relações internacionais

March 19, 2018 | Author: Eline Paiva Mota | Category: Globalization, State (Polity), International Politics, International Relations, Society


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Aos nossos alunos e colaboradoresAos nossos alunos e colaboradores Se constatarem que utilizamos – na íntegra ou em parte e sem a devida citação da fonte – obras protegidas por direito autoral, solicitamos entrarem em contato para que, procedente a reclamação, providenciemos a imediata retirada do material indevidamente disponibilizado. Enfatizamos, contudo, o caráter excepcional, inadvertido e de boa-fé dos procedimentos, pois é nosso objetivo principal difundir o conhecimento e a cidadania, por meio de oferta gratuita, plural e democrática. Equipe de Educação a Distância do ILB Calendário de Atividades e Critérios da Avaliação Calendário de Atividades do Curso ATIVIDADES Fórum de Apresentação/Ambientação 1º Fórum Temático 2º Fórum Temático 3º Fórum Temático Avaliação Final Fim do acesso ao curso INÍCIO 15/08 (quarta-feira) 23/08 (quinta-feira) 04/09 (terça-feira) 14/09 (sexta-feira) 14/09 (sexta-feira) TÉRMINO 21/08 (terça-feira) 30/08 (quinta-feira) 12/09 (quarta-feira) 20/09 (quinta-feira) 26/09 (quinta-feira) 03/10 (quarta-feira) CRITÉRIO DE APROVAÇÃO ATIVIDADE 1º FÓRUM TEMÁTICO 20 2º FÓRUM TEMÁTICO 20 100 3º FÓRUM TEMÁTICO 20 AVALIAÇÃO FINAL 40 Total Para aprovação é necessário participar dos fóruns temáticos e realizar a Avaliação Final, com média mínima de 70 pontos. Sugestões para um bom estudo: As atitudes do estudante a distância, traduzidas em hábitos de estudo, são fatores que ajudam o aluno a persistir e permanecer no curso, determinando o sucesso final. Nossas sugestões para que você tenha um bom aproveitamento são as seguintes: administre bem seu tempo - assegure-se de que terá disponibilidade para se dedicar ao estudo; consulte com regularidade a agenda e o calendário do curso - o não cumprimento de algumas das datas implicará a sua reprovação no curso; procure realizar as atividades dentro dos prazos previstos - eles são planejados de forma a otimizar os resultados pretendidos e a pontualidade demonstra seu compromisso com o processo de aprendizagem; execute as atividades propostas em sequência de unidades/módulos - os exercícios respondidos fora da ordem ficam aguardando a vez para serem corrigidos e você corre o risco de se esquecer de retomá-los; sempre que acessar a plataforma, navegue pelos ambientes de estudo para ver se algo novo foi acrescentado; a plataforma é o melhor canal de comunicação com a tutoria - recorra preferencialmente ao tutor para sanar suas dúvidas de conteúdo; utilize o botão “Mensagem” no menu “Comunicação”. participe dos fóruns de debates - eles são instrumentos valiosíssimos de interação com o grupo, além de integrarem a avaliação. Leia atentamente o "Guia do Estudante"! Ele contém orientações indispensáveis para seu sucesso no curso! Guia do Estudante Guia do Estudante As orientações abaixo ajudarão você, estudante a distância, a utilizar melhor os recursos didáticos do nosso curso. Estas instruções visam a auxiliá-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamento e sucesso em seus estudos. O material didático, elaborado conforme os preceitos da Educação a Distância, está dividido em três módulos, cujos conteúdos são colocados de maneira clara e compreensível. A tutoria é um importante sistema de ajuda pedagógica do ensino a distância, oferecendo orientação e atendimento às dúvidas sobre os conteúdos. Nossa tutoria é composta de especialistas que atendem a todos os alunos, durante o período do curso. Visível na tela inicial do Trilhas. Funciona como um canal de comunicação do professor-tutor e da coordenação com os alunos. No mural há lembretes sobre o cumprimento dos prazos das atividades propostas ao longo do curso. 1. Na tela inicial do ambiente virtual - Trilhas, abaixo do Mural, clique na aba Meu Perfil; 2. O primeiro dado solicitado é a foto. Clique em Procurar e anexe o arquivo que deve estar salvo em seu equipamento (deve ter a extensão .jpeg ou .jpg para ser reconhecido pelo sistema); 3. Salve e saia do ambiente virtual. 4. Acesse novamente verifique que sua foto estará visível nessa mesma página. No cabeçalho e no rodapé do texto-base, os botões Próximo/Anterior darão opção de avançar e recuar no conteúdo programático. Navegação Para navegar pelos módulos/unidades escolhidos: na seta, abra o índice e clique na opção desejada. Observe que, acima do campo de navegação, o sistema informa seu posicionamento no texto-base até o número da página. Mural Meu Perfil (Instruções salvar foto Trilhas) sua para no Página 02 Ao acessar o curso, explore as funcionalidades localizadas no menu lateral: Comunicação: Espaço onde você envia e recebe mensagens dos participantes do curso. Basta clicar sobre a imagem do tutor ou colega a quem quer endereçar a mensagem, redigi-la e salvá-la. Para responder, você deve clicar na foto do destinatário. Ambiente de interatividade do grupo. Ao clicar em Fórum, o quadro é aberto abaixo do texto-base. Clique no "Tópico" do fórum desejado. Localize o tema proposto pelo tutor e clique no botão “responder", localizado no box da própria mensagem, preencha o campo de título e registre sua postagem, clique em “salvar”. Proceda da mesma forma para comentar as postagens dos colegas. Observe as três formas de participação: comentário ao tema principal, comentário aos participantes e comentário do tutor. Escolha a Fale com o tutor/colegas Fórum forma de visualização: todos os comentários e comentários em árvore. Apoio: Caderno Ali você poderá fazer anotações durante o estudo e resgatálas, modificá-las ou copiá-las a qualquer momento. É possível colar anotações trazidas de fontes externas. Neste espaço você irá visualizar arquivos adicionais oferecidos pelo seu tutor. Acesse verbetes de termos e expressões importantes presentes no texto-base. (Para acessar, digite o termo ou expressão, ou busque pela letra inicial. Você também pode clicar em "ok" sem preenchimento, e aparecerão todos os verbetes. Para abrir, basta clicar sobre o termo ou expressão.) Note que, no próprio texto-base, as palavras e expressões que conduzem a verbetes vêm com um tênue sublinhado - clicando sobre elas, você também acessa a respectiva explicação. Referência de obras utilizadas na elaboração do conteúdo, e de obras complementares, visando a ampliar, para o aluno, o universo de fontes de pesquisa. Acesso à listagem de links de interesse, relacionados ao curso/disciplina. Primeiro, você visualiza a tela de "Categorias", que servem para organizar os links em temas específicos, facilitando sua busca. Em seguida, dentro de uma dada categoria, aparecerá a listagem com os links, para acesso. Se quiser imprimir uma página ou toda uma parte do textobase, este é o local para fazê-lo. O sistema gera um arquivo com extensão .pdf. Certifique-se de que tenha instalado em seu equipamento programas que permitam abrir arquivos com tal extensão. Avaliação: Este é o local onde se podem realizar todos os procedimentos relativos às autoavaliações propostas. As questões são corrigidas pelo sistema e não são consideradas na composição final da nota. Local destinado a realização da avaliação final do curso. É possível salvar cada versão do trabalho, para garantir a memória das alterações. Ao concluir a atividade, clique no botão “Salvar e finalizar” para ser disponibilizada para correção. É aconselhável que elabore suas respostas em editor de texto pessoal para, então, copiar e colar as respostas no local adequado. Discursivas ATENÇÃO! Não reproduza material de terceiros. Sua resposta pode conter trechos de citação, desde que a fonte seja informada. Arquivos Glossário Bibliografia Links relacionados Versão para imprimir Objetivas Painel de desempenho Local onde você visualizará toda a sua trajetória de fóruns e avaliações, com as respectivas notas atribuídas e médias resultantes. Fique atento aos parâmetros avaliativos determinados pela instituição. Observe a legenda para verificar o andamento das suas atividades. MÉDIA PARA APROVAÇÃO – 70 PONTOS. É necessário realizar todas avaliações propostas. Certificação Eletrônica: Decorridos 10 dias após a data de conclusão do curso, entre com seu nome de usuário e senha e clique no ícone Emitir certificado. Você terá a opção de imprimir o CERTIFICADO e uma DECLARAÇÃO com o conteúdo programático. Poderá também salvar o arquivo, para posterior impressão. Caso deseje uma impressão especial, bastará utilizar papel com gramatura ou textura diferenciada. Para os inscritos a partir do segundo semestre de 2011, o ILB passou a fornecer autenticação digital, cujo código consta do certificado e que pode ser acessada na página inicial (a mesma em que é feito o login). Sugerimos que você imprima seu certificado em cores e com gramatura (espessura da folha) específica para diplomas. gov. Daí a importância da preparação de seus quadros no tocante a fundamentos das Relações Internacionais e questões internacionais contemporâneas. sobretudo diante do processo de globalização e do crescimento do intercâmbio de informações. do Direito e da Economia Internacional. Nesse contexto. o Instituto Legislativo Brasileiro promove. . estudantes. permitindo-lhes a eficiente aplicação em suas atividades de assessoria parlamentar ou governamental. o presente “Curso de Relações Internacionais: Teoria e História”. entre outros. E-mail: [email protected] (Identifique a mensagem. O objetivo é instruir os cursistas a respeito de relações internacionais. dando continuidade ao Programa de Educação a Distância para os quadros do Poder Legislativo. O Poder Legislativo. com destaque para aqueles que atuam no assessoramento de tomadores de decisão nos três Poderes.) Telefone: (00+55) (61) 3303-1475 Horários de atendimento ao aluno virtual: 10h às 12h e 15h às 17h (dias úteis) Apresentação Bem-vindo ao curso! Cada vez mais o estudo das Relações Internacionais adquire relevância. o Brasil necessita ampliar sua atuação em diferentes áreas da Política. Além dos servidores. em virtude de suas atribuições e competências constitucionalmente previstas.página 03 Confira os ícones utilizados neste curso: Acesse o texto sugerido Comunique-se! Assista ao filme ou ao vídeo Curiosidade Avaliação Final do Curso Avaliação Final de Unidade Atenção Para refletir Literatura sugerida Objetivo de aprendizagem Pesquise na Internet Conclusões Autoavaliação Você sabia? Não perca! Suporte técnico O Núcleo Web do ILB oferece apoio a problemas de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem e orientações para a utilização dos recursos e ferramentas de EaD. pessoas e serviços entre os entes internacionais. membros do corpo diplomático. informando seu nome completo e o curso em que está inscrito. O público-alvo do curso é constituído por servidores públicos. Assim. ocupa papel de destaque nas ações de Política Externa. bens. podem realizar o presente curso todas as pessoas interessadas em relações internacionais e questões internacionais contemporâneas: profissionais liberais. procure organizar-se para ter o melhor aproveitamento possível do curso. Serão abordados os temas: -As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo e a Globalização -A Importância das Relações Internacionais para o Brasil -Relações Internacionais como Disciplina Independente Objetivos Ao final desta Unidade inicial. Em um curso de educação a distância por meio da Internet. . O contato com os tutores do curso é feito por meio do "Trilhas".Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais Unidade 1 As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Unidade 2 Conceitos Fundamentais Unidade 3 Correntes teóricas das Relações Internacionais Unidade 4 O Realismo Unidade 5 Sociedade Internacional: Aspectos Gerais Unidade 1 .As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Nesta Unidade. # assinalar a evolução histórica e a importância de Relações Internacionais como disciplina acadêmica. a nova Plataforma de Educação a Distância do ILB. Módulo I . # estabelecer a importância das relações internacionais para o Brasil. que este é um curso introdutório. finalmente.O cursista contará com o apoio dos tutores. Portanto. Lembramos. que estarão disponíveis para esclarecimentos e orientações. o aluno deverá estar apto a: # identificar os principais pontos da agenda de relações internacionais contemporâneas. Há muito a ser explorado no estudo das Relações Internacionais. são tratados alguns dilemas e perspectivas relacionadas à questão das Relações Internacionais. # estabelecer o conceito e as características da Globalização. Desejamos que você tenha excelente aproveitamento neste curso introdutório às Relações Internacionais: Teoria e História! Bom proveito! A equipe organizadora do curso. o estudante tem um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade com o conteúdo proposto. Esperamos que o presente curso sirva para despertar o interesse sobre essa temática tão intrigante. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Essa cláusula evitadas alternativas autoritárias em alguns países do Mercosul. e do fortalecimento dos meios de comunicação. Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do “mundo sem fronteiras”. Portugal e Espanha. com vista à promoção de uma interdependência global e. a tecnologia alcança milhões de pessoas. 01 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Vídeo Antes de iniciar os estudos desta unidade. o caso de países como Grécia. como as organizações não governamentais. as distâncias estão menores. Omesmo se aplica à turquia. ademais. No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). o qual não é recente. em última escala. pois as conquistas sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios de todos os outros. os tratados e políticas para a nova ordem internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”. por exemplo. com a redução das distâncias em virtude do desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala global. a opinião pública e a mídia. tiveram que promover importantes mudanças econômicas. que. sociais e políticas. “blocos econômicos” etc. As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os povos. econômicos. Trata-se de conceito revolucionário. O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor. o sistema internacional vê-se cada vez mais integrado. Em nossos dias.pág. e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre dois pontos é uma tecla”. ganham destaque ao influenciarem a conduta dos Estados. o atual processo de globalização envolve a integração econômica mundial em diversos níveis. que essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno. globalizado. blocos se formam. 02 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e intensificação de mecanismos. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de benefícios econômicos. em momentos de crise institucional Assim. pode-se tomar café em Londres e almoçar em Washington. processos e atividades. para serem aceitos na então Comunidade Europeia. Cite-se. interligado física e eletronicamente. e a comunicação através das fronteiras é praticamente instantânea. e não há limite ao conhecimento humano. Poucos lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem. mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX.as duas partes). culturais e políticos. Nesse contexto. novos Atores. as empresas transnacionais. de uma maneira como nunca experimentada anteriormente. à integração econômica e política em âmbito mundial. assista ao primeiro video educacional da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global Mundo Digital" . com as economias interligadas. Registre-se. Link . Os programas enfocam toda a história das relações entre os povos. há a chamada "clausura democrática". Cada vez mais. disponível na página do ILB. com consequências que ultrapassam os benefícios econômicos. que aspira a torna-se parte da moderna Europa. Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais que oferece informações necessárias à compreensão dos novos processos de intercâmbio entre as nações. O último século do segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! pág. tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos pais e avós. as fronteiras perdem sua importância. a qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos podem participar do bloco. envolvendo aspectos sociais. ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E o destino da humanidade permanece uma grande incógnita. p. Nações ricas e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. A sociedade internacional presencia crises econômicas. empregaremos iniciais maiúsculas. 1998). Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga. o tráfico de armas. 333-349. segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto. 05 . Ademais. vale conferir: ODON. mas também entre todos os habitantes da terra. Em caso de dúvidas. para Relações Internacionais como disciplina acadêmica ou área do conhecimento. contate o seu tutor por meio da Plataforma de Educação a Distância do ILB (menu "Comunicação" . tanto assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre meio ambiente. De fato. a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. todos esses há muito não são problemas exclusivos de um ou outro país. CONFLITOS INTERNACIONAIS Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado envolve os problemas ambientais. que movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo. Brasília. agressões contra uma pessoa devem ser consideradas crimes contra toda a raça humana. culturais e sociais. 2003. No moderno sistema internacional. out. Crimes como o narcotráfico. mas são questões globais que devem ser encaradas globalmente. ao lado das grandes conquistas. Cite-se. “Contra a Antiglobalização”. Assim. quando nos referirmos ao objeto de estudo. Convém registrar que. sobretudo quando notícias de violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do planeta. temos a guerra. O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente americano – da qual foi presidente o brasileiro Antônio Augusto Cançado Trindade – refletem essa nova realidade. n. uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda presenciaremos o fenômeno da guerra. há novos e grandes desafios: parte significativa da população mundial ainda permanece no século XIX."Mensagem") ou por e-mail. pág. pág. pág. ainda. Alguns locais do globo ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. com organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas de maneira organizada e internacional. mas entre civilizações (HUNTINGTON. Daí que os males causados ao meio ambiente afetam toda a humanidade. a parte significativa da raça humana que sofre com a fome. alguns cogitam mesmo que a guerra no século XXI não será mais entre países. enquanto que. surgem também os conflitos. 04 MEIO AMBIENTE. Revista de Informação Legislativa. as guerras. Link Para maiores detalhes sobre a lavagem de dinheiro e de seus efeitos no mercado internacional. outro componente marcante da agenda internacional desde sempre. e multiplicaram-se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais. o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria. Ele está à sua disposição e pode ajudá-lo. Tiago Ivo. usaremos o termo em minúsculo. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro. Cada vez mais a humanidade toma consciência de que as questões ambientais não podem ser tratadas como assuntos internos dos Estados e que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras. A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência. ano 40. políticas. não só na área governamental. há a criminalidade que ultrapassa as fronteiras dos Estados. No último quartel do século XX. Nesse sentido. a proteção ao meio ambiente passou a ser uma das grandes preocupações da comunidade internacional. sob suas diferentes formas. a pobreza. Nesse sentido.Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida. E no extremo dos conflitos. 03 DILEMAS DA GLOBALIZAÇÃO Entretanto. DIREITOS HUMANOS. o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras pelo globo./dez. A terra é um corpo único e seus recursos ambientais são patrimônio de todos os seres humanos e das futuras gerações. Lavagem de dinheiro: os efeitos macroeconômicos e o bem jurídico tutelado. inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a sociedade internacional. à medida que nos aproximamos uns dos outros. 160. por ocasião do curso presencial ministrado no ILB. a sociedade internacional está tão interligada. Atualmente. Hoje. brasileiros. no primeiro semestre de 2008. que situações ocorridas na China podem afetar a nós. empreendedor e. É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. com fronteiras com praticamente todos os países sul-americanos e com o Atlântico como principal via para a Europa e a África. Nesse contexto. Estamos estrategicamente localizados. Ademais. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos setores da nossa sociedade. se você não é parte da solução. Daí que o problema do outro passa a ser também um problema nosso. é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. e estando entre as maiores economias do planeta. Afinal. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil começou a se fazer mais presente. o Brasil não pode se furtar a ter um papel de destaque nas relações internacionais. Aumente o som de seu equipamento e bons estudos! Duração: 5min24 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado.com/br/flashplayer/) O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial. com suas peculiares “características antropofágicas”. o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas. tão integrada em um processo de globalização. pessoal e profissionalmente. é parte do problema! Vídeo Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves. nos dizeres de Gilberto Freyre. do outro lado do planeta. política interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa. com condições e pretensões de se tornar uma Grande Potência. Finalmente. quem não estiver informado sobre o que ocorre no mundo poderá ver-se bastante limitado. Na Administração Pública. Link . essa demanda é mais evidente. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get. e o bem-estar de cada homem passa a significar o bem-estar de toda a humanidade. Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário internacional. No Poder Legislativo. não devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um povo multiétnico.IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Eis.adobe. somos uma nação tida como pacífica e respeitadora do direito internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. grandes desafios! E é nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento das relações internacionais. As transformações e acontecimentos no mundo globalizado farão cada vez mais parte de nosso dia a dia em uma tendência praticamente irreversível. portanto. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países. já em seu Título I. A Carta Magna. os EUA e a Rússia. a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente. • Repúdio ao terrorismo e ao racismo. Quando não há dispositivos legais expressos. portanto. ressalvados os casos previstos em lei complementar . II – autorizar o Presidente da República a declarar guerra. estabelece. E a violação a esses direitos gera repulsa da comunidade internacional. Há. pág. trouxe como princípio a incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte. Em nosso sistema jurídico-político.Um sítio interessante para o estudante e o profissional da área de Rel é o Inforel. que o mundo moldou uma cultura de direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras. • Autodeterminação dos povos. • Igualdade entre os Estados. • Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. A Constituição da Rússia de 1993. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra. 4º. as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia. Ainda no que concerne à Lei Maior. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre tratados. decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva. a celebrar a paz. por exemplo. quaisquer tratados que o Brasil celebre com outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente passar pelo aval do Congresso Nacional antes de serem ratificados. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer. acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. os princípios que regem as relações internacionais do Brasil: • Independência nacional. logo nos dois primeiros incisos. Na década de 1990. além de artigos com análises interessantes (disponível em LINKS RELACIONADOS no menu APOIO). as competências exclusivas do Congresso Nacional: Art. O relacionamento entre Estado e indivíduo. sinais de uma crescente interdependência até mesmo no campo jurídico no mundo. Vereshchetin (1996). que tradicionalmente foi objeto de preocupação de leis internas. não mais pode ser considerada uma questão puramente doméstica dos países. e o Tribunal Penal Internacional nada mais é do que uma expressão e consequência disso. também os direitos e garantias fundamentais estão intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de sua história. • Defesa da paz. 49. • Não intervenção. que traz cobertura atualizada das questões de relações internacionais e defesa nacional. a França. por exemplo. • Solução pacífica dos conflitos. O art. • Concessão de asilo político. por exemplo. 07 O PODER LEGISLATIVO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. as cortes constitucionais têm dado o rumo da interpretação. no art. • Prevalência dos direitos humanos. pág. 06 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. referente aos “Princípios Fundamentais”. vê no que chama de “fator direitos humanos” um dos principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção internacional no pós-Guerra. uma das mais conhecidas é a diplomacia. convém apresentar algumas considerações gerais sobre o estudo das relações internacionais como disciplina. Aquelas que desconsideram essa percepção acabam por sucumbir. a Economia. há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações Internacionais e Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU. História. as áreas de atuação do profissional de relações internacionais e a realidade brasileira. tem atribuições mais específicas. pág. que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas. Assim. Em termos de carreira. Afinal. Compete também ao Senado autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados. Economia. além da Chancelaria. relações estas que envolviam conflito e cooperação. promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. composta por 19 membros titulares e 19 suplentes. é necessário o ingresso na carreira por meio de concurso público. sobretudo no território europeu. de questões internacionais contemporâneas. Essas teorias e seu estudo deveriam constituir uma nova área do conhecimento. Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX. e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam diretamente no quotidiano das pessoas e na política interna das nações. Para se tornar um diplomata no Brasil. WWF e outras. Além das grandes corporações multinacionais e transnacionais. Além disso. as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a necessidade de atuarem em uma economia globalizada. Filosofia. Palácio do Itamaraty Fonte:www. Na iniciativa privada. independente e com autonomia para gerar suas próprias percepções da realidade. sobretudo. e após um período de treinamento no IRBr – para aqueles que não dispõem de título de Mestre ou Doutor –. Brasília tem representação da maior parte dos organismos internacionais dos quais o Brasil é membro e. e aos poucos tomamos consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. como o Direito. pois é a Casa Legislativa que avalia e aprova nossos embaixadores. OMC. no Ocidente e no Oriente. percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos Atores em um cenário internacional. outro leque de alternativas se abre ao profissional de relações internacionais.E o Senado Federal. alguns véus foram retirados.org No serviço público. Constata-se a presença de profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado. com isso. Estadual e Municipal. UNESCO. E o perfil do internacionalista se destaca. A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações internacionais do País. mais importante se faz o conhecimento. Aprovado no concurso. Ao assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em tempo real. OPEP. Naquele contexto. pág. autoridades máximas das missões diplomáticas brasileiras. secretaria. que afeta países nos hemisférios Norte e Sul. é competente para tratar das questões que envolvam as relações internacionais do País. Estatística e. podendo chegar a Embaixador. designados para representar o País no Exterior. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras ciências. OIT. 09 RELAÇÕES INTERNACIONAIS COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE Até o início do século XX. Assim. na esfera do Legislativo. os temas centrais eram: O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drastica? O que leva os Estados à guerra? É possivel se evitar o conflito entre os povos? . as empresas precisam de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema internacional. do Distrito Federal e dos Municípios. há profissionais de relações internacionais atuando em vários setores da Administração Pública e da iniciativa privada. No campo profissional. OEA. a Sociologia e a Ciência Política. a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Sociologia. Administração. O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque. sempre há uma “assessoria internacional” em cada ministério. Greenpeace. nas principais universidades europeias e norte-americanas. Daí o aparecimento das primeiras cátedras de Relações Internacionais pelo mundo. O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. No Senado Federal. por exemplo. Antropologia. o mercado do profissional de relações internacionais se amplia na Capital Federal. O diplomata é o legítimo representante do Governo e da nação junto a outros povos e organizações internacionais. o profissional de relações internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos vários órgãos da Administração Federal. o diplomata inicia uma carreira como Terceiro Secretário. autarquia e empresas públicas. Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e defesa nacional. as relações internacionais não eram estudadas como disciplina independente. No Brasil. em um mundo cada vez mais integrado econômica e financeiramente. conflito sem precedentes até então. O terrorismo passa também a ser uma questão global. À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações entre os Estados mais diversificadas. FAO. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. por sua vez.inforel. as relações internacionais são aplicáveis em diversas áreas. dos principais temas de relações internacionais. as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (19141918). 08 O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Antes de concluirmos a primeira Unidade. Tenha um bom aproveitamento! pág. Atualmente. portanto. havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro).Conceitos Fundamentais A Unidade 2 tem como foco os conceitos básicos para a análise e compreensão do campo das Relações Internacionais.Como agem os Atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses entes? Claro que. Atenção Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos. integração. Lembrando que essas questões serão corrigidas automaticamente pelo sistema e que permitem que o aluno refaça. Objetivos Ao final desta unidade. Atividades de autoavaliação . são dezenas de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo o País.Autoavaliação M1U1 e realize a atividade.Para efeito de fixação dos conceitos estudados na Unidade. em seguida. Atores. realize as atividades propostas e. Até meados da década de 1990. Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso. Mesmo assim. Hegemonia. atualmente há cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado. caso escolha a opção inadequada. direitos humanos e globalização. Unidade 2 . o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas. no decorrer do século XX. Sistema Internacional. e evolui à medida que evolui a complexidade da sociedade internacional. Potência. Trata-se. como cooperação. O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na Universidade de Brasília. paz. na década de 1970. a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente. fazendo da capital da República o referencial brasileiro em estudos internacionais. passemos às teorias e aos principais conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações Internacionais. vinham à baila. Hoje. 01 CONCEITOS FUNDAMENTAIS . de carreira de grata expansão. De fato. que devem servir de guias para o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. o aluno deverá ser capaz de identificar e definir os seguintes conceitos fundamentais de relações internacionais: Sociedade Internacional. desenvolvimento. sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma Grande Potência entre seus pares. Forças Profundas. a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo. clique no menu lateral em "Avaliação" e escolha em "Objetivas" a que se refere a esta Unidade(U1) e Módulo(M1): Rel I . com seus paradigmas e princípios seculares. Potência. com o início do declínio do absolutismo no continente europeu. Os conceitos elementares de Relações Internacionais sobre os quais se tratará neste curso são os de: Sociedade Internacional. Vídeo Antes de iniciar o estudo desta Unidade. Paul Kennedy. O Estado soberano era o principal Ator internacional. seja pela força da economia e do comércio. A Sociedade Internacional representava. conhecido como Europa. como o extremo oeste do continente euro-asiático. passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea. Das tribos passaram-se aos reinos. e a “Sociedade Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o principal ator. Apesar da ausência de uma autoridade central no cenário internacional. a “Cristandade”. subjugando impérios tradicionais como a China e o Império Otomano. sistêmicas. em sua obra Princípios de Moral e Legislação. para os europeus. refletia mais um conjunto de sociedades regionais localizadas. Sociedade Internacional Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade Internacional. morais etc. Hegemonia. Num primeiro momento. culturais ou comerciais entre si. analisa. consegue expandir-se pelo mundo e. Atores. sugerimos que assista atentamente aos dois vídeos seguintes do Conexão Mundo. às cidades-estados e aos impérios. em pouco mais de dois séculos. Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constituitivos desse conceito? A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século XVII – permite direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. e constituídos por. tem-se uma Sociedade Internacional embrionária. Essa é a época do apogeu dos Estados nacionais.Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos fundamentais de Relações Internacionais. Forças Profundas. há dois séculos. no século XX. podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução histórica das relações entre os grupos. Estados-nações organizados em âmbito espacial determinado. Sistema Internacional. disponível no sítio do ILB. mais tarde. Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade. com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos XVIII e XIX e o seu declínio. Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional. com uma diversidade de povos e reinos autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas. formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo. tornar-se o centro de uma sociedade global. vistos em um contexto macro e nas relações entre si. que só se deu. exercendo relações políticas. território e soberania). Assim. 02 Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais. seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais europeias. vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses conceitos. legais. pelo filósofo inglês Jeremias Bentham. inserido em um Sistema Internacional da Antiguidade. não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. com clareza. os Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a. . Afinal. restrições de diversas naturezas – históricas. seria complicado tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses conceitos essenciais. povos e. Nesse sentido. O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780. nos moldes como os concebemos hoje (compostos de povo. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a esse respeito. Era uma época em que as forças naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente. A seguir. frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente. “Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais V2”. em sua obra já clássica Ascensão e Queda das Grandes Potências. Era um período em que a ideia de nação ainda estava muito ligada à figura do soberano. e estes. Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta é que se estrutura uma Sociedade Internacional global. muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência das outras sociedades. pág. a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados. desde o século XVI. o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista. até então simbolizados e conduzidos pelos monarcas. é necessário que a atuação desses entes tenha destaque internacionalmente. 04 Por fim. Percebemos uma definição genérica e abrangente. estenderam-se às relações entre os povos.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional. com base em uma análise sistêmica. Limitam-se. que mantêm entre si relações recíprocas. majoritário. como veremos adiante. não sendo à época Atores internacionais. cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional. pela qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e de sua evolução desde a Antiguidade: A nosso ver. mas podemos destacar aqueles que. algumas de natureza familiar. intensas. Hedley Bull (2002). pág. portanto. Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder social autônomo. que põe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados. Desmembremos esse conceito para melhor compreensão. Ator Internacional A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um conjunto de entes. duradouras e desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”. Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas. é simplesmente impossível definir Sociedade Internacional. o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de “humanidade”. pág. reinos. muito pelo contrário. Uma vez que concordamos com essa percepção. a pergunta que se busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante. para esses autores. Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que vivem sobre a terra”. que é baseada na corrente historiográfica. Grandes empresas transnacionais de hoje foram. Estados. ao estudo dos componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações entre eles. 03 Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos. de todos os Atores que a compõem ou a compuseram e das forças que influenciam a sua atuação. Não obstante. Antes. porém. onde o súdito tornou-se cidadão e as relações entre os Estados. os atores governamentais interestatais (as organizações internacionais). podem ser considerados os mais importantes: os Estados nacionais. territorialmente ou geograficamente organizados e com poder de decisão. A percepção desses Atores varia conforme o tempo e a corrente teórica que os identifica. mas apenas para instrumentalizar suas explicações. tornaram-se Atores internacionais. a formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. pois a Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo. Por essa ótica. apresentaremos nosso conceito de Sociedade Internacional. mas também necessário. O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são necessariamente relações entre os Estados. Ator internacional é toda autoridade. Para o autor. Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em contraposição a outros grupos sociais. assim. expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na Sociedade Internacional. Uma associação.e. que podem ser reunidos em três grandes grupos (CERVERA. organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator internacional. afirma não só ser possível. estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país não é um Ator internacional. Esses entes nada mais são do que os Atores internacionais. definiu Sociedade Internacional como um “grupo de comunidades políticas independentes que não formam um sistema simples”. então. qualquer grupo. De qualquer maneira. Para nossa classificação. pequenas organizações comerciais.. o conceito de sociedade internacional? A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos teóricos das Relações Internacionais. para que se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se desenvolvem em seu meio. entre os quais se destacam os Estados. Não são todas as pessoas. que atuavam exclusivamente no interior de seu país de origem. entre outros) e os indivíduos. Para os teóricos do primeiro grupo. organização. Qual é. grupo ou pessoa que representa ou pode vir a representar um papel de destaque na Sociedade Internacional. À medida que essas empresas cresceram. povos. na atualidade. por exemplo. proceder à definição do termo “Sociedade Internacional”. O terceiro grupo. organizações não-governamentais e empresas multi e transnacionais. independentemente de suas origens e do grupo ou povo a que pertence. 1991). A soberania passou a residir essencialmente na nação. Impérios e nações. . eles não deixam de apresentar sua definição de Sociedade Internacional. os atores não governamentais interestatais (i. grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator Internacional. no passado.Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da soberania. como as nações ou os Estados nacionais. vejamos alguns conceitos de autores renomados. enfim. Definição mais precisa e completa de Sociedade Internacional é de Juan Carlos Pereira (2001): “um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados. essas forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos humanos e. tendente a um resultado”. os traços da mentalidade coletiva. econômicos e financeiros. tecnológicos etc. social e tecnológica. fator econômico. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o conjunto de inter-relações entre os Atores internacionais como sujeito a padrões. a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados. migratórios. de acordo com Frederic S. fator político-jurídico e fator militarestratégico. Caberia apresentar um conceito de Sistema Internacional. portanto. quer um temperamento que o levam a transpor aqueles limites. quer dons intelectuais. organizações internacionais. no qual vários subsistemas – circulatório. A ideia de “forças profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais. pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. quando ele possui. está relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à interdependência entre esses componentes. Portanto. O homem de Estado. recorreu ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais. econômica. as grandes correntes sentimentais. indivíduos. nevrálgico etc. Todavia. a Sociedade Internacional tem características suficientemente estáveis para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas relações dentro de certos padrões. sugere-se a publicação The World Factbook. pág. quer uma firmeza de caráter.Link Ainda sobre os atores e seus dados estáticos. o terceiro elemento fundamental são as “forças profundas”. o sistema internacional como um todo. fator demográfico. Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de Sistema Internacional para identificar certos períodos históricos. em que o aspecto relacional é importante. sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que elas impõem à sua ação. 641): Sistema Internacional. 06 Forças Profundas Finalmente. que remetem ao conjunto mais amplo. pág. em grande parte. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas política. p. políticos. com dados atualizados sobre as nações do mundo. ideológicos. ainda. a forças profundas –. De acordo com esses historiadores. de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional. por exemplo. à Europa do pós-1815. pode tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus próprios fins. . não pode negligenciá-las. p. Por exemplo. Sistema pode ser conceituado como “conjunto de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma relação” ou. fator tecnológico. Pearson e J. demográficos. nas suas decisões ou nos seus projetos. que alguns defendem corresponder. organizações não governamentais. entre outros – que são influenciados pelas forças profundas – fatores geográficos. as forças profundas nada mais seriam que determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades: As condições geográficas. Nesse sentido. Adotamos uma abordagem sistêmica. fator ideológico/sistema de valores. os movimentos demográficos. o que alguns autores defendem corresponder ao mundo pós-1945. “conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias. 2001. religiosos. lhes determinaram o caráter. Raymond Aron. 05 Sistema Internacional O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à atuação sistêmica na esfera internacional. Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA. A ideia de sistema. Assim. Identifica alguns desses fatores: fator geográfico. os interesses econômicos e financeiros. 44). Martin Rochester (2000. empresas transnacionais. Em contrapartida. normas – enfim. cujos principais expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um dado momento. Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia internacional. As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações. Sistema Internacional traduziria a existência de vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se harmonizam no todo. – em suas ações sistêmicas na esfera internacional. produzida anualmente pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). no planeta. apenas uma Superpotência: os EUA. Smouts. Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo. é o de Superpotência. . caberiam. obra-mestra da historiografia francesa das relações internacionais. Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o potencial exclusivamente militar. pág. o lugar da URSS. a França de Luís XIV. caberia destacar dois livros de Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro. de Arno Wehling. Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências: têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo. tinham status único na comunidade das nações. Há inúmeras definições para Potência. pretendem oferecer um modelo universal de sociedade. uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de influência significativa no Sistema Internacional. M. como aquele Estado “mais ou menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um ou mais âmbitos-chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”. designava exclusivamente URSS e EUA. por sua vez. sob o tema: Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. em nosso curso introdutório. em virtude de suas capacidades nucleares – com poder de destruição global –. Livro indicado Além do clássico Histoire des rélations internationales. importante para a compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação. De fato. a capacidade de destruição massiva do planeta é o elemento central do conceito de Superpotência. 07 Além dos conceitos já tratados. o Império Romano. à época das Guerras do Peloponeso. mas o aspecto de liderança de um bloco de nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político-econômico-ideológico-sociais não pode ser desconsiderado. ainda não há que se falar na China como Superpotência.Link Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as Forças Profundas. Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência Dominante. pág. Em última análise. Entretanto. a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX. Esses países. Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional. algumas observações – ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades. Mas existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Alguns autores vislumbram a possibilidade da China vir a ocupar. Potências Dominantes e Potências Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande Potência. o Estado ocupa papel de destaque. e quase pode ser definido como a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”. de São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de Duroselle. capaz de causar danos diferenciados dos armamentos convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de outros meios de destruição em massa. Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra todos os rivais juntos. Martin Wight relaciona Potências Dominantes. com o colapso da URSS. dispõem de amplo arsenal. Potências Mundiais e Potências Menores. Rafael Calduch Cervera (1991). inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional e à influência político-ideológica mundial. na segunda metade do século XXI. 08 Atualmente. como Atenas. conforme definida por Wight. Assim. Esse termo. cita o conceito de Potência Internacional segundo C. E cita exemplos ao longo dos séculos. a Espanha de Carlos V e de Filipe II. restou. Passemos a eles. Potência O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de Atores. a diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores. assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de Varsóvia). cunhado com o advento da Guerra Fria. Segundo Martin Wight (2002). Grandes Potências. ou seja. Nesse contexto. lançado no Brasil em 2000. a China e o Japão estariam nessa categoria. Assim. além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio de Estados como EUA e Rússia. Albânia e Moçambique. Alemanha. o conceito de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento. A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. a Economia e até o Direito. essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. Do ponto de vista econômico. As Potências Locais são as mais numerosas. De maneira geral. Camboja. cultural. A França.uma vez que esta. 09 Max Gounelle (1992) comenta que. teríamos países como Bolívia. Finalmente. Ademais. diplomático). um Estado pode ser classificado como Microestado. Potências com interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Potência Local. algo sem precedentes na História. a hegemonia. consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para outras regiões do planeta. de fato. Como exemplos atuais de Grandes Potências teríamos China. por exemplo. sua influência na política internacional é marcante e. Gounelle. disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-se a potência dominante. Brasil. fundadas em seus potenciais materiais ou demográficos. de Martin Griffiths e Terry O’Callaghan (London: Routledge. Egito. como fazia a URSS. nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado. o que Gounelle relaciona como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de Grandes Potências. A concepção de hegemon ultrapassa a esfera exclusivamente político-militar. Nigéria. são hoje o único Estado com as características básicas da superpotência e. Esses países exercem influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos. Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –. De fato. apenas a coalizão das grandes economias europeias pode fazer frente aos EUA. Além disso. mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operação militar em mais de um teatro no globo. As potências menores constituem a maioria. esses entes têm como objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. os EUA não encontram. Esse aparato não se resume ao potencial das armas de destruição em massa. como a cultura. De qualquer maneira. não tem pretensões – nem condições – de projetar um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. Síria. econômico. . envolve um misto de coerção e consenso. à medida que dispõe de capacidade de influenciar de maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares. pág. Os EUA são um bom exemplo disso. Ao chamar Potências como China e Grã-Bretanha de Potências Médias. Como exemplos para essa categoria. a alcançar esse objetivo. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não encontra precedentes. econômico e até social. França. Nesse grupo. por exemplo. diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao afirmar que estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias capacidades. Participantes das atividades comuns da vida internacional. De fato. as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas Potências disputariam poder em um jogo de influência. as quais. 2002). no entanto. São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. esses entes ganham força quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde tenham poder de voto igual ao de outros Estados. exatamente porque também não tem condições de aspirar a qualquer pretensão hegemônica no sistema internacional. adversários militares à altura. A Rússia. URSS e EUA. Rússia. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência Dominante. uma potência tão poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as demais nações para contê-la. há outros atores estatais com capacidade significativa de influência na Sociedade Internacional. considerados os vencedores da Guerra Fria. os EUA. muitas vezes. pág. Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época. no início do século XXI. diversos Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a ideia de hegemon. na produção de bens de consumo. Além da potência hegemônica. chegando. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear. por sua vez. de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade Internacional em esferas diversas. Grande Potência ou Superpotência. Seu grau de influência no sistema varia significativamente. Encontram-se constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado de Mônaco e a República de San Marino. não têm grandes pretensões internacionais de projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais. suas envergaduras ideológicas ou seu peso militar. Esses são as Grandes Potências. Apesar de minimamente influentes na Sociedade Internacional. em sua maioria. a estrutura social interna. essa nação temse tornado tão poderosa que já se cunha o conceito de Hiperpotência. trata-se de uma Economia de peso diante do sistema. e alguns analistas já começam a analisar a política externa estadunidense como uma política de império. Potência Média. e são a Grande Potência econômica e a liderança mundial. do que propriamente por meio do hard power (poder militar). De fato. como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões. convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status. poderiam ser relacionadas desde as Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e Egito. apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta. não pode ser chamada de Superpotência. Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Paraguai. Assim. a Alemanha. ou seja. ou seja. ainda. tiveram origem na formação histórica dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonização. Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos dias e que. o mesmo se podendo dizer das economias asiáticas. inclusive. 10 Hegemonia Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra International Relations: : the Key Concepts. como veremos a seguir. Japão e Grã-Bretanha. É claro que. ordem que deve ser percebida pelos demais entes da comunidade como positiva a seus interesses. ordem e moeda estável. por parte das Potências. os governos fornecem tais bens. em grego. Baseando-se na obra de Charles Kindleberger e na análise de E. e o hegemon nada mais que a Potência Dominante. por meio de um mecanismo de preço eficiente. É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4. As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight. Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis. regulamentos. da hegemonia na Sociedade Internacional. Gilpin argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da permuta internacional dependem da existência de uma “hegemonia”. além de política. o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo de nações. pág. presume-se que haja uma certa ordem na Sociedade Internacional. As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa. 26-27): (. Essa hegemonia. diante de outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o hegemon. que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais. econômica. toda relação de poder tem por base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. 11 Para Robert Gilpin. muda também a liderança no grupo. com base em recursos de poder. significa “liderança”. Assim. da mesma maneira que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais Atores. Em termos gerais. os mercados dependem da transferência. Um Estado que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. taxas e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. pode ser militar. É claro que tal liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário internacional.) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não houver um Estado que forneça certos pré-requisitos. Dentro das fronteiras territoriais do Estado. Atenção Não acumule dúvidas. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre sua liderança. no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade. o hegemon deveria dispor de alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e poder político baseado no poder militar. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica. então. p.. que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais. À medida que é alterada essa relação. Curiosidade . o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coerção. de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os mercados dependem do Estado para lhes dar. cultural ou ideológica. H. não existe Estado no mundo capaz de multiplicar sua provisão em escala global. Procure saná-las logo que apareçam. em Relações Internacionais. ordem e uma moeda estável para o comércio financeiro. a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia. Por definição. uma infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei. portanto. Isto inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos. Uma relação que se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica. Para isso. como lei. era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra Fria. Carr sobre o papel da GrãBretanha na economia internacional no século XIX. A hegemonia político-ideológica no planeta. Em sentido amplo. Para o exercício da hegemonia. essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica. ao tratarmos do debate teórico travado entre neorrealistas e neoliberais. cujo interesse é manter o status quo do sistema. Hegemonia consiste. por exemplo. o hegemon só pode exercer sua liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em um meio internacional. além de um meio de permuta estável (dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e serviços. como lei..Hegemonia. Daí que. apesar de ser o Estado mais poderoso no cenário internacional. por coerção. A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon. o hegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema. Conforme didática explicação de Griffiths (2004. mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada como ameaça à hegemonia econômica dos EUA. internacionalmente. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coerção e consenso. Pode ser regional ou global. todavia.Autoavaliação M1U2 e realize a atividade. sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo. que.adobe. Link Artigo interessante para concluir os estudos dessa Unidade é o texto de João Marques de Almeida. pág. imaginava-se que a União Soviética se tornaria uma grande potência econômica. Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as economias ocidentais agonizavam por causa da crise de 1929. 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.com/br/flashplayer/) Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentais para a compreensão das unidades seguintes e para a discussão dos temas tratados neste curso. clique no menu lateral em "Avaliações" . atente para esta aula do Professor Joanisval.Deve-se esclarecer. a economia soviética crescia a taxas espantosamente altas. Essas questões serão corrigidas automaticamente pelo . 12 Vídeo Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia.Objetivas" e escolha a que se refere a esta Unidade(U2) e Módulo(M1): Rel I . Duração: 2min55 Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado. durante a maior parte da Guerra Fria. Avaliação objetiva Atividade de autoavaliação .Para efeito de fixação dos conceitos estudados na Unidade. sistema. Objetivos Ao final da unidade. com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nação. Nela. o aluno deverá ser capaz de: indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das Relações Internacionais no Século XX. as práticas dos agentes e dos Atores na Sociedade Internacional levaram à formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise convencional realista das relações internacionais. Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados. a Teoria do Equilíbrio de Poder. e faz-se necessária uma . Unidade 3 . e a arriscar algumas predições. É na Grécia Antiga. identificar os principais debates teóricos da disciplina. Atenção Esperamos que você tenha excelente aproveitamento em seus estudos! pág. no caso das ciências sociais. pondo ordem ao mundo heterogêneo e muitas vezes incompreensível dos fatos isolados. serão discutidas algumas correntes teóricas das Relações Internacionais. Arnold Toynbee. que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria de Relações Internacionais. uma mescla de causalidade. conhecido historiador. 01 TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método científico (CERVERA. a teoria é chamada a ministrar essas explicações. Nas palavras de Tomassini (1989. teleologia e prospecção. conforme Karl Popper. como em outras ciências. Na era moderna. com a obra de Tucídides. que efeitos causaram e algumas predições (ou. No campo das ciências sociais. também conhecida como Teoria do Balanço de Poder.Correntes teóricas das Relações Internacionais Aqui começa a terceira Unidade do Módulo I do curso de Introdução às Relações Internacionais. multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. Quando um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente os demais. Exige uma explicação de por que ocorreram. conjecturas) sobre seu comportamento provável no futuro. A Teoria do Equilíbrio de Poder Começamos por essa teoria por uma razão simples: para muitos estudiosos da política internacional. Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais. a Teoria do Equilíbrio de Poder. certamente têm em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. História da Guerra do Peloponeso. há uma perturbação no equilíbrio. A teorização sobre as Relações Internacionais surgiu quando se buscou explicar a existência e as condutas dos entes internacionais. 55): A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. chegou mesmo a dizer que tal teoria constituía uma “lei” da História. p. no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação de equilíbrio. é o que mais próximo existe de uma teoria política das relações internacionais. 1991). portanto. Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado para prevenir predominância. pág. Sob o argumento de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a guerra deveria ser evitada a qualquer custo. de anarquia internacional. A Grande Guerra havia demonstrado a fragilidade da tradicional diplomacia europeia como meio para assegurar a ordem e a paz internacional.coalizão das Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em âmbito internacional que ordene as relações entre os povos. antes mesmo de surgirem os conceitos de soberania e a tese do estado de natureza. Claro que. é com Thomas Hobbes. sobretudo bélico. como será visto nas Unidades 2 e 3 do Módulo seguinte. diversas foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica e de propostas de desarmamento. o estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas. e reflete a crescente preocupação daqueles que então começavam a teorizar sobre as relações internacionais: Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional. o clima nunca poderia ter sido mais favorável ao Idealismo. a do equilíbrio de poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva. há um equilíbrio geral). ausência de um governo central superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas a si mesmos e a outros Atores do sistema). ademais. foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações (SDN). baseadas em uma nova corrente teórica. Foi. sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson. Assim. como disciplina autônoma. Importância significativa foi dada pelos idealistas ao Direito Internacional e às instituições jurídico-normativas que garantissem a ordem nas relações entre os Estados: ganhava força o institucionalismo nas relações internacionais. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). pela primeira vez. pressupondo o Estado como um Ator racional. o estado de natureza anárquico a respeito das relações internacionais. em virtude de um objeto de estudo tão complexo. a Primeira Guerra Mundial. Para estimular ou obrigar esses Estados a seguir tais princípios. Os Estados. Pregava-se. defende que a luta pelo poder entre os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio. na solução pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais. surge em um contexto do final de um conflito muito marcante. o imediato pós-guerra foi marcado por novas concepções sobre as relações internacionais. com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança coletiva e um fórum em que os Estados pudessem resolver suas contendas de maneira pacífica. em virtude dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública internacional. o qual não alimenta uma tensão perpétua. deveriam portar-se de acordo com os mesmos princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. as noções de soberania e de anarquia internacional inspiraram três teorias interligadas: a do governo mundial. As nações devem buscar. lembra Arenal (1984). em Leviatã. duas visões de mundo opostas. em que o ponto de partida é a dicotomia anarquia x ordem. mas cria uma ordem internacional. portanto. sim. destarte. contribuía para acentuar o otimismo frente ao futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os fundamentos de um sistema dirigido para preservar a paz. As enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis. a qual se fundamentava no Direito Internacional. em que se explora. dado que a anarquia é responsável pela tensão internacional. também. mas. Nesse contexto. mostrou-se como uma ciência da paz. e. O estudo de Relações Internacionais. o interesse comum de todos os povos em alcançar a paz e a prosperidade. O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se em estado de natureza. Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário internacional e no equilíbrio de forças. para pôr fim à anarquia. acreditavam os idealistas. na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de Relações Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o tema em um contexto de disciplina autônoma. Todas essas teorias aceitam . seria fundamental que se institucionalizasse. a teoria defende que o balanço ou o equilíbrio de poder é a escolha preferível e. com John Locke. ou seja. ausência de governo. o melhor seria que os Estados se empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo agressor. Anarquia internacional não significa “desordem”. pretendemos apresentar apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas. ou melhor. Segundo a teoria do governo mundial. 03 O Realismo e o Idealismo encerram. Apesar de Tucídides. como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de Relações Internacionais. já ter iniciado a moldar uma concepção anárquica do mundo. pelo advento de uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada como instrumento de política dos Estados. Anarquia é. a teoria internacional dominante se orientava pelos caminhos do Idealismo. hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e. como evitar o conflito. a tendência do sistema internacional. entre os Estados? No que concerne ao contexto internacional. pág. Segundo Lijphart (1982). o que acabaria atenuando a anarquia internacional. como resultado. é necessário celebrar um contrato social internacional para instituir um governo mundial soberano e único. portanto. em seguida. em escala mundial. Para a teoria da segurança coletiva. com História da Guerra do Peloponeso. Como não é este um curso de teoria. a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada. portanto. 02 A fase idealista O Idealismo. ao contrário. dos projetos de organização internacional. A SDN. em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo Tratado do Governo Civil). A teoria do equilíbrio de poder. Assim. na verdade. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade. a ciência política internacional tem sido marcadamente e francamente utópica. 04 A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial. na verdade. mas a minimiza para efeitos de teorização. o sistema internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio idealista da segurança coletiva. Como resultado. desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra. e procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos Estados de irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só pode ser legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade internacional como um todo. Para os realistas. ou potencial solidariedade. Ela se encontra no estágio inicial. O mundo nunca passou do segundo estágio. Chegou-se mesmo. analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam ao tratarem das interações entre os povos: O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente desde o princípio. ou com uma declaração de que ele tem que ser posto a funcionar porque as consequências de sua ausência de funcionamento seriam desastrosas. Claude.a tese de que a anarquia reina entre os Estados soberanos. a história do sistema de Estados modernos. que sustentou a criação daquela Organização. quando indagado se aquele modelo moralizante e pacifista funcionaria – e esclarece: O advogado de um plano para uma força de polícia internacional. o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento idealista geral e que continha a resposta de Wilson: “se não funcionar. teremos que fazê-lo funcionar!”. em 1939. Tal princípio. nos períodos mais quentes da Guerra Fria. o qual foi. defendeu ser o direito um conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. é particularmente importante a visão construída por Hugo Grócio sobre a sociedade internacional a partir da teoria do contrato.segurança coletiva . Todavia. essa sua remoção no período Entre-Guerras teria sido justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. e o mundo é uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso normativo suficientemente amplo e intimidador para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. geralmente responde à crítica. Surgiu de uma grande e desastrosa guerra. autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939. no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa. como se observa. soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas Hobbes. Após a Primeira Guerra Mundial. a atenção está concentrada quase exclusivamente no fim a ser alcançado. Carr cita. não com um argumento destinado a mostrar como e por que ele pensa que seu plano funcionaria.governo mundial). a Liga das Nações foi um esforço específico da política internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio da segurança coletiva. ainda. no qual o desejo prevalece sobre o pensamento. foi elaborado para remover a necessidade de equilíbrio ou balanço. a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de Nuremberg. Como outras ciências na infância. o foco da maior parte dos autores idealistas. considerado o pai do Direito Internacional. principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris). cuja primeira edição foi lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial. é uma tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia de igualdade formal. pág. . Grócio. nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas. que concebe a sociedade internacional de forma ordenada. Curiosidade Historicamente. citado por Lijphart. em se falar de “balanço de terror”. do século XVII em diante. Grócio. relação esta reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”. Para as Relações Internacionais. Vídeo Para reforçar o conceito dessa Corrente Teórica. O desejo passional de evitar a guerra determinou todo o curso e direção iniciais do estudo. fruto da analogia com a alegoria da sociedade doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII. A tese de Grócio parte da noção de anarquia. o substituíram. Edward Hallett Carr. mas sim. apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de poder. Segundo Inis L. e poucas tentativas são efetuadas de uma análise crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. ou de algum outro projeto para uma ordem internacional. Para ele. essas três teorias correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma centralização cada vez mais repleta de autoridade e poder (no sentido balanço de poder . e o objetivo mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva desta doença do corpo internacional. como fazem os realistas). Neste estágio. assista ao vídeo da aula a seguir. derivam da fórmula grociana. típicas das análises de balanço de poder. ou para a ‘segurança coletiva’. ou com a demanda por alguma panaceia alternativa. e noções de bipolaridade e multipolaridade. a generalização sobre a observação. entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional. A pragmática nova geração de estudiosos do pós-Segunda Guerra Mundial baseava-se no pensamento clássico maquiavélico e hobbesiano e via na defesa dos interesses nacionais. Para os realistas. Curiosidade Esses acontecimentos são tratados no curso – Relações Internacionais: Temas Contemporâneos. a doutrina realista difundiu-se pelo globo. a reação dos especialistas às insuficiências teóricas e práticas dos idealistas. preconizada pelos idealistas. mostrou-se incapaz de prevenir a guerra. no contexto de convulsões internacionais dos anos trinta e da própria Segunda Guerra Mundial. Abordaremos essa corrente com mais detalhes a seguir e também em unidade própria. cerca de 90% da produção acadêmica dos EUA em Relações Internacionais têm por fundamento a corrente realista. em relação a poder. Nesse período. Apenas por meio de um poder efetivo. em um primeiro momento. Maiores informações no site deste Intituto. oferecido pelo ILB. O Realismo representou. Para refletir Atualmente. os Estados poderiam assegurar a paz internacional e a solução pacífica das controvérsias. marca a decadência da perspectiva idealista para a teoria das Relações Internacionais. tem-se o debate entre o Idealismo e uma nova corrente que ganhava força. caracterizada por uma crescente instabilidade internacional. e pelo fracasso do sistema da Sociedade das Nações e da política de apaziguamento das democracias europeias.Carr assinalava que o significado último da crise internacional era "o colapso da total estrutura do utopismo baseado no conceito de harmonia de interesses". entretanto. 05 A fase realista A década de 1930. Desse país. o Realismo Político. consequência de comoções políticas. fazendo-se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como suportes da diplomacia. referente à evolução histórica da Sociedade Internacional. acreditavam. tornando-se a corrente teórica mais relevante para explicar as Relações Internacionais. .Duração: 10min pág. internas e internacionais. econômicas e ideológicas. o apelo à opinião pública e à razão humanista. O Realismo encontrou maior respaldo no EUA. o grande eixo da conduta dos Estados soberanos no meio internacional. Os acontecimentos internacionais novamente foram essenciais para a mudança no aporte teórico. impondo-se o que se denominou perspectiva behaviorista ou conducista. Para os behavioristas. São também chamados de paradigmas teóricos. uma onda de cientificismo. Para behavioristas. David Singer e G. alguns especialistas norte-americanos em política de segurança nacional repensam os postulados do realismo político. T. .pág. com os conceitos de processo de tomada de decisão e transnacionalismo. Vamos abordá-las brevemente a seguir. finalmente. a síntese do debate entre as concepções tradicionalistas e as científicas. sem abandonar o enfoque científico do behaviorismo. dirige sua atenção à conduta humana enquanto tal e aos problemas reais do mundo. e que se convencionou chamar de pós-behaviorismo. dado que as variadas teorias que existem na disciplina podem ser encaixadas em uma dessas três correntes. O PósBehaviorismo constituiu. Allison. ainda com o Professor Joanisval. motivada pelo que David Easton (1969) chamou de “nova revolução da ciência política”. As bandeiras levantadas pelos pós-behaviorista são ação e relevância. o objetivo das Relações Internacionais é o comportamento dos Atores. 07 Os 3 paradigmas teóricos das Relações Internacionais: Realismo. Arenal identifica uma quarta fase. por sua vez. sobretudo por quererem converter o estudo da política em uma ciência segundo o modelo físico-natural. convém destacar a Teoria da Tomada de Decisões. a partir dos quais uma linguagem científica das ciências sociais deve ser elaborada com base em dados empíricos. com base na aplicação de métodos quantitativo-matemáticos. e buscam um enfoque de caráter científico capaz de dar resposta à complexidade das Relações Internacionais. da História ou da Filosofia. você terá uma visão introdutória do surgimento do Realismo. Essa corrente ficou conhecida como behaviorista ou científica. o Pluralismo e o Globalismo. dando atenção a um objeto de análise que difere dos objetos das ciências exatas. invade as Relações Internacionais. Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a uma profunda insatisfação com a pesquisa política e os ensinamentos behavioristas. portanto. a Teoria Sistêmica das Relações Internacionais e a Teoria dos Jogos. pág. Trata-se de uma aproximação com a vertente behaviorista da Sociologia. a produção de modelos dentro do rigor científico das ciências exatas. os estudos devem estar sempre voltados para os casos concretos. Finalmente. Os autores científicos mais renomados são Morton Kaplan. O estudo desse objeto deve atentar para parâmetros que envolvam fases como a coleta e a elaboração de dados. Busca-se uma pesquisa com ênfase ao caso concreto. o Globalismo com dependência. às motivações e aos valores subjacentes a toda conduta. Vídeo Assistindo ao vídeo abaixo. O novo movimento. O Realismo trabalha mais com os conceitos de poder e equilíbrio de poder. Para Arenal (1984. um dos conteudistas deste curso. e o Pluralismo.82): No início dos anos cinquenta. 06 Behavioristas e Pós-behavioristas A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também nos EUA como “resposta aos excessos do Realismo”. com base no caráter impreciso e intuitivo dos mesmos para a análise da realidade internacional. que trata de desenvolver uma ciência das Relações Internacionais. rejeitando-se análises provenientes do Direito. a doutrina reconhece três grandes correntes teóricas das Relações Internacionais: o Realismo. p. O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos sessenta entre os tradicionalistas filosófico-intuitivos (idealistas e realistas) e os científicos (behavioristas). Entre os vários enfoques da corrente behaviorista. A partir desse momento. o tratamento quantitativo desses dados e. O impacto dos métodos de pesquisa e os modelos das ciências físico-naturais são notados com força nas pesquisas que começam a pôr em marcha. Pluralismo e Globalismo Atualmente. Até mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA por questões de segurança nacional. e o estudo das relações internacionais foca essa unidade política. Os Estados atuam para maximizar o interesse nacional. não possuem existência autônoma ou independente. São racionais porque. São unitários porque quaisquer diferenças de visão entre os líderes políticos ou burocracias dentro do Estado são. em cada circunstância. a Organização ainda não funcionava automaticamente. dados certos objetivos. em 2003. por meio de uma análise de custo-benefício. incerteza. para que o Estado fale uma só voz. o contraste entre a ação rápida na Guerra do Golfo e a inércia diante da crise iugoslava. pág. Em outras palavras. e as organizações internacionais. Os realistas reconhecem a existência de problemas como falta ou ruído de informação. no final das contas. são menos relevantes para a análise. pelo veto – os interesses de poder da URSS e dos EUA iam em sentidos opostos e. gravada no curso presencial no ILB. por consequência. No pós-Guerra Fria. Segundo. pressupõem que os tomadores de decisão não medem esforços para alcançar a melhor decisão possível. em ampla afronta ao princípio do devido processo legal (due process of law). 08 Pluralismo Vídeo Assista à aula introdutória. durante os quatro anos do Governo Bush. resolvidas. a segurança nacional é a questão de maior importância para a agenda de política exterior de qualquer Estado. Primeiro. Vêm sendo negados a vários suspeitos. para os realitas. os Estados são atores unitários. Finalmente. contudo. Atores não estatais. Realistas citam. à luz de suas capacidades. evidenciam o conflito alta política x baixa política. na visão realista. os Estados são atores racionais. por exemplo. independentes e autônomas. os democratas o criticaram constantemente por ter abandonado as questões de economia doméstica em nome da segurança nacional. após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. finanças. sobre Pluralismo. e sua guerra preventiva contra o Iraque. a segurança nacional é a questão de maior importância para a agenda de política Finalmente. apesar da superação das rivalidades dentro do Conselho. que era uma forma de “gerência” do poder. pré-julgamento e erros de percepção. por exemplo. porque são compostas de Estados. do “interesse” dos Estados para atuar. trabalham com alternativas viáveis para alcançá-los. como comercio. pois. como a ONU ou a OTAN. A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganistão. dependendo. durante a Guerra Fria. estrangeiros e nacionais. conquista de mais de dois séculos da sociedade norte-americana. que determinam o comportamento dessas organizações internacionais. direitos garantidos constitucionalmente. os Estados tentam maximizar a probabilidade de atingirem qualquer objetivo que tenham estabelecido. as verdadeiras unidades soberanas. Vamos lá! .Duração: 5min25 Realismo O Realismo tem algumas proposições básicas. Terceiro. os quais incluem preocupações de alta política relativas à sobrevivência do Estado (segurança) assim como os objetivos de baixa política ligados a esse campo. câmbio e esse bem-estar. impediam a organização de funcionar. para os realistas. O Conselho de Segurança da ONU. foi paralisado. mas. como as empresas multinacionais. Questões políticas e militares dominam a agenda e são chamadas de “alta política” (high politics). o Estado é o ator principal no meio internacional. é geralmente mais correto se falar em decisão feita por uma coalizão governamental particular. a opinião pública). precisam seguir o receituário do “consenso de Washington”). Embora a segurança nacional seja importante. e. até mesmo na área comercial as ONGs têm sido chamadas a atuar. Organizações internacionais. ou mesmo de um ente amorfo. uma agência burocrática do Executivo ou mesmo um único indivíduo. para os pluralistas. O Estado é composto de indivíduos. os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta política (high politics) e baixa política (low politics) dos realistas. o Estado não é um ator unitário. focam a poluição e a degradação do meio ambiente. comerciantes de armas da máfia russa. ao contrário do que defendem os realistas. atores não estatais são importantes na política internacional. Assim. O Pluralismo é baseado em quatro proposições básicas. Por fim. Para os pluralistas. afirmou. os pluralistas também se preocupam com um número variado de questões econômicas. ao contrário. Terceiro. Diferentes organizações podem apresentar perspectivas distintas em determinada questão de política externa. grupos de interesse e burocracias que competem entre si. também não se poderia negar o impacto de atores não estatais. Competição. como a Petrobrás. Primeiro. formação de coalizões e compromissos eventualmente resultarão numa decisão que será anunciada como uma decisão do país. por exemplo. o choque de interesses. em junho de 2004. das empresas multinacionais. pág. movimentos guerrilheiros.Duração:6min24 Os anos de 1980 e 1990 deram força à corrente teórica conhecida como Pluralismo. por consequência. pela primeira vez. Apesar de as decisões serem noticiadas como decisões de “tal país”. O corpo de funcionários de uma organização internacional pode reter um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma agenda. ainda. podem tornar-se. Atualmente. Outros. pressupõe-se. Similarmente. Nessa corrente normalmente se enquadram os neoliberais. em algumas questões. como a WWF. a General Motors. Alguns pluralistas. também desempenham papéis importantes na política mundial. que a sociedade civil tem peso na balança para tornar o comércio internacional mais justo. uma vez que tal rótulo perderia de vista a multiplicidade de atores que formam e compõem a entidade chamada de “Estado-nação”. que veio para desafiar as proposições do Realismo. Elas são mais do que simples fóruns em que Estados competem e cooperam uns com os outros. a barganha e a necessidade de compromisso que nem sempre levam a um processo de tomada de decisão racional. por exemplo. energéticas e ecológicas que têm surgido com o aumento da interdependência entre os países e as sociedades nos séculos XX e XXI. mas por uma combinação de atores por trás da definição da política externa. a agenda da política internacional é extensa. lembram os pluralistas. durante visita ao Fórum da Sociedade Civil. como grupos terroristas (como a Al Qaeda e o Hamas). O ex-Secretário-Geral da ONU. como as FARC colombianas etc. Essa decisão “estatal” pode ser o resultado de lobbies levado a efeito por atores não governamentais (como o lobby dos fazendeiros norte-americanos contra o fim dos subsídios agrícolas. atores independentes. sociais. 09 Globalismo Vídeo . assim como ao fornecer informações sobre as quais representantes de Estado baseiam suas demandas (como acontece com o FMI em relação aos países que pedem empréstimos além de suas cotas. para os pluralistas. o Citicorp. entre várias outras. e corporações multinacionais. a Exxon. enfatizam o comércio e as questões monetárias e energéticas. as quais estariam no topo da agenda internacional. “China” ou “EUA”. de grupos de interesse. Outros focam o problema demográfico e a expansão da fome no Terceiro Mundo. Nesse sentido. Dada a visão pluralista e fragmentada do Estado. a Sony. para os pluralistas. tinham assento na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e para o Desenvolvimento (UNCTAD). Segundo. A decisão não é tomada por uma entidade abstrata chamada “Brasil”. Kofi Annan. organizações não governamentais. os pluralistas desafiam a suposição realista de que o Estado é um ator racional. o Estado não pode ser visto como um ator unitário. reunião de ONGs que. a IBM. Primeiro. classes. a hierarquia. como organizações Estado. indivíduo. Concepção de Ator Dinâmica comportamental Estado como maximizador de seus Conflito. Numa extensão mais larga. globalistas acreditam que o ponto de partida da análise é o sistema internacional. visto sob a em componentes. compromissos nos processos transnacionais e de dominação dentro e entre Estados e tomada de decisão em política externa. na África e na Ásia não têm conseguido se desenvolver. Segundo. representa uma visão ignorada e desprestigiada da realidade internacional. o societário e o estatal –. Apenas rastreando a evolução histórica do sistema é possível entender sua estrutura atual. assista ao vídeo e. . os globalistas defendem que os fatores econômicos são absolutamente críticos para se explicar a evolução e o funcionamento do sistema capitalista mundial e a relegação do Terceiro Mundo para uma posição subordinada. Terceiro. é necessário entender o contexto global em que Estados e outros atores interagem. é necessário. os globalistas assumem que existem mecanismos de dominação que impedem que o Terceiro Mundo se desenvolva e que contribuem para o desenvolvimento desigual ao redor do planeta.Para introduzir o conceito de Globalismo. por sua vez. Os globalistas argumentam que para explicar o comportamento em qualquer nível de análise – o individual. A compreensão desses mecanismos requer o exame das relações de dependência entre os países industrializados do Norte (América do Norte e Europa) e os vizinhos pobres do Hemisfério Sul (América Latina. mais ligados à linha marxista. formação de coalizões e Política externa como padrões racionais de próprios interesses na política externa. sociedades. alguns dos quais com atuação perspectiva histórica do desenvolvimento do transnacional. Nesse sentido. essa questão faz parte de um campo maior de análise: o desenvolvimento do capitalismo no mundo. social e economicamente. os globalistas realçam a importância da análise histórica na compreensão do sistema internacional. Para eles. barganha. -estatais como operadores do sistema grupos de indivíduos. burocráticas. entender a estrutura geral do sistema global no qual esses comportamentos se manifestam. Para fins didáticos. necessariamente levando a resultados ótimos. leia atentamente o texto que se segue! Bons estudos! Duração: 3min25 Historicamente. que relaciona os três paradigmas das Relacões Internacionais: Realismo Unidades analíticas Pluralismo Globalismo Estado como principal unidade de Estado e atores não estatais. elites. O fator histórico chave e a característica definidora do sistema como um todo é o capitalismo. Estado não unitário e não racional: desagregado Estado não unitário e racional. não sociedades. Para muitos globalistas. Finalmente. o burocrático. podemos traçar o seguinte quadro. África e Ásia). dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema. A economia funciona como uma espécie de “alta política” para os globalistas. Os globalistas são guiados por quatro proposições. sociedades e atores não análise. como uma característica chave. organizações capitalista. Os globalistas. Até mesmo os Estados socialistas precisam operar dentro desse sistema econômico. capitalismo. é mais importante do que a anarquia. se concentram na questão de por que tantos países do Terceiro Mundo na América Latina. organizações não governamentais. militar. Os pluralistas se perguntam como mudanças pacíficas podem ser promovidas num mundo que é crescentemente interdependente política. elites. em seguida. Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questão básica de como a estabilidade pode ser mantida num mundo anárquico. Assim como os realistas. internacionais. o Globalismo se relaciona com o surgimento do Terceiro Mundo na política mundial. corporações multinacionais. antes. o comportamento de atores individuais é explicado por um sistema que fornece limitações e oportunidades. que constantemente restringe suas opções. Estado unitário e racional. em instituições e na cooperação entre os povos. e o poder político não constitui fenômeno natural. que garantiria a segurança e a paz no Sistema (a “paz perpétua” de Kant). outrossim. poderia até se encontrar em um estado de natureza. Assim. Um governo mundial baseado apenas no Direito e no desejo global de paz é . A Sociedade Internacional. definido em capacidade de influência. A política de poder mas como potencialidade que se atualiza progressivamente ao sempre foi e será o cerne das Relações Internacionais. uma vez que é difícil se obter a confiança entre os entes estatais que lhes permita escapar dessa situação. aos principais debates que marcaram a Teoria das Relações Internacionais no século XX. É possível compreender o processo histórico. Atuar racionalmente significa agir em favor dos próprios interesses. 11 Assim. mas a anarquia internacional seria naturalmente substituída não por um sistema baseado no equilíbrio de poder. 4) Harmonia natural de interesses: os Estados teriam interesses mais complementares que antagônicos. 10 Outras correntes teóricas Registre-se. longo da História. lei imutável da natureza. Daí o conceito de “razão de Estado”. Partindo do princípio de que o homem não é naturalmente bom e que se reúne em sociedade apenas porque é a melhor maneira que encontrou para garantir a segurança essencial à sua sobrevivência diante da guerra de todos contra todos. Não obstante. econômicas tão ou mais importantes do que questões de segurança nacional. importante. O homem de Estado. neste contexto de pósmodernidade. 3) Distinção entre os códigos de conduta moral do indivíduo e do Estado: a ética pública é diferente da ética na vida privada. conforme acentua Arenal (1984). trata-se “de um debate que está presente. Passemos.Questões econômicas como mais importantes. de aumentar o poder. O Realismo não considera a moral ou a ética como limites à ação do Estado. Essa consideração explica o pragmatismo e a falta de credulidade em organizações internacionais como instituições que não sejam apenas meros instrumentos de alguns Estados no jogo de poder internacional. ou seja. para os idealistas. Negam o otimismo idealista. pág. a política é a arte do bom governo. pág. inclusive tendo recobrado força com novas perspectivas em nossos dias”. 3) Racionalismo: considera que uma ordem política é racional e possível na Sociedade Internacional e que. como os indivíduos são morais e racionais. 2) Visão não determinista do mundo: a fé no progresso careceria de sentido se não fosse acompanhada de uma similar crença na eficácia da mudança por meio da ação humana. ganham força perspectivas de vanguarda. Os realistas. considera fatores de segurança e poder inerentes à sociedade humana. mas a prudência. mas por uma ordem fundamentada na lei internacional. Daí a ideia de que é possível a cooperação entre os povos por um fim último de paz e integração. 4) Ausência de harmonia natural de interesses: os Estados encontram-se em uma competição constante. ao contrário. De acordo com John Herz (1951. para uma sociedade mais humanista. Foge ao escopo deste curso a análises dessas outras correntes. 2) Visão determinista do processo histórico: a ordem internacional dificilmente pode ser modificada pela ação humana. a conduta racional dos Estados os levaria à constituição de um poder supranacional. em virtude do qual condutas inaceitáveis em âmbito interno do Estado seriam plenamente aceitáveis na política internacional. por sua vez. com maior ou menor força. que as correntes citadas nesta Unidade são as mais difundidas e tradicionais. o Idealismo é um tipo de pensamento político que “não conhece os problemas que surgem do dilema da segurança e poder”. OS GRANDES DEBATES TEÓRICOS Idealismo X Realismo O debate entre realistas e idealistas iniciou-se na década de 1930. ou que o faz “somente de uma forma superficial”. consideram a política internacional uma constante e interminável luta pelo poder. p. uma confederação de nações. com questões sócio. o Realismo percebe o Estado como um gladiador envolvido em um combate perpétuo pela sobrevivência na Sociedade Internacional anárquica em que as relações de força predominam. em um primeiro momento. por sua vez. O Realismo.Agenda Segurança nacional como questão mais Agenda múltipla. em toda a história da teoria internacional. a capacidade ou habilidade de controlar os outros entes internacionais. mas não alterá-lo. Arenal relaciona as características essenciais do Idealismo e do Realismo na Tabela 1: TABELA 1: IDEALISMO X REALISMO IDEALISMO REALISMO 1) Crença no progresso: diante da suposição de que a 1) Pessimismo antropológico: nega a possibilidade de evolução natureza humana pode ser compreendida não como imutável. Não obstante. É a racionalidade que conduz ao progresso. não está limitado em sua atuação pelas normas éticas e morais que regem os particulares. portanto. com destaque para o Construtivismo. o senso de oportunidade e o cálculo racional.8). da mesma maneira os Estados são capazes de comportarem-se de forma racional e moral em suas relações. enquanto defensor da comunidade nacional. dos fundamentos da Sociedade Internacional. mais simplesmente. Afinal. Uma segunda distinção. a moralidade da Sociedade Internacional. na ótica de Arenal. o nível de exatidão similar ao das ciências exatas. ao relacionar as principais diferenças entre os dois debates. A escola sistêmica encontra suas origens na década de 1950. segundo Tomassini. o aspecto intuitivo ou racionalista das ciências sociais jamais poderá ser desprezado. tanto os partidários da análise clássica quanto os da perspectiva científica podem inscrever-se nas visões realista ou idealista. não é possível. Tomassini assinala que. Ademais. Lembravam. em geral.inconcebível para o Realismo. Tentar explicar as relações humanas com base apenas nos critérios exclusivamente quantitativos pode conduzir o analista a erro em sua avaliação. ensina o mestre. Nesse sentido. portanto. se o debate entre idealistas e realistas. pág. Não obstante. o Sistema Internacional em seu conjunto e os diversos subsistemas que operam em seu interior. Sua principal diferença frente ao enfoque convencional consistia no fato de que. ainda. ou quais seriam os melhores mecanismos para a estabilidade internacional baseada no crescimento e na cooperação entre nações. Afinal. Os behavioristas criticavam os tradicionalistas pelo fato destes dissociarem o sistema internacional do sistema nacional. os behavioristas não davam atenção a questões filosóficas e morais. o segundo debate teve cunho metodológico. Tomassini conclui que os enfoques sistêmicos têm permitido conhecer e melhor compreender as relações existentes entre as distintas unidades nacionais. Essa conexão entre os diversos elementos ocorre por meio de um princípio claramente identificável ou. O enfoque também é importante para: • a percepção das funções que desempenham as estruturas e sua influência sobre o comportamento das distintas unidades. aqueles que situam a corrente sistêmica na escola científica. . Os científicos buscavam alcançar. Faremos apenas algumas breves considerações introdutórias a esse respeito. enquanto os tradicionalistas concebiam as relações internacionais como um conjunto de interações entre unidades independentes e soberanas – os Estados –. foi possível aperfeiçoar os métodos da teoria e sistematizar as análises sob uma perspectiva mais empírica. e também porque os tradicionalistas ignoravam as variáveis internas – como. assim como em qualquer ciência social. alguns dos quais podem configurar subsistemas que se relacionam com o conjunto. o homem – seja sob seu aspecto individual. não sujeitas a pautas nem a qualquer previsibilidade. em Relações Internacionais é longo o tempo até que se tenha acesso a determinadas informações que seriam essenciais para “quantificar a análise científica”. Finalmente. pág. por um rol de interação hipotético entre seus distintos componentes. 12 Tradicionalistas X Científicos O debate entre os enfoques clássico e científico ou entre tradicionalistas e behavioristas ultrapassa. tendo ocorrido em virtude da “revolução behaviorista”. as quais seriam. da essência do poder –. Os neorrealistas são o melhor exemplo desse resultado. fundamentais para a compreensão da política exterior. Há. o segundo (tradicionalistas x científicos) está centrado na totalidade das ciências sociais. outrossim. tanto pensadores realistas quanto teóricos idealistas poderiam assumir uma perspectiva científica em suas análises. por tratar de questões substanciais. na concepção científica. o segundo debate estabelece uma paulatina aproximação das colocações e um entendimento final. Na resolução de questões urgentes na Sociedade Internacional. O debate entre tradicionalistas e behavioristas tem caráter metodológico. que seria o Sistema Internacional em seu conjunto. faz com que as duas correntes sejam eternamente irreconciliáveis. quando se começou a aplicar conceitos de análise de sistemas ao estudo das Relações Internacionais. Daí a atenção maior aos mecanismos e à estrutura do conjunto que às partes específicas. da física e até da biologia – e a busca de “leis naturais” para explicar as relações sociais. enquanto o primeiro debate referia-se a questões substanciais – aspectos da natureza humana. que o método quantitativo não permitia a compreensão de situações chaves – fundamentadas em aspectos intuitivos ou racionais. 13 A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais Segundo Tomassini. devido ao sigilo. Em Relações Internacionais. o processo de tomada de decisão no âmbito interno –. Finalmente. seguindo o mesmo tipo de padronizações. dando origem aos pós-behavioristas. como a busca da paz. permanecem abertos a influências de um meio ambiente externo. repousa no fato de que. que um sistema é um conjunto de unidades que interagem entre si de acordo com padrões relativamente regulares e perceptíveis. entretanto. não se pode querer atribuir às ciências humanas equivalência em relação às ciências naturais. esperar até que se consigam os dados estatísticos ou a conclusão das várias análises de casos em que os científicos querem basear-se. nas ciências sociais. Um sistema geral pode ser definido como algo substantivado em um conjunto de elementos ou partes interconectados. exatas. mas que. assinalavam que. enquanto o primeiro debate (idealistas x realistas) tem sua origem específica no âmbito das relações internacionais. Certamente foi de grande relevância a contribuição behaviorista para a análise das relações internacionais. Pode-se dizer. Luciano Tomassini (1989). o debate entre realistas e idealistas. A maior preocupação da perspectiva sistêmica está na interação entre os componentes de um Sistema Internacional e nos efeitos que o sistema tem sobre a conduta dos Atores. e cujos limites ou parâmetros também são reconhecíveis. por exemplo. A resposta tradicionalista às críticas behavioristas fundamentava-se no fato de que a Sociedade Internacional é complexa demais para que se chegue a “leis” que expliquem o sistema e a conduta dos Atores com base na análise de variáveis isoladas. lembra que. a análise sistêmica percebia as relações internacionais influenciadas ou determinadas pela estrutura ou pelas tendências de uma unidade mais ampla. Daí a tentativa de adoção de técnicas semelhantes às utilizadas nas ciências naturais – como as da química. seja por meio de suas manifestações coletivas – é o objeto central de estudo. o enfoque sistêmico para explicar as relações internacionais encontra-se “entre os aspectos substantivos que dividiram os realistas e idealistas durante o primeiro pós-guerra e as questões metodológicas que foram objeto das disputas entre tradicionalistas e científicos” após a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido. dado que não concebem Atores autônomos e predeterminados no cenário internacional. 15 Realistas X Pluralistas Outro debate relevante é o que se dá entre realistas e pluralistas. Índia e Brasil são bons exemplos. dado que não há separação entre política externa e política interna. como o conflito e a cooperação. O subsistema apresentaria as mesmas características do sistema.• a necessidade de trabalhar com diferentes níveis de análise. O conflito palestinoisraelense é ilustrativo disso. militar. ao mesmo tempo. Dentro do sistema mundial. que normalmente eram empregadas no estudo do sistema macropolítico da política internacional. militar etc). Além disso. • a natureza fechada ou aberta do sistema diante desse contexto. para os quais nenhuma análise das relações internacionais será completa sem se considerar a estrutura anárquica do Sistema e o dilema da segurança. embora não necessariamente apresentando os mesmos resultados. agências burocráticas etc. Livro indicado Sugerimos as obras de Waltz. das ideias de subsistema econômico. a gradual e seletiva diminuição de barreiras ao comércio internacional. Por exemplo. pois não deixa de ser influenciada por fatores como a opinião pública. a UE e o Japão mantenham inter-relacionamento comercial substancial e crescente ao longo do tempo. e • a interação observável entre o sistema e os diferentes segmentos que o integram. e. e não entre as principais Potências. sendo aquela mera extensão desta.). OMC e Negociações Sul-Sul. União Europeia. Ao contrário do mundo idealizado pelos realistas. Karl Deutsch e Richard Rosecrance. O homem. sendo que em um nível diferente. com a mesma validade. O que os norte-americanos. no âmbito multilateral. ideológico etc. particularmente. Entre os principais expoentes da escola sistêmica nas Relações Internacionais estão Morton Kaplan. por exemplo. cuja perspectiva é eminentemente sistêmica. Para os pluralistas. concebida como um subsistema. na Unidade 5. A busca por padrões e processos característicos se daria da mesma forma que na análise de sistemas. argumenta que os EUA e a União Europeia (UE) não têm e nem pretendem ter acordo de livre comércio entre si. Essa é. o uso militar da força tende a ter menos utilidade na resolução de conflitos. Os pluralistas nem sempre usam os conceitos de sistema e de equilíbrio nas relações internacionais. Isso não impede que os EUA. o que é fortemente criticado pelos realistas. Trataremos mais adiante. europeus e japoneses têm feito nas últimas décadas é negociar. preparado para o seminário “O Brasil e Oportunidades de Integração”. tem-se em Kenneth Waltz seu grande expoente. uma das conclusões de alguns pesquisadores a respeito da formação de blocos econômicos. ainda. podem igualmente se manifestar no nível subsistêmico e. a indústria do lobby e processos de barganha entre os atores internos (políticos. com os limites entre um Sistema Internacional e seus elementos contextuais. dada a complexa interdependência da Sociedade Internacional.. Usamos o texto intitulado Estratégias Comerciais do Brasil: Alca. Tampouco está em cogitação uma área de livre comércio entre os EUA e o Japão. Os pluralistas colocam o caráter anárquico da Sociedade Internacional e a importância da segurança em segundo plano. Assim. uma tendência dominante em um subsistema. ainda. Concepções relativas a hierarquia. o estado e a guerra. dois processos sistêmicos relevantes. implica categorizar o todo (ou sistema) em partes distintas. poder-se-ia considerar a integração uma tendência periférica em um sistema mundial e. Paulo Nogueira Batista Jr. Eles criticam as previsões baseadas em análises de balança de poder dos realistas por serem demasiado genéricas. esta seria uma tendência dominante apenas entre países periféricos. que também será explorado no decorrer deste curso. A região. em rodadas sucessivas de liberalização. pág. podem ser aplicadas. realizado em 04 de novembro de 2003. normalmente vem associado à ideia de região – “subsistemas regionais” – ou às relações dentro de um setor (subsistema econômico. A noção de Estado-nação dos . provocar um efeito spillover sobre o macrosistema. No caso do Neorealismo. particularmente Teoria das Relações Internacionais (Theory of International Politics) para o estudo mais aprofundado da perspectiva neorrealista de relações internacionais. Aplicado às Relações Internacionais. pág. os pluralistas veem indeterminação e imprevisibilidade. um ator estatal pode apresentar papel significante em um nível e apenas modesto em outro. patrocinado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. ou entre o Japão e a UE. na análise de subsistemas regionais. 14 Um termo muito usado na análise sistêmica é o de “subsistema”. sem que a nova ordem internacional demonstrasse capacidade para superar problemas globais. veja o texto de William Gonçalves. faz uma análise da política externa dos EUA na II Guerra Mundial. A Teoria da Estabilidade Hegemônica. p. Os seguintes movimentos passaram a ter relevância para a análise das relações internacionais contemporâneas: soma de fluxos transnacionais como fator que afeta o cotidiano das pessoas e leva à crise do Estado-nação. uma vez que as suas preocupações com as questões sociais teriam sido desprezadas pela nova política internacional (SARAIVA. o que solapa a identidade tradicional. terrorismo) passam a ser de responsabilidade de todos. uma vez que a interdependência torna-se fato. Vamos abordá-los na próxima Unidade. que vimos na Unidade 2 ao tratarmos de hegemonia. a ramificação das escolas da Teoria das Relações Internacionais em três direções: o Realismo. interesse nacional. Robert McNamara. documentário em que o ex-Secretário de Defesa dos EUA. a Teoria das Relações Internacionais passou a enfrentar um problema epistemológico. Atores não estatais não necessariamente agem contra o Estado. teoria das relações internacionais é o “Sob a Névoa da Guerra” (Errol Morris. Vídeo Um filme interessante para se entender.pluralistas. no entanto. nos meios diplomáticos. 16 MUDANÇAS NA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS A partir de 1990. mas exigem mudanças de sua conduta – na política interna e externa. Link Também sobre o debate teórico de relações internacionais. Esses também são temas importantes para os teóricos de Relações Internacionais no século XXI. cujo universalismo e soberania são questionados. o Pluralismo. nas interpretações da esquerda ainda presente na América Latina e em outros países do Hemisfério Sul. A transição da bipolaridade para a globalização ocorreu. uma vez que estava acostumada a trabalhar com os conceitos de Estado nacional. Outros debates Há outros debates mais recentes e igualmente relevantes. pág. entre outros. EUA. funcionando para o exterior. a Economia desliga-se do espaço nacional e das regulamentações do Estado. Atores não estatais forçam o Estado a levar em conta a Comunidade Internacional. Relações Internacionais. Alguns autores identificam. é exemplo de uma tentativa de conjugação da perspectiva realista com a pluralista. soberania. o arrocho econômico mundial requerido para o ajuste de economias centrais e o desemprego estrutural. território nacional. Alguns consideram essa teoria um “compromisso parcial” entre ambas as correntes. na prática. O Globalismo se enfraqueceu com a crise do socialismo real. relativização do conceito de soberania. migrações. ao contrário do que concebem os realistas. narcotráfico. epidemias. irracional e altamente permeável. O Pluralismo se revelou inadequado. como os debates entre neorrealistas e globalistas e entre neorrealistas e neoliberais. é difusa. 1997. . O Realismo passou a sofrer várias críticas devido à dificuldade do Estado em administrar forças transnacionais. e os problemas globais (ecologia. 361-362). direitos humanos. a hegemonia do mercado financeiro. o Sistema Internacional passa a ser composto de sistemas confederados. na Europa e na literatura mais recente da América Latina. surgindo expressões. nos EUA. na década de 1990. como “soberania operacional”. 2003). o Globalismo. como o endividamento internacional. um livro básico para a compreensão do Realismo. no menu de apoio. O conteúdo está assim dividido: O Realismo O conflito e a questão da segurança Críticas ao Realismo O Neorealismo Os últimos grandes debates Neorrealistas X Globalistas Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Conclusões Objetivos Ao final da unidade. de Martin Wight. descrever a evolução do pensamento realista nas Relações Internacionais ao longo do século XX. A Política entre as Nações.Livro indicado Como sugestão de leitura.O Realismo Nesta Unidade. . Interessante. reforçamos a indicação da última grande obra de Jean-Baptiste Duroselle. é apresentada a principal corrente teórica das Relações Internacionais: O Realismo. Finalmente. clique em "Avaliações - Objetivas" e acesse as Unidade 4 . Todo império perecerá: teoria das relações internacionais. e A Sociedade Anárquica. que pode contribuir para o aproveitamento do curso. é sua organização pessoal e a disponibilidade de um tempo diário e preciso para os estudos. convém conhecer a Escola Inglesa de Relações Internacionais por meio de duas obras fundamentais: A Política do Poder. Avaliação objetiva Atividades de autoavaliação . discorrer sobre a validade do Realismo no século XXI. Veja a referência completa sobre essas obras na Bibliografia Complementar.No menu lateral. Atenção Outro fator importante. de Hans Morgenthau. questões objetivas referentes a esta unidade. de Hedley Bull. ainda. o aluno deverá ser capaz de: identificar as características da principal corrente teórica das Relações Internacionais e as críticas a essa corrente. protege-os e garante a ordem. no que os realistas consideram ”alta política” (high politics) em contraposição à chamada baixa política (low politics). Desenvolveram. os Estados irão buscar aumentar seu poder – definido pela capacidade de influenciar os demais Estados e de ser influenciado o mínimo por eles –. • o predomínio da competição e da dimensão conflitiva sobre todas as formas de relações entre os Atores internacionais. • o caráter praticamente exclusivo do Estado como o único ou. 2000. sendo o cálculo estratégico essencial para garantir sua sobrevivência. tornando-se o único e legítimo titular do uso da força (coerção). quanto a aspectos econômicos. o interesse nacional definido em termos de poder guiará a conduta dos Estados. preliminarmente. em última análise. a percepção anárquica do sistema internacional. Na esfera internacional. reproduzindo a visão hobbesiana sobre o homem. O pensamento realista inspira-se nas concepções de Thomas Hobbes sobre o “estado de natureza” e. • a percepção de que os Estados são entes unitários e racionais ao conduzirem sua política externa. Em âmbito interno. • a preocupação com a segurança como umas das grandes orientadoras da conduta dos Atores. e. Devido a essas peculiaridades. os Estados “são livres para fazer sua própria justiça e podem recorrer à força para defender seus interesses nacionais” (SENARCLENS. Esses autores foram os representantes da corrente teórica conhecida como Realismo Político ou. • o desprezo pelo institucionalismo e pelo papel efetivo das organizações internacionais no sistema. Esse poder relaciona-se intimamente com o uso da força – sobretudo de poderio político-militar e os aspectos econômicos relacionados a ele. então. também não estando. não há uma autoridade superior à qual os Estados estejam dispostos a transferir parcela de seu poder ou soberania em troca de segurança. simplesmente. Realismo.pág. na qual perseguem seus interesses nacionais. segundo Hobbes. a política internacional da política interna dos Estados. Assim. poder e dominação. os Estados não reconhecem e não se submetem a qualquer autoridade que não a sua própria. sem uma autoridade central superior aos Estados e titular legítima do uso da força. Daí buscarem distinguir. 03 . declaram os realistas. o principal Ator internacional. 16). culturais etc. chegando-se a ponto de muitos a considerarem o tronco central do estudo teórico do tema. no qual não existe poder central ou superior dos Estados soberanos. Em outras palavras. Entre os fundamentos do Realismo. 02 Os realistas tiveram por objetivo inicial definir as características que fariam do campo de estudo das Relações Internacionais uma ciência própria. ordem esta imposta pelas Potências hegemônicas aos demais Estados e em benefício das primeiras. Para os realistas. a saber: • a percepção de um sistema internacional anárquico. transferindo uma parcela de seu poder para um soberano – o Estado – que. que conduz a uma paradoxal ordem internacional no sistema anárquico. pág. optamos por dedicar uma Unidade específica a essa corrente. que atuam na esfera internacional perseguindo sempre seu interesse nacional. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Nesse sentido. • a ideia de equilíbrio de poder na ordem internacional. Nesse sentido. percebe os Estados numa situação de guerra permanente – não necessariamente de conflito armado –. Trata-se da doutrina mais clássica e aceita das Relações Internacionais. projetando-o no sistema internacional. em meio à guerra de todos contra todos. internacionalmente sujeitos nem mesmo às regras do Direito. os realistas percebem o sistema internacional como anárquico. quanto mais forte for um Estado frente a seus pares. 01 O REALISMO A tentativa mais notória do século XX para explicar as relações internacionais foi conduzida por um grupo de pensadores que contemplavam a realidade internacional com base nas relações de força. Para garantir sua segurança. o Estado é visto internacionalmente como um ente unitário e que atua em política externa de maneira racional. entretanto. Nesse contexto anárquico. são essenciais para a sobrevivência de qualquer ente a garantia de sua segurança e o aumento de sua capacidade de influência no sistema. ela teve notório fortalecimento. buscaremos analisar as ideias que mais se destacam. • a heterogeneidade desses Atores. políticos. estabelecido pelas Potências. os homens associam-se e abrem mão de parte de sua independência para garantir sua segurança. menos sujeito a ser subjugado por estes ele se encontra. • o interesse nacional definido com base no poder. ao menos. pág. p. • a busca da racionalidade na conduta dos Estados. não há [no meio internacional] um poder legítimo capaz de instaurar e assegurar uma ordem política impondo sua arbitragem frente aos conflitos entre os Estados. por sua vez. Periodicamente. O Estado que transgrida o direito internacional em geral não é punido. entrará em atrito com as demais – que não aceitarão ver sua capacidade de influência diminuída. Os realistas não acreditam em uma ordem internacional instituída por princípios morais e fraternos. capacidade de exploração desses recursos. Raymond Aron. no mínimo..) Para os realistas. as utilizam continuamente para servir aos seus próprios fins [das grandes Potências]. recursos econômicos. admitiu que o direito desses entes de recorrer à força constitui uma das especificidades das relações internacionais.. a liberdade de ação dos Estados na esfera internacional estará relacionada à força que cada um deles tenha frente aos demais. ideológica. populações. argumentos jurídicos para justificar sua política de agressão. desde que tenha capacidade – potencialidade de uso da força – para fazê-lo e para suportar as reações dos outros Estados que defendam aqueles institutos. [os Estados] as transgridem invocando a defesa de seus interesses nacionais. o principal Ator nas Relações Internacionais. Não adianta. ou o Brasil à Somália.) o direito e a moral nas Relações Internacionais não fazem mais que exprimir a racionalização dos interesses dos principais Estados que dominam a política mundial. p. Em Paz e Guerra entre as Nações. não encontra abrigo na perspectiva realista. Destarte.) Definitivamente. portanto. os demais Atores – reconhecidamente as organizações internacionais – não seriam mais que instrumento de manobra das Potências para garantir sua hegemonia na Sociedade Internacional. este não se furtará a violá-las. os EUA ao Afeganistão. portanto.. em um equilíbrio de poder instituído pelas relações entre as Potências. o Direito acaba quando a força começa. Contrariamente ao que ocorre na esfera estatal interna. No meio internacional. (. que a impõem aos demais Atores.. No que concerne ao meio internacional heterogêneo. notadamente para efetivar suas ambições políticas e seu desejo de hegemonia. para os realistas. 05 . os Estados só seguirão e defenderão o Direito Internacional enquanto isso lhes for interessante. 04 Ademais. apesar de os Estados serem juridicamente idênticos e terem direitos iguais de pronunciar-se perante o concerto das nações. nem forças policiais [internacionais] que possam coibir agressões a fim de estabelecer a paz. O que os realistas buscam deixar claro é que não se pode querer igualar a China a Liechtenstein. a capacidade de exercerem sua soberania varia consideravelmente. Outro aspecto importante do pensamento realista é a percepção do Estado como o único. ou ainda. chegandose ao conflito entre os Estados poderosos. capacidade militar. pág. sua implementação é frágil. (. portanto. Caso as instituições jurídicas internacionais contrariem interesses de um Estado. O institucionalismo. produzindo. os realistas acreditam que há uma ordem internacional estabelecida pelas Potências – Estados mais poderosos –. para os realistas. social – é a regra no sistema internacional. Dessa maneira. querer arguir o artigo 2º da Carta das Nacões Unidas para que se imponha o princípio da igualdade entre os Estados nas relações internacionais. O indivíduo que viole a lei dentro de um Estado é passível de sanção. Não existe uma corte internacional capaz de julgar de maneira sistemática e coerente as diferenças entre os Estados. o sistema poderá ser levado ao desequilíbrio. na prática. ou. livres para perseguir sua própria justiça –. Segundo Senarclens (2000. nenhuma autoridade é capaz de produzir um conjunto de normas jurídicas universalmente reconhecidas como legais. as normas jurídicas e as instituições são frágeis. Qualquer forma de cooperação internacional será conduzida pelos Estados enquanto esses perceberem que a cooperação garantirá mais segurança que a não cooperação. uma vez que os Estados interpretam a seu belprazer as obrigações que elas impõem. 18): De fato.. (. inclusive.. ou ainda. portanto. As instituições internacionais são frágeis e somente prevalecem enquanto for mais conveniente para as Potências. cultural. Curiosidade O artigo 2º da Carta da Nações Unidas dispõe que a ONU é" fundada sobre o princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros Destarte. política. os realistas afirmam que. Elas dominam as organizações internacionais. a política internacional de cada Estado é conduzida considerando-se as próprias potencialidades e as daqueles com os quais o Estado vá relacionar-se. localização geográfica. pág. os governos recorrem à força e violam os princípios de Direito Internacional. A ordem se fundamenta. partindo do pressuposto de que os Estados são soberanos – e. e não levar isso em consideração pode ser tremendamente desastroso para qualquer Ator. É exatamente em virtude dessas diferenças que os Estados terão maior ou menor influência no sistema internacional e buscarão formas de defender seus interesses. uma vez que é impossível a coexistência em um sistema internacional caótico. as grandes potências definem as condições da segurança internacional e se arrogam em uma boa margem de manobra na interpretação dos princípios da Carta das Nações Unidas. A heterogeneidade – econômica. Nessa perspectiva. militar. que culminará. em uma nova ordem imposta pelos vencedores. Quando uma Potência aumenta sua esfera de poder. níveis de desenvolvimento em que se encontram. Os Estados são distintos uns dos outros quanto à grandeza territorial.Paradoxalmente. Philippe Braillard. como organizações internacionais. um motivo e uma relação”. pág. assim. no fundamento da teoria política de Morgenthau. um meio. Quaisquer que sejam os fins últimos da política internacional. Os Estados atuam na arena internacional considerando essa disputa por poder e por recursos econômicos. natureza que não é essencialmente boa. dependendo da posição e do status internacional. marcado pela diversidade de Atores e de grupos. ou mesmo na primeira metade do século XX. p. optam pela proteção de uma grande Potência. Daí que interesse nacional seria um conceito bastante subjetivo. Morgenthau pretende evitar o erro cometido pelos que acreditam que podemos escolher entre a política fundada no equilíbrio e uma política. onde tem a sua origem. o conceito chave de toda a teoria política. a aspiração ao poder por parte das diversas nações. uma antropologia. Aqueles que renunciaram a elas (a Costa Rica é o caso mais notório). de Marcelo Beckert Zapelini. 115). agir como uma ave de rapina. que é fortemente inspirada pela obra do teólogo Reinhold Niebuhr. Esta procura do poder está inscrita profundamente na natureza humana. como toda política. pelo menos ao nível das relações dos grupos sociais entre si. em Teoria das Relações Internacionais (1990. tem por base os conflitos relacionados à distribuição do poder e dos recursos econômicos. dando valor exacerbado a fatores político-militares. uma vez que o poder seria. ainda. Link Também sobre o Realismo. entre os quais o mais importante é assegurar sua sobrevivência. Outra crítica é de que o conceito de poder na perspectiva realista estaria mal definido e seu emprego demasiado vago. o poder é sempre o fim imediato. por isso. que é o fundamento de toda a relação política e que constitui. é uma luta pelo poder. veja o texto que trata da moral nas Relações Internacionais numa perspectiva realista. como toda política. Os realistas percebem diferentes maneiras pelas quais os Estados buscam sua segurança. Ao estabelecer uma ligação necessária entre a aspiração das nações ao poder e as políticas de equilíbrio. Para assegurar a independência. cada uma procurando manter ou modificar o status quo. já que ela confere a todos os homens um ardente desejo de poder ou animus dominandi. aqueles que lembram que o interesse nacional definido em termos de poder é discutível. e as decisões e ações de política externa são fruto de um complexo conjunto de interesses de forças em diferentes níveis da sociedade interna. sendo inadequada ao sistema internacional contemporâneo. uma visão filosófica do homem. a maioria dos Estados dispõe de forças armadas para garantir sua segurança. “um fim. necessariamente. um dos mestres do pensamento da escola realista americana.O conflito e a questão da segurança A política internacional. 06 Críticas ao Realismo Claro que o Realismo tem sofrido pesadas críticas ao longo de décadas. Daí a assertiva de Morgenthau em A Política entre as Nações: A política internacional. o Estado jamais poderia ser considerado um Ator unitário e racional. mais precisamente. necessariamente confiam sua defesa à proteção de uma Potência hegemônica. há a ponderação de que a teoria realista assenta-se numa visão das relações internacionais limitada à configuração dessas relações nos séculos XVIII e XIX. e os faz. No que respeita particularmente à política internacional. uma vez que é complicado determinar e quantificar esse interesse. De qualquer maneira. esquecendo que todos os Estados procuram os seus interesses. resume bem os principais conceitos do pensamento de Morgenthau: Para Morgenthau é o poder (power) e. a procura pelo poder. a uma configuração que constitui o que chamamos de equilíbrio [de poder] (balance of power) e as políticas que visam conservar esse equilíbrio. Por exemplo. a participação em sistemas de segurança coletiva ou em alianças políticas ou militares. conduz. Finalmente.por seus interesses nacionais que leva à situação de conflito e caos. É exatamente a conduta dos Atores internacionais em uma persecução . quanto devido à heterogeneidade do sistema internacional. marcada pelo pessimismo. culturais ou mesmo econômicos. exprimidos em termos de poder. Livro indicado . de um gênero melhor. ao mesmo tempo. afirma-se que a teoria negligencia aspectos sociais.muitas vezes desordenada . com frequência. Ademais. tanto em virtude da diversidade das forças do interior do Estado que estabelecem quais são as prioridades e os interesses da nação. Temos. E os governos não devem ter objetivos maiores que os da defesa de seus “interesses nacionais”. Há. organizações não governamentais e empresas transnacionais. para Waltz. é uma constante. assim. para os estruturalistas. O Neorrealismo deriva de um movimento epistemológico que ficou conhecido como Estruturalismo. deu um renovo para a corrente realista. Dado o pequeno número de tais Estados – importante perceber que ele escrevia na época da Guerra Fria –. poderia ser estudada em termos da lógica de poucos sistemas. é uma variável. os arranjos. com destaque para Paz e Guerra entre as Nações e dos livros de Henry Kissinger. Segundo os estruturalistas. que ele modestamente chama de “revolução de Copérnico” no âmbito das Relações Internacionais. 07 O NEORREALISMO Vídeo Duração: 7min08 O vídeo acima. as organizações sistemáticas em determinado estado. da decomposição das coisas. Enquanto esse primeiro critério da estrutura. pois varia entre os Estados. uma vez que as relações são constantes. além disso. Para os estruturalistas. e o Sistema Internacional (ambiente anárquico). para dizer que a anarquia é uma constante. também chamado de Realismo Estrutural. o importante é identificar os padrões. a anarquia. ao final da década de 1970. Consulte-o sempre que julgar necessário. dando luz ao Neorrealismo. são essas as invariantes ou constantes que dão unidade necessária à fundamentação científica. Em suma. segundo ele. o Estado e a Sociedade (economia doméstica/sistemas políticos). enquanto que os elementos podem variar. Pegou emprestado alguns elementos do cientificismo behaviorista e. o ajudará a compreender com bastante clareza os princípios teóricos em questão. A análise dos diferentes sistemas constitutivos da Sociedade Internacional e de sua articulação mostra serem eles a aplicação de certo número de leis lógicas encontráveis em toda sociedade. pág. a distribuição de capacidades. e. como as que veem as “leis” da anarquia e do poder como explicativas da realidade (como a “lei” do balanço de poder já estudada). Dos três níveis de análise identificados por ele. e que se deve privilegiar o aspecto relacional da realidade. estude o conteúdo e realize as atividades propostas! Seu Professor-Tutor está apto a dirimir suas dúvidas. Além da já citada obra de Morgenthau. Kenneth Waltz (2002) se utiliza do Estruturalismo para criar o seu Neorrealismo. concentra-se no terceiro nível. Na sequência. um “dado” na estrutura do Sistema Internacional. Waltz identifica três níveis de análise nas Relações Internacionais: o Indivíduo. o Estruturalismo foi fundamental para o desenvolvimento dos métodos “científicos” ao ensinar que o processo científico básico é o analítico. o segundo. Tal ponto de vista se casou com algumas perspectivas “clássicas”. O referencial empírico para essa variável é a quantidade de Superpotências que domina o sistema. com explicações bem focadas na Corrente Neorrealista. O Neorrealismo foca mais as características estruturais do sistema internacional estatocêntrico do que as unidades que o compõem (os Estados). não mais que oito já foram importantes.O conhecimento da perspectiva realista é fundamental para a compreensão das relações internacionais. O Neorrealismo é uma versão mais atual do Realismo. sugere-se a leitura dos trabalhos de Raymond Aron. . a sociedade se define pelas condições de possibilidade de toda organização social. Enfim. a política internacional. os Estados confiam em alianças para manter a segurança. a URSS. Atenção Os conceitos de multipolaridade e de bipolaridade serão abordados com mais detalhes no próximo módulo. o Realismo tradicional. Ficam. além de desprovido de qualquer dimensão de mudança estrutural (revolução). uma vez que existem potências demais para se permitir que qualquer uma delas trace linhas claras e fixas entre aliados e adversários. Para Waltz. o que é inerentemente instável. 08 Para Waltz. Ou seja. confiando mais nos próprios armamentos do que nos aliados. Assim. assim. que surgiram nas últimas décadas do século XX. há diferenças expressivas entre multipolaridade e bipolaridade. Abordaremos esse debate entre neorrealistas e neoliberais mais à frente. é a estrutura que molda e conforma as relações políticas entre as unidades. Isolando a estrutura. os Estados estão condenados a reproduzir a lógica da anarquia. Ou seja. minimizados os perigos decorrentes de previsões erradas. e jamais um fato da psicologia individual. refletem as teorizações que se fizeram necessárias para explicar as significativas mudanças nas relações internacionais produzidas pelo processo de globalização e pelo aumento da interdependência entre os Atores. A intimidação nuclear e a inabilidade das Superpotências em superarem mutuamente as forças retaliadoras aumentam a estabilidade do sistema. o que não se harmonizava com as expectativas da teoria de Waltz. sendo difíceis ações coletivas que otimizem o lucro a longo prazo. independentemente das características atribuídas ao poder e ao status. apesar de o sistema ainda ser anárquico e as unidades ainda serem autônomas no Neorrealismo. a atenção voltada para o nível estrutural fornecia-lhe uma imagem mais dinâmica e menos restrita do comportamento político internacional emergente. 09 OS ÚLTIMOS GRANDES DEBATES Visto o Neorrealismo. Waltz argumenta que uma estrutura bipolar dominada por duas Superpotências é mais estável que uma estrutura multipolar dominada por três ou mais Superpotências. no sistema bipolar da Guerra Fria. são as características do Estruturalismo. e qualquer cooperação que ocorra entre eles ficará subordinada à distribuição de poder. Mas essas. para quem a estabilidade da Guerra Fria tinha mais a ver com as armas nucleares em si do que com a bipolaridade. Em seu trabalho sobre o suicídio. pois é mais provável que se sustente sem guerras espalhadas no sistema. Os neoliberais criticam Waltz por exagerar o grau de “obsessão” dos Estados pela distribuição de poder e por ignorar os benefícios coletivos que podem ser alcançados pela cooperação. e essa é a tese por trás do Neorrealismo de Waltz. Percebe-se que Waltz se inspirou em Durkheim. O Neorrealismo busca explicar como as estruturas afetam o comportamento e os resultados. o qual está interposto entre os atores econômicos e os resultados que eles produzem. para quem a sociedade não é a simples soma de indivíduos e que todo fato social tem por causa outro fato social. o sistema internacional funciona como o mercado. o ambiente é mais importante do que o agente. a corrida armamentista e a guerra. pág. Na multipolaridade. a estrutura do sistema em si gerava a estabilidade. a desigualdade entre as Superpotências e cada um dos outros Estados assegura que a ameaça posta a cada um deles seja mais fácil de ser identificada. é incapaz de trabalhar com mudanças de comportamento ou na distribuição de poder que ocorre independentemente das flutuações entre as próprias unidades. segundo as quais as Superpotências amadureceriam para se tornar “duopolistas sensíveis” no comando de uma estrutura crescentemente estável. Waltz foi criticado por Raymond Aron. por consequência. Neorrealistas X Globalistas . Com o fim da Guerra Fria. para ele. a URSS e os EUA mantinham o equilíbrio central. um dos polos da estrutura ruiu. É o mercado que condiciona seus cálculos. Para ele. mesmo no ato privado de tirar a própria vida.Em outras palavras. Tais debates. agora podemos abordar os últimos grandes debates teóricos de interesse para o presente curso introdutório. é a estrutura do sistema internacional que limita o potencial de cooperação entre os Estados e que. Durkheim procurou demonstrar que. Assim. Em Waltz. Waltz usa a noção de poder estrutural – espécie de poder que pode estar operando quando os Estados não estiverem agindo da forma que se esperava. Waltz lembra que as empresas devem desenvolver sua própria estratégia para sobreviver em um meio competitivo. para Waltz. gera o dilema da segurança. seus comportamentos e suas interações. Outros acusaram Waltz de tentar legitimar a Guerra Fria sob o manto da ciência. e. dada a desigualdade de distribuição de poder no sistema internacional. Em contraste. conta mais a sociedade presente na consciência do indivíduo do que sua própria história individual. na verdade. por se concentrar nas unidades e nos seus atributos funcionais. pág. na bipolaridade. Muitos críticos argumentaram que o modelo de Waltz era muito estático e determinístico. mas sob a ótica do subdesenvolvimento de vários países. Para Waltz. “Existe uma influência marxista no globalismo. e essa dominação encontra na Economia seu aspecto central. em busca do acúmulo sem fim de bens e capital. a dominação universal. O Globalismo. Assim. não se pode deixar de citar. 10 O Globalismo vê um sistema-mundo capitalista composto por um núcleo (o centro) e a periferia. 11 A razão desse debate era a crise do sistema Bretton Woods. como princípio central organizador das relações internacionais. como os neorrealistas. O relacionamento polarizado entre as duas categorias é um dos motores do sistema. Para eles. é mais importante do que a anarquia. como a minoria consegue dominar a maioria. dissuasão nuclear) e a elevar a “baixa política” (low politics – comércio. mas surge como uma corrente alternativa. pois também deriva do Estruturalismo. ou seja. pág. se a agenda tradicional das relações internacionais passou ou não a reduzir a importância da “alta política” (high politics – segurança militar. prejudicando qualquer integração durável. Na época em que surgiu. garantia que os Estados . O significado político das forças transnacionais não decorre de sua escala. para a expansão econômica do centro. pág. No fundo. não bastaria nenhum dos dois se não fosse a divisão da maioria numa camada inferior maior. Waltz (2002) reafirma a perspectiva tradicional realista: o princípio da soberania estatal confere à Sociedade Internacional características próprias e limita os domínios da cooperação internacional. a crise de conversibilidade do dólar e os choques de petróleo. agricultura de alta tecnologia etc. historicamente. dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema. nas atividades econômicas mais avançadas: bancária. que há limitações estruturais para a cooperação entre os Estados. assim como fazem os neorrealistas. que qualquer solução localizada deve ser vista apenas como uma etapa da solução global. Existe também um enfoque na totalidade. não é possível entender o capitalismo sem entender as relações de exploração. uma divisão peculiar do trabalho ocorreu historicamente no sistema mundial como resultado do desenvolvimento do capitalismo como a forma dominante de produção. nessa perspectiva global. O trabalho não qualificado é sufocado. doméstica ou internacionalmente. no máximo. mas acreditam que o que deve ser explicado são as relações de dominação. já que os liberais e neoliberais se reúnem no paradigma pluralista. e quais as implicações de tal mudança para a teoria e prática das relações internacionais. como minérios e madeira. e que a periferia será cada vez mais marginalizada na medida em que a sofisticação tecnológica do centro se acelerar. como uma característica chave. Esse debate teórico ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e perdura até os dias de hoje. a hierarquia. que podem ser percebidos como. Também pode ser referido como um debate entre neorrealistas e pluralistas. Para os globalistas. e. Debate Interparadigmático das Relações Internacionais. Para eles. A periferia tem fornecido matéria-prima. baseada nos pressupostos realistas clássicos. Autores globalistas.” Miguel Burnier. industrial. acreditam que o sistema-mundo continuará a funcionar como tem feito nos últimos quinhentos anos. claro. E. o fracasso dos EUA na Guerra do Vietnã. Como pano de fundo desse debate temos a Teoria da Interdependência. Os globalistas enfatizam o poder estrutural e centram as capacidades chaves no sistema econômico. mas com adaptações que tinham que considerar a nova realidade internacional mais complexa. por sua vez. principalmente nas análises sobre o padrão de evolução histórica das relações de dominação (o conflito seria o motor da dinâmica entre as classes sociais). Afirmam também. no sistema bipolar então vigente. Como já referido. mas defendem que isso se dá mais em razão da hierarquia do que da anarquia no Sistema.Um dos últimos debates que merece referência neste curso é o que se dá entre neorrealistas e globalistas. a discussão era travada entre os que acreditavam que o sistema internacional não estava sofrendo nenhuma mudança sistêmica (a escola neorrealista) e os que argumentavam que o Realismo passou a ser um guia inadequado para a compreensão das mudanças dramáticas ocorridas nas relações internacionais como resultado das forças econômicas transnacionais (a escola neoliberal). As áreas centrais se engajaram. como Immanuel Wallerstein. no mínimo. finanças internacionais etc. o que importa é a vulnerabilidade dos Estados às forças fora de controle e os custos da redução de exposição a essas forças. não basta um consenso ideológico a favor do capitalismo (como pensam os neoliberais) ou uma concentração do poder militar entre as hegemonias do centro (como pensam os neorrealistas) para que um conflito sério no sistema possa ser evitado. quando surgiu o debate. no qual os Estados competem e atuam em defesa de seus interesses. a sua própria preservação. no Caderno Pet Jur n. a corrente neorrealista surge com o objetivo de desenvolver uma análise mais precisa das Relações Internacionais. Como visto. ou seja.). a direção da interdependência econômica dependia da distribuição de poder no Sistema Internacional. o Globalismo busca explicar as relações internacionais não em virtude de cooperação ou conflito. Como já referido na Unidade 3. usa algumas das categorias que o Neorrealismo usa (como o poder estrutural). O autor retoma a ênfase na teoria do equilíbrio de poder diante do Sistema Internacional anárquico. a questão era se o modelo clássico da “anarquia” estava perdendo seu poder explicativo frente à “interdependência” entre os Estados. Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência Este último debate é o mais relevante para o mundo que se descortina diante de nossos olhos neste início do século XXI. Segundo Waltz (2002). Os globalistas reconhecem. eventos que abalaram todo o mundo. e a persistência da anarquia. o grau de interdependência era relativamente baixo entre as Superpotências. e aos países periféricos é negado o acesso a tecnologias avançadas nas áreas/setores em que podem vir a competir com os países centrais. O debate se dá em torno de questões como: se o sistema internacional mudou ou não sob o impacto da interdependência. Os globalistas buscam analisar as Relações Internacionais dentro de um contexto global e geral. IV. no período 1945-1960. assim. Por consequência. mostrou que a interdependência. os EUA. os neoliberais afirmam que é difícil para Estados democráticos delinearem e perseguirem políticas exteriores racionais. dependia da habilidade e da disposição dos EUA em fornecer as condições sob as quais os outros Estados estariam participando da concorrência por ganhos relativos e cooperando para maximizar seus ganhos absolutos com base em . e não o contrário. que. sinais de rádio. e o Estado deixa de ter o único papel relevante nas relações internacionais. A “interdependência complexa” é o resultado da multiplicação das interconexões globais e da aceleração de fluxos financeiros. dentre outros. Os benefícios coletivos do comércio e a influência dos fluxos financeiros para as políticas domésticas dos Estados assegurariam uma cooperação maior entre os Estados e contribuiriam para o declínio do uso da força entre eles. Sob condições de interdependência complexa. etc. Os Estados do Terceiro Mundo procuram. os quais passam a ganhar espaço nas decisões e discussões internacionais. a tentativa de estabelecer regimes internacionais como meio de superar ou atenuar os efeitos da anarquia não funciona. 12 Krasner atacou de frente a “interdependência” neoliberal. da distribuição de poder entre os Estados. que afirmavam que o crescimento das forças econômicas transnacionais. Estados pequenos e pobres do Sul tendem a apoiar os regimes internacionais que distribuem recursos autoritariamente. multinacionais. sociedade civil. Portanto. e argumenta que os Estados do Terceiro Mundo também se envolvem em lutas pelo poder. ativos financeiros. agentes racionais e interesseiros. Ela explica. foi a Grã-Bretanha. Krasner. num mundo interdependente. dando aos Estados o direito de regulamentar fluxos internacionais (migração. serviços e de informações. Tais regimes não disfarçam as diferenças de poder existentes nas relações internacionais e tampouco conseguem alterar a importância da soberania dos Estados. aviação civil etc. embora ainda proeminente. O argumento básico de Keohane é que. Assim. em si. normas. rejeita. pág. ou um papel minimizado para o uso da força. ao passo que os Estados mais ricos do Norte favorecem regimes cujos princípios e regras dão prioridade aos mecanismos de mercado. regras e processos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas do Ator convergem para uma dada questão setorizada (issue area). que ameaçaram o fornecimento do produto em todo o mundo capitalista. Trata-se de um modelo explanatório das relações internacionais que pressupõe múltiplos canais de contato entre as sociedades. Argumentou que os períodos de abertura na economia mundial correspondem aos períodos nos quais um Estado é nitidamente dominante. A “interdependência” econômica é subordinada ao equilíbrio de poder econômico e político entre os Estados. todavia. atmosfera. buscando uma resposta positiva para a questão de se as instituições explicam ou não o comportamento dos Estados. responderam dizendo que não é verdade que a distribuição de poder político e militar não se relacione com a condição de interdependência complexa. longe de tornar obsoleto o poder. firmemente preocupados com seus ganhos relativos. Krasner também ataca os globalistas. a soberania dá aos Estados do Terceiro Mundo uma forma de “metapoder” ou poder de uma ideologia coerente para atacar a legitimidade dos regimes do mercado internacional e as injustiças do capitalismo global (GRIFFITHS. e essas diferenças de poder são o principal fator determinante e explicativo do comportamento dos Estados. Um dos fortes defensores das teses neorrealistas foi Stephen Krasner. pág. princípios e procedimentos que aumentam os poderes soberanos dos Estados individualmente. a hipótese de que os Estados perseguem simplesmente riqueza. identifica uma dicotomia regulamentação/Terceiro Mundo versus desregulamentação/Primeiro Mundo. trata-se desse ponto. A teoria da Estabilidade Hegemônica. uma ausência de hierarquia entre questões de agenda e uma diminuição da utilidade do poder militar. Os regimes implicam não apenas normas e expectativas que facilitam a cooperação entre os Estados. embora o comércio aberto possa fornecer ganhos absolutos para todos os Estados que se comprometerem com ele. demográficos. mais uma vez. proteção. nos tempos de hoje. a crescente irrelevância do controle territorial frente ao crescimento econômico e a divisão internacional do trabalho tornavam o Realismo obsoleto. por exemplo. e isso significa que. os Estados nem sempre colocam a riqueza acima dos outros objetivos. reservaram o uso da força em larga escala. desse modo. para as causas ideológicas. uma área de importância econômica insignificante para os EUA. O poder político e a estabilidade social também são cruciais.) ou de distribuir acesso a recursos internacionais (fundo do mar. A Teoria da Estabilidade Hegemônica é normalmente citada como a conjugação das ideias do realismo com as ideias pluralistas de interdependência (vide Unidade 2). como os fluxos financeiros. 2004). evidencia relações de poder. organizações não governamentais. 2004).). no fundo. normas. alguns Estados ganharão mais do que outros. na verdade. Regimes internacionais são normalmente definidos como princípios. cujas preocupações têm sido a regulamentação dos fluxos financeiros internacionais e a imposição de uma tributação sobre eles (a chamada “taxa Tobin”). e todo o institucionalismo supostamente por trás dela. e a relutância no uso da força durante as crises do petróleo nos anos de 1970. com operadores extremamente variados: organizações intergovernamentais. Os neorrealistas. ao falar sobre a importância do equilíbrio de poder. Não seria por outro motivo o apoio de países do Terceiro Mundo ao Fórum Social Mundial.continuassem a privilegiar a segurança acima da busca por riquezas (GRIFFITHS. por exemplo. a ligação entre o poder hegemônico e o grau de interdependência complexa no comércio internacional. regras e princípios que governam as tomadas de decisão e as operações em relações internacionais sobre determinadas questões. mas formas de cooperação Krasner. No século XIX. de bens. que provocou tão intensas discordâncias domésticas para tão pouco ganho econômico. os Estados soberanos continuam sendo. Para Krasner (1983). Regimes internacionais “autoritários” são aqueles conjuntos de regras. Krasner ataca os globalistas pelo fracasso em explicarem o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. Do outro lado do debate estavam os neoliberais. querendo diminuir sua vulnerabilidade ao mercado e exercer um controle estatal maior sobre ele (é o que estaria por trás. vista da Unidade 2. como defendem os realistas. 13 Os neoliberais usam o modelo da “interdependência complexa”. como o dinheiro. para os neorrealistas. Neoliberais como Robert Keohane (2001) tentariam derrubar essas teses. Se os EUA frequentemente desejavam proteger os interesses das corporações norte-americanas. tornando o debate mais acalorado. concorda com Waltz: o grau de abertura depende. das discussões na China sobre o controle ou não dos fluxos de capital – deixar ou não fechada a conta de capital do balanço de pagamentos). o paradigma realista é de uso limitado para ajudar a compreender a dinâmica dos regimes internacionais. Segundo ele. ou seja. Isso explicaria a guerra contra o Vietnã. Para ele. Waltz. as normas. Tentam se proteger contra a operação de mercados em que eles se encontram em desvantagem. Portanto. não teria havido os anos dourados do pós-Guerra. As teses neorrealistas são bons exemplos. . para autores como Gilpin. Escolha a opção referente a esta unidade. Para tanto. Não obstante. 14 Síntese O Realismo continua sendo a principal corrente teórica de Relações Internacionais. por meio do Menu Comunicação. Nessa Unidade então. escolha a opção: " Fale com o tutor / colegas" e registre sua dúvida! pág. Afinal. reveja suas anotações pessoais e releia o Módulo I. As atividades que propomos a seguir o ajudarão nesse sentido.Objetivas". sim. Giovanni Arrighi. como visto. Acesso pelo menu "Avaliações . Não perca os prazos! Consulte com regularidade o Calendário de Atividades do Curso! Avaliação Objetiva Atividades de autoavaliação . Sem a presença de um hegemon.uma cooperação no comércio e em outros setores de controvérsia. que serão corrigidas automaticamente pelo sistema. Responda às questões objetivas. Você deve consultar o seu Professor-Tutor em caso de dúvidas. A Teoria da Estabilidade Hegemônica procurou responder ao argumento neoliberal de que o crescimento da interdependência econômica entre os Estados os estaria enfraquecendo e atenuando o relacionamento histórico entre a força militar e a capacidade de sustentar interesses nacionais. apresentou tese no mesmo sentido. estudamos a principal corrente teórica das Relações Internacionais: O Realismo. está a interdependência econômica que testemunhamos no mundo atual reduzindo a importância do poder militar? A resposta dessa teoria é negativa. nunca o mundo pareceu tão realista. Unidade 5 . ela foi assim preparada: Evolução histórica e conceitos: • Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional. análises sob uma ótica realista passam a considerar diferentes fatores e novos Atores. motivadas pelas pretensões hegemônicas de projeção de poder da Hiperpotência norte-americana.Essa atividade o auxiliará a autoavaliar seus conhecimentos. mas. esses novos elementos não conduzem à decadência ou obsolescência do paradigma. Volte ao início da Unidade e verifique se os objetivos propostos foram alcançados. em sua obra O longo século XX. No século XXI. Comunicação Caso não esteja seguro com relação ao domínio do conteúdo. De fato. com as mudanças na política internacional que vêm ocorrendo neste início de milênio.Sociedade Internacional: Aspectos Gerais A Unidade 5 do Módulo I é dedicada ao estudo de questões e aspectos gerais que caracterizam a Sociedade Internacional. a liderança hegemônica dos EUA e o antissovietismo foram as bases do compromisso com o “internacionalismo liberal” e com o estabelecimento de instituições internacionais para facilitar a grande expansão comercial ocorrida entre os Estados capitalistas nos anos de 1950 e 1960 (chamados de “anos dourados” por Eric Hobsbawm). a novas adaptações. Ademais. portanto. É uma “sociedade de sociedades. ou seja. Mesmo sendo o Estado o principal Ator internacional. ou macrossociedade. Essa análise é definida como o estudo do grande número de eventos ou fatos que transcenderam as fronteiras entre os Estados e que relacionaram entre si as nações e os povos. assinalar as subestruturas que compõem a Sociedade Internacional e sua importância na compreensão da mesma. heterogênea. constitui “um marco social de referência. Registre-se que há cerca de apenas três séculos é que a Sociedade Internacional começou a adquirir características “globais”: até recentemente.” A Sociedade Internacional pode ser percebida como um conjunto de sociedades. “a Sociedade Internacional é uma sociedade global de referência”. passando pelos Estados. pág. portanto. é sua organização pessoal e a disponibilidade de um tempo diário e preciso para os estudos. com a ascensão e o declínio do Estado-nação frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente. que pode contribuir para o aproveitamento do curso. Atenção Outro fator importante. • O grau de institucionalização Objetivos apresentar os aspectos gerais que caracterizam a Sociedade Internacional. • A polarização. pág. Não há como desconsiderar. Passemos aos elementos fundamentais da Sociedade Internacional. sendo. 64-55). convém lembrar que a doutrina aceita a existência de uma Sociedade . deficiente da realidade. p. • A diversidade sistêmica. a presença e influência cada vez maior de grupos diferentes dos Estados-nação no sistema internacional. 02 Outro ponto a que Calduch chama a atenção é que “a Sociedade Internacional é distinta da sociedade interestatal”. • O grau de homogeneidade e heterogeneidade. passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea. compreender a Sociedade Internacional apenas com base nas relações interestatais conduziria a uma percepção obscura e. Em nossas observações acerca da Sociedade Internacional. sobretudo nos dias atuais. é possível identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade. 01 Sociedade Internacional: Evolução histórica e conceito Em um primeiro momento. em cujo seio surgem e se desenvolvem os grupos humanos.• A extensão espacial. Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional Para Rafael Calduch Cervera (1991. podemos relacionar a Sociedade Internacional à evolução histórica das relações entre os grupos. pouco contato havia entre as diversas “sociedades” dentro da Sociedade Internacional. Conceito de Sociedade Internacional Convém apenas lembrar que definimos Sociedade Internacional como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas. povos e Estadosnações organizados em âmbito espacial determinado. a análise histórica pode ser de grande auxílio. um todo social em que estão inseridos todos demais grupos sociais. Assim. desde a família às organizações intergovernamentais. quaisquer que sejam seus graus de evolução e poder”. de forma pacífica ou conflituosa. • A estratificação hierárquica. Variam conforme o tempo e as diferentes sociedades. Sociedade Internacional sempre houve. que não é possível considerar a existência de uma Sociedade Internacional em seu sentido estrito. mas às dimensões do planeta Terra. 2002). controle ou imponha a conduta a seus membros. a deterioração ambiental ocasionada pela contaminação da terra. o crescimento exponencial da população mundial. marcada por uma minoria da população do globo com alto padrão de vida e a maioria vivendo em condições subumanas. Vale lembrar que. estratificação e hierarquia. Todavia. interdependente. O século XX marca o limite espacial da Sociedade Internacional. Afinal. cai para segundo plano. pág. interessante a trilogia de Manuel Castells: A Sociedade em Rede (Paz e Terra. ou. ainda. ao menos no que concerne aos Estados. Portanto. em que a questão geográfica. mesmo que sua principal característica fosse a falta de interação entre as sociedades/civilizações que a compunham. Nesse sentido. Não poderiam existir “relações internacionais” sem um ordenamento mínimo na Sociedade Internacional. da mais remota Antiguidade aos dias atuais. Daí considerar-se essencial para a análise de qualquer Sociedade Internacional o conhecimento do “marco espacial” em que a referida sociedade se encontra assentada. a utilização do espaço estratosférico e das profundezas oceânicas. Assim. sem que seus membros mantenham relações mútuas intensas e duráveis no tempo. e as observações que faremos a respeito são provenientes do estudo de sua obra. “a Sociedade Internacional é uma sociedade territorial”. Entre esses “desafios” estão o fenômeno do esgotamento dos recursos naturais. Entretanto. podendo ser identificados em todas elas. isoladamente. Acrescente-se a significativa disparidade de renda na esfera internacional. A Sociedade Internacional pode ser percebida na dicotomia “anarquia x ordem comum”. ao Ocidente ou ao “mundo civilizado”. não aceitam. a característica da Sociedade Internacional era exatamente a composição espacial de diferentes sociedades internacionais. quando algum de seus membros principais experimentar mudanças em seus limites fronteiriços ou em sua zona de influência territorial direta – como ocorreu no Leste Europeu para a URSS. O que deve ficar claro é que. pág. a ideia de “globalização” apresenta uma Sociedade Internacional não mais espacialmente limitada ao continente europeu. ainda que com espaços definidos e com crescentes intercâmbios culturais. 04 . Essa ordem internacional emana da correlação de forças e poderes entre os Atores internacionais. sendo o Estado o principal Ator internacional. o papel das grandes Potências é essencial. do ar e das águas. o que não se pode conceber. na miséria absoluta. autoridade superior no sistema. 03 A extensão espacial Para Calduch. mas com características distintas e espaço geográfico delimitado. até o século XX. Calduch afirma. Não existe um governo mundial ou uma autoridade supraestatal. comerciais. Fim de Milênio (Paz e Terra. Essas condições implicam necessariamente uma reestruturação da Sociedade Internacional. polarização. o uso crescente da energia nuclear para fins civis ou militares. suas mudanças territoriais e reações a mudanças têm marcado as diferentes sociedades internacionais. a constante expansão geográfica da Sociedade Internacional gerou conflitos e mudanças nos Atores e nas relações de poder entre eles. legítima titular do uso da força. Livro indicado Sobre as transformações na Sociedade Internacional. Pode-se dizer que esse ordenamento é estruturado com base em elementos como extensão espacial. assinala que a mera ocorrência de ações esporádicas e ocasionais não basta para se considerar a existência de uma Sociedade Internacional. grau de homogeneidade ou heterogeneidade e de institucionalização. Esse foi um problema que surgiu quando a Sociedade Internacional alcançou dimensões planetárias. 2000). Há uma ordem comum no meio internacional. 2007). Com isso. Discordamos dessa percepção de Calduch. estabelecida pelos próprios Atores para viabilizar suas relações. sociais e políticos. de maneira geral. diversificação estrutural.Internacional antes do surgimento dos Estados nacionais. os Atores conduzem suas relações internacionais de acordo com seus próprios interesses e. Esses elementos foram apresentados por Calduch. nos termos apresentados. pois são elas que definem os rumos do sistema. O Poder da Identidade (Paz e Terra. Evidente que é anárquica por não possuir uma autoridade superior que. relembre-se que anarquia internacional não é sinônimo de desordem. A Sociedade Internacional sofrerá transformações em sua estrutura e dinamismo sempre que sua dimensão espacial for alterada. ainda. Os problemas da Sociedade Internacional globalizada têm efeitos em todo o território do planeta. Não se pode mais buscar soluções para problemas locais sem um pensamento global. sob regimes autoritários e sem quaisquer perspectivas de futuro digno. como a dos dias atuais. é uma sociedade global. Com o desenvolvimento tecnológico. São os chamados “elementos da estrutura internacional”. Inegável que Bill Gates. Assim. Daí o conceito de Calduch para essa estratificação: “conjunto das diferentes e desiguais posições ocupadas pelos atores internacionais em cada uma das estruturas parciais que formam parte da Sociedade Internacional. ainda. ou mesmo Osama bin Laden. Uma vez que há diferentes graus de influência nos assuntos internacionais. indivíduos. e. a posição ocupada por um Estado no Subsistema econômico internacional poderá não ser a mesma no subsistema político-militar. Suas respectivas evoluções seguem ciclos e ritmos de diferentes intensidade e duração.A diversidade sistêmica A Sociedade Internacional é composta de distintos subsistemas. efetivamente. o indivíduo. na Sociedade Internacional contemporânea. a Agência de notícias Reuters. junto aos Estados soberanos. como foi testemunhado. para o subsistema econômico. Cite-se. social. então. desempenha um papel de mediador entre a dimensão político-militar e a econômica. por exemplo. mostraram-se mais influentes nas relações internacionais. pág. entendido como Ator internacional. cultural/ideológico. “deve-se considerar aqueles grupos internacionais cujo protagonismo fica limitado a certas áreas da vida internacional. também. só para citar alguns nomes mais conhecidos. a estratificação hierárquica em cada um dos subsistemas internacionais pode realizar-se atendendo às diferentes características de Atores (Estados. organizações internacionais. uma vez que a Economia é uma das “forças profundas” mais influentes na conduta internacional dos Atores. bem como das relações de autoridade e dominação que elas mantêm entre si em virtude de normas jurídicas ou mediante o exercício do poder militar. por “atores e relações internacionais desenvolvidas a partir da existência de conhecimentos. nos anos da Guerra Fria. no plano cultural”. os quais exercem. de seu papel cultural-ideológico internacional. Atenção Anote sempre os principais pontos de cada tópico estudado. o Fundo Monetário Internacional. segundo Calduch. O segundo subsistema a ser considerado é o político-militar. Cada um desses subsistemas corresponde a uma das áreas imprescindíveis para a existência da Sociedade Internacional em seu conjunto. por exemplo. entre outros) ou. mais ainda. Para exemplificar. cada um dos subsistemas está conformado de maneira particular. cuja correlação configura a ordem internacional imperante. George Soros. Calduch lembra. Naturalmente. influência como Atores internacionais. 05 A estratificação hierárquica A Sociedade Internacional constitui uma realidade complexa. pois é inquestionável sua influência nos diferentes subsistemas. também ocupa um estrato dessa hierarquia. Incluem-se aí tanto o conjunto dos fatores e forças de produção quanto as inter-relações associadas ao processo econômico (produção. Portanto. Forma-se. militar. Assim. o subsistema econômico. cujos membros ocupam níveis ou estratos segundo a desigualdade de poder – político. ou vice-versa. o [extinto] Pacto de Varsóvia. empresas multinacionais/transnacionais. Você pode utilizar o "Caderno" no menu de Apoio! pág. considerando cada um dos grupos com capacidade de participação nos diferentes subsistemas. O terceiro subsistema é o cultural-ideológico. em virtude das características exclusivas de cada um de seus componentes. O subsistema econômico não pode ser descartado para a compreensão da Sociedade Internacional. no qual está a base material e produtiva indispensável para a existência dos grupos humanos. para a política. organizações não governamentais. desajustes e crises. O subsistema cultural-ideológico. Compõe-se das comunidades políticas e organizações internacionais. provocando tensões. 06 A polarização . o Papa João Paulo II.” Uma primeira observação a ser feita a respeito da estratificação é que a hierarquia internacional não é única e imutável em cada Sociedade Internacional e muito menos homogênea para cada subsistema. Claro que esses outros membros da Sociedade Internacional não podem ser desconsiderados. tanto entre os grupos que as capitalizam quanto ao conjunto da Sociedade Internacional. tão importante quanto os anteriores. que. comércio e consumo). econômico. existe uma hierarquia “de fato” entre os Atores na Sociedade Internacional. valores ou ideologias comuns a distintas sociedades humanas e dos processos de comunicação que deles derivam”. em alguns casos muito superior à da maior parte dos Estadosnacionais. Acrescentemos a relevância no papel de alguns indivíduos na Sociedade Internacional contemporânea. que muitos países. econômicas ou até culturais. Calduch prefere chamálos de “subestruturas”. a influência atual do Brasil na economia internacional é bastante diferente de sua influência na política ou de seu poder militar. sejam políticas. Para os Atores que ocupam essa posição de destaque. É importante observar que um ente muito adaptado a determinado ambiente e. discordam e vislumbram um sistema multipolar no contexto geral. Não se pode exercer a liderança em um sistema por muito tempo apenas com base no uso da força. Enquanto a estratificação considera o conjunto dos Atores. haverá uma drenagem tão grande de seus recursos e capacidades para projetos e atuações exteriores que esses Atores terão seu poder debilitado. Registre-se. Entende-se por unipolaridade a situação em que um só Ator é capaz de dirigir. Citicorp). China). junto às Grandes Potências econômicas (EUA. É possível. aqui. Assim como ocorre na natureza. portanto. e que perdurou por cerca de 100 anos na ordem europeia. a relação hegemônica deve basear-se em dois alicerces: coerção e consenso. ao tratarmos de polarização. vai ocupando o vazio de poder fruto do enfraquecimento desse ou desses. o poder de influência desse Ator é incontestável. A “ascensão e queda das grandes potências”. bem-sucedido. devido à incapacidade de outro Ator fazer-lhe frente. pág. uma vez que. até adquirir capacidade suficiente para afetar o Sistema. Um bom exemplo disso é o que ocorreu com a URSS na década de 1980. surgem também organizações intergovernamentais e blocos econômicos (União Europeia. A evolução é fatal: um Ator hegemônico surge ainda quando o Sistema está polarizando por outro ou outros atores. tanto interna quanto externamente.) e seu desmembramento (476 d.) e ainda empresas multinacionais ou transnacionais (Exxon. a polarização – ou polaridade – contempla somente aqueles que dominam as relações básicas de cada subsistema internacional. Já para exemplificar a multipolaridade econômica. mais complexas e aleatórias são as relações internacionais. A bipolaridade ocorre quando dois Atores dividem a hegemonia de um subsistema. Cartago e Roma. O exemplo clássico de unipolaridade político-militar está no Império Romano. a dinâmica de determinado subsistema internacional. a única certeza é que surgirá um novo Ator para ocupar seu espaço no Sistema Internacional. para perdurar. Alguns autores. é um fato que pode ser constatado em diversos momentos da evolução histórica da Sociedade Internacional. décadas ou séculos –. Finalmente. de modo decisivo. a manutenção da estrutura imperante mostra-se questão de sobrevivência. ainda. 07 Há três formas de polarização internacional: unipolaridade. Japão. Quanto maior o número de Atores polarizando o Sistema. Portanto. Entenda-se lógica darwiniana como a capacidade de um ente se adaptar a determinado ambiente. com a consequente – e. Como na bipolaridade. tendendo a uma ou outra esfera de influência conforme interesses específicos e. depois de determinado tempo – anos. consideramos os membros da Sociedade Internacional nas posições superiores da estratificação hierárquica. no contexto da Sociedade Internacional mediterrânea. e multipolaridade.C. sempre relacionado à incapacidade de manutenção da hegemonia internacional nos diferentes subsistemas ao longo do tempo. EUA e URSS. às vezes. Como exemplo de multipolaridade no subsistema político-militar tem-se o Concerto Europeu.Alguns Atores atraem para si outros em virtude da capacidade de influência no sistema e da desigualdade entre os diferentes protagonistas do cenário internacional. na Grécia clássica. apenas um exemplo. numa lógica darwiniana. a hegemonia na multipolaridade não tem uma direção única. algumas das quais com capacidade para influenciar o sistema de forma muito superior à da maior parte dos Estados soberanos do globo. APEC. como dito. Polarização pode ser definida como a capacidade efetiva de um ou vários Atores internacionais para adotar decisões. que os demais Atores optem por uma política pendular. Os demais componentes do Sistema acabam migrando para a esfera de influência de um dos dois Atores principais. Segundo Calduch. ocorre também na Sociedade Internacional. ademais. ao mesmo tempo em que hegemonia fundamentada simplesmente . fatal – alteração no equilíbrio de poder no sistema. Introduzimos. quando o domínio de um subsistema internacional é disputado por mais de dois Atores. ao mesmo tempo.C. No seu auge. que. o que obriga os distintos polos a considerarem em suas condutas internacionais os interesses e condutas de seus pares. IBM. “jogando” com a disputa entre os polos. por meio dos quais alcançam ou garantem uma posição hegemônica na hierarquia internacional. A longo prazo. entretanto. Mercosul etc. com o fim da Guerra Fria e o colapso da URSS. pode desaparecer se as condições se modificam. no mundo antigo. para usar os termos de Paul Kennedy. estabelecido em 1815. os Atores à frente de cada subsistema internacional se veem obrigados a intervir de modo crescente e constante nas relações internacionais. bipolaridade. Um exemplo atual poderia ser a condição dos EUA. Entretanto. um dos elementos essenciais para a compreensão da estrutura do sistema internacional: a ideia de polarização. O caso da URSS é. NAFTA. que culminou no desaparecimento daquele Estado em 1991. tem-se a multipolaridade.). com o objetivo de perpetuar sua hegemonia. aos poucos. com a derrota de Napoleão. apresentamos a Sociedade Internacional de nossos dias. Como exemplos de sistemas bipolares no plano político citamos: Esparta e Atenas. comportamentos ou normas que sejam aceitos pelos demais Atores e. nas quatro décadas seguintes ao término da II Guerra Mundial (1939-1945). General Motors. entre a derrota de Cartago (136 a. pois qualquer sinal de mudança pode significar que outro polo está a se estruturar. Alemanha. ao menos sob a perspectiva de poder militar. Existe homogeneidade internacional quando são observadas identidades ou similitudes internas fundamentais entre os Atores que pertençam a uma mesma categoria e participem de um mesmo subsistema internacional. as transformações da própria sociedade em que se encontram. Afinal. a configuração e a manutenção de determinada ordem internacional. Trata-se. 09 O grau de institucionalização O último elemento fundamental para o estudo das relações internacionais identificado por Calduch é o grau de institucionalização. para alguns autores. composições. para a análise do grau de institucionalização de uma sociedade. as forças que nela interferem e os reflexos das relações entre os Atores. Para o mestre espanhol. “países desenvolvidos”. Já a heterogeneidade é constatada com a existência de divergências internas básicas entre os referidos Atores.” (CALDUCH. 10 . a exclusão de valores ou normas que emanem diretamente da existência de conflitos bélicos. Daí não ser cabível. Portanto. em outros nada mais se tem que uma forma de apresentação internacional pouco condizente com a realidade. os Atores fazem uso dessa dicotomia homogeneidade/heterogeneidade para conduzir seus interesses internacionais e influenciar a conduta de outros Atores. por sua vez. que. portanto. Calduch defende que não se pode analisar o grau de institucionalização apenas com base nas normas jurídicas: há normas que não estariam envolvidas pelo Direito Internacional. “capitalistas. pág. só é possível estudar o grau de homogeneidade/heterogeneidade se forem comparados Atores pertencentes a uma mesma categoria. independentemente de seu caráter expresso ou tácito. Finalmente. “o grau de institucionalização de uma Sociedade Internacional é formado pelo conjunto de órgãos. de uma tendência que não pode ser considerada de maneira categórica. p. poder e objetivos. pág. Finalmente. o comércio e a guerra são formas de relações internacionais presentes em diversos tipos de instituições internacionais. Um terceiro aspecto que deve ser considerado é que um elevado índice de homogeneidade em um subsistema internacional não se transfere automaticamente aos outros subsistemas. portanto. dessa maneira. principalmente entre os Atores estatais. suas formas de cooperação e seus antagonismos. compreendendo as instituições de uma sociedade. Não se pode. o analista depara-se com a estrutura da ordem internacional. ainda que este sintetize a maior parte das instituições fundamentais da Sociedade Internacional. Ao estudar as instituições internacionais e suas transformações. Calduch afirma que a diplomacia. “em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”. As mudanças nas instituições refletem. os interesses dos Atores e as forças que influenciam as condutas dos membros da Sociedade Internacional ao longo do tempo.no consentimento dos pares pode ser ameaçada por uma crise de legitimidade. 08 O grau de homogeneidade e heterogeneidade A Sociedade Internacional encontra-se condicionada também pela presença ou ausência de homogeneidade entre seus membros. pág. Muitas vezes. realmente se faz presente. Enquanto o caráter homogeneidade/heterogeneidade. vale observar que. e 2) a não existência de categoria com grau de homogeneidade absoluto. a homogeneidade permite maior grau de previsibilidade na conduta internacional dos Atores. Assim. normas e valores que. permitindo. Exemplos são os grupos que se formam sob a égide de bandeiras como “nações civilizadas”. Sempre haverá diferenças entre os Atores. Uma análise das relações internacionais sob o enfoque do grau de homogeneidade/heterogeneidade da Sociedade Internacional deve considerar: 1) a comparação entre Atores da mesma categoria. mesmo. pode-se compreender seus membros. em alguns casos. são aceitos e respeitados pela generalidade dos Atores internacionais de um mesmo subsistema. comparar Estados soberanos com organizações internacionais para se medir o grau de homogeneidade de determinado subsistema. As instituições estão relacionadas aos valores. socialistas e não alinhados”. uma vez que a diversidade é uma característica inata das sociedades que compõem a Sociedade Internacional. à essência de seus subsistemas. há casos em que são vislumbradas relações políticas homogêneas em contraposição à heterogeneidade econômica e sociocultural em um mesmo grupo de Atores. os sistemas homogêneos tendem a ser mais estáveis (ARON. 1991. resumiria todos os anteriores. visto que ao próprio conceito de estabilidade são atribuídas diferentes interpretações. Uma vez que existem Atores com diferentes naturezas. Esse conceito traduz o entendimento e o consenso social que deve imperar entre componentes de uma Sociedade Internacional ao estabelecerem ou modificarem suas relações mútuas. 74). às normas e aos objetivos dos membros de uma sociedade e. 1986). entretanto. sobre Sociedade Internacional. que engloba conceitos tratados neste primeiro módulo. Pode-se. em duas partes. Nos módulos seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da Sociedade Internacional a partir da era moderna. 2004) e A Sociedade Anárquica. analisar as relações internacionais sob a ótica das instituições que se manifestam no Sistema Internacional. Muitos oficiais ocidentais ficaram perplexos ao combater em 2001 no Afeganistão. Dois livros importantes para se compreender a ideia de sociedade internacional são A Evolução da Sociedade Internacional. Vamos lá! Parte 1-duração: 7min29 Parte 2 . UnB. conhecer as instituições que regem as estruturas da sociedade objeto de seu estudo. de Hedley Bull (Brasília: Ed.Um exemplo recente de dificuldades geradas em modelos institucionais críticos é a guerra em regiões menos desenvolvidas do globo. as instituições refletirão os subsistemas e a maneira como estão ordenados. portanto. UnB. que regulamentam as condutas dos combatentes. 2002). com esses aspectos teóricos operando como pano de fundo.duração: 7min08 Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. portanto. Cite-se entre as principais as Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos Adicionais. a qual tem uma perspectiva das relações internacionais muito fundamentada nas ideias de sociedade internacional. um confronto em áreas menos desenvolvidas foge a qualquer padrão. porque as milícias afegãs “desconheciam os usos e costumes do direito de guerra das nações civilizadas”. de Adam Watson (Brasília: Ed. É essencial. ao internacionalista. Vídeo Assista à aula do Professor Joanisval Gonçalves. . Não havia nada parecido com as instituições da guerra clássica no cenário da Ásia Central. Assim. Enquanto o conflito entre as Potências busca seguir determinadas “leis” de conduta. Bull e Watson são dois ícones da chamada Escola Inglesa de Relações Internacionais. o que levou à violência exacerbada de ambos os lados no combate. As Relações Internacionais na Era Moderna Nesta Unidade.No menu lateral em "Avaliações . Comunique-se com ele sempre que sentir necessidade de esclarecimentos adicionais.Evolução Histórica das Relações Internacionais . Atividades de autoavaliação .Você pode encontrar resenhas dos livros sugeridos na Internet: # A Sociedade Anárquica e # A Evolução da Sociedade Internacional Fechando. do início da Idade Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). Módulo II . apresentamos os fatos marcantes da evolução histórica da Sociedade Internacional. realize as atividades propostas de autoavaliação. acesse as questões objetivas referentes a esta unidade. então.Objetivas".da Era Moderna ao Entre-Guerras Unidade 1 As Relações Internacionais na Era Moderna Unidade 2 A Nova Ordem Internacional do Século XIX Unidade 3 A Primeira Guerra Mundial e o Entre-Guerras Vídeo Esta aula apresenta um panorama histórico das Relações Internacionais. Lembre-se de que seu Professor-Tutor está apto a dirimir suas dúvidas. Assista com atenção! Duração: 9min13 Unidade 1 . São eles: • A Sociedade Europeia na Era Moderna: o Renascimento . o estudo introdutório dos aspectos teóricos da primeira fase do nosso curso. as Grandes Navegações, o Advento do Estado Absolutista e a Reforma; • A Guerra dos Trinta Anos; a Guerra, a Paz de Westfália (1648) o legado de Westfália, a Nova Ordem Internacional a partir de Westfália Objetivos Ao término desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar os principais aspectos da evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). Deverá, portanto, estar apto a discorrer sobre: As grandes navegações; As lutas entre católicos e prostetantes; A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648); A paz de Westfália(1648) e Europa no século XVIII e a ascensão da França como Potência hegemônica. pág. 01 A sociedade europeia da era moderna O período que vai do ano 1000 até 1800 corresponde à transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse período, a sociedade europeia feudal – rural, fragmentada no nível nacional, unida pela religião e marcada pelos vínculos de vassalagem – transformou-se em outra completamente distinta, a sociedade capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana, influenciada pelas transações comerciais e fundada nas relações de trabalho assalariado. Quatro acontecimentos são especialmente importantes nesse processo: o Renascimento, as Grandes Navegações, o advento dos Estados nacionais absolutistas e a Reforma. O Renascimento Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à tentativa de artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos da Grécia e de Roma”. O movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 e se estendeu até meados do século XVII. Não surgiu na Itália por acidente. No século XIV, ela era a região mais dinâmica da Europa: inúmeros centros comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se desenvolviam com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, com isso, destacavam-se no contexto europeu como Potências comerciais e, algumas vezes, militares. O período é um ponto de inflexão. Os contemporâneos tinham a percepção de que davam início a um novo tempo. Tanto é assim que, para se diferenciarem, criaram o termo “Idade Média” para se referirem aos seus predecessores. O Renascimento é especialmente marcado pelas mudanças ocorridas nas artes – destacadamente na pintura, escultura e arquitetura – e nas ciências. Na Idade Média, as artes tinham o propósito fundamental de servir à religião cristã, vinculando-se, muitas vezes, às determinações da Igreja. Na Renascença, o importante era a valorização do ser humano: tinha-se o antropocentrismo renascentista se contrapondo ao teocentrismo da Igreja de Roma. Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, todavia, que houvesse uma rejeição à religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas admitiam considerar o homem, obra máxima da Criação divina, o centro de suas atenções. pág. 02 E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, foi afetada pelas investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico, por exemplo, foi o criador da teoria heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revolução, porque tirava da Terra a primazia sobre os demais corpos celestes. O Mapa 1 ilustra o desenvolvimento do Humanismo na Europa e a expansão renascentista da Itália para todo o continente. Mapa 1: O Humanismo e a Renascença na Europa (Séculos XV e XVII) Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html Interessante notar nos círculos vermelhos e verdes os principais pontos de florescimento do Renascimento na Itália e em toda a Europa, respectivamente. O quadrado rosa marca o local do surgimento da imprensa, e os principais focos artísticos estão assinalados pelos pontos negros, de fato, importantes cidades europeias. Já as setas representam a difusão do renascimento italiano. Livro indicado Sugerimos pesquisa mais aprofundada a respeito da importância do Renascimento na formação da sociedade europeia. Uma fonte importante é A Evolução da Sociedade Internacional, de Adam Watson (Brasília: Editora UnB, 2004). pág. 03 As Grandes Navegações As Grandes Navegações, iniciadas no final do século XV, são um marco na evolução histórica da Sociedade Internacional. Por meio delas, os europeus aventuram-se além dos limites tradicionais de seu continente e, de maneira generalizada, lançam-se pelos oceanos e seguem para os “quatro cantos do mundo”, entrando em contato com as sociedades asiática, africana e americana como nunca ocorrera antes. Com as Grandes Navegações, tem início um processo que culminaria na hegemonia europeia no mundo e na supremacia da chamada “civilização ocidental” sobre outros povos – muitas vezes, com resultados fatais para as civilizações não europeias. As Grandes Navegações podem ser consideradas o primeiro processo de globalização da era moderna. Com elas, o comércio internacional se desenvolveu e foram estabelecidos vínculos entre as diversas sociedades internacionais que existiam na época. Ademais, graças ao estabelecimento dos vínculos mercantilistas com o Novo Mundo – as Américas –, com a África e com o Extremo Oriente, a Europa se desenvolveu, o modelo capitalista se estruturou, e os Estados-nações europeus se tornaram Grandes Potências. Chegou-se ao ponto em que os conflitos entre os Estados europeus repercutiam pelo planeta. Três fatores levaram às Grandes Navegações do século XV e seguintes. O primeiro foi o surgimento de um vívido interesse pelas vantagens que poderiam ser obtidas por meio do comércio. Para alcançarem a Europa, os produtos do Oriente ou da África subsaariana passavam por uma quantidade significativa de intermediários. Tal fato encarecia substancialmente os produtos tão desejados pelos europeus, como cravo, canela, pimenta, gengibre, noz-moscada, seda ou porcelana. A Economia, como força profunda, impulsionaria os europeus para as Grandes Navegações. Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na Europa. Sem eles, era muito mais difícil a compra de bens da Ásia ou da África. Isso também dificultava o desenvolvimento das relações comerciais e, consequentemente, das relações sociais e políticas entre as diversas regiões da Europa. Em terceiro lugar, o século XV foi um momento de grandes melhorias na construção de navios, nos conhecimentos geográficos e nas habilidades navais. Nesse sentido, a tecnologia passou a ser outra força profunda a produzir mudanças na conduta dos Atores internacionais do período. Vale lembrar que o conhecimento, tanto de construção de embarcações quanto de técnicas de navegação, era considerado um bem de extremo valor e cuja proteção era questão de Estado, fundamental para países como Portugal e Espanha. pág. 04 Foram os portugueses que primeiro se lançaram em busca de novas rotas de comércio, desafiando não só a realidade do desconhecido oceano, mas também as ideias e temores do desconhecido gerados pelo imaginário medieval. Apesar dos custos e dos riscos altíssimos, as viagens compensavam pelos também altíssimos lucros obtidos. As viagens geravam, muitas vezes, lucros de até 6.000%. Os lucros serviam, pois, de motor que levava às incursões no litoral da África e à posterior circum-navegação desse continente, bem como às viagens até a Índia e à “descoberta”, pelos europeus, da América. E não tardou para que os europeus – primeiro, os portugueses e espanhóis e, depois, holandeses, franceses e ingleses – instalassem feitorias em locais da Ásia, África e América, que, posteriormente, se transformaram em colônias. O Mapa 2 ilustra os impérios coloniais português (em vermelho) e espanhol (em verde) em seu apogeu. Destaque-se a linha divisória do mundo estabelecida por Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual, com o assentimento do Papa, os dois Estados católicos buscavam legitimar seus direitos sobre as terras “descobertas”. Claro que nem os povos que viviam nessas terras e nem os demais monarcas europeus foram consultados, de modo que rapidamente Inglaterra, França e Holanda questionariam essa hegemonia luso-espanhola, inclusive com a irônica requisição do “testamento de Adão” que garantira aos ibéricos a herança do mundo. Mapa 2: Impérios Coloniais do Século XV (Portugal e Espanha) Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm36.html O fato é que logo as principais potências europeias se lançariam em busca de novas terras e novas rotas, e uma nova rota era se iniciaria nas relações internacionais. Como observa Perry (1999, p. 280), “num desenvolvimento sem precedentes, uma pequena parte do globo, a Europa ocidental, tornara-se a senhora das vias marítimas, dona de muitas terras em todo o mundo e o banqueiro e recebedor de lucros numa economia mundial que começava a despontar”. O pequeno continente dava sinais de seu poder e da dominação que exerceria nos séculos seguintes sobre povos e impérios de todo o globo. Livro indicado Sugerimos a leitura da obra de Paul Kennedy, Ascensão e Queda das Grandes Potências, em que o autor comenta, entre outras coisas, como os povos de um continente fragmentado, com sociedades atrasadas em relação a outras sociedades do planeta, conseguem se lançar nos oceanos e conquistar o mundo e as sociedades mais prósperas e desenvolvidas. há a expansão por terra – com as viagens de Marco Pólo que apresentaram a Europa ao Império Chinês – e por mar – graças a intrépidos navegadores como Cristóvão Colombo (que descobriu a América). O Mapa 3 ilustra a época das grandes navegações e da expansão europeia. ao dobrar o Mapa 3: As Grandes Navegações e as “Descobertas” Européias Fonte: http://perso. de Ridley Scott. plantas. O mapa revela as terras conhecidas pelos europeus no fim do século XVI (em amarelo). São forças profundas que merecem atenção: a tecnologia.houot/Hist/ma/matm34. Para saber mais sobre o filme. dava-se início a um tipo de economia global nunca antes visto. e do francês Jacques Cartier. veja o resumo e o contexto histórico na internet. principalmente. estabeleceu a rota marítima para as Índias. que em 1497 chega à Nova Inglaterra. garantindo a Portugal a hegemonia no comércio com a Ásia) e Fernando de Magalhães (primeira viagem ao redor do mundo – apesar de ele mesmo ter morrido no caminho) –. particularmente na África. iam os catequizadores e a ideia de “obrigação” que tinham os europeus de “difundir o cristianismo aos povos mais atrasados” (missões). 05 Os efeitos para as outras regiões do mundo foram profundos: populações inteiras – especialmente nas Américas – foram dizimadas. junto com os conquistadores. um filme interessante é 1492: A Conquista do Paraíso. 06 . passando a chamá-lo de “Cabo da Boa Esperança”.numericable. Cite-se ainda as viagens do inglês Jean Cabot. e.fr/alhouot/alain. pág. dado o aprimoramento das capacidades bélicas dos europeus e a religião.html “Cabo das Tormentas”. Link Leia também o texto As Grandes Navegações .pág. foram reduzidas à condição de escravas. e um Novo Mundo surge diante do europeu renascentista. Vasco da Gama (o qual. animais e doenças foram espalhadas pelos quatro cantos do mundo. que em 1534 chega à foz do rio São Lourenço e “toma as terras do Canadá para a Coroa Francesa”. outras tantas. A partir das terras conhecidas pelos europeus na Idade Média (trecho em laranja). uma vez que. Vídeo Para melhor compreender o significado das grandes navegações e seu impacto nas relações internacionais dos séculos XV e XVI. 481) observa que “o século XVII se caracterizou na Europa pela emergência de grandes potências. agora tinham uma força militar própria. pois. 07 O terceiro aspecto importante para o desenvolvimento do Estado absolutista foi a criação de uma administração civil ligada ou ao rei ou ao Estado. foi importante a criação de algumas instituições. o exército nacional e a administração pública.html No processo de fortalecimento da monarquia. Alguns. foram bem sucedidos. como Itália e Alemanha. uma nova classe. tinha-se aí o embrião do que seria a burocracia estatal. não conseguiram constituir-se em unidades nacionais até a última metade do século XIX. o soberano se desligava das relações particulares com a nobreza para poder governar. Mapa 4: A Europa no Século XIII Fonte: http://perso. Os Estados nacionais se formaram. O Mapa 4 revela a divisão da Europa no século XIII. o imposto moderno baseava-se na ideia de que a contribuição era feita para a construção de um bem comum. Era formada pelos comerciantes e outros profissionais liberais das cidades que ganhavam força frente à nobreza ao contribuir para o financiamento do Estado moderno. pág. de Perry Anderson. Importante considerar. Hélio Jaguaribe (2001.wanadoo. França e Inglaterra. Enquanto esta se fundava nas relações pessoais de vassalagem. A figura do Estado se fundia com a do soberano. como uma cunha entre o poder local da nobreza e das cidades e o poder universal da Igreja. Ademais. em razão das instituições como o sistema tributário. os reis se fortaleceram e foram decisivos nos processos de construção dos Estados nacionais europeus. como Espanha.houot/index.fr/alain. o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudança no sistema internacional. Dessa forma. Estados em que o poder se encontrava concentrado. Se. Por fim. Essa preocupação se dava. Livro indicado Uma obra importante sobre o Absolutismo é “Linhagens do Estado Absolutista”. Os Estados absolutistas eram. Outros. então. . antes. Por intermédio de guerras. pois precisavam dos senhores feudais e de seus exércitos particulares. também.O Advento do Estado Absolutista A partir do século XIII. se estruturou: a burguesia. A primeira delas foi a do imposto nacional. mantida com os novos impostos arrecadados. que se diferenciava da cobrança de tributos feita pelos senhores feudais. essencial para o governo dos Estados modernos. ocorreu na Europa o fenômeno do fortalecimento do rei e da monarquia. soberano absolutista francês: “L’Etat c’est moi!” (“o Estado sou eu!”). alianças e casamentos. especialmente com o comércio. Daí as palavras atribuídas a Luís XIV. A segunda importante instituição foi a de exércitos nacionais. porque visava à arrecadação de fundos. a preocupação dos Estados absolutistas com a economia nacional. p. nas mãos do rei. cada vez mais próxima do soberano. especialmente sob a forma de metais preciosos e impostos. Nesse sentido. os reis dependiam das relações pessoais com a nobreza. 08 A Reforma No ano de 529. a economia. para reduzir o seu tempo. pois ameaçavam a dominação político-ideológica que a Igreja de Roma exercia sobre os reinos europeus e seus soberanos. acabou por se voltar contra a própria instituição. enfim. viviam em condições medievais. a primeira grande ordem religiosa. os mosteiros passariam a deter o monopólio da educação. As razões foram simples. A maior parte dessas obras era constituída de doações à Igreja. do papa abaixo. De um lado. Como observa Perry (1999. iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa. Martinho Lutero obteve a simpatia de príncipes e de cidades em toda a Alemanha. “obstruído pela riqueza. os príncipes alemães sentiam-se livres para resistir ao Sacro Império Romano. Esse controle. Cada aspecto da vida era rigidamente controlado. o Bispo de Roma. e começavam a ter um papel internacional importante. a busca de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa. A força do Papa. Além disso. tanto política quanto religiosa. Esse acordo basicamente definiu que cada príncipe poderia determinar a religião de seus súditos. teve plena vigência o clássico ensinamento de Agostinho: “é necessário compreender para crer e crer para compreender”. o relaxamento do cumprimento das obrigações espirituais e a venda de indulgências. As consequências da doutrina luterana ultrapassavam a esfera religiosa. as relações de poder no cenário europeu e mundial. sobre a Europa Ocidental era tamanha que. cercadas por países potencialmente poderosos. Mais especificamente. a oeste. No mesmo ano. Além disso. é fundada a Ordem dos Beneditinos. Dali em diante. em última instância. a sociedade. declarou que o bom cristão era aquele que obedecia às leis e à ordem. após a morte. poderia obter a redenção por meio da fé.contrastando com o mundo do Renascimento. o imperador romano Justiniano manifestou-se contra a filosofia. em Atenas. apesar de ser intrinsecamente condenado pelo pecado original. do católico Carlos V. Ao se desqualificar a Igreja Católica. e os turcos. o clero. Esse movimento afetaria definitivamente a política. No princípio do século XVII. iniciando uma acomodação do desenvolvimento cultural em direção à Igreja. criticava-se a supremacia da Igreja sobre os reis. Em um decreto desse ano. quando as cidades-estado da Itália desempenhavam os principais papéis na arena internacional. foi protegido por Frederico. abria-se a possibilidade de confisco das terras desta pelos príncipes e nobres e do fim dos pesados tributos que a ela eram pagos. tornou-se alvo de um bombardeio de críticas. no purgatório. tinha fé em Deus de acordo com sua doutrina e seus sacramentos. a corrupção. viciado no poder internacional e protegendo seus próprios interesses. a Igreja Católica tinha um domínio cultural. do arrependimento pessoal. Lutero defendia que o homem. que. que marcou o fim do monopólio religioso da Igreja Católica Romana sobre a Europa Ocidental. De outro. a Academia de Platão. De fato. A Reforma se iniciou em 1517. Na Idade Média. obteve proteção da aristocracia europeia. da reflexão e da meditação. . a dispensa da necessidade da própria Igreja para que o homem tivesse sua religiosidade e seu contato com o Criador. como a França. o nepotismo. em 1555. do arrependimento pelos pecados e pela confiança na piedade de Deus. a cultura. fora fechada. na Alemanha. Inúmeros cristãos passaram a criticar abertamente as práticas da Igreja e do clero. Lutero. a Espanha e a Inglaterra. praticamente em toda a Europa Ocidental. Lutero questionava a validade moral da venda de indulgência e a possibilidade de que elas poderiam redimir o homem pecador. Lutero deixou claro que não desejava de forma alguma ser uma ameaça à autoridade política dos príncipes alemães. O mais famoso e mais importante crítico da Igreja foi o monge Martinho Lutero. 231)." pág. 09 Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge propunha. pág. em vida. político. econômico e espiritual único. ao contrário de outros que atacaram a Igreja. no entanto. com as críticas de Lutero à venda de indulgências. Posteriormente. Indulgências eram obras que os cristãos faziam. a leste – acabou por assinar a Paz de Augsburgo. no entanto. esses países tinham conseguido em grande parte alcançar sua integração nacional. a Igreja podia proclamar que cada pessoa. Até a Reforma.”. príncipe da Saxônia. além do monopólio sobre a fé da cristandade. pressionado por ameaças externas – a França. no século XIII. p. Este. No século XVI. numericable. de Eric Till. a reconversão dos que se afastaram da Igreja. Trata-se de filme interessante para auxiliar na compreensão da Reforma e da Contrarreforma. ele organizou os jesuítas de forma rígida e altamente disciplinada. Por outro lado. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. p. 242). deu-se sob diversas formas. modificou ou eliminou muito dos pontos criticados pelos protestantes. “a princípio. Cite-se ainda a constante pressão do Império Otomano. Vídeo . A reação católica.houot/Hist/ma/matm32. católicos fiéis a Roma (em rosa) e ortodoxos (em laranja). mas alianças com Constantinopla muitas vezes eram consideradas. no norte. pág. A Contrarreforma também enfatizava a pregação. a construção de templos. temos a Europa no século XVI. de 1545 a 1563. A Reforma significou o enfraquecimento da Igreja e o consequente fortalecimento dos Estados.Vídeo Lutero. Mapa 5: A Europa à Época da Reforma: a Divisão da Cristandade Fonte: http://perso.html É importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa parte da Europa. também. a censura. Veja.fr/alhouot/alain. 10 No Mapa 5. baluarte do mundo islâmico e um Ator muito relevante no cenário europeu da época. Também é importante ressaltar que a Igreja. a venda de indulgências. conta a história do monge alemão que se rebelou contra o abuso de poder na Igreja Católica há 500 anos. A primeira delas foi no campo da atuação religiosa. não só da linha luterana. Essa tensão permaneceria e seria especialmente sentida no século seguinte. O protestantismo. por exemplo. no sul do continente. como. Além disso. a Europa se viu dividida em duas: uma protestante. Como observa Perry (1999. Como fora treinado como soldado. a perseguição a protestantes e a outros hereges. Link As 95 teses de Lutero que abalaram a Europa renascentista estão disponíveis em um sitio interessante: a Revista Espaço Acadêmico. e outra católica. Claro que as disputas da cristandade centravam-se em católicos x protestantes. dividida entre os diferentes grupos de protestantes (em verde) – calvinistas. espalhou-se com muita rapidez por todo o norte do continente. a energia para a reforma veio do clero comum. a biografia do monge. luteranos e anglicanos –. por intermédio do Concílio de Trento. o Concílio não fez nenhuma concessão ao protestantismo. a Contrarreforma. bem como de leigos como Inácio de Loyola”. pois a tentativa militar dos católicos de conter o protestantismo. as disputas entre católicos e protestantes teriam um importante reflexo nas relações internacionais europeias durante mais de dois séculos. Isso não apenas fez ressurgir. Essas rivalidades religiosas e políticas culminariam na Guerra dos Trinta Anos. Países Baixos. em laranja). Herdados do século precedente. católica. Milão. de Patrice Chéreau. mas também levou a Espanha a perder a sua condição de principal potência do continente europeu. Filipinas e enclaves na África. que foi. 11 De fato. e a adoção de políticas equivocadas” Importante lembrar que a Espanha. e seus efeitos alcançam nossos dias. compromissos ideológicos utópicos. pág. incluindo o Brasil. 485). eles culminaram na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)". as colônias da América. as guerras religiosas do século anterior. primeiro grande conflito armado dos tempos modernos. Envolveu a Alemanha. não tardaram a ocupar o seu lugar de destaque. Jaguaribe (2001. frequentemente. Com isso. que tinha um império que englobava a Espanha e a Áustria. A França surgiu como um país importante enquanto a Inglaterra preparou o terreno. a família Habsburgo ficou dividida em dois ramos. 12 A Guerra A chamada Guerra dos Trinta Anos começou em 1618 como conflito religioso entre católicos e protestantes na Boêmia e adquiriu caráter político em torno das contradições entre Estados territoriais e principados. o sul da Itália. O Mapa 6 ilustra a Europa em 1600. Do ponto de vista das relações internacionais. O domínio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a Península Ibérica. 486) observa que a decadência espanhola “resultou da combinação de quatro causas principais: certas debilidades institucionais. o grande hegemon europeu.houot/Hist/ancien_R/ancienr7. colônias americanas e Itália ficaram para seu filho Felipe II (no mapa. p. dividida entre reinos católicos e protestantes.fr/alhouot/alain. pág. o Imperador Carlos V. Em 1556. aliados. a dinastia dos Habsburgos.html Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos. de outro. em grau muito maior. estruturas sociais predatórias. a Espanha. O século XVII. os novos Estados protestantes aliavam-se para se contrapor à dominação hegemônica da Igreja e de seu principal defensor político. em especial porque estavam associadas também às rivalidades entre as Potências europeias. envolveu grande parte da Europa. a Áustria. Essa grande confrontação do século XVII poria termo ao período de um século de disputas entre católicos e protestantes e daria início a um novo sistema europeu de relações internacionais cujos fundamentos alcançariam o século XXI. especialmente nas últimas décadas do século. Mapa 6: A Europa em 1600 Fonte: http://perso. abdicou e dividiu em dois os seus domínios: de um lado. era a potência hegemônica no início do século XVII. Um filme muito interessante para se compreender o período é A Rainha Margot. Seus concorrentes. A GUERRA DOS TRINTA ANOS (1618-1648) A Guerra dos Trinta Anos. O sistema internacional no século XVII foi marcado inicialmente pela preponderância da Espanha. ressalta Jaguaribe (2001. Veja o resumo e o contexto histórico do filme. Especialmente equivocada foi a decisão espanhola de ser defensora da fé católica. convém um rápido parêntese. A perda da hegemonia espanhola esteve ligada a vários fatores. que ficou com seu irmão Fernando (em amarelo). ambos católicos e. porém. "foi marcado pelos conflitos religiosos mais agudos já ocorrido no ocidente. após ter assinado a Paz de Augsburgo. .numericable.Os conflitos entre católicos e protestantes marcaram a Europa por dois séculos. p. ilhas no Mediterrâneo. para se tornar hegemônica no século seguinte. de 1618 a 1648. de súbito. assinado em janeiro de 1648. se mostrou impossível de ser vencida de maneira efetiva. Essa conduta garantiria o fortalecimento da França nos anos seguintes. em 1619. p. a França não hesitou em aliar-se aos protestantes para se contrapor à hegemonia espanhola. quando necessário. Apesar de católica. Segundo Perry (1999.). No tumulto desse conflito trágico. Quando a guerra terminou. Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999. manteve-se afastado por duzentos anos. “se foi possível chegar finalmente a um acordo negociado. Os franceses. Richelieu estava convencido de que a continuidade da França como grande poder internacional dependia da guerra contra os Habsburgos. aliás. 266): A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (. Primeiramente. O mais importante deles na primeira fase da Guerra. Assim. Sob o comando do cardeal Richelieu. e uma Nova Ordem seria estabelecida no cenário europeu e. Em outubro do mesmo ano. 13 A Paz de Westfália (1648) A paz foi alcançada porque a guerra. ou. p.. nas relações internacionais da Era Moderna. pressionada por seus aliados alemães. a Suécia. as Províncias Unidas [Holanda].) tentaram colocar no seu trono um rei protestante. . França e Suécia. O fantasma de uma Alemanha unificada. de forma encoberta. a França.. (. Na época. posicionou-se contra estes. mais tarde até ao Império Otomano muçulmano”..) não só era mais vasto e mais bem defendido como também dispunha de uma clientela em que se contavam quase todos os países europeus. enfraquecida e amputada. A Inglaterra.. a França financiava ou apoiava todos os que se opusessem ao domínio austríaco ou espanhol. o Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no continente. apesar de católica como os austríacos. em 1648. A Casa da Áustria já não era um perigo para a paz europeia. Começara a era da preponderância francesa na Europa”. a situação de preponderância adquirida pela França. p. depois de maneira ostensiva.). depois de disputas ferozes. p. Do fracasso dessas tentativas.). consequentemente. o prestígio intelectual e artístico da França não cessava de crescer.. p. a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera quase um terço de sua população. de modo que. Os tratados de Westfália significaram o fim das ambições dos Habsburgos austríacos e espanhóis e a vitória da política externa francesa. Richelieu criou ou ajudou a criar conceitos como o de “razão de estado” e “equilíbrio de poder”. pág. o cardeal Richelieu enxertou o princípio da raison d´état (razão de estado) na política externa francesa. a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as grandes Potências atuam no cenário internacional. Carpentier e Lebrun (1993. a Espanha também selou a paz com os franceses.. foi o rei da Suécia.. O facto essencial era. Hungria.. 229) anotam que a Europa era “politicamente muito diferente da de 1560 ou 1600. 483). imperador do Sacro Império Romano-Germânico era também rei da Boêmia. A possibilidade de paz entre Fernando II e os príncipes alemães leva à cena um novo Ator. independentes e aumentadas. Holanda. ainda tiveram algumas importantes conquistas territoriais. em 1643. brotou o equilíbrio de poder. exaurir os Habsburgos e impedir a emergência de uma grande potência nas fronteiras da França – especialmente na fronteira alemã.. A França. eram já grandes potências (. Os Habsburgos austríacos e espanhóis reagiram. a França. Henry Kissinger (1999. isso se deveu à incapacidade dos Atores em conflito de impor pela força os seus respectivos dogmas”. A maneira como Richelieu se portou politicamente influenciaria o sistema internacional pelos próximos séculos. 63): “o objetivo de Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da França. derrotou o até então imbatível exército espanhol na batalha de Rocroy. O resultado foi o envolvimento de outros príncipes protestantes. mandando um exército ao reino da Boêmia. após as suas várias fases. Espanha. Assim. Fernando II. princípio que os outros estados europeus adotaram nos cem anos seguintes”. já se não contava entre as potências de primeira plana. pôs fim à guerra entre Espanha e Holanda. Seu único critério para alianças era que elas atendessem aos interesses da França. aplicado primeiramente aos estados protestantes. além de acabarem com as pretensões dos seus adversários. iniciada com Richelieu. o custo dessa derrota foi altíssimo. pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exército e a vida de 15 mil soldados. Os rebeldes negaram-lhe esse título e entronizaram o príncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado. ameaça à França pelo leste. Importante para o início da Guerra dos Trinta Anos foi a ascensão de Fernando II ao trono austríaco. preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria. O reino (... guerreavam diretamente contra eles. 60) analisa que “de início. O primeiro dos tratados. Gustavo Adolfo.) A Espanha. morto em batalha naquele ano. Para a Espanha. todavia. A Boêmia sofreu uma devastação quase inimaginável: três quartos de suas cidades foram saqueadas e queimadas e sua aristocracia foi praticamente exterminada. saída do isolamento em que havia ficado a seguir à guerra civil (. dominadora do Báltico.Áustria. A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648). ele [Richelieu] queria impedir a dominação dos Habsburgos sobre a Europa. Link Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o sítio “Vultos e episódios da Época Moderna”. Dinamarca. todo o império foi forçado a tomar partido dentro de linhas religiosas. depois como forma de organizar relações internacionais (. que vai até 1632. primeiro como um fato da vida. Segundo Jaguaribe (2001. De resto. mas ao final deixou um legado que por dois séculos provocou seus sucessores a tentarem o primado francês na Europa.. com o fim da guerra e o declínio do poder espanhol. que depositava a autoridade suprema no Império e no Papado. se tornaria bandeira dos iluministas. 15 A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália A história europeia após o tratado de Westfália é a contínua busca. isto é. Ficou. a esse intento. político ou religioso. um novo tipo de Sistema Internacional.html pág. no século seguinte. então. exposta e defendida pelo Cardeal Richelieu. Importante também sublinhar que o primeiro ponto em que os diplomatas em Westfália acordaram foi que as três confissões religiosas dominantes no Sacro Império (o catolicismo. propiciando o triunfo da igualdade jurídica dos Estados. cujos Atores eram. Na busca desses objetivos. A maior parte dessas fronteiras acabaria modificada nos séculos seguintes. com o objetivo de suspender as garantias de privacidade de qualquer Estado frente a uma situação de emergência ou de flagrante violação dos direitos humanos. essencialmente. extraída das experiências provocadas pela Guerra dos Trinta Anos. Além disso. como John Locke e Voltaire. O Tratado de Westfália. Mapa 7: A Europa em 1648 Fonte: http://perso. por parte dos demais Atores europeus. consagrado o modelo da soberania externa absoluta. registra Kissinger (1999. Isso não só abria uma brecha no despotismo como abria caminho para a concepção de tolerância religiosa. eius religio). que dizia que o povo tinha que seguir a religião do seu príncipe (cuius regios. os Estados. Ao contrário de boa parte dos acordos e pactos que eram firmados anteriormente. dando-lhes direito de intervenção nos assuntos internos dos reinos e principados. Rousseau) e. um forte movimento supranacional intervencionista. tendo início uma ordem internacional protagonizada por Atores com poder supremo dentro de fronteiras territoriais estabelecidas.houot/Hist/ancien_R/ancienr9. assim. trariam os elementos caracterizadores da soberania que seriam adotados por várias Constituições: unidade. inalienabilidade e imprescritibilidade. defendia que um reino tem interesses permanentes que o colocam acima das motivações religiosas. . Essa situação político-jurídica perdura até os nossos dias. a disposição anterior nesse assunto. firmada pela Paz de Augsburgo. a história posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princípio da anti-hegemonia. ele não serviu apenas para pôr fim a um conflito. Mais tarde. de obtenção da hegemonia europeia e a resistência. particularmente da parte dos EUA.numericable. foi substituído pelo conceito de soberania de Estado. pode-se perceber a nova configuração de poder no continente europeu. os contratualistas (Locke. foi responsável por grandes mudanças no sistema internacional europeu. Além disso. por parte da França. imperam as relações pragmáticas e as alianças de ocasião. Nasce. de 1648. Além disso. os Estados. então. assim.fr/alhouot/alain. “a raison d’état [razão de estado] passou a ser o princípio orientador da diplomacia europeia”. 14 O legado de Westfália Importante sublinhar que o Tratado de Westfália marca o fim de cento e cinquenta anos de conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das ambições dos Habsburgos. No século que se seguiu à Paz de Westfália. apesar de haver hoje. pág. inaugurando-se um novo sistema em que os Estados têm direitos iguais baseados numa ordem constituída por tratados e pela sujeição à lei internacional.No Mapa 7. com destaque para as fronteiras nacionais e os limites assegurados pelo Tratado de Westfália. Trata-se de um momento histórico fundamental para as Relações Internacionais. os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a potência hegemônica (balanço de poder). indivisibilidade. que. independentemente do tamanho. em 1789. Essa igualdade jurídica elevou os Estados ao patamar de únicos Atores nas políticas internacionais. p. Revogava-se. inaugurou uma nova fase na história política daquele continente. eliminando o poder da Igreja nas relações entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de escolher seu próprio caminho econômico. a nova doutrina da Razão de Estado. O Tratado de Westfália. mas também para tornar o Estado o principal Ator das relações internacionais. com o que ficaram estabelecidas sólidas bases para uma regulamentação internacional mínima. O antigo sistema medieval. o luteranismo e o calvinismo) seriam consideradas iguais. em 1555. se viram como iguais e participantes de um mesmo Sistema Internacional. 66). a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. prosseguia a evolução para o regime parlamentar – e a França – onde o absolutismo de Luís XV e Luís XVI enfrentava dificuldades cada vez maiores – veio a dar a vantagem à Inglaterra. que havia sido da Espanha sob os Habsburgos. “A luta. Daí a expansão do Iluminismo pela Europa e Américas.. LEBRUN. procurava conseguir que a Rússia saísse do seu isolamento” (CARPENTIER. de Paul Kennedy -. 16 A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderância marítima da Inglaterra e pelo equilíbrio das potências continentais. A França. no qual a sociedade internacional era influenciada pela sociedade francesa.fr/alhouot/alain. A Áustria recuou de suas pretensões na Alemanha e conquistou. mas equilibravam-se e chegaram a acordo para crescer à custa do Império Otomano e da Polônia. que foi totalmente desmembrada” (CARPENTIER. é "Diplomacia". Mapa 8: A Europa no Início do Século XVIII Fonte: http://perso. A ‘Grande Nação’ impôs-se. p. gradativamente. que inspirava e financiava as diversas coligações das coroas. como ocorre hoje com a língua inglesa e o american way of life. a Europa respirou ao ritmo da França. A Espanha lentamente se retirava do papel de potência de primeira ordem. em virtude de transformações radicais no interior do hegemon. porém. primeiro. que abalou a estrutura de poder no interior da Potência hegemônica e acabou repercutindo em todo o continente – chegando inclusive ao Novo Mundo – com as guerras napoleônicas. O último período vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do apogeu e do fracasso do projeto de uma Europa francesa. a Prússia de Frederico II.houot/Hist/ancien_R/ancienr11. os costumes e até o idioma francês influenciando outros povos ou gerando reações nacionalistas. De 1792 até 1815. pela das armas. Livro indicado Mais um livro útil como referência sobre o período a partir de uma perspectiva de Relações Internacionais. a Prússia começava a salientarse. Na Europa Central e Oriental. 247). 233). a partir da Revolução Gloriosa. depois. a Áustria de Maria Teresa e José II e a Rússia de Isabel e de Catarina II eram concorrentes entre si. “Entre 1789 e 1815. e Pedro. tornou-se uma monarquia em que o Parlamento tinha papel preponderante. Essa ordem começou a ruir quando se modificou o equilíbrio de poder no continente. vastas regiões ao longo do rio Danúbio. mais ou menos diretamente. nesta sua última pretensão perante a coligação dos Estados europeus – enquanto. Napoleão Bonaparte. tentou construir uma Europa Continental francesa. acabaria por vencer o Grande Império. Sob o prisma das Relações Internacionais. o sistema passou a gravitar em torno da França. na Europa Central e Oriental. de Henry Kissinger. a guerra opôs permanentemente a França às monarquias europeias. p. cujos sentimentos ajudara a despertar” (CARPENTIER. então. no mar e nas colônias. vítima não só dos reis como também dos povos. a sua lei à Europa.“Ascensão e Queda das Grandes Potências". 277). a França ascendeu à condição de Potência hegemônica.html pág. o Grande. Essa Europa do início do século XVIII encontra-se no Mapa 8. a despeito das tendências de poder pessoal de Jorge III. entre a Inglaterra – onde. além do já sugerido anteriormente .O período pode ser dividido em três fases: A primeira vai de 1648 a 1740 e é de preponderância francesa. Na Nova Ordem estabelecida a partir de Westfália. 1993. convém observar a importância da Potência hegemônica em um sistema e o grau de influência sobre os outros Atores. herdeiro dessa guerra. O século que se seguiu à Guerra dos Trinta Anos foi um século francês. . A maior dessas transformações foi a Revolução Francesa. LEBRUN. LEBRUN. p. Mas a obstinação britânica. A França foi. 1993. pela força das ideias e. 1993. que se tornou a primeira potência mundial graças à sua superioridade marítima e ao avanço resultante dos começos da revolução industrial. A Inglaterra.) por reforçar o absolutismo monárquico em França e por impor.numericable.. Falhou. especialmente sob Luís XIV “esforçou-se (. Assim. de 1688. releia a unidade. os novos atores entre as Grandes Potências fora da Europa.Trilhas. assista aos vídeos A Evolução do Homem e Navegar é Preciso. links na Internet. os nacionalismos e as unificações da Itália e da Alemanha. particularmente sobre: Os antecedentes da Nova Ordem do século XIX: a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas. o aluno deverá ser capaz de discorrer sobre os principais aspectos das relações internacionais do século XIX. Comunicação Caso não esteja seguro com relação ao domínio de tal conteúdo. As Revoluções do século XIX.A Nova Ordem Internacional do Século XIX Objetivos Ao concluir o estudo desta Unidade. Você pode também consultar o seu Tutor. Estado-nação.Vídeo Para fixar o conteúdo desta Unidade. . o neocolonialismo. os exercícios de fixação oferecidos e de. Atenção Bom estudo! Não se esqueça de fazer anotações. em caso de dúvidas. reveja suas anotações pessoais. Avaliação Objetiva Atividades de autoavaliação . realizar atividades propostas para tornar o curso mais dinâmico: filmes. da nossa série Conexão Mundo. livros.No menu lateral. Unidade 2 . acesse em "Avaliações . a ascensão da Alemanha unificada como Grande Potência. por meio do "Fale com o tutor/colegas" localizada no menu Comunicação da Plataforma de Educação a Distância .Objetivas" a opção referente à unidade/módulo estudado (M2U1). de abordar com comprometimento as autoavaliações. sempre que possível. O congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu. Além disso. As cabeças coroadas da Europa não poderiam arriscar que um de seus membros mais importantes fosse derrubado por um levante popular. a Bastilha. Preso no meio do caminho. Note-se como a França Revolucionária estava cercada pelas potências absolutistas defensoras do Antigo Regime. pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os valores burgueses. Apesar disso. também naquele ano. pois.pág. de maneira praticamente inédita no país. 01 A NOVA ORDEM INTERNACIONAL DO SÉCULO XIX . Eram mudanças que afetavam o cerne de uma ordem doméstica tradicional e que acabariam afetando as estruturas da ordem internacional que tinha a França como principal protagonista. podemos perceber como transformações nas Grandes Potências acabam afetando todo o sistema internacional. 02 Assim. a monarquia aliou-se à burguesia e ao mesmo tempo manteve-se unida à nobreza e ao alto clero. a Revolução tinha por lema "Liberdade.fr/alhouot/alain. a reação. o símbolo do poder real. com os camponeses se sublevando e questionando. A República foi proclamada. concedendo privilégios a esses dois últimos grupos. uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada como preparativo para uma Constituição. a ofensiva dos países da coalizão). em um estado quase permanente de guerra. Mapa 9: A Europa à época da Revolução Francesa Fonte: http://perso. foi levado de volta a Paris e guilhotinado. foi tomada de assalto. Não tardou. então a Potência hegemônica no continente. De fato. proporcionalmente ao grau de poder dessa Potência. porque retirava os alicerces do Antigo Regime. Após um período de contrarrevolução e de agravamento dos conflitos internos. o poder . Nesse contexto.html Registre-se que essa ressonância da Revolução Francesa foi tanto prática quanto simbólica. Igualdade. O Mapa 9 apresenta a configuração política da Europa à época da Revolução Francesa. palácios foram saqueados e revoltas ocorreram no campo. a Revolução era perigosa.houot/Hist/ancien_R/ancienr13. as transformações que marcariam a Europa e a civilização ocidental no século XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas mudanças ocorridas no âmbito doméstico da França. o modelo de servidão estabelecido pelo sistema feudal. A Revolução foi marcante por ter atingido a principal monarquia europeia e o maior e mais populoso país europeu (se excluída a Rússia). Denominou-se Antigo Regime à ordem estabelecida na Idade Moderna na qual a monarquia absolutista conjugou-se com as principais forças políticas da sociedade: por meio do Mercantilismo. Internamente. e a França se viu. Inspirada pelos ideais iluministas e liderada pela burguesia com apoio popular. e a Igreja foi subordinada ao Estado. Como se não bastasse.numericable. muitas vezes em detrimento da burguesia e sempre às custas dos impostos cobrados do povo. A título de exemplo.ANTECEDENTES A Revolução Francesa A Revolução Francesa (1789) foi um evento que marcou profundamente a sociedade europeia. Fraternidade" e ressonou em todo o mundo. Exemplo recente disso são as mudanças ocorridas nos EUA após o 11 de setembro de 2001 e seus efeitos em todo o globo pág. As Potências Europeias promoveram ataques contra o território francês na tentativa de restabelecer o trono de Luís XVI e o Antigo Regime (vide Mapa 10 – em roxo. foi apenas em 1789 que. os ideais revolucionários se expandiriam para muito além das fronteiras do Reino da França. para os defensores da ordem. Luís XVI tentou fugir para o exterior. uma Assembleia Nacional foi eleita e aboliu o feudalismo e seus privilégios. Nesse sentido. externamente. da Europa ao continente americano. Foi marco e referência para grandes transformações sociais e políticas que aconteceriam pelo mundo nos séculos seguintes. a Revolução mergulhou no Terror – aproximadamente 40 mil pessoas morreram – e na luta entre as diversas facções. pela primeira vez na história da França. essencialmente a Áustria e a Rússia.As zonas de “resistência passiva”.html pág. que. exigiram que se concedessem direitos civis aos judeus e combateram a interferência do clero na autoridade secular.) calcularam que o melhor meio de encerrar a luta contra a França era pôr em prática extensas reformas sociais (abolição da servidão e dos direitos feudais). era avesso ao feudalismo. 1999. mas o Antigo Regime foi eliminado pelas autoridades francesas.As zonas “assimiladas”. Napoleão sonhava com uma Europa em que. quando a França enfrentou várias alianças de Potências europeias. pág. Napoleão Bonaparte. já possuía um regime suficientemente liberal para que tivesse a tentação ardente de imitar a França. onde a anexação foi indireta. 03 Napoleão Bonaparte Napoleão. O império napoleônico chegou a dominar parte significativa da Europa. Seus funcionários instituíram o Código Napoleônico. era defender e difundir os ideais da Revolução Francesa. . em grande parte. 339). essencialmente a Prússia. p. Bonaparte era visto.. Isso se deu. .) Napoleão dera início a uma revolução social de amplitude europeia. 8): . admirava a uniformidade e a eficiência administrativas. não houvesse mais .. a igualdade estabelecida perante a lei.numericable..As zonas de “resistência positiva”. Além de abolir a servidão.As zonas de “influência”. o objetivo passou a ser a expansão da influência e do território franceses. do Grão-Ducado de Varsóvia. anexadas ao território do grande Império. do Reino da Sicília e do Reino de Nápoles. que atacou os privilégios da aristocracia e do clero – que se referiam a ele como o ‘jacobino coroado’ – e beneficiou a burguesia” (PERRY. assumiu o controle do governo em novembro de 1799. 1999.. por outro. eliminaram os tribunais clericais. p. porque o general corso estendeu. pertencia à tradição do despotismo esclarecido do século XVIII. “na verdade. Mapa 10: A Revolução Ameaçada (1792-1794) Fonte: http://perso. sob a hegemonia francesa. autorizaram o casamento civil. p. Um deles. a servidão e o Tchin (nobreza ligada à função pública) na Rússia. . mas. os pagamentos senhoriais e as cortes da nobreza. os direitos feudais foram suprimidos. Enfim. Vejamos como se deu a influência das ideias e das novas instituições. 344). “com diferentes graus de determinação e sucesso.) as reformas da Revolução a outras terras. Apesar de não se identificar com o republicanismo e com a democracia das fases mais radicais da Revolução. o código napoleônico adotado e a administração calcada sobre a da França. onde a luta contra a França não se fez acompanhar de nenhuma reforma profunda: o sistema senhorial foi mantido na Áustria. (. onde os dirigentes (.passou para as mãos dos generais. jamais havia sido conquistada e. Da mesma maneira que os déspotas reformadores. segundo Duroselle (1976. O principal motivo das campanhas francesas. à perseguição religiosa e à desigualdade civil e defendia a regulamentação governamental na indústria e no comércio” (PERRY.fr/alhouot/alain. pelos demais países europeus como seu continuador. com a ascensão de Napoleão.. a Era Napoleônica foi marcada por uma série de conflitos armados ocorridos entre 1799 e 1815. a Inglaterra.. ou efetivamente vassalas (reino da Itália): aí. por um lado.houot/Hist/Rev_Emp/revemp3. 04 Portanto. abriram carreiras de talento e nivelaram os encargos tributários. organizaram um serviço civil efetivo. fomentaram a liberdade religiosa. (. após 1789. É o caso da maior parte da Alemanha entre o Reno e o Elba. depois de 1800 chamada de “Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda”. em março de 1815. irmão de Luís XVI.espaço para as estruturas absolutistas do Antigo Regime. de forma irreversível. Seus efeitos alcançaram o continente americano. sua terra natal). Os membros da Coalizão reuniramse. no Atlântico Sul. O mundo passou. até a Primeira Guerra Mundial. onde morreu em 1821. Apesar de todos os negociadores serem adversários da Revolução. Foi o mais longo período de paz da história da Europa ou. não houve uma guerra sequer entre as grandes Potências e. Após a Batalha de Leipzig. exceto pela Guerra FrancoPrussiana de 1871. Prússia. repercutindo nos processos de independência de toda a América Latina e nos princípios jurídicos e políticos que regeriam os novos governos na região. Sem tempo para preparar um exército. as sementes dos ideais revolucionários de 1789 foram plantadas e germinariam nas décadas seguintes. estavam .a Coalizão. nenhum conflito importante ocorreu. entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia (1854). A rebelião contra o império se estendeu à Itália. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa em 1815 o fizeram preocupados em evitar que a ordem sofresse novos abalos. enquanto era traçado o novo mapa europeu. No entanto. isto é. Nessas regiões. perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 600 mil homens que participaram da desastrosa campanha. Apesar da derrota definitiva em 1815. Áustria. portanto. Os russos simplesmente abandonaram Moscou. pág. a Batalha das Nações. Sem abrigo ou provisões. as Potências europeias. Luís XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de Viena. O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 25 anos anteriores. No Mapa 11. Para a contenção do expansionismo francês. Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando até Moscou. pode-se ter a ideia da dimensão do Império Napoleônico em seu apogeu (em verde). voltou à França. foram necessárias várias coalizões das Grandes Potências. Inglaterra e Suécia formaram a 6. no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa. o exército francês. 05 Em 1812. enfrentando o rigoroso inverno. enquanto os exércitos franceses estavam sendo derrotados na Península Ibérica por forças espanholas e inglesas. Napoleão fugiu de Elba. mas foi derrotado definitivamente na Batalha de Waterloo (18 de junho de 1815). o período em que não houve nenhuma guerra que envolvesse.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. um grande exército da 6. Napoleão foi então mantido prisioneiro na Ilha de Santa Helena. então. Rússia. Bélgica e Holanda. obrigado a renunciar. Entretanto. Napoleão derrotou os exércitos da Rússia e da Prússia. as ações de Napoleão e os ideais revolucionários atingiram. de forma generalizada. Durante 40 anos. Áustria. os exércitos de Napoleão abandonaram os principados alemães. depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. mas estes aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para a Bélgica. 06 O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional baseado no equilíbrio de poder entre as Potências europeias que durou cem anos. foi obrigado a deixar a Rússia sob o intenso fogo do exército russo. Não obstante. nos 60 anos seguintes. Prússia e Rússia. Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleão. As relações internacionais nunca mais seriam como antes. O rei enviou uma guarnição de soldados para prendê-lo.ª Coalizão e declararam guerra à França. Em 1814. Mapa 11: O Império Napoleônico em seu Apogeu (1810-1811): pág. o Antigo Regime em boa parte da Europa e aceleraram o processo de modernização do continente. por grandes transformações em virtude da Era Napoleônica. Chegaram ao fim as Guerras Napoleônicas. Bonaparte enfrentou novos combates. em 1813. pelo menos. Napoleão. estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 não poderia voltar a ser aquela de 1792. e iniciou a formação de um novo exército. a vitória logo se converteu em grande derrota. composta por Inglaterra. Contra Napoleão foi rapidamente formada uma 7. foi exilado na Ilha de Elba (próxima da Córsega. e a monarquia francesa restaurada com Luís XVIII. A partir de 1815. o mapa da Europa sofreu alterações importantes que refletiam a nova configuração de poder estabelecida pelas Grandes Potências. Estava estruturado o Concerto Europeu. Como resultado de habilidosa diplomacia. excluía o sultão otomano. Assim. pág. Áustria e Prússia) em 20 de novembro de 1815. contra a França. 5). Dois tratados pós-Congresso de Viena merecem destaque. p. porém. puramente prático. outro. pela qual os britânicos atuaram. Mas ‘na ordem das combinações legítimas. pág. firmado entre o Czar da Rússia. trabalhadores. Fundando-se no mundo cristão. restabelecer a ‘legitimidade’ dos soberanos. 4): Primeiro. assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rússia. Rússia. utilizados com flexibilidade e em proveito dos grandes Estados os dois princípios. desigual. por exemplo. entre os Quatro Grandes (Inglaterra. Na conformação do novo sistema de equilíbrio europeu. Áustria. burgueses estavam descontentes com o restabelecimento do Antigo Regime.houot/Hist/xix/xix1. por exemplo. o da legitimidade. 08 . Sua condição hegemônica tinha sido excessivamente danosa para as outras Potências europeias. em grande parte. os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento territorial do Império Otomano. O Congresso de Viena foi realizado sob o signo de se evitar que ela ameaçasse novamente o resto do continente. a concorrência e a inimizade que iriam marcar as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte do século XIX. não pode ser deixado de lado. 07 O Tratado da Santa Aliança estabelecia a restauração na Europa da ordem religiosa e monárquica. O primeiro é o Tratado da Santa Aliança. e a expansão desses ideais liberais foi um dos objetivos da política externa inglesa no século XIX. A Alemanha. O equilíbrio de forças entre Inglaterra. liberais. apesar de o Czar desejar que o sistema abarcasse a França e a Espanha. democratas. “a ‘Santa Aliança’. Rússia. Rússia. Segundo Duroselle (1976. por meio do qual as Grandes Potências europeias conduziriam o continente por décadas. então. o do equilíbrio europeu. clerical. Intelectuais. aristocrática e. já em 1818 os franceses conseguiram associar-se à política de garantia da ordem na Europa. O segundo é o tratado conhecido como o da Quádrupla Aliança. Sob diversos matizes ideológicos. Era uma Europa legitimista. Importante registrar. O século XIX seria o século da Paz na Europa e da hegemonia europeia sobre todo o planeta. A Inglaterra. na independência das colônias espanholas e portuguesas na América e na organização dessas novas nações americanas. Isso explica. o século XIX testemunhou um longo desenrolar de revoluções. produto dos sonhos do Czar tinha pouca consistência. Prússia e França garantia a estabilidade. a França continuava a grande preocupação. que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a Europa e pelo mundo. Nas palavras de Duroselle (1976.html Até 1830. ligar-se de preferência àquelas que podem com maior eficácia concorrer para o estabelecimento e conservação de um verdadeiro equilíbrio’. o Imperador da Áustria e o Rei da Prússia. Como resultado dos debates de Viena. Para isso. o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre Inglaterra. estabelecia-se um verdadeiro consórcio entre as Grandes Potências europeias. Da mesma forma. divulgava mais e mais o liberalismo político e econômico.fr/alhouot/alain. fundamento do Antigo Regime que a Revolução Francesa quis derrubar. que o fantasma de 1789 não desapareceu. a Áustria e a Prússia. p.” Mapa 12: O Congresso de Viena (1815) Fonte: http://perso. seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio europeu.numericable. em 26 de setembro de 1815. Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à estabilização política da França.determinados a evitar novas catástrofes. Serão. principalmente. no entanto. uma vez que nenhum desses Estados ou qualquer outro país europeu era suficientemente poderoso para enfrentar sozinho uma coalizão formada pelos demais. a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. passou de 300 Estados para 38 (comparar o Mapa 12 com o Mapa 11). Um fato. a Inglaterra. e que a verdadeira realidade era a Quádrupla Aliança. direta ou indiretamente. A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminação dos traços da Revolução Francesa. um moral e jurídico. reacionária. Em 1830. Propagou-se o sistema parlamentar (com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob monarquias constitucionais. as estrelas em amarelo apontam as insurreições. As estrelas vermelhas e verdes apontam os centros revolucionários. bem como as investidas contrarrevolucionárias.numericable. houve três grandes ondas revolucionárias: 1820.html pág. as setas verdes.houot/Hist/xix/xix4. Já em 1848.O Século das Revoluções A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados europeus. No Mapa 13. as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária francesa e. 1830 e 1848. a agitação popular tornava-se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”). A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Politicamente. No Mapa 14. período de grande tensão. as setas pretas a propagação da onda revolucionária. a difusão da onda austríaca. ou seja. 09 A França era o ponto de irradiação. que começava a reunir os jacobinos mais extremados. Apesar desse quadro de tranquilidade.fr/alhouot/alain. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848. o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas. O período entre 1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços. dada a classe média liberal e radical que se formara com o movimento jacobino na época da Revolução Francesa. e as setas vermelhas os movimentos de repressão dessa onda. o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. Mapa 14: As Revoluções de 1848 . também já era possível notar o aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e independente. estão indicadas nos Mapas 13 a 15. Mapa 13: As revoluções de 1830 Fonte: http://perso. a república social e democrática (em oposição à monarquia constitucional). os quadrados indicam os centros de contrarrevolução e as setas o movimento da contrarrevolução.fr/alhouot/alain. as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de trabalhadores pobres. realização de uma série de tratados de livre-comércio etc.houot/Hist/xix/xix6.html Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em desempenhar o papel de libertadores internacionais. Quando se viram diante da revolução “vermelha” (ameaça à propriedade). pág. Esses fatos abriram o caminho para a Revolução Industrial a partir da segunda metade do século XIX (vários autores se referem a ela como . de fato. Com essa aliança. os moderados liberais e os conservadores se uniram. a burguesia deixava de ser uma força revolucionária.Fonte: http://perso. o slogan da esquerda.html De uma forma geral. Nesse momento. Esse desapontamento. despedaçou o internacionalismo unificado (centrado na França) a que os revolucionários tinham aspirado durante a Restauração (o pós-1815).houot/Hist/xix/xix5. os republicanos e os novos movimentos proletários se retiraram da aliança com os liberais. Os trabalhadores ficaram isolados diante da união de forças conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Em 1848. os regimes conservadores restaurados estavam preparados para fazer concessões ao liberalismo econômico. 10 Os radicais.fr/alhouot/alain. A década de 1850 viria a ser. as nações de fato se sublevaram separadamente. a qual era. um período de liberalização sistemática: fim da legislação de guildas e liberdade para se praticar qualquer forma de comércio.numericable. fim do severo controle estatal sobre a mineração. dado que o liberalismo moderado se tornara hostil em razão do seu maior medo. nesse momento. junto com o crescente nacionalismo da década de 1830 e a nova consciência das diferenças nos aspectos revolucionários de cada país. Mapa 15: A Contrarrevolução de 1848 Fonte: http://perso.numericable. No Mapa 15. ” Napoleão III (1808-1873) foi o criador do Segundo Império francês na metade do século XIX. o fracasso revolucionário de 1848 se deveu ao “perigo vermelho”. também. Novas máquinas e novas tecnologias apareceram por toda parte. por ocasião da Guerra Franco-Prussiana. como já referido. 12 A Revolução Industrial modificou toda a sociedade europeia. Por fim. criando o II Império. Com um nível de vida momentaneamente acrescido. no século XIX a vida se deslocava progressivamente para as cidades e para as indústrias. Simultaneamente. pág. que lhe permitiu assumir poderes ditatoriais e transformar a Segunda República no Segundo Império.“Segunda Revolução Industrial”. O Mapa 16 ilustra a Europa do século XIX sob plena efervescência da revolução industrial. em 1850. Com a retirada da nobreza e a diversificação das formas de se fazer dinheiro (início da chamada haute finance – conjugação dos capitais comercial e financeiro). até sua derrota na Guerra Franco-Prussiana. o apoio ao Piemonte nas guerras que enfrentou como consequência da unificação italiana e a promoção e instalação de um efêmero Império no México. Os partidários da ordem estabelecida saíram vitoriosos.html Link . deu um golpe de estado em 1851. Mapa 16: A Europa Industrial no Século XIX Fonte: http://perso.numericable. Em parte. Carlos Luís Napoleão Bonaparte era sobrinho de Napoleão I. 11 De 1850 até pelo menos 1873. Se na sociedade pré-industrial do século XVIII a agricultura ainda era o centro das atividades humanas. a economia europeia se expandiu com rapidez. Em 1870. a tecnologia ampliou a diferença entre o Ocidente e as demais regiões do mundo. o poder. na pessoa de seu sobrinho. 21). Na França. cujo regime foi derrotado. as principais cidades industriais e os centros financeiros (quadrados verdes). Em termos gerais. O mapa registra. Este só voltará a ressurgir na França em 1869 aproximadamente. Também na base da revolução industrial estava a indústria têxtil.fr/alhouot/alain. Maximiliano da Áustria. pág. a ameaça revolucionária estava encerrada. Como observa Duroselle (1976. as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de incorporar os cidadãos instruídos ao mercado de trabalho. ganharam importância o dinheiro e a capacidade individual.houot/Hist/xix/xix3. a prosperidade. em torno das quais se desenvolveram centros siderúrgicos (em vermelho) e industriais (em roxo). as massas toleram mais facilmente o jugo. Em seu lugar. Entre as ações de política externa de Napoleão III estão a intervenção na Guerra da Crimeia. para distingui-la do avanço industrial no século XVIII). p. Napoleão III ascendeu ao poder. O mapa destaca as minas de carvão (em marrom). A outra grande revolução europeia foi de natureza econômica. Eleito presidente da nova República Francesa. rompe o ímpeto revolucionário. cujos centros são destacados em azul. Após 1850. o tempo foi de prosperidade. a influência e os valores da aristocracia perderam força. ainda. se tiverem a impressão de que o poder favorece a expansão. a derrota do Exército francês na batalha de Sedan provocou o aprisionamento do Imperador. Governou entre 1852 e 1870. com a Revolução Industrial. para a progressiva universalização do voto e para a secularização da sociedade. A modernização da sociedade colaborou. “interrompida por alguns recessos. De fato. seria violada em 1914 pelo avanço alemão contra a França e contribuiria para que Londres declarasse guerra a Berlim. O nacionalismo se propagou a partir da classe média e teve nas escolas e nas universidades seus grandes defensores. em 1856. e a Hungria alcançou uma semi-independência em relação à Áustria (1867). Aliou-se a Napoleão III contra a Áustria. no período de maior extensão territorial. os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opressão e organizam uma greve geral. foi Presidente do Conselho em 1852. nas palavras do Czar. com o poder se concentrando cada vez mais nas nações ditas "industrializadas". em 1830. seriam acontecimentos importantes para alterar o equilíbrio de poder na Europa estabelecido pelo Concerto Europeu. Progressivamente. A primeira delas foi a Grécia. garantida pela Grã-Bretanha. no redesenho do mapa continental. O Império Otomano existiu aproximadamente de 1300 a 1922 e. graças às alianças com Napoleão III. a da Alemanha. o poder otomano também se expandiu na Ucrânia e no sul da Rússia. cuja independência foi tema de preocupação durante toda a década de 1820. pág. Amplamente considerada a obra máxima de Émile Zola. no entanto. de Émile Zola. que fundou a dinastia que governou o império durante sua história. exigindo condições de vida e trabalho mais favoráveis. abrangeu três continentes: da Hungria. Para isso. a Jovem Polônia. processo que alterou definitivamente os rumos da História e a partir do qual as relações internacionais seriam redefinidas. político italiano. russos e para nações que iam surgindo de suas fraquezas. o Império Otomano foi perdendo terras para austríacos. Por meio do Estado vassalo do janato da Crimeia. ao sul. Nem por isso. a unificação da Itália e. um aliado contra os austríacos que ocupavam o norte da Camillo Benso. inexistia a afirmação da nacionalidade. 14 A Unificação da Itália A unificação da Itália foi resultado de uma habilidosa política externa e do aproveitamento das oportunidades quando elas surgiram. o princípio da nacionalidade fora deixado em segundo plano. Finalmente independente em 1830. Outras tentativas de independência no continente europeu fracassaram. a leste. apenas a Bélgica se tornou independente da Holanda. e da Argélia. a Jovem Suíça. A manifestação é reprimida e neutralizada. pág 13 Divisão da Europa – Nacionalidade X Legitimidade A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar o continente de uma possível ameaça francesa. a oeste. o qual. Assim. A Polônia não conseguiu a autonomia diante da Rússia (1830). era o ancião enfermo da Europa. embora centrado na região da atual Turquia. serviu como exemplo para muitos outros: a Sérvia. Dos movimentos nacionais de afirmação. no entanto. Livro indicado Um livro interessante sobre o século XIX e a Revolução Industrial é Germinal. Parte da onda nacionalista vinha dos escombros do Império Otomano. Romênia e Bulgária se tornaram independentes. O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade do século XIX. O artífice desse processo foi Cavour. e. Ele conseguiu. os mais importantes foram os da Itália e da Alemanha. o guerreiro muçulmano turco Osman (ou Utman I Gazi). assumiu o caráter de nação neutra. até Aden. até a fronteira iraniana. Os processos de unificação da Itália e da Alemanha podem ser percebidos no Mapa 17 (a seguir). ao norte. A neutralidade belga. porém este firmou a paz em 1859 sem consultá-lo.Procure se informar mais sobre a Revolução Industrial. sobretudo. primeiro-ministro do Estado do Piemonte (norte da península itálica). com aval das Grandes Potências. Vários movimentos nacionalistas jovens começaram a se espalhar a partir das revoluções de 1830: a Jovem Itália. alguns anos depois. conquistava autonomia. Seu nome deriva de seu fundador. O romance é minucioso ao descrever as condições de vida subumanas de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França. Cavour demitiu-se quando Victor . conde de Cavour (1810-1861). No restante da Europa. a Jovem França e a Jovem Irlanda. e afetariam diretamente as relações internacionais do período. Germinal (1885) elevou a estética e a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. entretanto permanece viva a esperança de luta e conquista. culminando nos processos que levaram à I Guerra Mundial. Após ter contato com ideias socialistas que circulavam pela classe operária europeia. países que se unificaram a partir da segunda metade do século. a Jovem Alemanha. Bismarck provocou os franceses. Por ocasião do conflito. após o Congresso de Viena. como recompensa pelo apoio dos italianos aos prussianos durante a guerra contra a Áustria. Mesmo assim. ocorrida em 1871. A unificação alemã provocou o desmoronamento dos fundamentos do equilíbrio internacional surgidos em 1815 e levou a política internacional ao retorno às lutas irrestritas do século XVIII. pequenos Estados italianos – Parma. Faltavam. A unificação. Bismarck conquistou territórios e forçou os Estados alemães menores a se aliarem a ele. acabou retirando seu apoio antes do esperado. Conseguiu a proclamação do Reino da Itália em 17 de março de 1861 e de Vítor Emanuel II como seu primeiro soberano. Mapa 17: Unificação da Itália e da Alemanha no Século XIX Fonte: http://perso. via na Alemanha unificada uma ameaça potencialmente mais perigosa para a França. O principal temor dos franceses do século XVII era a unificação alemã. estava consolidada a unificação da Península Itálica sob uma única autoridade: o Reino da Itália. e conduziria à unificação alemã. o evento mais importante da política internacional do século XIX. Estes declararam guerra e foram rapidamente derrotados. 15 A Unificação da Alemanha Não seria temerário afirmar que a unificação da Alemanha. Vencedores.houot/Hist/xix/xix7. Em 1871. por meio de uma política interna autoritária e uma política externa cuidadosa e pragmática. seus efeitos estariam diretamente relacionados com eventos marcantes do século seguinte. construir um Estado forte o bastante para que pudesse. Com as conquistas do sul da península. no fim do século XIX. quando os franceses retiraram os seus soldados da cidade em razão da Guerra Franco-Prussiana. A sua primeira vitória se deu em 1858. ao longo de 150 anos. Assim. receoso das possíveis implicações que uma aliança contra a Áustria poderia ter. Dois anos depois. em 1861. Bismarck conseguiu o apoio suficiente de que necessitava para que os outros Estados alemães aceitassem integrarse à Prússia. que garantiria a vitória sobre Grandes Potências europeias. A maneira racional. como a Áustria e a França. Em sua personalidade. formando o Império Alemão. sabedor de sua vantagem militar. somente foi possível porque a Prússia conseguiu. Designado Chanceler prussiano no mesmo ano. a liga dos 39 estados alemães. Módena. Roma. o Chanceler prussiano foi bem-sucedido em três guerras. os prussianos conseguiram afastar a Áustria dos assuntos alemães. Otto von Bismarck (1815-1898).fr/alhouot/alain. externamente. Continuando com a sua Realpolitik e derrotada a Áustria. porém. Toscana e Romanha – votaram pela união com o Piemonte. Emanuel II. foi para Berlim e pediu que o rei Frederico Guilherme IV reprimisse a sublevação. Como vitória. Richelieu. o “Chanceler de Ferro”. Só em 1866 La Vénétie foi incorporada. ou Segundo Reich. primeiro-ministro prussiano que soube. Ademais. Em troca da cessão da cidade de Nice e da região de Saboia. pág. o Piemonte se viu vencedor e aumentou seu território com a conquista da Lombardia. Em 1890. Junto com a Áustria. No início de 1860. Como delegado da primeira Dieta prussiana. por exemplo. a cidade de Roma e o Vêneto. como a I e a II Guerras Mundiais. Seu conselho não foi levado em consideração. foi. mas sua lealdade foi recompensada ao ser nomeado representante prussiano na Confederação Germânica. a luta pelos espólios dessa conquista fez com que os austríacos declarassem guerra à Prússia. fundiam-se a sutileza intelectual e o provincianismo da aristocracia conservadora. a Guerra Fria e a integração europeia. Passou a ser embaixador na Rússia em 1859 e foi designado para a França em 1862. Rei da Sardenha. entretanto. em 1851. unificar a Alemanha. Quando eclodiu a Revolução de 1848. a ajuda francesa seria menor do que o esperado. ajudou Giuseppe Garibaldi na conquista do Reino das Duas Sicílias. procedeu com uma série de reformas internas e deu início à sua Realpolitik. foi o grande artífice e primeiro chanceler do segundo império alemão. Entrou na política em 1847. atacou e conquistou territórios da Dinamarca. almejar a preponderância entre os Estados alemães. em 1864. Seu pai era um latifundiário de origem nobre. Com a anexação de Roma e dos Estados Papais. e Napoleão III. entretanto. Também não se pode esquecer a ação de Bismarck. pragmática e calculada como Bismarck conduziu a política alemã ficou conhecida como Realpolitik.numericable.html Posteriormente. por fim. foi ocupada em 1870.Itália. e sua mãe pertencia à burguesia. . aceitou as condições do Imperador francês. destacou-se como um dos mais férreos conservadores. Cavour obteve a promessa de auxílio da França ao Piemonte em uma eventual guerra deste contra a Áustria. foi proclamado o reino da Itália. Nesse processo mercantil-civilizador.desentendeu-se com o Kaiser (ou Imperador) em virtude do direcionamento da Política Externa do Reich. conforme ilustra o Mapa 18. seguiria esse padrão: tomar o território. desenvolveu-se um processo de conquistas europeias sobre a África e Ásia. inventar uma língua e laicizar as estruturas de um povo cuja unidade histórica havia sido apenas a prática de uma religião comum. por exemplo. “O século XIX é extraordinariamente dinâmico: vai assistir-se à expansão da Europa pelo mundo. as pretensões do Reich acabariam chocando-se com os interesses das Grandes Potências tradicionais – em especial. pág. principalmente. homogêneo territorial e linguisticamente. mas sobretudo em sua segunda metade. Depois da unificação. As rivalidades se projetavam nos outros continentes. tanto pela ação política dos seus Estados. praticamente todo o continente africano. portanto. o mesmo acontecendo com parte da Ásia. superando a França. Entretanto. que refundaria o Estado de Israel. Era o “ideal civilizador do homem branco”. o que levaria a Europa à Primeira Guerra Mundial. tecnologia. Ademais. O domínio das Potências europeias sobre povos dos outros continentes não foi apenas econômico. pelo escoamento das suas economias. Na virada do século. pág. denominado Neocolonialismo. O sionismo. os europeus buscavam mercados consumidores para seus produtos em outras partes do mundo. logo as marinhas mercante e de guerra alemãs ameaçavam a hegemonia britânica no mundo. sendo demitido e deixando a vida pública. incluindo a disseminação do cristianismo entre os povos nativos. com uma intensa política de construção naval. 2000. mas também militar. a unidade estatal natural deveria ser extensa.” (PELLISTRANDI. Em três décadas. à exceção da Etiópia e da Libéria. a Alemanha desenvolveu-se de maneira significativa. organização burocrática e força militar viáveis). Na virada do século. pelos fluxos migratórios. no continente americano. com a Grã-Bretanha e França detentoras dos maiores impérios coloniais. seria de um mundo partilhado entre as Potências Europeias. laico e provavelmente republicano/parlamentar. precisava ser pelo menos territorialmente grande. E esses mercados eram disputados pelas Grandes Potências. político e social. em agosto de 1914. a obtenção de matéria-prima para as indústrias europeias. O planeta como um todo tornou-se o tabuleiro do jogo de poder entre as Potências europeias. p. este último a forma assumida pelo capitalismo a partir da Segunda Revolução Industrial. a África foi conquistada e dividida. 115). Mapa 18: Impérios Coloniais em 1914 . As Grandes Potências europeias cuidavam de estabelecer seus impérios coloniais subjugando os povos dos outros continentes. Os defensores do Estado-nação entendiam o Estado como progressista (capaz de desenvolver uma economia. À violência militar e à exploração do trabalho somam-se as imposições sociais. Impérios tradicionais como a China sucumbiram à hegemonia europeia. A concepção nacionalista de Estado do século XIX se casou perfeitamente com os objetivos capitalistas. segundo os globalistas. estava sob jugo das Potências europeias como parte de seus impérios coloniais. A partir da segunda metade do século XIX. liberal e progressista. O quadro de 1914. Grã-Bretanha e França –. 17 Paralelamente ao fornecimento de matéria-prima pelas colônias. O mundo nunca se mostrara tão eurocêntrico. Para a sociedade burguesa moderna. sobretudo nas áreas industrial e militar. particularmente da Ásia e da África. O Neocolonialismo foi a principal expressão do Nacionalismo e do Imperialismo. sob a justificativa de que se estaria levando os valores ocidentais da “civilização” aos povos primitivos. O padrão de programa nacional do século XX seria diferente: Estado totalmente independente. 16 Expansão colonial Outro aspecto importante da Sociedade Internacional do século XIX é a nova expansão colonial. ou seja. impondo à força um novo modelo de organização do trabalho que pudesse garantir. Durante todo o século. as preocupações europeias se tornaram mundiais. daí o decorrente expansionismo colonial. o país já se mostrava a principal Potência do continente em desenvolvimento industrial e tecnológico. sendo fundamental para isso o estabelecimento de um império colonial e a conquista de novos mercados pelo planeta. os alemães já deixavam claro que desejavam ocupar seu lugar de destaque entre as Grandes Potências. num processo de aculturação. como pela sua influência civilizadora. e as nações europeias efetivamente eram as protagonistas das relações internacionais. adquiriram Porto Rico. Inspirado por uma forte ideologia nacionalista. e passou a existir parlamento. vide Paul Kennedy. o serviço militar obrigatório foi implantado. “Decidido a preservar a independência do país.cit. simplificação e uniformização do sistema tributário (com a superação da fragmentação legislativa e do patrimonialismo fiscal). profundamente traumatizada após a derrota de 1871 (na Guerra Franco-Prussiana). a principal Potência industrial do planeta. de outro. às vésperas da I Guerra Mundial. Para a França. A mesma demanda conjuntural ocorria nas grandes massas territoriais e étnicas do centro-leste europeu (Império Prussiano. 473). em 1898. derrotava a China. e. Sobre a situação dos EUA frente a outras potências na virada do século. as conquistas coloniais eram um meio de readquirir respeito. Uma das consequências desse processo foi a anulação sistemática das tradições locais de vários povos. estradas e telégrafos instalados. de longe. em 1885. uma esquadra norteamericana forçou o país a abrir-se e aceitar o comércio com o exterior. uma Constituição foi elaborada. As razões políticas do imperialismo de final do século XIX eram tão importantes quanto as razões econômicas. tecnologia europeia foi comprada. Em 1914. mantivera-se fechado ao exterior. Internamente. devolveu o poder ao imperador” (PERRY.Fonte: http://perso. o novo poder japonês dava sinais de existência: em 1894.) tomou o governo. a economia foi rapidamente modernizada. Até 1854. A Restauração Meiji de 1867. op. e de estimular o equilíbrio entre as regiões de um Estado e o aumento das trocas inter-regionais. os norte-americanos haviam consolidado o seu processo de expansão colonial às expensas do México. o governo Meiji iniciou um importante conjunto de reformas: os privilégios sociais foram eliminados. compraram da Rússia o Alasca e.houot/Hist/xix/xix8. a uma estrutura tarifária protecionista para afastar a concorrência estrangeira.. Assim. em que os “objetivos públicos” deixariam de ter nos corpos estamentais de privilégios os intermediários da ação político-administrativa estatal. Nesse ano. Além disso. Além disso. a necessidade de um contrato social voltado para a “coisa pública”. 19 O Estado-nação O Estado-nação é o resultado moderno da experiência de formação e construção do Estado desde Westfália e pressupõe a formação propriamente dita de uma burocracia (no sentido de separação dos meios administrativos dos patrimônios particulares dos agentes da administração). a necessidade de facilitar a circulação dos bens num território.. travada para impedir a separação dos estados do sul do país. pág. os EUA iniciaram um vigoroso processo de industrialização graças a um mercado interno crescente. pela primeira vez na era moderna uma Potência do Oriente derrotava um poderoso Estado europeu. a partir das várias identidades dever-se-ia inventar uma identidade nacional que integrasse a população em novos referenciais de pertencimento. e. portos. em 1867. como ficou conhecido esse episódio.fr/alhouot/alain. a uma estrutura estável de comércio e ao grande número de inovações tecnológicas. ou seja. pág. um grupo de samurais (. em 1905. 1999. Todos passaram a buscar pelo caráter de sua nação e a . uma única língua. Os EUA começaram a se projetar como Potência após a violenta Guerra Civil. Da mesma forma. Fábricas foram instaladas. Na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). a Rússia. através da redução. o Oceano Pacífico tornava-se uma área de projeção de poder dos EUA. Pouco antes. De um lado. A relação entre poder político e território sofreu uma revolução.html Especialmente importante é o Congresso de Berlim. Havia razões políticas e econômicas por trás desse processo. o país já era. p.numericable. Império Austro-Húngaro e Império Russo). os vários Estados buscaram constituir internamente suas nações. Filipinas e um virtual controle sobre Cuba. de associação. Em menos de 20 anos. O Japão é outro exemplo de rápido crescimento econômico. 18 As novas Potências – Estados Unidos da América e Japão A segunda metade do século XIX vê também o aparecimento de dois Atores importantes no jogo político internacional: Estados Unidos da América (EUA) e Japão. com uma completa transformação das relações do poder político central com as múltiplas tradições locais – o estabelecimento de uma única lei. ferrovias. Para as nações recém-unificadas – Itália e Alemanha – a obtenção de territórios na África e na Ásia significava prestígio e autorreconhecimento. Testemunhou-se um processo de racionalização da atividade estatal. após derrotarem a Espanha. uma única política fiscal e preceitos políticos uniformes para todo um território. Sérvia e Império Otomano fomentavam uma rivalidade crescente. a Europa viveu tempos de incerteza. por sua vez. Na Ásia.Objetivas". que. foi de relativa paz para a Europa. os EUA tornaram o conhecimento da língua inglesa condição para a cidadania americana. em que os principais Atores internacionais se confrontariam numa intensidade nunca antes vista na história da Sociedade Internacional. A guerra voltou a ser considerada alternativa cada vez mais provável. . o século XX. é obra fundamental para a compreensão do período que antecede a I Guerra Mundial e no qual se consolida a hegemonia europeia no mundo. com o fim de “russificar” as nacionalidades menores). 1988). tradições. Uma disputa de poder daria início à I Guerra Mundial (1914-1918). O sistema de equilíbrio de poder estabelecido no Congresso de Viena mostrou-se bastante bem-sucedido e só foi desarticulado a partir do momento em que Bismarck conseguiu unificar a Alemanha. mas também agrupar vários grupos sociais localmente circunscritos com suas línguas. não apenas desenvolver uma economia e uma organização econômico-político-militar viável. Estados constitucionais e não constitucionais aprenderam a avaliar a força política que era a capacidade de apelar para seus súditos na base da nacionalidade (o Czar da Rússia não apenas baseava seu governo nos princípios da autocracia e da ortodoxia como passou a apelar aos russos como russos na década de 1880). Além disso.Acesso pelo menu lateral "Avaliações . o patriotismo nacional. ou seja. A Inglaterra e a Rússia. pág. poderiam vir a oferecer resistência e a se refugiar em algum partido socialista. Avaliação Objetiva Atividades de autoavaliação . quando comparado aos séculos anteriores e ao século XX. 20 Síntese O período de 1815 a 1914. A escola primária passou a ser o meio de se ensinar às crianças a serem bons súditos e cidadãos. que. de Eric Hobsbawm (Rio de Janeiro: Paz e Terra. uma nova Potência surgia: o Japão. os interesses contraditórios de Áustria-Hungria. não existiram grandes conflitos entre as principais potências. construir um Estado-nação significou. a Rússia tentou dar à língua russa o monopólio da educação.igualmente se perguntar se de várias nações era possível formar um espírito comum. a mais complexa das áreas de conflito não pode ser esquecida: os Bálcãs. do século XIX ao XX. e cidadãos linguística e administrativamente homogeneizados (a Itália usou a escola e o serviço militar para fazer italianos. caso contrário. Livro indicado A Era dos Impérios. Os Estados criaram nações. por causa da Índia e da Ásia Central. costumes e leis próprias num grande agrupamento social politicamente representado e juridicamente nivelado por um Estado laico regido por um conjunto geral de leis soberanas – a Constituição. território que a primeira perdera para a segunda na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871. Ali. Após 1871 e especialmente após 1890. encontravam-se em permanente estado de tensão. Rússia. Esse processo auxiliava a definir as nacionalidades excluídas da nacionalidade oficial. Esse era o pano de fundo para um século “de extremos”. Excetuando-se a Guerra da Crimeia (1854). França e Alemanha não poderiam se reconciliar por causa da Alsácia-Lorena. poria fim à “Era dos Impérios”. França e Inglaterra estavam envolvidas em um grande processo de divisão colonial na África. Enfim. É o ano em que Bismarck deixa de ser o Chanceler alemão. serão abordados o período Entre-Guerras. não tinham planos nesse sentido. Essa data não é aleatória. como o avião e o tanque de guerra. A Belle Époque seria apenas nostalgia. deliminar o estabelecimento da Crise de 1929. os impérios coloniais começariam a ruir. inclusive novas Potências emergentes que não pertenciam ao continente europeu. Foi maciço o uso das ferrovias. Seus sucessores. o aparecimento de uma Nova Ordem Internacional e a Crise de 29. Objetivos Ao final desta unidade. eram confusos. mas em 1914. o sistema internacional mudaria definitivamente. tema principal.A I Guerra Mundial e os Entre-Guerras Aqui. especialmente o Kaiser Guilherme II. Atenção Esperamos que você tenha um excelente aproveitamento em seus estudos! Pág. por ambos os lados em luta. 01 A I GUERRA MUNDIAL Para muitos estudiosos das relações internacionais. Bismarck sabia muito bem o que queria: manter a França permanentemente enfraquecida e sem chances de revanche.Unidade 3 . Durante muito tempo chamado de a Grande Guerra. além de afastada das preocupações territoriais. responsáveis por milhares de baixas. o século XX não se inicia em 1901. ou. A isso se somava o fato de que cada país europeu tinha a sua lista de reivindicações. Convém lembrar que a França havia sido derrotada na Guerra Franco-Prussiana. explicar a relação entre o Congresso de Versalhes e o estabelecimento de uma nova ordem internacional. A Europa sofreria intensa destruição. duas décadas antes. p. gases letais. Também foram utilizados. 2002. o aluno deverá ser capaz de: identificar os principais fatos que levaram à deflagração da I Guerra Mundial. http://www. esse conflito. com destaque para os EUA e o Japão. com a deflagração do maior de todos os conflitos que o mundo presenciara até então: a I Guerra Mundial. descrever a dinâmica de desenvolvimento da I Guerra Mundial. iniciou-se na Europa e acabou envolvendo outras nações do globo. que durou de 1914 a 1918. se os tinham. Trata-se do primeiro grande confronto internacional da era industrial. e a hegemonia europeia no mundo daria seus últimos suspiros. e “os caminhões se tornaram tão importantes quanto os cavalos no abastecimento de soldados no campo” (ROBERTS. na terceira unidade do Módulo II. foram empregados de maneira efetiva novos equipamentos de combate. Pela primeira vez. 681).com/ Ao final do conflito. . Nunca se havia tido um conflito tão destrutivo e arrasador como a I Guerra Mundial. Esses eram os sentimentos que dominavam a Europa após 1890. além da Primeira Guerra Mundial.brasilescola. Pág. A Sociedade Internacional se apresentaria ainda mais complexa e com novos Atores não europeus a ditar suas regras. erráticos e provocativos. 02 Causas da Grande Guerra Crise e incerteza. por fim. em virtude da política externa de Guilherme II. Preste atenção no modo como a organização militar se fundava em valores como tradição e separação em classes. Infelizmente. como o pan-germanismo e o pan-eslavismo. na corrida colonial. As minorias nacionais como se encontravam na Europa de 1914 podem ser vistas no Mapa 19. sendo um país multiétnico. era articulada por meio de alianças secretas entre as Potências: era a diplomacia secreta que marcava as relações internacionais da Europa até a I Guerra Mundial. que mostra o funcionamento do exército austro-húngaro às vésperas da Primeira Guerra. para fazer frente ao poderio alemão. principalmente. A paz anterior a 1914 era obtida pelas ameaças mútuas. Tal fato era o motor do havia perdido o território da nacionalismo francês. preocupada em recuperar prestígio. superando os ingleses em áreas como química. Preocupado em mostrar-se forte e influente. com o Japão (guerra em 1905). temiam as ambições russas na Ásia Central e as pretensões coloniais francesas na África. respectivamente. Além disso. Para agravar a situação. que pregavam a reunião dos povos de etnia germânica e eslava. como a Potência decadente da Sociedade Europeia. a França lançou-se. atritou-se com os ingleses na disputa pelo Afeganistão. as suas forças. no entanto. Grã-Bretanha. ou a coalizão dos Estados de uma mesma etnia contra ameaças de Estados de outras. principalmente depois que estes ensejaram uma política de construção naval em 1897. desde 1899. e não pelas decisões da Corte de Haia. Acrescente-se a isso o recrudescimento dos discursos nacionalistas. mostrando-se. .Entre outras consequências. pág. no Extremo Oriente e nos Bálcãs. Passaram. Outra forma de nacionalismo era o francês. Além disso. as políticas governamentais nas Potências europeias eram ditadas por ânimos nacionalistas e não havia nenhuma instituição internacional que pudesse mediar conflitos. Tratados de não agressão e assistência recíproca foram celebrados entre os dois Estados germânicos nos anos anteriores à I Guerra Mundial. pela baixa estima permanecia em constante estado de tensão com os austríacos e com os otomanos pela hegemonia da francesa e pelo desejo de ver a península balcânica. 03 Os britânicos. com todas Alsácia-Lorena para os alemães. a Alemanha unificada revelou-se formidável concorrente econômica. em uma só nação. ela se mostrou ineficaz. por sua vez. Além disso. e defendiam a independência dos povos sob o jugo de Viena. a Áustria-Hungria sustentava sua segurança no apoio da Alemanha. os austríacos tinham interesses conflitantes com os russos e com os eslavos da península balcânica. Cercados por todos os lados. A França não esquecia a perda da Alsácia-Lorena para a Alemanha. também. siderurgia e energia. mais e mais interessada em estabelecer um império colonial e disputar espaço com outros países europeus na África e Ásia. Esses movimentos também questionavam a existência de impérios multiétnicos como o Otomano. O temor de Bismarck de ver a Alemanha ameaçada nos fronts oriental e ocidental tornou-se realidade. o Austro-Húngaro e mesmo o Russo. França e Rússia se aliaram. O Congresso de Viena há muito deixara de ter importância e nada de significativo surgira em seu lugar. indica-se Coronel Redl. Alemanha subjugada a qualquer custo. com forte viés revanchista contra a Alemanha e desejoso de recuperar a “grandeza da França”. de István Szabó. Cada vez mais. A Áustria-Hungria era percebida. a partir da queda de Bismarck. assim como a Rússia e o Império Otomano. mas sem a habilidade política de Bismarck. por sua vez. a Corte Internacional de Justiça de Haia. em grande parte. As décadas que se seguiram à derrota francesa foram marcadas A Rússia buscava expandir-se na Ásia Central. a temer cada vez mais os alemães. É verdade que existia. A guerra. Mapa 19: A Europa de 1914 – Minorias Étnicas Vídeo Ainda sobre a Grande Guerra. o Império Austro-Húngaro defrontava-se com crescentes pressões domésticas das minorias internas que desejavam maior autonomia. o Kaiser acabou atraindo para si muitos inimigos. Constantinopla e São Petersburgo. Como resultado dessa por um profundo sentimento política. e revanchista. Havia. O Mapa 20 retrata essas alianças às vésperas da I Guerra Mundial. a qual reuniria as Potências aliadas na Grande Guerra. em 1882. as relações internacionais às vésperas da I Guerra Mundial eram marcadas pela disputa entre as Grandes Potências por mercados e pelo interesse das novas Potências. que dava a cada parte garantia de assistência das demais em caso de ataque por uma Potência externa. viu-se. e. em 2 de agosto. na maior parte das vezes. por meio da diplomacia secreta. a Áustria declarou guerra à Sérvia. Na arena europeia havia novas Potências.br/index. De um lado. As diferenças entre as Potências eram. Como em um dominó. um sistema de alianças rígido e um sistema de mobilização militar conduziram os europeus para a Guerra. Os ingleses entraram na guerra para defender a Bélgica. 04 Assim. graças a outra aliança. No início do século XX. Alemanha e Áustria-Hungria. 3 de agosto. franceses. o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano – que. aliada dos sérvios. Também caracterizava as relações internacionais anteriores à Grande Guerra uma significativa corrida armamentista entre os principais Atores europeus. De outro. acreditava que contaria com o apoio da Rússia. a França e a Alemanha. Em 28 de junho de 1914.. que desejavam ampliar seu poder e tinham interesses conflitantes com as Grandes Potências tradicionais e ainda poderosas Grã-Bretanha e França. em especial dos movimentos nacionalistas separatistas em seu interior. atraíram para o conflito os franceses. ainda durante muito tempo. 05 A Sérvia. A Rússia. o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando. As tropas alemãs cruzaram a fronteira de Luxemburgo. que buscavam manter-se na liderança da Sociedade Internacional a qualquer custo. britânicos e russos constituíram a Tríplice Entente. fez uma série de exigências.º de agosto. de possuírem impérios coloniais e de se equipararem às principais Potências coloniais europeias. Após sobreviver a duas ou três realmente graves. viam-se enfraquecidos demais para permanecerem. Durante o desenrolar do conflito. Mapa 20 : A Europa de 1914 – As Alianças Fonte: http://www. país que fora invadido pelos alemães. como a Alemanha e a Itália. herdeiro do trono austro-húngaro. significativas. Como resposta à Tríplice Aliança. Assim. Rússia e Sérvia. os grandes impérios em decadência – o Império Russo. que se encontrava em uma região conturbada do Império AustroHúngaro pág.. o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa foram assassinados por um nacionalista sérvio quando visitavam a cidade de Sarajevo. os problemas com a Sérvia. muitos outros países se envolveriam. diante da ineficácia das gestões diplomáticas. antes de 1914. alemães e russos. A Áustria considerou o assassinato a oportunidade ideal para resolver. as chamadas Potências Centrais – Alemanha e Áustria – assinaram com a Itália. o sistema de alianças fez com que a guerra entre austríacos e sérvios atingisse. no dia seguinte. por sua vez.. com rivalidades que afloravam entre eles e refletiam-se em um sistema de alianças estabelecidas. A Europa. a Alemanha . estavam Inglaterra. também. Em suas exigências. o Tratado da Tríplice Aliança. em especial a Alemanha e a Itália. Sob a alegação de que o governo sérvio era responsável pelo assassinato. As hostilidades se iniciaram quando. ainda. em 28 de julho de 1914.com. ainda sob a articulação de Bismarck. de forma definitiva. De um lado. foi o estopim que deu início ao conflito.php?pag=mapastematicos Sobre a Guerra. e a Alemanha. Estes últimos. Sobre o conflito. em condição de igualdade com a Grã-Bretanha. França. a estrutura do Concerto Europeu fora definitivamente substituída pela política de alianças..geografiaparatodos. como país eslavo. em virtude das dificuldades domésticas.pág. pois. em uma série de crises. aliada do Império Austro-Húngaro. os austríacos contavam com o apoio irrestrito do Kaiser alemão. declarou guerra à Rússia em 1. ademais. mobilizou-se contra a Áustria. iniciada em 1º de julho e na qual os britânicos usaram pela primeira vez carros de combate modernos. os Estados Unidos fizeram o mesmo. a oriental ou russa e a meridional ou sérvia. a qual era aliada da Rússia. feridos e desaparecidos) e. que durou a maior parte dos quatro anos de conflito. “os exércitos franceses e alemães sofreram mais de seiscentas mil baixas (mortos.numericable. de ambos os lados. Elaborado pelo general Schlieffen. em virtude de os alemães terem violado a neutralidade belga. que tentaram tomar o Estreito de Dardanelos. Todos esses movimentos podem ser vistos no Mapa 21. pág. em 1915. vencer a Rússia.. No monumento em Thiepval. iam para a guerra entusiasmados pelo fervor nacionalista. como ficou conhecida a ação. dedicado aos soldados britânicos mortos em pouco mais de um ano em Somme.houot/Hist/guerre14_18/gun7. no primeiro dia da batalha do Somme (. O triunfo obtido pelos alemães contra os russos e sérvios. depois. mas não conseguiram conquistar esta cidade devido à contraofensiva do general francês Henri Philippe Pétain. na frente oriental. o conflito acabou por ser longo e penoso. pág. quando. Em 1915. O Japão declarou guerra à Alemanha em 23 de agosto de 1914 e. Os russos assumiram a ofensiva. que foram tenazmente derrotadas pelos turcos. Os turcos iniciaram a invasão da zona russa da cordilheira do Cáucaso em dezembro. para. cada um dos países fez planos detalhados. restabelecendo a situação que existia antes de fevereiro. as Potências Centrais haviam conseguido expulsar os russos da Polônia e da Lituânia e tinham tomado todas as fortalezas limítrofes da Rússia. Não é falso dizer que os soldados. Mapa 21: A Guerra em Agosto de 1914 Fonte: http://perso. em 6 de abril de 1917. então. previa o pior cenário possível: uma guerra em dois fronts – um contra a França. Durante décadas. que ficou sem condições de empreender ações importantes por falta de homens e de suprimentos. com a intervenção do Império Otomano. p. 06 A Guerra Inicialmente. resultou em fracasso total para as tropas aliadas. Eclodiram duas lutas na região em 1916: o ataque conjunto de sérvios e italianos às forças búlgaras e alemãs e uma ofensiva aliada sobre a Macedônia.. era necessária uma rápida vitória contra os franceses. da qual os ingleses eram garantes. pág. o exército britânico (. Posteriormente. declarou guerra à Áustria-Hungria. O fracasso na guerra contribuiria para o aumento da crise político-institucional interna da Rússia. os austríacos. Os alemães. no estabelecimento de um governo republicano e na revolução bolchevique de outubro de 1917. exclusivamente daqueles cujos corpos nunca foram encontrados” (ROBERTS. deu-lhes condições de concentrarem suas operações na frente ocidental. no início da guerra..).fr/alhouot/alain. Temerário. O governo britânico declarou guerra à Alemanha no dia 4 de agosto. em 1915. por exemplo. ao lado dos alemães e austríacos. Para o sucesso do plano.declarou guerra à França. há mais de setenta mil nomes. os que iam para o front acreditavam que a guerra terminaria em poucas semanas. Os aliados contra-atacaram. O Império Otomano entrou na guerra em 29 de outubro de 1914. 2002. 682). o plano acabou por fracassar. Os franceses empreenderam nova ofensiva em outubro. arriscado e de difícil execução. na batalha do Somme. mas foram detidos pelos exércitos austríacos e alemães. acreditando que alcançariam vitória fácil e rápida. da Itália e da Bulgária. Porém.. As operações militares na Europa se desenvolveram em três frentes: a ocidental ou franco-belga. 08 . A Itália permaneceria neutra até 23 de maio de 1915. com apoio dos búlgaros. surgiriam novas zonas de combate. por sua vez. O governo russo pediu auxílio aos britânicos. conseguiram derrotar e ocupar a Sérvia. outro contra a Rússia.html Essas batalhas de 1916 já revelavam quão assustadoramente mortífera seria a Grande Guerra: nos cinco meses da batalha de Verdun. no entanto. Desencadearam a batalha de Verdun em 21 de fevereiro. tinham o famoso Plano Schlieffen. a Campanha de Gallípoli. 07 Nos Bálcãs. Infelizmente.) teve vinte mil mortos e quase quarenta mil feridos. que culminaria na deposição do czar. A almejada rápida vitória contra os franceses acabou transformando-se na estática guerra de trincheiras. enviando uma divisão naval em apoio aos aliados. O afundamento de alguns navios levou o Brasil. como cólera e tifo. 1917: Grandes Mudanças Em 1917. poucas conquistas houve por parte de ambos os lados além daquelas obtidas nos primeiros meses da guerra. declarando-lhe guerra em 6 de abril.A guerra continuaria estática. e uma missão médica foi enviada para a França. também dos conflitos seguintes. Em 3 de março. liderada pelos bolcheviques. os primeiros meses de 1918 não foram favoráveis às Potências aliadas. inclusive entre civis de países neutros. o Brasil e a Bolívia. os EUA romperam relações diplomáticas com a Alemanha. em 26 de outubro de 1917. com homens com lama até o pescoço. 92 min). entre elas o Peru. derrotada. a Alemanha declarava guerra submarina generalizada e anunciava que afundaria qualquer embarcação que encontrasse em uma vasta área do Atlântico Norte. nos quais a guerra dinâmica. a Rússia assinou o Tratado de Brest-Litovsk. navios do Lóide Brasileiro transportaram tropas norte-americanas para a Europa. cessando. derrubou o governo provisório e tomou o poder. com o qual punha oficialmente um fim à guerra com os Impérios Centrais. seria uma traumática realidade quotidiana pela qual a Grande Guerra seria lembrada. Em 7 de maio.A Grande Guerra em 1918 . uma nova revolução. nos primeiros três anos que se seguiram a 1914. considerada zona de guerra. a Romênia. Nesse sentido. de fato. A guerra de trincheiras. Em 3 de fevereiro de 1917. As autoridades russas propuseram à Alemanha a cessação das hostilidades. 2001. Os alemães puderam redirecionar suas forças para o front ocidental. Mapa 21: A Guerra em Agosto de 1914 Mapa 22 . mercante ou de passageiros. que conta a história real de um batalhão norte-americano que se perde no meio das linhas alemãs durante a I Guerra Mundial. e a ataques da artilharia inimiga. Várias nações latino-americanas. a Alemanha fracassara em seu intento de provocar a rendição da Grã-Bretanha por meio da destruição da frota aliada. Vídeo Outro filme muito interessante é O Batalhão Perdido. seria a regra. de velocidade. pág. Em março daquele ano. Os exércitos dos dois lados acabaram fincando posições que se manteriam por meses. os aliados tiveram um revés: a Rússia saiu da guerra. O Mapa 22 ilustra a disposição das forças no início de 1918 (comparar com o Mapa 21). Uma força expedicionária foi enviada para a Europa. enfiados em valas imundas e sujeitos a doenças. Com isso. alguns empregando gases letais. assim. Em novembro (outubro no calendário russo). causando milhares de baixas. muitas embarcações foram torpedeadas. a I Guerra Mundial seria distinta de todas as que a precederam e. uma revolução culminou na implantação de um governo provisório e na abdicação do Czar Nicolau II. de Russell Mulcahy (EUA. não importando se fosse navio de guerra. A sorte mudara novamente na direção dos aliados. A política de neutralidade norte-americana mudou com a guerra submarina promovida pelos alemães. a participar da guerra. assinou o Tratado de Bucareste com a Áustria-Hungria e a Alemanha. a luta na frente oriental. 09 1918: o fim da carnificina Apesar da entrada dos EUA no conflito. Aviadores brasileiros participaram do patrulhamento do Atlântico. como os EUA e o Brasil. apoiariam a ação dos EUA. Áustria e Alemanha assinaram o armistício em 15 de dezembro. Se saíra vitoriosa contra a Rússia. Representantes da Rússia. Em janeiro de 1917. às quais cedia diversos territórios. Em resumo. que se viu obrigado a assinar um armistício em 3 de novembro. Além disso.. Os EUA já deveriam ser consultados sobre os destinos do sistema internacional. ao contrário de seus aliados. A Marinha francesa. assinaram um armistício. Também sobre a realidade da Grande Guerra. História Ilustrada da I Guerra Mundial (Ediouro). também um clássico do gênero. que foram protagonistas da política entre as nações nos quatro séculos anteriores. por sua vez. A frente turca também caiu. Depois de quatro anos. derrotados. A comoção da derrota provocou rebeliões revolucionárias no Império Austro-Húngaro. A França gastou 30% da riqueza nacional. tantos mutilados e tanta destruição. no Oriente. a Europa estava em situação lamentável e não mais teria forças para estar à frente da Sociedade Internacional. A produção industrial caiu entre 30% e 40%. o Japão avocava sua parcela de influência.fr/alhouot/alain. Áustria-Hungria e Turquia simplesmente se desmancharam depois de quatro anos de combate. Os livros de John Keegan são indicados para os que se interessam por história militar. E essas transformações estavam apenas começando. com tantas baixas. Link Alguns sítios interessantes sobre a Grande Guerra e também sobre o Brasil no pós-I Guerra. Outras 10 milhões de pessoas ficaram inválidas. e o país se transformou em república. de Erich Maria Remarque (Porto Alegre. foram obrigadas a admitir que uma nova configuração de poder seria estabelecida. Em fins de 1918. Depois da paz em separado com a Rússia. pág. Economicamente. Os búlgaros. Grã-Bretanha e França. Trata-se de um romance histórico. e o armistício foi feito antes que o seu território fosse invadido. os alemães tiveram que enfrentar as recém-chegadas tropas americanas.html pág. 2004). e o governo otomano solicitou um armistício. O II Reich chega a termo. L&PM. Turquia e Bulgária – pararam definitivamente de lutar.Fonte: http://perso. e a Inglaterra. pediu a paz. O mundo já dava sinais de deixar de ser eurocêntrico.. Lewis Milestone. o trauma foi profundo. Terminado o conflito. os principais aliados da Alemanha – Áustria-Hungria. e. Cansados e com parcos recursos materiais. os EUA. que continuava como Ator de destaque no cenário europeu e cuja recuperação influenciaria definitivamente os destinos da Europa e o sistema internacional. A Alemanha. para leitura inicial. o Japão e a nova Potência que se afirmava. ocupando Damasco e outros pontos estratégicos. Livro indicado A Grande Guerra foi um evento marcante na história da humanidade e deu início ao século XX. austríacas e búlgaras na Sérvia. Os velhos impérios. os germânicos fracassaram em seus ataques finais. e uma frágil democracia é estabelecida na Alemanha. a exaustão atingiu todos os países combatentes. Sugere-se. Nesse momento derradeiro. 1930). As forças britânicas tomaram o Líbano e a Síria. Uma força de cerca de 700. A Alemanha.000 soldados aliados iniciou uma grande ofensiva contra as tropas alemãs. 22%. porém. desaparecem. enormes dívidas foram contraídas para pagar a guerra. ocupou Beirute. a Alemanha tentou uma ofensiva final contra a França. contado por alguém que viveu a dura realidade da guerra e foi considerado. os aliados obteriam a vitória definitiva na frente italiana entre outubro e novembro. no entanto. foi feito o filme de mesmo nome (All Quiet on the Western Front. no pós-guerra. sugere-se a leitura de Nada de Novo no Front.numericable. foi proclamada a República da Áustria. a luta nos Bálcãs foi catastrófica para os Impérios Centrais. A Primeira Guerra Mundial foi a grande tragédia europeia. sob pressões internas e externas. veja os . Há muitas obras a respeito.houot/Hist/guerre14_18/gun8. uma obra-prima da literatura pacifista mundial. com dois Atores não europeus tremendamente importantes. Baseado no livro. Sob a ótica das relações internacionais. O Imperador Carlos I abdicou oito dias depois. apesar de vencedoras da Grande Guerra. Nunca o mundo assistira a uma hecatombe de tamanhas proporções. enquanto os EUA acabavam de entrar no conflito. o livro de John Keegan. não se desintegrou. em 12 de novembro. a Grande Guerra provocou mudanças profundas no equilíbrio de poder no mundo. 11 O saldo da Grande Guerra O saldo da guerra foi a morte de mais de 8 milhões de pessoas. e. que deveria ter sido rápido e fácil. 10 Em 1918. Isso teria grandes implicações simbólicas posteriormente. O Kaiser Guilherme II abdicou. Além disso. Esses valores. todavia. Os franceses desejavam a reintegração da Alsácia-Lorena a seu território. entretanto. Tchecoslováquia. Outros tratados de paz foram firmados entre 1919 e 1923. Grã-Bretanha e França. escolha a opção Links relacionados e consulte-os. 13 Militarmente. Eram posições antagônicas aos anseios estadunidenses e refletiam o realismo da política internacional europeia do século XIX. que eram os citados velhos impérios.educacional. a autodeterminação e a democracia deveriam prevalecer nas relações entre os povos. Além da Alsácia-Lorena.br/default_imprimir. tanques ou artilharia pesada. Os derrotados e a Rússia. para a Polônia. Como resultado das perdas territoriais para esta última. o desarmamento alemão e o pagamento de indenizações de guerra. que deveria ser definitivamente banida das relações internacionais. Polônia. buscavam defender seus interesses de forma mais incisiva e pragmática. 12 O ENTRE-GUERRAS E A NOVA ORDEM INTERNACIONAL A Conferência de Paris. por sua vez. 25 países se reuniram em Paris para as conversações de paz. principal convenção de paz da Grande Guerra. Não mais teria marinha.com. Claro que esse pagamento não se daria como previsto.asp?idpost=96161&idBLOG=8662&idusuario=0 Em janeiro de 1919. aviação. com novas nações constituídas do esfacelamento das colchas de retalho étnicas.. A Alemanha perdeu vários territórios e todas as suas possessões coloniais. pág. queriam o controle sobre a frota e sobre as colônias alemãs. principalmente. que constituiriam o norte moral para a conduta dos Estados. a Alemanha foi fisicamente dividida. Lituânia. Também conhecida como Liga das Nações. O exército foi reduzido para 100 mil homens e 4 mil oficiais. perdeu territórios para a Lituânia e. O Tratado de Versalhes e o Advento de uma Nova Ordem Internacional http://blog1. a Alemanha foi desarmada. devolvida para a França. Por fim. Letônia. pág. Também não poderia fabricar material bélico. Estônia. Mapa 23: A Europa em 1924 . Para se ter ideia da indenização que a Alemanha se viu obrigada a pagar. A paz seria assegurada por meio de um mecanismo de segurança coletiva. o valor acordado era tão expressivo que seria pago em parcelas que só acabariam no início da década de 1980.sítios indicados no Menu de Apoio. essa organização internacional deveria servir de foro onde os Estados poderiam resolver suas animosidades sem recorrer à guerra. Tinha-se aí um dos motivos que fomentaram o nacionalismo e o revanchismo alemães no EntreGuerras (1919-1939). guiados pelo idealismo do Presidente Woodrow Wilson. o país se viu obrigado a pagar uma grande indenização financeira para os vencedores. os novos Estados). inúmeros países surgiram da desintegração do Império AustroHúngaro. O Mapa 23 ilustra a nova configuração política europeia do pós-I Guerra (em amarelo. Como resultado. desejavam a criação da Sociedade de Nações. não participaram dos debates. entidade que pudesse resolver amigavelmente as questões internacionais. Os norte-americanos. continha termos bastante duros para os vencidos. com a Polônia separando a Prússia Oriental do restante do país. Os ingleses. O Tratado de Versalhes. como a Liga das Nações e a Corte Internacional de Justiça (denominada à época Corte Permanente de Justiça Internacional). Hungria e Iugoslávia. e o direito internacional. do Império Otomano e do Império Russo: Finlândia.. Um novo mapa político da Europa era desenhado. seriam fomentados pelas instituições então criadas. serviria como árbitro nas questões internacionais. Como exercia. a organização já começara enfraquecida. De certo modo. a Assembleia Geral. O sentimento mundial e.Fonte: http://perso. Versalhes foi a expressão de raiva dos vencedores.fr/alhouot/alain. pág. pouco poder. a Europa não conseguiu se recuperar por meio dos Tratados de Paz. . quando votava algum tipo de sanção ou de agravo. apenas. o país atingido simplesmente se retirava da Liga. ou Liga das Nações. o impacto da I Guerra para algumas nações europeias foi ainda maior do que o da II Guerra Mundial. Perderam milhões de vidas e tiveram uma geração inteira traumatizada. Inegável que a vitória das Potências ocidentais só foi possível porque os norte-americanos enviaram um contingente significativo para a França a partir de 1917. França. deixar os alemães desejosos de uma revanche. posteriormente. o programa wilsoniano previa a criação de uma Sociedade das Nações. Para ganhar a guerra.numericable. O presidente estadunidense Woodrow Wilson foi o idealizador do programa de construção de uma nova ordem internacional chamado Quatorze Pontos. e não pela força. europeu. encontrava-se pronto para as suas aventuras militares nas décadas de 1920 e 1930 e. acabaram não aderindo à Liga. Um Conselho Permanente. Sangrada e traumatizada. na realidade. econômicos e financeiros. como se envolvera apenas marginalmente no conflito.houot/Hist/guerre14_18/gun12. formado por Estados Unidos. soube tirar proveito do enfraquecimento das Potências europeias. da Hungria. para assegurar que o mundo não entrasse novamente em guerra. A Sociedade das Nações. Para fins práticos. Estes. vinte anos depois. por exemplo. ela acabou sendo bastante limitada. por intermédio de tratados impiedosos. os EUA. Novas Potências não europeias: EUA e Japão Quais foram os verdadeiros vencedores da I Guerra Mundial? França e Grã-Bretanha saíram em frangalhos do conflito. Conseguiu ocupar as possessões alemãs na China e na Oceania. Esse programa. Caso não fosse bem-sucedido. Ao contrário de uma paz duradoura. Diferentemente do Congresso de Viena (1815). se já eram um país importante antes de 1914. tiveram que se aliar e se endividar junto aos EUA. Polônia e Sérvia. na II Guerra Mundial. ao fim da Grande Guerra. cada nacionalidade teria direito de ter a própria independência. Japão e Itália. Além disso. Nunca o mundo presenciara tanta carnificina e destruição em um conflito entre “nações civilizadas”. isto é.html pág. 14 Uma Nova Ordem Internacional A Europa que saía da guerra era bastante diferente daquela que a iniciara. Além disso. após o fim da guerra. O Japão. tornaram-se. eclodiria outra guerra mundial. que fora um exemplo de como se obter a paz. pois a principal Potência mundial e pátria do seu idealizador. era de que não se poderia mais tolerar que os povos se dizimassem em um conflito armado. Os EUA foram o fiel da balança na Grande Guerra: não apenas impediram que as ofensivas alemãs fossem bemsucedidas como também mostraram para os alemães que a continuidade da guerra era inútil. Apesar das pretensões de Wilson. mesmo com papel secundário na I Guerra Mundial. foi fundada em 28 de abril de 1919. e que a Sociedade Internacional deveria empreender todos os esforços no intento de garantir um mundo pacífico e regido pelo Direito. previa um acordo de paz sem anexações territoriais ou indenizações de guerra e baseava-se no princípio da autodeterminação dos povos. composta por todos os membros. por decisão do Congresso norte-americano. a principal Potência mundial. os efeitos trazidos pelo advento da Sociedade das Nações foram desprezíveis. apresentado para a Conferência de Paris. conseguiu-se. Perderam recursos industriais. concluíram-no exaustos e dispostos a fazer daquela a derradeira guerra. que haviam comemorado o início do ansiado conflito. O resultado é que. Grã-Bretanha. econômicas ou militares. sobretudo. Ademais. poderia votar sanções morais. 15 Idealismo na política internacional e a Liga das Nações A Grande Guerra havia sido demasiadamente traumática. Os europeus. caso. foi um lance bemsucedido. Mesmo arriscado. ansioso por terras. Para uma revolução sem burguesia. transformaram-se em desastres. e governou ditatorialmente a URSS até a sua própria morte. 16 A Revolução Russa A Revolução Russa foi um dos eventos mais importantes do século XX. abdicou em março de 1917. tinham o objetivo de. mas também por causa de decisões desastrosas da política econômica – tomadas por burocratas do Partido Comunista – e. Depois de três anos de sangrenta guerra civil. a economia russa: os camponeses foram retirados de suas terras para lutar no front. Em outubro do mesmo ano. inclusive com a invasão do território russo por forças estrangeiras. a Rússia czarista estava à beira do colapso. O governo de São Petersburgo imaginava que a superioridade numérica da Rússia em homens seria suficiente para derrotar os alemães.pág. em dois continentes. Apesar disso. a vitória e o controle do país foram definitivamente alcançados. empresas e indústrias faliram. pensadores comunistas do século XIX. De acordo com Marx. ainda. realizar profundas mudanças na sociedade. Nesse contexto. A revolução de 1905 mostrara uma burguesia russa politicamente fraca. preparou a tomada do poder. As derrotas militares não tardaram a surgir e. Lênin assumiu então o governo. que a de um Estado marginal ou isolado na Europa ou na Ásia. implantou um regime de partido único apoiado em uma poderosa polícia política. A contribuição de Lênin para a política do século XX foi a seguinte: a revolução seria feita através da condução e organização do disciplinado partido de vanguarda de revolucionários profissionais. As repercussões de uma revolução russa seriam mais amplas que as de 1789. tal como fora a Revolução Francesa no século XVIII. Kerenski. de modo exagerado. teve um papel central. o novo governo não eliminou o principal problema do país: a guerra. Lênin conseguiu retornar do exílio e chegar à Rússia para promover a Revolução graças ao auxílio dos alemães. tal como ocorrera em outros países. a história se funda na luta de classes. A entrada russa na Grande Guerra. a guerra pressionou. fugiu. Pressionado. particularmente dos serviços de inteligência do Kaiser. uma vez tomado o poder. dos escombros da I Guerra Mundial. Entretanto. que assumiu o poder após a morte de Lênin. preso aos compromissos de guerra com a França e com a GrãBretanha. primeira nação do mundo sob um regime marxista e que se tornaria a única Potência do planeta capaz de rivalizar com os EUA. abandonado pelo exército. não dava sinais de que desistiria do conflito. Isso não se mostrou verdadeiro. Em fins de 1916. fora celebrada pelo povo. Surgiu da derrota para o Japão em 1905 (em que disputou o território da Manchúria). a inflação corroía o poder de compra e não havia comida suficiente para abastecer as principais cidades. O governo passou às mãos de um governo moderado sob o comando de Alexander Kerenski. essas transformações acarretariam a morte de milhões de pessoas. o Czar Nicolau II. Assim. 17 Os bolchevistas eram guiados pelas ideias de Karl Marx e Friedrich Engels. o partido conduziria a classe operária com o apoio do campesinato. Além disso. Jivago e Reds. Apesar de estar em inferioridade numérica. rapidamente. Vídeo A Revolução Russa e o Stalinismo são o pano de fundo dos filmes Dr. e essa seria superada pela classe mais revolucionária e vanguardista. entregou parte importante do território e dos recursos industriais e econômicos russos na Europa para os alemães em troca da paz. com os quais o líder bolchevista comprometeu-se a pôr fim à participação de seu país na guerra assim que tomasse o poder. e no Exército. Entretanto. o proletariado. de Warren Beatty. como resultado de perseguições e expurgos contra toda e qualquer pessoa suspeita de ser contrária ao regime. . em 1924. a Constituição liberal-burguesa formulada era muito restrita. A simples extensão física e a plurinacionalidade de um império que ia do Pacífico à fronteira alemã significava que sua queda afetaria um número muito maior de países. a Alemanha soube lidar com a incompetência militar e com os problemas logísticos russos. a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). não só em virtude da insuficiência de alimentos. O governo revolucionário enfrentaria ainda grandes crises políticas e econômicas. Junto com isso. Confira pág. em 1953. Uma das primeiras medidas de Lênin foi a retirada da Rússia da guerra. a Tcheka. da disseminação das ideias socialistas e revolucionárias geradas no século XIX e da incapacidade do governo czarista de ouvir os anseios populares. Por meio do armistício de Brest-Litovsk. líder bolchevista que retornara do exílio. mas conseguiria superar esses obstáculos e retomar o processo de industrialização e de crescimento iniciado pela Rússia czarista. e o czarismo tornara a se implantar. Lênin. a figura de Josef Stalin. Dos escombros do império dos czares surgiu um novo país. para 60. Após 1916. pág. O comunismo. Empresas reduziram a produção. bilhões de dólares evaporaram. a “bolha” da Bolsa explodiu. Inicialmente. em diversos países. Mussolini aproveitou-se da oportunidade. Em outubro de 1929. o discurso fascista manteve um aspecto de normalidade. logo desapareceriam temporariamente em virtude de ocupação ou de aliança com a Alemanha nazista. o constitucionalismo liberal e a democracia representativa batem em retirada. para muitos europeus. substituídos por regimes onde imperava a força. que. Empolgados com a possibilidade de lucro rápido. que era de 100 em 1929. Todos eles. em 1922. Estado Livre da Irlanda. 2001). Os antigos regimes liberais foram. a Itália ainda era uma nação de segunda categoria.pág. a Irlanda. os efeitos da crise também foram devastadores. Link Saiba mais sobre a crise de 1929. apareceram por todo o continente. à esquerda e à direita. O Tratado de Versalhes comprometeu as chances de recuperar a estabilidade capitalista da Alemanha e. em pouco tempo. Para as outras potências europeias. os EUA se tornaram a principal Potência econômica do mundo. a Europa foi tomada por uma onda de radicalização política. os fascistas tomaram. que já havia alcançado o poder na Rússia por ocasião da Revolução de 1917. salvo o Reino Unido. Livro indicado Sobre as questões relacionadas ao totalitarismo e ao autoritarismo da Europa. mas.fila de desempregados Com o fim da Primeira Guerra Mundial. e centenas de bancos fecharam as portas. a inflação era alta e os trabalhadores perdiam renda. foi o fascismo que surgiu como o grande adversário dos regimes democráticos. A Itália é o primeiro país em que um regime fascista estabeleceu-se e adquiriu importância. E isso ocorreu com o apoio popular. Além disso. Esse movimento de especulação fez com que os preços das ações fossem muito maiores do que elas realmente valiam. Em poucas semanas. O continente sombrio: a Europa do século XX (São Paulo: Companhia das Letras. Holanda e os quatro escandinavos. Como sempre ocorre. Benito Mussolini. Em 1939. Regimes totalitários. pouco a pouco. antigo militante socialista. inflação e quebra de empresas atingiram praticamente todos os outros países do mundo. as baixas em vidas foram altíssimas. dizendo-se defensor da ordem contra o caos e a anarquia. de Hannah Arendt (São Paulo: Companhia das . Apesar de oficialmente vitoriosos. Os italianos pouco poderiam comemorar dos resultados da Grande Guerra. Tratava-se de cenário bastante propício a soluções autoritárias. fundou o Partido Fascista e. Obra teórica fundamental a respeito é Origens do Totalitarismo. Externamente. França. Também não se pode esquecer que a Itália chegou à década de 1920 em grave crise econômica: o desemprego grassava. o poder. portanto. realizou a Marcha sobre Roma. Em 1921. da Europa. milhares de pessoas se puseram a investir na Bolsa de Valores. os únicos dentre os 27 Estados europeus que podiam ser descritos como democracias parlamentares eram: Reino Unido. Desemprego. 18 A Crise de 1929 Crise de 29 . vide Mark Mazower. problemas na principal Potência repercutem rapidamente no restante do sistema internacional. em 1925. catalisou em torno de si toda a insatisfação do povo italiano com o resultado da I Guerra Mundial. milhões de trabalhadores ficaram desempregados. em bases liberais. a Suécia e a Suíça. à exceção da União Soviética. À direita. embora restaurados após 1945. como a saída da esquerda. agricultores tiveram que entregar as suas terras para os bancos. Suíça. definitivamente. 19 Fascismo e Nazismo Após a I Guerra Mundial. que não dependia do sistema econômico internacional por ter sido isolada pelas Potências. a Itália não conseguiu obter o prestígio que há tanto tempo desejava. apresentava-se. inclusive comprando ações a crédito. empresas quebravam. manifestou descrédito na democracia. em virtude da Revolução de 1917 e do estabelecimento do regime comunista. Bélgica. caiu. A década de 1920 foi um tempo de grande crescimento econômico. O índice de produção estadunidense. Grécia. o Führer: alicerçava-se um Estado totalitário.Letras. estabeleceram a censura. Bulgária. as crises econômicas da década de 20 – primeiro. obrigados a pagar uma reparação gigantesca e impedidos de ter um exército de tamanho compatível com a realidade de uma Potência. pág. em 1929. No EntreGuerras. 1989). o fascismo não seria a opção mais autoritária de direita no Entre-Guerras. Lituânia. em 1923. chegava ao poder na Alemanha o principal discípulo das ideias de Mussolini: Adolf Hitler. os nazistas agiram com muita força no campo simbólico. tinha entre seus princípios: -a existência do Estado autoritário. Desde o final do século XIX que as organizações de massa do nacionalismo alemão desviaram-se do liberalismo herdado de 1848 para uma postura militarista. Até no Brasil. O novo líder alemão conseguiu não apenas superá-lo como radicalizar mais ainda a ideologia fascista: estabelecia-se o nacional-socialismo na Alemanha. eslavos e ciganos. e o capitalismo. surgiu em meio à crise da década de 1920 e encontrou nos problemas da Alemanha e do mundo no pós-I Guerra Mundial as razões de seu fortalecimento. Polônia. Também conseguiram o rápido rearmamento do Exército. antimarxistas e anticapitalistas: o marxismo. quando os combates foram suspensos por meio de um armistício – e não de uma capitulação –. Não obstante. para onde eram enviados os elementos indesejados. Em 1933. 20 O Fascismo italiano. agressiva e antissemita. em 1937. com o Estado Novo de Getúlio Vargas. resultado da quebra da Bolsa de Nova York – se mostraram fundamentais para criar um caldo simbólico de ódio e rancor. ganhava ainda mais força um novo movimento político baseado no chauvinismo. 22 Aos ingredientes do fascismo. Tal nacionalismo passou a atrair as classes médias frustradas. pág. A culpa para o armistício era jogada sobre as costas do poder civil. Ademais. os antiliberais e os antissocialistas. Ademais. alcançado por meio de eleições democráticas. Por fim. na xenofobia e na idealização da expansão nacional. 21 As origens do nazismo O nacional-socialismo. promoveram expurgos no serviço público e nas universidades e criaram os campos de concentração. pág. . supostos responsáveis pelo fracasso. na conquista e no próprio ato da guerra. Iugoslávia. porque o território alemão não fora invadido em 1918. os nazistas juntaram o racismo – especialmente contra judeus. Os alemães foram declarados culpados pela guerra. para citar os Estados europeus. ou nazismo. copiado depois por muitos outros países. hierarquizado e presente em todas as etapas da vida do indivíduo – o indivíduo não existia fora do partido –. -a exaltação da guerra e da grandeza nacional. era desigual e individualista. Estônia. A primeira dessas razões é o perene revanchismo alemão oriundo da derrota e das imposições dos vencedores da I Guerra Mundial. Razões econômicas que repercutiram em movimentos sociais questionaram a frágil democracia da República de Weimar. Portugal. seria obra dos judeus. -o Estado como o árbitro nas relações entre patrões e empregados. as condições do Tratado de Versalhes para a Alemanha foram muito mais duras do que o Presidente Wilson sugerira. Hungria. e pregavam um nacionalismo levado às últimas consequências. os nazistas iniciaram profundas reformas: instituíram um modelo de partido único. simultaneamente. quando o país passou pela hiperinflação. Uma vez no poder. Letônia e Áustria. dominaram o Judiciário. foi estabelecido um regime fortemente influenciado pelas ideias fascistas. particularmente os socialistas que negociaram o armistício. por sua vez. depois. Em segundo lugar. como foi denominado o regime alemão em sua breve experiência democrática (1919-1933). parecia haver um equilíbrio entre os lados combatentes. Muitos outros países adotaram regimes similares ao italiano ou inspirados nele: Espanha. -a preponderância do coletivo – ou das massas – sobre o indivíduo. pois ambos estavam exauridos. Simbolicamente. Uma palavra resume esse processo: propaganda. baseado na figura do chefe (ou líder) e no partido único. defendiam um sistema de partido único. No pós-I Guerra Mundial. o nacionalismo foi definitivamente incorporado pela direita política. os alemães não se sentiam derrotados. Os nazistas eram. os “entreguistas”. ao resumirem o Estado a um chefe único. como é também chamado. que só encontraria congênere na URSS stalinista. Também aprofundaram o autoritarismo fascista. para os nazistas. Ao lado dessas ações práticas. Em 1938. ganhou as eleições a Frente Popular. os republicanos contavam com a Força Aérea e a Marinha. Itália e Japão). de Charles Chaplin. em 1936. as tropas de Franco já dominavam metade do território espanhol. e das províncias ocidentais do país. Entretanto. a Guerra Civil Espanhola foi um conflito que repercutiu muito além da Península Ibérica: com a participação das Potências – Alemanha e Itália apoiando Franco e URSS auxiliando os republicanos – e dos grupos de voluntários de diversas nacionalidades. Carr (Brasília: EDUNB.000 exilados. assista ao filme Tempos Modernos. Trata-se do último filme mudo de Chaplin. São Paulo: IOESP. 2001). a guerra civil deixou a Espanha em uma situação catastrófica. comunistas. Leia a sinopse do filme! . o governo republicano recorreu a milícias. Apesar das resistências. liderados por Franco. e o país iniciaria um processo de redemocratização. inclusive do Brasil. o conflito adquiriu um caráter internacional e extremamente ideológico. levando grande parte da população ao desemprego e à fome. quando então a monarquia seria restabelecida. a Espanha gastou todas as suas reservas e a dívida externa cresceu. Para fazer frente à revolta do Exército. com os trabalhadores. serviu de justificativa para o levante militar liderado pelo general Francisco Franco. simpática aos países do Eixo (Alemanha. imediatamente após a crise de 1929. Bascos e catalães apoiavam a República. de Edward H. quando a depressão econômica atingiu toda a sociedade norte-americana. o governo de Franco instaurou uma ditadura de direita. e o país voltou à condição de economia eminentemente agrária. em 13 de julho de 1936.pág. 23 A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) Episódio marcante do Entre-Guerras foi a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O novo governo apoiou as reivindicações dos movimentos operários e camponeses. e os trabalhadores começaram a ocupar as fábricas e a invadir terras. tinham apoio de setores conservadores. que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30. a partir do Marrocos espanhol. pág. Estabeleceu-se um governo de índole fascista. O assassinato do líder monarquista Calvo Sotelo por forças anarquistas. em 1975. IPRI. socialistas e radicais. em 1930. Entretanto. um clássico que ilustra o impacto da Segunda Revolução Industrial sobre a vida humana. os franquistas conseguiram isolar a Catalunha de Madri. a República espanhola mostrou-se democrática e. Barcelona capitulou em janeiro de 1939 e Madri em março do mesmo ano. Livro indicado O livro fundamental para se entender o Entre-Guerras sob a perspectiva das relações internacionais é Vinte Anos de Crise: 1919-1939. constituindo-se em um confronto sangrento e generalizado. 24 Economicamente. liderado por Franco. o rei da Espanha Afonso XII tentou restabelecer um governo constitucional. como o Exército e parte do clero católico. armando os populares. e que perduraria por quase quatro décadas. No que concerne às relações internacionais. A malha industrial espanhola foi destruída. Esse regime se manteria até a morte de Franco. as eleições de 1931 acabaram com as pretensões monarquistas: o rei foi exilado e a República proclamada. composta por anarquistas. deixara cerca de 500. acabou a sangrenta guerra que dividira a Espanha. Com o fim da guerra.000 mortos e 450. Em dois meses. A infraestrutura foi muito danificada. a pequena burguesia radical e parte do campesinato. O conflito foi caracterizado pelo confronto entre as grandes correntes ideológicas da época e nele lutaram voluntários de diversas partes do mundo. Vídeo Também sobre o Entre-Guerras. A renda per capita só recuperaria os níveis de 1936 em meados da década de 1950. Enquanto os nacionalistas. a guerra se prolongaria por três anos. Contavam os republicanos também com as regiões industriais que ocupavam o triângulo Madri-Valência-Barcelona. Em 1º de abril de 1939. Após a queda da ditadura de Primo de Rivera. Como aconteceu na União Soviética. Como sempre prometera. é inegável que a opção totalitária reergueu o país. como ficou conhecida a Alemanha nazista. de 28 de abril de 1937. e a indústria retomara sua força. o que seria para elas demasiadamente interessante. evitaram agir para impedir o avanço da política externa nazista. que se fez ao custo da entrega da Áustria e da Tchecoslováquia para a Alemanha. os regimes autoritários puderam mostrar seu poder e testar sua máquina de guerra. Hitler desejava conduzir os alemães à retomada do orgulho nacional. Havia também a expectativa.pág. e caças Heinkel.. de Sam Wood (EUA.” Quadro-manifesto retratado por Pablo Picasso . ainda traumatizadas pelos efeitos da Primeira Guerra. Recuperada do ponto de vista doméstico. e as democracias deixaram claro o misto de desinteresse e impotência para lidar com temas que envolviam o risco de abalo da “segurança coletiva”. indispensável para a sobrevivência do III Reich. mais de 3000 projéteis incendiários de 2 libras. a Alemanha se lançaria em uma nova empreitada de política externa. Toda a extensão da tragédia causada pela Guerra Civil Espanhola pode ser constatada pela reportagem do The Times. de lumínio. centro de suas tradições culturais. Grã-Bretanha e França contavam com o conflito entre os dois grandes Estados totalitários. da paz a qualquer preço. calcula-se. aos poucos. 26 O III Reich e os antecedentes da II Guerra Mundial Nos três anos que se seguiram à nomeação de Adolf Hitler Chanceler da Alemanha.. Em 1936. em seu avanço para o leste. derrubando cada imposição do acordo de paz de 1919 e anexando novos territórios ao Reich. não parava de despejar sobre a cidade bombas de 1000 libras e. de modo que o país já se mostrava internacionalmente competitivo. os caças mergulhavam sobre a cidade para metralhar a parte da população civil refugiada nos campos(. já era uma das maiores economias do mundo: havia reduzido o desemprego em 40% já em 1934. por parte das democracias europeias. Ao mesmo tempo. logo o III Reich se chocaria com a URSS. estrelado por Ingrid Bergman e Gary Cooper. Livro indicado . Com ações calculadas que jogavam com a capacidade de reação das Grandes Potências. a Alemanha foi.). durante as quais uma poderosa esquadra aérea alemã. pág. a mais antiga cidade dos bascos. o III Reich. Grã-Bretanha e França. Nela as ideologias se confrontaram. 25 A guerra na Espanha foi o prelúdio da nuvem negra que se abateria sobre a Europa e o mundo a partir de 1939. da qual extraímos o seguinte trecho: “Guernica. Era a política do apaziguamento. composta de bombardeiros Junker e Heinkel. Assim. muito atrás das linhas de combate. de que. 159 min). durou três horas e quinze minutos. foi completamente destruída ontem à tarde por um reide aéreo dos revoltosos. 1943. por meio do repúdio às imposições estabelecidas pelo Tratado de Versalhes e da busca do “espaço vital” a leste. o governo nacional-socialista promoveu transformações que rapidamente reconduziram o país ao seleto clube das Grandes Potências.Guernica Vídeo A Guerra Civil Espanhola é o pano de fundo do filme Por Quem os Sinos Dobram. O bombardeio dessa cidade aberta. inúmeras obras públicas estavam sendo feitas. em 30 de janeiro de 1933. Londres e Paris não consideraram o improvável: em agosto de 1939.Objetivas".Vide “A Política Exterior do III Reich: Algumas Reflexões”. 170 anos da assinatura do 1º Tratado de Comércio e Navegação. In: Albene Menezes e Mercedes Kothe (orgs. de Joanisval Brito Gonçalves. Perspectivas Históricas. 1997.Realize as atividades propostas para a Unidade/Módulo. Alemanha e URSS assinaram um tratado de não agressão.Evolução Histórica das Relações Internacionais . Brasil e Alemanha. o aluno deverá estar apto a: # discorrer sobre os principais antecedentes da II Guerra Mundial.A Segunda Guerra Mundial Objetivos da Unidade: Ao final desta Unidade inicial. Para desespero das democracias ocidentais. seus antecedentes e fases.). Siga em frente! . os dois inimigos figadais aliavam-se. Esta Unidade é dedicada ao estudo da II Guerra Mundial. Estava pronto o quadro que levaria à Segunda Guerra Mundial. Acesso pelo menu lateral "Avaliações. Brasília: Thesaurus. Módulo III . # indicar os principais fatos que marcaram cada uma das fases do conflito. lhe apresentará as causas que levaram à Segunda Guerra Mundial e os relatos de como se desenrolou a guerra em seus momentos principais. A abordagem desse conteúdo.da Segunda Guerra Mundial ao Século XXI Unidade 1 A Segunda Guerra Mundial Unidade 2 O Sistema Internacional Pós-1945 Unidade 3 O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990 Unidade 4 O Sistema Internacional no Século XXI: Perspectivas Unidade 1 . Entretanto. 1827-1997. Avaliação objetiva Atividades de autoavaliação . A França. Seu legado produziria uma nova configuração de poder mundial nas décadas que se seguiriam. anexação de territórios onde houvesse alemães e aquisição do espaço vital para a construção da Grande Alemanha – Gross Deutschland. Todavia. em abril de 1935. O fato foi que os ocidentais se recusaram a fechar um pacto. em 23 de agosto de 1939. aproximou-se da Alemanha. gerou preocupação nos países do continente. Mussolini na Etiópia e o Japão na China. uma vez . que havia sido tentado no âmbito da Sociedade das Nações. que. que alcançaria o século XXI. Em outubro. pois encontrava-se dividida sobre que lado apoiar. italianos e até pelos soviéticos. os países europeus ainda tentam manter a condução dos destinos das relações internacionais. Ademais. renunciando ao ideal do internacionalismo proletário. de 1939 a 1941. travada entre praticamente todos os povos e culturas do planeta. em resposta. a URSS reforçou seu isolacionismo político. Qualitativamente. propôs um Pacto dos Quatro Grandes (Grã-Bretanha. particularmente os EUA. Itália. 02 EUA e URSS A estratégia hitleriana de dominação do Leste forçou a URSS a aproximar-se do Ocidente. pág. para a decepção dos soviéticos. A França passou a buscar alianças a Leste. Ao contrário da Grande Guerra. A Itália e a Alemanha. A Grã-Bretanha. Hitler movia-se para dominar o Leste. a II Guerra Mundial foi. considerando justa a reivindicação alemã por mudanças ao mesmo tempo em que investia no reforço da coesão no âmbito do Commonwealth e da zona esterlina. a democracia era exceção minoritária no continente. com a emergência dos EUA e da URSS. As relações entre as Potências Europeias 1934 foi o ano do rearmamento alemão: após se retirar da Sociedade das Nações no ano anterior. os EUA adotaram o isolacionismo. em 1939. durante certo tempo. Apesar de ampliarem sua presença na economia mundial. o que não foi aceito pelos países menores. Ademais. membro da Sociedade das Nações. bipolarizada. assinou um pacto de não agressão com a Polônia (aliada tradicional da França) e encontrou-se com Mussolini para evitar choques de interesses na área do Rio Danúbio. o conflito torna-se mundializado. todavia. as ditaduras fascistas dominavam a Europa Central e Oriental e. sob a ótica política. Essa associação entre as duas Grandes Potências totalitárias da Europa. Na Conferência de Stresa. A II Guerra Mundial pode ser dividida em duas fases. com um saldo de mais de 80 milhões de mortos e prejuízos econômicos incalculáveis. o Adriático e o Mediterrâneo. em um significativo conjunto de transformações no equilíbrio de poder mundial. o projeto político-comercial pan-americano dos EUA os mantinha longe da Europa. particularmente na política europeia. com a Guerra Civil Espanhola. significou uma nova concepção de relações internacionais. Em 1934. em vão. mesmo após o início da II Guerra Mundial. em reação. mirando a Polônia e a Tchecoslováquia. com o fim de rever tratados e liderar a Europa. alcançou todos os continentes habitados e envolveu as Grandes Potências e seus aliados em um confronto sem precedentes. E. em ações que tinham a indiferença ou mesmo o consentimento das Potências ocidentais. retiraria da França e da Grã-Bretanha a condição de Potências hegemônicas e deixaria a Alemanha. fazer alianças e aderir à Sociedade das Nações em 1934. comercial e financeiro. A partir daí. porque prejudicavam as exportações britânicas. os objetivos soviéticos de política exterior apresentavam uma dualidade: formar uma frente antinacional-socialista ou atuar como o fiel da balança entre os “dois campos burgueses do capitalismo”. que vai de 1941 até 1945. Alemanha e URSS. 01 A II GUERRA MUNDIAL (1939-1945) A II Guerra Mundial estendeu-se de 1939 a 1945. O clima esquentou em 1936. os dois grandes Estados fascistas da Europa. a opinião pública estadunidense permaneceu disposta a não se envolver no conflito. Entretanto. aproximaram-se. URSS e o Japão. A Itália. um pacto geral sobre o Leste europeu. o Japão e a Itália sem os espaços internacionais conquistados à força no Entre-Guerras. a Itália invadiu a Etiópia. e não recebeu qualquer condenação ou sanção. de fato. desprezava os tratados e buscava o expansionismo por meio do rearmamento. Alemanha e a própria Itália). a guerra colocaria um fim à supremacia europeia e ao eurocentrismo no sistema internacional. França e Grã-Bretanha recusaram a denúncia unilateral alemã dos tratados. também fora isolada pelas Potências europeias. e a guerra é eminentemente europeia. Na primeira. como o fora a I Guerra Mundial. buscando não interferir nas relações internacionais do Velho Mundo. considerado uma traição política pelos franceses. Hitler rompeu unilateralmente com os acordos de Versalhes e Locarno. A opinião inglesa endossou o pensamento de Keynes de reduzir as reparações alemãs. celebrou um acordo naval em junho do mesmo ano com Berlim. em 1933. que culminaria no pacto de não agressão entre os dois países. com a segunda fase. Registre-se que o Presidente Franklin Delano Roosevelt se reelegeu com um discurso de que os EUA não participariam da guerra na Europa. França. A Grã-Bretanha buscava fugir de engajamentos militares na Europa. De fato. surpreendentemente. com a participação de novos Atores. e acabaram deixando soltos Hitler na Europa. e se prenuncia uma nova ordem internacional. ampliando expressivamente o raio de ação das relações internacionais contemporâneas. marcada pelo nacionalismo ardente que rejeitava tanto a igualdade dos povos como a dos indivíduos. o processo de expansão e construção do mundo liberal seria substituído por uma nova ordem internacional. e Mussolini. aumentava a descrença na Sociedade das Nações.pág. Antecedentes: A Chegada de Hitler ao Poder na Alemanha A ascensão de Adolf Hitler ao governo alemão. A segurança coletiva europeia desmoronava. particularmente GrãBretanha e França. aproximou-se da URSS e propôs. À medida que avançava a década de 1930. Era o primeiro experimento de uma guerra civil verdadeiramente europeia. não atacasse 29 nações. o confronto ateve-se ao front oriental. Pearl Harbor. O Pianista.ª Guerra Mundial. a partir de novembro de 1939. não tinha havido praticamente embates entre as Grandes Potências no fronte ocidental.377 da GrãBretanha e os 1. 03 A Política Exterior do III Reich Após a consolidação do regime nacional-socialista no campo doméstico e a recuperação econômica da Alemanha. uma vez que toda a economia alemã voltava-se para a guerra e já estava ameaçada pela insuficiência de matérias-primas. os primeiros movimentos do inimigo. os primeiros passos da guerra foram lentos. a Alemanha se aproximou da URSS. pareciam evidentes os objetivos da política externa alemã: • reduzir a influência da França no continente. franceses e britânicos foram surpreendidos pelo pacto germano-soviético e. Apesar da manifesta superioridade. em setembro de 1939. era o símbolo da insegurança francesa (SARAIVA. um libelo ao triunfo da razão sobre o militarismo. Nos primeiros meses da guerra. Tora e Midway. que já havia estabelecido o Eixo Roma-Berlim (ao qual Tóquio aderiria pouco depois). 1997). e os EUA solicitaram a Hitler que. e à investida alemã contra a Noruega. Em 1938. Acreditavam que o isolamento levaria à ruína econômica do III Reich. Esse filme do diretor Steven Spielberg conta a história real de Oskar Schindler (Liam Neeson). Essa bela obra do diretor Roman Polanski mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia. por dez anos. Assim. momento em que houve o enfrentamento entre alemães e uma Força Expedicionária Britânica. no nordeste do país. os canhões e tanques alemães também eram numericamente superiores. a linha Maginot. Fora isso. De fato. As forças mobilizadas pareciam favoráveis aos alemães. Começava a II Guerra Mundial. 3. Hungria e Romênia aliaram-se à Alemanha. Os líderes políticos franceses e britânicos decidiram retardar ao máximo as ofensivas. Até maio de 1940. com fornecimento de armas de ambos os lados (da URSS para os republicanos e da Itália e da Alemanha para os franquistas). com a queda da Polônia em algumas semanas e os avanços soviéticos sobre os países bálticos e a Finlândia. com base no princípio de que todos os povos alemães deveriam estar unidos sob um único governo. em 1º de setembro de 1939. pág. Os regimes democráticos só buscaram unidade de ação contra Hitler após a aliança com os soviéticos e a invasão da Polônia. Filme que tem como fio condutor os eventos que fizeram com que os Estados Unidos entrassem na 2.254 da França. Em seu primeiro filme falado. a guerra no fronte ocidental ainda não começara. Sobre a guerra no Pacífico. Entretanto. Grã-Bretanha e França planejavam vencer a Alemanha pelos bloqueios em terra e pelo cerceamento dos mares. Construída. quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas. Inúmeros filmes retratam o nazismo e a Segunda Guerra Mundial. Grã-Bretanha e França ofereceram garantias para a Polônia. em busca das reservas de ferro e carvão. incorporariam os Estados Bálticos a seu território e. Às vésperas da guerra. com Berlim e Moscou negociando a partilha da Polônia. percebendo que não seria mais possível – pelo menos naquele momento – o tão esperado confronto entre os dois Estados totalitários. os alemães possuíam. ainda entre 1930 e 1935. cuja lista lhe fizeram chegar. em 01/09/1939. na Conferência de Munique. Chaplin interpreta dois papéis opostos. com a derrota desta última em Narvik. logo após o ataque japonês a Pearl Harbor. a Finlândia seria atacada. O clímax desse clássico é o célebre discurso final.228 aviões de guerra contra os 1. o III Reich anexou a Áustria e parte da Tchecoslováquia – esta última com o consentimento formal da GrãBretanha. Hitler prosseguiu com seu projeto de hegemonia alemã sobre a Europa centro-oriental. vale a pena assistir aos clássicos Tora. A partir da improvável e surpreendente aliança com os soviéticos. como a venda de armas norte-americanas no sistema cash-and-carry (pagamento à vista) no Atlântico. na estratégia da guerra estática. quando os alemães iniciaram a grande ofensiva militar sobre a França. ao passo que Hitler estava . franceses e britânicos viam-se superiores. Os soviéticos logo atacariam os poloneses pelo leste. Logo depois de divulgado o acordo germano-soviético. Cerca de dez milhões de soldados esperavam. Finalmente. Reforçava a percepção de supremacia da Grã-Bretanha e da França o fato de também contarem com forças extra-Europa.que nela se confrontaram militarmente as correntes ideológicas de direita e esquerda. tiveram que deixar de lado a política do apaziguamento. em termos econômicos. Em terra. em novembro de 1939. 04 A GUERRA A Primeira Fase: 1939-1941 Após a invasão da Polônia. A Lista de Schindler. • buscar a neutralidade da Grã-Bretanha. França e Itália. A reação de britânicos e franceses foi tardia. Vejamos alguns: O Grande Ditador. e a declaração de guerra à Alemanha por Grã-Bretanha e França. o de um barbeiro judeu que enfrenta tropas de choque e perseguição religiosa e o do Grande Ditador Hynkel (sátira a Adolf Hitler). pág. particularmente graças a seus vastos impérios coloniais. em 1939. de Charles Chaplin. de franceses e britânicos. a Alemanha pôde desencadear a invasão da Polônia. incluindo o território soviético. Fenômeno semelhante só voltaria a ser visto na época da Guerra Fria. empresário alemão que salvou centenas de judeus dos campos da morte nazistas. • instaurar um império alemão a Leste. no mar. Tora. Marechal Pétain. diante da reação estática de Londres e Paris e da hesitação da França. o que agravou a anglofobia francesa. no máximo. o que restou da França – a França de Vichy). e seus governos foram transferidos para Londres. no que culminou na maior operação de retirada da história. que Hitler não estava disposto a aniquilar os ingleses. numa fuga desesperada para deixar o continente e escapar dos alemães. pois só lhes interessava a paz se a influência franco-britânica fosse retomada sobre todo o continente europeu. em 23 de maio. Bélgica e Holanda optaram pela rendição militar. no nordeste francês. quis evitar a qualquer custo que os navios franceses se rendessem aos alemães nos portos e acabou por afundar alguns deles. para a costa do Mar do Norte. a Força Aérea Alemã. como acreditam alguns historiadores. em amarelo. a libertação de 340 mil soldados britânicos e franceses seria fundamental para os andamentos posteriores da guerra. Assim. as conquistas alemães nos anos de 1939 a 1941. quando centenas de embarcações foram envolvidas no resgate de soldados britânicos e franceses em Dunquerque. Dunquerque foi a maior humilhação por que passaram britânicos e franceses na guerra. Boulogne. ainda não haviam sido capturados pelos alemães. Todavia. estava começando: o aniquilamento dos ingleses no norte da França pelo ar. a guerra era a oportunidade para arruinar definitivamente a Alemanha. em Dunquerque. 06 Em 22 de junho de 1940. Grã-Bretanha e França não aceitaram. juntamente com a Força Expedicionária Britânica.reduzido aos seus próprios recursos e. O êxodo de 8 milhões de franceses enterrava o moral francês. herói da I Guerra Mundial. Hitler propôs a paz em 6 de outubro de 1939. a França capitulou e passou a ser o único país vencido a concluir um armistício. Um governo francês pró-alemão se estabeleceu na cidade de Vichy. após o início das operações contra a França. que a grande tarefa da Luftwaffe. a concretização da evacuação provou para os ingleses a falta de eficácia da Luftwaffe ou. o divórcio intelectual e estratégico franco-britânico concretizou-se com a evacuação das tropas aliadas. pág. tendo particular importância política para o duelo entre Churchill e Hitler. Dunquerque e Ostende eram os quatro portos no lado oposto da parte estreita da Mancha (cabeças-de-ponte para os ingleses no continente europeu) que. em especial da Força Expedicionária Britânica. e por meio da Blitzkrieg. as forças alemãs dividiram ao meio as tropas francesas e as empurraram. Berlim preparou-se para a invasão da França em 10 de maio de 1940. De fato. Calais. Essas primeiras vitórias do Eixo e dos soviéticos no início da II Guerra Mundial podem ser vistas no Mapa 24 (em verde. Acreditava-se. Ao final. Dois dias antes de se iniciar a evacuação de Dunquerque. Paris já era dos alemães. Em manobra de pinça. 05 A Queda da França Em pouco mais de trinta dias. pois esperava que se tornassem aliados do Reich. Mapa 24: A Primeira Fase da II Guerra Mundial As Vitórias Alemãs e Soviéticas na Europa . aos recursos continentais. para os franceses. Por outro lado. tornou-se o governante da França ocupada. que se tornara primeiro-ministro após o início da guerra. Winston Churchill. em 24 de maio 1940. a guerra-relâmpago. que testemunhava amplos debates internos entre a anglofilia e a anglofobia. Hitler ordenou a contenção do avanço das vanguardas em direção à cidade. para onde fugira o parlamento. nesse momento. pág. Logo essa percepção mudaria. É importante observar que o general Charles De Gaulle e parte da elite moderada francesa migraram para Londres. em muitas partes da URSS. Também em 1941. uma das maiores ondas patrióticas da história britânica. ruiu definitivamente.fr/alhouot/alain. e em verde os aliados em guerra contra a Alemanha e o Japão). avançando sobre o território da URSS: a necessidade alemã de espaço vital chocava-se com a necessidade soviética de espaço vital. que. onde estabeleceram o governo francês no exílio. quando. os EUA iniciaram o sistema do lendlease (empréstimo e arrendamento) com os países que apresentassem interesse à defesa vital dos EUA (SARAIVA. depois. em azul. com valores e regras de conduta comuns. tropas alemãs deram início à Operação Barbarossa.houot/Hist/guerre39_45/gdeux11. fez com que Hitler. pág.numericable. novo conceito em relações internacionais. Havia um vazio de poder no mundo com a França invadida e a Grã-Bretanha falida. apesar dos . As práticas comerciais começaram a mudar e a ter um novo articulador. não mais contra a URSS ou a China. O líder georgiano não acreditava que seu país seria atacado pelos alemães. 08 A Segunda Fase: 1941-1945 Em 1941. ATENÇÃO: após assistir à animação. portanto. a zona de dominação japonesa. Stalin foi pego de surpresa com a invasão da URSS. foi testemunhada. pode ser sentida até os dias de hoje. naquelas semanas. dois eventos importantes provocariam nova mudança no equilíbrio de forças da guerra e da própria ordem internacional: a invasão da URSS conduzida pelos alemães e o ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor. o fim da zona esterlina fizeram ruir a ordem liberal criada pelos ingleses.html A batalha da Grã-Bretanha (Operação Leão-do-Mar) iniciou-se em 13 de outubro de 1940. Todavia. Clique em qualquer lugar do mapa e acompanhem a movimentação das tropas alemãs e. A operação desencadeava-se em três grandes frentes: em direção a Leningrado. encerrasse a batalha para poupar aeronaves para o seu principal objetivo: a destruição da URSS. a instabilidade europeia ocasionada pela guerra criou o ambiente para as independências afro-asiáticas nas décadas seguintes e para que Stalin começasse a dar a sua contribuição para a modificação do mapa político europeu: agiu sobre os países bálticos. No Oriente. E o ano seguinte começaria com uma fase em que a guerra se tornara global (vide o Mapa 25 – em vermelho.numericable. a dos aliados.html Em 22 de junho de 1941. desapareceu o mundo que o século XIX construiu e o período de transição iniciado na I Guerra Mundial (1914-1918). A crise do mercado financeiro comandado por Londres e. que. 07 A derrota francesa significou uma ruptura da velha ordem internacional do século XIX. graças à violência dos alemães nos territórios ocupados. clique a tecla ESC para retornar ao curso! pág. não obstante a derrota ao final da guerra. somada ao “espírito de Dunquerque”.houot/Hist/guerre39_45/gdeux15. a Itália e a Alemanha julgavam-se capazes de formular uma nova ordem internacional. motivada sobretudo pelo discurso ideológico nazista de destruição ou escravização daqueles considerados “inferiores” aos arianos. A máquina de guerra alemã encontrou pouca resistência. Mapa 25: A II Guerra Mundial – O Mundo em 1942 Fonte: http://perso. A Luftwaffe iniciou os bombardeiros sobre Londres. a zona de dominação alemã. ao final do mês. sobre a Grécia e comandou várias anexações na Romênia e na Bessarábia (transformada em Moldávia). O equilíbrio de poder que havia moldado a sociedade europeia. No Ocidente. De fato.fr/alhouot/alain.Fonte: http://perso. mas a favor de prosperidade econômica. 1997). Moscou e às reservas de petróleo da Ucrânia. Ademais. O Japão acreditava no nascimento de um novo império. que até precisaram começar a usar reservas monetárias para pagar pelos produtos norte-americanos (cash-and-carry). A ocupação alemã da França deixara o Japão livre no sudeste asiático. Veja a interessante animação sobre a Segunda Guerra Mundial dando dois cliques na imagem ao lado. o que começou a preocupar os EUA. que provocaria a entrada dos EUA no conflito. os alemães que chegavam eram vistos como liberdadores daqueles povos do jugo de Moscou e do totalitarismo stalinista. a política japonesa de substituição das potências ocidentais na Ásia – “Ásia aos asiáticos” – levou aos privilégios econômicos sobre portos aéreos e marítimos. ou “França Livre”. a partir de março de 1940. Plantavam-se as sementes do que viria a ser o Plano Marshall e de um Sistema Internacional sob a égide de uma Superpotência. Os EUA estavam novamente em guerra. em 7 de dezembro de 1941. neutralizando a expansão do Reich no norte da África. No Mapa 26. passo importante para a ulterior anexação das Filipinas. 10 O dia D Se os soviéticos avançavam no front oriental. considerado um ataque pérfido do Japão contra um país que até então se dizia neutro na II Guerra Mundial. por sua vez. estava em situação de extrema fragilidade. Demoraria algum tempo para as forças soviéticas se recomporem. chocou e comoveu a opinião pública dos EUA. 09 Com a invasão. pela primeira vez. associada ao ímpeto e à determinação do povo soviético e ao sacrifício de mais de 20 milhões de vidas. conduziu o país para a II Guerra Mundial. A operação contra Pearl Harbour tinha por objetivo neutralizar os EUA no Pacífico.relatórios da inteligência soviética que afirmavam ser o ataque iminente. o desembarque das tropas angloamericanas na Argélia e no Marrocos. numa só. No período de maio de 1942 a meados de 1943. O gigante estadunidense fora despertado e agora envidaria todos os esforços para por fim às pretensões das ditaduras fascistas de dominar o mundo. quase dois quintos do total da guerra. pág. Os aliados sabiam que. os EUA apoiaram a resistência soviética. que desarticularam o Estado-Maior e aniquilaram o melhor que havia da oficialidade. o que. A contenção do avanço japonês pelos aliados. A ajuda ocidental funcionou. por meio da declaração formal de guerra anunciada pelo Presidente Roosevelt a 8 de dezembro de 1941. a hegemonia alemã no velho mundo seria incontestável. se a URSS caísse. Hitler perdeu. tinha uma característica peculiar: raio planetário. Outro significativo ponto de inflexão na II Guerra Mundial deu-se com o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor. rompido o isolacionismo. Stalin denunciava o abandono do flanco oriental. sugerimos alguns sítios sobre a II Guerra Mundial. e a capitulação das tropas alemãs em Stalingrado anunciaram a reação aliada e a mudança do curso da guerra a seu favor. seriam enviados em socorro aos soviéticos. da Malásia e de Hong Kong. e acarretou a união das duas guerras paralelas. é possível ver as linhas dos fronts de 1942 a 1945. Dentro dos planos japoneses de projeção de poder no continente asiático e no Pacífico. uma Blitzkrieg. particularmente em virtude dos expurgos stalinistas da década de 1930. na Bielo-Rússia e na Polônia. mas se esperava realmente por uma invasão no norte da França que perfuraria a inexpugnável “fortaleza do Atlântico” e estabeleceria as cabeças de ponte para a reconquista da Europa Ocidental e o avanço de estadunidenses. Link No Menu lateral. Não deixe de conferir! pág. por um erro estratégico das forças aliadas: desde janeiro de 1943. tornou a luta contra o Eixo uma forma de sobrevivência do modelo planificado e socialista de Estado. Esta. Mapa 26: A Guerra na Europa de 1942 a 1945 . e a URSS foi incluída na aliança ocidental já em outubro de 1941. a guerra caracterizou-se por movimentos marcantes. A nova política da Grande Potência do continente americano. Isso lhe custou a vida de vinte milhões de soviéticos. britânicos e seus aliados rumo à Alemanha. a abertura de um front ocidental era uma exigência de Stalin e uma necessidade na estratégia aliada. contribuiriam para a resistência e a contraofensiva da URSS. no final das contas. Em 1944. de alimentos a armamentos. o choque com os interesses estadunidenses era apenas uma questão de tempo. o rolo compressor dos soviéticos forçou o recuo gradual das tropas alemãs na Ucrânia. o projeto da Grande Ásia. Moscou aumentava os seus. O desembarque no continente já começara no sul da Itália. mais devido ao despreparo das forças alemãs diante das péssimas condições das estradas soviéticas e do terrível inverno russo do que em virtude da capacidade de reação de Stalin. Pearl Harbor. a da Ásia e a da Europa. O Exército Vermelho. Enquanto Tóquio perdia seus satélites. Em território russo. em Links relacionados. no Havaí. Logo grande quantidade de recursos. protegida por 600 navios e milhares de aviões. Pela primeira vez na história da milenar monarquia japonesa. lançou uma poderosa ofensiva contra os alemães. as tropas aliadas asseguraram uma sólida cabeça de praia no litoral francês (vide Mapa 27) e dali partiram para expulsar os alemães de Paris e. ocupando 80km da costa ao norte do país.Fonte: http://perso. a URSS.html Simultaneamente ao desembarque do lado ocidental. A URSS declarou guerra ao Império Japonês em 8 de agosto de 1945. marchar em direção à fronteira da Alemanha. Ao final de agosto de 1945. a 8 de maio de 1945. Mas não havia mais contra quem lutar. muitos dos quais haviam sido evacuados de Dunquerque três anos antes.houot/Hist/guerre39_45/gdeux25. conclamando-o à rendição incondicional. Transportados por uma frota de 14. Na maior operação militar aeronaval da História. em 6 e 9 de agosto respectivamente. Era o primórdio do colapso final do III Reich. região da França atlântica. deveria durar mil anos. os aliados começaram a invasão do continente a partir da Normandia. O Japão capitulou quatro meses depois. A invasão deu início à libertação europeia do domínio nacional-socialista.200 barcos. 155 mil homens dos exércitos dos EUA.html pág. França e Canadá. após as bombas atômicas norte-americanas terem arrasado Hiroshima e Nagasaki. Hitler suicidara-se em 30 de abril de 1945. em seguida. Mapa 27: O “Dia D” – 6 de junho de 1944 O Desembarque Aliado na Normandia Fonte: http://perso. Acabava a guerra na Europa. Grã-Bretanha.houot/Hist/guerre39_45/gdeux23. todas as ações militares foram suspensas. o império que. O país já se dispusera a negociar a rendição com os norte-americanos.fr/alhouot/alain. Naquela data. e com ele morriam as ideias megalômanas de dominação da Europa e da prevalência da raça ariana. no Leste da Europa. Onze meses depois.numericable. 11 O “Dia D” finalmente ocorreu em 6 de junho de 1944. Terminava a maior e pior guerra que a humanidade jamais travara. segundo a propaganda nazista. .fr/alhouot/alain. a Alemanha de Hitler rendia-se.numericable. o Imperador falou para o povo. lançaram-se nas praias da Normandia. o desembarque aliado de 6 de junho de 1944. ainda. O Exército Vermelho já ocupava a maior parte da região. Como se observa. que. Grã-Bretanha. mostrando a clara diferença entre eles e os demais Estados-membros da Organização e a desigual configuração de poder no Sistema Internacional. Grã-Bretanha. Por fim. e Uma Ponte Longe Demais. em 1945. . tornarem-se Superpotência. proposto pela Polônia. O tempo das relações internacionais já era outro: a política das áreas de influência na Europa se tornaria o modelo da política mundial nas décadas seguintes. a Grã-Bretanha preocupava-se com a expansão soviética. mas os EUA recusaram. no qual o poder concentrava-se na mão dos cinco grandes vitoriosos da II Guerra Mundial: EUA. nessas discussões políticas. URSS e China. o fim da condução europeia das relações internacionais e o surgimento de duas Superpotências com raios políticos de alcance planetário. nas reuniões de São Francisco. no segundo semestre de 1943. materializando o sonho wilsoniano. Na ocasião. que trata do Dia “D”. ideia que lembrava o Concerto Europeu do século XIX e as ideias do Congresso de Viena de 1815. pág. que será melhor explorada na Unidade seguinte. França e China. especialmente dos territórios tirados da China. apesar de ter sido garantida a participação da Grã-Bretanha e da França no Conselho de Segurança da Organização. EUA e URSS (SARAIVA. o fim dos sonhos de uma terceira Grande Potência (Alemanha) para substituir o antigo equilíbrio anglo-francês. o surgimento de um vácuo de poder na Europa. já não tinha voz. URSS. dentro do princípio da igualdade soberana entre os Estados. que Moscou prontamente recusou. momento em que já se procurava por uma nova era das relações internacionais e em que foram discutidos. Esses países tinham assento permanente no Conselho e poder de veto. onde cada membro tinha um voto. apenas consagrou todo esse quadro: o multilateralismo das negociações cedeu diante do unilateralismo do poder soviético na Europa Oriental. pág. uma vez que tinha um Conselho de Segurança.Vídeo Há. de Benhard Wicki. 13 A Conferência de Yalta. o que se evidenciava na Assembleia Geral. temendo a reconstrução do “cordão sanitário” do período pós-1918 e já vislumbrando as possibilidades de projeção da URSS na região. A Declaração do Cairo adicionou o Japão. a ocupação de seu território pelos três aliados e o desarmamento completo. sobre a Operação Market Garden. EUA e URSS já ensaiavam. entre abril e junho de 1945. houve uma tentativa de concerto anglo-americano. como O mais longo dos dias. As conferências internacionais de Moscou. o órgão legítimo para deliberar sobre o uso da força. atuaria como a “polícia do mundo”. pois insistiam numa instituição de raio mundial. e em Potsdam. do diretor Richard Attenborough. e sua chegada a Berlim era questão de dias. simboliza o ocaso da velha ordem internacional do século XIX. tinham como projeto a criação de instrumentos para o gerenciamento da paz no pós-guerra. com governo exilado em Londres. 1997). a Grã-Bretanha propôs a criação de três organizações regionalizadas (na América. Antes da definição da polaridade EUA-URSS. Surgiu também a ideia de um projeto federativo para a Europa. a ONU moldou-se em uma estrutura de poder realista. apesar de sua concepção idealista. e deixaram evidente a perda de importância da Europa no sistema internacional que então se delineava. A Declaração de Moscou não incluiu nada a respeito de renúncias a zonas de influência e se resumiu a três pontos: a capitulação total da Alemanha. entre julho e outubro de 1945. o futuro da Alemanha e as reivindicações territoriais dos soviéticos. Interessante observar que. Os EUA também recusaram a tese do federalismo europeu. A lógica das alianças e da diplomacia secreta cederia lugar ao esforço de reconstrução das relações internacionais com base no compromisso e no diálogo. por meio de um diretório composto entre os Quatro Grandes. alguns clássicos imperdíveis. As reuniões de São Francisco criaram a Organização das Nações Unidas (ONU). em fevereiro de 1945. e a França. um plano ousado para obter um rápido final para a II Guerra por meio da invasão da Alemanha e destruição das indústrias de guerra do III Reich – esse ambicioso plano mostrou-se um dos grandes erros da guerra e causou mais baixas aos Aliados do que toda a invasão da Normandia. em Teerã. Os aliados. que só fica clara a partir de 1947. Esse foi o primeiro grande legado da II Guerra Mundial. mostraram a fragilidade da aliança entre as Potências ocidentais e a URSS: os EUA reapresentaram as teses idealistas wilsonianas de estabelecimento de um organismo internacional de segurança coletiva para resolver problemas territoriais. O segundo foi a materialização bipolarizada desse modelo. na Europa e na Ásia). exigindo a devolução de todas as conquistas japonesas do projeto da Grande Ásia. em março de 1943. em Washington. 12 O imediato pós-guerra: 1945-1947 A destruição atômica de Hiroshima e Nagasaki. como a Manchúria e Taiwan. Cairo e Teerã. De Gaulle reclamou da ausência da França no diretório. Roosevelt propôs um diretório de quatro: EUA. . Atenção Esses objetivos devem nortear seus estudos nessa Unidade. e as relações internacionais teriam a paz garantida por um equilíbrio de poder baseado no duopólio EUA-URSS. realize as atividades localizadas no menu lateral: "Avaliações . que substituía o sistema da unanimidade anterior. identificar os principais fatos e fases desse período.Portanto. O mundo seria divido entre as esferas de influência de Moscou e Washington e começaria um novo período no sistema internacional. Vamos lá! Unidade 2 . a Carta de São Francisco. criou a ONU e tornou-se um dos grandes instrumentos de regulação da nova era das relações internacionais: firmava-se o primado do Realismo sobre o Idealismo que marcara a Sociedade das Nações.Para efeito de sua própria autoavaliação. China. A gama de livros sobre a II Guerra é significativa. para garantir o congelamento do poder e um compromisso de controle da segurança mundial. pág. URSS. Na próxima Unidade. O sistema do veto do Conselho de Segurança. Desaparecia definitivamente o mundo eurocêntrico. Vale a pena conferir.O Sistema Internacional Pós-1945 Objetivos Ao final desta Unidade inicial. particularmente da Coleção General Benício. com o catálogo de publicações da Editora. Nesse sentido. concentraremos nossa atenção no estudo do Sistema Internacional pós-II Guerra Mundial. assinada em 26 de junho de 1945. e esperamos que você possa. construía um diretório dos cinco grandes vencedores de 1945 (EUA. A Revista Veja criou um sítio interessante sobre a II Guerra Mundial.Objetivas". o aluno deverá estar apto a: assinalar as características principais do Sistema Internacional pós-Segunda Guerra Mundial discorrer sobre os fatores da gestação da Guerra Fria. sugerimos o sítio da Biblioteca do Exército. 14 Em fevereiro de 1947. Link Sobre o Brasil na II Guerra Mundial. GrãBretanha e França). o Tratado de Paz de Paris encerrou simbolicamente os turbulentos anos nas relações internacionais iniciados em 1939. Avaliação objetiva Atividades de autoavaliação . que ficaria conhecido como “Guerra Fria”. não deixe de ver. Baseava-se em um esquema de paridades cambiais fixas (mas ajustáveis). Nascia também o sistema de Bretton Woods. dividido em zonas de influência soviética e estadunidense. criada a partir de 1815.efetivamente. Nascia a ONU. O mundo seria. pág. como ocorrera no período pós-Westfália. Mapa 28: A Europa em 1946 . ficariam conhecidas como “consenso de Washington”). o mundo pós-1945 foi marcado pela hegemonia dos EUA e da URSS e um novo modelo de política internacional: o sistema de zonas de influência de raio planetário. instituições que contribuiriam para auxiliar e orientar as políticas econômicas domésticas. da URSS. que culminou na II Guerra. Um novo sistema jurídico-político-econômico internacional foi erigido ao final da II Guerra Mundial. O continente americano e o Ocidente Europeu constituíram-se em zona de influência dos EUA. demonstrar os conhecimentos que eles propõem! Recorra ao material de estudo e busque solucionar suas dúvidas! Seu Professor-Tutor poderá auxiliá-lo nessa tarefa! pág. não havia mais a ideia de uma Sociedade Internacional europeia. na década de 1980. após o fim da II Guerra Mundial. que procurava corrigir os erros de Versalhes e com a qual renascia o ideal da segurança coletiva. que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BIRD) para reconstruir o mundo destruído pela guerra e fazer com que a ordem liberal-capitalista anterior retomasse seus passos. característico do novo tipo de Ator – a Superpotência. 01 A GUERRA FRIA Muitos autores defendem que. é possível identificar com clareza essa zona sob a hegemonia soviética. A Europa entrou em uma profunda crise de valores e testemunhou o retorno dos egoísmos nacionais. 02 No âmbito político. portanto. O chamado “Sistema de Bretton Woods” foi um modelo de Ordem Econômica Internacional que vigorou entre 1944 e 1973. e o Leste Europeu. No Mapa 28. A instabilidade internacional no período de 1919 a 1939. fundamentadas no ouro-dólar – o dólar tornara-se a moeda forte da economia mundial em virtude da posição dos EUA como hegemon no sistema. corroeu um estado de equilíbrio de quase 100 anos. O sistema também incluía as políticas econômicas aplicadas pelo FMI e pelo BIRD (e que. Países Bálticos. acertada na conferência de Teerã de 1943. o pensador Raymond Aron definiu o período em que a opinião pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os EUA e a URSS. Stalin. O eurocentrismo chegou a termo. a partir dos quais é possível ter acesso aos sistemas de organizações vinculadas a esses organismos mundial e regional. Stalin rejeitou o dinheiro americano e denunciou o Plano Marshall como uma declaração de guerra econômica à URSS. 04 Para os EUA. pág. A ajuda do Plano Marshall foi oferecida aos países da Europa envolvidos na II Guerra Mundial. E. O bloqueio de Berlim. foi feito por Stalin ao perceber o desenvolvimento da doutrina antissoviética por parte dos EUA. impediu os países ocupados pela URSS (Polônia. Romênia. As ações do líder soviético acabaram por confundir os formuladores da política externa dos EUA. o que seria uma maneira de reverter o quadro de debilidade das democracias ocidentais e do capitalismo diante da penetração soviética. a Doutrina Truman.Fonte: http://perso. Para a URSS. impossível. Assustados com o aumento dos votos para os comunistas nas eleições europeias no imediato pós-guerra. e o conflito armado foi transferido para o chamado Terceiro Mundo. os países beligerantes haviam-se tornado um campo de ruínas habitado por povos muito propensos à radicalização e à revolução contrária ao sistema da livre empresa. os estadunidenses desenvolveram a versão econômica da Doutrina Truman: o Plano Marshall. que marcou o início da tensão. A Guerra Fria substituiu o jogo da hegemonia coletiva da Europa sobre as relações internacionais. O fato é que.houot/Hist/ap45/actuel1. nunca aconteceu. A assistência norte-americana para a reconstrução soviética. outros no “cordão sanitário” do Entre-Guerras. reforçando a tese da sua gestação ao final da II Guerra Mundial e como obra do erro estratégico dos aliados com relação ao flanco oriental a partir de 1943 e da rejeição da URSS à ajuda do Plano Marshall. e a paz.numericable. em 1948. os soviéticos desenvolveram a Doutrina Idanov. a URSS criou o Conselho de Assistência Econômica Mútua (COMECOM). que percebia a URSS como um baluarte do Estado proletário sob constante ameaça das Potências imperialistas e que não deveria poupar esforços para defender-se. Link As organizações internacionais criadas após a II Guerra Mundial são Atores importantes da segunda metade do século XX. Ao final da II Guerra Mundial. apesar do estado de tensão constante entre as alianças militares ocidental e do bloco soviético.fr/alhouot/alain. Veja os sítios da ONU e da OEA." Com essa frase. e os velhos impérios coloniais desapareceriam entre 1945 e a década de 1970. época em que não se havia logrado criar um mundo pacífico e democrático. ensaiava a reconstrução do país com base nas reparações de guerra e na política de zona de ocupação. o qual poderia acabar culminando na utilização dos arsenais nucleares e na consequente destruição massiva do planeta. 03 A Gestação da Guerra Fria "A Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável. Há muitas teorias sobre em que momento a ordem internacional da Guerra Fria foi gestada. O termo “Guerra Fria” deve-se ao fato de nunca ter ocorrido um enfrentamento bélico direto entre as duas Superpotências. O Realismo nas relações internacionais parece ter tido mais influência na política soviética do que a ideologia propriamente dita. Em resposta à Doutrina Truman. que associaram os movimentos de Moscou à ótica de um projeto expansionista. Hungria. A partir de 1945. sem apoio econômico. . e há os que defendem ter sido gerada nos anos finais da II Guerra Mundial. era provável que se inclinasse para os comunistas. com o objetivo de organizar economicamente o bloco socialista. os fatos que cercam a Guerra Fria passaram a ganhar novas interpretações. após a liberação recente dos documentos. ou seja. inclusive à URSS. arquivos e memórias antes proibidos para pesquisas. não houve mais guerra entre as Grandes Potências. a fusão dos interesses da indústria e do comércio norte-americanos com a busca da hegemonia mundial. promovido pelos EUA. o conceito de Superpotência correspondia à conjugação da capacidade econômica hegemônica com a vontade de construção de uma grande área sob a influência dos valores do capitalismo. O Primeiro-Ministro da França foi a Washington advertir que. que visava orientar a presença dos EUA na reconstrução econômica da Europa Ocidental. sendo o maior deles a expansão do comunismo pelo mundo. Alguns defendem ter sido na Revolução Bolchevique e no cerceamento internacional da Rússia nos primeiros anos da Revolução.html Um dos legados mais relevantes da II Guerra Mundial foi o fato do conflito ter trazido algumas soluções para o caos em que as relações internacionais se encontravam desde a I Guerra. pág. que pregava a necessidade de contenção da URSS e do expansionismo dos regimes comunistas a qualquer custo. do livre comércio e investimento. correspondia à conjugação da necessidade de sobrevivência do modelo político-econômico planificado e centralista com a necessidade de compensar sua fraqueza diante do Ocidente com a criação de uma área sob a influência dos valores do socialismo. Tchecoslováquia. com seus mais de 20 milhões de mortos na guerra. Bulgária e Alemanha Oriental) de aceitá-lo. Ademais. como resposta ao Plano Marshall. que teve como marco os Tratados de Roma de 1957. com uma fase conhecida como détente (distensão). No campo doméstico. com o objetivo de fazer do país reconstruído e de Berlim Ocidental a vitrine do capitalismo. mas também nas áreas ideológica e econômica. solidificando a ideia da área como fronteira das democracias capitalistas. Todavia. e na estrutura militar da aliança atlântica. que entre 1945 e 1949 eram os únicos detentores da arma atômica. Tratava-se de um sistema de defesa que deveria fazer frente a uma eventual agressão soviética contra seus membros. pág. a ajuda era de US$ 13 bilhões na época. Os soviéticos haviam obtido tecnologia nuclear dos EUA e da . a expansão econômica mundial e a integração europeia exigiam uma reciclagem muito maior da liquidez mundial do que estava implícito no Plano Marshall. Nos EUA. de 1955 a 1979. há os que separam a segunda fase em duas. George Kennan denunciou as pretensões soviéticas de expandir o modelo socialista pelo mundo e formulou a “doutrina da contenção”. houve reformas na organização militar interna dos EUA. França. num processo de “keynesianismo militar” global. O rearmamento foi uma forma de superar as limitações do Plano. 06 Segundo Giovanni Arrighi (1996). a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).Em valores. Passo importante na fundação do sistema bipolar seria a detonação da primeira bomba atômica soviética. Luxemburgo. A ideia era fazer com que uma economia nacional não mais ficasse dependente da manutenção de um superávit de exportações (em uma época de câmbio fixo. No plano internacional. ainda. Os EUA percebiam uma Alemanha Ocidental forte. a Agência Central de Inteligência (CIA) e o Conselho de Segurança Nacional. garantir a presença norte-americana na Europa Ocidental e a sua reconstrução segundo os valores democráticos e capitalistas. Dinamarca. Havia. Em termos militares. A contenção do avanço comunista deveria ocorrer nos campos político e militar. Daí o advento do Plano Marshall. • fase da “nova Guerra Fria”. O rearmamento nacional era um meio de sustentar a demanda. Costuma-se dividir a Guerra Fria em três fases: • fase “quente”. a URSS reagiu. Intensificou o processo de militarização das fronteiras. o bloco liderado pelos EUA constituiria um sistema mundial unificado de defesa. Também se buscava evitar qualquer sentimento revanchista alemão por meio da incorporação plena do país à Aliança Atlântica. Países Baixos. por meio da ajuda econômica. • fase da “coexistência pacífica”. em 1949. Canadá. em 1947. econômica e militarmente. a preocupação particular com a Alemanha. como a primeira linha de defesa contra uma eventual expansão soviética rumo à Europa Ocidental. de 1979 a 1991. Foram feitos investimentos em grandes quantidades na Alemanha Ocidental ao final da década de 1940. instituição que se encarregaria de aplicar a ajuda estadunidense e servir de foro para novas iniciativas de cooperação europeia. Bélgica. a Lei de Segurança Nacional (1947) criava o Departamento de Defesa. em 1949. por meio do seguinte processo: rearmamento (produção industrial e desenvolvimento tecnológico) -> tecnologias colocadas no mercado -> sustentação e excitação da demanda doméstica -> fortalecimento do mercado doméstico A assistência militar dos EUA à Europa foi um meio de continuar a prestar assistência ao velho continente após o fim do Plano Marshall. o recrudescimento da política de espaços na Europa Oriental e a aceleração do projeto de desenvolvimento da bomba atômica: essa seria a resposta de Moscou à política antissoviética adotada pelos EUA. Noruega e Portugal. Também foi criada a Força Aérea estadunidense. Grã-Bretanha. sob pena de depreciação de sua moeda). Diante das ações estadunidenses. 05 A Fase “Quente”: 1945-1955 O período inicial da Guerra Fria é marcado pelo início da rivalidade entre EUA e URSS e pela divisão do mundo em um modelo bipolar. Itália. Os gastos militares no exterior (que saltaram entre 1950 e 1958 e entre 1964 e 1973) forneceram à economia mundial a liquidez necessária para se expandir. que vai de 1945 a 1955. e foi criada. Acompanhava o Plano Marshall o estabelecimento da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OCDE). composta por EUA. que marca a fundação de um concerto americano-soviético e o início da decomposição ideológica do conflito Leste-Oeste. Irlanda. O Plano Marshall estabeleceria os alicerces da reconstrução europeia e do processo de integração. embrião da atual União Europeia. o que seria equivalente a cerca de US$ 100 bilhões em 2002. cujo objetivo era. pág. entre 1969 a 1979. pág. Polônia e Romênia: estabelecia-se o guarda-chuva militar de Moscou sobre a Europa Oriental. Ainda no que concerne à Europa Oriental. a China foi reorganizada nos moldes comunistas. a URSS mostrava ao mundo que havia. Em 1947. momento em que ficou clara a liderança soviética sobre os movimentos de organização dos comunistas franceses. Bulgária. o COMECOM teria a adesão da Alemanha Oriental em 1950. Moscou não aceitaria democracias populares multipartidárias em sua área de influência. No campo econômico. em 1972. Romênia. com as respectivas datas de ingresso de cada país no bloco socialista. romenos e búlgaros. Albânia. em substituição à Internacional Comunista. Tchecoslováquia e a própria URSS). foi criado o Pacto de Varsóvia. esta foi rapidamente “sovietizada”. poloneses. Ademais.Grã-Bretanha por meio de uma eficiente operação de espionagem. iugoslavos. Composto inicialmente por seis países (Bulgária. Com a vitória comunista sobre os nacionalistas. talvez o evento mais importante da história da Ásia no século XX. que logo ocuparia seu espaço no cenário mundial e rivalizaria com a URSS a liderança do bloco socialista. foi assinado acordo com a República Federativa Socialista da Iugoslávia e. O Kominform tinha por objetivo propagar a revolução comunista no mundo e garantir o controle ideológico dos partidos comunistas no Leste por Stalin. O COMECOM simbolizava o internacionalismo soviético na Economia. Isso desencadearia uma perseguição aos comunistas – ou aqueles suspeitos de simpatia à URSS – que provocaria um período de terror nos EUA conhecido como Macartismo. Em 1962. Hungria. incorporava a Grécia e a Turquia) e. com a coletivização das terras e o controle estatal sobre a economia.fr/alhouot/alain. Polônia.houot/Hist/ap45/actuel3. tchecos. Do dia para a noite. Tchecoslováquia. um quinto da população do planeta passava a viver sob regime comunista. Em 1964. em 1955.numericable. em 1952. Entre 1956 e 1968. uma outra Potência nuclear. o ingresso da Mongólia representou um primeiro passo para uma estruturação do COMECOM para além da Europa. Hungria. Mas Moscou também mostrava-se disposta a patrocinar a revolução socialista em qualquer parte do mundo. Cuba ingressou na Organização. foi criado o Conselho Econômico de Ajuda Mútua (COMECOM) para estruturar as relações econômicas entre os membros do bloco socialista e para se contrapor ao Plano Marshall. húngaros. Começava a corrida armamentista entre as duas Superpotências. foi criado o Kominform. 08 A hegemonia soviética na Europa Oriental criou uma área de influência a que Churchill chamou de “cortina de ferro”. com a bomba. De toda maneira. integrado por URSS. pág. Moscou buscou garantir também um sistema de defesa convencional baseado em uma aliança militar para contrapor-se à OTAN (que. Coreia e República Democrática do Vietnã obtiveram o status de observadores junto ao COMECOM. ocupada pelo Exército Vermelho. Daí seu apoio à Revolução Chinesa de 1949. italianos. 07 Além da força nuclear.html Vídeo . a partir de então. O bloco socialista na Europa e a cortina de ferro estão registrados no Mapa 29. nascia uma nova Potência. Mapa 29: A Expansão da URSS no Leste Europeu no Pós-II Guerra e a Cortina de Ferro Fonte: http://perso. Os anticastristas encontravam-se nos EUA e tiveram apoio da CIA e do governo norte- A fragilidade dos EUA em relação à hegemonia global também começava a acontecer em outras regiões do planeta. Coreia do Sul e Taiwan. o filme se molda a partir de uma longa entrevista do cineasta com Robert Strange McNamara. entre as quais a entrada dos EUA na guerra do Vietnã e o apoio estadunidense a regimes capitalistas do extremo oriente – Japão. dois filmes são sugeridos: Apocalipse Now. A posição dos EUA na Ásia estava fragilizada. A ONU enviou tropas multinacionais sob o comando dos EUA. 1997). inicialmente. de Oliver Stone. 09 A Guerra da Coreia e a disputa bipolar na Ásia Estavam. McNamara apresenta. os EUA desembarcam tropas no sul do país e estabeleceram um governo antirrevolucionário de notáveis. com o apoio de tropas chinesas. Em virtude dessa ameaça. Convém lembrar que o armistício apenas suspendeu os embates bélicos. A ONU reconheceu a divisão do país em dois pelo Paralelo 38 e uma guerra se iniciou em 1950. definidos os dois “condomínios” internacionais de influência. Migs soviéticos sobrevoaram e bombardearam a Coreia do Sul e. com Kevin Costner e Bruce Greenwood. Na incontestável zona de influência norte-americana. pelo Tratado de Roma. dirigido por Roger Donaldson. O filme conta a história da Crise dos Mísseis de Cuba (1962). Essa decisão teria grandes repercussões pelas décadas da Guerra Fria. A Comunidade Econômica Europeia foi instituída. 2000). pág. por exemplo.Para conhecer o clima de tensão da Guerra Fria. Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2004. e os norte-americanos mais que nunca temiam o risco do “efeito dominó”. As duas Coreias se tornaram um monumento dos anos quentes da Guerra Fria (SARAIVA. de forma realista. Entre 1950 e 1953. de modo que. as duas Superpotências jogaram todos os seus esforços na demonstração de poder mundial na Guerra da Coreia. Foi o maior conflito armado desde a II Guerra Mundial. 10 Mais disputa bipolar Desembarque na Baía dos Porcos . a América Latina. na Coreia e no Vietnã acabasse repercutindo por toda a Ásia. e os norte-coreanos recuaram de volta ao Paralelo 38. nem tendências comunistas tinha). sob a vigilância da ONU. quando as tropas dos EUA se retiraram. a guerra continua até nossos dias. por meio do qual se criou uma zona de segurança separando as duas Coreias. o estabelecimento de um regime comunista pró-soviético em Cuba. com o estabelecimento de regimes comunistas de influência soviética pelo continente e a consequente perda de poder estadunidense na região. estrelado por Marlon Brando. . por meio da Operação Killer. tendo como núcleo a unidade franco-germânica. Outro filme fundamental para a compreensão do período e da maneira como eram tomadas as decisões é Sob a Névoa da Guerra. revelou que as estruturas da Guerra Fria não eram tão absolutas quanto se desejava. que culminariam na reestruturação das relações entre as Superpotências. foi assinado o armistício de Panmunjom. com ênfase na maneira como se conduziu o processo decisório no Governo Kennedy e as negociações com os soviéticos. e Platoon. Vídeo No que concerne à Guerra do Vietnã. em 1957. os tomadores de decisão nos EUA concluíram que o país deveria envidar todos os esforços possíveis para conter o avanço do comunismo pelo mundo. impuseram vitória sobre as tropas norte-americanas. em 1954: Vietnã do Norte. Kennedy e Lyndon Johnson (entre 1961 e 1967). e o do Sul. com o fracassado desembarque na Baía dos Porcos. Secretário de Defesa estadunidense dos governos de John F. e se apresentou como alternativa ao plano norte-americano de integração do continente. Outro país a se dividir foi o Vietnã. e que era claro o risco da perda da influência norte-americana em quaisquer regiões do planeta. pág. ou seja. capitalista. de Francis Ford Copolla. após a Revolução de 1959 (que. dirigido por Errol Morris. comunista.trata-se de uma fracassada tentativa de cubanos contrários à Revolução de desembarcarem na ilha e porem fim ao regime de Fidel Castro. compreendendo uma área de quatro quilômetros ao longo do Paralelo 38. Em 1953. de que o que acontecera na China. Com a proclamação da República Popular Democrática da Coreia pelos revolucionários comunistas. quando os nortecoreanos invadiram o território ao sul do paralelo em resposta ao envio norte-americano de esquadras para Taiwan e para a Coreia do Sul. jogaram bombas de napalm e ameaçaram a China com o uso de armas atômicas. Ambos foram produções marcantes que revelaram muitos dos horrores da Guerra do Vietnã. a grande chaga na política externa dos EUA na segunda metade do século XX. tecnicamente. Só se chegou a um equilíbrio militar ao final de 1951. assista a Treze dias que abalaram o mundo (Thirteen days. e teve início uma política de acomodação. portanto. por sua vez. como se conduziram a política externa e as relações com a URSS e outros atores em uma das épocas mais conturbadas da Guerra Fria. as quais. Ao explodir sua primeira bomba atômica. mas pouco disposta a bater de frente com os EUA. O condomínio comunista não deu sinais de expansão significativa entre a Revolução Chinesa e a década de 1970. acabariam os anos quentes e começaria a fase da coexistência pacífica. A coexistência pacífica foi a fase da flexibilização da política externa dos EUA e da URSS em que. por uma nova ordem econômica internacional na década de 1970). após a reconstrução proporcionada pelo êxito dos investimentos e doações norte-americanas por intermédio do Plano Marshall. por sua vez. Bulgária. tendo em vista o avanço do projeto de Mísseis Antibalísticos (ABMs) dos EUA e a nova doutrina militar da OTAN na Europa (nuclearização). americano para realizar a ação armada contra o regime de Castro. A URSS. Outros. tornava-se mais forte. √ A crise dos mísseis em Cuba (1962): tentativa de Krushev. adotamos essa posição. Eisenhower substituiu Truman e Krushev substituiu Stalin.Os EUA começaram a perceber que grandes volumes de bombas e maciços investimentos na segurança internacional não eram suficientes para construir a legitimidade internacional. √ O não alinhamento dos novos Estados pós-coloniais: a maior parte dos novos Estados não era comunista em sua política interna e considerava-se “não alinhada” em sua política externa (Movimento dos Países Não Alinhados. A Europa deixava gradativamente de ser um centro de poder alinhado automaticamente aos EUA. Por motivos didáticos. criado pelos países do Terceiro Mundo. de alterar o equilíbrio de poder mundial em prol da URSS. em outubro de 1964. e a terceira. √ Articulação independente e própria dos países mais industrializados da América Latina: Brasil e Argentina começaram a construir seus próprios interesses na inserção internacional do período. √ Início da desintegração do bloco comunista: a ruptura chinesa (com a disputa sino-soviética no início dos anos de 1960) e o casamento de crenças divergentes de alguns partidos comunistas com o nacionalismo (Albânia. √ Surgimento de um novo Ator importante: a China de Mao Tsé-Tung. √ Descolonização das nações afro-asiáticas: a multiplicação repentina de Estados soberanos e o discurso de igualdade jurídica modificaram o quadro dos organismos internacionais. consideram que essa segunda fase marca o início da flexibilização da ordem bipolar. mais tardia. a China mudava a correlação de forças no cenário internacional. √ O declínio gradual das armas nucleares no equilíbrio de poder entre as Superpotências: após a crise de Cuba. marca um momento de deliberada atitude das duas Superpotências de pôr fim à era de diferenças. porém. Romênia e Tchecoslováquia) começavam a descaracterizar a unidade comunista na Europa Oriental. como os SALT I e II e o acordo sobre ABMs. Também caracterizaram essa segunda fase os seguintes acontecimentos: √ Recuperação econômica e política da Europa Ocidental: tentava-se o retorno da Europa ao centro das relações internacionais. criou-se um acordo tácito entre a Casa Branca e o Kremlin e iniciaram-se os processos de negociações de acordos para controle e limitação das armas nucleares. respectivamente. Com a morte de Stalin e a chegada ao poder de Nikita Krushev. A noção de “quintal” dos EUA foi substituída pela noção moderna de alinhamento negociado. Traziam-se aos foros internacionais novas reivindicações por parte do chamado “Terceiro Mundo”. por meio da alocação de mísseis na ilha de Cuba. 11 A Fase da Coexistência Pacífica: 1955-1968 Alguns autores conjugam as fases da coexistência pacífica com a da détente. . como a ONU. pág. que conjugou seu discurso com o discurso do Grupo dos 77. o escândalo envolvendo a administração Richard Nixon (Watergate) causou uma certa desordem na presidência dos EUA. enquanto fez os preços das jazidas de petróleo e gás natural da URSS quadruplicarem. Já em Rocky IV.houot/Hist/ap45/actuel8. regimes na África. O Mapa 30 ilustra o mundo dividido entre as esferas de influência de Washington e Moscou. na Ásia e na América Latina começaram a ser atraídos para o lado soviético. 13 A Fase da “Distensão”: 1969-1979 Muitos autores defendem que só se pode falar em Guerra Fria até o final dos anos de 1960. pois é o momento em que as duas Superpotências transferem sua competição para o chamado Terceiro Mundo (Vietnã. durante a ocupação daquele país. um dos focos da política externa dos EUA.html Vídeo Por mais estranho que possa parecer. . O filme é marcado pela exaltação ao patriotismo norte-americano. Em Rambo III. Além disso. sobretudo. Entretanto. Afeganistão. A crise do petróleo parecia sugerir enfraquecimento no domínio internacional dos EUA. uma vez que a fase que se segue é apenas um concerto entre as duas Superpotências. se relacionarmos o filme à realidade de duas décadas depois: a película retrata os vínculos dos EUA com os guerrilheiros afegãos no combate aos soviéticos. Mapa 30: Os Dois Blocos em 1955 Fonte: http://perso. pág. quando EUA e URSS quase entraram em um confronto direto. um lutador de 1. Outros preferem chamar essa fase de “Segunda Guerra Fria”. o personagem de Stallone encontra um adversário diferente para lutar nos ringues de boxe: Drago (Dolf Lundgren). Stallone passa a ser o símbolo do herói estadunidense dos anos 1980 e a causa Talibã. há dois filmes que simbolizam bem a percepção norte-americana dos valores do capitalismo na Guerra Fria na década de 1980: Rambo III e Rocky IV.fr/alhouot/alain.numericable. entre outros). O programa de treinamento de Rocky o leva à fria Sibéria. de 1968: as Grandes Potências conclamavam os países não nucleares a não fazerem experimentos e os países nucleares a congelarem os seus arsenais. pág. a década de 1970 assinalava uma perda do domínio norte-americano e seu relativo isolamento: na Guerra do Vietnã (1959-1975) e na Guerra do Yom Kippur (1973). que caiu nas mãos dos soviéticos. Interessante. Líbia. a decisão de Washington e Moscou foi de estabelecer mecanismos que permitissem a convivência entre os dois blocos e evitassem uma hecatombe nuclear. 12 Assim.90 m de altura e 130 kg que representa a URSS. Entre 1974 e 1979. um veterano da Guerra do Vietnã (Sylvester Stallone) é enviado ao Afeganistão para libertar seu mentor. os EUA não receberam ajuda europeia. Angola. onde ele se prepara para o combate em Moscou. Atente para a dedicatória ao final do filme.√ O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). sobretudo após a crise dos mísseis de Cuba. Se a década de 1960 fez transparecer uma perda de poder dos soviéticos. o mundo continuava dividido entre as esferas de poder das duas Superpotências. e conta com o apoio dos Talibãs. • aceleração do processo de globalização dos mercados: as empresas. China e Japão. a China comunista. passando a reivindicar posições-chaves no planejamento das atividades econômicas em escala global. duas décadas depois. que rompe com o seu isolacionismo e retorna ao sistema internacional na década de 1970 (inclusive passando a assumir a cadeira chinesa no Conselho de Segurança da ONU em 1971). Índia. que passam a adotar linhas de condutas próprias nos negócios internacionais. o México e a Argentina. que anunciava a flexibilização deliberada no relacionamento das duas Superpotências: • os planos SALT (Strategic Arms Limitation Talks) congelaram por cinco anos o desenvolvimento e a produção de armas estratégicas e o controle sobre mísseis intercontinentais e lançadores balísticos submarinos. • as dificuldades de diálogo encontradas na década de 1960. • os encontros pessoais. dos dois chefes de Estado reativaram fluxos comerciais e financeiros estagnados. as relações internacionais são desideologizadas em seus países mais importantes. o que acabará por provocar uma revisão dos próprios papéis dos Estados nacionais na política internacional. detentores do petróleo. e para o Japão. com bloqueio econômico e tecnológico aos países do sistema soviético. Destaque para a República Popular da China. levaram o Terceiro Mundo a propor a Declaração e o Programa de Ação sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI). Crise energética e financeira. Itália. que testou o grau de adaptabilidade do capitalismo: • os choques do petróleo em 1973 e 1979 tornam o Sistema Internacional da détente vulnerável e abalam os componentes da produção. pondo fim ao sistema monetário de Bretton Woods: diminuição da importância da economia dos EUA e elevação das taxas de juros internacionais. mereceu destaque a exacerbação anticomunista do novo presidente norte-americano. os EUA possuíam uma clara vantagem nesse processo: os estadunidenses podiam financiar sua dívida pública por meio de emissão de uma moeda que era o principal meio de reserva internacional ou pela colocação de títulos do Tesouro dos EUA no mercado – mecanismos impossíveis de serem utilizados pela URSS. 1) 2) Consciência da diversidade de interesses no Sistema Internacional: • a confirmação da vocação integracionista da Europa: a Europa dos Seis de 1957 (França. . matriz do que viria a ser. o surgimento de uma nova economia sustentada na concentração de inteligência e na robótica. O aumento das despesas militares resultou em acúmulo de déficits orçamentários para ambos os lados. Esforço de construção de uma nova ordem econômica internacional pelos países do Terceiro Mundo para a redução da dependência com relação aos centros hegemônicos de poder: • reforço das ilusões igualitaristas dos países afro-asiáticos: irrompem tentativas dos países do Sul de estabelecerem um diálogo sólido com o Norte. Países Baixos e Luxemburgo) passa a ser a Europa dos Nove em 1973 (com a adesão da Grã-Bretanha. convertida em Resolução da ONU em 1979. criando um novo paradigma tecnológico-industrial (momento também conhecido como “Terceira Revolução Industrial”). Bélgica. recusando a hegemonia soviética e ensaiando uma aproximação com os EUA. como o Brasil. as exportações ocidentais para a URSS quadruplicaram). à inflação dos preços e ao custo energético. Ronald Reagan. • a crise de conversibilidade do dólar. entre 1972 e 1974. como Brasil. • a América Latina aproveita o clima da détente para a sua reinserção internacional: com a crise da liderança norte-americana na região. México e Argentina. • os países árabes. mas não da forma harmônica e autônoma que qualificara a hegemonia coletiva europeia do século XIX. em reação à estagnação da produção de bens. no âmbito das sessões da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). 4) pág. o núcleo de poder da União Europeia: criava-se uma alternativa ao sistema bipolar. quatro grandes Atores na Ásia desenvolvem capacidades de defesa de interesses próprios na agenda internacional: Vietnã. As concessões unilaterais efetuadas pelo governo Carter foram substituídas por uma política de confrontação diplomática e de endurecimento econômico. 14 O Fim da Guerra Fria: 1980-1991 A década de 1980 marcou o que muitos autores chamam de “Nova Guerra Fria”. 3) • a África como um todo e parte da América Latina e da Ásia buscam afirmar o conceito de Terceiro Mundo nas relações internacionais. No período. desenvolvem novos processos de produção de bens e de organização do mundo do trabalho e do consumo. que iniciava sua caminhada para se tornar a segunda economia do planeta. como aqueles entre a URSS e os países capitalistas ocidentais (de 1970 a 1975. estabelecendo-se um retorno ao Realismo nas relações internacionais (em substituição ao Idealismo de Jimmy Carter). dada . tornam-se Atores de relevo no sistema internacional. No entanto. anunciando o desastre para as economias que haviam orientado a sua inserção nas relações econômicas internacionais pela via do endividamento externo. Dinamarca e Irlanda).Quatro fatos são relevantes nessa fase: O concerto americano-soviético. Alemanha. do comércio e das finanças internacionais. O assunto será tratado na Unidade seguinte. liberalização do regime soviético a partir de 1985. com as novas fronteiras europeias ao final do século XX. O Dia Seguinte. Mapa 31: O Colapso do Bloco Socialista (1987-1990) Fonte: http://perso.fr/alhouot/alain.a sua tradicional separação da economia mundial. segundo Paulo Roberto de Almeida. por exemplo o da TV Cultura que reserva um espaço interessante com textos sobre a Guerra Fria. em 1961. a década de 1980 testemunhou amplo processo de conversão das economias planejadas em economias de mercado: reformas econômicas introduzidas na República Popular da China pela equipe de Deng Xiao-Ping. sobretudo as que mostram os efeitos da radiação sobre as pessoas. que chegou ao poder em 1985. Do período que vai de 1917 a 1991. Em alguns meses. Link Há muitos sítios interessantes sobre a Guerra Fria. o sistema socialista desapareceria da Europa Oriental. Recentemente foi produzido mais um filme retratando esse período conturbado da relação entre as Superpotências nos anos 60. K-19: The Widowmaker. de Nicholas Meyer. algo ficou claro para o mundo: o capitalismo mostrava-se muito mais adaptável ao Sistema Internacional do que o socialismo. que se revelava oneroso demais. que traz no História por Voltaire Schilling. Assim. envolvendo um acidente com o submarino nuclear russo “K-19”. O Mapa 31 mostra o colapso do bloco socialista. o texto: Os Estados Unidos e o início da Guerra Fria (1945-49). culminando até numa guerra atômica.houot/Hist/ap45/actuel20. que poderia ter causado um conflito internacional de grandes proporções. No final da década de 1980.numericable. o mundo veria o bloco socialista desmoronar. Os marinheiros envolvidos na operação foram afastados de suas funções e proibidos de revelar a história. Esse acontecimento real foi ocultado por vinte e oito anos pelos russos. .html Do ponto de vista econômico. Veja. concluída em 1991. Trata da vida de estadunidenses após o desencadeamento da guerra nuclear contra a URSS e a destruição causada pelas Superpotências. até que finalmente os fatos vieram à tona após o fim da União Soviética. e culminou na conversão para a economia de mercado de praticamente todas as ex-repúblicas socialistas que apareceram após a desintegração da URSS. com a adoção da Perestroika por Gorbatchev. forçando a URSS a tentar reproduzir o “keynesianismo militar” do governo Reagan. dirigido por Kathryn Bigelow. e marcou uma posição de parte da opinião pública dos EUA contrária à corrida nuclear. As cenas são fortes. A história é um thriller de conspiração de guerra baseada em fatos reais. Confira também o da Educaterra. em 1989. Mikhail Gorbatchev. escapando das mãos soviéticas sem que Moscou tivesse como impedir o processo. espalhou-se pela Europa Oriental a partir da queda do Muro de Berlim. em um processo intensificado a partir das reformas do novo líder soviético. Destacamos um filme-catástrofe de 1983. com elenco principal formado Harrison Ford e Liam Neeson. que alcançou o Vietnã a partir de 1986. Vídeo O cinema procurou explorar a temática da Guerra Fria em vários filmes interessantes. o ocaso final do modo de produção socialista teve início quando os EUA adotaram o programa armamentista conhecido como Guerra nas Estrelas. A década marcou o fim do dualismo econômico entre socialismo e capitalismo e o aprofundamento da diferenciação entre países pobres e países ricos. Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante. desencadeada paralelamente ao anúncio da Perestroika. incorporou-se ao Grupo. “fim do Terceiro Mundo”. Unidade 3 . Começaram a aparecer. • apresentar as principais características da nova ordem internacional pós-Guerra Fria. na doutrina internacional. 01 Antecedentes: as transformações da década de 1980 A década de 1980 foi. as nações mais ricas do planeta. seguido pelo reforma do regime Glasnost.O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990 Objetivos da Unidade: Ao final desta Unidade inicial. expressões como: “queda dos impérios”. com as crises da dívida externa nos países em desenvolvimento. Do ponto de vista das relações internacionais. A partir de 1992.Livro indicado Uma sugestão de leitura é Construtores da Estratégia Moderna. ou “reestruturação econômica”. Constituía-se em um projeto ambicioso de reintrodução dos mecanismos de mercado. Surgia um sistema pós-hegemônico. liquidar a . Avaliação Objetiva Atividades de autoavaliação . A Perestroika. que funcionava em uma espécie de consórcio informal. editado pela Biblioteca do Exército. renovação do direito à propriedade privada A tentativa de Gorbatchev de soviético. composto por EUA. com a Perestroika e a abandono do comunismo nos Central e Oriental. a Rússia. tinha por objetivos alterar a mentalidade social. apesar de não ser a oitava economia do globo. “fim das ideologias”. Outras obras interessantes podem ser encontradas no sítio dessa editora. logo após a instalação do governo Gorbatchev. foi o Grupo dos Sete (G7). que passou a ser conhecido como G8. Grã-Bretanha e Canadá. ou “transparência política”. estude com afinco! pág. e o rápido países da Europa desaparecimento da A Glasnost. é iniciada em 1986. o aluno deverá estar apto a: • discorrer sobre o surgimento de um mundo multipolar após o fim da Guerra Fria. França. de Peter Paret.Acesso pelo menu lateral: Avaliações . Itália. uma década de ruptura. “fim do Estado-territorial” e ascensão do “Estado-comercial”. Alemanha. Um desses novos Atores. para muitos. Japão.Objetivas. o período foi de superação do conflito Leste-Oeste e de fragmentação do Terceiro Mundo. no qual vários grandes Atores mundiais passavam a reger coletivamente os negócios internacionais (multipolaridade estratégica). “fim do Estado-nação”. com a liberação de obras proibidas.fr/alhouot/alain. em 25 de dezembro de 1991. e pelo ingresso de investimentos estrangeiros. conforme concebido pela Escola Inglesa. entre seus objetivos. marcada pela vitória popular liderada por Boris Yeltsin sobre uma tentativa de golpe da linha dura soviética. ainda. Não . A retomada do crescimento seria projetada por meio da conversão de indústrias militares em civis. 03 Um novo paradigma para as relações internacionais Após o fim da Guerra Fria. o que provocou o surgimento de um número crescente de jornais e programas de rádio e TV. há os que defendiam ser a década de 1990 apenas um período de transição nas relações internacionais. em diferentes setores e retomada do crescimento. burocracia e criar uma vontade política nacional de realizar as reformas. o mundo viu-se diante do desafio de produzir um novo paradigma para as relações internacionais.houot/Hist/ap45/actuel19. foi permitido o arrendamento de terras estatais e cooperativas por grupos familiares e indivíduos. Para buscar mais informações sobre essa tragédia. Estônia e Lituânia –. e uma Nova Ordem Internacional começava a se estruturar. As primeiras Repúblicas a se separarem foram os Estados bálticos – Letônia. que o sistema internacional dos anos de 1990 ainda trazia consigo a natureza anárquica. que haviam sido incorporados à URSS no início da II Guerra Mundial. preconizaram que sequer se pode continuar a falar em equilíbrio de poder. defendendo que a ordem bipolar de poder foi substituída por uma ordem multipolar. o de liquidar os monopólios estatais. Mapa 32: A Desintegração da URSS e do Bloco Socialista (1991) Fonte: http://perso. marcada simbolicamente pelo retorno do exílio do físico Andrei Sakharov. A doutrina internacional não entrava em consenso a respeito da natureza das relações internacionais ao final do século XX. em virtude das rápidas transformações nos antigos regimes do Leste Europeu. a prevalência de relações hegemônicas. voltadas para a produção de bens de consumo. Todavia. numa perspectiva realista. comércio varejista e serviços nãoessenciais. realizadas com a intervenção ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Na agricultura. tendo. O Mapa 32 ilustra a nova configuração da antiga área de influência soviética com a desintegração do bloco socialista. a URSS viu sua influência declinar no cenário internacional. a permissão para a publicação de uma nova safra de obras literárias críticas ao regime e a liberdade de imprensa. considerada uma das maiores do século XX. que abriam espaço às críticas ao regime. mas foi autorizada a propriedade privada em setores secundários de bens de consumo. apesar do convívio entre regras velhas e regras novas.html Um dos eventos mais marcantes do fim da Guerra Fria foi o acidente nuclear de Chernobyl. 02 Acabava definitivamente a Guerra Fria. começou o que seria praticamente inconcebível dez anos antes: a sua desintegração. Após a perda de controle do bloco socialista.própria URSS. pode-se dizer. comerciais e de serviços em mãos da iniciativa privada nacional e estrangeira. e envolveu campanhas contra a corrupção e a ineficiência administrativa. Após uma grave crise institucional em agosto de 1991. outros. pág. em 1991. No início da década de 1990. Avançou também na abertura cultural. O Estado continuava como principal detentor dos principais meios de produção. por fim. Alguns teóricos voltaram a falar em Sociedade Internacional. o governo de Gorbatchev perdeu a legitimidade e. Incluía o fim da perseguição aos dissidentes políticos. outros preferiram falar em Sistema Internacional. a estrutura capitalista e liberal de conformação e os conflitos de interesses. pág.numericable. a hierarquia das Potências. provocaram a mais expressiva transformação no sistema internacional desde o final da II Guerra Mundial. confira o sítio. o último líder soviético anunciava formalmente o fim da URSS. descentralizar as decisões empresariais e criar setores industriais. em 1986. obstante, o mundo passava a buscar novos princípios e regras de conduta, mudanças na estrutura do sistema internacional, o que ficou claro a partir de meados da década de 1980. A década de 1980 testemunhou uma expansão generalizada da democracia, movimento que se estendeu ao Leste europeu após a queda do muro de Berlim, em 1989, e aos novos Estados independentes oriundos da ex-URSS, fenômeno que elevou dois fatores à condição de papel fundamental nas relações internacionais contemporâneas: o Direito Internacional e a proteção aos direitos humanos. Houve significativa redução nos gastos com Defesa no mundo inteiro. Meio Ambiente também mostrou-se um tema central na agenda internacional. Os processos de integração foram a marca do mundo Pós-Guerra Fria. Obtenha maiores informações sobre a União Europeia e o Mercosul nos sítios desses bloco. Veja, também, o sítio da ALADI. pág. 04 Incertezas e complexidades na Nova Ordem Internacional Contudo, o novo mundo tornava-se mais incerto, mais complexo e mais imprevisível: √ √ √ √ √ √ √ √ √ surgiram zonas de conflito em áreas de dissolução da URSS, nos Bálcãs, no Oriente Próximo e em alguns países africanos (Somália, Chade, Congo, Angola, Libéria); o Terceiro Mundo desintegrou-se com as crises da dívida externa, pondo-se fim à unidade do discurso da década de 1970; novas levas de imigrantes rumaram das zonas pobres para os países desenvolvidos; fim do diálogo Norte-Sul, que se iniciara na década de 1960: as Grandes Potências desviaram o interesse no desenvolvimento dos países mais pobres em prol de políticas ambientais e de combate a migrações indesejadas; a quantidade de armas que havia no mundo, fruto da lógica da Guerra Fria, somada à formação de vazios de poder e de leis em muitos países, estimulou o aparecimento de redes internacionais de crime e de organizações político-terroristas; ocorreu um refluxo nas políticas de segurança em alguns Estados, como foi o caso da França, que passou a realizar uma série de testes nucleares nos anos de 1995 e 1996; houve redução da coesão entre as Grandes Potências devido à ausência de um inimigo comum: os polos ocidentais (EUA, Europa e Japão) passam a ser guiados por percepções de interesses especificamente nacionais; desenvolveram-se tendências introspectivas na Europa, com a institucionalização da União Europeia (UE), a nacionalização da segurança e o protecionismo; os EUA viram-se como única Superpotência global, mas sem condições de estruturar por si uma nova ordem internacional. Assim, sua política externa passou a orientar-se para (1) a criação de um duopólio com a Rússia (ao alargar o G7 para G8), com o intuito de não ter que arcarem sozinhos com a ordem a construir; (2) o papel de “Estado catalisador” de uma ordem que seria também construída com aliados, como na Guerra do Golfo e na Guerra da Iugoslávia; (3) o papel de garante de uma ordem inspirada na sua própria estrutura de Estado – liberalismo econômico, democracia política e direitos humanos; a Rússia, após o fim da URSS e o estabelecimento da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), emergiu com sua antiga autonomia sem perder de vista os desígnios de influência a exercer sobre a Europa Oriental, sendo que, dessa vez, com apoio dos EUA, interessados em mantê-la como potência singular no Oriente; teve-se a contestação dos valores do Ocidente pela dinâmica região formada no Leste Asiático, como liberalismo, democracia e direitos humanos, com a negativa de sua universalidade; dualidade entre modelo de desenvolvimento asiático e modelo de desenvolvimento do “consenso de Washington” (FMI e BIRD); a América Latina reaproximou-se da Europa e dos EUA; a dificuldade para regular a nova ordem anárquico-multilateral conduziu à crise de credibilidade da ONU, do Conselho de Segurança, do FMI, do BIRD, da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do G7; blocos regionais foram criados: União Europeia (UE); Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC); Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA); Associação Latino-Americana de Integração (ALADI); Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN); Mercado Comum do Sul (Mercosul); vislumbravam-se conflitos de transição entre Grandes Potências, como China e Rússia, que ainda mantinham riscos de confronto com a Superpotência EUA, e também conflitos de equilíbrio regional de poder entre Estados que buscavam uma hegemonia regional, como Coreia do Norte, Iraque e Irã, considerados inimigos pelos EUA pelo fato de sua ascensão perturbar a ordem vigente; conflitos entre comunidades e identidades nacionais (islamismo, identidades nacionais na Rússia, identidades étnicas, religiosas ou linguísticas nos Bálcãs, na África e na Ásia). √ √ √ √ √ √ √ √ O fracasso da recente rodada comercial de Doha (2001-2008) é um corolário disso. Um filme que retrata de maneira bem-humorada essa nova ordem internacional sob a ótica de quem “perdeu a Guerra Fria” é Adeus, Lênin (Alemanha, 2003), dirigido por Wolfgang Becker, sobre as transformações na Alemanha a partir da reunificação, em 1989. pág. 05 Globalização e regionalização Há um consenso, na doutrina internacional, de que o mundo que surgiu na década de 1990 caracterizase pelos seguintes aspectos: globalização; regionalização; mudança de papel do Estado-nação e inexistência de uma administração racional para os principais interesses coletivos da humanidade. São aspectos que não vieram de forma abrupta, mas já se delineavam nas relações internacionais desde, pelo menos, a década de 1970. Na década de 1990, o fenômeno da globalização já se mostrava irreversível. O mundo se integrava cada vez mais em virtude da abertura democrática em diversas regiões, da queda de barreiras comerciais e políticas, das novas estruturas de mercados financeiros transnacionais e do desenvolvimento tecnológico, sobretudo o de telecomunicações. Nesse sentido, o fenômeno da Internet não encontra precedentes e, definitivamente, passou a unir pessoas por todo o planeta e a transmitir informações em tempo real. Entretanto, à medida que se globalizava, o mundo presenciava o recrudescimento de nacionalismos em várias regiões do planeta, que repercutia tanto em conquistas políticas e sociais de alguns grupos dentro de nações quanto em processos de independência – uns pacíficos, a maioria nem tanto. Também associado a alguns movimentos nacionalistas, ganhou força o terrorismo, processo facilitado pelo vazio de poder do fim da Guerra Fria e pela oferta de mão de obra especializada e de equipamentos oriundos do esfacelamento do sistema socialista. Paralelamente também ao processo de globalização, percebeu-se um incremento da regionalização. Por todo o planeta, países se aproximaram e estabeleceram acordos de comércio, cooperação e aproximação política. Na Europa, povos que até cinquenta anos eram inimigos figadais, tornaram-se parceiros, e aquilo que fora tentado pelas armas, diversas vezes, ocorreu, finalmente, por via pacífica: a formação de uma União Europeia. Apesar de mais notório, o caso europeu não ocorreu isoladamente. Em todos os continentes testemunharam-se processos de integração, fortalecendo organizações e uniões regionais. Na América do Sul, a criação e o desenvolvimento do Mercosul é um bom exemplo. Quem poderia supor, há algumas décadas, que Brasil e Argentina teriam um no outro seu principal parceiro e que as rivalidades militares entre os dois desapareceriam? Há o livro de Anthony Giddens, O Mundo na Era da Globalização (Presença, 2000). Novamente, as obras de Manuel Castells também são essenciais para entender essa nova realidade internacional: A Sociedade em Rede (Paz e Terra, 2007), O Poder da Identidade (Paz e Terra, 2000), Fim de Milênio (Paz e Terra, 2002). pág. 06 Novos temas na Agenda Internacional Três grandes conferências pareciam anunciar uma era de responsabilidades e consensos transnacionais com os grandes temas que marcariam a agenda internacional na década: a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992): difundiu as noções de desenvolvimento sustentável, de incompatibilidade entre crescimento demográfico ilimitado e planeta finito, de subordinação da tecnologia à ecologia, de poluição e pobreza provocadas pelo consumo incontido, de necessidade de medidas locais e globais para a proteção do meio ambiente; a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos (Viena, 1993): difundiu a implementação de medidas nacionais, a interação e a ação conjunta dos órgãos e agências da ONU e de órgãos globais e regionais para o fomento de uma cultura comum e universal sobre direitos humanos; a Rodada Uruguai do GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas (1994), que instituiu a Organização Mundial do Comércio (OMC): regulamentação dos fluxos de bens, serviços e propriedade intelectual entre os países e a solução de controvérsias a respeito. Direitos humanos, meio ambiente e comércio internacional são, portanto, questões-chaves desde os anos 1990. São temas que afetam não a um Estado isoladamente ou a um grupo específico de pessoas, mas que dizem respeito à humanidade como um todo. pág. 07 A Questão da Segurança Houve aumento considerável na demanda por serviços de garantia e manutenção de paz junto à ONU, expresso no número crescente de resoluções do Conselho de Segurança, apesar de esse fato não ter sido acompanhado de vontade política para a sua implementação. Pequenas e grandes operações de paz, com baixos ou nulos índices de sucesso, como no Camboja, na Somália, em Ruanda e na ex-Iugoslávia, começaram a lançar dúvidas sobre a real capacidade operacional da ONU. O custo relativamente reduzido dessas operações em comparação com os orçamentos nacionais de segurança demonstrava que não se tratava de um óbice financeiro, mas de um impasse político nas relações internacionais. A Guerra do Golfo, de 1991, pareceu anunciar um retorno do velho imperialismo ocidental sob cobertura da ONU, o que contribuiu para tornar mais difícil um consenso internacional de aprovação às novas operações de paz. O que parecia para o mundo na década de 1990 era que a ONU estava falhando em sua missão de prevenção (e os países ocidentais não estavam incrementando seus intuitos de fiscalizar os resultados dos conflitos regionais, a não ser quando afetassem seus interesses essenciais ou de segurança imediata). Aumentava a descrença em resultados duradouros de intervenções maciças e multilaterais, como ocorreu no Oriente Médio durante a Guerra do Golfo e na ex-Iugoslávia, e, já no início do século XXI, com o Iraque. O fato é que restrições políticas, econômicas e, muitas vezes, eleitorais conjugavamse para impedir a construção de um sistema de segurança global, o que reforça a tendência das relações internacionais contemporâneas para a adversidade de sistemas de segurança e para a regionalização. A Europa da década de 1990 buscou a fórmula do concerto do século XIX mais do que a construção de um novo equilíbrio de poder. A Rússia, por sua vez, após extinguir o Pacto de Varsóvia e opor-se à extensão da OTAN ao Leste, reivindicou papel especial nesse concerto, ao mesmo tempo em que a Grã-Bretanha reforçou sua inclinação para a OTAN e para os EUA, e a França buscou caminhos independentes, como a retomada do desenvolvimento de uma força nuclear própria. pág. 08 O Oriente Médio tornou-se um barril de pólvora após o fim da Guerra Fria ter “descongelado” o ambiente litigioso que se formara desde 1948, com a criação do Estado de Israel, na Palestina, pela ONU. A questão palestina tornou-se um dos principais motivos de instabilidade na região, contribuindo para o desenvolvimento de núcleos terroristas – alguns efetivamente apoiados por países islâmicos –, que viam não só em Israel e nos EUA, mas também nos valores ocidentais, um inimigo contra o qual se justificaria uma “guerra santa”. A Guerra do Golfo evidenciou a divisão dos mundos árabe e muçulmano, e uma comunidade de segurança ao estilo europeu ainda está longe do horizonte regional. O Nordeste Asiático tornou-se um complexo regional em que se confrontam os interesses de três Grandes Potências (Japão, China e Rússia) e da Superpotência (EUA), os quais têm raízes na questão das duas Coreias, na questão de Taiwan e na rivalidade entre EUA e Japão relativa às políticas de comércio exterior e a outras questões econômicas, além da rivalidade econômica já sinalizada para o século XXI: EUA e China. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a América Latina compõem o que se denomina de “comunidade pluralista de segurança”, para usar expressão de Karl Deutsch: as duas regiões permaneceram à margem dos confrontos Leste-Oeste mais importantes e criaram instituições de controle da segurança, o que tornou o grau de tensão e de conflitos potenciais em seus territórios muito baixo. Já o Caribe e a América Central continuaram a ser, depois da Guerra Fria, zonas de intervenções unilaterais dos EUA, como demonstraram as operações no Panamá e no Haiti e a política de embargo ao regime de Cuba. A ASEAN foi estabelecida em 1967, atualmente é composta por 10 países (Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Miamar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã). Entre seus objetivos, incluem-se acelerar o crescimento econômico e social na região e garantir a paz e a estabilidade entre seus membros por meio da cooperação entre eles. A Pax Americana, por seus métodos e imposições unilaterais, vem sendo cada vez mais contestada pelo Ocidente, principalmente pelos países da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia. O papel dos EUA como principal agente do policiamento mundial, segundo muitos autores, tem pouca chance de vingar como novo paradigma geopolítico mundial, em virtude da sua visão unilateral e introspectiva da ordem internacional, da baixa capacidade de diálogo, do peso do xenofobismo (principalmente em períodos eleitorais) e da dificuldade em tolerar os interesses de outros povos e comunidades em jogo nas relações internacionais. Isso ficou ainda mais claro com o Governo Bush (2001-2008) e a sua política de “guerra preventiva” após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em território estadunidense. Muitos livros buscam tratar das transformações das relações internacionais após a Guerra Fria. Veja, por exemplo, O Lexus e a Oliveira, de Thomas Friedmann (Quetzal, 2000). Foram exploradas informações gerais sobre alguns aspectos relevantes da História da Civilização Ocidental. Ademais."Discursivas". Sistema Internacional. Assim. Ator internacional. Foi possível perceber que há diferentes maneiras de se conceber o complicado mecanismo das relações entre os povos. os aspectos principais da agenda internacional para o século XXI. entre outros. O Realismo continua sendo a corrente teórica mais importante das Relações Internacionais. estude com afinco! pág. particularmente do século XVI ao século XX. a partir do século XIX. Forças Profundas. convém destacar: • • • • • • • a a o a a a o Conferência de Westfália (1648). Avaliação da Unidade . que fez o mundo levar a sério uma nova ameaça: o terrorismo. é importante conhecê-la bem. a estruturação do Sistema Internacional em unipolar. período Entre-Guerras (1919-1939).. Revolução Industrial e o Neocolonialismo. os quais foram explorados quando da análise histórica feita nos Módulos seguintes. Potências. Primeira Guerra Mundial.Objetivas". pois aqueles que forem de alguma maneira atuar no cenário internacional irão deparar-se constantemente com condutas realistas.Acesso pelo menu lateral: "Avaliações . foi possível ter um contato inicial com aspectos importantes do estudo das Relações Internacionais. Nos Módulos anteriores. chegamos ao término deste curso introdutório de Relações Internacionais: Teoria e História.. Hegemonia. neste Curso. A visão de mundo realista tem se mostrado imperante no processo decisório das Grandes Potências. • indicar os novos Atores Internacionais que se destacam no sistema internacional do novo século. sobretudo com relação aos temas mais sensíveis.O Sistema Internacional no Século XXI: Perspectivas Objetivos da Unidade: Ao final desta Unidade inicial. Unidade 4 . • situar o Brasil no contexto das Relações Internacionais. apresentamos conceitos importantes como Sociedade Internacional. que são necessários à compreensão do Sistema Internacional de nossos dias. Menu lateral . por exemplo. Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante. Revolução Russa e o surgimento da União Soviética. Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu.Para auxiliá-lo a entender e refletir melhor sobre o conteúdo apresentado na unidade. Vale ter em mente eventos importantes que marcaram as Relações Internacionais da era moderna. Importante recapitular. Outro importante tema objeto deste curso foi a Sociedade Internacional e sua evolução ao longo dos séculos. 01 Recapitulando. mas fundamentadas. Com a presente Unidade. entre os quais. bipolar ou multipolar em diferentes épocas e subsistemas. Também passamos pelas principais correntes teóricas que buscam entender e explicar as relações internacionais. responda à questão proposta na Plataforma. principalmente após o 11 de setembro de 2001. os quais fornecem a base para se entender e discutir pontos importantes da Agenda internacional. o aluno deverá estar apto a: • identificar. Revolução Francesa (1789). ainda que não estejamos de acordo com a maneira pragmática – para alguns até inescrupulosa – como os realistas tentam explicar e conduzir as relações internacionais. em linhas gerais. .Atividades de autoavaliação . inclusive com explicações antagônicas e conflitantes. Samuel P. empresas e instituições acadêmicas com extenso envolvimento internacional. p. em ciências sociais. com o pensamento da CEPAL (Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina) e com as teorias globalistas da dependência latinoamericanas. ideológicos. • a Guerra Fria. Todos os anos. nasceu o Fórum Social Mundial. partidos políticos. como é o caso do Brasil. com diplomas universitários em ciências exatas. social. claro. Com a Sociedade Internacional globalizada. pág. no novo século que se inicia. São empregados por governos. mas o zelo pela paz ou a preparação para a guerra. Huntington. na economia de mercado e na democracia política. em administração ou em ciências jurídicas. movimento nascido em 2001. Como observou Cervo. 02 A AGENDA INTERNACIONAL DO SÉCULO XXI Nunca vivemos em um período tão complexo quanto o dos últimos cem anos e. que se coloca contra a cultura de Davos. Assim. desde Keynes. cultural. referimo-nos aos grandes temas objeto da atenção da comunidade das nações. finalmente. O século XXI se inicia com uma agenda internacional complexa. em Porto Alegre. que aborda aspectos complementares para uma compreensão global do estudo das Relações Internacionais. se encontram no Fórum Econômico Mundial em Davos. a não ser pelo Sul. 67. na Suíça. conflitante e diversificada. das Forças Profundas que afetam as condutas dos Atores – aspectos econômicos. A cultura de Davos é de extrema importância no mundo contemporâneo. Não perca! pág. O evento. as políticas exteriores dos países do Sul. e b) para os países atrasados. centralizam suas preocupações em torno dos problemas do desenvolvimento. do cotidiano. tecnológicos e estratégicos – e. funcionários de governos. guerras civis. • o colapso do bloco soviético e a Nova Ordem Internacional da década de 1990. O Realismo. já entrou para a agenda das grandes manifestações mundiais. finalmente. Em oposição a ela. que aconteceu três vezes no Brasil e a partir de 2004 passou a ser sediado em outros países do Terceiro Mundo. hoje procuram os caminhos para uma nova visão das relações internacionais. Como bem já observou Amado Cervo (1994). centenas de homens de negócios. é possível perceber duas grandes óticas das relações internacionais contemporâneas: a) para os países avançados. Os conceitos do imperialismo e do desenvolvimento que cuidavam dessas questões não penetraram na Teoria das Relações Internacionais. a construção da potência e do prestígio. dos Atores envolvidos no processo – há muito deixaram de ser apenas os Estados nacionais e hoje englobam organizações internacionais. organizações não governamentais. A década de 1990 provou que essas aspirações continuavam uma utopia. Quase todos. De forma geral. empresas multinacionais e. temos que buscar analisar e entender o sistema internacional por meio de seus subsistemas – político. a difusão de ideologias e valores. As pessoas de Davos controlam virtualmente todas as instituições internacionais. pois eles dependem dos ritmos de desenvolvimento. e não a Ciência Política. Assim. jurídico. como já observou Samuel Huntington. muitos dos governos do mundo e o grosso da capacidade econômica e militar do planeta. Rio de Janeiro: Objetiva. 1997. Conflitos regionais. crises institucionais em . com o seu slogan de que “um outro mundo é possível”. culturais. partilham de crenças no individualismo. integram a Ciência Econômica. a dominação e a dependência. a cooperação e a exploração não fizessem parte do mundo real das relações internacionais.• a Segunda Guerra Mundial. da maneira como se dão as interações nesses subsistemas e entre eles. como se a pobreza. cada vez mais questões nacionais e regionais acabam influenciando todo o sistema internacional. Com o colapso da URSS e o fim da Guerra Fria. econômico. a composição e o desfazimento de alianças. O Choque de Civilizações. os nortistas continuam admitindo que as teorias do desenvolvimento. e inclinou-se para a Guerra Fria e nada disse sobre o Terceiro Mundo e as relações Norte-Sul. por exemplo. as relações internacionais assumem um caráter existencial. a opinião pública. e tem anualmente suas reuniões ocorrendo paralelamente às reuniões de Davos. Assista aos demais vídeos de nossa série Conexão Mundo. acreditava-se que. as prioridades não são relações igualitárias. de dezenas de países. Quando tratamos de agenda internacional. 03 A Questão Da Segurança Há muito que a ordem internacional não parecia tão insegura. O mesmo não ocorre com os países mais avançados do Norte. dominou o estudo das Relações Internacionais sobretudo no mundo anglo-saxônico. os indivíduos –. militar-estratégico –. O ILB oferece o curso de Relações Internacionais: Temas Contemporâneos. As edições do Fórum Social Mundial. banqueiros. o planeta chegaria a um estado em que a paz seria norteadora e as relações internacionais não teriam mais na guerra um de seus aspectos centrais. das oportunidades de melhoria das condições sociais. em especial. criado em 2001 por intelectuais dos países periféricos. intelectuais e jornalistas. blocos se estruturam para garantir a competitividade de seus membros no mercado internacional. O neorreaganismo cantado por Kristol e Kagan anos antes ganhou forma. a anomia imperou. Kagan. sem Estado. No outono de 2001. Apesar das vitórias rápidas. Kristol e R. para tratarem de questões sociais e até políticas. seria impossível que não se estruturassem outros. as forças de ocupação ainda terão que enfrentar. Bush deixou claro que. Ao lado desses foros para se debater a economia global. que foi o papel dos EUA como líder global que manteve o regime político no Haiti. em seu próprio território. a problemática da segurança marcará a Agenda internacional ainda durante muito tempo. a hegemonia norte-americana. sobretudo. que essa presença era o principal fator que impedia a escalada de conflitos. Para muitos. Em diversas regiões do globo. em ação perpetrada por poucos indivíduos. E o Governo de George W. quem não estivesse com eles estaria contra eles. no Paraguai etc. automaticamente. mas também outras nações industrializadas. argumentando que fora o legado militarista da política de Ronald Reagan que permitira a vitória contra o Iraque no início da década. a cooperação é estabelecida. Iniciou-se uma nova doutrina militar no início do século XXI: a da guerra preventiva. os processos de integração econômica conduzem a outras formas de integração e aumentam a tolerância e compreensão “do outro” na Sociedade Internacional – ao menos dentro de alguns blocos. A diferença reside na assimetria entre os combatentes e nas novas tecnologias empregadas na guerra. pág. como quase aconteceu entre a Grécia e a Turquia. originalmente. fez pronunciamento – lançando mão de qualificativos religiosos e maniqueístas–. estariam. que não se aceitaria qualquer ameaça à hegemonia norte-americana. o presidente dos EUA. Clinton prometeu uma liderança global de “baixo custo” e uma dedicação maior à economia doméstica. Barreiras caem. assim. por um ato terrorista que usou aviões como mísseis. como W. Superpopulação e Subdesenvolvimento .diversas partes do globo revelavam o que os realistas sempre afirmaram: não pode existir vazio de poder – onde as forças da Guerra Fria e do sistema bipolar não mais operavam. demandava políticas cujo objetivo era impedir que. passaram a defender uma política externa neorreaganista para os EUA. os países do mundo que não estivessem com os EUA. Os problemas do crime organizado transnacional e do terrorismo internacional foram catalisados pelos novos recursos da Sociedade Internacional globalizada pós-Guerra Fria. A política de visto e de migração precisou ser alterada. asseverando que. Nesse fantástico fenômeno da economia global. “procurassem subverter a ordem econômica e política estabelecida”. sob nova forma. vários acadêmicos norteamericanos. e muitos Atores passam a unir-se com antigos adversários para melhor defender seus interesses. ameaçando. que atingiu cerca de três mil indivíduos indiscriminados. que se traduziria em uma reafirmação do “excepcionalismo” do país no cenário internacional. sobretudo. 04 A Segurança e o Realismo no Século XXI O governo de Bill Clinton nos EUA (1993-2000) apontara para uma crise do paradigma realista e uma ascensão do pluralista. É interessante perceber as semelhanças entre os discursos políticos da atual única Superpotência em 1992 e em 2001. O século XX acabou muito mais conturbado e complexo do que começara. A Organização Mundial do Comércio ganha força. A primeira evidência da influência do paradigma realista no pós-Guerra Fria veio na primavera de 1992. Cidadãos e estrangeiros em solo norte-americano tiveram direitos constitucionais suspensos para averiguação. sem que nada as substituísse. A década de 2000 trouxe elementos novos a esse cenário acadêmico: o alargamento do conceito de segurança e a revalorização do Realismo. durante muito tempo. mesmo que o Brasil aparente ser um país muito distante desses temas. dando um novo renovo para o Realismo. pela primeira vez na História. portanto. não somente as nações renegadas do Sul. 05 Processos de Integração Os processos de integração – econômica. O fato é que a segurança nacional desceu do nível analítico do Sistema Internacional para o nível analítico do Indivíduo. Sem dúvida. são novas forças que interferem na conduta dos Atores. O século XXI se inicia com a questão da segurança internacional como uma das temáticas centrais. comandados por outros poucos indivíduos. mas também política – são outro fenômeno marcante dessa virada de milênio. que era a presença de soldados norte-americanos no Golfo Pérsico que continha a agressividade de Saddam Hussein e do fundamentalismo islâmico do Irã. à nova política externa dos EUA após os atentados de 11 de setembro de 2001. onde quer que estivessem ameaçados. depois de o país ter sido atacado. e. A prioridade da Potência hegemônica seria a defesa de seus interesses e a segurança de seus cidadãos. na luta contra o terror. Diplomatas e turistas norte-americanos passaram a ser alvos no exterior. O conceito de segurança nacional foi alargado após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. E esse é o aspecto do qual não podemos descuidar ao estudarmos Relações Internacionais. As Novas Ameaças passaram a ser uns dos aspectos mais importantes da agenda internacional. Diante disso. Ao lado da guerra contra essas Novas Ameaças. contra os EUA. o qual. na cruzada internacional que os EUA empreenderiam. persiste o conflito interestatal em algumas partes do planeta. as mais tradicionais formas de resistência nos territórios ocupados. Isso se deve. durante a polêmica sobre a revisão feita pelo Pentágono de seu “Guia de Planejamento de Defesa para os Anos Fiscais de 1994-1999”. A semelhança entre ambos os discursos é óbvia. Os EUA voltaram a fazer intervenções unilaterais como fizeram na década de 1980 na América Central. Eleito em 1992. pág. As ações armadas contra os talibãs do Afeganistão e a Segunda Guerra do Golfo refletem esse novo modelo de conflito. Novos foros internacionais são estruturados para discutir as questões econômicas entre os países. sem nação. Para outros autores. por meio das exigências para o ingresso na União Europeia. e c) o respeito universal e efetivo raça. A escassez de recursos e a distribuição das riquezas continuam sendo temas relevantes no século XXI. Esses problemas são agravados com os riscos de esgotamento dos recursos em virtude do crescimento demográfico mundial e dos efeitos do modelo produtivo e de consumo da Sociedade Internacional globalizada no meio ambiente. Ruanda e do Tribunal Penal Internacional trazem previsões nesse sentido). 07 Democracia e Direitos Humanos A Sociedade Internacional do início do século XXI é marcada pela defesa da democracia e dos direitos humanos em todo o planeta. Ademais. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ECONÔMICA E SOCIAL Artigo 55 Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar. de modo que atender a demandas básicas de todas essas pessoas – concentradas nos países menos desenvolvidos – será um dos grandes dilemas da Sociedade Internacional. que sofreu forte resistência no início. como Jürgen Habermas. os EUA buscam exportá-la aos países árabes e persas não democráticos. a preservação do planeta para as futuras gerações envolve ações concertadas dos países ricos e pobres. sociais. sendo considerada também um patrimônio da humanidade. acredita-se que esses regimes caminhem rumo à extinção. O regime. uma porção significativa da humanidade ainda vive em nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. pág. O debate apenas se iniciou. hoje vem sendo gradativamente reconhecido como importante para a sobrevivência do planeta. o ar e o espaço. para a regularização da exploração de seus recursos. já serão doze bilhões de seres humanos sobre a face da terra. portanto. Em 1997. em seus artigos 55 e 56. busca-se a formação de uma nova ética mundial em torno dos direitos humanos. Artigo 56 Para a realização dos propósitos enumerados no Artigo 55. Novos regimes internacionais vêm sendo criados e operando no sentido de regularizar o uso de bens de patrimônio da humanidade. mais recentemente. A biodiversidade. Autores como Delmas-Marty defendem que a lei e os regimes internacionais devem se desenvolver a partir desse mínimo comum. conforme se pôde ver em uma decisão do Tribunal Internacional para a ex-Iugoslávia em 1996 e. . como a água. sobretudo com relação aos problemas causados pelas migrações e pelo crescimento populacional nos países mais pobres. uma vez que dificilmente nações com dificuldades de desenvolvimento econômico e social poderão atentar sozinhas para a utilização sustentável dos recursos naturais. Apesar de ainda existirem governos autoritários e ditatoriais em diversas partes do globo. A democracia tem-se apresentado como a opção definitiva de regime político. Por meio da guerra no Oriente Médio. a poluição. as mudanças climáticas – com catástrofes a elas associadas – e o efeito estufa marcarão a agenda internacional desse primeiro século do terceiro milênio. Importante lembrar que o Tribunal de Nuremberg atribuiu ao indivíduo a qualidade de sujeito de direito (ou seja. Ao interferir. todos os Membros da Organização se comprometem a agir em cooperação com esta. necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações. sexo. A questão ambiental deve merecer a atenção de toda a comunidade internacional. pois os efeitos da degradação do meio ambiente não reconhecem fronteiras. a cooperação internacional. Isso sem falar na degradação do planeta. as Nações Unidas favorecerão: a) níveis mais altos de vida. trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social. De fato. a Europa tenta fortalecê-la no Leste Europeu. que caminha a passos largos. também a ideia de “humanidade” ganha cada vez mais importância na sociedade global dos dias de hoje.Apesar das grandes conquistas tecnológicas e do bom padrão de vida em algumas partes do globo. calcula-se que. modificar e destruir ecossistemas inteiros. cada vez mais. o que é uma tendência no atual Direito Internacional (os Estatutos dos Tribunais para a ex-Iugoslávia. a melhor via seria o reforço da democracia. com o Estatuto do Tribunal Penal Internacional. b) a solução dos problemas internacionais econômicos. em conjunto ou separadamente. pág. torna-se. Além do indivíduo. As questões estão muito ligadas. O problema do subdesenvolvimento. por exemplo. o processo acelerado de desertificação em diversas fases do globo e a escassez de água potável. é objeto de articulação entre os Estados. Questões como o desmatamento. um Ator das Relações Internacionais) e relativizou a questão das imunidades funcionais (funcionários de alto escalão foram responsabilizados penalmente). caso a população mundial continue crescendo no ritmo atual. em alguns setores da Sociedade Internacional. líderes de 160 países firmaram o Protocolo de Kyoto. Esse é um fenômeno que muito tem influenciado as relações internacionais. A humanidade está até mesmo se tornando sujeito de direito no Direito Internacional. baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos. estabelecendo que entre 2008 e 2012 sejam cortados ao menos 5% nas emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera em relação aos níveis de 1990. o qual prevê. língua ou religião. de 1998. Desde a Carta da ONU. por volta de 2050. sanitários e conexos. Afinal. 06 Questões ambientais Meio ambiente é outro tema importante que merecerá atenção dos membros da Sociedade Internacional do século XXI. o planeta inteiro tem sofrido os efeitos da atividade humana moderna. relevante para os países desenvolvidos. será que o homem prepara sua própria sepultura? Especialistas divergem. a extinção de diversas espécies de plantas e animais. Os direitos humanos têm sido apontados como o mínimo valorativo possível para um consenso internacional. de caráter cultural e educacional. com uma das maiores economias do planeta e com pretensões de liderança internacional. O Tribunal Penal Internacional e o seu Estatuo. dispõe de Comissões. caso em que ele fará uma observação no mesmo campo de resposta. o ele pode solicitar que você reformule a questão. Um sítio de análises interessantes sobre a Nova Ordem Internacional é o de Paulo Roberto de Almeida. O Congresso Nacional tem papel importante nas relações internacionais do Brasil. aí incluídos os Atores não estatais – organizações não governamentais e empresas multinacionais.Chegamos na reta final do nosso curso! Para avaliarmos sua compreensão do conteúdo apresentado ao longo dos estudos.Objetivas. Nossa sugestão é que explore as indicações bibliográficas. a atividade aparecerá em "cinza" no Painel de Desempenho.expressamente. inclusive às guerras civis. pág. Atividades de autoavaliação -Acesso pelo menu lateral: Avaliações . Créditos . nas negociações comerciais com a União Europeia. ferramenta que é um dos maiores trunfos da globalização e da integração entre os povos do mundo. não se pode esquecer a relevância da participação brasileira nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Esperamos que tenha aproveitado este estudo introdutório. de Samuel Huntington. é fundamental que o País não se descuide de temas de relações internacionais. Entre os temas da Agenda internacional importantes para o Brasil. tanto na Câmara como no Senado. Caso seja necessário. Nosso curso permitiu a você familiarizar-se com aspectos relevantes do estudo de Relações Internacionais. Nesse sentido. 08 Brasil e as Relações Internacionais Convém relembrar que. orientando-o neste sentido. como um dos maiores e mais populosos países do globo. a aproximação com outros países na América Latina. a União Europeia e a China. encontram-se a consolidação do Mercosul. Avaliação Final do Curso . como a ONU. em especial as acessíveis por meio da Internet. responda às três questões propostas. Ademais. A manutenção de quadros com conhecimentos de relações internacionais também é importante no âmbito dos Governos e das Assembleias estaduais. Daí a importância de se ter quadros no Poder Legislativo capacitados a entender os complexos mecanismos do Sistema Internacional. entre outros – e aqueles Estados. Leia O Choque de civilizações. ao imporem novos limites às ações de guerra. os crimes contra a humanidade. Acompanhe atentamente! Acesse o menu lateral: Discursivas e busque a avaliação final do cuso! Sucesso! Ao final. obra indicada na bibliografia. ou blocos. a manutenção das boas relações com os EUA e com a Europa. e a atuação do País em diversos foros e organismos internacionais. apresenta-se como um novo Ator que pode ter papel importante nas relações internacionais do século XXI. A avaliação será corrigida e poderá ser comentada pelo professor-tutor. Confira! Os novos Atores Internacionais – e outros não tão novos Outro ponto importante diz respeito aos Atores de destaque no sistema internacional no século XXI. Nesse caso. encarregadas de garantir a participação do Poder Legislativo em temas como a escolha de embaixadores e a aprovação de qualquer tratado internacional assinado pelo País. sobretudo porque os Estados-membros da Federação também têm interesses que ultrapassam as fronteiras do Brasil. que se destacarão como alternativa ao polo hegemônico dos EUA – por exemplo. clique em: "Salvar e finalizar" para ser disponibilizado para correção. a OMC e a OEA. na África e na Ásia. Tiago Ivo Odon e Dario Alberto de Andrade Filho Última atualização: 2008 Coordenação Valéria Maia e Souza Desenho instrucional Valéria Maia e Souza Simone Dourado Professores-tutores Rogério de Melo Gonçalves Vinicius Becker Susane Guida de Souza Galindo Roberta Simões Nascimento Núcleo pedagógico Carlos Eugênio Escosteguy Claudia Pohl Danuta Horta Jenifer de Freitas Lucas Machado Marcelo Larroyed Márcia Perusso Polliana Alves Rosângela Rabello Simone Dourado Tatiana Beust Valéria Maia e Souza William Robespierre Athanazio Núcleo web Alessandra Brandão Bruno Carvalho Carlos Inocente Francisco Wenke Renerson Ian Sônia Mendes Núcleo administrativo Luciano Marques Paula Meschesi Revisão textual Marcia Lyra Nascimento Egg .Créditos Conteudistas Joanisval Brito Gonçalves.
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