Os Judeus Marranos Do Rio Grande Do Norte

March 21, 2018 | Author: Benner Bezerra | Category: Jews, Solomons, Inquisition, Brazil, Portugal


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Os Judeus Marranos do Rio Grande do Norte 18/7/2005 - Vila Bol A regão do Seridó e o Município de Venha VerInterior Israelita Nas últimas duas décadas, pesquisadores visitaram pequenas cidades do Rio Grande do Norte para registrar o caso marrano no estado. O Seridó, mais precisamente a cidade de Caicó, revelou-se, através desses estudos, uma região onde boa parte de sua população é de origem judia. De fato, como afirma João Medeiros, algumas pessoas da região ainda se dizem ―descendentes do pessoal da Judéia‖. Venha Ver, que se tornou município em 26 de junho de 1992, desmembrando-se de São Miguel, ficou famosa pela tradição judaica que sua população sustenta, mesmo que inconscientemente. Raízes judaicas no Seridó Refúgio dele. Esse seria o significado em hebraico da palavra ―seridó‖. Porém, não é o que escreve Luís da Câmara Cascudo, mostrando a origem indígena do nome da região (1968, p. 122): ―De ceri -toh, sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros‖. Mesmo assim, ainda existem estudos que levantam dúvidas em relação à verdadeira origem dessa palavra. Consultando um dicionário Português-Hebraico, descobrimos que a tradução de refugo para o hebreu é she´erit. Incluindo-se o sufixo ó (dele), temos she´eritó, assemelhando-se muito com o nome Seridó. Existe também a palavra Sarid que significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução sobrevivente dele. Segundo João Medeiros, a variação Serid quer dizer ―o que escapou‖, podendo ser traduzido também por refúgio. Desse modo, Medeiros afirma que a tradução para o nome seridó seria refúgio dele. Além disso, O Jornal de Hoje também veiculou uma reportagem sobre o assunto, falando sobre a possível origem hebraica do nome da região: No Rio Grande do Norte, os Marranos (como também podem ser conhecidos os cristãos-novos) se espalharam pelo interior em municípios como Caicó, Currais Novos, Acari e outros. E com o apoio dos holandeses, que na época também se escondiam dos portugueses porque eram protestantes. Joaquim chama a atenção para a primeira Sinagoga das Américas, construída em Pernambuco, defendendo a grande probalididade dos seridoenses terem origens judaicas. Fontes chama a atenção para o nome Seridó. Segundo ele, Serid + o, significa em hebraico, ―refúgio dele‖. O ―Dele‖ indica que os judeus não mencionam o nome de Deus, por julgarem ser heresia. ―É sagrado, não podemos banalizar‖, frisou Fontes. A dúvida sobre o significado do nome ―Seridó‖ não existe à toa. Pesquisas realizadas na região apontam que lá, independente dessa questão, vivem muitas famílias descendentes de judeus. Sobreira escreve sobre o caso Caicó. (Novinsky e Kuperman, 1996, p. 425) Quando preparávamos o lançamento de um jornal cultural em Recife, a pedido da Livraria Síntese, conhecemos o jornalista Luís Ernesto Mellet, que na época trabalhava na sucursal da revista Veja. O mesmo propôs a publicação de uma reportagem que fizera em Caicó, onde tratava da descoberta de que aquela cidade potiguar fora, em tempos antigos, um reduto de judeus (cristão-novos) perseguidos pela Inquisição. Segundo a reportagem, a historiadora Anita Novinsky visitou a região em 1978 e relatou dados que lhe foram fornecidos pelo Vigário de Caicó. No artigo intitulado Judaísmo em Caicó (1986), Ernesto Mellet nos relata que ―aquela região do Vale do Seridó, teria sido um antigo reduto judeu‖ porque os aproximados 100 mil habitantes do vale guardam fortes características genéticas da raça, e ao longo dos séculos, ainda cultivam costumes semitas, como amortalhar seus mortos e batizar seus filhos com nomes bíblicos do Antigo Testamento. [...] o vigário de Caicó, padre Antenor Salvino de Araújo, 45 anos, está convencido de que a região fora ocupada por judeus no início do século XVI, foragidos da perseguição anti-semita da Europa. [...] A fisionomia do povo [...] e seu costume de evocar sempre o nome de Deus e não o de Jesus Cristo, e os freqüentes sinais semitas, como os candelabros de sete ramos e a estrela de David, encontrados em antigos lares da cidade, só aumentavam sua suspeita. que foram passadas a eles por seus ancestrais. o Rabino visitou diversas cidades pequenas do Rio Grande do Norte e relatou vários indícios da influência israelita nos costumes da comunidade de Venha Ver. antes do pôr-do-sol. Cukierkorn cita. para que o sangue seja retirado totalmente.. no caso das velas. predominante na região. Descontente com esse namoro. que em meados da década passada abandonaram o cristianismo e abraçaram o judaísmo. (. o fato de as mulheres acenderem duas velas nas sextas-feiras antes de o sol se pôr. Venha Ver é famosa pela tradição judaica que possui. A origem do nome da cidade é explicada de várias formas pelos habitantes mais velhos. foi informado por uma escrava que a moça estava proseando com o namorado. Como encontrado no site da Cabugi. preferindo permanecer na religião católica. escreve o Rabino brasileiro Jacques Cukierkorn ao relatar sua visita ao povoado em 1992. lembrando muito a prática judaica. além das rezas católicas. disse a escrava enfrentando o revoltado patrão. Durante sua estadia. O motivo dessa superstição é a proteção da casa contra espíritos maus. assim como proibido no antigo testamento. Cukierkorn ficou sabendo que. Seus lares. O próprio Cukierkorn afirma que algumas pessoas levantam a hipótese de que o nome Venha Ver também seria uma deturpação de uma frase que mistura português com hebraico vem havér (com h aspirado). mas em lugar onde não possam ser vistas. Por exemplo. o significado desse termo.com. lembrando a mezuzá. essa hipótese não surgiu à toa pois a região possui marcas fortes da influência judia. Apesar de serem católicas praticantes. O Rabino tentou saber como eram essas orações. as pessoas da cidade se recusam a se ajoelhar na igreja. O povo toca ou beija o saquinho quando entra ou sai de casa. O fazendeiro não acreditou na conversa da escrava. mas as pessoas se recusaram a lhe revelar. A preocupação em esconder as velas é resquício do medo da já extinta Inquisição Católica. como ele mesmo relata no artigo ―Shearching for Brazilian Marranos3‖ em 16 de fevereiro de 1997. Esse mesmo ato é praticado pelas mulheres judias na mesma hora. já tendo sido motivo de algumas reportagens. As velas são acessas em seus lares. em seus lares. contêm figuras de santos. elas são acesas para que os bons espíritos protejam seus lares e não para celebrar o início do dia sagrado. Cukierkorn relata ainda que muitas portas frontais possuem uma estrela de Davi. É comum ver um pequeno saco com areia pendurado à direita nas portas de entrada das casas da cidade. pois havér em hebraico quer dizer colega ou amigo. significando ―vem amigo‖. as pessoas de Venha Ver se recusam a comer carne contendo sangue porque isso é ―carregado‖ Ninguém soube explicar. exatamente. Assim como no caso do Seridó. o Rabino percebeu que eles não comem carne de porco. Quando um pai está abençoando um filho. Em relação às práticas religiosas. Ao procurar por ela no dia de sua partida. Em 1992. mantidas inconscientemente. como já foi dito. carne de animais de caça ou frutos do mar. mas cruzes são raras. Outro costume alimentar da população é não comer pão durante a primeira semana de abril. As pessoas sabem da ascendência mas não vêem motivos para um maior envolvimento com a cultura hebraica. ele põe as mãos nos ombros ou na cabeça da criança. Venha ver. freqüentemente. algumas pessoas da cidade pronunciam orações privadas e solitárias. que não teve outra alternativa a não ser chamá-lo para comprovar pessoalmente sua informação.Outro fato tão ou mais importante que o acima descrito foi a conversão de algumas famílias do Rio Grande do Norte. Como Cukierkorn escreve. objeto que os judeus fixam nos batentes de suas portas. inclusive o padre Antenor Salviano de Araújo.) Percebe-se que um bom número dos habitantes da região conhece a própria origem judaica. a mulher de Venha Ver acende duas velas‖. Os costumes do município de Venha Ver ―Toda sexta-feira à noite. Isso lembra a prática judaica de não comer alimentos fermentados durante o Pêssar. o fazendeiro decidiu mandar sua filha para outra região. Elas também se . que marca o início do Shabat. ela é morta cortando seu pescoço com uma faca e não o torcendo. Em relação aos alimentos. mas ele atribuiu isso a algo espiritual.. a explicação mais contada se refere ao namoro entre a filha do fazendeiro e um dos seus escravos. Contudo. Quando vão comer uma galinha. as práticas judaicas da cidade adquiriram um sentido mais supersticioso. a páscoa judaica. trouxeram outra cultura. O relato de Cukierkorn descreve Venha Ver em 1992. outra tradição de Venha Ver. DIASPORA — As primeiras notícias de migração de judeus para o Brasil são de 1499. que tem grande semelhança com a palavra ―sinagoga‖. Esse lugar era chamado de ―snoga‖. Por estarem mais distante do ―novo‖. vindos para Venha Ver em busca de emprego. contribuiu para a conservação dessas práticas antigas. 16. Muita coisa mudou desde que judeus chegaram ao semi-árido nordestino no século XVI. Os noivos já não ficam até 15 dias sem se avistarem. acabou o costume de salgar carne e conservá-la em um grande pote de barro durante meses. Há dez anos. A Santa Inquisição motivou a migração dos judeus. Outro sinal da origem judaica da cidade vem dos ritos funerários praticados ali. situado em região serrana de difícil acesso até há dois anos. ―Nem pensar. quase tudo é recente em Venha Ver. Até há cinco anos. em 1500. que elegeu seu primeiro prefeito em 1996. conservam essa cultura. que dão prioridade a novos hábitos culturais em detrimento de práticas antigas do povoado. por exemplo. O corpo do morto é lavado e envolto numa mortalha de linho branco. Quando casar. que aos poucos substitui as práticas judaicas. mas depois da cerimônia nupcial se ajoelham diante dos pais para pedir a bênção. diz a estudante Do Carmo Bernarda Soares. os moradores da zona rural são os que mais valorizam a influência d o povo judeu. e teve acesso à Internet há pouco mais de um ano. . Venha Ver é o mais Importante reduto de descendentes de judeus. Como a televisão. isso também quase não existe. Hoje. isso quase não existe. Com a geladeira.recusaram a mostrar onde fica o outro local de orações do povoado. os noivos só se reencontravam coisa de 15 dias depois da cerimônia nupcial. a rede fazia vez de caixão nos sepultamentos. A religião ainda é uma marca forte em Venha Ver. A tecnologia e a chegada de famílias de outras regiões foram determinantes no fim de hábitos judaicos. Cultura dos judeus é mais valorizada na zona rural. e que só agora começam a desaparecer em Venha Ver. existem crucifixos de palha nas portas. Um relato mais atual do lugar foi encontrado nas páginas do mossoroense Jornal de Fato: Tradição Esquecida Nova geração do município de Venha Ver despreza influência judaica e põe fim a costumes seculares Regy Carte De Venha Ver Venha Ver — A influência judaica em Venha Ver (Alto Oeste) vem perdendo força. A isolação do município. Nem todos os costumes judaicos foram esquecidos. a maioria da zona rural. Tradições primitivas do povo judeu. uma peculiaridade do município. explica a parteira Maria Bernardo de Aquino. Hoje. o templo do judaísmo. O povo de Venha Ver inicia os preparativos do funeral já quando a morte de uma pessoa se mostra possível. influenciadas pelos costumes da sociedade moderna. inclusive no nordeste brasileiro. No Rio Grande do Norte. Eram trazidos pela intolerância religiosa na Espanha e Portugal. não vou ficar um minuto longe do meu marido‖. natural de Venha Ver. É para evitar chuvas com ventania e maus espíritos‖. que formaram colônias em várias partes do mundo. Hoje. vêm sendo desprezadas pelas novas gerações. Somente poucas famílias. quase não se pendura mais carne em pedaços de madeira para escorrer o sangue. A evolução da sociedade põe fim a costumes conservados por séculos. instituto da Igreja Católica contra quem se insurgia contra seus dogmas. A ―snoga‖ de Venha Ver ficaria em algum lugar secreto entre as serras da região. 74. Habitantes de outras regiões. O ―novo‖ fascina os jovens de Venha Ver . Conta-se que havia judeus na expedição naval que levou Pedro Álvares Cabral a descobrir o Brasil. Em quase todas as casas. Cada um ficava na sua casa — resquício da tradição judaica. expulsos da Europa pela Santa Inquisição. mas nenhum caixão é usado. que existe além da igreja. A CIDADE POTIGUAR DE VENHA VER E A SUA POSSÍVEL TRADIÇÃO JUDAICA By Rostand Medeiros A pequena e acolhedora Venha Ver. . costumes semelhantes serão encontrados. só que em níveis diferentes de consciência e atuação. O único município potiguar que faz fronteira com dois estados. cujos fundadores. No carnaval deste ano. o enterro dos corpos em mortalhas brancas e os sobrenomes típicos de cristãosnovos. Paraíba e Ceará Uma pequena cidade perdida no interior do Rio Grande do Norte guarda vestígios da origem judaica de sua população. Os costumes da cidade não são exclusivos dela. os habitantes de Venha-Ver (440 km a oeste de Natal) revelam em hábitos cotidianos uma tradição particular. no extremo oeste do Rio Grande do Norte. não só do Rio Grande do Norte. Ao saber que os costumes estão sendo esquecidos ou ignorados pelos mais jovens de Venha Ver por causa da influência do ―mundo exterior‖. um casal de antropólogos franceses e um cineasta americano estiveram na cidade para fazer um documentário sobre o assunto. pode-se pensar que esse mesmo processo de esquecimento existiu e ainda existe em outras cidades ou povoados norte-rio-grandenses. porém. Isso nos faz pensar que em outras localidades. Os judeus colocam seixos sobre as sepulturas com o significado de que o morto não será esquecido. como de todo o Nordeste.Isso já foi tema de matérias jornalísticas na grande imprensa. Mesmo cristãos. eram descendentes de cristãos-novos — judeus convertidos à fé cristã. Esse mesmo processo é notado nas outras regiões pesquisadas como Mossoró e Caicó. e atrai a atenção de estudiosos estrangeiros. Percebe-se que pessoas de outras localidades no estado também possuem as mesmas práticas e supertições. Os sinais mais evidentes da tradição judaica encontrados na pequena cidade pela Agência Folha são a fixação de cruzes em formato hexagonal na porta de entrada das casas. não tem consciência da origem de seus ancestrais. Os costumes de retirar totalmente o sangue da carne animal após o abate e de colocar seixos sobre os túmulos também podem ser relacionados à ascendência judaica dos habitantes. A maioria dos habitantes. em 1811. transmitida há séculos de geração a geração. Venha-Ver seria uma corruptela de ―Vem. Só se chega ali por uma sinuosa estrada de terra. nas fronteiras do Ceará e Paraíba. pôr um seixo sobre o túmulo significa uma oração à pessoa ali enterrada. em português) com o termo hebraico ―chaver‖ (pronuncia-se ráver). companheiro. situado no extremo oeste do Rio Grande do Norte.Apesar da pretensa e antiga tradição judaica. as cruzes de Venha-Ver têm sua origem na mezuzá — pequena caixinha com uma reza que os judeus fixam nos batentes das portas. Muitas . Ou seja. Chaver‖. cuja a grande estátua protege a cidade Em Venha-Ver. que significa amigo. O próprio nome da cidade é uma provável fusão da palavra ―vem‖ (do verbo vir. Na região ainda é comum a utilização de caçuas de couro de boi. A preservação de tradições centenárias entre a comunidade de Venha-Ver foi facilitada pelo isolamento do município. Esses foram parte dos indícios relatados pelo rabino Jacques Cukierkorn em sua tese de rabinato (equivalente a mestrado) sobre a ascendência judaica entre a população do Rio Grande do Norte. atualmente a figura religiosa mais importante na cidade é Frei Damião. bem rígidos e feitos com uma preparação bem tradicional. para o transporte de mercadorias em jumentos e cavalos Para o rabino Cukierkorn. os pedaços de carne são dependurados com uma corda sobre um tronco de árvore. É o que determina a tradição judaica. na forma de tratar a carne animal. como a Estrela de David. a ventania e os raios. a presença das regras da culinária ―kasher‖ — determinadas pelo judaismo. Os sobrenomes mais comuns da população branca de Venha-Ver (parte da comunidade. Esse costume é explicado pelos habitantes de Venha-Ver como algo passado de pai para filho. para que todo o sangue escorra. Nas portas das casas de Venha Ver é normal se encontrar cruzes feitas com palhas de coqueiros. é uma representação antiga de uma Estrela de Davi Será? Cukierkorn vê. Para alguns. a forma como a população coloca estes símbolos. Moreira. fez com que uma ampla população judaica tenha sido forçada a se converter ao cristianismo em Portugal. Na pequena localidade. símbolo da fé judaica. os cadáveres são envolvidos em mortalhas para serem conduzidos até a sepultura. Depois disso. Espanha e também no Brasil. a carne é salgada — prática usual entre os judeus ortodoxos. particularmente nos séculos 15 e 16. Há um preconceito contra o uso de caixão — recentemente introduzido nos funerais locais. alterando sua fé religiosa. A população explica as cruzes nas portas de suas casas como uma proteção contra o mal.delas têm formato hexagonal. notadamente de cristãos-novos. A repressão religiosa desencadeada pela Inquisição. conforme estudo do professor de antropologia José Nunes Cabral de Carvalho (1913 – 1979) fundador da Comunidade Israelita do Rio Grande do Norte. Oliveira e Pinheiro. tem origem negra) são Carvalho. Nogueira. Os judeus fixam a mezuzá nos batentes para demarcar a proteção divina sobre a casa. Logo após o abate de um animal em VenhaVer. . o demônio. de fixação mais recente. sobrenome e comportamento social. benzidas no dia de Domingo de Ramos. para os mais jovens conhecerem a sua história . Rosh Hashaná (Ano Novo). em 1929. no final. o pão de tranças. pelo ex-pastor presbiteriano e lider espiritual João Dias Medeiros. é feita a bênção do vinho e a repartição da chalá (pronuncia-se ralá). afirma Éder Barosh. nas últimas gerações. ―Nós também celebramos as festas tradicionais. Na praça principal da cidade existe uma réplica de uma antiga casa de barro típica da região. No início da cerimônia. Mulheres e homens cobrem as cabeças. Não há rabino. que foi fundado. como o Yom Kipur (Dia do Perdão). Um orador entoa as orações cantadas e seguidas pelos freqüentadores por meio de um livro (sidur) doado pela Congregação Israelita Paulista (CIP). cinquenta famílias no inicio da cerimônia — cerca de 200 pessoas — formam a ―comunidade marrana‖. é celebrado o cabalat-shabat. retornaram à fé judaica. pela família Palatnik e reinangurado. As famílias se reúnem uma vez por semana na sinagoga do Centro Israelita do Rio Grande do Norte. Às sextas-feiras à noite. a cerimônia religiosa que marca o início do dia sagrado para os judeus. São famílias cujos ancestrais eram cristãos-novos e que. velas são acesas e.Entrada principal de Venha Ver Em Natal. A cerimônia é um rito judaico. Pessach (Páscoa). Seu sobrenome original era Barros. Purim e Shavuot‖. em 1979. em Natal e copiado do site http://oestepotiguarvenhaver. eram obrigados a viver numa situação penosa. Os judeus sefarditas. precisava acontecer novamente. os Judeus! Pôr que? (responder esta pergunta poderia ser objeto de um outro artigo). destacando o elemento português. pois. de onde foram expulsos era impossível. viviam humilhados e confinados naquele país. seus bens eram espoliados. Voltar para a Espanha. Eles eram proibidos de deixar o país. buscando profundamente suas raízes. por um lado. . Os povos formadores do tronco racial do Brasil são perfeitamente conhecidos. registrado no Livro de Êxodo. em VenhaVer e Agência Folha. eram obrigados a confessar a fé cristã e por outro. então. que prevê a separação entre as refeições de leite e carne. bem como seguir em frente. tendo à vista o imenso oceano Atlântico. a fim de não desmantelar a situação financeira e comercial daquela época. já quase não havia mais judeus em Portugal. Em 1499. pois estes agora tinham uma outra denominação: eram os cristãos novos. da Agência Folha. quem foram estes brancos portugueses? Pôr que eles vieram colonizar o Brasil? Viriam eles atraídos só pelas riquezas e Maravilhas da terra Pau-Brasil? A grande verdade é que muitos historiadores do Brasil colonial ocultaram uma casta étnica que havia em Portugal denominada por cristãos novos. ou seja.blogspot. o negro e o branco. pois os judeus eram prósperos. O milagre do Mar Vermelho se abrindo. como: o índio. nosso colonizador. Uma ala israelita no Cemitério do Alecrim demarca a presença judaica em Natal.com Fotos – Rostand Medeiros A descendência judaica no Brasil Um povo para ser destacado dentre as nações precisa conhecer sua identidade. Originalmente publicado pela jornalista Andréa de Lima.Os integrantes da comunidade natalense também seguem a dieta Kasher. Mas. Os fatos históricos são muitos e podem ser encontrados em vários livros que tratam com detalhes desse assunto. Lisboa promulgou seu primeiro Auto de fé. Afinal. a situação também se agravava em Portugal com o casamento entre D. o imperador Tito ordenou destruir Jerusalém. Podemos imaginar com que tamanha alegria regressou Gaspar Lemos a Portugal. queremos mencionar a influência judaica na formação da raça brasileira. Já em 1503 milhares de "cristãos novos" vieram para o Brasil auxiliar na colonização. O descobrimento do Brasil em 1500 veio a ensejar uma nova oportunidade para esse povo sofrido. trabalhar. Manoel I e Isabel. também denominados "sefaradim". levando consigo esta boa nova: .. já na diáspora propriamente dita. o Brasil foi descoberto. e criar sua família dignamente. como já mencionado. A derrota final ocorreu com Bar Kochba no ano 135 d. dentre eles.000 judeus foram forçados a confessar a fé católica. destacando-se o édito de expulsão de D. Desde a época em que o Rei Nabucodonosor conquistou Israel. fauna e flora jamais vistos. E é nesses judaizantes portugueses que vieram para o Brasil nessa época que queremos concentrar nossa atenção. Várias atrocidades foram cometidas contra os judeus. e após o batismo eram denominados "cristãos novos". despertando. Mais de 190.C.000 judeus fugitivos e expulsos pela Inquisição Espanhola por meio do decreto dos Reis Fernando e Isabel em 31. continuavam em secreto a professar a fé judaica. Mais tarde. Em 1531. saqueados. principalmente.descobria-se um paraíso. . sendo suas mulheres prostituídas e atiradas às chamas das fogueiras e as crianças tinham seus crânios esmagados dentro das próprias casas. queremos com esta matéria abordar ligeiramente o referido tema. A comunidade judaica na península cresceu ainda mais durante os séculos II e I a. Teria pensado consigo: não seria ela uma "terra escolhida" para meus irmãos hebreus? Esta imaginação começou a tornar-se realidade quando o judeu Fernando de Noronha. aqueles que se diziam aparentemente cristãos novos. no ano 70. Várias leis foram publicadas nessa época. no período dos judeus Macabeus.03. princesa espanhola filha dos reis católicos. Não demorou muito. o leitor interessado que vive fora da comunidade judaica. Assim. Portugal obteve de Roma a indicação de um Inquisidor Oficial para o Reino. e em 1540.1492. que tinham seus bens confiscados. destacando uma lista de nomes de judeus portugueses e brasileiros que enfrentaram os julgamentos do "Santo Ofício" no período da Inquisição. que gozava de grande prestígio com o Rei D. no período dos godos. O tema é muito vasto e de grande riqueza bibliográfica e histórica. em abril de 1500. bem como judaizantes. Assim. apresentando um pequeno resumo da história dos judeus estendendo até ao período do Brasil Colonial. Neste pequeno estudo.C. As relações judaico-cristãs começaram a agravar-se rapidamente após a chegada a Portugal de 120. Manuel. Daí em diante o Brasil passou a ser terra de exílio. uma porta se abriu: providência divina ou não. uma terra cheia de rios e montanha. Na própria expedição de Pedro Álvares Cabral já aparecem alguns judeus. ou seja. então. os judeus ibéricos. determinando a expulsão de todo judeu de sua própria terra. A história confirma a presença dos judeus ibéricos. nessa península. primeiro arrendatário do Brasil. procurava um lugar tranqüilo e seguro para ali se estabelecer. um corajoso português rasga o grande oceano com sua esquadra e. Gaspar Lemos. Manoel I. começaram a colonizar este país. construindo e guarnecendo fortalezas na obrigação de pagar uma taxa de arrendamento à coroa portuguesa a partir do terceiro ano.Naquele momento de crise. apresentando apenas alguns fatos históricos importantes ocorridos no Brasil colonial. porém. demanda trazer um grande número de mão de obra para explorar seiscentas milhas da costa. perseguição e desespero. para onde eram transportados todos os réus de crimes comuns. como qualquer outro judeu da diáspora. Capitão-mor. milhares e milhares de judeus fugindo da chamada "Santa Inquisição" e das perseguições do "Santo Ofício" de Roma. os hebreus começaram a imigrar-se para a península ibérica. Comecemos. como comprovam as leis góticas que já os discriminavam dos cristãos. quando mudavam também os seus nomes. depois de Cristo. Fernandes.Vieira Villela. Em 1591 um oficial da Inquisição era designado para a Bahia. Paula 3299. Beatriz 1276.Leão Lemos Lopes Lucena . Jorge de 2552. Bento 5206. Antunes. André Lopes 5391.Paredes Paz Pereira Perez Pestana Pina Pinheiro Pinto .Chaves Costa Carvalho Castanheda . Ulhoa.Valle Valença Vargas Vasques .Bicudo Cardozo Campos Cazado .Flávio Mendes de Carvalho . Duarte. Heitor 4309.Ed. a Santa Inquisição de Lisboa processava pela primeira vez contra 25 judaizantes brasileiros (os nomes abaixo foram extraídos dos arquivos da Inquisição da Torre do Tombo.Munhoz Moura Nagera Navarro Nogueira Neves Nunes Oliveira .Pires Porto Quaresma Quental . Teixeira. Diogo 4503.página 35 .Soares Souza Tavares Telles .Pioneira Editora da Universidade de São Paulo: Alcoforada. Souza.Moraes Morão Moreno Motta . Beatriz 4580. Franco. João Pereira de 16902. cujas pessoas foram também processadas a partir da data em que a Inquisição foi instalada aqui no Brasil. em Lisboa). dispensando os pré-nomes: Abreu Álvares Azeredo Ayres . Rois. .Esteves Évora Febos Fernandes . Catarina 2304. Henrique 4305. Souza.Guedes Gomes Gusmão Henriques . Ana da 11116. já em 1624. Beatriz de 4273. (Fonte: Extraído do livro: "Raízes judaicas no Brasil" . Teixeira. Guiomar 1273.Martins Medina Mendes Mendonça Mesquita . Nunes.Izidro Jorge Laguna Lassa . Antônio de 5002.Barros Bastos Borges Bulhão . Não demorou muito. É importante ressaltar que nesses processos os sobrenomes abaixo receberam a qualificação de "judeus convictos" ou "judeus relapsos" em alguns casos.Almeida Amaral Andrade Antunes .Carnide Castanho Corrêa Cunha .Vaz Veiga Vellez Vergueiro . Salvador da 3216.Oróbio Oliva Paes Paiva . Souza.Sá Sequeira Serqueira Serra .Diniz Duarte Delgado Dias . Ana 12142. Diogo Laso 1273. Lopes. Lopes Matheus 3504. Antunes. Lopes.Sylva Silveira Simões Siqueira . João Pereira de 16902. podemos citar outras dezenas e dezenas de nomes e sobrenomes. Ana 11618. Os nomes dos judaizantes e os números dos seus respectivos dossiês foram extraídos do Livro: "Os Judeus no Brasil Colonial" de Arnold Wiznitzer . Manoel Espinosa 3508. Favella. Continuando nossa pesquisa.Fonseca Freire Froes Furtado Freitas Galvão Garcia Gonçalves . Diogo 5724. Gonçalves. Souza.Miranda Martins Moniz Monteiro . Maia.Torrones Tovar Trigueiros Trindade .Affonseca Azevedo Affonso Aguiar .Araújo Ávila Azeda Barboza . Costa. então capital do Brasil. Dias.Flores Franco Ferreira Figueira .Luzaete Liz Lourenço Macedo . Por questão de espaço citaremos apenas nesta primeira parte os sobrenomes. Miranda. Nova Arcádia 1992).Ramos Rebello Rego Reis Ribeiro Rios Rodrigues Rosa . João 12464.Castro Coelho Cordeiro Carneiro . devidamente documentados.De uma simples terra de exílio a situação evoluiu e o Brasil passou a ser visto como colônia. Mendes. A lista dos sobrenomes citados acima não exclui a possibilidade da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica.Machado Maldonado Mascarenhas . sendo que alguns foram deportados para Portugal e queimados. por ser naquela época o principal porto. nota-se que grande parte delas se dirigia em direção ao sul. o Brasil tem no seu sangue e nas suas raízes os traços marcantes deste povo muito mais do que se imagina. destacando a preferência pelos estados de Pernambuco e Pará. Constatamos que o Brasil já se destaca dentre outras nações como uma nação que cresce rapidamente na direção de uma grande potência mundial. os costumes. a fé.Todos esses judeus brasileiros. Outros foram condenados a cárcere e hábito perpétuo. que foi o primeiro judeu a ser deportado do Brasil Colônia. há uma outra grande herança de nosso povo. cujo sobrenome constante desta lista acima. religiosidade ou mesmo em muitos costumes. A influência histórica judaica sefardita é inegável. quando esta fé está fundamentada no conhecimento do Deus de Abraão. como. Mas. de Cândido Costa. Isaque e Jacó. Os traços físicos de nosso povo. e reproduzido em As Duas Américas. muitas vezes fixando residência nos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. no único e soberano Deus de Israel. Isto sim tem sido o maior. publicado em Manaus. O brasileiro na sua maioria pode ser caracterizado como um povo de fé. em 1900. o judeu Antônio Felix de Miranda. o que pode ser feito com base nos registros disponíveis nos cartórios. desembarcavam na maioria das vezes na Bahia. Outros subiam em direção ao norte do país. seja necessariamente descendente direto de judeus portugueses. com certeza. foram julgados e condenados pela Inquisição de Lisboa. Mas.C. por exemplo. é . hábitos e algumas tradições são marcas indubitáveis desta herança. É importante ressaltar que não podemos afirmar que todo brasileiro. Acompanhando a história dessas famílias. Esses estados foram bastante influenciados por uma série de costumes judaicos. estudando a árvore genealógica das famílias.) O tratado de Henrique Onfroy de Thoron sobre o suposto país Ophir. cujos sobrenomes estão citados acima. -----------------------------------AS FROTAS DE HIRÃO E SALOMÃO NO RIO AMAZONAS (993 A 960 a. Quando os judeus aqui chegavam. Para saber-se ao certo necessitaria uma pesquisa mais ampla. o melhor e o mais nobre legado do povo judeu ao povo brasileiro e à humanidade. em 1876. ou seja. quer na sua espiritualidade. principalmente. as frotas gastaram um ano entre os preparativos e a viagem de ida e volta.C. grego e hebraico. e ensinaram aos indígenas a mineração e lavagem de ouro pelo sistema dos egípcios. Mas. numa associação de interesses comerciais. Esse chefe não era amigo do rei Salomão. O rei David. está bem narrado quantos quilos de ouro o rei Salomão recebeu dessas regiões amazônicas. Quando chegaram aqui os antigos descobridores. O mister de nosso trabalho é principalmente a exata historiografia. refere-se unicamente ao rio Amazonas. incitando Jeroboão a fazer uma revolução contra Salomão. um grande domínio marítimo e colonial. mas. palavra por palavra. para comandar os trabalhos da construção do templo. Ali. Chechonk vingou-se. 11 e 12. exploraram as regiões dos rios Apirá. para o Egito. Essa "Tríplice Aliança" deu a seus componentes uma certa segurança contra os planos conquistadores dos Assírios. bons diplomatas. Da Bíblia hebraica prova ele. no 3º livro. Assim. e ali se mantiveram durante muitos séculos. apareceu Chechonk com grandes exércitos na Judéia. Estabeleceram ali diversas feitorias e colônias. Jeroboão ficou como rei das províncias do Norte e Roboão. ficou com Jerusalém e a província da Judéia. Depois. Chechonk. em 949 a. a saída e viagem da frota dos judeus. o arquiteto Hirão.um trabalho completo que acabou com todas as lendas e conjeturas a respeito das misteriosas viagens da frota de Salomão. levou Chechonk a maior parte do ouro que Salomão recebera da Amazônia. para o desenvolvimento de suas empresas. descrito por Diodoro. da situação política dos países do Mediterrâneo. dos judeus. sobre a construção. Ambos os países estiveram também em boas relações com o Egito. além de quatro grandes escudos que pesavam 5 quilos de ouro. em toda parte. onde reinava a dinastia dos Tanitas. cap. Os fenícios tiveram sempre muitos inimigos que invejavam as suas riquezas. nunca fizeram guerras agressivas e. do governo do Egito e destronou a dinastia dos Tanitas. Os fenícios mostraram-se muito amigos de seu grande vizinho. rastros da civilização e da língua hebraica. Thoron sabia latim. em Karnac. que é ainda falada nas terras limítrofes entre o Brasil e o Peru.. na qual são narrados todos os pormenores dessa guerra contra a Judéia e enumeradas as peças de ouro que o vendedor trouxe para colocá-las nos templos egípcios. cuja forma popular era sempre Solimão. Paruassu. Também o nome Solimões. com ninguém brigaram. . que nunca foi mais de meio milhão de almas. tem a sua origem no nome do rei Salomão. quando da construção de seu templo. no Atlântico. tendo o rei de Tiro designado um seu homônimo. para o curso médio do grande rio. filho de Salomão. dependeram também. solicitaram alianças políticas e comerciais. e favoreceu as empresas coloniais. É certo que os judeus fundaram nas regiões do Alto Amazonas algumas colônias. Essa lápide ainda hoje existe. No livro dos Reis. e ficaram dois anos no Alto Amazonas. Assim. junto à frota dos fenícios. durante dois milênios. no quinto ano de governo de Roboão. e por isso devemos acrescentar aqui algumas explicações históricas que não se encontram no trabalho de Thoron. que faltavam na Judéia. indubitavelmente. livro dos Reis. espalhado sobre centenas de colônias longínquas. onde negociavam. no Alto Amazonas. tendo este querido repor a dinastia caída. esse povo pequeno. havia fundado um poderoso reino. sitiou Jerusalém e obrigou Roboão a entregar-lhe quase todos os objetos de ouro do templo. tendo deixado. que a narração dada no 1o. e conhecia a língua tupi. da Bíblia. pôde conservar. As viagens repetiram-se de três em três anos. os seus destinos eram dirigidos em Lisboa. É conhecida a grande amizade e forte aliança entre Salomão e Hirão. como também a língua "quíchua". que atingiu seu apogeu no longo governo de Salomão. recorreu a Hirão. que lhes forneceu principalmente trabalhadores. para organizar a procura do ouro e de pedras preciosas. minuciosamente. Quando o Brasil era colônia de Portugal. Parumirim e Tarchicha. cada um. e tornou-se o instigador da divisão do reino judaico em dois Estados. uma grande lápide. O usurpador mandou colocar no templo de Amon. apoderou-se o chefe dos mercenários líbicos. Além de servir-se Salomão da frota marítima dos fenícios. C. refere-se ao tributo que os habitantes de Tiro eram obrigados a pagar ao seu país para manterem por algum tempo aparente independência: "grande quantidade de ouro. bronze e marfim. algumas vestimentas de cores vivas e um delfim". 35 vasos de bronze.missaoapocaliptica.Um documento assírio do ano 876 a.piracuruca.br/ .com/historia_do_brasil_judaismo. chumbo.com. Veja a matéria na íntegra: www.pdf Fonte: http://www. prata.
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