Revista Cult » Ética e situações-limite

March 21, 2018 | Author: carolinapedreira | Category: Liberty, Morality, Subjectivity, Politics, Experiment


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Revista Cult » Ética e situações-limite20/03/14 22:40 Assine 0800 703 3000 SAC Bate-papo E-mail Notícias Esporte Entretenimento Mulher Shopping BUSCAR Esqueci minha senha CONECTE-SE na Cult na Web LOGIN SENHA MATÉRIAS EDIÇÕES COLUNAS OFICINA LITERÁRIA BLOG MARCIA TIBURI ESPAÇO CULT LOJA CULT Home > Edições > 145 > Ética e situações-limite Ética e situações-limite Mesmo em situações-limite, pode-se agir de maneira autêntica Mesmo quando os valores não representam a vida mais justa, o sujeito pode agir de maneira autêntica Franklin Leopoldo e Silva CC/Frederic Leighton EDIÇÃO 188 Os valores que orientam a conduta humana estão estabelecidos em várias esferas: moral, religião, mitos, conhecimento, tradição, política, família etc. Dependendo das circunstâncias, ocorre a predominância de certos critérios, que aparecem, então, como os mais relevantes para a tomada de decisões éticas. Alguns exemplos são bem conhecidos: antes do advento da razão filosófica na Grécia Antiga, a fonte dos valores era a tradição mítico-religiosa, que oferecia parâmetros de escolha para a verdade e o bem, nas perspectivas individual e coletiva. O exercício livre da racionalidade trouxe a possibilidade de que fosse o intelecto humano a instância de reconhecimento de valores, por via de procedimentos metódicos que assegurassem a distinção entre a mera opinião individual ou de grupos e a universalidade consolidada conceitualmente. Sócrates é o introdutor dessa ANTÍGONA: conflito clássico pode chegar à melhor escolha concepção de ética. Mesmo que o universo da ação não possa ser completamente dominado pela racionalidade teórica, a dimensão prática da razão atua no sentido de oferecer as bases e a latitude das opções possíveis, como é o caso em Aristóteles. Decisão e autenticidade O fato de que, desde muito cedo na história do pensamento, a ética tenha sido visada por meio de duas perspectivas – a razão teórica e a razão prática –, bem como a continuidade dessa dupla ótica ao longo da filosofia, indica já uma primeira dificuldade: a distância que vai dos valores em si mesmos à experiência efetiva que deles podemos fazer para discernir entre o bem e o mal não pode ser percorrida diretamente, mas inclui mediações derivadas da complexidade da ação. É nesse sentido que se distingue saber e sabedoria: quando se trata de condutas humanas, em relação às quais temos de escolher a melhor, talvez não seja possível proceder demonstrativamente, e outros elementos, que não partilham da mesma nitidez teórica dos quadros conceituais, devem intervir no processo de decisão. Isso significa que, no plano da decisão ética, os fatores objetivo e subjetivo não podem ser completamente separados, e que não podemos eleger apenas um deles como fundamento das opções. Se a fonte de valores fosse estritamente subjetiva, a relatividade de critérios impediria qualquer juízo sobre as condutas, e a dimensão intersubjetiva da ética seria simplesmente impossível, com as consequências que facilmente se podem deduzir no plano da vida social. Se os valores fossem derivados apenas da instância objetiva, a universalidade e a necessidade, consideradas separadamente da experiência efetiva, traduzir-se-iam numa generalidade abstrata e formal, irremediavelmente distante das práticas humanas. Essa dificuldade não pode ser resolvida por um meiotermo estabelecido entre as duas possibilidades, porque os valores devem ser, ao mesmo tempo, dotados de um teor de universalidade que nos incline a adotá-los por sua própria força, e vividos na individualidade singular do sujeito que age. A consciência da ação se manifesta de dois modos: na adesão a valores que me transcendem e na adesão a mim mesmo. À tensão que assim se constitui na ação acompanhada de consciência moral denominamos autenticidade. EDIÇÕES ANTERIORES http://revistacult.uol.com.br/home/2010/04/etica-e-situacoes-limite/ Página 1 de 4 considera apenas a situaçãolimite em que o inimigo é o seu próprio irmão. mas porque. senão grave: Muniz Sodré reflete sobre as novas diretrizes do curso de jornalismo no país. a religião e a família como a melhor escolha. embora relativa a circunstâncias singulares – e impossível de ser universalizada –. que disciplinem nossas opções de trabalho. a tradição é venerável. Há aquele que morre pela fé. a diferença entre o bem e o mal. e quando as leis externas contrapõem-se a valores que estariam arraigados numa dimensão mais profunda da subjetividade. eles se impõem igualmente). nas circunstâncias singulares da decisão.uol. finalmente. de estudo etc. Por isso. e sua obra literária goo. de 1960.br/cursos-descric… Retweetado por Revista Cult Expandir Revista Cult @revistacult 19 mar #CULT188 Coisa absurda. Nessa situação de conflito de valores. Isso nos indica que a universalidade de qualquer valor é medida no interior da esfera à qual pertence. indispensáveis à vida ética. na dimensão social da vida. repita-se. para que.com. ao ter de escolher. A tragédia de Sófocles Antígona é sempre mencionada como exemplo de conflito. artística. do ponto de vista objetivo. com André Conti (@cialetras). Ambas as esferas de valores são justificadas. a força da situação singular é suficiente para abalar o alcance geral da lei política. verificaremos que quase todos os nossos gestos obedecem a alguma norma estabelecida independentemente de nós. já não é possível efetuar uma comparação racional entre os valores em jogo. a vida subjetiva e a vida social se recobrem. Situação-limite e insuficiência do valor A situação-limite configura-se sempre pela insuficiência do valor. Os valores. Débora Guterman (@editorasaraiva) espacorevistacult. ao abraçar um valor. Os hábitos encarregam-se de fazer com que a moralidade social seja vivida segundo uma correspondência às obrigações cujo caráter imperativo não se imponha de modo mais pesado do que a rotina. Aline Valli (@cosacnaify). Tal situação só é perturbada em duas ocasiões: quando as regras ferem explicitamente interesses a que não desejamos renunciar. nem sentimos diminuída a nossa liberdade. não desfruta positivamente de sua liberdade. Há momentos em que muitas vidas valem o sacrifício de algumas. porque as normas que governam a exterioridade são introjetadas de forma que não as sintamos como separadas de nós. É no significado e na força intrínseca dos próprios valores que se dá a tensão (porque. nesses casos.gl/bYFFpn Mostrar Resumo Revista Cult 13 mar Tweetar para @revistacult http://revistacult. o que coloca o sujeito na posição incômoda ou angustiante em que duas ou mais exigências de compromisso se apresentem e obriguem o próprio sujeito a ter de responsabilizar-se por conferir a uma delas o caráter de imposição absoluta. assim. essa insuficiência não é intrínseca ao próprio valor em si mesmo. Não há como decidir a priori. Ao optar pelo sepultamento clandestino do irmão. Antígona não diz que todos os inimigos devem ser sepultados. as possibilidades habituais de opção oferecidas pelos valores atingem o limite: o sujeito não pode simplesmente guiar-se por eles. Ora. mas as leis civis são necessárias. há aquele que duvida da fé em nome da vida. ainda que as representações teóricas de cada época privilegiem e destaquem algum deles. mas.br/home/2010/04/etica-e-situacoes-limite/ Página 2 de 4 . Antígona não está escolhendo a lei maior: está inventando um critério por via do qual. Insurreição e garantia da integridade ética CC/Eugène Delacroix TWITTER Tweets Espaço Revista CULT @cultespaco Seguir 10h A ARTE DE EDITAR UM LIVRO. seria igualmente respeitado. Nesse sentido. natural ou funcional. naquele caso. ela aparece quando a singularidade dramática da situação em que o sujeito está envolvido o leva a questionar o valor. goo. nos acomodemos a limitações da liberdade como nos acomodamos às restrições convencionais das mãos de direção e das filas. os governos esforçam-se para reduzir os valores à dimensão dos interesses. Nesse caso. são. quando a acompanhamos sem pressuposições quanto à sua organização e transcurso. ainda assim triunfa sobre a universalidade intrínseca do valor que é desprezado. Essa. Mas podemos também nos insurgir contra leis que limitem a liberdade religiosa. sabendo que com isso desobedece à lei da cidade. Mas as leis da tradição e os costumes consolidados nos laços familiares impõem a Antígona que transgrida a esfera de valores da pólis. A urgência de inventar maneiras para lidar com os valores Por isso dizemos que. instáveis. há momentos em que o sacrifício de uma vida não se justifica pela salvação de muitas. mas tem de inventar uma nova maneira de lidar com eles. Ou seja. Começamos a inquietar-nos com as regras de trânsito quando elas atrapalham nossa mobilidade e a presteza com que deveríamos realizar nossos negócios. mostra-nos uma diversidade de critérios balizando as ações. permanecendo sempre um resíduo de incerteza e obscuridade que. nossas ações se enquadram nas normas de modo mecânico.com. não pode impedir ou mesmo postergar a decisão. irmão de Antígona. estará repudiando outro.gl/Josx3K Mostrar Resumo Revista Cult @revistacult 14 mar Escritor Carlos Sussekind fala sobre ostracismo.Revista Cult » Ética e situações-limite 20/03/14 22:40 Ambiguidade e oposição entre valores objetivamente bons A questão com que nos defrontamos consiste em que as esferas de valores que citamos no início não se sucedem historicamente como etapas de uma possível evolução. política. Não nos inquietamos com isso. mas padece a condição dolorosa de ter de efetuar uma escolha na qual. O amor e a piedade superam a política. Essa instabilidade não aparece enquanto. As leis da cidade impedem o sepultamento do inimigo. não em virtude de uma inferioridade intrínseca da lei civil. A história. no entanto. ao estágio racional ou científico. e a ver que aquilo que o valor representa em termos de bem não coincide com a melhor escolha. pode considerar a tradição. E esse outro valor repudiado. e o sujeito. A pluralidade dessas referências faz com que a procura do valor que deveria orientar a ação muitas vezes apresente ambiguidade ou mesmo relações de oposição. não é apenas a liberdade subjetiva que está em questão. mas convivem como apelos permanentes e respostas possíveis à pergunta ética: o que devo fazer? Não podemos considerar que a dimensão ética da existência corresponda ao esquema histórico-filosófico positivista de passagem pelas fases do imaginário religioso e da idealização metafísica para chegar. em outras circunstâncias.gl/olCaFI Mostrar Resumo Revista Cult @revistacult 18 mar Os Satyros comemoram 25 anos de existência com espetáculos sobre a imperiosa presença da tecnologia na vida humana goo. associativa. a reedição do livro "Ombros altos". como se houvesse uma harmonia preestabelecida. no caso Polinices. o certo e o errado não é representada de modo claro e definitivo. Se observarmos com atenção o nosso comportamento cotidiano. entretanto. instaurando a justiça forma de um protesto contra a inadequação social e política da lei. expandindo-se na LIBERDADE: no ideal republicano. e essa transição muitas vezes é sutil e imperceptível na dinâmica da vida coletiva. Isso pode acontecer por via de uma acomodação gradual da liberdade a diversos tipos de controle social. ENFIM: Na minha opinião Totalmente inútil. ela deve guiar o povo.br/home/2010/04/etica-e-situacoes-limite/ Página 3 de 4 . COMENTÁRIOS (7) amanda | 30/05/2010 nessas instabilidades em q vivemos.Revista Cult » Ética e situações-limite 20/03/14 22:40 Quando a diferença entre os limites de ordem sociopragmática estabelecidos por regras convencionais e as restrições que afetam valores mais fundamentais e constitutivos da existência se dilui. Percebemos que o que devemos fazer. Até compreender a essência do artigo. e essa contestação pode ultrapassar a subjetividade individual. A permanência dessa tensão latente é garantia da integridade ética do indivíduo e da democracia real na sociedade. nem diminui nossa liberdade. a situação fica pertubadora e nos deparamos com a inadequaçao q nos é imposto. uma vez introjetadas essas normas nao suprem nossas necessidades.com. Em cada aula minhas angústias estão a diminuir. a sociedade está pronta para a experiência totalitária. nos assustamos ou nos surpreendemos com o que teríamos de fazer. quando se percebe que a legalidade é usada para a imposição da arbitrariedade. porém. Fumar muitos baseados para intender tudo isso… esse negocio de criar um contrapeso para a liberdade é uma coisa fútil e complexa assim como a nossa tal democracia ao mesmo tempo há campos que se você for parar para pensar a fundo você desiste de ser um humano na. Comente Compartilhar Imprimir Curtir 41 pessoas curtiram isso. nossas ações obedecem a normas já estabelecidade. a sensibilidade que os hábitos e a rotina amorteceram por vezes se exalta. ainda que na forma impessoal da lei e da norma. O sujeito insurge-se. Bração e boa $orte. com o q achamos ser “eticamente correto” José Expedito dos Santos | 01/08/2010 Incrível!!! Como uma matéria dessa não tem uma costelação de comentários? Quemel | 05/08/2010 Caro José Expedito. Consegui compreendê-lo quando associei o filme “O Resgate do Soldado Ryan”. kauspunk | 01/09/2010 http://revistacult. de alguma forma. Quemel Dézão_Colt | 31/08/2010 SóH…. no sentido ético da relação entre o dever e a liberdade. Seja o primeiro entre seus amigos. salve! Também pudera. não coincide com o que nos é imposto. nem sempre nos inquieta. por outro lado se essas regras externas não existem. quando.uol. Essa atitude legitima-se. Nas situações-limite. devo ter lido umas 17 vezes. : (11) 3385-3385 . desobediência civil. mas os costumes ou as leis da tradição a um decreto de Creonte que estigmatizara Polinices como inimigo da “pólis”! Isso dá margem a algumas outras considerações éticas sobre a legitimidade da. Seja o primeiro a comentar. SP | CEP 01533-070 | Tel. sociologos e psicólogos e termina com Habermas com sua Ética Discursiva. então. Mas por outro lado se observamos nossa vida cotidiana veremos que a maioria dos nossos atos se submetem uma regra já estabelecida independentemente de nós. o sentimento de liberdade acaba sufocando o indivíduo numa decisão altamente dolorosa. relativo ao sujeito. trad. (Versos 732-739. 79 tem O conflito moral visto num banquete oferecido a habermas. A autora passa a tragédia pra vários filósofos. noivo de Antígona: Creonte: Não foi crime acaso o que ela fez? Hémon: O que o povo diz em Tebas é que não. no qual abraçando um ele estará repudiando o outro.. Boa noite Elena Muller Emilia Maria M. Tenho o meu há mais de 20 anos e é uma preciosidade. Tentei outra vez e não consegui. mas também. valor esse que outrora seria literalmente aceito. Hémon. Assim. Na revista Tempo Brasileiro .uol.Revista Cult » Ética e situações-limite 20/03/14 22:40 Em uma situação onde há conflito de valores. Infelizmente está esgotado faz tempo e é da ed Papírus. habermas e vão discutindo o tema da Antígona.principalmente da Antígona. se mostra nestes versos do diálogo com o seu filho. a situação limite não se configura “sempre pela insuficiência do valor”. era isso. Creonte: A cidade. Assinar feed Adicione o Disqus no seu site Editora Bregantini Assine ou compre a Cult Anuncie Equipe Pç. Creonte: Devo governar pela opinião dos outros? Hémon: Não há Estado algum que pertença a um só homem.: (11) 3385-3386 Copyright © 2013 Editora Bregantini. Uma pena.. em termos atuais. a questão da moralidade é muito esclarecedor sobre os vários pontos de vista da ação. psicólogos. 70 | 10º andar | Paraíso | São Paulo. Muiito legal. como o autor admite. afinal. se esse rei governasse um deserto. Itinerários de Antígona. 98: Jurgen Habermas: 60 anos. e ele ter de escolher entre dois valores. sociólogos. a saber: o justo ou o legítimo! A “hybris” ou a ação desmedida de Creonte. Guilherme de Almeida) 0 Comentários Revista Cult Compartilhar Entrar Favorito Ordenar por Melhor avaliado Iniciar a discussão. na p. de Morais | 25/03/2012 “Antígona” de Sófocles não opõe tão somente as leis da tradição religiosa às leis civis. http://revistacult. quando o legal confronta o valor superior. Excelente o livro. Todos os direitos reservados.com.br/home/2010/04/etica-e-situacoes-limite/ Página 4 de 4 . Elena Muller | 29/02/2012 O livro de Barbara Freitag. não é de quem governa? Hémon: Talvez.Fax. Bom. Aí estão presentes os filósofos. Creonte: E é a cidade que há de ditar as minhas leis? Hémon: Vês? Estás falando como uma criança. Santo Agostinho.
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