O Que é Religião - Rubem Alves

March 26, 2018 | Author: Moabe Tomaz | Category: Johannes Kepler, Homo Sapiens, Love, God, Thought


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O Que é Religião (Rubens Alves) ÍNDICE Perspectivas..............................7 Ossímbolosdaausência............14 Oexíliodosagrado...................36 Acoisaquenuncamente..............52 Asfloressobreascorrentes.........68 Avozdodesejo........................85 ODeusdosoprimidos...............102 Aaposta..........................115 Indicaçõesparaleitura...............130 07 PERSPECTIVAS Aquiestãoossacerdotes;emuitoemborasejammeusinimigos...m eu sangueestáligadoaodeles." (F.Nietzsche,AssimfalavaZaratustra). Houvetempoemqueosdescrentes,semamoraDeusesemreligião,e ramraros.Tãorarosqueosmesmosse espantavamcomasuadescrençaeaescondiam,comoseelafosseum apestecontagiosa.Edefatooera.tanto assimquenãoforampoucososqueforamqueimadosnafogueira,pa raquesuadesgraçanãocontaminasseos inocentes.Todoserameducadosparavereouvirasdomundoreligi oso,eaconversacotidianamente,esteténue fioquesustentavisõesdemundo,confirmava,pormeioderelatosd emilagres,aparições,visões,experiências místicas,divinase 08 demon€acas, que este • um universo encantado e maravilhoso no qual, por detr.s e atrav•s de cada coisa e cada evento, se esconde e se revela um poder espiritual. O canto gregoriano, a m.sica de Bach, as telas de Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel, a catedral g.tica, a Divina Com•dia, todas estas obras s.o express.es de um mundo que vivia a vida temporal sob a luz e as trevas da eternidade. O universo f€sico se estruturava em torno do drama da alma humana. E talvez seja esta a marca de todas as religi.es, por mais long€n quas que estejam umas das outras: o esfor.o para pensar a realidade toda a partir da exig.ncia de que a vida fa.a sentido. Mas alguma coisa ocorreu. Quebrou -se o encanto. O c•u, morada de Deus e seus santos, ficou de repente vazio. Virgens n.o mais apare ceram em grutas. Milagres se tornaram cada vez mais raros, e passaram a ocorrer sempre em luga res distantes com pessoas desconhecidas. A ci.ncia e a tecnologia avan.aram triunfalmente, construindo um mundo em que Deus n.o era necess.rio como hip.tese de trabalho. Na verdade, uma das marcas do saber cient€fico • o seu rigoroso ate€smo metodol.gico: um bi.logo n.o invoca maus esp€ritos para explicar epidemias, nem um economista os poderes do inferno p.ra dar Contas da infla..o, da mesma forma como a astronom ia moderna, distante de Kepler, n.o busca ouvir harmonias musicais divinas nas regularidades 09 matem.ticas dos astros. Desapareceu a religi.o? De forma alguma. Ela permanece e frequen temente exibe uma vitalidade que se julgava extinta. Mas n.o se pode negar que ela j. n.o pode frequentar aqueles lugares que um dia lhe pertenceram: foi expulsa dos centros do saber cient€fico e das c.maras onde se tomam as decis.es que concretamente dete rminam nossas vidas. Na verdade, n.o sei de nenhuma inst.ncia em que os te.logos tenham sido convidados a colaborar na elabora..o de planos militares. N.o me consta, igualmente, que a sensibilidade moral dos profetas tenha sido aproveitada para o desenvolvimento de problemas econ.micos. E • altamente duvidoso que qualquer industrial, convencido de que a natureza • cria..o de Deus, e portanto sagrada, tenha perdido o sono por causa da polui..o. Permanece a experi.ncia religios a — fora do “nulo da ci.ncia, das f.bricas, das usinas, das armas, do dinheiro, dos bancos, da propaganda, da venda, da compra, do lucro. . compreens€vel diferentemente do que ocorria em passado muito distante, poucos pais sonhem com carreira sacerdo tal para os seus filhos. . . A situaua..o mudou. No mundo sagrado, a experi.ncia religiosa era parte integrante de cada um, da mesmaformacomoosexo,acordapele,osmembros,alinguagem.U mapessoasemreligiãoeraumaanomalia .Nomundodessacralizado 10 ascoisasseinverteram.Menosentreoshomenscomuns,externosa oscírculosacadémicos,masdeforma intensaentreaquelesquepretendemjáhaverpassadopelailumina çãocientífica,oembaraçofrenteà experiênciareligiosapessoaléinegável.Porrazõesóbvias.Confe ssar-sereligiosoequivaleaconfessar-se comohabitantedomundoencantadoemágicodopassado,aindaque apenasparcialmente.Eoembaraçovai crescendonamedidaemquenosaproximamosdasciênciashumana s,justamenteaquelasqueestudama religião. Comoéistopossível? Comoexplicarestadistânciaentreconhecimentoeexperiência? Nãoédifícil.Nãoénecessárioqueocientistatenhaenvolvimentos pessoaiscomamebas,cometasevenenos paracompreendê-loseconhecê-los.Sendoválidaaanalogia,pode r-se-iaconcluirquenãoserianecessárioao cientistahavertidoexperiênciasreligiosaspessoaiscomopressu postoparasuasinvestigaçõesdosfenómenos religiosos. Oproblemaéseaanalogiapodeserinvocadaparatodasassituações .Umsurdodenascença,poderiaele compreenderaexperiênciaestéticaquesetemaoseouviraNonaSin foniadeBeethoven?Parecequenão.No entanto,lheseriaperfeitamentepossívelfazeraciênciadocompor tamentodaspessoas,derivadoda experiênciaestética.Osurdopoderiairaconcertose,sem 11 ouvirumasónotamusical,observaremedircomrigoraquiloqueas pessoasfazemeaquiloquenelasocorre, desdesuasreaçõesfisiológicasatépadrõesderelacionamentosoc ial,consequênciasdeexperiênciaspessoais estéticasaqueelemesmonãotemacesso. Mas,queteriaeleadizersobreamúsica?Nada.Creioqueamesmaco isaocorrecomareligião.Eestaéarazão porque,comointroduçãoàsualobraclássicasobreoassunto,Rudo lfOttoaconselhaaquelesquenunca tiveram qualquer exper.ncia religiosa a n.o prosseguirem com a leitura. E aqui ter.amos de nos perguntar se existem, realmente, estas pessoas das quais as perguntas reliqiosas foram radicalmente extirpadas. A religi.o n.o se liquida com a abstin.ncia dos atos lamentais e a aus.ncia dos lugares sagrados, mesma forma como o desejo sexual n.o se nina com os votos de castidade. E • quando a dor bate • porta e se esgotam os recursos da t•cnica que nas pesssoas acordam os videntes, exorcistas, os m.gicos, os curadores, os benzedores os sacerdotes, os profetas e poetas, aquele que reza e suplica, sem saber direito a quem. . . ent.o as perguntas sobre o sentido e o sentido da morte, perguntas das horas e diante do espelho. . . O que ocorre freq..ncia • que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora, travestidas, por meio de s€mbolos secularizados. Metamor 12 foseiam -se os nomes. Persiste a mesma fun..o religiosa. Promessas terap.uticas de paz individual, de harmonia €ntima, de libera..o da ang.stia, esperan.as de ordens sociais fraternas e justas, de resolu..o das lutas entre os homens e de harmo nia com a natureza, por mais disfar.adas que estejam nas m.scaras do jarg.o psicanal€tico/psico l.gico, ou da linguagem da sociologia, da pol€tica e da economia, ser.o sempre express.es dos problemas individuais e sociais em torno dos quais foram tecidas as teias religiosas. Se isto for verdade, seremos for.ados a concluir n.o que o nosso mundo se secularizou, mas antes que os deuses e esperan.as religiosas ganharam novos nomes e novos r.tulos, e os seus sacerdotes e profetas novas roupas, novos lugares e novos empregos. - . f.cil identificar, isolar e estudar a religi.o como o comportamento ex.tico de grupos sociais restritos e distantes. Mas • necess.rio reconhe c.-la como presen.a invis€vel, sutil, disfar.ada, que se constitui num dos fios com que se tece o acontecer do nosso cotidiano. A religi.o est. mais pr.xima de nossa experi.ncia pessoal do que desejamos admitir. O estudo da religi.o, portanto, longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, • como um espelho em que nos vemos. Aqui a ci.ncia da religi.o • tamb•m ci.ncia de n.s mesmos: sapi.ncia, conhecimento para melhor ou para pior. Os seus dentes e as suas garras afiadas. a estranha habilidade de confundir-se com o terreno. por isto mesmo. Tempos depois as larvas nascer. os cascos duros e as carapa .rvores. as colmeias de abelhas. “Lembro -me daquela vespa ca.o manifesta. ele n. a revela.. milhares de anos atr. cavar.los castores. a capacidade de correr. seus venenos e odores..o est.ncia de Deus • autoconsci.rio buscar uma aranha.o . E o extraord€n.saboroso.o da carne fresca da aranha im.os de barro.. A religi. Como o disse poeticamente Ludwig Feuerbach: 13 “A consci. N. os sentidos hipersens€veis.ntima de amor n. silenciosamente. n. Mas a coisa n. as cascas das .ncia dos animais..adora QUE sai em busca de uma aranha.NCIA “O homem • a .. E sem haver tomado li.o. O O seu corpo. a confiss. Quanto aos Jo. . Os pintassilgos cantam i K) cantava m no passado. Sua programa.gica • completa. e as represas r•s.o-de-barro.o se esgota na adapta.vida de deuses? E quem seria esta pessoa vazia de tesouros ocultos e de segredos de amor? 14 OS S•MBOLOS DA AUS. arrastando -a ent. milhares de anos: . conhecimento de Deus • autoconhecimento.o a gera.s.o .ncia. as colmeias das abelhas e os formigueiros t.” (Albert Camus) Atrav•s de centenas de milhares de anos os animais conseguiram sobreviver por meio da adapta.o e se alimentar.o aberta dos seus segredos de amor.o alguma. que tenham introduzido no plano de suas casas. um dia ouvir.es de corpos maravilhosamente adap tados • natureza ao seu redor...as rijas. os formigueiros..es ou frequentado escolas. . Crescer. E. Moluscos parecem luas conchas hoje da mesma forma como o faziam h.o biol. perfeita.. luta com ela.vel.o.o h. saltar. pica -a. O animal faz com que a natureza se adapte ao seu corpo. E vemos as represas cons tru€das p. Cada corpo produz sempre a mesma coisa. problemas n. paralisa -a.. as folhagens. h. necess.o para o seu ninho.rio • o tempo em que se d. as casas de jo.o • o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem.” E poder€amos acrescentar: e que tesouro oculto n. fechada. a experi.” E o que • extraordin.o • religioso? E que confiss .rio • que toda esta sabedoria para sobreviver e arte para fazer seja transmitida de gera.o sei de altera.m permanecido inalterados por s•culos. os buracos esconderijo 15 dos tatus.o dos seus pensa mentos €ntimos.. gr.o a voz silenciosa da sabedoria que habita os seus corpos. “Chegou a hora. todas estas s. Ali deposita os seus ovos e morre.o correspondidos. sem palavras e sem mestres.o f€sica do organismo ao ambiente.nica criatura que se recusa a ser o que ela •. .o f€sica. por maiores que sejam os seus conhecimentos. Omundohumano.. diferentemente do animal que • o seu corpo.Eistoporqueconstatamosqueaqui.o recebem.namaioriadasveze sperfeitas. uma crian.casasepalacios...o possuem uma hist.o lhes • ofere cida.? E que coisas sair. — a forma de sua concha.os? E aqui os geneticistas.ocorpojánãotemaúltimapalavra. n.construíram tambores.marcas etecidos. como ser.o nos abandonou de todo. o estilo de sua corte sexual. Do ponto de vista gen•tico ela j.flautaseharpas. Tornaram-seinventoresdemundos.àsemelhançado sanimais.opassadolhespropunha. N. tipo de sangue.ria. Os animais praticamente n. Porque o homem. em contrapartida.Def ato. sexo. mas n. Eéigualmenteaprogramaçãobiológicaque controlaoshormônios.? E qual ser. o seu estilo? Por que ideais e valores lutar.semqueospais 17 easmãessaibamoqueestáocorrendoládentrodoventredamulher. ele que faz o seu corpo.enterraram osseusmortoseosprepararamparaviajare.Ouentregaroseucorpoàmort e.éumapáginaembr anconasabedoriaquenossoscorpos herdaramdenossosantepassados.desdequedelaumoutro 18 .Maseladizmuitopouco. .fizerampoemas.stia.apressãoarterial.o de suas m. do seu ninho. suscetibi lidade a enfermidades.. dos olhos. Mas. ter. se encontra totalmente determinada: cor da pele.transformaramosseu scorpos.metais.cbrindo-osdetintas..16 possui qualquer brecha para que alguma coisa nova seja inventada.o existe nada semelhante que se possa dizer dos homens .sica? De que m.o diferentes as coisas com o homem! Se o corpo do animal me permite prever que coisas ele produzir.a rec•m -nascida. de m. Sua vida se processa num mundo estruturalmente fechado. de sua toca.inventarambandeiras. verdade que a progra ma. Aqui est. tem o seu corpo.o da neurose e o terror da ang.sica? Que l€ngua falar. A aventura da liberdade n.obaterdocoração.fizeramch oupanas. tal como a entendemos. EQUANdonospergunt amoss obreai nspi raçãoparaest esmundosqu eoshomensimaginarameconstruiram. .seéquedizalgumacoisa.o de se calar. As criancinhascontinuamasergeradaseanascer. Ohomemécapazdecometersuicídio.na ausência.o biol.. Como s.aprogramaçãobiológicacontinuaa operar.emoposiçã oaomundooimperativodasobrevivência reinasupremo.gica n. ela? Gostar.acercada quiloqueiremosfazerporestemundoafora. Ofatoéqueoshomensserecusaramaseraquiloque.entoaramlamentospêlosdiasepelasnoites. vem-nosoespanto. a m.construíramaltares.plantaramjardins.queéfeitocomtrabalhoeamor.sica de seus sons — e as coisas por ele produzidas me permitem saber de que corpo partiram.o • o corpo que o faz. a maldi . asensibilidadeolfativa.em. • um professo r que lhe descreve este mundo inventado.. . conta est. permanece a pergunta: porque raz.os. diferentemente das larvas.éne cessárioreconhecerquetodaanossavida cotidianasebaseianumapermanentenegaçãodosimperativosime diatosdocorpo. nome que se d. substituindo. Cada pessoa que se aproxima de uma crian. a imortalidade . ele mesmo. pois que nos umbrais do mundo humano ela cessa de falar.. repreende. Mas as produ. . Os animais sobrevivem pela adapta. amea. como fato biol.e.m de ser educadas .lido e pronto da natureza para.numatotal renúnciadavontade.o dos mundos da cultura. ao cont r. assim.as t. ri.o da carne.equeamaioriadaspessoasnemcometesuicídio.osgostos alimentares.e choram os seus mortos.a das aranhas.o de 20 . . as sinfonias. . E tudo isto que o homem faz me revela um mist•rio antropol.es naturais do corpo porque o corpo.o sei dar resposta a estas perguntas. n. ao contr. e choram a si mes m.rias.o os homens fazem a cultura? Por que motivos abandonam o mundo s. simplesmente. e constr.am. . e dan.oritmobiológicodeacorda r/adormecerdeixaramhámuitodeser express.rio que os mais velhos lhes ensinem como • o mundo.o da cultura..Osimpulsossexuais.Oud eabandonar-seàvidamonástica. foi transformado de entidade da natureza em cria. a estes mundos que os homens imaginam e constr.rio.o. Constato. E eu tenho de confessar que n.Écertoquepoder ãodizer-mequeestessãoexemplos extremos. abandonadas pela vespa -m. falam sobre a suprema conquista do corpo. os poemas? E grandes e pequenos se d. que o homem • um ser de desejo. • semelhan.o por que..o existe cultura sem educa. aplaude.dosexo.. e brincam roda.es culturais que saem de suas m.mundovenhaanascer.Mas.poroutrolado. Nossa tradi. construir teias para sobre elas viver? Para que plantar jardins? E as esculturas. e empinam papagaios.gico. faz gestos.a. a ressurrei.. Os homens. a voz da sabedoria do corpo.a e com ela fala. 19 Se o corpo. os quadros. as crian. N.os sugerem. Esta • a raz.. necess. tal como ele lhes • dado. canta can.. s.comoofizerammuitosrevolucionários.em altares..Tenhodeconcordar. que • assim..os no sentido de demonstrar que o homem • um ser racional.o as m. A cultura. o triunfo final sobre a natureza.o f€sica ao mundo.o • a fonte e nem o modelo para a cria.nemmor reporummundomelhore.fica fez seus s•rios esfor.doprazerdacomida. se inicia no momento em que o corpo deixa de dar ordens..o filos.. estimula.gico bruto.nemse enterranummosteiro. Desejo • sintoma de priva.es.ri o parece ser constitucionalmente de sa da pt a dos ao mundo.s nos seus mortos. ser de pensamento. Maselasexorcizamoterrorelançampêlosespaçosaforaogem idodeprotestoeareticênciadeesperança.masparecequearealizaçãoefetivaparas empre escapaàquiloquenoséconcretamentepossível.surgedenovoavozdoprotestoeo brilhodaesperança.areal idadeseharmonizecom 22 .quesejaespelho.umavezresolvida.aus.sedáaoluxo deproduzirosupérfluo.eocorpoquebuscaamoreprazerse defrontacomarejeição.Realização concretadosobjetosdodesejoouparafazerusodeumaterminologi aquenosvemdeHegel.Porqueoqueaculturadesejacriaréexat amenteoobjetodesejado.Avoltadojardime stásempreodesertoque eventualmenteodevora.dealgumaforma.algumdia.ainjustiça. aparecer.nãopodesercompreendidacomoumasimpleslutapelasobre vivênciaque.o se tem saudade da bem-amada presente.constatamososeufracasso esobraapenasaesperançadeque.comodesejo.objetivaçãodo Espírito.eexiladoseprisioneirosfabricampoemas.porrazõesquenãoentendemosbem.Desejopertenceaosseresquesesent emprivados. assim.aprisão .queaculturanãosejanuncaa reduplicaçãodanatureza.eestejaemharmoniacomosvaloresdhomemqueoconstrói .Oprojetoinconscientedoego.aordoamoris(Scheller)estacercadapelo caos.Háoutrassituações.ncia f€sica — com o estômagocheio.port anto.mas.E assimé. Asugestãoquenosvemdapsicanáliseédequeohomemfazculturaa fimdecriarosobjetos 21 doseudesejo.amote.Épossiveldiscernir aintençãodoatocultural.entretanto. quando estiver longe do carinho.ncia.Afomesósurgequandoocorpoéprivadodopão.asolidão. Tamb•m n.o se tem fome — desejo supremo de sobreviv.nãoimportaoseutemp oenemoseulugar.Ca nçõesfúnebresexorcizarãoamorte?Pareceque não.Juntam-seassimoamor.éencontrarummundo quepossaseramado.Hásituaçõesemqueelepodeplantarjardinsec olherflores.aimaginaçãoasmãoseo ssimbolosparacriarummundoquefaça sentido. N.odesejo.Aatividadehumana.Eos poemasdocativeironãoquebramascorrentesenemabremasportas .Aculturaparece sofrerdamesmafraquezaquesofremosrituaismágicos:reconhece mosasuaintenção.El aétestemunhodaausênciadoalimento.Tambémosmoribundos balbuciamcanções. A saudade s.nofioténuedafalaqueo senuncia.espaçoamigo. parecequeoshomenssealimentamdelese.Terimosentãodenosperguntarqueculturaéestaqueidea lserealizou?Nenhuma.Aculturanãosurgenolugarondeohomemd ominaanatureza.sempre.ncia.Écompreensível.atortura.quenãoencontramprazernaquilo queoespaçoeotempopresentelhesoferece.ador.acrueldade. deimpotênciaemqueosobjetosdoseuamorsóexistematravésdam agiadaimaginaçãoedopodermilagrosoda palavra. na dist. encantaçõe s. Hácoisasaseremconsideradas:altares.são horizontesquenosindicamdireções.o importa.Tudoistoexistiriaeseriaeficazsemqueohomem jamaisexistido. 23 etambémgestos..lugares.parasefazeremsentirevalerdependemexclu sivamentedesimesmas.a maisfantásticaepretenciosatentativadetransubstanciaranature za.rezaas..Eenquantoodesejonãoserealiza..pria e s. Trata-sederealidadesnaturais.cercam-nosatrás.o.semauraoupoder.renúncias.capelas.restacantá-lo.Por-exemplo.maisfogemdenós.horizontedoshorizontes.odesejo.teiadesímbolos.celebrações.Horizontes:ondeseencont rameles?Quantomaisdelesnos aproximamos.m esmodepoisdonossodesaparecimento.peregrinações.Sãooreferencialdo nossocaminhar.àfrente.milagres.Nãoécompostadeitensextraordinários.Porqueéjustamentenopontoondeele fracassouquebrotaosímbolo.os pésquefazemabicicletaandar:aindaqueoassassinadonadasaiba enãoouçapalavraalguma. procissões.dizê-lo .osolaquec ia.jamaispronunciadouma palavra.Asesperançasdoatopeloqual oshomenscriaramacultura. colares.anunciar-lhecelebraçõesefestivais.Eéprovávelquequecontinuaram.presentesnoseuprópriofracasso.. praticamente habitantes do mundo da natureza.continuama morarnomundoprofano..poemasromarias.davontade..es.confi ssãodaespera.o recebam antes explica.templos.Earealizaçãodai ntençãodaculturasetransfereentãoparaaesfera dossímbolos.osolhares.Hásempreoshorizontesdanoiteeoshorizontesda madrugada.celebrá-lo.adorações.amãoquefazcairabomba.f estas.saudadedecoisasquenãona sceram.perf umes.o haja conversa.canções.cia pr.E.Odedoquepuxaogat ilho.m efic.santuários. Hápropriedadesque.E estaéarazãoporquenãopodemosentenderumaculturaquandonos detemosnacontemplaçãodosseus triunfostécnicos/práticos. testemunhadascoisasaindaausentes.comoossilêncios.escrever-lhepoemas.exorcismos.aindaqueaqueles sobre quem a bomba explode n. Símbolosassemelham-seahorizontes.redededesejos.livros. 24 . Eteríamosdenosperguntaragoraacercadaspropriedadesespecia isdestascoisasegestos.Há tambémgestosqueumaeficáciaemsimesmos. os gestos t. Eéaquiquesurgeareligião.enquantooutrascoisaseoutro sgestos.o entre os p•s e as rodas — n.d aatividadepráticadoshomens. pêloslados.jamaisfeitoumgesto.noentanto.comidas.quefazem deleshabitantesdomundosagrado.achuvacaiaeasplantasebichos enchiamomundo. antesqueoshomensexistissemjábrilhavamasestrelas..indepentedodesejo. e ainda que n..amuletos.compor-lhe sinfonias. Com estes s€mbolos os homens discriminam objetos. custo de vida. plantas.m de dar nomes •s coisas.ncia da ilumina. ao contrario . coisa ou gesto.a faz se o sol gira em torno da Terra . com as marcas do sagrado.o podiam ver. sua vida e sua morte se dependuram. verdades que s. Ao contr. s. a religi.o nasce com o poder que os homens t. passam a ser os sinais vis€veis desta teia invis€vel de significa. A religi. H. as alturas dos c•us. segundo a explica.prio .. os fluidos e influ.o magicamente a ele integrados.Quando entramos no mundo sagrado. o corpo inteiro estremece. fazendo uma discrimina. 26 E • ao invis. um discurso.lio. em si vulgares. tempos e espa. em si insens€veis e indiferentes ao destino 25 humano.o religiosa. . Por qu. que vem a existir pelo poder humano de dar nomes •s coisas. E. construindo.o entre coisas de import. que as verdades cient€ficas se referem aos objetos na a mais radical e deliberada indiferen. atribuindo -lhes um valor. Que diferen.? Talvez porque. o para. morte • felicidade e infelicidade das pessoas. sem ela. discutimos pessoas.o se processou.o se depe ndura o nosso destino. assim. Camus observou que • curioso que ningu•m esteja disposto a morrer por verdades cientificas.rio. religiosa? Dentro dos limites do mundo profano tratamos de coisas concretas e vis€veis.o foi sem raz.o dos sentimentos e experi. com o seu aux.bada sagrada com que recobrem o seu mundo.ncia secund.ncias pessoais que acompanham o encontro com o sagrado. E esta • a raz. o desespero do inferno.a a vida. fontes — e gestos.o frias e inertes.as eternas e o pr.o. coisas e gestos se tornam religiosos quando os homens os balizam como tais.. uma rede de s€mbolos.os. • encontrado j.ve l que a linguagem religiosa se refere ao mencionar as profundezas da alma. E este estremecer • a marca emocional/existencial da experiencia do sagrado. tocamos nos s€mbolos em que nos dependuram OS. Porque agora a linguagem se refere as coisas invis€veis. entretanto. atos dos pol€ticos.cia inerente •s coisas. as bem aventuran.so. entretanto descobrimos que uma transfo rma. Com seus s€mbolos sagrados o homem exorciza o medo e constr. fazendo uma abstra. O sagrado n.o que nos referimos • religi.stica e pretenciosa tentativa de transubstanciar a natureza". N. Sobre que fala a linguagem .O zen-budismo chega mesmo a dizer que a experi. • um terceiro olho que se abre para ver coisas que os outros dois n..i diques contra o caos.es. uma ab.as ao poder do uinvisivel. objetos e gestos.o • uma efic. somente os olhos da f• podem contemplar .ltima crise de reumatismo .ncias que curam.ria e coisas nas quais seu destino. O sagrado se instaura gra. Assim.. De fato. contas. golpes de Estado e nossa .. se a Terra gira em torno do sol? .o por que..o como "a mais fant. satori. coisas para al•m dos nossos sentidos comuns que.Nenhum fato. coisas inertes — pedras. o mundo seja por demais frio e escuro. Quando. Nelas n.o se nos apresenta como um certo tipo de fala. Eassim."Quersaberporquê?Souu maraposa.bemlonge.o..Eagora. Como tal. ent. . uma raposa. nasuaausência.es e se oferecem sacrif€cios.cadavezmais perto.perguntouomenino.Mas vocêmecativou. concreta. Pe." — e os objetos vis€veis adquirem uma dimens." Eotrigo.vocêse assentalá.. Temo que minha explica..Nãovaleuapena.a para me valer de uma paY. como qualquer vinho. ela passa a ser circundada de uma aura misteriosa.. "Nãoéminhaculpa". o nome de altar.Deus.Você percebe?Agora.o possa ser convin cente para os religiosos.Nãocomotrigo.o • imagin.vocêvaichorar!" "Valeuapenasim".desculpou-seacriança. O Pequeno Pr€ncipe.o nova. vinho.Seucabeloélouro. quefaziaaraposasorrir. nada tem de religioso. Quem. mas muito fraca para os que nunca se defrontaram com o sagrado. licen.o. "Cativaréassim:eumeassentoaqui.euf icareifeliz. Poderiam ser usados numa refei. E as palavras s. 29 .bola.quandooventofizerbalançarocampodetrigo. tirada da obra de Antojne de Saint-Exup•ry. como qualquer p.deformaparadigmática. P.pensandoemvocê. dif.paramim.eunãoq ueriacativá-la.dantessemsentido. e passam a ser sinais de reali dades invis€veis.o.Amanhãagenteseassenta maisperto.o ou orgia: materiais profanos..emportadorasdesent ido. e os olhos da f• podem vislumbrar conex.Parece-meque estaparábolaapresenta..a divina.aospoucos. . "Euvouchorar".oprincipezinhocativouaraposaechegouahorad apartida. . Mas no momento em que algu•m lhe d.respondeuaraposa. a que me refiro.passouacarregaremsiumaausência.. E ali se fazem ora." Eotempopassou.cil compreender o que significa este poder do invis€vel.comosefossemextensõesdenósmesmos..dissearaposa. este • o meu sangue.o.ria.es invis€veis que a ligam ao mundo da gra. inteiramente.o pronunciadas: "Este • o meu corpo.. Vis€vel. viu qualquer uma destas entid ades? Uma pedra n. E a raposa 27 Quem jamais viu qualqur uma destas entidades? 28 lhedisse: "Vocêquermecativar?" "Queéisto?"."Eulhedisse..Sócomo galinhas.Otrigonãosignificaabsolutamentenada.o sobe nenhum odor sagrado.aquiloqueodisc ursoreligiosopretendefazercomascoisas: transformá-las. O pr€ncipe encontrou-se com um bichinho que nunca havia visto antes. jamais.deentidadesbrutasevazias. Deles n.detalmaneiraqueelaspassemafazerparte domundohumano. ria.a eterna.o..sica que o seu discurso seja assepticamente desinfe -tado de quaisquer res€duos da imagina. Parece que a imagina. Importam os objetos que a fantasia e a imagina. Assim.gico que permite que os homens falem acerca daquilo que nunca viram.quecontinuamasmesmas.o e do 31 . ausentes. Que estranho discurso! Bem que ter€amos de nos perguntar acerca do poder m. para a religi. . os animais e as plantas. E seus mundos sagrados . O amor se dirige para coisas que ainda ri. e protegem as fontes de seus excrementos. .o valem o amor.fano v•u do invisivel.Areligiãoé constru€da pelos s€mbolos que os homens usam. as correntes. que abem. assim.semfim.emq ualquerqualquerlugar. e a m.. se encontraram com o sagrado.. Vive do desejo e da espera.prio riso. H. “O mundo dos felizes • diferente do mundo dos infelizes" (Wittgenstein).lugares sacramentais.e terra que • escavada. E po isso mesmo pedem perd.. . simbolicamente.as que n.E eles envolvem ent. e aos galhos que ser.rias. em que o lobo vive com o cordeiro e a 30 crian.Falta-lhe aautonomiadascoisasdanatureza. Masnecessárioprestaratençãoàsdiferenças.o mental ou suspeitar de sua integridade moral. • de import.. • acus. h. Sei que tal afirma. sutilezas lingu€sti cas e ocasi. n.o importam os fatos e as presen. aprendemos desde muito cedo a identificar a imagina. De fato.ncia b.o e a fantasia. De maneira especial •queles que devem sobreviver nos labirintos insti tucionais. Fatos n. justi.. E • justamente a€ que surgem a imagi na. -la de pertur ba." (Sartre).o aos animais que v.o diferentes.o s. os rios e as estrelas. os ventos e as nuvens.Ep oderíamosirmultiplicandoosexemplos.es destinadas a produzir. e reconhecem de que dela recebem a vida. os ex•rcitos e o seu pr.o podem construir. . .o e da fantasia .oa as espadas. Conclu€mos.Acontecequeodisc ursoreligiosonãoviveemsimesmo.a e da vit.. que as entidades religiosas s. com o di..o quebrados.o com aquilo que • falso. Afirmar que o testemunho de algu•m • produto da imagina.a brinca com a serpente. com honestidade.relatandoatr ansformaçãodascoisaprofanasemcoisas sagradasnamedidaemquesãoenvolvidaspêlosnomesdoinvisível . os sofredores que transformam os gemidos dos oprimidos em salmos.o entidades imagin. aquele que fazem amizade com a natureza.em. . Especial mente para as pessoas que j. .. a coisa que se deseja. Mas os homens s. as espadas em arados as lancas em podadeiras e constr. tamb•m os companheiros da for. E a resposta • que..as que os sentidos podem agarrar. as utopias da paz e d.es rituais do mundo acad•mico..o • um engano que tem de ser erradicado.o parece sacr€lega. .o nasceram.o valores: presen. .o. "encanta.h.o ser mortos. o sobrevive por meio de artif€cios de adapta.o.rio.o e reconhecendo a fraternidade que nos une. Nada fazem a esmo.o. Quando.rio.o estou dizendo que a religi.fanas.o pertencem ao imagin. para que servem? Que uso lhes d. Como poderia algu•m.o h.as. 33 E a vida se vai.os.. materiais. al•m disto. Beija -flores n. com ela. como ferramentas. a adapta.o belas e possuem uma fun. ao afirmar que as entidades da religi. i 'instru€ram casas.... competir com a efic.ticas.o estapaf.ncia depende de coisas e atividades pr.licas? Sabemos que s.es. estou sugerindo que ela tem o poder.es? N. totalmente dominados p. entidades t. Poder. de como eles sobrevivem. esta ordem inscrita nos seus organismo s entra em colapso.s..rdia.o qualquer. Foi necess.dicas..cia daquilo que • material e concreto?" Sobreviv.ncia tem a ver com a ordem.ncia. armas. impro visa... Por que raz. apenas fantasia. Estou apenas estabelecendo sua filia.o apenas ornamentos sup•rfluos ? A sobreviv.es.. Ao contr. que n.o gr. n.i. Nenhum conh ecimento poderia jamais arranc. N.amos falando dos animais.. comida. as redes simb..o f€sica. puseram dores nos seus cabelos e colares nos seus pesco.o d•beis e di. E o leitor teria agora todo o direito de nos perguntar: "Mas. Sabemos que delas se derivam festivais e celebra.. totalmente verdadeiros — sim. neste mundo da ci.iir. Cada animal tem uma ordem que lhe • espec€fica.es os homens fizeram flautas.observa. entregar -se • embriaguez do desejo e suas produ.los fatos. ter€amos de dar um passo . comprometido com o saber. n. onde a cultura nasceu e continua a nascer.o t. o que estabelece o seu parentesco com as atividades l. verdadeiros! — poder iam eles ter inventado coisas? Onde estava a flauta antes de ser inventada? E o jardim? E as dan. at• l. o amor e a digni dade do imagin. por uma raz..o as estou colocando ao lado do engodo e da pertu rba.o dos seus corpos ao ambiente. para elucidar decla -i. que a imagina. trabalho.es. pintaram -nas de cores alegres puseram quadros nas paredes? Imaginemos que estes homens tivessem sido totalmente objeti vos. o comportamento perde a unidade e dire. escreveram poemas.rio. Portanto.o sobrevivem da mesma forma que besouros. Mas.o conspira contra a objetividade e a verdade. a adapta.vida para que o mundo da cultura nascesse. inventaram dan. Mas.as? E os quadros? Ausentes. pois ele cria a cultura e. nascidas da imagi na. Passamos ent.o os s€mbolos. Inexistentes.o ao homem. E .licas da religi. e estas redes simb.o os homens? Ser.rio que a imagina. Por s•culos e mil•nios seu comporta mento tem desenhado os mesmos padr..o.. Observe os animais.o • apenas ima gina.o do ambiente aos seus corpos. Come.o 32 mental.o.o est•tica. -los da natureza..o.o! Que os fatos sejam valores! Que o objeto triunfe sobre o desejo! Todos sabem. O que nos parece . mas culturais.o existe.o necess.o. ao seu redor.o s. Assim.. cavalos marinhos viver. tamb•m o homem lan. com as mesmas notas harm.pois . Que ci.a e utopia.a sobre o mundo.Maselesrespondema'umoutrotipodenecessidad e. projeta. O que se busca.o aparece como a grande hip. em busca 34 de um mundo • sua imagem e semelhan.a.o. em si mesmo. • um mundo que traga as marcas do desejo e que corre sponda •s aspira. n.rg. a mesma para todos e quaisquer organismos. ao faz. como se fosse uma rede. os confins do tempo e os confins do espa.ri as as asas da imagi na. no mundo ao seu redor. Mas o fato • que tal realidade n. A analogia n.ncia. E a religi.a. lesmas.o harm. O que existe. borboletas.tese e aposta de que o universo inteiro possui uma face humana.sicas n.BemdiziaCamusqueoúnicoproblemafilosóficorealmen tesérioéoproblemadosuicídio.Ossímbolosnãopossuemtal tipodeeficácia. este universo simb.ingressamosnomundoda loucura.n cia humana" (Berger& Luckmann)..o governados por seus organismos.es do amor.Quandoosesquemasdesentidoentram emcolapso. como esperan. porque sabemos que os homens n.nicas e a mesma linha sonora.o existiria um ambiente. Suas m.o biol. Uexk.a. O que esta' em jogo • a ordem.ll teve a coragem de se perguntar: "Ser.o para articular os s€mbolos da aus.o • qualquer ordem que atende •s exig. • aquele mundo.o num mesmo mundo?" E poder€amos imaginar o ambiente como se fosse um grande . E o homem diz a religi. da mesma forma como o animal lan. e cada organismo um orga nista que faz brotar do instrumento a sua melodia espec€fica.foi pensando nisto que o bi.gicas. os sons que lhe s.o. como algo presente.ll teve uma ideia fascinante. uma esp•cie de mar em que cada um se arranja como pode. como projeto inconsciente do ego.bvio • que o ambiente em que vivem os animais • uma reali dade uniforme. assim para os animais? Moscas. adormecido. Cada animal • uma melodia que.tãopoderosaquantoosexoeafome:a necessidadedeviver 35 nummundoquefaçasentido.a de que c•us e terra sejam portadores de seus valores. Mas n.lico -religiosas — suas melodias — sobre o universo inteiro. para o animal.o s. criado • sua imagem e semelhan.ncia poderia construir tal horizonte? S. da mesma forma como ele faz soar sua melodia e. a ordem que lhe sai do organismo. ao se fazer soar. na esperan.logo Johannes von Uexk. desperta. Comistooshomensnãopoderãoararosolo. Mas.gerarfilhosoumovermá quinas.o serve de todo. que resulta da atividade do corpo sobre aquilo que est.nicos.-lo. faz com que tudo ao seu redor reverbere.lico "que proclama que toda a realidade • portadora de um sentido humano e invoca o cosmos inteiro para significar a validade da exist. externaliza suas redes simb.ncias humanas. s nos esquecemos de que as coisas.o. por esta raz.gua e do ar. 36 OEXÍLIODOSAGRADO "Quandopercorremosnossasbibliotecas.convencidosdestespri ncípios.lançai-oàsch amas.nemsentidoparaavi da.pergun-t emo-nos:será queelecontémqualquerraciocínioabstratorelativoàquantidade eao número?Não.cido sulf.queeletemavercomaquestãodeseavidaédignaounãodeservivida .ssemos em coisifica. Seria mais f.cil se fal. Aqui est.porquesemelesnãohaveriaordem.que destruiçãotemosdefazerlSetomarmosemnossasmãosqualquerv olume. a propriedade.Eoproblemanãoématerial. estas coisas desapa recer. Ainda que ele nunc a tivesse existido.fico -sociol.pois elenãopodecontercoisaalgumaanãosersofismaseilusões.enemvontadedeviver. .Estatemsidoumatrágica conclusãodassalasdetortura.ujtura as coisas s.a. a arte culin. Quando os homens desaparecerem.seja deteologia.gica este processo recebe o nome de reifica.J ásabemosqueelassão 37 diferentes daquelas que constituem a natureza. atos que constituem crimes e os castigo s que s...sejademetafísicaescolástica.teremosentãodescobertoaefetividadeeo poderdossímbolosevislumbradoa maneirapelaqualaimaginaçãotemcontribuídoparaasobrevivênc iadoshomens.ria — tudo isto surgiu da atividade dos homens. A transmiss. pois • isto mesmo que a .integração.o aplicados.o tamb•m.porexemplo. a natureza estaria a€.o da heran. culturais foram inventadas e. os adornos.massimbólico.Éverdadequeoshomensnãovivems ódepão.d ireçãoesesentemefetiva-mentemaisfortes paraviver(Durkheim).o do .Nãoéadorquedesintegraapersonalidade.Vivemtambémde símbolos. a altern. a composi. Com a .. a curiosa propriedade a que nos referimos: n.o diferentes. Na g€ria filos. a linguagem. elas aparecem aos nossos olhos como se fossem naturais. os direitos sexuais dos homens e das mulheres. A exist.o. passando muito bem.o.masadissoluçãod osesquemasdesentido. o dinheiro.unidade.Seráqueelecontémraciocíniosexperimentaisqued igam respeitoamatériasdefatoeàexistência?NãoEntão.gua em nada dependem da vontade do homem.ncia entre o dia e a noite.Se pudermosconcordarcomaafirmaçãodequeaquelesquehabitamu mmundoordenadoecarregadode sentidogozamdeumsensodeordeminterna. . talvez melhor.ncia da .rico e o ponto de congelamento da ." (DavidHume) Ascoisasdomundohumanoapresentamumacuriosapropriedade. quedesejamossaberoqueéareligião.a partirdeduasvertentes.o a um mundo que tivesse a solidez das coisas naturais? Isto se aplica de maneira peculiar aos s€mbolos.recebemonomedeverdade.enquantoqueossímbolosd erro39 ladossãoridicularizadoscomosuperstiçõesouperseguidoscomo heresias. Porquefoiemmeioaumahistóriacheiadeeventosdramáticos. que ela se deriva do latim res. n. passamos a trat.o e passam a ser tratados como manifesta.Ossímbol osvitoriosos. tratam de esconder dos mais novos.ciência.em como vitoriosos pelo seu poder para resolver problemaspráticos. os jovens pode riam come. Deixam de ser hip.palavra quer dizer.os dos seus criadores. ent. caso contr.rio.comoéocasodamagiaeda. j.astradiçõesculturaisdosgregosedos romanos. encontram um mundo social pronto.gil por elas contru€do com tanto cuidado.maselesseamalgamaram.o s.mica rec•m -moldada nas m..ria) das coisas que est. Certos s€mbolos derivam o seu sucesso do seu poder para congregar os homens.o usados com sucesso experimentam esta meta morf ose.algu nsgrandiosos. recebemosumaherançasimbólico-religiosa. Isto acontece. Enós. porque as crian.o e articular um projeto comum de vida. Elas n.eexata-menteporserem vitoriosos. .Quefizeram conosco?Quefizemoscomeles?Eparacompreenderoprocessopel oqualnossossímbolosviraramcoisase construíramummundo.o este mundo pode ser abolido e refeito de outra forma. . Porque.es mais velhas.es. ao nascerem.temosdereconstruirumahistória. rei. que quer dizer "coisa". . Mas quem se atreveria a pensar pensamentos como este em rela.Deumlado. Al•m disto. temosdepararporummomentoparanosperguntarsobreoqueocorr eucomaquelesqueherdamos.los como se fossem coisas. das utopias.lido quanto a natureza..Comestessímbolosvieramvisõesdemundototalmented istintas. das ideologias.os do oleiro.teses da imagina.o pronto t. de tanto serem usados.. como se fosse cer. • guisa de receitas. 38 interessadas em preservar o mundo fr.quejásabemosqueelas eapresentacomoumarededesímbolos.s os reificamos. Tal • o caso das religi. t. De tanto serem repetidos e compartilhados... a qualidade artificial (e prec.quese forjaramasprimeirasemaisapaixonadasrespostasàpergunta"oq ueéareligião?" Noprocessohistóricoatravésdoqualnossacivilizaçãoseformou. com sucesso.outrosmesquinhos. em parte.oshebreuseoscristãos. Outros se imp.o a€.o viram este mundo saindo das m.Doout ro.ar a ter ideias perigosas. inconscientemente. Todos os s€mbolos que s. que os usam para definir a sua situa.es da realidade.as.paradepoisenvelheceredesmoronaremme ioalutas. se tudo o que constitui o mundo humano • artificial e convencional. as gera. De fato. j. das m.. em baixo a pobreza e o trabalho no corpo de outros.Efoidaíquesurgiuaqueleperíododenossahistóriabat izadocomoIdadeMédia. Tudo girava em torno de um n. estabelecendoguiasespirituaise imperadores.os céusaparecemligadosaomundo. em grego.nio e as coordenadas das mans.bruxasebruxarias.gica da realidade (de tetos. Se o universo havia sa€do. colocando l.o pessoal.a.suacasa. que.T'. absolutamente tudo.Todasascoisastinhamseuslu garesapropriados.evieramafloresceremmeioàscon diçõesmateriaisdevidadospovosqueos receberam. Nãoconhecemosnenhumaépocaquelhepossasercomparada.o grandioso — e se Ele continuava. conclu€a-se que tudo..transformando-semutuamente. E • perfei tamente compreens€vel que tal drama tenha 41 exigido e estabelecido uma geografia que localizava com precis.o dos sinais que.ncia medieval se propunha: "para qu.. tinha um prop. a caridade de Deus levando aos c•us as almas puras.o havia colocado os planetas no . tem. E era esta vis.Nãoéporacidentequeto daasuaartesejadedicadaàscoisas sagradasequenelaanaturezanãoapareçanuncatalcomonossosolh osavêem.tica que unificava todas as coisas: o drama da salva. a sustentar todas as coisas.enc ontroscomodiabo.cleo central. E • assim que um homem como Kepler dedica toda sua vida ao estudo da astronomia na firme convic.o. significa fim. E os fil.porqueDeusassimhaviaarrumadoouniverso.sito) que determinava a pergunta fundamental que a ci..sito definido.o a data de evento t. por um ato de cria. o perigo do inferno.es dos bem-aven turados.umacon-cretudeeumaonip resençaquefaziamcomqueomundo invisívelestivessemaispróximoefossemaissentidoqueasprópri asrealidadesmateriais. pela sua gra.sofos se entregavam a investiga. Ehaviapossessõesdemoníacas.eascoisasboas aconteciamporqueDeusprotegiaaquelesqueotemiam.milagres.easdesgra çasepesteseramporEleenviadascomo castigosparaopecadoeadescrença.o o lugar das moradas do dem. pudessem indicar o sentido de cada uma e de todas as coisas.enquantoDeuspresideatodasasc oisasdotopodesuaalturasublime. no alto. Conhecer alguma coisa era saber a que fim ela se destinava. prop. para exercer o poder e usar a espada.o teleol.etodossabiamque ascoisasdotempoestãoiluminadas peloesplendorepeloterrordaeternidade. de alguma forma.o de que Deus n.Porq uealiossímbolos 40 dosagradoadquiriramumadensidade.os de Deus — e era inclusive poss€vel determinar com precis.numaordemhierárquica devalores.Nada aconteciaquenãoofossepelopoderdosagrado.Osanjosdescemàterra. De fato.o aos planetas os outros faziam 42 com as plantas.masdeformaconstante. os animais.do por fatos.o.ncias e al•m de quaisquer d.Comoeles. Curioso.Nãolhesinteressamudarascoisas .oshomenscomeçarama fazercoisasnãoprevistasnoreceituárioreligioso.Enemaquelesqueestavamcondenadosaosseussubt errâneos. Aquelesqueduvidamoupropõemnovossistemasdeideias. .Enelaoshomens viveram. era isto mesmo: o universo inteiro era compreendido como algo dotado de um sentido humano. Poucosforamosqueduvidaram.esmagad osaopesodasituação.metra..lutaram.ter essencialmente religioso. Imagino que o leitor sorria. mas • sempre assim: de dentro do mundo encantado das fantasias. no firmamento.meras evid.Opodereariquezasãobenevolentesparacom aquelesqueospossuem.ousãol oucosousãoignorantes. No final de suas investiga.. . Seu mundo era s. Deus. •ticas.trabalharam. para o . os fen. as pedr as.gastamsuaspoucas energiasnasimpleslutaporumpoucodepão. perguntando -se acerca de suas finalidades est•ticas.quandoum determinadosistemadesímbolos 43 funcionademaneiraadequada.ticas dos movimentos dos astros podiam ser decifradas de sorte a revelar a melodia que Ele fazia os planetas cantarem em coro. Aconteceu. justamente aqui que se encontra o seu car.Eoqueéfasci nanteéqueumacivilizaçãoconstruídacom asfantasiastenhasobrevividoportantosséculos. menos f€sicos e qu€micos.es ele chegou a representar cada um dos planetas por meio de uma nota musical. e as regularidades matem. Para os medievais n.queaospoucos.Foideumaclasse .pintaramquadros.somosincapaz esdereconheceroquedefantasiosoexiste naquiloquejulgamosserterrenosólido. Sua atitude para com o seu mundo era idênticaànossaatitudeparacomonosso.asdúvidasnãopodemaparecer. constitu. era um grande m.sico-ge.Curiosoestepoderdasfantasiasparaconstruir teiasfortesbastanteparaquenelasoshomensseabriguem. elas sempre se apresentam com a soli dez das monta nhas.lido. comprovados por in.c•u por acaso. .ergueramcatedrais.Osqueestãoemcimararamente empreendemcoisasdiferentes.Eosqueseachammuitoporbaixo.Evitaramortepelafo mejáéumtriunfo.ntesis.pr ogressiva.construíram cidades.entretanto. Aqui eu me detenho para um par.vidas.Receitasqueproduzembolosgost ososnãosãoquestionadas.ousãoiconoclastas irreverentes. humanas.o havia fantasia alguma. espantado perante tanta imagina.Are ceitaérejeitadaquandoobolofica sistematicamenteduro. .adúvidaeosquestionamentossurgemqua ndoaaçãoéfrustradaemseusobjetivos.terrafirme..crescente.fizerammúsica.xtase dos homens.Nãoeramaquel esqueficavamnacúpuladahierarquiasagrada queasfaziam.. O que Kepler fazia em rela. Queocorreuaouniversoreligioso? .ànovaclasseinteressavamatividadescomo produzircomercianalizar.oshomenssãopraticamenteobrigadosa inventarreceitasconceptuaisnovas.criarriquezas.semmarcasdenascimento.força-aas ubmeter-seàssuasintenções.receptiva.osúltimosafirmavam: "Pornascimentonadasomos.Poristorejeitoqueelessejamumasimplestraduç ão.Algunsachamqueis toocorreuporentenderemque ossímbolossãocópias.Oquenec essidadesvitais.Eassimcontrastavaasacralidade inútildosqueocupavamoslugaresprivilegiadosdasociedademed ievalcomautilidadeprática daquelesque.Somosoqueproduzi mos".elesmesmosvaziosdequalquertipode eficácia.Agoraanecessidadedariquezainau guraumaatitudeagressiva.Esilenciosamenteaburguesiatriunfante escreveoepitáfiodaordemsacralagonizante:"osreligiosos.Aconteceque.visualizarseulugardentrodesuatrama .eramentretantocapazes dealterarafacedomundopormeiodoseu trabalho.Ohomemmediev aldesejavacontemplarecompreender.mastransformar".processou-se umaenormerevoluçãonocampodossímbolos.maso queimportanãoéentender.das formasmateriaisdasociedadeesuasnecessidadesvitais.relativosàvidaconcret a.tembuscadoentenderanatureza.i nvademomundoeaísecolocamaoladode aradosedearmas.ecosdaquiloquefazemos.viajarparadescobrirnovosmercados.atéa gora.E.Produziu-se.deman eirasistemática.sacrificadaà racionalidadedaproduçãodariqueza.comojásugerimos.Aquiloquenãoéútildevepe recer.Seisto forverdade.ossímbolosnãopassamde efeitosdecausasmateriais. Namedidaemqueoutilitarismoseimpôsepassouagovernarasativ idadesdaspessoas.seos primeirossedefiniamemtermosdasmarcasdivinasquepossuíamp ornascimento.umanov aorientaçãoparaopensamento.edestasaosmercad os.derivadadeuma vontadenovademanipularecontrolaranatureza.Emnomedoprincípiodautilidadeatradiçãoserá.integrando-sena linhaquevaidasminasedoscamposàsfábricas.manipula-a.obt erlucros.Nósnosfizemos. Emoposiçãoaoscidadãosdomundosagrado.aosurgiremproblemasnovos.quecorroeuascoisaseos símbolosdomundomedieval.Sua atitudeerapassiva.pelaqualanova classeseapropriadanatureza. 44 racionalizarotrabalho.então.numaoutralinguagem.Elesganhamdensidade.socialqueseencontravanomeioquesurgiuumanovaesubversivaa tividadeeconómica.os símbolosnãosãomerasentidadesideais.Oque 45 ocorreéque.controla-a.reflexos.quehaviamcriadosím bojosquelhespermitissemcompreendera realidadecomoumdramae.ativa. Muitodoquesepensousobrearelig iãotemsuasorigensnesteconflito.na .n oseuseio.deformaracional.Tra ta-se.Eatémesmoaspessoasperdemseuvalorreligioso.totalmentedominadape larazão:instrumentoidealparaaconstrução deummundotambémvaziodemistériosedominadopelarazão.destituídadevalor.pormaisdesvalorizadoque fossem.enemcompleta menteracionalizadoeorganizadopelopoder'Io trabalho.Ummundoencantadoabriga.orespeitopela floresta.mais transparentepodeexistirqueamatemática? Linguagemtotalmentevaziademistérios.obscurecidopor mistérioseanarquizadoporimprevistos?Sua 46 intençãoeraproduzir.Oseuutilitarismosóconhec eolucrocomopadrãoparaaavaliaçãodas coisas.asentidadesinvisíveisdo mundoreligiosonãopodiamterfunçãoalgumaadesempenharnest euniverso.Istoexigiaoestabelecimentode umaparatodeinvestigaçãoqueproduzisseosresultadosdequeseti nhanecessidade.poderesepossibilidadesque escapamàsnossascapacidadesdeexplicar.manipular.prever.entidadebruta.Por outrolado.Esteconflito.nãotêmlugarnouniverso simbólicoinstauradopelaburguesia.comoaatividadehumana práticasósepodedarsobreobjetosvisíveisedepropriedadessenst Veisevidentes.A naturezaénadamaisqueumafonte dematérias-primas.Eéporistoquenãoexiste nenhuminterdito.CéuseterranãosãoopoemadeumSerSupremoi nvisível.Eeuoconvidariaavoltar aocurtotrechodeHume. 47 quepoderiaimpedirqueelesviessemaserpoluídos.eodestinoqueelereservoupa raossímbolosdaimaginação:aschamas.orespeitopeloarepelomar.Ouniversoreligiosoeraencantado.ocrescimentodariqueza .A condenaçãodosagradoeraexigidapêlosinteressesdaburguesiae oavançodasecularização.quepoderiaimpedirqueelaviessea sercortada.portanto.eterra anunciaoseuamor.Equeinstrumentomais livredepressupostosirracionaisreligiosos. Mascomopoderiaoprojetodaburguesia obrevivernummundodestes.Orespeit opelorioepelafonte.maisuniversal.dealgoquenempodeser completamentecompreendidopelopoderdarazão.queexigiriaquefossempr eservados. Perdeanaturezasuaaurasagrada.quecoloqueicomoepígrafedestecapítulo .poislheseraconferidopelop róprioDeus.Nomund omedieval.enquantoganha.Agoraalguémvaleo quantoganha.poisqueelerevelaclaramenteoespíritodo mundoutilitárioqueseestabeleceu.nenhumaproibição.Nemoscéusproclamamaglóriad eDeus.nenhumtabuacercá-los.Eas respostasdadasàpergunta"oqueéareligião?"têmmuitoavercoma sleaIdadesdaspessoasenvolvidas.comoacreditavaKepler.oseuvaloreraalgoabsoluto. Seusmétodose conclusõessemostravamextraordinariamenteadaptadosàlógica domundoburguês.a fábricaeolucro.Quea religiãocuidedasrealidadesespirituais.porsuavez.Importava-lhe.Conhecerésabero funcionamento.antesde maisnada.Tratava-sedeumaformade conhecimentosurgidoemmeioaumaorganizaçãosocialepolítica derrotada.Osfatossãoelevadosà categoriadevalores.paranãodizerexclusivamente.Instaura-seumdiscursocujoúnicopropósit o 49 édizeraspresenças.Aargumenta çãoéamesma. Aciência.S edigo"ofogoéfrio".Aquedistâncianosencontramosdaciênciamedie valqueseperguntavaacercada finalidadedascoisasebuscavaouvirharmoniasevislumbrarprop ósitosdivinosnosacontecimentosdo mundo! Osucessodaciênciafoitotal.Coisasbem-sucedidasnãopodemser questionadas.Bastaabrirosno ssosjornaisetomarciênciadastensões entreIgrejaeEstado.Eassiméque estetipodeconhecimentoabreocaminhodatécnica.Equemsabeofuncionamentotemosegredodaman ipulaçãoedocontrole.negaçãodosdados .sabercomoascoisasfun cionam.atr adição.antesde maisnada. porqueeleressurgeesemantémvivonasfronteirasdaexpansãodoc apitalismoeondequerqueadinâmicada produçãodoslucroscolidacomosmundossacrais."nãocontémraciocíni osexperimentaisquedigamrespeitoa matériasdefatoeexistência".Eistosignifica.verdade. 48 Énecessárioreconhecerqueareligiãorepresentavaopassado.Comoduvidarda eficácia?Impõe-seaconclusão:aciênciaestáaoladodaverdade. Submissãodopensamentoaodado.alinhava-seaoladodosvitoriososeeraporel essubvencionada.O conhecimentosónospodechegar atravésdaavenidadométodocientífico.Asideiasserepetem. Eodiscursoreligioso?Enunciadodeausências.Porq ue.subordinaçãodaimaginaçãoào bservação.estou .criaçãodaimaginação:sópodeser classificadocomoengodoconscienteouperturbaçãomental.Igrejaeinteresseseconómicos.rigorosaobjetividade.discursodestituídodesentido.quedascoisasmateriais aespadaeodinheiroseencarregam.seele"nãocontémqualquerraciocínio abstraiorelativoàquantidadeeaonúmero". Piorqueenunciadodefalsidades.fazendoaliga çãoentreauniversidadeeafábrica.nãoestácontidod entrodelimitesestreitosdetempoeespaço. Istoéaverdade.Ascoisasquesãoditasepensadasdevemcorre sponderàscoisasquesãovistasepercebidas."nãopodecontercoisaalgumaanãos ersofismaseilusões".nãosecircunscrevedemaneiraprecisa. comotriunfodaburgues iaDeuspassouaterproblemashabitacionais crónicos.umquadrosimbóliconoqualnãohavialuga rparaareligião.oleitorficar ápasmoedirá:"Conheçotodasaspalavras. Eassimsedividiramáreasdeinfluências.Masacoisanãofazsentido". trazendo gravada em si mesma a afirma..osmercados.ilusão.oslucros.escureceuosilêncio".m alma. .despejadodeoutro.asfábricas.ópio.o • por acidente que a mais poderosa das moedas se apresente tamb•m como a mais piedosa.Masseafirmo"o fogo.es de piedade.osagrado..dizendoumafalsidade.acuradasalmas aflitas.Foiidentificadacomo passado. E os negociantes e banqueiros tamb•m t.osri os.oatraso. osbancos.rio plantar sobre ela tamb•m as bandeiras do sagrado.o lhes bastando a posse da riqueza.Digoalgoquequalquerpessoaentende..osmares.s confiamos em Deus". e buscam nela os sinais do favor divino e a cercam das confiss.ComodiziaRickert.diantedaprobabilidade. Estabeleceu-se. Mas.efizeramprofeciasdodesaparec imentodareligiãoedoadventodeumaordem socialtotalmentesecularizadaeprofana.devez.econhecimentocientífico. .riqueza.setalquadrodeinterpretaçãodofenómenoreligiososeestabe leceu..osares. . sendo lhes necess.quehácertasreali dadesantropológicasquepermanecem.Op ondo-seaestequadrosinistro.Paraqueumenunciadoposs aserdeclaradofalsoénecessárioqueele façasentido.Masaciêncianemmesmoafalsidadeconcedeuàreligi ão.sóq uenãoéverdade. N.oscorposdaspessoas.porsereferiraentidades imaginárias. ParaqueoshomensdominematerraénecessárioqueDeussejaconfi nadoaoscéus.assim.foiporque.0explicadacomo comportamentoinfantilde 50 povosegruposnãoevoluídos.neurose.nia e a pensar sobre a vida e sobre a morte.elaperdeuseu poderecentralidade.ascidades.Declarou-adiscursodestituídode sentido.o "In God we trust" —"n. Aosnegociantesepolíticosforamentreguesaterra.Parece.entretanto.. n.ideologia.oscampos.umfuturo luminosodeprogresso.Eassi mnãoforampoucososqueescreveram precocesnecrológiosdosagrado.a despeitodetudo 51 As pessoas continuam a ter noites de ins. Querem ter a certeza de que a riqueza foi merecida. Areligiãofoiaquinhoadacomaadministraçãodomundoinvisível.Despejadodeumlugar.Ida dedasTrevas. ocuidadodasalvação..aignorânciadeumperíodonegrodahistória.Curio soqueosfatosdaeconomianãotivessem liquidado. Curiosoqueaindativessesobradotalespaçoparaareligião.. umaauma.Progressiv amentefoiempurradoparaforadomundo.defato. ncia humana. fria.eaquelesque.gua mata a sede. Coisasquenadasignificampodempassarasignificar. h.Deumaflor.. n.o existe religi.o as coisas/s€mbolo.o significam outras.Aartenosajudaa compreenderisto.comofazemosnamoradosquegravamseusnomesnascascasd eárvores. Isto me basta. Eaflorpodeserumaconfissãodeamorouuma afirmaçãodesaudade. Todas elas respondem. .mandamcolocarplacascomemorativas 54 comseusnomesemletrasgrandessobreaspirâmideseviadutosque mandamconstruir....Araposacomeçouaficarfel izaoolharparaotrigal.. comodetodasascoisasquenãosignificamoutras.Coisasquenadasignificam podemsertransformadasemsímbolos. s.queima. Mas algu•m pode usar uma alian.a significa casamento. Elas s.o destitu€das de sentido. . gostosa. Àsvezesatémesmoaspalavras.o pode ser uma mentira.Tambémofogose transformaemsímbolonasvelasdosaltaresounaspirasolímpicas.nascidapor acidentedeumasementequeoventolevou.rios e camponeses possuem almas e necessitam ouvir as can." (E.seébela. Em primeiro lugar.Trata-sed eumaconstruçãoqueoartistafaz.o me pergunto se a .Afloréaflor.a na m. Ele aquece.vel que levantemos perguntas acerca de 53 sua verdade ou falsidade. Uma alian. as coisas que n. Por isto. quando nos defron tamos com as coisas que significam outras. uma afirma.Aoolharparaumquadroouumaesculturaéfácil vernelessímbolosquesignificamumcenário ouumapessoa.tambémnãosignificaco isaalguma.usando .o dos opri midos.lánomeiodojardim. A . al•m dela mesma. ilumina.sejogadasobreumasepultura. Significa -se a si mesmo.Assim. O fogo • fogo.Aqu elaflor.o apontam para nada. Depois. Uma afirma. as coisas que significam outras: s.Perguntarseeleéverdadeironãofazsentido.o significa um estado de coisas.gua.coisas/símboloporexcelência.acreditandoemsua própriaimportância. Durkheim) No mundo dos homens encontramos dois tipos de coisas.Maspossoperguntarseelaéperfumada. de formas diferentes.o alguma que seja falsa. uma c•dula significa um valor.o esquerda sem ser casado.gua • verdadeira.. Ela • cristalina..nãopossolevant araquestãoacercadaverdade.E tamb•m os oper. N.o elas mesmas..Uma obradearquiteturacopiaoquê?Nãocopiacoisaalguma..es dadas da exist. Uma c•dula pode ser falsa..ograudeverdadedaobradearteseriamedido porsuafidelidadeemcopiarooriginal. a condi.es dos c•us a fim de suportar as tristezas da terra. • inevit. E sobreviveu o sagrado tamb•m como religi..se transformamemcoisas. seéperfeita. .aquestão epistemológica.pormeiodeu martifício:bastaquesobreelasescrevamos algo. h. Tomo um copo d'. 52 A COISA QUE NUNCA MENTE "N. Que • que ele significa? Nada. Emnadaseparececomooriginal. Ela n.nica realidade era a coisa: o papel..o apropriada a um caso fant. As obras de Bach foram descobertas por acaso quando eram usadas para embrulhar carne num a. .eestaobrapassaaserumacoisaentreoutrascoisa s. Dever iam ser decifrados para que ouv€s semos a mensagem .ados. O a. certas situa. constr.o para significar algo.em coisas usando tijolos.sticos. mentindo". ser.vel e mudo como um fruto redondo.deconformidadeentresuaobraeumoriginal. Para ele a . artistas pl. est. E h.ougue.o deveria significar coisa alguma e simplesmente.. tintas e bronze.UmateladePicassodeveriaterumbaixograude verdade.o • nada". Mas nunca ouvi ningu•m dizer ao outro: "Voc. abandonam o mundo da verdade e da falsidade. E o novo artista iniciava a constru.em coisas usando palavras. Cada planeta era um s€mbolo." Lembro-me que. quando menino. n.ougueiro n.s o jantar para contar caso s.sica.o entrava.elamesmaoriginaleúnica? AlguémperguntouaBeethoven. A ci. N.es em que as palavras deixam de significar.. Arquitetos. .rias eram fant.depoisdehavereleexecutadoaopi anoumadesuascomposições: "Quequerosenhordizercomestapeçamusical?Queéqueelasignif ica?""Oqueelasignifica?Oquequero dizer?Esimples.sicos.. .sticos mas nunca falsos.o de Archibald Mac Leish. fascinantes. A rea.o ter palavras como o voo dos p.entemente.s ticas.o se tratava de uma coisa que significa outra.. As coisas eram ditas • fim de construir objetos que podiam ser belos.ssaros. um poema deveria n. e passam a existir ao lado das coisas.o de um outro objeto de palavras. Ela era a pr. os homens se reuniam ap." Assentou-seaopianoeexecutouamesma 55 pe. um s€mbolo.o entendia os s€mbolos. muito bom para embrulhar..certosmateriais. masque.stico era outra: "Mas isto n.o significava coisa alguma. e todos sabiam disto.ncia medieval olhava para o universo e pensava que ele era um conjunto de coisas que significavam outras. fant. Faz pouco tempo que me dei conta de que. o julgamento de verdade • falsidade n.aocontrário.a.estáconstruindouma coisa.o conseguia entender o texto escrito e. engr a. . grotescos. Quem confunde coisas que significam com coisas que nada significam comete graves equ€vocos.o podia ouvir a m. Porque as coisas eram ditas n. n. . aqueles que constr. H.Nãopoderíamosavent arahipótesedequeoartistaplásticonãoestá embuscadeverdade. "Um poema deveria ser palp. As est. um poema n. em uma cidade do interior. naquele jogo. m. Medite sobre esta afirma.pri a coisa. conse -q. sons. como funciona.IMãolhespassoupela cabeçaqueaspalavraspudessemserusadasparaoutrascoisasquen ãosignificar." 58 EDurkheimcomenta: "Diz-sequeaciência. A F€sica s.Odólarnãoseentendeapartirdosignificadod e 57 "fnGodwetrust". . Asituaçãoéirónica.Masareligiãoe xiste.ofogoeaflornãotê msentidoalgum. Agoraasituaçãoseinverteu. Quemsepropuseraentenderafunçãododólarapartirdacoisaescri taqueestáimpressanascédulaschegariaa conclusõescómicas.negaareligião.nadasignificam.dedentrodesuap erspectivareligiosa.nosfatos.osjulgamentosdeverdadeedefalsidade nãopodemseraelaaplicados. E Kepler tentou descobrir as harmonias musicais destes mundos.Contemplavamouniversocomoumte xtodotadodesignificação.teriaenco ntrado. avan. .Emumapalavra:elaéumarealidade.masapartirdoseucomportamentocomocoisado mundodaeconomia.umaresistênciasobreaqualnão poderiasertriunfado.ignorando-acomocoisa.Eéentãoqueocorrearevol uçãosociológica.Concluíram queodiscursoreligiosonadasignificava.Masaciêncianão saiudoseuimpasseenquantonãosereconheceuqueestrelaseplane tassãocoisas.Foiisto queosempiristas/positivistasfizeramcomareligião. quais as leis que o regem. E foi assim que Galileu parou de perguntar o que • que o universo significa e concentrou -se simples mente em saber o que ele •.de que eram portadores."Eelecontinua: "Nossoestudodescansainteiramentesobreopostuladodequeosen timentounânimedoscrentesdetodosos temposnãopodeserpuramenteilusório.continuaele.Mudançaradicalde perspectiva."Seela nãoestivessealicerçadanapróprianaturezadascoisas.Admitimosqueestascren çasreligiosasdescansamsobreuma .Sãoosempiristas/positivistasquein sistememinterpretarareligião comoumtexto. "Nãoexistereligiãoalgumaquesejafalsa".desejavamver mensagensescritasnoscéus.NaIdadeMédiaosfilósofos.horroriz andoempiricistasesacerdotes.Constitui-senumsistemadefatos dados.ou quando o universo foi reconhecido como coisa.Comopoderiaaciência negartalrealidade?" Ora.Areligiãoéumainstituiçãoenenhumainstituiçãopodeser edificadasobreoerroouumamentira.seareligiãoéumfato. Conclusãotãobanalquantoafirmarqueaágua.emprincípio.Eumnovomundodecompreensãodareligiãoseinstau racomaafirmação: "Considereosfatossociaiscomosefossemcoisas.blasfemose beatos.Nãoperceberamqueaspalavras podemsermatéria-primacomqueseconstróemmundos.Ignoraramnacomocoisasocialeseconcentraram nosenunciadoseafirmaçõesqueaparecemjuntoaela. Noentanto.Defato.quadriculadoedivididoemespaçosbrancosepret os.delasse paradasporumasériedeproibições.oquenosf azpensarquetalvezsejaimpossíveldescobrir umtraçocomumatodas.sobum. Depoisainflaçãofezcomqueovelhocoadordepanoficassemaisúti lqueodepapel.Ejádispomosdeumasuspeita:aocontráriodaquelesque imaginavamqueareligiãoeraumfenómeno passageiro.muitoemborasejamdiferentes." 59 Todosconcordariamemqueseriaacientíficodenunciaraleidagra vidadesobaalegaçãodequemuitaspessoas têmmorridoemdecorrênciadequedas.porquenos comportamosdeformadiferenteemrelaçãoaosfatosdouniversoh umano?Antesdemaisnadaénecessário entender. .Num mundoutilitárionãoexistecoisaalgumapermanente.determ inadoângulo. Sagradoeprofanonãosãopropriedadesdascoisas.Queéumaatitu deutilitária?Quandominha esferográficaBicficavelha. estabelecemumadivisãobipartidadouniversointeiro.experiênciaespecíficacujovalordemonstrativoé.estaéumaáreaemqueosindivíduosp ermanecemdonosdosseusnarizestodoo tempo.semexceçãoalguma.Mascomoé oindivíduoquejulgadautilidadeou nãodeumadeterminadacoisa.Antigamenteseus avaocoadordepanoparafazerocafé.Façoomesmocomprego senferrujados.Émaiseconómico.tempos.umnadainferioràqueledas experiênciascientíficas.assim avançatambémoindividualismoeoutilitarismo.Ocritériodautilidade retiradascoisasedaspessoastodovalorqueelaspossamter.o círculodoprofanoeocírculodo económicosesuperpõem.asreligiões.Tudosetorn adescartável. 60 ações.euajogofora.3Quesãoasreligi ões?Ãprimeiravistanosespantamoscoma imensavariedadederitosemitosquenelasencontramos.Eencontramosassimoespaçodascoisassagradase.mais"práticos".Namedidaemquea vançaomundoprofanoesecular.ascoisas secularesouprofanas.Elesseestabele cempelasatitudesdoshomensperantescoisas.assimcomonojogodexadrezav ariedadedoslancessedásempreemcima deumtabuleiro. Depoisapareceramoscoadoresdepapel.eosanti gosforamaposentadoscomoinúteis.Éassimquefuncionaaeconomia. Omundoprofanoéocírculodasatitudesutilitárias.Seassimprocedemosemrel açãoaosfatosdouniversofísico.emviasdedesaparecimento. espaços.Ummedicamento cujoprazodevalidezfoiesgotadovaiparaolixo.esólevaemconsideraçãoseelas podemserusadasounão.pessoas.asuauniversalidadeeper sistêncianossugeremqueelanosrevela"um aspectoessencialepermanentedahumanidade".Oquenãoéútiléabandonado.queserach aemduasclassesnasquaisestácontidotudooque existe.Ninguémtemnadaavercomassuasações.emsim esmas. em conflitos uns com os outros.aocontrário.a misteriosa • esta que faz com que indiv€duos isolados. .o se enquadra neste jogo secular e utilit. se a sociedade • um meio. Durkheimnãoinvestigavaareligiãogratuitamente.o se devoram? Qual a origem da razo.vel harmonia da vida social? A resposta que havia sido anteriormente propos ta para esta quest.o se destruam uns aos outros? Por que n.objetode adoração.aautofla gelaçãoe.m a ver com a utilidade.embuscadevida. impulsionados por seus interesses.Nocírculosagradotudosetransforma. E.rio.o dizia que os indiv€duos. que nos coagem.o perdão.O homeméacriatura.nemdonodoseunariz.Defato.noseupontoextremo. n. n.afontedaforça. em que a vida social.mesm oquenãoapresentemutilidade alguma. Do ponto de vista estritamente utilit. Resultam de nossa rever. ela praticamente tem o estatuto daqueles objetos que podem ser descar tados quando perdem a sua utilidade.eleéinferior .sãoascoisasqueopossuem.Ojejum.Elevivianummundoque apresentavasinaisdedesintegraçãoequeestavarachadoportodos osproblemasadvindosdaexpansãodo capitalismo — proble 62 mas semelhantes aos nossos.o. E era isto que o levava a perguntar: como • poss.Eéistoqueastornaobrigatórias ..porsimplescu riosidade.o criamos.em de joelhos.atransgressãodocritériodeutilidadeéumadasma rcasdocírculodosagrado.Vão-seoscritériosutilitários. tal como a conhecemos.Sente-sedominadoeenvolvidopo ralgoquedeledispõeesobreeleimpõe normasdecomportamentoquenãopodemsertransgredidas.tico.rio .ncia e respeito por normas que n.nemaorigemdas decisões.s dos seus interesses. cada um deles correndo atr.o. haviam criado a sociedade como um meio para a sua satisfa.rio.Ohomemnãomais éocentrodomundo..oautosacrifício:todasestassãopráticasquenãosedefinemporsuautili dade. Elenãoéocentrodecoisaalgumaese descobretotalmentedependentedealgoquelheésuperior(Schlei ermacher). Tudo isto se encaixa muito bem naquele esquema utilit.Sente-seligadoàscoisas sagradasporlaçosdeprofundareverênciaerespeito.Agora. O indiv€duo no centro.Noâmbitosecularoindivíd uoeradonodascoisas.osagradolheésuperior. que indicamos.vel a sociedade? Que for. ainda mais. O indiv€duo toma a decis. que nos p. a sociedade como sistema que gira ao seu redor.arecusaemmatarosanimaissagradosparacomer.aorigemdavida. pragm. do mundo secular. carentedeforça. O problema est. As coisas mais s•rias que fazemos nada t.massimplesmentepeladensidade sagradaqueareligiãolhesatribui. 61 ocentrodomundo. a sociedade vem depois.Osagradoéocriador. fuzilar os criminosos e poss€veis criminosos.finalmente.m a anomia.es morais. sejaparavencê-los.maisforça. a origem da ordem.Elesetornoumaisforte. a garantia da harmonia.dentrodesi.alimentados.e e o sagrado se dissolve? Roubadas daquele centro sagra do que exigia a rever. Durkheimpercebequeaconsciênciadosagradosóapareceemvirtu dedacapacidadehumana .o.as defeituosas.seria mais econ. uma voz. "OfielqueentrouemcomunhãocomoseuDeusnãoémeramenteumh omemquevênovasverdadesqueodescrente ignora.Aess ênciadareligiãonãoéaideia.éasociedad e".ÉcompreensívelqueelasejaoDeusque todasasreligiõesadoram. as pessoas perdem os seus pontos de orienta. Nascemosfracoseindefesos.comelaaprendemosapensarenostornamos racionais.e. Aosfiéispoucoimportaquesuasideiassejamcorreiasounão. Por raz.a sob a crescente press.o devem ser feitas.Elesente. Mas alguma coisa nos diz que tais coisas n. Assim. a consci.? Porque n. o utilitarismo se imp.fomosporelaacolhidos. Sobrev.masaforça.Eéistooqueafirmaasuamaisrevolucionáriaconclusãoace rcadaessênciadareligião. um sentimento de culpa.as centr€fugas do individualismo.o."estarealidade. Por qu.rio pode ser invocado para evitar o crime? O sagrado • o centro do mundo.incapazesdesobrevivercomoindiví duosisolados. representadapelasmitologiasdetantasformasdiferentes. Que ocorre quando a seculariza. fazer desaparecer os adver s.. que nos diz que algo sagrado foi violentado. a fonte das normas.recebemosdasociedadeum nomeeumaidentidade. Se • poss. abortar as gravidezes aci63 dentais e indesejadas.ncia dos indiv€duos para com as normas da vida social. que argumento utilit. sejaparasuportarossofrimentosdaexistência.ncia.o avan. matar as crian.aindaquedeformaoculta.universaleeternadassensações suigeneriscomasquaisaexperiênciareligiosaéfeita. quandoDurkheimexploravaareligiãoeleestavainvestigandoasp rópriascondiçõesparaasobrevivênciadavida social. Qualéestacoisamisteriosamentepresentenocentrodocírculosag rado?Dondesurgemasexperiênciasreligiosas queoshomensexpli64 caramedescreveramcomosnomesmaisvariadoseosmitosmaisdis tintos?Queencontramosnocentrodas representaçõesreligiosas?Arespostanãoédifícil.mico matar os velhos. h. tirar proveito e escapar ileso.masumcír culodepoder.o das for.equeéa causaobje-tiva.vel quebrar as normas. .a.ticos.rios pol. E a sociedade se estilha. sem justificativas utilit.Assim. protegidos. castrar os portadores de defeitos gen•ticos.. sem sermos apanhados.rias.escondidaaos olhosdosfiéis. ."Osagradonãoéumcírculodesaber. E mesmo quando as fazemos.éelaquechoraráanossam orte. ..Naverdade.. 67 "Umdiaviráquandonossassociedadesconhecerãodenovoaquelas horasdeefervescênciacriativa.incapazesdesobrevivercomo indivíduosisolados.pidas da luz que mergulha.o de um sofrimento real e protesto contra um sofrimento real.ossentimentoscoletivose ideiascoletivasqueconstituemsuaunidadeepersonalidade".Are ligiãopodesetransformar." 68 AS FLORES SOBRE AS CORRENTES "O sofrimento religioso •.Coisaquenãovemosno sanimais.es de um para€so — uma ordem 69 social constru€da em torno de valores espirituais e morais. . empreendeu a busca das origens.oidealeosagradosãoamesma coisa. como nuvens de crep.surgindoapenasde suacapacidadeparaconceberoidealede acrescentaralgoaoreal.(. Entretanto.o dos abor€genes australianos nos oferecesse vis." (K. Suacertezadequeareligiãoeraocentrodasociedadeeratãogrande queelenãopodiaimaginarumasociedade totalmenteprofanaesecula-rizada.o de um mundo sem cora. Durkheim contemplou as t•nues cores do mundo sacral que desapa recia...as r.pio do povo..65 Nascemosfracoseindefesos. cora.parapensarummundoideal. 66 paraimaginar.)ÉcompreensívelqueelasejaoDeus quetodasasreligiõesadoram.contemplamosfa toseosrevestemcomumaaurasagradaque emnenhumlugarseapresentacomodadobruto.comoumguiaparaa humanidade. Marx) Entramos num outro mundo.eoutr osaindanãonasceram".m i.quepermanecemsempre mergulhadosnosfatos..recebemosdasociedadeumnomee umaidentidade. ao mesmo tempo.E chegoumesmoaafirmarque"existealgodeeternonareligiãoquees tádestinadoasobreviveratodosossímbolos particularesnosquaisopensamentoreligiososucessivamentesee nvolveu.Nãopodeexistiruma sociedadequenãosintaanecessidadedemanterereafirmar. sob a esperan.sculo que passam de rosa ao negro..s da religi..Oshomens. Penetra no passado a fim de compreender o presente. express.Eeleconcluireconhecendoumvazioeanunciandou maesperança: "Osvelhosdeusesjáestãoavançadosemanosoujámorreram.aocontrário.o • o . E l.porumpouco.Ondeestiverasociedadealies tarãoosdeuseseasexperiênciassagradas. Suspiro da criatura oprimida. . se foi atr. sob as mudan.nasquais ideiasnovasaparecemenovasfórmulassãoencontradasqueservir ão.o mais simples e primitiva que se conhecia.a de que o mundo sacra l-to t. Fascinado. esp€rito de uma situa. do tempo perdido.o sem esp€rito: a religi..o.Masnunca desaparecerá.ainter valos. m certas ideias porque querem.o e nem pela •tica. Marx estava convencido de que a religi. desodorante. de liberdade. .sofos que entendia que a religi.es.o estabelecidos nem pela religi. das cabe.ncia do capital e faz o diagn. .os com prazer: "Finalmente descobrimos um Marx do nosso 71 lado".am ora.o importa que os capitalistas frequentem templos e fa.o. a l.gua benta na inaugura. aqueles que 70 t. . E que n.os n. Sal.o.... Nada mais distante da verdade.as sociais de ent.o habita o crep.sculo. Poucas pessoas sabem que o pensamento de Marx sobre a religi.prio sistema que s..o de suas almas. nem ainda que haja . em plena noite.Compreender com esperan. Ele • seculariz ado do princ€pio ao fim e somente conhece a •tica do lucro e o entusiasmo do capital e da posse.o. uma aura sagrada que tudo envolve no seu perfume.. e muito menos que missas sejam rezadas pela eterna salva. nem que construam cidades sagradas ou sustentem movi mentos mission. ..o t. Na verdade.gica do lucro e da riqueza que assim estabelece — e n.a. sociedade sem oprimidos e opressores.ncia do pr. . e desejava estabelecer um programa educativo com o obje -tivo de fazer com que as pessoas abandonassem as ilus. E Marx tem de insistir num procedimento rigorosamente materialista de an. N.rios. Vive j.o s. Elabora a ci. perfumaria.o as inclina..rios e pre. Analisa a dissolu.o acredita neles. que n.gica do lucro. Mas o solo em que pisa desconhece o mundo sacral. mas com um grupo de fil. .bricas e celebra. Mas dirige o seu olhar para os horizontes futuros e espera a vinda de uma cidade santa. de normas morais e valores espirituais.a .i por meio de uma l. . incenso.o foi nem com cl•rigos e nem com te.lise. Este mundo ignora os elementos espirituais. De fato.es de gra.as pela prosperidade.o er.o fazia diferen. A riqueza se constr. N. . Marx n.o conhece a compaix.tica do corpo. N. Nada tem a pregar e nem oferece conselhos.o esfregar as m. . E imagino que cl•rigos e religiosos poder.o se pode negar que os gestos e as falas ainda se referem aos deuses e aos valores morais: maquilagem. ainda que falsas.o das f..o de ideias.gica duramente material: a l.o n.o de que ela n...o era a grande culpada de todas as desgra.es de a.o n.o era culpada pela simples raz.es pessoais daquele que a analisava. A religi. conhece o poder dos fatores materiais.as dos homens. materialismo que • uma exig.stico do seu fim.o.es religiosas. Porque as pessoas n.o tomou forma e se desen volveu em meio a uma luta pol€tica que travou. E a luta n..logos. Anda em meio aos escombros.o se condenam a si mesmos • destrui.m compaix.o existia nada mais imposs €vel que a elimi na.. sem que nada se altere. de transfigu ra.o tinha culpa alguma.o procura para€sos perdidos porque n. o n.representadapelalinguagemda política.quesãoalinguagemda vidareal. Marxseriudisto.estádesdeassuasorigensd iretamenteentrelaçadacomaatividade materialeasrelaçõesmateriaisdoshomens..Aproduçãodasideiasdoshomens.queaparecemdepois queascoisasaconteceram.Assim.o passavam de r•plicas de D.hegelianosdees querda.sofos que se apresentavam como perigosos revo lucion. E." ". Como poderia um eunuco ser acusado de deflorar uma donzela? Como poderia a religi.dateologia.a n.o ser acusada de responsa bilidade.o desejava gastar energias com drag.Efoi 72 assimqueelessedecidiramatravarasbatalhasrevolucionáriasno campodasideias. fábricas.dodireito. a religi.Porqueeraaí..sobesteângu lo.daconsciência. 73 dametafísica. de uma imagem invertida.rios n.oedifíciosocialinteirocomeçaráatremer.Hoje.Pensamqueasideiassãoascausasdavida social..comoumaemanaçãodesuacondição material.quandoelasnadamaissãoqueefeitos. por isto mesmo.o.o era causa de coisa alguma.possivelmente." .Oshomenssãoosprodutores desuasconcepções. se ela n.desejavamqueasociedadepassasse portransformaçõesradicais. opensamento."Eeleafi rmava: "Atémesmoasconcepçõesnebulosasqueexistemnoscérebrosdos homenssãonecessariamentesublimadasdoseu processodevida.o faz o homem.queasbatalhasdeveriamser travadas.Aconclusãopolíticotáticaseseguenecessariamente:sehouverumaatividadecapazde dissolverideiasemodificarformasantigasde pensar.terrasseintegravampormeiodareligião."Nãoéaconsciência quedeterminaavida. Um sintoma apenas.alguma.assuasrelaçõesespirituaisaparecem. os fil.esomenteaí. Marx n.damoral.usandocomoarmaalguma coisaquenaqueletemposechamavacrítica. o homem que faz a religi.armas.éavidaquedeterminaaconsciência.deconceitos.dasleis.bancos.a.o faz . elesfalariamdeconscientização. a fuma. Queforçaseramestas? Osfilósofosrevolucionáriosaquenosreferimos. projetada sobre a parede? Ela n.o passava de uma sombra.máquinas.Einvestiram contraareligião.queématerial. de um eco.empiricamenteobserváveledeter minadoporpremissasmateriais.es de papel.as que realmente movem a sociedade. investindo contra moinhos de vento.dareligião. Quixote. Estava em busca das for.Eelesentendiamqueaordemsociale raconstruídacomumaargamassaemqueascoisas materiaiseramcimentadasumasnasoutraspormeiodeideiasefor masdepensar. o fogo que faz 5 tuma.Aprodução deideias.Amesmacojsasepodedizerdaproduçãoespiritualdeum povo.Oshegelianosvêemascoisasdecabeçaparabaixo .dafi losofia.. Os b. nos anos que podem viver.nt ica.Aalienação..es e espe ran. nas divers. corpo que tem de comer.o.o estes hori zontes ut. Marcas que se traduzem na comida que podem comer. E muito embora haja alguns que o considerem importante em virtude da ci.ncia. e nos pensamentos com que podem sonhar — suas religi.as e adultos a ler — cada um deles. a consci. De forma id. os que trabalham nas constru.ncia da fuma. 75 Oqueéalienação? Alienarumbem:transferirparaumaoutrapessoaapossedealguma coisaquemepertence. e exibindo em seus corpos as marc as da natureza e as marcas das ferramentas..o o encon tramos de forma abstraia e universal.ias -frias. traz no seu corpo as marcas 74 do seu trabalho.as. .es dos artistas e do prazer n.a a encarar as condi.ncia. nas enfermidades que podem sofrer.til tentar mudar as condi. atividade espiritual criadora.am os olhos para que eles percebam os absurdos do "topos". . desprezando como arroubos juvenis os voos de sua fantasia. claro que Marx nunca viu este sonho ut. corpo que se reproduz. .o nos for. N.ncia da religi. trabalhados pela mem.o.o.nãoéalgoque .a.ria e pela esperan. Foi ele que o construiu a partir de pequenos fragmentos de experi.pico realizado em sociedade alguma. da mesma forma como • in.. os que ensinam crian.o utilit. os pescadores. Marx tamb•m sonhava e imaginava. Trabalho express.nibus. A consci.a. os que trabalham nas forjas e prensas.mica que estabeleceu. E. construtor de um mundo em harmonia com a inten. Quem • esse homem que produz a religi. de maneira espec€fica.assim.. trabalhar. .. o lugar que habitamos. . sua luta pela sobreviv. tamb•m • in.Tenhoumacasa: possodoá-laouvendê-laaumoutro.a nos remete ao inc. os que lutam no campo..ncia econ.o existe no ar.. para sobreviver. trabalho companheiro das cria.o fogo.o doprincípioaofim.picos que agu.m especialmente nas fronteiras em que o seu pensamento invade os horizontes das utopias. os motoristas de .es materiais que a produzem. corpo que tem de transformar a natureza. colocome entre aqueles outros que invertem as coisas e se det.til tentar apagar o fogo assoprando a fuma. Mas o corpo n.ndio de onde ela sai. Mas s.rio do brinquedo e do jogo. Vemos homens indissoluvelmente amarrados aos mundos onde se d. ao contemplar o trabalho.es a que podem se dar. E Marx se perguntava sobre um outro tipo de trabalho que daria prazer e felicidade aos homens. o que ele descobriu foi aliena.o da liberdade.es. E.Poresteprocessoelaéalienad a.es de vida pela cr€tica da religi.o? Ele • um corpo. corpo que necessita de roupa e habita. . resolva dar voos mais 77 altos e investir na bolsa de valores.Elenãoestágerandoum filhoseu.detransferência.o • dif€cil compreender como isto acontece.Oprazer.Eépori stoqueelesesubmeteaotrabalhoeaopago dosalário.Ohomemtrabalhaporquenãotemoutrojeito.elenãoestámetidonaproduçãodeobjetoalg umporque 76 comadivisãodaproduçãonumasériedeatosespecializadoseindep endentes.Seudesejopassa aserodesejodeoutro. Emsegundolugar.es .acontecenacabeçadaspessoas.oobjetoaserproduzidonãoéresultadodeumade cisãosua.Soueletricista.dáuma martelada. Porque tamb•m os capitalistas est.Seudesejoprovocaaima ginaçãoquevisualizaaquiloqueédesejado. sejaumjardim. ." Emterceirolugar.eleérebaixadodacondiçãode construtordecoisasàcondiçãodealguémquesimplesmenteaperta umparafuso.nenhumdelesdirá "eufaçoautomóveis.apertaumbotão. N.Vocêjáviucomosãobonitososcarrosquefab rico?".Tr abalhoforçado.meros indicam as possibilidades de lucro.rio s.So uferramenteiro.ncia ajuntada na poupan. Em .masatividade quedásofrimento.eemconsequênciadoquejáfoidito.vêqueémuitoboaedescansa. consultar tabelas que o informem dos melh ores investimentos.Seumaiorideal:a aposentadoria. E que • que voc.criador.dealgoquepertenciaàprimeira. Como • que voc. vai investir est. nada mais. . Todo o seu comportamento • rigorosamente determinado pela lei do lucro. proceder? Voc. N.meros.o podem fazer o que desejam. dever. Se as firmas em que voc.Eletrabalhapara outro.otrabalhonã oéatividadequedáprazer.Suamarca essencialestánisto:ohomemdesejaalgo.ltimo lugar..eletemdealienaroseudesejo. queMarximaginou.umasinfoniaouumsimplesbrinquedo.Seseperguntaraumoperáriodeumafábricadeautomóv eis:"queéquevocêfaz?".livre.poramoraoobjetoquedevesercriado. Porqueotrabalhoémarcadopelaalienação? Voltemosporuminstanteaotrabalhonãoalienado. e capi talistas.a. e dispondo de uma certa import..eleiráencontrarforadotrabalho.quese põeinteiroatrabalhar. ir. masquefunçãoespecializadaseuscorposfazem:"Soutorneiro..o alienados.Trata-sedeumprocessoobjetivo. Imaginemos que voc. Queacontececomaquelequetrabalhadentrodasatuaiscondições? Emprimeirolugar. Eles n.Elesnãodirãoqueobjetosproduzem.o derrubando florestas e provocando devas ta. vai encontrar nelas? N. externo..Naverdade. o trabalho cria um mundo independente da vontade de oper.deumapessoaa outra.Aimaginaçã oeodesejoinformamocorpo.Equa ndootrabalhoterminaocriador contemplasuaobra. sabendo que o bom do capitalismo • ser capitalista. inclusive o oper.rio.gica do lucro — que inclui de devasta. .o n.quinas.Marxnuncapre goulutadeclasses.Trata-sedeumalei.easenfermidadescardiovasculare squeosafligem. as terras v. separado dos desejos das pessoas.Para Marxaquiseencontraacontradiçãomáximadocapitalismo:ocapit alismocrescegraçasaumacondiçãoquetorna oconflitoentretrabalhadoresepatrõesinevitável. e os peixes b. Eles s. .gica do lucro.m de seguir o seu ritmo e fazer o que elas exigem. mortos.reas verdes s.o do colarinho branco(osamericanosfalammesmonostrabalhadoreswhitecolla r).pormaisaltoqueseja. regido pela l.. M..os. Duas maneiras totalmente diferentes de ser do corpo. Assim. -los •s m.eledizia:odesenlaceé inevitávelporqueosórgãosestãoemguerra. nos olhos.o injustas e cru•is com os seus empregados. no rosto.o h..ria.o. asaventurasamorosasquetêm. o mundo capitalista.o entregues • especula. se elas prosperam pela produ.tãorigorosaquantoaleidaquímicaquediz:compr imindo-seovolumedeumgásapressão . . os €ndios perdem suas terras porque gado • melhor para a economia que €ndio.eliminar áaalienação. Este • o mundo secular. utilit.gica do dinheiro.gicas.. e s.quinas e. enquanto que rios e mares viram caldos venenosos.o de armas. Isto deixar.. totalmente alienado.o? Por que trabalham de forma alienada? Por que n. .o gover nados pela l.o acopl..Nenhumsalário. todas as coisas — da talidomida ao napalm — se transfor mam em mercadorias.m suas marcas. E • assim que o pr..es ecol. por isto. que v.o acoplados •s m..ecol.o saem para outra? 78 Porque n. que horrorizava Durkheim.. na postura.Oproblemanãoéden atureza 79 moralnemdenaturezapsicológica. Para produzir dever.soboponto devistadeMarx.gica do lucro. possuem os seus corpos. Mas que fatores levam os trabalhadores a aceitar tal situa.o nos revela uma sociedade partida entre dois grupos.prio conceito de aliena.o seus...o s. alternativas. as .quinas e meios de produ.o imobili. se elas s. tudo isto • absolutamente irrele vante. duas classes sociais.. Os trabalhadores s. marcas nas m.Achavatalsituação detestável.Nãoseresolvecomboavontade porpartedosoperáriosegenerosidadepor partedospatrões.gicas at• a guerra — est.passandopêlosrestaurantesquefrequentam. Enãoénecessáriopensarmuitoparacompreenderqueosinteresses destasduasclassesnãosãoharmónicos..iam. Estabelecida a l. E o que ocorre • que o mundo estabelecido pela l. especialmente os olhos. Os corpos que habitam o mundo do lucro tamb•m t.rio.Apenascomoummédicoquefazumdiagnósticodeump acienteenfermo. aos meios de produ. t.o-se transformando em desertos de cana. . que prefeririam talvez coisas mais simples. láemO Capital. Eéaquiqueapareceareligião.afumaça.Eospoderososusamasmesmaspalavra s sagradaseinvocamospoderesdadivindadecomocúmpli81 cêsdaguerraedarapina." Defato.deacordocomumpla nopreviamentetraçado.confuso. sobreainfra-estruturaasuperestrutura. sobreavidaaconsciência.fumaças.utopias.religiões. Istoéarealidade:homenstrabalhando.quesóveremoscomclareza quandofizermosascoisasdoprincípioaofim..umaprovaçãoasersuportadacompaciência. sualógicaemformapopular.eaexpansãocolo nial .critériosestéticos. suasolenecompletude.Masquemfazas coisasdoprincípioaofim?Quemcompreendeoplanoeral?Os 80 presidentes?Osplanejadores?Osministros?OFMI? Compreende-sequeoqueaspessoastêmnormalmenteemsuascabe çasnãoseja conhecimento.expandindo-seovolume.Eédistoques urgemecos.pobredela.maspuraideologia.aumenta.Mas.nãosejaciência. fazendocomseuscorposummundoquenãodesejam.. sobrearealidadeasvozes.secr eções.constituiçõ es. poemas. oseucompêndioenciclopédico.reflexosdeum mundoabsurdo. "Areligiãoéateoriageraldestemundo.emrelaçõesunscomosoutr os. Sóquetudoaparecedecabeçaparabaixo. balbucia:"ÉavontadedeDeus".dasprofundezasdoseusofrime nto. suajustificaçãomoral..sobcondiçõesqueelesnãoescolheram. asinjustiçassetransformamemmistériosdedesígniosinsondávei seasua própriamiséria.gritosegemidos.Comopretend eiluminar?Ilumina comilusõesqueconsolamosfracoselegitimaçõesqueconsolidam osfortes..filosofias.cessamtodasasrazões...DizMarx.Eoshabitantesoriginaisdestecontinente esuas civilizaçõesforammassacradosemnomedacruz. Sobreofogo.quandoopobre/oprimido..todososar gumentos.naes perada salvaçãoeternadesuaalma.sonhos. seufundamentouniversaldeconsoloelegitimação.leis.Elamesmanãovê.apressãocai.Eaquipoderíamo safirmar:"Salárioscomprimidosaoseu mínimoproduzemmilagreseconómicosexpandidosaoseumáximo ".emparteparailuminaroscantosescu rosdo conhecimento.. Acríticadareligiãodesiludeo homem.Ideias sãoecos.massobretodasascoisasdoshomensseespalhaoperfumedo incenso.eumrepresentantedeDe usvai aoladodaquelequefoicondenadoamorrer.Desaparecidaaalienação.econstituiç ões seescreveminvocandoavontadedeDeus. "expressãodesofrimentoreal.Seelastêmtaisideiaséporqueasua situaçãoasexige.burocratasouque mquer queostentealgumsinaldesuperioridadehierárquica.numasociedadelivre.levouconsigoparaaÁfricaeaÁsiaoDeusdosbrancos..então..asfendascuradas.masparaqueele quebreacorrenteecolhaaflorviva."felicidade ilusóriadopovo".sintomas..elasmesmas.es pírito deumasituaçãosemespírito.para 82 queasilusõesdesapareçam.ópiodopovo".coraçãodeummundosemcoração. Religião..destaforma.semilusões..Nadasealtera.NemnoParaísoenemnaCidadeSantasee/ni tem alvarásparaaconstruçãodetemplos. suspirodacriaturaoprimida. 83 .Énecessário." Marxantevêofimdareligião.Aspessoasnão podemserconvencidasaabandonarsuasideiasreligiosas..voltouàrazão.Areligiãoéfrutodaalienação.nobálsamoprovisórioparaumador queeleéimpotenteparacurar.Areligiãoénadamaisqueosolilusóri o quegiraemtornodohomem.agoraelegiraemtornodesi mesmo.protestocontraumsofrimentoreal .Ecomistoosreligiososma isdevotos concordariamtambém.afimdefazê-lopensareagiremoldarasuarealidadecomo alguémque.nadas etransforma.éaexigênciadequeseabandoneumasituaçãoquenecessi ta deilusões.emqu enãohaja opressores.desaparece rátambéma religião..oseusolverdadeiro.namedidaemqueelenãogiraemtornod e simesmo.quedeveserabolidacomocondiçãode suaverdadeirafelicidade. "Aexigênciadequeseabandonemasilusõessobreumadeterminad a situação.nãoimportaquesejamcapitalistas.quesuasituaçãoseja mudada.Eéporistoqueéópio.Masoabandonodasilusõesnãose conseguepormeiodeumaatividadeintelectual..aspalavrasquebrotamdosofrimentose transformam. E." "Acríticaarrancouasfloresimagináriasdacorrentenãoparaqueo homemvivaacorrentadosemfantasiasouconsolo.fumaça.Elasóexistenumasituaçãomarcadap ela alienação. umoutrocapítulodeveriaseracrescentadosobreareligiãocomo 84 armadosoprimidos.sesedeveuaosdetalhesdesuae xplicação ouàspromessaseesperançasqueelefoicapazdefazernascer.Oequívocoépensarqueosagradoésomenteaquiloqueostentaosno mes religiosostradicionais.. comoAlbertCamuscorretamenteobserva.vel ignorar que as pessoas encont ram raz.aíestáodiscursododesejo.".teriadeser incluídocomoumadelas.co moguias paraahumanidade".Parecequeacríticamarxistadareligiã onão terminacomela. construindocasasàtarde.es. .foramseos símbolossagrados."Marxfoioúnicoque compreendeu que uma religi..o • um sonho de mente humana.ando -se em empresas grandiosas e atrevendo -se a gestos loucos.” (L..justamenteolugarondenascem os deuses.Feuerbach) De fato.dedireito.EMarxfalasobreumasociedadesemclassesqueninguémn uncaviu.aomesmotempoqueaspes soas brincameriemenquantotrabalham..as religiosas. 85 VOZ DO DESEJO “ A religi.sim.discutindoarteànoite.queserviram.nasquaisideiasnovasaparec erame novasfórmulasforamencontradas..Po rque.enotr iunfo daliberdadeenodesaparecimentodeopressoreseoprimidos..o passasse de um discurso sem sentido.enqu anto oEstadomurchadevelhiceeinutilidade.sendoqueomarxismo.".ncia deveria ser chamada de pol€ tica.porumpouco. ..o que n.es para viver e morrer em suas esperan.plantandojardinspelamanhã. n. como Camus observou. . enavisãotransparenteeconhecimentocristalinodascoisas. • poss€vel encarar a religi.justamenteaqueles"jáavançadosemanosoujá mortos.àanálisequeomarxismofazdareligiãocomoópiod opovo. Mas.então.Maseumeperguntariasearazãoporqueomarxismofoicapazdep roduzir"horasdeefervescênciacriativa. . lan. como o fizeram os empiricistas/positivistas.o como se ela n..o • poss.massimplesmenteinauguraumoutrocapítulo.eumeperguntariasetudoistosedeveuaor igorde suaciênciaouàpaixãodesuavisão.Defato....o invoca a transcend.Ondequerqueimaginemosvaloreseosacres centemos aoreal.Ese istofor verdade. compondo poemas e can.BemlembravaDurkheimqueasroupassim bólicas dareligiãosealteram. n.osolhostristesparaocéutranqui lo.Defato. Mas o seu prop.quandonosdispomosaentrarnestesantuáriodesubjetividade..ouexperimentaapaz indizíveldecomunhãocomosagrado.Porqueanálise 87 sociológica.estapessoaeseus sentimentosreligiososseencontramnumaesferadeexperiência indiferenteàanálisesociológica. O mesmo procedimento pode ser aplicadoaosuicídio.gico. Por outro lado.Quaissãoasrazões quefazemcomqueoshomensconstruamosmundosimaginários dareligião?Porquenãosemantêmelesdentrodoestóicoe . • poss€vel analisar a religi..o • injusta.sito • simplesmente mostrar que o discurso religioso cont•m algo mais que a pura ausencia de sentido .demaneiracuriosa. como o fizeram Marx e Durkheim.emambososcasos.subjetiva.sim.umavezmais.quandoadecisãoestavase ndo tomada:ospensamentos.chorando.rtires..solteirosmaisqueoscasados.existe ncial.resta-nosumadúvida:seráq uea explicaçãoqueenunciaosquadrossociológicosdosuicídionosdi zalgo acercadosuicida?Aquelaúltimanoite.homen smais quemulheres.ou dobraosjoelhos.asmãoscrispadas. e dificilmente poder..o podendo.aanálisecientíficamostraquea frequênciaeincidênciadosuicídioseguem.velhosmaisqueosmoços.marcando o lugar onde os mortos amados foram enterrados e..ousecurvaperanteas exigênciasmoraisdesuafé.ngulo sociol.o produziram os seus m.apessoaquefazpromessasaoseuDeusparaqueseufilhoviv a.Seéverdadequeareligiãoéumfato social. Enquanto. ser exorcizado pela cr€tica epstemologica. defrontamo-nos.confessandopecadosqueninguém conheciaepedindoperdãoaoinimigo... Seeumencionoosuicídioépara estabelecerumaanalogiacoma religião.Mas.o do discurso religioso ainda n.habit antes dascidadesmaisquecamponeses.Estedrama/poesiaqueocorrenasolidãodaalmaquepreparas eu últimogestoescapapermanentementedaanálisesociológica. entregando -se mesmo ao mart€rio.Sei que a compara.p araser totalmentehonesto:taldramalheéabsolutamenteindiferente.o oferecer raz.es para viver 86 e morrer.ce rtos sulcossociais:protestantessesuicidammaisquecatólicos.pormaisrigoro sos quesejamosresultadosdetalanálise.E.rio. por isso mesmo.nasolidão. por outro lado.ospassosatéajanela. Masseráqueistoatornamenosreal? E.quemsabeasprecesea scartas esboçadas.porseríntima.fazumsilênciototalsobreoque ocorrenasprofundezasdaalma. Não. parece que estes mesmos que propuseram a liquida. se necess.comoenigma..o de um . nemreligiõese.queaceitamavidacomoelaé..digo • uma forma de engan.-lo..es n.digo quando h.es do nosso interior.Efoiassimquepens aram tambémoscontemporâneosdeLudwigFeuërbach.Religiõessãoossonhosdosqueest ão acordados.eseelesforemexpressõesdaalmahumana.o s.nemrevoluções. Ninguémdiscorda:ossímbolosoníricosnãosignificamomundoex terior.modestorealismodosanimais.Mundofantasmagóricodeconto rnos indefinidos.Ousadiademaisdi zerque religiãoéapenassonho. -las.. ..o enviadas em c.emqueascoisassãoenãosão.escapamà maldiçãodaneuroseedaangústia? Efoiemmeioapensamentossemelhantesaestequeumreligiosodo séculopassadoteveestelampejodeumavisãoquecolocavaareligi ãosob umaluzatotalmentediferente. o enigma? Mensagens s.o deve compreend..sintomasdealgoqu eocorre emnossoíntimo.Quesãoossonhos?Conglomeradosd eabsurdosa queninguémdeveprestaratenção. Porquenãotentavaentenderareligiãodamesmaformacomo entendemosossonhos?Sonhos 88 sãoasreligiõesdosquedormem.o feitas em linguagem clara e direta? Por que a obscuridade. nos sonhos.Nãosãoreportagensso breos eventosdodia.nãosignificamcoisaalguma.comisto.revelaçõesdasnossasprofundezas?Apropostap oderiaser aceitaanãoserpelofatodequenemnósmesmosenten89 demos o que os sonhos significam.quasesempre.Etantoistoéverdadeque frequentementenãotemoscoragemparacontaroquefizemosemno ssosono. Ser. Masquemdizapenassonhoéporquenãoentendeu. algu•m que n.. provavelmenteenfurecidas. como inocente. E • isto que parece acontecer no sonho: somos aquele que envia a .pria destrui.emquefazemoscoisasq uenunca faríamosseestivéssemosacordados.ossonho snão correspondemaosfatosdavidaaquidefora.queocondenara mao ostracismointelectualparaorestodeseusdias.. falamos conosco mesmos numa l€ngua que nos • estranha? Se os sonhos s..Defato. por que • que tais revela.nãofa zem canções. Mas. Assim ele deixa passar.Felizmenteesquecemostudo..Delesseriapossíveldizeromesmoquesedissedodi scurso religioso:destituídosdesentido. Ébempossívelqueaspessoasreligiosassesintamdesapontadas.. a mensa gem que pode significar sua pr.o... que. O inimigo: o c.o revela. mensagem e, ao mesmo tempo, o inimigo que n.o deve entend. -la.. . . exatamente isto que diz a psican.lise. Somos seres rachados, atormentados por uma guerra interna sem fim, chamada neurose, na qual somos nossos pr.prios advers.rios. Um dos lados de n.s mesmos habita a luz diurna, representa a legalidade, e veste as m.scaras de uma enorme companhia teatral, desempenhando pap•is por todos reconhecidos e respeitados — marido fiel, esposa dedicada, profissional competente, pai compreensivo, velho s.bio e paciente — e pela representa..o convincente recebendo recompensas de status, respeito, poder e dinheiro. E todos sabem que a transgress.o das leis que regem este mundo provoca puni..es e deixa estigmas dolo rosos. . . Por detr.s da m.scara, entretanto, est. um outro ser, amorda.ado, em ferros, reprimido. 90 recalcado, proibido de fazer ou dizer o que deseja, sem permiss.o para ver a luz do sol, condenado a viver nas sombras.. . . o desejo, roubado dos seus direitos, e dominado, pela for.a, por um poder estranho e mais forte: a sociedade. . desejo grita: "Eu quero!" A sociedade responde: "N.o podes", "Tu deves". O desejo procura o prazer. A sociedade proclama a ordem. E assim se configura o conflito. Se a sociedade estabelece proibi..es • porque ali o desejo procura se infiltrar. IM.o • necess.rio proibir que as pessoas comam pedras, porque ningu• m o deseja. S. se pro€be o desejado. Assim, pode haver leis proibindo o incesto, o furto, a exibi..o da nudez, os atos sexuais em p.blico, a crueldade para com crian.as e animais, o assas sinato, o homossexualismo e lesbianismo, a ofensa a poderes constitu€dos. . que tais desejos s.o muito fortes. O aparato de repress.o e censura ser. tanto mais forte quanto mais intensa for a tenta..o de transgredir a ordem estabelecida pela sociedade. Tudo seria mais simples se a repress.o estivesse localizada fora de n.s e o desejo alojado dentro de n.s. Pelo menos, desta forma, os inimigos estariam claramente identificados e separados. Entretanto a psican.lise afirma que, se • verdade que a ess.ncia da sociedade • a repress.o do indiv€duo, a ess.ncia do indiv€duo • a repress.o de si mesmo. Somos os dois lados do combate. 91 Perseguidor e perseguido, torturador e torturado. N.o • exatamente isto que experimentamos no sentimento de culpa? Somos nossos pr.prios acusadores. E, no seu ponto extremo, a culpa desemboca no suic€dio: o suicida •, ao mesmo tempo, carrasco e v€tima. Vivemos em guerra permanente conosco mesmos. Somos incapazes de ser felizes. N.o somos os que desejamos ser. O que desejamos ser jaz reprimido.. . E • justamente a., diria Feuerbach, que se encontra a ess.ncia do que somos. Somos o nosso desejo, desejo que n.o pode florescer. Mas, o pior de tudo, como Freud observa, • que nem sequer temos 'consci.ncia do que desejamos. N.o sabemos o que queremos ser. N.o sabemos o que desejamos porque o desejo, reprimido, foi for.ado a habitar as regi.es do esquecimento. Tornou-se inconsciente. Acontece que o desejo • indestrut.vel. E l., do esquecimento em que se encontra, ele n.o cessa de enviar mensagens cifradas — para que os seus captores n.o as entendam. E elas aparecem como sintomas neur.ticos, como lapsos e equ€ vocos, como sonhos. . . Os sonhos s.o a voz do desejo. E • aqui que nasce a religi.o, como mensa gem do desejo, express.o de nostalgia, esperan.a de prazer. .. Mas o acordo entre Freud e Feuerbach termina aqui. Daqui para a frente caminhar.o em direc.es opostas. 92 Freudestavaconvencidodequeosnossosdesejos,pormais fortesquefossem,estavamcondenadosaofracasso.Eistoporquea realidadenãofoifeitaparaatenderaosdesejosdocoração.Ainten ção dequefôssemosfelizesnãoseachainscritanoplanodaCriação.A realidadesegueseucursoférreo,emmeioàsnossaslágrimasesurd aaelas. Envelhecemos,adoecemos,sentimosdores,nossoscorpossetorn am flácidos,abelezasevai,osórgãossexuaisnãomaisrespondemaos estímulosdoodor,davista,dotato,eamorteseaproximainexoráve l. Nãohádesejoquepossaalterarocaminhardo"princípioda realidade". Emmeioaestasituaçãosemsaídaaimaginaçãocriamecanismosde consoloefuga,pormeiodosquaisohomempretendeencontrar,na fantasia,oprazerquearealidadelhenega.Evidentemente,nadama is queilusõesenarcóticos,destinadosatornarnossodia-a-diameno s miserável. Areligiãoéumdestesmecanismos.Religiõessãoilusões,realizaç õesdos maisvelhos,maisfortesemaisurgentesdesejosdahumanidade.Se elassão forteséporqueosdesejosqueelasrepresentamosão.Equedesejos sãoestes? Desejosquenascemdanecessidadequetêmoshomensdesedefende rdaforca esmagadoramentesuperiordanatureza.Eelesperceberamque,sef ossem capazesdevisualizar,emmeioaestarealidade 93 Freudestavaconvencidodequeosnossosdesejos,pormaisfortesq ue fossem,estavamcondenadosaofracasso. 94 friaesinistraqueosenchiadeansiedade,umcoraçãoquesentiaepu lsavacomo odeles,oproblemaestariaresolvido.Deuséestecoraçãofictícioq ueodesejo inventou,paratornarouniversohumanoeamigo.Eentãoaprópria morte perdeuoseucaráterameaçador.Asreligiõessão,assim,ilusõesqu etornama vidamaissuave.Narcóticos.ComodiriaMarx:oópiodopovo. Maselasestãocondenadasadesaparecer. Eistoporqueahumanidadesegueumprocessodedesenvolvimento muito semelhanteàqueleporquepassacadaumdenós.Nascemoscrianças etemosa maiorexperiênciapossíveldoprazer:auniãoperfeitacomoseiom aterno. Paracrescer,entretanto,temosdeperderoparaíso,cujamemórian ãonos abandonanunca.Perdemososeioecriamosconsolossubstitutivos :odedo,a chupeta.Mastambémodedoeachupetanossãoproibidos.Etratam osde reencontrararealizaçãodoprazernosbrinquedos,nosquaisodese joreina supremo.Mascadaavançoemmaturidadesignificaumaperdadear tifícios substitutivosdoprazer.Vamossendoeducadosparaarealidade. Abandonamosasilusões.Deixamososprazeresdafantasia.Ajusta mo-nosao mundo,talcomoeleé.Tornamo-nosadultos.Deformaanálogaoiní cioda históriadahumanidadeémarcadopelacompulsãodoprazer.Eosho mens inventaramrituaismágicosesistemasreligiosos .95 comoexpressõesdaonipotênciadodesejo,emoposiçãoàrealidade .Aos poucos,entretanto,comoumalagartaquesaidocasulo,ahumanida de abandonouasilusõesinventadaspeloprincípiodoprazerecristali zadasna religião,paraingressarnomundoadultocontroladopeloprincípi oda realidadeeexplicadopelaciência.Edamesmaformacomoo desenvolvimentodainfânciaatéaidadeadultaéinevitável,també mé inevitávelodesaparecimentodareligião,resquíciodeummoment oinfantil denossahistória,easuasubstituiçãodefinitivapelosabercientíf ico. NãoécuriosoqueFreudnãotenhatidoparacomareligiãoamesmasi mpatia quetinhaparacomossonhos?Emrelaçãoaossonhoselemanifestau menorme cuidadoparacomosdetalhes,tratandodeinterpretaraspistasmai sinsignificantes,poisatravésdelasoanalistapoderiateracessoaossegred osdo inconsciente.Masemrelaçãoàreligiãooseujuízoéglobaledestit uídode nuanças.Elaécondenadacomoumailusãoquedeveacabar.Aconte ceque Freudestavaconvencidodequeosdesejosestãocondenadosaofra casso,faceao poderinalteráveldanaturezaedacivilização.Daíainutilidadede sonhar... Ossonhosnosconduzemaopassado,paraísoemquehaviaauniãope rfeitae divinacomoseiomaterno.Masopassadoacabou.Eofuturonãoofer ece possibilidadesdesatisfação Não.Aconteceque. um homem tenha sido condenado • pris. a revela. sejapela força.aocontrário. meditar.96 dodesejo. com o desejo — e os homens ent... foi confinado • pris.doso noeda inação.o confiss.contemplaneleslampejosd ofuturo.esquecemossonhos.paraFeuerbac h.chegamosàconclusãodequeocoraçãohuman o proclama.nãopodeserverdade"." Aqui • necess.umadenúncia.o..Damesmafor macomoo prisioneirogrita:"Asgradesnãopodemsereternas!". an.o • o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem. no livro de Orwell.umarecusa.os sonhoscontêmamaiordetodasasverdades.o felizes.Arealidadeéanegaçãododesejo.o queria (os desejos s.o • de causar espanto que. E • assim que Feuerbach afirma: "A religi. Confessou que os seus desejos estavam muito distantes e eram muito diferentes. reler.P ortantoa realidadedeveserabolida.o. voluntariamenteabandonamosdesejos.ncia daquilo que o seu cora. ainda que enigm.o ser. sem que ele sequer tivesse consci. E • justamente sobre tais desejos que fala a religi.oscie ntistas.blica dos seus segredos de amor. EmFreudossonhossãomemóriasinúteisdeumpassadoquenãopod eser recuperado. .afimde 97 ser transformada.o p.Feuerbach. Mas.Eestaéarazãoporqueoshomensrealmentesábios.o por haver sonhado.Cadasonhoé um protesto. E ele continua: . de utopias em que a realidade se harmonizar. Sonhou em voz alta.seistoéumfato. N..es de projetos ocultos e subversivos.liqui dama religião.sejavoluntariamente.averdadedocoraçãohu mano.semcessar:"Oqueé. . E.Seosnossosdesejosdeamors ópodemser ditosnascâmarasescurasenoturnasdosquartos.a verdadedaessênciadoshomens.Osdesejosdevemserreprimidos. Porquerazãotalessênciaaparecerepresentadanalinguagemenig máticados sonhos? Porqueascondiçõesreaisdenossavidaimpedemeproíbemasua realização. a confiss.o dos seus pensa mentos mais €ntimos. Freud se concentra na inutilidade dos sonhos. 7554. Feuerbach percebe que eles s.rio parar um pouco para ler.ncios. usufruir a densidade po•tica das palavras.nãoqueremosdizerqueossonhossejamdotadosdepoderespr oféticos paraanunciaroqueaindanãoocorreu.o incons cientes!).daschaves.éporqueosespaçoseostemposclarosediurnosdavidapúbl icae políticasãooopostododesejo.ticos. perguntava:ondeestãoasentidadessobrequefala areligião? Osdeusesedemónios?Opecadoeagraça?Osespíritos?Osastrais? Nada. o seu Deus.ncia.noespelho.. assim ser.nossaprópriaessência. Este • o mist•rio da religi. "Deus • a mais alta subjetividade do homem. conhecimento de Deus 98 • autoconhecimento.E Feuerbachseria.Masnossonhosnãonos encontramosnemnovazio..Omundodosagradonãoéum a realidadedoladodelá.Tomavaodiscursoreligiosocomosefossejanelae .. se a psican. Espelho.ocarátersagradodosseusvalores..abrindo-separaumladodeláondehabitamentidade s extra-mundanas.o mais ser.Éisto:alinguagemreligiosaéumespelhoemquesereflet eaquilo quemaisamamos." Éohomemquefala.enemnos céus.aoinvésdasimplesl uz diurnadarealidadeedanecessidade". . 100 masatransfiguraçãodaquiloqueexistedoladodecá.falasempreaverdade. Consci.queméteuDeus?Nóstediremosquemés.comonosrimosdealguémquecumprimentasuapr ópria imagem. assim convertida em sujeito. 99 Qualoteusonho.alinguagemreligiosanãoéumajanela. quanto valor tiver um homem.comopensavaoempiricismo.ver. porquedizdosseussegredosdeamoreanunciaomundoquepoderia fazê-lofeliz. exatamente isto e n."rnasnaterra.Oqueocorreéquenossonhosvemosascoisasreaisno esplendormágicodaimaginaçãoedocapricho.a bondadedeviver. Dissolve-seaquiamaldiçãoqueoempirismo/positivismohaviala nçado sobreareligião..Eassimchegamosà mais espantosadasconclusõesdestehomemqueamavaareligiãoenelae ncontravaa .o se transforma a si mesmo num objeto face a esta imagem. absolutamentenadaencontramosquecorrespondaaestesconceito s.Areligiãoéumsonho.ouvir.cheirar.oabsolutodose ucorpo. .comoafirmavamosteólogos." Assim. Feuerbach acrescenta "conta-me acerca do teu Deus e eu te direi quem •s".Oqueareligiãoafirmaéa divindadedohomem.. o valor do seu Deus.comer."Como forem os pensamentos e as disposi.numalinguagemque nemelemesmoentende.o: o homem projeta o seu ser na objetividade e ent.dasprofundezasdoseuser.olhando omundoláfora.Adespeitodisto.. Não.es do homem.nãoéumvidro transparente.lise dizia "conta-me teus sonhos e decifrarei o teu segredo".ncia de Deus • autoconsci.noreinoda realidade. c erimónias mágicasebenzeções.bemantesdostemposdeCristo.podemospercebero scontornos.seconfiguramagoracomosímboloso níricosdos segredosdaalma. Eassimareligiãoépreservadacomosonho.procissõesepromessas..Porqueasreligiões..queosentidodareligiãoestáescondidodas pessoas religiosas.OscarRanulfoHomero. 102 ODEUSDOSOPRIMIDOS MahatmaGandhi.nomomentoemq ueo sonhoéinterpretadoecompreendido..para colheraflor.Sópodereireconhecer-me.inclusiveanossa. caleidoscópiosdeabsurdos.masemres postaaos sonhosquevêmdedentro. 101 emconsequênciadisto.Sóque. Necessariamente.Eos seussonhosreligiosossetransformamemfragmentosutópicosdeu manova ordemaserconstruída.assassinadoem 1948.nãoemvirtudedepressõesquevêmdefora.Soueu oúnico absoluto.utopiadeumasociedadeemqueopresent eémágicae miraculosamentemetamorfoseadopelohomemquequebraascorre ntes.MartinLutherKíng..umnovocorp o.líderhindu. assassinadoem1968.pastorprotestante.revelaçãodossegredosdesuaprópriaalma:"Osegredodareligião éo ateísmo".se souberquenãoexisteninguémládentro.Sópodereireconhecer-m eem minhasideiasdeDeussesouberquenãoexisteDeusalgum.naimagemdoespelh o.como futuro.E Feuerbachconcluiria. arcebispocatólico. Quemerameles?Emgeralaspessoaspensamqueprofetassãoviden tes .dohomemqueesperaumanovaterra.surgiuentre oshebreusumaestranhaestirpedelíderesreligiosos.oqueestavaláemcimareaparecelánafrente . aindaqueténues.Elassonhammasnãoentendemosseussonhos.osprofetas.. Éevidentequeaspessoasreligiosasnãopodemaceitartalconclusã o.Easimagensqueareligiãotomavacomoretratosdoserma isbeloe maisperfeitopassamaconstituirumhorizontedeesperançaemque oshomens espalhamosseusdesejos. Muitosséculosatrás.Epordetrásdosmitoseritos..assassinadoem1980.Deusdesaparece:oscéusse transformamemterra. Etudosetransformasobosnossosolhos... todos compreendiam que eles estavam exigindo o fim das pr. aos sofredores.compreen der.. aos . acusando -os de traidores e denunciando sua prega..ticas de opress.tornando-secentralizadoe concentradonasmãosdeunspoucos. uns com os outros: "Abomino e desprezo vossas celebra. Era necess. . Eistoporqueelesentendiamqueosagrado. Corra.ados da terra. anunciaredenunciaroqueocorrianoseupresente. a todos aqueles que se encontravam fora dos c€rculos da riqueza e do poder. aos estrangeiros." (Amos. enfim. a justi. por raz.ncia dos pesados impostos que sobre elas reca€am.Elespoucoounadasepreocupava m comaquiloquevulgarmenteconsideramoscomopropriamente pertencendoaocírculodosagrado:ocultivodasexperiências místicas. E enquanto lutavam com o poder estatal.vas.es dos homens.o que surgem os profetas como porta -vozes dos desgra.24).Emsuasbocastaispalavrastinhamumsentido políticoesocialquetodosentendiam.o.Maverdade. 5. Assim.a como um ribeiro impetuoso.dotadosdepoderesespeciaisparapreverofuturo. Instaurou-se com os profetas um novo tipo de religi..o.m de passar pelas rela. aos fracos.comosempreacontece.aver. As pequenas comunidades rurais. de natureza •tica e pol€tica. se enfraqueciam em decorr.semmuitoo quedizersobreoaquieoagora. quando o poder de alguns aumenta.Nadamaisdistantedavocaçãodopr ofeta hebreu. os detes tavam.aquedavamonomede vontadedeDeus. que eram ent.Suapregaçãoest ava coladaàsituaçãodoshomenscomuns.a.es ..ria aos interesses nacio nais..patrocinadasecelebradaspelaclassesac erdotal.o subsiste.ndios por um pequeno grupo de capitalistas urbanos.dasatitudespiedosasedascelebraçõescerimoniaisestá praticamenteausentedoâmbitodosseusinteresses. .Tantoassimque suas pregaçõesestavammais 103 próximasdeeditoriaispolíticosdejornaisquedemeditações espirituaisdegurusreligiosos. que em outras •pocas haviam sido o centro da vida do povo hebreu. por•m. e que entendia que as rela.tinhaaverfundamentalmentecomajustiçaea misericórdia. Os camponesas.o transformadas em latif. Foram proibidos de falar.o como contr.quesededicava.rf.bvias. perseguidos e mesmo mortos. . quando pregavam a justi. de tal situa.es dos homens com Deus t. tinham de vender suas propriedades. pobres. As autoridades.rio que a vida e a alegria fossem devolvidas aos pobres. o poder dos outros diminui.Parasecompreenderoque diziamnãoeranecessárioserfilósofoouteólogo.os e vi. confrontavam-se com os .compaixãosemparalelo.es solenes.E.Quesituaçãoeraesta? OEstadocresciacadavezmais.boapar tede suapregaçãoeratomadapeloataqueàspráticasreligiosas dominantesemseusdias. de um lado. A fraqueza do povo crescia na medida em que se avolumava o poder dos ex•rcitos — porque 104 sem eles o Estado n. e quedespertavaaesperançaeapontavaparaumfuturonovo. envolvendo-anaauradaaprovaçãodivina. comotambémàquelesquesacralizavamejustificavamaopressão.aharmoniacomanaturezaseriarestabelecida..pesadas.. umautopia.enraizadasemsuainjustiçaecegasparaojulgamentodivi no queseaproximava.sedirigianãoapenasàquelesqueefetivamenteoprimiamos fracos.paralibertarouescravizar..oslugaress ecose desoladosseconverteriamemmananciaisdeáguas.10). assim.tristezaseesperançasdopovo.aosmansos.Elapodeser usadaparailuminarouparacegar. Masestaliçãofoiesquecida.AmemóriadoDeusdosoprimidosse perdeu.satisfeitasc onsigo mesmas.ospoderososs eriam destronadoseaterradevolvida.tudod ependendodaquelesquemanipulamossímbolossagrados.Efoiassimque.Enãoédifícilcompreenderporquê.cercade 2500anos antesquequalquerpessoadissessequeareligiãoéoópiodopovo.Visõessemelhantes àssuas ." (Ezequiel.fracos..emqueasarmasseriamtransformadas em arados. comasdores.oReinodeDeus.quetornavamaspessoasgordas.eacusaramossacerdotesdeen ganadoresdo povoeosfalsosprofetasdepregadoresdeilusões: "Elesenganamomeupovodizendoquetudovaibemquandonadavai bem..queeraoDeusdosoprimidos. pobrese oprimidos.visõesdeumaterrase mmales.par adar coragemouatemorizar.105 representantesdareligiãooficial.Suadenúnciapro fética.Daíanecessid adede separaroDeusemcujonomefalavam.parafazervoarouparalisar.comoherança.dosídol osdos opressores. 106 Êprovávelqueosprofetastenhamsidoosprimeirosacompreender aambivalênciadareligião:elaseprestaaobjetivosopostos.el es perceberamqueatémesmoosnomesdeDeuseossímbolossagrados podemser usadospêlosinteressesdaopressão..dooutro.Parecia-lhesqueuma religião protegidapeloEstadosópodiaestaraseuserviço. Pretendemesconderasrachadurasnaparedecomumamãodecal. Eemoposiçãoaestafalsareligiãoquesacra-lizavaopresenteelest eceram.13. mão s dadascomosconquistadores.Eas evidências.narcótico..líderdecamponesesnoséculoXVI.atravésdodiscursodosvitoriosos.fezdesimesmaedaquelesque 107 foramesmagados.odesenvolvimentodaartedainterpretaçãoquepermitia vislumbrar.averdadeacercad os vencidos.revolucionários quefalavamemnomedeDeuseemnomedospobres.E. Depois..muitoemboraosder rotados tivessemdeixadopoucosdocumentossobresimesmos.emnossamemóriarestouapenasarelig ião dosfortes.foramosrelatosqureligiãotriunfante.Foientãoque umasérie defatorescoincidentespermitiuquesereconstruísseaperdidavis ão proféticadareligiãocomoinstrumentodelibertaçãodosoprimido s.ouquesevalessemapenasdopoderdoexemplo edanão violência.comfrequência.nospróprio sdocu- .paraefeitos práticos.Masospobreseosfracosvã ode derrotaemdejrota. Primeiro.Sãoosfortesqueescrevemahi stóriae estaéarazãoporquenãoseencontramaliasrazõesdosderrotados.Assim.comofoiocasodeSãoFranciscodeAssis.elacontinuouemergindoaquieali.Quempreservariasuasmemórias?Quemacolheriasuasdenúncias?Quemregistrariaassuasqueixas?Nãosepo deesperar tantagenerosidadedosvencedores.sóaparecememmeioaospobresefracos.justamenteaquelaqueosprofetasdenunciaram.assim.numesforçoparase penetraratrásdacortinadeinterpretaçõesqueosvitoriososhavia m erigido.foicomosetalreligiãonuncativesseexistido.odesenvolvimentodaciênciahistórica.ilusão.Eláforamencontrados..quetornouposs ível arecuperaçãodosfragmentosdopassado.J á notaramcomoosderrotadossãosempredescritoscomovilões?Oq ue restou.assim.Artedainterpretação?Paranossosobjetivos 108 bastasaberque"oqueoAntóniofalaacercadePedrocontémmaisin formações acercadeAntónioqueacercadePedro".comohistória.Quant oà religiãodosprofetas.nãoimportaquet ivessem namãoaespada.anabatista.comoThomasMunzer.Masaque lesque empunharamsuasesperançasforamderrotados.pareciamseajuntarparalevaràconclusãodequ ea religiãonadamaiséquealienação..E. lunáticos.foiare sposta. justificadorasdosmassacresdosmovimentosrevolucionáriosde camponeses.quandoasversõesoficiais .Certodiaeu"estavaengraxandoossapatos.Aquiloqueos opressoresdenunciamnosoprirnidosnãoéaverdadedosoprimido s.mentosdosvitoriososaverdadeestavaescondida.o pode? Uma classe forte e uma classe fraca? At• mesmo as crian. necessa riamente. .o de que os poderosos pensam diferentemente daqueles que n. denominadosmessiânicos.pela textura socialdenossasvidas. . talvez. Mas.revela-see mquemedida ostrabalhadoresdeenxadaepénochãoquestionavamaordemdedo minação. e assim por diante.veis e outras que usam sand. numapraça.adas se classifiquem em pessoas que usam sapatos engrax.comoéquevocêsabequeeleéumfreguês?". "Então. E as pessoas cal.mas aquiloqueosopressorestemem. .Messiânicos?Sim.as.Éassim. osdescreviamcomofanáticos.adas e pessoas descal.o t. E a conclus. n.a.comoooposto. EahistóriadoBrasilapresentamuitosexemplosdestesmovimento s.Aoqueelerespo ndeu:"O senhornãoolhoupróssapatosdele?". • que os sonhos dos poderosos . . se divida entre pessoas cal.osolhosdosengraxa teseoseu pensamento seguem os caminhos do seu trabalho.um representantedeDeusparaexerceropodereestabelecerumasocie dadejusta sobreafacedaterra.anárquicos.viuumhomemqueseaproximavaecomentou: 109 "Lávemumfreguês".Assim.engraxate. E tamb•m os migrantes. E assim por diante."Não". e os camponeses assolados pela seca. alpargatas e sapatos de camur.m poder: "o mundo dos felizes • diferente do mundo dos infelizes" (Wittgenstein).comocorcomplementar.lias havaia nas. Aomesmotemposeelaborouumaciêncianovaquerecebeuonomed e sociologiadoconhecimento. O seu mundo.as e velhos.Esperavamummess ias.Perguntei:"Éseuconhecido?".as e velhos sabem disto — especialmente as crian.o que se segue. e os doentes que morrem sem atendimento m•dico.comoonegativo deuma fotografia.Seupontodepartidaéextremamente simples: elaconstataqueamaneirapelaqualpensamosécondicionada. No seu ponto extremo esta linha de pensamento nos levaria • conc lus.o • verdade que toda sociedade tem uma classe dominante e uma classe dominada? Uma classe que pode e outra que n. Ogaroto. sem casas.rio que tanto dominadores quanto dominados aceitem tal situa. E como se perpetua o presente? Primeiro. Com os dominados a situa.. E o futuro? Os fracos exigem a mudan.o podem esconder sua perplexidade. porque assim os detentores do poder n. . a tranquilidade. O futuro? Os fortes n.o de Marx de que a religi. o lucro.veis..o importa o nome que se lhe d. Doen. como atividade humana.o de admitir que os fantasmas superes-truturais podem se encarnar e fazer hist. na eventualidade de que as religi. . E tamb•m suas religi.o do Reino de Deus. pelo menos em seus sonhos. E • por isto que nos templos se encontram bandeiras e rituais de a. independentemente de quaisquer considera. Reencontramo-nos assim no mundo dos profe111 tas em que a religi. Elas exigem rever.o (Buber). Morte prematura..sis.es possam revolucionar a realidade.utopiassere ferema . Constroem-se fortalezas.a.. Teria sido melhor que Marx estivesse certo. . Os poderosos moram em o.o o seja. destinado • eternidade.m os homens para imaginar utopias e organizar o seu comportamentocomoumatáticapararealizá-las. E isto porque.. Contrariamente •queles que pensam que a a.a.m de ser diferentes dos sonhos dos oprimidos.. sem trabalho.o com sua voz. bem como o mundo do poder que ele envolve.o do presente para que o futuro seja a realiza.prios marxistas que n.nico.es. O seu poder lhes abre avenidas largas para o bemestar. O sagrado est.Quesãoutopias? Realidades? Deformaalguma. aqueles que se horrorizaram com a afirma.rias. ir..Comoopróprionomeestáindicando. pobreza pela vontade de Deus..o celebrados pelo triunfo dos que venceram.o aparece com toda a sua ambival.. a prosperidade.o • de humilha.a s.o • o .o como leg€tima. Que o futuro seja uma continua. se n.a. sabemos que coisas sagradas s. a 110 ran. sem seguran.de. Mannheim sugere que aquilo que caracteriza propriamente a pol€tica. Sua condi. 112 • a capacidade que t. E dos pobres e oprimidos brotam as esperan. ter.es de gra.pica".. pelo uso da for.o intoc.ncia pol€tica: os sonhos dos poderosos eternizam o presente e exorcizam um futuro novo. mas esta conclus. .o querem mudan. Mas j. Um fascinante estudo deste assunto se encontra no artigo de KarI Mannheim entitulado "A mentalidade ut.ria..t.o escandaliza tanto a gregos quanto a troianos.o teriam de se preocupar com os profetas e suas esperan. n. de um lado para outro. N. . Riqueza pela vontade de Deus.a.ncia e submiss. Mas.as —tal como aconteceu com os profetas hebreus — de um futuro em que eles herdar. .o a terra.as.o • sempre o efeito de uma causa material que a antecede. por outro lado. De um lado.sis. Sem poder. .o • diferente.a.as.. mas os desertos. os sonhos dos oprimidos exigem a dissolu. .o. sem tranquilidade. Tudo se reveste com a aura sagrada. por medo.o do presente.. s. a sa.pio do povo se horrorizam agora com a possibilidade de que talvez ela n.o incidem sobre os fatores materiais para determinar a pol€tica.. em que ele analisa a maneira como o desejo e a imagina. Depois • necess.o os pr. O sofrimento prepara a alma para a vis.o. sem ra€zes e sem terras.o habitam os o.es utilit. emquetodasaspotênc iasdo mal.algoquenãoseencontraemlugaralgum(dogregoou=não+topos=l ugar).Maisdoqueisto.Eaquivoltamosà sociologiadoconhecimento.tenhafaladosobrea esperançadeumarevoluçãototalnocosmos.Ébemp ossível.sabendoqueascoisassãooquesãop êlos decretosinsondáveisdavontadedeDeus.acreditouencontrarf ermento semelhantedentromesmodacomunidadecristãprimitiva. Maspermaneceumproblema.tratandoderesolverosproblemasdo seu dia-a-diasemmuitaesperança.Parecequeelessesentemmaisàvontadenacompanhiado mágico.NemmesmoMar xse lembroudestesancestraisdoproletariado.Existiráalgumaoutraalternativapa ra aquelesquediariamenteexperimentamaimpotência?Nãoseráasu afalta depoderqueoslevaaempurrarsuasesperançasparaooutromundo? Seistofor verdade.então.porqueestadescriçãoquefazemosda religião dospobreseoprimidosparecenãocorresponderàrealidade.seriamdestruídas.Delesasmemóriasforampoucas.não encontrandosatisfaçãoparaosseusdesejosemsua"topia". construçãodomundoqueaindanãoexiste.domilagreiro. MasEngelslhesfezjustiça.emigra mpelaimaginaçãoparaumaterrainexistenteondesuasaspiraçõesserealizar ão.oquesepoderiaesperardeumasituaçãoemqueospobrese .Éraro vêlosenvolvidoscomqualquercoisaquesepareçacomareligiãodos profetas. docurandeiro. Movidosporumprofundofervorreligioso.oApocalipse.inclusiveoEstado.peregrinaçãonadireçãodaterra prometida.Esquecimentocompre ensível.As memóriasdosderrotadosdesaparecemcomfacilidade.iniciaramummoviment o revolucionárioparaaconstruçãodeumanovaordemsocial.Sãoasclassessociaisoprimi dasque.deacor docoma vontadedeDeus. Foiistoqueocorreucomoscamponesesanaba-tistasdoséculoXVI . Comosurgemelas?Cairãodoar?Não.portanto. Nãoeraelaformadaporgruposdestituídosdepoder?Enãosofrera meles todotipodeperseguição?Nãoédeseespantar. 113 queumdosseustextossagrados.Sua atividadepolíticasetorna.sendomaisgarantidoacr editarque ospobresherdarãooscéusqueherdarãoaterra. contem plamonoscomonumespelho.Eéporistoque nenhum cientistapodeacreditar 117 naspalavrasdareligião.ecomeçamasuamarcha. E éentãoquecomeçamaaparecerosmártires.quandodeciframososseussímbolos.entretanto.nosasseguraramqueareligiãoéumaloucaquebalbuci acoisassem nexo.Míopes. Nãolhessobraoutraalternativa.na rcotizandoos pobres.embuscadecomunhãocomodivino.Seacreditassemseriamreligiososenãoh omensde ciência. Éassimcomoscientistas:prestamatenção.afirmaramquesemareligiãoomundoh umano nãopodeexistireque.Todasasciências.peladefesa. 116 daacusação. Curioso. Elespensamqueaquelesquenãopassarampelaeducaçãocientífic a.oscientistas.masporincapacidadeco gnitiva. Vêemas coisasdecabeçaparabaixo.queretirarãododiscur sodosenso comumaverdadeaquesomenteaciênciatemacesso.oshomens comuns. veriamósoEstadoeopodereconómicoaoseulado.semacreditar.oprimidosdescobremasuaforça?Parecequequandoistoacontece elesse atrevematransformarseussonhosemrealidade.distribuindoilusões.fazemdesceropar aíso doscéusàterra.Eoqueé mais grave:ésabidoquenenhumadelasjamaisacreditounaquiloqueare ligiãotem adizer.queéjustamentecomestessímbolos queos oprimidosconstróemsuasesperançaseselançamàluta.s ão obrigadasaumrigorosoateísmometodológico:demóniosedeuses não .Nãopormáfé.fazendoaliançascomospoderosos.semexceção.escutam e anotam.Cegos.Seareligiãofosseapen asópio.Serãoeles.E estaéarazãoporqueoscientistasouvemsuaspalavrascomumsorri so condescendente.Emais.quenenhumadastestemunhastenhasidojama isvista noslugaressagrados.colocam-nonohorizonte.Outros.convencidosdequeoshomensnãosabemsobreoqueestãof alando.sãocomosonâmbulos:caminhamenvolvidosporumanuve mde ilusõeseequívocosquenãoosdeixaveraverdade. .Tenteiserpositivista.comtristeza.em Cüdacapítulo.Êq ue"o coraçãotemrazõesqueaprópriarazão desconhece".Teríamoscertezassobreascoisas queamamos equevemos.até agorasilenciosa?Nãodeveremospermitirqueelaarticuleosseusp ontosde vista?Ounoscomportaremoscomoinquisriores?Nomundoencant adoda Aliceaconteceuumfamosojulgamentoemqueojuizgritava:"Asen tença primeiro.comoseDeusnãoexistisse.Podeserque não acreditemosemdeuses.podemserinvocadosparaexplicarcoisaalguma.talvez.ojulgamentodepois!"..afimdepermitirquefale.envelhecer.umpe daçode nósmesmos:pedaçoque.sumir.masbemquedesejaríamosqueelesexistis sem...Eéistoqueteremosdefazeragora.pedindoosilêncio do cientistaqueemnóshabita..estadebrincarde"faz-de-con ta".insisteem desejar..como poderiamelesacreditarnaquelesqueinvocamosdeusesetêmainge nuidadede orar?.aindaq ueela estejamaispróximadapoesiaquedaciência.. Masnãohaveráumdeverdehonestidadeanosobrigaraouvirareligi ão.esforcei-meporassumiraidentidadedaqueleemcu jonome falei.. Aquemvouinvocarcomorepresentantedareligião?Vocêpercebeu que.Eseédaíquepartemoscienti stas.procureiasvisõesdosmundosdos profetas.Tudosepassa.masligadaaocoração. 118 Abandonarnossascertezasparavercomoomundoseconfiguranav isãode outrapessoa.faleicomosefos seMarx.enviandoseusgritossilenciososdeaspiraçãoeprotest opêlos buracossemfimdosmomentosdeinsóniaesofrimento.noj ogoda ciência. emesperar.Teremosdeouviravozdareligião.Ah!Sepudé ssemos ficargrávidosdedeuses.Eéassimquepassamosparaumoutromu ndoem queafalanãoestásubordinadaaosolhos.seminvocarosnomessagrados.tenteiserDurkheim.Isto tranquilizariaonossocoração. Estranhaemaravilhosacapacidade.decair. comosefosseFreudeFeuerbach. .Faremosnossoocomportamento do magistradodoido?Não. pensamo-losempredentrodosmesmosquadros.umasociedadederãsseestabelecera.écomose 119 onossomundorepentinamenteparassenamedidaemquealinguage m.eossentimentosseembotamporsaber mos queoquevaiseréigualàquiloquejáfoi. Aconteceu.Opi ntassilgo morreudedó..o pensamento.Conselhoquepareceloucura.eresolveuinvestigarsuasprofundezas.borboletas.Comoéqueasrãspodiamviverpresasemtalpoço.Eopintassilgosepôsa 120 cantarfuriosamente.queumpintassilgoquevoavaporaliviuo poço.Algumasacredi tarame ..já contadaemoutroslugares.Umvelhofeiticeirodiziaaoseuaprendizqueosegredodesuaartee stava emaprenderafazeromundoparar.estrel as.quandobrincamosdef azde-conta.nuvens.Acostumamo-nosafalarsobreomundode uma certaforma.afirmariaocontrário.ficoucurioso.osriachoscristalinos.sem ao menosaesperançadepodersair?Claroqueaideiadesaireraabsurd apara osbatráquios.pois.vemo s tudosempredamesmaforma.equevourepetir: "Numlugarnãomuitolongedaquihaviaumpoçofundoeescuroonde .nãopoderiahave rum"lá fora".oscamposverdes. Estavamconvencidasqueouniversoeradotamanhodoseuburaco.quesedividiram. Havia sobejasevidênciascientíficasparacorroborarestateoriaesomen te umlouco.Mas.privadodossentidosedarazão.Trinouabrisasuave.entretanto. desdetemposimemoriais.asárv ores copadas.oquepôs empolvorosaasociedadedasrãs.Qual não foisuasurpresaaodescobrirasrãs!Maisperplexasficaramestas.osolhoseosentimentodeumoutrofazemsurgirummu ndo novoànossafrente.Efoiistoqueocorreuàspobresrãsdestaparábo la.p ois aquelaestranhacriaturadepenascolocavaemquestãotodasasver dadesjá secularmentesedimentadasecomprovadasemsuasociedade.seoseuburacoeraouniverso.Tã ofundo eraopoçoquenenhumadelasjamaishaviavisitadoomundodefora.ma s quevirasabedoriaquandonosdamoscontadequeonossomundofoi petrificadopelohábito.flores. Variaçõessobreumtemadado.Queépossí velser felizesorrir.. Acontecequeaspessoasreligiosas. Tantoasrãs-dominantesquantoasrãs-domi-nadas(quesecretame nte preparavamumarevolução)nãogostaramdasideiasqueocantodop intassilgo estavacolocandonacabeçadopovão.Areligião fala sobreosentidodavida.deoutroraedeagora.começaramaimaginarcomoserialáfora.Ficarammaisalegreseaté mesmo maisbonitas.acusadodeenganadordopovo..decoaxarascançõesqueelelhe sensinara.porqueote mada cançãoésempreomesmo.Esepuseramafazeracríticafilosófica.Asoutrasfecharamacara. Afirmações nãoconfirmadaspelaexperiêncianãodeveriamsermerecedorasd ecrédito.parasempre.Porocasiãodesuapróximavi sitao pintassilgofoipreso. . elasalegavam.empal hadoeas demaisrãsproibidas.Opintassilgotinhadeestardizendocoisassemsent idoe mentiras.morto.Aserviçodequemestariaele?Dasclassesdominan tes?Das classesdominadas?Seucantoseriaumaespéciedenarcótico?Opa ssarinhoseria umlouco?Umenganador?Quemsabeelenãopassariadeumaalucin ação coletiva?Dúvidasnãohaviadequeotalcantohaviacriadomuitosp roblemas.Tudotãodistante.vindosdelongeedeperto.Eoquetodaselaspropõeménadamaisqueumasériede receitas .aodizerosnomesagrados..tirandodel a verdadesmuitodiferentesdaquelasqueaprópriareligiãovivacan tava." 121 Foiassimqueaconteceu:aciênciaempalhouareligião.real mente crêemnum"láfora"eédestemundoinvisívelquesuasesperançasse alimentam.tãodiferentedasabedoriacientífic a.Quemsabeopintassilgotemrazão?Quemsabeouniv ersoémais bonitoemisteriosoqueoslimitesdonossopoço?Sobreoquefalaar eligião? Énecessárioquenãonosdeixemosconfundirpelaexuberânciados símbolos egestos. Sevamosouviraspessoasreligiosasénecessário"fazer-de-conta "que acreditamos.Coaxaramcançõesnovas.Eladeclaraquevaleapenaviver.sociológicaepsi cológica doseudiscurso. decomunhã ocomalgo . Masoqueéisto.napoéticaexpressão deRomain Rolland.sensaçãoinefáveldeeternidadeeinfinitude.adespeitodetodaacríticaquelhefazaciê ncia.possuídosdeumsentimentooceânico.naqualascoisassein tegram comoemumamelodia.aindacomosrestosdofrutodoco nhecimentoemnossasmãos.paraafelicidade.Outraspessoas.. Osentidodavida:nãoháperguntaquesefaçacommaiorangústiaep arece quetodossãoporelaassombradosdevezemquando.semqu ese saibaexplicaroujustificar.Aquiseencontraarazãoporqueaspessoascontin uamaser fascinadaspelareligião.comoobservouCamus.senecessáriofor.equeexperi mentamos comoumaintensificaçãodavontadedeviveraopontodenosdarcor agem paramorrer.A ciêncianoscolocanummundoglacialemecânico. Éumatransformaçãodenossavisãodomundo.Nãoéalgoqueseconstrua..semquesaibamosdondevemnemparaondevai.masalgoqu enos ocorredeformainesperadaenãopreparada.sedeixammatarp orideiasou ilusõesquelhesdãorazõesparaviver:boasrazõesparaviversãota mbémboas razõesparamorrer.Valeráapenavi ver?A gravidadedaperguntaserevelanagravidadedaresposta.ouoptarem voluntariamentepeloabismodosuicídioporteremobtidoumaresp osta negativa.Porquen ãoéraro vermospessoasmergulhadasnosabismosdaloucura.pormaiscompletaqueseja .masvaziodesignificaçõeshumanase indiferente aonossoamor.osentidodavida? Osentidodavidaéalgoqueseexperimentaemocionalmente.Enos descobrimosexpulsosdoparaíso.oquenosfazsentirreconciliadoscomouniv ersoao nosso 123 redor.matematicamen tepreciso etecnicamentemanipulável.comoumabrisasuaveq uenos atinge.BemdiziaMaxWeberqueaduraliçãoqueaprendemo sda ciênciaéqueosentidodavidanãopodeser 122 encontradoaofimdaanálisecientífica.poraquelascoisasquedãoàvidaose usentido. o Alioscha.braçosqueabraçam. E • esta cren.a e que voc.Porqu enãohá leisquenosproíbamdesentiroquequisermos.nu mahipótese acercadouniverso.foras de que a experi. eternamente errado.comonafamosatelade Salvador Dali.o. produzidos pela literatura.grimas rolando pela face torcida pelo medo.tudoestariabem.Oescândalocomeça quandoa religiãoousatransformartalsentimento.quenostranscende."Verummundoemumgrãodeareia/eumcéunu ma florsilvestre.. Convicçãodeque.Quepo derestarda alegriadasrãs.choraalágrimad os abandonados. batendo na porta.Aquelaafirmaçãosagr adaque ecoavadeuniversoemuniverso. pedindo para sair.Areligiãodiz:"ouniv erso inteirofazsentido".logo.envolveeembala. invocando a mem. castigado p. na noite gelada. Que raz. errado sempre. e trancado num quartinho escuro e frio.háumrostoinvisí velque sorri. E me lembrei de um di.es..ncia religiosa lan.seo"láfora"queopintassilgocantounãoexistir? Afirmarqueavidatemsentidoéproporafantásticahipótesedeque o universovibracom 124 osnossossentimentos. dos mais belos e profundos j.reverberandoemeternidadeseinf initos. l.Podemosentenderasrazõesporqueohomemrel igiosonão podesesatisfazercomopássaroempalhado.ozinhas. no universo inteiro.sorricomascriançasquebrincam.Tudoestáligad o. do princ€pio dos mundos at• o seu . em que Ivan Karamazov argumenta com seu irm.o. Osentidodavidaéumsentimento. se sinta perdido em meio •s met.interioresubjetivo. sem atenuantes.Osentidodavidaédestruído.a m. Seapretensãodareligiãoterminasseaqui.a que explica os sacrif€cios que se oferecem nos altares e as preces que se balbuciam na solid.presençaamiga. fora de casa.comosefosseumúteromater node dimensõescósmicas.Aoqueaciênciaretruca:"aspessoasreligiosa ssenteme pensamqueouniversointeirofazsentido". . E ele fala das m.ria de um menininho.pordetrásdascoisasvisíveis.los pais por haver molhado a cama. poderiam ser invocadas para explicar e justificar aquela dor? A gente sent e que aqui se encontra algo profundamente errado. poss€vel que tais imagens jamais tenham passado pela sua cabe.a ciênciaaprisionadentrodopoçopequenoeescurodasubjetividad eeda sociedade:ilusão.ideologia.sofreadordostorturados./seguraroinfinitonapalmadamão/eaeternidadeem uma hora"(Blake). N. Que raz.Eisoproblema. Cremos que o universo possui um cora."(CecíliaMeireles). E poder€amos ir multiplicando os casos.edooutr oa vagaincerta.o.o a tais atos? Ser.vezporoutra.. Comoafirmarosentidodavidaperanteoabsurdodaexistência representadodemaneiraexemplarpelamortequereduzanadatudo oqueo amorconstruiueesperou? "Aquiloqueéfinitoparaoentendimentoénadaparaocoração" (Feuerbach). . que poderemos alegar quando tamb•m o carrasco.es trazemos conosco que nos compelem a dizer n.Oacordefinalnada interrompe.Eéassimqueareligiãoentregaaosdeusesosse us . E sentimos igual quando pensamos nos torturados.o. .. Ainda permanecem humanos."Deumlado.ncia. . nos escravizados. sem fim. uma prefer. 125 na vida animal que • destru€da pela gan. verdade que nos valemos deles. . na velhice abandonada..comonós. .o. E • esta realidade. Comoafirmarosentidodavidaperanteamorte?Queconsolooferec er aopai. nossos julgamentos •ticos n.aestrelaeterna.deerigircasasaosdeuses ecasas paraosmortos.Osentidodavidasedependura nosentidodamorte.Hiroshima. Vibra com o infinito a voz do cora.completaapenas.o expre ss.Emvin te minutostudooquedeveriatersidoditoofoi. tamb•m o torturador. . Eistonãoéacidental.Biafra? TudotãodiferentedeumasonatadeMozart:curta... Areligiãocuidou. nas armas.crêsaindaqueavidafazsentido?".ergasúplicasaoscéuseenterre. Mas verdade • tamb•m que invocamos o universo inteiro como testemunha e garantia de nossa causa..templosesepulcros. Nossos sentimentos s.roçaemnósoseudedoenospergunta:" Apesar demim. tamb•m os que fazem armas e guerra invocarem os seus sentimentos como garantia de suas a.o descansam apenas em nossos sentimentos.es da realidade.o.es? Tamb•m eles sentem. nos executados.diantedofilhomorto?Dizerqueavidafoicurta.comsímbolos. que recebe o nome de Deus. se assim for.o para o amor. Assim. nos que terminaram seus dias em campos de concentra.o humano.perfeita. .ncia pela felicidade e pela liberdade — tal como n. . anunciar que a vida tem sentido • proclamar que o universo • nosso irm. uma voca.fim.Nenhumoutroserexisteneste mundo que.osse usmortos.Porqueamorteéaquela 126 presençaque. .s.masbela?C omo consolaraquelequesedescobriuenfermoparamorrerevêosrisose carinhoscadavezmaisdistantes?Eosmilhõesquemorreminjusta mente: Treblinka.o os nossos senti mentos apenas? Mas.ncora de sentimentos... nos que morrem de fome.comcarinhoespecial. ocantodeum pássaro.éilusãoproclamaraharmoniacomouniverso.inadiáveis.comorealid ade presente.ossalpicosdaáguafria..Entreascasasdosdeuseseascasasdosmor tos brilhaaesperançadavidaeternaparaqueoshomenssereconciliem coma morteesejamlibertadosparaviver.emdireçãoàmorte inevitável.Quandoamorteétransformada em amiga.osrancores profissionais.Tal vezvocêaté criassecoragemparatirarossapatoseentrarnaágua.Colocandoos 128 sepulcrosnasmãosdosdeuses.pelasquaissacrificaoócio.Veresaborearcadamomento.Suasrotinasdiárias. Depoisdopânicoinicial.nãoémaisnecessáriolutarcontraela.Queimport ariao espantodaspessoassólidas?Talvezencontremosaquiasrazõespo rquea sociedadeocultaedissimulaamorte.mortos..Masosentidodavidanãoéumfato.oscanhotosdostalõesdecheque .ascoisasquevocê considera importantes.esquecidonaparede..Nummundoaindasob o signodamorte. Pensenoquevocêfariaselhefosseditoquelherestamtrêsmesesde vida...Aconsciênciadamortetemopoderdeli bertare istosubverteaslealdades.Eopresenteganhariaumaprese nça quenuncateveantes.obarulhodosgrilos.Aexperiênciareligiosa.sãoosúltimos: o quadro.Tud oisto encolheriaatéquasedesaparecer..ameditação.a gritariadascrianças.Aleituradosjornais..emqueosvaloresmaisaltossãocrucificadoseabrut alidade triunfa.emalgumlugar..lutando.osressentimentosconjugais.oshomensestariamlivr es paraviver.dependedeumfuturo.areligiãoobrigaainimigaase transformaremirmã.valoreserespeitosdequeaordemsocial depende.Livresparamorrer. o brinquedo.após-graduação..ocheirodejasmim....emesperança.asperspectivasdecarreira..El ase .pertodafonte.Enãoseráverdade 127 quetodaanossavidaéumalutasurdaparaempurrarparalongeos horizontes"aproximadosesemrecurso"?Asociedadeéumbandod ehomens quecaminham.tornando-aatémesmoassunt o proibidoparaconversação..os documentosparaoIR.assim.enquantoosononãov em. existe?Avidatemsentido?Ouniversotemumaface?Amorte 129 éminhairmã?".abandonandotodosospontosdeapoio. onde voc. Nada melhor. A Constru. 1975).o Acerca do Entendimento Humano (S. Ediciones S€gueme.e Deus..tica que o empirismo faz • linguagem religiosa.masnãohácertezas.nadireçãodasevidênciasdose ntimento." (LivrodoEclesiastes.Def ato. Avisãoébela.s.Aoqueaalmareligiosasópoderiaresponder:"Não sei.Eoqueélançados obrea mesadasincertezasedasesperançaséavidainteira. mas n.Emelançointeira. Eoleitor.adespeitodaadvertênciadosábiohebreu. eu aconselharia o seguinte: Em rela." 130 INDICAÇÕESPARALEITURA "Aceita.nea de escritos de Marx e Engels diretamente relacionados com a religi.trata-sedeumaapostaapaixonada.fica (S.o Paulo.vocêdesejarlerump ouco mais.. que faz urna linda discuss. Em espanhol o t€tulo • Sobre Ia Religi. H.nutredehorizontesutópicosqueosolhosnãoviramequesópodem sercontempladospelamagiadaimaginação. Investiga. P. Para uma an.perguntaria:"M as.n l (Salamanca.talvez sejaestaagrandemarcadareligião:aesperança.Mas eudesejoardentementequeassimseja.Comootrapezistaquetemdesela nçar sobreoabismo. como introdu. As partes mais relevantes do estudo que Durk-heim faz do sistema tot. Mestre Jou. davozdoamor. Nacional. Luckmann.perplexo.12) Se. poder.o • linguagem religiosa leia o livro de Ernst Cassirer Antropologia Filos.aalmareligi osatem deselançartambémsobreoabismo.polis.o • cr. comErnestBloch:"ondeestáaesperançaalitambémestáareligião ". Vozes.o Social da Realidade (Petr.realidadesporqueseanseia. Berger & T. Para quem quiser importar .embuscadeumacertezafinal..lia podem ser encontradas no volume XXXIII da s•rie "Os 131 Pensadores” .lise da realidade social como produto da atividade humana.. da Abril Cultural.Porqueé maisbeloo riscoaoladodaesperançaqueacertezaaoladodeumuniversofrioe sem sentido.meufilho.. que a leitura de D.Deuseosentidodavid asão ausências.NoscaminhosdePascal e Kierkegaard.es e conclus.12.o ainda em portugu.o. 1972)...dassugestõesdaesperança. uma colet. Hume. ler intridu.dádivasdaesperança.o dos s€mbolos em geral. 1974).es de As Formas Elemetares da Vida Religiosa.mico na Austr.Etalvezpossamos afirmar.umconselhofinalousodoslivrosnão temfimeoestudoemdemasiaéenfadonho.o Paulo. 1972). o est.o se esque.Convivicomopovo. sobre a religi.Láfizmeudoutoramen to. .tico de minha autoria. desta s•rie (Brasiliense. Se voc. pinguei por v.imagino.m atrav•s de Marx.Lavras. 1976). N. um religioso que nunca conseguiu dar nomes aos seus deuses. Ronald C. nos v. .o • Apartado 332... o estudo n. De Freud leia O Futuro de Uma Ilus.ltimo cap€tulo n. surpreendente.s. Ludwig Feuerbach n.o".polis. Kierke -gaard. 1973).. Espanha. Poucos foram l. 1099. Leia tamb•m. D. Curiosamente houve. A chamada teologia da liberta. Vozes. O t€tulo: "O Problema da Aliena.o. os profetas do Antigo Testamento. mas expressa uma linha que passa por Agostinho. Totem e Tabu. como "Exig. .a. Biografia Rubem A. Minas Gerais. Veja. via de regra. com mais detalhes e cita. Um Rumor de Anjos (Petr. Depois. Pascal. Vozes. traduzido para o portugu.o oprimas teu irm.s foi inspirada no livro de Theodore Roszak. Contracultura (Petr. Nicolas Berdiaev.s de Uma Ordem Pol€tica".paraviverdoresealegriasdeoutros. FuipastornumaigrejadointeriordeMinas.o tem fim.cidadedeipêse deescolas. Martin Buber e Nietzsche. Howard Hopkins. um movimento semelhante denominado "Evangelho Social" (Social Gospel). t r ê s e d i ç õ e s e m i n g l ê s .rias cidades pequenas.Livros: A Tlieology of Hunian Hope.o.vel a leitura do estudo de Karl Mannheim intitulado "A Mentalidade Ut. 13100.bola das r. publicou um artigo did.NewJersey. evidente que o . O problema do sentido da vida • discutido por Albert Camus. Princefon. . Zahar. Sobre a religi. Salamanca.o • uma tentativa de recuperar a tradi. Alves Eu nasci em Boa Esperan.ede58a64deixeioslivros.nica • indispens.o livro o ende re.o prof•tico-messi. do Lamartine Babo. Campinas. T r a d u z i d o p a r a o .o se esquecer o livro de Teixeira Coelho. por vezes. Temple University Press. porque Feuerbach escreve com a beleza de um poeta.. 7776 Social Gospel (Philadelphia. Quanto ao testemunho pessoal de pessoas religiosas. White. a este respeito.sacerdotescatólicos.Assimvivempastor es protestantese.o prof•tica.o em Marx e Feuerbach. E n.o n9 17. A revista Reflex. Por exem plo. ler alguns 132 documentos da Confer. em fins do s•culo passado e in€cio deste s•culo. em O Mito de Sísifo. "N. PasseialgumasvezespêlosEstadosUnidos. O que • utopia.o: rua Marechal Deodoro. Endere. A par. "Eu ouvi os clamores do meu povo".ncias. do Instituto de Filosofia e Teologia da PUCAMP.o enfadonho.o". como dizia o escritor sagrado. mas muitos ouviram a "Serra de Boa Esperan.o representa ningu•m em particular. nos Estados Unidos.sem remorsos.o • t. 1980).pica". que. Berger. Em 1933.. teologia e quis ser m•dico.ncias Crist. de Janeiro. 1972). As refer. constatar. 1972).ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).a de ler textos originais.sica. at• uma juventude no Rio de Janeiro. uma espiada no ensaio de Engels "A guerr a Camponesa na Alema nha". por amor a Albert Schweitzer. Estudei m. "A Caminhada do Povo de Deus na Am•rica Latina". O M ai-estar da Civiliza. Voc. de P.. A menos que eu me engane. em Ideologia e Utopia (R.polis.a". Jr — C. Miguel de Unamuno.es de textos. gosta de tecnologia poder. a literatura n. o que • uma pena. Esobreplantarárvore sem c u j a s o m b r a n u n c a n o s a s s e n t a r e m o s .aesperançaeautopia. .. O Enigma da Religião ( V o z e s ) . Tomorrow's Oúld. ConcordocomOctávioPazquandoeledizqueatarefadointelectua l éfazerrirpêlosseuspensamentosefazerpensarpêlosseuschistes. Protestantismo e Repressão ( Á t i c a ) . u m l i v r o s o b r e a imaginaçãoeamagia. o f r a n c ê s e o e s p a n h o l . .i t a l i a n o .
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