Resenha: Aprenda a ser otimista, deMartin Seligman UM FELIZ DIA DAS MÃES A TODAS AS MAMÃES LEITORAS DO BLOG! A primeira pergunta que o leitor pode estar se fazendo diante do título desse post é: por quê resenhar um livro de psicologia num blog de finanças pessoais? Simples: porque esse livro foi objeto de citação em pelo menos dois outros livros resenhados anteriormente, um da também psicóloga Carlo Dweck, Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras não, e outro pertencente ao segmento “produtividade pessoal”, escrito por Jim Loehr e Tony Schwartz, Envolvimento total: gerenciando energia, e não o tempo. Além disso, o autor, Martin Seligman, foi citado por uma terceira obra resenhada aqui, de um terceiro segmento, finanças pessoais, qual seja, o livro Dinheiro pode comprar felicidade, de MP Dunleavey. O livro objeto da resenha de hoje deve ter sido citado por outros autores, também, mas, infelizmente, muitos livros não trazem bibliografia no final, o que me impede de fazer outras citações. Ora, um autor que é citado por três livros já resenhados aqui no blog, de autores pertencentes a três áreas diferentes do conhecimento humano, nos indica, à primeira vista, que algum conteúdo útil ele deve trazer. Assim, instigado pela curiosidade, resolvi “beber direto da fonte”, e ler a obra que hoje tenho a satisfação de resenhar. Como já vem sendo praxe aqui no blog, esse é outro livro fora do circuito comercial, afinal, ele foi escrito originariamente 20 anos atrás, ou seja, em 1990, e a edição brasileira objeto desse post é datada do ano de 2005, ou seja, 5 anos atrás. Entretanto, seu conteúdo de inegável valor o faz merecedor de uma resenha, justamente porque ele enfoca um dos comportamentos importantes nos dias atuais, que é o otimismo. E mostra que ele pode ser aprendido, como já deixa entrever o título da obra. Destaco que esse livro foi escrito para o público leigo em psicologia, o que o torna mais acessível ainda. Apesar de conter vários questionários, pesquisas e estatísticas, foi moldado para ser aproveitado por pessoas que não são da área de psicologia, o que se pode comprovar de forma fácil pela leitura da obra, que flui com clareza e facilidade. Martin Seligman é uma das maiores autoridades mundiais em psicologia positiva, desamparo, controle das emoções, depressão, otimismo e pessimismo. Outro livro escrito por ele, Felicidade autêntica, será objeto de resenha em breve. Vamos então, com otimismo, dar um mergulho na obra “aprenda a ser otimista”! Informações técnicas Título: Aprenda a ser otimista Autor: Martin Seligman Número de páginas: 415 Editora: Nova Era Faixa de preço: R$ 27 a R$ 35 Compre o livro no Submarino [clique aqui] Primeira Parte: A Procura A base do estudo de Martin Seligman é a investigação dos otimistas e pessimistas. Por quê, diante de um mesmo fato, pessoas reagem de modo diferente, principalmente diante das adversidades? Uns a vêem como causas permanentes, pessoais e abrangentes, e outros as encaram como infortúnios passageiros, ou seja, como um desafio a ser vencido, com empenho redobrado. A partir de pesquisas realizadas inicialmente com animais, e depois com seres humanos, constatou-se que o desamparo pode ser aprendido, isto é, as pessoas podem aprender a ficarem passivas e deprimidas diante de acontecimentos incontroláveis. E, se podem aprender a ficarem pessimistas, o reverso também é possível, ou seja, podem da mesma forma aprenderem a ficar otimistas. O importante é que os pensamentos não são meramente reflexivos, já que eles modificam o que nos sucede. A nossa sociedade atual supervaloriza o ego, o individualismo, e, por conta disso, aumentam-se os casos de depressão, que é a expressão máxima do pessimismo. Dessa forma, aprender a ser otimista, por meio da modificação de seu estilo explicativo, pode ser um importante aliado a protegê-lo da depressão, aumentando sua capacidade de realização, e melhorando seu bem-estar físico e mental. São apresentados questionários com várias perguntas, a fim de descobrir se você te um estilo explicativo otimista ou pessimista. E essa é uma parte muito interessante e lúdica do livro, pois permite total interatividade entre o autor e o leitor. Na verdade, é uma das partes que mais gostei, pois o questionário acaba revelando a você coisas que talvez possam te surpreender acerca de sua própria personalidade, coisas que você talvez não saiba. Posso dizer que esse questionário, por si só, bem como suas explicações, já valeria a leitura da obra. Há também outros questionários e testes para seus filhos, para verificar se eles são otimistas ou pessimistas, cujas pontuações e explicações são igualmente dadas. Outro testes para saber se você está deprimido ou não, com auto-estima alta ou baixa, são também fornecidos. As pesquisas científicas realizadas pelo autor e sua equipe chegaram a uma importante conclusão (p. 114): “A depressão resulta de toda uma vida de hábitos de pensamento consciente. Se mudarmos esses hábitos de pensamento, conseguiremos curar a depressão. Vamos atacar frontalmente o pensamento consciente, decidimos, usando tudo o que sabemos para modificar a maneira como os nossos pacientes pensam sobre acontecimentos adversos. Surgiu daí o novo método, denominado de terapia cognitiva. Ele procura mudar a maneira como os pacientes deprimidos pensam sobre fracasso, derrota, perda e desamparo”. As mulheres sofrem duas vezes mais de depressão do que os homens porque elas têm a tendência de ruminar sobre os acontecimentos, meditar sobre eles, contemplando-os, enquanto os homens tendem, ao invés de refletir, a agir. A mudança do pessimismo para o otimismo envolve, de acordo com a terapia cognitiva, a mudança do estilo explicativo, ou seja, é preciso mudar a maneira como você vê as coisas. Ela tem eficácia porque pode ser usada de modo repetido sem necessidade de medicamentos. Ela produz resultados permanentes, conferindo ao indivíduo a possibilidade de mudar a si próprio. Segunda Parte: Os Reinos da Vida Nessa segunda parte, o autor descreve as mudanças que o estilo explicativo, de pessimista para otimista, podem produzir em diferentes áreas da vida, por meio da explicação de casos concretos e inúmeras pesquisas científicas realizadas nos mais diferentes campos – esportes, política, academias militares… São descritas, por exemplo, as experiências realizadas na área de vendas de seguros – um campo em que é preciso ser muito otimista e persistente. O autor destaca que, apesar de o otimismo ser necessário e importante, o pessimismo às vezes também tem sua função – lembra-se daquela frase, que você costuma dizer ou mesmo ouvir: “não é que sou pessimista, é que estou sendo realista?” Pois bem, o autor demonstra que ela tem a sua utilidade. Também é abordada a questão do otimismo dentro da família, na relação entre pais e filhos, chegando-se à conclusão de que o estilo explicativo se desenvolve na infância. Aliás, nesse ponto é muito oportuno destacar, a partir de pesquisas, que as crianças pré-púberes são extremamente otimistas, só que esse otimismo vai sendo perdido depois da puberdade. Mas existe uma explicação científica para isso, e ela decorre da própria evolução do ser humano como espécie, ao longo de sua trajetória na linha de evolução. Vejam que trecho esclarecedor (p. 176): “A criança carrega dentro de si a semente do futuro, e o principal interesse da natureza nas crianças é que elas atinjam a puberdade em segurança e produzam uma nova geração de crianças. A natureza protegeu nossas crianças não apenas fisicamente – as crianças pré-púberes têm a taxa mais baixa de morte de todas as causas -, mas também psicologicamente, dotando-as de esperança abundante e irracional”. O otimismo também é abordado no campo dos esportes, mostrando que equipes e atletas otimistas conseguem resultados superiores sobre os que são pessimistas. O otimismo é um fator que pode causar um desempenho superior, aliado a outros fatores. Durante a leitura desse trecho, me veio à lembrança a entrevista que o César Cielo deu nas Olimpíadas de Pequim, de que iria vencer os 50 metros livre. O otimismo inabalável, a confiança de que iria vencer, e a concentração, foram fatores decisivos para que ele conquistasse a medalha de ouro. Ele foi a prova perfeita de que o otimismo pode influenciar o resultado de uma competição esportiva. O otimismo também produz efeitos benéficos para a saúde, podendo impactar de forma positiva o sistema imunológico. Essa é uma das melhores partes do livro, já que demonstra, por meio de evidências amparadas em profundas pesquisas científicas, que o otimismo têm o poder biológico de melhorar o estado geral de saúde de uma pessoa, podendo inclusive contribuir de forma decisiva para a cura de doenças. Também foram realizados estudos da influência do otimismo sobre a política, em especial nas eleições presidenciais norte-americanas, e concluiu-se que candidatos mais otimistas venciam as eleições, na maioria dos casos. Os psicólogos atuantes no caso chegaram até a prever, com base na análise dos discursos e debates, que Bush venceria as eleições de 1988, justamente por ter sido mais otimista. Terceira Parte: Mudando: do Pessimismo para o Otimismo Como dito anteriormente, nem sempre vale a pena ser mais otimista. Há situações que requerem, pelo menos, um pessimismo moderado. Não se pode usar o otimismo se o preço do fracasso for alto na situação em pauta. Por exemplo, uma pessoa que bebeu demais em uma festa está na dúvida se deve dirigir o carro de volta para casa. Nesse caso, como o preço do fracasso será alto, não vale a pena usar o otimismo. Porém, há outros casos que favorecem o uso de técnicas otimistas. Por exemplo, um vendedor, na dúvida se deve se arriscar a fazer mais uma venda, perderá apenas um tempo se a venda não for bem sucedida. Nesse caso, vale a pena usar o otimismo. Os princípios básicos para vencer o pessimismo, e mudar o estilo explicativo de forma permanente, para otimismo, envolvem uma técnica chamada ACCCE. A primeira letra, A, é de Adversidade, qualquer coisa, uma fechada no trânsito, por exemplo. A segunda letra, C, é de crença, que é a maneira pela qual você interpreta a realidade. A terceira seção, C, é de consequências, registrar os sentimentos e ações. Depois, para lidar com as convicções pessimistas, há duas alternativas. A primeira, abstração, consiste em pensar em outra coisa. Já a segunda é a contestação (o terceiro C), e é a mais eficaz, a longo prazo, porque consiste em argumentar contra as suas crenças. É preciso assumir uma postura ofensiva, discutindo consigo mesmo suas próprias crenças pessimistas. Para tanto, lança-se mão de quatro vertentes: provas, alternativas, implicações e utilidades. Finalmente, temos o E, de energização, que ocorre à medida em que você consegue controlar as crenças negativas, ficando com mais bem-estar. Esse é um ponto-chave do livro: o autor lança mão de diversos exemplos e táticas que o leitor pode usar para vencer o pessimismo e mudar o estilo explicativo. As técnicas ali mostradas, o autor faz questão de ressaltar, diferem das técnicas dos livros de auto-ajuda, porque foram testadas em laboratório e aplicadas cientificamente por milhares de pacientes. Os demais capítulos dessa parte mostram como vencer o pessimismo para seus filhos, e também no trabalho. O autor destaca que tais técnicas funcionam porque, geralmente, nossas convicções negativas não passam de distorções da realidade, e é preciso contestá-las para evitar que elas comandem nossa vida emocional. O último capítulo dessa segunda parte – o otimismo flexível – é muito interessante, e constitui uma das melhorespartes da obra, já que o autor procura traçar um panorama sociológico de como a depressão se infundiu em nossa sociedade, bem como dá dicas de como podemos agir para sermos mais otimistas em nossas vidas diárias. Há dois fatores que caminham de forma paralela: o exagero do individualismo, de um lado, e o declínio da coletividade, de outro lado. São esses dois fatores que estão na raiz de uma epidemia de depressão na sociedade atual, em particular na sociedade norte-americana. Seligman esclarece que há vantagens inegáveis com o otimismo aprendido, mas ela, por si só, não é capaz de dar sentido às coisas. Ela não funciona como uma panacéia para todos os males, sendo apenas mais um componente útil da sabedoria. Ele defende, assim, um otimismo flexível, que tenha uma percepção arguta da realidade, quando for necessário, mas sem mergulhar em seus obscuros meandros. Conclusão Gostei bastante do conteúdo do livro, principalmente porque ele está fundamentado em sólidas bases científicas, resultado da experiência do autor em mais de 25 anos pesquisando sobre o tema. O melhor é que é um livroprático, ou seja, com ensinamentos úteis que podem ser perfeitamente aplicados ao dia-a-dia do leitor, inclusive com questionários e testes para saber se você é pessimista, otimista, com alta ou baixa auto- estima etc. O livro é ilustrado com exemplos extraídos do cotidiano, com casos reais, histórias concretas, e narrado de uma forma que situa a saga do autor em descobrir os benefícios do otimismo em diversas áreas da vida: trabalho, relações entre pais e filhos, no esporte, com amigos, na saúde, e assim por diante. Não é à toa que esse livro costuma ser citado em livros de outras áreas do saber. Fiquei curioso como um livro de psicologia era tão frequentemente citado em livros de finanças pessoais, produtividade pessoal, administração de negócios, e pude comprovar, lendo a própria fonte, que a obra reúne todas as credenciais para ter tido tantas citações em tantas diferentes áreas do conhecimento humano. Os livros têm esse poder de fornecer links para outras leituras, e, nesse caso, as citações foram mais do que acertadas. “Aprenda a ser otimista” é uma obra de inegável valor teórico e prático, de modo que pode ser útil para muitas pessoas, principalmente para aquelas que são pessimistas – ou acham que são.