente perversos, alijando a si e aqueles com quem mantinha afinidades do reconhecimento de uma hegemonia artística evidente – só foi ficando clara para alguém desavisado de uma geração posterior como eu ao longo dos anos 1980. Um conjunto de textos, cursos e sessões foi pavimentando a aceitação um tanto beletrista daquela experiência radical. Na época não percebi que o mais importante era o diálogo com determinada tradição do cinema brasileiro, que esse grupo reconheceu, resgatou e incorporou. Tradição que significava diálogo com certas formas populares de comunicação, de fazer artístico e, mais do que isso, com certa estética que privilegia o espontâneo, o básico, o imediato. A pantagruélica precariedade não era uma condição (subdesenvolvimento e quejandos), mas uma expressão em aberto, pronta a ser elaborada pelos constituintes cinematográficos. Naquele momento, dentro do métier, apenas se prolongava a querela com o Cinema Novo, transformada em uma dinâmica do tipo algozes e vítimas, artistas e comerciantes, com e sem acesso à Embrafilme etc. Acabaria me encantando mais com a descoberta (tardia) da sinceridade e da plasticidade de uma obra-prima como Porto das Caixas do que com o que me parecia a repetição da estratégia formal de Terra em Transe retomada em Sem Essa, Aranha (a câmera na mão e a mise-en-scène da trajetória dos intérpretes). Quando conversei com Rogério sobre o filme “glauberiano”, ele não o endeusou, mas categoricamente o colocou no seleto clube das obras decisivas e artisticamente maduras. Minha percepção estritamente formalista naquele momento mais antigo não me permitiu considerar uma revalorização do cinema brasileiro popular antigo que sua geração realizara e uma dimensão de “conteúdo” que já tinha feito toda a diferença e que não deixava de ter uma (nova) presença conceitual. Nós nos conhecemos de fato por causa de um convite que Rogério fez a mim e a Lécio Augusto Ramos, como pesquisadores ligados à Cinédia, para que fossemos à sua casa conversar com um par de estudantes norte-americanos. Isso foi por volta de 1994/1995. Os visitantes queriam checar a possibilidade da existência de uma cópia de Soberba, com a montagem do diretor, e não do estúdio, e que teria sido enviada a Welles aos cuidados de Adhemar Gonzaga. Uma vez informado de que aparentemente ela nunca havia chegado por aqui, passamos a conversar sobre o cinema “wellesiano” e sobre seu projeto brasileiro abortado, tema de Nem Tudo É Verdade, minha primeira incursão de fato ao universo sganzerliano, e de um filme que estava preparando, o futuro Tudo É Brasil, obra que mais aprecio de sua filmografia. Não ficamos amigos no pleno sentido da palavra, não privei de sua intimidade a não ser quando Sinai, Djin e Helena me pediram que fosse ao seu apartamento na Urca organizar os rolos de filmes que deixara e a documentação que pacientemente guardara durante toda a vida. Foi tocante descobrir o carinho que dedicara às três filhas – a terceira é Paloma –, preservando os trabalhos escolares e os desenhos infantis. Mas não me senti à vontade quando comecei a ler as doloridas cartas que mandava para os pais em Joaçaba. Não convivi com ele para reivindicar amizade e acessar sua vida privada. Desisti e reconheci que não tinha mais alma de pesquisador. Minhas lembranças, portanto, não passam por aquele abuso típico do mundo das artes, onde todo mundo é amigo de todo mundo. A partir daquele primeiro encontro passei a vê-lo mais constantemente, sobretudo na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/ RJ), onde ingressei em 1996, e nos arredores, como o Beco da Fome na Cinelândia (encontrei-o algumas vezes no restaurante Spaghettilândia, que, soube, frequentava bastante). Descobri o elo profundo que havia imagens: frames dos flmes Copacabana Mon Amour, Carnaval na Lama e Sem Essa, Aranha entre ele e a instituição que sustentara a primeira apresentação pública dos filmes da Belair. Era o mesmo espaço que lhe proporcionava o prazer de revisitação aos clássicos do cinema ou, mais visceralmente, ao próprio cinema e também lhe fornecia regularmente materiais de arquivo para seus ensaios de montagem. A mais significativa fotografia que conheço de Rogério mostra o futuro depósito de filmes da Cinemateca, em 1979, entupido de latas e ele sentado à la Kane sobre elas, apresentando- se em sua Xanadu particular. Os contatos dele dentro do arquivo começaram com Cosme Alves Netto nos anos 1970 e, na década seguinte, se transferiram para Francisco Sérgio Moreira. Pode- se dizer que apenas me tornei “herdeiro” dessa posição de interlocutor, que eu descobriria no fim do século passado, que girava em torno do contato com este mundo: o acesso a materiais de arquivo e da conservação de negativos, cópias e sobras de montagem da grande maioria de seus filmes. Rogério aparecia de vez em quando para as sessões regulares da Cinemateca, mais raramente para a chamada Ceia dos Veteranos – projeções privadas de clássicos das matinês de outrora feitas por Cosme para um seleto grupo –, e aqui e ali para conversar pelos corredores e pelas salas do lugar, como quem não tivesse mais nada para fazer. Só retrospectivamente entendi o bem que lhe faziam os ambientes de cinema. Rogério era considerado um diretor/depositante difícil, de gênio explosivo e temperamento inconstante. Em uma ocasião, conheci sua fúria momentânea. Ligou me acusando de ter vendido seus filmes a produtores franceses. Era algo tão estapafúrdio, sem sentido, que não considerei de fato. Mesmo assim, endureci na hora e disse que passasse na manhã seguinte, pois estava despejando os filmes dele... Duas semanas depois nos encontramos e conversamos como se nada tivesse acontecido. Era reflexo da ida da única cópia de Carnaval na Lama para a França, para uma exibição no Musée Jeu de Pomme, e que nunca voltou ao Brasil. Quando assumi a responsabilidade de cuidar do arquivo de filmes, ele passou a tratar comigo dos assuntos que envolviam suas criações futuras e seu acervo. E me procurou para saber das sobras do Bandido, pois pretendia retomar o assunto e fazer uma sequência. Reviu todo o material na moviola da Cinemateca, junto com Remier. Os dois também mexeram em uma cópia de Copacabana Mon Amour, que tinha chegado da antiga Líder, onde ficara desde 1980. De ações como essas resultavam no mínimo novas versões ou ainda novas produções, caso de Bandido 2, para o qual tive de conseguir uma imagem do criminoso real sendo preso em 1966. Percebi nesse momento que Rogério tinha muito pouco recurso financeiro para fazer frente aos custos desse tipo de trabalho e que buscava uma receptividade à sua arte que lhe permitisse seguir em frente. Usava, sobretudo, seus próprios filmes como base para novos trabalhos, canibalizando sobras e eventualmente os próprios negativos de filmes anteriores, caso de Fora do Baralho, que já não existia como obra desde o início dos anos 1990. Apesar do gesto desesperado, tudo era submetido a uma lógica e a um rigor que remontam ao Bandido original, que utiliza criativamente trechos de antigos filmes B norte- americanos, italianos e japoneses, passam por filmes como Mudança de Hendrix e atingem um paroxismo em Tudo É Brasil. A manipulação do material de arquivo é sobretudo um sofisticado exercício de ressignificação, operado pela montagem cinematográfica. A sensibilidade para associações rítmicas e visuais, para raccords inusitados e para a emergência do tempo nos planos de outrora retrabalhados demonstra a enorme capacidade de Rogério em promover novas sintaxes para um conjunto de imagens que a rigor não mudou tanto assim sua natureza ao longo dos anos. A face mais visível disso é o labirinto wellesiano. Hoje é muito comum falar em filmes construídos a partir de material de arquivo, mas essa foi sua perspectiva maior ao longo de quase toda a carreira. Para mim essa sempre foi sua grande arte. Um último aspecto nos ligou mais diretamente. Tratava-se da conservação de seus filmes, aspecto que passou a preocupá- lo quando teve acesso aos negativos de Carnaval na Lama e os trouxe para o Rio. Pediu que eu os examinasse e a descoberta foi trágica. Era muito tarde para fazer qualquer coisa. Olhamos os outros filmes e muitos já estavam comprometidos em alguma medida, mas poderiam (e podem) ser salvos sem maiores danos. Sua obra pagou o preço de ser pequena em produção de materiais, em geral negativos e umas poucas cópias, às vezes uma ou duas, de ser confeccionada a partir de filmes virgens diversos, por vezes vencidos e mal revelados e lavados, e de ser alvo de um processo de canibalização que ora implica a não existência de matrizes regulares, caso de Mudança de Hendrix, ora o desaparecimento parcial ou total de obras mais antigas. A reconsideração artística de sua obra nos últimos anos acabou por consagrá-lo como o grande nome do cinema brasileiro junto às novas gerações. É uma referência inconteste e um ídolo. Falta a sustentação desse fato pelas próximas décadas, algo que só pode ser obtido com a preservação integral e benfeita de sua filmografia completa. É o desafio que nos cabe e ao futuro. Hernani Heffner é conservador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e professor de cinema da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) e da CineTV-PR, da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Coordena o projeto de restauração do acervo Cinédia e escreveu este texto ao som de Carmen Miranda, Cat Power e Eliete Negreiros. Nos meus filmes os atores contribuem com novo estilo de interpretação, de desincorporação, uma nova técnica de reinvenção. Rogério Sganzerla Helena Ignez Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando iniciou um dueto histórico com Rogério Sganzerla, inaugurando uma forma de interpretar autoral, antinaturalista, a partir de A Mulher de Todos (1969), protagonizando Angela Carne e Osso, a “inimiga número 1 dos homens”. Em 1970, fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses, sendo Sem Essa, Aranha, Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia Silk, a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba, “a exibicionista”). Participou como atriz em outros flmes de Rogério, como Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003), passando para a direção no mesmo ano, com Reivenção da Rua (montado por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz nas Trevas (2010), com roteiro inédito de Sganzerla. Casada com Rogério por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla, Helena é mãe de Paloma Rocha, com quem contracenou em Perigo Negro (1992). Paulo Villaça Rogério Sganzerla encontrou em Paulo Villaça o tipo ideal para viver o Bandido da Luz Vermelha nas telas: “ele tinha uma voz grave e a face de um Humphrey Bogart acaboclado e lembrava muito o próprio Bandido”. Atuou logo em seguida em A Mulher de Todos (1969), na pele de um impagável toureiro gay, e em Copacabana Mon Amour (1970), como Doutor Grillo. Jô Soares Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um truste de histórias em quadrinhos, casado com a insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez), em A Mulher de Todos (1969). As fguras do flme parecem saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio Doktor Plirtz, que traz um componente nazista no fgurino e na postura, vigiando e enredando a mulher em jogos eróticos extravagantes. Pagano Sobrinho Em O Bandido da Luz Vermelha, encarna o personagem JB da Silva, político corrupto, gângster e populista que propaga soluções cínicas para as mazelas do povo. Dessa forma, JB da Silva transforma- se no Rei da Boca, defensor da miséria como forma de salvaguardar o folclore. Otávio Terceiro Um dos atores mais identifcados com o universo de Rogério Sganzerla, Otávio Terceiro é o protagonista de seu último flme, O Signo do Caos (2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no Brasil. O personagem é defnido pelo autor como uma espécie de “agente do caos”, cujo modus operandi é o espírito de transação. Antonio Pitanga Rogério Sganzerla propôs a Antonio Pitanga viver um milionário negro que é seduzido por Angela Carne e Osso em A Mulher de Todos (1969). Pitanga trabalhou com ele novamente em Nem Tudo É Verdade e interpretou Justino, personagem do último roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas (2010), dirigido por Helena Ignez e Ícaro Martins, em fase de fnalização. Guará Ator em Copacabana Mon Amour (1970), técnico de som em Sem Essa, Aranha (1970), realizou Perigo Negro (1992) e legitimou o antiflme O Signo do Caos. Em Copacabana Mon Amour, Guará é um malandro que tenta a todo custo ser o cafetão de Sonia Silk, cercando turistas e gringos na Avenida Atlântica. Aos pulos diante de dois marinheiros na orla de Copacabana, Guará grita: “Money, please, money, please... American friends... O que estamos fazendo aqui na Terra? Qual é o destino do homem?”. Maria Gladys Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal, vestida de verde-amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo flme, em plano-sequência antológico, canta desvairadamente um tema inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla, com quem fez, ainda, Carnaval na Lama (1970). Moreira da Silva Em Sem Essa, Aranha (1970), Moreira da Silva, o rei da malandragem, aparece em uma única sequência, cantando e sambando. Sua presença se enquadra incrivelmente na mise-en-scène delirante do flme, em que Zé Bonitinho dá as cartas, constatando: “Essa é a pior das épocas!”. Uma alusão ao fantasma da ditadura, que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez. Wilson Grey Ator de mais de 150 flmes, na maior parte como coadjuvante, Wilson Grey interpreta em Abismu (1977), com viés expressionista, o papel de secretário de Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado de José Mojica Marins, como Doutor Pierson, persegue um egiptólogo que detém um manuscrito com pistas de um antigo tesouro. Othoniel Serra “Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir dopado de sol, de cachaça e de magia.” Othoniel Serra interpreta Vidimar, o irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana Mon Amour (1970); tresloucado, uma espécie de médium esfarrapado. Segundo o argumento do flme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo Villaça), a quem mata, com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”. Norma Bengell Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma das personagens mais interessantes de Rogério Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se ícone do cinema brasileiro dos anos 1970. i l u s t r a ç ã o : J o ã o P i n h e i r o Grande Otelo Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986), o ator Grande Otelo foi a fgura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro flme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil. Interpretando a si próprio, Sebastião Prata, pode ser visto além da chanchada, como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o comediante das chanchadas, o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, e a representação de Otelo, o único protagonista negro de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo. Zé Bonitinho Personagem marcante em Sem Essa, Aranha (1970), em que vive Aranha, o último capitalista do país, e no flme Abismu (1977), como o Médium Um, Jorge Loredo foi convidado por Rogério após a consagração de seu personagem Zé Bonitinho na televisão brasileira. Nesses flmes, Zé Bonitinho ocupa um espaço central, com monólogos quase metafísicos, que conferem relevo à sua fgura e o transformam por vezes em alter ego do próprio Rogério Sganzerla. José Mojica Marins Em Abismu (1977), José Mojica Marins faz o “elogio à boçalidade”, na pele do Doutor Pierson. Personagem caracterizado como o Zé do Caixão, está envolvido numa trama arqueológica, perseguindo um egiptólogo com um supertelescópio, na busca de tesouros e elos perdidos com civilizações ancestrais. Autor de mais de 40 flmes e ator em cerca de 20, José Mojica Marins manteve um diálogo criativo com Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti e Neville de Almeida. Luiz Gonzaga Em travelling circular e vertiginoso, a câmera acompanha Luiz Gonzaga e sua sanfona em Sem Essa, Aranha. O ambiente é suburbano, o quintal de uma casa e chão de terra batida. Ao som do baião, Helena Ignez, em plano-sequência, vomita um dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho metido a besta!”. na Suíça, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidada ofcial do 22 o Festival de Cinema de Turim, em 2004. 20h debate 1 com Helena Ignez, Joel Pizzini, Júlio Bressane e Roberto Turigliatto quinta 10 17h30 sessão 1 B2 Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, 11 min, 2001, p&b, 35 mm Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Lanny Gordin, Gal Costa e Jards Macalé Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido da Luz Vermelha e Carnaval na Lama, traz um material que evidencia o método de trabalho de Sganzerla, calcado em técnicas singulares de montagem. Exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e convidado do 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006. Sem Essa, Aranha Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; assistentes de direção: Kleber Santos e Ivan Cardoso; produção: Júlio Bressane e Rogério Sganzerla; realização: Belair; fotografa e câmera: Edson Santos e José Antonio Ventura; montagem: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; som: Guará Rodrigues; elenco: Jorge Loredo, Helena Ignez, Maria Gladys, Luiz Gonzaga, Moreira da Silva e Aparecida Considerada obra radical, Sem Essa, Aranha inovou tecnicamente aspectos que dizem respeito à interpretação e à direção, pautadas, sobretudo, pelo improviso. O flme refete, por meio de planos-sequência, a realidade brasileira em 1970. Foi exibido no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no 23 o Festival Internacional de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e foi convidado do Festival de Taormina, na Itália, em 1998. 20h debate 1 com Antonio Urano, Helena Ignez, Hernani Hefner e Maria Gladys sexta 11 Elogio da Luz Joel Pizzini e Paloma Rocha, 54 min, 2003, p&b/color., vídeo Produção: Canal Brasil Filme-ensaio sobre Rogério Sganzerla cuja narrativa coloca às avessas a cronologia de seus trabalhos, revelando as relações entre seu processo criativo e sua trajetória como pensador do cinema. Conta com depoimentos quarta 9 18h sessão 1 Documentário Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm Numa tarde de ócio nas ruas de São Paulo, dois jovens com pouco dinheiro e sem rumo falam sobre o que fazer tendo sempre como motivação o próprio cinema. A produção recebeu o prêmio JB Mesbla – Viagem a Cannes em 1967, foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005, e convidada ofcial do 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004. A Mulher de Todos Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografa: Peter Overbeck; cenografa: Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla e Franklin Pereira; música: Ana Carolina Soares; produção: Alfredo Palácios e Rogério Sganzerla; realização: Servicine e Rogério Sganzerla Produções Cinematográfcas; som: Julio Perez Caballar; elenco: Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga, Abrahão Farc, Renato Corrêa e Castro, Thelma Reston, Silvio de Campos Filho, José Carlos Cardoso, Antonio Moreira e José Agrippino de Paula Angela Carne e Osso é uma ninfômana casada com o Doutor Plirtz, ex-carrasco nazista e dono do truste das histórias em quadrinhos no Brasil. Entediada com sua vida, passa o tempo colecionando homens no retiro idílico da Ilha dos Prazeres. A obra recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Atriz (Helena Ignez) no 4 o Festival de Brasília; o de Melhor Filme no 1 o Festival do Norte do Cinema Brasileiro; e o de Melhor Filme no Festival de São Carlos. Foi exibida no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, O Itaú Cultural apresenta a filmografia de Rogério Sganzerla. Serão exibidos os trabalhos produzidos pelo diretor no período de 1968 a 2003, além de obras que contam com sua participação e retratam seu universo criativo. Programação Ocupação Rogério Sganzerla visitação quarta 9 junho a domingo 18 julho 2010 terça a sexta 9h às 20h sábado domingo feriado 11h às 20h 16 14 14 14 de personalidades que conviveram com o cineasta na intimidade e nos sets de flmagem. Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfco de Goeldi José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla; direção de arte: Fernando Tavares; produção: Mário Drumond; som: João Vargas; edição de som: Eliseu Visconti; cenografa: Osvaldo Medeiros O espírito e o universo gráfco do desenhista e gravador brasileiro Oswaldo Goeldi. Sem se ater a preocupações biográfcas ou didáticas, o flme discute o conteúdo artístico e cinematográfco em relação ao movimento expressionista. Recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Filme no Festival de Brasília em 1981. Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica Rogério Sganzerla, 17 min, 1976, p&b/color., 16 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografa: Paulo Sérgio; montagem: Ramon Alvarado; diretor de produção: Wilson Monteiro Filho; elenco: Paulo Villaça Inspirado em Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, o curta-metragem acompanha a trajetória do aventureiro Nicolas Durand de Villegagnon e a formação da colônia francesa no Rio de Janeiro no século XVI. Filmado nos locais onde se sucederam os episódios históricos, como o Forte Coligny, na Ilha das Cabras, recebeu o prêmio da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro no concurso Uma Data para Lembrar e foi exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. 20h sessão 2 Histórias em Quadrinhos (Comics) Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya, 7 min, 1969, p&b/color., 35 mm Produção: Elyseu Visconti; música: Rogério Sganzerla; montagem: Milton da Silva; narração: Orfeu P. Gregori; table top: Paulo Pichi; imagem: Rex; som: Vera Cruz Primeiro documentário em curta-metragem de Sganzerla, aborda o universo dos quadrinhos. Guiada pelo texto de caráter histórico do especialista Álvaro de Moya, a câmera passeia pelos traços de artistas como Will Eisner, Milton Cannif, Alex Raymond e Al Capp. Exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. A Mulher de Todos Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm sábado 12 15h sessão 1 Ritos Populares – Umbanda no Brasil Rogério Sganzerla, 18 min, 1977, color., 16 mm. Documentário inacabado Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografa: Tony Ferreira; técnico de som: José Sette; montagem: Denise Fontoura; narrador: W.W. da Matta e Silva; realização: Tupan Filmes O registro de um depoimento de Woodrow Wilson da Matta e Silva (fundador da Umbanda Esotérica, em 1940) é alternado com cenas de transe e de rituais flmadas na Tenda Umbandista Oriental, em Itacuruçá. A produção foi exibida no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Copacabana Mon Amour Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; assistente de direção: Guará Rodrigues; produção: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; fotografa e câmera: Renato Laclete; montagem: Mair Tavares e Gilberto Santeiro; trilha sonora original: Gilberto Gil; elenco: Helena Ignez, Paulo Villaça, Otoniel Serra, Lilian Lemmertz, Joãozinho da Goméia, Laura Gallano e Guará Rodrigues; realização: Belair Sonia Silk, uma mulher perturbada por visões de espíritos, perambula por Copacabana com o sonho de ser cantora da Rádio Nacional. É o primeiro flme brasileiro em cinemascópio, rodado, em boa parte, nas favelas cariocas. Foi exibido no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22 o e no 23 o Festival de Cinema de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla; e no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005. 17h sessão 2 Informação H. J. Koellreutter Rogério Sganzerla, 18 min, 2003, color., vídeo Fotografa: Marcos Bonisson; montagem: Marina Weis; mixagem: Ricardo Reis; trechos de composições utilizadas: “Tanka II”, de H.J. Koellreutter Um retrato de Hans-Joachim Koellreutter, aluno de Paul Hindemith e mestre de diversos músicos, como Cláudio Santoro, Guerra Peixe e Edino Krieger. A produção foi exibida no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. América, o Grande Acerto de Vespúcio Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., beta e vídeo Câmera: Carlos Otávio Jubé; elenco: Otávio Terceiro e funcionários do Teatro Carlos Gomes Nesta obra experimental que conjuga cinema e teatro, Sganzerla recorre a um aparato técnico mínimo para deixar o ator Otávio Terceiro exercer o papel de Américo Vespúcio. Baseado em uma carta do navegador, intitulada “Novus Mundus”, relato do descobrimento da América, o vídeo traz um monólogo singular. Recebeu o prêmio de Melhor Ator (Carlos Otávio Jubé) no CineEsquemanovo, em Porto Alegre, em 2007, e foi exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. 16 18 14 14 14 14 14 14 Anônimo e Incomum Rogério Sganzerla, 13 min, 1990, color., vídeo Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografa: Marcos Bonisson; trilha sonora original: Fernando Moura; elenco: Helena Ignez e Nonatho Freire; realização: Tupan Filmes O artista plástico Antonio Manuel apresenta seu trabalho em cenários como seu ateliê na Rua Alice e a Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. As obras do artista se alternam com tomadas de telas coloridas, pintadas à época da flmagem, e com cenas dramáticas estreladas por Helena Ignez e Nonatho Freire. A produção foi exibida no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Isto É Noel Rosa Rogério Sganzerla, 43 min, 1990, color., 35 mm Montagem: Sylvio Renoldi; fotografa: Dib Lufti; produção executiva: Diana Eichbauer; arquivo: Jorge Pereira Vaz; imagens: Marcelo Marsilac, Sergio Arena, Newton Gomes e José Sette; design: Edmundo Souto; arte-fnalista: Ana Rita; fgurinos: Diana Eichbauer; som direto: Joaquim Santana; voz: João Gilberto e Gal Costa; elenco: João Braga Após Noel por Noel (1980), o sambista carioca é novamente retratado por meio de imagens documentais. Parte delas mostra o músico em uma caminhada trôpega, já tomado pela tuberculose, pelas ruas do Rio de Janeiro durante o Carnaval. A produção foi apresentada no 80 o aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, em 1993, e exibida no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004. 20h sessão 3 Documentário Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm Roteiro e música: Rogério Sganzerla; fotografa: Peter Overbeck e Carlos Ebert; cenografa: Andrea Tonacci; montagem: Sylvio Renoldi; som: Júlio Perez Caballar, Mara Duvall; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Sérgio Hingst, Pagano Sobrinho, Sergio Mamberti, Luiz Linhares, Sonia Braga, Ítala Nandi, Renato Consorte, Antonio Lima, Maurice Copovilla, Ozualdo Candeias, Roberto Luna, José Marinho, Carlos Reichenbach, Marie Caroline Whitaker, Renata Souza Dantas, Ezequiel Neves e Lola Brah; realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográfcas Segundo Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha é “um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros [...] um flme-soma; um far-west, mas também musical, documentário, policial, comédia ou chanchada [...] e fcção científca”. O longa traça um panorama do Brasil por meio da trajetória de um foragido da polícia em crise de identidade, compondo um painel apocalíptico do país. Recebeu os prêmios de Melhor Filme, Direção, Montagem, Diálogo e Figurino no 3 o Festival de Brasília, em 1968; o prêmio Governador do Estado de São Paulo, na categoria especial; o INC (Instituto Nacional do Cinema); e o Roquette Pinto. Foi convidado ofcial do Festival de Turim em 2004 e do 3 o DLA Film Festival, em Londres, em 2004, e exibido na Weelington Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; na Auckland Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; no 9 o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, em 2007; no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no Barbican Center, em Londres, em 2006; no 16 o Festival Internacional de Bobigni, em Paris, em 2005; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no Internacional Film Museum Festival, na Áustria, em 2005; no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no III Discovering Latin America Film Festival, em Londres, em 2004; no MoMa, em Nova York, em 1999; e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998. domingo 13 15h sessão 1 Noel por Noel Rogério Sganzerla, 10 min, 1980, color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografa: Renato Laclete; table top: Edson Lobato; som: Nel-Som; realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográfcas Ensaio visual sobre o compositor e sambista carioca, com imagens de arquivo do ambiente musical e histórico da época, incluindo aspectos pitorescos de Vila Isabel. Recebeu o prêmio do Público e de Melhor Montagem no Festival de Brasília em 1981 e foi exibido na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Tudo É Brasil Rogério Sganzerla, 82 min, 1998, p&b/color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; edição: Hugo Mader, Mair Tavares, Sylvio Renoldi; produção executiva: Rojer Garrido de Madrugo; som: Sylvio Renoldi Um aprofundamento da pesquisa de Sganzerla sobre a estada de Orson Welles no Brasil, em 1942, para a realização de It’s All True, projeto boicotado pelos estúdios de Hollywood. Nele, fragmentos de imagens que registram Welles no Rio, em Salvador e em Fortaleza são sobrepostos por gravações em áudio de alguns depoimentos radiofônicos e de composições interpretadas por artistas como Carmen Miranda e Herivelto Martins. Recebeu os prêmios de Montagem, Pesquisa Histórica e Crítica no Festival de Brasília em 1998; o prêmio de Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); e o prêmio Marché du Film, do Festival de Cannes, em 1998. Foi exibido no Museu Guggenheim em Nova York em 1999; no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidado 14 14 14 14 14 pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira de Orson Welles. 17h sessão 2 Olho por Olho Andrea Tonacci, 13 min, 1966, p&b, 16 mm Roteiro e fotografa: Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla; elenco: Francisco Arruda, Ronaldo Ferraz, Sérgio Frederico, Daniele Gaudin, Franco Ogassawara e Fábio Sigolo Um grupo de amigos da classe média circula de carro pela cidade de São Paulo, reagindo ao sentimento de impotência e frustração que lhes invade a vida. Belair Bruno Safadi e Noa Bressane, 80 min, 2009 , p&b/color, 35mm Documentário resgata a trajetória da produtora cinematográfca Belair Filmes – dos cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla –, que realizou seis flmes em três meses. Os cineastas, censurados pela ditadura militar, saíram do país; os flmes ainda hoje são pouco conhecidos. 20h sessão 3 Irani Rogério Sganzerla, 8 min, 1983, color., 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla Filmagens registram uma festa popular relacionada a uma batalha travada na cidade de Irani, marco inicial da Guerra do Contestado, em Santa Catarina, em outubro de 1912. A produção foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. O Signo do Caos Rogério Sganzerla, 80 min, 2003, p&b/color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografa: Marcos Bonisson e Nélio Ferreira; montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; trilha sonora: Sinai Sganzerla; direção de arte: Sérgio Reis; elenco: Otávio Terceiro, Sálvio do Prado, Helena Ignez, Guará Rodrigues, Freddy Ribeiro, Djin Sganzerla, Camila Pitanga, Giovana Gold, Eduardo Cabus, Gilson Moura, Felipe Murray, Vera Magalhães, Anita Terrana e Ruth Mezek Ao tratar indiretamente da temporada de Orson Welles no Brasil para flmar It’s All True, Sganzerla, em O Signo do Caos, seu último flme, prova mais uma vez ser um inovador da linguagem cinematográfca com essa refexão sobre os percalços do cinema no Brasil. A produção recebeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Montagem no Festival de Brasília em 2003; o de Melhor Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2006; e o prêmio Especial do Festival do Rio em 2003. Foi convidado ofcial do 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006, e exibido no 9th Film Fest of Mar del Plata, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; no Festival Internacional da Procida, na Itália, em 2005; no 58 o Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2005; no Presénce et Passé du Cinéma Brésilien, em Paris, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Trieste, na Itália; e no Festival Internacional de Cinema de Roma, em 2004. quarta 16 17h sessão 1 Helena Zero Joel Pizzini, 34 min, 2006, p&b/color., vídeo Roteiro: Joel Pizzini; assistente de direção: Sinai Sganzerla; câmera e fotografa: Eryk Rocha; som: Bruno Espírito Santo; edição de som: Alexandre Gwaz e Robson Rumin; montagem: Joel Pizzini e Robson Rumin; produção executiva: Paloma Rocha; realização: Canal Brasil; música: Jorge Mautner e Nelson Jacobina; elenco: Helena Ignez, Gal Costa, Jorge Mautner, Jards Macalé e Lanny Gordin Ensaio documental sobre o universo criativo da atriz e cineasta Helena Ignez, que, por meio de um ritual de tai chi chuan, evoca e reinventa sua memória. A Reinvenção da Rua Helena Ignez, 27 min, 2003, color., vídeo Roteiro, produção e produção executiva: Helena Ignez; fotografa: Marcos Bonisson; câmera: Rogério Sganzerla, Marcos Bonisson e Eduardo Barioni; montagem: Rogério Sganzerla; edição de som: Rogério Sganzerla; música: Walter Smetack; elenco: Vito Acconci; realização: Mercúrio Produções Primeiro flme de Helena Ignez como diretora, homenageia o arquiteto e artista contemporâneo norte- americano Vito Acconci. Perigo Negro Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., 35 mm Adaptação, produção e diálogos adicionais: Rogério Sganzerla; argumento original: Oswald de Andrade; fotografa e câmera: Nélio Ferreira Lima; montagem: Sylvio Renoldi; música: Paulo Moura; instrumentação: Edson Maciel; consultoria musical: Otávio Terceiro; elenco: Abrahão Farc, Helena Ignez, Antonio Abujamra, Tita, Paloma Rocha, Betina Viany, Conceição Senna, Guará Rodrigues, Bayard Tonelli, Sandro Solviat Ninho de Morais e Paulo Moura; realização: Tupan Filmes, para a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo A trajetória do jogador Perigo Negro, que, em franca ascensão, tem sua carreira sabotada por um cartola inescrupuloso. Adaptação livre de um roteiro cinematográfco escrito por Oswald de Andrade, Perigo Negro faz parte do projeto Oswaldianas, que também conta com episódios assinados por outros diretores (entre eles Júlio Bressane). A produção foi exibida no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 23 o Festival de Cinema de Los Angeles, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998; e representou o Brasil na 19 a edição do Latin American Film Festival, em 2005. 20h sessão 2 A Miss e o Dinossauro 2005 – Bastidores da Belair Helena Ignez, 17 min, 2005, color., super-8 Roteiro: Helena Ignez; câmera: Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Helena Ignez; montagem: André Guerreiro Lopes; produção executiva: Ester Fér; edição de 14 som: Pedro Noizyman; vozes em of: Rogério Sganzerla e Helena Ignez; pesquisa: Helena Ignez e Ester Fér; seleção musical: Helena Ignez; elenco: Helena Ignez, Maria Gladys, Guará Rodrigues, Jorge Loredo, Aparecida, Kleber Santos, Bety Faria, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Neville d’Almeida; realização: Mercúrio Produções Ao registrar o making of de Cuidado, Madame e Sem Essa, Aranha, duas produções simultâneas da Belair, Helena pretendia fazer um documentário à época de lançamento dos flmes, o que não foi possível. Finalizado em 2005, o projeto tem narração em primeira pessoa da atriz e diretora sobre as gravações. Canção de Baal Helena Ignez, 77 min, 2008, color., digital Roteiro: Helena Ignez (inspirado em Baal, de Bertolt Brecht); produção: Sinai Sganzerla, Patrícia Godoy e Ana Oliveira; música: Roberto Riberti e Carlos Carega; fotografia: André Guerreiro Lopes e Aloysio Raolino; edição: Ricardo Miranda, Júlia Martins e Guta Pacheco; elenco: Felipe Kannenberg, Djin Sganzerla, Beth Goulart, Michele Matalon e Marcelo Lazzaratto; realização: Mercúrio Produções Baal é um poeta e cantor que recebe de Meck um convite para jantar. Lá, ele se torna sarcástico com os demais convidados, escandalizando-os ao cortejar a mulher do anfitrião. quinta 17 17h sessão 1 Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfco de Goeldi José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Horror Palace Hotel Jairo Ferreira, 41 min, 1978, color., super-8 Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla; narração, montagem e fnalização: Jairo Ferreira; depoimentos: José Mojica Marins, Francisco Luis de Almeida Salles, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Neville d’Almeida, Rudá de Andrade, Elyseu Visconti, Bernardo Vorobov, Dilma Loes, Renato Consorte e Satã Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978, cineastas como Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Elyseu Visconti e José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. Destaque para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles, entrevistado por Sganzerla. Bom Jesus da Lapa – O Salvador dos Humildes Elyseu Visconti, 14 min, 1970, color., 35 mm Fotografa e produção: Elyseu Visconti; montagem: Rogério Sganzerla; pesquisa: Ana Tereza Ramos; texto: Ipojuca Pontes O documentário registra a romaria realizada anualmente às margens do Rio São Francisco, na Bahia, em devoção ao Bom Jesus da Lapa. O Pedestre Otoniel Santos Pereira, 25 min, 1966, p&b, 16 mm Fotografa e câmera: Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla Ficção futurista adaptada livremente do conto homônimo do escritor Ray Bradbury, metaforiza a situação política do Brasil, então sob ditadura militar. 20h sessão 2 Brasil Rogério Sganzerla, 12 min, 1981, color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; elenco: João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia O registro dos bastidores da gravação do disco Brasil, de João Gilberto, de 1981, com a presença de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. Dorival Caymmi, Ary Barroso, Grande Otelo e Eros Volúsia, em performances raras, e Orson Welles, no Carnaval do Rio, completam este curta, que apresenta uma imagem singular do país. A produção foi exibida no International Film Museum Festival, na Áustria, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; e no III Discovering Latin America Film Festival, em Londres, em 2004. Copacabana Mon Amour Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm sexta 18 16h sessão 1 Linguagem de Orson Welles Rogério Sganzerla, 15min, 1990, p&b/color., 35 mm Montagem: Severino Dadá; música original: João Gilberto; som: Roberto Leite; elenco: John Huston, Edmar Morel, Grande Otelo Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para flmar It’s All True, a obra trabalha com material documental (recortes de jornal, fotos etc.) similar ao que seria usado em Tudo É Brasil, oito anos depois. A produção foi selecionada e apresentada na categoria Especial na 46 a (1993) e na 58 a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno, na Suíça, convidada pela Cinemateca de Munique para a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Nem Tudo É Verdade Rogério Sganzerla, 95 min, 1986, p&b/color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografa: Edson Batista, Victor Diniz, Carlos Ebert, José Medeiros, Edson Santos e Afonso Viana; montagem: Severino Dadá e Denise Fontoura; direção de arte e fgurinos: Raul Williams; música original: João Gilberto; som: Roberto de Carvalho; elenco: Arrigo Barnabé, Grande Otelo, Helena Ignez, Nina de Pádua, Mariana de Moraes, Vânia Magalhães, Abrahão Farc, Otávio Terceiro, José Marinho, Geraldo Francisco, Mário Cravo e Nonatho Freire Primeiro flme de Sganzerla a tematizar a vinda de Orson Welles ao Brasil, em 1942, para flmar It’s All True, projeto 18 14 14 14 14 14 14 boicotado por Hollywood. Arrigo Barnabé interpreta o diretor de Cidadão Kane, até então desfrutando como nunca do status de maior gênio precoce do cinema. A produção recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora no 14 o Festival de Gramado, em 1987; o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu, em 1986; o prêmio da Associação Brasileira de Cineastas; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. O filme foi convidado pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles, foi convidado oficial do 22 o Festival de Turim, na I tália, em 2004, e exibido no 20 o Festival I nternacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 22 o e no 23 o Festival de Cinema de Turim, na I tália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no Seattle I nternational Film Festival em 1987; no Melbourne Film Festival em 1987; no Festival I nternacional de Cinema de Chicago em 1986; no Festival I nternacional de Cinema de Berlim; e nas redes de TV BBC (Londres) e TF-1 (Paris), em 1986 e 1985, respectivamente. sessão 2 It’s All True: Based on an Unfnished Film by Orson Welles Bill Krohn, Myron Meisel, Norman Foster, Orson Welles e Richard Wilson, 89 min, 1993 Produção: Régine Konckier, Richard Wilson, Bill Krohn, Myron Meisel e Jean-Luc Ormieres; produtor associado: Catherine Benamou; fotografa: Gary Graver; edição: Ed Marx; música: Jorge Arriagada; narração: Miguel Ferre; elenco: Jeanne Moreau, Orson Welles e Carmen Miranda Documentário realizado a partir de cenas recuperadas e reconstituídas de It’s All True, de Orson Welles, cujas flmagens no Brasil, em 1942, foram interrompidas. Originalmente composto de três histórias sobre a ordem sociopolítica da América Latina (My Friend Bonito, The Story of Samba e Four Men on a Raft), o flme de Welles contrariou interesses dos governos brasileiro e norte-americano, sendo, então, boicotado. debate com Bill Krohn, Catherine Benamou, Ismail Xavier e Samuel Paiva sábado 19 15h sessão 1 A Vermelha Luz do Bandido Pedro Jorge, 16 min, 2009, color., beta Este documentário radialístico-científco-experimental analisa o flme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, realizado em 1968, além de refetir sobre a atual indústria cinematográfca brasileira. O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm 17h sessão 2 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) Rogério Sganzerla, 9 min, 1981, p&b, 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla; coprodução: Fundação Cultural do Estado da Bahia e Cepoc Filme-documento sobre as relações de poder entre classes, no contexto sociocultural da Bahia, com base na história da exploração do petróleo no estado. Recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu em 1985; o prêmio Incidental e de Melhor Montagem no Festival de Gramado em 1987; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. Foi exibido no Seattle International Film Festival; no Melbourne Film Festival em 1987; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e nas redes televisivas BBC (Londres), em 1986, e TF-I (Paris), em 1985. Sem Essa, Aranha Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm 20h sessão 3 Deuses no Juruá Rogério Sganzerla, 15 min, 1997, color., digital Roteiro, imagens e edição: Maria Maia; música: Villa-Lobos Trechos de Floresta do Amazonas, do compositor Heitor Villa-Lobos, pontuam uma montagem sonora da língua grega e das línguas indígenas pano e aruaque. Os índios do Juruá e os deuses gregos se confundem e confuem nesta obra. Abismu Rogério Sganzerla, 80 min, 1977, color., 35 mm Roteiro, produção e montagem: Rogério Sganzerla; direção de produção: Ivan Cardoso; música não original: Jimi Hendrix; fotografa: Renato Laclete; som: Dudi Gupper; elenco: Norma Bengell, José Mojica Marins, Wilson Grey, Jorge Loredo, Edson Machado, Mário Thomar, Mariozinho de Oliveira e Satã Inscrições em algumas das cavernas da Pedra da Gávea, que remontam ao período pré-colonial, são o ponto de partida para este tributo a Jimi Hendrix e ao poder de Mu, divindade fenícia celebrada pelo personagem Zé Bonitinho. Este flme marca o retorno de Sganzerla ao longa-metragem após um longo período de ausência. Foi exibido no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Roma em 2004; e no Festival de Cinema de Trieste, na Itália, em 2004. Filmes inacabados de Rogério Sganzerla que não entraram na mostra: Carnaval na Lama Fora do Baralho Mudança de Hendrix Newton Cavalcanti: a Alma do Povo Vista pelo Artista 14 Biografia dos debatedores Antonio Urano Mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV), especializou-se em promoção comercial, atuando na América Latina por vários anos. Ocupou diversos cargos na Embraflme; empreendeu dezenas de mostras nacionais na América Latina; organizou a participação do cinema brasileiro em eventos como o mercado do flme de Cannes, de Berlim e de Milão; participou do esforço pioneiro de comercialização dos direitos de flmes brasileiros para países do Leste Europeu e da Ásia; formulou projetos para a distribuição e a promoção internacional das produções do país; foi consultor de vários festivais de cinema; e por três anos foi diretor comercial da Rioflme. Bill Krohn Crítico e ensaísta norte-americano, publicou os livros Hitchcock at Work e Luis Buñuel – Chimera. Foi codiretor de It’s All True (1993) e colaborador de Cahiers du Cinéma e The Economist. Manteve uma interlocução criativa com Sganzerla, a quem defne como “um cineasta para o novo milênio”. Catherine Benamou Formada pela Universidade de Nova York, é professora no Departamento de Estudos Étnicos da Universidade de Michigan, especialista na obra de Orson Welles e em teoria do documentário e autora de Rediscovering Orson Welles e It’s All True, uma Odisseia Pan-Americana. Admiradora do cinema de Rogério Sganzerla, cultivou com ele permanente diálogo, o qual se nutriu do mútuo interesse na passagem de Welles pelo Brasil. Integrou o projeto de restauração das imagens produzidas por esse realizador. Helena Ignez Formada pela Escola de Teatro da Bahia, participou de montagens de Bertolt Brecht e August Strindberg. Estreou no cinema com O Pátio (Glauber Rocha, 1959); integrou o elenco de A Grande Feira (Roberto Pires, 1961), O Grito da Terra (Olney São Paulo, 1964), Assalto ao Trem Pagador (Roberto Farias, 1962) e O Padre e a Moça (Joaquim Pedro de Andrade, 1965). Casou-se com Rogério Sganzerla e, nos anos 1970, fundou, ao lado do marido e de Júlio Bressane, a Belair; em 2005 lançou-se como diretora com Reinvenção da Rua, montado por Sganzerla; celebrou o cinema do diretor em A Miss e o Dinossauro (2008), seu segundo flme. Nesse mesmo ano, o longa-metragem Canção de Baal (livre adaptação de Brecht) marcou sua estreia na fcção e lhe rendeu o prêmio da crítica no Festival de Gramado. Em 2009, flmou seu segundo longa, Luz nas Trevas, ainda não lançado – com roteiro inédito de Sganzerla. Hernani Hefner Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) desde 1996, é professor de cinema na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), na Fundação Getulio Vargas (FGV/RJ) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), além de coordenador do projeto de restauração do acervo Cinédia. Trabalha, desde 1986, com pesquisa histórica em cinema brasileiro. Publicou vários textos, entre eles mais de uma centena de verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro; atuou como entrevistador no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ); realizou curadorias e participou de mostras apresentadas pelo CCBB do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília, pela Caixa Cultural e pelo Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP). Ismail Xavier Crítico, mestre em teoria literária, professor de cinema da Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor visitante na Universidade de Nova York (1995), na Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle (1999). É autor de obras referenciais – entre elas O Discurso Cinematográfco: a Opacidade e a Transparência; Sétima Arte: um Culto Moderno; Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome; e Cinema Brasileiro Moderno; é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde 1977. Publicou, como coordenador da Coleção Cinema, Teatro e Modernidade (Cosac Naify), O Olhar e a Cena – Melodrama, Hollywood, Cinema Novo e Nelson Rodrigues e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal, em que analisa a obra de Rogério Sganzerla. Joel Pizzini Autor de ensaios documentais premiados internacionalmente, conquistou com os longas 500 Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor Filme, Som e Fotografa, o prêmio Especial do Júri e o de Melhor Montagem, nos festivais do Rio, de Mar del Plata e de Brasília. É conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza; professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP); curador da restauração da obra de Glauber Rocha; codiretor, com Paloma Rocha, dos documentários extras dos DVDs do cineasta; e diretor do novo flme Olho Nu (Ney Matogrosso), coproduzido pelo Canal Brasil, para quem produziu Elogio da Luz. Foi curador das retrospectivas Faces de Cassavetes, Festival Jodorowsky e Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci; e colaborou na montagem de Luz nas Trevas, de Helena Ignez (inédito), com base em roteiro de Sganzerla. Júlio Bressane Estreou na direção com o curta Bethânia Bem de Perto, em parceria com Eduardo Escorel; em 1967, apresentou, no Festival de Brasília, seu primeiro longa-metragem, Cara a Cara. Foi premiado em outras edições do evento com Tabu (1982), Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007). Com Matou a Família e Foi ao Cinema e O Anjo Nasceu, ambos produzidos em 1969, inaugurou o chamado cinema marginal. Fundador da Belair em 1970, exilou-se durante a ditadura na Europa, onde rodou Memórias de um Estrangulador de Loiras (Londres, 1971); e no Marrocos filmou Fada do Oriente (1972). Como ensaísta, publicou os livros Alguns (1996), Cinemancia (2000) e Fotodrama (2005). Com A Erva do Rato (2008), seu trabalho mais recente, participou da Seção Horizontes do Festival de Veneza, a exemplo de Cleópatra (Melhor Filme em Brasília em 2006). Maria Gladys Iniciou a carreira no teatro, com Gianni Ratto, e atuou nos teatros Jovem, Mesbla e Dulcina. Nos anos 1960, trabalhou em Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) e Todas as Mulheres do Mundo (Domingos de Oliveira, 1967). Radicalizou sua linguagem nos anos 1970, com Sem Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, Cuidado, Madame e Família do Barulho, de Júlio Bressane. Entre os anos 1970 e 1990, seguiu sua parceria com Bressane (Gigante da América e Brás Cubas); atuou com Paulo Cezar Saraceni (Anchieta e Natal da Portela) e Walter Lima Jr., fez telenovelas e flmou com jovens realizadores, como Bruno Safadi, em Meu Nome É Dindi (2008). Roberto Turigliatto Crítico de cinema italiano, é um dos fundadores do cineclube Movie Club. Entre 1989 e 1991, foi o responsável pela programação da sala Museu Nacional de Cinema, em Turim. Teve atuação destacada como um dos promotores e programadores do Torino Film Festival desde sua criação, em 1982, sendo ainda codiretor do evento nas edições de 2003 a 2006. Nesse período, organizou mostras retrospectivas de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane. A partir dos anos 1990, colaborou como curador na Mostra Internacional do Novo Cinema de Pesaro, no Festival de Taormina e em várias edições do Festival de Veneza. Desde 1991, escreve para o programa diário Fuori Orario, do canal de televisão italiano RAI3, para o qual já concebeu centenas de noites temáticas dedicadas ao cinema. Integra o comitê de seleção do Festival Internacional de Locarno. Samuel Paiva Professor do Departamento de Artes e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos (DAC/UFSCar), onde atua como coordenador no curso de graduação e no programa de pós-graduação em imagem e som. É doutor em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), autor da tese “A fgura de Orson Welles no cinema de Rogério Sganzerla”, e colaborador em revistas e publicações de cinema e história. Idealização e organização Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Museografa Valdy Lopes Jn. Curadoria Joel Pizzini Assistência de curadoria Djin Sganzerla Sinai Sganzerla Apoio à curadoria Maria Flor Brazil Acervo Família Sganzerla Desenho sonoro Edson Secco Pesquisa Lucio Branco (RJ) Anna Karinne Ballalai (RJ) Sérgio Silva (SP) Produção (Rio de Janeiro) Sara Rocha Assistência (São Paulo) Vani Fatima Natalia Meira Edição de imagens Claudio Tammela Assistência de edição de imagens Renata Catharino Leonel Barcelos Fotografa e imagens do mar Kim Castro Programação técnica guitarra Tommy Terahata Edição e programação midi para guitarra Gianni Toyota Comunicação visual e produção gráfca Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Produção e montagem do espaço expositivo Núcleo de Produção do Itaú Cultural Produção do site Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Captação de depoimentos para site Fernanda Miranda Parcerias Agradecimentos especiais Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Zenaide Sganzerla, Albino Sganzerla, Paloma Rocha e Associação Amigos do Tempo Glauber Agradecimentos Mercúrio Produções, Poloflme, Carlos Magalhães, Bernardo Oliveira, Bruno Safadi, Camila Val (CCBB/SP), Carlos Ebert, Cristiane Rezende (CCBB/RJ), Débora Butruce (CTAV), Dib Lufti, Hernani Hefner (Cinemateca MAM), José Marinho, José Quental (Cinemateca MAM), Lécio Augusto Ramos, Marcos Bonisson, Maria Maia, Mislene Martins (CCBB/SP), Noa Bressane, Remier Lion, Rosa Dias, Ruy Gardnier, Rodrigo Lima, Rosângela Sodré (CTAV), Sérgio Pedrosa (CTAV), Sidnei Pereira (CCBB/RJ), Vani Silva, Acervo/ Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez, Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na realização deste projeto Ficha técnica mostra de flmes e debates Produção Maria Flor Brazil Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Assistente de produção Halina Agapejev Expediente revista Ocupação Rogério Sganzerla Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção), Kety Fernandes Nassar (organização e concepção), Yoshiharu Arakaki (direção de arte), Mariana Lacerda (edição), Jahitza Balaniuk (produção editorial e concepção), André Seiti (edição de programação), Jader Rosa (ideias). Participam: Joel Pizzini, Roberto Cruz, Ruy Gardnier, Hernani Hefner, Djin Sganzerla, Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos), além de Paolo Gregori, Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse dos flmes, junto com Steve Berg). João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens, enquanto Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. A revisão foi feita por Rachel Reis. Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar, Joel Pizzini, Maria Flor Brazil, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena Ignez, Polyana Lima e Mercúrio Produções. Ficha técnica Ocupação Rogério Sganzerla entrada franca itaú cultural avenida paulista 149 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777
[email protected] | itaucultural.org.br | twitter.com/itaucultural | youtube.com/itaucultural i m a g e n s : f r a m e s d o s f l m e s O B a n d i d o d a L u z V e r m e l h a e A M u l h e r d e T o d o s ; d e s e n h o f e i t o p o r R o g é r i o S g a n z e r l a afeto.Ideias e imagens de um dos cineastas mais importantes do Brasil estão na Ocupação Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú Cultural. além de fotos e objetos pessoais. trabalhos. Sganzerla reposicionou a história do cinema brasileiro no mundo. compõem a montagem. reescritos à mão. filmes. Anotações. na entrevista. Parte da exposição. nas fotografias de acervo e nos desenhos a seguir. suas histórias de vida. Os caminhos e os percalços dessa trajetória são contados nos relatos. esta publicação traz textos atuais de críticos. considerado pela Unesco um Patrimônio Cultural da Humanidade. cuidadosa no que se refere ao som e à construção de poesia em imagens. por meio de seus filmes. a exposição é uma oportunidade de o público conhecer o universo criativo da obra de Sganzerla. referências aos artistas e aos personagens que o inspiraram. pesquisadores e daqueles que compartilharam com Rogério Sganzerla sua energia. numa homenagem afetiva ao cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido da Luz Vermelha. marcados. Com uma obra enigmática. Instituto Itaú Cultural . documentos e roteiros originais datilografados. ideias. imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha . Pré-OcuPaçãO de um visiOnáriO Joel Pizzini . redator da revista Visão. onde o padre Andreotti. fez cinema com a máquina de escrever. verdades e mentiras da passagem do mago Orson Welles pelo Brasil. Dona Zenaide. que ele aproveitou para a cobertura do festival. tornou-se. que Rogério. ao perceber que seu aluno não tinha pendor para atividades físicas. Através da crítica. que exibia um atrevido repertório de John Ford e Rene Claire a Rossellini. A trajetória errática de Rogério desse ponto em diante todos conhecem: lançado em 1967. que até os 5 anos não falava. evoca os signos do caos. tirando “o cinema do quarto de brinquedos” e revelando. da Folha da Tarde e do Última Hora. após sobreviver a um trágico acidente de carro em Joaçaba. O que ela não adivinhava. arrebatou vários prêmios no Festival de Brasília. aos 7 já lançava um livro de contos e aos 11 aprontava o primeiro roteiro de longa metragem. contudo. na mudança para São Paulo. atravessa o perigo negro do abismo e joga luz nas trevas através do mistério da criação. na tela e no papel. lá em Santa Catarina. Nesse período conheceu Andrea Tonacci e realizou seu primeiro filme de ficção. como não bastasse.Rogério está no ar. ainda. o prêmio lhe rendeu uma viagem para Cannes. em quatro filmes. Na viagem de volta. não diferenciando o “escrever sobre cinema do escrever cinema”. A escolha de Rogério pelo cinema se definiu em 1961. Depois fundou. virou fenômeno de público. no Colégio dos Irmãos Maristas em Florianópolis. quando criança. é que seu filho ganharia o mundo. O resto é mar. sua futura esposa e parceira. Entregue pela atriz Helena Ignez. curso que abandonou dois anos depois. escreveu no navio o roteiro de O Bandido da Luz Vermelha. que conquistou o disputado Prêmio JB Mesbla. curiosamente chamado Documentário. autenticando . A Ocupação Rogério Sganzerla pinta numa esquina de ponta da Avenida Paulista. adorava brincar de mágica e hipnotizar os amigos. Conta sua mãe. Decidiu se instalar numa pensão na Pauliceia aos 15 anos e virou rato da Cinemateca enquanto fazia direito no Mackenzie. O Bandido provocou enorme impacto. Não estava escrito em lugar nenhum qual o destino que aguardava aquele guri. o estimulou a frequentar o cineclube. com Maurice Capovilla. A cinefilia de Sganzerla aflorou aos 13 anos. transformou-se em clássico outsider e. ao ser convidado por Décio de Almeida para escrever no festejado Suplemento Literário do Estadão. uma página de cinema no Jornal da Tarde. Oswald de Andrade (Perigo Negro) e Noel Rosa. em 1992). quando todos pensavam que estacionaria na sombra do próprio mito. que foram exibidos em Londres. A Mulher de Todos escancara o talento de Helena Ignez. Desse modo. E. no vácuo da contracultura. três pérolas: Carnaval na Lama (desaparecido em mostra no Jeau de Paume. Na primeira sessão do copião de O Signo do Caos em São Paulo foi que me aproximei mais de Rogério. Helena e Júlio se viram forçados a se exilar no Velho Mundo. O sonho acabou? No embalo dos esquisitos anos 1980. Na sequência vem a radicalidade setentista da produtora Belair. em 1969. Aranha. onde concluíram parte dos filmes. Um primor de roteiro. explodindo os limites do enquadramento. Antes de tudo. o tempo se fechou e Rogério. Ao lado. naturalmente. que transpôs o deserto vigente no país e legou seis longas – marcantes viagens em apenas três meses de estrada. Rogério lançou com Helena o Abismu. o filme profetiza o AI-5 (“decretado o estado de sítio no país”. um ousado modelo de indústria de Sganzerla para o audiovisual brasileiro – conforme o sócio e amigo Júlio Bressane. subgêneros e HQs. brada a locutora de rádio) e inova na incorporação do pop. só um cidadão pode nos salvar: Welles. Da lavra de Sganzerla. das aberturas políticas. nos tempos de universidade. inspirador de dois filmes: Noel por Noel (1980) e Isto É Noel Rosa (1990). Na volta ao trópico. Enquanto filmavam com olhos livres e rompiam nós narrativos. Copacabana Mon Amour e Sem Essa. do kitsch. em . Rogério apostou. todas as suas fichas no popular e sofisticado A Mulher de Todos. que revoluciona a arte de interpretar. da redemocratização e da globalização à vista.a utopia de Oswald de Andrade – fabricar biscoito fino para o deleite das massas. quando It’s All True é abortado por contrariar interesses de políticos brasileiros e norte-americanos de suspeita vizinhança. de clichês. que conhecia desde 1980. de três signos centrais do cinema de Sganzerla: Hendrix (desde Abismu). Rogério Sganzerla dedica-se de corpo e alma a compor uma tetralogia sobre a passagem entre nós do cineasta norte-americano Orson Welles. adotando seu singular método pré-colombiano. em Paris. salto no escuro que em 30 anos ainda reverbera com frescor sob a fuselagem sonora de Jimi Hendrix e a performance transcendental de Zé Bonitinho. nos anos 1940. cujos originais estão desaparecidos. Outro achado precioso é A Alma do Povo Vista pelo Artista (1991). debatido. apresentamos pela primeira vez em nosso país parte significativa da vasta produção intelectual-criativa de Rogério Sganzerla. evidenciando seu estilo. mas para mim intensos papos lunáticos. decidimos sinalizar. formas. Uma projeção exibe em quatro telas pequenos filmes que buscam conexões na filmografia de Sganzerla.Curitiba. que permitirá uma compreensão mais abrangente do universo existencial e inventivo de Rogério. ideias. Fora do Baralho (1971). sons. cuja memorabilia é revisitada e a vida-obra escancarada nos roteiros inéditos e nos caderninhos em que desde criança anunciava o crítico que se afirmaria na adolescência.itaucultural. que permanentemente rompeu esquemas.cineasta com suingue que saiu determinado da província para desburocratizar mentes e desafinar o coro dos contentes com um corte cínico-utópico na cena audiovisual contemporânea. em 1992. a montagem espelha a lógica cinematográfica. com a presença dele. cerca de 4 mil imagens foram digitalizadas do acervo familiar. Trata-se de um eixo central expositivo que proporciona ao visitante uma experiência sensorial que pretende antes despertar o interesse pela retrospectiva do diretor. mas uma cópia recém-encontrada sem som será exibida. resguardando assim a dimensão enigmática de seus escritos e registros fílmicos. Os três signos medulares na constelação de Rogério – Noel Rosa. em nossa turma de jornalismo. ganham destaque na mostra. Atenção para o canto dedicado a Hendrix. quando apresentou seu filme Brasil. filme-ensaio sobre a arte de Newton Cavalcanti. com respectivos verbetes. De lá pra cá. que revelará cenas familiares e exibirá o material bruto de dois filmes do cineasta catarinense: um inacabado. rodado no deserto do Saara. Por se tratar de um artista transgressor. de instituições e de companheiros e amigos profissionais. ao invés de demarcar. Na fase de prospecção e pesquisa. onde coabitam livremente tempos. características dos personagens e diálogos marcantes. desaparecido em uma mostra que homenageava Hélio Oiticica em Paris. Que mistérios tem Rogério? Enfant terrible. Para ser vista com olhos livres e sensibilidade atenta (parafraseando Oswald de Andrade). Orson Welles e Jimi Hendrix – ganharão espaços específicos. e Carnaval na Lama (1970).org. amplificando o alcance de sua obra. que é o experimento interativo da mostra: uma guitarra com . Os espaços da exposição evitam o tom saudosista e valorizam aspectos pictóricos e gráficos recorrentes na obra do autor.br/ ocupacao). A Ocupação Rogério Sganzerla é composta de nichos-sequência que compõem a trajetória do artista. breves encontros. para consequente seleção da curadoria. criando uma rede de dezenas de relatos através do site (www. Sem cronologia rígida.internacionalista. Os personagens “sganzerlianos”. A exposição extrapola as fronteiras do espaço e se prolonga no plano virtual. homem e pensador. e do envolvimento da equipe do Itaú Cultural. debates com íntimos conhecedores de sua trajetória no Brasil e no exterior. radical e ainda pouco acessível ao público. O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos. um espaço privilegiado para a expansão da linguagem de Rogério Sganzerla. criando. sua vida vale o sonho). imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha . Diretor de 500 Almas (2004) e vencedor de mais de 20 prêmios em festivais nacionais e internacionais. enteada de Rogério Sganzerla. elemento significativo nos filmes de Rogério. livros e esta publicação: ecos do espírito da mostra. Através da mobilização da família. O público estará. Sua plenitude da poética poderá também ser compartilhada em retrospectiva completa do cineasta. por meio de portal eletrônico. E justo na cidade que Rogério filmou compulsivamente com sua máquina de escrever desde adolescente e onde produziu as obras-primas. dirigiu Elogio da Luz (2003). por dificuldades de distribuição. assim. O mar.dispositivo midi. disponível para qualquer visitante tentado a aguçar o imaginário musical inerente ao cinema de RG. com roteiro de Sganzerla. inundará uma tela sob forma de projeção. que agora voltam reconhecidas para inscrever sua luz própria. A guitarra emitirá sons e imagens em inesperadas combinações. Autor de Glauces (2001) e Helena Zero (2006) – ensaio sobre Helena Ignez –. que o espectador descortinará ao incursionar no ambiente. Esperamos que em breve este esforço lance sólidas bases para a sistematização do inventário documental do artista. Concebida sob uma perspectiva contemporânea. abismo e caos – nodais no universo do autor. ocupa-se. condições para um diagnóstico que desencadeie uma ação urgente e efetiva para a restauração desse patrimônio audiovisual sem limites. no interior de uma sala-telacaixa. intransigente em seu ideário e que finalmente recebe um tratamento à altura da contribuição para o cinema brasileiro com que sonhamos (neste caso. Um evento de fôlego. a Ocupação Rogério Sganzerla persegue três linhas de fuga: luz. enfim. de amigos e colaboradores e entidades de preservação. sobre a vida e a obra do cineasta. então. os personagens divagam e a luz projeta signos e profecias que refletem o novo milênio. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma iniciativa sem precedentes sobre um artista visionário que transita na terceira margem do cinema. onde o imaginário do gênio protagoniza a cena. que proporcionará a fruição de uma obra singular. de Helena Ignez. Ao lado da esposa. Colaborou na montagem de Luz nas Trevas (inédito). Joel Pizzini é casado com Paloma Rocha. que generosamente abriu seu acervo. Joel Pizzini é o curador da Ocupação Rogério Sganzerla. . Cruz .QuandO Palavra e imagem cOnvergem sObre O eixO dOs sentidOs Roberto Moreira S. José Mojica Marins. Quando começamos a trabalhar no projeto desta exposição. Foi nesse mesmo período que Sganzerla passou a se dedicar a uma vasta pesquisa sobre a presença de Orson Welles no Brasil. . retornou ao cinema com Abismu (1977). aos olhos congestionados da cultura da imagem contemporânea. pastas e arquivos de um cineasta da envergadura de Sganzerla motivou o convite para a família do cineasta se aventurar na construção coletiva desta exposição. fato que ele referenciou nos filmes-ensaio Nem Tudo É Verdade. em 2004. Paulo. Apesar do reconhecimento. Tudo É Brasil e O Signo do Caos. Ao lado de Júlio Bressane e da própria Helena Ignez na experiência Belair. Jorge Loredo e Norma Bengell. a editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) prepara uma edição especial em dois volumes das críticas e dos artigos publicados por Rogério Sganzerla nos jornais Folha de S. em plena época da ditadura. manipulação e levantamento de milhares de páginas. Djin Sganzerla e de uma equipe de pesquisadores. Sinai Sganzerla. O acervo particular do cineasta estava intocado desde sua morte. a obra de Rogério Sganzerla está pouco preservada na memória audiovisual do país. Cinema como resultado da força criativa de uma geração interessada antes de tudo no exercício da liberdade de criação. Em seguida produziu. mas fundamentalmente o que pouco se mostrou e se pesquisou. Linguagem de Orson Welles. que em três meses produziu seis filmes. O Bandido da Luz Vermelha é atemporal e. Com o mesmo olhar crítico e criativo. Ao regressar ao Brasil. No espaço e nas telas desta Ocupação. Exilado como tantos outros. ainda brilha e ofusca pela sua originalidade. contou a história de Noel Rosa e celebrou Jimi Hendrix. um tesouro foi imediatamente revelado. Foi crítico de cinema. sua companheira por 34 anos e com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla. A Mulher de Todos. manuscritos. iniciou-se o processo de averiguação. onde filmou com a mesma intensidade criativa o material bruto do projeto inacabado Fora do Baralho.Mais uma vez o cinema está exposto. colaborou nos principais jornais do país. e resgatála nesta exposição significa atualizar o que já se sabe sobre sua cinematografia. de Helena Ignez. um filme improvável e revolucionário em sua forma e conteúdo. realizou Copacabana Mon Amour. viajou para a Europa e a África. Rogério Sganzerla é de uma geração de artistas que viraram do avesso os dogmas estabelecidos das regras de conduta da cultura brasileira. Sganzerla era antes de tudo um homem da palavra e das ideias.1 deixou escritos roteiros inéditos e refletiu de forma brilhante sobre a necessidade de pensar e de fazer um cinema que fosse genuinamente brasileiro. E nada mais apropriado que o escolhido fosse um realizador que em sua visão vertical da realidade brasileira construiu uma das mais originais e criativas filmografias do cinema nacional. filme que reúne em atuações antológicas Wilson Grey. Sem Essa. filme feito e perfeito para Helena Ignez. Realizou aos 22 anos. anotações. Com a contribuição do curador Joel Pizzini. 1 Com o apoio do Itaú Cultural. em 1969. O interesse em descobrir o que estava guardado naquelas dezenas de caixas. Paulo e O Estado de S. Aranha e Carnaval na Lama (filme desaparecido e cujos negativos estão parcialmente deteriorados). uma produtora independente e anarquista. Ver e ler os roteiros e as anotações de filmes como O Bandido da Luz Vermelha. com traços evidentes de que. a escrita servia de guia para suas ideias e para a elaboração de suas imagens. Cruz é gerente do Núcleo de Audiovisual do Instituto Itaú Cultural desde 2001. em que palavra e imagem convergem sobre o eixo dos sentidos e se cruzam no campo da ambiguidade. Não é difícil notar que essa confluência nebulosa e pouco elucidativa entre imagem em movimento. a forma muitas vezes aleatória e repetida com que as ideias eram escritas e anotadas. Perceber as características desses textos. em que o cinema está expresso em sua dimensão plural de linguagens e sentidos. O próprio Sganzerla reconhecia em seus depoimentos que a escrita era a primeira etapa para a constituição do enunciado audiovisual. objetos e equipamentos utilizados na realização de seus filmes constituem-se em referências e signos de sua cinematografia.roteiros. outra abordagem sobre a linguagem e a narrativa de seus filmes. onde desenvolve pesquisa sobre cinema. Roberto Moreira S. muitos deles desconhecidos da própria família. onde organiza e coordena projetos nas áreas de cinema e vídeo. a Ocupação Rogério Sganzerla quer trazer ao público essa dimensão sinestésica de seu cinema. narrativa e projeções no contexto da arte contemporânea. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma experiência multissensorial. sem dúvida alguma. A Mulher de Todos e Nem Tudo É Verdade é um exercício prazeroso e ao mesmo tempo desafiador. Foi professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) no curso de comunicação social entre os anos de 1989 e 2001. reconhecer nos manuscritos os indícios de uma sequência ou a opção por uma fala específica de um personagem incita a percepção e a curiosidade de como tantas ideias viraram filmes! E que filmes! Roteiros inéditos. carregados de maneirismos. fragmentos e material bruto de filmes inacabados. uma aventura da leitura que evoca as imagens em movimento e vice-versa! Da mesma forma. foi então se descobrindo um conjunto de rascunhos e textos. . envolvidos pela força autoral e criativa de um cineasta com “C” maiúsculo. À medida que todo esse material era mexido e remexido. leva a supor que uma análise mais detida e metódica desses arquivos poderia revelar. irreverência e contrastes estilísticos. fotografias e sequências de filme. Em que as imagens. língua e fala está na própria atonalidade narrativa de seus filmes. originais de seus artigos e críticas. para o cineasta. as palavras e os sons estão interpenetrados numa atmosfera sensorial e reflexiva. Como ele próprio afirmava: “Fazer cinema é como descrever um movimento impetuoso numa folha em branco pegando fogo”. Desconheço alguma argumentação crítica que tenha se debruçado sobre a obra do cineasta a partir da hipótese de aproximação de sua linguagem audiovisual com sua escrita. cadernos. Nesse sentido. É mestre em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). foto: arquivo da família de Sganzerla . FluxO ininterruPtO de energia criativa Djin Sganzerla . Áustria e uma retrospectiva completa no Lincoln Center. Alemanha. É com esse sentimento que “não sai de mim”. onde Rogério recebeu uma importante retrospectiva. com curadoria do Joel Pizzini. em Buenos Aires. em junho de 2010. percebia que Turigliatto estava certo. de quem meu pai tanto gostava. Copacabana Mon Amour participa do 28o Festival de Munique. me senti conversando com meu pai. Um ano de reencontros e expansão. Assim tem sido seu reconhecimento. crítico de cinema e ex-diretor do Bafici. cantou a saudade de forma singular. Quintin. em Trieste.João Gilberto. esse grande artista. interessantíssimas análises. em que o público terá a chance de conhecer melhor essa personalidade. Os filmes seguem depois para a França e para Viena. Depois da sessão. uma belíssima retrospectiva na Índia. Assistindo ao filme. e meses antes na Itália. reconstrói a vinda do Orson Welles ao Brasil. Mas agora. Rogério Sganzerla. iniciativa belíssima do Itaú Cultural. que disse que seus filmes eram absolutamente geniais. misturado a uma grande alegria. perguntou se ele conhecia a obra do Sganzerla. de excelente curadoria. depois de acompanhar a retrospectiva de Sganzerla. cineasta único. Um ano que culmina nesta “ocupação”. Rogério era maior que Godard. . fluxo ininterrupto de energia criativa. No ano passado. Um filme magistral. uma poesia em movimento. com absoluta originalidade e liberdade. diversos convites internacionais – França. sua obra sendo “redescoberta” por um público encantado. entre tantas outras. salas lotadas. vendo-o transformar em cinema tudo o que passava por suas mãos. Roberto Turigliatto. Quintin respondeu que assistira apenas ao Bandido e achou que havia no comentário certo exagero. que vivo este ano de 2010. escritor. em 2004. então diretor do Festival de Turim. veio emocionado conversar conosco. que em sua opinião era maior que Godard. a convite do curador americano Scott Foundas. Contou que. Agora. Um festival instigante. Em abril estive com Helena Ignez e Sinai Sganzerla no 12o Festival de Cinema Bafici. Tive a oportunidade de rever Nem Tudo É Verdade. fotos: arquivo da família de Sganzerla . como o cartão carinhoso que ele enviou de Firenze para o Júlio Bressane. mantendo vivo o legado de um dos seus principais artistas. mandando um beijo para a “linda Helena”. em paralelo ao que mais amo fazer na vida. Quando me convidaram para escrever.No Brasil. Apresenta esse multiartista em sua completude: roteiros originais ainda não filmados. filmes. fotos de diversas fases de sua vida. Paulo e no Jornal da Tarde. o relançamento do CD da trilha original do Copacabana Mon Amour e a publicação de dois livros com artigos e críticas que escreveu no Suplemento Literário do Estado de S. Revendo o material que foi entregue ao Itaú Cultural para compor a Ocupação Rogério Sganzerla. o que sempre mais gostou. ninguém menos do que mister Welles. . como a carta que enviou à Sinai. Paulo. Vimos um rapaz que consertava uma porta com um maçarico e meu pai logo comentou que criaria uma cena do Bandido usando um maçarico para acender um cigarro. uma Ocupação Rogério Sganzerla. administro junto com minha mãe e com Sinai a Mercúrio Produções (em São Paulo). Hoje.. comentou que somente uma câmera poderia salvá-lo. Meu sincero e carinhoso agradecimento a Joel Pizzini. Em paralelo aos projetos que criamos. que é atuar. E ao mesmo tempo um hino de amor aos dois. E as projeções de sua obra nós fazemos aqui. um contentamento enorme. encontrei cartas magistrais que não conhecia. ele filmava. objetos pessoais. que tanto fizeram e fazem pela nossa cultura. Senti que ele estava fazendo. na Folha de S. O próprio sonho parecia ser enquadrado pela sua câmera. Lembrei-me das nossas últimas caminhadas pelo centro de São Paulo. vejo esse nosso trabalho de difundir. que na época tinha 9 anos. pensei no que dizer. com uma alegria. pais queridos. filmava. contando que estava em um festival e que iria encontrar ninguém mais. esse curador/artista. então namorada do Júlio. ele falando como filmaria o Bandido 2 (Luz nas Trevas). debates sobre a obra etc. onde quer que estivesse... o Itaú Cultural faz a mais completa das retrospectivas. Lembro-me de um sonho que tive alguns meses depois de sua partida. como um menino em cima de uma árvore.. percebia como tudo ao seu redor era motivo de inspiração. Pouco tempo depois. como o próprio nome diz. no final de sua doença. preservar e relançar sua obra como um serviço ao cinema brasileiro. Somados a isso. entre outros. que lança neste ano o Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha. de Bruno Safadi. . de Rogério Sganzerla. o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do 39o Festival de Cinema de Brasília.foto: Marcos Bonisson Djin Sganzerla é atriz. Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como Melhor Atriz de Cinema de 2008. pelo filme A Falsa Loura. de Carlos Reichenbach. Também recebeu. Jane. filme em que faz a protagonista feminina. Trabalha ao lado da sua mãe e da irmã na Mercúrio Produções. estreou no cinema no longa-metragem O Signo do Caos. pelo filme Meu Nome É Dindi. 1976 Em 27 de fevereiro nasce Djin. 1970 Em parceria com Júlio Bressane e Helena Ignez. Rogério Sganzerla segue com Helena Ignez para Londres. Sucesso de bilheteria. 1980 Realiza o curta-metragem Noel por Noel. filme de José Sette sobre o universo gráfico de Goeldi. atriz considerada musa do Cinema Novo e que se tornou sua parceira artística afetiva por toda a vida. 1981 Realiza o curta-metragem Brasil. na condição de clássico. Posteriormente. Por Favor. é indicado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Sganzerla dirige três deles: Copacabana Mon Amour (com trilha original de Gilberto Gil). onde o casal se estabelece por algum tempo. de Jairo Ferreira. primeiro filme seu sobre Noel Rosa. Nigéria. Daomé (atual Benin) e Senegal. seu segundo longametragem. com participação de João Gilberto. estrelado. Inicia a atividade de crítico de cinema no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. premiado pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. em parte. Realiza dois filmes com a codireção de Álvaro de Moya: os curtas HQ e Quadrinhos no Brasil. 1978 Realiza o curta-metragem Mudança de Hendrix. 1968 Realiza O Bandido da Luz Vermelha. filma o documentário inacabado Fora do Baralho. no interior de Santa Catarina. entre outros. Na filmagem. Realiza o curta-metragem documental Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (Villegaignon). Paulo Villaça e Jô Soares. Como vinha escrevendo um roteiro sobre um criminoso de traços semelhantes. Aranha e Carnaval na Lama (ou Betty Bomba. sua primeira filha com Helena Ignez. 1964-1965 Muda-se para São Paulo para cursar as faculdades de direito e administração. Tunísia. que exibia seu O Anjo Nasceu. funda a produtora Belair – que em apenas três meses realiza seis filmes. é o único lançado entre 1971 e 1985. Depois. Níger. Rogério lê nos jornais brasileiros a bordo as notícias sobre um fora da lei conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”. 1977 Dirige Abismu. Argélia.Cronologia 1946 Rogério Sganzerla nasce em Joaçaba. decide adaptar sua história à daquele personagem tão frequente na crônica policial da época. 1967 Estreia na direção com o curta-metragem Documentário. No elenco. aproxima-se de Júlio Bressane. 1969 Lança A Mulher de Todos. Ao apresentá-lo no Festival de Cinema de Brasília de 1969. Participa como codiretor e montador do filme Horror Palace Hotel. no dia 4 de maio. seu primeiro longa-metragem. em Nova York. que recebe o Prêmio JB Mesbla de Melhor Curta. . sua segunda filha com Helena Ignez. Caetano Veloso e Gilberto Gil. que agia em São Paulo. por Helena Ignez. Na verdade. 1972 Em 25 de outubro nasce Sinai. para Marrocos. filmado. Sem Essa. Zé Bonitinho. Paulo. Wilson Grey e José Mojica Marins. um dos mais premiados filmes brasileiros de todos os tempos. 1971 No deserto do Saara. o que lhe dá direito a ir ao Festival de Cannes. Exilado. Edita Um Sorriso. inicia sua relação com Helena Ignez. a Exibicionista). primeiro longa após um considerável intervalo. No retorno de navio ao Brasil. Deixa uma obra extensa de filmes e muitos escritos. Tratase do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil (em 1942). Aranha – 1970 Carnaval na Lama (ou Betty Bomba. cinco anos depois se iniciam as filmagens da continuação da trajetória do Bandido da Luz Vermelha. A partir desse roteiro. baseado em Oswald de Andrade. Umbanda no Brasil – 1977 Abismu – 1977 Mudança de Hendrix – 1977 Noel por Noel – 1980 Brasil – 1981 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981 Irani – 1983 Nem Tudo É Verdade – 1986 Isto É Noel Rosa – 1990 Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991 Anônimo e Incomum – 1990 Linguagem de Orson Welles – 1990 América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992 Perigo Negro – 1992 Deuses no Juruá –1997 Tudo É Brasil – 1998 B2 – 2001 Informação H. 1998 Lança o ensaio documental em longa-metragem Tudo É Brasil. 1986 Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Koellreutter – 2003 O Signo do Caos – 2003 . conclui O Signo do Caos. 2003 Após muitas dificuldades. lançado e premiado no Festival de Brasília. na qual há roteiros não filmados. encontra-se em fase de finalização. Filmografia Documentário – 1967 O Bandido da Luz Vermelha – 1968 A Mulher de Todos – 1969 Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969 Quadrinhos no Brasil – 1969 Copacabana Mon Amour – 1970 Sem Essa. 1991 Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles.1984 O documentário O Petróleo Nasceu na Bahia é lançado e premiado nos Festivais de Caxambu e Gramado. J. 1992 Dirige o episódio Perigo Negro. sob a direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. como o do longa-metragem Luz nas Trevas – Revolta de Luz Vermelha. É seu último filme. a Exibicionista) – 1970 Fora do Baralho – 1971 Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica – 1976 Ritos Populares. Atualmente. o último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil. que integra o longa-metragem Oswaldianas. Realiza dois vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e Incomum (sobre Antonio Manuel). 2004 Falece no dia 9 de janeiro. 1990 Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Oswald. nOel e JOãO na sganZerlândia ou tamanhO nãO é dOcumentO ou um POucO de lOucura Previne um excessO de tOlice Steve Berg .ZOnk! crash! bOOm! OrsOn. imagem: frame do filme B2 . Koellreutter (2003). a umbanda e o próprio cinema). biografias romanceadas. De Documentário (1967) até Informação H. como integrante do elenco de O Terceiro Homem (1949). musicais. institucionais e didáticos em bitolas de 16 e 35 milímetros e em vídeo com uso particularmente inspirado e dinâmico do table top). Oswald de Andrade. o FAZER artístico. não surpreenderá a ninguém que os 20 curtas e médias-metragens dirigidos por Rogério Sganzerla ao longo de 37 anos (quatro dos quais estão desaparecidos ou em estado de deterioração) constituam a parte menos conhecida de uma filmografia por si só (e por um período de tempo quase obsceno) quase secreta. temas e formatos (ficção. a questão da cultura. Noel Rosa. os quadrinhos. João Gilberto. Orson Welles. seja pela autoria de um cinema que se INVENTA apesar e por causa da precariedade de recursos.” Ezra Pound Rarissimamente exibidos e mais raramente ainda objetos de qualquer reflexão crítica ou teórica dentro ou fora do Brasil. documentário. Por esses 20 curtas e médias-metragens desfilam todas as grandes e pequenas obsessões do cineasta (por enumeração caótica: a história do Brasil. Documentário já contém referências a Orson Welles – em cartaz afixado à porta de um cinema. e em portrait/ homage que ocupa toda a tela por um instante] – seja pela mestria com a qual o autor navega por vasta gama de gêneros.imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha “Uma nação que negligencia as percepções de seus artistas entra em declínio e depois de certo tempo cessa de existir para apenas sobreviver. J. o que salta aos olhos quando assistimos a esses filmes é sua profunda coerência e inte(g)ração com o restante da obra cinematográfica do autor [Eliot: “Em meu princípio está meu fim”: dois anos antes da explosão do Bandido através da fórmula Urânio=Mercury e 37 antes de O Signo do Caos. constante exercício de profundidade reflexiva e verve criadora raras na história do cinema brasileiro. . Aranha levou quase 40 anos para chegar ao grande público por meio de lançamento em DVD. compositor e esteta Koellreutter: depoimentos com música. é uma OBRAPRIMA totalmente desconhecida de todos a não ser dos mais devotos “sganzerlianos” – uma tragédia amarga e cômica que só dói quando a gente ri e reitera o tema da ascensão e queda do gênio precoce. escrito para integrar um dos três volumes inacabados de seu romance mural Marco Zero (1943-1946). que inclui desde Helena Ignez até Abraão Farc. O domínio total em que se fundem história e presente na estratégia-mor “sganzerliana” de SELEÇÃO e COMBINAÇÃO de imagens. Guará. em eterno retorno. de 1969. João Gilberto. respectivamente). entre outros. quando a fotografia e o material de arquivo cinematográfico SE VOLTAM SOBRE SI MESMOS. Antonio Abujamra e Sandro Solviatti. MOTZ EL SON. Conceição Senna. B) MELOPOEIA (a ênfase no SOM): os dois filmes sobre Noel Rosa (Noel por Noel e Isto É Noel Rosa. Jorge Salomão. Gilberto Gil e Maria Bethânia em Brasil (1981). obsessivamente. Caetano Veloso. de 1980 e 1990. o lado POP: metralhadora de imagens em table top e narração nonstop em Histórias em Quadrinhos (Comics). C) PHANOPOEIA (a poesia de IMAGENS VISUAIS). Do começo de Helena surge mais um fim (o último curta) – da formação da atriz na Universidade Federal da Bahia (UFBA) ressurge o professor.A poética A) LOGOPOEIA (a dança do intelecto entre as palavras): se o revolucionário Sem Essa. magistral filmagem do único roteiro cinematográfico do imenso Oswald de Andrade. o Sganzerla absolutamente clássico e seco (em termos de vocabulário da imagem e do corte) de Perigo Negro (1992). Ruddy. círculos concêntricos . Paloma Rocha. Paulo Moura. encenada por um incrível elenco de estrelas trouvées. como Américo Vespúcio. O misterioso e igualmente inacabado Ritos Populares – . reordenadas. em Tudo É Brasil (1998). com interpretações icônicas e antológicas dos brilhantes atores-fetiches Paulo Villaça. O anti-institucional pós-tropicalista A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) (1981) pertence a essa categoria. No outro extremo do espectro imagético. e Otávio Terceiro. Linguagem de Orson Welles (1990) e Isto É Noel Rosa dão sequência a um jogo de espelhos cósmico – as mesmas imagens de arquivo que neles aparecem reaparecerão. Trechos de Umbanda no Brasil ressurgem em Brasil. D) O cinema ESTILHAÇO de Irani (1983) coloca en robe de parade o messianismo e a guerra santa no fragmento do projeto não realizado sobre a Guerra do Contestado (como filmar o conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro?). como Villegagnon. com suas máscaras gregas. seus índios e suas cores saturadas. nas quais NADA e PIGMENTOS e TINTA se somam às participações aforísticas de Helena Ignez e Nonatho Freire e à fotografia das TELAS de Antonio Manuel – comprovantes do olho colorístico do cineasta. bem como ocorre em Deuses no Juruá (1997). bem como o martelo nietzschiano e as urnas quentes de Antonio Manuel que integram Anônimo e Incomum (1990). as cores delicadas dos cartógrafos em Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (1976) e os focos de luz e fumaça de América: o Grande Acerto de Vespúcio (1992).de informação e possibilidade provindos de pedras/ provocações atiradas no espelho d’água da imagem da memória nacional. Também acredita que é preciso tirar o cinema do quarto de brinquedos. Rio de Janeiro. MAIS LUZ. no qual a câmera segue a figura do pai de santo Woodrow Wilson da Mata e Silva. Ações Plano de estudo: rever os curtas e médias-metragens de Rogério Sganzerla enquanto subsídios para investigação sobre narração paramétrica (repetição + imagem não significante + adição por subtração). Base do plano de estudo: geografia e (des)memória cultural – São Paulo. som e sentido. Organizou retrospectivas de recortes da obra de John Ford e Fritz Lang. Brasil. Mudança de Hendrix e Newton Cavalcanti – A Alma do Povo Vista pelo Artista. VEJAM como fez o artista pra andar pra frente e pensar em vertical. Bahia. Não há outro modo de dizê-lo: os curtas e médiasmetragens de Rogério Sganzerla são simplesmente magistrais. e é autor de ensaios sobre Douglas Sirk. VER DE NOVO. Helena Ignez e os filmes de Belair. Visão. os mais ricos jogos de imagem. música e significado. A Urca. Traduziu para o inglês o “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade e toda a produção textual de Hélio Oiticica já publicada em língua inglesa. entre outros. O ESTILO alçado ao nível de força MODELADORA do cinema. Procurem conhecer melhor. narrando sua própria trajetória e a criação da umbanda esotérica em passeio por livraria e ruas do centro do Rio de Janeiro enquanto um plano do rosto de Cristo num altar torna e retorna e cenas de ritual na mata preparam seu próprio retorno mais adiante em Brasil (1981). Steve Berg é tradutor e pesquisador. .Umbanda no Brasil (1977-1986). Santa Catarina. o Mestre Yapacany da umbanda esotérica. e foi curador da mostra Rossellini TV Utopia. Plano emergencial “arqueologia do cinema”: localização e restauro de Quadrinhos no Brasil. Fez sua estreia literária na Navilouca em 1972. imagem: frame do filme A Mulher de Todos . como conta ela nesta conversa – um encontro entre três cineastas que. Entre cartazes de filmes. ela participou ativamente da concepção de sua obra. em comum. pastas vermelhas com páginas de roteiro e uma varanda repleta de plantas. o acervo do cineasta é cada vez mais ampliado e revelado ao mundo. Parceira criativa e companheira de Rogério Sganzerla. como resultado de seu trabalho (ao lado das filhas Sinai e Djin). escritório da Mercúrio Produções. . a atriz e diretora de cinema Helena Ignez concede esta entrevista.Que mistérios tem Helena? Paolo Gregori e Pedro Jorge Tarde no centro de São Paulo. Agora. têm a paixão pela obra de Rogério Sganzerla e o desejo forte de transformar ideias em cinema. Essa descoberta do mundo [em relação ao cinema de Rogério Sganzerla] realmente explodiu com a morte dele. É o balcão de favores do cinema brasileiro. numa casa lotada em . a Weelington Film Society deu a O Bandido da Luz Vermelha o título de um dos 50 melhores filmes do século XX. Realmente. O momento é bom. e muito próximo ao começo. Por um lado. que é o lado magnífico dessa história. levei O Bandido da Luz Vermelha. de reunir forças. você conseguir fazer um cinema que é o oposto disso.imagem: frame do filme A Mulher de Todos Antes de entrar nos temas bons. Ao mesmo tempo. ao mesmo tempo. quero falar de um ruim: o cinema brasileiro. um cinema revolucionário. É como se tivesse destampado uma panela de pressão e então o cinema de Rogério começou a ser distribuído pelo mundo. não é? Também é um momento de orgulho. Como foi enfrentar 50 anos de cinema brasileiro? Um cinema dominado por políticas e não raro por pessoas egocêntricas e metidas a besta e. trata-se do que está acontecendo em relação ao cinema de Rogério e o mundo. Parece estranho. Há alguns anos atrás eu estive na Nova Zelândia. é um momento extraordinário. A minha filha Sinai Sganzerla veio realmente conhecer o cinema do pai em 2006. tivemos casas lotadas. Foi preciso o Rogério morrer para acontecer tudo isso? De alguma forma ele previa isso. Você sabe que só Strindberg lia Nietzsche quando ele estava vivo? Isso é uma coisa doida e extremamente dolorosa. no ano que vem. Dos internacionais consagrados. em abril deste ano]. Ao mesmo tempo. . Temos ainda um trabalho difícil de recuperação e de preservação de seus filmes. apesar de tudo. Antes. Mas a loucura tem lugar no mundo? Tem. 2009]. com pessoas sentadas no chão. Mas considero que. ela não tinha podido conhecer a dimensão do trabalho do pai no Brasil.Turim. e aquilo não tem pé nem cabeça. Desde junho do ano passado tenho feito constantes viagens para levar a obra dele. é um momento extremamente radioso e importante. no Lincoln Center [em Nova York] e ainda há mais dois convites internacionais para este ano. como no Bafici [Buenos Aires Festival Internacional de Cinema Independente. um filme de que gosto muito é o Anticristo [de Lars von Trier. e tinha feito com ele a trilha sonora de O Signo do Caos. Rogério é muito mais visto fora do Brasil. O Nem Tudo É Verdade foi convidado para uma mostra. Então. o momento é muito bom. Em alguns lugares. esse cinema de Rogério se torna popular na juventude. por exemplo. imagens: frames do filme A Mulher de Todos . Éramos dois meninos.Uma paixão. na Bahia. Talvez se Glauber e Rogério fossem franceses. e estragada por um casamento. Locarno sempre gostou dos nossos marginais. Mas. participar daquele momento de criação magnífico. Enquanto isso o Rogério escrevendo. na Bahia. Pelo tempo de carreira deles e pelo número de filmes realizados. E é suíço. Mas tenho outra notícia muito interessante. você dando vida às personagens e ele escrevendo essas personagens.. eles tivessem resistido mais. convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do festival deste ano. Mas ele é um atleta. A força também de uma atriz que vinha sete anos antes dele vivendo isso. Eu. Eu me interesso por poucas obras e me fixo nelas. Tem essa força. assim como os roteiros. tudo é muito proporcional. Será? Mas veja. se trata de pessoas. que criaram uma obra tão voraz? No caso. Retomar essa vontade de fazer cinema. um grande amor extraordinário. porque essa adolescência com o Glauber foi adoravelmente fértil e louca. Me divertia e tudo. No mais. Mas O Bandido da Luz Vermelha nem chegou a ir para Cannes. era condicionada a um pensamento que nem sempre era o meu. Por aí. e depois a Embrafilmes. Como é que você vê esse encontro de duas pessoas excepcionais. o diretor do Festival de Locarno. O casamento estragou aquela coisa e foi curto. A Reinvenção da Rua. isolados. Mas teve um período antes dele em que eu encontrei essa efervescência toda. com o Glauber. uma forma glauberiana de ser artisticamente. e isso encaixou. Mas esses caras conseguiram sobreviver. de 1959] e que depois foi distribuída em outros filmes. começando um movimento. das chanchadas. ele tem uma coisa física por trás. A própria trajetória do Orson Welles não foi muito diferente da do Sganzerla em termos de realização de filmes. bom. de qualquer forma. E então teve a ditadura. Éramos muito afastados do cinema. Tinha tido um vácuo muito grande talvez antes dele. que são os moradores de rua. se tornou no cinema que eu fiz como atriz com Rogério. Krzysztof Kieslowski foi descoberto em Cannes depois de praticamente 20 anos de carreira como documentarista. que nos baniu completamente. Ele tem uma produção literária extraordinária. esse fogo dessa atriz e desse encontro com Glauber. Eu adoro completamente um autor de quem às vezes eu conheço apenas um filme só. Isso foi muito bom. você e o Rogério. sendo que o cara faz filmes desde a década de 1970. em sessão especial. não é? Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas. que era a nossa presença com os filhos. Depois disso encontrei com Rogério exatamente a liberdade de me expressar completamente como artista. talvez a carreira. graças a Deus. O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes demora um pouco para acontecer. fui movida por uma indignação pela situação da parte mais desprovida da sociedade. que vai começar também logo a aparecer. numa criação que tinha bastante autoria. Olivier Père. O Heneke [Michael Heneke] ganhou Palma de Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no ano passado. . ele e esse encontro. Eu queria estar ali. quando eu encontrei Rogério. mas não era o que eu queria fazer. Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. eu tinha já esse fogo. eu fiz um curta. não é? Acho Locarno realmente encantador. foi uma imensa paixão. Pois é. o que sempre é melhor [risos]. talvez dizer não dizendo. Então. mas de uma forma muito fresh. Mas tinha uma força de uma criação ali que começou com O Pátio [o primeiro filme de Glauber Rocha. que nos deixou fora de produção. Paulo. apesar de ele ter uma obra inteira. diretora no sentido de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer aquilo. mas que. talvez ambições nesse sentido. Então fiz a primeira coisa como diretora. e que fez inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu me afastar dele. Nós sempre fomos muito isolados. Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas.. Eu não sou exatamente uma cinéfila. Godard conseguiu. eu tenho outras porções. Não sei como dizer. com 19 anos. O que talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma intensidade de sempre. E agora será publicado um livro com os trabalhos [como crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Essa vontade já tinha vindo anteriormente. Na adolescência e na infância eu me alimentava do cinema brasileiro. com o fogo da cremação. que é falar do Sganzerla. com uma cópia restaurada. Vocês tinham essa magia que passa uma coisa que eu não vejo mais. então a Djin apresentou o filme dizendo “Ah. E parece que era o fechamento da própria obra do Rogério. na realidade. com fogo. numa mostra sobre Welles. E sobre a Belair. Como foi. essa convivência com o Rogério era uma grande viagem em mar revolto. de novo”. eu ouvi um curador dizer que sem os filmes de Rogério a obra de Welles não seria completa. Era uma lente pesada. não é? Mas eles conseguiam fazer os filmes deles assim. E tem o Carlão [Reichenbach] também. No final de O Signo do Caos tem-se uma repetição com a frase “acabou. acabou. com vibração. Sabe o que eu acho meio doido. Mas hoje é difícil manter essa jovialidade. . Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são cinéfilos. Um trágico total. parecia um fundo de garrafa. um fechamento dionisíaco. com 17 anos ele já conhecia todas as fichas de filmes clássicos.) Mas vamos voltar ao assunto da entrevista. eu pensei “puxa. Em Locarno. Eu lembro que. quando vi o Copacabana Mon Amour. que entrava na cabeça de seus ídolos. É incrível isso. Na verdade era um cinema construtivo. Era o quarto filme. com alegria. (Pausa para uma conversa entre os entrevistadores e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova geração de cineastas brasileiros. Isso foi muito assustador para mim. e é um trabalho explosivo de alguém com um espírito extremamente cristão. Pois é. eles usaram uma lente que foi do Fellini”. ele ouviu da filha [Djin] esse anúncio. de todo o cinema. o trio Belair? Eu acredito que sim. o Bressane e o Sganzerla. e eu acho que foi isso o que me preservou. de ser mais cinéfilo? Ele era completamente conhecedor de cinema. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é um enigma. não. e mostra que são filmes modernos acima de tudo. um cristão trágico com essa concepção de saber que todo o trabalho dele só seria descoberto depois do trabalho final. no Festival de Cinema Latino-Americana [2008. “amém. é que nas mostras internacionais os curadores estão vendo os filmes do Rogério como se tivessem sido lançados hoje. desde A Mulher de Todos que ele trabalha com a tragédia. para você. amém”. em São Paulo]. Helena. jovial. acabou”. Esses são o Rogério. uma coisa de ídolo. É que falar da vida é muito interessante. a exemplo do pernambucano Tião e seu filme O Muro.O Rogério já tinha mais isso. Helena. você entrou nessa história de peito aberto? Era um enigma. fechando com O Signo do Caos. o Glauber e o Júlio Bressane. Quando ele ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003]. era inevitável esse encontro entre você. com o olhar da novidade. Não era mais uma trilogia. ver o Rogério vivendo obsessivamente o trabalho do Orson Welles? Como era para você essa grande paixão dele pelo Welles e pelos filmes. Quando eu vi pela primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na mala tinha It’s All True. um interesse múltiplo forte que tenho. que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge. com grandes atrizes e atores. que em toda a vida não deixou de perder o humor cáustico. a produtora executiva é a Sinai Sganzerla. que é também o meu genro. Hamburgo e Montevidéu. é uma produção familiar. Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades (1993) e Mariga (1995). a exemplo do André Guerreiro Lopes. No mais. É um filme interessante. E talvez. de um humor muito interessante. imensamente gay. companheiro da minha geração. Em vez disso ele viveu oito meses. E dessa forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla. dirigido recentemente por Helena Ignez] é um filme que abraça toda a obra de Rogério. Porque exatamente quando ele ia retomar esse trabalho. sabendo de todas as dificuldades que temos para filmar. dirigida por Kiko Goifman). E Rogério. mesmo no mínimo está contida a mesma qualidade em todos os filmes. Seu curta-metragem Tropiabbas teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais de 20 países. essa obsessão artística nietzschiana das pessoas anormais. E eu me vi com isso na frente. a diretora Mariana Jorge. Como foi organizar esse roteiro? Foi uma loucura. enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai. E para mim o que me preservou foi ter conseguido arejar. Eu estou num momento muito forte também. e talvez do contrário não tivesse sido assim. Então tem essa estrutura familiar. Com a irmã. e radical na poesia. para organizar e criar e tudo isso dentro de um cinema brasileiro. E ele perguntou “Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15 dias”. em um roteiro muito engraçado. uma comédia criminal sobre a justiça. mas de alguma maneira com isso eu possa até ter preservado a vida de Rogério. E dentro daquele momento terrível era de onde vinha a alegria. é de reconhecimento da obra de Rogério.Você acha que o que aconteceu com o Rogério por dentro foi um pouco essa coisa obsessiva pelo cinema? Sim. um ícone. com falas extraordinárias shakespearianas. Claro. Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV. andando normalmente”. E a grande vitória é que o filme não sofre essa influência burocrática que é fazer um filme no Brasil. a Djin é a atriz protagonista. da vida. ela vinha desse roteiro. em absoluto. E enfim o filme está pronto. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na Universidade Anhembi Morumbi. normal – do câncer no cérebro. talvez tivesse sido ainda mais difícil. 1996). e foi exatamente nesses oito meses que eu extraí força. de Portugal (com o curta O Feijão e o Sonho. como pode ter sido para o Glauber. rico e contraditório. em um elenco maravilhoso. Em toda a obra dele. Luz nas Trevas também foi convidado para o Festival de Locarno. é um filme que devora. e do Ney Matogrosso. Porque é sobre a justiça. com elementos que não são familiares. ele teve a notícia – apesar de estar com a saúde boa. das palavras dele. Edição | Mariana Lacerda fotos: arquivo da família de Sganzerla . não sei. porque eu acho que um gênio não é normal. se apodera antropofagicamente – como é da nossa família espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro filme. como a própria pessoa que eu convidei para codirigir o filme comigo [Ícaro Martins]. E no final ele se virou e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. um dia me disse “Você abriu demais esse baú”. o último deles o documentário A Vermelha Luz do Bandido. porque várias decisões estão em volta desse filme e desse roteiro. em competição oficial. e um filme gay. Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens. tudo isso muito entrelaçado em mais de 700 páginas. Porque na família ele podia descansar. Atualmente finaliza seu longa-metragem Chuva. Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25o Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz. pela descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas pastas vermelhas. sobre a obra de Sganzerla. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor está aqui. codirigiu o documentário América Brasil. E é um filme que nasceu em 2003. Mas o momento é este. que vem de uma concepção mais burocrática de cinema. sair. É um filme radical. foto: arquivo da família de Sganzerla . investigações sObre O cinema (Ou seJa. O hOmem) mOdernO: sganZerla críticO Ruy Gardnier . Kandinski). Chabrol. Truffaut. Rivette).Observando o século XX. para mencionar apenas quatro –. 1964-1967. o empenho do jovem Sganzerla era explicar o cinema moderno.) e que significava uma nova relação com o mundo. Manifestando certamente uma série de mutações no globo. . Ezra Pound. Diderot. Quando um grande artista exerce a atividade crítica. Em resumo. com a duração dos planos etc. do simples ao complexo. E o jovem Sganzerla criou para si mesmo a tarefa de mapear as características desses filmes que davam um sopro de renovação ao cinema daquele momento. Como a crítica surge frequentemente nos períodos formativos dos cineastas. Jonas Mekas. além de incontáveis livros teóricos e manifestos que envolvem pensamento crítico (Schoenberg. inevitavelmente ela se torna uma extensão de sua personalidade e de sua força criativa. No período mais brilhante de sua crítica. Eliot. o cinema foi do certo ao incerto. Messiaen. geralmente antecipando e/ou coincidindo com os primeiros roteiros. T. curtas e longa-metragem de estreia. observar o trabalho de um crítico-futurocineasta acaba sendo a mesma coisa que presenciar o retrato do artista quando jovem. como Georges Bataille. todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard. Baudelaire e Machado de Assis. do mastigado ao obscuro. Com os primeiros escritos de Rogério Sganzerla dá-se exatamente isso. Onde muitos viram gratuidades estilísticas. Klee. Sganzerla é um jovem intelectual que tenta compreender as modificações que o cinema sofreu ao longo da década de 1950. com as tramas. fica difícil afirmar que o crítico é um artista frustrado. Sganzerla viu um novo cinema que delineava uma nova relação com a imagem (e com os personagens. os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Glauber Rocha. selecionando as afinidades eletivas e afinando os processos de pensamento para lapidar as bases de sua arte. Rohmer. São muitos os casos anteriores ao século passado – Stendhal. mas este século viveu uma proliferação impressionante de artistas que exerceram a atividade crítica. incoerências narrativas e hermetismo esnobe.S. São recorrentes – e altamente justificadas – as reclamações de que o cinema brasileiro se rendeu à telenovela e esqueceu o que havia de genial em sua tradição experimental. dá-lhe Noel Rosa. certos questionamentos do cinema moderno são retomados. no conteúdo e na forma. mas a tônica geral é a melancolia advinda do rompimento de laços do cinema brasileiro com seu braço mais experimental. em que tudo que o espectador pode fazer é olhar. a seus olhos. outro período particularmente prolífico de sua atividade crítica. o pitoresco se apresenta em seu furor violento (e de cabo a rabo no cinema de Sganzerla há uma forte violência do signo ligada à caracterização/ caricaturização dos atores). figuras intencionalmente opacas que funcionam como personagens de vaudeville num palco sem chão: no vazio do entretenimento. como precursores. Sganzerla transforma-se num memorialista. na esperança da volta de modernidade e inteligência no cinema exercido no Brasil. Welles e Hawks. não é uma questão de afetação ou de moda: é o cinema que exprime as inquietações de seu tempo.“Moderno”. prestigiando o “pornosoft” e o naturalismo sem ousadias. Paulo: “herói fechado”. evocando épocas do passado em que o Brasil tinha a bossa. com recorrentes menções ao cinema de Fuller. soterrado pela televisão. Sganzerla memorialista Nos anos 1980. Vários conceitos surgiram em artigos do Suplemento Literário do Estado de S. O antídoto? Dá-lhe Orson Welles. Godard. Losey. de um presente vigoroso. “tempo solto”. para ele. Na ausência. Resnais. e sim a de evidenciar esse caráter de incompreensão das coisas. Isso claramente já antecipa todo o fascínio dos personagens-ícones de Sganzerla. Antonioni e. “cinema do corpo”. o Sganzerla dos anos 1980 é um cineasta que olha para o Brasil e vê seu adorado cinema moderno muito longe. . Como Ulisses cantando sua longínqua Ítaca. Por trás dos nomes “herói fechado” e “câmera cínica” está a ideia de que o filme não tem mais a função de explicar o mundo e os personagens. “câmera cínica”. dá-lhe João Gilberto. .. .. grande ingenuidade... Meu interesse era me envolver com cultura. Estudava no Mackenzie e de cara já não acompanhava as aulas.. Fazia um Não tinha cineclube.. i a fazer roteiro Com 10 anos comece atrás do outro. enquanto pude. fiz cinema com a máquina de escrever. Com 17 anos comecei a fazer crítica de cinema no Suplemento Literário do Estado de S. não tinha nada. Resolvi sair. Fiz um curta-metragem e viajei para a Europa. anos eu escrevi um livro de contos 7 Eu era um menino barulhento.. Paulo. de cinema. frame do filme Documentário. Não diferencio o Quando eu fui fazer cinema. frames do filme O Bandido da Luz Vermelha A partir daí foi um momento de primeiro encontro com o cinema.no r a stro de sganzerla uma antifotonovela Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo eu não falava e com Nasci em Joaçaba (SC). Fui morar em São Paulo.. apesar de uma escrever sobre cinema do escrever cinema. Nesta página: fotos do arquivo da família de Sganzerla.. diferente dos padrões catarinenses. Nunca pensei em ser crítico. tinha. Sempre quis mesmo foi dirigir. Até os 5 anosinfantis.. Mas gosto do que faço porque. uma malícia que os outros caras não tinham.. Não tinha meio nenhum de ir mais longe. exceto a foto que Sganzerla está com a câmera (arquivo da família de Sganzerla) .. roubos.... Fiz um filme-soma. Um anjo anunciador. Vivo de pequenos furtos.. Fiquei pensando. fusão e mixagem de vários gêneros. Janete Jane. Isto é.Comecei o argumento do filme na evolução de um garoto no mundo do crime.. a escandalosa! Outro dia tive que assistir o parto da minha cunhada. Decretado hoje estado de sítio no país. incêndios e atentados ao pudor ele já praticou. O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. Ninguém sabe quantos assaltos. li nos jornais sobre um bandido mascarado. No retorno ao Brasil. Tá falando com o campeão de tiro ao alvo de Cuiabá.. Eu sou um BANDIDO NACIONAL... um poeta adotado da Divina Providência. A onda de violência estava crescendo em São Paulo. empréstimo dos amigos. um santo.. Sei lá.. O bandido mascarado não respeita a mulher nem a propriedade privada.. E o Terceiro Mundo vai explodir e quem tiver de sapato não sobra! Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha.. Posso dizer de boca cheia: eu sou um boçal! Os jornais dizem que eu sou um gênio. O dispositivo policial reforça todos os seus órgãos de segurança... E usei o título dos jornais: O Bandido da Luz Vermelha Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo.. meu filho? Um país sem miséria é um país sem folclore. principalmente... o maior. exceto a foto que Sganzerla aparece encostado na parede (foto: Marcos Bonisson) Prende esse anão boçal! Quem jogou a gatinha lá de cima? Fecha o cerco e manda bala nesse sacana! Estou esperando uma crítica inventiva. Que é que o secretário pensa da miséria? Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha. a namorada do Luz Vermelha. Candidato à presidência da Boca do Lixo. Definitivamente. descobre a verdadeira identidade do pistoleiro mascarado. JB da Silva.. Que miséria.Janete Jane. queria esquecer de uma vez. e não da certeza idealista. O que é que a gente vai mostrar pro turista? Hahaha!! Até que saí bem no retrato falado. já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto numa poeira. . das especulações sentimentais e das perspectivas do passado e do provinciano.. no nível do provável. Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender. Somos. Só me interessa a profecia. Tudo é uma coisa só e isso é tudo! Sobretudo de uma coisa só vem de tudo um pouco. BI-TOhahaha! Dr.Troquei a grande angular pela teleobjetiva. que de tudo é uma só mente universal. percorri um grande cinema estranho. fomos e criamos. goodbye. Para chegar à mente livre. proprietário do truste das histórias em quadrinhos do país. Nesta página: fotos de Sganzerla (Marcos Bonisson). engraçado é um boi de dentadura postiça fazendo fiu-fiu para uma vaca no brejo! O trem que o mundo espera apita. Não dá pé! Não sou batom. eu sou o Zé Bonitinho. Dr. garotas. Meu novo filme é uma comédia inspirada na chanchada. Homens. boa noite. meu amor. pirigote das mulheres. meu amor. e só entro em cena ao rufo de tambores!!! . uma da la Carne e ais de Ange s sexu As aventura aníacas. vou dar para vocês um fiapo do meu beijo! Engraçado. Me chama de bitolado. s dez Osso. Alô. é uma pena que vocês não podem me dar nada porque eu tenho tudo! Não quero mais homem bacana. Flávio Asteca? Quer Angela Carne e Osso só pra você? Vamos passar o fim de semana na Ilha dos Prazeres? Sou o único negro milionário do Brasil! Será este o marido nacional do século XXI? Do XVI ou do XXI? Angela. mas estou em todas as bocas. Vai. sou eu mesmo. demais imagens são frames dos filmes A Mulher de Todos e Abismu Mulheres. Sim. a minha paixão por você aumenta de 15 em 15 minutos. não. onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. das minas de prata do Guarujá e da rádio emissora El Dólar. mais megalom Aquela depravação de novo? Antropófagos invadem a Guanabara! Vampiro. Angela. Garotas. Plirtz. Só dá trabalho. Plirtz. você é um bacana! O que você quer. o grande bitolado! Neste fim de semana vou me dedicar aos boçais. Não sou um gênio.. Aqui no Brasil você não precisa dormir para sonhar! Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.. A máquina de filmar é o instrumento mais mentiroso inventado pelo homem.. Creative Commons (foto Hendrix e Welles). Nesta página: frames do filme Abismu.. filho! Se a verdade estiver no fundo de um poço ou de um abismo.. o homem que colocou nas letras. espaço e profundidade. Nem tudo é verdade! Todos os maus filmes já foram feitos. porque sem O mundo é teu.. disse alguém e tava certo! . foto de Sganzerla (Marcos Bonisson) Para evitar perguntas cretinas. devo dizer a todos que continuarei a seguir minhas diretrizes fundamentais. nada mais nada menos. Os burocratas vêm liquidando o cinema.. que são. a solução mais adequada para você é o suicídio. firmeza e respeito é uma coisa só! Primeiro mate o seu ego. Eu subo! Na caçapa de Joaçaba eu aprendi duas coisas em Tupi. a frase “eu posso mudar a sua mente”. é preciso buscá-la. depois venha falar comigo! Eu acho que o Jimi Hendrix foi um pensador. concretamente. Meus filmes são uma propaganda da alma e do corpo brasileiro. Se mata. boçal! De chute não há gol! vosso recalque só pode vir a maior boçalidade possível.Sinceramente.. Isso é a revolução. No abismo se desce ou sobe. dar ao cinema uma noção de tempo. foto de Sganzerla (Marcos Bonisson) . um outsider em qualquer lugar do mundo. Eu tinha 6 anos. Por um cinema sem limite. Mr.. Podem jogar tudo fora. acabou. Sempre me considerei um vagabundo. o que acha da crítica? Hahahaha! Detesto todo tipo de parasitas!!! As pessoas são incríveis. O cinema teria de ser escrito em uma folha em branco pegando fogo para poder registrar esse movimento de captação do pensamento de um filme durante sua realização. O primeiro livro que minha mãe me deu foi Sonhos de uma Noite de Verão.. O cara vem filmar o berço esplêndido. um antifilme. O cinema não me interessa. FIM. mas sim a profecia! Os cinco sentidos são tão tolos como uma criança. Welles. Abismu e O Bandido da Luz Vermelha. Para o fechamento.Não deram nenhum tostão para Noel Rosa. O Signo do Caos. Acabou... me aplaudem até quando estou sóbrio!!! O Brasil é o país que produz o melhor uísque falsificado do mundo! Os astros são meus únicos aliados. as mulatas. de Shakespeare. Respeito é manga de colete. that’s the question! A imagem do caos é o próprio CAAAAOS! Podem recolher todo o material. não sabem distinguir ilusão da realidade.. o verdadeiro do falso. um saltimbanco. To see or not to see.. Nesta página: frames dos filmes Nem Tudo É Verdade. imagem: a partir de frame do filme Histórias em Quadrinhos . O arOma de curry nO meu OlfatO Álvaro de Moya . . Também entrevistara o Bandido da Luz Vermelha na prisão e queria fazer um longa. onde eu era colaborador. num estúdio no bairro do Sumaré. de Ozualdo Candeias. O Bandido da Luz Vermelha. perto da casa de Hebe Camargo. ainda na sede antiga. Ficou chateado quando foi anunciada uma versão. estranhou. viu um rolo em 35 milímetros que era um teste de projeção com efeitos de sons e imagens. Ficara impressionado com alguém que passava fome para comer. achou legal e incluiu em seu filme. porém. sem se alimentar e sem água durante dias. Sganzerla era extremamente criativo e seu filme representa uma ruptura na linguagem brasileira – equivalente ao que Jean-Luc Godard fez com o cinema francês em Acossado. viu o que Sganzerla realizara em seu Bandido da Luz Vermelha. mas alguém se antecipou e realizou um longa.Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da Tarde. para frustração de Durst. O faquir ficava num esquife de vidro na Praça da Sé. Quando. na montagem do som. pois reconheceu que dessa feita resultara num grande filme. engoliu. Na montagem. Walter George Durst tinha feito um programa na TV Tupi focalizando Silki. Tencionava fazer um filme. tal como A Margem. ouviu tiros. atraindo multidões dia após dia. como Samuel Fuller. em citação reverente ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Ele e o editor notaram que os tiros tinham imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos . que não gostou da versão. Suas escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores prediletos. um dos maiores e melhores longas-metragens da história do cinema nacional. Na minha opinião. com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obraprima. Contou-me que. vindo de fora. Correram para a rua e viram um morto caído no chão e duas crianças ao lado, com gente correndo. Era um americano. Tinha sido fuzilado – depois de julgado pelos terroristas, segundo a imprensa – diante de seus filhos que iam para a escola. Mais tarde, a revista americana Time revelou que ele era um agente do governo norte-americano, a mulher dele não era sua esposa, mas uma agente também, e aqueles não eram seus filhos. Uma falsa família hollywoodiana para espionar a luta armada contra a ditadura militar brasileira. Continuamos amigos e em contato, mesmo quando não mais fez críticas escritas. Depois de algum tempo, procurou-me e revelou que tinha direito de usar a Oxberry da Jota Filmes, na Avenida General Olimpio da Silveira, para fazer um table top e que seu curta focalizaria os quadrinhos. Convidou-me para ser codiretor, redator e montar com ele a produção. Não tínhamos nenhuma experiência. Levei um monte de livros e revistas da minha coleção particular e filmamos O Fantasma. Ele me perguntou quantos fotogramas e chutei um número qualquer. Quando fomos ver as primeiras tomadas na Rex Filmes, tudo passou em frações de segundos. Como uma propaganda subliminar. Ficamos perplexos. E aprendemos... Escrevia em casa o texto, passo a passo, sobre o que filmáramos na véspera. Ele lia e achava ótimo, perguntava quem tinha escrito. “Eu”, respondia, candidamente. No dia seguinte, o mesmo diálogo, até ele acreditar que eu podia escrever sem citações. Quando filmamos uma vamp de Flash Gordon, de costas, com um longo vestido preto, ele se impressionou com a semelhança com uma mulher mais velha do que ele com quem tivera uma relação. A mesma imagem de Alex Raymond que Hector Babenco mostrou para Sonia Braga compor sua personagem em O Beijo da Mulher Aranha. Quando filmamos alguns quadrinhos nacionais, ele observou que era como filmar Rolls-Royce e misturar com um Aero Willys brasileiro. Vamos fazer dois curtas, um Comics e outro Quadrinhos no Brasil. Escolhi Orpheu Paraventi Gregori para fazer a locução. Fomos para a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, ou o que sobrara dela, para juntar tudo. Ao entrar no terreno, o odor de curry vindo de uma planta ficou na minha memória. Só falávamos de Orson Welles, de Cidadão Kane. Eram tempos de crise. Íamos comer algo na cidade de São Bernardo. Eu entrava numa loja de móveis vazia de fregueses e fingia interesse numa mesa Luiz XV e perguntava se dava para fazer sob medida aquelas pernas tortas com outro móvel incompatível. O vendedor aceitava absurdos, desde que concretizasse uma venda. Rogério se segurava para não rir e tirava sarro de mim, já na rua depois de prometer voltar mais tarde com a patroa. O curta Comics, por sorte, foi programado para acompanhar o filme de Pasolini Teorema e foi muito visto. Levei uma cópia para o Salão de Comics, em Lucca, foi bem recebido, o então diretor do Festival de Cinema de San Sebastian, Luis Gasca, sugeriu que eu mandasse uma cópia para a Espanha. Entreguei ao Consulado Brasileiro na Itália e chegou à península ibérica após o término do conclave. Gasca lamentou, pois teria recebido um prêmio internacional, seguramente. Além disso, a diplomacia brasileira perdeu a cópia. Ganhamos um prêmio em Manaus. Rogério, vivendo no Rio, me telefonava e prometia uma cópia 16 milímetros e esquecia. Saiu em vídeo e nada. Até hoje não tenho um Comics. Mas ficou na minha lembrança a felicidade daqueles momentos juntos e o aroma de curry no meu olfato. Álvaro de Moya é jornalista,pesquisador e escritor. Publicou o livro Shazam! (Perspectiva), considerado um clássico sobre a trajetória da HQ no Brasil. Foi curador de exposições sobre quadrinhos, dirigiu ao lado de Rogério Sganzerla os documentários História em Quadrinhos (Comics) e Quadrinhos no Brasil. imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha cinema FOra da lei Manifesto de Rogério Sganzerla (escrito em 1968, durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha) meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. 3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. ele avacalha. a simplificação brutal dos conflitos (Mann). fusão e mixagem de vários gêneros. a violência (Fuller). da comédia. Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico. o ritmo anárquico (Sennett. Isto é. Keaton). imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha . enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas. comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Fiz um filme-soma. 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço. 7 – Cineasta do excesso e do crime. das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. policial. José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás. um far-west. ele. a polícia. 6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem. documentário. Do documentário. a sinceridade (Rossellini). Quando um personagem não pode fazer nada. 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue. mas também musical. do policial. 8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings. do western. 5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais.1 – Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. 9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel. onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. a câmara é indecisa. revolucionário também nas panorâmicas. 12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista. 13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro liberador. Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento. 10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock. inutilmente boçais – aliás. a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundo. . da nossa estética. dos nossos amores e do nosso sono. Meus personagens são. ameaçada por um criminoso solitário. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante. 11 – Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais. passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento. Por isso. É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil da década de 1960. O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade. Quis dar esse salto porque entendi que tinha de filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. como 80% do cinema brasileiro. o som fugidio. anjo exterminador. todos eles. a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. os personagens medrosos. na câmara fixa e nos cortes secos. Eisenstein e Nicholas Ray. desde a estupidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro. Nesse painel. imagem: frame do filme Carnaval na Lama . FragmentOs de rOgériO Hernani Heffner . da mais banal das cenas. Os filmes. dos seus e de todos os outros que considerasse instigantes. o monótono. apresentar-se de forma sugestiva. os braços agitados. mas não como uma explicação ou uma lição de moral estético-histórica. Quase tudo era importante em alguma medida. em picada estimulante. Uma delas. que em geral levavam (poucos. ele era. Outra pessoa foi Remier Lion. José Marinho. O pensamento tinha de escoar. foi meu professor no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) no começo dos anos 1980. foi por causa de filmes. o mais antigo entusiasta. enaltecedor e profundo admirador que conheci da obra e do artista por trás da obra que se erigira após o sucesso daquele primeiro filme. a silhueta algo franzina agigantando-se num aparente corpanzil que dominava o pedaço. Não nos conhecemos antes por causa dos filmes. Os filmes. com verbos no subjuntivo ou no pretérito imperfeito. diziam. Rogério sempre falou de tudo – do cinema. do mais reles dos planos. A voz elevada. ganhar vida. queria dar conta do que transformava o inerte. . entrecortadas. Coisa de diretor de cinema atirado e incisivo que. das pessoas do cinema. “Tarzan” propagandeava a maestria do diretor de O Bandido da Luz Vermelha.Os filmes. das sacanagens do cinema –. Rogério foi se tornando familiar para mim por causa de relatos de outras pessoas. uma lição de arte e de vida. Bastava começar uma conversa em torno do mais insignificante dos filmes. mas nada ficou acima dos filmes. De certa forma. mas não os seus. no início) admiradores impactados a se aproximar dele. ator “sganzerliano” de primeira hora. quer isso significasse Luís de Barros ou Samuel Fuller. realizador e globetrotter de cinema. Ficaram amigos e fui absorvendo um pouco dessa relação ao estreitar a minha com o futuro programador. Ou melhor. que a fala surgia num crescendo de frases rápidas. pesquisador. Ele era um garoto quando pirou com os filmes e foi atrás do realizador daquilo que considerava mais do que uma lição de cinema. Falava apaixonadamente. obsessivamente. inacabadas. Diálogo A importância do momento do qual emergiu – ele não gostava dos termos “udigrúdi”. mas uma expressão em aberto. Assisti mais porque era raro ver filme brasileiro na televisão. dentro do métier. Conheci-o antes de ele me conhecer. ele não o endeusou. Quando conversei com Rogério sobre o filme “glauberiano”. Tradição que significava diálogo com certas formas populares de comunicação. Minha percepção estritamente formalista naquele momento mais antigo não me permitiu . Vi um filme seu algum tempo depois. marginal etc. com e sem acesso à Embrafilme etc. mas categoricamente o colocou no seleto clube das obras decisivas e artisticamente maduras. Aranha (a câmera na mão e a mise-en-scène da trajetória dos intérpretes). apenas se prolongava a querela com o Cinema Novo. pronta a ser elaborada pelos constituintes cinematográficos. Era uma exibição do Bandido perdida em algum Corujão na Globo e não me deixou maiores marcas. que considerava ideologicamente perversos. o imediato. Não me lembro do que disse. Ele e José Carlos Monteiro eram os debatedores de uma emissão de A Marca da Maldade. Acabaria me encantando mais com a descoberta (tardia) da sinceridade e da plasticidade de uma obra-prima como Porto das Caixas do que com o que me parecia a repetição da estratégia formal de Terra em Transe retomada em Sem Essa.Já tinha uma pequena ideia de quem era Rogério. transmitido pela antiga TVE do Rio de Janeiro no final dos 1970. mais do que isso. alijando a si e aqueles com quem mantinha afinidades do reconhecimento de uma hegemonia artística evidente – só foi ficando clara para alguém desavisado de uma geração posterior como eu ao longo dos anos 1980. artistas e comerciantes. transformada em uma dinâmica do tipo algozes e vítimas. Não saberia dizer o porquê. o vira no programa Cinemateca. o básico.. Na época não percebi que o mais importante era o diálogo com determinada tradição do cinema brasileiro. com certa estética que privilegia o espontâneo. Um conjunto de textos. mas a imagem desse programa em particular ficou na minha memória. resgatou e incorporou. cursos e sessões foi pavimentando a aceitação um tanto beletrista daquela experiência radical. Naquele momento. novamente na televisão. que esse grupo reconheceu. de fazer artístico e. A pantagruélica precariedade não era uma condição (subdesenvolvimento e quejandos). antes de encontrálo pessoalmente já nos anos 1990. onde todo mundo é amigo de todo mundo. onde ingressei em 1996. Não convivi com ele para reivindicar amizade e acessar sua vida privada. o futuro Tudo É Brasil. portanto. Desisti e reconheci que não tinha mais alma de pesquisador. Mas não me senti à vontade quando comecei a ler as doloridas cartas que mandava para os pais em Joaçaba. Carnaval na Lama e Sem Essa. como o Beco da Fome na Cinelândia (encontrei-o algumas vezes no restaurante Spaghettilândia. e nos arredores. não privei de sua intimidade a não ser quando Sinai. Descobri o elo profundo que havia . tema de Nem Tudo É Verdade. minha primeira incursão de fato ao universo sganzerliano.imagens: frames dos filmes Copacabana Mon Amour. Djin e Helena me pediram que fosse ao seu apartamento na Urca organizar os rolos de filmes que deixara e a documentação que pacientemente guardara durante toda a vida. que. e não do estúdio. Nós nos conhecemos de fato por causa de um convite que Rogério fez a mim e a Lécio Augusto Ramos. com a montagem do diretor. Foi tocante descobrir o carinho que dedicara às três filhas – a terceira é Paloma –. para que fossemos à sua casa conversar com um par de estudantes norte-americanos. e de um filme que estava preparando. A partir daquele primeiro encontro passei a vê-lo mais constantemente. Os visitantes queriam checar a possibilidade da existência de uma cópia de Soberba. Aranha considerar uma revalorização do cinema brasileiro popular antigo que sua geração realizara e uma dimensão de “conteúdo” que já tinha feito toda a diferença e que não deixava de ter uma (nova) presença conceitual. e que teria sido enviada a Welles aos cuidados de Adhemar Gonzaga. obra que mais aprecio de sua filmografia. Minhas lembranças. Não ficamos amigos no pleno sentido da palavra. preservando os trabalhos escolares e os desenhos infantis. frequentava bastante). como pesquisadores ligados à Cinédia. Uma vez informado de que aparentemente ela nunca havia chegado por aqui. soube. não passam por aquele abuso típico do mundo das artes. Isso foi por volta de 1994/1995. passamos a conversar sobre o cinema “wellesiano” e sobre seu projeto brasileiro abortado. sobretudo na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/ RJ). Ligou me acusando de ter vendido seus filmes a produtores franceses. sem sentido. apresentandose em sua Xanadu particular. Em uma ocasião. como quem não tivesse mais nada para fazer. mais visceralmente. Os contatos dele dentro do arquivo começaram com Cosme Alves Netto nos anos 1970 e.. para uma exibição no Musée Jeu de Pomme. Só retrospectivamente entendi o bem que lhe faziam os ambientes de cinema. Era o mesmo espaço que lhe proporcionava o prazer de revisitação aos clássicos do cinema ou. cópias e sobras de montagem da grande maioria de seus filmes. na década seguinte. que não considerei de fato. Rogério aparecia de vez em quando para as sessões regulares da Cinemateca. que eu descobriria no fim do século passado. Rogério era considerado um diretor/depositante difícil. pois estava despejando os filmes dele. Quando assumi a responsabilidade de cuidar do arquivo de filmes. se transferiram para Francisco Sérgio Moreira. ao próprio cinema e também lhe fornecia regularmente materiais de arquivo para seus ensaios de montagem. Duas semanas depois nos encontramos e conversamos como se nada tivesse acontecido. que girava em torno do contato com este mundo: o acesso a materiais de arquivo e da conservação de negativos. de gênio explosivo e temperamento inconstante. e aqui e ali para conversar pelos corredores e pelas salas do lugar. mais raramente para a chamada Ceia dos Veteranos – projeções privadas de clássicos das matinês de outrora feitas por Cosme para um seleto grupo –..entre ele e a instituição que sustentara a primeira apresentação pública dos filmes da Belair. e que nunca voltou ao Brasil. em 1979. endureci na hora e disse que passasse na manhã seguinte. Era algo tão estapafúrdio. Podese dizer que apenas me tornei “herdeiro” dessa posição de interlocutor. Era reflexo da ida da única cópia de Carnaval na Lama para a França. A mais significativa fotografia que conheço de Rogério mostra o futuro depósito de filmes da Cinemateca. conheci sua fúria momentânea. entupido de latas e ele sentado à la Kane sobre elas. Mesmo assim. ele passou a tratar comigo . Reviu todo o material na moviola da Cinemateca. caso de Bandido 2. Um último aspecto nos ligou mais diretamente. junto com Remier. Os dois também mexeram em uma cópia de Copacabana Mon Amour. mas essa foi sua perspectiva maior ao longo de quase toda a carreira. A face mais visível disso é o labirinto wellesiano. E me procurou para saber das sobras do Bandido. seus próprios filmes como base para novos trabalhos. aspecto que passou a preocupálo quando teve acesso aos negativos de Carnaval na Lama e . Apesar do gesto desesperado. A manipulação do material de arquivo é sobretudo um sofisticado exercício de ressignificação. que utiliza criativamente trechos de antigos filmes B norteamericanos. para raccords inusitados e para a emergência do tempo nos planos de outrora retrabalhados demonstra a enorme capacidade de Rogério em promover novas sintaxes para um conjunto de imagens que a rigor não mudou tanto assim sua natureza ao longo dos anos. passam por filmes como Mudança de Hendrix e atingem um paroxismo em Tudo É Brasil. De ações como essas resultavam no mínimo novas versões ou ainda novas produções. caso de Fora do Baralho. Percebi nesse momento que Rogério tinha muito pouco recurso financeiro para fazer frente aos custos desse tipo de trabalho e que buscava uma receptividade à sua arte que lhe permitisse seguir em frente. Hoje é muito comum falar em filmes construídos a partir de material de arquivo. sobretudo. italianos e japoneses. pois pretendia retomar o assunto e fazer uma sequência. que tinha chegado da antiga Líder. tudo era submetido a uma lógica e a um rigor que remontam ao Bandido original. Tratava-se da conservação de seus filmes. canibalizando sobras e eventualmente os próprios negativos de filmes anteriores. A sensibilidade para associações rítmicas e visuais.dos assuntos que envolviam suas criações futuras e seu acervo. para o qual tive de conseguir uma imagem do criminoso real sendo preso em 1966. que já não existia como obra desde o início dos anos 1990. operado pela montagem cinematográfica. Para mim essa sempre foi sua grande arte. onde ficara desde 1980. Usava. por vezes vencidos e mal revelados e lavados. às vezes uma ou duas. Pediu que eu os examinasse e a descoberta foi trágica. É o desafio que nos cabe e ao futuro. . Hernani Heffner é conservador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e professor de cinema da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio). da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) e da CineTV-PR. Sua obra pagou o preço de ser pequena em produção de materiais. caso de Mudança de Hendrix. A reconsideração artística de sua obra nos últimos anos acabou por consagrá-lo como o grande nome do cinema brasileiro junto às novas gerações. Cat Power e Eliete Negreiros. ora o desaparecimento parcial ou total de obras mais antigas. em geral negativos e umas poucas cópias. algo que só pode ser obtido com a preservação integral e benfeita de sua filmografia completa.os trouxe para o Rio. da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Coordena o projeto de restauração do acervo Cinédia e escreveu este texto ao som de Carmen Miranda. e de ser alvo de um processo de canibalização que ora implica a não existência de matrizes regulares. Era muito tarde para fazer qualquer coisa. Olhamos os outros filmes e muitos já estavam comprometidos em alguma medida. Falta a sustentação desse fato pelas próximas décadas. mas poderiam (e podem) ser salvos sem maiores danos. de ser confeccionada a partir de filmes virgens diversos. É uma referência inconteste e um ídolo. Jô Soares Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um truste de histórias em quadrinhos. Em 1970. Aranha. antinaturalista. uma nova técnica de reinvenção. Helena é mãe de Paloma Rocha. Atuou logo em seguida em A Mulher de Todos (1969). Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003). casado com a insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez). a partir de A Mulher de Todos (1969). sendo Sem Essa. Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia Silk. encarna o personagem JB da Silva. a “inimiga número 1 dos homens”. com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla. em A Mulher de Todos (1969). .Nos meus filmes os atores contribuem com novo estilo de interpretação. quando iniciou um dueto histórico com Rogério Sganzerla. Canção de Baal (2008) e Luz nas Trevas (2010). Pagano Sobrinho Em O Bandido da Luz Vermelha. A Miss e o Dinossauro (2005). Casada com Rogério por 34 anos. como Doutor Grillo. com roteiro inédito de Sganzerla. JB da Silva transformase no Rei da Boca. “a exibicionista”). como Nem Tudo É Verdade (1986). com Reivenção da Rua (montado por Sganzerla). produtora independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses. protagonizando Angela Carne e Osso. gângster e populista que propaga soluções cínicas para as mazelas do povo. que traz um componente nazista no figurino e na postura. com quem contracenou em Perigo Negro (1992). de desincorporação. a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba. As figuras do filme parecem saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio Doktor Plirtz. na pele de um impagável toureiro gay. fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair. Paulo Villaça Rogério Sganzerla encontrou em Paulo Villaça o tipo ideal para viver o Bandido da Luz Vermelha nas telas: “ele tinha uma voz grave e a face de um Humphrey Bogart acaboclado e lembrava muito o próprio Bandido”. vigiando e enredando a mulher em jogos eróticos extravagantes. Rogério Sganzerla Helena Ignez Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968). inaugurando uma forma de interpretar autoral. Participou como atriz em outros filmes de Rogério. defensor da miséria como forma de salvaguardar o folclore. Dessa forma. passando para a direção no mesmo ano. e em Copacabana Mon Amour (1970). político corrupto. em fase de finalização. Guará grita: “Money. em plano-sequência antológico. American friends.. Luz nas Trevas (2010).. com quem fez. please. cujo modus operandi é o espírito de transação. please. cercando turistas e gringos na Avenida Atlântica. que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no Brasil. Aranha (1970). Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme. dirigido por Helena Ignez e Ícaro Martins. tô com fome!”. Guará é um malandro que tenta a todo custo ser o cafetão de Sonia Silk. No mesmo filme. Aranha (1970). ainda. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de “agente do caos”. . Carnaval na Lama (1970). realizou Perigo Negro (1992) e legitimou o antifilme O Signo do Caos. money.Otávio Terceiro Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla.. Maria Gladys Aparição marcante em Sem Essa. personagem do último roteiro de Sganzerla. O Signo do Caos (2003).. Antonio Pitanga Rogério Sganzerla propôs a Antonio Pitanga viver um milionário negro que é seduzido por Angela Carne e Osso em A Mulher de Todos (1969). gritando: “Eu tô com fome. Pitanga trabalhou com ele novamente em Nem Tudo É Verdade e interpretou Justino. canta desvairadamente um tema inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla. Maria Gladys interpreta uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal. Guará Ator em Copacabana Mon Amour (1970). vestida de verde-amarelo. O que estamos fazendo aqui na Terra? Qual é o destino do homem?”. Em Copacabana Mon Amour. Aos pulos diante de dois marinheiros na orla de Copacabana. técnico de som em Sem Essa. Doutor Grillo (Paulo Villaça). ilustração: João Pinheiro . de cachaça e de magia. tresloucado. o papel de secretário de Madame Zero (Norma Bengell). imóvel diante da miséria nacional. Ao lado de José Mojica Marins. na maior parte como coadjuvante. como Doutor Pierson. o otário só pode seguir dopado de sol. Sua imagem de diva vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se ícone do cinema brasileiro dos anos 1970. com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”. Wilson Grey interpreta em Abismu (1977). que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez. cantando e sambando. persegue um egiptólogo que detém um manuscrito com pistas de um antigo tesouro. Uma alusão ao fantasma da ditadura. apaixonado pelo patrão. Othoniel Serra “Nessas condições. Aranha (1970). com viés expressionista. em Copacabana Mon Amour (1970). “um imbecil. o rei da malandragem. aparece em uma única sequência. Norma Bengell protagoniza uma das personagens mais interessantes de Rogério Sganzerla: Madame Zero. Moreira da Silva Em Sem Essa. constatando: “Essa é a pior das épocas!”. o irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez). uma espécie de médium esfarrapado.Norma Bengell Em Abismu (1977). Segundo o argumento do filme. Sua presença se enquadra incrivelmente na mise-en-scène delirante do filme. a quem mata. Wilson Grey Ator de mais de 150 filmes.” Othoniel Serra interpreta Vidimar. em que Zé Bonitinho dá as cartas. Moreira da Silva. no nome do ator: Grande Otelo. Ao som do baião. como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o comediante das chanchadas. Aranha. Zé Bonitinho Personagem marcante em Sem Essa. em plano-sequência. Helena Ignez. Jorge Loredo foi convidado por Rogério após a consagração de seu personagem Zé Bonitinho na televisão brasileira. Interpretando a si próprio. o quintal de uma casa e chão de terra batida. José Mojica Marins faz o “elogio à boçalidade”. e no filme Abismu (1977). Ivan Cardoso. que culminou. perseguindo um egiptólogo com um supertelescópio. que conferem relevo à sua figura e o transformam por vezes em alter ego do próprio Rogério Sganzerla. e a representação de Otelo. terceiro filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil. o último capitalista do país. na pele do Doutor Pierson. como o Médium Um. Nesses filmes. Grande Otelo Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986). Aranha (1970). o ator Grande Otelo foi a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil. Autor de mais de 40 filmes e ator em cerca de 20. vomita um dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho metido a besta!”. de Nelson Pereira dos Santos. está envolvido numa trama arqueológica. Personagem caracterizado como o Zé do Caixão. na busca de tesouros e elos perdidos com civilizações ancestrais. O ambiente é suburbano.Luiz Gonzaga Em travelling circular e vertiginoso. com monólogos quase metafísicos. Eliseu Visconti e Neville de Almeida. em que vive Aranha. Sebastião Prata. José Mojica Marins manteve um diálogo criativo com Sganzerla. Júlio Bressane. . José Mojica Marins Em Abismu (1977). pode ser visto além da chanchada. Zé Bonitinho ocupa um espaço central. a câmera acompanha Luiz Gonzaga e sua sanfona em Sem Essa. o sambista de Rio Zona Norte (1957). inclusive. o único protagonista negro de Shakespeare. Silvio de Campos Filho. na Suíça. 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla. Paulo Villaça. Antonio Pitanga. em 2006. elenco: Jorge Loredo. A produção recebeu o prêmio JB Mesbla – Viagem a Cannes em 1967. Gal Costa e Jards Macalé Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido da Luz Vermelha e Carnaval na Lama.Programação Ocupação Rogério Sganzerla na Suíça. revelando as relações entre seu processo criativo e sua trajetória como pensador do cinema. passa o tempo colecionando homens no retiro idílico da Ilha dos Prazeres. montagem: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane. Renato Corrêa e Castro. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. Sem Essa. Stênio Garcia. p&b. além de obras que contam com sua participação e retratam seu universo criativo. Aranha Rogério Sganzerla. música: Ana Carolina Soares. 20h debate 1 com Helena Ignez. em 2005. fotografia e câmera: Edson Santos e José Antonio Ventura. Júlio Bressane e Roberto Turigliatto visitação quarta 9 junho a domingo 18 julho 2010 terça a sexta 9h às 20h sábado domingo feriado 11h às 20h O Itaú Cultural apresenta a filmografia de Rogério Sganzerla. e convidada oficial do 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. ex-carrasco nazista e dono do truste das histórias em quadrinhos no Brasil. color. 1967. Foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. elenco: Helena Ignez. em Roma. na Itália. Aranha inovou tecnicamente aspectos que dizem respeito à interpretação e à direção. 96 min. realização: Belair. no Rio de Janeiro. em 2006. Helena Ignez. em 2005. realização: Servicine e Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas. na Itália. 1970. Thelma Reston. na Mostra Cinema do Caos CCBB. 2001. sobretudo. em 2005. som: Julio Perez Caballar. foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB. no Rio de Janeiro. som: Guará Rodrigues. 92 min. Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. o de Melhor Filme no 1o Festival do Norte do Cinema Brasileiro. quinta 10 17h30 sessão 1 14 B2 Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi. p&b. e no 23o Festival Internacional de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. cenografia: Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci. 35 mm Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi. na Itália. A obra recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Atriz (Helena Ignez) no 4o Festival de Brasília. produção: Alfredo Palácios e Rogério Sganzerla. traz um material que evidencia o método de trabalho de Sganzerla. em 2005. 16 mm Numa tarde de ócio nas ruas de São Paulo. Joel Pizzini. 20h debate 1 com Antonio Urano. Conta com depoimentos . 11 min. Luiz Gonzaga. Jô Soares. quarta 9 18h sessão 1 Documentário 14 Rogério Sganzerla. em 2005. em 2006. e o de Melhor Filme no Festival de São Carlos. a realidade brasileira em 1970. Antonio Moreira e José Agrippino de Paula Angela Carne e Osso é uma ninfômana casada com o Doutor Plirtz. Entediada com sua vida. e foi convidado do Festival de Taormina. no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage. elenco: Paulo Villaça.. Helena Ignez. Sem Essa. calcado em técnicas singulares de montagem. fotografia: Peter Overbeck. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. A Mulher de Todos 16 Rogério Sganzerla. em 2004. pautadas. em 2005. no Rio de Janeiro. 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla. Maria Gladys. Moreira da Silva e Aparecida Considerada obra radical. em 1998. 2003. color. Serão exibidos os trabalhos produzidos pelo diretor no período de 1968 a 2003. O filme reflete. montagem: Rogério Sganzerla e Franklin Pereira. na Suíça. 1969. Helena Ignez. produção: Júlio Bressane e Rogério Sganzerla. Abrahão Farc.. no Rio de Janeiro./p&b. em 2004. e foi convidada oficial do 22o Festival de Cinema de Turim. Lanny Gordin. 54 min. assistentes de direção: Kleber Santos e Ivan Cardoso. p&b/color. Hernani Heffner e Maria Gladys sexta 11 Elogio da Luz 14 Joel Pizzini e Paloma Rocha. e convidado do 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. dois jovens com pouco dinheiro e sem rumo falam sobre o que fazer tendo sempre como motivação o próprio cinema. 11 min. José Carlos Cardoso. na Itália. por meio de planos-sequência. vídeo Produção: Canal Brasil Filme-ensaio sobre Rogério Sganzerla cuja narrativa coloca às avessas a cronologia de seus trabalhos. em 2005. pelo improviso. na Suíça. Milton Cannif. em 2005. color.. diretor de produção: Wilson Monteiro Filho. em 2006. em Roma. na Itália. o vídeo traz um monólogo singular. em 2005. montagem: Marina Weis. 1992. 1976. no Rio de Janeiro. uma mulher perturbada por visões de espíritos. color. de Jean de Léry. p&b/color. música: Rogério Sganzerla. narrador: W. aborda o universo dos quadrinhos. Um Sorriso. em Porto Alegre.de personalidades que conviveram com o cineasta na intimidade e nos sets de filmagem. o Grande Acerto de Vespúcio 14 Rogério Sganzerla. no Rio de Janeiro. em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla. Gregori. 17h sessão 2 Informação H. 20h sessão 2 Histórias em Quadrinhos (Comics) 14 Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya. na Itália. 1969. vídeo Fotografia: Marcos Bonisson. América. 35 mm sábado 12 15h sessão 1 Ritos Populares – Umbanda no Brasil 14 Rogério Sganzerla. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. e no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage. intitulada “Novus Mundus”. Documentário inacabado Roteiro e produção: Rogério Sganzerla. como o Forte Coligny. realização: Belair Sonia Silk. 18 min. Filmado nos locais onde se sucederam os episódios históricos. direção de arte: Fernando Tavares. perambula por Copacabana com o sonho de ser cantora da Rádio Nacional.W. 1970. 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla. trechos de composições utilizadas: “Tanka II”. a câmera passeia pelos traços de artistas como Will Eisner. 23 min. p&b/color. 85 min. montagem: Mair Tavares e Gilberto Santeiro. no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. fotografia: Paulo Sérgio. Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 José Sette. imagem: Rex. realização: Tupan Filmes O registro de um depoimento de Woodrow Wilson da Matta e Silva (fundador da Umbanda Esotérica. de H. Copacabana Mon Amour 18 Rogério Sganzerla. aluno de Paul Hindemith e mestre de diversos músicos. no Rio de Janeiro. em 2005. em 2005. na Itália. na Itália. É o primeiro filme brasileiro em cinemascópio. em 2005. em 2005. no Rio de Janeiro. trilha sonora original: Gilberto Gil. Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da 14 França Antártica Rogério Sganzerla. beta e vídeo Câmera: Carlos Otávio Jubé. em boa parte. relato do descobrimento da América. som: João Vargas. montagem: Milton da Silva.. Paulo Villaça. como Cláudio Santoro. no 22o e no 23o Festival de Cinema de Turim. Sganzerla recorre a um aparato técnico mínimo para deixar o ator Otávio Terceiro exercer o papel de Américo Vespúcio. Otoniel Serra. no Rio de Janeiro. em 2005. table top: Paulo Pichi. Recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Filme no Festival de Brasília em 1981. color. 14 . e na Mostra Cinema do Caos CCBB. em 2007. 16 mm. narração: Orfeu P. na Itália. técnico de som: José Sette. Guerra Peixe e Edino Krieger. elenco: Helena Ignez. A produção foi exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. no Rio de Janeiro. em 1940) é alternado com cenas de transe e de rituais filmadas na Tenda Umbandista Oriental. color. 27 min. 18 min. Baseado em uma carta do navegador. 1977. fotografia e câmera: Renato Laclete. e na Mostra Cinema do Caos CCBB.. em 2005. elenco: Otávio Terceiro e funcionários do Teatro Carlos Gomes Nesta obra experimental que conjuga cinema e teatro. color. assistente de direção: Guará Rodrigues. e foi exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. J.. elenco: Paulo Villaça Inspirado em Viagem à Terra do Brasil. 2003. fotografia: Tony Ferreira. em Itacuruçá. A produção foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. Alex Raymond e Al Capp. A Mulher de Todos 16 Rogério Sganzerla. o curta-metragem acompanha a trajetória do aventureiro Nicolas Durand de Villegagnon e a formação da colônia francesa no Rio de Janeiro no século XVI.. em 2006. o filme discute o conteúdo artístico e cinematográfico em relação ao movimento expressionista. em 2005. montagem: Denise Fontoura. 17 min. mixagem: Ricardo Reis. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. Koellreutter Um retrato de Hans-Joachim Koellreutter. da Matta e Silva. na Itália. 92 min. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. em 2005. Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. na Suíça. 35 mm Produção: Elyseu Visconti. em 2005. recebeu o prêmio da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro no concurso Uma Data para Lembrar e foi exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. Joãozinho da Goméia.. color. Guiada pelo texto de caráter histórico do especialista Álvaro de Moya./p&b. 1969. nas favelas cariocas. Koellreutter Rogério Sganzerla. rodado. na Mostra Cinema do Caos CCBB. na Ilha das Cabras. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. Laura Gallano e Guará Rodrigues. produção: Mário Drumond. Recebeu o prêmio de Melhor Ator (Carlos Otávio Jubé) no CineEsquemanovo. Lilian Lemmertz. montagem: Ramon Alvarado. 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla. edição de som: Eliseu Visconti. Sem se ater a preocupações biográficas ou didáticas. 1981. em 2005. som: Vera Cruz Primeiro documentário em curta-metragem de Sganzerla. produção: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane.J. 7 min. cenografia: Osvaldo Medeiros O espírito e o universo gráfico do desenhista e gravador brasileiro Oswaldo Goeldi.. 16 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla. table top: Edson Lobato. já tomado pela tuberculose. 1980. José Marinho. no Rio de Janeiro. em 2005.Anônimo e Incomum 14 Rogério Sganzerla. 35 mm Roteiro e música: Rogério Sganzerla. em 2006.. no 9o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte.. o sambista carioca é novamente retratado por meio de imagens documentais. 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla. fotografia: Dib Lufti. em 2005. som: Júlio Perez Caballar. no III Discovering Latin America Film Festival. produção executiva: Diana Eichbauer. na Mostra Cinema do Caos CCBB. Ezequiel Neves e Lola Brah. com imagens de arquivo do ambiente musical e histórico da época. elenco: Paulo Villaça. no Rio de Janeiro.] e ficção científica”. produção executiva: Rojer Garrido de Madrugo. 1967. em 2004. som: Nel-Som. em 2005. e exibido na Weelington Film Society. Helena Ignez. Roberto Luna. imagens: Marcelo Marsilac. cenografia: Andrea Tonacci. Sonia Braga. na Suíça. 20h sessão 3 Documentário 14 Rogério Sganzerla. em 1998. Pagano Sobrinho. em 1999. em Paris. Sérgio Hingst.] um filme-soma. Marie Caroline Whitaker. som direto: Joaquim Santana. O Bandido da Luz Vermelha é “um far-west sobre o Terceiro Mundo. elenco: Helena Ignez e Nonatho Freire. 92 min. em Paris.. Mair Tavares. em Salvador e em Fortaleza são sobrepostos por gravações em áudio de alguns depoimentos radiofônicos e de composições interpretadas por artistas como Carmen Miranda e Herivelto Martins. voz: João Gilberto e Gal Costa. O longa traça um panorama do Brasil por meio da trajetória de um foragido da polícia em crise de identidade. na categoria especial. no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. em 2006. color. na Nova Zelândia. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. A produção foi exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. e o Roquette Pinto. 10 min. som: Sylvio Renoldi Um aprofundamento da pesquisa de Sganzerla sobre a estada de Orson Welles no Brasil. em 2007. 13 min. em 1968. Mara Duvall. e com cenas dramáticas estreladas por Helena Ignez e Nonatho Freire. 1990. o prêmio Governador do Estado de São Paulo. em 2007. realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas Segundo Sganzerla. edição: Hugo Mader. em 2005. na Itália. 1990. em Nova York. Isto É Noel Rosa 14 Rogério Sganzerla. Direção. p&b. montagem: Sylvio Renoldi. Pesquisa Histórica e Crítica no Festival de Brasília em 1998. pintadas à época da filmagem. comédia ou chanchada [. Sergio Mamberti. em 2004. Foi exibido no Museu Guggenheim em Nova York em 1999. fotografia: Marcos Bonisson. compondo um painel apocalíptico do país. incluindo aspectos pitorescos de Vila Isabel. em Londres. Renato Consorte. 1998. em 2005. p&b. um far-west. mas também musical. Foi convidado oficial do Festival de Turim em 2004 e do 3o DLA Film Festival. 11 min. 82 min. Ítala Nandi. na Auckland Film Society. e foi convidado 14 14 .. realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas Ensaio visual sobre o compositor e sambista carioca.. e o prêmio Marché du Film. Nele. 1968. Diálogo e Figurino no 3o Festival de Brasília. na Áustria.. Recebeu os prêmios de Melhor Filme. 16 mm O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla. no Internacional Film Museum Festival. em Roma. em 1998. do Festival de Cannes. color. 35 mm Montagem: Sylvio Renoldi. realização: Tupan Filmes O artista plástico Antonio Manuel apresenta seu trabalho em cenários como seu ateliê na Rua Alice e a Praia Vermelha. na Itália. A produção foi apresentada no 80o aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie Nationale du Jeu de Paume. fotografia: Renato Laclete. em 2005. em 2005. e no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. em 1993. p&b/color. em 1942. na Nova Zelândia. policial. na Itália. na Itália. no Rio de Janeiro. no Rio de Janeiro. vídeo Roteiro: Rogério Sganzerla. design: Edmundo Souto.. no Rio de Janeiro. fragmentos de imagens que registram Welles no Rio. Maurice Copovilla. em 2005. o INC (Instituto Nacional do Cinema). e exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. no Barbican Center. Newton Gomes e José Sette. no MoMa. arquivo: Jorge Pereira Vaz. Antonio Lima. 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla. para a realização de It’s All True. projeto boicotado pelos estúdios de Hollywood. Luiz Linhares. Renata Souza Dantas. o prêmio de Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). em 2004. Parte delas mostra o músico em uma caminhada trôpega. em 2006. As obras do artista se alternam com tomadas de telas coloridas. em 2004. Sylvio Renoldi. 43 min. e no Festival de Cinema de Taormina. no 16o Festival Internacional de Bobigni. Recebeu o prêmio do Público e de Melhor Montagem no Festival de Brasília em 1981 e foi exibido na Mostra Cinema do Caos CCBB. fotografia: Peter Overbeck e Carlos Ebert. no Rio de Janeiro. Isto é. Recebeu os prêmios de Montagem. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. Carlos Reichenbach. Sergio Arena. documentário. em Londres. fusão e mixagem de vários gêneros [. Montagem. color. na Mostra Cinema do Caos CCBB. em 2004. em 2005. no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage. Ozualdo Candeias. pelas ruas do Rio de Janeiro durante o Carnaval. trilha sonora original: Fernando Moura. arte-finalista: Ana Rita. na Itália. elenco: João Braga Após Noel por Noel (1980). domingo 13 15h sessão 1 Noel por Noel Rogério Sganzerla. no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. Tudo É Brasil Rogério Sganzerla. em Londres.. figurinos: Diana Eichbauer. em 2007. na Suíça. no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. Freddy Ribeiro. montagem: Rogério Sganzerla. som: Bruno Espírito Santo. quarta 16 17h sessão 1 14 Helena Zero Joel Pizzini. em 2005. Guará Rodrigues. Marcos Bonisson e Eduardo Barioni. 1966. Paloma Rocha. Antonio Abujamra. 8 min. que também conta com episódios assinados por outros diretores (entre eles Júlio Bressane). edição de . Helena Ignez. argumento original: Oswald de Andrade. em 2004.. Betina Viany. os filmes ainda hoje são pouco conhecidos. para a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo A trajetória do jogador Perigo Negro. em 2005. Júlio Bressane. montagem: Joel Pizzini e Robson Rumin. e o prêmio Especial do Festival do Rio em 2003. na Itália. 2009 . Anita Terrana e Ruth Mezek Ao tratar indiretamente da temporada de Orson Welles no Brasil para filmar It’s All True. Sálvio do Prado. assistente de direção: Sinai Sganzerla. e no Festival de Cinema de Taormina. montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi. na Suíça. Ronaldo Ferraz. em franca ascensão. p&b/color. Conceição Senna. fotografia e câmera: Nélio Ferreira Lima. em 2005.. instrumentação: Edson Maciel. saíram do país. no Presénce et Passé du Cinéma Brésilien. em 2004. Belair Bruno Safadi e Noa Bressane. em 1998. reagindo ao sentimento de impotência e frustração que lhes invade a vida. 1992. Sérgio Frederico. consultoria musical: Otávio Terceiro. 17h sessão 2 Olho por Olho Andrea Tonacci. marco inicial da Guerra do Contestado. no Festival de Cinema de Trieste. em 2005. Ivan Cardoso e Helena Ignez. p&b/color. sobre a carreira de Orson Welles. Sandro Solviat Ninho de Morais e Paulo Moura. Eduardo Cabus.. 34 min. o de Melhor Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2006. realização: Canal Brasil. Helena Ignez. e exibido no 9th Film Fest of Mar del Plata. 80 min. em 2005. Perigo Negro faz parte do projeto Oswaldianas. seu último filme. produção executiva: Paloma Rocha. edição de som: Rogério Sganzerla. que realizou seis filmes em três meses. tem sua carreira sabotada por um cartola inescrupuloso. na Suíça. elenco: Otávio Terceiro. em 2006. em Paris. A produção foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB. p&b. realização: Tupan Filmes. Guará Rodrigues. censurados pela ditadura militar. Sganzerla. música: Jorge Mautner e Nelson Jacobina. 2003. no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage. color. para a Welles Conference. 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla. música: Paulo Moura. 35 mm Adaptação. A produção recebeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Montagem no Festival de Brasília em 2003. montagem: André Guerreiro Lopes. em 2006. A produção foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. 35mm Documentário resgata a trajetória da produtora cinematográfica Belair Filmes – dos cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla –. câmera: Rogério Sganzerla. Bayard Tonelli. O Signo do Caos Rogério Sganzerla. Tita.pela Cinemateca de Munique. Djin Sganzerla. câmera e fotografia: Eryk Rocha. no Rio de Janeiro. em 2005. vídeo Roteiro: Joel Pizzini. Foi convidado oficial do 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. Jorge Mautner. em 2005. em O Signo do Caos. na Suíça. color. color. 2006. Camila Pitanga. 27 min. na Mostra Cinema do Caos CCBB. prova mais uma vez ser um inovador da linguagem cinematográfica com essa reflexão sobre os percalços do cinema no Brasil. em 2005. na Itália. elenco: Helena Ignez. e no Festival Internacional de Cinema de Roma. Jards Macalé e Lanny Gordin Ensaio documental sobre o universo criativo da atriz e cineasta Helena Ignez. super-8 Roteiro: Helena Ignez. na Itália. Gilson Moura. 20h sessão 3 Irani Rogério Sganzerla. 20h sessão 2 A Miss e o Dinossauro 2005 – Bastidores da Belair Helena Ignez. Felipe Murray. evoca e reinventa sua memória. produção executiva: Ester Fér. edição de som: Alexandre Gwaz e Robson Rumin. Adaptação livre de um roteiro cinematográfico escrito por Oswald de Andrade. 17 min. Gal Costa. no 23o Festival de Cinema de Los Angeles. montagem: Sylvio Renoldi. na Alemanha. em 2005. 1983. montagem: Rogério Sganzerla. elenco: Vito Acconci. p&b/color. e representou o Brasil na 19a edição do Latin American Film Festival. por meio de um ritual de tai chi chuan. Daniele Gaudin. na Itália. música: Walter Smetack. vídeo Roteiro. fotografia: Marcos Bonisson e Nélio Ferreira. direção de arte: Sérgio Reis. Vera Magalhães. elenco: Francisco Arruda. no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. que. em outubro de 1912. na Mostra Cinema do Caos CCBB. Os cineastas. 2005. em Roma. Giovana Gold. câmera: Rogério Sganzerla.. 16 mm Roteiro e fotografia: Andrea Tonacci. 2003. color. produção e produção executiva: Helena Ignez. no 58o Festival Internacional de Cinema de Locarno. homenageia o arquiteto e artista contemporâneo norteamericano Vito Acconci. 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla Filmagens registram uma festa popular relacionada a uma batalha travada na cidade de Irani. trilha sonora: Sinai Sganzerla. Franco Ogassawara e Fábio Sigolo Um grupo de amigos da classe média circula de carro pela cidade de São Paulo. em Santa Catarina. 13 min. no Rio de Janeiro. A Reinvenção da Rua Helena Ignez.. Perigo Negro Rogério Sganzerla. que. realização: Mercúrio Produções Primeiro filme de Helena Ignez como diretora. fotografia: Marcos Bonisson. elenco: Abrahão Farc. no Rio de Janeiro. em 2006. 27 min.. no Festival Internacional da Procida. 80 min. produção e diálogos adicionais: Rogério Sganzerla. Júlio Bressane. A produção foi selecionada e apresentada na categoria Especial na 46a (1993) e na 58a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno. em devoção ao Bom Jesus da Lapa. Aranha. 20h sessão 2 Brasil 14 Rogério Sganzerla. Jorge Loredo. 16 mm Horror Palace Hotel 14 Jairo Ferreira.. 2008. Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. Júlia Martins e Guta Pacheco. música original: João Gilberto.. 1966. elenco: John Huston. projeto . em 2005. vozes em off: Rogério Sganzerla e Helena Ignez. Ivan Cardoso e Neville d’Almeida. e na Mostra Cinema do Caos CCBB. Elyseu Visconti e José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. texto: Ipojuca Pontes O documentário registra a romaria realizada anualmente às margens do Rio São Francisco. Nina de Pádua. pesquisa: Ana Tereza Ramos. no Carnaval do Rio. 35 mm Fotografia e produção: Elyseu Visconti. em Londres. então sob ditadura militar. convidada pela Cinemateca de Munique para a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. color. montagem: Severino Dadá e Denise Fontoura. edição: Ricardo Miranda. Lá. com a presença de Caetano Veloso. Beth Goulart. 23 min. 1981. Aparecida. na Mostra Cinema do Caos CCBB. seleção musical: Helena Ignez. Geraldo Francisco. Dorival Caymmi. na Bahia. fotografia: André Guerreiro Lopes e Aloysio Raolino. Mário Cravo e Nonatho Freire Primeiro filme de Sganzerla a tematizar a vinda de Orson Welles ao Brasil. Grande Otelo Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para filmar It’s All True. Kleber Santos. Rudá de Andrade.. Júlio Bressane. som: Roberto Leite. de João Gilberto. na Itália.som: Pedro Noizyman. 77 min. Carlos Ebert. narração. Grande Otelo. em 2005. Grande Otelo e Eros Volúsia. elenco: Felipe Kannenberg. Michele Matalon e Marcelo Lazzaratto. 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla. José Medeiros. Abrahão Farc. Helena Ignez. Nem Tudo É Verdade Rogério Sganzerla. Maria Gladys. Bety Faria. Gilberto Gil e Maria Bethânia O registro dos bastidores da gravação do disco Brasil. 16 mm Fotografia e câmera: Andrea Tonacci. Vânia Magalhães. cineastas como Rogério Sganzerla. duas produções simultâneas da Belair. 1981. Júlio Bressane.. color. fotografia: Edson Batista. color. no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. em 2005. Neville d’Almeida. em 2004. Renato Consorte e Satã Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978. em performances raras. 1970. Victor Diniz. a obra trabalha com material documental (recortes de jornal. color. realização: Mercúrio Produções Baal é um poeta e cantor que recebe de Meck um convite para jantar. 25 min. 85 min. montagem: Rogério Sganzerla Ficção futurista adaptada livremente do conto homônimo do escritor Ray Bradbury. 1986. elenco: Helena Ignez. em 2004. 1978. 35 mm sexta 18 14 16h sessão 1 Linguagem de Orson Welles Rogério Sganzerla. música: Roberto Riberti e Carlos Carega. p&b/color. fotos etc. color. Destaque para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles. O Pedestre 14 Otoniel Santos Pereira. Otávio Terceiro. elenco: João Gilberto. de 1981. Edson Santos e Afonso Viana. Bom Jesus da Lapa – O Salvador dos Humildes 14 Elyseu Visconti. A produção foi exibida no International Film Museum Festival. Canção de Baal Helena Ignez. Helena pretendia fazer um documentário à época de lançamento dos filmes. 41 min. ele se torna sarcástico com os demais convidados. e Orson Welles. Finalizado em 2005.. música original: João Gilberto. de Bertolt Brecht). 14 min. o que não foi possível. pesquisa: Helena Ignez e Ester Fér. e no III Discovering Latin America Film Festival. Copacabana Mon Amour 18 Rogério Sganzerla. escandalizando-os ao cortejar a mulher do anfitrião. Caetano Veloso. som: Roberto de Carvalho. José Marinho. Guará Rodrigues. oito anos depois. digital Roteiro: Helena Ignez (inspirado em Baal.. para filmar It’s All True. Madame e Sem Essa. entrevistado por Sganzerla. o projeto tem narração em primeira pessoa da atriz e diretora sobre as gravações. super-8 Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla. na Suíça.. Edmar Morel. p&b/color. que apresenta uma imagem singular do país. Djin Sganzerla. 95 min. Patrícia Godoy e Ana Oliveira. 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla. montagem e finalização: Jairo Ferreira. Francisco Luis de Almeida Salles. direção de arte e figurinos: Raul Williams. color. na Áustria. 1990. elenco: Arrigo Barnabé. Rogério Sganzerla. quinta 17 17h sessão 1 Um Sorriso. realização: Mercúrio Produções Ao registrar o making of de Cuidado. produção: Sinai Sganzerla. Ivan Cardoso. depoimentos: José Mojica Marins. no Rio de Janeiro. Rogério Sganzerla.. Bernardo Vorobov. p&b. Dilma Loes. Mariana de Moraes. completam este curta.) similar ao que seria usado em Tudo É Brasil. metaforiza a situação política do Brasil. 12 min. Elyseu Visconti. no Rio de Janeiro. na Itália. em 1942. montagem: Rogério Sganzerla. 15min. 35 mm Montagem: Severino Dadá. Ary Barroso. Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 José Sette. 1970. em 2005. no contexto sociocultural da Bahia. Edson Machado. narração: Miguel Ferre. produção e montagem: Rogério Sganzerla. no Melbourne Film Festival em 1987. imagens e edição: Maria Maia. na Suíça. em 1985. Aranha Rogério Sganzerla. Mariozinho de Oliveira e Satã Inscrições em algumas das cavernas da Pedra da Gávea. realizado em 1968. direção de produção: Ivan Cardoso. 9 min. som: Dudi Gupper. música não original: Jimi Hendrix. no 22 o e no 23 o Festival de Cinema de Turim. em 2005.boicotado por Hollywood. no Festival Internacional de Cinema de Chicago em 1986.. Bill Krohn. Catherine Benamou. e nas redes de TV BBC (Londres) e TF-1 (Paris). fotografia: Gary Graver. que remontam ao período pré-colonial. Jorge Loredo. no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla. no Festival Internacional de Cinema de Berlim.. boicotado. debate com Bill Krohn. no Rio de Janeiro. 16 min. e exibido no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. no Melbourne Film Festival em 1987. Arrigo Barnabé interpreta o diretor de Cidadão Kane. José Mojica Marins. sendo. no Seattle International Film Festival em 1987. em 2004. Sem Essa. no Fest-Rio. Ismail Xavier e Samuel Paiva sábado 19 15h sessão 1 A Vermelha Luz do Bandido Pedro Jorge. O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla. digital Roteiro. divindade fenícia celebrada pelo personagem Zé Bonitinho. sessão 2 It’s All True: Based on an Unfinished Film by Orson Welles Bill Krohn. para a Welles Conference. então. em 1986 e 1985. beta Este documentário radialístico-científico-experimental analisa o filme O Bandido da Luz Vermelha. com base na história da exploração do petróleo no estado. o prêmio Incidental e de Melhor Montagem no Festival de Gramado em 1987. em 1942. fotografia: Renato Laclete. A produção recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora no 14 o Festival de Gramado.. do compositor Heitor Villa-Lobos. no Rio de Janeiro. O filme foi convidado pela Cinemateca de Munique. Myron Meisel e Jean-Luc Ormieres. o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu. em 2006. cujas filmagens no Brasil. 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla. de Rogério Sganzerla. elenco: Jeanne Moreau. Foi exibido no Seattle International Film Festival. The Story of Samba e Four Men on a Raft). música: Jorge Arriagada. na Itália. Orson Welles e Carmen Miranda Documentário realizado a partir de cenas recuperadas e reconstituídas de It’s All True. Orson Welles e Richard Wilson. Mário Thomar. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg. 1997. 92 min. em 2005. em 2004. na Mostra Cinema do Caos CCBB. foram interrompidas. além de refletir sobre a atual indústria cinematográfica brasileira. sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles. 15 min. na Suíça. edição: Ed Marx. 1993 Produção: Régine Konckier. música: Villa-Lobos Trechos de Floresta do Amazonas. o prêmio da Associação Brasileira de Cineastas. Os índios do Juruá e os deuses gregos se confundem e confluem nesta obra. no Rio de Janeiro. color. Norman Foster. p&b. Abismu Rogério Sganzerla. respectivamente. e no Festival de Cinema de Trieste. em 1986. Filmes inacabados de Rogério Sganzerla que não entraram na mostra: Carnaval na Lama Fora do Baralho Mudança de Hendrix Newton Cavalcanti: a Alma do Povo Vista pelo Artista 14 . na Mostra Cinema do Caos CCBB. e TF-I (Paris). na Mostra Cinema do Caos CCBB. 1981. 1977. em 2004. em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla. 16 mm 20h sessão 3 Deuses no Juruá Rogério Sganzerla. em 1986. de Orson Welles. pontuam uma montagem sonora da língua grega e das línguas indígenas pano e aruaque. Myron Meisel. e nas redes televisivas BBC (Londres). em 1985. em 2006. e o prêmio Abraci. produtor associado: Catherine Benamou. elenco: Norma Bengell. e o prêmio Abraci. Wilson Grey. 35 mm 17h sessão 2 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) Rogério Sganzerla. são o ponto de partida para este tributo a Jimi Hendrix e ao poder de Mu. no Festival de Cinema de Roma em 2004. 80 min. 1968.. o filme de Welles contrariou interesses dos governos brasileiro e norte-americano. coprodução: Fundação Cultural do Estado da Bahia e Cepoc Filme-documento sobre as relações de poder entre classes. color. color. Richard Wilson. 2009. Originalmente composto de três histórias sobre a ordem sociopolítica da América Latina (My Friend Bonito. 35 mm Roteiro. na Itália. na Itália. em 2005. Recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu em 1985. até então desfrutando como nunca do status de maior gênio precoce do cinema. no Fest-Rio. em 1987. p&b. na Alemanha. 96 min. foi convidado oficial do 22 o Festival de Turim. 89 min. Este filme marca o retorno de Sganzerla ao longa-metragem após um longo período de ausência. na Itália. color. em 1985. 1970. Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome. participou do esforço pioneiro de comercialização dos direitos de filmes brasileiros para países do Leste Europeu e da Ásia. Teatro e Modernidade (Cosac Naify). uma Odisseia Pan-Americana. ainda não lançado – com roteiro inédito de Sganzerla. Luz nas Trevas. Cinema Marginal. 1961). em 2005 lançou-se como diretora com Reinvenção da Rua. é professora no Departamento de Estudos Étnicos da Universidade de Michigan. filmou seu segundo longa. especializou-se em promoção comercial. realizou curadorias e participou de mostras apresentadas pelo CCBB do Rio de Janeiro. Integrou o projeto de restauração das imagens produzidas por esse realizador. Trabalha. fundou. Ismail Xavier Crítico. Casou-se com Rogério Sganzerla e. seu segundo filme. além de coordenador do projeto de restauração do acervo Cinédia. Catherine Benamou Formada pela Universidade de Nova York. nos anos 1970. organizou a participação do cinema brasileiro em eventos como o mercado do filme de Cannes. Foi codiretor de It’s All True (1993) e colaborador de Cahiers du Cinéma e The Economist. na Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle (1999). atuando na América Latina por vários anos. 1959). é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde 1977. Helena Ignez Formada pela Escola de Teatro da Bahia. montado por Sganzerla. celebrou o cinema do diretor em A Miss e o Dinossauro (2008). o qual se nutriu do mútuo interesse na passagem de Welles pelo Brasil. Ocupou diversos cargos na Embrafilme. é professor de cinema na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). como coordenador da Coleção Cinema. Assalto ao Trem Pagador (Roberto Farias. especialista na obra de Orson Welles e em teoria do documentário e autora de Rediscovering Orson Welles e It’s All True. Publicou vários textos. de São Paulo e de Brasília. integrou o elenco de A Grande Feira (Roberto Pires. participou de montagens de Bertolt Brecht e August Strindberg. empreendeu dezenas de mostras nacionais na América Latina. a quem define como “um cineasta para o novo milênio”. Em 2009. Hernani Heffner Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) desde 1996. a Belair. entre eles mais de uma centena de verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro. o longa-metragem Canção de Baal (livre adaptação de Brecht) marcou sua estreia na ficção e lhe rendeu o prêmio da crítica no Festival de Gramado. em que analisa a obra de Rogério Sganzerla. e por três anos foi diretor comercial da Riofilme. Admiradora do cinema de Rogério Sganzerla. desde 1986. publicou os livros Hitchcock at Work e Luis Buñuel – Chimera. Cinema Novo e Nelson Rodrigues e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo. Bill Krohn Crítico e ensaísta norte-americano. 1965). Tropicalismo. professor de cinema da Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor visitante na Universidade de Nova York (1995). 1962) e O Padre e a Moça (Joaquim Pedro de Andrade. Estreou no cinema com O Pátio (Glauber Rocha. e Cinema Brasileiro Moderno. Hollywood. formulou projetos para a distribuição e a promoção internacional das produções do país. 1964). de Berlim e de Milão. na Fundação Getulio Vargas (FGV/RJ) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). atuou como entrevistador no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ). cultivou com ele permanente diálogo. O Grito da Terra (Olney São Paulo. Publicou. É autor de obras referenciais – entre elas O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a Transparência. foi consultor de vários festivais de cinema. ao lado do marido e de Júlio Bressane. com pesquisa histórica em cinema brasileiro. O Olhar e a Cena – Melodrama. . pela Caixa Cultural e pelo Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP).Biografia dos debatedores Antonio Urano Mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV). mestre em teoria literária. Sétima Arte: um Culto Moderno. Nesse mesmo ano. Manteve uma interlocução criativa com Sganzerla. Foi curador das retrospectivas Faces de Cassavetes. organizou mostras retrospectivas de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane. sendo ainda codiretor do evento nas edições de 2003 a 2006. atuou com Paulo Cezar Saraceni (Anchieta e Natal da Portela) e Walter Lima Jr. participou da Seção Horizontes do Festival de Veneza. seu primeiro longa-metragem. onde atua como coordenador no curso de graduação e no programa de pós-graduação em imagem e som. A partir dos anos 1990. Maria Gladys Iniciou a carreira no teatro. Entre os anos 1970 e 1990. curador da restauração da obra de Glauber Rocha. no Festival de Brasília. e diretor do novo filme Olho Nu (Ney Matogrosso). Entre 1989 e 1991. seguiu sua parceria com Bressane (Gigante da América e Brás Cubas). com base em roteiro de Sganzerla. nos festivais do Rio. com Paloma Rocha. exilou-se durante a ditadura na Europa. Com Matou a Família e Foi ao Cinema e O Anjo Nasceu. em 1982. em 1967. a exemplo de Cleópatra (Melhor Filme em Brasília em 2006). de Rogério Sganzerla. é um dos fundadores do cineclube Movie Club. 1971). Cuidado. Júlio Bressane Estreou na direção com o curta Bethânia Bem de Perto. e atuou nos teatros Jovem. Desde 1991. Radicalizou sua linguagem nos anos 1970. em parceria com Eduardo Escorel. Como ensaísta. apresentou. em Turim. inaugurou o chamado cinema marginal. publicou os livros Alguns (1996). Fundador da Belair em 1970. o prêmio Especial do Júri e o de Melhor Montagem. em Meu Nome É Dindi (2008). Com A Erva do Rato (2008). de Júlio Bressane. Cara a Cara. escreve para o programa diário Fuori Orario. e colaborou na montagem de Luz nas Trevas. Som e Fotografia. Integra o comitê de seleção do Festival Internacional de Locarno.. Nos anos 1960. de Mar del Plata e de Brasília. Roberto Turigliatto Crítico de cinema italiano. de Helena Ignez (inédito). Madame e Família do Barulho. professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). colaborou como curador na Mostra Internacional do Novo Cinema de Pesaro. com Gianni Ratto. Foi premiado em outras edições do evento com Tabu (1982). para o qual já concebeu centenas de noites temáticas dedicadas ao cinema. para quem produziu Elogio da Luz. e no Marrocos filmou Fada do Oriente (1972). trabalhou em Os Fuzis (Ruy Guerra. Cinemancia (2000) e Fotodrama (2005). o Primeiro Bertolucci.Joel Pizzini Autor de ensaios documentais premiados internacionalmente. É conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza. Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007). como Bruno Safadi. dos documentários extras dos DVDs do cineasta. Festival Jodorowsky e Estratégia do Sonho. foi o responsável pela programação da sala Museu Nacional de Cinema. É doutor em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Aranha. do canal de televisão italiano RAI3. codiretor. . no Festival de Taormina e em várias edições do Festival de Veneza. fez telenovelas e filmou com jovens realizadores. onde rodou Memórias de um Estrangulador de Loiras (Londres. 1964) e Todas as Mulheres do Mundo (Domingos de Oliveira. 1967). conquistou com os longas 500 Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor Filme. seu trabalho mais recente. autor da tese “A figura de Orson Welles no cinema de Rogério Sganzerla”. Nesse período. Teve atuação destacada como um dos promotores e programadores do Torino Film Festival desde sua criação. e colaborador em revistas e publicações de cinema e história. ambos produzidos em 1969. coproduzido pelo Canal Brasil. Mesbla e Dulcina. Samuel Paiva Professor do Departamento de Artes e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos (DAC/UFSCar). com Sem Essa. Sinai Sganzerla. Albino Sganzerla. José Marinho. Rodrigo Lima. Kety Fernandes Nassar (organização e concepção). Sidnei Pereira (CCBB/RJ). Maria Maia. Remier Lion. A revisão foi feita por Rachel Reis. Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na realização deste projeto Ficha técnica mostra de filmes e debates Produção Maria Flor Brazil Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Assistente de produção Halina Agapejev Comunicação visual e produção gráfica Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Produção e montagem do espaço expositivo Núcleo de Produção do Itaú Cultural Produção do site Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Captação de depoimentos para site Fernanda Miranda Parcerias . Djin Sganzerla. Lécio Augusto Ramos. Bruno Safadi. Mislene Martins (CCBB/SP). Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos). junto com Steve Berg). Ruy Gardnier. Hernani Heffner. Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse dos filmes. Mariana Lacerda (edição). Cristiane Rezende (CCBB/RJ). Carlos Ebert. Jader Rosa (ideias). Camila Val (CCBB/SP). Jahitza Balaniuk (produção editorial e concepção). Ruy Gardnier. Rosa Dias. Joel Pizzini. Rosângela Sodré (CTAV). Sinai Sganzerla. Paloma Rocha e Associação Amigos do Tempo Glauber Agradecimentos Mercúrio Produções. Noa Bressane. Vani Silva. Zenaide Sganzerla. Yoshiharu Arakaki (direção de arte). Carlos Magalhães. Polyana Lima e Mercúrio Produções. Acervo/ Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez. André Seiti (edição de programação). José Quental (Cinemateca MAM).Expediente revista Ocupação Rogério Sganzerla Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção). Marcos Bonisson. Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar. Polofilme. Ficha técnica Ocupação Rogério Sganzerla Idealização e organização Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Museografia Valdy Lopes Jn. Curadoria Joel Pizzini Assistência de curadoria Djin Sganzerla Sinai Sganzerla Apoio à curadoria Maria Flor Brazil Acervo Família Sganzerla Desenho sonoro Edson Secco Pesquisa Lucio Branco (RJ) Anna Karinne Ballalai (RJ) Sérgio Silva (SP) Produção (Rio de Janeiro) Sara Rocha Assistência (São Paulo) Vani Fatima Natalia Meira Edição de imagens Claudio Tammela Assistência de edição de imagens Renata Catharino Leonel Barcelos Fotografia e imagens do mar Kim Castro Programação técnica guitarra Tommy Terahata Edição e programação midi para guitarra Gianni Toyota Agradecimentos especiais Helena Ignez. Hernani Heffner (Cinemateca MAM). Roberto Cruz. Sérgio Pedrosa (CTAV). Maria Flor Brazil. Participam: Joel Pizzini. enquanto Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. Débora Butruce (CTAV). Djin Sganzerla. Djin Sganzerla. Helena Ignez. além de Paolo Gregori. João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens. Bernardo Oliveira. Dib Lufti. . com/itaucultural | youtube.org.br | itaucultural.br | twitter.org. desenho feito por Rogério Sganzerla entrada franca itaú cultural avenida paulista 149 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777
[email protected]: frames dos filmes O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos.com/itaucultural .