OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G. O Processo Psicodiagnóstico_archive

March 30, 2018 | Author: rosaclio | Category: Psychoanalysis, Interview, Psychology & Cognitive Science, Time, Thought


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María L. S.de Ocampo e Maria E. García Arzeno Caracterização. Objetivos. Momentos do Processo. Enquadramento. Capítulo I O processo psicodiagnóstico " que teste. psicanalista. a aplicar um teste. e era nestes termos que se fazia o encaminhamento. inclusive. o psicólogo atuava como alguém que aprendeu. Em alguns casos especificava-se. representava alguém cuja presença é imprescindível. A indicação era formulada então como “fazer um Rorschach” ou “aplicar um desiderativo” em alguém. O objetivo fundamental de seu contato com o paciente era. O paciente. “a partir de dentro”. por seu lado. neurologista. a investigação do que este faz diante dos estímulos apresentados. como uma situação em que o psicólogo aplica um teste em alguém. mas que só interessa como objeto parcial.).A concepção do processo psicodiagnóstico. De outro ponto de vista. etc. Tradicionalmente era considerado “a partir de fora”. tal como o postulamos nesta obra. como “aquele que deve fazer o Rorschach ou o Teste das Duas Pessoas”. Deste modo. isto é. Tudo que se desviasse deste propósito ou interferisse . alguém de quem se espera que colabore docilmente. então. pediatra. se deveria aplicar. o melhor que pôde. é relativamente nova. ou testes. o psicólogo tradicionalmente sentia sua tarefa como o cumprimento de uma solicitação com as características de uma demanda a ser satisfeita seguindo os passos e utilizando os instrumentos indicados por outros (psiquiatra. por outro. diante da necessidade de achar uma imagem de identificação que lhes permitisse crescer e se fortalecer. teste por teste. utilizavam-se os testes como se eles constituíssem em si mesmos o objetivo do psicodiagnóstico e como um escudo entre o profissional e o paciente. Surge. Devemos levar em conta que é escassa a confiança que podemos ter em um diagnóstico em que tenha operado este mecanismo. Por isso tomou emprestado. a sobrecarga afetiva pelos depósitos* de que eram objeto. o abandonassem. em geral. toma a maior distância possível em relação a seu paciente a fim de estabelecer um vínculo afetivo que não lhe impeça de trabalhar com a tranqüilidade e a objetividade necessárias. passivamente. seduzir. A não-indagação de tudo o que se referia ao sistema comunicacional dinâmico aumentava a distância entre o psicólogo e o paciente e diminuía a possibilidade de vivenciar a angústia que tal relação pode despertar. Podia acontecer então que atuassem de acordo com os papéis induzidos pelo paciente: que se deixassem invadir. Devido à difusão crescente da psicanálise no âmbito universitário e sua adoção como marco de referência. etc. rejeição. medo. fruto de sua frágil identidade profissional. Este tipo de informe psicológico funciona como uma prestação de contas do psicólogo ao outro profissional. etc. (N.aspectos. compaixão. o psicólogo freqüentemente agia assim —e ainda age . Em nossa opinião. uma necessidade imperiosa de justificar-se e provar (e provar para si) que procedeu corretamente. por medo de não mostrar nada que seja essencial e clinicamente útil. de novo. Terminada a aplicação do último teste. Mas nem todos os psicólogos agiram de acordo com esta descrição. foi a submissão interior que o empobrecia sob todos os pontos de vista. do E. fórmulas. neurologista. para proceder com eficiência e objetividade. ainda que lhe evitasse um questionamento sobre quem era e como deveria trabalhar. Para pô-lo em prática. a ponto de incluir. detalhando excessivamente o que aconteceu. Esta aqui« em seu sucesso era considerado como uma perturbação que afeta e complica o trabalho. para evitar pensamentos e sentimentos que mobilizassem afetos (pena. e com uma ampla gama de detalhes.. etc. à luz de nossos conhecimentos atuais. que o superprotegessem. O preço deste alívio. sem possibilidades de correção posterior. inconveniente porque interferia em seu trabalho. freqüentemente não integrados numa Gestalt que apreenda o essencial da personalidade do paciente e permita evidenciá-lo. em alguns casos. além da imposição externa. etc. tomou emprestada uma pseudo-identidade. Por um lado.) que lhe dava um pseudo-alívio sob dois * Depositar será usado no sentido de colocar no outro e deixar. os psicólogos optaram por aceitá-la como modelo de trabalho. Assim. o protocolo de registro dos testes aplicados.por carecer de uma identidade sólida que lhe permita saber quem é e qual é seu verdadeiro trabalho dentro das ocupações ligadas à saúde mental. traços. tiveram de abandonar o modelo médico enfrentando por um lado a desproteção e. Esses informes psicológicos são. Atrás desse desejo de mostrar detalhadamente o que aconteceu entre seu paciente e ele. sem estarem preparados para isso. desprotegido. uma fria enumeração de dados. esconde-se uma grande insegurança. que é sentido como um superego exigente e inquisidor.). o modelo de trabalho do médico clínico (pediatra. isto é. despedia-se o paciente e enviava-se ao remetente um informe elaborado com enfoque atomizado. então. negando as diferenças e não pensando para não distinguir e ficar. O resultado era uma contra-identificação projetiva com o paciente. O psicólogo trabalhou durante muito tempo com um modelo similar ao do médico clínico que.) O processo psicodiagnóstico______________________________ _ 0 processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas 6 . Muitos experimentaram o desejo de uma aproximação autêntica com o paciente. sem levar em conta que o profissional remetente não tinha conhecimentos específicos suficientes para extrair alguma informação útil de todo este material. já que. pelo fato de ser uma profissão nova. sem levar em conta as características específicas deste.identidade alheia (a do terapeuta) e romper o próprio enquadramento. Esse mesmo atraso significa. atomizado e superdetalhista. No caso do psicólogo que deve realizar um diagnóstico. Em nosso contrato com o paciente falamos de “algumas entrevistas” e às vezes até se especifica mais ainda. o trabalho fracassa.. uma distorção e um empobrecimento de caráter diferente dos da linha anterior. pela formação recebida (pró ou antipsicanalítica) e fatores pessoais.teve de definir suas semelhanças e diferenças em relação ao terapeuta psicanalítico. podendo e devendo ser continente de certas condutas do paciente. faltas repetidas' atrasos. A técnica de entrevista livre foi supervalorizada enquanto era relegado a um segundo plano o valor dos testes. como. se adotamos o modelo do psicanalista (que nem todos adotam). insistência em um mesmo tema. Mas com isto cairemos numa confusão: não dispomos de tempo ilimitado. esses poucos minutos que restam não lhe servem para nada. isto é. mas provocou. esclarecendo que se trata de três ou quatro. se não se colocam limites às rejeições. e este deve ser protegido por todos os meios. Mas. bloqueios e atrasos. embora fosse para isso que ele estivesse mais preparado. assim como uma vez teve de se rebelar contra sua própria tendência a ser um aplicador de testes. silêncios prolongados. Do nosso ponto de vista. Daremos um exemplo: se o paciente chega muito atrasado à sua sessão. poderá aplicar algum teste gráfico mas sem garantia de que possa ser concluído no momento preciso. tais como recusa de falar ou brincar (caso trabalhasse com crianças). Em relação à técnica de entrevista livre ou totalmente aberta. Todo este processo se deu. especialmente quando o diagnóstico e o prognóstico eram realizados em função de uma possível terapia. Portanto. respeitaremos seu timing. etc. devemos deixar que o paciente fale o que quiser e quando quiser. interpretar com base neste material contando com um tempo prolongado para conseguir seu objetivo. já que um teste não concluído não tem validade. “porque é o que o paciente deu”. Pode ocorrer então que prolongue a entrevista. desumanizado. rompendo seu enquadramento. A aproximação entre sição significou um progresso de valor inestimável. Não resta a menor dúvida de que a teoria e a técnica psicanalíticas deram ao psicólogo um marco de referência imprescindível que o ajudou a entender corretamente o que acontecia em seu contato com o paciente. o enquadramento não pode scr esse: ele dispõe de um tempo limitado. Enriqueceu-se a compreensão dinâmica do caso mas foram desvalorizados os instrumentos que não eram utilizados pelo psicanalista. no caso de ser o primeiro sinal de transferência negativa em um paciente muito predisposto a idealizar seu vínculo com ele. nesse segundo caso. aceitar silêncios muito prolongados. submetido a um modelo de trabalho frio. um ataque mais sério ao vínculo com o profissional porque ataca diretamente o enquadramento previamente estabelecido. até a inclusão da teoria e da técnica psicanalíticas. uma nova crise de identidade no psicólogo. Isto trouxe. entre outras razões. paralelamente. ao mesmo tempo. e esse atraso pode constituir para ele uma conduta saudável em certo momento da terapia. Sua atitude em relação ao paciente estava condicionada por sua versão do modelo analítico e seu enquadramento específico: permitir a seu paciente desenvolver o tipo de conduta que surge espontaneamente em cada sessão. lacunas totais em temas fundamentais. Tentou transferir a dinâmica do processo psicanalítico para o processo psicodiagnóstico. no máximo. a duração excessiva do processo torna-se prejudicial. Se o psicólogo deve fazer um psicodiagnóstico. tudo isto perturba o paciente e anula seu trabalho. também chegou um momento (e diríamos que estamos vivendo este momento) em que. o terapeuta interpretará em função do material com que conta. a tarefa psicodiagnóstica carecia de um marco de referência que lhe desse consistência e utilidade clínica. é funcionar com uma 9 O processo psicodiagnóstico _£__________ ___ O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas . etc. ou interrompa o teste. por exemplo. Enfatiza também a investigação de algum aspecto em particular. é mister explicar a dinâmica do^caso tal como aparece no material. integrando-o num quadro global. pensamos quet o mais útil é descrever as situações que põem em jogo essas defesas. sobre a possibilidade de não ser como eles. Buscou figuras boas para se identificar. ao que teve de renunciar. de duração limitada. até que pôde questionar-se. fosse qual fosse. O processo psicodiagnóstico. o psicanalista deposita mais confiança e esperanças na correção e na utilidade da informação que recebe dele. Conseguiu assim uma maior autonomia de pensamento e prática. segundo a sintomatologia e as características da indicação (se houver). Para perceber esta última. No estado atual das coisas. e este. entrevista \ d e devolução). Se o psicólogo trabalha com seu próprio marco de referência. recolhido. Dizemos que nossa investigação psicológica deve conseguir uma descrição e compreensão da personalidade dõ~pãciente. a identificação projetiva e a idealização é dar uma informação até certo ponto útil mas insuficiente. com a qual não só se distinguirá e fortalecerá sua identidade própria. O psicólogo teve de percorrer as mesmas etapas que um indivíduo percorre em seu crescimento. Uma vez alcançado um panorama preciso e completo do caso. por seu lado. Mencionar seus elementos constitutivos não satisfaz nossas exigências. consideramos que dizer que o paciente utiliza a dissociação. distorcia sua identidade real. contribuindo para o enriquecimento da teoria e da prática psicológica inerente a seu campo de ação. a sua intensidade e as probabilidades de que sejam eficazes. Vejamo-lo mais detalhadamente.a tarefa psicodiagnóstica e a teoria e a técnica psicanalíticas realizou-se por um esforço mútuo. Possivelmente. Além disso. ao sentir-se mais bem recebido. presentes (diagnóstico) e futuros (prognóstico) desta personalidade. redobrou seus esforços para ^iar algo cada vez melhor. . Caracterização do processo psicodiagnóstico como também poderá pensar mais e melhor em si mesmo. utilizando para alcançar tais objetivos certas técV nicas (entrevista semidirigida. E uma situação bipessoal (psicólogo-paciente ou psicólogo-grupo familiar). Consideramos que o terapeuta extrairá uma informação mais útil de um informe dessa natureza. Abrange os aspectos passados. às vezes com crueldade excessiva (como adolescentes em crise). técnicas projetivas. Até há pouco tempo. O psicanalista se abriu mais à informação proporcionada pelo psicólogo. todo ser humano apela para todas as defesas conhecidas de acordo com a situação interna que deve enfrentar. aderiu ingênua e dogmaticamente a certa ideologia e identificou-se introjetivamente com outros profissionais que funcionaram como imagens parentais. o mais profunda e completa possível. o fato de o informe psicológico incluir a enumeração dos mecanismos defensivos utilizados pelo paciente constituía uma informação importante. e outra (o psicólogo) aceita o pedido e se compromete a satisfazê-lo na medida de suas possibilidades. avaliar o que era positivo e digno de ser incorporado e o que era negativo ou completamente alheio à sua atividade. Pensamos que o psicólogo entrou num período de maturidade ao perceber que utilizava uma “pseudo” identidade que. Por isso. pensar criticamente no que era dado como inquestionável. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas 11 Em nossa caracterização do processo psicodiagnóstico adiantamos algo a respeito de seu objetivo. teve de tomar uma certa distância. o processo psicodiagnóstico configura uma situação com papéis bem definidos e com um contrato no qual uma pessoa (o paciente) pede que a ajudem. da personalidade total do paciente ou do grupo familiar. cujo objetivo é conseguir uma descrição e compreensão. incluindo os aspectos patológicos e Objetivos Institucionalmente. ^ Não se pode definir o enquadramento com maior precisão porque seu conteúdo e seu modo de formulação dependem. M omentos do processo psicodiagnóstico Enquadram ento os adaptativos. que pode ser direto (pessoalmente ou por telefone) ou por intermédio de outra pessoa. Estes passos possibilitam informar o paciente acerca do que pensamos que se passa com ele e orientá-lo com relação à atitude mais recomendável a ser tomada em seu caso. O segundo momento consiste na aplicação da bateria previamente selecionada e ordenada de acordo com o caso. etc. \ Por isso recomendamos esclarecer desde o começo os elementos imprescindíveis do enquadramento. se é recomendável um terapeuta homem ou mulher. reconhecemos no processo psivf (codiagnóstico os seguintesjja sso s: 1?) Primeiro contato e entrevista inicial com o paciente. Utilizar um enquadramento significa. se a terapia pode ser analítica ou de orientação analítica ou outro tipo de terapia. O que nos parece mais recomendável é uma atiUide permeável e aberta (tanto para com as necessidades do paciente como para com as próprias) para não estabelecer condições que logo se tornem insustentáveis (falta de limites ou limites muito rígidos. No momento de abertura estabelecemos o primeiro contato com o paciente. à qual nos referiremos detalhadamente no capítulo II. em muitos aspectos. Também incluímos aqui o tempo que o psicólogo deve dedicar ao estudo do material recolhido. a saber: — Esclarecimento dos papéis respectivos (natureza e limite da função que cada parte integrante do contrato desempenha).) e que prejudiquem especialmente o paciente. para nós. Já nos referimos à necessidade de utilizar um enquadramento ao longo do processo psicodiagnóstico. das características do paciente e dos pais.InHivídüãl^ de casal. 3?) Encerramento do processo: devolução oral ao paciente (e/ou a seus pais). de grupo ou de grupo familiar. Definiremos agora o que entendemos por enquadramento e esclareceremos alguns pontos a respeito disto. A plasticidade aparece como uma condição valiosa para o psicólogo quando este a utiliza para se situar acertadamente diante do caso e manter o enquadramen- O processo psicodiagnóstico_____________________________ 12 _____________ O processo psicodicignóstico e as técnicas projetivas . se o caso necessita de um tratamento medicamentoso paralelo. delineamento confuso de sua tarefa. com que freqüência.). \ —Honorários (caso se trate de uma consulta particular ou \ de uma instituição paga). O terceiro e o quarto momentos são integrados respectivamente pela entrevista de devolução de informação ao paciente (e/ou aos pais) e pela redação do informe pertinente para o profissional que o encaminhou.(terapia breve e prolongada. prolongamento do processo./ W Segundo nosso enfoque. 4 o) Informe escrito para o remetente. Faz-se o mesmo em relação a quem enviou o caso para psicodiagnóstico. deixando os resI tantes para o final da primeira entrevista. etc. / —Horário e duração do processo (em termos aproxima/ dos. Também incluímos aqui a primeira entrevista ou entrevista inicial. 2?) Aplicação de testes e técnicas projetivas. —Lugares onde se realizarão as entrevistas. Perceber qual o enC quadramento adequado para o caso e poder mantê-lo de imed iato é um elemento tão importante quanto difícil de aprender na tarefa psicodiagnóstica. A forma e o conteúdo do informe dependem de quem o solicitou e do que pediu que fosse investigado mais especificamente. tendo o cuidado de não estabelecer uma duração C nem muito curta nem muito longa). trataremos de formular recomendações terapêuticas adequadas. manter \ constantes certas variáveis que intervêm no processo. Garcia Arzeno Capítulo II A entrevista inicial . A contra-identificação projetiva com algum deles (paciente ou pai) pode induzir a tais erros. de Ocampo e Maria E. 14 _____________ O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas Maria L. S.to apropriado. Também o é quando sabe discriminar entre uma necessidade real de modificar o enquadramento prefixado e uma ruptura de enquadramento por atuação do psicólogo induzida pelo paciente ou por seus pais.
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