Resumo do texto: Os Índios e a Conquista Espanhola, Nathan Wachtel

June 9, 2018 | Author: Gustavo Moraes | Category: Inca Empire, Spain, Peru, Mexico, Americas


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA Prof. Dr.: Fábio Muruci Aluno: Gustavo Moraes Loureiro Atividade: Relatório de Apresentação WACHTEL, Nathan. Os Índios e a Conquista Espanhola. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina, Vol. 1: América Latina Colonial. SP: EdUSP, 2004. p. 195-239. 1) O Trauma da Conquista Do México ao Peru, a atmosfera instaurada na América do período da Conquista é permeada por terror religioso, e isso se descreve bem nos registros nativos, com profecias que indicavam o “fim dos tempos”. Quase que como endosso aos presságios, monstros de quatro patas montados por criaturas brancas chegavam aos dois locais. Era disseminada pela América o mito do “deus civilizador”, como o caso de Quetzalcoátl, no México; Viracocha, nos Andes; e Atahualpa no Peru. A chegada dos espanhóis endossava perfeitamente essa narrativa, visto que chegaram no México pelo leste, em 1519, ao passo que o mito versava sobre a saída de Quétzalcoatl pelo leste, num ano ce-acatl (1519 foi, baseando-se no ciclo, um ano ce-acatl); no Peru, era profetizado que o estado Inca terminaria durante o reinado do décimo segundo Inca, e de fato, Atahualpa era o décimo segundo. O relato mítico possibilitou a recepção dos espanhóis como divindades, mas isso não perduraria, já que a conduta e brutalidade dos europeus não agradaria as sociedades indígenas, que também significava uma grande ruptura e o curso de sua existência, tanto do ponto de vista social, quanto religioso e político. A superioridade bélica foi substancial para a vitória dos espanhóis, mas o impacto maior a ser considerado é o psicológico. A construção do Tahuantisuyo e da Confederação Asteca baseada nas conquistas colaboraram do ponto de vista político, visto que diversos grupos se aproveitaram da oportunidade para se libertar 1 além da diminuição da saúde dos índios. os encomenderos agiam de forma arbitrária 2 . menos acentuada nos Andes. isso tudo proporciona um grande questionamento acerca da naturalidade do relato. o trauma causado no ponto de vista espiritual foi irreparável. As novas formas de tributo causaram mais comoção nos Andes. adorado como um deus e mediador da relação entre homens e deuses. inclusive. gripe e peste. No geral. O ponto de referência vivo do universo morre. o que daria espaço. ainda que nos Andes setentrionais os números sejam equiparáveis ao da Mesoamérica. entretanto. o fim do reino do deus Sol. O mesmo servia para o Inca. principalmente. e a “morte” dos deuses tirava também o significado da vida dos índios. o que não nega o fato de que foi um período de opressão sanguinária. Ainda assim. entretanto. excesso de trabalho. para os Astecas. A queda da cidade significou. abortos forçados. a estimativa de decréscimo beira os 90% em 60 anos. Há casos. uma vez que as dívidas dos súditos do Inca eram em trabalho servil. mas o modelo de complementaridade vertical se manteve. e isso ficou escancarado com a morte de Atahualpa houve uma ressignificação das instituições. Huitzilopochtli. fornecendo grande parte do contingente dos exércitos de Cortés e Pizarro. 2) Desestruturação Parte do processo de desmantelação das sociedades indígenas passa pela mudança de várias instituições. doenças e as migrações forçadas. trazidas pelo europeu. ainda que o alcoolismo seja uma das possíveis causas dessa desestruturação. No planalto central mexicano. Isso se deve. aos vícios. e toda a existência natural perde o sentido. pelas epidemias de varíola. sarampo. de índios que atribuíram o declínio da populacional e diminuição da saúde à diminuição da carga de trabalho e aumento da liberdade. Foi. em decorrência da guerra. o que acarreta em impactos demográficos diretos. desintegrando algumas estruturas e ressignificando outras. A invasão espanhola também evidenciou a transição gradual injusta do princípio de reciprocidade injusto que predominava no ayllu. que sugerem a atmosfera de desespero instaurada. Foram documentados casos de suicídios coletivos e individuais.da dominação. impor condições de trabalho e determinado controle na produção de prata em Potosí. Ainda que solicitassem as revisitas. sem o fornecimento de matéria-prima. os espanhóis não conseguiram por muito tempo se libertar do monopólio indígena. falta de tempo para trabalhar nos próprios campos.na cobrança de tributos. fundições nativas que funcionavam com uso do vento. Apesar das diversas tentativas. os índios ainda sofriam com o ônus do sistema colonial. durante certo período. Com isso. em vista da pouca confiabilidade. sofria com a alta carga tributária. que obrigou os indígenas a assumir as atividades em minas. O sistema asteca se mostrava muito diferente do inca nesse sentido. o que contribuiu para o posterior crescimento da mendicância. o que se mostrou ineficaz. que mesmo tirando o monopólio indígena. O índio. podendo produzir para si mesmos. sendo os índios usados para engrossar as fileiras do segundo. o que demonstra falência do sistema. causando aumento vertiginoso no número de trabalhadores. junto com os hatunruna (índios das comunidades sujeitas a tributos e mita). aumentando a discrepância entre taxação e declínio populacional. então. que é submeter os yanaconas às mesmas obrigações do restante dos índios. Inclusive do processo de amalgamação desenvolvido. Também desfavorecia o indígena a situação atual de produção têxtil. A fragmentação do sistema pré-colombiano também acarretou em deslocamentos populacionais ocasionados pelas guerras civis entre partidários de Pizarro e Almagro. se mostrava menos funcional. visto que a existência de tributos não guardava nenhuma distinção com o mundo pré- 3 . E foi a partir da década de 1550 que desenvolveu-se o tributo em prata. fim do sistema de reciprocidade que havia com o Inca. formavam o grosso da população Andina. entregando uma quantidade fixa de minério. Essa configuração social criou um problema cuja seriedade se potencializou no século XVII. pois este levava em consideração no cálculo o número de contribuintes. Também multiplicou-se o número de yanaconas (índios livres) que. além de sofrer com a desapropriação de terras. construindo os próprios fundidores. através das huayras. Os Indígenas conseguem. podendo guardar excedentes de produção. que decrescia com velocidade significativa. poderiam trabalhar usando as próprias ferramentas. o que ajudou no apagamento das distinções hierárquicas do mundo pré-colombiano na população nativa após a Conquista. incentivavam a ação por razões econômicas. Agora. o que contribuiu em obrigar os índios a viver em aldeias formadas sob modelo espanhol. Cultos aos huacas. ainda assim com o grupo privilegiado. Os índios das comunidades mantiveram fidelidade aos costumes. que também acarretou na continuação do trabalho nos campos dedicados aos objetos de culto. A fidelidade religiosa dos índios aos costumes externava sua rejeição ao domínio colonial. dificultada pela resistência das tradições populares. com o cristianismo. O aumento do alcoolismo espelhava o sentimento de impotência dos índios sobre o mundo que pra eles se tornara trágico e absurdo. visto que o comportamento dos espanhóis eram ambíguos no que tangia a questão: ao mesmo tempo que condenavam moralmente. As antigas castas reinantes perdiam a essência do poder. no qual os espanhóis justificam sua hegemonia pela introdução dos indígenas à verdadeira fé. o que é o caso dos herdeiros de Monteczuma. uma vez que os mayeques também deviam pagamentos aos representantes do tlatoani de Tenochtitlán. embora mantendo a língua nativa. Diversas tentativas forçosas de aculturação aconteceram através das migrações forçadas. Nas primeiras décadas. como coca. Há também um processo de “conquista espiritual”. prática comum e menos repreendida. antes proibido e restrito à rituais. E é essa contribuição dos mais hierarquizados que tornou possível a mobilização indígena em prol dos interesses espanhóis. por aceitar colaborar com os espanhóis. fizeram parte dessa resistência. de certa forma. havia um entusiasmo significativo no México. Essa aculturação foi mais rapida no México que no Peru. 3) Tradição e Aculturação A aculturação dos povos foi. deuses locais dos Incas. por venderem vinho aos índios. destruindo templos e alterando drasticamente a vida cotidiana. apesar da maior resistência. Essa desintegração do cotidiano foi a gênese do alcoolismo e outros vícios.colombiano. Também camuflavam 4 . mas retinham a posição de privilégio. Nas camadas superiores houve uma relativa rapidez no aprendizado do espanhol. diferente do Peru. e transporte de mortos desenterrados e transferidos aos antigos locais de enterro. e também os de Huayna Capac. sendo Manco Inca. 4) Resistência e Revolta Ainda que estivessem estabelecido dois centros principais de colonização no México e Peru. de fato. após a chegada de “criaturas estranhas. com a roupagem condizente à 5 . segundo a tradição Inca. Depois de se desiludir de ter apoiado os espanhóis. ajuda a compreender o processo. Poma se aproveitou da sistemática espácio temporal Andina para ilustrar o mapa das Índias. O Taqui Ongo. tendo o cerco um sentido estratégico. Apesar da relativamente fácil conquista. Manco sitiou Cuzco durante um ano. A resistência de movimentos milenaristas se fez presente após o abatimento da primeira crise. O fez ainda que houvesse correspondência alguma ao modelo espanhol. através da volta à vida dos huacas que tinham sido derrotados com a chegada de Pizarro. e abrangia. A continuidade de tradição também se manifestava adaptação do sistema espanhol ao sistema nativo de pensamento. anunciava o fim do domínio espanhol. nas fronteiras. e afirmava que somente índios fiéis ao culto dos huacas teriam espaço no “novo mundo” que viria. a força propulsora por trás da primeira revolta importante contra o domínio espanhol. escritor peruano. até que este se rendeu em troca da encomienda de Yucay. Após sua morte. os espanhóis encontraram resistência por parte de seu filho por mais dez anos. brancas e barbadas”. Ainda nessa reinterpretação da tradição. O movimento encontrava arcabouço tradicional do ideário Inca. movimento Andino. Machu-Picchu. apenas absorvendo contribuições da cultora ocidental ao arcabouço preexistente. inclusive. convertidos. Manco dizia aos índios para que renunciassem à falsa religião imposta pelos cristãos. grande resistência das diversas sociedades nativas da América. levantando suspeitas de que não eram. na década de 1560. Os índios mantinham críticas ao cristianismo e interpretavam-no como idolatria. após um evento cataclísmico semelhante ao da fundação do Tahuantinsuyo. inclusive. a resistência não teve fim de forma repentina. visto que a região tinha força política e religiosa. O caso de Guaman Poma de Ayala.seus ídolos e rituais sob uma roupagem cristã. tal qual os espanhóis consideravam os deuses locais manifestações demoníacas. os espanhóis encontraram. preservando sua independência. chegando ao território que daria origem ao Novo México. Os que se mantiveram resistentes foram os apaches. 6 . acompanhado por ancestrais. também significou um abalo espiritual aos índios. os índios deveriam realizar rituais de penitência e purificação. suplantar a resistência chichimeca com o advento de “missões” onde os índios eram reagrupados e convertidos. O a seita milenarista mexicana. o último Inca de Vilcabamba. os índios enxergavam a libertação como algo provindo não de uma ação violenta. os povos fixados no vale do Rio Grande foram subjugados. onde a conquista perdeu seu ímpeto. e também teve como característica o distanciamento do centro. mas de uma vitória dos huacas contra o deus cristão. e os espanhóis necessitaram de diversas ações. defendia o uso do recurso direto à violência.situação colonial. na realidade. se desloca ainda mais ao norte. o que acarretou no incêndio a igreja e a cruz em Tlatenango. como em Vilcabamba. e mesmo assim apenas deslocou a guerra mais para o norte. Defendiam que. e a morte de missionarios em Tequila e Ezatlán. O episódio precedeu a “guerra de Mixton”. A Igreja combateu com animosidade o Taqui Ongo. Outro foco de resistência notório aconteceu no norte do México. a guerra. e com a criação de colônias exemplares do modo de vida cristão. Três expedições sucessivas fracassaram. como uma seita de hereges. Lá. finalmente. Com a expansão espanhola. sendo a “segunda morte” do Inca enxergada como o fim do mundo. a morte e decapitação de Tupac Amaru. em parte. para se purificar e remover a sujeira do batismo. e também gerou repúdio ao cristianismo. A supressão do movimento foi difícil. diferente do Taqui Ongo. Os pregadores anunciavam o retorno de Tlatol. como o Taqui Ongo. e em cinco anos já não havia vestígios da seita. O vice-rei Mendoza teve de conduzir uma grande força à Nova Galícia. Só conseguiram. nômades das planícies e planaltos. Provavelmente.
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