Neuroplasticidade Teórico

March 27, 2018 | Author: Carla Marcela Faedda | Category: Neuroplasticity, Neuron, Cerebrum, Memory, Synapse


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INCISAInstituto Superior de Ciências da Saúde Pós-graduação Lato Sensu em Linguagem MÓDULO LINGUAGEM, COGNIÇÃO, NEUROPLASTICIDADE E NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM. FGA. MSC. CARLA FAEDDA ALUNO(A):______________________________________________ MATERIAL DIDÁTICO DE APOIO PROFESSORA: FGA. CARLA M. FAEDDA Neuroplasticidade SISTEMA ADAPTATIVO: PLASTICIDADE E RECUPERAÇÃO Todos os organismos vivos possuem, ao longo da vida, uma capacidade inerente de auto-organização, sendo que os processos organizacionais que afetam todos os sistemas são reflexos da história do organismo (incluindo experiência e uso). Alterações moleculares específicas, bioquímicas, eletrofísicas e estruturais ocorrem ao longo de toda a vida nos neurônios do sistema nervoso central (SNC) e nas redes neuronais em resposta à atividade e ao comportamento. A etiologia e os mecanismos dos processos organizacionais em seres humanos têm sido cada vez mais compreendidos e este conhecimento oferece critérios de como esses processos podem ser manipulados na obtenção de uma recuperação ótima. Uma lesão cerebral afeta tanto a anatomia como a fisiologia do sistema nervoso. Ou seja, a lesão destrói ou interfere diretamente com corpos celulares, dendritos e axônios dos neurônios e, indiretamente, afeta a programação dos impulsos nervosos por todo o tecido cerebral intacto. O treinamento pós-lesão, visto que envolve o aprendizado pessoal de como realizar determinadas ações e processos mentais, desempenhados facilmente antes da lesão, é um estimulo crucial na criação de novas e mais efetivas conexões funcionais, dentro do tecido cerebral remanescente. É claro que, se a recuperação/reorganização for bemsucedida, os pacientes podem ter conexões diferentes das anteriores à lesão mediante uma atividade. Resumidamente isto se trata dos relacionados á reorganização neural após uma lesão cerebral como meio de enfatizar o potencial que a reabilitação tem de alterar tais processos. De modo concomitante às alterações cerebrais, os músculos e outros tecidos moIes também se reorganizam e adaptam-se, de acordo com os padrões de uso. O que parece certo apresentado é que para a reabilitação (incluindo fisioterapia) ser eficaz no auxilio ao indivíduo que deseja obter recuperação funcional ótima, há a necessidade de se dar mais ênfase aos métodos de "uso forçado" dos membros afetados e remoção de treinamento e experiências relacionados à tarefa. Há muitas evidências que a reorganização neural reflete os padrões de uso. Mesmo em nível periférico, exercícios específicos com objetivos direcionados têm demonstrado aumentar a recuperação em animais e humanos nas neuropatias agudas e crônicas. Após uma lesão cerebral aguda, aqueles indivíduos que não morrem, começam a demonstrar recuperação comportamental e as manifestações biológicas essenciais da recuperação refletem a habilidade organizacional inerente ao sistema. De forma gradual, a noção do cérebro (na verdade, o sistema humano inteiro) como adaptável é filtrada pela comunidade médica. Entretanto, embora haja uma crescente aceitação de uma conexão entre plasticidade cerebral e potencial de recuperação, ainda não tem sido aceita a idéia de que haja uma conexão entre potencial de recuperação e eventos pós-lesão, em particular, relacionados à reabilitação. Existem muitos clínicos que acreditam na reabilitação como fundamental à recuperação, mas ainda são poucos aqueles que vão um pouco além e afirmam que a natureza, o processo e os métodos utilizados na reabilitação também influenciam na recuperação e que alguns métodos podem facilitá-Ia e outros, inibi-Ia. Por isso tem sido difícil para os clínicos acreditar que aspectos particulares da reabilitação podem produzir efeitos específicos na recuperação cerebral. PLASTICIDADE DO CÉREBRO NORMAL O termo plasticidade refere, em geral, à capacidade do sistema nervoso central de se adaptar as demandas funcionais e, portanto, a capacidade do sistema de se reorganizar. Como resultado de estudos experimentais, tanto em animais como em humanos, os processos cerebrais são agora reconhecidos como sendo remodelados de forma contínua pelas nossas experiências por toda a vida, particularmente pelo uso que fazemos do sistema. Em seu sentido mais amplo, portanto, plasticidade inclui o processo de aprendizagem. Esta visão é contrária à idéia inicial do cérebro como funcionalmente estático. Mecanismos de plasticidade cerebral incluem a capacidade para mudanças neuroquímicas, na estrutura neural e nos receptores. Alem disso, a natureza paralela e distribuída a organização cerebral surge para desempenhar um importante papel na capacidade de flexibilidade e adaptação do cérebro. Extensos colaterais axonais intracorticais possibilitam a entrada de diversas representações do movimento de uma dada parte do corpo e seus padrões de recrutamento podem determinar a execução de movimentos complexos. Existe uma grande justaposição de redes neurais corticais representando diferentes partes do corpo e estas redes compartilham, em parte, elementos neurais comuns. Em macacos, a área de projeção do córtex motor, para um simples neurônio motor na medula espinal, é relativamente larga (pode ser acima de 13 mm2) e colônias de neurônios corticais se sobrepõem. Populações celulares dentro do cérebro são dinamicamente organizadas, com a possibilidade de variabilidade na estrutura e função, de acordo com as necessidades comportamentais. Ou seja, células do indivíduo e sistemas neurais têm a habilidade de auxiliar em mais de uma função. A regulação da efetividade, tanto transitória como de longa duração, das sinapses ocorre diariamente por toda a vida e também é determinada pela experiência. Os próprios receptores representam a plasticidade pela transmissão sináptica que vai tornando-se mais forte ou mais fraca, de acordo com o uso. A remodelagem do efeito cortical neural ocorre entre as colunas e os grupos cooperativos de neurônios, dos quais há centenas de milhões Os mapas corticais diferem de maneira a refletir o seu uso, parecendo ser sujeito a modificações, com base nos padrões de atividade das vias sensoriais periféricas. Por exemplo, em um experimento com animais, o uso dos três dedos mediais para obtenção de comida foi seguido por uma expansão da área do córtex representativa dos três dedos mediais. A PLASTICIDADE NEURAL E SUAS IMPLICAÇÕES NOS PROCESSOS DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM. A neuroplasticidade é uma propriedade natural do sistema nervoso dos indivíduos caracterizada por alterações funcionais e/ou morfológicas nos neurônios em resposta a lesões, hormônios, drogas ou estímulos ambientais. Existem cinco tipos de plasticidade neural: regeneração, plasticidade axônica, dendrítica, somática e sináptica. Esta última possui fundamental importância na formação de redes neurais, permitindo o desenvolvimento adequado da capacidade cognitiva dos indivíduos. Dessa forma, o presente artigo objetiva uma revisão de literatura das implicações da plasticidade neural nos processos da memória e aprendizagem. Durante o processo evolutivo, o desenvolvimento de interações sociais e a relação com eventos ambientais só foram possíveis graças à ação sinérgica de diferentes órgãos, coordenados pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Esta ação ocorre por meio de um fenômeno chamado plasticidade, de forma que, quando ocorre com neurônios, é chamada de plasticidade neural. Esta pode ser definida como sendo a capacidade cerebral de alterar funcionalmente e morfologicamente estruturas em resposta a experiências, drogas, hormônios e lesões. Habilidades para aprender, recordar e esquecer também ocorrem em decorrência destas alterações, cuja função é de caráter adaptativo dos organismos. Os mecanismos pelos quais ocorrem os fenômenos de plasticidade podem incluir modificações sinápticas do receptor, da membrana e neuroquímicas. Estas últimas, também chamadas de fatores neurotróficos, possuem um papel-chave nos fenômenos de plasticidade, sendo caracterizadas como uma classe de moléculas que agem para dar apoio ao crescimento e à diferenciação nos neurônios em desenvolvimento. Os fatores neurotróficos são produzidos em grandes quantidades no cérebro, tanto pelos neurônios quanto pela neuróglia, e podem afetar os neurônios regulando seu crescimento e proporcionando um padrão adequado das conexões entre as células neurais. As ações por meio desses fatores podem ocorrer desde a vida embrionária até a idade adulta, com redução progressiva de acordo com o aumento da idade. Atualmente, sabe-se que elas passam a ser sintetizadas em maior quantidade pelo tecido nervoso submetido a traumas. Existem 5 tipos de neuroplasticidade: regeneração, plasticidade axônica, dendrítica, somática e sináptica. Quando o sistema nervoso sofre uma lesão estrutural ou funcional, este experimenta mudanças no intuito de restaurar estas lesões. Atualmente, sabe-se que a plasticidade neural, sob a forma de regeneração, ocorre principalmente no sistema nervoso periférico (SNP), tendo em vista que esta é facilitada por um ambiente favorável composto por mielina que, por sua vez, é produzida pelas células de Schwann, o qual orienta o crescimento axonal. (6) Indivíduos que sofreram traumatismos envolvendo secção de nervos periféricos, por exemplo, podem obter uma recuperação das funções de maneira parcial ou completa caso haja uma intervenção rápida. Existe uma etapa da vida em que há um período de maior neuroplasticidade, chamado período crítico, que ocorre por meio da plasticidade axônica ou ontogenética. (4) Este período compreende a fase que vai dos 0 aos 2 anos de idade, sendo fundamental para um desenvolvimento normal do sistema nervoso. Dessa forma, um ambiente rico em estímulos é fundamental para a aquisição de várias capacidades cerebrais, uma vez que eles proporcionam a excitação necessária para a modificação permanente dos circuitos neurais. Segundo Lent , o desenvolvimento da linguagem humana é um exemplo de plasticidade axônica em que a recuperação das funções linguísticas decorrentes de lesões cerebrais na infância são mais facilmente recuperáveis do que em adultos em decorrência da neuroplasticidade axônica. A plasticidade dendrítica é caracteriza- da por alterações no número, no comprimento, na disposição espacial e na densidade das espinhas dendríticas, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento do indivíduo. As espinhas dendríticas constituem- se de micropetídeos privilegiados que concentram íons e pequenas moléculas influentes na transmissão de informações entre os neurônios. O padrão das espinhas dendríticas se modifica dinamicamente com a aprendizagem, possuindo um importante papel nas funções neurais altas. Em alguns casos este padrão pode se modificar, resultando em disfunções entre as conexões interneurais. Estas alterações estão relacionadas a diversas patologias, dentre elas a síndrome do X Frágil, síndrome de Rett, Retardo Mental, Neurofibromatose e Epilepsia. A plasticidade somática pode ser entendida como a capacidade de regular a proliferação ou a morte de células nervosas. Somente o sistema nervoso central embrionário é dotado de tal capacidade, e ele não responde a influências do meio externo. Dessa forma, uma das esperanças na recuperação somática está na utilização de células-tronco. Este tipo de célula pode se diferenciar, constituindo diferentes tecidos no organismo, além de gerar cópias idênticas de si mesmas. Por causa dessas duas capacidades, as células-tronco são objetos de intensas pesquisas, pois poderiam, no futuro, funcionar como células substitutas em tecidos nervosos lesionados ou doentes, como nos casos da doença de Alzheimer , Parkinson, Acidentes Vasculares Cerebrais , entre outros. A plasticidade sináptica é caracterizada por alterações nas sinapses entre as células nervosas. As sinapses são conexões especializadas que permitem transmitir informaçãodesde um neurônio a outro. Na maioria das sinapses, a informação que viaja na forma de impulsos elétricos ao longo de um axônio é convertida em um sinal químico, o qual é liberado nas conexões interneurais. Na membrana pós-sináptica, este sinal químico é convertido novamente em elétrico. Esta transformação da informação em elétrica-química-elétrica pode acarretar alterações duradouras nas conexões interneuronais por meio da plasticidade sináptica. Este sistema possui um papel fundamental nos processos do aprendizado e memória, os quais serão detalhados adiante. O PROCESSO DE PLASTICIDADE NEURAL O Processo da Plasticidade Neural Uma maneira de se entenderem os processos de plasticidade é por meio da teoria proposta por Hebb. Segundo o autor, quando um axônio de uma célula A está próximo o suficiente para excitar uma célula B, e esta excitação se mantém de maneira persistente por meio de potenciais de longa duração (LTP), acontece um processo de crescimento ou alterações metabólicas em uma ou em ambas as células, o que acaba por aumentar a eficiência das sinapses. Para que o LTP ocorra, é necessário que um neurônio receba estimulações elétricas mais fortes que o comum como forma de aumentar o tamanho dos potenciais de campo na célula. Esse aumento da carga elétrica na célula faz com que esta envie estímulos mais fortes para as outras e assim sucessivamente. O glutamato é um neurotransmissor que desempenha um papel-chave na plasticidade neural. Ele age sobre dois tipos de receptores, NMDA e AMPA. Os receptores AMPA são mediadores das respostas produzidas quando o glutamato é liberado de uma membrana pré-sináptica, ao passo que os receptores NMDA permanecem com seus canais bloqueados. Quando existe uma estimulação elétrica mais forte, ela acaba por abrir os canais do receptor NMDA. Esta abertura permite um influxo de íons de Ca 2+ no neurônio pós-sináptico, iniciando uma cascata de eventos bioquímicos em que esta célula nervosa gera estímulos mais intensos para outras. Esta série de eventos intracelulares pode durar de horas a dias e possui funções importantes nos processos da memória e aprendizagem. A definição de memória e aprendizagem é extremamente difícil, uma vez que, em geral, estes processos são inferidos a partir de comportamentais, ao invés de serem mensurados diretamente. definições correntes comportamento, como indica que resultado a da aprendizagem experiência ou é a alterações Uma das modificação aquisição de do novos conhecimentos acerca do meio, e a memória é a retenção deste conhecimento por um tempo determinado. Classificação dos Processos de Aprendizagem e Memória A classificação dos processos de aprendizagem guarda íntima relação com os procedimentos experimentais de laboratório, conhecidos como habituação, sensibilização, condicionamento clássico e condicionamento operante. A habituação é uma maneira simples de aprendizado em que a força de uma resposta a um determinado estímulo diminui com as suas apresentações repetidas. Um indivíduo que se muda para o centro de uma cidade agitada, e inicialmente possui dificuldades para dormir em decorrência do barulho, com o tempo deixa de perceber a maior parte dos ruídos através do processo de habituação. A sensibilização corresponde ao processo inverso da habituação, de forma que o estímulo tem sua resposta acentuada à medida que é apresentado. Esse é um sistema adaptativo em termos evolutivos, o qual permite, por exemplo, o reforço de memórias importantes para a sobrevivência. Com a habituação, o influxo de íons Ca 2+ em resposta ao potencial de ação diminui, resultando em menos neurotransmissores liberados na membrana présináptica, gerando um estímulo mais fraco na membrana pós-sináptica. O inverso acontece na sensibilização, na qual o influxo de íons Ca 2+ aumenta em decorrência de um potencial de ação prolongado causado pela redução do fluxo de íons K + na membrana pré-sináptica. Estes eventos intracelulares são responsáveis pelas alterações sinápticas nesses dois sistemas de aprendizagem . A história dos estudos com condiciona- mento clássico começou com o fisiologista russo Ivan Pavlov. A partir de seus estudos, atualmente sabe-se que a base do condicionamento clássico é a associação entre estímulos. No decurso de seu estudo da fisiologia das secreções digestivas em cães, Pavlov notou que os animais, além de salivarem di ante de estímulos, como alimentos, também o faziam quando viam a pessoa que os alimentava ou quando ouviam os passos dessa mesma pessoa. Nas condições experimentais de laboratório, a apresentação de alimento, que é o estímulo incondicionado (EI) a um animal, provocou a salivação, que é a resposta incondicionada (RI). O condicionamento ocorre quando um estímulo neutro (EN) (o som de uma campainha, por exemplo), é emparelhado com o EI, desencadeando uma reação similar à RI, que é chamada de resposta condicionada (RC). O condicionamento operante ocorre sempre que os efeitos que se seguem a um comportamento aumentam ou diminuem sua probabilidade de voltar a ser desempenhado em uma situação similar. Se um comportamento é repetidamente seguido de resultados agradáveis ao indivíduo, ele tende a ser desempenhado com maior frequência sob condições similares. Entretanto, se o comportamento for geralmente seguido de consequências desagradáveis, este tende a ser repetido com menos frequência, sob condições semelhantes. Dessa forma, a base do condicionamento clássico é a associação entre estímulos, enquanto que no condicionamento operante a base é a associação entre o estímulo e o comportamento do animal. Está bem estabelecido que existem dois tipos diferentes de armazenamento de informações: a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. A primeira dura poucos minutos, justamente o tempo suficiente para que as memórias de longa duração sejam consolidadas por meio de alterações morfológicas das sinapses ou pelo fortalecimento das já existentes. As memórias também podem ser classificadas de acordo com o seu conteúdo em memórias declarativas e procedurais. A primeira refere-se a recordações de experiências sobre fatos e eventos passados, sendo que o acesso a estas informações ocorre de maneira consciente. Um indivíduo que retém informações sobre uma determinada matéria o faz por meio da memória declarativa. As memórias procedurais estão relacionados aos procedimentos e habilidades aprendidas gradualmente ao longo da vida. Saber andar de bicicleta, dirigir, costurar, entre outras tarefas, seriam exemplos de informações relaciona das a este sistema de memória. Em geral, estas habilidades são adquiridas de maneira automática, não-consciente, o que faz com que o indivíduo não perceba de forma clara cada passo da aprendizagem das tarefas em contato com ele. Estudos realizados com pacientes que apresentavam déficits de memória em decorrência de lesões cerebrais identificáveis através de modernas técnicas de neuro-imagem, incluindo a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética funcional (MRI), proporcionaram um entendimento anátomo-funcional mais preciso das memórias procedurais e, sobretudo, das declarativas. Como consequência, a formação das memórias declarativas seriam permeadas, principalmente, pelo córtex pré-frontal, córtex parietal e o hipocampo, ao passo que a formação das memórias procedurais se daria através de regiões, como núcleo caudado, putâmen, cerebelo e amígdala cerebral. Dentro dessa perspectiva, o armazena- mento de uma informação ocorre por meio de modificações permanentes ou, pelo menos, muito duradouras da forma e função das sinapses das redes neurais de cada memória. A evocação de uma memória ocorre por meio da reativação de redes sinápticas para cada uma armazenada. Este processo pode ser inibido por mecanismos variados, tais como as emoções, os níveis de consciência e o estado de ânimo. Apesar de os avanços na área das neurociências oferecerem um conhecimento cada vez maior acerca da plasticidade neural e dos princípios que regem seu funcionamento e adaptação aos processos da memória e aprendizagem, ainda há muito por se entender e compreender. Conforme se avança no conhecimento dos mecanismos neuroquímicos e neuroanatômicos que dirigem a plasticidade sináptica, futuramente podem-se desenhar novas estratégias de atuação em indivíduos com diferentes graus de dificuldades no processo de memorização e aprendizagem. CONCLUSÃO: A aprendizagem e a memória requerem mecanismos neuronais mediados principalmente pelas sinapses nervosas. Um pequeno estímulo pode determinar uma alteração persistente nos circuitos cerebrais e que podem permanecer por toda vida. Assim sendo estímulos neuropsicológicos, eletrofisiológicos, farmacológicos bem como a genética molecular alteram as sinapses nervosas, determinando alterações constantes nos circuitos cerebrais principalmente no hipocampo. Estímulos constantes, mediados pelas alterações sinápticas através dos mecanismos de potenciação de longa duração e de depressão de longa depressão, assim como também os receptores de N-metilaspartato NMDA e os subtipos de aspartato são fundamentais nos fenômenos da plasticidade cerebral, pois, agem continuamente sobre a memória e a aprendizagem. E desta forma que tais modificações permitem a adaptação constante dos seres vivos frente às demandas do meio ambiente e o meio interno garantido assim a sobrevivência das espécies. FERRARI, AM, TOYODA MSS, FALEIROS L, CERRUTI SM. Plasticidade neural: relações com o comportamento e abordagens experimentais. Psicol teor pesqui 2001 Mai/Ago;17(2):187-94. 2 Maren S, Baudry M. Properties and mecha- nisms of long-term synaptic plasticity in the mammalian. Neurobiol learn mem 1995 Jan; 63(1):1-18. ODA JY, Sant’ana DMG, Carvalho J. Plasticidade e regeneração funcional do sistema nervoso: contribuição ao estudo de revisão. Arq ciências saúde UNIPAR 2002;6(2):171-76. KOLB B, Wishaw I. Neurociência do comportamento. Barueri: Manole; 2002. LOMBROSO, P. Aprendizado e memória. Rev bras psiquiatr 2004 Set;26(3): 20710. A inteligência A inteligência e os animais Muitos animais mostram inteligência em diferentes graus, sendo a inteligência humana a que mais evoluiu em tempo relativamente curto (cerca de dois milhões de anos), obviamente considerando essa evolução dentro de uma escala de centenas de milhões de anos. A inteligência humana teve uma evolução espetacular a partir da inteligência dos primatas, mas é curioso cogitar-se que uma inteligência tão fulgurante como a humana poderia ter evoluído a partir da inteligência de outros mamíferos avançados, tais como os golfinhos, por exemplo. Talvez a maior instabilidade dos ambientes aquáticos comparativamente com os territoriais e as catastróficas alterações de clima no continente africano tenham promovido a grande evolução da inteligência dos primatas em detrimento dos golfinhos. Como a inteligência não tem registro paleontológico, como ossos, dentes, etc., a tentativa de deslindar os mistérios relativos à evolução da inteligência dos animais em geral e dos primatas e golfinhos em particular são realizados a partir das evidências colhidas por cientistas a respeito do comportamento desses animais ao longo do tempo, como, por exemplo, a caça em grupo e a comunicação entre eles por sons ou por gestos. Atualmente a visão científica é de que existem vários graus de inteligência, de que alguns animais dispõem de funções neurais, tal como a destreza manual, de visão colorida estereoscópica, altamente sofisticada, de reconhecimento e uso de símbolos complexos, de memória de longo prazo, etc. O homem compartilha com outros mamíferos de muitos aspectos inteligentes que, anteriormente, supunha-se características humanas exclusivas, como a linguagem simbólica, por exemplo. O fato é que o homem é o mais inteligente animal da Terra por causa das características do seu cérebro, mas outros animais dispõem de inteligência muito desenvolvida. A inteligência humana A evolução da inteligência humana foi estudada a partir do aumento da capacidade craniana e da utilização da inteligência na preparação dos primitivos artefatos fabricados pelo homem para a caça em grupo, para o cozimento precário de alimentos, etc. Esse estudo prossegue até os dias atuais, com o homem produzindo robôs, espaçonaves e células fabricadas a partir de embriões, destinadas à restauração de tecidos do seu corpo, etc. Cientistas levantaram a hipótese de que é necessária uma “massa crítica” de neurônios como condição “sine qua non” para a explosão evolucionária da inteligência ou, em outros termos, abaixo de certo número de neurônios a inteligência não leva à invenção, à imaginação, à comunicação social simbólica e a outras formas semelhantes à inteligência humana. Essa hipótese é de que atingido certo número de neurônios ocorreu a explosão evolutiva da inteligência humana, o que determinou o rápido aumento do cérebro e da sua complexidade e que a inteligência humana prossegue agora tão somente no sentido da sua evolução qualitativa, ou, em outros termos, o homem será cada vez mais inteligente, distanciando a sua inteligência da dos outros animais. Essa teoria leva a uma cogitação muito curiosa: poderia em condições especiais ocorrer uma explosão parecida com a inteligência de outro animal, levando-a depois a uma evolução muito rápida? Teorias referentes à inteligência Sócrates teve uma visão prevalente de inteligência como um raciocínio abstrato no campo da linguagem e da matemática. Platão e Aristóteles entenderam a inteligência como uma habilidade na lógica, na geometria e na argumentação. Os três filósofos gregos buscaram identificar pessoas sábias e testaram seus conhecimentos com o objetivo de identificarem a inteligência. Sócrates considerou que as inteligências das pessoas são diferentes e inerentes a elas, que nascem com conhecimento inato, conceito que chegou até o racionalismo de Descartes. Esse filósofo separava o corpo da mente, dizendo que o corpo sendo material podia ser estudado, enquanto que a mente por ter origem divina somente poderia ser conhecida pela introspecção. Locke, ao contrário, argumentou que não nascemos com conhecimentos, mas que os adquirimos por meio de nossas experiências sensoriais do mundo e de nossa capacidade de refletir sobre as operações mentais. Ele era materialista e afirmava que a mente poderia ser estudada também. Donders, Helmholtz e Broca exploraram a natureza material do corpo e descobriram relações entre os sentidos e o sistema nervoso e o relacionamento entre o cérebro e as habilidades humanas. Darwin com a sua teoria da evolução teve poderoso impacto sobre o estudo da inteligência e abriu campo para que Galton, com fundamento em métodos estatísticos, apregoasse a herança da inteligência e seus aspectos eugênicos. Quociente de Inteligência Sem dar ênfase a eugenia, que assumiu caráter político, principalmente na Alemanha, o psicólogo francês Alfred Binet e sucessores observaram que as pessoas são mais inteligentes ou menos e estudaram a inteligência com o objetivo de medi-la por meio de testes conhecidos como de avaliação do QI (Quociente de Inteligência). Para a criação desses testes imagina-se que a distribuição de QI, na população, tenha uma função chamada densidade de probabilidade normal. A distribuição normal, muito utilizada na estatística, necessita, matematicamente, de dois parâmetros para a sua completa caracterização: a média e o desvio padrão. Por convenção a média vale sempre 100. O desvio padrão (normalmente citado simplesmente como desvio ou, ainda, d.p.) mede a dispersão dos valores em torno da média. Para atribuir-se ao QI uma porcentagem (ou vice-versa) é sempre necessário que se conheça o desvio. Não tem sentido falar em QI (numérico) sem citar qual desvio padrão está sendo utilizado. Os desvios padrões mais comuns são o d.p. 16 e o d.p. 24. Por exemplo, uma pessoa com QI topo 2% pode ter um QI numérico igual ou igual a 130 (d.p. 16) ou 148 (d.p. 24). Assim, somente têm sentido, efetivo, as mensurações que resultem na inserção da inteligência de determinada pessoa no percentual privilegiado de uma determinada população, como, por exemplo, o Delphim Neto faz parte do percentual de 5% das pessoas mais inteligentes do Brasil; Sócrates fazia parte do grupo de 2% dos gregos mais inteligentes de sua época. Existem sociedades que agrupam as pessoas mais inteligentes do mundo. Entre elas encontra-se a Mensa, que no Brasil reúne 400 sócios entre as pessoas mais inteligentes do País, com QI (d.p. 24) de 148 ou mais. O neuropsicólogo Daniel Fuentes, supervisor da Mensa, considera que o grau de inteligência das pessoas é determinado pela associação de fatores poligênicos (que é caracterizado por uma combinação de gens) e multifatoriais (relacionados à estimulação ambiental). Estima-se que 5% da população mundial seja constituída por pessoas com inteligências superdotadas, mas que a maior parte desse grupo não desenvolverá sua potencialidade porque essas pessoas não serão identificadas e não serão apoiadas. Essas pessoas encontram-se em todas as camadas sociais e em diferentes nacionalidades, raças e culturas. O presidente da Mensa, neurocirurgião José Augusto Teixeira, cogita de conseguir recursos para que no Brasil as crianças com inteligência superdotadas tenham ajuda, como acontece nos Estados Unidos e no Canadá. Inteligências múltiplas Haward Gardner, professor da Havard Graduate School of Education, questionou a medição da inteligência por meio de testes verbais padronizados, defendendo a existência de inteligências múltiplas ou multifacetárias, com competências intelectuais relativamente autônomas, que podem ser combinadas e modeladas para adaptar-se às pessoas e às culturas respectivas. Gardner atuou em dois campos distintos, num pesquisando crianças superinteligentes no Havard Project Zero e noutro realizando pesquisa referente às perdas das capacidades cognitivas em pacientes sofrendo distúrbio de funcionamento cerebral. Nessa última pesquisa, desenvolvida no Boston Veterans Administration Medical Center e na Boston University School of Medicine, observou a perda de inteligência setorial em pacientes com o cérebro afetado em algum ponto. Esse ponto seria no cérebro a sede de determinada inteligência perdida. O conjunto de pontos do cérebro comporia a inteligência humana. Gardner criticou a avaliação do QI levando-se em conta apenas o processo lógico e linguístico de solução de problemas, ignorando os aspectos biológicos e as várias matizes da criatividade humana. Criticou também a teoria piagentina. Piaget havia proposto teoria segundo a qual os conhecimentos estariam dispostos dentro da mente de forma semelhante à rede telefônica de uma cidade, na qual uma ligação de fios permitiria a comunicação entre dois telefones, mas uma segunda ligação permitiria a comunicação entre três telefones, indo até o ponto que uma hipotética “ultima ligação” permitiria a comunicação desse último telefone com todos os outros telefones da cidade. Pesquisas recentes em neurobiologia sugerem que existem áreas no cérebro correspondentes a diferentes pontos de cognição, com competências diferentes para processar informações específicas. Apesar de ser muito difícil dizer claramente quais são essas áreas, existe o consenso de que cada uma delas expressa uma forma diferente de inteligência. Na apresentação original da sua teoria, Gardner propôs sete diferentes inteligências, mas não de forma taxativa, de forma que poderão existir mais de sete ou menos de sete inteligências diferentes. Mais tarde Gardner especulou sobre um oitavo tipo de inteligência, chamada naturalista, associada à habilidade de reconhecer a flora e a fauna. Gardner apresentou sua teoria de forma muito curiosa, para não dizer inteligente, o que seria redundância neste trabalho. Apresentou a biografia de pessoas que demonstraram facilidade incomum em cada tipo de inteligência, mencionando em seguida a identificação isolada de cada tipo de inteligência. Essas inteligências múltiplas segundo Gardner são as seguintes: Lingüística e Verbal A inteligência Lingüística e Verbal está relacionada às palavras e à linguagem escrita e falada - e domina a maior parte do universo educacional ocidental. Responsável pela produção da linguagem e de todas as complexas possibilidades que a seguem, incluindo a poesia, o humor, o contar estórias, a gramática, as metáforas, as similaridades, o raciocínio abstrato, o pensamento simbólico, a padronização conceitual, a leitura e a escrita. Exercitam essa inteligência os poetas, os teatrólogos, os escritores, os novelistas, os jornalistas, os oradores e os comediantes. Habilidades encontradas nesse tipo de inteligência: -entendimento da ordem e do significado das palavras; -capacidade de convencer alguém sobre um fato; -capacidade de explicar, de ensinar e de aprender; -senso de humor; -memória e lembrança; -análise meta-lingüística. Lógica e Matemática A inteligência Lógica e Matemática está comumente associada ao que chamamos de raciocínio científico ou indutivo. Esta inteligência envolve a capacidade de reconhecer padrões, de trabalhar com símbolos abstratos (como números e formas geométricas), bem como discernir relacionamentos ou estabelecer conexões entre peças separadas ou distintas. Presente nos cientistas, computadores, contadores, advogados, banqueiros e matemáticos. Habilidades desse tipo de inteligência: - reconhecimento de padrões abstratos; - raciocínio indutivo e dedutivo; - discernimento de relações e conexões; - solução de cálculos complexos. programadores de Visual e Espacial A inteligência Visual e Espacial apóia-se no senso de visão e na capacidade de visualização espacial de um objeto, incluindo ainda a habilidade de criar imagens mentais. Essa inteligência encontra-se em atividades tais como as artes visuais (incluindo pintura, desenho e escultura), navegação, criação de mapas e arquitetura (que envolve o uso do espaço e o conhecimento de como se locomover) e em jogos como o xadrez (que requer a habilidade de visualizar objetos a partir de diferentes perspectivas). Nela encontra-se o sentido de visão, mas também a habilidade de formar imagens mentais. Ela é encontrada nos arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos, designers, desenhistas de produtos industriais e artistas, pintores e escultores. Habilidades encontradas: - percepção acurada de diferentes ângulos; - reconhecimento de relações de objetos no espaço; - representação gráfica; - manipulação de imagens; - descoberta de caminhos no espaço; - formação de imagens mentais; - imaginação ativa. Musical e Rítmica A inteligência Musical e Rítmica baseia-se no reconhecimento de padrões tonais (incluindo sons do ambiente) e numa sensibilidade para ritmos e batidas. Inclui também capacidades para o manuseio avançado de instrumentos musicais. Ela pode ser encontrada nos compositores musicais, dos mais diversos estilos (canções eruditas, populares, de jingles publicitários), nos músicos profissionais, bandas de rock e dança e nos professores de música. Habilidades características dessa inteligência: - reconhecimento da estrutura musical; - esquemas para ouvir música; - sensibilidade para sons; - criação de melodias e de ritmos; - percepção das qualidades dos tons; - habilidade para tocar instrumentos. Corporal A Inteligência Corporal relaciona-se com o movimento físico e com a sabedoria do corpo, incluindo o córtex cerebral que controla o movimento corporal. É a habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção (dança e linguagem corporal), jogar um jogo (esporte) e criar um novo produto (invenções). Por exemplo, são nossos corpos que sabem como andar de bicicleta, skate, datilografar e estacionar um carro. Esta inteligência pode ser vista nos atores, atletas, mímicos, dançarinos profissionais, cirurgiões e inventores. Habilidades da Inteligência corporal: - funções corporais desenvolvidas; - habilidades miméticas; - conexão do corpo com a mente; - alerta por meio do corpo (sentidos); - controle dos movimentos pré-programados; - controle dos movimentos voluntários. Inteligência Pessoal e Interpessoal Esta inteligência opera, primeiramente, baseada no relacionamento interpessoal e na comunicação. Envolve a habilidade de trabalhar cooperativamente com outros num grupo e a habilidade de comunicação verbal e não-verbal. Constrói a capacidade de distinguir entre outras, por exemplo, as alterações de humor e de temperamento, as motivações e as intenções. Em sua forma mais avançada, literalmente a pessoa consegue ler os desejos e intenções do outro, podendo ter empatia por suas sensações, medos e crenças. Esta forma de inteligência é desenvolvida nos conselheiros, professores, terapeutas, políticos e líderes religiosos. Habilidades: - criação e manutenção da sinergia; - superação e entendimento da perspectiva do outro; - trabalho cooperativo; - percepção e distinção dos diferentes estados "emocionais" dos outros; - comunicação verbal e não-verbal. Inteligência Intrapessoal A Inteligência Intrapessoal está relacionada aos estados interiores do ser, à autoreflexão, à metacognição (reflexão sobre o refletir) e à sensibilidade frente às realidades espirituais. Envolve o conhecimento dos aspectos internos do ser, como o conhecimento dos sentimentos, a intensidade das respostas emocionais, auto-reflexão e um senso de intuição avançado. Essa inteligência é encontrada nos filósofos, psiquiatras, nos conselheiros espirituais e em pesquisadores de padrões de cognição. Habilidades: - concentração total da mente; - preocupação; - meta-cognição; - percepção e expressão de diferentes sentimentos íntimos; - senso de auto-conhecimento; - capacidade de abstração e de raciocínio . Inteligência naturalista Recentemente, Gardner identificou uma oitava inteligência, a inteligência naturalista. Ele a descreveu como "a habilidade para reconhecer a flora e a fauna, para fazer distinções no mundo natural e ter sensibilidade em relação a ele". É a atração pelo mundo natural e a sensibilidade em relação a ele. Constitui a capacidade de identificação da linguagem natural e a capacidade de êxtase diante da paisagem humanizada ou não. Naturalistas, botânicos, geógrafos e paisagistas têm esse tipo de inteligência. Habilidades: - capacidade de discernir, identificar e classificar plantas e animais; - capacidade de distinguir diferentes espécies de plantas e suas características; - capacidade de demonstrar a utilidade botânica e curativa das plantas; - poder de observação. Críticas à Teoria das Inteligências Múltiplas A teoria de Gardner teve por objetivo ampliar as noções psicológicas da inteligência, mas, o maior impacto do seu trabalho foi no campo da educação. Logo após a publicação da sua teoria, em 1983, muitas escolas foram criadas ou reorganizadas em torno da noção das inteligências múltiplas. Apesar de usarem a teoria de maneiras variadas, as escolas tentam ajudar as crianças a aprender e a desenvolver-se usando mais amplamente a gama de suas inteligências. A teoria de Gardner também teve impacto sobre as formas de avaliação das capacidades infantis nas escolas. A Teoria das Inteligências Múltiplas influenciou as organizações educacionais, principalmente nas escolas privadas de ensino fundamental e médio. Recebeu também críticas tanto no aspecto teórico quanto no aplicado. Do ponto de vista teórico, Scarr criticou Gardner por construir a Teoria das Inteligências Múltiplas baseada na premissa de que a psicologia considera inteligência como uma capacidade unitária refletida por escores de QI. Scarr afirma que a maioria dos psicólogos não acredita que o QI reflita o universo das capacidades humanas. Critica também que o simples fato de arrolar habilidades corporais cinestésicas, sociais e musicais não faz avançar o conhecimento da inteligência, pelo contrário, complica ainda mais as distinções entre inteligência e outras características humanas. Inteligência emocional A inteligência emocional relaciona-se fundamentalmente com a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam importantes em determinado ambiente ou meio cultural. A cultura tradicional do modelo de homem inteligente, principalmente, em paises ocidentais, não cogitava do domínio dos próprios impulsos, que se refletiam nas atitudes e pensamentos do homem. Relativamente ao homem bem sucedido em seu meio, considerava-se tão somente o aspecto racional, não se levando em conta os aspectos emotivos no seu relacionamento com amigos ou com a família. Em 1996, o jornalista Daniel Goleman publicou um livro com o título “Inteligência Emocional”, abordando a capacidade de pelo menos parcialmente o homem dominar a ansiedade e os impulsos negativos, como a cólera, a vaidade, o egoísmo e o orgulho desenfreado. Sabe-se que os diferentes tipos de inteligência agem sob formas diferentes nas artes, no esporte, na informática, na literatura, na música, etc., e pode-se afirmar com certeza que a inteligência emocional produz efeitos sobre esses e sobre todos os outros tipos de inteligência, inclusive na vida profissional, na vida familiar, no ensino, na convivência em grupo, melhorando a atuação das diferentes inteligências. Inteligências ainda pouco estudadas Existem outros tipos de inteligências pouco conhecidas, já referidas por pesquisadores e cientistas, mas dependentes ainda de mais estudos especializados e de comprovações, tais como a telepatia, a intuição e outras. Estudiosos afirmam que há muito a desenvolver no campo da inteligência humana, ainda muito pouco explorada. Por experiência própria, em uma aula de direito processual civil, magistralmente proferida pelo professor Frederico Marques - homem de inteligência muito acima da normal - em determinado momento, na situação de aluno, percebi que a transmissão de idéias e conhecimentos, do professor para mim, havia deixado de ocorrer por meio das palavras, que eu ouvia em tom muito baixo, quase como um sussurro, mas que a transmissão operava-se noutro plano, diretamente do cérebro do professor para o meu cérebro, fato que demorou alguns minutos e que me causou grande susto. Por ser ele uma pessoa irascível, que não aceitava qualquer observação de aluno, somente alguns anos depois, quando já formado, após uma conferência proferida pelo professor, conteilhe a experiência que havia tido em sua aula. Fiquei muito surpreso quando o professor Frederico Marques respondeu que já havia ocorrido coisa semelhante com outro seu aluno FUNÇÕES EXECUTIVAS O Espantoso Caso de Phineas Gage: Phineas Gage era um jovem supervisor de construção de ferrovias da Rutland e Burland Railroad, em Vermont, EUA. Em setembro de 1848, enquanto estava preparando uma carga de pólvora para explodir uma pedra, ele socou uma barra de aço inadvertidamente no buraco. A explosão resultante projetou a barra, com 2.5 cm de diâmetro e mais de um metro de comprimento contra o seu crânio, a alta velocidade. A barra entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro, e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. Gage perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões. Porém, ele recuperou a consciência momentos depois, e foi levado ao médico local, Jonh Harlow que o socorreu. Incrivelmente, ele estava falando e podia caminhar. Ele perdeu muito sangue, mas depois de alguns problemas de infecção, ele não só sobreviveu à horrenda lesão, como também se recuperou bem, fisicamente. Porém, pouco tempo depois Phineas começou a ter mudanças surpreendentes na personalidade e no humor. Ele tornou-se extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não conseguia manter-se em um trabalho por muito tempo ou planejar o futuro. "Gage já não era Gage", disseram seus amigos. Ele morreu em 1861, treze anos depois do acidente, sem dinheiro e epiléptico, sem que uma autópsia fosse realizada em seu cérebro. O médico que o atendeu, John Harlow, entrevistou amigos e parentes, e escreveu dois artigos sobre a história médica reconstruída de Gage, um em 1948, intitulado "Passagem de uma Barra de Ferro Pela Cabeça ", e outro em 1868, intitulado "Recuperação da Passagem de uma Barra de Ferro Pela Cabeça ". Phineas Gage tornou-se um caso clássico nos livros de ensino de neurologia. A parte do cérebro que ele tinha perdido, os lobos frontais, passou a ser associada às funções mentais e emocionais que ficaram alteradas. Harlow acreditava que, "o equilíbrio entre as faculdades intelectuais e as propensões animais parecem ter sido destruídas. O crânio dele foi recuperado, e preservado no Warren Medical Museu da Universidade de Harvard. Mais recentemente, dois neurobiologistas portuguêses, Hanna e Antônio Damasio da Universidade de Iowa, utilizaram computação gráfica e técnicas de tomografia cerebral para calcular a provável trajetória da barra de aço pelo cérebro de Gage, e publicaram os resultados em Science, em 1994. Eles descobriram que a maior parte do dano deve ter sido feito à região ventromedial dos lobos frontais em ambos os lados. A parte dos lobos frontais responsável pela fala e funções motores foi aparentemente poupada. Assim eles concluíram que as mudanças no comportamento social observado em Phineas Gage provavelmente foram devidos a esta lesão, porque os Damasios observaram o mesmo tipo de mudança em outros pacientes com lesões semelhantes, causando déficits característicos nos processos de decisão racional e de controle da emoção. Funções Executivas (funções Frontais) Funções mentais específicas especialmente dependentes dos lobos frontais do cérebro, incluindo comportamentos complexos direcionados para metas, como tomada de decisão, pensamento abstrato, planejamento e execução de planos, flexibilidade mental, e decisão sobre quais os comportamentos adequados em circunstâncias específicas; chamadas com freqüência funções executivas. Inclui: Abstração Funções mentais que permitem criar idéias gerais, qualidades ou características fora da, ou diferente de, realidades concretas, objetos específicos ou situações reais. Organização e planejamento Funções mentais que permitem coordenar partes em um todo, de sistematizar; a função mental envolvida no desenvolvimento de um método de procedimento ou ação. Gerenciamento do tempo Funções mentais que permitem ordenar eventos em seqüência cronológica, alocando períodos de tempo para eventos e atividades. Flexibilidade cognitiva Funções mentais que permitem mudar estratégias, alterar cenários mentais, especialmente as envolvidas na solução de problemas. Auto-conhecimento (“insight”) Funções mentais de consciência e compreensão de si próprio e do seu comportamento. Julgamento Funções mentais envolvidas na discriminação entre e avaliação de diferentes opções, como aquelas envolvidas na formação de uma opinião. Resolução de problemas Funções mentais de identificação, análise e integração de informações incongruentes ou conflitantes em uma solução. ALTERAÇÕES RELACIONADAS AO LOBO FRONTAL:  Embotamento e rigidez no comportamento social;  Euforia;  Desinibição;  Apatia;  Inquietude;  Perda do juízo crítico;  Perda de censura, colocações inapropriadas;  Agressividade;  Hiperssexualidade;  Hipermetamorfose (explorar objetos);  Hiperoralidade (levar objetos à boca);  Impulsividade;  Perseveração;  Perda da iniciativa do ato motor, ou dificuldade em coordenar os movimentos;  Lentificação; LOBO FRONTAL: SUBDIVISÕES COGNITIVAS O Lobo frontal atua como uma unidade funcional por isto vamos dividí-lo de acordo com suas conexões talâmicas:  Córtex pré-frontal: Função de planejamento e análise das conseqüências de ações futuras, estando relacionado com comportamento  Córtex pré-motor: Função de mediar movimentos e está relacionado com movimentos voluntários.  Córtex motor primário: Está relacionado com a integração dos atos e sequëncia de ações aprendidas. I- Funções cognitivas específicas: REGIÃO ÓRBITOFRONTAL:  Conduta social;  Labilidade emocional;  Falha no julgamento;  Distúrbios de atenção como distração e inatenção;  Aumento da atividade motora,impulsividade. REGIÃO DORSOLATERAL:  Déficit no controle, regulação e integração das atividades cognitivas;  Dificuldade de focar e sustentar atenção;  Motivação;  Memória operacional;  Flexibilidade mental;  Organização em tarefas de cópia;  Distúrbio na programação motora e na fluência verbal; REGIÃO VENTROMEDIAL  Funções executivas;  Raciocínio;  Tomada de decisões;  Formulação de objetivos;  Planejamento;  Emoção , desempenho afetivo; Localização neuroanatômica: Motivação, consciência de si próprio e do meio:  Pode-se verificar através de entrevistas com familiares e com o paciente e ainda através de observações deste paciente.  Julgamento envolve definição, conceituação, estruturação e delimitação da questão a ser julgada e também a interpretação de uma decisão a uma ação orientada.  No testes de julgamento prático como o sub-teste do WAIS, refletem o entendimento social, podendo observar a tendência a impulsividade Planejamento e seqüência de respostas:  Planejamento exige do sujeito a capacidade de avaliar alternativas, fazer escolhas e estudar estratégias para realizar um dado objetivo.  Capacidade para iniciar uma sequência de respostas em uma determinada situação.  Memória e controle de impulsos são necessárias, tanto quanto a atenção sustentada, pois ao planejar o paciente determina qual informação necessita de atenção , não permitindo que estímulos irrelevantes distraiam seu objetivo.  Lesão frontal esquerda pode apresentar dificuldade em tarefas verbais e não verbais, ao passo que lesões frontais direita vão apresentar dificuldade em tarefas não verbais. Memória  Memória operacional;  Discriminação de estímulos;  Tarefas de reconhecimento preservada. Atenção:  Atenção seletiva, capacidade para controlar e realizar mudanças atencionais são alguns dos défict encontrados em pacientes com lesão frontal;  Lesões causam distração, dificuldade de manter a atenção , lentidão para reagir a um estímulo suscetibilidade para intrusão.  Vários testes são usados para avaliar a atenção em paciente com lesão frontal: Teste dos Labirintos de Porteus,Torre de Hanoi, Torre de Londres, Wisconsin Card Sorting Test,Trail Making Test, Stroop Test, Go-no-go,Teste Cancelamento, repetição de Dígitos e Figura Complexa deRey. Linguagem:  Afasia de Broca , transcortical motora e agrafia- lesão frontal esquerda.  Observa-se nas lesões frontais extensas a ocorrência de perserverações.  Há um prejuízo no Teste FAS - lesão esquerda ou à direita. de  Em lesões à direita, há um défict no planejamento de desenhos, ou perserveração em desenhos similares. Personalidade:  Alterações de personalidade estão associadas a lesão frontal.  Depressão  Esquizofrenia  Transtorno obsessivo-compulsivo.  Na avaliação de personalidade deve-se levar sempre em consideração a idade, nível sócio-cultural e personalidade prévia. __________________________________________________________ BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR E RECOMENDADA: BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. BRITO, Denise Brandão de Oliveira e.Retardo de Aquisição de Linguagem. Disponível em: <http://www.denisebrandao.hpg.ig.com.br/index.html>. Acessado em 10 ABR. 2013. GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. 2 ED. Atheneu: São Paulo, 2011. MYRES, David G. Introdução à psicologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. NOGUEIRA, Suzana et all. A criança com atraso da linguagem. Disponível em: <http://www.chc.minsaude.pt/hp/revista/042000/artigo.pdf>. Acessado em 15 ABR. 2013. STILLINGS, Neil A. Cognitive Science: an introduction. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1989. STENBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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