Plantando Igrejas (Ronaldo Lidório)

March 18, 2018 | Author: pablomonteiro1985 | Category: Christian Church, Bible, Paul The Apostle, Divinity (Academic Discipline), Human Resource Management


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RESENHALIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. 106p. Ronaldo Lidório é doutor em antropologia cultural e intercultural. Traduziu o Novo Testamento para uma das línguas tribais africanas, onde atuou com fundação de igrejas e tradução bíblica para a língua Limonkpeln de Gana, como missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT). Atualmente tem seu trabalho voltado à análise linguística, tradução, plantio de igrejas e desenvolvimento humano e social na Amazônia. É autor de 15 livros publicados, dentre eles Indígenas do Brasil, Konkombas, Plantando igrejas e Liderança e integridade. A obra está dividida em seis capítulos, nos quais aborda o assunto do plantio de igrejas sob três prismas relacionados: teologia do plantio de igrejas em uma cosmovisão bíblica, os princípios e estratégias do plantio de igrejas e as possibilidades de um movimento de plantio de igrejas. Não fora o texto bíblico às mãos, poder-se-ia questionar a validade do uso que Lidório faz do termo plantar (do inglês plantation ) e derivados no referir-se ao processo de fundação de igrejas. O apóstolo Paulo usa o referido termo para referir-se a tal conceito e prática (cf. 1 aos Coríntios 3:6-9; 9:7, 10 e 11). Tal validação é imediatamente apontada pelo autor da presente obra (p. 11). Nos primeiros instantes de sua abordagem, Lidório caracteriza como deve ser, do ponto de vista bíblico, o processo de plantio (fundação) de igrejas. Aponta o pragmatismo como um dos fatores de distorção; além da ênfase pragmática, a sociológica, onde a vitalidade está na busca pela solução do sofrimento humano; e a eclesiológica, quando a igreja assume o que pertence a Deus exclusivamente: a missão. No capítulo primeiro, o autor objetiva descrever alguns critérios teológicos para o plantio de igrejas, refletindo sobre o processo bíblico de proclamação e contextualização na transmissão da mensagem. Ao discorrer sobre a necessidade de conciliação entre Teologia e Missiologia, o autor elenca três perigos quando há dissociação entre as duas disciplinas: 1) usar Deus como instrumento para realizar nossos propósitos no plantio e crescimento de igrejas em lugar de servi-lo no cumprimento de seus planos na terra; 2) oferecer soluções simplistas para problemas complexos em relação à comunicação do evangelho, contextualização e plantio de igrejas; 3) utilizar a Teologia com finalidade puramente acadêmica e não aplicável à igreja, sua vida e dinâmica. Em seguida, ainda no mesmo capítulo, Lidório trata dos critérios bíblicos para o plantio de igrejas, alistando os seguintes: 1) O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de treinamento e habilidade, mas pelo poder e desejo de Deus de salvar vidas. Há enorme necessidade de treinamento de obreiros e utilização de suas habilidades, afirma o autor, mas nós não devemos esperar o cumprimento da missão por meio de estratégias cuidadosamente desenhadas e recursos humanos bem preparados. 2) O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de resultados humanos, mas pela fidelidade às Sagradas Escrituras. Não temos permissão de Deus – enfatiza o autor – para manipularmos os homens ou criarmos atalhos para a proclamação. Em plantio de igrejas o que é bíblico não significa, necessariamente, grandes resultados em termos de rapidez e números. Solano Portela, no artigo Planejando os Rumos da Igreja: Pontos Positivos e Crítica de Posições Contemporâneas (disponível em http://www.luz.eti.br/es_planejandoosrumosdaigreja.html, acesso em 16/03/12 às 14h23), afirma: ‘’Tendo uma base falsa, não é de espantar que no plantio de igrejas, as metas numéricas ou quantitativas sejam colocadas como consequências naturais do esforço organizado’’. 3) O plantio de igrejas não deve ser uma ação definida pelo conhecimento do evangelho, mas por sua proclamação. O autor afirma que ‘’ o ponto mais relevante ao lidar com a praxis do plantio de igrejas não é quão capacitado você está para pregar o evangelho, mas quanto você o faz’’ (p. 21). O capítulo segundo é dedicado ao assunto da contextualização sob uma perspectiva teológica, seus objetivos e limitações, sua relevância e perigos. O autor afirma que, historicamente, a ausência de uma teologia bíblica da contextualização tem gerado duas consequencias desastrosas no movimento missionário mundial: o sincretismo religioso e o nominalismo evangélico (p. 25). Ao dissertar a respeito da relevância da contextualização no plantio de igrejas, Lidório faz uma sucinta exegese em Mateus 24.14 que inclui vocábulos tais como martyria (testemunho), oikoumene (mundo habitado), ethnesin (etnia), e prossegue parafraseando o texto bíblico da seguinte forma: ‘’O evangelho do reino será proclamado de forma inteligível e compreensível por todo o mundo habitado, por meio do testemunho martírico, de via, da igreja, a todas as etnias definidas’’. A comunicação do evangelho em uma perspectiva transcultural, portanto, conclui o autor, necessita de um trabalho de ‘’tradução’’ em duas áreas específicas: a língua e a cultura (p.27). Ainda em relação à contextualização, Lidório aponta três perigos fundamentais quando tratamos da contextualização dentro do universo missionário. São eles: o perigo impositivo, quando da tendência de impormos nossa forma de ler e interpretar o mundo. O autor afirma que a perigosa apresentação impositiva do evangelho a que nos referirmos, portanto, confunde o evangelho com a roupagem cultural daquele que o expõe, deixando de apresentar Cristo e propondo apenas uma religiosidade vazia e sem significado para o povo que a recebe (p. 29). O segundo perigo é o pragmático, que ocorre quando assumimos uma abordagem puramente prática na contextualização, o que resulta da leitura da contextualização a partir da perspectiva dos resultados mais que de seus fundamentos teológicos. O terceiro perigo é o sociológico, isto é, encarar a contextualização como sendo nada mais que uma estrutura de soluções para as necessidades humanas. Ao desenvolver o capítulo terceiro, o autor procura descrever o tema do plantio de igrejas sob a perspectiva da missão, isto é, o resultado do intento divino que lida com a atividade eclesiástica. Enquanto conceitua a igreja neotestamentária, Lidório menciona o fato de a compreensão de igreja que os discípulos tinham crescer em estágios no decorrer de Atos dos Apóstolos, da seguinte maneira: primeiro, a igreja ao redor dos apóstolos em Jerusalém; segundo, os gentios definindo o conceito crescente de igreja; terceiro, as igrejas locais plantando igrejas locais. A seguir Lidório disserta sobre a igreja como sendo de Deus, humana, local e missionária (p. 46-47). As estratégias para o plantio de igrejas são assunto dos capítulos quarto e quinto, os quais o autor dividiu em duas partes, tratando da fundamentação bíblica das estratégias e apresentando o modelo paulino de desenvolvimento como exemplo (p. 58). O autor defende a evangelização não apenas de indivíduos, mas de comunidades. A seguir, Lidório menciona seis realidades que limitam o desenvolvimento de estratégias saudáveis para o plantio e crescimento de igrejas: 1) gigantismo sem mobilidade; 2) centralização e elitização do clero; 3) ausência de estrutura física e logística facilitadora do crescimento; 4) foco no gerenciamento da instituição e não no pastoreio de pessoas; 5) a perda do hábito evangelizador, e 6) ausência de planejamento, alvos e organização. O último capítulo do livro é uma declaração da necessidade de compreendermos que, sem a atuação do Espírito de Deus, não é possível a concretização da tarefa evangelizadora. Qual a relação – pergunta Lidório – entre a expansão do evangelho e a pessoa do Espírito Santo? E quais os critérios para uma igreja, cheia do Espírito, envolver-se com a expansão do evangelho de Cristo? O autor responde, afirmando que esta relação poderia ser observada em três áreas distintas, a respeito das quais discorre: Primeiro, por meio da essência da pessoa do Espírito e sua função na igreja de Cristo; segundo, pela essência da pessoa do Espírito na conversão dos perdidos; terceiro, pela clara ligação entre os avivamentos históricos e o avanço missionário. Ronaldo Lidório é um evangélico conservador, e como tal, evoca a necessidade da fundamentação bíblica para a prática missionária, em oposição às metodologias pragmáticas de crescimento de igrejas. A presente obra é indicada para iniciação em missiologia. Recomenda-se largamente seu uso em cursos e seminários de educação bíblica, devido ao seu caráter didático, profundo e de fácil compreensão. Pablo Edgardo Monteiro Santos, Licenciado em Música, Bacharel em Teologia e aluno do Mestrado em Missiologia do Centro de Educação e Missões CIEM, no Rio de Janeiro, desde 2011. O presente trabalho é feito em cumprimento às exigências da disciplina História da Igreja em Missão, ministrada pelo Dr. Israel Belo de Azevedo, no curso de Mestrado da referida Instituição.
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