o Aspecto Sócio-Afetivo No Processo Ensino-Aprendizagem Na Visão de Piaget, Vygotsky e Wallon

March 17, 2018 | Author: Monize Scudero | Category: Self-Improvement, Emotions, Psychology & Cognitive Science, Thought, Sociology


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15/09/2015O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON Escrito por Rose Keila Melo de Souza e Keyla Soares da Costa Sáb, 31 de Janeiro de 2004 03:00 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON.    Rose Keila Melo de Souza[1] Keyla Soares da Costa[2]                                                                    RESUMO     Admitindo­se que somos seres geneticamente sociais e, sobretudo afetivos, dotados de interesses e desejos próprios, o presente estudo focaliza a homogeneização de valores e diferenças sociais imposta pela lógica mercadológica do capitalismo às políticas públicas nacionais, tomadas aqui as que versam especificamente sobre o sistema educativo. E através de uma análise qualitativa de amplitude micro, ou seja, efetuada a partir da prática pedagógica de professores do ensino fundamental, chegou­se à premissa de que parte de nossas escolas não foge à regra, na ocasião que em legitima o ensino intelectualista e pragmático, desconsiderando significativamente o importante papel do conteúdo sócio­afetivo discente enquanto recurso motivacional imprescindível para a construção do conhecimento significativo, cujas implicâncias ao se menosprezá­lo tem se manifestado na crescente apatia discente pela aquisição formal de conhecimento veiculado na escola. À idéia de se utilizar o conteúdo sócio­afetivo como mola propulsora do processo educativo, defendida neste artigo, convergem os postulados de teóricos clássicos como o psicólogo suíço Jean Piaget, o educador e também psicólogo russo Lev Vygotsky e o médico francês Henry Wallon.     1.2. Graduadas em Pedagogia pela UFPA / 2002.              O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON.      1.1­ CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA VERSUS MODELOS PEDAGÓGICOS   A pedagogia moderna, cuja existência se deve ao estabelecimento de um estatuto de indivíduo atribuído à criança por Montaigne e Rousseau, seus principais formuladores nos séculos XVI e http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 1/16  Visto que. defendidas nas bases teóricas de Montaigne. ele critica qualquer ação de agrado. desenvolve a gênese para a racionalização do processo educativo.br/index. divisão por séries a partir de critérios cronológicos. através da supervalorização da razão.educacaoonline. filósofo francês. Embora ele tenha criticado essa racionalização. tem sua trajetória permeada por inúmeras transformações da noção de infância. princípio este que perdura até hoje. O reconhecimento da individualidade da criança. com o desdobramento da modernidade.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. a criança não passa de um adulto em miniatura. No entanto. é assim. Isso o leva a classificar as funções pedagógicas. desvinculando­se de sua conotação econômica e passando a ser fator intrínseco à vida infantil na definição de “ocupações ativas”. A escola que hoje possuímos. é nesta época que a escola vai se reorganizar para ocupar­se da função disciplinar e instrutiva contra a “paparicação” promovida no lar. portanto. da mesma maneira sua condição de ser psicológico propôs à Psicologia a superação do caráter dicotômico que por bastante tempo fundamentou sua base teórica. para o qual à Pedagogia caberia o cultivo da intimidade infantil. essas noções se constituiriam e se constituem em consonância com os interesses do modelo político e econômico vigentes. e o seu estatuto de indivíduo adquirido. tornou­se nesse momento o âmago do processo ensino­aprendizagem. consubstanciada nas diretrizes da sociedade do trabalho e da sociedade científica e tecnológica. a preservação de sua subjetividade. e grande parte dos procedimentos pedagógico­ didáticos centraram­se nesse propósito. contrapõe­se o pensamento de Rousseau (1712­ 1778). trouxe para o cenário da pedagogia moderna. conteúdos programáticos.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 2/16 . “enquanto objeto de estudo. com regras. ou melhor. E desta forma. Assim. que prime pela relação íntima e pela disciplina interior. ao mundo do trabalho. diz.           A estreita relação “mundo da criança” e “mundo do trabalho”. atrelando a noção de infância. do século XIX ao início do século XX. no contexto educacional. em colocá­lo em permanente estado de ação com o meio; enfim. ou seja. o interesse do aluno e a preocupação em propiciar­lhe a construção do conhecimento. a Psicologia tradicional preocupou­se em estudar o funcionamento psicológico. acarretando conseqüentemente alterações no pensamento pedagógico no desenrolar de sua história; sendo que. uma vez que esta apresenta o processo de http://www. como intromissões desastrosas a serem veementemente repudiadas em favor de uma pedagogia da autonomia.Vygotsky. a esta função disciplinar e instrutiva apontada por Montaigne.. bem como a Psicologia de Dewey; para o bojo das discussões pedagógicas concernentes às determinações preestabelecidas entre o vínculo escola. etc. VYGOTSKY E WALLON XVIII. trabalho e infância. de ludicidade com relação às crianças. por um longo período. negligenciando­o enquanto substrato da constituição humana. ganhou contorno bem mais amplo que seu conceito usual.                                                                          A separação do intelecto e do afetivo. A noção de trabalho. parte da nossa investigação. é uma das principais  deficiências da Psicologia Tradicional.pro. o objetivo de aprimorar a capacidade cognitiva da criança. ou seja. onde se enfatiza sua capacidade intelectual em detrimento de sua autonomia afetiva. contribuições da Sociologia representada pelas idéias de Durkheim. e constitui­se neste momento. algo articulado ao surgimento do novo sentimento dos adultos em relação às crianças. de suas necessidades e vontade própria implicou necessariamente o repensar da prática educativa. ocupada pela Psicologia. da mesma forma a Filosofia da Educação. Pensando assim. aos ditames do capitalismo. em especial o funcionamento cognitivo fragmentadamente; isolando deste o aspecto afetivo. sob o imperativo de suas idéias. a pedagogia é “convidada” a rever os seus princípios. Para Montaigne (1533 – 1592).  que norteia toda atividade humana. demasiadamente negligenciadas” (PIAGET. ainda que implicitamente. compreende­se uma maneira de ser social. 1992. 11). das necessidades dos interesses pessoais. convém ressaltar que. porém. no que tange ao comprometimento dos fatores sociais para o desenvolvimento humano. como Henry Wallon e Jean Piaget. o desenvolvimento das operações lógicas no indivíduo corresponde http://www.   Nesse sentido. em que o desenvolvimento cognitivo pressupõe­se uma base afetivo­volitiva. definido por Piaget. Reconhecendo que isto evidentemente supõe o conhecimento íntimo do modo de funcionamento da inteligência. da afetividade. o intelecto. das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. a nosso ver. 76)               Assim. existe a necessidade do reconhecimento de que a afetividade possui um caráter de ação volitiva1.br/index. Vygotsky. já que. colocando­a independentemente de especificidades culturais. e da interligação existente entre si. as relações sociais são bastante complexas e compõem fundamentalmente o cenário contínuo da história. denota dizer que. também estará presente nos princípios teóricos de diversos autores. p. apesar das atenções não convergirem exclusivamente sobre esses fatores. interage socialmente diferente de uma pessoa que atingiu o nível das operações formais.   1. enfatizando. VYGOTSKY E WALLON pensamento como fluxo autônomo de “pensamentos que pensam a si próprios”. regras e signos. em geral. a cada estágio de desenvolvimento do sujeito. assim como sua visão.2 ­ AS RELAÇÕES SOCIAIS E A AFETIVIDADE NA TEORIA PIAGETIANA. é justamente aquele que consegue relacionar­se com seus semelhantes de forma equilibrada; isso significa afirmar que.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. dissociados da plenitude da vida. por certo definidores do desenvolvimento psico­social. afirmando que “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são.pro. defende a tese de que diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico. conteúdos sócio­históricos anunciantes de valores.           1 Ação volitiva: ato que há determinação de vontade. Este postulado teórico. haja vista esta conseguir estabelecer com coerência e equilíbrio trocas intelectuais. o desvelamento das mentalidades tradicionalistas que co­relacionam a afetividade à “desorganização da vida racional”. 14). determinando desde o nascimento até a vida adulta do ser. “o ser social” de mais alto nível. Desta forma. segundo consulta ao Dicionário Aurélio.educacaoonline. julgamos ser importante enfatizar previamente sua definição de homem como ser social. e busca romper com as teses que relativizam o papel que a afetividade detém para a promoção do desenvolvimento psico­social do homem. Costuma­se atribuir críticas aos postulados piagetianos. à superação absoluta do nosso estado afetivo­emocional. pela suposta indolência com que tratam os aspectos sociais no desenvolvimento humano. Segundo Piaget (ibidem. em maior ou menor intensidade. daí a forma como uma criança. Assim. no período pré­operatório. 1967 apud LA TAILLE.(Kohl: 1992. p. e a racionalidade.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 3/16 . ao longo deste capítulo buscaremos considerar as diferentes matizes conceituais dadas por esses teóricos ao termo afetividade e à dimensão ocupada em suas teorias. Para ele. Piaget destaca com clareza as influências e determinações da interação social no desenvolvimento da inteligência. p.  o vínculo entre inteligência e afetividade.educacaoonline. a personalidade constitui o produto mais refinado da socialização. seja no espaço próprio http://www. p. no período sensório­motor. Situações estas peculiares ao pensamento egocêntrico.). os fatores interindividuais permitirem à inteligência atingir a coerência possível. compõem o cenário do cotidiano escolar. no estágio pré­operatório.. esta socialização da inteligência. outrora pouco perceptível.. as reais trocas intelectuais começam a ser permanentes e a reciprocidade nas relações constituídas. VYGOTSKY E WALLON simultaneamente ao seu desenvolvimento social. vale daí pensarmos também a ampla influência das interações sociais sobre esse desenvolvimento; haja vista.pro. demonstrando uma suposta autonomia. percebemos quando nas diversas situações do cotidiano a criança mostra­se facilmente influenciável pela opinião dos adultos. cremos ser impreterível mencionar que Piaget não confia fielmente na argumentação de que toda e qualquer relação interindividual supõe desenvolvimento satisfatório; pois em seus estudos sobre estas. nesse sentido. Portanto. mas é o indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de reciprocidade e de universalidade. pouco devendo às trocas sociais. tais como: a ausência de condições favoráveis na criança para enquadrar­se em uma categoria comum de referência. ganha efetiva significância. e.   não o eu enquanto diferente dos outros eus e refratário à socialização. apreciamos entre os demais elementos. condição indispensável ao autêntico diálogo; a incapacidade circunstancial da criança para sustentar suas definições ou afirmações; além de não conseguir promover relações de reciprocidade. sobretudo pelas necessidades oriundas da vida em sociedade. Como tal.. dando início à consolidação da personalidade. num processo concomitante de diferenciação e socialização. aceitar simplesmente tal fato como aspecto da formação autônoma é ignorar a falta de domínio do eu. o nível de socialização da inteligência mostra­se extremamente precário. Tecendo as devidas conceituações no âmbito do processo ensino­aprendizagem. é na medida em que o eu renuncia a si mesmo para inserir seu ponto de vista próprio entre os outros e se curva assim às regras da reciprocidade. a importância das relações sociais na construção da noção do eu e do outro. Todas as questões evocadas aqui levam­nos a refletir as diferentes dimensões do ser social e sua íntima relação com as etapas do desenvolvimento cognitivo; mas. é conveniente apresentarmos tal relação nas variadas etapas fixadas por este autor. a partir do estágio das operações concretas.) a personalidade consiste em tomar consciência desta relatividade da perspectiva individual e a coloca­ la em relação com o conjunto das outras perspectivas possíveis: a personalidade é.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. Para tanto. entendida por Piaget. admitindo­a fervorosamente; muito comum na fase heterônoma do desenvolvimento do juízo moral na criança. ela ainda não possui consciência do próprio eu. 1967. pois uma coordenação da individualidade com o universal (PIAGET. sua heteronomia tanto nos modos de pensar como de agir. que o indivíduo torna­se personalidade(.17). de ver­se a partir do ponto de vista do outro. Inicialmente. (. ou melhor.     Diante disso. p.. desta maneira. Entretanto. um exemplo prático. embora alguns fatores ainda empeçam as consistentes trocas intelectuais equilibradas. Todavia. caracterizado pela presença da linguagem e da representação simbólica. compreendidas igualmente a partir de reflexões sobre o desenvolvimento do juízo moral na criança. de nesta fase a criança designar seu ponto de vista como único ou verdade absoluta.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 4/16 . Com efeito. Mas. longe de estar à margem da sociedade.245 apud LA TAILLE. Apesar.br/index. distingue dois tipos: a coação e a cooperação. 1992. notamos dentre outros motivos. Tanto a coação quanto a cooperação.  torna­se indispensável darmos ênfase à evolução do aspecto cognitivo do sujeito. já que o intuito desta é a formação plena do educando. denotam o ponto de partida para o progresso moral. lamentavelmente impede a construção de sua autonomia.educacaoonline. Assim. a manifesta correspondência entre os aspectos afetivo e cognitivo. pela imposição ao outro da forma de pensar. em parceria com Inhelder. intelectual e afetivo. seguindo progressivamente em direção ao limite da individualidade e. A propósito. para na etapa seguinte imprimir trocas entre o eu diferenciado e o alheio. tornando­os capazes de aceitar o ponto de vista alheio e perceber­se nele. a respeito do conteúdo social determinante à formação humana. a ponto da simples mudança circunstancial em um dos aspectos ocasionar a transformação nos demais. considerando que “esses dois aspectos são ao mesmo tempo. No estágio sensório­motor do desenvolvimento cognitivo. a verticalidade no conjunto das relações http://www. em especial. portanto. a posterior estruturação do mundo objetivo e descentrado; ao passo que. muitas vezes. afetivo e social encontram­se tão imbricados um ao outro. os sentimentos morais. ao complementar o momento referido sob a conceituação de “adualismo inicial”. Fatores decisivos a serem considerados na prática educativa intra e extra­escolares. centrado na ação própria da criança. dependendo dos seus elementos constituidores. a autonomia. deste com o outro e com o meio – fator característico da primeira infância – na busca pela satisfação orgânica e psicológica.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. em primeira instância. Enfim. 1990. trazer para o cerne das discussões pedagógicas no cotidiano. Desse modo. por garantir a reciprocidade entre os indivíduos. da autonomia. porém. p. convém classificar coercitiva qualquer relação subsidiada pela unilateralidade. quão na instituição como um todo. compete tornar explícito o papel da afetividade nos períodos do transcurso do desenvolvimento humano. no máximo de interações sócio­afetivas interdependentes. enquanto na coação os elementos afetivos seguem do medo ao sentimento de obrigatoriedade. O desenvolvimento cognitivo.pro. à dimensão cognitiva enquanto fonte de transmissão educativa e lingüística das contribuições culturais e à dimensão afetiva como fonte de sentimentos específicos.   Piaget. ou seja. as relações de cooperação são opostas às já referidas. conferindo à afetividade o devido lugar na promoção de uma educação mais recíproca com suas finalidades. no livro “A psicologia da criança”. na cooperação prevalece o respeito mútuo. destacar a dinamicidade de sua natureza na constituição humana e. não poderia deixar de ser o desenvolvimento sócio­afetivo ao evoluir atendendo a mudanças qualitativas e graduais semelhantes no cognitivo. não é. O processo contínuo e construtivo de socialização do sujeito se dá também. São relações que se estabelecem. recorre a J. complementares. em lugares específicos inconscientemente. igualmente responsáveis. conseqüentemente. cabe evidenciar duas realidades diferenciadas. Ao discorrer outrora. no tocante às respectivas evoluções. superando os obstáculos reais e convergindo a partir destas novas estruturas à consolidação ulterior. em apologia a uma educação de qualidade e formadora. No entanto. (PIAGET e INHELDER. Da mesma maneira. Baldwin. o reconhecimento de que o conjunto das atitudes realizadas é resultante de múltiplas determinações. os argumentos salientados dispõem evidenciar a função construtora das relações interindividuais cooperativas. muito para admirar que se encontre um notável paralelismo entre suas respectivas evoluções”. notamos a princípio a passagem de um momento inicial. na afetividade instaura­se o estado de não­diferenciação entre o eu e os construtos físicos e humanos. pois à medida que não promove a reciprocidade entre os sujeitos. termo já atribuído por Baldwin para explicar a não­consciência do eu.br/index. positiva ou negativamente. sócio­afetivo e moral. tal realidade aponta­se contraditória ao desenvolvimento intelectual. Destarte. indissociáveis e complementares.24). Partindo deste princípio. Como podemos deduzir. de princípios e valores tidos como verdades absolutas. irredutíveis. compreendido por meio de uma seqüência de estruturas que se formam através das experiências vivenciadas. M. buscando respeitar e aproveitar as relações de cooperação que naturalmente emergem dos contatos entre as crianças.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 5/16 . VYGOTSKY E WALLON da sala de aula.  cada vez mais importante e. dos gestos e das mímicas. 1990.   a afetividade. VYGOTSKY E WALLON exteriores como se fosse extensão do mundo particular. a reagir às pessoas de modo diferente das coisas e age segundo esquemas que podem ser relacionados com os da ação própria. evoluem no sentido de um respeito mútuo e de sua reciprocidade. como aspectos indissociáveis da conduta humana. à leitura dos indícios. J. e INHELDER. Nota­se agora. ED. em descentrar­se. a princípio centrada nos complexos familiais.109). do que verdadeiramente reconhecimento ou diferenciação das pessoas e das coisas.educacaoonline. a dificuldade em falar e agir partindo do ponto de vista dos interlocutores. assiste­se à elaboração de todo um sistema de trocas graças à imitação. não chega a redundar senão em obediência relativa. jogo simbólico e a linguagem. constituidoras de novas relações interindividuais. e os sentimentos morais. quando a criança apresenta vantagens outrora não percebidas: mobilidade mental. a promoção de trocas afetivas e cognitivas equilibradas. contágios. De fato. amplia sua escala à proporção da multiplicação das relações sociais. cujos efeitos de descentração são em nossa sociedade. Segundo Spitz e Wolf. por exterior. que correspondem às atividades espontâneas da criança. 11 ed.br/index. B. 1963 apud PIAGET. há muito mais de trocas afetivas. De fato. a configuração do processo de socialização nas ações interindividuais. antes que se construam de modo complementar o eu e o alheio. p. Bertrand Brasil S/ª 1990. são as primeiras relações.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. devido a presença marcante do egocentrismo infantil. no subseqüente estágio das operações concretas o sujeito adquire uma personalidade individualizada capaz de permiti­lo liberar­se em relação às interdependências iniciais. destarte.27)       O processo seguinte da evolução afetivo­social é constatado no estágio pré­operatório. as trocas interindividuais que a criança estabelece afetivamente que a permite distinguir as particularidades do mundo objetivo e subjetivo. exprimem que na análise dos afetos observáveis. autores referenciados por Piaget e Inhelder2. (ESCALONA. ou seja. o alcance ao nível das operações concretas. Segundo Piaget e Inhelder (1990. Fatores estes responsáveis pela configuração de novos afetos.pro. A psicologia da criança. nesse limite. nessa etapa do desenvolvimento psico­social.   o contato com as pessoas torna­se. http://www. A criança passa. assim como as suas interações. substanciadas por uma série de influências do meio circundante. anuncia uma passagem do contágio à comunicação (ESCALONA). p. concernentes à outrem; de consciência ou valorização em relação a si (ao eu); visto que agora essas manifestações não dependem primordialmente da presença direta do objeto afetivo designado pela criança. Rio de Janeiro. num estágio de satisfação de suas necessidades. Nesse sentido     [2] Bibliografia: PIAGET. Vemos. mais profundos e duráveis. enquanto que no nível pré­operatório encontrávamos ainda a condição pré­cooperativa. advindos sob formas de simpatias ou antipatias duradouras. então. por intermédio do exercício constante da criança. de natureza cooperativa e. Uma vez que. desde então. a princípio ligados a uma autoridade sagrada mas que.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 6/16 .  quanto o desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana. caracterizada fundamentalmente pela tentativa de se reunir dialeticamente. a inserção propriamente dita do adolescente no bojo dos ideais sociais.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 7/16 . a solidificação de novos valores. o último estágio. conforme as interpretações de La Taille. estando a razão a seu serviço. Porém.(LA TAILLE.br/index. sentimentos variados. reconhecer nela a característica de móvel. Neste caso. Porém. de alguma forma. responsáveis primeiras pelo desenvolvimento global do ser humano. SEGUNDO        VYGOTSKY. p. e obter êxito nas ações. Este resgate da teoria piagetiana faz­se pelo esforço em deixar evidente o lugar ocupado pela afetividade no desenvolvimento humano. negligenciando o inestimável papel das interações sociais. o interesse por teorias.educacaoonline. As novidades afetivas do tipo. ou seja. o que move a ação. no que se refere à visão de Jean Piaget sobre a afetividade e razão. pensar a razão contra a afetividade é problemático porque então dever­ se­ia. pois   [somente uma abordagem holística.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. cujas idéias são imprescindíveis ao embate teórico ao qual nos propomos neste capítulo. ao longo de um processo sócio­histórico. De fato. a constituir­se de importância inegável à apreciação da temática em curso.     A afetividade seria a energia. 1992. não há conflito entre as duas partes.pro. à projeção de planos futuros.       1.3­ AFETIVIDADE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE CONCEITOS. tanto os mecanismos cerebrais subjacentes ao funcionamento psicológico. o embate estabelecido entre a afetividade e inteligência pode ser resumido na seguinte citação. em caracterizá­la como instrumento propulsor das ações. mudança social. trata o assunto sob o enfoque de uma psicologia sócio­histórica. o psicólogo russo Lev Semenovich Vygotsky (1896­1934). para explicitar o pensamento vygotskiano acerca da relação entre as dimensões cognitiva e afetiva para o desenvolvimento humano. há que se retomar ao severo questionamento que inflige a sua tradicional divisão na Ciência Psicológica. num mesmo modelo explicativo.   Um importante pesquisador do funcionamento intelectual humano. VYGOTSKY E WALLON        À vista disso. dotar a razão de algum poder semelhante ao da afetividade. promotora de uma análise totalizante e não­fragmenmtada] http://www. a partir do concreto. ocasião onde a estruturação do pensamento formal conduz. ou seja. corresponde à adolescência. foram por muito tempo encaradas como dispositivos inatos do sujeito. enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos. de energia.65 e 66). de forma tal.  do mundo real ­. 1992. assim sendo. VYGOTSKY E WALLON Demonstra a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. ora a um estado interior preexistente. p. ações conscientemente controladas. ou funções psicológicas superiores (em contraposição às funções elementares. Assim. onde é implicitamente definida como um sistema organizativo de significados em que o afetivo e o dinâmico se unem. vê o afetivo como força volitiva para o cognitivo. por sucessivos processos de internalização que não se restringem à mera cópia da realidade externa num plano interior já existente.(VYGOTSKY. ou seja. fornecidos por dada cultura aos indivíduos que a constituem. mecanismos intencionais. até o seu comportamento e a sua atividade. como “organização objetivamente observável do comportamento.br/index. Assim. 1989. – ao pensamento generalizante ­ função psicológica superior que ordena as representações mentais. por outro. Vygotsky estudou o processo de desenvolvimento cognitivo relacionando­o à estruturação dinâmica entre o que definiu como funções mentais e consciência. se consubstancia num instrumento de organização do conhecimento. percepção e atenção; que dispõem de maior grau de autonomia em relação aos fatores biológicos.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 8/16 . de nosso comportamento.     Com essa citação. Permite­nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até à direção específica tomada por seus pensamentos. da experiência direta. de acordo com sua definição. classes de objetos com atributos em  comum. esse sistema simbólico de mediação entre o sujeito e o objeto – que além do intercâmbio social. que se desfaz ao advertir sobre a existência do processo inverso; ou seja. dentro do qual busca explicitar de que maneira se corporifica a construção http://www. por possuir como elemento mediador entre indivíduo e influências do mundo exterior. sendo antes resultado da inserção do indivíduo em um contexto sócio­histórico. as operações com signos. a linguagem. Esta a qual Vygotsky confere papel central na concepção que possui das relações entre afeto e intelecto. p. torna­se um importante fator desencadeante  da construção da própria consciência humana. de ordenação do mundo real e. Nessa perspectiva. organização e uso do conhecimento através da sua dimensão simbólica. dadas culturalmente. a qual a dimensão individual é derivada e secundária. Vygotsky sugere uma aparente anterioridade da ação – ou seja. e o idealista. Vygotsky concebe a partir de sua dimensão social. etc. que respectivamente ora associa a consciência a processos elementares (como percepções sensoriais e reflexos).    Grosso modo. além da crítica à divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico. necessidades. memória. selecionados sob a óptica de um grupo cultural ­ . pode ser explicado na verdade. 77). Muito embora o léxico da psicologia soviética da sua época não dispusesse do termo cognitivo. a partir das investigações que efetivou dos processos internos relacionados à aquisição. chamado por ele de pensamento conceitual.pro. por um lado. Seu desenvolvimento. determinado culturalmente segundo Vygotsky. onde se encontra o fluxo desenfreado de nossos anseios. presta­se principalmente à função de contribuir para a construção do pensamento generalizante. e este como regulador do primeiro. que se dá a partir da generalização das experiências em categorias conceituais. tais como: o pensamento. 6­7 apud LA TAILLE. processos voluntários. a linguagem. Vygotsky chega a estabelecer um percurso genético do desenvolvimento do pensamento generalizante. tal como expresso na citação anterior. visando combater o reducionismo comportamentalista. podemos afirmar que.educacaoonline. de caráter involuntário). Mostra que cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. a consciência passa a ser percebida como uma forma de organização dinâmica de nossas funções mentais superiores. o sistema de representações que substitui o real. No tocante à consciência. que é imposta aos seres humanos através da participação em práticas sócio­culturais”. entendemos por funções mentais.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET.  sendo. uma vez que sofrem variações decorrentes do tipo de contato e relações existentes entre os elementos.educacaoonline. todo esse percurso. pois. através de uma atitude mediada. portanto que.68). abstraído de características isoladas da totalidade da experiência direta; é o estágio onde opera o pensamento lógico­abstrato.   http://www. gerar o desenvolvimento dos educandos.  Por outro lado. Em geral. visto que discorre sobre a formação de conceitos cotidianos da vida infantil. estabelecem conexões concretas e factuais entre os objetos. enfim. a piedade. essas ligações. apresenta uma dimensão social que a determina. como se dá o processo de formação de conceitos. a violação dessas regras do sentimento. muito embora haja correspondentes emocionais nos animais e bebês humanos. “à medida que mudam as ideologias sociais e os sistemas sociais. onde primordialmente parte­se do concreto para o abstrato. a maior parte das emoções. códigos legais. No entanto. sem confronto com uma situação direta.pro.67). um novo sistema social: vemos. p. eles trazem consigo novas normas de emoções” (RATNER. 1995.(RATNER. mediadas pela consciência social. conseqüentemente. tais ligações são instáveis e não se relacionam necessariamente aos atributos relevantes dos objetos.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizagem… 9/16 . não mais possui uma base natural e espontânea comum aos primeiros. O da formação de conjuntos sincréticos; 02. a gratidão. O da formação de conceitos propriamente ditos. o remorso. p. Já no estágio do pensamento por complexos. quando se considera a formação de conceitos científicos no âmbito da instrução escolar – da representação abstrata. o amor e a culpa. por exemplo. equivale a desenvolver uma nova ideologia social. e baseiam­se na combinação por similaridade.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. para a realidade concreta. a admiração. segundo Ratner (1995. baseada em fatores perceptuais; por isso. no terceiro estágio. Vygotsky o subdivide em três grandes estágios: 01. Contudo. a raiva. ainda carecendo de unidade lógica. as emoções compõem o quadro de nossas funções psicológicas e. as emoções de um ser humano adulto. Podemos inferir. A falta de correspondentes naturais para essas emoções torna ainda mais evidente seu caráter social. 67) as constantes revoluções emocionais trazidas pelo proliferar das reivindicações feministas. o ódio. Como o próprio Carl Ratner enfatiza. entre as quais a vergonha. Mas.   embora algumas emoções possuam correspondentes naturais. não possuem. vale ressaltar. as emoções dependem de uma consciência social fornecida pela cultura que dite as diretrizes para o sentimento. há que se especificar agora o pensamento vygotskiano às questões relacionadas mais estreitamente à temática da afetividade. a despeito do que explicitamos antes. Daí o importante papel que Vygotsky atribui à intervenção escolar promotora do agir coletivo como alternativa pedagógica capaz de provocar aprendizagem e. o dever. Sendo. metacognitiva (de consciência e controle de suas relações e conteúdo).br/index. o desprezo. 1995. na unificação de impressões diversas. a criança agrupa os objetos do mundo circundantes a partir de nexos subjetivos. ocorre o agrupamento dos objetos com base num único atributo. onde e o que sentir; e que estas estabeleçam. No primeiro estágio. no tocante a quando. impregnados de experiência. não se trata de um processo linear. p. porém. Tal como a percepção e a memória. desenvolvendo­se também na direção contrária. descobertas por meio da experiência direta. a vingança. assim como as primeiras. um fenômeno psico­social. pois. adverte Vygotsky “é preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha alcançado um certo nível para que a criança possa absorver um conceito científico correlato”. Por fim. VYGOTSKY E WALLON de significados. morais e sociais que as sustentem. O do pensamento por complexos e; 03.  Não se trata apenas da atividade autônoma do sistema nervoso. é causada por processos psicológicos. Estes. E ainda. para ele.  Deste modo. da interpretação e da percepção. Portanto.68 – 73).. como o do médico. filósofo e militante francês Henri Wallon (1879­1962) justifica­se pelo prolífico confronto teórico e aprofundamento analítico que. por completo. frente ao poder das influências da significação perceptiva da situação.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. relações sociais e circunstâncias econômicas dos povos. o seu grande eixo é a questão da motricidade.A qualidade socialmente mediada das emoções reflete o fato de que as emoções servem a propósitos comunicativos. um processo de interpretação do estímulo externo que se estende até a compreensão sobre a origem da excitação interna. assim. resultar em reações diversas.3­WALLON: A TEORIA DA EMOÇÃO. a favor da autonomia relativa das emoções em relação aos processos viscerais: “atribuir emoções a hormônios por si sós cria a falsa impressão de que determinadas reações emocionais são produtos naturais.pro. Embora a teoria vygotskiana estabeleça um claro embasamento sobre a temática da relação entre afetividade e desenvolvimento cognitivo. universais e inevitáveis. que influi somente na intensidade dessas reações emocionais; mas. posto que.). e influi na qualidade emocional.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 10/16 . o ato mental se desenvolve necessariamente a partir do ato motor. contribuindo inestimavelmente para uma maior cobertura e compreensão dos múltiplos aspectos envolvidos; mediante a postulação da sua teoria da emoção. porém.   No entanto. um encontro de paradigmas. Apesar da dimensão afetiva ocupar lugar central na teoria walloniana. desempenham papel muito mais indireto e débil. tal avaliação cognitiva impregnada pelo conteúdo histórico­cultural de uma sociedade específica pode. 1995. critica Ratner.               Este autor desvela.(RATNER.educacaoonline.br/index. VYGOTSKY E WALLON   Se a dimensão social das emoções é culturalmente determinada. Em suma. visto que são função antes de memórias culturalmente condicionadas do que subprodutos da experiência. p. morais e culturais complexos. que o tornou destarte indispensável também a qualquer estudo sobre afetividade que se venha empreender. a idéia reificada de que as reações emocionais estariam intrinsecamente ligadas aos processos viscerais dos indivíduos. como: http://www. O significado complexo de cada emoção é resultado do papel que as emoções desempenham em toda a gama de valores culturais. a qualidade e a intensidade delas são tão diversas quanto o universo de conceitos e práticas sociais específicas existentes. como em nenhuma outra.. intermediado por um processo cuja explicação desenvolver­se­ á mais adiante. as variações da emocionalidade parecerão bastante plausíveis. ou seja. pondo­se a estudar a atividade muscular recorrendo aos órgãos que a constituem.(. por certo a existência.” 1. de fato. Mesmo a secreção hormonal. despertados anteriormente. que ativa certos estados emocionais. a apresentação de outro ponto de vista. sendo as emoções      compreendidas como constructos inventados para servir aos propósitos humanos e que dependem da cognição. produziria. da avaliação cognitiva. por vezes.  p. p. na qual identifica­lhe duas funções: a cinética e a postural. Todavia. Wallon estabelece uma tipologia do movimento. uma abstrata. somente assim pode ser comparada como o próprio Wallon o fez à “uma forma somática. Contudo. confusa. as de natureza hipertônica.(LA TAILLE. onde o domínio no manuseio de meios puramente representacionais é fator decisivo para garantir a geração (muitas vezes manipulação ideológica) de variantes emocionais. global da sensibilidade. cuja duração se torna extremamente penosa. tais associações. em contraposição aos movimentos instrumentais. 1992. seja através de massagens. Por essa razão. numa musculatura pétrea. entendendo­se por estas a imitação simbólica. por fim. É comum em várias teorias descrevê­las como desorganizadoras da “vida racional”. com a progressiva inibição dos centros corticais da função cinética. irremediavelmente. bem como o inverso: a produção da emoção ao tocante poder dos grandes retóricos. que subindo como uma onda. classificando­as segundo variações no tônus muscular. retesado. a hipotônica e a hipertônica. à afetividade compete a transição entre o estado orgânico do ser e sua etapa cognitiva. partimos da afirmação walloniana de que toda alteração emocional corresponde a uma flutuação tônica. resultam num tônus rijo. correspondem a três diferentes naturezas assumidas pelas manifestações afetivo­emocionais: a primeira. acrescentando a esta uma terceira relação que. autor referido por Dantas. racional; “suprindo a insuficiência da articulação cognitiva nos primórdios da história do ser e da espécie. garantidos por estes vínculos. Notamos.educacaoonline. segundo Heloysa Dantas. as emoções de natureza hipotônica (tais como o susto e a depressão) são consideradas redutoras do tônus. 37) Quando a sensório­motricidade incontinente lentamente se reduz. que aos poucos dará lugar à representação em si. à mudança de posição do corpo.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 11/16 . de caráter relaxado; por outro lado. no entanto. como a cólera e a ansiedade. de natureza química. ou de segmentos do corpo no espaço; a segunda. o seu universo simbólico. muito embora ainda constitua­se intuitivamente no plano científico. central; outra de tipo mecânico­muscular e. a partir do pensamento de Wallon. segundo Wallon. 41). visto que lhe conferem uma consistência flácida.pro. apaga a percepção intelectual e analítica do http://www. Por conseguinte. abstraindo deste. 41). a afetividade na teoria walloniana. porém. à manutenção da posição assumida (atitude) e à mímica”. geradoras do tônus. que costumamos associar transtornos emocionais ao comprometimento do pensar reflexivo. a afetividade. culturalmente elaborado e historicamente acumulado pela humanidade. os instrumentos mediante os quais se desenvolverá o aprimoramento intelectual são. Wallon identificou outras duas. segundo Ajuriaguerra. ocorre o fortalecimento da função tônico postural. (ibdem. para o desencadear de reações emocionais. ou por meio de influências de atividades rítmicas intensas. de inspiração darwinista. representacional. VYGOTSKY E WALLON a musculatura e estruturas cerebrais responsáveis por sua organização.” Nesse sentido. quando permanecem emoção pura e. “a transição do ato motor para o mental pode ser acompanhada na evolução das condutas imitativas” (ibidem. diz Heloysa Dantas. E para além destas. discorre sobre a atuação mecânica. a partir do segundo ano de vida. Assim. de excitação corporal. propulsiona o desenvolvimento cognitivo ao instaurar vínculos imediatos com o meio social. p. Em suma. desconsiderando­se. periférica. que corresponde à primeira manifestação do psiquismo. acrescenta. Além disso.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. “A primeira correspondendo ao movimento visível. os movimentos simbólicos contém idéias projetivas que geram novos atos refletidos: “imobilize­se uma criança de dois anos que fala e gesticula e atrofia­se seu fluxo mental”. portanto que. estabelecidos pela consciência afetiva.br/index. Na verdade. que o seu potencial explosivo e imprevisível surge apenas quando não conseguem transmutar­se em ação mental ou motora. é vista como instrumento de sobrevivência na qual sua origem encontrar­se­ia na função tônico­ postural.  logo que saiu da vida puramente orgânica. seja por via oral e depois escrita. nesta perspectiva. da função simbólica. num estudo sobre a comunicação gestual. aquele efetivado entre mãe e filho. chamou de “diálogo tônico”. p. antes de ser um controlador do gesto que realiza o desenho [isto é. um ser afetivo. Portanto.90)     No entanto para Wallon. pressupõe a existência de uma mediação social subjacente. pela inteligência. É o caso. Só muito mais tarde. Da afetividade diferenciou­se.     a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa : ela é também uma fase do desenvolvimento. Wallon define etapas na evolução da afetividade. no início da vida. supondo­se a partir disto que há incorporação de construções da inteligência por ela. lentamente.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET.br/index. e mencionada anteriormente como pura emoção ­ estaria circunscrita a manifestações somáticas. de forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra decisiva e permanentemente. pois também não saberá do que se trata seu desenho se já não o fez]. o que. ao reconhecer sua origem na ontogênese e filogênese do homem. (ibdem. segundo Dantas. inteiramente dependentes da presença concreta do outro para o estabelecimento de trocas afetivas. através da utilização da linguagem. com predomínio da primeira. pois a manifestação de uma intencionalidade que os originam. essa predominância é subjugada à intensa atividade cognitiva. Ajuriaguerra. onde Wallon assinala que               no início. consonante às idéias wallonianas. porém. seja em seu nível puramente sensorial de ressonâncias e rimas. a da satisfação de necessidades básicas.93)      http://www. uma criança só poderá dizer­nos sobre o que está desenhando após concluí­lo. o gesto gráfico precede a intenção: o projeto é uma resultante. O ser humano foi. Assim.(ibdem. visto que difere sobremaneira entre uma criança e um adulto. dá­se a constituição de uma forma cognitiva de vinculação afetiva – a da afetividade simbólica. do caráter comunicativo dos negligenciados movimentos impulsivos do recém­nascido. seja em seu aspecto semântico. a evolução afetiva está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento cognitivo. seguindo a tendência que possui para racionalizar­se. a palavra disponível. a chamada afetividade emocional ­ centrípeta e anabólica de construção exclusiva do eu. cuja fase inicial.” Porém. qual seja. Porém ­ paralelamente ao desenvolvimento e maturação de competências necessárias ao posterior interesse pela exploração da realidade externa ­ com a gradual aquisição. quando o processo pensante for mais sólido. por exemplo. a vida racional.pro. conduz à idéia. perdurando um longo estado de reciprocidade. p. afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas.educacaoonline. VYGOTSKY E WALLON exterior. No discurso. a idéia presidirá à busca e à escolha da palavra. a mais arcaica.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 12/16 . Para Wallon. Wallon admite que. tal como os familiares estágios do desenvolvimento cognitivo.  onde predominam as de caráter lógico­matemático. a modelação da realidade externa frente à constante aquisição das técnicas cuja elaboração se devem à cultura geral de sociedade. ressalta Dantas.br/index. através da valorização de noções tais como: respeito recíproco. subdivididas por ele em dois tipos. depois a construção de si mesmo. a coação. Assim. se à intensa atividade cognitiva concomitantemente se desenvolve a construção do si. garantindo ao sujeito a autonomia suprema para acatar algumas determinações sociais e outras não. intelectualista­pragmático. através de atividades curriculares. Wallon (ibidem. Ora. através de personagens susceptíveis de provocar identificação. escrita. chegando até a transcender essa realidade. seria considerá­los apenas parcialmente.   cabe à educação. ainda demonstra que. além de estabelecer o elo de ligação entre o indivíduo e a busca do saber (por meio das interações sociais). Esta exige espaço para todo tipo de manifestação expressiva: plástica. da puberdade. os autores referenciados – Piaget. Vygotsky e Wallon – ao implementarem investigações acerca do desenvolvimento psicológico humano acabam por identificar na afetividade o seu caráter social.95)     Assim. VYGOTSKY E WALLON Mas. http://www. Observamos. exigências racionais se impõem às relações afetivas. inibidora da autonomia afetivo­intelectual e moral.94): “o destino da evolução psicomotora é a economia. exigidas socialmente.pro. isto é. em cada um desses momentos. ao discorrer sobre o processo de construção do sujeito. igualdade de direitos etc. ou seja. de acordo com as etapas evolutivas da afetividade que estabeleceu. de respeito unilateral e irrestrita subserviência; e a cooperação como condição propícia à recíproca verdadeira. a construção do eu (sujeito) se dá nos momentos dominantemente afetivos do desenvolvimento. direta.educacaoonline. a oportunidade para a manipulação da realidade e a estimulação da função simbólica. portanto a inigualável importância dos aspectos afetivos para o desenvolvimento psicológico. a especialização. E. com a chegada. ou seja a configuração do respeito mútuo. é fácil inferirmos a partir dessa afirmação que um processo de ensino­aprendizagem limitado ao desenvolvimento de algumas poucas habilidades. quando a sua gestualidade atinge o apogeu e inicia sua etapa regressiva. à afetividade cabe a função de desencadeadora do agir e do pensar humanos. (DANTAS. partimos do pensamento piagetiano para o qual a afetividade está circunscrita ao âmbito das interações sociais. p. estaria apenas obstruindo inestimavelmente o desenvolvimento dos educados ao qual estão submetidos. resgatando destes os pontos teóricos aos quais tomamos como “faróis norteadores” de nossas investigações . a virtualização”.1992. ao pensamento de um único pesquisador. para a efetivação do desenvolvimento sócio­ cognitivo. amplamente dinâmico e construtor da personalidade humana. justiça. Visando por fim.90). convergindo os três para o postulado de que. o que significa comprometer substancialmente toda a rigorosidade das análises e reflexões a que buscamos empreender. ou indireta. visto sustentar­se por sentimentos de medo. a satisfação das necessidades orgânicas e afetivas. por fim. verbal. e como diz Dantas(ibidem. e constatamos que limitá­los ao alcance de uma única teoria. embora considerada sob diversas matizes. por conseguinte.p. na interação com outros sujeitos; enquanto nos de caráter predominantemente cognitivo se dá a construção do objeto.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. dramática. classificar essas matizes conceituais da afetividade pelos autores escolhidos.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 13/16 . p.  sujeitas às interferências e determinismos do que chamou de consciência social. a afetividade é considerada um instrumento de sobrevivência do qual o bebê humano se utiliza para suprir a insuficiência da articulação cognitiva por meio da significação de sua atividade motora; o que a torna a primeira manifestação do psiquismo em busca de abstrair. seja no espaço específico de sala de aula.      [3]  Segundo o dicionário Aurélio define: o conjunto de fatores os quais agem entre si. incutindo­lhe códigos legais reguladores de suas manifestações no tocante a como. vale ressaltar que todo comportamento pressupõe um motivo. propósito.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 14/16 . contamos com um número significativo de pesquisas envolvendo esse assunto. as contribuições trazidas. bem como. alvo ou objeto que atrai ou repele o organismo. não podemos ser reducionistas a ponto de negarmos os inúmeros fatores que envolvem essas realidades. compreender e utilizar­se do universo simbólico que o cerca. Segundo Geraldina Witter.educacaoonline. o conceito motivação. seja para aprender ou realizar algo. dependendo do autor. Todavia. Nesse sentido.pro. quando e onde surgirem. todas as ações da vida prática do indivíduo. impulso. Encontram­se. ao lugar ocupado no âmbito educacional e as conseqüências do fator motivação[3]. Porém. quão em todas as ações da vida humana. VYGOTSKY E WALLON Já na psicologia de Vygotsky.br/index. porém não há ainda entre os autores que se preocupam com esse tema. tornando­se mais expressivos no comportamento afetivo do ser humano adulto. destaca um ou três tipos de variáveis: * determinantes ambientais; * forças internas (necessidade. pois. no entanto.   2­ MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM  Sendo o aspecto afetivo constructo da natureza humana e elemento responsável pela definição das relações interindividuais. estas são movidas por uma força motivacional. Pois para Wallon.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. interesse e etc. no qual o indivíduo percebe e interpreta o papel das influências exteriores para o desencadear interno de suas reações emocionais. destacamos a inspiração darwinista a qual vincula­se. http://www. tal determinismo é relativizado pela constante e gradual ampliação do processo de avaliação cognitiva. base para todo desenvolvimento sócio­cognitivo do ser humano. o que nos interessa nesse contexto é perceber a partir desses estudos. no desenvolvimento das estruturas cognitivas do sujeito. tidas como integrantes de nossas funções mentais superiores. No campo da Psicologia muitos estudos são desenvolvidos a fim de se compreender as variáveis motivacionais do comportamento humano. No campo educativo. o que torna­o apto a compreende­ las e posteriormente domina­las. são antes produto da inserção humana num dado contexto sócio­histórico do resultado da atividade independente do sistema nervoso central sobre os processos viscerais do corpo somático.); * incentivo. emoção. a motivação consiste apenas em mais um elemento considerável e imprescindível. quanto pela ausência de sua aprendizagem. na concepção walloniana de afetividade. uma concepção universal aceita. as emoções. no tocante. desejo. e determina a conduta de um indivíduo. culturalmente produzidas e impostas. vontade. usualmente. Finalmente. Hoje. embora não esteja explícita. instinto. destacarmos também a motivação como parte integrante desse aspecto e seus determinantes no processo ensino­aprendizagem. costumamos responsabilizar a motivação tanto à facilidade com que o educando aprende. destarte. convém. php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 15/16 . vale destacar que tanto para a ação de aprender quanto de ensinar. tão discutido no dia a dia da prática educativa. por seu caráter utilitário­funcional para a sobrevivência e desenvolvimento filogênico e ontogênico.pro. E nesse caso. o incômodo de muitos educadores em compreender o desinteresse dos educandos. Partindo dessa ótica. o pouco caso destes pelo que o professor ensina­lhes. etc. Comporta inúmeras situações em que pressupõe aprendizagem. capaz de ir desde a direção ao corpo docente. a motivação implica componente basilar de toda atividade humana a ser aprendida. sua postura. a busca por alternativas para solucionar ou senão amenizar os problemas advindos por não se possuir as condições motivacionais favoráveis à aprendizagem. Embora vítima dessa superestrutura que requer mudanças significativas. ao avanço. ou seja. No entanto. o seu compromisso em envolver o educando levando­o a perceber a aprendizagem adquirida também como conquista pessoal. em particular. é de convir que o problema da falta de motivação. também pelo modo como relaciona­se. 1992. Yves de. Sem dúvida. acaba tornando­se o elemento motivador por meio de seus estímulos antecedentes (decoração da sala. devido às condições que asseguram o desenvolvimento da educação brasileira serem precárias e desoladoras. garanta a otimização do processo ensino­aprendizagem através da melhoria da motivação. bem como. como podemos perceber.educacaoonline. todavia. sua linguagem. engenharia do ambiente e disposição dos alunos). formação deficiente. daí dizer que o comportamento configura­se em instrumento pelo qual a necessidade é satisfeita. Atribuídas na grande maioria das vezes somente ao mundo extra­escolar dos educandos. – São Paulo: Summos. apresenta proporção bem maior. VYGOTSKY E WALLON A concepção de motivação que mais ganhou destaque condiz à vinculada à teoria da evolução. material didático. sim. condição material desfavorável.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. no cotidiano de nossas escolas públicas. como: a pouca disponibilidade de tempo para planejar. desvalorização social. faz­se necessário uma força propulsora motivacional que determine ambas as situações.   http://www. sobrecarga de trabalho. – Piaget. Martha Kohl de Oliveira. não se limita apenas ao alunado. a baixa remuneração. à inovação. é comum observarmos no meio educacional. sobretudo corresponde às necessidades do organismo. Heloysa Dantas.   BIBLIOGRAFIA   LA TAILLE. todo comportamento é motivado e.br/index. nesse sentido. As variáveis responsáveis pela falta de motivação dos professores sobremaneira justificáveis. enfim. dentre outros elementos impeditivos e propícios à resistência a mudanças. Nesse sentido. Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão / Yves de La Taille. não importa as estratégias motivacionais que o educador disponha e. o grande encarregado de promover as contingências reforçadoras que garantam a motivação e conseqüentemente levem à aprendizagem. É inegável a relevância do fator motivação no desenrolar da prática pedagógica e. o educador será sempre o responsável primeiro pelo desenvolvimento sócio­cognitivo de seus educandos. seria no mínimo ingenuidade falar sobre motivação sem refletir e mencionar a real situação de boa parte de nossas instituições escolares. Partindo dessa premissa. são aspectos fidedignos da realidade educacional brasileira.  Ed. & INHALDER. Carl. VYGOTSKY E WALLON   PIAGET. 1989. 1990.br/index. Bertrand Brasil  S/A. Lólio Lourenço de Oliveira.php?view=article&catid=4%3Aeducacao&id=299%3Ao­aspecto­socio­afetivo­no­processo­ensino­aprendizage… 16/16 . A formação social da mente. A psicologia sócio­histórica de Vygotsky: aplicações contemporâneas / trad.educacaoonline.   < Anterior   Próximo >   http://www. – São Paulo: Martins Fontes.   RATNER. B. 11. – Rio de Janeiro: Ed. J.15/09/2015 O ASPECTO SÓCIO­AFETIVO NO PROCESSO ENSINO­APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET. A psicologia da criança. L.pro. 1995. – Porto Alegre: Artes Médicas.   VYGOTSKY.
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