PÊCHEUX, M. Ler, escrever, interpretar

March 22, 2018 | Author: Enio J. P. Soares | Category: Discourse, Michel Foucault, State (Polity), Karl Marx, Marxism


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.,, Michel Pecheux o DISCURSO Dados Intemactonats de Catalogacno na Pubucucao (eIr) (Camara 8rasilcira do Livre, sr, Brasil) Pecheux, Michel. P}]S-I')I'C discurso : csmuuru au acontccimento o i Michel Pccheux; traducao: Eni P. Orlandi - 5 ~ Ediyall, Campinas, ST' Pontes Editorcs. 20m!. Bibliografia. ISBN 978- 85-7113-04]-2 1. /\n,iJisc do discursn I. Titulo ')()-J 2. r .ingiiislica 3. Scrnanrica ESTRUTURA OU ACONTECIMENTO Tradw;iio: Eni Puccinelli Orlandi fBI CDO-410 IndiclO' panl l'ahilugo sistematico: I. Analise do discurso: Lingublica ~. An~ilisc estrutural Lingtilsrica Analise semantica : Lmgllistica 4. Discurso: Analise : Linguistica 410 41 () 410 410 Pontes 2008 no entanto. __ ':'1 l r' <. LER. ·~.:.Marx a prop6sito da interpretacao de sua obra.. nao para se colocar a si mesmo fora do jogo ou fora do Estado(!).entendendo-se 0 "real" em varies sentidos . E supor que .possa existir urn outro tipo de real diferente dos que acabam de ser evocados. existe produzindo efeitos.·r .. e urn saber que nao Be transmite.~ ~..-. urn simples furo no real. o movimento intelectual que recebeu 0 nome de "estruturalismo" (tal como se desenvolveu particular42 43 . c-) I 4.. DESCREVER. 0 tipo de ligac. E procuremos medir 0 que este fantasma sistemico implica.. Vamos parar de proteger Marx e de nos proteger ( nele. -t. I . naD se aprende.nente-estavel nao seja considerado a priori como urn defeito. Logo: urn real constitutivamente estranho a univocidade logica.ao face aos "especialistas" de todas as especies e instituic.- ~ )-~ It r .. e ainda identificar-se ao gesto de Marx.j:. e tambem urn outro tipo de saber. Vamos parar de supor que" as coisas-a-saber" que concemem 0 real s6cio-hist6rico formam urn sistema estrutural...5es e aparelhos de Estado que os empregam. no que ele tinba de mais autoprotetor. analogo a coerencia conceptual-experimental galileana 23. e que... sina. mas para tentar pensar os problemas fora da negacao marxista da interpretacao: isto e. Interrogar-se sobre a existencia de urn real proprio as disciplinas de interpretacao exige que 0 nao-logica'-. Ill.' I . llIK-' "':" en ~~""~ INTERPRET AR L'. nao se en.-' . que nao se reduz it ordem das "coisasa-saber" ou a urn tecido de tais coisas. encarando 0 fato de que a hist6ria e uma disciplina de interpretacao e nao uma fisica de tipo novo. com 0 que dito em outro lugar e de outro modo. colocavam assim em suspenso a produ<. No entanto.. assim como as certezas "cientificas" do funcionalismo positivista. da filosofia. das tecnologias (industriais e bio-medicas). sobre 0 qual 0 pensamento vern dar. sob a inocencia da fala e da escuta. em muftiplicar as relacoes entre 0 que e dito aqui (em tal lugar). 44 politicamente muito heterogenea. veremos daqui a pouco como elas puderam ceder por sua vez a este fantasma e acabar por aparentar urna nova ciencia regia" . II Mas e preciso antes sublinhar que em nome de Marx. Vorstellungen) em proveito de uma pura descricao (Darstellung) desses arranjos. e e Colocando que "todo fato jli e uma interpretacao" (referencia antipositivista a Nietzsche). Restituir algo do trabalho especffico da letra. tomava forma e desembocava em uma construcao critics que abalava as evidencias literarias da autenticidade do vivido".. a fim de se colocar em posicao de "entender" a presenca de nao-ditos no interior do que dito. da antropologia. Spinoza e seu tempo). dos humanismos moralizantes ou religiosos: era colocar em questao essa articulacao dual do biologico com 0 social (excluindo 0 simb6lico e 0 significante). 14-15). as abordagens estruturalistas tomavam 0 partido de descrever os arranjos textuais discursivos na sua intrincacao material e.iies de conteiidos. Ler 0 Capital). era comecar a abrir uma falha no bloco compacto das pedagogias. :1' II o efeito subversivo da trilogia Marx-Freud-Saussure foi urn desafio intelectual engajando a promessa de uma revolucao cultural. . no inlcio de Ler 0 Capital. da politica e da psicanalise) pode ser considerado. nos mecanismos da linguagem. e de inieio aos Grandes Textos (cf. etc . como uma ~ent"tiya anti-positivista visando a levar em conta este tipo de real. Era urn ataque dando urn golpe no narcisismo (individual e coletivo) da consciencia human. moderna. urn ataque contra a eterna negocia~iio de "si" (como mestre/escravo de seus gestos. que coloca em causa as evidencias da ordem humana como estritamente blo-social. As abordagens estruturalistas manifestavam assim sua recusa de se constituir em "ciencia regia" da estrutura do real. (cf. Novas praticas de leitura (sintomaticas. 45 . surgiram desse movimento: 0 prindpio dessas leituras consiste.. de Freud. palavras e pensamentos) em sua rela~iio com 0 outro-si. em torno da lingiiistica.80 de interpretacoes (de representac. pensa os lefeitos e condicoes formals" (p. do vestigio. do simbolo.este fundo duplo do qual a lingiiistic. arqueologicas. uma base teorica nova. minada de urn fundo duplo. 0 "quer dizer" do discurso do inconseiente . AI. ) aplicadas aos monumentos textuais. thusser marca 0 encontro desses tres campos: II "Foi a partir de Freud que comecamos a suspeitar do que escutar. no entrecruzamento da linguagem e da hist6ria. e de Saussure. logo do que falar (e calar) quer dizer: que este "quer dizer" do falar e do escutar descobre. paradoxalmente. Lembro como. desse ponto de vista.. como se sabe. a profundeza deter. e dito assim e nao de outre jeito.mente na Franca dos anos 60. .'s~~~() _~e interpretacao.(. .\ "0 PI niio significa de fato outra coisa que. • . Barthes.: . assim como nos EUA..! Em uma palavra: a revolucao cultural estruturalista nao deixou de fazer pesar uma suspeita absolutamente explicita sobre 0 registro do psicologico (e sobre as psicologias do ego".. I '. . . visivelmente.:.! : '~. esse movimento anti-narcisico (cujos efeitos politicos e culturais nao estao. Para esquematizar: 46 itJi-.. . Derrida e Foucault no dominio anglo-saxao.. Assim. pois. _... " .E. engendrada pelo odio a humanidade que freqiientemente se emprestou ao estruturalismo.. A suspensao da interpretacao (associada aos gestos descritivos da leitura das montagens textuais) oscila assim em uma especie de sobre-interpretacao estrutural da montagem como efeito de conjunto: esta sobre-interpretacao faz valer 0 "te6rico" como uma especie de meta1ingua. . ..~ o enunciado teorico P2 (por exemplo "a ideologia burguesa domina a teoria marxista"). eIa traduz o reconhecimento de urn fato estrutural proprio a ordem humana: 0 da castracao simbolica. por urn estranho efeito de oscilacao. ". e que .:. tanto na Inglaterra quanto na Alemanha.~:.\' I ! quer dizer . 0 mesmo em termos te6ricos que dizer dito de outro modo .... na incllnacao es- truturalista. esgotados) balancava em uma nova forma de narcisismo teorico.". Digarnos: em urn narcisismo da estrutura. da "consclencia".. simulando os processos matematicos. que conferiu as abordagens estruturais esta aparencia de nova ciencia regia". e que 0 deslizamento do estruturalismo politico frances. .:... esse funcionamento das analises estruturais (e em particular do que poderiamos chamar 0 materialismo estrutural ou 0 estruturalismo politico) permanece assim secretamente regido pelo modele geral da equivalencia interpretativa. A sobre-interpreta~iio estruturalista funciona a partir de entao como urn dispositivo de traducao. 1/ Mas ao mesmo tempo.. organizada ao modo de urna rede de paradigmas. E antes de tudo esta posicao de desvio te6rico. transpondo "enunciados empiricos vulgares" em "enunclados estruturais conceptuais". seu desmoronamento enquanto • ciencia regia" (que no entanto continua a produzir efeitos notadamente no espaco latino-americano) coincide com urn crescimento da recep~ao dos trabalhos de Lacan. do "comportamente" ou do "sujeito episternico ").". Esta suspeita nso e. pela reinscricao de suas "leituras" no espaco unificado de urna I6gica conceptual..". • . a intelectualidade francesa vita a pagina". negando como de habito sua pr6pria . no 'memento preciso em que a America descobre 0 estruturalismo. Esse narcisismo te6rico se marea. p_. II o paradoxo desse inicio dos anos 80._..I . seus ares de discurso sem sujeito. Seja 0 enunciado empirico PI (por exemplo: rosto do socialismo existente est" desfigurado ") -~. desenvolvendo urn resII 47 . e colocar impiedosamente em causa as alturas te6ricas no nfvel das quais 0 estruturalismo politico tinha pretendido construir sua relacao com 0 Estado (eventualmente sua identificacao ao Estado . que a "Teoria" os havia "intirnidado"! Simultaneamente. Este cheque em retorno. Ci> Esse ressentimento e urn efeito de massa. de se por na escuta das circula90eS cotidianas. Encarada seriamente (isto to. atraves de suas relacoes com 0 cotidiano. de outro modo que apenas uma simples "troca cultural") essa aproximacao engaja concretamente maneiras de trabalhar sobre as materialidades discursivas.. tomadas no ordinario do sentido (cf. nos espacos infraestatais que constituem 0 ordinaria das massas. Em historia. por exemplo. sentimento macico face a teorias. Uma reuniao como esta poderia ser a ocasiao para desmanchar alguns desses riscos.. A grande Iorca dessa revisao critica. (mas exprimo af urn ponto de vista que nao me e pessoaI: uma posicao de trabalho que se desenvolve na Franca atualmente 24) eu sublinharia 0 extreme interesse de uma aproximacao. 0 risco de urn retorno fantastico para os positivismos e filosofias da consciencia. De meu lado. em sociologia e mesmo nos estudos literarios. A Invenfiio do Cotidiano. do Estado). implicadas em rituais ideo16gicos. da urgencia as voltas com os mecanismos da sobrevivencia. em enunciados politicos. entre as praticas da "analise da Hnguagem ordinaria" (na perspectiva anti-positivista que se pode tirar da obra de Wittgenstein) e as praticas de "leitura" de arranjos discursivo-textuais (oriundas de abordagens estruturais). nos discursos filos6ficos. especialmente em periodo de crise. De Certeau. para alem da leitura dos Grandes Textos (da Ciencia. te6rica e de procedimentos.e especialrnente com 0 PartidoEstado da revolucao). afinal. Esse projeto s6 pode tomar consistencia se ele permanecer prudentemente distanciado de qualquer ciencia regia presente ou futura (que se trate de positivismos ou de ontologias marxistas). situando os modos e os pontos de encontro maiores. vindo "de baixo": uma especie de contra-golpe ideol6gico que Iorca a refletir.. aparece cada vez mais explicitamente a preocupacao de se colocar em posicao de entender esse discurso. inscrito em uma discursividade logicamente estabilizada. Logo. nas formas culturais e esteticas. obriga os olhares a se voltarem para 0 que se passa realmente "em baixo". do Direito. 48 e 49 . 0 risco que comporta esse mesmo movimento e bastante evidente: e 0 que consiste em seguir a linha de maior inclinacao ideologica e se conceber esse registro do ordinario do sentido como urn fato de natureza psico-biologica. trata-se. suspeitas de terem pretendido falar em nome das massas. 1980). produzindo urna longa serie de gestos simb6licos ineficazes e performativos politicos infelizes. a maior parte das vezes silencioso. com 0 ordinario do sentido. e que nao poderia ser confundido com o covarde alivio de numerosos intelectuais franceses que reagem descobrindo. nem interacao e con- versacional. nesta perspectiva. Isto obriga a pesquisa lingiiistica • se construir procedimentos (modos de interrogacao de dados e formas de raciodnio) capazes de abordar explicitamente o fato linguistico do equivoco como fato estrutural implicado pela ordem do simbolico. no texto La Langue Introuvable (Maspero. no sentido de J akobson e de Lacan. nem discurso. alteracoes. especialmente em L'Amour de la Langue). Esse jogo de diIerencas. Milner em "A Roman Iakobson ou Ie Bonheur par la Symetrie" (in Ordre et Raisons de Langue. Uma descricao. da falta. e que nao posso evocar aqui senao rapidamente.Esta maneira de trabalhar impoe urn certo mimero de exigencias que e preciso explicitar em detaibe. Aparecem tentativas. mas aquilo que colocado pelos lingi. para acabar: I. . tornados no relancar indefinido das interpretacoes. F. a necessidade de trabalhar no ponto em que cessa a consistencia da representacao logica inscrita no espaco dos "mundos normais". Authier) da lingua corresponde a esses "artigos de Ie" enunciados por J. ou") para abordar 0 proprio da lingua atraves do papel do equivoco.iistas como a condicao de exlstencia (de principio). o objeto da linguistica (0 propria da lingua) aparece assim atravessado por urna divisao discursiva entre dois espacos: 0 da manipulacao de significacoes estabilizadas. Paris. p. 1981). A primeira exigencia consiste em dar 0 primado aos gestos de descricao das materialidades discursivas. Isto e. alem do distribucionalismo harrisiano e do gerativismo chomskiano para recolocar em causa 0 primado da proposicao 16gica e os limites impostos It analise como analise da sentenca (frase). J. sob a forma da existencia do simbolico.iistica comecaria assim a se descolar da obsessao da ambigiiidade (entendida como 16gica do "ou . Eu disse bern: a lingua. 51 .. 336): " nada da poesia e estranho it lingua nenhuma lingua pode ser pensada completamente. nem linguagem. normatizadas por uma higiene pedagdgica do pensamento. Gadet e eu. de urn trabalho do sentido sobre 0 sentido. Seuil. se af nao se integra a possibilidade de sua poesia" . Paris. Milner. nem fala. 1982. Isto e. E tambem 0 argumento que desenvolvemos.--escapando·"tq~alquer norma estabelecida a priori.. Certas tendencias recentes da lingiiistica sao bastante encorajadoras desse ponto de vista. contradicoes nao pode ser conce50 bido como 0 amolecimento de urn ruicleo duro 16gico: a equivocidade. etc. nem texto. a "heterogeneidade constitutive" (A expressao e de J. e 0 de tran5forma~5es--do--s(mtido. nao " uma apreensao fenomenologica ou hermeneutica na qual descrever se torna indiscernfvel de interpretar: esse concepcao da descricao supoe ao contrario 0 reconhecimento de urn real especffico sobre 0 qual ela se instala: 0 real da Iingua (cf. A pesquisa lingi.. da elipse. Esta i't'OP[I ..~_-_41~c~!'-§lYQ} (dericando do -j~~rtdico. mesmo at raves de sua inversao proletaria ". como trabalho extraordinario do significante. porque elas estao muita absorvidas If a pelas logicas do cotidiano: no limite. hi ncsta rcgiao discursiva intermediaria.do administrative e das convencoes da vida cotidiana) que oscilarn em torno dela. A consequencia do que precede ~ que toda descricao .. Par nao ter discernido em que 0 humor e 0 trace poetico nao sao 0 "domingo do pcnsamento". ja que ela partilhava com ele implicitamentc 0 pressuposto essencial: os proletarios nao tern (0 tempo de se pagar urn luxe de) urn inconsciente: 2. ( linguisticamente descritivel como uma serie (lexico-sin. segundo as construcoes discursivas nas quais se encontram inscritos os enunciados que sustenram esses objetos e acontccimcntos 2. a partir do momenta em que nos prendemos firmemente 80 fato de que "nfio ha: metalinguagem esta intrinsecarnente ex posta ao equivoco da lingua: todo enunciado intrinsecamente suscetlvel de '\ tomar-se outro.quer se trate da descricao de objetos ou de acontecimentos ou de urn arranjo discursive-textual nao muda nada. considerados como ponto-cego. mas pertencem aos meios fundamentais de que dispoe a inteligencia politica e te6rica.i~9. antecipadamente.. 0 povo . os estruturalistas acreditavam assim na ideia de que 0 processo de transforrnacao interior aos espacos do simb6lico e do ideol6gico to urn processo EXCEPCIONAL: 0 momenta heroico solitario do teorico e do poetico (Marx/Mallarme). diferente de si mesmo. Estc ceratcr oscilante e paradoxal do registro do ordinaria do scntido parece tel' escapado completamente a intuicao do movirnento estruturalista: este nfvel fai objeto de urna avers1io teorica. lugar de pura reproducao do senti do . De passagem. a posicao te6rico poetica do movimento estruturalista e insuportavel 27. que 0 fechou totalmente no inferno da ideologia dorninante e do empirismo prarico. cia tinha cedido. diante do argumento populist a de urgencia.. E nesse espaco que II - pretende e trabalhar a analise de discurso.. as prolctarios. pais. Todo enunciado.G... as propriedades 16gicas dos objeros deixam de funcionar: as objetos tern c nao [em esra ou aquela propriedade . teriarn tal necessidade vital de universos logicamente estabilizados que os jogos de ordem simb6lica njio as concerniriam! Neste ponto precise. os acontecimcntos tern e nao tern lugar.iru entre us dois espacos c tanto mais dift\:=il de determinar TlH rncdida em que existe toda uma ~'11~ illTe't'!pi~a~-_Je __pi'Q_~e~.\ taticamente dcterrninada) de pontes de deriva possiveis. ~ " I IIII . ". Esta concepcao aristocratica. oferecendo lugar a interpretacao. toda sequencia de enunciados e. as massas. velha certeza elitista que pretende que as classes dominadas nito inventam jarnais nada. se deslocar diS-! cursivamente de seu sentido para derivar para um outro (a nao ser que a proibicao da interpretacao propria ao logicamente estavel se exerca sobre ele explicitamente).'. se atribuindo de facto o monopolio do segundo espaco (0 das discursividades nao-estabilizadas logicamente) permanecia presa. de ncgacoes c interrogac.' .. marca. as coisas-a-saber" coexistem assim com objelos a prop6sito dos quais ninguem pode estar seguro de "saber do que se fala". 55 ..alQ . porque esses objetos estao inscritos em uma filia9ao e nao sao 0 produto de urna aprendizagem: isto acontece tanto nos segredos da esfera familiar "privada" quanto no nfvel "publico" das instituic.. se me compreen~.. "! . . - " i. empregado aqui a proposito das disciplinas que trabaIham neste registro. e as Iiliacoes hist6ricas nas quais se inscre\~'em as individuos nao sao "rnaquinas de aprender". rmiltiplas formas de "" '. II: 54 3.e.. ).6es.6es e dos aparelhos de Estado .' v. do interior desta materialidade.I:I:. negar esse equivoco.: . dizer que toda descricao abre sobre a interprctacao nao c necessariamente supor que ela abre sobre "nao importa 0 que a descricao de urn enunciado au de uma sequencia coloca necessariamente em jogo (atraves da deteccao de lugares vazios. mas de uma alternancia all de urn batimento. e as relacoes socials em redes de significantes.<jU<> ~ala. De onde 0 fato que II as coisas-a-saber" que ques- F'\ tionarnos mats acima nfio sao jamais visiveis em desvio. Esse discurso-outro.. E e POT' que ha essa ligacao que as filiacoes hist6ricas podem-se discurso relatado .. nos espacos transferenciais da identiflcacao. . . . -. das narrativas... dos discursos.E e neste ponte que se encontra a questao das disciplinas de interpretacao: e porque ha 0 outro nas socie· dades e na historia. b~~_gando Q. que ai pode haver ligacao.9 fantasma da ciencia regia e justamente 0 que vern. c-. DaD implica que a descricao e a interpretacao sejam conde. ~e~!1l_q1J. em relacao aos da descri. ) 0 discurso-outro como espaco virtual de leitura desse enunciado ou dessa sequencia. .. a insistencia do outre como lei do espaco social e da mem6ria hist6rica..• " organizer em memories. de clipses. E e nisto que se justifica 0 termo de disciplina de interpretacao. dos textos.~.. isto e.<: faa: dizcr que nao se trata de duas lases sucessivas..J nadas a se entremisturar no indiscemivel. etc .de intl:r!ttll!a~iio...t". correspondente a esse Dutro proprio ao linguajeiro discursivo. ..dando it iIU~~!l!E!:_e s£_pede saber da. existencia de uma relacao abrindo a possibilidade de interpretar. . mas sempre tomadas em redes de memoria ) dando lugar a filiacoes identificadoras e nao a aprcndizagens por interacao: a rransferencia nao e uma "inI teracao". j~to ii. " . ~.~ 'r 0 r Por Dutro lado. 1\Q. constituindo uma pluralidade contradltoria de filiac. Elte ponto desemboca sobre a questao final da dlscurslvldade como estrutura ou como acontecimento.. das imagens. como transccndentais historicos all epistemes no sentido de Foucault.« ~ ~ (.- o ponto crucial e que. . em todos os IiIveis. logo como o proprio princfpio do real s6cio-hist6rico.l1fl)prio If problema principal e determinal' nas praticas de analise de discurso o lugar e o momento da interpretacao. -"'r'. identificacao ou transferencia.!!e..( Desse ponto de vista..ele ~. enquanto presenca virtual na materialidade descritivel da sequencia.6es hist6ricas (atraves das palavras. mas de todo modo atravessado pelas determinaeoes inconscientes) de deslocamento no seu espaco: nao ha identificayiio plenamente bern sucedida. para mim. isto e. por urn "erro de pessoa". na medida em que ele constitui ao mesmo tempo urn efeito dessas filiacoes e urn trabalho (mais ou menos consciente. diremos que 0 gesto que consiste em inscrever tal discurso dado em tal serie. Ela sup5e somente que. deliberado. isto e. independente das redes de mem6ria e dos trajetos sociais nos quais ele irrompe. se possa detectar os momentos de interpretay6es enquanto atos que surgem como tomadas de posi~iio..A partir do que precede. todo discurso marca a possibilidade de uma desestruturacao-reestruturaeac dessas redes e trajetos: todo discurso 0 Indice potencial de urna agitac. de uma maneira ou de outra. atraves de sua absorcao em uma sobreinterpretacao antecipadora.:5es sem margens nBS quais 0 interprete se coloca como urn ponto absoluto. por uma "infelicidade" no sentido performativo do termo - e 56 isto e~no caso. esta concepcao estrutural da discursividade desembocaria em urn apagamento do acontecimento.iio de "formayao discursiva" emprestada a Foucault pela analise de discurso derivou muitas vezes para a ideia de uma maquina discursiva de assujeitamento dotada de uma estrutura semi6tica interna e por isso mesmo voltada repeticao: no limite. sobre o Dutro. e nao apenas uma justaposigiio ca6tica (ou uma integracao supra-or. mas de sublinhar que. E mesmo talvez uma das raz5es que fazem que exista algo como sociedades e hist6ria. ligagao s6cio-hist6rica que nao seja afetada. a incorpora-lo a urn "corpus". ganica perfeita) de animals humanos em interacao . s6 por sua existencia. construido ou niio. reconbecidas como tais. 57 . objeto da identificacao. grade de leitura ou mem6ria antecipadora do discurso em questiio. trata-se af.<. isto e.iio nas filiagoes s6cio-hist6ricas de identificacao. A noc. como efeltos de identificacao assumidos e nao negados. A pOSiy80de trabalho que aqui evoco em refersncia a analise de discurso niio supoe de forma alguma a possibilidade de algum cruculo dos deslocamentos de filia~iio e das condicoes de felicidade au de infelicidade evenemenciais. Face as interpret. corre sempre 0 risco de absorver acontecimento desse discurso na estrutura da serie na medida em que esta tende a funcionar como transcendental historico. atraves das descricoes regulares de montagens discursivas. de uma questao de etica e politica: uma questao de responsabilidade.. ° a Nao se trata de pretender aqui que todo discurso seria como urn aer6lito miraculoso. sem outro nem real.
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