O Modalismo e o Tonalismo.docx

March 27, 2018 | Author: Janine Soriano | Category: Musicology, Pitch (Music), Pop Culture, Elements Of Music, Music Theory


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O Modalismo e o TonalismoA Música modal tem início na Grécia antiga. No entanto, o modalismo atual não se caracteriza pelos modos gregos. As escalas modais na Grécia antiga eram descendentes, ou seja, caminhavam do agudo ao grave e eram estruturadas a partir de tetracordes. Estes tetracordes tinham analogia direta com os povos gregos, o que também não ocorre com os modos atuais. O modo Dórico grego, por exemplo, tinha sua escala iniciada em mi e era equivalente ao modo Frígio moderno. O modalismo utilizado atualmente classificados pelo Papa Gregório I. são modos Gregorianos, Inicialmente nem possuíam a nomenclatura hoje utilizada, criada posteriormente. Na música litúrgica os modos existentes eram: Dórico, ou modo de ré, Frígio, iniciado em mi, Lídio, a partir do fá, Mixolídio, ou modo de sol, Hipodórico, iniciado em lá, Hipofrígio, o modo de si e por fim o hipolídio iniciado em dó. Existiu também o chamado Hipomixolídio, que embora iniciasse em ré, se distinguia do modo Dórico por ter como nota final o sol e como dominante o dó. Com o passar do tempo o uso foi dos modos foi pouco a pouco se alterando. Os modos que vão do Dórico ao Mixolídio permaneceram com os mesmos nomes. O Hipodórico virou Eólio, o Hipofrígio virou Lócrio, o Hipolídio virou Jônio. O Hipomixolídio caiu em desuso. O modalismo consiste na forma de organizar as diferentes alturas de uma música de modo a representar estruturas pré-concebidas. Dessa forma, a música é construída com notas que representem uma concepção sequencial. Dessa forma a mesma demonstra as características do modo a que pertence. O estilo modal é fortemente representando pela música medieval, gótica e a música do início da Renascença. É uma música baseada em melodia de concepção mais horizontal. Entre a Renascença e o Barroco, ocorre a passagem do sistema modal para o sistema tonal. A trama do diálogo musical agora estava não In : HYER. nordestina e muitas outras sempre tiveram suas sonoridades definidas por modos. New Grove Dictionary of Music and Musicians. O modalismo esteve presente em todos os períodos da música. e de tensão com a dominante. formando um intervalo de 5a diminuta “apelativo” que sugere uma resolução nos graus de “repouso” 1 e 3. sendo cantada principalmente pelos monges.1(FÉTIS. No início. Stanley Sadie. com o uso da subdominante. Org. Estas relações se dariam principalmente entre os graus 7 e 4. F. a tônica. e no Reino Unido. Todavia. entre as notas da escala”. ainda assim. flamenca. A música então deve buscar esse tom provocando movimentos de afastamento. As músicas chinesa. A música modal caiu em certo esquecimento somente na Europa Central e Leste. caribenha. respectivamente.Traité complet de la théorie et de la pratique de l’harmonie. Brian. constituída de notas sobrepostas. pois acreditava-se que somente a voz humana possuía caráter divino. 2001. O que caracteriza o tonalismo é a sua hierarquia de notas associadas a uma principal. 1844) A música modal tem grande destaque principalmente na Idade Média com a ascensão da Igreja católica. Somente na música erudita ocidental europeia temos a predominância do tonalismo.J. entre o período Barroco e o final do romantismo. por exemplo. Incorporando uma concepção vertical. o chamado canto gregoriano. Na virada do século XIX para o XX. a música modal tornou-se novamente uma realidade na música erudita ocidental. não se utilizavam instrumentos no canto. sendo anterior ao tonalismo e o atonalismo. 1844. mas também na harmonia que a acompanha. mestres como Debussy e Villa-Lobos produziram muitas musicas baseadas nos modos. Isso porque. consideradas notas de “atração”. pode ser considerada modal. já que os instrumentos eram produzidos pelos homens. Paris e Brussels. tanto sucessivas como simultâneas. De acordo com Fétis (1844) o tonalismo seria: coleção de relações necessárias. “Tonality”. Londres: Macmillan. A música árabe. os modos não caracterizam apenas a música medieval. 1 FÉTIS. japonesa.apenas na melodia. servindo de base a própria musica religiosa medieval. . Na catequese dos índios brasileiros. Siqueira (1981)3 sustenta a hipótese da influência gregoriana na formação do sistema modal. discorre sobre as diferenças entre tonalismo e modalismo. empreendida pelos jesuítas. na música folclórica nordestina. intervalo visto pela Igreja como o “diabo na música”. Souza (1959) postula que essa prática foi uma das origens do modalismo na música folclórica brasileira e salienta que. Gest explica metaforicamente e quase poeticamente as reações surpreendentes que a música modal pode causar : 2 PAZ. Segundo Paz (1990)2 o que mais caracteriza o sistema modal é a multiplicidade de escalas. a prática musical foi um instrumento de grande importância. o mixolídio e um que resulta da mistura destes dois. No Brasil. no folclore musical do Brasil. 1990. em seu livro Harmonia. a fim de modificar tal intervalo. . que foi seu campo de estudo. 3 In: SENA. UNI-RIO. 1990. 1990. Todavia.Tese de livre docência. o que resultou na origem dos modos. Rio de Janeiro. o modalismo é bastante presente na música folclórica. após diligente pesquisa. Em suas citações. As estruturas modais na música folclórica brasileira. sugestões para aplicação no ensino da percepção musical. de configurações sonoras resultantes da distribuição de tons e semitons no contexto escalar. portanto modais. propondo uma visão panorâmica entre essas duas linguagens musicais e tratando-as como polos opostos que se encontram hoje entrelaçados e inseparáveis na música do mundo.No Brasil. sendo bastante provável que várias das peças musicais utilizadas nessa finalidade fossem gregorianas. Rio de Janeiro. Hélio de Oliveira. Emelinda A. reconhece somente três modos maiores: o lídio. nas escalas costumavase baixar o sétimo grau ou elevar o quarto grau. pode-se afirmar que existem no cancioneiro popular brasileiro exemplos escritos em todos os modos gregorianos. Assim. O uso destas alterações teria se tornado um hábito. É nessa perspectiva que. Tese (Livre/Docência) – UNI-RIO. a ocorrência destas escalas seria a implicação dos expedientes utilizados pelos Jesuítas para evitar o trítono. Implicações harmônicas do modalismo nordestino. Gest (2010). acompanha o entusiasmo tribal. por vezes não cifráveis (não decifráveis). o modalismo o derruba de um só golpe. Diante deste quadro compararemos a música tonal a uma comunidade habitacional organizada e limitada. (IAN GUEST. e convida a entrar na roda. a participar. como o próprio universo. demasiado pragmático. ou lamenta e chora. É de caminhos previsíveis e inexplicáveis. estatutos próprios. Num permanente crescendo. a própria liberdade. 2010)4 Exemplos modais do folclore brasileiro: (modo lídio) 4 GEST. exaltação e desejo de participação do homem contemporâneo. posto que o tonalismo. Estamos vivenciando a volta as origens. curta e repetitiva. a harmonia se reduz a mero ingrediente climático/ percussivo ou oferece um tapete de veludo. sonoridades e climas. instalando em seu lugar uma fazenda imensa. Tudo nela é coletivo. ainda que as memórias do castelo continuem profundamente enraizadas. Isto acontece porque a música hoje tem a tendência de uma linguagem cada vez mais voltada ao modalismo. O tonalismo constrói um castelo extremamente elaborado e delicado. A tribo vem até os nossos dias. é o universo. é feita de um ou poucos acordes. derrota e prece. conforme os caprichos do ânimo. sem momento de partida e de término. se é que existe. Ian. 2010. mapas e roteiros. É contagiante e estimula a participação. onde a harmonia seja a fina flor da sociedade. São Paulo: Irmãos Vitale. tem a história da humanidade e expressa sua emoção. É base nos ritmos de vitória.A música modal é milenar. Dentro dela. que sempre são tríades. É feita de ritmos. 1: método prático. o homem volta ao contato com a terra. É intermitente. não oferece estímulo suficiente para a contemplação. A melodia é simples. Harmonia. A harmonia. com regulamentos. Modalismo é tudo que está fora das muralhas dessa comunidade. . é o restante da música. (PAZ. 1989.p. Ermelinda Azevedo. 500 Cancoes Brasileiras.158 ) Exemplo modal na música popular: . Rio de Janeiro: Luis Bogo  Editor. Exemplo tonal: . . Composição Modal Composição tonal . Tese (Livre/Docência) – UNI-RIO. New Grove Dictionary of Music and Musicians. 1990. FÉTIS. 2002. 500 Canções Brasileiras. 2010. sugestões para aplicação no ensino da percepção musical. Ermelinda A. PAZ. PAZ. As estruturas modais na música folclórica brasileira. 1: metodo pratico. Londres: Macmillan. Ian. SENA. Brasília: Editora Musimed. Stanley Sadie. Harmonia.Bibliografia GEST. Emelinda A. Rio de Janeiro: Luis Bogo Editor. Ermelinda Azevedo. 1990. F. 1989. 2001. 1844 HYER. Brian.J. . PAZ. Implicações harmônicas do modalismo nordestino. Hélio de Oliveira.Traité complet de la théorie et de la pratique de l’harmonie. Sao Paulo: Irmaos Vitale. 1990. Rio de Janeiro. O modalismo na música brasileira. Paris e Brussels. Tese de livre docência. Org. UNI-RIO. Rio de Janeiro. “Tonality”. CONSERVATÓRIO BRASILEIRO DE MÚSICA – UNI-CBE (CBMCEU) Disciplina: Percepção IV – Prof.(a): Maria da Glória Aluno(a): Janine Soriano – 6o período de Licenciatura (noite) O MODALISMO E O TONALISMO (Trabalho referente a disciplina de Percepção IV) . Rio. 21 de setembro de 2015 .
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