UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOCAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA INSTITUTO DE CIENCIAS EXATAS E DA TERRA Fundações e Obras de Terra Profª. Drª. Susana Dalila Dolejal Berté TRABALHO OBRAS DE TERRA Discente: Amanda Papini BARRA DO GARÇAS - MT NOVEMBRO 2015 I. INTRODUÇÃO: As matérias-primas naturais abundantes são ferramentas possíveis para a sustentabilidade na área da construção. As técnicas de construção com terra têm mostrado sua versatilidade através dos séculos. Em todos os recantos do mundo, a construção com terra sempre esteve presente, passando pelas devidas adaptações técnicas e culturais para atender às necessidades do homem e de seu ambiente construído. A utilização da terra nessa área apresenta uma série de vantagens: não necessita de processos de transformação dispendiosos em termos energéticos; apresenta bom comportamento térmico; é reciclável e reutilizável; é incombustível e não toxica. O uso da terra como material de construção remonta a épocas em que o homem sentiu a necessidade de construir seu abrigo, ao invés de usar apenas os recursos oferecidos pela Natureza. Os antigos souberam como explorar as boas propriedades da terra e utilizá-la em belíssimas construções. O conhecimento e habilidade necessários para construir com terra foram transmitidos gradativamente para outras regiões. Atualmente o uso da terra na construção pode ser distinguido em dois níveis: por um lado, a sobrevivência dos sistemas construtivos mais primitivos gerados pela carência em que vivem algumas populações; por outro lado, pelas investigações e incentivos de instituições de pesquisas para o uso de técnicas inovadoras coerentes, caracterizadas pela simplicidade, eficácia e baixo custo. As Barragens de Terra são aquelas em que a estrutura é fundamentalmente constituída por solo ou enrocamento, onde o solo é correntemente utilizado como material de construção neste tipo de obras, sendo extraído da área de implantação da barragem, tornando-as sob o ponto de vista ambiental, menos agressivas do que as barragens de betão. Desde os tempos antigos, as barragens de terra eram construídas com a finalidade de armazenar água para irrigação, sendo algumas das estruturas de tamanho considerável. O solo-cimento é o material resultante da mistura homogênea, compactada e curada de solo, cimento e água em proporções adequadas. O produto resultante deste processo é um material com boa resistência à compressão, bom índice de impermeabilidade, baixo índice de retração volumétrica e boa durabilidade. O solo é o componente mais utilizado para a obtenção do solo-cimento. O cimento entra em uma quantidade que varia de 5% a 10% do peso do solo, o suficiente para estabilizá-lo e conferir as propriedades de resistência desejadas para o composto. O adobe é um material vernacular usado na construção civil. É considerado um dos antecedentes históricos do tijolo de barro e seu processo construtivo é uma forma rudimentar de alvenaria. Adobes são tijolos de terra crua, água e palha e algumas vezes outras fibras naturais, moldados em fôrmas por processo artesanal ou semi-industrial. II. REFERENCIAL TEÓRICO A. CONSTRUÇÕES DE TERRA: BARRAGENS DE TERRA 1. Conceitos e definições: Construções de terra são obras de engenharia civil, que utilizam o solo como elemento de construção e apoiam-se sobre ele, como por exemplo as barragens e os aterros de estradas. Aterro: é uma obra constituída por um maciço artificial de terras onde procura-se solos com capacidade suficiente para suportar cargas previstas. Os solos devem estar isentos de ramos, folhas, troncos, raízes, ervas, lixos ou qualquer tipo de detrito orgânico. Consiste na colocação ou recolocação de solo em uma área específica a fim de nivelar ou elevar determinadas áreas baseando-se no projeto que será implantado no local. Os aterros e reaterros devem ser acompanhados da compactação do solo com equipamentos manuais ou mecanizados. Barragem pode ser definida como sendo um elemento estrutural, construída transversalmente à direção de escoamento de um curso d’água, destinada a criação de um reservatório artificial de acumulação de água. Sinteticamente, uma barragem de terra pode caracterizar-se da seguinte forma: • Uma estrutura localizada de forma a permitir a retenção da água, vulgarmente designada por corpo da barragem; • Uma área a montante em que é armazenada a água de forma a permitir o seu uso durante todo o ano, usualmente designada por albufeira; • Um conjunto de estruturas e órgãos hidráulicos que permitem efetuar a transposição da água de montante para jusante seja para proteger a estrutura de retenção de eventuais galgamentos como para uso posterior nos mais variados fins. As fontes mais comuns para a obtenção de água para armazenamento são: captação e acumulação de água de chuvas; água de escorrimento subsuperficial e água de cursos superficiais. As barragens de terra são as mais elementares obras de barragens e normalmente se prestam para qualquer tipo de fundação, desde a rocha compacta, até terrenos construídos de materiais incosolidados. Existe certa variabilidade no tipo de barragem de terra, que poderá ser homogêneo ou zonado. Homogêneo - é aquele composto de uma única espécie de material, excluindo-se a proteção dos taludes. Nesse caso, o material necessita ser suficientemente impermeável, para formar uma barreira adequada contra a água, e os taludes precisam ser relativamente suaves, para uma estabilidade adequada. Zonado - esse tipo é representado por um núcleo central impermeável, envolvido por zonas de materiais consideravelmente mais permeáveis, zonas essas que suportam e protegem o núcleo. As zonas permeáveis consistem de areia, cascalho ou fragmentos de rocha, ou uma mistura desses materiais. As barragens podem ser classificadas das seguintes formas: a) Quanto ao tipo de construção e pelo tipo de material empregado: Tipo de construção: - Barragens de gravidade - Barragens em arco - Barragens de contraforte Material empregado: - Barragens de terra - Barragens de concreto - Barragens de pedra solta - Barragens de madeira - Barragens de aço b) Quanto ao tipo de seção e ao método de construção: Tipo de seção: - Barragens homogêneas - Barragens zonadas Método de construção: - Barragem de terra compactada - Barragem com aterros hidráulicos - Barragem com aterros semi-hidráulicos As principais finalidades da construção de uma barragem são: Abastecimento de cidades; suprimento a irrigação; produção de energia elétrica; controle de inundações; regularização de vazão; navegação e criação de peixes. 2. Histórico no Brasil: Desde os tempos antigos, barragens de terra foram construídas com a finalidade de armazenar água para irrigação, sendo algumas das estruturas de tamanho considerável, como por exemplo, uma construída no Ceilão no ano 504 A.C., que possuía 17 quilômetros de comprimento, 21 metros de altura e contendo cerca de 15 milhões de metros cúbicos de material. Antigamente todas as barragens de terra eram projetadas por métodos empíricos e a literatura de engenharia está repleta de registros de ruptura e acidentes dessas barragens. Somente a partir de 1.907, surgiram os primeiros procedimentos racionais para projeto dessas obras. Atualmente tais procedimentos permitem a construção de barragens de terra com mais de 150 m de altura. No Estado de São Paulo, a barragem de Xavantes no Rio Paranapanema, atinge 90 m de altura. 3. Métodos construtivos: Aterro: Os elementos do aterro são: Taludes - são as duas faces laterais e inclinadas paralelas ao eixo do maciço. O talude montante é aquele que fica do lado da água. Enquanto que, o talude jusante fica do lado oposto da água. Base - superfície inferior que acompanha o aterro em toda a sua extensão. Pés de montante e jusante - são os pontos de cotas mínimas dos taludes montante e jusante, respectivamente. Fundação - local onde se assenta a barragem. Trincheira - escavação no terreno natural, proveniente da retirada de materiais inconvenientes à obra. Sangradouro - dispositivo que permite o escoamento do excesso de água ou enxurrada durante e após a ocorrência de chuvas. Também denominado extravasor ou ladrão. Folga - espaço vertical compreendido entre o nível da água no reservatório e a parte superior do aterro (crista). Lâmina d’ água - altura máxima de água que passa pelo sangradouro por ocasião das cheias máximas. Carga hidráulica - altura da água compreendida entre o fundo do reservatório e a superfície de água (nível da água). Espelho d’água - superfície da água acumulada no reservatório. A construção de uma barragem pode ser dividida em 3 seções: - Seção a montante relativamente impermeável; - Núcleo central de materiais altamente impermeáveis (os quais, com uma trincheira de vedação abaixo do nível de superfície, selará eficazmente a barragem contra infiltrações); - Seção a jusante de materiais grosseiros e pobres, permitindo uma drenagem mais livre da estrutura e a qual, pelo seu peso, escora o aterro às suas fundações evitando o seu escorregamento e outros movimentos. Alguns fatores devem ser levados em consideração no projeto e construção da barragem, dentre eles podemos citar: • Topografia do local: A construção do aterro deve recair onde haja um estreitamento local, fazendo com o que o comprimento da barragem seja o menor possível. O local deve permitir a elevação do nível até a cota desejada, no caso de se tratar de elevação de nível, pois do contrário, necessitaria recorrer ao bombeamento. A bacia de acumulação deve apresentar sempre que possível, um alargamento à montante, para permitir o armazenamento de um maior volume de água (maior volume médio por metro de altura e por metro de comprimento da barragem). • Condições da fundação: Sendo a fundação o local onde a estrutura será assentada e lhe proporcionará a estabilidade, é importante o conhecimento do material de que é constituída, o que se consegue por amostragens locais. Material de natureza plástica não oferece condições para uma boa estabilidade. Em lcais com afloramento de rocha não são muito indicados para barragens de terra, porque a terra não dá boa liga à rocha. • Existência de uma fonte abastecedora: Uma das condições limitantes para a construção de uma obra de armazenamento é a existência de uma fonte abastecedora de água, porque dela vai depender o volume a ser acumulado. O conhecimento das vazões máximas e mínimas do curso d’água constitui uma boa contribuição para o projeto. • Condições do solo do reservatório: O solo do fundo do reservatório não deve ser muito permeável, pois, facilitaria uma maior infiltração prejudicando o volume a ser acumulado. • Altura a elevar: A altura de uma barragem se determina em função do volume a armazenar, ou da cota que se deve elevar. Locais onde pode ocorrer acumulação de sais ou outras substâncias solúveis em água devem ser evitados. • Local para o sangradouro: O sangradouro requer lugar adequado para a sua construção, e o local escolhido deve oferecer condições favoráveis para isto. 4. Problemas e patologias: Uma barragem de terra é mais fácil de ser danificada ou destruída pela água corrente, passando sobre ou batendo contra ela. Assim, um vertedor e proteção adequada a montante são essenciais. Projetar e construir vertedores adequados são normalmente a parte tecnicamente mais difícil de qualquer trabalho de construção de uma barragem. Durante a construção, se não for adequadamente compactada, a barragem apresentará problemas estruturais. As barragens de terra requerem manutenção contínua de forma a evitar erosão, crescimento de árvores, sedimentação, infiltração e danos. B. SOLO-CIMENTO 1. Conceitos e definições: O solo-cimento é o material resultante da mistura homogênea, compactada e curada de solo, cimento e água em proporções adequadas. O produto resultante deste processo é um material com boa resistência à compressão, bom índice de impermeabilidade, baixo índice de retração volumétrica e boa durabilidade. O solo é o componente mais utilizado para a obtenção do solo-cimento. O cimento entra em uma quantidade que varia de 5% a 10% do peso do solo, o suficiente para estabilizá-lo e conferir as propriedades de resistência desejadas para o composto. O solo-cimento está por aí há décadas, mas seu uso ainda é bem restrito. Com isto, florestas inteiras são devastadas para produzir tijolos cerâmicos que, além de tudo, são mais caros. O mesmo vem sendo aplicado ainda em: fundações, pisos, passeios, muros de contenção, barragens e blocos prensados. Conforme já visto, o solo-cimento nada mais é do que uma mistura de cimento, água e solo. Mas não é qualquer solo, o ideal é usar areia argilosa, onde a maior é areia e a menor é de argila. A areia pura não contém argila, assim não é adequada para o solocimento, na verdade, estaríamos produzindo blocos de concreto ao invés de tijolos de solo-cimento. O solo argiloso, que contém mais argila do que areia, também não é adequado, pois requer uma quantidade maior de cimento, sendo difícil de misturar e compactar. Mas este tipo de solo pode ser corrigido, basta adicionar areia. Claro que há limites econômicos e técnicos para isso, por isto é melhor fazer alguns testes e colocar na ponta do lápis até que ponto é interessante corrigir um solo inadequado ou partir logo para blocos de concreto ou cerâmico tradicional. O solo para a mistura deve estar limpo, sem galhos, folhas, raízes ou material orgânico. Aliás, solos com muito material não servem para a produção de solo-cimento. A melhor opção de mistura solo-cimento é de solo arenoso com 70/80% de areia + 30/20% de solo argiloso ou 30/20 % deste solo, misturado em 70% de areia, e qualquer uma das misturas de 12 a 15% de cimento. 2. Histórico no Brasil: O solo-cimento é uma evolução de técnicas de construção do passado, como o adobe e a taipa. A vantagem é que os aglomerantes naturais, de características variáveis e instáveis, foram substituídas pelo cimento, produto industrializado e de qualidade controlada. Há duas grandes áreas onde o solo-cimento pode ser uma solução muito interessante. A primeira está nos loteamentos populares, onde a própria comunidade pode produzir tijolos e pisos com maquinário simples e a baixíssimo custo. O marco fundamental no Brasil deu-se no final da década de 40, algumas experiências com paredes de painéis monolíticos foram realizadas com êxito, através da Associação Brasileira de Cimento Portland, resultando na publicação de uma proposta para o uso desse material (ABCP, 1948). A partir de meados da década de 70 quando começaram a surgir preocupações quanto a crescente demanda habitacional, os centros de pesquisas tiveram incentivos para investigar o emprego do solo-cimento na construção de habitáveis outras alternativas tecnológicas. Dois centros de pesquisas se destacaram nessa área: o CEPED - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento que se dedicou, entre outras investigações, ao emprego do solo-cimento para produção de fundações e paredes com painéis monolíticos; e o IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo que estudou a fabricação de tijolos e blocos de solo- cimento. Outra área, mais sofisticada e tão importante quanto, são os condomínios onde a ecologia e a sustentabilidade ditam regras. Nestes empreendimentos, o solo-cimento pode ser produzido igualmente no local, diminuindo o custo da construção, agredindo muito menos o meio ambiente, usando mão-de-obra da região e, de quebra, produzindo habitações com um conforto térmico insuperável, ajudando a diminuir a necessidade de ar condicionado e calefação, novamente, ajudando o meio ambiente e diminuindo a demanda por energia. 3. Métodos Construtivos: Na construção civil, o solo-cimento pode ser usado de quatro maneiras diferentes: em tijolos ou blocos, nos pisos e contrapisos, em paredes maciças e também ensacados. • Tijolos ou blocos -- São produzidos manualmente ou em pequenas prensas, dispensando a queima em fornos. Eles só precisam ser umedecidos para se tornar muito resistentes e com excelente aspecto. • Paredes maciças – Técnica similar à taipa de pilão usada no período colonial. A a massa é compactada diretamente na forma montada no próprio local da parede, em camadas sucessivas, no sentido vertical, formando painéis inteiriços sem juntas horizontais. • Pavimentos -- O solo-cimento também é compactado no local, com o auxílio de formas, mas em uma única camada. No final, o piso fica constituído por placas maciças, totalmente apoiadas no chão. • Ensacado – A mistura de solo-cimento, em formato de uma “farofa úmica”, é colocada em sacos que funcionam como formas. Os sacos têm a boca costurada, depois são colocados na posição de uso, onde são imediatamente compactados, um a um. O resultado é similar à construção de muros de arrimo com matacões, isto é, como grandes blocos de pedra. O sistema construtivo de solo-cimento precisa de uma fundação impermeabilizada, que fique acima do solo. As opções normalmente utilizadas são as sapatas corridas e o radier , que permitem que as cargas da edificação se distribuam de maneira uniforme para o solo. O radier é aconselhado devido ao fato de se adaptar a qualquer tipo de solo e evitar problemas de reclaques diferenciais. Para a produção dos blocos de solo-cimento, o solo arenoso é o mais indicado (teor de areia superior a 50% e de argila entre 20 e 30%). O solo não deve ser retirado de camadas superficiais, pois esse pode conter excesso de matéria orgânica, o que compromete a resistência dos blocos. O traço para a mistura de solo-cimento pode obedecer as seguintes dosagens: 1:10, 1:12 e 1:14. Quanto maior a dosagem de cimento no solo, maior será a resistência dos blocos. (Ex: Para cada 10 baldes de solo, será acrescentado um balde de cimento). Os materiais, antes de serem misturados, devem ser peneirados. Após o preparo, a mistura deve ser prensada, com prensa manual ou mecânica. Depois de prensado os blocos devem ser estocados em um local ,preferencialmente coberto, e passam pelo processo de cura e secagem. Para a cura, as peças devem ser molhadas três vezes ao dia, durante um período mínimo de sete dias, para que a mistura prensada endureça e adquira a resistência desejada. Sobre a fundação é assentada a 1ª fiada de tijolos. Para isso, é utilizada a argamassa feita com a própria mistura de solo-cimento aditivada de cal ou outro produto químico que ajude a reter água e minore a retração. As duas primeiras fiadas devem ser rigorosamente niveladas e alinhadas. Praticamente qualquer tipo de solo pode ser utilizado, entretanto os solos mais apropriados são os que possuem teor de areia entre 45% e 50%. Somente os solos que contêm matéria orgânica em sua composição (solo de cor preta) não podem ser utilizados. O solo a ser utilizado na mistura pode ser extraído do próprio local da obra. Preparo do solo-cimento: A mistura é semelhante a que se faz outras argamassas. A homogeneização é feita com peneira de malha ABNT de 4,8 mm, do solo e/ou da areia e do cimento, para tirar impurezas e torrões, que poderão ser quebrados e aproveitados. Em seguida aplicar aplica-se água em pequena quantidade, de preferencia com o uso de regador com pequeno chuveiro, evitando-se a concentração em determinado ponto. Para construção de barragens e muros de contenções, a forma mais indicada é o uso do produto dentro de sacos, que deverão serem molhados apenas depois de empilhados de forma que fiquem travados. A tabela a seguir mostra alguns tipos de obra que podem ser feitas com solocimento: Tabela 1. Aplicações do solo-cimento na construção civil. BENFEITORIA APLICAÇÃO Fundação. Baldrame, sapata corrida ou parede maciça apoiada diretamente sobre o solo Edificações Alvenaria, com tijolos e blocos ou então em paredes maciças Piso e contra-piso, pavimentação Piso e contra-piso de passeios e calçadas Paisagismo Pátios e terreiros Pavimentação Base e sub-base de ruas e estradas Contenção de encostas Muro de arrimo com solo-cimento ensacado Revestimento dos taludes e canais com solo-cimento Contenção de córregos ensacado ou em parede maciça Pequenas barragens Dique com solo-cimento ensacado Cabeceiras de pontes, Muro de arrimo com solo-cimento ensacado pontilhões, bocas de galerias 4. Problemas e Patologias: Ao contrário do concreto, cujos materiais que o compõe (areia e brita) são facilmente obtidos com a pureza e os atributos físicos e químicos requeridos, o solo é altamente variável. A presença de substâncias deletérias para o processo de cimentação, como o húmus, cloretos e sulfatos inviabilizam a aplicação do solo. Em qualquer jazida, essas variações ocorrem tanto no sentido horizontal como vertical. A solução desses problemas é dispendiosa por requerer pessoal qualificado e constantes análises de material. Por isso, grandes empresas da construção desistiram de industrializar o solocimento e o solo-cal. Como desvantagem marcante do solo-cimento tem-se a necessidade de controle tecnológico regular e de dosagem da mistura. Outra limitação do solo cimento é que na medida em que aumenta o teor de argila do solo, aumenta também o consumo de cimento. Entretanto, um pouco de argila ajuda a reação cimentante. É percebida também uma grande barreira por parte da população e alguns construtores. Não há confiança no material. De fato, o controle tecnológico dos blocos de solo-cimento é muito difícil: de uma mesma jazida, podem ser tirados inúmeras qualidades de solo, fazendo com que muitas amostras tenham que ser controladas, tornando o mesmo muito custoso. Uma das patologias comuns em construções de solo-cimento pode ser originada pela má utilização da tecnologia, por exemplo, lote fora das especificações. Pode ocorrer peças com trincas originadas por expansão/contração e ruptura por esmagamento. As trincas verticais podem ser sido originadas pelas seguintes causas: tijolos com diferentes espessuras, incompatibilidade com o graute ou recalque diferencial da fundação. Outra desvantagem é a necessidade de prensas manuais e/ou hidráulicas, cujo preço varia de R$ 5 a R$ 40 mil. C. ADOBE 1. Conceitos e definições: O Adobe é um tijolo feito com uma mistura de barro cru, areia em quantidade, estrume e fibra vegetal. Sua técnica construtiva consiste em moldar o tijolo cru, em formas de madeira, a partir das quais o bloco de terra é seco ao sol, sem que haja a queima. O mesmo é um dos mais antigos materiais de construção, foi amplamente utilizado nas civilizações do crescente fértil, em especial no Antigo Egipto e Mesopotâmia. Construídos com barro e palha (tal como nos é descrito na Bíblia, no livro do Êxodo), os tijolos de adobe eram muito utilizados pelas técnicas quotidianas de construção, ainda que grandes monumentos destas civilizações a ele recorressem. Efetivamente, os zigurates (na Mesopotâmia) e as mastabas (no Egipto) foram feitos essencialmente com tijolos de adobe, utilizando basicamente as mesmas técnicas de construção utilizadas em edifícios "menos nobres". O adobe foi utilizado em diversas partes do mundo, especialmente nas regiões quentes e secas. Com o advento da industrialização no século XIX, as técnicas em arquitetura de terra foram, aos poucos, sendo abandonadas. Restando às pessoas de poucos recursos o uso dessas técnicas, além do adobe, o pau-a-pique e também a taipa de pilão, razão principal do preconceito que, de certa forma, se mantém até os dias de hoje. Porém, podemos afirmar que estamos vivenciando momentos de rompimento desse paradigma (preconceito), com um novo olhar sobre a arquitetura vernacular, uma vez que esta se mostra ecológica e sustentável. 2. Histórico no Brasil: O Adobe chega ao Brasil, com os portugueses, em seu período colonial, na qual a mão-de-obra era escrava, os materiais para construção de moradias eram precários. Foi muito utilizado em construções das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, principalmente em igrejas. Teve predominância nos engenhos e cidades rurais no século XVI. Casa de Adobe Rio de Contas – Bahia. Apesar da redução no uso do adobe, este ainda é usado em várias regiões do Brasil, principalmente na norte e nordeste. Também em Minas Gerais e Goiás é possível encontrar muitas casas em adobe. Infelizmente muitas casas populares de adobe são construídas sem os cuidados necessários (especificados acima) gerando rápida degradação do material e conferindo a impressão de ser o adobe um material ineficiente. No entanto a História já o comprovou um material de grande durabilidade, inclusive nas cidades históricas brasileiras, como Ouro Preto e Pirenópolis, que ainda possui muitas casas de tijolos de adobe. A partir da preocupação com a conservação do patrimônio arquitetônico a nível mundial, percebeu-se a necessidade de estabelecer conceitos e critérios para tal, que resultaram em recomendações. Uma delas trata do respeito aos materiais originais, contidos nas construções e monumentos históricos, ou seja, no momento das intervenções que fossem mantidas as técnicas tradicionais encontradas. Essa recomendação suscitou outro questionamento: Como conservar ou restaurar técnicas cujo manejo se perderam? Em função dessa situação algumas instituições como o ICCROV, o CRATERRE o Getty Institute e a própria Unesco, investiram na formação de mão de obra especializada visando o resgate desses conhecimentos. Um dos programas com mais resultados positivos foi o Projeto Arquitetura de Terra - PAT, que durante anos capacitou e formou técnicos de vários lugares do planeta. O resultado desse movimento propiciou que profissionais capacitados, pudessem estar a serviço não apenas da proteção do patrimônio arquitetônico, grande parte construído nessas técnicas, sobretudo nos países ibero-americanos e África, mas também para a utilização das mesmas, novas construções, sobretudo as de interesse social. Como consequência, surgiram instituições que agregam os profissionais que acreditam e defendem o uso da arquitetura de terra. O Proyecto de Investigación PROTERRA, hoje Rede PROTERRA vinculado ao wub-Programa HABYTED, que por sua vez se remete ao CYTED, desde o ano de 2001 vem divulgando e fomentando o uso da arquitetura de terra através da organização de seminários internacionais e oficinas de transferência de tecnologia, reunindo profissionais de países ibero-americanos. 3. Métodos construtivos: Por ser uma arquitetura vernacular, não há rigorosidade, porém há uma certa regularidade encontrada. Para fabricar os tijolos é necessário uma massa de terra (argila e areia) esterco, palha, água, misturada manualmente. Na maioria das construções, a terra para a confecção pode ser retirada do próprio terreno. A massa éposta em formas de madeira, confeccionadas artesanalmente. A terra considerada boa para a produção contém pelo menos 30% de areia e não menos que 50% de argila e sedimento. A água tem papel fundamental na mistura, porém não deve ser excessiva. (A umidade ótima é de 15% a 18%). Os tijolos de adobe têm normalmente medidas entre: 10 x 10 x 20cm e 20 x 20 x 40cm. Para alguns tipos de amarração é comum encontrar tijolos com ¾ dessas dimensões. A forma pode ser de madeira ou de metal, sem fundo. Depois da massa pronta ela era socada dentro do molde e é levantada com cuidado para não rachar. As disposições dos tijolos não são feitas com muita sofisticação, procura-se apenas executá-las de forma com que a alvenaria ficasse travada, não existindo uma padronização de amarração, sendo que cada lugar a obra era executada de diferentes maneiras. As paredes de adobe apesar de serem pesadas, tem baixa resistência por isso raramente passavam de dois pavimentos. A construção feita com este tijolo torna-se muito resistente, e o interior das casas muito fresco, suportando muito bem as altas temperaturas. Em regiões de clima quente e seco é comum o calor intenso durante o dia e sensíveis quedas de temperatura à noite, a inércia térmica garantida pelo adobe minimiza esta variação térmica no interior da construção. As construções de adobe devem ser executadas sobre fundações de pedra comum, xisto normalmente, cerca de 60 cm acima do solo, para evitar o contato com a umidade ascendente (infiltração), que degradaria o adobe. Da mesma forma é importante a construção de coberturas com beirais a fim de proteger as paredes das águas de chuva. As paredes devem ser revestidas para maior durabilidade. É recomendada a construção de adobe no período de seca, pois o tijolo não deve ser exposto à chuva durante o processo de cura, uma vez que o barro dissolve-se facilmente. No entanto, depois da construção coberta, ele resiste sem problema algum, com grande durabilidade. Vantagens do uso do adobe: • Baixo custo • Conforto térmico • Uso de material regional • Pode ser preparado no próprio local da construção • Rapidez na preparação dos tijolos • Sustentável A preparação do adobe é feita em solo argiloso. Faz-se um buraco perto do local da obra onde há solo apropriado, colocando-se água. Depois, amassa-se com os pés até sentir que tem boa liga. O barro é posto em fôrmas de madeira com as dimensões de 40 cm de comprimento, 20 cm de largura e 15 cm de altura. A fôrma é molhada antes de se colocar a argila. Depois, realiza-se um processo de secura por 10 dias, virando-o a cada 2 dias. Para testar a resistência colocam-se dois tijolos afastados em cerca de 30 cm e um terceiro em cima de ambos. Se não houver rachaduras, significa que o tijolo possui boa qualidade. O uso de tecnologia tem facilitado a produção do adobe, em vários países são fabricadas máquinas que produzem esses elementos em escala industrial, e com boa qualidade. Uma variação do adobe é o BTC - Bloco de Terra Comprimida, são tijolos, normalmente estabilizados com cal, cimento ou outro material, confeccionado em prensas manuais tipo Cinma-ram. São muitas, aliás, as energias economizadas numa construção como essa. Feitos de barro e um pouco de palha para dar liga – às vezes com pitadas de cal ou cimento, usados como estabilizante –, os tijolos de adobe, diferentemente dos cerâmicos, não passam pela etapa da queima em fornos de alta temperatura. Secam a sombra ou ao sol, evitando, com isso, desmatamento – pois não é necessário lenha para alimentar os fornos– e liberação de gás carbônico no ar, resultado da combustão. A obra limpa não causa impacto nem mesmo com transporte, uma vez que o tijolo pode ser produzido com o solo do local da construção. Outra qualidade da técnica é sua inércia térmica, ou conforto térmico. 4. Problemas e patologias: O principal problema é que as construções com tijolos de adobe precisam ser protegidas da umidade, e não são todos os locais onde se pode implementá-lo, já que ele se desintegra facilmente em contato direto com a chuva. Seu uso também não é próprio para edifícios com mais de um pavimento. Além disso, o barro não é um elemento padronizado, podendo variar a quantidade e o tipo de areia, argila e outros agregados de cada lugar onde a terra é extraída. Outra desvantagem é que ao secar, o barro se contrai e podem aparecer fissuras. Para diminuir este processo é necessário, enquanto o tijolo seca, mantê-lo sempre umedecido para que não seque rápido demais. Além disso é necessário um clima seco para sua fabricação, difícil execução de construções com mais que 1 pavimento e fácil aparecimento de fissuras. III. CONCLUSÕES: Através da construção de barragens, várias necessidades podem ser satisfeitas, como por exemplo: a irrigação, a geração de eletricidade, controle de inundações, fornecimento de água potável e a recreação náutica. Porém pode levar à alguns aspectos negativos como o deslocamento e empobrecimento de populações e a destruição de ecossistemas. A utilização de tijolos de adobe se destaca devido a este se tratar de um material ecológico e sustentável, uma vez que o barro é um elemento reutilizável, e quando não cozido, pode ser triturado e umedecido para voltar ao estado original. Sua produção não necessita de grande quantidade de energia e ainda é um excelente isolante térmico, mantendo a temperatura dos ambientes sempre balanceados. A utilização do sistema solo-cimento na construção pode minimizar danos ambientais, baratear a fabricação e dar mais agilidade às obras. Além disso, o produto resultante do processo solo-cimento é um material com boa resistência à compressão, bom índice de impermeabilidade, baixo índice de retração volumétrica e boa durabilidade. IV. REFERÊNCIAS: ABIKO, A.K (1983). Solo-cimento: tijolos, blocos e paredes monolíticas. In: Construção São Paulo. n.1863. Pini-SP. CEPED - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento. Manual de construção com solocimento. Convênio CEPED/BNH/URBIS/CONDER/PMC/OEA/CEBRACE. 3 ed. atual. ABCP. Brasil, 1984 Disponível em: < http://www.cbdb.org.br/informe/img/52materiaerton.pdf>. Acesso em 10 de novembro de 2015. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao150120 09110921.pdf>. Acesso em 12 de novembro de 2015. Disponível em: < http://pt.slideshare.net/abianchipaula/arquitetura-do-brasiladobeequipe-14>. Acesso em 10 de novembro de 2015. Disponível em: <https://engenhariacivilfsp.files.wordpress.com/2012/11/geologiaestabilidade-talude-e-aterro1.pdf>. Acesso em 09 de novembro de 2015. Disponível em: <http://piniweb.pini.com.br/construcao/noticias/alvenaria-de-solocimento-79781-1.aspx>. Acesso em: 14 de novembro de 2015. Disponível em: < http://www.fao.org/docrep/014/ba0081p/ba0081p.pdf>. Acesso em 10 de novembro de 2015. ISAIA, G. E., Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais, IBRACON, 2007. NASCIMENTO, M. V. L de A. Tijolos de adobe confeccionados no Agreste Pernambucano com adição de borracha de pneu triturada. Monografia. Universidade Federal de Pernambuco. Caruaru, 2013. 87p. NEVES, C. O uso do solo-cimento em edificações. A experiência do CEPED. 11p. PENTEADO, P. T., MARINHO, R. C. Análise comparativa de custo e produtividade dos sistemas construtivos: alvenaria de solo-cimento, alvenaria com blocos cerâmicos e alvenaria estrutural com blocos de concreto na construção de uma residência popular. Monografia.Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2011. 64p. SILVA, S. R. da. 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