Resenha O Pessimismo Sentimental Mestrado

March 25, 2018 | Author: Raquel Fatima Alves | Category: Civilization, Society, Money, Science, Economics


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISCampus de Montes Claros Mestrado em Sociedade, Ambiente e Território Resenha “O Pessimismo Sentimental “ e a experiência Etnográfica: Por que a cultura não é um objeto em via de extinção ( Parte II) Autor: Sahlins Marshall Disciplina: Cultura, População e Natureza Acadêmica: Raquel de Fátima Alves Professoras: Flávia Galizoni, Felisa Anaya e Andréa Narciso. Montes Claros - MG - 2015 portanto. não pode ser transferida a outros povos.MG . parte das qualidades de substância natural adquiridas durante o longo período em que a antropologia andou fascinada pelo positivismo. o objeto de uma ciência antropológica que seria exatamente esses ditos “povos primitivos”.2015 . sob pena de deixarmos de compreender o fenômeno único que ela nomeia e distingue: a organização da experiência e da ação humanas por meios simbólicos. As diversidades culturais adquirem valor de acordo com um contexto. diferentemente de sua intenção original. a cultura desses povos. Ambiente e Território Na obra de Marshall Sahlins “O ‘pessimismo sentimental’ e a experiência etnográfica: Por que a cultura não é um ‘objeto’ em via de extinção” Parte I. aliás. É claro que ela pode perder. temem alguns que as sociedades tribais periféricas estão a caminho da desaparição – vítimas da hegemonia capitalista. As pessoas. mas é ela justamente o modo singular de organização destes povos que se contrapõe a um projeto colonialista – ou seja. mas que tornou necessária uma re-elaboração do universo cultural a partir dos novos elementos que passaram a repercutir na comunidade. mas ao contrário promove uma “intensificação cultural” no sentido de responder. Mas a “cultura” não pode ser abandonada. enquanto preocupação fundamental de todas as ciências humanas. o autor faz críticas a antropologia e também fala sobre a questão da nostalgia a que lhe foi reservada desde a década de 50 com a teoria do desalento – enquanto objeto fadado à morte por conta do imperialismo colonizador europeu. interpretar. Fato é que o contato com a “civilização” ocidental e a integração com o mercado global promoveu um enriquecimento da cultura dos povos indígenas – promoção que se articula materialmente com o mercado. e a cultura ao contrário da civilização.estaria em vias de extinção.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Campus de Montes Claros Mestrado em Sociedade. e que. A idéia do imperialismo colonial carrega um pressuposto de superioridade européia relativamente aos outros povos que interpreta o conceito de cultura reduzindo-lhe ao instrumentalismo. organizar e viver as novas possibilidades de Montes Claros . ou melhor. com a expansão da globalização econômica. e já perdeu. Re-elaboração esta que não está desvinculada dos significados tradicionais. relações e coisas que povoam a existência humana manifestam-se essencialmente como valores e significados — significados que não podem ser determinados a partir de propriedades biológicas ou físicas. ela é fundamentalmente anti colonialista. A “cultura” não tem a menor possibilidade de desaparecer enquanto objeto principal da antropologia — tampouco. Desta maneira. O dinheiro vivo tem várias utilidades. A troca “realmente floresceu entre os Anganen desde a chegada dos australianos”. gado. apostar em jogos de azar etc. os Anganen logo se tornaram ávidos pelo desenvolvimento. autor que coloca a cultura “como o meio pelo qual um povo define e produz a si mesmo enquanto entidade social em relação à sua situação histórica em transformação. Michael Nihill descreveu um processo semelhante de “desenvolvimento” entre os Anganen: “Apesar de uma resistência inicial à maior parte das coisas sugeridas pelos australianos. bens de consumo. O último trabalho que Sahlins evoca para complementar seu argumento é o de Turner. Ambiente e Território mundo através da própria cultura. disse Nihill. inúmeras formas de interpretação e de vida e o desafio antropológico é descobrir as novas configurações da cultura e construir técnicas capazes de apreendê-las. ‘Desenvolvimento’ (divelopman) é um conceito amplo em anganen. isto é. 1987. sobretudo através da ampliação das trocas cerimoniais e de parentesco. avaliação realizada e simbolizada através do dinheiro. de modo que haverá sempre uma tenção entre um processo com vistas à homogeneização e outro que resiste e caminha para uma “diferenciação local”. Não muito longe dos Mendi.MG . Existem para o sistema mundial. pagar taxas escolares ou impostos. dadas as diferenças irredutíveis de significado. Mesmo quando se refere a “bisnis”. mas seu maior significado para os Anganen deriva de sua proeminência nas trocas cerimoniais” (Nihill 1989:147). “Desenvolvimento” (divelopman) é a palavra neomelanésia para esse fenômeno. pois a cultura aparece como uma resposta local ao sistema mundial.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Campus de Montes Claros Mestrado em Sociedade. ou ao menos pelos projetos que eles consideravam como levando a tal fim. seja. o contato é fundamental. A diversidade cultural é menos função do isolamento dos grupos do que das relações que os unem. —. comprar carros. “desenvolver (o) homem”. mas que é avaliado sobretudo em termos de bens materiais. a coligação leva tanto a homogeneização quanto a diversificação.” (Turner. tende a levar ao ‘progresso’. uma sociedade tenderá sempre a se ajustar às novas condições através das instituições sociais já existentes”. Divelopman corresponde ostensivamente à categoria ocidental de “desenvolvimento” [development] mas. é produto da diversidade cultural. nas terras altas meridionais. essa refere-se muito mais ao campo econômico do que ao cultural. Montes Claros . o desenvolvimento das pessoas. “em parte devido ao fato de o dinheiro ter se tornado um item legítimo de troca” (Nihill 1989:144). eu prefiro escrevê-la tal como ela soa realmente em inglês: “develop man”. a ganhar dinheiro.2015 . pois – Sahlins cita Watson – “no processo de mudança social. Embora o imperialismo econômico tenda a criar relações de dependência. o desenvolvimento se manifesta caracteristicamente para os povos da Nova Guiné como uma expansão dos poderes e valores tradicionais. é claro — abrir lojas comerciais. com a sociedade nacional e com o sistema internacional. isso significa que estamos diante uma nova organização mundial a cultura e de novos modos de produção histórica. 1996. Contudo. mas perceberam que sua reprodução depende do entendimento dos meios e do controle das forças de sua transformação histórica. e tinham consciência de que suas técnicas de subsistência. 1993. p. 1989. Dessa forma. dieta alimentar. Turner acompanhou os indígenas Kayapó em momentos diferentes.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Campus de Montes Claros Mestrado em Sociedade.2015 . 6 apud Sahlins.MG . transformando-a em objeto de guerra de vida ou morte. Turner passou a ouvir a palavra “cultura” com frequência.” (SAHLINS). “The New Pearlshells: Aspects of Money and Meaning Montes Claros . os Kayapó assumiram “o controle de todos os focos institucionais e tecnológicos de dependência em relação à sociedade brasileira existentes dentro de sua comunidade e território. Vários povos objetivaram sua cultura. Michael. Sahlins coloca que isso não significa nenhuma volta a uma suposta cultura primordial. É desse intercâmbio entre o local e o global que se faz a história cultural. 122) Também é um autor que advoga em favor da capacidade de agência histórica dos povos indígenas frente ao sistema mundial capitalista. 1996. característico do fim do século XX. 5 apud Sahlins. Em sua trajetória. já que se percebe que os povos indígenas não são apenas vítimas. É nesse sentido que se coloca que na luta contra o sistema hegemônico. “a continuidade das culturas indígenas consiste nos modos específicos pelos quais elas se transformam. na qual sua existência tradicional existia apenas nos limites traçados pelas exigências ocidentais. relata tê-los visto viver em uma vida dupla. Em 1962. ao voltar a campo em 1985. 127) Sahlins então argumenta que essa é uma expressão local de um fenômeno muito mais generalizado. p. cerimônias. associada a novas relações estabelecidas com outros povos indígenas. instituições e acervos sobre saberes e costumes faziam parte de sua cultura e eram necessárias à vida como a entendiam. Durante esses 25 anos de intervalo entre os dois trabalhos de campo.” (SAHLINS). “sem conseguir objetivar sua cultura e conferir-lhe um valor instrumental. mas também capazes de agência histórica. p. Para Sahlins. Essa. Essa visão seria uma tentativa de manter os povos indígenas reféns de sua história que levaria a privá-los da história. os Kayapó tampouco podiam fazer de sua identidade étnica uma afirmação de autonomia. Ambiente e Território p. que ele chama de Cultura Mundia da(s) cultura(s) seria mais uma organização da diversidade que pura replicação da uniformidade.” (Turner. Bibliografia NIHILL. 1992. Ambiente e Território in Anganen Exchange”. South American Indian Studies. How “Natives” Think: About Captain Cook. Anthropology Today. 285-313. Spooner (ed. Tribal Cohesion in a Money Economy: A Study Montes Claros . 8(6):5-16. 1993. “Anthropology and the Politics of Indigenous Peoples’ Struggles”. LXXIV:1-51. SAHLINS. The Kayapo Revolt Against Extractivism: An Indigenous People’s Struggle for Socially Equitable and Ecologically Sustainable Production. “Representing. 12:144-160. Conservation and Survival. ___ . In: G. Manuscrito. “The Economics of Developman in the Pacifc”. William. ___ 1986. 37(3):395-428.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Campus de Montes Claros Mestrado em Sociedade. Spring: 12-25. 2:1-13. 1991. TURNER. Current Anthropology.). ___ 1987. American Ethnologist. ___ . In:B. Resisting. For Example.MG . Madison: The University of Wisconsin Press. Oxford: Oxford University Press. . ___ . “Cosmologies of Capitalism: The Trans-Pacific Sector of the World System”. 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