Personalidade Normal e Patológica - Jean Bergeret
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Personalidade Normal e Patológica Prezado Leitor Este livro traz algumas páginas impressas em fundo vermelho. Tal artifício visa a evitar a xerografia criminosa que, além de atentar contra os direitos do autor, inibe toda iniciativa editorial, trazendo como consequência o prejuízo do próprio leitor, cujo acesso a novas obras ficará, assim, cada vez mais restrito. Nosso procedimento conta com a aprovação da ABEAS (Asso- ciação Brasileira dos Editores na Área da Saúde), que, desde a sua fundação, tem chamado a atenção para a situação alarmante a que nos conduziu esse tipo de atividade, cada vez mais sistemática. Esperamos contar com a sua compreensão diante desse incon- veniente, que contraria nossos padrões editoriais; porém enfatizamos que foi a única solução encontrada para podermos continuar servindo à ciência e à cultura deste País. EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. 8496p Bergeret, Jean A personalidade normal e patológica I Jean Bergeret; trad. Alceu Edir Fillmann- Porto Alegre: Artes Médicas,1988. 291p. CDU: 159.97 Índices para o catálogo sistemático: Psicopatologia 159:97 Ficha catalográfica elaborada pela bibl. Carla P.de M.Pires CRB 10/753 JEAN BERGERET Personalidade Normal ePatológica Tradução: ALCEU EDIR FILLMANN Psicólogo e Médico 2ª EDIÇÃO PORTO ALEGRE / 1991 Obra originalmente publicada em francês sob o titulo La personalité normale et pathologique © Premiére édition BORDAS, Paris, 1974. Capa: Mário Rõnhelt Supervisáo editorial: Rua 13 de Maio, 468- Fone: (054) 222.6223 95080- Caxias do Sul- RS Reservados todos os direitos de publicação à EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA Av. Jerônimo de Ornei as, 670- Fones: 30.3444 e 30.2378 90040- Porto Alegre- RS - Brasil LOJA-CENTRO Rua General Vitorino, 277- Fones: 25.8143 e 28.7834 90020- Porto Alegre- RS- Brasil IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL ................................... 46 C) Significação histórica do episódio .................................................. 36 3.......................................................................................................................................................... 45 A)Sintoma 1............................................................................................................... 30 4.......................................................................................................................................... 19 2.................. Édipo e "normalidade" .................................. A NOÇÃO DE ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 45 45 ................................................................. Patologia e normalidade ................. "Normalidade" e padronização ............................................................................................................................. O sentido dos termos .............. A normalidade patológica 5.............................................................................................................................................................................. ESTRUTURAS E NORMALIDADE 1............................................Sumário Introdução ............................ 47 B) Defesa D) Doença mental............................................................................................................................................ 9 Primeira Parte HIPÓTESES SOBRE AS ESTRUTURAS DA PERSONALIDADE Histórico .......................................................................... 15 1. A noção de normalidade ............................................................................. 24 ........................................................................................................................................................................ 39 2........................................................................................................ 49 E) Estrutura da personalidade ............................................................................................. 49 ............................................................................ . 3... 1. • •. A linhagem estrutural psicótica .• • A) Descompensação da senescência • B) Rompimento do tronco comum . a) Prim eira posição freudiana b) Segunda posição de Freud c) Terceira posição freudiana d) Quarta posição freudiana . Evoluções agudas •••. a) A estrutura histérica de angústia b) A estrutura histérica de conversão 99 103 107 109 111 C) Reflexões diferenciai s D) As falsas "neuroses" 115 118 4..• A) Definição e situação . .••••. • .• D) As instâncias ideais . . . . • . . . . ... . C) Gênese da estrutura de base • a) Prim eira etapa b) Segunda etapa •...••••. b) As "psicoses" de caráter . .• D) Considerações acerca das estruturas no tocante à infância. . D) Reflexões diferenciais . A organização limltrofe •••••••. B) O ponto de vista freudiano . Situação nosológica • ••. A) A estrutura esquizofrênica ••. AS ANESTRUTURAÇÕES •. • .. . . B) A estrutura histérica . •••.. c) Terceira etapa .. B) A estrutura paranóica • C) A estrutura melancólica .. A) O ego anaclltico •••••• •• . ..•. . . .. A linhagem estrutural neurót ica A) A estrutura obsessiva . B) Os ordenam entos caracteriais a) "Neurose" de caráter . c) As "perversões" de caráter 75 77 81 84 126 126 129 131 131 132 136 137 139 141 141 143 147 147 153 154 154 155 . .•••. . O tronco comum dos estados limltrofes 3. . . .. . Ordenamentos espontâneos ••••• A) O ordenamento perverso . .latência e adoles· cência .. AS GRANDES ESTRUTURAS DE BASE 50 50 51 53 53 54 54 55 55 55 56 57 65 68 1... . .• •••. . . . . B) A relação de objeto anaclltica • • C) A angústia depressiva •. 2. . O conceito de estrutura da personalidade .. 2. . . .•• E) Os mecanismos de defesa •••• 4.. .•••.2. . . .. • • .••. 5.•••• ••••. . B) O caráter de destinado C) O caráter fóbico-narcisista D) O caráter fálico . . 6. OS TRAÇOS DO CARÁTER . . .• • • • . . Observações acerca dos problemas do caráter da criança 7. • • • • . .. • • • . • • • .. . • . . . • • • • • . • • . • • • • • • • . • • • .. 226 c) Traços de caráter uretrais 228 d) Traços de caráter fálicos 228 e) Traços de caráter genitais 229 B) Traços de caráter agressivos 231 a) Traços de caráter sádicos 231 b) Traços de caráter masoquistas 233 c) Traços de caráter autopunitivos 234 C) Traços de caráter dependentes das pulsões do ego . . H) O caráter psicopático . . .•. • . O CARÁTER 1. 221 B) Os traços de caráter psicóticos • • • • • • • • • • • • • . • • • . • • • . . . • • . • . . • . • • • . • . • • • • • • • • • • • .. • • . Os caracteres narcisistas . • • • • • • • • • • • • • • • • . 222 C) Os traços de caráter narcisistas • • • • • • • . • • 221 b) Os traços de caráter obsessivos • • • • • • • • • • . • • • • • • . • . • • . Traços de caráter estruturais 220 A) Os traços de caráter neuróticos .•• 2. • 223 A) Traços de caráter libidinais • • • • • • • • • . . • . A) O caráter histérico de conversão ••••••••••••. Existe um "caráter epilético"? • • • .•• E) O caráter depressivo •. . . • • . O caráter perverso • • • . 221 b) Os traços de caráter paranóicos • • • . . • . 235 222 . . A) O caráter abandônico . 224 a) Traços de caráter orais • • .• F) O caráter hipocondr!aco • G) O caráter psicastênico . • • • • . B) O caráter histerofóbico ••. • • • • • . • .. • . • • • . 209 6. . • .••••••••.. • • . . • • • • • • • • • • • • • • • • 224 b) Traços de caráter anais . • • • • • . 159 167 169 170 174 178 186 187 191 197 198 199 199 200 201 201 202 202 203 204 5. . 3. C) O caráter obsessivo •. .. • • . . • • • • • • • • 220 a) Os traços de caráter histéricos . I) O caráter hipomaniaco .•••. • • • • • • • • • • • • .• . . Os caracteres neuróticos • • • • • • • • ••••••••••. • • • • • • • • 221 a) Os traços de caráter esquizofrênicos • • . • • • • • • • • • • 211 213 216 1.•.• • • • • • • . 4. •••.Segunda parte HIPÓTESE SOBRE OS PROBLEMAS DO CARÁTER rico 5. . . • • • • • 2. . .. • . Os caracteres psicossomáticos . • •••••. • . • • • • • • • • . Traços de caráter pulsionais • • • • • • • • • • • • • • • • • • . Os caracteres psicóticos •••••• A) O caráter esquizofrênico B) O caráter paranóico . o o o o o o o o o 283 ÍNDICE DAS OBSERVAÇÕES o o o • o o • o o o • o o o o o o o o o o o o o • o o o .. o ••••• o •••••••• o o o • o o o o • o o o • o o o • 245 3. o o o o o o o . A "perversão" de caráter ••••••• • • o o •••• o o o • o • • • • • 252 257 CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA 263 ÍNDICE DAS FIGURAS o o o o o o o o o o o o o o o o o o o . A "psicose" de caráter . A PATOLOGIA DO CARÁTER • •• • • • o • o •••• •• •• ••• • o ••• •••••• o 236 1o A "neurose" de caráter o ••••• • • • o o ••••••• o •• o o o o o o o • • • • • • 240 2. .. o o o .7. o . o o o o o o o o o . o 287 REMISSIVO o ••• • • •• o o o . 285 ÍNDICE o o o o o o o o o o o o o o o o o o . o . pois. possibilidades.manecendo no domínio caracterial. correspondem a tentativas de estrutu.tencial que em si nada teria de definitivo. com os elementos metapsicológicos.caráter. encontram- se. com efeito. Podemos também observar fixações 9 . um tanto negligen. sobre a base de uma simples pausa la. outros mergulhando mais ou menos radicalmente no registro patológico. ser pretensiosamente considerada como uma ciência destinada a precisar os entrecruzamentos metapsicológicos visíveis entre as múltiplas manifestações relacionais possíveis que amenam desta ou daquela estrutura de base. Pareceu-me oportuno tentar uma síntese que se apoiasse sobre tão numerosos pontos de vista. Cada tipo de estrutura profunda da perso. quer de deter a evolução estrutural por um período muito variável de um sujeito par a outro. apropriadas a fazer renascer o debate sobre os problemas. em um bom número de casos e durante muito tempo. A caracterologia poderia. mais estáveis e profundos. ao nível do caráter ou dos sintomas. e emitir hipóteses novas. Muitas personalidades. da abordagem caracterológica. situados sobre o plano menos visível e latente da estrutura da personalidade. Penso ser necessário.síntomatología. introduzir uma concepção sistemática que leve em conta a dinãmica e a genética freudianas. quer de mudar ainda o curso das coisas na via estrutural. dar origem a diferentes modelos relacionais. atualmente.Introdução A presente obra constitui a síntese e o desenvolvimento das pesquisas que tenho empreendido desde 1963 acerca da articulação dos fenômenos manifestos.nalidade poderia.ração imperfeitas ou inacabadas. com efeito. Muitos autores interessaram-se por aspectos fragmentários desta tr ilogia: estrutura. assim.ciados atualmente. uns per. segundo a terminologia filosófica ou psicológica. cuja síntese é apresentada neste trabalho. que dificilmente poderá opor-se a outro termo que defina uma catego ria particular depe ndente do mesmo conjunto. muito cust oso do ponto de vista econômico.ções devem permitir-nos a localização de critérios ao mesmo tempo muito pro. Em uma ótica como esta. Tais personalidades somente poderiam originar-se em um contexto ontogenético limitado.vestigações clínicas. em primeiro lugar. no seio de uma linhagem estrutural definitivamente fixada) mostram-se mais raras do que até aqui se po. sem compr o missos nem c oncessões. c orrespondendo a funcionamentos econômicos ao mesmo tempo estáv eis e bem integrados (condições essenciais ao rótulo de "normalidade". sem dúvida. A distinção que estabeleci entr e "caracteres" e "estruturas" poderá parecer bastante artificial para alguns . caráter. as personalidades nitidamente estruturada s. opo r livremente a noção de estrutura de base. tipo. ao modo pelo qual esta personalidade é or g anizada no plano profundo e fundamental.quer modo de organiza ç ão. a sintomatologia torna -se simplesmente o modo de funcionamento mórbido de uma estrutura quando esta se descompensa. Em suma. A estrutura da personalidade (ha bitualmente denomi nada simplesmente de "estrutura" em psicopatologia) é concebida. tanto aos "sintomas" quanto aos "caracteres " ( o que os filósofos talv ez prefeririam chamar de "estruturas dos sintomas " ou "estruturas de caráter") . aparece como o nível de funcionamento manifesto e não mór bido da estrutura. encontrarse notavelmente esc larec idas pelas in. Trata-se de um termo bast ante geral.fundos e essencialmente polivalentes. Em psicopatolog ia. em sua gênese. Par eceu-me um obj etivo a ser visado não mais falar dos muito fáceis "tipos mist os" ( dos quais se desconhece a natureza e os níveis da "mistura"). torna-se possível. pois. os psicopatologistas podem. etc. com efeito. pois. ao passo que o c a ráter. o vocábul o "estr utur a" assume um senti- do mais preciso. não permit ia m ligar mui claramente aos principais modelos estruturais bem definidos . isto 10 .deria ter pensado. Tais condições podem. da natureza e varied ade da estrutura de base da personalidade sobre a qual repousam. a denominação "estrutu ra" ma is comumente recobre todo e qual. porém conservando todo tipo de capacidades ev olutivas em dire. Os psicopatologistas. e unicamente em momentos precisos desta ontogênese. Sem dúvida. como a ba. uma v ez que. limitado aos elementos de base da per sona lidade. seja qual for o nível: personalidade.masiado rígidos. ao contrário. assim. sua originalidade e limitaç ões.sobre o modo de um frágil arranj o defensivo. de. por outr o lado.ções mais estáveis e mais sólidas. tal como acaba de ser definida. consideram-nos co mo dependentes. Estas investiga.se ideal de ordenamento estável dos ele me ntos met a ps icológicos constantes e essenciais em um sujeito. ocupando-se essencia lmente do aspecto funcional destes sintomas ou caracteres. ou estrutura da personalidade (em geral se diz simplesmente "estrutura"). situar melhor muitos casos particulares de personalidades ou caracteres que os antigos sistemas tipológicos. por u m lado. R. É evidente que tal concepção de conjunto. RACAMIER. Escapa-se. desde que os fatores internos ou externos de conflitualização não se encon.ta-se a ressituar a função do sintoma em relação a estrutura de base. também ative-me a inserir. R . GREEN. O exame fenomenológico dos sintomas encontra-se copiosamente condu. Não teria como exprimir todo o reconhecimento aos pesquisadores e clíni.precisos das antigas posições estruturais ou caracterológicas.valamentos entre "estruturas de personalidade".tudo. por um la. Df. nem sempre pude agrupar. a todas as hesitações (ou mesmo contradições) encontra. sistematizar e desenvolver.· SeJO v ivamente que minha contribuição.cos que me trouxeram tantos elementos de elaboração. GRUNBERGER. KNIGHT e P. por outro. o essencial do fio condutor de meu propósito. no presente es. apesar de suas numerosas im. B. A. observações clínicas tão expressivas e vivas quanto possível. ou simplesmente o leitor apressado. O . o lugar económico dos sintomas no conjunto de tal personalidade dada. possam encontrar. seguindo FREUD e os trabalhos psicanalíti. pelo menos em um primeiro tempo. Minha ambição será a de que o clínico pouco propenso às reflexões teóri.trem mais equilibrados eficaz (e não perturbador em si) dos varia. nos momentos mais "teóricos" de meu texto. em situação ativa e relaciona I. e que incite os autores contemporâneos a ampliar ainda mais o debate. FAIN.cas. essencialmente dinâmica. a retomar e desenvol. sobre estas novas bases conceptuais. destinadas (com o risco de por vezes beirar a caricatura) a bem definir o traço motor principal de minha pesquisa. Minha pesquisa levou-me inevitavelmente a repensar. AN. GREENSON. GUILLAUMIN.dos mecanismos de defesa e adaptação . nem em capítulos originais . como elemento organizador de base da personalidade. aos habituais e inevitáveis aca.perfeições. tal como se encontra definida acima. as minhas fontes de documentação e minhas reflexões críticas a este respeito. em particular D. Do ponto de vista metodológico.ZIEU. C.ver poster iores estudos fecundos nestes níveis. e ao funcionamento caracterial.o ponto de vista sintomatológico. tanto quanto teria desejado. BENASSY.é. e para não tornar este trabalho pesado demais.zido nos tratados de psiquiatria das diversas tendências. Por falta de lugar. assim. KERNBERG. esforce1-me por esclarecer o debate (com os riscos certos da "sistematização") com máximo de pranchas ou esquemas. apenas pode ser desenvolvida no contexto de uma posição e reflexão autêntica e claramente psicanalítica. torna-se possível compreender a estrutura. nestas observações que escolhi e desenvolvi com especial cui- dado. "estruturas de caráter" e "es.do. é porque somente reteve minha atenção. por um jogo Se não desenvolvi especificamente. M.das nos antigos procedimentos.cos contemporâneos. J. possa movimentar um pouco os quadros demasiado rígidos ou im. Meu obj etivo aqui limi. particularmente nos parágrafos "históricos". Com efeito. M. 11 .truturas nosológ icas". o problema da normalidade. Primeira parte HIPÓTESES SOBRE AS ESTRUTURAS DA PERSONALIDADE . ZIEU os sintomas apenas têm sentido se ligados uns aos outros. do modo de organização permanente mais profundo do individuo.vimento da idéia de "estrutura" e pensa que esta noção recobre uma tomada em consideração dos sintomas segundo o método associacionista. Considerarei que "constituição" e "estrutura" da personalidade represen- tam.mando-se então do emprego do substantivo inglês "pattern". No decorrer de minha introdução. Didier ANZIEU (1965) situa no primeiro quartil do século XX o desenvol. obsessivos sem qualquer "obsessão" vis!vel exteriormente. às teorias jacksonianas ou ao estruturalismo. mas seu 1 Existem. AN. estendi-me suficientemente quanto ao sentido dado em psicopatologia ao termo "estrutura". é a maneira mesma pela qual um todo é composto e as partes deste todo são arranj adas entre si. para não precisar de novo justific ar aqui os limites desta utilização ao nível da estrutura de base da perso.mente. 15 .ção com o caráter. grosso modo. Afora casos em que é empregado no sentido de "temperamento" ou "caráter". bem como os avatares da morbidade. e parece não necessitar de tratamento especial. Entretanto. Ora. por exemplo. o termo "tipo" refere-se habitualmente à estrutura de base.nalidade. aquele a partir do qual desenrolam-se os ordena. empregado no sentido de "estrutura de conjunto". conforme se refira à teoria da Gestalt. a estrutura continua sendo uma noção que implica uma disposição complexa. porém estável e precisa das partes que a compõem. na linguagem usual.Histórico O termo estrutura é marcado de significações muito diversas. um conceito idêntico. É igual. o que fica de especifico não é sua simples presença1. para D. ou em sua rela. por vezes. aproxi.mentos funcionais ditos "normais". depois "comunitário". como variação da adaptação ao meio.da traz de novo. mais do que como seqüência lógica do andamento anterior: sejam quais forem os fatores desencadeantes ou curativos mais especificamente privilegiados por esta ou aquela es- cola. correspondentes às reações específicas do paciente diante da alteração de sua personalidade .rologias. como produto dos centros cerebrais. não se apresentam. ou ainda como efeito de um processo regressivo na organização psíquica. é preciso reconhecer que. MEYER (1910) nos Estados Unidos. tanto parece haver ai ficado presa ao registro da angústia. Ademais. referências a tipos estruturais não-mórbidos. Sua atitude geral fundamentalmente "humanitária" embasa-se nesta convicção. GRIESINGER (1865). destacaram-se na análise não apenas do caráter. na falta dos meios metapsicológicos que atualmente possufmos com a contribuição de FREUD e dos pós-freudianos. Entretanto.bilidade e curatividade de toda estrutura em si. ela nos propõe simplesmente o "salto" para fora da lógica. da la. JACKSON (1931). Encontramos. mas da estrutura de alguns de seus personagens. MAUDSLAY (1867). Qual- 16 . o classicismo literário e tantos autores mais modernos. as simples descrições não poderiam ser suficientes em tal domínio.dical. ESQUIROL (1838) RÉGIS (1880). a vertente patológica das estruturas sempre viu-se mais facilmente desenvolvida. na BÍBLIA. quanto ao problema do continuum estrutural do qual não pode nem ouvir falar. chegando mesmo a mostrar como podia efetuar-se a passagem entre a esfera psicológica ainda adaptada e esfera patológica já descompensada. sobretudo.lógica" pode ser encarada segundo quatro modelos teóricos: como alienação ra. depois SHAKESPEARE. Os perfodos ditos "social".modo de disposição entre si. na GrãBretanha. no domínio estrutural. correspondentes aos déficits registrados nos pacientes. MEYNERT (1890). Os au. permaneceu racional. muito menos hipóteses a passar em revista do que no capítulo consagrado às caracte. Podemos considerar. da psiquiatria. desde as descrições poéticas ou filosóficas que remontam à antigüidade. TUKE (1892). mas não reverte nada de novo e na. DEMÓCRITO. Embora a classificação dos dados profundos tenha-se revelado uma ne- cessidade. na França. foram os primeiros a referirem-se à continuidade entre o normal e a pa. voluntariamente ou não. W ERNICKE (1900) e KRAEPELIN (1913). em língua alemã. também não é de espantar a constatação de que encontramos. mesmo que esta nem sempre se encontre claramente expressa.tores da Idade Média. no seio da mesma organização mental. que a "variação mental pato. quanto sintomas "positivos". o andamento profundo de cada uma conduziu aos poucos em direção à idéia da não-especificidade da natureza mórbida de tal ou qual estrutura.tologia no seio de uma estrutura profunda da personalidade. no fundo. foram os psiquiatras os que mais desenvolveram seu ponto de vista no terreno estrutural. ESCULÁPIO ou PLATÃO. PINEL (1801). RUSH (1812) e A. A antipsiquiatria em quase nada pôde ir além das tendências sociais ou comunitárias precedentes no plano de um liberalismo que. em HOMERO. com Henry EY (1955). A partir do século XVIII. é preciso ter em conta tanto sintomas "negativos". contudo. final. não exclusivamente ao nível do sis. Reencontramos. seja a resposta escolhida. D. as concepções de H. sua significação existencial e antropológica. vemos aparecer tentativas de classificação org nicas com JACOBI (1830). W ERNICKE (1900). Na mesma época. SKAE (1897). repousando em grande parte na noção de evolução. havia-se visto inicialmente a proposição de classificações sintomatológicas. tomando em consideração os sistemas reais. o ponto de vista organo-dinamista de Pierre JANET (1927). na medida em que as fases de equiG3 .mente. tanto quanto os sistemas simplesmente possíveis. em BONNEVAL (1946).tura ao nível da segunda tópica.ca. mas ao nível das regras de transformação. conser- • ce a mente.:::> ( 971) resumiu a opinião de muitos psiquiatras infantis contemporâneos. D. A. CHILAND refere-se à opinião de A. HEC. de MONAKOW e MOUR-GUE (1928) e. TUKE (1892). proposta pela Associa. J. permanece inspirada na opinião e LÉVI-STRAUSS (1961 ). As classificações fisiológicas foram sustentadas por MEYNERT (1884). Elas tentam estabelecer as relações entre o funcionamento mental observado e localizações neurológicas diversas.._. que corresponderiam a centros reguladores do funcionamento mental sobre tal ou qual registro particular. levando em consideração ão só os termos em si. GILLESPIE (1950). LAYCOCK (1945). e para fundar um eventual diagnóstico estrutural no estudo da relação de objeto e dos mecanismos de defesa. que permitem pas.sar de um sistema a outro. convém compreender a condição mental. Colette CHI- . sem que uma significação profunsej a sempre evidente. no mesmo caminho. Estes pontos de vista são retomados na classificação proposta há alguns anos pela Associação Médico-Psicológica Real da Grã-Bretanha. em relação às pulsões. MOREL (1860). ndo a particular complexidade da noção de estrutura na idade em que tu·oo a não parece haver-se desenrolado. inspiradas em JACKSON. BLEULER em 1911. EY (1958). Para C. em uma estrutura profunda original e formal. Certas modificações foram trazidas por E. certamente. cuj as hipóteses foram re- tomadas na classificação centrada na noção de psicose. e descompensações podem suceder-se. Haveria uma íntima ligação obrigatória entre o distúrbio psíquico e uma suposta lesão orgâni. CONNOLY (1939).t ema de relação. FREUD (1965) para ligar a estru. MEYER (1910). Antes da contribuição freudiana.KER (1871 e 1874) e. mas as relações entre os termos. com o ego e o superego. tr ata-se de procurar a explicação estrutural. HENDERSON e R. 17 . o possível papel de toda organicidade em um tal sistema de classificação. C. o que diz respeito ao ponto de vista estrutural na criança. interessada nos modelos. CHILAND. com KAHLBAUM (1863) . ROUART buscou precisar.ção Americana de Psiquiatria . em todos os tempos. Estas classificações que tendem a ligar o sintoma ao "distúrbio fundamental" subjacente limitam-se a descrições clínicas que. os trabalhos de H. MORE L (1851). no sentido de um afinamento da semiologia. CLOUSTON (1904). mas ainda em dependência muito grande dos sintomas . para Colette CHILAND (1967). A estrutura. JACKSON (1931 ). seduziram os psiquiatras. 'sódio mórbido. TUKE (1892). Émile KRAEPELIN. interessa-se por alguns marcos fundamentais que permitam diferenciar ou aproximar as estruturas. BUCKNILL e HAKE-TUKE (1870). ARNOLD (1782). W INNICOTT (1959). psicanalítica e estima que se deva distinguir entre uma teoria do dis- tanto tempo manifestada pela pesquisa túrbio mental. o grau atingido pelo desenvolvimento libidinal. por seu turno. RANGELL (1960 e 1965) colocase em uma perspectiva de conjunto das diferentes funções do ego . GLOVER (1932 e 1958). HEINROTH (1890). SCOTT (1962). e a natureza. M. tais como o sentido latente do sintoma (símbolo e compromisso no interior do conflito psí. um sistema de classificação das desordens entre si. L. de fragmentação. W . os modos de estruturação genital e pré. a seguir. uma certa filosofia da natureza. 18 .c ar . ALEXANDER (1928). o grau de desenvolvi. W . E.mento do ego e do superego. de fantasmatização.As classificações psicológicas correspondem a uma preocupação em bus. tão comumente esqueci. levanta-se contra a exclusividade neurótica. ABRAHAM (1924). de sublimação e recalcamento. Um certo número de autores trabalhou neste sentido. BOUVET distingue. de identificação e desfusão. J. para dar conta não só das grandes entidades nosológicas clássicas. fazer com que entrem os distúrbios psicopatológicos . em 1950. GREEN (1962 e 1963) procurou apoiar-s e nas noções de perda e restituição do objeto. F. das causas e funçõ es da doença e. K. J. A. H. Os pós-freudianos prosseguiram nas pesquisas sobre estas bases: K.quico).genital.das ou descuidadas por um bom número de autores. mas também da diversidade das pequenas entidades "intermediárias". MENNINGER (1938 e 1963). D. O ponto de vista freudiano. CRICHTON (1798). sutileza e eficácia dos mecanismos de defesa. de castração. no domínio do funcionament o mental do "homem normal". ZIEHEN (1892). PRICHARD (1835). categorias nas quais se tentará. por outro lado.THIEL (1966). enfim. tais como LINNE (1763). FROSCH (1957). ao contrário. a diversidade. Em ambos os casos. a "normalidade" torna-se função de um ideal coletivo.tural. a criança identifica-se com os "grandes" e o ansioso os imita. de outra parte. desde que se encontrem reduzidas ao silêncio por aqueles que se crêem ou se adjudicam a vocação de defender dito ideal pela força.tamentos ou pontos de vista. eles mesmos. intelec.veis perigos nas mãos dos que detêm a autoridade médica. Se a "normalidade" se refere a uma porcentagem majoritária de compor. azar daqueles que ficam na minoria. 19 . por que não. mesmo pelas maiorias.pois elaborado secundariamente sutis justificações defensivas. A noção de "normalidade" O emprego da noção de "normalidade" certamente apresenta incontestá. social. bem como das ideologias. muito se conhece os riscos corridos. depois de se haverem também visto. enun.pectos objetivos: os outros ou o ideal. Se. cada qual apenas conservando em sua memória representações muito seletivas. e de. serve-nos para isto de cruéis exemplos. polftica. acidentalmente bloqueados. entendem limitar o desenvolvimento afetivo dos outros. Buscando permanecer ou tornar-se "normal". cul. ao ideal ou à regra.-----111r-------------------------------------------- Estruturas e normalidade 1. filosófica.. a "normalidade" é mais comumente encarada em relação aos outros. o verdadeiro problema colocado pelo eventual reconhecimento de uma "normalidade" talvez não se situe a este nivel. moral. De fato.tual? A história antiga ou contemporânea das comunidades. em função de suas opções pessoais. econômica. jurfdica ou estética e.cia-se a questão manifesta: "Como fazem os outros?" e subentende-se: "Como fazem os grandes?" Ora. entre estes dois falsos as. grandes ou pequenas. soas. No primeiro caso encontramo-nos prisioneiros de um imperialismo que se apodera da noção para tentar salvar os privilégios que esta tão comumente re. Entretanto. de modo ocasional ou duradouro). no segundo. .denar as necessidades pulsionais com as defesas e adaptações.carar as coisas de modo completamente diferente do que com simples defesas projetivas. em seu sentido próprio. a tentação masoquista e "pauperista" desencadeia uma alergia horripilante e imediata diante de todos os compostos da palavra "nor. em equillbrio interno} mesm o em um solo de sério declive. O prim eiro significado determina somente o ângulo funcionalmente m ais vantajoso para articular dois planos em um a construção.=:. por outro lado. ao instrum ento de arqui· tetura chamado em português de esquadro. na medida em que toda normalidade apenas pode coor. f""' ui freq üente e desastrosamente neste sentido. Por um lado. as possibilidades ca.:. . em razão de todas as recordações opressivas e dolorosas que este desperta .sivamente entre um arroubo sádico pelo lado das normas "autoritárias" ou uma piscadela demagógica para as suscetibilidades "contestatórias". utilizando o potencial do primeiro buscando retardar as restrições da segunda.mção de "nor malidade"? Se ao invés de formu lar (ou temer). mas sobretudo de fazer com que percam toda a coragem cientlfica ou qualquer poder de investigação.nos logo em direção às estatlsticas e ideais. mesmo entre os mais pacifistas. a todo momento. Contudo parece não ser fácil encontra r interlocutores que aceitem discutir um aspecto subjetivo eminentemente nuançado e variável de "normalidade" em função das realidades profundas de cada um.cobriu e.ma"1. Tal movimento pendular de sucessivas anulações corre o risco não só de emudecer estas pes. nem trata-se. Em latim o termo norma corresponde. a noção de "normalidade" está tão ligada à vida quanto o nascimento ou a morte. a tentação sádica leva. de "ega· a existência do áto- . 1 20 .nos hereditários e adquiridos com as realidades externas. ou então proselitismos invasores e inquietantes. com o sentido de regra.tel"ôo em conta dados particulares a cada indivíduo (foi ele muito limitado em suas possibilida. parece-me que poderíamos en. m odelo ou exem plo. graças ao esquadro que haverá justamente retificado os perigos que a primitiva inclinação do terreno poderia representar para a solidez do conjunto do ediflcio. O ediflcio pode encontrar-se "a.prumado" (isto é. e não uma posição ideal fixa da casa em relação ao solo.racteriais e estruturais com as necessidades relacionais. Horácio ou Pllnio o Jovem. apenas em seu emprego secundãrio e figurado encontram os o term o utilizado mais ta rdiamente por Clcero.des pessoais.or que então experimentaríamos a necessidade de '"' ar toda e qualquer .érlaa atômica levou o mundo às catástro>es oue C0'1hecemos.u gamentos deva. enfatizarmos em primeiro lugar a constatação de bom funcionamento interior que pode comportar esta noção. os dados inter. Nossa posição de pesquisa complica -se ainda mais ao constatarmos que muitos daqueles que não se encontram ofic ialmente engajados em uma nem outra destas duas posições defensivas precedentes muitas vezes hesitam suces .lor em relação aos outros quanto a uma eventua l"normalidade". defrontamo-nos com uma recusa do termo. mas pelo menos zonas bastante constantes de eficiência e bem-estar. nem fazer-se rejeitar pelos demais (prisão-hospital-asilo). em suma. do que da denegação pelos pessimistas. parece evidente existirem tantos termos de passage. entrar na patologia mental. Para. a qualquer momento de sua existência. de forma que atualmente não mais se ousa opor. bastante conhecido . mesmo psicótico. ten. necessário insistir na independência da noção de "normalida. contudo pareceu-me difícil. quanto no seio de uma linha - 21 .. quando chega a se arranjar com isto e adaptar-se a si mesmo e aos outros.. Tentativa de definição: O verdadeiro "sadion não é simplesmente alguém que se declare como tal. quanto sociais. entre "psicose" e um certa fo..a de · norna- lidade" adaptada à estruturação de tipo psicótico. bem e precocemente tratado.do em justa conta a realidade. inversamente. sem paralisar-se interiormente em uma prisão narcfsica. s suas faculdades pessoais defensivas ou adaptativas. do conjunto dos elementos reguladores internos que permi. não a ilusão de onipotência ou felicidade. e que se permitia um jogo suficientemente flexfvel de suas necessidades pulsionais. conserva todas as chances de retornar a uma situação de "normalidade". quaisquer que sejam seus pro.. que uma personalidade reputada como "normal" po. Não mais nos deixamos ludibriar por manifestações exteriores. de usurpação da noção teórica de normalidade em beneffcio dos poderosos ou dos sonhadores. 110 se·o de uma linhagem estrutural psicótica.reditário ou adquirido.. e que não tenha encontrado em seu caminho dificuldades internas ou externas superiores a seu equipamento afetivo he. com efeito.derar a estrutura profunda. apesar das inevitáveis divergências incorridas nas relações com eles.a. até aí. um doente mental. por mais ruidosas que sejam. sem dúvida.de" em relação à noção de estrutura .tem aos humanos (sempre limitados) arranjar-se interiormente para buscar. apenas nos referirmos ao q.ções conflituais como tantas outras pessoas.. pois.blemas pessoais profundos. de maneira demasiado simplista..Foi amplamente demonstrado. e que. que qualquer ser humano encontra-se em um "estado normal". pela observação cotidiana. de seus processos primário e secundário nos planos tanto pessoal. reduzir o número de seus parâmetros. correspondentes ao estado (momentâ. mas um sujeito que conserve em si tantas fixa. bastante próxima daquela do homem da rua que estima. sutilmente a serviço do instinto de morte. de estruturas estAveis (ou se. Será. inclusive na psicose. mui sabiamente.e chamo. ao se consi. osicóticas ou neuróticas). em meio às suas obrigatórias imperfeições e seus não menos obrigatórios conflitos interiores. as pessoas "normais" aos "doentes mentais". pelo menos em um primeiro tempo. ainda que mais não fosse.-.O principal perigo atual parece bem menos ser o risco. e reservando-se o direito de comportar-se de modo aparentemente aberrante em circunst ncias excepcionalmente "anormais".. nem sobretudo um doente que se ignora.neo ou prolongado) em que se encontra uma verdadeira estrutura . pelo seu tamanho.e não a urna mudança real desta estrutura em si. Chegarfamos assim a uma opinião. Minha atual tentativa de definição da noção de "normalidade" longe está de satisfazer-me inteiramente. em minhas hipóteses pessoais.de. entre "neurose" e uma certa forma de "normalidade" adaptada à estruturação do tipo neurótico. bem entendido. foi nomeado para um posto importante na adminis. continuando ainda a lecionar nas classes preparatórias. consideravam ele um "original" simpático. Manifestava um grande ecletismo. isto fosse muito consciente. com efei. porém mais comumente arranja. e de uma mãe muito mais jovem. seus domingos nas ruas dos subúrbios.doso com sua pessoa. nem muito cuida. tranqüilizadoras distâncias e apaziguadoras dificuldades. Não conhece nenhum passado médico digno de nota. e os meses de agosto na Espanha. Diante dele.to. nem por isto deixou de perseguir certi. Um exemplo.cio da universidade. e cada qual mui rapidamente aprovei.nê é o único filho de um pai bastante idoso e taciturno. todo mundo sen.tava para projetar sobre Renê a inquietante estranheza que este originava no outro. junto à qual morou durante os seus estudos secundários e no iní. mas um tanto inquietan!e. não parece muito forte fisicamente.. pois Renê não chegou a decidir-se por uma via definitiva nem uma carreira precisa.gem estrutural neurótica. autoritária e bastante agressiva.né conhecia desejos sexuais reais. aceitou finalmente um posto em um grande liceu pari. Ele cresceu principalmente entre esta mãe. chegando a haver um momento de voltarse para o lado do Direito.gação de Letras.sem contudo enfastiar-se. Re. Re. Rapidamente recebido na Escola Normal Superior no ramo literário. e escreveu alguns poemas.dade pequena. Alto.tração central. A maioria dos seus colegas.tfficos". casados e pais de famnia. sem que. notário em uma ci. sua tia (irmã da mãe) e a avó materna. magro.va-se de modo a colocar.siense e depois. nem muito atento ao que se passa ao seu redor.1. mas muito poucos elementos passionais. entre a mulher e ele. ao final de alguns anos. mas estes se eternizaram. sendo Renê dotado de muito bom 0.tia-se mais ou menos questionado. Seus estudos foram excelentes. poderá ilustrar o meu propósito de modo muito mais preciso: Obs. proporcionava-se poucas distrações. no sistema ideal coletivo bastante frágil adotado pelos membros do grupo tido como "normal" por simples razões estatfsticas ou ideais. Páscoa com a sogra. principalmente certificados "cien. ter ça-feira gorda em Val-d' lsêre.Tendo passado no concurso da Agre.ficados de licença em todos os sentidos. Também seguiu fazendo algumas pesquisas matemáticas. reputados "nor· mais" por passarem suas noitadas em coquetéis ou espetáculos da moda. 22 . pelos quais passava facilmente. n!! 1 Ren tem 38 anos. sem dúvida. os viz inhos. uma casa de férias sem conforto em um lugar do interior. trancava ao nível da laringe. que continuou a ter apenas uma habita.se aban. a seguir. apesar de um bom salário e alguns adicionais. Por seu turno. particularmente agressivos quando devem. bem como. mas bastante origi. encontradas em seus hóspedes. etc. um automóvel curioso (de marca estrangeira pouco conhecida). os sogros. criados de um modo "curioso".cie de "bola" que subia e descia.canismos de defesa e adaptação parece funcionar com evidente flexibilidade e incontestável eficácia. enfim. em virtude das circunst â ncias matrimonia is di. Renê é "normal". uma situação financeira sempre apertada. na época. parentes e amigos declaravam-se enlouquecidos pelas liberdades de que gozavam. trata-se de uma estrutura edipiana com uma fixação materna bastante importante. Estas crianças. graças à sua grande cultura e seu espírito aberto. sem sentirem-se. plenamente cablvel. quando nos referimos ao que a maioria normalmente denomina. com efeito. Renê teve um início conjugal difícil: sua mãe não era lá muito favorável ao casamento. Renê e sua esposa muitas vezes são convidados para visitarem seus colegas ou casais encontrados em viagens ou atividades culturais diversas. mas porque sobretudo Renê. mas bem situado. "O pomo de Adão". mostra-se interessado nas zonas de investimento narcisista. acabou finalmente casando-se com uma j ovem viúva. Nasceram três filhos. mas a quem as pessoas reputadas "normais". por seu turno.demasiado rapidamente.Após muitas hesitações. contudo. absolutamente.nal. havendo fixado os investimentos afetivos entre certos limites dificilmente transponíveis.donadas por seus pais e não pareciam. de modo algum encontravam. isto posto. ativa e simpática. recriminavam por não sacrificar-se mais aos gostos do dia. pois o conjunto dos me. 23 . de "normalidade" . inteligente. sofrer em meio às atitudes "boêmias" desta famllia. as mais diversas. todavia. isto é. bonito mas sem renome.damente o casal. certamente levando em conta o real exterior. sem dúvida. ou não? Sem dúvida alguma.que não há qualquer ameaça de descompensação a temer.ção antiga (em um bairro pouco estimado ). pouco original em relação ao que os outros chamam de "originalidade". A gozação parecia. "apoiavam" um pouco exagera. Renê em alguns meses passou a sentir uma espé. Renê e sua esposa recebem facilmente. diziam-lhe rindo aqueles dentre seus amigos que ha. contudo. Depois o casal criou para si uma vida independente.fíceis. as pessoas que simplesmente têm vontade de ver. por necessidade prática. e sem particular necessidade demonstrativa. não porque experimentem a necessidade de brilhar ou distrair a sociedade. misturar aí um superior ou um colega menos simpático.viam lido tratados de vulgarização psicanalítica . Mas. podemos inicialmente constatar que não se produziu qualquer descompensação nítida e. seus talentos e seus setores eventualmente ameaçados. E. ao referir-se às noções de "ordem" e "desordem". A ênfase é colocada na relação com os outros. na doença. que se apóia no princfpio de BROUSSAIS. apresenta a doença como excesso ou falta em relação ao estado "normal". as realidades internas do sujeito. mas uma categoria fundamental de funcionamento psíquico) e como um caso bem adaptado no interior deste grupo de estruturas.vação e um remanejamento. pois. das funções mentais. JACKSON. para quem não existe limiar previsível entre fisioló. embora a principal caracterfstica do estudo permaneça em uma ótica mais especialmente fenomenológica. "Normalidade" seria também sinônimo de adaptaçáo.em primeiro lugar. e esta idéia comporta nuances que permitiriam a G.trutura neurótica edipiana e genital (o que. CANGUILHEM define a doença como redução da margem de tolerância em relação às infidelidades do meio. diferentes autores debruçaram-se so. C.são de jufzos de valores a qual sempre se torna desagradável formular ou mes. M. CANGUILHEM considerar como permanecendo nos limites do "normal" certos estados tidos por outros como patológicos. na medida em que estes esta. a unidade de medida corre automaticamente o risco de ser considerada mais em referência às escalas do grupo de observadores do que a uma escala estabelecida em fun. de infcio a partir do que foi mais recentemente adquirido na maturação ontogenética do sujeito. que contudo parece comumente ir por si só. Patologia e normalidade No decorrer destas últimas décadas. finalmente.ção dos dados interiores do sujeito observado.gãos.CANGUILHEM (1966) refere-se a diversos trabalhos de anos passados: A. KLEIN (1952) propõe-nos. G. idéias reto. para quem a doença está constituída por uma pro. com efeito.madas por H. para quem toda doença nada mais é do que a expressão perturbada de uma função "normal". MINKOWSKI (1938) chama a atenção para a subjetividade da noção de "norman. em toda evolução psicogenética da criança. E.dos podem exprimir uma relação de "normatividade" com a vida particular do sujeito. LERICHE (1953). GOLDSTEIN (1951) parte de saída em uma direção bastante perigosa.bre a dialética normalidade-patologia. seguida de uma posição depressiva mais ou 24 . o caso de Renê como sendo ao mesmo tempo uma es. 2.gico e patológico.mo simplesmente solicitar no domfnio da psicopatologia. EY ao precisar a ordem de dissolução. Considerarei. G. como simples acordo entre as necessidades e realidades da existência. BERNARD (1865). COMTE (1842). uma posição persecutória primitiva. certamente. não é uma doença em si. podendo resumir-se a saúde como estado de silêncio dos ór. ligados a uma dissolução e regressão. preparando toda uma suces. correspondente à "inserção" re. FREUD (1968) pensou poder definir a normalidade na criança a partir da maneira pela qual aos poucos se estabelecem os aspectos tópicos e dinâmicos da personalidade. de outra parte.ciente "não se sentir bem" ou "não ser feliz". A. A primeira posição. Isto parece-nos aproximar-se daquilo que descreverei alhures a propósito do movimento de depressão anaclítica do estado limite. sobretudo. no sentido bastante preciso que continuaremos dando a este termo. e nas dificuldades encontra. JUNG (1913) procurou apresentar as faces complementares dos per. DIATKINE (1967) propôs um marco de anormalidade no fato do pa. e do modo pelo qual se engajam e se resolvem os conflitos pulsionais.tas duas atitudes. introvertido e extrovertido. é definida por D. o autor compara as noções de adaptação (submeter-se ao meio). BOUTONIER (1945) mostrou a passagem da angústia à liberdade no in. reportando-se às obras de Car l SPITTELER e de W. De outra parte. um diagnóstico de estrutura psíquica estável. A patologia surgiria desde que o indiví. GOETHE. na im. desde que ele se arrisque a deixar o círculo. isto é. em uma economia de autêntica fragmentação. na ten. ao passo que a maturação afetiva. que todo indivíduo tenha conhecido um perfodo no qual seu Ego teria inicialmente se constituído sobre um modo psicótico. C.JUNG compara à concepção bramânica do símbolo de união.cher condições objetivamente fixadas. ao 25 . Com efeito.menos edipiana. R. R. ao passo que o diagnóstico de "normalidade" implica. que corresponderia a uma inserção sem fricções. ANZIEU (1959) como uma atitude sem ansiedade diante do inconsciente. no sentido em que a defini ao longo de todo o presente estudo.das na elaboração dos fantasmas edipianos. da mesma forma é diffcil considerar. e insiste. Esta precaução parece-nos extremamente motivada.duo saísse do contexto de submissão ao meio. e toda patologia ulterior só poderia ter em conta fixações arcaicas a estas fases obrigatórias a todos. uma aptidão a enfrentar as inevitáveis manifestações deste inconsciente em todas as circunstâncias em que a vida possa colocar o individuo.dência à limitação ou extensão da atividade mental.sonagens míticos Prometeu (aquele que pensa antes) e Epimeteu (aquele que pensa depois). em se tratando de neuróticos ou de estados limítrofes.rador. ou seja. tanto no trabalho quanto no lazer. constrangedor mas assegu.servada unicamente a este circulo.dade psicopatológica.portância dos fatores dinâmicos e econômicos internos no decorrer do desen- volvimento da criança. lacuna ou imperfeição evolutiva. inserção (ligada unicamente à noção de meio) e "normalidade". procederia obrigatoriamente mediante mecanismos econômicos do tipo psicótico. Embora seja oportuno não mais considerar a estrutura "normal" como tendo seguido uma evolução infantil de todo privilegiada. que C. verdadeira organização estrutural e não somente etapa. J. nas possibilidades de adaptação e recuperação. pode ser colocado fora de toda e qualquer referência à patologia. DIATKINE alerta-nos contra a tão freqüente confusão entre os diagnósticos de estrutura mental e de normali. destinada simplesmente a preen. A "normalidade" estaria ligada à união des.dividuo que se tornou "normal".G.G. do familiar fálico. fundamento de toda "normalidade" autêntica. C. CHILAND.pondo ao lado dos elementos prejudiciais todas as restrições às novas atividades e operações particular os sistemas sistematicamente repetitivos mais ou menos irreversíveis. em crianças. ela se contentaria com o sofrimento incluído no trabalho de luto. um exame do modo pelo qual o suj eito se arranj a com sua própria estrutura psíquica. como a densidade territorial da coletividade em questão. onde em maior conta se deve ter as condições ecológicas. Para R. ao passo que no período de latência os mesmos sinais desencadeariam uma mui viva inquietude no psiquiatra. ao passo que uma criança "normal" de quinze meses ficaria bastante perturbada por não poder agredir e ao mesmo tempo ver a mesma mãe intacta um instante após. BOURDIER (1972). n P. ao desenvolvimento. no adulto. que estabelece (1965): "Nosso objetivo náo é necessariamente tornar a criança conforme o que seu meio.ceder. qualquer estrutura dita "normal". DIATKINE não se encontra. A.. cuj o poder normativo é mais extenso. e este ponto de vista parec e muito produti. quanto a uma criança "normal" de seis anos.bios psicopatológicos constatados vão completamente no sentido das hipóteses de C.pressar este sofrimento na criança. Procura determinar o leque de prognósticos relacionais posteriores. esbarrando na ambi. tanto no homem quanto nas sociedades animais. referindo-se à adaptação. LE GUÉRINEI (1970) ou MERTENS DE W ILMARS (1968) diante de crianças que. CHILAND (1966) retomou um ponto de vista paralelo. 26 .tuado ao nível fantasmático que serviria de critério de normalidade. e à importância da relatividade sociológica da noção de "normalidade".plo. LEHMANN (1972). ou de crianças de idades diferentes. uma criança "normal" de quatro meses nem mesmo s e aperceberia se se encontrasse interposto um substituto válido. diante da morte da mãe. conforme as idades e os estág ios maturati. Toda situação nova para o indivíduo recoloca em questão o seu equi.güidade causada por dois modelos culturais muito diferentes propostos pela realidade. opôs o que se poderia esperar logicamente como diferença entre as "normas" de uma mulher e de um homem. mas sim torn /a capaz de as. HAYNAL (1971) mostra a dificuldade de aplicar ao domínio psíquico os habituais critérios de "normalidade".garam. sua autonomia efelicidade.vo no plano de reflexão. a escola ou a sociedade esperam dela.vos. De outra parte. etc. Uma criança de quatro anos poderia comportar-se como um "louco" e ser absolutamente "normal". nem por isto estão isentas de certos sinais da linhagem neurótica ou fóbica . com omenor número delimitações possfveis. e não tanto um simples diagnóstico de estrutura.contr ário. à facilidade.É a flexibiiÍdade da passagem de um bom funcionamento situado ao nível do real a um bom funcionamento si. experimentavam justamente reais dificuldades par a fazer a passagem entre uma boa integração do real e uma boa elaboraç o fantasmática.líbrio psíquico. ao mostrar que as mentais. quando o comparamos com as conclusões a que che. enfim. por exem. e o autor estuda sucessivamente as dificuldades que podem ex. os distúr. na patologia escolar africana. a famOia. dis. do. ele recusa o estatuto de "normalidade" a toda estruturação não neurótica e mesmo. mostra que no caráter não-patológico o recal.respondem a economias de neurose obsessiva e o tipo erótico a economias neu.Por outro lado. FREUD marcou uma importante virada no modo de pensar dos psicopatologistas .No Declfnio do di. Ele exige o desaparecimento completo do complexo. as concepções mudaram radicalmente.gico situa-se no desaparecimento ou não do complexo de Édipo. que são estudadas as exceções. parece que FREUD mais descreve estados limftrofes do que 27 . 3. 2.der. que criam os sintomas. As delimitações trazidas por S. mas nem por isto anormal. diz FREUD. pois se as suas pertinentes descrições do obsessivo e do narcísico-obsessivo bem cor. parece.tos. superegóica. Contudo. genital e castradora. mas "patológico" encontra-se aqui limitado unicamente ao sentido neurótico.dora da personalidade (isto é. pelo sentimento de culpa . "a absoluta normalidade. con. Neste domfnio. que antes de FREUD ninguém tenha escrito sobre estes assun. para os dados freudianos concernentes à noção de "normalidade". em textos menos conhecidos. sexuais e agressivas. em nosso enten. ao final das contas. O modo como é vivida a etapa organiz. comportamentos raros nem por isto são anormais . da Formulaçlío de dois princfpios do funcionamento mental (1911) e de suas Cinco psican lises (1905 a 1918): 1.thic characters on the stage (1906). pela distinção de três tipos básicos: erótico. de AJURIAGUERRA (1971) a propósito de um texto de KUBIE: A saúde é um estado estatisticamente raro.camento deve ser exitoso.mente com referência à economia edipiana. que mais habitualmente se combinariam em subtipos: erótico-obsessivo. FREUD em outros lugares.róticas histéricas. a harmonia ideal". São as pulsões recalcadas. como em tantos outros domfnios relativos à psicopatologia "normal" e "patológica". Em seus Alguns tipos de caroter destacados pela psican lise (1915) é ainda unica. Em seus Tiposlibidinais. S.. em nada desmentem estes três postulados: em seus Psychopa. erótico-narcísico e narcísico-obsessivo. enfim (1931 a). Como observa J. demasiado raramente se dâ atenção. procura "preencher a lacuna que se supõe existir entre o normal e o patológico". o que certamente não quer dizer. nem que S.po. o Édipo) depende essencialmente das condições tle ambiente. dito de outra forma. Mas FREUD parece deixar. narcísico e obsessivo. Toda a psicologia do adulto origina-se das dificuldades experimentadas ao nfvel de desenvolvimento da sexualidade infantil.Antes e depois de seus relatos teóricos e clfnicos. aqueles que falham diante do sucesso e os criminosos. FREUD tenha tido possibilidade e tempo para esgotar tal estu. a uma estrutura neurótica na qual o recalcamento do Édipo teria ocorrido só de modo parcial. parece-me bom voltar agora um pouco para trâs. logo à linhagem neurótica. S. e que este resultado faz falta no caráter patológico.se apanhar na armadilha da universalidade das apelações "neuróticas". Podemos reter três postulados de seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). o tipo teórico erótico-obsessivo-narcfsico representaria. FREUD (1923 c)chegarâ a declarar que o que distingue normal ou patoló.forme veremos. aos quais. caracteriais exitosos sob a cooertura do tipo narcfsico e. Embora tenha escrito. de um lado.tal tido como "neurótico". ao final de sua vida. a maior parte de suas outras descrições clinicas. que era "impossfvel estabelecer cientificamente uma linha de demarcaçáo entre estados normais e anormais': S. de vista de que cabe distinguir. através de seus trabalhos revolucionários sobre a economia neurótica. que não existia qualquer solução de continuidade entre certos funcionamentos mentais tidos como "normais" e o funcionamento men.-. no seio da linhagem estrutural neurótica fixa. Meu propósito conserva a ambição de ir ainda mais longe: parte do ponto . No que diz respeito ao primeiro grupo. Com efeito. antes de FRE UD. as organizações interme ..da. e se conheceo pou. pré. perversos. os mecanismos permanecem os mesmos. englobando todo ores.psicóticos sob a cobertura do tipo erótico obsessivo (a ênfase aqui está colocada nas defesas antipsicóticas. quanto entre "normalidade" e neurose descom pensada. por certo. finalmente. definido como intermediário. no Esboço da Psicanálise (1940 a). sólidas. Neste último artigo. FREUD não se aventura muito para além do domínio neurótico. fi. este "resto" quer se encontrava imprecisamente denominado de psicóticos e pré-psicóticos diversos. do outro lado o grupo dos "não-normais". podemos considerar que existem tantos termos de passagem entre "normalidade" e psicose descompensada no seio da linhagem estrutural psicótica fixa. claramente ou não. no geral. O grande mérito de FREUD foi o de haver mostrado. mas também em estados \limítrof§ caracteriais. Um incontestável estado limítrofe como o "homem dos lobos" (1918) é descrito como uma neurose. permanece ram fixados somente às posições de sua época. que o fosso não mais se situava entre normais de um la.e roses sob a cobertura do tipo erótico narcísico. de ime- 28 . Existem todos os graus e.xas e definitivas (psicóticas ou neuróticas) e do outro. etc. FREUD tenta ir o mais longe possível no reconhecimento de fenômenos não-patológicos que contudo implicam particulares inflexões no modo de investimento da libido em cada tipo descrito. suas hesitações na discussão dos dados nosológicos concernentes ao Presidente SCHREBER (1911 c). Infelizmente. mais :::o que sobre as incertezas do ego). no que concerne ao segundo grupo. S. Mas FRE UD achase prisioneiro de sua grande descoberta:a economia genital edipiana e neurótica. por certo com alguma insatisfação.to. mais tardio em sua obra e mais arrojado na pesquisa cos elementos dialéticos entre normalidade e patologia. S. Reúne ar. as.sim como aqueles que.diárias ( dos limítrofes). Em contraparti. quer então diversificado em psicoses. as estruturas autênticas. somente a adequação e a flexibilidade do jogo destes mecanismos diferem mais ou menos.co gosto que tinha pela abordagem dos psicóticos. mas de um lado neuróticos e normais (correspondendo aos mesmos mecanismos conflituais e defensivos). dividia-se habitualmente os humanos em duas grandes categorias psíquicas: os "normais" e os doentes mentais (nos quais se dispunham em bloco neuróticos e psicóticos). FREUD foi por muito tempo levado a pensar. menos especificadas de maneira durável e podendo dar origem a arranjos mais estáveis (doenças caracteriais ou perversões).do e doentes (neuróticos ou psicóticos reunidos) do outro. valeram-lhe uma rápida promoção administrativa. reservada a um estado de ade.quação funcional feliz.dante meticuloso.des de precisão. raciocínio teórico. pois não desej a falar e declara lembrar-se dela muito mal. igualmente autoritária e bastante rígida. no final das contas. posições ou idéias cuidadosamente escolhidas para encontrarem-se sempre em oposi. rígida e pou. Um exemplo clfnico poderá ser útil à nossa reflexão: Obs.rótica ou psicótica. A noção de "normalidade" estaria. Reve.lou-se um adolescente bastante precoce no plàno intelectual. Muito bem educado no plano funcional. orientados para técnicas.to. no decorrer de uma sessão de "dinâmica de grupo" organizada por sua Academia. muito mais cáustico ainda em rela- 29 . por cer. sendo que a patologia corresponderia a uma ruptura do equilíbrio dentro de uma mesma linhagem estrutural. unicamente no seio de uma estrutura fixa.ção ao pensamento comum dos colegas do mesmo estabelecimento. seu senso de autoridade. Tiveram dois filhos que parecem ter boa saúde. depois de pai. O animador.sar de algumas dificuldades nas relações com seus alunos e colegas. um estu. de di. O moderador. de método. fez muito bons estudos . Ele sabe poucas coisas de sua primeira infância. ape. mas de aparência normal. Mas eis que. ordem. depois professor atencioso e muito racional.tos de reuniões ou estágios diversos. adotado por uma família amiga de seus pais. domingos e dias de folga sob pretex.diato veremos que não é fácil considerar uma real "normalidade': devido aos enormes rgéticos idepressivos pos. também pro. O casal evoluiu em grupos de pesquisa profissional e mesmo filosófica bastante ousados (mas permanecendo especificamente burgueses). com uma mulher autoritária. Casou-se aos 25 anos com uma mulher da mesma idade.reito.fessora. mas muito cedo foram colocados em um internato bastante longe "para seu bem" aparente e racional. bem adaptado às suas realidades internas e externas. As qua lida. n!! 2 Georges tem 42 anos e é diretor de um colégio.co afetiva. fre. em parte o julga capaz de defender-se e. assim.qüentemente ocupando suas noites. conhecido por sua ambivalência em relação à Universidade. Os principais mecanismos de defesa até aí empregados podem ser considerados como sendo do tipo _pbsessLvo. em parte. bastante cedo. sem dúvida. Foi órfão de mãe. de tais organizações não realmente estruturadas no sentido definitivo e pleno do termo.tos em jogo (em virtude da precane aae justamente e permanentes contra-investimentos da adaptação às realidades internas e externas) e à instabilidade. sej a esta neu. não está muito descontente tampouco de vê-lo vacilar um tanto em suas bases. Georges é o suj eito mais velho e mais graduado no grupo em que participa. Poder-se-á ver em Georges um exemplo de sujeito "original". paração. No momento em que se chama um médico. a uma estrutura estável nem definitiva. que depois "curou.seguido por qualquer um que use uniforme. A "normalidade" patológica Acabamos de ver como seria possível considerar. conforme considera.compensada e que havia permanecido nos limites de uma incontestável "nor. Retomou todas as suas atividades profis. As defesas de modo obsessivo cederam momentaneamente diante da intensidade da agressão pelo real. o que faz .tórios emendaram -se. Entretanto. graças a um tratamento que permitiu o restabelecimento de defesas melhores sem modificar. manifestações patológicas. No interior destas linhagens bem definidas em sua evolução. encaminhando-o depois a um psicanalis. Também Georges recebe sem especial precaução (nem pre. muito excitado. por um lado.mentação.ta. Porém a coisa parece complicar-se um pouco ao sermos levados a descre.se". Foi assim que Georges ficou "doente" sem mudar de forma estrutural do ego. contudo. inicialmente com medicamentos e sedativos. foi preciso negar este último. logo de linhagem estrutu ral. bem entendido) toda a descarga agressiva do grupo. sem dúvida. Esta estrutura. trata-se de uma estrutura psicótica. Georges atualmente vai bem.sionais. ele leva Georges consigo e o confia a um psiquiatra de seus amigos. por outro. seu modo de organização mental subjacente.malidade". Sente-se prontamente presa de um mal-estar interior. Foge desta assistência e. importantes negações da realidade. uma angústia de frag.ções pulsionais não mais podiam dar conta. com uma transferência fusional. os sujeitos defendem-se con- 30 . mas suas relações sociais melhoraram e seus aspectos reivindica. intervém um amigo que mora nas redondezas. o tratamento analítico o demonstrou.ver. percorre a pequena cidade onde se desenrola a sessão acreditando-se per. E foi sempre sem variar de estado profundo do ego. sem contudo mudar de estrutura profunda. repentinamente "rompeu-se" sob o golpe de uma agressão externa demasiado forte para as defesas habituais do suj eito.mos no caso das estruturas das linhagens neurótica ou psicótica. onde está. abstém . que coloca o paciente em repouso e o trata. não mais sabendo muito bem quem é. até então não des. ao contrário. justamente.dem.ção à autoridade e cuidadoso em não desagradar aos agressivos. 3. pois as anulações obsessivas das representa. uma certa "normalidade" e. Georges passou do estado "normal" ao estado "patológico".se de intervir. personalidades ditas "pseudonormais" e que não correspon. Foi isto que deu origem à despersonalização e ao delfrio. em função de um modo de estruturação fixa e precisa. trapassando o contexto daquilo que anteriormente definimos como correspon. comportam-se de modo muito diferente: em caso de trauma afetivo mais ou menos agudo. Mas agora tais acidentes afetivos. ou ainda seu meio de vida ou de trabalho.na à realidade Intima do suj eito. readaptação. por vezes. conforme veremos adiante. em nome de um ideal ou interesse qualquer.mais".cessidade protetora. de adaptação econômica inter. mais ou menos idealizado. pois parece corresponder a uma defesa energé. estes líderes de reduzidos meios construtivos aos quais tantas outras pessoas narcisisticamente frustradas agarram-se por um período mais ou menos longo de ilusão. Mas o bom sen. de modo bastante durável. para não descompensar na depressão .so facilmente detecta. este gênero de organizações não se beneficia nem do estatuto neurótico dos conflitos entre superego e pulsões.sucedida e em cir. que em psicopatologia não se pode confundir os diversos modos de funcionamento mental atendo-se apenas aos seus aspect os manifestos fenomenológicos e su. segundo arranj os diversos nem tão originais que forçam estes suj eitos a "fazerem-se de gente normal". conforme permaneçam ou não for a de rupturas patológicas.peito aos estados limítrofes e neuroses de caráter em particular. por vezes.tico. o que. bem como aos seus diferentes fatores de originalidade. bairro ou cidade. juntamente com CANGUILHEM (1966). resistem mal a uma prova durável de confrontação com os outros ou com o real. As simples organizações. estas organizações podem. atiza seus comportamentos relacionais de elementos singulares que constituem simples "traços de caráter''. quanto ã noção de "estrutura". uma ne. por vezes. simples . Contudo. do tipo neurótico ou psicó. isto é. Chegam a ser. constituem-se.cunstâncias sociológicas diversas. e a tal ponto sua hipomania pode corresponder às necessidades narcisistas do contexto social. mas sempre precário. ul. seu estado corrente não pode ser chama.dendo aos parâmetros de "normalidade".tra a descompensa ção mediante uma adaptação à sua economia própria. etc. desadaptação. verdadeiros "geniozinhos" para sua família. após um certo período de fraude bem. Voltarei a falar nisto com res. Estes personagens lutam. cuj o perigo j amais se acha de todo afastado. com todos os compromissos 31 .perficiais. graças a artifícios caracteriais ou psicopáticos diversos. mas.do de "normal" sem restrições. definimos como estados sucessivos de adaptação. ou evoluir para uma estruturação mais sólida e mais definitiva. as personalidades "pseudonormais" não se encontram tão bem estruturadas no sentido neurótico ou psicótico. de hipomania permanente. As verdadeiras estruturas não dão origem a personalidades "pseudonor. podem alternadamente levar ao que. (mais habitualmente) mergulhar na depressão. com fuga. menos sólidas e que lutam contra a depressão. Há.mente contra sua imaturidade estrutural e frustrações e contra a depressão.tica psíquica demas iado importante e custosa no plano dos contra-investimentos exigidos para assegurar o narcisismo. muitas vezes até mais "hipernormal" do que original. Terei ocasião de novamente precisar. de qualquer modo. Cabe opor as verdadeiras estruturas (neuróticas ou psicóticas com ou sem status psicopatológico) às simples organizaç6es. Em contrapartida. em contrapartida. Com efeito. pois. C. a super. o desespero subj acente e o lado artificial das aparentes sublimações. Estas descrições de um caráter "simili" ou "como se" obtiveram certa celebridade.sinvestimento objetai sério. Wl NNICOTT (1969) designa sob as denominações de "seif artificial" ou "falso self". os elementos car'acteriais. sem contudo permitir um de.dem a uma realidade clínica freqüente pouco assinalada até então. de uma operação de cliva .pressivos. C.sidade de hiperadaptação à realidade (encoraj ada pela sociedade). Em resumo. como na linhagem psicótica. grande labilidade nos conflitos exteriores. nem.veis ao nível da realidade do ego.mente. DEUTSCH não se reveste de menor interesse no plano descritivo: hiperatividade reacional. ideal de ego sádico. dada a mobilidade dos investimentos e seu nível superficial. constatamos uma luta incessante para manter em um anacli. DAVID pensa que os dois fundamentos principais destes "pseudonormais" são constituídos pela falha narcísica e pelo fracasso na distribuição entre inves. enfatizando a tendência à somatização. ao mesmo tempo.dos à ortocoxia do dogma (atribuído a S. uma segurança narcísica que cubra os permanentes riscos de. o aspecto patológico inaparente do narcisismo (superego formalista. cabe reconhecer que parte do seu sucesso provém da falta de referência mais precisa a uma organização econômica distinta da economia estritamente neurótica. a manter a religião de um ideal de ego que induz a ritos comportamentais bem abaixo dos meios libidinais e objeta is realmente disponí . necessidade de êxito a qualquer preço). o que não inquieta muito os espfritos analfticos defensivamente liga. W. O estudo apresentado por H.tismo obsedante. É o que leva o sujeito a imitar os personagens ideais protótipos de "normalidade" no plano seletivo e. ou o perverso. DAVID (1927) descreveu formas clínicas variadas no seio de tais atitu. Encontramo-nos.des. mas igual. a imitar os personagens que representem a percentagem quantitat ivamente mais elevada de casos semelhantes entre si no grupo sócio-cultura lvisado . Uma observação clfnica parece-me corresponder particularmente a este gênero de descrição: 32 .ções "limítrofes".gem do ego. mui próximos do modo de funcion amento mental que D. a abrasão das pulsões. apego aos objetos externos. Tais exigênc ias narcísicas forçam o estado limítrofe. VAIHINGER).lidade carencial da adaptação (a um obj etivo apenas). com dependência afetiva.timentos narcísicos e objetais .estáveis possíveis. Encontramo-nos muito próximos também daquilo que. os caracteriais di. DEUTSCH (1934) definiu sob o termo personalidades "as if".valorização da ação. pobreza afetiva e pouca originalidade. H. aos pensamentos do grupo. o lado na rea. FREUD) da infalibilidade organizadora do Édipo. descritas por ele como organizações mais exitosas das defesas contra a depressão. a neces. Em nossas organiza . também levando a uma relativa estabilidad e. pois correspon . seguindo a filosofia alemã do "Ais Ob" (juntamente com E.versos. Milita habilmente em um meio smdicalista. Julien vive em Paris com sua "secretária". depois no conselho geral. Incessantemente. o Sr. medo e de.meiro turno e lhe assegura uma confortável maioria no segundo. en. se diz. em ação. Ele não pára mais em casa. entra na municipalidade. antigo militante dos primeiros tempos. delegado daquilo. torna -se rapidamente o "delegado" de seus colegas para todas as tarefas paraprofissionais às quais os demais empregados não pretendem consagrar seus momentos de lazer. Compõe-se com ele..trar em um banco. solteiro. aos teatros do Boulevar d e aos vestidos da moda. favorecido por uma eleição que oscila entre um candidato muito marcado quanto à sua pessoa e um adversário muito marcado quanto às suas idéias.zadas nos cafés situados diante das salas de redação e abertos. 33 .sive do irmão mais velho e do tio invejados. finalmente. A mulher que havia desposado. con. de volta aos restaurantes luxuosos. É o "feudo" de Julien. o que lhe serve para estabe. de quem era aprendiz.. em discurso . por recomendação do pai deste colega. ajudado além disto por algumas libações bem locali. viúva de um amigo seu. os toques do telefone ("Não. no decorrer de sua ascensão social.Obs.me nos jornais locais. tão violento verbalmente quanto conservador em suas opções latentes. por isto. não opõe-se a ele. recolhe a admiração de toda a sua família. Julien não está em casa. inclu. Ei-lo deputado de um distrito obscuro.voção em relação às pessoas bem situadas . mas onde organiza tão bem a suu propaganda pessoal que nenhum partido importante ousa inquietá-lo. numa breve parada em uma das eta. sob os conselhos de um colega de mais idade. no rastro de Julien. Julien foi criado no ódio aos ricos. Chega aos poucos a fazer no.tanto quanto a cumplicidade tácita de seus diretores. em luta (verbal ) . na admiração ao tio cônego "que se tornou alguém" e ao irmão ma1s velho.tabilidade que lhe possibilita. por acaso.viagens. Julien muito cedo é colocado' no trabalho" junto a um comerciante da região.mente os votos de seus colegas . continua a criar modestamente seus três filhos e a dividir seu tempo entre a família. trazida. Filho de um artesão modesto e apagado. este acabava de completar 50 anos. Como é jovem.pas (da qual nem se lembra mais). Como este irmão mais velho e as duas irmãs.ferências ou negociações. até bem tarde à noite. que se casou com a filha do padeiro. Julien consegue colocar-se em uma posição tranqüilizadora que lhe dá vantagem no pri.lecer relações simpáticas e asseguradoras de diversos lados e reunir facil. descomprometido. À medida que se torna conselheiro disto. Mesmo assim dá um jeito . n 3 Na ocasião em que conhec1 o caso de Ju/ien. pretensiosa e mquietante. ligue no sábado para a prefeitura") e o café tomado na cozinha com os vizinhos bajuladores. idealista e agressivo e não gosta de ficar só à noite. e de uma mãe estúpida. de seguir os cursos noturnos e conseguir um diploma de con. que em vão o encaminharam na busca de uma doença orgânica. Julien desmorona. Se os seus médicos. O episódio com a amante constituía mais um aspect o exterior de êxito social e de pseudo-sexualidade do que um verdadeiro investimento genital adulto. Julien teria cons eguido permanecer adaptado por um longo período de tempo. sozinho. Uma noite. Julien não teria tido necessidade alguma de desaparecer . o pulso se acelera. apesar de seus esforços de última hora e das tímidas promessas de seus amigos. Tudo evidencia que Julien não era um psicótico. Teria. ao voltar para casa depois da recusa de um amigo a associar-se a ele em um em. Julien não mais soube encontrar outros meios de mudar. tivessem descoberto o imens o desamparo afetivo oculto por detrâs de seu enlouquecimento corporal e o tivessem tomado ou encaminhado a uma psicoterapia. edipiana ou genital. ao mesmo tempo. Julien não é reeleito. não come mais e emagrece.sem dúvida alguma. fazer a passagem que o teria levado a uma maior sinceridade em relação a si próprio. Dissimulava. retomar um emprego. Qual? As pessoas olham-no com penosa ironia.contrar. conseguido en . Caiu doente quando sua decoração nar c isista cedeu e quando a pobreza de suas trocas afetivas não mais pôde ser dissimulada pelos mecanismos até então empregados.Que homem seria mais feliz que Jul ien? Quem seria mais "normal" e bem sucedido? Ora.sista. mas mesmo assim faz . Neste momento crucial. diante da qual achava-se demasiado desprotegido. desgosta-se consigo mesmo.se com que interne em uma clínica. sem sucesso. por si só. As testemunhas concordam: Julien praticamente jogou-se contra uma ârvore. Tampouco jamais atingiu uma verdadeira estrutura neurótica. Se não houvesse repentinamente encontrado uma inesperada ferida narci. tampouco conseguiu. varre todos aqueles que não souberam engajar-se com suficiente antecedência em um sentido ou outro. Angustia-se. caminhos novos e mais estáveis de realização de suas reais 34 grandes . Tinha necessidade de ocultar sua imaturidade afetiva sob o disfarce de um sucesso social brilhante e incessantemente renovado. Permaneceu bloqueado entre estas duas linhagens. eis que uma mudança na direção dos ventos da política. O sono se altera. seu frâgil potencial genital sob agressividades verbais compensatórias. de raízes mais profundas. que agora encontra -se no "secretariado" de um dos seus antigos colegas. em um estado bastante instável. graças ao qual esperava retomar (sob a proteção dest e amigo) uma nova ascenção social. Perde. com o mesmo golpe. para junto de sua eclipsada esposa. recebe-se a notícia de que se suicidou em seu automóvel. tendo a tempo deslocado as suas opções e friamente reeleito sob a nova etiqueta da moda. Não se encontra nele nada de medicamente objetivâvel. graças às suas qualidades e energia. Mesmo seus filhos agridem-no com um desprezo que mal suporta. a sua amante. Ele tem de voltar à sua região de origem. A depressão aumenta. cada vez menos calorosos.preendimento comercial. mas simplesmente buscar. podia-se considerar Julien afastado da "normalidade"? O preço que pagava. Contudo permanece a questão: por ocasião de seus sucessos. no plano energético. sentida como narcisicamente essencial. sufocando seus desej os e suas necessidades econômicas profundas? A necessidade. A auto-regulação interna necessária diante dos movimentos do grupo não pode ser obtida. permitem elas permanecer no registro do "normal"? Em algum mo. a precariedade do potencial adaptativo de suas defesas. não se pode conceber uma "normalidade" referindo . nada de particular. D. ao invés de considerar apenas a imagem que fornecia à maioria dos demais e que dava a si próprio no plano das exigên. tendo em conta atitudes e motivações individuais como modo de co. a seus comportamentos adaptativos. que as crianças que "vão melhor" comumente têm uma estrutura profunda do tipo neurótico. e a tendéncia.mente assustador. a relações mais diversificadas e menos angustiadas com a realidade externa? A "normalidade" não é. 35 .municação de seu potencial de mobilidade. sem de2 Segura mente o valor subjac ente permanece ligado ao registro familiar. isto é. a necessidade de segurança no grupo escolhido (mesmo me. C.necessidades afetivas. isto é.nor). CH ILAND (1971) confirma não encontrar estrutura "normal". inquietar-se acima de tudo com o "como fazem os outros?".se a cr i térios mais autênticos no plano das realidades íntimas e. mas a exigênci a social pode muito bem destacar-se da "maioria" de um conjunto maior. vontade de agred ir o grande grupo. diante de uma transformação dos hábitos. Julien realizou uma organização afetiva centrada em suas originalidades e necessidades próprias. im agem da fa m llia opressora. conhecimentos ou métodos até então empregados.ma inadaptação". Conforme lembrava C.cias ideais. será garantia de "nor- malidade"? Nos grupos. isto é. A ansiedade engendrada comumente opõe-se à adaptação.mais"? A pobreza de seus investimentos objetais.mento de sua vida. ao mesmo tempo. Pode-se assim satisfaz er (ao menos em parte) ao mes. Entretanto. muito elevado no plano dos contrainvestimentos. as quais nada tinham de repreensfvel. ao longo de toda a existência. ANZIEU (1969) pensa ser possível determinar a inércia inerente à natureza de cada indivíduo. pela necessidade de sentir . aos olhos do maior número de seus semelhantes. guarda sempre de reserva algu.de conformar-se a um ideal ou a uma maioria do "grupo-que-assegura2". imagem da famflia ideal. ou não. senão graças às possibilidades adaptativas pessoais de cada um dos membros.m o tempo a defesa.se reconhecido como "normal" aos olhos de suas instâncias ideais. pode ainda ser colocado nos limites de custos "nor. este preço. convém recordar-se do conselho de Henri MICHAUX: "Não te precipites na adaptação. em suma. particularm ente se este último grupo situa-se em posi· ção "anti" em relaçã o ao conjunto. bem como as inibições tocantes às suas satisfações libidinais. Na criança. para assegurar -se na "maioria" de um grupo menor. DAVID (1972). do êxito dos seus custosos contra-investimentos narcísicos e antidepressivos (e não de uma adaptação a uma estrutura estável). 36 . mais o "pa . paralelamente. 3 Infelizmente as coisas apresentam-se entre nós. apesar das aparências. construção. Podemos aí discernir uma antecipação ou uma simples caricatura daqu ilo que começa a ser encontrado em alguns dos nossos novos conjuntos suburbanos.turas sócio-culturais antigas que pertu rbam os dados do estudo das conseqüências dos fatores e aquisição mais recente. no plano ex perimental.tui os antigos produtos artesanais.riência de um novo modo de vida.dos quais se pode dizer que certamente seu nível está abaixo do refinamento.3 A experiência desenrola-se nos kibutzim de Israel. Trata-se de pais trans.).e o qual não temos a intenção de julgar. de polivalência mal diferenciada em sua própria utilização de si mesmo. hoj e em dia. O kibutz. o ser humano sacrificar . mas que em pleno gozo de sua liberdade desejaram tentar a expe.se à mesma necessidade de segurança. demasiado centrados em um ideal e uma maioria. contudo em geral acima da mediocridade. no momento em que o mercado comercial aos poucos substi.ral. A obra de B.cos.constantes. ao lado das novas condições. etc.mentos de resposta a estas duas questões. o modo de melhor arranjar-se com os conflitos dos outros e os próprios conflitos pessoais. sem contudo alienar seu potencial criador ou suas necessidades íntimas. móveis. de infra-estru. enquanto organização comunitária. conformidade. tendência a visar. Les enfants du rêve ("Os filhos do sonho") parece perfeitament e indicado para nos fornecer ele. Seremos igualmente convidados a uma reflexão acerca das conseqüências de uma evolução que muito corre o risco de produzir-se também entre nós. por vezes excelentes e por vezes muito in. "Normalidade" e padronização Estamos no direito de perguntar -nos como se pode estabelecer a patoge. embora criado em todas as suas peças a partir de dados artificiais (tanto doutrinais quanto conjunturais). não ser ia espantoso ver. de modo muito menos asséptico. 4.masiada angústia ou vergonha. encontra -se estreitamente ligada à primeira: não teria o indivíduo. BETTELHEIM (1971).plantados. por artigos industriais padronizados (alimentação. BETTELHEIM surge como um verdadeiro estudo ex perimental da gênese da "pseudonormalidade" em um meio contemporâneo natu.vidualidades em um grupo educativo padronizado. Podemos igualmente colocar-nos uma segunda questão que. em função de diversos fatores atuais. Creio que um livro recente de B. artigos domésti.drão" do que o "normal"? Com efeito. em virtude da persistência. e que tende a reduzir sensivelmente os limites inferiores e superiores do leque de possibilidades de maturação afetiva das indi. certamente não se originando do puro acaso.nia de comportamentos "pseudo normais". tirando aos pais toda e qualquer iniciativa. aliás. BETTELHEIM reconhece que a mensagem recebida pelo jovem não deixa de ser que é "mau" ter relações sexuais. BETTE - LHEIM (1971 l pensa que a influência igualizadora do kibutz parece haver mantido em um nível médio honorável aqueles alunos (podemos deduzi-/o pelo alto de. Em troca.nas vivem inteiramente juntos. assegura-lhes proteção e cuidados completos. A educação desen.de.vimento afetivo do que qualquer adulto. desde o seu nascimen. em particular na educação do asseio. As conclusões de uma pesquisa efetuada em escala nacional em Israel.exerce um controle total sobre a vida de seus membros.portamento militar dos kibutzniks: B. tudo ser. sobretudo no que diz respeito à sexualida. BE TTE LHEIM pensa que "juntos. início do serviço militar em ambos os sexos. Durante os períodos de guerra.sempenho geral) com suficiente potencial para fazerem parte dos melhores.tos. com a idade de 18 anos. Os testemunhos. com tão poucos resultados superiores quanto fracos. tudo fazer. merece ser notado. deixados por sua própria conta.dam em constatar que ta l sistema não enge ndra drogados nem delinqüente s.to. o kibutz assume uma posição bastante purit ana. Cabe observar. tudo conseguem sentir. mas toda e qualquer manifestação sexual permanece-lhes completamente proibida até a sua saída do kibutz. Os grupos são mistos: meninos e meni. mostra-se que o sistema de educação favorece os resultados médios. mas B. mas mostrando incessantemente ao jovem que uma realização dos seus desejos de modo demasiado precoce neste plano por natureza. do que a culpa (linhagem edipiana e genital) em relação aos pais ou seus substitu. dos menos dotados.ferente ao nível escolar dos filhos dos kibutzim.dos a um recalcamento muito maior.tram-se muito pouco capazes". mos . Mais uma vez. toda fonte de frustração ou conflito familiar. Os filhos do kibutz conhecem uma liberdade muito maior que as outras crianças de sua idade em numerosos domínios. bateram-se de 4 Pelo m enos o erro não pode ser imputado tardiamente (aprês coup) aos pais. re. e B. desmamados aos dez meses. dito de outra forma. que a vergonha (linhagem narcisista) em relação ao grupo desempenha um papel maior . nas descrições que nos são propostas. prejudica energética ou afet1vamente o grupo. mas evitando-lhes também qualquer erro4. BETTELHEIM estima que são submeti. Do mesmo modo. concor. no que diz respeito ao com . enfim. revelam resultados de todo "médios". Separados de suas mães desde o quinto dia. e muito poucas crianças caracteriais ou precocemente perturbadas afetivame nte em grau sério. tanto nos dormitór ios quanto nos banheiros. o grupo. dos quais não temos motivo algum de suspeitar. operou um nivelamento para cima. B. No plano genital. os filhos do kibutz atingem a adolescência em um ambiente onde seus companheiros se revestem de muito maior importância para seu desenvol . Um último ponto.volve-se sob uma forma comunitária absoluta. não ao comandar a sexualidade em si e por princípio. 37 . capacidade de adaptação às situações imprevistas e cambiantes.'"a nse.LHEIM (1971). o funcionamento mental do kibutznik à organização psíquica do tipo anaclítico não descompensado. se tender a torna r-se quer objeto sexual. mediante apoio no outro. Inversamente."""''!!"'te grande de perdas em suas fileiras atraiu a atenção do estado .maradas de outras origens.::lOOO refutar temores de patologia coletiva ou sistematicamente individual no interior do kibutz.rior substituição por uma metapelet 5 neutra. A "normalidade" de tais sujeitos corresponde.al.ção de objeto de modo anaclítico bastante estreito. e é isto que encontramos em nossas organizações "limítrofes". em numerosos domínios. que achou que lhes faltava julgamento e flexibilidade. bem devem encontrar-se. entretanto a percentagem anormal. jogar co ntra ela para mantê-la em uma rela. Conforme atesta 8.muito coraj oso.normal": ter evitado perturbações importantes da infância.guns sub-equipamentos afetivos ou sensório-motores notáveis. no plano da organização afetiva interna.maior is.não per. porém às custas da renúncia a certos aspectos originais. do indispensável tripé prévio ao estabelecimento precoce de uma estrutura psicótica: déficit pessoal + frustrações muito precoces + toxicidade materna importante e prolongada . dificultando a entrada em uma dialética triangular genital. bem como à solidez dos resultados de processos iden. não se encontra. mas não obter acesso a um estatuto de adulto bastante sólido estruturalmente para torná-lo indepen5 Precepto ra coletiva. Mas não podemos deixar de comparar. 38 .lhores dados hereditários) a ausência dos pais. tais como habitual mente desenvolvem-se no suje ito ca. em torno da jovem criança. no terre. à necessidade de restabelecer incessantemente. 8ETTE. 8ETTELHEIM. não nos surpreende que o pequeno kibutznik tenha poucas chances de tornar-se psicótico.tiiicatórios individuais. Foi o que constatou e descreveu 8.no da posterior evolução edipiana. a elevada percentagem de processos psicóticos mais ou menos precoces que invade nossos consultórios ou serviços hospitalares de psiquiatria infantil. Entretanto a situação de apoio absoluto no seio do grupo que a situa. Tudo o que pudemos tirar deste notável estudo permite-nos facilmente . entre os filhos do kibutz.bem mais cedo que as outras crianças. sua poste. que descrevemos longamente ao longo de outros capftulos do presente trabalho.mite a constituição. quer um concorrente edipiano. D. competente e "padrão". um narcisismo vivido como podendo falhar a qualq uer momento se o outro subtrair -se enquanto sustento. Parece-me que aqui situa-se todo o problema econômico do "pseudo. em comparação aos seus ca. disto não há dúvida. entre as crianças em questão. em uma aparente "normal idade" irá. mas podemos supor que mesmo nestes casos (com mais fortes motivos ainda diante de me.ANZIEU (1971) mostrou o quanto a situação grupal podia acarretar uma ameaça de perda de identidade do sujeito.paz de aceitar a responsabilidade de uma certa independência. da mãe em particular. Faltando automaticamente os dois últimos fatores. Certamente. podemos considerar que o grupo opera dificuldade de identificação. PONTALIS (1968) acha que o grupo poderia chegar a substituir o obj eto libidinal.ções antidepressivas. J. o fato parece certo par a os clfnicos. neurótica ou mesmo psicótica. levados a eliminar do campo da "normalidade" certa. a qual arriscamo-nos a talvez nos acharmos incapazes de responder sem apelar.mente mais de um terço de nossos contemporâneos? E mais: dado que. que não conseguem viver bem fora do grupo? Agora qualquer episódio mórbido.róticas. se aceitamos a "nor. 180-183).bilidade de recusar o rótulo de "normalidade" a todo este grupo de organiza. p. e um terço de organizações mais ou menos anaclíticas (cf. Outras estimativas concordam na cifra de psicóticos. uma organização do tipo "estado limite" seria menos "normal" do que uma estrutura psicótica? Menos sólida. Se tomarmos como hipótese de trabalho o risco de definir a "normalidade" como uma adaptação pelo menos bastante perceptível aos dados estruturais internos estáveis e exteriores móveis. não descompensadas. anacliticas e essencialmente narcisistas.tra parte.C. sem respeitar a originalidade. mas menos "normal"? Os resultados de pesquisas das mais honestas levam a pensar que existem. as gerações por vir conhecerão. Não mais se favorece a originalidade e.demos ainda falar de "normalidade" no sentido pleno do termo? 5. mas lamentavelmente encoraja o suj eito a não mais buscar au.malidade" de estruturas psicóticas bem adaptadas.seqüência tópica desta carência econômica manifesta-se no superinvestimento de um Ideal de Ego pueril. Ora. tornando-se ele mesmo obj eto libidinal no sentido psicanalítico do termo. a con. e para mais na cifra das organizações intermediárias (em torno de 50%). nas populações de nossas cidades. e a consaqüência dinâmica. pois. a jufzos de valores ou opções ideais. à ima- 39 . Édipo e "normalidade" As reflexões precedentes levam-nos inevitavelmente a colocar uma ques. grosso modo. um terço de estruturas psicóticas.8. guardaremos ainda a possi. "falso self". po. CHILAND.dente no plano de suas necessidades libidinais e de suas relações objetais. Seríamos. um terço de estruturas neu. cuja fraude nas defesas acabamos de descrever como "pseudonormalidade".. conscientemente ou não. o que. fora mesmo de qualquer opção sócio-política clara e deliberada. na orientação mais ou menos exclusivamente narcisista oferecida aos investimentos pulsionais. em função da inevitável evolução sócio-econômica "grupal". somos levados a considerar como "nor.em nosso entender.tênticos obj etos libidinais fora do círculo demasiado restrito do grupo. 1971 a. "personalidades como se" e anaclíticas diversas. de ou. mas variam para menos na cifra de neuróticos (em torno de 20% apenas).tão bastante embaraçosa. é bem menos inquietante para o narcisismo individual.mais" os comportamentos mais ou menos originais de todas as estruturas. por ve- zes be'TI outra coisa do que estruturas autenticamente neuróticas? Entretanto. em plena consciênc ia e clareza. ou será preciso. enquanto se sacrificarão os mais mo.mum situado abaixo das possibilidades de muitos. porém mais dificuldades no a-esse a UI'Tl Édipo organizador.Eápo. e as irreversíveis conseqüências estruturais daí decorrentes . de erros científicos não menos antigos.diante do conceito de "normalidade". mas trazidos agora para o plano sócio-político.piano autêntico? Será que a organização pelo Édipo se mostra necessária para viver feliz? O dilema parece insolúvel: será que podemos contentar-nos co m um "bem" para o maior número. por outro. Procurarei situa r-me em outro nível e permanecer fixado ao domínio es. será que a organização pelo Édipo é indis. . e não simplesmente. menos riscos de evolução psicótica.destos no plano da organização psíquica de base7 Apenas levantei a questão em termos muito pragmáticos.cimento de uma vivência edipiana no inconsciente mas a estruturaçáo da perso.l"'a lidade por ocasião da passagem pela posição triangular com um objeto e um ri.. sem trazer a demonstração .val sexuais plenamente investidos como tais. sob uma forma aparentemente teórica.uo tioutz.vos.cos de psicotizaç ão prec oce.ti-édipo". polít icos. veremos sem dúvida aumentar a cada ano.pensável? Pode-se encorajar. A ssim definida em seu rigor. as posições de G. limita -se.blicas.siado severos par'a serem propostos às pressões mal defi nidas das paixões pú. o conhecimento ou reco nhe. Em conseqüên vez menos pessoas "norma1s"? a. e eis que. estabelecido a partir de um mínimo múltiplo co.averia cada O aspecto irônico da questão contudo nada recobre de leviano : em reali::oade.ao contrário.considerando as reflex ões que sugerem. a ""=:"Ce"'tagem de arranj os anac líticos em uma população média. DELEUZE e F.que certamente limitam os ris.tifica das já muito antigas e. É evident e que aqueles dentre os psicanalistas que pretendiam ser os f r euc .anos mais fiéis há muito limitaram-se ao estudo e tratame nto dos "neuróti!DS • w'as talv ez também descrevessem ou tratassem sob este vocábulo. depois da "antipsiquiatria". contudo dema . logo mais difícil de denunciar pelos não-especialistas. sociais. fan. sistemas educati. por um lado.que o "an. inumeráveis vítimas da Injustiça. e os mais ardentes defensores do Capitalismo (aqui analft1co). de críticas jus. por certo. GUATTARI (1972) em seu Anti. ao seu modo muito violento de apresentar a hábil mistura. como novidade essencial. Seria por demasiado fácil declarar . desenvolve-se agora um feroz movimento de massas que corre ao assalto da fortaleza edipiana. tender para um "melhor". mas tornam aleatório o acesso a um estatuto edi. é toda a função "normativa" da orgamzaçáo pelo t:dipo que se encontra posta em questão. até filosófic os.tr-to deste estudo. os únicos que saberão e poderão atingi-lo.mo repleta de tesouros secretos inestimáveis do Poder. econômicos. ficando perfeitamente conscie ntes de que (como no ditado) o "melhor" pode ser inimigo do "bem" e reservado a uns poucos.tasi ada (tal como a imagem negativamente idealizada da Bastilha em 1789) co. GUATTARI (1972) do que para os fr eudianos "puristas". Os aristocratas do Édipo nem sempre far ej aram a armadilha. Atendo-me às minhas hipóteses que propõem uma concepção da "normalidade" ligada ao bom funcionamento interno e externo desta ou daquela es. contestável como critério de "normali. Mas havia-se esquecido um segundo lote de "desviantes" em relação a esta nova burguesia edipiana da segunda geração freudiana: as estruturas psi. aqueles que simplesmente vestiram ..trutura . Manipular habilmente o Édipo tornava -se.nado" dos estados limítrofes. Os cordeiros jam ais inquietam os pastores. mas sen.parece mais incômodo ainda pensar que a ortodoxia analítica muitas vezes con. o casamento desigual. estes foram os "novos. A existência de uma "pseudonormalidade". em suma) para eles eram contados apenas entre os edipianos ("de sangue" ou arrependidos).tico. ao mesmo tempo coloco meus critér ios em perfeita independência em relação às modalidades especificas de estrutura . o equivalente a uma boa operação na bolsa de valores. As segundas.gular e encontrarem-se em perfeitas condições de dispensar o aspecto relaciona! particular que os girondinos do Édipo declaram obrigatório para ter acesso à "normalidade".cida sob re a base de uma ordem asseguradora e essencial a ser mantida: a pri.dade". jun to ao su . tais como as descrevi em outra parte. os anaclíticos do "como se". por não reconhecer uma "normalida. deveria então assumir os riscos de muitas críticas. DELEUZE e F. Entretanto os possuidores do saber e do poder genital-edipiano não ig. fiel à minha maneira de encarar a estrutura. A falsa genitalização edi.noravam as dificuldades das organizações mentais mais modestas.piana mui comum ente era vivenciada apenas como uma homenagem estabele .de modo algum..do declaram não sentirem a preeminência deste gênero de padrão afetivo trian. na medida em que os "normais" (os "recuperáveis". não teria como conceder o estatuto de estrutura a um modo de funcionamento mental que não fosse estabelecido sobre bases sufic ientemente sólidas e constantes.dade". não mais preciso preo. que são sinceras quan.de" de funcionamento às simples organizações frágeis e instáveis do tipo anaclí.tiam-se menos armados ou menos motivados para aí levar remédio. certamente seria perigoso deixar-se levar a uma querela ou polêmica cuj os defensores ficam em um domínio mais afetivo do que científico. As reações diante de tais abusos (e tal falta de prudência) não deveriam tardar: uma primeira leva de contestadores contentou-se em tir ar proveito das contribuições sócio -culturais que facilit avam a imitação.cóticas e as organizações perversas.ricos" de um pseudo-estatuto genital. Em uma reflexão limit ada aos aspectos nuançados da noção de "normali.cupar-me a priori em saber se se trata de uma estrutura edipiana ou não. Os valores sãos e seguros eram apenas edipianos. e as primeiras. não deram maiores problemas para G. que negam ferozmente seu apego aos verdadeiros valores edipianos. defen- 41 . no contexto do "tronco comum orde.jeito e junto ao ana lista. Os depressivos. Entretanto.ou seja. aliás.mazia do Édipo não er a.se à moda edipiana.siderava como único padrão-ouro sólido de "normalidade " o "capital-edipiano" conseg uido pelo sujeito. uma estrutura psicótica não descompensa. para mim. entre in. muito mais rica em potencial de criatividade.das é muito mais verdadeira. mas declinar a solicitação de cumplicidade. 6A "descompensação" corresponde. sob motivos manifestos diversos. quer de modo caracterial. O paradoxo de nossa posição continua sendo. mas uma "normalidade". Poderá pare.nômica da "pseudonormalidade" sob todas as suas formas. no seio de uma estrutura estável de base. o arranjo original peculiar ao sujeito propriamente c':to no interior do seu subgrupo de estrutura especifica.dido de fato ao fracasso da maturidade pulsional. quando se deve ter em conta a pressão dos recentes movimentos de opinião que reivindicam. pois. por outro. isto é. no fundo. à ruptura do equilfbrio original qu e pOde se estabelecer em tal arranjo particular. e na realidade não está absolutamente de acordo com o pauperismo afetivo na ordem do dia.tis e refinadas.ce. induzida ::Jela estru tura ção de base e.soas turbulentas do momento. muito menos "alienada" em relação a si própria. mesmo as mais su. O contexto sócio-cultural de fato muitas vezes se mostra cúmpli. sem denunciar ao mesmo tempo a ilusão eco. bem como o reconhecimento oficial de um êxito obj etai ao n!vel do simples objeto parcial. interesses e déficits naturais das realidades inter. da pulsão parcial e da relação de obj eto parcial. cuj o verdadeiro sentido latente constituiria um satisfecit conce. a "piscada de olho" que nos propõem as frágeis organizações narcisistas intermediárias para serem admitidas no mesmo contexto dos "normais" possfveis.des diante dos superegos individuais ou coletivos constrangedores. Ainda há pouco critiquei os aristocratas do Édipo e estou seguro de em nossos dias conseguir sucesso fácil em uma posição de aspecto liberal inversa à deles. cuj a estabilidade contenta-se em imitar às custas de ardis psicopatológicos variados. do que um frágil arranj o caracterial que se contenta em fingir que possui tal modo de estrutura mais consistente e que ao mesmo tempo altera uma parte importante de sua originalidade. sej a qual for a forma militante e racionalizada sob a qual este pauperismo se propõe à boa vontade de numerosos indecisos.Tal equ iHb r io (contanto que não haja descompensação) seria.quilo que deveria constituir uma base autêntica e sólida de funcionamento mental em relação às nuanças. jamais é levado em conta.vestim entos narclsicos e objetais.ciente de parar por ar certamente me pouparia muitas dificuldades junto às pes. o de aceitar uma possibilidade de "normalidade" tanto nas estruturas neuróticas quanto psicóticas não descompensadas. Segundo meu ponto de vista. quanto pela fraqueza de expressão de um Ego individual e coletivo que. quer perverso. pois. incessante. condenando o primado do Édipo e incluindo perversos e caracteriais no lote dos "normais" poss!veis. -2 . por um lado. parece não provocar dúvidas ao psicopatologista. da.nas e externas sob seus aspectos subj etivos. tributário de dois nlveis de limitação: a economia geral.siva mas pouco assegurante.cer muito perigoso recusar um estatuto de "normalidade" a tais organizações mentais.mente renovados e profundamente custosos e alienantes. Uma tentação demagógica mais ou menos cons. não apenas liberda. tanto pela satisfação voyeurista. menos frágeis que o "tronco comum". elaborativos e intersubjetivos. A distinção fica mais delicada quando se trata dos arranj os. cabe igualmente re. um individuo "normal" pode.ser disposta a um nfvel elaborativo superior ao da organização estrutural psicótica. de relação objetai.ganização meramente anaclftica. com a condição de não haver descompensação).dos pela feroz negação defensiva e ofensiva do sexo feminino. contudo e estrutura do tipo edipia.quer riqueza de temas fantasmáticos ou dos modos relacionais de pensamento e expressão. tornar-se "anormal" e descompensar-se. Uma estrutura psicótica é incapaz de conhecer a flexibilidade das economias genitais no jogo dos investimentos libidinais a este nfvel. Concluindo. todavia.cótico. mesmo que em um sentido psi. entrar nos mui. elaborati. com a condição. não permitindo qualquer nuance. guarda chances de recuperar-se em outro in. com a condição de haver realizado uma verdadeira estrutura. 43 . cujo campo de criati.conhecer a independência desta mesma noção de "normalidade" em relação a uma possfvel idéia de hierarquia das estruturas no sentido maturativo. caracterial ou perverso.no deve.lidades criadoras e relacionais. uma estrutura psicótica não descompensada também será muito mais "verdadeira" do que um arranjo perverso. Esta possibilidade de mutações narcfsicas va. Contanto que permaneça "normal". qual.vo e relaciona! das diferentes funções do ego. De outra parte. em uma rigidez dos investimentos.tos arranjos funcionais da "normalidade". Entretanto.vestimento narcisista tão brutal e total quanto o primeiro. a integração obtida. fora da linhagem anaclftica. DIATKINE (1967).Do mesmo modo. parcial ou total. genital ou não.riadas reflete-se. das pulsões agressivas sob o primado do Eros. embora seja possfvel reconhecer a independência da noção de "normalidade" em relação à noção absoluta de "estrutura". a todo momento. Toda e qualquer hierarquização estrutural pode apenas repousar sobre a completude das bases narcfsicas da constituição do ego. todo "anormal" conserva a possibilidade de voltar a ser "normal". das pulsões parciais sob o pri. posso apenas renovar minha adesão à hipótese retomada por R. de que não se trate de uma or.mftrofe". por exemplo. da mesma forma. sem que o observador tenha de sentir-se culpável pelos sucessivos diagnósticos apenas aparentemente contraditórios. o modo principal. ou não. com isto. a economia anaclftica não dispõe de recursos tão facilmente intercambiáveis. mas os investi. nas tiradas ou criações artfsticas muito peculiares aos psicóticos.reção.vidade. qualquer variação. o psicótico. Contentarme-ei em acrescentar uma cor. Da mesma forma.mentos narcisistas complementares da estrutura psicótica. diante de um de. precisando que os "ordenamentos" narcisistas dos estados intermediários não parecem capazes de constituir uma "estrutura" e. a extensão das possibi. Pode-se ser "normal" sem haver atingido o nfvel edipiano. segundo a qual toda a noção de "normalidade" deve ser independente da noção de estrutura.sinvestimento diffcil de suportar. são muito mais flexfveis do que aqueles encontrados no mesmo registro no anaclftico "Ji. sem que por isto se deva contestar seu anterior estatuto de "normal". contudo.mado do genital. o jogo pulsional e a pauta das relações objetais encontram-se entrava. na medida em que seu ego não se estabeleceu mais solidamente (paradoxalmente. Nem por isto deixam de existir numerosos déficits narcfsicos secundários em "circuito aberto". Contudo abandonamos. dos nfveis de constituição do superego. a um funcionamento suficientemente sólido. Pode-se estabelecer uma hierarquia das maturações sexuais. A "normalidade" de um sujeito de tal estrutura não pode ser comparada hierarquicamente (ficando-se unicamente no plano. a busca narcisista com ten. diferentes da organização genital do funcionament o mental neurótico e diferentes també m dos déficits narcísicos primários precoces. dos graus atingidos pela força do ego. em "circuito fechado".de") à "normalidade". o registro particular da normalidade. nem por isto o primeiro modo de funcionamento mental deixa de corresponder a uma adequação pulsional mais conforme às necessida. poderá parecer menos elaborada.mentos humanos em três categorias estanques e excludentes.dência a dominar o obj eto. dos nfveis de elaboração dos processos mentais. encontrados · nas estruturas psicóticas. É nestas organizações que primam. por exemplo. caráter neurótico e patologia de caráter . em meu entender. detalhar bem meu pensamento. etc. sobretudo.rior se mostre superficialmente mais rico. o anaclitismo e a clivagem do objeto. mas a partir deste fato pode-se muito bem conceber hierarquias maturativas de "normalidade": uma "normalidade psicótica". sobretudo.esta. cor. contudo. assim. tal como havfamos tentado definir esta noção (principalmente a partir de um ponto de vista funcional). e não especificamente à "normalidade" . daquele outro suj eito. no plano relaciona!.dem. mesmo que o jogo operacional exte.terial" por exemplo. das possibilidades de relação ou de indepen. de negar os componentes "caracteriais" obrigatórios em toda es. entrar no contexto da "normalidade" autêntica. justamente. entre traços de caráter. não classi. seja ela neuróÜca ou psicótica. Para finalizar este capftulo gostaria de.Tais detalhes na prática são independentes do estatuto funcional de "nor. para entrar no jogo da comparação de elementos tocantes a outros domfnios.dência obj etai.respondente àquele outro modo de organização mental. Penso que meus desenvolvimentos posteriores acerca da diferença.trutura autêntica. em algum "quar. tranqüilizar aqueles que possam ter medo de ver. 44 .to-de-despej o intermediário". não seria j amais o caso de classificar automaticamente. Com efeito.des reais.rão aptos a precisar melhor e. no esquema teórico e geral de minhas hipóteses. toda e qualquer organização que apresente alguma suspeita de aspecto dito "caracterial" e. forçosamente muit o diferente. Não é possfvel colocar em paralelo dois arranj os funciona is originais que tenham atingido suas possibilidades de "normalidade" para da[ deduzir um ordenamento qualquer. uma forma demasiado delimitada.malidade".cidade da estrutura. radical e sistemática de classificar os comporta. igualmente. podendo o segundo exemplo corresponder a não mais do que uma simples imitação menos estável. Pode-se constatar as diferenças. que não po. do que uma "pseudonormalidade carac.ficar segundo uma ordem de sucesso. tendo em conta a autenti. da "normalida. até uma espécie de caos informe. detalhes.proca. assim como uma defesa rotulada "neurótica" pode muito bem encon. tanto de uma incerteza psiquiátrica acerca das característica s ligadas às noções de neurose ou psicose. pode muito bem corres. demonstram criar muitas ambigüidades latentes em sua utilização corrente.pois. necessário nos colocarmos de acordo.plo.são acerca do nfve/ real do plano em que nos situamos ao descrever uma entida.de qualquer que se qualifica de "neurótica" ou "psicótica". de "surto psicótico" ou "defesa neurótica". nem precisões complementares. 45 .va terminologia. quanto as certezas de compreensão reci. evidentes e imediatos: um surto brutalmente rotulado como "psicótico".ponder apenas a um banal incidente de desrealização no seio de uma estrutura neurótica fortemente maltratada por circunstâncias dramáticas externas ou in.trar-se em uma estrutura psicótica. não parecem colocar proble. e os perigos de confusão são .mas em especial. contudo. complicada e hermética. não para criar uma no. Fala- se. mas sobretudo de uma falta de rigor ou preci. aliás. Os adjetivos "neurótico" e "psicótico". por exem. O sentido dos termos A comunicação entre os psicopatologistasl muitas vezes é diffcil em virtude do modo impreciso e às vezes equivoco segundo o qual é empregado um certo número de termos que. por exemplo. sem prudência.vém. Parece.mas para estabelecer em que sentido preciso e limitado as palavras usuais podem ser empregadas par a satisfazer tanto as exigências de rigor científico. indispensáveis a toda e qualquer comunicação. A dificuldade não pro. aparentemente.A noção de estrutura da personalidade 1.ternas. no plano cientifico.mentos delirantes.dente e preciso falar apenas de sintoma de modo ou linhagem neurótica ou psicó. porém útil. em maior ou menor grau.tica. prejulgar acerca de um diagnóstico da organização estrutural profunda da personalidade. Dito de outra forma. por fim. nas manifestações alucinatórias. com ameaça de despersonalização. Por outro lado. Entretanto. Certos sintomas do tipo dito "neurótico" podem muito bem servir para camuflar a origem pré-genital (logo. nada neurótica em si) dos distúrbios. certas formas muito agudas de angústia. a um ritual obsessivo. de natureza psicótica. obriga. observada tanto em nossos pacientes quanto no homem da rua. quando a elaboração do sintoma se acha mais avançada. para bem assinalar com isto que nosso ponto de vista qualificativo refere-se apenas à natureza do sintoma percebido e ainda não explica. nos fenômenos de desper. relaciona! (ao objeto interno) e econômico (no jogo das defesas e das pulsões. tais como.sonalização ou nos estados de duplicação da personalidade.meira parta.respondendo a uma organização já centrada. Poderia. por exemplo. sem todavia constituir por isto uma garantia estrutural neurótica. definitivamente. a experiência cHnica cotidiana leva-nos a reconhecer que um episódio delirante pode muito bem não corresponder a uma organização pro..por si só.possibilidade de realizá-los) e também."neurótico" ou "psicótico". por exemplo. o sintoma não nos permite jamais . Pareceria mais pru. o retorno de uma parte do reprimido pelos desvios das formações substitutiva s ou das realizações de compromisso (entre desejos pulsionais e im.nos a distinguir numerosas fobias que nada têm de realmente neurótico. no sis. convém ocupar-se com o sintoma único apenas no uso limitado. Do mesmo modo. demasiado nitidamente.bicas. para o qual este sintoma foi construí do. ou da dialética princfpio de prazer-princfpio de realidade). um juízo acerca da natureza da estruturação profunda do sujeito. De qualquer forma. podem servir defensivamente para mascarar a origem genital e edipiana de um conflito próprio de uma autêntica estrutura neurótica. então.tema estrutural psicótico. certos sintomas de aspecto dito "psicótico". parecer um pouco equívoco qualificar de safda. uma manifestação de superfície destinada a expressar a presença de um conflito. Do mesmo modo. das formações reativas de contra-investimento pulsional. considera-se o "sintoma neurótico" como correspondendo a uma conversão histérica. de modo algum. mui comumente.funda do sujeito.A} SINTOMA Fala-se habitualmente de "sintoma psicótico" pensando nos comporta. isto é. a grande variedade de manifestações fó. a importância dos dados freudianos citados em nossa pri. um sintoma como. 46 . cor.ou a um comportamento fóbico.· leva-nos a considerar o sintoma em toda a sua dimensão latente e segundo seu valor relativo (e não suficiente em si). B)DEFESA Em psicopatologia, habitualmente agrupam-se entre as defesas ditas "neuróticas" o recalcamento, a condensação, a simbolização, etc., e entre as de- fesas ditas "psicóticas", a projeção, a identificação proj etiva, etc. negação da realidade, a duplicação do ego, a Entretanto, não é raro encontrar organizações estruturais autenticamente psicóticas que se defendem contra a descompensação, graças a defesas de mo- dalidade neurótica, mais particularmente obsessiva, por exemplo. Podemos mesmo afirmar, após haver examinado atentamente em consultório psicológico muitos pacientes já rotulados como "neurose obsessiva", que a maioria dos doentes encaminhados por exuberantes manifestações defensivas com compli· cados e impressionantes rituais não se encontram, justamente, no registro neurótico; muitas vezes simplesmente buscam lutar desesperadamente contra a in- vasão do seu ego por fantasmas de fragmentação psicótica, pois sua verdadeira estrutura profunda situa-se incontestavelmente no registro da psicose1. Por outro lado, conhecemos estruturas autenticamente neuróticas que uti- lizam abundantemente a projeção ou a identificação projetiva, em virtude do fra- casso parcial do recalcamento e diante do retorno de fragmentos demasiado im· portantes ou inquietantes de antigos elementos recalcados, cujos efeitos ansio- gênicos devem ser apagados, de modo certamente mais arcaico e mais custoso, porém igualmente mais eficaz. Da mesma forma, podemos encontrar angústias de despersonalização ou, mais simplesmente, de desrealização em uma desestruturação mínima (aguda e passageira), de origem traumática (ou mesmo, eventualmente, terapêutica), sem que tais fenômenos constituam o apanágio de qualquer estruturação específica. As bem conhecidas síndromes ansiosas do pós-parto ou do pós-aborto, por exemplo, podem manifestar-se em qualquer estrutura, e mesmo que, por vezes, se possa distinguir aí um sinal de precário equilíbrio subj acente, estes acidentes de percurso ocorrem mais comumente fora de qualquer comprometimento psi· co patológico. Em uma descrição clínica seria, pois, interessante não falar, por prudência, senão de defesa de modalidade "neurótica" ou "psicótica", sem fazer inúteis pre- visões acerca da autenticidade da estrutura subjacente dos sujeitos que, de outra forma, estariam correndo o risco de se verem mui leviana e demasiado sistema- ticamente inventariados, por vezes de um modo muito pessimista e sem apela- ção. Cl SIGNIFICAÇÃO HISTÓRICA DO EPISÓDIO Sem muitas vezes nos darmos conta, tendemos a qualificar apressada- mente como "neurótico" ou "psicótico" um episódio passado, acerca do qual 1 Cabe, aliás, evitar comprometer o sucesso de tais defesas mediante um ataque intem- pestivo ao seu sistema de proteção sob o pretexto terapêutico de reduzir sua "neurose"'. 47 ainda não estamos suficientemente informado s, num momento da história do suj eito que não pode ser compreendido no sentido estrutural senão em referên- cia a todo um contexto pessoal mais antigo e latente. Por sabê-lo, havê-lo verificado, ou simplesmente lido ou ouvido falar que tais sistemas conjugados de def esa, ou tais estados regressivos do ego ou da li- bido são considerados habitualmente de acordo com tal arranjo estrutural durávef, neurótico ou psicótico, se ntimo-nos inclina dos a falar muito apressadamente de "neurose" ou "psicose", quando encontramo-nos simplesmente na presença de um estado momenttlneo da evolução (ou revolução) de uma personalidade ainda bem inconsistente e incerta quanto ao seu futuro estrutural. Com efeito,em um grande número destes episódios passageiros, concer- nentes principalmente ao registro depressivo (com seus freqüentes corolários hipomanfacos), o ego ainda não concluiu sua maturação, não conseguiu estabe- lecer, definitiva e completamente, os seus limites (no sentido em que o concebe FEDERN, 1926); não operou uma nítida escolha entre os mecanismos de defesa que pretende utilizar de forma específica e seletiva; também ainda não definiu o modo de relação de objeto pelo qual pretenderá regular suas relações com as realidades internas e externas. Ao empurrar voluntariamente as coisas ao extremo, corremos o risco de designar pelo termo errôneo "estrutura" uma regressiva indiferenciação soma- to-psíqui ca mais ou menos parcial e mal superada. Esta atitude constitui, no mí- nimo, uma antecipação, por vezes mesmo uma falta no diagnóstico ou prognós - tico. Ora, sabemos que uma vez colocado, por exemplo, um rótulo de "psicose" à cabeceira de um leito ou sobre a capa de um prontuário, f ica bem difícil tirá-lo depois, e que também é muito diffcil escapar ao jogo induzido e recíproco no qual participa todo o sistema circundante em relação ao paciente, inclusive, aos poucos, o próprio paciente. Supondo, aliás, que o paciente se opusesse a esta manobra, ainda que o fizesse apenas não se conformando às previsões emitidas, seu protesto legitimo seria rapidamente inter pretado pelo conjunto do grupo de observadores (tornados atores) como uma agressividade de sua parte, muito mal suportada pelo grupo. O aspecto funcional e não estrutural do episódio mórbido é particularmente nítido na criança e no adolescente, onde sinais manifestos e aparent es de aspecto psicótico não devem ser automaticamente retidos pelo psicopatologista como correspondentes a uma estrutura psicótica, longe disto. Este igualmente é o caso, no adulto, dos estados passageiros, em momentos em que as antigas identificações são recolocadas em movimento por in- cidentes af etivos imprevistos. São observados, por vezes, em ocasiões de relati- vas e provisórias flutuações do sentido de identidade, conforme já descrevemos com respeito a um parto, um acidente corporal ou uma intervenção cirúrgica (a coração aberto, em particular: os cardiologistas conhecem bem este gênero de dificuldade). Podemos assistir, assim, a ligeiras e transitórias modificações do esquema corporal, capazes de mobilizar importantes descargas pulsionais e ansiosas que, 48 entretanto, permanecem completamente fora de toda e qualquer estruturação psicótica. Mesmo o termo "pré-psicose" (comumente empregado em tais oca- siões) não se mostra conveniente, pois parece necessário reservá-lo a estados ainda pouco avançados na descompensação, mas que já fazem parte da linha- gem psicótica definitiva. O) DOENÇA MENTAL Nos casos de verdadeiros episódios mórbidos, os termos "neurótico;' e "psicótico" designam um estado de desadaptação visfvel em relação à estrutura própria e profunda.Trata-se de uma forma de comportamento mais ou menos durável, que emana realmente da estrutura profunda, conseqüente à impossibi- lidade de enfrentar circunstâncias novas, internas e externas, que ficaram mais poderosas do que as defesas habitualmente mobilizáveis no contexto dos dados estruturais, e unicamente neste contexto. Com efeito, uma doença pode eclodir somente na estrutura que lhe corresponde, e tal estrutura não pode dar origem a qualquer doença. Existe, pois, uma interdependência funcional e fundamental entre estrutura e morbidade e, para definir um episódio mórbido, legitima-se a referência aos mesmos qualificativos usados para as estruturas homólogas:"neurótico" ou "psicótico", por exemplo. E) ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Afora o caso das "doenças" declaradas, examinado no parágrafo anterior, existe, bem entendido, um outro modo judicioso de utilizar os qualificativos "neurótico" ou "psicótico". Esta oportunidade enco'ltra-se realizada quando, sem estar ainda descompensada, a personalidade contudo já está organizada de modo estável e irreverslvel, com mecanismos de defesa pouco variáveis, um modo seletivo de relação de objeto, um grau definido de evolução libidinal e egóica, uma atitude fixada de modo repetitivo diante da realidade e com um jo- go reciproco bastante invariado dos processos primário e secundário. Trata-se então, verdadeiramente, de uma estrutura da personalidade, tal como a definiremos posteriormente. Como no caso anterior, referente à doença declarada, também aqui torna-se possfvel falar judiciosamente da estrutura "psicótica" ou "neurótica", por exemplo. 49 2. O conceito de estrutura da personalidade A) DEFINIÇÃO E SITUAÇÃO Talvez seja interessante comparar as definições gerais do termo "estrutu- ra": LITTRÉ apresenta a estrutura como "um modo de organizaçS.o que pertence aos corpos organizados, graças ao qual sS.o compostos de partes elementares múlti- plas e diversas por suanatureza". ROBERT insiste na ..maneira pela qual um conjunto concreto é visto em sua organização" e LAROUSSE, partindo da "maneira pela qual as partes de um todo sS.o dispostas entre si" da f deduz que "a estrotura do organismo resulta das múltiplas correlações ontogenéticas que se transformam para dar as corre/açl'Jes do adulto". A. HESNARD (in POROT, 1960) estabelece que o termo estrutura implica uma disposição definida, segundo a qual as partes de um todo são arranjadas entre si. Em certas teorias filosóficas ou psicológicas, entre as quais a "teoria da Gestalt", a estrutura torna-se um conjunto indecomponlvel, percebido global- mente pelo individuo em função de sua significação para ele. Cada elemento, as· sim, apenas vale em relação ao conjunto. Em psicopatologia, a noção de estrutura corresponde àquilo que, em um estado psfquico mórbido ou não, é constitufdo pelos elementos metapsicológi· cos profundos e fundamentais da personalidade, fixados em um conjunto está- vel e definitivo. Com efeito, por detrás do jogo caracterial funcional ou mórbido, de uma sintomatologia eventual e sempre superficial, convém pesquisar as bases cons· tantes sobre as quais repousa o funcionamento mental de tal sujeito ou tal grupo de sujeitos idênticos em seus mecanismos pslquicos fundamentais. Unicamente assim poderemos avaliar seriamente a importância dos sinais presentes e suas implicações na gênese, bem como no prognóstico evolutivo do individuo em questão. Procedendo a uma pesquisa dos elementos de base (natureza da angústia, nfvel da regressão da libido e do ego, modo relaciona!, natureza do conflito, principais defesas, etc.) poderemos, diante de um delfrio crônico, por exemplo, distinguir de modo preciso uma estrutura psicótica do tipo paranóico de uma estrutura psicótica do tipo paranóide, pois muitas vezes a clássica referência ao modo "estruturado" (ou não) do delfrio-sintoma mostra-se insuficiente para estabelecer um diagnóstico suficientemente preciso e seguro. A concepção estruttlral de JACKSON (1931), que se reporta a movimentos de dissolução, reconstrução e remanejamento dos elementos da estrutura pri- mitiva, corresponde à mesma idéia de uma organização primária de base sobre a qual aos poucos se solidifica um arranjo cujas variações posteriores jamais são realizáveis em número ilimitado. A "dissolução" não pode produzir-se em um sentido qualquer; ela opera um recuo sobre estratificações anteriores, e somente sobre elas; ela não permite descobrir funções novas e desconhecidas até então, mas elementos que já pré-existiam por ocasião da estruturação. O raciocfnio j acksoníano respeita sempre o principio de uma estrutura fixa de base. Convém, enfim, situar as presentes tentativas de síntese em face às hipóte- ses estruturalistas. Os estruturalistas defin em a relação estrutural como ligada ao papel determinante que desempenha no seio de uma organização dada. Para eles, em cada conjunto organizado, os elementos agrupam-se para constituir aquilo que este conjunto constitui de único e incompar ável. É dificil saber se Claude LÉVI-STRAUSS (1961) pensava na psiquiatria quando escrevia que ·uma disciplina cujo objetivo primeiro é o de analisar e interpretar as diferenças se poupa muitos problemas ao ter em conta só as diferenças". Os estruturalistas atêm-se a compreender o fundamento humano não como uma acumulação de aspectos emplricos e fortuitos, mas como um sistema cujos mecanismos de funciona- mento necessitam ser determinados de safda pela análise. Esta análise deve inci- dir tanto sobre os limites quanto sobre a globalidade das organiz ações cujos modos e regras convém penetrar, compreender como se estabelecem no seio da própria organização, as operações de equillbrio e as distorções. O que igualment e impressiona nas hipóteses estr uturalistas liga-se a uma preocupaç ão em hierarquizar as sintaxes, separar sintaxes gerais e si ntaxes par- ticulares . De modo algum trata- se de subscrever as simplificações do positiv is - mo, nomenclaturas como as que encontraremos, por exemplo, no decorrer de nossa análise das posições caracterológicas, na segunda parte. Também não se trata de deixar-se levar , claramente ou não, por movi- mentos aparentemente clfnicos e lógicos, fundados, nas corr entes filosóficas , antropológicas ou sociológ ic as do momento, contentando- se em aceit á-las pas- siva e, por vezes, inconscientemente, ao invés de usá-las em total independên- cia, com um obj etivo científico que exija um suficiente recuo no tempo e em re- lação aos "poderes de pressão" (dos quais raramente se fala) das correntes de pensamento "da moda". B) O PONTO DE VISTA FREUDIANO D. ANZIEU (1967) constata que depois de FREUD não mais se pode com- por uma obra de arte como antes dele; do mesmo modo, não mais se pode con- ceber uma nosologia após FREUD como antes dele. Em suas Novas Conferéncias de 1932, S. Freud nos lembra que, se deixar mos cair no chão um bloco mineral cuja forma ê cristalizada, ele se quebra, mas não de um modo qualqu er. Em todo corpo cristalizado ex iste, no estado de equilíbrio normal, micro- cristalizações invisíveis, reunidas entre si para formar o corpo total segundo li- nhas de clivagem cuj os 1 limites, direções e angulações acham-se pré-estabe! ecidas de forma precisa, fixa e constante para cada corpo em particular; existe, para ca- da corpo, apenas um modo de cristalizar-se, e cada modo de c rista liz ação é pró- prio de um corpo químico unicamente. Ademais, estas linhas de clivagem per- manecem invisíveis enquanto o corpo não for quebrado ou então colocado sob 51 e "psicose". ao estatuto intrapsíquico do conflito entre o ego e o id. na segunda hipótese. ao caráter obj etai da libido. uma atividade.po dos neuróticos (do qual pensa ocupar-se mais comumente) e o grupo dos psicóticos. a libido narcisista em primeiro plano.nem a estrutura interna do mineral.mentais primários . em 1845. No que diz respeito às psicoses. da libido obj etai e um importante j ogo dos processos secundários. sobre o qual. Se deixarmos cair ao chão nossa amostra mineral cristalizada.estabelecidas no estado de equil!brio. Reportando-nos à liter atu ra psiquiátrica alemã do final do século XIX.vestimento do obj eto. entre os elementos Seja ao nível da doença ou ao nível prévio da simples estrutura não dascompensada. no máximo. mais centrada na descoberta dos mecanismos psíquicos em questão nos doentes. seus limit es exteriores. que em situação normal a organização de um indivíduo se acharia constituída de forma durável. A preocupação de FRE UD permanece. ao contrár io. já existe uma nítida negação da realidade constrangedora. adesão ao principio de realidade. ao aspecto parcial das regressões e fixações. o termo "neurose" foi introduzido em 1777 por W illiam CULLEN. ao menos relativa.samente. constatamos que FRE UD havia tido conhecimento dos escritos de autores dos anos de 1895-1900 e da distinção nitidamente estabelecida entre neuroses e psicoses. o processo primário que a domina. Bastaria um acidente ou um exame minucioso para que se encontrassem as linhas de clivagem (e tamMm de sutura) funda. do que nas distinções categor iais entre o gr u. existe um conflito entre o ego e as pulsões e um recalcamento destas. vistos in vivo em seu dinamismo e evolução relaciona!. contudo. específ ica e invisível. em estado de equilíbrio. ela poderá quebrar-se.do. a forma geral da amostra examinada mostr ará ao observador algumas figuras geométricas específicas de seu contorno. às funções do fantasma que deforma a realidade sem jamais negála . Estas duas noções não correspondiam ao seu conteúdo atual quando for am utilizadas pela primeira vez.nos em pensar que Freud aceitava mal o contato com os psicóticos e o face a fa- 52 .guláções até então invisíveis. apenas segundo as linhas de clivagem pré.sua periferia. desin. A mais "neurótica" das psicoses e a mais "psicótica" das neuroses jamais chegarão a encontrar-se em uma linhagem comum de organização do ego. muitas vezes contentamo. não se pode passar do modo de estruturação psicótica. adquiriu-se o hábito de dizer que a este se dedicou bem menos. o essencial pode resumir -se à expressão simbólica dos sintomas. talvez muito apressadamente. segundo seus limites. ao contrário. ou inver. Sem novamente estendermo -nos aqui sobre as posições freudianas concernentes às neuroses. bem como à realização de um compromisso entre pulsões e defesas. Na primeir a hipótese.aparelho óptico especial. que nunca é muito desinvesti. suas direções e an. por FEUCHTERSLEBEN. conforme explica Freud. proj eção e identificação projetiva como defesas banais. Tais linhas de clivagem originais e imutáveis defi. Segundo P. uma vez que um ego espedfico é organizado em um sentido ou em outro. 111110 FREUD pensa que o mesmo aconteceria com a estrutura mental. JANET (1929). H e K. então. FRE UD opõe as "psiconeuroses" ao grupo das "neuroses atuais".por em categorias psicóticas ou neuróticas da época. FREUD de certa forma estabelece uma ponte a este nível (pelo intermediário da hipocondria. (1887-1902). à resposta a LOW ENFELD a respeito do mesmo artigo (1895 f) e. correspondentes às psicoses clássicas. sentia-se objetalmente excluído. A propósito desta última categoria. É na análise do caso SCHREBER (1911 c). neurose obsessiva objetos.ria (1895 d}. Durante todo este período.bido narcisista está ligada justamente a estas "neuroses atuais". Ora. finalmente. FREUD ainda não havia feito uma nítida escolha dos mecanismos que iria descrever. pressentido formas etiológicas difíceis de dis.se (1916-1917) e. nas psicoses. finalmente. no a rtigo sobre o narcicismo. essencialmente a neurose de angústia à neurastenia. na Introdução Psicanáli. de outro. ou antes as sucessivas posições freudianas em relação ao assunto psicose.çadas: a) Primeira posição freudiana A primeira posição freudiana corresponde às cartas a FLIESS. perde sua mobilidade e não encontra mais o caminho para os "psiconeuroses de transferência" (histeria.ma que a libido obj etai às neuroses histéricas e obsessivas. FREUD mostra-nos como. Ao contrário. principal. tmto mais que. a libido permanece fi. entre libido objetai e libido narcisista.neuroses narcisistas". justamente. no qual dispõe. de um lado. divididas em duas partes: e fobia s) e "psiconeuroses narcisistas"..c:e donde. a posição freudiana. ainda inalteradas. desde este momento. na Introdução ao Narcisismo (1914 c). quaisquer que tossem as suas denominações.xada em um estágio auto-erótico. nas neuroses. que vemos Freud dispor. Apreendendo.trico havia. da qual se diz "tentado a considerá-la uma terceira neurose atual") e mostra como a li. pelo menos de momento. às Novas observações sobre as psiconeuroses de defesa (1896). 53 .. as "psiconeuroses".mente aos Manuscritos D. e limitamos seu ponto de -vista à exclusão da transf erência na relação de objeto psicótica. Em geral pretende-se não conhecer mais do que a oposição entre "neuroses de transferência" e . enfatiza-se a r€1ação entre investimentos libidinais e investimentos das pulsões do ego. as "neuroses atuais" (Neurastenia e neu. G.rose de angústia) e. b) Segunda posição de Freud A segunda posição freudiana corresponde ao período da primeira teoria do aparelho psíquico. à neurose de angústia (189 5 b). na Metapsicologia (1915 a). em O Homem dos Lobos (1918). mostram-se muito mais ricas e nuan. da mesma for. aos artigos sobre as psiconeuroses de defesa (1894). aos Estudos sobre a Histe. superficialmente o conjunto do campo psiquiá. Perda da Realidade nas Neuroses e nas Psicoses (1924 e). d)Quartaposição freudiana A quarta posição freudiana. em particular. agora chamadas simplesmente de "neuroses".c) Terceira posiç o freudiana A terceira posição freudiana inscreve-se na elaboração da segunda tópica. de outro. inicia com o importante trabalhoSo. O ego cai sob o domínio do id e reconstrói para si uma nova realidade (delírio) conforme os de. Parece haver sido eclipsada. A Economia do Masoquismo (1924 c) e A Denegaç3o (1925 h). nas psicoses.meiro grupo compreende a depressão e o segundo. pelo conceito único de clivagem que. agora três categorias: as antigas "psiconeuroses de transferência".gem) e "Verleugnung" {negação de um fato que se impõe no mundo exterior). nada mais é do que uma conseqüência. O ego ocupa uma posição intermediária entre o id e a realidade. depois de pesquisar.bre algumas conseqüéncias psfquicas da diferença anat6mica entre os sexos (1925 j) e prossegue com os artigos sobre O Fetichismo (1927 e). o conflito situa-se entre o ego e o mundo exterior. Nas neuroses de transferéncia existe um conflito entre o ego e o id. e duas outras categorias: as "psiconeuroses narcisistas" (que então compreendem apenas a depressão e a melan.embora não tenha sido posterior- mente desenvolvida na obra de FREUD. A partir deste momento. A noção de "neuroses narcisistas".palmente da vertente psicótica e. São artigos sobre O Ego e o ld (1923 b). em meu entender. A clivagem do ego no processo defensivo (1938 a) e o Esboço da Psican li. em seus dois estudos. demasiado cedo e rapidamente. na última concepção de Freud. o que opunha neuroses e psicoses. duas entidades que não deixam de ter estreita relaç ão entre si. É neste período que FREUD. a neurose de angústia.pótese é de 1924 e parece muito importante. a questão para FREUD não é mais opor entidades nosológicas umas às outras. deve ser comparada à fixidez da opinião de FREUD acerca das "neuroses atuais". ele recalca as pulsões. mais tarde. é neste trabalho que FREUD nos mostra como pressente que será para nós.colia) e as "psicoses" (onde são colocadas a paranóia e a esquizofrenia). Nas neu. termina seu primeiro artigo descrevendo uma terceira possibilidade do ego: "deformar-se". uma estrutura neurótica.se (1940 a). como uma estrutura histérica 54 . princi.por fim.roses.mas antes esquadrinhar certos mecanismos. Os psicanalistas parecem interessar-se pouco pelo artigo Os tipos libidinais (1931 a). para não ter de romper-se. Esta hi. o ego obedece às exigências da realidade e do superego. Contudo.nas psicoses.sejos do id. Os tipos libidinais (1931 a). quando se fala da clivagem do objeto. as noções de "Spaltung" (cliva. Neuroses e Psicoses (1924 b). A oposição sempre se estabelece entre "neuroses atuais" de um lado e. há uma ruptura entre o ego e a realidade. O pri. de uma parte. Afora o caso daquilo que se ch< ma. a seguir não haveria mais variação possfvel: em caso de ruptura d o ea uiií. de outra parte. pulsões cada vez menos parciais. aquilo que chama de tipo "narcisista". segundo linhas de força (e de fraque z as) interiores compl ex as e or is.de às influências exteriores. Pa r ece que nun.i. durante um período bastante longo. não estará "cura. em caso de acidente patoló. e um sujeito de estrutura neurótica.quer uma neurose obsessiva . em uma posição à parte. pelas sucessivas ex pe.cose" (sic). no caso geral da evolução psíquica do adulto para uma estruturação estável.do" a não ser enquanto estrutura neurótica novamente bem investida como tal. o eu distingue-se do não-eu. 55 . FREUD pensava que. demasiado globalmente. pelos ine. pa rtimos dos estados iniciais do ego da criança pe. somente uma neurose. em sua indiferenciação somatopsíquica. segundo um modelo j acksoniano. as coisas parece m passar-se. quer uma neurose histérica. da mesma forma. bem como para distúrbios que poderíamos atualmente c!lamar de "caracteriais" ou "perversos". Da mesma forma. o ego conservará.nais.de forma que se poderia quase descrever. assim: a) Primeira etapa Em uma primeira etapa.quena.brio anterior. tanto tóxicas quant o maturativas. inversamente. Neste estado ini.ou obs essiva ainda não doente poderá fat. quem sabe. esta diferenc iaç ão efetua-s e e. o jogo progressivo dos diferentes níveis de estruturação do ego.lerância deste tipo às frustrações exteriores e sua particular predisposiç ão à "psi. de "psicoses infantis" (das quais voltaremos a falar depois).cial.ca se observa com suficient e atenção o quanto FREUD colocou aqui. uma certa plasticida. também aos poucos. grosso modo.gico. C) GÊNESE DA ESTRUTURA DE BASE Vimos acima que S. Aos poucos. o primei ro sujeito somente poderá reencontrar-se em boa saúde enquanto estrutura psic6· tica novamente bem investida e o segundo.riências objetais envolvendo zonas erógenas cada vez mais extensas . o quanto definiu a into. em função das linhas de força determinadas. um sujeito de estrutura psicótica apenas poderá desenvolver uma psicose.gáveis dados hereditários e congênitos e. b) Segunda etapa Em uma segunda etapa1 já ocorre uma espécie de "pré-organiza ção" mais específica. detectadas a tempo e corretamente tratados. quando o psiquismo individual houvesse atingido um grau de organização equivalente a uma "cristalização" definitiva.er eclodir. mas também de segur anças a naclfticas e identificações po. Isto implica a existência de apenas duas est rutur as psíquicas estáveis: a 2 "Exterior" não é simplesmente sinônimo de "realida de".fora da reputação clássica e nem sempre justificada de que a linhagem psicótica é temí.se. certas projeções pulsionais tornam-se "exteriores". e ex iste uma "realidade" interior.sitivas. Tudo isto repercute no psiquismo em formação por meio de conflitos. de modo definitivo ou reversível. uma variedade de organização interna. frustraç ões.por movimentos de en.e a estrutur a psicótica de base apenas poderá dar ori. não sofra frustrações grandes demais e não se sinta vítima de conflit os demas iado intensos.sa ios e retraimentos. levando a uma verdadeira estrutura da personalidade. aos poucos. que não mais poderá modificar-se nem trocar de linhagem fundamental.gem a uma psicose. A estrutura neurótica de base apenas poderá dar origem a uma neurose (histérica ou obsessiva l. O "c ristal" continuará bom. As defesas começam a organiz a r-se de forma cada vez menos flutuante e inter c ambiável. para fazer frent e às ameaças c riadas tanto no exteri or quanto no interior. "cristaliza-se". c) Terceira etapa Uma terceira etapa const itui. nem "pulsão" é sinônimo de "interior". com linhas de cliva gem e de c oesão que não mais poder ão variar depois. Nosso capítulo so bre a "normalidade" desenvo lveu longamente este ponto de vista. Mas uma vez que um ac ontecimento qualquer sobrev enha de modo a quebrar o "cristal". evidentemente.seg undo uma linha de orga nização estrutural imutável. o psiquismo do indivíduo organiza-se. as relações com os dem ais membros do contexto s ocial e educativo . segundo um modo de reunião de seus elementos próprios.vele a linhagem neurótica é benigna. ao gosto das circunstâncias. ele não s erá "doente". Isto não nos parece engend rar qualquer determinismo particularmente pessimista: no interior de cada linhagem estrutura l persist e uma variedade de possibilidades.gam-se aí. mas somente adaptar-se ou des adaptar -se. continu a m sendo ca pitais. neurótica ou psicótica. não receba traumas afetivos demasia do intensos. 56 . então.tanto pela realidade quanto pelas pulsões2 . Agr e. não sej a submetido a provas internas ou externas demasiado fortes. O ego manobra por toques sucessivos. Contanto que o suj eito de uma ou de outra estrutur a estáv el. Progressiv a mente.As relações com os pais. havendo em cada uma delas formas graves e benignas . esta rachadura somente poder á ocorrer segundo linhas de força e rupturas pré-estabelecidas na infância ou na adolescência do suj eito. permane.cendo com uma estrutura neurótica ou psic ótic a. traumas. nas diferentes variedades habituais . no que os reúne ou separa. Não se pode. caracteriza ou especifica. va- lem aqui tanto para os acidentes patológicos que possam ocorrer no eixo de tais organizações.ções pessoais adultas inconscientes. um certo número de considerações que colocam em estatutos bas. feliz por ser 57 . de modo latente.neurótica e a psicótica. evolução e avatares dos modos de funcio. Entre estas duas ú cas estrutu. Minha escol ha metodológica não me parece haver sido guiada unicamente por motivos fortuitos do modo principal de exercício profissional. na experiência clínica. e antes de entrar nos detalhes das difer entes es. não havendo sofrido uma suficiente metabolização catamnésica. pa rece-me necessário expressar . para chegar progressivamente aos diversos modos de funcionamento do psiquismo do adulto. já que a criança abstém -se de protestar por não dar-se conta. que serão descritas mais adiante como justamen te náo tendo dire.cia ou da adolescência. Somente elas podem.neste momento.der às definições contidas em nossas hipóteses de trabalho.:Jsicopatoló. ou então. Sempre vivenciei com muito desagrado a angústia de ver a autenticidade da criança maltratada por uma "mã fálica" qualquer (de um ou outro sexo aparente). neurótica e psicótica. a latência e a adolescência serão. nos casos em que se desse conta. A síntese aqui proposta sobre os problemas estruturais da personalidade refere-se essencialmente à gênese. A infância. da latem . sem dúvida não protestaria mais.palmente no "aprês coup" da investigação econômica e ontogenétíca. quanto para o resto deste eixo por inteiro. mórbidos ou não. entretanto. vistas acima de tudo como etapas rumo à maturidade e estudadas princi. Os capítulos terceiro e quarto desta primeira parte serão consagrados ao estudo sucessivo destas categorias estruturadas ou anestr uturadas. pois. tanto mais difíceis de determinar objetiva· mente. quando o suposto terap eut a limit a-se a uma observa. patológicos ou não. do funcionamento psíquico da infância.zões puramente afetivas. Tal modo de observação parece-me comportar riscos demasiado grandes de proj e.tante particulares as elaborações estruturais concernentes à infância. Seria possível uma atitude completamente diferente: partir da observação dos dados.gicas nas duas estruturas. nem por ra.t:J ao esta. D) CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ESTRUTURAS NO TOCA'\TE À INFÂNCIA. LATÊNCIA E ADOLESCÊNCIA Após haver exposto os princípios gerais de minhas hipóteses de trabalho quanto à noção de estrutura.ras é deixado lugar para outras entidades clínicas menos solidamente organiza· das. querer recolher todas as variedades .truturas ou dos diversos ordenamentos. Evidentemente os termos "estruturas de base': neurótica ou psicótica. na realidade partindo. à latência e à adolescência. de suas vivênc ias infantis pessoais.ção "de cima". fora de todo e qualquer acontecimento mórbido.tuto de estruturas.namento psíquico. encontrados no adulto. correspon. Da mesma forma.diz ANZIEU 1.ram-se. A criança pode simplesmente estar sentindo a felicidade de uma banal masturbação nar cisista pelo adulto. o qual ser ia seg uido. e da ausência de um componente perverso grande demais no adulto. embala-a e prepara-a para o sono. o que. acaricia a garganta da cr iança como um bom alimento. por vezes. quando se fala com abundância e voluptuo s idade pessoal do Édipo a uma cria nç a cuja organização ainda está longe de conflitualizar-se sob o prima. mais adiant e "Estados limítrofes").depois. para dirigirse secunda riamente à observação da cria nça. isto é. no adulto.ração na criança. não é f orçosamente vivenciado como uma excitação do desejo libidinal e objetai. Pode-se pensar.se font e de prazer .ao invés de partir da observa ção da criança.qüências na rcísicas positivas. FREUD.ta ) oper a uma deliciosa carícia masturbatór ia fálica. conforme a idade e o contexto referente ao nível atingido pelo estatuto fantas.considerada como um "grande" por um "grande" neste terreno.dos.. É incontestável que. que mais tarde a voz erotizada do pai ( ou do terapeu.do de imperativos tão genitalizados. S. AN ZIEU (1969) mostr ou como a criança com dificuldades para defender-se contra a invasão pela palavra dos grandes pode sentir esta palavra do "grande": os sons escutados tornam. senão. por um movimento depressivo consecutivo à a usência de uma resposta afetiva durável. haveria aí um trauma afetivo bloqueando a evoluçã o libidinal imediatamente {cf. dos acontecimento s infantis passa. menos ain. D. Contra riamente a um certo modo de pensar considerado evidente. às nossas observações objetivas. não por seus aspectos semânticos ou mesmo fonemáticos. efetuada por um adulto que não esclareceu de início tudo que t raz em si próprio como restos de dificuldades internas e a rcaicas. da mesma forma. a criança já contém a verdade incrustada e fragmentada do homem que ser(j. A psicanálise pessoal prévia e bastante aprofundada do observador entra no sentido desta preocupação. talvez seja mais seguro ter em conta de saída as conseqüências. como mostra Melanie KLEIN. A voz cantada da mãe. pelos restos íntimos de um se mpr e muito sutil "polimorfismo perverso" {cf. Uma certa satisfação pulsional pode ser realizada no plano psicoterápico sem que isto corresponda a uma interpreta ção obrigatoriamente exata.con. mas permanece igualmente 58 . Dependendo do seu grau de elabo.da.mático. da abordagem dir eta da cria nça.meira infância. em razão do parasitismo das nossas percepções por nossos inevitáv eis residuos infantis pessoais. A ordem na qual se opera parece ter muita importância. 1905).serva ndo todo o seu potencialproj etivo em tais condições de estudo. o evidente contentamento que dá em troca não constitui suficiente garantia de compreensão científica. Trt}s Ensaios. mas seu valor demonstrativo cor re sempre o risco de permanecer duvidoso no pla no da investigação propriamente dita . Certamente não se trata de qualquer condenação do estudo e. na medida em q ue aquilo que diz não será (felizmente) compreendido ao nível em que isto se situa no adulto.1970}. mas por sua pura melodia. durante a pri. mas talvez seja necessá rio coloca r a nós mes mos em gua rda c ontra resultados em que nossas vivências af etivas mistu.este gênero de contato pode muito bem simplesmente conserva r conse. com isto.que afir . não conseguimos evitar que nos venha à mente a imagem daquelas mães "com o aparelho de clister sempre à mão". as dificuldades residuais deste universo que permanecem no plano pessoal.lher forte". onde se trata incessantemente de fazer o doente "ejetar" as suas partes "más". Esta presença de residuos obscuros.no e de rigorosamente psicanalítico o procedimento que parte do adulto para nele reencontrar o universo infantil e. talvez não ocorra apenas a partir dos sujeitos de observação .gico referente à psicologia infantil ou à psicologia genética sem esta base fun. de modo a infletir nossa abordagem objetai tanto dos "pequenos" quanto dos "grandes". a busca das raizes.mam não poderem "amar" seu filho senão quando este mesmo as tiver "ama.certo que o adulto conserva. a injeção massiva de uma parte incômoda de si mesmo para o interior do outro. ou seja. junta-se assim.peitada. que as duas principais escolas de psicanálise infantil do pós-guerra tenham sido dominadas.nham esquecido por demais aquilo que conserva de fundamentalmente freudia. a nostalgia da "criança que o conseguiu ser". Podemos apenas temer que diversos psiquistas de crianças que sucederam FREUD e seus discípulos imediatos.lado de toda abordagem clínica serena e fecunda.•• A identificação projetiva. repotencializados ao mesmo tempo por experiências como as frustrações genitalizadas da puberdade e da maturidade. Não conseguiríamos conceber o procedimento epistemoló. a recordação de nossa própria infância constitui o "núcleo de sentido" a partir do qual a infância do outro se nos torna inteligível. fortuito. um comportando uma apresentação dos componentes infantis residuais ou elaborados no adulto. por certo. nem sempre bem integra.do" suficientemente para ejetar tudo aquilo que elas projetaram nele. daquilo que temem como sendo a parte má delas mesmas3. sejam perfeitamente complementares e que a abordagem ontogenética tenha muito a ganhar utilizando-os combinadamente.talvez. Em definitivo.dos. pela imagem de uma "mu. por seu turno. na criança. para dominá-lo e levá-lo a um estado de vassalização asseguradora. 3 O rigor da observação clfnica justamente efetuada a posteriori (aprês coup) obriga-nos a reconhecer aqui que a "mãe fálica" não é a "única responsável" pela repetição da "opera- 59 . diria mesmo. das elaborações ou dos conflitos pós-pu. para constituir uma soma projetiva e explosiva pouco sus. de salda. no sentido bíblico do termo? De outra parte. cada uma.berais. às hipóteses criadas pela alucinação negativa de uma felicidade infantil sempre mais completa do que foi.. 1955). como os estudos de BiON sobre a alucinação (em Second Thoughts. Conforme mostrou J. e :>utro. a verdade incrustada e fragmentada da criança que foi e. posteriormente (apres coup). GUILLAUMIN (1968). quando nos reportamos a certos trabalhos kleinianos. bem parece que os dois métodos. Será.. igualmente.damental que a psicanálise considera sob seu aspecto "didático" como o postu. ao se reclamarem sucessores dele ou deles (achando que se poderia ir muito mais longe por caminhos diferentes) talvez te. fantasmas obrigatoriamente remanejados. que o impedem de amar sua mãe. ligados ãs particularidades operacionais da lava. daquilo que virá a ser uma psicose do adulto. mas também sobre o que se revelou constituir o processo indutor de um tal comportamento. Será também por este motivo.bitualmente ocupam-se com o adulto? Com efeito. uma verdadeira identificação projetiva concernente ao narcisismo fálico da parte do pai e a resposta complementar que a filha ju lgou de seu interesse trazer como eco.passando também pe. corre o risco de repousar náo somente sobre incontes. ou ainda passando pelas manifestações ção lavagem": embora a criança sofra fundamentalmente no plano narci sista. mas constituir tai'TIMm. a famosa "inveja do pênis". contra o opinião de S. que vão desde as grandes organizações de. Com efeito. ou já mais diferenciadas. desde que o filho tenha obtido prazer neste diálogo!) 60 . isto dá no mesmo na classificação) em face ao reconhecimento de seus traços pessoais ou de suas vivências proj etivas. ao mesmo tempo. baseada na fragmentação do ego (consumada ou não). executado de modo sádico-ativo pela mãe. segundo modos diversos. em virtude da dificuldade encontrada pelo adulto em situar-se a si próprio (positiva ou negativamente. que costumam chamar de "psicóticas" um conjunto de entidades patológicas mais ou menos precisas encontradas na criança.Da mesma forma. Como faz er com que um psicopatologista de adultos aceite dispor em pé de igualdade distúrbios heteróclitos. JONES.ficitárias tocantes ao equipamento somático.gem . em 1928. conjunto este aos poucos estendido. referentes às descobertas daquilo que se passou "a. de modo passivo -ag ressivo . em outras circunstâncias mais tardia s. (Pobre da mãe fálica. mas hábil e incessantement e solicitado pela criança. E. de gozar no plano pulsional.senvolvimento libidinal. que a atitude fálica na menina (tal como mui comumente a concebemos com maior ou menor reprovação) poderia não corresponder unicamente a um estágio banal do de. no primado dado aos investimentos narcisistas e ao process o primário. passando pelos primeiros distúrbios. caracteriaf ou perverso (grupos que parecer iam passíveis de serem ligados à nossa categoria de estados limites e suas dependências). do tipo psicopâtico. uma reação secundária de proteção ativa. tanto no registro sadomasoquista quanto no fibidi nal.táveis observações cHnicas. FREUD.las grandes ima uridades afetivas ou pelas organizações ainda indiferenciadas do tipo anaclftico. não deixa . tão comumente descrita pelos homens na mulher. até as verdadeiras organizações psicóticas precoces específicas da criança.pres coup" entre tal psicanalista-pai e sua filha ao nível das trocas tanto narcisis- tas quanto edipianas. no conflito com a realidade. talvez não estivesse errado quando afirmava. em certos autores. que os psiquistas de crianças formam um grupo à parte no terreno nosográfico? Será por isto que parece tão difícil estabelecer o diálogo acerca da noção de estrutura entre os psicopatologistas centrados na criança e aqueles que ha. como discutir dados equivalentes com os primeiros. até englobar a quas e totalidade da psicopatologia infantil. na criança. tão largamente disseminadas em uma multidão de crianças diferentes. isto é. uma encenação perversa acompanha sempre o coito anal clisteriano. se estes últimos reconhecem habitualm nte como "psicótica" uma estrutura comum. para tornar compatíveis e comunic áveis as suas ob. mas continua certo de que estes últimos agora não podem mais avançar sem aplicar às suas descrições teóricas e clínicas um rigor terminológic o semelhante àquele a que os primeiros (finalmente) restringiramse depois de um certo lapso de tempo. mas com crescent e hesita. distúrbios da linguagem. MAHLE R ou a osi.servações fragmentárias sobre cada categoria de or ganização mental.ganizações anexas. M. incontestáveis comportamentos "psicótico s". considerando -se be-n a sua ontogênese. na criança e no ado- 61 . mais precisamente ainda.rtua m-se real. Caberia aos psiquistas de crianças precisar se o autismo precoce de L.túrbios das funções psicomotoras.ção do ponto de vista nosológico . FAIN e M. devendo assim ser definidas pelo mesmo substantivo. algumas destas 7amosas "desarmonias evolutiva s".cionalmente.se houvesse oportunidade de fazer cessar a indivisão desta propriedade comum de denominação. aquilo que já se pode definir como pródromos. Pouco importaria. KREISLER. nisto nem tão diferente da especificidade dos funcionamentos men.toda a série das organizações deficitt1rias divididas por J. permanecem em suspenso: como reconhecer. MAHLER (1958). contudo. no sentido do "ego autônomo" de H. classificar. "imaturidades" ou "retardes afetivos" . de uma parte.A gr ande variedade e a importância do campo das descobertas referentes ao funcionamento mental da criança e sua gênese exigem uma precisão dos termos utiliza.já especificas ou ainda simplesmente prodrômicas.. SOULE (1966) consagraram trabalhos re- centes.mente na mesma linhagem estrutural das psicoses do adulto. Quanto às organizaç6es ditas "psicr:. neurótico ou psicótico? Os psiquistas diversos que trabalham ao nível do adulto muito aprende. HARTMANN e sua escola. e muito têm ainda a receber.copatia" autista de H. poderá representar uma base de reflexões so bre a situação estrutural (ou mais exatamente sobre a situação de nãoestruturação ) de tais entidades clínicas. Cabe igualmente examinar o grupo das reações psicossomáticas precoces. na criança. ASPERGER. que examinaremos posteriormente. que parecem tão ric os de interesse para todos os investigadores posteriores. é evidente que. KANNER {1943) ou. de estatutos profundos. distúr bios c:rfticos (epilepsia). de seus colegas psiquis. debilidades e retardas.que se reservasse a herança exclusiva do termo à série infantil ou à série adult a.tais psicossomáticos do adulto. de modo particular e independente das psicoses.de que se fala com uma alegria cada vez maior no plano descritivo. às quais L. Duas questões. sob o primado do agir e da agressividade.ram. JUSTI N { 19721 em dis. -J. referente ao grupo dos estados limites e suas or. Certamente seria mais fácil aos psiquistas infantis dif erenciar da linha-gem psicótica "ortodoxa" purificada.dos e a c!assificação dos dados recentemente adquiridos. s. a "psicose" simbiótica de M. aliás. sem dúvida alguma. nada mais constituem do que uma forma de organizar rela. certamente. penso que o estudo constituído pelo último capítulo desta primeira parte.ia.çáticas· ou ''perversasn na criança ou no adolescente. por motivos ainda mais fortes dever-se.tas de crianças. a psicose autística preoxe de M. mostrando sua singular especificidade ligada às funções dessexualizadas e ressomatizadas do ego. com o risco de evoluir para bem além da simples estruturação neurótica. Estas duas linhas de reflexão mostram-se bem árduas e ainda pouco ex· pioradas pelos autores. mais gravemente ainda.tivas do ego. falar de "neurótico" antes do Édipo. por ve.quer sintoma de aspecto dito "neurótico" (fobias.ções funcionais pouco graves. que nem sempre reage tão oportunamente quanto deveria. é preciso a maior consideração para com todo e qual. poderá nos permitir a expectativa de evitar erros de estimativa prognóstica demasiado numerosos e aborrecedores. quando puderam ser suficientemente desenvolvidas.zes anunciam uma progressão na linha estrutural psicótica: outras vezes. ao contrário. ao contrário.afora o caso das autênticas desorganizações "psicóticas" precoces ou dos nitidamente infradotados. O que me ensinaram as minhas próprias investigações clínicas. por fim. são justamente tais reações caracteriais que assinalam o início de uma es.zação anaclítica intolerante às frustrações. conseguiria colocar com certeza um diagnóstico estrutural unicamente pela evi. Apenas o exame atento da progressiva evolução posterior. em qualquer nível estrutural. direi que nenhuma observação cllnica. obsessões. antes dos quatro anos (nos menínos mais precoces). ou mesmo. ou ainda em certos casos. ora não assinalam nada mais que uma tensão rela. familiar ou sócio-educativo. entre os movimentos de crescimento afetivo.portância diagnóstica particular. pois muitas vezes de modo algum assinalam uma evolução estrutural neurótica. no adulto. estas reações marcam o inicio de uma organi. que mais tarde. isto é. manifestações "histéricas"}. 62 . foi que. entre o ego hesitante da criança e um meio exterior. são estes os primeiros sinais de alerta de uma falência bastante séria das funções adapta. evoluindo para o tronco comum dos estados limítrofes. não se pode ainda proporcionar qualquer prova evolutiva no plano estrutural por ocasião da infância e da adolescência.cional momentânea. por vezes ainda mal coordenados. descrito adiante. o mesmo problema coloca-se em relação aos pródromos que anunciam estruturas neuróticas ulteriores autênticas no adulto.truturação ulterior do tipo realmente neurótico.denciação estática dos sintomas mais sutis. mas sem qualquer atitude demasiado "tranqüi.lizadora" antes de haver obtido a prova da benignidade). da organização ainda provisória neste momento. ora. deverá dar uma estrutura psicótica do tipo clássico? De outra parte. As reações "caracteriaís" da criança ou do adolescente devem ser consideradas sob o mesmo prisma. fisiológica. por mais atenta que fosse. É muito excepcional que autênticas estruturações ulteriores do tipo neurótico iniciem assim . Contudo parece necessário lembrar que permanece abusivo. Mais comumente estes simples sintomas revestem-se de uma im. tanto em um caso como em outro. em todos os casos de sintomas notáveis ditos "neuróticos" (sem dramatizar junto aos sujeitos ou às famílias. também poderâ tratar-se de puras manifesta. Correndo o risco de desagradar aos meticulosos da observação dos sinais exter iores.Nsc:ente. o valor do potencial estrutural da adoles. " *" Para concluir este parágrafo acerca do conceito de estrutura de base. nas hipóteses emitidas sobre os esta· dos limftrofes destina-se a corresponder. à qual se fará alusão posteriormente. finalmente. poderíamos dizer que nosso "silêncio evolutivo" da latência tem por objetivo conotar a au. por suas identificações.Unicamente mediante a observação repetida no tempo é que a compreensão da evolução dos elementos operacionais e relacionais (efêmeros ou constantes) do ego poderâ levar a uma avaliação tranqüilizadora ou inquietante dos limites da gama de prognósticos e das chances ou riscos do sujeito quanto ao seu fu · turo.tura. referente à dificuldade de definir validamente uma estrutura durável 1neste momento da vida. No que concerne à adolescência. as vivências emocionais do sujeito por certo continuam a ser mui fortemente agitadas. por ocasião da latência. como no caso dos mo. comportando ao mesmo tempo um silêncio evolutivo e uma intensa ruminação. mes· mo no registro genital. na medida em que isto ainda não foi feito. neste perfodo em que tudo pa ra ele parece reposto 1em questão. e não de um "es gio".ta). Parece necessário revalorizar ainda mais. EY no Congresso de MONTREAL. em meio a um furacão pulsional e conflitual. bem com o o ter. ainda e pela última vez. Estamos todos convencidos da importância do período de latência (verdadeira).manece inalterada. estágio anal) ou genitais (estágio fálico para a ge. Meu propósito não é. o termo "pseudolatência".nitalidade infantil e estágio puberal para a organização genital propriamente di. bem como a "ruminação". pelo sujeito. mas sua organização estrutural per. conforme veremos daqui a pouco. Falando por meio de imagens. em nossa hipótese.dade parece. mas sobretudo à possibilidade do sujeito de mudar. subli. os clínicos não verão qualquer descoberta no ponto de vista aqui desenvolvido . supor que não se passe nadâ. em 1961. centrados em aspec· tos pré-genitais (estâgio oral. re63 .lem. de modo algum.mo "pseudo latência" ("precoce" ou "tardia"). Esta dificul. não galgando um novo degrau da escada evolutiva antes da etapa seguinte. até suas manifestações sexuais (comumente desordenadas.brarei a posição tomada por H. entretanto não foi sem razão que FREUD falou de um "perfodo" de latência. muitas vezes descritos pelos autores. estar ligada não somente à legítima flutuação dos investimentos libidinais e objetais. a um estado prolongado e fixo. de estru. empregado em relação aos estados limites. em tais organizações. alguns talvez cr iticar ão a noção de "silêncio evolutivo". arranjos sóciorelacionais e culturais. aliás). Durante o período de latência.mentos realmente evolutivos do ponto de vista estrutural. das tão pesadas e diver sas aquisições operadas no decorrer dos estágios precedentes.mações. De outra parte. No que diz respeito ao período de latência. do estágio puberal.sência de progresso estrutural.cência. foi justamente com base nesta riqueza de dados recentes sérios e sólidos.conhecendo as dificuldades encontradas para unir as entidades psíquicas entre si no homem normal ou não.temente. destas últimas déc adas parece haver complicado ainda mais o debate. as semelhanças ou as divergênci as fundamentais.nalíticas. que me pareceu bom procurar.vado quer a reações antinosográficas. Jamais foi tarefa fácil respeitar ao mesmo tempo a unidade do psiquismo e a diversidade dos funcionamentos mentais. constatando que um ceticismo sistemático havia le.ções secundárias. em particular. A riqueza das descobertas psicológicas e. a hierarquização dos agrupamentos principais e das diversifica. utilizando-os para simplificar nossas visões. psica. 64 . quer a pseudoclassificações que podiam praticament e reduzirse a uma ordem alfabética. ao invés de complicá-las incessa n. pelo menos momentaneamente.belecer uma síntese provisória da articulação dos nossos conhecimentos pre. Ora. esta.sentes. e também a pouca 65 . Por outro lado. pela distinção praticamente automática entre "aquele que delira". a grosso modo. O segundo postulado. mas "se ele o quisesse". sem forçar a caricatura. se não aceitasse mostrar-se. era porque manifestava agressividade em relação aos terapeutas infalíveis (o que sempre foi muito mal suportado). até a revolução psicanalítica. gentil e compreensivo. Compreende-se facilmente. pouco importava qualquer tratamento a que fosse submetido ou que fosse deixado sem cuidados (em casa ou em um "asilo"). aparentemente mais científico. pois. se não obedecesse às nossas ordens de cura. e se neste caso even- tualmente atenuássemos a parte reservada à organicidade. mas em realidade tão simplista quanto o primeiro. e todo o resto. o mérito e a coragem de certos psiquiatras que não aceitavam tal cenário. ou então procurava-se "es.mentar de imediato e na mesma proporção a parte do "imaginário" (no sentido pejorativo do termo). por um certo período.trutura neurótica. bloqueando.! ! ---------------------- As grandes estruturas de base Uma concepção psicopatológica corrente no passado decompunha-se em postulados sucessivos bastante simplistas. O primeiro postulado pode ser formulado. em contrapartida. tal ocorria para au. Fi. Tal doente podia. mais ou menos as. enfim. para mascarar a impotência dos terapeutas e das pessoas próximas. um distúrbio orgânico e incurável. toda e qualquer investigação em psicologia estrutural. para não dizer de simulação.similado à estrutura psicótica. mais ou menos atribuída à má vontade do sujeito. curar-se.nalmente era internado em uma "casa de saúde".-. tanto quanto para satisfazer sua cólera. via no paciente "psicótico". o paciente dito "neurótico" era um doente dito "psíquico". mais ou menos assimilado à es..condê-lo" em uma alcova ou asilo. pois não se obteria resultado algum com um doente desta natureza. mo conservar o desejo de honestamente fazer objeto de nossos conhecimentos o funcionamento mental/atente. psicológicos ou técnicos já não são mais suficientes. por outro lado. Os termos científicos. As noções mais audaciosas e duvidosas. contraditórios e apaixonados. mui comumente sob vocábulos retumbantes. outra manifestação inaparente.cionária.. criaram-se abundantes neologismos aparentemente revolucionários. Diante destes movimentos exagerados.mo compreender e situá-los sem recortá. mas às ligações. nem abandoná-los ao caos informal. conhece. tanto no estado normal quanto nas evoluções mórbidas destas organizações de base e. o que evita operar uma evolução real das men. agora é condenada como rea. contanto que cheirem um pouco a enxofre. contra os perigos que esta experiência comportava para o seu conforto manifesto ou sua angústia latente.nifestas. A originalidade de uma tentativa de classificação verdadeiramente psica. A autêntica psicanálise vienense. antes mesmo de haver conhecido um verdadeiro direito de cidadania em nossas instituições de tratamento e universitárias. por isto.o que constitui suas esperanças ou suas angústias? Co.nalítica das estruturas mentais não pode repousar sobre "supercategorias" ma. mas igualmente eficaz. jamais teve chance: outrora combatida como demasiado progressista.. filosóficos.so instinto de morte em relação a eles.paixão pelas pesquisas psicopatológicas que fossem além das descrições de epi. representação e satisfação pulsional. nos salões filosóficos do momento.tes. sob o bastão jovial de um presidente "conciliador". Dito de outra for. e lingüísticos para a psicanálise. dos processos primários fundamentais. a metodologia utilizada não deve visar a uma classificação do tipo entomológico. toda classificação estrutural psicanalltica não pode senão retomar. sobre as precisões e nuances trazidas ao exame atento do modo de funcionamento das infra-estruturas psíquicas latentes. o estudo das eventualidades particulares. quando nada viveram da experiência que ele propõe e simplesmente defenderam-se. de nos. ao nlvel e por meio dos processos secundários. neste caso ou naquele. por sua adaptação teológica do pensamento de ARISTÓTELES . associações e investimentos que regem os modos de escoamento.los de forma letal.sódios e sintomas. pela intelectualização. entre os copistas do século XIII. co. banais constatações antigas. 66 . Um poderoso sedutor que transpõs PLATÃO em termos psicanalíticos para os lingüistas. verdadeiramente. o mesmo sucesso que TOMÁS DE AOUINO. são facilmente aceitas pelos congressos mais conservadores. mas ao contrário. Numerosos espíritos efervescentes pensam haver "superado FREUD".ma. e não unicamente manifesto? Como ousar ainda procurar empregar termos e noções que tentem distinguir o que aproxima ou diferencia os humanos. uma auréola supervalorizada? Florescem por todos os lados as descrições fenomenológicas que revivem. Há alguns anos estamos diante de uma reação quase inversa: quantos substantivos que envolvem alguma consonância em "psi" não assumem. vez de modo demasiado fragmentário. serão similares para todas as categorias examinadas e essen.nal. como a linguagem psiquiátrica. o emprego destas em um sentido qualquer. procurando não deixar no esqueci . e não apenas aos aspectos aparentes dos comportamentos observados a partir do exterior. o que sem dúvida desloca singularmente o eixo dos futuros debates desej ados a propósito destas hipóte. utilizando-o com maior rigor. Cabe-me. sem sempre tomar plena consciência. para mostrar em que diferem. RANGELL (1965). a duas hipóteses que me parecem embaraçosas e demasiado facil. gravitando de forma autônoma entre as linha- gens neurótica e psicótica.não se sinta qualquer necessidade de recorrer a neologismos suplementares. modo de expressão habitual do sintoma. simplesmente em termos diferentes. sem para tanto admitir a possibilidade de uma mudança de linhagem estrutural. no plano científico.forço tende. permitir que se suponha que um mesmo suj eito possa sucessivamente passar de uma estrutura psíquica fixa a outra no decorrer de sua existência. tal como a apresentei no capítulo primeiro desta primeira parte. assim. desenvolverei o ponto de vista de THIEL (1966) acerca da identidade estrutural dos estados.mente admitidas: de uma parte. para uma síntese nova e ao mesmo tempo mais racio. algumas das minhas hipóteses teóricas ou clinicas. a tarefa não de modificar.mento qualquer das modalidades psicopatológicas habitualmente descritas. não reconhecer a existência de todo um sistema de organizações ligadas entre si. Um dos maiores inconvenientes de tal fragmentação é o de conduzir. GREEN (1962) e J. . de outra parte.principais mecanismos de defesa. H. tal. contanto que evite.cidos e aprovados. mas de precisar e purificar o sentido destes termos. 67 . Meus principais critérios de classifica_ção.ses. próximos das referências de L. profunda e global. e como podemos conceber articulações genéticas entre elas. justamente. possui um vo. mórbidos ou não. .cabulário já bastante rico e variado para que.modo de relação de objeto. a partir de um certo nível de estruturação real.mico. seu estatuto como modo de funcionamento menta/latente. no seio de uma mesma li. Meu es. Finalmente. os princípios clássicos de cate. pelo psiquiatra clássico. apelando-me em minha concepção mui relativista de "normalidade". A linguagem psicanalítica. empenhando-me em empregar apenas termos já conhe. neste trabalho. Creio ser possível não me bater por palavras. em um sentido ou em outro.Não procurarei apresentar. as organizações psíquicas (mórbidas ou não).ticos correntemente admitidos. Meu propósito consiste em apoiar-me em dados metapsicológicos e gené.cialmente centrados em quatro fatores: -natureza da angústia latente. mas o essencial de meu propósito refere-se às condições de ligação das diferentes organizações psíquicas entre si. Minha investigação pessoal situa -se no mesmo sentido das preocupações de A. no plano econô.gorização estrutural psiquiátrica. THIEL (1966). ao contrário. Certamente será fácil e útil criticar.nhagem. em torno das vicissitudes do narcisismo e. pelo menos no que concerne às frustrações mais primitivas. em uma pri. de outro (cf.truturações psicóticas: a estrutura esquizofrênica apresentar-se-ia como a mais arcaica. em 1950. se mostrará constituindo o modo de estruturação mais elaborado libidinalmente. que vem a seguir. como veremos mais adiante. em meio às consideráveis perturbações. fig . a menos regressiva do grupo das estru. corresponderia às estruturações do modo neurótico. a famosa "divi.em nossas hipóteses traria possi. 22). p. a linhagem psicótica parte do nível das frustrações muito precoces. XX. se situasse a jus a nte da "divided line" de K. de um lado. durante a primeira parte da fase anal. segundo ABRAHAM. BENASSY.meira etapa. a estrutura paranóica. conservando apenas as principais linhas divisórias e evidenciando. bem como o esquema realizado por Robert FLIESS. no plano pulsional. Um ego que sofreu sérias fixações e permanece bloqueado. acerca das quais todo mundo está de acordo.ded line". Com efeito. entre o primeiro subestágio anal de rejeição e o segundo subestágio anal de retenção. sobretudo. A adolescência.ou então re.bilidades evolutivas ainda múltiplas no plano estrutural. por último. Todas as regressões e fixações situa. no Boletim de Psicologia (267.turas psicóticas. fig. encarada por K. Os trabalhos de ABRAHAM sobre a pré-genitalidade constituíram as bases das hipóteses aqui expostas. tal como estabeleci no capitulo precedente. posta assim em funcionamento de modo bastante determinante.nesta etapa particularmente importante do desenvolvi. continuando depois pela estrutura histérica que. e as fixações ou regressões neuróticas. em contrapartida. se pr -organiza mui rapidamente. depois viria.cos defensivos da mesma organização). ABRAHAM.das a montante desta linha de separação fundamental corresponder iam às es. ABRAHAM como uma fronteira entre as fixações e regressões psicóticas.gressa em seguida a este nível. do ponto de vista do desenvolvimento pulsional. determinada por ABRAHAM como a fase anal de rejeição.trutural psicótica. 68 . tudo pode ser reposto em questão . Este esquema foi retomado em 1967 por M. Aquilo que. ·A linhagem estrutural psicótica Depois de partir da indiferenciação somato-psfquica (da qual já falei quanto à noção de estrutura em geral). a seguinte seria a estrutura melancólica (ou os comportamentos manía. Esta linha divisória situa-se. começando pela estrutura obsessiva.segundo a linha es. desenvolvendo as pesquisas de ABRAHAM. O esboço de organização que acabamos de definir como "pré-organização" (cf.1. 1). Nossa figura nQ 1 corresponde a uma simplificação deste esquema.mento afetivo do indivíduo. originando-se essencialmente do pólo materno. bem encostada à linha divisória. conforme o modelo já exposto anteriormente . 2) é levado a sofrer um silêncio evolutivo durante o período de latência. o mais tardar. Isto apenas pode ocorrer durante a fase oral ou. .. Cl) c Desejo da criança passivo < + > Ego I Cl> Amo r parcial o 3 Narcisismo Modo Incorporar n. """' Pfráimlicaodo "<"o.:>_ ?6 genita l Inibição dos objetivos sexuais Amo r objetai I Descoberta da vagina Sentimentos sociais - FIGURA 1: Esquem a geral da psicogénese Saúde .' w'"!o'!'! C na primitiva Inveja do pênis Masturbação fálica Descoberta da castração 5 - o LL Form ação do Superego ·c.-._ . - Inco rporação v I = I Nosologia Auto-erotismo Esquizofrenia o ""' Mais ativo m "" Mais passivo w E Magia das palavras Paranóia <o O Ol o D I 0. Inicio do Édipo Amor parcial Reter Neurose Obsessiva o c o 4 Principio de rea lidade :.. 'õ .<. :. Expulsar ·c.) "' 'ã . < Histeria I Cl) w ""' Dissolução do Édipo L L - rm e :(/) I 'ã O)'ta g Inicio do Édipo õ' _: "' 'ü 7 a 10 <Q)c Dessexualização 1Q 11 fl -J 12 Pr imado do Cl> c --. o RELAÇÕES OBJETAIS Meninos I Meninas Passividade Identificação com a mãe ativa -- Tendências > D L I N E :g_< D cÍ> > o." Idade 1 2 - "§ o = Sugar Morder Incorporação Devorar Melancolia "c' Mastu rbaçã o infantiI Magia dos gestos Mania ' ã.. na qual encontrase já suficientemente engajado. Uma primeira eventualidade. a uma psicoterapia cujos resultados foram felizes. Mudanças de linhagem estrutural tão excepcio . fácil de compreender e bem conhecida dos psicopatologistas. não podendo. dar origem senão a uma neurose clássica. ora. somente poderá eclodir uma psicose. trazendo ao mesmo tempo. Cabe reconhecer esta eventualidade como pouco freqüente. não podendo conceber separar-se desta parte indispensável ao seu próprio ego. ou simplesmente de uma prova con.meter-se. Trata. mas sem outra possibilidade patológica. na transferência.nais e radicais não poderiam se produzir sem uma razão profunda. na imensa maioria dos casos. ser considerada como objeto distinto da "mãesujeito". personalidade. um ego pré-organizado de forma psicótica simplesmente prosseguirá sua evolução no seio da linhagem psicótica. posteriormente: se o su. bem cabe confessar que circunstâncias tão vantajosas ou objetos tão beneficamente representativos não se encontram as. para a criança. sob a forma de estrutura psicótica verdadeira e estável. 2) de forma definitiva. no plano da análise das defesas. E isto produz-se.Elas jamais são fortuitas. seguramente. pela pri.jeito adoecer. a partir deste momento definitivo. fig. pode levar a uma mudança de linhagem estrutural. não completamente fixada (cf. corresponde ao caso dos adolescentes que precisaram sub .flitual dramática que induza a uma recuperação dos fantasmas triangulares e genitais.sim tão facilmente . pensação mórbida. em caso de descom. de forma inesperada.que as psicoterapias de adolescentes são difíceis.pestade da adolescência. embora realizáveis.O sujeito neste perlodo ainda conservaria uma pequena chance de que o eixo de evolução de seu ego deixasse a linhagem psicótica.coterapia bastante profunda. somente uma psi. É uma impossibilidade. Tais casos de eventual desvio da linhagem psicótica pré-estruturada para uma linhagem de estruturação definitiva de tipo neurótico por ocasião da ado. no belo meio da tem. A estrutura psicótica corresponde a uma falência da organização narcfsica primária dos primeiros instantes da vida . antes de propor uma psicoterapia profunda a um ado. Outras eventualidades estão ligadas a uma experiência afetiva espontânea suficientemente intensa para ressituar -se. mal pressentidos até então. justificadamente. se o "cristal se quebrar" após um acidente interior ou exterior. elementos altamente reparadores da falha narcfsica primária.lescente. em um contexto interior e exterior edipiano.meira vez verdadeiramente significativo. já que muitas coisas arranj amse muito bem por si sós neste período.mas sobretudo porque hoje se hesita. ela mesma. contanto que esta não sej a rigorosamente indispensável. certamente sob uma variedade.se de um maravilhoso encontro amoroso. na adolescência. incompleta. Com efeito.lescência (e possível unicamente neste momento) mostram-se. fig. Não mais será possível retornar . muito raros. do tipo histérico ou obsessivo. por ocasião da adolescência. infelizmente. de um só golpe. com a cumplicidade mais ou 70 . 2) e fixasse sua progressão ulterior no contexto de uma estrutura neurótica. não somente por. e se organizará (cf. INDIFERENCIAÇÃO SOMATO PSfOUICA c/) ..!!! c/) . w { EGO PSICÓTICO PRé-ORGANIZADO .-- ü z <W cn -... 10 oo 10 ü z z DIVIDED-LINE o C> "t"i w INICIO DO ÉDIPO · c Q) C> o ·c..----------------:5 ---------- . .--- EGO NEURÓTICO EGO PSICÓTICO ORGANIZADO ORGANIZADO o ----!-------ESTRUTURAS NEURÓTICAS --- ESTRUTURAS PSICÓTICAS FIGURA 2: Gênese e evolução da linhagem estrutura l psicótica 71 . LU ..2 oo IMPORTANTES FRUSTRAÇÕES MUITO PRECOCES C> "" t.. --------------oc/) ·c. a seguir. todos es. PONTALIS (1964). parado. nem indu. na morte por estilhaçamento . Sendo o contexto objetivo muito diferente.e nem mesmo segundo o modo anaclítico.nalização. para liberar capacidades abstratas matemáticas. sobre as reservas operadas pelo processo secundário. A profunda angústia não está centrada na castração genital.zidos por funções reguladoras de ego em sua adesão às realidades objetais. nem na perda do objeto.tre-se nas estruturas psicóticas com os mesmos efeitos que nos suj eitos organi. com a negação de fragmentos grandes demais da realidade. Quanto mais a estrutu ra psicótica se encontrar ameaçada de morbidade.gular.rio.ou que os fragmentos permaneçam co.em nossos dias.derada completa sem uma abordagem. enquanto o "cristal agüentar". Os principais meca.nismos de defesa psicóticos são: projeção. uma verdadeira relação objetai não é empreendível sob o modo genital. Toda e qualquer revisão das principais caracterlsticas dos modelos estru.mentação. muito menos trian. encon. de desdobramento da personalidade.dente desta fragmentação ser aparente. A atividade sintética do ego encontra-se abolida nos casos extremos. no plano da realidade. negação da realidade.rajada pela mãe.menos ativa do pai (quando existir a título verdadeiramente significativo. segundo as variedades de psicose. ou então simplesmente enfraquecida. clivagem do ego (interior ao ego. por motivos mais fortes ainda. no papel de inimigo sexual.. não po. na medida em que tais talentos podem darse livre curso. A relação. indepen. tornar-se indispensável à manutenção da vida a reconstrução de uma neo-realidade vantajosa. o que longe está de representar a situação habitual). justamente por não mais terem de ser controlados. nem mesmo triádica. pelo menos sucinta. nem pelo ideal de ego. que o impacto dos fantasmas "originários". e não pela simples clivagem de imagos objetais). mais prevalecerá nela o processo primá.sional com a mãe. No primeiro caso. LAPLANCHE e J. a atividade auto-erótica. eventualmente ao delírio se. ou ainda de simples desrealiza. por outro lado.á. no sentido em que o entendem J.encontra-se de saída fragmentado.zados neuroticamente. não é dual. Não parece. nos casos mais re. O ego jamais está completo. O superego de modo algum atingiu um papel organizador ou conflitual de base. consi. Esta relação mais ou menos fu. em fa. do modo como se 72 .derá manifestar-se secundariamente. encontrar-se .nômico suficiente entre o filho e a mãe.turais tanto psicótico quanto neurótico não poderia ser.ção.xalmente em aparência. não mais é perturbada pelo pai. na destruição.gressivos de esquizofrenia. apesar deste ser menos exigente. mas pela realidade. O conflito subjacente não é causado pelo superego. incessantemente repetida no plano interpessoal.culativas ou ditas "intelectualizadas". enco.-B.lados entre si (se não houver descompensação). o que leva a uma negação de todas as partes desta realidade que tenham-se tornado demasiado embaraçosas. ainda que aberrante. o pai já não tem mais um papel eco. o que contribui. obviamente.. mais comumente.tes mecanismos concorrem para com o nascimento de fenômenos de desperso.ce às necessidades pulsionais elementares. espe. O fracasso do narcisismo primário traduz-se por uma atitude autista mais ou menos radical em função do grau regressivo das fixações. mas na frag. deve ser levada em conta também. Seria desast roso deduzir daí um "horóscopo" qualquer. quanto dentro de sua própria pessoa. Os aspectos positivos de tal ótica são inegáveis. o afeto está mais ou menos dissociado da representação. como a grafologia. por exemplo. de saída. as palavras são consideradas a um certo nível como estranhas. do sonho ou do fantasma. DUBOR (1971) procurou estabelecer uma síntese dos elementos pro.com efeito. Para ligar linguagem e estrutura. Alguns autores parecem . pode ser con. a linguagem. o continente chega a contar mais que o conteúdo: a falta incide tanto sobre o "ser" quanto sobre o "ter". em uma ou outra eventualidade estrutural. como todas as demais "formações de compromisso" na base do sintoma. para fazê- lo. Sem dúvida é dispensável a pretensão de esclarecer. tanto da estruturação psicótica para a estruturação neurótica. com efeito. mas daí não se pode tirar deduções ou previsões válidas nas múltiplas direções do funciona.mas das trocas interpessoais criando. P. na tentativa de evitar à sua angústia fundamental os perigos fantasmáticos de uma investigação mais cabal de seu próprio inconsciente através do estudo do dos outros. necessitando a utilização de um novo dicionário e de uma nova gramática com vistas à sua própria comunicabilidade. inédita. O processo primário leva o funcionamento mental a sair do controle da realidade para tender à alucinação das materializações dos desej os. podendo tudo traduzir ou substitui r. mas refu.apresenta.velmente. Para o sujeito de estrutura psicótica. A linçuagem 73 . um jargão neológico codifica. estrangeiras e vazias. quanto no sentido mesmo dos diferentes modos de organização do tipo psicótico ou neurótico. é tão difícil. Entretanto permanece evidente que os modelos lingüfsticos variam nota. apesar das fraudes por ve. naquilo que comporta de manifesto e superficial. nada mais constitui que uma importante contribuição suplementar ao estudo de um caso clínico ou de uma categoria de indivíduos. neste ponto. Ora.do. parece bem fácil deixar-se apanhar na cilada da linguagem.menta-se inquietude diante da ambigüidade de certos lingüistas em relação aos dados psicanalíticos: eles operam como se estes dados fossem óbvios.fundos encontrados na linguagem do psicótico: a realidade não é plenamente investida. enfim. apresentada por alguns como mágica.zes desenvolvidas sob a cobertura de uma ciência lingüística. mobiliar um vazio que o psicótico não situa tanto entre o outro e ele. haver longa e brilhantemente dissertado apenas acerca dos aspectos aparentes da linguagem.mento mental. Experi. a referência deve incidir mais sobre a música profunda da melodia verbal do que sobre o simples aspecto visível das palavras que ela suporta. existe um relativo grau de inadequação do desejo ao objeto. a utilização da linguagem pelo sujeito no seio da comunicação relaciona!. e não poderia substituir as demais abordagens profundas da personalidade. os proble. De outra parte. A lingüística.giam-se flagr ante mente no labirinto conceptual e semântico de sua disciplina.siderada em níveis de profundidade muito diferentes. aí. Serei levado a retomar o ponto de vista lingüístico ao estudar o modo de estruturação neurótico. arcaica e tipicamente oral de tal atividade. vendo-se obrigado a deixar "a presa pela sombra".gências variáveis das relações obj etais. de forma brutal e direta. por exemplo. adorada como obj eto em si. FREUD. S. de modo completamente original e segundo o modo mesmo pelo qual são elaborados. algu . o neurótico podena dar uma in. RACAMIER. 74 . em termos de regressão. hermética. KRAEPELIN (1910) ou BLEULER (1911). numa dialéti. a partir inconsc iente: "Já terminaste de te masturbar?" de seu próprio Conforme sugeriram FREUD (1900). Tais su. Ele age com as palavras como com as coisas. imediata. conjuratór io. A linguagem. ao passo que o psicótico perde o sentido mesmo da realidade intermediária do violino.mas breves indicações acerca dos aspectos originais da comunicação. ele não vê mais o violino e dirige-se ao inconsciente daquele que toca. a propósito das diversas ca.tegor ias encontradas no interior das estruturações psicóticas e neuróticas. nesta mesma variedade estrutural. As falsas interpretações manifestas dadas pela linguagem do psicótico originam- se. Toda e qualquer linguagem permanece.ticos ou oníricos. os conteúdos fantasmá . a experiência terapêutica nos mostra que o esquizo. Conforme indicaram LAPLANCHE e PONTALIS (1967). C. ANZIEU (1970). tampouco "fa. para D.situa-se. FREUD.terpretação simbólica: "Tocas violino com um prazer tão grande como se te masturbasses". por oca. a linguagem própria de uma estrutura é estabelecida seletivamente nesta categoria. de uma alteração da função paradigmát1ca. as condi. em O inconsciente (1915) sustenta a hipótese de que o psicótico tenha-se tornado incapaz de ter relações com os seres reais. não "pensa" no sentido habitual do termo. considerava.sião do exame de cada caso particular de diferenciação estrutural.ções particulares que conferiam seus privilégios a certos símbolos lingüísticos. RACAMIER (1955). Os psicanalistas muitas vezes puseram em evidência a natureza regressiva. C. 1955) comporta um contexto mágico.jeitos confundiriam os signos e os códigos. No plano relaciona!. "A idolatria da palavra" (P. na In- terpretação dos Sonhos (1900). então. Volta então seu interesse à matéria inanimada que constitui a linguagem.ca em que o objeto não se encontra nitidamente separado do suje1to.se às exi.mente deixa de ser utilizada como meio de comunicação e de dobrar . no próprio contexto da ação e manifesta-se inicialmente como suporte das pulsões agressivas. da mesma forma que darei. iniciático e também essencialmente lúdico.la" verdadeiramente. altamente representativa e privada. A alguém que estivesse tocando violino. como concluída P.frênico. Buscou -se muitas vezes estabelecer relações entre a deficiência de certos meios sócio-culturais e o desenvolvimento de uma estrutura esquizofrênica. CIOMPI (1967). o que ao mesmo tempo acarreta uma distorção. se faltar o objeto. de modo a satisfazer. é lícito supor que se ela se mostrasse apenas frustrante a criança se limitaria. tanto do ponto de vista da evolução libidinal quanto do de.A) A ESTRUTURA ESQUIZOFRÊNICA Dentre as estruturas psicóticas.cerá incapaz de reconhecer e amar a si próprio. da influência da constelação familiar e dos fatores sócio-culturais. de origem ao mesmo tempo materna e paterna. contudo estarem "doentes").senvolvimento do ego. L. Com efeito.te. Estes autores mostraram como FREUD. já em 1898. e não as suas necessidades. segundo um modo esquizofrênico de organização mental. 75 na prática cotidiana. parece que a mãe do esquizofrênico não tem só de ser frustran. Ademais. (A. mas precisa também ser tóxica. GREEN. muito cedo havia definido a esquizofrenia sob o vocábulo "neurose narcisista".mo o "verdadeiro ego do lactente" e afirma que. FRE UD. O papel das frustrações precoces. mais facilmente que na evolução esquizofrênica. a uma das formas de infradotados motores ou afetivos. múltiplos e precoces. de forma total e instantânea. os objetos encontram-se novamente reinvestidos. Define (1963) a mãe co. Gr aças ao delírio. condensação e simbolização. C. S. que evocamos ao final do capítulo anterior.mente a uma organização psicótica do ego fixado a uma economia pré-genital de dominância oral. outros membros es. Podemos afirmar que a estrutura esquizofrênica corresponde especifica. para insistir na importância da massiva regressão narcisista primordial nesta entidade.derância oral.tários dos processos primários.truturados (sem . a estrutura esquizofrênica situa-se na posi. RACAMIER (1954) insiste na necessida. a pulsão pré-genital de prepon.de de maternagem para o desenvolvimento da criança. não é raro. Em seus conflitos com a realidade. KAUFMANN e L. havia descoberto a analogia existente entre sonho e alucinação enquanto maneiras de reviver expe. um afrouxamento das associações e uma lógica aparente.ção mais regressiva. MULLER. o esquizofrênico de estrutura espera poder mudar esta realidade. este permane. dita "autista". no seio de uma família que leva um esquizofrênico para tratamento ou consulta. P. da r ealidade. O desapego e a estranheza dos sentimentos na estrutura esquizofrênica estão em estreita relação com o aspecto particularmente arcaico de um universo fantasmático tão exuberante quanto profundamente regressivo. Para C. tribu. ao menos parcial. encontrar.riências recalcadas da infância sob uma forma substitutiva. o conceito psicodinâmico ligado ao problema esquizofrênico baseia-se no estudo dos fenômenos psicológicos. 1958) sempre foi colocado em primeiro plano na economia esquizofrênica. O funcionamento mental de modo esquizofrênico é guiado pelos mecanismos de deslocamento. A linguagem mais comumente encontra-se colocada a serviço da pulsão agressiva. de modo algum.Mas. mas as opiniões parecem. convencido disto. torna-se "esquizofrênica" (sube ntendido: doente esquizofrênica) ao invés de outra. e talvez também um modo de exercício misto (hospitala r e liberal. rural e urbano). 76 . há algum tempo. em pronunciar certas palavras. mas duvidosa.gularmente . Os pais de famílias em que eclodem as estruturas esquizofrênicas come. pelo fato de que os autores que possuem as estatísticas mais abundantes operaram até agora sobretudo em ambiente hospitalar e urba.no. mas antes de um meio afetivo particular. e esta comunicação sádica vê-se facilitada pelo fato de o obj eto não estar tão sepa rado do suj eito.tela. e não as outras (de mesma estru.talvez. superprotetora. ao adotar de safda nosso ponto de vista estrutural. mas age com estas palavras como o faria com objetos. A mãe da família onde se encontram estruturas esquizofrênicas em geral é apresentada como autorit ária. A atitude simbiótica.tura.a saber por que tal caso de estrutura esquizof rênica dentre as outras. no seio da mesma família. dado o aspecto unipolar da economia afetiva. nas camadas ditas "baixas" da sociedade? Não estou. de minha parte. contudo). nem de que estes personagens representem algo mais que uma pálida duplicação de uma imagem fálica materna ainda mais falha. em um outro gênero de prática e de clien. Estamos ainda bem longe da economia paranóica. sin .çaram. pois. No que diz respeito aos aspectos lingüísticos da estrutura esquizofrênica. o obj eto torna-se completamente auto-investido. Mas talvez ela seja ainda mais marcada pela frieza afetiva pessoal. Encontramos disposições afetivas tão lamentáveis por predileção. Igualmente não penso que se deva perguntar por que tal ou tal criança. damo-nos conta de que a estrutura esqui. mas ao mesmo tempo ansiosa e culpabilizada. pois as observações parecem incidir mais sobre o que se tornaram mais tarde os pais de doentes esquizofrênicos. descompensou-se. divergir.que em outros lugares. Olhando as coisas de perto percebemos que. existem mais comumente várias estruturas esquizofrênicas.zofrê nica não é apanágio de qualquer meio social em particular. Che· gando ao verdadeiro autismo. o único verdadeiro problema psicopatológico reduz -se. ao mesmo tempo que ampliava-se a cate. observa-se que o sujeito não pensa nem fala realmente com palavras. parece conotar esta absoluta necessidade. Nada nos permite adiantar que nos meios modestos as crianças sejam mais cruelmente tratadas e as mães sejam mais tóxicas . ao mesmo tempo que pela necessidade de total dependência de seu filho em relação a ela. com um certo recuo. ao passo que se hesitaria. do que sobre o que eram antes da situação criada entre a mãe e a criança já doente. e independente da descompensação mórbida na mesma família. Não estou certo de que a palavra "pai" constitua um verdadeiro valor em tal economia. muito mais diferenciada. em uma fratria.o que parece mais preciso . tão comumente descrita hoj e em dia. Tenderia antes a explicar esta opinião cor rente.goria mais discreta das "neuroses graves" de todas as variedades. a interessar os autores. Qualquer expressão pode. tanto quanto a sintaxe. cons . no plano estético. fig. antes de nos voltarmos com demasiada rapidez para interpretações homosse.P. 2) . assumem um aspecto mais pseudo. regride progressivamente a falares infantis ou primitivos. é ocasião. embora não se saiba ao certo se ocupa um lugar mais progressivo que a estrutura melancólica no plano dos desenvolvimentos do ego. algumas palavras são expurgadas. outras repetidas incessantemente. Se a estruturação esquizofrênica representava uma operação de salva .genital de preponderância anal. pois o psicótico. lme- 77 .tas e surrealistas. em constatar que antes da exposição do caso Schreber por FRE UD (1911 c). a estrutura paranóica. por seu tur. assim.chamento e o domínio do esfíncter ainda não estão totalmente assegurados). o exemplo do violino. As formas verbais. deixar de ser "um modo de falar". enquanto se aproxima da descompensação.mente o primeiro subestágio anal (cf. tanto em seu campo quanto em seu poder evocador.pa a posição menos regressiva no plano da evolução libidinal. elas evocam os procedimentos simbolis.tes do segundo subestágio anal. B) A ESTRUTURA PARANÓICA Dentre as estruturas autenticamente psicóticas.se restrito.xuais comumente imprecisas e por vezes imaginadas segundo um modo rela.mento destinada a manter com vida um ego bloqueado bem no início de sua emancipação do não-eu. sej am sacrificadas ao ritmo e à fonética. o qual situa-se justamente do outro lado da "divided line" descrita por Robert FLIESS (1950). se a estrutura esquizofrênica encontrava-se marcada por fixações pré-genitais de dominância oral.titui uma posição de retraimento diante de um fracasso na integração dos apor .temente os heróicos esforços do sujeito de estrutura paranóica para defender -se contra a penetração anai.vestimentos fixados ao primeiro subestágio anal (ou seja. certamente. Pode-se dizer que. ao percorrer a literatura psiquiátrica "clássica" acerca dos mecanismos paranóicos. tocando mais particular .poético do que uma verdadeira forma poética. o modo de estruturação paranóico. C. corresponde especificamente a uma organização psicótica do ego fixada a uma economia pré. aquele em que o fe . O vocabulário torna . Ficamos espantados. a estrutura paranóica ocu. paralelamente à regressão do pensamento. de referir -se aos movimentos de projeção e do duplo retorno da pulsão e do objeto.no. par a tornar-se uma verdadeira construção delirante (cf. acima). permanecendo contudo muito mais limitadas. RACAMIER (1955) estima que no esquizofrênico a semântica. mas convém igualmente ter em conta os in. mecanismos de defesa específicos da economia paranóica. ao contrário. Quando se descreve luxurian.ciona! genitalizado demais para o potenciallibidinal de que dispõe tal sujeito. o interesse dos autores quase não incidia sobre os aspectos patogênicos e econômicos dos sujeitos de estrutura paranóica. mais ainda. MALLET (1966) trouxeram-nos numerosos esclarecimentos referentes a esta estrutura. mais ou menos claramente impregnado de um desejo de onipotência. A abordagem psicanalítica. enuncia que se trata daquele que tem "o espírito voltado contra". e os obj etos desta estrutura são tendo uma função socia l. "para-naus". na terceira etapa. BAUMEYER (1956). Esta proj eção assegur a aquele que proj eta acerca daquilo que proj eta e. RACAMIER (1966). porém temíveis.trolar o objeto introjetado. Efetivamente. W HITE (1963). G. puramente defensivo. são indivíduos pouco fáceis de suportar. NIEDERLAND (1951). embora talvez não pelas mesmas razões. J. P. R. porém. toda a realidade exterior tornase constrangedora. por recu.trado que tornou-se também. precedida de uma negação da realidade e acompanhada de uma anulação retroativa (undoing dos autores anglo-saxões). com efeito. e o fantasma paranóico.no do objeto. um grupo de doentes apaixonantes. contudo. ao mesmo tempo. O objeto não pode ser tolerado a não ser como instrumento à disposição do suj eito.. Ida MACALPINE e R. FREUD descreve em três etapas sucessivas a forma pela qual o meca. desde que mostre uma independência do objeto em relação ao suj eito. J.psicológicos acerca dos diversos aspectos levantados na autobiografia do magis .na anal no ponto de partida do mecanismo paranóico. de preferência . eu não o amo. onde a pulsão hostil é voltada contra si.. A etimologia da paranóia. transforma o "é a ele que amo" em "não. Por seu turno.sarem-se i"ervorosamente a dobrar -se à vontade curadora do terapeuta. MARTY (1959). CHASSEGUET-SMIRGEL (1966) falou da "introj eção dirigida" e dos fantasmas "da armadilha" e "da ilha". CHASSEGUET-SMIRGEL (1966). Com efeito. A. para os psiquiatras. HUN. F. FERENCZI (1916) insistiu na importância da estimulação da zona eróge. apaixonantes. RACAMIER insiste no aspecto especificamente psicótico da proj eção no mecanismo próprio da estrutura paranóica.nismo fundamentalmente paranóico trata a pulsão libidinal para chegar ao sen.timento de perseguição: a primeira etapa. o que havia sempre esperado. C. Os pacientes "paranóicos" sempre constituíram. S. M.va definitiva: "uma vez que ele me odeia. M. FAIRBAIRN (1956). passando a agir então a projeção. S. fez progredir sensivelmente o diálo . finalmente.diatamente após este magistral trabalho. enfim célebre. J. eu o odeio". e isto refere-se à primeira fase anal de destruição . proliferaram os estudos meta. mediante uma negação do afeto e uma reversão da pulsão. enquanto que a pulsão libidinal acha -se fantasmaticamente realfzada. conjuntamente a um retor. KATAN (1952).siste na diferença radical entre o fantasma fóbico. na necessidade de con. P. Ela in. 78 sempre seres animados vivos. esta segunda etapa transforma o "eu o odeio" em "ele é que me odeia". eu o odeio".go. de sua própria existência. que portanto não permite qualquer satisfação pulsional. temíveis. FAIN e P. W . trata-se. R.TER (1963). C. o sentimento assim disposto torna-se consciente e é tratado como uma percepção externa que motiva a posição afeti. avatar da luta para evitar a penetração anal. de uma proj eção peculiar. por buscarem atrair a atenção e a convicção com poderosos meios afetivos.. C. Na elaboração estrutural paranóica haveria. em um pri.do contra seus desej os passivos dirigidos à mãe e secundariamente ao pai. Ora . temperada por vezes (MA LLET. acima de tudo.zofrênica. como com os objetos.ao nível do irmão mais velho.defende-se acima de tu.P. a estrutura esqui. se. RACAMIER mostra judiciosamente o quanto a estrutura paranóica. não podendo sentir-se completo senão a este preço. repousa de fato sobre uma base aberrante. Contudo . O acaso . segundo um modo relaciona! anal do tipo sadomasoquista. além disso. mediante a utilização de uma só idéia de cada vez. a surpresa e o imprevisto não são admitidos no universo estrutural paranóico q o e deseja repousar. tem necessidade do outro para fantasiar em seu lugar . a est rutura paranóica tem necessidade da adesão do seu objeto a seu sistema.péis: para alguns. Sua agressiv 1dade. A dúvida vem quando este último apercebe-se de que todo o sistema proposto.por vezes muito lógico em sua textura . diflcil para tais su. o que nos levaria. A relação e o pensamento também são rapidamente perversificados (no sentido caracterial do termo) pela erotização. que repousa sobre o solo.sideram o objeto ou tiram . A estrutura paranóica manifesta um sistema dito "linear" de pensamento. Numerosos autores. para bem perto da outra estrutura ontologicamente psicótica. P. sobre a lógica e a lei. 1966) por uma estaçã o mais fácil. são rapidamente temperados pelos limites ou fra - cassos que restabelecem a distância. na medida em que é conscientemente expressa e controlada. Opera.peto no sentido do confronto. um pai colocado à fren - 79 .tasmãtica.lhe a convicção . A estrutura paranóica. ante a sua própria pobreza fan. C. também o lm. mas apega -se a ela com firmeza e obstinação . enquanto funciona . A este respeito. mui comumente. Os pais de tais estru.os autores parecem divididos quanto à reciprocidade dos pa.nação paterna que mascara a real autoridade da mãe. pois para o paranóico o pai desempenha um papel certo e evidente. lúcido e racional. RACAMIER (1966) most rou que era.turas fo rmariam comumente "casais invertidos".meiro te mpo.ria utilizada como defesa contra o amor primário da mãe. pela potência efetiva do domínio objetai materno em ambos os casos. O sentimento de perseguição. que igualmente constitu i uma forma vantajosa de ne.jeitos apreender mais de um único objeto ou idéia de cada vez. tem a necessidade de operar interpretações ou sistematizações que.mento mental radicalmente diferente. Este é seu lado inabalável. RACAMIER . contudo. C. além disso. corresponde a um arranjo mediano entre solidão e intimidade em relação ao objeto. como uma pirâmide construída a partir do topo. com uma aparência de domi. Entenda-se bem que tudo o que acabamos de ver no funcionamento mental típico da estrutura paranóica acha -se inscrito ontologicamente na relação com ambos os pais. bem clássico nestas estruturas. defendem uma relação com uma autêntica image m paterna. carac.terístico e tão irritante para o interlocutor funcional ou terapêutico. Um raciocínio que se pretende ativo e resoluto.segundo P. a base voltada para cima. o pai não atua tanto como representante masculino quanto como tela em face à mãe. O obj eto constitui para ele um complemento vital em sua oposição mesma. A megalomania. de fato.gociar o fraca<>so. te. Poder-se-ia assim muito bem considerar toda uma série de termos de passagem mais ou menos ligados à exclusividade das fixações orais. agressivos. A regressão do pensamento aos níveis oral e anal mistura. Existe uma "estrutura" propriamente dita correspondente a tais estados? Parece difícil admiti . encontram-se também fi. O núcleo fálico defensivo passa pelo plano verbal. pelo fato mesmo de existir um núcleo organizacional de modelo esquizofrênico. de criar sérios distúrbios da identidade sexual de base. convém observar que em qualquer situação "mista" dÓ tipo esquizo-paranóico.te. as identif icações diante de tal potência feminina não podem deixar. dirigindo-se mais ou menos para mo- dos de organização anais do tipo paranóico. O estilo mostra-se grandiloqüente. CARR (1963) mostrou. encontramos o traço do falismo protetor contra os perigos dos desej os passivos. não pode ser compreendida sem esta referênc ia a uma "trapaça sobre a realidade psicológica" (RACAMIER. não sej a rigorosameRte estanque . Na criança. supor que no interior da linhagem estrutural psicótica a barreira entre estrutura esquizofrênica muito regressiva e estrutura paranóica. no que se refere às principais fixações ou regressões da evolu . uma passagem possível entre estrutura psicótica e estrutura neurótica (fora dos raríssimos casos da adolescência).truturais mais arcaicos.terno.mentos paranóicos acrescentados certamente são de natureza a melhorar o fun. altivo. o que contudo não quer dizer que este pai não desempenhe também um pa. absolutamente. possessivos. 1966). A fachada e a conquista social referem-se certamente ao narcisismo ma. bem como ao grau de elaboração do ego. reprobatório e demonstrativo. tão descrita na estrutura paranóica. passivos. continuando bastante incoerente. Os ele. nem um modelo rigorosamente único de estrutura de um modelo ou de outro. muito menos regressiva. Entretanto. Na linguagem da estrutura paranóica. e A. pois. pare. Embora não consideremos. com todas as defesas secundárias acrescentadas a tais bases. ao mesmo tempo. Tem-se muitas vezes citado estados denominados "esquizo-paranóicos".lo.pel específico ao nível just amente da erotização anal e do ímpeto tomado por esta estrutura mais elaborada rumo à genitalização entrevista inconscientemen . de defender uma estr it a rigidez estrutural.ce bem lícito. no caso SCHREBER. mas não a anular radicalmente os elementos es. mas cuj os meios de negociação permanecem limitados. C. bem como de preparar a relação social em condições fundamentais particular . ao longo dos presentes desenvolvimentos. Numerosos neologismos invadem o discurso.xações e regressões muito arcaicas e um ego ainda muito mal fundado. Não se trata aqui.se a este falismo. o quanto o pai do paciente havia usurpado parte das funções maternais em benefício real e profundo da mãe e com a cumplicidade bem ativa desta.cionamento e o prognóstico. Da mesma forma que em álgebra menos vezes mais dá 80 . sem dúvida. ao contrário. na tentat iva de manter o obj eto perdido e temido junto a si em um início de diferenciação proximal. A homossexualidade.ção libidinal.mente importantes para as manifestações homossexuais reativas constatadas a seguir. no presente ensaio de classificação es. aqui será o lado mais regressivo que obrigatoriamente fará pender a balança econômica para o lado da primazia dos mecanismos esquizofrênicos e se. mostra-se capital.trutural. Embora a sua autenticidade psicótica não cause dúvidas quando estabelecida. A estrutur a melancólica estaria. A noção de psicose maníaco -depressiva foi concebida por KRA E PE LI N em 1913 como englobando numerosas entidades clínicas. esta est rutura não pode ser comparada. de estatuto maníaco-depressivo. parece. não reservar unicamente às organizações depressivas ou maníacas reativas do tipo verdadeiramente introj etivo e psicótico a denomina Ção da "estrutura melancólica".nha gem depressiva. limitando de forma precisa. Desde HOMERO. ainda que intensamente regredido. muito tem-se discutido acerca da alternância dos episódios de excitação e depressão. o que continua sendo o lote da categorização psicó. às duas outras estruturas psicóticas. na ontogênese dos estados melancólicos.frênicas e paranóicas em particular. que se considere aqui a hipótese de uma gênese dos mecanismos melancólicos na li. acontecer realmente de se encontrar estados esquizo-paranóicos. hipótese parece exata quanto ao grau atingido pela evolução libidinal. seguramente. com efeito.tura melancólica ocupa uma posição intermediária entre a estrutura esquizofrê. 81 . com o risco de ligar a esta estrutura psicótica particular outras entidades próximas. tal como foi descrita a propósito da linhagem estrutu ral psicótica em geral e das estrutura s esquizo . tenha atingido um nível anterior de maturação e adaptação bem super ior ao das organizações paranói. então. quanto à sua et iologia. ocupando um lugar totalmente à parte na classificação estruturai do modo psicótico. ao parece.tica de tais movimentos ext remamente variados e disseminados. ou sej a. para aqueles que tiveram conhecimento das atuais pesquisas sobre os problemas dos estados limítrofes e da depressão. que o e o melancólico. junto à melancolia (melas khole. a "bile negra" de HIPÓCRATES ). HIPÓCRAT ES e ARETAEUS da CAPADÓCIA. De outra parte. uma progressão que siga os primeiros estágios de "préestrutura" ao longo da linhagem psicótica.menos.nica e a estrutura paranóica. contudo.damentais do tipo esquizofrênico. parece necessário mais comumente dispor tais estados entre as estruturas fun. mas não é certa quanto ao estado de elaboração do ego. que Não será surpreendente. C) A ESTRUTURA MELANCÓLICA O esquema proposto por R. FLIESS (fig. Est<. da qual se tratará no capítulo seguinte. voltar-se para a clínica e considerar que neste plano não se encontra.cas. Cabe. 1) permitiria supor que a estru. na clínica. parece desestruturado e negado. DEUTSCH. das organizações nem psicóticas nem neuróticas. KLEIN (1921) pensa que o movimento maníaco evita que os objetos fi- ram o suj eito e se firam entre si. EY (1954) insistiram na melancolia. para o indivfduo que reencontra assim o contentamento de si mesmo. ABRA.jeto para dar conta ao mesmo tempo da necessidade de devo ração dos obj etos e do desapego parcial em relação a eles quanto à importância que aparentemente lhes é reconhecida. E. dependendo. Tudo o que se mostrava positivamente engajado no universo relaciona!.siderar que os movimentos alternados constatados nas descrições da "psicose maníacodepressiva" nada mais representam que avatares ativos ou passivos. S.truturação verdadeiramente psicótica. de uma perda de obj eto. no triunf o pela parada da vida e do tempo.No espírito das hipóteses estruturais apresentadas no presente capítulo. daquilo que constitui o contexto da estrutura melancólica. da vida do suj eito. mas no 82 .nas destes). em 1928 por S. Em Psicofog!a de massas e análise do ego. KLEIN. pois para ele: "A pessoa dominada por um sentimento de triunfo e satisfação.. sua reconciliação com o ego deve equivaler. RADO. ABRAHAM (1912) foi o primeiro a comparar os mecanismos do luto aos da melancolia: trata-se. Trabalhos que nos permitem apoiar esta tese foram publicados em 1916 por S. FREUD (1921) apresenta o movimento do tipo ma. que nenhuma crftica vem a per. ela fala de "minimização" e "desprezo" do ob. em 1921 por M. em 1931 por L. O interesse desta forma de ver não repousa em um paradoxo. nem numa sutileza de linguagem. mas na necessidade de separar aqui o que é de es.turbar. L.. nesta possibilidade particular de liberar as pulsões.vos no decorrer das depressões ditas "neuróticas" ou de suas defesas hipoma. no seio das oscilações entre excitaçao e depressão. conforme veremos adiante.níacas. BINSW ANGER (1931) enfatizou a vertente maníaca. M. em ambos os casos. A maioria dos trabalhos psicanalíticos não separa. FREUD. a ponto do sujeito chegar a negar a si mesmo como suj eito próprio. ABRAHAM. que K. A noção de estrutura melancólica parece poder por si só dar conta.canismos maníacos do estudo do mecanismo melancólico. pois. a uma festa magnffica. dos simples movimentos mais moderados e superficialmente reati. pareceu oportuno recorrer a uma metodologia inversa à de KRAEPELIN e con. por H." É. de qualquer remorso. MINKOW SKI (1930) e H. em 1924 por K. BINSW ANGER. positivo até então. pois. dito de outra forma. e em 1933.níaco como simples defesa contra a depreciação íntima. K. dos aspectos depressivos autenticamente psicóticos (e só destes) e dos aspectos maníacos defensivos autenticamente psicóticos (e ape. Compreendendo o ideal de ego a soma de todas as restrições às quais o indivfduo deve dobrar-se. no plano estritamente psicótico. ao abrigo de qualquer reprovação. no plano estrutural. o regresso do ideal ao ego.HAM (1912) situa sua "orgia canibalesca" ligada a um considerável incremento das necessidades orais. o estudo dos me. encontra-se livre de qualquer entrave. Assiste-se. no mesmo grau de elaboração estrutural. notar que as fixações causadas por frustrações precoces demasiado intensas.compensa para a angústia dos fantasmas sádicos destruidores que ameaçam o objeto. ao passo que uma parte má. falar de culpa e de superego? Pareceria mais prudente ver as coisas em termos de temor de perda do amor "não fazendo su. A imagem ma. a defesa maníaca constitui uma re. justificado pelas cons. desempenhando estas duas noções uma parte extremamente importante na economia melancólica. seria aquele que fracassa no trabalho de luto por não haver conseguido. do que sendo punido por "fazer mal" (supe.segundo caso a hostilidade experimentada em relação ao objeto perdido acha-se voltada contra o próprio suj eito . que continua a amar a criança.tern a não está mais clivada. S.ção depressiva sucede à posição paranóide e deve.se no luto ou nos estados melancólicos.tico na verdadeira posição melancól ica. mas deixa persistir uma fixação que no adulto poderá reativar. assim. podem representar o prelúdio de conseqüências bem 83 . Entretanto. A posi.). retomou o ponto de vista freudia no para precisar o papel da oralidade e da reativação das feridas narcisistas da mais tenra idade nos mecanismos maníaco . precisando como no mecanismo melancólico a pessoa perdida era incorpora da ao sujeito . Para S. por seu turno. sem dúvida. fome. O objeto torna-se. dependendo de sua intensidade e da data do seu aparecimento.ficientemente bem" (ideal de ego).nital da libido obj etai de modo oral antropofágico e sádico anal. Para S. aí.po que o ego opera uma regressão narcisista intensa . se. o mecanismo melancólico corresponde a uma de. o que.dos nos psicóticos. e a mãe total seria introj etada com seus aspectos "bons" e "maus". a uma regressão pré-ge.rego). ademais. estabelece r o vínculo afetivo com suficientes objetos bons internos. do amor e do ódio. por sua vez.vimentos para constituir a autenticidade da organização estrutural do tipo psicó. ABRAHAM (1924). levando à segurança inte. ABRAHAM. como em RADO.tada. na primeira infãncia. ambivalente. é necessário não confundir os níveis estruturais e convém.tatações clínicas na criança e no adulto. a este nível. absolutamente. suporte.rior. ao mesmo tem . frustrante e detes. ao mesmo tempo. economicamente. não pode.manda desesperada de amor. constituindo as posições "paranóide" e "depressiva". estar superada antes do final do primeiro ano de vida. o obj eto incorporado se acharia clivado em duas partes: uma parte boa.depressivos. Melanie KLEIN (1934 e 1952) descreve na criança mecanismos reencontra. Aliás. a partir destas concepções de incorporação é que a seguir foram estabele. contribuindo os dois mo. para Melanie KLEIN. RADO. K. FREUD retomou (1917 c) as hipóteses de K. se veria integrada ao ego. haver "reparação" profunda do objeto . a depressão infantil fundamenta l não teria sido jamais superada. não se situa. etc.da nos elementos superegóicos. a um esforço para evitar a punição parenta!.guindo a tensão ligada ao antigo sentimento de frustração (cólera. permaneceria conti.cidos os conceitos de "ideal de ego" e de "superego". As hipóteses kleinianas obtiveram intenso sucesso. RADO (1928). Mas será que se pode. O maníaco -depressivo. mento. fig. e I. um esforço de re. ordenamentos caracteriais). funcionam exatamente como o sonho. não havendo o primado desta economia jamais sido superado em meio aos diversos aportes posteriores.dica.tomáticos e fenomenológicos manifestos. ou seja. PASCHE (1963) fala de um curto-circuito entre um superego bastante personificado e um ideal de ego. mas mostra-se comumente im. A angústia de fragmentação. que esta demonstre.cuperação narcísica primária.lia incidiram novamente sobre os aspectos tópicos: F.renta! primitiva e significativa é do tipo simbiótico para com a mãe. D) REFLEXÕES DIFERENCIAIS Em conformidade com o propósito de não debater aqui os aspectos sin. A relação objetai orienta-se para o autismo. GRUNBERGER (1963) refere-se às relações entre o ego e o ideal de ego. muito impessoal. o sujeito procura reencontrar o caminho do objeto perdido e introjetado. A estrutura esquizofrénica corresponde a uma fixação tópica que incide sobre as hesitações da dialética eu . o vocabulário permanece rico e variado. perversões. até a vivência dramática do melancólico. enquanto B.indecisa.gorias psicóticas (cf. desde os primeiros instantes da vida. Na fase de excitação. monocór. mesmo não descem.não-eu. em qualquer que seja a estrutura.cionamento mental nas diferentes estruturas.mente permanecem como única forma de reinvestir os objetos. mas os aspectos metapsicológicos e genéticos que permitam compreender os modos de organização latentes do fun. na medida em que certas partes desta realidade jamais foram objetivamente reconhecidas.lidade sentida de constituir um verdadeiro ego. esta negação é acompanhada pelos mecanismos fundamentais do processo primário: desloca. comum a todas as estruturas psicóticas. na fase depressiva. Os principais mecanismos de defesa comportam a negação primária de uma parte da realidade.pressivas do ego (estados limítrofes. ao contrário. primária. que permaneceram heteróclitos e não. o delírio. e a uma organização pulsional fixada à fase oral. parece-nos possível estabelecer agora um quadro sintético das características profundas das três grandes cate. é necessá rio.diversas. Na linguagem da estrutura melancólica.preciso. Os recentes trabalhos concernentes aos mecanismos próprios da melanco. indo do simples movimento leve e superficial do luto. uma certa toxicidade afetiva. dos quais nos ocuparemos na última parte do nosso trabalho.a sintaxe é afrou. 84 .integrados. Os fantasmas e. A relação pa. suficientemente autônomo e unificado. por fortes motivos. a expressão se torna pobre.pensado. mui comu. além disto. BARANDE (1966) supõe que seja a perda da auto-estima que leva a um considerável desinvestimento libidinal. extrai aqui sua especificidade em um temor de fragmentação ligado à impossibi. condensação e por uma certa parcela de simbolização. 3).xada. ao contrário. passando por todos os estados intermediários de organizações antide. > Sisnbolização Negação Primária Regressão do fa lismo oralidade a analidade Fragmentação por perda realizada do obj eto anaclltico Primado da agressividade Negação secundária + lntrojeção FIGURA 3: Quadro sintético das estruturas psicóticas co (._. Primado do primeiro sub-estágio Fragm entação por temor da ana l penetração Perseguição Domlnio . . t..1'1 . ·:J'() Ego incomp leto sem o objeto Idea l de Ego ._'( ::> t. t..c: inadaptado 2 1ií .!:! ::> liíg ww . ._ :oI:) Ponto de vista tópico Economia pulsional Natureza da angústia Relação Objeta i Mecanism os de defesa Representação fantasmática Gênese da relação parenta! Distinção eu não-eu Prim ado oral Fragmentação por falta de unidade Autismo Negação primária Modo de reinvestimento dos objetos Mãe simbiótica tóxica Projeção Modo de defesa utilização Mãe fálica narcisista ocultada por + dos objetos uma imagem paterna Retorno sobre si do ódio do objeto Mãe ambivalente da qual só foram conservados os aspectos trustra ntes + Deslocamento Condensação 2. .> -::> c .:....Q> LU:!!: Falha do Ego Falência do Ideal de Ego + anulação denegação duplo retorno LUQ... ) .. que contudo conserva mar.da narcisista arcaica fundamental.tância de seus fatores de deterioração regressiva. acha-se arrebatada pela dominação de sentimentos cada vez mais violentos. Colocá-la em terceira posição nesta enumeração não significa absolutamente que a estrutura melancólica se encontre em um lugar mais elaborado no plano libidinal que a estrutura paranóica.cas da ansiedade anaclítica e fóbica de sua evolução anterior mais progressiva. conseqüentemente à reativação da feri. a não ser em uma dependência agressiva do objeto. encontramo-nos. necessidade do outro para fantasiar mais livremente em lugar do sujeito. situa-se em uma ótica bastante diferente em relação às duas outras estruturas psicóticas em virtude da impor. mas uma negação secundt1ria de parte da realidade. Os meca. A relação objetai ambiva . Afora uma negação igualmente primária de certas realidades.A evolução pulsional jamais superou o primado da economia anal de rejeição. antes de encontrarse defensivamente negada 86 . Por este motivo é que mostra-se tão difícil situar com justeza a estrutura melancólica em uma classificação "linear" das três estruturas psicóticas de base. co. correspondendo ao mesmo tempo ao ódio e 'ao amor. o principal mecanismo de defesa é a projeção. A relação objetai é. A economia pulsional. em primeiro lugar. no plano tópico. para os estágios pré-genitais oral e anal. conseqüentemente.sões e retorno contra si).xiliada pela anulação. que pôde ser reconheeida anteriormente.A angústia de fragmentação centra-se na ameaça de estilhaçamento por penetração sádica da parte do objeto. diante de uma angústia em que o sentimento de que o objeto se perdeu constitui agora ameaça imediata de fragmentação . A angústia retornou a uma angústia de fragmentação.lente anterior.nizador. au. mas inadaptado. pois. e a um ideal de ego não apenas ingênuo. conforme vimos. necessidade de controle. mas sem poder autonomizar-se. na época anterior (ainda não psicótica).mente distinto do não-eu. ao passo que as estruturas esquizofrênica ou paranóica limitam-se essencialmente a fixações arcaicas do ego e da libido. a uma falha do ego e a uma falência do ideal de ego. No contexto familiar primitivo. mas a imagem do pai aparece como tela sutil que a oculta e a prote. feita de temor de perseguição e de necessidade de domínio. a denegação e os dois modos de retorno (retorno das pul. vê-se na obrigação de regredir.A estrutura paranóica comporta problemas tópicos ligados a um eu nitida. Esta estrutura melancólica corresponde.nismos de defesa são representados. que outrora havia chegado a um nível em que o falismo havia podido desempenhar o papel orga. incidindo ao mesmo tempo sobre o ego e a libido. Os fantasmas são muito mais unívocos do que na es. a angústia incidia sobre o risco de perda do objeto e a simples depressão consecutiva. na medida em que persegue simples quimeras irreais e defensivas . a mãe conserva uma importância fálico-narcisista primordial. A estrutura melancólica. resumidos na economia homossexual passiva. certamente.trutura esquizofrênica. Pareceu bom classificá-la depois das duas outras para marcar o seu lugar um tanto particular. ao passo que.ge. envolvendo imagens de ciladas. pela negação da realidade.mo na imaturidade afetiva (tratando -se aí da impossibilidade de atingir todas as identificações entrevistas). Nossa figura nº 3 tenta dar conta. sem distinção nem. por motivos mais fortes ainda. do tipo devorador. a uma boa recuperação no seio de um a estrutura psicótica única e inalte. que podem ocorrer mesmo em neuróti . A atenção deve incidir particularmente sobre um certo número de termos em si muito precisos.pecto ainda não acabado da linhagem estrutural psicótica apenas. autenticamente psicótica. a estruturação psic6tica mostrou-se completamente acabada. basta atacar as defesas de tipo neurótico de tais pacientes para deixá-los a sós com sua angústia psicótica e precipitá-los no delírio. nas armadi lhas denunciadas a propósito das grandes classes de entidades estrutu.quando. Da mesma forma. Mui comumente os clínicos recebem pacientes encaminhados por "neu. por via simplesmente medicamentosa ou psicoterápi- 87 . no registro da morbidade. um sentimento de perda iminente dos limites do ego.pensada.rose obsessiva grave" que. luto este impossível de realizar. à nuance e à nitidez. finalmente. ''psicoses pseudoneuróticas". a este nível de subgrupos patológicos. de forma sintética.C. para lutar contra os riscos de descompensação da estrutura profunda. isto é. inversamente.cos de estrutura e. em que todo o sistema superficial de sintomas e defesas é de modo neurótico.rais. existe aquilo que se chama de "pós-psicoses': isto é. e aos afetos agressivos que acompanham a in. A situação familiar primitiva comporta sempre uma mãe cuja imagem apresentava-se ambivalente. não podendo acomodar-se a sinonímia equívoca: para co. uma preocupação com a clareza apela à prudência.. estados clínicos que sucedem a um episódio patológico. e não ser confundida com as "parapsicoses': descritas por P.psicoses" com simples episódios regres.ção possível entre seus aspectos "maus" e "bons".trojeção . na última fase.meçar. Se tratarmos tais pacien.damente constituída. todavia (e sobretudo). uma estrutura autenticamente neurótica mascara seu conflito genital e edipiano por meio de esboços de despersonalização ou desrealização. Existem.tes como psicóticos. de resto. Os fantasmas estão ligados ao luto do objeto. correspondentes a uma estrutura psicótica niti. RACAMIER como formas clínicas crípticas e focalizadas. convém não confundir estas "pós. em um estado limite ou seus derivados. Depois de procurar definir critérios fundamentais e estáveis que permitam determinar grandes categorias estruturais psicóticas de forma precisa. Da mesma forma. correspondendo. delirariam assim que fossem colocados sobre o divã. a introjeção vem então apoiar a negação: trata-se de uma introjeção muito arcaica. de evidente estruturação psicótica ainda bem com. encontramos também "neuroses pseudopsicóticas" onde.. destas diferenças fundamentais de modo de organização latente entre as três grandes estruturas psicóticas.rada. a noção de "pr psicose" mereceria ser reservada unicamente a um as. unifica. a fim de não recair. tanto e tão bem como terminaram por dominá-la.sivos passageiros de aparência psicótica. isto enquanto os primeiros aspectos ainda não a haviam dominado. mais comumente de aparência obsessiva. que não fala senão dela própria e do menino-falo. privamo-los (por vezes irremediavelmente) dos benefícios de uma análise profunda dos seus conflitos e da inadaptação de suas defesas. do qual a mãe fala agora com volubilidade. tanto para ela quanto para sua filha. efetivamente. etc. 50 anos. e a mãe. em nada se parece fisicamente com o "dragão" descrito em relação às mães de crianças gravemente acometidas. por meio de exemplos clínicos referentes às cinco categorias de distúrbios que acabei de citar e para as quais o diagnóstico estrutural se mostra particularmente delicado . visivelmente inteligente e sensível.o pai existe. para fazer frente às enormes despesas feitas em toda parte pela mãe e as duas crianças. Ela está lá. etc.sibilitaria a muitos negociar melhor a economia genital sob o primado da qual estão organizados estruturalmente. apesar dos enormes fatores pré-genitais que obscurecem as suas manifestações. Existe um irmão de 12 anos. pois ele é "o agressivo" da famflia. ela expõe. Além disto. após falar um pouco a respeito de sua filha. apanhados na torrente de palavras da mãe. entre o pai que descansa. Efetivamente. abrindo a boca pela primeira vez (ficamos sabendo posterior . e Michele?. Mas. ele é farmacêutico. que se revelam como personagens curiosos: a mãe ocupa praticamente toda a sessão. esta mulher de 42 anos.. Obs.mente que este julgamento era perfeitamente exato). Michele chega à consulta trazida por seus pais. De fato. respeito. o terror do bairro.sito: ela é realmente uma menininha. expulso de todas as escolas. Poder-se-ia perguntar.c:a superficial.. considerando o lugar tomado por seu discurso pessoal nesta primeira entrevista. esta mãe é uma pintora "de talento". mal secundado e sem queixar-se. para quem ela veio consultar. chegaríamos a esquecê-la. modéstia. apresenta-s e apenas em doçu..ra.do de infcio. pois uma vez que cumpra seu dever não se lhe pergunta nada. em sua cadeirinha. de conselhos. diz seu marido neste momento. e um acidente de guerra deixou-lhe um dos braços ligeiramente paralisado. 88 . que ela mesma se encontra em tratamento psiquiátrico há bastante tempo com o colega que tratou desta durante estes últimos meses. Ele mesmo trabalha enormemente. Parece útil ilustrar meu propósito. e parece não haver subterfúgios em seu propó. ausente.num tom de puerilidade que não se mostra tão fingido quanto se poderia ter pensa. o que pos. n'? 4 Um caso de "pré-psicose" Michêle tem 18 anos e foi encaminhada por um colega que a trata há um ano por uma "depressão neurótica" que não cede às terapêuticas clássicas empregadas até então. neste momento do debate.. demanda de ajuda. Pobre Michêle! .: que não fosse por isto.. senão que. pois a mãe provia todo tipo de lo. pareciam bem mais sérias. etc. havia dito que eu devia encarregar-me dela. As coisas. as relações primitivas foram extremamente frustrantes e profundamente in. ao mesmo tempo. muito mais: nenhuma identificação verdadeiramente realizável. Os acessos agressivos eram normais: "ela tem o caráter estourado do pai". Estavam reunidas todas as condições necessárias à eclosão de uma estrutura psicótica. uma típica pré-psicose. mas já havia feito uma primeira idéia acerca desta "pseudodepressão". cada um com a duração de seis meses. a possessividade materna efetuava-se sem gritos. Efetivamente. A inaptidão a toda e qualquer tarefa escolar ou profissional encontrava uma justificativa imediata: "uma mulher do nosso meio não trabalha". e por quantas outras coisas ainda? É evidente que eu não podia saber grande coisa dela nesta primeira sessãG.quietantes.dias. bastante reservada...soas teriam pensado em me gratificar (?) dispondo-a na categoria dos "estados limítrofes". sob as ordens da mãe. 2) não podia continuar assim. A angústia de fragmentação levava apenas a fobias do trem. sem aparência policialesca. aceitei-a em tratamento? Por seu isolamento? por seu procedimento gentil? pela impressão incrivel..tura da linhagem psicótica.vel. ainda não descompensada. 89 . e o futuro deveria confirmar minha primeira impressão. sempre presente para as instruções. Por que. culminaram os fracassos das relações orais primitivas e tar. Uma infecção digestiva séria levou a uma icterícia grave aos 12 anos. Esta paciente havia sido criada por uma babá estrangeira.. Durante um bom período não houve qualquer escolarização. a mãe não permitia que lhe tirassem a filha.Z. da qual se ocupava tão pouco. "as pessoas do bairro não eram do mesmo meio.. e a mãe esta.va lá.. A "pseudodepressão" ocultava a profunda perda de contato com a rea. entretanto. pela qual tantas pes.lidade (inaparente no plano manifesto.. igual em intensidade à desordem na qual se achava o conjunto da famflia . sem acei. realmente nos encontrávamos diante de uma evidente estru.. Dois episódios anoréticos (aos 2 e aos 5 anos). sempre ausente para os cuidados e.. me causou a fam!lia? por tudo isto. nenhuma identificação válida possí. ou seja. Não era autorizado qualquer contato social.gros com o dinheiro do pai). E de fato.tar que alguém a substituísse validamente . definitivamente. impedindo a mãe de pintar. de momento.bus. para a mãe. sem calor afetivo.mente simpática que. segundo a mãe: 1) ela estava deprimida. 3) que o Dr.". exatamente.. mas com uma eficácia no domínio. as mais desordenadas . dos ôni. não procurei saber mais. andava-se somente de táxi.. no domicílio. em virtude das incessantes interferências maternas que se precisou desmanchar.la e apegá-la à sua pintura. Efetivamente. onde o paciente discursava para a multidão.. pensando sem dúvida ter parte na infalibilidade do poder que lhe era dele. esta quase não vende. A pobre mãe. Blaise é um psicótico de 34 anos que. e como não escutava qualquer conselho de moderação. no serviço em que trnhamos o 90 .gado. nem de retorno ao seminário. mas foi a vez do irmão descompensar pouco a pouco. aparentemente havia perdido tudo. pois. de fato. Blaise é encarcerado em um serviço fechado. cheio de sofrimento para a mãe. em primeiro lugar não mais caindo na cilada das constantes provocações ao sadismo (sem. da parte do bispo.ção discreta. depois mais insistente. quereis vir comigo?" O sangue episcopal ferveu.se havia sido visto errante e agitado nas ruas muito animadas desta grande "cidade pequena". mas felizmente pouco tóxico. cuidado por freiras. mas nada ainda perdido.. Obs.pre pronto a "prestar serviço") dos terapeutas.. em um primeiro tempo. lecionava há três anos em um seminário do centro da França. com os cuidados médicos de um psiquiatra "bem-intencionado" perfeita.. já parecia jogado no plano estrutural. sois uma puta. depois. grita-lhe. Em contrapartida. o início da autonomização foi cheio de angústia para a paciente. n!! 5 Um caso de "pós-psicose" Quando um colega e eu assumimos o caso em coterapia. Como um irmão de Blaise era médico. onde já havia apresentado alguns sinais de desordem mental. depois de estudos de teologia bastante longos e sendo padre. A psicoterapia analítica empreendida de par com um coterapeuta mais diretivo foi longa e muito ditrcil no início. reparador para o pai. A resposta de Blaise a seu bispo foi breve e ríspida: "Senhora. Também a prensa em que se debatia a filha não foi fácil de soltar. Infeliz. onde todo mundo se conhece.. imediatamente apelou ao auxílio dos bfceps seculares e à ambulância.. a primeira entrevista havia-se mos.Assiste-se a uma admoesta.mente.. e o aporte narcisista permanece magro. lançou-se ele próprio à sua procura e encontrou-o em uma praça.trado bastante demonstrativa . Seu médico pessoal foi bastante hábil para apoiá .Quanto à relação fusional com a mãe. foi-nos pedida uma consulta em concordância com o médico que o tratava. a segunda beirava o sacrilégio :como Blai. Tudo.mente inativo. Uma primeira fuga quase não acarretou conseqüências médicas nem disciplinares . o diagnóstico não provocava qualquer dúvida. em um segundo tempo. seu bispo. estou indo ao bordel. fabricante de biscoitos. sendo a única potência legíti. celibatário e. Pareceu-nos de excelente prognóstico que. achou necessário mudar de empresa e conseguiu um emprego de chefe de escritório em uma pequena sociedade imobiliária.ma a que se juntavam. A estrutura não era difícil de definir. eu. e não deixava ninguém em paz. Rapidamente reti. no ano seguinte. ao que parece. Sua "vocação religiosa" sustentou-se facilmente por bastante tempo. sem com isto sentir-se perseguido.poral materno atingiu Blaise como uma ameaça de fragmentação do seu próprio corpo.rou-se em devaneios. devido a tais idéias.ceu-se uma coterapia muito atenciosa. a modéstia de uma situação de dependên. desde a idade de 23 anos. Mas o que sobretudo nos interessa aqui é o futuro de Blaise: estabele. dormir em um quarto de pensão. ao que parece. pela primeira vez na vida. Sob os conselhos do amigo que o empregava e estava contente com ele.pla transferência asseguradora. ele fosse capaz de aceitar-se no papel de simples almoxarife durante um ano. comer frugal. Sua seriedade. do tipo maníaco. ademais. talvez mesmo de estrutura psicótica.bém conservava o nome deste pai da mãe). desde sempre pouco diferenciado do da mãe. conduzia uma psicoterapia muito analítica e sóbria. durante as quais afirmava com perfeita convicção "haver tudo compreendido" e sentir-se pronto para "salvar o mundo". um pai inexistente e depressivo. durante três meses. asseado mas triste. este médico que o tratava e eu. com algumas escapadas descompensatórias do tipo messiânico ou cósmico. nem causava dúvidas a ninguém: tratava-se de uma esquizofrenia. descompensando aos poucos. Blaise nunca conseguiu ter uma identidade própria.retivo e medicamentoso. Demos uma passada rápida pela anamnese: um avô materno terrível sob todos os pontos de vista. seu devotamento. devido ao seu caráter próprio. por surtos sucessivos e progressivos. Um irmão. acabado.cia junto a um dos seus antigos colegas do ginásio. e que muito inquietou o paciente. exigências e questionamentos dignos da inquisição. médico em um serviço administrativo. unificado. igualmente depressivo. Depois passou a ajudar na contabilidade da empresa e. substit uiu sozinho o conta. A mãe guardava autoridade sobre todos. Meu colega conservava o pólo di. A descompensação atual achava-se em relação direta com uma operação cirúrgica a que a mãe havia-se submetido em condições brutais. enquanto permaneceram discretas.dor que havia adoecido.mente. fizeram com que 91 . sob a cobertura desta du. por minha vez.hábito de trabalhar juntos. Seu narcisismo primário jamais esteve completo. bem como suas idéias originais para fazer face às situações inesperadas. Começou a aceitar. Vimos Blaise sair aos poucos do emaranhado de seus pensamentos e dos antigos medicamentos. Encarnava o direito divino paterno (a pequena indústria familiar tam. A angústia de fragmentação do esquema cor. uma mãe que dele recebia plenos poderes sobre a familia. homossexual. mas como possível novo mergulho esquizofrênico em um movimento agressivo.tas duas balizas. Tudo o que conseguimos fazer foi mantê-lo entre es. de uma parte. Suas sucessivas promoções atestavam sua adaptação às realidades humanas e econômicas. Para nós. Com efeito.lo a suportar uma salutar modéstia. isto infeliz. rubrica sob a qual este gênero de pacientes encontra-se mui comumente descrito. é-nos diffcil empreender junto a eles uma investigação referente ao modo de estabelecimento de suas primeiras relações objetais. Era preciso evitar -lhe a qualquer preço os acessos de megalomania projetiva e ajudá . Vejamos agora como nós vivenciamos a sua "cura": uma boa adaptação ao seu estado e uma "normalidade" segundo seus dados específicos. do qual fui vizinho de andar durante alguns anos.psicose". é uma estrutura psicótica "normalizada". Para todos. Ambos ha92 . nem uma organização limítrofe tal como se encontra nos "border-lines". erroneamente. era muito estimado por seus colaboradores e perfeitamente considerado nos diversos meios em que suas funções levavam-no a tomar decisões muitas vezes delicadas. ou seja.quiatra. devido a um acidente automobiHstico do qual não havia sido o autor. Na época em que o conheci. que faleceu depois.mente limita-nos muito em nossas pesquisas clínicas. enfatizando a modéstia. Ele era casado com uma mulher simpática que parecia estar plenamente satisfeita. Trata-se aqui de um alto funcionário da administração prefeitoral. Casou-se a seguir com uma jovem viúva. frustrá-lo demais poderia deprimi-lo. Este gênero de organização não consulta médicos.ta. Gratificá-lo demais narcisisticamente nos arrastaria para o declive maníaco. para onde a empresa havia-se estendido hã pouco. n!? 6 Um caso de "parapsicose" Este seguramente não é o caso de um "doente" tratado por um psi. e não uma estrutura que se tornou neurótica. os dois filhos haviam estudado seriamente. não tanto como episódio ativo de uma psicose cíclica. ele tinha por volta de cinqüenta anos. Nosso esforço não cessou de incidir sobre a necessidade de mantê-lo em uma situação de realismo periférico e de suficiente satisfação narcisis. mas Blaise continuava a ver seus terapeutas regularmente. de outra parte. Obs. vemos apenas muito poucos sujeitos desta natureza e. Blaise agora é "normal". Sua estrutura não mudou. uma "pós. O tratamento foi lentificado aos poucos. e nasce uma criança. vindo de muito longe.fosse nomeado chefe de agência em uma cidade do Mediterrâneo. Carregado de funções socia lmente importantes. para evitar-lhe a tentação manfaca. contudo não o favorecia o contexto. posso confessar algo entre nós. ao Sr. embora não única. subitamente colocou-me uma primeira questão: "Doutor. o nome de sua mãe para um vocábulo que correspondia aproximadamente a AUBIGNÉ 1.peculiares às es.pustuloso e hidrópi. contentei-me em pergunta r com sobriedade o que o levava a crer em tal operação mágica.rito farsante.nologia oriental e outros grupos reputados como mais esotéricos que científicos. nem o tom. se uma tal "confidência" era freqüente. Eu estava lidando com um de/frio. diante da "neutrali. Minha primeira reação íntima foi de supor uma brincadeira.tando-me "fatos". Seus colaboradores próximos e seus amigos de infância o confirmaram depois. Começou ci. A família esta.Lá pelo fim da refeição.dade benévola" de meu silêncio interrogador.do sozinhos à mesa. estan. pois ele jamais havia criado escân.nem mesmo em público. Quem veria aqui qualquer "anormalidade"? Encontrei-o um dia. que é reservado e bem informado sobre estas coisas: eu sou a sétima encarnação do SCARRON.canismos perfeitamente ilógicos com pretensão racional.dificar. mas não se inquietava muito.co. Fiquei sabendo depois que esta sem. foi-me difícil saber.as quais havia aproveitado para trazer muitos documentos de valor acerca das práticas mágicas locais. mais tardi a mente. mas permanecendo meu questiona. 93 ." Nada menos do que isto. referentes a casos supostamente co. LUIS XIV . em um trem.truturas psicóticas. me vê aqui. seguida. assim como o Sr. e ele convidou-me para almoçar. havia des. acredita na metempsicose?". freqüentava uma sociedade instruída em relação à et. 1 Madame de MAINTENON era neta de Agrippa d'AUBIGNÉ . por mera curiosidade. segundo me. Mas tudo isto parecia ser praticado por "um bom pai de famf · lia". nem a mímica.va a par. muito felizes à primeira vista. após missões efetuadas no Extremo Oriente. muito jovem.dalo nem qualquer dificuldade com esta idéia aberrante e sobretudo bas. por acaso. por retiradas e acréscimos sucessivos. tocantes aos mesmos fenômenos. o Sr. É certo que este intelectual era conhecido na cidade devido ao seu in. entregou-se a uma espécie de operação algébrica para mo. As explicações imediatamente tornaram-se muito nebulosas.nhecidos. Como o levasse de volta ao seu problema.teresse pela magia.mento forçosamente discreto.mente inesperada : "Bem. Este homem ordina riamente tão sensato comportava-se então como um autodidata ininteligente e pouco inteligível. de uma informação igual. Doutor.tante secreta.posado SCARR ON já paralftico e depois. À mesa. Chegou mesmo a apresentar uma ou duas conferências.viam acabado de casar-se. para ele inegáveis. como conversávamos livremente.pre havia sido algo excepcional . por muito tempo.e jamais proferida no exercício de suas funções oficiais. e meu interlocutor de modo algum era conhecido como um espí.ela. Obs.teve uma infância normal. Em contrapartida fiquei sabendo.dospor ocasião do casamento. o delrrio parece perfeitamente circunscrito a um setor delimi. seguiu os estudos secundários clássicos. Entretanto. Eles têm três filhos. dos quais o mais velho é disléxico e o segundo li. depois. bem como pela perda do real em certo momento.mem de negócios. É a isto que consideramos. Poder-se-ia facilmente duvidar do valor do diagnóstico colocado em um caso sobre o qual nada mais temos do que informações bem frag. com reconstrução delirante compensatória. do qual o paciente não sai jamais. pela natureza das projeções e incoerência das operações mentais. à primeira vista. pela negação da realidade e pelos distúrbios de identidade. idoso e paralltico. de outra parte. comportando-se de forma muito cortês com o grande número de pessoas que sua esposa recebia em casa. pela ausência de elementos visivelmente genitais enquanto organizadores da relação de objeto.n 7 Um caso de "neurose pseudopsicótica" Casada com um homem estimado e jovial de 40 anos. em sua juventude (como ainda atual. lia muito. dormia pouco à noite. que este homem muito cedo havia perdido o pai. de idade e poderoso. RACAMIER.mente no contexto familiar). Contudo. pela ausência de comporta.geiramente alérgico.cótico. Agathe é dois anos mais velha que seu esposo. depois começou os estudos de Direito. Jamais se voltou a falar deste episódio entre nós. con.trastando com as boas relações mantidas no plano "oficial". a quem é muito apegada. ele sucedeu ao pai de Agathe na chefia do escritório de contabilidade que este havia criado e tem autoridade na sub-prefeitura onde o casal reside agora há doze anos. juntamente com P.C. devemos referir-nos a uma estruturação do modo psi. não freqüentava regularmente nem convidava nin.tado. que a esposa levava pela ponta do nariz.mentárias. fez "quarto separado".O servente que trouxe a conta interrompeu ar o seu insólito propósito. principalmente obras consagradas ao irracional. interrompi. e o qual parece sofrer muito com o mau estado de saúde de sua mulher.tros privados. de fontes diversas. O paciente mesmo sempre viveu. o de suas origens e a forclusão do nome do pai. que sua mãe o havia criado mui duramente antes de casar-se de novo com um conhecido ho. Agathe.mentos anaclfticos. segundo um modo privado hermético.guém. o tipo mesmo das "parapsicoses". apesar de outros encon. 94 . mas sempre deprimida. falta-lhe ânimo. mas da mesma profissão e filho de um amigo deste. nem a uma organização anaclítica.clientes do marido. Por volta dos 38 anos. Entretanto.como traz aos outros mais preocupações do que satisfações.me uma entrevista de urgência. suas gravidezes foram sofrrveis. agora também com sensíveis distúrbios de memória que a constrangiam muito. Evidentemente esta paciente não correspondia nem a uma estrutura psicótica. por um psiquiatra amigo do anterior. o marido o sucedeu . aliás. Um cinesioterapeuta que tratava da escoliose de um de seus filhos. Agathe é considerada muito "deprimida" por seu meio e. muito menos brilhante que o pai. ela não teve tempo de aproveitar mais. então.vem e mais pobre do que ela. pois desde que suas irmãs mais velhas se casaram . voltou para casa. certamente ganhou alguns quilos. depois de sua volta. por acaso deu-lhe o meu endereço e. a conselho do médico que a tratava. até então inabitual nela. Depois disto. que a declarou "border-line" e a submeteu a um trata.ela mesma precisou deixar a casa familiar (onde teria podido achar-se "enfim só" com o pai) para fazer seus estudos em Grenoble.mento ntidepressivo. Infelizmente o pai veio logo a falecer. e um dos partos necessitou de cesariana. com um rapaz mais jo. apesar de seu aspecto depres. ela pediu. deci.Desde o casamento.ternada. mas ela novamente teve de partilhar com a mãe.do muito penosas. Esta cllnica. Agathe vivenciou esta mãe e as três irmãs como barrando-lhe o caminho ao pai. provavelmente deveria sentir-se culpável por não assumir uma atitude mais incisiva e mais "cientrtica" diante de uma "depressiva " tão jovem in.se então verdadeiramente ciumenta em relação à mãe. assim que foi possrvel. antes de qualquer outra investigação. cujo efeito imediato foi uma acentuação da angústia e perda do sono. Agathe manifesta um humor em geral triste. "por tempo limitado". nem dependente de um objeto fálico indiferenciado. Agathe foi rotulada de "psicose melancólica" e. foi-lhe administrada uma copiosa série de eletrochoques.judar o pai". ela de modo algum era autista. Toda a economia profunda encontrava-se incontestavelmente centra. Tornou. e levou-o para casa para "a.diu-se mandá-la para "um bom descanso" em uma clínica do Mediterrâ. que já foram levados a "internar" ali suas esposas ou mães que haviamse torna. depois (o que de nada adiantou) ficou sabendo que a partilha com outras mulheres era ainda 95 .neo. Casou-se. Foi recebida em tratamento. com "boa reputação" junto aos industriais. como seu psiquiatra havia-se ausentado sem preveni-la. afetivamente muito à vontade com a clientela gerontológi. a cidade universitária mais próxima. a única a tirar vantagem da situação.sivo.ca.da em uma dialética genital: Agathe explicou-me q e era a quarta filha de uma família em cujo topo reinava um pai maravilhoso e muito próximo tanto da esposa quanto das filhas. trouxeram-lhe a certeza de que este homem sempre havia gostado dela. narcisista ou maternal (nem vagamente parenta! assexuado). depois algumas conversas entre eles. casada com um primo distante que ela havia notado e estimado outrora.instalou-se como genera.quiatra problemas inextricáveis e. Obs. anaclitico. Somente uma psicanálise conservava alguma chance de modifi.das viagens. ela fervilhava de fantasmas erotizados que não podia comunicar. caçar. n 8 Um caso de "psicose pseudoneurótica" O Dr. Na realidade eram múltiplas pequenas fobias neu. dai seu isolamento.róticas que a afastavam da rua. masculino e edipiano. provavelmente sente-se muito culpado por apenas enviar ao psi.O objeto permaneceu genital. Longe de viver no autismo. não sem retraimento narcisista. Tratava-se de uma hfstero-fóbica pouco marcada em seus sintomas.ráveis. 96 . Sua angústia permaneceu centrada na punição de tais desejos. parecia destinado a um futuro brilhante mas.minações endereçavam-se aos desejos sexuais. Não era uma melancólica.zada com o homem. Agathe prontamente desenvolveu mecanismos de natureza neurótica ligados. Agathe um dia reencontrou uma de suas antigas amigas. nem mesmo tratava -se de uma depressão anaclltica. dispostas pelo lado da mãe ou das irmãs. no plano econômico.paterno.car sua atitude diante dos autênticos conflitos neuróticos em questão. não era fático. sendo as ligações extraconjugais do dito marido pouco du.zada.da vida em geral.Suas recri. aos diversos especialistas médicos ou cirúrgicos. mas numerosas. Depois de muitos buns estudos. do mundo. Seu ego de modo algum estava fragmentado. e não à vergonha de sua agressividade.mais extensa. mas que possam conservar algum aspecto de justificação somati . nem mesmo simplesmente de pensar. Alguns olha. X é um amigo de longa data. A carta que acompanha Martine pretende ser tanto mais jovial porque o caso é visivelmente incômodo e ele não me "enviou" nenhum paciente já há muito tempo e acha que estou aborrecido. numerosos casos de distúrbios curáveis encontrados ao longo do dia. a imagem do pai e os interditos provenientes das mulheres. não tendo mais tempo de ler. das distrações. muito mais à histeria de angústia do que à verdadeira depressão. como no melancólico. como adorava a leitura.res. o campo e a caça. mas terrivelmente assediado. como comumente o são as verdadeiras hísterofóbicas.lista em um grande povoado onde está esmagado de tanto trabalho. passear. entre a relação proximal eroti. As relações com seu mari. tanto mais que com seu marido. Este afastamento mínimo foi muito mal suportado: os estudos.ciam-me de salda que o interesse do médico local não pode tolerar qual.."Meu caro amigo.. mesmo funcional). recrimina-a por faltar-lhe "experiência". por sua vez.ou seja. O médico que a trata não descobre nem mesmo um "fígado aumenta. nem um "espasmo de veslcula".Queixa-se de dores de cabe. com efeito. empregado há alguns anos no tabelionato da região.. Consultado o grande patrono da otorrino da faculdade vizinha. contudo recebe Martine longamente. anun.as relações sexuais são penosas.do deterioram-se.zinha. aos 22 anos.velope.. este recebe Martine por dez minutos.ça. em uma região de safras consideradas de boa qualidade) e esposa do notário local.do". Mas as coisas não iam muito bem entre o casal: o marido estava muitas vezes ausente e. pronuncia apenas três frases. sem sequer um en. tabelionato ·este mantido por um notário mais velho. Escuto com muita atenção a narrativa de nossa "histérica": Martine tem 28 anos. e rabisca um minúsculo papel que remete através da paciente ao médico que a trata. da sexta à terceira classe. etc. envolvido também com a política. a seguir medíocres. "Umamulher bonita coroo ela••• devem fahar oportunidades••." Longa carta ao médico que a trata.. também da famflia de Martine. Martine é então encaminhada a um ginecologista que. etc. de momentos depressivos. O pai de Martine então conseguiu passar o tabelionato para 'o seu gen. aliás incompreenslveis. Seus males e saltos de humor acentuam-se nos meses que se seguem. deixa.. limitado a uma mensagem lacônica indicando a negatividade da investigação. que Martine é filha do prefeito do lugar (comércio de vinhos por atacado. menstruações irregulares.. introduzindo-lhe instrumentos bizarros.quer falsa manobra da parte do consultado. embora proclame inocência (o médico da famflia adere a esta posição). contente com um exame somático prudente e com retirada do colo uterino (que a seguir não mostra qualquer anomalia..ro. foram abandonados após uma repetência ineficaz da terceira série. de vertigens." Algumas discretas alusões ao "meio" são esclarecidas pelo início da entrevista. bastante ambicioso. etc. sem chegar a nao 97 . o qual veio a falecer dois anos mais tarde. Martine acredita-se enganada.a falar sem escutar. o secretariado de seu pai. em uma cidade vi. fáceis do início. Martine suportou muito mal este exame brutal.nasceu na grande cidade onde mora e que deixou apenas para ser internada em um pensionato. com um auxiliar de notário de 30 anos. interroga-a de maneira muito direta sobre sua vida amorosa passada e atual. durante algum tempo. encaminho-te uma bela histérica com a qual poderás. etc. ela não trabalhava mais quando se casou. fico sabendo. e a aconselha a arranjar um amante•. A paciente em seguida manteve.. nem fobias. importunando-as com obri. não conseguia ficar sem os conselhos e a proteção da mãe que.go. O médico que a trata ficou durante dois trimestres de externato em um serviço de neuropsiquiatria. 98 . Nada de ob. No casamento. Ela jamais adap. aliás. distúrbios sexuais ma. voltado sobre os empregados e as duas crianças. suspeitas. exteriormente colocados à frente. Martine retorna muito sentida e ansiosa desta consulta. já a perseguia nesta época. simples e vivas. uma verdadeira fobia escolar. A mãe decidiu ignorar esta relação e limitou-se a um autoritarismo doméstico de uso interno. vertigens. que o convite a "fazer melhor" e "tomar conta dela" constituem a conclusao "lógica". sonhadora. que não quer ver a gravidade do estado profundo. apresenta isto como "fadiga" e "depressão". de carâter violento exteriormente (e beberrão).sessões. neurose. O irmão caçula de Martine é descrito como um "caracte rial" que cria muitas preocupações aos seus pais. Sem delfrio. apresentam-se como um aspecto inseparável do resto da apatia geral. "caso psíquico". negligente. logo. Não podendo contertar-me com esta exposição demasiado racional e "objetiva". as quais jamais deixou em paz. as projeções persecutórias sobre o marido constituem um pré-delfrio de ciúmes que se referem à atitude paterna em relação à mãe.). indolente. clamam as pessoas em torno (que não assistiram ao final da entrevista . Constatou-se uma queda importante do nível escolar na terceira série. da astenia psíquica e do fechamento relaciona!. contudo. ineficaz. ela é incessantemente ajudada pela mãe que.•.dade são múltiplas.. e sua antiga ligação com a farmacêutica é conhecida em toda a região.tou-se muito às tarefas práticas. A angústia de morte (fragmentação) é evidente. aliás. "Contudo ele foi tão gentil". Martine parece haver apresentado. ele sempre viveu muito pouco em casa. o meio. lo.nifestos. O médico que a trata protege-se mediante a denominação "neurótica". e fico sabendo que o pai.. logo. não brilha em casa. Existem verdadeiros momentos de pré-desrealização. histeria. a "aversão pelo marido" são pintados em termos tão luxuriantes. por fim acabou delegando-lhe em tempo integral a mais velha e "tarimbada" das suas duas criadas para tomar conta da casa. logo. desejo saber mais.tanto por escrito. no plano autenticamente genital. em nada se mostram como uma realidade investida em si. As negações da reali. desde a sexta classe.gações. confirmação do diagnóstico de histeria. o "recalcamento sexual". enxaquecas e movimentos de humor "imotivados". na pensão. Os distúrbios sexuais. tira daí as conclusões que se impõem: nada de orgânico. perguntas desordenadas. de outra parte. do secretariado de seu pai. Então encaminham-na para mim. não mostrou maior pragmatismo. Quanto às "psicoses traumáticas". ao contrário. cabendo distinguir ao mesmo tempo o que. como toda arte. A psicose alucinatória crônica. o assunto será longamente debatido a propósito da passagem na linhagem psicótica por ocasião do "segundo trauma". em nossa teorização ao longo do capítulo quarto desta primeira parte. ou de reações psi.compensação. apresenta parentescos evidentes com a estrutura paranóica. Se o psiquista comportar-se como o ORL.e se contentar com "nada ver". aparentemente erotizados. Contudo. a permanência de sua eficácia continua incerta. Martine será precipitada mais rapidamente ainda nesta mesma des. Se.copáticas ou caracteriais estudadas mais adiante. mas não de qualquer jeito. no restante. por seu turno. Certamente concebo a parafrenia como ligada. psicose alucinatória crônica. Martine aos poucos descerá os degraus da descompensação psicótica.va. e mais. apenas sofreu fixações prégenitais modestas. 1). embora por vezes classificado nesta categoria mórbida. não pode acomodar-se com interpreta. com a ajuda de mecanismos de aspecto neÚrótico. pelo menos no essencial. A linhagem estrutural neurótica A linhagem estrutural neurótica. da mesma forma que a arte abstrata. vindo a excitar as pulsões genitais de maneira intempesti. Dito de outra forma. O se- 99 . o "caso SCHREBER" tem sido objeto de muitos debates acerca deste assunto.pondentes às denominações de parafrenia. a nossa é difícil. aquém da divided fine de Robert FLIESS (Fig. 2. trata-se de uma estrutura psicótica que ainda se defende bastante bem. à estrutura esquizofrênica. não nos parece necessário considerar um modo de estruturação particular que subentenda tais distúrbios. por seu turno. pode originar-se também de uma estruturação paranóica.ções manifestas demasiado simplistas.sultado depois.truturais cujos títulos corresponderiam às entidades mórbidas clássicas corres. é preciso começar a tratá-la seriamente. etc. o psiquista comportar-se como o ginecologista con. entrevisto há dois anos.A relação de objeto permanece fusional à mãe e de direção autista. psicoses traumáticas. A margem não é ampla. Poderíamos talvez espantar-nos por não ver aqui expostas categorias es. de manifestações parapsicóticas. 4) começa a pré-or. seu grau de solidez ou a extensão das ameaças de psicotização. dita de pré-estruturação. pois esta necessita de fixações iniciais específicas. Tal mutação da linhagem neurótica pré.vém pesar e avaliar o conjunto dos elementos tópicos.nhagem psicótica. a dirigir-se relacionais ou defensivos mais arcaicos.gundo sub stágio anal será superado sem grandes dificuldades.mia pulsões .nizado e transitório.se mais fácil e freqüente do que a passagem em sentido inverso. levando a uma estruturação. Dar a importância de um diagnóstico es. de modo maníaco . con. ele é levado a um questionamento mais ou menos sério e durável poderá da realidade.superego. . para dentro da li. a primeira. provavelmente. aliás. conforme consideramos no pará- grafo anterior.0 que contudo em nada minimiza a importância das manifestações genitalizadas desta época. é claro. de um modo psicótico definitivo. Esta é a primeira etapa. ao contrário.bemos que estes não faltam neste período bem agitado afetiva e socialmente) para operar tal mudança irreversível. podendo chegar a recolocar em questão (da mesma forma que acontece na linhagem psicótica) a manutenção da linhagem estrutural original. Os sintomas por si só não podem bastar para nos informar. Basta um trauma ou um conflito particularmente intenso (e sa.depressivo ou alucinatória crô.trutural psicótica definitiva na adolescência infelizmente mostra. estas duas formas clínicas situam-se. por ocasião da adolescência. aqui.sável intervir psicoterapicamente diante das dificuldades que ocorrem em um adolescente. desencadeará as tempestades afetivas que conhecemos. o sujeito a sistemas especificamente então ver-se precipitado para fora da linhagem neurótica. os conflitos internos ou externos (ou. ela realiza-se aqui segundo a economia genital na medida em que o jovem pré-neurótico conseguir. ainda que de modo pré-orga . mas não corresponde a nenhum desenvolvimento libidinal particular. esta operação desenrola-se durante a infância. do tipo neurótico.frênica.ganizar a futura estrutura sob o primado da economia genital. que obrigatoriamente estão ausentes em um ego que conseguiu passar. em um primeiro tempo. em caso de doença. o perfodo de latência operará.organizada para a linhagem es . Da mesma forma que na linhagem psicótica. o ego poderá ser levado a deteriorar-se mais. não podendo originar. a segunda. nem fixações pré-genitais anteriores demasiadamente severas. perto da paranóia.trutural mutacional preciso para saber se é verdadeiramente inútil ou indispen. próxima da melancolia. 100 . Como para a linhagem psicótica. enquanto o Édipo (Fig. a partir deste momento. também as duas variedades ao mesmo tempo) manifestarem-se de modo demasiado intenso.jeito. uma parada momentânea da evolução estrutural. de forma mais feliz que o jovem pré-organizado psicoticamente. indo além da simples econo. Se. Certamente não desenvolverá uma forma esquizo . ter acesso à triangulação genital sem frustrações precoces demasiado pesadas. assim como o estágio fálico. econômicos e relacionais para detérminar o estado e o sentido da elaboração estrutural do su. pela linhagem neurótica. a partir da pré-organização psicótica à estruturação neurótica definitiva. senão uma psicose.nica. dinâmicos. A adolescência. absolutamente. traduzido por nós como "recal.róticas no seio da mesma linhagem. Não se pode fa lar de superego propriamente dito. mas diz respeito à ameaça de castração. O estatuto dos objetos fantasmáti cos é mantido. agora de forma definitiva (Fig. A linhagem estrutural neurótica é. do qual é o herdeiro. correspondentes às duas únicas estruturas possíveis de se encontrar no seio da linh gem estrutural neurótica em geral.genitais massivas das estruturas psicó. o primado de elementos econômicos de origem ge.nhagem e. são compromissos funcionais. A maneira como é vivido o Édipo matiza todas as variedades neu.nital central. a estrutura obsessiva e a estru. A realidade pode achar-se transformada pela elaboração defensiva. diz antes respeito à libido que ao ego. da mesma forma que esta castração especif ica. existe enquanto tal e é buscado neste sentido. A relação com os pais foi elaborada sobre uma base.ticas.nital. o ego neuroticamente pré-organizado permanece na linha de estrutura ção neurótica. Esta organização estrutural não mais poderá variar a seguir e. em troca. não poderá fazê- lo senão conforme um dos mo.dos neuróticos autênticos : neurose obsessiva e histeria (de angústia ou de con. As demais caracteristicas desta·estruturação decorrem . justamente.gências do princípio do prazer sempre ficam mais ou menos submetidas ao controle do princfpio de realidade.crita por FREUD sob o vocábulo "Verdrangung". contudo.tura histérica. O conflito neurótico situa-se entre o superego e as pulsões e desenrola-se no interior do ego. sem jamais atingir o nível das regressões pré. quer em virtude de fixações pré-genitais que vêm perturbar a elaboração genital mais tardia. mas pode permanecer distorcido em seus di. As exi.nização da personalidade sob o primado do genital.sião do Édipo. A defesa neurótica característica foi longamente des. 4).desta posição ge.Entretanto.versão). não poderá tratar-se de estrutura neurótica se não existir. à negação da realidade. mesmo de forma parcial. 101 . Embora outros mecanismos acessórios possam vir em auxílio deste recalcamento conforme as variedades neuróticas. jamais se apela. A regressão neurótica. porém jamais está clivado. corolariamente. É isto que especifica esta li. A relação de obj eto neurótica realiza-se segundo um modo plenamente genital e objet ai. A angústia específica das organizações neuróticas não se aproxima. mas permanece não negada. senão nas estruturas neuróticas. acima de tudo. na grande ma1ona dos casos e em contextos normalmente socializados. a linhagem neurótica. A fantasmatização e os sonhos neuróticos correspondem às _satisfações pulsionais alucinatórias proibidas pelo superego e portam traços do conflito e das defesas. quer devido a dificuldades ocorridas por oca. em caso de acidente mórbido.camento". O superego apenas entra em jogo de forma efetiva depois do Édipo. se um su.jeito desta linhagem adoecer. e felizmente. O ego está completo na economia neurótica. caracterizada pela orga.ferentes níveis de funcionamento. do perigo de fragmentação. por seu turno. assim como o sintoma constitui um compromisso patológico. o objeto conserva uma posição proximal. por ocasião da adolescência. ---------- - r-_ <1: 1 z <UJ u EGO NEURÓTICO ORGANIZADO -EGO PSICÓTICO ORGANIZADO (/) UJ _I o <1: UJ -- -----.(/) oo o o --.-- <1: oo: :::) 1- <1: ESTRUTURA S NEURÓTICAS ESTRUTURAS PSICÓTICAS FIGURA 4: Gênese e evolução da linhagem estrutural neurótica 102 ... z co ·c: CONFLITO EDIPIANO Q) 1 o 'Cil UJ u EGO NEURÓTICO PRÉ-ORGANIZADO --.PSÍQUICA 1 (/) Evolução 'Cil '(t) t) O• banal UJN (J) . Oo '(ii c: m DIVIDED-LINE (/) o Ol '(t) (J) O• UJ N <1: u z INÍCIO DO ÉDIPO <<1: u.-- ---------- <UJ -<t:-- --1-...------- INDI FER ENCIAÇ ÃO SO MA TO. tradubipolaridade relaciona! fundamental em realidade diacrônica do incons. DUBOR (1971) insistiu na expressão simbolizada do desejo.putação pelo lado neurótico do que a estrutur a paranóica pelo lado psicótico.triangular e sexual fundamental que.não nas organizações neuróticas. a organização obsessiva e a organização esquizofrênica. o primeiro lugar a jusante da "divided line". JANET (1908). também ela. atrás da linha correspondente ao princípio do prazer. Na estrutura neurótica a coesão é mantida entre continente e conteúdo.nóica. todas estas variedades estrutural. o que não quer di. ambas encontrando -se situadas na zona "pessimista". o que separa o objeto do sujeito corresponderia ao sentido e ao slmbolo. para P.os temas mui comu. ou seja. FLIESS (Fig. co ntudo. que queira dar conta de todas as 103 . entre os psicopatologistas. que possua muitos traços em comum com ela. efetivamente. nem que sej am as únicas a não se mostrarem dóceis ao contato com a terapêutica. poder-se-ia dizer que a lin. ANZIEU (1970).ralelo. Toda classificação comporta dificuldades para dar conta das analogias e divergências. Uma conceptualiz ação exigente. bem como na manifestação da relação objetai. ao contrário. "é tudo ao mesmo tempo".guagem das organizações neuróticas. não pode ser encontrada se. A antiga denominação de psicastenia englobava. Tratar-se-ia de uma expressão sincrônica bipolar mentalizada. em seu ensaio nosográfico de 1962. igual ao tempo vivido. De outra parte. O conteúdo representa o objeto mesmo da linguagem. a estrutura obsessiva ocupa. Parece interessante. portadora de sentido em si mesma. 1).ciente. considerar as caracterfsticas da linguagem nas estru.zer que o sej am sempre.mente mostram-se múltiplos. est a estrutura apresenta-se como a mais regressiva das estruturas neuróticas no plano libidinal e situa-se encostada à menos regressiva das est ruturas psicóticas. Conforme exprimia em sua fala truculenta o soprador de ANOUILH (Ne zindo a reveillerz pas Madame . de um lado e doutro da linha correspondente ao princípio de realidade. conforme mostra D. melhor re. A) A ESTRUTURA OBSESSIVA A estrutura obsessiva j amais teve. paralelamente às reflexões formuladas a propósito das estruturas psicóticas. com má organização da narrativa. nem sempre é fácil distinguir uma estrutura obsessiva de manifestações pseudodelirantes de aspecto psicótico.mente muit o distintas. isto é. De fato. certas entidades passam por muito "rebeldes". GREEN coloc a em pa. A.turações do tipo neurótico: P. no quadro de R."Não acordem Madame"). sem desfecho escolhido. mas a "função sintagmática sofre uma alteração. a estrutura para. de uma estrutur a psicótica que coloque à frente exuberantes defesas obsessivas. o que não quer dizer. que constituem os elementos essenciais do caráter obsessivo que de. em sua ação repressiva. isto é. FREUD (1915) mostrou o papel essencial do re.quenos ramos do recalcado que conseguem passar pela censura entre incons. manter o suj eito fora de conflitos importantes. este mecanismo permanecerá discret o enquanto a estrutura obsessiva continuar compensada nos limites dos comportamentos ordinários da vida. importantes e representativos. ou seja.vo na negociação das representações constrangedoras: no caso de estruturação de modo histérico. suas lutas entre constrangimentos e repetições. 1 Em seu artigo escrito em francés. de um quadro . pelo isolamento e pelo deslocamento.trq somatizado. mas neste caso será o·próprio afeto que irá secundariamente ligar-se a outras representações menos conflituais.calcamento e de seus fracassos em tais organizações . contudo. nas quais não mais se poderá reco. se os elementos recalcados que atravessam a censura se mostrarem demasiado numerosos. 104 . a representação constrangedora destacada do afeto correspondente sofre uma "conversão" que· apenas tem valor simbólico em um regis. da "saúde" ou da "normalidade". O recalcamento é auxiliado. estas defesas conseguem. parece pouco realizável em um espaço limitado às duas dimensões da superfície plana de uma folha. Foi FREUD (1894 e 1895)1 quem mostrou o papel ativo do suj eito obsessi . imediatamente envolvidos por uma coloração "normal".negro ou de uma tela de projeção. A regressão é apresentada sob o seu duplo as.sessiva. conjuntamente. Como em toda estrutura neurótica. graças à instalação de defesas por racionalização ou anulação. · Assim parece poder-se conceber a instalação de um mecanismo obsessivo. A. com suas dúvidas e angústias.dade e banalidade. em caso de reativação viva do antigo conflito.bateremos mais adiante. Contudo. ao passo que na estruturação de modo obsessivo a representa.se" pela expressão francesa "névrose des obsessions". por si sós. a racionalização ou a anulação não mais conseguirão. FREUD traduz seu próprio termo alemão "Zwangneuro. Os poucos e pe. na medida em que isto for possível.nhecer a pulsão original. uma regressão da estrutura da libido.pondent e. chega-se a uma descompensação mórbida da estrutura ob. O recalcamento atua sobre as representações pulsionais difíceis de tolerar. ou mesmo nos comportamentos caracteriais. é a economia genital que domina o modo de organização obsessiva. à "neurose obsessiva".ção pulsional conserva sempre uma tendência a destacar-se de seu afeto corres. sempre para além dos sintomas. conservar o aspecto de legitimi.ciente e pré-consciente ensej am o aparecimento de comportamentos obsessivos moderados. Enquanto a estrutura obsessiva permanecer nos limites da adaptação.pecto funcional fundamental: de início. o mesmo mecanismo dará origem a uma neurose obsessiva clássica. o modo de estruturação obsessivo. principalmente as que têm a ver com desejos ou dificuldades sexuais da infância. suas vergonhas e seus rituais.nuances consideradas. GREEN (1964 e 1965) tentou definir. levando. de acréscimo. em sua meritória aparência de puro sofrimento.VET (1960) desenvolve no sentido de uma defesa pelo "compreender demais" e pela recusa em reconhecer os vínculos afetivos reiacionais com o outro. ordem. BOU. contribuindo assim para constituir sintomas mórbidos. senão no período que acompanha a descompensação mórbida. no plano dinâmico e temporal. Como em toda estruturação de modo neurótico. Outro tipo de fixação e outros movimentos regressivos tocam a evolução do ego. o que leva a uma superestima. tanto quanto entre o ego e seu objeto. pois. pois. Permanecendo a angústia uma angústia de castra. Do puro ponto de vista estrutural.dos conhecido.ção. Existe. mais de fixações antigas do que de regressões propriamente ditas. o objetivo real consiste em 105 . engendrar produtos perversos: ela não autoriza qualquer traço de satisfação direta. tanto seu universo onírico quanto suas capacidades relacionais mostram-se enrijecidas. ela permite. ao mesmo tempo que o superego fará as "ligações perigosas" com o prazer ao qual conseguiu trazer. Os investimentos libidinais tendem. à constância dos investimentos.gina o contra-investimento (assim como na separação dos elementos de um átomo anteriormente unificado). Esta tendência regressiva é considerada como resultado do conflito entre eros e tanatos. economia. etc. do que o masoquismo. nem reduzida demais) dos objetos. em um primeiro tempo.tágio anal forçam o suj eito de estrutu ra obsessiva a uma atenção que tende ao domínio do objeto. As importantes fixações anais que incidem sobre o segundo subes. com predominância dos in.ção. ou então de esforços menos felizes para limitar a angústia (rituais.ção das manifestações puramente mentalizadas. etc. o superego terá aqui um papel capital a desempenhar. A estrutura obsessiva não consegue. ao mesmo tempé. que o representante se desligue do afeto ao qual encontrava-se até então ligado no seio da mesma expressão pulsional. um refinamento de satisfa. parece necessário notar que se trata. um certo nível de desfusão das pulsões. o ego procederá a um simulacro de autopuniÇão. em direção a pulsões agressivas e sádico-anais. não se produzindo ve rdadeiras regressões de forma massiva. A vida fantasmática do obsess ivo.viço de formações reativas event ualmente necessárias à manutenção de uma adaptação exitosa (asseio. à manutenção de uma dis- tância ótima (nem grande. mesmo em seus mais sérios avatares patológicos. É o queM. pois. manifestações atuada$ na dire. a pulsão agressiva (menos culpável) será posta à frente. assim como jamais descola verdadeiramente do plano da realidade. por to.ção constante e defensiva do pensamento. em geral permanece pobre. uma dupla trapaça tentará agradar o superego: de uma parte.).afetando as pulsões e correspondendo a uma regressão pulsional. É também a este nível que se ori. a partir das tendências sexuais e afetuosas. dessecadas. à sombra da regressão pulsional. que colocará a energia assim recuperada a ser. mumificadas. atividades compulsivas. muito mais sutil.vest imentos destrutivos. em maior ou menor grau. a abandonar uma quantidade maior ou menor de investimentos objetais em beneficio da mesma quantidade de investimentos narcisistas.de outra parte.). conservar. autentica. mesmo assim apenas sob uma forma disfarçada tanto pelas formações reativas quanto pelos comportamentos auto punitivos.lar e edipiana dos pais. bem conhecidas na clfnica: a aproximação do pai (parent) do mesmo sexo é mais fácil. uma certa quantidade de libido e o direito à vida.seguir a manutenção de sua afirmaç ão genital. abdicando de safda ao prazer que esM em jogo. como na estrutura histérica. despertado com força suficiente para con. é tratado como uma criança mantido. incidindo. A linguagem obsessiva é marcada pela rigidez. como a pequena vela na câ. no discurso. imaginário e simbólico a este nível:" a morte que se trata de en. a mãe muito cedo estabelece as bases das futuras forma. na realidade. ao mesmo tempo que o afastamento do pai de sexo oposto é a única solução permitida. Seu desejo não ter á sido. LACAN (1966) epilogou longamente ao nível das relações entre realidade.nio lógico. porque menos reprovada. fazendo com que estivesse em outro lugar que ntio onde se corre o risco. É evidente que nos encontramos em uma economia triangu. não soment e diferenciados mas. mas colocado em vigília. a meia- 106 e . e sobre uma interdição das duas pulsões.pregnado de nitidez e parcimônia.. pois ele anula antecipadamente tanto o ganho quanto a perda. Diante desta angústia e decepção simultâneas. permanecendo assim na dependência do c onflito interno.. criança traída e desencoraj ada nada mais pode f a zer senão desenvolver suas próprias f ixações anais e "fazer-se de morta" no plano genital. As conseqüências deste jogo peculiar de in. mas o pai vigia. não deixando no lugar mais do que uma sombra de si mesmo. O estilo é im.terdições parentais na estrutura obsessiva favorecem as atitudes destes suj eitos. por isto. J.tal certamente é mantido.mente definidos quanto à sua identidade sexual. O objeto." C.mara de um moribundo. a este preço.j e ainda. somente a econom ia anal é colocada à frente. da parte de ambos os pais. comumente mascarada por detrás de uma sobr iedade aparentemente modesta e reservada . mesmo que este conflito se mostre elaborado de forma muito longínqua em re. sobre uma valorizaçtio dos controles e das inibições.lação ao conflito original. intestinais e anais apartados à criança. Ele se pretende preciso e a serviço do raciocí. como Vênus fez a P ris.ganar por mil ardis. da qual adivinha o desejo oculto em correspondência com seu desej o edipiano que aumenta . agressiva e sexual. um investimento obj etai. permanece matizado de recriminaç ões e secura afetiva. é o ardil que mantém o sujeito fora do combate. CHILAND (1967) define que a angústia obsessiva está ligada à luta con. Tanto a mãe quanto o pai "colocariam à frente" (a expressão foi escolhida de propósito) a necessidade de esconder as relações sexuais entre eles. De outra parte.ções reativas do filho: ela superinveste os cuidados corporais. As observações clínicas levam a crer que o sujeito de estrutura obsessiva teria mantido outrora com os pais uma relação bastante particular. O primado da organização geni. permitindo supô-las deliciosas e proibidas.agressivas e erotizadas. está lá (economia neurótica) tanto para ameaçar o fi.lhe:> quanto para satisfazer a mãe. A relação parenta! do sujeito de estrutura obsessiva não conheceu muitos desenvolvimentos.tra a idéia obsedante. Esta toma um impulso no sentido de satisfazer a mãe. ponto de vista partilhado por ARETAEUS da CAPADÓCIA. evitando o contato pessoa l em benefício do ponto de vista unicamente funcional. di. Uma vez que permaneça estéril por muito tempo depois da puberdade. Descr eveu-se a este respeito um estilo especialmente "administrativo". mesmo que os esquemas empregados encontrem-se grosseiramente ligados às imagens corporais da época. já descreve modos de funcionamentos antecipados e ru- 107 . toma-se inquieto e. da mesma forma que este aspira à histeria. avançando através do corpo e cortando a passagem do ar. aproximar a histeria e os malefícios diabólicos. diz PLATÃO. possuir predecessores deste porte. ter em conta aquilo que comumente se chama de "fndice de histerizaçáo" do obsessivo. toda estrutura obsessiva autêntica conserva suficientes elementos genitais fundamentais para sentir uma alucinação negativa de sua falta de histerização. entretanto. desde o papiro de KAHUN (século XX a. Assim pensavam os antigos. B) A ESTRUTURA HISTÉRICA A estrutura histérica. Uma expressão feliz afirma que o histérico conserva a nostalgia do obsessivo. S. a histeria é igualmente resultado da abstinência sexual. da primeira concepção freudiana dos danos causados pela repressão sexual. de modo a interessar no plano intelectual sem jamais seduzir no plano afetivo. constitui o teci. em 1567. que nunca está ausente quando se trata de uma verdadeira estrutura obsessiva. parece-me tanto mais judiciosa. quant o mais excluir do diálogo a intrusão das ps eudoestruturas "fóbicas" no seio da economia neurótica.minino e à somatização uterina. permitindo talvez supor uma certa incerteza acerca do monolitismo estrutural de base. O termo "núcleo histérico" pareceria mais ambíguo. sob a cobertura teológica.distância. por fim.do mais elaborado em dirP. tendo também em conta as suas aspiraç ões recíprocas em uma esperan ç a ao mesmo tempo defensiva e extensiva. apesar dos protestos de PARA. no Timeu.cas.guramente não ignorava.ficulta a respiração. é um animal que deseja gerar crianças. do geral e do banal. provoca grandes sofrimentos e toda sorte de doenças. carregado de fórmulas prontas. PICHOT (1968).CELSO que. Na Idade Média não se pode deixar de procurar. Caberia. relembrado por P. por ocasião de sua primeira concepção da histeria. e não foi sem motivo que a sua representação mental por tâo longo tempo ficou ligada ao simbolismo de um órgão genital fe. O caráter altamente sexual deste modo de economia estrutural não escapou aos autores mais antigos.). FREUD se.ção à maturidade. HIPÓCRATES fixa a sede da epilepsia no cé.rebro. no seio de uma estrutura pré-psicótica. por exemplo.C. encontrada em PLATÃO. e a da histeria no útero. Esta imagem de uma dualidade complementar das estruturas neuróti. no esquema ao qual nos vinculamos. Cabe notar a curiosa premoniç ão. não podemos deixar de surpreender-nos com a semelhança latente de pensamento: "O útero. e não de simples comportamentos obsessivos de defesa." Para GALENO. refere-se às defesas.. É curiosaJ!1ente após seu estágio em Paris com CHARCOT. ou seja.qual demonstra a semelhança estrutural com a histeria clássica.rastada por tais fantasias e pervertida na forma que toma a sua imaginação. que marcaram uma capital evolução na maneira de conceber as ·neuroses e. SALPÊ. Estabelecidos os traços comuns. PINEL foi o primeiro a classificar a histeria entre as neuroses . A principal característica do modo de estruturação histérica. a estrutura histérica não comporta regressão do ego. dita "de conversão". a neurose histérica. simples. comum às suas dt:as formas. em 1964.tura histérica: 108 . a "neurose obsessiva". O final do século XIX reúne três nomes célebres: CHARCOT. (nos pacientes) a visão e a audiçáo são táo potentes. guardando também fortes componentes orais que. o prirnado dos rr. afetando aqueles que acreditam em tal coisa. mas apenas em 1670 Thomas W ILLIS realmente defendeu esta idéia.úl.ecanismos de recalca. cabe agor a determinar as diferenças nosológicas entre as duas variedades da estru . No mesmo ano da morte de CHARCOT..TRIÊRE e HISTERIA. que S. embora não permaneçam fo rçosament e e·m um plano purémente superfi.adores nele. deão da escola de Medicina de Pont-à-Mousson. defensor da teoria·orgânica da histeria. que in- conscientemente tém fantasias acerca daquilo que viram e ouviram. Do ponto de vista tópico .dimentares dos fantasmas e do inconsciente: "A causa da doença. no caso. que sobressai de todo o histórico citado acima e justificou o tamanho deste histór ico. em particular.lico de ABRAHAM. FREUD reúnese à opinião de BERNHEIM e LIÉBAUL T. da .cial. j amais se tornarão organi.é a força do componente erótico. Os investimentos objetais mostram-se facilmente móveis. FREUD e BREUER es. do qual todos os aspectos dominam a vida do histérico e as experiências relacionais diversas. contudo.. Em 1908. GRE E N.tia". Mais próximo de nós. Suas conclusões não convergem exatamente. que defendiam em Nancy a origem afetiva e emotiva da doença e sua única forma válida de tratamento. na psicoterapia. sem regr essão dinâmica nem temporal. ROSOLATO (1962).mente uma opinião e uma id ia assumidas pela imaginação. em 1893.•. mas uma simples regressão tópica da libido." A primeira localização mental da histeria encontra-se descrita em 1618 por Charles LEPOIS.mento sobre os dema is procedimentos. O modelo estrutural da histeria foi invocado por G. FREUD separa diversos elementos no interior da "neurose de angús. O histérico de estrutura apresenta importantes fixações ao estágio fá . por A.creviam seus Estudos sobre a histeria. Em 1895 FREUD isola a "neurose de angústia" e.tiplos. no ano seguinte. variados e rr. Sua razão ar. A terceira característ ica da estrutura histérica. Na histerofobia. em todas as épocas. mas um "objeto" anaclftico que nada tem a ver com o objeto sexual. difíceis e ambíguas.portamentos depressivos constatados nos histerofóbicos de estrutura. ao mesmo tempo.mento.cas. quarto.a) A estrutura histérica de angústia A estrutura histerofóbica constitui a mais regressiva dos dois modos de estruturação histérica. que evolui para uma estruturação do funcionamento mental cada vez mais precisa e imutável e. conforme veremos mais adiante. Afirmar que as estruturas do ego não são fixas e rigorosamente classif icáveis a não ser na medida em que o observador deseje achá-las imutáveis.cepção. Esta f lu. conforme a apresentou DIATKINE (1968). a escusa comum que se resume no clássico "tu. até a um ceticismo da moda. Embora meu trabalho se atenha às nuances. mas envolvendo igualmente decisões terapêuticas: com efeito. o histerofóbico representa o único modo de estruturação fóbica autenticamente neurótico em nossa con.cemos facilmente a busca de um objeto sexual. toda uma sé rie de fenômenos manifestos e superf iciais muito 109 . às sutilezas diferenciais. de outra parte. Estas nuances mostram-seca .trada na distinção de dois níveis: um nível latente e profundo.jetos de amor e afeição pelos obj etos agred idos) conservam uma atitude ger al incoerente. FLIESS.lizante no plano da terapêutica. parece ser uma atitude intelectualmente confortável no plano do diagnóstico e tranqüi . permitindo justificar as imaturidades pessoais de julgamento. a que se situa. segundo o quadro de R. minha convicção permanece cen . tanto nos demasiado pacíficos quanto nos demasiadamente belicosos. Entretanto. cap. oposta à simplicidade da rigidez afetiva obsessiva.pressivo do tipo "estado limítrofe" também conserva um "objeto". lhes recusamos um estatuto estrutural neurótico.tuação identificatória se encontrará na origem dos estados de devaneio. Sob um aspect o "realista e liberal". às incertezas das fases evolu tivas pré-estruturais. mais próxima da estrutura obsessiva. no pró . que K. ABRAHAM (1911) ligou aos estados hipnóides descritos por BR E UER (1893). "estados limítrofes").sim o risco de levar os espíritos menos experimentados a um relativismo de bom gosto. contrariamente aos deprimidos.do está em tudo". sem todavia chegar ao obj eto narcfsico internalizado do melancólico. As identificações com ambos os pais revelam-se. pois. reconhe . e são detectadas bem aquém dos episódios mórbidos. o de. contestamos neste tra. os movimentos pulsionais amb ivalentes (agressividade em relação a ob. É. nos com . nos quais os investimentos obj etais acham-se modificados (cf. De outra parte.balho a existência tanto de uma "neurose de angústia" quanto de uma "neurose fóbica". uma vez que. a libido perma nece essencialmente genital e o mecanismo principal continua sendo o recalca. aliás. corre-se as.pitais na clínica. Mas dizer simplesmente que se trata de busca de um "obj eto" (simplesmente) parece não ser suficiente e pode levar a confusões desastrosas. as tomadas de posição agressivas ou desordenadas que encontramos. Sem deixar de reconhecer as evidências clínicas de tais "sfndromes" fóbi .prio estudo da estrutura. oncernentes não apenas a uma classificação qualquer. a um simples retorno de apenas parte da libido sobre fixações anteriores orais e anais preco. conservando assim todas as suas energias e sutilezas para consagrar-se ao manejo dos fatores mais móveis. alternante. A relação inicial do histerofóbico com seus pólos parentais tem em conta a ambivalência das identi f icações assinaladas acima: ambos os pais ao mesmo tempo operam sobre a criança uma excitação e uma interdição sexuais. ou seja. no mecanismo específico da histerofobia. depois por deslocame nto e evitação dos retornos do recalca. à castração. A representação fantasmática sofre as mesma s transformações.do. contudo uma tela é colocada entre o sujeito e o objeto. em nosso entender.muito mais modificáveis.se de uma sedução indi. depressi. em nosso caso.menos especificas e.racterísticas específicas: O recalcamento.sentativo . Precisemos imediatamente que. mais comumente de natureza anaclítica. fazer o su.reta e ambivalente na qual toma parte a linguagem. para manter bem escondidos o desejo de proximidade objetai e a mescla de erotização e agressividade que aí encontram-se misturadas. A simbolização é muito de. eis por que este pensamento acha-se deslocado sobre um elemento de defesa fóbi. quer tenha ela atingido um nível mórbido ou permaneça como um simples sinal "caracterial" da estrutura. A angústia diz respeito. inicialmente por recalcamento. sob a forma de evitação fóbica.cio deslocada sobre um objeto menos evidente. A terapêutica tocaria es. com isto.senvolvida. certamente. O objetivo essencial seria o de levar estes fatores a uma melhor adaptação às realidades estruturais profundas internas. o que dá ao discurso do histerofóbico este aspecto entrecortado. comumente bastante sutil quando não se trata de um sintoma mórbido perfeitamente evidente.sencialmente este nível e o faria de modo tanto mais eficaz. apesar de sua importância. depois junta-se a este deslocamento de um objeto interno para um objeto externo uma evitação (pouco fácil) deste objeto exterior: a fobia das ruas. na estrutura histerofóbica. ao invés das moças (da rua). por exemplo.ca. esta fobia das ruas. Prisioneiro de um sistema de defesa. esta tela permite ao mesmo tempo conservar e evitar o contato com o objeto repre. não é completamente exitoso: existe um certo grau de fracasso desse mecanismo. as ruas. sem dúvida. trata-se de uma angústia de ver o pensamento realizar-se. A evolução libidinal corresponde. o histerofó bico se crê obri - 11o . Muito solicitada no plano erótico.ces. a criança não sabe bem como conciliar provocações e interditos. devendo-se apelar para me. quanto mais tivesse inicialmente em conta fundações estruturais que renunciaria a mo.va. por medo da perda do objeto e não por medo da pulsão sexual.dificar. tanto quanto às exigências exteriores materiais e históricas.canismos acessórios e satélites: a pulsão constrangedora que reaparece é de iní.jeito atingir ou reencontra a sua própria "normalidade"••• A estrutura histerofóbica de base igualmente distingue-se por outras ca. quem espera e quem proíbe a aproximação erotizada. Nas organizações estruturais histerofóbicas trata . muitas vezes contraditório. não deve ser confundida com o medo dos grandes espaços. A relação de objeto continua sendo proximal. sendo muito raro não encontrar algum elemento fóbico parasitário.mente. Embora.nal do século XIX. de. em nossos dias. A representação simbólica atua. ao mesmo tempo. conform e acabamos de ver. simbolizada a este nível. nenhuma esco· lha somática em uma estrutura histérica pode ser tomada e analisada em um único plano ou nível. Esta focalização somática corresponde.gado a ter uma linguagem aparentemente muito mais agressiva do que verda. logo mais angustiantes porque mais interditas e culpáveis. atual.tamentos corporais ligados aos mecanismos hipocondríacos. por exemplo. mas em um campo econômico em pleno desenvolvimento teórico. espasmódicos ou fun cionais diversos). mas designada. que. estamos au- 111 . as for. em 1895. juntamente com os psicopatologistas con. numerosos dados somáticos acham. por seu valor simbólico e por seu investimento erógeno.beth VON RITTER unicamente mediante a interpretação simbólica do fato de que "ela não andava" com respeito às propostas do seu cunhado.se ao registro simbólico. intervindo tam. Na localização corporal de toda e qualquer estrutura histérica de conversão. por ocasião da constituição do esquema corporal do indi. do que determinando a escolha direta). A conversão somática de natureza autenticamente histérica é caracterizada pela focalização. FRE UD pudesse permitir-se of erec er a possibilidade de andar a Elisa. contudo é necessá rio mascarar bem tudo aquilo que poderia traduzir a erotização subjacente. da mesma forma que teremos de considerar.temporâneos. b) A estrutura histérica de conversão Cabe inicialmente reconhecer. em diver.ve-s e saber.vestimento narcisista.gem neste nível no decorrer da evolução da sexualidade infantil.víduo. entre os arquivos preciosos e as peças de museu. que os doentes que correspondem a uma descompensação de estrutura histérica de conversão atualmente são muito mais raros do que no fi. nem é simples. os compor.do puro.deiramente o é sua personalidade profunda. de um investimento libidinal retirado das representações amorosas concernentes à imagem do pai (parent) de sexo oposto. a um deslocamento sobre uma parte do corpo não escolhida ao acaso. a importância revestida por esta região corporal enquanto in. mesmo referindo. de outra parte. podendo acarretar a castração punitiva da parte do pai de mesmo sexo. da mesma forma (porém mais como pano de fundo. assim como nas expressões corporais da estrutura histero.mas mórbidas atuais desta estrutura apenas raramente se apresentam em esta. da mesma forma que para interpretar um sonho não podem ex isti r manuais demasiado simplistas.se dispostos não mais nas categorias estruturais histéricas. por ocasião da passa. no capítulo seguin'te. o da regressão psicossomática. pois. S. a escolha das zonas ou órgãos investidos não se deve ao acaso. no momento em que floresciam os estudos acerca dos soberbos e célebres casos de conversão somática dispostos. por fim.fóbica. doente ou não (distúrbios neurovegetativos.bém. expondo a "chave dos sonhos". doente ou não.sos níveis. entretanto. As forma. nos casos "puros".santemente com energia. e sobretu. e contu. Freud descrevia os mecanismos da conversão histérica da mes. Em 1905. cuj os resultados são os únicos capazes de se mostrarem radicais e duráveis. é precis o desentranhar os conflitos mal engaj ados em to. sucessivamente e em ordem retrógrada. na histeria como em outros lugares. corresponde ao mesmo tempo ao sucesso do recalcamento e do sin. A "belle indifférence".ciente. Entenda-se bem que o recalcamento. ao novo sistema assim c riado. "fora da situação perturbadora". Seu valor funcional inibido protege contra o desej o culpável. É preciso alimentá-lo inces. deslocamento. e não o conflito psicológico.. estes úl. de outra parte. representações pulsionais como joguetes das manifestaç ões do processo primário (condensação. menos a inda em 1926 (d).do como se pode. que teria podido aí contribuir. em qualquer que sej a a estrutura.toma. ao sabor das associações ou das manifestações psíquicas. mas igualmente a restituem. ROSEN (1960).. mediante perpétuos contra-investimentos. por ocasião de Inibição. nada mais é que o acometimento somatizado. simboli. às realidades internas e externas do sujeito. O histérico de conversão olha para seu sintoma com toda a serenidade. Em 1909.torizados a pensar que esta visão demasiado fragmentária dos diferentes níveis conflituais da paciente não podia ser suficiente para curá-la. A estrutura histérica de conversão. A realização do desej o é tencionada mediante a colocação de uma parte do co rpo. Isto constitui uma espécie de "análise direta" ou "torpedeamento". A interpretação de FREUD. tal como uma interpretação à moda de J.bolizado desperta a satisfação.dos os níveis. é nitidamente especificada pelo êxito teoricamente total do recalca·mento que. não sendo nisto perturbado por qualquer retorno intempestivo do reprimido que o obrigaria a colocar em ação outros dispositivos e imediatamente lhe traria um sofrimento ou inquietude e um certo grau de consciência. mas o modo de funcionamento do sistema de defesa.). é que se opere em ordem mais ou menos dispersa. Sintoma e Angústia.timos não atuam apenas consumindo energia. contribuindo ao mesmo 112 . no fundo. Uma análise não pode agir verdadeiramente. mantidos fora das realidades lógicas do tempo e do espaço. para obter uma modificação profunda e durável do sistema defensivo. não pode achar-se realizado de uma vez por todas. por certo.zação). mal adaptado. senão modificando profundamente não a estrutura. mas seguramente não se trata da psicanálise em si. tantas vezes descrita a propósito das conversões histéricas.ções de sintomas atuam também a este nível. nos casos mórbidos.. o que o histérico de conversão nega. enquanto que seu valor sim . graças aos benefícios secundários retirados das manifestações de conversão. por sua justeza e brutalidade. O mais comum. pois conforme mostra C. agiu como uma chibatada.. não se pode confundir o valor sugestivo da interpretação verdadeira de um ponto único dos conflitos com a análise de um sistema conflitual e defensivo global. é suficiente por si só para manter a representação incômoda afastada do cons . FREUD certamente não teria agido assim com Dora (. se possível.do.ma maneira que havia descrito os mecanismos do sonho: fantasmas projetados e representados de forma mascarada. CHILAND (1969). podendo-se conceber que.em um segundo tempo. tão próximo da maturidade afetiva. os fantasmas de realização sempre inquietos e incompletos. a fixações prégenitais tanto orais quanto fálicas. um arranjo dos investimentos libidinais sobre uma base mais adaptaêla.nal. e a angústia permanece ligada a uma realização do ato. Quando se fala em termos de estrutura. a propósito dos Distúrbios visuais de ori.rtencesse. FREUD (1910 i). em relação com o obj eto interno manticlo e assim mnnipulado. não se nota qualquer mani. uma brecha.tempo para torná-lo cada vez menos frágil no plano econômico puro. como na estrutu ra histerofóbica. incerto. tanto ao obj eto sexual proibido quanto ao obj eto recuperado. que no histérico contribuem para com os contra-investimentos.mor do pensamento. mas. enquanto a satisfação pelo outro sexo permanece do domínio da provocação. sem atingir o n(vel de uma disposição geral do ego". conforme mostra R.cialmente compensado pelos aportes anaclíticos gratificantes da transferência para depois permitir. um SP. a erotização e a resposta do superego são intensas. a formação reativa agarra-se com tenacidade a um determinado objeto. nos seus múltiplos planos e sentidos. como se se tratasse de um verdadeiro corpo estranho. corresponde tanto ao medo da castração quanto ao ardil para evitá - la. contudo. O sofri.vel prioridade do genital. muito mais do que a um te .de. sob a incontestá.xiste no mesmo conjunto no mesmo tempo fantasmático. FRE UD (1895 d) define que "na histeria. um déficit ini.ntido jubilatório. Tudo coe . contra os ob. Mesmo nos casos de aparência mRis dolorosa. isto contri . não se pode deixar de colocar a mesma questão de S.bui para com o suc ?. sem qualque r certeza de que a realização seja realmente aceita. A conversão. de intervir do exterior sobre o sistema protetor para aí criar.mento pode mesmo assumir. A r elação inicial com os pais está ma rcada por uma separação já mais nítida de papéis: a excitação emana mais do pai (parent) de sexo oposto e a interdi.gem ps(quica: ao abrir incessantemente novos caminhos à reflexão profunda. in. progressivamente . cada vez menos reversível no plano defensivo. Daí a obrigatorieda. As formações reativas. por isto mesmo. A estrutura histérica de conversão corresponde.vimento libidinal.sso do r eca lcament o de toda e qualquer emergência pulsio . A parada eventual do desenvol. a psicanálise não nos leva a refletir também sobre os fundamentos o r gânicos de tod a constituição? O recalcamento pulsional é suficiente para aca rr etar distúr - 113 . ao falo perdido e ao falo recuperado. em um primeiro momento.jetos internos e externos para disfarçar o sentido do apego pulsional. o suj eito reage como se o sintoma não lhe pP.festação de angúst ia superegóica. ligado ao fantasma cof'l1pensaclor permanente e inconsciente. A troca de objeto sexual apenas se torna possível de modo incompleto. pode ser compreend ida pelo fato de a criança não haver ainda conseguido "decolar" completamente do Édipo: o medo da castração pelo pai de mesmo sexo leva o ego a uma convicção da ameaça.satisfatório . em caso de necessidade terapêutica. mais "11nrmal".ção mais classicamente do pai do mes mo sexo. logo. são dirigidas. vivido e simbolizado. no plano reativo. DIATKINE (1968). bas.po de estrutura experimentará. 1968). o sujeito deste ti. o recalcamento bastará ou não para a tarefa de proteção contra a angústia de castração genital punitiva. logo mais flexível na relação. ou seja. ligadas a predisposições específicas? As hipóteses formuladas quanto a este assunto.bios funcionais ou somatizados? Não existem também. ao nível de cada estru. Na estrutura histérica de conversão. A ênfase e riqueza aparente no manejo das palavras constitui um fogo de artifício. do tipo histérico. conforme veremos na terceira parte deste trabalho. se a regressão permanecer mfnima e.tam para dar conta de todos os problemas propostos? Certament e ainda não dispomos de meios teóricos nem clínicos para responder a numerosas questões. po. como manifestações dos traços de caráter histérico habituais em toda estrutura 114 . a existência de um certo "índice de histerização".tura. Constata-se. dependendo da rigidez do superego (como princípio "recalcante") e da impor tância das fixações pré-genitais (como princípio "aspirante"). no seio dos mecanismos neuróticos.dem ser compreendidos. Como resultado disto. os qualificativos e as primeiras pessoas são encontrados em abundância. ao passo que. não é de surpreender que se en. e sobretudo os movimentos libidinais se verão na obrigação de operar regressões mais ou menos importantes.jeito conservará a nostalgia de uma defesa mais maleável. ele deverá ser ajudado ou não por outros mecanismos acessórios de defesa. o su. sensibilidades corporais particulares.ração histérica. em função do lugar e da intensidade das fixações arcaicas coexistentes. Embora o código permaneça pobre e a informação veiculada definitivamente parca (HAAG e FÉLINE. próxima da linguagem poética. as fórmulas por vezes são notáveis em sua densidade simbólica. do ponto de vista das fixações às diversas zonas erógenas e às pulsões parciais no curso da ontogênese. fálica (estrutu. contudo. Da mesma forma que havíamos evocado acerca da estrutura obsessiva. uma certa nostalgia da obsessionalização. sob o primado comum da organização genital.ção ao segundo estágio ana l (estruturação obsess iva sólida.contre. deixando contudo que apareça mais a angústia latente. do tipo obsessivo. por vezes. o índice dito "de histerização" de toda estrutura obsessiva . principalmente. De outra parte. assim como os aspectos "obsessivos" visíveis em toda estrutura histérica. Dependendo da capacidade de suportar mais ou menos bem a erotização edipiana. onde muito rapidamente se percebe sempre as mesmas tiradas. toda fixação importante ao nível do conflito edipiano impli. um certo arrependimento por não dispor de um sistema protetor mais sólido. a linguagem é utilizada visando a sedução direta do objeto. da mesma forma que os advérbios qualificativos ou os auxiliares diretos ou indiretos. que o discurso satura-se muito rapidamente em significação puramente subjetiva. desde que haja um mínimo fracasso). porém rígida).ca o apelo imediato à defesa neurótica essencial: o recalcamento. A expressividade está aumentada. em ambos os modos de estruturação histérica. se a regressão for suf icientemente intensa em dire. Com efeito. obsessiva. o que não entra em específicas concernentes aos modos de estruturação neurótica: nosso propósito. contudo. A relação primit iva com os pais com. A preocupação com a clareza j amais foi inimiga da necessidade das nuances.muns ou A estrutura obsessiva corresponde a uma regressão do ego do ato ao pen.titua a defesa essencial. conservando.lo).preende uma interdição que incide tanto sobre o ódio sentido em relação ao pai do mesmo sexo. como simples resquícios de algumas fixações anais que não foram suficientemente significativéls para orientar a es. as grandes linhas estruturais co. Daí resulta uma maior facilidade de aproximação com o pai (parent) do mesmo sexo e uma necessidade de afastamento do pai de sexo oposto. nem perto (perigo de perdê . A relação de objeto do modo obsessivo consiste em manter o outro em uma situa. o primado do ge. permanece o fundamento de toda abordagem nosológica que pretende ser obj etiva e prudente. Não há nada nisto que possa justificar ou criar confusão. A estrutura histérica de angústia não comporta qualquer regressão do ego.gústia que atua sobre um registro tão extenso.da riamente ligados a situações protetoras. apenas parte da pulsão dirige-se para fixações arcaic as aos conflitos de ora - 115 . Os fracassos do recalcamento (incidindo sobretudo nas pulsões agressivas) são de início compensados pelos mecanismos acessórios de isolamento. mrls não ao mesmo n(ve/.tal. depois secun. não é suficiente na tarefa de proteção contra uma an.tenticidade da estrutura histérica de base. O recalcamento. que em nada alteram a au. Saber que se pode encontrar de tudo.tações fantasmáticas.samento. No plano das represen . ou a renúncia a toda e qualquer síntese coerente. a uma desfusão das pulsões. quanto sobre o amor inspirado pelo do sexo oposto.ção em que se encontre dominado e esterilizado. Respeitado o primado do geni. traços de caráter obsessivo. sem ent r ar na descrição dos sis. porém mal investido. deslocamento e anu lação. parece útil resumir agora. da mesma form< que em toda estrutura histérica se pode encon. depois. C) REFLEXÕES DIFERENCIAIS No mesmo espírito em que havíamos apresentado uma síntese das orga.temas .trar. mas diz respeito ao temor da descoberta dos pensamentos e desejos tanto er óticos quanto agress ivos. como algo banal. embora cons .nital. apenas uma regressão tópica e parcial da libido. ao nível do segundo subestágio anal.nizações psicóticas. por importantes formações reativas .truturação em um sentido realmente obsessivo. nem longe demais (perigo que ele domine). em uma segunda fase. em cada ent idade clínica. os afetos const rangedores são destacados. a uma regressão parc ial da libido para fixações estabelec idas por ocas ião de conflitos encontrados anteriormente. testemunhas do grau de desenvolvimento libidinal at ingido. A angústia continua sendo uma angústia de castração. A angústia de castração incide sobre o perigo de ver realizar-se uma atuação interdita. que permitiriam o acesso a uma melhor adaptação maturati. As representações fantasmáticas são matizadas de uma forte capacidade simbólica. outrora. jamais foram sentidas como asseguradas pela criança que ficou. de outra parte. de um objeto ao mesmo tempo fobi.vo evolutivo libidinal. sobre uma regressão libidinal muito fragmentária . erótica e defensiva. segundo seu grau evolutivo.de modo a melhor dominar o objeto. como a estrutura histerofóbica. ou melhor.se evidente. daf o recurso a uma representação substitutiva.contre reativada vivamente pelo contexto relaciona! ulterior.dos nas estruturas histéricas de angústia. entretanto mais ou menos fixada ainda ao conflito edipia. compreendendo a excitação da parte do pai de sexo oposto e a interdição da parte do pai do mesmo sexo. mas de forma alguma o estruturam. Os pais dos histerofóbicos operaram ambos. tanto mais temida porque a relação de objeto é mantida bastante próxima. como em toda operação mental do tipo histérico. quer perma. A angústia de castração fixa-se mais particularmente sobre o temor de que o pensamento se realize.!idade e analidade. A estrutura histérica de conversão repousa. na qual debatem-se os sujeitos desta estrutura. muito perto do objeti. ao mesmo tempo a excitação e a interdição. Nos casos mais puros de estruturação histérica de conversão. mas os retornos do recalcado necessitam que se ponham em jogo mecanismos acessórios de deslo. assim como a capacidade do pai do mesmo sexo de não tomar como trágica nem como uma brincadeira sem fundamento sincer o a rivalidade experimentada.neçam mínimos (éstrutura adaptada à "normalidade") ou importantes (neurose histérica de con. desde que a situação arcaica se en. e o sujeito perde todo recuo diante dos fenômenos que experimenta. A figura n 5 tem por objetivo esquematizar as diferenças e semelhanças dos diversos elementos que determinam a organização latente dos três modos de estruturação neurótica. A capacidade do pai do sexo oposto de aceitar os desej os ternos. deixando-lhe uma importante margem de flexibilidade. 116 . este recalcamento basta por si só. As fixações aos conflitos orais e fálicos matizam o sistema relaciona!. Os pais desta categoria de suj eitos parecem haver operado mais comumente um duplo movimento paralelo.terdição que incide sobre a representação. assim. penosa mas não culpável e mais fácil de evitar ao nfvel da ação.va. O primado do genital mostra . como geralmente ocorre. O recalcamento permanece intenso. a in.cance da mão". estes operam uma dupla ação: evitar o contato com o objeto ansiogênico e ao mesmo tempo deixá-lo presente "ao al. em condições que todavia não teriam permitido a resolução do Édipo e sua dissolução em condições normais.no em sua fase última. especificamente fóbicos.v ersão). donde a ambivalência afetiva. As representações fantasmáticas comportam um compromisso entre o desejo e seu afeto e. Quanto aos elementos fóbicos encontra.gênico e contrafóbico) .camento e evitação. realizando uma tela diante da angustiante tomada de consciência da intensa erotização de tais sujeitos. ao alcance da vista (no sentido próprio do termo quando se trata. sem regressão do ego. --- .o... -evitar E ..interdição por ambos taç o epresen aevitar .' - \- ::: - .. o ---.i ligado a outra -g Ol 'o 0- Deslocamento Evitação Tela fóbica para FIG U RA 5: Quadro sintético das estruturas neuróticas .ê + Fixações tl: ora is fálicas ..--- .....t. ã.a 2 Jí + o -0>-:" . Castração se forem descobertos os pensamentos: -eróticos -agressivos Afeto constrangedor -destacado -religado + â meia distânc ia Isolam ento Deslocamento Anul'ação depois: form ações reativas ài Ódio do pai do mesmo sexo Amor pelo pai de sexo oposto 'O "' out r a representação i c .i u co .g "e "' - +-.D :::1 '5 Regressão do ego ato -+ pensamente t. . > '(jj "' o"' Q) .g > co ·g ':::1l <t: precoces se o pensam e nto se realizar . w Mecan ismo de defesa Relação objeta i Recalcamento Primado do genital + fixações ao estágio anal (desfu são das pulsões).. ·- . . l. . os pais 'O ::: -::excitação Q) cn pelo pai do sexo oposto . se o ato se rea lizar proxima l para melhor dominar a: L -excitação ..interd ição pelo pai do mesm o sexo .Ponto de vista tópico Economia libidinal Natureza da angústia .. ""' Conversão 3l somática [simbolizada Q) a: o Q) 'O ..conserva r + r c -..ti Sozinho é suf iciente nos casos "puros" O .. Afeto · o (angústia)) •::I Gênese da relação parentai Representação fantasmát ica "-Q) Ol c co Q) "'!'O .g Ol <1> o Fixações --a orais nais - f:? ·ª ro 1(0 ·= t. V imos que a estrutura neurótica achava-se especificada pela organização do psiquismo sob o primado do genital.no plano psicológico. "de abandono". Em nossa preocupação com o rigor no emprego dos termos referentes às estruturas. Sigmund FREUD aos poucos nos ensinou a descobrir que o "materialismo" psíquico era de uma essência completamente diferente. "depressiva". Se estivermos convictos da veracidade deste procedimento. deveremos investigar os mecanismos e as linhas de força latentes. apenas são oficialmente retidas duas estruturas neuróticas: a neurose obsessiva e a histeria (de angústia ou de conversão). encontra-se um certo número de rubricas que.das. seguramente. à luz das investigações analfticas. para bem além dos sintomas.deremos parar nos sinais manifestos.dríaca". melancolia e paranóia. "hipocon. da mesma forma que a hereditariedade da tuberculose necessita da presença e da constân. sua teorização e sua abordagem terapêutica . em ordem decrescente do arcaísmo das fixações e regressões. nos dirigirmos às caracterlst icas das estruturas profun. reativas e não específicas de uma categoria parti. da angústia de castraçã o. Não podemos criticar demais os psiquiatras por se aterem ao ponto de vista descritivo dos sintomas e síndromes que habitualmente lhes permitem classificar seus doentes ao nível em que adquiriram sua linguagem.respondem à histeria e à neurose obsessiva mas. às neuroses ditas "fóbica". o leque de limites invariáveis entre os quais estes caminhos do eventual desenvolvimento seriam unicamente possíveis. pelo lado neurótico. não mais po. do conflito entre as pulsões e os interditos parentais internalizados no superego e defendidos pelo recalcamento. para a boa compreensão. ou seja. partindo do mesmo procedimento e sem colocá-lo em questão nas afecções neurológicas. através dos primeiros movimentos relacionais dirigidos à criança.PAVLOV nos deu um dos mais brilhantes e recentes exemplos. "de angústia". cabe-nos de saída delimitar.zado. considerada como uma transmissão.cia dos pais tísicos junto à criança. na ótica da observação e da materialização no registro dos sinais apropriados ao procedimento neurológico. etc. "de caráter". da triangulação edipiana.se aqui dispostas as categorias clássicas da esquizofrenia. pelos pais. pode ser com. cor. "traumática". dos distúrbios de suas próprias relações anteriores. "de fracasso". de salda. determinando não somente os caminhos ulteriores da evolução mas. das sindromes e mesmo das "doenças".cular . Mesmo a famosa "hereditariedade" . do qual I. além destas. Os comportamentos manfacos não são concebidos senão como atitudes funcionais mais ou menos passageiras.D) AS FALSAS "NEUROSES" Quando se consulta o sumário de um tratado de psiquiatria no capítulo das "neuroses". Da mesma forma. seu aprendi. a exposição de síntese que intervirá no decorrer dos capítulos seguintes: na estrutura psicótica encontram . mostrou depender de fatores relacionais precoces ou tardios.O funcionamento mental. igualmente na ordem decrescente do arcaísmo das fixações e re- 118 . ou seja. Entretanto.preendida em termos de pré-história relaciona!. pois as mesmas repre. depois de conversão). passageiro.gressões. logo de uma estru. convém examinar mais atentamente suas diversas na. sendo secundariamente deslocada e projetada sobre o objeto fobigênico exterior. certos animais. e unicamente a este nível é possível proceder a um diagnóstico estrutural. da qual falaremos mais adiante.sim definidos. Em resumo. podem ter valores simbólicos genitais. poder-se-ia conceber. CHILAND (1967). De outra parte. Com os comportamentos fóbicos acontece o mesmo que com os comportamentos homossexuais ou masoquistas: não podemos falar acerca destes sujeitos. siderante. Da mesma forma.A maioria das outras refere-se a reações depressivas ainda não es.cos e depressões (e suas reações maníacas defensivas). a angústia mostra-se. Por exemplo: A "neurose fóbica" não existe no plano estrutural: trata-se ou de manifesta. partindo das regressões mais orais em direção à regressão anal. Para C. histeria (primeiro de an.protetores ou agressivos. nem mesmo uma es. situações.turezas: as únicas fobias de estruturação neurótica entram no quadro da histeria de angústia.gústia.). ruas. melancolia. neurose obsessiva. O que importa continua pertencendo ao plano metapsicológico. um panorama nosológico compreendendo: es.turas certamente encontradas). pois. no seio de uma estrutura psicótica ou de um estado limite que luta contra a depressão. doenças do caráter. paranóia. algumas de natureza psicótica. transporte. depois à fálica e à genital (com todas as mis. acima. as fo. as fobias da primeira infância. A "neurose de angústia " não é de estatuto neurótico. seria aventuroso ligar-se ao aspecto sintomático das manifestações ansiosas (por exemplo : animais. de "estruturas". concomitante com uma crise de descompensação brutal no seio de uma organização até então pré-de. impulsões.trutura. dependendo do caso.quizofrenia. seria necessário considerar distinções econômicas entre as pré-fobias. nem mesmo de quaisquer entidades concebidas de maneira monolítica.sentações fobigênicas podem corresponder a mecanismos estruturais muito di. Por exemplo. o sujeito não percebe nem o lado agressivo.tura histerofóbica tal como a descrevemos .cas impede-nos de considerar como de estruturação neurótica toda e qualquer categoria (mórbida ou não) que não corresponda aos imperativos estruturais as. O procedimento empregado acima para especificar as estruturas neuróti. ou de manifestações fóbicas (com deslocamento e evitação) operando com fins defensivos limitados. espaços. no que diz respeito ao nível estrutural das fobias.ções fóbicas de estatuto autenticamente genital e neurótico. nem o lado conflitua l de sua atitude. 119 . às quais reservaremos mais adiante um estudo à parte no contexto dos arranjos situados entre as duas estruturas. Quanto às fobias. etc. Resta um certo número de entidades que não constituiriam "estruturas" no sentido próprio do termo:perversões. neurótica e psicótica. mas um simples estado superagudo.truturadas.bias da segunda infância e as fobias do adulto.pressiva.ferentes . do ponto de vista genético.de infcio. estados psicopáti. não de castração. ou sej a. A "neurose de fracasso" constitui uma simples manifestação repetitiva do tipo quer masoquista. ou então. em função do noss o próprio sistema de referências e valores. rara. propriamen. pleno de proj eções diversas da parte dos psicopatologistas.mente. Na realidade. por certo. mas assinala uma economia depressiva e liga-se a tais organizações. estudada na segunda parte deste trabalho. bem menos ainda. a ter a impressão de que ninguém buscava enxergar clar o neste domfnio misterioso e esotérico. do qual trata . ou da cura de uma estrutura neurótica obsessiva ou histérica (mais raramente de uma estrutura psicótica).A "neurose traumática" nada mais é que o resultado. trata-se de uma autêntica economia depressiva.no plano depressivo (e não geni. o que é mais comum. mais ou menos inquietante) em tal categoria de quarto de despej o. 120 .tal) da crise precedente. em contrapartida. pois as entidades clínicas precisas descritas sob estes termos não correspondem a uma estruturação de modo neurótico. em nada contribui para com o avanço do conhecimento dos mecanismos profundos destes ordenamentos rea.te. por vezes.remos no próximo capítulo.legais. não erotizado). nada mais é do que um ordenamento mais estável das organizações anaclfticas. mas de per.da do obj eto. mas a maioria divide- se entre os perversos verda. A patologia do caráter. nem unfvoco: evidentemente. As "psicopatias" por muito tempo foram assunto das crônicas psiquiátricas. estruturas neuróticas. até médico. No capitulo a seguir veremos que os "psicopatas" podem ser divididos em vários grupos: alguns são. nem dizem. entidades tão polimorfas não pertencem. o que se presta a desagradáveis confusões. e classificar todo asocial (mais ou menos simpático.são" dita "de caráter"."perver. a "neurose de caráter" mostrase uma expressão imprópria. A "hipocondria neurótica" não se situa em um registro genital. ou "psicose" dita "de caráter".tivos e. de uma organização anaclítica que cai para o lado depressivo desde que apareça qualquer angústia. mas ao registro anaclitico. psicológicas. aliás. parece que o problema das psicopatias não é simples. de sua eventual terapêutica. quer simplesment e autopunitivo (isto é. realmente. Chegou-se. não sendo apanágio de qualquer estrutura.ção desta. por cima de uma estrutura neurótica e em fun. reconheceu Germaine GUEX em 1950) ao registro neurótico. a nenhuma estrutura. autênticas estruturas psicóticas e.deiros e os três ordenamentos caracteriais: "neurose" dita "de caráter". respeito ao "caráter". mais ou menos durável. A "neurose de abandono" não pertence (como. A "neurose de caráter" não mais tem direito a uma classificação entre as estruturas neuróticas . Dever-se-ia normalmente fala r de "comportamento de fracasso" e não de "neurose de fracasso". A "depressão neurótica" deve ser examinada sob um duplo aspecto: ou trata-se de um movimento depressivo reativo na evolução espontânea. Embora o "caráter neurótico" corresponda efetivamente a arranjos de um dado registro caracterial. Por todos estes inconvenientes é que Patrice vem à consulta. em condições plenamente satisfatórias. de mor. Patrice não tem qualquer atividade.rer no hospital ou de morrer à noite. A preocupação em conhecer primeiramente todo o nível estrutural latente e profundo sobre o qual será possível fazer repousar o diagnóstico e o tratamento obriga-nos a distinguir. têm sido apresentadas descrições clínicas. Obs. não conseguindo passar a noite sozinho com ela. ao nível das defesas ou dos traços de caráter. correspondendo a casos reais. de casar-se. no lazer e até no sono. Para ilustrar a presente proposição acerca da multiplicidade estrutural das fobias.diana. Para ele. 121 . sem por isto pas.sas. O cirurgião. embora viva há dois anos com uma namorada. não o teria anestesiado. examinemos agora três observações de pacientes fóbicos. por um lado estruturas psicóticas diversas apresentando. apresentando momentos de desrealização.morada para esquiar no dia seguinte. CAL LIER (1969). no plano patológico. desde esta intervenção. n!! 9 Um caso de fobia psicótica Patrice vem consultar por causa de um medo de sair de casa. Ele sofre igualmente de vertigens e distúrbios funcionais diversos. medo de hospital. Ora. Ele tem 22 anos e nos diz que tudo começou por ocasião de uma operação cirúrgica de septo nasal.sar a um modo de estruturação psicótico. por outro lado. contrariamente às suas promes. em tais observações. manifestações de aspecto histérico e. mas tem de voltar no mesmo dia. Esta atitude frisa o delfrio de perseguição e comporta ameaças de revide.Os casos n'? 1O e 11 já foram objeto de um estudo conjunto publicado com J.do a organizações econômicas diferentes .A psicose hist rica merece um último e breve parágrafo.tar-se de seu domicilio. Um dia. corresponden. vive com uma amiga da infância em uma casa de subúrbio pertencente a seus pais e é totalmente sustentado por eles. uma angústia da noite. tenta partir para um chalé nas montanhas com sua na. longe dos pais e cercado pela neve. tudo provém da intervenção e da brutalidade do cirurgião. Tudo isto impediu-o de prestar serviço militar. do tipo histérico grave. Em função do ponto de vista estrutural aqui exposto. de afas. de assumir um posto apesar dos seus estudos universitários medianos. cuja importância inquietava muito a famflia. Entretanto. não podemos considerar senão como um barbarismo o fato de unir os substantivos "histeria" e "psicose". ao passo que antes sofria de epistaxe. ele não tem mais sangramentos nasais. diz ele. Estas dificuldades igualmente constrangem-no em sua vida coti. há dois anos. estruturas neuróticas. .. pois. hospitais. mas nunca estando em casa. descrevendo. de 50 anos. tanto por causa da hemorragia narcísica quanto por falta de identidade pessoal completamente constituída. Encontramo-nos."Ele teria podido morrer noite de hemorragia nasal.ga. mas é incapaz de vender o que quer que seja. que veio consultar com seus pais por uma fobia das ruas e. uma lavagem quase diária por uma hipo. Em contrapartida. diretor de uma fábrica importante. A relação fusional com a mãe tóxica não causa a menor dúvida. competente.tica não provoque nenhuma dúvida no atual estado de coisas.lacionais profundos e irredutíveis apenas conseguiu aparecer depois do desaparecimento dos suportes racionais (epistaxe).taxes . passa rapidamente pelo pai. assunto do qual de forma alguma havia falado espontaneamente (depois de meia hora de entrevista). vigiava -o incessantemente quanto a este aspecto. embora o modo de estruturação psicó. Os sonhos e os fantasmas evocam a fragmentação. ficamos sabendo de detalhes importan .ções da realidade e o apragmatismo foram aumentando. cuja expressão manifesta fez sua aparição justo no momento em que a motivação racional havia desaparecido. de outra parte. aliás. bem no meio a uma economia plenamente psicótica.tética constipação . mais especialmente. cuja evidência dos danos re. apenas os comportamentos fóbicos dominavam e este pa. jamais havia tido tempo de demonstrar.nar nada com seu nome (o do pai). tampouco pretende lhe dar seu nome. acidentes. não o deixando nunca afastar-se dela durante toda a infância. aliás. Não consegue assi. ao final de algumas entrevistas. crianças estropiadas. por um médico.Suas únicas ocupações são a mecânica e a pintura abstrata. ansiosa quanto a tudo.o como um homem enérgico e trabalhador. A genitalidade jamais conseguiu atingir um estatuto organizador. dos cruzamentos. Esta mãe angustiava-se muito. Constrói móveis. sem que ninguém notasse.. Quando lhe pedimos que fale de seus pais. e sua amante não passa de uma ami." Esta ansiedade da mãe prolongou-se nele por uma angústia de morte. Diversos incidentes posteriores vieram confirmar a natureza psicótica da angústia em questão: os fenômenos fóbicos não constituem nada mais que manifestações exter iores da a ngústia subjacente de fragmentação e de morte. Obs. As nega. n!! 10 Um caso de fobia neurótica Trata -se de um jovem de 18 anos. em sua infância.. do pátio do 122 ..ciente por muito tempo pôde ser considerado como uma "neurose fóbica".que ele.. mas durante um longo tempo. a respeito de suas epis. Ela ad- ministrava-lhe.. estende-se longamente sobre sua mãe e.tes acerca da antiga relação mãe-filho: A mãe é descrita como uma depressiva. bora constitua o principa l mecan ismo de defesa do ego. em um estágio em que as defesas encontram -se ainda.nário. A angústia está bem ligada à castração e a um conflito latente entre o id e o superego . a evolução posterior foi muito satisfatória e confirmou o diagnóstico. Obs. Com efeito. importante posição social. O recalcamento não basta. Jean-Paul então ficou temeroso e ansioso. apesar da cobertura agressiva e o desafio insustentável ao superego.crita como sendo muito A escolaridade foi boa até a 1 série. único rapaz.. de um casal aparentemente sadio.cho mais jovem. aos poucos foram aparecendo sonhos melhores no decor. em. As masturbações.colégio. dos lugares públicos. assinalam as dificuldades do recalcamento e indicam a causa da angústia das ruas. a histeria de angústia.ranjo.petuosidade: um traz uma cena de relação sexual que se desenrola na rua. Via apenas um meio de defender-se diante desta angústia: fazer-se admitir na enfermaria. Jean-Paul era o 5<:? filho. são acompanhadas de fantasmas agressivos ou de violações. nem o que era real e imagi.mente flex íveis para não serem consideradas incapazes de um melhor ar. É um mãe é des. fobia esta por vezes acompanhada de uma angústia aguda de não saber mais quem era. veio consultar por fobias que o constrangem quando está só na rua. Se viaja sem estar acompanhado. depois de diversas tentativas medicamentosas ineficazes. Aos poucos.. justo diante da fábrica do pai. muito culpabilizadas.. suficiente. que ama seu filho. inicialmente. atacado por um ma. A afetuosa. salva-se e abando na o lugar.rer do tratamento. teve de ficar em casa e abandonar os estudos . Sozinho em seu apartamento. É evidente que nos encontram os no Édipo. discretamente ansiosa e superprotetora . Os sonhos traduzem a mesma im. nc:? 11 Um caso de fobia anaclftica Jérôme é um comerciante de 34 anos. retorna depois de alguns quilômetros. Encontramo-nos bem em meio a uma economia histero -fóbica. é tomado pela angústia. senão na presença de sua mulher ao lado. e que termina por um despertar bru. O pai ocupa uma homem forte. A relação de objeto é prox imal e genital.tal e angustiado. 123 . equilibra. Ele não consegue caminhar ou dirigir. tal como o de um galo velho que.do.. sendo idealizado e temido por este. felizmente. um pouco autoritária . O caráter erotizado do desejo. Trata-se da única categoria neurótica de fobia. quase afogou-se . Ele não fala do pai. e também dependente da mãe. A seguir. desde que estej a só e privado da presença desta mulher. por si só. Com a idade de 3 ou 4 anos. com efeito. Contudo Jérôme se casa.vimento hipomaníaco. descreve uma impressão de "explodir". Este contudo existe e era tão gentil quanto ele.dadeiramente triangular. Apenas pôde ser salvo graças à presença da mãe que estava por perto. O ideal de ego continuou sendo o de uma criança obediente diante da mamãe. seguinte).lidão. A relação de objet o apresentase como sendo completamente anaclítica. em suas crises de angúst ia. Bem parece. capítulo seguinte) com or. Jérôme apresenta uma personalidade bastante patológica: mais estado limítrofe do que neurose. Não existe qualquer base relaciona! do tipo ver. Ele acorda tomado de angústia e ritando "Socorro". O ego mostra-se fraco e frágil. Jérôme declara jamais "sonhar". os surtos de fobia se reproduzirão. no sentido em que consi. Jérôme apresentou várias "crises de nervos" inexplicadas. o substituirá em seus negócios e lhe permitirá um belo êxito comercial.damente seus limites e suas defesas. Entretanto. que pareciam mascarar um surto ansioso e depressivo mediante um mo. parece tratar -se de uma anestruturação (cf. cinco anos mais tarde. Ele era seu filho único e mimado. 124 .Estes distúrbios começaram há catorze anos. Jérôme fica sendo o obj eto narcísico complementar de sua mulher. que seu ego possa explod ir. Este constitui o seu segundo trauma. Jérôme.dadeiro superego internalizado. se não se conseguir reforçar rapi.mento e reanimou-o (cf. contra a angústia muito viva de perda do objeto e depressão. que se tornou indispensável (tanto para apoiá-lo quanto para ser agredida por ele). logo após a morte da mãe de Jérôme. a estrada está inunda.deraremos no posterior estudo dos "estados limítrofes".denamentos defensivos onde a permanência do objeto contrafóbico exter. Imediatamente desencadeiam-se crises de agorafobia e de fobia da so. como o foi de sua mãe.da e a água sobe cada vez mais. ela pegou-o no justo mo.cias. com uma mulher enérgica e protetora que o apoiará e o estimulará. A identificação com o pai parece não haver se efetuado absolutamente e nada permite reconhecer um ver. Jérôme sempre foi uma criança obediente e não teve conflito aparente com o que quer que fosse.no desempenha o papel essencial e protege. Mais do que de um conflito entre instân. mas desde a primeira entrevista tem um sonho de afogamento: ele está só em seu carro. Sua mãe mor reu quando ele tinha 22 anos. Sua mulher parece não se queixar . As relações sexuais de Jérôme oscilam entre impotência e ej aculações precoces. cap. contudo. mas sobre um modo puramente anaclítico. atingido este nível. aniqui.lamento e morte. O recalcamento não era mais suficiente para manter o ego fora da zona de emergência da angústia . mas não estava longe disto quando veio procurar-nos pela primeira vez. sem ainda ter.se no limite da angústia de fragmentação. logo. sem ainda haver entrado no registro da linhagem psicótica. mas com a condição de que esta fosse incessantemente ordenada pelos resseguros narcísicos indispensáveis a uma relativa quietude. Sua angústia continuava sendo de perda do obj eto. A relação de obj eto havia-se estabelecido não sobre um registro genital. O contato com a realidade ainda estava pre.Jérôme encontrava .servado. não se referia à castração. 125 . menores. 1883).frustras. em potência.---. Em outro movimento de investigação.cas esquizomorfas. numerosos autores têm tentado atenuar. mas estas duas denominações têm sido obj eto de incessantes re.r------------------------------- As anestruturacões 1. esquizoastenia.racteriais. mistas. 1958). de precisar as entidades clinicas ou es. incipientes. esquizozes (CLAUDE. desde a criação destes termos. crônicas.truturais às quais deveriam ser reser vadas tais categorizações. e todas as esquizofrenias ditas pseudoneuróticas. heboidofrenia (KAHLBAUM. Situação nosológica Estima-se habitualmente que o termo "neurose" tenha sido introduzido em 1777 por W illian CULLEN e o termo "psicose" apenas em 1845. que se tornaram de. 1920). esquizofrenias latentes.TERSLEBEN. polimorfas.masiado categóricos: os psiquiatras. esquizomanias (LAFORGUE.zofrenias de evolução favorável ( LABOUCARIE. afe. ambulatórias. em particular.manejamentos e limitações quanto à sua significação própria. esquizoidia (KRETSCHMER. 1885). 1911). 1927). 1925). organizações esquizó ides de caráter. esquizofrenia simples (BLEULER. pseudopsicóticas (dos autores americanos). por FEUCH. organizações psicóti. os termos "neurótico ou psicótico". ao contrário. criaram mais de quarenta denominações para dar conta de possibilidades nosológicas ou estruturais que não podiam entrar no quadro próprio das organizações vedadeiramente psicóti. psicológicas ou psicopatológicas não pararam. formas benignas de esquizofrenia. esquizonóia. pseudoca. leves.tivas.cas ou neuróticas: formas atenuadas de demência precoce (KRAEPELIN. larvares. falsas esqui. apsicóticas. As diversas escolas psiquiátricas. 1921). esquizotimia (BLEULE R. bem como estados psicó126 . os apáticos. do tipo parapsicótico descrito acima. delfrios neuróticos de compulsão. certas personali. 1947). as caracteropatias.g. bastante focalizadas. nesta posição nosológica incerta. Pode-se acrescentar a esta lista o grupo das denominações "pré-psicóti- QS" diversas das psicopatias (E.. as reações psicó. Para alguns. num grande número das famosas "neuroses de ca·ãter" e situações de aparência perversa. ou da segunda atitude. os mitomanfacos (DUPRÉ. nume. paranóides abortados. apercebemo-nos de que certos casos parecem corresponder a estruturações autenticamente psicóticas. toxicômanos ou delinqüentes. POROT (1965) lembra que devemos ser muito prudentes quanto às form as atfpicas desta afecção. os dese::Jillbrios caracteriais. ou "depressivos". e M. estados de angústia difusa evi. Ora.l uma série de entidades clfnicas ou modos de funcionamento mental aos quais não podem convir os dois grandes quadros estruturais que acabamos de estudar no capftulo anterior .dentemente não-neurótica. ou não. DUPRÉ.:os incipientes. em uma economia psicótica? Quando se examina bem de perto as observações apresentadas pelos au. Constatamos imediatamente que a maioria dos autores está de acordo acerca de um ponto de partida. alcoolistas ou pseudomelancólicos. Desde os trabalhos de EISENS. BOREL. etc.dades perversas.rosos estados ditos "mistos". em 1949. as psicoses marginais ("randpsicoses").cluir o que não pertence nem nem à à estrutura psicótica estrutura neurótica. acentuando o rigor dos termos para ex. ou ainda pouco 127 .cotização do tipo melancólico. parece tratar-se de formas menor es de psicose e.nia va riam de um escola para outra. muito crfpti. que dilui estes mesmos termos para estender sua aplicação a outras categorias vizinhas.cuilfbrios psfquicos (J. ou de encontro. os critérios nosológicos da esquizofre. 1945). Este ponto de vista é desenvolvido por H.tores que sustentam esta primeira posição. etc. Quer se trate da primeira atitude.. O problema parece ainda mais delicado no domínio das pré-psic oses: já estamos. os processos psicó-. as personalidades "as if" ou "simili" (Helene DEUTSCH.cábulo inglês "border-lines".cas. "estados limftrofes" (états limites). mais comumente. agrupa-se a maioria destas entidades sob ovo.anas. a : aranóia sensitiva. Este último termo é o que empregamos de forma corrente nas investigações pessoa is publicadas a partir de 1966. 1925) e personalidades psicopáticas (K. porém distintas. Podemos compreender também. forma s menores de esquizofrenia. O mesmo problema foi levantado a partir da paranóia e suas formas larvares ou menores e também no que diz respeito às formas não acabadas de psi. em especial.TEI N. os rabugentos. em ambos os casos cabe dar conta da existência dE. 1925). SCrlNEIDER. os dese. os "sonhadores acordados". Os trabalhos das diferentes escolas ainda divergem quanto à posição no- sológica exata que deva ser conferida a tais organizações. principalmente. 1955).-=os ·ntrovertidos (JUNG. E Y e seus colaboradores (1955 e 1967). traduzido por "casos limftrofes" (cas limites) ou. as personalidades hebefrênicas. 1907) ou pseudoesquizofrênicos. Numerosas manifestações fóbicas são dispostas em tais posições. sobre o narcisismo. GREEN (1964). Uma terceira posição teórica conheceu um sucesso bastante grande ao de. de A . de GRUNBERGER (1958) e PASCHE (1955). variado. O. uma estru. STERN (1945). KERNBERG (1967) puseram em evidência argumentos econômicos determinantes. portanto. de LEBOVICI e DIATKINE (1955 e 1956) e MISES (1968). contudo sem variação da organização de base: por exemplo.tomas. Contudo.trutura histéric a pode apresentar.tura psicótica não descompensada que se defenda perfeitamente bem com o au. de NACHT e RACAMIER (1967). uma es. variações de defesa ou de sin.gos d ater-se apenas aos sinais exter iores e conferir . Em seguida. durante um bom período de tempo. ou em alguns momentos pos· ter iores que possam corresponder a retardas da adolescência.monias evolutivas e das pré-psicoses na criança.lhes um va lor nosológico em si. A. EISENSTEI N (1956).dente. até o dia em que se descompense e entre em dellrio.ria. considera este grupo de categorias atípicas como podendo const it uir for.tente. H. consi. acerca das pré. sobre os limites entre neuroses e psicoses. Um quarto grupo de autores.dera os estados limltrofes como constituindo uma unidade noso/ógica indepen.ia realmente de uma metamorfose da estrutura. A. as estruturas de base não terão. não se pode confundi-las com organizações de aspecto exterior viz inho que.tural ou de estados clínicos que de fato se encontravam em situação intermediá. R. acerca das desar .xflio de defesas do tipo obsessivo pode ser tomada por uma estrutura neurótica. Em contrapartida. Uma segunda posição.fender a existência de formas de passagem entre neuroses e psicoses . tais como os def inimos no capítulo precedente. sucederam-se os tra.descompensadas. pode-se conceber. Na Europa. M. KNIGHT (1954). M. sobre os es. mas conservando um estatuto neurótico. da mesma forma. CLAUDE (1937) desenvolveu este ponto de vista . no plano la. É possível responder que a concepção defendida aqui não pressupõe tais "passagens" senão por ocasião da adolescência. surtos agudos de aspecto delirante e psicótico. situadas muito perto das psicoses. não cessamos de atrair a atenção dos clínicos para os peri.esquizofrenias da adolescên· cia. de 128 . formas graves de neurose. ao passo que outros casos parecem não repousa r sobre uma estruturação psicótica em fu nção de seus dados econômicos de base. Em 1964. no seio da mesma estrutura.gústia". BOUV ET (1967) ateve-se ao rigor descritivo das diferentes relações de objeto. Para MARKOVI TCH ( 1961) tratar-se. Os psicanalistas anglo-saxões foram os primeiros a defender este ponto de vista: V. SCHMIDEBERG (1959).balhos de MALE e GREEN (1958). porém.dade de uma possível continuidade entre estruturas neuróticas e psicóticas. GREEN evocou a event uali. EY (1955). Embora ex istem. de GENDROT e RACAMIER (1967) sobre a "neurose de an. cada vez mais numeroso atualmente. mas não estabeleceu com precisão se se tratava de uma verdadei ra mutação estru. até decompensar de maneira neurótica evidente. menos difundida e igualmente citada por H. seguramente. W. sob a forma de histeria de conversão ou de histerofobia.mas maiores de neurose.tados depressivos. não reconhecem o primado do genit al. subitamente. acima de tudo. As imperfeições e os fra . por ocasião do inicio do Édipo.mente. 2. talvez.gular e genital com seus obj etos. GRESSOT (1960) e B. O tronco comum dos estados limrtrofes Da mesma forma que a figura 2 nos mostra a evolução da linhagem es. de uma tentativa de sedução sexual qualquer da parte de um adulto. pois. um fato da realidade do contexto. posslvel negociar uma relação trian. mais custosos 129 . a evolução da linhagem estrutural neurótica.turais não teria. como é o caso no verdade iro Édipo.trutural psicótica e a figura 4. suas adaptações e defesas.cótico.cassos do recalcamento serão freqüentes. quanto inversamente. 4) um sujeito de estatut o "pré- neurótico" . um risco de perda do objeto. corres- pende. seu caminho rumo ao Édipo quando. é sentido pelo suj eito como uma frustração muito viva. Da mesma forma. para que pudesse ser enfrentado em condições inofensi. Foi na linha dos autores americanos e europeus que desenvolvi minha in.vas: trata-se.ções demasiado grandes o momento em que as relações iniciais e precoces muito más com a mãe teriam podido operar uma pré-organização do tipo psi. no caso dos estados limítrofes. tanto apoiar-se no amor do pai para suportar seus sentimentos hostis para com a mãe. (cf.gura 6 correspo nde à 'evolução do "tronco comum" dos estados limítrofes. em uma situação edipiana para a qual não estava.lutamente.cas e genéticas específicas de uma organização mental que comporta. apoiar-se no amor da mãe para negociar seu ódio do pai. em um outro momento. por exemplo. esta situação relaciona! triangular e genital não pode ser abordada em condições normais. a uma emoção pulsional intensa que sobreveio em um estado ainda mal organizado e imaturo demais quanto a seu equipamento. massiva e 'precocemente demais.MARTY.fig. O ego. o mesmo impacto significativo.marei de "trauma ps(quico precoce". então. FAIN. em particular. Tal trauma deve ser compreendido no sentido afetivo do termo. sem muitos empecilhos. melhor equipado. flutuações e imprecisões. SCHMITZ ( 1957) sobre o verdadeiro problema dos estados limítrofes. que em outras circunstâncias estru. Este ego continua. é a isto que cha. Ser-lhe-á.vestigação. preparada. tentando definir com o maior rigor possível as bases metapsicológi . justa . DE M'UZAN e DAVID (1963) sobre as regressões psicossomáti. brutal. como poderia fazê-lo um pouco mais tarde. como no "homem dos lobos". impossível. tentativa mais comumente real e não apenas fantasmática. a fi. Não lhe será. superou sem frustrações nem fixa. abso. Pode-se considerar que a criança entrou de um só golpe. mais comumente. ser-lhe-á diflcil utilizar plenamente o recalcamento para eliminar do consciente o excesso de tensão sexual ou agressiva. A criança se achará colocada diante da necessidade de apelar a mecanismos de defesa mais arcaicos.cas e as sínteses apresentadas por M. Masso n. para cobrir toda uma parcela da idade adu lta. Contrariamente ao que se passa na linhagem psicótica (figura 2) ou na li. uma das quais. Este bloqueio evolutivo da maturidade afetiva do ego no momento em que este ainda não está sexualmente diferencia do constitui aquilo que chamei de "tronco comum dos estados limnrofes" (cf. pois. . este tronco comum não pode ser considerado co. no sentido em que a entendemos em nossa concepção.lidades de mutações. infelizmente.dade quanto todas as aquisições (ou faltas) prégenitais. ela não se beneficia. com suas possibi.dez e da especificidade definitiva das organizações verdadeiramente estrutura. por vezes mesmo a totalidade do período adulto do sujeito. da fixidez. o "tronco comum" tenta vergar-sr:· e prestar-se a murtas contorsões. em uma espécie de pseudolaMncia mais precoce e durável que a latência normal. BERGERET. conforme logo veremos. até a sua morte. recolocando em jogo e em questão tanto os inícios da genitali. com o objetivo de permanecer a igual distância das duas grandes estruturas. Trata-se de um esforço custoso do ego que necessita incessantemente coloc ar em jogo onerosos contrainvestimentos ou formações reativas. aliás. Trata-se de uma "organização" de estatuto provisó. esta evolução f:xada. de inicio. da soli. Esta pseudolatência se prolongará para bem além daquilo que deveria ter sido a adolescência . a identificação projetiva ou o manejo onipotente do objeto em ge'"al. 130 Paris.mentos afetivos. mas não fixada. a outra.104).:>aTa o ego e mais próximos daqueles empregados pelo psicótico. vontade e angústia da genitalid<• de neurótica e dos prazeres que esta poderia proporcionar. e às vezes por muito tem.rio. mas vontade de ter as defesas mais sólidas que a! se encontram. tal como o caniço da fábula. e intensos investimentos e desinvesti.mo uma verdadeira estrutura. de. O tronco comum dos estados limítrofes apenas consegue ficar em situação "ordenada". 1972 (principalmente p. tais como a -egação de representações sexuais (e não da realidade). a clivagem do obj eto (e . ficarão como "ponto de mira" ambíguo para o ego: de um lado.pois aquilo que deveria ser o trabalho afetivo da adolescência.sob suas formas mais variadas e sutis 1• Este primeiro trauma afetivo ou "trauma precoce" desempenhará o papel de primeiro desorganizador (ou "desorganizador precoce") da evolução do sujeito. de forma a não quebrar durante as tempesté1des afetivas. do outro lado. 6). esta pseudolatência recobre a seguir o período de latência normal. angústia de cair na fragmentação psicótica. "Le Problême de! défenses". felizmente. transformações. ou seja. 1 Cf. in Abrégé de Psychologie pa/ho/ogique.das. Encontraremos. Estas duas estruturas verdadeiras.po. ainda que um tal ordenamento possa prolongar- se por bastante tempo sem muitas modificações. não atingida (a estrutura neurótica) pela evolução pulsional e adaptativa do sujeito. Em meio a todos estes problemas que.ão do ego ) . fig.nhagem neurótica (figura 4). superada ·(a estrutura psicótica). nais do ego no interior da personalidade limítrofe. Trata-se acima de tudo de uma doença do narcisismo. destinada justamente a evitar a ameaça de rompimento. O próprio nú.texto de uma clássica adaptação aos dados da realidade exterior. absolutamente. A organização limítrofe É próprio do estado limítrofe apresentar-se. EISENSTEIN (1956). mesmo parcial. Tal con. tanto no plano narclsico. A estruturação psicóti. Hei. FAIRBA IN (1952). Robert KNIGHT (1954). Todo o problema "Jconômico da organização limítrofe se desen rolaria nas relações entre estes dois sistemas. GREEN (1962) e Otto KERNBERG (1967).dadeira clivagem do ego. O ego deformase em algumas de suas funções e irá operar sobre dois registros diferentes: um registro adaptativo. intermediário entre neuros e e psicose. permitindo ao ego uma certa mobilidade e segurança.se excluído. de um rompimento. D.fl ito apenas pode ser concebido como genital e edipiano. em todo o campo relaciona! onde não existir qualquer ameaça para o indivíduo. tal como se encontra nas estruturas psicóticas. Quanto à organização limítrofe.rich HARTMANN (1956). um registro anaclítico. Não se trata. a depressão. ao mesmo tempo adaptativos e defensivos. Esta dualidade de setores operacionais não pode ser confundida com uma ver. fixado essencialmente às necessidades narclsicas internas. como o próprio FREUD muito bem descreveu em 1938. desde que apareça uma ameaça de perda do obj eto. quanto no plano genital. por seu turno. Sabemos que é próprio da estrutura neurótica repousar sobr e um arranj o das condições de armistício no conflito latent e que opõe o id ao superego através do ego. o sujeito permaneceria demasiado massivamente dependente da realidade exterior e das posições dos objetos.pendência anaclftica do outro. mas de uma simples reação defensiva nas atividades do ego. em conseqüência a perigos. o ego não conseguiu chegar a uma psicogênese do tipo neurótico. como W . bem como da dis- 131 .do uma verdadeira solidez.cleo do ego não é atingido por esta defesa. conflito onde o ego acaba achando . o perigo imediato contra o qual lutam todas as variedades de estados limítrofes é.3.ca. ao anaclitismo assegurador. acima de tudo. porém jamais constituin. tanto no plano narclsico quanto no plano genital. sempre insistiram na coexistência de dois setores operacio. A. permanecendo um no con. Michel GRESSOT (1960). funcionando o outro segundo um modo muito mais autônomo em relação à realidade. do ponto de vista estrutu ral .Superado o perigo de uma psicogênese de tipo psicótico. do ego. A) O EGO ANACLÍTICO Os autores que se interessaram pela economia das organizáções limítrofes. ela não se situa em nenhuma destas duas dialéticas. de outra parte. como em todos os pontos. a relação do obj eto permaneceu centrada na de. corresponde a um conflito entre pulsões e realidade. em seu artigo sobre a clivagem do ego nos mecanismos de defesa. Todas as organizações limftrofes. podendo em um momento particularmente angustiante. Conservam certo grau de flutuação. de M'UZAN e C. MARTY. Seu objeto é sentido como persecutó.tãncia destes em relação a ele.po.os na necessidade de tornarem-se disponlveis e adaptáveis a todo e qualquer momento. como bem demonstrou Adolphe STERN (1945). em estarem "ordenados ". nem específicas. de forma essencialmente passiva. Existe uma evidente e excessiva necessidade de compreensão. em suas fixaç ões.deitado sobre o dorso. Sua dificuldade para envolver-se coloca. como na maioria dos casos de estruturação neurótica. afeição e apoio. um olhar ainda vol.tam antigas frustr ações infantis significativas.bidos como "esfolados vivos". M. mas ainda muito atrás desta. 111 2) na tentativa de assustar a quem poderia frustr á-los. Sua luta sem fim contra a depressão obriga-os a uma incessante atividade.se. que despe r. O ego do estado limftrofe conserva. na falta de poderem estar reale duravelmente adaptados. de se mostrarem sedutores. Os sujeitos em questão manifestam uma imensa necessidade de afeto. mas devem ser resolutamente dispostos do lado das organizações limftrofes . Seu narcisismo está mal estabelec ido e permanece frági l. as defesas empregadas por tal ego não se mostram nem só lidas. fazer um retorno parcial a este modo arcaico de expressão que utiliza a linguagem cor. Tais estados contentam . com importante ambivalência. mas nunca tanto (nem tão analmente) quanto no paranóico. apenas podem constituir estados indecisos do ego que ainda não se encontra realmente estruturado de maneira formal e definitiva. em comparação com o "pequeno Hans") não constituem simples "neuroses fóbicas". A expressão 132 .Assim como na neurose obses . 8) A RELAÇÃO DE OBJ ETO ANAC LÍTICA Conforme indica o termo grego "anaklitos". E m seu aspecto geral. As organizações limítrofes resistem mal às frustrações atuais.sempenha o duplo papel de superego auxiliar e de ego auxiliar.cos nos quais encontra-se envolvida a regressão sob esta fo rma (por exemp lo.poral. tratam. a uma simples regressão pul. Foi isto que nos levou a considera r que numerosos comportamentos fóbi.tado para a antiga indistinção somatopsíquic a ( P. mas infelizmente esta possibilidade ocorre em detrimento da sua robustez. conforme vimos acima. estes sujeitos. nem fixas. sit uando-se.rio. facilmente utilizam traços de caráter paranóicos (cf. DAVID. A regressão constatada no ordenamento limftrofe não corresponde. este obj eto de.siva. nem intercambiáveis demais. comumente perce. em geral "não muito mal" ordenados. "o homem dos lobos".sional que incide sobretudo nas representações . trata-se de achar-se virado para trás. como proibidor e protetor ao mesmo tem . pois. constatamos a existência de uma degradação parcial da própria pulsão. pois. respeito. situando-se no eixo do "tronco comum". 1963). "inclinar-se para".cisista. traduz a ne. mas também não dependem unicamente do pólo materno.nar analmente a ambos em partes iguais. É comumente evocada a imagem do cachorrinho. trata- se. tem o outro em seu poder? 133 . em uma relação de objeto do tipo principalmente anaclltico. como todo apego deste gênero. manifestam uma relação de modo genital. etc. o cão ou sua "patroa". A elaboração genital ainda não avançou suficientemente para permitir que o interlocutor represente um pai (parent) edipiano. a vital necessidade de sua proximidade. sob a neve. de Hélêne DEUTSCH (1945). da coleira e da dama que o leva a passear: qual dos dois. Referindo-se à figura 7.dos em uma economia autenticamente genital. "deitar-se contra".lha sexual.grega "anaklitos thronos" corresponde ao que atualmente chamamos de espre- guiçadeira. mas de outra parte. Estas ainda não se acham ligadas a uma esco.cessidade de dependência do objeto. e não como pais sexuados. de agredir e domi.ce vivida e j ogada a dois. atestando um particular apego ao objeto que. as fixações aos estágios muito pre. tanto em espera passiva e demanda de satisfações positivas. dizendo respeito tanto ao pai quanto à mãe. A relação de obj eto anaclítica constitui uma relação de grande dependência que permane. As frustrações sofridas pelo anaclltico situam-se mais tardiamente do que no psicótico. Os sentidos derivados do termo "anaklitos" prestam contas dos mo.) ficariam em parte bloqueadas em sua evolução afetiva. Isto é bem próprio da organização limltrofe. na rua.vimentos de "dobrar-se sobre". com a qual A imagem do "companheiro". às 23 horas. mas de maneira muito diferente do jogo fusional do psicótico com sua mãe. Maurice BOUVET (1967) mostra que o "pai" (parent) representa sempre convém conservar um modo de relação do tipo pré-genital. ao passo que as organizações li. já não mais se trata de uma mãe de esquizofrênico. para a última e obrigatória saída noturna. trata-se de ser amado e ajudado por ambos os pais. É preciso apoiar-se no interlocutor. perseguidor ou perseguido. quanto em manipulações muito mais agressivas. uma imagem fálico-narclsica assexuada. de outra parte (conflito de objeto edipia. coloca os dois parceiros alternadamente no papel de grande ou pequeno. "neuroses de abandono". evidentes ou não. Para o anaclítico.no). e que as estruturas neuróticas.Béla GRUNBERGER mostrou (1958) que estes pais ainda não se encontravam situa. porém enquanto "grandes". pois. Estamos muito próximos da clássica relação de objeto do tipo contrafóbico. podemos considerar que as estruturas psicóticas (correspondendo ao que FREUD chamou de "psicone uroses narcisistas" em 1914) apresentam uma relação de objeto do tipo essencial e exclusivamente nar.coces felizmente não atingiram suficiente intensidade.mltrofes do tronco comum (correspondendo em psicopatologia às "neuroses atuais". mostramse também muito menos massivas. deste parceiro indispensável. "neuroses traumáticas". 134 .----1 o ---- -------- l gl lu o o <! __ . z TRAUMA DESORGANIZADO PRECOCE INICIO DO DIPO ·!cS : Cl) O> ..--.J(l_) BANAL ( / I (I) OI m .-- I 1 I I I FIGURA 6: Gênese do tronco comum dos estados limltrofes.I --. u z <W 1- :) I I I I I I I I PSEUDOLATÊ NCIA PRECOCE ..---I IND IFE RE NC IAÇ ÃO SOMATOPSfOUICA EVOLUÇÃO l "'JL\j.rl LI. --1 I I I I I::E I I <! u z o <W u cn I Ow I oo I I --=.A.---- I -------·---- - ' DIVIDED-LINE .----.. ----------------------------------<! u z <<! O> .2 O> 1* UJ ::. w (]'I .id -realidade de perda do objeto clivagem dos objetos forc lusão anac lftica FIGURA 7: Comparação e ntre as linhagens estruturais.Instânc ia dominante na organ ização Natureza do conflito Natureza da angústia Principais defesas Relação de objeto ESTRUTURAS NEURÓTICAS superego superego com o id de castração recalcam ento genital ESTRUTURAS PSICÓTICAS id id com a realidade de fragmentação negação da rea lidade Desdobram ento do ego fusional ESTRUTURAS LIMfTROFES ideal de ego ideal de ego com: . distinguir bem estas três formas muito diferentes de angústia. obviamente. mesmo nos momentos de aparente hipomania e mui fervi. Da mesma forma que o modo de constituição do ego. nem considerada como evidente.GÚSTIA DEPRESSIVA Considerando-se a organização limítrofe apenas no estágio do tronco coum ordenado. não consegue resolver-se a perma. Com menos riscos de confusão do que ao nível dos sintomas superficiais. de ajudar no plano terapêutico. essencial no plano econômico e profundo. ao lado da angústia de fragmentação da estrutura psicótica (figura 7) e da angústia de castração da estrutura neurótica. de utilizar no plano escolar ou profissional. é a partir de um tal elemento. nunca muito profunda. de uma depressão do tipo melancólico. O luto. 1). relaciona! ou tera. assim.necer só: eis por que procura muito o grupo. Esta angústia peculiar à organização limítrofe é a angústia de depressão.? 11 constitui um exemplo clínico bastante característico de tal variedade de angústia . muito menos de "classificar" do que de "compreender" . na realidade. Esta angústia de depressão caracteriza a organização limítrofe e a especifica. Consideramos. Um certo nú. por ocasião da "pseudonormalidade" (cf. se achará grandemente facilitada. como o grupo agia para assegurar o imaturo. o único aspecto clínico desvendável corresponde aos modos de ·eação manifesta desenvolvidos para lutar contra a angústia subj acente.mente sendo de castração. O anacHtico tem necessidade do outro a seu lado.mero de psicopatologistas não cessou de protestar contra esta qualificação de "neurótica". Parece muito mais importante do que habitualmente se pensa. nem à sombra da triangulação edipiana. na psiquiatria.cHtico mergulhará na depressão. ainda. uma angústia de perda do objeto. embora tema os perigos da intrusão na proximidade grande demais. A depressão que eventualmente espreita a organização limítrofe acha-se mais comumente desc rita sob o vocábulo depressão "neurotica". à natureza do modo de estruturação (ou anest ruturaç o) da personalidade. pois sem o obj eto. que nos parece preferível fazer um diagnóstico que se refira.mento afetivo. os sujeitos que encontramos em 136 .se ar mais assegurado. o ana. o sistema de defesas ou o modo de relação de obj eto. igualmente permanece impossível. T ratase.pêutica. A observação n'. que de modo algum encontra-se organizada sob o primado do genital. achar -se introjetado. atribuída a uma economia na qual o superego desempenha apenas um papel modesto. tanto quanto para limitá-lo em seu desenvolvi.ao mesmo tempo. sentindo . É. 11. a resposta. porém. Não se trata. A maneira de escutar no plano relac iona!. a natureza autêntica da angústia profunda não deve ser estimada de modo aproximativo. e ocorre desde que o sujeito imagine que seu objeto anaclftico possa lhe fazer falta.lhe escapar.lhante euf oria. pois justamente neste estágio "limítrofe" o obj eto não pode. nossos diferentes papéis não pode ser uniforme. da evolu. a mesma necessidade de fazer a distinção.sintomas neuróticos. bem mais ainda do que na estruturação psi- 137 . uma esperança de salvação investida na relação de dependência fecun da do ou. As diferenças entre estrutura neurótica e organização limítrofe. dirigida para um futuro antec ipado de modo erotizado.depress o.tro.parsos na organização psicótica. e completada aqui.angústia de castraç o . do qual falamos anteriormente.vergonha . A linhagem neurótica corresponderia.ferida narcisista . Depois o Édipo se acharia de alguma forma "saltado" (enquanto organizador).gÚstia especffica de cada um assinala sua posição no mundo: a angústia de frag. A angústia de castração é uma angústia de falta. referir-nos à distinção estabelecida por Béla GRUNBERGER (1958).ideal de ego .são: narcisismo . entre os diferentes marcos metapsicológicos especfficos dos funcionamentos neuróticos ou narcisistas.mentação é uma angústia sinistra. O fato de os aspectos organizadores do Édipo não haverem conseguido entrar em ação na organização estrutural não quer dizer que não se encontre aquisição edipiana alguma na personalidade limltrofe. o ideal de ego. Enquanto persi te o ordenamento do tronco comum. mas de forma muito focalizada e estritamente circunscrita a setores restritos.angústia de per. em contra . à articulação dos fatores: dipo . no período que deveria marcar o infcio do Édipo clássico.da de objeto .peregóicos em tais ordenamentos. D) AS INSTÂNCIAS IDEAIS Encontramos. persiste um fosso bastante grande no plano das instâncias ideais.pressivo permanece muito limitado e discreto. mas atesta. ao passo que na or.ganização limítrofe. nem deixado ao acaso.conflito genital . descrito acima. assiste-se ao congelamento.perfeito. a angústia de depressão situa-se dizendo respeito ao passado e futuro ao mesmo tempo.superego . Do lado das estruturas psicóticas. Elemento s destas duas instâncias acham-se incontestavelmente presentes na linhagem psicótica. entre a organização limftrofe e os modos de estruturação psicótico ou néurótico. embora o papel do superego permaneça ainda muito im. de desespero e retraimento. ao passo que a linhagem narcisista corresponderia à suces. o movimento de. A an. ao mesmo tempo. de infcio. ao contrário. a propósito das instâncias ideais.culpa . Entre estas duas posições extremas. conforme diz Ralph GREENSON (1959).partida. tanto no que concerne ao superego quanto ao ideal de ego. ou seja. aquelas referentes à fase fálica. sem ambigüidade. comporta-se como um verdadeiro pólo em torno do qual organiza-se a personal idade. sem valor organizador geral. achando-se estas reduzidas ao estado de núcleos es. exigem uma reflexão mais atenta: é necessário. pois. Existem elementos edipianos e su.ção libidinal nas posições da parte mais elaborada das fixações pré-genitais. um passado infeliz. Ela lembra. para chegar ao período de pseudolatência. e que o retraimento dos primeiros elementos superegóicos desenvolverá ainda mais esta inflação do ideal de ego que. mas também da intensidade relativa do modo de recepção deste afeto. do ponto de vista maturativo. muito im- Pode-se afirmar que a função do ideal do ego já se achava fortemente investida anteriormente.estes eleme·ntos. durante o perlodo pré. chegarem a perturbar de.manecem incompletas. nada de ruim te acontecerá". a partir deste momento. mas ainda não "estruturas". Segundo nosso ponto de vista. com punição pela castração. à culpa (linhagem neu. mas o plano latente é bastante inquie.rótica). do grau de imaturidade do ego no momento do dito trauma e dos meios de que então dispunha para enfrentálo.dida em que as vivências edipianas se acharão sensivelmente escamoteadas .tável sobre os outros.. arrasta junto consigo os primeiros elementos superegóicos já constitufdos para as portantes em tais pacientes. não conseguirá constituir . muito mais do que com culpas por haverem "feito mal" no modo genita l e edipiano. Obviamente. De outra parte. em 138 . ocupará a ma ior parte daquilo que normalmente dever ia reverter para o superego na organização da personalida. A constatação do fracasso em suas ambições ideais sem qualquer medida com suas possibilidades pessoais não levará os sujeitos limltrofes a uma simples modéstia nem. nem todos os suj eitos que dependem do nosso "tronco comum" atingiram o mesmo grau de aquisições edipianas: a importância de tais aportes genitais depende das condiç ões de impacto do trauma desorganizad o r precoce: da intensidade absoluta do afeto ai ligado. compreende -se que tais personalidades per. BIBRING (1964) mostrou que a regressão pré-edipiana. ou seja.genital. não desempenham o ::épe principal de organizadores. Entretanto. é bem mais arcaico do que o superego.de. fixações. O superego clássico da estrutura neurótica. ao nfvel de um ideal de ego pueril e gigantesco. como este ideal de ego. "organizações" ou "ordenamen. surgirá o risco de ocorrerem manifestações depressivas no sujeito limltrofe que permaneceu a este nlvel. em caso de conflitos demasiado agudos.las. G. definido no fundamento mesmo da teoria psicanalítica.tos". frágeis e imperfeitas. na mesma me.se de forma complet a no suj eito limftrofe. realizada diante do medo de condições edipianas ocorridas demasiado precocemente no seio de um ego ainda mal equipado para enfrentá . eventualmente proje. s em qualquer dúvida. O plano aparente é tranqüilizador: "Se permaneceres em minha órbita. L. senão correrás grandes perigos': Os pais deste tipo. .na! com heróicas e desmesuradas ambições de fazer bem para conservar o amor e a presença do objeto. Os pais dos suj eitos limftrofes encoraj aram as fixações a uma relação estreitamente anaclltica. conscientemente ou não. como herdeiro e sucessor do complexo de Édipo. tanto aqui como acolá. Se estes sentimentos.tante: "N o me deixes.masiado vivamente o ordenamento estabelecido de forma ainda bastante incerta no seio do tronco comum. todo fracasso demasiado cruelmente registrado agirá de modo a cnar vergonha ou desgosto (linhagem narcisista) de si mesmo. ca. estes suj eitos abordarão sua vida relacio. do que por meio de expressõe s verbalizadas ou. as reações projetivas e a clivagem do objeto. é o recalca. E) OS MECANISMOS DE DEFESA Também a este nível. como pudemos ver acima.O recalcamento constitui um mecanismo bastante tardio e elaborado e desempenha um papel bem menor nas organizações limítrofes do que nas neuroses.nismos anexos prévios.ção constrangedora e situa-se muito próxima da negaç ão do sexo feminino. cuja representação simbólica é preci- 139 .mes de sérios conflitos.mento.certezas.comu. por vezes. O principal mecanismo de defesa neurótico. Confo rme mostra A .tra -investimentos do que o recalcamento. pois te amarei ainda mais". menos eficazes. A evitação da organização limítrofe é do mesmo tipo da habitualmente descrita sob o registro fóbico.trojetado e não introjeta. amanhã. A organização limítrof e deve. situa-se ao nível da facilida . logo. de forma inesperada e comumente incompreensível.apenas os interditos parentais. do qual falaremos mais adiante. Trata-se. as organizações limítrofes devem ser comparadas com as estruturas neuróticas e psicóticas. como ocorre sempre qu e o superego não esteja suficientemente bem constituído. uma intolerância às contradiçõ es e às in. O super ego.ela revive o conflito parental in.nas de aspectos negativos. FREUD (1952 ).contrada no ordenamento perverso. Outra conseqüência da fraqueza do superego.nicar sob o pretexto da necessidade de ação. paterno e materno. A forc/usão igualmente diz respeito a uma forma de rejeição da representa. recorrer a mecanismos de defesa me. Infelizmente. evidentemente. por motivos ainda mais forte s. É mais fácil. o que não poderá acontecer sem um certo anacronismo e uma notável inadaptação.geral.manipulá-los e integrá-los. Daí resulta. muitas vezes contraditóri as e sem contraparte g ratificante. por outros mecanismos acessórios . que comumente tem uma reputação temível. en. um superego demasiado inexistente obriga um ideal de ego arca ico. reveste-se ape. mostram-se insaciáveis no plano narcísico: "Faça ainda melhor e.os maravilho.nos elaborados. para o sujeito. Se um superego rigido demais carrega em si os ger. a forclusão. receberás tua recompensa. A forclusão endereça-se a uma imagem mais paterna.. mesmo quando esta acha-se isolada ou deslocada por meca. como no caso do estabelecimento do superego.de com que a representação mental ou a expressão verbal passam ao ato. do que deixar que se elabore m fantasmas ou idéias.. cujo estatuto relaciona! foi superado. ainda que ajudado. mas também menos custosos em con. pois. Diante de tais exigências.dora principal nos processos mentais. a criança vê baterem-se em seu interior os dois egos ideais. reconhecê-los . a retomar a função organiza. estes são principalmente a evitação.sos "amanhãs" nunca ocorrem . de evitar o encontro com a representação. aos poucos irá na direção da claustrofobia ou das desrealizações. Evidentemente a proj eção clássic a serve tanto ao ordenamento lim!trofe quanto ao fóbico para situar no exterior a representação pulsional interior. o ego "se deforma" para não ter. de um simples desdo. desde que percebidos 140 . aqui. em sua repetição e intensi- dade comumente crescentes (por necessidade defens1va cada vez mais cerrada). Sob denominações diversas.gem do ego ligada ao rompimento ou simples desdobramento des1e. Ele funcionará distinguindo dois setores no mundo exterior: um setor adaptativo. ao passo que outra parte.se. que lhe exige uma melhor elaboração genital. não mais se dirige simplesmente ao recalcamento. e um setor anaclítico. NBERG (1967) pensa que assim se chega ao que deno. o ego ent retanto distinguirá. por verdadeiro desdobra. As reações projetivas são aparentadas com os mecanismos de identificação :: roj etiva.mos de defesa psicóticos contra a angústia de fragmentação e da morte. demasiado custoso regressivamente. a propósito da relaç ão com o objeto parcial (fase esquizo-paranóide) e o objeto total (fase depressiva).gundo a dialética dependência-domfnio . muito próximos da concepção kleiniana do "bom" e "mau" objeto.do. limitarão cada vez mais as experiências relacionais autênticas e o ego. Conforme mosuou S. de Mélaine KLEIN (1952). bem como as identificações com o agressor. FREUD (1949). arriscando-se a empobrecer. Trata. assim. descritas por S. FERENCZI (1952) e A. onde uma parte do ego permanece organizada em torno de introjeções positivas. por outro la. ora uma imago positiva e tranqüilizadora.mina "idealização pré-depressiva" ou seja. que desdobrar-se.bramento das imagos. em sua luta contra a depressão por perda do objeto. de uma clivagem das represent ações obj etais. onde o ego sempre atua livremente no plano relaciona!. ora uma imago negativa e aterrorizante.Contudo. a uma s ituação de três facetas. estes fenômenos proj etivos. Achamo-nos. a propósito do mesmo objeto. rejeita os objetos externos frustrantes e ameaçadores. bem investidos pela libido e. sem possibilidades de conc iliar as duas imagos contraditórias. voltada para o exterio r. . principalmente.=:-:JO'C! a rorclusão por vezes seja vista como podendo constituir o leito de oe. considera como realidade externa os aspectos positivos desta realidade. A c/ivagem que atua nas organizações limftrofes não é a verdadeira cliva. e G. onde limita -se a relações organizadas se. parece tratar-se apenas de casos em que o ego tor-:.:>rocessos delirantes. FREUD em 1924.dentes coordenam seus esforços para se tornarem senhores da representação externa e permitem recuperações fantasmáticas tranqüilizadoras de onipotência sobre o outro. esta clivagem das imagos foi posta em evi- dência pela escola kleiniana.-se :>resa de uma desorganização mais avançada que a encontrada no tronco :co:nt. destinado a lutar contra a angústia de perda do obj eto e o risco de chegar assim ao segundo modo de clivagem. Sem ter de operar uma negação da realidade. O estado limftrofe. tampouco ao desdobramento do ego. mas os dois procedimentos prece. justamente.mento do ego.ITI ordenado banal. mecanis. se examinarmo s as coisas de perto). disfarces.var os graus do patológico do que as nuances do "normal". sem chegam a "romper". Entretanto. e este estudo levou.cas particulares: A) DESCOMPENSAÇÃO DA SENESCÊNCIA Conforme já descrevi em dois artigos anteriores (J. 4. um certo número dos famosos "psicopatas". a "quebrar" fletir nem curvar-se. bastante conhecidos socialmente (fortes vfnculos sociais ou culturais) e gozando de uma reputação de muito grande simpatia. de inicio. Conforme já anunciamos acima. de uma excessiva necessidade de adaptação nestes suj eitos sempre ativos e sem fracasso importante (nem êxitos espetaculares. Entretanto. alguns ordenamentos limftrofes conseguem manter-se durante toda a vida em uma situação por certo desconfortável.como tais. sem sempre haver compreendido a sua significa.me.normais".ção defensiva. dos quais tão comumente se fala. Pareceu. dispõe-se nesta categoria organizacional pouco constante. Em um momento qualquer da vida do sujeito. mais a forclusão do que a negação (piscótica).o que dá origem a formas clíni. observou muito bem esta noção importante aos nossos ol hos. por etapas sucessivas. social ou 141 . já há algum tempo. 1968 e 1981). em seu beneficio. o bom senso das pessoas em torno. pode-se assistir a uma des. às custas de muitas renúncias. e com tão pouca precisão. defesas energéticas consideráveis e ardis diversos. evita. Evoluções agudas O o rdenamento do tronco comu m limftrofe mostra-se muito pouco sólido. a constatações bastante inesperadas. intelectual. mais habituados a obser . devido ao fato de não trata r-se de uma verdadeira estruturação .compensação mórbida da organização limftrote. aliás. Tal mecanismo utilizaria. ex iste toda uma categoria de sujeitos que. contudo habilmente administrada. na prática Trata-se de pacientes que gozavam de uma reputação de pessoas "hiper. interessante debruçar-me sobre o problema desses casos relativamente freqüentes geriátrica. Subitamente. BERGERET. por ocasião de sua senescênc ia física. compromissos.ções. mas igualmente pouco exigente no plano estrutural. como mecanismo auxiliar. Este aspecto de defesa cont ra o que poderia não parecer normal nem sempre salta imediatamente aos olhos dos psiquiatras. de um só golpe completamente imprevisível brutal e dramaticamente em um perfodo comumente bastante precoce de sua senescência. tendo passado sua v ida adulta como a va ra da fábula. cência por si só pode constituir este trauma. Este episódio de angústia aguda evoluirá. Seu modo de relação com os outros pôde parecer normal. Esta súbita ruptura de um tal modo de equilfbrio. em geral. conforme o nlvel do desinvesti. porque houve uma relação comumente boa com parceiros bem esco lhidos. inesperado e muito . transitório e próximo da despersonalização. poderá atrair a atenção do psiquiatra avisado.po um '!·episódio de angústia aguda" . não encontramos prati. esta perda das indispensáveis pos. aposentadoria e. 2) Demência senil: muitas vezes relativamente rápida e precoce. pelo menos de inicio. na dependência demasiado estreita de um outro que também de.sibilidades de ordenamento. ferida nar.rfodos de latência que não chegam a assumir sua puberdade e as modificações que ela implica em suas relações com os demais.camente nenhum sinal real da linhagem psicótica na adaptação ao real. mas muito intensas. uma relação essencialmente anaclltica com os ou. casamento e separação de um "filho querido". Quando estudamos o passado destes pacientes.pende estreitamente dele. 4) Certas neuroses bastante focalizadas. uma certa "limpidez libidinal" ao longo de toda a sua existência .Sua vida sexual (embora presente em suas manifestações) parece. Sua ruptura acarreta não o luto normal ou a legitima tristeza. mas 142 . como crianças em pe. segundo modos partícula- res: 1) Morte súbita: trata-se mais comumente de um falso infarto do miocárdio. quando este termo for eservado (como nos primeiros autores que a descreveram) a um episódio agudo muito intenso. estacionada em seu modo evolutivo. entretanto. que pode ser assimilado à famosa "neurose de angústia" clássica. tu.se (relação anaclltica) de uma dependência reciproca. familiar ou amigo fortemente investido. 3) Afecções psicossomáticas diversas. acarreta em pouco tem. demasiado estreita para ser madura. Pode também haver um trauma real que superative esta vivência afetiva angustiante da senescência: morte de um parente próximo. pois a senes.mento mental e o modo de excitação somática. aqui. ou seja. Na realidade.clsica importante por aborrecimentos financeiros.afejya. conforme veremos no parágrafo seguinte. Observaremos também.tros.rate. sobrevém um acesso patológico dramático. brutal. sobretudo muito pouco maduro e pouco genital (como dizem os psicanalistas). Em contrapartida.do aquilo que possa romper. sem aviso prévio (realmente considerado de forma consciente como inelutável). mas antes de uma vasomotricidade coronaria na ou cerebral paroxlstica. observa-se toda uma série de "ordenamentos" cuja multiplicidade. Este acesso patológico desencadeia-se sem trauma aparente. nem qualquer sinal da linhagem neurótica clássica em uma relação conf litual com os outros. apesar de uma vida sexual igualmente bem "ordenada". se olharmos bem de perto. trata. bem como a habilidade para evitar o fracasso. ou seu prédio) em um estabelecimento hospitalar. muito próximo dos esboços de despersonalização descritos por M. os conflitos genitais cuidadosamente evitados. casamento.zados.do prosseguir em uma vida relativamente feliz se o seu narcisismo houvese con. por sua vivência fntima.neurótico e pré-psicossomático. É. as defesas muito pouco especfficas em.da: pós-parto. e fica diffcil prever onde vai parar esta descompensação. ainda que mais não fosse nas satisfações narcisistas obtidas pelas incomodações que tais velhos tiranos fazem os outros suportarem. também. ligada a representações ansiogênicas das mais diversas.mo um estado paroxfstico e transitório. por ocasião de um segundo trauma psíquico desorgan izado r (cf. acidentes afetivos ou cor. Diante de um tal excesso de sobrecarga pulsional.C.cuidadosamente evitado até então.seguido continuar sendo mantido pelos outros. A. dito "precoce". impropriamente chamada de neurose de angústia. 8) ROMPIMENTO DO TRONCO COMUM Uma descompensação do mesmo tipo pode sobrevir Je forma ainda muito mais aguda a qualquer momento da vida do sujeito. e diante desta situação que reativa o primeiro trauma. Mais comumente trata-se de organizações limftrofes desta natureza.um verdadeiro pânico. um estado regressivo do ego. 8). A causa desencadeante externa pode ser de natureza extremamente varia. uma antiga frustração narcísica pré-depressiva correspondente ao primeiro trauma desorganizador. porque acabou tornando-se insuportável. Trata-se de uma grande crise de angústia. BOUVET (1967).pregadas até então tornam-se totalmente importantes e a angústia agora es. ao mesmo tempo pré-psicótico. uma cari- 1 As operações cirúrgicas "a coração aberto"colocam em evidência grande quantidade de tais descompensa ç ões. Todo este arranjo foi quebrado um dia. RACAMIER (1967) co. 143 . GENDROT e P. transtornos sociais. o ordenamento provisório e imperfeito do ego acha-se completamente tanstornado. luto. com um objeto muito mais "funcional" do que real e sexual. fig. a dependência permaneceu servil em relação a objetos mais proximais e misturada a uma igual dose de agressividade contra eles.porais1. que teriam podi.corre livremente ao registro consciente. De há muito tempo se conhece a rápida e desastrosa evolução de todo "velho caracterial" internado por sua famflia (ou por sua vila. Poderfamos considerar-nos em plena "crise da adolescência". pré. Este trauma desperta. Os investimentos afetivos de tais sujeitos haviam permanecido dessexuali. Finalmente. descrita por J . como se se tratasse da amputação de uma parte indis.pensável de si. A aparente erotização foi vivenciada de modo narcisista. O c aso de Julien (observação n'2 3) correspondente a um fim deste tipo . M. graças as suas defesas anteriores. se o superego se mostrar ainda suficientemente consistente para autorizar uma alianç a com a parte sadia do ego contra as pul. desde que não tenha sido ultrapassado o "ponto sem retorno" em relação ao a ntigo ordenamento limftrofe: A via neur ótica (cf. Convém igualmente observar que tanto o primeiro quanto o segundo trauma podem. outras formas de evolução psicótica parecem ser igualmente possfveis.u· mida. quer devi. MARTY. um sistema defensivo mais eficaz . tardia. Contudo. A partir deste mome nto. Fica evidente que estes não são os modos habituais de entrada em tais en. DAVID).lico. de M'UZAN. entretanto.sivos.denamentos provisórios anteriores. mal diferenciado quanto à excitação e à expressão. por vezes.o mais rápido possível. o objeto anaclftico que havia chegado a faltar é introjetado e os sentimentos de vergonha e desgosto em relação ao ideal de ego anterior podem assim dar-se livre curso. A via psicossomé1tica. mas nunca em um modo de organização esquizo f rênica demasiado arcaica. BECACHE (1972). 8). Parece que comumente os elementos depressivos de estatuto "limftrofe" levam o sujeito rumo a uma psicotiza ção e m torno do mesmo núcleo depr essivo no registro melancó. por ocasião de uma possfvel melhor relação e utilizando a energia acessór ia liberada pelo trauma psíquico. 8). A via psk.se a uma das três vias psicopatológica s bem conhecidas. sob a forma das auto . O nível genital da estruturaç ão edipiana finalmente se realizará. desinvestidas e autonomizadas em benetrc io de um modo de regres.são ao mesmo tempo somático e psfquic o (cf. quando as manifestações mentais acham-se dessexualizadas.tidades patológicas. na li nha dos trabalhos da escola francesa de psicossomática (M. tal como foi descrita por A.des de evolução tardia. fig. re::. voltada a pôr em questão toda a organização profunda do ego e seus or. lenta e bastante focalizada (tal como no exemplo clássico n'2 12. fig. favor ecido por uma fraqueza orgânica localizada em algum órgão. fig. o sujeito dirige. 8). se as f orças pulsionais varrerem a parte do ego que até ent ão havia permanecido bem adaptada à realidade.tjtica.sões intempestivas do id. quer por suicfdio evidente. mas a clfnica mostra-nos a realidade e a freqüência não ne. Habitualme nte.catura da crise da adolesc ência. E ntramos então na linhagem psicótica (cf. ao mesmo tempo brutal e intensa. FAIN e P. citado mais adiante).recriminaç ões que caracterizam este modo de organização psicótica. A entrada na linhagem neurótica parece produzir-se mais facilmente ao nfvel da histerofobia ou dos mecanismos obses . cuja soma de efeitos praticamente corresponde a 144 .senão o suj eit o será levado à morte. ao contrário. tais como formas alucinatór ias cr_ônicas ou forma delirantes paranói. achar -se substitufdos por uma série de "microtraumas" repetidos e próximos. C.do a um colapso qualquer. não existe mais qualquer ordenamento mediano possfvel: é preciso encontra r.gligenciável desta espécie de evolução. reunindo proteção narclsica e prazer erótico de uma só vez. não muito organizados e. e se nossas perguntas se tornam mais pressionantes quanto aos seus problemas atuais.< tratar-se da passagem de uma estrutura neurótica para uma estrutura psicótica. em torno de um núcleo de aparência "neurótica": parece buscar. satisfação du. entrou no hospital há um ano devido a um episódio delirante focalizado em um tema único: "Eu quero ser enterrada em X .sado de Albertina j amais se desenrolou sob um primado genital de organi.•"... mui corretamente vestida. quase afetados. Comporta-se de maneira muito adaptada no diálogo acerca de seu passa. n!! 12 Albertina tem 50 anos.um trauma único mais importante. para começar. não nos encontramos aqui em presença deste modo dê organização. uma satisfação interdita de menina no leito dos pais. porém ilusória. ou então ela repete os mesmos dizeres . ela se faz muito de "dama em visita" quando se pede que venha ter entrevistas com os médicos no consultório.da uma descompensação. na neo-realidade tranqüilizadora de seu tema delirante.zação. porém. Casada." Nada mais se ob.tém. mas tais temas permanecem como núcleos esparsos. apesar de uma cardiopa tia mitral.. junto com papai e mamãe. permanece silenciosa quando se fica em silêncio diante dela.. Albertine organiza seu dellrio especificamente em torno de uma imagem de aparência edipiana. pelo contrário.ção de sua própria morte. Em contrapartida. mas por ser evidente que o pas. Obviamente não poderi. Evidentemente encontramos temas sexuais em muitos dellrios de psicóticos.pla. junto com papai e mamãe. se Albertina tivesse conhecido um modo de estruturação neurótica em algum momento de sua evolução e em segui. sobretudo. esta descompensação teria se revestido apenas de um aspecto agudo e episódico (como por vezes se encontra na histeria). Com efeito. Mecanismos tão sutis e elaborados em geral não correspondem à simplicidade e bruta lidade das construções psicóticas. imediatamente aparece o tema delirante: "Eu quero ser enterrada em X . não muito organizadores do processo delirante. de acordo com todas as evidências." Esta paciente conserva um bom estado geral.do ou da situação atual em geral. tem gestos graciosos. seguido de um silêncio tenaz. 145 . Aqui. pela qual aliás imediatamente se pune pela representa. não apenas porque tal passagem é contrária às nossas próprias concepções.. no máximo um "pois vej a só! . Eis aqui resumida a observação clfnica de descompensação psicótica de um estado limftrofe: Obs. No máximo poderiam ser vistos em alguns comportamentos paranóicos. sem filhos. Ela fala com voz de menininha. Esta mãe é descrita como sendo muita ativa. A vivência da "hemorragia" narcisista desta importante perda de san. com o minha mãe o havia feito" (sic). viveu af até os 13 anos. Seguindo os conselhos de sua mãe. na obscuridade tranqüila de um minúsculo colégio nas montanhas.deia uma impressiona nte hemorragia nasal.gue junta-se aos lutos afetivos de amor do marido e da proteção da mãe. envolvida na polftica local.ou então.tabilidade em uma pequena indústria. porém.1.liz. Albertine rapidamente adoece. pequeno agricul. casado com uma "estrangeira". tendo sobrevivido à sua esposa em 10 anos. Trocou várias vezes de es. não conseguiu fixar-se em imagens identificatórias está. juntar-se à soma algébrica dos 146 . É internada em um hospital. Isto desenca. ouvida na região e muito sectária. Albertine nasceu numa cidade do interior. nem em pontos fixos ideais. Segue-se um sério episódio depressivo. evidentemente.valece sobre um eventual encontro do homem.quiátrico de urgência. ficando ali por cinco anos. Fala-se pouco do pai.veis. as vivências passadas da paciente estariam muito mais nitidamente marcadas pelo Édipo e pela genitalização. Dois acontecimentos.ponamento posterior. por isto. vivendo ao longe. muito fe. mais velho.tor e criador. Existe um irmão. sem dúvida relacionada a distúrbios cárdio-vascu.dência entre o farmacêutico mais velho e a mãe parecem evidentes. faz um curso de contabilidade e passa a ocupar um posto de ajudante de con. Depois de restabelecida. no caso de uma organização obsessiva. havendo necessidade de tam. bem como uma boa dose de neurolépticos. Ela entrou em um serviço psi. Ora. Tal terapêutica vem. professor de lfnguas vivas.. que a pede em casamento. diz ela. um bravo camponês. Albertine se submete.cola e. Ela obtém seu diploma e depois conhece um farmacêutico mais velho do que ela. porém estável. onde lhe administraram uma série de eletrochoques. não há rivalidade edipiana vivida em relação à mãe.. De outra parte.lares não detectados até então. Sua mãe opõe-se ao casamento em virtude da diferença de meio social. terfamos encontrado defesas de ordem completamente diferentes das apresentadas aqui. insignificante. depois em uma casa de repouso' (salpingite tuberculosa). como comumente ocorre por ocasião da adolescência. sem filhos. quando partiu para morar em um pensionato. vieram perturbá-la quando chegou aos quarenta anos: a infidelidade do marido e a morte da mãe. A segurança junto à mãe pre. mas cai enferma (pleuris). um ano mais velho.As hesitações de depen. Albertina aceita casar-se aos 22 anos com (diz ela) "Senhor S. gulhasse na crise de angústia aguda. 8).cisa dela para a colheita das frutas ou para as vindimas).sava sobre uma dependência anaclftica dos outros. na maioria dos casos. com esteriotipias. tão estável.sência narcisista anaclítica e antidepressiva. quer em direção à linha- neurótica. existem or. que não permite dispô-lo em qual- 147 . Um primeiro trauma sobrevém. nem psicótica. Na realidade. Apenas persiste o delfrio focalizado. reunindo v árias frustrações afetiva s e uma perda de segurança. de uma estrutura neuróti." Evidentemente não se tratava para começar. por ocasião da morte do pai. 5. Durante seis anos permanece pré-depressiva . quebrando todos os vínculos com a mãe. depois um segundo. Entretanto não se pode reconhecer-lhe o estatuto da estrutura. donde não conseguiu sair a não ser pela via psicótica irreversível. aos 49 anos. o tronco comum não levava os sujeitos que inicia." Tratamentos médicos detalhados conseguem amenizar os sinais exte- riores. O ordenamento imperfeito de sua personalidade repou. dada a sua es.quer outra solução que não permanecer sob a dependência e proteção dos médicos: "Eles sabem o que eu preciso.denamentos peculiares que partem do tronco comum.ao final deste período. e não aceita qual..ca. trata-se apetlas de um ordenamento particular. por certo muit o mais estável que os ordenamentos anteriormente descritos. Albertine se descompensa em um primeiro quadro psicótico clássico.traumas desorganizadores sofridos em tão pouco tempo. vivend o ju nto ao paie às recordações da mãe e. gem nos estrutural permitirão A) O ORDENAMENTO PERVERSO O ordenamento perverso corresponde àquilo que impropriamente se chama de "estrutura perversa" na linguagem psiquiátrica. apragmatismo. A doente permanece calma no serviço. originado diretamente do tronco comum. levando a soluções muito mais estáv eis e duráveis que completar e concluir o conjunto do nosso quadro nosológico (fig. fez com que esta pobre "menininha" já idosa mer. Ordenamentos espontâneos Em numerosos casos. maneirismos. quer rumo à linhagem estrutural psicótica. sai com bastante freqüência para um passeio ou uma visita ao seu marido (sobretudo quando este pre. a não ser por intermédio do pai..ram a pseudolatência sob seu registro a brutais descompensações. que em geral mostra-se dificilmente reversível. junt o com papai e mamãe. risos imotiva dos e aparecimento do tema delirant e: "Eu quero ser enterrada em X . a cardiopatia evoluiu muito pouco. -- .lNDIF E RENciAÇÃO SOMA TOPS(OWCA -.· o .-.. -. ...-.---.-... t ·.· -- r :- --....--.::::::: ::.=== .I I ..-- o ·a. . c: DIVIDED·LENE o ü z Õ> <ut. w TRAUMA DESORGANIZA DOR PRECOCE s==.. EVOLUÇÃO BANAL w .i ' 8 '" - IO w I BIuC 1 -- ORDENAMENTOS 1 ORDENAMEN TO CARACTERIAIS I a: IIPERVERSO 1- -1 --+-- EGO PSICÓTICO ORGAN IZADO 1- PSEUDO T NCIA TARDIA ESTRUTURAS NEURÓTICAS I w I ESTRUTURAS PSICÓTICAS c c a: ::> (Deveria ser posto bem no alto do quadro) J FIGURA 8: Slntese da gênese e da evolução REGRESSÃO PSICOSSOMÁ TICA das linhagens estruturais. :::-- / u z u cn "" EGO NEURÓTICO ORGANIZADO o c 1----.. .. DO éDIPO ' ==: =====F== · I I ..-"1 ... -. I \ ' ..::' I I Õ> I u w tl A PRECOCE -t ·"c ü z lI I I "1"- 1--- l ...--. O ordenamento perverso resulta de um longo caminho para o protogeni.mento perverso esta dupla atitude de negação e "delfrio" limita-se exclusiva. pois este condicionamento mostra-se muito eficaz e precoce) da genitalidade diferencial. neste caso preciso.daram-se cedo demais e o objeto total não pôde constituir-se. Tal ordenamento situa-se. 8).perinvestido no registro narcisista. cuja falta corresponde encontrar-se intensa e complementarmente su. assim. Tudo se passa como se a vantagem proporcionada aqui pela inabitual solidez do ordenamento narcisista se pagasse às custas de muitas outras complicações.acuada na solução perversa não consegue atingir esta imagem verdadeiramente sexual e exaltante do pólo genital feminino. mal integrado e fixado ao nfvel da atração por um objeto parcial cheio de mistério. mas tem seu equivalente quantitativo na soma algébrica de mi. ao estudar clinicamente este gênero de casos.mente ruidoso e aberrante .Parece provável. como a maioria dos sujeitos li. que jamais foi realmente atingido. mas no caso do ordena.tal.têntico. circunscrito em torno do sexo da mulher e de suas representações simbólicas.rado e um estãgio objetai apenas alucinado. em uma evolução afetiva que permaneceu indecisa entre um auto-erotismo ainda não completamente supe.cie de "delfrio" igual ao de uma estrutura psicótica. A precocidade da excitação libidinal foi tal que pulsão e objeto parcial sol. no lugar da antiga imagem de uma castração fáliconarcisista. a representação de um sexo feminino au. neurótica ou psicótica. tendo em vista a organização limltrofe da qual decorre geneticamente. atingido para tanto um nfvel de organização realmente genital. Este objeto parcial não deve existir ao mesmo tempo que o objeto parcial fálico. O narcisismo primário encontra-se.ponde ao exemplo clássico intenso e brutal habitualmente descrito ao nível do tronco comum. levando aos poucos o individuo a "bancar o genital" sem ter. para desgostá-lo (comumente para sempre.sentações genitais triangulares. de uma representação desta ordem .quer das duas estruturas autênticas. ao mesmo tempo. Na organização perversa a angústia depressiva acha-se evitada devido ao êxito de uma negação que incide apenas sobre uma parte muito focalizada do real: o sexo da mulher. pois o perverso opera ao mesmo tempo uma negação e uma espé.tinuo operado mais comumente pela mãe e incidindo sobre as primeiras repre. sob o abrigo e a excitação parenta( (mais comumente materna}. e o deixa em uma dependência longlnqua e relativa. A injeção repetida de um ego materno exclusivo e angustiante atua sobre o sujeito. mas economicamente efetiva.mente a um campo sensorial único. que o "trauma precoce" indutor de um tal desvio no modo de estabelecimento do estatuto do objeto não corres.cro-impactos sucessivos causados por um verdadeiro descondicionamento con. imediata- 149 . Todo risco de aparecimento. bem próximo da linhagem estrutural psicótica (fig. o jogo pseudogenital assum e um aspecto particular. em seu campo perceptivo consciente. da mesma forma que uma injeção de apomorfina. transformando o falo em pênis e fazendo com que apareça. pois. A criança . Além disto.mftrofes. mente cria um efeito de desgosto. O sujeito sente-se como um apomorfinado diante de um copo de álcool; além disso, opera uma fuga em direção ao falo as- segurador e estes dois movimentos vêem-se ainda consideravelmente reforça- dos pelo fato de o sujeito sentir que ocupa, fantasmaticamente, ele próprio uma deliciosa e incrfvel posição feminino-passiva, castrada no registro fálico-narci- sista. Conforme evocou FREUD em seu artigo A diferença anat(Jmica entre os se- xos (1925 j}, na criança, uma parte do ego reconhece a castração, ao passo que outra parte a nega; esta dualidade durará por toda a vida no sujeito que se de- senvolveu segundo o modo perverso. Encontramo-nos, pois, finalmente, diante de duas séries paralelas de defesas: uma incide sobre o interior do sujeito (recal camento e mecanismos anexos); a outra diz respeito ao que permanece no exterior (negação e forclusão). O ordenamento perverso funciona, pois, em dois registros simultâneos: por um lado, um registro banal bem adaptado à realidade em relação a tudo o que permanece estranho ã representação do sexo fe minino e, por outro lado, um registro aberrante e desreal para tudo aquilo que possa lembrar esta repre- sentação. A este respeito, convém manifestar um radical desacordo com uma tendência da moda, que se pretenderia mais avisada, mais sincera e liberal, ao pro- clamar que "somos todos perversos.-" (subentendido: com igualdade de estru- tura).Certamente existe em cada individuo um resfduo da atitude fundamental- mente ambivalente da criança, descrita por FREUD e citada acima. Mas isto em nada obriga o funcionamento mental do homem comum a desenvolver dois se- tores estanques, dependendo do lugar ocupado pela representação do sexo fe- minino; quando muito, no adulto comum, uma reativação de tais fixações anti- gas traz alguns imprevistos (nem sempre desastrosos) na relação. Uma coisa completamente diferente é o ordenamento perverso, no qual o sistema de defe- sa contra o genital é verdadeiramente organizado e organizador e não mais um simples núcleo residual esparso, ao lado de muitos outros núcleos residuais ar- caicos que contribuem para constituir a originalidade de cada um e se traduzem em traços de caráter, conforme veremos em nossaterceira parte(111-2). A negação do ordenamento perverso, na medida em que permanece foca- lizado em um único gênero de representações, poderia ser comparado ã nega- ção das "parapsicoses", das quais falamos a propósito das organizações psicóti- cas, igualmente centradas em desrealizações restritas. A diferença essencial en- tre um ordenamento perverso e uma parapsicose, ao nlvel da negação, reside na escolha da representação sobre a qual se opera esta negação, em um e outro ca- so: uma parapsicose (cf. observação n'? 6) pode fazer sua negação (e seu dellrio) incidir sobre qualquer ponto da realidade, ao passo que no ordenamento per- verso a negação incide apenas sobre a representação do sexo da mulher. Maurice BENASSY (1959) distinguiu, de outra parte, dois modos possiveis de negação: o primeiro incidiria sobre a percepção dos objetos, o segundo, uni- camente sobre a significação afetiva destes mesmos objetos. O primeiro modo de negação se aplicaria, pois, ao ordenamento perverso, assim como ã atitude 150 primitiva do menino neste embrião reversfvel de perversão, constitu!do por sua primeira negação da percepçao do sexo da mulher, tal como a descreveu S. FREUD em seu artigo sobre Algumas conseqü6ncias psicológicas da áferença anat mica entre os sexos (1925 j). O segundo modo de negação, ao contrário, en- quanto negação do sentido a ser dado ao sexo da mulher, se aplicaria majs ao ordenamento caracterial que examinaremos mais adiante e, de um modo mais geral, àquilo que FREUD, no mesmo artigo, atribui ao comportamento especifi- co da menina diante de sua descoberta, uma vez por todas no plano perceptivo, mas colocando problemas quanto à significação da diferença anatômica exis- tente entre os dois sexos. S. FREUD (1905 d) falou da •neurose como negativo da perversSo" e da "criança como perversa polimorfa"; expressou-se em termos tão evocadores em virtude das fixações que persistem no perverso, tanto ao nfvel das tendências parciais, quanto ao nfvel das zonas erógenas parciais. Estas fixações estão liga- das às primeiras experiências da criança e não puderam ser integradas pelo ego ou pelo primado do genital e na totalidade do genital, em virtude da incomple - tude narcfsica e maturativa que não paramos de pôr em evidência em todas as organizações limftrofes e seus derivados. Com maior evidência ainda do que em todas as demais categorias do mesmo grupo, o superego do perverso não pôde ser formado no sentido pós- edipiano do termo.Fala-se comumente, a propósito do perverso, de "superego permissivo"; a expressão parece-nos abusiva, quando já se sabe que em toda organização limftrofe o superego permanece muito incompleto, na falta de uma suficiente vivência edipiana no plano organizador e, por motivos mais fortes ainda, em um ordenamento tão próximo da linhagem psicótica. O perverso funciona sobretudo com base em um ideal de ego narcisista, maternal e fálico. Como não conseguiu reparar convenientemente seu narcisis- mo, nem encontrar um objeto total e elaborar processos secundários suficien- temente eficazes, o perverso acha-se na obrigação de recorrer a satisfações bastante incompletas, com objetos parciais e zonas erógenas parciais. Pelos mesmos motivos, não pode deixar de obedecer às impulsões imperativas, ime- diatas e sem amanhã, de seus processos primários. No ordenamento perverso, a ferida narcisista esconde-se por detrás de to- da e qualquer representação objetai (ainda mais feminina ,vivida como castrada narcisicamente). A brecha narcisista mostra-se irreparável; os processos primá- rios violentamente exigem satisfações ligadas a pulsões parciais, a objetos par- ciais e zonas erógenas parciais. F. PASCHE (1962) mostrou que o perverso jamais pode mostrar-se com- pleto; apesar de sua negação especffica, refere-se incessantemente ao falo ma- ternal.Sua angústia profunda permanece fixada à incompletude narcfsica diante das pessoas-sem-falo; é uma angústia de perda de objeto, mas de perda do ob- jeto parcial, neste caso particular de angústia depressiva .A aposta parece ainda mais delicada neste sentido, na medida em que a parte representa o todo.Como em todos os sujeitos limftrofes, não se trata de uma angústia de castração geni- tal. 151 Dentre todo o grupo dos ordenamentos limftrofes, é o perverso que se defende contra a angústia depressiva mais dramática; é ele que mais se aproxi- ma da fragmentação psicótica, sem poder, contudo, beneficiar-se do repouso reestruturante paradoxalmente aportado por um verdadeiro delfrio. A propósito de um caso de masoquismo perverso, M. de M'UZAN (1972) parece trazer ao ponto de vista que acaba de ser exposto, uma confirmação es- trutural bastante rara entre os psicanalistas que por tanto tempo ligaram perver- são e genitalidade. M. de M'UZAN mostra que no perverso "o vfnculo fundamental entre mutilação genital e castração esté1 radicalmente modificado, at mesmo destrufdo"; ele fala de primado do falo, de posição orgástica megalomanfaca. A diferen- ciação entre pai e mãe seria caracterológica, e não sexual. A personalidade se acharia "estruturada fora da problemática edipiana", "à margem do Édipo". O autor descreve igualmente a ameaça de despersonalização e o "triunfo do or- gulho" do perverso. M. de M'UZAN, em suas reflexões, parte do conhecimento que tem das regressões psicossomáticas. Vimos aqui o quanto estes gêneros de regressão ti- nham pontos em comum com nossa economia limftrofe,e não nos surpreende que com bases tão próximas cheguemos a constatações paralelas. Não poderfamos concluir este parágrafo acerca do ordenamento perverso sem colocar em evidência as razões que por vezes levaram os psicanalistas a cometerem certas confusões acerca da natureza estrutural dos perversos. Parece, com efeito, que não se distingue com suficiente precisão o que é realmente perverso e o que permanece neurótico (logo, genital). No voyeurismo de estatuto neurótico, por exemplo, existe uma busca do incesto com a mãe enquanto esposa do pai, ao passo que no voyeurismo de es- tatuto perverso trata-se apenas de um mero corpo feminino impessoal; neste caso, não há superego em atividade, nem culpa, mas uma necessidade narcisista compulsiva e agressiva temperada apenas por uma eventual vergonha, não por um medo de punição. O obsessivo luta contra um desejo de sujar o objeto edipiano, ao passo que o coprofflico suja deliberadam nte qualquer objeto e, em geral, um objeto parcial. O artista de estatuto genital cria imagens mais ou menos detalhadas e va- riadas destinadas a um número ilimitado de outros humanos, ao passo que o perverso limita-se a imagens bastante precisas, todas do mesmo tipo, reserva- das ao seu prazer pessoal ou unicamente aos seus semelhantes. O fetichismo, girando em torno do ideal de ego, orienta -se para uma limitação do objeto parcial feminino, ao passo que os simbolismos autenticamente genitais representam sempre um objeto total. A homossexualidade, da mesma forma que o masoquismo ou a fobia, po- de ser encontrada em qualquer modo de estruturação. A homossexualidade psi- cótica é encontrada, por exemplo, na paranóia, constituindo uma tentativa de re- solidificação do ego sobre posições duais irrealistas mas tanqüilizadoras; a ho- mossexualidade neurótica não passa de uma defesa contra o Édipo positivo; quanto à monossexualidade perversa, esta diz respeito à relação mãe-filho nos 152 estágios pré-edipianos, isto é, uma busca da completude narcisista pelo jogo da imagem em espelho. Para compreender bem a especificidade e a verdadeir a natureza econômi- ca do ordenamento perverso, mostra-se indispensável separá- lo seletivamente de outras entidades estruturais vizinhas que conservam o mesmo aspecto ma- nifesto mas não correspondem, absolutamente, aos mesmos marcos metapsi - cológicos latentes. B) OS ORDENAMENTOS CARACTERIAIS A partir do tronco comum ordenado das organizações limltrofes desta - cam-se, em direção à linhagem neurótica, ordenamentos bastante estáveis que mais ou menos imitam os comportamentos neuróticos, sem contudo fazerem parte da linhagem estrutural genital. Estes são os ordenamentos ditos "caracte- riais". Tais ordenamentos originam-se quando a angústia depressiva por medo da perda do objeto chega a ser rejeitada para o exterior e permanece ar mantida de maneira bastante durável. Esta manutenção da angústia no exterior do ego apenas é posslvel ao preço de um grande dispêndio de energia pslquica, permi- tindo o êxito de formações reativas complicadas bastante bem adaptadas às condições da realidade externa. O consumo de energia pslquica necessário a este êxito é grande, pois estas formações reativas devem ser incessantemente ,mantidas, sob pena de a angústia reaparecer no interior do ego, o que sempre pode produzir-se por ocasião de um momento depressivo, do qual os "caracte- riais" não se acham, absolutamente, livres. P. C. RACAMIER (1963) descreveu três "doenças do caráter" que corres- pendem sensivelmente aos nossos ordenamentos caracteriais: a "neurose" de caráter, a "psicose" de caráter e a "perversão" de caráter. No cuidado com o rigor terminológico, cujas exigências não parei de pro- clamar ao longo de todo meu trabalho, evidentemente não me é posslvel aceitar os termos "neurose", "psicose" e "perversão" acolados à expressão "de cará- ter" de P. C.RACAMIER para definir estas três entidades. Em contrapartida, como minha aversão pelos neologismos inúteis mostrase igualmente muito profunda, e como ainda não concebi definições melhores até o presente momento, contentar-me-ai em manifestar minha insatisfação e, de outra parte, me sacrificarei à modéstia, sem depressão, usando termos que não me convêm, mas ilustram bastante bem o meu propósito. O compromisso provisório a que finalmente cheguei consiste em sempre colocar os termos "neurose", "psicose" e "perversão" entre aspas, todas as vezes em que me achar na obrigação de empregá-los, por necessidade, em um sentido que, se- gundo meu ponto·de vista, certamente não lhes cabe no plano estrutural. Estou, todavia, plenamente de acordo com o conteúdo que P. C. RACA - MIEB colocou sob tais rubricas em suas exposições de 1963. , Não me estenderei longamente, neste capftulo sobre estas três categorias 153 tão ricas em nuances, devendo a segunda parte deste trabalho constituir o de- senvolvimento de cada um destes pontos, a partir da ótica clfnica e relaciona! (cf. 11, 3). Limitar-me-ei, aqui, a expor rapidamente suas situações reciprocas: a) "Neuroses" de caráter As "neuroses" de caráter não podem pretender o estatuto estrutural neuró- tico, pois em nada repousam sobre um conflito ente o id e o superego. Elas não sucedem a um conflito edipiano, pois não conseguiram vivenciá-lo de modo or- ganizador. Sua angústia permanece pré-depressiva, de perda do objeto, não de castração. Não existe qualquer sintoma-compromisso de naturez-a neurótica. São acima de tudo doenças da relação, que repousam sobre formações reativas, utilizando o anaclitismo, ou seja, a dependência sob o aspecto de uma apar ente dominação exitosa do objeto, mais de imitação do que de identificação. É o meio maltratado que se queixa, com o tempo, ao invés do sujeito, na medida em que suas formações reativas funcionarem ou não. Trata-se, pois, aqui, de um ramo que se estirou a partir do tronco comum das organizações limftrofes (cf. fig. 8), constituindo o tentáculo mais pronuncia- do emitido por este tronco comum em direção à linhagem estrutural neurótica autêntica. A "neurose" de caráter joga "à moda da neurose", sem ter a sua ri- queza estrutural genital. Esta trapaça exige, pois, um muito grande dispêndio de energia, "a fundo perdido" em onerosos contra-investimentos que enganam muito bem o meio familiar, profissional ou social, enquanto for possfvel man- tê-los. Estes sujeitos são muito mais dóceis que os neuróticos, em virtude de suas necessidades anaclfticas, muito mais zelosos e menos inquietantes genital- mente, dai boa parte do seu sucesso junto a colegas e patrões de todos os nfveis (••• pelo menos durante um certo tempo). Com efeito, eles correm o perigo de envelhecerem mal, de verem suas defesas ou formações reativas se endurece - rem (e assim serem pior suportadas pelo outro) ou mesmo romperem (casos de descompensações da senescência, citados acima). b) As "psicoses" de carc1ter As "psicoses" de caráter em nada dependem da linhagem estrutural psicó- tica, pois a este nivel não existe dificuldade de contato com a realidade. Trata-se unicamente de um erro de avaliação afetiva desta realidade. Em conseqüênc ia de um duplo funcionamento, em um registro real e um registro anaclitico distintos, em conseqüência também do importante desenvolvimento das projeções para o exterior que dai resultam para tudo o que concerne aos elementos constrange- dores das representações, o sujeito chega a cometer erros sensiveis na avaliação de um número cada vez maior de aspectos objetivos da realidade. Trata-se, ainda aqui, de um ramo saldo a partir do tronco comum dosestado s limftrofes rumo às organizações neuróticas (cf. fig. 8), aproximando-se, 154 O infantilismo e a falta de êxito prático ocor. do T. Não mais se trata. A negação das "perversões" de caráter refere-se unicamente ao direito dos outros de terem um narcisismo todo seu: para tais sujeitos. pois em geral são muito menos suportados pelo meio que. todo objeto relaciona! pode servir ape.contudo. a dois substantivos muito diferentes em sua significação cllnica e teórica.jetivo corresponde. fig.nas para assegurar e completar o narcisismo falho do "perverso" de caráter. nas "perversões" de caráter. Estes ordenamentos igualmente têm sua origem na economia anaclltica do tronco comum das organizações limltrofes (cf. em português (também em francês .N. muito menos da linhagem estrutural neurótica. de operar uma negação do sexo da mulher. c) As ''perversões" de car ter As "perversões" de car ter correspondem aos "perversos" acometidos de perversidade e não aos "perversos" acometidos de perversão. Eles são menos sólidos que as "neuroses" ou mesmo as "psicoses" de caráter. O objeto é mantido pelo sujeito em uma relação sadomasoquista muito estreita. como no caso das perversões. pois o mesmo ad.porém.do. em virtude da sua agressividade à flor da pe. 155 . investimentos em outras direções. desta vez.rem muito mais nas "psicoses" do que nas "neuroses" de caráter. os outros não devem possuir interesses próprios e. tende a tratá-los de "pequenos paranóicos". 8).le. menos ainda.). pemanecen. nesta direção buscada. Segunda parte HIPÓTESES SOBRE OS PROBLEMAS DO CARÁTER . Os "fisiólogos" interessam-se pelos metabolismos.longitipos e normotipos). LUTHE (1957). sobre as quais não me será possfvel estender-me longamente. os diferentes sistemas caracterológicos em caracterologias de critérios ffsicos.lmorais. Seu procedimento parte do exterior para o interior. Os tipos "mistos" são abundantes. mesostênicos. grosso modo e de maneira um pouco arbitrária. muitas dentre elas. Podemos dividir. tanto célebres quanto imediatamente contestadas . MANOUVRIER (1902: astênicos. leptossômico e atlético).pos irregulares). KRETSCHMER (1921: pícnico. As caracterologias de crit rios ffsicos esforçam-se por atingir o tipo de or. CORMAN (1950: dilatados e retrafdos).• DUBLINEAU (1951: escapular . KRYLOF (1939: o grácil e o lipomatoso). SEILE (o conceito de estresse: 1950) ou W. VIOLA (1928: braquitipos. THOORIS (1937: o arctilfnio e o latilfneo). MAC AULIFE (1926: os tipos francos e os ti. 159 . ou pelos fatores neuro-hu. desde sua publicação. estas propostas.Histórico A história da caracterologia fornece-nos uma riqueza e diversidade de propostas de classificação dos indivfduos. JAENSCH (1927) . psicológicos. mostraram-se. patológicos e psicanalfticos. W .ganização psiquica através do aspecto corporal do suj eito. com FOUILLÉE (1895). com CANON (a homeostase : 1927). hipostênicos e hiperstênicos). mesomórfico e ectomórfico. HESS (1926). do manifesto ao oculto. determinando três componentes: endo- mórfico.lações" a partir de clichês fotográficos.GAUD (1912: o chato e o redondo). VERDUN (1950: relações entre volumes da cabeça e do corpo). ALLENDY (1922). Os "morfologistas" são dominados por E. H. SHELDON (1950) estabeleceu suas famosas "corre. ilfaco e harmônico).trocantérico. oferecendo muitas descrições pouco claras e discutfveis .PENDE (1934). SI. A semântica desta lingua.presentação e apresentação dos aspectos corporais ficam estreitamente depen. Quanto às organizações do tipo anaclítico e narcisista.nero de economia fisiológica. à sua estática. contu. e isto independente (em grande parte.o corpo se verá concebido e mediatizado como fragmentado. fortes equilibrados pouco móveis. As caractero/ ogias de critérios psicológicos remetem aos tempos mais anti. O aspecto ffsico poderia. com a condição de não se dar demasiado crédito aos fatores físico s o u fisiológicos ditos "constitucionais" apenas. buscam. seu faci es.no aspecto que seu modo de funcionamento mental e seu tipo de relação obj etai fazem com que ele confira. pois supõem uma correlação positiva entre particularidades ffsicas e psfquicas. os seres humanos e suas tão numerosas diferenças psfquicas. o colérico e o fraco. KOUPERNIK (1964) mostraram o quanto era preciso des. HIPÓCRATES e GALENO a origem da célebre concepção dos "humores" (bilioso ou colérico. KRASNOGORSKI (1949) definiu o sangüineo. ao final das contas.Os "neurologistas" acham-se principalmente representados pela escola reflexológica de PAVLOV e MIASNIKOFF que. conforme a dist ância do objeto. no contato mes. lábil e inerte. distribuíram os indivfduos em fortes equilibrados móveis.tal.quicos. à sua morfologia geral. com efeito.IVANOV-SMOLENSKI. uma evidente desproporção entre o pequeno número de diferenças flsicas ou fisiológicas que distinguem.mo com o outro. pelo menos) das qualidades ou defeitosin atos existentes em seus diversos registros. diante dos outros (e a seus próprios olhos). Aquele que tiver atingido o nivel edipiano utilizará uma linguagem erótica em sua apresentação e seu j ogo fisiológic o corporal. inibido.confiar das idéias demasiado simplistas que supõem uma ação direta das glân. à sua voz. o fleumático. A tradição remonta a DEMÓCRITO.do. Todas as caracterologias de critérios ffs icos permanecem infiltradas de opções mais ou menos metatrsicas. ameaçado de fragmentação pelos outros. H. dos estilos segundo os quais os indivf duos apresentam-se a eles mesmos e aos dema is. ele também o é.entre 1930 e 1950. ao contrário. apenas os dois últimos tipos teriam tendênc ia à patogenia.dulas endócrinas sobre o psiquismo. Assim. etc. o funcionament o hormonal acha-se. fortes desequilibrados e fracos. REMY e C. ele mesmo notavelmente modifica do sob a dependência dos fatores psf. embora as caracterologias de critérios físicos ou fisiológicos mostrem-se ultrapassadas e focalizadas demais em suas descrições. traduzir um aspecto relaciona! extremamente interessante. os tipos ex citado. pois. seu gê . Um sujeito em particular não pode ser considerado como sendo determi. no fundo. em certa medida. De outra parte. com maior ou menor felicidade.dentes.contudo.gem permanecerá corporal e sua sintaxe afetiva se mostrará triangular e geni.nado passivamente por sua constituiç ão e heredit ariedade somatofisiológica . linfático ou fleumático. Na estrutura psicótica. sua re. sangüíneo e nervoso). prestar contas.. das permanentes e irregulares oscilaç ões entre movimentos hipomanfac os e depressivos .gos.Existe. de forma ativa. 160 . teres agressivos e não-agressivos. o homem que quer o po. entraralT' em u.Os humanistas. Citemos. A escola de GRONI NGUE merece uml.-o. Fc. via cientffica com DES.. de Ruth BENEDICT (1935). Na França. P. SPRANGER (estético. JAENSCH (1927: tipos centrais e periféricos. TOUTLEMONDE (1961: generosos. F. exivos e inativos).A. MEA (1934). R. G.. KIAGES (1910: reatividade. S. separação e ligação). EWALD (1924: astênicos.. ros. de DUBLINEAU (1947). FOISSIN (1965). LE SENr'. A. A. sociabilidade.. BINET (1895). THOORIS (1937) e MAC . de M. RIBERY (1902). na França.. E ce·o. DUFRENNE (1953) prolongam-se nas investigações de K.•.e'"'. parcimoniosos.trovertidos e extrovertidos. os trabalhos de PIÉRON (1957)... seguindo MONTAI GNE. atividade.. KÜNKEL (1930: constituição fraca ou forte. WEBB ·(1913: fechamento e sociabilidade). E.coléricos e apaixonados ). integrados ou desintegrados). RIBO. HORNEY (1951). a impor. LA ROCHEFOU. inteligência. L.mente na investigação relaciona!. A. Ed. Os trabalhos de MALINOWSKI. finalmente.. P. MENTRE (1920). entretanto. A antropologia cultural constitui. ressonância das representações. frios).. MALAPERT (1906: a'C os. temperados e inativos). Ach. anisotímico e disentfmico). RORSCHACH. retomadas por H.a o'-. LA BRUYER E.. mesmo em JUNG ou RORSCHACH. PAULHAN (1894).ro ogia: L.tância atribuída unicamente aos pontos de vista descritivos reduz em muito o 161 . Toda uma série de teÓricos interessa-se acessoriam ente pe a ca acu. de WALLON.racteres (amorfos . SIGAUD (1914) e seus disclpulos. BOWE N (1931: eusitlmico ou isotl. aoáticos. soberbos. LÉVY (1902). VINCEN T (1916). em seu Tratado de Caracterologia (1954). G. FROMM e SULLIVAN (1953).racterologia clássica. F. FOUILLÉE (1895: temperamento de parcirrôn"a e disoê-. uma outra corrente capaz de trazer elementos interessantes aos caracterologistas de critérios psicológicos.. STERN (1900) FURNEAUX JORDAt\ "896: zt:.LEAU. teórico e sociável.os. vaidosos.CURET (1841). cuja combinação dá orige-rr.. pródigos.s e WI ERSMA apóiam-se sobre três propriedades fundar:e. econômico. OUEYRAT (1911: tipos p.. ADLER (1933: ca-ac. G. e as contribuições de J.gar à Oé! e: -:: • •. impressjonáveis.volveu estes trabalhos a partir de 1930. LE SENNE descreveu as correspondências entre os tipos descritos por HEYMANS e WIERSMA e os tipos hipocráticos."OSOS .. das pesquisas no contexto da ca.apáticos . sentimento. C. atividade.sentimentais . afetividade e querer ). de M. delicados e indelicados). BOLL (1931: avidez. o homem religioso).mico.. segundo os dados da constituição e da educação). também autores como SHAKES PEARE. de J. E. MARQUET (1967).ta "s: e. stênicos. funções fundamentais: pensamento. W. as conseqüências caracterológicas dos trabalhos de H. 801.AULIFE (1926). PEREZ (1891) Th.CAULD e VAUV ENARGUES. W. OUERAT (1911: sensibilidade. que marcou a interrupção. emotividade). Poucas caracterologias de critérios psicológicos avançaram suficiente. bondade.-.sangülneos .o ·pos de ca. sensação e intuição).dio .DEIMAS eM.is:os e ecu 7i!COS. LA FONTAINE ou MOLIERE. RAMIREZ (1924) eU. de Gaston BERGER (1950).fleumáticos .. atividade.oc e aesen.892. ..der.: cace.. JUNG (9i3: · . anisotfmic o e dis entfmico. em 1921. Considera-se muito maias as contribuições constitucionais do que as aquisições da elaboração relaciona! e genética. depois VIOLA e PENDE.DUBLINEAU (1949). As caracterofogias de crit rios patológicos têm surgimento mais recente. a pesquisa parece esgotada e a clfnica não reconhece ar um terreno muito explorável. J. KRETSCHMER (1954). DUBLINEAU (1947) destaca os tipos "resistenciais" ou "adaptati. A psiquiatria moderna. KRAEPELIN (1890). K RETSCHMER separa o ciclotrmico do esquizotrmico. as eventuais fixações e regressões da geni. E. o caráter é considerado como uma soma de traços comportamentais estáticos. L. 8.vos". RAVAUD (1955) lembram-nos que ARISTÓTELES relacionava os homens polfticos ou os artistas à loucura de AJAX ou à misantropia de BELEROFONTE. depois N.psiquiátricos" e M. bem como a evolução da rela. MOREAU de TOURS (1859) e GALTON (1892) buscam os vfnculos entre gênio e neurose. Mt'NKOW SKI apóia-se. do histérico. fixados de uma vez por todas. KNIPPEL. Como conceber. L. MINKOW SKI (1932). busca estabelecer uma caracterologia coerente tanto com as teorias clássicas do caráter quanto com os progressos realizados no estudo dos distúrbios mentais. BLEULER (1911). A escola de TUBINGEN dominou esta tendência a partir de 1921. do epilético. de AJURIAGUERRA (1948 debruçaram-se sobre os problemas caracteriais dos epiléticos. base relaciona! de cada indivfduo. di TULLIO. de um modo geral. E. 80E (1931) co ncebe uma ciência do caráter baseada em três ti.com Th. J. P.MORGENTHALER (1921).ções artfsticas dos doentes mentais. E. E. sob o ângulo da antropologia criminal. DUPRÉ (1909) DELMAS e BOLL (1927). W. LEWIN (1929) distingue suas "valências" positivas ou ne. L.pos: isotfmico. do paranóico e do manfaco. em 1939. Elas pertencem por vezes à biotipologia. do catatô nico. sem dúvida é este o motivo por que. PICHON (1888). distingue os fatigados. LOMBROSO (1875). o ponto de vista econômico libidinal parece pouco evocado.interesse e a importância do tipo descrito. em BLE ULER e J UNG para descrever o "elan vital". K.gativas. de fato. KRETSCHMER (1927).ção objetai. com C. Jamais se teve suficientemente em conta a importância do modo de estabelecimento. V ERD UN (1950) debruça-se sobre as disfunções neuro- sim162 . E. retomando uma parte dos trabalhos de LOMBROSO (1885). distingue as as. depois do epileptóide. E.EY (1948) às dos surrealistas. MOREL (1860). MARCHAND e J. VIN.talidade. F. HOOTON (1939) e SHELDON (1940-1941) apegaram-se aos fatores bio-psico-fisiológicos . assim como VERDUN (1950). os sonolentos e os emotivos. no ser humano ou no cosmos. KAHLBAUM (1885). por seu turno. CLAUDE (1926).sociações fatoriais do homossexual. depois de um certo sucesso a este nfvel. E. ABEL Y (1949) estabelece um certo número de esquemas "endócrino. KRETSCHMER (1927) . enfim. E. RIBOT (1893). SZONDI.do assassino.e H. LANG e G.CHON (1924) e VOLMAT (1952) detiveram-se em pesquisas acerca das produ.uma psicologia do caráter sem pro- curar definir os limites da evolução. do melancólico. a natureza da angústia profunda e os mecanismos de defesa e adaptação. MINKOW SKI ( 1927) distingue três poderes formais centrados no objeto. Em O mal-estar na civilização (1930). L.rego.mente qualificadas para servir de sustento aos outros.cológicas da diferença anattJmica entre os sexos interessa-se pelas distinções. "sem tensão entre ego e supe. estas classi. tópicos ou relacionais comparáveis. 1 Conserva-se o hábito de traduzir assim em inglês o termo original freudiano: "Führer". assegurar o papel de leader1.ção. apoiando-se sobre correlações existentes. Em 1925. BASOUIN (1968). determinar condições de estudos dinâmicos. W IDLÓCHER e M. pela primeira e única vez. com angústia de perda do amor. limitar-nos a uma simples nomenclatura de entomo. o tipo obsessivo (dominado pela preponderância do superego e pela angústia moral. dos fatores de adapta. dos elementos caracteriais masculinos e femini. a sublimação e "outras construções desti.damentais no plano genético. cabe notar que não é qualquer comportamento caracterial que corresponde (em caso de descompensação) a este ou aquele acidente patológico da mesma forma que toda estrutura patoló. logo dependência dos objetos externos). Conforme mostraram D. Caberia. Tais estudos igualmente colocam as delicadas questões do "terreno". em Os tipos libidinais (1931 a). logo dependência in. na maior parte. FREUD parte de três tipos libidinais principais: o tipo eróti. comumente faltaram meios aos psicopato. 163 . há o artigo sobre Alguns tipos de camter destacados pela psicanálise (os frustrados que incessantemente esperam por um reparação. recusando -se a qualquer caracterologia psiquiátr ica e procurando tapar "o assim-dito fosso entre normal e patológico".teres emotivos. os que fracassam diante do sucesso e os criminosos por culpabilidade).ficações comumente misturam os simples estados de humor com alterações de natureza completamente diferente. das predisposições mórbidas. As caracterologias de critérios psicanalfticos começaram a desenvolverem-se com o artigo de FREUD.gica conhecida se acompanha sempre de possibilidades caracteriais limitadas.vaçáo. do "normal" e do "patológico". onde se trata do caráter histérico. Em 1915. esquizóides e perversos. aut6nomo e pouco intimidável. imp6e-se como "personalidades" particular. entre caráter e libido. Finalmente. O ego e o id (1923) dirige. FRE UD termina fixando uma tripla origem ao caráter: as pulsões sexuais. obsedados. que resultaria dos sucessivos abandonos de objetos sexuais e resumiria a história destas escolhas de objetos.terna das instâncias interditaras) e o tipo narcisista. o estudo sobre Algumas conseqOências psi. orientados para a autoconser. Um caso de cura pela hipnose. em um ensaio de classificaç ão caracterológica.logistas pré-freudianos para situarem-se em tais condições. antes de mais nada. para a vida amorosa. nem predomin ncia das necessidades eróticas. instáveis.nos. MICHAUX distingue os carac.nadas a reprimir movimentos perversos reconhecidos como não-utilizáveis". FREUD arrisca-se. FREUD já opõe o tipo erótico ao tipo narcisista. epiléticos. S. Entretanto. em seu entender. entretanto.pático-caracterológicas. Nos Três ensaios (1905).co (libido voltada.logista sem vinculas precisos entre os diversos elementos apresentados. fun. Em 1931. de 1892. mitomaniacos. paranóicos. Não podemos. em 1966.nos ao ponto de vista tópico e ao aspecto narcisico da formação do caráter. ciclotfmicos. sessivo e narcisista. S.tisfeito com seus tipos "puros". Os trabalhos mais importantes continuam sendo os de Karl ABRAHAM. A propósito dos tipos mistos.cetas dos diferentes sistemas do ego. S. NACHT.po erótico-obsessivo (vida pulsional forte. FREUD. Além disto. suas event uais fraquezas. de SAUSSURE redige um artigo sobre os traços de caráter reativos. entre 1920 e 1925. um estudo baseado nas relações entre o ego e o superego e. os traba. em particular. constitui uma comparação bem heteróclita. pois é bastante evidente que não pode tratar-se de uma mescla banal ou acidental. em 1921 (Os problemas do caráter na criança). em 1938. E. em 1910 (Erotismo e caráter anal).RENCZI. em 1965. apresenta a sua primeira descrição do caráter masoquista. GLOVER (1948 e 1951) considera as particularidades do caráter como simples fa. 164 . Ele lembra as encontradas para definir um caráter e tira a conclusão de que o "caráter deve ser atribufdo ao ego". e finalmente. colocar. enfim. DEUTSC H.lhos de ABRAHAM e RADO e suas próprias investigações de 1942 sobre as per. de 1927 a 1933. JONES em 1913 (Ódio e erotismo anal). publica Neuroses e tipos de caráter.J.sonalidades "as if'. R. nas Novas conferências. a agressividade e a atividade aí se encontrariam de par sob o primado do narcisismo). Em 1935. ROLAND. Em 1932. enfim. a abordagem caractero lógica de A. lançou os princfpios de sua "análise do caráter". segundo os diferentes aspectos do funcionamento mental.tia de perda do objeto não é muito lógico. o tipo narcisis. H. em 1916 (Ontogtmese do interesse voltado ao dinheiro). o mesmo autor se interessa pelos aspectos var iados da angústia. sobre as grandes linhas de desenvolvimento da criança não deve ser es. uretra! e genital. podemos lamentar que FREUD não tenha definido como. mas entravada pelo superego). No plano cientffico. no mesmo plano erótico. se operava esta mistura. dificuldades Os pós-freudianos avançaram aos poucos na via caracterial: SADGER.crever o tipo erótico predisposto à histeria como repousando sobre uma angús. pouco sa. retoma uma classificaçâo genética das etapas do caráter.ces de la volonté). o tipo erótico-narcisista (este seria o mais freqüente. Depois W . FREUD vo ltará a falar da influência dos fatores pré-genitais 11a formação do caráter. anal. a propósito dos caracteres anal e uretra!. como em todo procedimento caracterológico clássico. HELMUTH. em 1948 (Formatíon du caracte. em 1916 (Caráter e temperamento). ob. acerca dos caracteres oral. ao passo que E.blemas caracteria is. as hipóteses de FREUD neste artigo parecem um pouco insólitas em relação ao estado de suas elaborações conceptuais de 1931. em 1945 (Les défail/an. em Angoisse et Liberté (1945).quecida nesta lista. qualitativa e quantitativamente. Des. retomando. FAVEZ-BOUTONIER nos propõe. . Os analistas contemporâneos consagram numerosos trabalhos aos pro.re). H. em 1965. S. Depois. S.dar ao desenvolvimento cultural novas impulsões ou atacar aquilo que está estabelecido".ta-obsessivo. FE. J. FREUD a seguir descreve tipos "mistos": o ti. REICH. JASTROW . JONES. distinguindo caráter. caracterologia psicanalltica. M. de submetê-la a uma revisão ra. cujos componentes principais muitos auto. e M. o período de surgimento do caráter propriamente dito.W I. um perlodo de identificação secundária e. colocando o caráter como equivalente de um "sintoma do ego". E. além disto. FENICHEL (1937 e 1939). Como tantas outras descobertas psicanallticas. M.ráter e neurose de caráter. na vida. LAMPL DE GROOT interessa-se pela formação do caráter em referência à formação dos sintomas. WIDLÓCHER e M. Para fechar esta revisão bem rápida e incompleta dos principais escritos concernentes às caracterologias de critérios psicanaliticos. esta caracterologia analltica revolucionou completamente a psicologia normal. S. parece perfeitamente oportuno citar o ponto de vista critico proposto em 1954 por E. uma necessida. Eles definem o caráter como "o conjunto dos modos relacionais do individuo com aquilo que está a sua volta. E. e NUNBERG (1956) opõe bastante radicalmente caráter e sintomas. abriram caminho para a reflexão sobre uma eventual caracterologia anaclltica.ção destinado a reduzir os conflitos com um mfnimo de energia.. em seu tempo. SAUGUET.meira é que. em 1955. GLOVER: "No que concerne _. na perspectiva que dá a cada personagem sua originalidade". J. KESTEMBERG. agora. BOUVET distingue os elementos do caráter genital dos elementos de caráter "pré-genital". em 1968 estabeleceram uma stntese da patologia do caráter.dical. NACHT e H. o que aparece _. à adolescência e à maturidade. FAVR EAU. para o autor. en. SAUGUET.de de encontrar uma adaptação. em 1955. DIATKINE e J. R. distingue traços de caráter patológico e for. BASOUIN. H.res a seguir retomaram ou deserwolveram. FEDERN (1926) refere-se aos modos de funcionamento do ego fora oe conflitos. ALEXANDER (1935) se interessa pelos caracteriais "frigidos". primeira vista corno uma série de formulações irredutfveist revelou a seguir não passar de uma aproximação grosseira_.DLÓCHER em 1964. a segunda. que é tempo.mações reativas. também em referência às formações reativas. BERGLER (1933) retoma o caráter oral. corresponderia. depois em 1970. ZILBORG (1933) visa as defesas caracteriais. fala do caráter ciumento (1930). O caráter. enfim.fim. Esta mesma observação aplica-se ao "primado" dos com165 . D. compreende os traços de caráter como uma defesa contra os sintomas e considera o caráter como um princfpio de organiza. De 1948 a 1960. duas observações se imp6em: a pri. esboça uma síntese dos diferentes caracteres. A gênese do caráter compreender ia três perlodos: um perlodo de identificação primária. BALINT (1955) descreve seus célebres "filobatas" e "ocnófilos".P. H. Em 1963. STEIN (1969). correspondendo ao final da latência. personalidade e temperamento. à elaboração secundária no sonho. dos aportes narcfsicos. enquanto que F. O. tema igualmente desenvolvido por D. publicaram em 1969 uma Teoria psicanalftica da formação do car ter. Eles diferenciam ca. em 1953. Eles são o reflexo de uma ten.ponentes libidinais." 166 processos mais elaborados da segunda infância e. sobre os quais basearam-se até agora todas as caracterologias psicanallticas.consciente de um processo terminado (end-product). 'uma tal revisão imp6e-se (.dência. a projetar sobre a pobre criança pequena adulta. da vi. demasiado difundida nos cfrculos psicanallticos.••) a partir do momento em que o efeito dos primados dos mecanismos mentais sobre as estruturas precisas do ego não puder ser posto em evidência (•••) Cabe ainda acrescentar a isto que os antigos trabalhos sobre a caracterologia achavam-se todos sob a influência de uma avaliação pré.da . por vezes. O "Caráter" propriamente dito. por um lado e. esta classificação pareceu-me uma base ne. direi que considero o caráter como a emanação mesma da estrutura profunda na vida 167 .ses que delimitam de início três níveis caracteriais muito diferentes: 1. e dos biógrafos políticos em particular. mais uma vez. por outro. melhor conhecido pelos literatos ou biógrafos em geral. entre estes três pla. O plano dos "traços de caráter". Entretanto. A distinção dialética entre "neurose de caráter" e "caráter neurótico".bituados a encontrar elementos caracteriais. como todas as vezes em que um fator mórbido não é evidenciado de forma manifesta. meus trabalhos desde 1971 levaram-me a hipóte. acusar os psicanalistas de permanecerem fixados à sua lupa genita l e edipiana para explorar este domínio. Bem que eu poderia.cessária ao seguimento de minhas hipóteses. ha- bitual entre os psicanalista s contemporâneos.O caráter Já constatamos a distância considerável existente entre os abundantes conhecimentos fragmentários que possuímos acerca dos problemas do caráter e a precariedade das sínteses referentes aos diferentes níveis onde estamos ha. 3. 2. do que pelos psiquistas que aí não se sen.no sentido da pesquisa das articulações destes três planos entre si. Para resumir grosseiramente as linhas diretrizes de minhas hipóteses.tem muito à vontade. Conforme expus acima. O domínio da patologia dita "do caráter".nos e as estruturas de base. Talvez o leitor veja nisto apenas um ordenamento mais preciso de dados sobretudo pouco novos. não parece haver feito as coisas avançarem muito neste domínio. ele pode apenas. O caráter situa . no caso de uma anestruturação anaclftica. a natureza da escolha objetai. a abordagem relaciona! traduz os modos de funcionamento do ego no plano defensivo e adaptativo. tal como a considerei (fig. e em estreita correlação com elas.relaciona! (independente de todo e qualquer eventual fator mórbido). das quais o caráter seguiria as contorsões mais ou menos arcaicas. que dependem das características estru. RADO (1928) chegou mesmo a predizer que as investigações futuras nos levariam a concluir que os elementos individuais que concorrem na atividade de síntese do ego constituem o núcleo daquilo que se poderá chamar de "caráter do ego". ou então. permitindo a algumas que se expressem diretamente e obrigando as demais a deformarem-se um pouco. na junção entre as exigências pulsionais e o mundo exterior.turais latentes. fixado por seus aspectos relacionais manifestos. EY (1967). O ego protege o organismo contra as experiências internas ou externas bloqueando suas reações. pois. A organização dinámica e econ6mica de suas aç6es posi. a forma pela qual combina suas tarefas para encontrar uma solução adequada. S. Atualmente a maioria dos autores parece estar de acordo acerca da estabi.tivas. manejo da ambivalência 168 . Conforme definiu H. comportando as inevitáveis fixações e re. Mas. a ma. Ele filtra e organiza as excitaç6es e as pul.lidade e constância do "caráter". neste momento.ticas. tal como sempre o concebeu a teoria psicanalftica.festos da estrutura latente não pode proceder de outra forma senão seguindo passo a passo os progressos ou fracassos da evolução estrutural: estatuto das zonas erógenas.se. FE NICHE L ( 1953) estima que "o conceito de caráter visa a um objetivo mais amplo que o estudo dos mecanismos de defesa implantados no caráter ele-rriesmo. O caráter está. o nível dos conflitos. FENICHEL compreende não apenas os diver. o testemunho visível da estrutura de base da personalidade. a estrutura profunda está estabelecida de forma definitiva.gressões. em um ou outro caso.neira pela qual são tratadas as necessidades pulsionais. manifestar-se ao nível de uma das funções essenciais do ego. o verdadeiro "sinalexterior de riqueza ou pobreza estrutural". A organização do caráter correspondente aos arranjos relacionais mani. o estatuto das representações oníricas e fantasmá. contribuem também para constituir o caráter". portanto. mas ele também reage. Esta constância dependeria tanto de dados inatos do ego quanto de fatores adquiridos mui precocemente. O. Uma vez terminada a crise da adolescência. ou as particularidades da angústia latente. segundo ele. "o caráter é a fisionomia original da individualidade psfquica". ao nível da estruturação. depois mais tardiamente.sos níveis de funcionamento do ego.sões. mas faz entrar em conta de maneira direta as influências do meio. o caráter constitui. O. 8) na primeira parte. se bem que ainda possa ser reposto em questão . Na formação do caráter. assim. um estado de organização prolonga-se de maneira bastante durável. possibilidades de mudança de objeto. do termo. funcionamento recíproco dos principias de prazer e de realidade. etc. Teremos. Assim. Ao lado das "neuroses" de caráter.ter".mento psicanalftico. ele mesmo.da de todos os lados. constituição do supere. também na medida em que sua abordagem fenomenológica se situa a um nlvel tópico. justamente em um caso que não se origina da organização sob o primado do genital). cabe não confundir. o modo de comunicação é forçosa e fundamentalmente diferente. psicanalista. o primeiro parec e desencoraj ante. da mesma forma que este suj eito. existem também simples "caracteres narcisistas" correspondentes ao tronco co.mum ordenado.derá ou não desligar-se da relação fusional. 1. que a "neurose de caráter" não tem tanta rela. A "neurose de caráter" não representa. depois triang ular no sentido estrito. a qual estes procuram expor para que o sujeito possa detê-la. pois. "caráter neurótico" e "neurose de cará. não pode ignorar que com ele. "narcisista". O psicanalista não pode deixar de empregar suas referências de interpretação e seus métodos de escuta na abordagem do sujeito em exame.primitiva. o "caráter". Os caracteres neuróticos Obviamente. Não se trata. um estado autentica mente "normal" no sentido em que o entendi na primeira parte e. constitui a única verdadeira "neurose" assintornJtica (embora não goste muito de empregar o termo neurose. conforme veremos mais adiante. a seguir mais amplo.po.do. com ef eito.estes caracteres atestam 169 .ção com o caráter propriamente dito no plano econômico. na medida em que penetra mais naquilo que especifica o caráter enquanto modo de ser no mundo. econômico e dinâmico forçosamente mais profundo que o do psiquiatra ou do psicólogo. e "neurótico" da mesma forma que procedemos a propósito das estruturas da personalidade. depois triádica. negociação das descargas pulsionais. pois o ordenamento "caracterial" do narcisismo tem por objetivo justamente evitar os sintomas. e com justa razão. Tem-se comumente oposto o procedimento caracterológico ao procedi. depois dual. jogo das identificações. por evidenciar um certo automatismo que se procurou distinguir da compulsão à repetição descrita pelos psicanalistas.go. Veremos mais adiante (11). pouco a pouco. que ela não constitui mais do que um esforço para salvar o narcisismo imitando um caráter neurótico qualquer. dos estados limítrofes. consideradas aqui como ramificações mais estáveis desenvolvidas a partir do tronco comum dos estados limítrofes. de componentes caracteriais tão sólidos quanto as "neuroses" de caráter. por outro la. por seu turno. assim. conforme a precaução nos·é recomenda. O psicana lista encontra-se em posição vantaj osa em relação ao caracterologista. da mesma forma que a estrutura . de estudar sucessivamente os caracteres "psicótico". tal como o dos pra. parte da energia pulsional fica contida e inutilizada. O recalca. O "caráter neurótico" corresponde. complementarmente reinvestida em domínios relacionais paralelos.promisso pelo modo sintomático. onde se apresenta o "caráter". então. quanto às suas caracterlsticas de evolu. nem ainda descompensado.borada no plano libidinal e a um estado do ego que superou a etapa triangular genital edipiana sem fixações pré.mente. a vida fantasmática e onírica mostra-se rica em representações erotizadas.dência a erotizar as relações mais banais. simples. quanto em função da importância dos fatores organizadores da maturação edipiana. no seio de toda estrutura de base. grau atingido na constituição do superego. É algo completamente diferente do "caráter neurótico". Mas este equillbrio. há uma ten . depois ideal de ego pessoal).tre diferentes sistemas de alavancas que atuam aos pares em sistemas opostos. Traduz em comportamentos interpessoais as linhas diretrizes da estrutura de base. Existe uma forte possibilidade de expressão imaginária em relação às mentalizações e vivências da infância. seu modo de angústia especifica.ção pulsional e defensiva. pelo motivo fundamental de que ao nlvel "normal" em que o caráter se expressa habitual. tal conflito limita-se a um equilíbrio entre necessidades pulsionais e limitações pelos interditos. tanto em função das fixações arcaicas a seus precursores (ego ideal parenta!. A) O CARÁTER HISTÉRICO DE CONVERSÃO O caráter histérico de conversão corresponde à base estrutural mais ela. ao registro de expressão relaciona! banal da estrutura neurótica de base enquanto não está descompensada.tiva entre necessidade e temor da proximidade do outro manifesta-se nos saltos 170 .ment e não existe qualquer elemento mórbido que necessite do recurso ao com.tos de uma balança. a uma tensão fisiológica en. Nas condições de "normalidade". nlvel de elaboração de seu funcionamento fantasmático ou onlrico.genitais demasiadamente grandes.atitudes anti-depressivas e pré-fóbicas que permanecem no tronco comum. um conflito de instâncias. em particular do período edipiano. Em todo conflito neurótico. nisto. que não tem abso.lutamente o obj etivo de mascarar.ment o atua ao máximo a este nlvel estrutural. esta energia acha-se. os impulsos emotivos (aparentemente irracionais) e a dramatização fazem parte do mesmo sistema de reprodução das linhas conflituais edipianas. pois a distância do objeto do histérico de conversão nunca é muito grande. Na medida em que o superego e o recalcamento reduzem a expansão libidinal.tis em objetos atuais. Ao nlvel do caráter histérico de conversão. a buscar duplicações de objetos infan. a alterna. evitar ou substituir um sintoma. da mesma forma. Fora mesmo de qualquer extensão mórbi€la existe. a sugestionabilidade permanece sempre muito forte. trata-se de uma oposição ent re pulsões do ide interdições do superego. en quanto não está nem melhor ordenado. corresponde. de humor do caráter histérico de conversão, logo, atuando sobre as inversões de afeto, mas sem agir sobre a realidade e sem afastar-se do objeto, ao passo que no caráter histerofóbico existe a idéia de uma situação fobigênica que pode acarretar a fuga, e no caráter obsessivo, uma "colocação em domínio" e uma certa distância, bem regulada e ordenada com frieza. As "experiências-ecran" descritas por O. FENICHEL (1953), tão freqüentes na vida relaciona! do caráter histérico de conversão, devem ser consideradas a partir de um duplo ponto de vista: de um lado, elas constituem uma "tela" no sentido protetor, mas no outro sentido do termo, funcionam como tela de projeção, facilitando a reprodução das cenas arcaicas erotizadas e significativas. É em função destes duplos aspectos que se pode compreender as facilidades de hipnotização dos caracteres histéricos de conversão, da mesma forma que o sucesso encontrado pelas representações artísticas enquanto tela: cinema, teatro, obras literárias, esculturais ou pictóricas evitam que o sujeito desmascare, ele mesmo, abertamente, seus fantasmas eróticos, permitindo-lhe ao mesmo tempo projetá-los sobre as representações evocadas na obra. E isto não vale apenas para o verdadeiro caráter histérico de conversão, que domina no seio de um estrutura histérica de conversão, mas encontra -se igualmente, em menor grau, embora bastante constante, na maioria das demais estruturas,no estado de "traço de caráter histérico" mais ou menos marcado. As estruturas psicóticas mais cerradas, aquelas cujo índice de histerização caracterial encontra-se muito baixo ou mesmo nulo, não podem realmente cooperar com uma evocação esté- tica correspondente a representações do tipo figurativo: a comunicação não po- de senão passar pelos registros, não de um inconsciente objetai e genital recal- cado, mas de um inconsciente muito mais primitivo, fusional, anacrônico e im- pessoal, situado fora do campo submetido ao reconhecimento do ego, bem an- tes que o recalcamento tenha chegado a entrar em jogo sob o efeito da reprova- ção sexual do superego. Muitas vezes apresentou-se o caráter histérico de conversão como mentircr so. Trata-se, ainda neste caso, de um efeito da rica fantasmatizaçâo, costumeira neste gênero de caráter. A exuberância das imagos fantasmáticas ou oníricas vem operar, como na criança, uma recusa, uma denegação pura e simples da realidade edipiana pessoal constrangedora. Ruth MAC - BRUNSW ICK (1943) estima, quanto a isto, que "o motivo princi- pal da denegação infantil e de todas as mentiras patológicas que dar dependem é constitu(do por acontecimentos que gravitam em torno do complexo de castração, que lesaram o narcisismo da criança". Esta maneira de ver pareceu-me judiciosa, entretanto considero abusivo o adjetivo "patológico" ligado à mentira. Parece-me, com efeito, uma pena que não se possa considerar uma caracterologia serena, profundamente psicanalfti- ca, sem para tanto, imediatamente, medicalizar os fenômenos. Existe, entretan- to, uma margem muito explorável entre as descriçõés entomológicas e os qua- dros patológicos. Todo o meu esforço dirige-se neste sentido. 171 O caráter histérico de conversão (como seus "traços de caráter" menores correspondentes) pensa que "se isto não passa de um sonho", a representação pode ter valor de falta, e bem parece que a Igrej a Católica, essencialmente obses- siva, logo fundamentalmente anti-hist érica, detectou alergicamente esta trapaça, criando o pecado por pensamento, situado no "Confiteor" em primeira posição, antes mesmo dos pecados "por palavra", "por ação" ... ou "por omissão"... O r econhecimento claro e imediato da provocação erótica contida no fantasma histé- rico é vivenciado pelo obsessivo de caráter como absolutamente insuportável, na medida em que ele acha-se assim perseguido pelo caráter histérico, que lhe re- torna pelo exterior, a partir de um recalcado bem enterrado interiormente nele, obsessivo, graças aos eficazes mecani's mos de defesa que emanam de sua es- trutura profunda. É até possível descrever traços de caráter histérico de conversão coletivos no seio de uma família, para mascarar certas vivências edipianas constrangedo- ras mediante "mitos familiares", vantaj osos tanto como suportes quanto como máscaras; da mesma forma, existem "mitos nacionais" de caráter histérico de conversão, conservando o mesmo objetivo: as cerimônias, pulsionais e expiató- rias ao mesmo tempo, de 14 de julho, por exemplo, escondem tanto a vileza agressiva do massacre de uns pobres subordinados suíços que guardavam uma dúzia de prisioneiros de direito co111um, quanto as satisfações pulsionais reativa- das à recordação deslocada (em data) e simbolizada (em "liberdade") do assas- sinato do pai egoísta, seguido pela punição pública da mãe que se abandona se- xualmente ao "belo estrangeiro"; entretanto, por outro lado, um caráter para- nóico, por exemplo, se proclamará "monarquista" e viverá este dia - de come- morações como um evidente "luto nacional". Resumindo em algumas noções bem simples • os principais elementos que definem o caráter histérico de conversão, somos levados a insistir no modo par- ticular de vida relacionar, com suas crises, alternando momentos de calor afetivo e de retraimento mais ou menos provocador; a facilidade da linguagem emocional de tradução neurovegetativa é muito intensa. Quanto . à linguagem em si, ela passa da grande riqueza de expressão ao mutismo rabugento (mas de' forma muito compreensível e coerente, contrariamente ao que 'se passa no caráter esquizo- frênico). As paixões sofrem os mesmos paroxismos;,_ todas as posições afetivas, mesmo as mais banais em si, tendem a assumir uma forma expressiva dramatiza- da (no sentido etimológico e não trágico expressão". 1 do termo). Falou-se, a propósito do caráter histérico, de um modo "neurótico de FREUD (1931 a) apresentou o caráter histérico de conversão como essen- cialmente voltado para a vida amorosa: amar e ser amado. Para ele, este tipo de organização caracterial "representa as reivindicações pulsionais elementares do id, ao qual se dobraram as demais inst ncias psfquicas". Dito de outra forma, este tipo é o que mais perfeitamente corresponde aos processos mentais organizados sob o primado do genital. 172 Podemos também experimentar uma certa decepção, ou uma relativa amargura, quando se vê, na maioria das descrições caracterológicas, emanando até de psicanalistas, o caráter histérico de conversão apresentado de infcio em seus aspectos exagerados, essencialmente defensivos e rapidamente mórbidos. A imaturidade afetiva, a mitomania, as tendências depressivas, a angústia de de- sagradar, a inconstância da personalidade, etc., com que comumente se cu mula o caráter histérico, na realidade já não mais são do domínio do caráter histérico de conversão, mas entram no quadro da ·neuros e histérica por descompensação mórbida da estrutura; ou então, também, estes comportamentos jamais foram de fato de uma estrutura histérica, pertencendo em realidade a uma organização narcísico-anaclítica, da linhagem dos estados limítrofes, sobre a qual estendemo-nos longamente acima. Cabe, com efeito, evitar confusão fácil e clássica entre caráter histérico de conversão e ordenamento caracterial do tipo histérico, já frisando a "neurose de caráter histérico". a Estas duas últimas entidades per- tencem aos avatares do narcisismo na linhagem "limítrofe" e nada têm estrutu- ralmente a ver com o caráter histérico de conversão, emanação funcional e rela- ciona! de uma estrutura neurótica do tipo histérico, não descompensada e bem adaptada de identificações sexuais fáceis. Outro tipo de confusão poderá irritar os clfnicos atentos: comumente se mistura histeria de conversão e oralidade. É um pouco como se se classificasse, na mesma reserva, minerais de ferro e colheres de café. Uma colher contém ferro, mas também uma liga de outros metais, e o mineral de ferro pode dar origem, da mesma forma, a outros objetos que não colher es. É evidente que o lado "anti-obsessivo" da estrutura histérica se afina mal com fixações anais em caso de regressão mórbida, sentindo maior afinidade oral 1 em virtude da proximidade objetai correspondente e do lado mais diretamente benéfico das operações ternas ou agressivas·a este nfvel. Contudo, encontramos uma conjunção oral histérica apenas nos casos de regressão mórbida e não no plano funcional e relaciona/ "normal" o qual insistimos em manter no registro es- tritamente caracterial. A. LAZARE, G.L. KLERMAN e D.J. ARMOR (1966) procuraram estabelecer uma análise fatorial incidindo sobre os elementos característicos das "personali- dades" obsessiva, oral e histérica: eles constatam uma intricação dos fatores "orais" descobertos por seus cuidados (pessimismo, passividade, agressividade oral, rejeição do outro, dependência, parcimônia) com fatores que descrevem como "histéricos" (egocentrismo, histrionismo, labilidade emocional e afetiva, sugestionabilidade, dependência, erotização das relações sociais, temor da se- xualidade}, reconhecendo que a "personalidade histérica" se individualiza com maior nitidez do que a "personalidade oral". Sobre este último ponto, nosso exemplo. a partir da colher e do mineral de ferro atestará nossa concordância; em contrapartida, como ousar falar de "temor da sexualidade", quando se trata simplesmente de um caráter histérico propriamente dito? Certamente existe, a este nlvél, no sujeito "normal", uma defesa legítima do superego e do ego con173 tra todo desbordamento pulsional não conforme às realidades, mas isto constitui um ordenamento ligado ao princípio de realidade, respeitando ao mesmo tempo o princípio do prazer. A verdadeira angústia genital ligada à ameaça fantasmáti- ca de castração apenas aparece, de fato, com a descompensação mórbida do equillbrio entre superego e pulsões, no interior do campo de um ego que já per - deu pelo menos uma parte de sua capacidade reguladora. O lugar do caráter histérico de conversão bem no topo da pirâmide das evoluções mentais deve-se à riqueza de seus investimentos relacionais genitais e podemos concluir, juntamente com G. ROSOLATO, quanto à posição central da estrutura de base histérica em relação às concepções clinicas das diversas possibilidades de ordenamento dos processos mentais. Bl O CARÁTER HISTEROFÓBICO É oportuno fazer a distinção formal entre caráter histérico de conversão, "caráter narcisista" de manifestação corporal e "caráter psicossomático". Ora, comumente é difícil não confundir, na prática,estas três variedades de investi- mentos corporais a partir de funcionamentos mentais tipicamente diferentes: no caráter histérico de conversão, predomina o aspecto simbólico erotizado do in- vestimento corporal onde a representação é levada a se fixar; no caráter histérico de conversão, fora mesmo de sintomas mórbidos, o corpo fala, os fantasmas en- contram-se ,de certa forma ,"encarnados" . No "caráter narcisista" de manifesta- ção corporal (habitualmente descrito sob a designação de "hipocondria") trata-se apenas de manifestações relacionais e funcionais do tronco comum ordenado; o menor investimento das descargas libidinais aumenta a tensão corporal, e o cor- po é tratado como um verdadeiro objeto; fala-se ao corpo como se fala ao objeto anaclltico . No "caráter psicossomático", enfim, a dificuldade em distinguir o so- mático do psíquico na representação leva o sujeito a mentalizar menos facil- mente e, por isto mesmo, a verbalizar menos de forma direta; o sujeito fala com seu corpo, sem ligar ar um valor simbólico. O reconhecimento destes três modos de linguagem do corpo mostra-se útil ao nível do próprio caráter ,antes e fora de qualquer episódio mórbido, pois o modo de relação interpessoal a considerar, esperar ou temer, em um caso ou outro, se achará profundamente ajudado ou complicado, conforme sej a reco- nhecida ou não a maneira própria do sujeito de utilizar a comunicação corporal. Cabe inicialmente distinguir muito claramente o "caráter histerofóbico", examinado agora, do "caráter fóbico-narcisista", estudado mais adiante (li, 1 c} . O caráter histerofóbico corresponde ao funcionamento relaciona! "nor- mal", ou seja, bem adaptado interior e exteriormente, da estrutura histerofóbica, tal como tentei defini-la acima, ao passo que o caráter fóbico-narcisista nada mais é do que um dos aspectos possíveis do comportamento estruturalmente instável apresentado pelo tronco comum dos estados limítrofes, fora de qual- 174 quer descompensação franca. Este último caráter faz parte de uma defesa anti- depressiva do registro narcisista, necessitando de um certo dispêndio energéti - co, ao passo que o simples caráter histerofóbico acompanha -se de um estado neurótic o economicamente estável, sobre uma estrutura neurótica, ela mesma definitivamente fixada. Esta precisão não me parece constituir uma busca de detalhes, mas diz respeito a uma distinção estrutural e relaciona! fundamental entre dois modos de func ionamento mental que parecem muito próximos por homonfmia, mas que são radicalmente divergentes, tanto do ponto de vista tópico quanto dos pontos de vista dinâmico e econômico. Do ponto de vista tópico, o caráter histerofóbico depende da importância das pressões do superego, e o caráter fóbiconarcisista, da força de atração do ideal de ego. No plano dinâmico, o caráter histerofóbico é sustentado pelos conflitos edipianos e genitais, temperados pelo recalcamento (ajudado pelo deslocamento e pela evitação) sem regressão pulsional, ao passo que no caráter fóbico-narc i- sista descobre -se um conflito com os aspectos frustrantes da realidade exterior, no seio da qual o sistema de defesas se vê obrigado a operar uma clivagem de imagos objetais. No plano econômico, por fim, o caráter histerofóbico comporta um investimento objetai do tipo essencialmente genital, as passo que o caráter fóbico-narcisista simples nada mais implica do que um jogo de investimentos e contra-investimentos narcisistas, tais como S. FREUD descreveu em seu artigo sobre O narcisismo, em 1914. Talvez o leitor ache maçante ser lembrado, em todos os níveis deste estu- do, das diferenças estruturais fundamentais entre linhagem genital e linhagem narcisista, diferenças estas cuj os efeitos em nada se limitam a uma classificação mais rigoros a das estruturas, mas cuj as conseqüências correm o risco de levar o clínico da psicologia a confusões caracteriais consideráveis, bem como o da pa- tologia a erros diagnósticos e terapêuticos graves. É certo que já não facilitei a tarefa, ao recusar -me sistematicamente a misturar, do ponto de vista descr itivo, "estrutura" da personalidade, "caráter" e "doença", em virtude da importância do afastamento dos planos ao nível dos quais articulam-se estas três noções no registro metapsicológico. Por razões mais fortes ainda, parecerá temerário solicitar uma atenção e rigor suplementa- res, buscando diferenciar o que corresponde ao agrupamento estrutural de uma persona lidade neurótica genital e edipiana de tudo aquilo que a ela se acha inde- vidament e ligado. O carát er histerofóbico rranifesta- se de formé visível por elementos variados, pouco espetaculares, pois trat a-se de sinais caracter iais que não atingirarT• o estatuto ée sintoma: são angústias flutuantes, mal definidas e pouco ruidos as, cuj as causas aparentes referem - se, sobretudo, a motivos exteriores e afetivos (ao passo que as ang ústias flutuantes dos caracteres fóbico-narcisistas são mais re- portadas a motivos racionais do que afetivos). Os distúrbios neurovegetati vos são 175 da mes . Convém. mas uma real eficácia. em virtude de seu estatuto comum autenticamente genital.ao mesmo tempo freqüentes e discretos: vertigens. o domínio libidinal. A economia histerofóbica situar-se-ia próxima da economia histérica dita de conversão. 176 . é sufi. altamente genital. dos comportamentos "fóbicos" propria. Uma aparente candura sentimental e afirmações de objetivos ideais mascaram mal o la.sentação mental da cena primária no sujeito. ora. As necessidades de pureza ou de virtude não dizem respeito a uma exigência ideal (como no caráter narci.qüência de condições de realidade demasiado intensas ou precoces para o sujei. quer sej a infeliz e sofredor. mas permaneceria fácil de ser imitada pelo anaclítico "limítrofe" (não organizado sob o primado do genital) em virtude da comum inquietude narcisista que. mas a uma formação reativa contra desej os sexuais ou agressivos.ciente e necessário que o equilíbrio seja mantido mediante um jogo bastante fle. O.tando tudo aquilo que nos aproximaria dos sintomas fóbicos que traduzem um estado mórbido neurótico já declarado. Para que este perigo não tenha de passar ao nível dos sintomas. cefall§ias. mas evi. O com.perado por operações complementares de deslocamento e evitação. O fracasso do recalcamento em relação à estrutura histérica de conversão parece provir de condições mais difíceis em que teria se desenrolado a repre. quer triunfante. justamente o bastante para desencadear o sinal de acionamento da defesa.portamento exterior. no presente parágrafo.térica (onde a cena primária conservou um estatuto de elaboração fantasmática simples) e a organização narcísico-fóbico -depressiva"limítrofe" (onde a cena primária irá revestir-se de um aspecto traumático. Fica evidente que o fundo do caráter histerofóbico alia a excitação sexual a uma representação de perigo. O caráter histerofóbico constitui a ilustração da estrutura histerofóbica no plano funcional e relaciona! "normal". apoiando-nos sobre os elementos estruturais de base.mente ditos de evitação de certos lugares ou obj etos em particular. não assina la uma reação contra a perda do obj eto.ma forma. de fato. Dito de outra forma. provavelmente em conse. em posição intermediária entre economia his. deve ser tem. mas simples vicissitudes do vfnculo erotizado. FENICHEL (1953) distingue os comportamentos destinados a evitar as situações primitivamente desej adas. a economia histerofóbica se situaria. certos setores da vida relaciona/. as aproxima.do vivament e erotizado dos investimentos obj etais. e atingem com a mesma discrição. onde a an. ou seja. para permanecer em dia com as exigências tanto da realidade quanto do superego. corresponde entretanto a um certo fracasso dos processos de recalcamento. que nos limitemos estritamente ao caráter histerofóbico. um perigo de punição sexual (castra. esta estrutura.sista).to).gústia subjacente chega a atravessar moderadamente.ção).xível de investimentos e desinvestimentos obj etais. neste caso. embora permaneça no quadro histérico. desencadeando pré.. mas o temor das manifestações a este nível desencadeia. ao passo que é mantida interiormente no caráter histérico de conversão e per . Estes dois procedimentos conferem ao caráter histe. bem como a identificação (sexual) com o obj eto realmente ameaçador: imagem paterna edipiana.sintomas difusos e depois. aliás.feitamente anulada no caráter obsessivo..narcisista preferencialmente encontrará sua quietude pessoal em uma coleti. no caráter histerofóbico. em especia l à hipnose. depois sobre um objeto de aspecto não-genital.vidade simpática compreendendo.co". Sensações erógenas ou an. O valor simbólico do objeto fobigênico sobre o qual é proj etado o ele. O caráter histerofóbico permanece extremamente sensível aos movimen. o deslocamento operado pela proj eção. como no caráter fóbico-narcisista.Toda e qualquer ruptura na flexibilidade destas flutuações poderá acarre. por exemplo. no caso aumento ou persistência das excitações ansiogênicas. uma resistência e uma apreensão à sugestão. menos genitalizado. de de Um dos meios que o caráter histerofóbico guarda à sua disposição (e não o "caráter fóbico-narcisista") é a sexualização da própria angústia. ao passo que um caráter fóbi. Aquele que se contenta em temer as serpentes ou a pesca submarina pode perfeitamente viver em paz em seus outros domínios racionais. ao passo que o caráter his. Um "caráter histerofóbi. quem taxaria isto de morbidade?. a auto. permanece no registro sexual no caráter histerofóbico. da qual achase privado o caráter fóbico-narcisista. devido a um desinteresse causado por um isolamento exitoso. O objeto contrafóbico. alguns elementos de mais idade ou mais confirmados socialmente. No caráter histe. pouc o importando o sexo.cos incontestavelmente "normais".siogênicas encontram-se aí intimamente misturadas. As excitações ou inibições sexuais mantêm relação com os fenômenos neurovegetativos. conforme se pode encontrá-lo sem que atrara particularmente a atenção nos caracteres histerofóbi. para o menino. e quem aliás pode vangloriar-se de não ter qualquer pequena "fobia genital" ou mesmo alguma pequena "fobia anaclítica". mesmo de intensidade mínima.co . de preferência.tos corporais de equilíbrio e mobilização no espaço. mais asseguradores.. mesmo fora de qualquer sintoma verdadeiramente neurótico.mento perigoso.excitação genital acha-se proj etada sobre a r ea lidade exterior. procurará casar-se muito cedo.tar uma desagradável impressão "claustrofobia moral". continua sendo um obj eto sexual.. eventualmente.térico de conversão aí se compraz e o caráter obsessivo permanece insensível. 177 .rofóbico uma faculdade adaptativa bastante grande. ini- cialmente ao exterior. e nunca um obj eto anaclítico.rofóbico. sem contudo achar -se jogado no registro psiquiátrico? . No estado funcional "normal". protege o caráter histerofóbico contra a descompensação mórbida. sintomas verdadeiros. ao passo que opera uma ameaç a narcisist a em todo pródromo fóbico de modo anaclítico. Os fantasmas, os sonhos diurnos e as vivências oníricas do caráter histe- rofóbico estão repletas de representações substitutivas que autorizam uma des- carga pulsional, limitada enquanto o suj eito permanecer em estado de vigilância consciente. A angústia flutuante, presente mas pouco visível e pouco constrangedora no caráter histerofóbico, corresponde a um compromisso, a um sinal e a uma garantia adaptaç ão utiliza este sinal sem ter de afirmar ou negar brutalmente demais a sua causa. no equilíbrio pulsões-defesas. A boa C) O CARÁTER OBSESSIVO Sob o título "caráter obsessivo", ou então "caráter compulsivo",a maioria dos tratados clássicos imediatamente enfatiza os traços de caráter ditos "anais" ou "sádico-anais" . Da mesma forma que denunciei acima o perigo de uma con- fusão entre "caráter histérico" e "traços orais de caráter", parece útil formular, também aqui, uma advertência contra a tendência demasiado freqüente a ligar o "caráter obsessivo" unicamente a componentes que giram em torno da agressi- vidade anal. O caráter obsessivo, como qualquer caráter, traduz essencialmente, na relação, os elementos de base da estrutura particular a que corresponde. Devido à regressão libidinal parcial ao estágio sádico-anal, ao qual fica submetida toda estrutura obsessiva, é perfeitamente legítimo encontrar traços de caráter anais, sádicos e masoquistas em um caráter obsessivo; entretanto, é necessário preca- ver-se para não ligar a essência do "caráter obsessivo" unicamente aos seus as- pectos manifestos. Com efeito, o caráter obsessivo permanece no contexto das organizações da linhagem neurótica, logo, genital; o elemento organizador fun- damental da estrutura gira, pois, em torno do Édipo, e não do pré- genital; o pré- genital, a este nível, nada mais constitui do que uma defesa contra o Édipo e o genital, ao passo que, em outras situações, a organização mental pode muito bem efetuar-se sob o primado do pré-genital, com elementos genitais acrescen- tados, mas nem específicos, nem organizadores; nestes casos, a tríade anal de S. FREUD (1917 c): ordem- economia - obstinação, acha-se comumente sublima- da, ao invés de servir de defesa, como na estrutura ou no caráter de modo ob- sessivo, sendo interessante distinguir, por exemplo, a propósito das reações diante da limpeza, os dois gêneros muito diferentes de caracteres ditos "da per- feita dona-de-casa". 178 Obs. n 13 Um caráter obsessivo Criada por um pai taciturno e uma mãe que não parava nunca, em um ambiente modesto, mas bem "montado sobre princípios" sociais e morais, Agathe, embora fosse uma moça muito bonita e desejasse basicamente "fundar um lar" (mais do que "se casar"), apenas por volta dos vinte e cin- co anos encontrou o homem que enfim a desposou, após dois anos de re- flexão, aliás; ele é dez anos mais velho do que ela. A casa "funciona bem", pois o marido, representante de uma impor- tante firma de produtos alimentícios, necessita viajar muito, e o aspecto exterior de sua esposa o valoriza consideravelmente junto a seus clientes ou seus próprios agentes: na medida em que não apresenta qualquer sinal histérico-provocador, Agathe chega a fazer com que a maioria dos ho- mens a admire, sem que por isso (ó maravilha, em tal função comercial) atraia para si a menor reprovação das demais esposas. Sua beleza fria e bem regrada agrada o outro, homem ou mulher, sem jamais dar origem a uma excitação demasiado forte ou consciente para sentir-se por isto rapidamente decepcionada ou culpável. Tudo em Agathe é muito bem "organizado". Quando o marido recebe em casa seus clientes, colaboradores, ou ainda o próprio patrão, a acolhida é tão bem arranj ada nos mínimos detalhes e em todos os planos, que o hóspede fica encantado de se ver o centro de tal interesse e atenções. Fe- lizmente ele não retorna com freqüência suficiente par a aperceber-se da rigidez do protocolo e do esforço empregado, sem alegria, para a sua vin- da. Na intimidade, Agathe é uma escrava daquilo que seus pais chamam de seu "perfeccionismo" (para minimizar as coisas) e os outros, "suas ma- nias" (para traduzir sua irritação). Com efeito, se Agathe é sempre tão impecável em relação a si, tão bem vestida ou penteada, é porque não consegue suportar a idéia de que uma vestimenta estej a suja, usada, deformada, de que sua tez estivesse alterada por uma mancha qualquer (que se poderia tomar por falta de asseio), seus cabelos pudessem ser vistos em desordem ou maculados de caspa, etc. Ela muito cedo teria arruinado seu marido se este tivesse ocupado uma posi- ção menos lucrativa. No apartamento de Agathe, é um terror pensar que uma visita possa encontrar uma parede suj a, um cabelo na pia, tártaro em um vaso sanitário (o que ela pensaria que é isto?); sobre a mesa, todos os obj etos devem ser incessantemente revistos em seus detalhes antes da chegada dos hóspe- des. Estes, aliás, só dormem no hotel, e não se convida qualquer famflia 179 pois, apesar de todas as precauções tomadas, se descobrissem alguma mancha debaixo dos lençóis, o que iriam imaginar? Na casa de Agathe só se come produtos de primeira qualidade, para estar seguro de que são sadios. Apenas se freqüenta grandes restaurantes, por motivos de salubridade, e mesmo aí seca-se cuidadosamente (e com grande distinção na discrição) os talheres e os bordos dos copos. Depois de haver tiranizado seus pais, Agathe certamente teria ultrapas- sado o quadro caracterial para passar ao quadro mórbido de uma verda- deira neurose obsessiva, se ela não tivesse finalmente se casado ou não ti- vesse , enfim, encont rado um marido que se apresenta como uma "neuro- se de caráter obsessivo" em seus negócios, e se ambos não tivessem con- seguido aliar seus mecanismos defensivos complementares (e ligeira- mente afastados estruturalmente) em uma verdadeira "perversão a dois" do tipo caracterial conjugal, o que desejaríamos a muitas de nossas "exce - lentes donas de casa" de estatuto obsessivo, menos afortunadas. O que impressiona no caso de Agat he e especifica seu "caráter obsessi- vo" é, de uma parte, sua perfeita adaptação às condições internas e ext er- nas de suas realidades (o que faz dela um "caráter e não uma "neurose") e, de outra parte, sua economia, centrada não na necessid de de colocar a frente o "limpo" e o "belo" enquanto tais (o que faria dela um caráter perfeccionista), mas na sua angústia de poder eventualmente ser vista, apesar de todas as precauções, por qualquer outra pessoa,em uma atitude que deixe passar uma necessidade de sujar ou macular . Este é o mecanis- mo original encontrado apenas nas estruturas obsessivas. Por certo,se se tr atasse de uma doente, teria sido útil levar as investiga- ções mais adiante, no que se refere à gênese de tais formações reativas. Tudo o que foi possível saber aqui é que existia um vínculo edipiano afetuoso com o pai, facilmente detectável quando se encontra Agathe diante de ambos os pais. Esta relação afetuosa com o pai estava transfor- mada em seu co ntrário diante do olhar reprovador da mãe. Depois este movimento secundário duplamente agressivo, transformou-se em um ter- ceiro tempo, em uma necessidade de apagar toda e qua lquer "mancha" que pudesse deixar perceber traços de agressivi dade. Obs. n 14 Um caráter narcisista Embora meu desenvolvimento teórico acerca do "caráter narcisistan apenas figure mais adiante neste capítulo (111 1 c), acreditei ser preferível colocar a presente observação clínica em paralelo com a forma precedente, que com ela se parece em muitos pontos, no plano manifesto.Da mesma forma que na pedagogia da língua inglesa, parece indubitavelmente mais 180 instrutivo aproximar , no espaço, os "falsos amigos", a fim de pôr em evi- dência de maneira mais demonstrativa suas funda mentais divergências. Noémie sempre foi uma moça muito atraente, apegada aos pais muito ricos e à governanta. Era a filha mais jovem e "mais fraca" (e ao mesmo tempo "a mais esperta") da família, atrás de dois irmãos mais velhos . Seus pais, que felizmente abandonaram muito cedo os dois rapazes "insuportá - veis" à sua própria sorte, voltaram todos os seus cuidados e todo seu afeto para Noémie, que criaram revivendo nela os ideais de juventude que outrora haviam alimentado, sem jamais haverem conseguido a tingi- los, pois os seus próprios pais não lhes haviam proporcionado os meios funda - mentais para fazê-lo . Ela jamais havia tido professores suficientemente "bons"; preenchiam - se os (supostos) vazios por meio de inumeráveis lições sup lementares, de- pois por cursos de música, de dança, culinária, boas maneiras, etc. Noémie passou, aliás bastante rapidamente, do estágio de "menina charmosa" ao de "mulher charmosa". Sempre cuidadosamente vest ida, Noémie recebe em casa, com maravilhoso e prazeroso cuidado, cada um dos convidados. Muito estimada tanto pelos homens quanto pelas mulhe- res, assim como Agathe, não tem necessidade de utilizar a provocação his- térica. O prazer que cria vem da satisfação que tem visivelmente em ofere- cê-lo; os homens não têm vontade de pedir mais, tanto que ela se mostra ainda como uma adolescente frágil e sonhadora; e as mulheres, por seu turno, também não se inquietam diante da pouca heterossexualidade ver - dadeiramente afirmada; em contrapartida, o potenc ial afetivo homossex ual evocado, sem dúvida, não as desagrada. Se examinarmos o que se passa "por detrás da cortina",ou após a saí- da dos convivas, não se descobrirá qualquer obsessão que a perturbe (por um temor de juízo de condenação acerca da má consciência do sujeito), como no caso de Agathe. Em Noémie não há qualquer temor realmente superegóico do "mal" (sobretudo do mal sexual, ainda que rema nejado sob a cobertura da agressividade anal); interessa -lhe que o "bem", o "belo", o "bom", seja m notados nela pelos outros. Todos os ade reços da vestimenta, todos os ob- jetos dispostos no apartamento, toda a organização da refeição ou dos quartos (pois ela adora receber visitas) conco rrem para com o esforço para ser "bem vista". Um detalhe, aliás, merece ser notado: os pais de Noémie vivem grande parte do tempo com ela, e estão presentes em todas as recepções, os jul- gamentos de ambos são espera dos durante toda a noitada, e uma anteci - pação de sua satisfação é o que se encontra investido por Noémie quando alguém agradece calorosamente antes de despedir-se; são, enfim, os seus• cumprimentos o que Noémie busca quando todo mundo foi embora. 181 Na casa de Agathe, muitas vezes o pobre marido não encontrava sequer uma toalha para secar-se ao sair do banho, nem qualquer reserva no refri- gerador, quando voltava tarde à noite sem haver jantado. Pouco importa- va: nada havia de "sujo" que isto pudesse acarretar e isto era o essencial. No caso de Noémie, ao contrário, pouco importava a noção, junto aos ou- tros, de qualquer "pecado"; isto contava bem pouco para ela: era unica- mente necessário que tudo fosse visto como bonito, rendendo homena- gem ao narcisismo tanto seu quanto de seus pais; em troca, estava asse- gurada do afeto e da proteção. Os autores psiquiátricos antigos, MOREL (1860), MAGNAN (1891), PITRES e RÉGIS (1902), JANET (1908), DUPRÉ (1926), descreveram as manifestações caracteriais da estrutura obsessiva sob a forma de tendência aos escrúpulos e às crises de consciência, de timidez e inibição, de uma certa dificuldade para viver os desejos sexuais; todos enfatizaram também a necessidade de ordem, regras e economia. Autores mais recentes, como WIDLÕCHER e BASOUIN (1968), colocam em primeiro plano comportamentos de dúvida, isolamento e pensamento mágico (por necessidade de anulação), tudo isto contribuindo para minimizar as expressões da vida afetiva do caráter obsessivo. O caráter obsessivo permanece dominado ao mesmo tempo por um desejo de satisfação da pulsão sexual e pela necessidade de que um tal desej o não possa ser reconhecido; a pulsão agressiva vem assumir a função de parte da pul- são sexual e as formações reativas, aparentemente muito justificadas, vêm mas- carar, por seu turno, as expressões agressivas. Tudo parece muito lógico, bem arranj ado para protej er o suj eito no interior de um sistema que o isola e enrij ece, ficando sempre subjacente a economia genital. As coisas não vão tão longe, no caráter obsessivo simples, hábil e racionalmente disposto, quanto na verdadeira neurose obsessiva, onde o desequilf- brio operado pelas exigências pulsionais, por um lado, e um desbordamento mais ou menos relativo do ego, por outro, colocam o superego na obrigação de combater a nu, em um terreno de algum modo descoberto, constrangido pelo ego a desenvolver ao mesmo tempo sintomas de alarme e novos meios de defe- sa muito menos toleráveis no plano relaciona!. No caráter obsessivo, os elementos defensivos permanecem adaptados aos juizos "racionais" do contexto social; o ego e o superego entendem-se para conter o id pelos meios próprios do modo de estruturação obsessiva (os quais estudamos na segunda parte: anulação, isolamento, regressão, racionalização, formações reativas em particular), sem que nem o ideal de ego, nem a realidade exterior criem qualquer conflito importante. Soment e as pulsões sexuais, em definitivo, saem perdendo em tais ordenamentos; as pulsões sádico-anais se acham gratificadas, em compensação regressiva, para acalmar as tensões do id, ao mesmo tempo que uma parte das necessidades libidinais e narcisistas acham-se derivadas ao nlvel da intelectualização e da racionalização, cuj o suces- 182 se. de opor. interna e ntio mais externa. nos comportamentos perversos}: método frio. poderfamos destacar de início a potência da idéia.te. o ideal de ego inverteu tais traços de caráter em asseio. os desej os eróticos anais estão infiltrados por grandes elementos agressivos (é o caso dos mecanismos psicóticos ou dos comportamentos de perversidade). estes elementos sádico-anais refletidos são secunda. LAZARE. aliadas aos potentes ele- mentos superegóicos da estrutura obsessiva. parcimônia. com ponto de partida anal. Finalmente. P. superego severo. eclipses e movimentos clclicos de vai-e-vem. escrupulosidade.dadeiro e.çáo inflexfvel. na forma de tratar as fixa. por assim dizer. manifesta uma elevada dose de autoconfiança e torna-se. da cultura". a não ser limpos. No quadrante (C) o ideal de ego aqui de forma negativa.poriam o caráter obsessivo: ordem. escrupulosos. é especifico do mecanismo obsessivo. de uma par . tirei daf um esquema (fig. desprezo do outro. H. conduzem aos famosos excessos 183 . ele demonstra uma dependência. de pilhar.piana sobre os elementos pré-genitais anais nos dois sentidos: 5) Regressão de um lado e 3-4) do desinvestimento edipiano de outro lado. BRISSET (1967) propuseram um quadro muito interessante. a este nfvel. Eu. para facilitar o retrai. de outra parte.so diante da sociedade e do ideal de ego é adquirido por antecipação. sobretudo. submissos (é o caso do mecanismo obsessivo encontrado no estado não mórbi. visando classificar os traços de caráter obsessivos. tal como ele se expressa no estado pulsional direto.mente. pessoal. dúvida de si mesmo. o sujeito "nllo mais é dominado pela angústia da perda do amor. No quadrante (B).do como.do no "caráter obsessivo"). submissão que devem ser afirmados a todos (caso dos estados limftrofes) para conservar o amor. No quadrante (D). o suporte ver. EY. constrição emocional. refletindo assim os desej os eróticos anais primitivos em necessidade de sujar. rigidez e perseve- rança. o suj eito perma. elementos anais e agressivos utilizados secundariamente por mecanismos de diversas organizações e. tais concepções novamente levam-nos a distinguir. 9) centrado nas diferentes posições caracteriais derivadas a partir do erotismo anal. socialmente. Decorrem daf verdadeiras manias mentais que. obstina. No quadrante (A) estão dispostos os traços ligados ao erotismo anal. conservador. FREUD (1931 a) expressa esta altivez intelectual do comportamento obsessivo mostran. Para operar uma sfntese dos principais elementos que constituem o cará.riamente recalcados.nece ao mesmo tempo escravo e consciente desta opressão das idéias que sofre. sem qualquer defesa (ou seja.ter obsessivo. obstinação. parcim6nia sistemática. BERNARD e Ch. S. anulados e transformados por formações reativas em uma necessidade de não serem vistos de outra forma. Contudo.ções e regressões anais. aquilo que. KLERMAN e ARMOR (1966} determinam nove traços que com. o quadrante (E) tem em conta a interação da organização edi.mento parcial da influência genital nos comportamentos descritos acima. aliás. 3 Estados Limltrofes Q) "O 2 c Q) E 'ti "O (/) lO Q) Taços de caráter I@ :E Q) c 'üi Traços decaráter contra o sadismo anal Q) o ! sãdico-anais 2 I I (caráter obsessivo)' -SUJAR .ESCRUPULOSO SENAO .---lb Contra-investimento Recalcamento Perversidade e mecanism o psicótico o '" ' (/) (/) Q) ® 5' 6 .PILHAR [OPOR-SE NÃO PODER .I I r I Traços de caráter do erot1smo anal -MÉTODO ® Traços de caráter contra erotismo anal l I [.OBSTINAÇAO . I Mecanism o I obsessivo .....---.LIMPO SER VISTO ..SUBMISSO I .SUBMISSO SER VISTO -ESCRUPULOSO No sentido do Ideal de Ego Positivo I · I o o Mecanism o c Q Mecanismo cr: "c' Perverso Q) O> --- I + o O> w Q) @ "' do grupo dos 'ã .PARCIMÓN!A liMPO ..L-- a: Desinvestimento edipiano 4 ORGANIZAÇÃO EDIPIANA (Integração da ambivalência (3 + 4) anal na economia genital) FIGURA 9: Interação dos elem entos caracteriais com ponto de partida anal 184 . o mais comum é que se trate aqui de organizações pseudo-ob. regressão para superstic ioso). A tendência ao imobilismo evita um risco de perda do controle e o aparecimento do sentido consciente do desej o. na medida em que ele se mostra difícil de controlar. suas teorizações .riamente ao que se passa no caráter histérico. sob o aspecto caracterial. quer sob a forma puramente psfica e pseudofóbica. engendram uma simbolização complexa onde por vezes é difícil reco. se for preciso chegar até aí.sessivas.contudo. ao passo que o sentido da atitude relaciona! em nada variou e permanece ambivalente no mesmo tempo.de escrúpulos. suas colocações em categorias. com pequenas incidéncias OSICOmotoras. com seus elementos bissexuais e ambivalentes no plano pulsional.gustiante mantendo o real a uma distância respeitável sem. na realidade anaclíticas. com uma defesa de modo obsessivo que secundariamente vem em auxflio de um caráter narcisista e seus mecanismos pró. própria do caráter obsessivo. tão freqüentes nos caracteres obsessivos.timento defensivo do intelecto. se isto for suficiente. Os ritos conjuratórios não são raros no plano estritamente caracterial. O clássico temor da mudança pode levar. contra.-egetativa quanto afetiva e mesmo metaffsica. quer anulados. protegem contra a realidade an. Caracteres tão estáveis como os sujeitos obsessivos não descompensados hegam a apresentar sinais aparentes de uma pseudo-instabilidade. O caráter obsessivo pensa mais do que age. tanto neuro. As palavras e os pensamentos que angustiam encontram -se quer recalcados. FE NICH EL (1953) estende-se longamente sobre o modo de pensar pró. a uma defesa pela atitude oposta de mu.se abstrato e substitui o desejo sexual. quer sob uma forma paroxfstica. A bissexualidade e a ambivalência pulsional obsessivas continuam pre. Também a! cabe distinguir o que é nitidamente obsessivo (ou sej a.sentes.nhecer o que representa pênis. esta abstração do pensamento compulsivo. O modo de pensamento peculiar ao caráter obsessivo. das coberturas obsessivas racionalizantes de estruturas 185 os modos arcaicos de pensa- mento .prio do caráter obsessivo: os fantasmas são verbais e ressuscitariam as atitudes arcaicas que acompanham o uso das primeiras palavras. tais como a ereutofobia.dança. Fala-se mui comumente das atitudes mágicas do pensamento obsessivo. Contudo. falo e ânus. superinves. nas formações reativas. abandonar o contato com ele. o conhecimento das palavras permite o domínio do obj eto que definem e é assim que se estabelece aos poucos a famosa "magia das palavras". A potência da idéia leva igua lmente a comportamentos relaciona:ios onde a angústia obsessiva manifesta -se. mas moderadas e discretas. o pensamento torna. contanto que as relações com as realidades interiores ou exteriores não assumam um aspecto conflitual suficientemente int enso para ter de passar para o lado do aspecto mórbido sintomát ico. mas mostra m-se extremamente hábeis e discretos a este nível. da mesma forma que a regresão parcial. suas sistematizações. O mesmo se passa com a onipotência das palavras.prios. O. aliás.qüência maior do que o caráter autenticamente neurótico. na presença de um dos modos de car ter narcisista. pois o qualificativo de psicótico em geral reveste-se de um sentido bastante pessimista e especificamente patológico. em psicopatologia. à hipersexualidade e à veleidade. Dito de outra forma. W IDLÓCHER e BASQUIN (1968) acrescentam o aspecto inteligente. a seriedade do pensamento. é provável que o "caráter psicótico" se ache muito mais difundido do que se supõe e que. baseado na depressão moderada. ja.cionarão em algum estágio de adaptação relacional de sua estrutura. o que se descobre na vida relacional adaptada de um suj eito de estrutura psicótica antes de um episódio de descompensação mórbida deve ser considerado da mesma forma que aquilo que se passa na vida relacional de um sujeito de es186 . da mesma forma que os traços de caráter anal. do caráter sensitivo de KRETS. no que concerne ao caráter dito "psicastênico". quando. o conservadorismo.mais produzirão sintomas de psicose durante toda a sua vida e felizmente esta. do autêntico caráter obsessivo.CHMER (1948). tendo como corolários a ausência de estruturação sólida do ego. graças a defesas eficazes tomadas emprestadas do mais regressivo dos mecanismos neuróticos.pousa sobre uma organização limftrofe. entre tantos outros. da mesma forma que estamos longe. a neces. de estatuto unicamente caracterial. 2. na tendência aos escrúpulos e às crises de consciência. Os caracteres psicóticos A noção de carnter psicótico é relativamente pouco utilizada em psicologia normal ou patológica. acoladas ainda a uma boa parte do real. a organização não se efetuou sob o pri. parece que nos encontramos. que re. as inibições. dos introvertidos de JUNG (1907). a atração do ideal de ego predomina visivel. De outra parte. fala-se de "pré-psicose". quer trate-se de psicóticos de KRETSCHMER (1948).colas descreveram numerosos traços de personalidade "pré-mórbidos". Muitas vezes colocou-se no grupo dos caracteres obsessivos o car ter psicast nico.mente. Efetivamente. dos esquizotfmicos de BLEULER (1920).estatfsticas sérias mais recentes consideram uma proporção de estruturas psicóticas diversas da ordem de 30% em uma população européia comum. se observa o que se passou no perfodo da vida de um doente psicótico anteriormente ao aparecimento dos sintomas. as repetições. dos idealistas de GUIRAUD (1950).sidade de seduzir o objeto e o temo r da perda. Ora. e os diferentes autores ou as diferentes es. não-descompensadas. e pensam que se deve separar este aspecto caracterial. sendo pois necessário pensar que um bom número de sujeitos estruturados desta maneira. a meticulosidade. exista com uma fre. Entretanto. de modo psicótico. felizmente. de encontrar tantos "doentes psicóticos" na mesma população.psicóticas.mado do genital e do superego. pré-delirantes. tanto ao nfvel do modo de constituição do ego. conforme o descreveremos mais adiante. O fato de numerosas disfunções diencefálicas poderem desencadear tais distimias não permite concluir. operar ao nfvel relaciona! do sujeito "normal". mas corresponde antes às hesitações. equivalente particular. quanto à origem neurológica do comportamento cfclico. devemos. ora do tipo abandônico. com efeito. ou seja. A) O CARÁTER ESQUIZOFRÊNICO Se empregu o te rmo "caráter esquizofr nico" ao invés da dominação. referindonos à noção de "caráter". no sentido psicótico. no plano caracterial. J. do comportamento anaclftico limftrofe. ao contrário. fre. quanto da relação de sujeito e da relação com a realidade. teremos que operar de infcio uma simplificação em relação ao nosso estudo precedente (1-3) referente às estruturas: o grupo das estruturas melancólicas e manfaco-de. FROSCH (1972) insistiu de forma muito judiciosa na necessidade de não confundir "caráter psicótico" com "estado limftrofe".J "caráter esquizóide". diante da angústia de perda do objeto. Para ele. Parece que o "carátercfclico". pelos moti. entretanto. absolutamente . o caráter psicótico justamente não se apre. em conseqüência de microtraumatismos afetivos. e não a um "caráter psicótico" já estabelecido sobre o fundo de uma linhagem psicótica de base que ainda não existia até este momento.cisista". de natureza simplesmente analÍtica até então.mftrofe depressiva ou ciclotfmica. que toma lugar nas descrições psicopatológi- cas entre as mfnimas variações tfmicas visfveis em toda e qualquer estrutura e as manifestações verdadeiramente mórbidas da autêntica psicose manfaco-depres. após uma clássica crise de angústia aguda (1-4). quer brutalmente. r . nem no plano clfnico.pressivas não comporta. No estudo dos nossos diferentes tipos de caracteres psicóticos. é para melhor demarcar-me em 187 . não constitui. a um modo caracterial simplesmente "nar. pois. uma forma degradada da psicose periódica. descompensado-se quer progressivamente. O "caráter" que precedia este modo de entrada bastante particular na li. pois.senta nem como psicose larvar ou latente. nem como uma fase de transição para a psicose: o modo de funcionamento caracterial constituiria uma adaptação do sujeito contra a descompensação psicótica.nhagem psicótica corresponde. tampouco. o aparecimento de uma forma melancólica ou manfaco-depressiva de psicose corresponde à degradação.qüente no passado. da mesma forma na linhagem estrutural psicótica que na linhagem estrutural neurótica. de uma organização li. este grupo de estruturas não se origina de uma psicogênese que seguiu a linhagem psicótica mas.siva. ora reacionais do tipo hipomaníaco. os processos de base continuariam sendo do tipo psicótico.trutura psicótica no qual tudo nos leva a crer que não descompensará jamais. nem no plano meta-psicológico .vos que havfamos indicado anteriormente. deira estrutura de base (mesmo se desej armos chamá-la de "constituição". Não se deve confundir. Para as tendências constitucionalistas. o aspecto "di-híbrido" da estrutura es- quizofrênica. a pro. descrevendo unicamente os "carac. enquanto doença men. Pessoalmente. por conseguinte. os constitucionalistas inclinam-se a favor de um caráter pré-mórbido e.firma. De outra parte. atesta uma organização estrutural profunda e fixa do indiví. Esta "constituição" parece compreender. mais ou menos invariável no decorrer da vida individual. mesmo que a organização econômica de base situe-se a um nível muito menos regressivo que a estrutur a esquizofrênica. como o fazem certos autores. saindo já do quadro da "normalidade". inegável.tal.teres" em seus estudos clínicos. caráter esquizofrênico e esquizofrenia mórbida. Para MINKOW SKI (1953).ção" hereditár ia pré-estabelecida. esquizofrênico. em sua nosografia a este respeito. para especificar bem de que estrutura subjacente pretendo precisa. e J. especfflco por excelência. ao passo que o caráter nada tem a ver com a evolução mórbida (ao contrário.zoidia. pré- psicótico.cisistas mais ou menos depressivas do humor.mente falar. uma noção economicamente bem imprecisa de esquizoidia (ou esquizotimia) a uma noção estruturalment e ainda mais vaga de cicloidia (ou ciclotimia) . "a noçáo de esquizofrenia. em meu entender. sob o vocábulo "esquizoidia" ou "esquizotimia". o caráter puramente funcional de bas e estrutural esquizofrênica. de natureza evolutiva. corresponde à evolução mórbida de uma "constitui.tram-se abordados e definidos no present e trabalho. Segundo nosso ponto de vista. em numerosos autores. entidades já mais ou menos mórbidas.zofrênico". 188 . comumente. tais como encon . no sentido em que haveria fortes chances de que um tal caráter desse origem a uma psicose declarada. em segundo lugar. ele assinala a não-morbidade). não concebo as coisas em termos tão pessimistas.mais darão origem a uma esquizofrenia. o que em si não é importante) não pode ser descrita em termos de fenomenologia. tende a decompor-se em dois fatores de ordem diversa: primeiramente.pósito dos elementos de base das doenças. penso que o caráter de estado funcional "normal". tanto a "estrutura" quanto o "caráter". suscetfvel a determinar um processo mórbido mental". o que se pode obj etar aos autores que fa. contudo. e que a verda. em particular.rias caracterológicas que opõem. a esqui. A identidade de estrutura entre estas duas eventualidades. Dito de outra forma.duo. não parece oportuno dispor. GUYOTAT (1963) con. Este também é o motivo pelv qual emprego aqui o ter mo "caráter esqui. todo acometimento psicótico e. com falhas nar. A maioria das muito freqüentes estruturações esquizofrênicas encontradas na vida corrente não se traduzem senão por um "caráter esqu izofrênico" e ja . sobretudo. um fator nocivo. parece. Já me expliquei longamente acerca deste assunto em minha introdução ao estudo dos estados limítrofes (1-4).lam em termos de "constituição" é que eles fazem alusão às "estruturas".relação às velhas descriçoés relatadas a propósito de nossa lembrança das teo. fator constitucional. da mesma forma que os sintomas em caso de doença. ao contrá.riáveis. K. à bizarria ou então aos ciúmes e à insegu. aspectos de comportamento clclico ou fóbico. O pouco calor afetivo que se destaca ao contato.das de expressão deste mesmo caráter que podem revestir. especifi. ten.valente dos componentes relacionais de ternura e hostilidade.cam tais sujeitos de afetividade muito ambivalente.mento. Quando uma esquizofrenia declarada começa a manifestar seus sintomas.rio. o caráter esquizofrênico não simpatia. Sem dúvida seria uma pena identificar todos estes sinais.condrlaco. R. ainda marcado por numerosos traços mnésicos aos quais encontravam-se anteriormente ligadas. a não passarem de um sinal. como no caso do caráter neurótico). permanecendo fundamenta lmente es. nos aspectos peculiares e imprevisíveis dos processos de pensa. perce. obsessivo ou hipo. com um estado de entrada progressiva na doença. contudo. neste funcionamento. pode-se.mas deve ser abordada unicamente sob o ângulo de uma metapsicologia que coloque em destaque profundos. embora toda esquizofren ia pressuponha um período prévio de simples "caráter esquizofrênico". mais comumente.rança. podendo um caráter esquizofrênico muito bem permanecer fixado e isento de toda e qualquer manifestação sintomát ica durante uma vida inteira. sem que por isto pareçam "complicados". vemos manifestar-se um apragmatismo inspir a sexual mais ou menos acentuado.dência ao isolamento.mento relaciona!.quizofrênico no plano econômico.tante intensa (sej a qual for o domínio de sua aplicação). Estes aspectos constituem um fundo comum aos diferentes tipos do cará- ter esquizofrênico.ber. muitas vezes bastante evidente.preenslveis. o inverso não é exato. e não epifenômenos manifestos e pouco especificos. longe de limitarem-se. A carência afetiva é a regra. como no sujeito de caráter neurótico. Tal ego dispõe. EISSLER (1954) estima que a fragilidade do ego impeça-o de resistir à realização dos potenciais afetivos desencadeados em ocasiões fortuitas exteriores ao suj eito. sobretudo. as emoções. a frieza do comporta. O caráter esquizofrênico é reconhecido em suas oscilações de regulação emocional. conduzem.los como fazendo parte do quadro patológico de infcio da afecção seria misturar lamentavelmente os planos. sua tendência ao retraimento sobre si mesmo. a uma atividade interior bas. mas permanece evidente que existem formas clinicas varia. os investimentos e os conflitos latentes. devido aos seus traços de comportamento marcados de maneirismo. na orientação narcisista brutal dos investimentos e na intricação ambi. As formas mais puramente caracteriais atraíram a atenção há muito tempo. o desinteresse objeta/. certamente va. certamente encontramos os traços citados acima na investigação acerca do pas. de forma constante ou variável.sado. com oscilaç6es sentimentais repentinas e pouco explicáveis entre hiperestesia e anestesia de afeição. os mecanismos No caráter esquizofrênico. sem que 189 . O caráter esquizofrênico é reconhecido exteriormente em sua caréncia no contato. de uma energia essencialmente pré-genital. psicopático. alguns pequenos elementos ilógicos (ou pouco com. As dificuldades de relação social não são raras. ao superinvestimento da maioria das funções do ego. ou mesmo ainda. mas centrados na falha afetiva primária da estrutura. mas considerá . ao devaneio. tratar -se-ia menos de uma anestesia afetiva. conseqüência da forma muito particular pela qual a estru. W IDLÕCH ER e BASQUIN (1968) consideram o caráter esquizofrênico como apresentando uma superffcie "lisa e escorregadia". Encontramos. As representações. a uma falha das funções habituais de síntese do ego e a uma falha.gres. apresentando uma auséncia de 'humor.cessidades narcisistas.nos ligadas aos dados obj etais ou reais do que às criações imaginár ias. em função de suas próprias incertezas e ne. tfmidos e fechados ou "gozados" (do tipo dos heróis passivos das farsas dos estudantes). originais. Para H. Falou.se muito da indiferença afetiva do caráter esquizofrênico. uma espécie de adiaforia". na representação artística do esquizofrênico. Encontramos. mostram -s e desconcertantes para quem não tem o mesmo sistema de referência. A expressão parece. P. das quais estes dados constituem apenas um dos elementos. comumente abstratas. diz DELAY (1946). para al. mui comumente relacionado a posições filosóficas ou metaffsicas que podem parecer curiosas a um caráter neurótic o. para o observador externo.nio da ação. corresponde.guns. parece certo que as representações correspondentes aos afetos experimentados encontram-se me.terior.sista que preside as elaborações fanta smátic as e lhes regula o sentido e a inten. por vezes mesmo o gênero do vagabundo anti -social ou impulsivo. 190 . que o problema não seria tanto o de saber se tais caracteres experimentam ou não sentimentos reais. todavia. a conseqüência relaciona! é uma diminuição dos investimentos no domí. tanto intelectuais quanto idealistas (pouco convincentes). BRISSET (1967). A sensibilidade permanece sempre distante.vamente. uma evidente impressão de iso. do que de uma afetividade ambivalente por vezes até exacerbada. A rigidez do idealismo. justamente. EY. BERNARD e Ch. efeti.sidade. nem o mesmo gênero de elaboração mental. ao exame de tais comportamentos.o objeto tenha movido um dedo.queza de abstração.mais comumente. Parece. ora. a mesma ri. muito feliz para dar conta da atitude particular destes suj eitos nem ale. em uma espécie de temor e recusa da realidade. de forma dificilmente previsfvel para quem permanece muito mais ligado à necessidade de fatores objetivos. mas considerar a partir de quais dados se desencadeiam suas vivências afetivas. e o ache tão desmobiliado e vazio de obj etos.lamento.e do contato com os outros. Decorre daf. mas bem oculta.tura esquizofrênica trata a realidade. fac ilmente consc iente. A vida fantasmática é rica. neste gênero de caráter. mas sérios. O sentido dado ao obj eto e à relação obj etai em geral difere. o caráter esquizofrênico é uma forma de caráter que permaneceu fixada às tendências primitivas tocantes ao narcisismo e à introversão. nem tristes. não é absolutamente seguro que o caráter esquizofrênico considere o seu mundo interior da mesma forma que o sujeito estruturado de outra forma. Na medida em que este desenvolvimento da vida imaginária fixa as necessidades energéticas pulsionais e as volta para o in. Trata-se ao mesmo tempo de um suporte e de um acessório para a economia de base estritamente narci. e ar está o essencial daquilo que devemos notar como especifico da vida relaciona! de tais suj eitos. o devaneio é luxuriante e. dita maltratado. seguramente. um viaj ante irascível. aliás. EY.sica proj eção sobre o obj eto.ráter paranóico dá mostras. acompa. um idealista desaj eitado. tanto mais porque. (1895). 8) O CARÁTER PARANÓICO Também neste caso. Não se deve confundir com o autêntico caráter paranóico todo e qualquer comportamento de reação às frustrações ou mesmo de agressividade manifesta correspondente à variabilidades de humor. suportando mal as frustrações banais da vida. vingativo e idealista. a falhas narcisistas primárias e à vivacidade das defesas contra os desej os homos. a proj eção utilizada no paranóico continua sendo a clás. constitufdas sobre o superego e o ideal de ego.nhada de um comportamento sistematicamente obj etador. Um exemplo clfnico de caráter esquizofrênico nos é dado na observação n 1. BERNARD e Ch. sob o primado dos processos mentais elementares.sadas pelo ego que se encontram proj etadas sobre o obj eto que imediatamente torna-se persecutório e nunca é preservado como útil e assegurador. classicamente.das. e não concerne aos me.canismos de proj eção Os tratados de psicopatologia transbordam de descrições de "pequenos paranóicos". mais especificamente à ordem social. um doente que se acre. um falso modesto.ça. um cidadão protestador. de orgulho e desconfian. P. Os principais elementos que definem a tradução caracterial de uma estru. bem como todo comportamento que não apresenta a defesa particular contra a homossexualidade . no que diz respeito à ordem em geral. Para H. uma retração relaciona! em direção à economia autista. das instâncias organizadoras clássicas. de forma muito constante.maneceu fixado a um temperamento agressivo ou a formas primitivas de expe. o caráter paranóico per. etc .sexuais passivos.coroso. Mostram-nos um cliente ranzinz a.mo paranóia variam sensivelmente de um autor a outro e de uma forma clfnica a outra. No mecanismo paranóico são as representações e até as pulsões globalmente recu. reparadores do fracasso da relação com a mãe. pouco realista.tura paranóica resumem-se a uma certa exaltação bastante constante. jamais nitidament e atingida. ao mesmo tempo. O narcisismo primário acarreta.riências de frustração ou de reivindicação.também. Da mesma forma. até fanático no plano ideológico. antes do episódio agudo que.midade tranqüilizadora. o ca. reivindicador e ran. 191 . BRISSET (1967). O que predomina em tal modo de caráter diz respeito. um instável afetivo. do tipo da identificação proj etiva da escola kleiniana. dissipou-se muito rapidamente. de frieza afetiva e deformação nos seus julgamentos. enquanto o suj eito permanecer no contexto caracterial e conseguir manter-se ar funcionalmente adaptado. comumente é difícil distinguir o que constitui um "caráter paranóico" daquilo que já pertence a manifestações paranóicas mórbi. descrita por FREUD no objeto. um pai suscetfvel. os comportamentos descritos sob o ter. um locatário encrenqueiro. para assegurar-se do domfnio e de sua proxi. ráter. que a todo momento. comumente tivemos dificuldade em reconhecer os aspectos fundamentais da estrutura paranóica. ou mes. mas em virtude das indispen. quanto de sua incapacidade de discipli. de natureza narcisista. prepara as impressões de perseguição. ou sej a. 192 . não por simples interesse especulativo ou entomológico. ao contrário. o mais comum é que se confunda casos particulares de caráter narcisista ou de "neuroses de ca- ráter" (cf. ora. mais por depressão que por revolta. habitual desde o esca lã o caracterial. o sujeito é or a levado a atitudes de estoicismo.na coletiva e de sua ausência de espfrito de grupo.sáveis conseqüências. A personalidade sensitiva de KRETSCHMER (1948). Neste instante do desenvolvimento de minhas hipóteses. nas descrições mais correntes. Os erros de julgamento conservam um dialética mental (ao passo que nos perversos de caráter eles necessitam de justificação racional). indecisão. mais ou menos ligado a um exibicionismo mental. descritos acima.Ora. sob tais quadros. O mesmo vale para a alternância entre os movimentos egocêntricos e pseu- do-altrufstas. por vezes mascarada sob uma falsa rnod{!stia que jamais chega a enganar (como em certos caracteres narcisistas). e sobre. que compreende uma fragilidade do ego. com hiperemotividade.tudo. não pode ser disposta ao lado das organizações de modo para. A superestima ção do ego acarreta o orgulho (no sentido habitual do termo. diante do exame de uma enti. por vezes até uma verdadeira "vagabundagem mental". 11-3) com o eco caracterial de uma estrutura paranóica. porém jamais atingem o comporta. A inadaptabilidade social relativa do caráter pararaóico vem tanto de suas interpretaç6es err6neas da realidade. reprovador) e a vaidade. revoltas Um certo número de psicopatias da literatura psiquiátrica clássica devem ser resolutamente dispostas no quadro dos caracteres paranóicos. Foi contra esta confusão que quis levantar-se a minha pesquisa. As fa. Resulta dai uma certa freqüentes. A desconfiança. cabe notar. tanto psicossociológicas quanto psicopatológicas.ria. àquilo que pertence à estrutura nomeada. vemos misturarem-se. chegando ao fim das descrições que se reportam aos diferentes aspectos mórbidos.mento físico (como nas organizações anaclfticas). e a suscetibilidade muito constante.mo ao proselitismo. escrupulosidade.dade de enfrentar os choques afetivos e as adversidades. A lógica da qual o caráter paranóico parece presa não arrasta a convicção dos observadores. profiláticas e terapêuticas que se deve tirar desta distinção. incapaci. vida solitá. dependendo de uma ou outra das linhagens clássicas. a extravagâncias.ses de excitação e depressão se sucedem. mas é útil precisá-las a fim de evitar a clássica confusão com a perversão de ca. elementos heterogêneos. As manifestações aparentes do caráter paranóico são bem conhecidas. estruturais ou caracteriais que podem revestir as estruturas tanto neuróticas quanto psicóticas. que imitam o que quer que seja do lado das estruturas neuróticas ou psicóticas da vizinhança .dade psicopatológica funcional ou estrutural dada. mas deve permanecer ligada ao grupo dos estados limítrofes. de isolamento. anaclítica ou pré-depressiva. mais uma vez.nóico. Se a ênfase for colocada apenas no primeiro movimento. corresponde a uma perda dos limites razoâveis do narcisismo. Na realidade. e ao sentimento de força compensatória. O carâter paranóico renuncia ao amor na tentativa de salvar um senti.A superestimação de si.se ao mesmo processo de perda de limites da necessidade de poder narcisista. A ausência de autocrítica deve. tirado a partir da onipotência infantil para mascarar a atitude laten•e de fragilidade e demanda de proteção. Este dois aspectos perfeitamente complementares jamais devem achar-se dissociados quando s e desej a falar de economia profunda de modo paranóico. em um desejo de seduzir e produz ir compaixão pela menor bobagem capaz de comover seu interlocutor. ao passo que o narcisista anaclftico coloca-os em destaque. "fazer-se bem visto" para seduzir o outro e ligar-se a ele para assegurar-se. ao contrário. ao amor prégenital. encontrada no caráter paranóico. ao passo que os caracteres narcisistas. renun. 193 . ora. procuram. ao passo que o funcionament o masoquista. os depressivos corporais ou os famosos "sangüfneos". corremos o risco de confusão com a economia esquizofrênica. Os dois comportamentos dizem respeito. em boa parte.cia à força para tentar preservar o vínculo amoroso.sessivos. A forma corporal de afirmar a necessi. e linhagem narcisista.tismo anal. ou então de uma "neurose de caráter". ao mesmo tempo. uma presença tranqüilizadora nos grupos sociais.os cuidadosamente. e se acentuarmos apenas o segundo movimento. De outra parte. ele recusa-se sobretudo a deixar que o outro se enterneça pelos pequenos incômodos ffsicos que possa experimentar e esconde. De infcio. REIK (1940) já se havia estendido sobre este assunto. situamo-nos demasiado próximos dos mecanismos ob. é comum lembrar que o caráter paranóico desfruta de uma "saúde de ferro". é raro encontrar um caráter paranóico autêntico entre os obesos. Outro aspecto do caráter paranóico deve ser notado: é a pouca sociabilidade dos sujeitos. Os problemas somáticos entram. posteriormente retomado por J. que mais comumente acham-se bastante isolados na vida. na distinção entre caráter paranóico. a forma pela qual o suj eito apresenta seu corpo aos outros depende de seus próprios dados caracteriais. ao contrário. Isto leva-nos a uma reflexão acerca das relações entre caráter paranóico e funcionamento masoquista. NYDES (1963) . conforme vimos a respeito das caracterologias de critérios físicos. da falta de segurança no domfnio do ero. da falta narcisista nos fenômenos essenciais constitutivos do "eu" e. compensador.mento de força. ao mesmo tempo. sentimento este que repousa sobre a ambivalência e a dependência. igualmente.com os quais o caráter paranóico é muitas vezes confundido. muitas vezes caricatura!. jamais é encontrada na linhagem narcísico-anaclítica que busca. própria do caráter paranóico. Th. a estrutura paranóica comporta uma rigidez afetiva e relaciona! que se traduz de forma bastante constante e específica por um "porte altivo".dade de isolamento em relação aos outros. quer trate-se de um simples "carâter narcisis. e habitualmente obtêm.ta". em apoiar-se sobre um único aspecto válido da conjuntura para depois esma.De outra parte. no escritório da assistência social ou na associação desportiva municipal. arranja -se. nem mesmo simpático. o caráter paranóico utiliza. conforme vimos.possível de ignorar no importante aglomerado que atormenta. sem contudo ser m sico ou des. andar rígido. ocupa por necessidade as funções de "conselho" de várias So. vantaj oso para o conselho da administração anônima da sociedade que representa e não oneros o demais para o adversário.ciedaçles Imobiliárias importantes. que o apreciem. Embora tenha obtido em sua subprefeitura todas as funções honorfficas enumeradas acima. para ser nomeado vice-presidente de numerosas associações lo. tornou-se advogado. este curioso personagem importuna com grandiloqüência qualquer um que cruze seu caminho e inquieta particularmente os fracos. emendado r de erros e dador de conselhos. Colocarei aqui uma observação característica de um caráter paranóico. colocando-se no offcio de "justiceiro" fora da justi. ao passo que a identificação com o agressor fica mais no registro sadomaso- quista. que teme encontrar no Tribunal um adversário tão feroz e impiedoso. Sessenta anos. mas porque é temido e "se deve muito a ele": com efeito.cais. Não tendo qualquer contato humano po. contudo. quanto im.portista. Em uma terceira etapa.pidamente rompeu com empresa de direção mais "pessoal". a partir desta ilhota de certeza. mas bastante administrativas. o mecanismo projetivo clássico para defender-se contra a noção de vergonha. só lhe resta apresentar um compromiss o condesce ndente. muito menos filantropo. do qual aceitar o amor seria considerado como submeter-se à castração fálico-narcisista e à "degradação" homossexual passiva. de preferência. Embora permaneça um "civilista" medfocre. (mais algumas condecorações) não é porque o amem. não que seja "bom". é escutado por temor e se recorre a ele porque é temido. conhecido por suas intensas necessidades de dinheiro. compor194 . Em ambos os casos não pôde haver uma identificação válida com o pai (parent) do mesmo sexo. o caráter paranóico precisa defender-se contra este presumido adversário.gar seus adversários com seu mau humor. Sua habilidade consiste em afirmar com qualquer autoridade todo e qualquer ponto de vista favorável a seu partido. como um sim. faz donativos "principescos" à maior ia das associações locais. que permaneceu todo-poderoso. para melhor ilustrar o meu propósito.ples narcisista que desejaria que se gostasse dele••.ça. pois ra. Ao contrário. porte altivo. n 15 Um Caráter paranóico Alphonse é tão desconhecido no restante do departamento. quer de músic a ou de automóveis. não que seja afortunado. Obs.sitivo. sempre só na cidade e na vida. irrita-se por um nada. mas toda relação próxima torna-se par a ele.cola particular mantida por uma irmã de sua mãe. achou que seria bom casar-se. Alphonse j amais sorri. os principais credores: proprietário. e não se pode.diante o que Alphonse continua a dispor do restant e de seus rendimentos para suas múltiplas liberalidades incessantemente repetidas. omitindo verbalmente o corretivo "vice" diante do termo "presidente". Facilmente se entrevê a radical defesa contra a homos- 195 . mês a mês. como um aristocrata. mas sempre lhe concedem "vice-presidênciais". lnflexfvel como o gládio da justiça. dá os cumprimentos. armazém. é certo que Alphonse concebeu o casamento como uma obrigação social de bom tom. Além disto. escreveria: "para com os jovens dos dois sexos"). do coronel das comunicações ou de alguns industriais ou grandes comer. Aqueles que conhecem Alphonse perguntam-se por que este homem.ficientemente adaptado). Alphonse era rico de nascença? Absolutamente.rais. realizou seu desejo. me. aderir à "Ação Francesa" ou preparar o pelotão dos alunos oficiais da reserva. fune. em troca. nunca se inclina ou se curva.nho. Mediante isto. o filho.ciente. De fato. inaugurações e cerimônicas oficiais ou oficiosas diversas. no qual poderia ser ameaçado de torpeza por alguém. tem grandes dificuldades financeiras e numerosas dívidas. se desconhe. imediatamente. não conseguiu terminar seu curso em uma escola de comércio. nem o secretariado (ele não é su. da mesma forma que saber montar a cavalo. Tem um profundo desdém por quem o ignore. Tanto que o contador da maior das sociedades para as quais trabalha teve de fazê-lo aceitar um curioso arranj o destinado a evitar que Alphonse fosse despedido e eventualmente preso: o dito contador conser va com ele os honorários devidos ao advogado e regula diretamente. é professora auxiliar em uma es. Não lhe confiam qualquer função prática importante. mas também não os conhece. um "postinho" bem representativo. uma agressão. que nunca sai e de má saúde. ao menor alerta mais real. nos casamentos. a filha mais velha. mais jovem.gar nos jogos de bridge ou nas recepções do subp refeito. em um departamento vizi. está pronto para abater-se sobre quem falhar . Nascido de pais pequenos comerciantes que faleceram cedo. alfaiate. em nome das ditas associações. ainda que pouco cons. Tem seu lu.ta-se desdenhosamente. uma possfvel ameaça e. desde que entrevej a um fantasma. açougue. etc. mas sabe-se principalmente que desposou uma mulher tfmida. sabe-se que Alphonse é casado. sabe-se também que tem dois filhos. de 28 anos. nem a presidência (ele é temido demais). nenhum dos dois é casado.. do procurador. ele agor a está "colocado" junto a um procurador da justiça.ciantes locais. tratá-lo diferente. de 24 anos. ele é conhecido por sua rudeza em relação às mulheres e por seu sadismo para com os jovens de ambos os sexos (levado por meu pensamento.ce que tenha qualquer ligação feminina. asmática. De out ra parte. Sessenta anos. para ser nomeado vice-presidente de numerosas associações lo. Em uma terceira etapa.possível de ignorar no importante aglomerado que atormenta. ao passo que a identificação com o agresso r fica mais no registro sadomaso quista. sem contudo ser m sico ou desportista.pidamente rompeu com qualquer empresa de direção mais "pessoal". contudo. quanto im. confor me vimos. o caráter paranóico precisa defender -se contra este presumido adversário. nem mesmo simpático.se advogado. Embora tenha obtido em sua subprefeit ura todas as funções honoríficas enumeradas acima.ça.gar seus adversários com seu mau humor. Sua habilidade consiste em afir mar com autoridade todo e qualquer ponto de vista favorável a seu partido.cais.Ao contrário. em apoiar .se à castração fálico . pois ra. porte altivo. quer de música ou de automóveis. faz donativos "principescos" à maioria das assoc iações locais. o caráter paranóico utiliza. mas porque é temido e "se deve muito a ele": com efeito. como um sim.ciedades Imobiliárias importantes. que o apreciem. não que seja afortunado. arra nja -se. do qual aceita r o amor seria considerado como submeter . a partir desta ilhota de certeza. colocando-se no offcio de "justiceiro" fora da justi. Não tendo qualquer contato humano po. o mecanismo projetivo clássico para defender-se contra a noção de vergonha. muito menos filantropo.narcisista e à "degrada- ção" homossexual passiva. no escr itório da assistência social ou na associação desportiva municipal. de preferê ncia.sitivo. que teme encontrar no Tribunal um adversário tão feroz e impiedoso . é escutado por temor e se recorre a ele porque é temido. compor- 194 . que permaneceu todo-poderoso. não que seja "bom".ples narcisista que desejaria que se gostasse dele••. Embora permaneça um "civilista" medrocre. ocupa por necessidade as funções de "conselho" de várias So. conhecido por suas intensas necessidades de dinheiro. Obs. Colocarei aqui uma observação característica de um caráter paranóico. vantaj oso para o conselho da administração anônima da sociedade que representa e não oneroso demais para o adversário. andar rígido. mas bastante administrativas. n!? 15 Um Caráter paranóico Alphonse é tão desconhec ido no restante do departa mento. este curioso personagem importuna com grandiloqüênc ia qualquer um que cruze seu caminho e inquieta particularmente os fracos. (mais algumas condecorações) não é porque o amem. to r nou. só lhe resta apresentar um compromisso condescendente. para melhor ilustrar o meu propósito.se sobre um único aspecto válido da conj untura para depois esma. Em ambos os casos não pôde haver uma identificação válida com o pai (parent) do mesmo sexo. emendado r de erros e dador de conselhos. Nascido de pais pequenos comerciantes que faleceram cedo. tem gra ndes dificuldades financei. do coronel das comunicações ou de alguns industriais ou grandes comer. e não se pode. inaugurações e cerimônicas oficiais ou oficiosas diversas.diante o que Alphonse continua a dispor do restante de seus rendimentos para suas múltiplas liberalidades incessantemente repetidas.ta-se desdenhosamente. aderir à "Ação Francesa" ou preparar o pelotão dos alunos oficiais da reserva. mas sabe-se principalmente que desposou uma mulher tfmida. em nome das ditas associações. mais jovem.Facilmente se entrevê a radical defesa contra a homos- 195 . açougue. sabe-se que Alphonse é casado. mas também não os conhece. nos casamentos. Mediante isto. omitindo verbalmente o corretivo "vice" diante do termo "presidente". mas sempre lhe concedem "vice-presidênciais". é certo que Alphonse concebeu o casamento como uma obrigação social de bom tom. os principais credores: proprietário. nem a presidência (ele é temido demais).ras e numerosas dívidas.. sempre só na cidade e na vida. está pronto para abater- se sobre quem falhar . um "postinho" bem representativo. a filha mais velha. Não lhe confiam qualquer função prática importante. irrita-se por um nada.nho. Alphonse era rico de nascença? Absolutamente. mas toda relação próxima torna-se para ele. como um aristocrata. Tem seu lugar nos jogos de bridge ou nas recepções do subprefeito. Tem um profundo desdém por quem o ignore. asmática.ciantes locais. Alphonse jamais sorri.rais. uma agressão . dá os cumprimentos. é professora auxiliar em uma es. se desconhe. Tanto que o contador da maior das sociedades para as quais trabalha teve de fazê-lo aceitar um curioso arranjo destinado a evitar que Alphonse fosse despedido e eventualmente preso: o dito contador conserva com ele 05. uma possfvel ameaça e.ce que tenha qualquer ligação feminina. sabe-se também que tem dois filhos. tratá-lo diferente. é Aqueles que conhecem Alphonse perguntam-se por que este homem. não conseguiu terminar seu curso em uma escola de comércio. nenhum dos dois casado.cola particular mantida por uma irmã de sua mãe. etc. ainda que pouco cons. ele agora está "colocado" junto a um procurador da justiça. do procurador. me. o filho.ciente. lnffexfvel como o gládio da justiça. imediatamente. desde que entreveja um fantasma. em um departamento vizi. realizou seu desejo. da mesma forma que saber montar a cavalo. de 28 anos. De fato. mês a mês. ao menor alerta mais real. em troca. achou que seria bom casar-se. nem o secretariado (ele não é suficientemente adaptado). que nunca sai e de má saúde. honorários devidos ao advogado e regula diretamente.Além disto. no qual poderia ser ameaçado de torpeza por alguém. nunca se inclina ou se curva. de 24 anos. escreveria: "para com os jovens dos dois sexos"). ele é conhecido por sua rudeza em relação às mulheres e por seu sadismo para com os jovens de ambos os sexos (levado por meu pensamento. armazém. fune. alfaiate. Alphonse herdou a rigidez vertebral deste tio. O objeto defende-se melhor diante da projeção psicótica. pela enorme falha narcisista primária estabelecida por ocasião das sucessivas doenças e posteriores falecimentos próximos dos pais e. uma estruturação mental de modo tipicamente paranóico. ele teria se descompensado bem antes de chegar aos sessenta. nem delirante. se necessário.se uma educação espartana. É muito ma is fácil para o objeto defender-se quando não reco. A lphonse per manece com um vigor.rãter psicótico" mantém o outro afastado afetivamente. Este diagnóst ico é confir mado.Com efeito. ao passo que o "perverso de caráter" tem necessidade de esgotar narcisisticamente o seu objeto. desencadeiam. Enquanto a estrutura paranóica permanece no registro do caráter.na medida em que esta permanecer caracterial. fi. A notável adaptação exterior demonstrada em face a condições exter nas part icularmente compl icadas e a maneira pela q ual chegou a se faze r tolerar pelos outros permitem-nos pensar que Alphonse sej a um "caráter psicótico" do tipo paranóico. do ponto de vista funcional e relaciona !.mento ma is ou menos sólido de uma organização limítrofe e não de uma estrutura psicótica paranóica. o que rapidamente passa a ser mal tolerado por este. Apesar da idade e da grande quantidade de trabalho . do que quando sente o sujeito penetrar brutalmente nele. e não uma pré. assegurou a Alphon . sujeito de sua própria substância.nalmente. reações de lassidão e rejeição.dãos mais jovens. pela colocação na tutela de um tio materno. justamente. decorrentes de um ordena . conseqüentemente. um tônus e uma saúde invejados por numerosos concida.pirizaçã o" pelo outro que esvazia a ele.nhece traços seus nas projeções do sujeito sobre ele. de "vam. sem que contudo desejem estar afetivamente "na sua pele". nem muito lógica. bem conhecido na província por sua silhueta de fida lgo. antigo funcionár io colonial autoritário e sádico que.psicose com risco de descom . 196 . o "ca. Em seu aspecto co rporal. do que contra a intensa identificação proj etiva do "perverso de caráter". as projeções separam e isolam obj eto e sujeito.crevi a propósito das "perversões de caráter". ao passo que na "perversão de caráter" as clivagens obj etais e as identificações projetivas chegam a colocar o sujeito em uma situação de verdadeiro "câncer" devorador no inter ior do próprio obj eto. dos ordenamentos caracteriais suficient emente sólidos de sua estrutura. poder-se-ia. logo moderada. muito mais rapidamente que os car acteres psicóticos. em contrapartida.Os "falsos caracteres paranóicos" quedes . Embora o diagnóstico de estrutura paranóica não coloque qualquer problema em especial.sexualidade passiva. discutir a situação "caracterial" do caso de Alphonse. desde que comece a experimentar um sentimento de hemorragia narcísica.pensação. latente por detrás de tais comportamentos manifestos e isto assinala. contra a sua vontade. uma magreza. Se não dispusesse. Não há tensão entre ego e superego. em todas as li. ao nfvel em que a consideramos em tais organizações. contudo est a passividade pode. de uma parte por.luir no quadro de um "caráter paranóico". conforme descrevemos em numerosas retomadas até aqui. comportamentos on. nem estabelecimento de um verdadeiro superego. desde que as condiç ões defensivas que anteriormente -continham as pul.nhagens estruturais. ou ver-se supercompensada por uma reação contrafóbica baseada em um mecanismo de natureza anaclítica. sob o registro da receptivi. re197 . Certas tendências depressivas aparecem. entre as organizações narcisistas.de a inibição das pulsões agressivas coexistem ao lado das inibições relativas às pulsões sexuais. FENICHEL (1953). para não ter necessidade alguma de compor uma "neo-realidade" sob medida. tanto no estágio puramente caracterial quanto no de sintomatologia mórbida. "O ego de tais organizações dispõe de uma grande quantidade de agressividade. aliás. ou erotizar-se secundariamente.mumente é diffcil distinguir um autêntico "caráter narcisista". em certo contexto. em alguns sujeitos. sem chegar à necessidade de uma descompensação mórbida sintomática e delirante. em virtude das facilidades de imitação de ou. Com efeito. Os caracteres narcisistas correspondem aos dados de base descritos por S. a economia narcisista.tros modos de evolução estrutural que revestem sempre (tanto na caracterologia quanto na sintomatologia) as diferentes entidades que têm sua origem imediata ou longínqua no tronco comum ordenado dos estados limítrofes.dade oral ou da homossexualidade passiva. "traços de caráter narcisista". preponderância organizadora das pulsÕes do ego. de outra. em um delrrio paranóico. fragmentários no plano funcional (em relação evidente com um maior ou menor acometimento narcísico arcaico).ponde a um sistema caracterial de orientação nitidamente narcisista. FREUD (1931 a) a propósito de seu tipo libidinal "narcisista": FREUD destacava "essencialmente fatores negativos". nem primado do genital mas.Parece que estes motivos terão toda a chance de deixar Alphonse evo. O "caráter narcisista" corresponde a uma adaptação relaciona! da organi. ação.sões agressivas cheguem a perder sua eficácia.culados entre si que constituem o verdadeiro "carélter narcisista". no sentido dos "instintos de conservação". do conjunto de elementos bem arti. cabe distinguir muito bem tais aspectos. manifestada em uma aptidão _. 3 . Uma certa passividade corres. conforme mostra O. contudo. por seu turno.zação narcisista descrita acima a propósito do grupo dos estados limítrofes.Os caracteres narcisistas Embora possamos encontrar de forma quase constante.vista neste parágrafo e. Existem. Logicamente Alphonse possui suficientes recursos de composição com os reais (interno e externo) autênticos. ao contrário. Co.que este tipo de caráter pode assumir aspectos variados que passaremos em re. que tais mecanismos auto. o caráter narcisista. internamento em creche ou pensão. quer triádica.máticos e brutais remetem a fixações infantis em relação à separação dos pais.rante. dominar o objeto. no plano do caráter. contribuindo este segundo movimento. GUEX (1950). ainda pouco equipado. e o menor fantasma de distância a desencadeia muito vivamente. para ela não existia qualquer referencial de retorno. O sujeito de fato experimenta uma dificuldade em afirmar-se. desmame. encontramos. não repousa apenas sobre a inibição. contudo. assegu.mente a realidade da partida era percebida. que dão origem a tantos subgrupos caracteriais narcisistas. Parece evidente. concebida como reivindicação e vingança em função das frustrações passadas. mas a relação triangular edipiana ainda não foi atingida. da mesma forma que o primitivo que não está convencido. para manter as inibições. 198 . Os três pilares da variedade abandônica do caráter narcisista são a angústia de abandono. ao final das contas. desencadeia uma vivência hostil. viagens dos pais em uma época em que o tempo exato da separação não podia ser avaliado pela criança senão como indeterminado. no estado relacionaIe funcional. materializada no tempo ou no espaço.pondente. A angústia que subtende todo o grupo da economia narcisista continua sendo um temor da perda do amor e proteção do objeto. facilmente duvida de suas pró. de modo a mantê-lo próximo e. em estado embrionário e ainda adaptado. Entretanto a suscetibilidade do sujeito fica sempre em vigília: a menor "falta" afetiva. independente dos vfnculos passados ou da razoável segurança do futuro. infligir aos outros as mesmas frustrações permanece um objetivo buscado e interdito. A) O CARÁTER ABANDÔNICO O "caráter abandónico" é o que mais fielmente reflete a angústia de perda do objeto. esta nãovalorização. so. para a maioria dos autores. dispõe de diferentes soluções. traços comuns com a entidade mórbida corres. A economia fusional está estruturalmente ultrapassada. Sem atingir o aspecto patológico da "neurose de abandono" descrita por G. de que o mesmo sol voltará para aquecer e iluminar na manhã seguinte. A ambivalência arcaica permance bem viva. aliás. o conceito de retorno não existia para o sujeito. por sua vez. A relação de objeto nestes casos é sempre de modo anaclltico. quer dual. a não-valorização e a agressividade reativa. ao ver o sol se pôr atrás da montanha. Outro resultado buscado pela agressividade subjacente é o de desnortear.fere-se sempre a uma dialética. Para assegurar esta manutenção da dependência (e do domlnio ao mesmo tempo) do objeto.prias capacidades de ser amado e de enfrentar os outros. mas tem suas raizes igualmente na agressividade subjacente. de fora.tensos. ao contrário. como meio vantajoso de dominar a situação. no curso de uma operação projetiva. que posteriormente dá origem à compulsão de repe. aliás. O movimento inicial.veste o componente pulsional agressivo contido no fantasma. que poderiam trazer de volta à consciência o retorno de um recalcado ainda mais assutador. C) O CARÁTER FÓBICO-NARCISISTA O "caráter fóbico-narcisista" foi considerado no início deste capftulo. mesmo quando permanecem no registro do cará. O fóbico-narcisista chama a atenção pelo aspecto deficitário e negativo de seu comportamento de inibição que incide sobre domfnios em geral muito ex. Enquanto que esta inibição no caráter histerofóbico dirige-se às representações sexualizadas. expulsando o elemento pulsional culpável para o exterior do consciente e da pessoa. no caráter fóbico-narcisista trata-se. em um primeiro tempo. devido à certeza de recomeço de um ciclo inelutável. O essencial dos mecanismos repousa sobre um fantasma inconsciente pertencente ao sujeito. evitando o retorno demasiado brutal da excitação ligada a representações. em oposição ao caráter histerofóbico.celhe vir do exterior. la. contudo. o qual convém guardar sob o domfnio do sujeito. As repetições de vivências engendram repetições de reações idênticas. daf o aspecto persecutório e mesmo demoníaco que re. componente este que age como se ele percutisse. acima de tudo. de maneira contrár ia ao caráter precedente. encon.ter e ainda não ultrapassam o domfnio da patologia caracterial. as repetições das vivências. mas que incessantemente pare. por seu turno. este ciclo nada tem de tranqüilizador. esta repetição de eventos desagradáveis no plano manifesto é utilizada.tição. com o qual é comumente confundido. 199 .tentes. e a tendência ao retorno do recalcado engendra. de uma inibição de ambivalência dependênciaagressão que. Tais condutas encontram -se.gratidão.seguidas por um destino infeliz.tra-se manifestada de forma muito positiva (embora habitualmente camuflada) na relação com o objeto contrafóbico do tipo narcisista.8) O CARÁTER DE DESTINADO O "caráter de destinado" apresenta-se. secundariamente infiltradas por traços masoquistas e autopunitivos. narcisisticamente. bem como dos "caracteres de fracasso". Estamos.um terreno interior já todo preparado para recebê-lo. entretanto. já citado por FREUD em Para além do princfpio do prazer (1920) a propósito das pessoas que se crêem per. LAPLANCHE e PONTALIS (1967) insistiram no lado patológico deste mecanismo. pois. amigos trafdos ou benevolentes pagos com in. muito perto dos comportamentos abandônicos. aparentemente. tem assim sua origem. a partir de tal caráter. ou ainda em objetos totais com os quais se identificam.veis" do que o segundo. constitui um elemento seletivo no plano nosológico. menos elaborado. mesmo que possa parecer "superviril". sempre inquietante. do que os caracteres do registro neurótico. ao passo que o objeto contrafóbico de tipo histerofóbico opera como objeto sexual e como defesa contra o objeto sexual. igualmente. O caráter fóbico-narcisista é marcado pela fragilidade do ego que. A habitual atitude passiva. cuja presença subjacente. para o qual trata-se. WIDLÓCHER e BASQUIN (1968) salientam o lado ambicioso de um caráter desta natureza.perados pelo interlocutor.Este tipo de objeto contrafóbico protege o sujeito. cujo zelo visa melhor cativar o objeto parenta! ou seus substitutivos. Tal exemplo clfnico acha-se descrito em nossa observação n'? 14. o que em nada facilita as relações com este tipo de sujeitos. contudo. reflete-se fácil e rapidamente em comportamentos de desafio reativo muitas vezes ines. ao mesmo tempo. podendo desencadear a todo momento tempestades afetivas. acima de tudo. levar a comportamentos perfeccionistas. mais arcaico e mais brutal quanto ao funciona. os comportamentos paradoxais de fuga antecipada ou de medo de ter medo permanecem como apanágio do caráter fóbi. ao mesmo tempo. Entretanto. em estado direto no fóbico-narcisista. quanto às suas conseqüências mórbidas impre . embora bem unificado (jamais trata-se de um ego psicótico) nunca está suficientemente completo narcisicamente e. Formações reativas mais ou menos potentes podem. apresenta menos condutas "incompreensf. Com efeito.dência agressiva.narcisista. O caráter fálico apresenta-se também como uma defesa contra a posição caracterial depressiva.ção narcfsico-anaclftica que procuram parte de sua segurança no amor deles mesmos ou de objetos parciais que os representam. 200 . o caráter fálico não joga no plano da potência sexual.mento mental de base. não comportando tantas condutas simboliza.co-narcisista.das quanto o caráter histerofóbico.le.sfveis. por uma hiperemotividade à flor da pe. O caráter fóbico-narcisista.citada acima em paralelo com o perfeccionismo obsessivo.Sua heterossexualidade permanece frágil. A afirmação da posse do falo permite ao sujeito recuperar a confiança err si e a competição com os objetos não sexuais. O apelo a uma homossexualidade vivida de modo afetivo e ativo acalma a angústia e satisfaz. de negar a castração fálico. constante em todas as organizações narcisistas. a ten. D) O CARÁTER FÁLICO O "car ter f lico" diz respeito ao comportamento dos sujeitos de organiza. corre um retorno à ambivalência arcaica. graças ao qual o vinculo anaclítico com o objeto total tende a ser mantido. ABRAHAM (1924) mostrou a correlação existente entre os elementos depressivos e as fixações orais. K. à sombra do risco fantasmático. tam. permanecemos em um domfnio caracterial. O verdadeiro mecanismo hipocondrfaco. forçosamente. quer psicossomática. Esta parte não tem valor simbólico genital. lamentável que em muitos tratados clássicos sejam confusamente dispostos sob o vocábulo geral hipocondria. na medida em que justamente o "jogo do corpo" é aceito pelo objeto e pelo próprio sujeito no contexto da relação anaclítica.encontramos comportamentos narcisistas muito avizinhados. tanto dados altamente patológicos quanto situações simplesmente caracteriais.E) O CARÁTER DEPRESSIVO O ·car ter depressivo" constitui. F) O CARÁTER HIPOCONDRÍACO O "car ter hipocondrfaco" traduz-se. como no ca.bido. específico aqui. o fundamento da ambivalência situa-se ao nfvel do erotismo oral.cossomático. um objeto parcial ao mesmo tempo inculpado e persecutório. Ao lado do caráter qepressivo. nitidamente psicóti. É a imago objetai. mesmo quando não é encontrado em es.bém são inclu!dos mecanismos de comportamentos manifestos de natureza quer histérica. a representação intrap- 201 . na medida em que igualmente. quer mesmo.tado puro. as coisas não forem longe demais. nem valor de comunicação não mentalizada. traduz um retraimento do investimento libidinal do objeto exterior. É. como no caráter psi. As tendências afetuosas e hostis conduzem entre si uma luta indecisa.ca. com retorno deste investimento sobre um objeto narcfsico interior ao corpo do sujeito.A tendência depressiva. tal como o encontramos em estado funcional no caráter hipocondr!aco. um elemento de base de toda a caracterologia narcisista. sem dúvida. a propósito de tal ou qual parte do corpo. por vezes. fora de qualquer acontecimento mór. Certamente seria abusivo considerar todo caráter hipocondríaco como sendo do domínio mórbido.ráter histérico. Para ele. por preocupações acerca do estado de saúde do sujeito. relacionase com a situação pré-genital das organizações narcisistas.dominar. ao mesmo tempo.funcional e simplesmente relaciona I. donde de. O funcionamento mental do caráter depressivo é subtendido pela ambivalência. na qual nenhuma das duas consegue pre. encontrada em todos os narcisistas em maior ou menor intensidade. mas corresponde a uma fixação depressiva referida a um ponto preciso do organismo que tornou-se mau objeto narsicista parcial. da economia narcisista. embora a maioria dos autores sinta-se pouco à vontade com a noção de psi. todos são fatores que parecem poder ser explicados muito bem (pelo menos para um bom número de casos) por um temor de falhar diante do ideal parenta!. em numerosos casos. à necessidade de abstração.sista não diz respeito unicamente ao corpo próprio. a angústia subjacente no ca. diz respeito ao falo e à agressividade em relação ao objeto que pode chegar a faltar. parece que. ao mesmo tem.dor do tipo narcisista.gamento pelo superego.cas. à dificuldade das afirmações. entretanto. à rigidez moral. a repressão desta agressividade faz com que a reprovação retorne contra uma parte do corpo próprio e represente. aos outros membros do meio. sem que se tenha de apelar a um esma. por analogia. Com efeito.tender-se às vestimentas. assim. embora minimamente.ta. investi. ao campo de um órgão corporal interno. este retraimento narci. ao automóvel. no retraimento narcisista.ráter hiponcondrfaco não concerne à castração genital. podendo. se tem ordenado mecanismos muito diversos sob a mesma etique. e não edipiano. A introjeção hipocondrfaca toma já. A introspecção pode concernir à neces. muito mais do que ao medo de um superego severo. ela corresponde a uma regressão oral. despertar a atenção para o plano da economia latente: a hipos. Aquilo que aparece como um detalhe manifesto em muitas descrições deveria. H) O CARÁTER PSICOPÁTICO O "caráter psicopático" continua a fazer parte das descrições clinicas e teóri. As tendências aos escrúpulos e às crises de consciência correspondem comumente a necessidades perfeccionistas narcisistas e não a anulações obsessivas. pois.sfquica do objeto exterior que se limita.sidade de satisfazer o ideal de ego. a mesma direção da introspecção melancólica.gústia de perda do objeto. notar que. mas simplesmente à an. Cabe.sexualidade habitualmente descrita chama a atenção para o primado organiza. uma espécie de "hipertonia" afetiva. 202 . no sentido pleno do termo. G) O CARÁTER PSICASTÊNICO O "caráter psicast nico" muitas vezes tem sido disposto entre os caracteres obsessivos. uma manobra preventiva de autopunição. Contrariamente à vivência corporal histérica.pressivos do que por aspectos compulsivos. entretanto.po. es. um superinvestimento narcisista a este nfvel. como em muitos locais destes domínios caracteriais. Muitos psicastênicos são reconhecidos mais por seus comportamentos de. Existe.dos dos mesmos valores narcfsicos e das mesmas falhas ou ataques frustrantes que o corpo próprio. Quanto ao conservadorismo doutrinário.copatia. frustrado. É uma fuga para diante. sem jamais passar a um registro mórbido. ao nlvel caracterial. 203 . da linguagem e da ação. A hipomania representa um momento caracterial de não-sofrimento. mas simples desbordamento afetivo. a dependência em relação aos objetos investi. oferece melhores possibilidades elaborativas.dos e a violência do vinculo afetivo assinalam. tão freqüente.tamos impedidos de pensar que o ego de um caráter depressivo seja mais inde. de estatuto estrutural visivelmente não-psicótico.pendente. pelo qual pensa estar esquecido. acompanhado de algumas dificuldades (mesmo no simples estágio puramente caracterial). a instabilidade emocional traduz a fraqueza pré-genital do ego. o "psicopata" em estado patológico corresponde a uma "perversidade de caráter".testemunhando uma organização narcisista pro. A revolta do psicopata não é independência. Para alguns. Entretant . mal amado.a labili. podendo muito bem permanecer. e não es. sem que os conflitos possam ser vivendados interiormente.sicista. tal como a definiremos mais adiante. durante toda a vida do sujeito. por vezes mesmo da sexualidade. apesar de tudo. como em numerosos casos que acabamos de passar em revista. do que um Ego de caráter hopomanfaco. Contudo. de tipo particular. O suicfdio.dade afetiva e a sugestionabilidade correspondem à grande dependência anaclf. para outros.racterial relaciona! e funcional . mas pouco construtivo em elaborações mentais. na medida em que o principio do prazer consegue criar descargas instantâneas. esta defesa tem sucesso constantemente. também aqui. uma economia nar.tica.vimento depressivo latente reaparece em certos momentos. o mo. mais comumente. ao passo que o momento caracterial depressivo.funda. mas profundamente anaclltica sob afirmações bem opostas. não serve senão para encobrir habilmente a antiga falha narcista. assinala a imensidade do fator depressivo latente por detrás da violência das aberrações manifestas. encontramo-nos em uma economia puramente narcisista que vive à luz do dia a parte agressiva de seu anaclitismo. ao invés de inibi-la ou voltá-la contra si mesmo. I) O CARÁTER HIPOMANÍACO O "car ter hipomanfaco" corresponde a uma reação contra a tendência depressiva. criando assim um "car ter manfaco-depressivo".Parece evidente que. no registro ca. A "anti-socialidade" do caráter psicopático não persegue outro objetivo senão o de atrair a atenção do objeto anaclltico. A exuberância das idéias. Existe uma forte relação sádico-oral. no domfnio da atividade. mento. DAVID (1961) mostrou as dificuldades da conceptualização psicossomática. no plano relaciona! e funcional. a racionalização dos comportamentos por causas exteriores. pois. no plano caracterial. mas situa o espectro psicossomático ao nfvel em que as manifestações so. conforme define P. O que marca o caráter psicossomático. Uma tal erotização poderia. mas parece essencial citar.. BERGERET J. ao contrário. Parece interessante também opor esta variedade de funcionamento mental aos demais grupos caracteriais. 5-6 setembro de 1970. sempre em estreita relação com o registro mental. não podendo encontrar sua expressão plena senão existindo uma nftida divi. não há mais simbolização.ção1. . que acompanha o fenômeno tão co. realizar-se sem qua lquer manifestação exterior aparente. de M'UZAN (1963). MARTY e M. esta linguagem torna-se expressão de um verdadeiro pensamento operatório.mática reduz-se automaticamente tanto. Rev. psychanal. transforma a linguagem psfquica em linguagem somática.são psicossomática.ção e. fr. A economia psicossomática corresponde. traduz-se um funcionamento mental peculiar às organizações psicossomá- ticas. como no caráter hipocondrfaco. Os caracteres psicossomáticos A complexidade das pesquisas atualmente conduzidas pelos especialistas da psicopatologia psicossomática não permite que nos estendamos longamente aqui sobre um tipo de caráter "psicossomático".4. M. mas a regres. antes que o valor simbólico do sintoma tenha assumido um sentido em relação ao conteúdo psfquico.mumente descrito de dessexualização. nem a um lugar preciso de investimento narcisista. sexualiza. As tendências agressivas encontram-se liberadas nas manifestações corporais. ao mesmo tempo em que os fantasmas agressivos por sua vez acham -se justamente afastados do domínio corporal. 1183-1191. No registro psicossomáti. o pouco impacto dos afetos. ABRAHAM para conceber um erotismo ligado à retenção do objeto no interior do cor. na medida em que esta útima permanece simbolizada. A atividade fantas. de forma completamente original.máticas e a intencionalidade se encontrariam ainda confundidas. a um modo de transformação da libido objetai em libido narcisista. fora de qualquer sintomatologia nitidamente mór- bida. MARTY (1964) referem-se à segunda fase anal de K. é o modo de funcionamento mecanizado do pensa. muito mais avançada. O caráter psicossomático não se refere a qualqer significação simbólica.são entre atividades mentais e dinamismo somático.FAIN e P. ao nfvel caracterial. alguns pontos de referência concernentes à maneira como. .co. 1 Cf. 34. que aliás diferencia-se nitidamente da linguagem histérica de conversão.mas mecânicas e desafetadas. como no caráter histérico.da. como nos estados limftrofes. C. Les "inaffectifs". criarem junto ao outro e no outr o uma verdadeira emo. a linguagem do corpo não é apenas utilitária. ao mesmo tempo.po. a grande habilidade de tais sujeitos para mostrarem-se ao obj eto como não vivendo qualquer emo. elas mes. rial.monstraram P. 1958). tais sujeitos identificam-se muito facilmente. em troca. FAIN (1969). orna-se de quali. Tem poucos fantasmas e poucos sonhos verdadeiramente elaborados. intelectual ou humoral).viver a fusão com a mãe. O pouco de solidez real de seu ego é compensado pela facilidade das trocas de objeto. A expressão verba l é antes dessecada. por outro lado. ele é considerado sensato e equilibrado. como intensamente dramática. 205 . M. como se fosse ele mesmo o sujeito. sem grandes problemas e emoções. do que como simples objeto para o narrador. O caráter psicossomático dá mostras. Capitulo sobre o diagnóstico diferencial dos mecanismos psicossomáticos em Lad pressionetfesEtatsLimites (a surgir nas edições Payot. mas trata-se antes de uma identificação de superffcie: é a famosa "reduplicação afetiva" dos autores da Escola de Paris. esvaziado de sentido aparente. negado. Paris). e nele.ximo possfvel do objeto. Conforme observou M. até confundir-se com ele" (P. fantasmático. Constata-se uma identificação profunda e sem limites. e igualmente tentado a reagir por um envolvimento pessoal no seio da narrativa. Em contrapartida. no diálogo com tais caracteres. motor. aliás. Dois casos de caráter psicossomático merecem ser rapidamente citados: o "caráter alérgico" e o "caráter enxaquecoso".trumental.Nota-se. isolado e arisco. a linguagem é empregada no sentido estritamente funcional da expressão e mostra-se pragmática e ins. o caráter alérgico procura re. uma certa confusão com o objeto. de um modo de adaptação muito sólido à realidade. 1 BERGERET J . poucas trocas interpessoais. Em um duplo movimento de trocas identificatórias. Seu inconsciente é fechado. O "caráter alérgico" cor responde a uma necessidade de "aproximar-se o má. conforme de. de M'UZAN e C. MARTY. ao invés de permanecer como simples testemunha exterior. o sujeito ornamenta o objeto com suas próprias qualidades e. MARTY. muito mais implicado. Óaf resulta um modo de ordenamento do objeto gue diminui os limites da separação diante do sujeito.gências caracteriais do alérgico. submetida a critérios convenientes ao ideal do ego do sujeito. Este ouvinte sente-se. que escuta. DAVID (1963). o interlocutor de caráter neurótico aos poucos passa a experimentar um estranho sentimento de alienação. que o ouvinte vê em ação diante dele o narrador de uma história dramática vivida sem drama pelo sujeito. opacificado. e não dá muita importância aos problemas afetivos 1• O objeto interno do caráter psicossomático encortra-se. Ele se sente tentado a deixar o seu plano de observador para entrar na narrativa que se lhe impõe. a escolha dos objetos ordenáveis deve corresponder às exi. diante do caráter psicossomático que desconhece totalmente o conflito edipiano. A relação deste tipo de caráter pode fazer-se em todos os planos (senso. contudo. com quem encontrarem pelo caminho. mas recebida por ele.dades do objeto. Tal troca permanece. ca que suscitou muitos trabalhos bastante controversos. A.sagrei toda uma parte de minhas próprias investigações clínicas. um pouco forçado. mas o modo ana cHtico permanece essencial no plano relaciona!. por exemplo.racteres alérgicos. Constatou-se igualmente formas caracteriais hipomanlacas nos alérgicos. alucinado por ele. ao passo que no caráter narcisista basta a idéia da presença para manter-se o equiHbrio.mente eliminadas do caráter alérgico pela maior parte' dos autores.cas. em virtude do isolamento que demonstram no plano dos afetos. O inconsciente alérgico teria se tornado a sede de desejo da mãe de fazê-lo regredir ao narcisismo primário. nos quais constatam-se movimentos depressivos por ocasião de uma privação objetai. estamos muito perto dos desenvolvimentos caracteriais limítrofes em direção às psicoses e.mente. A influência do superego e a estruturação de modo edipiano são nitida. GARMA (1962) pensa que qualquer nível de conflito possa manifestarse por um terreno enxaquecoso e procura definir a significação da sensibilidade 206 . das parapsicoses. P. alérgico. lembrando a completude relaciona!. parece situar-se bem perto dos caracteres narcisistas do tipo "limítrofe". teria valor de alergeno. que poderíamos considerá-los como caracteres psicóticos com os quais se teria um contato estreito: como psicótico. situando clinicamente toda uma série de regressões psicossomáticas parciars e fixações arcaicas parciais que podem coexistir com organizações libidinais mais flexíveis do que as até então descritas a propósito do caráter alérgico "puro". MARTY (1958) chegou mesmo a falar de formas pseudoparanói. O "caráter enxaquecoso" é uma segunda categoria caracterial psicossomáti. aliás. mas como histéricos. a este nlvel. FAIN (1969) pensa tratar-se antes da reprodução de um vínculo entre o ego onírico e o ego adormecido. Encontramos. da união estabelecida entre a satisfação alucinatória do desejo e o narcisismo primário. bem como o enquistamento do domínio onde se manifestam. como desejando vê-lo regressar ao narcisismo primitivo. o termo parece. Seu quadro das "inorganizações libidinais". que fazem o leito aos traços alérgicos. MARTY (1969) detalhou muito as opiniões da Escola de l?aris. principal. O parentesco representado no esquema 8 entre as organizações limítrofes e as regressões . uma prova a mais da maior regressão dos mecanismos alérgicos que se referem a períodos anteriores a toda e qualquer mentalização autêntica. M. que parecem constituir senão um negativo reativo dos movimentos depressivos precedentes. P.É segundo um modo relaciona! conseqüentemente repetitivo que o caráter alérgico lutará contra seu objeto. em meu entender.nomia.Os caracteres alérgicos resolvem este paradoxo relaciona! de tal forma. tanto mais que o autor reconhece a flexibilidade do sujeito por ocasião de tais surtos. pois tais sujeitos não funcionam bem no registro caracterial a não ser preservando-se a presença ffsica do objeto. aos quais con. a imagem do pai. devido às suas necessidades de proximidade objetai.psicossomáticas manifesta-se particularmente ao nlvel dos ca. talvez. A súbita irrupção de um elemento edipiano em tal eco. dem entrar em uma categoria caracterial. durante a crise em si.o mecanismo enx aquecoso operaria como os alemães que.quecoso" como uma capacidade de interfer ncia. mais especificamente ainda. Retira-se daí. fala de suas enxaquecas neste sentido. começava a sentir que esquecia algumas palavras. que são citados como predisposições particulares ao caráter enxaquecoso. Achei interessante verificar as hipóteses que colocam o "caráter enxa.ções estruturais de modo psicótico.fendido por P. da mesma forma que no caso das alergias.quecoso. depois. parapsicanalftica e pseudopsicanalftica .damentos ao nível dos pensamentos associativos. para um nível de tensão interna.mentável impressão e confusão mas. MARTY (1951) e por M. ou simplesmente na vida. Entretanto. GARMA faz alusão bem parecem ir no sentido das concepções sustentadas no presente trabalho. Dito de outra forma. são encontr ados em grande profusão na litera. Antes de uma crise enxaquecosa.enxaquecosa tanto nas estruturas histéricas ou obsessivas. confundiam as emoções radiofônicas britâ.rante os episódios en xaque osos e. em segundo. O próprio S. durante a ocupação da França. confrontar tais casos com as reflexõs de S. FREUD (1901). pareceu-me necessário recorrer à experiência clínica e procurar refletir acerca dos casos encontrados na prática. Como as numerosas pesquisas bibliográficas dificilmente levassem a concluir quanto à existência ou não de um elemento caracterial comum aos diversos comportamentos en x aquecosos. não apenas nas elaborações fantasmáti cas constrangedoras mas. FAIN (1969). negando a necessidade de atividade. dois fatos permanecem certos: em primeiro lugar. o grau de imaturidade afetiva. FREUD ( 1901) acerca de suas experiências de esquecimentos pessoais du. com o ponto de vista de. Os escritos consagrados aos fenômenos enxaquecosos. quanto nas organiza. destinadas a transmitir informações que levassem os 207 . bem como a seus mecanismos psíquicos de base. já se mostrava muito detalhado acerca dos modos de estruturação subj acente ao caráter enxaquecoso. de outra parte.pressão mental.mentos enxaquecosos em suj eitos de estrutura tanto psicótica quanto neurótica. O carãter enxaquecoso corresponderia a uma forma de sair do quadro do conflito não regrado entre dependência e agressividade.tura psicanalítica. tanto mental quanto corporal. Entretanto. em seus fun. o temor da perda do objeto de amor. a freqüência dos "terrenos'' enxaquecosos que po. em relação de conflito anaclítico com o obj eto e repousando sobre carências narcísicas arcaicas. MARTY. e os termos de interpretação psicanalítica a que A. desde 1951. ocorridas anteriormente às possibilidades de ex. P. no tocante à dialética entre ego onfrico e ego adormecido. por outro lado. situam este caráter bem próximo também de nossos "caracteres narcfsico-anaclfticos". Ele descobriu comporta.nicas em lf ngua francesa. o caráter enxaquecoso é mais comumente descrito como referindo-se a uma organização mental pouco genitaliz ada . perdia o uso de todos os nomes próprios. uma la. a aparente multiplicidade de estruturas de bas e que poder iam suportar um ordenamento caracterial enxa. a falha na genitalização. incitações ou investimentos alimentares orais ou anais.fico a este nível. em referência à Die Traumdeutung (FREUD. Se preferirmos uma comparação menos guerreira e mais próxima do fe.cante àquele pedlculo da cadeia associativa que mergulha profundamente no in. fora de todos os possíveis fatores ocasionais. Contudo. mesmo em um contexto tão suavizado quanto a repre. estudado por J. muito bem como "caráter psicos.consciente (ou sej a. pois.mo o guardião da prisão ou. na prática. mesmo no fluxo de suportável) e mergulhem mais profundamente no "cordão um sonho. no instante em que esta irá despertar o conflito latente de forma perigosa para o ego ê seus demais adversários.). O sujeito provavelmente acorda no momento em que a elaboração onírica (ou mesmo a simples trama latente do sonho.mento. o acesso de pensamentos belicosos ao consciente. demasiado vivos para o momento. situa-se habitualmente o sonho como guardião do sono. A enxaqueca perturbaria. ainda bastante imprecisa no plano manifesto) corre o risco de desencadear a evocação de uma representação to. desde que a cadeia associativa traga elementos que possam constituir o ponto de partida de fantasmas que pertur. vivências pre. nada mais tem de protetor.co ou no sistema corporal (fadiga. As coisas se passariam da mesma forma no acesso enxaquecoso e no in. pois. o "guardião da paz". a angústia não mais pode ser contida.bido do sonho"). igualmente. mas se comportaria. ele se apresentaria. no sistema psíqui. parece existir uma categoria de indivíduos para os quais a ocultação mental pela via enxaquecosa torna-se automaticamente indispensável. etc. na zona onde a angústia.sentação secundária de um sonho. pre. eu diria que a crise enxa.sente na cidade para fazer respeitar os interditos emitidos pelo "legislador". co. mais ironicamente ainda. de forma muito diferente do mecanis. conflitos. da mesma forma que o despertar suprime a elaboração onfrica no momento em que esta corre o risco de ficar demasiado constrangedora.mo alérgico. 1900).cal" até as camadas mais subterrâneas da fantasmática primitiva. então.quecosa aparece num momento em que se trata de interromper defensivamente a cadeia associativa. doenças orgânicas.franceses a oporem-se ao opressor e a tomarem parte ativa no conflito do mo. GUILLAUMIN (1972) em seu Ombific do rf!ve ("Um. ocasionais ou duráveis. guardião num sentido que. mas talve não se pense o bastante nas variedades de insônia para as quais o des.somático".pertar permanece "o guardião do sonho". O "caráter enxaquecoso" estaria constituldo enquanto mecanismo especi. Desde que os elementos que aos poucos emergem da cadeia associativa não mais se limitem exclusivamente inconsciente justaposta ao pré. interrompe ou Com razão. à parte do permanec e umbili.consciente.sentes demasiado intensas ou demasiado investidas.bem a tranqüilidade do ego. revestindo-se de um aspecto estritamente interditar.nômeno enxaquecoso no plano da economia mental. de fazer desapare - 208 . relacionais sádico-anais ou genitais.sone. o limiar a partir do qual se opera a ação defensiva pode perfeitamente achar-se rebaixado por pontos fracos. na medida em que também se trataria. mas não se traduzindo pelas inadaptações comporta mentais encontradas no perverso já declarado. Prazer e tensão permanecem mais ou menos confundidos. e sobre um objeto parcial.cer uma representação mental colocando a ênfase relaciona! em um fenômeno de aspecto flsico. tal como habitualmente são representados. sobre uma pulsão parcial.quanto no registro se. definindo como de natureza per. a natureza mesma do verdadeiro mecanismo perverso implica. ainda não patológico. repousando sobre um modo de organização mental do tipo perver.na!. a uma pulsão 209 . sobre este trajeto poderfamos situar um modo caracterial relacio. na negação da realidade focalizada no se. O mecanismo perverso implica condições precisas e bastante formais de obtenção do prazer. com efeito. pois. antes da qual se detém a organização perversa. não existe neles esta queda de tensão correspondente à total sa. este ou aquele traço perverso fragmentário por ocasião dos prelúdios ao prazer. Conforme mostra O.xo da mulher. A parte principal de sua satisfação é deslocada sobre um prazer preliminar. Tal modo de funcionamento mental encontra-se tanto nos demais regis.bora não seja absolutamente proibido às estruturas genitais conservar seu esta.so. e também do que habitualmente chamamos de "perversão de caráter"? Parece. Existem. É diflcil separar a estimulação prévia da satisfação terminal.fantil. 5.tros (em particular no registro narcisista ou no agressivo).encontramo-nos assim na presen.tuto genital e utilizar acessoriamente. existe um traj eto que parte da linhagem anaclitico-narcisista do tronco comum dos estados limítrofes (Figura n<. O caráter perverso Cabe inicialmente a pergunta: existe realmente um "caráter perverso". e numa certa diversidade. um modo único de obtenção do prazer. de tipo perverso. ligado a um objeto parcial. funcional e relaciona!. Estes "perversos polimorfos" correspondem ao "caráter perverso". e não forçosamente de perversos típicos. FENICHEL (1953). ao lado da situação peculiar do perverso autêntico. com efeito que. sujeitos que correspondem aos critérios expressos por FREUD nas Novas Conferências (1933 a). de forma constante e fixa. segundo a psicogênese da situação perversa. sendo esta necessidade o que diferencia de forma radical as condições genitais banais das condições perversas de obtenção do prazer: em. plausível considerar um estado caracterial.? 8) em direção à linhagem psicótica. ou sej a.ça de "perversos polimorfos" do tipo infantil. Parece.tisfação do desejo genital.xual.versa o fato de reagir às frustrações mediante uma regressão à sexualidade in. em definitivo. repousa. com negação do sexo feminino. mas deter-se-ia em um aspecto ainda "polimorfo" e infantil das situações que desencadeiam o prazer. na medida em que lhes seria ocultado o verda. em posturas ou contex.parcial e. o indivíduo faça melhores identificações sexuais e tenha um melhor conhecimento da significação genital profunda no plano das mentalizações dos órgãos outrora "vergonhosos" que exibicionistas lançam-lhes na face. bem comum em toda organização genital "normal".gos" hoje em dia sejam comumente menos rlgidos existindo. e nisto distingue-se do "perverso" propriamente dito. paralela e complementar. 210 .deiro detonador perverso do prazer obtido.ge.cialmente bem adaptada. Em contrapartida. deixando que descubra aos pou.lado-(perverso)-do-pecado" cantados no "samba brasileiro". do tipo fálico. graças à escolha de objetos que a isto se prestam e graças. da mesma forma que este aspecto sexual manifesto operaria uma trapaça semelhante. pelo próprio fato da civilização do "nu espalhafatoso". mas realizando sua relação amorosa sem necessitar de àtuações que impliquem sintomas perversos únicos. contudo. felizmente. por outro lado. muito menos evidente que. mistificando os objetos.ções percebidas é uma coisa. como o perverso (cuja organização de base possui). menos conflitos neuróticos de natureza altamente mórbida.larize os esforços de uma Intima elaboração fecunda dos fantasmas tocantes à cena primitiva. Talvez eu faça rir aqueles que acreditam no progressismo neste domlnio ao afirmar que. outra é furar agressivamente o paraexcitação de um sistema de defesas despreparadas mediante uma cena perversa que ridicu.narcisista.cos o sentido que a sua progressiva maturação afetiva deverá dar às representa. O caráter perverso continua vivendo uma pseudo-heterossexualidade so. permanece. O caráter perverso não iria tão lon. embora.tos incontestavelmente perversos. a um funcionamento não pa. ou seja. sobre uma negação do sexo da mulher. poder-se-ia dizer. Penso que os "caracteres perversos" são mais numerosos do que se supõe e.tológico baseado em uma organização mental perversa. no caso do simples "caráter perverso" que é hábil o arranjo entre fantasmas e atuações: haveria fantasmas perversos discretos justamente suficientes para obter o prazer enganando o verdadeiro desejo do id mediante uma realização que permanece de aspecto sexual banal no plano mais manifes. a um prazer parcial.mitir um jogo sexual adaptado às condições exteriores ditas "normais". também. bem antes que o equipamento maturativo destes voyeurs involuntários encontre-se capaz de registrar tais percepções em um registro autenticamente genital. a uma relativa percentagem de elementos sádicos e parciais suficientes para pe. pois. os "supere. O "caráter perverso" corresponderia. portanto. ou mesrrlo os simples observadores externos.to. que são apenas um pouco de tempero complementar. Sob a cobertura de uma vida relaciona! aparentemente isenta de grandes conflitos e sem grande ruldo. Jamais esconder de um criança nem de um adulto a totalidade de um corpo e a diferença anatômica entre os sexos. que eles não podem ser confundidos com os "pequenos-ao. entretanto. o modo de organização das defesas (negações. encontram-se ainda muito mal preparados pelos mais velhos. sem qualquer dúvida. clivagens. o registro autorizado à expressão pulsional. permanece no domínio funcional e relaciona! do caráter para já atestar. infelizmente. com paradas e crises ou 211 . recalcamentos. sem ser patológico. o progresso das identificações. tentando preencher as lacunas que sua educação. é exatamente através do exa.porta. porque estas estruturas não estão em geral. Não estamos impedidos de pensar que "caracteres perversos" são criados. um pontilhado estrutural profundo. quando não há um ordenamento perverso que. com as quais a sociedade atualmente empanturra jovens que.nóstico estrutural de base encontra uma maior diversidade categoria! e. o papel recíproco atribuí. porque um diag.po de relação de objeto (autista. apesar de seu estatuto estrutural fixo. quando esta agressão psfquica ocorre em um momento-chave do desenvolvimento afetivo de um criança ocupada.póteses. varia ao longo do tempo. muito interessante procurar determinar.). Observações acerca dos problemas do caráter na criança Já bastante complexos no adulto.). pelo menos. aquilo que. sempre imperfeita.se".ça. De todos estes fatores. de um lado. parcial. com a elaboração de fantasmatizações tão delicadas que comumente busca nestes momentos de "cri. Há muito se conhecem os efeitos desastrosos que tem sobre o desenvolvimento maturativo mental a intervenção no canto de uma praça pública ou de um escadaria. definitivamente fixadas. da presença de sintomas. justamente. Parece.do a cada instância tópica.gração das pulsões agressivas. na conjunção das agressões perceptivas agressivas e erotizadas de modo perverso. Fora. e comumente diffceis de precisar em uma única olhada clfnica. A um maior número de combinações possíveis. pode-se tirar uma espécie de "perfil caracterial" que. então. identificações projetivas.tra. etc. nada é feito na criança. os problemas do caráter são muito mais complicados na criança. simbiótico. etc. a variedade mais comum de angústia profunda.me do gênero de caráter apresentado pela criança que se busca determinar o ti. em muito grande número. evolui com pouco rufdo para um "caráter perverso". de ou. o grau de inte. na melhor das hi. em uma crian.bilidade dos pontos fixados. Daf decorrem a manutenção da imaturidade afetiva e a fixação ao primado do pré-genital. de modo a simplificar as coisas. anaclftico.O efeito traumático que bloqueia a posterior evolução genital é evidente. o paralelismo (ou não) entre o desenvolvimento do ego e das exigências pulsionais. 6. com. o nfvel atingido pelo desenvolvimento libidinal. etc. o estatuto das representações fantasmáticas ou onfricas. junta-se uma relativa mo. As duas linhagens de fatores acham-se intimamente ligadas e nenhuma pode ser negada.mente.nos formalista. a criança felizmente teve tempo suficiente para desenvolver rapi. em seguida evidenciou-se que não se tratava de um autêntico autis. MAKlTA e J. em qualquer psicogênese. tanto no plano psicopedagógico quant o no plano psicopatológico. do tipo anacllt ico. as dificuldades de compreensão da gênese do caráter.vel pela primeira trilogia terapêutica consultada (psiquiat ra . em função daquilo que "os testes disseram".mente à ação do ambiente. depois. segundo uma linhagem estrutura: já pré- estabelecida pelos elementos impostos ou adquiridos anteriormente nas trocas com o exterior. Um prognóstico de estrutura posslvel (ou de vários modos de estruturação posslveis. ligado quer unicamente à organização neurobiológica. por certo simplificam consideravelmente. à sombra de trocas relacionais melhores.psicólogo). de início. do tipo descrito por L. para começar. KANNER (1943). cada vez menos cerrado. que havia apre- :. paralelamente. é muito útil reconhecer tais casos a tempo. apenas ao nlvel do caráter e em um momento precoce de bifurcação evolutiva desagradável. em vista dos eventuais corretivos. quer unica. com um leque de possibilidades). traduzindo-se no plano caracterial por manifestações de apego e ciúmes. pelo me.nos em aparência.evoluções rápidas alternando na caminhada maturativa. estes traços de isolamento afetivo cessaram aos poucos.mo infantil. na formação do caráter da criança. desenvolvido um evidente caráter autista.tanto. Ora. desde que se encontrasse só em seu quarto.tectáveis. comumente. por razões especificamente internas. da mesma forma que nenhuma das duas pode agir de forma solitária. alternando inicialmente com pequenos retornos ao ceguismo. na elaboração do esquema corporal. · Não mais é possível. em certos casos de.damente relações obj etais. nos planos biológico e afetivo. será formulado neste sentido. atual. As teorias que põem em jogo.entado não somente os clássicos comportamentos psicomotores do "ceguismo". elas são dificilmente sustentáveis em suas posições exclusivas e unívocas. esboçando-se progressivamente uma r elação muito mais obj etai com "papais" e "mamães". do tipo em que insistem K. do modo pelo qual foi vivenciado o corpo. e as trocas relacionais com os objetos exteriores significativos. de AJURIAGUERRA (1971) . ao mesmo tempo que uma sensibilidade muito viva atestava a total ausência. A patologia do caráter na criança por muito tempo foi considerada. apenas um fator. mas simplesmente de um "pseudo-autismo" secundário. entre.cializada que nos permitisse ter muitas esperanças. no momento . tanto de debilidade quanto de psicose no plano estrutural. porém mais comu. radicalmente confirmado como sinal de uma psicose com debilidade irrecuperá. mas também havia. comumente muito útil. completament e isolada em sua famllia após o seu nascimento. Com efeito. internada em um contexto hospitalar me. Tive ocasião de acompanhar o caso de uma criança cega congênita. mas também no plano teórico. uma escolarização progressiva e espe. não apenas no plano hospitalar e administrativo. permitindo partir de um caráter meramente narcisista. em 212 .assistente so. fazer a separação entre o papel dos fatores flsicos e fisiológicos.cial . C. ou ainda "epilep-de". a elaboração de fantasmas demasiado assustadores . ou mesmo terapêutico.função de uma fixidez que.""'lenta is: estrutura. conforme L. M. retalha. Contudo. não podemos apoiar-nos em um sintoma para estabelecer a verdadeira natureza do modo de estruturação que se encontra· em vias de desenvolvimento em uma criança. e seria abusivo (bem como demasiado otimista) já falar em termos de "neurotismo". No sentido geral dado ao presente trabalho.ce complicar-se ainda mais do que no adulto. ou mesmo simplesmente "caracteria l". ao nível de uma sinto.matologia que no adulto se chamaria de "neurótica". 213 . Comportamentos de aspecto fóbico. FAIN e M. de "distúrbios caracteriais eoiléticos". O mesmo valeria para os sinais premonitórios de uma posterior evolução estrutural psicótica. do fato de os sinais pr emonitórios de uma futura estruturação neurótica. conforme nunca cessamos de afirmar aqui. refere-se unicamente aos elementos caracteria is do adulto.SIMON(1972). justamente. trata-se de angústias e conflitos muito mais arcaicos e de natureza essencialmente pré-genital (devoração. Da mesma forma que no adulto. não correspondem ao esboço de um verdadeiro caráter neurótico. evitando. ARFOUIL L OUX (1972). sintoma. Por outro lado. na criança. muito mais envolvente no plano sócio-educativo. na criança justamente não se situarem. compulsivo ou mesmo de "conversão" aparentemente histé rica. mais comumente. KREISIER.""lentais: fusional. neste caso.me importante si. por exemplo. a difícil dialética entre os três pólos funda . DIATKINE e J.dipo autêntico e de uma angústia de castração verdadeiramente genital. também ao nível da criança. 7. as dificuldades mais profundas de elaboração de um caráter em acordo com tendências conflituais contrad itórias podem levar a uma descarga imediata das tensões internas no comportamento psicossomático.mento. inicialmente.). tal como decorre da obra de R. tanto no simples gesto classificatório. Conforme define J. tomar uma posição radicalmente diferente. Existe um "caráter epilético"? Muitas vezes falou-se de "caráter epilético". Senão. em virtude. os problemas do caráter na criança devem ser reavaliados em função das recentes aquisições da pedopsiquiat ria e da "psicanálise precoce". ou mesmo de simples "personalidade epilética".mento relaciona!. a qual gostaria de precisar neste final de capítulo. etc. caráter. quanto no comporta. mediante este subterfúgio. a coisa pare."Jar . a não ser que a dinâmica subj acente situe-se ao nível do r. par eceu. anaclítica e genital. de "tendência glischróide". SOULÉ (1966). Parece indispensável. no que concerne à evolução do caráter na criança. bem como entre as três linhagens funda. em distúrbios vasculares. por exemplo. criando um modo de excitação particular sobre um psiquismo estrutura lmente já determinado no sujeito? Com efeito. e A. muito diversas e tanto mais con. carregando e descarregando-se de um só gole diante de qualquer contato de seus dois eletro. Houve psicanalistas que falaram de erotização do corpo inteiro. quer de um afecção nitida. a correlação entre comicialidade e elementos caracteriais ob. H. nas encefalites. podemos perguntar. de forma paralela ao que se passa no caso das modificações caracteriais induzidas por outros componentes mórbidos. Parece possível emitir a hipótese de que o distúrbio epilético sej a superpo nfvel a qualquer modo de estruturação psíquica profunda. mas vale. EY (1954) comparou o epilético a uma "garrafa de LEYD E n. a crise epileptóide por vezes foi vista como uma des . Isto não apenas é evidente no que concerne às afecções ditas "psicossomáticas". e que possa modificar secundariamente o com.sencialmente compostas e constituídas a partir de elementos de estruturas muito variadas. COVELLO (1971) re onhecem numerosas dificuldades para definir uma "personalidade epilética". como a sffilis ou a amebfase crônica. A contribuição dos mecanismos comiciais atuaria.trutura de base pré-existente. pois. para os distúrbios cuj a causa orgânica é indiscutfvel e não secundária. L. quanto mais precisas se pretendem.servados nos epiléticos mostra-se cada vez menos radical. em sua investigação. de forma sensível e comumente especifica à na. Todo impacto patológico transforma as manifestações caracteriais da es.tantes nos sujeitos observados.nos se verdadeiramente existe uma estrutura "epilética" autêntica e um caráter "epilético·' que traduziria esta estrutura especificamente. destrutiva no sentido homicida ou suidda.dos. EY descreveu a este propósito os traços fundamentais da personalidade epilética como aliando a compreensão. quer de um déficit orgânico.portamento caracterial inicial próprio desta estrutura. eles encontram. da mesma forma que tantos outros distúrbios resultantes. em certos tumores cerebrais ou em numerosos casos de traumatismos cranianos.cíonal. anaclftica ou genital.No plano dinâmico.tureza da variedade patológica em questão.mente somática. na sfndrome de KORSAKOV.cas encontradas na tempestade dos movimentos. ou mesmo de "orgasmo extragenital" por ot:asião das crises. a resolução. em intoxicações variadas.rial dos suj eitos acometidos de epilepsia. ou mesmo em síndromes infecciosas ou parasitárias bem conhecidas. que esta sej a de modo fusional. a lentificação e a estase.se.carga pulsional agressiva. pela cr ise do mal-estar e da angústia prévios e as satisfações arcai. as personalidades mostram . por vezes. poucas particularidades cons. H. agudas ou crônicas.traditórias. 214 . O distúrbio epilético não agiria antes. da mesma forma. sádica. em função de elementos especificas introduzidos pelo componente mórbido epilético. de forma relaciona! e fur. no plano caracte. Diante da multiplicidace das descrições. misturando ao mesmo tempo o "crime" e o "castigo".a explosividade.lhes como es. L. sem qualquer elaboração simbólica. na medida em que não se trata. em contrapartida. em outros ca.ca. a mais. possam tanto realizar uma "pequena morte". igualmente. mais ou menos agu.dos. a vontade de ter mãe e o desejo de morte do pai. com efeito. finalmente.DLOCHER e BASQUIN (1968). com um corpo que funciona como única linguagem poss!vel. quanto.trutural de fundo. ao problema da epilepsia.mentos reais e fantasrOOticos sofrem um corte. uma entidade psicossomática. contorne observam W I. 215 . contudo. ao passo que o fator ps!quico provavelmente cria (ou recusa). as modificações afetivas e as possibilidades de investi. repercute vivamente sobre o plano psfqui. causadas passageiramente por conflitos ps!quicos. ser encontrada aqui em estado puro. e A. Tudo evidencia que a epilepsia não constitui. realizando.sos. conservar a idéia de um "caráter epilético" não podendo tal noção. em boa parte. Po. no plano da fantasmática edipiana. parece ditrcil. Parece resultar da prática clínica que as crises. no sentido estritamente anorgânico e corrente apresentado no texto. Em definitivo. O que parece peculiar. assistiremos a uma regressão à indiferenciação somato-psfqui. acrescenta-se para estes autores uma ferida igualmente criada no meio familiar do epilético. A este ferimento vivenciado no sujeito. quanto em outros casos. como nas organizações psicossomáticas. da mesma forma. de qualquer distúrbio '>Omático particular. 1 L. na vivência das diferentes variedades de estruturas subjacentes aos fenômenos epiléticos. uma dialética muito Intima entre o orgânico e o afetivo. concebido em nossa hipótese como um eco da estrutura de base.tência. considerar um aspecto "psicossomático" da epilepsia se considerarmos que nesta afecção existe. condições favoráveis ao desencadeamento do processo somático. dada a pluralidade dos fatores em ques. na alergia ou na enxaqueca. sua vivência interna critica. anterior e exterior aos fenômenos observados. dema. e A. de forma global e funcional. um ferimento".co.siado diretamente ligada à noção de estrutura homóloga. COVELLO aproximam certas vivências dos epiléticos às vivências dos sujeitos operados por um defeito estético evidente. por condições ocasionais de menor resis. é que o limiar de excitação que dá origem às "crises" patológicas parece. estar singularmente rebaixado tanto pela natureza constante de tal ou tal fraqueza es. a estrutura psquica do paciente. COVELLO acham "evidente que a partir da primeira manifestação crlti.ca considerada como sintoma. as reaç6es do meio. absolutamente. nascidos no interior da estruturação estável e definida do sujeito. O fator somático. a zona erógena concebida como epileptógena será vivida enquanto objeto mau interno a ser expulso.tão.de-se. ao nível caracterial. em paralelo ao que se passa nos hipocondrfacos1. Ei l _. ao con. no seio de uma estrutura obsess iva de base. apresentar elementos ca racteriais histéricos adicionais. como o caráter propriamente dito.pondem a estrutur as e simplesmente constituem "caracteres ". além de seu "caráter obsessivo" obrigatoriamente dominante. "Traços de caráter" desta natureza correspondem ao que havíamos obser. Por exemplo. atingido em certo momento. um conjunto de elementos caracteriais obsessivos encontrados em um sujeito de estrutura ob.trário. mas mal investido. a) De um lado. designaremos estes elementos de caráter heterogêneos em relação à estrutura sob a denominação de "traços de caráter" histéricos em um sujeito obsessivo . quer a ajudar uma est rutura em es .sessivos. pQr exemp lo.mal". No caso dos "traços de caráter histéricos" encontrados junto a um "caráter obsessivo" dominante. antes que se 216 . apesar de suas falhas ou deficiências.sessiva não descompensada constitui um "caráter obsessivo". destinados quer a manter uma estrutura em estado de adaptação "nor. Os tracos de caráter .versos. se nossa estrutura obsessiva descrita acima.> O estudo dos múltiplos traços de caráter arrasta-nos para um domínio que não mais se apóia unicamente.vado anteriormente acerca da intricação dos fatores estruturais histéricos e ob. no caso de se acharem artic ulados a uma estr utura homóloga. não mais estaremos na presença de um simples "caráter". no mesmo suj eito. Por ex emplo. Mas se. os elementos caracteriais observados não corresponderem à estrutura profunda do sujeito. mas de "traços de caráter". existem elementos de caráter que habitualmente corres .tado de falha patológica através de mecanismos defensivos acessó rios. t rata -se de simples testemunhas da passagem tr a nsitória da evolução libidinal do suj eito por um grau de desenvolvimento super ior (grau genital de modo hist ér ico). mas faz interferirem. na estrutura de base do suj eit o. mecanismos bem di. com fixa. no período em que po. tant o libidinal quanto agressiva. de forma ideal. em suma. no plano das manifestações relacionais.finitiva (ou seja.pondentes a outra estrutura. encontrados junto ao "caráter histérico" dominante no seio de uma estrutura histérica de base.guns destes traços. ao lado do ca . os elementos caracteriais visíveis. No caso contrário. a montante do grau histérico de desen. ser "completo". à primeira vista. no mesmo sujeito. a priori inesperados no registro de sua estrutura profunda original. de uma estrutura descompensada. assim.tura profunda do sujeito e dos traços de caráter heterogêneos adicionais. e por mais fortes motivos ainda.respondem aos remanescentes de alguns avatares localizados. Os "traços de caráter" representam. algum "tra. Nos registros em que há o risco de existir uma "falha da estrutura de base". o grau genital mais arcaico. eventualmente. Tais "traços de caráter" não são signi.fensivos (traços de caráter estruturais) ou regressivos (traços de caráter pulsionais). Nenhum "caráter" pode. ou seja. elementos caracteriais que não mais correspondem a qualquer das estruturas autenticamente elaboradas de forma evolutiva. se estas fixações tivessem sido mais fortes e mais "organizadoras".vo lvimento genital e a jusante da "divided line". O ego en. para o diagnóstico estrutural. no caso de uma estrutura obsessiva de base (não descompensada). em eco às suas obrigatórias insuficiências.ções pré-genitais ao segundo estágio anal). extremamente delicado. uma "via de socorro" às eventuais falhas do "caráter" propriamente dito. de modo obsessivo. podemos encontrar também. por razões puramente ocasionais e exter iores. Por exemplo. ao 217 .produzisse a regressão da libido ao grau correspondente à estrutura de base de. não se mostrará mais suf icientemente equipado pa ra preencher sua tarefa relaciona! sem abandonar o registro da adaptação.deria ter se constituído uma estruturação obsessiva. O exame clínico de uma estrutura "sadia". além dos elementos do caráter correspondentes à estru. depois eventualmente alguns "traços de caráter histéricos" e.ráter. e em uma primeira entrevista.ficativos da estrutura. poderíamos en. na prática. ao passo que muitas vezes fica difícil. cor. no seio da gênese desta estrutura. que apesar de todas as classificações estruturais e relacionais precisas que propus. Al . aqui (talvez eu ainda não o tenha feito de maneira suficientemente clara). nunca me veio à mente que. pois. aqui. pois. Sempre coexistem.nal. É bom lembrar. "traços de caráter obsessivos". mas que simplesmente traduzem uma fixação ou regressão desenvolvida a um nível qualquer da evolução pulsio. o "caráter". b) De outro lado. corres. determinar o que pertence ao caráter autêntico ou o que provém das contribuições acessórias dos diferentes "traços de caráter". a este nível. ou então.tão apelará para operações caracteriais supletivas. ocorridos em períodos anteriores da evolução libidinal. na medida em que é necessário utilizar. sempre encontraremos de início um "caráter obsessivo".ço de caráter" "uretra I" ou "fálico". alguns "traços de caráter" complementares de níveis variados. torna-se.contrar uma única "estrutura pura" sequer. além destes. dirigindo-se a elementos de. Todas as estruturas comportam falhas genéticas. que se articularão nossas reflexões acerca dos traços de caráter. Os traços de caráter sublimatórios agem tanto sobre as pulsões agressivas quanto sobre as pulsões sexuais.cam o alarme e a desadaptação mais ou menos importante). e o ego se acharia na obrigação de procurar novos mecanismos defensivos. a aceitar deformar-se. de traços de caráter heterogêneos pertencentes a uma outra or. aliás. É possfvel ver. Os traços de caráter sublimatórios têm por objetivo satisfazer as pulsões. de "reativos". Qs primeiros são em geral chamados de "sublimatórios". FREUD (1940 c) emitiu a hipótese de que o ego seria levado. FENICHEL considera os traços de caráter como formações de compro. evitando o recalcamento. por vezes.larmente traumatizantes. senão prevaleceria a tendência à divergência. por motivos pessoais ligados ao observador. Toda a multiplicidade das variedades de traços de caráter en. as brechas criadas na construção estrutural dos mecanismos men. saltam aos olhos mais rapida mente do que os verdadeiros elementos de base latentes do caráter pro. entre estes três pólos principais.quanto que o "caráter" nada constitui senão o eco relaciona! nãomórbido de uma estrutura. S. en. por exemplo). FREUD (1908 b) definiu o "traço de caráter" como "resultado das ativida· des da rede intercambiável das pulsões originais. desde que as fezes assumam valor relaciona! positivo diante da mãe e dos ou· 218 . portanto. Dito de outra forma. O.contrário. concorrem ao funcionamento normal do ego. ao lado dos sintomas (que mar. de maneira a vedàr. em uma estrutura determinada (obsessiva. os "traços de caráter". por seu turno. ora para organizar. para evitar uma ruptura com a realidade exterior. também.priamente dito. "traços de caráter" que nada têm de patológico em si participar.sões ao funcionamento desbloqueado do Ego. S. uma ligação dos dois grupos de pulsões entre si.ganização mais regressiva do ego (narcisista. os segun. quanto nas operações funcion ais de uma estrutura que se encontre em um estado considerado "patológico". como o fazem os traços reativos.tas pulsões.tura já mórbida pelo menos em um setor de adaptação. podem tomar parte tanto nas operações funcionais de uma estrutura que se encontre em estado dito "normal". ora para bloqueares.dos. bem ou mal. Eles visam à integração destas pul. evidente que esta convergência positiva das pulsões pode fazer-se apenas sob a preponderância dos elementos libidinais. sendo. por exemplo). saindo do quadro caracterial para o domínio sintomatológico. no seio de uma estrutura homogênea ou heterogênea. em operações econômicas e relacionais destinadas. Permanece. Traços de caráter sublimatórios aparecem na higiene banal da criança. a manter a estru. contribuindo igualmente para com uma reunião. sub· metendo-se a uma espécie de ferida ou rasgadura. das sublimações e das formações reativas". sem empobrecê· lo mediante um consumo suplementar de energia.contrados na psicologia ocorre em virtude da diversidade de seus papéis e da pluralidade de suas origens. É na ordem deste fenômeno que se deve considerar a presença.tais pelas inevitáveis concessões feitas pelo ego a impactos exteriores particu.misso entre pulsões e defesas do ego. gações e as primeiras elaborações genitais.de. exclusivamente fixada a tendências homossexuais ativas ou passivas (bem como compulsões primárias de tipo poligâmico ou poliândrico). provisório e indispensável da latência. A impudência. mui comumente.ção afetiva. 1926 d). SAUGUET (1969). Infelizmente. se este jogo anal chegar aos poucos a investir outros traços sublimatórios libídinais cons. o espírito sistemático de crítica constituem traços de caráter reativos de origem pulsional. assim. justamente. Existem. mista (como a vergonha. permitin. estrutural. a temeridade. A curiosidade também pode constituir um traço de caráter sublimatório permitindo. por vezes. traços reativos tanto ao nível das "pulsões do ego" quanto das pulsões sexuais e agressivas: os avátares do narcisismo podem engendrar reações de orgulho diante do sentimento de inferioridade. em um segundo tempo. mesmo quando intervém ao lado de sintomas que as - 219 . na medida. o desgosto .vimentos afetivos contra os quais são destinados a defender o ego. aliás. deixada entre a rigidez e a incoerência. ao preço de certas deformações do ego. conforme mostraram S.no muito mais rígido e limitam.tituir-se-á. em que esta se situa na margem. tanto quanto reações de autodepreciação contrabalançando.do uma vida heterossexual relativamente estável e feliz.mento englobará numerosos elementos edipianos. As atitudes ambiciosas podem igualmente recobrir uma inferioriza. fazem com que perca sua plasticida. e os recentes trabalhos estão cheios de demonstrações comumente muito interessantes acerca dos diversos modos reativos encontrados no contexto dos traços de caráter e acerca dos mo. igualmente. uma higiene sublimatória que neste mo. O caso da higiene no mecanismo obsessivo tornou-se o traço de caráter reativo mais comumente citado como exemplo. fazendo nascer ao mesmo tempo interesses sociais e culturais. uma inaceitável necessidade de dominar. SAUGUET (1955) põe em evidência as conseqüências desastrosas dos traços reativos sobre o ego: eles o alteram. Os traços de caráter reativos correspondem a elementos constantes da per- sonalidade. o excesso de polidez. O traço de caráter. evitando uma evolução perversa. ou. Posteriormente. defesas suplementares e custosas contra as representações pulsionais perturbadoras ou suas eventuais elaborações fantasmáticas. H. traços de caráter que permitem integrar a parte eventualmente constrangedora das pulsões parciais. mesmo "reativo". contribui para com a defesa do ego nos limites da adaptação. destinados a operar. existe uma confusão bastante freqüente entre traços de caráter reativos e patologia do caráter.tros em geral. bem como no interior do corpo próprio. NACHT e H. suas possibilidades de ação. no movimento regressivo parcial. suficientemente larga e diversificada. Seriam. Mas o mesmo vale para o excesso de amor afirmado no mecanismo histérico de luta contra a agressividade (FREUD. O mesmo vale para o frio ou o hiperemotivo. a insensibilidade. assim como desbordamentos ativistas podem corresponder a uma profunda passividade psíquica. tornam . as investi. a piedade ou o pudor). ou então. por debaixo de uma estrutura não-neurótica. ao passo que a patologia do caráter corresponde a ordenamentos pseudonormais. que dominam o comportamento relaciona! da referida estrutura obsessiva. como o "caráter neurótico". ao passo que a patologia do caráter continua sendo o apanágio da linhagem mediana "limítrofe". mas suficiente para 220 .pecífic o desta estrutura. por exemplo.der. ao lado do conjunto de traços ligados ao caráter es. quer. No primeiro caso. de traços de caráter que correspondem a elementos estruturais isolados independentes da estrutura de base do sujeito. quer por debaixo de um outro modo de estruturação neurótica que não aquele do qual deveriam habitualmente depen .denada e não solidamente estruturada. dos traços de caráter histéricos encontra. no caso de uma estrutura psi. enquanto não estiver descompensada. uma falha na estruturação histérica estará preenchida por um elemento caracterial mais regressivo e fragmentário. em meio a uma estrutura obsessiva à qual assegura um complemento de coesão adaptativa às realidades. Traços de caráter estruturais Trata . no caso de uma estruturação histérica não descompensada.se no seio de um caráter "histérico". eles aparecerão de forma independente.se. podem dar origem a traços de caráter. unicamente no caso de uma est rutura homóloga. igualmente. conforme já foi esta belecido acima. ao lado do conjunto dos traços habituais do caráter histérico. apenas or .cótica não descompensada. 1. T odas as referências caracteriais já examinadas. isolada ou complementarmente. em eco às categorias estruturais de base. Descobrir-se-á. A) ) OS TRAÇOS DE CARÁTER NEURÓTICOS Os traços de caráter neuróticos não mais serão encontrados isoladamente. poderá manifestar . por exemplo. Um traço de caráter histérico. por exemplo. é o caso. custosos e pouco seguros para o ego. Não terei muitas coisas novas a apresentar quanto a tais traços caracteriais que podem ter origem a partir de qualquer elemento homólogo encontrado no funcionamento relaciona! de uma estrutura do mesmo tipo.dos mui comumente no seio de uma estrutura obsessiva.sinalam um funcionamento já mórbido da outra parte da estrutura. O mesmo traço poderá ser igualmente encontrado. O traço de caráter reativo é encontrado principalmente nas duas linhagens estruturais autênticas. em meio a todo um conjunto de outros traços de caráter histérico que traduzem em comportamentos relacionais a estrutura histérica profunda e fixa do sujeito em questão. um traço de caráter obsessivo isolado. ao lado dos elementos lógicos do "caráter obsessivo". permanéncia das proteç6es trsicas e morais. de simetria. tanto no espaço quanto no tempo. tendência às ruminações.). erotização mascarada. a) Os traços de caráter esquizofr nicos São elementos do caráter esquizofrênico já descrito: retraimento afetivo. da mesma forma. evita. de asseio. poder mágico do pensamento. im. a) Os traços de caráter histéricos Correspondem quer a elementos isolados tirados do caráter histérico de conversão (erotização evidente. afetividade factfcia. ver aparecer. teatralismo. variabilidade da distãncia relaciona/. será mais vantajoso para o equilíbrio do sujeito poder dispor de um elemento caracteria l mais ela. fixidez da ordem ética e estética. etc. na ação.pressão de inabilidade e estranheza corporal. de exati. no seio da uma estrutura neurótica. sob a forma de uma atividade caracterial. traços caracteriais psi. impressão de incompletude no gesto. anulando e voltando ao seu contrário o fantasma ·inconsciente de prostituição.assegurar este suprimento. desloca. necessidade de ordem.reotipias de comportamento.dão. quer também. mas pertencente ao registro neurótico. este. correspondente a desejos tanto sexuais quanto agressivos em relação à mulher. angústia de grande vulnerabilidade. regressão da ação ao pensamento erotizado). comportamento frio e brusco. Um traço reativo clássico de caráter histerofóbico é constituído pelatend ncia moralizadora. solidão sentimental e dificuldade de comunicaçãa. etc. mitomania. etc. alternando com dúvidas. no segundo caso. b) Os traços de caráter obsessivos São logicamente constituídos de elementos encontrados no caráter obses.cóticos diversos que não nos devem levar a uma confusão quanto ao diagnóstico ou prognóstico estruturais. ao contrário. quer a elementos do caráter histerofóbico (sugestionabilidade. B) OS TRAÇOS DE CARÁTER PSICÓTIC OS Os traços de caráter psicóticos serão encontrados quer em uma estrutura psicótica diferente da entidade homóloga. mesmo reduzi.sivo: rigidez do modo de pensar. no tempo. antes de qualquer sintoma.mento regressivo um pouco avançado em um edi piano autêntico pode-se. 221 .da. Em todo movi.da e caprichosa.ções e deslocamentos no comportamento exterior. por ocasião de uma falha (aguda ou crônica).borado libidinalmente. mas autenticamente psicótico. logo pensará em um car ter obsessivo.portamentos de fracasso. reivindicaç6es agressivas. f licos. alergia às frustrações.tido: ele declarará. para conduzi-los todos ao mesmo quadro caracterial. intuiç6es interpretativas. a um exame mais aprofundado do conteúdo latente. assim.homólogo. abandónicos. hipocondrfacos. C) OS TRAÇOS DE CARÁTER NARCISISTAS Os traços de caráter narcisistas cor r espondem às formas tão numerosas e variadas que estudamos a propósito do caráter narcisista. portanto em uma est rutura obsessiva e procurará apoiar seu diagnóstico me. Estes traços narcisistas podem infiltrar qualquer organização limítrofe ou qualquer estrutura fixa. etc. deformaçoos da realidade afetiva. encontrados ao lado dos primeiros. justamente.diante outros elementos evidenciáveis no suj eito que possam ir no mesmo sen. ora. o observador. Eles são ha. com.gistro mental. da fluidez dos mecanismos que as subtendem. exuberb. Parece.do ligeiramente alguns outr os traços. como de natureza caracterial obsessiva uma rigidez de pensamento (que contudo na realidade incide mais sobre uma limitação do re. do que sobre a defesa contra as vivências edipianas) ou um comportamento de dúvida (ao passo que este traduzirá muito mais uma angústia de fragmentação do ego do que o temor de que uma ação reprovada pelo superego tenha-se realizado contra a sua von.tade). a proj e. psicop ticos. difícil reconhecer a posição isolada de um ou dois traços de "tal" caráter agindo no contexto de uma estrutura.criminaçaes persecutórias. como traduzindo simples. na falta de vivências menos regressivas. id ias grandi/oqOentes. por vezes. psicastênicos. Por exemplo: suponhamos uma estrutura do tipo psicótico não descompensada. devido à ação de um ou dois traços de caráter obsessivos (necessidade de ordem em uma profissão meticulo.ncia do humor. os dois últimos traços constatados neste caso particular mostram-se. descompensada ou não. (de natureza narcisista). surpreso por estes dois traços de caráter exteriores muito evidentes. com o risco de procurar justificar-se deforman.mente levar pelo hábito (se estes elementos apresentarem -se demasiadamente evidentes) que consiste em considerar estes traços isolados como conjunto de um "car ter" de tipo homólogo. 222 . manfacos.sa e necessidade de regras morais escrupulosamente respeitadas no interior de um grupo religioso assegurador). em parte graças à eficácia de boas relações conservadas em um setor do ego. em virtude. Sente-se a necessidade de deixar-se mui comu. fóbicos.b) Os traços de car ter paranóicos Referem-se ao caráter paranóico em seus dois pontos principais. de estatuto não.mente em elementos caracteriais psicóticos bem clássicos o fundo estrutural menos aparente. re.ção narcisista e a defesa anti-homossexual passiva: rigidez do comportamento. etc.bitualmente ordenados em traços depressivos. ou de destinado. um que. dos elementos pul- sionais.bra-cabeças de cores inesperadas colocadas lado a lado. 223 . grosso modo. Da mesma forma. a propósito.mentos pulsionais. portanto. Contudo. acrescentar aí também os traços referentes às "pulsões do ego".bre os primeiros. parece obrigatório estudar em uma rubrica particular os traços de caráter pulsionais. pois assim vemos. em seus processos.mos em estado praticamente puro. diante de um mosaic o complicado. Parece diffcil falar. tais como S. todavia. Poder-se-ia. e recairíamos assim muito perto dos elementos do caráter "narcisista".nais (emanando unicamente do id). No que concerne aos elementos caracteriais pulsionais não é possível.zas e. não se pode conceber uma "estrutura" que repouse sobre simples bases pulsio. unicamente.gens articula-se entre si e com as estruturas profundas constitui uma das rique. não apenas ele. Com efeito.trutura. uma maneir a particular a cada es. re. e os traços de caráter agressi. na medida em que estes últimos repousam so. FREUD as definiu em sua segunda teoria das pulsões. as características das diferentes etapas do desenvolvimento pulsional. 2. felizmente. nos quais encont ra. por que não. sem dúvida. diante das quais tem muitas chances (e muitos direitos) de sentir o perigo de erros ou de impotência . um labirinto de mudan.forçarem-se possibilidades defensivas que permanecem relacionais .. da realidade ou do superego e do ideal de ego. reativo ou sublimado). duas grandes categorias de traços de caráter pulsionais: os traços de caráter libidinais. considerar outra coisa caráter".vos. "caráter anal" ou "caráter s dico" etc. sem verdadeira estrutura não pode haver "caráter" propriamente dito. ao mesmo tempo.trutur a. mas também. parcial ou total. como o fazem numerosos autores. e sobretudo. o clínico acha-se. os traços de caráter ''estruturais" necessitam de um estudo distinto. embora sej a lfcito passar em revista os diferentes traços de caráter correspondentes a uma pulsão.A maneira pela qual a multiplicidade de traços de caráter de todas as ori. a qualquer momento de seu envolvimento (e igualmente sob um modo direto. sem qualquer intervenção do ego.ças de direções imprevisíveis. pelo fato de englobarem.. de "car teroral". ao menos teoricamente. uma das belezas da vida.. Ora. Traços de caráter pulsionais É compreensível que pareça difícil separar os traços de caráter·pulsionais dos traços de caráter estruturais. pois o caráter limita-se à tradução relaciona! da es. senão "traços de Podemos distinguir. descrito acima. de tratar o fator pulsional. que a seguir é encontrada colorindo mais ou menos a personalidade sem jamais.lação ambivalente de dependência e oposição. de forma independente. o que lhe tiraria os motivos racionais de reivin. por outro lado. segurança de si.pecifico de estrutura. um perfodo de "mordedura" onde. tem necessidade de pegar. mas igualmente seg. não apenas de forma demasiado simplista. demanda e oblação. é aquele que se gosta de convidar e pelo qual se gosta de ser convidado . bem como uma sublimação oral na esfera intelec.undo os modos pelos quais estes perlodos foram vivenciados e integrados.dos no modo particular das trocas com a mãe: um perído de simples "sucção". na necessidade de "vomitar" imediata. podendo libido e agressividade manifestarem-se em relação ao mesmo objeto.dicação. seguramente. Em contrapartida.mente tudo aquilo que havia procurado incorporar no instante anterior. servindo de suporte a estes "retornos pulsionais". a seguir no adul.rosos intelectuais brilhantes e "bem sucedidos" chegam a levar uma existência anti-social miserável e bancam os "hipersociais".to. basea. em uma formação reativa muito mal racionalizada. servir para determinar um modo es. nem podendo. permanece em constante luta. onde a criança aceita receber da mãe sua alimentação essencial. tanto contra o desejo de que nos ocupemos dele. quanto contra seu próprio desejo de ocupar -se consigo mesmo. o oral insatisfeito não suporta qualquer frustração. mas capaz de benevolência e de generosidade. atacar. arruinar o outro. Se tais sublimações forem muito pouco exitosas. segundo os protótipos destes dois perlodos. procurar castrar oralmente os objetos.sabendo ter paciência.tual.ro.trando-se reconhecido em relação àquele que lho proporciona. arrancar. pouco decidido a se privar.ral insatisfeito" consegue perturbar as reuniões mais agradáveis: a boca seca e ávida. Daí decorrem traços diferentes na criança de mais idade. a ambivalência oral levará o sujeito a relações sociais muito más. mas usufrui daquilo que se lhe oferece. ABRAHAM (1924-) distinguiu dois perfodos libidinais de tipo oral.A) TRAÇOS DE CARÁTER LIBIDIN"AIS Cada etapa do desenvolvimento libidinal determina um modo de relação caracterial nada mórbida em si. K. o "o. descrevem-se assim os traços de caráter do "oral sa. nem está de acordo com qualquer prazer que venha do outro. não aceita ser gratificado. procurando compartilhar seu prazer e mos. a) Traços de car ter orais K. O traço oral arcaico também pode servir de fixação regressiva às demais satisfações pulsionais interditas ou mal integradas: neste caso é muito comum a função oral-verbal. bem como suas demais satisfações e. O impulso 224 . econtrar-se aí em estado pu.tisfeito": redondez e completude ffsica. ABRAHAM (1925) descreve traços alternados de avareza oral: dependência. já tendo à sua disposição alguns dentes e músculos mais fortes. começa a criar-se uma re. Nume. de prejudicar o objeto. por outro lado. que comumente chega a protestar. O erotismo oral. numerosas reações deste tipo. tanto quanto inversamente. um exame atento do nfvel e da qualidade da pulsão em questão permite eliminar todo e qualquer aporte sádico ou anal e reconhecer a exclusividade das manifestações pulsionais orais. é a de que o rival irá "comer" a sua mãe já edipiana. 225 . pode ser satisfeito tanto pelo alimento quanto pela bebida. das estruturas histérica e esquizofrênica.quanto de oferecer. A curiosidade pode superpor-se à fome e ser impregnada dos mesmos excessos glutões-sádicos.lhes um presente.do" pelo sujeito. Ora.tismo oral: sujeitos que tenham integrado mal este impulso erótico mostram-se tão incapazes de pedir o que quer que seja aos outros. A freqüência dos traços de caráte r orais no interior dos comportamentos.o tabaco ou o beijo. concomitante. A generosidade e a avareza tiram seus fundamentos mais arcaicos do ero. ao passo que as tendências sádico-orais operam uma verdadeira vampirização do objeto. Muitos autores parecem tender demasiado rapidamente a rotular de "sa dismo anal" toda e qualquer atitude de reivindicação bastante viva diante da reativação da lembrança de uma antiga frustração narcisista. em certo número de casos.ve fracassos orais que levam a movimentos caracteriais depressivos. e ambas as frustrações irão infiltrarse reciprocamente para entravar razoavelmente a progressão da organização genital e.dar um matiz erótico edipiano a toda nova frustração oral. a segunda. Existem traços orais reativos que neces. ao se sentir "suga. levar o sujeito a identificar-se com o objeto-alimento.de falar (tanto quanto a comichão uretra! nos sujeitos mais elaborados) significa desejo de atacar. tanto caracteriais quanto sintomáticos.o de uma criança em idade edipiana que vê um irmão mais moço sugar o seio da mãe.lares é. O mesmo acontece com os casos de avidez de leitura. conforme mostra H. com certas reações disléxicas defensivas. enquanto GLOVER (1925) descre. BERG IER (1933) pensa que as sublimações orais podem. SAUGUET (1955). Um caso de frustração oral que acarreta traços de caráter reativos particu. não deve fazer com que se conclua apressadamente demais por uma correlação constante entre oralidade e histeria e entre oralidade e esquizofrenia. sua primeira reação é a de que ele mesmo não recebe mais tanto no plano oral. da mesma forma que. por vezes.da mesma forma que certas glândulas guardam uma gota de gonococcia crônica incurável destinada a minar qualquer parceiro.sitam da constante presença de um rastilho de baba no canto dos lábios. em que realmente aparecem movimentos sádicos e anais.significando ao mesmo tempo necessidade e prazer de morder o outro. O taciturno pouco loquaz pode desenvolver uma defesa oposta contra os mesmos conflitos profundos. acham-se comumente infiltradas também por elementos reivintlicadores orais. turar desastrosamente planos muito diversos. contudo. ao nível do ânus.mento caracterial de destruição do objeto e permanece na gênese da economia psicótica. FREUD (1908 b) definiu os traços fundamentais de caráter anal como centrados em torno da trfade: parcimônia. em princípio. A partir dos trabalhos de K. em si. por outro.portância da situação ontogenética do estágio anal (acavalado à "divided line". 8) como separando as principais fixa. um erotismo anal que. será necessário distinguir. tanto do prazer quanto das matérias. recusar agora a habitual associação entre elementos caracteriais anais e sadismo. de pura rejeição. o emprego habitual da palavra sadismo não pretende.tes. este segundo perfodo situa-se no contexto da gênese estrutural neurótica. exati. exatidão e obstinação. respeitando a sua realidade e autonomia. sem mis. ao passo que o segundo perfodo anal.A im. de um lado. O ponto de partida erótico. às tendências libidinais.dos anais: o período de "rejeição" e o de "retenção• anal.nada tem de "sádico" (no sentido das pulsões agressivas). a duração deste estágio. sua proximidade dos estágios genitais e seu papel fundamental na abordagem des. coloca nu.b) Traços de caráter anais S. O primeiro penodo anal.canalítico (e não pornográfico) do termo.dos passa a "divided line". Parece evidente que os traços caracteriais clássicos de parcimônia. o próprio termo "sadismo" inspira-se em um patronímico que invoca a erotização obtida em concerto unicamente com a violência. onde os elementos caracteriais são mais representados pelo desprezo. de separação das estruturas psicóticas e neuróticas). já assegura um controle do objeto. ligado às possibilidades de reten. Entre estes dois perfo. corresponder senão a um traço agressivo (sobretudo sem coloração erótica) . sua intensa reativação por ocasião do período de latência. Se pretendermos respeitar o sentido dos termos e das noções. a forma como tão facilmente ele se acopla tanto aos desejos edipianos quanto aos desejos agressivos. por um lado.ções que conduzem à delimitação entre estruturações de modo neurótico ou psi.dão e obstinação referem-se muito mais ao segundo período anal do que ao primeiro.cótico. pois per.merosos problemas à criança em suas relações com a mãe e educadores .manece economicamente libidinal e.o "sadismo" no sentido psi. fig. Seguramente. 226 . a serem rejeitadas como inassimináveis e perigosas.ção objetai. descrita (cf. de outro lado. mesmo sob a forma ligada ao primeiro período anal de rejeição. todos estes fatores levam os elementos caracteriais anais a constituir os fundamentos de toda e qualquer personalidade. · A questão do controle. ABRAHAM (1925) consideram-se dois perío. e. fecalização e rejeição do objeto identificado às matérias fecais. ou seja. Cabe. um conceito que permanece sob a pura dependência das pulsões agressivas e nada deve. corresponde a um comporta. na maneira como são tratadas relacionalmente as matérias fecais. Ora. reside no prazer da defecação. ranzinzas. pintura.so. impulsivos ou reivindicatórios inscrevem-se neste registro. entretanto. a ponto de não mais se representar. indústria. de hábito. a dialética pos. marcando os sujeitos de generosidade e originalidade. o risco de perder de vista a especificidade do erotismo anal. possuir e "estar possuído".cia o valor de uma regressão restritiva. tal como pode existir. a pré-genitalidade assume com demasiada freqüên. rejeiçáo objetaO ou reativos (alergia a toda e qualquer autoridade. de campo livre e aberto aos desbordos de agressividade. ao investimento da zona anal pela libido e às suas conseqüências caracteriais. Tudo isto se reporta. Fezes. no pla.). e a analidade em particular. diz SAUGET (1955). sarcasmos.assumem a este nível o mesmo sentido simbólico. 227 . não devem ser malditas a este ponto. o papel atribuído aos problemas relacionais tocantes à utilização das matérias fecais.lógica ela de bom grado revista este aspecto. Cabe considerar. é um fato inegável na gênese estrutural. irritáveis. um apoiando-se no outro. assim. possuir e dar. arquitetura). Mesmo que na clínica psicopato. ao nível anal. quanto ao "caráter obsessivo". possuir e não mais possuir. não é menos verdade que.nóia e a perversão. Parece útil não estender a outras séries.no da gênese das estruturações e do caráter. de defesa negativa antigenital.nitalidade. poderá parecer perigo.ter sem dar. Para os psicanalistas. aliás. possuir e trocar. dinamismo e criatividade (literatura. Ela não é nem antilibidinal. Muitos traços de caráter reativos contrariados. sob a forma de traços diretos (sujeira. furiosos. Os traços de caráter anais são demasiado comumente limitados. crianças. que tal conjuntu-ra seja considerada evidente. possuir e prome. agressiva e libidinal.independente de todo e qualquer elemento agressivo. ironia cortante. que nada mais têm de especificamente anal.luptuosas. os traços de caráter verdadeiramente anais. com todas as suas faces tão autenticamente vo. senão como uma unidade conceptual inseparável. traços anais eróticos sublimados exitosamente. prepara os caminhos de uma genitalidade feliz e de uma não menos feliz integração das pulsões agressivas sob o primado do genital. etc. da mesma forma que para a oralidade caracterial. possuir e fazer esperar para dar. Já vimos. no plano conceptual. tão estruturantes e sublimáveis. dinheiro. mui comumente citadas a este propósito. pois.sessão-despossessão é jogada a este nível no plano ainda narcisista e a seguir genital: possuir e ser possuído. oposição sistemática. Corre-se. O mesmo vale para a para.prios. a pré-genitalidade. Mas existem.A automática intrincação das duas linhagens. aos aspectos restritivos e pessimistas da economia sádico-anal destrutiva do primeiro período anal. em condições genéticas e relacionais banais. mas juntando seus mecanismos pró. etc. o interesse que há em não misturar dois planos caracteriais muito distintos. sob o vocábulo híbrido "sadismo anal". rancorosos. coléricos. que já é libidinal por hipótese. nem pró-agressiva em si. a pré-ge. quanto no caso do erotismo oral. são o apanágio do "carabi- neiro". Em geral produz-se a mesma trapaça no registro paralelo das pulsões agressivas. muitas vezes considerados "fálico-passi.gosto do sujo e a vergonha diante do objeto visado pelo jato ambivalente.tuem as bases de formação dos elementos caracteria is fálicos.lâmpago da explosão e a fumaça que segue. aliás. contudo o obj eto permaneceu cui. mas já dizem respeito. permanecem no domínio nas "farsas e esparrelas". em caricatura.vos".ção da atividade real não incide senão sobre o ruído. mas esta permanece defensivamente incompleta e superinvestida narcisisticamente. a lembrança anal do "suj ar". a diflcil integração das tendências homossexuais passivas. também o sujeito.petição entre os sexos . Os traços de caráter uretrais. FREUD (1932 a) aproximou o erotismo uretra! da segunda fase masturbatória infantil. O "falo" ainda não é o "pênis". já existe um esboço de sexualização. mais especificamente. d) Traços de caráter fáticos Os traços de caráter fálicos continuam as manifestações competitivas. a busca do prestígio e do respeito a qualquer preço.. ademais. Poder-se-ia dizer que a imagem do "pênis" estaria ligada à possibilidade da representação de seu funcionament e relaciona! genital. ao passo que o "falo é. Mas este concurso já sem.. A economia uretra! coloca em destaque a competição: é.c) Traços de caráter uretrais Os elementos de caráter uretra! operam uma transição entre os traços anais e fálicos dos quais permanecem impregnados. onde misturam-se. de início. o re. depois ativas. destinado a ser mostrado e admirado. Os comportamentos enfatuados e impulsivos. Os traços de artiffcio".tuoso e quente que acaricia as vias genitais. descarregar sua "carabina" a "no ar". no registro genital. o jogo das crianças que procuram reconhecer a potência daquele que urinar mais longe. diante de uma angústia e um desej o contrários.nifesta. o simulacro. por exemplo.. no "tiro de chamado por preferir. o gozo uretra! proto-orgástico. trouxe um alívio pulsional.teratura contemporânea nos diz. Numerosas ej aculações precoces e certos comportamentos exibicionistas manifestam tais traços caracteriais. entretanto. S.. no escorimento volup. A imita. odes. a necessidade de encontrar obj etos sexuais "idênticos". o odor da pólvora. talvez assim qualquer momento. na esteira dos traços uretrais. para bem mostrar o sentido de apelo narcisista oculto sob a agressão ma. Uma manifestação uretra! reativa bem conhecida é vivida na enurese. à com. no "fogo de pólvora".pre toca o genital quando se trata de reconhecer "o sexo que urina de pé" (a li. a impossibilidade de suportar um fracasso ou uma critica diante dos outros.dadosamente protegido .que as "mulheres fálicas" operam assim). 228 . consti. caráter uretra!. antes do que investi-la em uma verdadeira relação obj etai e genital. bem como dos rufdos parciais de zonas eró. não pode existir um "caráter genftal" propriamente dito: 229 . Somente a economia genital aporta representações onde os humanos poderão atingir o direito a serem iguais e diferentes ao mesmo tempo. de ser (ou não) o falo. O traço de caráter genital é um elemento real e objetivamente observável. mas o fato de ter (ou não) o falo. ou seja. Ao examinarmos o comportamento de certos movimentos dest inados a "liberar" a mulher. para permanecer "iguais em direito". tanto da parte das mulheres quanto dos homens. Em m. na medida em que constitui um fragmento isolado.va latente. Cabe distinguir. dito de outra forma.meiro campo de experiência. não a um pênis relaciona!.nino não pode ser representado senão como passivo e perseguido. e não enquanto simples suporte do falismo ou da agressividade. levam tanto a mulher quanto o homem a reivindicar uma atitude manifesta de homossexualidade ativa. uma perso.dição feminina. nem uma igual atividade. que encontrará seu pri. conduz a uma maior ou menor falização do corpo inteiro.servando. o que separa "traços de caráter genitais" e "tra. como altamente reconfortantes. de sofrimentos e satisfações na vivência triangular edipiana. O temor da castração fálica. ao mesmo tempo.ber. e) Traços de caráter genitais A metabolização e integração (não gosto muito do termo "unificação) das pulsões e representações parciais.eu entender.tatuto genital de pelo menos uma parte da personalidade. a este nfvel. assinalando o acesso ao es. os antigos investimentos econômicos do tipo narcisista.nalidade "genital" em sua totalidade. eles não podem ser conceptual.mente confundidos. que não impede nem um igual gozo. é preciso permanecer semelhantes.No traço caracterial fálico. A zona genital torna -se então erógena em si. A angústia diante da homossexualidade passi. e a possibilidade de encontrarem-se justamente na diferença.genas e objetos parciais sob o primado do genital levam a um reconhecimento do estatuto de realidade e paridade de ambos os sexos. não tendo qualquer direito ativo que lhe seja reconhecido no jogo relaciona! das trocas se. a este nfvel caracterial.xuais. Não se pode conce. para ambos. mas a um falo concorrencial e. O comportamento caracterial fálico não pode levar a um reconhecimento sereno da separação real entre os sexos: ao nfvel fálico. compromisso entre as duas linhagens de desejos passivo-anais e heterossexuais ativos (nos dois sexos) con. senão como perfeitamente ideal e irrealizável. em contrapartida.ços de caráter neuróticos". não é o objeto que conta. enquanto genital. apercebemo-nos de que o falismo coloca em questão a con.vas (em ambos os sexos}. na medida em que a representação do órgão masculino corresponde. o temor e a vergonha de mostrar tendências eróticas fem inino-passi. o órgão femi. mas ao mesmo tempo menos absoluto. pois. O sucesso sempre relativo do acesso do "caráter neurótico" à economia genital traduzir-se-á por dois fatores importantes: em primeiro lugar. As pulsões. igualmente caracterial) faz-se sob o primado do genital. ABRAHAM (1925) situa o "estágio finaf" da evolução caracterial apoian. vivenciado. tanto no sujeito quanto para os objetos. ou seja. etc. mas também nas vantagens encontradas nas aquisições caracteriais dos estágios precedentes: "No estágio oral.tematicamente anuladas. no sadismo. todas as ve. É unicamente ao nlvel do estudo dos diferentes "caracteres neuróticos" que parece lícito considerar o lado mais realista das coisas. a perseverança.tamente atentos ao aspecto especffico dos ecos caracteriais correspondentes a este nível evolutivo último e preciso da libido. tanto sexuais quanto agressivas.O "caráter". no sentido pleno do termo (correspondendo a uma estrutura homóloga autêntica) que compreende o máximo de traços de caráter genitais.do-se não somente nos inconvenientes ou nas fraquezas. mais nuançado e também mais colorido no plano da realidade humana.rem as inevitáveis lacunas estruturais.pois resolvido as diferentes etapas de seu conflito edipiano. é o "caráter neuróüco". a capacidade de empreender é a energia. deslocadas ou recalcadas: uma boa parte po- 230 . seqüelas de fixações a estágios pré-genitais (oral ou anal) ou protogenitais (uretra! ou fálico). a organi. capaz de nuances e mutações que não acarretarr rigidez. de. também ao nlvel dos traços de caráter genitais. pois mesmo o individuo mais maduro traz consigo obrigatoriamente. mesmo se numerosos traços caracteriais pré-genitais preenche. o sujeito deverá ser capaz de controlar suas pu/. Nenhum caráter "genital puro" pode ser encontrado. estri. não mais precisam ser sis. nem desordens sérias. nem incoerência. o "caráter neurótico" deverá tirar a estabilidade e a riquez. não deixará de existir um grande número de traços de caráter genitais ativos no funcionamento relaciona! espontâneo do psiquismo do sujeito. mas sem nos ocuparmos destas mesmas etapas anteriores no exame daquilo que existe de original e inimitável nos comportamentos funcionais e relacionais deste patamar genital. a persistência. Se o desenvolvimento do caráter tiver seguido com sucesso. fodo "caráter genital" conservará um aspecto imperfeito no plano teórico ideal. e tanto o número quanto a importância qualitativa destes traços dependerão da forma como uma criança tiver abordado. evitadas. ao nível estrutural (logo também nos ecos caracteriais de sua estrutura). como terá saldo de sua ambivalência pré-genital. como foi proposto aqui por ocasião dos traços de caráter orais e anais.s6es sem estar submetido à obrigaçao de negá-/as •••" Da importância dos traços genitais. Convém. o poder de luta pela vida. em segundo lugar.zes (felizmente freqüentes) em que os elementos pré-genitais não arrastarem o sujeito para uma regressão mórbida. permanecer.. do qual falamos acima. K. de suas economias pulsionais e objetais parciais.zação estrutural (logo.a funcional e afetiva de seu ego. no estágio anal. não deixando de reconhecer o que esta última etapa deve aos estágios evolutivos que a precederam. bem como da diversidade dos traços parciais pré-genitais. de qualquer modo.parável (embora diferentes economicamente). Os traços de caráter genitais correspondem ao fim do anter ior estado de ambivalência. não à depressão). de fato. finalmente.derá ser utilizada relacionalmente de forma direta. sem medo de perda n'em necessidade de lucro.LIS (1967). possibilidade de trocas. no sentido. Conforme mostram LAPLANCHE e PONTA. "sem história". não mais terá poder suficiente para inquietar o ego no essencial de seu funcionamento adaptativo e. suporte de representações agressivas ou agredidas .mente sádico. por assim dizer. raramente ausentes em toda formação caracterial. eles permitem aproximar. contida pelos sistemas defensivos diversos. S. em que se declara que as "pessoas felizes não têm história". Se dermos crédito a M. dado o seu aspecto bastante comum.sista. ao mesmo tempo. pois. Um dos traços fundamentais do caráter genital reside. pois deve corresponder a um comportamento relaciona! agressivo 231 . ideal de união afetiva. sem dúvida. desde que a troca se torne objetiva e objetalmente demasiado des. por outro lado. quer no sentido puramente "agressivo" (a escola kleiniana ate. tanto a escolha quanto o jogo dos sistemas defensivos mostrar-se-ão suficientemente flexíveis e oportunos para evitar ao máximo os atritos afetivos. é muito raro ver estes gêneros de traços caracteriais descritos de forma pura e sem estarem associados a traços anais (o famoso "sadismo anal") ou a traços masoquistas(o não menos famoso "sadomasoquismo"). respeito aooutro. BOUVET (1956).res muito correntes e. quer em um sentido misto (sexual e agressivo).vo as pulsões agressivas dão origem a uma série de traços de caráter elementa. acima de tudo. o objeto amoroso deve ser ao mesmo tempo único (porque é pleno. em encarniçar-se contra os objetos.sentimento amoroso (na medida em que este atinge o estágio genital. manifestam-se sob a forma de compreensão. outra parte poderá levar a sublimações válidas. aliás.cidade de estabilidade no interior da boa troca relaciona!. oblaçáo. a parte. FREUD utilizou o termo "sádismo" ao longo de toda a sua obra. paralelamente. durante todo um perfodo evoluti . a) Traços de carélter séldicos Embora o essencial do traço de caráter deste tipo seja muito nítido e con. É.ve-se a este aspecto). tanto na capa. quanto na flexibilidade da mudança. e de forma dificilmente se. difícil determinar com precisão o traço de caráter autentica. singular e original) e intercambiável (porque ao genital não pode faltar objeto de amor: a perda do anterior leva-o à mudança. B) TRAÇOS DE CARÁTER AGRESSIVOS Ao lado das pulsões libidinais. alia no mesmo objeto o desejo sensual e a ternura afetiva). que se verá.se de um objeto que não é.vantajosa. relação genital perfeita seria. logo degra. 232 . Os traços de caráter sádices que se referem à agressividade atuada. ou simplesmente mentalizada sobre o objeto. o outro compensa esta perda por um aumento compensatório de força igual e de sentido oposto.gados à noção de Bemtichtigunstrieb. nem prazer extraído pelo próprio sujeito do sofrimento do objeto.tanto que se mostra diffcil separar as pulsões agressi. uretral ou fálica.. da quantidade de libido restante. na intricação pulsional mais legítima e mais cer. constatar que existe. Depois de 1920. para o sujeito.mente a satisfação direta da pulsão entra em linha de conta. quanto mais fraca for a quantidade de libido e. que em face deles estamos tratando. Os trabalhos de I. Martins Fontes. Talvez até conviria fazer também o balanço acerca de um terceiro plano. trata-se. de uma manifestação rela* Cf. LAPLANCHE. entretanto. distinguir bem. -B.pecto que se retenha. a parte que provém da gênese da linhagem pulsional libidinal e a parte que provém da linhagem pulsional agressiva. 9. J. Podemos. passaria a ser uma herança da "pulsão de morte". As hipóteses freudianas complicam-se ainda mais porque não somente a libido fraca cede espaço às pulsões agressivas.vas. e inversamente. ou não. onde a soma dos dois fatores fica sempre igual a uma constante: desde que um dos dois elementos diminua quantitativamente. Parece certo que se deveria. o mesmo gênero de relações comple. anal. em 1915 (As pufs6es e seus destinos) e 1920 (Além do Princfpio do Prazer). in vivo.mento afetivo. que permanecem baseados em uma logística libidinal. por outro lado. 1986. citada por FREUD em 1905 (Tr s ensaios) e retomada em 1913 (Predisposiç o neurose obsessiva}. da hipótese do "instinto de morte".dada.riodapsicam11ise. So. verbal. em verdade.rada. J. de qualquer forma. LAPLANCHE e PONTALIS {1967) traduzem o termo por "pulsion d'emprise" {"pulsão de dominação")*. do papel relativo das "pulsões do ego". estreitamente li. Os traços de caráter sádicos parecem.se. ed. São Paulo. Vocabuld. mas parece que finalmente encontramo-nos. de um traço direto de caráter. muito próximos dos traços caracteriais descritos a propósito da uretralidade e do falismo. N .. entre as pulsões agressivas e sexuais.no qual o sofrimento do outro não seja levado em conta. mas toda falha de uma forma elaborada de libido leva-nos a uma alteração qualitativa regressiva. PONTALIS. Isto nos permite constatar que os traços de caráter sádicos são tanto mais nítidos e isoláveis. tais como as descrevemos acima: formas oral. em contrapartida. no sistema pulsional freudiano. qualitativamente. não diferem sensivelmente do as. das infiltrações libidinais. não se deve encontrar correlativamente nem piedade (direta ou indireta) pelo objeto que o sujeito faz sofrer. pois aí trata. de dominar o objeto pela força.do T. HENDRICK referem-se à necessidade de dominar o objeto. de formas arcaicas da evolução libidinal.mentares que encontramos descrito no famoso esquema chinês Yang e Yin. necessidade esta de natureza aparentemente não-sexual. por ocasião de cada etapa do desenvolvi . no sentido narcisista e freudiano do termo. FREUD (1924 c) determinou três registros masoquistas: "erógeno". ao menos a priori. no plano cientifico. da "inferiori.quismo dito "moral". sob a cobertura de uma vigorosa formação reativa manifesta e. que um elemento "sádico") em estado pu. que o mecanismo pulsional agressivo de modo masoquista existe em perfeita independência. "de abandono".em si nada têm de agressivo e que iriam. do objeto.induz sempre à desorgani.ro. de "destinado". seja "ativo". O traço de caráter masoquista mostra-se. na literatura psicopatológica ou psicológica.rentes.cional da estrutura subjacente. etc. Conforme mostrou D. da zona erógena e de realizações que assinalam a perversão do quadro clássico. ao passo que a agressividade. Nosso interesse no plano caracterial incidirá sobre o mecanismo do maso. Tal noção apa. da "castração". O masoquismo "erógeno" corresponde a uma organização perversa: o sofrimento serve ao mesmo tempo para ocultar e atiçar o prazer. sob a estrita dependência das pulsões agressivas. em aparência. o prazer é ob. aliás.tido em condições parciais do alvo. ao contrário. independente.jeira para a mulher.) e o que permane. sobretudo pouco lison. nesta ótica. em meio a todas as estruturas ou organizações psíquicas. efetivamente seja muito raro encontrar um elemento masoquista (da mesma forma. Embora o sadismo. posição que depois não mais é defendida só pelos analistas masculinos e à qual os ruidosos movimentos feministas trazem uma profunda adesão. A boa consciência psicanalítica não exige. mas a um nlvel essencialmente pré-edipjano. contudo.tanto do modo pulsional sádico quanto das múltiplas vicissitudes da libido. Embora. O masoquismo "feminino" é uma criação freudiana de estatuto mais filosófico e até mesmo metafísico. 233 . este modo masoquista não pren. nem de erotização. um dos mais cor.canismos "de fracasso". diametralmente oposta. por seu turno. LAGACHE (1960). b) Traços de caráter masoquistas É extremamente excepcional encontrar. convém não confundir os traços de caráter sádicos com traços de caráter que atestam uma simples necessidade de atividade. no sentido criador e integrador do Eros. do ponto de vista teórico. no qual se procurará separar o que toca ao narcisismo (me. isto é. ou seja. na prática.zação e à fragmentação. do aspecto eventualmente refletido do sadismo sobre o sujeito mesmo.derá nossa atenção aqui. com efeito.dade" feminina. do que estritamente psicológico. "feminino" e "moral". S. um ato de fidelidade a esta concepção. descrições de um masoquismo que não esteja impregnado nem de sadismo. pelo menos. é certo.ce especificamente masoquista.rece ligada ao postulado da "passividade". existem muitas outras formas de atividade em relação aos modos de funcionamento do ego que . náo posso atacar-te. por exemplo. ne.petitivas de fracasso correspondem (LAFORGU E.xistiam lado a lado. diz ele ao pai.quista caracterial é sempre ambos os pais ao mesmo tempo. paralelamente ao sadismo. 234 . e isto dirige. dos fantasmas agressivos do sujeito: "É o outro que me ataca.. ao mesmo tempo. As atitudes re. só poderá vir a reforçar os apelos do erotismo anal para concorrer ao movimento homossexual passivo. logo. por certo.portamentos masoquistas e dos "comportamentos de fracasso". as instâncias ideais ou interditaras acham-se reduzidas ao silêncio: "Não se abate um homem que est por terra. Parece bem certo que esta forma de masoquismo caracterial. tu nada temes porque ela castrou a mim também. logo. permite o ataque sutil do outro à sombra do sadismo dirigido contra si. contudo. cuja angústia não poderia apare. uma agressão centrada sobre si mas.mente. O interlocutor do maso. mas tu bem que me deixaste castrar por ela. a agressão e a camuflagem da agressão.cia-se como: "Vejam o que vocés fizeram de mim". diretamente derivado do instinto de morte. seja no registro psi.de um "masoquismo pri rio". e não da autêntica castração genital. neurótico ou anaclftico. como acabamos de ver. pois trata-se aqui da castração f lico-narcisista-anal. ainda em uma economia triádica proto-edipiana. ele designa ao mesmo tempo a mãe: "Náo sou eu quem te ameaça..cológico. ao mesmo tempo. secundaria. Ora. graças a três subterfúgios complementares: a) ProjeÇão.ce não modificar a presente concepção do mecanismo profundamente agressivo que se encontra em todos os casos por debaixo dos traços de caráter masoquis. foi ela quem te castrou. da mesma forma que o sadismo. no sentido genital do termo." b) Mistificação do objeto durante o ataque agressivo!"Eu sou fraco e infeliz. mesmo quando eventualmente coe. O traço de caráter masoquista é. desarma-te. interpela o pai. 1939) a uma impossibilidade de satisfazer a pulsão inconsciente. também uma hábil provocação ao objeto. este objeto não se situa em uma economia triangular edipiana." Permanecemos. pare." c) Sob a cobertura do sofrimento. c) Traços de caráter autopunitivos Cabe agora distinguir entre os comportamentos autopunitivos dos com. Quando o menino.agressiva. e por isto é que eu sofro. O fato de FREUD haver falado.cessitando das vivências edipianas que o mecanism o masoquista justamente evitou englobar e integrar enquanto tais. a partir de 1920.tas.O masoquismo constitui.-se a todos os "grandes". mais direto e brutal.cer senão em uma economia triangular muito mais elaborada sexualmente. o mecanismo masoquista. e veja.A recriminação posta em primeiro plano enun. sobre o objeto. vem reforçar os erotismos uretral e fálico no movimento homossexual ativo. se nos reportarmos à Análise terminável e intennioovel (1937 c).nitivos jamais poderiam depender de um "masoquismo primário". a segunda teoria das pulsões faz aparecer a noção capital de "narcisismo". Com efeito.As atitudes autopunitivas são comumente interpretadas no sentido de uma sanção que o sujeito inflige a si mesmo para satisfazer um superego exi. FREUD. na linha de pensamento comum a todo este trabalho. e é.vel de todo o nosso grupo "limftrofe".sionais agressivos. definidas em sua primeira teoria das pulsões.creve como podendo manifestar-se fora de qualquer ligação com o superego. estarfamos ainda no direito de colocar o problema da existência de traços de caráter que representariam as manifestações relacionais e funcionais das "pul. mas dependentes de uma linhagem pulsional distinta). Parece. sem dúvida. no presente parágrafo.de um verdadeiro retorno contra si mesmo de uma parte das pulsões agressivas. 235 .ção das hipóteses emitidas aqui quanto ao estatuto particular e não muito está. Contrariamente aos traços de caráter masoquistas.go". sem fazer interferir elementos genitais (em geral concomi. mesmo depois de sua hipótese concernente às pulsões de morte. herança do Édipo. Ademais. aceitando esta interpretação. na medida em que se trata. Parecenos mais rigoroso. já citados no presente capftulo a propósito dos "traços de caráter estruturais".portanto. A este nfvel. retornamos ao nfvel dos "traços de caráter narcisistas". logo com a ação da libido. de suas relações com as orientações pulsionais em geral. caracterológico ou patológico.blema da gênese e da completude do ego. seja a nfvel estrutural. os traços de caráter autopu. permanecerfamos no contexto do "masoquismo secundário". referentes às "pulsões do ego". e libidinais em particular. de "pulsões do ego" e de es. Ao lado dos traços de caráter referentes às pulsões sexuais e agressivas. C) TRAÇOS DE CARÁTER DEPENDENTES DAS PULSÕES DO EGO S. pelo menos no plano teórico. certamente . nunca abandonou completamente suas noções anteriores. encontramos a descrição de elementos de pulsões agressivas que FREUD des. em certas necessidades de punição.forço de organização narcfsica. Este "curto-circuito" entre as duas noções. constitui ao mesmo tempo um corolário e uma confirma.gente demais. limitar a noção caracterial de autopunição aos aspectos pul. nos defrontarfamos aqui com a noção de "supere.tantes.sões do ego". Entretanto. neste gênero de traços de caráter autopunitivos. a qual se detém ao nfvel de um simples "orde.que ao descrevermos os "traços de caráter dependentes das pulsões do ego". bem ar ·que se situa o núcleo conceptual do pro.namento" deste tipo. enfati.ráter". Este aspecto foi-lhes reconhecido por numerosos autores que se consag raram a seu estudo. principalmente por aqueles que se debruçaram sobre as "neuroses" de caráter. FENICHE L (1953) constata que na "neurose" de caráter a luta entre as forças pulsionais e a angústia tende a tornar-se estacionária e rfgida: · o invés de uma guerra de movimento.perego.ma "limftrofe". obsessivos e depressivos.chada caracterial relativamente intacta. O termo "organização" parecia convir melhor ao conjunto do siste. do estabelecimento das operações defensivas do ego e das vicissitudes das relações de objeto inter. Ele detém-se nas formas assumidas pelo ego e pelo su. 236 . Evoquei o lugar ocupado pelas doenças do caráter na nosografia. Os parâmetros de gravidade situar-se-iam assim nos nfveis do de. Estas "doenças do caráter" têm em comum o seu aspecto assintomático. o. O nfvel superior de "organização caracterial" patológica compreenderia os componentes caracteriais histéricos.senvolvimento instintual.-----------A patologia do caráter Já examinamos acima as grandes linhas de problemas tocantes à patologia do caráter. finalmente. O. trava-se uma guerra de posiç6es". em virtude de sua habitual fragilidade. K E RNBERG (1970) procura formular marcos psicanaHticos concernentes a patologia do caráter. pelos derivados pulsionais.do desenvolvimento do superego.nalizadas. a partir do qual achamos que se diferenciam as "doenças doca. o paciente pode então mascarar seus movimentos depressivos e inibições por detrás de um fa.zando a relativa estabilida'tle de tais ordenamentos em meio a uma linhagem que não poderia merecer o vocábulo "estrutural". pelas relações de obj eto internalizadas e. as toxicomanias. as formações reativas constituem uma verdadeira barragem contra a evolução sintomática manifesta. Este caráter decompõe-se em elementos sublimatórios. na parte inferior do quadro. as derivações sexuais múltiplas. os caracteres caóticos. sadomasoquistas e certos elementos narcisistas ou perversos. 237 . como também evita que o ego sedes- compense na via sintomática. as personalidades anti-sociais. enfim.O nlvel médio agruparia os elementos de caráter orais. os elementos reati. de outro. evidentemente. evitando de forma cons. as personalidades psicóticas. ESTRUTURA CLÁSSICA do ego CARÁTER I\ Sublimações Formações reativas E Q) O> SINTOMAS "' al FIGURA 10: Esquem a de funcionam ento da economia estrutural clássica. de início. utilizam energia transmitida pelo ego. enquanto permanecerem exclusivamente a serviço do caráter. passivo-agressivos. Dito de outra maneira. Os elementos sublimatórios asseguram uma paz total aos sistemas tanto pulsionais quanto defensivos.tante um recurso aos processos habituais de recalcamento. o que. Na economia estrutural do tipo "clássico" (cf. por seu turno. por um lado. Certamente existe um interesse em distinguir.cas e. as personalidades pré-psicóti. no plano econômico. mas este dispêndio energético não só protege o ego contra eventuais desbordamentos pulsionais que permaneçam no contexto caracterial. o car ter constitui o modo de expressão relaciona! e funcional correspondente ao estatuto de adapta. e elementos reativos. O nlvel inferior. da economia das organizações "limítrofes". tocaria as personalidades infantis e muito narcisistas.coses "clássicas". os caracteres "as if".ção. 10).vos. separa radicalmente a economia estrutural das neuroses ou das psi. fig. gicas que dispus no contexto dos "caracteres narcisistas". certamente) uma deformação no sentido da patologia do caráter. das entidades estruturais clássicas (neuróticas ou psicóticas) e das entidades psicoló. Se o caráter (cf.vagem que operará a separação entre "caráter" e "patologia do caráter". E o o (J) Q) 'O DEPRESSÃO FIGURA 11: Esquem a de funcionamento da economia de um a organização limltrofe. de "idealiza. ao ní. depressão. 238 . 11) constituído de formações reativas já poderosas e de sublimações (mais especificamente ainda.de" que representa um "ordenamento" completamente relativo) o ego contra a descompensação (depressão).ções" relacionadas ao ideal de ego.vel das organizações "limítrofes". fig.Na economia "limítrofe". ele sofrerá (e com ele o ego. em uma "pseudonormalida. Com efeito. fica simplesmente linear: organização. as coisas passam-se de maneira completamente diferente: como não existe via sintomática.. logo menos sólidas) não mais bastar para evitar a depressão sob seu simples aspecto funcional. caráter e sintoma. ORGAN IZAÇÃO "LIMfTROFE" do Ego s c: Q) EC'O c: Q) "E o CARÁTER Clivage m (Formações reativas} Patologia do Caráter o 'C'O"' () (J) c: Q) c. é o surgimento (ou não) de fenõmenos importantes de cli. entre estrutura. parece igualmente importante diferenciar bem o que distingue entidades clfnicas compreendidas no contexto geral da "patologia do camte. ao invés de "triangular". tal como a deformação citada por FREUD (1940 e) em seu artigo sobre os mecanismos de clivagem. Ao que parece. caráter. É o "caráter" que defende (como pode. o esquema. etc. pois. a passagem do caráter à patologia a este nível (cf. não parei de mostrar as divergências latentes ao nível da angústia. muito mais do que uma pato.truturais clássicas.sa. o ego chega a esvaziar-se também de parte de sua substância. do que os caracteres neurótico ou psicótico. fig. no sentido do sucesso adaptativo. como se trata de uma patologia da relação. manifestado tanta independência e. a diferença entre a patologia do caráter e os diferentes caracteres "narcisistas" pode revestir-se de aspectos mais sutis. Não é neces. dos diferentes meca. as coisas parecem simples e evidentes. não apenas da relação obj etai. achei bom dipor as três entidades na ordem crescente de seu grau de deterioração da relação objetai. cabe-me aceitar uma posição de modéstia. segundo as variedades clínicas das doenças do caráter na constituição da representação objetai. Com efeito. comumente. dos mecanismos de defe. que seria diretamente proporcional à intensidade dos fenômenos defensivos de tipos projetivos variados No esforço de expulsar partes cada vez mais importantes de si mesmo. sendo uma doença.nizações. Com efeito. precisarei referir-me às noções de 239 . como já havia considerado ao nível da "normalidade" e a propósito das anorga. BION (1954) salientou o momento de empobrecimento do ego. ligada a um vício mais ou menos grave. formação esta baseada justa. contentando-me com uma termino. mais se mergulharia nos "graus" desta patologia caracterial. refere-se à ordem na qual são pro- postas as três entidades: a "perversão" de caráter seria considerada como a mais alienante das três.No que diz respeito à separação entre patologia do caráter e entidades es. No que concerne a esta "patologia do cari!Jter''. o "caráter" particular correspondente à linhagem "limítrofe" acha-se em uma posição de relativa "pseudonormalidade".mente na experiência de frustração.logia que em nada me satisfaz. não constituiria nada mais do que um exagero das formações reativas. eis por que a figura 11 é concebida de forma "linear". Da mesma forma. e quanto maior a importância assumida por estas formações caracteriais e projeções. Em contrapartida. são principal.sário. assim. fica difícil para o sujeito a progressiva formação do objeto real. A "patologia do caráter". voltar a insistir sobre todos estes pontos. não mais podendo tolerar as frustrações. mas também do estatuto próprio do obj eto. sem dúvida.nismos projetivos e das clivagens que determinam qualitativamente.logia do ego no sentido estrito do termo. em virtude dos maiores danos que inflige ao obj eto. ao final das contas. contido o sarcasmo em relação às imperfeições dos sistemas ou denominações dos outros.mente os reforços quantitativos das formações relativas. depois de haver. dos fatores tópicos em jogo. menos "normal". Com efeito. do modo de relação de obj eto. das projeções e das clivagens das formas "caracteriais" do tipo "narcisista limítrofe". Uma última hipótese a este respeito. 11).menológico e sintomático manifesto quanto no plano econômico. para não cair em uma presunção neologfstica que não me tenta absolutamente. que para ele tornou-se intolerável. A "patologia do caráter" continua. ao longo de todo este trabalho. no sentido: "neurose" de caráter -+ "psicose" de caráter -+ "perversão" de caráter. tanto no plano feno. ou de fuga e evitação."neurose" de "caráte r". em grande parte.ções mórbidas. ao contrário.a seguir.patológico". "psicose" de "caráter" e "perversão" de "caráter". não creio que se possa considerar que eu tenha recorrido a uma classificação do tipo "psico . política. nem de verdadeiras estruturas neuróticas ou psicóticas. comp reender o fundamen to metapsicológico específ ico a cada estrutura para considera r. 1. tanto em direção ao caráter quanto aos eventuais sintomas corres.tes mecanismos articulam -se ent r e si varia de f orma bastante nítida de uma forma a outr a desta patologia .se. sua evolu. Com efeito. Procuro jamais partir do avatar mórbido de uma estrutura para determinar seus eixos diretivos. em meus posteriores desenvolvimentos a estes níveis. ao passo que eu.bora não se trate.ce.mas econômicos tocantes à esfera narcisista já pré-patológica.. Embora retome palavra por palavra da terminologia psiquiátrica habitual na enumeração de minhas categorias caracteriais e estruturais. visando a precisão e a simplicidade da comunicação. absolutamente. por outro lado.esconde. qualificando -os. técnica. nem de perversão no sentido habitual do termo . aliás.sentações objetais. com o auxílio de epítetos bem conhecidos e delimitados. ao nível do "caráter". no sentido em que geralmente se entende.ção lógica. o compromisso ou a limitação. por um lado. no caso de descompensação.mitiria definir uma estrutura ou caráter. tal como foi definido acima. Pare. que não mais permite a 240 . Certamente os mecanismos reativos e de clivagem da imago obj etai são muito paralelos nas três variedades de doenças do caráter. em. tanto com os obj etos quanto com a falha narcísica inicial (profissão. realizações materiais de todos os níveis) e. Estas entidades não se situam.mos movimentos proj etivos. mas. Reservarei a denomina ç ão "neurose" de caráter a uma situação do sujeito que compreende. associados aos mes.pondentes. o fracasso relaciona/ interpessoal e afetivo. inicialmente nos sintomas manifestos constatatos nas organiza. conser . dadas as diferenç as fundamentais constatadas entre e as entidades quanto ao estatuto e disposição das repre.me que est a confusão pode ser evitada. acima de tudo. arte. a urn nfvel antidepressivo suficiente para autorizar um j ogo de esconde. fundamentais e distintos. mas a maneira pela qual es.canismos latentes. proble. o paradoxo. A "neurose" de caráter Convém de início deixar bem claro que muito auto res que dura nte a última década estudaram o problema da patologia do caráter dispõem sob o título "neurose de caráter" o conjunto de três entidades caracteriais patológicas. filosofia. para a seguir tentar remontar mais ou menos longe no que per. pessoalmente. uma dissociação na manutenção do narcisismo pessoa/.vo a terminologia psiquiátrica apenas para melhor identificar linhagens de me. mas comportam. as classificações com critérios psicopatológicos apóiam .. Nenhum empreendimento humano realista pode evitar. ao mesmo tempo. sem ·por isto criar deformações demasiado nftidas da realidade (como nas "psicoses" de caráter) ou amputações demasiado tóxicas do narcisismo do outro (como nas "perversões" de caráter).aparente estabilidade do simples "caráter narcisista" (sua limpidez afetiva. e não para ajudá-lo a modificar um comportamento que julga quas e perfeito (tra. com toda a ambivalência narcisista que isto pressupõe.bora exista (e quase sempre existe) algum investimento genital também deste objeto. cria uma apreensão de natureza a fazer com que o paciente recuse toda e qualquer ajuda terapêutica se a oferta de cura não estiver. O objeto (e principalmente a multiplicidade de objetos) na "neurose" de caráter permanece investido. C. em um primeiro tempo.ça. acima de tudo. em primeiro lugar. "esteiar-se". nem estruturante no plano econômico. O sofrimento do sujeito mostra-se difuso. e não de um objet o contrafóbico do tipo encontrado nos histerofóbicos. de um obj eto contrafóbico do tipo narcisista e anaclftico. absolutamente. sobre o qual o suj eito sente a necessidade de apoiar-se. investido essencialmente de um potencial genital ao mesmo tempo pulsional e defensivo. à consulta. absolutamente. embora nenhum sintoma clássico se manifeste de forma evidente. Em.ciona! sedutor em todas as direções). de safda. em geral não coloca a si. no plano pré-edipiano: é. se ele confessa um certo constrangimento re. seu poder rela.po negativo") encontram-se presentes em todos os niveis das "organizaçõe s limftrofes". P. em contrapartida.laciona!. mas estes elementos atuam apenas a titulo fragmentário. provida de suficientes aportes narcisistas complementares asseguradores. em questão. permanece paralelo. permanecendo acolados aos elementos pré-genitais anacllticos em torno dos quais realizou-se o ordenamento narcisista antidepressivo do ego. isolado e parcial. Para ele. mui comumente são as pessoas em torno que levam o sujeito a consultar. materializado pelas inquietudes dos outros. nem primordial. Com efeito. 241 . Trata-se.cário. As pessoas em torno de tais sujeitos desempenham de forma bastante constante.mente. Quando este paciente consegue expressar-se com certo grau de clareza em relação ao seu sofrimento. mesmo que isto não transpareça à primeira vista. RACAMIER (1963) parece haver sido um dos primeiros a interessar- se pelas originalidades de cada uma destas entidades mórbidas. A simples idéia de uma modificação do equilfbrio pessoal. no sentido protetor. imperfeitamente consciente. o papel do obj eto contrafóbico. mais do que do próprio sujeito. ou o levam. seguramente. a neur ose de caráter é rea lmente uma "doença". que declara a si mesmo "pequeno". eles não revestem. sob os auspfcios do ideal de ego.duzindo: essencial à sua proteção). o "forte" que dá segurança. Toda mudança interna o angustia enorme. por vezes à for. sua suficiente moderação pulsional. secundário e acessório. elementos esparsos de vivências edipianas parciais (sobretudo do "Édi. e o "grande" contra o qual dirigem-se a revolta e a agressividade do sujeito. referido a "fracassos" ou "provas". tal investimento. julgado pre. é par a pedir ao terapeuta que o cure de forma "mágica" e exterior. Sem dúvida alguma. acompanham-no para dar explicações. pois incapacita o sujeito de forma permanente. o papel de primado da organização. a partir do momento em que se reconhece como simples "objetoauxiliar" do suj eito e não objeto inteiro e à parte.A importância dos problemas econômicos do narc1s1smo. O mesmo se passa com os "pseudo-hist ricos" descritos por H.tida na defesa. uma espécie de udefesa contra a defesa erotiza. Os traços de caráter enrijeceram -se neste estágio e são por vezes comparáveis aos traços da neurose clássica. em um perfodo proto-edipiano da evolução afetiva. EY (1967).RACAMIER (1963). de fato.gênuo ao primeiro contato e faz com que rapidamente fique furioso. A vida fantasmática destas "neuroses" de caráter é fraca. quando a erotização da defesa torna-se demasiado forte ou começa a mostrar-se com certa evidência. ao passo que. FAIN (1966) comparou seu comportamento ao dos insones que "acendem a luz" antes de 242 .sessivo por seus traços reativos. C. Toda "neurose de caráter" imita uma neurose clássica. de intensidades tais de projeç6es.. uma verdadeira "fraqueza" (aparente) das pulsões do id. ao mesmo tempo uma "combustão pulsional" parcial e uma luta antipulsional. Uma "neurose" de caráter bloqueada inicia lmente no segundo estágio anal imitará o caráter ob.ção e introj eção diante desta realidade. É isto o que torna também tão sutil e frágil o ordenamento caracterial deste tipo. Na realidade. porque é muito menos genital. em torno dos quais se faz a organização do ego. contudo. a isolar e dominar o obj eto acompanha-se. Além disso. ao lado da energia das pulsões agressivas.nagem "hipersexual" bem calculado par a melhor mascarar suas insuficiências organizacionais ao nfvel da genitali. por outro. Uma proporção importante da energia libidinal degradada acha-se inves. M. entretanto. manifesta assim "sinais exteriores de riqueza• caracterial (pseudoneurótica) bem "acima de seus meios" econômicos. justamente ao nfvel narcísico. Entretanto. acima de tudo. A mobilidade de um tal sistema relaciona! destinado. As formas clínicas das "neuroses" de caráter têm em conta o nfvel de fixa- ção da evolução libidinal no momento em que realizou-se o uprimeiro trauma". tendo já sofrido uma regressão muito nítida no plano libidinal e simplesmente deformada no plano agressivo. não realiza sinto.racteres psicóticos". Esta incompletude narcisista primária (bem mais fraca e menos precoce do que as predisposições de mais tenra idade no recém-nascido pré-psicótico) desencadeia uma lentificação. desenvolve-se no sujeito. no primeiro caso. manifesta-se já um certo grau de nega. que por vezes apresentam-se como "fanfarrões do vfcio" e compõem um perso.más nftidos e. a realidade é astuciosamente manipulada. vai de par com a deficiência arcaica sentida.da". mas a organizaç ão econômica permanecerá. paralelamente. que muitas "neuroses" de caráter são por vezes confundidas com "ca.dade. dando às formações reativas da "neurose" de caráter esta forma de defesa erotizada que seduz o in. sob a égide do ideal de ego (e não do supere. imitados pela "neurose" de caráter. muito mais pobre. conforme mostrou P. do ponto de vista do estatuto da estrutura do simples ego anaclftico. no segundo.gol. por um lado. toda uma parte da energia pulsional. acha-se utilizada por formações reativas mais ou menos exuberantes constituindo. no declínio de suas vidas. da história ou do romance. 243 . as "neuroses" de caráter agarram-se vivamente à realidade. da pedagogia ou do amor.mais está presente. nem tampouco sucumbem. desde que alguma elaboração fan.nifestas que. mesmo na cena do suicídio fracassado.pisódio de Mélie).din).lismo sentimental de FLAUBERT por ocasião das descrições afetivas ma. da cultura ou da cozinha. o cuidado de inte. a tentati. não obtêm êxito. Ambos saem magoados e decepcionados de suas tenta.de imediata a fim de eliminar.• todo esforço leva a um mevitável fracasso ••• Aquilo que deveria restaurá-los narcisicamente aos olhos dos demais. Entretanto. A propósito de Bouvard e Pécuchet.. da arqueologia ou da geologia.ietante pareça desenvolver-se. para não terminar uma obra da qual nos diz que nela "as mulheres terão pouco lugar. não tão masculinos. mas o sucesso também nunca chega.tasmática inqt. embora seja evidente o ero. A depressão j a. em Madame Bovary. ainda. tanto quanto possível. na realidade nada mais atestam do que uma genitalidade de cobertu. sem contudo mostrarem-se manifestamente demasiado homossexuais. nenhum". tomam. e o amor.. a maioria destes mesmos autores louva os méritos do rea..qualquer infcio de sonho constrangedo r. mas infelizes para eles mesmos..tismo anal de Bouvard pelas mulheres fálicas (episódio com a viúva Bor. e a passividade sexual de Pécuchet não provoque a menor dúvida (e. a. ou bus.• Estamos avisados.vas de recuperação narcisista nos planos racionais da química ou da al. da política ou da fi losofia. e alguns crft icos chegaram mesmo a declarar que "compadec iam-se de FLAUBERT" por haver escrito páginas (apar&ntemente) tão estúpidas•. toda "incitação associati- va". por cima dos enormes problemas narcísi. se juntará à soma das feridas narcisistas ameriores.quem mesmo a morte•. Entreguem-se eles sucessivamente. bem como a seus próprios olhos. Um exemplo de "neurose" de caráter BOUVARD E PÉCUCHET Comumente tem-se maltratado muito estes dois personagens ridículos para os outros. sabemos que Flaubert passou os seis últimos anos de sua vida em um encarniçado labor de compilação.ressarem-se apenas por um aspecto bastante funcional e pragmático da realida. exceto da maliciosa aproximação verbal e sem perigo com a estátua de gesso do caramanchão. então? De dois pobres seres.cos latentes. De que se trata. da religião ou do espiritismo. da histó ria natural ou da medicina.tivas de aproximação sexual.quimia. da mesma forma. pára-raios -que-fazem-o-que .os "fal. além da autopunição.bico narcisista eficaz possível.vor da "neurose" de caráter. Segundo as hipóteses esquematizadas na figura 11. o víncu lo relaciona! com a realidade ju lgada persecutória e. o plano inacabado (de fato.. A negação do fracasso. encontra.no plano de um simples caráter por haver repe. não sej a por isto: se voltará à solução habilmente usada.se compensado por um idealismo ingênuo e sem limites. Mesmo o fracasso final assinala de forma admirável seu "neurotismo" caracte rial: após haverem representado. nem ao nível do simples "tronc o comum". tudo isto fa la a fa. Da mesma forma que a atividade febril. tanto em um como em outro dos dois "heróis. esta hipomania permanente que nega o fracasso constitui um verdadeiro sintoma sem sintoma de tais estados. eles desempenham reciprocamente o papel de único obj eto contrafó. para dar a si mesmo a ilusão de completude e segurança. o ego faz o que pode. O anaclitismo acha-se desenvolvido. não deixamos de assinalar acima as falhas narcísicas evidentes. Embora o romance não nos informe muito sobre a sua infância. O objeto auxiliar e funcional não consegue bastar nem pode ser aban. tanto em relação aos outros reativas incessantement e quanto. entre eles mesmos.do ein formações renovadas. e na justa medida das satisfações narcisistas para satisfazer-se em circuito anaclítico fechado.sos autônomos". A única relação proximal durável é a que se estabelece entre os dois. com meios autônomos insuficientes. limítrofe: a patologia "neurótica" de caráter.. torna-se um verdadeiro 244 . o id (bem inibido. Jamais se vê pesar um interdito verdadeiramente superegóico.lutamente no anaclitismo de renúncia e "imitação": tornam-se definitiva. apesar de tudo. Eles não eram nada antes de se encontrarem. pois não há depressão. ao mesmo tempo.donado. encontrarem-se incessantemente em fracasso nas suas aproximações junto a ela.podem" para manter.Não nos achamos. O pouco realismo em relação às coisas (dinheiro) ou obj etos (as pessoas da vila) acha . pois. com justa medida de autopunição para não inquietar narcisicamente os vizinhos. Sobrevém algum fantasma pseudogenital . o anaclitismo feminino não coloc a em risco a solidez do vínculo homossexual latente. a ausência de sofrimento. realmente.vos!) da obra de Flaubert mostra os nossos dois fantoches entrando reso.mente copistas. A defesa mediante novas "manias" e novas projeções.deve rão eles separar -se? Absolutamente . ainda mais: a mulher representa um perigo à integridade do ego financeiro ou corporal e uma afronta ao narcisismo. pelos petardos de cada fracasso) permanece fraco no plano manifesto. de início e essencialmente. ao longo de toda a obra. juntos tudo podem empreender.tição do fracasso. e por vários moti. incessantemente renovadas e repetidas. o ativismo desdobra.mo-nos em um ramo lateral solidamente ordenado a partir da economia . A "psicose" de caráter Em conseqüência a um jogo muito mais intensivo de fenômenos proj eti. a cindir dois aspectos afet ivamente investidos desta realidade: vivên.cias contraditó rias. nem ataque ao narcisismo do outro que pudesse fazer pensar em uma perversão do mesmo quadro. duplamente mantida à distância após esta operação.mento mental das "psicoses" de caráter. por outro. para encontrarmo-nos finalmente diante de uma falsa avaliação da realidade. por exemplo. a sucessão de fracassos não permite que se permaneça na simples linha do "caráter nar.mentos tocantes à "inquietante estranheza" proj etada sobre os outros. imitam o estatuto genital e erótico sem que consi. da realidade externa. separados em grat ificantes e perturbadores. com fantasmas sexuais de colegial ou de soldado do duque de Aumale. interna e externa. Em contrapartida.cose). que prati- 245 .da.dos" da relação erótica. A pouca gravidade dos danos objetais e reais permite-lhes permanecer no quadro "neurótico" desta patologia caracterial.se" de caráter. tal como se encontra em um comportamento psicótico de caráter.se. Trata-se evidentemente de uma linhagem caracterial fundada sob o primado do narcisismo.gam trazer-nos a mlnima prova de uma elaboração edipiana ou de um conflito triangular neurótico. em viagem por um país estrangeiro. Basta que se acentue o movimento complementar de superinvestimento das imagos clivadas como gratif icantes e desinvestimento das imagos clivadas como inquietantes do narcisismo. dos elementos da realidade. formações reativas e. por seu turno.ao contrário. Por mais banal que seja."sintoma" assintomático. pois. afogamento e aliciamento narcfsico-fálico de reações latentes já tão facilmente erotizadas.vos. não há deformação do real por clivagens. a uma dupla clivagem. a cada nova ocasião. o seu comportamento tragicômico e a repetição sistemática de tais comportamentos assinala uma "neurose" de caráter e não um "caráter". a "psico. as defesas caracteriais chegam.cisista".sentações constrangedoras acham . gratificantes por um lado e inquietantes. sobretudo. É o caso dos suj eitos que. e não do genital. Com efeito. já isola. perfeitamente típica do modo de funciona. Definitivamente assistimos. 2. As repre. Estes "fanfarrões desabusa. de clivagens das imagos objetais. embora em nada negue a realidade (o que. chega a cometer sérios erros na avaliação desta. Por outro lado. experimentam uma tal necessidade vital de reforçar seus investimentos narcisistas pessoais e uma tal necessidade complementar de desinvestir os ele. faz a psi. nesta variedade caracterial mórbida. imediatamente proj etadas ao exterior e tal proj eção visa mais especificamente a parte inquietante. após o fracasso anterior. artistas ou esc ritores. com efeito. mas na realidade. desde que o mecanismo funcione. as falhas da couraça caracterial do outro). Enquanto o mecanismo r. a negarem . buscando uma "verdade"' qualquer . O fracasso é rápido. também um consolo compensador do sentimento de haverem sido enganados. via de regra. cedendo o mecanismo. o "psicótico" de caráter consegue pôr em dúvida esta parte per.ão tiver sucesso. não focalizado (como uma parapsicose). sem que tenham compreendido o que realmente se passou no pla. É preciso um certo tempo e. do domfnio clivado objetalmente. é preciso que haja o "choque" deprimente de um grande trauma social ou de experiência coletiva agressiva contra eles ( grupo social. um grande domínio inconsciente dos elementos de clivagem e uma feliz proporção de traços sublinhatórios e reativos consigam dar conta por muito tempo ou permitam uma recuperação secundária. absorver as invectivas pul.dos serename nte. continua sendo um 246 . Os sucessos das "psicoses de caráter" mostram-se mais difíceis e me nos duráveis do que os das "neuroses" caracteriais. Para fazer t ais suj eitos vacilarem sobre as suas bases caracteriais pessoais até então tidas como "inabaláveis" ou "incorruptíveis".moronamento ameaçam o ego. o retraimento ou o des. mesmo que uma particular inteligência nas racionalizações. com uma fac ilidade inconcebível para o indivíduo "normal". nem afirmada no exterior.portáveis onde estão hospedados . políticos. objetos menos atingidos pessoalmente em seu narcisismo. é a famosa "armadura caracterial" que senta de forma particularmente feliz em certos tribunos. A cólera.cam uma clivagem das representaQÕes. se os elementos caracteriais não conseguirem. preservando todos os nfveis ainda em contato com a realidade banal e essencial. O mecanismo da "psicose" de caráter funciona como um delfrio mfnimo.mentos pertencentes ao setor positivo e não clivado do sujeito. Neste último. a personalidade não esta rá assentada interior. A "queda narcisista" final sobrevém sempre. sobretudo. ou grupos de sensibilização diversos. novamente temporária.sendo-lhes pedido que deixem o hotel antes do previsto.turbadora e clivada. leva os objetos. As formações reativas. um raro talento na audácia relaciona!. leves e bem racionalizados. Comumente coexistem algu ns sintomas verdadeiros.no dos obj etos externos e da su il manipulação de seus obj etos internos. por seu turno. ela faz incidir subitamente a luz sobre tudo aquilo que havia passado desapercebido como pertencente ao registro aberrante na const rução caracterial. levada ao ponto de t ornar em-se insu. sozinhos.mente. um dia ou outro: no inicio. para que estes elementos positivos possam de novo ser reconheci. provavelmente. O comportamento da "psicose" caracteria l como um todo assume um aspecto estritamente defensivo. porém discretos. o desprazer. quando se ac resce aí uma noção de valor.sionais: algumas fobias ou comportamentos obsessivos de cobertura .lhe todos os ele.clivagens e proj eções parecem ter importância vital para o "psicótico" de caráter: sua dinâmica é a do ser ou não ser. interno ou externo. Quanto ao resto. começam a aparecer as dificuldades sociais. ou sej a. Não se trata mais de uma diferença quantitativa. o personagem para muitos não passa de um monstro san.• Como pode acontecer que um individuo cuja vida foi tão breve. Durante mais de um século. bem ao contrário. inacesslvel à piedade. para marcar bem o seu valor de expressão sádica direta. sem passar pelo filtro de um ego organizado de forma 0bj etal e genital madura. e em um supere. Entretanto. aos poucos. depois. mas à sua própria persona.periência primitiva de frustração que se constitui a representação do objeto. Ela não conseguiu colocar-se como elemento constitutivo da realidade.ativo. não se conhece muitas ruas que atualmente tragam o nome de Robespierre. As pulsões sexuais são pouco ativas e mais inibidas quanto ao seu obj etivo do que reprimidas por um recalcamento sob a dependência do superego muito . Mais ainda. autores de opiniões diversas procuraram reabilitar o "monstro jacobino" e devolver-lhe um lugar de primeiro plano entre os personagens da Revolução Francesa. Entretanto. esta frus. tanto quanto a satisfação interna. O estatuto tópico das "psicoses" de caráter permanece centrado em um ego frágil. O estatuto mesmo dos fundamentos da representação da realidade difere radicalmente.ciente calor afetivo. as representações aceitáveis da "realidade" do pa..lidade. Um exemplo de "psicose" de caráter ROBESPIERRE Jules VALLES decla r ava que a humanidade havia conhecido apenas um grande homem depois de Jesus Cristo: Robespierre. é na ex.ciente devem achar -se obrigatoriamente amputadas de tais frustrações. o ideal do ego.gem ainda está longe de se dissipar . o nome de Robespierre não foi pronuncia. que contudo consegue manter -se por muito tempo. não concernindo tanto às suas idéias. Na gênese do ego do "psicótico" de caráter.Mas esta frustração deve permanecer moderada e situada em um contexto de amor materno do tipo objetai. como em todos os ramos dos ordenamentos "limltrofes". Em contrapartida.tração foi forte demais.güinário. muito poderoso.do senão com horror. seu caráter e sua estrutura? 247 .go muito pouco organizado. continue a suscitar julgamentos apaixonados e opostos. tão pública e tão bem transcrita. pelo ego pré-genital e pelo superego deficiente. e vivenciada em um contexto que não comportava sufi. à relação existente entre seus "sintomas". As tendências às descargas agressivas inesperadas são por vezes descritas sob a expressão ego-defect.componente da realidade. A impressão um tanto alucinante deixada pelo persona. Em contrapartida. mantém em estreita tirania tanto o ego quanto os objetos. que entregou à guilhotina todos os seus antigos amigos e tantos inocentes. as pulsões agressivas permanecem mal controladas . nia constitui uma negação deste. entra no colégio de Arras. morrendo logo após. na história. além de um trabalho intensivo. políticos ávidos ousa. doando sua pessoa ao pafs.riores penosas (e comumente miseráveis) em meio às quais se debatia e.lhar por seu labor e por uma necessidade de destacar-se dos demais. nasceu quatro meses após o casa.gada a um esforço de manipulação do obj eto. Por ocasião da convocação dos estados gerais.pestuoso.sista em Louis-le-Grand. Da mesma forma que o primeiro sonho de uma análise. marcado por uma vontade de bri. a grandiloqüência de suas pretensões ideais internas. Sua sinceridade desculpa a sua violência. nem sua infância. mergulha em deva. começando por declarar-se vftima. evidentemente. "Este jovem ir longe. devo seguir seu curso at que tenha feito o último sacriffcio que pos. 248 .sar todos os "tiranos" do mundo). Le Centaure. ao passo que a megaloma. é eleito deputado do terceiro estado e entra. Parece haver sempre uma sensível defasagem entre as realidades exte. diz dele muito cedo Mirabeau. enfim. a abertura de uma ópera ou a primeira conversa de dois amantes.Com efeito. dilapidando a sucessão familiar.der" bastante absoluto sobre a vida dos outros (do que não cessa de acu. onde seu caráter mostra-se detestável. Bol. o pai recusa-se a assistir às exéquias. criado pelos avós maternos. ei-lo. Primogênito dentre quatro filhos.sos aos quais meu posto me condenar . mas sou chamado a um destino tem.sa oferecer p tria1. era um psicopata notório. A mãe morreu de parto após cinco . nem seu nascimento. 1948. Em 1791. como tantos outros "homens do destino" (mais ou menos velhos. sua vida sexual. A grandiloqüência permanece li.gravidezes próximas. por outro lado. abandona os filhos e desaparece. suas amizades. sobretudo. Esta grandiloqüência não tem.mento de pais que não se entendiam muito bem.tisfeitos). Advogado em Arras. êmulo de Rousseau. seu discurso inicial neste cargo simbólico de acusador público contém o resumo premonitório de tudo o que irá se seguir: "Não encaro sem um certo pavor os trabalhos peno. de imediato. sua vida política. nada nele é banal. sofre por sentir-se "não como os demais" e.neios ou passeios solitários. as circunstâncias de sua queda e de sua morte. Paris. qualquer relação com a megalomania do tipo paranóico. aliás. civis ou militares. Maximiliano. suas posições metaffsicas. ele acredita em tudo o que diz". ocupa o tempo livre com literatura e filosofia. sua defesa diante dos ataques e nem." 1 Os extratos dos discursos de ROBESPIERRE citados aqui são tirados da edição dos Gta"dsorateursrepublicains. é nomeado "acusador público" no tribunal criminal do Sena: colocado na posição de "carrasco" (à qual o conduzem logicamente as suas disputas agressivas diante da opinião pública) e detentor de um "po. Membro do "Comitê de Salvação Pública".bates (Mirabeau. terrivelmente custoso e que se esgo. a angústia de perda do objeto alucinado como indispensável enquanto poderoso e amante leva Robes.mento defensivo impulsionar direto. em público.zação) toda e qualquer representação inadequada a uma fusão pré-deli. e quando é solicitado em seu domicilio por famílias suplicantes. a tensão torna -se forte demais. começa aceitando a presença do rei.premo dotado de todos os poderes. perder a altivez.gens paterna e materna) protetoras e gratificantes. angustiar-se. de sua própria ascensão compensatória. em um movimento complementar e simultâneo.rante (no sentido de uma neoconstrução irreal e asseguradora) das ima. não o dos irmãos padres (o Deus da Igreja). não participa no funciona- mento do tribunal revolucionário. em um perlodo tão perturbador. Acima de uma certa intensidade afetiva. vemo-lo oscilar. como no 8 ou 9 termi.ele pretendia terrivelmente ser amado mas. formações reativas. tudo então torna-se persecutório e. "ogrande obstáculo daqueles a quem deixou". projeções e identificações projetivas de caráter tão visivelmente autocentrado narcisicamente. Ele nada tem de perverso. diz MICHELET.clamar a sua morte. Desmoulins e seus amigos tornam-se o centro desta angústia. a rejeitar como má (nas trevas exteriores ou na fecali.lher. desde que ela ultrapasse o limiar do suportável pelo consciente. mostrar-se-ão intoleráveis ao próprio narcisismo. sua violência renasce prontamente: Hébert e seus partidários. de todas as bondades e virtudes. Tais clivagens. em um movi.berador. nem o dos irmãos revolucionários (a deusa "Razão"). ele não conseguirá resistir ao ritmo esgotante de uma "corrida" terrivelmente endiabrada. tudo parece acusá-lo de suas próprias origens infelizes. tergiversar. não esco.de". eu disse (11-1) que o individuo "normal" se reservava o direito de comportar-se de forma aparentemente aberrante em condições excepcio- 249 . A propósito de uma tentativa de delimitação da noção de "normalida. etc.tará rapidamente. nem mesmo de caracterial. Quando só diante de seus próprios problemas. mas que permaneceria estritamente o Ser Supremo de Robespierre.Ele mui rapidamente separa-se de seus companheiros dos primeiros com. por um lado.zável pelo ego.pierre. Seu narci. do organi. em contrapartida. Lameth. para depois re. Da mesma forma. Danton. o seu. Por outro lado.sismo de esfolado vivo suporta mal o face-a-face individual acusador . comumente lhe é difícil não assinar um bilhete li. desde que se sinta em oposição diante de um gru.) para tornar-se aos poucos. cria para si um vínculo igual. apesar dos encorajamentos excitadores de um ideal de ego sem medidas.po adverso.dor.mente subdelirante com a representação interna positiva de um Ser Su. de sua própria angústia e de sua própria agressividade interna. sempre bastante exaltado e ameaçado. Barnave. da manutenção em representações não demasiadamente clivadas da realidade. no Ser Supremo em sua transcendência. bem como o empobrecimento progressivo do ego. absolutamente. dada a importância da clivagem das imagos e a consecutiva amputação da realidade. aliás. nem um perverso: ele sofria verdadeiramente a situação em que se achava. processos primários já bastante liberados. que talvez tivessem evitado a posterior e inelutável perversificação bonapartista da situação. Chegava.nalmente "anormais". por outro lado. ou no exterior. e a necessidade de uma lógica aparente e inflexível. nem seguir com tão poucas nuances uma linha ideal demasiadamente utópica. mas sempre asseado e elegante) e genital (não se sabe de nenhuma amante. mediante excessos suplementares. comportarse de forma aparentemente "aberrante". Robespierre teria conseguido utilizar sua excepcional inteligência e incontestável incorruptibilidade não para atiçar. onipotente e imortal de seus fantasmas da primeira infância. mas tentar compreender o nlvel de funcionamento de tais processos mentais: os de Robespierre. Este homem não era um demagogo. mais tarde reativados pela leitura de Rousseau. vivenciada mais com a espada que com a balança). "o incorruptlvel" no plano libidinal oral (asceta). ao passo que. Não pretendemos. Se houvesse podido dispor de uma suficiente maturidade afetiva que lhe permitisse "amar". em virtude da ambivalência de suas provocações. Robespierre. logo. dá mostras de uma pobreza e rigidez afetivas mui comumente descritas que se traduzem em sua linguagem: jamais se encontraram em seus discursos outros impulsos senão sádicos (e suas conseqüêcias masoquistas). quanto na necessidade de certeza da exigência da Natureza virtuosa. julgar Robespierre (nem quem quer que sej a). As clivagens que alteram a realidade são encontradas tanto em sua necessidade de uma representação encarnada nele em seu rigor. anal (desprezando o dinheiro. boa e justa. em condições de realidade exterior efetivamente excepcionais teria precisado. excluídos por seus pais e manifestando visivelmente seu prazer em sujar os objetos atuais de projeção de seus próprios desejos de poder e de seus próprios movimentos persecutórios. Ele não podia senão fazer-se rejeitar pelos violentos de sua época. entram incontestavelmente na patologia caracterial. para ser reputado normal. somente de duas noivas puramente platônicas). não fazer "como todo mundo". suas projeções diretas ou identificatórias punham-no ao abrigo das representações inaceitáveis de suas pulsões agressivas. Este ponto de vista pode aplicar-se perfeitament e ao caso de Robespierre que. à força de cliva- 250 . sedentos do poder que para si fantasiavam. ao mesmo tempo mórbidos e assintomáticos. sofria sinceramente de seus atos e nada tinha destes pequenos tribunos de comitês diversos. em contrapartida inevitável. sob uma forma que parece ser nitidamente psicótica. em nome da cólera e da justiça (sendo esta última. mas para devolver alguma audiência ao princípio de realidade através de uma secundarização e elaboração. narcisicamente. praticamente toda a Assembléia diante da qual se apre. cumula estes mesmos objetos com suas projeções. "a parte do leão". nem poder. Ele jamais nega a realidade.. contudo. no plano de idealização. para que pudesse aproximar-se de uma estrutura paranóica. de forma eternamente repetitiva. Robespierre não estava organizado de forma suficientemente edipiana para ultrapassar o estágio do ideal de ego e chegar a uma organização su. embora desconcertantes pelo seu aspecto inconciliável••• através até de seus cronistas.do um tal processo defensivo. ambas perfeitamente autênticas . a comportar-se com os outros como se estes não mais existissem. ele precisa desencadear a inda. ateus. traidores. De outra parte.dadeiramente encontrar o outro sexo. em seu último discurso. 251 . contra-revolu.··· Após o que afirma saber "tamMm quais slío os deveres de um homem capaz de morrer defendendo a causa do género humanon. viciosos. mas não o seu ego. o qual fazia subir ao altar da pátria. criminosos. cúmplices de es n. apenas uma segurança inencontrável.. facciosos maquiav licos. agentes do estrangeiro. sua outra irmã Françoise (morta aos 22 anos). ainda em nossos dias. diante de seu próprio ideal de ego. Não podemos seguir R. forçava seus objetos a virem inclinar-se. ou seu irmão "Bonbon" (guilhotinado junto com ele).dalos. assassinos. que o leva a recomeçar incessantemente inesgotáveis e mais profundas clivagens do mundo.. novas cliva. pouco tempo depois.peregóica.sa e virtuosa). e bem depois de sua morte. de reunião de conspiradores. um psicótico da linha- gem clássica: seu ego não estava fragmentado. diva com violência as suas representações e não procura satisfação.res. Somente as suas representações objetais haviam sofrido notáveis deformações segun. Entretanto. cuja simples enumeração parece difícil de se acreditar: ele trata. os autores se ba- tem para defender uma ou outra de suas representações inconciliáveis e.cionários. ao mesmo tempo que tomava para si. inimigos do povo. perseguido. a 8 de junho de 1794. com efeito. d spotas. Robespierre permanecia demasiadamente ligado narcisicamente ao objeto anaclftico ideal e centrado em um ideal de ego antide. nenhum empate. LAFORGUE (1950) quando sustenta a hipótese de um superego demasiado severo em Robespierre. do rigor e da intransigência. Como sua irmã Charlotte (acrimonio. por outro lado. Robespierre não era. "o incorruptível" não admite meio-termo. Maximilien j amais conseguiu ver. ditadores. absolutamente. a tal ponto que. ou quando propõe um diagnóstico de paranóia.gens e projeções. tiranos.senta. nem clivado. tratantes. a 28 de julho.pressivo.gens imagóicas. sob o primado do genitai. ambiciosos. ocasião da festa do Ser Supremo. celerados e p rfidos. Por um lado. e achar que "a morte seja o começo da imortalidade".. aos sujeitos acometidos de perversidade. De outra parte. isto no seio de um ego simplesmente lacunar. não se trata senão de uma tentativa de salvação do narcisismo pessoal graças aos aportes do narcisismo dos outros. descrita a propósito das estruturas. no caso do perverso autêntico. Outro traço que aproxima a "perversão" de caráter da perversão verda. relativamente incompleto. com feito.jam centradas no sujeito mesmo. investimentos em direções que não este. intransigente. no plano sa. não à economia genital par. ao passo que na "perversão" de ca. ao passo que a perversão autêntica. Muitas vezes é diffcil distinguir estes pacientes dos caracteres paranóicos.O "perverso" de ca.mentos sexuais mais ao nfvel de epifenómenos.ráter mantém seus objetos em uma relação anaclftica tão estreita. também é preciso separar radicalmente os "perversos" de caráter dos "perversos" da perversão verdadeira. os simples "perversos" de caráter que nos interessam aqui. ao passo que. exclusivo em suas exigências afetivas : tudo deve ser pensado em função dele.ciais quanto aos componentes agressivos. existe já uma economia de fragmentação do ego e uma ruptura da relação com os outros. com superinvestimento compensatório do falo.erótica. mas à economia essencialmente narcisista.der do ego de evitar que as pulsões passem às ações. podendo encontrar ar "bolhas" genitais diversas (hétero ou homossexuais) puramente justapostas e não organizadoras. A existência e a natureza do vfnculo homossexual do "perverso" de caráter precisam ser igualmente definidas. diz respeito aos verdadeiros "perversos".domasoquista e narcisista.ráter trata-se essencialmente de componentes agressivos. como já foi dito. diante de uma regressão. Entretanto. Da mesma forma que nas outras doenças do caráter.ram uma negação do sexo da mulher. mas este aspecto homossexual passivo acha-se particularmente evidente e operacional no caso da "perversão" de caráter. quanto ao fraco po. no sentido habitual do termo. interesses próprios. Os outros destinam-se obrigatoriamente a completar o narcisismo falho do "per. a homossexualidade passiva jamais está ausente na parte conservada dos investimentos libidinais. Entretanto.verso" caracterial. Para o "perverso" de caráter.cial. no caso presente. A "perversão" de caráter A "perversão" de caráter corresponde.deira ê a ausência de sofrimento e culpa dos sujeitos. em realidade. ope. ê pre. Em ambos os casos. principalmente homossexuais 252 . às expensas de seu próprio narcisismo. quanto o perverso de perversão tem necessidade de conservar seu objeto homossexual em sua possessão.3. contentam-se em negar ao outro o direito de possuir seu próprio narcisismo. pois.e apenas dele.de concorrencial. Estes últimos. situando-se os ele. ao passo que os primeiros. possessivo.ciso atribuir esta falta tanto à pequena eficácia do superego. a atuação diz respeito tanto aos componentes genitais par. os objetos não podem possuir individualida. em toda estrutura paranóica. Achamo-nos. ou então heterossexuais de cobertura. em se. Ele assinala a posição nosológica intermediária de tais entidades clinicas. constituindo a sombra. mesqui.deixa a presa pela sombra. Há muito tem-se descrito os casos de "invtllidos morais". J. ou ainda o prazer de lhe mostrar que o "possuiu".sos clinicas encontrados em nossa categoria dos "perversos" de caráter. mas que igualmente poupam-no de "encarar a verdade de frente". DAVID (1972) en. pensa C. sempre em vias de falsificar a verdade mediante procedimentos pouco culpabilizantes. que corresponde bem ao nosso "perverso" de caráter: tensão agressiva. a imagem virtual e in. renitência. As defesas clássicas também estão ausentes em tais sujeitos. perfldia. Isto seria.trojetada desempenharia um papel mais gratificante que o objeto mesmo em sua realidade." A inibição da pulsão quanto ao objeti· vo substituiria o recalcamento da neurose clássica. obstinação. DAVID. à dor pessoal. quer uma forma de tomar o poder sobre ele. dando origem a verdadeiras forças anti-sexuais dissociativas.quer referência interditara introjetada e cujos comportamentos agressivos si. pouco importantes. aliás. cinismo. violência. sobre a "loucura dos degenerados".gundo lugar.fatiza o embasamento depressivo de tais comportamentos e a importância do ideal de ego. para o autor. A. Tratar-se-ia.toma procuraria dominar uma situação fantasmática perigosa.. A literatura.. a verdadeira presa. ao apego. sobre a "mania sem dellrio". sobre a "moral insanity". que não têm qual. sobre a "monomania instintiva". rebelião. indisciplina. impulsividade. ARLOW assinala va. vingatividade. traição. ARLOW (1969) salientou dois aspectos peculiares às perversões de caráter: o aspecto não realista dos comportamentos (estes pacientes arranjam-se para ignorar as situações desvantajosas. EY. acima de tudo.dores".tuam-se ao nivel da expressão direta da pulsão.nhez. entre neurose e psicose. bem como à dos outros. de ESGUIROL (1838). Em um recente trabalho sobre a "perversão" afetiva. •o 'perverso' afetivo.riedades particulares de "perversos" de caráter: os "farsantes" e os "mistifica.fetividade. Nos sujeitos deste tipo. do que de investimentos genitais autênticos. insensibilidade ao amor. ao respeito. irritabilidade. de MORE L (1857). que alimentariam a tendência autocentrada e a 253 . de PRICHARD (1835). BERNARD e BRISSET (1967) descreveram uma clfnica da "impulsividade perversa". ina. da mesma forma que os "desequilibrados" de MAGNAN (1893). de evitar. uma tendência às mentiras. ou dos autores germânicos. inadaptabilidade. assim como a organização habitual de um su. vão no mesmo sentido. amoralidade. a emergência dos fantasmas inconscientes. enquanto os fóbicos as evitam) e. sobre as "moralidades Krankheiten". a "perversão" de caráter. para ele. a lista dos traços assim expostos parece inesgotável e ir sempre no sentido dos ca.passivos. hipocrisia .perego pós-edipiano. rancor. quer uma necessidade de criar angústia no outro. Os trabalhos de PINEL (1809). da mesma forma que o sin. C. ressentimento. a história e as gazetas dos tribunais estão cheios de exemplos deste tipo e numerosas pessoas descritas como "psicopatas" eorrespondem a uma verdadeira organização "perversa" do caráter. KESPEAR E não pode comparar-se ao do personagem de CINTHIO. justamente no registro da pato. no Hecatommithi de Gi. uma espécie de "fetichismo sem fetiche". sendo também. totalmente impregnado de voluptuosidade inconfessa e de espanto altamente proclamado. fineza no traço. não sem motivos. en. fáliconarcisista diante do conjunto dos objetos e. Ver-se-ia aparecer. Por vezes acreditou-se. no limite do consciente e do pré-consciente do espectador. tudo será diferente: de todos os heróis diabólicos de SHAKESPEARE (e Deus sabe que existem muitos). dentre os "gênios maus" do autor. apagado. Na obra de SHAKESPEARE. assim. Se não tivéssemos em conta (escotomização freqüente em numerosos comentadores) este motor. Em sua novela. vivo e hábil.quanto que o segundo manifestava o clássico ciúme amoroso. por um lado. comuns a todos os humanos que não podem ser reconhecidos por eles senão em um meio-tom projetivo. poder reduzir o drama de SHAKESPEARE a um concerto homossexual entre Othello e lago. agressivo e ambicioso. lago mostra-se ao mesmo tempo cfnico. Neste caso. mas que pensamos poder atualmente explicar com um pouco mais de precisão. uma fascinante alegoria das pulsões 254 . precisão em suas linhas caracteriais de força. pondo em questão não um estatuto pessoal genital. ele estaria acometido da famosa "perversidade constitucional' tão cara aos antigos psiquiatras e legistas e julgada racionalmente incompreensfvel na época. e com maior cuidado. um movimento de fetichismo interno.raldi CINTHIO.auto-afetação. embora talvez erroneamente. Um exemplo de "perversão" de caráter lAGO Parece inicialmente interessante notar que SHAKESPEARE inspirou-se. e não Othello. mas igualmente ciumento: entretanto o ciúme de la o de SHA. CINTHIO nos traça um retrato acima de tudo "neurótico' de um lago descrito como loucamente apaixonado por Desdêmona. em uma novela surgida em 1565.contestavelmente apresentado como o mais sutilmente pérfido. mas uma posição. Haveria. o que melhor se acha pintado.logia do caráter. são os seus ciúmes sexuais em relação a Othello que consti. Alguns chegaram mesmo a sugerir que o titulo da peça seria mais oportunamente lago.tuem a trama do drama. o primeiro limita-se a um ciúme narcisista fundamental. homossexual em relação aos objetos particulares representativos do poder. por outro. para seu Othe/lo. lago não teria motivo algum para ações tão negras. O gênio de SHAKESPEARE consiste em pintar. tanto a estranheza in. muitas formas inaparentes de ser "perverso"••. sutil mas poderoso ao nlvel narcisista. lago é in.quietante do personagem marca a ação com traços obscuros. em suma. no contexto homosse. não negando em nada a realidade. na indiferença diante do superego interiorizado. ao ódio ao obj eto. esta ação corrosiva e sorrateira das pulsões de morte parece tanto mais voltada à eficácia. não representa. desde a nossa mais tenra infância. operatórios e calcu. para fins estritamente egoístas. espontâneo e vulnerável em suas trocas com objetos sexua.nifesto. pelo contrário.tro componente heterogêneo: seu sangue mouro relembra a hereditarie. sem ou. generoso. e do narcisismo do outro. desintricadas de seus habituais com.lados. nem temor à castração. funcionais. raízes narclsico-sádicas não menos pré-históricas.dade do id que fervilha por debaixo de seu "nobre" comportamento ma. frio.minina e de reverter as defesas anti-pré-genitais do "selvagem civilizado" subj acente. nem traços defensivos de um Édipo. é incapaz de nuances e de mudanças. lago é o ácido que se desprendeu de nossas experiências narcisistas primárias fracassadas.. que o próprio Othello nada tem de um caráter constituldo unicamente de ternura idealizada e adocicada. tanto o "perverso" de caráter. nossas ·articulações objetais mais since. de todos aqueles que não permaneceram. ao mesmo tempo. clnico e constante em seu "autis. sentimental. tudo aí é narcisicamente grandioso. nem desgosto.lizados não onipotentes. EITI lago não há culpa. no contexto do Édipo. mas uma voz secreta (ao nível mais ar. apaixonado. um Othello.. nem vergonha. tivemos de fazer ao narcisismo de nossos irmãos ou irmãs enquanto rivais? Quanto poder no mal! fazem-nos exclamar nossas instâncias ideais. culpabilizados ou genitalizados. e um lago. Para quem dentre nós lago. o de despertar em nós "o lago que dormita" ao nível mais elementarmente narcisista.caico da constituição de nosso "não-outro") nos murmura que lago não conheceu nem medo. afora seus aspectos profundamente letais (e para além mesmo de sua inevitável conduta de fracasso). lago é a avidez fundamental. Da mesma forma. ao ódio à mulher. que se infiltra nas falhas de nossas relações objetais e af rói.basamento. lago não varia em nada. imagem muito mais carregada afetivamente. Do início ao fim da peça.ponentes sociais suavizantes. embora menos suportável à luz do dia. mas utilizando-a. O espectador é. também.xual. lago terá boa oportunidade de fecalizar a imprecisa e límpida figura fe. e a gente não. a "invej a" no sentido kleiniano do termo: trata-se de procurar recuperar para si o que os outros obtiveram.mo narcisista". no context o fusional. esta avidez fundamental arcaica servirá de em. Pois é justamente ali que está o mais "perverso" do personagem no pla.ramente amorosas. lenta. mas seguramente. ainda que suavizado. em nos- 255 . permanecem inalteradas em nós no plano pulsional. como todo "perverso". o vingador "destemido e irrepreensfvel" de todas as concessões que.narcisistas e sádicas em estado puro. ao ódio ao pai (parent) do mesmo sexo.no caracterial. É exatamente esta dupla ambigüidade puramente fantasmática e sem atuação satisfatória que caracteriza a "perversão" de caráter . A propósito de Desdêmona: "Eu tamMm a amo.. jamais exigindo a aprovação do consciente.necessários para mascarar o movimento de aproximação passiva e latente em relação aos homens: lago não quer suplantar Othello. porém direto demais. mas não por luxt. A arte sugestiva de SHAKESPEARE encanta o espectador e manipula-o habilmente. o de Cassio. A ambivalência narcisista de lago desencadeia movimentos agressivos e manracos de superffcie . 256 . terminando em uma amarga fecalização moral. todavia pensando em Desdêmona. Da mesma forma empresta. deseja violentamente conservar apenas o segundo lugar junto a ele. na medida em que limita-se a uma evocação ao mesmo tempo segura e discreta. pela necessidade de alimentar minha vingança (contra Othello). ou pelo menos antes que eu tenha instilado no Mouro um cit.sa iconografia defensivo-agressiva. antes pelo contrário. a sua própria esposa a Othello no primeiro ato. mas arrastando a cumplicidade dos movimentos afetivos e projetivos pré-conscientes. e a Cassio no segundo. o que teria sido mais simples. Um momento igualmente muito caracterfstico de toda ambivalência afetiva e projetiva devoradora do personagem mostra-nos lago imaginando. a propósito de Cássio: "Apanharei Cássio pelo flanco" ou diretamente a propósito de Othello: "Abusarei do Mouro da forma mais grosseira. que se situam tão próximos da realização alucinatór ia do desejo .Jme tão forte que a razão não mais o possa curar" ( li. para perturbar Othello. logo. igualmente. Da mesma forma que o homossexual perverso "macaqueia" a mulher e a ridiculariza em ?eus próprios comportamentos.. por detrás de uma figura masculina poderosa. "quase psicóticas". por certo. pois. como um veneno. mas seguramente também o de Desdêmona. "simplesmente selvagens". mas aqui de infcio sob o primado do narc!sismo. mostrando-se. ou. Estas duas aproximações apresentam-se como quase delirantes em sua evidente irrealidade. em fantasmas. 1). assim como nas estrofes de Mefisto diante de Margarida e Fausto. esposa por esposa (sic). me rói interiormente e minha alma não poderá ficar tranqüila antes de estarmos quites. os versos de lago começam por um aparente galanteio no estilo do cumprimento cortês mais clássico. mas encontram-se igualmente focalizadas em um problema aparentemente sexual e aparentemente feminino. o "perverso" de caráter ridiculariza a feminilidade mediante a projeção de seus próprios traços de caráter agressivos sobre as representações femininas. Ele precisa ser o segundo em toda parte. A homossexualidade latente de lago surge-nos a todo momento."(sic).. pois desconfio que o Moúro lascivo tenha sujado a minha casa. Quer seja Emflia ou Desdêmona. Este pensamento. as mulheres não são consideradas por lago senão como um meio de encontrar sexualmente o homem...Jria. "quase perverso". uma cena em que Cassio o teria beijado durante uma noite passada em seu próprio leito. ção de formações estruturais de base.contradas. não têm absolutamente a pretensão de chegar a incluir tudo. mas buscando compreender quais são as li· gações tópicas. descritiva ou teórica qualquer. menos ainda. possível dar conta.tais. pois. ta nto caracterológicos quant o psiquiátricos. sem bases estruturais definidas de forma suf icient d:ncn•e clara. a partir desta no. para diferenciar e articular entre si os dados psiquicos fundamen. sej am elas patológicas ou não. Parece-me. profundos e constantes. quando se reserva esta denominação a fatores muit precisos. a partir de uma abordagem estru. Meu propósito consistiu.tural latente. englobando a maioria das entidades clinicas en. Muitos ensaios nosológic os 257 . Os esquemas diretores aqui propostos. em tentar divisar um caminho metapsicológico de conjunto. tudo explicar. tudo classificar e.ticulação flexfvel mas suficientemente constante entre todas estas variedades originais. a multiplicidade dos arranjos que o clfnico é levado a encontrar e desemaranhar ao nível da mul. um certo número de dados. A primeira conclusão a que cheguei é a de que existe um número muito limitado de estruturas de base. bem como articular entre si. não nos contentando em classificá-las em grupos e subgr upos arbitrários.Conclusão Parece bastante utópico acreditar que algum dia se estará à altura de es.tiplicidade de elementos constitutivos dos processos mentais.gotar em uma slntese nosológica. sum por isto recair em uma classificação simplesmente psicopatológica. econômicas e dinâmicas que possam assegurar um modo de ar. A maior parte dos estudos cancterológicos antigos atém-se a descrições comumente felizes. mas habitualment e fragmentárias e superficiais. acima de tudo. ção de objeto e sua distância. 258 . O critério de "normalidade" permanece. A hipótese de trabalho que aqui desenvolvi pressupõe que toda organização estrutural da personalidade pode traduzir-se na vida relaciona!. sem limitação. constituindo a aresta que separa as duas vertentes anteriores. Quanto aos ensaios de comunicação entre os sistemas caracterológicos e psi. natureza do modo de angústia profunda. primado de tal grupo de mecanismos de defesa. tanto não- mórbidas quanto mórbidas. estes mais comumente levaram a um predomínio do determinante mórbido. paranóica e maníaco-depressiva (incluindo a variedade melancólica) do lado da linhagem psicótica. de acordo com a opinião de numerosos autores contemporâneos.: ação em grupos de sintomas e síndromes. situar uma organização intermediária.ca não poderiam comunicar-se entre si senão ao nível dn grande crise da adolescência.em psiquiatria limitam-se a uma sep.quiátricos. Meu esforço de reflexão resulta de vinte e cinco anos de prática psicológica e psicopatológica em graus diversos. em caso de desadaptação e doença.. variedade do e conseqüências dos conflitos internos ou externos. nível e secundário. grau de evolução e elaboração libidinal. para mim. ligado ao grau de adaptação às realidades internas e externas do sujeito. uma patologia depressiva. que não apresentaria nem a solidez.fluência recfproca dos processos primário vínculo com a realidade. e de nove anos de investigações acerca do problema das estruturas de base ou de suas manifestações visíveis. Uma estrutura de base define-se pela solidez. não me pareceu possível dis.liar entre princfpio do prazer principio de realidade. com suas variedades categoriais intrín. forma pela qual são tratadas as expressões e representações pulsionais. as linhagens neurótica ou psicóti. pela permanência e relativa fixidez dos mecanismos mentais essenciais: modo de constituição do ego. por seu turno.mina de "border-lines" ou "estados limftrofes" ("états limites"). Entre estas duas linhagens estruturais de base. etc. em tempo "normal". dialética pecu.secas: as variedades esquizofrênica. parece conforme à prática clinica. psicótica ou psicossomática. no estado normal de adaptação.ca. quanto sob a forma de sintomas. É o que habitualmente se deno. mas corresponderia a um simples ordenamento narcisista desconfortável. neurótica e psicótica. nem a fixidez das estruturas clássicas da personalidade. Os comportamentos fóbicos podem ser encontrados. in. as variedades obsessiva e histéricã (de angústia ou de conversão). no seio de qualquer organização estrutural de base.tâncias ideais e interditaras. Tal linhagem pode perfeitamente descompensar-se nas direções neuróti. estatuto dos sonhos e dos fantasmas. tipo de rela.tinguir uma categoria est rutural especificamente fóbica . papel das ins. suportado mediante custosas formações reativas dando. sentido do equilibrio entre investimentos narcisistas e objetais. Tais exigências no estabelecimento de um diagnóstico estrutural da perso- e nalidade de base levou-me a limitar a denominação de "estr utura" unicamente às duas linhagens. tanto sob a forma de elementos de caráter. a aparência de uma "hipernormalidade" e. em caso de falência. e do lado da linhagem neurótica. Segundo as hipóteses emitidas neste trabalho. apresentar-se em estado puro aos olhares ou às investigações do observador. aos poucos.tisfazer o psiquiatra. aos caracteres e à nosologia psiquiátrica. para ser percebida por outro sujeit o situado no exterior dela mesma. as.mente. uma síntese cada vez mais pa- 259 . de seus contornos e desvios. pensei poder elaborar. permanece. estas classificações permaneciam ao nível manifesto e superficial. por outro lado. não corresponde senão a uma reunião e interação redproca de mecanismos psíquicos mais ou menos fáceis de detectar de forma isolada.versos lados. se esta estrutura funcionar de forma inadaptada. procurei evitar a desagradável tentação de misturar demais os dados de cada uma destas três faces querendo chegar a um compromisso. em virtude de sua situação habitualmente mal definida. Convicto da importância dos três pólos inseparáveis.zações mentais de base. Cada caracterlstica estrutural nasce. caracterologia e psiquiatria. contudo.po dos caracteres e das estruturas da personalidade.rios concernentes às estruturas da personalidade. Foi nesta confrontação que me apoiei como ponto de partida. referentes a numerosos aspectos novos e fragmentá. Na medida em que as classificações não podiam dar conta ao mesmo tem. de maneira alguma. das sfndromes e dos sintomas. de suas divisões e cone.lhos de todas as origens. regride e progride. toda caracteriza ção irreversfvel entre vertente mórbida e não-mórbida mostra-se apropriada a sa. sem atingirem o plano metapsicológico latente e profundo. os hábitos bastante fixistas de catalogar não eram exploráveis senão em seus aspectos descritivos. se esta estrutura funcionar de forma adaptada. no registro do ca. vive. Uma organização estrutural de base. Da mesma forma. Ela deve. conserva o direito tanto ao sucesso quanto ao fracasso. cujas duas faces acham-se situadas. sobre os quais estendi-me particular. representados pela estrutura da personalidade. a linhagem intermediária poderia igualmente dar origem a ordenamentos mais estáveis. evidente. no registro das doenças. tal como está delimitada nas presentes hipóteses. Embora as observações psicopatológicas mostrem-se muito úteis para guiar a marcha do psicólogo ao longo de sua busca do fio condutor das organi. que esta marcha não pode parar apenas nos aspectos mórbidos daquilo que é constatado. por um lado. dos quais unicamente o conjunto constitui o aspecto estrutural vivo da personalidade. custasse o que custasse. à luz do pensamento psicanalftico.texto puramente médico. hesita.ráter e dos traços de caráter e. pelo caráter e pela eventual sintomatologia. É nesta encruzilhada que parece realizável uma unidade de diálogo entre psicologia clínica.ções diretas ou indiretas. a comparar minhas próprias constatações com traba.sumir um aspecto "operacional" e relaciona I. seja qual for o seu estatuto intrínseco. mas não autoriza qualquer síntese que ultrapasse o con. na medida em que tal ou tal elemento parecia receber uma verificação clínica de di. ordenamentos perversos ou ordenamentos caracteriais. Uma organização estrutural de base não pode. tanto pelo lado da caracterologia quanto da psicopatologia. Inicialmente. pus-me a reunir uma variedade bastante grande de observa.xões. se desenvolve. e para os ordenamentos de caráter por outro. fig. as possibilidades de comunicação entre as duas grandes linhagens estruturais de base.cência. segundo a última ótica freudiana.ceram-me. É aqui que se dispõe a concepção da flutuabilidade dos estados limítrofes. Meu procedimento metodológico corresponde. por outro lado.tada pelos dois pólos. unicamente por ocasião da adoles. a estas descrições manifestas. edipiana e neurótica). ele pressupõe. com todas as suas nuances. no mesmo sentido.. trazendo. contentar-me em apre. muitas vezes faltou-lhes até aqui. mas so. de minhas próprias observações e reflexões.nidas anteriormente.tativo. Todas estas bases estruturais. que constituem. partindo do vértice estrutural para chegar à base relaciona! limi. 260 . por fim. por fim. um respeito rigoroso e indispensável à imensa variedade de entidades originais que possam evoluir sobre esta base conceptual. maior será o ângulo do vértice estrutural. ao mesmo tempo.norâmica. quanto mais elaborado for o modo de organização psíquica (em direção à maturação libidinal. genital. de sua posição intermediária. uma "espinha dorsal" concebida como lugar de encontro dos pontos de vista genético e metapsicológico. tentando esclarecer melhor as conexões íntimas contidas no interior de um campo trian. poder dar conta tanto dos funcionamentos relacionais ca.dades relativas. Meu propósito permaneceu centrado em um objetivo sintético.racteriais quanto das evoluções patológicas mais ou menos avançadas. assim definidas e articuladas entre si. porém de modo mais esparso. ao contrário. à idéia de uma base estrutural constante. por um lado. a luta entre pulsões de vida e pulsões de morte. mobili. uma espécie de árvore genealógica das estruturas e de seu destino. Considerei. oscilações entre manifestações relacionais sintomáticas ou caracteriais.sentar um simples quadro. hipóteses novas que permitissem apagar um pouco as soluções de continuidade que per. bastante simples e fixa.sistiam entre as diversas posições teóricas. pare. depois as passagens dos estados limítrofes para as linhagens psicótica. em meu entender. uma dimensão estrutural e uma profundidade la. esforcei-me por interligar os elos clínicos e teóricos experimentados como sólidos entre os especialistas destes problemas parciais. Restava ainda tirar. Poder-se-ia considerar o conjunto de meu sistema como demasiado limi. neurótica ou psicossomática. caracterial e mórbido.bretudo aos níveis genético.mo a concebe o bom senso ou.gular isósceles. dito de outra forma.. é sobre estes eixos conceptuais elementares que proponho prender todas as entidades caracteriais ou nosológicas bem defi. Pareceu-me. penso. clínico e metapsicológico. estreito e pré-determinado. não apenas do ponto de vista nosológico. que a evolução para a organização perversa. não podiam ser concebidos senão a partir de uma economia narcisista e anaclítica de tipo "limítrofe". e maior também a base relaciona! (cf.tente que. por um lado. ao final das contas. variações adaptativas. 12). Pode-se imaginar que. a vida tal co. a partir de um certo grau e de um certo momento da evolução afetiva. figura 13). ao contrário.Estrutura da personalidade base relaciona! caráter sintomas FIGURA 12: Esquema da área relaciona! neurótica ao passo que. os sintomas mostrar-se-ão muito mais próximos do caráter. a margem de segu. o ângulo do vértice estrutural se mostrará.rança e a separação funcional entre os dois pólos da bas e relaciona I diminuirão. mais agudo. e a base relaciona! se restringirá consideravelmente. Estrutura da personalidade caráter sintomas FIGURA 13: Esquema da área relaciona! psicótica. 261 . na medida em que a estrutura for na direção do ego organizado de forma psicótica (cf. tante simples.mlnios de modo algum me escapa. Minha ambição é a de suscitar trocas de pontos de vista fec undos e novas investigações em direções que muitas vezes apenas pude tratar superficialmen.te.ção com os psiquistas de crianças. em particular. Algumas das minhas hipóteses talvez devam ser modificadas ou abando . para com os quais nem sempre mostrei-me muito benevolente durante este trabalho.gorias de especialistas acham-se.tanto quanto seria desejável. por falta de tempo. de meios ou de idéias pessoais suficientemente nítidas. notavelment e diversificadas. a importância de minhas lacunas em muitos do.Contentei-me em definir de forma bastante esquemática os marcos estru. Acho indispensável um diálogo mais profundo e direto entre psiquistas de crianças e de adultos.nadas em conseqüência disto. pois estas duas cate. de desenvolver mais as minhas pesquisas em rela. de fato. sem que· consigam encontrar-se freqüentemente . Gostar ia.turais e caracteriais essenciais e esforcei-me por dizer as coisas em termos bas. 262 . 462·464. Verfag. Paris. MARTY J. in Psychoanalytische Studien zur charackterbil dung. BARANDE et S.F. Encéphale. 11-42.U.J. I. 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Paris.Etude de la premiere not-me possession. 1969. • • • • • • • • • • • • .. • • • • .... • • • .......... • • • .... • 134 Quadro comparativo entre as linhagens estruturais • • • • • • • • ....... • • • • • • .... • • • • • • • • • • ..... • • • • ... • • • • 261 283 .... .. . ... • . 184 Esquem a de funcionam ento da economia estrutural clássica • • • • • ..... • ... ............ 237 Esquem a de funcionamento da econom ia de um a organização limltrofe • • • • • • • • ..• • • • ·• ............... .. 238 Esquema da área relaciona! neurótica • • • • • • • • .. • .. • • 71 Quadro sintético das estruturas psicóticas • • • • .... 69 Gênese e evolução da linhagem estrutural psicótica • • • • • • • • ..ura n!! 11 Figura n!! 12 Figura n!! 13 Esquem a geral da psicogênese • • • • • • • • • • • • .. • • 135 Slntese da gênese e evolução das linhagens estruturais • • • • • • • ...... 148 Interação dos elem entos caracteriais com ponto de partida anal .. .. • .... ..... • • • • • • • • .. .....Índice das figuras Figura n!! 1 Figura n!! 2 Figura n!! 3 Figura n!! 4 Figura n!! 5 Figura n!! 6 Figura n!! 7 Figura n!! 8 Figura n!! 9 Figura n!! 10 Fig.. ..... 117 Gênese do tronco comum dos estados limltrofes ...... • • • • 85 Gênese e evolução da linhagem estrutural neurótica • • • • • • • • • • 102 Quadro sintético das estruturas neuróticas • • • • ..... 261 Esquema da área relaciona! psicótica • • .. • • • • • • ... • • • • • . 254 285 . • • • . • • • • • • . • • • • . • • • • • . 247 Uma "perversão" de caráter. • • • • 121 Um caso de fobia neurótica • • . • • 194 Uma "neurose" de caráter • • • • • • • • • • • . . • • • • • • 22 Um caso de descompensação . • • • 90 Um caso de parapsicose • • . • • • . • • • • • • • • • • • • • • . • .Índice das observações Observação n!! Observação n!! 2 Observação n!! 3 Observação n!! 4 Observação n!! 5 Observação n!! 6 Observação n!! 7 Observação n!! 8 Observação n!! 9 Observação n!! 1O Observação n!! 11 Observação n!! 12 Observação n!! 13 Observação n!! 14 Observação n!! 15 Observação n!! 16 Observação n!! 17 Observação n!! 18 Um caso de "normalidade" • • • . • • • • • • • • • • . 146 Um caso de caráter obsessivo • • • • • • . • • • • • • . • • . • 180 Um caso de caráter paranóico. • • • . • 88 Um caso de pós-psicose ••••••••• . • • • • • 92 Um caso de neurose pseudopsicótica • • • . . • • • • • • • • • . • • • . • • . • . • • 96 Um caso de fobia psicótica • • . 94 Um caso de psicose pseudoneurótica . • • • • • • • 243 Uma "psicose" de caráter • . • . • • • • . . • . • • 33 Um caso de pré-psicose • . 179 Um caso de caráter narcisista • • • . • • . . • • • • . • • . • • . . • • . • • • 123 Um caso de descompensação psicótica de um estado limltrofe. • • • • • • • . 29 Um caso de "pseudono rmalidade" . • • • • • • .. . • • • • • • . • • • . • • • • • . • • • • • • • • • • • . • . • . • • • • • • . • • • . . . • • • • 122 Um caso de fobia anaclftica • • • • • . • • • . . • . • • . • . • • • . . • • . • • • • • • . • . • • • . . • . . • • • • . • • . • • . 16. 109. 182.neurótico. 207. 199 . 104. 72. -histérico de conversão. 140. 77. 165. 100. 189.genital. 229. .202. Alérgico. . 162.psicótico. Caracterolog ia. 229. 206. 74. Caracterial. 159. 245. 110. 73. 67. Adolescência. 169. 205. 143. . 182.histerofóbico. 116. 153. Anal. c Ca ráter. 229. 130. Cena p rim ária. 170. 203. -histérico. 187. 231. 186. Cl austrofobia. 110. 52. 131. 185. 115. 70.de destinado. 176. . 154. 191. 181. 191. 239. 197. 143. 116. 170. 175. 173. Antropologia.psicossomático. Auto-eróti co. 68. 194.perverso. 128.fálico. 72. 151. 136. . 143. 213.Índice remissivo A Aban dono. Alucinação. 120. 141. 199 . -narcisista. 73. 227. Castra ção. . Anulação. 222 Adaptação.depressivo. 240. 115. 25. 38. 177. 170. 183. 178.esquizofrênico. 177. . Angústia. 66 Autismo. 9. 229 . 186. 221. 236. 100. 190. 172. 86. Afetivo. 127. 201. Agressividade. -psi castênico. 62. 28. 72. 238.psicopát ico. 68. 193. 37. 202. 184. 100. 219. 84. 198. 11. 101. Clivagem. 46. 167. 52.epilético. 35. 115. . 32. 200 -fóbico :narcisista. 18. 260. 110. 287 . 204. 178. . 174. 172. -paranóico. 238. 44. 168. 50. Comunicação. 209. 161. . 64. 37. 136. 194. 221. 176.enxaquecoso.hipocondrfaco. 101. 187. 105. 130. 61. Ambivalência. 226. Anaclitismo. 79. 169. 178. . . Compromisso. 201. .hipomanlaco. 23. 101. 165. 57. 185. Associacionismo. 182.obsessivo. 170. 221. 162. 171. 261. 189. 46. 174. 256. 110. 62. 169. 163. 115. 210. 47. Correlação. 51. 126. 111. 81. 192. 173. 1G'3. Dependência. 235. 217. 139. Episódio. 188. 56. 213. 50. 223. 61. 141. 57. Falo. 228. D Defesa. 111. 101. G Genital. 168. 73. Estados limltrofes. 99. 174. 222. Descompensação. 143. 183. Fracasso. 288 Esquizofrenia. 115. 2. 47. 116. Fobia psicótica. 78. Falso self. 113. 101. 15. 126. 47. 146. 80. 61. . 32. 203. 16. 246. Desarmonia evolutiva. 68. 173. 141. 163. 114. . 152. 77. 111. 107. Divided line. Forclusão. 175. 232. 174. 37. 70. Depressão. 106. 46. 26. 239. 170. Estruturalismo. 75. 188. Culpa. 185. 126. 160. 242. 80. Dinheiro. 159. 142. 38. 25. 105. 262. 193. 212. 80. -oral. 78. 139. 185. 141. 58. Desgosto. 157. 78. 121. 113. 52. Desdobramento do ego. 223. 214. 78. 79. 80. 138. 151. 115. 161. 129. 119. 105. 213. 50. 126. 160. 226. 142. Despersonalização. 138. 188. 112. 258. F Fálico. 213. 113. 261. 211. 122. Constitucional. 234. 84. 109. 18. 137. 83. 74. 47. 225. 259. 108. Fisiologia. 87. 116. 245. 126. 152. 81. 38. 152. 129. 48. 61. Esquizo-paranóico. 178. 152. 176. 235. 213. 72. 113. 119. Erotização. 72. 27. 47. 47. Fatichismo. 153. 70. 116. 53. 258. 217. 213. 72. 101. 161. 47. 131. Demência.Condensação. Desordem. 68. 120. Fantasma . 84. 118.anal. . 261. Erotismo. Econômico. 39. 100. H H ereditariedade. 151. 47.precoce. Esquema corporal. 178. 49. Evitação. 48. 157. Formação reativa. 100. 24. 83. Epilepsia. Esquizonóia. 197. 115. 190. Desrealização. 188. 146. Funcionamento mental. 52. 105. 154. Fóbico. 119. 110. 182. Frustração. 75. 109. Gesta lt. 28. 60. 128. 176. Doença. 187. 15. 130. Grupo. 206. 266. 242. 76. 11. 258. 183. 211. 170. 23• 239. 130. 59. 137. 113. 234. 189. 201. 70. 111. 115. Estágio oral. Contra-investimento. 104. 84. 137. 57. 143. Elaboração. Fragmentação. 59. Dissolução. 42. 62. 59. Estrutura. Hipocondria. 113. 228. 127. 84. 222. 245. Dellrio. 279. 32. 46. 201. 227. 200. 113. E Economia. 267. 164. 226. 196. 112. 28. 151. Deslocamento. Estágio anal. Esqu izozes. 197. Farida narcisista. Conflito. Esquizotimia. 217. 206. Édipo. 75. 84. Esquizóide. Conversão. Fobia neurótica. 137. Constituição. 62. 77. 103. Ego. 115. 126. 39. 39. 76. 239. 118. 101. 60. 34. 104. 140. 261. Ordenamento. 67. 130. 101. 54. 232. L Latência. 171. 228. ld. Mecan i smos de defesa. 170. 31. 230. 150. 159. 53. 83. 210. 149. 103. 100. 222. 137. 133. 126. 53. 175. Neurótico. 246. Neurose. 67. . 36. 131. 107. -traumática. 112. 87. !nstância. 115. 128. 87. 53. 84. Negação. 22. 143. 81. 160. 18. 172. Infância. 75. . Interdição. 32. N Narcisismo. 74. Inserção. 107. 46. 128. 152. 187. 52. Interpretação. 47. 191. 151. 109. 165. Irmão. 258. Imaturidade. Histeria. 209. 182. 100. 177. 139. 30. 82. 210. 241. 28. 217. 113. 58. Incesto. -de angústia. 80. 142. 140. 18. 105. 190. 236. 38. Identificação. 151. 86. 133. Neurológico. 56. 77. 140. 39. 86. 79. 77. Investigação. 120. Isolamento. 171. 185. 19. 190. 84. 130. 55.fóbica. 19. 163. 82. 238. 24. 116. 192. 11. 177. 260. 137. Latente. 101. 199. 240. 239. 182. 84. 185. 178. 165. 91. 23. Maturação. Mania. 222. 193. -parcial. 46. 18. lncon!>ciente. 129. 137. 238. 129. 76. 62. 104. 104. 109. 115. 115. 149. 35. 139. 227. 142. -projetiva. 252. 106. -atual. 140. . 115. 144. Ideal. 106. 131. 162 AAisto. 289 . 177. 170. 216. 189. 177. 72. Objeto. 42. 120. 39. 25. 55. 42. 144. 235. 52. 68. 47. 81. 84. 72. 223. 133. "1\elancólico. 179. 131. 242. 198. 110. Libidinal. 140. 56. 227. lntrojeção. Oralidade.108.108. criança. 43. 127. 160. Homossexualidade. Introvertido. Obsessivo. 109. Ideal de ego. 111. 77. 109. 59. 108. Morfologia. 66. 160. 173. 223. Identidade. 53. 170. 44. 94. 120. 120. 216. 119. 221. 80. 62. 44. Inibição. 48. 191. 140. -obsessiva. 48. Normalidade. Melancolia. 26. 182. Masoquismo. 154.de caráter. . 144. 191t 202. 242. 262. -de abandono. Oral. 119. 61. 68. lndiferenciaçáo. 162. 164. 110. 75. 25. Ma sturbação. 236. 120. Normal. 32. 162. 110. 18. Megalomania. lndice de histerização. 21. 240. 170. 163. 220. 100. 38. 119. 120. 118. 109. 220. Libido. 151. 58. 78. 47. 162. 73. 234. 142.de fracasso. 227. 247. 66. 152. 62. 227. 50. 83. 119. 217. 188. 106. 80. 28. 24.119. . 193. 140.Hipomania. 84. 151. 220. 148. 114. 137. 74. 133. 45. 160. 54. 246. 79. 240. 101. 154. 78. 260. Manlaco-depressivo. 87.narcisista. 127. 152. M Mãe. Investimento. 79. 110.pseudopsicótica. 111. Nosologia. 60. 151. 191. 233. Histerofobia. 239. 55. 80. 152. 190. 183. Linguagem. 47. 100. 109. 152. 103. -total. 104. 169. 119. 57. 67. 103. 20. 101. 252. 136. o Objetai. 105. 25. 77. 9. Sintoma . 77. 63. 155. . 119.genital. 72. 56. 101. 10. 120. 227. Reversão da pu lsão. 218. 165. 60. 202. 113. 163. 154. 209. 191. Realidade. 164. 182. 106. T Temperamento. 67. 88. 112. 183. 90. 235. 246. 27. 213. Pseudolatência. 10.p Pai. 108. 258. . 87. 37. 110. Pré-consciente. 139. 232. 222. 217. Sublimação. 47. Pré-estruturação. 61. 182. 99. 258. 144. 147. Paranóia. 133. 105. 46. 81. 252. -sexual. 211. 170. Senescência. 182. Pensamento. 27. Psicótico. 174. 77. 112. 161. 46. 57. 182. 116. 139. 205. 55. Simbolização. 170. Personalidade. Perda do objeto. 226. Patológico.de ca ráter. R Racional. Psiconeurose de transferência. Perversão. 155. 79. 60. 20. 205. Psicanálise. 119. 177. 103. Sintaxe.pa rcial. 48. 39. 190. 136. 51. 183. Sadismo. Psicossomático. 69. 160. L'+-. Retardo. Principio da realidade. 60. S Sádico-anal. 53. 79. 52. 165. Parafrenia. 68. 27. 186. -alucinatória. 225. 177. 63. 32. 247. 126. 151. 73. 100. 99. 153. 28. 27. 237. 11. Pré-psicótico. 261. 101. 290 -do ego. Pais. 185.psicose. 176. 78. 76. 176. 70. 46. 136. 115. 15. 162. Slndrome. 30. 112. 247.operatório. 142. 152. Re petição. 258. 106. 223. Psicopatia. 179. 47. 110. 209. Pós . Somatopslquico. 168. 32. 136.87. 182. 252. 183. 237. 247. R itual. 101. 169. -trau máti ca. 31. Principio do prazer. Psicasten ia. 130. 84. 133. 77. 50.infantil. 52. 246. 171. 15. 101. 186. Pré-organização. 199. 114. Ti pos. 76. 99. 87. 206. 108. 32. 140. 78. 140. 127. 110. 17. Pênis. Sadomasoquismo. 164. 190. 213. . 130. 142. 204. 150. 55. 171.96. 191. 48. 153. 101. 104. 76. 53. Pseu donor mal i dade. R egressão. 119. 105. 55. 105. 75. 173. Subjetivo. R eduplica ção. 159. 132. Psicose. 181. 47. Psiconeurose narcisi sta. 76. 245. 21. Superego. 226. 44. 49. 104. Processo primário. 211. Psicolo gia. 104. Perversidade. 150. 127. 18. 235. 216. 100. 127. Pré . 101. 185. 237. 219. 202. 133. 215. 24. 46. 83. 253. 178. Representaçã o. 235. 258. 162. -de objeto. 163. . 811 107. 218. 222. 121. 61. 104. 115. 152. -"as if". Persegui ção. 79. R ecalcamento. 87. 18. 127. 28. 174. Projeção. 223. 42. 104. 221. 114. 187. 165. 25. 227. 92. 28. 44. . 131. 87. Relação. 44. 45. Saúde. 155. 129. 204. Sex u a l. Simbiótico. 46. 150. 141. 151. 73. 110.de caráter. 175. 58. 245. 113. 10. 49. 209. 56. 192. 77. 165. . 245. 258. 68. 79. 246. -pseudoneurótica. 101. 78. 55. 50. 55. 231. 18. 113. Pulsão. SuperinvestimtJnto. 54. 222. 132. 27. 101. 239. 153. Satisfação. 258. 114. 120. 37. Parapsicose. 103. 81. 152. 110. 143. 217. 143. . 246. 231. 229.Tipo misto. 221. . Traços de caráter. 182. 220. u Uretra!. -estruturais. 228.142. 167. .pulsionai s. 216.paranóicos. -orais. 220. 159. 291 . 228. 228. 227. .u retra i s. 217.reativos. 234. 129. 31. v Vergon ha. -an ais. 154.psicóticos.autopun itivos. 218. Voyeurismo.sublimatórios. 165. 230. Trauma. 22 1 . .fálicos. 226. z Zona erógen a . Transferência. 233.libidinais. 152. 53. 140. 78 1 I. 141.masoquistas. -obsessiv os. . . . 229. . 232. 113. 133. 11. Tronco comum. 10. 137. 224. 223. . 130. 222 . 231. 227. .neurótico s. 223. 138. -sádicos. 114. 22 1. -agressi vos. 232. 129.genitais. 224. 55.histéricos.143. Documents Similar To Personalidade Normal e Patológica - Jean BergeretSkip carouselcarousel previouscarousel nextAnsiedade em crianças - Um olhar sobre transtornos de ansiedade e violênciaPASQUALI - Instrumentação psicológicaClinica Analitico-Comportamental - Nicodemos B. Borges; Fernando A. Cassas.pdfPsicologia das Habilidades Sociais, Terapia e Educação - DEL-PRETTE; DEL-PRETTE.pdfDa Teoria Clássica à Pesquisa ModernaAprendizagem-InfantilCurso de Psicopatologia - Isaías PaimFERRAZ, Flávio Carvalho. PerversãoPsicoterapia Dinâmica das Patologias Leves de Personalidade - Caligor - Ker_.pdfRodrigues, J. A. & Ribeiro, M. R. (2007). 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