Relendo Poemóbiles de Augusto e PlazaRégis Bonvicino | E-mail Acaba de sair a 3ª edição de Poemóbiles (originalmente de 1974) do poeta Augusto de Campos e do artista plástico espanhol, naturalizado brasileiro, Julio Plaza (1938-2003). O livro-poema é constituído de doze peças, cada uma delas composta por um poema articulado num móbile-página ou vice-versa: “Abre”, “Open”, “Cable”, “Change”, “Entre”, “Impossível”, “Luzcor”, “Luxo”, “Reflete”, “Rever”, “Vivavaia” e “Voo”. Alguns dos poemas de Augusto de Campos já haviam sido publicados anteriormente como “Vivavaia”, “Luxo” e “Rever”. Num ensaio de 1982, Plaza definia Poemóbiles como livro-poema ou livro-objeto, que se pautava por ser, ele mesmo, um suporte significativo, ao propor uma relação na qual há equilíbrio entre o espaço e o tempo e na qual o texto adquire perfil pictográfico e ideográfico no corpo do papel, agora ativado por seu caráter escultórico e móvel. Em 1932, Marcel Duchamp (1887-1968) usou, pela primeira vez, a palavra “móbile” para fazer referência a algumas esculturas do norte-americano Alexander Calder (1898-1976). Calder ocupa um lugar único entre os escultores contemporâneos. Criador dos stabiles, esculturas sólidas e fixas, e dos móbiles, placas e discos metálicos unidos entre si por fios que se agitam quando tocados pelo vento, assumindo formas mutantes, imprevistas. Tanto Poemóbiles quanto Caixa preta (1975) configuram parcerias de Plaza e de Augusto de Campos que repensam os discos óticos, que contêm poemas, de Marcel Duchamp e sua Boîte verte, sob o lema “écriveur”, além dos mencionados experimentos de Calder. Em 1974, o movimento concretista, de 1956, era ainda recente. A ditadura brasileira completava dez anos e o general Ernesto Geisel passou a presidir o país nesse exato ano, iniciando um processo lento de transição à democracia. Seu governo coincide com o fim do “milagre econômico” dos tempos do general Emilio Garrastazu Médici e com a insatisfação popular advinda também da crise do petróleo e da recessão mundial, com a seca dos empréstimos internacionais. Geisel anuncia a abertura política “lenta, gradual e segura”. A oposição começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos, para o Senado, e 48% para a Câmara dos Deputados. Os militares de linha mais dura, descontentes com o governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da oposição. Em 1975, por exemplo, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Em 1978, entretanto, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia, o que ocorreria em 1985 com o governo de transição de José Sarney. Em certo aspecto, o trabalho de Augusto de Campos, no qual se inclui essa parceria com Julio Plaza, é uma recusa não só do verso – como tanto já se disse, em proselitismo concretista ou em crítica – mas também uma recusa da paisagem de mortes, torturas e violência institucional, praticadas pela ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945) e pela ditadura militar de 1964. O concretismo de 1956 – um mundo inteiro surgido do quase nada, nesse país periférico – com sua “assepsia” das formas puras e seus espaços em branco, com a Segunda Guerra recém-finda, é, sob muitos ângulos, uma recusa ao universo da ditadura de Vargas, porque as recusas, na cultura, não afloram de modo linear. Uma recusa ao nacionalismo e ao populismo de Vargas, às suas atrocidades, muito mais do que produto do período “desenvolvimentista” Juscelino Kubitschek. Período hoje que se vê bem menor, em termos de desenvolvimento, do que se proclamou. A racionalidade é o valor que o movimento opõe à irracionalidade brasileira, violenta, oligárquica e corrupta. Ou conforme observa o escritor espanhol Antonio Muñoz Molina, a respeito de Bauhaus: “milhões de homens haviam sido mortos no coração da Europa. Em Bauhaus, a racionalidade funciona como um valor supremo e, nela, há uma recusa em perpetuar tradições sufocantes”. A o aspecto de vagina das páginas torna-se mais explícito ainda. ver debaixo. um poema concreto tout court. Há pontos altos como “Entre”. o traço sexual de todo o projeto. para que o público de hoje possa conhecer sua grandeza crítica. Em “Voo”. agora. Cabe. “Open” mata o sentido do verbo abrir com seu caráter cinético.conclusão vale para o caso dos concretos. os “republicados”. sugestivamente. em momentos. algumas vezes. aqui. como “Vivavaia” ou “Luxo”. sugerir que as obras completas de Julio Plaza. muito depauperada. O impessoalismo olímpico (expressão do crítico João Adolfo Hansen para definir o poema concreto) de “Luxo”. fazendo. está. uma ponte com a arte conceitual. subter. de seu apagar-se pictográfico. Os poemas. Em “Cable” registra-se a possibilidade de sequer se passar um telegrama – um objeto-poema igualmente vinculado ao tema da censura. sejam enfim organizadas. sobretudo. psicodélico. os textos estão. pela palavra que se entrelê: “xoxo” – beijo. A preposição. autorizado. Aliás. depauperada porque sem distância crítica de si e do próprio país. isto é. . em si. no vaivém de seu agora móbile. ver por baixo. um é necessário ao outro. subverter. Diante da pobreza espiritual do Brasil de hoje e não só de sua poesia. vigem mais como intenção do que como resultado. É um belo objeto. dessa perspectiva. um pouco aquém dos objetos de Plaza. de Poemóbiles. mina sua própria racionalidade crítica. Objeto e palavra estão bem articulados. um dos mais contundentes artistas plásticos brasileiros do século 20. cortada ao meio e propõe ao leitor: ter/ ver /sub. ganha-se ao rever Poemóbiles. e também verbo no imperativo. paradoxalmente. já feita por Henri Garric. num dos ensaios do livro Les arrière-gardes au XXe siècle. é de invenção recente. por exemplo.br/ Ferreira Gullar e Augusto de Campos. contudo. o poeta ironiza o apego dos franceses às metáforas militares. to ensure its success”. é possível afirmar que a retaguarda veio à tona e se afirmou no período que corresponde à era pós-moderna. composto de uma série de notas escritas em papéis soltos. Manter a bandeira levantada. E já posso adiantar que. ao de pós-modernismo.Lançamento de http://www. o conceito de retaguarda poderá ir de encontro a certo pós-modernismo decadente. Mas gostaria de apresentar o conceito de retaguarda estética. it is the role of the arrière-garde to complete the mission. e. Manter o avanço. retaguardistas Sérgio Medeiros | E-mail Resumidamente. repetir a indagação: “O pós-modernismo é uma retaguarda?”. Ferreira Gullar e Augusto de Campos. Em Meu coração desnudado. coisa bem diversa. destacando quatro artistas. “When an avant-garde movement is no longer a novelty. a retaguarda não se confunde simplesmente com os movimentos retrógrados. dispensam apresentação. Kenneth Goldsmith. .annablume. espíritos feitos para a disciplina. Levantar a bandeira. Como essa lista de autores deixa entrever. ainda é pouco divulgado e discutido no Brasil. Pierre Ménard. ao contrário. tanto quanto possível.com. abusivamente usadas na sua época. No corpo a corpo. Não pretendo. espíritos belgas. todos sabemos. toda metáfora vem com bigode. alerto. que só conseguem pensar em grupo. Três deles. espíritos que nascem domesticados. mas o quarto. nas palavras de Marjorie Perlojff.”[2] Nessa crítica que o moderno Baudelaire faz à modernidade. para a conformidade. que foram reunidas e publicadas postumamente. Os literatos de vanguarda. [40] Metáforas francesas Os poetas de combate. para mim. Todas essas gloriosas expressões são geralmente aplicadas aos fanfarrões e aos desocupados de botequim. a retaguarda dos séculos XX e XXI é o meu tópico principal. Porém. sendo. Ou. Feita essa ressalva. ele afirma: “[39] Do amor. a época moderna. [1] Baudelaire. falarei das escritas retaguardistas. ironizou e condenou as metáforas militares. muito mais rica e ambígua. Essa inclinação pelas metáforas militares denota não espíritos militares. associando-o. mas espíritos feitos para a disciplina. isto é. Um dos veteranos. da qual ele foi ao mesmo tempo o cantor e o crítico. Nesse sentido. Aqui. aos espíritos que nascem domesticados. da predileção dos franceses pelas metáforas militares. Literatura militante. como já afirmou William Marx. organizado por William Marx. a retaguarda contesta os aspectos tradicionalistas do pós-moderno. É preciso ressaltar isso. num momento de retirada. no sentido figurado. aparentemente. ou é possível falar. No seu emprego normal. e desejaria explorar as consequências dessa óbvia constatação. podendo. arrière-garde ne contient aucune des connotations négatives qui s’attachent au sens figuré: l’arrière-garde est une composante normale de toute armée. le terme d’arrière-garde resta lui-même à l’arrièe-garde de l’évolution que subissait celui d’arrière-garde. cada qual com sua peça. também com um canhão. a meu ver.mencionando a vanguarda. a fim de compor. não é exclusiva do século XIX. Isso é necessário nos momentos de crise. mas nenhuma palavra diz a respeito da retaguarda. a do Paraguai. no sentido figurado. o século de Baudelaire. a retaguarda. como já comentei. O corpo de caçadores. quando afirma: Étrangement. ou ao início do século XVII. de retrocesso. dans son sens propre. ou militar. a fim de que o papel da retaguarda. nesta discussão da arte pós-vanguardista. uma paupérrima e pequena coluna do exército brasileiro foi obrigada a retornar para o território nacional. flanqueada por duas filas de carretas puxadas por bois. Talvez valesse a pena. e foi nesse mesmo sentido figurado que ela foi utilizada no século XX pelos movimentos estéticos que assumiram a posição mais avançada na luta contra a tradição. A vanguarda não pode jamais marchar sem uma retaguarda atuante e perfeitamente constituída. radicalizando. que é o de proteger o movimento da tropa. por isso. William Marx é muito claro. seja por nós melhor compreendido. visto que as quatro frentes podiam ser varridas pelo fogo cruzado de nossa infantaria. o papel de uma e de outra. A observação de que não há retaguarda senão em relação a uma vanguarda é mais do que justa. dans l’histoire militaire. son rôle. enfatizar essa ligação e adicionar ao grande quadrado outros quadrados menores. transcrever um breve relato de uma das mais sangrentas guerras do século XIX. agora na formação de marcha recentemente adotada. escoltavam à direita e à esquerda a bagagem. O uso da palavra vanguarda. no campo da cultura. essentiel. o quanto a vanguarda e a retaguarda estão inextricavelmente ligadas uma à outra. ou retaguardista. uma vanguarda da vanguarda e uma retaguarda da retaguarda. o 17º Batalhão dos voluntários de Minas compunha. consiste à couvrir les arrières et. No seu sentido militar. a retaguarda não é de maneira nenhuma a face oculta da vanguarda. após invadir o país vizinho pelo norte. visto ser tão importante quanto ela. ainda na vanguarda. como o lado desconhecido ou ignorado das vanguardas históricas. como enfatizou William Marx. cruzando de volta a fronteira. talvez não fosse em vão. nos dois últimos séculos. na hora do desastre iminente. constituída pelo rio Apa: Cumprido este dever. recebeu uma peça de artilharia. [3] A retaguarda é importante. quando a batalha está quase perdida. o 20º Batalhão e o 21º. emprego relevante no discurso crítico e filosófico. como Taunay o faz. e. O conjunto desta massa móvel configurava um grande quadrado que. nos levaria certamente ao final do século XVI. a retaguarda foi apresentada. a posição de ultramodernos. no discurso crítico das últimas décadas. Segundo o Visconde de Taunay (1843-99). A noção de batalha ou guerra. para garantir ainda mais a segurança. On notera d’abord que. no centro. que a retaguarda é a face oculta das revoluções modernistas. de fato. linhas de atiradores circundavam todo o corpo de exército. o termo retaguarda não possui conotação negativa. [4] Essa minuciosa descrição de uma formatura do exército em retirada tem a utilidade de revelar. No século XIX. então. estreitando meu diálogo com William . ou mostrar nitidamente. pusemo-nos a caminho. tinha diante de si outro quadrado menor: disposição judiciosa para nos proteger contra as cargas de cavalaria. Porém. Também é possível. ser considerada de invenção recente. em cada face. no campo de batalha. ou muito importante. on constate que les meilleurs généraux sont affectés à son commandement. no campo social e artístico. tem-se falado. no livro A Retirada da Laguna. antes de prosseguir. passou a designar um grupo inovador no campo das ideias ou das artes. A noção de retaguarda não teve. talvez um bom exemplo disso nos possa ser dado por Marjorie Perloff. na época. a fim de refletir. depois. ainda longe de se tornar autor canônico. A retaguarda é sempre anacrônica. tampouco no mesmo espaço. nem toda vanguarda determina necessariamente sua retaguarda. que nada tem a ver com movimento estético reacionário. ela possa parecer apenas retrógrada. Borges démontre cependant qu’écrit au XXe. dois estudiosos que contemporaneamente consagraram o termo retaguarda. de retaguardista. Citando Antoine Compangon. como o Futurismo. sendo que o primeiro. o seu impulso criador é tão absolutamente (e absurdamente) retaguardista. estas constatações: do ponto de vista estético. ademais. Das observações de ambos gostaria de trazer à tona. dont le projet de recréer mot pour mot Don Quixotte en plein XXe. sobre o modernismo e o pós-modernismo. ao chamar Pierre Ménard. o mais vanguardista dos escritores do século XX. que isso o torna. no entanto. le roman de Cervantes signifie tout autre chose qu’au Siècle d’or. Se a poesia concreta renovou procedimentos da vanguarda histórica. a retaguarda aparece como um movimento que se converteu tardiamente à estética da vanguarda. Mais l’inverse est vrai aussi: en toute arrière-garde se dissimule une avant-garde en puissance. O tempo pós-moderno se expande em muitas direções e torna o anacronismo (sobreposição de tempos diversos) um procedimento necessário. A retaguarda. daí ela poder também ser percebida por alguns como um insulto. que colabora no volume de ensaios organizado por William Marx. que me permito reproduzir: Une avant-garde peut cacher une arrière-garde. sem nenhuma intenção polêmica ou insultuosa de minha parte. mesmo que.Marx e Marjorie Perloff. o que viria a acontecer. O caso de Pierre Ménard pode ser muito esclarecedor e merece ser citado agora.[8] Ela se pergunta por que a poesia experimental de um país periférico feito o Brasil tomou como referência. Siècle aurait semblé a priori incarner si bien l’arrière-garde. O próprio William Marx propôs uma fórmula elucidativa. como uma declaração ou confirmação de uma tendência retrógrada no campo artístico. as obras de autores vanguardistas distantes do contexto cultural local. de maneira alguma desejo insultá-lo. um tempo futuro. como já alertei. nos anos 1950. A vanguarda e a retaguarda não estão no mesmo tempo. [6] O autor da frase deseja chamar a atenção para o sentido novo que toda retaguarda produz. a noção moderna de tempo linear. [7] Se a retaguarda continua a vanguarda e se ambas se completam uma à outra. A retaguarda não estaria apenas atrás da vanguarda. não seria apenas espacial. a estudiosa norte-americana afirma que o papel da retaguarda é . existe uma ambiguidade essencial à noção de retaguarda. na citação acima. mas também temporal. e. o qual estou também utilizando aqui. William Marx fez a esse respeito uma afirmação que me interessa: no sentido figurado. mas em outro tempo. nas décadas posteriores. como a frase acima nos deixa entrever. como Ezra Pound e James Joyce. Mas. a arte por vir. o anacronismo. era sobretudo uma figura controversa e combatida. seria o livro por vir. mas afirmar isso não é insultar ou desvalorizar a retaguarda. aqui. contínuo. não emprego aqui o termo nesse sentido pejorativo ou negativo. Reproduzo o que diz William Marx desse curioso personagem: C’est pourquoi personne n’est plus avant-gardiste que le personnage borgésien de Pierre Ménard. em relação à vanguarda. Ce sont les deux faces d’une même réalité. agora. na sua análise do concretismo brasileiro. [5] O quadrado descrito pelo Visconde de Taunay. ela poderia sem dúvida ser lida como uma retaguarda. é inerente à ambiguidade que enriquece o termo e que relativiza. à minha maneira. em consequência. por exemplo. Pierre Ménard é tão retaguardista. à primeira vista. por exemplo. Siècle. montou- . intuitiva. digamos. um texto encontrado. em seus manifestos. muitas vezes. muito mais ativa do que passiva ou simplesmente nostálgica. que a retaguarda trata as propostas da vanguarda do início do século XX com um respeito que beira a veneração. A vanguarda de Gullar não é a mesma de Augusto. Goldsmith. como um complexo projeto de recuperação. levando essa noção ao seu limite. Sabemos que o poeta Ferreira Gullar rompeu com o concretismo. uma carioca. essa colagem imensa que se apropriou de textos alheios. por exemplo. não se trataria de repetição nostálgica ou inócua. finalmente. ou sobretudo. nem tampouco ser lido. E será assim enquanto os dois estiverem em lados opostos do campo de batalha. o advento de uma poesia matemática. Goldsmith. Seria um escritor não criativo. A vanguarda da retaguarda. é a reprodução completa de uma edição do jornal The New York Times. A posição retaguardista. tanto o jornal quanto as palavras não editadas do dia-a-dia.[11] Novamente. O fato é que surgiram. nos áureos tempos do concretismo nacional e internacional. Perloff comenta. em sua escrita conceitual. faz. em seus “found texts”. A vanguarda da retaguarda implica também invenções. muito mais ativa do que passiva. Como diria Borges. Stravinsky e Rachmaninov conviverem bem na mesma (não) melodia. mostra claramente que a vanguarda nunca foi de fato absorvida pela cultura estabelecida. cerebral. Bastaria recordar agora a obra de Pierre Ménard. na sua luta contra a expressão. aquele que constitui o cerne mais radical da obra de Walter Benjamin. enquanto Soliloquy (2001) é a transcrição de todas as palavras que o autor disse durante uma semana. e isso devemos sem dúvida à posição resolutamente retaguardista dos irmãos Campos e de Décio Pignatari. e em Nova York. cada poeta retaguardista tentando salvar o procedimento de vanguarda que lhe é mais congenial. que a retaguarda seja muito mais produtiva. Não sei qual dos dois exércitos se retirará primeiro. um poeta autenticamente retaguardista que pretende reescrever. “against expression”. Passagens (1927-1940). representada por Gullar. ou paulistana. Goldsmith enveredou pela escrita conceitual e. ela é anacrônica ou múltipla. em pleno século XXI. descobertas. A retaguarda não é só recuperação.. Tchaikovsky. não é um simples “revival” ou “renascimento” de um modelo vanguardista. se torna infinitivamente mais rico nos livros de Goldsmith. e outra paulista. ou seja. A proposta do poeta norte-americano Kenneth Goldsmith pode ser elucidativa. não pretende inventar nada. de invenção. de Walter Benjamin. uma empenhada em combater a outra.salvar o que está ameaçado: os procedimentos de vanguarda. o gênio sem (aparentemente) originalidade. ou seja. em plena era pósmoderna. a obra Passagens. ou mesmo. A retaguarda não repete o passado. que é a de recuperar e ressignificar. ao trabalho de resgate e divulgação no Brasil da obra de Pound. tudo. um projeto de vanguarda histórica muito sério. de leitura impossível. não volta à cena contemporânea como “farsa”. representada por Augusto de Campos. com magnífica ironia. se colocam em posições opostas e se enfrentam ferozmente nessa guerra poética particular. hoje definitivamente (ou ilusoriamente) já incorporada ao nosso repertório. duas retaguardas. Assim como Walter Benjamin. como Perloff. porém. um dos gênios sem originalidade (um “unoriginal genius”) do século XXI. recriação e. a meu ver. antes. aparentemente estaria retomando. no século XXI. [10] Ao posicionarse contemporaneamente contra a expressão. ou abstrata demais. Mas essas transcrições longe estão de serem mecânicas. Ménard também é um precursor de Goldsmith. tal como eu a entendo. poderá ser considerado por este terrivelmente tedioso. sob o pretexto de que os autores de São Paulo estariam propondo. a mais significativa do século XX. nos anos 1960. Acredito. Isso corresponde. Um “found text” qualquer. Não se trata de mera boutade dadaísta. na sua luta contra a “primeira pessoa” lírica.. por isso eles se situam hoje em retaguardas distintas. como cópia insossa da vanguarda canonizada: configura-se. Sua obra Day (2003). as quais. assume alegremente esse desafio. mas de outra coisa bem diferente. [9] Mas ela também opina que a retaguarda é mais do que isso. quando oferecido como poema ou prosa a um leitor incauto. Isso se prolonga até os nossos dias. que não é o meu. condizente com sua singularidade. mas sim um romancista. A retaguarda. que delimita a criação da escrita por conta de um movimento estabilizador. com um foco investigativo no veio interdisciplinar aberto por literatura/filosofia. mesmo sabendo que ela está morta.os em certa sequência e os desfamiliarizou. você apreende uma problemática no campo teórico. não do romance. à história cotidiana da pós-modernidade. A portuguesa Silvina Rodrigues Lopes vem realizando um trabalho crítico dos mais atuantes e importantes na atualidade. existe uma propensão desestabilizadora na teoria. a retaguarda é uma das faces aceitas ou reconhecidas do pós-modernismo. agora. é a face oculta do modernismo radical. sua ilegibilidade (utilizando-se um termo que você emprega). talvez não possa aceitar. (Este texto. Poesia e teoria na era da indiferença Silvina Rodrigues Lopes | E-mail Mauricio Salles Vasconcelos. esse é. professor de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (USP). para concluir. Essa história cotidiana da modernidade. realizado em Curitiba no último mês de julho. Império dos Signos são romances sem história. a partir de Paris do século XIX. 2011). ela tem produzido um conjunto de livros concentrados no estudo da poesia. organizador de sistemas e métodos. entre eles “Vegetal sex” (UNO Press/University of New Orleans Press. mas ainda não foram abolidos: de minha parte. como disse. menos lhe pertence. foi lido no Congresso Internacional da Abralic. não me considero um crítico. como apontou Perloff. Não poderia agora. acredito. uma retaguarda que não seja simplesmente retrógrada. em seus respectivos textos sobre a retaguarda já mencionados. autor do ensaio Rimbaud da América e outras iluminações (2000). Por isso eu poderia dizer que minha própria proposta histórica (sempre é preciso interrogar-se a respeito) é estar na retaguarda da vanguarda: ser de vanguarda é saber o que está morto. inventivo. Quero dizer que o pós-modernismo. scriptor. é verdade. à qual remetem Antoine Compagnon e Marjorie Perloff. conhecida no Brasil como uma referência essencial aos campos do comparativismo e da teoria de agora. Pois ser de retaguarda é amá-la ainda. amo o romanesco. Sobre Racine e S/Z são romances sobre histórias. Barthes afirma: Digamos que. ser de retaguarda é amá-lo ainda. mais do que as outras. publicada. mas sei que o romance está morto. talvez não possa tolerar hoje a irrequieta vanguarda da retaguarda.) Sérgio Medeiros. 1. [12] Muitos ainda amam a vanguarda histórica. no estado transitório da produção atual. . capaz de restituir ao trabalho literário um potencial de pluralidade. ou seja. 2010) e “Figurantes” (Iluminuras. entrevista a teórica de A legitimação em literatura (1994) e A inocência do devir (2003). dará lugar. Poeta e editora. Mauricio Salles Vasconcelos: No livro A legitimação em literatura. Michelet é uma parabiografia etc. sem dúvida uma face que. enriquecendo-os de muitas maneiras. evidentemente. senão citar um fragmento da entrevista de Roland Barthes a Jean Thibaudeau. publicou vários livros. sob o título “Retaguarda e retaguardistas. Numa outra via. mas sim aquele que aboliu o conceito de ruptura das vanguardas históricas. das ficções de Stereo (2002) e do romance Ela não fuma mais maconha (2011). ontem e hoje”. ou que certo pós-modernismo. se ainda quisermos utilizar esse termo. Sua obra merece ser debatida. Hoje. os papéis estão simplesmente embaralhados. Tradutor e poeta. o lugar exato do que escrevo. mas do „romanesco‟: Mitologias. contrariar quer a subordinação a parâmetros de avaliação que. a teoria tem como interlocutores privilegiados textos filosóficos e literários. quer a subordinação aos media como adjuvantes da venda de cursos. para serem eficazes. de proveniência romântica e sustentada nomeadamente nas leituras que Heidegger fez de Hölderlin e de outros poetas. e a consequente possibilidade de multiplicação de lugares que escapam à supervigilância legitimadora. Importa. Porém. alguns filósofos do século XX. pela criação. tendem a basear-se na quantificação do inquantificável. As condições de utilização.Passado o período das desconstruções e do auge dos culturalismos – captado em seu livro publicado em 1994 –. não deixa de pairar sobre a Universidade o fantasma da economia e da sobredeterminação pelo cálculo do rentável. que não é alheio ao fato de os mass-media contarem com a cumplicidade de “intelectuais” que os promovem e os glorificam. que não decorrem automaticamente da tecnologia. Por outro lado. a qualquer hegemonia. O progresso tecnológico que supõe a diversificação de meios para construção-apresentação de formas discursivas ou outras. que interrompem a necessidade construída pelos mecanismos do senso comum e da sua sutura ao poder massmediático. que tende a identificar-se com interesses econômicos) é também imenso. isto é. mantinha-se circularmente: a filosofia (ou a teoria. de particicipar da singularização-universalização. Neste momento. aquilo pelo que é também literatura. . das instituições. etc. pelo que a imprevisibilidade de um desenvolvimento extremamente acelerado exige um empenho à altura de responder ao perigo. de acordo com o que é constatado em seu minucioso e abrangente ensaio? Essa indagação se instala quando se observa hoje uma valoração generalizada do lugar múltiplo. Isso exige um desdobramento da atividade do investigador entre a definição de estratégias a prosseguir e a análise das mesmas e das condições em que se realizam. Como pretendi sublinhar no livro referido. seja pelas formalizações do literário e do livro em diferentes suportes técnicos e mediáticos. e. pois. contribuíram decisivamente para desfazer a crença numa essência da linguagem. Ao tematizar a indissociabilidade entre os discursos designados como literários e os modos da sua existência no “espaço público”. Essa crença. intervalos. seja por uma expansão de literaturas no mundo contemporâneo. na Faculdade onde trabalho multiplicam-se iniciativas interessantes de realização de colóquios e seminários em que participam jovens investigadores e professores. a contar da sua vivência como professora e pesquisadora? SRL: Também aqui a situação é bastante periclitante. pois o pensamento não existe sem pausas. instabilizadores dos mecanismos de legitimação. Silvina Rodrigues Lopes: A teoria é estabilizadora do campo literário porque a sua pretensão de compreensão da instituição literária (gênese e modo de existência dos discursos que a compõem) não é separável do instituir no qual ela intervém. a grande disponibilidade de textos traz muito boas condições para a investigação. espaço acadêmico e os vínculos entre saber e poder. analisando-o e resistindo. como podem ser situados na atualidade. está em discordância com qualquer intenção – é isso que a aproxima da literatura. ou melhor. mas atualmente assiste-se ao retorno do jargão sacralizante da poesia. que por sua vez era por ela considerada como fonte de verdade. 2. de que os poetas dariam testemunho. contribuem em alto grau para determinar a orientação do desenvolvimento dela. ou a crítica) legitimava a literatura. como você percebe a atividade teórica no momento atual? Como poderia ser mapeada no presente a crise sempre existente da legitimação. uns e outros. que são. por conseguinte. Tal circularidade foi abalada. colocando-se assim em relação imediata com a verdade. dentre os quais destaco Jacques Derrida. o risco de indiferenciação que decorre das condições de utilização desses meios (quem os usa não deixa de estar sujeito ao poder formatador da publicidade. é importante por dar evidência à questão da emancipação como afirmação da igualdade. diversificado. perfeitamente aceite e promovido pelo poder mass-mediático. da produção artística. Por um lado. MSV: O que tem ocorrido de estimulante na produção teórica universitária? As questões sobre ensino. que é a de qualquer um poder dirigir-se ao outro enquanto outro. Ela é instabilizadora porque é também escrita. entusiasmo e sobriedade. Já deste século. fazer raciocínios e apagá-los. ao mesmo tempo. 5. MSV: Uma das questões nucleares da sua ensaística vem sendo o atrito provocado pela literatura em uma cultura de alta tecnificação e imediaticidade/interatividade audiovisual.3. MSV: Em quais autores e literaturas do atual século pode ser percebida a trilha de experimentação e atrito traçada em seus ensaios mais recentes? SRL: Os autores que neste século são para mim da maior importância para o pensamento vêm de séculos anteriores. Jorge de Sena. refiro duas revistas que se caracterizam pela distanciação em relação à pertença ao campo literário. formarem um só corpo ou serem a mesma coisa. Kafka e alguns contemporâneos do século XX) em todo seu potencial combinatório e criativo? SRL: Experiência é sempre experiência de pensamento. A relação entre experiência e experimentação é a da captura passageira do acaso. certa decisão que nada garante em absoluto. MSV: Um ponto importante de sua produção teórica é o espaço que você concede à poesia. Ruy Belo. É nesse sentido que me parece que o sentido de literatura é o da criação de formas em que poesia e filosofia. de experimentação. depois das vanguardas. posso referir seis. capaz de. no entanto. tendo-se em vista a crescente instauração de uma cultura digital. o que se modifica e o que permanece desse trabalho de escrita assinalado por suas marcas históricas. a do princípio da modernidade para o século XX e XXI. dedicado ao estudo de Herberto Helder. Como se pode presentificar. Telhados de Vidro corresponde à instauração desse movimento em que a afirmação e a perseverança prescindem de quaisquer fatores de sucesso. se dissolvem uma na outra sem. Carlos de Oliveira. Mário Cesariny e Herberto Helder. 4. a função comunicacional contida em certa ideia do literário em favor de um desbravamento. Dentre os que publicaram poesia. passando por Helder (autor em atividade entre o século XX e o XXI. O que supõe também a ideia de que esses poetas. epocais. e nem sempre resulta em um uso unidimensional. À fidelidade-infidelidade de Hölderlin e à des- . portanto o considerar hipóteses. O que poderia ser formulado como experimental. da qual nenhum trabalho é garantia. Em livros essenciais. pela enunciação do devir? SRL: Na passagem a que se refere. uma escavação (de acordo com a sua linguagem/imagem) de vazios na cultura. se confrontam e se reúnem. que transforma por dentro a ideia de livro e literatura. Mais recentemente surgiu outra revista. essa dinâmica indissociável de captação das forças existentes e invenção de esferas criadoras? De Hölderlin a Rimbaud (do irrompimento à nomeação da modernidade). e. como A inocência do devir. nota-se o destaque dado ao empenho escritural. resistência do dizer ao dito. Você desmonta. Hölderlin e Rimbaud. luto. Criatura. sobre os quais tenho escrito e em quem encontro sempre incitação à experiência do pensamento: Fernando Pessoa. na qual se lê certo tributo a Paul Celan. e é nisso que estão vivos. pareceme decisiva a afirmação da poesia como “ficção suprema” e com ela a afirmação de uma dimensão afirmativa da melancolia. simultaneamente. a da contingência. que dá testemunho de uma recepção a esses dois poetas). trabalho. estão a ser reinventados. afirmando o que talvez se possa chamar um “direito à poesia” independente de qualquer reconhecimento. na atual conjuntura mundializadora. mediático-mercadológico da tecnologia? É possível manter o potencial de atrito da escrita sem perda de seu vínculo com a máquina literária (já esboçada por Deleuze ao ler Proust. mas que supõe a perseverança da travessia. implicando também que a poesia é parte da vida e da sua morte. e cuja inscrição é já perda. Ressurge fortemente a noção de experiência. porquanto ela designa um risco. descrever e criar o mundo. de modo sempre percuciente. até à vacilação do conceito. tiver consequências. a historicidade dos textos – em síntese. em absoluto determinável. Como poderiam ser observadas as teses blanchotianas sobre o livro por vir.subjetivização de Rimbaud responde a ironia de Herberto Helder enquanto processo de levar mais longe a des-naturalização da poesia e o combate da forma contra si própria. sendo a poesia. ela só é análise. Philippe Lacoue-Labarthe. ressaltando-se não apenas seu diálogo com Helder. que seria a perda de um humanismo do autêntico. tendo-se em mira as formas e os meios de inscrição da literatura no atual século? SRL: A perda da glória e do renome do escritor. ser a simples constatação sociológica. isto é. suportá-las com um pensamento consequente. Michel Foucault. no sentido de que. por condição. além de Blanchot. Nos ensaístas e críticos literários que me interessa ler encontro tematizações e conceptualizações que situo em relação com um pensamento da diferencialidade: a literatura como acontecimento. 8. Ou do poema contínuo. abriria para um rumor em que o encontro dos dizeres se dava fora da ideia de autenticidade. É preciso questionar o que é o público e o espaço público quando publicidade se identifica com mecanismo de compulsão à compra. dando primazia ao negócio. e não simples repetição. poderia significar emancipação. MSV: Percebe-se. que Blanchot refere nesse texto. por conseguinte. 7. mas porque é preciso criar verdades – não o oposto da ficção. sendo o resto bastante acessório (o caso do livro vendido antes de ser escrito. a singularidade como fuga à crença numa essência da linguagem e à sobredeterminação por um contexto. que leio sempre: Gilles Deleuze. que enquanto tal não existe. se for já parte do estilhaçar desse mecanismo de homogeneização. a exigência de levar a responsabilidade para além de qualquer possibilidade de dela prestar contas. porém. mas a forma como seu texto se move entre certo andamento narrativo e o espaço ritmado de uma dicção que se fragmenta e se prolonga num . MSV: O que se mostra como culminante no diálogo travado em sua ensaística com a filosofia? Quais outros pensadores. no modo como você cartografa e concebe o espaço da literatura. coloca no centro o que lhe diz respeito. 6. Jean-Luc Nancy e Jacques Rancière. MSV: Interessante é perceber como em sua escrita de poesia você consegue imprimir uma dicção muito singular. Como foi se dando a criação do livro Sobretudo as vozes? Fale-me dos seus projetos. de intensividade. assinalo aqueles nomes tanto numa atitude de homenagem como por considerar que as transformações que o seu pensamento trouxe ao campo filosófico e literário correm sérios riscos de ser anuladas pela atual propensão para oscilar entre a positividade da lógica aplicada à análise dos discursos e a da contextualização culturalista ou sociológica. uma afinidade atualizadora com o pensamento de Blanchot. todos leitores de Blanchot. mas pelo poder integrador do novo padrão que. pois não é. O que o tempo bem mostrou é que a injunção ao sucesso se tornou o novo padrão de autenticidade: aí o discurso tornou-se rumor não pelo descentramento. Essa análise não pode. ruptura com a representação. a performatividade das interpretações. desfazendo o culto da personalidade e suspendendo o regime de reconhecimento estabelecido. que percorre toda sua produção. não por um desejo da Verdade. lançam para o seu trabalho um campo producente de conceituações? Qual é a importância desse eixo interdisciplinar na cena teórica de hoje? SRL: Há alguns filósofos franceses. se for pensamento e. Jacques Derrida. a arte. da continuidade da sua poética. mostra bem essa condição). A desconstrução do trágico e do pessoal trouxe a energia da afirmação como desejo. responsável. Como nunca se dá bem conta de todas as leituras e de umas se vai para outras num movimento de contaminação interminável. nem a simples pregnância desta –. intrigante mesmo para quem lida com a esfera da teoria no grau de intensidade. e só o é ao nível da permanência de alguns vestígios de vontade canonizadora. e da relação singularização-universalização que o caracteriza. A poesia deixou de ter qualquer outro interesse que o de ser feita e lida por aqueles que estão de saída dos padrões culturais que tendem a reduzir tudo. de que decorrem problemas que variam com o tempo e que na nossa época colocam questões como a da perda de autonomia dos seus desígnios específicos. Parece-me que a minha colaboração em livros Vendaval decorre daí: gosto de ver certos livros serem feitos e estarem disponíveis em português. entre a construção das nacionalidades e a afirmação das línguas e literaturas nacionais. estrangeiro. da contingência (voz é talvez isso) na qual se pensa e que é a condição do dirigir-se ao outro. por exemplo. não poderiam ter. por exemplo. sobretudo a poesia. e isso produz certo fascínio. critérios editoriais que pusessem em causa a sua sustentação em termos econômicos. portuguesas. ocupa uma dimensão privilegiada na vida.desenrolar incessante. no sentido em que o que este nome designa não pretende apresentar e colocar direta e imediatamente problemas filosóficos. escapando aos propósitos oficiais de imposição de uma cultura como forma de subjugação. seja em Portugal. em particular. no contexto cultural português? SRL: As grandes editoras nunca tiveram. Da experiência que terá sido a escrita. havendo uma literatura nacional que foi também instrumento de colonização. O que é importante sublinhar é como. construção de uma ficção que não se fecha sobre si própria porque há nela abismos. que são a inscrição e o apagamento da experiência. São livros que entendo como experiência de escrita literária. o que não quer dizer que ela não venha em tudo o que escrevo. a literatura dos países colonizadores foi desviada (como elemento de um processo antropofágico) pelos povos colonizados para a criação de novas formas que desfaziam a partilha pré-estabelecida. especialmente quando relacionadas com as poéticas produzidas no Brasil e na África? O que mobiliza você. tendo-se em pauta a produção atual de poesia em português? SRL: Há uma relação. | Busca no site | Login | Lab (Chile) | Electronic Poetry Center | PennSound | Novas poéticas/Portugal | Gr . ela não o foi unicamente e. A extensão de uma voz parece-me bem significativa em sua poesia. Seria como que um mergulho que pode abrir espaço para que algo de novo irrompa. 10. Eduardo Lourenço. Uma pequena editora pode editar quase só por atenção aos livros. nos prêmios literários. manifesta. Os poetas são hoje mais desconhecidos e menos “prestigiados”. e a leitura. a escrita em português. Portugal não é um caso único ou especial. daqueles livros não posso evidentemente falar. na universalização. da lírica portuguesas. SRL: Antes de Sobretudo as vozes publiquei Tão simples como isso e E Se-Pára. no Brasil ou na África deixou de ser entendida como questão de nacionalidade. paralelamente à sua produção teórica e poética. que tem sido muito estudada. mas também não pretende ser um testemunho direto de qualquer realidade anterior. MSV: O que vem se mostrando como importante em seu trabalho editorial junto ao selo Vendaval? Qual o significado que vem tomando para você essa atuação. Pela força da poesia e do pensamento. 9. Isso implica uma grande complexidade e capacidade de gestão. até o próprio esbanjamento. a de publicação de livros. na cultura. cortes. a obra extraordinária do escritor cabo-verdiano João Vário. Lembro como exemplo desse desfazer. Esse mergulho é o trabalho da forma. Os elos entre o lírico e a formação de seu país foram estudados por alguns pensadores como. MSV: A literatura. ritmos. Como você percebe a vida presente da língua. à rentabilização. 5O8 24/073/.3.7/.. 8.9.797/0!. 3./0 .4802..5F80894825082039002-. 5.-4/48/023.430.709.9:.74: .89O7./0#4.09. 4:80.440 .:.07945O8 24/073824 6:034F420: 0./424/0738247.7/.:7 8034./. .048/081.43.8 9.574/:4.43.34147.3. 454/07..E203..7J9.:.:/0.5./././.3:..3 %-.7088090724 709./0 2.9.:2.709.039..04./. 89O7.1.7/. .5.6:03480.2.094/07:59:7..4890948 84-70.7908. $4-70#.7470!07411 0280:870850.307.09./497.20394/./48 2.03/4 48/02:9.3430.424/880 F..702090239430425.49/...0":074/076:045O8 24/073824 4:6:0.89.0880289O7./.8/46:0 .806:H3.24/073/.4 944.78/48F./..9407.8 89O7.300$.7/.079...7 9.2486:0 34089.:4 /.389O74/. 485.882:2 742.7 ./48.6:807248:9. :2../039020390 2.8 203480507903.438/074:2./.790 3420.3:.0 F.8/4 742.1.03970..7.3.888.8 2. 709.740.43.75947 34/4742..7908..8/45O8 24/073824 802/.8..7706:09.54394:!07411 0376:0.2.07/.3/.7E:.7:217./0 80.7.49/.:.3.4 2.0.84:97.424.709.7/.:.8.3/.82508203907097O7.7/./.882.06:0 2.:9.F :2.0345488.84:70.308.3.:..6:006:0.81..: 6:.47.08.7/.3/.89.47.172.0345488.8 25F74/48 $34884742.-4:4. 7 80..:...7/.-0746:0089E 24794807/0709...7..748 03970008 '009.2E .F./:94705409.0709.3./.8806:04742.E748.73.:..:.43./076:023.89O7.009F:2.3/.244742.3:.-7. 5.-03/46:00.4( :948.84 390774.8 43902040 14/434437088439073.84742..2.. 8909094 84-49J9:4 #09..70.7/.5745489.089E2479.1.709.3/.0884-7089O7.F./402:79-.2E 4.807/0.4:.F8..94/46:008.09.7/.:.70.70/94 4:.3:.3.57O57.7/.8 . 70..!478840:54/07. 5:-. 802570F570.:.7/.7085094 F089.4 2.0089E247940880 F ..308.34924 2H8/0:4 $F740/0748%7.. 208248.80 & !7088.3:.7/.89O7.3/.-47.7/89.7/.2.!48807/0 709./. 3.$.#4/7:084508 2.://.3.0270.:7..0.8.-0794547907.-.43.9:. &$! .434 .7 5479::08.08/0$90704 0/4742.043907/8.2F7. 03970.402 907../.2.8/0J3:.08 /.9:7.902574/:/4:2.0 4:97.8./.3908 :23:7.3/4:297. .4#2-.43.8:23..43.3/10703.0789410 70.9:7.H3.3.089./48/0907.!479::08. 034.82.90O7.81.748. .7.7J9.341:2.:947/4038. 0.4$./4834089:/4/.3.43.89.00/947.9:.#4/7:084508.048 574108847/089:/48425.39083.53.7.09047.42:214.&3. $.43:394/0./0092..38!7088 0 :7.5408.9.8 !408.08'.39080 25479.9:7..07..4/482..0397./4/0.4./0!409. 0890:2.25490O7..../.57450384 /08089.08.$:.9/.48 .8.H02570../0:224. .425.4-7./0 .3.4 6:0/029./.3./0 8:./0.-.439.:7./. ./47.0-/.0484.8240/.43/0390./47/088902..83:.4907E74:254903.57003/0:2... .4/.5..79.347. .20394 089.H.2548/4. 574-02E9./05:7.7.9.497.9047.74092.4$.0807/0-.8.08803../070899:7..43.7.. 5:-.4.802F94/48:2.7/.34. ./0 :9.3/4 80:2907246:0..402907.2070.-.9:7.428:.70107H3.547.424:2./47 47.4.47.430.9047.14841..08'.-.4:97. .. 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