ResumoLiteratura

March 29, 2018 | Author: Camila Oliveira | Category: Baroque, Renaissance, High Middle Ages, Poetry, Portugal


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ERA MEDIEVAL/ TROVADORISMO: 1198 (?) A 1434 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉCULO XII — XIV) Coincide com a independência portuguesa, reconhecida pelos reinos cristãos de Leão e Castela, em 1143. Afonso Henriques de Borgonha, apoiado pelos concelhos, liderou o processo de emancipação do primitivo Condado Portucalense, obtendo, em 1179, o título de Rei, homologado por bula papal, que reconheceu o Reino de Portucale. Feudalismo — Sistema social fechado, fundado na propriedade da terra. Os senhores dos coutos (propriedades da Igreja) e das honras (propriedades da Nobreza) exerciam autoridade absoluta e só prestavam obediência ao rei. Teocentrismo — Deus concebido como Ser Absoluto, capaz de ditar as normas sociais e de comportamento individual, estabelecendo os limites entre o Bem e o Mal. Convalidava a concepção servil do homem, predestinado a obedecer aos desígnios do Ser Absoluto. A Igreja, rica senhora feudal, dirigia uma intensa vida religiosa (missas, penitências, jejuns, abstinências, peregrinações, romarias) e monopolizava a instrução pública. O analfabetismo era geral e os conhecimentos eram transmitidos oralmente. A hegemonia de Provença — O Sul da França, onde se falava a language d’oc (“languedoque”), desenvolveu, antes de qualquer outra região, uma cultura cortesã, rica e requintada, graças à prosperidade econômica. A primeira dinastia portuguesa — a Casa de Borgonha — tinha raízes provençais e, por isso, estreitaram-se as relações comerciais, militares (cruzadas), religiosas (romarias) e dinásticas (casamentos) entre Portugal e o Sul da França, possibilitando a assimilação da cultura provençal, veiculada principalmente pelos jograis (músicos, cantores e recitadores ambulantes) e pelos trovadores (homens de classe social elevada e que sabiam compor). A cultura trovadoresca tinha caráter mais peninsular, ibérico, que propriamente português. Era vazada na língua galego-portuguesa (dialeto galaico-português), comum à Galícia e a Portugal. Representa a fusão da cultura oral autóctone, de base peninsular, com a influência advinda das cortes provençais e com elementos da cultura moçárabe (língua românica influenciada por arabismos). Como ocorreu em todas as literaturas (com exceção das que derivaram da colonização europeia), a poesia desenvolveu-se antes da prosa, pois se apoiava na tradição oral e musical da fase pré-literária. A lírica provençal foi a mais antiga floração poética das literaturas românicas e a primeira depois da destruição do mundo clássico pelos bárbaros do Norte. Fundada no século XI por Guilherme IX, Conde de Poitiers e Duque da Aquitânia, o mais antigo trovador conhecido, influenciou todas as literaturas modernas da Europa, até 1209, quando a Cruzada contra os Albigenses marcou o fim da hegemonia da cultura provençal, que pode ser considerada o último clarão da vida intelectual da Antiguidade. A requintada arte dos trovadores foi, também, uma das grandes vítimas da intolerância religiosa. A POESIA TROVADORESCA OU PROVENÇAL Apoiava-se na poesia oral, espontânea, da fase pré-literária, e na lírica de origem provençal. Era uma poesia ligada à música, composta pelos trovadores e cantada pelos jograis e soldadeiras, que se faziam acompanhar de instrumentos musicais (viola, alaúde, flauta, gaita). Como se destinava ao canto e à dança, obedecia a ritmos e recorrências sônicas de fácil execução e memorização. Daí a presença dos refrões ou estribilhos e do paralelismo. Compreendia dois gêneros principais: o lírico (cantigas de amigo e de amor) e o satírico (cantigas de escárnio e de maldizer). Cantigas de Amigo — O “eu lírico” é feminino: o trovador expressa as emoções da mulher, como se falasse por ela. Originam-se da tradição oral, pré-literária, do território galego-português. Inspiram-se na vida popular, no cotidiano familiar e rural (pastoras, camponesas etc.). Estrutura simples, apoiada no paralelismo, no refrão e na forma dialogada. (A moça dialoga sobre seus sentimentos com a mãe, com as amigas ou irmãs, com a Natureza ou com o amigo). Expressam uma visão mais “realista” do amor, colocado no plano terrestre dos desejos humanos e da sensualidade. Cantigas de Amor — O trovador expressa as emoções do homem pela mulher amada. Originam-se da influência provençal, projetando o refinamento da vida da corte, o ideal do amor cortês. Inspiram-se no ambiente palaciano, e a mulher é um ser idealizado, superior, inatingível, a quem o trovador, submisso, dirige seus lamentos, ocultando a identidade da amada, sob expressões respeitosas como “mia dona”, “mia senhor”, “fremosa dona”, “fremosa senhor”. Lirismo lamuriento e subjetivismo profundo marcam a “coita d’amor”, a “soidão”, a “soledade”. Maior elaboração formal. Dá-se o nome de cantiga de maestria à composição sem refrão, constituída de três ou mais estrofes regulares e submetida a certos formalismos estilísticos (dobre, mor dobre, finda, ata finda etc.). Cantigas de Escárnio — Sátira sutil, apoiada na ironia e na ambiguidade (“palavras cubertas que hajam dous sentidos”), sem a individualização da pessoa ofendida. Cantigas de Maldizer — Sátira direta, contundente, palavrosa, sendo comum o calão. Os cancioneiros são os códices (coleções de cópias manuscritas) que registram o que sobreviveu das cantigas trovadorescas galaico-portuguesas, esquecidas nos séculos clássicos, a partir do repúdio que a Renascença votou aos valores medievais, góticos ou bárbaros. São conhecidos três cancioneiros: o Cancioneiro da Ajuda (mais antigo, com 310 cantigas, a maioria de amor), o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (com 1.647 cantigas) e o Cancioneiro da Vaticana (com 1.205 cantigas). É praticamente o que restou da “gaia ciência” (nome que se dava à teoria poética do Provençalismo). A PROSA DA FASE TROVADORESCA Na Primeira Época Medieval portuguesa, a prosa revestiu-se de um caráter principalmente historiográfico, documental e eclesiástico. Nessa categoria incluem-se quatro modalidades: cronicões (registros sucintos de efemérides, redigidos em língua latina); as hagiografias e os escritos de matéria eclesiástica (exposições da vida e dos milagres dos santos e dos progressos da religião cristã, principalmente das ordens monásticas); os nobiliários ou livros de linhagem (registros de nascimentos, casamentos, óbitos e testamentos das famílias da nobreza, às vezes acrescidos de relatos históricos e heroicos, mais tarde cristalizados como tradições e lendas) e as traduções de Alcobaça (textos clássicos da Biblioteca de Alcobaça, traduzidos — do latim ou do grego — para a língua vulgar portuguesa, pelos monges cistercienses). AS NOVELAS DE CAVALARIA Na fase pré-literária, o gosto pelas narrativas de cunho guerreiro, derivado da índole germânica e do espírito cavalheiresco das cruzadas, desdobrou-se nas narrativas orais, de cunho heroico e guerreiro, denominadas canções de gesta, que perpetuaram, através da tradição oral, os feitos lendários de heróis medievais como Rodrigo de Bivar (El Cid, o Campeador), Carlos Magno (e os Doze Pares de França), Rei Artur (e os Cavaleiros da Távola Redonda) e outros. Nas Espanha, no Norte da França e na Inglaterra, predominava a poesia heroica. No Sul da França e no Mundo Atlântico, ou galaico-português, predominava a poesia lírica provençalesca. No século XIII, durante o reinado de Afonso III, começaram a aparecer traduções, do francês, das narrativas heroicas, as novelas de cavalaria, resultantes da prosificação das canções de gesta, antes oralizadas pelos jograis. A Demanda do Santo Graal, História de Merlin e José de Arimateia são algumas das novelas que se notabilizaram em Portugal. A novela Amadis de Gaula, que só se conhece na versão castelhana, de autoria discutível, é a única que se pode considerar genuinamente ibérica, introduzindo um sensualismo já distante do acentuado misticismo de A Demanda do Santo Graal. Modelados pelos valores da cavalaria cristã (ideal de Justiça e de Honra, amor pela aventura e pelos atos de heroísmo, misticismo e fidelidade amorosa), os heróis da novelística medieval projetaram-se em quase toda a literatura posterior: Fernão Lopes; Camões (no episódio dos Doze de Inglaterra); Cervantes (que satiriza, na figura de D. Quixote, o anacronismo dos ideais da cavalaria); Alexandre Herculano (na Morte do Lidador e no Eurico, o Presbítero); José de Alencar (no indianismo medievalizante de O Guarani); Mário de Andrade (em Macunaíma, novela de cavalaria “carnavalizada” às avessas, o anti-herói medroso, egoísta, libidinoso); Guimarães Rosa (na gesta sertaneja dos vaqueiros e jagunços de Grande Sertão: Veredas, na demonologia, no(a) santo(a) guerreiro(s) Diadorim); até no recentíssimo “best-seller” de Marion Zimmer Bradley, As Brumas de Avalon, que revisita, com olhos femininos, a saga dos cavaleiros da corte do Rei Artur. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉCULO XV) A Centralização Monárquica: A Revolução de Avis — O desenvolvimento do comércio, o crescimento das cidades e a prosperidade da burguesia mercante tornaram anacrônica a antiga ordem feudal (fechada, teocêntrica, agrária e descentralizada). A burguesia tinha interesses nacionais (unificação da moeda, transportes, segurança) e por isso alia-se à monarquia, fortalecendo o poder do rei, a quem dá sustentação política e paga impostos. É o embrião das monarquias nacionais, do regime absolutista. Em Portugal, a reação burguesa contra a ordem feudal foi liderada por D. João I, o Mestre de Avis, vitorioso na Batalha de Aljubarrota, episódio final da Revolução de Avis (1383/ 1385). Inaugura-se a segunda dinastia portuguesa, a de Avis. Humanismo — Marca a transição da cultura teocêntrica, religiosa e feudal para a cultura antropocêntrica, clássica, apoiada na consciência de que o homem é uma força criadora capaz de dominar o universo e transformá-lo. A noção de destino dirigido por forças sobrenaturais começa a ser substituída pela vontade de saber, pela consciência de que é através do conhecimento que o homem e a vida se transformam, e pela noção prática do lucro. Colocado entre o Medievalismo e o Renascentismo, o Período Humanista marca-se pela convivência dos antigos valores medievais com os valores clássicos que predominarão no Renascimento. Os italianos Dante Alighieri (1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375) foram os precursores dessa transição. O Mecenatismo — Com a centralização monárquica, o palácio torna-se o centro da produção cultural e artística. Os artistas abrigam-se na corte, sob a proteção dos reis e da no- e IV — O Teatro Medieval e Popular de Gil Vicente. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A Prosa Historiográfica de Fernão Lopes Fundador da historiografia portuguesa. a vitória da gente miúda contra os opressores (senhores feudais) e contra os castelhanos. Consegue presentificar os fatos mais remotos através de diálogos e retratos psicológicos. cortes abruptos na narrativa e digressões. Duarte e o Infante D. Cristaliza-se a consciência da nacionalidade e a vocação marítima de Portugal lança o país à aventura dos Grandes Descobrimentos. buscando uma visão de conjunto da sociedade portuguesa. o primeiro historiador e o primeiro bom prosador da língua. em 1434. II — A Prosa Didática e Moralizante de Avis (D. Pedro). O Segundo Período Medieval tomou quatro direções: I — A Prosa Historiográfica (Fernão Lopes. as festas na cidade. Fernão Lopes e a chamada Ínclita Geração (prosadores de Avis) permaneceram integrados à cultura medieval. Aproxima-se da epopeia pela combinação de feitos individuais e de movimentos de massa na mesma unidade de ação. elegante e coloquial. D. A língua portuguesa começa a separar-se da língua galega e. impermeáveis ao sentido espiritual do Renascimento.breza. Azurara e Rui de Pina). Foi no povo que encontrou a genuinidade nacional. aliando a excelência da investigação à qualidade literária da prosa em que vazou suas crônicas. a decadência da aristocracia. Duarte. Ao lado de intrigas palacianas. Há ações simultâneas. o idioma nacional inicia sua carreira triunfante. Gil Vicente. . Foi. Estilo simples. Apesar da concepção regiocêntrica (centrada na figura do rei e dividida pelos períodos de reinado). III — A Poesia Palaciana (compilada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende). a Revolução de Avis. João I. inaugura-se o mecenatismo oficial. Com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de Cronista-mor do Reino. consegue superar o biografismo laudatório. ainda em sua fase arcaica. das universidades e da divulgação dos mestres da Antiguidade greco-latina. fazendo convergir acontecimentos múltiplos para um desfecho. relatou a vida dos trabalhadores nas aldeias. o “Heródoto Português” reconstruiu a história dos reis de Portugal a partir de rigorosa pesquisa e interpretação documental. que se tornam os mecenas (protetores) da arte e incentivadores da cultura leiga. Percebeu a importância dos fatos econômicos e do povo enquanto agente das mudanças históricas. simultaneamente. Apenas a poesia palaciana do século XV e Azurara manifestam influxos da cultura humanística. por ato de D. há poesia satírica. Realizou um teatro oposto à tradição clássica. vassalagem). até hoje. fala-se do amor (sofrimento. reúne a produção poética de três reinados: o de D. João II e o de D. desaparecem ou rareiam os refrões e o paralelismo. o “Genial Criador do Teatro Português”. Por isso. pantomimas e soties) foram os antecedentes medievais do teatro gilvicentino. reis e fidalgos. Representa. uma evolução sobre o Trovadorismo provençal: a poesia separa-se da música. entremezes. saudade. de lugar e de ação. poesia religiosa e poemetos narrativo (antecipadores da poesia épica). farsas ou arremedilhos. o trovador cede lugar ao poeta. o maior dramaturgo do país. abrindo o seu proscênio (parte do palco) a todas as classes sociais. o vilancete e a cantiga (poesias com mote glosado). do ponto de vista formal. milagres e moralidades). o de D. Há maior variedade temática e requinte formal. é considerado o “Plauto Português”. Sá de Miranda. em 1516. Não seguiu a rigorosa disciplina da unidade de tempo. com um pé na terra e outro no céu. ingênua. O Teatro Medieval e Popular de Gil Vicente As encenações litúrgicas que se faziam nas igrejas (mistérios. valeram-se da medida velha dos poetas palacianos do Cancioneiro Geral. Expressou uma visão medieval do mundo renascentista. criticando o utilitarismo do burguês. Gil Vicente foi o primeiro a fazer valer o texto literário sobre a cenografia e o espetáculo. transcendente. que escreve para ler ou recitar nos serões literários da corte. e as profanas que se faziam nas praças e na corte (momos. imperadores. aos fidalgotes arruina- . Bernardim Ribeiro. voltado para o lucro e para os valores mundanos. ao gosto do público palaciano. com o emprego das redondilhas maiores (sete sílabas) e menores (cinco sílabas).A Poesia Palaciana do Cancioneiro Geral O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. e. Afastou-se da influência renascentista italianizante. além da esparsa e da trova (poesias sem mote). obstinando-se no emprego da medida velha (redondilhas) medieval e teimando em interpretar o mundo a sua própria maneira: idealista. Ampliou os temas. Além da temática frívola e galante. Afonso V. algumas vezes. e mesmo Camões. dos papas. o artificialismo e a frivolidade da vida palaciana. Manuel. Institucionaliza-se a medida velha. Reflete. Utilizam-se a glosa. Dante e Petrarca são referências constantes. .dos. desde que fossem tipos reais de seu tempo e de seu meio. funde o lirismo. D. encenadas entre 1502 e 1536. o conflito de interesses. Em 1562. João III). Com a maior liberdade. alcoviteiras e camponeses. Colaborou no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. algumas bilíngues e poucas em castelhano. divulgados em folhetos de cordel. e alguns de seus autos. sob o título de Copilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente. sob proteção da corte (D. reúne a produção dramática do pai. foram proibidos pela Inquisição. edição omissa e defeituosa. Manuel e D. Deixou cerca de 46 peças (autos e farsas). borrachos das vielas. alheio às regras clássicas. a hipocrisia e a velhacaria humana. um dos filhos do autor. Luís Vicente. o drama das almas. Leonor. sendo a maioria em português. O descobrimento de prata na América e o comércio oriental ampliam a necessidade de moeda e impulsionam os preços para cima. Antônio Ferreira. a imprensa. Daí o antropocentrismo. A Contrarreforma Católica — Decidida no Concílio de Trento (1545-1563). como Carlos V. sem contestar a autoridade papal. já em 1547. em grande parte. QUINHENTISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL O Capitalismo Mercantil — A Revolução Comercial. o Santo Ofício visita livrarias e casas à procura de livros “heréticos”. A França fica dividida entre os dois mundos. Sá de Miranda. desacatam a Igreja. arruinando os que vivem apenas de foros e direitos feudais. As invenções. propõe a interiorização do sentimento religioso e a correção dos abusos. berço da Renascença. A Inglaterra de Henrique VIII separa-se de Roma. cujos primeiros sintomas se manifestam já nos séculos XIV e XV. Contudo. o eixo do mundo protestante. Os senhores passam a produzir para o mercado. A indústria desenvolve-se além dos quadros corporativos. a demanda crescente de mercadorias impulsiona um surto de invenções e desenvolvimento técnico. os príncipes alemães rebelam-se contra a Santa Sé e mesmo aliados do papa. atinge nos séculos XV e XVI sua maturidade. RENASCENTISMO. os descobrimentos. Gil Vicente. A necessidade de uma reforma religiosa é admitida até por alguns cardeais. A cristandade cinde-se: a península Ibérica e a Itália tomam-se os baluartes do mundo católico. Nisso. o otimismo que se exprime de várias formas no Re- . de repressão a todas as manifestações culturais suspeitas de heterodoxia. as cidades do Reno. Com a acumulação de capitais. as operações bancárias ganham dimensões nacionais e supranacionais. a França adota urna posição ambígua. Bernardim Ribeiro. dentro e fora da Europa. do Báltico e do mar do Norte. Erasmo de Roterdam. espanhola e portuguesa). foram considerados “Agentes contra a Fé e os Costumes”. A luta pelos bens feudais e pelo poder contrapõe os príncipes e a Igreja. da Espanha. a Itália. o movimento. todos esses mecanismos têm de se engrenar com as estruturas agrárias e políticas feudais. A Reforma Luterana — Propaga-se graças à invenção recente da imprensa. adiantou-se em um século. O aumento do volume de trocas implica o da circulação monetária e traz como resultado a busca de metais preciosos. acenando com um possível acordo entre luteranos e papistas. Em Portugal.CLASSICISMO. Camões. inaugura um período de recalque ideológico. entre outros. as condições foram mais favoráveis à liberdade de pensamento e à difusão popular da cultura. através da Inquisição (romana. Na facção protestante. e a burguesia apoia. o progresso da ciência matemática e experimental apontam para a possibilidade de transformação da natureza e engrandecimento do homem. que invadiu Roma em 1527. o ascetismo e o hedonismo. Esse ufanismo. vai declinando. de Campanela. Na primeira. Mântua. 3) a reflexão sobre a realidade da vida moral e social do país. o misticismo e a glorificação das paixões terrenas. Ferrara e Rimini. predominaram cinco direções básicas: 1) o lirismo pessoal traduzido em poética clássica. sob o patrocínio dos Médicis. Essa ambivalência cultural projeta-se na convivência e. é necessário levar em conta que o espírito medieval não foi completamente superado no século XVI. para as casas senhorais de Vila Real e de Bragança ou para as ordens religiosas. as raízes populares e a erudição clássica. teocentrismo). a Renascença em Portugal foi bifronte. endividado com os países protestantes. Para compreender a Era Clássica portuguesa. é escassa e excepcional. em Portugal. através da Itália. dado o relativo atraso da imprensa. Quintiliano. O século XVI compreende. 2) o sentimento épico da história nacional. Com a união das coroas ibéricas. onde são abolidos a injustiça e o sofrimento — Utopia (1516). Cícero. contudo. medievais (feudalismo. As primeiras oficinas tipográficas surgiram a partir de 1487. sobreviveram: 1) a poesia lírica de tradição medieval. dissolveu-se. 2) a novela de cavalaria. Manuel. o país vive uma intensa euforia com os êxitos marítimos e com a prosperidade econômica. até 1536. No bojo do Movimento Humanista. racionalismo) com as forças conservadoras. Aristóteles (revisitado pela corrente panteísta e materialista de Averróis). O Renascimento em Portugal coincide com o apogeu do Império Português. 4) a literatura de viagens inspirada no deslumbra- . Sem capital para manter o grande império e investir nas colônias. Tácito. o Venturoso. cultura religiosa. a mitologia santoral cristã e a mitologia pagã. Na segunda. de Thomas Morus. Sob o reinado de D. Em Portugal. e Nova Atlântida (1627). de Francis Bacon. entre elas. marcando a convivência das forças novas (burguesia. com os quais não podia concorrer. a derrocada de Alcácer-Quibir (1578) levou inevitavelmente à aceitação da hegemonia dos Habsburgos da Espanha. da introdução da medida nova italiana (1527) à morte de Camões e Domínio Espanhol (1580). e ameaçado por piratas e corsários. na concepção de uma cidade ideal. do aparecimento de Gil Vicente (1502) à introdução da medida nova italiana (1527). mas a impressão de livros. Platão (relido por Plotino) e Plínio. indiretamente. Ovídio. 3) a novela sentimental. duas etapas. os clássicos chegaram. e alastra-se por Roma. e os protegidos dispersaram-se de Lisboa para Madri. de Florença. Nápoles e pelas cortes burguesas de Milão. a restauração da cultura clássica greco-romana repõe em circulação. Tito Lívio. centro da produção cultural e artística. as ideias e modelos de Sêneca. racionalmente planificada. o Moço.nascimento. a corte. acelerada através da imprensa. cultura clássica. Ao contrário. na interinfluência de atitudes díspares: a medida velha medieval e a medida nova renascentista. não raro. Essa ressurreição inicia-se na Itália. Cidade do Sol (1602). Orlando Furioso. não para ganhar o céu. Ajustado a sistemas racionais. a oitava-rima. ânsia de glória e perenidade. sentido do nu artístico. em substituição às redondilhas da medida velha medieval. o epigrama. a elegia. Clareza — Mentalidade aberta.mento ante o exótico desvendado pela aventura ultramarina. ímpeto progressista. em 1527. verso característico da medida nova. A mimese aristotélica (arte = imitação da natureza). sequioso por conhecê-lo e desfrutar suas riquezas e prazeres. poética e retórica dos antigos. a Verdade. Dante e Ariosto. do homem cortesão e do homem-soldado. 6ª. o Bem. mas para deixar no mundo a sua marca. colorido. Medida nova — Trazida da Itália por Sá de Miranda. de inspiração homérica e virgiliana. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Exaltação do Homem — Humanismo — Antropocentrismo — O conceito do homem integral. intensidade vital. simetria. não era desconhecido na Idade Média. que luta. a Perfeição). a exemplo de Os Lusíadas. As formas poéticas do Classicismo foram mais intensamente assimiladas em Portugal que a prosa romanesca. especialmente da comédia e da epopeia. O decassílabo. senhor do mundo. o terceto. a ode. Presença da mitologia. Jerusalém Libertada). euforia. apreço pelo humano. dos deuses pagãos usados como figuras literárias e claras alegorias. Culto da Antiguidade Greco-Latina — Retomada das regras e modelos clássicos e da disciplina gramatical. ausência de afetações. Equilíbrio — Harmonia de forma e conteúdo. a canção. Universalismo — Apego aos valores transcendentais (o Belo. escrita para o entretenimento do espírito. 5) a ficção cavalheiresca e pastoril. além da reabilitação do teatro clássico. a epístola poética. Exaltação do homem-aventura (Os Lusíadas. institucionalizam-se os decassílabos acentuados nas sílabas pares (4ª. consistia na adoção do verso decassílabo. . Os decassílabos sáficos (4ª e 8ª tônicas) predominaram na poesia lírica e os decassílabos heroicos (6ª e 10ª tônicas) prevaleceram na poesia épica. A partir da influência do dolce stil nuovo italiano. como o soneto. simplificação por lucidez técnica. 8ª e 10ª). e na predileção por algumas formas fixas inspiradas em Petrarca. a égloga. que demorou a produzir obras relevantes. 107-117). no estilo clássico renascentista. 108-119). no Brasil do século XVI. o índio e os primeiros grupos sociais. e episódios históricos: Egas Moniz. os Doze de Inglaterra (VI. fontes históricas: João de Barros. referencial.816 decassílabos heroicos e sáficos. o episódio de Inês de Castro (III. É literatura sobre o Brasil. As crônicas de viagem e os escritos informativos. 1.102 estrofes dispostas em oitava-rima. a Conquista de Ceuta. a Batalha de Ourique. 20-41). Sebastião (I. Narração (de I. Nuno Álvares. Pertencem mais ao campo da História e são lavrados em linguagem denotativa. além de tradições orais. além de exortações. São Tomé (X. 6-18). 67-75). a Batalha de Aljubarrota (IV. a Batalha de Salado (III. 30-36). A Narração compreende uma dupla ação histórica (a viagem de Vasco da Gama à Índia e seu regresso e a exposição da história de Portugal feita por Vasco da Gama e por seu irmão) e uma ação mitológica (a luta entre Vênus e Baco). Epopeia clássica em dez cantos. Dedicatória a D. Fernão Lopes e outros cronistas. gênero largamente cultivado em Portugal e em toda a Europa no Quinhentismo. Há ainda episódios naturalistas. como as descrições do Cruzeiro do Sul. que alguns autores omitem da nossa história literária por escrúpulo estético. 28-44). 118-135). É um prolongamento da literatura de viagens. a Aventura do Veloso (V. 1-3). ou atividade literária em sentido próprio. Das passagens e episódios notáveis. 18 a X. pré-história das nossas letras. comerciar gananciosamente.SOBRE OS LUSÍADAS (1572) Herói coletivo: o povo português. 14 a X. A literatura informativa. dada a inexistência da palavra-arte. inscritos no âmbito da expansão ultramarina portuguesa. sob o disfarce da difusão do Cristianismo. do Fogo de Santelmo. Reconhecem-se cinco partes estruturais: Proposição (I. 4 e 5). a Ilha dos Amores (de IX. explorar. herói individual: Vasco da Gama. o Sonho Profético de D. o Velho do Restelo (IV. o Gigante Adamastor (V. Manuel (IV. da Tempestade. carecem de “literalidade”. simplificado. ideal . documenta as intenções do colonizador: conquistar. destacamos: o primeiro Concilio dos Deuses do Olimpo (I. 144) e Epílogo (X. as maquinações de Baco contra os portugueses e as intervenções de Vênus e das Nereidas. 94-104). tornado “fácil e chão” pela necessidade de tratamento objetivo dos assuntos. Homero e Ariosto. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉCULO XVI) Não se pode falar em “literatura”. 143). lamentações e reflexões do poeta. dominar. totalizando 8. apresar escravos. 145-156). da Tromba Marítima. 37-60). Fontes literárias: Virgílio. 74-90). 43-69). a Máquina do Mundo (X. descrevendo diretamente a paisagem. Invocação às Tágides (I. sob influxo dos ideais contrarreformistas do concílio tridentino. nossos escritores alimentaram-se de sugestões temáticas e formais dos textos quinhentistas e buscaram nas raízes da terra e do nativo imagens para a afirmação em face do estrangeiro. Expressam muitas vezes uma visão paradisíaca. a visão “realista”. que aliam a preocupação com a conversão religiosa do índio. na vertente oposta. A “dilatação da Fé e do Império” marcou-se por um clima cavalheiresco-medieval.que justificava. perante a consciência dos navegantes e exploradores. o que acabou por revestir a “literatura” de informação de um interesse obliquamente estético. que acrescem ao propósito informativo a intenção de atrair colonos e investimentos. não portugueses. o fervor de quem imagina tesouros e lugares edênicos e. num espírito de cruzada simultaneamente teológica e mercantil. João Antônio Andreoni ou Antonil). 2) textos propagandísticos. privilegiando os aspectos geográficos e etnográficos (Caminha. terra-a-terra. a preservação dos costumes e da moral ibérico-jesuíticos. reagindo contra certos processos agudos de europeização. paraíso) e às lendas do Eldorado. Os escritos decorrentes das viagens de reconhecimento eram simples relatórios ou reportagens destinados a dar a conhecer aos superiores em Lisboa as possibilidades de exploração e colonização da terra recém-descoberta. de quem avalia as dificuldades para explorar. “exagerando” nas descrições das virtudes e potencialidades da terra (Gândavo. Ubirajara e O Guarani) aproveitaram as informações de nossos primeiros cronistas. Américo Vespúcio. 3) textos catequéticos. 4) textos de viajantes estrangeiros. inventariando as riquezas e possibilidades da terra (Hans Staden. Nesses momentos os nossos cronistas foram lidos. e os interesses do Estado português na obra de colonização (Nóbrega. Anchieta. mesmo os mais desumanos. Refletem o deslumbramento do europeu diante da exuberância da natureza tropical. . No Romantismo nacionalista e indianista. Os escritos jesuíticos constituíram-se em instrumentais para a catequese do gentio e para a educação do colono. Fernão Cardim). voltados para a descrição da terra e do selvagem. Pero Lopes de Sousa). Gabriel Soares de Sousa e Ambrósio Fernandes Brandão). O que se escreveu SOBRE e NO Brasil nas primeiras décadas tem caráter puramente pragmático. todos os atos. colonizar e catequizar. glosados e parodiados. Gonçalves Dias e especialmente José de Alencar (Iracema. AS PROJEÇÕES DO QUINHENTISMO Em vários momentos da nossa evolução literária. recriados. Identificam-se no Quinhentismo quatro modalidades de textos: 1) textos informativos. associando a nova terra aos mitos edênicos (de Éden. Bahia. Como se pode pensar em “literatura” e em vida literária num país que não podia imprimir seus livros. ou simplesmente condenadas a situar-se em esfera secundária. “A Descoberta” e “Preguiça” são alguns momentos antológicos dessa revisitação às nossas raízes. cada centro detentor da hegemonia não era de fato nacional. não representava todas as variedades de “Brasis” então existentes. Por esse caráter híbrido. no seu livro PauBrasil. a nossa literatura foi rigorosamente um desdobramento da Literatura Portuguesa. Por isso. ainda que tivesse apenas expressão regional. dispersos aqui e acolá. e já abertamente reivindicatório na segunda metade do século XVIII. mas apenas a si próprio. servindo de estofo aos movimentos emancipacionistas de Minas Gerais. a “literatura” de informação voltou a inspirar Mário de Andrade. e outros traços de nossa formação. Com isso. alimentados pelas novidades da Metrópole que aqui chegavam com grande atraso? Não obstante essas dificuldades a nossa nacionalidade literária foi-se afirmando a partir de tradições e instituições indígenas. o que alimentou . uma produção circunscrita a uma determinada área geográfica erguia-se ao nível de soberana e de modelo para as demais regiões. transformou em poemas fragmentos de Caminha. Portugal impediu a Imprensa no Brasil até o início do século XIX. em Macunaíma. Amazônia. e Oswald de Andrade. que. A dispersão do país em subsistemas regionais é até hoje relevante para nossa história literária. a Era Colonial foi denominada Luso-Brasileira ou Dependente. Por isso. Rio Grande do Sul. exceto alguns de poucos homens letrados. Minas Gerais. recolocando em circulação os textos quinhentistas — “As Meninas da Gare”. que recria em tom de paródia a Carta de Caminha na “Carta às Icamiabas”.No Modernismo primitivista dos movimentos Pau-Brasil e Antropofágico e na vertente nacionalista dos movimentos do verde-amarelismo e da Anta. ou substituídas. Rio de Janeiro. revistas e jornais? Num país seccionado em “ilhas culturais” estanques? Num país que não teve um público leitor. Foi-nos imposto ou transmitido um conjunto de tradições e instituições da Metrópole. CARACTERÍSTICAS DA ERA COLONIAL Nos três primeiros séculos (1500-1836). as várias regiões e sub-regiões tenderam à autossuficiência ou à introversão: repelidas. Nos primeiros séculos. tentaram bastar-se a si próprias. Em cada momento de nossa evolução cultural. Bahia e Pernambuco. apenas descritivo nos séculos XVI e XVIII. São Paulo). “um vastíssimo arquipélago de ilhas humanas que só acham contacto pelo caminho do mar”. no dizer de João Ribeiro. em particular o sentimento nativista. dando ao país feição de um arquipélago cultural. Gândavo e outros. ao mesmo tempo em que a tendência geral era de não reconhecer valores autóctones e de impedir a formação e expansão de espírito oposto à mentalidade ou aos interesses do colonizador. os cicios de ocupação e exploração formaram ilhas sociais e culturais (Pernambuco. . como os Estados Unidos. os restantes. vincavam seus traços provincianos e regionais. submissos à condição de reflexos. Esse regionalismo é uma das marcas sui generis de nossa literatura.ainda mais o isolamento e as discrepâncias de grau e densidade. Enquanto um centro empolgava o poder direcional da cultura. sem paralelo mesmo em países de grande extensão territorial. BARROCO. a interpretação tomista de Aristóteles e a mutilação dos autores greco-latinos. João IV. Antônio Vieira. alimentado pela Contrarreforma e seus mecanismos repressores (Inquisição. capitalista e “multinacional”. A oposição portuguesa a essas medidas. derrotado no mar. na pompa. com o restabelecimento da autonomia política e a ascensão de D. Duque de Bragança. Alinhados com a Casa da Áustria (Habsburgos). severa fiscalização e medidas tributárias impopulares. reanimando o nacionalismo. O sentimento anticastelhano ancorou-se no messianismo sebastianista. ao trono. As Academias dos Singulares e dos Generosos congregavam a cultura aristocrática e a eclesiástica e os filhos letrados da alta burguesia. do clero e da burguesia lusos. Já em 1540 a Inquisição se estabelece definitivamente em Portugal. SEISCENTISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉCULO XVII) Da Decadência à Restauração — Na segunda metade do século XVI. Manuel e D. as relações entre Portugal e Espanha tornaram-se cada vez mais interdependentes. Tribunal do Santo Ofício. apesar dos esforços de D. . muitas vezes frívolo e amaneirado. precipitou o processo de unificação das coroas portuguesa e espanhola. Filipe III e Filipe IV). sofreu. o processo é mais lento e o Absolutismo de Luís XIV. Index Librorum Prohibitorum). João III. Portugal. desde 1580 desalojado para a periferia da Europa. no artificialismo e no exagero. O Humanismo renascentista português não logrou enraizar-se. Na França. Esse movimento anti-humanista destruiu as promessas de um legítimo Renascimento lusitano. realimentando o antigo sonho de união da Península Ibérica. impondo a escolástica medieval. com a adesão de parte significativa da nobreza. todos identificados pelo requinte cortesão. no exercício barroco da “agudeza dos engenhos”. com as Companhias das Índias prosperando abertamente. O desastre de 1578. Sebastião e da aurora do Quinto Império. possibilitará a reação contra o Domínio Espanhol. Amsterdã torna-se o centro do capitalismo internacional. em 1588. aliada à decadência do Império Filipino. pelos ingleses. É desse espírito que se alimenta a obra do Pe. tolerante. em Alcácer-Quibir. a ocultar. o capitalismo comercial e a cultura burguesa começam a se impor. sob o jugo filipino (Filipe II. Os jesuítas fundam a Universidade de Évora e dominam a Universidade de Coimbra. Na Inglaterra. Richelieu e Mazarino sela um compromisso precário entre a burguesia huguenote e a aristocracia católica. O lance final desse processo de restauração deu-se em 1640. no mito da volta de D. A essa Europa católica e absolutista opõe-se a Holanda burguesa. Portugal e Espanha configuram o modelo absolutista católico. calvinista. as contradições de uma elite anacrônica e decadente. abrangendo as tendências prevalecentes durante o século XVII. voltada para a novidade. CONCEITO E ÂMBITO DO BARROCO A apreciação do Barroco oscila entre a recusa e a posição negativista dos críticos da mensagem (De Sanctis. Descartes. maravilhados com a engenhosidade e sutileza da linguagem artística barroca. Francis Bacon reformula o sistema aristotélico-tomista e propõe a pesquisa incessante e a negação da tradição. barroco designa um certo número de estruturas formais que tendem a fundir e a conciliar atitudes opostas. no Homem e na Arte. Harvey descobre a circulação sanguínea. Galileu. marcadas pela tendência à intensificação. mesmo conflituosa. até à morte. no Gótico flamejante. ressurgem em certas épocas. fundando a Fisiologia. B . nos domínios da Casa da Áustria.Em sentido amplo. o senso crítico e a livre iniciativa intelectual. a passagem de uma concepção finitista e estática do mundo. alargando-se para incluir as manifestações tipicamente burguesas das áreas liberais do protestantismo e do racionalismo crescente na Inglaterra. no século XVII. Essa ânsia de fusão dos contrários fornece os principais elementos para a cosmovisão do Barroco: 1) na Filosofia. para a sugestão e para a ilusão. para uma concepção infinitista. ao exagero e pela ânsia de expressar a tensão e a irregularidade. Spitzer. nas pegadas de Copérnico e Kepler. correspondentes à coexistência e interdependência. Taine. energética e dinâmica. aparentemente. tomado como constante universal. Enquanto a Ciência e a Filosofia são sufocadas nos países ibéricos. mais geral. Dámaso Alonso). com . inaugura o método experimental e altera radicalmente as concepções da Astronomia. artificial e vazio de conteúdo — e a apologia entusiasmada dos anatomistas do estilo (Balet. como no Helenismo.O ensino jesuítico voltava-se para o desenvolvimento da habilidade verbal que assegurasse a defesa às verdades preestabelecidas de seus dogmas religiosos. condicionadas pelo absolutismo e pela ideologia católica da Contrarreforma tridentina. fundamenta o método racional e instaura a dúvida como método filosófico. A Santa Inquisição persegue. no Romantismo e no Impressionismo. Woelfflin. para a alusão. enquanto fuga da realidade convencional. Croce) — que acusam o estilo de rebuscado. da Geometria Analítica e da Mecânica.Em sentido histórico. Nessa dimensão. nos países reformados definem-se os contornos da ciência moderna. na Holanda e na França. A . o nome barroco designa as características que assumem a Arte e a Cultura seiscentistas. Spinoza elabora uma cosmologia que prescinde de um deus transcendente. barroco designa um conjunto de características estéticas e formais que. além de auxiliar a criação da Álgebra. de formas sociais profundamente diferentes na Europa. A dualidade e o bifrontismo (Teocentrismo x Antropocentrismo. Ascetismo x Hedonismo. a sugestão do inapreensível. busca sugerir atmosferas ora místicas. a profundidade e a irregularidade projeta-se em Michelangelo. Velásquez. na criação de um espaço movimentado que. a partir da gradação de cores. ora imprecisas. barroco é a expressão artística e literária da Contrarreforma católica e do absolutismo das cortes dos Habsburgos. O absolutismo político. na simetria radial. tido como super-racional. El Greco. austríaco e português (valorização da cultura cristã do mundo medieval). gerada na estufa da nobreza e do clero romano. 2) da . ou ainda do jogo claro/escuro. a evasão para o inefável. com o terror político e religioso e com a decadência do mundo católico. Fé x Razão. Céu x Terra. Newton e Giordano Bruno. no disfarce das linhas estruturais retilíneas pela profusão ornamental ou pela modulação em curva do revestimento interno. 2) nas Artes Plásticas. As marcas características do Barroco espanhol são: o exagero patético. A transição do ideal clássico para o barroco é definida por Heinrich Woelfflin. em termos de uma passagem: 1) do linear ao pictórico. na grandiosidade e na pompa. Bach e Haendel. em 1588. 3) na Música. buscando uma convergência maior de impressões na ondulação de saliências e reentrâncias. abrangendo espaços ajardinados. do sutil e fugidio.Em sentido mais restrito. Expressa a dualidade cultural da Contrarreforma: Humanismo renascentista (valorização da cultura pagã do mundo greco-latino) mais a religiosidade tridentina. Alma x Corpo. Rembrandt e Tintoretto. relacionado com a repressão inquisitorial. C .Pascal. a expressão de um ascetismo macerado ou de um exaltado misticismo. Caravaggio. a oposição da sublimidade espiritual e do grotesco da carne. Cristianismo x Paganismo) fazem do Barroco ibérico-jesuítico a expressão de um sentimento de desequilíbrio e frustração e de instabilidade. levando em consideração a paisagem circundante. Palestina. repletas de elementos ornamentais e pormenores significativos. Virtude x Prazer. Bernini. a pesquisa dos recessos da alma. abalado com a derrota da Invencível Armada. ou segundo linhas de movimento aparente. a obsessão do irracional. do idealismo puro e do pícaro burlesco. a bizarria fidalga ao lado do pitoresco folclórico. exemplarmente na Arquitetura: muitos edifícios são planejados no século XVII para produzirem amplos efeitos de conjunto. Rubens. geradores do contraponto e da fuga. esse mesmo sentido de profundidade labiríntica e diluição do espaço é perceptível em Vitória. essa ânsia de expressar a grandiosidade. o reforço da autoridade papal e a rígida disciplina eclesiástica projetam-se. especialmente espanhol. incluindo o “pitoresco” e o “colorido”. no virtuosismo dos esquemas polifônicos. espanhol. Cristianismo x Paganismo. o Academismo. denotando as perspectivas múltiplas do observador. humanização do sobrenatural.visão de superfície à visão de profundidade. para o rebuscamento da forma. 3) da forma fechada à forma aberta. a pobreza ou a ausência de assunto — Mergulhado na dúvida e na incerteza. o belo horrendo. dos paradoxos e dos oximoros. A religiosidade mesclada com a sensualidade — Alegorias bíblicas mescladas com alegorias mitológicas. 5) da clareza absoluta dos objetos à clareza relativa. do dilema. o Rococó. Ascetismo x Mundanismo. O propósito do artista barroco é. emprego intensivo das antíteses. o Barroco privilegia o significante (palavra) em detrimento do significado (conteúdo). para a ornamentação estilística. implicando o desdobramento de planos e massas. Essa atitude lúdica (= de jogo) fundamenta os dois polos construtivos do Barroco: o Cultismo e o Conceptismo. o tempus fugit. certos períodos cíclicos de desequilíbrio e equilíbrio aparente: o Renascentismo. Espírito x Carne. Cultismo ou Gongorismo É o aspecto do Barroco voltado para o jogo de palavras. na acidentada evolução da Arte do século XVI ao século XVIII. Virtude x Pecado. Vida x Morte. Céu x Terra. o Barroco. muitas vezes. da contradição. 4) da multiplicidade à unidade. para a erudição minuciosa. O feísmo — Gosto exuberante pelos aspectos cruéis e dolorosos da vida. Dor x Prazer. o Neoclassicismo ou Pseudoclassicismo e o Arcadismo. o Maneirismo. a sugerir formas de expressão esfumadas. a engenhosidade. o de demonstrar o virtuosismo. para o preciosismo linguístico. Deus x Homem. Mocidade x Velhice. Alma x Corpo. O fusionismo — Tentativa de conciliação dos contrários: Claro x Escuro. surpreendendo o leitor e enredando-o em verdadeiros labirintos de imagens e ideias. não finitas. Fé x Razão. ambíguas. o desengano. da dúvida. a consciência da fugacidade e das incertezas da vida. o bifrontismo — Arte do conflito. subordinando vários aspectos a um único sentido. o pessimismo. A História da Arte e da Cultura tem reconhecido. O niilismo temático. . CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS O dualismo. Teocentrismo x Antropocentrismo. do contraste. cujas características e cronologia são muito fluidas ou discutidas. Opera através de trocadilhos. Não se diz. O estilo culto (cultismo) ganhou feições peculiares nos diversos países europeus. Entre as figuras prediletas do Barroco. pela sintaxe latinizante). Na Espanha. nas metáforas e nas perífrases ou circunlóquios (= torneio em redor do termo próprio e adoção de muitas palavras para evitá-lo). onomatopeias e paronomásias. Esse processo de identificação (ilusória. Conceptismo É o aspecto construtivo do Barroco. assonâncias. coliterações. prosopopeia e gradações. Assim. o sofisma e o paradoxo. voltado para a descrição do mundo através das sensações (analogias sensoriais = metáforas). homenageando Luís de Gôngora. 2) figuras sintáticas: anástrofes. ecos. para o jogo de ideias. Há uma tese a demonstrar e o interlocutor tem de ser convencido. O aspecto exterior. Constitui o aspecto sensual do Barroco. epístrofes. além da predileção pelas construções paralelísticas e pelo método disseminativo-recoletivo (disseminação e recolho). de associações inesperadas e dos mecanismos da Lógica: o silogismo. em vez de dentes. sinestesias. anadiploses e quiasmos (repetição de termos). anáforas. Há um constante esforço dialético orientando a organização convincente das ideias. O abuso artificioso da fantasia no campo psicológico da representação sensível faz do poeta gongórico um verdadeiro alquimista. apoiado em sugestões intensivas de cores e de sons. imediatamente perceptível. realçando mais a maneira de representar que propriamente o apresentado. em vez de leque. hipérbatos e sínquises (traduzindo a preferência pela ordem inversa da frase. sensorial.Retrata-se a realidade de modo indireto. não racional) apoiase nos jogos de palavras. eufemismos. . nos enigmas. as “pérolas da boca”. o “zéfiro manual”. citamos: 1) figuras semânticas: metáforas. nos trocadilhos. para a dialética cerrada. o barroco diz “o cristal dos olhos”. fundado na sugestão por imagens e no predomínio do ritmo verbal sobre a expressão discursiva. A um certo caos plástico (Cultismo) opõe-se a ordem racionalista (Conceptismo). voltado para o significado. hipérboles. antíteses. em vez de lágrimas. sugere-se. no Barroco cultista ou gongórico é o abuso no emprego de figuras de linguagem. num estado de verdadeiro delírio cromático. em Portugal e nas colônias ibero-americanas. o retorcimento cultista da linguagem denomina-se Gongorismo. 3) figuras sonoras: aliterações. que busca extrair do real uma natureza supranatural. para a argumentação sutil. o seu modo de reconhecer e conceituar os objetos. Configura a atitude intelectual do Barroco. modelo acabado do estilo culto. imaterial e arbitrária. elipses e zeugmas (omissão de termos). buscando apreender a face oculta das coisas. de Sóror Violante do Céu e do brasileiro Gregório de Matos). metonímias) e a valorização de analogias sensoriais ainda não exploradas pela Arte. forma. buscando saber o que são. A produção em prosa (Vieira. Esta noção é falsa. uma variante da poesia a lo divino. Academia dos Generosos. “poderíamos dizer que o Gongorismo a expressa como uma labareda para fora e o Conceptismo como uma reconcentração para dentro”. de Soropita. Francisco Manuel de Melo. através de sutilezas conceituais. o que levou a um domínio mais amplo dos recursos da dialética (a análise penetrante. o enriquecimento das possibilidades expressivas e impressivas da imagética (imagens. no qual se descobriram contradições. Há conceptismo. os raciocínios silogísticos. Costuma-se dizer que o Conceptismo predomina na prosa e o Gongorismo. . a epistolografia e a historiografia. de hermetismo. conceitos exigentemente lógicos e inteligentes). aos conceitos. metáforas. o teatro de costumes. 1716-1762) e Postilhão de Apoio (Lisboa. alegorias. 1628 . na poesia. apesar da esterilidade e do rebuscamento artificial dos poetas reunidos nas célebres antologias Fênix Renascida (Lisboa. sinédoques. Manuel Bernardes. dos objetos de arte e da figura humana (particularmente do semblante feminino). O Cultismo e o Conceptismo não podem ser vistos como polos construtivos opostos. em que o Homem é divinizado e Deus humanizado.Enquanto o Cultismo (Gongorismo) procura apreender o como dos objetos. a oratória sacra. ou seja. o Conceptismo pesquisa a essência dos objetos. símbolos. na poesia sacra e reflexivo-filosófica de Gregório de Matos. Lisboa 1647-1717). 1761-1762). o aprofundamento dramático do sentimento da complexidade do mundo interior e da análise racional desse mundo. num verdadeiro frenesi cromático e imagético. Apesar dos extremos de preciosismo. paradoxos. na esteira de Quevedo.1665. apenas acessível ao pensamento. através da captação (descrição) de seus aspectos sensoriais e plásticos (contorno. cor. sobretudo de seu centro afetivo. Como observou Dámaso Alonso. a prosa moralizante. Lisboa. impulsos irracionais e intensas paixões. LITERATURA BARROCA EM PORTUGAL A produção seiscentista da Literatura Portuguesa privilegia como gêneros literários a poesia lírica. na busca dos valores plásticos da natureza. volume). por exemplo. Mariana Alcoforado) foi qualitativamente superior à poesia (com exceção de Rodrigues Lobo. o Barroco em Portugal deixou algumas contribuições importantes. 2) quanto à temática. modelo conceptista muito reproduzido em Portugal e no Brasil. dentre as quais se destacam: 1) quanto à expressão literária. de afetação e de frivolidade que caracterizaram a produção das academias poéticas e de retórica (Academia dos Singulares. dos místicos espanhóis. São como duas faces de uma mesma moeda chamada Barroco. quando entram em moda as academias literárias e científicas. determinando o confisco da pequena oficina do tipógrafo português Antonio Isidoro da Fonseca. João VI. Outra Carta Régia. sem as quais se não podem imprimir nem correrem as obras”. A Carta Régia de 8 de junho de 1706 determinava “sequestrar as letras impressas e notificar os donos delas e os oficiais de tipografia que não imprimissem nem consentissem que se imprimissem livros ou papéis avulsos”. A cidade tinha uma aparência feia de feitoria d’África. do principal presídio de tropas. 3) o terceiro momento compreende as primeiras décadas do século XVIII. pestilentos e mesquinhos. ainda centrado na Bahia.Os escritores barrocos portugueses de maior significação representam a vertente conceptista. a pompa. a fartura da casa campestre contrastavam com a humildade da casa urbana. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉC. no Rio de Janeiro. da Diocese. a vaidade aparatosa de pequenas cortes independentes e agrícolas”. Fomos o último povo da América a conhecer a imprensa. com a pobreza dos portos atestados de africanos do tráfico. A Impressão Régia foi implantada em 1808. na análise sutil das paixões humanas (Sóror Violante do Céu e Francisco Manuel de Melo) e na epistolografia amorosa de Mariana Alcoforado. sede do Governo Geral. com a vinda de D. correspondente ao estilo rococó. XVII) Reconhecem-se três momentos no Barroco brasileiro: 1) o primeiro momento corresponde à primeira metade do século XVII. Não houve tipografia e imprensa nos séculos coloniais e as tímidas iniciativas foram categoricamente proibidas pela Metrópole. os colonos preferiam o campo à cidade e confinavam-se nos limites da casa-grande e das senzalas. Exagerando o estilo Barroco em suas linhas mestras. marcado pela dominação filipina. XVI E PRIMEIRA METADE DO SÉC. E o apogeu do Maneirismo barroco. Diz Pedro Calmon: “A riqueza. 2) o segundo momento ocupa a segunda metade do século XVII e marca a preeminência da Bahia. de 10 de maio de 1747. alegava que no Brasil “não é conveniente se imprimam papéis no tempo presente. Com a prosperidade do açúcar. na poderosa dialética oratória do Pe. pela ocupação holandesa no Nordeste e pela hegemonia de Pernambuco. a capitania mais adiantada. por influência europeia. da Relação. o engenho. do qual podem ir impressos os livros e papéis no mesmo tempo em que dele devem ir as licenças da Inquisição e do Conselho Ultramarino. e nosso . nem pode ser de utilidade aos impressores trabalharem no seu ofício. do porto mais ativo e da economia mais dinâmica. mercê das novas condições sociais que se vão criando com a descoberta de pedras e metais preciosos em Minas Gerais. presencia-se o progresso no sentido de uma afetação cada vez maior. onde as despesas são maiores que no Reino. Vieira. A arejada e orgulhosa vida da casa-grande. Revolução dos Alfaiates e a Revolução Pernambucana de 1817). à imitação das congêneres europeias. Essa educação medievalizante. Vila Rica. desembargadores. salvo os compêndios escolares obras religiosas e catequéticas. Mesmo a circulação manuscrita era dificultada pelo alto preço do papel. Aglutinavam religiosos militares. Formávamos sacerdotes e bacharéis. extraconventual. As academias “literárias” baianas e cariocas foram o último centro irradiador do Barroco literário e o primeiro sinal de uma cultura humanística viva. os apelos da nova terra. a Gazeta do Rio de Janeiro. a força de atração do meio tropical e a consciência que os agrupamentos humanos. apareceu em 10 de setembro de 1808. coletâneas de leis e uns raros romances de cavalaria. desdenhoso dos comportamentos científicos e técnicos perante a realidade. Não havia o que ler na Colônia. refletindo o forte contingente indígena e africano em circulação durante o primeiro e segundo séculos. . Esses apelos da nova terra irão desaguar no sentimento nativista. Emboabas. iam tomando de sua diferenciação. reunidos em grêmios eruditos. O vernáculo era ensinado nas escolas e revestido de uma aura de prestígio. em 1759. Era um ensino “literário” e retórico. mestiçados ou não. Guerra dos Mascates. como também no amor à forma pela forma. infenso a toda manifestação artística que escapasse ao âmbito vocabular e oral. Até a expulsão da Companhia de Jesus.primeiro jornal. durante três séculos. altos funcionários. retórica e contrarreformista abafou. que ainda infesta nossa cultura. As poucas bibliotecas das casas religiosas reuniam algumas centenas de volumes hagiográficos e apologéticos. Até meados do século XVIII houve duplicidade linguística: o emprego do português e do tupi. Tinham caráter fortemente encomiástico (= bajulador) e seus atos acadêmicos destinavam-se à celebração das festas religiosas ou dos feitos das autoridades coloniais. no requinte e nos rebuscamentos. Inconfidência Mineira. a “língua geral” era empregada na vida familiar. com a multidão de reinóis que acorreram a Minas Gerais. O bacharelismo. atestam a presença de pruridos autonomistas (Amador Bueno. a partir de 1640. Beckman. lastreia-se nesse interesse pela vernaculidade e no pendor para dar a tudo expressão literária. Esse “abrasileiramento linguístico” tem expressão nos autos de José de Anchieta. Deram maior contribuição à História e à erudição em geral que à Literatura. a “língua geral” começa a cair em desuso. No século XVIII. fermento de várias rebeliões que. os jesuítas tiveram o monopólio do ensino. na poesia satírica de Gregório de Matos e em alguns momentos do Arcadismo. Dante. NEOCLASSICISMO. Filinto Elísio. Pe. Voltaire). Correia Garção. Lineu. 2) Nova Arcádia (1790) e autores independentes de programas de grupos. clareza e equilíbrio — Emprego comedido de figuras de linguagem. vernaculidade. SETECENTISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SÉC. Prosperidade econômica de Portugal pelo afluxo do ouro do Brasil. Há dois momentos no Arcadismo português: 1) Arcádia Lusitana (1756). . Períodos mais curtos. Obediência a regras e modelos. Preferência pela metonímia e pela ordem direta da frase. Píndaro) e renascentistas (Petrarca. Volta aos modelos clássicos greco-romanos (Horácio. submissão da Santa Inquisição. Camões). para o individualismo burguês e para o gosto e sensibilidade da classe média. correção gramatical. reedificada como cidade “esclarecida”. Locke). à qual pertenceram os primeiros teóricos e poetas da escola: Antônio Dinis da Cruz e Silva. Enciclopedismo (Diderot). Superação da influência espanhola pela francesa.ARCADISMO. laicização do ensino. italiana e inglesa. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Reação contra os exageros verbais do Barroco cultista ou gongórico. menos invertidos. José Agostinho de Macedo. Arte de transição — da arte aristocrática. Despotismo Esclarecido (Regime Pombalino) — Expulsão dos jesuítas. Lavoisier. Reforma educacional inspirada nas propostas pedagógicas iluministas de Luís Antônio Verney. purismo. cortesã e erudita. Montesquieu. divulgação das ideias científicas. Simplicidade. Reconstrução de Lisboa (parcialmente destruída pelo terremoto de 1755). alguns já abertos à influência pré-romântica: Nicolau Tolentino de Almeida. Ovídio. Bocage e Marquesa de Alorna. Empirismo (Newton. Virgílio. racionalmente planejada. autor de O Verdadeiro Método de Estudar. XVIII) Racionalismo — Superação dos conflitos espirituais do Período Barroco. Século das Luzes — Iluminismo (Rousseau. Inutilia truncat (corta o inútil) era o lema dos árcades.Retomada dos ideais clássicos: o Belo. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Há poucos desvios em relação aos temas e formas do movimento europeu. a afetação. Formação de uma sociedade urbana mais complexa. O sentimento da terra. Nativismo reivindicatório — rebeliões contra o estatuto colonial da Metrópole (Inconfidência Mineira. Fingimento. a Verdade e a Perfeição. Alegorias fundadas na mitologia greco-latina (musas. o Bem (didaticismo). São João Del Rei). rica e diversificada (Mariana. convertidos em “clichês”: fugere urbem (opção pela vida na natureza. aurea mediocritas (mediania de ouro: exaltação do herói humilde. a frivolidade. já marcado por certo “polimorfismo” cultural. simples e honrado). oposição campo x civilização). ninfas. locus amoenus (natureza aprazível. visão crítica dos abusos da Metrópole. Primeiro período “orgânico” de nossa literatura. os mitos do homem natural e do bom selvagem projetados na exaltação do herói simples. Transferência do centro econômico e cultural da Colônia. deuses etc. Poesia descritiva e objetiva — O poeta deve ser mais um pintor de situações que de emoções. voluptuosa). honrado e no indianismo de O Uraguai e Caramuru. a lascívia e o intimismo representam a saturação do espírito neoclássico e o exagero de seus pressupostos. Valorização de temas clássicos. riachos. Estilo rococó — O culto sensual da beleza.). campinas etc. antes expresso apenas na valorização do exótico. do Norte (Pernambucano e Bahia) para o Centro-Sul (Minas Gerais e Rio de Janeiro). Influência das ideias iluministas e enciclopedistas — gosto pela clareza e simplicidade. Sabará. do pitoresco e das riquezas na- .). Bucolismo pastoril — Ideal de vida simples. Congonhas do Campo. carpe diem (aproveita o dia). Revolução dos Alfaiates). A mimese aristotélica (Arte = imitação da Natureza). ovelhas. tomada como cenário e moldura para suaves idílios campestres (pastores. junto à natureza. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Apogeu da mineração do ouro. aludindo à oposição aos exageros ornamentais do Barroco. Vila Rica. marcada. a oratória (Frei Francisco de Monte Alverne) e a poesia didática e moralizante (Pe. primeiros cursos superiores de Medicina e Direito etc.).turais. prenunciando a consciência de nacionalidade que se consolidará no Romantismo. . No plano literário destacam-se: o jornalismo político (Evaristo da Veiga. no plano histórico. Sousa Caldas. reveste-se de caráter reivindicatório. Imprensa Régia. pela transmigração da Família Real Portuguesa e pelos desdobramentos de sua presença no Brasil (Abertura dos Portos. Américo Elísio — pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva). Denomina-se Pré-Romantismo a fase de transição entre a Era Colonial e a Era Nacional (1808-1836). Hipólito da Costa e Januário Barbosa da Cunha). XIX) Reflete a ascensão da burguesia à condição de classe dominante. a partir da Revolução Francesa e da Primeira Revolução Industrial. descontentamento — A nobreza. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A imposição do “eu”. que já caiu. Espírito de rebeldia. relativismo e imposição radical do “eu” — Ruptura com valores absolutistas (racionalismo. o escapismo — O conflito eu x mundo. O predomínio da emoção. o sonho. pontos de exclamação. disciplina. expressa urna visão nostálgica. o culto . A burguesia ascendente e os novos proprietários oscilam entre a euforia e a prudência. regras e modelos). o Romantismo reflete o desenvolvimento da Imprensa e a afirmação de um novo público leitor: o burguês. depois. o tédio. imersos na mudez da inconsciência. o individualismo — Busca de expressão sincera dos aspectos “selvagens” da vida: a paixão. a tradição literária mais significativa do país. carregado de adjetivos. reflete-se na frequência do uso de recursos expressivos. a morbidez. o tédio. primeiro inquietos e. Insatisfação. daí a morbidez. O campesinato e o operariado crescente estão postos à margem. o negativismo. a loucura. Contudo. A pequena burguesia e os que não lograram a ascensão irão engrossar o coro dos descontentes. dentro de um contexto mais democrático e popular. Individualismo. o subjetivismo. subjetivismo. O idealismo. saudosista. reticências. da imaginação — Metáforas e comparações ousadas. Discurso pomposo. Em Portugal. A intensidade da emoção.ROMANTISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (PRIMEIRA METADE DO SÉC. colorido. a insatisfação. francamente rebeldes e libertários. leva o romântico ao desejo de evasão. dupla pontuação e apóstrofes violentas. a boêmia. o amor. ideal x real. a ausência de uma autêntica revolução industrial e o analfabetismo de 80% da população inibiram o florescimento de uma literatura mais original e contundente. a economia de base agrária. liberalismo — Revoluções liberais na Europa e emancipação das colônias da América. o ímpeto revolucionário. atualizou-se. A dependência da Inglaterra. o tumulto interior. como interjeições. a liberdade formal — Abandono das formas fixas. ou de comerciantes e profissionais liberais. mistura de gêneros e formas: poesia prosaica. a consolidação do Segundo Reinado e sua estabilização no Gabinete da Conciliação. da cor local. Recife e Rio de Janeiro. e as crises antecipadoras do regime republicano: a Guerra do Paraguai e as campanhas abolicionista e republicana. A inteligência local. medievais e nacionalismo. O romântico odeia o aqui e o agora. A emancipação política (1822) não alterou o poder agrário. mais acessíveis ao público burguês. Preferência pelo conto. dos temas folclóricos. euforia/ depressão. o gosto pelas ruínas. O ilogismo — Atitudes antitéticas: alegria/ tristeza. a tragédia e a comédia são substituídas pelo drama. A religiosidade — Sugestões bíblicas e medievais.da solidão. A incorporação da linguagem oral. lugar e ação). trabalho escravo e mercado externo. O nacionalismo — Valorização do passado histórico (heróis reais ou lendários). coloquial. A idealização da mulher como anjo ou demônio. saía dos bancos das escolas jurídicas de São Paulo. A epopeia é substituída pelo romance histórico. formada pelos filhos das famílias abastadas do campo. prosa poética. No teatro. sustentado pelo latifúndio. O Romantismo português apresenta três fases: 1) Primeira fase — Resíduos clássicos. a busca de lugares longínquos e exóticos. o saudosismo. a poesia noturna e sepulcral. a abominação do presente. o que possibilitou uma dicção mais solta e mais compatível com o gosto e o entendimento da burguesia e do povo. de neologismos. A ruptura com a disciplina clássica. a tendência ao coloquial — Superação do rigor linguístico dos clássicos. 2) Segunda fase — Ultrarromantismo. . religiosidade/ satanismo. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO Abrange o período final das Regências. rompendo a lei das três unidades (tempo. pela novela e pelo romance. desejo/ autopunição. 3) Terceira fase — Aproximações realistas. Consolidação da poesia e do romance. nacionalismo. revista brasiliense (porta-voz do Grupo Fluminense). mal do século — Subjetivismo intenso. família). Preocupação formal. A intelectualidade brasileira procurou absorver e adaptar à condição brasileira as principais vertentes do Romantismo europeu. Lamartine. boêmia. Incorporação de novos temas — O humor. confessionalismo. Tom enfático. Desdobramento da prosa — Romance indianista. os temas bucólicos e roceiros. poesia lírica. dúvida. Balzac. declamatório (metáforas ousadas. sertanista.Apenas Teixeira e Sousa. urbano. Influências de Byron. a poesia maldita. sensualismo reprimido (amor e medo). Quarto Grupo Romantismo social. início da ficção e do teatro. antecipações realistas e aproximações com o Parnasianismo. apóstrofes violentas. Terceiro Grupo Individualismo. antíteses). Abolição. Influência de Chateaubriand (Atala). lusofobia. F. regionalista. Cooper (O Último dos Moicanos). Manuel Antônio de Almeida e Laurindo Rabelo saíram das camadas humildes. Alfred Musset. nacionalismo — Idealização do índio (bom selvagem. morbidez. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Primeiro Grupo Fase de formação — Resíduos neoclássicos. hipérboles. Walter Scott (Ivanhoé). República). satanismo. Leopardi. Poesia religiosa e mística. Segundo Grupo Indianismo. negativismo. tédio. escapismo. . cavaleiro medieval) como símbolo da nacionalidade. Influência de Victor Hugo. Niterói. condoreirismo — Poesia engajada nas causas liberais e sociais (Guerra do Paraguai. saudosismo (infância. histórico e o romance de costumes de Manuel Antônio de Almeida. As Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense (1871) visaram “ligar Portugal com o movimento moderno”. escrita por Castilho. Determinismo — raça/ meio/ momento (Taine) — e Experimentalismo (Claude Bernard). após os movimentos político-militares de Maria da Fonte e da Patuleia (1846/ 47). A Questão Coimbrã ou a Polêmica Bom-Senso e Bom-Gosto (1865) opôs o grupo romântico de Lisboa. Pasteur) e tecnológico (locomotiva a vapor. e a resposta de Antero de Quental. Em Portugal. XIX) Segunda Revolução Industrial — Fortalecimento da burguesia. crescimento da classe média citadina e ativação da vida cultural. ironizando “os moços” de Coimbra. o progresso e a razão substituem o impulso pessoal. observação e análise — Busca de urna explicação lógica e cientificamente aceitável para os fatos e ações.REALISMO-NATURALISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL (SEGUNDA METADE DO SÉC. crítica irreverente e desabrida ao conservadorismo dos “velhos” de Lisboa. Materialismo. Ramalho Ortigão. o Grupo dos Vencidos da Vida. denominação que expressava a crise e o desalento ideológico dessa geração. no folheto Bom-Senso e Bom-Gosto. Evolucionismo (Darwin e Spencer). Guerra Junqueira e Oliveira Martins. Eça de Queirós. de Pinheiro Chagas. Dependência econômica da Inglaterra. Positivismo (Comte). Mendel. a paixão e o ímpeto revolucionário dos românticos. cientificismo — A ciência. telégrafo etc. desenvolvimentismo. Progresso científico (Darwin. liderado por Castilho. mais tarde. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS O Realismo Objetivismo. consolida-se a monarquia liberal-parlamentar — o período da Regeneração (1851-1910). sob a liderança de Antero de Quental. Civilização industrial: explosão urbana. Socialismo (Proudhon e Marx).). . Lamarck. Esses autores constituíram. proletariado. Claude Bernard. ao grupo realista de Coimbra. capitalismo avançado. liderado por Antero de Quental. impassibilidade. Os detonadores da polêmica foram a carta-posfácio ao Poema da Mocidade. eletricidade. aglutinando a denominada Geração 70: Teófilo Braga. que evoluiu do inconformismo e rebeldia para o ceticismo risonho e conformista. devido ao acúmulo de pormenores. ao capitalismo selvagem. ao preconceito racial. Densidade psicológica. Focaliza as camadas inferiores. Preocupação formal — Clareza. Temas contemporâneos — Crítica social à burguesia. assassinato etc. Privilegia a fisiologia e os aspectos sociais. Personagens grosseiras. “amoralisrno”. complexas. assimiladas pela elite culta brasileira. Privilegia os aspectos biológicos e instintivos. os marginais. às pressões do meio social e do ambiente natural. Personagens esféricas.). adultério. A ação e o enredo perdem a importância para a caracterização das personagens e dos ambientes. Narrativa lenta. vernaculidade. pela patologia. determinismo rigoroso). triunfo do mal. A metáfora cede lugar à metonímia. Predomínio da denotação. ao clero. purismo. incesto. Predomínio da descrição objetiva. Visão mecanicista do homem. caracterização pelos aspectos exteriores. colocando. O autor ausenta-se da narrativa. multiformes. degradação das personagens. saindo do es- . gestos. adultério. pelo reducionismo e pelo esquematismo. Romance social. O Naturalismo Exacerbação do cientificismo (experimentalismo. O “romance que se narra a si mesmo” (Flaubert). temas chocantes (homossexualismo. Romance experimental (Emile Zola). assassinatos. o proletariado. Sexo. à monarquia.se como observador neutro.Sensorialismo — Impressões sensoriais nítidas e precisas. às vezes. Técnica do tipo. de tese — Peca. ao obscurantismo provinciano. precisão lexical. Zoomorfização (aproximação entre o homem e o animal). e a realidade do país: sociedade agrária. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO Discrepância entre as ideias avançadas do cientificismo e do materialismo europeus. concisão. Bem x Mal). traços físicos. ações. imprevisíveis e dinâmicas. psicológico e de tese. submetido às leis da hereditariedade. Predileção por temas escabrosos. Ruptura com a linearidade das personagens românticas (Herói x Vilão. e os militares — novos atores da cena política). modernização do ensino superior e incremento da vida cultural e literária. com o florescimento de todos os gêneros literários. Franklin Távora (O Cabeleira — violência no sertão do Nordeste) e Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícias — imparcialidade na caracterização dos costumes e ambiente do Rio colonial). Gazeta Literária. A evolução da literatura se fez da oscilação incessante entre ambas as atitudes ora realista. A “oficialização” da literatura implicou o academicismo (no mau sentido). Naturalismo. Nesse sentido. Victor Hugo. Parnasianismo. também universal no tempo e no espaço. essas antecipações realistas podem ser localizadas no seio do próprio Romantismo: Alencar (Senhora — crítica social). sóbria. Balzac. codificação racional das leis. contrapondo-se à atitude romântica. Modernização das cidades. Jorge Amado. de instituições culturais e dos órgãos de imprensa (Revista Brasileira. No Brasil. marcada pela ênfase na emoção e na fantasia. Rachel de Queiroz e outros. A atitude realista de observação direta e interpretação crítica será retomada no Segundo Tempo Modernista (1930-1945). Charles Dickens. foram os verdadeiros fundadores do Realismo na ficção contemporânea. Simbolismo (1893) e Pré-Modernismo (1902) — são mais simultâneos que sucessivos. José Lins do Rego.). Bernardo Guimarães (O Seminarista — sexualização do amor). e a Era Realista desdobra-se muito além de seus limites cronológicos estritos. estabilização das fronteiras com os países limítrofes. interiorização da economia. A Semana etc. Stendhal. mais ou menos variada. Gogol e outros. projetando-se no PréModernismo (Euclides da Cunha. . CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A atitude realista de observação direta da vida e de sua recriação artística exata e minuciosa é uma constante universal e sempre existiu na Arte.cravismo. habitualmente relacionados ao Romantismo. ora romântica — e de sua combinação. decorosa e respeitosa para com a elite dirigente. Taunay (Inocência — recriação fiel da paisagem e costumes matogrossenses). com a ficção neorrealista ou o Neonaturalismo regionalista de Graciliano Ramos. Os movimentos finisseculares — Realismo. Lima Barreto e Monteiro Lobato). governada por uma república oligárquica (aristocracia ascendente do café e decadente da cana. e mesmo a intelectualidade boêmia (Emílio de Meneses) acabou sendo cooptada pela literatura “oficial”. Fundação da Academia Brasileira de Letras (1897) — O escritor passa a ser socialmente aceito. como Théophile Gauthier. O Parnasianismo. . lapidada. do descritivismo frio e impassível. Fanfarras (1882). decididamente identificado com o brilho fácil das chaves de ouro. com esses movimentos. ao Realismo e Naturalismo e compartilha. Entre os portugueses. os parnasianos propõem o distanciamento da vida. No Brasil. reunindo poetas de tendências diversas. o desprezo pela plebe e pelas aspirações populares. em 1866. Nem os ataques que os modernistas de 1922 desferiram contra os “mestres do passado” e seus epígonos abalaram o gosto do leitor médio. a exclusão do cotidiano. comprometida com as grandes causas do tempo. os poetas mais expressivos desse período. a poesia burilada. antecedido pela Batalha do Parnaso. de Teófilo Dias. é o marco inicial do Parnasianismo. o mesmo contexto histórico-cultural e os mesmos propósitos de combate aos exageros sentimentais e expressivos do Romantismo. Heredia e Charles Baudelaire. afastando-se das teorias parnasianas da “arte pela arte”. polêmica entre os defensores da Ideia Nova e os epígonos do Romantismo (1878). Leconte de Lisle.PARNASIANISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Corresponde. a contenção lírica e emocional — A assimilação dos ideais das Artes Plásticas: o poeta-ourives/ escultor/ pintor/ arquiteto. Junqueira Freire e Cesário Verde. dos decassílabos bem rimados e da temática kitsch. A impassibilidade. A beleza formal é a razão de ser do poema. a recusa aos temas vulgares. o movimento gozou de largo prestígio. não teve a repercussão que teve no Brasil. com a antologia La Parnase Contemporain. o esteticismo — A poesia como fruto do esforço intelectual: “Trabalha e teima e lima e sofre e sua” (Bilac). em Portugal. cronologicamente. cinzelada. com o cotidiano. O materialismo da forma. Banville. filosófico-científica e socialista de seus precursores e contemporâneos. O Movimento Parnasiano iniciou-se na França. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A “arte pela arte”. Negando a poesia realista. apenas João da Penha e Gonçalves Crespo podem ser considerados parnasianos típicos. Antero de Quental. Essa alienação dos problemas do mundo justificou o apelido de “poetas de torres de marfim”. representam a vertente realista. A poesia descritiva. “A Estátua”). pela vernaculidade. . “Anoitecer”. “O Leque”. raras e preciosas.). mas ainda prestigioso. pelo purismo. baladas etc. Temas prediletos: as cenas da natureza (“Cavalgada”. Os neoparnasianos José Albano. através de impressões sensoriais nítidas. os objetos de arte (“O Vaso Chinês”. “O Triunfo de Afrodite”).A perfeição formal — Entregues ao puro fazer poético. as cenas históricas e mitológicas (“O Incêndio de Roma”. “Plenilúnio”). Esse formalismo manifesta-se. sextinas. 2) na métrica rigorosa. a beleza física da mulher e a poesia reflexivo-filosófica. os parnasianos foram exímios conhecedores da língua (“poetas de dicionário”). na predileção pelos versos alexandrinos (doze sílabas) e decassílabos. plástica e visual. 4) na frequência dos enjambements (encadeamentos ou cavalgamentos) para quebrar a monotonia da rima. especialmente de imagens visuais brilhantes e coloridas (“cromatismos rutilantes”). 3) na preferência pelas formas fixas (sonetos. Amadeu Amaral. “Velhas Árvores”. pela seleção vocabular. visando a apreender objetivamente o real. Gilka Machado e outros marcam a sobrevivência de um parnasianismo já desvitalizado e anacrônico. obcecados pela correção gramatical. Olegário Mariano. ainda: 1) no culto das rimas ricas. antes de passar pelo crivo da razão. que divulga. que nasce do inconsciente. a alucinação e a toxicose são as marcas do Decadentismo. visando às vivências vagas. a dificuldade e a obscuridade dos versos simbolistas. mais tarde. e a poesia do apocalipse e do absurdo de Poe. individualismo etc. Mallarmé e Verlaine. antipositivista. . o satanismo. a perversão.) e propõe aproximar a poesia da religião e da metafísica. A busca das esferas inconscientes do “eu” profundo. a fuga da lógica discursiva. na metáfora insólita e no símbolo. Determinismo etc. Nerval e Edgar Alan Poe. Daí o hermetismo. não por suas descrições ou explicações. A formulação explícita das propostas simbolistas deve-se a Jean Moréas. na sugestão. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A radicalização das doutrinas romântico-liberais (espiritualismo. que se opõe às correntes cientificistas (Evolucionismo. eles valem pelas sugestões. um manifesto literário subintitulado Manifeste du Symbolisme. retomados pelos “poetas malditos” ou “decadentistas”: Baudelaire. Hoffmann. Buscando superar a visão racionalista e mecanicista do Universo. pois. sem constituir uma doutrina estética coesa. subjetivismo. A reação aos valores cientificistas da burguesia industrial tem como precursoras a filosofia de Schopenhauer. o idealismo e especialmente a literatura erótica e fantástica de Blake. em atitude poética ao mesmo tempo afetiva e cognitiva.). mas também a tomada de consciência dessa emoção. no sentido de que poesia não é somente emoção e amor. o horror à banalidade do cotidiano. de Kierkegaard e. inefáveis. de Bergson. o Absoluto. os simbolistas retomam e aprofundam o subjetivismo romântico: a nostalgia. em 1886. que só podem ser traduzidas através de uma linguagem indireta. fluidas. valorizando a “poesia pura”. construídos por sucessivas implicações de sentidos.SIMBOLISMO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Reação antimaterialista. apoiada na intuição. Rimbaud. O ilogismo. Deus ou o Nada. A agressividade anárquica. visando à transcendência. à essência comum de todos os fenômenos. estado de sensibilidade e atitude existencial que preparam o advento do Simbolismo. ao sentimento de totalidade. sejam eles a Natureza. de Nietzsche. a morbidez. ilógicas. “quimérico”. da alucinação sensorial. os perfumes e o pensamento e a emoção através das sinestesias (cruzamento de sensações: “ruído áspero”. CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO Na história social. rimas aproximativas e onomatopeias) e do emprego de arcaísmos. mortuária e elegíaca (A1phonsus de Guimaraens) e o intimismo dos poetas crepusculares. o alto. o subjetivismo intenso — Ânsia de evasão do mundo terreno. a religião do verbo. o ocultismo. Fixação pela Idade Média e pelo vocabulário litúrgico e eclesiástico. a diferença entre parnasianos e decadentistasimbolistas brasileiros é principalmente de grau: naqueles. assonâncias. almejava-se a fixação do inexprimível. os simbolistas querem tocar os ouvidos sem feri-lo. a poesia litúrgica. buscando a Beleza através da vertigem. No nível das intenções. que é feito da felicidade de adivinhar pouco a pouco. através de procedimentos sonoros (aliterações. termos litúrgicos e inusuais (“antífona”. . desarticulação sintática e semântica.A teoria das correspondências (Baudelaire) — Propõe um processo cósmico de aproximação entre as realidades físicas e as metafísicas. etc. e é o objetivo da literatura — e não há outro — evocar os objetos”. A alquimia do verbo (Rimbaud) — Antecipando a modernidade. 2) automatismo verbal. “som colorido”). mas ambos na mesma linha formalizante. as cores. A musicalidade (Verlaine) — Visando à essência. ao inexprimível. “oaristos”. “música doce”. de comunhão com os astros. sondagem infinitesimal da memória. neologismos. Enraizados na tendência estetizante. “alabastros”. captação do fluxo da consciência. O espiritualismo. A estética da sugestão (Mallarmé) — “Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema. Antecipações da modernidade: 1) ruptura com o descritivo e linear. opera-se a passagem da concentração no objeto (parnasianos) ao mergulho no sujeito (simbolistas). o mistério. culto da forma. do delírio. eis o sonho. à transcendência. os sons. sugeri-lo. a essência. “turíbulos”. os simbolistas brasileiros viveram o mesmo contexto dos narradores realistas e dos poetas parnasianos: o período agudo das campanhas abolicionista e republicana.). Esse mergulho tomou três direções: a busca de transcendência (Cruz e Sousa). o misticismo. […] pois deve haver sempre enigma em poesia. nestes. entre os seres. 1890. Ânsia de transcendência. O núcleo inicial do movimento centrou-se na Folha Popular (Rio de Janeiro. Medievalismo. cuja surpreendente modernidade só recentemente vem tendo um (re)conhecimento. 2) Alphonsus de Guimaraens — Tendências neorromânticas. Daí. na forma lapidar de Cruz e Sousa) e a verlaineana (na musicalidade de Alphonsus). mais identificado com o gosto da elite “culta” dos salões literários. mais dócil ao regime. Belo Horizonte e Rio Grande do Sul. no satanismo moderado.O Simbolismo. o Imaginismo inglês. Potência verbal. as novas tendências foram sufocadas pelo Parnasianismo. Emiliano Perneta. o Expressionismo alemão. São Paulo. e mais prestigiado pelo poder público e pela literatura oficial da Academia. resumimos algumas delas: 1) Cruz e Sousa — Poeta a um só tempo expressivo e construtivo. Dadas as peculiaridades dos simbolistas brasileiros. o Hermetismo italiano etc. entre outros. não exerceu a função relevante que o distinguiu na literatura europeia. sua sintaxe audaciosa. na qual exerceu o papel de antecipador das principais tendências do Modernismo: Surrealismo francês. de leitura mais fácil. proliferou em outros grupos. Bahia. “Emparedamento”. A musicalidade áspera e dissonante de Mallarmé.1891). Aqui. Virgílio Várzea. sua imagística insólita e sua fantasia humorística só repercutiram em Pedro Kilkerry. vocabulário). Obsessão pela brancura e pela transparência. dispersos por Curitiba. . Nestor Vítor. Misticismo. Parnasianismo residual (soneto. rimas ricas. no Brasil. As vertentes simbolistas que mais atuaram no Brasil foram a baudelaireana (no poema em prosa. em torno de Cruz e Sousa. supressão do “eu”. mito. demolição. inútil e impossível de justificar”. do militarismo. da máquina. supressão da continuidade cronológica. abominação do adjetivo e do advérbio. canto entusiasmado da velocidade. 2) Expressionismo (1905?/ 1911) Expressão da vida interior. meio de conhecimento. nonsense: “a arte deve ser inestética ao extremo. técnica cinematográfica. da coragem. escrita automática. supressão da lógica aparente. a linguagem do sonho. da memória. magicismo (arte primitiva. das grandes multidões urbanas. enumeração caótica. abolição da lógica. 4) Dadaísmo (1916 — Tristan Tzara) Liberdade total de criação: “estamos contra todos os sistemas. destruição da sintaxe (“palavra em liberdade”). da alucinação. do progresso. mas sua ausência é o melhor sistema”. “realismo fantástico”. Aragon) Ruptura com o niilismo e a autofagia dadaísta. 3) Cubismo (1907 — Pablo Picasso) Busca das formas puras. exaltação da guerra. pensamento-associação. de modo obscuro e alógico. esoterismo). Artaud. das imagens que vêm do fundo do ser e se manifestam pateticamente. radicalização do mergulho romântico e simbolista no “eu”. ocultismo. da gramática. substituído pela “obsessão lírica da matéria”. a poesia como ação mágica. poesia pré-lógica. visando a uma estrutura superior.VANGUARDAS EUROPEIAS 1) Futurismo (1909 — Marinetti) Abominação do passado. . à forma plástica essencial. geometrizadas. multiplicidade de perspectivas (mostrar um objeto sucessiva e simultaneamente de vários ângulos). simultaneísmo. humor delirante. 5) Surrealismo (1924 — André Breton. o inconsciente. abolição da noção tempo/ espaço. A diversidade regional fez com que os movimentos da época exprimissem níveis de consciência muito distintos. O aspecto renovador. a imigração alemã — Graça . a Revolta da Chibata (RJ. 1904). 1910). Acresça-se a esse quadro a Campanha Civilista e a ascensão e queda da borracha na Amazônia. Parnasianismo. 1896-1897) e o fanatismo religioso desencadeado em torno do Pe. Flaubert. o antimoderno e o moderno. a classe média oscilante entre o puro ressentimento e o reformismo e. 1911-1915). a revolta contra a vacina obrigatória (RJ. que com algumas poucas ousadias. 1917) e a Guerra dos Posseiros do Contestado (SC. que anteciparam a modernidade. O aspecto conservador localiza-se na sobrevivência da mentalidade positivista. às vezes. “moderno”. os operários e o subproletariado. na preocupação com a realidade nacional (o subdesenvolvimento e a miséria do sertão do Nordeste — Euclides da Cunha —. Antimoderno x moderno. representado pela oligarquia dominante. no limite. os subúrbios cariocas e os “pingentes” da Central do Brasil — Lima Barreto —. configurando. e no código. os profissionais liberais. Émile Zola. as greves operárias lideradas pelos imigrantes anarco-sindicalistas do Brás e da Mooca (SP. além do Exército. os imigrantes. com os novos estratos sociais urbanos: a burguesia industrial incipiente em São Paulo e Rio de Janeiro. tensões meramente locais: 1) no Nordeste. Naturalismo. Eça de Queirós. Desse quadro social emergem ideologias conflitantes: o tradicionalismo agrário e a inquietação dos centros urbanos. Simbolismo). a atitude revolucionária. o fenômeno do cangaço.PRÉ-MODERNISMO BRASILEIRO CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Coexistência do tradicionalismo agrário. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Pré-Modernismo foi o termo cunhado por Alceu de Amoroso Lima para designar um conjunto de autores em que se observa um sincretismo de tendências conservadoras (Realismo. o liberalismo com traços anarcoides. na linguagem. continuou fiel aos modelos finisseculares: Aluísio Azevedo. Balzac etc. 2) no Sul. está na atitude de denúncia. a miséria do “Jeca Tatu” do Vale do Paraíba — Monteiro Lobato —. que desde a Proclamação da República exerceu papel político relevante. com tendências renovadoras. Cícero (CE. de documentação e de crítica às instituições arcaicas da República Velha. Machado de Assis. 1912-1916). a Revolução de Canudos (BA. o conservadorismo regressivo e saudosista. agnóstica e liberal que marcou a Era Realista. arcaísmo rural x refinamento litorâneo. Aranha). que será retomado e aprofundado no Segundo Tempo Modernista (1930-1945). além do regionalismo vigoroso e crítico. . “O meu porquinho da índia foi a minha primeira namorada” (Manuel Bandeira). O verso livre — A unidade de medida do ritmo deixa de ser a sílaba para basear-se na combinação das entonações e das pausas.MODERNISMO CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Hermetismo — Poesia “difícil”. Ruptura com a métrica tradicional: versos de duas a dozes sílabas. em rápidos instantes significativos. a ação e o enredo perdem a importância. pela classe média e pelo proletariado. delírios emocionais. com predomínio da concepção lúdica sobre a concepção mágica. sem limitações normativas. ritmo psicológico. . Dessacralização da obra de arte. e a fundação do Partido Comunista Brasileiro. com acentos regularmente distribuídos. ou através da apresentação da própria consciência em operação. em favor das reações e estados mentais das personagens. rupturas sintáticas. criado a cada momento. Integração poética da civilização material e do cotidiano — “Eia! eia! eia!/ Eia eletricidade. com a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana e seus desdobramentos — a Insurreição de Isidoro Dias Lopes (1924) e a Coluna Prestes (1925-1927). O versolibrismo tem como precursores Rimbaud e Walt Whitman. ruptura do encadeamento lógico. O que há é pouca gente para dar por isso”. poesia elíptica e alusiva. Presença do humor. metáforas insólitas. como descargas de vivências profundas. PRIMEIRO TEMPO MODERNISTA BRASILEIRO (1922-1930) CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Declínio da oligarquia. através do poema-piada e do poema paródia. Hegemonia de São Paulo. combinando os capítulos oriundos do café e da indústria. marca também o início do Tenentismo. nervos doentes da Matéria!”. antitradicionalismo. aproximações imprevistas: “Tua presença é uma carne de peixe” (Mário de Andrade). Semana de Arte Moderna (1922). Abolição da distinção entre temas poéticos. construídos por acumulação. pressionada pela burguesia industrial. Na prosa. (Álvaro de Campos). “O binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo. antipoéticos e apoéticos — Antiacademicismo. . já em versos livres.Esses fatos exprimiam a modernização política do país. a deposição de Washington Luís e a superação da política do “café com leite”. Patrocinada pela alta burguesia paulistana (os Prados. 1917 — Estreias de vários modernistas: Mário de Andrade. A exposição de Di Cavalcanti. Cassiano Ricardo. O affaire Malfatti x Lobato foi o estopim que desencadeou a aglutinação dos modernistas. Menotti Del Picchia. A exposição de Anita Malfatti causou indignada reação antimodernista de Monteiro Lobato. vai impulsionar a Revolução de 1930. marcado pela irreverência de Emílio de Meneses. participaram: Graça Aranha (“A Emoção Estética da Arte Moderna” — conferência de abertura). devido ao crack da Bolsa de Valores de Nova York (1929) e à consequente queda do preço do café. a partir de Klaxon (São Paulo. Essas revistas foram ampliando o leque de autores e tendências do Primeiro Tempo Modernista. Renato de Almeida. Antecedentes da Semana de 1922 1911/ 12 — Fundação do jornal humorístico O Pirralho. Guilherme de Almeida. O agravamento desse anacronismo. No saguão do teatro montou-se uma exposição de pintura. P. de 11 a 18 de fevereiro. 1913 — Exposição de Lasar Segall. Ernani Braga. 15 e 17. foram-se espalhando pelo país: Estética (Rio de Janeiro). em 1912. Dos três festivais realizados nos dias 13. A divulgação das propostas da Geração de 1922 deu-se através de algumas revistas que. mostrando quadros não acadêmicos. no artigo “Paranoia ou Mistificação?”. Guiomar Novaes (dissidente). de Manuel Bandeira). os Penteados e os Almeidas) e divulgada pelo Correio Paulistano. escultura e arquitetura. órgão do P. 1922/ 23). de Villa-Lobos. contrapondo-se ao anacronismo das instituições oligárquicas. Menotti Del Picchia. Villa-Lobos. A Revista e Verde (Minas Gerais). Manuel Bandeira. R. Ronald de Carvalho (que declamou “Os Sapos”. de Manuel Bandeira. A publicação de Carnaval. submete a rigoroso crivo crítico os poetas parnasianos. Juó Bananere e Oswald de Andrade (que inicia. a divulgação do Futurismo e do verso livre). as manifestações de modernidade. artigo de Mário de Andrade. Guilherme de Almeida. ainda. em São Paulo. 1918/ 1921 — O “descobrimento” do escultor Victor Brecheret. A Semana de 1922 Teatro Municipal de São Paulo. Mário de Andrade. A publicação de Mestres do Passado. além da composição do balé Amazonas. São muito frágeis. “Tupi or not tupi. Os manifestos dessas correntes foram “Curupira e o Carão” e “Nhengaçu Verde-Amarelo”. Raul Bopp. 3) estabilização de uma consciência criadora nacional. Plínio Salgado. Tarsila do Amaral. Oswald de Andrade (o radicalismo criador e anárquico que catalisou a tendência). que desaguou no Integralismo. “bocejal”. Anta (1929) e Bandeira (1936) Configuram o nacionalismo xenófobo e estreito. 2) atualização da inteligência artística brasileira. Visão ufanista. o poema-piada e os textos-programas (“Os Sapos” e “Poética”. a técnica da colagem. além de Antônio de Alcântara Machado. “Ode ao Burguês”. exaltação da terra e do homem. Linguagem de prevalência inventiva — Paródia. valorização do índio.CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Três princípios nortearam a “Fase Heroica” do Modernismo (1922-1930): 1) direito à pesquisa estética. a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista”. Rupturas sintáticas. de Bandeira. “A alegria é a prova dos nove”. Mário de Andrade. “sonambulando”. as metáforas insólitas e a “invenção” de novos termos: “arlequinal”. “Prefácio Interessantíssimo”. a poesia e a prosa “telegráficas”. a “devoração ritual dos valores europeus. Pau-Brasil (1924) e Antropofagia (1929) Representam a corrente primitivista. Literatura alegre e vital: carnavalização. “a alegria da ignorância que descobre”. Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes (os dois últimos pertencentes ao Segundo Tempo Modernista) foram. that is the question”. sarcasmo. Nacionalismo (da direta à esquerda) — Busca das “raízes da nacionalidade”. do folclore. fase de demolição — Irreverência. Guilherme de Almeida e Cândido Mota Filho. Verde-Amarelismo (1924). de Mário de Andrade. Rejeição das normas estéticas consagradas. corrosão do sentido literal do texto. “choverando”. antiacademicismo. busca da originalidade a qualquer preço. o estilo elíptico e alusivo. a escrita automática. Cassiano Ricardo. arrastados por esse esboço de uma filosofia da cultura . a poesia prosaica e a prosa poética. com intensidade variável. Eleição do moderno como um valor em si mesmo. A incorporação do falar coloquial. de Oswald de Andrade). ironia. antitradicionalismo. que propõe a valorização da inocência dionisíaca dos primitivos. a liberação do instinto. Manifesto da Poesia Pau-Brasil e Manifesto Antropófago. dessacralização dos heróis e artistas do passado. “Enfibraturas do Ipiranga” e A Escrava que Não é Isaura. a ruptura dos limites entre a prosa e a poesia. a polifonia poética. A elas relacionaram-se Menotti Del Picchia. ao “objetivismo dinâmico”. acabou por frustrar as esperanças dos segmentos sociais que ficaram marginalizados. A Revolução Constitucionalista (1932). Glauber. A agitação política interna e externa. a Intentona Comunista (1935). como reflexo do crack da Bolsa de Valores de Nova York. Há autores que pertenceram simultânea ou sucessivamente a duas ou mais correntes e há os que. a pena de morte para os crimes de subversão etc. vários escritores irão assumir posição bem mais moderada. Em 1945. Graciliano Ramos. Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida configuram essa tendência.brasileira. Corrente Dinamista Inspirada no Futurismo. A Revolução de 1930. a Ditadura Vargas (1937). que não se materializou em programa ou manifesto. com a queda da ditadura. Jorge Amado e Rachel de Queiroz militaram no Partido Comunista. a Segunda Grande Guerra (1939) marcam historicamente esse período. Retomada de algumas . cujos desdobramentos ecoaram no Tropicalismo (Caetano. Radicalização política: direita (Fascismo. Drummond compôs. I. Graça Aranha. levou ao engajamento de autores expressivos na resistência ao Estado Novo. a parcela mais “participante” de sua poesia: Sentimento do Mundo e Rosa do Povo. Integralismo). CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Modernismo “moderado” — Consolidação de algumas conquistas da “Fase Heroica” (1922-1930). à técnica. SEGUNDO TEMPO MODERNISTA BRASILEIRO (1930-1945) CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Crise econômica. o Estado Novo. desdobrada na Era Vargas. ou para a direita. Gil. P. A radicalização do autoritarismo em 1937 (D. não se filiaram a nenhuma delas. Nazismo. nesse período. percorrendo o caminho inverso — da esquerda para o centro. esquerda (Comunismo). — censura prévia à Imprensa. no culto à velocidade. Recuo quanto às propostas mais radicais do período precedente. a Constituição (1934). como Manuel Bandeira.) acabou por “empurrar” a intelectualidade para a esquerda. aliada ao autoritarismo da ditadura. em especial quanto ao experimentalismo mais ousado de Oswald de Andrade. e Torquato Neto) e na vanguarda concretista (os irmãos Campos e Décio Pignatari). Duprat. Augusto Frederico Schmidt e Tasso da Silveira). Otávio de Faria. Prosa Romance regionalista nordestino (Neonaturalismo regionalista) — José Américo de Almeida. Oswald e Bandeira continuaram produzindo até 1945. TERCEIRO TEMPO MODERNISTA/ TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS (1945…) CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL O ano de 1945 constitui o marco inicial do Terceiro Tempo Modernista. 1954 e 1960. a partir de 1930. que irá cair no mesmo ano. realiza-se o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Poesia Desdobramento das obras dos poetas da Geração de 1922 — Mário. A periodização da Literatura Brasileira pós-45 é ainda muito precária. realimentados pelo vigor modernista (Graciliano. Caminho para o universal. No plano nacional. Rachel de Queiroz e Jorge Amado. um certo distanciamento temporal. José Lins do Rego. Ampliação temática. respectivamente. além de outras vertentes da tradição luso-brasileira. centrada no grupo da revista Festa (Cecília Meireles. na vertente social da obra de Carlos Drummond de Andrade. Como se . Lúcio Cardoso. Desejo de denunciar a realidade social e espiritual do país. Jorge de Lima. superação do nacionalismo primitivista e verde-amarelista. pois a fixação de períodos implica uma perspectiva histórica. Graciliano Ramos. retomando o país à normalidade democrática. Equilíbrio no uso do material linguístico. no plano externo. Cornélio Pena. de preocupação religiosa e filosófica. Marques Rebelo e José Geraldo Vieira. Mário e Bandeira perderam. em termos de normas de linguagem. José Lins do Rego). Dyonélio Machado. encerra-se a Segunda Grande Guerra. Poesia de dimensão surrealista (Murilo Mendes).tendências do passado: o Neossimbolismo (Cecília Meireles). Predomínio de um “projeto ideológico” sobre o projeto estético. o soneto camoniano (Vinícius). muito da radicalidade demolidora da “Fase Heroica”. Poesia de tensão ideológica. marcado pelo repúdio à ditadura. ao Estado Novo. Corrente espiritualista. Ciro dos Anjos. Vinícius de Morais. o Realismo e o Naturalismo. Romance psicológico ou intimista — Érico Veríssimo. que organizaram em 1956. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS A Prosa de Ficção pós-1945 A permanência realista do testemunho humano. da volta à rima. propondo a retomada do rigor formal parnasiano. Concretismo Agrupou-se em torno da revista-livro Noigandres. Péricles Eugênio da Silva Ramos. o romance e o conto instrumentalistas: preocupação com a construção dos trabalhos. aproximando-se do Neonaturalismo americano e do Neorrealismo italiano. com a Exposição Nacional de Arte Concreta. o homem projetado no mundo mítico da arte. instaura-o. a linguagem como elemento que “cria o real”. privilegiando o aspecto social. o realismo mágico. Ledo Ivo. pelo concreto. contudo. . a pesquisa da linguagem. Domingos Carvalho da Silva e Geir Campos são os nomes representativos da Geração 45. do absurdo.trata de uma literatura que ainda se está desdobrando. a primeira mostra de poemas-cartazes. trabalho conjunto dos poetas críticos Haroldo de Campos. A atração pelo transreal. Augusto de Campos e Décio Pignatari. fases ou grupamentos. plasma-o. Reconhecem-se. abandonando as preferências pelo prosaico. com autores ainda vivos e em plena atividade. no Museu de Arte de São Paulo. pelo nacional. Poesia da Geração 45 A Geração de 45 centrou-se na reação contra o “desleixo” e o “à vontade” dos modernistas de 22. a reinvenção do código linguístico. à métrica e ao soneto tradicionais. o realismo fantástico: a exploração do insólito. da preocupação estilística. que marcaram o Modernismo de 1922 e de 1930. Os poetas da Geração 45 utilizam-se de um vocabulário erudito e propõem o sublime. O experimentalismo. o ideal e o universal. algumas tendências. qualquer tentativa de sistematização rígida é provisória e corre o risco de ser precipitada. com o “instrumento da palavra”. autor de Lavra-Lavra (1962). dispensando a palavra. cada leitor transforma-se em coautor). a diagramação. Vale-se destes procedimentos: ideogramas. Gilberto Gil). nonsense. justaposição e redistribuição das partes do discurso. atomização. não linearidade. fotografia. Kilkerry e Patrícia Galvão. após levantamento e convívio direto com os problemas da área). uma ruptura polêmica com o grupo concretista. Substitui a sintaxe verbal pela sintaxe analógico-visual. de início. Moacyr Cirne. Polêmico e atuante. e as letras da música popular (Caetano. trocadilhos. e contou com a adesão de Cassiano Ricardo. desintegração do sintagma nos seus morfemas. pintura. sufixos e radicais. mobilidade intercomunicante. Álvaro de Sá e Sebastião de Carvalho. retomando as experiências mais radicais do Modernismo de 22. retomando o engajamento histórico e a linguagem verbal. peculiar ao verso. explorando o aspecto “verbi-voco-visual” do material significante. Mário Chamie proclama. (re)colocando em circulação autores injustamente esquecidos como Sousândrade. . especialmente as de Oswald de Andrade. Preconiza a substituição da estrutura da frase. autor de Luta Corporal e Poema Sujo. Incorporou-se à linguagem e visualidade cotidianas. escolhida para problematização em nível estéticotextual. Poema-Processo — Voltado para a área dos signos visuais plásticos. Poesia Práxis — Foi. a paginação e a titulação de livros e jornais. Desdobramentos e Dissidências do Concretismo Neoconcretismo — Propõe o direcionamento da experiência concretista para a poesia participante. Surgiu em 1967. o Concretismo procedeu à revisão do nosso passado literário. O grupo neoconcreto foi liderado por Ferreira Gullar. Conectado com o status tecnológico e com os meios de comunicação de massa. em torno dos nomes de Vladimir Dias Pino. por estruturas nominais. desenho. Articulou-se em torno de Mário Chamie. que se relacionam espacialmente.Opõe-se ao subjetivismo formalista e ao ideário classicizante da Geração 45. a palavra. no eixo horizontal e no vertical. opera através da colagem. polissemia. na Instauração Práxis. Propondo experiências distintas das do Concretismo. remanescente do Primeiro Tempo Modernista. 2) a área de levantamento da composição (realidade extratextual. uso construtivo dos espaços em branco. ausência de sinais de pontuação. influenciando o texto de propaganda. engajada ideologicamente na luta contra a opressão e a injustiça social. que o poema práxis se organiza segundo três circunstâncias ativas: 1) o ato de compor (espaço em preto. 3) o ato de consumir (dentro da noção de “obra aberta”. sintaxe gráfica etc. incorpora recursos que abrem múltiplas possibilidades de construção e leitura. jogos sonoros. suporte interno de significados). separação dos prefixos. abolição do verso. Sidônio Pais restabelece a ditadura. alinhando Portugal numa perspectiva ideológica semelhante à da Itália e da Alemanha.A Poesia Marginal dos Anos 70 Exprimiu-se por intermédio de inúmeros grupos e movimentos inquietos e heterogêneos. com a direção de dois brasileiros: Luís Montalvor e Ronald de Carvalho.. tiveram também duração efêmera: Exílio e Centauro (1916). antipassadismo. com apoio popular. Portugal Futurista (1917). O Orfismo. comícios poéticos etc. manuscritos. que teve dois números. O governo republicano. antitradição. associada à instabilidade político-social e à emergência de forças cosmopolitas progressistas. Sérgio Gama. Citamos alguns nomes: Ana Cristina César. Paulo Leminski. Contemporânea (1922/ 23) e Athena (1924/ 25). O primeiro foi um projeto luso-brasileiro. happenings. não afastou totalmente o saudosismo. Roberto Piva. . teve a direção de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. com um movimento militar que traz à tona a figura de Antônio de Oliveira Salazar. revistas. que têm em comum a resistência à censura e à repressão. MODERNISMO PORTUGUÊS — GERAÇÃO ORFHEU (1915-1927) CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL A Proclamação da República (1910). aliando-se aos vitoriosos. mais expressivo. que aglutinaram as novas tendências. agravada após o AI-5 (1968). o segundo número. o nacionalismo sentimental e o regionalismo pitoresco. no ano seguinte. envolveu o país na Primeira Grande Guerra. do “homem multiplicado pelo motor”. e para garantir as possessões africanas. mergulha Portugal na instabilidade. que só se interromperá em 1926. e a postura anárquica e vitalista. Chacal. Os traços marcantes da Geração Orpheu são as tendências futuristas (exaltação da velocidade. mentor de uma das mais persistentes ditaduras de que se tem notícia — o Estado Novo —. jornais. da eletricidade. Waly Salomão. Seu assassinato. Em 1917. As demais revistas. por meio de folhetos. marcou o Primeiro Tempo Modernista português — o Orfismo. tônicas do Neorromantismo e do Neossimbolismo finisseculares. Cacaso. O núcleo fundamental do Orfismo foi a revista Orpheu (1915). Torquato Neto e Francisco Alvin. as formas alternativas de divulgação de seus versos palavras-imagens. de 1933 a 1974. apesar dos propósitos cosmopolitas e universalistas e dos influxos da Primeira Grande Guerra. a busca do “eu profundo”. um recuo em relação às propostas mais radicais do Primeiro Tempo Modernista. numa perspectiva mais sociológica. Privilegiou o psicologismo. o moderno como um valor em si mesmo. a introspecção radical. Repressão política e social: a PIDE — Polícia Internacional e de Defesa do Estado. obtendo.irreverência). Propôs uma literatura neutra. MODERNISMO PORTUGUÊS — NEORREALISMO/ TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS A Ditadura Salazarista. Agitação intelectual. mais voltada para a temática universalizante. Censura. Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro. aglutinando. ao mesmo tempo. Antônio de Oliveira Salazar. a evasão dos problemas sociais. intemporal. De forma menos ortodoxa. Jaime Cortesão e Aquilino Ribeiro. . prisão e exílio. passa a centralizar todo o poder. Partido único: União Nacional. após sucessivas crises dos governos republicanos. “escandalizar o burguês”. Por isso a Geração Presença é caracterizada como conservadora no nível estético e no plano ideológico. representou a consolidação de algumas conquistas modernistas da Geração Orpheu e. a Ditadura Salazarista (1933-1974). o Estado Novo (1933-1974) — Modelo corporativista do Fascismo. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS O Presencismo. A reação contra o evasionismo e o psicologismo do Grupo Presença iniciou-se com a revista Seara Nova. por um plebiscito. da “essência”. organizado em torno da revista Presença. alinhando Portugal numa perspectiva ideológica próxima do corporativismo fascista. Os presencistas mais característicos foram José Régio e João Gaspar Simões. participaram desse grupo Branquinho da Fonseca. a aprovação de uma Constituição. oriundo do período ditatorial. MODERNISMO PORTUGUÊS — GERAÇÃO PRESENÇA (1927-1940) CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL O Segundo Tempo Modernista português coincide com a implantação do regime militar (1926). sem outro compromisso que não com ela mesma. Inicia-se com isso o Estado Novo. na busca da “verdade mais profunda”. Em 1933. autores como Antônio Sérgio. o individualismo. francesas (o Existencialismo e o “novo romance”) e brasileiras (José Lins. Influências norte-americanas (Steinbeck. até a derrubada do Salazarismo pelos jovens oficiais. Sofia de Mello Breyner. Em seu limite inferior. apoiados pelas forças “democráticas”. a anistia aos presos políticos e a liberdade de organização política. Hemingway e John dos Passos). a realidade social e a miséria moral. Eugênio de Andrade. José Saramago. aproximações com a técnica jornalística e com a linguagem cinematográfica. Tensão dialética: literatura ativa — instrumento de transformação social. Reação contra a “alienação” e o evasionismo da Geração Presença. Busca a conscientização do leitor. . O Experimentalismo Poético: Jorge de Sena. a crise econômica e a cisão militar foram possibilitando a “abertura” política. que marca o fim do Estado Novo.A morte de Salazar (1968). CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Literatura “engajada”. Érico Veríssimo e Jorge Amado). TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS O Surrealismo: Mário Cesariny de Vasconcelos. na literatura “de comício”. O Novo Romance: Alfredo Margarido. o Neorrealismo resvala no panfletário. o fim da guerra colonial. Simplificação da expressão artística. Graciliano Ramos. desvitalizando o propósito de denúncia pela dissociação entre o conteúdo e a forma artística. na Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974). visando à comunicação com o grande público. antifascista de denúncia social. a guerra colonial na África. Almeida Faria. o desmantelamento dos aparelhos repressores. Negação da “arte pela arte”. privilegiando o conteúdo e a função social da arte. Herberto Helder.
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