Redação - Descrição, Narração e DissertaçãoDescrição Vivemos em dois mundos: o dos acontecimentos que nos chega através dos sentidos (mundo real) e o das informações que nos chegam indiretamente através dos meios de comunicação (mundo verbal). A relação entre esses mundos é a mesma relação que existe entre o território e o mapa que o representa. O mesmo acontece com a linguagem. Por meio de relatos imaginários, podemos inventar realidades que nada têm a ver com o mundo concreto, isto é, a linguagem representa a realidade, mas não é a própria realidade. Vamos comparar agora dois exemplos de representação da realidade: 1- 2- “... era um animal felino, ágil, de pelo preto arrepiado, expressivos olhos verdes, grandes bigodes, um bichinho de estimação.” No primeiro caso, o ser representado foi reconhecido de maneira imediata. No segundo, foi-se identificando o ser aos poucos, não foi uma identificação imediata. Descrever é representar, por meio de palavras, as características de seres e objetos percebidos através dos sentidos. O objetivo da descrição é transmitir ao leitor uma imagem daquilo que observamos. É como compor um retrato por meio de palavras, fazendo com que o leitor perceba as características marcantes do ser que estamos descrevendo e de modo a não confundi-lo com nenhum outro. Ao observarmos um objeto e a descrição do mesmo, percebemos que a imagem transmitida pelo desenho é imediata e global, enquanto que na descrição, somente após a leitura total do texto é que se tem a ideia global do objeto. Se tivermos em nossa frente duas cadeiras diferentes, poderemos identificá-las através de um só substantivo: cadeira. Essa palavra apenas identifica o objeto, mas não o descreve, pois a descrição consiste na enumeração de caracteres próprios dos seres animados ou inanimados, coisas, cenários, ambientes, costumes sociais, ruídos, odores, sabores ou impressões táteis. A descrição não se confunde com a definição. A definição é uma forma verbal através da qual se exprime a essência de uma coisa. As coisas, individualmente não admitem definição. Quando definimos, estando tratando de classes, espécies. Quando descrevemos, detalhamos indivíduos de uma mesma espécie. Portanto, a definição é generalizante e a descrição, particularizante. DEFINIÇÃO Cadeira - peça de mobiliário que consiste num assento com costas, e, às vezes, com braços, dobrável ou não, para uma pessoa. Navio - embarcação de grande porte. Mulher - pessoas do sexo feminino, após a puberdade. DESCRIÇÃO Cadeira - De imbuia, com assento estofado, quatro pernas, duas travessas nas costas e envernizada. Navio - tinha o casco preto, era baixo, um ar de navio fantasma, muito vagaroso. Mulher - Não era bonita, loira, nariz arrebitado, não muito alta, gorda. Todos os seres existentes no universo físico, psicológico ou imaginário podem ser descritos. * mundo físico - Kika era uma simpática dash-hound, de olhos castanhos e pelo brilhante. * mundo psicológico - A bondade era morna e leve, cheirava a carne crua guardada há muito tempo. (Clarice Lispector) * mundo imaginário - Eu sou a Moça Fantasma que espera na rua do Chumbo o carro da madrugada. / Eu sou branca e longa e fria, a minha carne é um suspiro na madrugada da serra. (Carlos D. de Andrade) Desse modo também é possível descrever pessoas e personagens, física e psicologicamente: * Física - fornece características exteriores, ligadas aos traços físicos do personagem: altura, cor dos olhos, cabelo, forma do rosto, do nariz, da boca, porte, trajes. Exemplo: Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 1 de 10 seus hábitos. os olhos azuis. Têm assento para quatro pessoas. Parecia um anjo. já entrou soltando fogo pela folga do dente de ouro. O ponto de vista pode ser filtrado de acordo com o autor e o enfoque pode ser objetivo (denotativo) ou subjetivo (conotativo). rabo com a ponta branca. * enfoque subjetivo .a) Sua pele era muito branca. na dimensão. cujo objetivo é mostrar os passos de um procedimento ou o funcionamento de um aparelho e apresenta as seguintes características principais: 1. precisa. encosto e dois braços. Tinha as pernas e os braços muito longos e uma voz ligeiramente rouca. atitudes e personalidade. direção esportiva. prateado. Detém-se na forma. Ande alguns quilômetros e vai chegar até a cidadezinha de Pampatar. que deverá ser o seu ponto de referência para a volta. não negando sua raça inglesa. rodas de magnésio. não tinha medo das curvas. Ao adentrar nela. (pessoa) b) Nina era meio invocada. a emoção que a realidade lhe causa. Às vezes. Esse tipo de texto é utilizado para descrever aparelhos. recoberta de espuma. latia feita louca para os pardais e não gostava nada que lhe ficassem apertando. vidros ray-ban. (Douglas Tufano) Há também a descrição técnica de processo. Destaca não só os elementos essenciais do objeto de modo a não confundi-lo com outro.Exemplo: Como ir para a praia El Água em Isla Margarita Tome o carro e vá diretamente à Avenida Bolivar. mecanismos.A realidade descrita não é apenas observada pelo autor. São suas características: a.predominância de orações coordenadas 3. (animal) c) Aquele era o carro dos seus sonhos: conversível. para evitar faltas ou excessos. o autor reproduz a realidade como a vê. bochechas rosadas. bancos de couro. mapas. funcionamento de experiências.visão parcial. Exemplo: Descrição técnica de óculos: instrumento com lentes que ampliam os objetos distantes ou perto do observador e que lhes permitem uma visão nítida dos mesmos. (animal) c) O carro era como seu dono: arrojado. b.linguagem figurada (conotativa). (ser inanimado) * Psicológica . Estatura mediana. Exemplo: Exemplo O sujeitão. fotos. muito menos das retas.exposição em ordem cronológica 5. Sobre a espuma há um tecido grosso. Exemplo: a) Era sonhadora. Era meio fleumática. características interiores. que parecia um carro de boi cruzando com trem de ferro. peças que compõem aparelhos.indicação clara das diferentes fases do processo Esse tipo de descrição. Você vai passar pelo Hotel Hilton.ausência de suspense ou expectativa 2. 1. no cheiro. Descrição de experiências e receitas encaixam-se nesse tipo de produção de texto. Orelhas compridas. * enfoque objetivo . é acompanhada de desenhos. Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 2 de 10 . pelo curto.detalhamento das ações 7. destemido. Exemplo: Ele tem uma estrutura de madeira.impessoalidade na exposição 4.objetividade 6. (Marques Rebelo) Existe um tipo especial de descrição objetiva: a descrição técnica. na cor. muito fina de corpo.Apresenta o modo de ser do personagem. (ser inanimado) O autor de uma descrição é um indivíduo que observa qualquer segmento da realidade e tenta reproduzi-lo através de suas palavras. siga as placas com a indicação de “Isla Bonita”. exige do seu autor um conhecimento aprofundado do assunto e observação apurada. amarelo e branco. diagramas. (pessoa) b) Nina era uma cachorra beagle. as informações desejadas. literária. no volume. O objeto descrito apresenta-se transfigurado de acordo com a sensibilidade de quem o descreve. patas brancas e grandes olhos castanhos. rádio. Desejava sempre o impossível e recusava-se a ver a realidade. com as três cores básicas da raça: preto. a exposição narrativa.(José Cândido de Carvalho) Stela era espigada. É o sofá da minha sala. que envolve também pontos de narração. como também suas funções mais importantes. subjetiva e qualitativa da realidade.Na descrição objetiva. dum moreno fechado. magra. Devem ser usadas palavras que não apresentem dúvidas de interpretação e frases que transmitam de modo inequívoco. bonito. é também sentida.substantivos abstratos e adjetivos antepostos. que recria um objeto utilizando uma linguagem científica. d.perspectiva artística. O autor procura transmitir a impressão. Não gostava nada de estranhos. no tamanho. c. Logo você vai encontrar uma placa informando: Praia El Água.Grande mamífero selvagem. tronco alto oco e raízes profundas.O licor tem um sabor adocicado. * de baixo para cima . Os objetos impressionam nossos sentidos com maior intensidade. tem um objetivo próprio: representar de maneira científica. a linguagem dos textos difere bastante. repórteres. carro voando. Há também que se levar em conta na descrição. vários quartos. Tudo para dar conforto à família. com a mesma indicação.Barulho infernal. seu narigão sente todos os cheiros. ao descrever. Abrir a massa com o rolo da irregularidade dividi-la em duas partes. sentiu uma coisa viscosa. Veja estes dois exemplos: 1 . com um chifre ou dois no focinho . Servir com pizzas de todos os tamanhos. com maior exatidão possível ou provocar a emoção no leitor. Cobrir com a outra metade da massa e decorar com os dizeres da Lei de Gérson. da ordem dos ungulados. auditivas. 2 . cinegrafistas. com a finalidade de valorizá-lo. Tinha sido premiada pelo pássaro que estava na árvore sobre ela! * sensações olfativas . revistas. a equipe comemorando. Certas descrições obedecem a um plano pré-determinado: * do geral para o particular . Céu azul.O armário possuía várias prateleiras. que não é a mesma que está na cabeça do comprador (receptor). cocos ainda verdes em cachos. o preço é baixíssimo. piscina. pneus cantando. 2. conforme a situação. o tempo se esgotando. Esse é o melhor trecho da praia. Corre-corre.O coqueiro possuía folhas em forma de leque. Suas orelhonas percebem todos os sons. * sensações auditivas . * sensações táteis . câmbio engatando.Cheiros variados: perfumes importados.Ao passar a mão pelo cabelo. passa-passa. um toque alcoólico bem leve. regada com muito cinismo. * sensações visuais . Percebe-se um gostinho de laranja. sovando bem. temperatura alta. comentaristas. Cada autor.A casa ficava situada perto de uma praia. * de cima para baixo . mole. Não entre nesse primeiro contorno. olfativas e gustativas. na cidadezinha de Assuncion. rodeada por altas árvores. Era cercada de muros altos. Crachás. um grande jardim. * de dentro para fora . Braços delgados.Domingo festivo. Por exemplo: uma pessoa quer vender a sua casa. (Aurélio B. tem dois chifres. o tipo de receptor a quem se dirige: criança. fotógrafos.Cacareco tem uma cara de velho muito feia. de modo a obter uma massa lisa e homogênea. Hino. Pódio. cabo-men. combustível.Exemplo: Torta Corrupta Ingredientes ✔ 3 xícaras de chá de caixa dois ✔ 1 copo americano de desvio de verbas ✔ 3 colheres de sopa de “um por fora” ✔ 1 colher de sobremesa de suborno ✔ 1 bom punhado de tráfico de influência Modo de fazer Misturar muito bem todos os ingredientes. calor tropical. feitos de pelos colados bem juntinhos. Grande movimentação. muita grama. cabelos grisalhos. (Frans Hopp). salas. nas quais havia copos e xícaras Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 3 de 10 . TVs. Coloque uma delas num pirex bem untado com ganância. A torcida vibrando. Mas os olhos. Até parece um monstro pré-histórico. * sensações gustativas . Na cabeça do vendedor (emissor) está a sua casa real. A torcida delirando. hambúrguer. correspondentes estrangeiros. abacaxi e no fundo. agitação. batata frita e pipoca. Motores roncando. Entre aí. pequenininhos. O emissor até modifica o ser. Atravesse-a e continue pela estrada por mais alguns quilômetros. Diz que a casa fica num lugar sossegado. jornais. enxergam muito mal. proporcionais ao corpo. Rechear com uma boa camada de safadeza. rosto oval.Seus pés eram pequenos. Ande mais uns dois quilômetros e vai encontrar um outro contorno. adulto e por isso. Ande mais alguns quilômetros e vai chegar à capital da Ilha. táteis. com os quais defende seu território.Passe por ela ainda seguindo as indicações de “Isla Bonita”.Holanda). provocando sensações visuais. cachorro-quente. Passadas algumas horas. que envolvem personagens e que ocorrem num tempo e num espaço. som estéreo.Uma letra de música ou um poema: “Era uma casa”. os acontecimentos vão se desenrolar. * quadro em movimento: “Da mata vinham trinados de pássaros nas madrugadas de sol. deve dar a impressão de que ela pode ter acontecido. o relógio de pêndulo. * de fora para dentro .um texto literário A galinha Cocoricó estava há dias chocando seu ovo.23-1-97) 3. a água verde subia até a figueira gigante. as poltronas fundas. durante o verão.” (Lucília Junqueira de Almeida Prado). Voavam sobre as árvores as andorinhas de verão. as luzes das ruas ainda acesas. que.“Uma sala repleta de móveis sobre o piso de linóleo. lá estava o pintinho amarelinho. a mesa negra. alto como um armário. correta e a história deve parecer real.“Nos dias de enchente. tentava equilibrar-se sobre suas cambaleantes perninhas. As portas eram guarnecidas por vidros trabalhados e o seu corpo era da mais pura cerejeira.” * ambiente interno . nas luas novas.Uma história em quadrinhos: utiliza ao mesmo tempo o código verbal e o não verbal e o contexto extralinguístico é importantíssimo para a compreensão da linguagem. faróis de milha. E os bandos de macacos corriam numa doida corrida de “galho em galho”. Narrar é. Exemplo: Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 4 de 10 . estou lhe telefonando para avisar que a sua duplicata venceu. Há alguns tipos de narrativa: 1. Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão” (Vinícius de Moraes) Para que a narrativa tenha qualidades. Na descrição de ambientes. 5. Descrever um lugar é detalhar as características e isso pode ser feito focalizando-se vários aspectos: * quadro parado: “Caminhões e caminhões enfileirados na madrugada. fofinho. o assunto deve ser relatado de forma original e despertar no leitor interesse pelo desenrolar da história. Cocoricó não cansava de admirar a sua cria. móveis pesados. quando a maré crescia. bancos reclináveis. — Seu Manuel. ser verossímil. de feitio antigo: o enorme console. o autor volta-se para as características do lugar. representar fatos reais ou fictícios utilizando signos verbais e não verbais.” Narração A narrativa é uma forma de composição na qual há um desenrolar de fatos reais ou imaginários. — E quem pegou o segundo lugar? 2-uma notícia de jornal: “A poda indiscriminada de árvores em algumas localidades de Jaú. um frio orvalhado misturava-se no ar. toda desengonçada. quando ouviu um barulhinho: — Chegou a hora! Meu filho vai nascer! A casca do ovo foi se partindo e uma frágil criaturinha começou a dar sinal de vida. tem contribuído para elevar em até cinco graus a temperatura nas calçadas” . simples. traseira rebaixada. um frio que não era mais de inverno mas de fim de noite. pois. aconchegado sob as penas de Cocoricó. direção esportiva. — Você vai se chamar Uto! 4. rodas largas. A linguagem deve ser clara.antigos.uma piada: Manuel recebeu um telefonema do gerente do banco. aonde. * ambiente externo . isto é.Era uma caminhonete prata. a cristaleira. Estes planos não esgotam todas as possibilidades.(Comércio do Jahu . Será? O castigo veio a cavalo. animais. dando sequência. elas estão tão “adultificadas” que. Ele vai tocar! Aquilo é o “baxotuba”. 4. que são os que participam dos fatos. nunca dá certo. O filho ainda estava no computador e não havia ido dormir. pensam. seu filhinho de uns quatro anos e um senhor de idade.o próprio personagem fala) e em discurso indireto (o autor conta com suas próprias palavras o que o personagem diria. sentaram-se justamente atrás deles. uma daquelas não muito frias.cronológico ou exterior . Poderia parecer chata. trancou a porta por fora. pois mal ela e o marido acomodaram-se nas primeiras poltronas de uma fileira.o enredo ou a trama . É o espaço de tempo em que os acontecimentos desenrolam e os personagens realizam suas ações. — Ih. relâmpagos iluminavam tudo. — Ô mãe. que abriu a porta. implicante. quem sabe.são os seres envolvidos nos fatos e que formam o enredo da história. — O quê? ! E aqueles “ómis” segurando aqueles bambus? — Não é bambu! Também é um instrumento. sem dúvida. aquele no qual se centraliza a narrativa. não pode ser medido como o tempo cronológico. um desenvolvimento.apresentam comportamento linear. a elaboração de falas em balões. o casal se arrumou e foi ao teatro para ouvir o concerto da Banda”. Meia hora depois. Afinal. na qual o autor apresenta a ideia principal. você vai ver ““. seres inanimados. O tipo origina-se a partir da personagem plana. um rapaz com a esposa. quando acordou às 6 horas. Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 5 de 10 . isto é. no qual o autor detalha a ideia principal e há dois momentos distintos no desenvolvimento: a complicação (têm inícios os conflitos entre os personagens) e o clímax (ponto culminante) e um desfecho. Toda história tem uma introdução.o tempo . que é a conclusão da narrativa.“Era noite de inverno.os personagens . Aliás. Fique quietinho que quando a banda começar a tocar. Começou a chover forte. sem alterações do início ao fim da narrativa.onde os acontecimentos se desenrolam. Possuem uma única qualidade ou um único defeito. Mas ficou quieta. possui uma ou mais características marcantes que levam o leitor a identificá-la imediatamente. Qualquer coisa pode ser transformada em personagem de uma narrativa. O antagonista é o personagem que se opõe ao principal. 3. Um exagero em suas características torna o tipo uma caricatura. ao seu mundo interior. Sem que este percebesse. Eles falam. Um passo preparatório para a produção de texto narrativo. Os personagens podem ser pessoas. percebeu a porta do escritório fechada e a luz acesa. sentem. o avô.são aqueles cujo comportamento e atitudes vão evoluindo no decorrer da narrativa. Exemplo: O céu se fechou em nuvens negras. a ocasião ideal para ouvir uma boa música. Os principais elementos de uma narrativa são: 1. o filho queria sair e teve que chamar o pai.é marcado pelo relógio.formado pelos fatos que se desenrolam durante a narrativa. O teatro estava quase lotado e percebia-se a presença de várias crianças andando ruidosamente pelos corredores.). Pode haver mais de um na narração. os tempos mudaram e talvez as crianças também. Há ainda os personagens secundários.o espaço . b) personagens planas . os personagens podem ser agrupados em duas classes: a) personagens esféricas . seres abstratos ou ideias e outros. psicológico ou interior. Exemplo: O rapaz varou a noite inteira conversando com os amigos pela Internet. O pai.. Exemplo de discurso direto: — Você sabe que o seu irmão chegou? Exemplo de discurso indireto: — Ele perguntou se ele sabia que o seu irmão havia chegado. os personagens e o cenário. São encontradas em contos e novelas. Pensando nisso. podem até apreciar um bom concerto.. Conforme o grau de profundidade. agem. têm emoções. mas não se constituem o centro de interesse da narração. quanta polícia lá no palco! Por quê? — É que a banda é da polícia! — Ô mãe. o que que aquele “ómi” com aquela baciona vai fazer? — Aquilo não é uma baciona. A fala dos personagens pode ser feita em discurso direto (com diálogos e verbos de elocução . não comentou nada com o marido. São mais comuns em romances. seres que só existem na crendice popular. pois se refere à vivência dos personagens. pensou a mulher — criança pequena e concerto é uma combinação que raramente dá certo. O protagonista é o personagem principal. é. É um instrumento. 2. precisa. coerência.. Era muito dado.Enumeração . dando a impressão que o narrador e o personagem falam em uníssono. c) a coerência é tida como regra de ouro da dissertação. conhecida todo mundo. d) impõe-se sempre o raciocínio lógico. Neste último caso. Esse observador pode participar da história ou estar fora dela. tomava o seu café. lógica. herança de família.dizia ele.” (ideia secundária) Veja outro exemplo: — ideia central . nobre. um planejamento de trabalho e uma habilidade de expressão. o cachorro e ia para a fazenda. porém enriquecido pela imaginação de quem relata. qualquer ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do que se quer expor.um personagem participante da história narra os fatos.” b) narrador personagem (narrador de primeira pessoa . nem de orações subordinadas substantivas próprias do discurso indireto. que estava sempre de olho nos salamaleques que ele vivia fazendo para a mulherada do lugar.Caracteriza-se pela exposição de uma série de coisas. Tolice. notícia de jornal). Exemplo: “Contou-me uma guia em Buenos Aires. .” De acordo com o conceito de narração. que mescla o discurso direto com o indireto. Forjara planos. Tinha nascido ali. sabe que isso é verdade.Puras gentilezas .o foco narrativo é de terceira pessoa) . não se verifica. o objeto da dissertação é abstraído do tempo e do espaço. Pura dor de cotovelo! Quem conhece Buenos Aires como eu. mas que não tem necessariamente compromisso com a realidade. correta gramaticalmente. com personagens que podem até ser reais. uma a uma. Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são: a) toda dissertação é uma demonstração. natural. de travessões. clareza. daí a necessidade de pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação. levantaria a cabeça. (Graciliano Ramos) 5. dado demais para o gosto da mulher. objetividade na exposição. Gostava mesmo era da lida. impõe-se a fidelidade ao tema. na maioria das vezes. muitas pessoas torcem no nariz. como fatos fictícios. progressão temporal entre as frases e. No discurso dissertativo propriamente dito. — desenvolvimento .Há ainda o discurso indireto livre. que é o relato de ações praticadas pelas pessoas (livros científicos. Afinal.o narrador . Exemplo de discurso indireto livre: “Se pudesse economizar durante alguns meses. discussão ou interpretação de uma determinada ideia Pressupõe um exame crítico do assunto. o panamá.A poluição atmosférica deve ser combatida urgentemente. O discurso deve ser impessoal (evitar-se o uso da primeira pessoa).é quem relata os fatos. O narrador pode assumir duas posições: a) narrador observador (narrador de terceira pessoa . denotativa. original. pegava a garrafa de água.. Alguém está observando o fato e conta o que acontece ou aconteceu. O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: 1. dois pontos. pois a alta concentração de elementos tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas. livros de história. que quando se diz que essa cidade é a mais europeia das Américas. raciocínio. Vê os fatos de dentro para fora e a narrativa desenvolve-se em primeira pessoa.A poluição atmosférica deve ser combatida urgentemente. A narrativa desenvolve-se em terceira pessoa. sou um cavalheiro. Mas não era de só ficar dando ordens não. Exemplo: “Ele morava numa cidadezinha do interior. Dissertação A dissertação é uma exposição. e) a linguagem deve ser objetiva. quem é do chão não se trepa”. o fato pode ser totalmente inventado ou até baseado na realidade. O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais frases que explicitem tal ideia Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente graves. b) em consequência disso. sobretudo daquelas que sofrem de problemas respiratórios.relata os acontecimentos como observador. Deve ser clara. Levantava-se todos os dias na mesma hora.o foco narrativo é de primeira pessoa) . pode-se narrar tantos fatos reais. como na narração. Não há presença de verbos de elocução. Presta-se bem Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 6 de 10 . porém. encontra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato motivador) e. perde a dimensão de humanidade que abriga em si. por isso é fundamental.Explicitação . preferência. o homem aprendeu a grunhir. fatos. O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre nós. muitas vezes. A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: 1) Introdução . b) O surgimento de várias entidades de defesa das populações indígenas. Exceto no cordão umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração. desequilíbrios sociológicos e poluição. Nas regiões temperadas e ainda nas mais frias. que o coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”. como “A Santa Missa em seu lar”. Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver. é dominada por um vago e persistente sentimento de dor. que confronta ideias. sempre oferecendo o complemente necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. uma forte transformação da rocha em terra pela umidade e calor. Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo brasileiro diante de tantos desmatamentos. isto é. de modo que hoje somos obrigados a viver numa sociedade fria e inamistosa.O solo é influenciado pelo clima. deve delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser enfocado sob diversos aspectos. em outras situações. por exemplo. dia a dia. é grande o número de emissoras que dedicam parte da sua programação à veiculação de programas religiosos de crenças variadas. “Terço Bizantino”. Espaço .Muitos parágrafos dissertativos marcam temporal e espacialmente a evolução de ideias. seus limites. Se.à indicação de características. Depois deu um significado a cada grunhido. Muito depois. exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais compreensíveis. seguindo-se os critérios de importância. “Despertar da Fé”. 2 . 2) Desenvolvimento . “Palavra de Vida” e “Igreja da Graça no Lar”. deve fazer a estruturação do texto.A frase nuclear. Deve ser clara e chamar a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento. É a abertura do texto. o tema é a questão indígena. ela poderá ser desenvolvida a partir das seguintes ideias: a) A violência contra os povos indígenas é uma constante na história do Brasil.deve conter a ideia principal a ser desenvolvida (geralmente um ou dois parágrafos). Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação. pelo contrário.Comparação . Exemplo: “A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade. a velhice. os solos são profundos. porque já estamos nos convencendo de que a felicidade é uma ilusão. todas as artérias contém sangue vermelho-vivo. situações. falta de exercícios sistemáticos e demasiada permanência diante de computadores e da televisão. Devido à expansão das igrejas evangélicas. um segmento indicando consequências (fatos decorrentes). mais escuro e desoxigenado. corre sangue venoso.Tempo e Espaço . processos.A frase nuclear pode-se desenvolver através da comparação. classificação ou aleatoriamente. ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser defendida. 5 . Existe nessas regiões uma forte decomposição de rochas. Nos climas úmidos. 4 . Exemplo: Tempo . Pode-se enumerar. (Melhem Adas).Causa e consequência . processos. recém oxigenado.A comunicação de massas é resultado de uma lenta evolução. a camada do solo é pouco profunda.exposição de elementos que vão fundamentar a ideia principal que pode vir Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 7 de 10 . Na artéria pulmonar. c) A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasileiro. que só o sofrimento é real“. fenômenos e apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança. Contém a proposição do tema. Exemplos: O adolescente moderno está se tornando obeso por várias causas: alimentação inadequada. d) A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena. porque os seus olhos teimam apenas em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam. inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde é que passou à comunicação de massa.Num parágrafo dissertativo pode-se conceituar. Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do coração para irrigar os tecidos.Exemplo: O homem. Primeiro. funções. (Arthur Schopenhauer) 3 . Na dissertação. ponto.Casa publicadora . fica claro que seu objetivo é fazer com que o leitor concorde com ele. daqui a algum tempo. que agora deve aparecer de forma muito mais convincente. o raciocínio deve ser exposto de maneira lógica.último sobrenome com letra maiúscula.é a retomada da ideia principal. da ordenação cronológica. As evidências são o melhor argumento. em escala mundial. Algarismo arábico. pode-se construir frases de sentido geral ou de sentido específico. Às vezes.Número de páginas ou volumes . a fim de que possa “cercar” o leitor no sentido de evitar possíveis desmentidos da tese que se está defendendo. tem-se a dissertação argumentativa Para que a argumentação seja eficiente. conter de forma sintética. das definições. A bibliografia final deve seguir o seguinte padrão: a. com base nos argumentos. pois todas as regiões seriam rapidamente atingidas pelos efeitos mortíferos das explosões.sublinhar ou colocar em itálico. No desenvolvimento são usados tantos parágrafos quantos forem necessários para a completa exposição da ideia E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas acima.em algarismos arábicos (ponto) Abrevia-se p. da causa e da consequência. (sentido geral) É proibido falar ao telefone celular dirigindo. não se indica. ed.Título .Anotador ou tradutor -(ponto) d. separado da vírgula dos outros prenomes. h.especificada através da argumentação. As referências bibliográficas devem estar de acordo com as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O autor de uma dissertação deve ter sempre em mente. pois. de pormenores. (ponto).Série ou coleções . Só resta. os homens têm nas mãos o poder de extinguir totalmente a sua própria raça da face do planeta.se necessário (ponto) i. e não pág ou pg. ao homem uma saída: mudar essa situação desistindo da corrida armamentista e desviando para fins pacíficos os imensos recursos econômicos envolvidos nessa empreitada suicida. Exemplo: É proibido falar ao telefone celular.Ano da Publicação . a confirmação da hipótese ou da tese. dos dados estatísticos. ele expõe os argumentos que apoiam a sua afirmação inicial e na conclusão. (Texto adaptado do artigo “Paz e corrida armamentista” in Douglas Tufano. (sentido específico) Quando o autor se preocupa principalmente em expor suas ideias a respeito do tema abordado. c. com seu incrível potencial destrutivo. entre parênteses (ponto) Esquema comparativo Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 8 de 10 . deve-se considerar todas as possíveis contra-argumentações. no desenvolvimento. uma vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação. uma afirmação de sentido geral pode não ser inaceitável.Autor . criou uma situação ímpar na história da humanidade: pela primeira vez.Número da edição . da ilustração. 47) Introdução Desenvolvimento Conclusão Na introdução. as consequências de apenas algumas explosões seriam tão extensas que haveria forte possibilidade de se chegar ao aniquilamento total da espécie humana. da interrogação e da citação. ou simplesmente não haverá mais convivência de espécie alguma. mas se for particularizada tornase aceitável. o autor apresenta o tema (desenvolvimento científico levou o homem a produzir bombas que possibilitam a destruição total da humanidade). clara e coerente. conclui o seu pensamento inicial.se for a primeira . e. (um parágrafo). o objetivo proposto na instrução.Ilustrações . particular. 3) Conclusão . as possíveis reações do leitor e por isso. b. p. Observe o texto abaixo: Vida ou Morte A grande produção de armas nucleares. (ponto e dois espaços ou travessão). (vírgula).em algarismo arábico (ponto) g. A capacidade de destruição das novas armas é tão grande que. pois. Ou os homens aprendem a conviver em paz. . se fossem usadas num conflito mundial.nome da casa (vírgula) f. Nesse caso. Não haveria como sobreviver a um conflito dessa natureza. acrescida da argumentação básica empregada no desenvolvimento.em algarismos arábicos. Deve. 1984.Trabalhando com a Narrativa .Coleta de dados -. singularizam o ser ou objeto descrito.Seleção de imagens. Dissertação Ideias .3 edição. discutir.1 edição. 7. a 6. Douglas .IGNÁCIO. ILCSE.Para Gostar de Escrever .Classificação-sucessão Narração artística: subjetividade.os mais singularizantes. aspectos .3 edição. análise de ideias Dissertação literária criatividade e argumentação. Sebastião Expedito. emocionais. a 2.Redação Escolar e Acadêmica. ambiente.exposição. solidez na argumentação.pessoas e ações que geram o fato e as circunstâncias em que este ocorre: tempo. 1987. avaliar ideias Predomínio da razão reflexão . Levantamento das ideias . São Paulo. Organização dos elementos narrativos (fatos. Editora Ática. Descrição objetiva: precisão. interpretação. fidelidade. São Paulo.1 edição.FARACO.Classificação enumeração das imagens e/ou aspectos selecionados Descrição subjetiva: criação. criação.BRAIT. etc. . Imaginação (fatos fictícios) -pesquisaobservação(fatos reais) . debate. coerência.Aulas de Redação . causa. interpretar. interpretação.Definição do ponto de vista dissertativo: exposição. ausência de intervenções pessoais.TUFANO. a 4. 1980. a 5. lugar.Levantamento (criação ou pesquisa) dos fatos . discussão. São Paulo. Faculdade humana Trabalho de Composição Narração Fatos . Araraquara. tempo e outras circunstâncias). 1992. Formas Bibliografia a 1. São Paulo. Editora Moderna. Editora Moderna. 1986. a 3.Estudos de Redação . Dissertação científica – objetividade. Negrini e Lourenço . Editora do Brasil. Narração objetiva: fatos reais.Descrição Conteúdo específico Retrato verbal: imagem: aspectos que caracterizam. Jayme . Roberto .BARROS.MAGALHÃES. consequência. descrição e modo científico.Técnicas de Redação . . estrutura mais livre.3 Edição .FARACO. Carlos . personagens. avaliação explicar. Observação-percepçãorelativismo desta percepção .1 edição. Editora Ática . . . São Paulo. fatos fictícios. . Atual Editora. 1992.raciocínioargumentação. São Paulo.Encontros de Redação . Carlos e Francisco Moura . Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 9 de 10 . e. publicada em O Pasquim. Orientações: 1. depois por massagem. para ir nas melhores academias. 3. é necessário obedecer a inúmeras regras. Escreva o texto definitivo a caneta. você opta por ginástica. pra mim. produza um texto dissertativoargumentativo em que você apresente suas ideias acerca da valorização do corpo humano. 2000) ************* A partir das reflexões propostas nos trechos acima.. eh. peso e volume.. onde toda essa preocupação está presente.. dá à gente a impressão de algo que é fruto não só de uma mera característica externa. ou um cabelo desse modo. As pessoas exibem.] No caso. Atribua um título ao texto. Apostila elaborada pelo professor Ernane Duarte Nunes Página 10 de 10 . 5. Não necessariamente tem que ser uma pessoa com. As mais famosas. é preciso ter um corpo saudável.0360/M2A) Em nossa sociedade de consumo. Então. leis de medida.]. Mas aquilo que ela aparenta não deve estar dissociado do que ela é. Em suma. você precisa ter bastante dinheiro para fazer exames frequentes e para saber suas taxas sanguíneas. para variar o cardápio de exercícios que você pode fazer. na cultura urbana [.. o que me chama atenção em termos físicos especialmente uma pessoa que tem proporções nas diferentes partes do corpo humano. isso movimenta uma economia e exige uma disponibilidade financeira que só a concentração de renda no Brasil explica. jan. (Entrevista com Jurandir Freire Costa. da classe média para cima. de proporção entre diferentes partes do corpo humano e que. transmite. para a boate e restaurantes. o principal.Redação Leia com atenção os trechos abaixo: Agora. Revista eletrônica interNeWWWs. Para se ter saúde. (Rosy Feros. com a impressão de harmonia [. de equilíbrio e que. acho que uma pessoa é uma pessoa na sua totalidade. (Fala carioca NURC . relaxamento. você tem uma divisão porque o que você vê exibido como modelo de identidade e de felicidade e de norma corpórea é transmitido maciçamente para todo mundo. que possa ter uma pele assim. realmente.] Então. por tensão. portanto. muito bonita. 2. do ponto de vista da aparência física de uma pessoa. de acordo com a norma culta da língua. a fonte vital de todas as energias é o corpo. Redija um texto de 25 a 30 linhas. [. eu acho que. no que ela é. para tomar o caso das garotas.. 4. no 21. vai estar em questão um cardápio que não engorde. são as mais magras. Quando você chegar no restaurante.. mas que é realmente expressão de uma realidade pessoal mais profunda. e na aparência. é ela transmitir essa ideia de harmonia. mas que dá. para tanto. Evite copiar passagens dos fragmentos apresentados. Agora. existe uma lacuna real entre quem pode imitar ou não. ela consome produto da moda. em “A metáfora do corpo (II): beleza se põe à mesa”. 23/07/2002) Bom. Redija seu texto em prosa.Documentos: Corpo humano – inq. ela viaja.