O psicólogo no abrigo- Letícia Batistela e Silva

March 22, 2018 | Author: Mizael Silva | Category: Phenomenology (Philosophy), Family, Adolescence, Psychology & Cognitive Science, Sociology


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ARTIGOSO Psicólogo em Abrigo - Uma Compreensão Fenomenológico-Existencial INTRODUÇÃO "Aquilo que se faz por amor, parece ir sempre além dos limites do bem e do mal”. "É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela." Friedrich Nietzsche O trabalho do psicólogo em abrigo é uma das formas de atuação na área da Psicologia Social e Comunitária, as quais são recentes e estão interligadas à área da Assistência Social. Este é um campo vasto e pouco explorado, pelo fato do psicólogo ainda estar conquistando seu lugar e se apropriando desta demanda. Há muita literatura científica a respeito de abrigos, explorando seus objetivos e funcionamento. Porém, poucos autores abordam a atuação do psicólogo e como deve ser norteado seu trabalho. Além disso, a formação do profissional de Psicologia contempla muito a prática clínica. Atualmente, isto tem sido muito questionado e reformulado após a inserção da Psicologia Comunitária como campo de atuação. Muitos profissionais ainda sentem-se despreparados e encontram muitas dificuldades para atuar no campo social, devido a essa “defasagem” durante a formação profissional. O presente estudo surgiu exatamente destes questionamentos e percepções a respeito do despreparo do psicólogo frente a esse campo profissional, visto que eu também enfrentei e continuo enfrentando diversas dificuldades e desafios em minha recente atuação como psicóloga em abrigo. Por isso, resolvi compartilhar minha experiência e meus questionamentos com meus colegas de profissão e a todos aqueles que se interessam pelo tema, esperando contribuir para o enriquecimento e o aperfeiçoamento de nosso trabalho. Essa tem sido minha primeira experiência como psicóloga em abrigo durante meus quatro anos de formada. Minha experiência anterior resume-se à área da saúde mental, mais especificamente à dependência química, e à psicologia clínica. O trabalho em abrigo é muito desafiador e é preciso ter muita sensibilidade para compreender o fenômeno que se mostra. Muitas vezes não conseguimos ver além do simples comportamento ou das palavras que são ditas. É o olhar além daquilo que se mostra pura e simplesmente. E esse é o desafio. Além disso, há muitas limitações e barreiras que exigem flexibilidade, trabalho em equipe com outros profissionais e até mesmo com outros serviços, e muita perseverança. Acredito que estes são fatores imprescindíveis para o trabalho nesta área. Esta é uma atuação que suscita questionamentos constantes e os desafios enfrentados são diversos. Trabalho em um abrigo municipal como psicóloga, localizado em uma cidade do interior de São Paulo. Por questões éticas, não mencionarei o nome da cidade, para poder preservar o sigilo do abrigo e também porque acredito que tal informação não prejudicará o conteúdo da pesquisa. Este abrigo faz parte de um dos programas do Departamento de Assistência Social do município, que é subsidiado pela prefeitura. Sou funcionária pública e fui lotada para o Departamento de Assistência Social, apesar de atuar exclusivamente no abrigo. A problemática da minha pesquisa serão meus questionamentos acerca da minha prática como psicóloga neste abrigo. Enfrentei algumas dificuldades iniciais de adaptação, para descobrir quais as minhas funções como psicóloga em abrigo. E houve um momento de transição, em que ocorreu a saída de duas outras profissionais que atuavam neste abrigo, mas que continuaram indo lá pelo período de um mês após a minha chegada. Essa fase de transição foi um pouco confusa para todos: equipe, crianças e adolescentes e para mim. Elas iam lá apenas para realizar dois grupos com as crianças e adolescentes, com duração de 1h e 30 min cada, enquanto eu ficava lá o tempo todo. Além disso, a equipe esperava que fosse dada continuidade ao trabalho que elas desempenhavam e, para tal, sentia que tinha que desempenhar minhas funções como elas faziam. Contudo, meu jeito de atuar era diferente do delas, uma vez que eu tenho um jeito próprio de “ser psicóloga” e estar diante dos fenômenos que se mostram para mim. Todos estes questionamentos foram apenas meus. Em nenhum momento, algum membro da equipe me disse isso claramente. Este foi o modo como eu percebi a minha vivência e como eu senti tudo isso. Não há um jeito “certo” e único de atuar em abrigo, porém o trabalho deve ser norteado pelos princípios da Psicologia Social e Comunitária, em que o foco é o contexto grupal. O ECA também estipula alguns princípios que deverão nortear o trabalho em abrigo e sua estrutura de funcionamento. Porém, cada instituição tem suas especificidades que nortearão o trabalho. São estas nuances e características da instituição que permearão as questões trabalhadas pelo psicólogo em seu trabalho na instituição. Seu trabalho envolve tanto as crianças e adolescentes quanto a equipe. O psicólogo deve ter sensibilidade para sentir o “clima institucional” e ver além do fenômeno que se mostra. O fenômeno pode se mostrar através da sua aparência, porém, ele nunca se mostra por completo. A aparência é, a um só tempo, o modo da presença e da dissimulação. As coisas, que são chamadas de entes, por Heidegger, estão sempre amalgamadas com sombra e ocultamento, de tal forma que o desvelar inclui também o dissimular. As coisas ora se revelam, ora se desvelam. É um movimento duplo, que engloba tanto o movimento de mostrar (sair do velamento) que vela, como no movimento de velar (sair do desvelamento) que mostra. Portanto, a verdade engloba uma dimensão oculta e dissimulada , pois ele será sempre parcial. O homem também apresenta tal modo de ser (MICHELAZZO,1999). Segundo Merlaeu-Ponty (2007), a verdade muda de acordo com a nossa percepção do fenômeno, pois a verdade é vista de acordo com o que cada um enxerga a partir do seu corpo. Quando percebido de um outro modo, a verdade e a relação com o mundo e o outro também muda. Além disso, o homem atribui um sentido a este mundo percebido e experienciado. Foi tudo muito novo. Além disso, também estava me adaptando à cidade, pois saí de São Paulo e fui morar nesta cidade logo que assumi o cargo do concurso. Não conhecia nada nem ninguém. Esta minha nova vivência também me permitiu compreender como é a vida dessas crianças e adolescentes que estão longe da família e das pessoas que amam, por piores que possam ser as condições em que viviam anteriormente ao abrigamento. Parto do referencial fenomenológico-existencial para embasar o meu olhar nesta minha prática, principalmente dos seguintes autores: Yolanda Cintrão Forghieri, Maurice Merleau-Ponty, Martin Heidegger, José Carlos Michelazzo. Nas Considerações Finais. O terceiro capítulo abordou a atuação do psicólogo em abrigo e a importância deste profissional dentro deste contexto institucional. independentemente de suas limitações para o trabalho ou do desemprego. No primeiro capítulo." "A grandeza do homem consiste na sua decisão de ser mais forte que a condição humana. compreendendo-a e tentando captar e enunciar. o(s) seu(s) significado(s) para o pesquisador.. A proteção social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia). foi abordada a área da Assistência Social para poder contextualizar o lugar ocupado pelo abrigo. da universalização do acessos e da responsabilidade social. Nas Referências. como política pública que atua no campo dos direitos. Tal inserção no âmbito da Seguridade Social aponta seu caráter de política de Proteção Social articulada a outras políticas do campo social. ou seja. ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.  Segurança de sobrevivência de rendimentos e de autonomia: é a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência. com um certo distanciamento. mas apenas um começo. seus objetivos e modo de funcionamento. de convívio ou vivência familiar. O segundo capítulo abordou o abrigo em si. de acolhida.Já o distanciamento reflexivo consistiu no olhar para a vivência. foi realizado um breve histórico a respeito da mudança de concepção do termo abrigo ao longo da história da sociedade. A metodologia utilizada foi o método fenomenológico-existencial. à garantia dos mínimos sociais.. uma discussão dos resultados obtidos na pesquisa.Destaco ainda Zygmunt Baumann." Albert Camus A Assistência Social foi mudando sua concepção de atuação e suas diretrizes. constam as referências consultadas que embasaram meu olhar e respaldaram este estudo. após a Constituição Federal de 1988. ressaltando seu alcance e as conseqüências de suas contribuições. com seus apontamentos e reflexões a respeito da comunidade. foi realizada uma recapitulação sintética dos resultados da pesquisa. Está relacionada à segurança de acolhida. A ASSISTÊNCIA SOCIAL[1] "Constatar o absurdo da vida não pode ser um fim. sentida e vivenciada pelo pesquisador. descritivamente. Passa a ser inserida no âmbito da Seguridade Social. com base no referencial fenomenológico-existencial. visando seu enfrentamento. que englobou dois momentos distintos e interligados: o envolvimento existencial e o distanciamento reflexivo. pois refere-se à conquista desta. Pretendeu-se chegar à essência da minha experiência como psicóloga em abrigo e dos meus questionamentos que nortearam esta vivência. regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – a LOAS. O envolvimento existencial consistiu na penetração da vivência tal como ela é percebida. em dezembro de 2003. Estes serão abordados e analisados no capítulo dos Resultados. Além disso. . A Política Pública de Assistência Social (2004) realiza-se de forma integrada às políticas setoriais. considerando as desigualdades socioterritoriais. voltadas à garantia de direitos e condições dignas de vida. de situações de perdas das relações. vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade. pertencimento e sociabilidade. à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade. políticas e nossos processos civilizatórios. em áreas urbana e rural. garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo.Descentralização político-administrativa. respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais. que é uma das seguranças primordiais da política de assistência social. incluindo o direito à alimentação. ao vestuário e ao abrigo. bem como a entidades beneficentes e de assistência social. programas. IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento. a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. Diretrizes I . por meio de organizações representativas. projetos e benefícios de proteção social básica e. programas e projetos. garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais. III – Respeito à dignidade do cidadão. Objetivos • Prover serviços. desvantagem pessoal resultante de deficiências. exclusão pela pobreza e. ciclos de vida. especial para famílias.  Segurança de acolhida. bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. II – Participação da população. cultural e sexual. • Contribuir com a inclusão e a eqüidade dos usuários e grupos específicos. construções culturais. identidades estigmatizadas em termos étnico. na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. uma vez que é na relação que o ser humano cria sua identidade e reconhece a sua subjetividade. V – Divulgação ampla dos benefícios. no acesso às . serviços. bem como à convivência familiar e comunitária. E é vivendo em sociedade que desenvolvemos nossas potencialidades. subjetividades coletivas. programas e projetos assistenciais. opera com a provisão de necessidades humanas. III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo. serviços. e que garantam a convivência familiar e comunitária. ou. ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais. sem discriminação de qualquer natureza. Segurança de convívio ou vivência familiar refere-se à não aceitação de situações de reclusão. Princípios I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica. II – Universalização dos direitos sociais. cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal. ou. tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade. indivíduos e grupos que deles necessitarem. • Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família. Usuários São os cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos. IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios. situação de trabalho infantil. dentre outras). e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. uso de substâncias psicoativas. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza. dentre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos-relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias. Proteção social especial É a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social. Prevê o desenvolvimento de serviços. privação (ausência de renda. programas e projetos locais de acolhimento. Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo. Possui serviços de média e alta complexidade. São serviços que requerem acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas. A proteção social especial de alta complexidade engloba os serviços que garantem proteção integral – moradia. situação de rua. inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal. apoios e processos que assegurem qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada. necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou comunitário. higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e/ou em situação de ameaça.lugar que . Proteção social Há dois tipos de proteção social: a proteção social básica e a proteção social especial. Tais como: • Atendimento Integral Institucional • Casa Lar/ Abrigo • República • Casa de Passagem • Albergue • Família Substituta • Família Acolhedora • Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade • Trabalho protegido O ABRIGO "O homem tem de se inventar todos os dias". o termo abrigo é definido como: 1. muitas vezes. diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar. uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário. maus tratos físicos e/ou psíquicos. Da mesma forma. Seus serviços têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo. Proteção social básica Tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições. abuso sexual. étnicas. convivência e socialização de famílias e de indivíduos. cumprimento de medidas socioeducativas. por ocorrência de abandono. entre outras. de gênero ou por deficiências. precário ou nulo acesso aos serviços públicos. Sartre Histórico Segundo o Ferreira (1995) . uso de substâncias psicoativas. comportam encaminhamentos monitorados. grupos e indivíduos. estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. alimentação. conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada.demais políticas públicas. que podem ser grandes instituições de cunho religioso ou pequenas instituições que reproduzem um ambiente familiar(apud PRADA. Maricondi (1997) aponta que o termo “abrigo” significa uma ruptura com as antigas práticas do “internato”. em que ocorria o processo de “institucionalização” das crianças e adolescentes em situação de risco pessoal ou social (PRADA. Há variações com relação às formas de organização dos abrigos. moradia. Historicamente. os quais são: I. É uma modalidade de atendimento assistencial destinado a indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social. WILIANS. 7. 3. 92. Durante séculos. É um serviço que funciona 24 horas por dia. Em seu art.. 2. objetivos e modo de funcionamento A partir da década de 90. pois garante proteção integral. Nessas definições. quando esgotados os recursos de manutenção na própria família de origem. enquanto determinação do ECA. O ECA sugere uma série de programas visando atender as diferentes demandas e problemáticas das crianças e dos adolescentes em situação de risco pessoal e social. confinamento e isolamento social. o ECA postula os princípios que deverão ser adotados pelas entidades que desenvolvem programas de abrigo. caverna ou construção subterrânea usada como refúgio e para proteção durante ataques aéreos.abriga. Preservação dos vínculos familiares.túnel. casa de assistência social onde se recolhem pobres. amparo. abrigada. os abrigos eram instituições que tinham como objetivo afastar do poder público aquilo que atentava contra a ordem social e a dignidade humana. órfãos ou desamparados. socorro. por ocorrência de abandono. ausência de rede social de apoio à família. É um serviço de proteção social especial de alta complexidade. como uma medida de proteção e um modo de atendimento diferenciado das grandes instituições destinadas ao acolhimento de crianças e adolescentes que se fazia antigamente. órfãos e abandonados. o abandono de crianças e os maus-tratos na família. 2007). em geral. do mar ou do vento.asilo. WILLIAMS. impermeável. teto. velhos. uso de substâncias psicoativas. Integração em família substituta. WEBER. . WEBER. higienização e trabalho para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e/ou em situação de ameaça. 5. indiferente ou autoritário acontecimentos estressantes especiais na família. dentre outras. ou seja. essa idéia influenciou a formulação das políticas de atenção à infância desvalida – sobretudo pobres. 6. proteção.agasalho. II. abuso sexual. refúgio. Neste sentido contempla as medidas de proteção e as medidas socioeducativas. o abrigo surge. usado em ocasião de mau tempo. se faz presente a noção de recolhimento. Funções. Contribuiu para manter viva a crença de que o acolhimento de crianças em instituições é a medida social mais adequada em situações reconhecidas como de risco ao desenvolvimento infantil – estilo parental permissivo. necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou comunitário. O termo “abrigo” nasceu na década de 80 com o início das discussões e formulações do Estatuto da Criança e do Adolescente.4local que oferece proteção contra os rigores do sol. maus tratos físicos e/ou psíquicos. da chuva. o termo comumente utilizado era “instituição”. abrigadouro. Nessa época. incluindo moradia e alimentação.cobertura. segundo o Sistema Único da Assistência Social.2007). Não desmembramento de grupos de irmãos. então. é recomendada somente em situações reconhecidas como de abandono material (precárias condições de moradia. o abrigo deve ser o último recurso a ser procurado. Portanto.) violência que pode se dar por ação ou omissão. Funciona como instrumento da política social. quando as crianças e/ ou adolescentes não tiverem familiares ou alguém que possa cuidar deles nas situações descritas acima. ou que ele possam ir para uma família substituta. Preparação gradativa para o desligamento. sexual e/ou psicológico à vítima. IX. V. mas sempre é capaz de causar dano físico. oferecendo atendimento especializado e proporcionando qualidade de vida e saúde mental pelo período em que necessitarem. O ideal é que a família possa se reestruturar para que possa receber novamente a criança e/ou adolescente. até que sejam reintegrados ao lar ou colocados em família substituta por determinação judicial. Nas situações em que for constatado o abandono e/ou os maus-tratos. VI. VIII. o acolhimento institucional deve oferecer. Por situação de risco pessoal ou social entende-se a violência sofrida pela criança ou adolescente no âmbito familiar. IV. VII. Atendimento personalizado e em pequenos grupos. Inserem-se nesta categoria duas das principais causas de abrigamento: o abandono (43%) e a negligência (40%). O agressor é sempre mais velho que a criança . higiene e saúde da criança) e abandono moral (processos de socialização sem qualquer forma de orientação e apoio responsivo dos pais e outros familiares). criança ou adolescente. por reunir um conjunto ações e serviços especialmente destinados à infância em contextos de privação material e emocional. Participação na vida da comunidade local. Desse modo. quando oferece assistência à criança que se encontra sem os meios necessários à sobrevivência (moradia. entende-se que o abrigo deve ser visto como parte integrante da chamada Política de Atendimento dos Direitos da Criança e do Adolescente. por um tempo determinado ou de maneira definitiva. quando for o caso. Participação de pessoas da comunidade no processo educativo. Como dito anteriormente. ou mesmo diante da incapacidade dos pais e/ou responsáveis para cumprir com as obrigações de guarda e sustento dos filhos. O abrigo tem como missão acolher. Williams & Weber (2007) a violência doméstica é o principal motivo de abrigamento de crianças e adolescentes. A permanência da criança em instituição de abrigo. proteger e garantir os direitos das crianças e adolescentes abrigados. alimentação. Segundo Prada. seguidos pela violência física (13%) em terceiro lugar.III. quando um membro da família é o autor do ato violento contra a criança. por sua abrangência e complexidade.. ou seja. estes princípios deverão nortear o trabalho dos profissionais em abrigo. atenção à saúde e educação).. assim como seu funcionamento. Evitar. sempre que possível a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados. ainda que de modo provisório. A violência doméstica pode ser definida como: (. alimentação. formas de atenção e apoio que poderão ser decisivas para a criança privada do convívio familiar. Desenvolvimento de atividades em regime de coeducação. afeto e organização da rotina diária. com quartos. higiene. sendo responsáveis por suprir as necessidades básicas de alimentação. Segundo o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (1999). Os demais espaços também são coletivos: como banheiros. assim como todos os outros contextos de desenvolvimento na infância. dependendo da capacidade da instituição. que mora na casa com as crianças abrigadas. O abrigo. área livre e espaço administrativo. é necessário que. os dormitórios são coletivos. as crianças e adolescentes abrigados devem ter direito a participar da . podendo chegar a duzentas ou mais. Porém. quarto do casal. Cada instituição apresenta suas especificidades com relação ao modo de coordenação e composição dos membros da equipe. também devem proporcionar um ambiente de interação afetiva entre as crianças e adolescentes e os profissionais atuantes na instituição. havendo trocas de funcionários ao longo do dia. Os abrigos do tipo convencional abrigam crianças e adolescentes em situação de risco pessoal ou social.2007). comportando de dez até cinqüenta crianças. Com relação ao espaço físico. prevenção de doenças e lazer. religiosas que se sustentam com doações. Além desta equipe técnica. são construções humanas e sociais. (apud PRADA. salas.2007) a mesma moradia destes. Porém. Segundo Garcia (2006). haja uma equipe técnica composta por uma psicóloga e uma assistente social. saúde. refeitório. Sobrevivem de forma instável. servente e cozinheira. dependendo da capacidade da instituição. Os monitores ou educadores trabalham em sistema de turno. WILLIAMS & WEBER.WILLIAMS & WEBER. Sua estrutura está organizada de modo a garantir o direito da criança às necessidades básicas de educação. Arola (2000). etc. Pode haver apóio de profissionais voluntários. apesar das dificuldades financeiras. no mínimo. produto das relações sociais que se constroem em diferentes espaços e nas dinâmicas interativas que se estabelecem no tempo. saúde. nas quais eles moram e são cuidados por funcionários que exercem a função de monitores ou educadores. a maior parte dos abrigos pertence a instituições filantrópicas. além de oferecer cuidados físicos adequados. há abrigos do tipo convencional e os de casa lar. cozinha. gerenciada financeiramente por uma organização pública ou privada.ou o adolescente e compartilha (PRADA. dependendo da boa vontade e de sobras de comida e de roupas. Quanto ao modo de funcionamento. a “família social”. Essa casa é preparada para uma família. O casal ou a mãe social terá como tarefa agregar afetivamente as crianças em situação de risco pessoal ou social. higiene. A casa lar abriga crianças e adolescentes em situação de risco pessoal social ou abandono. lazer e afeto por meio do convívio familiar substituto. sala e área livre. Ela é composta. A maior parte dos abrigos não têm nenhum convênio com órgãos públicos para recebimento de verbas. por um casal social ou apenas uma “mãe social”. que incluem alimentação. contando com os possíveis filhos do casal ou mãe social. podem haver instituições deste gênero em que há um menor número de crianças abrigadas. O número de crianças varia de oito a dez em cada casa. podem haver monitores ou cuidadores. banheiros. O espaço físico assemelha-se ao de uma casa convencional. O número de crianças e adolescentes é superior ao da casa lar. geralmente. Carvalho (2002) e Lordelo (2002) consideram que os abrigos para crianças e adolescentes. Por isso. poucos focavam a atuação do psicólogo. Por isso. somos forçados a obedecer-lhe. (ROTONDARO. Contudo. não há um modo de atuação específico do psicólogo em abrigo. há programas. para que não se sintam excluídos. O homem está em intrínseca relação com o mundo e ambos influenciam-se mutuamente. porém. eles também precisam ter acesso à comunidade. em que temos proteção e segurança. para podermos nos refugiar nessa “suposta” segurança da comunidade. é o mundo deles.comunidade. Bauman (2003) postula que a idéia que temos de comunidade é a de um lugar de acolhida e aconchego. papel do psicólogo é ajudá-los a lidar com o processo de abrigamento e seus desdobramentos. O abrigo deve proporcionar atividades fora das suas dependências. Podem ser realizados tanto atendimentos grupais quanto clínicos/institucionais. O mundo atual está cada vez mais individualista e as pessoas têm medo de confiar umas nas outras.1999). com fins de psicodiagnóstico e psicoterapêutico. Acredito que o trabalho do psicólogo deva ser permeado pelos princípios da Psicologia Comunitária e Social. O mundo só existe para o homem. Encontrei diversos artigos e textos em livros a respeito do abrigo e do processo de institucionalização. e. HOEPFNER. Além das questões referentes à institucionalização. ou seja. os grupos também podem ser de orientação ou grupos lúdicos. De acordo com a literatura pesquisada. todas as questões que permeiam a vivência em abrigo. adoção. como o Projeto de Apadrinhamento Social. que o percebe com o seu corpo. cooperação. essa idéia é apenas ilusória. proporcionam um “espaço” de interlocução formativa para as crianças que apresentam sofrimento emocional e que não têm estrutura para dar conta deste. O PSICÓLOGO EM ABRIGO "Não há nada que esteja menos sob o nosso domínio que o coração. forma com ele um sistema”. “o próprio corpo está no mundo assim como o coração no organismo. pois quando estamos vivendo em comunidade abrimos mão da nossa liberdade. essa idéia de . Os atendimentos clínicos/ institucionais. diferente daquele que vivenciaram com suas famílias de origem e também para que possam conviver com a comunidade (PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO. através da realização de grupos para que ocorra um compartilhamento das suas vivências. 2004 . 2002) Os atendimentos grupais com as crianças e adolescentes têm enfoque socioeducativo. O abrigo é uma nova realidade que faz parte da vida dessas crianças e adolescentes. a fim de trabalhar as questões referentes à integração. p. auto-estima. que permite que pessoas da comunidade sejam madrinhas ou padrinhos sociais das crianças e adolescentes e os levem para passear e passar momentos em suas casas. Para Merleau-Ponty (1999. Tal iniciativa permite que eles entrem em contato com diferentes modelos de configuração familiar. longe de podermos comandá-lo. PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA." Jean Paul Sartre Há pouca literatura a respeito do papel do psicólogo em abrigo. Além disso. Porém. anima-o e alimenta-o interiormente. 273). através de atividades externas para que a vida deles não se restrinja apenas ao abrigo. ele mantém o espetáculo visível continuamente da vida. Ajudá-los a compreender e vivenciar este “novo mundo”. . Além de atuar com as crianças e adolescentes . Segundo Hoepfner (2002). devido a uma série de variáveis. além de oferecer os cuidados básicos às crianças e adolescentes. vivenciar múltiplas experiências. Além das trocas constantes de profissionais.comunidade é idealizada. que envolvem tanto o âmbito micro quanto o macro institucional. que gostaríamos que de fato existisse. por estarem próximos destes em seu dia-a-dia. Esta é apenas uma parte do trabalho em uma instituição. devido às dificuldades pertinentes à área. entre outros. descobrir suas preferências. Tal processo só se dará se lhes for permitido fazer escolhas. no sentido de que a atuação dos primeiros reproduz as características institucionais. tais como. No abrigo. com recursos a serem desenvolvidos para poderem apossar-se de suas existências. Além disso. uma equipe em que os cuidadores trabalham em escalas de plantões e cada um adota uma postura diferente no trato com as crianças e adolescentes. ressalta a importância do desenvolvimento psíquico das crianças institucionalizadas. haja visto que o abrigo deve propiciar um ambiente afetivo e acolhedor. há baixa expectativa de ascensão na carreira neste tipo de área. o trabalho do psicólogo será permeado por todas estas questões institucionais. A autora postula que o trabalho em instituições é constantemente ameaçado por movimentos que podem ser armadilhas ao profissional: temores. o psicólogo é responsável pelo treinamento e capacitação da equipe de cuidadores ou monitores. A rotatividade dos profissionais é uma característica marcante na área social. trocas de horários. O âmbito macro institucional envolve a relação deles com a comunidade e com suas famílias de origem ou substitutas. Acredito que o trabalho dos profissionais está muito relacionado às especificidades da instituição e ao seu público-alvo. Geralmente. A rotatividade é uma característica vivenciada pelas crianças e adolescentes. Estes desempenham um papel fundamental no cuidado das crianças e adolescentes. incluindo mudança de profissionais. Por âmbito micro institucional. Portanto. Mas nem sempre isto é possível. propiciando a conscientização de sua identidade psicossocial. considero a relação das crianças e adolescentes entre si e entre a equipe como um todo. viver com um certo nível de autonomia. seduções. É importante que o profissional saiba de todas estas armadilhas para não perder de vista seus objetivos. a prática do psicólogo no trabalho social e comunitário insere-se na crença de que é possível contribuir para uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e grupos. O psicólogo deve propiciar um espaço de acolhimento e de preservação da individualidade das crianças e adolescentes. testar suas habilidades. é comum a constante entrada e saída de crianças e adolescentes. É fundamental que os cuidadores. assemelhando-se a de uma casa familiar. é apenas uma fantasia bem diferente da comunidade real e da ideal. os profissionais são mal remunerados e pouco reconhecidos pelo seu trabalho e dedicação. Farbeni (2005). tentativas de alianças e boicotes. A instituição deve ver a criança e o adolescente como seres em desenvolvimento. A autora ainda ressalta o quanto a institucionalização propicia o surgimento de infecções e doenças orgânicas. também lhes proporcionem afeto e demonstrem interesse. além das constantes mudanças comportamentais e emocionais que cada criança e adolescente sofre a cada mudança ocorrida entre os membros da equipe. ou seja. não . A pesquisa fenomenológica é designada como uma pesquisa de natureza. ou seja. no peculiar e no individual.1999. isto é.p. como é orientado o pesquisador que procede de acordo com os critérios das ciências naturais (BICUDO & MARTINS.2001). voltada à análise e descrição dessas. pois ela pretende compreender o fenômeno de maneira qualitativa através do levantamento do vivido. definida pelo sujeito. visto que é tomado pelo que ele é. visto que partimos deste. ir diretamente ao fenômeno até chegar à sua essência. intuitivo que tem do fenômeno a ser investigado. portanto. seu foco é a essência do fenômeno. pois essa começa interrogando o fenômeno a fim de descobrir sua essência. apresentado por Husserl. A situação da pesquisa é. é uma reação psicológica. como percebido e manifesto pela linguagem. Uma de suas idéias fundamentais é a intencionalidade da consciência. que é a suspensão dos juízos de valor acerca destes. O método fenomenológico.METODOLOGIA "A filosofia implica uma mobilidade livre no pensamento. Para Amatuzzi (2001 apud Bruns & Holanda. e por critérios científicos. que é a reação interior imediata àquilo que nos acontece. que apresenta como recurso básico inicial a descrição. que é o fenômeno vivenciado . ou seja. Ele propõe que compreendamos o fenômeno que se manifesta na consciência. O pesquisador busca. vivida. com o que faz sentido para o sujeito. Martins (1994) acrescenta que a pesquisa qualitativa é uma pesquisa empírica. visto que a investigação fenomenológica trabalha sempre com o qualitativo. esta pesquisa será qualitativa. Essa visão de ser humano é considerada como a ciência das essências. com o fenômeno posto em suspensão. portanto..74). Este está num plano da consciência. O ponto principal da fenomenologia será abordado como método neste trabalho é a sua preocupação em descrever o vivido. sendo consciência de alguma coisa. que possibilita a busca da compreensão do fenômeno. ou seja. no qual não há distinção entre o agir e o pensar. ou seja.surgiu com Edmund Husserl. sendo sua primeira e fundamental regra “voltar às coisas” mesmas. A fenomenologia. Essa não apresenta foco em generalizações e sim no específico.o pesquisador que trabalha fenomenologicamente. segundo Reale & Antiseri (1991) . a idéia de que toda consciência se remete a algo." Martin Heidegger Essa pesquisa é qualitativa com base no referencial fenomenológicoexistencial. O relato é tomado na sua intencionalidade própria e constitutiva. depois de realizada a epoché. é um ato criador que dissolve as ideologias. Segundo Bicudo & Martins (1989) a pesquisa fenomenológica não busca uma compreensão prévia do fenômeno. espiritual e mental. Amatuzzi (2001) caracteriza a fenomenologia pela importância dada ao vivido. orienta-se por um sentido. a experiência intencional. A pesquisa fenomenológica pretende voltar ao vivido. está liberto de pressuposições. existem dois tipos de pesquisa: a de extensão. que é quantitativa e a de natureza. Por esse motivo. Concordando com esta mesma concepção. uma vez que ela parte da experiência vivida para obter uma “essência” da vivência. a fim de chegarmos à sua essência. .. tendo como objetivo principal “voltar às coisas mesmas”. tal como esta ocorre. que é qualitativa. ou seja. pelo conhecimento imediato. Isso se dá através da descrição dos fenômenos que se apresentam à consciência. O começo: conhecendo o abrigo Está localizado em uma cidade no interior de São Paulo. Enfrentei diversos desafios nesta minha nova jornada para descobrir qual era meu papel. portanto. através de concurso público. Jean Paul Sartre Comecei a atuar na área social. a escolha por tal método. é composta por dois momentos paradoxais e que se inter-relacionam : o envolvimento existencial e o distanciamento reflexivo. partirei da minha experiência como psicóloga em abrigo e dos meus questionamentos a respeito da minha atuação e dos desafios com os quais tenho me deparado. o seu sentido ou significado daquela vivência em seu existir. RESULTADOS "O importante não é aquilo que fazem de nós. descritivamente. à luz daquela fonte primeira. mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”. semelhante à que é utilizada na vida cotidiana. Para Forghieri (2004. ele deve sempre manter um elo de ligação com a vivência. além de permitir o resgate das experiências através da descrição e conseqüentemente a compreensão do fenômeno como este é experienciado. procurando emergir nela para vivê-la de modo intenso e deixando surgir a intuição. à essência da minha vivência. Portanto. intuitiva e pré-reflexiva dessa vivência. mas colocando-as provisoriamente entre parêntesis. mais especificamente em um abrigo municipal. lotada para o Departamento de Assistência Social para atuar como psicóloga social no abrigo municipal. a fim de lhe proporcionar uma compreensão global. Fui contratada pela prefeitura municipal. p.negando as elaborações que se fazem dele.. e enunciar.. Por isso. segundo Forghieri (2004). Faz parte dos programas oferecidos e coordenados . Por motivos éticos não citarei o nome da cidade. Segundo Martins (1994). para revê-las depois. A pesquisa fenomenológica. Daí as coisas podem ficar mais claras (AMATUZZI.55). pp. Essa tem sido minha primeira experiência como psicóloga social em abrigo. para que a enunciação descritiva da mesma seja a mais próxima possível da própria vivência.) o distanciamento não chega a ser completo. não deve ser feita em termos científicos e sim em linguagem simples. para analisá-los sob a luz do método fenomenológico proposto por Yolanda Cintrão Forghieri para chegar. a ela voltando a cada instante. localizado em uma cidade no interior de São Paulo. desde junho de 2008. O referencial fenomenológico-existencial embasará o meu olhar e é a partir dele que analisarei minha experiência. 2001. Tal enunciação. O distanciamento reflexivo consiste num certo distanciamento da vivência para que o pesquisador possa refletir sobre sua compreensão da vivência e tentar captar. percepção. O envolvimento existencial consiste do contato do pesquisador com sua vivência e a sua penetração na mesma.. com sua própria estrutura e significação. relatarei minhas experiências em tópicos. 60-61): (. Minha experiência anterior restringia-se à área da saúde mental e da psicologia clínica. Para fins didáticos. assim. sentimentos e sensações que brotam numa totalidade. uma das maiores contribuições da fenomenologia é a possibilidade de ver o acontecimento como um fenômeno por si mesmo. geralmente marcada por uma série de perdas e dores. Cada criança e adolescente chega com uma história diferente. ainda não conhecia a história de cada criança e adolescente. dos vários modos de se comunicar. naquela relação comigo. Tem capacidade para receber 20 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos. seja através da agressividade. sendo o toque agressivo a forma que encontravam para se comunicar comigo. podemos ter acesso a todos os serviços disponíveis na rede. escolas. o mundo percebido é o mundo que eu vivencio. percebendo apenas o comportamento em si deles. havia duas psicólogas que atuavam no abrigo. eles testavam os meus limites para poderem me conhecer. È com o meu corpo que percebo o mundo. Segundo Merleau-Ponty (2007 apud ANGERAMI. Elas realizavam grupos com as crianças e adolescentes nos períodos da manhã e .pelo Departamento de Assistência Social do município. Cada encontro com esses seres humanos é único e mágico. do abraço. estava muito ansiosa e perdida também. dos gritos. psicólogos. Um dos meninos me mandava ir embora todos os dias. Não conseguia ver o significado dos comportamentos de cada um. Mas só aos poucos vamos conhecendo essas histórias. Possuem uma história marcada por uma série de perdas e decepções. Os irmãos não são separados para preservar os vínculos familiares. E são essas especificidades que fazem o fenômeno de lidar com o ser humano que se mostra naquele momento. cometi alguns “erros”. ou seja.2004). Cada um tem um jeito próprio e diferente de se expressar e aos poucos comecei a descobrir isso. dos olhares. E é com o meu corpo que percebo e vivencio o mundo. do carinho. e eu até comentava que no dia seguinte estaria lá novamente. dentre eles. Descobrindo meu papel Antes da minha chegada. Estava muito preocupada em ser respeitada por eles. Conhecendo as crianças e adolescentes Logo que cheguei. Cada um tem seu jeito de pedir atenção e demonstrar ciúmes. Os fatos revelam que a minha realidade perceptiva esbarra na vivência das coisas. Nas reuniões semanais com a equipe técnica do Departamento de Assistência Social é que fui me adaptando e segurando minha ansiedade de atuar. já que quando eles vêm ao abrigo faltam informações e documentações. estão afastados permanentemente da família de origem à espera de uma família substituta. Algumas meninas escreviam cartinhas e me entregavam. o mundo é como eu o percebo a partir das minhas vivências. principalmente as meninas. enfim. da escrita de cartas. Alguns estão afastados temporariamente da família de origem à espera de uma reestruturação familiar e outros. No começo. o que contribui para que sejam muito carentes afetivamente. ser único e especial. é através dele que entro em contato com o outro e com o mundo. Alguns meninos eram mais agressivos. Por ser um abrigo municipal. Por isso. das birras. estão disponíveis para adoção. Alguns eram mais carinhosos e amorosos. médicos. visto que a família de origem foi destituída do pátrio poder. sendo destinadas 10 vagas para o sexo feminino e 10 vagas para o sexo masculino. Demorei para perceber essas singularidades de cada um deles. ou seja. Além disso. uma vez que eles são separados por alas. das reclamações. ao querer atuar sem nenhuma orientação e precipitadamente. Ou ocorrem brigas entre eles por diversos motivos. sem perder de vista minhas experiências anteriores. o “mundo é sempre um mundo compartilhado com os outros”. Nesse momento. Segundo Michelazzo (1999). Não sabia ao certo qual meu espaço de atuação e aos poucos fui percebendo que eu precisava construí-lo. No começo. A equipe também não sabia ao certo qual era o meu papel. Lidar com crianças e adolescentes é assim.p. que podemos aprimorar nossas potencialidades. uma ruptura. p. testando os meus limites e ainda estava confuso para elas que eu era a nova psicóloga do abrigo. Vemos as coisas dentro de seu contexto e em conexão com a nossa própria pessoa (Van den BERG. na qual ambos influenciam-se mutuamente. 28). Às vezes uma criança está bem aparentemente e começa a fazer birra porque é contrariada em seus desejos. É no encontro com o outro que ocorre uma relação de reciprocidade.169 e 170 apud Forghieri. Aprendi a perceber minhas potencialidades sem me anular e ao mesmo tempo enriquecer a minha prática com as experiências trazidas pelos outros profissionais. O ser humano é um ser-com-o-outro. É na interação com o outro que podemos nos descobrir. E é justamente isso que enriquece a prática de cada profissional. fui percebendo que este momento de transição estava confuso para mim. para as crianças e adolescentes e para a equipe. Precisava aprender a transformá-la e adaptá-la à nova realidade que estava vivenciando neste momento. estava muito preocupada em corresponder às expectativas da equipe. . 2004. surge a angústia que nos coloca diante do nada. uma monitora. Segundo Heidegger (1988. o que não quer dizer que um psicólogo seja melhor ou pior que o outro. Continuaram com estas atividades até aproximadamente um mês após a minha chegada para que eu pudesse observar como deveria ser minha atuação. A nossa identidade está implicada nos acontecimentos que vivenciamos no mundo. 2004. que “quebra a aparente rotina da vida”.2004). Porém. As crianças e adolescentes ainda estavam me conhecendo. 41 Apud FORGHIERI. sendo que eu estava constantemente lá. inclusive para mim. O inesperado nos ronda a todo momento. É na relação com os outros que o homem se descobre. Ou alguém cai e se machuca. O mundo é visto e vivido segundo a percepção de cada um. Até então eu era vista como mais uma “tia”. uma vez que os desafios são constantes. As experiências do ser humano ocorrem em mundo e este mundo é habitado por outros homens. p. Isso estava confuso para todos. Cada profissional tem as suas singularidades. que só contribuíram para enriquecer o meu jeito de atuar e de estar lá. É no encontro com o outro que atualizamos nossas potencialidades (FORGHIERI. “As coisas não podem ser sem o homem e o homem não pode ser sem as coisas que encontra” (BOSS. quando de repente algo acontece.2004). mas minha atuação é diferente. O imprevisto rompe com aquela aparente sensação de tédio. O ser humano compreende a si mesmo a partir da sua experiência. pp. 35). de rotina. 1963. já que elas vinham ao abrigo apenas duas vezes por semana e em apenas dois períodos. em que tudo aparenta ser constante e controlado. Desafios da atuação em abrigo: “a aparente rotina” O trabalho em abrigo exige muita flexibilidade e perseverança. Às vezes. Um dia nunca é igual ao outro.tarde e reuniões com as monitoras. 1973 apud FORGHIERI. o caráter da imprevisibilidade marca nossa existência. tudo está calmo e tranqüilo. Ele é uma fenda. uma faxineira. pois não há sobrecarga de trabalho. Cada criança e adolescente que chega tem uma história que nem sempre pode ser compartilhada com todos. São nos momentos de conflito que podemos refletir sobra nossa atuação e o modo como estamos lidando com as crianças e adolescentes. E isso é demonstrado nos momentos de “explosão”. para nos comunicar que eles estão vivos. Lá não é a casa deles e eles têm que conviver com pessoas diferentes e desconhecidas. poderes ocultos. A coordenadora e assistente social. O olhar do outro é muito importante. Por isso. visto que isto gera um clima de disputa. Por isso. Esse jeito de trabalhar tem facilitado o trabalho por um lado. Há quatro monitoras que trabalham em duplas de manhã e à tarde. A realidade do abrigo é de crianças e adolescentes que são obrigados a conviverem juntos por estarem sob proteção. É uma equipe bem extensa. como encenador da minha percepção. As demais se revezam. transforma-se também em inexplicavelmente em distância irremediável. em escalas de plantões e trabalham em duplas durante o período noturno e finais de semana. reconheço o outro e sou reconhecido por ele também. durante seis horas por dia. visto que lidar com o diferente também é difícil. O meu corpo. Além disso.fazendo-nos refletir sobre nossas experiências. O mundo é o que percebo. assim como a psicóloga. toda essa vegetação de fantasmas possíveis que ele só consegue dominar no ato frágil do olhar. só que os membros da equipe não podem dar atenção exclusiva a uma só criança e/ou adolescente. uma voluntária de pedagogia. durante seis horas por dia. eles chegam muito fragilizados e carentes afetivamente. precisamos investir muito em capacitações para que ocorra um trabalho conjunto a fim de que atinjamos nosso . é comum ocorrerem desentendimentos e brigas entre eles. Segundo Merleau-Ponty (2007 apud Angerami. duas cozinheiras e dez monitoras (cuidadoras). Tal distância é. ciúmes e rivalidade. uma psicóloga. o confronto entre a percepção dos fatos no imaginário e o seu desvelamento com a realidade. em que há muita rotatividade de cuidadoras. na verdade. 2004 ). há doravante. temos que entender o seu histórico e não julgá-las. uma pedagoga. uma secretária. onde a proximidade conceitual será na tangência circunstancial entre os pontos de proximidade. A equipe faz o possível para tornar o ambiente do abrigo agradável. Entre elas e eu. têm sentimentos e conseguem exteriorizá-los. Sabemos o quanto estar longe da família de origem e das pessoas que amam é difícil. mas nem sempre isso ocorre. desde que examinada e expressa. tentando compreender como eles se vêm e como acreditam que são visto pelo outro. uma voluntária de biblioteconomia. pois é pelo olhar que eu me reconheço. Por outro lado. na sua proximidade absoluta. já destruiu a ilusão de uma coincidência de minha percepção com as próprias coisas. pois são famílias abandonadas pelas políticas públicas. Claro que há um limite entre a expressão dos sentimentos e o vandalismo. Porém. a equipe deve ter muita sensibilidade para ter discernimento e agir com coerência nestes momentos. a secretária e a faxineira trabalham de segunda a sexta feira. Eles possuem uma grande necessidade de se sentirem olhados. necessitam de muita atenção. Equipe É composta por uma coordenadora e assistente social. As cozinheiras trabalham em dias alternados. Por piores que estas famílias possam ser. fui percebendo que minha atuação deveria englobar os grupos com as crianças e adolescentes. não se restringindo apenas ao município. estas reuniões ocorrem apenas uma vez por mês. construção de trabalhos conjuntos e jogos. ela é sentida como mais uma perda. Há sempre pessoas chegando e saindo o tempo todo. seja a falta de adaptação ao trabalho. Minhas atribuições como psicóloga Com o tempo fui descobrindo minhas atribuições e o meu jeito próprio de desempenhá-las. freqüentar os grupos do Ação Jovem como observadora. tais como: a preocupação em perguntar como estamos. São realizadas atividades externas com a as crianças e adolescentes. um olhar e um sorriso de alegria. a fim de conhecer suas histórias. Então. a integração. as . tais como. Também vou ao Centro de Referência da Assistência Social. para oferecer treinamento e orientação. que são realizadas no próprio departamento. Estes são os imprevistos com os quais temos que lidar o tempo todo. e as reuniões com as monitoras. Freqüentemente vou a fórum ler os processos das crianças e adolescentes. todas as questões referentes ao processo de abrigamento. a coordenadora do abrigo e as duas psicólogas que atuam no CRAS. trabalhos com sucatas. a auto-estima. desenhos. Além disso. freqüento as reuniões semanais com a equipe técnica do Departamento de Assistência Social. Uma das características do abrigo é justamente essa. As reuniões com a equipe deveriam ser semanais. devido a dificuldades relacionadas à rotina da instituição. Porém. Utilizo tanto dinâmicas de grupo como atividades que envolvem a pintura com tinta. No dia em que assumi não consegui conversar com a diretora do Departamento de Assistência Social. rotatividade de horário da equipe e atividades externas com as crianças e adolescentes.Tem sido muito difícil conciliar os horários da equipe toda com os compromissos das crianças e adolescentes. com a finalidade de diversão e convivência à comunidade. Tudo isso repercute na relação com as crianças e adolescentes. Nada é duradouro. cada aniversário é comemorado conjuntamente e são realizadas festas. fui atuando sem saber ao certo minhas atribuições. como a presença de imprevistos e dificuldades pessoais que impossibilitam a continuidade do trabalho. lidamos a mudança de monitoras devido a vários fatores. Nas reuniões de equipe técnica com a diretora do Departamento de Assistência Social. para capacitação e treinamento da equipe. um abraço forte e apertado.objetivo que é o de cuidar das crianças e adolescentes da melhor forma possível. há a rotatividade constante das crianças e adolescentes. enfim. Mas o trabalho não consiste apenas de desafios. lápis de cor e canetinha. Além da rotatividade da equipe. Estes são grupos de adolescentes e são coordenados por duas psicólogas. uma vez que eles se apegam facilmente aos seus cuidadores e quando ocorre a saída de um deles. a fim de trabalhar a cooperação. Também conseguimos vislumbrar os frutos de tanto esforço e dedicação da equipe através das várias manifestações de carinho deles conosco. É um ambiente permeado pela “ameaça da perda”. dentre as tantas que tiveram ao longo de suas vidas. a fim de capacitar a equipe para poder lidar da melhor forma com as crianças e adolescentes. São realizadas reuniões semanais entre a equipe técnica do abrigo. Os grupos com as crianças e adolescentes são semanais. Além disso. Além disso. O profissional tem que trabalhar em equipe. Há baixa expectativa de ascensão na carreira. O psicólogo deve pautar seu trabalho com base tanto no âmbito micro institucional. através do enfrentamento destas. quanto proporcionar um ambiente agradável permeado pelo afeto. que parece estar relacionada a diversos fatores. que envolvem os cuidados físicos e materiais. CONSIDERAÇÕES FINAIS “A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela” Charles Chaplin O trabalho do psicólogo em abrigo é permeado por incertezas e desafios. o psicólogo deve atuar em um contexto grupal para abarcar as questões referentes à instituição e seus desdobramentos. O comportamento . Há dias de aparente calmaria e outros em que parece que as tempestades nunca passarão. Devido à falta de um trabalho preventivo com as famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Uma observação muito importante é que há vários modos de se atuar em um abrigo e estes são os modos como tenho atuado neste abrigo. Esse trabalho não se restringe apenas aos grupos com as crianças e adolescentes. que são constantes e nunca um dia é igual ao outro. Como ressaltei na introdução. Ela está inserida dentro de um contexto social.mesmas que iam ao abrigo antes da minha chegada. Além disso. Ainda há pouca literatura a esse respeito. Além disso. a formação do psicólogo não contempla a atuação na área social e não nos prepara para enfrentarmos os desafios que tal prática suscita. visto que muitas vezes trabalham além do horário estipulado. Mas acredito que a prática deve ser norteada pelas nuances e especificidades de cada instituição. quanto no âmbito macro institucional. mas nem sempre a equipe está unida e tem os mesmos objetivos. é preciso ter muita união e cooperação entre a equipe. mostrei algumas das barreiras com as quais o psicólogo em abrigo se depara. mas também a reuniões de capacitação e treinamento com a equipe. visto que as dificuldades são constantes e temos que aprender a superá-las. Uma característica muito comum da atuação na área social é a constante rotatividade dos profissionais. Sabemos o quanto a realidade social brasileira ainda é precária. devido à carência de políticas públicas que contemplem as pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social. o que não quer dizer que isso não possa ser reformulado. há muitas barreiras com as quais se deparam para a realização do seu trabalho. que engloba a relação das crianças e adolescentes com a comunidade e com suas famílias de origem. Os profissionais são mal remunerados e pouco reconhecidos pelo trabalho que desempenham. abuso e maus-tratos. visto que nenhuma instituição é perfeita. Para tal. Meu objetivo foi mostrar como é a realidade de uma instituição. Ao longo deste trabalho. É preciso ter muita perseverança para enfrentar os desafios. visto que não há um jeito “certo” e único de atuar. a fim de exercer tanto as atividades rotineiras. o abrigo acaba sendo o primeiro recurso disponível para afastar as crianças e adolescentes das situações de violência. que engloba a instituição em si e seus desdobramentos. A equipe tem que ser capacitada para lidar com as crianças e adolescentes. Há também as barreiras institucionais com as quais nos deparamos o tempo todo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. as atividades externas realizadas propiciam a inclusão social e a convivência comunitária. 2004. Mauro Martins. SANTOS. ANGERAMI-CAMON. 2007.br > . emoção e percepção. Ana Cecília de Sousa. o homem está situado em um mundo e neste mundo existem outros homens. nº01. o psicólogo não está ali para isso. 2003. AMATUZZI. Alem disso. Grupos de crescimento: uma prática sob o enfoque fenomenológico. Valdemar. O mundo é compartilhado com o outro. O olhar além do fenômeno que se mostra também engloba a compreensão do significado do comportamento das crianças e adolescentes. E esta é uma das grandes belezas da existência humana.org. 2003. É na relação com o outro que eu me reconheço e dou significado para as minhas vivências. REFERÊNCIAS AMATUZZI.J. Como dito anteriormente. não revelando o que é de fato. São Paulo: Thomson Learning. As várias faces da psicologia fenomenológicoexistencial. Ronald J. Apesar de todas as dificuldades. é um trabalho gratificante e enriquecedor. Mauro Martins.. Acesso em: BAUMANN. v. BASTOS. Psicologia na comunidade: uma experiência. 5260. Psicologia comunitária: teoria e metodolgia. 2003. Porto Alegre. p. Há muitas expectativas com relação ao trabalho do psicólogo. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Padrões de interação . Por uma Psicologia Humana. pois a equipe espera que ele sane todas as dificuldades que aparecem e que ele tenha soluções mágicas para todos os problemas. perdemos a globalidade do fenômeno e muitas vezes o fenômeno aparenta ser. Samanta Maria Visigalli. Alínea Editora. Psicoterapia Existencial. Seu papel é refletir junto com a equipe a fim de que todos reflitam sobre os problemas com os quais se deparam para que possam buscar “soluções” de um modo conjunto. Valdemar(org). pois se olharmos apenas para o comportamento em si. __________________________. Ela passa a ser vista como uma referência na transmissão de valores e de afeto. mas que exige um “olhar além” do fenômeno que se mostra.scielo. o trabalho é visto através de um olhar. ARENDT. São Paulo: Thomson Learning Brasil. contribuindo para a vivência de novas experiências e outras formas de se relacionar diferente das que eles conheceram em suas famílias de origem.das crianças e adolescentes muda conforme a realidade institucional e o comportamento da equipe. In: ANGERAMICAMON. Rio de JANEIRO: Jorge Zahar Ed. Mauro Martins & MARTINS. Revista Psicologia : Reflexão e Crítica. AMATUZZI. Campinas: Alínea& Grupo Átomo. Psicoterapia e subjetivação: uma análise de fenomenologia. Temas existenciais em psicoterapia. de um gesto ou até mesmo de uma simples frase de carinho e de amor. Não há “resultados palpáveis”.1997. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. __________________________.2002.10. É preciso que a equipe compreenda a influência que ela exerce no comportamento das crianças e adolescentes. Disponível em: < http://www. Mirela Figueiredo. Zigmunt. Estamos em constante transformação. Quando na realidade. Brasília: MPAS. Revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa.scielo.estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. 1 a 6. Aurélio Buarque de Holanda. Yolanda Cintrão.15. GARCIA.069. Psicologia fenomenológica: fundamentos. Revista Mal. São Paulo: Omega Editora. BERG. BRASIL. 1963.scielo. O paciente psiquiátrico. Plano Nacional de Promoção. Ed. 2004 BRASIL. A transformação de monitores em educadores: uma questão de desenvolvimento. Psicologia fenomenológica: fundamentos. v. Brasil. publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993.Presidência Da República. Maria Alves de Toledo & HOLANDA.Política Nacional da Assistência Social. BRASIL. In:FORGHIERI. BRUNS. PONTES Fernando Augusto. Psicologia fenomenológica: fundamentos. Porto Alegre. 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