Pequena Historia Do Japao

March 18, 2018 | Author: Aline Costa | Category: Japan, Korea, International Politics, China, Ancient History


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jp h h e r d e r Q rais, UAL a origem do povo japonês? Como surgiram os fabulosos samuque o cinema tra ns formou em personagens mundialmente conhecidas? Como explicar a continuidade da dinastia nipônica, que sob r eviveu a todas as convulsões interna s , ao longo dos séculos, e até mesm o à catástrofe da derrota militar de 1945? Até há alguns anos, costumava-se iniciar a história nipônica com a mitologia, criando-se, assim, o mito do povo divino, da terra dos deuses, e até mesmo da invencibilidade do país das cerejeiras... Com a derrocada do regime autoritário e do estado policial, também se modificou radicalmente a atitude dos podêres constituídos em relação ao ensino da história. criar uma Procuram-se fatos mentalidade See não fábulas, que eram destinadas a determinada desejada pela classe dominante. parou-se, assim, a his tó ria da mitologia; a realidade da lenda, Agora os historiadores nipônicos podem opinar livremente, sem o perigo de serem apanhados nas malhas da lei de segurança pública e outras congêneres, que sufocaram o pensamento livre. PEQUENA DO HISTÓRIA JAPÃO (2. a EDIÇÃO) JOSÉ YAMASHIRO PEQUENA HISTÓRIA DO JAPÃO EDITORA SÃO HERDER PAULO 1964 . 1964 Impresso nos Instados Unidos do Brasil Printed in the United States of Brazil . 1961. Porto Alegre. São Paulo. 1958. COM KIKUO FURUNO: Lendas Antigas do Japão — Tókyo.DO MESMO AUTOR: Jânio — Livraria Lima.São Paulo. COM NELSON COELHO: Árvores Irmãs — Clube do Livro. © Editora Herder . A meus Pais . Í N D I C E À guisa de prefácio Prefácio da 2. 3. Começo da História A corte de Yamato Introdução da cultura do continente 19 23 30 CAPÍTULO II DESENVOLVIMENTO 1. 2. 3. capital A influência da família Fujiwara A cultura A situação do interior Como apareceram os "samurais" 48 54 51 56 59 7 . capital Relações com o exterior 33 35 40 45 CAPÍTULO III PERÍODO DE HEIAN 1. 4. Heian. 3. 2. a edição Origem do Povo Japonês — Zempati Ando 11 14 15 CAPÍTULO I O ALVORECER DO JAPÃO 1. Príncipe Shotoku Reforma de Taikwa Nara. 4. 2. 5. 2. 3.CAPÍTULO IV GOVERNOS 1.Proibição do Cristianismo CAPÍTULO VII YEDO 1. "Rakufu" de Kamakura A sociedade e a cultura Feuradalismo MILITARES 64 68 73 CAPÍTULO V DE KAMAKURA 1. 4. 3. . 2. E MOMOYAMA 92 97 100 Unificação do país Política exterior e cultura . As cidades e os campos Período de Guenroku Os estudos E OSAKA 118 121 126 8 . 3. 2. 3. 3. 2. 2. 4. BAKUFU 105 110 112 116 O castelo de Yedo "Shu-in sen" Fechamento do país Relações entre o trono e o "bakufu" CAPÍTULO VIII YEDO 1. A MUROMACHI 76 80 83 88 Restauração de Kummu Muromachi Bakufu Situação econômica e cultural Palpitação de uma nova era CAPÍTULO VI AZUCHI 1. 3. Tendências do mundo A força dos "chonin" Abertura dos portos DO BAKUFU 131 134 138 CAPÍTULO X RESTAURAÇÃO 1. 3. 2. Implantação do novo regime A nova organização social Tendências da cultura Governo constitucional DE MEIJI 146 149 152 154 CAPÍTULO XI O 1. 4. 2. JAPÃO E O MUNDO 157 160 163 165 170 A política exterior de Meiji Complicações no Oriente Asiático Desenvolvimento das indústrias A cultura de Meiji Sinopse econômico-social C A P Í T U L O XII DE 1.CAPITULO IX QUEDA 1. 5. 2. TAISHO A SHOWA 177 179 185 188 196 A guerra européia e o Japão Guerra do Pacífico O novo Japão Glossário Bibliografia 9 . 4. 3. 2. 3. Procuram-se fatos e não fábulas que eram destinadas a criar uma determinada mentalidade desejada pela classe dominante.. sem o perigo de serem apanhados nas malhas da "lei de segurança pública" e outras congêneres. . Agora os historiadores nipônicos podem opinar livremente. costumava-se iniciar a história nipônica com a mitologia. G. como. o mito do povo divino. a crença na invencibilidade absoluta do país das cerejeiras. assim. Seria exigir o impossível querer uma obra completa em língua estrangeira sobre a história nipônica. em 1946.. com seus derivados naturais. Mesmo em japonês. Não vem o livro 11 . assim. Havia interesse do governo em confundir a mente do povo.. a realidade da lenda. editando. O próprio Ministério da Instrução Pública deu o exemplo. também se modificou radicalmente a atitude dos poder es constituídos em relação ao ensino da história. Wells ou de um Will Durant para escrever uma história do Japão capaz de ser compreendida e apreciada em todo o mundo. Separou-se. Com a derrocada do regime autoritário e do estado policial. o "Kuni-no-Ayumi". Criou-se. a história da mitologia. Até há alguns anos.À guisa de prefácio Não é tarefa simples percorrer a história de um povo. da terra dos deuses. cujo passado se confunde com a origem dos tempos. texto de história para as escolas primárias. espera-se ainda pelo aparecimento de um H. que sufocavam o pensamento livre... por exemplo. a divisão cronológica didática..com lendas nem mistificações. desejo. Segui.° aniversário. foi escrito com muito critério e objetividade. a presente tentativa conterá. com certeza. sincero e democrático na medida do possível. muitos senões e falhas.. que. Para a concretização deste desejo. no tempo e no espaço. adotada no mencionado livro. para que nós brasileiros possamos melhor compreender e apreciar o povo nipônico.. 12 . com a maior exatidão possível. Essa nova orientação. entretanto. Tem uma atitude completamente diferente. segundo a abalizada opinião do professor Zempati Ando. aliás. ser objetivo e breve nesta minha primeira tentativa sobre matéria tão difícil e complexa. em linguagem chã. um resumo da longa sucessão de fatos históricos da terra de meus pais. Peço. Saída da pena apressada de um profissional de imprensa que precisa prover à sua subsistência pelo trabalho cotidiano. quando não perigoso e hostil. em especial às pessoas entendidas no assunto. Simples jornalista interessado em divulgar coisas do Japão. com o estado democrático criado pela Constituição de 1946. Não sendo historiador. Meu objetivo consiste em traçar um resumo geral. foi-me de grande valia o citado "Kuni-no-Ayumi". antes de mais nada. tanto quanto possível fiel. a gente do Yamato. mos apontem e dêem sugestões úteis para eu poder saná-los. como é a história do Nippon. possuidor. pois. Procura ser objetivo. Agora que a imigração nipônica no Brasil completou o seu 41. animoume a tentar uma compilação da história do império insular. como era comum nos textos escolares nipônicos de outrora. como outros. em grande parte. não seria de todo inútil procurar situar. de boas e más qualidades. e que.. à primeira vista. nem dispondo de conhecimentos suficientes para uma obra original. nada mais podia fazer do que coligir dados e redigir. da história do Japão. coerente. se apresenta enigmático e misterioso. a todos os prezados leitores. que foi originariamente publicado na revista "Transição" (n. data vênia. com valiosas sugestões na parte redacional. cooperaram na elaboração deste modesto trabalho. julho de 1940). — Antes de entrar na história propriamente dita. pela sua colaboração na correção dos termos japoneses. Kikuo Furuno. 13 . como introdução. J. Grato me confesso também ao Sr. com seus profundos conhecimentos sobre a história de sua pátria. Jorge Fonseca Júnior e Hideo Onaga que. um trabalho do Sr. Zempati Ando sobre a "Origem do Povo Japonês".° 4.Deixo consignados aqui os meus sinceros agradecimentos ao professor Zempati Ando — incansável batalhador do intercâmbio cultural nipo-brasileiro — que.Y. mui gentilmente. me auxiliou com sugestões e teve a bondade de supervisar o modesto volume que será agora publicado. apresentaremos. Dezembro de 1949 NOTAS. * * * Desejo manifestar meus agradecimentos aos nobres amigos Drs. Solicitamos especial atenção dos leitores para o esclarecedor ensaio — revisto agora pelo seu autor — que servirá de ponto de partida para todo o desenrolar da longa história do Japão. quase 15 anos após a primeira. em edição particular.Prefácio da 2. portanto. com diversas correções e alterações. Abril de 1964 14 . publicada em 1950. J. tornadas necessárias diante das novas luzes lançadas sobre a história japonesa.a edição Amigos me aconselharam a tirar uma segunda edição da "Pequena História do Japão". Sai ela. A todos aqueles que. me estimularam a publicar esta nova edição do livro. com seu apoio amigo. como resultado da liberdade de pesquisas alcançada depois da derrocada militar de 1945. Y. o meu reconhecimento. que circunda Tokyo. para o Oriente. (1) Por essa época. 15 . que têm sido encontrados em quase todo o território do Japão. e pelos nomes em (1) Pesquisas recentes.ORIGEM DO POVO JAPONÊS O povo japonês não é de raça pura. Indochineses. e. nem aborígine. o Arquipélago Japonês era de todo desabitado há quatro mil anos. Entraram na sua composição os Tunguses (japoneses propriamente ditos ou protojaponêses). demonstraram que o Japão já era habitado há cerca de dez mil anos. Passaram por Hokkaido. terra de sua origem. mais ou menos. Chegaram até as ilhas Ryukyu. dirigindo-se. chegando mesmo a atravessar o estreito de Mamiya. para o Sul. Segundo Ryuzo Torii. os Ainos. avançando sempre para leste. Estes movimentos migratórios ficaram bem claros pela descoberta de sambaquis e objetos de pedra e barro. porém. começaram a emigrar da Sibéria. principal ilha do Arquipélago. Ocuparam os Ainos esse solo e aí se desenvolveram. sendo que muitos se estabeleceram na grande e fértil planície de Kwantô. depois. que se estendem desde a de Kyushu até Formosa. atingiram o extremo norte desse arquipélago. os Ainos. Indonésios. aproximadamente. Negritos e os Hans (chineses propriamente ditos ou protochineses). Era o primeiro contato humano com as terras do Japão. raça branca pertencente à família "Homo Caucasicus" — provavelmente frutos da mistura de brancos com mongóis —. característicos dos Ainos. começaram a desembarcar em diversos pontos da ilha Honshu. Encontraram eles. vindos do Sul: os Indochineses estabelecidos no Norte e os Indonésios que habitavam o Sul. principalmente nas regiões de Kwantô e Ou. O ilustrado professor Shinji Nishimura dividiu em três épocas a emigração dos Tunguses para o Japão. tendo abandonado já os objetos de pedra. segundo êle. que é hoje a província de Shimane. atravessou a montanha Altai e entrou na Mongólia. ainda. e desenbarcaram na ilha de Kyushu. e outros. sendo que alguns. a primeira emigração é a que acima referimos. outra raça. quando chegaram àquela ilha. onde fundaram o poderoso reino de Izumo. A toponímia indica ainda hoje a existência de nomes em língua Aino. cessadas as migrações. no ano de 1800 A. atravessando o estreito de Mamiya. Desde mil anos antes de Cristo que os Tunguses. nesta terceira emigração. como os Ainos. Esses movimentos começaram. seguindo para o Sul em busca da Canaã sonhada. Dali. na direção nordeste. os Tunguses empregavam o ferro na confecção dos seus utensílios. Nesse tempo. desembarcaram em vários pontos da costa ocidental das ilhas Hokkaido e Honshu. atingiram o extremo oriental do continente. dois povos que a ocupavam. talvez.idioma Aino que receberam muitos lugares por onde eles passaram. C. 16 . Constitui esta a segunda emigração dos Tunguses. C. os mais arrojados. a dos Tunguses. navegando o mar do Japão para o Sul. A terceira realizou-se pelo ano 600 A. entraram na ilha de Karafuto (Sacalina). no mar do Japão. Depois de radicados os Ainos no Arquipélago Japonês. E. e continuaram durante cerca de mil anos. atravessaram a península da Coréia e o estreito de Tsushima. Da Mandchúria. já então fixados na Mandchúria. continuando. navegando pelas costas orientais da Coréia. C. são de origem indonésia. Constituíram os Tunguses os mais poderosos elementos que concorreram para a formação da nacionalidade japonesa. Assim. . Por isso são chamados protojaponêses. que eram denominados "Hayato". em número bastante elevado. conhecimentos que trouxeram da terra de origem. muitas lendas do Japão de hoje. também contribuíram para a constituição do povo japonês. Dedicavam-se à agricultura. a fabricação da seda natural. denominado "Kojiki" (Crônica de Coisas Antigas). Tinham o caráter bravio e indomável. cita muitos fatos sobre a vida dos Indonésios. já mesclados. onde ocuparam o arquipélago de Ryukyu.Alguns Tunguses ficaram no Sul de Kyushu. como dissemos. 17 . Os Indonésios. então povoado pelos Ainos. não foi pequena a influência dos Indonésios na constituição do povo japonês. o primeiro documento escrito sobre o Japão dos tempos pré-históricos. chegaram à ilha Kyushu pouco antes dos Tunguses. se haviam assimilado completamente a todas as regiões do Arquipélago. Não eram tão civilizados como os Tunguses. publicado no ano 712 da era cristã. começaram a emigrar para o Japão no ano 600 A. quando outros povoadores. Os Hans que. Entretanto. Os que compunham a terceira corrente emigratória. eram consideravelmente civilizados. Foram os Indochineses que deram origem à formação dos atuais povos Anamita e Tais que habitam a Indochina e a Tailândia. Além disso. e vieram a formar o protótipo do povo japonês. e ocuparam a parte sul. tendo outros rumado para o Sul. originários da Oceania. mais ou menos. ensinando aos Tunguses e outros a plantação do arroz. da ilha de Honshu. C. que foram os primeiros habitantes dessa região. vivendo isolados até o ano 500 A. bem como inúmeras palavras. Talvez alguns deles tenham desembarcado na costa sul da ilha Shikoku e na península de Kyushu. há dúvidas em relação à época e aos lugares em que teriam desembarcado. de todos os primitivos habitantes. no entanto. tendo concorrido grandemente para elevar a cultura e a civilização do Japão antigo. Muito depois. que ainda hoje vivem no extremo norte do Japão. em linhas gerais. Este. através da sua longa viagem pelo sul. foram os Tunguses os que mais concorreram para a constituição da nacionalidade nipônica. Já eram muito adiantados. ensinar a arte da tecelagem e arquitetura aos japoneses. obrigaram os elementos não assimilados das demais raças a desaparecer gradativamente. Eis. em número de 16 mil aproximadamente. porém. situadas na baía de Bengala. na ilha Hokkaido. como emigrantes técnicos. havendo quem negue a sua chegada ao Arquipélago Japonês. Concluindo. Diz êle que alguns japoneses têm o tipo físico dos Negritos. na índia. podemos afirmar que. quase nula. e de tal forma se assimilaram que vieram a naturalizar-se japoneses. O que é certo. em relação a outras correntes migratórias. é que a contribuição dos Negritos na formação do povo japonês foi mínima. Atendendo àquele convite. a origem do povo japonês. Pela pressão que exerceram.Estabeleceram-se no Norte da ilha Kyushu e no Sul da ilha Honshu. Vivem eles atualmente nas ilhas Andaman. pois os emigrantes indonésios se misturavam com elementos dela. ZEMPATI ANDO 18 . desembarcaram em grandes grupos. foram os Hans convidados pelo governo japonês para. no interior da península de Málaca e no interior das ilhas Filipinas. O professor Shinji Nishimura é de opinião que os Negritos tenham desembarcado na parte sul do Japão. já na era de Yamato e Nara. com exceção dos Amos. afirma que há japoneses que trazem no sangue pequena parcela dessa raça negra. Quanto à emigração dos Negritos. como o grande antropólogo Ryuzo Torii. resultando disso uma variação constante da natureza no decorrer do ano. outono. o Arquipélago Japonês já esteve ligado ao continente asiático. ali. que apresenta aqui e acolá vulcões com fumarolas. o Japão é formado pelas numerosas ilhas que. a leste do continente asiático. (2) Segundo alguns geólogos. constituem a espinha dorsal do Arquipélago. Incontáveis ilhas e ilhotas de rochedo à flor da água. rios rumorejantes. de junho a agosto. com abundância e o país apresenta uma vegetação rica. cobertas de arvoredos verdes e encantadores. Geograficamente. Chove. Shikoku e Hokkaido são as maiores e mais importantes unidades do Arquipélago. Cada estação apresenta seus aspectos característicos. se estendem de norte a sul. muitas ondulações do solo. de março a maio. cujo clima varia desde o frio quase glacial ao calor quase tropical. As quatro estações são bem distintas: primavera. quase luxuriante. montes e vales sucedendo-se de mistura com colinas de formas caprichosas. de setembro a novembro e inverno. Kyushu.CAPÍTULO I O ALVORECER DO JAPÃO 1. todos de curso limitado. 19 . verão. Começo da história. (2) Honshu. inclusive os Alpes nipônicos. de dezembro a fevereiro. o lendário Monte Fuji e as várias cadeias de montanhas. poucas planícies. erguendo-se para o céu azul e límpido. Pelo estudo dos sambaquis e dos instrumentos neles encontrados. Maremotos invadem ilhas em vagalhões repentinos e imprevisíveis. cascatas refrescantes gorgeiam entre os montes. Serviam-se de instrumentos de pedra. Como se tratava de um país insular. usavam arpões e anzóis feitos com chifres de veado. conchas brancas em meio a plantações. convulsionar-se em apocalípticos terremotos. Não é possível saber-se ao certo. A vida na antigüidade — Viveram os primitivos antepassados dos japoneses desde tempos imemoriais. em colinas voltadas para o sul. ossos de peixes e animais e várias espécies de instrumentos usados pelos homens da época.. Ao caminhar-se.serpeiam nos vales e cortam campinas. Os principais meios de vida eram. São restos de mariscos e conchas que formam. Usavam flechas com pontas de pedra e caçavam veados e javalis para sua alimentação. a muitos milênios. encontram-se. Para guardar ou cozinhar comidas usavam potes e vasos de barro. forma baías e enseadas graciosas e acolhedoras. formosíssima tanto nos detalhes como no conjunto. vulcões vomitam lava e fogo. Toda esta natureza. os homens primitivos ignoravam o emprego de metais. entretanto. então.. mas o início da existência do povo nipônico remonta. furiosos ciclones. os sambaquis. de um momento para outro. podemos saber algo sobre os meios e condições de vida daqueles homens primitivos. na pesca. em certos lugares. no solo japonês. além de conchas e mariscos. furacões arrazam regiões inteiras. Em toda parte do mundo. Nos campos e nas florestas. E o mar. Nestes são encontrados. provavelmente. os homens apanhavam frutas do mato. 20 . a caça e a pesca. catavam conchas nas praias e. A essa época se dá o nome de idade da pedra. nestas terras do arquipélago. aterrorizando e matando populações indefesas. trovoadas medonhas e chuvas torrenciais que inundam arrozais.. destroem cidades e vilas.. às vezes. rico em pescarias. pode. Não havia ainda o túmulo propriamente dito. com os cantos arredondados. Esse nome se deve à freqüência com que foram encontradas marcas de esteiras nos potes e vasos da época. tornou-se 21 . prevalecendo um estilo de vida coletivo.Esses vasos de argila são denominados. Isso porque. Evolução — Este modo de viver sofreu. a China já misturava cobre com estanho para fazer o bronze e. Apresentavam forma quadrada ou retangular. no II século da nossa era. Começo da lavoura. tal o exagero dos desenhos. foram então confeccionados. — Com o início da lavoura. do outro lado do mar. com os braços e as pernas dobrados. Ao que parece. tipo ou estilo Jomon (marcas de esteira). estavam erigidas em cavidades rasas feitas na terra. acentuou-se o progresso da vida. Desde a época em que os primitivos nipônicos usavam instrumentos de pedra. nessa época ainda não se fazia distinção entre ricos e pobres. Escavações feitas por arqueólogos revelaram que as casas dos japoneses primitivos. Chegavam às vezes a ser grotescos. provavelmente. bem como utensílios de ferro. Os mortos eram enterrados sem caixão. que. segundo se infere pelas imagens de deusas e grandes macetes de pedra. Novos aparelhos de barro foram empregados. com cobertas grosseiras de palha e sem soalho. logo a seguir. eram usadas em feitiçarias. Os objetos de louça de argila destinados à ornamentação eram muito variados e elaborados. pelos arqueólogos. Tais conhecimentos foram transmitidos aos japoneses por intermédio de coreanos e dos próprios chineses. descobria o emprego do ferro. Os homens acreditavam em certas formas de magia. foram transmitidos aos japoneses métodos de cultivar arroz e a arte de fabricar instrumentos metálicos. dentro em pouco. Espadas e escudos de bronze. profunda transformação. Divulgado o processo de cultivar arroz em terreno irrigado. às vezes com uma enorme pedra sobre o peito. Começaram os nipônicos a usar instrumentos metálicos. Começam então a surgir. A agricultura experimentou considerável impulso. então. transformavam campinas em plantações do precioso cereal. alguns dos quais eram indivíduos vencidos nas lutas intertribais. Foi-se reunindo gente. em livros chineses dos séculos I e II da era cristã. os escravos. propriedades maiores do que as demais. no ano de 1884. Acentuando-se.necessária a fixação do homem ao solo para continuar a lavra da terra. Ao que indicam aquelas fontes. 22 . de mistura com os de metal. os deserdados da sorte. Surgem. simples e enxutas. tais como espadas. constituindo-se aos poucos em classe distinta. O arroz se tornou o principal gênero alimentício. Há referências de envio de escravos à China. muitos deles reduzidos à condição de escravos. alguns passam a viver em casas mais confortáveis. as diferenças sociais. em contraste com os do tipo Jomon de alguns séculos antes. assim. Cavavam tanques e valetas para puxar água aos arrozais e. nome do bairro de Tokyo onde foram encontrados os primeiros exemplares. desse modo. Wa costumava enviar missões ao poderoso país continental. espelhos e pedras preciosas. prestando-lhe homenagem e recebendo em troca objetos de valor. aristocrática. sob a vaga denominação de Wa. Os vasos de estilo Yayoi caracterizam-se por linhas retas. Na época da cultura Yayoi usavam-se ainda instrumentos de pedra. as diferenças de nível de vida. Têm início. formaram-se aldeias e os homens das povoações cooperavam entre si nos trabalhos do plantio e da colheita. assim. A introdução da lavoura modificou o sistema de vida das tribos. com o correr do tempo. Também recebia ensinamentos de técnica agrícola. Vasos de argila dessa época são chamados de tipo Yayoi. aos poucos. acompanhando o crescimento das populações. O Japão aparece. suplementado por produtos de caça e pesca. introduzidos do continente. E no outro extremo da escala social ficam os pobres. berço da dinastia nipônica. Na região de Kwantô a Ou viviam os "yezo" e no extremo meri23 . Também o chefe da terra de Izumo (Shimane-ken) se rendeu à autoridade do rei de Yamato. afinal unificar o Japão numa nação primitiva. Segundo os historiadores mais abalizados. Em especial. o resto do país. que os japoneses consideravam bárbaras. em 1940 se comemorou solenemente o 2. apareceram elementos influentes que viajavam até o continente e da China traziam novos elementos culturais. Assim se constituiu a corte de Yamato.600° aniversário do Império. paulatinamente. Jimmu-Tenno foi quem primeiro ascendeu ao trono. historiadores atuais apontam "fraude" oficial na interpretação de dados históricos. havia localidades ainda dominadas por tribos de outras raças. a influência da corte de Yamato no interior. a coroação de Jimmu-Tenno se deu depois do ano 300 A . na zona norte de Kyushu e no Yamato (hoje Nara-ken). Gradativamente. onde a cultura evoluiu primeiro. na realidade. Até 1945 estava oficialmente estabelecido que a fundação da dinastia japonesa datava de 660 anos A. Expandiu-se. aos poucos. 2. com a submissão gradativa de muitas tribos. apareceram homens poderosos que comandavam vários agrupamentos. no Palácio de Kashihara. C. Assim. Contudo. D . A tribo mais poderosa e influente dessa zona dominou. a fim de dar maior duração a uma dinastia que. nas regiões mais afastadas. Berço da nacionalidade — Yamato corresponde à região onde fica atualmente a província de Nara (Naraken). a tribo mais influente conseguiu. no sopé do monte Unebi. só teria começado pelo século IV da nossa era. A corte de Yamato. Entretanto.Com o evoluir da cultura. É uma região plana cercada de montes. Não há nenhum documento comprobatório deste acontecimento. Por exemplo. posição social. indonésios (também chamados "hayato"). Com o progresso da cultura. Na antigüidade. conforme veremos no decorrer desta história. Cada localidade tinha um chefe que governava a população local e controlava as terras. A realeza procurou colocar sob seu domínio todos esses povos. Clãs havia que desempenhavam determinadas funções na corte. indicando que eram chefes locais ou de grupo profissional. seria nome de família. A maioria dos homens não servia diretamente ao trono. etc. Ocorriam. sobrenome. segundo o "kanji" adaptado ao termo. os seguintes casos para o aparecimento do título-nome: 1) Nomes geográficos ou de profissões. como durante toda a história do Japão. 2) Nomes dados a pessoas que tinham funções no palácio. da raça Aino e os últimos. feitas de pedras comuns ou semi-preciosas..dional de Kyushu habitavam os "kumaso". pois. Além disso. os Soga eram encarregados do Tesouro. os primeiros. transmitindo-se de geração a geração numa mesma família. As pessoas da mesma linhagem constituíam os clãs ("uji") e algumas delas recebiam o título de "kabane". tais nomes se tornaram designativos de estirpe nobre. Posteriormente. Tais funções eram sempre hereditárias. apareceram homens mais habilidosos que confeccionavam finos objetos de barro e jóias rústicas. e a 24 . grande parte da população se dedicava à lavoura. enquanto os Ohtomo e Monobe cuidavam da Guarda Real. era conferido pelo imperador como uma distinção a certas pessoas. não havia diferença entre nome de indivíduo e nome de família. O "kabane". Somente depois de um certo grau de desenvolvimento cultural é que surgiram os sobrenomes. Tribos e clãs — Na antigüidade. o que conseguiu depois de várias expedições. os chefes de tribos adotavam "kabane" por conta própria ou terceiros lhe davam em sinal de consideração. cuja significação literal. Como se vê. finalmente. os historiadores nos dão idéias muito vagas da sociedade primitiva. Quer dizer que o núcleo social central era uma espécie de amplificação da própria família imperial. entretanto. 3) Mais tarde ainda. os líderes das tribos. não houve concepção nítida de Estado. Por isso. e a cuja época somente documentos escritos séculos depois fazem as primeiras referências. os "kabane" e "uji" formavam a classe alta. que assegura a liberdade de pesquisa e opinião. agora revitalizados com o advento do regime democrático. nasceu na mais remota antigüidade. achando-se todos os seus membros mais ou menos ligados por laços de sangue. tinham nomes que. em sinal de distinção. No tocante à coletividade primitiva do Japão. ao imperador. ou indicavam a natureza do seu cargo ou sua posição. por sua vez. a palavra "kabane" possui um sentido muito amplo e é quase impossível expressá-lo numa só palavra. se tornou sobrenome.própria coroa os reconhecia oficialmente. cujos estudos. o "kabane" foi adotado em escala maior e. Os "uji" mais afastados da coroa eram dirigidos por chefes que. Assim. o certo parece ser o seguinte: o trono exercia sua influência direta sobre membros de sua família ou tribos a ela subordinadas. nem compreensão exata de que o soberano o simboli25 3 . prosseguem nos meios científicos japoneses. em última instância. quando ainda não havia linguagem escrita. com a criação de cargos de governadores regionais e locais e outras funções hereditárias. apesar de difíceis. É preciso lembrar que estamos nos referindo a uma era remota. dominante. a elementos influentes. que personificava o Estado. Naturalmente. Este sistema de famílias menores servindo a famílias mais poderosas e. Não há no ocidente termo correspondente. porque a massa nem sequer possuía nome de família. Somente seus chefes. ou eram uma espécie de título nobiliárquico conferido pela coroa. Pelo menos não o conhecemos. no início. prestavam tributo ao soberano. chegando a conferir tais títulos. Os "be" adotavam o sobrenome dos seus senhores. autocrática. sem nome de família. Os "yakko" ou eram elementos de tribos conquistadas ou indivíduos condenados por crimes. constituídos por indivíduos que somente possuíam nomes individuais. é importante ter em mente a maneira pela qual êle se originou e se manteve através de todas as vicissitudes da história. pela conquista das demais. os "uji". Classes sociais — Conforme vimos. Como em toda a parte. em sua magnífica "História Econômico-Social do Japão". E. vinham os "yakko". como servos públicos. Abaixo deles ficava a classe intermediária dos "be" ou "be-no-tami". rei de Yamato. viviam a sua vida obscura e quase ignorada pela classe alta. Os elementos livres ou dominantes formavam a aristocracia. subordinados aos particulares poderosos. Entretanto. são muito raros os documentos históricos que fazem referência aos "yakko" da antigüidade. em certos aspectos diferente dos europeus.zava. indivíduos semi-escravos. "Provavelmente — diz o professor Eijiro Honjô. que pertenciam à família imperial e "kakibe". e eram trabalhadores que prestavam serviço. na organização do tra( 3 ) Os lheres hi. ao trono ("shimobe") ou aos senhores particulares ("kakibe"). "yakko" ( 3 ) . divididos por sua vez em "shimobe". o chefe da tribo mais forte é que que se tornou. na sociedade primitiva do Japão havia nítida divisão de classes sociais. os trabalhadores semi-livres constituíam a classe dos "b" e. Contudo. por último. os "kabane" e "uji" constituíam a aristocracia primitiva. escravos homens chamavam-se nu e as mu- 26 . Parece que a classe mais importante. finalmente. os escravos. da qual extraímos estas notas — esses indivíduos não tinham muita importância naqueles tempos. Como vimos. escravos. para compreender o sistema monárquico japonês. Provavelmente os "be". que constituíam a classe dominante. . surgindo. em função dos interesses dos clãs. ou às famílias poderosas do interior. soja. ou ao trono. hie. naturalmente. os homens faziam instrumentos simples com dentes de animais. mas nada está provado. As famílias ou casas (iê) constituiriam a unidade econômica. o que representa o começo do artezanato. Na época em apreço. pedras. Em princípio era uma economia de auto-suficiência. A estrutura econômica estava toda ela baseada na exploração da terra. pois. gente de classe intermediária entre os homens livres e os escravos. já eram cultivados o milho miúdo. o que vimos no capítulo das tribos e clãs e neste. os trabalhadores semi-escravos e os escravos. Resumindo. esta última se tornou de grande importância depois' da Reforma de Taikwa. e na época de Nara. na fase agrícola. madeira. Havia passado a idade da pesca e caça e o país havia entrado. Mas. Vida econômica — Naquelas épocas remotas. dispunham de alguns momentos próprios em que lhes era permitido trabalhar para si. Já na idade da caça e pesca. e t c . sendo os "be" a classe laboriosa por excelência. a terra e a mão de obra constituíam. os "be" e "yakko". trabalhavam para aquela. um período que se poderia chamar de "economia escravista". As terras pertenciam. Os clãs que se dedicavam hereditàriamente a determinados trabalhos de produção. na qualidade de classes dominadas. Há quem sustente que os "uji" formavam uma coletividade de tipo comunista. etc.primeiros séculos da existência 27 .balho da época. como tais meios pertencessem aos clãs. azuki (feijão indiano). temos que havia três principais classes sociais nas priscas eras do Japão: a aristocracia (primitiva). então. caçando ou plantando. Além do arroz. que era a principal cultura agrícola. era a dos "be" e não a dos escravos. os meios mais importantes de produção. Porém. trigo. utilizaram para a sua execução os "be" e "yakko". francamente. Depois da introdução da arte de criar o bicho da seda. as fazendas eram usadas como meios de troca. o comércio consistia unicamente no sistema de troca direta. Somente no remado de Fukuchu Tenno (17. Os senhores particulares arrecadavam tributos dos seus subordinados. dos tecelãos. o sobrenome "Yugebe" derivou dos homens que faziam arcos. durante muito tempo. O trabalho neste setor. Nessas circunstâncias. durante tantos séculos. de mercadoria com mercadoria. Não sendo conhecida ainda a moeda. Até o tempo do imperador Suijin (10. Mesmo depois. não havia diferença entre os bens do Estado e do templo. os "Hatoribe" e "Akasomebe". muitas vezes as ofertas de caráter religioso eram recebidas pela coroa como contribuição ao trono.° a contar de Jimmu Tenno). havia uma perfeita união do governo com a religião (shintoista).do Japão — o artesanato. existente no começo da formação da nacionalidade. provavelmente. uma das razões porque. também. a sede religiosa do país. é um fato de muita importância para a compreensão da história japonesa. "Saisei-Itchi" — Na antigüidade. se manteve uma única 28 . Estado e Igreja constituíam uma unidade ("Saisei-Itchi"). Daí se originaram vários nomes de família que terminam em "be". A vestimenta era de linho ou algodão. Yazukuribe". produziram-se tecidos de seda. Aí reside. Por exemplo. A unidade da religião e do governo. limitava-se à confecção de alguns utensílios e instrumentos de uso doméstico ou militar. como na lavoura. o palácio real era. dos fazedores de flechas.° imperador ) fêz-se a separação da Tesouraria do templo dos cofres do Estado. Não fora ainda estabelecido o sistema de tributação em benefício da família imperial. que tinham funções hereditárias específicas. Antes da adoção desse meio circulante. A receita do trono provinha dos produtos das terras pertencentes à coroa e de algumas contribuições espontâneas do povo. rudimentar. era executado pelos "be". Nos túmulos antigos foram encontradas imagens de barro. espadas. os próprios caudilhos militares compreendiam a impossibilidade de destruir uma dinastia que representava o centro do culto religioso nacional.dinastia. porque ela nos auxiliará a compreender a subseqüente evolução do país em todos os sentidos. Túmulos antigos — Quando morria alguém. mesmo quando os "bakufu" enfeixavam o poder absoluto em suas mãos.. As tumbas dos imperadores Ojin (falecido em 310). Porque. objetos de adornos feitos de pedras. costumava-se erigir um túmulo. formando na superfície da terra um montículó. não quiseram ou não tentaram derrubar o trono. e. ao lado de espelhos (metálicos). o de Nintoku. finalmente. não só porque contêm "haniwas". algumas vezes. uma espécie de terracota. chamadas "haniwa" e que apresentam formas de casas. nos primórdios da sua história. apresenta 490 metros de comprimento e 247 de largura e. mede aproximadamente 413 metros de comprimento e 800 de largura. Também os túmulos constituem importantíssimos "documentos" arqueológicos. existente em Sakai. perto de Osaka. capacetes. quando não também o supremo órgão político da nação. com toda a certeza. econtrado em Kawachi. muito embora o seu poder temporal tenha sofrido oscilações violentas. gente ou animais. No entanto. etc. O túmulo de Ojin. como porque datam de épocas anteriores à introdução da escrita chi29 . Nintoku (falecido em 399) e Richu (falecido em 405) impressionam pelas suas proporções. Desses túmulos antigos ainda se encontram alguns exemplares em várias partes do Japão. Poucos tinham a parte anterior quadrada e a posterior arredondada. o de Richu tem 366 metros por 248. Tais objetos são elementos preciosos para o estudo das condições de vida dos homens da época. sido reduzido a zero. levantando a terra no local onde era enterrado o morto. Alongamo-nos nesta parte da apreciação das condições sociais e econômicas do Japão. A maioria apresentava a forma redonda. tal costume foi abolido e. foram introduzidos muitos produtos da cultura coreana e chinesa. Yamato enviou forças em seu auxílio. os "haniwa" tiveram apenas função decorativa. Posteriormente. mantendo estreitas relações com o país vizinho. o primeiro livro de história. apareceu somente no ano 712 da nossa era. Os arqueólogos japoneses acreditam que os túmulos com "haniwa" tenham sido construídos pelos séculos III ou IV. japoneses do norte de Kyushu visitavam a península. Há cerca de dois mil anos. surgiu lá a dinastia dos Hang (Kan). ao invés de criaturas vivas. então mais adiantada do que a do Japão. Logo. ao passo que ao norte ficava Kokuli ou Koma. havia o costume de se enterrarem vivos os servos mais chegados aos seus senhores. Parece que. Introdução da cultura do continente. Mais tarde apareceram os reinos de Kudara (Paikche) e Shiragui (Silla) na parte sul da Coréia.nesa no Japão. o "Kojiki" (Rol das Coisas Antigas). um reino do extremo sul da península. depois de unificar o Japão. Quanto à significação da presença de tais objetos. esforçando-se por assimilar sua cultura. as relações entre o Japão e os países da península coreana se tornaram cada vez mais cordiais. levavam-se os objetos de terracota ao túmulo dos mortos. O movimento de importação 30 . cujo domínio alcançou até a parte setentrional da Coréia. 3. a princípio. Relações com a Coréia — A China é um dos países mais antigos do mundo. Já nessa época. sem mais o sentido de sacrifício ou imolação. correm várias interpretações. Quando Mimana se viu ameaçado por Shiragui e Kokulii. Desde então. porém. O "kanji" e a doutrina de Confúcio ("Jukyo") — Com a intensificação das relações entre o Japão e a península. O reino de Yamato. aliou-se a Mimana. Como veremos mais adiante. permitindo que os mesmos desenvolvessem plenamente suas faculdades. A cultura chinesa chegava. Porque não foi o verdadeiro 31 . ao pé da letra. a seguir à Coréia e. Will Durant. por intermédio de Kudara. que entrara na China quinhentos anos antes. Muitos se naturalizaram japoneses e contribuiram de modo notável ao progresso cultural do país. Com eles foram transmitidas as artes da criação do bicho da seda. a transmissão do budismo. muitas vezes. O budismo foi pregado há 25 séculos por ShakiaMuni. A corte recebia de bom grado os elementos estrangeiros. além de Mimana. Budismo — Dos países coreanos.das culturas do continente se incrementou de modo notável no tempo dos imperadores Ojin e Nintoku. A doutrina do sábio chinês (Confúcio . Foi nessa época que os "kanji" (ideograma chinês. "escrita de Hang") e o confucionismo (jukiô) foram introduzidos no Japão. em japonês) teve grande divulgação e seus efeitos foram duradouros. ou. Muitos coreanos e chineses emigraram para o Japão onde fixaram residência e deixaram numerosa descendência. e t c .400 anos. escreve o seguinte em sua "História da Civilização": "Em 522 o Budismo. ferraria. e dava funções importantes àqueles que tinham real valor. Dois elementos confluiram para dar-lhe vitória: as necessidades religiosas do povo e as necessidades políticas do Estado. o diligente e culto filósofo e historiador norte-americano.Koshi. passou-se para o Japão em rápida conquista. certamente. por intermédio desse país. Com o acréscimo de novas culturas melhoraram as condições de vida e o país se beneficiou dessa política de introdução e assimilação de estrangeiros. ao Japão. O papel mais importante por êle representado na evolução da cultura japonesa foi. costura. na índia. tecelagem. Passou à China e. A propósito da introdução do budismo no Japão. mantinha estreitas relações com o Japão o reino de Kudara. Isso aconteceu aproximadamente há 1. todas as virtudes da piedade. que os reconciliavam com a vida. melhor ainda. do pacifismo e da obediência. E. de sedutor cerimonial e de imortalidade pessoal. (4) Daijô.budismo que veio. do A. em japonês. 32 . dava aos oprimidos tais consolações. (N. mas o budismo mahayana (4) dos deuses amáveis como Amida e Kwannon. esse credo inculcava. com irresistível graça. e fornecia ao povo aquela unidade de sentimento e fé em que os estadistas vêem a fonte da ordem social e da força nacional". agnóstico. que tanto ajudam aos governos.) "Mahayana" é termo sânscrito. pessimista e puritano. destacando-se entre elas a reforma política. o príncipe resolveu realizar grandes reformas nos hábitos antigos. influindo. na administração do Estado. Príncipe Shotoku. especialmente no terreno político. tanto dentro como fora do Japão. que.CAPÍTULO II DESENVOLVIMENTO 1. estabeleceu uma rigorosa hierarquia dos funcionários públicos. Clãs poderosos como o dos Soga possuíam muitos subordinados e terras. era capaz de ouvir e responder a dez pessoas ao mesmo tempo. o progresso do país se tornou rápido. quando a imperatriz Suiko subiu ao trono. Ocupou ao mesmo tempo a regência. A fim de tornar possível o aproveitamento de homens realmente competentes na máquina administrativa do país. Na península coreana. dominara Mimana e atacara Kudara. Muitas e notáveis contribuições para o progresso do país trouxe o príncipe. 33 . com sua força. Regulamentação do funcionalismo e a Primeira Constituição — Shotoku-Taishi tornou-se príncipe herdeiro. Consideráveis transformações estavam ocorrendo. que durou vinte e nove anos (592-621). Desenvolveu-se o Japão com a introdução e assimilação da cultura do continente asiático. Ante tal situação. segundo conta a lenda. Shiragui havia se tornado poderoso. Na época do genial príncipe Shotok (Shotoku Taishi). não era possível obter bons resultados na administração dos negócios públicos. Na carta dirigida ao imperador chinês. estudantes e sacerdotes para estudar o regime chinês e suas artes e ciências. estabelecia entre outras coisas o seguinte: que os poderosos não devem tributar arbitrariamente o povo. outras medidas úteis à arte de governar. Estes estudiosos desempenharam. Sui era uma dinastia próspera e poderosa. a dinastia dos Sui havia dominado a China. sem uma cooperação íntima de todos eles. Desde então. em grande parte. copiada e adaptada. Determinava. papel importante na Reforma de Taikwa. 34 . que devem ouvir as queixas e reclamações populares. o príncipe enviou. que estivera dividida e convulsionada durante muito tempo. junto com as missões diplomáticas. A Constituição em apreço. que devem realizar uma administração justa. o príncipe Shotoku enviou uma missão chefiada por Imoko Ono para restabelecer as relações interrompidas entre os dois países.A seguir. se dirigia de igual para igual ao monarca da China. Até então o Japão pagava tributos ao gigante continental. o príncipe escreveu: "O imperador do Levante tem a honra de enviar esta missiva ao imperador do Poente". mais tarde. ou alguém em seu nome. Desejando fortalecer o Japão com a introdução da cultura adiantada do reino continental. Era a primeira vez que um soberano nipônico. mas Shotoku decidiu acabar com tal subserviência e inaugurou relações de país independente com o poderoso reino dos Sui. Relações com Zui (Sui) — Por essa época. redigiu uma Constituição composta de 17 artigos e exigiu que os homens de governo a cumprissem rigorosamente. No preâmbulo da primeira Constituição nipônica expôs a importância da harmonia e cooperação entre os homens. da legislação chinesa. ainda. Queria ensinar aos funcionários do palácio que. que devem consultar o maior número possível de pessoas para resolver questões importantes de interesse público. próspera e forte. As belas artes e os estudos clássicos (chineses) tiveram um grande impulso como resultado da adoção da religião de Buda pelo grande estadista. O Japão enviou emissários ao reino continental ("kentôshi"). No seu interior existem. é o templo construído pelo príncipe. que se havia tornado muito poderoso e implantou um novo regime. pagode que se eleva alto para o céu. O príncipe Nakano-Oye foi o planejador e executor dessa idéia. foi morto e sua residência queimada. Este templo é hoje a construção de madeira mais antiga do mundo. constituem vista magnífica sobre a areia branca. 2. em cooperação com Nakatomi-noKamatari e outros correligionários. Nakano-Oye. Entre os homens que haviam visitado a China ou tido conhecimento do seu adiantamento. O Horyuji erguido em 607 na aldeia de Ikaruga. ao lado do seu palácio residencial. o chefe do clã. Grossas colunas de madeira. Reforma de Taikwa. estabelecendo intenso intercâmbio comercial e cultural. a sudoeste da cidade de Nara. a fim de reformar o governo do Arquipélago. derrubou o chefe do clã Soga. A situação do continente — Entrementes. na China havia desaparecido a dinastia de Sui e em seu lugar surgira.Horyuji — Shotoku-Taishi adotou e adorou o budismo e muito fez para sua divulgação em todo o Japão. não eram poucos aqueles que desejavam introduzir o sistema político aperfeiçoado do grande império. Numa conspiração palaciana bem planejada. Chegou a escrever livros sobre essa religião e mandou construir muitos templos. além de imagens de budas. muitas pinturas murais de traços e cores vigorosos. Iruka Soga. Outro clã. o dos 35 . e outros objetos de arte antiga. internas. em frente a uma suave colina. a dinastia de Tang (To ou Kara). sólida torre dourada. Costumavam trocar o nome da era sempre que havia algum acontecimento importante. Eliminou os processos velhos e anacrônicos da administração. Depois de Meiji é que foi estabelecido que a cada monarca reinante corresponderia um só "nengô". . Política reformista — Subindo ao trono o imperador Kotoku. adotando uma orientação completamente nova. A lei mais importante. foi a da distribuição de terras ("Handen-no-hô"). tanto auspicioso como trágico. os imperadores adotavam um ou vários "nengô" durante o seu reinado. Quer dizer que. E o Japão adotou pela primeira vez o nome de era ("nengô"). Assim. incêndio ou epidemias. os senhores poderosos não podiam ter. influenciada pelas idéias importadas da China. ao atingir a idade de seis anos. a partir dessa época. determinada área de terra para cultivar durante a sua vida. adotada na Reforma de Taikwa. Com a eliminação dos clãs mais fortes. Por esse motivo. Desde então ficou. . A partir dessa época. pela qual todos os homens e mulheres recebiam. Poucos soberanos tiveram um único "nengô". Ao mesmo tempo. o hábito de se adotar "nengô". foi decretada a medida que tornou todos os homens cidadãos públicos ("komin"). pois fatos de relativa importância política ou social se sucedem com freqüência na vida de uma nação. ocorreu em 645 da nossa era. pela sua repercussão e significado. Taikwa foi o primeiro nome de era oficialmente adotado. como terremoto. Essa revolução. como suas propriedades. trocava-se o "nengô" para "mudar a sorte" da nação.Monobe. a renovação política então realizada recebeu o nome de Reforma de Taikwa ("Taikawa no Kaishin"). também foi eliminado. Nakano-Oye ascendeu a príncipe herdeiro e deu as funções-chaves da máquina estatal a Nakatomi-no-Kamatari e outros elementos que haviam estudado na China. para sempre. populações que viviam em suas 36 . a família do Tenno conseguiu centralizar o poder em suas mãos. quando havia calamidades públicas. terras. Passavam todos a ser súditos do imperador. Significava o fim do regime de clãs, já bastante enfraquecido devido à própria evolução do país. Esta reforma constituiu uma verdadeira revolução social, baseada em grande parte, como dissemos, em ensinamentos trazidos da China. Aboliu-se a posse particular de gente por parte dos "uji", adotou-se a lei da distribuição das terras para os cidadãos livres. Aos poucos se extinguiu a classe aristocrática dos "kabane" e "uji". Em seu lugar surgiram as classes privilegiadas dos altos funcionários e grandes proprietários de terras. E, no tempo de Nara, apareceu uma outra classe, nova e influente: a dos sacerdotes. Continuavam a existir, ainda, as classes dos semi-escravos e a dos escravos, sendo que a última cresceu em número, porque, além dos prisioneiros de guerra, dos dominados à força e filhos de escravos, entrou nos hábitos da época a "compra e venda de gente": indivíduos insolváveis vendiam-se ou vendiam seus filhos como escravos para saldar suas dívidas. Também certos criminosos e estrangeiros parentes de indivíduos tornados servos eram incluídos nessa classe. Entretanto, os escravos podiam ser alforriados. No terreno político-administrativo, a Reforma de Taikwa traduziu-se na criação do sistema de "gun" (distritos ou municípios) e "ken" ou "kuni" (província, no sentido antigo, diverso do moderno. A mesma palavra "ken", hoje empregada na divisão administrativa do Japão, é traduzida por "prefeitura" ou província, no sentido atual). Estatuto de Daihô ("Daihô Ritsuryô") — Ao imperador Kotoku sucedeu no trono o imperador Saimei, tendo ainda o príncipe Nakano-Oye como herdeiro da coroa e colaborador imediato. Nesse remado, Abeno Hirabu levou as forças imperiais até Akita e Tsugaru (norte de Honshu) para dominar os "yezo". Na península coreana, o poderio de Shiragui estava no auge e, em aliança com Tang, havia avançado sobre Kudara. Este pediu o auxílio do Japão, que 37 enviou forças para socorrer o reino peninsular ameaçado. Mas Tang era muito poderoso e o Japão nada pôde fazer em favor de Kudara. Entrementes, o príncipe Nakano-Oye subia ao trono sob o nome de Tenchi Tenno. Julgou o novo soberano ser mais importante cuidar da administração interna do país do que intervir nas questões da Coréia e resolveu chamar de volta as forças expedicionárias. Assim o Japão retirava suas mãos da Coréia por um período mais ou menos longo. A península que, pelo menos em parte, estivera subordinada durante séculos ao Japão, causava muitas dificuldades ao governo imperial. Devido à distância e às divergências constantes entre os diversos reinos da península, difícil era exercer um controle satisfatório sobre a mesma. Por isso, Tenchi Tenno, preocupado em aperfeiçoar a administração interna, tomou a grande decisão de abandonar a Coréia. No tempo de Tenchi Tenno foi promulgada uma lei nova sobre a administração pública, que, após quatro sucessivas reformas, foi completada e publicada sob a denominação de "Estatuto de Daihô" (Daihô Ritsuryô"), no primeiro ano da Era Daihô (701), cerca, portanto, de sessenta anos depois da Reforma de Taikwa. Pela nova legislação foram criados cargos de ministro-presidente (Dajo-Daijin), ministro da Esquerda (Sa-daijin), ministro da direita (U-daijin) e outros para dividir a tarefa de governar o país. Sa-daijin se encarregava dos negócios da Casa Imperial e U-daijin ficava logo abaixo. Foram criados os cargos de "kokashi" ou "kunitsukasa" (governador de província) e "gunshi" (governador de distrito ou município). Conforme já vimos, Kyushu e o norte constituíram regiões rebeldes por muito tempo. Os "kumaso" e "yezo" deram muito que fazer ao governo de Yamato. Por isso e também porque a ilha de Kyushu estava em posição estratégica na fiscalização do comércio com o exterior (China e Coréia), foi estabelecida na pro38 víncia de Chikuzen um governo regional, que possuía jurisdição sobre todos os "kokushi" da ilha em número de nove. Além da administração interna das províncias da ilha, o "Dazaifu" — assim se chamava esse órgão do governo central — tinha as funções especiais de receber embaixadas estrangeiras, fiscalização do comércio exterior, naturalização de estrangeiros, defesa contra a invasão de alienígenas, e t c . Tratava-se, pois, de um órgão "sui generis", fruto de circunstâncias históricas e geográficas peculiares ao Japão. Na metrópole foi fundado o "Daigaku", curso superior para estudo dos clássicos chineses (hoje essa palavra significa Faculdade ou Universidade), e nas províncias, os colégios ("Kokugaku") para estudo dos mesmos clássicos. Ambos os estabelecimentos se destinavam à formação de funcionários, que prestavam exame de habilitação para ingressar na burocracia. O "Daihô Ritsuryô", que foi uma seqüência da Constituição de Taikwa, visou em princípio estabelecer um regime baseado no conceito da igualdade de direito dos homens. Entretanto, na prática predominava o preconceito de classes e castas. Havia hierarquia na nobreza e no povo. O ensino no "Daigaku" e nos "Kokugaku" era limitado a filhos de nobres e latifundiários ricos. A distribuição das terras ficou sujeita a regulamentação minuciosa. Mesmo com a lei de distribuição, as pessoas de posição recebiam terras especiais. Com o aumento da população, tornou-se impossível fornecer terra a todos. Assim, na Época de Nara, foi modificada a lei no sentido de se dar terra somente àqueles que abriam novos arrozais. Quer dizer que somente as pessoas que acrescentavam novas áreas cultivadas podiam ficar com elas. Destarte o "Handen-no-hô" que tornava coletivo o uso da terra não durou muito. Também contribuiu muito para o malogro da lei a sua minuciosa regulamentação, que tornava muito trabalhosa a distribuição das glebas. E exatamente devido às dificuldades burocráticas, houve muitas frau39 onde permaneciam poderosos os resíduos do antigo regime de clãs. conforme veremos adiante. simples e primitivas. da sede do governo. de pouca durabilidade.des e burlas. A falta de terras não cultivadas para a distribuição constituiu o golpe final contra essa legislação. foi estabelecida a capital na parte oeste da atual cidade de Nara. embora nem sempre aquelas terras senhoriais fossem de grande extensão. que pregava o governo justo (Wangtao em chinês — "wôdô" em japonês). de Yamato. O imperador Tenchi fundou sua capital em Ohtsu. capital (710-784). tornou-se necessário construir-se uma capital político-administrativa apropriada. 40 . freqüentes eram as mudanças de palácio e. portanto. o maior lago do Japão. termo que corresponde mais ou menos a "latifúndio". de madeira. em Omi (Shiga-ken). um excesso de idealismo político que não se coadunava com a sociedade conservadora. por assim dizer. estabeleciam suas residências-palácio. por ser uma espécie de tentativa de socialização da terra. sob todos os pontos de vista interessantíssima. 3. com a evolução do país. ao aparecimento dos "shoen". No terceiro ano da Era Wadô (710). da imperatriz Guemmyô. em geral. A Reforma de Taikwa e o Estatuto de Daihô receberam marcada influência do confucionismo. verificou-se uma espécie de reação. voltando o governo dos aristocratas. Porém. cidade que fica na extremidade sul do Biwako. A nova capital — Os primeiros imperadores. a começar por Jimmu-Tenno. o imperador Jito em Fujiwara. Houve. Com o fracasso do sistema. na planície de Yamato. Nara. desenvolveu-se o regime de propriedade particular que dará lugar. Sendo as construções. No período seguinte. Para facilitar a compra e venda. o Japão pôde orgulhar-se de possuir uma metrópole comparável a Chang-Yang (Cho-an). Abriu-se a feira. correspondentes a sete grandes períodos da história do Japão. Com a fixação da capital em Nara. seguida do "Nihon-shok i (Relação do Nipon). Com o minério ali extraído era cunhada a moeda nacional. que aliás serviu de modelo àquela.000 e tinha os traçados das ruas geomètricamente regulares. iniciou-se a mineração de cobre na terra de Musashi. Até então fazendas. a moeda de cobre. linho ou arroz faziam a vez do dinheiro. templos de parede branca. objeto de estudos do presente capítulo. vamos resumir. Nascimento da literatura nacional: — Para se ter uma rápida visão geral da história da literatura japonesa.400 metros por 4. prédios de colunas vermelhas. A cidade media cerca de 4. se erguiam aqui e acolá. capital de Tang. Pouco antes da fundação de Nara. Grandes construções como o palácio imperial. e nem sempre o local onde se erguia o palácio imperial se tornava cidade. descrições de províncias e pelo importantíssimo "Kojiki" (Rol das Coisas Antigas). destacando-se as escritoras Murasaki Shikibu e Seis Shonagon. período áureo da literatura japonesa. de estilo chinês. Até então. onde o povo vendia seus produtos e comprava gêneros de que necessitava. Nara foi a capital do Nipon. Terceiro período: — Chamado de Heian (794-1192). foi cunhada. Caracteriza-se a prosa deste período por éditos solenes. pela primeira vez. esquemàticamente. Segundo período: — Chamado de Nara (710-784). apenas alguns cantos primitivos e ritos sagrados restam desse período. toda a sua evolução em sete partes.Durante 74 anos (sete imperadores). Primeiro período ou arcaico: — Começa com as próprias origens do Império e vai até o começo do século VIII (Nara). era costume cada soberano trocar de residência. 41 4 . que. em que a corte se dividiu entre Kyoto e Yoshino e Período de Muromachi (1393-1603). iniciado com a Restauração de Meiji (1868). muito dispêndio de energia e paciência no seu aprendizado. Continuaram as descrições de guerras e combates. nos primeiros séculos da nossa era. apenas para comodidade de apreensão do conjunto. início do regime feudal. Período de paz e grande desenvolvimento literário. Aparece o "Tsure-zure-gusa" (Crônicas de Horas Vagas). isto é. os "kanji". Depois. Feita esta breve sinopse. abundam descrições de feitos militares sem grande mérito literário. de Kenkô. escrito totalmente em caracteres chineses adaptados à fonética japonesa. Por essa época foram escritos os primeiros livros no Japão. Populariza-se a literatura. Coreanos e chineses introduziram. Um caráter chinês completo tinha de ser empregado para cada sílaba de um termo nipônico. escrito no chinês clássico. o Japão não possuía alfabeto ou escrita próprios. exigindo. durante séculos. voltemos à nossa história. os japoneses empregaram a escrita ideográfica da China.Dos Tokugawa (1603-1868). Sexto período: . sobressaindo-se o "Hojoki" de Kamo Chomei. portanto. até então. É o mais antigo documento históricq-literário escrito em língua japonesa hoje existente. sob forte influência ocidental.Quarto período: — Kamakura (1192-1333). Sétimo período: — Japão moderno. ao período de Nara. Quinto período: — Período de Nambokuchô (1333-1393). fora privilégio dos grandes e aristocratas. por Yasumaro (712). dos shoguns Ashikaga. No tempo da imperatriz Guemmyô apareceu o "Kojiki" (Rol das Coisas Antigas). Como se viu. No reinado do imperador Guensho saiu a lume o "Nihon-shoki" (Relação do Nipon). 42 . Ambos registram lendas mitológicas e fatos históricos relativos ao antigo Japão. o "waka" apresenta uma forma métrica. que foi completada na sua forma atual no começo do século IX. "Waka" era uma modalidade poética cultivada desde a mais remota antigüidade no Japão. sete. o termo "man-yô" ou "man-nyô" deriva de "Yorozu-yo" ou seja dez mil anos ou eternidade. no qual foram colecionadas cerca de 4. ou "Man-nyô-shú" ("Coletânea das Dez Mil Folhas"). num total de 31 sílabas. no terceiro ano da Era Hoji (759). Os últimos poemas do último volume foram escritos. Figuram na coletânea cerca de quatrocentos poetas. Daí o ter sido aplicado ao nome da famosa coletânea. "Nunca os japoneses se deram a longas composições poéticas — escreve Wenceslau de Morais em "Relance da Alma Japonesa" 43 . chamada "tanka" que consiste em versos alternados de cinco. Ao pé da letra "Man-yô-Shû" significa Coleção de Dez Mil Folhas. palacianos. nobres. no início da época de Heian a palavra "man-yô" tenha contido o significado de "augurar eternidade ao trono. Entretanto. os mais célebres poetas do período Nara. com mais de quatro mil poemas. enquanto outros aparecem com mais freqüência. É difícil saber com exatidão quem organizou os primeiros volumes e também difícil indicar com precisão a data em que foram produzidos os primeiros poemas. principal. segundo Hisataka Sawagata. sendo Kakimoto-no-Hitomaro e Akahito. Não há rima na poesia japonesa. O citado autor supõe que. mas o "Man-yô-Shû" constituiu o mais antigo livro de poesias do país. contribuindo alguns com apenas um ou dois "wakas". à família imperial". o seu verdadeiro sentido foi objeto de várias interpretações e segundo o "Man-yô Shû Kenky û " de Shinobu Origuchi. Constava a coleção completa de vinte volumes. cinco e sete sílabas e um verso final de sete sílabas. Como se sabe. Entre os poemas colecionados figuram produções de vários imperadores.A seguir apareceu o "Man-yô-Shü".500 "wakas". posteriormente colecionados. e t c . os primeiros datando do tempo do imperador Yuryaku (457-480). principalmente do período de Nara. por onde se difundia a cultura florescente da metrópole. para eles. o centro cultural regional. ainda existentes em Nara e os tesouros e Budas nelas guardados. por trinta e uma sílabas — pouco mais ou menos a grandeza cia nossa quadra portuguesa. aperfeiçoou-se a técnica de fabricar objetos de arte que adornam os templos. Já nesta época havia artistas nacionais bastante talentosos. Kokubunji e Buda Grande — Nara viu o auge de sua prosperidade na era Tempyô (729-748) do reinado de Shomu. mostram como estava adiantada a cultura japonesa daquela época. de caráter puramente budista. algumas dezenas de versos. simplesmente. e a grande maioria é representada pelo gênero denominado tanka. "Kokubu". 44 . deparam-se algumas do gênero a que chamam "nagauta". mesmo encarada do padrão mundial dos dias de hoje. São também encontradiças pedras que serviram de alicerces ao pavilhão ou torre desses templos. Tanto na arquitetura como na escultura. Na verdade.— não está isto no seu gosto. juntamente com telhas de cobertura. os maiores. poemas longos. em meio a arrozais e outras plantações. O poema é. em várias partes. Mede esse monumento cerca de 16 metros de altura e o pavilhão que o abriga tem 45 metros de altura. No "Man-yô-Sh û " onde se encontram reunidas mais de quatro mil poesias. mas ainda se fazia sentir a influência do continente. popular". Esses templos constituíam. O monarca cultivou o budismo com ardor e para sua divulgação mandou construir "kokubunji" (templos provinciais) nas províncias. harmonioso e rápido. mas que apenas contêm. Ainda hoje encontramos o nome de "Kokubunji" ou. foi enorme a contribuição dos artistas chineses e coreanos ou naturalizados. como que um gorgeio de pássaro. Com a expansão do budismo. juntamente com a administração local dos "kunitsukasa". a arquitetura nipônica da época atingira um nível elevado. Shomu Tenno construiu ainda o Buda grande do Todaiji em Nara. As construções de Shoso-in (museu imperial) e Sangatsudô. por sua vez. Emissários a Tang — O Japão e Tang que se hostilizaram por causa de Kudara. os benefícios dessa adiantada cultura eram somente gozados pelos palacianos e nobres e pessoas de suas relações. atravessando o Mar da China oriental. o excessivo culto do budismo pela Corte acarretou pesado ônus ao tesouro. Os viajantes dirigiam-se. Foi reiniciado o envio de emissários à China (kentô-shi) e Tang. Embora constituísse uma honra o participar de tais embaixadas. Entre os sacerdotes surgiram alguns interessados em política e que nela começaram a interferir. O bonzo Dokyô teve a fortuna de merecer a confiança absoluta do imperador Shotoku. as viagens por mar naquela época eram ainda arriscadas. os navios voltavam ao porto de partida. mandava embaixadores. Muitas vezes a comitiva dos emissários compreendia mais de quinhentas pessoas. As relações com Shiragui continuavam normais. 4. aos templos para pedir a proteção dos budas de sua devoção. muitas vezes. mas seu plano abortou devido à enérgica oposição de Wake-no-Kiyomaro. inclusive estudantes. Eles embarcavam em navios que partiam de Naniwa (atual Osaka). Abusando. restabeleceram suas relações de amizade. atingiam o continente. Por outro lado. este procurou corrigir os excessos do budismo e introduziu várias reformas no setor político-administrativo. devido à impossibilidade de realizar a travessia do mar agitado. tramou tornar-se imperador. Freqüentes eram os naufrágios e. Subindo ao trono o imperador Konin. 45 . aportavam em Hakata de Chikuzen (Fukuoka-ken) e.Wake-no-Kiyomaro — Entretanto. da sua posição. Queria usurpar o trono. antes de embarcar. porém. Os pobres e habitantes das regiões afastadas da metrópole continuavam a levar existência obscura. Relações com o exterior. durante cerca de duzentos anos. desde então até o seu desaparecimento. árabe e coreana. Tang atingiu o zênite da sua prosperidade na época em que o imperador Shomu (724-748) reinou no Japão. Absorvendo as culturas dos países vizinhos. tendo ido estudar na grande e deslumbrante corte de Tang. atravessando o continente e mares. grandes admiradores da cultura adiantada de Tanga não temiam arriscar suas próprias vidas. indiana. sob as influências chinesa. as culturas avançadas da Arábia e Pérsia também foram introduzidas na China. Vinda de estrangeiros — Como vimos. Indianos e persas também chegaram até as terras do Yamato. Aquele país mandou. A seguir. Um sacerdote notável. no período de Nara. com a qual Tang mantinha intercâmbio cultural e comercial. Chien Chen (Ganjin). da China tentou várias vezes atravessar o mar para visitar o Japão e. e. conseguiu afinal realizar o seu intento. intensificava-se. por seu turno. no Japão. ao sul até a península da Indochina. a China progredia a largos passos. Pechili enviou ao Japão uma missão com peles e outros produtos. no reinado de Shomu. persa. Mais para o Ocidente ficava a poderosa Arábia. retribuía com enviados àquele reino do continente. que. assim. as relações com o estrangeiro. Relações com Pechili — Na época da imperatriz Guemmyô (708-714) surgiu na região da Mandchúria um novo reino denominado Pechili (Bokkai). As indústrias e artes da época de Tempyô tiveram. por intermédio desta. emissários ao Japão. Alguns conseguiram galgar posi46 . Desse modo. um colorido todo especial.Porém os enviados. Por outro lado. apesar das dificuldades de navegação e não obstante ter-se tornado cego. lá ficavam para sempre. ou seja. Seu domínio se estendia a oeste até a Ásia Central. havia japoneses que. O direito de propriedade das terras passou dos clãs para o imperador e. o Shoso-in e Sangatsudô tenham exigido.ções de destaque na corte chinesa. o usufruto passou para as famílias (ko). Estes eram os descendentes dos "yakko" e parte dos "be" decadentes. unidade econômica estribada no trabalho dos escravos. Roma. Continuava. e t c ) . Grandes templos e monumentos bem como objetos de arte surgiram em Nara. e. 47 . aliás. no trabalho produtivo dos campos e da indústria caseira. A unidade econômica era a família (ko). grande sacrifício anônimo dos servos obreiros. A coroa. em princípio. em resultado da lei de distribuição de terras ("Handen-no-hô"). continuando outros na condição de semi-servidão. Condições econômicas e sociais — Vimos que o período de Nara caracterizou-se por um fulgurante surto cultural na metrópole. Foram empregados escravos em grande número. Com a reforma de Taikwa. Outra parte dos semi-escravos do tempo dos clãs passou para a classe dos cidadãos livres (ryô-min). os templos e os proprietários particulares constituíam cada qual um ko. Como aconteceu. Entre eles se destaca o sábio e poeta Abeno-Nakamaro. ainda. desapareceu o regime de clãs e surgiu um estado centralizado. Compreender-se-á que as suntuosas obras públicas como o Horyuji. a economia da terra. O período de Nara teve um regime econômico escravagista. auto-suficiente. além do trabalho dos arquitetos e outros artistas estrangeiros e nacionais. agora com o nome de "zakko". Grécia. com todos os estados antigos (Egito. de maneira especial. de fato. Situava-se a nova capital num sítio aprazível. na província de Yamashiro. ficava no centro de comunicações entre o leste e oeste do país. DE HEIAN (794-1192) Heian. Kwammu transferiu a corte para Kyoto. no aperfeiçoa- . Os homens que subiam à nova capital deram-lhe logo o nome de Heian-kyô. Heian-kyo foi. Além disso. capital. ou Metrópole da Paz. Especialmente. a fim de realizar uma completa reforma política. E' o chamado "Período de Heian" (794-1192). até a fundação do bakufu de Kamakura. durante mais de mil anos. Julgou. banhado por límpidas águas e gozava de vistas realmente belíssimas. Assimilação dos acarretou numerosas Na política também A corte esforçou-se. cercado de montes por três lados. no décimo terceiro ano da Era Enryaku (794). Seguindo o conselho de Wake-no-Kiyomaro. 48 yezo — A transferência da Capital experiências novas na vida do pais. o novo soberano. Desde então. até a Restauração de Meiji (1868).CAPÍTULO III PERÍODO 1. Kyoto foi a sede do trono. foram introduzidas várias reformas. o centro político e cultural do país. Mudança de capital — Kwammu Tenno sucedeu a Konin no poder. necessário transferir a capital para outro ponto. Pelo rio Yodo saía-se no porto de Naniwa (Osaka). regressando com amplos conhecimentos sobre o novo budismo. Assim. ensinando-lhes métodos de cultivar a terra. Seus soldados chegaram até a atual província de Iwate. tornou-se. A corte adotou. aos poucos. A parte nordeste do País foi. os yezo foram assimilados com o decorrer do tempo e afinal se integraram no povo japonês. de Kii. continuavam os "yezo" a resistir. na época de Komu Tenno. o Templo Kongobu. insubmissos e rebeldes. funcionários da administração local. os homens do leste que se transferiram para o nordeste. levantando-se com freqüência contra o governo central. como conseqüência da existência de grande número de bonzos. Sakanoue Muramaro foi nomeado "comandante em chefe das forças expedicionárias contra os bárbaros" ("Sei-i Taishogun"). no monte Koya. também. muitos dos quais começaram a se intrometer na política. Deste modo. exclusivamente. criação do bicho da seda. étnica e culturalmente. Saichô e Kukai — Também o budismo foi se modificando de acordo com a evolução do país. Ambos seguiram para Tang no tempo de Komu (782-805) e lá estudaram com célebres sacerdotes chineses e. os divulgaram. No período de Nara. Por isso.mento dos governos regionais. foram construídos numerosos templos budistas (terá) na capital e. para que os sacerdotes se dedicassem. o poderio do governo central se fêz sentir até a atual província de Niigata e. no tempo do imperador Shomu. a civilização atingia a região que corresponde aproximadamente à atual cidade de Sendai. de Kukai. dois sacerdotes notáveis pelo caráter e pela cultura. Surgiram as seitas Tendai. O nordeste. então. doando-lhes terras e nomeando os mais capazes. recebendo a luz da civilização. Não poucos foram. tanto tempo rebelde e inconquistável. no Japão. igual às outras partes do Japão. a seguir. mais ao norte. uma política de apaziguamento e assimilação dos "yezo". ao serviço da 49 . Saichô fundou o Templo Enryaku no monte Hiyei e Kukai. de Saicrô e Shingon. na época de Kotoku Tenno. a fim de explorar suas terras e orientar os "yezo". Entretanto. Viajaram por várias províncias. acompanhou a diretriz do seu antecessor. porque era este um homem culto e probo. Estes nomes foram-lhes conferidos pelo soberano. Entretanto. Kukai e Saicho não deixaram de manter contacto com o mundo exterior. atingindo o seu apogeu na época de Heian. o imperador Tenchi lhe deu o sobrenome de Fujiwara. Depois de morto. Kamatari Nakaomi.religião. Ocuparam sucessivamente esses postos membros da família Fujiwara. Saicho recebeu o nome de Denkyo-Daishi e Kukai. monarca seguinte. como outrora. Foram criados novos cargos não previstos por lei. A influência da família Fujiwara. ainda hoje serve à lavoura da região. dirigindo toda a política da corte ao sabor dos interesses do clã. Ministro da Di50 . A família Fujiwara aumentou de influência. membros de uma mesma familia ocupavam durante gerações seguidas funções de máxima importância. 2. em retribuição aos serviços por êle prestados à coroa e ao país. Entre eles os de maior autoridade eram os de Regente ("Sesshô") e Conselheiro-Chefe da Corte ("Kwampaku"). Kukai construiu tanques para irrigação de arrozais. o de Kabô-Daishi. Regente e Conselheiro-Chefe do Imperador ("Sesshô" e "Kwampaku") — Antes da morte do grande estadista da Reforma de Taikwa. Ambos aconselhavam seus discípulos a subirem ao monte e estudarem e meditarem longe dos assuntos terrenos e mesquinhos. existente em Sanuki. O Tanque de Mannô. como homenagem póstuma. Michinaga e seu filho — Uda Tenno atribuiu funções de relevo a Michizane Sugawara. nomeando Sugawara. embora de origem modesta. Já as normas políticas estabelecidas em sábios estatutos não eram seguidas e. Tornaram-se eles os senhores reais da administração do país. Daigo. fora suspenso o envio de missões a Tang. Foi crescendo o poderio dos Fujiwara. Evolução cultural — Nobres da corte. como os Fujiwara. A orgulhosa família Fujiwara não gostou que outros. A cultura. levando uma vida de luxo e pompa na corte. Disso resultou uma cultura aristocrática excepcionalmente brilhante. (5) 3. Conforme já foi exposto. Deixou aos poucos de depender do continente. Em conseqüência disso. descendia dessa famosa estirpe. chamado "Shinden-zukuri". viessem ocupar cargos importantes e removeu Michizane para o Dazaifu de Kyushu. Michinaga ocupou o governo durante trinta anos. mesmo depois do período de Heian. atingindo o ponto culminante na época de Michinaga e seu filho Yorimichi. as relações oficiais entre o Nipon e os países do continente. 51 . temporariamente. desaparecia a dinastia dos Tang. Logo depois. De Reizei Tenno a Goreizei Tenno (968-1068). que não de seu clã. quase todas as imperatrizes saíam da família Fujiwara. a seguir. que consistia (5) O príncipe Fumimaro Konoye que foi primeiro ministro por três vezes antes da guerra do Pacífico e que se suicidou depois da rendição do Japão.reita. gozavam de imenso prestígio e nadavam num mar de prosperidade. As artes — Graças à prosperidade dos aristocratas. a cultura japonesa entrou numa fase de nacionalização. Diga-se de passagem que os Fujiwara continuaram exercendo sua influência durante séculos. "Dazaifu" constituía o governo geral. que exerceu com exclusividade as funções de "Sesshô" e "Kwampaku". Romperam-se assim. Pechili e Shiragui (Silla) também cairam. suas residências apresentavam agora um novo estilo arquitetônico. Por sugestão de Michizane Sugawara. destinado a controlar as províncias daquela ilha meridional e fiscalizar o comércio exterior. com as variações consonantais baseadas nas cinco vogais: a. com um jardim panorâmico do lado sul.num certo número de prédios retangulares unidos por longos corredores. em 48 sons. que foi o precursor da atual pintura nipônica. foram também criados dois tipos de "kana". teve início há cerca de quatro mil anos e nunca atingiu a fase alfabética. fenômenos. O "Yamato-e" (pintura "Yamato"). que desde o seu aparecimento (não se sabe ao certo quem os inventou) deixou de ficar sob a dependência absoluta dos complicados "kanji". o. ou acontecimentos históricos. cobertas de palha. Os "kana" serviram de alfabeto elementar para o povo niponico. Consiste o silabário. Realizaram os japoneses do período de Nara uma verdadeira revolução ao inventarem os "kana". as residências populares eram simples. o ideograma chinês. ambos. resultante do desenvolvimento de "escrita de imagens". silabários resultantes. da natureza. a uncial ou letra de forma e a cursiva. u. Como se sabe. teve início nessa época. e. A ponte anterior apresentava-se arqueada para permitir a passagem de barcos por baixo. Como os ideogramas chineses apresentam-se em duas formas. No palácio imperial adotou-se também o mesmo estilo de construção. e t c . da extrema simplificação de caracteres chineses. A escrita 52 . em policromia. objetos. que a princípio representava em desenho. Nos "fussuma" (porta corrediça) e biombos dos palácios "shinden-zukuri" foram fixados lindos quadros da natureza. Difusão dos "kana" — No século IX surgiram o "hiragana" e o "katakana". Contrastando com o refinamento dos palácios dos nobres. tanto do "hiragana" como do "katakana". i. Foi um passo decisivo para a independência cultural do Japão e sua posterior evolução. seres. contendo um grande tanque onde havia sempre uma ilhota ligada às margens por uma ponte na frente e outra atrás. usada mais na grafia comum. mesmo essa modalidade de poesia. logo a seguir. Com o uso do "kana". 53 . com a criação dos "kana". Livros como o "Kokin-Shû" (Coletânea de Poemas Antigos e Modernos). Até então. Embora longamente habituado a escrever somente o difícil "kanji". foram publicados uns após outros. Como decorrência natural da divulgação dos "kana". A autora.cuneiforme dos sumerianos e os hieróglifos egípcios — de cuja evolução derivou o nosso alfabeto — datam. A sra. a linguagem falada pode ser posta sob forma escrita e também os sentimentos e pensamentos encontraram um veículo mais apropriado de expressão. era escrita em caracteres chineses adaptados à fonética japonesa. exclusivamente. Murasaki Shikibu publicou o "Guenji Monogatari" (História de Guenji). dos séculos VII ou VIII antes de Cristo. escritas crônicas narrando os costumes e aspectos da vida na corte e da aristocracia. crônica realística da vida de personagens que viveram na época. Apareceram também as primeiras obras de ficção como o "Taketori Monogatari" (História do Cortador de Bambu). os nipônicos do século IX tornaram possível. do "kanji" para expressar todos os seus pensamentos. que teve como seu colaborador principal o poeta Tsurayuki. Compreende-se. a produção de "waka" se tornou intensa. o nascimento de uma literatura nacional característica e riquíssima. Foram. Antes dela. porque a língua chinesa é completamente diferente da nipônica. que constitui um dos cumes da literatura nipônica. por volta do ano 1. escreveu esta grande obra. segundo os historiadores.000. Portanto. Precisava adaptar o som do ideograma à língua nacional e isso exigia grande esforço. o japonês aprendeu a empregar o "kana" para expressar-se mais naturalmente no seu idioma. O uso do "kana" foi difundido com grande proveito para a cultura. da nobre família Fujiwara. a importância da invenção dos "kana" para o povo japonês. genuinamente nacional. pois. tinha que se servir. aos chineses. mais popular. que escreveu "Makura-no-Shoshi" (História de Almofada). as mulheres dispunham de um método mais livre de expressão — elas tinham o hábito de usar o "kana". respondendo ele mesmo. a cultura daqueles dias não estava monopolizada por nenhum dos sexos. Todos escreviam em chinês. que. e homens e mulheres da aristocracia tinham igual liberdade de estudar literatura. a literatura nacional o píncaro dourado. nem exerceu tamanha influência sobre a evolução da literatura e da língua" — diz Will Durant na sua "Nossa Herança Oriental". ou seja. Os homens se interessavam mais pelos clássicos da Índia e da China. Isso não significava somente ler. a ideografia chinesa era por demais inconveniente para a expressão realística e iiaturalística do pensamento japonês. crônica da vida refinada e escandalosa da classe alta. Entretanto. mas também criar. enquanto as mulheres estendiam o seu interesse além dos limites dos clássicos. explica: "A resposta pode ser encontrada nas circunstâncias abaixo descritas: Durante o período em questão. Assim. Por esta razão. Entretanto. tanto públicos como 54 . o seu pensar e sentir."Nenhuma novela posterior mostra as excelências do Guenji. Atingiu. então. para escrever de modo mais simples. as letras fonéticas. às mulheres competia escrever histórias e diários. Sei Shonagon. também aristocrata. traçada em cores vivas. religião. o horizonte de estudos dos intelectuais do sexo masculino era limitado aos clássicos — isto é. Ademais. naturalmente. e t c . os homens de então não possuíam meios literários adequados para expressar. registrar acontecimentos contemporâneos. "Por que a literatura japonesa foi iniciada por escritoras?" — pergunta Nyozekan Hasegawa. tendo como expressões máximas as duas ilustres representantes do belo sexo. indo até o campo da literatura popular como os "monogatari" e "soshi". Outra notável escritora contemporânea de Murasaki Shikibu foi a sra. "Howô-dô" (Templo Fênix) — Tornou-se o budismo parte da vida. as estátuas e pinturas de budas foram niponizadas. é considerado. as mulheres daquela época se achavam em posição similar à ocupada hoje pelos intelectuais. 55 . Ela mostra que o naturalismo e o realismo eram a atitude tradicional do nosso povo. Destarte. O volumoso "Eiga Monogatari" (História de Opulência e Luxo) que também foi obra de uma representante do belo sexo. integrou-se nos costumes dos nobres. o "Byodô-in" em Uji (1053) e aí passou a velhice. que é a característica da literatura dos tempos modernos. A arquitetura dos templos. Michinaga Fujiwara construiu "Hojo-ji" em Kyoto. Ela é particularmente notável pela sua tendência realista. Esta obra literária. Esta diferença entre homens e mulheres foi observada durante dois séculos na formação literária dos escritores e poetas de ambos os sexos.da vida privada. E é porisso que as crônicas da vida da corte — como os "monogatari" e diários — eram escritas principalmente por mulheres. até que a literatura japonesa atingiu a plena pujança na "História de Guenji". Mas somente os melhores trabalhos sobreviveram à ação do tempo. ainda hoje. Pode-se inferir. Elementos femininos da alta sociedade. embora não participassem ativamente da vida do governo. e seu filho Yorimichi. com educação regular. Podiam observar e criticar. dos fins do século XII. realizada por uma mulher. é de considerável importância. também. mesmo julgada sob o mais elevado padrão da literatura de todos os tempos. que as mulheres da alta sociedade gozavam de liberdade de cultura e que elas viviam numa atmosfera francamente "política". um suplemento de vital importância dos documentos oficiais" (Nyozekan Hasegawa: "Educational and Cultural Background of the Japanese People"). Esta divisão de trabalho era responsável pelo fato de se limitar às mulheres o uso do "kana". que não tentassem escrever suas histórias ou diários constituíam casos excepcionais. no século XI. Havia funcionários regionais que somente pensavam em seus próprios interesses. como a literatura. com prejuízo para o povo. como. os elementos influentes começaram a tomar posse de grandes glebas ("shoen") de terra. Divertiam-se os nobres na contemplação das cerejeiras na primavera e do bordo ("momiji") no outono. que provando a solidez do prestígio dos Fujiwara. O poderio dos Fujiwara 56 . Capital e interior — Atingiu alto grau de esplendor a cultura aristocrática na metrópole (Miyako). os aristocratas olvidaram ou deixaram em plano secundário a administração pública. arquitetura. Devido à frouxidão administrativa. etc. Pouco a pouco surgiram os efeitos da negligência. Absortos nas delícias da vida citadina. no Mar Interior (Setonai-kai). nas isoladas estradas do interior. refinada e luxuosa. vendedoras percorriam as ruas. maus elementos começaram a implantar sua influência. A situação do interior. piratas pilhavam navios carregados de mercadorias. Em Kyoto funcionavam feiras e lojas. o comércio florescia e nas margens do rio Yodo prosperavam os portos de Yodo. mas o "Howô-dô". Resultou dessa existência ociosa grande desenvolvimento das belas artes. pintura. Longos corredores se estendem para a direita e para a esquerda e o conjunto da construção lembra uma fênix de asas abertas cortando o espaço. relegando a planos inferiores os interesses públicos. Daí o nome.Desapareceu o Hojo-ji. Latifúndios ou grandes propriedades ("Shoen") — Esquecida quase por completo a lei das terras. Eguchi e Yamazaki. pavilhão principal do "Byodô-in". sua vida era. E até na metrópole apareceram ladrões e incendiários. ainda resiste à voracidade do tempo. gozavam o canto e a música. assaltantes atacavam vianjantes e. enfim. 4. Entretanto. Assim. por lei ou por alguma circunstância fortuita. ficando a sua administração a cargo de prepostos que moravam no local. Assim. antigas propriedades da coroa bem como de particulares também se transformavam em "shoen". podiam ser alforriados pela vontade dos seus senhores. muitas espécies de párias. Muitos "shoen" pertenciam a nobres residentes na capital (Kyoto). por todos os meios. inclusive escravos. politicamente. em geral. E os "shoen" absorveram naturalmente os escravos na lavoura. econômica e. nobres. campo inexplorado. embora o hábito de vender e comprar gente ainda continuasse em vigor por muitos séculos. No começo eram eles obrigados a contribuir com seus tributos. A realeza procurou. na razão direta da distância da metrópole. da circunstância de eles arrecadarem vultosos impostos dos arrendatários do seu latifúndio. ainda. "shoen" tinha o sentido de casa de campo ou terra abandonada. em parte. impedir a formação de "shoen" e diminuir a influência perniciosa dos grandes proprietários. Eram autônomos. 57 5 . Desenvolvimento dos "shoen" — Origin a riamente. Esta veio como que restabelecer o antigo regime de clãs.provinha. diminuiu muito o número de escravos. até certo ponto. Dos "shoen" originaram-se as famílias ricas e influentes do interior. Estes. porém. Gozavam os "shoen" de uma espécie de direito de extraterritorialidade. mas nada conseguiu devido à força conquistada pela aristocracia. mas com o decorrer do tempo e paulatino crescimento do seu poderio foram desobedecendo aos "kokushi" (governadores provinciais). já no fim do período Heian. cortesãos ou templos para que fossem cultivados. cada vez mais auto-suficientes e afastadas do poder central. Passavam muitas vezes a cidadãos livres. Os habitantes das terras públicas pagavam impostos mas os "shoen" não. distribuído a príncipes. cuja autoridade diminuía. Existiam. sob outra roupagem. ou pela organi58 . por dentro. assinalador do ápice da Idade de Ouro. A riqueza acumulava-se e criava uma vida de luxo. Todos os apetites encontravam satisfação: a cozinha inventava novidades para o paladar gourmant e gourmet. guerreiros de profissão. o expoente supremo do bom gosto e das artes. porque repousam na excessiva concentração da riqueza.. não percebiam a corrupção em redor de si. Com exceção dos pobres. o Japão entrou no período Engui (901-922). que.Entretanto. a fornicação e o adultério passaram à categoria de pecados veniais. Kyoto fez-se a Paris e a Versalhes. Eram os samurai ou bushi. do Japão. substituiria a aristocracia na direção dos negócios de Estado. todos andavam vestidos de seda de harmoniosos tons. A música e a dança embelezavam a vida na corte e nos templos. ou madeira finamente entalhada. O desdém pelos hábitos e virtudes marciais. uma súbita oscilação econômica pode destruir tudo.. mais tarde. Florescia a literatura e a moral decaía. bronze e ouro. salteadores e piratas infestavam os caminhos e mares e. e. e protegido por um governo estável. com o nariz nas nuvens. A criminalidade cresceu entre os pobres na mesma proporção em que o luxo avultava entre os ricos. imparcialmente. irmãos dos cavaleiros da Idade Média no Ocidente. dos mesmos "shoen" nasceu uma nova e poderosa classe que. a exaltação da cultura acima da capacidade encheu a administração de poetastros incompetentes. os cargos passaram a ser entregues a quem mais dava. preavam tanto a fazenda do povo como a do imperador: os coletores de impostos eram despojados nas estradas. O trecho seguinte do já citado livro de Will Durant constitui uma síntese admirável da situação do Japão daquela época: "Estimulado pela grande nação vizinha. as residências aristocráticas rodeavam-se de lindas paisagens. por fim. de refinamento e cultura não igualada no mundo antes dos Medicis e dos salons da grande época da França. Tais épocas de alto refinamento costumam ser breves. tudo eram primores de marfim. embora na hierarquia social ainda ocupasse posição inferior em relação à aristocracia ou ao clero. como isenção de impostos. à proporção que se alteava o poder dos grandes chefes familiares. Eis a origem do samurai. o que deu origem. cujo poder e influência cresciam cada vez mais. eram homens afeitos a todas as durezas da luta e capazes de realizar seus desígnios e cumprir seus deveres. Os 59 . Como apareceram os samurais. fortes e ágeis no manejo das armas. dia a dia. sem ligar ao luxo e mesmo ao conforto da cidade. 5. Estes. compreender o poderio que a classe dos "bushi" conquistou. Depois de certo tempo. organizando-se em grupos e mantendo armas. Entre senhores e vassalos existia um inquebrável laço de lealdade. deixou o governo exposto aos assaltos de qualquer aventureiro audacioso. o donatário. a história se moveu na sua antiga oscilação entre o poderoso governo central e o regime feudal descentralizado". fêz com que os homens do campo cuidassem da sua defesa. Os chefes militares mais poderosos eram os Guenji (Minamoto). E. O mentor da organização era o proprietário. Samurai ou "bushi" — A ausência da proteção policial. a terríveis lutas civis para a disputa do trono. mais impotente. a um tempo. abandonando parcial ou totalmente a lavoura. tornaram-se guardas profissionais. Fácil é.zação da defesa. O próprio imperador tornava-se. que também é chamado "bushi". os elementos treinados na arte militar. Quando havia qualquer agitação ou motim no interior eles precisavam recorrer ao auxílio dos samurais. mais uma vez. do oeste. Eles gozavam de privilégios diversos. As grandes famílias formavam seus próprios exércitos. Não dispunham os funcionários da corte de forças para governar o país. e os Heishi (Taira). pois. que viviam na simplicidade da vida campestre. do leste. o dono do "shoen". especialmente nas zonas rurais. levar avante o seu plano de restaurar o poder do trono. se distribuíam pela região de Kinki (distritos de Osaka e Kyoto) e Chugoku (províncias centrais). etc. Depois da morte de Gosanjo. porém.) Por isso. Como o imperador ficava sobrecarregado de funções rituais na corte. indignado com o excessivo prestígio dos Fujiwara. um atual e outro retirado. abdicou cinco anos após sua ascenção em favor do seu filho Shirakawa Tenno para. como é fácil de se ver. Shirakawa Tenno também abdicou.primeiros descendiam de -Seiwa Tenno e ocupavam postos de governança na região de Kwantô e Nordeste (Tohoku). os seus ideadores planejaram exercer o real poder político nos "In" (palácio clausurai onde se retiravam os ex-soberanos). que foi adotado por várias gerações. Shirakawa passou a ser "Jokô" (ex-imperador) ou "hoô" (imperador-monge) e encerrou-se num claustro budista. descendentes de Kwammu Tenno. o resultado não se fêz esperar. os Fujiwara haviam chegado a uma posição de absoluta superioridade dentro da classe dominante do país. Embora de comum origem. como expedir editos. Entretanto. assim. Motivou este regime especial e anômalo o desejo dos imperadores de restabelecer o poder político da coroa. de onde. Esfriaram-se as relações entre a corte e o "in". porém. realizando várias reformas no regime político-administrativo. o que se refletiu tam60 . ao passo que os últimos. este. assumiu pessoalmente o governo. Gonsajo-Tenno. Mas. governou ainda o país durante cerca de quarenta anos. entregando o trono a Horikawa Tenno. com maior autoridade do que aquele (por ser o progenitor e por dispor de meios práticos de governar. 71. nomear funcionários. "Insei" — Conforme vimos. prejudicado pela família Fujiwara. havia sido criado um estado absurdo: a coexistência de dois monarcas.° imperador do Japão. as duas famílias se tornaram rivais e se hostilizaram durante séculos. na prática. Chama-se a este sistema anormal de governo de "Insei" (Governo do Imperador Enclausurado). Entrementes. que vieram mostrar. Yoriyoshi Minamoto. respondeu improvisando a primeira metade do poema. que. apoiados pelos samurais do seu clã e. então. "Ji" ou "shi" é uma espécie de título. ainda. Formavam os bushi uma classe unida e forte nessa região. de súbito. vencedores daqueles. por sua vez. simplesmente. os Guenji.) e estavam pouco exploradas. como veremos adiante. e Yoshiie se encarregou da pacificação. outro levante em Ou. dividindo-os em partidários do Tenno e do "Jokô". que estivera agitada 61 . Seus habitantes não haviam sido contaminados pelo luxo da metrópole e. na região de Ou no Nordeste. sua moral continuava elevada. quando. por conseguinte. depois. significa. Sadatô. claramente. Na época em que foi construído o "Byodô-in" verificou-se o levante do clã Abe. A região de Ou. hoje em dia. lhe ocorreu a metade final de um "waka" e a declamou em voz alta. e seu filho Hachimantaro Yoshiie sufocaram a rebelião. que era um Guenji (o ideograma "Minamoto". lê-se também "guen". E subiram. sobrenome. se lê também "hei". os Heishi.. Verificou-se. Yoshiie admirou a presença de espírito e o estro poético do seu adversário e poupou-lhe a vida. como um bom samurai. o que conseguiu com muita habilidade. rebentaram várias rebeliões. Sem o seu apoio não seria mais possível exercer a autoridade do governo. com o que o seu prestígio aumentou consideravelmente. É célebre o episódio da luta entre os dois chefes militares: Yoshiie perseguia Sadatô Abe.bém nos meios aristocráticos e no funcionalismo. dado pela corte em sinal de distinção e. nome de família ou "senhor" — tratamento de cerimônia). Os Guenji no leste — Ficavam longe de Kyoto as terras do levante (as estradas eram más e nelas pululavam assaltantes.. era também poeta. "Taira". chefe dos rebeldes. que os "bushi" dispunham já de força necessária para dominar o país. Yoshiie repartiu seus bens com os vassalos. Os cargos de regente e conselheiro-chefe do trono tornaram-se apenas nominais. que pertencera ao Templo Chuson-ji ali erigido. construiu o Templo Itsuku-shima. que. Kiyohira Fujiwara. continuou a governar do "Palácio do ex-imperador". soubera aproveitar a crescente influência dos "bushi" e a política do "In". 62 . a seguir. Kiyomori fora um político hábil. mas foi vencido e os Guenji. Kiyomori foi. quando Taira-no-Tadamori conseguiu acabar com os piratas do Mar Interior. em Hiraizumi. para pedir a proteção divina à sua família e realizou outras obras públicas notáveis. desejando derrubar Kiyomori. Kiyomori construiu um porto em Hyogo. mas.durante 12 anos. Dizia-se então que "Quem não era Taira não era gente". Yoshitomo Minamoto. auxiliou Yoshiie. também aumentou seu poder. cresceu de importância. Contudo. Irrompeu um conflito armado na capital devido a dissenções internas da corte. no Mar Interior. Kiyomori Taira. nessas lutas. completamente dominada. se dispersaram por todo o país. como vimos. abriu canal de Ondo. afinal. guindado ao posto de Dajo-Daijin e todos os membros da sua família ocuparam posições importantes. Domínio dos Heishi — Começaram os Taira a adquirir influência na época do imperador Sutoku (1124-1141). criadas em conseqüência do "Insei". a influência dos poderosos "bushi" do interior começou a se fazer sentir também em Kyoto. Entretanto. organizou um levante na era de Heiji ("Heiji-no-ran"). tornando-o navegável. Na corte começava a diminuir a influência dos Fujiwara. estabeleceu relações comerciais com a dinastia Sung (Só) que sucedera à Tang na China. desorganizados. o seu excessivo apego ao luxo e à pompa. abusou do poder e se tornou odiado por muitos e seu governo não durou. da qual ainda hoje se conserva a torre dourada. cedo o levaria à ruína. Nessas circunstâncias. que mais contribuiu para dominar a rebelião. Shirakawa Teimo abdicou. Kiyohira construiu uma cidade à semelhança de Kyoto. foi. durante a rebelião de Heiji. Todos os "samurai" do leste. abandonando a capital. no mesmo erro dos Fujiwara — não puderam resistir ao impetuoso assalto dos Guenji. mas. A gloria e a prosperidade dos Heishi duraram apenas vinte anos. que se exilara no leste. resolveu vingar-se dos Taira e pediu a cooperação dos seus partidários. Os Taira que viviam a vida ociosa dos nobres da corte — incidindo. travada no dia 24 de março de 1185. Fugiram para o oeste. Yoritomo mandou seu irmão Yoshitsune e outros atacar Kyoto. vieram em seu auxílio.Um filho de Yoshitomo. favoráveis aos Minamoto. perto da atual cidade de Simonoseki. 63 . pois. de nome Yoritomo. no Setonaikai. pereceram todos na célebre batalha de Danno-ura. perseguidos por Yoshitsune. Tornaram-se necessárias várias repartições públicas para os bushi governarem o país. com eficácia."Bakufu" de Kamakura (1192-1333). Também se criaram os "Monchû-jo". De início. 64 . as ordens de Yoritomo eram apenas obedecidas em algumas partes do interior. tribunais. mas as tarefas políticas e forenses precisavam ser entregues a pessoas experientes em tais assuntos. para dar-lhes essas funções. Origens do "bakufu" — A disputa entre os Guenji e Heishi terminou com a vitória dos Minamoto e. transferiu-se para os militares (samurai ou buslii). Embora os Heishi tivessem desaparecido. departamento fiscalizador dos samurai. Tornava-se necessária uma organização pela qual o governo central pudesse exercer. a ordem pública não havia sido restabelecida de modo completo. Apareceram. Os serviços do "Samurai-dokoro" e do "Mandokoro" podiam ser executados por samurais. sua autoridade.CAPÍTULO IV GOVERNOS MILITARES l. o poder político-militar passou para as mãos de Yoritomo. conseqüentemente. o "Mandokoro". que com ele quisessem colaborar. até então em mãos da aristocracia da corte ("kugue"). Yoritomo chamou "kugues" de Kyoto. onde senhores poderosos mantinham uma autonomia rebelde. assim. A administração do Estado. departamento político e o "Samurai-dokoro". Obtida a autorização. O "bakufu" ou shogunato. claramente. desde então até 65 . Por outro lado. Yoritomo controlou também a posse das terras. Estas medidas tiveram. o irmão de Yoritomo.Ainda. Sob o pretexto de procurar Yoshitsune e evitar a perturbação da ordem. assim. Os "jitô" arrecadavam impostos dos latifúndios do interior. tinha sua sede em Kamakura e. O regime de shogunatos (o que eqüivale dizer o "feudalismo") durou. principalmente. "bakufu" era o local onde o "Sei-i Taishogun" (de cuja abreviação temos a palavra "shogun") exercia suas funções político-militares. na prática. que. por isso. Politicamente. Completava-se. No terceiro ano da Era Kenlcyu (1192) Yoritomo foi feito "Sei-i Taishogun" ou seja comandante em chefe das forças militares. naturalmente. recebeu o nome de "Kamakura-Bakufu". uma nova organização político-social: o feudalismo. íntima relação com o subseqüente desenvolvimento do novo regime. em particular dos Heishi. que muito contribuíra para a vitória dos Guenji. Yoshitsune. acabando por controlar totalmente o poder político. O próprio nome já indicava. Yoritomo nomeou seus vassalos de confiança para os cargos de "shugo" e "jitô". controlar o poder e a influência dos governadores das províncias ("kunitsukasa"). desaparecera para fugir às suspeitas e perseguições do primeiro. a natureza marcial do novo regime. arrebatou os podêres temporais da coroa. que ainda constituíam as principais fontes de renda e avocou a si o direito da tributação. que quer dizer posto militar. pertencentes à corrente dos nobres ("kugue"). inaugurado por Yoritomo Minamoto. Marcava o início dos governos militares chamados "bakufu". a criação dos cargos de "shugo" e "jitô" teve grande importância. Correspondiam os "shugo" mais ou menos aos delegados de polícia dos nossos dias e se encarregavam da manutenção da ordem pública. Yoritomo solicitou ao trono autorização para criar os cargos de comissário militar ("shugo") e comissário de terra ("fito") em todo o país. porque visou. Depois da morte do último representante da estirpe Minamoto. Tokimasa Hojo. e a família desta. cerca de 700 anos. Destarte. filho de Tokimasa Hojo. tomaram conta do poder real do "bakufu". A política do bakufu foi dirigida pela vontade onipotente dos Hojo. entre os quais dois "kugue" e quatro príncipes reais. Seu filho Yoshitoki também se tornou regente. como veremos nos capítulos seguintes. Mais tarde ocupou o cargo de regente ("Shikken" — difere do "sesshô" ou "sessei" no fato de governar o país no lugar do "shogun" ao invés de reger no lugar do Tenno) e chefiou o departamento político do governo. Seguiram-se vários shoguns títeres. os Hojo. foi trazida de Kyoto a Kamakura uma criança que tinha sangue Guenji e colocada no posto de "shogun". com períodos alternados de fulgurância extarordinária e de decadência profunda. Código Joei ("Joei Shikimoku") — A começar de Yoshitoki. Após a morte de Yoritomo. Regências ("Shikken-Seiji") — Yoritomo matou todos os seus irmãos sob o pretexto. Dessa sua política resultou a completa extinção da linhagem cios Minamoto em três gerações. Mas era shogun apenas no nome. procurando 66 . que instalou o Supremo Conselho Consultivo ("Hyojô-shû") e administrou o país consultando esse órgão. acumulando o cargo de comissário dos samurais ("Samurai-dokoro"). Temos então o chamado "governo dos regentes" ("Shikken Seiji") que durou até o fim do Kamakura-Bakufu. fundamentado ou não. O pai de Masako. que duraram apenas 28 anos. Entre eles se destacou Yasutoki.a Restauração de Meiji. filho de Yoshitoki. de que os mesmos planejavam eliminá-lo para subir ao poder. servira com dedicação a Yoritomo desde a insurreição contra os Taira e continuou a prestar seu concurso ao genro depois deste se tornar "shogun". todo o poder do "bakufu" passou para a família Hojo. posto mais importante da época. surgiram regentes capazes que realizaram excelentes governos. sua esposa Masako. quis dominar o Japão e. Por volta de 1220 surgiu na Mongólia um rei chamado Ghen-Gis-Khan. Em outubro do 11. assim. Conseguiu. Atacaram os agressores a baía de Hakata. Alemanha. No tempo do seu neto. O Japão não respondeu a tais afrontas do poderoso vizinho. à força.fazer sempre um governo justo e equânime. também. E. Tratava-se da maior crise nacional jamais vista na história do Japão até essa data. de paradigma aos governos militares. a leste e. Dirigiu o governo de acordo com os preceitos do Código Joei. Os bushi lutaram valentemente na defesa do solo pátrio. Kublai Khan. filho de Tokiyori. essa legislação feudal serviu. os mongóis tentaram invadir e subjugar o Japão. De feição simples e muito prática. que. ia até a Rússia. dominou toda a China e países vizinhos. em pouco tempo. Agressão dos mongóis — Durante a regência de Tokimune.° ano da Era Bun-ei (1274) enviou uma força expedicionária de cerca de 40 mil homens distribuídos em 900 navios. Kublai. que se sentia forte. atrair a simpatia do povo. o Código Joei regulamentava o funcionamento das repartições do bakufu e dos tribunais e constava de 51 artigos. pessoalmente. levou uma vida simples e frugal. então. Entretanto. em Kyushu. Estava iminente a derrota nipônica. Mesmo depois de deixar a regência percorreu as províncias para verificar. mas o inimigo conseguiu desembarcar após furiosa luta. em 1271. enviou emissários com cartas ameaçadoras e descorteses. que era uma freira da seita Zen. Áustria e Itália. antes que os invasores tivessem con67 . por muito tempo. a oeste. Estabelecido por Yasutoki. havia mudado o nome da China para Yuan (Guen). foi. com esse fim. Kublai recorreu. Matsushita Zenni. Tokiyori. se a administração do "bakufu" estava em ordem. o império mongol abarcava a península coreana. Seguindo os ensinamentos de sua mãe. um dos bons regentes da família Hojo. neto de Yasutoki. que viviam nos "shoen".400 navios e 140 mil homens.° ano da Era Koan (1281). 2. 68 . também. Originàriamente. a frugalidade constituía uma virtude muito estimada pelos samurais. muito simples em comparação com o "Sinden-zukuri". a poderosa frota mongol foi completamente destroçada por furioso vendaval. A vida dos hushi — O poder político fugiu das mãos dos nobres da corte. como nas províncias. Era simples e frugal. cercadas de muros ou de madeira. porém. luxuosa. em todas as épocas. que atacou novamente Hakata. da do lavrador. Sua vida diária não diferia muito. não só em Kamakura. dos nobres da corte. Desta vez. Algumas tinham fossos ao redor. iludido. não muito diferente da antiga. os "kugue" de Kyoto com a sua vida fútil. Agora os bushi conduziam o povo. com 4. segundo parece. por astutos informantes coreanos. A sociedade e a cultura. Aliás. que julgava muito rico. E havia muitos bushi. no começo. Não eram poucos os que cultivavam o solo plantando arroz e outros cereais. Continuavam. A esse estilo de construção se dava o nome de "Buke-zukuri". Com o correr do tempo aumentou o número e a importância dos samurais na vida do país. os bushi eram uma espécie de guardas particulares dos proprietários de terra. Esses furacões salvadores deram origem à expressão Kamikaze — vento divino. que assolou as costas de Kyushu. Mas Kublai não desistiu do seu intuito de dominar o Nipon. temerosos da invasão nipônica. Organizou outra expedição.solidado suas posições em terra. soprou um violento furacão que afundou a maioria dos navios mongóis e os dispersou. Eram as residências dos bushi cobertas de tábua ou de palha. muito mais poderosa do que a primeira. constituíam o cerne e a alma do país. em julho do 4. as relações oficiais com a China haviam sido interrompidas. discípulo daquele. 69 . O desenvolvimento do comércio acarretou o aparecimento de casas de câmbio e atacadistas. mas continuavam intensas as viagens de negociantes e sacerdotes budistas. Célebres bonzos de Sung e Yuan vieram ao Japão para propagar sua fé. Nas grandes cidades. desse modo. A seita "Zen" foi trazida da China na época dos Sung. No tempo dos Hojo surgiram novas seitas que agradavam ao espírito dos samurais e dos camponeses. e outras. existiam casas comericiais que formavam distritos de intenso movimento de compra e venda. O novo budismo — As seitas Tendai e Shingon até então existentes. para troca de produtos da terra com outros artigos necessários à vida. "Ji" cujo fundador foi Ippen e "Hokke" "Nichiren-shú". nas províncias. Temos assim as seitas "J odo " (Terra Pura). "Shin". como Kyoto e Kamakura. conforme se viu acima. Todas estas seitas primavam pela facilidade com que eram assimiladas pelos pacatos homens do campo e valentes samurais. O Zen-shû foi cultivado e difundido especialmente entre os bushi. estavam pouco difundidas entre os lavradores e os bushi. de Doguen. prosperaram no Japão. e. particularmente dos samurais. prosseguiu a introdução de produtos de cultura do continente. pregada por Nichiren. seguidas quase exclusivamente pela aristocracia. Desde a abolição das embaixadas. Tanto uns como outros levavam seus produtos a centros comerciais.Desenvolvimento do comércio — Vimos que. por Shinran. e exerceu poderosa influência no espírito do povo. onde se realizavam as feiras. fundada por Honen. o que possibilitou transações entre localidades afastadas. os bushi viviam com os lavradores e se dedicavam à agricultura. Tal intercâmbio continuou tanto sob os Tang como no tempo de Sung. Sub-seitas do Zen como "Rinzai-sh û " fundada por Rinzai e "Sodo-shu". pela companheira e pela pátria. ao entrar no Japão. prontos a transferir às criaturas parte da graça acumulada durante muitas encarnações de vida virtuosa. Porque o japonês estava habilitado a escolher entre as muitas variedades do budismo: podia procurar beati70 . a fim de que lhe proporcionassem prazeres ou lhe fornecessem proteínas para a alimentação. pelos filhos. e de consoladoras esperanças num paraíso. ou peregrinariam pelos santuários de sua seita. havia os Bodhisattwas. entidades cheias de divina ternura. repastando a alma nas belezas da paisagem do caminho. havia infernos no Budismo japonês — na realidade cento e vinte e oito infernos designados a diferentes propósitos e a diferentes categorias de condenados. atraía homens e mulheres. por outro lado. uma pessimístíca exortação à morte: mas. Os devotos mais compenetrados podiam purificar o espírito com alguns minutos de oração sob o jato de uma cachoeira. Bem verdade que. nariz chato e presas agudas. Desse mesmo autor é o seguinte trecho sobre o budismo no Japão: "O Budismo era."A mesma devoção revelada no patriotismo e no amor. de agradáveis cerimônias. Havia um mundo de demônios e santos e um diabo pessoal (Oni) de chifres. e também em alegres procissões em que a religião se subordinava à alegria e a piedade tomava a forma de exibições de modas femininas e de festas para os homens. para onde. A adoração se fazia nos oratórios caseiros e nos altares dos templos. vivia nas trevas de algum reino do norte. se transformou num culto de deidades protetoras. na afeição pelos pais. e havia também graciosas deidades como a Nossa Senhora Kwannon e o cristianíssimo Jizo. na essência. durante a força do inverno. também. inevitavelmente tinha de procurar no universo algum poder central a que pudesse dar-se com suprema lealdade e de que derivasse algum valor e significação para a vida humana" escreve Will Durant. Mas. de quando em quando. de festas alegres. de peregrinações à Rousseau. no templo Shomyô de Musashi. registravam as batalhas de clãs e os combates individuais. podia ser reconfortado pela Seita da Terra Pura ("Jodo") e ser salvo apenas pela fé. Não só nobres e sacerdotes faziam "waka". São os 71 . Entre os samurais havia igualmente alguns estudiosos. muito difundido entre os aristocratas e religiosos. nos templos. podia ligar-se ao Espírito da Seita. até que Buda lhe aparecesse em carne. antologia essa que se tornou modelo favorito de todos quantos desde então se dedicavam ao culta da Musa no Nipon. ou podia encontrar o Caminho por meio da peregrinação ao mosteiro de Koyasan e alcançar o paraíso com o ser enterrado no chão que os ossos de Kobo Daishi tornavam sagrado. um shogun de Kamakura. Igualmente. onde colecionaram numerosas obras. perto de Yokohama. O "ex-imperador" Gotoba ordenou a Sadaie e outros poetas a elaboração da coletânea de poesias "ShinKokin-shú" (Nova Coleção de Poemas Antigos e Modernos). aos estudos. santo e artista que. também alguns samurais deixaram poemas imortais. contudo. agora. e jejuar e orar. muitas das quais ainda se conservam. no século IX. aos clássicos chineses. a prosa floresceu em livros magníficos. quase exclusivamente. O regime de Daigaku e Kokugaku desaparecera e o ensino se ministrava. Estudos e Artes — Os nobres e os sacerdotes dedicavam-se. escreveu excelentes "wakas".tude por meio da serena prática do Zen ("meditação"). Apareceram muitas obras escritas em "kanji" e "kana"" misturados. a Seita da Verdadeira Palavra". limitados. Na literatura continuava intenso o culto do "waka". Em estilos vigorosos e elegantes. fundou o Shingon. Sanetoki Hojo e seu filho Akitoki fundaram a Biblioteca Kanazawa. cujos horizontes estavam. também. podia seguir o orgulhoso Nichiren da Seita do Lotus e encontrar a salvação na "Lei do Lotus". Kobo foi o grande sábio. narravam os sucessos e os insucessos dos samurais. Entre eles Sanetomo Minamoto. Sadaie Fujiwara foi o mais célebre poeta da época. Couraças. mais ou menos definitivamente. foram publicados em grande quantidade e muitos deles resistiram à ação do tempo até os dias de hoje. aparece o reflexo da vida das classes dominantes da época. Tornaram-se moda as histórias ilustradas. com influência do estilo nacional. os "samurai". Os "Emakimono" (pergaminhos ilustrados). mas o poder político e militar passou-se para os bushi. Nos templos da seita Zen foram introduzidos estilos de construção de Sung. capacetes. os "bongue" (os homens comuns) e os "senmin" (párias). reconhecida pelos peritos de espadas japonesas. "Masamune" é a marca de qualidade. como eram chamados os rolos de papel contendo narrativas ilustradas. lanças e espadas de excelente qualidade produziam-se na época. sempre com agrado geral do público. A imagem do rei Deva (Niô) do templo Todaiji é obra de Unkei. arcos. Classes sociais — Foi no período de Kamakura que se estabeleceram. Adquiriu grande impulso o artesanato. 72 . que foi aproveitado por contadores de história até épocas posteriores. as quatro classes sociais principais do Japão feudal: os "kugue". Continuavam a ocupar altas posições palacianas e sociais. narrando acontecimentos históricos ou as origens dos templos. Os "kugue" eram os nobres que cercavam o trono e que outrora tiveram em suas mãos a direção suprema do país. Entre os escultores salientaram-se Unkei e seu filho Tankei. Masamune Okazaki celebrizou-se como o maior e mais hábil confeccionador de catanas. O Yamato-e dominava o mundo da pintura. particularmente no setor das armas."gunki-mono" ou narrativas militares. Na arquitetura e na escultura. conforme vimos. Entre eles o mais célebre é o "Heike-Monogatari" (História de Heishi). Eram considerados socialmente indesejáveis devido à influência do budismo que condenava a matança de bichos. No Japão houve um longo período de agitações caracterizado pela separação político-adm inistrativa entre a metrópole e o interior. e t c . 3. também chamados "chigue". por assim dizer. embora. artífices. segundo alguns autores. que os "eta" tiveram várias origens. naturalmente. os artesãos e os comerciantes serviam aos seus senhores. os elementos influentes das regiões afastadas da capital a recorrerem às suas próprias forças. constituíam a classe do povo. o surto das rebeliões seguidas de inquietação social teve como causa política a inércia ou fraqueza do poder central. entretanto. a formação da classe dos artesãos e dos comerciantes. de cuja proteção dependiam. Tanto na Europa como no Japão. Enquanto que.Os "bongue". que. Em outras palavras. nobres e templos. nitidamente. antes de chegar-se ao regime feudal centralizado e forte do shogunato Tokugawa. o que obrigou. Feudalismo. representando os primeiros a maioria. a autoridade dos particulares cresceu em detrimento da autoridade 73 6 . ainda em sua forma primária. e uma época de lutas entre feudos regionais. mas já se nota. no período anterior. eram os trabalhadores que lidavam com couro de animais. os mendigos e os "eta". Parece. Entre os "senmin" figuravam os escravos. As convulsões que precederam e sucederam à queda do Império Romano deram nascimento ao regime feudal no ocidente. comerciantes. composta de lavradores. Vida econômica — Continuou a agricultura ocupando a posição central na vida econômica do país. na época de Kamakura constituem-se em classes autônomas. o regime feudal nipônico era. 74 . depois da invasão dos mongóis. Nascido com a instalação do Kamakura-Bakufu. social daquele. da qual dependem todos: o senhor distribui certas áreas a seus cavaleiros e estes. além de prestar o serviço das armas. como na época dos Fujiwara e dos Taira. unidos por um laço moral característico do feudalismo: a absoluta lealdade do cavaleiro para com o seu senhor e a obrigação deste de assegurar a subsistência e posição. os bushi. Verificaram-se levantes de camponeses vergados sob o pesa das pesadas tributações e arbitrariedades insuportáveis dos suseranos empenhados em guerras freqüentes. de início.pública. comandando seus camponeses e outros trabalhadores. Caracteriza-se. na realidade tinha retrocedido ao regime misto dos kugue e bushi com decisiva influência dos nobres. embora tivesse seguido o modelo de Kamakura. na época das "guerras civis". pelas incessantes disputas militares entre os numerosos feudos que se formaram em todo o país. que dispunham de forças próprias. Daí o nascimento da relação entre senhor e vassalo. para organizar uma sociedade estável. Nessas condições. dando origem à época das lutas intestinas. sem um governo central suficientemente forte para exercer controle sobre todo o território nacional. contribuem para a manutenção de feudo. Uma vez abalado o prestígio do bakufu. Houve muita atrito e antagonismo entre as classes sociais. portanto. na sua forma de governo militar. (Sengoku-jidai — época do país em guerra ou das guerras civis). Caracteriza-se pelas lutas entre os "kugue" e os "bushi e posteriormente. Já o Muromachi-Bakufu. divisão de classes tendo como base a produção da terra. tornava-se necessário desenvolver uma relação de mútua proteção entre os particulares. pela existência da relação de suserano e vassalo. descentralizada (não obstante a tentativa de centralização dos Minamoto). levantaram-se em motins e rebeliões em toda parte. o regime feudal. marchar diretamente para a unificação do país. em 1603.Não pôde a sociedade feudal. conforme veremos no devido tempo. Os antagonismos políticos e sociais acabaram por provocar a cisão e a confusão. criada com o regime de Kamakura. com a inauguração do Tokugawa-Bakufu. 75 . Somente depois de quatro séculos de agitações consolidou-se o regime feudal centralizado. CAPÍTULO V DE KAMAKURA A MUROMACHI 1. Restauração de Kemmu. Côrte e bakufu — Fugira o poder político do trono para as mãos firmes dos militares, como vimos no capítulo precedente. O ex-imperador Gotoba pensou em reconquistar para a corte o poder real. Depois da derrota dos Guenji, Gotoba planejou a eliminação do regente Yoshitoki, para assumir pessoalmente o controle do poder. Seu plano, porém, fracassou. A essa tentativa frustrada de restauração do governo imperial se chama "Incidente de Shokyu" (Shokyu no hen). Depois do imperador Gosaga, subiram sucessivamente ao trono os imperadores Gofukakusa e Kameyama que eram irmãos. O bakufu estabeleceu que os descendentes dos dois soberanos ocupariam alternadamente o trono. Tratava-se de um ardiloso plano para impedir a repetição de tentativas para derrubar o "bakufu." Decadência do bakufu — Embora tivessem sido totalmente derrotados, os mongóis de Kublai Khan esgotaram os recursos do governo militar japonês, o qual nem pode premiar devidamente os samurais que se destacaram na luta contra os invasores. Por sua vez, os bushi tinham gasto muito dinheiro na guerra e sua 76 vida se tornara difícil. Nessa situação, o governo não podia ir em auxílio dos seus colaboradores mais dedicados, quando estes enfrentavam dificuldades financeiras. Takatoki, o regente, era dado ao luxo e a extravagâncias absurdas como criar cães em quantidade. Chegou a possuir de quatro a cinco mil desses animais, em canis decorados com ouro e prata e alimentava-os com peixes e carne. Os Hojo haviam sido também envenenados pelo vinho do poder e não cuidavam com o zelo necessário das coisas públicas. Foram perdendo as simpatias do povo, que haviam conquistado pela boa administração e clarividência dos seus mais ilustres representantes. Subindo ao trono, Godaigo Tenno, desejando restaurar o prestígio da corte, planejou um golpe, que malogrou. Possuído, porém, de ânimo inquebrantável o soberano não desistiu do seu intento. Tendo sido também, seu segundo plano descoberto antes de eclodir a revolução, o monarca concentrou suas forças em Kasagui. Takatoki enviou um grande exército e derrotou as forças imperiais no monte Kasagui e exilou o imperador na ilha de Oki. Estes acontecimentos são conhecidos na história nipônica pelo nome de "Incidente de Guenko", por terem acontecido na era desse nome (1331-1333). Em Kawachi dominava Masashigue Kusunoki, da família Fujiwara, que, ao receber o chamado da corte, lutou corajosamente contra o exército do bakufu, ao qual infligiu pesadas perdas. A notícia dos seus brilhantes feitos militares teve o dom de levantar o entusiasmo dos bushi das províncias, ligados por interesses familiares ou políticos ao trono. Houve um levante geral desses elementos. Sabedor dessa situação auspiciosa, Godaigo escapou de Oki e se dirigiu à província de Hoki. Receoso ante o poderio crescente do monarca, Takatoki enviou um seu general, Takauji Ashikaga, a Hoki, mas Takauji se rebelou no caminho, aderindo às 77 forças imperiais. Ato contínuo Takauji atacou Kyoto e eliminou os membros da família Hojo. Em Kwantô, outro general, Yoshisada Nitta (descendente dos Minamoto), atacava com suas forças a sede do bakufu: Kamakura. Takatoki Hojo e centenas de seus generais e vassalos praticaram o "hara-kiri". Acabava assim o bakufu de Kamakura, e extinguiu-se a família Hojo (3.° ano da Era Guenko, 1333 da Era Cristã). O governo militar fundado em Kamakura por Yoritomo Minamoto durou cerca de 140 anos, encerrando sua existência com a morte de Takatoki Hojo. Reforma política de Kemmu — Sem perda de tempo, o imperador regressou a Kyoto de onde havia sido banido. Assumiu pessoalmente a direção dos negócios de Estado, no "Kirokusho", (Departamento de Arquivo) assistido por fiéis auxiliares como Kusunoki; criou tribunais, "Mushadokoro" (guarda encarregada da defesa da Metrópole) e administrou as províncias por intermédio de governadores e comissários militares. No ano de 1334, mudou o nome da era para Kemmu. Daí o nome de "Restauração de Kemmu". Godaigo nomeou o príncipe Morinaga "Sei-i Taishogun" e deu cargos de confiança aos nobres e bushi que se salientaram na campanha da restauração. Longamente afastados da política, os aristocratas não possuíam a necessária habilidade para administrar o país. E acresce que, tendo sido derrubado o "bakufu", os aristocratas começaram a fazer pouco dos militares, quando estes julgavam que a grande obra restauradora se devia à dedicação e fidelidade deles, samurais, que haviam lutado com o risco da própria vida, pela causa do imperador. Surgiu daí uma rivalidade de efeitos funestos que foi aumentando com o correr do tempo. Alguns militares começaram a sentir saudades do tempo do shogunato. A Restauração de Kemmu estava, pois, destinada a malograr em conseqüência do atrito estéril entre militares e nobres da c ô rte. 78 que morreu em combate. Godaigo entregou um símbolo falso do trono a Komyô e se retirou para Yoshino. formando Hokuchô (Corte do Norte) apoiado por Takauji Ashikaga. pelo imperador bonifrate Komyô. A corte de Yoshino era chamada Nanchô (C ô rte do Sul). E os dois partidos continuaram a hostilizar-se durante mais de meio século. sonhou em restabelecer o bakufu. assim. Yoshino foi sede da monarquia legítima. Takauji substituiu Godaigo. e entrou em Kyoto à frente de suas vitoriosas forças. e de então até 1393. Nessa época houve uma sublevação da família Hojo. ou seja. durante 57 anos. numa só. após quase 60 anos de separação. Sendo um descendente da família Guenji. O soberano atendeu ao pedido.° ano da Era Enguen {1336). Yoshimitsu. retirou-se para Kamakura onde se rebelou contra o soberano e atacou Kyoto. Entretanto foi derrotado e fugiu para Kyushu. regressou à capital tradicional da corte e entregou o cetro a Gokomatsu Tenno. cada qual seguindo o monarca que considerava legítimo mandatário supremo da nação. 79 . Takauji solicitou ao imperador a sua indicação para comandante-em-chefe das forças expedicionárias. em Kwantô. o realizador da Restauração de Kemmu. de Yoshino. Transcorria o 1. q u e descendia de Gofukakusa Tenno. Fundiram-se. que então reinava em Kyoto. das cortes do Norte e Sul. convidou o imperador Gokameyama. desta vez por terra e por mar. formando uma corte à parte da de Kyoto. neto de Takauji.Kyoto e Yoshino — Takauji Ashikaga era o bushi mais poderoso e influente. ali reorganizou suas forças e avançou novamente sobre a capital. Não sendo atendido o seu pedido. O país ficou dividido em duas facções. a voltar a Kyoto. onde governou. Chama-se esse período de Nanpokuchô. reinava Komyô Tenno. Em Minatogawa derrotou Masashigue Kusunoki. Em Kyoto. as duas cortes e acabaram as lutas das duas facções da mesma dinastia. ocuparam sucessivamente o importante cargo. do desgoverno em que caiu o país. ou Ashikaga Bakufu Como se formou o novo "bakufu" — Takauji Ashikaga foi nomeado para o elevado cargo de "Sei-i-Taishogun". completou-se a organização do novo regime. Takauji organizou o bakufu segundo o modelo do governo militar de Kamakura. posteriormente. Na época de Yoshimitsu. Hosokawa e Hatakeyama. Muitos dos seus vassalos não lhe obedeciam documente. sendo o mesmo ocupado por membros da própria família Ashikaga. em 1338 (3. de Tribunais ("Monchujo") e de Fiscalização dos Samurai ("Samurai-Dokoro"). prometeu abundantes recompensas aos samurais que o acompanhassem na aventura. Desorganização administrativa — Quando Takauji Ashikaga se rebelou contra a coroa. ficara com o símbolo falso da monarquia em Kyoto. havia o cargo de "kwanryô". em Kyoto. existiam os "shugo" e "jitô" para garantir a execução das ordens do governo central. Nas províncias e nos shoen". como se viu. Sob as ordens do "kwanryô" havia. Essa política do shogun foi a causa. Na verdade não passava de um joguete nas mãos do ambicioso caudilho. que. Yoshimitsu instalou a sede do bakufu na quinta de Muromachi. Alguns deles.. como no tempo de Kamakura Bakufu. Três famílias influentes. A chefia deste último departamento era de suma importância. uma espécie de secretário geral do governo e principal conselheiro político do shogun. No bakufu..° ano da Era Enguen). os departamentos: Político ("Mandokoro"). Por isso. pelo imperador Komyô. Shiba. Muromachi Bakufu (1334-1565).2. que ocupavam o cargo de "shugo" de muitas pro80 . o novo regime é conhecido pelo nome de "Muromachi Bakufu". neto daquele. O bakufu estabeleceu a sede do governo geral de Kwantô (leste) em Kamakura. Nem sempre os "shugo" e "jitô" eram leais ao governo central. o tesouro cedo se ressentiu da falta de fundos para a administração pública. Descontentamento popular — Todas as despesas para cobrir a vida de luxo e extravagâncias dos shoguns tinham que sair. não chegou a concluir a obra. Kvoto (1397). subsidiou todas as artes e tornou-se tão refinado conhecedor.víncias. no tocante ao pagamento de taxas e impostos. Aliás. porém. foi caracterizado por um caos quase permanente e intermitente guerra civil. E' o Pavilhão de Ouro ("Kinkakuji") que ainda hoje existe. por falta de recursos. 81 . Entretanto. pelos modernos". Não obstante as dificuldades financeiras. Suas paredes e colunas eram cobertas de folhas de ouro. constituíam verdadeiros Estados dentro do Estado. E erigiu uma luxuosa vila em Kitayama. Yoshimasa mandou também fazer outro prédio semelhante. "Precisamos acentuar — diz Will Durant — que parte dessa desordem era devida ao que havia de mais nobre nesses governantes — o amor às artes. mas sem as coberturas do precioso metal. Yoshimitsu. o shogunato Ashikaga. que governou o Japão por cerca de 250 anos. coberto de prata: o Pavilhão de Prata ("Guinkakuji"). cansado de lutas. da bolsa do povo. voltou-se para a pintura e tornou-se um dos bons artistas da época. naturalmente. Possuía o bakufu muitas terras. Foi essa a causa da desorganização política do bakufu de Muromachi. Yoshimasa protegeu muitos pintores. Yoshimitsu fez construir uma rica residência em Muromachi que o povo batizou com o nome de Palácio das Flores ("Hana no Gosho"). em Higashiyama. mas os impostos arrecadados nelas não bastavam para fazer face aos gastos sempre crescentes. que as obras de arte escolhidas por êle e seus associados são hoje as mais disputadas. em completa desconsideração à autoridade do shogun. Entregando-se Yoshimitsu e Yoshimasa a um luxo excessivo. quase dois séculos e meio. Rebelião de Onin — Ashikaga Bakufu ou Muromachi Bakufu. E quem sofria com tudo isso era o povo. tributou de modo exagerado os comerciantes ricos de Kyoto. os homens do campo. cargas e navios. o povo ergueu-se em motins e rebeliões. rebentou a rebelião de Onin. ano em que morreu Takauji. nessas circunstâncias. (1428). A alma da nação eram ainda os bushi. que. E surgiu 82 . animais. os subornos e outros vícios da administração. assim. Surgiram. pesadamente. Resolveu exigir o pagamento de impostos sobre terras e casas dos camponeses. Revoltado com tal ordem de coisas. sem falar em numerosos atentados e assassinatos políticos que ensangüentaram as páginas da história da época. e de Harima. em número. ano da grande rebelião de Onin. E o caos se fêz no país. constituíam maioria os lavradores. que durou treze gerações. constituiu o governo mais fraco de toda a história japonesa. O bakufu os sufocava a custo. para tributar os viajantes. Tributação direta. Basta dizer que. Pensou o bakufu em taxar. Êle já não tinha força para dominar as desordens populares. E instalou postos de fiscalização ("sekisho") nas estradas movimentadas e nos portos. os "kwanryô" Katsumoto Hosokawa e Sozen Yamana disputaram entre si a supremacia do poder. combinar com os funcionários do governo maneira de fugir às exigências do fisco. se interessava mais pelas artes do que pelo governo. Em meio à desorganização administrativa do bakufu. Aproveitando-se da incapacidade política de Yoshimasa. como vimos. foram dos mais violentos. e 1467. Não sendo ainda bastante a arrecadação. o shogun de cobrar impostos do povo. entre 1358.Lembrou-se. mas. entre os quais o de Yamashiro. 1429). Os homens de negócio procuravam. então. Registraram-se dezenas de levantes de camponeses. verificaram-se mais de vinte levantes contra o shogunato. o período de Muromachi caracterizou-se por permanente intranqüilidade. Desenvolvimento econômico — Devido à incapacidade administrativa dos governantes. Desenvolveu-se a economia. apareceram as uvas de Koshü (Yamanashi-ken) e as apreciadíssimas laranjas de Kishü (Wa83 . conforme veremos no capítulo seguinte. intensificouse o comércio exterior e a cultura evoluiu. a lavoura ganhou novo impulso. residência dos nobres e bushi. A luta se alastrou por todo o país durante onze anos. "Heian-Kyô". Por ora. outrora próspera e feliz. Por causa desses atritos irrompeu a guerra civil em Kyoto. Com a introdução do processo de cultivar trigo depois da colheita do arroz. Começou a adquirir fama o chá de Uji (Kyoto-fu). O palácio imperial de Kyoto. Situação econômica e cultural. a vida do povo prosseguiu sua marcha ascencional. em que os feudos se digladiavam para conquistar o domínio do país. que durou mais de cem anos. alguns dos aspectos mais importantes dessa época de desgoverno e guerras feudais. não existia o governo central. Reduzido quase a zero. Tesouros antigos e obras de arte perderam-se ou foram roubados. Costuma-se mesmo considerar essa guerra civil como o início do "Sengoku-jidai" (Período das Guerras Civis). numerosos templos e santuários foram incendiados e pilhados. Idêntica disputa nasceu entre as famílias Shiba e Hatakeyama. Contudo. 3. porém. Praticamente. vejamos. se transformou num montão de ruínas. uma nova época para a história do Japão.uma luta feroz sobre a questão da sucessão de Yoshimasa. a capital da paz. O bakufu ficou dividido em duas correntes: partidários de Hosokawa e de Yamana. Desse tremendo e longo caos surgiria. o Muromachi Bakufu era obedecido somente na província de Yamashiro (Kyoto). de relance. As "za" tinham o monopólio do comércio dentro da área de ação conferida a cada uma delas. nome de associações de comerciantes ou de artífices na Idade Média. desenvolveu-se o comércio. com o progresso paralelo da mineração e da indústria manual. um caráter religioso nos aniversários. E surgiram mercados exclusivos de arroz e peixe em Kyoto e outras cidades. Popularizou-se o uso da moeda nas compras e vendas. Já há muito que os comerciantes e artesãos tinham organizado uma espécie de entidade de classe chamada "za". prata e outros minerais. Aperfeiçoaram-se as organizações cambistas e atacadistas. Com a multiplicação dos produtos. Incrementou-se a produção de ferro. Aliás este sistema seria muito bom aos desígnios dominadores dos daimyôs. que funcionavam em dias determinados da semana ou do mês. Feiras. simultaneamente. já não eram simples indivíduos que realizavam transações. chamada "Eiraku-sen". Salinas foram instaladas nas praias do Setonai-Kai para produção de sal em grande quantidade. Nessas praças. que gozava de direitos monopolísticos e pagava taxas e impostos aos senhores feudais ou aos templos. ouro. era a mais usada. nas festas 84 . comerciantes organizados. sim.kayama-ken). Exportavamse para o estrangeiro instrumentos e objetos fabricados no Japão. constituídas a princípio para o desenvolvimento do comércio e da indústria. cobre. Barracas de feiras transformavam-se em casas comerciais permanentes. A moeda importada da China. em troca do privilégio da venda exclusiva dos seus produtos dentro da jurisdição do feudo ou do templo. Tinha. As "za" se assemelham em sua origem e forma aos "guild" ou gilde ou guilda. O "guild" surgiu espontaneamente do estado social da Idade Média. Surgiram mercados de peixe em várias localidades como resultado das grandes atividades dos pescadores. Elas atingiram notável desenvolvimento na época em apreço (século XIV). mas. tornaram-se diárias. os Ming (Min) governavam a China. no século VIII e já no século X somente os comerciantes faziam parte delas. mais exatamente. intensificou-se o comércio exterior. de modo 85 . e t c . as guildas tiveram origem. praticamente. mais ou menos. Desaparecida a dinastia Yuan. Comércio exterior — Paralelamente ao desenvolvimento econômico interno. nos documentos oficiais e nas cartas que Yoshimitsu escrevia ao monarca chinês assinava "Súdito . os agressivos japoneses e chamavam-nos "wakô" (piratas japoneses). Após a agressão mongol. Os artífices se agruparam nas corporações de artes e ofícios. na época de Oda e Toyotomi. os laços de amizade. conforme vimos. que se manifestava na solidariedade que unia seus membros. contudo. então. muitos comerciantes de Shikoku. de bom alvitre restabelecer. Yoshimasa achou. recorriam a torça das armas. quando os "guild" já estavam em decadência na Europa.patronais. Elas desapareceram. Os continentais temiam. com o aparecimento do regime feudal centralizado ou. um caráter comercial e industrial que constituía o fim de tais associações. As "za". Takauji enviou navios mercantes ao continente para formar o fundo de construção do Templo Tenryü (Tenryuji). Sendo vantajoso o comércio com a China. Quando os negócios nao corriam como queriam. Yoshimitsu restabeleceu as relações oficiais com o país vizinho. No tempo de Yoshimochi. foram interrompidas de novo as relações entre o Japão e a China. com a adoção de um sistema de comércio mais livre. Chukoku e Kyushû se dirigiram à China para estabelecer relações econômicas. Ming o tratava como "rei do Japão". mais uma vez. Incrementou-se. Desejando aumentar os lucros do seu comércio. atingiram o seu apogeu no século XIV. um caráter familiar. os navios em apreço eram chamados "Tenryuji-bune". Na Europa ocidental. Por essa razão. continuavam muito populares as seitas Hokke. Literatura e culto dos clássicos — Monges budistas dos mosteiros dos "Cinco Montes" e muitos aristocratas se dedicavam. ao dos "kugue". Em troca. Evolução cultural — O fato de ter o bakufu sua sede em Kyoto contribuiu para a aproximação entre os "kugue" e os "bushi". O Japão exportava catana. Samurais também estudavam. etc. É a chamada "Literatura dos Cinco Montes" (Gosan-Bungaku). conhecidos por "Go-san" (Cinco Montes). que se praticava em grupos de pessoas. aos estudos dos clássicos chineses. e as culturas das duas classes se fundiram numa só. jogo de versos. recebia moedas de cobre. O shogun recebeu da coroa títulos nobiliárquicos e ocupou posições elevadas na hierarquia palaciana. Por outro lado. assim. Cultuavam os samurais o "Zen". mais tarde. mas entrou em moda o "renga" (ou "renka"). cultivavam-se. intensivamente. Também era intenso o intercâmbio econômico com a Coréia.considerável. existiam cinco grandes templos. Nos templos budistas se difundiu um sistema de ensino elementar que. o comércio entre os dois países. cultivado com carinho pelos bushi. a prosa e a poesia. em Kyoto e Kamakura. havia estudantes vindos de províncias longínquas. O sistema de vida dos bushi foi. 86 . etc. como Kyushü. Nos "Cinco Montes". com reflexo benéfico na vida popular. Jodo. aos poucos. Sacerdotes dessa seita budista tornaram-se conselheiros do shogun. se assemelhando. continuava o culto do "waka". pinturas. o que imprimiu um caráter austero e simples à cultura da época. com especial entusiasmo. Budismo — Difundiu-se e aumentou de prestígio o Zenshü. Na poesia. fio e tecidos de seda. Sogui foi o mais exímio poeta de "renga". Ikkô. No tempo de Yoshimitsu. Na escola Ashikaga de Kwantô (Kanagawa-ken). cobre e outros metais e produtos da sua arte industrial. constituiria o "terakoya" (escolas primárias particulares mantidas pelos templos). com entusiasmo. cujo soalho era coberto de tatami (uma espécie de esteira). das atuais casas de moradia japonesas. Na arte industrial. Iniciou-se a arte do cha-no-yu (cerimônia do chá) e a arte de arranjar flores em vasos (ikebana). Seguiu a escola chinesa. conhecida pelo seu nome realizando a fusão da pintura chinesa com a nacional. A pintura era intensamente cultivada e quadros célebres de pintores de Sung e Yuan. ao passo que Motonobu Kanô (1475-1559) inaugurou uma nova escola. "makie" (desenho em pó de Goto se celebrizou pelos para adorno de catanas. usando tinta nankin. atraíam numerosa assistência. Costumes — As residências dos "buke" (samurai) aproximavam-se. Os "fusuma" separavam os quartos. O drama "Noh". Criaram-se jardins cuidadosamente arranjados. as artes industriais tiveram grande impulso durante seu governo. onde uma estudada combinação de água e pedras dava a sensação de tranqüilidade das grandes florestas. Dispunha de tokonoma (alcova). armários embutidos na parede. portas de madeira (suguito) — estas duas últimas peças em geral decoradas com paisagens em monocromia — teto gradeado e um' pequeno hall (guenkwan). Entre os pintores se destacou Sesshü (1420-1506). Ainda hoje existem jardins dessa época em templos de Kyoto. e. também. Produziram-se. para a classe dos comerciantes. Chamava-se "Shoinzukuri". importados da China. e o teatro cômico "Kyoguen". por isso. eram disputadíssimos e serviam de modelo e estímulo para os artistas nacionais. que foi fino paisagista. para os samurais. mesa fixa perto da janela. o seu estilo. excelentes porcelanas e ouro e prata sobre laça). 87 . fusuma (cortina de papel corrediça). Yujo trabalhos em ouro e prata.Arte — Yoshimasa amava as artes acima de tudo. copiado da arquitetura da sala de leitura ("shoin") dos templos Zen. em estilo. Uesugui. Situação geral. 4. o bakufu perdeu inteiramente o seu prestígio. os Ohtomo. Takeda dominava em Kai (Yamanashi-ken) e em Suruga prosperava Ouchi. e t c . com intuito de assumir. Os shoguns haviam perdido toda a sua autoridade. — Depois da revolução de Onin. do domínio da força. foi substituído pelos Moori. foi derrotado pelos Hojo. em Echigo. Shimazu. famílias antigas desapareciam e eram substituídas por novas que gozassem de prestígio na região. Vassalos mais influentes foram usurpando. entraram em decadência.Entrou nos hábitos populares dessa época o "bon-odori". por sua vez. Era o "Sengoku-Jidai" (período das lutas feudais ou guerras civis). Nas províncias. aumentara de prestígio. Disputas entre daimyôs — Foram incontáveis as guerras travadas entre feudos ou dentro dos feudos. disputavam a supremacia regional. da estratégia militar e política. posteriormente. Lutavam constantemente entre si. Todos os grandes "daimyôs" ambicionavam o domínio dos seus vizinhos pela força das armas visando a conquista do poder central. o governo central. sem contar com centenas de feudos menores. Em Kwantô. os próprios "kwanryô". que. dança do dia dos finados (15 de julho). que muita influência exerceram durante várias gerações. da «espada. aos poucos. "Daimyôs" (senhores feudais). mas. Na região central havia os Uesugui. Um dos seus subordinados. de Kyushü. nas zonas rurais. Outros lordes influentes eram os Chosokabe de Shikoku. Ryuzoji. novos e poderosos. depois. Alianças se formavam e se 88 . Famílias contra famílias ou elementos da mesma família se digladiavam na disputa do poder. Palpitação de uma nova era. então inoperante. o poder do governo de Muromachí. Em torno dos castelos-fortaleza. ao lado de traidores covardes e vilões pusilânimes. como inimigos mortais nos campos de batalha. os Hojo e os Takeda realizaram obras administrativas dignas de nota. Decadência da côrte — Vivia a côrte dos impostos arrecadados em terras de sua propriedade e com o dinheiro fornecido pelo bakufu. os bushi regionais haviam se apossado de terras pertencentes à família imperial. com o desprestígio total do shogun. naturalmente. Houve daimyôs provinciais que se ofereceram para auxiliar a corte. dentro das suas fronteiras. por outro lado. danificado pela ação do tempo. Os senhores feudais. Com o interesse e o carinho dos daimyôs. este deixou de contribuir para as despesas e. Os chefes militares precisavam da lavoura para sustentar seus soldados nas constantes guerras e da mineração para o fabrico de armas e armaduras. O próprio palácio. no dia seguinte. e aperfeiçoou-se a técnica tia mineração. Mas.desfaziam de um dia para outro. diminuindo as preocupações de ordem material dos soberanos. em centros de atividade comercial e industrial. procuravam fazer um bom governo. Os primeiros contados com o mundo ocidental — Enquanto estava dividido em numerosos feudos que se empenhavam em guerras freqüentes. Por exemplo. onde viviam os daimyôs. Daimyôs subiam e desciam o caminho da glória com rapidez estonteante. assim. de modo geral. concentravam-se massas de habitantes. Amigos da véspera se defrontavam. Surgiram grandes estrategistas e guerreiros de bravura incomparável. Inimigos se transformavam em aliados de uma hora para outra. Tremendas dificuldades financeiras suportou a côrte em conseqüência dessa situação. formando dinâmicas cidades. o Japão foi visi89 7 . a lavoura teve um surto notável nessa época convulsionada. não podia ser reparado por falta de recursos. As capitais dos feudos transformavam-se. de Antônio Galvão. Haviam descoberto o caminho das Índias pelo périplo africano e mantinham intenso intercâmbio comercial com os países do Oriente. Havia progredido muito na Europa a arte náutica. Francisco e Antônio Peixoto. estabeleceram o comércio 90 . onde Francisco e Cristóvão da Mota eram os principais de um grupo de mercadores. Posteriormente apareceram naus espanholas que. A espingarda trazida pelos portugueses era de poder incomparavelmente superior a todas as armas até então conhecidas. no ano de 1542. chegou à ilha de Tanegashima. orientados pela escola de Sagres. que. havia alguns mosquetes. Introduzia-se a arma de fogo no Japão. encontramos a seguinte narrativa. Embarcaram num junco que ia para a China. em setembro de 1543. que os fêz andar à mercê das ondas durante muitos dias. e a tática de guerra sofreu profunda modificação. que vinha sendo transmitida na família feudal do Senhor de Tanegashima: Que a bordo de uma nau estrangeira ancorada em Tanegashima. Antônio da Mota.° ano da Era Tembun (1543) — quarenta e três anos depois da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral — uma nau lusitana. tinham feito as descobertas que marcavam época na história da humanidade. juntamente com as lusitanas. de Naojiro Murakami). chegaram ao Japão. "Lê-se no Tratado dos descobrimentos antigos e modernos. razão porque foi logo aproveitada pelos lordes feudais de todo o país. acossada pela tempestade. Surgiram fábricas de mosquetes em Sakai (perto de Osaka) e outras cidades. O Senhor de Tanegashima ficou tão impressionado com a eficácia de um tal instrumento que comprou logo alguns deles e começou o fabrico das espingardas Tanegashima" ("Portugal e Japão". No 12. no sul de Kyushü. fugiram de uma nau portuguesa ancorada num porto de Sião.tado pelos primeiros europeus. até que. finai mente. especialmente. mas deu-lhes uma tal tormenta. Por outro lado. em fontes japonesas. Os lusitanos. três nautas. palpitavam forças latentes e poderosas que abririam novos horizontes ao país. Como todos esses europeus procedessem do sul eram conhecidos pelo nome de "Nanbanjin" (bárbaros do sul). O sentimento de lealdade para com o trono estava se tornando cada vez mais vivo entre o povo. 91 . No 18. Quem deu início brilhante e espetacular à obra de unificação nacional foi Nobunaga Oda.com o Japão. Os senhores de Suruga (Yoshimoto Imakawa). Contudo. Por intermédio dos ousados navegantes portugueses. cap. "Kirishitan-shu" foi o nome dado à nova religião pelos nipônicos. eliminando o bakufu decadente. Em meio ao caos reinante. cujos feitos veremos adiante. Echigo (Kenshin Uesugui). já cansado do desgoverno dos Ashikaga e das guerras civis. VII). entrava o Japão no concerto das nações. Kai (Shinguen Takeda) e outros. Todos tinham a intenção de realizar a unidade nacional sob a orientação suprema da coroa. pretendiam dirigir-se a Kyoto e estabelecer o governo central. naquela promissora fase da história universal. nenhum dos ambiciosos barões feudais conseguiu realizar o seu intento. para dele se retirar pouco depois devido ao completo isolamento decretado pelo shogunato Tokugawa (V.° ano da Era Tembun (1549) chegava o missionário Francisco Xavier para propagar a fé cristã no Japão. Nobunaga iniciou as obras de reparação do palácio imperial. dirigiu-se a Kyoto. que era homem perspicaz e decidido.CAPÍTULO VI AZUCHI E MOMOYAMA OU ÉPOCA DE ODA E TOYOTOMI (1573-1600) 1. Tendo conhecimento da fama de Nobunaga. Com a vitória sobre o vizinho do leste. pelos trabalhos da reconstrução e. em Owari (Aichi-ken). as obras estavam concluídas. longamente descuidado e abandonado à corrosão do tempo. como sucessor de Yoshiteru. Ohguimachi Tenno ordenou-lhe que restituísse ao trono as terras tomadas pelos bushi. seu irmão. assim. Interessou-se. Na metrópole. Audacioso e inteligente. Nobunaga tratou de ampliar as fronteiras do seu domínio. durante o longo período de decadência de Kyoto. dando novo aspecto à residência dos monarcas. Unificação do país. Sem perda de tempo. Nobunaga Oda. o shogun Yoshiteru Ashikaga havia sido assassinado e Yoshiaki. Con92 . pediu o auxílio de Nobunaga para poder dominar a situação. Castelo de Azuchi — A família de Nobunaga Oda — descendente dos Taira — servira durante gerações ao "kwanryô" Shiba. em pouco mais de dois anos. e conseguiu colocar Yoshiaki no poder. seu poderio cresceu rapidamente. Yoshimoto Imakawa. à frente de suas forças. pessoalmente. ficou com receio de perder o poder e procurou eliminar o influente general. a construção simultânea da fortaleza — que seria ao mesmo tempo sua residência — e da cidade anexa ("Joka-mach i" ). Yoshiaki confiou totalmente em Nobunaga. Nobunaga. perspicazmente. um chefe militar feudal visava. A tentativa redundou em completo malogro e Yoshiaki foi expulso de Kyoto. e os jesuítas fundaram um seminário para a educação dos filhos de nobres e senhores feudais. Só mesmo um general da visão de Nobunaga poderia ter concebido tal idéia. Aliás havia. De início.. em Roma. com a construção de um baluarte defensivo. mas. foi enviado um relatório pormenorizado da obra. vendo crescer rapidamente o prestígio deste.° ano da Era Tenshô (1573). sua formosura e excelente localização foram objeto de descrição minuciosa da parte dos padres católicos que tiveram oportunidade de observar a construção. o bakufu de Muromachi. além de igrejas para a catequização. ora mandando usurpadores restituir terras ao soberano. no 1. Outrossim. Nobunaga. porque. que se simpatizara com os missionários estrangeiros. Este castelo-fortaleza tem um significado todo especial. Omi (Shiga-ken). o estabelecimento de um centro político do país. estabeleceu até um "bairro dos padres". Pretendia Nobunaga construir uma capital digna da nova era que êle estava inaugurando no país. Tudo isso contribuiu para que o Castelo de Azuchi fosse conhecido na Europa. e. após quase 240 anos da sua instalação por Takauji Ashikaga. ora contribuindo para as despesas da corte. se colocou à frente da tendência popular. 93 . um florescimento geral do sentimento de fidelidade e dedicação à coroa. Nobunaga construiu um grande castelo-fortaleza em Azuchi. pela primeira vez na história do Japão.tinuou Nobunaga a favorecer a coroa. Desaparecia. As grandes proporções do castelo. assim. Até ao Papa. pois. Nobunaga planejou. como dissemos. de Kyoto. depois de sua morte. dominou os Chosokabe. E enviou a seguir um seu general. não pôde resistir ao assalto das forças do Cara de Macaco. Fracassou. de Mikawa. prosseguindo. a quem salvou a vida.Prosseguindo na obra de unificação. Este mandou exibir a cabeça do general traidor nas ruas de Kyoto. aliado a lyeyasu Tokugawa. o feudo de Kai e derrotou os Takeda. Hideyoshi Hashiba (mais tarde Toyotomi). Hideyoshi continuou o curso interrompido. na obra de restauração nacional. Hideyoshi. Quando ia em socorro de Hideyoshi foi traído e morto por outro seu general. Colocado numa escola monástica. a meio caminho. porisso obtendo permissão para usar espada. de Kyush u e finalmente Hojo. a Chukoku para combater os Moori. Tentou depois a aprendizagem de vários ofícios. completando a obra da unificação. Shimazu. de Kwantô. no templo Honnô. em sucessivas campanhas. serviu-o com inteligência e dedicação. A seguir. Hideyoshi fez. Hideyoshi atacou lyeyasu Tokugawa em Owari. A ação de Hideyoshi foi tão rápida que Akechi. filho de um samurai decadente — que se dedicava à lavoura — tinha a alcunha de "Saramen Kwanja" (Cara de Macaco) devido à sua extrema feiúra. a tentativa de unificação nacional de Nobunaga Oda. Depois. que procurava consolidar sua posição na metrópole para dominar todo o país. Sua fulminante ação contra Mitsuhide Akechi deu-lhe grande prestígio entre os generais de Nobunaga. Tinha chegado a grande oportunidade de Hideyoshi. assim. mas logo se reconciliou com e le. de Shikoku. conseguindo por fim entrar para o serviço de um samurai. Nobunaga atacou. as pazes com Moori e voltou-se sem perda de tempo contra o traidor Mitsuhide Akechi. unificando os feudos. Juntou-se a Nobunaga. Isso acon94 . imediatamente. Unificação nacional — Ao receber a notícia do assassinato de Nobunaga. apesar de hábil estrategista. foi expulso por indisciplina. Mitsuhide Akechi. boas e más. Tanto Nobunaga como Hideyoshi mandaram medir as áreas cultiváveis. Foi realizado um censo das terras agrícolas. Afinal se tornou "Kwampaku" (Conselheiro principal do imperador) e recebeu o nome de "Toyotomi" como recompensa aos seus serviços. Com o progredir da unificação. Tentaram. 95 . que marcou o início do ciclo de guerras civis. Hideyoshi Toyotomi. importado de Ming. foram padronizadas as unidades de superfície e os métodos de medição que.° da Era Tenshô (1590). Durante a visita imperial. "Jurakudai' — Depois de derrotar Mitsuhide. para sede do seu governo. Construiu o palácio "Jurakudai" em Kyoto e ali homenageou o imperador Goyozei. Chamou-se a isso "Kenchi" (Verificação de terras). agora guindado ao posto mais elevado do império era um dedicado servidor da coroa. Em torno do castelo formou-se uma próspera cidade. elemento de importância vital para a economia do país. Sua origem era tão modesta que não tinha sobrenome. estimular a lavoura. interessados no bem-estar geral da nação. Governou como alto dignitário da corte e não como uma autoridade à parte daquela. em primeiro lugar. Hideyoshi construiu um grande castelo em Osaka. diferiam de "shoen" para "shoen". até então. Hideyoshi cumulou o soberano de toda sorte de gentilezas e homenagens e ainda ofereceu terras à família imperial e aos "kugues". um humilde camponês. o Japão deixou de cunhar moedas e empregou o "Eiraku-sen". Não se intitulou "shogun". o "Cara de Macaco". para calcular sua produção. Renovação administrativa — Nobunaga e Hideyoshi foram reformadores políticos. Em resultado dessa importante medida. Hideyoshi foi recebendo graus nobiliárquicos cada vez mais elevados da coroa. pouco mais de 120 anos desde a revolta de Onin.tecia no ano 18. Durante muito tempo. os daimyôs. a mineração. Hideyoshi mandou medir o comprimento das estradas e colocou marcos em cada ri (légua japonesa. era obrigada a lutar pelo seu senhor. cobre. e t c . prata e cobre. acabou com os "sekisho". para estimular o comércio e a indústria pela concorrência livre. Nobunaga. Alguns "daimyôs" aboliram o sistema de "za" já no tempo das guerras civis. bastando uma licença do feudatário. nesse sentido. ademais estabeleciam postos de fiscalização ("sekisho") em pontos estratégicos das fronteiras para vigiar os viajantes. No "Sengoku-Jidai". segundo o tamanho. prata. qualquer pessoa podia trazer armas.927 metros). Com as facilidades de comunicações decorrentes da construção e reparação de estradas e com a liberdade de comércio. e se havia incrementado a produção de ouro. pequenas. Nobunaga e Hideyoshi tiveram idêntica orientação. além de construir estradas e pontes. taxar animais e cargas. grandes e koban (kobang). As moedas de ouro eram divididas. a fim de eliminar os inconvenientes causados pelo "Eiraku-sen". receosos de serem atacados por seus adversários. Desenvolvera-se consideravelmente. por essa razão. que mede3. etc. o porte de armas (catanas. na época. Hideyoshi mandou cunhar moedas de ouro. Hideyoshi proibiu. Para manter o sistema feudal impunha-se uma divisão definida de classes dos cidadãos. E.Entre as moedas circulantes existiam muitas de qualidade inferior. Na época de agitações e guerras civis. 96 . prosperaram as cidades formadas em torno dos castelos-fortaleza dos barões feudais.) a pessoas que não pertencessem à classe dos samurais e efetuou a apreensão de armas mantidas ilegalmente. do que resultavam embaraços e inconveniências para as transações comerciais. mosquetes. lanças. em ohban (obang). em compensação. deixavam ao completo abandono as estradas e. o que constituiu uma medida realmente benéfica para o progresso do país. As ordens de Hideyoshi. pediu à Coréia permissão para a passagem das tropas nipônicas em demanda do grande império continental. Os lavradores deveriam. Hideyoshi estabeleceu o seu quartel general em Nagoya de Kyush û .° ano da 97 . Planejou a anexação da Coréia e a conquista da China. dedicar-se somente à lavoura. foi também produto de uma época de convulsões violentas. Política exterior e cultura. procurou exercer sua influência sobre os países vizinhos. de então em diante. houve uma divergência no tocante ao compromisso da trégua e Ming enviou uma carta em que dizia nomear Hideyoshi "rei do Japão". Por ter acontecido na Era de Bunroku. Tropas chinesas que vieram em socorro dos coreanos foram desbaratadas. e t c . um herói revolucionário. o guerreir o do não guerreiro. Fracasso da política de conquista — Hideyoshi q u e foi incontest a velmente um militar de grandes ambições e um político de visão. a Coréia não concordou com a proposta. de onde dirigiu as operações. Pouco depois Hideyoshi aceitou a proposta de trégua apresentada por Ming. O "kwampaku" ficou profundamente ofendido com o tratamento e enviou novas forças expedicionárias no 2. 2. Daí resultaram dificuldades na remessa de reforços e víveres. Como primeiro passo. Keijô (Seul) caiu em poder das forças japonesas. por assim dizer. e os comerciantes somente aos misteres do seu negócio.eram severíssimas. assim. esta guerra é conhecida na história por "Campanha de Bunroku" (Bunroku no Eki). Receosa do poderio da China. Distinguiu-se. um grande exército expedicionário japonês (cerca de 130 mil homens) invadiu a Coréia. Entretanto. Uma vez concluída a obra de unificação nacional. Mas o Nipon não dispunha de armada forte bastante para apoiar os expedicionários. No primeiro ano da Era Bunroku (1592). do que resultou a guerra. Pouco depois. O resultado foi um fracasso total. Havia padres 98 . em número. Em pouco tempo. Nobunaga permitiu a propagação da fé cristã e. e suas forças expedicionárias se retiraram da península. eram todos homens de alta virtude. Francisco Xavier permaneceu no Japão cerca de dois anos apenas. o número de católicos japoneses atingia cerca de um milhão. em conseqüência. Desta vez. durou 7 longos anos e custou o sacrifício de muitas vidas e dispêndio de grande soma em dinheiro. colégios e seminários em Kyoto. Emissários a Roma — Conforme vimos. Nos colégios jesuítas ministrava-se o ensino do português e do latim. em sua maioria.Era Keichô (1597) à Coréia. a sorte das armas não foi favorável aos japoneses. porém. em obediência à vontade do "kwampaku" expressa em seu testamento. Azuchi e outras localidades. Sacerdotes participavam das lutas políticas. de se erguer acima da corrupção própria de épocas de convulsão político-social. surgiram igrejas. morria Hideyoshi. cultos e bondosos. Impunham respeito aos nipônicos pelo próprio caráter. além do religioso propriamente dito. com maior concentração no sul do país. mas sua obra catequizadora foi profícua. Este Jhavia sofrido uma deterioração geral. com a do clero budista. não eram capazes. Comandaram as forças expedicionárias nas duas campanhas Yukinaga Konishi e Kiyomasa Katô. tendo se destacado muito na batalha de Seul — quando as forças nipônicas foram cercadas por um grande exército chinês — o general Takakage Kobayakawa que conseguiu vencer as forças adversárias muitas vezes superiores às suas. espalhados desde Kyushü a Hokkaidô. A nova fé chegava num momento em que o povo nipônico estava descontente com a decadência do budismo. mais exatamente. Esta aventura militar tem o nome de "Campanha de Keichô". os missionários católicos que arriscavam suas vidas fazendo viagens perigosas por mar e terra. Em contraste. Sustentaram batalhas cruentas na parte sul da península. Isso causou o ciúme e o ódio do clero budista. orfanatos. os três daimyôs cristãos enviaram dois jovens. Organdino Sordi também chegavam a Kyoto. Em 1559. Curavam doentes. obtendo. nessa ocasião. etc. Ambos. senhor de Arima e Dom Bartolomeu Omura-Sumitada. Francisco Xavier chegou a Kyoto em 1550. Quatro anos mais tarde. por intermédio dos portugueses e espanhóis. em Roma. e t c . No 10. Dom Protasio Arima Harunobu. que a miséria impunha às classes baixas.° ano da Era Tenshô (1582). deve99 . Os japoneses chamavam as igrejas católicas de "Namban-ji" (Templos dos bárbaros do sul). Em 1570 Francisco Cabral e em 1571. juntamente com Vilela. Os jesuítas construíram leprosários. Julião Nakaura e Martinho Hara. Froes foi festivamente recebido pelos novos cristãos de Kyoto e avistou-se com Nobunaga e Yoshiteru. aplicando a ciência médica do Ocidente então desconhecida no país. Gaspar Vilela dedicou-se à catequese em Sakai. foi recebido em audiência pelo shogun Yoshiteru Ashikaga. pólvora e outros artigos. senhor de Omura. Três daimyôs de Kyush û se tornaram ardentes adeptos da nova religião: Dom Francisco Otomo-Yoshishigue. em companhia de dois outros jovens. Mansho (Myncio) Itô e Seizaemon Chijiwa (Miguel Chigiwa) ao Papa. permissão para dedicar-se à catequização e construção de uma igreja na metrópole. Os daimyôs de Kyush û tratavam com especial deferência os sacerdotes jesuítas para conseguirem vantagens comerciais. Atingia a cerca de 20 mil o número de fiéis somente na capital. que fez tanta pressão que os dois jesuítas foram obrigados a voltar a Sakai. E combatiam os maus costumes como o da venda de filhas.iesuitas que se desfaziam de todos os bens pessoais no serviço da fé. Em 1587 chegava Luis Froes que. asilos. o de abandonar crianças na rua. na importação de mosquetes. santa-casas de misericórdia. senhor de Bungo. Nestas condições. Proibição do Cristianismo. o cristianismo foi proibido. dirigidos por outros padres. tinha subido ao trono. arraigado na classe culta. depois de verem terras e costumes diferentes e exóticos. a Goa. fizeram-se de vela em fevereiro de 1582. há muito tempo. o "shíntoismo". o budismo e o confucionismo. então completamente desconhecido na Europa.riam apresentar suas homenagens ao sumo pontífice e ao rei de Portugal em nome dos seus respectivos daimyôs. os emissários católicos regressaram à pátria no 18. Hideyoshi julgou que os sacerdotes estrangeiros não somente visavam a conversão do povo japonês à religião católica. os nipônicos estavam dispostos a receber e assimilar a nova religião. seu sucessor Sixto V. por razões puramente políticas. Afora uma pequena resistência oposta pelos budistas. O Papa Gregório XIII e. em 1587. Desta cidade seguiram para Roma". Dali. Entretanto. aportaram em Lisboa a 10 de agosto de 1584 onde tiveram conhecimento da morte do rei de Portugal. Dom Henrique. cumularam de gentilezas os jovens emissários vindos de uma terra tão longínqua como o Japão. por ordem de Hideyoshi Toyotomi. Felipe II. "Desde Nagasaki — diz Naojiro Murakami em seu interessante "Portugal e o Japão" — em companhia do Padre Valignano. favorecido pelas necessidades espirituais dos japoneses. 3. após a morte deste. Carregando presentes ricos. seguiu a Embaixada para Madri onde entregou a Felipe II as cartas que os enviados de seus Senhores levavam para El Rei de Portugal. o Rei da Espanha. Apesar de já existir. passando por Macau chegaram. Não havendo herdeiro legítimo. finalmente. e. como procuravam estabele100 . o cristianismo se alastrou rapidamente em todo o Japão.° ano da Era Tensho (1590). em 1580. cer o poder político ocidental (português ou espanhol) nas ilhas nipônicas. São os primeiros mártires cristãos do Japão. porque. que seguiam à frente dos seus exércitos. que a sua pátria havia alargado o horizonte de suas fronteiras graças ao auxílio dos sacerdotes. que aportara em Urato. . antes de Hideyoshi dominar Kyushû. E aconteceu que. os catequistas da época consideravam a exploração de novas colônias. uma obra sagrada para alargar os domínios do Papa. estava praticamente preparado o terreno para a política de isolamento completo que seria adotada na Era de Kwan-ei (1639). Para Toyotomi. Hideyoshi mandou confiscar o navio e prender os sacerdotes que se achavam a bordo. Contudo os cristãos japoneses eram devotos dedicados e numerosos. eliminando os pagãos. a extensão do domínio espanhol em todo o mundo. o capitão da nau espanhola "San Felipe". Semeada.o que aconteceu no tempo do Shogun Iemitsu — como verificaremos mais adiante. e ali executados. era uma revelação de suma gravidade. E. entretanto. os católicos controlavam o poder político e temporal da região de Nagasaki. contou. aos japoneses pouco conhecedores da situação internacional. As palavras do capitão continham uma certa dose de verdade. na mente dos governantes. De fato. acossada por uma tempestade quando navegava das Filipinas para o México. que veio confirmar as informações por êle já obtidas por intermédio dos próprios ocidentais: holandeses que estavam em guerra com Portugal e Espanha e franciscanos que. orgulhoso. Em número de seis. Foi necessário recorrer à repressão sangrenta . A ordem de Hideyoshi não conseguiu extirpar de uma vez a grande influência que a nova fé havia conquistado entre o povo. o navegador espanhol disse mais. os religiosos foram enviados a Nagasaki. apontando para o mapa mundi. juntamente com 20 católicos japoneses. faziam suas intrigas. de Tosa. enciumados do "monopólio" dos jesuítas.. a desconfiança contra a catequização estrangeira. em 1596. 101 . para residências. O castelo de Fushimi. era conhecido pelo nome de Momoyama e daí o dar-se à cultura da época esse designativo. permitiu o comércio com os países europeus. Momoyama — Soprava o vento da renovação em todo o Nipon. ficava no Castelo de Fushimi. 102 . Desapareciam as coisas antigas para dar lugar a novas. Nobunaga e Hideyoshi gostavam de obras grandiosas e belas. vários daimyôs de Kyush û trouxeram ceramistas coreanos. Animação e amor à vida dominavam todos os espíritos. A escola Kano predominava na pintura. As guerras civis chegavam ao seu fim e bruxoleava no horizonte a aurora de uma nova era de paz. adornavam tais residências. Grandes castelos-fortaleza. como os de Azuchi. O "karamon" (Portão Catai). Esta modalidade de arquitetura aperfeiçoara-se e fussumas com artísticas pinturas. tendo produzido nessa época insignes artistas como Eitoku e Sanraku. foram construídos na época de Nobunaga e Hideyoshi. porém. Escreveu cartas ao governador geral espanhol das Filipinas e ao governador português de Goa sobre assuntos de intercâmbio comercial. holandeses realizavam a navegação comercial entre os portos das colônias européias da Ásia e o Japão. existiam casas de estilo "shoin-zukuri". Osaka. que empregavam cores douradas e verdes carregados em quadros de grande tamanho. Esse gosto se refletiu na cultura da época. espanhóis e. esculturas devidas ao cinzel de mestres notáveis. do que resultou o aparecimento das conhecidas louças Arita ("Arita-yaki") e Satsuma ( "Satsuma-yaki" ). Nas campanhas de Bunroku e Keichô. e t c . Dentro da área do castelo. de Kyoto. Fushimi. Navios lusos. mais tarde.Hideyoshi. hoje existente no templo Nishihongwanji. A produção de magníficos brocados ("kínran") e a famosa seda "Nishi-jin-ori" de Kyoto teve desenvolvimento no período Momoyama. onde Hideyoshi residiu na sua velhice. que em breve surgiria no curso da história nipônica. ainda. Hidetada. 8. entretanto. cabendo a Hideyoshi a tarefa de completar a grande obra. mestre dessa arte. que governou o Japão durante a idade moderna. não soube preservar a herança paterna e Iyeyasu Tokugawa assumiu a suprema direção do leme estatal. por isso mesmo. que o período Azuchi-Momoyama ou Oda-Toyotomi. embora já apresente sinais da nova era. Características do período Azuchi-Momoyama — O período de Azuchi e Momoyama. Encerra.° shogun Ashikaga. a onda de destruição e devastação. até a Restauração de Meiji. Sen-no-Rikyú.A arte do chá (cha-no-yu) se espalhou cada vez mais. que atingira o auge no período das guerras civis. muito do período anterior. estabeleceu normas definitivas para a "Cerimônia do Chá". Verificou-se uma verdadeira ebulição intestina. uma época de grandes transformações. 103 . Vimos que a idade média japonesa — feudalismo — entrou na fase de permanente guerra civil depois da rebelião de Onin. com sede em Yedo (Tokyo). Verifica-se. Continuou. Não passou. Foi. Nobunaga sucumbiu a meio caminho. de constantes guerras entre feudos. no conjunto. no governo de Yoshimasa. de pouco mais de 30 anos. Após mais de um século de sangrentas lutas. representou a transição entre duas idades de características bem distintas. tanto no terreno político como no cultural. filho de Hideyoshi. Porém. que focalizamos neste capítulo. como é também conhecido. fundando o shogunato Tokugawa. o país marchava para a unificação — ou melhor re-unificação. que se dividiam e se subdividiam ao sabor das ambições e conquistas dos chefes guerreiros. pois. constitui o mais curto da história do Japão. ou de Oda e Toyotomi. mas. por outro lado. no governo de Hidevoshi. se aventurou até a enviar expedições militares ao estrangeiro. 104 . Aboliu-se completamente o regime de "shoen" e estabeleceu-se o sistema de "chigyô" (enfeudação). consolidando internamente o país. era visível o esforço construtivo. que. (6) O Japão se (6) Localidade situada na atual província de Guifu. então. originàriamente erigido por Dokan Ota (1432-1486).CAPÍTULO VII YEDO BAKUFU OU TOKUGAWA BAKUFU 1603-1867) 1. era senhor do castelo de Okazaki. o Kwampaku confiou-lhe a administração da região do Leste (Kwantô). Yedo (atual Tókyo) não passava. amparando o pequeno shogun. Iyeyasu Tokugawa — Era natural de Mikawa. Como prêmio aos serviços então prestados. lyeyasu reconstruiu o castelo de Yedo. arquitetaram um plano para eliminar lyeyasu. lyeyasu começou por dominar os feudos vizinhos e chegou mesmo a lutar contra Hideyoshi. antes em poder dos Hojo. Consta que descendia de Yoshisada Nitta. O castelo de Yedo. um senhor feudal de fino gosto. filho de Hideyoshi. e os senhores feudais que procuravam defender a família Toyotomi. Depois da morte de Hideyoshi. Hirotada Tokugawa. Os dois grupos rivais mobilizaram forças de todo o país e em 1600 travou-se a batalha decisiva de Sekigahara. Posteriormente. 105 8 . acompanhou-o no ataque a Odahara. de uma vila na planície de Kwantô. ainda era criança. Seu pai. lyeyasu transformou o castelo no baluarte de seu poderio. a influência de lyeyasu entre os daimyôs cresceu de maneira notável. Hideyori. senhor de fato do Japão. os daimyôs ficaram devendo obediência ao novo sol todo poderoso que surgia no cenário político-militar do país: Iyeyasu Tokugawa. Havia no bakufu uma espécie de Conselho de Estado formado por quatro ou cinco rofu ou toshiyori (anciãos). saíram vitoriosos sobre as forças do Oeste. o 106 . principalmente. A administração do bakufu. no seu governo. Iyeyasu orientou-se. os homens que desejavam a volta da família Toyotomi ao poder. e a breve dinastia fundada por Toyotomi Hideyoshi desapareceu para sempre. — Iyeyasu Tokugawa foi nomeado "Sei-taishogun" logo depois da batalha de Sekigahara e fundou o seu bakufu com sede em Yedo que. Assim. Esse conselho era presidido por um tairô ou ô-doshiyori (grande ancião). espécie de vice-ministros. embora reduzido à condição de simples daimyô. comandados por Iyeyasu. e. Depois que Hideyori atingiu a maioridade. O rofu era. que fiscalizava os templos e santuários.. o novo regime já havia consolidado seus alicerces. de várias funções: Jisha-bugyô. Contava ainda com a participação de diversos waka-doshiyori (anciães-moços). completando sua organização fundamental. Todos os partidários de Toyotomi foram castigados. construído por seu pai. desde então. Hideyori conseguiu preservar o castelo de Osaka.dividiu em dois grupos e os exércitos do Leste. Abaixo deles ficavam os delegados (bugyô). na época do terceiro shogun Iemitsu. se tornou o centro político e cultural do Japão. iniciaram um levante nesse castelo. Contudo. daí em diante. encarregado da direção política e o waka-doshiyori o assistia. mas foram derrotados. pelo modelo do governo militar de Yoritomo Minamoto. Além destes cargos de natureza político-administrativa. Uma grande vantagem levava o governo central em relação ao senhores feudais regionais: Nada menos de um quarto do total de terras do Japão pertencia ao bakufu. o sistema de "Sankin-kotai" (serviço por turno na corte do shogun).Kaniô-bugyô. como. nas cidades importantes. que consistia em todos os daimyôs terem uma residência em Yedo. a regiões afastadas. com o fito de evitar que se levantassem contra o governo central. abundavam funcionários de imediata confiança do bakufu. enquanto outros mostravam-se inclinados para os Toyotomi ou tinham sido aliados destes — existiam os caro-os de grande superintendente (ometsuke) e para fiscalizar os hotamoto (vassalos diretos do shogun) havia os metsuke (superintendentes). Existia. confiscava ou reduzia as terras dos daimyôs. Teve o Bakufu Tokugawa especial cuidado na colocação estratégica dos chefes feudais. mesmo os mais ricos. Distribuiu membros da família Tokugawa e antigos servidores. uma espécie de prefeito da capital. por exemplo. como Kyoto e Osaka. no começo. Esse fato lhe dava uma posição de absoluta supremacia econômica sobre todos os lordes. que se encarregava de assuntos financeiros e o Yedo-machi bugyô. Outras medidas. enviou os daimyôs que. ainda. Para a fiscalização dos daimyôs — alguns dos quais não eram partidários espontâneos de Tokugawa. a fim de fortalecer a posição de Yedo. eram hostis aos Tokugawa. que. de cuja fidelidade não duvidava. quando não era obedecido. foram tomadas com idêntica finalidade. onde suas famílias moravam durante um ano. interpolar tenryô entre feudos de elementos estranhos. na região de Kwantô eTokaidô (estrada que liga Yedo a Kvoto). As terras pertencentes ao bakufu se denominavam Tenryô e eram administradas por funcionários nomeados pelo poder central. vivendo o ano 107 . Controle dos daimyôs — Os senhores feudais administravam seus domínios sob rigorosa fiscalização do bakufu. artesãos e comerciantes — Além de fiscalizar os daimyôs espalhados em todo o país. Quando havia. Inicialmente houve a divisão de classes em samurai (shi). e várias cidades. Os samurais constituíam a classe privilegiada e podiam exercer o seu poder à vontade. resultados benéficos. O regime feudal centralizado se achava em pleno desenvolvimento e as massas populares tinham suas liberdades cerceadas. e. já na vida fastigiosa da capital. por exemplo. o bakufu baixou regulamentos diversos para serem seguidos pelo povo em geral. como reféns virtuais. enquanto os seus chefes prestavam serviço na corte do shogun. A lavoura. Ainda hoje pode-se observar.seguinte nos respectivos feudos e voltando a Yedo novamente por um ano. criados. assim. um movimento revolucionário. já nas viagens de ida e volta. detidas periòdicamene na capital. colocou-se logo abaixo da classe dos guerreiros e acima das demais profissões. as famílias dos implicados se transformavam em reféns de fato. Samurais. A medida produziu. 108 . A cultura da capital era levada ao interior. situadas nas estradas principais que ligavam Yedo a capitais provinciais. considerada o ramo da população mais importante. o bakufu obtinha um duplo resultado: podia fiscalizar mais de perto os atos dos daimyôs. por outro lado. As famílias dos pequenos e grandes daimyôs ficavam. que demandavam a metrópole ou dela regressavam em companhia de suas famílias e vassalos. feitas com luxo e aparatosos séquitos. casas que serviram de hospedagem aos senhores feudais ("honjin" era o nome dado a tais casas e seus proprietários consideravam uma honra a escolha de sua residência ou propriedade para tal fim). artífice (kô) e comerciante (shô). ao mesmo tempo. lavrador (no). lavradores. em algumas localidades do interior. forçava-os a largas despesas. e t c . prosperaram graças aos movimentos dos daimyôs. Obrigando seus vassalos a essa transferência periódica de residência. especialmente em épocas de fome e calamidades naturais. por vezes. Continuava a existir. onde gozavam de certa autonomia. tanto shintoista como budista. no período Tokugawa. Indivíduos de classes mais elevadas caíam na miséria e iam aumentar o número dos pedintes. O poder do bakufu era forte e seus decretos e regulamentos tinham que ser obedecidos sem discussão. O casamento inter-classes estava terminantemente proibido. os homens de letras ou estudiosos ("gakusha"). Em resumo. "zori". as tradições antigas e os precedentes tinham importância vital. Temos. flexas. a classe dos "eta" e mendigos. O clero. Os "eta" pertenciam congênitamente a essa classe desprezada. No tocante à classe dos letrados. sob a proteção do bakufu. templos e terras. pois. os sacerdotes shintoistas e budistas. elevada. por exemplo. letrados. a sociedade japonesa da época. os hábitos arraigados. havia as classes dos kugue. Na prática manteve-se rigorosamente a divisão de classes. pavios. Assim. que lhes concedia o monopólio dessas "indústrias". A própria natureza do regime feudal. possuía seus santuários. a confecção de chapéus de palha (de arroz). Bushis e chonins respeitavam muito o saber e não foram poucos os "gakusha" de renome que orientaram a cultura da época. verifica-se a existência de outras classes intermediárias além das quatro principais acima mencionadas. mais a fundo. então dominante no país. Mas os mendigos nem sempre nasciam nessa classe. ainda. cujos membros nunca podiam se unir a elementos de outras classes por meio do casamento. chonin e párias. Era muito difícil passar de uma classe para outra. a ter grande poder político e até militar. Por aí se verifica que eles constituíam uma classe especial. pode-se dizer que a grande maioria era composta de cultores do confucionismo. Os "eta" dedicavam-se a vários trabalhos. sacerdotes. na vida social. conservador por 109 . como. Chegaram. samurais.Analisando. e t c . Situação mundial — A situação mundial. os famosos wakô (piratas japoneses). Espanha e Portugal. começou a competir com a antiga metrópole no palco mundial. E agora havia chegado o momento da realização desse sonho. enviar navios mercantes ao Extremo Oriente. tornou-se independente e. Organizaram companhias de comércio que iniciaram suas atividades com sede em Java. sob a pressão 110 . Qualquer tentativa de inovação corria o risco de ser considerada ato de rebeldia ou subversão. Entretanto. o comércio nipo-holandês progrediu consideravelmente. Na Europa. 2. que tinha sido uma possessão espanhola. o escritório comercial inglês cerrou suas portas em pouco tempo. fazia já algum tempo. porque na índia e outras partes da Ásia meridional haviam se estabelecido os lusitanos e espanhóis. planos ou estudos que fossem novidade. "Shu-in sen" (Navios de selo vermelho). não resistindo à concorrência batava. não tolerava idéias. tinham entrado em decadência. que tinham devastado as costas chinesas desde a época de Muromachi-Bakufu. Depois disso. foram expulsos pela marinha chinesa e. desde a antigüidade. na época em que Iyeyasu fundou o seu bakufu. Inglaterra e Holanda desejavam. a cidade que fica na parte leste de Kyus hû e que. Esta. Países do Sul — Ming havia proibido o comércio com o exterior. Em seu lugar surgiam as novas potências da Inglaterra e Holanda. havia sofrido considerável transformação. através de Hirado. Os dois países ocidentais procuravam estabelecer o comércio com o reino dos Ming (que então governavam a Chin a ) .excelência. que até então eram os países mais poderosos. servira de porto para o intercâmbio com a China. logo a seguir. Tanto a Inglaterra como a Holanda instalaram um escritório comercial em Hirado. Na época de Hideyoshi. Dispunha de mapas e bússola para orientar-se. procurou seguir uma política de cooperação. medicamentos. Sião. mas lyeyasu. e t c . de modo que era rendoso o comércio dos "Shuin-sen". aparecendo nas Filipinas. e. Osaka. e t c . em viagens alegres e despreocupadas. Hideyoshi assumiu uma atitude agressiva em relação aos países meridionais.desta. se dirigiram para o sul. Na arte náutica e de construção de navios. porém maior no tamanho. couro de animais. Nagasaki. 111 . Tais navios levavam principalmente prata do Japão. cantando ou jogando cartas. Samurais e comerciantes nacionais disputavam avidamente tais artigos importados. Os navegantes niponicos conheciam também a astronomia. "Shuin-sen" — Assim se chamavam os navios que levavam autorização do bakufu para navegar em mares estrangeiros. Anan. Segundo os cálculos mais autorizados. nada menos de 350 navios dessa categoria singraram os mares em demanda dos portos do sul. Anan e outras partes. A embarcação então empregada era de madeira e semelhante ao junco chinês. comerciantes de Kyoto. solicitando proteção aos navios mercantes que saíam carregados de mercadorias do Japão. e t c . os japoneses deveram muito aos ensinamentos de portugueses e chineses. de modo que sabiam se orientar pela posição das estrelas e do sol. e daimyôs de Kyush û enviavam "shuin-sen" em busca de mercadorias às terras meridionais da Ásia. pelo contrário. nos portos de destino. Todos os anos. durante os primeiros trinta anos do shogunato Tokugawa. os "shin-sen" recebiam a proteção do governo nas suas viagens para o exterior. mostrando "shuin-sen" com numerosos tripulantes e passageiros. Cambodja. sem olhar para o preço. Com o documento oficial de autorização ( " shuinjô"). adquiriam fios ou tecidos de seda trazidos pelos comerciantes chineses ou carregavam mercadorias produzidas nos países meridionais: corantes. Enviou cartas às Filipinas. marfim. Ainda hoje existem pinturas da época. O daimyô de Sendai. onde foi alvo de numerosas homenagens. Procurou estabelecer relações comerciais com o México."Bairros japoneses" — Nos portos das Filipinas. Fechamento do país "Kirishitan-shû" (Cristianismo) — Iyeyasu unificou o país e. por essa época. atravessou a Espanha e chegou finalmente a Roma. onde adquiriam produtos de que o Japão necessitava. plano esse que chegou a realizar. Anan. A grande atividade dos "shuin-sen" nos países sulinos. Masamune Date — conhecido pelo luxo de sua vida — enviou. com o recrudescimento da perseguição religiosa no Japão. crescendo a rivalidade entre comerciantes batavos e nipônicos. Entretanto. etc. procurou manter relações amistosas com o estrangeiro e permitiu o culto do cristianismo. 3. Masamune tinha as mesmas idéias de Iyeyasu no tocante às relações com o estrangeiro. o seu vassalo Tsunenaga Hasekura a Roma. 112 . onde se concentravam comerciantes japoneses. e cristãos perseguidos no Japão. em visita ao Papa. os planos sobre o comércio exterior tiveram que ser abandonados. a concorrência se tornou mais intensa. que se exilaram depois da queda de Osaka. formaram-se verdadeiros "bairros nipônicos". Depois que os Países Baixos instalaram em Formosa uma base de comércio para o intercâmbio com a China. constituiu dentro em pouco uma concorrência para a Holanda. Entre os japoneses emigrados figuravam samurais partidários dos Toyotomi. Sião. A embaixada Hasekura passou pelo México. a fim de consolidar os alicerces do novo regime. Tsunenaga Hasekura — Iyeyasu Tokugawa não se limitou a manter o comércio com os países meridonais. O bakufu encetou uma severa perseguição aos cristãos. expulsando os sacerdotes e proibindo o culto da sua fé. para a mentalidade ultra-feudal do Bakufu. Devido à rivalidade existente entre as duas correntes do cristianismo. Porém a fé cristã. entre os ensinamentos do ""kirishitan-shû" havia práticas que não se coadunavam com os costumes tradicionais do Japão. E resolveu exercer uma fiscalização severíssima sobre os fiéis e sacerdotes da religião importada. havia vários convertidos à religião cristã desde a época de Hideyoshi e. Japoneses em grande número cultuavam a religião de Cristo às ocultas e sacerdotes corajosos entravam clandestinamente no país. que adquiriam costumes e hábitos até então desconhecidos no país. na nova religião. O cristianismo era mais liberal do que as demais religiões. entre os daimyôs da parte ocidental do Japão. entre eles. os holandeses aconselharam o bakufu a cortar relações comerciais com os dois países ibéricos. Acresce que. Ordem de fechamento do país (1639) — A Holanda era um país protestante. uma vez implantada no coração de milhares de japoneses. vários fatores de ameaça ao regime shogunal. Diziam que seria perniciosa a difusão do catolicismo no Japão. Crescia o número de fiéis. A própria concepção de um Deus onipotente parecia uma temeridade. De fato. portanto. 113 . o bakufu ficou com receio de que os novos cristãos.Igrejas que tinham sido fechadas no tempo de Hideyoshi foram reabertas e padres que haviam se ocultado ou refugiado em países estrangeiros reiniciaram suas pregações abertamente. as ordens do bakufu nem sempre eram devidamente acatadas. viessem a constituir problema para o governo. em sua doutrina. Tal conceito representaria uma ameaça à autoridade absoluta do shogun. enquanto Portugal e Espanha eram católicos. Ante o grande surto do cristianismo. Existiam. não pôde ser aniquilada pela força. do ataque contra os revolucionários. rigorosamente. o governo Tokugawa intensificou a repressão ao cristianismo e.° ano da Era Kwan-ei (1637) verificou-se o levante dos camponeses cristãos da península de Shimabara. e. ilha de Kyushu. Navios chineses continuaram a aportar em Nagasaki. em número superior a vinte mil. Proibiram-se. A seguir. No 14. mas o povo japonês perdeu o contacto com o resto do mundo e a sua cultura ficou igualmente isolada. 114 . a dinastia dos Ming tinha desaparecido. na época de Iemitsu. tornou mais rigoroso o isolamento do país. Foi até proibida a construção de navios de grande calado. e o Japão entrou num período de completo isolamento. Cerca de quarenta anos depois da revolta de Shimabara. somente navios batavos tinham permissão de entrar no Japão e isso no único porto franqueado.Em face de tal situação. A revolta teve como causa imediata a taxação exaustiva e o mau governo dos senhores de Shimabara e Amakusa. sob as ordens do bakufu. o escritório comercial holandês de Hirado foi transferido para Nagasaki. Nagasaki. o bakufu baixou um decreto proibindo comunicações com o exterior. Os camponeses. todos os anos. ao mesmo tempo. Dos ocidentais. resistiram durante cinco meses ao ataque de mais de cem mil soldados do bakufu. Expulsou os portugueses que se dedicavam ao comércio no porto de Nagasaki. Depois da Rebelião de Amakusa. no feudo do Hizen. reinavam os Shin (Ching). liderados por Shiro Amakusa e outros chefes. terceiro shogun Tokugawa. em seu lugar. quase todas as relações com o estrangeiro foram rompidas. capazes de viagens de longo percurso. Entrementes. as viagens dos "shuin-sen" e os japoneses que viviam no estrangeiro não puderam mais voltar à Pátria. Os holandeses que trabalhavam no escritório comercial de Hirado participaram. Com tal medida consolidou-se o governo da família Tokugawa. depois da lei do isolamento. sacrificados. mas o seu chefe tinha autorização de visitar. porcelanas. Tratava-se de uma área do mar que fora anteriormente aterrada para estabelecer ali as residências dos negociantes portugueses. Por todos os meios o governo shogunal procurou incutir o terror do cristianismo no espírito popular. Eram igualmente vendidos na China e outros países asiáticos. o shogun e. cânfora. Na volta o navio carregava ouro. E o conseguiu em grande parte. tornando obrigatória a apresentação de uma declaração em que o súdito japonês afirmava não ser cristão. superficial embora. Nagasaki. Seus relatos foram os únicos instrumentos pelos quais os europeus vieram a saber da situação japonesa. bem como tecidos de lã figuravam entre os artigos importados. O documento era entregue aos templos budistas. charão e outros produtos nipônicos. Para descobrir os fiéis ocultos. se dirigia a Yedo. uma vez por ano. Nessas viagens periódicas podia êle observar os costumes dos japoneses e estudar a situação do país. o governo ofereceu prêmios aos que os denunciassem. Muitos padres e crentes foram. para isso. da 115 . E ordenou que todos os japoneses se convertessem ao budismo.Iconoclasmo e apostasia — O bakufu usou de todos os meios para exterminar o cristianismo. o bakufu podia ter conhecimento. O bakufu adotou também o processo de mandar pisar imagens de santos para descobrir os fiéis. Havia ainda muita gente que. prata. desembarcavam mercadorias e levavam artigos adquiridos no Japão para portos estrangeiros. Estavam os holandeses de Dejima proibidos de sair desse distrito. secretamente. Dejima — O escritório comercial holandês ficou instalado em Dejima. Durante anos. Estes artigos de exportação eram enviados à Europa. cobre. por intermédio de comerciantes holandeses. navios holandeses chegavam a Dejima. cultuava a doutrina de Cristo. Fios e tecidos de seda. assim. Por sua vez. começou a receber homenagens e tributos dos poderosos chefes guerreiros. existia uma forte inclinação popular a favor da restauração da autoridade temporal do soberano. O perspicaz shogun compreendeu que. entregar-lhe as rédeas do governo. e não político. somente no tempo de Oda e Toyotomi. E Tokugawa concentrou todos os podêres terrestres em suas próprias mãos. procurou ofuscar o povo com a fulgurância do poder espiritual que se atribuía à coroa. procurou intensificar o respeito devido ao imperador. Conhecendo a grande ascendência espiritual do trono sobre o povo. Iyeyasu adotou uma política capciosa e sagaz. depois do longo período de guerras civis. 4. não passava agora de simples símbolo da unidade espiritual do povo. o soberano recebia agora o termo de respeito "amatsukami" (Deus do céu) que lhe atribuíam os servidores do bakufu. mandou estacionar uma guarnição escolhida em Kyoto para vigiar os movimentos do Tennô.situação mundial. Relações entre o trono e o bakufu. 116 . que dominavam. Na verdade. a administração do Japão. Não desejando. E nomeou um príncipe de sangue real para o cargo de chefe do templo budista de Rinwoji. Mas limitou-se ao respeito "espiritual". Ao invés de "sumeragui" (imperador). porém. Atitude do shogunato Tokugawa em relação à corte de Kyoto — Eis um assunto interessante. Como tratava o bakufu a corte de Kyoto? Sabemos que o shogunato Ashikaga ignorou praticamente a existência do imperador. Sob o pretexto de defender o palácio imperial. Ao invés de ser o trono o supremo centro político-administrativo e espiritual ao mesmo tempo. de Uyeno (Yedo). através do relatório anual apresentado pelo diretor do escritório comercial batavo de Dejima. Fêz tudo para diminuir a influência política de Kyoto. que. de fato. religioso. assim. que. nobilíssimo. verdadeiramente.o príncipe não passava de refém político à disposição do shogun despótico. 117 . Na época de Heian dirigiram a administração do Japão. Considerado altíssimo. São nobres chegados ao trono. mas sua influência era nula. Garantiu-lhes a subsistência. Posição dos "kugue" — E os "kugue"? Já os conhecemos. Nenhuma relação tinham com o shogunato. mas arrebatou-lhes todo o poder político. quase lendária. que gozam de prestígio todo especial na corte. vivia segregado no palácio semi-oculto de Kyoto. Tokugawa adotou em relação a eles a mesma política seguida no tocante ao soberano. muitas vezes ligados a este por laços de parentesco. governava todo o Japão. Continuavam os kugue a serem designados ministros e dignitários da corte. tomou-se uma figura misteriosa. quase invisível. O imperador ficou. completamente isolado. E nenhum daimyô podia visitar o imperador sem expressa autorização do shogun. intocável e sagrado. Tinha especial cuidado com a cultura do arroz. os daimyôs haviam construído seus castelos-fortaleza nas maiores cidades do interior. porque a importância das propriedades de um daimyô era aferida pela quantidade de arroz nelas produzida. variável conforme a classe ou categoria da função que ocupassem na hierar118 . O bakufu considerava a agricultura o mais importante ramo da produção. O bakufu.CAPÍTULO VIII YEDO E OSAKA 1. sendo o "koku" uma unidade de volume equivalente a cerca de 180 litros. Os bushi. em caso de guerra. possuía 4 a 8 milhões de "koku". Os samurais que estavam a serviço dos daimyôs recebiam. Depois que os bushi abandonaram os campos. As cidades e os campos. não possuíam mais de um milhão de "koku". de armas em punho. Bushi e lavrador — Nesta época. viviam em redor dos castelos. mesmo os daimyôs mais abastados. enquanto que. podendo dedicar-se de corpo e alma ao amanho da terra. determinada quantidade de arroz. os lavradores não mais precisaram participar das lutas armadas. Os samurais começaram a viver nas cidades depois do sangrento período das guerras civis ("Sengoku-jidai"). moravam nos campos e também os lavradores lutavam. A essa quantidade se dava o nome de "kokudaka". Antes. que serviam aos daimyôs. por exemplo. como pagamento. sob um chefe. Assim. Das Filipinas veio o fumo. Havia o sistema do "grupo de cinco". entrou no Nipon por Cambodja. Por isso. que consistia em reunir. passou à China. todos os daimyôs estimulavam a lavoura. aumentando a variedade de culturas. igualmente originária da América. para impedir que eles se entregassem ao ócio ou se rebelas(7) Em Kwantô chamava-se "Nanushi. o fumo. Isso porque o bakufu interferia na vida dos lavradores. Cada aldeia possuía o seu chefe ("shoya"). e t c . a abóbora. recebeu a denominação de "cabotcha" em japonês. a começar pelo próprio bakufu. razão porque também é conhecida pelo nome de "Satsuma-imo" (batata de Satsuma). blocos de cinco famílias para se auxiliarem nos trabalhos cotidianos e dividirem as responsabilidades perante os podêres públicos. originária da América do Sul. colocado logo depois do samurai. no Japão. e. por isso. a batata doce. Também os navegantes ibéricos muito contribuíram para o cultivo de novas espécies de vegetais no Extremo Oriente. Muito embora o agricultor gozasse de um status social elevado. na época em apreço. Da China e outros países vieram novas plantas. através de Ryuky û e Satsuma (Kagoshima). introduziram-se. Um dos objetivos visados com a organização dos "grupos de cinco" era a vigilância dos cristãos. A abóbora. pela primeira vez. (7) Os lavradores precisavam cotizar entre si os tributos anuais impostos pelo governo central para a sua aldeia. pantanais das proximidades do mar foram aterrados para a produção rizícola e outras. Terras abandonadas foram aproveitadas. Situação das zonas rurais — As zonas rurais gozavam de certa autonomia." 119 . na Indochina. sua vida era consideravelmente mais pobre do que a dos comerciantes e artesãos. de onde entrou no Japão. estabelecendo-lhes regulamentos minuciosos e impondo-lhes medidas restritivas. no tempo de Iyeyasu.quia de vassalos do shogun. A batata doce. Os comerciantes reuniam-se em cidades e portos e organizavam sociedades para a defesa da classe. Os samurais. Chonin (ao pé da letra. Realizavam-se igualmente feiras muito movimentadas. na hierarquia social de então. Os que escapavam com vida do combate com as forças do shogun. em épocas de crise econômica. desprezavam em geral os "chonin". Tais entidades dispunham de grandes podêres e casas comerciais de renome ocupavam os melhores pontos dos centros urbanos. eram sumariamente executados. Por essa razão. Nem lhes era permitido usar roupa de seda ou possuir uma casa confortável. verificavam-se com freqüência sangrentos levantes e motins de camponeses. Eram obrigados a trabalhar durante o ano inteiro. — Chonin era o termo com que se designavam os negociantes e artesãos. nada menos de 574 casos de motins de lavradores ocorreram no período Tokugawa. levavam vida mais opulenta do que muitos daimyôs. Mercadorias eram transportadas de uma cidade a outra e de um porto a outro. As restrições chegavam ao cúmulo de proibir que os camponeses se alimentassem do arroz que eles próprios produziam. Por isso. na realidade. "gente de cidade"). inferiores àqueles na escala social.sem. que consideravam os lavradores elementos preciosos para a produção. havia comerciantes riquíssimos que. Também lhes proibiam montar a cavalo. considerada a mais pacífica e ordeira do Japão feudal. figuravam na classe baixa. por considerar que estes ganhavam dinheiro sem despender nenhum esforço. sem possibilidade de melhorar suas condições econômicas. Alguns senhores feudais eram devedores de negociantes ricos. o que mostra como o descontentamento lavrava intenso na classe dos camponeses. em particular os negociantes. Segundo o professor Kuromasa. o movimento comercial interno se intensificou conside120 . sempre sufocados a ferro e fogo. Desaparecido o comércio com o exterior. os homens do comércio. Entretanto. em cavalos ou navios. Gidayu Takemoto. Yedo e Osaka tornaram-se as cidades mais prósperas e adiantadas do Nipon. o país entrou numa fase de paz interna. 2. O próprio mobiliário e objetos de uso caseiro assumiram formas e cores vistosas. O teatro "kabuki" e "joruri" de marionetes tiveram grande desenvolvimento. (Guenroku-jidai) — Decretado o isolamento e consolidado o regime. Monzaemon Chikamatsu. grande número de excelentes "joruri". aos poucos. que hoje em dia seu nome é sinônimo de "joruri". popularizou esse gênero de balada teatral. 121 9 . Foi nessa época que se abriu o comércio de cabotagem entre as costas do Mar do Japão e a costa do Pacífico ou os portos do Setonaikai.r a velmente. foram se habituando. o que constituiu uma inovação no gênero teatral. penteados caprichosos e pinturas cuidadosas tornavam as mulheres sumamente atraentes. O "shogun" e os daimyôs que residiam na metrópole e os samurais. (1688-1783). produziu. Essa balada é inspirada nos amores de Yoshitsune Minamoto com uma dama chamada Joruri. Gidayu celebrizou-se tanto. seus vassalos. Período de Guenroku. cantor de "joruri" que apareceu posteriormente. à vida luxuosa da cidade. Fez a sua estréia com acompanhamento de shamisen. de Osaka. A criação do "Joruri" — espécie de balada dramática que consiste em cantos e recitativos com acompanhamento de "shamisen" — veio preencher a lacuna deixada pela decadência do "no" — drama lírico clássico — e foi sua iniciadora Ono-no-Otsu que compôs "História da Senhora Joruri" ("Joruri-hime Monogatari"). Luxo e pompa caracterizaram os costumes da época. Vestidos e faixas de lindas cores. nessa época. Bashô Matsuo. deixou inúmeros haikai de estro e lavra inimitáveis. bairro alegre de Yedo. Hiroshigue Ando ou. originàriamente. apareceram xilogravuras em policromia. que. No "senryú" procura-se exprimir humorística e epigramàticamente os hábitos e qualidades do homem e da sociedade ou seus sentimentos. teve um dos seus períodos mais brilhantes na época de Guenroku. Surgiram romances que pintavam a vida dos "bushi" e "chonin". Outro artista do mesmo gênero. ou do teatro popular. sendo dignos de especial destaque as obras de Saikaku Ihara. que procura a tranqüilidade espiritual. que se celebrizou na época. O "ukiyo-ye". e que surgiu bem depois do primeiro. considerado o "santo do haikai". Em contraste com a vida animada e brilhante da época surgiu o "haikai". agradando imensamente ao gosto popular da época. também de 17 sílabas. quadro da sociedade alegre (8). cujos segredos sintetiza em versos minúsculos de dezessete sílabas. absorveu os gêneros teatrais então existentes e desenvolveu-se até adquirir a sua forma atual. Era muito apreciado pelo povo e as reproduções em xilogravura eram muito procuradas.Do "joruri de marionetes surgiu a adaptação ao "kabuki". simplesmente. Mais tarde. Ainda hoje temos "desenho a Guenroku". quase sempre. em comunhão com a natureza. cenas e personagens de Yoshiwara. 122 . Foi um dos períodos de maior desenvolvimento intelectual e artístico da história japonesa. "manga (8) Ukiyo-ye — representava. Dá-se o nome de "moda de Guenroku" ao hábito do luxo. que resultou da vida dos ricos chonins de Yedo e Osaka. "Ukiyo-ye" significa. nos últimos vinte anos do século XVII e início do século XVIII. muito bonitas. muito conhecido no Ocidente. Hiroshigue. Além do "haiku" (haikai) existe o "senryú". como é mais conhecido. foi Toyokuni Utagawa. drama cantado e dançado. pintou as célebres "53 estalagens do Tokaiodô". Guenroku", que são lembranças da moda daquela época. Consta ainda que o "origami" (trabalho manual para confecção de objetos de papel) e o jogo de "Dochü-Sugoroku" (semelhante ao gamão) entraram nos hábitos japoneses no "Guenroku-jidai". Minas e moeda — No período das guerras civis, os daimyôs intensificaram a exploração das minas nos seus territórios, com isso ganhando a técnica da mineração. Os conhecimentos técnicos mais adiantados da China e da Europa foram também nessa época introduzidos no Japão. lyeyasu procurou colocar sob o domínio do bakufu todas as minas importantes, a fim de obter maior quantidade de ouro e prata. Entre as minas mais conhecidas pela sua produção figuram as de Sado e Iwami. Empregando o ouro e prata extraídos das minas, o bakufu cunhava moedas de curso obrigatório em todo o território nacional. O "ohban" e "koban" da época de Keichô eram as moedas mais valiosas e bem feitas. Entretanto, na época de Guenroku, o bakufu recorreu ao processo de recolher as moedas de boa qualidade, então em circulação, para substituí-las por outras, de qualidade inferior. O esplendor criado pela riqueza dos chonin provocou o aumento das despesas do governo e este não teve outro recurso senão aumentar a emissão. E isso somente era possível à custa da desvalorização da moeda. O crescente esbanjamento do bakufu criou uma situação precária para o Tesouro. No entanto, como é fácil compreender, a desvalorização da moeda provocou a alta dos preços, a inflação, criando uma situação difícil para os pobres. Posteriormente, o sábio Hakuseki Arai, que servia ao shogunato, apontou o erro do governo e opinou que deveria ser adotada novamente a moeda sadia de outrora para restabelecer a situação financeira do país. Sustentou Arai que uma das causas da crise financeira que afligia o bakufu era proveniente da saída de ouro 123 e prata para o estrangeiro. Acrescentou que, para controlar a exportação dos minerais, tornava-se necessário fixar o número de navios estrangeiros que vinham anualmente a Nagasaki, bem como reduzir a importação de artigos. Aceitando as sugestões de Arai, o bakufu restringiu o comércio exterior, então realizado através do porto de Nagasaki, único autorizado a permitir a entrada de embarcações alienígenas. Hakuseki Arai foi um sábio notável, que, não somente estudou as questões econômicas da época, como procurou informar-se, o mais minuciosamente possível, da situação mundial, e pesquisou ainda a história e língua japonesas do passado. Yoshimune Tokugawa — Yoshimune, oitavo shogun Tokugawa, esforçou-se por restaurar o poderio do bakufu, então em decadência. Começou por acabar com os luxos dispendiosos da corte do shogun e aconselhar o povo a reduzir os gastos, eliminando tudo que fosse supérfluo, a fim de restabelecer as finanças abaladas pelas extravagâncias que haviam-se tornado hábito desde a era de Guenroku. E, no terreno político, adotou uma atitude relativamente liberal. Para que o povo pudesse apresentar suas sugestões e queixas ao próprio shogun, estabeleceu o sistema de caixas receptoras de queixas e reclamações. Yoshimune foi criterioso também na escolha de seus auxiliares. Entre estes, destaca-se o famoso Tadasuke Ooka, prefeito de Yedo. Os prefeitos das cidades principais de então acumulavam também o cargo de juiz. Ooka celebrizou-se pelos seus sábios julgamentos e, ainda presentemente, se contam numerosos casos de "justiça de Ooka". Citaremos apenas um exemplo para mostrar o bom senso do juiz Ooka, "prodígio de ciência e de sagacidade," segundo Gowen. Certa vez duas mulheres apareceram no tribunal presidido por Ooka, reclamando a posse de uma crian124 ça. Ambas sustentavam ser a mãe legítima e de fato do bebê. Ooka ouviu as partes e depois disse: "Pois bem. A criança pertencerá àquela que conseguir ficar com ela, numa disputa à força". As duas mulheres agarraram, cada qual num braço do garotinho, e puxaram para o seu lado. Como é natural, o pimpolho começou a chorar. Uma das mulheres largou o bracinho que segurava. A outra ia sair, vitoriosa, certa de ter ganho a causa, com a criança em seus braços, quando o juiz ordenou: "Entregue a criança à sua mãe legítima, que largou o braço ao ver que estava machucando o filho". Yoshimune julgou de vital importância estimular a produção e mandou examinar as terras das províncias e abrir novos arrozais e hortas, empenhando-se particularmente no aumento da cultura de arroz. E para fazer face aos anos de escassez de gêneros alimentícios, determinou o incentivo à plantação de batata doce, o estudo da fabricação do açúcar de cana, e t c . Kon-yô Aoki, um estudioso de assuntos agrícolas, foi incumbido de cultivar batata doce no jardim de plantas medicinais pertencente ao bakufu, em Koishikawa. Por isso Kon-yô recebeu o apelido de "professor Batata". A êle se deve a difusão da cultura desse tubérculo no Japão. Tendo o próprio shogun dado o exemplo, no estímulo à produção, os daimyôs também se esforçaram no sentido de desenvolver as indústrias dos seus domínios. Datam dessa época, por exemplo, a cultura de fumo de Kagoshima-ken, a sericicultura de Gumma-ken e Nagano-ken, a indústria de sal de Shikoku e Chugoku, que hoje constituem importantes fontes de produção do país. Amante dos esportes, Yoshimune organizou falcoarias, competições de natação e convidou cavaleiros holandeses para ensinar a equitação ocidental aos samurais. 125 colecionou livros e. Jinsai Ito. mandou imprimir antigas obras de autores chineses. a que mereceu acolhida oficial por parte do bakufu Tokugawa foi a de Chu-Hsi (Shushi). em detrimento dos estudos nacionais. Sorai Oguiu e outros estabeleceram teorias morais interessantes. usando tipos de cobre. Toju Nakae. É interessante observar aqui que. O que convém adiantar é que. Em oposição à escola "oficial" do confucionismo. Razan Hayashi e Ansai Yamasaki. na doutrina do eminente sábio chinês. entre as várias escolas formadas pelos principais discípulos de Confucio. Havia um predomínio quase absoluto da sinologia. O confucionismo teve um surto digno de nota. Numa espécie de reação nacionalista contra tal tendência. Os estudos. que exerceu poderosa influência sobre a evolução ideológica e política das classes cultas do país. com prejuízo da nacional. embora originárias de um mesmo tronco. surgiram os seguidores da doutrina de Wang Yang-ming (Wo-Yômei). figuram entre os maiores cultores da doutrina de Chu-Hsi. a fim de orientar a administração pública. entrar nos pormenores das doutrinas dos maiores discípulos de Confucio. Ao inaugurar o seu shogunato. Estes estudiosos tinham. A arte tipográfica fora introduzida no Japão na época de Hideyoshi e coube a íyeyasu difundi-la. de Ohmi. baseadas. Não podemos. a dou126 . Ansai Yamasaki e Sokô Yamaga estabeleceram novas teorias baseadas no shintoismo e no "kangaku" (estudo das letras chinesas). numa obra limitada como esta. entretanto. de Kyoto. íyeyasu procurou assegurar a ordem pública pelo ensino dessa doutrina. já citados.3. E deu funções importantes ao sábio Razan Hayashi. a tendência de enaltecer a cultura chinesa. Confucionismo e "tera-koya" — Já vimos que a doutrina de Confucio teve ampla difusão nos meios cultos nipônicos desde a mais remota antigüidade (século V ) . em geral. a necessidade de restituir ao trono os seus direitos e prerrogativas. que foi também aos poucos nacionalizado. que o confucionismo havia se refugiado. Foi o que aconteceu. Filhos de samurais recebiam ensinamentos de Confúcio em tais estabelecimentos. Com o apoio recebido do bakufu de Yedo. com o budismo e o confucionismo.trina de Chu-Hsi (1130-1200). Com o escopo de difundir os estudos do confucionismo. que explicou a moral dos lavradores e exerceu duradoura influência entre a gente dos campos. Resta lembrar. adotada por Iyeyasu e seus descendentes. Sontoku Ninomiya. no decorrer do seu longo passado. de que estávamos falando. que procurou expor uma teoria eclética do confucionismo. de Yedo. foram reconhecendo. seguida pelos estudiosos independentes e monarquistas. tal como aconteceu com o budismo e outras formas de cultura importadas. durante as agitações das épocas de Murornachi e das guerras civis. Também os feudos regionais abriram escolas com idêntica finalidade. aos poucos. o bakufu instalou um instituto de estudos em Shoheisaka. transformando-as aos poucos. notadamente. foram abraçadas por duas correntes antagônicas no Japão: a dos sábios que serviam ao bakufu e a daqueles que. Voltando à época de Yedo. nos templos da seita Zen. Nas vilas e aldeias. devemos citar Ekken Kaibara que difundiu a doutrina de Confúcio nos meios populares. numa linguagem simples. teve novo surto o estudo do confucionismo. as crianças se reuniam nos templos budistas para aprender a ler e escrever. shintoismo e budismo. Baigan Ishida. O 127 . dando-lhes caráter próprio. ainda. de modo compreensível aos próprios analfabetos. e a de Wang Yang-ming. à luz dos ensinamentos da história pátria aliados à doutrina wanguiana. acessível a todos. Diga-se de passagem que o povo japonês mostrou. inegável tendência para aceitar e assimilar culturas alienígenas. aprendiam a caligrafia ou eram chamados à frente do professor para ler. Mitsukuni Tokugawa. Norinaga Motowori. publicou a "Grande História do Japão" ("Dainipon-shi"). O "Manyô-sh û ". foram reexaminados e estudados a fundo. chamado Hokichi Hanawa. Tais casas de ensino chamam-se "terakoya". contemporâneo de Norinaga. 128 . quaisquer que sejam. continuamente. sem se prender às opiniões e orientações traçadas por sábios antigos. pelo menos para o estudo da situação social da época em que foram redigidos. Estudo dos clássicos nacionais — Com o estudo intensivo da doutrina de Confúcio. de Ise. estudou durante toda a sua vida o "Kojiki" e escreveu a "Interpretação do Kojiki".mestre ficava numa mesa. a surgir. a fim de se conhecer o Japão de antes da introdução do confucionismo e budismo. Outro estudioso. Surgiram estudiosos da língua e história da antigüidade do Japão. mandou copiar muitos deles e. e t c . abriu-se o caminho para estudos novos. então. Este estudo dos clássicos nacionais tinha o nome de "kokugaku". novos conhecimentos da Europa. Estudos holandeses — Enquanto os portugueses mantinham ativo comércio com o Japão. depois de um longo e paciente trabalho de elaboração. em mesas pequenas. absorveu este. na frente da sala. (9) Parente próximo do Shogun. Espíritos independentes começaram. contribuindo para rasgar novas perspectivas aos estudos relativos à literatura nacional. reuniu velhos livros e documentos relativos à história do Japão. constituem elementos importantes. que influiu poderosamente na transformação política do Japão nos anos que antecederam à grande Reforma de Meiji. "Kojiki". reuniu uma coleção de livros antigos e os imprimiu de modo a evitar a perda de importantes documentos. (9) daimyô de Mito. mas. e os alu* nos. Os escritos antigos. através da cultura holandesa. Yedo. O governo havia proibido terminantemente a importação de livros europeus que navios chineses traziam a bordo. Por essa época. onde aprendeu o holandês e obteve livros batavos. juntamente com Ryotaku. realizou. Nenhuma notícia ou informação sobre o que se passava no estrangeiro era divulgada. para isso. A maioria destes era constituída de médicos que se esforçaram por introduzir os conhecimentos adiantados da Europa no Japão. Guenpaku Suguita. Yoshimune. Hangaku" era o nome dado ao estudo da língua e assuntos holandeses e seus cultores se chamavam rangakusha". 129 .depois da ordem de fechamento do país. experimentalmente. entre os estudiosos. Certa vez. depois. abrandou a medida. porém. mandou montar um telescópio para observar o sol e as estrelas. a autópsia de um cadáver. baixada no tempo do terceiro shogun Iemitsu. autorizando a entrada de livros que não tivessem relação com o cristianismo. num criminoso executado na forca de Kozukahara. Êle próprio gostava de estudar as ciências e artes da Europa. Yoshimune ordenou que Kon-yô Aoki estudasse a língua holandesa. pela primeira vez no Japão. Ambos tiveram a satisfação de confirmar. não havia nenhum meio de comunicação com os países da Ásia ou da Europa. Mas com a intensificação. estudavam o idioma batavo. um livro de anatomia — o primeiro no país — traduzido do holandês. o povo nipônico ficou praticamente isolado do resto do mundo. Ryotaku Maeno se dirigiu a Nagasaki. E. apareceram os primeiros médicos japoneses interessados em estudar a medicina holandesa. interessando-se especialmente pela astronomia. a exatidão das teorias contidas nos livros de medicina europeus. do desejo de ampliar e aprofundar seus conhecimentos. surgiram homens instruídos que procuravam entrar em contacto com a civilização européia. Suguita continuou a estudar o holandês e publicou. todas as províncias e. quando havia dúvidas. cartografia. entraram no país. Mas o bakufu procurava introduzir o "rangaku". do progresso científico da Europa. igualmente. foram difundidos no Japão. Paralelamente à astronomia.Entre os funcionários do escritório comercial batavo havia excelentes médicos. Tadataka Inô. 130 . A botânica e a química. igualmente. tratava bem os "rangakusha" e. percorreu. bem como outros conhecimentos técnicos medicinais. etc. não obstante a sua idade avançada. o povo em geral ignorava o que se passava fora das fronteiras nacionais. que orientavam e ensinavam os "rangakusha". Conhecimentos sobre artilharia e arte militar foram. por ordem do bakufu. assimilados pelos nipônicos ávidos de saber. conseguiu fazer um mapa exato do país. encarregados de estudaios fenômenos astronômicos. obtinha conhecimento da situação mundial. por intermédio de livros holandeses. procuravam obter esclarecimentos do holandês que se apresentava a Yedo. uma vez por ano. que têm íntima relação com a medicina. cirurgia e clínica. Contudo. instruiram-se sobre astronomia em livros batavos e. nessa época. introduziram-se também no Japão a geografia. Destarte. por intermédio dos holandeses. Funcionários do bakufu. Não tinha conhecimento. Peças de artilharia foram construídas e o sistema de instrução militar europeu foi adotado. para trazer os cumprimentos de Dejima ao shogun. fazia-se sentir a influência do império tzarista. apreciadíssimas na Europa. na Europa. Países europeus — Continuava a reinar paz interna. alcançavam preços elevados. que começaram a entrar em atividade nessa época. Nas viagens transpacíficas eram agora empregados navios a vapor em substituição aos barcos de vela. em conseqüência da invenção da máquina a vapor. vinham até os portos chineses. nos mares próximos do Japão. Entrementes. pouco depois. em resultado do longo isolamento do país. lontra do mar e outros animais. O avanço dos russos para o oriente era estimulado pelo seu desejo de obter peles. que. se havia tornado uma grande potência. anexaram novos territórios até a costa do Pacífico e. que proclamaram sua independência da Inglaterra. a Holanda. cujas peles.CAPÍTULO IX QUEDA DO BAKUFU 1. Essa região era rica em marta. 131 . surgiam. Estava se processando a "revolução industrial". com base na Índia. entrara em decadência e a Inglaterra surgia como nova potência industrial. Tendências do mundo. iniciavam o comércio com a China. e navios ingleses. Os Estados Unidos da América do Norte. Da Sibéria à região das Curilas (Chishima). Baleeiras americanas e inglesas. às vezes. mantendo comércio com o Oriente. mais exatamente. pela primeira vez. o nome de Estreito de Mamiya.° ano da Era Kwansei (1792). então. no 4. o isolamento do Japão constituía um óbice ao desenvolvimento do seu comércio no Extremo Oriente. E.Para esses países ocidentais. Depois. pela exploração que realizou. alguns estudiosos nipônicos ficaram de posse de bons conhecimentos sobre a situação da Rússia. desejavam estabelecer relações comerciais com o Japão. segundo revelaram depois de repatriados. onde foram muito bem tratados. por outro lado. Até então. Nessa ocasião. tratar-se de uma ilha de forma alongada. nomeou um interventor para Hokkaido e colocou a ilha sob sua direta fiscalização e administração. ou. E. Trouxeram muitas novidades. mas Mamiya esclareceu. muita resistência e relutância. receando provavelmente uma possível invasão estrangeira. Houve. a sua geografia. que os "gakusha" patrícios logo procuraram saber. ao feudo de Matsumae e se chamava Terra dos Yezo (Yezochi). mas o bakufu não concordou com a proposta. porém. da parte do governo de Yedo. assim. No tempo do décimo primeiro shogun. Poucos eram os japoneses residentes naquela ilha setentrional e pouco conhecida. Rinzo Mamiya explorou a ilha de Karafuto (Sakalina). Por isso propuseram ao bakufu a abertura dos portos japoneses ao comércio exterior. o navio russo trouxe alguns náufragos japoneses que haviam sido salvos por embarcações russas e levados ao país do tzar. no resto do país. o bakufu. acreditava-se que Karafuto fosse um prolongamento do continente. no começo. O estreito que separa a ilha do continente recebeu. Por ordem do governo. por isso. Ienari. 132 . emissários russos chegaram a Matsumae e propuseram o estabelecimento de relações comerciais. Terra dos Yezo e russos — Hokkaido pertencia. o bakufu reforçou a defesa das mesmas. Obsecado ainda pela idéia do isolamento rígido.Inglaterra e Holanda — Em vista do freqüente aparecimento de embarcações estrangeiras nas costas nipônicas. apegado à tradição — característica do regime feudal — e seguindo. firmou um tratado de paz. Tendo sido derrotada. e t c . Também. Mas.° ano da Era Bunsei (1825) baixou ordem a todos os daimyôs para que canhoneassem e expulsassem os navios alienígenas que aparecessem nas costas. sem crítica.° da Era Temp ô ). os ensinamentos dos antepassados. Ja nao era possível ficar somente o Japão afastado da marcha dos acontecimentos mundiais. No 8. ao comércio internacional. E foram castigados. Isso aconteceu em 1839 (10. o bakufu não queria nenhum contacto com o exterior. quando chegou um emissário do rei Guilherme II da Holanda. No mesmo ano. depois de implacavelmente perseguidos pelo governo shogunal. Ambos se suicidaram. 133 . declarando que ela resultava da ignorância a respeito da situação mundial. devido à questão da importação de ópio da Índia. o bakufu ficou seriamente preocupado com a segurança do país e resolveu abrandar um pouco as severas ordens relativas à entrada de navios estrangeiros. o shogun não quis modificar a política isolacionista. quaisquer que fossem os motivos e as circunstâncias desse aparecimento. pelo qual cedia Hong Kong à Inglaterra e abria os portos de Tientsin. a China entrou em guerra com a Inglaterra. para aconselhar a abertura dos portos. os demais países orientais estreitavam suas relações com as potências ocidentais. Enquanto o bakufu se mantinha fiel à tradição e a velha política isolacionista. os "rangakusha" Kwazan Watanabe e Choei Takano opuseram-se a essa política. chamado "guerra do Ópio". Posteriormente. Ao ter conhecimento do resultado desse conflito armado. o governo de Yedo não aceitou o conselho. Cantão. o bakufu 134 . que recebiam dos seus senhores como remuneração do serviço. Constituíam já uma verdadeira força no terreno econômico. voltou a reinar a dissipação e os bushi foram obrigados a recorrer. que se tornou "rojû" na era de Kwansei. que dispunham de dinheiro. O bakufu tentou modificar a situação. o que redundou também em estrondoso fracasso. substituindo os bushi em sua influência na direção real dos negócios do país. devido à necessidade de reforçar a defesa costeira. cada vez mais. por daimyôs. Entretanto. Ordenou aos daimyôs que guardassem gêneros para os anos de fome e também instituiu órgãos destinados a socorrer os indigentes. Originàriamente os samurais desprezavam os chonin e o dinheiro. pelo dinheiro. são lembranças das medidas tomadas pelo estadista de Tokugawa. e t c . aos poucos. com o aumento dos gastos provenientes do luxo. a posição dos chonin melhorou consideravelmente. que ocupou o cargo de "rojû" na Era Tempo. Bushi e chonin — Desde que os bushi começaram a viver a vida de ócio e luxo das grandes cidades como Yedo e Osaka. Posteriormente. Assim. tornou-se comum ò envio.A força dos chonin. Estes. Mas. os bushi não tiveram outra alternativa senão trocar o arroz. embora não aparecessem publicamente. Depois de sua demissão. os esforços de Matsudaira tiveram apenas um resultado limitado. tentou oprimir os chonin por métodos drásticos. hoje existentes. ordenou uma severa economia nos gastos e aconselhou a frugalidade. de arroz e outros produtos das províncias a Yedo ou Osaka para vendê-los aos chonin. Sadanobu Matsudaira. foram. Os asilos dos velhos. construir navios de guerra. embora na hierarquia social ocupassem posição inferior à dos primeiros. em face da agravação da situação internacional. Tadakuni Mizuno. ao dinheiro dos chonin. peste) obrigaram os 135 . O bakufu e os daimyôs das províncias procuraram socorrer os flagelados. o Assama entrava em violenta atividade. Pouco depois. pois o povo viu-se obrigado a alimentar-se de cães. os agricultores levavam uma vida penosa e miserável. Houve muita fome e miséria. Crítica era a situação interna e externa do país.000 pessoas. que haviam deixado o serviço dos daimyôs. Samurais descontentes. destruindo a maior parte das colheitas e. Decadência da lavoura — Devido à exaustiva tributação. O bakufu mostrava-se impotente para enfrentar a crescente complicação da situação política e econômica.teve que arcar com gastos cada vez maiores e suas finanças foram para pior. mas não conseguiram impedir a decadência geral da produção agrícola. tramando planos para o restabelecimento do governo da coroa. Essa fuga do trabalhador dos campos constituiu uma das causas da crise econômica em que se debatia o país. aumentou o número de homens que desejavam a restauração do poder político do trono. em conseqüência da falta de braços. Em 1771 um furacão devastou o Japão. raízes e cascas de árvores. Também foram freqüentes as calamidades naturais. abandonando ou entregando terras herdadas dos antepassados aos credores. furacões. hervas. soterrando grande número de aldeias sob suas lavas. Esta se agravou mais ainda. uma epidemia de peste causou ã morte de 90. Não eram raros os que. longamente afastado. ratos. pois a fome e as calamidades naturais (terremotos. fugiam para outros lugares ou iam trabalhar nas cidades. da suprema direção administrativa do Estado. em alguns meses. gatos. Ante esse estado de coisas. quando não passavam a mendigar. por todos os meios. em 1773. embora não destituído. começaram a freqüentar os palácios e residências do "kugue" de Kyoto. A fome de 1783 tornou-se famosa na história. em 1782. O lavrador. em 1846. Segundo um estudo realizado pelo professor Honjo. era e é pacífico e conservador. de 26. Irrompiam freqüentes rebeliões de camponeses. dentro de pouco tempo. Por aí se pode avaliar como devem ter sido difíceis as condições de vida dos campesinos nessa época atormentada. as suas parcas economias passavam para as mãos dos chonin. quase sempre contra a má administração dos funcionários locais ou os próprios daimyôs. e t c .camponeses a limitar ao mínimo a natalidade.998 e.907. fazer papel. Entretanto. a situação da lavoura se tornara insustentável devido às exações do fisco e os vários fatores acima mencionados. mesmo. gananciosos e hábeis no manejo do dinheiro. a fim de aumentar suas magras rendas.625. Acresce que a influência dos chonin. definhou a lavoura. Mesmo assim. Estabeleceu-se. 136 . Assim. diminuindo a população e ficando abandonadas muitas terras. começou a se fazer sentir também nas zonas rurais. houve um ano em que a população diminuiu para 24. ou eram vendidos ou secretamente eliminados. como acontece com os lavradores de todas as partes do mundo. além de labutar de sol a sol. não deseja outra coisa senão obter boa colheita. até então limitada às cidades. mesmo quando em seu pleno direito.441 (1792). o costume de eliminar os recém-nascidos ou de provocar o aborto para evitar o aumento de bocas para alimentar. aproveitava as horas vagas da noite ou dias de chuva para tecer. de 1726 a 1846. Os restantes. O lavrador japonês. viver decentemente segundo o padrão moral tradicional. Em geral detesta ou teme complicações com as autoridades constituídas. Arraigado à terra. no campo. Muitos lavradores pobres não queriam conservar mais do que um filho. quando nasciam vivos.891.548. Em 1726 era de 26. Durante esse longo lapso de tempo. a população japonesa permaneceu praticamente estacionaria. Tratava-se. mas. Tornou-se mais violento. atendidas.Geralmente os chefes da revolta acabavam na forca. arroz gratuito aos necessitados e mobilizava ricos e voluntários para socorrer os indigentes. Nos anos de fome verificaram-se também os assaltos aos depósitos de arroz ("kome sodô"). Com a crescente agitação nos meios rurais. lavradores. Alguns estudiosos da economia preconizaram a reabilitação da lavoura como meio de solucionar a crise e imprimir uma nova orientação à vida econômica do país. Os samurais. Adotaram-se. 137 10 . O governo castigava severamente os chefes de tais movimentos e estabelecia rigorosas medidas de vigilância. para enriquecer a nação. Shinyen Sato foi um deles. Não correspondia mais à realidade social da época. o espírito do camponês sofreu modificações. Armazéns de ricos comerciantes. pelo menos em parte. por sua vez. era preciso estimular a produção e ativar o comércio estrangeiro. da rebelião dos pobres esfaimados contra ricos egoístas. em alguns casos. restrição na fabricação de sakê e outras providências. na maioria dos casos. Sustentou que. A divisão de classes em samurais. pois. ou quando não. também. medidas de economia do consumo de arroz. menos comedido na sua conduta. artesãos e comerciantes. citando exemplos do estrangeiro. fábricas de "sakê" e depósitos de cereais de latifundiários eram assaltados e saqueados. Estudou a situação das províncias e pregou a necessidade da reforma da agricultura. rigidamente estabelecida pelo bakufu se tornara apenas formal. obrigados os seus proprietários a vender as mercadorias a preços baixos. as reivindicações dos camponeses eram. ao mesmo tempo que fornecia. aos atacantes. haviam perdido a grande superioridade moral sobre os camponeses. prometendo. prometendo tornar ao Japão dentro de um ano. Vários daimyôs sustentaram que devia ser combatido o estrangeiro que ousava forçar a abertura dos portos nacionais. Os japo138 . no ano seguinte. As fragatas da Esquadra de Perry equipadas com armamentos modernos impressionaram os japoneses. Abertura dos portos. o que redundou na perda do prestígio do governo shogunal. Tratado de Kanagawa — Logo depois de concluir o tratado de comércio com a China. abrir os portos de Shimoda e Hakodate. de Mito. Entre os vários presentes oferecidos por Perry ao shogun havia modelos de telégrafo e trem. os Estados Unidos propuseram. Quebrava o precedente de tudo resolver por si. Contudo. Nariaki Tokugawa. parente próximo do shogun. ao mesmo tempo. que as denominaram kurobune (navios pretos). O governo de Yedo pediu que os Estados Unidos esperassem a resposta nípônica até o ano seguinte. Perry voltou à sua terra.3. no porto de Uraga. a abertura dos portos nipônicos para estabelecer relações comerciais entre os dois países. assinada pelo presidente Millard Fillmore (1800-1874). nas suas viagens de ida e volta à China. o comodoro Matthew Calbaith Perry (1794-1858). que entregou a mensagem do seu governo ao bakufu. O bakufu comunicou a proposta estadunidense à corte de Kyoto e também decidiu ouvir a opinião dos dainiyôs das províncias.° da Era Kaei). o bakufu firmou um tratado de amizade com Perry. de Sagami (Kanagawa-ken). em Kanagawa. em 1853 (6. foi um dos cabeças do movimento contrário ao franqueamento dos portos do país aos estrangeiros. A intenção dos americanos consistia em estabelecer depósitos de carvão em portos japoneses para abastecer os navios que atravessavam o Pacífico. Foi portador da proposta. Entretanto. Naosuke I i. Rússia e Holanda. Towsend Harris. Conseqüências da abertura dos portos — Decidida a abertura dos portos. desde a ordem de fechamento do país. firmou em 1858. Por isso. o Japão restabelecia o comércio internacional. I i foi. que aconselhou o governo de Yedo a abrir os portos e estabelecer relações comerciais com o estrangeiro.nêses que nunca tinham visto tais máquinas ficaram realmente admirados com o progresso técnico. estes adquiriram grande animação. Por essa época. Hotta não conseguiu a autorização imperial para os acordos comerciais. porém. que se tornou "tairô" (regente). chegou o primeiro cônsul geral americano no Japão. ouro e outros produtos nacionais começaram a escoar para o além mar. 139 . Inglaterra e França. Do exterior comprava-se muito pouco: tecidos de algodão e lã e alguns outros artigos de menor importância. assasinado à porta do palácio de Yedo. Nagasaki e Niigata ao comércio com aquele país. que ocupava o cargo de "rojû".c ientífico do ocidente. Hyogo. Rússia. o Tratado de Kanagawa com os Estados Unidos. A seguir concluiu tratados semelhantes com a Holanda. Seda. abrindo suas portas a potências ocidentais. Depois de cerca de 220 anos. chá. baixada na Era de Kwan-ei. um tratado com os Estados Unidos. por elementos xenófobos e monarquistas que o odiavam por ter desrespeitado uma determinação do imperador (1860). depois de consultar Harris. Masayoshi Hotta. elaborou um projeto de tratado e dirigiu-se a Kyoto para obter a autorização imperial. em 1854. havia muitos elementos contrários ao franqueamento do país e a própria corte estava mais inclinada ao fechamento dos portos. sem licença imperial. Assim. comprometendo-se a abrir os portos de Kanagawa. o bakufu firmou tratados idênticos com a Inglaterra. Tratado de comércio nipo-americano — Depois de concluir. com a sua política de franquear o mercado interno ao estrangeiro. Iniciou-se. que planejavam derrubar o bakufu. Chosh û . por causa do assassínio de um súdito de sua majestade britânica. já bastante enfraquecido. Este. com o Tokugawa Bakufu. No mesmo dia. De acordo com a ordem imperial. francesa e holandesa bombardeou a cidade de Shimonoseki. pouca ligação tinham. Tal ato originou logo um grave caso diplomático. do Japão ocidental. o bakufu marcou a data em que deveria ser iniciada a expulsão de estrangeiros. em conseqüência do incremento da exportação. tanto o feudo de Satsuma (Sassh û ) como o 140 . Alguns julgaram que o bakufu. E por isso pediu instruções à corte. era culpado dessa elevação do custo de vida. Choshú começou a canhonear todos os navios estrangeiros que atravessavam o estreito de Shimonoseki. Entretanto. Dosh û . um movimento em prol do combate ao alienígena e ao bakufu. uma radical transformação do regime político. causando maiores dificuldades de vida aos bushi e ao povo em geral. não dispunha de forças para impor a ordem no país. E sonhavam em derrubar o shogunato e impedir a entrada de navios estrangeiros. e no ano seguinte (1864). Queriam.os exportadores e importadores auferiram grandes lucros. nem de firme determinação no tocante à sua política externa. Depois dessas amargas experiências. Com o decréscimo do poderio shogunal. e t c . em suma. o feudo de Satsuma (Kagoshima) foi igualmente atacado por navios de guerra ingleses. assim. infligindo pesada derrota ao feudo de Chosh û . Na mesma época. desde o início. Canhoncio de Shimonoseki — O feudo de Chosh û procurou e obteve uma ordem do imperador para o bakufu expulsar os estrangeiros do país. uma esquadra combinada da marinha americana. esses feudos começaram a conspirar com Sanemi Sanjô e outros "kugue" de Kyoto. inglesa. ocorrido ali. Os feudos de Sashû. os preços subiram no mercado interno. entre as potências ocidentais. Aizu. e t c .de Chosh û mudaram de atitude e tornaram-se defensores da idéia do franqueamento dos portos para o comércio exterior. Percebendo que o bakufu havia perdido o poderio real. a que maior intercâmbio comercial mantinha com o Tapão. fiéis ao trono. mas compreendendo que o último já não 141 . Nessa luta patenteou-se a fraqueza do bakufu. que nada conseguiram devido à sua própria fraqueza e. conciliar os interesses da coroa e do bakufu. Debandaram as forças punitivas enviadas contra Choshü. adquiriu novo impulso. que iria dirigir os destinos do Japão num dos períodos mais brilhantes da sua história. então. no começo. Expedição punitiva a Choshû — Inicialmente. o imperador afastou os elementos de Choshü da capital e proibiu a entrada de Sanemi Sanjô e outros nobres partidários daquele feudo no palácio imperial. o imperador Komei. a fim de restaurar o pleno funcionamento da monarquia. Subiu ao trono. à existência de outros feudos. Em 1864. o feudo de Chosh û possuía grande influência dentro da corte de Kyoto. o jovem imperador Meiji. pouco depois. A Inglaterra era. como o de Satsuma. mas Komei Tenno não gostou muito do seu extremismo e optou pela atitude mais moderada de Satsuma. principalmente. Queda do bakufu — O feudo de Satsuma procurara. então. então líderes do movimento de restauração do poder monárquico. que não mais obedeciam às ordens do governo de Yedo. entrar à força em Kyoto e travaram combate com os soldados de Satsuma. faleceu o shogun Iemochi e. E o movimento em prol da abolição do shogunato. Com o fito de punir Chosh û . o bakufu enviou suas forças. Esses elementos procuraram. procurou aproximar-se dos feudos de Satsuma e Choshü. Quando a guerra civil estava no auge (1868). com 16 anos de idade. Vimos. Era também o fim do regime militarista (bakufu). para entregar as rédeas governamentais ao soberano. hoje Kochi-ken) aconselhava. Durante mais de dois séculos. a conselho do ex-feudatário de Tosa.dispunha de nenhuma força moral ou política capaz de orientar a opinião nacional. por Yoritomo Minamoto. de Choshú. Mas Yoshinobu Tokugawa. como Iyeyasu fundou o shogunato Tokugawa e consolidou o regime feudal centralizado. Foram líderes principais do movimento: Takamori Saigo e Toshimichi Okubo. nestes três últimos capítulos. estabelecido por Iyeyasu 260 anos antes. ofereceu-se espontaneamente. a transferência do poder político das mãos do shogun para o imperador. Também Takayoshi Kido. Shojiro Goto. A consciên142 . o bakufu assegurou a ordem interna e livrou-se da intromissão de influências estrangeiras. isentas de influência alienígena. Toyoshigue Yamauchi. cerca de 700 anos antes. Seus descendentes aperfeiçoaram a organização do governo — uma autarquia política. e o poder político voltou às mãos do imperador. dedicou-se à obra da destruição do regime shogunal. que subiu ao poder como 15. de Tosa (Doshú. Dentro da corte. Reforçando o sistema feudal centralizado. por esse tempo. desempenhou papel saliente no movimento restaurador. naturalmente. Não podia mais o bakufu ir contra a correnteza. econômica e cultural sui generis. sem precedente na História. A oferta. Terminava assim o shogunato Tokugawa. As artes e culturas tipicamente nacionais encontraram clima propício para o seu pleno florescimento. inaugurado.° shogun da sua família. foi aceita. o país gozou de uma paz contínua. destacando-se entre eles Tomoni Iwakura. trabalhavam com o mesmo objetivo vários "kugue". sem guerras intestinas nem dispendiosas aventuras no exterior. por exemplo. para uma possível conquista de novos mercados. Não houve. genericamente. instintivamente. Afastados da terra. os tentáculos das nações em plena ascenção industrial e capitalista sondavam os mares próximos do Japão. Economicamente estavam na dependência 143 . não menos verdade é que o Japão teve um longo período de concentração e auto-aperfeiçoamento. de participar do movimento da expansão colonial das potências marítimas ocidentais. Inicialmente o regime feudal predominante tinha a terra como principal meio de produção econômica e os camponeses constituíam a única classe produtora. privilegiada. na realidade. o povo japonês ficou atrasado. percebiam a aproximação de uma outra era e procuravam pôr em equação a política de isolamento em função do "mundo exterior". Eram alimentados pelos agricultores. numa das maiores potências do primeiro quartel do século XX. vislumbrado através da estreita janela dos livros holandeses. Se é verdade que. os samurais do Yedo-jidai diferiam ti aqueles da época de Kamakura. ante os olhos espantados do mundo. Externamente. transformar-se. uma rigidez absoluta. seus aspectos variaram com o tempo. que via o império insular. Internamente.cia nacional se firmou definitivamente no espírito do povo. Os "bushf formavam a classe dominante. Desintegração da sociedade feudal — Apesar de se dar. o regime começou a entrar em decadência. com o isolamento prolongado. que. até então ignorado e insignificante. Completado o ciclo feudal centralizado. afastado do progresso mundial — em particular no terreno da evolução científica — deixando. o nome de regime feudal centralizado ao sistema político-econômico do período Tokugawa. que participavam dos trabalhos da lavoura. que permitiu o "salto" realizado na era de Meiji. em algumas décadas. novas idéias fermentavam nos cérebros mais avançados. escorados no seu poderio econômico. Contudo. E estas transformações 144 . Esta atingiu a própria estrutura do regime. A classe dos "chonin" estava em franca ascenção. Com a prolongada paz. a economia monetária e comercial. Acresce que. Produziu-se o desequilíbrio entre a receita e a despesa. a vida ou a morte. por sua vez. Em conseqüência dessa profunda transformação no sistema econômico. os chonins adquiriram influência econômica. dedicandose. como o comércio e o artesanato. com detrimento do prestígio dos bushi e camponeses. a taxação pesada tornou a existência do lavrador cada vez mais penosa. era o slogan da política agrária da época.destes. Muitos destes agora dependiam mais dos chonins e alguns se transformavam em artesãos ou negociantes. Os chonin chegaram até a invadir os campos. Os levantes de camponeses constituíram métodos violentos para solucionar a crise. para fugir à vida de miséria. Limitavam a natalidade ou faziam o "desbaste" dos filhos. cresceram as cidades. a vida do povo tornou-se mais luxuosa e dispendiosa. os "bushi" já não podiam manter a sua vida e os lavradores. O governo. por seu turno. difundiu-se o uso da moeda. em seu lugar. Aumentou o gasto do erário. julgava necessário manter os camponeses em estado de penúria e ignorância tais que não haveria para eles. ao comércio no interior. evidentemente. porque já se tornava impossível sustentar os "bushi" com a produção dos homens do campo. Tanto o bakufu como os "han" (feudos) começaram a sentir dificuldades financeiras. se achavam na impossibilidade de alimentar os samurais. propriamente. desenvolveram-se outros meios de produção. por exemplo. Como já vimos. A falta de braços nos campos aumentou o desnível entre ricos e pobres. muitos camponeses se dirigiam para as cidades ou mudavam de profissão. além da terra. a desintegração da "economia da terra". Estava se processando. "Não os matar nem lhes permitir viver". surgindo. E. aos poucos. surgiu o movimento restaurador que. Já se tornava possível passar de uma classe para outra. foi ganhando terreno até afinal dar o tiro de misericórdia no decrépito regime shogunal. no terreno puramente político. que constituía um apanágio do regime feudal. o que provocou confusão na divisão de classes.econômicas modificaram as características das várias classes. paulatinamente. o regime feudal a sua razão de ser. 145 . símbolo do feudalismo centralizado. As transformações econômicas e a confusão das classes sociais tornavam impossível a manutenção da economia de terra e da disciplina de classes. Perdia assim. como era natural. a fim de impedir o restabelecimento de governos militares. Inicialmente. para a corte. o novo regime enfrentava. Foram criados os cargos de "sosai" (presidente). 146 . Entretanto. Tomomi Iwakura e outros líderes monarquistas ortodoxos desejavam eliminar completamente a influência do bakufu e introduzir reformas radicais também na própria corte.CAPÍTULO X RESTAURAÇÃO DE MEIJI 1. "guijô" (conselheiro deliberador) e "San-yo" (conselheiro). Implantação do novo regime. Novo governo — Derrubado o bakufu. em dezembro do 3. umas herdadas do shogunato e outras criadas pela nova situação. foi abolido o sistema de "sesshô" e "kwampaku". o eixo político transferiu-se. Chama-se a esta revolução política de "Restauração Monárquica de Meiji". o imperador Meiji prestou. naturalmente.° ano da Era Keio (1867). A seguir o cargo de "sei-i taishogtm" foi eliminado. seguindo-se o de "dajokan" (gabinete) e outras funções para assegurar a autoridade da monarquia. levaram a efeito as modificações principais. numerosas dificuldades. em março de 1868 (1. E. Juramento dos Cinco Artigos — Estabelecidas assim as bases da nova administração.° da Era Meiji). impedir o relaxamento do espirito popular.o seguinte juramento. a intenção de estreitar cada vez mais suas relações com todas as nações do globo. que serviu de diretriz fundamental da nova orientação política: 1. Entretanto. — Convocar assembléias deliberativas para resolver os assuntos de interesse geral. O governo imperial comunicou a restauração da monarquia aos países amigos. Tranferência da capital — Kyoto havia sido sede do trono durante mais de mil anos. para introduzir no país o que havia de bom no exterior. com o fito de estimular o progresso do novo Japão. Foi ele o ponto de partida para o desenvolvimento democrático do Japão no florescente período de Meiji. 4. Aconselhou o povo a seguir a política de boa vontade para com o estrangeiro. para infundir o espírito da renovação no povo era necessário 147 . Até então. ao mesmo tempo. houve muitos incidentes desagradáveis com países estrangeiros. a fim de alevantar as glórias do regime imperial. de acordo com a opinião pública 2. 3. — Procurar o saber em todas as partes do mundo. que constituiu o marco inicial de uma nova era. — Destruir os costumes obsoletos para fazer imperar o senso de equilíbrio e justiça. Este importante documento. declarando. militares e o povo em geral realizem plenamente suas aspirações. O governo resolveu manter relações externas amistosas. — União de todas as classes sociais para a ativa administração do país. — Fazer com que funcionários públicos. 5. é chamado "Pacto ou juramento dos Cinco Artigos". devido à falta de uma orientação diplomática firme. Mas. Em Hakodate (Hokkaido) os rebeldes ficaram resistindo juntamente com parte da esquadra. respeitosamente. para unificar o país.transferir a capital. Contudo. Yoshinobu recolheu-se ao seu castelo de Yedo e. o imperador ordenou que Yoshinobu Tokugawa. transferiu-se a coroa para Tokyo. Era necessário acabar com tal estado de coisas. antigos vassalos do bakufu e daimyôs de Aizu (Fukushima-Ken). inaugurando assim o sistema de levarem os períodos de governo o nome do imperador. A guerra civil se estendeu de Yedo à região do nordeste. Na verdade. cujo nome foi mudado para Tokyo (Capital do Leste). O imperador realizou a sua primeira viagem à nova capital e. ficou definitivamente escolhida a cidade de Yedo. Ante o ato de obediência do shogun. Travaram violentas batalhas com as forças monarquistas em Toba e Fushimi. Takayoshi Kido em combinação com Toshimichi Okubo procurou e obteve a devolução das terras dos daimyôs ao trono. continuavam ainda os feudos do interior sob o domínio dos daimyôs. Entrega do Castelo de Yedo. com 700 mil "koku". em janeiro de 1868. o último shogun. Administração do novo governo — Embora o bakufu tivesse sido derrubado. Depois de algumas discussões. Até então podia haver vários nomes de eras sob um reinado. se rebelaram contra o novo regime. Nessa ocasião o soberano escolheu o nome de Era "Meiji". logo em seguida. desistisse também dos seus cargos oficiais e das terras pertencentes ao shogunato. e t c . entregou o mesmo ao soberano. Houve quem propusesse Osaka para a sede do governo monárquico. o imperador perdoou Yoshinobu e deu-lhe o feudo de Shizuoka. de Kyoto. não concordaram com a medida e. Kuwana (Mie-ken). Em agosto de 1868 foi realizada a cerimônia oficial de ascenção do imperador ao trono no Palácio Shishin. a maioria 148 . — Quando o bakufu entregou as rédeas do governo. de fato. da Educação. do Exterior. da Justiça e da Casa Imperial. equivalente ao de primeiro ministro. que desistir do governo de seus feudos para sempre. Sanemi Sanjo foi o primeiro a ocupar o cargo. Foram igualmente criados os "chindai" (guarnições militares) e a guarda imperial. A nova organização social. Os daimyôs tiveram. das Indústrias. das Finanças. Chosh û . Formava-se um governo centralizado moderno. Para atender às necessidades da defesa nacional. de acordo com a profissão e a posição social. Em janeiro de 1869. Tal discriminação foi abolida na Restauração. Em julho de 1871. Reformas — No período de Yedo havia uma distinta separação de classes do povo. Desde então. de maneira que a operação se realizou sem maiores abalos. Estava realizado o objetivo da Restauração. da Defesa. assim. a corte atendia aos pedidos. os daimyôs de Sasshû (Satsuma). 2. foi decretada a lei do serviço militar.dos daimyôs estava desejando oferecer seus domínios à coroa. o governo imperial conseguiu. Nominalmente. Desaparecera a classe dos bushi. Com a abolição dos hans. ficaram as 149 . Outros feudatários seguiram o exemplo e. os feudos (han) foram abolidos e criadas as províncias (ken) — também chamadas prefeituras — como unidades administrativas regionais do Japão. Dosh u e Saga ofereceram-se coletivamente para entregar seus domínios ao soberano. em junho. governadores dos seus feudos. inspirado nos modelos ocidentais. em 1872. Foi criado o cargo de "dajo-daijin". provisoriamente. todos os japoneses tinham o dever de prestar serviço militar. Os próprios daimyôs foram nomeados. unificar administrativamente o país. Abaixo dele ficavam os secretários dos Templos e Santuários. de maneira que as viagens costumavam ser demoradas. Os arrendamentos eram. e t c . em seu lugar. surgiram os primeiros trens. A Estrada de Ferro Tokaido (Tokyo-Kyoto) foi completada em 1889 (22. Os antigos "ohban" e "koban" e as moedas de cobre apresentavam vários inconvenientes. que tornaram as viagens mais cômodas e rápidas. dar liberdade ao povo. os descendentes dos antigos samurais (shizoku) e o povo (heimin). Reinava confusão também no setor das moedas. Na época de Yedo. Não havia mais restrições quanto à escolha da profissão ou carreiras. emitido o "yen". na qualidade de súditos do imperador. ao lado de indivíduos que conseguiram melhorar sua posição. todavia. "jinrikisha". A estrada de ferro Tokyo-Yokohama foi inaugurada em 1872. Contudo. Agora. houve. que constava no registro civil. carruagens. navios a vapor. Na época dos Tokugawa não se podia vender livremente as terras agrícolas. as comunicações eram difíceis. Sendo os impostos territoriais fontes importantes da receita nacional. em virtude das transformações sociais. Trata-se da primeira ferrovia instalada no Japão. Por isso foram todos eles recolhidos e. porém. Outras reformas foram realizadas. Mesmo entre os "shizoku" não eram poucos os que perderam seu meio de vida e ficaram na miséria.classes dos aristocratas (kwazoku).° de Meiji). A nova unidade monetária facilitou as transações e o comércio exterior. esta reforma veio facilitar muito o tesouro. ouro e papel. O governo procurou. como se fazia outrora. 150 . pagos em espécie aos proprietários de terra. por ser a lavoura considerada base da economia nacional. umas após outras. os fracassados e derrotados. Apesar dessa distinção. assim. Logo no início da Era Meiji. o governo permitia sua venda livre e os impostos eram cobrados em dinheiro e não em arroz. todos eram iguais perante a lei. Cavalos e palanquins constituíam os únicos meios de transporte. em pouco tempo. O governo instalou os correios. às indústrias de fiação e tecelagem. bancos. à pecuária. o governo ordenou-lhe que estudasse atentamente a organização industrial do estrangeiro. causando verdadeiro espanto ao público que ficava boquiaberto com invenções tão maravilhosas. Todas as formas de produção receberam novo estímulo. Além do ministério das Indústrias. Muitos técnicos foram enviados à Europa e à América com a missão de adquirir novos conhecimentos técnico-científicos. à mineração. se instalaram acompanhando o ritmo acelerado do desenvolvimento nacional e dele fazendo parte. Igualmente. Telégrafo e telefone também começaram a funcionar. Navios a vapor começaram a sulcar as águas japonesas e surgiram companhias de navegação que. e t c . chefiada por Tomomi Iwakura. Os particulares seguiam a iniciativa do governo. Foram introduzidas técnicas adiantadas do Ocidente para o desenvolvimento das indústrias. na época do isolamento não se podia construir navios de grande calado. fariam concorrência às similares dos países mais adiantados. Técnicos e cientistas estrangeiros foram contratados para ensinar os japoneses. Agricultura e Comércio. foram criados os ministérios do Interior. À medida que progrediam as indústrias do país. Firmas comerciais e industriais. mas tal restrição desapareceu com a abertura dos portos. o que tornou muito fácil e simples a remessa e entrega de correspondência. e t c . Selos e cartões postais apareceram nessa época. Ao enviar uma missão. importaram-se novas técnicas de lavoura. para estimular o desenvolvimento econômico do país. devido à proteção oficial. O próprio governo tomou a iniciativa no estímulo à lavoura. à Europa e América.Conforme vimos. Novas indústrias — Para enriquecer o país é necessário desenvolver suas indústrias. seu comércio 151 . nas províncias. Tendências da cultura. o analfabetismo deixava praticamente de existir em todo o Japão. Em 1872 estabeleceu o "Regime de Instrução". O governo muito se esforçou na difusão da instrução. da França. a corrigir o erro do costume antigo de relegar a mulher a plano inferior. tanto na vida pública como privada. açúcar. secundárias e superiores. livros holandeses serviram de veículo de transmissão das ciências e cultura do Ocidente. assim. 3. No início de Meiji a maior influência cultural provinha dos Estados Unidos e Inglaterra. criando as escolas primárias. Com o franqueamento do país. e depois. Vimos que. de feição e características modernas.com o estrangeiro aumentava. Para a educação da mulher foram criados colégios femininos. Em Tokyo fundou-se a primeira universidade. Explicou ao povo a necessidade e a importância da instrução. destacou-se 152 . mesmo na época do isolamento de Yedo. etc. Entre os japoneses que mais contribuíram para a difusão do ensino e da cultura moderna. A instrução se tornava igual para ambos os sexos e para todas as classes. a difusão dos conhecimentos ocidentais se processou com rapidez e em grande amplitude. Começou-se. Alemanha e outros países. tal foi o entusiasmo com que o povo acompanhou e secundou a campanha oficial em prol da instrução. Dentro de pouco tempo. Instrução — Além das transformações políticas e econômicas. e. O Japão exportava principalmente seda e chá. numerosos estabelecimentos de ensino primário e secundário surgiram com o correr dos anos. ocorreram verdadeiras revoluções no terreno da instrução e da cultura. e importava algodão. Surgiram igrejas e templos cristãos em várias partes do país. Até a alimentação sofreu modificação sob o influxo da arte culinária ocidental. com grande afluência de público. Ocidentalização — Com a evolução da nova cultura. teve grande incremento. que era praticamente desconhecida. Pela influência que exerceu sobre a mentalidade do Japão moderno.Yukichi Fukuzawa. Fukuzawa foi. especialmente americanos. o culto do cristianismo se difundiu amplamente. que fundou a Universidade de Keiô e escreveu dezenas de livros sobre vários assuntos. em grande número. sua influência e se modificaram radicalmente. é comparado a Adam Smith da Inglaterra. prédios de estilo ocidental foram erguidos. direito e medicina até a agronomia. Também o estudo dos clássicos nacionais e chineses. os homens começaram a cortar o cabelo à ocidental. A influência ocidental atingia o próprio meio e o próprio 153 11 . Vieram missionários estrangeiros. Desapareceu o hábito de trazer catana à cintura. A carne de vaca. que havia decaído durante certo tempo. para a difusão da doutrina de Cristo. naturalmente. se tornou prato muito apreciado. todos os ramos do conhecimento humano ganharam considerável impulso nessa época. os costumes sofreram. vestiram o traje europeu. Desde a literatura. e restaurantes de comida ocidental apareceram nas cidades. na verdade. Muitos cientistas ocidentais foram contratados pelas universidades japonesas. Além do budismo e do shintoismo. o mentor da nova época — do desenvolvimento do capitalismo nativo — não só no terreno prático como no teórico. Ciência e religião — A introdução da ciência ocidental constituiu a base do progresso dos estudos no japão. Entre os líderes cristãos japoneses se destacou Jo Niijima. a luz elétrica e lâmpadas a gás passaram a iluminar as ruas das cidades. Jornais e revistas surgiram. (10. O Japão procurou seguir o exemplo dos Estados mais adiantados. A revolta teve caráter reacionário: samurais descontentes com a nova situação tentaram. líderes populares. prevista no "Pacto dos Cinco Artigos". que irrompeu em 1877. A ocidentalízação do Japão era um fato. depois de sangrentas batalhas. propondo até a invasão da Coréia como um recurso para atingir seus objetivos. tais inovações provocaram descontentamentos em algumas camadas sociais. Satsuma (Seinan no yeki). Outro estabelecia que se devia procurar conhecimentos em todo o mundo. o governo central de Tokyo introduziu inovações em todos os setores da administração. 4. Em conseqüência disso verificaram-se levantes em Saga. A rebelião de Seinan. Quando o governo se preparava para elaborar a Constituição. foi a mais importante. durante tanto tempo. restabelecer certos privilégios da classe. se movimentaram para pleitear uma Carta democrática e um Parlamento real154 . um dos líderes do movimento da Restauração.° da Era Meiji). Takamori Saigo. em vão. tendo dela participado. Um dos artigos do aludido documento declarava que seriam convocadas assembléias deliberativas para se tomar decisões por maioria. Os países civilizados possuem constituição. Governo constitucional. estiveram isolados do mundo. Promulgação da Constituição — Desde a abolição dos "hans". entre os quais se salientou Taisuke Itagaki. e o povo participa do governo por intermédio do parlamento.modo de vida dos japoneses que. Entretanto. entre outros. o país voltou à normalidade e o governo pôde prosseguir na obra da renovação e constitucionalização. Sufocada a rebelião. e t c . na elaboração da sua própria Carta Magna. "sa-daijin". Regime de gabinete e Dieta imperial — Anteriormente. Tratando-se da primeira experiência no Japão. Exterior. A Constituição estabelecia claramente as funções da Dieta. em 1878.mente representativo. etc. Em 1875. Finanças. Em 1881. etc. De acordo com o que estipulava a Magna Carta. Justiça. O movimento popular assumiu tal intensidade. Na Magna Carta era preciso definirem-se. sendo a Dieta convocada em 155 . bem como o funcionamento da Dieta e outros organismos da máquina estatal. Comunicações. Guerra. instalaram-se as assembléias legislativas das províncias. ministros do Interior. a fim de estudar as constituições de vários países. Hirobumi Ito foi o primeiro a ocupar as funções de presidente do Conselho de Ministros. os direitos e deveres do povo. Marinha. a tarefa de elaborar a Constituição exigia muito trabalho e tempo. O governo enviou Hirobumi Ito à Europa. em termos jurídicos. Em conseqüência do esforço de Ito e outros. A 11 de fevereiro (data da fundação do Império) de 1889 foram solenemente promulgados a Constituição Japonesa e o Estatuto Imperial. — estabelecidos no período feudal — e criados os de presidente do Conselho de Ministros (primeiro ministro). foram criados o Conselho dos Estadistas Veteranos ("Guenro-in") e a Conferência dos Governadores Provinciais e. Educação. Aboliram-se os cargos de "dajo-daijin". foi baixado um rescrito convocando a Dieta para o ano de 1890. fora estabelecido o regime do governo ministerial. realizaram-se as eleições para a Câmara dos Representantes em. que chegou a provocar tumultos em várias localidades. Todas estas medidas constituíam a parte preparatória da Assembléia Nacional ou Dieta. o ante-projeto da Constituição ficou pronto em 1888. em 1885. 1890. "u-daijin". Agricultura e Comércio. 156 ..novembro desse ano. A partir dessa data. Foram. e t c. no início da Era Meiji. Em 1890 inaugurou-se o regime constitucional. de funcionários. o governo administra o país juntamente com a Dieta. Até a época de Yedo o Japão tinha um governo de bushi. comercial. a seguir.. promulgados os Códigos civil. Vejamos. Caso contrário. somente hoje. de relance. alguns incidentes diplomáticos e militares dessa agitada época. trabalhar e progredir. o Japão entrava nas águas agitadas do oceano da política internacional. o Japão retomava seu lugar no concerto das nações mundiais. transformar-se em simples colônia ocidental. 70 a 80 anos depois do Japão.CAPÍTULO XI O JAPÃO E O MUNDO 1. conflitos e mesmo guerras teve o Japão de sustentar desde os fins do século 19 até nossos dias. Em uma palavra. as relações entre o Oriente e os países 157 . Era chegado o momento de despertar. A política exterior de Meiji. negociações diplomáticas. Numerosos incidentes. China e Coréia — Com a abertura dos portos japoneses. compartilhar da sorte de vários povos orientais que. Fazia parte deste universo eternamente agitado e em luta. ü progresso científico alcançado pelo Ocidente atingia a terra do Fujiyama. Não mais o sono tranqüilo e inconsciente do shogunato Tokugawa. estão se libertando do jugo imperialista e colonizador das potências do oeste. teria de perecer. Após dois séculos de isolamento quase completo. abalando-a desde os seus alicerces. Já não era mais o país insular separado do resto do orbe por uma verdadeira cortina de aço. Takamori morreu lutando. ainda não estabelecidas em definitivo. França e Alemanha. inclusive.europeus e americanos se tornaram cada vez mais estreitas. Conforme se viu no curso da história. Havia. Depois de negociações com os países interessados. Depois de concluídos os tratados com países europeus e os Estados Unidos. declarando que deveria o governo japonês intervir na Coréia. até então. inclusive. Numerosas dificuldades tinham que vencer os diplomatas nipônicos para conduzir as relações do império com o resto do mundo. o Japão manteve relações com a China e a Coréia desde épocas remotas. havia a questão das fronteiras. dentro do próprio governo nipônico. Nessa época. deixaram o governo. o governo de Tokyo procurou estreitar as relações com a Coréia e a China. o território nipônico ficou demarcado. antes de cuidar de assuntos diplomáticos delicados como o caso da Coréia. em Kagoshima. sustentava ponto de vista diametralmente oposto. da qual já falamos. na realidade. juntamente com seus principais colaboradores e discípulos. Uma sustentava que se devia dedicar todos os esforços para a organização e o progresso internos do Japão. existiam desacordos no tocante à atitude do Japão em relação ao vizinho peninsular. 158 . porém. duas correntes. Inglaterra. mas as negociações não puderam ser concluídas devido a divergências surgidas entre as duas partes. os seguintes países: Estados Unidos. Essa divergência se agravou com o crescente descontentamento de certos samurais e provocou a rebelião de Seinan. Em primeiro lugar. Enviou primeiramente emissários à Coréia. Outra corrente. Rússia. que haviam colaborado na Restauração. ao norte pelas Curilas. entre outros. Mantinham relações diplomáticas com o Japão e a China. por meio de acordos idênticos. A primeira corrente saiu vitoriosa e Takamori Saigo e outros estadistas. e ao sul pelas ilhas Ogasawara e Ryuky û . o governo. os primitivos tratados com as potências ocidentais. Seguiram-se depois várias conversações. Em outras palavras. firmou-se. concluir um tratado com a Coréia. principalmente. o governo imperial vinha consultando e sondando as potências interessadas no problema. depois de várias negociações. mas obstáculos vários impediram fosse levado a cabo o empreendimento.Em 1876 foi possível. Pela primeira vez na história do 159 . abolir o direito de extraterritorialidade concedido a potências estrangeiras. Para a reforma dos tratados era necessário. então. concluídos na era de Ansei. completar a organização. interna do país. constituíram acordos que favoreciam os países ocidentais. com prejuízo do Japão. igualmente. Urgia. proceder à revisão dos ditos tratados. Desde 1871. um tratado de amizade e comércio. Revisão dos tratados — Como não podia deixar de ser. procurava aparelhar a nação para a nova situação. ao comércio regular entre os dois países. pois. preliminarmente. O enviado especial do Japão. conforme o padrão ocidental. O Japão queria. a missão Tomomi Iwakura esteve . durante a confusão reinante dentro do país a respeito da abertura dos portos. solucionando-a. Toshimichi Okubo negociou um acordo sobre a questão com o representante chinês Li Hung-chang (Rikoshô). Em 1871 foram enviados emissários à China. Quando. enquanto prosseguia nas negociações com as potências do poente. Devido. então sob a dinastia dos Shin (Ching) e. à questão de Formosa. Assim. contudo. dando-se início. entretanto. no referido ano. surgiram novas dificuldades entre o Japão e a China. Leis copiadas de modelos estrangeiros e costumes e hábitos ocidentais foram introduzidos com a maior rapidez possível.nos Estados Unidos. caracterizavam-se pela sua unilateralidade. foi realizada a primeira consulta. estabelecer lei e melhorar os costumes do povo. O Japão e a China tinham interesses antagônicos. para negociar. como embaixador especial. a Tien-Tsin. outro incidente semelhante ocorreu naquela capital. o equilíbrio entre as potências ocidentais e o Japão. Vencendo dificuldades e óbices de toda espécie. a primeira revisão do tratado. afinal. com o ministro chinês Li Hung-chang (Rikoshô).° da Era Meiji) foi baixado o rescrito imperial relativo à declaração de guerra. capital da Coréia. ficou concluída a importante obra da diplomacia nípônica. Complicações no Oriente Asiático. a igualdade conseguida limitava-se ao terreno jurídico. Concluiu-se um tratado que recebeu o nome de Tratado de Tien-Tsin. Dois anos mais tarde.° da Era Meiji). Hiroshima (a cidade destruída pela primeira bomba atômica na segunda guerra mundial) foi esco160 . e as negociações realizadas entre representantes dos dois países não chegaram a termo feliz e a guerra foi declarada. Em 1894 novo distúrbio foi provocado por elementos xenófobos na Coréia. Seguiram-se acordos idênticos com outros países e. com a Inglaterra. Munemitsu Mutsu. então. um acordo sobre a questão coreana. em 1894. por intermédio dos extraordinários esforços do ministro do Exterior. chinesas e japonesas achavam-se em choque. O Japão enviou Hirobumi Ito. Uma paz precária foi estabelecida. Entretanto. 2. o governo conseguiu. A igualdade no campo econômico somente foi conseguida em 1911 (44. altas autoridades governamentais estimulavam contactos sociais com estrangeiros e participavam de bailes e outras festas organizadas à maneira européia. Em agosto de 1894 (27.Japão. Guerra nipo-chinesa — No ano de 1882 verificouse um tumulto popular em Seul (Keijô). Estabeleceu-se. Influências russas. Esgotado com a guerra da China. Bôkotô (Pescadores) e a península de Liaotung ao Japão. Hirobumi Ito e Munemitsu Mutsu representaram o Japão nas negociações realizadas em Shimonoseki. Em abril foi concluído o tratado de paz. A península de Liaotung também caiu nas mãos das forças nipônicas. A seguir caíram em poder dos japoneses as cidades de Ryojun (Port Arthur) e Ikaiei (Weihaiwei). a situação do Extremo Oriente sofreu radica l modificação. considerando a entrega da península de Liaotung uma ameaça à paz do Oriente. Transcorria o ano 1900 da Era Cristã (33. numerosos e freqüentes se tornaram os atritos diplomáticos.° de Meij i ). e sem recursos para reagir contra a imposição das três grandes potências. para onde se transferiu o imperador a fim de dirigir as operações bélicas. Era uma manobra para elas próprias ficarem com aquela posição estratégica. as potências ocidentais aumentavam seus interesses naquela parte do globo. por isso.Ihicía como sede do grande quartel general. Entrementes. verificou-se uma intervenção diplomática da Rússia. Em 1900 verificou-se o levante 161 . Entretanto. Em 1895 a China pediu a paz e enviou Li H ungchang para negociar o armistício. O exército japonês tomou logo de início a cidade de Heijô (Pyongyang) na Coréia e a marinha destruiu a esquadra chinesa no Mar Amarelo. além de pagar uma reparação de 200 milhões de "taels". Começava o século XX. entregar Formosa. em conseqüência do qual a China comprometeu-se a respeitar a independência da Coréia. França e Alemanha que. exigiram a sua devolução. cheio de promessas tentadoras e ameaças terríveis. o Japão curvou-se ante a pressão diplomática e devolveu a referida península à China. E' o chamado Tratado de Shimonoseki. E. Em conseqüência da vitória japonesa sobre a China. Em fevereiro de 1904. e Shaho (Shaka) foram cenários de violentas batalhas. As forças de terra nipônicas desembarcaram na Coréia e na península de Liaotung. à custa de muito sacrifício. em que a esquadra nipônica conquistou uma vitória comparada à de Nelson. 162 . irrompeu a guerra entre o Japão e a Rússia tzarista. que havia enviado forças à Mandchúria por ocasião do levante dos Boxers.xenófobo dos Boxers ("Hokushin ien"). Guerra nipo-russa — A Rússia. em 1902. Em março de 1905. a evacuação das tropas moscovitas. almirante Rojienstowensky. Esta é a Batalha do Mar do Japão ou de Tsushima. avançando para a Mandchúria. Travou-se uma feroz batalha que durou dois dias e duas noites. com vantagens para ambas as partes signatárias. A China exigiu. que foi sufocado pelas forças estrangeiras. inclusive japonesas. a diplomacia japonesa concluiu uma aliança com a Inglaterra. A esquadra russa do Báltico deu a volta pela África e se dirigia à base naval de Vladivostock. Liaoyang (Ryoyô). em Trafalgar. Moscou concentrou forças nas proximidades da fronteira com a Coréia. A esquadra eslava foi destroçada. debalde. Aliança anglo-nipônica — Agindo com inteligência. O Japão protestou e várias negociações foram realizadas sem resultado. em Pequim. os japoneses tomaram esse ponto estratégico. sendo aprisionado o seu comandante. Tratava-se de um pacto de defesa mútua. A política expansionista do Tzar estava em plena execução. não as retirou mesmo depois de pacificada a capital chinesa. Em Port Arthur os russos haviam construído uma poderosa fortaleza e. quando foi interceptada pela esquadra combinada sob o comando do almirante Togo. as forças imperiais ocupavam Mukden (Hoten). precisavam de 163 . os tecidos eram obtidos por processos manuais. assim. Como resultado do tratado de paz então concluído. a delegação chefiada por Serge Julíevich Witte. mas. realizou-se em Portsmouth. entre o Japão e a Rússia. As indústrias ganhavam. Theodore Roosevelt. Capital e máquinas — Desde a mais remota antigüidade. ao lado dela. Antigamente. a lavoura constituía a principal fonte de produção do Japão. 3. Representaram o Japão os embaixadores Jutaro Komura e Kogoro Takahira e a Rússia. que produziam muito mais. com o consentimento do seu governo (1910). a situação do Extremo Oriente acalmou-se. em menor espaço de tempo. mas agora foram adotadas máquinas. firmou um tratado com a Coréia e. Depois de longas disputas e conflitos violentos. foi concluído um tratado de amizade. como as de tecelagem. O Japão. o direito de arrendamento do território de Kwantung e metade da ilha de Karafuto (Sakalina). depois de novas negociações. fiação. vigor novo. Os signatários comprometeram-se ainda a não mais interferir nos assuntos mandchus.Em junho do mesmo ano. Ela representou sempre o centro de todas as atividades produtoras. etc. a conferência da paz. por sua vez. desenvolveram-se as indústrias. Desenvolvimento das indústrias. resolveu anexar a península. o Japão e a Rússia comprometeram-se a retirar suas forças da Mandchúria. nos Estados Unidos. Também no período de Meiji a agricultura continuou a ocupar a posição principal. e. o presidente dos Estados Unidos. A Rússia entregava ao Japão a estrada de ferro Changchun-Port Arthur. para atender às necessidades do consumo. propôs o armistício entre os beligerantes para o bem da paz mundial. A paz voltou a reinar e. Em agosto. não obstante o "handicap" causado pela política isolacionista. como a Inglaterra. navios. Com o desenvolvimento da indústria. E. de fabricação genuinamente nacional. Incrementou-se notavelmente a produção nipônica em todos os setores. aliando-se. os "zaibatsu" tornaram-se a força propulsora da economia capitalista do Japão. Participava. com o correr dos tempos. especialmente seus centros fabris e sua cultura. Máquinas. o aspecto social do país sofreu profundas transformações. com a aplicação da eletricidade como força motriz. E. fazia concorrência aos países mais altamente industrializados.mão de obra e capital. Numerosos jovens de ambos os sexos eram recrutados da lavoura para as fábricas. na era do capitalismo. dentro em pouco. O desenvolvimento industrial enriqueceu o país. Produtos japoneses inundavam os mercados coreanos e chineses. mais tarde. e t c . igualmente. embora tardiamente. de extensão. Animava-se. etc. começaram a aparecer. Os lavradores se transformavam gradualmente em operários citadioos. Desde então. formavam-se as grandes fortunas dos "zaibatsu". Após a guerra nipo-chinesa. o comércio com os países ocidentais. Estados Unidos. da evolução capitalística da economia. aproveitando-se principalmente de guerras. a importância de outros tempos. Constituiu o desenvolvimento da rede ferroviária um 164 . A indústria siderúrgica acompanhou e estimulou o progresso industrial do país. Desenvolvimento das ferrovias — Já vimos que a primeira ferrovia foi construída em 1872. Devido à introdução da máquina. o desenvolvimento industrial se acentuou mais ainda. a lavoura perdeu. Era a linha Tokyo-Yokohama de apenas 25 km. abriam-se novas estradas no país. aos elementos imperialistas e militaristas. locomotivas. trustes de capitais que. a indústria nipônica progrediu a passos largos. E. praticamente. Concomitantemente. todos os anos. monopolizavam vários ramos da indústria. O Japão entrava. aos poucos. Já não se limitavam a aprender as coisas do ocidente. que. Preconizava a absoluta fidelidade ao trono. Naturalmente. culturas e costumes ocidentais. Estudos novos e descobertas originais se realizavam em gabinetes e labora165 . No início da Era de Meiji introduziram-se. obediência aos pais. tendo o imperador como figura suprema da Nação. Instrução e ciências — Em outubro de 1890. Porém. o desenvolvimento das ferrovias que. desde então. serviu de guia à formação moral e cívica do povo japonês. a maior parte delas foi encampada pelo Estado. atinge quase 28 mil km. Em 1886. durante mais de meio século. práticas. muito contribuiu para o progresso das indústrias e outros ramos de produção. A maioria das ferrovias pertencia a particulares. compreensão entre amigos. uma espécie de bíblia para a vida dos súditos de sua majestade nipônica. por outro lado.dos aspectos mais impressionantes da modernização do Japão. amor à pátria. 4. harmonia entre cônjuges. Intensificaram-se os estudos e as pesquisas científicas. A criação de universidades imperiais facilitou a realização dessas pesquisas. enfim. Cultura de Meiji. o imperador baixou o "Rescrito Imperial sobre a Educação". mas surgiu a idéia da sua nacionalização e. e t c . renovou-se o interesse pelas coisas do passado e a literatura clássica e a história japonesa tiveram cultores entusiastas. com grande rapidez. era 1964. O número de alunos aumentou com rapidez. apropriadas para a existência e o desenvolvimento de um estado monárquico centralizado. e a instrução se difundiu amplamente em todas as camadas sociais. normas de conduta. estabeleceram-se os regimes escolares da Universidade Imperial e outros estabelecimentos de ensino superior. em 1908. no Japão. Carlyle e outros. Obras literárias estrangeiras foram traduzidas e apresentadas ao público japonês com enorme êxito. também. umas após outras. Entre as primeiras publicadas. ao mesmo tempo. Invenções e aperfeiçoamentos técnicos e científicos realizavam-se. Macaulay. zoologia. A ciência médica e a arte militar ficaram sob orientação alemã. foram escritos em elevada quantidade. Gibbon. geologia. A influência dos estudos ingleses e das traduções de obras escritas no idioma de Shakepeare continuou até a germanização do ensino elementar e militar. Charles Dickens. haikai. contribuindo grandemente para a evolução da literatura nacional. Traduções dos mais conhecidos autores europeus apareceram. Na formação do novo Japão. Os estudos sobre sismologia de Fusakichi Ohmori e as pesquisas sobre os bacilos da tuberculose e da peste. do longo letargo feudal. e t c . os pioneiros da reforma. poesia moderna. que exerceu poderosa influência sobre a mentalidade nacional. física. Literatura e artes — Com o avanço da instrução. que foram usados como livros escolares. despertada. Os grandes escritores japoneses eram. waka. tornaram-se mundialmente famosos. botânica. "Liberdade" de Mill e obra de Bentham. e t c . alguns anos depois da Restauração. podemos citar "Ajuda-te". Bacon. de Shibasaburo Kitazato. multiplicaram-se as atividades literárias. sempre com geral aceitação do público. Também no campo da astronomia. de Smiles. Spencer. drama. Walter Sott. havia pouco. os livros exerceram maior influência do que qualquer outro fator. Huxley.tórios japoneses. Romance. surgiram cientistas e trabalhos notáveis. Tyndal. O já citado Yukichi Fukuzawa escreveu "Seiyo Jijô" (Aspectos do Ocidente). E 166 . filósofos e cientistas germânicos tornaram-se os autores preferidos pelos tradutores japoneses . mais do que qualquer outro povo. exercendo. D'Anunzio. Maupassant. da nacional. Chegou. os autores japoneses escrevem mais sobre assuntos puramente literários ou científicos. "Hochi". em sua tendência para o fatalismo pessimista. Em geral. Tolstoi. Zola. com exceção. citam-se "Taiyô" (O Sol). olvidar a existência de grandes periódicos. Anatole France. Victor Hugo. mais tarde. Veiu depois — por volta da guerra russo-japonêsa — o gosto pelas coisas russas. cujas colunas literárias são avidamente procuradas pelo público. "Asahi". A influência latina — mormente francesa e italiana — fez-se sentir. que maior repercussão tiveram no mundo intelectual japonês. Contudo. O "Yomiuri". Dostoievsky. Pirandello e outros. por intermédio das obras de Balzac. Segundo Ingram Bryan. profunda influência sobre a mentalidade do povo. da cultura geral e literária. A mente nipônica parece não apreciar muito as especulações metafísicas. Gogol. Não se pode. a língua e literatura inglesas — e americana — dominaram as demais. Checov. durante os agitados anos que se seguiram à modernização do país. Entre as revistas mensais. "Chuo Koron" (Revista Central) e outras menos importantes. naturalmente. por sua vez. Numerosos semanários e mensários literários foram publicados. os russos se aproximam. também. "Mainichi" e outros jornais de grande tiragem. mesmo. da mentalidade japonêsta. Turgenev e outros escritores russos eram muito procurados. 167 . Flaubert. um momento em que a influência da literatura de ficção eslava sobre o romance nipônico se tornou maior do que qualquer outra. desempenharam papéis decisivos na direção da opinião pública nacional. Da escola clássica. o expoente máximo foi Ogai Mori. escreveu. histórico. Doppo Kunikida. Rohan Koda. representando todas as facetas da vida. Hak uc ho Masamune e outros podem ser incluídos na escola naturalista. etc. obras de Ibsen e Hauptmann. posteriomente. ainda. salientou-se Ichiyo Higuchi. psicológico. os leitores jovens. introduzindo inovações inspiradas no teatro europeu. Além disso. escritores da escola realista. Katai Tayama escreveu o seu conhecido romance "Futon" (A Colcha). acuradamente. Entre as escritoras da nova geração. as literaturas francesa. popular. Soseki Natsume. Shimei Futabatei. Em 1900 apareceu "Hototogisu" (O Cuco). Toson Shimazaki notabilizou-se igualmente como poeta. que estudou na Inglaterra e sofreu influência de George Meredith. São. "Saikun" (A Esposa).Shoyo Tsubouchi traduziu Shakespeare e influiu sobre a arte dramática japonesa. que foi traduzido para o inglês com o título de "Namiko". sobretudo. Novas traduções surgiram. O mundo da ficção se tornou cada vez mais complexo. autor de "Ukigumo" (Nuvens Flutuantes) mostrou um grande talento literário. e t c . entre as quais. por suas histórias em estilo ousado e fascinante. político. Toson Shimazaki. Novelas de toda espécie começaram a aparecer: de caráter social. escreveu romances de cunho realista como "Shosei Katagi" (Vida de Estudante). como em toda parte. de Goethe e outros autores germânicos. que escreveu principalmente sobre a vida dos pobres e oprimidos. e. cuja influência se faz sentir ainda hoje. alemã e italiana. que encantavam. novela sentimental de autoria de Roka Toúutomi. entre outras obras de ficção. traduzindo alguns autores dessas línguas para o japonês. num estilo cheio de brilho e elegância. "Wagahaiwa neko de aru" (Eu 168 . embora pertencentes a sub-correntes diversas: Kovo Ozaki. Hasegawa. que estudou. sou um gato) em que retrata cenas domésticas, conforme seriam observadas por um felino inteligente. Jun-ichiro Tanizaki revelou-se escritor de fecunda imaginação; Kafu Nagai satirizou a sociedade contemporânea; Takeo Arishima que se suicidou em companhia de uma mulher casada, publicou, entre outros, o romance "Kain no Matsuei" (Os Descendentes de Caim) e "Aru Onna" (Uma Mulher); Ton Satomi escreveu novelas de profunda penetração psicológica; Kan Kikuchi, Ryunosuke Akutagawa e Masao Kume firmaram-se, no mundo das letras, através da revista "Shinshichô" (Novas Correntes do Pensamento). Kikuchi, que foi também exímio dramaturgo, viveu até 1948. E' considerado o escritor que maior influência exerceu sobre a atual geração de prosadores nipônicos. Fundou a revista mensal Bungei Shunju. Na poesia, que permaneceu mais fiel à tradição, destacam-se o imperador Meiji que deixou milhares de "waka" de fino lavor e a imperatriz Shoken, que escreveu poemas delicados, versando, principalmente, sobre a interpretação da natureza e da vida cotidiana. O número de poetas e poetisas é enorme. No "tanka" destacaram-se as poetisas Akiko Yosano, Takeko Kujo, Kanoko Okamoto e outras, sem falar nos representantes masculinos como Takuboku Ishikawa, Naobumi Ochiai, Hiroshi Yosano, Shiki Masaoka e Nobutsuna Sasaki, os grandes mestres modernos dessa modalidade de poesia genuinamente japonesa. O "haikai" — que foi "exportado" aos países do Ocidente — a poesia modernista, o "senryú" e outras formas de poesia tiveram, igualmente, inúmeros cultores. No teatro — também muito tradicionalista — continuaram com suas feições características e peculiares o "pruri", "kabuki" e o "no", os dois primeiros mais populares e o último mais apreciado pela elite intelectual e a aristocracia. Desenvolveu-se também o teatro moderno, sob influências ocidentais. Temos, por exemplo, Toyoichiro Nogami que traduziu peças de 169 12 Bernard Shaw. lbsen e outros dramaturgos ocidentais foram, também, apresentados com êxito ao público das cidades japonesas. As belas artes, contudo, tiveram um período de decadência. Somente quando Fenelosa, Tenshin Okakura e outros mostraram e provaram a excelência das artes japonesas, estas encontraram maior número de cultores. E apareceram pintores famosos como Hogai Kano, Gaho Hashimoto e outros. Na pintura ocidental salientou-se Kivoteru Kuroda. 5. Sinopse econômico-social. A grande obra de Meiji consistiu na restauração do govêrao monárquico e, ao mesmo tempo, significou uma revolução social, econômica e política. Abolidos os domínios do bakufu e dos hans, o poder temporal voltou ao trono; instalaram-se os governos provinciais e unificou-se o país em bases mais amplas e modernas, sob a suprema direção do imperador. Com o "Pacto Imperial" de cinco artigos, estabeleceram-se os princípios do governo constitucional. Foram inauguradas as relações com os países ocidentais, o que eqüivale ao início dos contactos do Japão com o capitalismo euro-americano. E, pela introdução e transplantação do capitalismo ocidental, fundou-se o capitalismo nipônico. Desenvolveram-se, assim, as novas organizações políticas e sociais do país. Não são raros os autores que comparam a nova política de Meiji à Reforma de Taikwa. É preciso, porém, observar que, na Reforma de Taikwa, os potentados regionais entregaram suas terras e habitantes ao trono, estabelecendo o governo pessoal do imperador. E essa reforma não durou muito, pois que nova classe de poderosos se formou, dentro de poucas dezenas de anos, constituindo os "shoen" (latifúndios). Também a Restauração de Kemmu foi de natureza efêmera, 170 voltando o poder político — que havia sido devolvido ao trono — às mãos dos bushi. No entanto, no caso da Revolução de Meiji, a obra restauradora teve caráter definitivo, sem possibilidade de ressurgir o bakufu, no que reside a diferença fundamental entre ela e a Reforma de Taikwa e o Restabelecimento de Kemmu. Poderíamos encontrar várias causas para essa diferenciação. Mas, a mais importante foi, sem dúvida, o fato de ter a Restauração interessado todo o povo e não determinada classe ou classes, como sucedeu nas reformas políticas anteriores. Vimos que a Reforma de Taikwa constituiu uma revolução social, porque aboliu o sistema de clãs e abriu o caminho para o início do regime feudal. Mas a transformação se processou, por assim dizer, na superfície, sem atingir a profundidade, sem alterar a vida das classes baixas. A Restauração de Kemmu, por sua vez, não passou de uma espécie de reação de elementos cultos e nobres, com apoio de uma parte da nova e poderosa classe dos bushi — reação contra o domínio crescente dos samurais em todos os setores da vida da nação. Invocaram o princípio das prerrogativas do imperador, mas não puderam contar com o apoio geral do povo. E o movimento restaurador não teve efeito duradouro. Entretanto, na Restauração de Meiji, verificou-se iim fato sem precedentes. A idéia mesma da restauração infiltrou-se em todas as camadas sociais e a revolução se realizou com o apoio da opinião pública. Eis porque a obra restauradora teve um êxito completo e não parcial ou temporário. Em suma, o regime feudal centralizado do período Tokugawa havia atingido uma fase de decomposição interna, tornando-se imperiosa sua destruição. Sabemos que a obra revolucionária foi executada, principalmente, pelos "bushi" de baixa categoria, aqueles cuja existência se tornara insustentável, devido exatamente às transformações econômico-sociais ocorridas 171 marquês. conde. Desde essa data. tendo eles pertencido à classe dominante. o povo em geral lhes votava respeito. Caiu por terra o regime feudal e um novo sistema de governo centralizado foi estabelecido. a Reforma de Meiji constituiu. foi autorizado o uso de sobrenome aos lavradores e chonin que. exclusivamente. uma verdadeira revolução. se reduziu. No registro civil. a fonte de rendas do bakufu. significou a passagem da economia de terra para a economia monetária. com a evolução da economia monetária. Socialmente. mas todos tornaram-se iguais perante a lei. vieram a constituir a nova aristocracia com títulos de nobreza (príncipe. eram os produtos da terra. No ano seguinte foram libertados os "eta". foi decaindo o poderio econômico dos samurais. também. os "eta" ficaram em pé de igualdade com os "heimin". Contudo. a Reforma de Meiji representou o fim do feudalismo e o início do capitalismo industrial. A riqueza representada pela moeda circulante se concentrava nas mãos dos chonin e. até então. organizado sobre bases feudais. visconde e barão). "descendentes de samurais" (shizoku) e "povo comum" (heimin). com a abertura dos portos à navegação e comércio estrangeiros. devido à força da tradição que. que. ainda gozavam de certas regalias. No terreno econô172 . capitalista. somente aos poucos. pois. Em 1870. manteve-se a distinção de "nobres" (kwazoku). Também os "shizoku" mantinham certa superioridade moral. Politicamente. Classes sociais — No terreno social.no longo shogunato. que não eram considerados gente. daimyôs e homens que prestaram relevantes serviços ao país. Economicamente. somente tinham prenome. Aboliu-se a rígida divisão de classes e quase nada sobrou do antigo regime. Antigos kugues. A sociedade capitalista — Foi na época de Guenroku que o uso da moeda se difundiu em todo o país. eles constituiriam elementos descontentes (como de fato constituíram aqueles que participaram da rebelião de Seinan). estavam acumulados setenta por cento de toda a riqueza nacional. Pelo menos no início da Era Meiji. Houve. a transferência do poder político das mãos de bushi de alta categoria (daimyôs. segundo se dizia. capazes de provocar novos distúrbios político-sociais.mico. não podiam competir com os chonins na gestão dos negócios. onde. altos funcionários do bakufu. pois embora fossem hábeis no manejo do catana. Caso contrário. etc. As emissões fiduciárias e de títulos públicos a que recorreu o governo de Meiji foram possíveis. elementos do povo começaram a participar ativamente dos vários ramos da administração.menos categorizados. Só aos poucos.) para as de samurais . A transformação política e social teve maior repercussão dentro da classe dos samurais. graças à enorme reserva de ouro dos grandes comerciantes. Apesar de haver o poder político passado para as mãos dos samurais de categoria inferior. a Restauração de Meiji se realizou graças ao dinheiro dos chonins. Mas o governo tinha necessidade de encontrar um meio de vida para os samurais desempregados. especialmente de Osaka. Desse modo. eram agora obrigados a arranjar dinheiro para a sua subsistência... não era possível arranjar colocação para os milhões de samurais desempregados em conseqüência da abolição dos feudos. Em lugar de receber arroz do seu senhor como pagamento dos serviços. habilmente aproveitado pelos bushi de Choshú e outros feudos monarquistas. os bushi se tornaram a classe de elite do mundo econômico do Japão. bancos. etc. De resíduos do velho regime 173 . Ensinou-lhes os métodos europeus de empreendimento comercial e industrial. também. Muitos fracassaram no comércio. por assim dizer. o governo auxiliou-os na formação de companhias exploradoras de terras. as rédeas do governo estavam em poder dos samurais. ferrovias. agricultura. Assim. mas. Naturalmente. Fujita. para não se constituírem novamente em classe rebelde. As próprias famílias Mitsui e Sumitomo. Os chonin tinham o espírito de poupança e sabiam entesourar com avidez. Grandes capitalistas. Iwasaki. Num dos seus inúmeros paradoxos. etc.passavam a elementos inovadores e precursores da nova sociedade capitalista. que se desenvolveu durante a época Tokugawa. puderam desenvolver-se. tornaram-se líderes do regime capitalista recém-introduzido. o sistema capitalista firmou pé no Arquipélago e. eram todos "descendentes de samurais": Shibuzawa. parte deles veio a manejar o poder político. que descendiam de tradicionais e abastados chonin. . perdeu seus privilégios e proteção oficiais e teve de enfrentar um mundo de concorrência livre. que surgiram no decorrer da Era Meiji. a economia japonesa dos primeiros anos de Meiji foi de transição e confusão. Como não podia deixar de ser. Vejamos como. . mudando o rumo de suas vidas. transformando-se em funcionários públicos ou políticos militantes e. Um verdadeiro sistema capitalista 174 . (Estas grandes famílias constituíram mais tarde os chamados "zaibatsu" — trustes econômicos — que os aliados aniquilaram logo depois da ocupação do Japão em 1945). Por aí se vê o importantíssimo papel desempenhado pelos bushi de classe modesta na Restauração de Meiji. A classe dos chonin. não dispunham de espírito empreendedor. com as guerras nipo-chinesa e nipo-russa. Somente com a consolidação do novo regime. realizou um rápido progresso. Como elementos descontentes. Mas o fato é que. em capitalistas. provocaram a queda do shogunato e. outra parte. a história transformava em líderes industriais e comerciais os samurais. em geral. graças a ligações de parentesco com samurais. a grande maioria deles desapareceu no turbilhão da reforma. por meio de casamentos. cujos antepassados desprezavam os chonin. donde resultou o aparecimento de complicadas relações entre o capital e o trabalho. na década 1930-40. ficavam as massas de trabalhadores e proletários. começaram a defender seus interesses por meio de organizações de classe. Questões sociais — Surgiu a sociedade capitalista. Nas primeiras eleições realizadas sob o sistema de sufrágio universal. a fazer concorrência às maiores potências econômicas mundiais. Do lado oposto. 175 . na Era Taisho. constituindo a classe média. Com a derrocada do regime militarista e sob o signo de liberdade da nova Constituição. compreendendo a força da união. Os livros de Marx. Especialmente depois da primeira guerra mundial. surgiram questões várias em resultado do choque de interesses das três classes. chegando. Os operários das cidades. e. promulgada em 1946. ficou completamente submerso durante a guerra do Pacífico.moderno se implantou no Japão. novas idéias de justiça social introduziram-se no Japão. Entre as classes dos capitalistas e proletários ficavam os pequenos proprietários de terras. o proletariado japonês voltou a organizar-se em sindicatos e uniões bastante fortes. E. afinal. pequenos industriais e comerciantes e assalariados de colarinho. onde predominavam os "jitsugyoka" (homens de negócios — industriais e comerciantes). Mas o movimento de caráter socialista sofreu um grave retrocesso durante o período de ascenção do militarismo e nacionalismo. naturalmente. Engels. os elementos socialistas conquistaram algumas cadeiras na Dieta. em 1925. Lenin e outros líderes socialistas e comunistas foram traduzidos e amplamente lidos pelos intelectuais e operários. encerrando o seu longo e profícuo remado de quase meio século. subiu ao trono e iniciou-se com o nome de "Taisho" o novo remado. o príncipe herdeiro da Áustria. a Itália. agravada pela rivalidade entre os Impérios Centrais de um lado e a França. a 30 do mesmo mês. A Inglaterra e a França lançaram-se contra o império do Kaiser. Depois entraram. mas seu estado se agravou e. os Estados Unidos.° da Era Meiji). A guerra européia e o Japão.CAPÍTULO XII DE TAISHO A SHOWA 1. os Aliados cujos cabeças eram a Inglaterra. o príncipe Yoshihito. Foi o fogo no barril de pólvora. Guerra Européia — Por essa época complicava-se a situação mundial. A Europa se dividiu em dois grupos antagônicos. A Áustria declarou guerra à Sérvia e. de outro. que foi inquestionavelmente um dos mais preclaros soberanos da história japonesa. Todo o povo orou pelo restabelecimento do monarca. Em julho de 1914 morreu. assassinado por um estudante sérvio. do lado aliado. os Impérios Centrais liderados pela Alemanha e Áustria e. O imperador Meiji. veio a falecer. a Alemanha à Rússia. a seguir. Seu filho. de um lado. adoeceu em julho de 1912 (45. França e Rússia. tendo. a República Chinesa (em 176 . Rússia e Inglaterra de outro. e t c . realizou-se a Conferência da Paz em Versalhes. O Japão foi um dos seus membros fundadores. Brasil. A própria Conferência de Versalhes tinha por objetivo a construção da paz mundial. da França. propôs a criação de uma entidade internacional capaz de assegurar a paz. E. no Oceano Pacífico. nessa reunião. o Japão declarou guerra à Alemanha em agosto de 1915. Em 1919. por isso. Respeitando o compromisso assumido na aliança anglo-nipônica. Um total de vinte e oito países enviaram representantes. 177 . Wilson. França. o Tratado de Versalhes. Nobuaki Makino e outros diplomatas. A conflagração tomou vulto mundial. Compareceram à conferência os grandes estadistas da guerra: presidente Woodrow Wilson dos Estados Unidos. abolindo a monarquia). Firmou-se. Todos os países desejavam ardentemente a paz e sinceramente pensaram em um modo de evitar a repetição de desgraças semelhantes. com a vitória dos aliados. premier Clemanceau. resolveu-se aplicar um castigo severo à Alemanha. A idéia teve apoio de todas as nações participantes da Conferência e a Liga das Nações foi instalada com sede em Genebra. A guerra européia foi a maior conflagração jamais havida na história da humanidade. primeiro ministro Lloyd George. Vencedores e vencidos sofreram gravíssimos danos morais e materiais. Portugal e outros países.1912 a China adotou a forma republicana de governo. Como delegados japoneses participaram do conclave* Kinmochi Saionji. O Japão obteve a baía de Koshü (Kiaochow) e todos os direitos dos alemães da província de Shantung. o presidente dos Estados Unidos. bem como o direito de administrar as antigas ilhas germânicas situadas ao norte do Equador. Esta guerra durou mais de quatro anos e terminou em novembro de 1918. da Inglaterra. As potências interessadas combinaram. Com o objetivo de preservar a paz mundial. a república foi proclamada na Alemanha. (10. resolvê-la por meio de conversações diplomáticas. merecendo especial atenção o problema da China. 178 . em pouco tempo. americana e japonesa. não mais aumentar as defesas militares' e navais das ilhas do Pacífico. primeiramente. o Império Austro-Húngaro desmembrou-se. Concordaram as potências interessadas nas questões do Oriente em respeitar a soberania chinesa e estabelecer relações comerciais em pé de igualdade com aquela República. então as mais poderosas do mundo. no ano de 1921. diminuir as forças navais. deposto o Kaiser. caso surgisse qualquer dúvida. por ser esta um grande mercado consumidor dos países industriais. Nesse conclave internacional ficou resolvido.Conferência de Washington — Profundas e completas modificações ocorreram no mundo em conseqüência da guerra.° da Era Taishô). Para tal fim. sob a chefia de Benito Mussolini. foi convocada a Conferência do Desarmamento. Para o Japão. procurou-se reduzir os armamentos das potências. em Washington. a questão chinesa sempre teve uma importância vital. na Itália surgiu o fascismo que. assim como concordaram todas em respeitar os direitos adquiridos nas ilhas do Pacífico e em. Achando-se em choque os interesses das potências — o Japão havia se colocado entre os países mais poderosos do mundo — na China contínuos eram os atritos diplomáticos e econômicos. igualmente. estabelecendo-se a proporção de 5:5:3 para as unidades principais da esquadra inglesa. tomou o governo. A paz não voltou de maneira completa no Extremo-Oriente. A Rússia tzarista tornou-se comunista sob o comando de Lenin. Na mesma conferência foram discutidas as questões do Extremo Oriente e do Pacífico. Guerra do Pacífico. onde era grande o interesse japonês. dominavam a política e a economia do país. nas proximidades de Mukden. Verificaram-se vários levantes de guarnições militares. lideradas por jovens oficiais extremistas. Forças japonesas estacionadas na Mandchúria atacaram Mukden e a ocuparam. foi extinta a aliança anglo-nipônica. Forças reacionárias e militaristas controlavam. todos os setores da administração. depois da grande guerra européia. verificou-se uma explosão na ferrovia Sul-Mandchuriana. lançaram ataques a várias cidades mandchus. provocando uma verdadeira guerra. de tendências expansionistas. instigados por ambiciosos políticos e militares que manobravam por trás da cortina. Militares e elementos ligados a eles. A seguir. A questão da Mandchúria.° da Era Showa). Takahashi e outros. por considerar-se plenamente atingido o seu objetivo. Estadistas de tendências moderadas como Inukai.Ao mesmo tempo. a atitude do governo de Tokyo tornou-se cada vez mais intransigente em relação à China. Seguiram-se alguns anos de paz. afinal. foram brutalmente assassinados pelos sequazes da reação. estavam ocorrendo transformações importantes. Assim se iniciou o chamado "Incidente da Mandchúria" ("Mansh û Jihen"). faleceu o imperador Taisho e subiu ao trono o príncipe Hirohito que escolheu o nome de Era "Showa" (Paz Luminosa). aos poucos. Em setembro de 1931 (6. dentro do Japão. Porém. 179 . provocou. Conflito da Mandchúria — Como resultado da influência crescente dos elementos militaristas na política japonesa. 2. um conflito armado entre os dois países. A 25 de dezembro de 1926. Nankin. na realidade. as forças japonesas prosseguiram no seu avanço e penetraram na China do Norte. Mas não passava de uma trégua temporária. a seguir. o novo Estado e. no poder. E exigiu a retirada das forças japonesas do território chinês.A China dirigiu-se à Liga das Nações. com ele. Foi. concluiu uma aliança. o governo de Nankin aceitou a proposta de armistício. acusando o Japão de haver violado a paz do Oriente. O Japão reconheceu. O generalíssimo Chang Kai Chec transferiu a capital para Chungking onde comandou as forças de resistência. E chegou à conclusão de que a ação japonesa era injustificável e que o estabelecimento do Mandchukuo contrariava as normas do direito internacional. o exército japonês estabeleceu um novo governo com capital em Mukden. A luta começou num choque entre forças chinesas e japonesas. mandou uma comissão para investigar in loco o caso mandchu.Em julho de 1937 (12. Forças chinesas resistiram tenazmente mas. colocando Henry Pu Yi. atendendo ao pedido da China. a capital da República do Centro. tendo os nipões atingido as proximidades de Pequim. nas proximidades da Ponte Marco Polo (Rokokyo). na qualidade de regente. Pequim caiu. Por seu turno. antigo imperador da China. em poder dos japoneses. mobilizando suas forças na Mandchúria.° de Showa) irrompeu o chamado "Incidente da China". proclamada a independência do Mandchukuo. Desgostoso com a decisão da Liga. etc. Bushô (Wuchang). Alastrou-se 180 . sem perda de tempo. que. Logo no início do "incidente". "Incidente da China" . foi violada e dominadas as importantes cidades de Cantão. Kankou (Hankow). o Japão retirou-se daquele organismo internacional. imediatamente. Entrementes. constituiu uma guerra violenta e de amplas proporções. Seito (Chengtu) e Shanghai renderam-se a seguir. a Sociedade da Nações. Grã Bretanha e outras potências que simpatizavam com o governo de Chang Kai Chek. que subira ao poder em 1933. vinte anos depois da primeira guerra mundial. como das potências interessadas: Estados Unidos. França e. posteriormente. isso significava. colocar-se em posição contrária à dos Estados Unidos.o campo da luta do norte ao sul da China e. Grã Bretanha. França. provocando. a fim de chegar a um acordo com o governo chinês. o conflito parecia interminável. à frente dos seus "camisas pardas". de início. Adolf Hitler. Entretanto. Na Europa. os elementos expansionistas do Exército aproveitaram-se da sua posição: por intermédio de forças estacionadas na China e Mandchúria. O Japão concluiu aliança militar com a Alemanha 181 . a guerra com a Grã Bretanha. em face da determinação chinesa de resistir até o fim. O próprio governo japonês. e t c . o governo de Tokyo declarou que sua finalidade era estabelecer uma nova ordem na Ásia Oriental. Em vista dessa circunstância. também. Alemanha e Itália. procurou limitar ao mínimo a extensão do conflito. Ora. intensificaram os ataques. Em 1939 invadiu a Polônia. União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e o do "Eixo" totalitário. E afirmou. Tríplice Aliança — O mundo cindiu-se em dois blocos: o das democracias lideradas pelos Estados Unidos. a situação sofrerá completa modificação. A luta acesa na China prejudicava os interesses. Grã Bretanha. transformara a Alemanha numa grande potência militar e industrial. França e. a seguir. A tensão internacional do Extremo Oriente aumentava de modo ameaçador. claramente. muitos outros países europeus. que não mais trataria com o governo de Chang Kai Chek. com isso. Chegou a estabelecer um governo títere com sede em Nankin. não só dos países beligerantes. formado em torno do Japão. A pedra havia rolado da montanha e não existia força capaz de detê-la. Alguns conseguiram fugir para o estrangeiro. do que resultou a demissão do primeiro ministro Fumimaro Konoye. foi guindado à chefia do governo. Líderes liberais e socialistas haviam sido encarcerados ou condenados ao ostracismo político. Estava formada a tríplice aliança. A Guerra do Pacífico — Por esse tempo. o cargo de chefe do Estado Maior. etc. Grã Bretanha. em contraposição às forças dos Estudos Unidos. As relações entre o Japão e as potências anglo-americanas foram se agravando dia a dia. que controlava a política. fundidos na "Associação de Apoio à Política Imperial" ("Taisei Yokusan-kai"). Não havia mais liberdade de pensamento. de consequ ê ncias imprevisíveis. muito menos de imprensa ou de palavra. O então ministro da Guerra. Leis de "segurança" impediam a livre manifestação das opiniões. Impusera-se um regime forte. produziu-se uma funda divergência entre o governo e as forças armadas. embora o Japão tivesse enviado uma missão especial chefiada pelo embaixador Kurusú a Washington. 182 . para conferenciar com o presidente Franklin Roosevelt. para encontrar uma solução ao impasse surgido nas relações entre os dois países em face do conflito chinês. China. os elementos pacifistas haviam perdido completamente sua força no Japão. Tojo assumiu atitude firme e intransigente em relação aos Estados Unidos. com perigo crescente de guerra. Partidário do expansionismo e da idéia da "Esfera de Co-Prosperidade da Ásia Oriental". o governo manteve sucessivas negociações com os Estados Unidos.em 1936 e com a Itália em 1940. Todo o mundo marchava para um grande choqu e armado. Em nome da "União Nacional" foram suprimidos os partidos políticos. quando não mortos na prisão. em outubro de 1941. general Hideki Tojo. ao mesmo tempo. Fracassaram as negociações diplomáticas. economia. Por outro lado. cultura e todos os setores da atividade do povo. acumulando. Entretanto. após sangrentas batalhas. Em janeiro de 1942 ocupavam Manila e. Tokyo. assim. para isso. Em abril de 1945. Alemanha. as forças de terra. Por fim. Caíram em seu poder. etc. os últimos recursos materiais e humanos. Dominando as ilhas do sul do Pacífico. com bases em porta-aviões. começou a ser castigado pelos reides aéreos inimigos no outono de 1944. a seguir. Tendo perdido o domínio do ar. e o Japão tomou a resolução de travar a última e decisiva batalha em seu próprio solo. fixaram a sua política em relação ao Japão e aconselharam a rendição deste. terminava a guerra na Europa com a rendição da Alemanha. o que facilitou a reação anglo-americana. finalmente. No seu ímpeto inicial. foram conquistadas. planejar o desembarque no território metropolitano japonês. Osaka e outras grandes cidades foram arrasadas. em julho de 1945. O Japão ficou. Singapura e Rangun. o próprio território metropolitano. completamente cercado pelas forças aliadas. As forças aliadas avançaram no Pacífico central.Na madrugada de 8 de dezembro de 1941. tomaram Hong Kong e dominaram o sul do Pacífico. tomaram as ilhas Marshall e Truck. em seguida. reunidos em Potsdam. sem aviso prévio. A seguir. a marinha nipònica sofreu perdas tão graves que ficou impossibilitada de prosseguir na ofensiva. outra em Nagasaki. Os chefes aliados. Midway e Guadalcanal. a base naval americana de Pearl Harbour e declarou guerra aos Estados Unidos e à Grã Bretanha. as ilhas de Iwô e Okinawa. Nagoya. considerado inviolável. Filipinas. forças nip ô nicas desembarcaram na península da Malaia. 183 . Em agosto foi lançada a primeira bomba atômica contra Hiroshima e. mar e ar do Japão haviam se expandido ao máximo. Nas batalhas do Mar de Coral. mobilizando. esta começou em abril de 1942. a aviação japonesa. De fato. a ilha de Saipan e a cidade de Manila. chegaram a atacar a Austrália. atacou. Os aliados decidiram. A Itália fascista já havia sido batida em 1943. a seguir. para reconstituir democraticamente o país. arriscada e louca. imprensa e palavra. O sistema econômico tornou-se mais democrático. pela primeira vez na sua história. Nestas circunstâncias. que. O Japão foi derrotado. conservavam ainda muito do feudalismo antigo. ocuparam o Japão. até então. Também foram desmantelados os "zaibatsu".A União Soviética que. ao governo e ao povo que depusessem as armas e suspendessem a luta. instituiu-se a liberdade de culto. depois de anos e anos de lutas. baixando um rescrito no qual comunicava ao povo essa suprema decisão. erradicar do espírito do povo as idéias imperialistas e dar-lhe liberdade. levou-se a efeito uma completa revisão da Constituição. e foram grandemente alterados os regimes político. eliminar as forças maléficas do militarismo. respeitara o tratado de neutralidade assinado com o Japão antes do início da guerra. com o objetivo de estabelecer a ordem. resolveu afinal aceitar a "Declaração de Potsdam". O imperador. E ordenou ao Estado Maior Imperial. que. 184 . tornava-se realmente insustentável a posição do Japão. Forças aliadas — na maior parte americanas — sob o comando do general Douglas Mac Arthur. durante muito tempo. Era o fim da guerra que tantos sacrifícios custara a todos os povos que dela participaram. entrou no conflito da Ásia ao lado dos seus aliados ocidentais. não obstante o progresso dos últimos cinqüenta anos. A cegueira das forças armadas dominadas por generais e almirantes ambiciosos levou-o a essa guerra que constituiu uma aventura. Com esse fim. econômico e social. ouvido o Conselho de Estado. penúrias e sacrifícios do seu paciente e laborioso povo. por todos os títulos. dominaram a economia japonesa. unilateral e inequívoca à guerra. desenvolvendo a vontade popular. — Renúncia voluntária. conforme já têm mostrado numerosos escritores e observadores ocidentais que estudaram longamente o país e seu povo. pois a nova Constituição. Acreditamos que assim seja. o imperador Hirohito baixou um rescrito indicando os novos rumos a serem seguidos pelo povo nipônico. Começou uma nova Era — de democracia e liberdade — para o Japão. para elevar o nível de vida do povo e estruturar o novo Japão". É. por isso. construindo uma rica cultura. 185 13 . pois. de se esperar que. Como todos os povos. e não uma acomodação oportunista. desta vez. Citou inicialmente o "Pacto dos Cinco Artigos" do imperador Meiji e declarou a seguir: —" Devemos seguir as bases estabelecidas no Pacto. Em janeiro de 1946. e abolição de todos os armamentos de guerra. disse: — "Estamos ao lado do nosso povo e desejamos compartilhar com êle os mesmos interesses e os mesmos momentos de alegria e tristeza. está destinado a governar o mundo". abandonando os velhos hábitos. Os laços entre nós e o nosso povo basearam-se sempre na confiança e afeto mútuos e não dependem de meras lendas e mitos. o espírito pacifista. Deve ser algo de fundamental. espontâneo e sinceramente desejado. estabelece entre outras coisas: 1. penetrando. Mais adiante. O novo Japão. Não se estribam no falso conceito de que o imperador é deus-presente e que o povo nipônico é superior aos demais e. a democratização do Japão seja uma realidade concreta e não apenas um recurso temporário para aplacar as iras do vencedor.3. tanto o governo como o povo. o japonês também ama a liberdade. promulgada em 3 de novembro de 1946. 3. — O princípio de que a soberania reside no povo e não no imperador. liberdade e procura de felicidade. independentemente de "raça. — O imperador é simples símbolo nominal do Estado. perante o qual é responsável. em que todas as dificuldades nas relações entre nações sejam solucionadas por meios diplomáticos e em que todos os cidadãos possam viver sem a preocupação de pegar no fuzil ou lançar bombas atômicas para massacrar seus semelhantes. dá o primeiro passo concreto para a realização do maior sonho de toda a humanidade. os representantes do povo japonês declaram haver decidido "confiar nossa segurança e sobrevivência à justiça e boa fé dos povos amantes da paz". retirando-se-lhe virtualmente todos os podêres políticos. condição social ou origem familiar" são declarados iguais perante a lei. — A Dieta exerce a soberania como órgão representativo do povo. — O primeiro ministro é eleito pela Dieta e não escolhido ou nomeado pelo soberano. o povo. num futuro de paz. e não perante o trono. desde os primórdios da civilização: um mundo sem lutas armadas. 6. uma sociedade internacional unida e harmoniosa. portanto. inclusive o de vida. que restituiu a soberania 186 . — A classe aristocrática foi abolida e todos. que tantas guerras sustentou nos últimos 70 anos. e o gabinete é responsável perante a Dieta e. 4. garantidos contra possível pressão governamental. 7. Depois da assinatura do tratado de paz com as potências aliadas (1951-52). — Direitos fundamentais do homem. 5. credo. Confiante. assim. sexo. No preâmbulo da Magna Carta. o Japão.2. a que aspira o povo japonês. como os horrores de Hiroshima e Nagasaki. Esse acordo resultou da cláusula do tratado de paz que reconhece ao Japão o direito de possuir forças de autodefesa próprias ou "coletivas". mar e ar. chegue a completo acordo sobre o desarmamento total. Por esse documento. estudantes e líderes liberais e esquerdistas. 187 . Ainda como conseqüência dessa cláusula. cansado de tantas guerras e sofrimentos inúteis. vêm se opondo tenazmente à remilitarização. com retirada das forças de ocupação. no entanto. com os Estados Unidos. Existem poderosos interesses a favor do pleno ressurgimento das forças armadas japonesas. Todavia. o governo de Tóquio celebrou um acordo de "segurança mútua". a começar pelas chamadas grandes potências. desejosos de fortalecer seu sistema de defesa.ao Japão. não só dentro do país como nos países do bloco ocidental. A não ser que a humanidade. não só o artigo 9 da Constituição (que proscreve os armamentos e as forças armadas). e também os seus vencedores. existe a possibilidade de a história assistir à destruição de um regime realmente pacifista. o Japão criou e vem desenvolvendo suas próprias forças de terra. os Estados Unidos continuam a manter forças militares em diversas bases do território japonês. lembrando. seu aliado durante a II Guerra Mundial. com assistência americana. Intelectuais. já então em plena "guerra fria" com a URSS. B BAKUFU — governo de "shogun". BON-ODORI . BUNGAKU . C H O N I N — classe dos negociantes e artesãos. chamado também feijão da Índia. BE NO TAMI . Governo militar da época feudal.enfeudação. BE — classe de servidores semi-escravos pertencentes ou ao trono (shimobe) ou a particulares poderosos (kakibe). D DAIGAKU — curso superior para estudo dos clássicos chineses. Modernamente significa Faculdade ou Universidade. AZUKI — feijão vermelho. imperador. A A MATSUKAMI — Deus do céu. "gente da 188 . cidade".O mesmo que be. BUGY Ô — delegado do governo shogumal. gente do povo. BUSHI — o mesmo que "samurai". C H I N D A I — guarnições militares. BONGUE — homem comum. preferido pelos samurais.literatura. miúdo. Shogunato.dança do dia dos finados ( 1 5 de julho). BUKE-ZUKURI — estilo de construção antigo.GLOSSÁRIO DOS TERMOS JAPONESES EMPREGADOS NO TEXTO. guerreiro. GHIGUE — o mesmo que "bongue". ou samurai. CHIGYO . C CHA-NO-YU — cerimônia ou arte do chá. BUKE — família de samurai. HANA . cientista ou sábio. entrada.N O . ETA — párias. GUIJÔ — conselheiro-deliberador. H E N — incidente. HEIAN-KYO . DAJÔKAN — gabinete. EMAKIMONO — pergaminho ilustrado.DAIMYÔ — senhor feudal. H A N D E N . IIANrWA — espécie de terraçota. F FUSSUMA — porta corrediça.jogo semelhante ao gamão. HI — escrava. HAYATO — gente da raça indonésia que povoou parte do sul de do Japão. elementos considerados ralé que formavam comunidades segregadas. DAJÔ-DAIJIN — ministro-presidente ou primeiro ministro. conflito. GUIDAIYU OU GIDAIYU .o mesmo que joruri. DÔ — templo ou pavilhão.flor. membro de gabinete. DOCHU-SUGOROKU . GUNSHI — governador de município ou distrito. GUENR Ô -IN — conselho dos estadistas velhos. 189 . guerra. GUENKWAN — vestíbulo. com jurisdição sobre os "kokushi" das províncias da ilha."Capital da Paz" H E I M I N — povo comum. Originàriamente. HAN — feudo do tempo de Tokugawa.Pavilhão de Prata. GOSAN — cinco montes. DAZAIFU — espécie de governo geral de Kyush û . GUN unidade administrativa correspondente ao município. pequeno hall. GUNKI-MONO — narrativas militares. HATAMOTO — samurai que servia diretamente ao shogun. imagem de barro.H O — lei da distribuição de terras. H HAIKAI — poemeto de dezessete sílabas. GOSHO — palácio imperial. E EKI — campanha. G GAKUSHA — estudioso. GUINKAKUJI . J Ô D O — seita budista da "Terra Pura". 190 . JUKYÔ — doutrina de Confúcio."História de Hojô". serve para transportar um ou dois passageiros. JIDAI — Era. fundada por Nichiren. JORURI — balada dramática que consiste em cantos e recitativos acompanhados de "shamisen". I KEBANA — arte de arranjar flores em vasos. I I Ê — casa ou família. louça de barro com marca de esteira. KABUKI — peça dramática. HOKKE — seita budista. JOKA-MACHI — cidade anexa a um castelo-fortaleza.H I E — nome de um cereal. também chamada "Nichiren-sh û " (seita do L o t u s ) .Supremo Conselho Consultivo. J I SHA-BUGYÔ — delegado do governo shogunal para assuntos religiosos. JITÔ — comissário de terra. 1NSEI — governo do imperador enclausurado. JÔKÔ — ex-imperador. H O N J I N — casas que serviam de hospedagem aos senhores feudais q u e viajavam para Yedo ou de lá regressavam. H Ô W Ô . JITSUGYOKA — homens de negócio. Significa também Papa. J O M O N — marca de esteira. KAKIBE — servidores semi-escravos pertencentes a famílias poderosas. fundada por Honen.fênix. IN — palácio clausura l onde se retiravam os abdicavam no tempo do "Insei". da Época de Yedo. fundada por Ippen. soberanos que J JI — seita budista. confucionLsmo. IMO — batata. período. JINRIKISHA — ou "rikishaw" — carro de duas rodas puxado por um homem. K KABANE — título de distinção dado pelo trono a elementos de destaque de alguns clãs. industriais e comerciantes. H Ô W Ô — imperador-monge ou monarca enclausurado. época. HOJOKI . imperador que abdicou. HYOJÔ-SHU . KANA — silabário japonês.KAMIKAZE — vento divino. cerca de 180 litros. Primitivamente significava colégios para estudo dos clássicos chineses. KEN — província. KIROKUSHO — departamento de arquivo. ou a rota percorrida pelo país. K. KOBAN — moeda antiga. KÔ — classe dos artesãos. KUNITSUKASA — o mesmo que kokushi. ambos derivados da extrema simplificação do "Kanji". geralmente residentes em Kyoto. KUNI-NO-AYUMI — ao pé da letra significa: o caminho do país. KANGAKU — estudo das letras clássicas chinesas. 191 . cristianismo.U — unidade de medida de volume. KUROBUNE — navios negros (nome dado aos vasos de guerra do comodoro Perry). de raça indonésia. unidade econômica e social. KUNI — unidade administrativa.brocados. prefeitura. pequena. do qual existem duas variedades. o HIRAGANA e o KATAKANA. Caracteres chineses adotados no Japão. furacão salvador. K E N C H I — verificação ou exame de terras para efeitos tributários. terra.Pavilhão de Ouro. SvOME — arroz.OK. KUGUE — aristocratas da corte. terra. de forma oval. KIRISHITAN . KINKAKUJI . KOKUSHI — governador de província (antiga)." KOKIN-SHU — "Coletânea de Poemas Antigos e Modernos". KOJ1KI — "Crônica de Coisas Antigas.cristão. KOME SODÔ — assalto aos armazéns de arroz. passado da nação — História-Pátria. correspondente à província ( k e n ) . Casa. KOKUBUNJI — templo provincial construído por ordem do imperador Shomu. conflitos causados por escassez de arroz. KOKUGAKU — icolégios para estudo dos clássicos nacionais. KENTÔSHI — emissários ou embaixadas à China ( T ô ) . KIRISHITAN-SHU — religião cristã. KINRAN . KANJI — caracteres ou letras de Han. de ouro. KUMASO — primitivos habitantes de Kyush û . KO — significa literalmente "porta". KANJÔ-BUGYO — delegado shogunal encarregado de fiscalizar assuntos financeiros. composta de vários gun. KÔMIN — cidadão no gozo de direitos civis e políticos. País. teatro cômico. moeda de ouro de forma oval. demônio."Relação do Nipon". MONCHU-JO . MAN-YÔ-SHU . N E N G Ô . maior do que o koban. MONOGATARI — narrativa. ÔMETSUKE — grande superintendente.bárbaros do sul. peculiar ao Japão NU — escravo ( h o m e m ) . e 192 . NANPOKU-CHÔ . N O H ou NÔ — drama lírico clássico. MOMIJI — bordo. KYÔGUEN . na região de Kwantô. NIÔ — Rei Deva. sede do trono ou do governo. a coloração pardacenla ou amarelada das folhas de outono."Coleção de Dez Mil Folhas".cortes do sul e norte (a de Kyoto Yoshino). capital. METSUKE — superintendente. história. KWAZOKU — aristocrata. Aristocracia. fiscal-chefe. N I H O N SHOKI . NÔ — agricultores. MUSHADOKORO — guarda encarregada da defesa da capital (Kyoto).KWAMPAKU — principal conselheiro do imperador. crônica. NANUSHI — chefe de aldeia. N NAGAUTA — poemas ou cantos longos.Nome de Era. agricultura. MANDOKORO — departamento político fiscalizador dos funcionários. MIYAKO — metrópole. Criatura horrenda com chifres. Em geral. fiscal. O ÔBAN — "ohbang". KWANRYÕ — espécie de secretário geral de governo. ORIGAMI — trabalho manual para confecção de objetos de papel. O N I — diabo. principal conselheiro político do shogun. NANBAN-JIN .tribunais. fidalgo. NANBAN-JI — templo dos bárbaros do sul. M MAKIE — desenho dourado e prateado sobre laça. Cargo mais elevado ocupado por um súdito nipônico junto ao soberano. SESSHÔ . RYÔMIN — povo bom. RANGAKUSHA — estudioso da língua e cultura holandesas. também chamada shizoku.párias. SAMURAI-DOKORO — departamento fiscalizador dos samurais. RI — légua japonesa. SHIKKEN-SEIJI — administração ou governo dos regentes. estado de guerra civil. RENGA — jogo de versos com a participação de várias pessoas. Shikken difere de sesshô pelo fato de reger em nome do shogun. ou do país em guerra. SAN-YO — conselheiro. SEKISHO — posto de fiscalização. SANKIN KOTAI — sistema de servir por turno ao shogun. SAKÊ — bebida alcoólica feita pela fermentação do arroz. na corte deste (Yedo).unidade político-religiosa. ao passo que o segundo o faz em nome do imperador.927 metros. povo pacífico ou cidadão livre. SHIKKEN — regente. 193 . fundada por Kobo. Generalíssimo. bebidas alcoólicas em geral. SENGOKU — país ou nação em estado de guerra.. RENKA — o mesmo que "renga". da "Verdadeira Palavra". fundada por Doguen. S H I N D E N ZUKURI — um antigo estilo arquitetônico japonês. SHI — classe dos samurais. RÕJU — ministro do shogunato Tokugawa. SENGOKU-JIDAI — período ou época de guerras civis. RINZAI-SHU — seita budista.R A NGAKU — estudo da língua e cultura holandesas. SENMIN.código (antigo). S SA-DAIJIN — ministro da Esquerda — encarregado dos assuntos da Casa Imperial. SAMURAI — guerreiros antigos japoneses. SENRYU — poemeto epigramático de 17 sílabas. SEI-I-TAISHOGUN — ao pé da letra: comandante em chefe das forças expedicionárias contra os bárbaros.estatuto legal. mede 3. no shogunato Ashikaga. descendente de samurais. RITSURYÔ . SHINGON — seita budista. Desta palavra origina-se o termo "Shogun". SHIKIMOKU . instrumento musical de três cordas.regente. SHIMOBE — servidores semi-escravos pertencentes à família imperial. SHAMISEN — espécie de guitarra. SAISEI-ITCHI . donatárias. SOSHI — originàriamente denominação dada a um caderno para exercício de caligrafia. SHUGO — comissário militar. T TAIRÔ — uma espécie de regente. SUMERAGUI — imperador. revolta. T E N N Ô — imperador. TOKONOMA — alcova. SHOEN — terras originàriamente doadas a nobres pelo trono. etc. Na antigüidade houve vários tennô-mulher. TSUREZURE-GUSA .Tang. TATAMI — espécie de esteira. inferior a Sa-daijin. S Ô DÔ — tumulto. no tempo de Tokugawa. S H O I N ZUKURI — estilo de construção muito semelhante ao atualmente empregado nas residências nipônicas. TO . 194 . soberano.Associação de Apoio à Política Imperial. como o "kakemono". nome de família. U-DAIJIN — ministro da Direita. TAISE I YOKUSAN-KAI . SHOGUN — generalíssimo. onde se colocam objetos de arte. que tinham autorização para navegar em mares estrangeiros. chefe do governo militar (bakufu). U UJI — clã. SÔDO-SHU — seita budista fundada por Doguen. SOSAI — presidente. monarca divino. SHOGUNATO — governo de shogun. TERAKOYA — templos budistas onde se ministrava o ensino das primeiras letras. UKIYO-YE — originàriamente significa quadro de sociedade alegre. motim. caracterlsticamente japonesa no espírito e na forma.SHIZOKU — classe dos samurais ou descendentes de samurais. TENRYÔ — terras pertencentes ao bakufu (Tokugawa). narrativa. confusão. SUGUITO — porta de madeira. SHOY A — chefe de aldeia. gente. soberano do céu. T E R Á — templo budista. SHUIN-SEN — navios de selo vermelho. SHOIN — sala de leitura ou biblioteca particular. no shogunato Tokugawa. Latifúndios. Hodiernamente lugar elevado da sala principal de uma residência japonesa formado numa reentrância de parede. TANKA — poesia de trinta e uma sílabas."Crônica de Horas Vagas". partido de caráter totalitário que dirigiu a política japonesa durante a II Guerra Mundial. Bakufu. SHUIN-JÔ — Carta oficial de autorização. História. monarca ( a n t i g o ) . com selo vermelho. WAKÔ — denominação dada aos comerciantes-navegantes niponicos que recorriam à força para conseguir as mercadorias desejadas. W O D Ô — "wangtao" em chmês. ralé. em oposição a "Kara-e" pintura originária da China. guerra. ZAKKO — semi-escravos. o mesmo que Eki. donde indicar também louça ou porcelana de determinada região. ZORI — sandália de palha. mudaram de sentido e outras que caíram no desuso. YERI — campanha. WAKADOSHIYORl — espécie de vice-ministro. Doutrina do governo justo. N O T A — Há palavras que. pregada por Confúcio. YAKKO — escravos (antigos) YÁYOI — nome de bairro de Tóquio. louça de barro decoberta nesse bairro. Piratas japoneses. WAKA — poesia do Yramato.prefeito de Yedo (capital do shogunato Tokugawa). YEZO — aino. 195 . famílias ou grupos econômicos. ZA — associação primitiva de comerciantes ou artífices que procurava defender os interesses da classe.w WA — nome dado ao Japão era antigos livros chineses. YAMATO-E — Pintura de Yamato. YAKI — queima ou cozedura de louças. com o correr do tempo. raça que habita o Norte do Japão (Hokkaidô). ZA I BATZU — plutocracia econômica. poesia japonesa na qual se inclue o "tanka". YEDO MACHI BUGYÔ . auxiliar do rojú. Shinobu Origuchi. 1945. "A Historical Sketch of Japanese Customs and Costumes". 1944. 1925. Naojiro Murakami. 1938. Tokyo. Ingram Bryan. Eijiro Honjô. J. "A Glimpse of Japanese Ideais". Tokyo. de Monteiro Lobato. Tokyo. 1940. 1938. "Relance da Alma Japonesa". "Portugal e Japão". 1939. Shin-nosuke Makino. Ryuichi Kaji. "Nippon Shisô Juroku-kô". 1951. Nyozekan Hasegawa. Tokyo. São Paulo. Tokyo. Tokyo. "Shin Nippon Gaishi". "History of Japan". Tokyo. 1940. Yoshijiro Takasu. 1950. Will Durant. "Sekai no Rekishi" (Nippon) Mainichi Shimbun Tokyo. 1936. Jiro Harada. "O Japão Moderno". 196 . Rio. Ministério da Educação. Lisboa. "Man-yô Shû Kenkyû". Tokyo 1949. 1932. Wencesiau de Morais. Kan Kikuchi. "História do Japão" (Resumo). Tokyo. Alexandre Konder. "Nippon no Rekishi". 1939. Hisataka Sawagata e Yoshimaro Doki. 1946. 1938. Zoroku Miyakawa.BIBLIOGRAFIA "Kuni-no-Ayumi". Tokyo. "Yamato Minzoku no Bunka". Saburo Ienaga. "História da Civilização (Nossa Herança Oriental)". "Educational and Cultural Background of the Japanese People". 1928. Trad. Tsutomu Ema. Tokyo. Tokyo. "Nippon Shakai Keizai Shi". Tokyo. ''The Literature of Japan". "Oda Toyotomi Jidai Shi". 1929. "Nippon Rekishi". 1940. Tokyo. Londres. Hajime Tamashiro. Kiyoshi Youye Tokyo. 1939. . 1963. 1961. J. 288 pgs. Antônio Pinto de Carvalho. Língua e Realidade. Helmut A. J. Alexandre Correia. Tradução e prefácio do Prof. Tradução do Prof. 1964. Tradução do Prof. História da Filosofia na Antigüidade. DE.. Diretrizes do Pensamento Filosófico. BOCHENSKI.. W E T T E R . 2 . 1964. A Filosofia Contemporânea Ocidental. SOLAGES.. BOCHENSKI. M. L. Simon. 2. a edição. a edição revista. Introdução à Filosofia. O Materialismo Dialético. a edição em preparo. Tradução e prefácio do Prof. Filosofia da Linguagem. no prelo.. Vilem. M. Dicionário de Filosofia. Sobre a Filosofia da História. História da Filosofia Contemporânea. Alexandre Correia. Edgar de Godói da Mata Machado.. 304 pgs. Com um apêndice do Prof. 2 .a preparo. Tradução de Carlos Lopes H IRSCHBERGER.. W. Alexandre Correia. 1962. L. 120 dgs. H IRSCHBERGER. Tradução do Prof. No prelo- 197 . e prefácio do Prof. do Prof. Tradução do Prof FLUSSER. 325 pgs.. 1961. de Mattos. 706 pgs. BRUGGER. Tradução e prefácio do Prof. J. A.. 412 pgs. Em preparo. H IRSCHBERGER. 2 .. MARITAIN. História da Filosofia Moderna. Antônio Pinto de Carvalho. Alfred Simon. J. J. 2 . HEGENBERG. B. Iniciação Metafísica. J. Tradução de Alexandre Correia. J.. Alexandre Correia. G.A Filosofia na Editora Herder: DE RAEYMAEKER. Trad. G. Pinheiro Machado: A Filosofia no Brasil. 304 pgs. 1964. Tradução edição em HI RSCHBERGER. História da Filosofia na Idade Média. Introdução à Filosofia das Ciências. a edição. 144 pgs. N . FOERSTER... VON. Tradução de Boaventura de Pouso Alto. Higiene da Alma. Simon. J.. Tradução de Jairo C. Simon. 1961. Simon. Individuação. D É C H A N E T . Lazer e Culto. O Acadêmico. Tradução de Lauro Bretones. Educação e Fé.. M. 224 pgs.Coleção Cairoscópio: ALLPORT. CHAUCHARD. P. 1962. Corporal e Evolução. E. 1962. 128 pgs. MARITAIN. G. 1964. 1961. Desenvolvimento da Personalidade. J.. Concílios Ecumênicos. J.. 192 pgs. Simon. Tradução de João Ecsodi. B. J. 1962... 176 pgs. 216 pgs. O Homem em Teilhard de Chardin. 1961. Capitalismo e Salário Justo. J. 1962.. Simon. loga para Cristãos. Ilusão e Angústia. Trevas e Luz na Oração. 1962. M. M. Tradução de Aífonso Zimmermann. 396 pgs.. Tradução de Nicolas Bôer. CHAUCHARD.. Alemanha na Encruzilhada. Tradução de Helmuth A.. -Diretrizes do Pensamento Filosófico. 176 pgs.. Que é Filosofar? Dois ensaios. Equilíbrio e Domínio Sexual. Tradução de Helmuth A. Tradução de Edgar de Godói da Mata Machado. ORAISON. 192 pgs. 118 pgs. 1961. Felicidade e Contemplação.. 1964.. P. 2 . GOLDBRUNNER. 216 pgs. Tradução de Odilon Jaeger. P I E P E R . Tradução de Alfonso Zimmermann. 1964. Tradução de Helmuth A. 200 pgs. K. 1962. BOCHENSKI. 136 pgs. L E P P . a edição. I. W. F. Simon. RAHNER. Tradução de Helmuth A. 204 pgs. N E L L . a edição. Tradução das Monjas Beneditinas da Abadia de Santa Maria. Formç. Dois ensaios. Tradução de Helmuth A. W. A Questão Judaica. P. No prelo. Psiquiatria no Mundo Moderno. 208 pgs. — . No prelo. O. C O M B L I N . 1961.. 2 . 198 .B R E U N I N G . 1962. ROER. Sobre a Filosofia da História. OS Primeiros Homens. 240 pgs. de Moura. JEDIN. 120 pgs. STRAUSS. OVERHAGE. J. 1963. H. Tradução de Carlos Lopes de Mattos.. 1962. Tradução de Helmuth A. ESTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DA EMPRESA GRÁFICA DA "REVISTA DOS TRIBUNAIS" S. À RUA CONDE DE SARZEDAS.A. SÃO PAULO. PARA A EDITORA HERDER EM 1964. .. 38. Em livros de autores vários. inclusive japoneses. e que. espicaçavam a sua mente. a resposta para as indagações que. Capa de SUISHEM TAKAHASHI . a sua curiosidade foi sendo satisfeita. à primeira vista. na História objetivamente exposta. . se apresenta enigmático e misterioso. de há muito. hoje ligados por sólidos laços de amizade. tanto quanto possível fiel. a Herder. da história do Japão. entretanto. tem a certeza de que está contribuindo para uma aproximação cultural é mais íntima entre brasileiros e japoneses. possuidor. " dizia o autor no prefácio da primeira edição. E em 1950 editou. "Meu objetivo consiste em traçar um resumo geral. de boas e más qualidades. a Pequena História do Japão.O autor serviu-se dessas novas circunstâncias para encontrar. como tantos outros. quando não perigoso e host i l . para que nós brasileiros possamos melhor compreender e apreciar o povo nipônico. Lançando agora a segunda edição da obra. . por conta própria. 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