UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA Relatório Final de Estágio Básico I Helena Strelow Estágio Básico I Caps Fragata Coordenadora Denise Prof. Dr. José Ricardo Kreutz Pelotas, 29 de janeiro de 2014 2 Sumário Introdução ..................................................................................................................... 3 Processo do plano de intervenção ................................................................................ 3 Construção da ideia do plano de microintervenção ....................................................... 4 Considerações gerais sobre o processo de estágio ...................................................... 5 Referências Bibliográficas ............................................................................................ 8 3 Introdução O presente relatório é referente ao estágio básico I do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas. O estágio foi realizado no CAPS Fragata, localizado na Avenida Duque de Caxias, nº 1120 do bairro Fragata da cidade de Pelotas, RS, no período de outubro de 2013 á fevereiro de 2014, com carga horária semanal de 5 horas, sendo 4 horas de atividades no local de estágio e 1 hora de supervisão. As atividades foram desenvolvidas em caréter observacional, como modo de primeiro contato com a prática profissional das atividades do psicólogo. A partir das vivências e discussões durante o período de estágio desenvolveu- se um plano de microintervenção, no local. As ideias que deram forma á microintervenção e o transcorrer da mesma serão descritos ao longo do relatório. Além disso, serão feitas considerações gerais sobre o período de estágio, tais como aprendizagens, ideias, mudanças que ocorreram nas percepções pessoais e conceitos que foram trabalhados nesta oportunidade. Processo do plano de intervenção O plano de intervenção elaborado foi discutido na supervisão, entregue ao supervisor acadêmico. Por sugestão do técnico de referência do CAPS foi presentado em reunião de equipe do mesmo. Após estas ações, colocou-se em prática. Como as novas dependências do CAPS são ao lado de um condomínio residencial, optamos por entrevistar moradores deste local. O entusiasmo e a expectativa eram grandes, fomos eu, a colega do projeto e o supervisor do acadêmico ao local das entrevistas. Sabiamos que haveriam alguns obstáculos para chegar as pessoas a serem entrevistadas. Fomos até a portaria do condomínio, onde o porteiro pediu que voltássemos mais tarde, pois precisávamos da autorização da síndica para entrar e esta ainda não se encontrava. Enquanto aguardávamos, nos dirigimos as dependências da universidade, onde avaliamos a questão das entrevistas e optamos por não realizar as entrevistas. A decisão foi tomada após avaliar algumas atitudes das quais tomamos conhecimento durante uma assembléia do CAPS Fragata. Na qual foi relatada pela coordenadora do local a dificuldade de encontrar uma nova casa para abrigar um Centro de Saúde Mental. Segundo a coordenadora diversos locais que estavam disponíveis para aluguel foram negados, por se tratar de um CAPS. Percebeu-se então que as concepções acerca da loucura ainda continuam preconceituosas, onde a loucura é percebida como um perigo e algo que não se quer por perto. A desistência se deu para evitar algum movimento contrário a instalação do CAPS no local, que poderia ser provocado pela entrevista, que também propunha 4 informar as pessoas de que ao lado de sua residência seria instalado esse serviço. No entanto, não desistimos do projeto, planejamos fazer algumas adaptações e aguardar a ocupação da nova casa para depois realizar a intervenção. Foi sugerido pelo supervisor que fosse feito um contato com a coordenadora da Saúde Mental da cidade de Pelotas. A qual poderia dar um parecer sobre sua percepção quanto a aceitação e dos tabus que ainda cercam as pessoas ditas doentes mentais. Procuramos então o contato. A coordenadora achou bastante interessante o projeto, porém achou que agimos bem em não colocá-lo em prática no momento, pois realmente poderíamos ter causado alguma oposição. Segundo ela “ninguém quer uma casa de loucos perto da sua casa”. No entanto, ela considera importante que se realize este tipo de pesquisa, afim de informar e esclarecer ao público de como se da o serviço de saúde mental e a importância deste trabalho de reabilitação social, dismistificando a imagem esteorotipada que se tem da loucura. Construção da ideia do plano de microintervenção A ideia do plano de microintervenção foi fruto de uma construção elaborada durante as supervisões. Tendo como base o processo de mudança de endereço pelo qual o CAPS Fragata está passando. Frente a esse fato foi elaborado um projeto em conjunto com a colega de estágio Leila Rodrigues. Como o CAPS no qual se realizava o estágio passava por um processo de mudança de endereço, encontrou-se a oprotunidade perfeita de se realizar uma intervenção junto a comunidade do entorno do novo endereço. O projeto buscou, através de uma entrevista com os moradores, identificar qual a concepção do público leigo sobre doença mental, reforma psiquiátrica e CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) dentro do SUS (Sistema Único de Saúde). Além disso foi elaborado um folder informativo aos entrevistados. O estudo foi ancorado pelo processo que faz parte da história da loucura. Sabe-se que a loucura sofreu diversas mudanças de concepção ao longo da história, desde uma época em que se afastava os “loucos” da convivência social até o momento atual. O qual prevê uma reinserção do doente mental na sociedade, através da substituição dos manicômios por serviços de saúde mental, que visam uma recuperação e atuação social deste doente. Então tendo como base a fase em que se encontra a saúde mental, procuramos saber através da entrevista, como a nova forma de cuidados a saúde mental vem sendo aceita e interpretada pela sociedade. 5 Considerações gerais sobre o processo de estágio Como primeira experiência de contato com a prática psicológica, acho que foi um momento de refletir a respeito de várias coisas, muitas que são suscetíveis a análise, outras simplismente não dispõe de palavras para descrição. É um momento no qual você se depara com fatos que atravessam as sua compreensão de vida, que fazem você mudar, repensar seus conceitos e lhe dão a oportunidade de experimentar um pouco do que é realmente a profissão de psicóloga. Foram 4 meses de convivência com uma equipe, a qual me proporcionou a oportunidade de aprender coisas novas. Em nenhum momento houve resistência quanto a minha presença junto a equipe de profissionais. Também aprendi muito com os usuários. É impressionante ver a teoria na prática e desconstruir ilusões que a teoria muitas vezes cria na imaginação. Na teoria tudo funciona “direitinho”, enquanto na prática você precisa saber improvisar, encontrar brechas. A teoria, é sim, indispensável para a prática, porém ela nunca vai atender todas as necessidades da atuação profissional. E jamais permite a riqueza de vivências que a prática oportuniza. Convivendo com a doença mental, pude ver que pessoas que tem o mesmo diagnóstico não necessariamente manifestam as características da doença da mesma forma, cada indivíduo tem a sua individualidade, cada um tem a sua vivência e a sua história. A psicologia sempre foi uma área que me chamou a atenção e que muitas vezes me fez refletir o porque tantas pessoas são atormentadas pelo sofrimento psíquico. Hoje, após o primeiro estágio, penso o contrário, pois tive a oprotunidade de ouvir relatos de histórias de vida que me fizeram pensar e me perguntar: - Como pode uma pessoa que passou por tanta coisa estar de pé? Percebi também o quanto o aompanhamento psicológico pode fazer uma pessoa progredir e transformar sua vida. Pude ver o quanto o psicólogo deve ser persistente e acreditar no ser humano, pois nem sempre sua intervenção obtém resultados. Outras vezes tem uma melhora significativa, que a qualquer momento pode ir por “água abaixo” diante de um fato isolado da vida. A experiência de estágio do CAPS Fragata proporcionou participação em atividades bem diversificadas. Dentre ela a festa de natal que permitiu uma avaliação ampliada de como se dá a relação entre a rede de saúde mental e serviços. A festa é organizada por um dos CAPS da rede e conta com a presença de usuários e funcionários de todos os demais CAPS. São realizadas apresentações artísticas dos usuários. O momento foi bastante rico e proporcionou aos usuários uma demostração dos seus trabalhos e também um momento de integração, que no meu ponto de vista 6 é uma iniciativa a reintegração social e conquista de espaços para o doente mental. Porém, sinto falta de uma maior preocupação por parte das autoridades em relação a participação dos CAPS nos eventos que acontecem na cidade, não só apresentação de natal, mas outras atividades que acontecem ao longo do ano. Acho que as atividades do serviço de saúde mental ainda são muito restritos ao público usuário e não se estende a ocupar seu espaço no âmbito social das atividades que acontecem. Outro momento de análise foram as assembléias que são realizadas no serviço. O espaço permite a manifestação dos usuários, dando a eles a aportunidade de opinar e ajudar a melhorar o espaço, adaptando-o as suas necessidades. Além de informar sobre eventos que vem acontecendo em toda e rede de atenção básica de saúde. Este espaço demonstra o cumprimento da proposta antimanicomial que prevê que o doente mental seja reinserido na sociedade e o primeiro passa deve ocorrer neste espaço, espaço que é deles. Foi muito gratificante participar do movimento do mutirão de ocupação da casa nova, na qual segundo a proposta da coordenação, os usuários juntamente com os funcionários vão ocupar a casa e decidir os espaços ideiais para cada atividade. Bem como colorir as paredes e decorar a casa. Segundo a coordenadora: - “a casa deve ficar com a nossa cara”. Embora alguns funcionários e usuários ainda estejam resistentes a mudança, acho que faz parte do processo, porque toda mudança mexe com a já estrutura estabelecida e a reestruturação do serviço necessita uma abertura a novas experimentações. E sempre deixa uma certa apreensão quanto a incerteza do que vai acontecer. A reunião de equipe foi bastante proveitosa, pois no momento pude perceber como se dá a relação da equipe e também como uma equipe multidisciplinar é enriquecedora. Percebi que cada profissional tem um modo distinto de lidar e enxergar as situações e que através desses olhares diferentes que se constrõem as soluções em conjunto, optando pelo que parece o melhor caminho. Durante todo o processo de estágio ocorreram vários fatos que me fizeram refletir. Mas o que mais me chocou foi o fato de que em plena era antimanicomial e desconstrução de preconceitos, a questão da loucura ainda causa um impacto negativo na pessoas. Enquanto se procurava uma casa nova para o CAPS Fragata, vários espaços foram negados por se tratar de serviço de saúde mental, afinal ninguém quer uma “casa de loucos por perto”. Este ocorrido me fez acreditar ainda mais na importância de haver uma maior participação dos serviços de saúde mental nas programações da cidade. É preciso que se “mostre a cara” para que certas visões distorcidas possam ser repensadas. 7 Por fim, considero que o estágio básico I não serviu somente de contato com a prática profissional e de experiência para a minha construção profissional, mas também foi fundamental para o meu crescimento pessoal. Estou muito satisfeita com esta primeira experiência, todas a minhas expectativas foram superadas. Tanto no local de estágio, quanto nas supervisões, que foram fundamentais na construção deste aprendizado e na continuação da caminhada para a superação das dificuldades. 8 Referências Bibliográficas Ministério da Saúde. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil DESVIAT, Manuel. A Reforma Psiquiátrica. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro; Editora Fiocruz, 1999. Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas, Brasília, novembro de 2005, Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil, Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE