PSICOPEDAGOGIA SEU CAMPO DE ATUAÇÃO

March 31, 2018 | Author: Arlan Pinto | Category: Family, Learning, Knowledge, Pedagogy, Learning Disability


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PSICOPEDAGOGIA: SEU CAMPO DE ATUAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM1 Maria Luiza Ferreira DUQUES 1.INTRODUÇÃO O contexto educacional tem sofrido intenso impacto decorrente das mudanças de ordem econômica, política, social, cultural e tecnológica, cujos desdobramentos são manifestos pela instância educativa compreendida pela escola e pela família, que tem como protagonistas alunos, professores, mães, pais. Em relação à instituição, as transformações têm se revelado na perspectiva dos alunos, bem como dos profissionais docentes ou ainda de outros profissionais que trabalham com a educação, e aqui incluímos o psicopedagogo. Dentre as mudanças que temos percebido na família está a incipiente participação desta, na vida dos filhos. No âmago dessas questões são percebidas também modificações nas relações sociais que, por sua vez, atingem os processos de ensino-aprendizagem e o exercício da docência (LIBÂNEO, 2007; PATTO, 2004). Ao nos atentar para essas transformações e para as exigências a elas relacionadas, percebemos que a instituição de ensino tornou-se definitivamente o lugar de socialização e formação de sujeitos, ao oportunizar a estes algumas condições para o exercício da liberdade política e intelectual. Nesse cenário, a Psicopedagogia também tem sido provocada, no sentido de contribuir com a educação, detectando ou extinguindo os problemas de aprendizagem que erigem dentro do contexto escolar e fora dele. É interessante ressaltar, diante desse terreno imerso em contestações, que a psicopedagogia não atua diretamente com a dificuldade, mas corrobora para saná-la. Levando em consideração os aspectos socioeconômicos, culturais, e psicológicos, ela atua junto às crianças, familiares e professores, na busca de soluções para o problema de aprendizagem. Para atuar frente a esses problemas, a psicopedagogia não trabalha isoladamente, ao contrário, conta com a colaboração de outras áreas do conhecimento. Longe de competir com outros profissionais, o psicopedagogo busca 1 Disponível em: <http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/psicopedagogia-seu-campo-de-atuacao-e-suaimportancia-frente-as-dificuldades-de-aprendizagem-4957628.html> A partir de uma maior clareza acerca do objeto de estudo. mas ainda hoje. Após esta breve incursão. subsídios para seu trabalho. 1992). 1992). torna-se mais fácil. As discussões que balizam o campo da psicopedagogia a concebem como área de aplicação que antecede o status de área de estudos. Nesse sentido. bem como seu campo de atuação. p. ainda não lhe assegura a qualidade de saber científico. Inicialmente empreendemos uma pesquisa bibliográfica com leituras e fichamentos a fim de aprofundarmos o entendimento acerca do objeto de estudo. determinar seu objeto de estudo. Nesse sentido. o termo já foi criado e assinala uma das mais importantes razões de produção de um conhecimento científico: o de ser meio. a qual tem buscado sistematizar um corpo teórico próprio. Frente a esse quadro. Segundo Scoz (1994. e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento. A pesquisa bibliográfica foi essencial para nos apropriarmos de conceitos relacionados ao tema. e buscando respostas às interrogações levantadas. identificar seus desdobramentos. através das lentes teóricas. 02). o objetivo deste artigo é conhecer o campo de atuação e a importância do psicopedagogo na realidade escolar. para um outro. partimos para o percurso metodológico. numa perspectiva teórica ou aplicada. Percebemos aí que o termo psicopedagogia está imerso em um campo conceitual passível de contestação. fazemos aqui uma espécie de duplo questionamento que acaba por convergir para um ponto comum: Qual o campo de atuação e a importância do Psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem escolar? Essa pergunta é formada no sentido de se considerar a necessidade de apontamentos sobre as questões concernentes à psicopedagogia. em que quanto mais se procura elucidá-lo. a . "a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades. a psicopedagogia enquanto produção de conhecimento científico. o de ser instrumento. Posto isto.2 neles. reconhecendo ser este um campo vasto e muito desafiador. Como aponta Lino Macedo (apud BOSSA. a validade dessa área como um corpo teórico organizado. não basta como aplicação da psicologia à pedagogia. integrando-os e sintetizando-os". Atrelada aos vários campos científicos. devendo-se fazer muito no sentido de ela sair da esfera da empiria e poder vir a estruturar como tal (BOSSA. menos claro ele nos parece. a psicopedagogia emerge da necessidade de buscar soluções para os problemas de aprendizagem. para Marconi e Lakatos (2009). cujos momentos se afetaram de forma recíproca. apresentamos alguns aspectos gerais para a compreensão acerca dessa área enquanto campo de saber. Ainda no segundo momento apresentamos uma discussão sobre o campo de atuação da psicopedagogia. mas como novas possibilidades que se abrem para o campo da psicopedagogia. psicanálise e pedagogia na tentativa de readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados e/ou com dificuldades de aprendizagem. PSICOPEDAGOGIA: SUA HISTÓRIA E SEU CONCEITO Antes de aprofundarmos nossa discussão sobre a atuação e importância da psicopedagogia. trazemos as considerações finais emanadas durante o estudo não como fechamento definitivo deste trabalho. O ideal é que a pesquisa bibliográfica não seja a mera repetição de escritos. A preparação remete aos momentos de análises indispensáveis ao estudo. Por fim. produtor de um conhecimento específico. 2. a fim de dominar os aspectos teóricos e metodológicos da posição assumida.3 finalidade desta abordagem é colocar o pesquisador em contato com tudo que já foi produzido sobre o assunto. Inicialmente apresentamos o tema em estudo e suas noções gerais. Discutimos no momento seguinte as interfaces entre psicopedagogia e educação. perpassando pela atuação institucional e clínica. Os primeiros Centros Psicoterápicos foram instituídos por Boutonier e Mauco em 1946 na Europa. . um breve apanhado sobre os elementos que constituem o objeto. Ao desenvolver nossas primeiras idéias. até a sistematização com os apontamentos do olhar da psicopedagogia sobre a família e a escola. com direção médica e pedagógica. que fazemos uma breve retrospectiva histórica. nos orientamos por um sistema de pensamento. No segundo momento fazemos uma breve incursão acerca da conceituação e do processo histórico da psicopedagogia. É com base nos escritos de Scoz (1994) e de outros autores renomados que discutem esta área. Acoplavam-se nesses Centros. a fim de melhor situar a psicopedagogia nos dias atuais. conhecimentos da psicologia. apontando na seqüência as (in) definições que se fixam acerca desta área. o objetivo da pesquisa. bem como o percurso metodológico adotado. mas a interpretação e produção de novos conhecimentos. a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbio de aprendizagem. essencialmente as colaboraçãoes de Johnson e Myklebust (1987) que enfatizavam os conceitos de Disfunção Cerebral Mínima (DCM). Essasidéias acabaram atingindo escolas. bem como os de Distúrbios de Aprendizagem dificuldadeem (DA). a Psicopedagogia foi. instituindo-se como saber independente e complementar. vêm reformulando sua linha de análise. Segundo Kiguel (apud Bossa. uma ação auxiliar da medicina e da psicologia. aprova-se em 1996 pela Associação Brasileira de Psicopedagogia. A Psicopedagogia foi inserida no Brasil baseada em modelos médicos e foi assim que se iniciaram nos anos 70. consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. 1992) historicamente a psicopedagogia surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia. . o Código de Ética. Mediante o entendimento que começa a emergir acerca do seu objeto de estudo. mentais e/ou psicológicas. permitia a aceitação da criança por parte da família e da escola. No momento inicial. devendo primar pela interdisciplinaridade e podendo ser exercida tanto clínica quanto institucionalmente. segundo Visca (1987). desencadeando classificações equivocadas dos problemas de aprendizagem. que condensa os principais pontos a serem seguidos pelo psicopedagogo. O fato de existir um diagnostico de (DCM). A literatura estrangeira tinha grande aceitação em nosso meio. os psicopedagogos nutriam a concepção de que os indivíduos com dificuldade de aprendizagem escolar eram portadores de disfunções psiconeurologicas. mas contribuía também para desmotivar os professores a investirem na aprendizagem. cursos de formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica. tendo seu objeto de estudo definido – o processo aprendizagem – e recursos diagnósticos próprios. Nesse período. os profissionais da psicopedagogia começaram a se organizar no intuito de entender os motivos do fracasso escolar. considerados fatores diretamente responsáveis as pela aprender. destituindo essa criança da culpa pelo seu insucesso. Atualmente. à luz das contribuições de diversas áreas do conhecimento. os psicopedagogos. dentre as diretrizes previstas pelo código está a deliberação da Psicopedagogia como um campo de atuação em saúde e educação que envolve com o processo de aprendizagem. conduzindo as crianças a profissionais da área médica.4 A partir da década de 60. sem sufocar-lhe a individualidade. ele sempre assumirá a dupla polaridade de seu papel. e sua configuração nas etapas da vida. quem é esse profissional? Trazemos aqui uma colocação de Janine Mery (1985). quanto na saúde pode-se considerar que o psicopedagogo tem uma postura crítica frente ao objeto de estudo. com uma colocação pontual certamente aplicável as áreas correlatas: a de que. Qualquer que tenha sido a sua formação. Ainda segundo esta autora. o que não quer dizer que o local de trabalho desse profissional seja sempre a clínica. Em sua atuação. A ele cabe saber como se constitui o sujeito.5 Alguns avanços consistentes já podem ser percebidos nesse campo. não podemos desconsiderar que essas medidas. o que significa ensinar e aprender. bem como. ele deverá subsidiar a criança no enfrentamento do modelo de escola que dispomos. mas nos referimos às atitudes do psicopedagogo ao longo da sua atuação. Como se vê. o psicopedagogo deve procurar se revestir de um arcabouço teórico das outras ciências para se constituir enquanto profissional com uma visão ampla que acolhe a interdisciplinaridade. que define o psicopedagogo como um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos da sua ação.891. 2. de que modo métodos pedagógicos interferem no desenvolvimento da criança. quais os fatores envoltos nas dificuldades de aprendizagem. nos apontam algumas incongruências. mas afinal.º 10. os traços históricos da psicopedagogia. como uma tentativa de elucidação dos constitutivos desta área. ainda assim. diante disso. . já que é através desta instituição que o aluno se situará participando assim da construção coletiva da sociedade. esse profissional deve respeitar a escola como tal.1 O Psicopedagogo e suas (in) definições Comecemos esse tópico. o que consequentemente converge para uma certa (in) definição conceitual do termo. a exemplo da Lei n. Desse modo. tanto na sua atividade na área educativa. Essas são algumas questões que permeiam o trabalho do psicopedagogo. vejamos quem é o psicopedagogo. bem como do Projeto de Lei nº 128/2000. que continua lutando para que essa profissão se regulamente. tardam em se tornar ação concreta em nosso país. ele perpassa pelo lugar desse campo de atividade e pelo modo de abordar o seu objetivo de estudo. ao esclarecer que o trabalho clínico não deixa de ser preventivo. 2. não deixam de resultar um trabalho teórico. Esses dois modos de atuação.6 Segundo Lino Macedo citado por Bossa (1992). essa mesma autora faz uma análise interessante. segundo. levando em conta a singularidade de cada processo. que o psicopedagogo detecta prováveis . É partindo desse entendimento que encerramos o debate acerca das (in)definições do psicopedagogo para abrirmos um debate muito mais aprofundado que versa sobre o campo de atuação da psicopedagogia. Posto isto. apropriação de conteúdos escolares. desenvolvimento do raciocínio. uma articulando-se às outras. respeitando os seus interesses e possibilidades. a área de abrangência que esse profissional ocupa parece ser dotada de especificidades que requerem um considerável cuidado. Segundo Bossa (1992). o psicopedagogo ocupa-se das orientações de estudos. assim como. pode evitar o aparecimento de outros. Subsidiado por esse referencial. dentro da própria instituição de ensino. por ser mediante ao convívio cotidiano com os sujeitos da instituição que o psicopedagogo participa das relações da comunidade educativa favorecendo assim o processo de integração e troca. na preparação dos profissionais. pode ainda. O trabalho preventivo é sempre clínico. o psicopedagogo pode atuar preventivamente contribuindo com o educador na sua prática docente. O psicopedagogo deve levar o sujeito a reintegrar-se a vida normal.2 O Campo de atuação da psicopedagogia O campo de atuação do pisicopedagogo transcende ao mero espaço físico em que o trabalho é desenvolvido. Desse modo. no Brasil. por ser no desempenho da função preventiva dentro do espaço escolar. preventiva e teórica. uma vez que. Nessa proposição de articulação. Tanto na prática preventiva como na clínica. mesmo que com ele não esteja diretamente comprometido. assumir características específicas a depender da modalidade: clínica. o profissional se embasa sempre em um referencial teórico. atendimento de crianças. o autor apregoa. estar o trabalho psicopedagógico atrelado com o trabalho escolar. A importância desse profissional na instituição se justifica e se legitima por várias vias: primeiro. ao tratar alguns transtornos de aprendizagem. podendo promover orientações relacionadas às peculiaridades dos sujeitos. o auxilio aos professores e demais profissionais nas questões pedagógicas. Já que no caráter essistencial. De acordo Bossa (2000). p. o professor é desafiado a lidar com a singularidade dos sujeitos bem como com os métodos de ensino a ser adotados. da própria ensinagem. com os colegas da classe. visto que. já que a heterogeneidade presente na sala de aula trás consigo a necessidade de novos métodos que assegurem a pluralidade. com os educadores. O psicopedagogo alcança seus objetivos quando. fazendo com que os professores. entre as múltiplas atribuições que o psicopedagogo assume no espaço escolar está a orientação à família. Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem. Bossa (l992. tendo a compreensão das dificuldades de aprendizagem de determinado aluno. aversão à escola. muitos são os fatores que corroboram ou interferem no desenvolvimento da criança. favorecendo a integração. Problemas com a família. a colaboração com a direção e a mais importante delas: a assistência ao aluno que esteja com algum tipo de necessidade. O trabalho do psicopedagogo na escola é bastante denso. É sabido por todos que no contexto da sala de aula. e muitos outros que acabam por desencadear na criança. diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou. podendo não ser nem mesmo detectado pelo professor. argúi que. Nesse contexto. o universo das interações humanas é complexo e permeado por conflitos. ele torna-se uma ferramenta poderosa no auxílio da . consegue meios para ajudá-lo. promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo. participar da dinâmica da comunidade educativa. realizando processos de orientação. 23). o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais. Deste modo. com o conteúdo. essencialmente se considerarmos a quantidade de questões que estão atreladas à dificuldade de aprendizagem. envolvendo a escola na busca de condições para amenizar e/ou sanar tal dificuldade.7 perturbações relativas à aprendizagem. Nessa dinâmica. Muitas vezes os problemas que afetam as crianças são desencadeados por motivos extremamente simples. seja na promoção da aprendizagem. Neste campo. faz-se necessária uma intervenção psicopedagógica. nos conferem apontamentos acerca do campo de atuação do psicopedagogo. Desenvolver pesquisas científicas relativas ao processo de aprendizagem e seus problemas. pela instituição.124/97 que ao regulamentar a profissão. sendo possível considerar que certa representação da profissão está se constituindo por meio das relações concretas entre os sujeitos. no âmbito da atuação psicopedagógica. em sua grande maioria. Apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais. ao referimos à postura terapêutica do profissional. O psicopedagogo pesquisa as condições para que se produza aprendizagem escolar. os problemas de aprendizagem podem ser gerados por razões internas ou externas à família e ao indivíduo. toma-se emprestado da medicina o termo "olho clínico". alguns dos seus desdobramentos no campo empresarial. que o olhar que esta área possibilita não se resume às ações apenas no campo escolar. Atuar preventivamente nos problemas de aprendizagem. Os principais itens podem ser assim colocados: Intervenção psicopedagógica visando à solução dos problemas de aprendizagem. É importante destacar. Por ser um profissional ainda em construção da sua própria identidade. Eis que esses elementos são condicionados por fatores distintos. Os encaminhamentos ao consultório psicopedagógico. fazendo com que cada situação seja única. são feitos. Assim. na prática profissional. mesmo que sobrepostas. mas transcende esse espaço e atinge o contexto da sociedade. De acordo Paín (1985). identificando os empecilhos e os elementos facilitadores numa ordem preventiva. tendo por enfoque o indivíduo ou a instituição de ensino público ou privado. Destarte. Isso nos aponta que a prática psicopedagógica também possui uma configuração clínica. Quando os problemas concernentes ao fracasso escolar advêm de motivos ligados à estrutura familiar e/ou individual. . Abordamos aqui. Oferecer assessoria psicopedagógica aos trabalhos realizados em espaços institucionais. o psicopedagogo pode contribuir com as relações inter e intrapessoais dos indivíduos que atuam na organização. é sumamente relevante que a psicopedagogia contribua com a escola.8 aprendizagem. temos projetos como a Lei nº 3. Possibilitar intervenção visando solucionar problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou privado. seja no tratamento dos distúrbios e dificuldades nesse processo. Desse modo. Diante disso. e nem pode ser a única responsável por sanar as questões relativas à aprendizagem. culmina no comprometimento do trabalho das outras esferas. das relações de classe. ressaltando que ambas estão atreladas ao processo de aprendizagem. Ademais. PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO: DELINEANDO INTERFACES As análises que se incidem no campo da educação apontam para a questão do envolvimento do aluno no ato de aprender e do professor no de ensinar. por sua vez. 3. A escola é construída com a participação dos diversos segmentos sociais. trazendo em voga elementos importantes para o entendimento das interfaces da educação. família e educadores. como Estado. Scoz (1994) nos confere uma importante contribuição.9 Orientar. Nessa linha de apontamentos. pensar sobre as relações que se estabelecem entre educadores. Pensar sobre as ações educativas desenvolvidas e os desdobramentos que delas decorrem para o sujeito infantil significa. a discussão do campo de atuação e da importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem não pode se processar de modo isolado. Estas são interfaces que discutiremos na seqüência. É importante e necessária a compreensão de que a escola não é. de modo que a abnegação de qualquer um desses segmentos no cumprimento do seu papel. não se dá descontextualizado. coordenar e supervisionar cursos de especialização de Psicopedagogia. a necessidade da psicopedagogia no contexto escolar e fora dele. através da cultura. ao remeter a atuação do Psicopedagogo tanto a identidade clínica quanto a institucional. para compreender as especificidades do trabalho psicopedagógico que. visto que. Isso nos faz entender que o Psicopedagogo é um profissional ligado historicamente à educação. em nível de pós-graduação. É nesse contexto que as dificuldades de aprendizagem acabam erigindo como um desafio para a educação desencadeando assim. . a depender dos seus "mundos de vida". a importância da compreensão do contexto que circunscreve este ato ganha corpo. expedidos por instituições ou escolas devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação vigente. fora do contexto mais amplo que é a sociedade. tais conteúdos atingem cada indivíduo de modo diferente. não basta o educador estar preparado pedagogicamente para desempenhar seu papel de modo satisfatório. alunos e os conteúdos de aprendizagem. É necessário que haja uma compreensão do contexto social. mediadoras da sociedade. a instituição escolar é responsável pela aprendizagem sistêmica.10 Além dessa conjuntura. o psicopedagogo. o alargamento do olhar. promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta. a situação da aprendizagem. Segundo Jorge Visca (1987). portanto. se a Psicopedagogia surgiu da necessidade de compreensão e atendimento aos indivíduos com dificuldades e distúrbios de aprendizagem. a urgência de novos olhares sobre as questões que afloram no contexto escolar e que consequentemente influem no desenvolvimento do educando. são avaliados os procedimentos didático-metodológicos que interferem no processo de aprendizagem. atitudes e destrezas que a sociedade estima necessárias para a sobrevivência. a qual cumpre uma função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis. o desenvolvimento da escuta.1. deparamo-nos com a situação específica da aprendizagem no interior das escolas. órgãos especializados para transmitir os conhecimentos. já que este último tem na família e no professor seus referenciais. é bastante preocupante. Essencialmente hoje.Dentre as muitas proposições da Psicopedagogia. o educador estabelece uma relação de muita proximidade com o aluno. É por meio da aprendizagem que os indivíduos se inserem no mundo. a promoção do pensar. 3. Isso trás em foco. Em se tratando das ações preventivas delineadas no espaço físico e psíquico que configura a instituição escolar. Visca (1987) apregoa que no intuito de prevenir os problemas de aprendizagem. que é de natureza mais ampla. está a ressignificação do desejo do educando. O Psicopedagogo na instituição escolar A atuação psicopedagógica pode e deve ser pensada a partir da escola. a busca . Seu papel é de focalizar a problemática dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre ele. deve priorizar o conhecimento do sujeito. ainda que para isso necessite encaminha-lo a outros profissionais. tornase clara a importância de um trabalho que reflita sobre o papel e a importância de um psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem. É na instituição de ensino que os educandos adquirem as aprendizagens instrumentais que irão permitir o acesso a níveis mais elaborados de pensamentos. com o advento da modernidade. 1992). àquela que se opera na interação com as instituições educativas. dentro de um projeto social mais amplo (BOSSA. A partir dela. Comumente. Tais procedimentos são denominados por Bossa (1992) de metodologia ou modus operandi do trabalho clínico. levantamento de hipóteses. No processo diagnóstico e no tratamento. uma formação que seja capaz de transcender os muros da escola e abarcar a sociedade em geral. buscando oferecer sua contribuição no sentido de prevenir os problemas de aprendizagem. Entendemos que pensar a instituição escolar a partir da psicopedagogia implica atuarmos frontalmente sobre a formação do professor. Nos casos em que a criança já apresenta o distúrbio ou dificuldade de aprendizagem. assinala que no diagnóstico psicopedagógico. Em relação aos instrumentos. professores. provas psicomotoras.11 pelo sucesso escolar e acrescentamos à essas. incluindo alunos. a escuta. e por meio dele. provas de nível mental. provas projetivas e outras. esta mesma autora. o psicopedagogo procura compreender o porquê do sujeito não aprender. nesse caso é necessário a intromissão do trabalho clínico. Mas o que não se pode esquecer é que mais importante do que o instrumento adotado é a atitude do profissional diante do cliente. alguns procedimentos específicos são adotados. O psicopedagogo na clínica O trabalho clínico pode ocorrer em hospitais ou em consultórios. sempre em um contínuo revisável. provas de linguagem.2. a investigação cuidadosa e a realização de propostas para uma formação docente eficaz e verdadeiramente comprometida. 3. o que e como ele conseguirá aprender. provas de percepção. pais e comunidade do entorno escolar. . o trabalho preventivo por si só não conseguirá abarcar a demanda da criança. observação. No trabalho junto à instituição escolar. como uma possibilidade de sanar tal problema e/ou de buscar possibilidades para a criança. embora não seja a única ação possível para o psicopedagogo. a depender do referencial adotado pelo psicopedagogo. É importante lembrar que independente do referencial adotado. a observação se constitui num elemento essencial para melhor precisar o quadro e processar o tratamento curativo. O diagnóstico psicopedagógico é como um procedimento de pesquisa em que há investigação. utilizam-se entrevistas e anamnese. Sabemos que a ação preventiva pode evitar muitos problemas dessa ordem. O olhar. o psicopedagogo deve refletir acerca das questões aqui elencadas. provas pedagógicas. Esse trabalho ocorre geralmente de forma individual. em um processo diagnóstico. são posturas que o psicopedagogo não pode negligenciar no trabalho clínico. que se estabelece a comunicação. É importante. O trabalho psicopedagogico apresenta vicissitudes que concentram na existência de um objetivo bem definido a se alcançar que é a eliminação do sintoma. Nesse sentido. Eis que este aspecto relaciona-se não somente a operacionalização do trabalho psicopedagógico como também com o êxito do mesmo. ensaiando na brincadeira as suas expectativas da realidade. é necessário estabelecer e interpretar dados em outras áreas. a relação que se estabelece entre o psicopedagogo e o educando é mediada por ações que apresentam como principal objetivo: solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos (PAIN. Pain (1986. visando a superação das dificuldades que este sujeito venha a apresentar.12 a percepção e observação a fim de decifrar a mensagem que se externa por meio de um silêncio. não basta ter os conhecimentos relativos à psicopedagogia. É através da relação lúdica. o exercício de todas as funções semióticas que supõe a atividade lúdica possibilita uma aprendizagem adequada. apud BOSSA. do jogo. favorecendo uma intervenção psicopedagógica. 1992) argúi que. visto que o jogo é uma atividade criativa e curativa que permite a criança (re) viver situações. visto que. a produção do conhecimento acaba sendo bastante acelerada. Tendo em vista que o psicopedagogo detenha esses conhecimentos. que o psicopedagogo busque mecanismos que lhe permitam jogar o jogo da criança. a formação continuada desse profissional tende a ser bastante acelerada. o profissional lança mão de diversos jogos que possam lhe auxiliar no trabalho. de um gesto. Além da postura ética e atitudes corretas frente ao trabalho. Destarte. o que favorecerá a escolha da metodologia mais adequada. de um suspiro. Durante o tratamento clínico. do brinquedo. Diante disso. 1992). 1986 apud BOSSA. sem perder o foco do seu compromisso com a . como muito bem nos lembra Bossa (1992). pois ao passo que ele busca se nutrir de um arcabouço teórico consistente. na medida em que é por meio dela que se constroem os códigos simbólicos e se processam os paradigmas do conhecimento conceitual. ele poderá compreender o quadro diagnóstico do sujeito a que se destina a atender. este profissional deve ter conhecimentos multidisciplinares. A família é composta de indivíduos que estabelecem relações entre si e compartilham o mesmo contexto social de pertencimento. cognitiva. talvez por não terem se adequado às novas mudanças que vêm erigindo no cenário da modernidade. é pela família que se deverá passar. cresce o número de separações e de mães solteiras. e cada uma delas é possuidora de culturas. um tanto desestruturadas. depois que deixa de ser conseqüência de um reflexo.13 aprendizagem e lembrando que toda relação do sujeito com o mundo. onde cada membro exerce uma função distinta e complementar. Família e Escola: Um olhar a partir da psicopedagogia Quando se quiser obter alguma coisa da população. crenças. Este profissional intervém junto à família das crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. 3. constituindo desta forma. Estar atentos ao que a família pensa. e a construção da identidade. De modelo. a família vai tornar-se instrumento. e instrumento privilegiado para o governo da população (FOUCAULT apud DORNELLES. há ainda questões mais contundentes como o uso de drogas nas famílias. em primeira instância. assim a sociedade é composta pela soma de famílias. tornam-se uma constante. o que consequentemente. A família é a célula máter da sociedade. 2005). social e emocional. No contexto atual. por sua vez começa a apresentar certas dificuldades. são altos os índices de desempregados. demanda aprendizagem. em que ocorrem às primeiras trocas afetivas emocionais. o que influi na dinâmica familiar. As famílias que apresentam esses problemas acabam transferindo para a criança. reverbera. e esta. já que o mundo do trabalho lhes roubam o tempo de ficar com seus filhos. as famílias encontram-se em sua grande maioria.3. por meio de suas metodologias a fim de tomar conhecimento de informações sobre sua vida orgânica. uma identidade particular. É o primeiro lugar de aprendizado. seus anseios. as brigas entre casais na presença dos filhos. no contexto da escola e depois passa para a incumbência do psicopedagogo. seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento do filho é de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. igualmente alarmente é o número de analfabetos. A intervenção psicopedagógica deve . desencadeando assim. os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho. nos deparamos com angústias inerentes ao (dês) conhecer. e isto é de suma importância. A participação da família na escola contribui efetivamente para uma observação mais eficaz das significações sintomáticas relacionadas ao aprender. como o psicopedagogo poderia ajudar no estabelecimento dessa via de mão dupla? O psicopedagogo pode colaborar nessa tarefa. Ainda segundo esta mesma autora. e procurar propor metodologias que viabilizem e/ou facilitem os processos de aprendizagem. o psicopedagogo costuma primar pela busca dos elementos positivos entre essas esferas e a partir daí institui-se a cooperação da família para a escola e desta para aquela. através de encontros que possibilitem o acompanhamento do trabalho junto aos professores. Tal como argumenta Fernandez (1991). compreender como se processa o conhecimento na família e. O psicopedagogo deve procurar o significado do aprender para a criança e sua família. opinando e participando. no entanto. . Se pensarmos que as rupturas no vínculo da família provocam bloqueios em relação ao conhecimento da criança. Diante disso. na mais tenra idade. Isso nos leva a entender que o rompimento no vínculo afetivo consequentemente desencadeia bloqueios no aspecto cognitivo. a fim de descobrir os motivos do não aprender. a modalidade de aprendizagem é como um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes situações de aprendizagem. Nessas relações. Sabemos. Essas proposições nos conduzem a reflexões que se concentram essencialmente no âmbito familiar. as formas de aprendizagem constroem-se desde o nascimento. que a relação da família com a escola é ainda. estaremos admitindo que o campo afetivo e o campo cognitivo estão sempre juntos. e através destas formas. Cada indivíduo possui uma maneira pessoal de apropriar-se do conhecimento. Se a família e a instituição de ensino devem primar pelo desenvolvimento da criança.14 buscar a inclusão dos familiares. incentivando a escola a se interessar pela opinião dos familiares. conflituosa. relações pautadas pela confiança e respeito. em alguns aspectos. então essas duas instâncias devem atuarem parceria. a aproveitar as idéias e/ou proposições advindas das famílias. Assim. sobretudo na instituição consagrada para tal que é a escola. é uma tarefa que o psicopedagogo não pode desconsiderar em sua atuação. Sendo assim. sem antes. é um problema comum aos nossos dias que precisa urgentemente ser superado. o psicopedagogo deve evitar os prognósticos que o educador costuma levantar acerca da criança. A função do Psicopedagogo é intervir em caráter preventivo e curativo. que inexoravelmente. posto que o conhecimento é dinâmico. destarte.15 Por isso. não se concentram unicamente na criança ou adolescente ou no educador. Tomando como ponto de partida as discussões e idéias apresentadas e sem ter a pretensão de esgotar esse debate. mas como contribuições que desencadeiam um chamamento a novas reflexões acerca do campo de atuação e da importância do Psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem escolar. a busca de uma relação confiável e colaborativa entre escola e família com fins ao desenvolvimento integral do educando é uma questão importante e necessária que o psicopedagogo não pode fazer vistas grossas e nem ouvidos moucos. visto que. existe um conjunto bem mais amplo com outros elementos que precisam ser percebidos e analisados pelo psicopedagogo no entrelaçamento de sujeitos e situações. Acreditamos que. é possível inferir que os motivos do (não) aprender. ele precisa incidir suas atenções na dificuldade de aprendizagem. não como um fechamento definitivo e inalterável. é condição sine qua nom . prevenindo-a e/ou sanando-a. a forma como a criança recebe e/ou absorve o conhecimento. de considerar a criança como pessoa inteira. nesse contexto. A partir do entendimento resultante da referenciação teórica adotada. 4. e os desdobramentos desses processos. levar em consideração o seu mundo de vida. um olhar acurado e uma postura crítica frente à realidade com vistas a melhoria da aprendizagem. Para isso. Estes dados apontam a importância de se olhar para a criança na sua singularidade. é a percepção desta particularidade que irá delinear o processo e não um padrão universal de desenvolvimento. de considerar a constituição dramática daquelas que não aprendem. se relacionam com o contexto de vida da criança. Esta dificuldade em enxergar a criança como sujeito na sua integralidade. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES As colocações aqui expostas aludem à existência de questões que na situação pedagógica interpõe-se entre o ensino. dada sua complexidade. apresentamos nossas considerações. Enfim. viabilizando a integração entre os indivíduos. Porto Alegre: ARTMED. Coleção Questõesde nossa época v. Alícia. 6 ed.16 para o seu trabalho. Adeus professor.67. 2005. a Psicopedagogia. Leni Vieira. a importância e o universo de atuação do Psicopedagogo como o de instituir caminhos que conectem o (não) saber. DE 1997 Autor: Deputado BARBOSA NETO. DORNELLES. São Paulo: Cortez. a agilidade e a lentidão e outros elementos que tanto se contrastam. ________________.104p. Petrópolis. Artes Médicas. compete a ele. LAKATOS.ed. Fundamentos de . Infâncias que nos escapam: da criança na rua à criança cyber. Nádia. Rio de Janeiro: Vozes. J. a facilidade e a dificuldade. Como muito bem nos lembra Barbosa (2002). In: Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de reflexões. 10. 2009. o campo que se delineia é vasto. quanto se complementam nos processos de aprendizagem. 1991. 2000. São Paulo: Atlas. 2002. FERNANDEZ. como uma das áreas responsáveis pela aprendizagem. o (dês) acesso ao conhecimento. que diante do campo de atuação e da importância do Psicopedagogo. Eva Maria. LAKATOS. Eva Maria. gerando orientações metodológicas seguras e fazendo com que os sujeitos da educação repensem o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança. Laura Mont Serrat. BOSSA. Adeus professora? novas exigências educacionais e profissão docente. Técnicas de pesquisa. COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE REDAÇÃO PROJETO DE LEI No 3. bem como participar do processo educativo. tem muito a aprender e muito a contribuir. consideramos.124. In: MARCONI. em consonância com Bossa (1992). Firma-se assim. Nesse contexto. 1992. A história da psicopedagogia contou também com Visca. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. perceber prováveis perturbações no processo aprendizagem. Curitiba. Porto Alegre. Marina de Andrade. 2007. BIBLIOGRAFIA BARBOSA. MARCONI. Dificuldades de Aprendizagem: o que são e como tratá-las. LIBÂNEO. Marina de Andrade. A inteligência aprisionada. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. C. Metodologia Científica. Porto Alegre: Artes Médicas. São Paulo: Editora UNESP. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. p. R. 1985. Sara. Psicopedagogia e realidade escolar: O problema escolar e de aprendizagem. 61-78. VISCA. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. In: Barbosa.17 MERY. SCOZ.L. Jorge.). 1994. Porto Alegre.(Org. H. PAÍN.L. Janine. PATTO. 1985. Porto Alegre: Artes Médicas. S. 1987. Petrópolis. . M.Trajetórias e perspectivas de formação de educadores. 2004. Rio de Janeiro: Vozes. Beatriz. Formação de professores: o lugar das humanidades. Rio Grande do Sul: Artes Médicas. Clínica Psicopedagógica.
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