Os Lusíadas e o Maravilhoso Pagão

March 27, 2018 | Author: Luisa Castro | Category: Greek Mythology, Love, Religion And Belief, Poetry, Philosophical Science


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Os Lusíadas e o Maravilhoso PagãoLuís de Camões é actualmente reconhecido como o autor que levou a literatura portuguesa ao seu auge numa época em que o Renascimento chegava a Portugal, com as suas sub-correntes , o Humanismo e o Classicismo. Depois de um período de trevas cultural, os humanistas procuraram na obras da Antiguidade Clássica a sabedoria, a estética e a técnica e registou-se um grande esforço na reavivação desse espírito e valores, com a criação de obras que assentavam nas características e estilos antigos, nos quais está incluída a epopeia. O género épico é então um género narrativo que remonta à antiguidade greco-latina, sendo os seus expoentes máximos, Homero (Ilíada e Odisseia) e Virgílio (Eneida) sendo que um dos principais aspectos da sua estrutura é a presença da mitologia greco-latina, ou seja, o maravilhoso pagão. Presume-me que na base da utilização desta característica tenha estado a necessidade de explicar certos factos de forma a manter a heroicidade dos mesmos, visto que a epopeia tem tradicionalmente como tema a retratação de uma lenda ou de um mito, que por sua vez são narrações que combinam a realidade com o fantástico. No entanto, o tema proposto a ser cantado em Os Lusíadas não tem qualquer contribuição do maravilhoso ou do fantástico. Camões quer contar a história de Portugal sendo que o plano principal da sua obra será a viagem de Vasco da Gama à Índia; num tempo em que o Cristianismo prevalece; e, ainda assim, servir-se-á desta característica duma maneira de que outros se tentaram desviar, como John Milton, que substituiu o maravilhoso pagão pelo maravilhoso cristão (anjos, demónios, etc.). Dito isto, então que papel tem o maravilhoso pagão nesta obra ? 1 que tem prudência. Muito façais na santa Cristandade: Que tanto. como proporciona um contraste com as personagens não-fictícias (os homens) que acaba por engradecer estes últimos. este claramente demonstra a sua intenção de exaltar as memórias gloriosas/ Daqueles Reis que foram dilatando a Fé (. dedica uma reflexão ao elogio da expansão em nome da fé cristã. por exemplo. que não só lhe insere um certo dinamismo e coerência. visto que o tema . No entanto este aspecto é conciliado de maneira eficaz e subtil com as suas ideologias cristãs. Poderemos até dizer que a ficção utilizada servirá também como uma camuflagem para a realidade do poeta. Por espíritos mil. a genialidade de Luís de Camões como poeta. mais uma vez. por muito poucos que sejais. A 83ª do Canto IX.. ó Cristo. De facto. Que vós. 2 . Que em Júpiter aqui se representa. mas simultaneamente ultrapassa esse simples estatuto de adorno vindo da imitação . exaltas a humildade! Deste modo. no Canto VII. Portugueses. poucos quanto fortes. O poeta utiliza-o para enriquecer a acção tanto num aspecto estético. Governa o Mundo todo que sustenta. em detrimento dos feitos de outros povos (entre tantas outras referências ao papel cristão) : Vós. Vós..) (2ª estância) e. concretizando o objectivo inicial do poeta.É indubitável que Camões não põe de parte o Cristianismo para escrever Os Lusíadas. logo no Canto I. Camões vai manter o dito maravilhoso pagão por fidelidade ao género clássico da epopeia . revela essa hipótese : ³E também porque à Santa Providência. Que o fraco poder vosso não pesais.´ A escolha sensata do papel do maravilhoso pagão em Os Lusíadas foi crucial para o sucesso artístico desta obra e revela. em estado cru arriscar-se-ia a ser demasiado prosaico. que à custa de vossas várias mortes A lei da vida eterna dilatais: Assim do céu deitadas são as sortes. como num aspecto de conteúdo. Vai-se utilizar o estudo da cultura antiga como um instrumento educativo e formativo que permite ao Homem desenvolver em pleno as as suas capacidades intelectuais e morais. como estilo solene e grandioso que enaltece o herói da sua história. e o herói individual. parece óbvia para este fim. reflecte o novo espírito individualista e antropocêntrico dos cultos O Homem é a medida de todas as coisas . os principais acontecimentos da vida.´ In Wikipedia . A epopeia de Camões destaca-se das outras suas antecessoras sendo que uma das razões para isso seja a classificação de herói na sua obra. o povo português. Camões discrimina dois tipos de herói : o herói colectivo. Vasco da Gama. O mito procura explicar a realidade.wikipedia. translit. "mithós") é uma narrativa de carácter simbólico. semi-deuses e heróis. os fenómenos naturais. 3 . A intenção de Luís de Camões de escrever sobre os descobrimentos portugueses deriva deste mesmo pensamento centralizado no Homem e por isso a escolha da epopeia.org/wiki/Mito O Humanismo. relacionada com uma dada cultura. sub-corrente do Renascimento.Mitificação do Herói Luso em Os Lusíadas Um mito (do grego antigo .http://pt. Ao contrário de Homero ou Virgílio que cantaram um só herói. as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses. pois criado Tendes em mim um novo engenho ardente.1ª estância: o poeta propôe-se a glorificar os homens ilustres (portugueses) que se atreveram a navegar pelo desconhecido e que enfrentando perigos e guerras conseguiram edificar um império grandioso. Cantando espalharei por toda parte.) Que eu canto o peito ilustre Lusitano. cantando-os. tornar imortais todos aqueles que deixaram as suas obras valorosas. Tendo assim consciência da importância e responsabilidade que é cantar tal herói. 4 .. onde o poeta apresenta o tema : As armas e os barões assinalados.2ª estância : o poeta quer libertar da lei da morte .. Passaram ainda além da Taprobana. Um estilo grandíloquo e corrente.Analisando a Proposição do poema (Canto I) . Que outro valor mais alto se alevanta. .. considerando-o já à partida num estatuto superior e imortal. Podemos observar que o poeta inicia o processo de mitificação do herói logo na Proposição.) E aqueles. Cessem do sábio Grego e do Troiano (. Mais uma vez o povo português é elevado a um nível superior a todos os outros heróis místicos e deuses. (. ou seja. Se a tanto me ajudar o engenho e arte. A quem Neptuno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa antígua canta. Invocação) : E vós. E entre gente remota edificaram Novo Reino. . Por mares nunca de antes navegados. . Em perigos e guerras esforçados. Tágides minhas. que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando. ultrapassando as expectativas humanas. Que da ocidental praia Lusitana. que tanto sublimaram. Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mim vosso rio alegremente. o poeta pede inspiração e auxílio para escrever num estilo grandioso que ele espera ser o merecedor ( Canto II. Dai-me agora um som alto e sublimado..3ª estância : expressão do herói colectivo como o peito ilustre lusitano . Mais do que prometia a força humana. De seguida. Desta forma. Que se espalhe e se cante no universo. Se tão sublime preço cabe em verso. Febo ordene Que não tenham inveja às de Hipoerene. Que o peito acende e a cor ao gesto muda. falando-lhe com toda a subordinação e modéstia e realçando-lhe a honra de ser rei de um povo dono de tantos feitos : Ouvi: vereis o nome engrandecido Daqueles de quem sois senhor superno. 5 . e por consequência. No plano da História de Portugal. se de til gente. Mas de tuba canora e belicosa. Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa. que a Marte tanto ajuda. O episódio do Adamastor (Canto V) é um dos episódios mais importantes para a mitificação do herói que. E não de agreste avena ou frauta ruda. os episódios contados visam demonstrar as qualidades intemporais de um povo único : y y y y y y y y Coragem Audácia Liderança Determinação Sacrifício A capacidade de ultrapassar a tão frequente desvantagem em número Valentia Vontade No plano da Viagem. Vasco da Gama. se concentra no herói individual. assumindo uma ameaçadora e ofensiva posição de igualdade que acaba por o derrotar. Os portugueses foram capazes de encontrar o seu esconderijo e Gama enfrenta-o sem se sentir intimidado. Se ser do mundo Rei. à sua mitificação. A chegada à Ilha dos Amores. Dai-me uma fúria grande e sonorosa. Sebastião. Vasco da Gama coloca-se acima do poder dos deuses e criaturas místicas. o poeta cultiva a mitificação. é o auge do processo de mitificação. proporcionada por Vénus. E julgareis qual é mais excelente. são salientados o saber experimental e espírito aventureiro.Porque de vossas águas. No decorrer da obra são inúmeras as referências ao poder sobre-humano do herói. neste caso. na dedicatória a D. Segunda a mitologia. os deuses não se relacionam com os homens. 6 . é-lhe oferecida a honra de ver a máquina do Mundo onde interioriza que o caminho para o futuro é através da conciliação do Amor com o Conhecimento. é recebido individualmente por uma ninfa que por sua vez lhe oferece o seu amor. mas Vénus oferece o Amor das suas ninfas como prémio para os feitos dos portugueses. A viagem levada a cabo por Vasco da Gama simboliza a procura da Verdade e de facto. na Ilha dos Amores. que é levado para a ilha utópica. Esta é o derradeiro reconhecimento de divinação do herói luso. assisnoticias.scribd.filologia.org.com/poesia1.html Trabalho realizado por : Luisa Fernandes.com/doc/3374035/Literatura-Aula-04-Camoes-epico-Os-Lusiadas http://jornadasdomar.com.br/site/?p=blog&id_colunista=23&id_blog=387 http://www.htm http://www.com/doc/33196114/Mitificacao-Do-Heroi-Lusiadas http://www.scribd.org http://www.Fontes : y y y y y y y y Wikipedia.gertrudes. 12ºC2 7 .pdf http://www. nº19.pt/PT/trabalhos/Documents/2006/Cad22.marinha.br/revista/34/13.net/sebentadigital/os-lusadas-mitificao-do-heri http://lusiadas.slideshare.
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