Os Funerais Do Coelho Branco

March 25, 2018 | Author: Luiz Gustavo | Category: Dogs, Love, Nature


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OS FUNERAIS DO COELHO BRANCO - Parte I CAPÍTULO UM. Café e necrofilia, o defunto nunca esfria. Opiniões.As pessoas estão cheias delas. E eu estou cheio delas. Delas e das pessoas. (...) Aqui se escreve um testamento. Aqui se faz aqui se paga. Aqui se nega um juramento. Aqui se nasce aqui se mata. (...) Já eu. Eu não. Eu não quero e não sei. E já nem quero saber. (...) Só sei que pulso. Pulso e sangro. Não sei mais nada. Nem sei se quero. *** Era só um dia igual. Ele abriu os olhos. Sentiu o vazio. Boneco do posto. Cheio de vento. Ele coçou a cabeça. Cabelo ensebado. Ele sente preguiça. Preguiça da vida. Era uma vez uma história. Daquelas sem a mínima graça. Sem porquinho, sem carneiro, sem pato feio. Daquelas que você cansou de ouvir. E cansou de viver. No silêncio os subtítulos são dispensáveis. E o filme é ridículo. Ator podre. Tradução medíocre do título original para o português. Cenários que não se encaixam. Era só um dia igual. *** Segui pela rua da quitanda. Suja. Cachorro magro e velho na porta. E eu odeio pombo. Símbolo da paz. Nunca estou em paz. Penso em um monge budista com o rabo entupido de anfetamina. Ele também odiaria pombo. E usaria cinta liga. Nirvana o caralho. Passo aqui todo dia. Cheira mal. Deve ser o cachorro. Café puro. O pombo da quitanda cisca no chão do bar. Rato com asa. Agindo feito galinha. O tiozinho no outro lado do balcão olha pra mim. Nove e meia da manhã. Deve ser sua terceira pinga já. Tá em conserva. Moribundo no formol. Por isso não morre. Por isso todo dia está alí. Deve ser ele que fede. Calendário de cerveja com mulher peituda. Tão bonita que deve ser um saco. Não tenho saco pra mulher assim. Sorriso branco. Peito e cerveja. TPM, dívida, reclamação. O Photoshop denuncia seu espírito. Prefiro o cachorro, o pombo e o tiozinho. E olha que eu odeio pombo. No meu café não tem mulher peituda. Mas tem um reflexo escuro. Que eu queria esquecer. *** Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava. Sempre me levavam lá pra tirar quebrante. Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda. Acho. Tipo mais lá pra baixo. Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa. Minha mãe achou que era quebrante. A velha jogou o fósforo. Falou que era amor. No dia seguinte foi a mesma merda. Botei a culpa na velha. Depois com o tempo descobri que o problema era o café. Porque café não tem nada a ver com amor. Café desce rasgando e te deixa ligado. Amor não. Amor é tipo leite. Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido. E longa vida tem conservante. Uma mentira embalada. Só parece seguro porque está em uma caixinha. Depois que abre é igual a qualquer outro. Não sei como chorei por aquela ridícula da escola. Ela era horrível. Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado. Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo. E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda. Fica lá em você boiando até sumir. Teu corpo absorve o bom. E o ruim vai embora. *** Caulfield era rico. Ou coisa que o valha. Nunca vagou pelo Brás. Nunca sentiu o verdadeiro tédio, cinco da tarde, no Domingo, na Av. São João. Nunca andou a noite na Luz. Nem escutou mendigo pedindo no trem. Ou pegou fila do Bradesco. Mas Caulfield desaparecia. Antes de chegar do outro lado da rua. Filho da puta. Desaparecia. Maldito. Morro de inveja. *** Nesse livro não tem aventura. Eu sempre volto pra casa. Sento no sofá. Coloco um disco pra tocar. Olho pra TV desligada. Nesse livro não tem herói. Não tem mensagem. E ninguém é salvo. Na banca tem Jornal de Esportes. Odeio esportes. São cerca de cento e cinqüenta passos da banca até minha sala. Sabia também quantos paralelepípedos davam, mas esqueci. Nesse livro não tem romance. Só um dia igual. Que nunca acaba. *** O intervalo é a hora em que você vive. E quando você vive geralmente desiste. É por isso que nunca te deixam parar. Até nos filmes os intervalos são entupidos. Cheios de produtos pra comprar. Coisas pra engolir. Gente pra querer. Música bonita. Felicidade. O intervalo é a hora em que você sabe. E quando sabe geralmente para. É por isso que nunca respirou. Só colocou ar pra dentro e pra fora. O intervalo não é coisa de deus. Porque deus tem controle remoto. Mais de duzentos canais. Incluindo os de putaria. E você só uma tela preta. Em que imagina sua vida Sem poder mudar de canal. Nem parar. *** Bruce Lee era o dono da quitanda. E nem era o primeiro. O pai dele também era Bruce Lee, eu lembro. E esse aí fumava maconha atrás do laboratório da escola. Hoje o pai dele tá jogado num asilo. Falaram que tava gagá, que tinha dado nome pros repolhos e se recusava a vender eles. Dizia que eram seus amigos. Velho zoado. Ganhou apelido de Seu Repolho. Carne aberta e nervos. Eu. O Bruce fuma cebolinha. Reparei que o cachorro nunca entra na quitanda. Disse que ficou sabendo por uma amiga... as bordas do corte escurecem rápido.. Aí o Bruce sabe.) Outro nome. Você só sabe mesmo do que é feito depois que vê. Me disseram uma vez que não tem coisa pior do que ter pena de uma pessoa. Aí o pombo sabe.. *** O telefone toca. *** Eu bebo. O pombo vem. O cachorro ainda está lá. (. Por isso tenho marcas. O mesmo inferno. Quero mais é que se foda. Outra ofensa. Deve ter nojo.. Amigo de repolho.Aí o outro virou Bruce Lee. O pombo vai e volta pro Bruce. Dizem que o álcool dificulta a cicatrização. (. Ele nunca limpa em cima da quitanda.. por isso aquela porra vive cheia de pombo. Vermelho por dentro. Quando olha pra cá sei que olha pra mim. Se eu vejo o Bruce o Bruce me vê. (. pousa na minha janela.Eu. Aposto que fede. Fede quando late no buraco do tatu. .. Outro tapa.. Vai morrer que nem o pai. E sinto as feridas abertas. Ela pergunta como estou.. Por isso não tenho pena dele.) Ando até a janela. ele e seu pombal imundo. Eu não digo nada. Por isso não tenho pena de mim.) Também já tive fratura exposta. ele e todos seus repolhos.. Lembrança pro futuro. Dor. Mais uma vez meu filho. Perguntei do incêndio no meu quarto. Diz que ficou sabendo pela amiga da vizinha da minha tia. A TV desligada. Ou reconstituir um dia. *** Uma vez meu quarto pegou fogo. Café e necrofilia. Lembro bem pouco. *** Levanta do sofá.. fazer escova e andar de monociclo. Ela diz que não sabe do que eu estou falando. Deve também fritar panqueca. Diz que eu preciso me cuidar. Mas odeio muito quando repete. Ela faz piada. Tudo bem mãe. Que é pra eu animar. A cortina em chamas. Enquanto isso Matador e Mata A.. Tudo bem.. Maldito Caulfield. Olha pro fim da rua. O telefone toca. Eu preciso mudar de bairro. Eu estava no berço.. Pergunto pra ela da velha do palito de fósforo.. Tudo ao mesmo tempo se for preciso. É. Nada vai acontecer.. O defunto nunca esfria. O filme nunca para. Ela me viu nascer. mais uma vez.Ela diz que se eu precisar de alguma coisa. Tinha um Mickey azul de borracha que ficou preto. O Grande Irmão te vigia. Queria lembrar mais. quem sabe. Crônicas de Palomar. ou algo assim. Ela me viu nascer. Olha pela janela. . Ela fala que quer me ver bem. Ninguém vai aparecer. Ela perguntou se eu tenho dormido bem. E hoje tanto faz. Senta. Levanta. Pensa. Envelhece. Mas não ficaram famosas. Ela devolveu umas fotos. . Eu não dizia nada. Disse que não era justo. Pensei em toda aquela gente bonita nos comerciais. Nunca. Disse pra eu falar alguma coisa. *** Assustei com o barulho da porta. Eu não sei como vou morrer. Ninguém. Também tive lá minhas feministas. Deseja. A TV desligada. Na teoria do intervalo. Morreu cego e sem pulmão. Perguntou se eu a amava. Tinha levado por engano. Pensei na teoria do café e do leite. O idiota da família. Nunca respirei. Disse que separou. Volta. Um pouco pra cada. Mandou eu ver como estava feliz nelas. Quase caí do sofá.Ainda assim olha. Meu muro é a TV desligada onde contemplo o vazio. Disse que era o melhor a fazer. Pensa. Ela chegou e jogou as coisas na mesa. *** Paixão inútil. Esquece. Janela. Somos iguais. Não vejo adiante. Nesse livro ninguém é salvo. Tinha que ser. Uma pena. Vai embora. Desiste. Esquece. Me xinga. *** O cachorro levanta. Suja. *** Nesse momento ele percebe que a simetria já não diz nada.Ela foi a última. Quatro é par. O velho bebe. Ímpar. Desde que aquele ator de novela. Pena de pombo. O rabo conta? Então um é ímpar. Sonha com um coelho com as quatro patas cortadas. Acende o fósforo e joga no copo. Bruce estica o braço. *** Essa apareceu do nada. Pega uma cenoura. Tenho nojo de cenoura. Senta. Anda coelho anda. O pombo vem. Some. Ela usava uma camiseta preta. Enfiou uma no cu. Pra garantir que não vai ter sorte de maneira alguma. No ombro dela tinha uma sujeira. Existe. Vai. Neste momento então ele deve ser o único coelho no planeta nessa situação. Acaba. Anda logo. Nesse livro não há saída. . Aproveita teu hype. Ela devolve a chave. Acende o palito. Tirou a blusa. Me fez esquecer dos pombos. Me jogou na cama. E agora estou puto porque lembrei dos repolhos. Ponto. Mas sorriem com sinceridade. Deja vu. Eu nunca fui feliz. Ela levantou. De que nada importa. Me beijou. As pessoas sorriem. A TV encerra sua programação. Me falou palavrão. Te dão um sorriso esperando tua grana. Não fala nada. Arrumou o cabelo. Porque? Alguém me explica porque elas sempre estragam tudo no final. O defunto nunca esfria. Nunca respirei. Não pescando felicidade na sarjeta. Na TV desligada uma criança em seu velotrol pedala como se todo tempo do mundo estivesse a sua frente. Não deu desculpa nenhuma. Joga no café. Sensação de eternidade. Quando não é preciso pedalar. Um conhaque. Nunca gostei de leite. As putas sorriem. Dois pontos. Perguntou se eu lembrava como a gente tinha sido feliz. Ela me xinga. Não sei porque vim. *** Desci a Rua Augusta. Três pontos.Soube porque todo mundo já sabe. Me deu tapa na cara. não fala nada. Só o barulho do velotrol descendo as ladeiras. . Eles estão aqui Carol Anne. As mesas na calçada. Só deixar seguir. Por favor. outra vez. Me dizem estar preocupados. Um filho da puta com um violão. Mais limpo. Olho pra rua. E agora o desgraçado canta que quer ser um peixe. É um novo tipo de hippie. Outro conhaque. Te beija e fura tua boca. Na verdade nem se importam. Eles chegam e sentam. Me oferece um emprego. Estão felizes. A raiz do cabelo denuncia a chapinha. Odeia que o passado exista. Finge que não se importa. Ela fala de uma amiga. Ele diz que quer me ajudar a arrumar um emprego. Dá trela pro retardado e ele acredita que é artista. A puta é sincera. . Eu já fiquei com ela.Na mesa ao lado uma roda. Pedindo o dragão emprestado a São Jorge. Ele diz que é meu amigo. A menina bate palmas. E o bobo alegre se sente no Olympia. A menina bate palmas. A felicidade é estética. mais medíocre. Ela fez a sobrancelha torta. Quando você vai parar? Eu não sei. É tudo uma farsa. mais patético. Quer a caixinha do longa vida. Outra vez? É. Ele sabe. Amaldiçoo o inventor do violão. Ela sabe que eu lembro. Não conseguiu seguir a carreira de modelo e paquita. Odeia que eu já tenha visto ela pelada. Quer intervalo. Minhoca bonita com anzol dentro. Mas odeia. A puta sorri. Casal de novela. Não preciso de mais morte. Conhaque. Quer felicidade. . Minha avó me ensinava modos.. Porque no princípio a felicidade é tão concreta que tem peso. o Bom Retiro e o Bexiga. Depois se fez a Luz. Eu tinha passos menores.. o velho. Não importa. o cachorro.Até os pombos sabem. Bruce Lee e seus pombos.. e eu não bebia. o fim de semana e a busca.. a janela. Ele observa ela descansar. Eles sabem de tudo. É. O vazio. Tá fodido né? Ela sabe. No princípio as mulheres são meninas e brincam igual a gente. *** Acho que quando eu era criança essa calçada tinha carpete. você sabe. gosto e cor. Conhece esse corpo como a palma de sua mão. O que você quer? Não sei. Só me procura quando tá fodido. Surgiram a casa. Lembra cereja. os quarteirões eram maiores. E no sétimo dia Juca Chaves riu. Tinha amigos imaginários. Você sabe que eu vou né? Subtítulos dispensáveis. *** Não sei porque liguei.. Todo mundo sabe. Eu amava brinquedos. Tinha medo de deus. Se fez a noite. Porque você não some? Maldito Caulfield. Nem que eu fazia parte de sua piada mais infeliz. Não imaginava que ele era o Juca Chaves. Você é um filho da puta. *** É um hotel simples. Todo mundo sabe. Ou isso foi num sonho. . Não sei porque liguei. E não bebia. até morrer. Nesse bairro em que eu não conheço ninguém. Mas entende. Arouche. Tinha um propósito. E o diabo é o Costinha. Sabe o que ela quer. Pego minha agenda. Ele levanta. Nesse quarto não tem TV. Ele não sabe. Uma vez umas trinta crianças passaram por mim com um boneco. O que ela sente. Olhando para aquele mesmo poste. *** Coloco um disco pra tocar. silêncio. Esperando a colheita maldita. Dorme um pouco escutando ela falar. É tipo a Vila Ré só que mais cinza. Acende o palito e joga no copo. Ela acorda. E malharam. Bebendo sentado na calçada. Teve início e teve fim. É tudo uma grande piada. E o sentido desse livro sem personagens. *** No Cambuci é sempre Domingo. O boneco foi feito pelas mães delas. Não entende. E ainda assim. Contém a lágrima. Como goza. Amarraram naquele poste. Tinha um nome. Desde então eu me pego aqui nesse bar.Esse cheiro. . Janela de prédio é outra coisa. Ele pertence ao lugar. Esse lugar lhe pertence. Ela sabe. Como gosta. Tudo bem. Esse lugar é imundo. Com carinho e dedicação. Pra mim é sempre Domingo a tarde.. sentei. *** Não entendi o porque do presente. Não quero te tratar assim. Não. Que ela? Eu quero mais é que ela se foda. eu mandava apedrejar. Não tô doente. Não te vejo faz um ano. Eu mandava. se essa rua fosse minha. (. não tô. Que ela? Porque mulher pensa sempre assim. Fica aqui comigo? Não. Você andou bebendo. eu vou sair e você vai embora. O telefone é mais rápido. Não entendi o presente. minha vida seria a Disneylândia. Tudo bebendo. Resolveu ficar e esperar o que vai dar. cada Bruce. Não é meu aniversário. como técnico de futebol? Se uma sai outra tem que entrar em campo. Não sei nem porque veio. Ela não merece.. Andei.) Se essa rua. (. Você não me quer. mas me deixa ir. Só pra ver o cachorro levantar. cada velho. Ela fala que quer me ver bem.. E o cachorro não se move. Sim eu sei que dia é hoje.) Anda coelho anda. O defunto nem volta mais pra geladeira. .. Penso Manson e Tate. Você vai atrás dela. Pensei Hy Brasil. Eu vou sair. O ser precede a existência. Você lembra como a gente foi feliz? Se somasse o que pensam todas elas sobre minha felicidade.Penso Sid e Nancy. Cada pombo. Você tá afundando. pensei e tudo mais. Que ela case com o Bruce Lee e tenha um casal de repolhos. Toda essa caralha.Parte II CAPÍTULO DOIS A sua vida é um outdoor que ninguém entende. O pior é o barulho dos carros na avenida.. caso o placebo que procura exista. . fritando panqueca e fazendo escova. (. Ela pede pra eu me cuidar. A cada vez que percebo. Nunca abri aquele presente. Como elas conseguem fazer isso? Pergunto o que foi. definitivamente. Pensei nela no monociclo. Ela quer felicidade. eu quebro copos. não mora aqui.) Tudo seca Buk. Deixa eu trancar a porta.) Pessoas.. buzinas. Não é culpa dela.. Ela chora baixinho. Ela diz que cortou a mão. Ficou lá com as cartas. Ah é.. Cortou mesmo. Suas expressões catatônicas de "tenho um sentido". é sentir que eu estava. tudo seca. Nos cacos de vidro do teu quintal. Cheiro de vômito.) "Guarda-te de ofereceres os teus holocaustos em qualquer lugar que vires. De seus olhares. Você acreditaria se eu dissesse que não sei? O pior não é sentir não lembrar de nada. Me sinto mal. Coitada.. que eu nunca li. Amanheceu com gosto de angústia. (. OS FUNERAIS DO COELHO BRANCO . O pior é lembrar das pessoas.. apesar de tudo.. Seus mundos. Só que eu sei que isso não existe. motores. Está cheio deles.O defunto pede pênalti... me sentindo bem.. Lembrei que ela sempre chorava e o quanto isso me irritava. *** Coloquei a mesa. E que." (. Juca Chaves fica mais sem graça. Deja vu de eu mesmo. Cansei de quebrar copos no quintal. (. Não.. Adeus Sofia. É uma frase parecida. . No final é só o inferno e mais nada.. Cada um tem o que merece.. Tudo bem. Mas no final é só o Costinha.. Vou embora dessa merda. Não há ninguém ali. (.. Palmito e lágrimas.Servi dois pratos. Nenhuma delas. Jucas Chaves Delivery. Quatro semanas adiantas e uma lista de recomendações. não vou.) Esquentei no microondas dois pedaços de pizza. Não era ela. Jogo pela janela. Não vai se matar aqui não né garoto? Garoto. *** É um hotel sujo.. Brindei e o segundo copo tombou na mesa. Tudo bem. só quero paz..) Me divirto com piadas sobre minhas próprias desgraças..) Eu sei.. (. Era a palavra do Senhor.) Eu sei. Cansei de toda essa porra.. Cansei de tocar fogo nos móveis. (. Escorre e pinga em minha sombra. Atiro a cadeira. A campainha toca. Um pra você e outro pra mim. Não havia ninguém ali. Enchi duas taças de vinho barato. *** O telefone toca. E. . Abro a janela. *** Entre a Luz e Júlio Prestes. E se não fosse eu não teria vindo pra cá. Sinto que já estive aqui não faz muito tempo. Penso na capa do Brigada do Ódio. Tudo é sujo. *** Entre dois arranha céus amarrei uma linha fina. Imundo. Escolho aquelas que mais brilham. trapezista. Quando os pombos saem. não vou. a cena é delas. Um cuspe ao acaso. O corredor da morte. acima de deus. E que caminhamos tanto em vão. ainda assim. O vento corta meus cabelos e faz-me. E tudo é sujo. E entre estrelas que observam e carros que transitam.Todo mundo que vem aqui como você acaba fazendo besteira. Desce macio e reanima. Espero anoitecer. hoje.. Tiozinho servindo pinga com a mão cheia de casca. Paredes amareladas nos bares. acima das câmaras.. (. A sujeira faz parte.) Sinto que já vi este lugar. caminho. Carrosel de mosca. gordura no ar e coxinha velha. Porque me sinto imundo. Caldo de cana com mosca.. Pra elas é sempre meio dia. Quinze andares.. Não importa o quanto a prefeitura limpe. É tudo feito de sujeira. Não. Estou acima dos pombos. Churrasco grego. Al Capone é pedinte. Pastelaria de chinês com gordura nos bancos. Sujo de eu mesmo até as orelhas. Putas com celulite. Faxineiras com caras de impressões digitais. Na verdade é mosca pra tudo que é lado. Bêbados rindo sem os dentes. Que diabo de resposta é essa? "É Terça-feira". dependendo do gosto do café. A conta em chamas. A dose. Eu seria ainda o que sou para você? E se eu disser que eu nunca soube nada de minha vida. (. Não pode sentar com a garrafa. Retruco que é um bar. que eu sempre deixei tudo passar por mim e as vezes ia. mas Murphy. Lista das coisas que queria esquecer. . Foda-se a velha. agora sou eu quem joga o fósforo. E é Terça-feira. Afirmam que é Terça-feira.. Tá. Você entende? Ainda assim quer? Pensa... Qualquer coisa pra se livrarem de mim. Você ia querer? Será que ia mesmo? Minha vida é correr contra os carrinhos na montanha russa esperando vencer o impossível e não ser levado outra vez para trás.. Rio Branco.. Juca não gosta de mim. Aceito se aceitarem me vender uma garrafa. (. E eu respiro.. O troco. me odeia. Barzinho com mesas na calçada. Pego meu caderno. A noite as pessoas parecem menos medíocres em seus propósitos. as vezes não ia. *** E se eu disser que eu nunca sei mesmo a direção? E se eu disser que toda vez que eu achei que ia acertar eu na verdade só arrisquei? Você ainda ia querer? Diz.) Porque a noite os pombos dormem. esse sim.) A conta. As pessoas não entendem E eu quero é que se foda. Peço uma dose.*** Duas da manhã me pedem pra sair. Viro o que consigo. Caminho em direção ao centro. Pessoa errada.. E é sempre o gosto do café. "Não trarás o salário da prostituta nem o aluguel do sodomita para a casa do Senhor teu Deus por qualquer voto. Nunca consegui 100% de não dúvida. Agora é tarde pra me mandar pra lá. Eu sequer me entendo. Só sei ser assim.. Só correr contra a brisa pra sentir o gosto da chuva na boca. Nenhum cálculo.. É isso? Nunca morei em uma só casa. Você ia querer? Será que ia mesmo? Eu mesmo nunca sei. Essa tem jeito de ser antiga. Ganho um filho da puta. Sempre vi tudo chacoalhar meus cabelos e me deixei levar. E se eu dissesse que também não quero que ele pare.. Nunca fiquei em um só plano. E ele não pára mais pra mim. Ninguém passou com pressa por mim. e caí no buraco da árvore. Nenhuma teoria. Nada concreto. Nunca cresci. Sempre acreditei em minhas próprias estórias..." Definitivamente lugar errado. *** Num hotel em que as pessoas alugam quartos por 13 reais pra trepar por uma hora tem sempre uma Bíblia no criado mudo. E nunca dormi. grudadas.. cheirando a bebida barata. cheias de manchas. hora errada.Eu não sei nada. Arrisco um telefonema. Agora perdi o trem. porra e tudo mais. Ainda assim eu fugi. Nunca consegui brincar de ter certeza. Ainda? Ninguém esqueceu a sombra em meu quarto. Onde e quando? . Arrisco outro. Eu sempre fui. Enquanto desenho pregos na cabeça da minha foto do RG ela me manda pro inferno. Sempre passei.. Ainda assim segui. porque uma e outra coisa são igualmente abomináveis ao Senhor teu Deus. com páginas rasgadas.. ) Me beija com tanta força quanto me odeia.. Maldição eterna. E sempre digo. É auxílio. Mesmo sem você pedir. Talvez fosse mais simples deixar passar pelo corpo como uma voz cortada de conversa alheia no meio da multidão. Mas não é. Porque é conforto sim.) E no papel que me limpo tem uma frase escrita.. Mas eu tentei "pretend to". *** Solidão mundana. . Mais uma dose. Me diz de uma vez o que você quer de mim. Gosto mais do cheiro que das perguntas... Tá. "E enlouquecerás pelo que hás de ver com os teus olhos. Eu não quero nada. Por todas as vezes em que tentei gritar com a língua presa entre os dentes. eu vou. E sempre ganho outro filho da puta." Faz sentido. Me enche de marcas. Tenha apenas cinco dedos *** Nem foi por isso que eu vim aqui. Me diz antes.A essa hora? Esquece. E ligo mesmo sabendo que amanhecer vai ser uma bosta. E esse cheiro que me faz sentir em casa. ainda que placebo. (. Por isso ligo. Nunca vou querer. Ela chega. Na TV só pega o cinco. E fiz promessas de sol para iludir a sombra. E é certo que a mão que segura o corpo à beira do penhasco guarda mil segredos embora seja fato. (. E são dezenas. Trabalhar para ter a perna da mosca morta entre seus dentes no fim do dia.. Ninguém vinha vender Sentinela de manhã pra ele.. Moscas católicas-apostólicas-romanas. Nojento.. (.. Um dia entope. De fazer piada com todo mundo sem pensar se a vida das outras pessoas querem sua presença. (. É por isso que o Urtigão tinha uma espingarda. E vem tudo pra sua boca. Carol Anne.. E caminhar tem sido cada vez mais complexo de peneira nessa cidade. Todo mundo olha.Absorve pela pele. ... pro seu dente. estômago. A sua vida é um outdoor que ninguém entende.. moscas malufistas. E nunca vai ser diferente... *** Alice esqueceu a blusa. Príncipe errado. pra sua peneira. Didi na TV.) Acendo um cigarro. Tudo passa e só o podre fica preso em você. Ele que ensinou essas pessoas que elas devem achar ter o direito de interagir com quem só quer ficar quieto. Terceiro round. Queria saber o que fazer hoje. Só às vezes. Só penso. Segundo round. queima a alma. ter um sentido qualquer pra me arrastar até o fim do dia. aí eu quero ver. A verdade é que.) Primeiro round. Às vezes penso que o café desce e o amargo fica.. memória. Sei lá.. mas ninguém percebe que tem muito mais ali que cola velha e papel fedido desfigurado pelo tempo.. Conto de fadas errado. anda no sangue. Ele e toda geração "da poltrona". Odeio muito. É uma merda. Muito melhor. Mudo a TV pro canal com chiado. Tudo errado.. espelho. engolir mosca no vento é algo desprezível e eu não entendo como tem gente que faz disso um ofício na vida. O culpado de toda uma geração de pessoas incovenientes existir. moscas neo liberais. .) Então Carol Anne decidiu quebrar o espelho. Outros na outra com a luz e o alívio.. em qualquer parte da equação. e com ela o alívio.. Para cada sensação. não faz realmente a mínima diferença. .Na lâmpada uma fita isolante pendurada e cheia de poeira me lembra de como vim parar aqui. e são odiados por aqueles que estão em qualquer uma das pontas. essa noite eu fui uma puta. Prefiro o chiado. E é aqui que se enxerga a equação em que todos estamos dispostos.. (. Agora ninguém mais conta histórias... e com ela a sombra. Alice estava lá por décadas. (. (. a fatalidade é a fé. (. Surgiu a dor.) Unilateral mundo de Carol Anne.. E. Eu sei. para aqueles que conseguem enxergar a roupa nova do imperador. Ela diz que não presto atenção. (.. E ela torce o pescoço das bonecas. uma de igual valor e força em forma inversa..) A maldade reina no coração de Carol Anne E já não há dúvidas..... também surgiu a corda bamba e o trapézio. em meio a isso.. *** Acordo com ela perguntando alguma coisa enquanto veste a camiseta. Keep Cooler pela metade no criado mudo.. É Carol Anne.. E gargalhou a observá-la virar pó..) E. E outros se equilibram. 6 fev Felipe *** Então surgiu a luz. No espelho um arranhão em meu pescoço. Não presto.) Para os que se equilibram a virtude é a sabedoria.) Alguns estão na ponta da vara onde há dor e sombras.. *** Poltergeist. Para os que são equilibrados. que por tanto tempo só viu o avesso. Não deixo mais no cinco. viver na corda bamba... (. Decidiu mostrar o retrado de Dorian Gray para ela. . Pergunto se quero que ela vá embora. (. Demoro muito pra responder. Flor morta.. Não mente. (. ele comeu morcego. (.. *** Parou e não disse nada. *** A história da minha vida se resume em piadas sem graças que eu tento esquecer.. Por que não levanta e me beija? Me dá um tapa.) Eu gosto mesmo é do Ozzy.Me pergunta de quem é a blusa no banheiro.. Tento pronunciar uma ofensa... Quem vai limpar o quarto de Gregor Samsa? Me pergunta se eu sei que dia é hoje.. Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá e eu não tenho uma metralhadora. Como eu disse. (.) Eu sou o problema eterno de Jack. Me pergunta se o hotel não se importa com a sujeira.) E ela fica. (. Diz que eu não presto. (. já sabia. Me joga na sarjeta. Imagem e semelhança? Mais um motivo pra não gostar de você. Não faz fotossíntese.. Penso que nem sei como ela apareceu aqui. (.... Não leio mente.) Eu quero o veneno do sangue..) Você respira. Me corta de vidro. . Me pergunta se quero ser feliz. A sujeira da alma. Bah.) Fica olhando pra mim feito um vaso. Só não me olha como se estivesse olhando o nada..) Pelo menos Saturno comia os filhos e não ficava fazendo eles de palhaços.. Tampa minha boca.. .. Abraço...) Eu quero língua. E não reflete. Sei que é flor. (. Ela sempre está nessa mesa. Saliva vermelha na pia branca. Vaso só serve pra jogar na TV. Sempre assim. (. (.) Eu lembro. Minha bebida tem nomes refletidos em néon. Cabeça abaixada.. *** Eu? Eu sempre acabo no cuspe com sangue. Percebo.. (.) Vida. (. *** Minha mão pisca rosa e amarela com as luzes.) Amor só é vida se não for pintura.) Não me olha feito vaso. E desabo.) Flor é vida.. Gemido. (. Baba bêbada.. Mas só olha. Um cachorro velho pára e senta a meu lado. Quem quer compra. Paixão.O prego nos dedos. Uma menina na mesa ao lado olha os carros passarem como se esperasse um milagre. Ódio. E todas as vezes eu voltei para tomar os tiros.. ..... Um velho coloca uma nota de dez na máquina de apostas.. (. Quero mão.) Em toda minha vida atiraram em minhas costas.. Sempre olhando os carros.. Pintura fica ali. (. Primeiro não sabe como entrou ali. . Bom dia. E. É tudo uma festa. Nem gelo... Menina ruim sangra.) Pensa. Rodando feliz. Dentro de um liqüidificador.. (. Se queimar não faz fumaça. Nada. Só escorre. Mas vive. esquece que aquilo é um liqüidificador. odeio passarinho na janela. (. O corpo está nadando.) E ciclope não fica vesgo.. O instinto é mais forte. Só o nada. É fato.) Se reflete. odeio sol na planta. *** Funciona em dois níveis.) Bom dia.. Corpo maldito. Passado. (. (. Esquece. um jogo no qual esquecer te faz ficar na superfície.. ás vezes. odeio saber que o ódio passa.. Bom dia.. orgasmo deixando a água te levar.. reflete o nada. E eu fico aqui. Grita. Não enxerga nada.. Mas quando se lembra da hélice..Saca? Nem pensa... Pensa. Não. tirar pó de corredor e limpar pena de anjo sem pau. Pensa..) Olhar do inferno.) Menina boazinha vai pro céu. Com o bom dia. E tudo gira.. (.. (. Come os vermes ou vomita? Fingir de morta ou brincar pra sempre? Nunca sabe o que fazer.O corpo nada para o fundo. Como a gente vê a vida depois do orgasmo. pobre Carol Anne. Quer ler coisa bonita com mensagem então vai ler os livros do "mago" e não a minha coleção de cacos de copos. (. é diferente para cada um. Sabe Winston... Caulfield não te espera.) Esse é o testamento de Jack. .. Pobres ratos... Morre.... Caminho Suave. Pensa.... Olha. 5:7-9. (.) E aí é um só nível. No seu caso são ratos. É só amanhecer com gosto de bolor na boca... Nunca consegue dormir. Devoram a alma. Porque somos muitos. Pobre ciclo.) Regan e seu torcicolo. (. *** Carol Anne e sua dúvida..) Triste Winston. Olha..) Pobre Winston.) Olha pela a janela... Fecha. E depois do campo. *** Te localiza por teus dentes. (. só o vento. Só o vento por dentro. (.. Pensa. O boneco do posto Sartre continua dançando sem luz.. Fecha.) Olha... (.. Pobre Regan não tem mais alma. (...) Fecha. (...) O jipe do padre furou o pneu. Ela diz que eu fiz promessas. Eu vim aqui procurando paz.) Bom dia. E já não mora mais aqui. O chão.) Antes ele do que eu. (. Olha. Alergia. Bateu. *** Sol queima a alma.. Derrapou. Ela diz que cansou.. Eu gosto mesmo é do Ozzy. Olha. Morreu. Abre a janela.. (. A vida. Fecha. . Merda.. *** Ela diz que eu não ligo. Onde eu andei? Quem morou aqui? Cadê meu café? (. Eu nunca disse uma palavra.. Se fodeu. Fecha. Olha em volta. Eu olho para a TV fora de sintonia. Ela diz que vai embora.) Tá cheio de poeira.. Bom dia. (...) Sapo caíu da festa no céu. (. E coço ele com minhas lâminas.. Lava o rosto. Eu não nasci pra isso.) Eu sou o olho necrosado de Jack.) Foda-se mesmo. Marcas de uma época. (. *** Eu sou um estilete sem cabo. O pulso ainda afasta os pontos. (. Encanto ainda rima com enquanto. (.Eu sou o gosto seco de Jack. Quer brincar? Só não fala que eu não avisei. intensidade. Quer segurança? Vai brincar com cotonete. Nação de sapos... Bebo anti-socialmente.) Príncipe de cu é rola.) Lâmina cada dia mais afiada. Só que não entro nem saio da vida de ninguém sem deixar marcas. Sempre vai rimar. Caveiras toscas. . Do que nasci pra ser. Eu curto pulso.. E foda-se. Lembranças de quem sou. sangue... Eu sou uma máquina de ferimentos. Quer pegar.. E todo dia começa de novo. pega.. Sapos.. Marcas boas ou ruins.. Do que sou. E tenho tatuagens feias feitas com motor de boneca e agulha de costura por amigos nos anos 80. Mas marcas. OS FUNERAIS DO COELHO BRANCO CAPÍTULO TRÊS A arte não comove. Quer beijar? Vai ser intenso. Até quebrar alguma coisa. Na real.. ou pelo menos a que valha. E trinta e dois dentes. Rodado pra caralho. E sumo de vista. Que nem aquele carro tosco. só importa ir. Sim. Velocidade. Carro zoado saca? Com trinta e dois anos. Ir andando pra ver até onde agüenta. Esquece o volante. Perseguição tipo de filme fake.. a presença triunfante do vírus da derrota.) . E arrumar. Pra depois quebrar outra. Mas sempre funcionava.Dá a partida. Espelho que não deixa ver o que passou. Abaixa a cabeça.. saca? Sempre dou a partida. (. E pisa fundo. Bambeando na pista. Amortecedor no compasso dos faróis. *** Começa com um pedido de desculpas. Milhares de nomes atropelados nos pneus. As desculpas. Sem cinto de segurança. Meu carro era velho. Mas. Apaga a luz. E eu sempre vou.. Na estrada em que o sentido não importa. Mas com gasolina no tanque. tipo. Fiquei pensando se vou ser pra sempre assim. E dos pisca-piscas. E vontade de estrada. caro caríssimo. Não sei bem como. que esta seja a última. Sempre com lugar no banco. daqueles que quando eu arrumava uma coisa ele quebrava outra. Sem seguro. Cheio de multas. foram erros. eu não tenho vergonha de estar sujo. E eu? Eu sei que está lá. caro caríssimo. . Ergueu a porta do bar. Não. E foram senhores erros. pra qualquer lado em que se pense ir. E sei que não só o reflexo reside ali..E após um longo tempo em silêncio é impossível que imagines quantos gafanhotos guardei na garganta. Nunca o é. o dragão ainda palita Alice de seus dentes. Para alguns uma frivolidade da inconseqüencia. Primeiro cliente. Deito num colchão fedendo a umidade. As pessoas passam. Do outro lado do espelho. Abençoado seja. também entre os dentes. para outros. eu não durmo. Os pombos voam...) Eu ligo.. Conhaque. Mas erros muito bem sucedidos. Óbvio. filosofia de vida. Mas sei. convenhamos. Diz que no final da tarde..) Café... quantas vezes assisti em silêncio contemplares meus erros. Café. Pombos. Pra onde eu vou agora? O que fazer da vida Nancy Boy? (.. sei que não vi quando poderia ter visto. (. 3 reais o prato feito.. *** Como recompor cacos sem cortar as mãos? Como caminhar em frente se cada passo significa a impressão do peso do mundo e o esmagamento do que pode existir de bom. E ah sim. embora não o suficiente. Não. E agora que sei. João Dias... mas parte de mim. Não... E errar é uma arte.. *** Amanheceu na Rua Direita. 15 reais a pernoite. mesmo não podendo ver. eu não pretendo mudar de vida. (.) Não há mais limites e tampouco bom senso. E como existem! E ah. Falta pouco agora. .. o Zeus do fracasso.. Sempre foi. A arte não comove. Ganhar no inverso da loteria. Nunca sem cicatrizes. caro caríssimo. Só o absoluto. caro caríssimo. e pelas quais agradeço. não é nem um pouco bom. para muitos. Buda morava na casa ao lado.. Vão ficar pra sempre em seus calcanhares. Nunca sem essas correntes. você sabe. E não tem chave. O que. Não é difícil.. não aqui.. mas sim o espinho. "Feel it closing in" é? Patético. A poesia não enche o tanque. *** São trinta e dois passos. Era um placebo... Pensou que era simples? Não. (.. Mover montanhas. Vai logo. Aqui reside o nada. E na outra ponta de cada uma delas está um peso que você tenta esquecer. não. *** Para se errar com classe o erro deve ser magnânimo. Nunca sem marcas.Maldito Caulfield. quem dera eu cometer o mais perfeito dos erros.. e aí sim minha loucura seria a mais sábia entre os homens. pois afinal. Tranque as janelas. até para o erro existem expectativas. quem me dera ser tão capaz quanto as pragas que cospes em meu nome. Sim. manche meu sangue que dele respirarão as flores que avivarão teus olhos.. A flor de Lótus não nasce de meu passo. incontrolável e irremediável nada. Nunca encheu. Seria estrela que vive no escuro sem brilhar. o Alah do equívoco.) Caro caríssimo. Não há mais sorrisos com zero porcento de cáries. Quem dera eu ser o Maomé da falha. . Então são trinta e dois ou faltam vinte e oito? Contagem regressiva? Você escolhe. Estão nos ossos. abaixo a cabeça e espero a morte. eu só vivi. Tá difícil? São só trinta e dois.. Eu sou um estilete sem cabo.. As correntes.Não estão presos na carne. Mas eu. Bizarro modo de alterar o curso da história. os trinta e dois. Tudo. Me sinto aquele garoto que não tem nada o que fazer e atira tijolos na Dutra por cima das passarelas. (. Quando você desloca o ombro dói pra caralho.) Meia noite na estrada Jean Paul Sartre se torna um inseto no vidro do carro... Alice volta e me xinga. Nem sei porque as vezes falo certas coisas. O que os amigos vão dizer.. Diz que fez planos.) Meia noite na estrada atropelo Nietzsche como se fosse um cachorro velho.. as ampulhetas. De acordo com as pesquisas a média final são sessenta. só pra ver se provoca algum tipo de acidente envolvendo pessoas que desconhece. *** Alice dá as costas. Tanto faz na verdade.. Deu pra sacar? Dói pra caralho. .. (.. Quando você corta a boca sangra. Você não era assim. *** Meia noite na estrada eu pego meu carro. Porque era linda. Mas é a sina. caro caríssimo? Nada. E eu tenho um copo vazio.. meu amigo imaginário. Alice era culpa da CIA e do ácido nas papinhas. Por isso poupe-se. Alice narcoléptica. (. as vezes. Amor da mamãe.Mãe.. É o preço a pagar por sermos filhos de uma lógica incompleta que defende criadores sem criação. (. (. eles estão aqui Carol Anne.. Sou uma pessoa absolutamente atormentada. Nesse hotel que nem o cinco pega. sentindo cheiro de mofo e ouvindo filosofia teletubbie sobre relacionamentos fúteis. não me suporto.) Outro dia estava filosofando bêbado com um amigo e cheguei a conclusão de que a CIA colocava ácido nas papinhas de algumas crianças. *** O que me impede. Eis a sua resposta... . E um saco de Jó. e nele sempre a Barbie conseguia o Ken que queria.. Não nasci para acumular sorrisos de conveniências nem tapinhas nas costas. E. por isso.. Nunca fico quieto. Juca.) O fato é que nunca consegui entender porque a gente não supera certas coisas. Gregor está rastejando pra fora do quarto. (. Assim elas viajavam pro resto da vida. só o triunfo da incoveniência. (..) Não nasci para flores eternas. caro caríssimo... Ninguém em sã consciência estaria em um hotel imundo do centro. O caminho da colher à boca era colorido.) Sim. meu filho. *** Eu nunca paro. Galinha sem ovo.. Tudo culpa da CIA.) Porque aqui..) Vai com deus... (. Eis minha declaração de independência. hoje amo esta Alice como se nossa respiração dependesse do mesmo compasso. Penso Taxi Driver. "I will give you even my body. o bom caminho. com sua boca suja e seu cuspe na minha cara. Portanto imundo.. Mas os passos vacilam e embriagada seja a questão. Já disse isso né? Apago o cigarro. Foda-se. da parte boa do Bexiga.. Nem que seja paixão pelo nada. Spiritwalker". Odeio a cidade quando desperta.Não tia. Pigarro na garganta. Maldito seja aquele que inventou as escadas. Mas na verdade é perto da Sé.. Minha vida resume-se a uma montanha russa de descasos. pelo menos elas são o que são.. Bonito.. de costas para o mundo. As pessoas não deviam ter nojo das baratas. Ele e seu bigode muito feio. Eu sou o avesso de eu mesmo e meus olhos queimam em descrenças. Juro que eu queria. O café abençoa as blasfêmias. Jás as baratas.) Nesse hotel em que Carol Anne me protege. É. não dou minha bebida pro santo. Odeio a vizinhança. acho mesmo.. E não. Não me cabe a clemência. Sequer lembro o dia em que tudo passou a ser desse jeito. Um Drink No Inferno. Tem muito mais sujeira nas pessoas do que nas calçadas. tipo aqueles bonitinhos. . "dusty" e nunca com o gosto que você quer que ele esteja. *** Olho no asfalto. Puro. Sério. Nem que seja paixão pela queda. De canto do olho. só tenho dinheiro pra pagar a minha diária. (. Nada disso me tira a vontade de assustas as pombas na calçada quando quase 6 as padarias abrem e eu passei a encarnar 24 horas tudo o que mais amo. Seria considerável se não fosse tão cinza... foda-se a boa postura. Nada faz sentido. Mas hoje eu queria uma Regan. a boa virtude. O próprio Nietzsche morreu cedo. a passividade à vida sem paixão. *** É um bar perdido. E. Enfim.) Tadinha. Olhando pela janela.Entrei ensopado. A gente cresce com a idéia de que tem que acreditar em alguma coisa mas não imagina que a maior certeza de nossas vidas é que essa coisa. demorou até pra entender que eu gosto de fazer merda. Admirável Mundo Novo. Me chama de senhor. Já fui utópico e idealista o suficiente pra abastecer quarenta anos adiante. se todo mundo fizesse tudo certinho.. Nunca consegui ter uma vida calma e sempre fiz merda. Nunca tive vocação para bom menino politicamente correto.. vai ser arrancada da gente sem piedade.. Porque. é o intervalo. E é assim que a gente se torna adulto. Fora isso.. eu já me decepcionei o suficiente com as pessoas pra me importar com o que elas pensam ou não sobre o que sobra de minha vida. E. Ninguém é salvo. E essa perda não foi nada suave. Um whisky. nunca nada ia ter mudado na vida de ninguém.. Alice suspira. Agora me reservo o direito à descrença.. E falta alguma coisa. Muita coisa perdeu o sentido pra mim. Perdendo os sonhos. . E só o que resta pra gente. de boa. qualquer que seja ela. Com inveja dos pombos quando eles somem de vista. se você pensar direito. O garçom sorri. seguir em frente causando o maior estrago possível. Pendurei a jaqueta. Vai entender. Nunca consegui escapar de estar envolvido em todo tipo de problema possível. Nesse livro não tem fim. *** Nesse livro não tem história. A teoria do intervalo.. Sinto muito mais sinceridade na sujeira explícita. na real. nesse sentido. Sempre falta. Só um corpo parado.. Por um momento desejei mais estar em um bar daqueles podres da Armênia do que qualquer outra coisa no planeta. É estranho pensar assim. Me sinto mal. (. Anestesia geral. Só que ele estava errado. reside um sorriso sarcástico. Então sei como tudo vai terminar. Em minha vida. Em meu sorriso sarcástico guardo todo um mar de pecados. (. Na verdade eu não sei... caro caríssimo. em meus pensamentos. sangra. e ele uma cadela velha. Ou para tirar outros da cabeça. caro caríssimo. E repetia seu nome para lembrar quem era. Talvez decifrar tais hieróglifos facilite a queda. caro caríssimo. Uma vez provada não desejarás outra coisa.. O cheiro que tanto adoro.. em meus passos. Eu subi a montanha e não vi nada. o topo é só dor. seca e arde.. E bêbada.(. Na minha boca amaldiçoada reservo um sem fim de pragas. Só que o topo. Nada. *** Ele saíu e não entendeu nada. caro caríssimo.) É pegar ou largar... talvez o entretenimento da escalada me distraísse o suficiente para não pensar nas dores. Não entendo sequer a minha. Ela pergunta o que eu tenho. Se preferiria continuar escalando sem chegar ao topo? Talvez. . caro caríssimo. E este nada que tem em mãos.) Deito e abraço seu corpo quente. Não entendo mais sua língua. *** Eu vivo no limite.. Eu declaro estado total de anestesia geral. *** No meu doce mar de pecados. Então decidi pela mudança de sintonia. E não me vejo vivendo de outra forma. E eu sei muitíssimo bem o que há lá embaixo porque vim de lá. E descer é muito pior porque se conhece o caminho. é o raio-x de uma vida esfaqueada pelas coleções de tampinhas de garrafas e injúrias. um sem fim de maldições. Porque a vida imita a carne. Era o inferno. E entre minha pragas cultivadas. Porque nesse livro não tem nada pra mim. Deve ser culpa da CIA e das papinhas. Ou sim. todos se calam.. E deu tapas na cara clamando sabe-se lá o que. Digo que não entendo. Na ladeira escura e imunda. Acordou e virou cadela. Virou a esquina. O defunto nunca esfria. Ou está doido. Lamentando existência.. E diálogos fluem. Vomitado. filho da puta. os olhos param. juro que não.E sujo. Repetindo seu nome. é você? Não. Velha. Vai ficar bem? Claro que sim. Quem sou eu? Outro tapa na cara. Só pode estar. Porque quando as luzes rodam. Ou os dois. Bêbada. Me deixa aqui. *** Alice me fala de Alice. Suja. Diz que sempre me quis bem. E vai passar o resto dos dias. Ela passa a mão em meus cabelos. Com três cabeças. Guardando a porta do inferno. Você tá bêbado. Acordou e virou barata? Não. . Digo que ela me deixou. Depende do dia. Alguém levanta pela gola. E é verdade. Mais um tapa na cara. No escuro vexame pediu pra lhe darem um tiro. Cara. Nessas horas nunca se encontra quem o odeie o suficiente. Não entendo mesmo. Ha!!! Snake Eyes!!! Eu não estou pedindo perdão. Abraço de Alice.. Será que não entende que não é com mais impulso que se pára a roleta? 3000. Perde tudo. Pulo em cima da máquina e grito. *** De uma máquina podre encostada no canto da padaria vem um som de telejogo. dobra porra nenhuma nem nenhuma caralha dessas. Winston. Tem por toda a cidade. Engole outra nota. Mas não há de ser nada.Acende o palito e joga no copo. Sala 101. Máquina de hipnotizar velho. Perde tudo!!! Por favor!!! *** Eu me lembro dos dias em que o sangue nos lábios não cicatrizava as palavras. Acompanho de longe. 1000. Russo. A esperança é a única que morre *** .. 5000. Sussurra em meu ouvido. Dobra. Outro jogo. Dose. Dose. Na tela a roleta gira. Isso!!! Não quero 3000. Confie em seus passos. Jogo o velho pro lado. Olha nos meus olhos. Repete. Dobra. Age como se nada tivesse acontecido. 3000. Outra dose. 5000. 1000. Não sei que horas são.. Alice. Os copos esvaziam. Buk.. sob a sombra do poeta enforcado..) No prédio em frente uma mulher pendura uma calça pela janela.. que já se faz um banquete de vermes. talvez todo esse tempo de busca tenha servido apenas para preencher a falta de sentido em abrir portas que sempre levam aos mesmos quartos estéreis. não importa qual deles vençam. Vai tomar no cu.....) É.. Os carros enfileiram. se arrastam víboras sedentas pelo sangue do mal original. São João. Na calçada uma menina desfila com seu cabelo ruim e com o passo típico daquelas que ficam felizes se ganham buzinadas da geração "da poltrona"..... Talvez a resposta não exista... Nada além das misérias que se contam entre os olhos que se prendem frente ao espelho. Talvez usemos a resposta para fugir da certeza de que não há nada além disso..) A disputar com abutres em fúria a carne a cair em sua benção.. Talvez a resposta seja vazia como o olhar seco entre os lírios. o verdadeiro tédio. (. Cuspo nos pombos.) Não sei que dia é hoje.. nem da semana nem do mês. . (.) É pegar ou largar. curta e perdida (.) Abro a janela. O ciclo se fecha.Reprises malditas. (. De Alice em Alice. Os pombos observam. quando fez-se nascer outra guerra. Ah.. Av..) Caro caríssimo. nada além da busca. E eu sempre nado para o fundo. (. (. Hotel imundo.. suja. E tudo seca. *** Talvez a resposta esteja perdida entre a razão e a inocência.. Os motoboys costuram... Penso Joelma. Porque a carne imita a vida. Um palhaço para Juca Chaves. (... Cheira pior que o hotel. Eu sou culpado. Thoreau é culpado. E eu finalmente entendo. todas elas.) Desculpa vida. De volta à Palomar.. O cachorro sai. "Brother.. Esvazio os bolsos.. Eu preciso mudar de bairro. caro caríssimo.. Nick observa. nesse jogo de culpas. pelo menos mais uma vez. Regam. Alice. O velho entra. Ela diz pra eu ligar..) Uma risada curta e nervosa. my cup is empty".. Whitman é culpado. 3358-41. Essa alma vadia é mais forte que eu. Outra abre a janela. Abrem o bar. Cortaram a luz. Desce macio e reanima.*** Uma vizinha me olha através da cortina. Lavo o último copo sobrevivente. Sem exceções. (. Se aprendi algo nessa trilha é que todos somos culpados. caro caríssimo. Olho pelo vidro. E. porque o peso é demais..... Rimbaud é culpado e até o retardado do Bukowski é culpado. . Sento no sofá. Amanhece. Quatro da manhã.) Abri a porta de casa. Tem um recado embaixo da porta. Dezenas de guardanapos e flyers com frases que anotei pra lembrar de esquecer. você é culpado. eu dou o primeiro passo.. Sempre.. e quero respirar sem peso.. Meus olhos coçam.. Carol Anne. Recolho as contas amontoadas no portão. (. Os pratos na pia tem um algodão doce verde. *** Nesse livro não existe vida. (. . joga no copo. a lua é minha.. na boca.Estes são meus diários.. caro caríssimo..) E dane-se seu exército de palavras miseráveis..) Um segundo só é válido quando é pleno. Porque bem sei. . (.) Não agarro desejos com dedos mas com dentes. Conseqüência é muralha. Porque a lua. (. Suor e paixão.... Beijo com gosto de vida. *** Sangue nos olhos.) Acende o fósforo.. E saibas tu. Senão é imperfeito. Passividade é doença. tuas garras são de seda.. Espero que os ame. tua sombra não me assusta.... no tato. (. (.. ou que os odeie do fundo da alma. Não faço meus dias segredos mas transparentes. Senão é morto. Senão é mentira. Utopia é placebo.
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