O PAPEL DA LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DOS PROCESSOS MENTAIS

March 18, 2018 | Author: Sara Coutinho Varino | Category: Psychology & Cognitive Science, Perception, Color, Cognition, Psychological Concepts


Comments



Description

Pós-graduação em Psicologia ClínicaUnidade Curricular: Fundamentos Neuropsicologia El papel del lenguage en el dessarrollo de la conducta (Luria, 1966) Docente: Professor Dr. Pedro Alves Discente: Ana Marisa Coimbra Agosto 2008 1 Um dos objectivos da psicologia moderna é o estudo da génese dos processos mentais. a memória intencional. que defende que a percepção inteligente. tendo em conta 2 propósitos: a) Relembrar alguns problemas básicos que preocupam os psicólogos soviéticos. As actividades mentais da criança são condicionadas desde o começo das suas relações sociais com os adultos.O PAPEL DA LINGUAGEM NA FORMAÇÃO DOS PROCESSOS MENTAIS Luria tem elegido o papel da linguagem na formação dos processos mentais como o tema das suas conferências. Os psicólogos soviéticos defendem a ideia de que a psicologia deve ser a ciência que estuda a formação dos processos mentais. Esta investigação pode-nos ajudar a descobrir os mecanismos subjacentes às complexas actividades mentais e a encontrar métodos cientificamente fundados para valorizar a conduta humana. É errado supor que a formação das actividades mentais básicas e as formas de conduta são um inevitável processo de maturação das funções mentais da criança ou um processo de aquisição desconectado de novos vínculos e associações. principalmente. a análise da sua formação e evolução. Neste processo a criança adquire não só novos conhecimentos mas também novos modos de conduta. A experiência humana é transmitida à criança pelos adultos. O conceito de “desenvolvimento” é o princípio básico da psicologia soviética. 2 . b) Expor os resultados obtidos nas investigações experimentais mais recentes. a atenção activa e a acção deliberada resultam de uma prolongadíssima evolução no próprio comportamento da criança. primeiro através de uma linguagem exterior e depois através da linguagem interior. Cria assim as formas superiores de memória intencional e de actividade deliberada. Exemplo: quando uma mãe mostra algo a uma criança e dá uma ordem de obrigação juntamente com o nome do objecto. Quando faz o que a mãe lhe ordena. do qual surgem novos sistemas funcionais. a criança começa a nomear activamente e a organizar assim os seus actos de percepção e a sua atenção deliberada. Assim aprende a formular os seus próprios desejos e intenções de forma independente. por exemplo: “deixa a faca que te cortas”. Exemplo: ao nomear objectos circundantes e ao dar ordens e instruções. A palavra que designa o objecto 3 . Depois de observar cuidadosamente os objectos nomeados pela mãe. a mãe modela a conduta da criança. retém as instruções verbais na sua memória por muito tempo.Actividades mentais básicas Maturação das funções mentais Processo de aquisição desconectado de novos vínculos e associações Relações sociais com os adultos baseadas na linguagem Desenvolvimento social Vygotsky – um destacado psicólogo soviético que influenciou profundamente o desenvolvimento da psicologia soviética – defende que as actividades mentais mais importantes resultam do desenvolvimento social da criança. e depois de adquirir a fala. causa uma modificação essencial na percepção da criança. O que antes podia fazer só com a ajuda de um adulto. agora é capaz de realizar sem ele – lei básica do desenvolvimento da criança. como um círculo vermelho sobre um fundo cinzento ou um círculo verde sobre um fundo amarelo. assim. verificamos que ao fim de um tempo a criança desenvolveu o hábito de realizar essa acção de forma correcta. e lhe dissermos que carregue num botão com a sua mão direita quando surgir a primeira imagem e com a mão esquerda quando surgir a segunda imagem. modificar as regras da força e desenvolver a predominância da componente mais débil. Falando com as crianças pode-se modificar a percepção de um estímulo complexo de forma significativa e.configura as suas propriedades funcionais essenciais e colocam-no numa categoria de objectos que possuem propriedades similares. Mão direita Mão esquerda Mão direita Mão esquerda 4 . utilizando a linguagem. Deste modo adquire a capacidade de modificar activamente o meio que o influencia. Experiência de Martsinovskaya: se apresentarmos estímulos visuais complexos. a uma criança de 3 a 5 anos. guiam-se pelas cores dos círculos. os fundos coloridos das duas figuras. adquirem a propriedade de elementos primários. ao trocarem os fundos. pediu à criança para carregar no botão com a mão direita quando surgisse um avião vermelho sobre um fundo amarelo (porque o avião pode voar quando o sol brilha. e com a mão esquerda quando surgisse um avião verde sobre um fundo cinzento (porque quando está a chover o avião não pode voar). A partir de certa idade é possível utilizar a fala para reforçar o elemento mais débil (fundo). em vez das figuras. as crianças de 3 anos começaram a centrar-se nos fundos. independentemente do fundo. 5 a 7 anos – começam a considerar a cor do fundo como o elemento mais forte da componente visual através da ordem verbal. pois. Experiência de Abramyan: os círculos foram trocados por aviões coloridos sobre o mesmo fundo cinzento e amarelo. que tinham sido os elementos débeis na componente visual anterior. Mão direita Mão esquerda Experiência de Lyublinskaya: a crianças entre 12 e 30 meses de idade eram-lhe dadas caixinhas vermelhas e verdes. Pedir à criança para carregar no botão com a mão direita quando surgir o fundo cinzento e com a mão esquerda quando surgir o fundo amarelo. 3 a 4 anos – não têm respostas estáveis. e o sol é amarelo). a criança continuou a apertar o botão com a mão direita no círculo vermelho e com a mão esquerda no círculo verde.As observações demonstraram que o estímulo mais forte era o círculo. Quando se dão estas instruções verbais. Foi 5 . estas ultimas vazias e as vermelhas com caramelos. que constituem o elemento mais forte na componente visual. e na maioria dos casos. Caramelos Vazia Experiência de Ruzskaya: crianças entre os 3 e 7 anos deviam carregar num botão com a mão direita quando surgisse um triangulo e com a mão esquerda quando surgisse um quadrado. Mesmo que conseguissem esqueciam-se com facilidade. Sempre que faziam bem eram reforçados. Mão direita Mão esquerda 6 . crianças entre os 3 e 4 anos podiam ter percepção das figuras se. as crianças conseguiam lembrar-se durante 5 dias a uma semana. pudessem tocar nos objectos para contar os seus ângulos e contornos A influência da linguagem no desenvolvimento da percepção generalizada das figuras evolui muito mais tarde e torna-se mais definida à medida que esta função se torna mais complexa. Mesmo depois de mencionar o nome das figuras não sortia efeito.muito difícil para as crianças seleccionarem as adequadas. apenas em crianças dos 5 aos 7 anos. Tudo mudava quando se introduzia a linguagem para mencionar as cores das caixas. No entanto. antes da experiência. A linguagem modifica a percepção da criança e possibilita a actividade de um sistema de associações diferenciadas estáveis. Tiveram grande dificuldade na tarefa. Esta linguagem não era egocêntrica mas era uma linguagem com função prática de ajuda para resolver a tarefa. 5 a 7 anos – se não lhe era dada ajuda. Nestas experiências a criança não só pode desviar a sua atenção da meta final. mas também pode. 7 . 3 a 4 anos . tentavam encontrar uma forma de resolver a tarefa falando com o adulto ou falando consigo próprios (linguagem egocêntrica de Piaget). algumas dificuldades. ausência de lápis ou tintas.Experiência de Vygotsky: pediu a uma criança de idade pré-escolar (menos de 8 anos) para realizar uma tarefa simples (descrever ou desenhar uma figura) introduzindo. se não tivessem ajuda não faziam a tarefa. por exemplo. Ao perceber que as tentativas directas não sortiam o efeito desejado. baseadas no raciocínio verbal. Pede-se à criança que complete a tarefa juntamente com o experimentador e com uma criança mais velha.5/6 anos. Experiência de Minskaya: demonstrou que meninos entre os 3/4 anos.chamavam um adulto e diziam que não podiam fazer a tarefa porque não tinham lápis. entre os 4/5 anos. A não ser que se utilizem términos visuais concretos e linguagem discursiva. a quem se pede para realizar diversas tarefas relacionadas com a manipulação de “punhos” simples. recorreu às “experiências emparelhadas”. Só mais tarde é possível que essas mesmas operações sejam puramente discursivas. depois de um número determinado de tentativas conseguem realizar as tarefas com êxito. mas principalmente. de seguida. Só entre 5. adquirindo esta propriedade por meio da sua inter-relação com o adulto. as crianças incluem operações organizadas de natureza imaginativa. incrementar consideravelmente as suas actividades de orientação e incorporar a sua própria linguagem no processo de realização da tarefa adquirida. até há diferenciação do estímulo. A evolução da conexão é gradual e desenvolve-se através de diversas etapas sucessivas. Assim que se elimina o reforço constante significa. as crianças com potencialidade variável seriam descobertas indubitavelmente e de maneira clara. mas duas vezes. a extinção e rápido desaparecimento da conexão. a criança deve ser incentivada a realizar as tarefas não uma. na evolução da capacidade intelectual. invariavelmente. pode comparar-se o grau de êxito na realização da tarefa de forma individual e com a ajuda de um adulto – “investigação da zona de desenvolvimento potencial da criança” – ou seja.Vygotsky – acerca de 25 anos – sugeriu que. 8 . desde uma generalização inicial de reacções a estímulos similares. Segundo Pavlov. forma-se uma nova conexão quando há um estímulo condicionado (campainha) acompanhado de um reforço incondicional constante (comida). nos animais. Diferença para com o homem – sistema superior de auto-regulação). Assim sendo. veremos que a sua conduta nunca é tão imediata como a dos animais. ou um adulto. sem reforço. sabemos que nas primeiras etapas do desenvolvimento. O processo de ligamento de novas conexões varia tanto entre crianças 2/3 anos. os processos nervosos das crianças são caracteristicamente muito generalizados e difusos. acompanhada por um reforço (por exemplo carrega no botão). Este sistema de generalização verbal determina. tanto a formação. por exemplo uma luz vermelha.Se uma criança de idade escolar. Quando a linguagem de uma criança começa a desenvolver-se não está activamente incorporado o processo de formação de novas conexões. observou-se que este sistema era incapaz de produzir uma reacção diferenciada em cenas de duração variada. como entre crianças dos 5. Uma criança perguntaria: “também carrego no botão?” Um adulto dizia: “disseram-me para carregar no botão quando aparecesse uma luz vermelha e não uma amarela” – generalização verbal. depois de numerosas combinações. for submetida a um determinado estímulo neutro. como a não formação de novas conexões. 9 .5/6 anos e. Numa experiência em estudantes adultos. assim que se acende uma luz amarela. (1966).Bibliografia  Luria. Buenos Aires: Texne 10 .R.7-33).A. El papel del lenguaje en la formación de los procesos mentales (pp. El papel del lenguaje en el desarrollo de la conducta.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.