O Legado Secreto de Philidor

March 28, 2018 | Author: MaxSilva | Category: Chess Openings, Chess, Traditional Board Games, Abstract Strategy Games, Game Theory


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Ciclo de Palestras do Clube de Xadrez de Curitiba - 3 de Agosto de 2011XADREZ OPERACIONAL O LEGADO SECRETO DE PHILIDOR Henrique Marinho [email protected] INTRODUÇÃO O alemão Hans (John) Moritz von Brüehl, Conde Brüehl (1736-1809), adversário de François-André Danican Philidor (1726-1795), foi diplomata em Londres e mecenas do xadrez e da música. Philidor, enxadrista e músico, pode ter tido duplamente patrocinado pelo Conde! No "Chessgames.com" há 11 partidas entre os dois cujos resultados favorecem a Philidor: +6 -2 =3. Na partida que analizaremos Philidor jogou a cegas contra três adversários, sendo um deles o Conde Brüehl. CONDE BRÜEHL - PHILIDOR Simultânea (a cegas) contra três, Londres ENG 1783 1.º CICLO: Disputa pelo Centro 1.e4 e5 2.c4 Desenvolvimento sem ameaçar, o que não acontece com 2.f3 que desenvolve e ameaça. Se 2.c4 é um erro, o que dizer da Abertura Larsen 1.a3 que não desenvolve nem ameaça? 2...c6!           D1: Posição de "meio-jogo"! O teórico é 2...f6: luta pelo centro, desenvolve e ameaça. Prescindindo da teoria das aberturas, o lance do texto 2...c6 tem a idéia de lutar pelo centro, assim como o lance 1.a3 (Larsen) tem como uma de suas idéias jogar a Siciliana com um tempo a mais: 1.a3 e5 2.c4 etc. Como em 1783 a teoria das aberturas era muito incipiente, e ainda considerando a mencionada Abertura Larsen, chegamos à surpreendente conclusão de que a posição em D1 já é uma posição de meio-jogo ("meio-jogo precoce"), onde o lance 2...c6 continua a luta pelo centro iniciada com 1...e5. Se Philidor não tivesse em mente (ação imanente!) o domínio do centro (plano de jogo) seu lance 2...c6 certamente mereceria uma interrogação. 3.e2! A teoria manda 3.c3 ou 3.d4, que desenvolve e ameaça, luta pela iniciativa. Mas estamos num “meio-jogo precoce” e 3.e2 é uma "restrição" a 3...d5 pois seguiria 4.exd5 e 5.xe5+. Um perfeito lance posicional de meiojogo conforme os ensinamentos de Nimzowitsch. 3...d6! Negras também tratam a posição como meio-jogo: a idéia é ...f5 com pressão central em busca de seu domínio. 4.c3 Apoiando o avanço central d4 brancas demonstram que também possuem a mesma idéia de ocupação central. Há uma disputa pelo centro como numa partida moderna, a diferença é a quase "ausência" da teoria das aberturas o que faz desta partida como se iniciasse já no meio-jogo. Somente na hipótese de se considerar a partida ainda na abertura (que envolveria a teoria das aberturas) é que seria o caso de se exigir lances de desenvolvimento e ameaça para ganhar tempo e lutar mais incisivamente pela iniciativa. 4...f5 5.d3 f6 Os lances estão muito coerentes com a idéia de "meio-jogo precoce" ou "abertura como se meiojogo fosse". Essa interpretação também pode ser levada aos dias de hoje e agir conforme ela, seja já no primeiro lance (p.ex. 1.c3!), no terceiro lance (p.ex. 1.e4 e5 2.f3 c6 3.b3) ou em qualquer lance. A novidade teórica tem essa característica de enviar o adversário da abertura ao meio-jogo enquanto o jogador permanece na abertura operando na teoria das aberturas! Um desequilíbrio real!           D2: Posição de "meio-jogo"! 6.exf5? Nimzowitsch classificaria o lance como “abandono do centro”! É deste ponto de vista, independente se na abertura ou no meio-jogo, que coloco a interrogação. Mas eu também poderia comentar assim: se a idéia era abandonar o centro, então deveria ter jogado na ocasião 5.d4. Fazendo 5.d3 perde um tempo, logo merece a interrogação também por esta via! Só que este julgamento não é e3 e7 Negras continuam desenvolvendo seu plano de jogo de ataque à ala de rei mas estão de olho na possibilidade de O-O-O branco quando então poderia se decidir por reciclar a partida para ataque ao rei (na ala de dama) ou continuar com seu atual plano de ataque lateral na ala de rei inclusive também fazendo O-O-O.Ciclo de Palestras do Clube de Xadrez de Curitiba . no futuro da partida.h6 12. O lance 7.. Embora ainda não esteja claro o plano de jogo branco. d3-d4. o referido plano de jogo denominado ataque lateral. 8. ao ser apoiado por d5.. que me levou a considerar que desde 2. ainda assim tem uma significativa implicação estratégica. 3.. na forma de ataque filosófico.º CICLO: Ataque lateral negro (na ala de rei) "Ataque lateral" é o ataque na ala em que não se encontra o rei adversário.d2 bd7 Estes dois lances são formalmente considerados lances de desenvolvimento pois as duas peças saíram de suas casas originais pela primeira vez! Entretanto.d5 estão visíveis em D3: reciclou a partida para um ataque lateral na ala de rei e desde já iniciou o desenvolvimento deste plano de jogo ao ganhar espaço operacional com o posto avançado e4 que. Se o rei estiver numa dessas alas será "Ataque ao rei".f4! As consequências operacionais de 7.ºCICLO: Ataque lateral branco (na ala de rei)           D5: Brancas reciclam a partida 9. 13.e4! é a decisão tática que faz a reciclagem. no Gambito de Dama Aceito 1. as "operações" da doutrina trinitária "estratégia. corta a LEC do bispo branco e ainda cria a diagonal b8-h2 como LEC para o f8.f4! o posto avançado negro torna-se um peão passado e apoiado que.. mantida as proporções da erudição da atualidade na teoria das aberturas.b3 d6 Com a ocupação da LEC tem início a COF contra a ala de rei desenvolvendo. pela incipiente teoria das aberturas à época da partida. do plano de jogo branco e negro) no caso se aproximar..d4 e4! 2. Penso que a interpretação desta partida do século XVIII merece toda essa parafernália lógica por poder ser transportada para a atualidade como método. p. exceto uma futura defesa filosófica ante o ataque negro. operações & tática"! Em tempo: a citação das reciclagens refere-se à operacionalização ao nível de condução da partida! Uma distinção importante! 11.ex. vejo estes dois lances como de ocupação de suas respectivas LIC (operacionalização Depois de 13. por si só. da ocupação das respectivas LEC e daí à COF para chegar à decisão tática (conquista efetiva do objetivo estratégico) desses planos de jogo.. é um objetivo estratégico relevante num final.. 11. Interroguei 6....exf5 porque nesta partida estamos no meio-jogo ("meio-jogo precoce"). Com 6.c4 ("meio-jogo precoce") e nesta fase é perfeitamente admissível d4 em dois tempos. estes desdobramentos podem ser considerados como parte da operacionalização ao nível de manejo do plano de jogo.h3!           D4 6.3 de Agosto de 2011 HENRIQUE MARINHO .c4 a partida já estava no meio-jogo ("meio-jogo precoce").xf5 7.. Se o rei branco estivesse rocado nessa ala. como disse.e4 e 8.c4 dxc4 cuja troca "não" caracteriza "abandono do centro" por estarmos num ambiente de teoria das aberturas.d4 d5 2.O LEGADO SECRETO DE PHILIDOR justo pois a partida já está no meio-jogo desde o segundo lance 2. Mas neste momento a partida está no 2 .g5 d5           D3: Reciclagem estratégica da partida O lance. podendo ser tanto na ala de rei como na de dama. 10. apesar de favorecer uma futura ruptura negra em g4 com criação de novas LEC contra a ala de rei branca. o plano de jogo seria denominado “ataque ao rei”.exf5? voltamos à questão do abandono do centro. um debate válido em qualquer época do desenvolvimento do xadrez. diferente do que acontece. recicla a partida e cria a possibilidade de uma avalanche de peões (objetivo estratégico) a ser iniciada com g4 como fundamento do ataque lateral branco contra a ala de rei negra. Uma diferença brutal.xc4 bxc4 25.g3 g6 20.Reciclagem na Ofensiva 1.cxd5 cxd5 (diagrama) 24..f4 é um lance complexo! A lição maior a tirar desta situação incrível. aproveitando o exemplo..xg7+ xg7 Com a troca de damas a partida aproxima-se bastante do final.3 de Agosto de 2011 HENRIQUE MARINHO .g3 ab8 26. restrição ao avanço g4. O somatório dessas duas tipificações perfazem a "dupla reciclagem" estratégica da partida. Se esse ataque lateral eventualmente levar a ganhos na própria ala de dama será um ganho de objetivo alternativo no contexto de uma reciclagem em paralelo. teremos uma notável antecipação de Capablanca lá no distante século XVIII. 15.h5! Este lance. Fantástico! Na partida ocorreu uma dupla reciclagem pois ao conceder.Em Paralelo 2. num segundo momento. a priori.c4 a6! Novamente François-André volta a praticar a profilaxia de Nimzowitsch no contexto do jogo posicional.c2 cxb3 28.. mas Philidor continua operando na ala de dama com um olho nesse final se nada resultar nessa ala. Apenas para esclarecer. 142 anos depois.g3+ 13. por conveniência estratégica. Nimzowitsch empregava estruturas. operações & tática" que proponho em Xadrez Operacional. importante tópico da doutrina trinitária "estratégia.O-O b6 19.ac1 c4 21.f4 é.Dupla Reciclagem 4. refere-se à teoria da reciclagem estratégica da partida. numa partida do século XVIII. o peão passado e apoiado como o novo objetivo estratégico às negras (reciclagem defensiva) também concedeu a si mesmo o novo objetivo estratégico ataque lateral à ala de rei negra (reciclagem na ofensiva). Uma análise estruturalista da reciclagem estratégica da partida revela a seguinte disposição: 16. se Philidor ataca a ala de dama para ameaçar algum ganho mas tendo com o objetivo principal simplificar para voltar à primeira reciclagem que lhe concedeu o final com peão passado e apoiado agora tomado como superobjetivo. sob o termo “profiláxis”. Como vemos 13.b3 a3 27. provavelmente com o objetivo de trocar peças para voltar ao final superior (superobjetivo) identificado por seu peão passado e apoiado. conceituado e resumido por Nimzowitsch. é uma antecipação formal ao pensamento de Nimzowitsch sobre profilaxia e jogo de posição! A diferença é que para Philidor trata-se apenas de um lance no aqui e agora da posição e exclusivamente desta partida. Diante disso vemos que o lance 13.Em Série 1.O-O! Lance revelador da conduta maquiavélica do mestre francês: ciente de ter inibido o avanço branco na ala de rei (restrição da maioria de peões!). 3 .1. É importante repisar dois fatos: (a) Philidor pratica determinado jogo posicional a ser revelado. A se ficar somente neste pensamento e teríamos um exemplo de reciclagem defensiva como uma categoria de defesa filosófica ao nível de condução da partida.. não consegue atingir b5. Por outro lado. brancas trocaram sua defesa filosófica pelo objetivo estratégico peão isolado e apoiado (reciclagem defensiva) considerando que lhe seria melhor enfrentar um peão passado e apoiado no final (ainda distante!) que um ataque à ala de rei neste momento.O LEGADO SECRETO DE PHILIDOR           D6: Diagonal f1-a6.           D7: Aproximando-se do final 14. está cortada em b5 meio-jogo e nessa fase 13.º CICLO: Ataque lateral negro (na ala de dama) 16. para Nimzowitsch é uma estrutura. xf5 gxf5 22.f4 envolve a criação de dois objetivos estratégicos: e4 passado e apoiado e o ataque lateral branco baseado numa avalanche de peões contra a ala de rei negra. Após as trocas de peões centrais o lance 14. 17. coloca seu rei em segurança justamente nessa ala. (b) Philidor efetuava lances..Ciclo de Palestras do Clube de Xadrez de Curitiba . Philidor se dispõe a um ataque lateral (na ala de dama) como uma reciclagem em paralelo.a6 impede o contrajogo b5 ao cortar sua LEC nesse ponto. um lance sistêmico parte de uma doutrina de aplicação geral a qualquer posição de qualquer partida.Reciclagem na Defensiva 3.e2 b5 18.g7! 23.2. LEC da e2.. uma defesa filosófica contra o ataque lateral negro à ala de rei ao cortar a LEC do d6. 22.f2 1.axb3 fc8 Diante da COF negra na ala de dama o Conde E a b2 está restringida. Entretanto. o primeiro jogava esta partida e o segundo criou um sistema para todas as partidas. f2 f6 42.. 31.Linha Interior de Comunicações COF.e8+ xd6 53. deveria ter jogado 30..h5 e3 47. Carmen saeculare: Part III: Vos laetam fluviis et nemorum coma (tenor.d6 d2+ 45. Carmen saeculare: Prologue: Odi profanum vulgus (tenor) • 6.gxh4 c2+ 42.37) e negras estão ganhando.e1 b6 (Houdini -2. mordaci velu icta ferro (bass.xe3 xh3 54. ABREVIATURAS 5º CICLO: Superobjetivo (volta ao peão passado e apoiado) LEC .xd5 f3 42.c7+ g6 37.xf5 xf4 41..e8 e se 36.g3 xc1 43. Carmen saeculare: Part I: Deliae tutela Deae fugaces (tenor.xf4 f3+ 40. quem proles Niobea magnae (chorus) • 10.. mezzo-soprano) • 15.h7 f3 52. o músico! Compositor de óperas Pioneiro na ópera-cômica NAXOS CD DUPLO (DISCO 1) FRANÇOIS-ANDRÉ DANICAN PHILIDOR Overture: Le marechal ferrant Carmen saeculare •1..a1 b4? Philidor erra.g5+ f6 40.00) empate.d1 a136. h8= xh8 55.e3 e7 35. Carmen saeculare: Part II: Ni tuis flexus Venerisque gratae (soprano) • 13.f2 d3 33.h4 Interessante sacrifício temporário de peão com a idéia de após o desaparecer o f4 ficar com dois peões passados e unidos. Carmen saeculare: Part I: Nupta iam dices (tenor.c1+ 31.O LEGADO SECRETO DE PHILIDOR Brüehl tenta aliviar a situação nessa ala trocando peças mas com isto apenas mais se aproxima do final favorável às negras.xc1 xc1 32. Allegro • 2.answers. e1 e6 50. sobretudo depois de Capablanca e Nimzowitsch. 27 in G major": II. Le marechal ferrant: Overture. Review: www. Carmen saeculare: Part III: Hic bellum lacrimosum (soloists. chorus) • 12. Le marechal ferrant: Overture. chorus) • 9.f6 48.h2 f5 (Houdini -3.xf5 h4! 39.h6 h2 51. Carmen saeculare: Part II: Doctor argutae fidicen Thaliae (chorus) • 14.com/topic/philidor-carmen-saeculare 4 .g2 f7 37.Concentração Ofensiva de Forças 29. 47. tibi miles impar (bass) • 11.d7 xf4 39.h6?? O único lance para empatar é 47..Ciclo de Palestras do Clube de Xadrez de Curitiba ..h5 c3+ 44.d8 d3 43.. 36.xd5 c4 38.xc8 xc8 30.f3! 0-1 A partida é um ensaio de como será o xadrez posicional no século XX. Carmen saeculare: Part III: Dianam tenerae dicite virgines (soprano.. "Symphony No. uma expectativa de supervantagem! Houdini considera somente 35. Carmen saeculare: Ouverture • 5.xe7 xg3 40.d7+! que poderia seguir: 47. 27 in G major": III.d8 f2+ 49.3 de Agosto de 2011 HENRIQUE MARINHO . Andante con spirito • 3.c5 d6 37.c1 c3 41..g2 xf4           D9: Dois peões passados e unidos 41.Linha Exterior de Comunicações LIC .f1 b2 33.e3 xd4 38.a2 xd2 34. "Symphony No.gxh4 h5 38. chorus) 35.d4 c7 43. f1 f7 46. Le marechal ferrant: Overture.xa6 c3 32.xf3 (Houdini =0.d5 f4 44.xd5 xf2 39. Carmen saeculare: Part II: Ille. "Symphony No.f2 g8 34. Carmen saeculare: Part II: Dive. 27 in G major": I. xd2 xb3 35.47). chorus) • 8. o que equivale a uma espécie de decisão tática do ataque lateral. Carmen saeculare: Part I: Spiritum Phoebus mihi (tenor) • 7.g2 e3+ 45. chorus) • 16. Presto • 4.c2           D8: Liquidação da ala de dama APÊNDICE: Philidor. Carmen saeculare: Part II: Ceteris maior. Ciclo de Palestras do Clube de Xadrez de Curitiba .3 de Agosto de 2011 HENRIQUE MARINHO .O LEGADO SECRETO DE PHILIDOR 5 .
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