Noções Básicas de Antroposofia

March 22, 2018 | Author: Petrus Magnus Galvão | Category: Science, Physics, Physics & Mathematics, Soul, Thought


Comments



Description

Noções Básicas de Antroposofia Rudolf Lanz Esta página contém parte do livro que, para um melhor entendimento, recomendamos seja lido integralmente desde o seu início em www.sab.org.br/edit/nocoes Direitos reservados à Editora Antroposófica Rua da Fraternidade 174, 04738-020 São Paulo, SP, tel. (11) 5686-4550 Esse livro pode ser adquirido também em sua loja virtual PREFÁCIO Este livro é o resumo de uma série de conferências que o autor proferiu diante de um público curioso de saber o que é a Antroposofia. Dirige-se às pessoas que sentem os problemas humanos e sociais de nossa época, expondo-lhes as idéias básicas da ciência espiritual antroposófica. Não se pretende convencer ninguém ou fazer adeptos, nem levar a efeito qualquer propaganda da Antroposofia. Esta dispensa tais esforços e até os repudia, pois quer deixar intacta a liberdade de todos. Quanto ao conteúdo, o autor o deve todo a Rudolf Steiner, fundador do movimento antroposófico. Em sua obra,o leitor encontrará um mundo de informações sobre todos os assuntos aqui mencionados. Uma obra como a de Rudolf Steiner deveria ser conquistada passo a passo, num esforço contínuo de estudo e meditação. A leitura das páginas que seguem não substitui de maneira alguma, esse estudo. Ao contrário, chamao; e aqueles, dentre os leitores, que entenderem o apelo contido na Antroposofia encontrarão facilmente o meio de aprofundar seus conhecimentos. As imperfeições de um estudo como o presente são evidentes. Escolher numa obra gigantesca alguns capítulos para uma explicação sucinta e condensá-los em palestras num livro de introdução parece até temerário, e somente pode ser escusado pela absoluta falta de tempo para elaborar um livro novo e melhor estruturado. Rudolf Lanz INTRODUÇÃO Com muita razão, o nosso século é chamado de século da ciência e da técnica. Nunca antes tantos esforços e tanta inteligência foram consagrados ao conhecimento e ao domínio da natureza e das forças naturais. Nunca antes o homem teve em suas mãos tanto poderio e tantos instrumentos para multiplicar as suas próprias forças. Apesar disso, o homem sofre - também como nunca antes - da profunda preocupação que lhe causam as dúvidas e o medo, a frustração e o desespero; em uma palavra, o fato de nem a ciência nem a técnica terem sabido dar respostas às grandes perguntas eternas: Quem sou? De onde venho? Aonde vou? Qual é o sentido da minha vida? Toda ciência nasceu da curiosidade, do encontro com fatos inexplicáveis. As nossas ciências souberam explicar inúmeros fatos, dando ao homem um profundo saber das coisas ao seu redor. Mas cada vez que ele volta a fazer as perguntas eternas, as respostas, ao invés de parecerem próximas e tangíveis, escapam-lhe sempre mais. Profundamente desambientado, o homem se esforça para esquecer, para furtar-se às dúvidas que o assediam. Mas, quanto mais ele procura recalcá-las, mais intensas vivem elas em seu subconsciente, emergindo de vez em quando, com redobrada insistência. As perguntas não param aí. Transcendendo a sua própria individualidade, o homem especula sobre o destino da humanidade. Surge o problema da evolução e, com ele, o da 2 criação e da morte. Voltando a si próprio, ele procura em vão uma explicação para a essência da sua própria personalidade, dos valores espirituais. A filosofia moderna ensina-lhe que a "realidade" e a "verdade" são outras tantas ilusões. Tudo é relativo, incerto, incognoscível. A moral e os impulsos sociais perdem seus fundamentos. Tudo isso não fica no domínio da teoria e da especulação. Ao redor de si o homem vê o caos social, a impossibilidade de harmonizar o campo econômico, de disciplinar a política. Desmoronam-se os velhos pilares da vida em comum: família, autoridade, matrimônio, educação, religião, governo, etc., e uma juventude sem ideais, desiludida, "transviada", apresenta contas à geração dos seus pais, que lhe deixou tal herança. De onde vem essa situação caótica? As velhas religiões não souberam resistir ao impacto do racionalismo (Voltaire, Diderot) e da ciência (Darwin, Haeckel, Huxley, etc.). As respostas dadas pelas religiões às "perguntas eternas" deixaram de ter seu valor e sua força. O homem moderno não quer fé nem crença; ele procura fatos e certezas. A filosofia desde há muito tem perdido o contacto com a realidade humana e social. Os seus maravilhosos sistemas do passado não falavam ao coração do homem. Seus ideais e seus edifícios espirituais, sublimes obras de alguns gênios privilegiados, constituíam torres de marfim cuja aparente irrealidade contrastava vivamente com o império das ciências que passaram a revolucionar o pensamento do homem, desde as suas tímidas manifestações no fim da Idade Média. Começou então a era das ciências. Quanto orgulho encontramos na famosa resposta do astrônomo Laplace ao Imperador Napoleão, ao qual expusera a sua teoria cosmogônica, e que lhe perguntou onde havia nesse sistema um lugar para Deus: "Sire, je n'ai pas bésoin de cette hypothèse". Mas a ciência trilhou um caminha que também a afastou gradativamente da "realidade". Reduzindo todas as qualidades a quantidades, exprimindo fenômenos sensíveis e "reais" por leis e números, ela satisfez o pendor do homem de procurar compreender racionalmente o mundo; mas esse mesmo mundo ficou privado das suas "qualidades" que apelam aos sentidos e aos sentimentos. Vejamos a hipótese grotesca de um indivíduo que consulta os catedráticos (hoje "professores titulares") de uma universidade sobre o que lhe parece serem os mais altos valores humanos: as obras de arte, os ideais da religião e da moral. O antropólogo ou sociólogo lhe explicará que se trata de manifestações da psique, de projeções e sublimações de caráter anímico. Consultando em seguida o psicólogo sobre o que seria essa psique, essa alma do homem, o nosso estudioso aprenderá que a "alma", se é que existe, é condicionada por fatores fisiológicos como a libido, ou por substâncias biológicas como os hormônios, etc. Depressa o nosso curioso correrá ao catedrático de biologia para saber algo mais sobre a vida e suas manifestações. Este, conhecendo as últimas descobertas da bioquímica, responderá: "A vida é um conjunto de estados e funções de certos agrupamentos moleculares, de forma e estrutura definidas (ácido desoxiribonucléico, etc). A vida e suas manifestações? Uma série de reações químicas de substâncias simples, conhecidíssimas! Próximo ao desespero, o nosso homem irá ver o professor de química, se for honesto, lhe dirá: "Meu caro amigo, eu lhe posso descrever as propriedades dos elementos, mas na realidade não sei o que é a matéria. Vá ver o meu colega do departamento de física atômica". E, se não perdeu todas as esperanças, o nosso amigo as perderá desta vez. Com efeito, sua pergunta "o que é a matéria" merecerá apenas um sorriso irônico: "A matéria não existe. Ela é uma hipótese de trabalho. Tudo se reduz a partículas que podem ter características de massa, ou de carga elétrica, e de velocidade; mas na realidade não se trata bem de corpúsculos - nós inventamos essa imagem para maior comodidade, mas na realidade, não sabemos nada. 3 Tudo se passa de acordo com certas fórmulas matemáticas, que contém até elementos sem significado para nossos sentidos". Mas esse "tudo" . . . "é nada". E se o essa pessoa insistir, aprenderá ainda que o tempo é relativo, que o espaço (que ele imaginava como uma espécie de meio vazio no qual se encontram os objetos) é curvo e finito, embora ilimitado, e que a lei do determinismo (casualidade), base de todos os seus raciocínios anteriores, não é válida no reino de fenômenos muito pequenos (fótons, por ex.), constituindo no mundo "tangível" apenas uma lei estatística. Finalmente, ele saberá que no domínio do infinitamente pequeno a observação "objetiva" é impossível, porque o observador, pelo próprio fato de observar com os instrumentos apropriados, falseia os resultados observados . . . E daí? Estamos vendo que a própria ciência leva a um absurdo! Ela própria, que pretendia dar a certeza e descobrir a "verdade", destrói a realidade. Tudo reduzido a corpúsculos e fórmulas: eis o mundo na interpretação da ciência de hoje. Não resta a menor base para valores éticos ou para impulsos espitituais. Como sair desse beco sem saída? Existem correntes na ciência moderna que admitem ou antes, postulam, certos princípios extra físicos. A própria física atômica chega a esse extremo (Heisenberg, Einstein), a biologia o faz (teorias gestaltistas, Portmann), mas sempre reconhecendo que chegamos a um limite que a ciência não pode transpor. A ciência atual tem, portanto, que confessar a sua incapacidade, pois admite componentes que não podem ser captados pela observação nem pelo raciocínio. Mas o homem não se dá por satisfeito. Ele sabe que "ele é!" Ele sabe que está aí, pensando, duvidando, sofrendo. Tem a certeza de que há nele algo mais do que corpúsculos e forças físicas. Ele tem a intuição de um fato espiritual: o eu, a Nona Sinfonia, a Divina Comédia, são para ele realidades. Cada pensamento é uma realidade, cada ato de amor ou ódio é algo de palpável, e o teorema de Pitágoras lhe parece, em sua abstração, pelo menos tão correto como os corpúsculos e elétrons da física atômica. Existe, pois, para ele, uma realidade mais ampla, que contém aspectos físicos e não físicos. O mundo é explicado pelas ciências, nas, como já vimos, estas chegam a limites intransponíveis. E a parte não-física, que o homem experimenta e vivencia como um dado imediato de sua consciência? Ele não se dá por satisfeito pela simples crença nesse domínio inabordável, pela fé naquilo que alguma religião lhe transmitiu como "revelação". Pois o homem moderno quer saber. Quer conhecer. Ele sabe que a sua dignidade de homem estará em jogo se não aspirar a esse conhecimento. Daí as suas perguntas eternas! Ele quer entrar conscientemente nesse reino fechado e aparentemente proibido para sempre. Mas como? Quais as possibilidades? Pesquisar mais profundamente o mundo sensorial ao seu redor? Mas ele já sabe que o próprio método científico atual desnuda esse mundo de toda "realidade", e que acaba encontrando limites fechados. Voltar à religião? Mas ele fugiu justamente da religião porque esta não conseguiu satisfazer sua sede de saber, de conhecer. Voltar à crença, à fé cega? Nunca! Desnorteado, o homem que chegou a esse impasse tende a refugiar-se em qualquer instituição ou cosmovisão que lhe narcotize a consciência, as dúvidas e sofrimentos. Experiências sensacionais se lhe oferecem como paliativo ou diversão, como pseudoresposta; religiões pessimistas antigas, como o budismo com a sua profissão de fuga deste mundo; práticas místicas como o Ioga, caminho empregado numa época remota; o espiritismo com seus fenômenos sensacionalistas e fora de qualquer controle lúcido da consciência. Bem-aventurados aqueles que ainda encontram um tal caminho uma 4 Ela procede cientificamente pela observação. preconizam honesta e cinicamente o triunfo do vazio e do sem-sentido. é o mundo em que vivemos. nunca exigindo fé cega. Mas voltemos ao nosso dilema: Temos o mundo físico conhecido. A visão de conjunto aparecerá só mais tarde. a expor resultados. por meios adequados. pois a Ciência Espiritual Antroposófica é um conjunto. nas artes. um edifício completo e complexo. fez contribuições de grande importãncia. na medicina. pelo fato de o pesquisador. o raciocínio? Em outras palavras: estender o campo da pesquisa conscientemente para esse back-ground espiritual do nosso mundo sensível? Se essa possibilidade existisse. fundada e estruturada por Rudolf Steiner. sem qualquer transe. . na realidade. ser completo. começaremos o nosso estudo por uma análise do mesmo. verdadeira pedra-de-toque dos seus princípios. Não pretendo. por assim dizer. e até lá. teria ficado insolúvel. os sacerdotes da Absurdo. impalpável. Ela não é religião nem seita religiosa. de investigá-lo consciente e cientificamente. embora as complemente e interprete pelas suas descobertas. Nas páginas que se seguem. afirma seguir essa via. Podemos entrar somente por uma porta de cada vez. Mas não é apenas antropologia. Por isso. ou decaem na indiferença. Não haveria possibilidade de conhecer algo desse outro mundo. sem aquela. São os angry young men. com muitas portas de acesso. descrição e interpretação dos fatos. como toda boa ciência. mas cuja existência sentimos com uma certeza. muitas contribuições e inovações concretas e positivas. quando não se entregam a drogas alucinógenas. O leitor deverá compreender a dificuldade da minha tarefa. Sobretudo tem feito. O leitor ficará certamente recompensado pela sua perseverança. só ficará satisfeito quando as doutrinas da Antroposofia confirmarem as descobertas da ciência comum ou trouxerem uma solução para um problema que. conhecer-lhe o caminho cognitivo e os resultados porventura alcançados? Pois bem. . ela admite e reconhece todas as descobertas das ciências naturais. nas ciências naturais e na agricultura. manter a sua plena consciência. Distingue-se da especulação filosófica. tendo por centro e ponto de apoio o ser humano. de maneira alguma. no nihilismo ou em atividades "existencialistas" (completamente alheias ao existencialismo filosófico de um Heidegger ou de um Sartre). a Antroposofia não se limita a afirmar. objeto dos nossos sentidos e das ciências. A Antroposofia é ciência! Mas uma ciência que ultrapassa os limites com os quais até agora esbarrou a ciência "comum". os playboys. que se conserva dentro dos métodos por ela preconizados. sobre as quais existe uma abundante literatura. Antroposofia significa "sabedoria do ser humano". Com efeito. O estudioso da Antroposofia deve manter seu espírito bem vigilante. E é mais que uma teoria. 5 .pseudo-solução. não valeria a pena examiná-la. E distingue-se de caminhos esotéricos como o espiritismo. direta. uma ciência do Cosmo. conservando a plena consciência. De outro lado sentimos que existe um domínio não-físico. um edifício de afirmações. o leitor encontrará alguns fatos e algumas idéias básicas da Antroposofia. inata. na pedagogia. em todos os domínios da vida prática. mediunismo ou estados extáticos ou de excitação artificial. devo solicitar paciência e compreensão. Mas. Pois os outros. o espírito crítico. pelo seu fundamento em fatos concretos e verificáveis. é. indica o seu método e o caminho cognitivo que deve ser seguido para alcançar o conhecimento dos fatos expostos. na farmacologia. a Ciência Espiritual Antroposófica ou "Antroposofia". etc. regeneração. esse "algo" deixa de existir. as causas de todos esses fenômenos se encontram no mundo sensível ou físico. O conhecimento da matéria. afirmar que os seres orgânicos seguem leis opostas. formas típicas. Os processos do metabolismo são amplamente conhecidos. Assistimos a fenômenos novos que o reino mineral desconhece: crescimento. que o corpo do homem é constituído pela mesma matéria do mundo que o circunda. de um lado. animal e humano. Se lhe podamos a folhagem. enquanto uma pedra nunca cessa de ser uma pedra. veremos que estes se diferenciam daqueles pelo que chamamos de vida. físicos e matemáticos explicam todos os fenômenos do mundo físico (inorgânico). hidrogênio ou carbono entram na composição de ambos. Observamos. e os seres do reino vegetal. os astrônomos e astrofísicos estabeleceram teorias sobre os fenômenos extraterrestres. venham a modificar ou destruir-lhe a forma. Além disso. Essa atitude. ela a 6 . embora esteja. Conceitos químicos. eles nascem e morrem. apesar disso. e a ciência materialista até compara o corpo a um grande laboratório químico. de outro. e podemos dizer que na sua parte corpórea os seres dos outros reinos (vegetal. quimicamente falando. uma formará uma planta de um determinado tipo. Cada planta. de maneira geral. é uma conquista da ciência moderna. Parece. um observador grego ou medieval nunca teria ousado submeter os mundos extra-telúricos às mesmas leis que explicam os fenômenos terrestres. pois. Vemos também que os elementos químicos formam substâncias de estrutura mais complexa e de grande labilidade química. um modelo próprio. animal e humano) contém as mesmas substâncias que se chamam "inôrganicas" no reino mineral. afirmando a identidade das leis da natureza sobre todo o Universo. fósforo. perdendo a sua forma e estrutura específicas e retornando ao reino do "pó da terra". A matéria inôrganica encontra sua expressão mais típica no cristal. tem sua silhueta típica. uma planta de outra espécie e de aspecto totalmente diferente. Podemos dizer que. inclusive aquela que constitui o nosso corpo é nos dada pelos nossos sentidos. às leis químicas e físicas do mundo mineral. seja a combinação de elementos simples em substâncias mais complicadas. que há nos seres orgânicos algo além da pura substancialidade e que subtrai a matéria às leis inerentes à sua própria natureza. Podemos. A relação entre causas e efeitos é constante e permite estabelecer as chamadas "leis da natureza".A ENTIDADE HUMANA A bíblia nos conta que Deus formou o primeiro homem do "pó da terra". como a albumina. Extrapolando as leis descobertas nos últimos séculos. seja pela nutrição. O mesmo cálcio. ou pelo menos alheias. ou pelo menos de atuar: o corpo morto passa a ser um cadáver. Se compararmos o mundo inorgânico. seja dito entre parênteses. a química confirmou que todos os elementos que constituem o corpo encontram-se também na natureza ao seu redor. ferro. dos mesmos elementos. pois cada uma segue. e outra. No momento da morte. seja a transformação de formas de energia. Podemos imaginar duas sementes compostas. reprodução metabolismo. fazendo ressaltar. o protoplasma. e não inerentes à sua própria essência. verificamos que cada ser orgânico tem a sua forma particular. De fato. finalmente. Veremos que esta imagem contém algo de certo. longe de corresponder completamente à verdade. a não ser que forças vindas de fora. Essas substâncias entram no corpo e dele saem num fluxo contínuo. portanto. que os seres orgânicos têm uma existência limitada no tempo. na realidade. para a sua estrutura. dessa maneira. O conjunto dessas substâncias forma o reino mineral. etc. e como tal a sua substância volta a obedecer exclusivamente às leis do mundo inorgânico: o organismo se decompõe. por exemplo. Essa autonomia da forma orgânica vai muito longe. seja pela respiração. e o homem) têm uma evolução no tempo. Mas na realidade o corpo etérico pode ser observado. assim o corpo etérico é um verdadeiro "corpo". Assim como o corpo físico é constituído de substâncias físicas. com o emprego desse termo. não podendo ser produzido "de fora". mas aos representantes típicos de ambos os reinos para fazer uma comparação eficiente. um segundo corpo não-físico que permeia o corpo físico. sem qualquer verdadeira explicação. simples postulado ou hipótese. existe sim. nas plantas. Rudolf Steiner. O cristal é "auto-suficiente". esse corpo vital é também chamado "corpo etérico". Até aqui nada de novo para um leitor que costuma observar.restabelecerá automaticamente. nos minerais. sem hiato. a presença daquele "algo" já citado é inegável. Na realidade nunca se deve recorrer às formas decadentes ou de transição. nos animais e no homem. invoca a existência de seres orgânicos decadentes. em nada mais válida do que tantas outras hipóteses ou teorias inventadas pela ciência e pelas religiões? Assim seria. sua existência pode ser 7 . mas a nossa linguagem é elaborada para as coisas deste mundo. E nesse caso. por assim dizer. O corpo etérico não existe. Para isso. Até os seres mais elevados. Descobriríamos que os minarais realizam a sua existência apenas no espaço. Mas. chamou esse segundo corpo de "corpo plasmador" ou "corpo de forças plasmadoras". A Antroposofia oferece a seguinte explicação: os seres orgânicos possuem. a rigor. Esse segundo corpo é o conjunto das forças que dão "vida" ao ser e impedem a matéria de seguir as suas leis químicas e físicas normais. como a radioatividade espontânea ou o envelhecimento dos metais) enquanto as plantas (e os animais. fundador da Antroposofia. não sofrendo qualquer processo de desenvolvimento (vamos deixar de lado fenômenos particulares. Poderíamos continuar essa comparação. Por motivos cuja explicação ultrapassa o âmbito deste livro. Aqui surge uma primeira grande dúvida: como é que a Antroposofia pode afirmar a existência de tal corpo? Não será uma afirmação gratuita. Como o corpo físico é uma aglomeração individualizada de substâncias químicas. além do seu corpo mineral ou físico. daquele. Mas o que será esse "algo"? Doutrinas vitalistas do passado e do presente ensinam que há uma força vital permeando os seres orgânicos. e não há palavras apropriados para exprimir exatamente o sentido e a essência de fenômenos de outros planos. afirmando que este é. um conjunto individualizado e delimitado de forças vitais. isto é. ou seja. empregar termos tirados do plano sensorial. uma continuação. O organismo vivo necessita de influência exteriores para a sua existência: a luz solar e a corrente ininterrupta da respiração e do metabolismo são fatores imprescindíveis para o crescimento e todas as demais manifestações da vida. embora estejamos conscientes de que em domínios não-físicos não se devam. os fenômenos ao seu redor. Essa observação é válida para todos os termos que empregaremos a seguir). como o homem e os mamíferos têm essas faculdades dentro de certos limites: uma ferida "cicatriza". sem preconceitos e de olhos abertos. Essa atitude certamente não seria apropriada a um cientista. ou virus. uma abstração. fosse o corpo etérico apenas um conceito. pois. Ele existe e dura por si. coloca-se apenas um rótulo numa incógnita. A biologia moderna procura minimizar as diferenças entre os reinos inôrganico e orgânico. embora não seja perceptível aos nossos sentidos comuns. que constituem formas de transição. o etérico tira a sua substãncia de um plano etérico geral (temos que empregar este termo "substância". a forma original se restabelece como se alguma força plasmadora central comandasse o comportamento dos tecidos vizinhos no sentido de uma volta ao aspecto anterior. elástico. veremos que o corpo do primeiro contém proporcionalmente muito mais água. a Antroposofia não afirma nada de novo nesse ponto. Os depósitos. Já vimos que o mineral encontra sua forma mais expressiva no cristal. sentidos superiores que lhe possibilitam observar fenômenos de planos mais elevados. de acordo com o grau de evolução alcançada pelo homem do século XX. os homens voltarão a possuir esses sentidos superiores em pleno funcionamento.). constituem uma invasão de matéria "morta" no corpo vivo. por assim dizer. e mais ainda no ancião. na matéria em estado sólido. cálculos. Na realidade. Mesmo em épocas posteriores. todos os homens possuiam esses sentidos. Seja permitido aqui.vivenciada. As numerosas doenças da velhice (esclerose. no récem-nascido. tibetano ou grego conhece esse corpo etérico e as correntes mais recentes reproduzem essa velha sabedoria em termos científicos modernos. atrofias. atingindo um ponto culminante na serenidade e na sabedoria contemplativa da velhice (desde que a fraqueza física não seja um empecilho). Mas como? Os nossos sentidos comuns só nos mostram objetos e forças físicas. o intelecto e todas as atividades psíquicas ainda não são desenvolvidas e a criança vive. plasmável. Os fenômenos vitais ocorrem só em meio úmido ou líquido. ao passo que a maioria dos homens já a havia perdido (veremos mais tarde por que e em que condições isso se deu). os quais lhes proporcionavam uma vidência suprasensível. em sentido oposto à força de atração terrestre. esclerotização. gota. Não existe vida sem água. as faculdades mentais. Ou antes: ele possui esses sentidos em estado latente. havia sempre indivíduos privilegiados que tinham essa clarividência. entregue às suas funções vitais e vegetativas. suas funções podem ser analisadas e investigadas por experiência própria e direta. a consciência e o domínio de si são plenamente desenvolvidos. constitui um enfraquecimento progressivo das forças plasmadoras do corpo etérico. O corpo etérico mantém a vida e atua contra a morte. com a conservação da sua plena consciência. a vitalidade está no seu máximo: o corpo é mole. muitas vezes cristalinos. Se voltarmos mais uma vez ao nosso exemplo do récemnascido e do ancião. 8 . podendo despertá-los por meio de um treino adequado. No futuro. desvitalizado. em épocas remotas. No adulto.) são uma indicação do triunfo das forças mineralizantes sobre as forças etéricas. Por exemplo. além dos sentidos físicos. nos seres vivos. ou seja. A Antroposofia indica o caminho que permite ao homem moderno. que marca o triunfo total das forças mineralizantes. a planta cresce "para cima". em contrapartida. Em todas as épocas da História houve tais iniciados e suas descrições são concordantes sobre os demais "objetos" da Antroposofia. observar que as forças etéricas não se enquadram na "causalidade" mecânica e deterministas que prevalece no mundo físico. egípcio. sobre o qual falaremos mais tarde. O corpo etérico pode ser "visto" (naturalmente não se trata de visão pelos olhos físicos) pelos indivíduos que atingiram um certo grau de clarividência. Assistimos. etc. Basta comparar um récem-nascido e um ancião para compreender a profunda verdade dessa afirmação. até o momento da morte. o corpo é ressecado. despertá-los pouco a pouco. Mas a ciência espiritual nos revela que o homem possui. que inspirados pensadores do passado já afirmaram que a vida é um contínuo morrer. É curioso observar. etc. a consciência. mineralização. a um processo de mineralização cuja presença no corpo humano pode ser facilmente observado. Afirma a Antroposofia que. esta aparece como transição para um estado puramente mineral. O esoterismo hindu. as funções biológicas são reduzidas e sujeitas a estados patológicos (disfunções. a esse respeito. etc.) mas também anímico. que poderia ser comparado a um campo de forças invisíveis. caracterizado por uma consciência que já se manifesta nos animais mais primitivos. 9 . Existe nele uma espécie de espaço interior. ele sente e reage. o animal está pronto e completo desde o seu nascimento. Ou antes. com o surgimento gradativo das suas partes. Sem querer entrar aqui em detalhes sobre as razões dessa denominação. mais isolado do mundo externo. mas que está presente nos animais. No animal há um "mundo próprio" de reações. a planta (e por extensão o animal e o homem) aparece composta de substâncias físicas (matéria) que se colocam "ao longo" de um corpo etérico. o corpo etérico. que não é apenas físico (estruturação do sistema do corpo. Ele atua no espaço e no tempo. Novamente podemos dizer que as observações sucintas que precedem não constituem novidade alguma para um observador curioso. de acordo com a genial descoberta de Goethe) está exposta e permeável às forças de fora. o animal vive em estado de vigília. Vejamos agora se podemos estabelecer uma diferenciação entre o reino vegetal e o reino animal (e humano). enquanto a planta é entregue ao mundo. Esse corpo. No homem ele torna possível toda a gama do sentir. instintos. pode ser chamado de "corpo se sentimentos". Verificamos. em estado de "sono". de parceiros sexuais). Também esse veículo aparece como um "corpo". além de dar forma. artrite) constituem solidificações em lugares onde o organismo plenamente vitalizado deve conter apenas líquidos. O que a Antroposofia acrescenta de novo é uma descoberta de suma importância. Além disso. Mas enquanto o campo é estático. O animal. que tem outra explicação). etc. que a planta é aberta: a superfície da folha (módulo constitutivo da planta. provoca também toda a dinâmica das funções vitais. Mas enquanto a planta aparece como um ser adormecido. de acordo com leis específicas do plano etérico. veículo das sensações e sentimentos. atitudes. simpatias e antipatias. Ela não tem vida "interior". Ao passo que a planta se realiza no tempo. a cada momento atravessada pelas suas influências. o animal passa por estados alternados de sono e de vigília. parece-nos mais "fechado". Nestes últimos.Os próprios depósitos (cálculos. assim a matéria "enche" a forma não física do corpo etérico. Uma observação empírica e sem preconceitos pode revelar-nos os seguintes fatos: Tanto o animal como a planta vivem. ainda. órgãos com funções definidas. instintos e paixões. ao passo que as forças etéricas são de ordem superior. e isso não apenas fisicamente. Assim como a limalha de ferro se coloca nas linhas do campo magnético. Daí o nome "corpo astral". colóides ou outras formas ainda plásticas e maleáveis. gracas ao qual ele ocupa um lugar isolado dentro da natureza. quero lembrar apenas que antigas correntes esotéricas vislumbram uma relação entre as forças planetárias (em latim: astra) e os órgãos do homem e sua vida anímica. tem impulsos (procura de alimento. Ele cresce em tamanho mas não se diversifica (vamos desprezar aqui fatos como a metamorfose dos insetos. pode "aprender". Em resumo. Rudolf Steiner deu-lhe o nome de "corpo astral". Esse veículo é que permite ao animal ter sensações. por seu lado. desde o instinto até os sentimentos mais nobres e sublimes. todos os fenômenos aludidos são ligados à existência de um veículo que não existe nas plantas. Um grau mais elevado de vidência permite ao iniciado perceber esse corpo por meio de outra série de órgãos superiores (dos quais falaremos mais tarde). mas de uma "substancialidade" ainda mais refinada e sutil do que a do corpo etérico. o campo magnético ainda é um fenômeno produzido por forças inerentes à matéria. mas antes uma alma de grupo que se manifesta através dos corpos astrais de todos os membros de uma espécie. utilizando para isso o ar. que se traduz pelos órgãos ocos. "auréola" na pintura ocidental). o elemento atribuído ao mundo animal era o ar (no sentido da divisão antiga do mundo em quatro elementos). Rudolf Steiner não atribui aos animais uma "alma" individual. Esse corpo astral é "superior" ao corpo etérico. a clarividência revela que o seu "aspecto" depende dos sentimentos que prevalecem no indivíduo observado. A presença de elemento "ar" se manifesta de manifesta de muitas maneiras. pois não podemos falar de indivíduos entre os animais. e de fato. Quanto mais um animal se afasta das funções puramente vegetativas (que o aproxima mais da planta). Todo movimento é dirigido. etc. ao qual se dá também o nome de "aura". pelo qual participam de um terceiro plano. Quanto mais puro e menos egoístas os sentimentos. o corpo de qualquer animal contém esses espaços tridimensionais vazios. Como o conjunto das forças anímicas também é chamado "alma". Esse vazio foi. mais o elemento "ar" passa a dominar sua vida. 10 . a especialização de funções. é plana e pode ser considerada como bidimensional. desde tempos remotos. e cuja primeira aparição se dá no estado de gástrula do embrião. Dissemos que o animal é mais fechado. Para compensar esse isolamento. fome. como se um impulso de grupo lhes orientasse a vida. com certas faculdades existentes neste último.Estamos. animus (vento. Dai o costume de representar o corpo ou a cabeça de pessoas "santas" envoltos em uma aura clara e luminosa ("mandorla" na Índia. mais claro e brilhante o corpo astral. 2) Ele emprega um sistema sensorial e nervoso que estabelece o contacto com o mundo. sopro) e animal (animal). esse terceiro membro da sua entidade. Demos agora mais um passo procurando diferenciar o homem do animal. ar. em presença de mais um "corpo" que permeia o corpo visível do homem e do animal. Enquanto a respiração das plantas (diferente da fotossíntese) é uma corrente contínua. além do corpo físico e do corpo vital (ou etérico). Era uma tradição cujas origens remontam às épocas em que ainda se podia perceber o corpo astral como resultado de uma clarividência geral. podemos estabelecer paralelos interessantes entre as palavras latinas: anima (alma). mais separado do mundo. possuindo algo a mais que o distingue dele. Ambos possuem. Devemos perguntar se o homem é apenas um animal evoluído. o animal inova em três domínios: 1) Ele se move em seu ambiente. o chamado plano astral. embora naturalmente não se trate de cores físicas. pois. ou se o homem é fundamentalmente diferente de qualquer animal. Essa consciência fá-lo reagir de maneira típica e característica a cada espécie. Ele provoca no corpo físico e no corpo etérico. Falando mais especificamente do corpo astral humano. Enquanto a folha. Os animais superiores possuem a faculdade de manifestar seus estados anímicos pela voz. individual. ela se efetua na maioria dos animais como alternação rítmica da inspiração e da expiração. porém mais aperfeiçoadas e desenvolvidas. unidade constitutiva da planta.). Não se trata evidentemente de uma consciência lúcida. posto em relação com o ar. portanto. O movimento lhe permite tomar a atitude ou buscar o lugar mais propício para a realização dos seus intentos (fuga. Todos os exemplares de uma espécie se comportam e reagem de maneira igual. dominando-o. sexo. pelo grito. 3) Ele vive e age com uma certa consciência. O vidente fala em "coloração" desse corpo astral. Por esse motivo. Mas voltemos à nossa caracterização do animal frente ao reino vegetal. Mais ainda. diferente de todos os demais seres humanos. representar-se as consequências futuras de um ato ou lembrar concretamente as consequências de um ato passado. As grandes religiões viam no homem um ser basicamente diferente do animal. ele pode provocar um sentimento por uma pura representação mental: eu posso pressentir os gozos gastronômicos pela simples imaginação de um suculento jantar. Enquanto os animais atingiram um estado de vigília ao qual não hesitamos em dar o nome de consciência. é necessária a presença física do fato causador. A presença do dono provoca sempre. a sensacão. Além e acima dos três "corpos" inferiores (físico. opor-se ao mundo numa relação sujeito-objeto. de escolher entre vários atos possíveis. A Antroposofia é da mesma opinião. como exemplos típicos. sentar junto a uma mesa. Qualquer abelha constrói favos perfeitamente hexagonais. verdadeira parcela espiritual. o animal segue trilhas fixas e predeterminadas pelas características da sua espécie. mas só o homem pode. O cachorro pode até sofrer quando lhe falta essa presença. Mas uma coisa é memória.os domésticos já sofreram a influência do homem). Tudo isto é impossível ao animal. mas para isso. Ele pode representar de maneira abstrata as suas vivências sensoriais e elevar-se a representações. mas só o homem pode compreender as relações e o princípio de construção de um hexágono regular. fazendo o homem descender em linha reta do animal. um ser ou uma situação da qual não há mais vestígio. os animais não têm individualidade. a mesma reação. uma vez percorrido o trajeto certo. repete-se quando a mesma causa está presente.As teorias evolucionistas tradicionais seguem a primeira hipótese. ele pode ponderar vários motivos. por além da presença da causa. 11 . pois um centro autônomo da sua personalidade. O homem pode dominar-se. e do qual tem uma experiência direta e insofismável. 4) Das três faculdades descritas nasce a capacidade do homem de livrar-se das influências do meio. 3) O homem tem memória. Quando fala desse centro ele diz "eu". outra. como faculdade de recordar mentalmente qualquer situação vivida. isolando-se por completo e podendo até resistir a essas influências. Somente ele pode agir moral ou imoralmente. Cessando a causa que lhe provoca uma sensação ou sentimento. o animal. um quarto elemento constitutivo da sua identidade. Isso pressupõe uma série de faculdades que não encontramos no animal: 1) Só o homem pode pensar. Ele é irresponsável. o qual constitui o âmago da sua essência. 2) O animal está entregue às suas sensações e sentimentos. renunciar a um prazer ou à satisfação de um desejo. Mas só o homem pode representar-se. Nenhum animal pode dominar seus instintos por uma decisão autônoma. 5) Em consequência disso. todas as tartarugas ou abelhas reagem de maneira idêntica e típica.Esta afirmação parece temerária quando se pensa na alegria de um cachorro quando seu dono volta após uma ausência prolongada. não! . só o homem tem consciência de si próprio. O homem possui a durabilidade dos sentimentos. agradável ou não. a cada vez. eles são dirigidos por almas de grupo. é que o distingue do animal. acaba também o estado anímico. o fato de reconhecer. pois. os animais selvagens . O homem possui. etérico e astral) o homem possui. Cada homem é um ser único. No homem aparece a verdadeira individualização. Com efeito. e esse eu ou ego. como se seus impulsos fossem dirigidos de fora (Para estas considerações deve-se tomar. No caso do animal. Não seria impossível ensinar a um rato ou a um cachorro achar o seu caminho num labirinto. a autoconsciência que o faz ter plena noção de si mesmo frente ao mundo. A memória. singelo. só o homem pode ter a liberdade de agir. sob a forma de imagens. é uma faculdade exclusivamente humana. conceitos e idéias. Ou melhor: ele é esse eu (ego) ao qual os três corpos servem apenas de base ou envoltório. representar-se a imagem abstrata do labirinto e fazer dele um desenho. O homem se desenvolve não somente pela aquisição de novos conhecimentos e técnicas. ou seja: 1) A alma sensível ou ainda alma da sensação: ela traz a consciência das sensações. de uma dor. mas constitui. o eu pensa. A alma distinta da corporalidade e do eu. O homem é criação e criador. E com muita razão. instintos e atividades psíquicas conscientes e inconscientes. Ela possui faculdades que fizeram sua aparição gradativamente no decorrer da História. de certa forma. os quatro membros da entidade relacionar-se. o pensar e a memória estão ligados ao corpo etérico. O eu sente e age através desse instrumento. constituindo seu veículo na vida terrena. A presença do eu faz o homem. O homem nem sempre foi homem. de certa forma. o apanágio espiritual do eu. o homem vivencia o mundo. o qual. como pensador. pois como que um elemento de ligação entre o eu e o mundo. Ele vive e viverá adquirindo novas faculdades. Para maior simplicidade a Antroposofia até fala em três almas (Aristóteles e outros já haviam falado em várias almas). O eu lhe dá a sua personalidade. mais adiante que o princípio da evolução reina em toda a existência. Já vimos que o corpo astral é o veículo para sensações e sentimentos. por exemplo. o eu não está sujeito às limitações do espaço e do tempo. cobiça e renuncia. instintos e paixões. por exemplo. para a memória. Estes estão a serviço de eu. Criado por forças exteriores a ele. mas naturalmente não é o cérebro que pensa. mentais e morais. o eu ama e odeia. Veremos. em nós. O espírito é. de uma cor. com os quatro "elementos" dos gregos. o homem participa de um plano superior ao plano astral ou anímico. tornando-se autônomo e criador. embora de maneira bem diversa da imaginada pelo darwinismo e outras escolas bio-históricas. Ele é eterno. acrescenta ao mundo algo de novo. Através da alma sensível. filósofo ou artista. Desde há muitos séculos. pois. a vivência de uma impressão sensorial. o cérebro é imprescindível para o pensar.Pelo seu EU. Não é ele que pensa. libertou-se dessas forças criadoras. Por meio do eu. por assim dizer. pois o elemento do fogo é. Ele continua a obra de criação. de uma obra musical. os poetas falam de "fogo" da personalidade. Contudo essa alma não é homogênea. serve exclusivamente a tornar possível a "vida". ele serve ao homem apenas como veículo físico para o pensar. Ele evolui sobretudo pelo aperfeiçoamento das suas faculdades anímicas. a planta e o animal são criações. Dessa presença recebem os corpos inferiores suas feições e funções diferentes das que existem nos animais e nas plantas. e deverá alcançar futuramente estados superiores ao meramente humano. um adversário daquilo que. comete atos bons e atos maus. A sua própria "egoidade". que se chama vulgarmente de "alma". por exemplo. sente e deseja através dos seus corpos inferiores. Assim. Da mesma maneira. independente e alheio às características passageiras dos seus corpos inferiores. 12 . plano que podemos chamar de espiritual. possui um elemento espiritual individualizado e singelo que constitui o centro do seu ser. o homem pode dominar e purificar seus sentimentos. constitui. O mineral. Vemos. o grau da sua consciência e da sua maneira de pensar têm evoluído no passado e evoluirão no futuro. do amor e do ódio. Sua liberdade está em oposição ao determinismo inelutável que domina os reinos inferiores. é meramente anímico. o meio no qual se "guardam" as experiências passadas. na planta. Como elemento espiritual autônomo. Do convívio do eu com ele e com os corpos inferiores nasceu um conjunto autônomo de atitudes e faculdades. Diremos que a "alma" se manifesta de três formas. Toda ética tem a sua razão de ser nesse antagonismo. o homem é constituido pelos quatro membros da sua entidade. é o "espírito vital" (Lebensgeist). acima descritos.espírito" (Geistmensch). Ele se abrirá ao espírito cósmico para transformar os impulsos recebidos "de cima" em aperfeiçoamento e purificação dos corpos astral. Essa aglomeração está longe de ser harmoniosa. começando pelo corpo astral. o eu. No futuro. Ele se sente distanciado. 13 . Esse esforço já nos leva ao desenvolvimento futuro da humanidade. sofre por seu isolamento. O corpo astral assim espiritualizado por um trabalho consciente do homem constituirá. o corpo físico é a base material da sua existência atual. um futuro novo "corpo" do homem. o eu criará. A abstração e o pensar são resultados da existência dessa alma do intelecto. No presente. Steiner lhe deu o nome de "personalidade espiritual" (em alemão: Geistselbst). Com ele o homem reage. Com essas perspectivas do futuro chegamos bem longe da atualidade. são perfeitos. etérico e físico. ele deve restabelecer a ligação entre a parcela espiritual do seu eu e a espiritualidade universal. O corpo físico. abandonado. é chamado de "homem. os quatro membros da entidade humana fazem-se presentes: Podemos também dizer que o indivíduo. Um grande esforço é necessário para que o homem possa transpor o abismo que a própria alma consciente rasgou entre ele e o mundo. ele compreende o mundo. durante a sua vida. Ciência e filosofia são seus frutos. Sem qualquer atuação consciente do eu. deverá tomar o seu destino nas próprias mãos. que entrementes terá atingido a plena maturidade e autoconsciência. ele constrói o universo interno de representações mentais. a nossa vida traz um desgaste constante dos vários membros da nossa entidade. mais "densos" e menos maleáveis. Finalmente. SONO E SONHO Durante o estado de vigília. Ele é o indivíduo. Com efeito. Nesse trabalho árduo e difícil de "espiritualizacão" consciente dos corpos inferiores. que nem o nosso corpo. a memória e outras faculdades. pois. novas camadas de seu ser. as três almas se desenvolveram pouco a pouco ao longo da história do homem. Ele põe em ordem as sensações recebidas. O corpo etérico transformado.2) A alma do intelecto ou do sentimento: por meio dela o homem formula pensamentos. 3) A alma consciente ou alma da consciência: traz ao homem a consciência dos conteúdos não-materiais do mundo ("idéias") e da sua própria individualidade e o choque entre o seu ego e o mundo. as três almas são o fruto da simples existência do eu e dos três corpos inferiores. O corpo astral recebe os impulsos e impressões dos mundos físicos e superiores. nem a nossa alma. é o centro do seu ser. quando imagem pura e regenerada do mundo espiritual. Ele fornece a matéria para os instrumentos que permitem ao homem participar do mundo físico. novos membros futuros. de pensamentos e de idéias. sua verdadeira enteléquia. por assim dizer. para constituir o seu ser. "substâncias" de quatro planos. por experiência própria. pensa e entra em intercâmbio com a realidade. nem o nosso eu como ser moral. reúne. que lhe oferece menor resistência do que os corpos etérico e físico. como já vimos. Num trabalho árduo. duvidando de tudo e não se dando mais por satisfeito com explicações fornecidas pela alma racional. segunda etapa da evolução futura. Sabemos. Ao contrário. O corpo etérico lhe dá a vida e fornece o instrumento para o pensamento. em consequência. O eu. Ele impregnará com suas próprias forças e propriedades os três corpos inferiores. Ambos têm experiências notáveis. Para se regenerarem desse desgaste. uma cobiça excessiva afeta o corpo astral. Desde tempos imemoriais o homem conhecia a natureza desse estado que possibilitava uma experiência velada de certas realidades espirituais. forças e seres superiores penetram no organismo e o corpo etérico se regenera pela entrada de impulsos e forças provenientes do plano etérico universal. o seu eu está na realidade em plena atividade. instrumento do pensar ficou na cama e sem a possibilidade de se lembrar mais tarde dessas experiências (porque o corpo etérico. Durante essa sua permanência nos mundos superiores. O sonho constitui. durante o sono ocorre uma separação da parte anímico espiritual da parte físico-etérica. inveja. Nos contos de fada autênticos encontramos a cada passo alusões à inspiração recebida nessas ocasiões. produzindo perturbações dos sistemas digestivo. Mas também a parte anímico-espiritual pode sofrer efeitos nocivos: em contato com o mundo surgem desejos irracionais e impulsos negativos (ódio. pelas musas. mas faltam-lhe as percepções sensoriais claras. o corpo descansa na cama.. instrumento da memória. o corpo astral e o eu recebem impulsos dos seres superiores que vivem nessas regiões. ou seja. Não devemos imaginar essa separação como simplesmente espacial. a personalidade. pois. os alimentos impróprios. mas só o clarividente pode observar esse fato.que a crença popular identifica como os anjos e demônios. Dos impulsos recebidos desses entes durante o sono dependerá o comportamento do indivíduo depois de despertar. fazem surgir então os sonhos. os sentimentos e os pensamentos. O eu traduz suas vivências e recordações e em imagens simbólicas. os impulsos nocivos. Não se manifestam a consciência. O corpo astral e o eu se desligam do organismo durante o sono e voltam para as regiões das quais originalmente emanaram. pois. Certas experiências do eu durante esse estado. reduzido ao nível de uma planta. pois aparenta apenas funções vegetativas. Teremos ainda ensejo de ocupar-nos detalhadamente desses seres. Uma ação má deteriora o ego. Aliviado da consciência. cobiça) que prejudicam a própria "substancialidade" da alma e do espírito.. etc. prejudicam o organismo. O homem está. enquanto existe a ligação com o corpo etérico. das sensações da vida anímica. os vários componentes do ser humano devem periodicamente afrouxar os laços que os unem. um estado intermediário entre o sono e a vigília. as quais podem até chegar à doença. A inconsciência do sono é. durante o qual o eu e o corpo astral estão "separados" do corpo físico. por imagens e formas do mundo exterior. a parte constituída pelos corpos físico e etérico. tampouco os acompanhou nessa viagem). combinadas com reminiscências da memória. Enquanto o homem aparentemente dorme. Daí a importância atribuída à arte de analisar os sonhos para conhecer a realidade espiritual ou para chegar à 14 . mas sem pensamento próprio porque o cérebro. Uma sabedoria antiga conhecia essas influências: os homens se deixavam inspirar durante o sono pelos deuses.A própria consciência. a plena consciência e o pensar racional que não podem prescindir do instrumento do corpo físico. permitindo a cada um haurir forças renovadoras em seu próprio meio. em presença da sua "memória" (ligada ao corpo etérico) e pode exercer certas funções mentais (igualmente ligadas ao corpo etérico). porém sem lógica e clareza. etc. Nesse estado inconsciente. as impressões feias. circulatório. Falei em seres superiores. Aqui bastará dizer que existem seres "bons" e "maus" . Antes do adormecer e do acordar existe um estado de pouca duração. Ele é caracterizado por uma consciência reduzida. Esse fenômeno constitui o sono. pois. uma necessidade imperiosa para todo ser dotado de uma consciência desenvolvida. Com efeito. Com efeito. Sonhamos. problemas não resolvidos martelam seu espírito de maneira incoerente.Jung). mas são imagens instantâneas que somente ao recordar são mentalmente decompostas em várias fases sucessivas. reprimidos durante a vigília e sem possibilidades de subir à consciência. Assim.verdadeira personalidade do homem que se revela durante o sonho quando inexistem os tabus sociais e as barreiras que fazem com que o caráter se dissimule durante a vida normal. tomada antes de dormir. justamente. é uma experiência feita pelo eu. Há sonhos causados pelo próprio corpo. há pessoas que ao despertar sabem que no sonho lhes apareceu um ser espiritual superior com uma mensagem ou uma revelação. Um tipo de sonho ainda mais significativo é aquele onde o indivíduo encontra pessoas vivas ou mortas. Vemos mais uma vez que o sonho é simbolizador. que tamanho papel tiveram em tempos passados. Não há adormecer ou despertar sem sonho. Muitos sonhos são determinados. os desejos mais íntimos do eu. Ou queremos entrar num edifício ou. o homem é perseguido pelas reminiscências do dia. etc. Querubins.). por exemplo. pois impede uma separação suficiente e benéfica entre o eu e a parte orgânica. por influências do ambiente. ódio. verificamos que o despertador provocou o tilintar no sono: eu recordo toda uma estória que o precede. Transcendendo os limites do espaço. delas recebendo uma mensagem que amiúde se confirma. e muitas vezes o próprio órgão pode aparecer sob uma forma simbólica (intestinos = serpente. podemos indicar alguns tipos relevantes de sonhos: 1. Um sono repleto de sonhos dessa espécie não é regenerador. São os chamados sonhos proféticos. sonhamos muitas vezes com a volta ao corpo sob forma simbólica. podemos sonhar uma estória. 3. 5. mais tarde. na maioria dos casos. Esse fenômeno figura nos fundamentos de muitas análises psicoterapêuticas. um incêndio no sonho pode ter por causa o calor excessivo provocado por um cobertor. Muitas vezes também. Acordados. Sem pretender sermos completos. pode provocar pesadelos. A arte de interpretar os sonhos consiste. sangue = água). na realidade: uma pessoa ausente pode nos dizer no sonho que está doente ou morta. no seu enredo. certos impulsos (vingança. Ao despertar. aqui. porém. cobiça) manifestam-se de modo irrefreado. Finalmente. que voamos e nos aproximamos cada vez mais do chão. podem ter livre curso no sonho embora sob forma simbólica. Nesse instante despertamos. Isso prova que os sonhos não se desenrolam no tempo. que termina no tilintar agudo de uma flauta tocada por um dos personagens do drama onírico. Anjos. desde os sonhos interpretados por José na Corte do Faraó (as vacas gordas e as vacas magras) até visões dos profetas (aparições de Serafins. a notícia confirmatória chega poucos dias mais tarde. 4. sem poder recordar um sonho concreto. Como já foi dito. de uma realidade no mundo espiritual. 2. O que se torna patente. Da mesma maneira. Em muitos sonhos. até bater nele. Esses sonhos também têm papel importante na psicologia moderna (especialmente em C. 6. amor. ou que elas "assistiram" a acontecimentos do futuro.G. em descobrir a "realidade" que se traduz em símbolos. e cujo final lógico é o tilintar. Uma refeição um pouco pesada. não o lembramos. Preocupações e angústias o acompanham. acordamos com a certeza de ter passado um tempo num outro mundo. o eu vivencia esse fato e o sonho o transforma em imagem. a morte de qualquer pessoa é um acontecimento que se reflete naquele domínio. dente = torre. por 15 . os dois extremos. grega e germânica são alguns desses seres. conhecimentos e poderes superiores aos do homem. com a fase transitória do sonho. Ele atua em todo o corpo. parece indicado dizer mais algumas palavras sobre esse assunto. Aqui o corpo é representado pelo símbolo da torre. sonho e sono correspondem a três graus diferentes de consciência. nesse sentido. Não o conseguimos durante algum tempo. por assim dizer. O leitor desejoso de conhecer detalhes mais amplos deve consultar a obra de Rudolf Steiner. O sono. até que finalmente quase irrompemos nela à força e acordamos.seria ainda mais apagada do que a do nosso sono mais profundo. ensinando que ele está centrado na cabeça. Rudolf Steiner chama de sistema neuro-sensorial. no estado de vigília. O pólo oposto é constituído pelas funções completamente inconscientes do metabolismo e da vontade traduzida em movimentos (o homem tem a representação clara dos motivos e do resultado almejado de um ato de vontade. e com o grau de consciência intermediário entre a lucidez completa do sistema neuro-sensorial e a inconsciência do sistema metabólico-motor. As divindades da mitologia hindu. Que são eles. anestesia) não são. A esse sistema. ao vidente. acha-se o sistema circulatório (respiração. seres que possuam faculdades superiores. A esse sistema corresponde a vida sentimental e um grau de consciência que equivale ao sonho. cristianismo e islamismo) existem arcanjos. Podemos dizer que o homem é homem somente quando. circulação). Entre esses dois pólos. sem precisar. Os três estados: vigília. uma vez serem nitidamente superiores aos seres humanos? O cristianismo. A consciência dos minerais . fala ao mesmo tempo de Anjos. Serafins e outros seres respeitabilíssimos. neste capítulo. de um corpo físico. é. para sua existência. pois. muito embora o corpo todo possua percepções sensoriais. anjos. um fenômeno que decorre de uma necessidade rítmica de todo o nosso ser. Existem também no próprio homem zonas ou sistemas diferenciados por vários graus de consciência. numa torre. acima do homem. Querubins. de seres superiores. Com efeito. hipnose.exemplo. também nas religiões chamadas "monoteístas" (judaísmo. demônios e diabos. mas o "funcionamento" e a realização do impulso volitivo lhe são completamente ocultos). Rudolf Steiner teve a intuição genial da trimembração do organismo humano. a existência de tais seres. mantendo o dogma israelita "Deus é um". enquanto a planta vive numa inconsciência total correspondendo ao nosso estado de sono. que tem por sede a parte torácica e que liga. Não existe religião que não fale de seres elevados possuidores de inteligência. mas seu centro está no abdome e nos membros. "naturais". cuja essência pode ser resumida da seguinte forma: O homem é plenamente consciente em seu pensar e em suas observações sensoriais. A experiência suprasensível revela de fato. e a Antroposofia contém descrições detalhadas dessas "hierarquias superiores". esses entes 16 . Como explicar essa multidão de "deuses"? Admitindo-se um caráter evolucionista do cosmo (voltaremos a esse assunto mais adiante) nada impede de imaginar. e perturbam o equilíbrio forças físicas e psico-espirituais. Esse outro pólo constitui o sistema do metabolismo e dos membros. Compreende-se facilmente que sonos ou sonhos provocados artificialmente (narcóticos. é plenamente consciente e lúcido. A Antroposofia ensina que a consciência do animal é semelhante (embora não idêntica) à nossa consciência de sonho. Já que se falou.se é que podemos ainda falar em consciência . isso se deve à influência desses Arqueus.  Os "Espíritos da Vontade" ou Tronos representam a vontade divina como impulso básico de todo o Universo.  Acima dos Arqueus existem os "Espíritos da Forma". pela sua própria experiência. o fato espiritual correspondente é que um arcanjo começa a atuar pouco a pouco sobre um certo número de indivíduos. Mas em épocas passadas. Aggeloi). de faculdades e funções.  Os Arqueus. Cada homem tem. fogem a qualquer análise humana. Rudolf Steiner soube completar os conhecimentos tradicionais a esse respeito. Cada povo tem o "seu" arcanjo que lhe determina as características étnicas. O próprio Velho Testamento fala repetidamente desses seres por ocasião das visões dos grandes profetas. Onde está "Deus" nesta hierarquia? Em que consiste a Trindade? O conhecimento humano não pode aspirar a abranger essas alturas da existência cósmica. certos indivíduos mais evoluídos tinham a capacidade de "perceber" esses seres e de ter contato com eles.pertencem a vários níveis de evolução.  Os dois grupos supremos. o seu "anjo".  Os "Espíritos do Movimento" ou Dynameis constituem a próxima hierarquia. cada um caracterizado por um novo grau de consciência. Seria temerário 17 . São os regentes cósmicos de todos os ritmos e movimentos. O esoterismo cristão de um Dionísio Aeropagita já continha uma descrição pormenorizada dos "coros dos anjos". em todos os povos evoluídos. que o nosso "eu" nos foi originalmente "dado" pelos Exusiai. O nosso espírito humano é naturalmente incapaz de captar totalmente os estados de consciência desses seres. Isso não impede que o homem. e o próprio São Tomás de Aquino repetiu essa doutrina com pleno endosso da sua própria sabedoria. Quando um povo se forma como tal (por exemplo. desde as formas harmoniosas da natureza até os grandes princípios da sabedoria cósmica que filósofos como Aristóteles ou astrônomos como Kepler ainda vislumbravam como que por intuição. mas a povos e outros agrupamentos. Apesar disso. fazendo nascer neles um espírito de comunidade e a sua diferenciação étnica e histórica dos outros povos. consiga libertar-se de tal influência criando as condições para seu próprio livre arbítrio. Tudo o que se passa em nosso mundo resulta da ação e da influência de tais seres.  Os chamados Arcanjos (Archaggeloi) já não são dedicados a indivíduos. Veremos. em determinado grau do seu desenvolvimento. são os líderes espirituais de toda uma época. ou "Espíritos de Época". A Antroposofia não pretende inovar nesse campo.  Imediatamente "acima" do ser humano encontram-se entidades que as várias religiões chamam de Anjos (em grego. Quando novos impulsos aparecem na história da humanidade. os Serafins (8) e os Querubins (9). ao mesmo tempo. caridade e elevação da alma. ou Exusiai. o povo suíço ou belga). São os seres mais elevados ainda acessíveis ao ser humano e constituem a parte dos impulsos mais puros do amor. A "imanência" dessas entidades é total. São idênticos aos Elohim da Bíblia. Ele mostrou a ligação íntima desses seres e da sua atuação no nosso mundo e sobre o homem. portanto. é possível descrever-lhes certos aspectos. fato que se traduz no conceito popular de "anjo da guarda". São entes cujo "corpo" mais baixo é o corpo etérico.  Os "Espíritos da Sabedoria" ou Kyriotetes permeiam de suas emanações tudo o que nos aparece como repleto de sabedoria. Entre as suas múltiplas funções há aquela de constituírem elementos de ligação entre o homem e os mundos superiores. mais tarde. o corpo astral estabeleceu. muitos laços com o mundo físico. o eu. pois não existe mais corpo físico nem etérico. Na vida. Encontramos outra imagem no mito de Tântalo. No momento da morte. é quem. no plano etérico geral. Deus! Mesmo assim. a obra de Steiner contém profundas revelações sobre o Mistério de Deus e da Trindade. Tentar descrever "Deus" já seria uma blasfêmia. a sua fome não 18 . pendores e paixões que não podem mais ser satisfeitos. Restam. tais desejos podem deturpar o corpo astral. em todos os seus detalhes. que após a sua morte. numa fração de segundos. A VIDA DEPOIS DA MORTE Durante o sono. da mesma forma. Aparecem-lhes pequenas partes da grande vista panorâmica acima descrita. sofria de uma sede insaciável. somente puderam aproximar-se dele com um balbuciar de humildade. ou em estados extremos de debilidade vital. em consequência disso. sem a dimensão do tempo: o corpo etérico. o eu e o corpo astral. desenvolvendo desejos. os quais durante muitos decênios tinham caído no mais completo esquecimento. Essas pessoas lembram-se de detalhes da sua vida pregressa.fazer afirmações a esse respeito. como num filme. mas não onisciência. o corpo astral e o corpo etérico separam-se do envoltório físico. em particular da sua infância. que continuam juntos numa existência caracterizada por uma série de vivências sumamente importantes. que experimenta qual uma chama ardente. e mesmo os maiores iniciados. como por exemplo. a água fugia. Nesses casos a separação não é suficiente para provocar a morte. Ao deixar o corpo físico. a Antroposofia não promete revelar "tudo". e passa a seguir as leis físico químicas do mundo mineral. embora estivesse na água: no momento de querer haurir o líquido. Separações parciais e momentâneas do eu e do corpo etérico podem ser observadas também durante a vida em caso de choques. A Antroposofia é ciência. apareceu-lhes a vida inteira. mas basta para proporcionar ao indivíduo uma experiência parecida com aquela que todos nós temos depois da "morte": muitas pessoas salvas de afogamento ou de uma queda na montanha contam que. a memória de acontecimentos remotos torna-se cada vez mais clara. pois. possuidor dessas imagens. insaciáveis fora do corpo físico. Em grandiosos panoramas aparece-lhe toda a vida passada. desaparece essa barreira e o eu se encontra subitamente em presença da totalidade dessa "memória". acidentes. Este passa a sofrer desses desejos. uma espécie de extrato é conservado de uma forma mais ou menos individualizada. Na medida em que ultrapassam os impulsos naturais relacionados com as funções de uma vida normal. Rudolf Steiner. são incapazes de memorizar fatos novos.. o eu e o corpo astral "abandonam" o corpo físico deixando dentro deste apenas o corpo etérico. Depois de aproximadamente três dias após a morte. Se soubéssemos tudo. matéria sem vida. Todavia. em geral. durante a vida passada. Qualquer outra atitude seria de presunção e de prepotência. a simples presença do corpo físico com os instrumentos físicos do cérebro e dos sentidos impediu a percepção do conjunto das impressões e experiências conservadas no corpo etérico como "memória". seríamos. na religião cristã. Com efeito. o corpo etérico é igualmente deixado "para trás" e se decompõe. apresenta-as ao eu. Daí a imagem do Purgatório. como um lugar onde se purificam num fogo incandescente os maus instintos e desejos. pouco a pouco. nesta altura.. de uma maneira nebulosa e pouco consciente. Aliás. herói grego. estas destroem a forma do corpo. Este se torna "cadáver". que rapidamente se decompõe. Um afrouxamento gradual dos laços que unem o eu com o corpo etérico é verificado também em casos de doença em pessoas idosas. Ela tem os seus limites e procura apenas alargar o nosso campo de observação. o corpo físico permanece vivo. Enquanto os velhos. permeando e sendo permeado. constituem o ambiente dessa região espiritual que não pode ser adequadamente descrita por meio de palavras humanas. tem um conteúdo espiritual real. mais exatamente. invenções.podia ser satisfeita: cada vez que queria pegar uma maçã que pendia e sua frente. a nenhum "céu". mais intensa será a consciência nessa região espiritual. num intercâmbio íntimo e permanente com o seu ambiente. um terço). Os desejos espúrios e as aberrações são. O homem que teve tais sentimentos. de ódio. Essa "apresentação de contas" traz outro grande sofrimento nesse período post-mortem cuja duração é de aproximadamente um terço da vida passada (ela corresponde. ou cometeu tais atos. de todos os instintos e paixões desenvolvidos em desobediência és eternas leis espirituais. sofre agora como se ele fosse a vítima. Sente-se como que fazendo parte desse maravilhoso universo. são vividos novamente. outros eus de homens "mortos" ou vivos. Quanto mais evoluído moralmente na Terra. escultura ou peça de música. Inicia-se então uma vida do eu numa região puramente espiritual. julga a si próprio ante o fundo da realidade espiritual. Ele deixa atrás de si o corpo astral. Mas o homem conserva uma imensa vontade de reparar e sanar o mal cometido e aspira a uma oportunidade de fazê-lo. o eu possui também a lembrança de todos os atos cometidos. O eu convive com essas formas e esses entes. de cinismo. como consequência de impulsos baixos e maus. Sua consciência é inteiramente diferente daquela da Terra. irradiando e recebendo. Assim. começando pela morte e prosseguindo até o nascimento. Somente após esse período fica o eu livre das impurezas anímicas que lhe aparecem personificadas como seres fora dele mesmo (imagens de dragões e animais horríveis em muitos contos de fada). ou seja. e não apenas um ato íntimo sem consequência e sem realidade intrínseca. tudo que tiver realidade na Terra aparece nessa "região" sob forma arquétipa. uma obra de arte. A estada post- 19 . Atos e sentimentos de violência. mas a si próprio. Ali o eu vive a sua vida passada. Como se vê. O ocultismo hindu deu a esse "purgatório" a denominação de kama-loka. descobre que o mal cometido prejudicou não somente a vítima direta. essas velhas crenças e imagens tem um fundo de verdade que nos faz considerá-las com profundo respeito. que se desintegra no mundo também astral. criações artísticas ou simplesmente pensamentos. Os "modelos" ou "idéias" das formas terrestres. não aludimos a nenhum "lugar" no cosmo. Contudo o eu vive num ambiente repleto de outros seres espirituais: hierarquias superiores. mas de forma muito mais intensa. independentemente da sua aparência física sob forma de quadro. Autor de condenáveis ações. Um fato curioso e que a experiência da vida passada é realizada de maneira retrógrada. mas sente também que só numa vida terrena lhe é dado progredir a aperfeiçoar-se moralmente. aprendendo. por exemplo. por assim dizer. o galho recuava e a miragem do fruto se afastava. os impulsos espirituais que se manifestam na Terra. ficando apenas como uma espécie de extrato que acompanhará sua peregrinação futura. Se dissemos que o eu entra a essa altura numa região puramente espiritual. Estamos longe do espaço e do tempo. Devemos considerar o "espírito" não como um simples conceito ou como uma faculdade humana ("um homem de muito espírito") mas como uma substancialidade sui generis. "queimados" ou purificados durante essa evolução. Além desses sofrimentos. Até mesmo cada pensamento humano é uma realidade espiritual que permanece. por exemplo sob forma de guerras. a soma do tempo passado em sono: de fato o homem dorme em cada 24 hora mais ou menos 8 horas. pois. para voltar a encontrar os seres humanos e situações que enfrentou no passado. pois. Somos nós os artífices do nosso carma. em determinada família. que formará seu corpo astral adequado. Com efeito. aproveitando a lição e o extrato das vidas anteriores. o eu é o mais imperfeito. O eu se reencarnou e inicia uma nova série de experiências. pois. Uma observação superficial nos mostra que. por meio de atos. Nesse ínterim. Mas também o corpo astral com seus desejos e paixões desenfreados. participando dela e influenciando-a dentro de certos limites. seu começo e seu fim. o eu humano está no nível inferior das hierarquias mas os entes superiores o ajudam. vestirá um corpo etérico tirado da substancialidade etérica geral e. Na vida espiritual. Prepara uma nova vida terrena. por seu lado. suas 20 . o eu sente. São dois estados alternados e ritmicamente opostos como o sono e a vigília. Uma nova vida começa. de meditação cósmica e de preparo de uma existência futura. influenciam-no e participam na elaboração de um programa que lhe deve permitir progredir numa vida futura. unir-se-á a um germe de corpo físico no momento da fecundação. para evoluir ética e mentalmente. percorrendo em sentido inverso regiões percorridas após a morte.mortem nos mundos espirituais é apenas uma fase de "avaliação". uma vez que o homem só desperta de vez em quando para a verdadeira autoconsciência e atua só em casos excepcionais com verdadeira reflexão e livre arbítrio. que toma consciência de si num universo perceptível formado pelos três reinos inferiores e elevando-se "para cima" a planos superiores habitados por seres que lhe são imensamente superiores. cabe-nos estudar agora o caminho percorrido pelo homem até atingir o seu estado presente. Há em tudo isso um sentido profundo. novas experiências físicas. preparadas durante a estada nos mundos superiores em colaborarão com as hierarquias superiores e constituindo como que um novo capítulo na corrente das suas encarnações anteriores. Aí começa o caminho de retorno à Terra. evoluíram Do alto da sua existência espiritual o eu acompanha essa evolução. compensar males causados a outrem e enfrentar novas situações. para aprender mais. os efeitos prejudiciais da vida passada. Qualquer situação não resolvida chama por uma solução. ter uma educação de um certo tipo. tendo em vista não uma "felicidade" gratuita e efêmera. após um certo tempo. A EVOLUÇÃO DO SER HUMANO I . a Terra e os sers humanos na Terra. O eu desce pouco a pouco. uma vontade irresistível de voltar à Terra: para reparar. Tendo-se já mencionado o princípio da evolução que domina todo ser. Veremos nos capítulos seguintes qual o sentido dessa evolução. finalmente. estabelecendo novas relações e resolvendo problemas que ficaram sem solução. etc. Da mesma forma. A existência humana aparece. Da substância astral universal ele individualiza uma parte. como uma série de vidas interrompidas por épocas de excarnação. Veremos mais tarde o sentido dessa noção. encontrar certas pessoas. O "morto" deseja.ESTADOS PRÉ-TERRESTRES Conhecemos agora o ser humano como um ser desmembrado em quatro elementos constitutivos. intimamente ligada às vidas anteriores e futuras por um princípio de causalidade espiritual que os hindus chamaram de "Lei do Carma" (destino). mas podemos entender desde já que não há acaso no fato de um indivíduo nascer em determinado momento. das quatro partes da entidade humana. Cada vida aparece. e só por um ato terreno pode o eu procurar restabelecer a harmonia violada. mas o verdadeiro progresso do nosso eu. Em primeiro lugar. mas para bem compreender a situação presente é necessário conhecer algo da evolução que a ela conduz. a paleontologia e a geologia revelam-nos fatos valiosos do passado. convém frisar desde já que o homem atual é o produto de um trabalho efetuado pelas hierarquias superiores. e cujas influências se revelaram perturbadoras. empregando uma imagem bastante pitoresca. como é possível que o iniciado possa descrever o que se passou em épocas remotas. mas absolutamente nada do nosso mundo atual existia. remonta muito mais longe. Mas não há outra solução. Daí podemos inferir. o primeiro germe do corpo físico humano. como "espaço". está longe da perfeição. mas mesmo as teorias cosmogônicas mais ousadas não estendem o campo da sua observação (ou especulação) além de fenômenos materiais. que também não haviam atingido o seu grau de evolução atual. que o vidente está "lendo a crônica do Akasha". Isso nos faz voltar a um tempo onde nada. "calor". que o eu é o elemento mais novo. Uma primeira pergunta será sem dúvida levantada pelo leitor atento: Mesmo admitindo que a vidência permita observar fatos não-físicos atuais.cobiças. ou antes. Pois bem: assim como os fatos vividos pelo homem estão "gravados" em seu corpo etérico. A investigação esotérica confirma plenamente essa suposição. ou de observação de fatos a grande distância. graças a uma emanação. de expô-la em suas linhas gerais. a não ser que sofram os reflexos de uma vida anímica e espiritual defeituosa. Já as funções vitais. e mais ainda. dirigir o seu "olhar" espiritual para esse mundo etérico como o dirige para o corpo etérico de uma planta ou de outro homem. e essa matéria era tão sutil que poderia 21 . Veremos mais tarde que o homem é o produto do combate entre essas forças antagônicas. Foram elas que formaram e plasmaram todos os membros da sua entidade. seus instintos viciados. físicos. a um determinado grau do seu desenvolvimento iniciático. estão-se desenrolando em relativa harmonia. quando nada era parecido com o mundo atual? Lembremos que a memória do homem individual "reside" em seu corpo etérico. Esse corpo era como que uma massa ainda não individualizada de matéria. As forças que assim atuaram sobre ele nem sempre emanaram de entes favoráveis que quisessem influenciá-lo de modo harmonioso. "tempo". Seria absurdo querer remontar ao "começo dos começos". cumpre fazer algumas observações. o esoterismo moderno diz. Foi então criado. os processos puramente físicos. A história. produzida pelos Tronos. precursores do homem. explicam-se pela existência desse "meio" supra-espacial onde tudo deixa o seu vestígio. Convém lembrar que muitos fenômenos de telepatia. O clarividente pode. Antes. enquanto o corpo físico é o mais velho. A Antroposofia tem por objeto o homem. assim a substância etérica cósmica recebe a "impressão" de todo e qualquer fato que ocorre no mundo. Ele poderá então "ler" nessa memória cósmica as impressões feitas em tempos passados. existe o risco de provocar mal-entendidos ao empregarmos termos tirados da nossa vida atual. descrevendo estados prémateriais durante os quais já existia o homem. ou Espíritos da Vontade. Tendo que voltar a épocas remotíssimas. A Antroposofia. empregando os meios de observação aludidos. e assim procuraremos descobrir o momento do passado onde aparece o primeiro vestígio do homem. por um ato que pode apenas ser comparado a um auto-sacrifício. da sua própria substância. Sendo essa memória etérica denominada pelo velho termo hindu de Akasha. O que havia eram as entidades das hierarquias superiores. e devemos estar cônscios desse perigo. porém. etc. onde as condições exteriores eram totalmente diversas das atuais. Havia forças contrárias e opostas aos seres favoráveis. com uma certa probabilidade de razão. pois. sob sua influência. no Antigo Sol (pois é esse o nome que se dá à segunda encarnação desse Universo) dois reinos: um evoluído. O corpo físico passou ao estado gaseiforme. Nesse estado. pois. os precursores do nosso corpo físico receberam um corpo etérico e começaram a aparentar formas rudimentares de vida própria. Esse antigo estado.a existência equivalente à de um mineral. eram inconcebíveis nesse cosmo de extrema sutileza. ao contrário. sob cuja ação o precursor do homem evoluiu. Primeiro houve uma espécie de recapitulação da época anterior. Emergindo do estado puramente espiritual. Convém frisar que esses dois estados planetários não tem nenhuma semelhança com o Saturno e o Sol atuais. Depois de mais um lapso de tempo (devemos imaginar que essa evolução se verificou em períodos de tempo muito longos). os quais não puderam suportar a densificação progressiva do ambiente. tem no ocultismo o nome de Velho Saturno. certos espíritos das hierarquias superiores. O "nosso" grau de consciência naquela segunda encarnação da nossa Terra também era aquele de uma planta. os dois corpos se tinham reunido novamente. Outras hierarquias começaram então a atuar. Rudolf Steiner emprega a imagem de uma gigantesca amora.lembrar apenas o que chamamos hoje de "calor". na segunda encarnação. é designada pelo nome hindu de Pralaya. Mas em dado momento. "Vontade sob forma de calor" eis o primeiro estado do nosso "mundo". a evolução dos demais. a massa informe começou a diferenciar-se numa infinidade de pequenas partículas. que ainda percorria . e novamente como resultado da atuação das hierarquias superiores. o grau de evolução de uma planta (corpo físico e corpo etérico) tendo a substancialidade de um gás. Havia. Esses seres não puderam acompanhar. Para um espectador "de fora" ela se teria apresentado como uma grande esfera de calor resplandescente. isto é. ou noite cósmica. embora contivesse também o elemento de calor ou fogo. e outro atrasado. reflexo da atividade exercida "de fora" por certas hierarquias. nasceu um novo Universo. tudo voltando para um estado puramente espiritual.pela segunda vez . tendo. dois corpos possuindo configuração e características diferentes. seu grau de consciência (se é que podemos falar de um símile de consciência) era equivalente àquele dos atuais minerais. e que atuavam um sobre o outro. Formou-se novamente um corpo de calor. e muito mais os estados líquido e sólido. o nosso Universo iniciou sua terceira fase: a Velha Lua. Após um certo lapso de tempo. Houve no Velho Saturno entes que não atingiram o ponto final previsto para a evolução saturnina. retiraram-se do corpo do Velho Sol e constituíram um corpo celeste à parte. esse cosmo se desintegrou. comparada a uma sístole universal. até que tudo voltou novamente a um pralaya. Para caracterizar esse estado. onde cada pequena esfera seria um precursor de um corpo físico humano atual. "nós" tínhamos. portanto. Decorrido um certo tempo. percorrida por correntes de calor e dividida em inúmeras pequenas esferas que eram as precursoras dos nossos corpos físicos. que recapitular o estado que seus irmãos mais avançados já haviam terminado no Velho Saturno. começou a existir nesse corpo cósmico uma espécie de vida. a condensação progrediu até a inclusão do elemento líquido. Em determinada época dessa evolução. mas ainda não era vida própria. espécie de primeira encarnação cósmica do nosso sistema solar. de sono profundo. dando à matéria mais densa a forma de uma neblina ou 22 . sem corpo etérico. Após nova recapitulação dos estados anteriores. e possuindo um corpo físico e um corpo etérico. Antes disso. tendo o grau de desenvolvimento de uma planta. Essa "noite cósmica". Esse precursor de "nós" não tinha ainda vida própria. A um dado momento. Já o estado gasoso. Devemos imaginar esses corpos permeados e atravessados pelas hierarquias e suas influências. Havia. repetição do Velho Saturno. essa esfera de calor começou a luzir. Outrossim. 23 . 6. A EVOLUÇÃO DO SER HUMANO II . abaixo deles. sob a forma de calor. instintos. e os estados de consciência mais ou menos clara alternavam. No momento da sua maior concentração. Percorridos alguns estados não-físicos da matéria ele apareceu. não passava de uma massa úmida ou viscosa com inclusões gasosas. o nosso sistema solar era uma formação anímicoespiritual homogênea. 5. e que nessa altura atingiram o nível de planta. com a consciência de "sonho". pelo despertar paulatino da consciência. a evolução proto-saturnina. atingindo um estado semelhante ao dos nossos animais. Nesse mundo viviam. e. não podendo acompanhar essa densificação. não foi por culpa ou mérito próprio que ocorreu essa desclassificação pois. A interação de todas essas influências fez com que o mundo se diversificasse ainda mais: houve até a formação de outros "planetas". ao qual mais tarde se juntaram o elemento gasoso e o elemento líquido. cujo membro mais elevado era um corpo astral. o "ser humano" ainda não era responsável pelos seus atos. a Velha Lua. constituindo dois reinos equivalentes às nossas plantas e minerais. vários dentre eles se "revoltaram" contra a evolução geral. inicialmente. pelo desenvolvimento que fez ficarem para trás os seres que não se desenvolveram de acordo com o "programa" cósmico. pela densificação progressiva. de acordo com as circunvoluções dos corpos celestes. No fim dessa evolução. o "homem" passou a adquirir um precursor do nosso corpo astral. além dos seres das hierarquias.de um gel. pelo acréscimo de novos "membros superiores" e seu aperfeiçoamento sob a influência de seres superiores. os homens. procurando um desenvolvimento diferente. não podiam ser comparados a nada do que atualmente existe. Um terceiro período de involução (Pralaya) fez voltar toda a diversificação a um estado puramente espiritual do qual emergeria. Em baixo dele havia dois reinos. com os germes dos homens. como aliás. sedes das hierarquias em seus vários agrupamentos. 4. Todavia. apanágios da plena consciência que nasceriam apenas com o eu. pela mais absoluta dissemelhança entre as condições "exteriores" das anteriores "encarnações" da Terra entre si e em comparação com o nosso mundo atual. caracterizada: 1. pois. centros de atuação espiritual dos vários grupos de hierarquias. Sob a influência de determinada hierarquia. a "forma" exterior do homem. formaram um novo corpo equivalente ao Sol. pela atuação das hierarquias superiores que nos criaram e nos fizeram evoluir. como quarta fase. Em meio a esse mundo vivia o "homem". 2. o aspecto de todo o mundo ao redor dele. 3. e aqueles que também no Velho Sol não conseguiram progredir. tendo que percorrer agora. por enquanto.O COMEÇO DA EXISTÊNCIA TERRESTRE Ao emergir do terceiro pralaya. aqueles que haviam recapitulado no Velho Sol. um estado de mineral. antipatia e simpatia. mas sem a faculdade de livre-arbítrio e sem o raciocínio. Novamente as hierarquias mais sutis. com sucesso. Em dado momento. a nossa Terra atual com o sistema solar que ela integra. Também entre os seres das hierarquias superiores havia evoluções anormais. mais uma vez. Originaram-se daí certos movimentos rotativos e estados alternados de irradiação. O corpo astral já lhe proporcionava sensações. Toda a evolução anterior é. aqueles que haviam ficado para trás. Processos semelhantes à respiração e circulação já existiam. os vários corpos celestes se reuniram novamente. finalmente. permaneceram nos planetas e fizeram a sua aparição na Terra em último lugar. etc. afastaram-se do resto da massa gaseiforme e deram origem a um corpo separado: o Sol atual. Daí resultaram estados alternados de influência maior ou menor. corresponde inteiramente aos achados paleontológicos. como a teoria de Darwin. Ao mesmo tempo. sendo pouco evoluídos. mas ainda numa forma extremamente fina: Se falarmos a seguir de "endurecimento" progressivo. origem de fenômenos comparáveis ao dia e à noite. Os "homens" aos quais o mundo ainda não oferecia condições de vida adequada. Todo o nosso sistema planetário teve. a sede espiritual dos Exusiai. o homem. manifestaram-se pela primeira vez. uma origem espiritual. seguidas. camadas puramente minerais. pelos animais. passaram a atuar agora apenas de fora. traços de vida vegetal e animal nas camadas mais recentes ainda e. e de estados de consciência mais ou menos clara (vigília e sono). começaram a regressar. elefantes. a partir da qual passaram a exercer sua influência endurecedora de maneira mais amena. Os Exusiai. Esse endurecimento. novos corpos celestes: os planetas Marte. pouco a pouco. Quando o perigo de petrificação da Terra estava no seu máximo. o elemento líquido. mais tarde. seres muito elevados da hierarquia dos espíritos da forma. antes da formação deste último. devemos lembrar-nos de que a "dureza" dos objetos mais densos nem de longe atingia a de um cristal de hoje. Júpiter e Saturno. Após a separação. os entes divinos que vigiavam todo o desenvolvimento descrito frustraram esse perigo. originalmente. que tinham chegado da antiga Lua e que existiam na nova Terra desde o seu início. Convém por em relevo que a evolução. Os entes (precursores dos homens. ou Exusiai. depois de muitas formas transitórias. após a saída dos seres lunares. que antes dessa separação tinham atuado de dentro da Terra.) que. e mais tarde também o sólido. ante a impossibilidade de permanecer na Terra. Aqueles que voltaram antes não atingiram o estado humano. fruto da atuação de outros seres espirituais. verificou-se um fato de suma importância: não podendo participar dessa densificação progressiva. pois. que emprestaram cada qual sua individualidade a toda uma espécie de animais sobre a qual agiam "de fora" (leões. na medida em que a Terra foi-se tornando novamente mais "mole". ia aumentando até chegar ao perigo muito concreto de que toda a vida se tornasse impossível aos entes humanos e aos outros. Foi ele. estamos chegando às épocas das quais nos fala a paleontologia. Nesse ínterim. separando-se deste. Diante desse perigo esses entes se retiraram da Terra formando. Destes. pois. sem vida nas formações mais antigas. a interpretação dos fatos segundo a Antroposofia repousar. Este era. sob a tutela de espíritos mais elevados. os planetas interiores foram formados por seres solares que não puderam acompanhar a evolução dos seus companheiros no Sol. e que provocaram movimentos rotativos. haviam emigrado para os outros planetas. os mais evoluídos eram os "Eus de grupo". o elemento sólido havia se implantado progressivamente. pois.). Mas enquanto o darwinismo postula que o ser mais complicado "descende" de um ser 24 . Nessa volta progressiva chegaram primeiro aqueles que. sempre na ordem do seu grau de desenvolvimento. deslocando os seres petrificadores para fora do próprio corpo da Terra onde formaram um novo corpo à parte: a nossa Lua. o ser que soube esperar mais tempo. sobre o aparecimento gradativo de formas cada vez mais perfeitas. tal como a descreve a Antroposofia. podiam contentar-se com corpos físicos relativamente "duros" foram as plantas inferiores e superiores. do Sol.Mas. etc. ameaçando para sempre a sua futura evolução. Vemos. pois não puderam encarnar-se num corpo individualizado. pois. e sua "matéria" foi acrescentada mais tarde sem nunca atingir a densidade de nossa Terra. o corpo etérico passou a apresentar doenças e fraquezas. os espíritos solares que podem. e os sentidos físicos se lhe abriram na mesma medida em que a vidência superior cessava. Afastado da sua origem divina. Era um estado de perfeita harmonia. Do ponto de vista espiritual. num estado de sonho onde ainda se sentiam "unos" com seus criadores e com os mundos espirituais. condições físicas adequadas. de pecar. Paralelamente à descida do homem. o homem adquiriu a capacidade de agir em desacordo com as leis divinas. Nas ciências ocultas. vemos agora os primeiros germes do eu nela implantados. O grau de consciência desses eus era muito baixo. pois somente quem tem a possibilidade de pecar tem o mérito de não pecar. ao contrário. e adquirindo o livre 25 . A "substância" espiritual desses eus era como que uma emanação dos Exusiai. ele tornou-se exposto a todas as fraquezas. Enquanto até esse momento o seu ser estivera permeado pelas forças harmoniosas dos seres "bons". num progresso extremamente lento. um autômato. a Antroposofia mostra que. num estado onírico de comunhão com os mundos superiores. Irradiando a sua influência e a sua sede de autonomia. Em consequência disso. isto é. Todos os demais seres ficaram para trás. mas era um ser sem autonomia. sem qualquer mérito pela perfeição. situada a leste da África e atualmente coberta pelo Oceano Índico: o lendário continente da Lemúria (ou Gondwdnaland). por assim dizer. e a morte fez sua entrada na Terra. uma existência "na presença de Deus". ele passou ao mesmo tempo a ser um ente responsável e moral. o homem era perfeito. um grande grupo de seres espirituais de todas as hierarquias se revoltaram contra a evolução traçada pela Providência (se nos é permitido chamar assim ao plano cósmico inspirado pelas mais altas hierarquias). portanto. pois a humanidade vivia principalmente numa região da nossa Terra (que ainda não possuía a sua configuração atual). aos defeitos e ao pecado. nesta Terra. Na verdade. Sob a influência luciférica nasceu-lhe uma consciência mais clara. que percebiam mediante uma vivência supra-sensível generalizada. porque ela não oferecia ainda. iniciou-se uma alienação progressiva do homem em relação ao seu ambiente. Essa revolução é conhecida nas várias mitologias e religiões como a "queda dos anjos".embora numa forma apenas espiritual . Vivera até então na "presença de Deus".e que os seres mais simples se "encarnaram". O ser humano caiu então sob a influência do seu corpo astral repleto de paixões e instintos pouco domados. aparecendo na Terra antes dos mais evoluídos. Esse período lemúrico (ao qual precederam dois outros períodos desde a formação física da Terra) foi muito longo: incluía a separação da Lua a volta progressiva dos seres emigrados e os acontecimentos que passaremos a expor. No Paraíso. a estes últimos. como necessidade de um descanso regenerador. ser considerados como "criadores" do homem. Chamaremos esses seres de luciféricos. de acordo com o nome tradicional do seu inspirador e chefe. isto é. Mas em compensarão libertou-se dos velhos laços tornando-se dono das suas decisões. Era o Paraíso da nossa Bíblia. a separação provocou defeitos cada vez mais graves em toda a sua organização: o eu e o corpo astral tornaram-se fontes de cobiças e maus instintos. Viviam. procurando um desenvolvimento independente caracterizado por uma autonomia mais-ampla. os seres mais avançados existiam desde o início . Nem de longe tinham consciência de si próprios.terrestre mais simples. Repetindo sua façanha da antiga Lua. dá-se a essa época o nome de "época lemúrica". assistimos a um progresso na sua consciência. A verdadeira corrente evolucionista é a do homem. Enquanto o corpo astral era a parte mais alta da entidade humana. esses seres luciféricos atingiram também o homem cujo eu ainda pouco desenvolvido foi arrebatado ao ambiente protegido das hierarquias humanas normais. As imagens do Paraíso. então. . os homens atlânticos ainda possuíam contatos muito mais íntimos com os mundos superiores. Um novo centro de vida humana formou-se. isto é. ou pelo menos a esperança de possuí-la um dia! A evolução até agora esboçada estendeu-se naturalmente por muitos milênios. tudo isso são qualidades sem as quais não podemos falar em homem. cada vez maior do homem em relação às suas origens divinas. o anjo caído (Gên. e as outras de "boas". experimentando o sentimento de pudor! E foram expulsos do Paraíso. da tentação. Apesar da expulsão do paraíso. nem em dignidade humana. dela não comerás. com o intuito de velar ao homem o conhecimento da sua verdadeira natureza espiritual.): "Ordenou Deus Jeová ao homem: De toda árvore do jardim podes comer livremente.arbítrio e a plena consciência de si. a verdadeira dignidade humana. resultado direto dos excessos mágicos dos homens lemúricos.Sobrevém o "diabo"." Que imagem grandiosa para dizer que os sentidos físicos iam despertando e que os homens se tornavam conscientes de si. do pecado e da expulsão. graças ao seu antigo entrosamento nos mundos espirituais (podemos chamar essas forças de mágicas). Sentindo em particular uma certa ligação com os planetas dos quais originalmente provieram. o amor pela Terra e o livre arbítrio. os chamados "espíritos arimânicos". a mentira. o intelecto. 3. A tentação luciférica abriu caminho para um outro grupo de seres negativos. que é o drama central da humanidade. Os seres "negativos" o afastaram do caminho original e o atraíram egoisticamente para as suas esferas. porque no dia em que dela comeres. conhecendo o Bem e o Mal". do que nós. . porque Deus sabe que no dia em que comerdes do fruto. sem a tentação e sem o pecado original. Mas com isso fizeram nascer nele a consciência de si. os chamados oráculos. prova insofismável de que se trata de uma tradição arquétipa de toda a humanidade. o homem pôde utilizar certas forças que dominava. 16 e ss. o homem não teria atingido seu pleno desenvolvimento. dos quais falaremos mais tarde. o continente desapareceu em meio a grandes catástrofes de fogo. simplificando por demais a sua classificação. Estamos ainda em meio a esse processo. encontramo-las em muitíssimos mitos e religiões. mas da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. ditados pelo triunfo da sua astralidade ainda caótica e mal-intencionada. Eram os chefes dos vários grupos sociais. eram verdadeiros centros iniciáticos onde os mais avançados entre os homens recebiam as suas inspirações.): "Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. velho continente. e com isso. do seu pecado original e da expulsão do paraíso. A sua influência nefasta se fez sentir em épocas posteriores. Os seres arimânicos trouxeram o erro. na Atlântida. A e ss. 2. Esses guias transmitiam as instruções dos deuses aos outros homens. A imagem da queda do homem. a morte e o isolamento. Tais abusos. . Na realidade. Seria ingênuo chamar as forças luciféricas e arimânicas de "más". com o resultado seguinte (Gênesis 3. encontrou a sua expressão mais condigna nas frases lapidares do Velho Testamento (Gênesis. a oeste da Europa. provocaram o fim da Lemúria. em completo desacordo com esses mundos. e sereis como Deus. do qual nos falaram Platão e outros autores antigos. formaram centros de inspiração onde restabeleceram o contato com os entes inspiradores desses planetas. abrirse-vos-ao os olhos. Como consequência de sua queda. 26 . E os homens sucumbiram a essa influência. coseram folhas de figueira . 7): "Foram abertos os olhos de ambos. e conhecendo que estavam nus. Esses lugares. certamente morrerás". a serpente. ela afundou. Podiam. formando as raças históricas. Possuindo ainda uma certa 27 . com suas belas criações no campo da literatura. à Ásia oriental. ambos são a mesma individualidade. para onde se tinha dirigido o grupo conduzido por Manu. embora encontrem seus protagonistas principais sempre em determinados povos.C. que puseram fim à Altantida.ÉPOCA PÓS-ATLÂNTICA A Ásia central. inicialmente reservadas aos iniciados dos oráculos. de fato.Na Atlântida formaram-se pouco a pouco as raças primitivas e as línguas. que se foram fixar nos vários pontos da Terra. aproximadamente. Viviam na recordação da origem espiritual da humanidade. uma vez terminada sua missão. Antes e depois dessa catástrofe. A EVOLUÇÃO DO SER HUMANO III . Esse nome está relacionado com o de Noé (Noah) da Bíblia. tornou-se igual ao nosso. Houve tais migrações com destino à América. porém mais inteligente. e. sua inteligência. Assistimos a ciclos culturais menores. da religião e da filosofia. É como se um grupo saísse da penumbra para fazer uma contribuição valiosa para toda a humanidade. as grandes culturas históricas da Índia. à África. sendo substituído por outro. e a ciência espiritual nos ensina que cada um desses ciclos é naturalmente um fenômeno da humanidade inteira. respectivamente. transformados em imagens simbólicas. constituiu por muito tempo um centro de irradiação de impulsos espirituais. Os gigantes e dragões dos antigos mitos e fábulas ainda nos lembram aspectos de seres dessa espécie. sobre um adversário que representava as forças mágicas nebulosas e indisciplinadas do passado. houve grandes migrações de grupos humanos. sua consciência era muito mais nebulosa. Somente no fim da época atlântida. situam-se em épocas muito mais recentes. o seu aspecto exterior. Como na velha Lemúria. O "proto" significa que estamos ainda em épocas anteriores às das civilizações históricas. Devemos imaginar os homens atlânticos como ainda bem diferente de nós. são. Vemos em muitas imagens de epopéias clássicas a vitória do homem fisicamente frágil. coincide com as últimas épocas glaciais. no sentido atual da palavra. estas a partir de uma proto-língua única. Os homens mais evoluídos emigraram em último lugar para a Ásia Central. Nesse sentido. de 7. sob a condução de um grande iniciado chamado Manu. dividimos a época pós-atlântica em vários períodos: Um primeiro período pós-atlântico teve por cenário principal a Índia daí o seu nome de "Período Proto-índico". de acordo com os sentimentos que os animavam. Os homens dessa época tinham ainda uma mentalidade bem diferente da atual. todavia. era rudimentar. fundadores lendários das civilizações do Egito e de Creta. por exemplo.200 a 5. que lhe deram seus nomes.000 A. Os seres humanos tinham ainda muitos poderes que seriam considerados hoje como supra-naturais. como as histórias de Davi e Golias e de Ulisses e Polifemo. Esses abusos produziram uma série de catástrofes aquáticas. Mas a evolução se fazia no sentido de um despertar cada vez maior do intelecto. Em comparação com o ser humano de hoje. impregnadas pelo espírito da época proto-índica que durou. deixando em seu lugar o oceano que traz seu nome. e leva-nos quase ao limiar dos tempos históricos que se desenrolam no chamado período pós-atlântico. ocorreram na Atlântida abusos de forças mágicas. assim. modificar a sua forma e tamanho. e também em Menes e Minos. A evolução se fez desde essa época em ritmo mais acelerado. Também a história do Dilúvio (pois o fim da Atlântida corresponde ao Dilúvio) faz parte de muitas religiões. no Manas dos hindus e no Maná (alimento dos israelitas após a fuga do Egito). Encontramos ainda a mesma raiz fonética em Manitu (grande espírito dos índios norte-americanos). nem se interessavam pela existência terrena almejando. vendo nela o alvo de suas tarefas. Já na segunda época pós-atlântica vemos aparecer um tipo de homem diferente. todas as forças do Bem. ao contrário. Com a terceira época pós-atlântica entramos na História propriamente dita. Assistimos ao surgimento da geometria e de outras ciências. nelas. Temos aí a origem de todas as religiões e correntes "dualistas". Zaratustra sabia que o velho Sol. ambas de igual realidade. Vislumbrava no grande Espírito Solar (Ahura Mazdao-Ormuzd = Grande Aura do Sol) o ser divino que representava. os mundos espirituais se lhes afiguravam como a "verdadeira" realidade. embora ainda não sob forma abstrata. sede dos Exusiai.C. Ele é descrito nas lendas como o inventor da domesticação dos animais e do cultivo das plantas. Não obstante. que era inicialmente uma divisão dos homens de acordo com o grau da sua pureza e evolução espiritual. Dessa astrologia nasceu a primeira astronomia. de acordo com a posição e a ação combinada das estrelas. como a da roda. Mas conhecia também a existência das forças adversas sob a conduta de Árimã. O supremo Deus Solar reaparece como Osíris e Tamuz. O Universo se lhe afigurava como campo de batalha entre essas duas forças adversas. em particular do maniqueísmo e também dos cultos caracterizados pela adoração do Fogo ou do Sol. a proto-persa. durou de 5. Havia ainda alguma clarividência. Vemos.900 A. As grandes teocracias eram sistemas terrenos. contemporâneo de Buda).clarividência. voltavam-se para os espíritos localizados nos astros. Em estados excepcionais de clarividência. enquanto o conjunto 28 . mas o interesse dos homens se concentrava na Terra. O centro dessa época era a região iraniana. a elaboração de princípios de direito e administração. o homem adquiriu definitivamente o sentimento de que esta Terra era o seu campo de ação. sentiam a influência desses espíritos. o amor pela Terra e a vontade de dominá-la constituíam o fundo da mentalidade dos velhos persas. os homens dessa época sabiam muito bem quais as hierarquias superiores mais diretamente ligadas ao destino do homem. embora o rei-sacerdote ainda fosse considerado como sendo de origem divina e recebendo as suas inspirações "de cima". cortar o quanto antes os laços que os uniam à Terra. Ainda não era uma ciência matemática e mecânica. Essa época. Mas. a egipto-babilônico-caldaica (2-900 . Havia naturalmente uma consciência de que existiam mundos espirituais e de que o homem era um ser espiritual. deus das Trevas. onde os movimentos eram determinados pela lei da gravitação. sobretudo dos cereais. caracterizam essa época. por assim dizer. Encontramos a influência dessa atitude de fuga do mundo visível em toda a civilização hindu posterior. para eles. por essa lenda. Não se sentiam à vontade na Terra. era o centro espiritual do nosso mundo. ilusão ou Maya. O mundo físico era. mas sim uma sabedoria captada diretamente pelo conhecimento das forças espirituais dos astros! Apesar do seu afastamento progressivo dos seres superiores. que os homens dessa época se viraram resolutamente para a Terra.750 A. organizando-a de maneira prática. o homem se comprazia na Terra e fazia tudo para ser feliz nesta vida. Conhecemos a civilização dessa época. dos eclipses e dos demais fenômenos celestes. A existência no mundo físico era para eles como que uma expulsão passageira da sua verdadeira pátria espiritual.C.2. Invenções técnicas. Data da época proto-índica o sistema das castas. Mas quando os homens queriam conhecer as forças motrizes do nosso planeta. e dos aparelhos mais simples. o conhecimento das trajetórias aparentes dos astros. inclusive no bramanismo e no budismo. Seu guia espiritual era um grande iniciado. Zaratustra (personagem diferente do Zaratustra histórico. de um modo geral.) pelas ciências históricas comuns e sabemos que.000 . a arte da irrigação. Buda e os Vedanta. muitos seres humanos não se podiam elevar à sabedoria suprema. Podemos até dizer que filosofia e ciência nasceram 29 . desconhecido até então: a sua mentalidade e suas manifestações eram imbuídas de uma vida emocional harmoniosa. As forças adversas eram representadas por demônios ou deuses como Seth. do contrário o homem não poderia ter tido sentimentos. e participou. o ser humano da Antiguidade lançar-se à conquista deste mundo. pela ciência. Basta lembrarmos Confúcio e Lao-tsé na China. que se manifestaram exteriormente pelos progressos do ser humano através das várias civilizações. intelectuais. todos contemporâneos dos primeiros pensadores gregos e da eclosão da civilização helênica. nesse sentido. de maneira relevante. o ser humano conquista o mundo. Vemos. mas apesar disso. Devemos ainda assinalar um fato importante. e nós vemos de fato desenvolver-se nessa época a "alma da sensação" ou "alma sensível". Esta já existia antes. contemporâneos da civilização greco-romana. inspirados por divindades inferiores ou anormais (seres luciféricos e arimânicos) dedicavam-se a uma sabedoria degenerada. e desse lento entrosamento tinham nascido as várias formas de consciência. A presença dessa alma do intelecto ou alma do sentimento manifesta-se quase que abruptamente em todas as civilizações da época. da faculdade de pensar Em termos antroposóficos: o eu "vive" agora na alma do intelecto. de maneira direta. estende-se aproximadamente de 750 A. a greco-romana. Para isso era imprescindível um novo "órgão". vemos aparecerem pela primeira vez as religiões sistemáticas. É verdade que o pensamento do ser humano ainda não era conceitual e abstrato. em consequência das impressões sensoriais. decorrente de um mundo anímico interior rico e equilibrado. dos métodos científicos e do direito. Todo esse período é caracterizado pela preponderância do intelecto. mas acharemos a solução ao lembrar que as épocas pósatlânticas da Antroposofia não são divisões históricas. os grandes profetas do Judaísmo. Na evolução anterior. de sua vida consciente. A quarta época pós-atlântica.C. Jubilante. em conjunto com os seus sentidos. o eu tinha "ocupado" os três corpos inferiores. Pela primeira vez o homem integrou-se totalmente no mundo físico pelo conjunto dos seus sentidos. mas só nesta altura ela foi "ocupada" e dominada pelo eu.C. Contudo. a ciência racional etc. pode parecer estranho que toda a Idade Média seja unida à chamada "Antiguidade Clássica". pela organização. pelas artes. Sua atitude perante o mundo marca o aparecimento de um novo elemento nessa terceira época pós-atlântica. permitiu-lhe situar-se conscientemente no mundo. das formas políticas. mas no mundo inteiro.das forças lunares era sentido como que personificado em Isis ou Ishtar. Platão e Aristóteles criaram a base do raciocínio. mas sim períodos dominados por uma identidade de evolução espiritual. Seria bom meditar sobre o quanto a nossa vida material e mental repousa em conquistas dos gregos e romanos. Apresentavam um outro aspecto. pelo pensamento. origem de superstições e cultos selvagens. pois. Não somente na Grécia e em Roma. não eram. do raciocínio. Pela primeira vez temos cosmovisões homogêneas e racionais. Estes transmitiram-lhe. o seu eu. num mesmo período. Os laços com o supra-sensível tornam-se cada vez mais fracos. até 1413 D. Esse aspecto também é uma característica dessa segunda parcela de alma. essas culturas são bem distintas entre si. deixando atrás de si o conhecimento dos mundos superiores. a filosofia. De fato. o Zaratustra histórico na Pérsia. um novo elemento da sua personalidade. o conhecimento do ambiente. fazendo jus à sua denominação de "alma do intelecto" ou "alma do sentimento". Os celtas e germanos. À primeira vista. na Índia. Em Osiris. etc. despedaçado pelas Mênadas. Esse ente deixava o homem entregue às influências de Lúcifer e Árimã. Baldur. no original]: 'Eis que quando eu vier aos Filhos de Israel e lhes disser: O Deus [Elohim. o mundo físico. em pouco tempo. ele se escondeu atrás das divindades solares das várias religiões pré-cristãs (Osíris. o ímpeto triunfal das forças luciféricas e arimânicas era tal que. Toda essa evolução impetuosa da humanidade era o fruto do impulso provocado pelas forças luciféricas e arimânicas. no "Crepúsculo dos Deuses" dos germanos. Abandonado às influências de Lúcifer e Árimã. onde o seu eu se tornaria uma caricatura daquilo que deveria ser. Mas esses laços. Mas no momento histórico aludido.era. e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei eu de responder?' Disse Deus 30 .). Um ente cósmico estava desde o início designado para compartilhar da formação e da evolução do homem. isto é. por trás e por meio dos Exusiai. Estes se teriam retirado do homem. Encontramos em todas as partes do mundo vestígios desses lugares. a sua atuação teria tido consequências funestas para a vida dos mundos espirituais. esse perigo tremendo. a fim de que estes contribuíssem para amadurecê-lo. Foi simbolizado mais tarde pela expressão "expulsão do Paraíso". eram previstos pelos iniciados. por assim dizer. onde alguns homens preparados continuavam mantendo a velha tradição esotérica: eram os chamados "Mistérios". o homem não tinha forças suficientes para resistir-lhes. os gregos chamaram-no de Logos . Um impulso novo deveria permitir-lhe encontrar uma fonte regeneradora das forças cósmicas puras. Por isso os mundos espirituais resolveram proporcionar-lhe a ajuda por meio de um ato cósmico de suprema importância. esse ente tinha que intervir. mundo "espiritual" reservado aos mortos. "Deus" e Moisés tiveram um diálogo de significado cósmico (Exodus. abandonando-o ao triunfo das forças que iriam dominá-lo definitivamente. 3:1314): "Disse Moisés a Deus [Elohim. não deixavam de ser cultivados em centros isolados. Essa evolução. no período proto-persa. assassinado por Seth. Os grandes iniciados sabiam do seu caminho descendente das esferas celestes em direção à Terra. aparecendo no meio da sarça ardente. embora completamente esquecidos na vida social comum.podemos chamá-lo de Eu Cósmico. Agia na formação do eu. esse acontecimento marcante deveria trazer ao seu alcance uma possibilidade de salvação. à morte e a ressurreição de Jesus Cristo. empurrando-o num caminho errado. onde a tradição esotérica era mantida em segredo. na luta entre Ormuzd e Árimã e no Hades lúgubre de Homero. Estamo-nos referindo ao Mistério do Gógota. no original] de vossos pais enviou-me a vós. atuando. que tinham dado ao ser humano o primeiro germe dessa "substância" espiritual do seu eu. Mas se. o Grande Espírito Solar que apareceu como Ormuzd.justamente porque não havia mais suficiente conhecimento da realidade espiritual para que os fenômenos terrenos fizessem sentido. Foi ele que se manifestou a Moisés nos elementos quando. diante do perigo de ver frustrada a sua obra. Sem influir de maneira alguma em sua liberdade e em seu livre arbítrio. temos imagens desse receio. As influências combinadas dessas entidades e das hierarquias superiores "normais" deram origem à eclosão do homem na plenitude da sua genialidade e à riqueza da sua vida espiritual. longe da sabedoria comum. E tinha que intervir na esfera que era o habitat do ser humano. nessa altura. Atuava na "criação" do nosso mundo. Esse ente . a imagem do homem civilizado era ainda brilhante e admirável. em Dionísio. onde os adeptos tinham que passar por uma iniciação que lhes restituísse a comunhão com os mundos superiores. o seu lado espiritual estava cheio de presságios sombrios! Com efeito. que a pureza do corpo paradisíaco foi restabelecida no corpo da ressurreição e que a imolação do Ser Crístico significa a entrada. encarnando-se num ser humano. mas também o papel fundamental que cabe a cada um de nós para levá-lo a um desfecho favorável. Ao contrário. esse ente supremo devia levar o seu ser até à matéria terrena. deve mantê-los em equilíbrio. que passou a ser o espírito da Terra. Isso aconteceu quando. deixando-se inspirar por eles. Torna-se mister manter em equilíbrio os impulsos de Lúcifer e Árimã neutralizando-lhes o ímpeto excessivo." Quem assim falou foi o Eu Cósmico! Finalmente. no próprio corpo da Terra. Mas em vez de ser dominado por eles. Não vamos tentar analisar aqui o sentido desse mistério. e nunca antes a humanidade estava de tal maneira ameaçada por um fracasso em sua missão cósmica. não deve repudiar Lúcifer e Árimã. O ser humano pode. Doravante. do impulso desse ser. Toda a crise da nossa época pode ser interpretada a partir dessa premissa. Cristo. estes lhe deram impulsos que nunca deveria renegar. 31 . no momento do batismo no Jordão. Para isso. depois de ter sido o Espírito Solar. e procurar realizá-lo através da moralidade dos seus atos. permanecendo nele até a morte na cruz. Essa tarefa não cessou com o aparecimento do Cristo na Terra. desde que o homem queira aproveitar-se dessa graça. os esforços de Lúcifer e Árimã são redobrados na época atual. oferece-lhe a possibilidade da sua própria ressurreição.[Elohim] a Moisés: 'EU SOU O QUE SOU' e acrescentou: 'Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU enviou-me a vós'. pois. Basta dizer que a ressurreição significa que a queda do homem no Paraíso. o ser divino (Cristo) entrou num homem (Jesus de Nazaré). sair da situação atual. mas sempre de acordo com a sua própria decisão. Compreenderemos então não só o drama cósmico que se desenrola ante os nossos olhos. pode o homem haurir desse impulso. a derrota ante as forças negativas foi superada por esse ato de sacrifício. Com efeito. esse desenvolvimento levou-o ao caos. E não a sentimos em nós. cabendo-nos abrir-nos ativamente. ao mundo divino do Amor. de desumanização. mais dois períodos pós-atlânticos. o homem não só compreende o mundo e quer dominá-lo (para isso bastava a alma do intelecto). ruíram as vetustas instituições sociais do Estado e da família. filósofos corajosos como Sartre e Camus. a consciência. Para poder fazê-lo. Surgem figuras como Lutero. mas tendo como ideal uma nova imagem do Homem. amparando-nos no verdadeiro impulso de Cristo e vencendo todos os obstáculos. É grandiosa a idéia de que o ser humano poderá redimir a Criação e fazer voltar todo o nosso universo à harmonia primitiva. Ruíram as religiões e as crenças. Mas devemos perguntar: onde estamos e qual o sentido dessa crise? Ela se nos afigura assim: o homem foi separado da harmonia divina pela "tentação". e a relação "eu . Rudolf Steiner disse que haveria. revoltando-se com todo o peso da sua personalidade contra a Igreja. Reinam o cinismo. sofredores como Kierkegaard e Nietzche.A HUMANIDADE NA ENCRUZlLHADA Desde o começo do século XV. Michelângelo. o livre arbítrio e a dignidade humana em potencial. ao "Paraíso". os heréticos. perdeu a perfeição e a saúde. Devemos olhar para a frente. seja qual for a atração exercida pela sua harmonia e pela sua beleza. O homem deve futuramente voltar à harmonia. livres. a fim de realizá-los na Terra. a angústia. Livremente. O que morreu. a autoridade e os valores humanos em geral. com pleno aproveitamento do nosso intelecto e de tudo que conquistamos. e quiçá. deve estar consciente dos perigos que o rodeiam e do ideal que deve procurar atingir. O intelecto e o espírito crítico tomaram conta de tudo. incluindo as de respeito perante os mestres e os pais. está morto. Esse é o "reino de Deus".A EVOLUÇÃO DO SER HUMANO IV . Em todas essas figuras. de caos moral. ou mergulharemos definitivamente num estado de tecnicismo. caracterizado pela eclosão da alma da consciência. a representação de um mundo espiritual. Agora. A auto-consciência nasce e. de um Deus criador e mantenedor do universo. Hamlet e Raskolnikoff.mundo" torna-se-lhe quase insuportável. desde que trabalhe incessantemente em si próprio. em oposição ao mundo. as tradições. à situação que acaba de ser esboçada. começará um processo 32 . Esse processo se estenderá por séculos e milênios. para a tarefa futura. conscientes. Beethoven. com ela. Em seguida. Devemos tomar o destino em nossas mãos. por uma série infinita de atos de Amor (a palavra tomada em sua acepção mais universal). não obstante e contra todos os obstáculos e tentações. mas desta vez não como um autômato (como o era antes da "queda" na matéria). o nihilismo e o desespero. em uma palavra. Estamos no ponto crucial: ou acharemos o caminho da nova subida. Todavia. mas ele se sente como um indivíduo. manifesta-se essa alma da consciência. vivemos no 5o. inconcebíveis em épocas anteriores. período pós-atlântico. e não lamentar condições passadas. essa é a volta à origem. mas ganhou o intelecto. de completa automatização despersonalizada. inspirando nossas dúvidas e nossas perguntas eternas? A época da ciência e da técnica começou com o Renascimento. que morrem por suas idéias. criações como Fausto. conscientes. aos impulsos espirituais. quais criadores autônomos. ao nihilismo. o livre arbítrio. depois do nosso. Isso implica numa espiritualização lenta do nosso mundo por nós mesmos. a solidão. o homem deve realizar em si e por si a harmonia eterna. Não vamos fazer ressuscitarem as velhas tradições e instituições. Rembrandt. a insistência nas "perguntas eternas". mas com todas as conquistas da sua peregrinação terrena: o intelecto. esse é o sentido da evolução da humanidade. quando lhe tira a sobriedade e a serenidade." não diz nada sobre o vermelho. Ele atua por trás de tudo que faz o homem perder a plena consciência de si e a sua firmeza na Terra: são os estados inconscientes ou de êxtase. Por isso precisamos ter em vista a nossa tarefa futura e os perigos que a ameaçam. O outro pólo é Árimã. hoje. os ideais e qualquer elevação da alma são obra sua. Do ponto de vista exposto. Daí a luta de Árimã em prol de todas as formas de materialismo. não possuindo uma consciência tão desenvolvida. Existem. Os outros. isso só acontecerá com aqueles homens que. Mas em sua luta contra os impulsos espirituais. e que se tornam "más" quando o ser humano deixa-se dominar por elas.. 2. Quem nos induz a essa atitude é Lúcifer. Como Lúcifer. ainda foi guiada pelas influências "boas" ou "más" dos mundos espirituais. a fórmula da velocidade: v = c/t. na Antroposofia. etc. Resultam daí duas possibilidades de aberração: 1. a lei abstrata. Como já dissemos. procurando voltar o quanto antes a um reino espiritual. quando torna o homem inconsciente. chegarão à sua reintegração na harmonia divina. nefasta. o reino animal em comparação com o reino humano.. o "Diabo" como força do mal. de intelectualização. vencendo todos os obstáculos. onde o ser humano transcenderá o seu estado "humano". mas sempre de acordo com a inspiração crística. torna consciente a importância histórica justamente da nossa época. em encarnações futuras da Terra. sim. Afirmar que a "qualidade" vermelho é dúbia. A humanidade passará a viver menos "encarnada". Lúcifer fez muitas contribuições valiosíssimas: as artes. em meio a terríveis lutas sociais. Mas voltemos à época atual. A influência luciférica é ótima. Todavia. por exemplo. Após um novo Pralaya haverá mais três "encarnações" da nossa Terra. Somos hoje conscientes e responsáveis. Árimã nos deu dádivas de grande valor: o pensamento lógico e a matemática são manifestações arimânicas. duas forças cósmicas. alcançando graus de evolução correspondentes ao atual estado dos anjos. Por que? Porque em épocas anteriores a humanidade. O título deste capítulo. nega os mundos espirituais e quer dar ao homem a ilusão de que o que é racional e lógico na Terra já é o verdadeiro espírito. Não existe. como sensação. afirmar a nossa auto-consciência e espiritualizar-nos ao mesmo tempo. conhecer. são as finalidades supremas. reinos "atrasados" como o é. "A humanidade na encruzilhada". sobre as qualidades 33 . Árimã recorre amiúde ao cinismo e à ironia. cada uma. é considerada como a última explicação da velocidade v. Despreza o verdadeiro espírito. provocando a excitação e o irracionalismo. desde que dominada por um eu consciente. definitivamente dominados por Lúcifer e Árimã. que têm. e que deve ser substituída por: "radiação de uma frequência de . o nosso livre arbítrio. Examinaremos rapidamente alguns desses aspectos: Toda a vida científica atual é determinada pela tendência de fugir das qualidades e fenômenos qualitativos para expressá-los quantitativamente. muitos fenômenos e instituições da vida moderna aparecem sob uma luz nova. As fórmulas. temos o nosso destino em nossas mãos. Podemos desprezar a Terra e a autoconsciência. Por exemplo. amar e dominar a Terra. o entusiasmo e as excitações de toda espécie. sua missão específica. da abstração (o verdadeiro espírito nunca é abstração). o raciocínio e a contemplação refletida. em nada inferiores ao Dilúvio. ficarão para trás e não passarão do estado humano constituindo. que provocarão grandes catástrofes. A tarefa é simples: desenvolver o nosso eu. Paralelamente à desintegração da matéria haverá uma lenta desmaterialização da nossa Terra. porque "subjetiva".lento de desagregação da matéria. pois. a nossa consciência. Mas o que é um caminho c dividido pelo tempo t? Uma realidade? Certamente não. faz considerar o corpo humano como um laboratório ou uma máquina. Raramente. em primeiro lugar. usasse realmente o tempo poupado para tornar-se mais digno e mais consciente das suas tarefas.intrínsecas. leituras superficiais de livros "cativantes". Quanta inteligência não está sendo gasta para a solução dos problemas sociais e econômicos. TV. frente a uma obra contemporânea. dando-lhe o tempo e as forças necessárias para dedicar-se atividades superiores. que não pode ser captado pela aplicação unilateral dos princípios da antropologia e sociologia. sem qualquer resultado! Por que? Esqueceram-se de uma coisa: do ser humano completo. muitos psicanalistas consideram-na como uma espécie de conglomerado de funções biológicas e. baralho. ele acabou comportando-se como um animal. O mesmo aconteceu com a Biologia: ensinaram ao homem. O médico é uma espécie de chefe de oficina. Uma atitude mais realista implica na superação desses pontos de vista abstratos. festas. político ou social. Tomado de pânico de ficar a sós consigo mesmo.. Até o espontâneo e o caótico são calculados. realização máxima do espírito arimânico.. alienando-o da sua tarefa primordial. aspirando a realizar valores novos e elevados! Mas o que faz com o tempo economizado? Procura "matá-lo". mas também anímico e espiritual. Na política como na vida econômica. que é um ser não somente econômico. por isso. o elemento cerebral predomina. O perigo. eis o lema e a razão de ser da indústria de passatempos. Um elemento puramente racional penetrou. aparecem também nas artes inúmeros impulsos emocionais onde predomina o elemento luciférico. também. A racionalização do trabalho deveria ter por objeto libertar o homem da escravatura do trabalho. Com isso não queremos julgar essas criações. as revistas de estórias em quadrinhos (essas caricaturas do mundo nas quais nem o esforço consciente da leitura é 34 . atitude tipicamente arimânica. e não estamos longe do tempo em que o exame. A aplicação de critérios puramente intelectuais e "lógicos" não pode resolver os problemas desses setores. que ele descende do animal. frisando. que tem por única finalidade tornar o homem inconsciente ou semi-inconsciente. o homem moderno esqueceu que está em presença de verdadeiros organismos. desde a música eletrônica até a plástica de ferros retorcidos. passando para o subconsciente do homem. O psicólogo tem uma posição das mais ingratas: deve falar de algo que tem a certeza de não existir: a alma. encarregado de consertar o defeito. Passaremos agora para o campo extremamente vasto dos "passatempos". mas apenas indicar-lhes o caráter. serão feitos por computadores. Vejamos as mais recentes conquistas nesse domínio: a TV. "ciências" que constituem uma contradictio in adjecto. Por outro lado. que achamos nela o perfeito equilíbrio entre o elemento "conteúdo" (que seria o equivalente de luciférico) e o elemento "forma" (elemento arimânico). narcóticos. o contra-senso dessa nova indústria. durante gerações. porém. nada possuindo que já não exista no animal. o diagnóstico.! Essa abstração. revistas. Esquecer e fugir de si próprio. é que essa mentalidade generalize-se fora da própria Física. podemos dizer. arimânicos. umas das maiores vergonhas da humanidade. apressam-se em achar-lhes as causas fisiológicas ou químicas: é a negação de qualquer elemento espiritual superior e. Mais do que nunca. terapia e controle. nas artes. Negando por completo a existência de uma psique autônoma. Como seria bom se o ser humano. de ter que concentrar o seu espírito em algo mais elevado. Temos aqui a técnica acoplada à inconsciência. Daí as suas afirmações muitas vezes ridículas. dono da máquina. manifestação de Árimã. quando falam de qualidades anímicas. ele se refugia nos passatempos: rádio. triste exemplo de colaboração de Árimã e Lúcifer. egoísmo. enquanto o Ocidente era dominado pelo intelecto. constitui outro atentado contra a consciência. E o aspecto mais diabólico. A necessidade de viver repetidas vezes. pouco a pouco. quando não trabalha cinicamente com efeitos subliminares. aparece como um postulado da mais simples lógica. pelo individualismo extremo (muitas vezes em detrimento do amor pelo próximo) e pelo utilitarismo. a passar em revista toda a evolução espiritual da humanidade para compreender a situação atual do homem. os jogos de azar. como essas encarnações se encadeiam. Apela habilmente para os instintos menos elevados . desde o nascimento.. Devemos dizer o mesmo dos slogans políticos ou sociais. Falta-Ihe o ponto de apoio. e da embriaguez e da inconsciência da sua vida emotiva.. Cada época. A polaridade Lúcifer/Árimã aparece até na configuração espiritual da nossa Terra. as viagens frenéticas. pelas "benfeitorias" dessa indústria. como já vimos sobejamente. é que as crianças são inundadas. Ela identifica essa sua doutrina com um verdadeiro cristianismo que não tem por centro o Jesus Cristo adocicado e banalizado das religiões cristãs. O DESTINO HUMANO Começamos o nosso estudo com uma análise do ser humano e fomos levados. vaidade. de outro. do meio. mas cada um de nós. Já conhecemos a idéia da Antroposofia. esse desenvolvimento não teria sentido se o ser humano dela não participasse em todos os seus estágios.mas o faz subrepticiamente. O leitor atento poderá continuar essa análise e chegar à mesma conclusão de que a nossa tão decantada civilização moderna contém em seu cerne os mais graves perigos para uma aberração definitiva da humanidade. a reencarnarão. sensualismo . Poderíamos prolongar infinitamente essa lista de manifestações das influências de Lúcifer e Árimã. Todas essas nefastas influências luciféricas contribuem para a esquizofrenia do ser humano moderno. semi-inconsciente. isto é. que nem chegou a ter a revelação do seu eu.mais necessário. Rudolf Steiner foi o primeiro a insistir no fato de que o mundo oriental (Rússia-Ásia) era caracterizado pelas emoções. dirigindo-se ao subconsciente.).cobiça. mas o Ser Supremo sob cujo impulso devemos realizar nossos atos. da sua dignidade humana? De fato. não o "ser humano" como abstração. A Antroposofia quer fomentar essa consciência e despertar as contra-forcas. que é atraído pelos extremos do materialismo e da abstração de um lado. das ideologias. no caso do homem pré-histórico. a não ser que um número suficientemente grande de pessoas se torne consciente da existência desses perigos e faça os esforços necessários para combatê-los. traz uma contribuição ao 35 .. o nível da média dos filmes. segundo a qual a existência humana não é uma única e isolada. devemos investigar. Voltamos agora ao ponto de partida com a pergunta angustiosa: para que serve essa grandiosa evolução?. se vamos morrer sem dela participar? Para que serviu. Como é que uma geração de seres humanos maduros e conscientes pode nascer de crianças viciadas desde o berço? A propaganda. Parece que o ser humano moderno prefere a justaposição incoerente e chocante dos dois extremos em lugar da sua harmonização. como o homem individual toma parte na corrente evolucionista.. sob todas as suas formas. por isso mesmo. a mentalidade puramente emocional de grupos e. o messianismo comunista). sob pena de perder a dignidade humana. dos falsos fanatismos e de tudo o que fortalece o espírito gregário. agora. Triste espetáculo numa hora em que o homem devia estar sempre mais lúcido e consciente em todos os seus pensamentos e decisões. uma geração inteira que se afunda na alienação de si mesma. pelo espírito de comunidade (em detrimento do eu individual) e pelo idealismo extático (Dostoiewski. ele deve ter a oportunidade de reparar esses atos e atitudes. aos menos avisados. Como ser imperfeito que é. não temos uma relação de causa e efeito. que podem ter muitos aspectos. nas circunstâncias concretas do novo encontro. em cada vida. Pelo próprio nascimento estou enfrentando uma importantíssima situação cármica. Carma significa. é um destino único. problemas que haviam ficado sem solução. que determina o ser humano completamente. foi na realidade preparado por mim. vítima de mil influêncìas perniciosas. o temperamento e muitos aspectos da personalidade os quais. o povo. daí o meu novo encontro. Mas o que faço nessa situação. não somente a família. determina muitas de minhas qualidades físicas e anímicas: a predisposição para as artes e doenças. a situação é outra. isso está na minha liberdade. de fato. outros tantos eus com os quais. as doenças. de tais pais. afirmação que pode parecer paradoxal e ridícula. Mas se. constituem dados que o homem encontra ao nascer. Junto com os seres espirituais ao meu redor. guardando-nos bem de fazer generalizações e simplificações que só poderiam falsear a realidade. Mas. Por exemplo. Com efeito. o país. isto é. eu mesmo preciso dessas faculdades para viver a minha vida. Pode também ser uma "prova". essa é a situação cármica. Uma doença pode ser a manifestação física de um defeito da organização astral ou etérica. Isso leva à conclusão de que o homem escolhe os seus pais. que o 36 . devido ao véu terreno que me cega a compreensão. Essa oportunidade lhe é oferecida por uma causalidade espiritual. predisposições. Eu posso me revoltar. Mas. o destino. que orientará a minha vida inteira. sabia que ia precisar desse destino para me desenvolver. sob pena de se deteriorar sempre mais. A hereditariedade. no sentido de um obstáculo. sem lhe deixar a mínima liberdade? Na realidade. portanto. o indivíduo já conviveu em vidas anteriores. talvez criando situações e. circunstâncias que não são ligadas a pessoas. em tal ambiente. a religião dos pais. Se existisse somente esse motivo. o cônjuge. consequência de uma atitude moral ou mental censurável. já seria suficiente para o homem voltar periodicamente à Terra a fim de aprender algo novo. encontros. dirão alguns. além disso. amigos. Eu mesmo. Não tudo! Porque sempre há acontecimentos novos. ou ser um anjo de paciência e de amor: três atitudes que dependem fundamentalmente de mim. e muito daquilo que nós enfrentamos como destino.desenvolvimento humano. Há também. o fato de nascer em tal família. e que é designada pelo termo hindu carma. evidentemente. Contudo. Eu posso reencontrar uma pessoa com a finalidade de "acertar" uma velha conta cármica. Desta maneira. no sentido mais amplo. ao menos em parte. Mas isso não constitui um acaso. sem motivação cármica. a língua. na minha estada nos mundos espirituais. têm uma base corpórea. preparei as circunstâncias da minha futura existência. está na minha autonomia. Vejamos agora algumas situações excepcionais. ou me embrutecer. o homem nem sempre "avança" nessa peregrinação. que lhe liga uma vida à outra. que parece um acaso vindo "de fora". os filhos. ou de pais alcoólatras que me maltratam. autor de mil ações ou pensamentos negativos que lhe mancham a integridade moral e intelectual. oriundos de decisões livres ou da necessidade de aprender algo de "novo". e consequência dos nossos atos em vidas anteriores. vivências. O meu carma me colocou apenas na possibilidade de fazê-lo. Nada de espiritualmente relevante fica sem efeito numa vida subsequente. a carga hereditária dos meus progenitores. mas também a cidade. destino. a título de exemplo. contra as quais posso mais tarde até me revoltar. Eu posso nascer surdo-mudo. aptidões. eu pratico o ato reparador. como se fossem bastidores do primeiro ato de sua vida. Depois vêm os encontros "fortuitos": professores. colegas de estudos. Suíça. Verificamos também. por exemplo. Há justamente doenças da infância. volta logo depois ou deixa o corpo fraco e vulnerável. que têm um sentido cármico. A curiosidade. O médico deveria conhecer o significado de cada doença e. constantemente em contato com doentes contagiosos. A arte médica deve naturalmente zelar pela vida e pela saúde dos homens. Da mesma forma. Mas talvez Rudolf Steiner não estivesse tão errado quando dizia que a erradicação de certas epidemias só poderia ter sido benéfica para a humanidade em geral se tivesse sido acompanhada de um progresso simultâneo correspondente no campo espiritual. passou a ser "criador". Não há motivo para reflexão. muitas vezes. mas o carma faz com que me infeccione com os mesmos. causando à sua mãe uma violenta dor. tornando por exemplo a eclosão de uma doença impossível. mas na realidade eu sou a "causa" dessa hereditariedade. nunca pegam a moléstia? Quantas crianças cujos pais as põem na cama dos seus irmãos atingidos por uma doença infantil. entre a vida anterior e a doença. Estados Unidos) oferecerem uma percentagem cada vez maior de psicopatas. no sentido burguês da palavra. têm também um sentido mais profundo do que se quer admitir. provoca uma "congestão" psíquica. morrendo jovem. deveria pensar em proporcionar ao doente outros meios de realizar a tarefa cármica que tinha originalmente como instrumento a doença. ele pode ser um "criador" muito negativo. muitas vezes. que uma doença eliminada. e não pela soma das cobiças satisfeitas ou pela ausência de desejos. Tudo são explicações possíveis que o iniciado poderá investigar. outra é eliminá-la completamente. Imaginemos uma criança que adoece e até morre. pelas descobertas médicas. aquilo que procurou uma explosão física sob forma de doença e não mais pode realizála.homem deve vencer. pois. Mas uma coisa é controlar uma doença para tirar-Ihe os efeitos perigosos. Quantos médicos e enfermeiras. neuróticos e suicidas? Tem-se a impressão de que. não há muitas doenças sem bacilos. e ninguém vai dizer algo contra a higiene e a prevenção razoável de certas doenças. e não devem ser impedidas. e em particular a própria demência. por uma vacinação preventiva. No caso das doenças. "para que todos a tenham de uma vez". mormente quando considera o corpo humano apenas com a mentalidade de um mecânico encarregado de consertar uma máquina em pane. Trata-se de um domínio onde o respeito e a serenidade são mais necessários do que nunca. Lembremo-nos sempre de que não vivemos para ser "felizes". Esse caso é dos mais complexos. se consegue preveni-la. mas sim entre a presença do bacilo e a doença. onde se sente às vezes o dedo da providência divina. não são atingidos pela mesma? Já foi dito que o ser humano. A felicidade de uma vida deve-se medir pelo progresso do indivíduo no caminho da perfeição moral. As doenças mentais. renunciou a ter uma encarnação normal e uma vida completa. de acordo com os conceitos da vida comum). Podemos imaginar que tal criança. a qual constitui para ela um "golpe do destino". as doenças contêm mais problemas do que a ciência médica comum sabe. Haverá quem diga: Mas não sabemos. por antibióticos (como a pneumonia). De qualquer maneira. pode ainda constituir um sacrifício. Pode-se intrometer no carma de outrem. como a coqueluche. que a maioria das doenças é causada por bacilos? A relação causal não existiria. A hereditariedade é a "causa" de certas qualidades minhas. de um ser criado. O leitor já saberá a essa altura que o eu humano não 37 . Ninguém vai pregar a volta das epidemias de cólera e de peste bubônica. o sensacionalismo e a precipitação do julgamento devem ser evitados nessa esfera. Isso é exato e inexato ao mesmo tempo. para quem vê os povos mais "civilizados" e de ambiente mais higiênico (Suécia. para ajudar sua mãe a ter essa vivência (tão cruel. Daí a grande responsabilidade de quem lida com crianças. ignorando-os. para o meu próprio bem!" A EVOLUÇÃO DA CRIANÇA Em fins do século passado o grande biólogo Ernst Haeckel formulou sua genial lei biogenética fundamental: "Em sua evolução embrionária. seres humanos comuns. a nós. somos autores ou pelo menos co-autores do nosso próprio destino. uma atitude positiva. até chegarem a ele". estados correspondentes aos graus de evolução que os animais inferiores percorreram. e esquecido depois. porém. ao enfrentar qualquer golpe do destino: "Essa experiência eu mesmo a preparei. 3. A personalidade não nasce com o nascimento! O eu de um recém-nascido é tão velho como o de qualquer outra pessoa. sucessivamente. mesmo se o resultado final é inevitável.pode estar demente. de certa maneira. na história das espécies. No decorrer da vida. O que convém é acordar para uma nova atitude perante a vida. Poderíamos estender-nos muito sobre esse ponto. ele ainda não permeou os diversos envoltórios terrenos. O que ocorre é que sua manifestação através dos seus instrumentos corpóreos está impedida ou dificultada. que são apenas manifestações de vaidade. Em cada circunstância. lembremo-nos de alguns fatos importantes: 1. Nada mais desumano do que tratar esses pobres doentes como animais. e não nas ações morais aparatosas e tonitroantes. são. Que sabemos nós. de maneira concentrada. Muito do que é aprendido na vida infantil. Existe também o carma de grupos. reaparece mais tarde. onde esses doentes vivem num ambiente de carinho e atenção. à evolução da criança: ela também repete. Nisso reside a sua liberdade. as várias fases da evolução anímico-espiritual do gênero humano. desgraças. 4. O verdadeiro antropósofo dirá. negando-lhes amor e atenção. mas como um meio importante que as hierarquias superiores nos deram. todo animal percorre. 38 . mandando-os para longe. Com efeito. Pais e educadores devem ajudá-lo nessa tarefa. Essa lei pode ser aplicada. as próprias vítimas do destino. Antes de examinar as etapas da evolução da criança. um eu! Mas pode-se favorecer ou dificultar o seu desabrochar correto. aceitando o destino não como um acaso ou punição. golpes do destino. outras tantas oportunidades para mostrar o que realmente valem. da receptividade justamente dessas criaturas. o eu procura realizar-se. sob forma de faculdades adquiridas. Queremos apenas despertar a atenção para o lado "cármico" que muitos fatos podem ter. a si e ao seu carma. para melhor aproveitar a nossa vida. Não se pode criar uma personalidade. para o carinho e a paciência? Talvez seja nossa tarefa desenvolver forças de amor para seres como esses. cometemos um crime contra nós mesmos! Novamente não queremos absolutamente falar contra casas de saúde. qualquer que seja a dureza do destino. 2. ou ainda como um divertimento dos deuses. o homem ainda pode tomar esta ou aquela atitude. Mas não é isso o que importa. para as "vítimas". O leitor já terá compreendido que acidentes. para maior comodidade de todos. A lei da metamorfose domina a evolução da criança. por motivos que só o clarividente pode analisar em todo o seu significado cármico. Devemos libertar-nos do sentimento de fatalismo e de irresponsabilidade. Na presente encarnação. A ligação com o intelecto e com as faculdades anímicas superiores está defeituosa. muitas vezes. estrutura e dota de funcionamento certo: a criança se fixa pouco a pouco na alimentação dos adultos. deverá desabrochar uma vida anímica baseada principalmente no corpo. num mundo harmonioso. Nessa idade a criança não é acessível a conceitos de moral e a regras abstratas de comportamento. trapos. Quem conhece a existência de um corpo etérico. mais do que em qualquer outra. erguese. deitar-se) e a repetição de certos atos (passeios. pedras. lápis de cera. marcados pela predominância de determinada configuração anímico espiritual. o corpo físico está "acabado". de jogos de matéria plástica que deturpam o sentido táctil da criança. tão firme quanto carinhosa. pois. a criança deve ter a possibilidade de dar vazão à sua fantasia criadora. areia. sem distúrbios. e com as mudanças bruscas de ambiente! O ideal seria deixar a criança pequena entregue à sua fantasia. cheia de imaginação. aprende a falar. caricaturas horríveis de seres humanos. o falar e o pensar são três vitórias básicas sobre o animal. o corpo etérico deve receber certos impulsos. pedaços de madeira. Quais são esses alimentos úteis? Em primeiro lugar. pais ou outros adultos devem sempre estar presentes para dar uma mão. intimamente ligado ao corpo físico. está entregue às influências do ambiente. Nessa idade. tudo o que constitui um ritmo. aprende a mover-se no espaço. na vida orgânica e seus ritmos. A pequena criança deve ser guiada! Nada mais errado do que 39 . com os quais a criança pequena. em geral de maneira inconsciente. o corpo etérico não desenvolve harmoniosamente suas forças e funções. Tudo a permeia. na idade em que a criança está pronta para entrar na escola. O exemplo dos pais e irmãos educa. eis os companheiros ideais. Nada de trens elétricos. e mais ainda.Rudolf Steiner ensina que a vida humana é caracterizada por ciclos de 7 anos. quem admite o seu intenso desenvolvimento durante os primeiros 7 anos de vida. Todos esses brinquedos matam a imaginação da criança e desfiguram seus instintos plasmadores e sadios. plantas. A regularidade da vida cotidiana (horas certas para se levantar. Com elas. ou quando são prejudiciais. a criança. meio inconsciente e sonhadora. com o ruído do rádio. Mas o corpo etérico ainda está. e durante todo o resto da evolução. Muitas vezes. dando à criança uma confiante segurança. (o corpo físico foi construído durante os 9 meses de gravidez) não estranha que esse corpo precise de "alimentação" adequada. comer. Depois. constrói o "seu" mundo. conchas. com o barulho e o nervosismo da nossa vida citadina. mas adquirida pela imitarão de gestos e expressões. Existem e funcionam todos os órgãos (menos os da reprodução). Em outras palavras: para se desenvolver harmoniosamente. a criança torna-se homem. Durante essas três conquistas. brinquedos simples devem deixar lugar à fantasia. o aparecimento da segunda dentição marca a época em que essa tarefa plasmadora do corpo etérico chega a um certo fim. com as irradiações da TV. Como o seu organismo tão delicado sofre com discussões em voz alta entre seus pais. Ao nascer. dizer que o nascimento de um corpo etérico autônomo apenas ocorre aproximadamente aos 7 anos. finalmente. Ela vive imitando o seu ambiente. durante os primeiros sete anos. Contos de fadas devem animar a imaginação. de brinquedos mecânicos. Materiais naturais. ao qual consolida. a semelhança de uma criança com seus pais ou avós não é congênita. estudaremos rapidamente os três primeiros. em caso de falta destes. libertando-o em parte para outras funções. e não os gritos e preceitos lógicos. rezas) constituem uma poderosa ajuda para o fortalecimento do corpo etérico. Nada também de formas geométricas. Poderíamos. Durante os primeiros três anos a criança aprende mais do que em qualquer outra época da vida: o andar ereto. Sem investigar o porquê desses ciclos. de bonecas de matéria plástica. De dentro para fora. Daí o efeito nefasto das estórias em quadrinhos. até o seu turbulento "nascimento" definitivo. estéticos (dança. muitas vezes. revistas. pintura. venerar. no amor. e nunca. A disciplina e a regularidade são alimentos da sua organização etérica. Ainda seria prematuro qualquer intelectualismo (que pressupõe o poder de abstração do eu). Os perigos. ela compartilha dos sofrimentos e das virtudes dos heróis das suas leituras. da idolatria de bandidos. etc. que se vai afirmando cada vez mais. em geral. Ao mesmo tempo. a alma e a vida anímica passam ao primeiro plano. posse do corpo físico. não tem reminiscências de fatos anteriores à idade de três anos. ingressando na maturidade escolar. salvo erros da educação. Até a idade de três anos. Horrível também é a influência dos meios modernos de divulgação. e o professor deve respeitar o eu dos seus alunos. Os sentidos. intelectual e artístico: TV.deixá-la sempre "livre". 40 . dos 7 aos 14 anos. exemplos de figuras com sentimentos nobres e empolgantes. A autoridade baseada no afeto. como o corpo etérico o foi durante a época anterior. Se as crianças já aparentam. Nessa idade. torna-se instrumento poderoso do pensar e da memória.que corresponde à idade escolar . o pensamento se torna capaz de grandes esforços deverá ser desenvolvido na escola de maneira adequada. são múltiplos. de simples órgãos sensitivos. ela muda de aspecto e tudo indica que está. o corpo etérico. Ela chegará sozinha ao grau de desenvolvimento que constitui o fim desse primeiro período de 7 anos e que se manifesta por vários sinais: ela se alonga. no momento do reboliço da puberdade. é caracterizado pelo desenvolvimento intensivo do corpo astral. é a melhor relação pedagógica nessa idade. base de toda a sua vida futura. a personalidade já se afirma mais. com a sua intensa reserva de forças. respeitar. que passa a ser o elemento predominante. Os crimes que se cometem contra a criança nessa idade têm efeitos incalculáveis e definitivos. em uma palavra. então. etc. quer ser o instrumento de impulsos volitivos (esporte). Durante essa fase . O segundo período. a deixar-se permear. passam a ser "antenas" de uma alma: a criança começa a adorar música. com seu baixíssimo nível moral. as vivências artísticas elevam a alma e o corpo inteiro. Não se limitando a imitar. nessa idade. elas não possuem ainda. Qualquer despertar artificial e prematuro das faculdades sentimentais e mentais prejudica a evolução harmoniosa da criança. A criança pequena naturalmente possui um eu. a criança quer agora idealizar. as crianças saberão interpretar com tanto fervor. que se estende dos sete aos catorze anos. Entre os "alimentos" do corpo astral figuram ideais. com o segundo período de 7 anos. A imaginação e a fantasia sentimental se projetam para fora. rádio. e ao mesmo tempo procurar corresponder ao seu idealismo ainda meio inconsciente. um caráter bem pronunciado. A astralidade toma. mas o maior é a fixação do idealismo e da fantasia em figuras de valor duvidoso. Ela vive entregue ao mundo exterior que a permeia. seus dentes definitivos aparecem. manifestações tipicamente intelectuais e conscientes. em peças teatrais ou pequenas encenações de vivências próprias. mais tarde de. e somente a partir dessa idade nascem os primeiros vestígios da memória permanente: o adulto. mas acoplado à vida sentimental. ela nem emprega as palavras "eu" ou "você": chama a si própria pelo seu nome ("Maria quer comer"). Nessa idade a criança desenvolve seus dons artísticos. Os grandes heróis dos mitos e da história fecundam a imaginação e o idealismo. liberto das suas tarefas do primeiro setênio. Os sentimentos se formam e precisam de impulsos apropriados.é principalmente o corpo astral que deve ser "alimentado" de maneira sadia. mas ainda sem autoconsciência. mímica). Sem perigo de prejuízos. Com a evolução do eu. ideais políticos e sociais. deveria conservar este apanágio de um verdadeiro jovem: saber aprender e corrigir suas próprias idéias Uma infinidade de problemas está relacionada com a evolução da criança e do adolescente. sadios demais. acham que seria desonesto educar seus filhos incutindo-Ihes crenças que eles próprios repudiam. Apenas deverá haver uma certa correção e coordenação (por exemplo. se sublima. que não acreditam mais nos dogmas das religiões tradicionais. de nunca esquecer a própria responsabilidade moral e social. Na medida em que o intelecto aparece. salvo influências negativas de fora. durante os primeiros sete anos. com ela. seu idealismo se dirige para objetos mais elevados. Eles se metamorfoseiam igualmente em faculdades volitivas e intelectuais. Em todas as fases do ensino. a vida sentimental. Nessa altura suas faculdades mentais estão plenamente desenvolvidas. a parte que se desenvolve é o eu. por seu lado. por meio de exercícios eurrítmicos) quando o educador percebe que os movimentos traduzem um espírito desequilibrado. Pois assim como os movimentos traduzem certas qualidades anímicas ou mentais. o organismo etérico deve-se dedicar à estruturação do corpo. dando ênfase à necessidade de sempre respeitar o outro. Ao mesmo tempo. o 41 . o jovem passa ao mundo do espírito. Ao estudar a constituição da entidade humana. Por outro lado. o indivíduo é considerado civil e penalmente responsável. Enquanto. também estas últimas. recomendando ao leitor a imensa literatura antroposófica sobre problemas da juventude e da pedagogia. a vitalidade diminui. dos 14 aos 21 anos. já deparamos com a polaridade entre forças vegetativas e intelectuais. Uma educação bem dirigida não impedirá esse desejo de criticar. Por isso deve-se deixar a criança gesticular e mover-se de acordo com os seus próprios impulsos. O jovem começa a "amar". pois assim como a humanidade percorreu extensas épocas de fé e de religiosidade. o elemento artístico deveria estar presente. mais abstratos: discussões filosóficas e metafísicas. Ventilamos somente alguns. O indivíduo começa a ter uma vida íntima própria. mas procurará evitar o cinismo e a negatividade. enchem-Ihe o espírito. Tendo alcançado sua plena maturidade.No terceiro período. ele começa a criticar tudo. podem ser influenciadas por uma atuação sobre os movimentos. Mas. a esses é preciso aplicar uma terapia enérgica de esforços mentais para restabelecer um equilíbrio que está rompido a favor do outro lado. passa a ser um membro aprovado da coletividade. Daí a palidez. Do mundo da alma. a anemia e a fraqueza orgânica das crianças às quais se ordena fazerem esforços intelectuais e que são despertadas cedo demais. Depois da crise da puberdade. pois constitui um contrapeso à excessiva intelectualização e à dinâmica fútil. as crianças precisam viver num meio religioso. As imagens do Velho Testamento. qualquer esforço intelectual implica no desvio das forças etéricas para uma finalidade anormal. de espírito sonolento. Dúvidas e problemas religiosos o atormentam. Encontramos a mesma polaridade no indivíduo jovem. O término dos estudos escolares e universitários marca o fim desse terceiro setênio. Os movimentos são uma atividade própria da infância. O homem é agora maduro para poder tomar o seu destino em suas próprias mãos. a mocinha escreve um diário íntimo. um sentimento de alienação e de separação dos outros. Opinião errada. nasce a consciência da própria personalidade e. até o dia da sua morte. Entre os inúmeros problemas ligados à infância. existem adolescentes gorduchos. O adolescente faz poesias. o pedagogo pode e até deve recorrer ao poder de abstração do seu aluno. destacaremos mais três: 1. Convém ou não o ensino de religião? Muitos pais. Mas apenas "mais ou menos". numa crise turbulenta e eruptiva. A criança extrai dos contos profundas verdades. o reajuste se faz sem dificuldade. o seu corpo físico. essa influência benéfica. constituem. um reajuste. a relação íntima e sagrada entre o homem e Deus. Isso se explica facilmente: na organização elástica e plasmável da criança. verifica-se uma descarga. para que todos apanhem a doença. Sob esse aspecto temos que enfocar de uma forma nova a praxe condenável de se querer impedir as doenças da infância. que lhes dão alto valor educativo. 2. fatos e processos autênticos da evolução espiritual do homem. que algumas crianças não a pegam. A pessoa que conta deve saber que as imagens que transmite correspondem a uma profunda sabedoria popular. em suas imagens. embora numa forma primitiva. Afirma-se que alienam a criança da "realidade". existem certas tensões entre o corpo herdado e a personalidade. isto é. têm o seu ritmo e sua dinâmica intrínsecos. até a idade de 14 anos. verificando-se. são na realidade indícios de uma certa evolução. Ninguém nega que a presença do bacilo seja necessária para que irrompa a doença. tensões que se vão acumulando até que. como os recolhidos pelos irmãos Grimm. justamente por isso. Elas têm todas. Discute-se muito sobre o valor dos contos de fada. Motivo: o seu desequilíbrio ainda não atingiu o grau que faz necessária uma doença da infância. Contos "compostos" intelectualmente não têm o mesmo valor. o corpo endurecido e a entidade mais individualizada e firmada do adulto lhe oferecem considerável resistência. dos seus pais. os contos bons são aqueles que têm sua origem na vetusta sabedoria popular. as mesmas doenças da infância são geralmente graves. repetido em dias seguidos. a "aproveitar" delas da melhor maneira possível. assim. ela deve falar como se acreditasse inteiramente em tudo que conta. mas que esta presença não é suficiente. um alimento espiritual de valor duvidoso. Cortá-las ou impedi-las é 42 . Melhor seria controlá-las e ajudar o corpo. Um conto nunca deve ser lido. mas narrado. Com efeito. nem contados com abundância de detalhes sangrentos e requintes de sadismo. que essas mesmas doenças (que ocorrem só uma vez em cada vida) costumam ser benignas e são seguidas de um período de saúde e bem-estar notáveis. e que constituem. mas. elementos educativos de suma importância. Pouco importa que na idade da puberdade o adolescente abandone a sua antiga atitude religiosa. e além disso. Os contos. que nunca faltam. Durante os primeiros anos de vida. Esse reajuste é a doença da infância: tem-se a impressão de que o eu joga fora algo de superado. ela terá contribuído para formar-Ihe o caráter. Longe de constituir apenas infecções provocadas por bacilos. eles desempenharão a função de constituir o momento de maior tensão a partir do qual tudo corre para o desenlace feliz. a recompensa do justo. por remédios adequados. é como se a criança tivesse triunfado sobre um adversário. seu corpo será mais ou menos adequado à sua personalidade. a punição do mau. Finalmente. Os trechos mais cruéis não devem ser postos em relevo. frequentemente. e como seu eu escolheu esses pais. com efeito. Pouco importa aliás. Aqui também devemos entender-nos melhor! Em primeiro lugar. desde que os pais não a destruam pelo cinismo. outrossim. Por que? Os verdadeiros contos de fada contêm.ambiente belo de uma família que cultiva valores espirituais. uma palavra sobre as doenças da infância. devido a certos trechos cruéis. Quando ocorrem em adultos. a criança "recebe" a sua massa hereditária. então. 3. é provado pelos inúmeros casos em que os pais põem seus filhos doentes e sadios juntos. adequada aos primeiros anos de vida. qual a religião em que uma criança vive. aliás. Sabemos. tornar-se-á permanente ou procurará outro caminho de escape.um sinal de comodidade. A sua entidade deve estar sempre em evolução. exige muita modéstia. chegando até à criação de uma nova arte de movimento. Nunca o trabalho de educar deveria tornar-se rotina ou simples técnica. A esse respeito existe abundante literatura. a formação de aprendizes. naturalmente. aberta aos impulsos espirituais de cima. tudo isso constitui objeto de aprofundadas pesquisas. corrigindo cuidadosamente os defeitos aparentes. convém frisar que ser educador (pai. de fazer desabrocharem as suas faculdades mais belas. A responsabilidade de levar futuros homens ao seu destino final de Homens. as relações humanas na indústria. Voltando à própria educação das crianças. uma ciência agronômica e uma ampla pedagogia curativa para crianças excepcionais. Além de ter a consciência de tudo o que está realmente acontecendo e de tudo o que ele próprio faz. que passou a ser a famosa "Escola Waldorf Livre" de Stuttgart. e não de males como a difteria. No domínio econômico e social. das típicas doenças da infância. fonte de realizações práticas. cujo estudo sugerimos ao leitor mais curioso. além do mais. Falamos aqui. Não há trabalho que exija mais idealismo do que aquele. Sempre baseadas na ciência espiritual e em suas descobertas. o educador deve constantemente trabalhar em si próprio. de "simples" professor. que. mestre de escola) deveria constituir verdadeiro sacerdócio. mãe. é usada para fins educacionais e terapêuticos. Mas o desequilíbrio. artística e social. A designação "Waldorf" provém da fundação da primeira dessas escolas. é uma tarefa imensa. mas adivinhar a feição da individualidade e fazer com que ela atinja e siga harmoniosamente o caminho que leva a si própria. que clama por um reajuste. que por sua vez. pois o educador nunca deve procurar formar a criança de acordo com a sua própria imagem. E assim por diante: não há campo da vida humana que não tenha recebido impulsos preciosos da Antroposofia. e nas quais se pratica um ensino baseado nos princípios pedagógicos idealizados por Rudolf Steiner. A realização desses ideais pedagógicos é hoje em dia praticada nas chamadas escolas "Waldorf". a qual é totalmente diferente daquela adotada em outras escolas. senão de covardia. a paralisia infantil e outras. e isso apesar do tempo limitado decorrido desde sua fundação e do 43 . Queremos apenas chamar a atenção sobre o fato importante de que a Antroposofia não é somente doutrina ou caminho de conhecimento. de acordo com o seu profundo conhecimento da natureza humana. Nas Artes. Da mesma maneira poderíamos ter tratado das realizações práticas da Antroposofia em outros domínios da vida científica. nasceram as escolas existentes hoje em muitos países do mundo inteiro. Podese. a eurritmia. é claro. um conjunto de princípios modernos e práticos aguarda a sua realização em empresas industriais ou organismos sociais maiores. mas também. São escolas que seguem uma orientação educacional dada por ele próprio. e sobretudo. para atravessar e vencer certas fases de tensão. fruto das idéias de Rudolf Steiner. Valiosas descobertas no campo da física e da química foram feitas pela aplicação dos princípios da ciência espiritual antroposófica. dos pais e médicos. além de ser arte pura. Não nos aprofundaremos acerca do método educacional seguido nas escolas Waldorf. A personalidade do professor ou pai deve estar sempre empenhada em captar toda a personalidade do aluno. O fio das considerações nos levou a estender-nos sobre a evolução da criança e problemas de educação. criar uma criança nessas condições. Em 1910 Rudolf Steiner foi solicitado pelo diretor da fábrica alemã de cigarros Waldorf-Astoria a fundar uma escola para os filhos dos operários dessa fábrica e dar-lhe o fundamento pedagógico. Dessa escola. existem uma medicina e uma farmacologia antroposóficas. hoje tão desprezado. a Antroposofia exerceu influências profundas. e significa privar o organismo de um recurso natural. Nesse intervalo. pela própria experiência. à pergunta que ele certamente já vinha formulando desde os primeiros trechos deste livro: Como é que se pode saber algo dos mundos superiores. órgãos esses que fazem parte dos corpos não físicos do homem. Não estão em oposição ou desacordo com nenhum fato da nossa ciência comum. O que caracteriza a iniciação antroposófica é o fato de que esta procura obter o despertar dos órgãos de percepção supra-sensível por um caminho inteiramente consciente. que permite observar conscientemente fenômenos supra-sensíveis. à seriedade de suas atitudes. os fenômenos ocultos por ela descritos. Fatos supra-sensíveis podem ser observados e interpretados apenas pelo vidente. que a ciência comum é incapaz de explicar. não é. Nada disso constitui uma "prova". com que grau de probabilidade podemos admitir as comunicações feitas por Rudolf Steiner e outros a seu respeito? Cabe aqui uma primeira observação. permite a todo homem sensato constatar: 1. 4. Não vamos entrar numa discussão estéril sobre o valor de tal "verificação". principalmente. Nada fica na penumbra de estados semi-conscientes ou inconscientes. no sentido comum do termo. a grande maioria dos homens não esteja interessada nem inclinada a seguir esse caminho. continuar sua obra pesquisadora e plena de realizações. ou no enlevo de estados extáticos ou orgiásticos. a ciência moderna passou a ser bem modesta em suas esperanças de descobrir a "verdade") se faz pela verificação dos fatos e princípios cuja existência é afirmada. Essa atitude objetiva. talvez.número reduzido de homens que souberam. existe uma vivência atávica e inata da qual não falaremos aqui. isenta de preconceitos. tais fatos foram afirmados por todos os grandes iniciados de épocas passadas. em certas circunstâncias. Muitos procurarão conhecer e compreender a Antroposofia e suas realizações sem submeter-se a esse processo de iniciação. a "prova" da verdade (se é que podemos falar assim. sem contradição intrínseca. 44 . em 1925. Em matéria de ciência. Os fatos supra-sensíveis afirmados pela Antroposofia formam um todo coerente. Mas qualquer pessoa dotada de inteligência e bom-senso pode compreender as descrições e interpretações fornecidas pelo vidente e indagar se elas se enquadram nos fenômenos normais da vida comum. De maneira idêntica ou semelhante. ela o era em tempos remotos. aos estupendos resultados obtidos por suas realizações práticas. na realidade. mas não há dúvida de que a ciência espiritual antroposófica possa satisfazer qualquer espírito crítico. ao caráter científico dos seus métodos e. à guisa de respostas. Explicam inúmeros fenômenos. Mas. devido ao seu alto grau de verossimilhança. já que as próprias escolas filosóficas discordam veementemente sobre esse assunto. Essa atitude é perfeitamente compreensível. hoje em dia. e o será novamente em tempos futuros. uma faculdade comum. 3. "Iniciação" é o nome dado ao processo pelo qual se consegue esse despertar. verificar. a capacidade de vivenciar a realidade dos mundos superiores pode ser adquirida mediante uma transformação que consiste no despertar de órgãos de percepção superior. O CAMINHO DO CONHECIMENTO Consideramos nosso dever proporcionar ao leitor alguns esclarecimentos. A própria Antroposofia indica os meios que permitem. 2. A vidência. O homem que se encaminha pela senda da iniciação tampouco fica na dependência de qualquer hierofante ou guru. após a morte de Rudolf Steiner. como os cabalistas. elevar-se pouco a pouco à clarividência. mas o estudioso aplicado verá como é difícil essa harmonização. Para maiores detalhes. atitudes morais. característicos de movimentos esotéricos charlatanescos e de práticas altamente condenáveis como o mediunismo e a vidência conseguida pela simples aplicação de substâncias químicas. de perseverança. certos obstáculos desse domínio podem impossibilitar um processo qualquer a ele ligado. Antes de começar os exercícios propriamente ditos. desacreditados e perseguidos pelas religiões oficiais. enquanto a maior parte dos homens já se tinha afastado do contato com os mundos superiores Havia sempre fraternidades ocultas. Erros. o candidato era um "iluminado". constituem instrumentos desta transformação. e somente alguns círculos muito fechados e secretos passavam a uns poucos escolhidos a sabedoria iniciática. o candidato deve esforçar-se por controlar. Chegado o momento da iniciação propriamente dita. Como estamos aqui em domínios não-físicos. porque o corpo etérico que acompanhara o "eu" tinha agora a lembrança de toda a realidade espiritual vivenciada por este. como as drogas e os psicotrópicos modernos. nessa altura. O iniciado ou neófito recebia durante anos um ensinamento profundo e era submetido a um treino intenso da vontade. isso o capacitava a acompanhar o "eu" em suas peregrinações pelos mundos espirituais. Mais tarde. A própria maçonaria era originalmente uma sociedade esotérica.. deve-se estudar as obras de Rudolf Steiner sobre esse assunto. Isso parece fácil. ele aprofundava ainda mais esses conhecimentos. com plena consciência. assim. o leitor não estranhará que atividades nãofísicas. Como no mundo físico. Sozinho. durante um sono de três dias e meio. Tais exercícios têm por finalidade o despertar gradativo dos órgãos de percepção supra sensível. ordens como a dos Templários. ao menos cinco minutos por dia. manipulava o corpo etérico por praxes mágicas de maneira a quase separá-lo do corpo físico. que o mundo espiritual existia. sentimentais ou morais erradas podem tornar qualquer evolução iniciática impossível. por meio deles consegue-se uma transformação da substancialidade astral e etérica. A preparação anterior era necessária para permitir ao indivíduo suportar conscientemente tais vivências. por experiência própria.Na Antiguidade. Nesta breve exposição devemos limitar-nos a alguns aspectos gerais e as linhas que se seguem pretendem apenas completar a imagem que o leitor já fez da Antroposofia. Ao acordar. a sua atividade mental de tal maneira que pense somente naquilo em que quer pensar (tente o leitor dirigir os seus pensamentos durante dois minutos para qualquer assunto sem desvio algum. o aluno espiritual deverá conseguir o domínio e a harmonização consciente de todas as suas faculdades mentais e anímìcas. certas atitudes ou atividades mentais. vencendo qualquer impulso descontrolado de simpatia ou antipatia. pode. 45 . por meio de certos exercícios espirituais. estes degeneraram. na realidade. os cavaleiros do Graal ou os rosacruzes autênticos. escolas filosóficas como a de Chartres e indivíduos "místicos" ou alquimistas. visões falsas e enganos são o resultado de quem quer forçar um desenvolvimento oculto sem a observação de uma série de regras básicas. verá como esse exercício de aparência tão ingênua é. a iniciação era conseguida nos Mistérios dos templos e oráculos. Por meio de novos exercícios. Hoje o indivíduo que pretende seguir uma evolução iniciática não precisa pertencer a nenhuma seita ou sociedade oculta. etc. Deve-se aspirar à perfeita serenidade dos sentimentos. Daí a possibilidade de ilusões e erros crassos. ou deturpar-lhe completamente o sentido e os resultados. sentimentos. correntes heréticas como a dos cátaros. O iniciado sabia. Essa iniciação era originalmente praticada no fundo dos Mistérios. ou antes. A não-observação de tais regras abre caminho à atuação de seres espirituais interessados em impedir uma evolução iniciática certa e harmoniosa. da coragem e outras qualidades. como pensamentos. o seu mestre o fazia adormecer e. A mesma serenidade deve reinar no pensar. estas se disjuntam de certa maneira sob a influência da iniciação. Para chegar a essa realidade subjacente. Ao mesmo tempo "verá" que certos órgãos astrais do aluno se destacam mais que antes. Mediante uma perseverança férrea. Como fruto das meditações. familiares e sociais em geral. o sentir.difícil . Ao mesmo tempo o candidato verifica que está num estado de alerta mental. Aliás. procurando ainda mais o controle e a harmonização das suas faculdades. A vontade deverá ser treinada por exercícios de perseverança. Essa clarividência persistirá somente durante a meditação. o aluno espiritual deve abrir-se ao mundo. Os sonhos parecem tomar um sentido mais concreto. porém.). O vidente perceberá esse nascimento da clarividência num outro indivíduo através de uma transformação da aura. Estes começam pela representação mental de certos símbolos.. e que seu pensar Ihe parece realizar-se sem a intervenção do cérebro. sem que o aluno se deixe influenciar por qualquer impressão sensível e sem que os seus pensamentos se desviem do objeto da representarão. Trata-se naturalmente apenas de equivalentes das nossas impressões sensoriais. em si. Ao contrário. já constituem um exercício. quais sonhos conscientes. ele deverá elevar-se a um grau mais alto de vidência. na maior parte. esses exercícios limitar-se-ao no começo a alguns minutos por dia. esporádicas no começo. Ela é caracterizada pela transformação constante das "imagens". objeto da sua concentração. o candidato procurará em vão o desenvolvimento dos órgãos de percepção superior latentes. De maneira geral. Como essa impressão se assemelha a uma imagem. Ao mesmo tempo. o aluno terá também vivências comparáveis ao calor. Nada. os símbolos ou frases. sentimentais e volitivas. nesses exercícios. no eixo do corpo. "luzente" ou "visão" para descrever fenômenos supra-sensíveis. que se manifesta através dessas sensações. mais consciente do que antes e continuar com zelo redobrado em todos os seus afazeres profissionais. Se tiver sucesso. por um ato de vontade. impregnando de amor e de consciência todos os seus atos. o homem voltará aos seus misteres costumeiros. Pouco a pouco. Nos intervalos. praticar uma atitude realmente positiva e igual frente ao mundo. É preciso. Esses órgãos. Com efeito. nos quais as imagens lhe vêm "de fora". aos sons. esta primeira etapa se chama "consciência imaginativa" ou "imaginação". os chamados "flores de loto" ou chacras. embora com plena consciência mental. Já empregamos várias palavras como "redondo". Essa concentração chama-se "meditação". frases ou versos. e notará que essas impressões sensoriais superiores correspondem a uma realidade ainda mais elevada. fossem caminhar em direções diversas ou até opostas. o querer. a alturas variadas. ao frio. regularidade e perseverança que. o meditante pode ter uma sensação fugaz e indescritível de visões não-físicas. podem tornar-se mais frequentes e regulares. concentrando-se no "vazio" produzido por essa eliminação consciente. "perceberá" seres espirituais que se escondiam "atrás" das imagens do primeiro grau de vidência. quando antes "via" só os objetos movidos pelo mesmo. com a maior humildade espiritual e sem qualquer curiosidade.. É como se percebesse agora o vento. tornam-se mais "luzentes" e começam a apresentar movimentos rotativos. Para tal o aluno espiritual procura eliminar. essas sensações. 46 . implica numa fuga do mundo ou em estados de enlevo. Trata-se de órgãos de forma "redonda" situados. notar-se-á que o sono se torna mais consciente e mais transparente. à luz. Sem praticar esse treino de harmonização das suas faculdades intelectuais. é como se o pensar. inúmeras vezes repetidas com paciência. a chamada "consciência inspirada" ou inspiração. mais positivo. por meio de exercícios iniciáticos. o aluno deve ser mais realista. Ali é administrada a herança espiritual deixada por Rudolf Steiner. por assim dizer. Mas desta vez é uma visão sublime. inspiração e intuição . indescritíveis. em Dornach (Suíça). Em inúmeros países existem grupos locais onde os membros podem reunir-se para a prática das suas atividades antroposóficas. Mas sempre. e o seu corpo etérico cresce para além dos limites do corpo físico. sofrerá uma transformação e desenvolverá órgãos novos. Ao mesmo tempo. Isso lhe permite conhecer-lhes a vida interior e o estado de consciência. É uma visão do Eu Cósmico total. percebeu "de fora". conseguirá também "acompanhar" os mortos em sua existência post-mortem. Enquanto a visão desse monstro lhe aparece em sua meditação. seu corpo etérico. As três fases da iniciação . daquele ser que é como que a personificação do eu humano ideal: o Cristo. As experiências relatadas pelos iniciados são. Pode haver simultaneamente experiências pertencentes a vários graus de consciência. vive-los-á. Em seus estados de vidência. Em tempos modernos houve só um que as traduzisse em termos terrenos acessíveis ao raciocínio comum. se torna pouco a pouco capaz de vivenciar as próprias encarnações passadas.Nesse segundo grau de conhecimento superior ele começará a ter a capacidade de "ler" na crônica do Akasha. poderosíssimo. na realidade. em tempos futuros. A sua própria aura se transforma. que cumpriu assim a tarefa histórica de ser o iniciador de um movimento que deverá levar o ser humano. Esse estado deverá ser alcançado quando o homem terminar sua missão terrena. o iniciado. É um ente brilhante. o qual se lhe opõe. Palavras humanas não permitem descrever os mundos superiores. Entre as experiências mais incisivas estão dois encontros: O primeiro coloca-o à frente do chamado "guarda do limiar": é a sua própria astralidade ainda imperfeita. A Escola Superior Livre de Ciência Espiritual (Freie Hochschule für Geisteswissenschaft) continua a atividade de pesquisa e divulgação esotérica iniciada por Rudolf Steiner. ele estenderá o seu campo de observação até a sua existência anterior ao nascimento. o iniciado vive agora nos mundos de seu eu iria percorrer normalmente apenas depois da morte. A SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA GERAL O movimento antroposófico tem por centro da sua organização terrena a Sociedade Antroposófica Geral. o homem deverá viver uma vida normal. Foi Rudolf Steiner. O iniciado verificará que correntes etéricas o preenchem. O aluno tentará chegar a ele fixando a atenção em sua própria atividade mental. que lhe aparece. O terceiro grau de consciência superior é o da intuição. com sede no Goetheanum. tornando-se "uno" com eles. Paramos aqui com essas breves indicações relativas ao caminho iniciático. Ao mesmo tempo. procurando fortalecer o seu eu que continua ameaçado pelas tendências "centrífugas" acima mencionadas. o candidato sabe que ainda não está maduro para trilhar o caminho que leva às regiões superiores dos mundos espirituais. 47 . na inspiração.imaginação. Penetrará neles e. irradiando para fora do seu corpo. o conjunto das suas forças anímicas impuras. qual um sósia. barrando-lhe o caminho. ao "voltar" à consciência cotidiana. puríssimo. aniquilando-o e elevando-o ao mesmo tempo. A consciência intuitiva permitirá ao iniciado conhecer "de dentro" os seres que.não se seguem necessariamente uma à outra. que faz sentir ao homem a insignificância do seu ser. durante o tempo em que se concentrar na meditação. a uma reintegração consciente nos mundos superiores. O segundo encontro não é menos terrível. Pode tornar-se membro da Sociedade Antroposófica Geral qualquer pessoa. profissão e religião. religião e convicções científicas e artísticas. Segundo Rudolf Steiner. Tais resultados podem levar a uma vida social realmente assentada no amor fraternal. como Escola Superior Livre de Ciência Espiritual. A sua adoção. seja qual for a sua nacionalidade. mas tão somente o ser humano isento de preconceitos". 48 . sem distinção de nacionalidade. "A Antroposofia cultivada no Goetheanum produz resultados suscetíveis de fecundar a vida espiritual de qualquer indivíduo. não pressupõe nenhum grau de instrução científica. profissão. desde que considere como justificada a existência de uma instituição qual o Goetheanum em Dornach. como fundamento para a vida.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.