Apresentação da edição elizebeth muylaert duque-estrada
17 5 Impasses
Contar histórias para manter viva a História alice viveiros de castro
elizabeth muylaert duque-estrada
28 8
22 1968. Os muitos rostos de um sonho.
Meu pai, Rubens Paiva – nunca pude fazer o seu luto…
Entre o visível e o invisível: a aparição de 1968. giuseppe cocco
n a l u pa i va
margarida de souza neves
31 25
Um olhar cético sobre a realidade atual
Maio de 1968/2018, Hélio Mangueira e Marielle Maré barbara szaniecki
danilo marcondes
35
O ser humano e os limites do transhumanismo markus gabriel
tradução de
andré stock camila lima
e
N
u n c a s e s a b e o q u e o pa s s a d o n o s r e s e r va .
Françoise Sagan sabia que o passado está sempre por acontecer; algo que se atesta, de um ou de outro modo, em todos os textos aqui reunidos: as incursões historiográficas de Margarida Souza Neves em 1968: os muitos rostos de um sonho, as dolorosas memórias de Alice Viveiros de Castro em Contar histórias para manter viva a História, e de Nalu Paiva, em Nunca pude fazer o seu luto… os registros autobiográficos de Giuseppe Cocco em Entre o visível e o invisível: a aparição de 1968, as ponderações do filósofo Danilo Marcondes em Um olhar cético sobre a realidade atual, a abordagem proposta por Barbara Szaniecki sobre a problemática relação entre as militâncias política e artística em Maio de 1968/2018, Helio Mangueira e Marielle Maré, e mesmo a recusa de Markus Gabriel em abraçar não propriamente a crítica do tradicional valor ou conceito de “humanidade”, mas sim a ideologia de ultrapassagem do ser humano na efetividade de uma nova configuração; o “transhumano”. Em todos esses escritos, os envios do passado não cessam de se refazer. Há cinquenta anos, o pêndulo das oportunidades históricas oscilava entre, do lado de lá do oceano, o arrebatamento dos movimentos sociais e políticos de Maio de 1968 e, do lado de cá, o peso plúmbeo da ditadura militar cujos efeitos nefastos até hoje permanecem. Passadas cinco décadas, parece que estamos exilados em nosso próprio país, puxando o cabelo… querendo ouvir Celly Campelo prá não cair… perplexos, sem saber se a História nos escapou por entre os dedos ou se abriu sob os nossos pés um abismo de insondável profundidade. Mas nada impede o movimento. Boas ou más, as coisas não cessam de voltar… e tudo se refaz no caminhar. O caminho da história não é, pois, o de uma bola de bilhar que, uma vez tocada, segue determinado curso, mas assemelha-se ao trajeto das nuvens, ao caminho de alguém que vagabundeia pelas ruelas, distraindo-se aqui com uma sombra, ali com um grupo de pessoas, ou o contorno diferente de uma fachada, por fim chegando a um ponto que não conhecia, nem queria atingir. No curso mundial da história há um certo “perder-se por aí”. Robert Musil. O homem sem qualidades
e l i z a b e t h m u y l a e rt duque-estrada
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Report "Revista maisdeum vol. I "Impressões Políticas: 1968 e hoje""