O Construtivismo Estruturalista de Pierre Bourdieu

March 23, 2018 | Author: lucimberg | Category: Sociology, Science, Philosophical Science, Science (General), Science And Technology


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O construtivismoestruturalista de Pierre Bourdieu • Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas negativas. • Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia. • Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. ). ..Um construtivismo estruturalista • Pierre Bourdieu define o “construtivismo estruturalista” na junção do objetivo e do subjetivo: • “Por estruturalismo ou estruturalista. eu quero dizer que existem. que são capazes de orientar ou de limitar suas práticas ou suas representações. no próprio mundo social (.. estruturas objetivas independentes da consciência e da vontade dos agentes. por um lado. das estruturas sociais e.• Por construtivismo quero dizer que há uma gênese social dos esquemas de percepção. por outro lado. de pensamento e de ação constituídos do que chamo de habitus. . em particular do que chamo de campo”. e. de nossa vida adulta (habitus secundário). .Duas noções chave: habitus e campo • O habitus são as estruturas sociais de nossa subjetividade que se constituem inicialmente por meio de nossas primeiras experiências (habitus primário). • Como um sistema de disposições duráveis e transponíveis. pela interiorização da exterioridade. •É a maneira como as estruturas sociais se imprimem em nossas cabeças e em nossos corpos. e depois. decorrentes de suas condições objetivas de existência e de sua trajetória social. interiorizadas e incorporadas. inclinações a perceber. fazer e pensar de uma certa maneira. . sentir.• Disposições. para cada indivíduo. isto é. geralmente de maneira inconsciente. • Transponíveis. . por isso a resistir à mudança. pois se estas disposições podem se modificar no curso de nossas experiências. pois disposições adquiridas ao longo de certas experiências (familiares. fortemente enraizadas em nós e tendem. por exemplo). marcando assim uma certa continuidade na vida de uma pessoa. elas são no entanto.• Duráveis. por exemplo) têm efeitos sobre outras esferas de experiências (profissionais. cada habitus individual combina. se existem classes de habitus. entretanto. • Mas este habitus seria simplesmente reprodutor das estruturas sociais das quais ele é produto? . os habitus individuais são também singulares. Pois. uma diversidade (maior ou menor) de experiências sociais.• Unificadores. de maneira específica. logo habitus de classe. e. . ele é levado a dar múltiplas respostas a diversas situações encontradas.• O habitus é construído por “princípios geradores”. a partir de um conjunto limitado de esquemas de ação e de pensamento. ou seja. um pouco como um programa de computador. • Assim ele reproduz mais quando é confrontado com situações habituais e pode ser levado a inovar quando se encontra diante e situações inéditas. .• Os campos constituem interioridade do processo. a face exteriorização da • É a maneira como Pierre Bourdieu concebe as instituições. mas de maneira relacional. como configurações de relações entre atores individuais e coletivos. não como substâncias. no campo artístico. no campo jornalístico. de conteúdos e de recursos próprios. em torno de relações sociais. .•O campo é uma esfera da vida social que se autonomizou progressivamente através da história. no campo político ou no campo esportivo. diferentes dos de outros campos. • As pessoas não correm pelas mesmas razões no campo econômico. por uma relação de forças entre dominantes e dominados – e um campo de lutas – os agentes sociais se confrontam ali para conservar ou transformar essa relação de forças. . um campo de forças – ele é marcado por uma distribuição desigual dos recursos e logo.• Cada campo é então. ao mesmo tempo. • Cada campo é marcado por relações de concorrência entre seus agentes. ainda que a participação no jogo suponha um mínimo de acordo sobre a existência do campo. . • Cada campo é caracterizado por mecanismos específicos de capitalização dos recursos legítimos que lhe são próprios. ). para Pierre Bourdieu.• Não há então. capital político. . mas uma pluralidade de capitais (capital cultural. uma só espécie de capital (o capital economico). etc. que definem cada um dos modos específicos de dominação..• Não se tem então uma representação unidimensional do espaço social [.. .] mas uma representação pluridimensional – o espaço social é composto por uma pluralidade de campos autônomos. “um campo de lutas pelo poder entre detentores de poderes diferentes”. . é aí que se confrontam os dominantes dos diferentes campos.• O que Pierre Bourdieu chama de campo de poder é um lugar em que se colocam em relação campos e capitais diversos. ] o capital econômico e o capital cultural. ..• O espaço social é construído de tal modo que os agentes ou grupos são aí distribuídos em função de sua posição nas distribuições estatísticas de acordo com os dois princípios de diferenciação [.. . • No espaço social. econômico e cultural. isto é. na primeira dimensão. no volume global de seu capital . de acordo com o peso relativo dos diferentes tipos de capital. de acordo com o volume global de capital (desses dois tipos diferentes) que possuam e. os agentes são distribuídos. na segunda dimensão. de acordo com a estrutura de seu capital. A cada classe de posições corresponde uma classe de “habitus” (ou de gostos) produzidos pelos condicionamentos sociais associados à condição correspondente. os quais definem as diferentes posições nos dois sistemas do espaço social. .• O espaço de posições sociais se retraduz em um espaço de tomadas de posição pela intermediação do espaço e de disposições (ou do “habitus”).
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