O colocador de pronomes (Conto), de Monteiro LobatoRecomende esta página para um amigo Versão para impressão No conto intitulado O colocador de pronomes, publicado em 1924, Monteiro Lobato ridiculariza a personagem central, Aldrovando, exatamente pelo uso de uma linguagem empolada e descabida, cheia de preciosismos e de palavras incompreensíveis para a maioria das pessoas. A certa altura da narrativa, o narrador fala de uma campanha que Aldrovando empreende para evitar erros contra o idioma, propondo a elaboração de leis repressivas. Observe-se em que termos o colocador de pronomes expressa-se para solicitar ao Congresso leis contra os que erram: Leis, Senhores, leis de Dracão, que diques sejam, e fossados, e alcáceres de granito propostos à defensão do idioma. Mister sendo, a forca restaure, que mais o baraço merece quem conspurca o sacro patrimônio da sã vernaculidade, que quem ao semelhante a vida tira. Vede, Senhores, os pronomes, em que lazeira jazem... (Monteiro Lobato, textos escolhidos. Por José Carlos Barbosa Moreira. 3. ed. Rio de Janeiro, Agir, 1972. p. 100 (Nossos Clássicos,65).) Como se vê, trata-se de uma linguagem rebuscada, quase ininteligível, cheia de palavras raras e de termos em ordem inversa. O resultado dessa campanha foi catastrófico: segundo o que diz o próprio conto, Aldrovando caiu no ridículo, já que os congressistas riram-se dele, os jornais fecharam-lhe as portas, e o público, os ouvidos. Conto na íntegra Aldrovando Cantagalo veio ao mundo em virtude dum erro de gramática. Durante sessenta anos de vida terrena pererecou como um peru em cima da gramática. E morreu, afinal, vítima dum novo erro de gramática. Martir da gramática, fique este documento da sua vida como pedra angular para uma futura e bem merecida canonização, Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. Ledor de versos lacrimogêneos e pai duns acrósticos dados à luz no “Itaoquense”, com bastante sucesso. Vivia em paz com as suas certidões quando o frechou venenosa seta de Cupido. Objeto amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família, vesga, madurota, histérica, manca da perna esquerda e um tanto aluada. Triburtino não era homem de brincadeira. Esguelara um vereador oposicionista em plena sessão da câmara e desd’aí se transformou no tutú da terra. Toda gente lhe tinha um vago medo; mas o amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados nem tufos de cabelos no nariz. Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava. Namoro à moda velha, já se vê, pois que nesse tempo não existia a gostorura dos cinemas. Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores - o que havia de inocente e puro. Depois, roupa nova, ponta de lenço de seda a entremostrar-se no bolsinho de cima e medição de passos na rua d’Ela, nos dia de folga. Depois, a serenata fatal à esquina, com o Acorda, donzela... Sapecado a medo num velho pinho de empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado. Aqui se estrepou... Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas quatro palavras, afora pontos exclamativos e reticências: Anjo adorado! Amo-lhe! Para abrir o jogo bastava esse movimento de peão. Ora, aconteceu que o pai do anjo apanhou o bilhetinho celestial e, depois de três dias de sobrecenho carregado, mandou chamá-lo à sua presença, com disfarce de pretexto - para umas certidõesinhas, explicou. Apesar disso o moço veio um tanto ressabiado, com a pulga atrás da orelha. Não lhe erravam os pressentimentos. Mas o pilhou portas aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a carranca e disse: - A família Triburtino de Mendonça é a mais honrada desta terra, e eu, seu chefe natural, não permitirei nunca - nunca, ouviu? - que contra ela se cometa o menor deslize. Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o bilhetinho cor de rosa, desdobrou-o - É sua esta peça de flagrante delito? O escrevente, a tremer, balbuciou medrosa confirmação. - Muito bem! Continuou o coronel em tom mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a audácia de o declarar... Pois agora... O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica. - ... é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai. O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e com lágrimas nos olhos disse, gaguejante: - Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!... Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das expansões. - Nada de frases, moço, vamos ao que serve: declaro-o solenemente noivo de minha filha! E voltando-se para dentro, gritou: - Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo! O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro. - Laurinha, quer o coronel dizer... O velho fechou de novo a carranca. - Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama-”lhe”. Se amasse a ela deveria dezer amo-”te”. Dizendo “amo-lhe” declara que ama a uma terceira pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo. Salvo se declara amor à minha mulher... - Oh, coronel... - ...ou a preta Luzia, cozinheira. Escolha! O escrevente, vencido, derrubou a cabeça com uma lágrima a escorrer rumo à asa do nariz. Silenciaram ambos, em pausa de tragédia. Por fim o coronel, batendo-lhe no ombro paternalmente, repetiu a boa lição da gramática matrimonial. - Os pronomes, como sabe, são três: da primeira pessoa - quem fala, e neste caso vassuncê; da Segunda pessoa - a quem fala, e neste caso Laurinha; da terceira pessoa - de quem se fala, e neste caso do Carmo, minha mulher ou a preta. Escolha! Não havia fuga possível. O escrevente ergueu os olhos e viu do Carmo que entrava, muito lampeira da vida, torcendo acanhada a ponta do avental. Viu também sobre a secretária uma garrucha com espoleta nova ao alcance do maquiavélico pai, submeteu-se e abraçou a urucaca, enquanto o velho, estendendo as mãos, dizia teatralmente: - Deus vos abençoe, meus filhos! No mês seguinte, e onze meses depois vagia nas mãos da parteira o futuro professor Aldrovando, o aos 40 anos. Nunca dormiu entre braços de mulher. Já leu tudo. Versou-os um por um com mão diurna e noturna.a Benfica.A ingresia d’hoje. Não me sorri o futuro de Vera-Cruz. tarelos! E suspirava deveras compungido. Depois vagabundeou. careca. . Até aos dez anos não revelou Aldrovando pinta nenhuma. advinhe ao que. duzentos mil réis por mês e o rim volta e meia a fazerse lembrado. Muito não faz que vi com estes olhos um gentil mancebo preferir uma sordície de Oitavo Mirbelo. Aldrovando escabichava belchiores na pista dos mais esquecidos mestres da boa arte de maçar. E suspirava.. . diabo e carne eram para ele os alfarrábios freiráticos do quinhentismo. Pantaleão do Aveiro. Sua vida foi sempre o mesmo poento idílio com as veneráveis costaneiras onde cabeceiam os clássicos lusitanos. Deixê-mo-lo. celibatário impenitente. Trianon? Por que este perene barbarizar com alienígenos arrevesos? Tão bem ficava . E é de notar. Deletreemo-lo ao acaso. já a descer o morro. Obstruiu-se da broa encruada de Fr.. salvo lucilações esporádicas. A mulher e o amor mundo. A folha inteira cacografa-se por este teor.. vinha chafurdando no ingranzéu barbaresco.. É língua esta espurcícia negral? Ó meu seráfico Frei Luiz. como um Robinson. Sabe-os de cór. em cuja soporosa verborréia espapaçava os instintos lerdos. Aldrovando nada sabia do mundo atual. à. Por que. Ninguém atende à lei suma . Digeriu todas as patranhas de Fernão Mendes Pinto. Luiz de Sousa. e daí para cá. seco.. lia: . Quando penetro num livreiro o coração se me confrange ante o pélago de óperas barbarescas que nos vertem cá mercadores de má morte. conhece-os pela morrinha. declamava ele. .Horácio! Impera o desprimor... Lá está ele em seu gabinete de trabalho. Canhenho duma dama de servir. está para a Língua.Mas a evolução.empalamento de moscas e moidelas das respectivas cabecinhas entre duas folhas de papel. enquanto os outros enchiam as horas de estudo com invenções de matar o tempo . Na idade em que os rapazes correm atrás das raparigas.. Em certa época viveu três anos acampado em Vieria. . coisa de ver o desenho que saía Aldrovando apalpava com erótica emoção a gramática de Augusto Freire da Silva...Salta fora. mas a cachumba e a catapora.. como porco em lameiro.Língua? Chama você língua à garabulha bordalenga que estampam periódicos? Cá está um desses galicígrafos. se querem neologismo de bom cunho o Logratório. Menino vulgar.. Desprezava a natureza. como te conspurcam o divino idioma estes sarrafaçais da moxinifada! . pelas florestas de Bernardes. Aí! Onde param os boas letras d’antanho? Fez-se peru o níveo cisne. porém. regionalismo de má sonância! A língua lusa era-lhe um tabu sagrado que atingira a perfeição com Fr. no colégio. dez horas de aulas por dia... Mais tarde.Teve lugar ontem. fossando à luza dum lampião os pronomes de Filinto Elísio. como o cadáver em putrefação está para o corpo vivo. Era o latejar do furúnculo filológico que o determinaria na vida. que a elas se vão as preferências do vulgacho. arcado ao peso da ciência e combalido de rins.no Trianon. ou. para matá-lo.Povo sem língua!..Tarelos é que são. Aldrovando esfogueteava-o com apostrofes: . .. outrossim. E se acaso o sabiá de Gonçalves Dias vinha citar “pomos de Hesperides” na laranjeira do seu quintal. magro. baixando as cangalhas... Corcovado.conspícuo sabedor de língua que durante cinqüenta anos a fio coçaria na gramática a sua incurável sarna filológica. óculos de latão no nariz. amigo? A Carta de Guia do meu divino Francisco Manoel!. tossiu a coqueluche em tempo próprio. evoluir e tomêmo-lo quando nos serve.Inútil prosseguir.. teve o sarampo da praxe. afinal. distingue pelo faro uma séca de Lucena duma esfalfa de Rodrigues Lobo... E não lhe objetassem que a língua é organismo vivo e que a temos a evoluir na boca do povo. (1) creio. negava o presente. condoído dos nossos destinos: . A gálica intrujice é maré sem vazante. E. Passarinho conhecia um só: o rouxinol de Bernadim Ribeiro. e o mau gosto vige como suprema regra. . aí! Eram a tortura permanente do professor Aldrovando. um calhamaço a compor-se com os “afeites” do lídimo vernáculo. alegando falta de espaço e coisas. riram-se da memória. com a mortificação n’alma.Quer que instituamos patíbulo para os maus colocadores de pronomes! Isto seria auto-condenar-nos à morte! Tinha graça! Também lhe foi à pele a imprensa. nele se faria obra limpa e escorreita.. Quem tivesse um autógrafo a rever. Mas não foi entendido. que diques sejam. antes de nada. veio a campo com todas as armas para contrabater o monstro da corrupção. a “evolução” darwinica. fosse lá que. com pilhérias soezes.. Gomorra! Sodoma! Fogos do céu virão um dia alimpar-vos a gafa!. exclamou. Ele. que ali daquela costaneira escandalizado nos ouve. breve.Têm-nos os físicos (queria dizer médicos). e alcaçares de granito prepostos à defensão do idioma. e fossados.Experimentemos processo outro. E sua representação alargou-se nesse pormenor. profético. a língua. sem remuneração nenhuma. Planeou recorrer ao púlpito dos jornais.. desses “pulmões da pública opinião” apostrofou o país com o verbo tonante de Ezequiel.. não remanche o amigo na esquipática sesquipedalice. . . a forca se restaure. com vidro no olho. leis de Dracão. já se vê. essa permaneceu alheia aos flamívomos pelouros da sua colubrina sem raia. Tentou em seguida ação mais direta. Um biógrafo ao molde clássico separaria a vida de Aldrovando em duas fases distingas: a estática.. flagelante. porém. que mais o baraço merece quem conspurca o sacro patrimônio da sã vernaculidade. Ninguém alcançara a nobreza do seu gesto. E anunciou a montagem da “Agência de Colocação de Pronômes e Reparos Estilísticos”. sonetos a consertar pés de verso. Vêde. objurgou o enxotado. mais suasório.Espaço não há para as sãs idéias. Para isso mister foi. ofícios ao governo pedindo concessões. Apenas moscas vagabundas vinham esvoejar na salinha modesta do apóstolo.. A massa dos leitores. mas sobeja. senhores. e a dinâmica. Raro leitor metia os dentes naqueles intermináveis períodos engrenados à moda de Lucena. porém.Basta. que me não move amor de bens terrenos. . Tais.. Conheço às sobejas a escolástica da época. Criatura humana nem uma só lá apareceu afim de remendar-se filologicamente. os vocábulos macacos pitecofonemas que “evolveram”. eram as reformas que nos doentes operava Aldrovando. vencer o seu velho engulho pelos “galicígrafos de papel e graxa”. e grandemente piaram sobre Aldrovando as mais cruéis chalaças. . entretanto. Falhou a nova tentativa.“Leis. Transigiu e. Por amor a Frei Luiz. E por fim os “periódicos” fecharam-lhe a porta no nariz. Os ignaros congressistas. os charlatãs de toda espécie. Encheu colunas e colunas de objurgatórias ultra violentas. os pronomes. e ao cabo da aspérrima campanha viu que pregara em pleno deserto. que os autores não mais . os doutores em leis. em que lazeira jazem. transfeito em apóstolo. senhores. Doía-lhe como punhalada vê-los por aí pré ou pospostos contra-regras elementares do dizer castiço. Gratuito. em que apenas acumulou ciência. Abriu campanha com memorável ofício ao congresso. E depois. um memorial a expungir de cincas. concitando os pais da pátria à criação dum Santo Ofício gramatical. Leram-no apenas a meia dúzia de Aldrovandos que vegetam sempre em toda parte. e Aldrovando. como notas rezinguentas da sinfonia universal. escritas no mais estreme vernáculo. perderam o pelo e se vestem hoje à moda de França. em que. o público. não esmoreceu. pedindo leis repressivas contra os ácaros do idioma. teve que mudar de rumo. e pressuroso. e logo vieram os primeiros originais necessitados de ortopedia. Abra-se um para a medicação da grande enferma. todavia. cartas de amor. abrindo consultório gramatical. que quem ao semelhante a vida tira. Mister sendo. para quanto recende à podriqueira!. sacudindo à soleira da redação o pó das cambaias botinas de elástico. Os pronomes. Era boa a idéia. Teimava o povo em permanecer empapado no chafurdeiro da corrupção. É como quem diz: Serafim ferra cavalos . .Reformar a tabuleta? Uma tabuleta nova. O honesto ferreiro não entendia nada de nada. em vez de desalentar exasperava o apóstolo.. Aldrovando empertigou-se.. continuou o apóstolo. natural a mim me parece que erre. Um dos clientes chegou a reclamar. . contra ele desfechando os melhores argumentos catequistas...Ferra Serafim cavalos. amigo.s.. Aquele “se” da tabuleta refere-se cá a este seu criado. Venho pedir-te.Macacos me lambam se estou entendendo o que v. a forma verbal é “ferram-se” . Fogem ali os dizeres à sã gramaticalidade..??? . não. alarve que és.Mas da boa sombra do teu focinho espero. errou de porta. Isto me explicou o pintor. O ferreiro pôs de lado o malho e entreabriu a boca. que ouvidos me darás.Se V.Digo que está a forma verbal com eiva grave.V.. v. S. . diz. O rosário de insucessos. Ofereço-te dez mil réis pela admissão dum “m” ali. . Fogem-me à férula os maráus de pau e corda? Ir-lhes-ei empós. Pedi limpa de enxada nos pronomes.Ahn! Respondeu o ferreiro. . e ficou como está: Ferra Se (rafim) cavalos.Fisicamente.Amigo. começo agora a compreender. . Seu caso é alí com o alveitar da esquina. que “ferra-se cavalos” é um solecismo horrendo e o certo é “ferram-se cavalos”.. em cujo portão de tenda uma tabuleta . ..Ferras cavalos e bem merecias que te fizessem eles o mesmo!. . Bem empregado dinheiro! A tabuleta surgiu no dia seguinte dessolecismada.Pois. digo. pois que a forma é passiva e o sujeito é “cavalos”. e eu não sou plural...Hei-de influir na minha época.. disse-lhe pachorrentamente Aldrovando. que o expunjas. Mas não discutamos. nesta época de ouro da corrupção.. Pouco durou a Agência. Foi assim com o ferreiro da esquina. com a licença paga? Estará acaso rachada? . Descoberta a “asnidade”. Aos tarelos hei de vencer. Era a primeira vitória obtida e todas as tardes Aldrovando passava por . me perdoe. paga. A racha é na sintaxe. e entendi-o muito bem. Se erram paredros. Para economizar tinta e tábua abreviaram o meu nome. . Diz v.O sujeito sendo “cavalos”. perfeitamente de acordo com as boas regras da gramática. que . s. . Aldrovando ergueu os olhos para o céu e suspirou. s. mas o sujeito que ferra os cavalos sou eu. ia ter com o proprietário.reconheciam suas próprias obras.. enganou-se.. ...“ferram-se cavalos!” .Que reformes a tabuleta. em nome do asseio gramatical. mas não que me traduzisse a memória em latim.. fila-los-eis pela gorja. O “ferra-se” tem que cair no plural. . Salta rumor! E foi-lhes “empós”.. entretanto. Andou pelas ruas examinando dísticos e tabuletas com vícios de língua. continuou o mestre. O ferreiro abriu o resto da boca. Naquela tábua um dislate existe que seriamente à língua lusa ofende.. . morta à míngua de clientes. S.“Ferra-se cavalos” escoicinhava a santa gramática.. .Professor. eram impenitentes. Dedicou-o a Fr. . ó barata tonta! Quem manda aqui.anunciou a obra pelos jornais. venderia móveis. A cara que Aldrovando fez quando no passeio desse dia deu com a vitória borrada! Entrou furioso pela oficina a dentro. e ele. sou eu. Que proventos não adviriam dali para a lusitanidade. E cinqüenta contos para um velho celibatário como ele. até então. todos os homens de boa vontade salvos da gafaria! O ponto fraco do brasileiro falar resolvido de vez! Maravilhosa coisa. servia!. imitaria Bernardo de Pallissy. corpo miúdo. Passou esse período de vida alternando revisão de provas com padecimentos renais. generoso que era. E Aldrovando. Saiu trabuco volumoso. caiu de borco sobre as costaneiras venerandas e não mais conteve as lágrimas. . preparando frases para receber o editor que vinha vindo. Que vinha vindo mas não veio. e mascava uma apóstrofe de fulminar quando o ferreiro. o supersticioso ferreiro atribuiu a macaca à alteração dos dizeres e lá raspou o “m” do professor. em busca das consolações seráficas de Fr.Fá-la-ei imprimir à minha custa! Ah. . ficando à espera das chusmas de editores que viriam disputá-la à sua porta. Disse e fez.. Chegado que foi ao gabinete de trabalho.. porém.Não me vêm a mim? Salta rumor! Pois me vou a eles! E saiu em via sacra. Bofé! Para lugar era mister dinheiro e bem pouco do vilíssimo metal possuía na arca o alquebrado Aldrovando. magnificamente revisto.Chega de caraminholas.. Servia. cederia por cinqüenta.. acrescida de gordos proventos pecuniários.. e foi feliz nesse período de vida em que. E Aldrovando empreendeu a realização de um vastíssimo programa de estudos filológicos. não durou muito o regalo.Do pronome Se .“Sancta simplicitas!” ouviram-no murmurar na rua. chorou.Não hei-de acabar. Não importa! Faria dinheiro. Todos os casos resolvidos para sempre. antes de dar a prelo um grande livro onde compendie a muita ciência que hei acumulado. lhe barrou o passo. O livro compôs-se. com o rim a rezingar. de rumo à casa. esfregava as mãos de ouvido alerta. todo se entregou. Má gente! Nenhum lhe quis o livro sob condições nenhumas. não se sentia com forças para a continuação da guerra.. com a morte n’alma e o rim dia a dia mais derrancado. que. à obra magnífica. não morreria sem ter o gosto de acaçapar Gomorra sob o peso da sua ciência impressa. . que daria três tomos de 500 páginas cada um. As semanas se passaram sem que nenhum representante dessa miserável fauna de judeus surgisse a chatinar o maravilhoso livro. porém. E por uns dias o apóstolo sonhou as delícias da estrondosa vitória literária. primoroso na linguagem como não existia igual. já velho. Empatados em empréstimos hipotecários sempre eram seus quinhentos mil réis por mês de renda. contente. a pingarem pelo resto da vida na gavetinha onde. Encabeçaria a série um tratado sobre a colocação dos pronomes. amigos! Aceito o cartel. retesou-se nas últimas resistências. E é ir andando antes que eu o ferre com bom par de ferros ingleses! O mártir da língua meteu a gramática entre as pernas e moscou-se. tinha a significação duma grande fortuna. O mundo estava perdido e os homens. sem família nem vícios. ponto onde mais claudicava a gente de Gomorra. no serviço e na língua. nunca entrara pelega maior de duzentos. Torciam o nariz. dia e noite. Calculava em oitenta contos o valor dos direitos autorais. Pronto o primeiro tomo ... Venceu. a correr todos os editores da cidade.. Editaria ele mesmo um por um todos os volumes da obra salvadora. Não havia desviá-los do ruim caminho. Fê-lo. . Heitor Pinto.lá para gozar-se dela Por mal seu.. Luz de Souza: . aí!. dizendo “Não é vendável”. às brutas. Sei pelejar com todas as armas e irei até ao fim. alheio ao mundo. ou: “Porque não faz antes uma cartilha infantil aprovada pelo governo? Aldrovando. sobre maus. Coincidindo a entronização do “m” com maus negócios na oficina. o pedestal da sua própria imortalidade. como em todos os exemplares da edição. dizendo ao companheiro: .permaneceu imóvel uns momentos. e nem poderia escrever doutro modo um tão conspícuo colocador de pronomes. pós ou poções para uso interno.até os fados conspiram contra a língua! . de modo que a um bom laboratório fácil lhe seria reduzí-la a ampolas para injeções hipodérmicas. Era fato. E assim saiu nos milheiros de cópias da avultada edição.“que sabe-me”. Aldrovando não murmurou palavra. Que glória! Aldrovando prelibava essas delícias todas quando lhe entrou casa a dentro a primeira carroçada de livros. Mas não antecipemos. Que glória! Construíra. o horripilantíssimo . Para algum caso de pronomorreia agudo. e concluso o serviço um deles pediu: ...d’aquele que sabe-me as dores. finalmente. Vai o tipógrafo e recompõe-na a seu modo . A excelência dessa regra estava em possuir equivalentes químicos de uso na farmacopéia alopata. no hediondo relevo da dedicatória a Fr.. patrão! Aldrovando severizou o semblante ao ouvir aquele “Me” tão fora dos mancais. Naquele.. O mau bicho que tens no sangue morrerá asinha às mãos deste vermífugo.Isto no “sebo” sempre renderá cinco tostões. porém .daquele que me sabe.. ia Aldrovando recebê-la.Toma lá. a má colocação doutro pronome lhe cortaria o fio da vida. onde entrava a estriquinina em dose suficiente para libertas o mundo do infame sujeito. no rosto uma estranha marca de dor ... Filho dum pronome impróprio. e estava já a escrever o nome de Rui Barbosa quando seus olhos deram com a horrenda cinca: “daquele QUE SABE-ME as dores”. ou a pílulas.dor gramatical inda não descrita nos livros de patologia . haveria o recurso do PRONOMINOL Nº 2. tanto no falar como no escrever.À memória daquele que me sabe as dores.Me dá um mata-bicho. E quem se injetasse ou engolisse uma pípula do futuro PRONOMINOL CANTAGALO. Muito corretamente havia ele escrito na dedicatória: . Recomendo-te a leitura do capítulo sexto. O Autor. enfim. ao lado direito dos sumos cultores da língua.. .Do método automático de bem colocar os pronomes engenhosa aplicação duma regra mirífica por meio da qual até os burros de carroça poderiam zurrar com gramática. De olhos muito abertos. operaria como o “914? da sintaxe.. e tomando um exemplo da obra ofertou-a ao “doente”. A grande idéia do livro.e por artimanha do diabo que os rege empastelou-se na oficina esta frase..Deus do céu! Será possível? Era possível. saiu com o livro. Maus fados intervieram. Levou as mãos ao abdômen e estorceu-se nas garras de repentina e violentíssima ânsia. lá estava. Ergueu os olhos para Frei Luiz de Souza e murmurou: . exposta no capítulo VI . . Mas não quis o destino que o já trêmulo Aldrovando colhesse os frutos de sua obra. limpando-a da avariose produzida pelo espiroqueta da pronominuria. evidentemente incurável. Luiz de Souza. Pronta a obra e paga. O carroceiro não se fez rogar. colocando os pronomes instintivamente bem. Aldrovando abancou-se à velha mesinha de trabalho e deu começo à tarefa de lançar dedicatórias num certo número de exemplares destinados à crítica. curar-se-ia para sempre do vício. em rumas que lá se iam. Já serve! Mal se sumiram. Depois empalideceu. Dois brutamontes de mangas arregaçadas empilharam-nos pelos cantos. Abriu o primeiro. a três tostões o quilo). Parte superior do formulário Busca livros Digite a palavra-chave e pesquise obra ou autor.nem importa ao caso. 18 mil réis. vendidas a peso.Luiz! Luiz! Lamma Sabachtani?! E morreu. Obra Autor Parte inferior do formulário Outras obras Monteiro Lobato • • • • • • • • • • • Negrinha (Conto) Os negros (Conto) O fisco (Conto) O Presidente Negro Marabá (Conto) Urupês Negrinha (Livro) Cidades Mortas A Barca de Gleyre O jardineiro Timóteo (Conto) ÚLTIMAS DO VESTIBULAR 31/03 | UNICAMP (SP) Cresce a participação de estudantes da rede pública na Unicamp • 31/03 | UFJF (MG) Publicado 2º edital de reclassificação do Vestibular e Pism • 31/03 | UESB (BA) Divulgada a lista com a relação dos contemplados na seleção de isentos . o mártir número um da Colocação dos Pronomes. crase. incluindo tratados sobre circunflexo. (Ao todo. Paz à sua alma. vírgula. e psicologia do til.. a obra de Aldrovando. pesava cerca de 4 arrobas. que renderam no sebo. O que importa é proclamarmos aos quatro ventos que com Aldrovando morreu o primeiro santo da gramática. De que não sabemos . . A escrava Liduína. todos vão dormir na casa grande da fazenda. foi morta a relho. No texto aparece reforçando o vazio social do negro: sem família. de Monteiro Lobato Recomende esta página para um amigo Versão para impressão O conto "Os negros". . Isabel.. pra servir os brancos. que ajudou o casal. Esta narrativa. desprovido de qualquer vestígio de inteligência. Não existe tapera sem lacraia. de Monteiro Lobato. Tenho umas plantas na beira do rio. que lhes oferece pouso. O jovem Fernão foi emparedado vivo. ele se assemelha aos bichos do mato. e fiquei eu só. O excelente negro sorriu-se. O destaque maior é dado à idéia de que o negro foi feito para obedecer. a filha do capitão. funcionário da fazenda no tempo da escravidão. de modo que ficou só na memória do narrador a história da tragédia dos jovens amantes. Jonas de nada se lembrava. Depois do transe. fruto de nossa história escravagista. palmito no mato e uma paquinha lá de vez em quando na ponta do chuço. viva! – Vassumcristo! Respondeu o preto. semelhante o conto "Negrinha". – Tio Bento. é o mais longo da coletânea "Negrinha". o temível Capitão Aleixo. submeter-se.. abandonada e amaldiçoada. Sem espaço em seu barraco. – Era dos legítimos. O narrador e seu amigo Jonas param no meio de uma viagem a cavalo pelo interior. Os trechos a seguir dão a dimensão dessas características: – Há de morar aqui por perto algum urumbeva.SEU PORTAL DE ESTUDOS • GALERIA DE ARTES Mais de 1300 obras catalogadas • SALA DE AULA Apoio para suas aulas • PROFISSÕES Carreiras e entrevistas com profissionais Os negros (Conto). conforme citou-se: O melhor é acomodar-nos na casa grande. um negro ex-escravo. é ninho de cuitelo. um português pobre. que isto cá não é casa de bicho-homem. longe de seu amado. sem bens próprios. é digno de nota porque mostra a discordância do autor em relação à discriminação racial e denunciam o aviltamento dos negros no Brasil. Conta a trágica história de amor entre a filha de um fazendeiro e um empregado português. – Pai Adão. Contém vinte e seis páginas e está dividido em vinte e dois capítulos. disse eu. meu branco. Jonas é possuído pelo espírito do jovem Fernão.. Morreu tudo.. acabou mandada para a corte e enlouqueceu. e que teve um namoro escondido com a filha do patrão. Durante a noite. uma vez que tem a alma servil. O conto reúne diversos estereótipos.. com a gengiva inteira à mostra. E fomo-nos à casinhola do preto engulir o café e arrear os animais. Um dos estereótipos mais recorrentes nesse texto talvez seja o do negro rude cativo do campo. na casa de Adão. acabam acolhidos pelo exército português. constrói-se a crítica de Lobato. na linguagem cinematográfica. dentre outros. morrendo também de um ferimento. Anette já está madura e Marabá é o que existe de mais botão. Colégio Sagrado Coração de Jesus. Judiava da gente à toa pelo gosto de judiar. um capitão reconhece Marabá como sendo sua filha e a abraça. porém. Tio Bento sobraçou a quitanda e deu-me a levar o candieiro. muxoxou a mucama. Crédtos: Prof. suas atenções estão voltadas para a sua Sinhá. como deve ser mau o canhoto. como se os castigos recebidos por ele pertencessem à ordem natural das coisas. p. se traduz na imagem. do negro bom e trabalhador. Conhece a intérprete adequada. indefeso e sem nenhuma ação concreta de auto-defesa. aparece desprovida de vida própria. Unicamp. entretanto. a personagem Liduína vem apenas reforçar. como os outros personagens negros... torna-se preciso inventar um processo que rejuvenesça de trinta anos a intérprete. Marília. construída sobre o confronto entre a arte nova e a arte velha. Ipojuca está ferido. fiel ao branco e disposto a qualquer sacrifício para agradar o mesmo. encarna exaustivamente os estereótipos já assinalados.. como no cinema mudo. 2. meu branco. a proposta de uma nova linguagem – a cinematográfica – e a recuperação dos velhos modelos românticos folhetinescos e fora de moda. O índio Ipojuca se apaixona por Marabá e. E os brancos tinham como dogma que de outra maneira não se levavam os pretos. A ironia é o fio condutor de todo o conto. uma crioula muito viva que desde bem criança passou da senzala para a casa grande. Manuel. Suas atitudes também servem para escamotear e dissimular os conflitos da escravidão. v. na aparência física da personagem. Sem entender a cena. que sustenta que velhos temas ainda . Era mau. de Monteiro Lobato Recomende esta página para um amigo Versão para impressão No relato "Marabá". de Monteiro Lobato. foge com ele e gera uma filha. como demonstração de subserviência e lealdade. entretanto. SP | São Paulo . de forma que. Na penúltima transcrição. 227) Apresenta nesse pequeno trecho uma preocupação que só caberia ao roteirista: compõe uma personagem que desfruta de tal comunhão com a natureza. Marabá. De todos os contos de Negrinha.Como sou só. Ipojuca flecha e mata a sua jovem esposa. O sentimento de revolta não latejava em ninguém. 1951. Pois Sinhazinha não sabe que sou mais sua amiga do que sua escrava? Conforme se pode observar. depois de perseguidos pela tribo. Marabá (Conto). (LOBATO. Ele propõe uma recriação do universo romântico a partir de ícones consagrados: A índia Iná liberta um prisioneiro branco da tribo. como mucama de Sinhazinha Zabé. o estereótipo da submissão e do servilismo do negro. seus movimentos e atitudes estão mais próximos dos animais: Amor? Respondeu a arguta mucama em quem o instinto substituía a cultura. Mestre em Literatura. SP | Elizamari Rodrigues Becker. A personagem Liduína. Há que se ressaltar o estereótipo da submissão. Na nova roupagem cinematográfica. assim. Como. que se faz de suma importância achar a atriz adequada para o papel. Ela também. estranhava aquilo. mas sua idade é um empecilho. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRSG) | Enio Passiani. todo ele dividido em quadros e letreiros. sobretudo no que diz respeito à construção da verossimilhança que. Além disso. Ninguém. Os pretos sofriam como predestinados à dor. como se pode observar: Contente de ser-nos útil. vê-se a figura do negro digno de compaixão.UFSCar Mód.. Bobagens. 3. Tudo no conto lembra o roteiro cinematográfico. Doutora em Literatura Comparada.Educando pela diferença para a igualdade . Todo o rol marginalizado do romance e da poesia indianista é recuperado: José de Alencar (Guarani e Iracema) e Gonçalves Dias (I-Juca-Pirama” e Marabá). o narrador dá ao leitor uma receita de romance romântico. inclusive uma nota encontrada bem no meio do conto: Este papel de Marabá tem que ser feito por Annette Kellermann. trepando à pitangueira com agilidade de macaco. “Marabá” talvez seja o que melhor representa a curiosidade de Lobato em brincar com a linguagem cinematográfica. ele os compreendia. "Marabá" . Doutora em Literatura Comparada.e passa a dividi-lo em “quadros” (tal como num filme) e “letreiros” (como nos reclames) A ironia lobatiana está presente no conto a partir do momento que utiliza uma linguagem literária ousada. criticadas por Lobato no início do conto. que cuida. O jardineiro Timóteo (Conto). aviatória. Colégio Sagrado Coração de Jesus. provavelmente. chega ao cerne do enredo: confessa ao leitor que tem em mente “uma novela tão ao sabor antigo”. sobretudo nos contos de Urupês e Negrinha. no andamento em que começou. da história ou da ação propriamente dita –. ao fato de que a linguagem da moda simplesmente encobre. formalmente “moderna”. vive em um mundo no qual a comunicação é exclusivamente oral. negro descendente de escravos. (LOBATO. mais afeita à época em que vive. um "preto branco por dentro". O conto relata a história do negro Timóteo. há mais de quarenta anos. lentas demais. ligada a um conteúdo que segue as receitas literárias mais tradicionais. cinematográfica. Sejamos da época. Mestre em Literatura. Sua ironia aponta a imbricação entre tradiconal e moderno na cultura e nas artes brasileiras. transformando-a em entrecho de filme. do jardim de uma fazenda. Compusera. Quando associados. é aceito pela família do senhor e pode viver feliz naquele lugar. sem pesar os sentimentos de quem participou da construção no momento anterior. o narrador. Marília. p. cuja concretude vê-se exercitada no relato. vítimas da intolerância. aquela que destrói sem critérios. SP | São Paulo . O jardineiro é assim apresentado: Verdadeiro poeta. filha de uma índia com um português. não chegaria nunca ao epílogo. então. SP | Elizamari Rodrigues Becker. e justamente por isso perseguida pelos de sua tribo. Lobato parece questionar a modernização a qualquer preço.quase não há diálogos. e sublinha a importância do compromisso entre os escritor e a “realidade”. Abreviemo-la. automobilística. acelerar a cadência do texto. apesar de "escorregões" em esteriótipos racistas. sem o saber. reconhecidos como traço comum à escritura de Monteiro Lobato. Com um pé fincado no realismonaturalismo. enfadonhas demais. pois. e a “palavra de homem” sustentada vale mais que qualquer documento escrito. e esta minha Marabá. não comerá o escasso tempo do autor e ainda pode ser que acabe filmada quando tivermos por cá miolo e ânimo para concorrer com a Fox ou a Paramount. um ritmo cinematográfico: “Nada disso. Começa então a narrar a trágica história de Marabá. 223) Há dois níveis narrativos em “Marabá” – um. e decide. Unicamp. e esta minha Marabá. pois. e ambos são perseguidos pelos membros da tribo. é um relato sensível e triste sobre a violência contra os negros no Brasil. não chegaria nunca ao epílogo. os códigos sociais estão alicerçados em valores estáveis. o bom Timóteo. Não desses que fazem versos. Após essa pequena “introdução”. automobilística. 1959: 223) . mas dos que sentem a poesia sutil das coisas. Segundo o narrador de “Marabá”. Manuel. Crédtos: Prof.satisfazem ao gosto tanto de escritores quanto de leitores. filho do cacique. Sejamos da época.” (LOBATO. . aos exageros e falsidades do romantismo. Ao final os dois morrem. Narrado em terceira pessoa. de Monteiro Lobato. no andamento em que começou. A época é apressada. conforme será reforçado várias vezes. empregando um outro tipo de linguagem. alter-ego do autor. dão vazão a um enquadramento digressivo e metaliterário de tese. 2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRSG) | Enio Passiani. e que se chama “Marabá”. O teor da crítica deve-se. podendo ser lido ainda como um lamento sobre certo lado destruidor da humanidade. v. o narrador revela sua insatisfação quanto ao ritmo habitual das narrativas literárias.Educando pela diferença para a igualdade . neste conto . com o roteiro técnico um enredo antigo: que os padrões de gosto não mudaram na passagem do século XIX para o século XX. crítico e descritivo e outro. da qual a própria literatura lobatiana era exemplo.UFSCar Mód. A época é apressada. e cuja amostra está no desenvolvimento estilístico de Marabá. Logo no início Lobato tece algumas críticas às receitas literárias e às cópias. a busca pela modernidade é uma imposição que nem sempre se faz associar com a ruptura: Nada disso. 1951. Timóteo criado desde pequeno na fazenda onde trabalha. com os tempos modernos. Monteiro Lobato demonstra estar antenado com o novo horizonte técnico que se abre e afeta inclusive a produção e a recepção literárias. de Monteiro Lobato Recomende esta página para um amigo Versão para impressão O conto "O jardineiro Timóteo". Confere ao texto. Vantagemtríplice: não maçará o pobre leitor. aviatória. com o outro pisava o modernismo. Por ser zeloso e bom. Marabá se apaixona por Ipojuca. cinematográfica. Além de praticamente virar ao avesso a temática alencariana. o que mais chama a atenção é sua elaboração formal. 3. escrevendo com as mudas que planta a história da família. porque o “Sinhô” “era homem simples. morrer lá na porteira como um cachorro fiel. “tronco da estirpe”. de depositário de um saber a um só tempo profissional e social. entre dores. “roseiras fortes”. o discurso textual passará sutilmente a idéia de total impossibilidade de uma convivência de iguais. servil e dócil do jardineiro em relação aos proprietários da fazenda. A família parte e Timóteo permanece na fazenda e é “passado” para outra família como se fosse um móvel.. de folhas laminadas”. ao qual o zeloso guardião nunca permitiu que outra planta sobreexcedesse em altura”. como mostram os trechos O canteiro principal consagrava-o Timóteo ao ‘Sinhô Velho’. criara uma família de flores. o pé de flor-de-noiva que marcou o dia em que foi pedida em casamento. nunca o levando a uma reflexão. dum importador de escravo de Angola. damas-entre-verdes. tem para Timóteo um olhar generoso. A afetividade do negro em relação aos seus patrões pode ser resumida como uma apologia ao senhor branco.(. verso vivo. “palmas de Santa Rita. bocas-de-leão. “os primeiros tufos de violeta” Timóteo plantou “quando lhe nasceu. pelo contrário. beijos-de-frade. miosótis”. O canteiro do Sinhô-moço. tendo sido esta vendida. “junquilhos nervosos”. o negro liberto era feliz vivendo ligado ao seu senhor: Essa idéia do negro tutelado eternamente é reforçada quando o personagem morre ao ser deixado na fazenda. que desde menina se habituara monopolizar os carinhos da família e a dedicação dos escravos. em seguida. .. de galhos negros e copa dominante. uma vez cativo de Sinhazinha. Como podemos perceber.um maravilhoso poema onde cada plantinha era um verso que só ele conhecia. Todos vivem pacificamente. No texto. Lá morre. vivia ao pé de um tesouro. Tal qual a moça. quase cúmplice. tronco da estirpe e generoso amigo que lhe dera carta d’alforria muito antes da Lei Áurea. que desta vez não é apresentado como personagem. Emancipação? Loucura! Quem.) era feliz sim. A morte de Timóteo apenas virá confirrmar essa idéia. O texto desenha a postura humilde. procurando enternecer o leitor e desviando-lhe a atenção. com o qual ela viesse a casar-se. Ao pintar sua espontaneidade. Bem no centro erguia-se um nodoso pé de jasmim do Cabo. periquitos e cravinas. representado por um “nodoso pé de jasmim do cabo. À volta do jasmineiro. símbolo vivo. sendo o negro ainda criança. chegando ao ponto de. de galhos negros e copa dominante ao qual o zeloso guardião nunca permitiu que outra planta sobreexcedesse em altura.) Sem família. risonho ao reflorir anual da primavera. Timóteo domina e recria um alfabeto vegetal. “ouriçadas de espinhos”. nenhum ter ânimo de afastar-se da fazenda. de adulto-criança ou do “negro/criança/grande”. pelo contrário. que o texto atribuirá ao personagem características eminentemente infantis. “e no dia em que lhe morreu esse malogrado botãozinho de carne rósea. o no mundo de Timóteo e seus senhores não havia as contradições ou conflitos que a escravidão gerou. o jardineiro. até uma inversão. ‘borboletas”. A idéia de viver sem a tutela do “bom senhor” será insuportável ao doce serviçal e culminará com a sua morte: Eu vou. Lá agoniza ao pé da porteira.. Dessa perspectiva. atribuindo-lhe um valor marcadamente positivo. dando aos fatos cores sentimentais. uma vez que não há nenhum vestígio de qualquer conflito racial. a escravidão é “doce” e dá lugar a uma afetividade que a neutraliza por completo: O canteiro de Sinhazinha era de todos o mais alegre. pouco amigo de complicações”. dizia pela boca das flores toda a sua vidinha de moça”. primeiro “flores alegres de criança – esporinhas. Simbolizava o homem que o havia comprado por dois contos de réis. o canteiro central é dedicado ao “Sinhô velho”. O jardim tornara-se a memória viva da casa. Vale observar ainda. mas é embora daqui. O narrador. O dela era o mais alegre de todos: “livro aberto. Havia também dois canteiros em forma de coração. “flores amáveis da adolescência – amoresperfeitos.. há. fincou na terra os primeiros goivos e as primeiras saudades”. um utensílio qualquer ou fizesse parte do “seu” jardim. o primeiro filho”. um “de Sinhazinha” e o outro reservado para o “Sinhô moço”. em lágrimas. até brotar nele a primeira “planta séria”. “revelava intenções simbólicas de energia”: “cravos vermelhos”. crônica vegetal. dando bem a imagem de um coração de mulher. desmedrado e sofredor quando junho sibilava no ar os látegos do frio. podia jamais romper as algemas da doce escravidão? Timóteo era feliz. (. escovinhas. a bondade de Timóteo e sua benevolência são cada vez mais acentuadas. ao contrário. dessa forma. precisará de alguém que o guie e que o proteja. pobre. sua simplicidade e ingenuidade. Iletrado. brancos e negros parecem conviver harmonicamente. Trabalhava por amor. ao sobrevir a Lei Áurea. Assim. seu jardim é o produto de um trabalho que o novo senhor despreza. árvores frutíferas. arrasar o jardim? O fazendeiro encarou-o. No caso de Timóteo. entendes? Timóteo. que anunciam “plantas exóticas tais como: camélias. é também texto.qui-to!” Uma vez condenado o jardim. etc. mandam “vir o Ambrogi para traçar um plano novo de acordo com a arte moderníssima dos jardins ingleses”. azaléias. de execução. uma touça de perpétuas. Odete! Peri. sirigaita enredeira. um resedá. Vendida a fazenda.O jardim também consagrava uma planta “a cada subalterno ou animal doméstico”: Havia a roseira-chá da mucama de Sinhazinha. “E periquito.. tanto na reforma da casa. à medida que o acompanha no seu desvelo com o jardim por meio do qual registra a história dos patrões. A criação de um jardim pode ser considerada uma pintura no espaço. espirradeiras. As plantas significam. ficas encarregado de limpar este mato e deixar a terra nuazinha. quanto no jardim. Esta observação é particularmente interessante no caso de Lobato por tratar-se de um escritor com imenso gosto pelo desenho e pela pintura. o sangue-de-Adão do Tibúrcio cocheiro. XIX as famílias ricas da Corte vinham introduzindo espécies exóticas. peônias. obrigados pelas circunstâncias a conviver no espaço. como já foi apontado anteriormente neste trabalho. lustres. no ato da fruição ou do consumo. correndo o jardim: “É inconcebível que haja esporinhas no mundo”. fazem emergir o inevitável conflito. o Meteoro. atarantado e fora de si. todos os cães que na fazenda nasceram e morreram. os novos proprietários impõem o padrão do gosto da moda. haviam aprendido a respeitar o conhecimento dos subalternos sobre plantas e animais. – Eu? Pois me acha com cara de criminoso? E não podendo mais conter-se. cheirando a Tomé de Souza. um tufo de violetas. a Mangerona. contraste claro-escuro e uso de diferentes tons de uma mesma cor. são encaradas como seres vivos e não como objetos que entram ou saem de moda.) roseiras de novas espécies. a rosa-maxixe da mulatinha Cesária. não pôde engrolar uma palavra: – Eu? – Sim. Os antigos patrões de Timóteo. das chácaras e de outros recantos da cidade embelezam seus jardins e. que embora privados eram exibidos ao público em frente às fachadas das casas: Os proprietários das residências senhoriais de Botafogo. explodiu num assomo estupendo de cólera – o primeiro e o único de sua .] Também os gatos tinham memória. símbolo de status.. enquanto o Ambrogi não chega ponho aquele macaco a me arrasar isto – disse o homem apontando para Timóteo. durante séculos. Arrasa-me isto bem arrasadinho. em pleno século das crisandálias!” E riam “como perfeitos malucos”. adquirido e acumulado no contato estreito do trabalho e no cuidado com os mesmos. – Olha. Quero fazer aqui um lindo jardim. e como tal deve ser lido. trêmulo. sem nada compreender daquela resistência. com ar apatetado. Situação que vai sendo apresentada ao leitor de maneira a fazê-lo simpático ao jardineiro. resultante de um processo do qual não foi testemunha e que de forma alguma é de seu interesse. volume. repetiu a pergunta: – Eu? Eu. quando “a fazenda passa a ser extremamente requintada e elementos da arquitetura urbana são levados para a arquitetura rural – móveis. à palavra jardim. ali estavam lembrados pelo seu pezinho de flor. e transmitido de uma geração a outra pela tradição oral. que para os recém-chegados..” Desde meados do séc.. o jardim. Mas para o autor de “O jardineiro Timóteo”. O jardineiro como personagem recupera portanto a idéia de trabalho. além dos jardins de traçado elaborado e com plantas importadas. além de pintura. magnólias (. vivendo por um longo período no ambiente rural. possivelmente. em que estão presentes noções como profundidade.. [. – Ó tição. mas que foi abandonada em prol da percepção da coisa pronta. que esteve associada. estuques. de cultivo. recorrem aos “jardins floristas franceses”. O jardim criado por Timóteo: é um jardim com história. espantado da sua audácia. não tem nenhum valor. incluindo a renovação da mobília. e o pé de alecrim relembrativo do velho gato Romão. tu! Por que não? O velho jardineiro. O Vinagre. As plantas floríferas e frutíferas vêm diretamente da França”. de cara fuchicada como essa flor. em seus jardins. O conto exibe o choque entre tempos e experiências paradoxais vividos pelos diferentes segmentos da sociedade brasileira que. Lá estava a cinerária da gata branca morta nos dentes do Vinagre. A entrada em cena dos novos patrões é marcada pela arrogância e pela insensibilidade: – E para não perder tempo. A reforma segue a tendência da época. sendo até ridicularizado: “É incrível! Um jardim destes. vem cá! Timóteo aproximou-se. a Tetéia. Esse jardim foi destruído. Se as queriam para florir a mesa em dia de anos da moça. É festa alegre. E certa manhã viu Timóteo arrumarem-se no trole os antigos patrões. contra o “branco de má casta”.) Ninguém. risonho ao reflorir anual da primavera. sendo alçado assim à estatura de um herói trágico. Tudo nele correspondia a uma significação familiar de suave encanto. repetindo cem vezes a mesma ameaça: – Deixa estar!. lançando. Ninguém sabe apanhar flor.. (. ao riscarem-se os canteiros na terra virgem ainda recendente a escavação... que hei de rogar tanta praga que isto aqui há de virar uma tapera de lacrais! A geada há de torrar o café.... Sinhazinha o tolerava desde o dia em que ele explicou: – Não sabem.. representante da “modernidade” que despreza o passado. E lá partiu o trole. Nasceu faceiro e bonito.. Timóteo seria.. pleno de sentidos. E fazendo com a mão espalmada o gesto fatídico. Não há de ficar aqui nem uma galinha. Não se mata assim um pobre negro velho que tem dentro do peito uma coisa que lá na cidade ninguém sabe o que é. e desd’aí – lá se iam quarenta anos – ninguém mais teve licença de pôr a mão em “seu jardim”. um preto branco por dentro.. O jardim tornara-se a memória viva da casa. Sumiu-se para sempre..) Vendeu-se a fazenda.. Você não vai pra mesa hoje. Nem você.. enquanto representante de uma tradição de narradores.vida. cheio de plantas antigas cujas flores punham no ar um saudoso perfume d’antanho. desmedrado e sofredor quando junho sibilava no ar os látegos do frio.. “Dez mortes trágicas”... branco de má casta! Deixa estar. verso vivo. e assim foi desd’o começo. (. O novo fazendeiro. A peste há de levar até as vacas de leite. a galope. Pela primeira vez na vida Timóteo esqueceu de regar o jardim. Quedou-se plantado a um canto. de borco na grama orvalhada. Sinhazinha! Vão lá e atrapalham tudo. A morte de Timóteo retoma a idéia do primeiro projeto de livro feito por Lobato. “ao pé da porteira”. Neste ficava o jardim. semi-desfeitos pela usura do tempo e tão tenros que a unha os penetra. Seu corpo será encontrado na manhã seguinte. – Eu vou mas é embora daqui. Timóteo o plantou quando a fazenda se abria e a casa inda cheirava a reboco fresco e tintas d’óleo recentes. Conflito insolúvel. também à moda antiga. Timóteo combinava os buquês como estrofes vivas. com a mão estendida para a fazenda num derradeiro gesto de ameaça”. Quarenta anos havia que lhe zelava dos canteiros o bom Timóteo. Não desses que fazem versos. e com ele os saberes tradicionais. caninana! Deixa estar!. – Adeus! Adeus!.. hoje. coberta de lepra. acomodando-se no veículo. torna impossível para Timóteo a vida na fazenda. cercado de tijolos novos vindos do forno para ali ainda quentes e embutidos no chão como rude cíngulo de coral. Compusera.Deixa estar!. uma ala e pátio interno. mas dos que sentem a poesia sutil das coisas. – Adeus. um gesto totalmente afirmativo. saiu às arrecuas. o bom Timóteo. Verdadeiro poeta. Além disso. Era verdade. nem um pé de vassoura! E a família amaldiçoada. arrancando uma a uma todas as páginas do livro que escrevera. “enrigecido pelo relento. Timóteo se vinga e inscreve pela última vez sua experiência na memória dos vivos. Ao escolher a maneira como quer morrer. também alguém que se relaciona de maneira intensa com a morte.. tronco da estirpe e generoso amigo que lhe dera carta d’alforria muito antes da Lei Áurea. pragas que conjuram contra ele as forças da natureza afrontada. o jardineiro encontra no amaldiçoamento e na morte as únicas respostas à altura daquela desgraça. gente amaldiçoada! Não se assassina assim uma coisa que dinheiro nenhum paga. Rosa maxixe? Ah! Ah! Tinha graça a Cesária em festa de branco!.. a esmoer o dia inteiro o mesmo pensamento doloroso: . Morrer para ele é um ato. Só Timóteo sabia escolhê-las com intenção e sempre de acordo com o destino. O conto na íntegra: O casarão da fazenda era ao jeito das velhas moradias coloniais: frente com varanda.. há de comer na gamela com os cachorros lazarentos... inviabiliza também qualquer possibilidade de plano para o futuro.. um maravilhoso poema onde cada plantinha era um verso que só ele conhecia. que contarão sua história. Mas olhe. como na tragédia clássica. ao apagar-lhe a história. tudo o que constituía alma do velho patrimônio.. Deixa estar. morrer lá na porteira como um cachorro fiel.. sem o saber. moço. as mucamas. O canteiro principal consagrava-o Timóteo ao “Sinhô velho”. Já que não existe conciliação possível.. esses tijolos esverdecem nos musgos da velhice. colhia flores naquele jardim. Deixa estar. Dobrou a curva da estrada. dona violetinha! . a não ser Timóteo. – Perpétua? Não. Colhia-as resmungando. Timóteo! – disseram alegremente os senhores-moços. é impregnado de uma carga emocional muito forte. que foi escrita em seu regresso. de borco na grama orvalhada. Os personagens destes 22 contos são um retrato da população brasileira das décadas iniciais do século XX. nem um pé de vassoura! E a família amaldiçoada.. Os sapos coaxavam nos brejos e vaga-lumes silenciosos piscavam piques de luz no sombrio das capoeiras. antes de viajar aos Estados Unidos.– Branco não tem coração. como perfeitos malucos. repetindo cem vezes a mesma ameaça: “Deixa estar! Deixa estar!. com ar apatetado.. velharias. E lá o encontrará a manhã. Diante do jardim... Lá agoniza ao pé da porteira. com a mão estendida para a fazenda num derradeiro gesto de ameaça: – Deixa estar!. Os contos abordam tragédias... espantado da sua audácia. E tudo reformaram.”. Lá morre. a rir. tu! Por que não? O velho jardineiro. Arrasa-me isto bem arrasadinho.. Os novos proprietários eram gente da moda. alguns são de sua fase atormentada. Muitos contos de Negrinha são experimentos com as linguagens dramática ou cinematográfica. com veludinhos e frisos.. enrijecido pelo relento. – Ó tição. gente amaldiçoada! Não se assassina assim uma coisa que dinheiro nenhum paga. morrer lá na porteira como um cachorro fiel. Os curiangos andavam a espacejar silenciosos vôos de sombra pelas estradas desertas. Determinaram o empapelamento das salas. segundo os especialistas em Monteiro Lobato. – Velharias. Através deles. que conferem a seu texto maior velocidade e promovem deslocamentos temporais e narrativos curiosos. sem nada compreender daquela resistência. A peste há de levar até as vacas de leite! Não há de ficar aqui nem uma galinha. repetiu a pergunta: – Eu? Eu. reúne o melhor em sua obra de literatura não-infantil. . amigos do luxo e das novidades. cheirando a Tomé de Souza. moço. Não se mata assim um pobre negro velho que tem dentro do peito uma coisa que lá na cidade ninguém sabe o que é.Eu vou mas é embora daqui. Em vez da austera mobília de cabiúna. arrasar o jardim? O fazendeiro encarou-o. . Entraram na casa com franzimentos de nariz para tudo. "Negrinha"... branco de má casta! Deixa estar. em pleno século das crisandálias! E correram-no todo. E longe. mal pôde engrolar uma palavra: – Eu? – Sim. Deixa estar.. "A facada imortal". são alguns deles. atarantado e fora de si. em breve pausa de vida para o ressurgir do dia seguinte. coberta de lepra.. "O Jardineiro Timoteo". caninana! Deixa estar! . vem cá! Timóteo aproximou-se. – Eu? Pois me acha com cara de criminoso? E não podendo mais conter-se explodiu num assomo estupendo de cólera – o primeiro e o único de sua vida. São vinte e dois contos. Lobato denuncia e desnuda os bastidores de uma sociedade patriarcal que deixa entrever os vestígios de uma persistente mentalidade escravocrata. – É incrível! Um jardim destes. mesmo décadas após a abolição.. – Olha. adotaram móveis pechisbeques.. que hei de rogar tanta praga que isto há de virar uma tapera de lacraias! A geada há de torrar o café. E fazendo com a mão espalmada o gesto fatídico.Teses abertas Negrinha (Livro). Mas olhe. na porteira. de Monteiro Lobato Recomende esta página para um amigo Versão para impressão Negrinha. trêmulo.. Anoitecia. ficas encarregado de limpar este mato e deixar a terra nuazinha. publicado em 1920. abriram-se em gargalhadas. mil coisas esquisitas. O conto "Negrinha" é narrado em terceira pessoa. num gesto mudo: – Deixa estar. Quero fazer aqui um lindo jardim. Só não ressurgirá Timóteo. entendes? Timóteo. ódio e romantismo. saiu às arrecuas. Tudo adormecera na terra.. Deixa estar. abertura de um hall. O céu era todo um recamo fulgurante de estrelas. Créditos parciais: PUC Rio . "O colocador de pronomes" e a obra-prima. há de comer na gamela com os cachorros lazarentos!. ainda espalmava a mão para a fazenda. Saímos cedo a ver cafezais. se ele encontrasse o seu capitão. Frio de geada. O narrador descreve um jogo de pelota. deitando fumaça pela boca. Passam colonos para a roça. Formalmente. ex-soldado da Guerra do Paraguai. também em lágrimas. Frio.. uma vez que existem dois enredos que servirão de condutores da história. p. e até a visão certamente ele recobraria.. para experimentar a fidelidade do velho cego e identificá-lo. O autor constrói neste conto a ambientação em frases curtas.” A partir daquele momento a vida do cego mudou. ao qual serviu durante a guerra. que posteriormente também é interrompido para se voltar ao jogo. abrace o seu velho capitão! Sou eu.. E. fala mal de si próprio. ele declara que gostaria de reencontrar seu antigo capitão. como as encontramos no texto dramático: Junho. ancorada . aparece. o conto relata um estranho fato ouvido pelo narrador durante um jogo pelo sertão de Minas Gerais. Se queixava sempre de que todas as suas desgraças provinham de ter perdido o seu capitão durante a Guerra do Paraguai. seus parentes o encontram pintando de verde as folhas amareladas pela geada. desses que matam passarinhos e nos põem sorvete dentro dos ossos.. ponto mais alto da fazenda. No conto "As fitas da vida". devolvendo-lhe de fato a visão. (LOBATO. um rico fazendeiro do café enlouquece. Mais tarde. v. afinal. o antigo capitão Boucault. “mal pronunciara essas palavras. o médico-capitão o encaminhou para uma cirurgia de catarata. sozinho e cego. e disse que não se insultava assim uma pessoa que não poderia reagir. uma vez que o inusitado dos fatos contamina a construção do texto. um velho. a descrição é interrompida para o protagonista narrar o segundo e principal enredo. o texto apresenta uma estrutura interessante. no viso do espigão. Todo o texto é marcado pelo uso constante de diálogos. conferindo maior dinamismo à narrativa e um caráter de linguagem informal. Então. acaba por engano sendo levado ao prédio da imigração em São Paulo. que dizia: . que oferece o desfecho da trágica história.Abrace. e o cego se enfureceu.. e chorou.” Então. conversando com um amigo negro. e ali paramos. depois de ver todo seu cafezal queimado pela geada. Em "O drama da geada". e dizia que. no uso do Presente do Indicativo para descrever a ação das personagens antes que se dê o primeiro diálogo. Ao final do conto ambos fios condutores se entrecruzam com a intervenção de um segundo narrador. um dia. o narrador nos fala de sua experiência assustadora depois de ter visitado um bruto fazendeiro no Mato Grosso. diz que o capitão não passava de um covarde. Ao construir uma narrativa sobreposta a outra. Vegetação entanguida de frio. Durante a noite ele desaparece e. amigo. E ele exclamava: . etc. Velho e cego. descobrira que esse tal fazendeiro teria assassinado e moqueado (preparado a carne) um negro de sua fazenda por suspeitar que ele tivesse tido um caso com a sua esposa. Ela comeu a contra-gosto o esquisito prato. O escritor retorna ao tema da decadência e morte do sertão brasileiro tratada a partir da história sombria e aterradora de um marido provavelmente traído (um poderoso coronel-fazendeiro) que mata o suposto amante da esposa e a obriga a comer sua carne. Manhã de neblina. 1951. e este. Ele jantou com o homem e viu que uma estranha carne fora servida à esposa do fazendeiro. Em todas as folhas o recamo de diamantes com que as adereça o orvalho.. o seu querido capitão. sentiu-se apertado nos braços do Major. o que se supunha pura maledicência.“Achei meu capitão! Achei meu pai! Minhas desgraças acabaram-se!. retransidos. Apoiado na estrutura dos "causos" narrados pelos interioranos ao pé das fogueiras nas fazendas. No relato de "O Bugio moqueado". as suas agruras teriam fim.. ele foi operado e recuperou a visão e tudo passou a lhe sorrir porque ele achara o seu capitão.Leia mais. incógnito.. 3. Ele acreditava que o bom homem seria capaz de cura-lo até mesmo da cegueira. Neste conto a novidade está na adequação entre assunto e estrutura da narrativa. como se fosse uma conversa entre os participantes do jogo de pelota. depois de muito procura-lo. 21) O trecho acima abre o conto de forma muito próxima do texto dramático em sua forma concisa de descrever o cenário. vive com a família nos confins do interior. como da linguagem mito-poética de Guimarães Rosa. ela ajudou sua irmã a casar com seu amado. Os dois se casaram e foram viver no castelo do nobre. Leia mais. O conto "Os negros" é o mais longo da coletânea.. e os corpos das ex-esposas do Barba Azul estavam pendurados na parede. o Barba Azul. a familía ficou apavorada. Ao satisfazer a curiosidade e entrar no quarto. Apavorada. ela trancou o quarto. chegaram dois irmãos das mulheres. e ter aberto o ouvido agudo e curiosíssimo para ouvir as peripécias duma estória original contada por um desconhecido. Cego de raiva. Manuel. A outra história é de um português. Pouco tempo depois do casamento. Leia mais. Em "Uma história de mil anos". ele a ameaçou. assustador por ser muito feio. é um relato sensível e triste sobre a violência contra os negros no Brasil.. contém vinte e seis páginas e está dividido em vinte e dois capítulos.. ele entregou todas as chaves da casa para sua esposa. o Barba Azul avisou que iria viajar por uns tempos. armado com uma espada. Enquanto espera o navio que trará um amigo de Londres. o parque do Anhangabaú. A mulher ficou com a fortuna do marido morto: com parte do dinheiro. sem sonhos. Vidinha definha. O conto "O jardineiro Timóteo". Vidinha é uma bela jovem. incluindo a de um pequeno quarto que ele a havia proibido de entrar. ela descobriu seu macabro segredo: o chão estava todo manchado de sangue. o narrador ouve histórias dos marinheiros. Sem defesa. mas ninguém sabia o que tinha acontecido com as esposas. a mulher começou a sofrer de grande curiosidade sobre o quarto proibido. mas ela conseguiu escapar e trancar-se junto da irmã. O dinheiro restante ela guardou para si. ele imediatamente percebeu o que sua esposa tinha feito. na torre mais alta da casa. que desapareceram. morriam no parto. sem pesar os sentimentos de quem participou da construção no momento anterior. fazia-lhes seguro de vida e . Quando Barba Azul retornou.em crenças e histórias populares. a grande ema é vítima do gaviãozinho. mas não viu que o sangue havia sujado a chave. de Mário de Andrade. era um rico aristocrata. Em "O Fisco" o cenário é a cidade de São Paulo. bem como de vocábulos onomatopéicos que a Língua Portuguesa herdou do tupi. Leia mais. Pânfilo Novais. Ela contou à sua irmã que a convenceu a entrar no quarto. apesar de "escorregões" em esteriótipos racistas. Um dia. No conto "Os pequeninos" o personagem se sente aprendiz da dolorosa vida sangrenta dos animais selvagens por ter calado a voz interior. Lobato parece questionar a modernização a qualquer preço. com uma horrível barba azul. tentava derrubar a porta. Uma delas narra um episódio em que um gaviãozinho ataca uma ema. Quando Barba Azul visitou um de seus vizinhos e pediu para casar com uma de suas filhas. O conto "O colocador de pronomes" ilustra muito bem o desinteresse e o desapego de Lobato quanto ao rigor gramatical. beija-lhe e desaparece. deixando-o com o dinheiro do seguro. um amigo do narrador conta-lhe a história de um facínora que descobriu um terrível meio de enriquecer: casava-se com mulheres feias. um forasteiro desperta em seu coração o amor. Lobato aproximou-se tanto do Macunaíma. mais precisamente. trinta anos depois.. que é acusado de roubar um saco de arroz e . Monteiro Lobato interpreta os valores expressivos dos sons com que representamos o canto dos pássaros. Ele já havia se casado três vezes. magras e pequenas. que lhe ditava tolas lembranças do passado. cravando-lhe sob as asas as suas garrinhas e bicando-lhe sem piedade a carne viva e macia.”Não vive na terra o que não é da terra”. inaptas para o parto. Leia mais. ilusões ou paixões.. O Barba Azul acabou por convencer a filha caçula. outra parte ela deu a seus irmãos.. entristece e acaba morrendo. Em "Barba Azul". com uma linguagem bastante próxima a essa realidade insólita. Na solidão. agora percebida depois de conhecer o amor. aquela que destrói sem critérios. podendo ser lido ainda como um lamento sobre certo lado destruidor da humanidade. assim que engravidavam.. Os irmãos mataram o nobre enlouquecido e salvaram as mulheres. Quando o Barba Azul. Logo que ele se ausentou. até se casar com um cavalheiro que lhe fez esquecer do suplício que passara. Conta a trágica história de amor entre a filha de um fazendeiro e um empregado português. um anjo de candura.. O personagem-narrador começa sua história resumindo um conto de Ribeiro Couto. quase telegráficos. ao citar explicitamente não apenas um segundo escritor mas até um personagem alheio. ou diretas (quando é o próprio leitor quem dialoga com o escritor) ou indiretas (pelo uso das reticências. as relações entre vida e arte. queixando-se de um mal-estar.depois descobre que quem o roubou foram as formigas. significa continuar a escrevê-la. que teve de sustentar o folgado trabalhando como professora enquanto ele discutia política na farmácia. tuberculoso. dono de um sebo que ele conhece. para dar alegria a Raul de Freitas. para as interferências do leitor. até que o médico é descoberto e foge da cidade. No conto. então. Lindoca. quando toma de empréstimo parte de um outro enredo para tecer sua narrativa. O médico recomenda-lhe descanso e carinho da parte do marido. Procura então o doutor Lorena. lá vê um coelhinho de lã que imagina ter sido comprado pelo judeu de uma pobre criança faminta. Na segunda história. Raul de Freitas recebeu o trabalho de Lobato como morfina para suas aflições de saúde. e conclui que ele nada tem a ver com o tipo descrito por Ribeiro Couto. Indalício consegue arrancar um empréstimo do pão-duro amigo Raul ao mexer com a vaidade do amigo. Trata-se de um célebre golpe que Indalício Ararigbóia deu em seu amigo Raul. Outro recurso formal utilizado por Lobato é o convite. fazendo-se de injustiçado pelo destino. Enfim o narrador recebe o amigo.a interrupção é marcada pela frase “Abra-se um parêntesis”-. Em "A policitemia de Dona Lindoca". Em "O bom marido". Depois de interrogar o judeu acerca do coelhinho. e numa loja próxima ao palácio do Catete o curioso “herói” encontra um comerciante muito parecido. . em que um estudante mata um judeu. Este segundo mote chega ao fim assinalado por um “Fecha-se o parêntesis”. vítima do pequenino bacilo de Koch. Chamava-se na época FACADA o empréstimo que se fazia sem a intenção de pagar. e se diz impressionado por um dos tipos elaborados por Couto. são questionadas e discutidas (a citação explícita a Oscar Wilde e seu O retrato de Dorian Gray não é à-toa). desgostosa do descaso e das traições do marido. Na refinada elaboração desse conto é possível notar o quanto o processo de autonomização do campo está presente no texto: ao se utilizar de um conto de Ribeiro Couto para construir o seu próprio. dono de um sebo. dando a impressão de que Lobato perdeu o controle sobre a narrativa. O tema de "A facada imortal" é simples: uma facada que Indalício deu em seu companheiro de roda. ou seja. D. A abordagem baseada na psicologia do "mordedor" se reveste em uma de narrativa primorosa. Indalício sente-se vitorioso e Raul sente-se derrotado. O crime do estudante Batista. retomar outros escritores. outras histórias e personagens. Ele. a pensar sobre eles). interrompe a narrativa e inicia uma segunda história . que abrem um outro tempo e um outro espaço no interior do texto para as reflexões do leitor. um vendedor de livros judeu (e mulato). depois que este lhe explora num negócio de livros. O narrador acredita existir tal figura e começa a procurá-la. A vida está uma maravilha. personificado em Raul. repetido várias vezes. O golpista era conhecido por faquista. Teofrasto Pereira da Silva Bermudes é um explorador. Lobato. temos a protagonista. Raul. mas morreu de tanto trabalhar para sustentar os filhos e o marido. e ter aberto o ouvido agudo e curiosíssimo para ouvir as peripécias duma estória original contada por um desconhecido. um médico charlatão. Duas cavalgaduras é um exercício metaliterário. que lhe ditava tolas lembranças do passado. No conto "Duas cavalgaduras". por meio de seu personagem. Retomar a história interna ao campo. O marido volta ao descaso e dona Lindoca sente saudades da policitemia. e descobre-se vítima de uma policitemia (aumento no número de glóbulos vermelhos no sangue). estimulando o leitor a completá-los. o personagem se sente aprendiz da dolorosa vida sangrenta dos animais selvagens por ter calado a voz interior. a todo momento. O conto foi escrito por uma razão sentimental. por intermédio de períodos muito curtos. a narrativa “principal” é retomada e o personagem reinicia suas investigações sobre o vendedor de livros. A imagem de judeu ganancioso de desfaz e o narrador escreve ao amigo Ribeiro Couto dizendo-lhe:”Somos duas cavalgaduras”. Ele vai até o sebo. Após o golpe. Casou-se com Isabel. Mas ele era carinhoso e tratava a esposa sempre com dengos. A pobre Isabel adorava o marido. tão pequeninas. O narrador suspeita que a história se refere a um judeu. seu amigo doente. toda ela fruto da imaginação do personagem. o narrador descobre que se tratava de uma lembrança que o judeu guardava de um seu filho adotivo que morrera ainda jovem. o narrador conta que havia lido um conto de Ribeiro Couto. Lobato reafirma uma certa tradição do campo e rende tributo à história interna do campo literário. tudo o que possuía. Edgard. O cônego não soube o que responder. nome do tumor de Maricota.” No conto "Sorte grande". Marabá. procura pelos incorporadores da empresa que luta pela exploração do petróleo (seria de Lobato?) e deseja comprar 30 ações da empresa no total de 3 contos. Moram numa pequena cidade. Ilustra sua tese com a história de sua lavadeira Isaura. depois de perseguidos pela tribo. ao ver um morcego morto. por 45 contos de réis. Ipojuca flecha e mata a sua jovem esposa. o salário seria de 40 mil réis. dr. No conto "Fatias da vida". o “esquisitão” Bonifácio observa que a caridade nem sempre é boa. SP | Elizamari Rodrigues Becker. Ela procura um emprego de criada para serviços leves. Trancaram com pregos a porta da deserção. Cadaval. como a presença da cozinheira Anastácia. Ele declara que não se importa com os riscos que corre. uma senhora de 60 anos que ainda diz a todos que tem 36. Nesta narrativa notamos vários elementos importantes para a posterior construção da literatura infantil lobatiana. Maricota conhece um jovem médico. Maricota desenvolve uma doença rara que lhe faz crescer o nariz. O segundo episódio foi quando uma imigrante alemã a procurou falando de um serviço excelente. que se interessa pelo seu caso e a convida para uma tratamebto no Rio de Janeiro. Estava aí desfeito o medo diante do misterioso monstro. Apesar de o conto não ser datado. A família junta um dinheiro para uma consulta com um especialista de uma cidade grande. que tinha ouvido falar do quanto era bom o tal de Teofrasto. Lá pegaram infecções mais graves e vieram a falecer. o narrador dá ao leitor uma receita de romance romântico. Ela acaba operada e seu nariz volta ao normal. Crédtos: Prof. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRSG) | Enio Passiani. mas descobriu desconsolada que a alemã também procurava por um emprego assim. Ele propõe uma recriação do universo romântico a partir de ícones consagrados: A índia Iná liberta um prisioneiro branco da tribo. Eles estavam com gripe e foram levados ao hospital. Santa Rita. Os teus três contos foram mágicos. Dona Expedita. Edgard o identificou como sendo o famigerado Camicego. Então. Marília. lhe consiga alguns favores. Leia mais. Dunga e pede-lhe que se informe com os espíritos sobre quem será sua mãe na sua próxima encarnação. ano a partir do qual Lobato se voltaria com mais afinco à literatura infantil. para fazê-la depositária da fortuna dele no seu testamento. Por acaso. um capitão reconhece Marabá como sendo sua filha e a abraça. acaba comprando o casco de um velho navio. é uma crônica por meio da qual o autor relata sua experiência na campanha pela exploração do petróleo no país. . Ipojuca está ferido. procura o médium. é razoável supor que é anterior a 1926. O que fora considerado uma vergonha. mas ao chegar ao local descobriu que se tratava de um erro no anúncio. Vivem na pobreza e. foge com ele e gera uma filha.”Abençoado negro!. com mais seis irmãos.. a incapacidade generalizada dos adultos em se relacionar com as fantasias pueris. Dr. Afinal ele. aos 36 anos. Tudo conspira para seu enriquecimento. o imaginário infantil. . Esta narrativa. Maricota aceita se mudar para o Rio desde que o dr. toda a economia de uma vida inteira de trabalho duro. Em "Dona Expedita" vemos a protagonista. em uma conversa com um cônego. uma fortuna de 60 mil contos. temos Lupércio Moura. Um ano depois. Do tamanho de uma beterraba. que começa a ser acompanhado por uma maré de boa sorte."Quero ajudar o Brasil". Manuel. No relato "Marabá".. num barco. Um dia ela viu no jornal uma oferta de emprego leve de acompanhante para o qual se pagaria 400 mil réis por mês. Doutora em Literatura Comparada. Em "A morte do Camicego" vemos um um monstro imaginário criado por um menino de 4 anos. embriagado. emprego para os irmãos e até casamento para as irmãs. Um negro. Um dia. a família se ajeita e o médico ganha fama. o preço do ferro sobe em função da guerra e ele vende a sucata por mais de 400 contos.. queria ser herdeiro de si mesmo. No conto "Herdeiro de si mesmo".. O narrador então nos conta dois episódios engraçados vividos por ela na sua bysca por um emprego ideal. funcionário da Sorocabana.casou-se com a dona da quitanda. O índio Ipojuca se apaixona por Marabá e. mas a situação está difícil. morrendo também de um ferimento. Dona Expedita achou que ela era a patroa interessada em contratá-la. sem ter um herdeiro. como pesquisador irá colher os louros da vitória pela descoberta do Rinofima. Maricota é filha de dona Teodora. mas no caminho. agora passou a ser chamado de sorte grande pelo povo de Santa Rita. uma sucata. Sem entender a cena. No fim da vida está rico. o nariz agora é notório e vexatório. de uma boa patroa e um bom salário. pois tudo o que quer é ajudar o Brasil. para piorar. que perdeu dois filhos e uma neta por culpa da caridade de uma vizinha... Colégio Sagrado Coração de Jesus. acabam acolhidos pelo exército português. Mestre em Literatura.UFSCar Mód. SP | São Paulo . 2. Unicamp. .Educando pela diferença para a igualdade .