Nana Pauvolih - Série Segredos #3 - Ferida 2 (Oficial)

March 31, 2018 | Author: AlessandraPetzold | Category: Love, Mind, Family, Tragedy, Pain


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Ferida2 Nana Pauvolih Livro 2.5 da Série Segredos Série Segredos: Livro 1 – Proibida. Livro 2 – Ferida. Livro 2.5 – Ferida 2. Dedicatória: Quando decidi escrever a Série Segredos eu estipulei para mim mesma que seria composta por quatro livros e fiz uma ordem das histórias. Mas no decorrer do primeiro livro, um dos irmãos Falcão começou a tomar demais os meus pensamentos e aconteceu uma daquelas coisas inexplicáveis, quando o personagem parece tomar vida própria. “Ferida” seria o último livro, mas Theo Falcão é impaciente e dominador, não me deixou em paz até que eu mudasse tudo e adiantasse o livro dele, que passou a ser o segundo. Não satisfeito, ele ainda tomou tanto conta da história, que um livro não foi o bastante e tive que escrever mais um, daí surgiu Ferida 2.5. Não estava nos meus planos, mas que amei escrever. Vou sentir falta de Theo e Eva, mas meu consolo é que virão mais dois livros da Série (“Seduzida”, com a história de Micah, e “Rendida”, com a história de Pedro e Heitor). E eles aparecerão nesses também. Como sempre, para mim foi um prazer escrever e será sempre. Comecei e termino a história de Theo Falcão com amor e é repleta desse sentimento maravilhoso que: Dedico Ferida a todas as “nanetes”, minhas fãs e amigas que amo de paixão e que também posso chamar carinhosamente de “Coelhinhas”. Dedico também a todos os leitores que entram em contato com meus romances e que, assim, fazem parte da minha vida. E dedico de coração à minha família, que às vezes reclama que não largo o computador, mas que está sempre comigo; e às minhas amigas queridas que me ajudaram fazendo quotes e book trailer, divulgando, trocando capas do face pela capa de Ferida 2, indo para o Twitter e as redes sociais para que meu trabalho seja mais conhecido, sugerindo avatar, música ou imagem, sendo minha leitora beta, fazendo a revisão. Estão no meu coração e a vocês sou eternamente grata. Com todo meu amor, Nana. Copyright © 2014 Nana Pauvolih 1ª Edição Setembro de 2014 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução em todo ou parte em quaisquer meios sem autorização prévia escrita da autora. Título FERIDA 2 Autora Nana Pauvolih Revisão Valéria Avellar Capa Eliane Sales [email protected] nanapauvolih.blogspot.com.br CAPÍTULO 1 THEODORO FALCÃO 15 de Outubro de 2014 “(...) All the Love gone bad Turned my world to black Tattooed all I see, all that I am, all I'll be... yeah (...)” “(...) Todo o amor tornou-se mal Transformou meu mundo em escuridão Tatuando tudo que vejo, que sou, tudo que sempre serei (...)” (Pearl Jam, Black) Eu estava sozinho em meu escritório naquela bela manhã de outubro e tinha chegado há poucos minutos. Havia trabalho acumulado sobre a mesa, pois com os últimos acontecimentos tinha ficado mais fora do que ali. Mas não tive pressa. Tomando um gole de café quente na xícara de porcelana, caminhei até a ampla janela com vista para morros verdejantes e fiquei olhando para fora através do vidro, minha mente trabalhando sistematicamente. Muita coisa tinha acontecido em minha vida nos últimos dias e vindo sem que eu esperasse. Primeiro foi o nascimento de minha filha Helena de forma prematura, quando minha esposa Eva estava com sete meses de gravidez. Felizmente deu tudo certo e as duas já estavam em casa, saudáveis, desde o dia anterior. A outra surpresa foi a volta do meu irmão Micah à Florada depois de 15 anos sem dar notícias. Emoções violentas e controversas me abalavam. Sabia que Micah não retornaria assim sem mais nem menos. E ele mesmo havia confessado que havia um motivo. Uma ameaça em forma de uma vingança do passado. Mas não quis contar mais do que isso. O que me deixava ainda mais nervoso. Aquele mistério todo não podia significar coisa boa e eu me sentia impaciente, querendo desvendar logo tudo. Tomei todo o café e voltei até minha mesa, depositando a xícara no pires, franzindo o cenho, perturbado. Alguma coisa apertava meu peito, me dava uma sensação estranha e ruim. Parecia um alerta, mas por mais que eu tentasse entender, parecia fugir, escapar à minha compreensão. Sacudi a cabeça e resolvi começar a trabalhar. Ainda naquela manhã teria que sair mais cedo e dar um pulo no cartório para registrar Helena. O trabalho só não estava mais acumulado por que eu tinha Valentina, meu braço direito ali, que sempre eficiente tinha resolvido parte dos problemas. Mas era muita coisa e ela já tinha coisas demais para se preocupar. Tinha acabado de sentar em minha cadeira e pegar o primeiro relatório para analisar quando meu celular tocou. Estava sobre a mesa e vi o número de Joaquim. Franzi o cenho e indaguei ao meu irmão caçula: - Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? - Theo, você pode dar um pulo aqui na fazenda? Na mesma hora senti um aperto no peito e a sensação estranha e ruim voltou com força redobrada. Um frio percorreu minha coluna e me levantei, alerta: - O que foi, Joaquim? Aconteceu algo com Eva ou Helena? Com Gabi ou Caio? - Não. Mas precisamos de você aqui para resolver uma coisa. É sério. - Porra, fale de uma vez! – Bradei, nervoso, agarrando as chaves do carro que estavam sobre a mesa, já andando apressado para a porta. - Recebemos uma ameaça, Theo. Já chamei a polícia e o delegado Ramiro está vindo pra cá. - Ameaça? – Saí da sala e passei por Eurídice, minha secretária, sem nem vê-la pela frente. Com passos largos pelo corredor, entrei no elevador, apertando forte o celular. – Que ameaça? De quem? - Do comparsa da mãe de Gabi. Olha, vem pra cá e te explico tudo. Estamos no casarão e todo mundo está bem. Só venha logo. - Já estou a caminho. - Tá. Desliguei e guardei o celular no bolso, muito preocupado. A mãe e a irmã de Gabi, que tinham jurado se vingar da minha família, mas permaneceram quietas e sumidas por meses. Sem ameaças, telefonemas ou bilhetes ameaçadores. Micah tinha chegado no dia anterior e avisou que sua vinda se relacionava com elas. Agora Joaquim falava em ameaça. Eu odiava ser o último a saber das coisas e ser pego de surpresa. O fato de Micah não ter explicado direito o que estava acontecendo e agora Joaquim falar de ameaça sem maiores detalhes me deixava doente. Saí às pressas do prédio e praticamente me joguei dentro do carro, já o colocando em movimento, querendo chegar logo à fazenda e saber o que tinha ocorrido a ponto dele chamar o delegado Ramiro. Tinha que ser algo grave e dirigi nervoso para fora de Florada, acelerando muito ao chegar na estrada. O que ainda me acalmava era a garantia do meu irmão caçula de que todos na fazenda estavam bem. Mas mesmo assim eu continuava tenso, preocupado, furioso. Não via a hora de descobrir o paradeiro daquelas mulheres e do comparsa delas, Lauro Alves. Só quando eu os tivesse isolado e preso, eu poderia respirar aliviado. Enquanto dirigia, as imagens de Estela e de Luiza Amaro vieram em minha mente, como eram há muitos anos atrás. Quando as vi pela última vez eu tinha apenas 18 anos e isso tinha sido há 24 anos. Não conseguia entender como permaneceram ligadas naquela vingança por tanto tempo e o que esperavam conseguir dela. Destruir minha família? Conseguir suas terras de volta? Matar um de nós? Embora seus objetivos fossem claros, eu ainda não entendia que planos tinham, já que levar Gabriela para o lado delas não tinha dado certo. Impaciente, pisei mais no acelerador e lembrei as duas na cidade logo depois de perderem o sítio e de Pablo ser encontrado morto na prisão. Pareciam duas moradoras de rua, sem nada, furiosas, gritando aos quatro cantos contra a injustiça de tudo aquilo. Lembrei principalmente de Luiza, na época também com 18 anos, o ódio e o Observei os dramas envolvendo meu pai.desejo em seus olhos sempre ao se deparar comigo. Pablo e Estela Amaro. Desde pequeno fui alertado pelo meu pai para não me relacionar com qualquer Amaro. como aconteceu. E como filho dos Falcão era impensável eu me relacionar com a filha . minha mãe. Eu nunca gostei dela. Não era apenas o fato de pertencer a uma família que era inimiga da minha. Sabia que a tensão entre os dois casais só crescia e acabaria chegando a um ápice ou a uma tragédia. Nunca me incomodei com aquilo. E ela fazia muitas coisas. Eu não sentia desejo por ela. Puxava assunto na escola. E nada do que fazia para chamar minha atenção dava certo. como se não existisse. Não foi o que me impediu. Simplesmente a ignorava. nunca me aproximei dela. parecia estar sempre perto. não .dos Amaro. Tentou se aproximar de mim diversas vezes. Mesmo sendo da mesma sala de aula de Luiza desde sempre e de saber o quanto era bonita e me olhava com desejo. Havia algo nela que me dava uma sensação ruim. E quando nada disso deu certo. não sei se por tudo . passou a frequentar os mesmos locais que eu e se oferecer cada vez mais claramente.tirava os olhos de mim. Eu apenas fingia não perceber. nunca me atraiu. mas por que eu não queria aquele contato. Apesar de linda. E não fazia isso por que meu pai proibia contato com pessoas da família dela. sempre frio. Eu simplesmente tinha repulsa dela. se grudava em meus amigos. como uma certeza de que havia uma maldade latente em seu sangue. E finalmente. Até se tornar inconveniente. No entanto.que eu sabia que havia entre nossas famílias ou por um instinto mais visceral. Luiza tentou. eu a encontrei em uma festa de amigos. quando seu pai tentou matar o meu e foi preso. Eu tinha bebido um pouco demais e fui ao banheiro. mais ela se tornava insistente. pouco antes de toda tragédia. Não sei como ela conseguiu entrar e ali me . Ela me perseguia em todos os lugares e tive que ser bruto algumas vezes. quanto mais eu a desprezava. . Implorou para ser fodida. caiu de joelhos e começou a me chupar. implorou. se esfregou em mim. a ergui e joguei-a contra a parede. Eu estava com o pau pra fora. Fiquei excitado com toda cena em si. Disse que me amava. impressionado com sua fome e seu desespero. Por um momento deixei que me chupasse. quando fui literalmente atacado. que não conseguia mais viver sem pensar em mim. foi uma cena ao mesmo tempo ridícula e incômoda. E quase o fiz.agarrou e se declarou. Então agarrei seu cabelo. não me senti realmente tentado.só por que era homem e ela pedia por aquilo já há muito tempo. pois nunca mais me deixaria em paz. Implorou e se . mas deixei claro que nunca teria nada de mim e a desprezei claramente. percebi sua adoração e obsessão e soube que não significava nada para mim. Nem para uma foda de uma única vez Luiza serviria. Além de tudo. No entanto. E já havia confusão demais entre nossas famílias para arrumar mais uma. fitei seus olhos. Não lembro ao certo o que disse a ela. Eu as queria sob as vistas e tentei encontrá-las somente como forma de evitar algum . tentou me beijar. Praticamente joguei-a longe. somente ocasionalmente. passou a me olhar com ódio mortal. elas ficaram sem nada e foram embora. Mas serviu. Pablo apareceu morto. E logo veio toda a tragédia. Nunca perdi meu tempo pensando em Luiza todos aqueles anos. Mas pelo menos parou de me perseguir. Eu a escorracei para fora do banheiro e fui extremamente bruto.humilhou. Saiu chorando e jurando vingança. Depois daquela vez. E agora elas atacavam. para trazer Micah .ataque surpresa. Era estranho imaginar que a irmã de criação que eu amava demais tinha o mesmo sangue que aquela mulher. Até aparecerem tentando se aproximar de Gabi. E eu agradecia por ela ter sido criada longe daquelas duas. Não devia ser coisa pouca. O mesmo eu não podia dizer de sua irmã caçula. filha de Luiza. mas as duas sumiram no mapa. mas felizmente Gabi era muito diferente. Sabe-se lá que tipo de monstro se tornou tendo uma mãe como Luiza. minha mente tentando encontrar o que elas poderiam ter feito daquela vez. nada me impediria de destruí-las se assim fosse. rápido. Independente do que fosse. Pensei em Eva com minha filha Helena recém-nascida e fiquei mais . elas que não ousassem mexer com ninguém da minha família. o ódio já tomando conta de mim. a ponto de chamar o delegado Ramiro por causa de uma ameaça.de volta e deixar Joaquim transtornado. Eu dirigia nervoso. Eu as caçaria até o inferno e seria implacável. Fiquei mais preocupado ainda ao ver dois carros da polícia. ele não . Mesmo que fosse. Pelo visto estava todo mundo lá e me perguntei se Micah também seria avisado. Joaquim e meus outros irmãos não deixariam nada acontecer com elas. Respirei aliviado quando passei pela porteira da fazenda e acelerei ainda mais. ansioso por chegar logo. a moto de Pedro e o cavalo de Heitor na frente do casarão.tranquilo ao saber que elas estavam protegidas em casa. saber o que estava acontecendo e agir. Com o cenho franzido e nervoso. Parei o carro e já fui pulando fora. Tia sentada desolada em uma poltrona com a mão sobre o . Num relance vi o delegado Ramiro e mais três policiais conversando com Heitor e Pedro à minha esquerda.pisaria na fazenda. subi os degraus de dois em dois e irrompi na sala. meus olhos já abarcando todo o ambiente. Estava cheia e todo mundo olhou para mim. buscando alguma forma de perigo e entender o que estava acontecendo. carrinho de Helena. Na mesma hora andei até ela. E sentada em uma cadeira que foi puxada da mesa. encostada na parede. que dormia serenamente. E tomei um susto com o que vi. indiferente ao que acontecia à sua volta. Sua aparência era de uma pessoa . no exato instante em que erguia os olhos para mim. com o rosto vermelho de chorar. Em outro sofá estava Joaquim abraçado à Gabi. estava Eva. Foi nela que meu olhar se fixou. Caio no colo dela adormecido. alarmado. Ergueu-se com certa dificuldade e seu rosto se contorceu em desespero.Eva. o seu olhar para mim me deixando extremamente preocupado e nervoso. desesperada. sofrida. desolada. quase não notando que Joaquim se levantava de repente ou que Pedro e Heitor se aproximavam. Tremia muito. Estava mortalmente pálida. despenteada.. soltou um soluço que mais . os olhos inchados de tanto chorar. Fui direto até ela: . Muito mal vi outras coisas a minha frente.. Arrasada.derrotada. Olhei em volta quando vi Heitor e Pedro ao meu lado esquerdo e Joaquim ao direito. Os olhares deles me . em extrema aflição e como que em pânico. . olhando-me como se suplicasse algo. Meu coração disparou e na mesma hora eu a agarrei e puxei para meus braços. angustiado. o que aconteceu? Fizeram alguma coisa contra você? Eva agarrou-se em mim e começou a chorar e soluçar fora de si. temendo saber o que a tinha deixado naquele estado.lembrava o lamento de um animal ferido e cambaleou.Coelhinha. O que está acontecendo aqui? Gabi começou a chorar em seu lugar. preocupação.Porra. apoiando a mão em meu braço.alertaram. seu olhar de pena e desespero. o que está havendo aqui? – Exigi saber. Nunca os tinha visto daquele jeito e senti um alarme dentro de mim. Tia se levantou e veio perto.. com Caio no colo. . tentando me passar algo que não entendi. Indaguei nervoso: . puto. quase fora de .Theo. Havia cautela. Murmurou: .. nervosismo. Fitei-o e. – Olha o estado dela! Digam logo que porra está acontecendo . com seu jeito sereno. Precisamos falar com você. – Respondeu Heitor.Deixe a Eva e sente-se. disse baixo: .Ele está bem. – Cadê meu pai? . como se todo mundo se concentrasse em mim. o clima pesado e tenso em toda sala. dor sacudindo-a. no quarto com Margarida. Apertei Eva em volta dos braços e ela não parava de chorar em um lamento horrível.mim. mas perturbado. .Deixar a Eva? – Franzi o cenho e a apertei mais. .Calma. mas enfiou-o mais em meu peito. obrigando-a a me .. coelhinha.Perdoar o quê? Eva? – Nervoso.aqui! E ao mesmo tempo. enquanto eu murmurava: .Me perdoe. segurei sua cabeça com firmeza e a ergui. em um lamento tão terrível que senti o medo percorrer minha espinha em um arrepio.. Diga pra mim por que está assim. . – Suplicou deplorada. tentei olhar para o rosto dela. agarrando-me sofregamente. .olhar. arrasado. – Tia começou. sua seriedade me deixando ainda mais tenso. nervosa também. Nunca vi tanto desespero nos olhos de uma pessoa e fiquei completamente afligido. tentando puxar meu braço.. . – Diga. – Pedro segurou meu braço do outro lado.. – Deixe a Eva com a Tia. . escute.Theo.Vamos contar tudo e não temos muito tempo. preocupado. afastar-me um pouco da minha mulher. Precisamos falar com você. como se . pelo contrário.Conte o que aconteceu. voltei meus olhos carregados para Eva e soube que. mantive-a mais firme em meus braços e dali ela não escaparia nem que quisesse. Exigi baixo: . Senti todos os olhares sobre mim e meus irmãos se aproximaram mais. A tensão era tão densa que poderia ser cortada com uma faca. – Eu não a soltei um milímetro.. o que quer que fosse.Fale. A sala ficou completamente silenciosa. Como se tivessem vida própria. tinha a ver com ela. Agora. Pensei rapidamente em tudo. ainda mais ao encontrar os olhos suplicantes e sofridos de Eva. no pedido de perdão. Era um sentimento estranho. em seu estado. nos meus irmãos e Tia tentando me afastar dela. Veio sem que eu esperasse. algo sério demais. Senti como se tomasse um soco no estômago e o terror se espalhou dentro de mim.fossem intervir em algo. com o qual não estava acostumado. me rasgando. E soube que Eva havia feito algo muito grave. Uma . Mas veio feroz. Havia uma coisa muito errada ali. me paralisou. Era quase como uma certeza. mas não conseguia me fixar na informação. Eu não sentia medo de nada. acabaria.clareza de pensamento. não soube ao certo. apenas ter uma sensação horrível de que meu mundo racharia. Eu sabia que se não estivesse tão perturbado descobriria o que era. E o medo me dominou mais forte do que qualquer coisa. mas não consegui me concentrar. um alerta. Mesmo quando tive que assumir a frente dos negócios da família. um aviso ou pressentimento. ou vi Micah . implacável.com o sangue dos meus pais nas mãos ou mesmo quando estive na mira de bandidos no atentado que sofri. com Eva nos braços. Mas ali. Por um milésimo de segundos. meus irmãos com olhares alarmados a minha volta. eu não tive medo. eu vacilei e senti como se tudo estivesse prestes a desabar sobre minha cabeça. minha filha recém-nascida no carrinho. Sempre me senti acima de tudo. . forte. disposto a qualquer coisa para reverter a situação. não quis saber o que tinha acontecido. Tive vontade de erguer Eva no colo e levá-la ao nosso quarto. Olhando bem dentro dos desesperados olhos verdes dela. pois logo senti as forças retornarem e a coragem para enfrentar o que quer que viesse pela frente. sem admitir qualquer fuga: . escondê-la do mundo e me esconder também. Mas isso foi apenas temporário. Lágrimas escorreram por suas . fugir de cada verdade que podia destruir.Diga o que está havendo. eu exigi forte e profundamente. eu quis fechá-los. Quando seus lábios se abriram. tudo se concentrou especificamente naquele momento. o caos.Eu. Vi a dor. deixei que falasse. Era como se o mundo tivesse parado. mas então já era tarde demais e nunca fui um covarde.. pois sabia inconscientemente que suas palavras me destruiriam. E me destruísse: . o fim. não respirou. .faces. não se escondeu. E enfim eu vi. O ar estagnou. Por isso olhei e ouvi. Ela não piscou. as pessoas na sala não se mexeram. Não sou Eva Camargo.. Neta de Pablo e Estela Amaro. Seus olhos desesperadores fixos nos meus quando completou bem baixinho: . Por um momento. mas real. Eram apenas palavras soltas. ali. Por um momento .Meu nome é. como um soco na cara. nem tive reação. dentro da minha casa. Então veio lenta e voraz a verdade dentro de mim.Sou filha de Luiza Amaro. mas ainda incongruentes. eternizadas na memória.. Eva Amaro. Eu não me movi. trêmula. jogada na minha cara. – Sua voz saiu baixa. diante da minha família.. chocado. a traição clara e . eu contraí meus dedos em volta de sua cabeça segurando fortemente seus cabelos como garras. Com o corpo imobilizado. sem nem saber de onde tinha vindo aquilo. não teve como fugir. os olhos ainda nos dela. respirando para entender aquela realidade que se apresentava diante de mim. E eu vi toda a verdade diante dos olhos. E então. O chão escapou de sob meus pés. perplexo.fiquei desnorteado. tão dolorosamente atacado. nunca me senti tão atingido. o tempo todo ali. violenta. Emiti um som furioso de dor. tão horrível que tive vontade de gritar. E a dor me rasgou por dentro. me destroçando e destruindo. Rosnei como um animal mortalmente ferido. entendi o quão enganado fui por Eva o tempo todo.transparente na forma daquela mulher que havia se tornado tudo para mim. a dimensão de tudo aquilo vindo com força total. me reduzindo a nada em milésimos de segundos. senti como se eu deixasse de ser eu mesmo. dilacerado. minha vida. morrer. usado. meu mundo. de . bater. meu amor. Desgraçada. Outros gritos vieram. surdo e mudo para tudo o mais enquanto eu rosnava como um animal ferido: . num gesto de repulsa e violência.Theo! – Tia gritou.. apertando. de puro desespero e. meus olhos nos dela em um furor de raiva.. empurrei-a brutalmente contra a parede e minhas mãos foram em sua garganta. aquela realidade difícil demais de ser suportada. mas tão . o ódio tão feroz que me deixou cego.sofrimento maior que tudo. . sentindo-me traído e atacado. daquela mulher a quem entreguei minha vida. que mal os percebi. que agora enfiava uma faca em meu coração e torcia.longe. pedidos de calma. que mostrava que minha felicidade foi o tempo todo uma mentira. tão distantes do modo avassalado que eu me sentia. Senti mãos fortes me puxando. Mas ninguém conseguiu me afastar de Eva. . Eu só conseguia ver seus olhos. a única a quem me dei por inteiro e confiei sem vacilar. que me matava ainda em vida. meu nome dito várias vezes. vozes de homens. temerosos. dominado por uma dor que me cortava e golpeava. . manipulada.Arregalados. apenas segurou meus pulsos e deixou que eu apertasse seu pescoço. O pior de tudo era imaginar que tudo não passou de uma farsa. e ao mesmo tempo entregues. Que o tempo todo eu. Não lutou. forjada. caí como um pato naquela armadilha e nunca desconfiei de nada. que toda felicidade que senti era falsa. ainda maior do que o ódio. como se soubesse que merecia aquilo. que tanto prezei a inteligência e a honestidade. que todo ódio e toda mágoa. naquele momento. Foi a pior coisa que senti na minha vida.Ali. segurou meus dedos. vergonha. lacerado e acabado. um misto de dor. . eu quis matá-la. E quase. Eu aliviei a pressão e apenas a segurei. Cheguei a apertar mais seu pescoço e soube que seria fácil. eu o fiz. destruído. mas então algo mais forte que eu. do jeito que eu estava fora de mim. Ninguém me tiraria de cima dela. traído e morto. Em um estalo eu o quebraria. olhando-a. quase mesmo. não com toda fúria e todo desespero que me consumiam. E somente por que eu mesmo me impedi de seguir em frente. sem querer tocar mais nela. deixei minhas mãos caírem e dei um passo para trás. calma. Ali eu entendi como uma deslealdade poderia acabar com uma pessoa. como .desespero. . Nada. mas era como se eu tivesse uma força sobre-humana. agonia. Eu não era mais nada. Tentavam me tirar dela. Solte a Eva! Solte! – Um dos meus irmãos falava.Theo. nem sei quem. E Eva tinha literalmente acabado comigo. embora soubesse que não havia . Quase implorei para que negasse tudo. seu olhar suplicante. Mas tudo parecia girar. rompendo algo dentro de mim. deixando-me até sem ar.se me contagiasse com sua presença. ali encostada e com lágrimas escorrendo dos olhos desesperados. fora da realidade. Um lado ainda racional em mim percebeu sua respiração entrecortada. duro demais para aceitar. Alguém disse algo sobre conversar e me acalmar. louco. A dor era o pior de tudo. Meus irmãos me soltaram. lacerando. ver diante de mim a mulher que me deixou completamente apaixonado e agora destruído..como.. Teria que renascer das cinzas. que matava. Eu só conseguia olhar para Eva. . Era apenas uma parte minha querendo se proteger.Theo. Mas agora teria que reaprender. que invadiu minha vida e tomou tudo de mim. A ponto de não saber mais quem eu era sem ela. até minha essência. de uma traição que doía e latejava. querendo negar a verdade explícita e dura demais para suportar. – Foi sua voz em um . para acertá-la. aniquilá-la. tão rápido e violento que pegou todo mundo desprevenido. que me despertou para a vida. Mas no último milésimo de segundo. Gritei dentro de mim mesmo. machucá-la.murmúrio. eu não consegui. Eu desviei o . em uma súplica. tanto que fiquei surdo. Ergui o punho e fui com tudo. Foi mais forte do que eu. Quis causar nela a mesma dor que me rasgava e consumia. perdi a razão. Ali eu senti vir com tudo a traição e o ódio. senti vontade de destruí-la. Fui agarrado por trás e puxado para longe dela. Gritei em um lamento em que a dor nos dedos não era nada perante a que me consumia. espalhando uma dor aguda na pele que se rompia e nos ossos que se chocavam contra o cimento. estraçalhando meus dedos. manchando de vermelho a pintura branca que se estilhaçou. Eva chorou em um lamento .punho e o soco explodiu na parede ao lado de sua cabeça. o sangue escorrendo dos ferimentos. a dor percorrendo a mão e o braço até o ombro. Todos gritaram. e precisou de meus três irmãos para me segurar. Até o . os bebês gritavam. muitas pessoas me segurando.Desgraçada! – Rosnei e tentei avançar nela. me impedindo. como um animal ensandecido.sofrido e angustiado. alucinado. mas eram muitos braços me contendo. obcecado. fora de mim. vozes e desespero se confundiam naquela sala. tentarem me conter. E o tempo todo eu não conseguia tirar meus olhos de Eva. . Tia chorava e me tocava pela frente. Eu lutei. fora de mim. pois minha força era descomunal. Theo. Eu te amo e isso nunca foi mentira.delegado Ramiro teve que ajudar.... até que a vi cair de joelhos a minha frente.Por favor... – . Queria machucá-la.. desgraçada. Eu lutei e grunhi. . escorrendo de seu rosto... – Eu não sei o que faria se a pegasse. dilacerá-la como fazia comigo com a sua traição. lágrimas inundando seus olhos. me perdoe. me perdoe. sua voz saindo em lamentos doloridos e desesperançados: . Eu te amo..Filha da puta.. escondendo Eva do meu olhar obcecado e mortal. . enquanto Tia corria até Eva e a ajudava a se levantar com dificuldade. dizendo firme: .Foda-se! – Berrei alucinado. Heitor veio pela frente. Ela é a mãe da sua filha.Não faça nada do que vai se arrepender depois.Theo. tentando me conter e atrair minha atenção. Joaquim ajudou a me segurar. . calma! – Pedro me puxou. tentando me soltar.Mentirosa! . Ainda está de resguardo. segurando meus braços para trás. Theo. mas em meio ao caos e à dor suprema. segurava a barriga como se estivesse com dor.Ela chorava e tremia. Eu quis destruir Eva com todas as minhas forças. seu choro desesperado. Foi quando ouvi os gritos de Helena. Alguma coisa dentro de mim travou e na mesma . só uma coisa poderia me parar. exigir saber por que foi tão falsa. ao ódio e ao desejo de vingança. pois precisava pôr minhas mãos em cima dela. causar nela um pingo da dor que me matava e torturava. cambaleava. Lutei. a preocupação e o sofrimento. que já tinha nascido em meio ao ódio. E eu. seus desesperos também. minha filha que era fruto de duas famílias inimigas. sofrendo mais do que um dia julguei possível. fiquei quieto. Olhei em volta. mesmo aniquilado. Não me debati nem lutei. que . à traição e à discórdia. Cada um deles tinha sido atacado de alguma maneira. E percebi que havia uma inocente naquela história. vi os olhos dos meus irmãos sobre mim.hora eu me imobilizei. Respirei fundo e. os coloquei naquilo. E os gritos de Helena só aumentaram minha dor. fui burro e tolo. eu os deixei em perigo. fui enganado terrivelmente. . Nada era mais importante do que ela. Fiquei completamente arrasado. . Eu levei nossa inimiga para dentro de casa. A culpa de tudo era minha.Podem me soltar. que era também minha responsabilidade. – Falei baixo. que era o chefe da família.devia protegê-los. frio. me fizeram ver que havia um ser inocente no meio de tudo. minha respiração pesada. meu corpo tenso. Vem aqui se acalmar e.. Nunca mais. . Eu o encarei. aumentado por minhas palavras. Eu me recusei. Mas não quis mais olhar para ela... Quero só a minha filha.A Tia já foi cuidar de Helena. enquanto ouvia o choro de Helena e o de Eva. – Começou Heitor. dura. .Theo. Theo.Não vou tocar nesta mulher.. duro. retesado. – Começou Joaquim. – Minha voz saiu gelada. .. Já falei pra vocês me largarem. como um escudo a Eva atrás dele. Theo. Heitor me soltou. Eu só quero a minha filha. porra! Eles vacilaram. O tempo está . Se quiserem. Pedro por fim largou meus braços. mas continuou na minha frente. Agora me soltem. cujos soluços eu ouvia. Joaquim também tirou as mãos de mim e ficou ao lado de Heitor. o delegado Ramiro disse baixo: Precisamos de você controlado.. alerta. façam uma barreira para proteger essa traidora. Ao lado dele. parecendo ter envelhecido . que não parava de gritar. Acho que quebrei pelo menos três dedos e sentia o sangue quente escorrendo deles. Virei e fui até onde Tia estava tentando conter Helena. mas nada perto de como eu me sentia por dentro. mas acenei com a cabeça.correndo. com pena. A senhora que foi mais do que uma mãe para mim olhou-me arrasada. A dor era forte e contínua. Voltei as mãos para o lado do corpo e a direita latejava. Não entendi ao certo sobre o que ele falava. Quero minha filha.. . Tia. acomodando-a em meu colo. Peguei Helena como se daquilo dependesse minha vida. de mais raiva de mim mesmo por ser tão burro.. Mas sua pena só me encheu mais de vergonha e dor. olha a sua mão. – Estendi os braços e ela disse preocupada: .dez anos naquele dia. Por um momento. consegui me acalmar e fechei . evitando sujar sua mantinha de sangue. Era assim que eu me sentia também. Eu não quis olhar nem me importei com aquela dor.Filho. maior que tudo.. ela foi parando de chorar. E ficamos os dois quietos. Papai está aqui. E era nela que eu deveria me concentrar dali para frente. respirei perto de sua cabeça e senti seu cheiro de bebê. dos negócios e da família. Percebi que havia um motivo para mim.os olhos. E como se minha presença fosse seu bálsamo também.Calma. Além da fazenda. .. evitando que um dia sofresse tanto quanto eu sofria .. eu tinha minha filha. tirando forças um do outro. protegendo-a. Helena.. Foi ela que invadiu o quarto de Gabi em uma festa e deixou um bilhete ameaçador e fotos. . com uma mulher na coleira. Desde o início sabia tudo sobre mim.naquele momento. na real dimensão de toda aquela traição de Eva. mas algumas coisas vieram logo em minha mente. Ainda não conseguia pensar com clareza em tudo. sendo muito mais vitoriosa do que ela. Ela era filha de Luiza e continuou o trabalho da mãe. no Clube Triquetra. inclusive uma sobre mim. do que eu gostava e como me atrair. me enganar como se eu fosse a porra de um palhaço. Como se fosse automático.. Tão fácil.Conseguiu me conquistar. E então as informações vieram em jorros na minha mente. O atentado que sofri e quase tirou minha vida.. senti uma pontada no ombro onde tomei o tiro e na mesma hora me . me ter nas mãos. tão certo. Tudo armação. tivesse a oportunidade de chamar minha atenção. entrasse de alguma maneira no meu meio. para que ela me encontrasse naquela favela e invadisse a minha história. o direito com os dedos inchando e pingando sangue. Todo meu corpo estava retesado. Mas agora eu já sabia quem ela era.Você fez parte do atentado que quase me matou. duro. . seus olhos fixos em mim como se me suplicassem algo. gelado. Encarei Eva com fúria e desespero. . latejando.virei. escorrendo para meu pulso. abraçando a si mesma. – Falei baixo. Ela estava encostada na parede. Não me enganava mais. chorando sem parar. ainda com Helena acomodada em meu braço esquerdo. .. Para que eu e minha família achássemos que devíamos algo a você. eu.. Por favor. – Desencostouse da parede.. . De que o delegado a investigou e descobriu que tinha sido criada em um orfanato e tinha 22 anos. meu coração apertado em uma garra fria.Theo. eu não.contraído.. Tudo fugiu ao controle. cambaleou um pouco. – Nunca quis que tomasse um tiro. – E tão mal acabei de falar. empalideci ao me dar conta de algo.Foi minha salvadora.. seus lábios tremendo. . . acredite. dando-me conta de que até aquilo foi forjado. Helena se assustou e voltou a chorar. Indaguei devagar. baixo: . .Fiquei imobilizado. Era uma identidade totalmente falsa. Novas lágrimas inundaram seus olhos e sacudiu a cabeça. Eva me olhou desesperada. como se estivesse sem condições de falar. Meus irmãos se .Quantos anos você tem? Eva não respondeu. olhando para ela.Responda. porra! – Falei furioso e dei um passo à frente. Mordeu o lábio e estremeceu. já disse que não vou tocar mais nessa mulher! – Respirei fundo e parei. Tinha deixado Caio no carrinho e estendeu as mãos.meteram na frente dela. . Theo. Heitor veio até mim: . .Deixa que a seguro. Theo. mas ela esperneava assustada. tentei acalmar Helena. vamos saber de tudo.Calma. Eu precisava da minha filha. – Gabi veio até mim. .Eu quero saber agora e ela vai dizer! Saiam da frente. – Por favor. neta de Estela e Pablo Amaro. Fitei seus olhos. não podia ficar com ela. acabada. com dor. atrás de meus irmãos. Cerrei o maxilar. mas entreguei-a a Gabi. mas não mais do que eu. Bem diferente de Eva.Mas sabia que do jeito que eu estava. pálida. Mas nunca nos traiu. Voltei a olhar para Eva. com lamento. sabendo que era irmã de Eva. Não acreditei em nada da sua dor. era também filha de Luiza. O que ela tinha era . Nunca nem cogitou mudar de lado em nome daquela vingança. queria nos enganar.Quantos anos você tem? . como fazia desde o início. estava com medo do castigo. E eu que já me achava um pervertido por ter me envolvido com . mas senti a dor triplicar dentro de mim. – Murmurou em um fio de voz.desespero por que foi pega. E mesmo sabendo que era caçula. Eu não disse nada. eu exigi que dissesse em voz alta: . Mas agora era tarde demais. Tudo foi uma mentira.Dezenove. meu olhar dizendo o quão horrível e dilacerado eu me sentia. eu precisava de algum alívio.uma moça de 22 anos. na vergonha que eu sentia. agora via que era pior do que pensei. Mas me segurei. E apenas olhei-a. 19 anos. Tive vontade de quebrar tudo pela frente. – Tia estava ao meu . na minha família ali presenciando tudo. Idade para ser minha filha. . Quase surtei de novo.Theo.. Uma garota.. de extravasar um pouco daquela fúria assassina que me comia vivo. pensei novamente na minha filha. O que mais você fez? Além de me fazer ser um babaca. Por isso ele voltou. envolvendo cuidadosamente minha mão em um pano branco. Deixei que envolvesse o linho em volta dos meus dedos.lado e segurava meu braço. – Precisamos cuidar dessa mão. eu indaguei baixo: . O tempo todo a ameaça estava aqui e fui eu que trouxe para cá. . o último a saber que fui enganado e traído? Até Micah. E ainda olhando fixamente para Eva. soube antes de mim. que vivia longe daqui. olhei em volta e indaguei frio: . lembrei que tinha apenas dois dias que deu a luz a nossa filha.. Eu nunca mais me preocuparia com ela. Como não explicou. Por um momento. Podia morrer. ainda estava de resguardo.Não.. Mas afastei aquele pensamento tão logo o tive.Como descobriram tudo? O que aconteceu? . – Sacudiu a cabeça e apoiou a mão no encosto da cadeira. como se estivesse fraca. eu não queria saber. muito pálida.. E quando o delegado . Fiquei quieto. apenas para me tocar. mostrar que estava comigo. uma dor que corroía por dentro. não era hora para lamentações. No entanto. tentando apenas respirar.Tia terminou de cuidar da minha mão e acariciou meu braço. como sempre foi no decorrer da minha vida. no mesmo lugar. do que vivenciando aquilo. me dar conforto. sair de tudo aquilo com o mínimo de dignidade. Acho que eu preferia mais estar morto. Mas estava difícil. Era um padecimento sem igual. Ligou essa manhã para Eva e a chantageou. Deu o prazo de uma hora e temos pouco mais de vinte minutos para arrumarmos uma armadilha . pedindo que o encontrasse e levasse dinheiro e joias para que pudesse fugir. eu me concentrei nele: . Mas parece que ele cansou da parceria e de viver escondido.Ramiro começou a falar. o mesmo que deu o tiro e a coronhada em você no atentado que sofreu. Lauro Alves. é comparsa de Luiza Amaro.O homem que era o chefe da quadrilha que roubava gado e conseguiu fugir. Não podemos demorar mais. Meus olhos foram de novo para Eva. a cabeça baixa. como se não tivesse mais forças de permanecer de pé. Era da mesma sujeira que Eva e a mãe. Aquele homem a chantageou por que era comparsa dela. os ombros caídos. que tinha se sentado na cadeira.para ele. Sua aparência era de derrota. as mãos no colo. .Como vocês descobriram? – Perguntei com uma frieza que desmentia . Não tive pena. Todos a mesma merda. muita mágoa. Só muito ódio. Theo. atraindo meu olhar.Ele ia te falar tudo hoje. .Dar a ela a oportunidade de se explicar? Vocês me deixaram fazer papel de idiota mais tempo por causa dela? – Apontei para Eva com nojo.meu estado. dar a ela a oportunidade de se explicar. . mas queria conversar com Eva primeiro. Meu ódio aumentou e franzi o cenho. Theo. encarando os olhos verdes claros do meu irmão caçula. Continuou: . .Micah me contou ontem. revoltado. – Foi Joaquim quem respondeu. Nada em mim abrandou.Não é isso. – Micah foi procurado por Luiza no Rio de Janeiro. . Eva ergueu o rosto e me fitou. olhos fixos nos dela: . pois disse que Eva tinha mudado de lado e desistido da vingança.E você acreditou Joaquim? . irmão. pouco ligando para a dor. – Joaquim se explicou rapidamente.usando a mão machucada e enrolada no tecido. Falei friamente. Por isso ele achou que ela merecia ao menos ser ouvida. Ela queria que ele fosse seu aliado. Cale a boca.Lauro exigiu que Eva vá sozinha até as terras que eram da família . . – O que estamos esperando? Vamos pegar logo esse ladrão e acabar com essa palhaçada.. – Há muito tempo desisti de tudo. .. Theo. – Ela murmurou. falsa. eu juro. Nada do que disser vai me convencer de que não é uma dissimulada. a custo controlando minha fúria. e. Está na hora de colocar todos eles onde merecem: na cadeia.. traidora.. – Ergui o queixo.É verdade. Só queria proteger você. Não quero que se dirija a mim.. Ela não vacilou. Mesmo parecendo abalada. coçando o cavanhaque.dela. acabada. sem tirar os olhos inchados de mim. pálida.Certo. e deixe as joias e o dinheiro ao pé da primeira árvore. – Explicou Ramiro. . levantou-se. Disse que se ela envolvesse a polícia ou levasse alguém. . contaria a você quem ela é. – Acenei com a cabeça e olhei friamente para Eva. – Temos que pegá-lo aí. ordenando: Levante-se. na fazenda. pois não sabe que tudo já veio à tona. só isso.Vou pegar minha arma.Theo. agoniada. Eu o ignorei. não faça isso! Eu parei com um pé no degrau e me voltei para ela.Não vou sujar minhas mãos com essa mulher. garantindo: . . Caminhei até a escada e avisei sobre o ombro: . o que vai fazer? – Perguntou Heitor..Theo! – Tia correu atrás de mim. Vou no carro dela preparado para pegar o bastardo. . – Por favor. preocupado. . – Subi os degraus pisando duro e mais ninguém conseguiu me impedir. seu cheiro.Mas a polícia. Evitei olhar a cama. as lembranças da minha falsa felicidade duelando com a dura realidade que tinha me golpeado tão de repente. Senti o baque da presença de Eva. E não tem conversa sobre isso.. a dor pareceu me estraçalhar por dentro. sua marca em cada coisa. Tia. . Nunca foi tão difícil atravessar um corredor e entrar em um quarto...Eu vou junto. mas ali sozinho. logo sabendo que logo teria tempo para ter a dimensão . Xinguei um palavrão.Peguei minha pistola em uma caixa na parte de cima do closet com a mão esquerda. Com certeza estavam quebrados e só escapava o polegar. vermelhas de sangue. as falanges dos dedos sem a pele. mas não desisti da arma. muito menos segurar uma arma. Enfiei-a nas costas da calça e saí do quarto. os quatro dedos tão inchados que mal podia movê-los. Vi o estado da minha mão. E tirei o pano que Tia tinha enrolado na mão direita. Ela estava no colo da tia. baixinho. Agora eu precisava pegar o comparsa dela e acabar pelo menos com mais uma ameaça.verdadeira da traição de Eva e saber todos os seus planos. Caio dormia no carrinho e Gabi tinha conseguido fazer Helena adormecer também. Eva continuava no mesmo lugar. Desci logo as escadas. Tia dizia algo a ela. de cabeça baixa. Meus irmãos falavam algo com o delegado . preocupada. que se sentou de volta no sofá e olhava em volta desolada. – Ela leva um pacote falso. tenso. seu rosto fechado. .Mas é muito perigoso! – . . se aproximando.Ramiro e todos me olharam quando voltei. deixa ao pé da árvore e volta. sai do carro. Vamos nos aproximar por direções diferentes e tentar cercá-lo e pegá-lo quando for recolher o pacote.Theo.O comparsa dela não a mandou levar dinheiro e as joias? Vamos seguir com esse plano. o que está pensando fazer? – Perguntou Pedro. . – Nem olhei na direção de Eva. Não escolheu esse caminho? Agora que arque com as consequências. .. – E se o homem desconfia e atira em Eva? Senti um baque por dentro com aquela possibilidade. – Gabi suplicou do sofá. . olhando para Eva com desprezo.Isso é problema dela.Não Theo. Eu nunca mais me preocuparia com ela. Respondi gelidamente. com lágrimas nos olhos. mas isso só me enfureceu ainda mais..Exclamou Tia. um medo verdadeiro e aterrador. – Por . .. – Falei baixo. olhando-me. mas pode ser o único jeito de pegarmos o bandido.Eu vou.É perigoso. disposta a se redimir um .Não tem outra maneira. . – Eva deu um passo para frente. .Ela está de resguardo.. fraca. – Ainda mais com o pouco tempo que dispomos. – Vamos pensar em outra maneira. não faz isso. – Joaquim me fitou. . – Opinou o delegado.favor. Parecia corajosa. irmão. dá para ver que não está bem. Está tudo confuso demais. o tempo curto. Se na hora tentar dar uma de esperta e fugir para o lado dele. sugiro que não fique na minha mira.Claro que você vai. .pouco. pode dar . – E eu vou com você. – Afirmei em tom ameaçador. . como se entendesse até que ponto chegaria meu ódio. Não vou ter pena de atirar. Ela ficou ainda mais pálida e entreabriu os lábios. arquejando. mas tudo que consegui sentir foi mais raiva.Theo. mágoa e desconfiança. por favor. Essa quebra de resguardo pode. – Falei furioso. está se tremendo toda.. Ela vai e ponto final.Chega Tia. . Ela dirige e vamos agachados. nem que eu a arraste daqui.Vou no carro com você e Eva. para que não nos veja caso esteja nos . – A menina acabou de ter filho. minha respiração irregular. – Tia passou o braço em volta da cintura de Eva. Ramiro tomou a palavra: . todo meu corpo doendo como se tivesse levado uma surra. Por fim..tudo errado. Todos pareciam sem saber o que fazer. mas não falei nada. uma bolsa de papel foi arrumada e colocado dentro dela objetos sem importância. Tia deu água a Eva e fiquei furioso ao ver como a abraçou e confortou. É o máximo que podemos fazer em tão pouco tempo. Meus policiais e seus irmãos se espalham em outros carros e tentam fechar as principais saídas de fuga. Enquanto cada um sabia sua posição. E tudo foi preparado de acordo com aquele plano. apesar de me sentir ainda mais traído. O que só piorou quando Gabi fez o mesmo .observando. – Heitor se aproximou de mim e apoiou a mão em meu ombro. Foi .e se aproximou com Helena no colo. Estava sério. Mas isso não me tocou. Parecia arrasada. preocupado. chorou baixinho. antes de se afastar. Era uma falsa.. – Não faça nada do que vai se arrepender depois. Disse algo que não ouvi ao devolver Helena a Gabi. Apesar de tudo. ela é só uma garota. fazendo-me encarálo. devorada pela dor. E eu estava doído demais para me comover. . Eva a pegou. beijou.. Tudo que viesse dela só podia ser mentira.Theo. Se eu quisesse matá-la. Cada um seguiu em um carro. – Falei entredentes. .Ela está correndo perigo. já o teria feito. – Olhei-o.criada no meio do ódio. . para locais diferentes da fazenda. encerrando o assunto: . . E é mãe da sua filha. quando eu coloquei essa bandida na nossa casa. Eva se acomodou ao volante de seu Nissan .Quem correu perigo fomos nós.Ela só vai encontrar o que procurou. muito irritado.E saí de perto. . pois Eva Camargo.Frontier 4x4 verde Army metálico que eu tinha comprado para ela no início do nosso casamento. sofri um novo baque ao me dar conta de que aquela carteira era falsa. que assinou a certidão. Fiquei imobilizado. não existia. como toda a identidade dela. Como nosso casamento. Olhei para . Ele não tinha validade. logo depois que tirou sua carteira de motorista. tanta mentira me deixando doente. E enquanto o delegado Ramiro se acomodava atrás e eu na frente. a dor me comendo cada vez mais por dentro. duro e implacável.frente. Ela tinha acabado comigo. eu soube que nunca a perdoaria. Eva me pagaria caro por tudo aquilo. E ali. por um sentimento indescritível de traição. Ela se arrependeria do dia que cruzou o meu caminho. consumido por ela e pela raiva. Agora eu me sentia pior do que fui antes de conhecê-la. . As lágrimas não paravam de subir . Enquanto dirigia pelas estradas da Fazenda.CAPÍTULO 2 EVA Meu pior pesadelo tinha se tornado realidade. eu tremia por dentro e por fora. a dor picava dentro de mim e me . Eu sentia o sangramento do pós-parto mais intenso. afastava-as da minha visão embaçada. como se uma fonte infinita dentro de mim não pudesse secálas mais. e continuava em frente. mas a dor na barriga e as pontadas na vagina eram quase insuportáveis. tentando cumprir com o que eu mesma criei ao me envolver naquela vingança. enchendo o absorvente e a cada vez que precisava pisar no acelerador ou no freio. Todo meu corpo doía. Eu piscava. segurando firme o volante.aos meus olhos. a dor e o desespero que vi nos . Ou então choraria até me acabar e não conseguiria seguir em frente.fazia empalidecer e suar frio. mas eu nem ousava reclamar ou me recusar a continuar. Theo havia descoberto tudo e foi ainda pior do que imaginei. Eu pensei que ele me mataria. a mágoa. E enquanto vivesse nunca esqueceria o ódio. Não com Theo ao meu lado. cheio de ódio. Eu evitava olhá-lo. Por que pior do que o sofrimento físico era o que me rasgava por dentro e me arrasava completamente. mostrar a ele que pelo menos não me esconderia . agarrando ainda mais o volante.olhos dele. respirando fundo para me manter lúcida. E eu me dilacerava ao saber que fui eu que causei aquilo. Ele nunca me perdoaria. mordendo os lábios para não soluçar. o fim de tudo. toda aquela dor e desprezo. Eu só precisava seguir em frente. Todo amor e toda paixão com que me fitava tinham sumido. tentando não me importar com as dores e o desespero. Novas lágrimas inundaram meus olhos e pisquei rapidamente. Sempre soube que não me perdoaria e por isso nunca tive coragem de contar a ele. intenso. emocional.ou fugiria do que provoquei. com todo meu ser e soubesse que havia desistido da vingança pelo seu amor. mesmo que o amasse com loucura. que não se importava mais comigo e que me faria pagar por aquela traição. E estava disposta a receber meu castigo por tudo que fiz a ele. Eu me enganei quando achei que poderia esconder tudo . Theo era um homem visceral. Eu sabia que tentaria me castigar de todas as formas. arrepios percorrendo minha pele. Como estava disposta a fazer. criar um conto de fadas em cima de tanta mentira. Mordi os lábios e engoli uma pontada de dor no útero quando pisei no acelerador.aquilo para sempre. meu corpo fraco e . Pois nem no meu amor ele acreditaria mais. deixando-me um pouco tonta. que eu morreria por ele se fosse necessário. Estava no meu limite. Nada seria suficiente para que acreditasse ao menos naquilo. E não era. como se meu amor fosse suficiente para desculpar tudo. Ele me odiava tanto que por pouco não me deu . Não tinha sido cortada por baixo para o parto. mas mesmo assim eu parecia ferida.abusado. como se ardesse e queimasse. Lutei para não chorar ainda mais ao me dar conta que Theo não se importava com nada daquilo. latejasse e estivesse aberta. Meus seios doíam inchando de leite e me preocupei com Helena. Meu emocional um caos. incomodando demais. Minha vagina doía até a barriga ainda inchada. Cólicas na barriga me davam calafrio. que logo sentiria fome. quem estava machucado era ele. Mas no final das contas. mesmo que mínimo. como poderia dominá-lo. Haveria ainda algum sentimento por mim. o que o fez quebrar os dedos e rasga-los com violência contra a parede pouco antes de me acertar. Eu ainda não sabia o que o tinha segurado e impedido. que o controlou quando parecia completamente fora de si? Eu sabia como a violência era parte do seu ser.um soco na cara com toda força e quebrou o meu pescoço. com a mão arrebentada. Lancei um olhar rápido para sua . vendo o estado deplorável de seus dedos. mas ele estava frio.mão ferida e inchada em seu colo. seu semblante carregado. Olhei para frente. olhando para frente. quase sem se mover. . sem o calor e a paixão que me acostumei a ver neles. obviamente quebrados. sem vida. angustiada. me fazia querer realmente morrer. o roxo em volta das falanges. E saber que fui eu que destruí tudo aquilo me desesperava demais. Seus olhos pareciam vidros. as lacerações e o sangue seco. Deviam doer demais. por dentro e por fora. eles não precisaram se abaixar. Até respirar parecia difícil. O carro era todo protegido por vidro fumê e quem estava de fora não podia ver quem estava dentro. Mas lutei para me manter firme e seguir em frente. Eu estava em meu limite e minha cabeça latejava. agora a dor generalizada em cada pedacinho de mim. querendo muito me encolher em um canto e só chorar e gritar até perder as forças.sofrendo horrores. Assim. Cerrei firme o maxilar para . concentrada em manter o mínimo de lucidez e força. Eu estava perdendo o amor da minha vida e minha felicidade por uma vingança da qual tinha desistido. tremendo ainda mais ao avistar do outro lado do rio as terras que foram da minha família. Respirava pesadamente e senti o olhar de Theo sobre mim. fixo. mas da . duro.conter as dores violentas no útero que me faziam suar frio quando a estrada se tornou mais íngreme ao se aproximar da ponte e os sacolejos do carro aumentaram. Mas não ousei fitá-lo. Tanta dor e desespero por aquilo. por saber . E agora pagava duramente. como um animal indo para o abate e quase desejava aquilo.qual fiz parte. E nunca me perdoaria se algo acontecesse com Theo ou um dos irmãos dele. arrasada. angustiada. era eu. Eu me sentia culpada. Se alguém deveria pagar por tudo. sabendo como uma tragédia poderia ocorrer ali. Senti o medo se juntar a todo o resto e meus olhos varreram em volta em busca de Lauro. Ao mesmo tempo. senti sem querer uma mágoa por dentro. com meu útero e meus órgão internos ainda doloridos e sensíveis após o parto. Isso deixou mais do que claro que ele não me amava.que Theo me fazia ir até ali mesmo ainda em resguardo. fazendo- . sabendo que eu poderia correr risco de vida. Novas lágrimas nublaram minha visão e eu pisquei rapidamente. que seu ódio era tanto que não se importava nem pelo fato de ser mãe da sua filha. Por que nada impedia de Lauro atirar em mim se desconfiasse de uma armadilha ou ainda eu ser pega no meio de um fogo cruzado. e pior. – Começou o delegado Ramiro.as escorrer. Eu parecia ter levado uma surra violenta. Minha cabeça latejava tanto que até respirar se tornava doloroso. lutando para manter as forças em meio ao desespero. . à dor e às tormentas do corpo. Mas mantive-me o mais firme possível e atravessei a ponte com o carro. alerta. Vá . – Escute com atenção. atrás de mim. sentindo que os dois homens dentro do carro puxavam suas armas. o medo dentro de mim se tornando colossal. Eva.Pare logo depois da ponte. Mas lembre-se. Tente parecer segura. me tremendo tanto que meus dentes começaram a bater. Parei o carro logo após a ponte e me dei conta de que . Saia do carro com cuidado e não olhe em volta. – Consegui murmurar. nervosa.Sim. não vá até ele. Entendeu? .até aquela árvore mais próxima à nossa direita. Se por acaso avistar Lauro. deve se proteger no chão e não levantar. Deixe o pacote ao pé da árvore e volte. Jogue-se de bruços no chão e saberemos que está nas redondezas. para não ser acertada por tiros. agora era mil vezes pior. para pagar por meus pecados. virei o rosto e fitei Theo. a expressão carregada. que me olhava fixamente. Desesperada. Se sua aparência sempre foi dura.estava nas terras que foi do meu avô. tornava o ar no carro pesado e . Estremeci da cabeça aos pés e indaguei se seria ali que eu iria morrer. A ruga entre suas sobrancelhas era mais pronunciada. O ódio estava em cada ângulo e parte dele. tão evidente que gotejava. tomava conta de tudo. os olhos ferozes e ao mesmo tempo frios. E me agarrei em uma esperança vã. como se eu fosse o centro do seu mundo. Como eu poderia viver com aquilo? Então pensei em Helena. para nunca mais ser alvo de um desprezo tão grande. mas que me manteve lúcida e me deu forças naquele momento. Tudo em mim se tornou mais dolorido e só pensei em morrer mesmo. dilacerante. que talvez nunca existisse.angustiante. pensei nos inúmeros olhares de Theo para mim durante aqueles meses de casamento. cheios de amor e desejo. Eu passaria cada dia da minha . Só ódio e desprezo. eu lutaria por seu perdão até não poder mais.Aqui está. olhando-o. E eu soube que seria uma batalha árdua e dura. talvez já perdida. E mesmo que ele não acreditasse. Apesar de tudo. Uma guerra. ele parecia preocupado. Eva. Preparada? – Ramiro me entregou a bolsa de papel e a segurei. E aquilo só me . . Theo não disse nada. Apenas me olhou e não havia ali preocupação ou vacilação.vida tentando mostrar a ele que o amava e que desisti da vingança muito tempo atrás. que o suor frio escorria da minha testa e das minhas têmporas.deixou mais nervosa. E tenha cuidado. – Observou-me. Lancei um último olhar a Theo. talvez reparando que eu sentia dor.Sim. mas ele não me olhava.Sim. que tremores me varriam. – Entendeu tudo o que falei? . .Tente manter a calma. Segurava a . – Sente-se em condições de seguir em frente? . – Era tudo que eu conseguia dizer. Imaginei que sentia dor também. Indaguei a mim mesma se seu ódio seria tanto a ponto de mirar a arma em mim e me matar quando eu estivesse lá fora. . Mesmo tremendo de medo e de dor.pistola com a mão esquerda e tentava enfiar o dedo inchado e ferido da mão direita no gatilho. Não demonstrava. mas aquilo não o impediria. soube que ele nunca faria aquilo. Mas no fundo. me sentindo muito fraca. Respirei fundo e abri a porta do carro. mas estava pálido. saí o mais rápido possível e bati logo a porta. Encostei no carro. deixava-me tonta. Quase me curvei para frente com a dor no útero. Os seios doíam duros de leite. latejava. que se contraiu em espasmos e cólicas.isolando os dois homens lá dentro da visão de quem estivesse do lado de fora. pois minhas pernas pareciam gelatina. despejando muito sangue em meu absorvente. Nunca me senti tão arrasada. Levei alguns segundos para me acalmar a aceitar a dor. me acostumar um pouco com ela. Minha cabeça rodava. tão mal. Então desencostei do . outras atrás dela formando um labirinto fechado onde uma pessoa poderia facilmente se esconder. Mas segui em . Era só todo aquele verde me rodeando. meio cambaleante. Ergui a cabeça e passei na frente do carro. trêmula.automóvel. meus olhos fixos na primeira árvore. afastei o cabelo que se grudava em meu rosto suado e consegui dar alguns passos. Sentia meu corpo no limite. as folhas da árvore balançando. Não havia nem sinal de Lauro. E o medo só piorava tudo. quase sem forças. Finalmente cheguei até a árvore. deixando-me mais tensa e alerta.frente. Fui atenta. Que agora eram minha desgraça. Apoiei a mão livre no baixo ventre sobre o vestido creme e segui em frente. trêmula. nervosa a ponto de ter um ataque cardíaco. estagnado. mas cambaleei de leve com as dores e contrações no útero. mas tudo parecia parado. pisando na grama. concentrada. Busquei sinal de perigo com os olhos. . que me deixavam mais e mais tonta. nas terras que eram alvo da disputa de duas famílias. mas minha visão nublou e começou a ficar cheio de pontinhos coloridos. Esperei que Lauro pulasse detrás do tronco atirando. fiquei ainda mais tonta. .. Apoiei uma das mãos no tronco grosso e tentei respirar. mas nada aconteceu.Não. meu corpo ficava todo dormente e mole.. até respirar parecia difícil. Com muito medo. A cabeça girava. . quando me ergui.meus dentes batendo incontrolavelmente. deixei a bolsa de papel perto da raiz no chão e. – Murmurei em pânico. sem controle do meu corpo. acabar logo com aquilo. escapar de qualquer perigo. ainda tentei me escorar no tronco. Escorreguei para o chão e caí na grama.Lutei contra a inconsciência. THEO . entrar no carro. Então veio uma espécie de alívio e só uma escuridão me afastando de tudo. Quis sair dali correndo. Minhas pernas enfraqueceram e os joelhos dobraram. Mas meu corpo não me obedeceu. ainda sentindo tudo. mesmo quando implorei a Deus que me ajudasse. mas já era tarde demais. mesmo . Mesmo com muita dor na mão. mirando perto da árvore.Desde que Eva saiu do carro eu não tirava os olhos dela. Tenso. sentia cada músculo e tendão do corpo contraído. esperando o bandido aparecer a qualquer momento e atirar nele. Conscientemente eu sabia que ele não apareceria por enquanto. eu consegui colocar o dedo machucado no gatilho e amparava a pistola com a mão esquerda também. esperando o momento de agir. Mas tudo podia acontecer e os riscos de dar tudo errado eram grandes. Ele devia estar escondido. pálida. esperando ela se afastar com o carro para então pegar a bolsa com o que achava que tinha joias e dinheiro. o rosto inchado de tanto chorar.achando que Eva não contaria nada a ninguém e estava sozinha por conta da chantagem. eu senti o medo me corroer por dentro quando a vi sozinha e desprotegida do lado de fora. Mesmo contra a vontade. Parecia apenas uma menina. o vestido largo contornando a barriga . espalhando-se despenteados. pulsante. temendo verdadeiramente que fosse atingida. os cabelos longos se colando ao rosto suado. O sol incidia sobre ela e era como um holofote.ainda arredondada do parto recente. Disse a mim mesmo que não me importava com nada que acontecesse a Eva. Mas era mais forte do que eu e me vi sem ar. que ela só colheria o que plantou. tornando meu medo algo vivo. Não quis ligar para ele e me agarrei ao ódio. Cada parte de mim ficou alerta . quase em pânico. atraindo a atenção. mirando também. E eu me rasgava por dentro em um pavor que era maior que tudo e me devorava.e foi um custo me conter. o ar carregado. mas com o qual eu brigava para conter. de costas para mim. Dentro do carro a tensão era absurda. Ramiro estava armado. não sair do carro e trazê-la de volta. era como uma pequena morte para mim. pronto para agir. . cada passo que ela dava em direção à árvore. Lutei incansavelmente comigo mesmo e. Imóvel. vi Eva parar em frente ao local combinado. Por um segundo.Mantive o cano da arma encostado no vidro. uma armadilha. E soube que. apesar de tudo. Não pisquei nem respirei. esperando a qualquer momento o pior acontecer. o dedo doendo no gatilho. Deixou a bolsa no chão e demorou a voltar ao normal. talvez tudo programado naquela vingança. Apoiou-se no tronco e vi que parecia fraca. Eu não sabia mais . imaginei se não seria algo combinado dela com Lauro. meio cambaleante. se algo acontecesse a ela. eu nunca me perdoaria. engravidar. naquelas terras malditas que foram da sua família? E depois me matar para ter acesso a tudo? Seria esse o objetivo de tudo? Eu poderia ser o alvo ali? E ao mesmo tempo em que pensava isso. qual seu plano verdadeiro naquilo tudo. ter uma herdeira que lhe garantiria parte nas terras. eu não tirava os olhos dela e sentia o pavor me consumir enquanto via seu corpo se escorar mais na árvore e por fim escorregar para o chão.quem era Eva e do que era capaz. . Casar comigo. eu senti meu coração falhar uma batida e pouco liguei se poderia ser uma armadilha. Não vi mais nada pela frente. Adrenalina se espalhou no meu . . Temi por ela mais do que tudo e. fiquei alucinado com a possibilidade que pudesse ter sido atingida.Quando caiu deitada.Theo! – Gritou o delegado Ramiro sem esperar minha reação. Abri a porta com brutalidade e pulei para fora. Foi como se eu estivesse a ponto de morrer. mesmo não tendo ouvido disparo nenhum. o que por si só bastou para me desesperar. desacordada. Mas estava pálida demais. . pronto a disparar caso o bandido saísse de trás da árvore. desprotegido. Meus olhos varreram tudo enquanto caía de joelhos ao lado dela e felizmente não via nenhuma mancha de sangue em seu vestido. sabendo que nada mais importava a não ser salvá-la. eu segurei a arma firme e corri com ela apontada para frente.sangue enquanto eu corria como um louco até Eva. Mesmo com os dedos arrebentados. agoniado.. o medo me devorando.Busquei uma ameaça em volta ao mesmo tempo em que a puxava para meus braços e a apertava contra o peito. . – O murmúrio escapou sem que eu pudesse conter. meu coração batendo tão forte que parecia a ponto de sair pela boca. – Não faz isso comigo.. a dor me golpeando forte e duramente.Coelhinha. sentindo como estava gelada... enquanto eu levava a mão esquerda a seu rosto e tocava-a. E num momento de puro . aliviado ao ver que respirava. atirando para frente: .desespero. caindo deitado sobre Eva no chão enquanto ele gritava e corria até o tronco.Leve-a ao carro e avise aos outros por telefone onde ele está! .Ele está atrás das árvores! Fique deitado! Protegi Eva com meu corpo e senti as balas passando zunindo por sobre a minha cabeça. pararam e o delegado gritou: . E só tardiamente ouvi os tiros e fui empurrado para baixo pelo delegado Ramiro. Então. todas as minhas guardas baixaram. raiva. imaginando que tudo aquilo podia ter sido armação dela para me matar. ódio. Cheio de preocupação. mesmo com meu peito doendo e sangrando. abrindo-o. . mas não podia deixar Eva ali sozinha. desconfiança. para pegar logo o desgraçado e dar apoio. Ergui-me com ela no colo e voltei rápido ao carro. deitando-a no bando de trás. eu a sacudi furioso pelos ombros.Precisamos fechar o cerco! – Saiu correndo em direção ao labirinto de árvores. Por um momento quase fui com ele. E foi então que vi o vestido todo manchado de vermelho perto das coxas. fechei a porta e corri para o volante. Ergui rápido a sua saia. Desesperado. Tinha sido coisa demais após um parto muito recente. buscando tiros e ferimentos. no entanto parecia mesmo desacordada. mas vi que era uma hemorragia. muito pálida. colocando o carro em movimento de volta para o casarão enquanto largava a arma no chão e .Acorde porra! Pare de fingir! Eva! – Sacudi-a mais.. Fiquei gelado de tanto pavor e perdi o ar. Até chegar lá. Expliquei correndo o que tinha acontecido e para onde o delegado tinha ido. E só no caminho consegui ligar para o hospital e avisar que eu a estava levando desacordada e com hemorragia. para não perderem tempo. eu quase morri de tanto . Nunca dirigi tão rápido na minha vida. Garantiu que estavam seguindo para lá dar apoio e desliguei. Não sei como consegui fazer as duas coisas. a dor pouco me impedindo.tentava sacar o celular com a mão arrebentada. pisando no acelerador. mas Pedro atendeu. atormentado. atingido. O médico ginecologista e obstetra de plantão a atendeu ficou quase uma hora com Eva no consultório e eu já estava desesperado andando de . assim como o medo de que tivesse acontecido algo sério com ela.desespero. tão dilacerado. Eu não sabia o que pensar e somente agi. a ponto de desmaiar. As dúvidas me despedaçavam. torturado. Nunca na minha vida me senti tão mal. O resto eu veria depois. Porra! – Quase dei um soco na parede de novo.Pegaram o filho da puta? – Rosnei fora de mim. Uma enfermeira quis cuidar da minha mão. mas só me mandavam esperar. . Eu exigia respostas sobre o estado de Eva.Não. alucinado. .um lado para outro do lado de fora. . Também não conseguia falar com nenhum dos meus irmãos e só naquele momento Heitor me ligou e atendi rapidamente com a mão boa: . mas não deixei. nervoso. Estou com Pedro vindo para a delegacia com o delegado. Achamos só marcas de pneus.Boa ideia. – Ele estava irritado.Alguém se feriu? .Não. pois o caçamos em todo lugar e nem sinal dele. Vamos procurar Micah.. . Theo. mas ao dar na estrada calçada sumiam. Talvez ele saiba algo do paradeiro de Luiza e através dela podemos pegar os dois. .Onde você está? E a Eva? . Deve conhecer alguma estrada secundária.O cara sumiu. . Traga Micah para cá. Quero saber de tudo. ansioso. .Como ela está? . Não discuti e desliguei o celular. Cuidou dessa mão? .Depois vejo isso. vai saber.. .Calma. com o coração disparado.Estou com ela no hospital. O médico saiu do consultório e eu o cerquei. . Estamos a caminho. Heitor.Tá bom.Deixa de ser teimoso! Está no hospital! . no caso do parto normal. observando-me. – Falou cauteloso. sua esposa continua desacordada. mas por dentro.. mesmo sem a episiotomia. preocupado. . o que é até bom.Que circunstâncias? –Sentiame paralisado. que é o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê.O puerpério precisa ser respeitado e não foi o caso dela. . nestas circunstâncias. Pelo menos por trinta dias. Ela não precisou e não levou pontos.Senhor Falcão. na região onde ficava a placenta. . abusou. carregou peso. felizmente. Eu passei a mão esquerda pelo .A febre é baixa. .Ela está com infecção? . Ela se aborreceu. Para ter uma ideia. o útero cresce 50 vezes o seu tamanho durante a gestação e precisa do resguardo para voltar ao normal.ficam pequenas feridas que cicatrizam com o tempo. mas às vezes algum trauma pode ser a causa. Se este não for respeitado. dirigiu? Pois parece que os vasos sanguíneos do útero se romperam. pode haver hemorragia e infecção. Parece estar esgotada fisicamente. angustiado.Não é necessário. nenhum.Quais os riscos que Eva corre? . . nervoso: .Ela vai ficar internada? . Tudo ao mesmo tempo. ainda mais . pois em meu ódio eu passei por cima do seu estado.rosto. Não a deixe se levantar ao menos por três dias e nem que se aborreça. dirigiu. abusou. Olhei-o. arrasado. Senti-me culpado.Se ficar em repouso e tomar os medicamentos. Mas precisa ter cuidado com ela. É claro que passou por um trauma. . Deve.E pode amamentar? .Sim.Obrigado. Só vamos esperar o tempo do medicamento no soro fazer efeito. . até. . Acenei com a cabeça. menos angustiado. Mais uma hora e poderá levá-la para casa. Está com os seios duros de tanto leite retido e a amamentação faz o útero se contrair e voltar mais rápido ao tamanho normal.se tiver alguém para cuidar dela. respeitando tudo que lhe falei. pode. mas não esqueça. Mas foi só ele falar para que eu tomasse conhecimento dos meus ferimentos. E assim fica liberado mais rápido para ir embora com sua esposa. Vou chamar um ortopedista.O médico apontou para minha mão: .Não vai demorar. . Eu ia negar.Agora podemos ver isso? .Depois. parecendo . Vamos lá. se não cuidar logo dessa mão a dor daqui a pouco vai enlouquecê-lo. Começou a doer terrivelmente até o ombro. senhor Falcão. o médico achou que não seria necessário uma cirurgia. Como não houve desvio rotacional das falanges. quarto e quinto metacarpiano foram atingidos e houve uma ruptura dos ossos que ligavam o pulso aos três últimos dedos. para depois saber se .que meu braço estava sendo arrancado. Ao final de uma radiografia e exames. foi constatado Fratura do Boxer. Travei o maxilar a concordei com a cabeça. E optou por uma imobilização por quatro semanas e medicamentos. onde o terceiro. Micah e o delegado.seria necessário mais tempo de imobilização ou fisioterapia. pois se abaixasse doía ainda mais e eu já me irritava com aquilo. Saí da sala dele com a mão direita em uma tala e segurei-a contra a barriga. Conversei com o médico e ele nos cedeu a sala em . que daria um pouco de movimentação relativa do polegar e do indicador. Depois de um analgésico e de um anti-inflamatório. insisti em uma tala. concordei de má vontade com a imobilização. Mas não aceitei gesso. Heitor. Encontrei Pedro. Vocês deviam ter ligado para mim. Micah disse de cara feia: . – Fitou-me. . ainda nervoso com tudo. Sou treinado nesse tipo de coisa. .que fui examinado para conversarmos em particular. bem sério. .Nem deu tempo de avisar e planejar nada. – Mas nas terras sim. não. Tão mal entramos. . – Completou Heitor.Na casa. seria mais difícil esse bandido fugir. To acostumado a trabalhar com esse tipo de coisa.E você iria na fazenda? – Inquiri. . . lembrando que ele me empurrou para baixo quando me distraí.Obrigado. Ramiro. – Você e Eva podiam ter sido atingidos. feito às pressas. – Foi tudo corrido. preocupado com Eva desacordada. – . Eu acenei com a cabeça.Eu tinha que ter pego o desgraçado. – O delegado virou para mim. . cego para tudo mais.puxando a cadeira do médico e se sentando.Por sorte não foi pior. com raiva. – Suspirou. revoltado. Fitou Micah: .Vamos pensar o que podemos fazer agora. andando pela sala. E eu nem podia pressionar Eva para me dar o . mas ainda estou averiguando a casa.Ela não quis me dizer. Não tenho mais idade para isso! . .Sabe onde Luiza mora? .Mas ele corria demais. – Ele respondeu. – Pedro cruzou os braços.Porra. encostado na porta fechada. ela vai ser alertada pelo desgraçado e fugir! – Falei puto. Descobri que é em Ituiutaba. Vou convocar uns policiais para ajudar nas buscas.endereço. Fui lá e ninguém sabe dela. – Prometeu Ramiro. – Começamos .Ela deve ter comprado a casa ou alugado com um nome falso. mas com mais gente podemos aumentar o número de casas visitadas e descobrir mais rápido. – Merda! .Também vamos ajudar. – E não deve ser muito de fazer amizade com vizinhos. . desacordada e sem poder se aborrecer. . – Heitor se levantou. – Explicou Micah. Acha que posso ficar em casa tranquilo? Quero pegar esses dois. irmão. . melhor. – Concordou Micah. Já passou por muitas hoje. . apontando para minha mão: . sabendo que nada me demoveria da ideia. – Eu caminhei para a porta e Pedro a abriu. Ele acenou com a cabeça. .O quanto antes.agora? .Melhor você ficar em casa.Vou levar Eva para casa e vou para Ituiutaba com Joaquim. por todos os sonhos que ousei ter. ódio. desespero. tudo uma farsa. Dúvidas. ainda como se tudo que aconteceu fosse irrealidade. A todo momento eu a olhava. que reclinei totalmente. difícil de suportar. presa pelo cinto.Eva não acordou e continuei preocupado enquanto a levava no banco ao lado. Nunca imaginei amar tanto uma . Minha mente era preenchida pelos meses de felicidade que vivi a seu lado. tudo parecia travar uma batalha dentro de mim. Virei o rosto devagar e olhei para ela. cansado.mulher e me decepcionar em igual escala. me deixou com a sensação de ser um desgraçado. que me envolvi em uma mentira. E a dor me dominou totalmente. Eu nem sabia mais o que era mais forte dentro de mim. que até aquele encontro com Lauro Alves . um nada. padecendo como um condenado. exausto de uma maneira como nunca me senti. E o pior de tudo era saber que fui traído. Parei o carro em frente ao casarão e por um momento não me movi. Ela tinha tirado minhas forças. seu cabelo espalhado. seu rosto pálido. Até que ponto aquele era o objetivo de Eva? Corri meus olhos desesperados por ela. oco. 19 anos. . linda como sempre foi. minha essência. o corpo ainda arredondado pela gravidez recente.poderia ser uma armadilha para me matar. pois eu me sentia vazio. os lábios entreabertos. Apenas uma garota. O que seria da minha vida dali para frente. E me tinha nas mãos. Acabava comigo sem precisar me matar realmente. tudo. destroçado. arrasado.como eu poderia viver sabendo que fui tão cruelmente enganado? Respirei fundo e saí do carro. acabado. a experiência. Meu coração. Destruído. Não queria olhar para . Tudo em mim doía. a certeza de que nada na vida tinha me preparado para passar por aquilo. Abri a porta do lado dela e soltei seu cinto. a riqueza. enganado. meus sentimentos. sem precisar disfarçar para mim mesmo o quanto fui atingido. a dureza? No final eu era aquilo. De que me adiantava a idade. tolo. um idiota. E mesmo sabendo que era errado. levei minha mão ao seu rosto e a virei para mim. Ela não era mais minha coelhinha e nunca mais seria. tentando acordála: . Calei-me na hora e endureci. Saiu antes que eu pudesse conter.Coel. Disse mais forte. Eva! Nem se moveu e não tinha como .. Tudo parecia ainda mais dolorido. um murmúrio dolorido: . com ódio de mim mesmo.Eva nem tocá-la.Eva. que não devia.. suplantando todo o resto. mas nada perdoava o fato de ser culpada. O mais friamente possível a peguei no colo e . O ódio veio forte dentro de mim.fingir aquilo. Estava mesmo desacordada e o médico disse que era melhor assim. Travei meus sentimentos. Eu teria que ter muito cuidado com ela. inclusive pelos medicamentos e trauma que passou. E foi ele que me deu forças de seguir em frente e não me deixar abalar ainda mais por Eva. Talvez nem o corpo dela tivesse suportado tudo que aconteceu. Tia estava com ela na sala e me olhou. . E Helena? . muito preocupada e nervosa. Eu a tapeei com chá de erva doce. que gritava. . onde pude ouvir o choro da minha filha. esperando vocês chegarem. mas não quis.chutei a porta do carro. Gabi tentou amamentála. tadinha.Está esfomeada. tão pequena e sabe que não é a mãe. subindo os degraus da varanda e levando-a para dentro. Como é que pode isso. meu Deus! – Tia correu até nós com Helena no colo. .Ela está bem. só precisa de repouso.Ah. Precisa de repouso . meu Jesus! Quanta tragédia! – Disse desolada. Deitei Eva com cuidado na cama e me afastei. Tia.Abra o vestido dela e tente acomodar Helena para mamar.mesmo com fome? Já ia desistir e fazer uma mamadeira. seguindo-me escada acima enquanto eu seguia para a suíte. com lágrimas nos olhos. mas não deixe Eva levantar de jeito nenhum quando ela acordar. Peguei Helena dos braços de Tia e falei: . Ah. Preciso ir. Theo. não querendo olhar demais para ela e me comover. Vai aliviar as duas. calma.. esfomeada. chorosa. toda vermelha.E você. – E sua mão? . meu filho? Como você está? . .Tudo sob controle. Chamei alguns seguranças. – Lamentou. dei-lhe as costas e tentei confortar Helena que berrava.Não está bem. Tia. . chame um deles ou ligue para . – E enquanto Tia ia fazer o que falei.absoluto por três dias.. filha. Qualquer coisa. – Calma. que vão manter vigília em volta da casa..Bem. da cama.. antes de caminhar para a porta.Só precaução. mas. Eu a olhei. que gritava estridente a ponto de ficar vermelha. Fitou-me suplicante. Dei um beijo em sua cabecinha e.mim.Vem aqui. ... a senhora me chamou: ...Não quer falar disso agora. . – Tranquilizei-a. . bebezinha..Seguranças? Mas. .Theo..Sei que está se sentindo horrível com tudo isso. que foi um golpe muito duro... – Tia veio até mim e pegou Helena. . . furioso. para essa maldita vingança. . .Tia. esperando só eu sair para mandar bala em cima de mim! . . ... Tia. a dor da traição me comendo por dentro.Mas. Tenho muita coisa para resolver. dá para ver isso.Não tem mas. eu sirvo .. E. – Olhei-a. O homem estava lá.Ela não desmaiou de verdade? .Não sei! Não sei até que ponto armou tudo! Será que não entende? Para ela.A Eva ama mesmo você..Ama tanto que me levou para uma emboscada. Ah. abraçando forte Helena. – Tia. – Não diga isso! . eu preciso . a dor em minha mão parecia se tornar insuportável. Assim como me recusei a sequer lançar um olhar para aquela mulher em minha cama.melhor morto! . mas era impossível. Nunca me senti tão cansado.É a verdade. O sofrimento e as desconfianças eram atrozes. chocada. mas meu coração era o que mais padecia. mas me recusei a me entregar. Deus! – Deu um passo para trás. – Tentei me acalmar. Pode deixar. .Tá. E destruiria todos os inimigos da minha família. Mas eu me recuperaria. Mas se cuide.ir. Era só o início daquela merda toda. meu filho. Decidido. caminhei para a porta. E eu não sossegaria até resolver tudo nem me entregaria à dor. Quase. Eva quase me derrotou com aquela traição. . . por favor. . sua penugem loira caindo sobre a testa.CAPÍTULO 3 EVA Eu acordei e estava na cama. Por um momento sorri pela delícia que era abrir os olhos e dar de cara com minha bebê linda. com Helena dormindo quietinha ao meu lado. as bochechas rosadas deixando-a ainda mais fofa. cheios de desprezo. o medo e a dor como uma mortalha dentro de mim. golpeando-me duramente. Mas então a consciência retornou com força total e vi na minha mente os irados olhos azuis de Theo. Eu abri as pálpebras e olhei em volta. Foi como tomar um soco e fiquei até sem ar. fazendo-me sentir a tristeza.parecendo um anjo. Ainda me sentia sonolenta e suspirei. Lágrimas inundaram meus olhos na hora e todos os últimos acontecimentos vieram com força total. feliz. dando-me conta que estava de . – Ela sentou na beira da cama. tonta. segurando meus ombros. calma! – Tia levantou da poltrona em que estivera sentada e veio logo até mim. conferindo que Helena dormia e me olhando de novo. Fitei-a. todos estão bem. . tentando sentar na cama.Tia.Ele está bem. e o Theo? . .Ei. Ajudou-me a deitar de novo no travesseiro.novo em casa e não caída perto daquela árvore. Na hora pensei em Theo e me enchi de preocupação. . tremendo. Eva. Respirei fundo.Ah.Não.. o bandido atirou. – Fui . ficou preocupado. até me sentir mais forte e perguntar: . meu Deus.. . . Quando chegou até você.O que eu soube foi que você desmaiou e Theo saiu do carro.Mas então. – Disse desolada e torceu a mão no colo.Eu me sentia exausta e aliviada.O que aconteceu lá? Pegaram Lauro? . encarando-me.. – Ele estava lá. .. .O delegado tinha saído do carro.Mas. empurrou vocês para baixo e correu atrás desse Lauro. senti uma pontada de esperanças..Sim. Então. imaginando como corremos perigo. o que podia ter acontecido com Theo. mesmo achando que tudo era uma armadilha para ele. .. o Theo.Tia. . ele saiu do carro por minha causa? . Eu tremia. mas ele escapou.engolfada pelo pânico. ... sentando-me de novo.Isso nunca. mas agarrei seus braços e falei suplicante. mesmo com toda revolta que sentia. Tia! Eu prefiro morrer a deixar que algo aconteça com Theo. Você o levou até lá e desmaiou. com lágrimas nos olhos: . Tonteei e Tia me fez deitar.. E acabou sendo recebido por tiros. Sabe que ele não ficaria no carro. . Na cabeça dele. você o quer morto. Eva.Pense comigo. . Isso depois de descobrir que foi enganado por você. dilacerada.Não! – Eu engasguei. . E amo o Theo. quis acreditar que podia ser feliz em cima de mentiras. abatida. achei que ela tivesse desistido... Amo o Theo e Helena mais do que tudo nessa vida. – Ela sacudiu a cabeça. – Juro que não faço parte dessa vingança há muito tempo.. Mas não sou inimiga. arrasada.Eu sou Eva Amaro.. Tentei convencer minha mãe. Fui burra. parecendo ter mais rugas no rosto cansado. – Foram muitas mentiras.. mas eu tinha tanto medo de perdê-lo! Tanto! Precisa . Não sabemos quem você é.Eva. – Comecei a chorar. E como ele disse. Mas entenda. chorando copiosamente. Olha. Fomos pegos de surpresa. Vi como foi feliz e o fez feliz esse tempo todo.Calma. Agora . Eva. – Lamentei em um murmúrio angustiado... mas acredito em você. você agora tem um trunfo. Tem Helena. .Não! Não. Tia. Vejo seu desespero agora. . talvez eu não devesse. . Theo morto deixa herança ao menos para ela e você é sua mãe.Quero acreditar.acreditar em mim. Isso é difícil de fingir. . Precisava lutar. fitei Helena e a acariciei. vai ter hemorragia de novo. Medo de ter perdido Theo para sempre. Eu não podia me esconder agora. enxuguei os olhos. Tia acariciou meu cabelo e contou como foi tudo e como parei no hospital.se acalme. por favor. de ser afastada de Helena. O medo agora era meu fiel companheiro. mesmo que tudo parecesse perdido. tentando ter forças. Ainda está de resguardo. Lutei para me conter. Era muito pequenininha e precisava de mim. Eles estão procurando a casa da sua mãe em Ituiutaba. . E talvez fosse uma tola por ainda ter esperanças. Ia ser uma luta inglória. impedir. provar que o amava. mas não podia desistir.Eles acham que podem pegar . As palavras de Tia me tiraram do devaneio e a olhei rapidamente.O quê? . . entendia seu ódio.de que algo acontecesse com ele. Eu tinha que estar atenta. pois minha mãe e Lauro poderiam estar tramando algo. Não sabia o que poderia fazer comigo. Lauro lá. – Ainda não o vi. sabem onde é a casa? . E tinha medo do que Theo poderia fazer se a pegasse. . dividida.Duvido.. Joaquim disse que me leva hoje na cidade para encontrar com ele. Apesar de tudo. . Micah descobriu a cidade. – Disse agoniada.. ela era minha mãe. Meu menino está de volta. – Mas. – Tia disse.. mas estão em busca pela casa. A essa hora devem estar longe. Estão procurando. Micah. mas não vejo a hora. emocionada.Não.. Olhou-me e eu entendi seu olhar. Agora eu estava no meio. que cresci vendo minha avó e minha mãe combinando como destruiria os Falcão e participei dos planos. Lembrei que passei anos da minha vida lá. Todos achariam que eu estava do lado . Se eu não dissesse. Eu sabia onde era a casa e poderia facilitar aquela busca. ele me odiaria ainda mais. Por um momento. fiquei muito dividida. entre Theo e minha mãe. Se eu dissesse onde ficava a casa. ele poderia pegá-la e eu temia o que faria com ela. Sua mãe esperou por anos.Eu só queria que tudo isso acabasse. Não vai desistir agora. . . Sabe disso. Tia sacudiu a cabeça.Minha filha.Eu sei.Durante anos. desolada. mas novas lágrimas vieram aos meus olhos e senti a cabeça latejar. . Murmurei: . Que sua avó e sua mãe foram . sem me pressionar.dela naquela vingança. achei que tivesse sido o fim. Pensei que não aguentaria mais chorar. ainda está longe disso. Suspirei. Assim. falei baixo: . melhor do que ninguém. E você.embora para nunca mais voltar. seguiram em frente. Acho que me enganei. – Conheci Estela. mas soube que teria que tomar uma posição. deve ter noção que essa vingança vai até às últimas consequências. Ela nunca desistia de nada. Mas não sei se minha mãe ainda mora . Sentime uma traidora. Fui apenas uma tola. – Encarou-me. muito cansada.Vou dar o endereço da casa. mesmo arrasada. sua avó. Eu me recostei no travesseiro e fechei os olhos. Ela acenou com a cabeça e se levantou. Ligue para o Theo e passe o endereço. E ela nunca perdoaria isso.lá. caminhando até o telefone. Ela estava comprando outra casa. . eu me voltava contra minha mãe. Além de ter desistido daquela vingança. Agora era oficial. .Tenho. Tia. .Tem certeza? – Tia parecia saber o que aquilo significava para mim. como Luiza mesmo me contou. eu e Theo entramos lá e pedi para falar com o administrador. Enquanto os outros continuavam as buscas pelo bairro. Depois de apresentar minha carteira da ABIN. E como soubemos que a avó de Eva tinha morrido depois de um câncer. consegui convencê-lo a olhar os registros e .MICAH Fechávamos o cerco na cidade de Ituiutaba. tive a ideia de irmos até o hospital da cidade. teríamos que ampliar as investigações. Não era Luiza. mas podia ser um . chegamos a apenas uma Estela que esteve internada ali. Usava o nome de Estela Oliveira e tinha tido a filha como acompanhante. elas usariam o mesmo nome e só mudariam o sobrenome. como Eva. Partimos do pressuposto que. De acordo com a idade. o tipo de doença e a data próxima do falecimento. que contava na ficha da assistente social como Lúcia Santos. Se isso não desse certo.descobrimos algumas Estelas internadas. – Explicou uma enfermeira de meia idade. – Loira.Ela tinha uma neta? – Theo perguntou. cabelo comprido? . Vinha pouco aqui. mas já a vi sim. – Concordou e a outra . .A dona Estela estava muito doente. pois a filha não a deixou sozinha. O administrador chamou duas enfermeiras do setor e pediu que descrevesse as duas para nós. sim. Mas teve sorte.nome falso dela. mediana. um câncer terminal.Ah. Esteve sempre presente. . Voltei para as enfermeiras. – Falei. Troquei um olhar com Theo. – Alta. certo. por volta dos quarenta anos.Podem descrever como era Lúcia Santos? .completou: . magra.Também vi. Muito bonita. . meio sem entender. – Obrigado pela .É Luiza. olhos castanhos.Sim. loira. mas não se negando. Cabelos na altura dos ombros. – Disse a mais jovem. Pedi a elas: . lembrando da minha meia-irmã. Falou baixo: . . Enquanto elas saíam. Estava tenso e nervoso. vou providenciar agora. calculei que fosse o endereço delas mesmo. nos dirigindo para o local. embora sua aparência fosse fria.cooperação. Assim. Theo .Precisamos do endereço que deram aqui. mas como era uma cidade relativamente pequena. seria fácil de ser descoberto.Claro. Theo se aproximou da mesa do administrador. Agradecemos e saímos de lá. Podiam ter dado endereço falso. ligou e avisou ao delegado. o amor refletido no olhar e nas ações. ficou quieto. olhando para frente. Quando desligou. Nunca o tinha visto tão transtornado. sério. E tive pena de sua situação. Tinha sido um golpe duro para ele. a mão machucada. Lembrei seu cuidado com Eva quando o vi com ela ao sair do hospital no dia em que cheguei à cidade. eu sabia que estava em seu limite. Por mais que parecesse frio. a aura de ódio que o envolvia. . E agora sua expressão dura. E falou. Assim que eu voltar à Florada. sem vacilar: .Ela vai ter o que merece.Vai denunciá-la? .O eu pensa em fazer daqui pra frente. Theo? .Eva vai para a cadeia junto com os dois da mesma laia que ela. mas senti quando me olhou. .E quanto à Eva? Eu dirigia pelas ruas calmas de Ituiutaba.. .Prender esses dois. – Quase rosnou. vou a delegacia acusá-la de Falsidade . Entendia seu lado.Ideológica e tudo o mais que descobrir sobre ela. E mesmo sabendo que ele estava furioso demais para me ouvir. Mesmo duro. E logo depois entro com o pedido de anulação do casamento. autoritário. E mesmo depois de quinze anos sem vê-lo. assim . sua mágoa. Odiava mentira e falsidade. sempre procurou ser justo e correto. Imaginava como devia se sentir sendo traído daquele jeito pela mulher que escolheu para ser sua esposa. Eu ouvi. sabia como era sua personalidade. por que ela se arriscaria me procurando? Eu fui sua última cartada. Theo. se Luiza e Eva continuassem juntas. Mas respondeu ainda muito furioso: .E acreditou? . Ele ficou quieto e achei que pensava.Quando Luiza me procurou.mesmo falei: . Se não fosse verdade. Que Eva mudou de lado ao se apaixonar por você. . ela disse que tinha perdido o apoio da filha.Pense comigo. O que importa é que Eva mentiu para mim o tempo todo. E hoje aquele homem estava me esperando para me matar.Talvez ela não soubesse de nada. . é só a porra de uma menina de 19 anos que cresceu me odiando e que quase conseguiu me destruir! Se eu morrer e vocês continuarem com pena dela. E eu estou cansado de ter dúvidas. mas talvez soubesse.Pode ter várias explicações. . Ela mentiu para mim. vai ..É. Quero fatos e esses são bem claros. casou com documentos falsos. Conseguirá o que planejou com a mãe. mas lancei um olhar a ele e vi como estava sério. puto. sua desconfiança. . Mas por que não deixa a poeira assentar para fazer a denúncia? O delegado Ramiro não vai te pressionar. Então pode agir com mais calma. transtornado. arrasado.ficar com Helena e ser administradora da herança da minha filha. Vou . . quase fora de si. Theo me olhou.Eu entendo seu lado. – Disse tudo friamente.Não vou esperar nada. Quero um teste de DNA. Quero certeza. .Sei disso muito bem.fazer o que deve ser feito.Vocês tem uma filha. . Eu me calei. pois também não teria validade com o nome da mãe falso.. Infelizmente vou ser obrigado a colocar o nome verdadeiro dela. . E te falo mais. . Por mim.Mas acha.. O que na verdade só . nem isso teria. vendo como estava nervoso. E a sorte é que ainda não a registrei.Não acho mais nada. Micah. Isso já me preocupou. Mesmo sendo contra a lei. pois pouquíssimas pessoas sabiam meu número.mascarava a dor que devia estar sentindo. Por um momento pensei que pudesse ser Luiza. atendi enquanto dirigia. E acabei acertando meu palpite. sem retorno. Quase chegávamos até a casa que procurávamos. quando meu celular tocou. Eu tinha o número dela e liguei muito. Mas era um número desconhecido. Gritou furiosa em meu . embora ela ligasse de um outro número. Você ainda não viu nada! Só liguei para avisar que vou pegar cada um de vocês! Vou destruir todos. como se fosse um deles e não a merda de um bastardo! .ouvido: . nem que seja a última coisa que eu faça na .Seu falso! Virou as costas para a sua família! Fingiu estar do meu lado e correu para contar tudo para os Falcões malditos. .Por que não acabamos logo com isso? Não acha que foi longe demais? – Perguntei com calma. os mesmo que te expulsaram. iam me pegar.Isso não é da sua conta! Mas se não fosse Lauro me contar que estavam atrás dele.É ela? – Theo indagou ao meu lado e. . . antes que eu pudesse impedir. por que confiei em você! Dei-me conta que chegaríamos realmente tarde. arrancou o telefone da minha mão e xinguei um palavrão. mas me concentrei em dirigir.vida! E pode mandar rastrear esse celular. mas não desisti.Está com seu comparsa? . ele está indo para o lixo! . Houve silêncio do outro lado e achei que tivesse desligado.Vocês quase conseguiram. Então a ouvi arfar e continuei: .THEO O ódio me consumia quando falei ao telefone: .Pensou que me mataria. Quase. Luiza? Estou vivo e sei de tudo. Mas vou continuar vivo e só vou sossegar quando pegar você e seu . parecendo uma bruxa. – Ou acha que . o que pode conseguir? Porra nenhuma! Só anos de cadeia pela frente. cheio de raiva. . mas falando com uma frieza que passava longe de sentir.Vai nada. – Vou te matar.Eu que vou te pegar! – Gritou. fora de si.. .comparsa. histérica. Tentou jogar as duas filhas nessa vingança ridícula e agora pergunto.. Theo Falcão! E destruir sua família! Vou. .Eu ainda tenho Eva! – Luiza riu. É uma burra. – Rosnei. idiota. você é tão fodão que a fez se apaixonar mesmo? Ela vai te destruir e. berrou ainda mais: . se esconda em um buraco bem fundo e fedido e fique lá. Só aviso uma coisa. junto com minha neta. pois vou te buscar nem que seja no inferno. vai recuperar nossas terras! Fiquei gelado com suas palavras. desgraçado! E vou rir sobre o seu túmulo! .Não vai me destruir. E como se soubesse que me atingiu. . E aí vamos ver quem vai para o túmulo primeiro.Ela vai te destruir. vagabunda. já sei de tudo. .. vai recuperar nossas terras!”. suas palavras ecoando em minha mente: “Ela vai te destruir e. filho da puta! Acabo com você. massacrado. Eu estava . Como se Eva já não tivesse feito metade daquele serviço.Venha tentar. Só então fui me dar conta do meu estado. que era me destruir. Theo Falcão.Desgraçado.. Eu tremia por dentro e sentia meu coração apertado. . nem que seja a última coisa que eu faça na vida! . – Gritou furiosa e desligou.Ahhhhhhhhhhhhh. junto com minha neta. completamente acabado, ainda mais achando que ela ainda tentaria me matar. - Ela está nervosa, significa que está com medo. Sabe que estamos na cola dela. É questão de tempo até pegar os dois, Theo. – Disse Micah e apenas acenei com a cabeça. Mas continuei muito perturbado. Micah parou o carro em frente à casa, em uma rua pacata e quase vazia àquele horário. E antes que pudéssemos sair, foi meu celular que começou a tocar. Eu atendi logo enquanto abria a porta, ao ver o número de casa. - Sou eu, meu filho. – Disse Tia. Saí do carro, preocupado, seguido por Micah, que o contornou e veio para o meu lado. Indaguei tenso: - Aconteceu alguma coisa? - Não, está tudo bem. É que... Eva acordou. E me disse onde fica a casa da mãe dela. Posso passar o endereço? Eu já estava lá. Mas mesmo assim concordei: - Pode falar, Tia. E ela deu o nome da rua e o número da casa. Batia certinho com aquele. Por um momento, senti um fio de esperança por Eva ter contado aquilo sem que eu exigisse. Mas logo a razão retornou e me dei conta que poderia ser mais um de seus jogos e armações, para me amansar, se reaproximar fingindo arrependimento. No fundo, devia saber bem que a mãe não estava mais ali e que de uma forma ou de outra chegaríamos ao local. - Obrigado, Tia. Micah já tinha descoberto o local. Estamos aqui. - Ah, que bom. Ele... Ele está aí? – Disse chorosa. - Está sim. – Olhei para Micah, que parecia tenso, quieto. - Não quero só ouvir a voz dele. Diga que hoje Joaquim me levará para vê-lo. – E começou a chorar. - Calma, Tia. Eu digo sim. – Fiquei com pena, uma parte de mim quebrada. Era muita coisa fora do lugar, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, o passado cobrando o preço de velhas dívidas. - Tá, filho. Se cuida. Aqui está tudo bem. - Pode deixar. Se cuida também. Depois a gente se fala. Quando desliguei, olhei para meu irmão. - Tia está querendo muito rever você. Mais tarde Joaquim vai levá-la em sua casa. Eu vi como ele ficou, embora quase não se alterasse. Mas havia uma saudade e uma agonia perceptível em sua expressão, uma emoção contida e vibrante em seu olhar. Apenas acenou com a cabeça e caminhou em direção à calçada, mas me senti mal por tudo que tinha acontecido, pelos anos de distância, por toda tragédia entre ele e meu pai, embora nada daquilo fosse culpa minha. Mas tinha afetado a todo nós. A casa era velha e feia, com tinta branca manchada e cercada por muro alto de cimento, o portão enferrujado e trancado. Por mim, arrombávamos e entrávamos, mas Micah pediu calma, ou toda prova que encontrássemos lá dentro não poderia ser usada futuramente contra Luiza em um tribunal. Andei impaciente pela calçada naquela tarde nublada, enquanto esperávamos o delegado Ramiro chegar com a polícia local e um mandado de busca autorizando nossa entrada. Só então um dos policiais arrombou o portão e então a porta da frente. Logo Heitor e Pedro chegaram também e todos entramos. Olhei em volta, sabendo que Eva passara boa parte da sua vida ali. O quintal era pequeno e mal cuidado, com mato crescido. Havia um latão de lixo verde perto da porta, cheio. Micah disse ao passar por ele e espiar: - Lixo fresco. Saíram daqui não tem muito tempo. – Virou-se para o delegado Ramiro. – Peça para os policias falarem com os vizinhos, para sabermos se alguém viu como Luiza e Lauro saíram. Talvez o tipo de carro, placa. Assim podemos encontra-los mais rápido. - Eu tinha acabado de pensar isso. – Concordou ele, já chamando os policiais e avisando antes a Micah: Não mexam nas coisas, a perícia está vindo para cá. - Pode deixar. Fui o primeiro a entrar na sala, atento, seguido por Micah, um dos policiais, Heitor e Pedro, todos em silêncio. A sala era pequena. Sofá antigo, tapete puído no chão, mesa a um canto com toalha de plástico colorida, chão de vermelhão. Estava limpa, sem grandes informações. Segui pelo corredor e entrei na primeira porta. Um banheiro pequeno, com o armário aberto, algumas coisas espalhadas na pia, maquiagem caída no chão, toalha úmida pendurada. Pelo visto Luiza saiu às pressas e só tinha catado algumas coisas. Ao lado do banheiro, ficava a cozinha. Tinha restos de café da manhã na mesa e louça na pia. Era velha, mas limpa. Saí logo de lá e voltei ao corredor, onde havia duas portas fechadas. Uma era de um quarto de casal, com cama desfeita, porta do guarda-roupa aberta, várias coisas espalhadas. Pedro entrou ali e foi olhar mais detidamente, comentando: - A safada deve ter levado tudo que podia ferrar com ela. - Saiu correndo, talvez tenha deixado algo para trás. – Micah foi levantar o colchão, mas não achou nada embaixo. Deixei os dois lá e fui ao outro quarto, onde Heitor já estava e tinha acendido a luz. Eu parei na porta enquanto ele andava por lá, olhando tudo. Por um momento, não tive reação, pois aquele ambiente tinha a presença de Eva e foi impossível não imaginá-la ali ainda menina. Era pintado de rosa, mas tudo feio, de má qualidade. Ainda assim, havia uma tentativa de ser um quarto feminino e infantil. Em um canto havia bonecas velhas. O guarda-roupa era branco e sem uma das portas. Havia duas camas de solteiro, uma com lençol branco e outra com lençol rosa, esta com um urso encardido e sem um dos olhos em cima. O chão era grosseiro, de vermelhão. Imaginei Eva sendo criada ali, com poucos brinquedos, ouvindo o que a mãe e a avó falavam de nós, aprendendo a nos odiar. E senti a angústia me corroer, me dominar por dentro, pressionar meu peito. Heitor me olhou em silêncio e, sem uma palavra, passou ao meu lado e saiu do quarto, apenas dando um tapa amistoso em meu ombro, como se soubesse como eu me sentia. Entrei e vacilei em meu ódio. Por alguns segundos, quase tive pena de Eva e a entendi. No final das contas, era jovem demais. Dezenove anos, sendo criada pela louca da Luiza. Ao mesmo tempo, não era mais criança. Podia escolher. E, de uma maneira ou de outra, sendo influenciada ou não, optou por fazer parte naquela vingança. Mesmo quando contei a ela sobre a família de Gabi, não me disse nada. Ela calou e consentiu. Me traiu desde o início, quando soube e participou do ataque na estrada que me fez tomar um tiro. Assim como podia ter combinado tudo com Lauro para atirar em mim naquela manhã. No fundo, eu tinha que tomar cuidado com ela. Era meu ponto fraco, minha perdição. Ao final de tudo, foram recolhidos caixas e objetos para análise, mas não parecia ter muita coisa importante. Infelizmente eram provas da polícia e não pudemos pegar, só olhar. Depois tudo seria analisado e mostrado a nós. Duas caixas estavam com cadeados e foram abertos pela polícia e revirados, mas sem grandes pistas. Uma delas foi encontrada sob a cama de Eva e dei uma espiada. Parecia que podia sentir o cheiro e a presença dela ali. Havia uma foto dela com uns sete anos, agarrada em uma boneca, olhos enormes e tristes que fez meu coração se apertar e me deixou sem ar. E no meio de tudo, coisas que para qualquer um pareciam sem importância, me deixaram com um nó na garganta. Pedras e flores secas, batom, um cacho de cabelo, cd’s, peças de roupa antigas, folhas soltas com letras de músicas, uma flauta barata, um caderno com capa amarela, enfeites infantis de cabelo e mais um punhado de pequenas coisas. Um dos policiais trancou de volta a caixa mediana e exigi: - Abra, estou olhando. É da minha esposa. - Desculpe, senhor. – O policial era de Ituiutaba e não de Florada, não devia me conhecer. – As ordens do meu delegado é não deixar que mexam em nada. - Abra. – Ordenei puto. Ele me olhou de cara feia e Micah se meteu na minha frente, dizendo sério: - Quer ser preso por desacato à autoridade? - Foda-se! Esse moleque não sabe com quem está se metendo! – Rosnei, fora de mim. - Sou uma autoridade! – Disse o policial. - Theo, é o trabalho dele. - São as coisas de Eva, porra! Pode ter informações ali! - Calma. Vou acompanhá-los à delegacia e conversar com o delegado. – Micah apaziguou. – Espero catalogarem tudo e prometo que consigo de volta, entrego a você. Mas esse é o procedimento correto. Não vamos arrumar problema aqui. Não vai adiantar nada. E se tiver alguma prova no meio, fica infundada. Eu estava muito nervoso e com raiva. Foi um custo me controlar, sabendo que ele tinha razão. Olhei com ódio para o policial, que agarrou a caixa e saiu logo. Passei a mão pelo cabelo e andei pelo quarto, angustiado, reparando nos quadros feios na parede, naquele ambiente que me oprimia e ao mesmo tempo me dava tristeza. Como não achamos mais nada que pudesse nos dar informações imediatas, saímos dali. Foi um alívio chegar lá fora e me encostar no meu carro, que Micah tinha vindo dirigindo para que eu poupasse a mão. No final das contas, apenas um vizinho tinha visto Luiza saindo com um homem alto e moreno em um Fiat Pálio preto, mas não anotou a placa. Isso tinha sido ainda de manhã, mas ele não sabia a hora ao certo. E continuamos na mesma, embora fosse soltado um alerta nas principais estradas de um casal de fugitivos em um Pálio negro. Agora só restava à polícia investigar e tentar chegar até eles. É claro que eu contrataria gente para fazer o mesmo. E enquanto não eram pegos, teria que proteger a minha família e redobrar os cuidados. - Vão para casa. – Disse Micah para mim, Heitor e Pedro. – Eu acompanho os policiais e espero analisarem tudo. Tenho autoridade para isso. Depois recolho o que for possível e entro em contato com você para buscar, Theo. Não vai adiantar nada irem juntos. - É o melhor mesmo. – Concordou Heitor. – Foi um dia atribulado. Eu estava cansado demais. Não era só o físico, mas também o emocional. E de nada adiantaria minha presença naquela delegacia. Ramiro também não estava ali e resolvi deixar as denúncias para o dia seguinte. Assim, concordei com a cabeça. Mas antes de sair, olhei para Micah e falei, baixo e sério: - Obrigado. Sabia que ele não tinha obrigação de voltar e muito menos me ajudar. Metade dele era da família de Eva. Havia uma tragédia o separando de nós, muitas mágoas do passado, muita coisa sem explicação. Mas se não fosse ele, talvez eu ainda estivesse sendo enganado, vivendo em uma falsa bolha de felicidade e talvez correndo risco de vida. Ele ficou sério também e acenou com a cabeça de volta. Disse apenas: - Fiz o que era certo. Eu, Pedro e Heitor ouvimos. Nem sempre foi assim. Como nosso pai também não havia agido certo com ele. Muita coisa tinha acontecido e continuava acontecendo. O passado mal resolvido voltava com força total e tudo se entrelaçava. Mas ao menos uma coisa nós tínhamos: o apoio um do outro. E era com aquilo que eu contava para resolver tudo. Eu não estava sozinho naquela jornada. CAPÍTULO 4 EVA Eu não pude fazer nada naquele dia. Tia me proibiu de sair da cama e só me levantei para ir ao banheiro e tomar banho. Ela cuidou de mim, trouxe comida, deixou-me com Helena, mas andou com ela pelo quarto e conversou comigo. Se não fosse isso, eu enlouqueceria ali presa e sem notícias Na mesma hora meu coração disparou e perdi o ar. meus .de Theo. eu apenas torcia minhas mãos e pensava em tudo. falando baixinho com ela. Foi naquele momento que a porta da suíte abriu e Theo entrou. Minha hemorragia melhorou. enquanto Tia caminhava pelo quarto pondo Helena para arrotar. assim como as dores na barriga e na cabeça. imobilizada. nervosa. arrasada. Recostada nos travesseiros. angustiada. Mas eu continuava me sentindo em frangalhos. indo direto até Tia e Helena. com um amor que doía e latejava sem controle. mas mudar de ideia no último segundo. mais pálido que o normal. Ele não me olhou.olhos varrendo-o vorazmente. Senti o peito apertado ao ver sua mão direita em uma tala. . parecia cansado e abatido. com desejo e preocupação. Mas eu o olhei com fome e sede. a roupa amarrotada. Mesmo alto e arrogante como sempre. Por quase me acertar um soco. lembrando que Tia disse que quebrou três dedos. a barba mais densa. .Bem. Nem por um segundo olhou para mim. que o olhou preocupada. Não deu para voltar antes. . acabada. – Sua voz era baixa. indagando: . como se eu não existisse. Engoli as lágrimas. dilacerada. até fria.Meu filho.Sem problema.Sei que a senhora tinha suas .Tremi demais e me sentei na cama. como você está? . minha atenção totalmente voltada para ele enquanto beijava suavemente a cabeça de Helena e depois a face de Tia. ficou tudo bem aqui. . para não chorar.Pode deixar. Gabi está bem e toda hora eu ia lá.Não se preocupe. E cuidado para não molhar essa mão. Tia. – Ela engoliu a emoção.coisas.Ah. . – Ela garantiu. . Joaquim está esperando a senhora para levá-la até a cidade e encontrar Micah. Theo. . nem acredito que vou ver meu menino depois de quinze anos.Vou tomar banho e aí pego Helena. . queria ficar um pouco com Gabi e Caio também. – Mas vai se cuidar. Disse baixinho: . . Tia veio com Helena até perto da cama. É tudo muito recente. .Theo foi ao closet e depois sumiu no banheiro.Nunca vai me perdoar. insuportável. olhando-me com pena. Tia.Dê um tempo a ele. . Sabia que ia ser assim. Eu me senti um nada. Eva.Calma. desprezada. – Murmurei. angustiada. mas era pior do que pensei. invisível. sem me olhar nenhuma vez. . Theo veria meu amor.Precisa se recuperar. ficar boa para cuidar da sua filha e lutar por Theo. Não adianta tentar pôr o carro na frente dos bois. nem o tempo ou . como sempre soube. com o tempo. Tem que ser paciente. – Por favor. Eva. me perdoaria. me ajude. Tia. suplicante. .Eu queria muito acreditar que. mas tinha um medo atroz de que nada.O que posso fazer? – Olhei para a senhora. Mas a dor rasgada dentro de mim parecia me avisar de que seria impossível. Eu respirei fundo. com a cabecinha no ombro de Tia. bocejando. Olhei para Helena. acariciando-nos. sentada contra os . Fiquei quieta.o fato de termos uma filha. pudesse fazer Theo voltar para mim. carinhoso. Fui envolvida por uma imensa vontade de chorar. Como eu queria aquilo! Mais do que viver. Theo na cama comigo e com nossa filha. talvez nunca mais tivesse. seu olhar para mim sem ódio ou desprezo. No entanto. Imaginei como seria sem aquela vingança a nossa volta. dizendo o quanto nos amava. Estava descalço. Theo saiu do banheiro e entrou no quarto. cabelos úmidos penteados para trás. observando Helena arrotar e Tia falar com ela carinhosamente. sua expressão fechada. reparando em cada detalhe de sua beleza máscula. como se eu nem estivesse no mesmo lugar que ele. aquela ruga entre . Não me olhou.travesseiros. uma camisa branca e macia de botões. usando um jeans que caía nele com perfeição. Mas eu o olhei desesperadamente. barba cerrada. Então. Já mamou e arrotou.Eu fico com ela agora. Eu o amava tanto que doía demais receber sua completa indiferença. tão . Theo alto e viril. . . – Com cuidado. minúscula. cheia de sofrimento e vontade de chorar. que soltou pequenos sons ao ser acomodada entre os braços dele. a senhora entregou-lhe a bebê. Tia. Mordi o lábio. Capaz de dormir agora. com aquela cara de mau. envolvida na manta lilás com franjinhas.a testa deixando-o mais duro e inalcançável. Era uma cena linda. – Precisam de algo? Eu sacudi a cabeça que não. Tia acenou com a cabeça e acariciou o braço dele. um pouco incerta. Eu os admirei em silêncio. – Theo não sorriu. Obrigado. – Continuou Tia e olhou dele para mim. . sem condições de falar. fora da vida deles. sentindo-me sozinha e excluída. . Tia.Não. .Não vou demorar.cuidadoso com Helena. mas seu semblante se desanuviou ao fitá-la. feminina e pequena. olhando para a paisagem da fazenda lá . fechando silenciosamente a porta atrás de mim. de estar sozinha com ele e mesmo assim não ser vista. como se passasse força. Não achando que Theo faria algo contra mim.Tome cuidado com essa mão. – Tentou sorrir para mim. mas medo de ser completamente desprezada. Observei-o andar com Helena no colo até a janela e abrir a cortina.. E então saiu. ser ignorada. Tchau. Eu senti um medo absurdo me invadir. o silêncio era sepulcral e mantive-me quieta olhando seus cabelos e suas costas largas. E sem aguentar mais. Theo acariciava suavemente Helena e ficava lá. Dentro do quarto.fora. lilás e laranja. A noite chegava e o céu estava tingido de roxo. implorando silenciosamente por qualquer migalha de atenção. escurecendo. ninando-a calmamente enquanto ela dormia. que não veio. a ponto de me sufocar. O desespero crescia dentro de mim. falei baixo: . mas não se virou nem disse nada. Senti que se enrijeceu.Theo. Sempre foi assim. meus olhos queimando: . eu fui criada odiando vocês. Por favor. me perdoe. Olhe pra mim. Torci as mãos no colo e aumentei a voz. Nada nele mudou. fiz aqueles telefonemas ou mesmo concordei com aquele atentado contra . Quando mandei os bilhetes para Gabi. Então continuei: .Theo. agoniada. me escute.Precisamos conversar.. mas eu sabia que não era surdo. eu ia te achar. Mas ao mesmo tempo. foi tudo diferente. Mas não era para você ser baleado. teria uma dívida comigo.. as lágrimas escorreram sem controle. indiferente à tragédia dos seus pais. Eles iam roubar seu carro e te deixar desacordado e eu. Não se moveu nem parou de ninar Helena.você. eu os odiava. Eu. como aconteceu. que dormia quietinha. Eu não tinha ideia de quem eram. Assim... . Parei de falar. Desde o início tudo foi diferente.. pois minha voz embargou. Sei que fui errada. Eu. Talvez antes.Acho que amei você desde o início. quando vim disfarçada em uma festa aqui na sua casa e vi você na minha frente.. Respirei fundo. voltei a falar: .. mas estava com raiva. baleado. Estremeci. abalada.. nervosa . Nunca mais esqueci você. tentando me manter forte. Desde que abriu os olhos e me encarou naquele terreno na favela. Eu juro que era contra aquele atentado. Você era meu inimigo. cheio do sangue que ajudei a derramar.Peguei a ponta do lençol e as enxuguei. Eu.. Mesmo assim.. insisti: . mas era como se Theo não ouvisse nada. Eu era mesmo e sou. Não era nem preciso palavras. Estava tudo ali. Foi como ser fuzilada. Eu te amo tanto.demais. tentei convencer minha mãe a parar e. Theo se virou devagar para mim e seus olhos azuis encontraram os meus.Nunca fingi que era louca por você. Sabia que devia continuar a falar. Sob aquele olhar eu me senti pior do que um inseto.. que desisti dessa vingança. Perdi o ar e a fala. a repulsa. . a raiva. o desprezo. Mas não são mentiras.. disse. Ele veio andando até parar de frente à cama.Eu não quero ouvir suas mentiras. . . Eva.São.. muito concentrado. Friamente. talvez por uma chance. talvez apenas para que não me olhasse daquele jeito e me matasse aos pouquinhos. as palavras saindo frias quando seus olhos ardiam: .Theo. Quero apenas os fatos.. – Implorei baixinho.. adormecida.. Muitas. sem tirar . – Não alterou sua voz e Helena continuou em seus braços. mas o objetivo era esse. órfã. Você falsificou seus documentos e os registros do orfanato. sem nem imaginar que só tem 19 anos. Não podia aumentar muito a idade por sua aparência.Não.Eu tenho 42 anos e já me achava um pervertido transando com você.Vamos ao início. O que me contou sobre sua solidão e vida no orfanato era tudo falso.. Theo. contei como me sentia.os olhos dos meus: . .. . não é? Aparentar ser ao menos um . A Eva Camargo de 22 anos. nunca existiu. Teria sido desmascarada desde o início. Sacudi a cabeça e murmurei: .pouco mais velha. depois dos vinte. controlando a custo o choro diante de sua raiva e sua mágoa. Eu mordi o lábio. foi bem pensado. Aos 18 anos eu já tinha minha personalidade formada e sabia muito bem quem eu era e o que . para me convencer mais rápido. . Parabéns.Talvez não.A idade nunca importou. Burro fui eu em acreditar em seus olhos inocentes e não ter ido ao orfanato pessoalmente ter pedido seus registros. . . Nada mais importa.Theo.Não quero saber. você matou Abel com um tiro na . . mas me arrependi! Será que não entende? Eu. A idade não desculpa suas escolhas. – Me odiando ou não. foi uma criminosa quando participou de um atentado que quase me matou. – Cortou-me. Optou por mentir. gelado. Lauro disse que na tentativa do roubo do gado.Foi.queria da vida. eu estava com raiva. trair e enganar.. cerrando as sobrancelhas. Foi escolha sua.. Eu acreditei! . mas vi como não acreditou. com um ódio frio. E eu achava que tinha matado Flávio também. quando ele saiu da delegacia.Agora eu sei disso. que era frio e mau.cabeça. Hoje sei que não foi você.Namorado? – Franziu o cenho. o irmão de Lauro. – Eu era virgem! . Pegou o irmão também? Lauro era seu amante? .Ele matou Abel. . . mas ele era meu namorado e.Não! – Gritei horrorizada.. mas na época não.. – Dá para entender que seja namorada de ladrão. Depois que conheci você. Mas e depois. tudo para chamar atenção do burro aqui. Eva? Quando eu virava as costas ia se deitar com Lauro. Nunca teve ninguém importante como você.Sim.Você sabe disso muito bem! . virgem. – Você foi o único a me tocar. virava a puta dele? .Nunca! – Meus olhos encheram-se de lágrimas e levei as mãos ao peito.Fica difícil acreditar em uma mentirosa. que doía horrores. . Vou pedir um exame de DNA . era o único homem que importava na minha vida. – Supliquei.Não.. a dor me arrasando.. embora ache que não seria tão idiota ao tentar me enganar nisso. Tentei me afastar de .. Afinal.Aqueles dias em que sumiu. Theo.. ela é sua garantia. eu estava dividida entre elas e você. sem saber o que fazer.. nunca. perdida. nem em pensamento. Você não entende. – Não tive outro homem. . .para comprovar se Helena é minha. lágrimas enchendo meus olhos sem controle.Eu estava no hospital com minha avó. .. deixou fotos da minha intimidade e da intimidade dos meus irmãos para nos fazer parecer sujos. Você mentiu. Você invadiu minha casa e o quarto dela naquela festa. Theo falava baixo. armou tudo. Assim como fez aqueles telefonemas a Gabi e tentou virá-la contra nós. .. Sabia dos meus gostos e veio pronta para usar essas informações..Não tente subestimar minha inteligência. segurava Helena . – Mesmo furioso. concordou com meu atentado. Tomou as decisões que quis.você. mas. Eva? E o ataque à Tininha.Não se levante. não é.Como se eu acreditasse. te largo naquele .. angustiada. – Disse com desprezo. – Afastei a coberta.. a batida na cabeça dela para incriminar Joaquim.Eu não fiz isso.protetoramente. que poderia ter matado a menina? . porra! Se tiver hemorragia de novo. . desesperada. pronta para sair da cama. juro! Fui contra! .Theo. – E não foi só isso. mas sua voz cortante me impediu: . Eva? Que . por causa de Helena. Não queria perder a chance de tentar convencê-lo de que o amava. Dê-se por satisfeita. ainda está aqui e não na cadeia. chega de me dar trabalho. Mas se me provocar. Por isso. . pálida.O que mais você fez. tremendo. com medo que me expulsasse mesmo dali. Encostei à cabeceira.hospital! Fique aí. eu esqueço isso também! Sua fúria era como uma mortalha. Eva. mantive-me quieta na cama. respirando fundo. Eu não queria ficar longe da minha filha nem dele. Desgraçada. é melhor me falar antes. quando houve o roubo do gado. Eu tive medo que você prendesse Lauro e ele contasse tudo sobre mim.. – Theo disse entredentes.No dia do nosso casamento. Então. Eu mordi o lábio e olhei para minhas mãos. Eu. E soube que era melhor acabar com todas as mentiras de uma vez.. Liguei para minha mãe e ela o avisou. Por isso ele conseguiu fugir. arrasada... . Falei baixinho: ...outras mentiras e traições cometeu? Vou descobrir tudo. eu. Então. . como se . Olhe para mim.Mentiu mais uma vez.Não.. Theo estava pálido.Eu não podia perder você.. você me traiu. . tanto amor? Eu fiz tudo achando que a única chance de ficarmos juntos era se não soubesse de nada. suplicante: . chorosa.Eu ergui os olhos. como posso ter fingido tanta paixão. Mesmo no dia em que eu me dava a você por inteiro. . suas feições ainda mais duras. Eu podia ver como aquilo era pesado para ele. acenei afirmativamente com a cabeça. com ódio. E aquilo era difícil demais de aceitar.Estavam esperando só a Helena . o medo me dilacerava. Ele apenas me olhou. sem coragem de dizer mais nada. feroz. seco. – Como controlou sua mãe e Lauro esse tempo todo? Por que eles ficaram quietos? Deu dinheiro a eles? Eu soube que estava perdida.Diga tudo. A culpa me remoía. . . como me olhava com um desprezo que parecia que nunca teria fim.sentia traído. E. com repulsa. – Exigiu. porra! – Theo gritou também. Theo. eu morro.Fique aí.Não! – Gritei fora de mim. Você é minha vida.Nunca quis matar você. . Agarrei o lençol e estremeci. desesperada. furioso. ele a ninou e protegeu. nunca! Se você morrer. Helena acordou e choramingou. impedindo-me só com sua voz. sacudindo a cabeça que não. mas mesmo fervendo de ódio. não consegue perceber isso? . até que cochilava de novo. . . fazendo menção de sair da cama.nascer para tentarem me matar. É. . – Por isso seu comparsa atirou hoje de manhã.. talvez tenha tido uma ajuda . Você desmaiaria e eu sairia do carro. Eu tive hemorragia. E então eu seria baleado. minha herdeira. afinal.. angustiada. cortantes nos meus. não é? Foi tudo certo e combinado entre vocês.Não. – Eu chorava e soluçava. – Eu desmaiei sem querer. . E você teria Helena. não foi isso. sou um babaca.. Theo.Pensa que não entendi seu plano? – Seus olhos nem piscavam. estou pronto para eles. que não vai ser tão fácil.. Eva. Amanhã anulo nosso casamento e faço uma denúncia oficial contra você na delegacia. Falsidade ideológica. .da natureza. Segundo. . olha o que está dizendo! Eu. participação no atentado contra Tininha e contra mim. Avise a sua mãe e o comparsa dela. Primeiro. se conseguirem me pegar e me matar.Vou contar como vão ser as coisas.Meu Deus. você sai dessa com uma mão na frente e outra atrás.. tentativa de . Não conseguia nem imaginar como seria . Eu escutava tudo. pois tudo que eu queria estava na minha frente.homicídio. Theo e Helena. Olhei apavorada para nossa filha em seus braços e lágrimas desceram grossas por meus olhos. Nunca terá a guarda de Helena. mesmo que eu morra. chocada. perplexa. Aposto que posso encontrar mais algumas coisas para encher sua ficha e deixar você mofando na cadeia. E meus advogados vão cuidar disso. cada palavra dita me perfurando e cortando por dentro. Ela é sua garantia. Eu te amo e. por favor. Solucei.Nunca. me castigar.. tentei me conter. mas. .. Nunca planejei sua morte. mas . não tire Helena de mim. . Theo continuou frio. ela é minha vida. fora de mim.. – Tentei secar as lágrimas. Como você. Theo. até que consegui balbuciar: ... amo nossa filha..Não. Pode me deixar presa aqui. mas fiquei em prantos.minha vida se ele morresse ou se minha filha fosse tirada de mim. olhando-me. Mas só sairá desse quarto se eu deixar. imunda para ele. Eu era como lixo. . Terá um segurança aí fora e outros em volta da casa o tempo todo. Parecia ter nojo de mim. – Sua voz era fria e cheia de desprezo. Vai ficar aqui enquanto ela precisar de você.elas voltavam.Não acredito. Seu olhar parecia me cortar ao meio. – Amanhã faço as denúncias e só sai daqui para ir para . E nada do que disser vai me convencer. suja. me embragando. Nem pense em fazer nada com Helena ou tentar fugir com ela. pois aí vai me ver realmente furioso. se tiver outra hemorragia. está ouvindo? E aí sim vai ficar longe de Helena.a prisão. arrasada em minha dor.Não.. . Não teste minha paciência.Quero ficar um pouco com minha filha.. Minha paciência com você está por um fio. . . vou te prender no hospital. por favor.. Não me dê mais motivos e nem dê mais trabalho do que já está dando. longe de você. ..Theo. . Por mim.Se sair dessa cama. – Comecei a suplicar. Quis suplicar. Eu . com medo de enfurecê-lo mais e perder o pouco que eu ainda tinha ali.nunca mais ouviria sua voz ou olharia na sua cara. A dor me rasgou e me vi impossibilitada de lutar. de mudar tudo aquilo. Theo saiu e trancou a porta. Dê-se por satisfeita por que ainda deixo você ficar aqui. mas apenas chorei. de fazer o tempo voltar atrás e tentar fazer diferente. E caminhou para a porta com Helena no colo. enquanto a amamenta. chorando e me contorcendo de desespero. Nunca senti tanta vontade de morrer como naquele momento. pois o sofrimento era insuportável. quarto . meu corpo todo se sacudindo em um pranto convulsivo e avassalador.desabei na cama. minha cabeça explodindo. THEO Eu saí daquele praticamente morto. Juntar os cacos. tão pequena e frágil. A traição de Eva tinha sido dura demais e ser obrigado a ficar em sua presença só piorava tudo. erguer a cabeça e seguir em . um passo diante de outro. poderiam me reerguer. sabendo que era isso que teria que fazer com o que me restou.E por mais incrível que pudesse parecer. nem minha família ou minhas responsabilidades com a Falcão. tão arrasado que parecia que nada. Caminhei. era minha filha em meus braços. que me dava forças de seguir adiante. Pois nunca me senti daquele jeito. mesmo com o coração em frangalhos. onde me sentei no sofá e olhei para o rostinho rosado e delicado da minha filha. de como .frente. seria lembrado do que era amar sem limites e ser traído. Seria lembrado das escolhas que fiz. a vergonha e o sofrimento apunhalando meu coração. o orgulho no chão. meu coração ainda mais confrangido. Era como uma miniatura de Eva. Acomodei melhor Helena nos braços e desci as escadas da casa silenciosa. Saí até a varanda. A cada vez que eu a olhasse. que uma menina de dezenove anos conseguiu me derrubar. embora a noite fosse fresca. Logo se espalharia a notícia de que fui enganado. Recostei a cabeça no espaldar e deixei meus olhos vagarem em volta da fazenda iluminada. Suspirei e a envolvi na manta. como me dei de uma maneira que nunca julguei ser capaz. tranquila. reparando na imensidão de tudo aquilo.fui cego e burro. um negócio grandioso daquele e eu seria chacota de todo mundo. Mas eu não abaixaria minha cabeça nem . Tantas pessoas sob a minha responsabilidade. sua dor que parecia tão real. Fiquei lá. Arrasado ou sofrendo. sua palidez. sentindo-me pior do que tudo naquela vida. como sempre fiz. seus olhos.seria motivo de pena. Mas como acreditar. E um dia tudo aquilo seria só passado. quieto e sozinho. se eu sabia que confiar nela poderia significar a minha morte? Tudo o que ela fez foi grave . apenas minha bebê adormecida como companhia. Eva não saía da minha cabeça. eu ergueria meu queixo e seguiria em frente. se eu só via uma mentirosa na frente. suas palavras. peguei o celular do bolso com a mão esquerda. Quando me senti mais forte para reagir. sentindo os dedos da direita doerem cada vez mais ao amparar Helena.demais. Me fazia sangrar.Senhor Falcão. nunca mais me deixaria confiar tão cegamente em alguém. Mas era bom sentir aquela dor. parecia me distrair daquela maior dentro de mim. . doía forte e fundo. Não dava para esquecer nem fingir que não aconteceu. Logo o chefe dos seguranças que contratei atendia: . Eu ligo e aviso. pode deixar. .Tudo tranquilo. senhor. mas já deixe tudo preparado. como estão as coisas? .Vou precisar do segurança para a parte interna. .Claro. Há uma equipe fazendo a ronda em volta da casa.Mais tarde. . quer que o mande agora? . Desliguei e guardei o celular. . senhor. como conversei com você. Boa noite.Sim. ..Certo.Robson. já que passei o dia todo sem comer. algo dentro de mim abrandando ao vê-la dormir tão suavemente. Eu só precisava de um pouco de paz.passando a mão suavemente sobre a manta de Helena. sem me importar com a dor na mão ou a fome. já que duvidava que seriam . Não apenas para evitar qualquer ataque surpresa de Luiza e seu comparsa. Ia deixar realmente um segurança do lado de fora do quarto de Eva e outro sob sua janela. Tentei relaxar um pouco e só fiquei lá. além de uma equipe na fazenda. Mas eu tomaria meus cuidados. Não sei se uma ou duas horas. Até que o carro de Joaquim passou em frente à casa e Tia desceu. Meu irmão levou o 4x4 para a garagem e ela subiu os degraus segurando sua bolsa. Para mim. olhando-me preocupada. . Mas principalmente por que eu não confiava em Eva e tinha medo que ela tentasse fugir com Helena e usasse nossa filha em alguma chantagem ou armadilha. O tempo passou.burros aquele ponto. ela seria capaz de tudo. Encontrei. Tia. uma de suas melhores blusas e estava com o curto cabelo grisalho bem penteado.Tudo bem com vocês? . – Ela sorriu e veio se sentar ao meu lado. sofrendo. Eu . voltou por sua causa.Sim. É um homem da Lei. viciado. – Observei que usava calça. Theo. Sua voz embargou: . Durante anos eu o imaginei morto ou como um bandido. emocionada. Não esqueceu da gente.Encontrou Micah? .Não acreditei. Mas ele superou a si mesmo. Perguntei baixo: .. um oficial. Ela suspirou. Micah me disse que nunca se livrou da culpa pelo que aconteceu a Mário. olhando para frente. – Acenei com a cabeça.Entendo o que quer dizer.senti tanto orgulho dele! .Sabemos o que vimos quinze anos atrás e tudo que houve para culminar na tragédia. perdida em lembranças. . . Mas não quis falar sobre aquele dia. Só eles dois sabem o que realmente se sucedeu naquele escritório quando a arma foi disparada tantas vezes e seu pai quase morreu. Ou não teria chegado a esse ponto.. Seu pai deve ter feito algo pior do que tudo que fez com ele no decorrer dos anos. o ódio do meu pai . . até seus 18.Mas sabe. Theo. quando Micah tinha 9 anos. Meu pai era violento e mau com Micah. quando aconteceu a tragédia. que foi fruto de uma traição. Por saber que não era seu filho. Eu não consigo culpar Micah. Desde que descobriu..Eu sei. Acho que foi aquilo que nos fez ser mais complacentes com toda a tragédia. mesmo . tudo caminhou para aquele fim. Soubemos apenas o que vimos. nem explicar através de gestos.por ele só aumentou. O sangue e os ferimentos. Meu pai nunca quis falar no assunto. E Micah sumiu. E embora eu. Era como se a presença dela. meus irmãos e Tia tivéssemos tentado intervir. amenizar as coisas. O rompimento no meio de nossa família no mesmo dia que enterrávamos nossa mãe. onde a raiva tomou proporções gigantescas e terminou com tiros ecoando no escritório após uma briga violenta entre eles. explodiu a verdade e a tragédia. ele vive em seu mundo próprio. – Tia me encarou.Eu fico pensando. tivesse contido tudo.. meu pai acabaria descobrindo. embora soubesse que. – Como seu pai vai reagir quando souber que Micah está na cidade. dependendo do tempo que Micah ficasse. Afinal.. Quando morreu.que sempre aérea e dentro do seu mundo. . De que adianta saber? Acenei com a cabeça. . Melhor ninguém contar nada. Mas nisso eu deixaria para pensar depois. Naquele momento. – Falei sério.Heleninha está dormindo desde aquela hora? .Daqui a pouco acorda gritando. Tia.Sim.. encontrando seus olhos.Não quero falar sobre ela. Joaquim .. . – Você e Eva conversaram? . – Sorriu e passou o olhar em mim. querendo mamar.Não há o que conversar. . .Tia suspirou de novo e mudou de assunto: .Theo. . já vamos.Boa. – Menti.Tudo bem? . .subiu os degraus da varanda e nos olhou. Julguei que estava na hora de tomar o antiinflamatório. Joaquim. Gabi deve estar esperando você para descer com ela e Caio.Já jantaram? Estou faminto. – Disse Tia. Indagou a mim: .Ainda não. .E sua mão? . preocupado. . Os dedos latejavam e pareciam ainda mais inchados dentro da tala. mas não falei nada.Tudo. – Precisa de mim. Depois que ele entrou. Tia se debruçou sobre mim e pegou Helena dos meus braços. – Não sei como. dizendo: . Eu me orgulhava dele.Agora você vá se cuidar. Vá cuidar deles. do modo como amava e protegia Gabi. jantar. Era um bom rapaz e seria um pai sem igual..Não. consegui sorrir. .Tá certo. Theo? . tomar seus remédios que deve estar na .Vou lá então e já volto com ela. – Olhou-me. Como se importava com a gente. seus olhos preocupados nos meus. Eu não queria explorá-la. – Ergueu-se com minha filha no colo.hora. já está quase na hora dela mamar.Não. Deixa que durmo lá essa noite e tomo conta de tudo. filho. . mas sabia que ficaria muito mais tranquilo.Eu imaginei.Que nada. Será só por . – Vai dormir em seu quarto? . Tia. .A senhora já fez demais por hoje. Eu levo Helena para o quarto. . .Obrigado. até Eva se recuperar e poder dar conta de Helena sozinha.. mas pouca atenção dei a ela. . Pode querer roubar minha filha. Amanhã contrato uma das enfermeiras do meu pai para passar a noite aqui.Eu posso ficar com elas. – Eu me levantei também e a mão latejou terrivelmente. . . Não confio nela. só hoje. – Haverá um segurança na porta da suíte. Não quero que Eva saia do quarto sem minha autorização.Mas Theo.Não..Vai ser assim. . .hoje. ..É assim que vai ser. Está muito pálido. – Parecia querer dizer mais alguma coisa. . – Tia sacudiu a cabeça. Fique de olho também. . Nada nesse mundo é mais importante para mim do que Helena. – Agora me prometa que vai jantar e tomar seu remédio. Mas não debati. Tia. – Falei da boca . com uma certeza que me irritou.Eu sei disso. mas veio até mim e se esticou para me dar um beijo no rosto.Pode deixar. apenas insisti: .Não.. pra fora. olhando para a paisagem lá fora. só ficar sozinho. nem que apenas por alguns instantes. pois eu não sentia vontade de fazer nada. aquele sofrimento ia junto. A fazenda sempre teve um prazer benéfico sobre mim. E eu só queria uma maneira de esquecer. Tive uma vontade imensa de sumir. Observei-a se afastar com Helena e fui até uma das pilastras da varanda. aonde quer que eu fosse. . mas soube que. que eu já conhecia de cor. mas daquela vez nada aliviava o peso e a dor em meu interior. bebendo em grandes goles. sozinho. Servi-me de mais uma dose e me sentei no sofá. . que queimou em meu estômago vazio. Deixei minha armadura de ódio e desprezo cair e só sobrou a dor. Lá preparei um copo de uísque puro e tentei ler meus e-mails. Minha mente se encheu de imagens de Eva e foi como se uma faca me rasgasse por dentro. Ali. mas nada me deixava ficar concentrado. olhando para o nada. Fechei os olhos. Terminei a bebida. eu não precisava mais ser forte.Entrei em casa e fui para o escritório. de um amor falso no qual acreditei. sua pele. Foram imagens e sensações aleatórias. Vi seus seios. seus olhos verdes brilhando de paixão. alquebrado. fui preenchido pela felicidade gritante que foi minha vida naqueles meses de casados. Eu a vi rir e me beijar. pegando-me desprevenido. Eu a vi andando comigo pelas terras da fazenda de mãos dadas.nocauteado. senti seu cheiro. a maciez de suas formas. Pude sentir na ponta dos dedos a textura do seu cabelo. colocando uma coroa de flores sobre os . eu só . Levantei e fui encher meu copo. deitada. Tomei o líquido ardente e enchi de novo até a borda. mais do que um dia julguei possível. vindo para meus braços. com calor. E enquanto bebia mais e tentava esquecer. Eu a senti sob mim. sussurrando em meu ouvido o quanto me amava.cabelos. com ódio. com desespero. Voltei para o sofá com a garrafa e abri a camisa. E fui. recebendo meu pau dentro dela e gemendo em minha boca enquanto eu sabia que nunca seria tão terrivelmente feliz. como me dei a alguém que não me merecia. As dores me golpeavam. mas acabou comigo. Vi seu olhar naquela manhã.lembrava. De como achei que estava no paraíso para me ver ali. me mostrando como fui tolo e enganado. De tudo. Era só uma menina. destruindo todos os meus sonhos. ouvi suas palavras ao repetir na minha cabeça “Eu sou Eva Amaro”. O desespero fazia meu coração se apertar. perdido no inferno. mas que agora voltava com força total. De cada instante que na hora pareceu tão simples. Eu não era mais . Bebi. Até que não restaria mais nada. . Lembranças boas vieram e me agarrei a elas. sorrindo. a ponto de não saber mais o que era realidade. até quase esvaziar a garrafa e meus pensamentos se embaralharem.Eu te amo. Bebi muito. só uma casca. me consumindo e dilacerando. Só um vazio me comendo.nada. Fechei os olhos e só vi Eva. se debruçando sobre mim. A dor na mão sumiu. Caí deitado no sofá e o copo vazio rolou pelo chão. Theo. dizendo baixinho: . . Falei baixo. Mas era tão bom! .Coelhinha. finalmente me sentindo um pouco em paz. sentindo sua presença. . Eu me agarrei naquela imagem... me alertava para acordar.Tentei lembrar por que não devia acreditar naquilo. Então a dor passou e mergulhei num sono profundo. mas não quis. Minha coelhinha. mas algo ainda me machucava. naquela felicidade fugaz.. achando que me abraçava. A mão doía . com estômago embrulhado. Estava suado e me sentia mal. Parecia que minha cabeça ia explodir e todo meu corpo doía por ter ficado no sofá curto e apertado.CAPÍTULO 5 THEO Não sei como consegui levantar na manhã seguinte. No corredor.e latejava. uma bem perto da outra. ainda descalço. olhando para a cama. Eu resmunguei bom dia e entrei no quarto. a ponto de me fazer xingar meia dúzia de palavrões. Mas parei. vi o segurança sentado na cadeira e ele me cumprimentou. Saí do escritório ainda antes das seis da manhã e subi a escada cerrando o maxilar para conter as pontadas na cabeça a cada passo. onde Eva e Helena estavam deitadas. Senti como se fosse . Na certa tinha descido para tomar café da manhã. Tia não estava mais ali. caminhando para o . Mas então respirei fundo e dei as costas a elas. a mão sobre o corpinho de Helena. Raios de sol começavam a invadir o quarto e iluminavam a cena. Eva usava uma camisola branca comprida e estava de lado. que tinha a cabecinha recostada contra seu peito. os cabelos se espalhando em seu ombro e braço. Estavam lindas e me senti muito abalado.golpeado. a dor interior vindo com toda força de volta. nem todo álcool que consumi na noite anterior podendo me aliviar. Estava acabado. conseguindo me sentir um pouco melhor. mas não me demorando ali. . Tomei uma chuveirada com cuidado para não molhar a mão. Vesti calça azul marinho. com seu cheiro em minhas narinas.banheiro. camisa cinza claro. pus o paletó. sapatos italianos e saí do quarto. Teria que me acostumar a não acordar mais com Eva ao meu lado. reparando que as duas ainda dormiam. torturado. livrando-me do suor pegajoso. sua pele contra a minha. passando a mão em meu braço.Ao chegar à cozinha. sem saber se fariam efeito com todo álcool que ainda devia circular em meu organismo. encontrei Tia. Tia me olhou horrorizada enquanto eu ia até a pia e tomava um analgésico e um anti-inflamatório com um copo d’água.Bom dia. cheio de olheiras. tomando café em volta da mesa. . Pedro. . meu pai e a enfermeira dele. – Disse Tia. pálido.Theo. você está horrível. . Margarida. Ham. .. pouco .. franzindo o cenho.. que. .. .Vai passar. Mas não é nada sério... – O.. . sem entender nada..Ham. . – Afirmei. pai.Obrigado. não querendo preocupá-lo. – Falei entredentes.Eu me machuquei. – Insistiu.. – Meu pai rosnou. ham...Está com dor? – Havia preocupação em seu semblante enquanto eu ia me sentar à mesa e ela vinha encher minha xícara de café quente. olhando da minha mão para meu rosto. como se exigisse saber.Ele escutou a confusão na casa ontem e queria saber o que estava acontecendo.que. . mesmo ainda parecendo desconfiado. – Expliquei que devia ser algo sobre os ladrões de gado. pai.Foi.. . – Explicou Margarida. mas já está tudo resolvido. – O. Sorriu. não é? .. Olhou-me insistente. seguro....q.. Ficou nervoso. – Afirmou Pedro. sem graça.convencido. Meu pai olhou-me. insistente. Mas por fim acenou e voltou a comer. – Fique tranquilo. Pedro se despediu.Coma alguma coisa. – Voltei a afirmar.Estou bem. tentando me passar conforto com seu toque..Tentei te chamar ontem no escritório e não consegui. os sanduiches e um suco. Tia. . Acabei devorando o café. Estava preocupada e disse baixo: . – Tia colocou sanduiches diante de mim. aproveitando para acariciar meu ombro. dizendo que ia para o . Sei que nem jantou ontem. mas forcei um sorriso para tentar tranquilizá-la. . Muito menos sair do quarto.Hoje vou colocar algumas coisas suas no quarto de hóspedes. Hoje vou ligar para uma enfermeira e . Terminei de comer e só então me ergui. Eva não deve se levantar da cama pelo menos até amanhã. – A segurança vai mudar.Fique tranquila. Não tem necessidade de dormir no escritório. dando tchau para meu pai e Margarida. E não esqueça. Tia. antes de sair. olhei-a. – Afirmei e.frigorífico e mais tarde passaria no escritório. Tia me seguiu até a porta da frente e falou: . . .Vai dormir na sua cama hoje e descansar. – Beijei sua testa. Passei antes na delegacia e Ramiro me recebeu com simpatia. meu filho. Não fui direto para o escritório.Mas posso ficar e. – Qualquer coisa. Se cuide.combinar tudo com ela. indicando-me uma cadeira em frente à dele. ligue para mim.Certo. encarando-o e perguntando: .Alguma novidade? . . E não deixe de almoçar.. onde me acomodei. Acenei com a cabeça e saí. . Vão precisar aparecer.Isso que me preocupa. . E o desejo de vingança dela é muito obsessivo para sumir de .Ainda não. Mas nós e a polícia de Ituiutaba estamos contando com o apoio de delegacias de todo estado. Eva disse que dava dinheiro a Luiza. .Pode ser.. Eles não vão conseguir se esconder para sempre. . Ela pode ter uma reserva guardada e ir para longe com o comparsa. mas o dinheiro não vai durar para sempre.Eu sei. conseguir dinheiro. sumir de Minas. Eu fui engolfado pela raiva.vez. . . talvez não agora. Ramiro concordou e se recostou em sua cadeira. mas logo. até mesmo na estrada. por . aqui na cidade.Contratei seguranças na fazenda. Theo. Esses dois podem armar alguma emboscada. . enfiando mais seu chapéu branco na cabeça.Você e sua família precisam de proteção.Mas cada um de vocês tinha que ter um segurança. Tentará alguma coisa. Conheço você e sua família.Vim denunciar Eva. Mas não respondi. Mudei de assunto. bem sério: . Além de um homem da Lei. sou também um homem justo e para mim nada está . E disse devagar: . Vi quantas pessoas você ajudou a sair da favela Sovaco de Cobra e arrumou trabalho. Theo.Somos amigos há muitos anos. só cauteloso. Não pareceu muito surpreso.ter minha liberdade minada por dois bandidos. sei o quanto são justos e já fizeram pelos moradores dessa cidade. Acusamos publicamente Luiza e Lauro como ladrões de gado e culpados por seu atentado e deixamos Eva de fora. Posso fazer “vistas grossas”. até tudo se resolver. Somente nós sabemos de tudo e pode ficar assim por enquanto. Mais tarde. . Eu senti a vergonha me dominar. .acima da honra e da amizade. O caso de Eva ainda não veio à tona. Ele estava certo.Pois então. como dizem por aí. por enquanto. por enquanto as . vemos como fica.Eu sei disso. – Afirmei. posso fazer uma queixa-crime por falsidade ideológica. .Pelo que sei. E eu ainda não conseguia me perdoar por ser tão cego e burro. – Falei friamente. .E vai denunciá-la por quais crimes? . indagou: . Só que eu sabia e Ramiro também. pensativo.Quero fazer a denúncia. Mas seria temporário.pessoas não precisavam saber nada sobre Eva. O delegado pegou uma caneta sobre a mesa e brincou com ela. Por fim. darei entrada para você. – Ramiro concordou. e como ofendido você pode fazer a denúncia a uma autoridade policial ou ao Ministério Público. uma vez que Eva usou identidade falsa. tirou carteira de motorista e até casou com documentos forjados.já que é uma ação civil pública.Sim. Não será difícil provar. . – Se é assim que quer. atento. . o delito de Falsidade Ideológica está prescrito no artigo 299 CPP. Vou usar essa denúncia para dar entrada ao pedido de anulação do casamento. . Ramiro largou a caneta sobre a mesa e acenou a cabeça. Duas vezes. quando forem . mas escute..Sabe que são acusações graves.Não quero ouvir nada. irritado.Mais alguma acusação? .É assim que quero.. – Ela só vai pagar por crimes que cometeu. – Falei duramente.Tentativa de homicídio.Sei.. . entendo que esteja furioso com tudo isso. . .Theo. . assim como a mãe e o comparsa deles. Contra mim e contra Tininha. . – Ela é muito jovem e vocês tem uma filha.Talvez não. mas já pensou se novos fatos surgem e percebe que ela é inocente? . E será tarde demais. – Ele se inclinou para frente e apoiou os cotovelos na mesa. mas muita coisa pode mudar. mas me deixe falar. .pegos.Eva não é inocente. Entendo que queira denunciá-la por falsidade ideológica e precisa fazer mesmo. tudo está fervendo. seu ódio exige justiça. pois o casamento de vocês não é . Agora.Claro. Mas Ramiro continuou: . Eu o ouvia. Claro que.A pena pode chegar a três anos de detenção. ela pegará muito mais tempo de prisão. se for qualificado. Agora se a acusar de tentativa de homicídio. Se for um crime simples. pode chegar de 6 a 20 anos e.válido e não pode registrar sua filha com documentos falsos da mãe. como foi tentativa . de 12 a 30 anos de detenção. mas sabemos que com um bom advogado Eva pode escapar dessa apenas com serviço comunitário e multa. pronto a intervir. terá isso reduzido de 1/3 a 2/3. mas ainda assim ela ficará presa pelo menos uns três anos. Ramiro disse com cuidado: . eu não conseguia imaginá-la em uma cadeia. no mínimo. E mesmo com todo ódio que eu sentia dela. nervoso. abalado. Eu sabia daquilo. com a vontade de puni-la. Fiquei calado. Mas ouvir assim parecia tornar tudo oficial. Pensei também em Helena e aquilo pareceu horrível.é ela é ré primária. no meio de um monte de presas perigosas. Vamos esclarecer o resto. – Eu a acuso de falsidade ideológica. .. Só saí da delegacia quando tudo . – Acenei com a cabeça. pois não podia suportar em levar aquilo adiante.Espere um pouco. Theo.Certo. Ramiro. terá tempo para saber se é isso mesmo que quer. . Não tenho pressa. E enquanto isso. pelo menos não naquele momento. mas de ser coerente.Tudo bem. Não é questão de burlar a lei. Vamos aos trâmites legais. caçar os dois bandidos. Tinha uns relatórios importantes para assinar e chamei Valentina para uma reunião. Ainda naquele dia eu iria ao cartório de Pedrosa e daria entrada ao pedido de anulação do casamento. Foi difícil trabalhar naquela manhã. perturbado demais. . Eu não conseguia me concentrar em nada e liguei para casa duas vezes para falar com Tia e saber se estava tudo bem. pois ela era sempre muito eficiente e eu estava com medo de fazer alguma besteira.estava preparado. .Tudo bem. minha mente o tempo todo voltada para os acontecimentos do dia anterior e para Eva. sem capacidade para me focar em algo. Theo? – Valentina prendeu uma mecha do cabelo preto atrás da orelha. .Nunca me senti tão aéreo. – Sofreu um acidente? . Só não posso assinar nada e estou meio grogue por causa dos medicamentos.Sim. mas não é nada grave. olhando preocupada para meu rosto e minha mão direita. sentada à minha frente. Logo discutíamos os detalhes e eu consegui me concentrar mais no trabalho. Como minha diretora e assistente ali. . estou bem.Preciso que me ajude com esses relatórios. Podemos começar? Ela concordou. Pegou o primeiro relatório e leu. ela podia assinar certos documentos e eu autorizei que assinasse aqueles.Não. Tem algo mais que posso fazer? Quer um café? . .Claro. Estávamos lá cerca de uma hora. quando o interfone tocou. Quer continuar em outra hora? .. Desliguei o interfone e me recostei na cadeira. embora ele nem precisasse se apresentar. sempre muito segura e centrada. . – Calculei que fosse Pedro.Pode mandar entrar. Valentina me olhou ainda com uma ponta de preocupação.Seu irmão está aqui e deseja falar com o senhor. .Sim. geralmente entrava direto. Eurídice? . Sentada à minha frente em suas roupas formais. . jaqueta . Micah parou lá. erguendo um pouco as sobrancelhas que lhe davam um ar meio endiabrado.Talvez seja melhor.. esticando a saia reta que ia até os joelhos. Já adiantamos bastante. Tia sempre dizia isso. – Ela se levantou. Com seu jeans surrado. Se precisar.Certo. alta e elegante. Eu também me ergui e nós dois olhamos para a porta que se abria. que ele tinha uma maneira de levantá-las que o fazia parecer cínico e era verdade. é só chamar. comida pela metade. cabelos escuros espetados para todo lado e barba por fazer. E então me dei conta que ainda não devia saber que . Acenou com a cabeça para mim e olhou para Valentina de cima abaixo. Ela estava imóvel. fitando-o chocada. não combinava em nada com o ambiente austero e elegante do escritório.de couro e coturnos. Bateu a porta atrás de si e entrou. dando uma mordida em uma barra de chocolate que trazia na mão. um tanto pálida. Mas pouco pareceu se importar. – Deu de ombros. possivelmente na mesma sala. inclusive tinha estudado na mesma escola que ele.Micah estava de volta.Dentre os meus vícios. . – As outras opções eram um cigarro ou uma cerveja.Chocolate à uma hora dessas? – Indaguei secamente. achei o menos prejudicial neste horário. parando à nossa frente. . Sorriu com cinismo e ofereceunos: . Lembrei que eram da mesma idade e Valentina morou na cidade até os dezoito anos. . que continuava muito quieta.Querem um pedaço? .Não. meio amargo com castanhas.Lembra-se do meu irmão Micael.. aceita? É o que mais gosto. obrigado. .Madame? Não lembra de Valentina? – Indaguei a Micah e depois a ela: . Então piscou rapidamente e acenou com a cabeça. não é? Ela ainda parecia imobilizada. – Acabei dando um meio sorriso e Micah fitou Valentina. lançando-me um olhar . Uma tentação.E você. madame. Disse friamente: . eu lembro. mas acho que não lembro de você. o que só parecia deixá-la mais desconfortável.Claro. Ela empalideceu ainda mais.Valentina? – Micah ergueu as sobrancelhas de novo. olhando-a com toda atenção. . um tanto irritada. E ergueu o queixo. que não entendi. – O nome não é estranho. Estava pálida. mais séria e fechada que o habitual. – Disse baixo.estranho. perturbado. . notando um ar pesado ali. Micah também sentiu e fitou-a com mais interesse. quieto. – Disse pensativo.Imagino que não. .. Mas estava muito tensa naquele momento. – Sua voz era uma pedra de gelo e .Grandona? Gorda. Geralmente era uma pessoa tranquila.Eu lembro de uma Valentina que sentava na minha frente na escola e me dava cola. contida. o que só perturbou-a mais. – Mas ela usava óculos e era grandona. . você quer dizer. sem grandes alterações. Eu os olhei. – Era eu mesma. .Não é de surpreender. – Seu tom foi cortante. fixando-se mais . . Micah ficou evidentemente surpreso e assobiou. Passava mais tempo bêbado do que estudando. como se o desafiasse. Sorriu. Acho que nunca agradeci as colas que me deu. gelado. dando-lhe uma olhada de cima abaixo.Está linda.ergueu o queixo. Naquele ano fiquei reprovado. cínico. Emagreci e fiz cirurgia para miopia. Parabéns. Isso chamou a atenção dele. mas valeu a intenção. Certo. – Ela se virou para mim. parecendo ansiosa em sair dali. – Qualquer coisa. Theo. um tanto curioso com sua agressividade.Depois volto para terminarmos esses relatórios. . . estou em minha sala. Ele era especialista em tirar todo mundo do sério naquela época.nela. . Eu também estava surpreso e pensei comigo mesmo que Valentina devia ter sido uma das pessoas que Micah irritou no passado. Apenas encarou-o com o nariz empinado e caminhou decidida até a porta. Micael. Micael é nome de anjo. não adiantou.. mas se o objetivo era amansá-la. Micah se voltou . Meu irmão se virou a acompanhou-a com o olhar. sem disfarçar que admirava sua bunda e seu andar.Micah. – Ele piscou um olho pra ela.Adeus. – Disse friamente ao meu irmão. . Sacudi a cabeça e voltei para minha cadeira. não combina nada comigo. Somente depois que Valentina bateu a porta. sentando-se ao contrário e apoiando os braços no encosto. – Parece uma pedra de gelo.Não mesmo. Lembro que era mais legal gordinha e de óculos.Por quê? . .Não é para seu bico. – Disse bem humorado. Eu avisei. . guardando os relatórios em uma pasta: . . Pensei que fosse puxar uma arma e me dar um tiro. Mas achei engraçado esse jeito pomposo dela.com um sorriso safado e virou a cadeira em frente.Não se meta com ela. – Deu de ombros.Deve ter feito alguma merda.Pior que nem lembro..Não lembro. sempre me deu. Sorriu. Sei que era estudiosa. Mas com certeza foi besteira. .Nem tente. Acho que gostava de mim naquela época. Valentina é noiva. – Quem sabe eu possa me desculpar agora.O que aprontou com ela no passado? . – Terminou seu chocolate e jogou a embalagem na lixeira sob a mesa. . . . E eu pedia cola a ela. só tirava dez. Scorpions.O quê? . E tem mais. Deep Purple. Black Sabbath. .Bem sério. – Eu me amarro.É sério? .vai casar no início do ano que vem.Deve ser o filho dela. o Cacá.. Metallica.. To pensando em ir na casa . AC/DC. .É mesmo? O moleque tem bom gosto.Ela que escuta aqueles rocks no último volume? – Disse divertido.É sua vizinha. . . A casa dela é ao lado da sua. Guns N’ Roses. . Como eu disse. Valentina o colocaria no lugar dele. vamos ver? Micah apenas sorriu. E pensei que não precisaria me preocupar.Vamos ver. Mudei de assunto: .Como foi na delegacia ontem? . Em .É viúva. misterioso. – Olhou-me. . curioso. Sacudi a cabeça. . Valentina não é para seu bico.dele pedir para baixar umas músicas pra mim.Como assim. – Quer dizer que ela já foi casada? .Tudo certo em Ituiutaba. – Concordou.Entendo. Posso passar um tempo aqui.Tenho férias acumuladas. – Vai ficar aqui até as coisas se resolverem? . . . – Observei-o com atenção. Precisam ver o que é ou não relevante ao caso. Também estou usando alguns conhecidos meus para ajudar.E estão à caça de Luiza e Lauro.poucos dias vão liberar as duas caixas encontradas na casa e trago para você. . mas sério demais.Obrigado. . . depois da tragédia e de permanecer quinze anos longe. . – Garanti. . fui direto ao ponto: .Transtorno nenhum. Não quero que o velho saiba que ando por aqui.Bastante. Concordei. Mas se tiver qualquer transtorno.Isso incomoda você? .Eu soube o quanto aquilo devia estar custando a ele. Referia-se a meu pai. eu me mando.Ele não precisa saber. Não havia mais interesse ali do que me ajudar e fiquei sem saber o que dizer. . Por fim.Assim espero. meteu a mão no . mas um dia chego lá. – Ergueu as duas sobrancelhas.Mas você é também irmão de Luiza. por parte de pai.E não pude deixar de agradecer: Obrigado por ter voltado e me ajudado a saber toda a verdade. Micah sorriu com meu comentário. lembra? .Difícil acreditar. . Então.Somos irmãos. – Sou um homem da Lei.Não concordo com os quesitos dela. Ao menos por parte de mãe. . . diante de mim e explicou: . Era uma delicada pulseira de ouro com um minúsculo pingente de figa. .Sei lá.Quando ficou supersticioso? . . Eu o olhei em um misto de emoção e divertimento.O que é isso? – Eu peguei a caixa de veludo e a abri. Confio nessas coisas. . Colocou-a sobre a mesa.É para Helena. Trouxe uma parecida para Caio. indagando: .Para proteger a Helena.bolso e tirou uma caixa pequena e azul marinho de lá. no fundo gostando de sua preocupação com minha filha. Theo. Então indagou: .Tenho uma tatuagem de ferradura e ela sempre me protegeu. – Obrigado. .Decidiu o que vai fazer com . mesmo sem acreditar.Vou colocar.Não deixe de pôr. Guardei a pulseira na caixa e esta dentro do bolso do paletó. Não custa nada ter fé. . Vai colocar nela? . – Garanti. Micah acenou com a cabeça.Claro. sério. – Micah suspirou.Tem certeza? . – Ela tem que agradecer por que ainda não fiz uma acusação formal de tentativa de homicídio.Eva? . Quando falei .. cauteloso. . – Olhei-o. – Acho que ela se arrependeu mesmo e mudou de lado.Theo.Claro que tenho certeza.Eu a denunciei hoje por Falsidade Ideológica e vou mais tarde ao cartório dar entrada no pedido de anulação do casamento. irritado.. . Mas Luiza me pareceu realmente furiosa com a filha. – Vai com calma com a Eva.Não quero saber dessa conversa.. entranhada em mim.. – Micah passou a mão pelo cabelo desgovernado. . como se depositasse todas as esperanças em mim.com Luiza.. . – Cortei. Ela pode ser melhor do que você pensa. . pois como se não bastasse ficar no meu pensamento. Só me importam os fatos. E.Sei disso.Chega de falar dela. arrepiando-o ainda mais. até .. – Sorriu. Micah? . não deixe de me avisar. Precisa de algo. E qualquer coisa.Certo. posso ter mais experiência se Luiza e Lauro entrarem em contato. Qualquer novidade. – Só fique ligado para não fazer algo do qual vá se arrepender depois. passo pra você. tudo sob controle.Não. preguiçoso. . pode deixar. colocando a cadeira direito no lugar. Lembre que trabalho com casos complicados.Certo.meu irmão a defendia. . fazendo um gesto . – Micah se levantou. cara. Havia um mundo de decisões para serem tomadas e riscos a serem corridos. .Você também. esfreguei as mãos no rosto.Não vou esquecer. Mas teria que ser paciente e cuidadoso. – A gente de vê por aí. cansado. . Depois que ele saiu. . deixar a todos em segurança.com a mão como se batesse continência. Eu queria logo pegar Luiza e Lauro e me livrar daquelas ameaças.Se cuida. E não esqueça de colocar a pulseira em Helena. . Odiava ter alguém na minha cola. liguei para a firma de segurança e contratei um particular para seguir cada um dos meus irmãos e até Tia quando saísse da casa.Mesmo contra vontade. Depois liguei para a agência de enfermeiras e cuidadoras que contratava para cuidar do meu pai e contratei mais duas para se revezarem à noite com Eva e Helena. pelo menos até o resguardo . pronto a interferir ou pedir ajuda caso algo acontecesse. Assim. mas teria que dar exemplo para que eles aceitassem. teria sempre alguém de olho na gente. EVA Era horrível ter que ficar o dia . Só então pude voltar aos negócios. Eu continuava perturbado demais para me desligar completamente dos problemas e do sofrimento. só uma parte de mim concentrado ali.passar e não haver mais riscos de hemorragia para Eva. Mas ao menos tentei. Tia me ajudava muito. conversava comigo. Gabi também veio . A hemorragia tinha parado e o sangramento que continuava era o normal após o parto. sem vontade de nada. cuidava de Helena para que eu não fizesse esforço. a preocupação. eu estaria com certeza em depressão. A dor na barriga e de cabeça também tinha sumido. Mas o desânimo. Se não fosse Helena. todos os problemas e o desespero continuavam. Estava sempre presente.todo deitada. a saudade de Theo. E me deixavam arrasada. Só o tempo poderia provar que eu dizia a verdade quando . Havia um clima estranho entre nós. Eu sabia que ela ainda tinha medo de confiar em mim e. como todo mundo.ao meu quarto naquele dia e ficou lá com Caio. E embora eu tenha pedido perdão pelo que fiz. telefonema e mentiras. tinha suas desconfianças. Sua recuperação era ótima e ela nem parecia que tinha acabado de ter um filho. bilhetes. ficava uma sensação ruim de falsidade e traição. e ela ter dito que me perdoava. pelas cartas. falei que desisti da vingança e realmente amava Theo como homem e Gabi como minha irmã. embora não conseguisse parar de pensar em Theo e . Assim. Mas o desânimo e a tristeza estavam difíceis de suportar. foi mais fácil passar por aquele dia. Gabi conversou comigo. Eu sabia que devia ser paciente e lutar para provar tudo aquilo. ficou bastante tempo lá e isso me alegrou um pouco. Tia aproveitou para cuidar de suas coisas na cozinha e toda hora vinha ver se estava tudo bem. sem poder parar de sofrer e ansiando para ver Theo.seu desprezo nem por um segundo. Comi por que me deram comida e por que sabia que Helena precisaria de um leite forte. Eu sentia vontade de morrer e acho que se não . Mas fiz tudo mecanicamente. sorriria para mim. Eu estava sentindo desesperadamente a falta dele. me olharia com paixão. Era uma tortura imaginar que nunca mais me tocaria. nem que fosse para me olhar com raiva. Tomei banho por que Tia me ajudou a ir ao banheiro. Agradeci. Tia. sabia do seu gênio.fosse minha filha. Mas que se eu precisasse. teria realmente me entregado à dor. afinal já . ela. Eu conhecia Theo. Como teria confiança novamente? O que eu poderia fazer para que acreditasse no meu amor? O quê? Já era noite e Tia me avisou que uma enfermeira foi contratada para passar a noite comigo e Helena. seu senso de justiça. sabendo que a senhora já não era mocinha e precisava descansar. estaria alerta. que logo chegaria. Pois parecia impossível que nosso caso tivesse solução. Tia deixou-a na cama ao meu lado e saiu para tomar banho e se cuidar. quieta. perdida em pensamentos. Passei os dedos pela penugem loira que cobria a cabecinha de Helena. observando-a com amor. Ela era minha vida. maravilhada como podia ser um pedacinho meu e de Theo. Prometi que não levantaria e fiquei recostada nos travesseiros.ficava praticamente o dia inteiro comigo. meu tesouro. Helena mamou e dormiu. Por ela eu morreria e . sentindo-me mais sozinha do que nunca. pouco se importando com a gente e só pensando na maldita vingança. para que criássemos Helena juntos e . Eu a protegeria. daria a ela o melhor de mim.lutaria até o fim da minha vida. Tudo que eu mais queria na vida era ter Theo perto de mim de novo e com ele passar por cima de tudo aquilo. alguém com quem ela pudesse contar sempre. a amaria. Lembrei como fui criada e jurei a mim mesma que nunca deixaria Helena sofrer. Bem diferente do que minha mãe fez comigo e com Gabi. Seria sua amiga e companheira. só para me distrair de alguma maneira e ter uma companhia. Peguei o controle da tevê embutida na parede e a liguei. . Mudei de canais sem poder me concentrar em nada.formássemos uma família. até que a solidão e o silêncio me oprimiam e se tornavam insuportáveis. Fiquei quieta no quarto. até que parei em um de vídeos de músicas internacionais com legenda. Mas o futuro que se descortinava diante de mim era muito mais negro e negativo do que eu desejava e nada do que eu pensasse ajudava a resolver aquela situação. .Deixei baixinho. começou triste e lenta. Só que foi o contrário.. de Sarah Mclachlan. . apenas por que eu precisava esquecer nem que fosse por um momento meus próprios pensamentos. com uma letra que parecia feita para mim: “Spend all your time waiting For that second chance For a break that would make it okay(. A música que começou a tocar. Angel.)” “Gaste todo seu tempo esperando Por aquela segunda chance. ao som de piano. Só mais uma. eu não esqueci minha dor ou me distraí. para fazer tudo diferente. eu a senti latente e absurda dentro de mim. que talvez nunca mais viesse. Por que faria qualquer coisa para sair daquele abismo e ter minha segunda chance. E desejei a “mudança que resolveria tudo”. quase impossível de suportar.. . E enquanto a música me envolvia.)” E me vi fazendo aquilo. esperando por uma segunda chance.Por uma mudança que resolveria tudo(.. minha dor nos olhos. a porta do quarto se abriu e eu vi Theo entrar. minha entrega ali. com os nervos à flor da pele. toda para ele. Ele parou. Fitei-o com minha alma exposta. qualquer migalha. jurar e fazer promessas. suplicar por mais uma chance. Sabia que falar não .E naquele exato momento. olhou para mim e senti o amor e o desespero me engolfarem com igual força. quis contar a ele tudo que me espezinhava por dentro. Eu quis chorar e implorar. quando me sentia tão frágil e sensível. que era vã e frágil. Mas o ódio e o desprezo. a frieza e a indiferença. mas queria que Theo visse. Não durou quase nada. Do mesmo modo que eu me expunha toda. Não sei como ou por que. mas ainda era tudo que eu tinha. Fiquei suspensa na esperança. Eu perdi o ar. fomos só nós dois ali.adiantaria. E enquanto a música triste tocava baixinho e nossa filha dormia. vi parte de sua armadura desabar. não ousei nem piscar. foram substituídos apenas . que sentisse e entendesse como eu não era nada sem ele. Alguma coisa aconteceu. E então. cada polegada dele preparada e armada contra mim. . mas tudo tinha passado como se nem tivesse existido: .. Seu olhar foi para Helena. Seu olhar endureceu e em questão de segundos tudo estava de volta.Theo. dormindo na cama ao meu lado..pela dor e por uma pergunta muda e sentida: por quê? Como se ele gritasse e exigisse: Por que fez isso comigo? Eu solucei e aquele som minúsculo foi o bastante para alertá-lo. Ainda lamentei baixinho. Ao . controlar minha dor. Mas não saiu do quarto de uma vez. Entrou no closet e tentei respirar. Eu fiquei com muito medo que estivesse me deixando de vez e indaguei baixinho: .como se eu não merecesse nem uma palavra ou um pingo da sua atenção. Saiu de lá com uma sacola onde enfiou algumas roupas nos braços e um par de sapatos. Não me olhou. ser capaz ao menos de ter forças e lutar. Ele não demorou.Aonde você vai? Não respondeu. terminou de entrar no quarto e deu-me as costas. meus olhos bebendo de sua imagem.contrário. Theo não ia ali por mim. sua presença que era sempre impactante . Estava tão perto que senti seu cheiro. Inclinou-se sobre ela e beijou suavemente sua cabecinha. mas por Helena. sua energia pulsante. terno. engolindo-o com fome. Eu me emocionei ainda mais com seu gesto carinhoso. se aproximou da cama e fiquei nervosa. Vi quando pegou uma delicada pulseirinha de ouro com um pequeno pingente de figa e colocou no pulso direito dela. e quis desesperadamente aquilo para mim. sem poder me conter. com uma fúria que permeou cada .para mim. Foi como acariciar um leão selvagem. eu perdi o parco controle que tinha conseguido manter o dia todo. Na mesma hora reagiu com violência e se afastou de mim. o carinho da sua expressão. Lágrimas inundaram meus olhos. Ergui a mão e. Vi seus lábios tocando nossa filha. olhando-me com ódio ardente. amor e paixão me encheram além do limite. corri meus dedos em seus ondulados cabelos escuros. Nunca mais. – Ergueu-se no alto de seus mais de um metro e oitenta de altura.. Eu gelei.Não posso. Vou morrer se não tocar em você. só o ódio puro e bruto. Não havia nenhuma brecha ali. nenhuma saudade ou desejo.. Arquejei e murmurei angustiada: . suas palavras machucando-me . abri os lábios para conseguir respirar. .Não toque em mim..palavra dita entredentes: . fui golpeada por sua raiva e certeza..Então morra. Theo. Nada se abrandou em Theo. Era dor demais para suportar. embora eu já soubesse daquilo. – Consegui falar. Deu um passo para trás e soube que me deixava mesmo. – Por que se me tocar de novo. Lágrimas desceram por meu rosto e meu queixo tremeu sem controle. Mas ter tanta certeza era ver qualquer sementinha de esperança ser esmagada diante dos olhos. que nunca mais seria meu. ... baixo. eu acabo matando você. seu olhar frio e cheio de desprezo. O desespero foi estarrecedor.mais do que tudo. . apavorada. arrasada. Foi como tomar um soco e continuei olhando-o.O que. engoli em seco..Você vai ter o que merece. Talvez eu nunca mais ouvisse aquela palavra vinda de seus lábios. quer dizer? Vai me mandar embora daqui? .. murmurei: . doída. – O que vai ser de mim? . Eva. Seus olhos azuis pareciam . Não havia mais “coelhinha”.com dor. Tentei segurar um pouco o sofrimento.Hoje denunciei você na delegacia. Por que a Eva Camargo não existe. cada palavra uma apunhalada dentro de mim. Então acuso você de tentativa de homicídio. . . Eu escutava. Dei entrada na anulação hoje. junto com .Ficará aqui enquanto estiver amamentando a minha filha e até eu pegar seus comparsas.Falsidade ideológica. assim como não existe nosso casamento.duas pedras de gelo. Quero que me entregue seus documentos verdadeiros para poder registrar Helena. – Sussurrei.eles. Eu estava acuada e sabia que ainda estava naquela casa e com minha filha por que Theo deixava. O modo que me olhava era como se eu fosse sua inimiga.Não farei nada. é a primeira coisa que faço e sai daqui direto para a prisão. Não sua mulher. Senti muito medo e muita mágoa. Tem gente de olho em você. . Estava nas mãos dele. Mas eu aviso. se tentar qualquer gracinha. . Mas não retruquei. . não quando eu sabia que provoquei tudo aquilo.Não mesmo. Não me movi. eu tinha Helena. Tentei ser forte e seguir um dia de cada vez. E . Como eu aguentaria um dia após o outro naquela situação. Olhei-o me dar às costas e sair do quarto pisando duro. esquecendo que eu existia. E estava difícil demais suportar aquilo. afastando-me de tudo que era mais importante para mim. rasgada de tanta dor? Era como contar as horas até o momento em que me enviasse para a cadeia.sua amante nem a mãe da sua filha. Afinal. E era nela que eu ia me agarrar. Por que não me restava mais nada além de ter um fio de esperança. Decidi ser o mais obediente e quieta possível. até que sua raiva diminuísse ou que algo acontecesse e eu pudesse lutar. .ainda não conseguia desistir totalmente de fazer Theo enxergar o meu amor. não ficar no caminho dele nem irritá-lo. CAPÍTULO 6 THEO Eu fui forte ao não entrar mais na suíte em que dormi com Eva desde que nos casamos. Durante todos os dias daquela semana eu não a vi e pedi que Tia pegasse parte das minhas coisas e deixasse no quarto de hóspedes. Era ela também quem trazia Helena para mim e eu ficava com minha filha até ela querer . meu coração e minha mente concentrados naquela traição que acabava comigo. Por que era assim que . mas estava sendo um tormento. Não me concentrava no trabalho. Era como se só passasse pela vida. Nunca pensei que pudesse me enfraquecer tanto. estava difícil tomar decisões e conversar com as pessoas. Eu não dormia nem comia direito.mamar e ser levada de novo para a mãe. Achei que não ver Eva me ajudaria a seguir em frente mais facilmente. superficialmente. um fraco. E mesmo assim. eu pensava nela . De resto. impossibilitado de reagir e mudar. Não conseguia aceitar aquela traição de Eva. Somente então eu tinha emoções boas. eu pulsava e conseguia sorrir. dominado pela raiva e pela certeza de que nunca a perdoaria.eu me sentia. Os únicos momentos em que me sentia vivo era quando via minha filha e a tinha nos braços. Tudo parecia parado e sem sentido. de voltar a ser eu mesmo. era como se a cada manhã eu me obrigasse a levantar para viver uma penitência. decidido a extirpá-la de dentro de mim por bem ou por mal. Não houve notícias de Lauro e Luiza. nem que fosse para odiá-la mais. Enquanto isso continuavam . Eu me odiava por passar em frente à porta do seu quarto.24 horas por dia. cumprimentar o segurança e sentir sempre aquela vontade enorme de entrar e olhar para ela. Era uma fome visceral. um desejo alucinado. Deviam estar escondidos em algum buraco. Só olhar e ouvir sua voz. preparando uma nova armadilha. mas eu sempre me controlava. Pedro reclamou demais de ter um carro na sua cola e se recusou a deixar de ir e voltar de moto para o trabalho ou para suas saídas. Para . Mas acabou se acostumando a ter um segurança que o guardava de longe. Havia sempre um guarda.sendo procurados.costas para um membro da minha família. tanto na fazenda quanto no escritório e frigorífico. E mesmo contra a vontade segui as recomendações do delegado Ramiro e aumentei a segurança. nem que fosse para dar só um pulo na cidade. era sempre com Joaquim ou um de nós.todos os efeitos. Não se importaram muito com a segurança e logo esqueceram que ela existia. Tia fez amizade com os seguranças que a acompanhavam quando precisava ir à Florada e com os mais próximos da casa e os que se . tinha porte de arma e vivia preparado para qualquer eventualidade. Heitor e Joaquim trabalhavam na fazenda. então eram mais fáceis de proteger. Gabi quase não saía de casa devido ao resguardo e. quando o fazia. então estava protegida. Ele estava sempre usando todos os meios para descobrir o paradeiro de Luiza e ficava furioso por não encontrá-los. Até fazia bolos para eles e já sabia seus nomes e informações sobre suas famílias. Deu de ombros e fez pouco caso. Sua presença na cidade gerou falatório e se tornou o assunto principal . Micah achou graça quando soube que havia um segurança para ele também. como se achasse aquilo ridículo.revezavam guardando o quarto de Eva. mas não se importou. . E se indagavam sobre seu sumiço há quinze anos e sua volta inesperada.dos fofoqueiros. até que espalhamos que tudo tinha a ver com o roubo de gado e ameaças dos ladrões. contavam aos mais novos todas as loucuras que tinha feito. Os mais antigos relembravam suas estripulias de jovem e rebeldia. Rolavam vários boatos e suposições. Curiosos. Assim como estranhavam o fato de termos seguranças. o que acabou ajudando a acalmar a curiosidade de todos. queriam saber o motivo. Imaginei-a criada só por Luiza e Estela . mas pai desconhecido. Havia o nome da mãe nos documentos. Mas não era o bastante para entender o que ela havia feito. aumentando os meus por me envolver com uma garota.Naquela semana Tia me entregou os documentos verdadeiros de Eva e fiquei com dor no coração ao ver sua foto com cara de garotinha e me dar conta de quanto era jovem. Isso sempre mexia comigo e aliviava um pouco seus erros. pois ao final era adulta o suficiente para tomar suas decisões. Usando seus documentos. Tinham sido lacradas pela polícia e segundo meu irmão não havia nada ali que ajudasse as autoridades a descobrir o paradeiro dos bandidos. finalmente pude registrar Helena. Ainda naquela semana Micah trouxe da delegacia de Ituiutaba as caixas que foram encontradas na casa de Luiza e me entregou. .no meio do ódio e no fundo lamentei por ela. Mas não havia muito que pudesse fazer sobre aquilo. Eu sabia que tinha coisas de Eva e as levei para casa. Era horrível admitir que ainda doía demais tudo dentro de mim. Então enfiei as duas caixas lacradas no fundo do guarda-roupa em meu quarto de hóspedes e deixei-as lá. para olhar quando eu estivesse mais forte e dono de mim mesmo. Não me sentia ainda pronto para saber mais dela. pois era uma luta fingir que Eva não existia e seguir um dia após o outro. andava pelo . Cuidava de Helena. soube por Tia que Eva tinha se recuperado e já não sentia dores.Havia dentro de mim um misto de curiosidade e aversão. Em casa. olhando para fora e não vendo nada. melhorava a olhos vistos. perdido em meus pensamentos enquanto Tia me falava daquele dia. Eu estava na varanda. ela fica lá sozinha.Theo. Quando trago Helena aqui fora para tomar um ar e dar uma volta. na noite de sexta-feira. como se achasse que merece esse . ou quando a trago para você. entendo sua raiva e revolta.quarto. ela me encarou e deu sua opinião: . Eva não reclama de nada e nem uma vez pediu para sair do quarto. Em determinado momento. . irritado: . Pode ter uma depressão pós parto e até mesmo. Theo.. Eu a olhei na hora e a interrompi. Mas.Ela tem que agradecer por não estar vendo o sol nascer quadrado.Eu sei disso. .. Podia estar agora em uma prisão mesmo. É uma prisioneira aqui. tomar um sol. .. Mas a menina acabou de ter filho e está isolada.. filho. Podia deixá-la ao menos vir aqui fora.castigo. respirar fora do quarto ou..Problema dela.. Eu queria exclui-la da minha vida. Mantê-la isolada era uma maneira de não vê-la e assim conseguir me livrar dela dentro de mim. fico de olho. . escondendo uma ponta de desespero. É só sair um pouco do quarto.Tia sacudiu a cabeça. angustiada. No fundo.Não.Não.Pense bem.Theo. . – Olhei-a decidido.. eu também queria me proteger. . . A fazenda está cheia de seguranças e fico um pouco com ela. Tia.. além de querer castigar Eva. . Estou fazendo o melhor que eu posso. como se entendesse.esquecer que ela existia. com a mão direita ainda na tala. filho. Vamos deixar o tempo passar.Preciso de um tempo. derrotada. . . acenando com a cabeça.Está bem. Tia. Eu odiava vê-la assim e. acariciei seu cabelo grisalho e abrandei o tom: . E mesmo com o tempo passando. Então. Ela fitou meus olhos. Tia suspirou. segurou minha mão e beijou-a perto dos dedos ainda inchados e doloridos. nada mudou. seguia em frente como um robô. comia. Era uma tortura passar em frente a sua porta e saber que estava do outro lado. mas a dor continuou latente e feroz dentro de mim. tinha pesadelos. trabalhava. apenas se acumulando. . sem se abrandar. Mas sonhava com Eva. Novos dias vieram. sem me perdoar por ter sido tão cego e por continuar obcecado por ela mesmo sabendo de tudo. Eu acordava. Que bastava abri-la e eu estaria lá. passava noites em claro suado e desesperado. vendo cada parte daquela mulher maldita que tinha arrancado uma parte de mim e estava agarrada em minhas entranhas. Tinha noites em que eu resistia.fitando seus olhos verdes. sentindo seu cheiro. com as unhas cravadas em meu coração. . Para dormir melhor e muitas vezes só apagar e esquecer tudo. a mágoa e o desejo. contra o ódio. Mas eu seguia e lutava comigo mesmo. passei a beber muito. mas em outras a dor era tão insuportável que eu só a aplacava quando caía desmaiado com o uísque. não me concentrava em nada. uma parte do que consegui para manter o controle. Eva. Eva. martelando em minha mente. todo mundo que eu encontrava na rua. meu bálsamo. No fundo. tirando minha paz e sossego. nada adiantava. Era só Eva. E depois de duas semanas naquele martírio. na cidade ou no escritório me perguntava o que estava acontecendo. Não dava satisfações a ninguém. . Eu tinha emagrecido. mas era minha fuga. andava irritado.Naquele ritmo viraria um alcóolatra ou teria uma cirrose. Eu contava com o tempo para fazer aquele trabalho. E tudo só se acumulava dentro de mim a ponto de sentir que a qualquer momento poderia explodir. eu também não me concentrava. No trabalho. mas não havia o que fazer. A ponto de perder um contrato milionário com um parceiro de negócios a quem eu distribuía carnes. Isso fez com que Valentina e Pedro .Saía irritado se um dos meus irmãos ou Tia tentasse conversar comigo. Eles queriam ajudar. mas ele também me sabotava. por ter duas vezes não cumprido prazos. marcassem uma reunião comigo e.Acho que você devia tirar um tempo para si. Foi Pedro quem expôs tudo: . se afastar. Eu os olhei. mas com certeza sabia que os problemas eram bem mais sérios do que todos diziam. furioso. Valentina era discreta demais para perguntar o que realmente estava acontecendo. minha paciência por um fio. Disse serenamente: . E tentava ajudar da sua maneira. naquele início de novembro. Theo. me olhavam preocupados em minha sala. Ajudar em quê? Sou uma máquina. . Trabalho há um tempão aqui e você sempre foi excepcional. – Pedro me observava. brigou com alguns fornecedores.. É normal não conseguir se concentrar. sem erros. . Estamos preocupados e querendo ajudar. – Mas está sob pressão. não posso errar nunca? – Acusei. sério. Eu nunca vi isso acontecer. irmão.Esqueceu de assinar contratos. chegou a enviar documentos errados. Theo.Não é isso. Só queremos o melhor para . fazendo meu trabalho como sempre fiz. fale comigo e eu ajudo..Você já tem trabalho demais. – Se eu puder ajudar.Theo. . Quando não tiver certeza de algo ou estiver sem cabeça.. Pedro.você. Valentina. Esses erros não tornarão a acontecer. – Olhei-a e depois ao meu irmão. . odiando me sentir um incapaz. ...O melhor é me deixarem em paz. . – Valentina foi cautelosa. – Você também. – Ele me observava. É o trabalho dele. – Sabe. mas por segurança. Concordei com a cabeça. ontem encontrei Micah no Falconetes e ele me disse que está pensando em voltar ao Rio e continuar as investigações de lá.. pensativo. é o que pode ajudar mais se os bandidos derem as caras. de todos nós. Mas penso que. Eu preferia saber que Micah continuava na cidade. não apenas por aquele motivo. Theo. Acha que não está ajudando muito por aqui. Ficaria mais .Mas sempre podemos ajudar. preocupada. Pedro continuou: . Sem contar com o fato de que era meu irmão e o passado dele continuava sem ser resolvido. Então.Ele me disse que está de férias e tem várias outras acumuladas para tirar. Mas não podia ser egoísta e atrapalhar a vida dele.Que ideias? – Foi Valentina quem perguntou. . não tem nada que o force a ir embora.tranquilo com todos ali. Tive umas ideias. Parecia que tudo se embolava e mesclava e eu sentia que a presença dele ali era fundamental. . . Micah poderia aparecer aqui e dar uma ajuda a você. Pedro. .Diga de uma vez. vai querer ficar mais um tempo e. eu e Valentina estamos sempre cheios de trabalho.Sabe que ele é formado em Direito e Administração de empresas? – Pedro olhou dela para mim.Se ele se sentir mais útil. . – Falei. se precisarmos dele. praticamente de um gênio? Fiquei pensando que poderíamos unir o útil ao agradável. – E que tem um QI elevado. . Além disso. estará aqui. Eu já ia negar. Apenas se precisasse. O irmão de vocês sempre foi impaciente e na certa já está querendo ir . Ele aprende o trabalho e te desafoga um pouco. mas surpreendentemente foi Valentina quem falou primeiro.Acho isso desnecessário. sentindo-me um merda por precisar de ajuda para fazer um trabalho que sempre fiz.sem compromissos. parecendo um tanto ansiosa: . Ele daria mais trabalho até aprender tudo e posso muito bem ajudar Theo se ele precisar. Valentina tem razão. . – Pedro insistiu. Vamos dar esse . Theo. ainda mais sendo nosso irmão. com certeza sabe que não está podendo dar o melhor de si e não custa ter ajuda. . – Acenei com a cabeça.embora para suas aventuras. – Não vai doer você admitir que está sob pressão. não ficar preso aqui. E sei que Micah quer só um motivo para ficar.Eu não acho. A Falcão sempre foi importante demais para você. Volto a repetir. todo mundo sairia lucrando. olhando-me fixamente. E no fim.Não concordo com isso. Pode atrapalhar mais do que ajudar. Ainda tínhamos um mundo de coisas para responder. eu queria Micah por perto. Você continua como presidente e tomando as decisões finais. Micael não sabe nada do serviço. Valentina foi mais insistente: . Vendo que eu pensava sobre o assunto. sabendo que ele tinha razão. Eu o observei. passando por cima do meu orgulho.motivo a ele. desconfiado e foi . Pedro olhou-a. só vamos ter mais apoio. direto: . – Ele concordou.Foi.Problema? Nenhum.Sei que sempre foi um irresponsável. Valentina? . claro! – Retrucou. nervosa. Agora ele tem trinta e três anos e é um agente da ABIN. – Sabe que fui um dos que mais desconfiei da vinda de Micah para cá.Qual o seu problema com ele. – De onde tirou essa ideia? Mal o conheço! .Exatamente. . – Pedro me olhou. . . não pode ser tão irresponsável assim. Talvez possamos tentar. – Admiti. Depois que eles saíram. . Valentina ficou quieta. E acabei tomando minha decisão: . Tome seu tempo. contrariada.Vou conversar com ele. mas apertava os lábios. .Compreendo. me senti ainda .Eu sinto o mesmo. E eu vou me concentrar mais. E algo me diz que poderá ajudar mais. é apenas muita coisa na minha cabeça.Mas ele só tem nos ajudado. irmão. E a reunião foi finalizada. era o suficiente naquele momento para mim. Meus dedos continuavam inchados. No dia anterior. A fisioterapia ajudaria . um merda. Nem o trabalho.pior. tirei a tala e fiz radiografias. Eva tinha destruído tudo. Mas os ossos tinham se calcificado bem e o médico disse que nos primeiros dias era normal sentir incômodo e dor. ao qual dediquei toda minha vida. No dia 13 de novembro Helena e Caio completaram um mês de vida. doloridos e com as falanges roxas. Era como matar um pouco a saudade estando . sua semelhança absurda com a mãe. o modo como me olhava e agarrava meus dedos. Nada mais tinha valor ou importância e o que ainda mantinha minha sanidade era Helena. Exatos vinte e sete dias. me deliciava com seu cheiro. Mas não passava um segundo sequer sem pensar nela. minha vida tinha virado uma tortura. Passava o maior tempo possível com ela. Havia quase um mês que eu não via Eva.a melhorar mais rápido. Mas tudo estava bem. de resto minha filha era um miniatura da mãe. imaginando-a longe de Eva. pois eu não a queria mais na minha vida e sabia que não abriria mão de Helena.com ela. Era muita preocupação e perturbação na minha cabeça. E já sofria por ela. eu tomava . E eu a amava tanto que chegava a doer. Na manhã em que Helena e Caio completavam um mês de vida. Com exceção dos olhos que se tornavam cada vez mais azuis como os meus. saudade que eu sentia de Eva mesmo sem querer sentir. estava quieta demais . Só Tia estava lá.café da manhã antes de sair de casa. Praticamente todos os dias me falava que Eva precisava sair do quarto. que era loucura isolá-la daquele jeito. um tanto calada. Eu me mantinha firme em minha posição e ela reclamava que falar comigo era o mesmo que bater contra um muro de concreto. que precisava voltar ao médico para fazer exames de rotina após o parto e ser liberada oficialmente do resguardo. sentada ao meu lado bebericando seu café. que eu era teimoso demais. bem cedo. No entanto. Pode dispensá-las. Tentava me ajudar. um tanto preocupado com seu desânimo. Mas o que eu podia fazer.Não.É necessário manter as enfermeiras ainda? . insistia para que comesse bem. quando o desespero me devorava vivo e eu lutava a cada dia . pedia que eu não bebesse tanto. Indaguei: .naquela manhã e olhei-a. Eu sabia que se sentia impotente. – Nem me olhou ao responder. mas se desesperava ao ver que nada melhorava ou avançava. sem saber como lidar com tudo aquilo. surpreendentemente. Pelo . foi muito bom. Sentia que havia rusgas entre ele e Valentina. Ele me aliviou de algumas obrigações com as quais eu não tinha cabeça para me preocupar e aprendeu o trabalho muito rápido. Fazia o que podia e o resto passava para ele. mas eu não tinha cabeça para me preocupar muito com aquilo.para me manter lúcido e firme. inseguro pela primeira vez na vida? Micah tinha começado a aparecer no escritório e. o que parecia até diverti-lo. . Mais de uma vez pegueime invejando-os. Helena nunca tinha os pais juntos.menos as coisas lá passaram a entrar nos eixos. ambos sorrindo. Estava terminando meu café.Bom dia. Estavam felizes e sempre apaixonados. – Eles nos . só seu tempo com cada um. quando Gabi entrou na cozinha empurrando o carrinho de Caio e com Joaquim ao lado dela. E no fundo. curtindo juntos cada minuto da aventura de serem pais. mesmo sem querer. também me culpava por aquilo. . enquanto se servia de café. – Falei baixo.cumprimentaram. . . Ia esperar os dedos voltarem naturalmente .E essa mão? – Joaquim fitou meus dedos ainda arroxeados e levemente inchados. Eu não disse nada.Quase boa. deixando seu chapéu em uma cadeira vazia.Já está boa. . sabendo que não perderia meu tempo com aquilo. – Tem que fazer fisioterapia.Bom dia. acomodando-se em volta da mesa. – Corrigiu Tia. Gabi? . Mas sei que para você foi muito pior.. . Seu semblante era preocupado e emocionado. Para mim também foi. . sério. – Preciso pedir algo a você. – Gabi me chamou e eu a olhei.Sei como tudo que aconteceu tem sido difícil para você. pois Eva é minha irmã. as coisas se acalmarem. Mas agora..Theo. deixei o tempo rolar.ao normal. Eu aguardei. por isso não me meti. Ela respirou fundo e disse suavemente: .Agora o que. deixando-me alerta. como se aceitasse qualquer castigo que quisesse dar a ela. . – Arrastei a cadeira e me levantei. Gabi se levantou também.Não quero falar sobre isso. toma conta de Helena. – Se quer matar a Eva. faz tudo como deve ser.. Mas está tão triste quanto você. Come. olhando-me decidida e ao mesmo tempo suplicante. .Ela está há um mês trancada naquele quarto e nem um dia sequer reclamou.Mas precisa me ouvir! – Surpreendendo-me. com lágrimas nos olhos. toma banho. vai . Sim. de pegar um sol lá fora e respirar ar puro. aquilo não é vida. ela errou! Está pagando! Mas não somos carrascos! Eva é mãe da sua filha. xingue. .Ela quis assim! – Falei entredentes. Merece o direito de ir ao médico! . Theo! Ela está definhando naquele quarto.conseguir. merece ao menos ter o direito de andar pela casa. mas não deixe-a nessa tortura nem se torture mais! Não dá para ficar imparcial vendo tanta destruição! . pelo amor de Deus! Grite. Suas . por favor. Eu e Tia ficamos com ela. pense nisso. Confie em nós. dizendo em um lamento: . Ninguém aguenta viver assim. Eu me senti horrível.Por favor. Theo. . ela não vai fugir. A casa está cheia de seguranças em volta. secando as lágrimas com as pontas dos dedos.Tá! Mas não pode deixá-la para sempre naquele quarto! – Suspirou.Vou mandar o médico vir aqui hoje para ver vocês duas. até na cadeia os presos precisam de uma hora fora da cela para não enlouquecer.. Joaquim e Tia pensavam da mesma maneira. para me desesperar além do que eu já estava. Senti-me muito cansado.palavras calaram forte dentro de mim e percebi que além de Gabi. E vocês também. E vi o quanto fui realmente um carrasco. E que não se afaste das redondezas da casa. mas não me sentia preparado para ver Eva.Quero o segurança de olho nela. ela deve estar no . . Estava duro demais suportar aquilo. Mas soube que eles tinham razão. Quando eu voltar do trabalho. Graças a Deus! – Tia se levantou aliviada e veio até mim.Assim espero. . mas era assim que eu vivia agora. filho. – Não vai se arrepender. Não quero que cruze o meu caminho.quarto. . Segurou minha cabeça e me puxou para beijar meu rosto. acariciando meu cabelo. Saí de lá arrasado.Está bem. . – Gabi concordou rapidamente. Tia. . da saudade e da culpa? Eu tinha minha filha e foi nela que depositei todas as minhas forças. Não enlouqueci por ela e por Gabi e Tia. distraindo. Eu acordava e ia dormir apenas por causa de Helena. aconselhando. que estavam sempre comigo.EVA Foram dias difíceis e fui testada até meu limite. conversando. . para que comer. Caso contrário. respirar e viver? O que eu tinha para me fazer seguir em frente além daquela dor. dando conselhos. Lembrei do seu sorriso com aqueles dentes caninos mais compridos. pois nada se resolveria de uma hora para outra. Era como uma gota no oceano. algo dentro de mim ainda me dava esperança. mas a qual eu me agarrava firmemente e não deixava escorrer. Rolei na cama de saudade. E apesar de sofrer. Aprendi a não criar expectativas nem me entregar à ansiedade. . Pensei em Theo a cada segundo. Chorei e sofri por ele. mesmo que mínima. me preocupar e me sentir morrer um pouco a cada dia. aprender bordado com Tia. Brincava com Helena. penetrar. da força de suas mãos e autoridade dos gestos. ler. Lembrei cada pequena coisa e eram essas lembranças que também me ajudavam a seguir. do seu corpo e cheiro. . Eu era uma prisioneira. ouvir música. passear na internet. da maneira de me pegar e acariciar.da ruga entre as sobrancelhas que lhe dava um olhar duro. Conversava com ela e Gabi. me fazer dele. do seu beijo e toque. mas ainda suportava e me equilibrava naquela situação. Tentava ver televisão. Foi ali que também matei um pouco daquela saudade absurda de Theo. Aprendi a me esgueirar ali no final da tarde e esperar. sem saber da dor dentro de mim disfarçada por meu sorriso. Só para ver o . E minha maior distração sempre foi olhar pela janela a fazenda e o mundo lá fora. como se eu estivesse isolada em uma torre inalcançável.que me olhava e sacudia perninhas e braços. A janela do quarto dava para a lateral da casa e só de um cantinho eu podia ver um pedaço da entrada da frente. uma migalha para me alimentar em minha saudade angustiante. mas na intensidade. fazendo as pessoas terem vontade de obedecê-la. decidida. Eram cada vez mais parecidos com os de Theo. Não era muito. Eu sorria e acariciava-a entre os olhos.carro preto dele passar na estrada e conseguir ter um vislumbre ocasional dele entrando na casa. Eu quase a podia ver mais velha com aquela ruga entre as sobrancelhas. Mas era tudo que eu tinha. não só na cor e no formato. . Adorava quando Helena abria os olhos. apenas uma passagem rápida. .Theozinha. Ela reclamava querendo mamar. cantando baixinho: .dizendo baixinho: ... como se já soubesse de tudo. Naquele dia 13 de novembro acordei e Helena chorava no berço. levando-a para a cama e trocando sua fralda.Parabéns pra você. Eu a peguei no colo e a enchi de beijos.. nessa data querida. E ela apenas me olhava. sacudindo as perninhas.. muitos anos de vida. muitas felicidades. mas fora isso fisicamente eu estava bem. Sentei em uma poltrona e a acomodei no colo.. – Eu falava com ela. .Parece o pai. totalmente recuperada do parto. meu corpo praticamente o mesmo de antes.. acariciando suavemente sua penugem . sossegando quando teve o que quis. Ainda tinha a barriga levemente arredondada e os seios mais cheios.Minha princesa linda. até que abocanhou meu mamilo e mamou sofregamente.. debruçada... coisa fofa da mamãe. – Murmurei. livres. Por que agora.loira e lisa. . Não pude deixar de sentir. também o desejo corroendo minhas entranhas. além de tudo. Poderíamos voltar a fazer amor. eu duvidava que ele tocasse em mim. olhando-a cheia de amor. E comemorando o primeiro mês de vida de nossa filha. Não queria nem me olhar. Imaginei por um minuto como seria ter Theo dividindo comigo aqueles pequenos momentos. a saudade doendo como sempre dentro de mim. Se estivéssemos juntos. intensos como sempre. lembrando-me de repetir meu mantra de “um dia de cada vez”. Naquele momento. para poder suportar tudo e seguir em frente.Empurrei a tristeza e o desespero para o fundo de mim. bateram na porta e. apoiando-a contra o peito para arrotar. Acabei de amamentar Helena e levantei. somente por alguns segundos. No fundo eu sempre esperava ansiosamente o momento em que poderia vê-lo de . andando devagar pelo quarto e cantando baixinho pra ela. ousei ter esperanças que fosse Theo. E eu quero beijar o Caio. falando: . Era um garotão. Trocamos os bebês e fiquei com Caio no colo. Minha irmã sorriu.Viemos dar os parabéns da Helena! . .novo na frente. Meu coração disparou e senti o corpo mole. embora ainda fosse um sorriso triste. dormente. beijando sua carequinha e desejando a ele sinceros sentimentos de saúde e felicidade. – Sorri de volta. acompanhada por Tia. Mas não foi ele quem entrou e sim Gabi com Caio no colo. como se tivesse me perdoado de vez e acreditasse em mim. estão lá no jardim. – Tia disse que vai fazer um bolo e podemos cantar . – Disse Gabi. . enquanto ela era prematura. com os olhos verdes do pai.grande e robusto. podemos deixar eles lá e sentar perto enquanto conversamos. Já ficava mais à vontade comigo. Assim. embaixo de uma árvore.Eu e Tia compramos dois balancinhos para neném. Mas ambos estavam saudáveis e bem. bem mais pesado que Helena por ter nascido de nove meses. . – Tirem fotos. .Eu. – Forcei um sorriso..parabéns para Caio e Helena à tarde lá fora. Vai ser legal.Claro! Você pode tirar as suas também. – Murmurei...Mas eu. não é mais prisioneira deste quarto. Vi o segurança lá fora. Vamos lá ver? . O que acha? .. Mas não quer que ande sozinha . embora soubesse que não poderia ver aquilo. – Theo mudou de ideia. – Tia sorriu para mim e abriu a porta do quarto. Eu não posso..Pode sim.. só acenei com a cabeça. dizendo emocionada: . não é? Eu senti aquela sementinha de esperança crescer ainda mais dentro de mim e uma emoção indescritível se espalhou em cada parte do meu ser. . Gabi se aproximou e beijou meu rosto. Eva. Não desista.por aí nem se afaste da casa. – Consegui . Já é alguma coisa.Tudo vai dar certo. Lágrimas inundaram meus olhos e não tive condições de falar.Não vou desistir. . As conquistas são lentas. que você o ama. .Mas olha. mas aos poucos vai enxergar tudo. Olhei-a. . Trocamos novamente de bebês e . – Ele ainda não quer ver você. vai valer à pena. cheia de dúvidas.sussurrar. mas querendo muito me agarrar naquilo. Antes que ele chegue.Theo é osso duro de roer. – Disse cuidadosa. tem que ser com calma. – Consegui sorrir e engolir as lágrimas.Eu sou paciente. como nós. vai ver. mas se for paciente. volte para cá. foi como pisar fora de uma prisão e só então me dei conta de como tinha ficado sufocada lá dentro.abracei Helena com carinho. pegando uma mantinha para ela e sua chupeta envolta em uma fralda. mesmo em meio a tudo. Quando saí do quarto. Acenei com a cabeça para o segurança e não me importei por ele nos seguir. pisei na varanda com uma felicidade que. E quando descemos e Tia abriu a porta da frente. Caminhei devagar. era muito real e . quando queria correr para ver o dia e sentir o ar da manhã no rosto. verdadeira. não rezar a Deus que me ajudasse a passar por tudo aquilo e provar meu amor. cheirei o ar perfumado de flores. apesar de tudo.Vem ver os balanços! – Gabi . olhei o dia lindo e claro. Senti a brisa suave no rosto. E foi impossível não me encher de esperanças. com minha filha nos braços. E soube que. . não mofando numa cadeia ou proibida de chegar perto de Helena. Comemorei comigo mesma aquela pequena vitória e liberdade. com o apoio de Tia e Gabi. era pura e irrevogável. eu ainda estava ali. – Vamos comemorar! Hoje é dia de festa! E era mesmo. Em meio a todo caos e sofrimento. Sorri e a segui. sentar sob uma árvore e ver as folhas . aquele dia era um bálsamo e um banho de esperanças.passou por mim com Caio no colo. a uma guerra que ainda teria que enfrentar pela frente. descendo os degraus da varanda. Foi maravilhoso. Como podíamos dar tanto valor às mínimas coisas quando nos víamos privados delas? Um raio de sol no rosto. animada. Entramos para cuidar das crianças e ficamos na cozinha com Tia preparando o almoço e ajudando no bolo enquanto os bebês dormiam em seus carrinhos. Nem pensei muito na dor e no mal que minha mãe e Lauro ainda .balançando. conversamos. tomamos refrescos. Eu sorri pela primeira vez de verdade em muitos dias. eram sensações maravilhosas e inexplicáveis e aproveitei cada uma. Relaxei e simplesmente me dei aqueles pequenos prazeres. poder andar além de quatro paredes. Colocamos Helena e Caio nos balanços. Nem o fato de almoçar na mesa com Mário Falcão e dele me olhar insistentemente me desanimou. só para confirmar. De resto. mas desconfiava que não contaram . Tanto eu quanto Gabi recebemos alta e um pedido de exames para fazer mais para frente. A médica ginecologista e obstetra que nos acompanhou durante a gravidez veio nos ver em casa ainda de manhã e nos examinar.podiam fazer. estava tudo bem. O resguardo chegava ao fim. Eu não sabia até que ponto ele sabia quem eu era. No entanto. apenas o evitava. Era praticamente uma certeza. Ele era o maior estranho para mim naquela casa. mas devido ao seu estado com certeza estava sendo poupado dos detalhes.nada a ele. mas queria estar olhando em seus olhos e ver a verdade ali. Heitor e Joaquim também vieram . Devia estranhar minha ausência naquele mês inteiro e sentir que algo não ia bem. Muitas vezes eu sentia vontade de dizer a ele quem eu era e perguntar se matou mesmo meu avô e roubou nossas terras. ele pareceu se assustar e arregalou os olhos para o pai. foi ele que deu a .almoçar em casa e me trataram bem. brinquedos como mordedores e chocalhos coloridos.Outro dia ele me perguntou se ela estava usando a pulseira. pegaram Helena no colo. comentando: . Joaquim acariciou a figa presa na pulseirinha de Helena e sorriu. trouxeram presentinhos para ela e Caio. com medo de ter deixado escapar que era de presente de Micah. Pelo que eu soube. Na mesma hora que falou. Mário continuou comendo normalmente e Joaquim se sentou. um pouco nervoso. À tarde. como se garantisse que ele não pronunciou o nome do irmão. Tia e Gabi cantamos parabéns quando Helena e Caio estavam acordados em nosso colo e tiramos várias fotos. Eu. O segurança permanecia de longe. Gabi sacudiu a cabeça. olhando tudo. voltamos lá para fora e ficamos na sombra.pulseirinha pra minha filha e ainda estava na cidade. mas Tia contara que Mário não sabia de nada. Mas . – Ela acomodou minha .Como ele está? . E à noite.Bem. mas entrei em casa e voltei ao quarto dizendo a mim mesma para ter calma. pois para coroar tudo só faltava eu ver Theo. eu a entreguei e perguntei baixinho: . Foi tudo maravilhoso e só lamentei entrar quando a tarde caiu. Beijei e agradeci muito a Tia e Gabi. desesperadamente. quando Tia entrou para pegar Helena e levar para Theo.Tia o serviu de bolo e refresco. Quis muito aquilo. Eu tenho. – Sorri. . Olhou-me com carinho.filha no colo. Aos poucos tudo se ajeita Eva. – Trouxe um monte de presentes para Helena e Caio. Tenha fé. Acenei com a cabeça.. adormecida. – Tia. linda em um macacãozinho vermelho.Quase boa. .. lutando para não chorar. embora algo travasse minha garganta. Está lá embaixo com os irmãos.E a mão dele? . morrendo de vontade de ir junto. . Tirou a tala e não tem mais ossos quebrados. Mas depois que ela saiu. .Dou sim.Dê um beijo em Theo.Sim? . A saudade que eu sentia de Theo era o pior martírio.. .Vou ficar. soluçando. . minha filha. desolada. como se fosse meu. eu me joguei na cama e chorei muito. E com essa eu ainda teria que conviver mais tempo. – Beijou meu rosto. Ela suspirou. o desespero me consumindo. Mas não diga nada. – Fique bem. ainda mais por que Tia fez questão de comentar como tinha sido bom cantar parabéns para Helena e Caio à tarde e como ela. .CAPÍTULO 7 THEO Eu tive muita dificuldade para dormir naquela noite. mas procurei não beber. Eva e Gabi ficaram felizes. Eva não saía da minha cabeça. Tive muita raiva dela e de mim mesmo. . nossa anulação do casamento estava prestes a sair e eu não a queria mais em minha vida. apesar de tudo. Talvez uma mulher pudesse me ajudar a aplacar o desejo. persistia. mas enquanto à noite todos se reuniam para comemorar aquele mês de vida em um belo jantar. o ódio. não uma traidora como ela. eu pensei nela sozinha naquele quarto. Achei que precisava sair um pouco daquela casa.Eu não disse nada. o tesão e a saudade. aquela obsessão com Eva que. Afinal. Sempre fui um homem com desejos fortes e tudo parecia se acumular dentro de mim. Há muito tempo eu não sabia o que era pisar lá ou no calabouço.Pensei em ir ao Clube Triquetra no sábado. embora meu corpo ardesse e eu acordasse com uma ereção dolorosa toda manhã. . Meus desejos vorazes como dominador tinham sido contidos ferozmente dentro de mim. Não tinha ânimo para nada. como um vulcão prestes a explodir. primeiro por que Eva estava grávida e depois com toda essa tragédia em minha vida. Mas era difícil imaginar outra mulher quando ela ainda estava tão entranhada no meu corpo.O pior era não sentir vontade de tocar em outra mulher. para tirar Eva mais rápido da minha corrente sanguínea. . Eu sabia que onde eu chegasse teria alguma querendo ir para a minha cama. era seu corpo que eu desejava loucamente contra o meu. na minha mente e nos meus desejos. E talvez eu só precisasse daquilo mesmo. seu cheiro que me deixava doido. era nela que eu pensava ao dormir e acordar. Por mais que a odiasse. apaixonados. mesmo duro.Vi o modo como Gabi e Joaquim passaram o jantar. amando-a. Se nada daquilo estivesse acontecendo. com Eva tomando todo meu pensamento . Aquela noite foi ainda pior do que as outras e. Mas não dava para fugir da verdade e fingir. comemorando também. beijando-a. comemorando o fato de não ter mais resguardo. excitado. penetrando-a. Com ela sempre foi diferente e único. eu estaria agora na cama com Eva. A realidade era que eu nunca a perdoaria nem tocaria mais nela. No sábado tinha uma feira de Exposições de Gado em Uberaba e nós teríamos gado e novilhos nossos participando. Fiquei . Percorremos os pavilhões.e meus sentidos. Era a primeira vez que saíamos assim juntos e havia uma camaradagem tranquila entre nós. Saí cedo com Pedro. fechamos negócios. Joaquim e Heitor. vendemos uma boa remessa de gado. Encontramos lá com Micah. eu não bebi nem me masturbei. Lutei por horas comigo mesmo e só consegui dormir quando o dia já amanhecia. Havia muitas por lá. jogando charme. uma mais bonita que outra. Fomos alvos de várias paqueras e até de investidas diretas. No meio da tarde os três sumiram e Micah comentou: . Como sempre.impressionado como Micah pegou rápido o andamento de tudo e dava boas opiniões. Pedro não podia ver mulher e logo marcava encontros com mais de uma.Eles continuam com esses . Heitor acabou tendo uma loira escultural como companhia constante e Pedro ficou provocando. mas permaneci frio no meu lugar. Onde quer que eu olhasse havia uma mulher de olho em mim. – Dei de ombros. – São como siameses às vezes. – Estávamos sentados em volta de uma mesa após almoçarmos no melhor restaurante perto do pavilhão e lá estava cheio. passando o polegar no lábio inferior. . – Micah sorriu.Compartilhar não é comigo. só observando.jogos de partilhar? . . embora já tenha experimentado uma loucura ou outra. .De vez em quando.Nem comigo. .Nunca nem experimentei isso.. – Joaquim sorriu também. – Micah tomou um gole da sua cerveja. divertido. meio sem graça. não experimentei nem vou experimentar.Você se acostuma. dividindo uma mulher. . aberto e reluzente. Eu não falei nada. Agora sou casado e muito feliz. – Joaquim disse com um sorriso que demonstrava sua felicidade. – deve ser muito esquisito ficar pelado perto de outro cara. Olhei para .Bom. Ainda mais se esse cara é seu irmão. Saímos de lá por volta das três da tarde. Estranhamente aquilo não mexeu comigo. Friamente desviei o olhar. Imaginei o que os seguranças encarregados de segui-los não deviam estar pensando. Ela usava um forte batom vermelho. Micah voltou em sua moto e Joaquim em meu carro comigo. com jeito submisso. que combinava com suas unhas compridas. Heitor tinha sumido com Pedro no carro deste.uma morena especialmente atraente que baixou o olhar. irritado comigo mesmo. mas não me incomodei . até estar quase perto dos degraus. E então já era tarde demais e pela primeira vez em quase um mês eu fitei os olhos grandes e verdes de Eva fixos em mim. Deixei o carro na garagem da fazenda e voltei ao casarão andando. estarrecido. um tanto distraído. conversando com Joaquim sobre o sucesso da exposição. uma . Os outros seguranças vieram atrás de nós. chocado.com aquilo. Parei. Acho que por isso não notei o movimento no jardim ao lado da entrada da varanda. tudo se misturou dentro de mim sem controle. Naquela tarde fresca e ensolarada. pois meus olhos só conseguiam se fixar em .miríade de emoções violentas me engolfando. o coração bateu forte contra minhas costelas. Todo meu corpo reagiu. Amor. raiva. enquanto Caio e Helena dormiam sobre o lençol ao lado delas. Mas percebi tudo só num relance. desejo. a respiração se alterou. Gabi e Eva tinham estendido um lençol branco na grama sob uma grande árvore frondosa e estavam lá sentadas. mágoa. descalça. Seus cabelos soltos e claros voando com a brisa. Cheguei a sentir dor por dentro. apertá-la tão forte que ninguém nunca mais poderia nos separar. a camiseta rosa colando-se aos seios redondos. mais linda do que nunca. beijar seus lábios entreabertos até meu coração sarar.Eva. sem maquiagem ou adereços. Da vontade de ir até ela e puxá-la para mim. o jeans mostrando como seu corpo tinha voltado à forma de antes. E foi . O mundo todo deixou de existir diante da minha saudade. assim como a traição. . dizendo cauteloso: . . – Repetiu Gabi. caminhei duro até ela e na mesma hora Joaquim me acompanhou.Theo.. Apertando os olhos com ódio.. Mas lembrei.Theo. O sofrimento ainda latejava e perfurava demais para ser esquecido.um custo me lembrar por que aquilo não podia acontecer. Empurrei para longe o desejo e os sentimentos que ainda despertava em mim e cerrei o maxilar. deixando a ira vir e tomar conta de tudo... . completando: . nervosa.Mas eu pensei. você.O que ela está fazendo aqui? – Olhei furioso para Gabi.Pare..Eu disse quando eu não estivesse em casa! – Falei. .. mas a irmã se meteu na frente dela e esticou a mão para me conter. .levantando de um pulo. olhos arregalados para mim. Eva também se ergueu. Está certo.. ainda na frente de Eva. . Agora se acalme. muito puto.Você deixou. – Pediu Gabi. . Theo! . Eu entendi. vamos entrar. . bater nela? –Franzi o cenho. Fitava-me sem disfarçar a saudade. assim como uma dor que se espelhava em seu olhar. me dando conta da preocupação de Gabi e Joaquim.Não.Eu vou entrar. precisa se acalmar. o amor e a paixão. . por que não queria vê- . Mas Theo. e nossos olhares se encontraram..O que pensa que vou fazer. – Disse Eva. baixinho. Só me irritei mais. Mas não acreditei em nada daquilo. Então me olhou: . Eu dei um passo para o lado. Esperei. Gabi passou na . calado.la. dando uma ordem com meu olhar. ter dúvidas.Vou com você. longe de mim. com cuidado. só que desistiu. se voltando para ela e indo pegar Caio. .Dá licença. Mordeu o lábio inferior. saindo do caminho. ter pena ou desejo. pareceu prestes a dizer algo mais. – Disse Gabi. E ela obedeceu. Theo. Abaixou-se e. pegou Helena nos braços. frio. Eu só a queria fora da minha vida. Foi uma tortura apenas olhar enquanto saía de perto. Passou por mim e seguiu em frente. mas senti seu cheiro e todo meu corpo reagiu. fitando meus olhos. A fúria ferveu dentro de mim ao vê-la com nossa filha nos braços. com a vontade que senti de tocá-las. E então Eva se aproximou. como se estivesse prestes a agir se fosse necessário. cautelosa. Nem ao menos pisquei.minha frente. Talvez fosse imaginação minha. Joaquim continuou perto. mas permaneci imóvel. subia os degraus . – E minha voz saiu mais cansada do que eu gostaria. . .da varanda e entrava na casa após Gabi. Gabi não fez por mal.Aonde você vai? . Sabendo que não poderia ficar ali sem cometer alguma loucura. Joaquim ainda indagou: . caminhei pelo mesmo lado que tinha vindo. .Irmão.Ficar longe disso tudo. O segurança que estivera ali o tempo todo as seguiu. – Disse Joaquim.Eu sei. ora! Quanto tempo. Eu apenas a olhei. sumido. . Abigail me viu do bar e ela mesma veio até mim. Franziu o cenho e veio mais perto.Escurecia quando cheguei à cidade e fui direto ao Falconetes. Escolhi uma do canto e sentei. Como era sábado. mas ainda com várias mesas vazias. . mas foi o suficiente para ver que havia algo errado. já estava enchendo.Ora. sorrindo ao parar perto. Theo.. mas. bem sério..Tudo vai se resolver. – Pode trazer um uísque para mim? . o que houve? Por que está tão abatido? . vi os seguranças pela cidade.E Eva e sua filha? . – Recostei-me na cadeira..Nada. Como assim. mas. . É sério assim? . .Sim.Seus irmãos estão bem? .. nada? Soube que andam com problemas com ladrões de gado e ameaças..Claro. Abigail. mas vão passar.Só me trazer uma bebida mesmo. . Logo uma . . Mas se precisar de alguma coisa. .Certo. Vou mandar uma das meninas trazer. Desconversei: . diga. Mas se afastou. Theo. Estou ali no balcão.Se eu puder fazer alguma coisa.Eu não queria falar. ainda preocupada.Pode deixar.Estão todos bem. . São só problemas. mas sentia sua preocupação genuína. Ela acenou com a cabeça. olhando para frente sem ver. . falei secamente: . Rosnei alguma coisa e nem vi quem eram.garçonete trouxe um copo de uísque com gelo e. por ter tanto poder sobre mim apesar de tudo.Pode trazer outro. Algumas pessoas passaram perto e me cumprimentaram. mal o depositou na mesa. Tive um ódio mortal de mim mesmo por não conseguir me livrar dela. a imagem de Eva tomando toda minha mente.Sim. Tomei a bebida em duas goladas. E sem gelo. senhor. . sem capacidade de pensar.Bebi todo o uísque do segundo copo e pedi mais uma dose. da minha falta de coragem de arrancar Eva da minha casa e jogá-la na cadeia. dopado. Era bom ficar dormente. Ela não merecia minha preocupação. Então. eu já . Depois outra. Eu tinha muito ódio da minha fraqueza. por que eu não agia? Por que era mãe da minha filha? Por que no fundo eu não podia imaginá-la em uma prisão? No quinto copo do uísque. Devia estar só esperando a primeira oportunidade para me apunhalar pelas costas de novo. Abigail voltou à mesa e se sentou ao meu lado. Mas o alívio ao meu tormento não vinha.Meu amigo. – Terminei o conteúdo do copo. sob a manga da camisa dobrada até o cotovelo.Está tudo. menos bem. – Estendeu a mão e acariciou os pelos em meu antebraço. – Sabe que pode . A dor latejava dentro de mim.Estou bem. . Theo.me sentia alterado e meio tonto. preocupada. não acha que já bebeu demais? Como vai voltar dirigindo assim? . . se divertiam. Abigail. cansado. O que está deixando você assim? Eu a olhei.confiar em mim. Uma música tocava. . – Foi só uma palavra.Fui traído.Eva. As pessoas passavam. Arrasado. Mas eu me sentia sozinho. . Como? – Olhava-me atentamente. mas doeu demais. Falei baixo: . falavam alto. Ela franziu o cenho e negou com a cabeça. sua mão repousada sobre meu braço. É irmã de Gabi.Lembra de Pablo Amaro? .Não é possível. para se vingar por que acha que meu pai matou seu avô e conseguiu as terras deles ilegalmente. Não tendo um homem como você. – Falei baixo.. .É neta dele. .Não foi sexualmente.Claro. . . Ao menos.Mas. acho que não. – Concordou.. filha de Luiza Amaro. Junto com a mãe e a avó armou de se aproximar de mim. Ela não seria tão burra. .. . .Mas como. Como pode isso? . Sabia que não contaria a ninguém. Encarei-a. ..Eva me enganou desde o início. Brinquei com o copo vazio sobre a mesa.. já que a bebida só serviu para me deixar tonto.. Mas mesmo assim havia certa vergonha dentro de mim em comentar o quanto fui enganado..realmente cansado. – Ela estava surpresa. Apenas queria algum alívio. éramos amigos há muitos anos e eu a conhecia.Meu Deus. mas o que ela esperava conseguir? As terras de volta? . Você podia ter morrido! – Exclamou furiosa. afinal.Possivelmente. E tivemos uma filha. E mais ainda . Lembra que foi ela que me encontrou na favela? Tudo armado. . .Forjou documentos falsos.Eu sei. teria validade se não fosse descoberta. .Isso é sério demais. E muito mais. Sairia lucrando muito com um divórcio.Theo. Participou daquele atentado em que tomei o tiro. mesmo com documento falso. sempre desconfiei dela. . Agora entendo por que! Nem sei mais o que dizer. Ainda mais quando Dalila disse que ela vinha para causar destruição e por ela você sujaria as mãos de sangue.com minha morte. Sorri. . . sem um pingo de vontade.Que coisa! Por essa eu não esperava.Não diga isso! – Fitou-me. . horrorizada.É a verdade. Sabe Theo. Eu também não. Recostei-me na cadeira e tirei os braços da mesa. só queria um lugar para deitar e apagar. Estava morto. Franziu o cenho. como se .Entendo.E agora? O que vai fazer? .Sim.Estamos tentando pegar a mãe e o comparsa dela.fazendo-a me soltar. . Pensei em pedir mais uma dose. poderei decidir o que fazer com Eva. Por enquanto. está sendo vigiada em casa. Então. mas então não teria condições de voltar para casa. Elas tinham um comparsa? . . sentindo-me gelar por dentro.lembrasse de algo. . foi quando as Espetaculosas se apresentaram.Que homem? Abigail olhou-me na dúvida. .Agora sei quem era aquele homem que falou com Eva aqui! Eu a olhei na hora.Teve uma noite que vocês vieram aqui.Que homem? . mas insisti: . Eva estava na fila do banheiro e vi quando um homem alto encostou nela e deixou . Foi como descer um véu vermelho sobre meus olhos. eu perguntei quem era o homem e o que tinha dado a ela.Por que não me contou? – Perguntei. como armar mais contra mim ou ser amante de Lauro Alves. negou tudo. O ódio me envolveu por inteiro. furioso. ao imaginar que além de tudo ela tivesse feito coisas piores.algo em sua mão. Ficou nervosa. Parecia um bilhete. Mas sei o que vi. Ela entrou correndo no banheiro e quando saiu. . Ao mesmo tempo veio a vergonha. . não fiz por mal. – Rosnei. rasgando-me por dentro.. minha visão meio confusa. o que eu poderia dizer? Eu não tinha certeza de nada! E além disso. nervosa.. Eu só. – Entenda. . por um fio não . Peguei várias notas de dinheiro e larguei sobre a mesa. Eu me levantei e tirei a carteira do bolso de trás.. . – Abigail se levantou também.Theo. sei lá. já fomos amantes.. Você podia pensar que era mentira minha para separar vocês.Deixa isso pra lá. preocupada. – Disse..Theo. Abigail.me descontrolando totalmente. suplicando baixinho: . . Correu atrás de mim.Eu te levo em casa. – Disse tão friamente que ela estacou.Me deixe em paz. Não está em condições de dirigir.. .. Eu dei as costas a ela e caminhei duramente até a saída.Escute o que estou falando. . vendo o carro dos seguranças me seguir. E eu segui. eu. – Preciso ir. até deixar o Falconetes. Entrei em meu carro e acelerei para longe dali. A casa estava vazia e calculei que meus irmãos tivessem saído. fervendo de mágoa e ódio. Larguei o carro na frente de casa e saí. sabendo que não tinha mesmo condições de dirigir. Ele me cumprimentou. mas nem sei se . fora de mim.Diminuí a velocidade e me concentrei. Ou eu não responderia por mim. Não quis saber. Aquela desgraçada ia me contar tudo. Vi o segurança na porta do quarto de Eva. Nem sei como cheguei à fazenda. sentado em uma cadeira. Subi os degraus e cheguei ao corredor. furioso. respondi.)The scars of your love remind me of us They keep me thinking that we almost had it all The scars of your love they leave me breathless . Agarrei a maçaneta e abri a porta. irado... Eu estava cego. “(. tudo parecia tranquilo e em paz. O quarto estava vazio. pronto a arrasar tudo. Olhei em volta e vi Helena dormindo em seu berço. surdo. mas eu sentia que dentro de mim tudo explodia e crescia como um terremoto. Uma música suave tocava ao fundo. fechando-a atrás de mim. .)” (Adele....)As cicatrizes do teu amor me fazem lembrar de nós Me fazem pensar que nós tínhamos quase tudo As cicatrizes de seu amor me deixam sem fôlego Eu não posso deixar de sentir .I can't help feeling We could've had it all Rolling in the deep You had my heart inside of your hand And you play ed it To the beat(. Rolling in the deep – Rolando pelo precipício) “(. cabelos molhados.)” Andei até o centro do quarto quando Eva saiu do banheiro após o banho. apenas uma toalha branca em volta do corpo.. – Arquejou..Nós poderíamos ter tido tudo Nos amando profundamente Você teve meu coração na palma de sua mão E você brincou com ele De acordo a batida(.. Parou abruptamente a me ver e arregalou os olhos.. descalça.Theo. . Eu a fitei dentro dos olhos. pega desprevenida. . surpresa. – Estava pálida. de fazê-la confessar tudo. os punhos cerrados ao lado do corpo. emoções violentas me dominando. Minha vontade era de sacudi-la.Você foi amante dele? . . um pouco assustada.Lauro Alves. . é dele que estou falando. .Não sei do que está falando.imóvel. . .Responda! – Dei um passo à frente.O quê? – Não entendeu nada. porra! – Sacudi-a e ela gemeu. . assustada. mentirosa! – Parei à sua frente. sem poder me controlar. . olhos desesperados e suplicantes. – Eu estava lá e ele veio perto. meu ódio deixando-me irracional.. me entregou um bilhete. – Vim agora do Falconetes e Abigail me falou do encontro que teve com ele lá. . fora de mim. meu nariz quase colado ao dela.Não foi encontro! – Eva tremia.Você é uma falsa. .Fale tudo.. Agarrei seu braço e a puxei. muito perto de mim..Eu já disse que. O que tinha no bilhete? – Exigi.. . tão irado que meu coração batia enlouquecido. fugia dela. eu estava a ponto de perder totalmente a cabeça.Não é isso que está pensando! Pare.Era da minha mãe. tudo mais descontrolado pelo álcool que corria em minhas veias. Você está bêbado! . me entregar o bilhete. não atendia seus telefonemas e ela mandou Lauro atrás de mim. sacudindo-a. Theo! Está me machucando. Eu a evitava. agarrando seu outro braço. . Mentira! . ia contar tudo pra você. não é? – Eu a sacudi de novo. prestes a chorar. Eva? Me matar? Pular na cama dele tão logo saísse da minha e rir pelo babaca que eu era? . irado. – Ela dizia que se não entrasse em contato..Não foi só isso! Vocês marcavam algo pelas minhas costas! O que era. olhando-me como em súplica. Theo! . Foi só isso.Foi fácil me enganar.Não! .Verdade! – Gritou. . foi sempre só você. – Muito mais fácil do que vocês pensaram.Não me chame assim. . depois eu me apaixonei por você e tentei largar tudo. foi só no início que participei de tudo. mas não conseguia. sair dali.enlouquecido de ciúme e raiva.. eu nunca deixei Lauro ou outro homem tocar em mim. desgraçada. Eu devia largá-la.Não. Theo. Acredite em mim. . meu amor. E mesmo em meio à minha fúria eu sentia seu cheiro.. de desespero. sua . sua presença que me invadia como diversas apunhaladas ao mesmo tempo.pele sob meus dedos. implorante. Não conseguia tirar meus olhos e minhas mãos dela. olhando em meus olhos. Só você. – E em meio ao medo e às lágrimas. .. dilacerado. obcecado. cheia de emoção que extravasava de dentro dela: .Mas é verdade.. sempre você. Theo.Eu te amo. com uma voz baixa.. não conseguia parar de sofrer e de saber se me traiu além do que eu ainda podia suportar. Eva se colou a mim. . disse perto do meu queixo.. os seios muito redondos e cheios. sua beleza sendo um golpe cruel demais para suportar. seus olhos tão cheios de amor e soube que estava . A toalha em seu corpo se soltou e caiu a seus pés e fiquei imobilizado ao vê-la completamente nua na minha frente. pois eu não tinha mais limites. mas foi meu fim. ainda mais linda do que era antes da gravidez. suas formas mais curvilíneas e femininas.Tentei afastá-la do meu corpo com força. Fitei seus lábios carnudos e trêmulos. Perdi o ar e a razão. desvairado. com o corpo e a alma em combustão. excitado a ponto de gemer de dor. arquejando como um animal enlouquecido. duro e fora de mim. Empurrei-a contra a parede com brusquidão. E não pude mais lutar. alucinado.perdido. em um . agarrando seu rosto entre as mãos. que me deixou doido. encurralando-a brutalmente. Deixei de pensar. um desejo que martelava e consumia tudo em sua voracidade. só paixão e perdição. colando-me todo nela. fui só instinto e sentimento. Gemi com uma dor que era quase física. com um desejo que ultrapassava qualquer razão. Agarrou-me com igual desespero. Fechei os olhos e foi como viver pela primeira vez em muito tempo. Eva não fugiu. choramingou. quando seus lábios se abriram sob os meus e meti minha língua em sua boca. Quase chorei. querendo ter mais dela do que era . a comi com a boca e a alma. moveu loucamente a dela. tamanho meu descontrole. E eu a beijei de volta. esfomeado. sugou minha língua.delírio que me fez buscar sua boca com a minha. beijou-me alucinada. gemeu. do meu corpo. da minha essência.humanamente possível. seus mamilos roçando minhas palmas. sua textura única me desvairando. Beijei-a tanto que não sabia mais qual boca era a minha. cada polegada dela feita para mim. pois já fazia parte de mim. Rosnei insano quando toquei seus seios e os enchi nas mãos. cada parte minha entregue naquele beijo. desci as mãos por sua pele. Gememos e tomamos tudo um do outro. Respirei seu cheiro. . pois nada parecia o bastante para aplacar minha necessidade. engoli seu gosto. Senti suas mãos em mim também. puxando minha camisa. sem controle. tomei seus beijos. suas curvas. alienado de tudo que não fosse Eva e aquela paixão.Tornei-me mais voraz. . esfreguei meu pau completamente duro na junção de suas pernas e tudo dentro de mim rodou. indo em meus cabelos. agarrando-me. alucinadamente. Muito. tocando-me com sofreguidão. ouvi seus gemidos. Eu precisava dela. demais. em uma necessidade única dela. Percorri sua carne. aquele amor sem limites do qual eu não conseguia viver sem. encontrando seus lábios vaginais inchados e completamente molhados.Agarrei seu cabelo e puxei com força. sentindo . descendo a boca por seu queixo até abocanhá-la no pescoço. em mordidas fortes e chupadas firmes.. Rosnei e a mordi de novo..Porra. minha outra mão descendo por sua barriga. Porra.. penetrando seus pelos. tremer loucamente enquanto eu metia meu dedo dentro dela e fechava os olhos. expondo sua garganta. fazendo-a gritar e me agarrar.. . saboreando sua pele. . Tanto.. – Suplicava. com voz chorosa: Me faça sua. fechando minha mão em sua garganta. Theo. tentava abrir minha calça.. que saudade! Eu ergui a cabeça e fitei seus olhos.. pressionando meu pau em sua coxa.. pedia por mais. delirando em meu desejo. Meu amor.Theo. alguma força ..... Preciso tanto de você. ..sua maciez. mal conseguindo ter ar suficiente para respirar. chupando meus dedos para dentro da sua boceta. dizendo fora de si. E se movia contra minha mão entre as suas pernas. eu me via a ponto de morrer se não estivesse dentro dela. Mas o álcool e a paixão avassaladora que eu sentia por ela me confundiam e dominavam.dentro de mim me mandando parar. penetrando dois dedos fundo em sua boceta. minavam minhas forças. querendo fazer a razão voltar.. sua carne encharcada em volta dos meus dedos era tudo que eu conseguia sentir.. – . . desesperado por mais....Você é minha. mantendo-a contra a parede e meu corpo..Toda sua. Sempre. . – Rosnei. Eva me agarrava e descia a mão até meu pau completamente ereto..Mentirosa. os lábios tremiam. minha razão querendo me lembrar quem ela era e o que tinha feito comigo.. Theo. – Vem pra mim. desvairado. minha força vital dizendo-me para continuar. dividido. suplicando.Lágrimas desciam por seus olhos. .. . pois eu não suportava mais ficar longe dela. Eu te amo tanto! Respirei fundo. Eu te amo. corpo e mente lutando.. Não. sua maldita? . como se tivessem dois homens igualmente fortes lutando dentro de mim. Não é fingimento.Como pode fingir tanta paixão? Como pode me olhar com amor e me apunhalar pelas costas.. Me .. mas a mantive imobilizada pelo pescoço. fitando-a bem nos olhos. Parei com os dedos dentro dela e falei perto de sua boca..Não. enquanto eu arfava e lutava comigo mesmo. dizendo com uma ponta de desespero: . – Chorou e quis me beijar. saboreando meus lábios. chorando. em uma necessidade que era minha perdição. Quando abriu minha calça e puxou meu pau para fora. perdido em meu amor.deixe provar.. E me beijou na boca com loucura e sentimento. Lutei. buscando minha língua. independente de tudo. Foi naquele momento que Helena acordou. Não consegui resisti. mas a beijei de volta. eu soube que tinha que estar dentro dela. movendo a boceta cremosa e gulosa contra meus dedos.. Berrou alto e forte. . Eu sentia a razão vir gelada. Ela me agarrou. . .nos fez parar colados e com as bocas e línguas unidas. Mas os berros da minha filha foram como um alarme. Puxei os dedos de dentro dela e apoiei as duas mãos espalmadas na parede. em pânico. a ponto de transar. lutando contra a quentura do corpo.. buscando ar. não me deixe. Eva tremia sem controle. Afastei a boca e fitei os olhos de Eva. Helena gritou mais alto. Eu abri os olhos e arquejei.Não.. meu rosto e meu queixo de beijos.Eu te amo mais do que tudo. eu teria me dado a ela todo. suplicou entre lágrimas: . Faça o que quiser comigo. Sabia que ela quase me venceu. agir.... me deixe provar. Se não fosse Helena acordar. mesmo depois de tudo que me fez. agoniado. mas não me deixe.. mesmo sabendo que poderia estar .tentando pensar. Theo. Tudo girava dentro de mim. me castigue pelo resto da vida. Eu fechei os olhos. Eva me abraçou pela cintura. encheu meu peito. Acha que posso perdoar sua traição? Sem confiança.Mas eu. principalmente comigo mesmo. com a minha fraqueza. Minha filha continuou gritando e foi aquilo que me deu forças. Foder você. mantendo-a longe de mim enquanto a olhava furioso.Acabou..armando ainda para me destruir por completo. . .. Eva. encostandoa contra a parede. Abri os olhos e agarrei seus braços. só isso.Eu ia te comer. . não temos mais . Não. ..Não. . como se estivesse segurando uma leprosa...Theo. chorando. Veio para me abraçar. Eva sacudiu a cabeça. porra! Não me faça perder a cabeça! . Não quero mais nada de você além de distância.nada. implorando: .Por favor. mas nem isso eu quero. Eu a soltei. mas falei brutalmente: .. Talvez sexo. Foi difícil falar com tanta frieza quando eu ardia. quando eu sabia que não podia mais. E precisava sair dali.Eu amo você e não é mentira! Eu amo você. como se mil demônios me perseguissem. com ódio por querer tanto acreditar e ficar.Helena se esgoelava de tanto chorar. Ela tinha feito um trabalho completo. batendo a porta atrás de mim. mas percebi que eu tremia. Mas saí. acabou com minha . ficar o quanto antes longe de Eva. Theo! Eva gritou. não teria condições. Dei-lhe as costas e caminhei decidido até a porta. . Quis pegá-la. confiança. . minha capacidade de perdoar. O homem que saiu daquele quarto estava vazio. oco. mais arrasado do que já esteve um dia. . recostada na cabeceira.CAPÍTULO 8 EVA .Eva. Estava sentada na poltrona com Caio adormecido no colo. quando veio bater um papo comigo no quarto. enquanto eu estava na cama. após o almoço. o que você tem? – Perguntou Gabi no domingo. Aquilo não saía da minha cabeça. desejando-o tanto que meu . ainda sem poder acreditar que. deitada sobre uma manta ao meu lado. chorando por seu perdão. apesar de tudo. estávamos juntas. . mas quietinha. Quase não dormi aquela noite. almejando por ele.Ontem Theo veio aqui. – Falei baixo. Eu olhei para minha irmã.com meu dedo agarrado por Helena. Não sei como passaria tudo aquilo se não tivesse o apoio e a companhia dela e de Tia. acordada. parecia mal humorado.Continua nervoso hoje. – Gabi me olhava.. pensativa. . estava muito nervoso.Não. Ninguém nem ousou se meter com ele.. – Desceu só para o almoço e com uma cara! Não falou quase nada. ele.corpo parecia entrar em combustão. de desejos não satisfeitos. . E o tempo todo eu revia aqueles momentos. E tinha bebido. de loucura e desvario. Era uma mistura de paixão e amor. .Veio? Mas conversou com você? . Theo tinha ido ao Falconetes e Abigail contou a ele uma vez que fui lá e viu Lauro me passar um bilhete. Tinha dito a ela que estava fora dessa vingança e me ameaçava: se eu não a procurasse. contaria tudo ao Theo. Gabi. o que aconteceu? .Mas me conta. Ela franziu o cenho. Eu juro. Continuei. Aposto que foi de propósito. foi da minha mãe. cheia de angústia: . horrorizada. ela nunca negou que é louca .Abigail viu e agora contou tudo para o Theo. furiosa por que eu a evitava e não entrava em contato. .Ele ficou com ciúmes. olhando-a suplicando para que acreditasse em mim: . desviando o olhar. Foi bruto. sem poder esquecer aquilo. – Fechei os olhos por um momento. Murmurei: . nervosa. Theo foi meu único amante. – Eu respirei fundo. – Por um ... Já tinha bebido e entrou aqui me acusando de ser amante de Lauro. E aí ele ficou uma fera.Isso nunca aconteceu.por ele. mas me beijou.Não. machucou você? Eu corei. sacudindo a cabeça. Mas. Eva. aos poucos vai voltar. se acreditar que tinha desistido da vingança. Para ele vai ser difícil perdoar. Theo está tão furioso exatamente por que ama você como nunca amou mulher nenhuma. Eu abri os olhos e a fitei.Vai ter que ser paciente. . Mas é claro.momento.. Ele não aceita traição. .Eva.. mas se entender que o ama de verdade. Que voltaria para mim. não é tão fácil assim. Gabi disse com carinho: . pensei que me perdoaria. Pensei o que diria se soubesse que a violência era uma velha companheira do seu irmão. Gabi também ficou em silêncio. Talvez soubesse mesmo e era isso que a preocupava.Acho que não. Acenei com a cabeça e fiquei quieta. Eu acabei sorrindo por seu ar protetor. . foi sério demais..Foi. Mas vamos deixar o tempo correr. Se fizer isso. me fale. Gabi. Por fim me olhou e indagou baixinho: . Só não permita que ele a machuque. apesar de tudo. Eva. . sim.Como elas eram? . – Corrigi. Meu lugar é aqui.Nossa.À maneira delas. Deu de ombros e comentou: . não são minha família.Elas? . Mas não me deixaram sem escola e nem passar fome. Nunca foram de muito carinho. Como foi criada? Contou superficialmente.Pra mim. . . mas o que quero saber é se cuidaram de você. Mas fico curiosa.. apesar de ser prostituta. Minha mãe.Sua avó e sua mãe. E elas nunca teriam deixado você aqui. Acho que nunca foram felizes. .Não consigo entender isso. Penso que se não fosse essa obsessão. teríamos sido muito felizes. a espera pelo momento certo de agir.. me ajudava com os deveres. Gabi. o ódio. Mas sabe.nunca deixou que seus clientes me vissem ou tocassem em mim. . Era sempre a vingança.. É muito louco! Abandonar uma filha na casa do inimigo para no futuro usá-la. Minha avó era mais presente. conversava comigo. nunca se livraram do passado. – Concordei.Será que acharam que isso daria certo? . De qualquer forma. minha mãe disse que estávamos na rua e passando fome.Que mãe é essa. não dá mesmo para entender. Mas na época. – Minha avó foi contra. Meu Deus! Era um horror mesmo e ali eu me . Acho que ela contava com o fato de você não ser bem tratada e aceitar se voltar contra eles no futuro. Eva? Deixar uma filha com os inimigos esperando que ela seja maltratada para ser usada depois como arma.Também não entendo. . Mas para todos os efeitos.. jogandoa na cama de um homem mais velho e. – Como sei também das qualidades dele. . sei das coisas que gosta. Gabi. sabendo que fomos usadas.Sim. de que minha mãe devia ser mesmo louca.Verdade. E ela nem se importou! . .. eu vi as fotos de Theo naquele clube. Ficamos ambas pensativas.dava conta. imperdoável. mais do que nunca. Como peças . sem graça.E o que fez com você. podia machucar muito você. – Ficou vermelha. tentando encontrar Luiza e Lauro antes que façam alguma coisa. Além disso. Mas estamos ligados. – Não tem mais nada a perder. .Também acho.Fico com medo do que ela será capaz. Como também não deu com Micah. fitando minha irmã. em volta da casa e cada um de nós tem seguranças em nosso encalço quando saímos daqui. a polícia e Micah estão investigando. . E sei que não vai desistir. Theo aumentou a segurança na fazenda. – Murmurei. .de uma jogada e nenhuma deu certo. Gabi. – Gabi sorriu para mim.Vai dar tudo certo.Tem. Mas eu tomaria todo cuidado possível para que nem chegasse perto dela. protegida. Suspirei. mas era coisa demais acontecendo e ao mesmo tempo. Eu queria acreditar. . Sabia que podia ser alvo da minha mãe. . fique tranquila. mais aliviada. nunca. Olhei para minha filha e dei graças a Deus por ela estar ali dentro.E Theo? Ele está tomando cuidado? Tem segurança? .. – Você vai ver. mas um tanto triste. Depois de passar um dia massacrante.Sorri de volta. não suportava mais a minha própria companhia. Theo na minha mente e no meu coração. Nem os olhares . em que meus sentimentos e pensamentos só me perturbaram. Ele não saía nunca de lá. THEO Eu acabei parando de novo no Falconetes naquele início de noite de domingo. só ficar em paz. entrei e sentei em volta de uma mesa. Várias pessoas me olharam e cumprimentaram. ter babá. coisa que estava sendo difícil nos últimos tempos.preocupados de todo mundo em casa. Acenei com a cabeça. . Vi quando um dos seguranças ficou em um canto. sem querer conversa. Odiava que tivessem pena de mim. o outro tendo permanecido no carro. Também odiava aquilo. Até meu pai parecia desconfiado e me perguntou mais de uma vez o que estava acontecendo. Como na noite anterior. que me sufocavam. – Peguei o copo e tomei . Fiz mal? . Depositou o copo na minha frente. Depois encheu uma tulipa com chope e saiu detrás do balcão. que marcava sua cintura fina e seus quadris redondos. que é bem mais fraca do que os destilados. Abigail me viu e sorriu. vindo até mim rebolando em um colado vestido vermelho.Mas sabia que era um mal necessário.Não. dizendo: . Usava um marcante batom vermelho. então trouxe cerveja.Sabia que ia pedir uma bebida. Sinal de que todo mundo gosta e se preocupa com você.Está tudo certo. . .Posso sentar? – Ela me observava. Acomodou-se à minha frente e cruzou as mãos sobre a mesa.Com essa cara? .Está tudo bem? . . . Theo.Claro. atenta: .Estou cansado de todo mundo me perguntar isso. Saiu daqui ontem nervoso. .um gole. fiquei preocupada. Tomei mais chope. – A cara de mau mais bonita que já vi. pois eu era assim naturalmente. . Era assim . um fraco. – Abigail sorriu. lembrando que ela costumava brincar dizendo que eu tinha a cara de mau mais linda do mundo. Agora eu era um machão fodido. Também dizia que nunca conheceu machão maior que eu e que adorava. traído..É a única que tenho.Sim. Acabei relaxando um pouco mais. minha irritação diminuindo. enganado. Não tem outra igual no mundo. Quer que o deixe em paz? Eu olhei dentro dos seus olhos castanhos bem maquiados.que eu me sentia por não conseguir me livrar daquele sofrimento. .Não.Quer conversar? . do modo como Abigail sempre foi receptiva a mim e . nem de Eva.Quer comer alguma coisa? . da obsessão que eu tinha por ela. Ela se mexeu na cadeira.Não. . Lembrei das tantas vezes que transamos e conversamos na cama. . por isso a deixei. mas era a mim que queria. Não havia segredos nem mentiras entre nós. Abigail nunca me trairia. sempre soube disso e nunca disfarçou. Eu abri mão do sexo por sua amizade. Ela me conhecia e me amava. Casou duas vezes. analisei-a como fazia no passado. naquele momento.não se assustava com meu jeito bruto. no desejo . Mas ali. como uma amante. foi a única a ser realmente minha amiga e me conhecer a fundo. Pensei em Eva. Mas de todas as mulheres que tive. Nunca quis usá-la. .Não sou casado. nervosa. . Ter mais controle ou acabaria fazendo uma besteira.. Por isso fui bem sincero: . Por um momento ficou sem ação. Vai ser . surpresa com minha pergunta direta e dura. na beira do precipício. perturbada. . Eu precisava me livrar daquilo. Nunca a enganei e não começaria a fazer agora.Sim? .Abigail.avassalador que despertava em mim. que me deixava no limite.Quer transar comigo? Ela corou. .. .Não pensou em ir ao clube? . .Sei disso.Por que é minha amiga. o que preciso.anulado. será apenas uma transa entre amigos.. E quero esquecer aquela mulher que está na minha casa e é a mãe da minha filha. tem anos que não. . – .Mas então. não temos nada. . por que eu? – Foi sincera também. Vai me dar o que quero. Sinto falta de sexo.Theo.Pensei. Não vamos ter um relacionamento. perto. .Não quero te magoar. . solteira. desde que pus meus olhos em você pela primeira vez. eu não o quis. ocupando cada espaço. tentando conter a emoção. sempre foi você dentro de mim. É sempre muito . – Mas entendo se não quiser. Mas nunca deixei de desejar você. Ela deu uma risada. Sei que não me ama.Não vai. Theo? Casada.Terminei a cerveja e deixei o copo vazio sobre a mesa. . fitando meus olhos. já aceitei isso. longe.Se eu não quiser? E quando. Abigail. enquanto eu a fechava . Eu desejava ir para casa. onde havia uma porta. Eu sim. vacilei. Por que eu só pensava em Eva. – Levantou-se. – Minha irmã cuida de tudo por aqui. no fundo. Vamos? Ela nem ao menos vacilou em sua decisão. jogar Eva na cama e estar dentro dela. E por que. Por vários motivos. eu não queria. Levantei. Por que eu só a usaria e ela merecia mais do que aquilo. Abigail caminhou para a lateral que dava para os fundos do bar. Abriu-a e seguiu por um corredor.sincero. Abigail parou ao lado da cama e . com cortinas cor de vinho. Chegamos a uma outra porta e ela destrancou-a. Subiu um lance de escadas e olhei para o movimento ondulante dos seus quadris. O desejo não veio. mantas corais sobre a cama imensa. que espelhava seu gosto quente e sensual. Mas continuei em frente.atrás de mim. Eu já tinha estado ali muitas vezes e o conhecia bem. Segui-a em silêncio até sua enorme suíte. tapetes vermelhos. Era o apartamento dela e de Dalila no andar de cima do bar. E meu corpo precisava de alívio. seus seios fartos subindo e descendo arfantes.se virou para mim. Nada de . Quis sentir uma parte daquele desejo. Levei as mãos à minha camisa branca e a puxei de dentro da calça jeans. o desejo espelhado em seus traços.Quero uma bebida. ansiosa. sem nem mesmo me masturbar. por que eu nunca dispensava sexo. Era mais de um mês sem transar. Mas continuei frio e isso me desesperou. Comecei a desabotoá-la e disse secamente: . . os olhos nos dela.O que mais você ordena. Caminhou até um pequeno bar no canto do quarto e serviu dois copos de uísque com gelo. Puxou-me para a cama e murmurou: . Uísque. estendendo-me um. como se entendesse como eu me sentia. submissa. Senhor Falcão? Aquilo não mexeu comigo. Tomei minha bebida e Abigail segurou minha mão.cerveja. Voltou e parou à minha frente. Murmurou: . – Disse. com a camisa aberta. Theo.Você manda. bebericando o outro. Fiquei parado. Então parou entre as minhas pernas e enfiou os dedos em meus cabelos. da maneira que você quisesse. terminando o uísque todo. Vou cuidar de você.Sabe o quanto sonhei com isso? A cada vez que eu via você. Nem que fosse para me tratar como se fosse só . Eu fui. ser sua..Não se preocupe. Empurrou-me para a cama e sentei na beira. murmurando: . eu desejava poder te tocar de novo. Segurou meu copo e o dela e os deixou sobre a mesinha de cabeceira. mas não desistiu com minha frieza. Foi abaixando-se. Eu fiquei imóvel. as mãos segurando firme a beira do colchão. Eu travei. com . afastando o tecido para os lados. Esfregou a boca na minha. até que descia aos meus lábios. mas eu virei de leve o rosto. sem vontade de beijá-la. meu pescoço. beijando minha barba. caindo de joelhos no chão e lambendo minha barriga. minha camisa e peito.mais uma. Sôfrega. espalhou beijos em meu rosto. Parou um pouco. Que saudades! Vou adorar você com minha boca e meu corpo. Quando baixou a cueca. ela abriu minha calça e desceu o zíper. Não estava ereto. E poderá . viu o que eu já sabia. Excitada. Tentei me concentrar e olhei o que Abigail fazia.ódio de mim mesmo por não reagir. sabendo que era experiente e conhecia meu corpo. murmurando: . sabia como eu gostava de ser beijado e tocado. agarrou meu pau com as duas mãos e ergueu os olhos para mim. Mesmo assim. nem sua boca que eu queria no meu . E sem esperar. quase desesperada. me usar sem dó.fazer tudo comigo. Poderá me comer onde quiser. ser duro e feroz. me amarrar e usar seu cinto em mim. bater na minha cara. Não era ela que eu queria ali. Fitei seus cabelos castanhos e a angústia corroeu minhas entranhas. Tentei me concentrar no que disse. mas aquilo parecia errado. Senhor. desceu a boca até meu pau e começou a me chupar esfomeada. me excitar. não era seu cheiro que inflamava minhas narinas. Por que ela acabou comigo para as outras mulheres. Nervoso. fora de mim. abri os olhos e agarrei . Fechei os olhos e fui invadido pela imagem de Eva na noite anterior. perdido. soubesse o ponto exato de me deixar doido. E senti uma dor absurda me golpear. aquilo não aconteceu. nos meus braços. nua.corpo. E por mais que fosse experiente. tivesse os lábios firmes e molhados. implorando por mim. ela me destruiu até naquilo. Eu estava alucinado. pois era só nela que eu conseguia pensar. Puxei-a para longe e me levantei. você vai gostar. – Abigail. acariciando-me... Na hora.. Eu a ergui e se colou a mim. – Eu a segurei pelos braços e senti o coração apertar quando vi seu desespero.Não. Senhor! Permita que eu. ela agarrou minhas pernas. .os cabelos de Abigail. Éramos dois desesperados. sei que vai. roçando-se em meu ..Espere. . suplicou: .Vou te dar prazer. as lágrimas em seus olhos. É um erro. .Eu não consigo.Não é! Posso ajudar você a esquecer aquela traidora! Ela não te merece. eu sou louca por você! Se o que precisa é de violência. Segurei-a firme e a afastei de mim. estou perturbado demais. Não devia ter vindo aqui. enfiando as mãos dentro da minha camisa. buscando minha pele. olhando seus olhos. eu fico de quatro na cama. . deixo me surrar! . Vai destruir você! – Estava praticamente histérica.corpo. . Theo.Theo. Só preciso de um .Você é tudo! É o sonho de qualquer mulher! É o homem mais maravilhoso desse mundo. – Tentei falar com calma.. nem para mim mesmo. sério. seus olhos apaixonados e implorantes. Não sou mais nada. me deixe cuidar de você.Essa garota não é nada. . – Não sou boa companhia para ninguém.Abigail. fitando-a profundamente. Olhe pra mim. Theo! Nada! Eu estou aqui. – Estremeceu. sua voz cheia de emoção: .Ela já me destruiu. Abigail. . sua boca manchada do batom vermelho. . Por fim. – Respirou fundo. Para esquecer Eva e para poder me envolver com outra mulher. a dor e a decepção.Eu sei. – Mas se um dia. dei um passo para trás. Soltei-a.Entenda isso. . E me senti ainda pior por ter causado aquilo.Não queria magoar você. .. . Se quiser voltar. Vi a mágoa.Theo. Falei baixo: . pareceu se dar conta do que fazia e seus ombros caíram. fechei minha calça. estarei ..tempo. Mas agora não posso.. de tudo isso. Eu sempre deixei claro pra você que nunca te amei. te garanto que nem eu nem você estaríamos nessa situação. Theo. Siga a sua vida.esperando. . . Eu não posso oferecer mais nada a ninguém.Não me espere. Se a gente pudesse escolher quem amar. Procure alguém que te ame Abigail. Tudo o que tinha pra dar e que nunca pensei que daria a alguém. já foi dado. Tenho certeza que você ainda encontrará um homem e que você será a vida dele. .Minha vida é você. E enquanto eu dirigia de volta para casa. se a única mulher que me jogava naquele caos era a única que eu queria? Cheguei ao casarão repleto de ódio. Nem o que dizer. me sentindo pior do que lixo. tesão reprimido. mas como. Dei as costas a ela e saí de lá.Sempre vai ser. . necessidade. Fiquei mal. pensava como poderia viver naquela necessidade e naquele desespero. Precisava de algum alívio para meu desespero. mas não havia mais o que fazer. Aquela era a vida dela. Sorri para ela em meu colo. E tomei uma decisão. por isso ficava gordinha. logo depois de arrotar. EVA Passava das oito horas da noite e Helena tinha acabado de mamar e dormir. ninando-a lentamente ao som da música de Adele .sofrimento. caminhando devagar para colocá-la no berço. cada vez mais corada. I see I know I'd never be me Without the security Of your loving arms Keeping me from harm Put your hand in my hand And we'll stand . o último filme do 007. “(.. I go What you see.que tocava vinda da televisão.. Eu adorava sua voz e aquela música era Skyfall. Como ficava muito tempo no quarto. desenvolvi um gosto especial por assistir aqueles clipes.)Where you go. . eu vou O que você vê..)Onde você vai.)” (Adele – Skyfall – O céu cai) “(. orgulhosos .. eu vejo Sei que nunca serei eu Sem a segurança De seus braços amorosos Me mantendo longe do perigo Coloque sua mão na minha E estaremos de pé Deixe o céu cair Quando desmoronar Estaremos de pé..Let the sky fall When it crumbles We will stand tall And face it all Together(. despenteado. Estava sério. para assistir os clipes e ficar remoendo meus pensamentos até dormir. ficando imobilizada ao ver Theo entrar.. a camisa branca aberta. Eu parei e olhei naquela direção. com os olhos ardendo. descalça. E foi naquele momento que a porta do quarto abriu. Estava cansada e me deitaria também..E iremos encarar a tudo Juntos(. . uma camisola fina de seda rosa cobrindo meu corpo.)” Dancei suavemente com Helena no colo. ficando trêmula e nervosa. percebi que sairia com ela e reagi. Pegou Helena dos meus braços e a segurou contra si. chocada.Fui engolfada por vários sentimentos e sensações. abalada. Parei. Paralisada.. o que. Deixou a porta aberta e caminhou decidido até mim.. . Quando me deu as costas. quando saiu e .. . Andei atrás dele.Fique aqui.Theo. não soube o que esperar. O que você vai.. pega de surpresa por sua entrada. E ele não disse nada. se estava tudo bem. Para onde levava nossa filha? Para passar um tempo com ele? Sempre era Tia quem vinha buscá-la.. Theo . mil coisas passando por minha mente. Torci as mãos. seu olhar. angustiada. Pensei em pegar o telefone e falar com Tia. perguntar se sabia de alguma coisa. nervosa. mas soube que o segurança lá fora me impediria. Fiquei parada. tensa. Minha primeira reação foi de correr atrás dele.bateu a porta atrás de si. Mas não demorou muito e a porta abriu de novo.. E o jeito que tinha entrado ali. .entrou.. reparando de novo na camisa aberta e amarrotada. abalada. Mas tentei não perder o foco e murmurei: .. nervosa. trancando-nos ali. girou a chave. eu o vi se aproximar. vi algo que me fez gelar e entendi sua aparência .O que. com raiva.Onde está Helena? . Imóvel.Está com a Tia. Para minha surpresa. Mordi o lábio. olhando-me bem sério. Quando chegou perto. excitada. muito viril. na sua aparência sensual e dura. O que é isso? – Apontei para a marca em sua camisa. . minha mão tremendo. Mas a mágoa e a raiva me impediram. golpeada tão duramente que quase me dobrei em duas e chorei. vermelha como sangue. . Foi . Havia uma marca de batom no colarinho da sua camisa. arrasada.Isso o que? – Theo se aproximou tanto que seu peito empurrou minha mão. todo meu corpo sendo acometido por uma tremedeira. furiosa.cheia de sensualidade. mas não me afastei. Ergui os olhos para ele. Aqui. – Eu me debati. – Traidor! .. – Forçou-me para trás. – Estava furioso também e segurou meus braços com firmeza.Isso! Essa marca de batom! . lutando contra as lágrimas e o desespero. avançando.. fazendo-me estremecer. alucinada de tanta dor. a bandida e traidora é você. Seus olhos azuis .Me larga! Seu bandido! Seu.como se o descontrole tomasse conta das minhas ações e fiquei tão fora de mim que agarrei sua camisa e a sacudi: . .Não é da sua conta. sem me soltar. Foi um golpe duro. até que me empurrou e caí deitada sobre a cama.Isso é problema meu. Só de imaginar Theo tocando.soltavam chispas. . apoiando-me nos cotovelos.Você transou com outra? – Arquejei. com muito mais que não pude entender. . surpresa. Ele me olhou de cima. eu quase . ferviam. em pânico. seus gestos frios entrando em choque com a raiva que emanava dos seus poros. beijando. Transo com quantas e com quem eu quiser. entrando em outra mulher. Ergui-me e avancei nele. – Avisou.morri.Agora vou transar com você. agarrava meus pulsos e me jogava com brutalidade na cama. olhando-me com uma raiva seca . com lágrimas toldando a minha visão. causar nele a mesma dor que acabava comigo. tudo se tornando demais para suportar.Desgraçado! – Berrei fora de mim. vindo dentro de mim como uma avalanche. arranhá-lo. mas antes que o machucasse. tirando de uma vez a camisa aberta. querendo machucá-lo. . Soltei um grito de raiva e lamento. . que fazia seus olhos parecerem duas brasas azuis. E ao final. não depois dele vir da cama de outra mulher. E berrei de novo. Mas não assim. mas Theo se ajoelhou na cama e veio em cima de mim enquanto eu me .Você vai ver.Não vai! Tire as mãos de mim! .Não! – Gritei. furiosa: . estará gemendo e gozando embaixo de mim como sempre faz. embora todo meu corpo reagisse e eu tivesse esperado ouvir aquilo.e contida. Virei para fugir. . Eu tentei escapar. Não quero! Me solta! . . . me deixar louco? – Disse feroz e gritei de novo quando puxou brutalmente minha calcinha e a rasgou. segurando-os firme apenas com uma das mãos sobre a cama. Eu senti seu corpo sobre o meu.debatia e chorava. sua desgraçada? Quer o que. agarrando meus pulsos e os erguendo.Pare! E mesmo em meio ao ódio. eu não era imune a ele.Não quer. a outra abrindo minhas pernas. musculoso e duro. à mágoa e à dor. seu pau longo e . . seu cheiro e seu hálito perto do meu. sempre que eu quiser.Pare. Eu não aguento mais! .grosso entre as pernas. Comecei a suplicar. Theo. na minha casa. Eu o quis e o desejei em igual intensidade em que o odiei. Vou usar seu corpo enquanto estiver aqui. me deixou . meu peito doeu.. Não é isso que você queria? Não foi para isso que me seduziu. e minha cabeça rodou. minha pele incendiou. seu olhar me consumindo.Você vai ser minha. Eva. chorando: . Sacudi a cabeça: .Mentirosa! – Irado.Quem é ela? Theo não respondeu. abriu a própria calça e segurou o membro ereto.Não! Eu te amei! Eu nunca me dei a outro! . olhando-me .cego. Gritei perto de sua boca: . me fez de palhaço? Seu tom cheio de raiva e mágoa me bombardeou e golpeou. Eu o senti contra os lábios vaginais e tive raiva do meu corpo traidor que latejou e implorou pelo dele. – Falou com ira. Até nisso me destruiu. Acabou comigo para as outras mulheres. inchado. grosso. torturada. acusadoramente e senti seu pau deslizar a ponto de entrar em mim. segurando-me firme enquanto esmagava meus seios com seu peito e me dominava com seu corpo. se acomodando sobre mim. mas só pensava em vir aqui e entrar em você. chorando dilacerada. .com desejo e fúria.Não tem ela. sua desgraçada. . quente e duro. – Abigail? .Quem? – Indaguei num fio de voz. – Eu tentei. E no meio de tantos sentimentos . por que é só isso que você merece! E me penetrou em uma investida funda e bruta. pingando de desejo e amor. Eu entendi e me arrasei. Eu exaltei quando soube que não transou com ninguém. arrasada. é isso que vou fazer. Sempre que eu quiser. angustiada. Eu ansiei e desejei. mas chorei pelo modo que falava comigo. Vir aqui e te comer. mas ao mesmo tempo me senti um nada. apenas usada.Então. aliviada. é você que vai me servir. Gritei. comendo-me duro e . tão cheia de sentimentos vorazes que me perdi em cada um deles.desconexos. arfante. seus olhos nos meus. Eu me quebrei em mil pedacinhos e gemi. carregada. sua respiração pesada se confundindo com a minha. Então soltou um gemido rouco e entrecortado e estocou dentro de mim. Fui ao êxtase puro e me abri molhada para receber seu pau todo em minha vagina. agonizante. Vi sua expressão mudar. de têlo dentro de mim. tudo se perdeu diante da imensidão de ser novamente dele. latejava em volta do seu pau tão grande. Tanto! Segurou-me firme e me penetrou mais e mais. – Arquejei em um lamento e uma súplica. paixão e desejo. Tirei a cabeça do travesseiro e. enterrando-me na cama enquanto eu me abria e me dava. abrindo-me para sugá-lo para dentro de mim. . fazendo-me mais dele do que eu já era. enchendo-me de saudade.. . desesperada por ele. movendo-me. – Senti tanto a sua falta.Theo.. beijei sua boca.. tomando conta de tudo que era meu.forte.. tomando posse do beijo. nossos sexos unidos em uma dança delirante. Fiquei fora de mim. enfiando a língua dentro da minha boca. E quando Theo soltou meus pulsos. Gememos e nos movemos na cama. colados. alucinada. chorando de tanta emoção e tanto tesão. tomando e dando. seduzindo a minha. eu o abracei e enfiei minhas unhas em suas . comendo-se vorazmente. nossos corpos se buscando.mordendo seus lábios em uma fome louca. Ele avançou e me empurrou contra o travesseiro. suplicando com meu corpo e minha alma que nunca mais me deixasse. nos meus seios. mas eu o agarrava da mesma forma. nos braços dele.costas. . enquanto me agarrava e tomava. eu o beijava e era beijada com fome e volúpia. em minha barriga e pernas. que acreditasse que ele era minha vida e meu amor. Eu vivi ali. trazendo-o mais para mim. até que entrava em mim com violência. Fui devorada sem dó. suas mãos em minha pele. ambos em um sexo vigoroso e uma entrega avassaladora. Theo! Que saudade do seu corpo.Que saudade. metendo o pau em mim até o útero. do seu pau. em toda parte. das suas mãos em mim. fazendo-me choramingar e gemer: . dando chupões que faziam minha vagina se contrair e gotejar.. E eu tocava nele. mordi sua orelha quando desceu a cabeça no meu pescoço e me mordeu ali daquela maneira que me deixava louca. beijava . do seu cheiro... me embriagava com seu cheiro. Acariciei seus cabelos.em toda parte.. Gritei e me sacudi quando mamou em mim e sugou-me forte. delirava enquanto descia a cabeça e abocanhava um dos mamilos escurecidos após o parto. pontudo. os dele ardiam. Tornou-se mais bruto e voraz. .seus cabelos. tão diferente de Helena. deixando-me delirante. meus braços abertos como em uma cruz e. prendeu-me na cama segurando meus dois pulsos. de um vermelho quase vinho. comeu-me com seu pau. tão viril e potente. quando ergueu a cabeça de repente e me olhou nos olhos. – Rosnou. Eu me dei toda e me mostrei...Não.. me entreguei emocionada. Mas eu não. – Lágrimas inundaram meus olhos. . . eu estava morta..Eu te amo tanto! Não vivi longe de você. calasse tudo que queria dizer. escondesse duramente uma parte de si. É você dentro de mim. Theo..queimavam. seu gosto na minha boca. Eu só estou vivendo agora. sussurrando: .. é sua pele na minha. meu coração .É só sexo. É tudo. brilhavam. Era como se lutasse contra si mesmo. é mais. ondas de puro orgasmo me envolvendo. dizer o nome dele em murmúrios descontrolados enquanto me olhava fixamente e me comia mais e mais rápido. eu solucei e tentei me soltar para abraçá-lo. – Ah. mas ele não deixou. me debater e gemer. . que me fez gritar e me contrair. Ondulei e me dei toda. minha vagina tendo espasmos incontroláveis. Penetrou-me fundo e duro e estremeci.disparou. como eu amo você! E não aguentei mais. Explodi em um gozo glorioso e absurdo. – Eu o abracei enquanto dava uma última estocada dentro de mim e saía.. espalmando sua mão em minha nuca. entre meus cabelos. agarrando seu pau no exato momento em que gozava.Theo. Theo soltou meus pulsos e me puxou contra seu corpo. enfiando um dos braços sob mim. Você sabe o que fez comigo? O que continua fazendo? . esporrando em . perdidamente.... lânguida pelo prazer avassalador.Sua diaba. dizendo bem perto da minha boca: . Quando desabei na cama.completamente. cheio de tesão e aflição. Beijei-o da mesma maneira e agarrei seu pau em cima da sua mão. ainda cheia de um prazer descomunal.minha barriga. nossos lábios colados. mesmo quando tudo acabou e ficamos parados. Engoli seus gemidos e o segurei contra mim. adorando-o. masturbando-o. implorando a Deus que não o deixasse mais se . nossas respirações se misturando. gemendo rouco. Abri os olhos e os dele estavam fechados. tomando minha boca em um beijo faminto. Fiquei olhando-o. agarrei-o como se fosse minha tábua de salvação. em um pedido mudo e com todas as minhas forças.Não vá. Fique comigo. Segurou firme . Então Theo abriu os olhos e soube que estava perdida. eu o abracei sofregamente com braços e pernas. a armadura voltando ao lugar.afastar de mim. as emoções sendo contidas. A mágoa e a desconfiança estavam lá. implorei a ponto de chorar: . Não adiantou. por favor. E quando fez menção de se afastar. saindo de cima de mim.meus braços e me afastou de seu corpo. Virou a cabeça e me olhou duramente. Toquei seu ombro. Sentou na beirada e não me olhou. mas fique aqui comigo. Era difícil fitar o rosto do homem que se ama com todas as forças e . nervoso. disse com lágrimas nos olhos: . . largando-me na cama. – Eu me ajoelhei na cama. correndo os dedos entre os cabelos.Theo. só tendo olhos para ele. nem percebendo que o esperma em minha barriga escorria.Diga o que quiser. catando sua camisa do chão. É assim que vai me pagar a casa e a comida que te dou. Engoli em seco. Levantou-se e suspendeu a calça. .É só isso que vai ter de mim.ver raiva e desprezo.Eu volto. olhou-me friamente de cima abaixo e disse cruelmente: . fechando-a. Não pense que vai me enganar com . Eva. Mas antes de sair. abalada. enquanto não te jogo na cadeia. Eu sabia que fazia de propósito para me ferir e conseguia. quando quiser te comer de novo. Theo deu-me as costas e saiu do quarto. . que vai me fazer esquecer tudo que fez. Eu continuei da mesma maneira. a dor no peito me dilacerando. Vai apenas me pagar do jeito que eu quiser. só olhando-o com o coração apertado. Eu não tive condições de dizer nada. tão arrasada que nem consegui chorar. pálida.sexo. mas ao mesmo tempo sentia que foi o melhor a fazer. apesar de estar com a cabeça fervendo.CAPÍTULO 9 THEO Na segunda-feira eu consegui trabalhar. Consegui me acalmar um pouco . Eu me culpava por não ter resistido e transado com Eva. Não podia negar que Eva me desejava também e muito.mais e tentei manter o foco. Se ela pensava que ia me amansar pelo sexo ou me conquistar. E estaria alerta o tempo todo. dizendo a mim mesmo que era melhor assim do que ficando louco de desejo. Nada mudaria. principalmente se não conseguia transar com outras mulheres. Eu sabia muito bem separar uma coisa da outra. estava enganada. Ela podia ter mentido sobre tudo. Eu era um homem experiente e . mas não sobre aquilo. Teria que ir a uma reunião em Pedrosa com novos clientes.notava quando uma mulher estava tão louca por mim que pingava e latejava. gozava de verdade. Não seria sacrifício para mim e nem para ela. Era . mas ao mesmo tempo havia uma infinidade de coisas para resolver no escritório. gemia enlouquecida. O desejo era latente entre nós. Eu apenas a usaria para me satisfazer e aliviar. ficava com as pupilas dilatadas e os mamilos duros. Mas em nenhum momento eu esqueceria sua traição ou a perdoaria. ele tomaria conta de tudo com Valentina. fui até a sala onde tudo foi arranjado para meu irmão ficar. justamente quando eu tinha menos cabeça para me concentrar. Naquele dia mesmo. chegava e saía quando queria. A presença de Micah ali estava sendo mais do que necessária. com um aumento considerável de vendas e novos clientes. não gostava muito de tudo certinho. Era . Mas todo dia ia lá e ajudava mais do que eu esperava.um período movimentado. Não tinha horários certos. enquanto eu ia para a reunião. Antes de sair. o cabelo castanho parecendo todo despenteado. Lia uns documentos.Isso é modo de trabalhar? – Indaguei secamente. quando na verdade era moda usar daquele jeito.muito inteligente e sagaz. fechando a porta . com os pés em cima da mesa e ouvindo rock do iphone. sacudindo um dos pés em botas de couro. um cigarro pendurado no canto da boca. o jeans rasgado no joelho. Quando entrei. barba por fazer. aprendia rápido. estava relaxado em sua cadeira giratória. . atrás de mim e caminhando até a mesa.Valentina? . erguendo as sobrancelhas com ironia.Já basta aquela sua assistente pegando no meu pé.Acabou de sair daqui cuspindo fogo.Como assim. . . eu também? . – Sorriu. O que ela tem contra sorrir? . Não aguenta brincadeiras. divertido.Você também? – Segurou o cigarro entre os dedos e expeliu a fumaça. nunca vi mulher mais mal humorada. . – Cara. .. . Tinha pedido que Valentina explicasse uma parte do trabalho a Micah. mas não é mal humorada. – Tamborilei os dedos sobre o tampo da mesa. amassando-o no cinzeiro. – Deixou os documentos sobre a mesa e balançou a cadeira. .Muito.O fato de eu respirar a irrita. – Deu uma risada e tragou o resto do cigarro. observando-o.E você gosta de provocá-la. – Pelo que vejo. mas sabia que ela tinha odiado a missão. – . é você que a irrita. Parecia não suportá-lo.Valentina é séria. Acabei sorrindo. congelo na hora! – Divertiu-se. .É um cara legal.Hã. .Entendeu o quê? . – Que interesse é esse? Não está dando em cima de Valentina. . Entendi.Tenho pena do noivo dela. Como é o cara? Chato como ela? . – Só curiosidade.Você não tem jeito.Eu? Se colocar um dedo nela. não é? . .Chato. – Sacudi a cabeça. Esse é o sinônimo de legal. Theo.Por que o interesse? Não gosto de fofoca. mas lembrei do noivo de Valentina e fui obrigado a comentar: Se bem que normal não se encaixa bem na descrição dele.Normal. . Quando o conhecer. observando-me.. . . odeio ficar curioso! – Reclamou e meu sorriso se .Deixa pra lá.Como assim? – Interessou-se Micah. .Fale. Esse é o sinônimo de legal. . vai ver por que.Puta merda. – Corrigi. . sério. me ligue.. .O velho sabe que estou aqui? Virei e o olhei. . Qualquer coisa. Sabia que . Mas me fala do noivo anormal.Theo. .Vim aqui só avisar que estou saindo para a reunião.ampliou. Mas parei quando mudou de assunto de repente: . Soltou um palavrão. Eu ri do seu tom ameaçador e caminhei para a porta..Tá curioso demais.Pode deixar. Não. E você é um dos herdeiros. realmente a coisa ia ficar séria. .É. Eu sabia que se ele descobrisse Micah na cidade e ali.Sou nada. – Quase não falávamos sobre o que aconteceu no passado e sobre meu pai. . . Vai dar merda quando ele souber. . .Entendo.É nossa. A Falcão é dele. Tudo aquilo me fez pensar .falava do meu pai. Mas ele tinha seus direitos. pela parte da nossa mãe. no fato de Micah ter segurado a arma que deixou meu pai na cadeira de rodas.O que aconteceu naquele dia há quinze anos.novamente em toda tragédia. . – Corrigiu. Mas ainda era uma história mal explicada. Como parou na sua mão? .Seu pai. A arma era do nosso pai. Eu o olhei bem sério e indaguei: . até demais. Foi preciso muito tempo para perdoá-lo e levamos em consideração o modo como sempre foi maltratado. também bem sério.Queria matá-lo? . . Estava demorando pelo fato de que eu e Eva tivemos uma filha. Sabendo que ficaria por aquilo mesmo. Não fosse isso. você fala. Lá em Pedrosa encontrei meus advogados para me informar sobre a anulação do casamento.Encarou-me um momento em silêncio. Se achar melhor. Por fim disse friamente: .Não quero falar disso. Quando quiser.Não acho melhor. abri a porta e saí. Fui para Pedrosa e consegui resolver bem tudo. posso ir embora. . Voltei para casa no final da tarde e só de entrar lá já me senti ansioso. Agora que eu tinha começado. me aliviar da loucura que causava em mim. Tia pegou Helena pra mim e só de vê-la eu . falei com Tia e meu pai. Pelo menos aquilo ela faria por mim. E não me pouparia. Mas me garantiram que estavam acompanhando de perto tudo. com raiva do desejo absurdo que senti de ir ao quarto de Eva e vê-la. Tomei banho. resolvi minhas coisas. aplacar meu desejo.já teria saído. sabia que ia querê-la toda hora. Sentiu falta do papai? Hein? . Deiteia com a cabeça em meus joelhos e falei baixinho com ela: . Tia sorriu e comentou: . bateu os bracinhos e me olhou firme.Ela já conhece o pai. Estava cada dia mais linda e ficava mais tempo acordada.fiquei cheio de amor e saudade. Olha como ficou feliz! Sorri todo bobo e fui para o sofá. Quando a peguei no colo. como naquele momento. animada. passar os melhores momentos do dia na companhia da minha filha. Quando for maior. – Parou perto de nós e se inclinou. – Sorriu Heitor entrando na sala para jantar.Ela merece. vou trazer um brinquedo ou um doce para você. . sem seu tradicional chapéu de cowboy. Eu dei uma risada e comentei: . – Falei orgulhoso. toda vez que eu chegar em casa. é só ter dentes. amansando a voz grossa para falar com ela: .Merece mesmo. após o banho. .Vai estragar a menina. .Cadê a gatinha do titio? Vou trazer balas pra você também. Ele parecia indiferente tanto com Helena quanto com Caio. empurrado na cadeira pela enfermeira. mas não me importei. com voz de garotinha? . – Tia também riu. vai ter vocês todos comendo na mão dela.Eu falo desse jeito. parando perto de nós. embora às vezes os . Meu pai chegou. olhando-nos como se fôssemos idiotas. – Parecem dois babões! Imagino quando essa menina crescer.. fazendo todas as suas vontades! Heitor e eu rimos.Pior ainda. nunca foi de fazer carinho ou ter conversas com a gente e pelo jeito seria da mesma maneira com os netos.olhasse com curiosidade. Helena ficou comigo até chorar com vontade de mamar e Tia levá-la para o quarto. em relativa paz. Era muito fechado. Saí para uma caminhada e aproveitei para conversar com o chefe . Jantamos todos juntos. embora pensasse em Eva a cada segundo e ansiasse por subir e saciar meu desejo. Eu me sentia um pouco mais tranquilo aquele dia. Mas me continha. . . E a fisioterapia? .Fiquei feliz hoje. .Está quase boa. Theo. que garantiu que tudo estava em paz. Quando voltei. Suspirou.Por quê? . – Garanti.da segurança. sem alterações. Tia estava na varanda me esperando. Fitou meus olhos. observando-a. mas não insistiu no assunto.Não vai ser necessário. Deixou que eu me aproximasse e segurou minha mão direita. Faz um bem danado pra ela e para Helena.Como foram as coisas aqui hoje? . meu filho.Tudo bem.Sim. perguntei baixo: . Quando sorriu e se me olhou. – Falei com carinho e a abracei. sem a tensão desses dias todos..Eva saiu do quarto? . Eu a tinha como uma mãe e não queria preocupá-la. Fora que para Gabi e Caio também. Elas se dão bem e se . . Não sabe como rezo para que fique bem. .Senti você mais relaxado.Eu sei. Ajuda nunca é demais.Que nada! Está tudo sob controle. . Eu sorri.Estou pensando em contratar duas babás.Vou ver as babás na mesma agência das enfermeiras. E assim aliviar a senhora. Sei que fica de um lado para outro e está parecendo cansada.ajudam. Mas insisti: . Concordei com a cabeça e comentei: . para se revezarem ajudando as duas. . Depois que me recolhi ao meu . mas tanto Eva quanto Gabi preferiam que os bebês ficassem com elas enquanto eram tão pequenos. Pensei que a babá poderia ir para o quarto com Helena quando eu estivesse com Eva. E eu sabia que ia querer.Pensei que assim também não precisaria pedir a Tia para ficar com Helena a cada vez que eu quisesse transar com Eva. Havia um quarto todo montado para Helena e outro para Caio. dando-nos mais privacidade. deixando o tempo passar e cada um se acomodar em seu canto.quarto. Irritava-me aquela necessidade. Eu só ia lá transar com ela e aliviar aquele desejo que parecia me comer vivo. fiquei deitado na cama olhando para o teto. mas eu não podia mais voltar atrás. a ansiedade me consumindo. Não queria comentários depois nem que pensassem que eu estava me acertando com Eva. por que não era aquilo. . Então poderia me livrar dela. Dizia a mim mesmo que era só sexo e com o tempo eu deixaria de ficar tão obcecado com Eva. dono das minhas vontades. era profundo. Mas o que Eva despertava em mim ultrapassava qualquer controle ou entendimento. com medo de analisar aquilo. E eu estava lidando com tudo aquilo da melhor maneira que podia para não . emocionalmente eu me sentia como um adolescente bobo sem saber lidar com o primeiro amor e a primeira traição. experiente. pois era um homem adulto.Empurrava as preocupações para o fundo da mente. Ela tinha sido a única mulher que amei e. visceral. irracional. Isso me deixava doente. ansioso para ir ao quarto dela. Já bastava ser obrigado a ter um vínculo com Eva por causa de Helena. tive um clarão e tirei o membro de dentro dela. No último segundo. Levantei. Mas mesmo assim havia risco de gravidez e eu nem queria pensar em uma coisa daquelas. coisa que no furor da noite passada nem me toquei.enlouquecer. antes de gozar. Por fim não aguentei mais. . Lembrei-me das camisinhas. Contei cada segundo. tirei a roupa e vesti apenas um curto robe preto. com raiva de mim mesmo por ficar nervoso e . Abri a porta do quarto de Eva. senhor Falcão.Boa noite. onde dormi tantas noites com ela. E quem não era? . Vi o segurança da noite sentado em sua cadeira no corredor silencioso. por isso todos eles eram loucos por ela. Tia os deixava sempre bem servidos.Coloquei os preservativos no bolso do robe. Havia uma mesa com rodinhas ao seu lado com lanche. – Cumprimentei-o. calcei chinelos e saí do quarto. tomando um café.Boa noite. . sua pele macia me . uma camisolinha de seda branca que não era nada mal. o quarto na penumbra. sentada recostada nos travesseiros. que não sentia e entrei.sentir o coração disparar. contando os segundos. os cabelos presos em um coque frouxo. fechando a porta atrás de mim. apenas os abajures acesos. cobrindo-a. sabendo que eu viria. Estava tudo quieto. Estampei uma frieza na expressão. olhando-me como se estivesse me esperando. Estava nervosa também e linda. Em uma só olhada vi Eva na cama. convidando. assim como cada parte dela. tirei os preservativos do bolso e joguei na cama. Enfurecido com aquilo. largando-o na beira da . sério. E então. perto dos pés dela. me aproximei da cama. doente de saudade. que olhou-os e mordeu o lábio. Não me apressei. Olhei para Helena dormindo em seu berço. Foi uma luta não ir beijá-la como eu queria. aparentemente dono de mim mesmo. ansiosa. Olhou-me rapidamente quando soltei a faixa do robe e o despi. não sei de que. ficando nu enquanto a encarava com uma falsa frieza. o desejo mais do que claro em sua expressão. – Exigi. O silêncio pesava entre nós e ela arquejou quando ajoelhei no colchão e me aproximei. .. em um anseio que espelhava muito o meu. Eva arfou.cama. . . meu membro ereto. seus olhos enormes passando sôfregos por meu corpo.Theo..Não diga nada. Por que meu corpo já estava aceso. Fitou meus olhos com expectativa e luxúria. – Murmurou como em um pedido mudo. Meus instintos mais básicos e de dominação pediam por mais.Eu não queria nenhum envolvimento. E aí eu pegaria realmente pesado. amarrá-la. trepar e ir embora. só ser o mais animal possível. Segurei com firmeza seus tornozelos e a puxei para baixo. Quis castigá-la. tinha medo de mim mesmo. Minhas emoções estavam prestes a entrar em erupção e ela tinha o poder de me descontrolar. ser bruto e cruel. no entanto. tirar de Eva tudo que eu queria e um pouco mais. Seu . Parei com ela no meio de suas coxas quando meus olhos fitaram sua boceta e meu coração quase parou. como Eva sabia que eu gostava. Minha respiração se alterou e eu ergui . que me deixou doido. . Quase enlouqueci de tanto tesão. Estava completamente depilada. agarrando as laterais da calcinha e descendo por suas pernas.Para quê isso? – Falei com raiva.corpo resvalou na cama e a camisola subiu. cheio de lascívia. os lábios polpudos e rosados a mostra. mostrando sua minúscula calcinha branca. os olhos para os dela. revoltado. Engoli um palavrão. cerrando o maxilar. linda demais. Mas indaguei entredentes: .Eu consegui? – Lambeu os . acusadores. deixando-a completamente nua. com uma vontade viciante de beijar e tocar cada pedaço dela.O que quer com isso? Me seduzir? . Terminei de tirar sua calcinha.Para você. Murmurou: . Então ergui a camisola e tirei por sua cabeça. deitada. Olhei-a lá. abri suas pernas sem um pingo de delicadeza. Ajoelhado na cama. acabando com meu controle. Mas não fugiu ou reclamou. . Vi como empalideceu. até a boceta.lábios. – Eu só vim aqui te foder. testando-me mais do que eu podia suportar.Não. pois abriu ainda mais as coxas para os lados e desceu as mãos pelos seios redondos. – Menti. pela barriga. a dor em seu olhar. Acariciou-se lentamente com os . Parecia disposta a me vencer pelo cansaço. como se estivesse cravado nas minhas narinas. provar que eu decidia quando e como a pegaria. Quis ser forte o suficiente para me levantar e ir embora.Já estou pronta para você. Fiquei o dia todo pronta. lubrificada. mas . Eu podia sentir o cheiro íntimo dela.dedos e murmurou: . Theo. Olhei seus dedos mergulhando em sua boceta e saírem com as pontas molhadas. Era uma luta até mesmo respirar. esperando você vir. Estava pronta. vendo que dizia a verdade. pegando-a de surpresa. com a mão esquerda. Não pude me controlar. .não podia.As coisas vão ser do meu jeito. o sangue corria rápido e denso. . a fúria se juntou a tudo mais. dei uma palmada firme em sua bunda e ela não pôde deixar de gritar assustada. O desejo latejava em meu corpo. Em segundos eu montava em suas pernas por trás e agarrava seus pulsos juntos nas costas. mais alto. eu a virei de bruços na cama e Eva soltou um pequeno grito estrangulado. Bruto. Com a direita. mas desci a mão em sua bunda. choramingar e suplicar: . desejo e ira me envolvendo. vendo a carne redonda e macia ficar quente e vermelha.. E bati mais. mas eu ainda conseguindo conter meus instintos mais violentos..Theo.. que a fizeram gemer e se debater. . dando tapas fortes e ardidos... Pare. espalhando bofetadas em cada parte da sua bunda. – Tentou pedir algo. embora soubesse o quanto aquilo me custava.. diaba ardilosa. .Não.não do seu. . Sabia que se metesse o dedo nela a sentiria escorrer. . trago meu cinto. que aguentaria mais. Não me provoque mais do que já faz. . pingar seu mel quente e grosso.. Lembrei de como gostava daquilo. em determinado momento se empinou. sentindo a ardência e a dor das palmadas. – E mesmo assustada. E nem o fato de nossa filha estar nesse quarto vai me impedir de surrar sua bunda.Da próxima vez.Ah. ela gemeu e.. como ficava dividida entre a dor e o prazer quando eu era bruto. Eva. ser mais violento do que já fui um dia. Mas então seria um jogo de prazer. Parei. Por que ao final das contas. bandida. mas um fio de razão me impediu. . respirando pesadamente. Naquele momento. me conteve. prontos para agir e tomar conta de tudo. era uma luta me conter e não descarregar nela realmente minha fúria. sem o peso do ódio e de traições entre nós. Os instintos estavam ali. ela tinha sido a minha esposa e era a mãe da minha filha.Eu tinha prometido que daria mais quando a gravidez passasse. só prazer. traidora ou não. qual seria o limite do meu ódio. pela vontade de fazê-la pagar por tudo que me fazia sofrer e sangrar por dentro. dominada pelo desejo. Eva gemeu e arqueou as costas como uma gata no cio. arquejando. Empinouse tanto que vi os gomos de seus lábios vaginais ainda mais inchados e cremosos. eu não sabia se poderia realmente machucá-la.ainda segurando-a firme. No fundo. brilhando. me oferecendo a sua bunda. pedindo pelo meu . parecendo fora de si. lutando para não me deixar levar pela raiva. Theo. Falei bruto. E parte da minha violência não pôde ser contida. Cerrei o maxilar para não entrar nela de uma vez...Por favor. mostrar que ali eu mandava e ela obedecia. que eu transava com ela nos meus termos e não nos dela. eu queria dobrá-la. me deixar levar.pau... tentei frear minha fome descomunal. Mas eu não queria aquele domínio sobre mim.. mas estava cada vez mais difícil. . Preciso de você.. Vem. – Suplicou angustiada e vi como seria fácil obedecer. indo mais . . dominada pela lascívia.. – Arfou.para cima dela. quase morrendo para fodê-la ali. come a minha boceta. Estremeceu. rosnando: . excitada. – Vou comer a sua bunda.. se esfregando na cama. – Menti.. E não quero a sua boceta. Então cuspi de novo e espalhei saliva no seu ânus. – Por favor.Sim.Quer o meu pau? . .Eu como o que eu quiser.. Mas cuspi nos dedos e esfreguei saliva no meu pau. um pouco assustada. calada. embora eu quisesse tudo de Eva. Não queria soltá-la para nada e montei em sua bunda por trás. .. . segurei um pouco minha fome e meti nela. Quando sentiu a cabeça grande do meu membro em seu orifício. não bruto como poderia fazer.Theo. tomando o que eu queria. abrindo-a para o lado com a mão esquerda.Não peguei o preservativo. rasgando-a. Fechei os olhos. Mas indo com firmeza. acho que teve medo que a machucasse.. ainda segurando firme seus pulsos nas costas. . Cerrei os dentes. penetrando-a forte e fundo. – Arquejou.tudo. Abra para mim. Vai doer mais. Empurrei e fui entrando nela. Ai. Theo.Ai.. até que só meu saco ficou de fora. com o fato de ser tão .. talvez por seu medo.. Mas não parei. não sei se de prazer ou de pavor. Seu ânus se abriu muito para me receber e estava contraído.Não se contraia. alucinado com sua quentura e sedosidade.. perto de seus cabelos na nuca: . Rosnei furioso. Não estou aqui para o seu prazer. achar que pode me seduzir e amansar. comendo-a firme e fundo. Agarrei seu cabelo em um rabo de cavalo na nuca e puxei sua cabeça para trás. mas para mim é só uma puta. Como eu quiser. dizendo cruelmente: . abrindo-a mais para que meu pau deslizasse estrangulado dentro dela.Vai ser sempre assim. Pode raspar essa boceta. do meu jeito. Vou te comer e só.deliciosamente apertada. Entendeu? . só para o meu. movendo meus quadris em estocadas vigorosas. É só uma puta. chorosa. sacudindo-se em cada estocada que eu dava... .. me tornando mais bruto.Theo... .Sim. estocando em seu orifício.. Cadela. Eu só.Sou sua mulher... .Não quero ouvir... dividida entre o prazer e a humilhação. .Não. uma cadela.. . principalmente por me deixar tão doido. Safada. – Ofendi com raiva.. – Murmurou angustiada.– Falei perto de seu ouvido. ... . bruto. ondulando. Eu a empurrei contra a cama e a comi com voracidade e firmeza. a cada arremetida minha. apertando mais meu pau com . entre os lençóis. miava e se sacudia. usando minha raiva como escudo. Eva se debateu. estremecendo. delirando de prazer. indo mais rápido e forte.E a fodi. Minhas ofensas não eram o bastante para impedir seu prazer e. esfregava a boceta na cama. mas não conseguiu se soltar. enquanto gemia e choramingava. tão arrebatada quanto eu. Gemi rouco. dizendo meu nome e palavras desconexas. inundando seu ânus com meu esperma quente. Estoquei forte e esporrei dentro dela.suas contrações. Foi meu fim. chorando. parei com a boca perto de sua orelha e a . calava meu ódio e fazia meu tesão alcançar picos inimagináveis. E então Eva gritou e começou a gozar agoniada. que parecia não acabar nunca. Apoiei a cabeça sobre a dela. ao delírio que dopava meu corpo e minha mente. fechei os olhos e me entreguei àquela loucura. Por que eu teria que sair de dentro dela. uma dor insuportável. mas tudo suplantado momentaneamente pelo prazer espetacular e incontido do corpo. da cama. a saudade já vindo em mim. Eu a quis ainda mais. do quarto. com um desespero latente. cada gemido escapar sem controle. Respirei ou ao menos tentei. E quando tudo parou. cada batida do coração se acelerar. uma saudade doentia.fodi até cada gota sair de mim. Eu teria que voltar para uma . meu pau continuou a latejar enterrado em a sua bunda. outra cama. Mas por fim não tinha como permanecer sem me entregar. então soltei devagar seu cabelo e seus pulsos. E me ergui. quietinha embaixo de mim. vazia e fria. como se me quisesse mais tempo ali. Protelei. Nunca imaginei que aquilo fosse tão difícil. Fiquei lá só um pouco mais e Eva também não se mexeu. Saí de cima dela e sentei na . me forçar a me acostumar novamente a dormir longe do seu corpo e do seu calor. uma das coisas que mais sentia falta. apenas respirando sofregamente. Tateei a cama e peguei meu robe. sentindo meu coração batendo ainda descompassado. Porra. com aqueles cabelos compridos espalhados e . Somente então me virei e a olhei o mais friamente possível. Senti seu olhar sobre mim quando se virou de lado. de arrumar um desculpa para ficar mais do que deveria. Eu tinha medo de cair em tentação. suado. a respiração pesada. esfregando a barba em um gesto nervoso. era linda demais. mas não a fitei.cama. Levantei e o vesti. frágil. E me olhava daquele jeito esfomeado. as faces coradas.a pele avermelhada pelo gozo. que possivelmente tentaria me matar de novo se eu fosse burro e não . que participou de um atentado que quase me matou. um ar de devassidão e languidez. como se me pedisse algo. parecendo tão sincera em seu amor e sua paixão que era difícil acreditar que me traiu tão duramente. as pálpebras pesadas como se estivesse bêbada. Sempre ficava mais bonita depois do prazer. os lábios rubros de tanto morder ou beijar. afastando o cabelo do rosto. pensando o quanto gostaria de lambê-los. Mas contive tudo dentro de mim.tomasse cuidado com ela. sua pele. chupar seus mamilos. Mesmo sabendo que não . seus seios. Desci meu olhar por seu corpo. gemendo baixinho. Desci mais o olhar e meu corpo reagiu diante da boceta nua e depilada. talvez dolorida. sentir o gosto morno e doce de leite enquanto os sugava. dando-me uma vontade absurda de chupá-la ali também. Amarrei o robe na cintura e Eva sentou na cama. Vai ter que aprender. empalidecendo. Durma aqui.Fique. Por favor. . – Seus olhos eram pidões. súplices. .Para quê? Para enfiar uma faca em meu coração de madrugada? – Ironizei.Só essa noite. Eva pediu baixinho: . chocada com minhas palavras. sublimes. . Ela arquejou. – Falei secamente. Sacudiu a cabeça: .adiantaria. Nunca consigo dormir direito longe de você. Theo. . mas olhava-me magoada. dor na consciência..Eu sei que errei e sinto culpa sim. não pode fugir dela. Conhece. E ele nada mais é que a Consciência humana.. O Morcego. .. não deixa dormir. Por mais que faça.À noite o morcego entra no quarto e inferniza. – Falei sério. Continuei: . – Como aquele poema do Augusto dos Anjos.Talvez não consiga dormir por culpa. Eva? Não respondeu. mas.Nunca! . . Eva disse baixinho: . Eu a ignorei.Não tem mas. dei-lhe as costas e caminhei para longe. Cansado. Mas antes parei perto do berço de Helena e a olhei através do mosquiteiro.Eu amo você. E saí. uma emoção e um amor sem igual me consumindo. Quando fui até a porta. me acalmando um pouco. Aguente as consequências das suas escolhas. E isso nunca vai mudar. Theo. pouco antes de a abrir. . Fingi não ouvir. CAPÍTULO 10 EVA Depois de ter sido bruto e estúpido comigo naquela noite. acordando só quando meu reloginho chamado Helena despertou chorando para sua mamada. tentei agir . Mas acabei pegando em um sono pesado sem sonhos. eu pensei que dormiria muito mal. gritando como só ela sabia fazer. No dia seguinte. Eu aguentava toda aquela situação por dois motivos: por amá-lo além de tudo e por que sabia que causei tudo aquilo ao fazer parte daquela vingança. uma puta para usar e maltratar. Era muito difícil que. eu soubesse que não era mais vista como sua esposa.normalmente. como ele podia me levar ao ápice do prazer e ao mesmo tempo ao puro desespero com seu desprezo. além da culpa que sentia. enganando-o. suas palavras insultuosas. mas me via pensando em Theo o tempo todo. Era como se eu . mas como uma qualquer. que aquilo tinha sido duro para Theo aceitar. de um homem que faria tudo por mim. era pior . me agradar e cuidar. Eu sabia que o fiz sofrer também.mesma quisesse me castigar. E agora ver sua raiva e repulsa. E que ele ainda sentia muito. pois tive a felicidade na mão e a perdi. Eu vi um lado seu terno e apaixonado. de sorrir para mim. ser maltratada por ele. fosse no jeito de me olhar. Não podia esquecer como me amou e demonstrou isso em cada dia do nosso casamento. por mais que me desprezasse. muito menos me tocaria. Por que não era imune a . demonstrando um ciúme quase doentio. Theo era duro e orgulhoso. possesso achando que eu tinha sido amante de Lauro. Era um castigo horrível. não resistindo quando minha toalha caiu e fiquei nua. O fato de ter invadido meu quarto e me agarrado.do que qualquer coisa. difícil mesmo de suportar. deu-me outra dimensão das coisas e me fez ter um pingo de esperanças. Aquela traição devia estar sendo difícil para ele e eu pensei que nunca mais olharia para mim. achando que mostraria com meu corpo o que ele não queria ouvir com palavras. Por isso me depilei e esperei por ele na cama. mas . ele me fazia dele com volúpia. por mais que me odiasse. paixão. E se era assim. Podia ser loucura. Suas ofensas podiam machucar. Eu queria seduzi-lo não apenas sexualmente. Ele me olhava com fome. com raiva por me querer.mim. posse. mas havia um ditado que dizia o seguinte: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. eu tinha alguma chance. mas ele me tocava e beijava. Mas no final de tudo tinha sido quente e delicioso como sempre e eu me viciava ainda mais nele.através do sexo e da sedução amolecêlo. ficou quase fora de si sacando o que eu queria. Nem ao menos me beijou. Podia ser extremamente grosso comigo e depois parar e olhar . Não tinha saído exatamente como pensei. Theo era uma verdadeira contradição. Foi muito bruto. independente de tudo. decidida a lutar com ele com as armas que eu tinha. E decidi continuar em frente. provar meu amor. Naquele dia. mas da fazenda. No entanto. aquele era o menor dos meus problemas. Como ainda havia a ameaça da minha mãe. Um amor como uma vez demonstrou para mim. com um amor tão grande que abarcava tudo. falamos da pediatra que viria ali no final de semana para ver como estavam nossos filhos. ajudei Tia na cozinha. agora não do meu quarto. E eu continuava como prisioneira. .para Helena com doçura. andei com Gabi no quintal. todos achavam melhor assim do que irmos para a cidade. Helena. ao final de tudo. Só então fui cuidar de mim mesma. Theo podia ter sido muito pior comigo e eu entendia que. ele ainda tentava ser justo. a ansiedade crescendo conforme a noite caía. desejando ardentemente que Theo viesse . não fui afastada da minha filha. Ali eu estava com Gabi.Ficar ali não me doía tanto quanto a possibilidade de ser expulsa. Ao final da tarde. voltei para o quarto e cuidei de Helena. Theo. eu estava segura. toda a família. E embora com tudo que me perturbava. Não tive medo que fosse agressivo. pois eu sabia que ela vivia querendo nos ajudar . Decidi que o tentaria de todas as formas. dizendo que naquela semana duas babás se revezariam ali de segunda à sexta. o faria ficar louco por mim ainda mais. A senhora disse que não havia necessidade. Elas poderiam ajudar a mim e a Gabi. uma de dia e outra de noite.de novo. Tia trouxe meu jantar em uma bandeja e brincou com Helena enquanto eu comia. assim como eu era louca por ele. mas não falei nada. só para seduzir Theo.e se cansava. coloquei uma camisola que comprei no início do casamento com várias outras. colada ao corpo como uma segunda pele. Então. deixando só os abajures acesos. Quase . Escovei os cabelos e liguei a tevê em clipes de músicas românticas. Bem decotada e curta. Perfumada. Assim. Era perolada e em uma renda fina e transparente. Depois que saiu e deu boa noite. mais mostrava que tapava. me preparei. eu amamentei Helena e ela dormiu. teria mais tempo para ela. Oito. Quando Helena acordou chorando. excitada. dez horas da noite e Theo não vinha. Eram onze horas e então me acabei em lágrimas. bebi água.passei o batom vermelho. ansiosa. levantei. Angustiada. gemi em febre. nove. mas achei melhor não exagerar. voltei para a cama. fazer uma coisa de cada vez. eu me juntei a ela e a amamentei soluçando de tanta . Rolei nela. Deitei na cama e esperei. arfante. Não consegui me concentrar nos clipes e praticamente contei os minutos e as horas. andei pelo quarto. mas tive mesmo . cheia de tristeza e desânimo. com olhos inchados. Gabi e Tia quiseram saber o que eu tinha. Joguei a camisola no cesto de roupa suja. coloquei uma roupa comum e passei um dia horrível. De manhã estava abatida.saudade e solidão. mas eu apenas disse que estava tudo bem e sobrevivi. ofereceram ajuda. todas as minhas esperanças arrasadas. Dormi muito mal. eu fiquei com medo de ter esperanças de novo. Quando escureceu naquela quarta-feira. querendo passar só um dia e uma noite em paz sem me sentir horrível e culpada. agora com uma camisolinha preta e uma calcinha fio dental. E foi uma nova tortura.assim. pus para arrotar e finalmente a deixei dormindo no berço. por que Helena dormiu e Theo não veio. Deitei na cama enrodilhada. Repeti todo o processo da noite anterior. cheia de vontade de chorar. Já passava de meia-noite quando a amamentei de novo. sem ficar esperando alguma . Estava cansada de tanto chorar e sofrer. mas lutando para ser forte. migalha de Theo para poder ser um pouco feliz. acabei pegando no sono. Por fim. grogue. enaltecida quando me sacudi em meu sono e busquei a fonte daquelas sensações tão deliciosas e delirantes. o que foi um alívio para minha tortura. me abrindo. Tentei abrir os olhos e outro gemido entrecortado escapou de minha garganta quando senti mãos fortes em minhas coxas. Acordei de madrugada com a pele arrepiada e o prazer me fazendo contorcer por dentro. e uma língua macia e . Gemi. o tesão e as emoções ferozes. – Choraminguei.. Veio tudo de uma vez. Theo no meio das minhas pernas fechando a boca no meu brotinho e sugando tão gostosamente que um prazer sem igual me varreu e golpeou forte. .firme no meu clitóris.. Ah. a realidade de que ele estava ali me fazendo gemer e agarrar seus cabelos enquanto eu murmurava seu nome e me dava toda. finalmente saindo da minha dormência quando abri os olhos e vi que estava na cama sem calcinha. feliz e aliviada por que ele finalmente veio. à beira de um prazer . Estremeci e ondulei. não mais de tristeza. metendo a língua dentro de mim. Theo desceu a boca. Lágrimas pularam dos meus olhos. enlouquecendo-me. principalmente quando abocanhou meu lábio vaginal de um lado e deu um daqueles chupões que me deixavam louca. lambendo minha boceta toda. mas de uma felicidade que era maior do que tudo. gotejando. não me abandonou. debati-me em êxtase. quase morri de tanta excitação. beijando minha boceta e barriga. Subiu pelo meu corpo. Agarrei-o e o masturbei. Mas não se demorou ali. Eu o busquei. Eu o olhei e abracei. Gritei rouca e tremi toda. tirei o quadril da cama e esfreguei minha boceta em seu pau longo e ereto. adorando e exultando quando mordiscou meu seio e chupou forte meu mamilo esquerdo. vindo em cima de mim. resvalando em meu corpo. já com o preservativo. minhas coxas em espasmos incontroláveis. afastando a camisola. .sem igual. vorazes. intensos. – Arquejei em um arroubo. de uma vez.Theo.levando a cabeça grande em minha abertura. perturbadores.. Ergueu-se mais e largou meu mamilo. tremendo. seus olhos escurecidos na penumbra do quarto encontrando os meus. enlouquecida pelas emoções violentas e . me olhando tão duro e cheio de desejo. precisando tanto da sua posse que não conseguia respirar nem me conter. . almejando. fora de mim. que investiu e me penetrou fundo e forte. E foi assim.. ansiando. a outra em meu seio. – Foi uma confissão que ele não queria fazer. uma de suas mãos se infiltrando entre meus cabelos. do seu cheiro. nem da sua boca gostosa. agarrando-o com força. Ele me penetrou mais e mais em estocadas firmes e profundas. como se fosse cair. segurando-me também.Não aguento ficar longe do seu corpo. dizendo baixo e rouco: .incontroláveis. mas parecia abalado demais para se conter.. . seu olhar descendo do meu até meus lábios entreabertos.. agora e sempre..Me perdoa.... Me faça sua. – Disse num fio de voz e ele não respondeu. pois aquela separação doía demais dentro de mim também. Eu vi a dor em seus olhos.Então não fique longe. apaixonada: . em sua expressão.Lágrimas vieram aos meus olhos e acariciei seu rosto.. E chorei. entrou todo dentro de mim e me beijou na boca. Só me segurou firme. . murmurei implorante. Theo. Não consigo viver sem você. sua barba.. . Falou da paixão que continuava apesar de tudo. fingir tantos sentimentos. afastava. da saudade que matava lentamente. contaminava. mas não havia perdão e a dor da traição sujava tudo. . Falou do nosso amor e separação. da dor que corroía e feria fundo. que nos devorava em sua fome latente. mascarar a realidade que era o fato de nos amarmos.E aquele beijo disse mais do que mil palavras. E nada podia diminuir aquilo. Eu tive certeza de que meu amor não era único. em sua necessidade incontida. latejando. nossas bocas foram apenas uma em um beijo amoroso e saudoso. vivas e torturantes. apenas nos dando. de um tempo em que não precisávamos chorar. Precisávamos de um conforto e foi o que buscamos nos braços um do outro. despidos de tudo mais. ao mesmo tempo exigindo alguma compensação. Eu o recebi e . Seu corpo tomou o meu e meu corpo tomou o dele.Daquela vez foi muito mais do que sexo. ferindo. Nossas emoções estavam à flor da pele. algum alívio. Foi ao mesmo tempo doce e desesperador e. eu o perdia quando o queria tanto. por que eu causava aquilo. Nunca me senti tão viva e tão infeliz. uma dor que me mostrou sua alma. que nunca o faria sofrer novamente. gemeu rouco em um lamento. Ficamos nos braços um dos outro e deslizei as mãos em seus cabelos e suas costas. sem saber mais o que fazer para provar que o amava.gozei em lágrimas. que daria minha vida para ter o seu perdão. aproveitando antes que me . quando gozou. .. E só naquele momento. eu ouvi uma música triste e linda tocando ao fundo.deixasse e voltasse a me olhar com ódio. Era antiga e pensei que fosse imaginação minha. “(. em meio a tantos sentimentos que corriam dentro de mim.)Is there someone you know you're loving them so but taking the mall for granted You may lose them one day someone takes them away . mas vinha da televisão que tinha ficado ligada com os clipes. . my heart... my home I would give everything I own Just to have you back again Just to touch you once again(.)Há alguém que você conhece Você o ama tanto Mas o subestima Você pode perdê-lo um dia .)” ( Everithing I Own – Tudo que eu possuo – Bread) “(.and they don't hear the words you long to say I would give anything I own Give up my life.. Quando Theo enrijeceu.)” Eu não a entendi em inglês. fazendo novas lágrimas virem aos meus olhos.. mas a senti fundo. meu coração. minha casa Eu daria tudo que eu possuo Só pra tê-la de volta Só para te tocar mais uma vez(.Alguém o leva embora E ele não escuta as palavras que você deseja dizer Eu daria tudo o que possuo Daria minha vida.. eu precisei de muita força de . Fitei seu perfil anguloso com aquele nariz fino e arrogante. seu corpo que eu amava tanto quanto tudo dele. a ruga entre as sobrancelhas mais pronunciadas do que nunca. assim como aquela sob seu olho. que ajudei a colocar ali. Quieta. sem me olhar. E senti o peito doer ao notar a pequena cicatriz de bala em seu ombro. Eu deixava marcas . sabendo que nada o impediria. os músculos dos seus braços e peito. o olhei sair de dentro e de cima de mim. Olhei seus ombros largos. calado.vontade para deixá-lo me largar. nele. Não era como das outras vezes. caminhando para a porta. com ódio. Era uma tristeza muda e aquilo doeu mais do que tudo. mas parecia contido demais. E somente quando ele chegava lá. Vestiu um short preto que estava no chão e me deu as costas. Como meu amor podia machucar tanto? Não consegui parar de chorar. nos dedos que quebrou por minha causa. Theo me olhou ao se levantar. Era pior. eu consegui murmurar o que . sem condições de dizer nada. Theo. Sentia-me na . E isso nunca vai mudar. THEO Na quinta-feira eu trabalhei até ficar exausto. Ele abriu a porta e saiu. Me tranquei no escritório e não quis falar com ninguém.Eu te amo.falei para ele da última vez que esteve dali: . não parando nem para almoçar. mas sendo bombardeado por emoções e lembranças. por sentimentos demais. Doía mais. Em casa também não quis muita conversa. cansado. Nem ao menos tinha visto Helena naquele dia e estava sem . sem querer pensar.merda e aquilo era muito pior do que o ódio. quieto. Jantei no quarto e fiquei na cama. Eva não saía da minha cabeça e eu não sabia mais lidar com ela e com todas as emoções que despertava em mim. feria tanto que minha vontade era só de sumir. para me proteger. Ela era um pedaço tão grande de nós. a família que ela me deu. a felicidade que só conheci uma vez na vida. tão parecida com Eva! Lembrava-me tudo que eu queria e não podia ter: Minha esposa de volta. se nem a sinceridade e o amor que eu via em seus olhos e sentia em seus beijos podia me convencer? Tentei resistir as duas naquela noite. embora morresse de saudades. Como ter tudo aquilo se foi baseado em uma mentira. se me enchia de dúvidas e desconfianças. Eu não estava .coragem de tê-la perto. vendo-a na cama. desejando-a mais do que era humanamente possível. mas acabei saindo de madrugada do quarto e indo ao dela. E muito sozinho. Eu lutei para conseguir. E daquela vez não consegui me refugiar na raiva. mas como? Estava exausto demais naquele dia para saber. Ficou tarde. Queria me livrar de tudo aquilo. só na dor e na saudade. a casa silenciosa e eu não conseguia dormir. voltar a ser eu mesmo. Eu sentia falta .bem e foi uma luta ficar longe de Eva por quase duas noites. E então me levantei. o que seria melhor. Só matar a saudade para conseguir dormir. Passava da meia-noite. descalço. com Helena nos . angustiado.de Helena. ainda de jeans e blusa preta amarrotada. Eu só ia vê-la e pegar um pouco a minha filha. Saí do quarto e fui para o de Eva. na certa as duas dormiam. Entrei lá e me surpreendi ao ver Eva de pé no meio do quarto. Disse a mim mesmo que não tocaria em Eva. Sentei na beira da cama e corri os dedos entre os cabelos. Sentia falta de Eva. Eva? . Temos que levá-la para o hospital. dizendo no atropelo: . – Eu me aproximei mais e pus a mãos sobre a testa de Helena. nem acordou para mamar e fui pegá-la agora.Calma.braços.Eu achei Helena quietinha demais. Estava muito quente e ela .O que aconteceu. segurando o celular contra a orelha e se debulhando em lágrimas. correndo para mim nervosa.Theo! – Disse angustiada. . Meu coração quase parou. Está queimando em febre! Estava aqui tentando ligar para Tia. . estou apavorada. Coloque uma roupa e pegue as coisas dela.Tá bom! Mas vamos logo. E . – Vamos agora. Theo. um pavor me dominar na hora. Senti um baque por dentro. Acomodei Helena na cadeirinha de bebê no carro e Eva foi atrás com ela. Não acordamos os outros. E assim fizemos. Em questão de minutos saímos de casa e acionei os seguranças.parecia mole. por favor! Não demora. Vou pegar meus sapatos e documentos. . . Isso acontece com bebês. também nervosa. E quando vi. estava assim! – Eva estava pálida. mas às vezes é manhosa. como sempre faz. . dois carros de segurança nos seguiam. O médico vai .Não. Não estava com febre.Ela estava assim durante o dia? – Perguntei. . nervoso. lançando um olhar a elas pelo retrovisor.Calma. é só uma febre. Eu a achei meio enjoada.enquanto eu dirigia de madrugada em direção à Florada. Só que não acordou meia noite para mamar. Um dos seguranças a seguiu e parou na porta do consultório. mas eu não quis acordá-la e preocupá-la. Ela acenou com a cabeça. e logo ela estará melhor. . era experiente. pálida demais. mas continuou apreensiva. Se Tia estivesse ali poderia nos confortar melhor. enquanto eu preenchia a ficha de entrada.examiná-la e medicá-la. Estava vazio e na mesma hora Eva e Helena foram encaminhadas a um consultório. Chegamos ao hospital e os seguranças nos seguiram discretamente para dentro. se quiser.embora eu pudesse vê-lo dali. . ouvi o jovem médico dizendo a Eva. mas fique calma! Ela já está sendo .Obrigada. Acenei com a cabeça e segui rapidamente para lá. – Disse a recepcionista.Vejo que está muito nervosa. – Pode se juntar à sua esposa lá dentro. A porta estava entreaberta e. quando terminei tudo. enquanto examinava Helena só de fralda em uma maca no canto: . quando a abri mais. senhor Falcão. eu tomo muito cuidado. Nem contato com muitas pessoas nós temos. isso é normal. nunca pegamos vento. . Doutor? Eu juro.Não é culpa sua. Vou deixar meu cartão pra você com os meus números pessoais caso precise de qualquer coisa. quase não saímos de dentro do quarto. mãe.Será que eu fiz algo errado pra ela ter tido essa febre.atendida e logo estará melhor. digo . . e o pouco que ficamos no ar livre. só precisamos descobrir o porquê dela estar assim e dar o remedinho certo. e sei como é complicado ser sozinho. ouvir aquele médico querendo dar uma de garanhão e todo prestativo pra cima de Eva foi demais. Entrei pisando duro e falei em tom autoritário: . Depois do modo que eu me sentia e de toda preocupação com minha filha. Aquilo foi o cúmulo para mim.qualquer coisa mesmo. nem esperei a resposta de Eva. ainda mais com criança pequena e sendo uma mulher linda e mãe solteira.Ela não é mãe solteira e nem . Sou novo na cidade. não hesite em me ligar. . Tanto o médico quanto Eva me olharam.. Des. corado. – E se voltou rapidamente para Helena.. eu só. Olhei-o como se o quisesse matar e o homem chegou a estremecer. arregalando os olhos: .. Acredito que já ouviu falar de mim.Sou Theodoro Falcão. surpresos. senhor. O homem corou e gaguejou: . desculpe o engano. Lamento...Sim.está sozinha. Só queria ajudar. .. Eu. É minha mulher. sim... Já sim...Ah.. . como podia culpar o rapaz? Mesmo de jeans e despenteada ela era linda demais. Porra. parecia um anjo loiro e de olhos verdes. Eva me encarava. Eu a fitei de cara feia.colocando o estetoscópio no ouvido e examinando seu peitinho. mordendo o lábio inferior. O médico se concentrou . amarrada. perfeita. Parecia prestes a sair correndo ou se esconder embaixo da mesa. A mulher que qualquer homem desejaria. quase explodindo de raiva e ciúme. Isso era o que mais assustava.O que ela tem? .Garganta inflamada.totalmente em Helena. muito preocupado. O médico ficou ainda mais nervoso. querendo atenção. nem se rebelava. esperando que eu o pegasse na porrada. enquanto ele examinava a garganta dela: . que mesmo acordada ficava quieta. E mesmo sem ter mamado. Não chega . chorando. Perguntei baixo. Eu me aproximei mais e passei a mão na cabecinha dela. pois se estivesse bem estaria birrenta. mas para poucos dias. mas bem vermelhinha e irritada.a estar infeccionada. Adultos não podem ficar beijando o rosto dela nem falando muito próximo.Isso ela pegou de alguém. – Disse sem me olhar. Vou ter que passar um antibiótico. pois passam muitas bactérias e é muito novinha. ainda não tem anticorpos suficientes. falando sobre o ombro: . dando logo distância e caminhando apressado para sua mesa. Não é . explicando: .Pode vesti-la. Sentou-se e começou a escrever em uma receita. Quase se esganou de tanto chorar e eu a peguei no colo. mas Eva e a enfermeira acabaram conseguindo fazê-la tomar. Helena berrou por que não queria tomar os remédios. até que foi parando de chorar e ficou chupando sua chupeta. . – O médico . Vou pedir para a enfermeira trazer um remédio para baixar a febre e deixar tudo prescrito para vocês.nada grave.Ela vai ficar bem. Só medicá-la e continuar amamentando. molinha. acalmando-a. falando baixo e carinhoso com ela. Ao final. Eu apenas o encarei sério e na mesma hora piscou nervoso. – Manteve os olhos baixos. senhor Falcão. .De nada. Eu não o cumprimentei ao sair. desviou o olhar. – Disse Eva ao passar por ele. . forçando um sorriso para mim. foi correndo abrir a porta como se nos quisesse logo longe dali. senhora Falcão.Obrigada. para deixá-lo mais nervoso e não sair .assegurou. – Foi um prazer conhecê-lo. sem nem olhar mais na direção de Eva. Quando voltávamos para a fazenda. Tá achando que . não entendi nada também.Não sei.Eu não sei.Então como ele chegou a essa conclusão? .por aí dando em cima e cantando a mulher dos outros. eu indaguei irritado: . Acomodei Helena no carro e Eva se sentou ao lado dela. .Que porra foi aquela no hospital? Disse a ele que era mãe solteira? . Theo. seguidos pelo segurança. dei espaço pra isso? Será que não percebeu como estava preocupada com nossa filha? – Olhou-me pelo retrovisor. para que qualquer homem desse em cima e tendo o que era meu. – Mas no final das contas o médico está certo. E foi assim que dirigi de volta para . não está? Nosso casamento vai ser anulado. Vou ser mãe solteira. Eu me enchi de raiva. mas não retruquei. e ainda por cima querer ocupar o espaço de pai na vida de Helena também me deixava furioso. Imaginá-la solteira. livre. Parecia perturbada. Depois as esperanças de que algo desse certo. Era uma agonia. uma angústia. Eu já tinha perdido a confiança. Olhei para a estrada vazia à minha frente naquela madrugada e tudo que eu vinha sentindo naqueles dias e que ultrapassava a raiva me consumiu. uma sensação de que. Não queria mais Eva na minha vida e ao mesmo tempo não me . por mais que eu fizesse. E agora não tinha mais certeza de nada.casa. ia sair perdendo naquela história. que outro homem poderia tê-la. Eva teria tempo de reconstruir a vida. Mesmo que eu a denunciasse. Mas eu não. Como eu conseguiria a vida inteira? Arrancá-la de mim. afastá-la do meu corpo e da minha convivência. saber que reconstruía sua vida longe. Tinha uma vida pela frente.imaginava vivendo sem ela. fazer com ela tudo que eu queria tanto? Era jovem e linda. Por que . Tentei por dois dias e quase morri. o que eu sabia que não faria pelo menos pelo fato dela ser mãe da minha filha. tocá-la. levando Helena no colo. como ainda a amava apesar de tudo.sabia que nunca amaria ninguém como a amei.Ela nem mamou. . Já passava de uma hora da manhã e todo mundo dormia. . sofrendo. – Eva disse. Chegamos lá cansados. Era como se eu já me sentisse morrer e essa sensação era pior que tudo. adormecida. Eu entrei. agonizando. Eu me sentia sem escolhas. Preso. Entramos sem fazer barulho e o segurança que guardava o quarto de Eva nos cumprimentou. .Está tão cheio que vazou de leite.Veja se ela mama agora. Este estava molhado e ela disse baixinho: . sem conseguir tirar os olhos do seio muito redondo que ela desnudava. abrindo os primeiros botões da camisa e baixando a alça do sutiã. marcado por veias azuladas.Tá bom. . .preocupada. Eu fiquei imóvel. Senti o corpo reagir excitado. Ajeitou os travesseiros no espaldar da cama e sentou-se lá... Na mesma hora nossa filha se moveu e o abocanhou. vontade de descer a outra alça do sutiã e sugar seu mamilo. Acomodou-a com cuidado e segurou o seio. mamando faminta. Senti inveja dela. Só então me dei conta que era para entregar Helena a ela e o fiz. Fitou-me com aqueles grandes olhos verdes e me estendeu os braços. excitado. no meu . esfomeado. roçando o mamilo avermelhado e pontudo nos lábios da bebê adormecida.o desejo latejar dentro de mim. E se está mamando é por que está melhorando. Eva acariciou a penugem na cabeça de Helena e me olhou com um sorriso: . admirando-as. era minha perdição. ela é tão linda e tão perfeita.A febre está cedendo.limite. só olhando-as. Mas fiquei quieto. Acenei com a cabeça. sem poder parar de olhar para ela. Cada dia que passa eu fico mais encantada com nossa filha. né Theo? Aquele sorriso. aquela mulher. . desejo. sem condições de falar. Dentro de mim tudo crescia e se torcia. Eva pareceu perceber. dizendo apenas em um tom mais sério e inexpressivo que consegui: . pois mordeu o lábio e me olhou do mesmo jeito. dor.Hoje você pode ficar aqui? Tenho medo que ela passe mal de repente. Caminhei até a poltrona e me sentei. em uma miríade de sentimentos. Estou muito assustada ainda. mágoa. Eu não podia ficar. Ia ser tentação demais.paixão. tristeza. Murmurou: . Por favor. Mas era minha filha e eu não ficaria em paz longe dela. um abismo. se iluminou. carinho. Não falei nada. me afastar dela de vez.Eu fico. tanta coisa entre nós. esperança. Fitou-me com amor. Olhamos um para o outro. Era impossível cortar aquele fio. mas também tanta coisa ainda nos ligando. Terminou de amamentar Helena de um lado e tentou fazê-la mamar no outro seio.. E nem Eva. . Sua expressão mudou. Mas ela dormia profundamente e não pegou o mamilo. Não desviei o olhar. ainda cheio. E sorriu. vendo que quase não tinha mais febre. era difícil me concentrar em . seu perfume penetrava em minhas narinas. ao meu lado.Ela vai ficar boa. colocando a mão em sua testa. . Eva se levantou ajeitando a blusa.Eu me ergui e peguei nossa filha. Eu a deitei lá de lado e a cobri com a manta. o que fez logo. indo arrumar o berço. Mas tomei um susto tão grande! – Eva disse baixinho. para que arrotasse. fechando o mosquiteiro. Seu cabelo roçava meu braço. senti meu pau latejar. Olhei para ela. Virou-se para mim. Fui para mais perto. imaginei seu seio nu. As emoções me golpeavam todas ao mesmo tempo. também nervosa. com sua presença fazendo meu corpo doer e endurecer de tanto desejo.alguma coisa com ela ali naquele quarto comigo.Meu seio está doendo muito. segurei seus pulsos com firmeza. deixando claro que .está cheio de leite. dizendo: . E não consegui mais lutar. E aquilo foi minha perdição. vi como arquejou. lambendo os lábios. E em questão de segundos estava nua. ambos nus e colados. fitando-me com luxúria enquanto eu me despia também.queria aquilo tanto quanto eu. Eva obedeceu. agoniado com tanto tesão. arfantes. . Perdi completamente a razão quando a puxei para mim e agarrei a barra da sua camiseta.Tire o sutiã. – Falei entredentes. beijando-a na boca e sendo beijado de volta. tirando-a por sua cabeça. Puxei-a para mim e agarrei seu cabelo. . E já abria a sua calça. abraçados. precisando muito daquilo. me segurou. nossos sexos se roçando. Eva gemeu. . Andei assim pelo quarto.Eu delirei. me implorou com seu corpo e sua boca que não a deixasse. nossos ventres se colando. Ela estremeceu. mais do que do ar para respirar. enfiou os dedos em meu cabelo. E eu podia morrer naquele momento que não poderia me afastar dela. montada de frente. sem soltá-la. Sentei na cama e a puxei para cima de mim. correu as unhas por minhas costelas e costas. sem tirar minhas mãos dela. mas de Eva. Eu guardava e amordaçava meu amor por que ele era perigoso e podia me matar. Era uma fome que me devorava. mas . enraizada em mim. uma necessidade premente não só de sexo.choramingou rebolando sobre mim. por que eu não devia estar ali com quem me traiu duramente. senti o desejo e o desespero em igual intensidade dentro de mim. dizer como eu me sentia. dar a ela armas para usar contra mim. me deixando doido. Eu não podia falar. Apertei sua carne. me inebriei com seu cheiro. Parecia tão apaixonada.Vou cuidar de você Eva – E desci a cabeça para o mamilo em que Helena não tinha mamado. Toquei seu seio e o senti quente. inchado. duro. sugando-o forte. cansei de lutar tanto. Afastei os lábios e fitei os olhos dela. . tão doida por mim. pesados. eu murmurei: . que por um momento vacilei. E como se falasse só do seio cheio de leite e dolorido. fazendo-a gritar e tremer.também não podia resistir. nublados de desejo. me agarrando com volúpia. . até que senti o leite na boca e suguei mais. esfomeado.Ah.. descendo a mão entre nossos corpos e acariciando sua boceta. mas soltei a paixão e o desejo.. Theo. Usei o sexo para extravasar algo mais profundo e dolorido. deixei que eles falassem mais do que eu podia e me permitia.Chupei forte e contínuo. seu clitóris. Theo.. Os sentimentos estavam aprisionados dentro de mim. Eu não aguentei mais e a fiz se acomodar sobre meu pau. entrando nela . Que delícia Delirou em êxtase e me buscou. . seus tremores e contrações sendo sentidos por mim. sem parar de mamar em seu peito. me alimentando do seu corpo e do seu leite.duro e grosso. seus gemidos como música para meus ouvidos. enquanto montava em mim e eu a comia. forte e fundo. Gritou e me agarrou. já babando. enlouquecendo e deixando-a louca. Com um dos braços em volta da sua cintura e o outro agarrando sua nuca. eu a fiz se inclinar para trás e suguei forte seu mamilo. todo enterrado dentro dela. seu leite quente se derramando em minha . a necessidade só aumentava. queria tudo dela. Ela se movia e se sacudia enlouquecida ajoelhada ao lado dos meus quadris. Eu enlouquecia. sua alma. ondulando e choramingando agarrada em meu cabelo. seu gosto. consumia tudo. sua essência. seus sons. Estávamos além de qualquer controle e eu a penetrava em estocadas longas e firmes. E nada para mim era o bastante. E logo se . sua carne.língua. encontrando minhas estocadas no meio do caminho. exigia satisfação. ia além do corpo. Não demorou. antes de puxar meu pau para fora. Era mais forte que eu. saindo também. furioso. Como fingir que era só sexo se . inundando-me junto com o prazer embriagante. pressionado entre nossos corpos. Gemi rouco em seu mamilo e senti o leite na língua. jorrando esperma em sua barriga. consegui me lembrar que estava sem preservativo e a deixei se acabar. Ainda tentei me segurar. uma dependência absurda. Eu a abracei quando acabou. feroz.sacudia em um gozo longo. Emocionalmente eu era assim. Por um momento. minha decepção. que eu poderia tocá-la e cheirá-la quando não tivesse forças o bastante para resistir? Fechei os olhos contra seu pescoço. senti suas mãos em minha cabeça. do contato. seus beijos perto da orelha. meu amor e minha necessidade.eu precisava daquilo. de saber que estava perto. Não . com meu ódio. só um garoto. Nunca me senti tão desolado. não me senti um homem. Não sabia lidar com tudo aquilo. sua respiração entrecortada junto a mim. suplicando: . . apertandome. Empurroume para trás. meu rosto. Theo.Fica aqui... meus lábios. seu tom implorante. – Murmurou carinhosa. Mas enquanto Eva me segurava em desespero . agarrada. Desabamos na cama e ela não me largou.. passando as mãos em mim. por favor.Theo. ainda por cima. como se também precisasse de mais.. erguendo a cabeça e buscando meus olhos.sabia lidar com Eva. Eu podia dizer que era por Helena e em parte não mentiria. beijando meu queixo. Os sentimentos e as emoções me venciam em sua luta inglória e segurei-a com as mãos espalmadas em sua cintura. eu fitei o teto branco do quarto e admiti a mim mesmo que estava cansado demais para lutar naquela noite.e me beijava. me livrar do seu domínio. E isso . E como se sentisse que eu não sairia dali. Que Eva me desse o conforto que eu precisava tanto. tentando empurrá-la.Eu te amo demais. ela beijou minha orelha e murmurou em meu ouvido: . Theo. mas precisando demais que alguém cuidasse de mim. mas como eu ia acreditar? Não respondi. .nunca vai mudar. Fechei os olhos e não a soltei. desde que soube quem ela era. E foi a primeira noite que dormi em paz. que dormimos juntos. Foi a primeira vez em mais de um mês. com Eva nos meus braços. Eva podia repetir aquilo sempre. E mesmo exausta.CAPÍTULO 11 EVA Não havia palavras para descrever o que senti por Theo ter ficado comigo na cama naquela noite. Eu gravava . eu não preguei os olhos. olhando-o enquanto dormia. abraçando-o. Eu fiquei deitada. sua boca carnuda e bem feita. pelas pequenas conquistas. temia nunca mais poder estar assim com ele. seus traços angulosos e rígidos. E agradecia a Deus por aquele momento. que me enxergasse por dentro. já me machucava de saudade.ainda mais seus traços. Aspirava seu cheiro. esperançosa de que o tempo agisse a meu favor. Eu me erguia devagar e ia até . Passava os dedos por sua barba macia e aparada. cuidadosa para não acordá-lo e fazer com que saísse dali. que ele visse o quanto era amado e adorado. . correndo para ver minha filha. com ela chorando. Sentei assustada. o coração disparado. segurando-a. Acordei de manhã bem cedo. .Vem com a mamãe. confirmando que estava bem e sem febre. Fiquei assim até que coloquei a cabeça no ombro de Theo e me senti tão bem. – Murmurei. a cama vazia. levando-a para . que acabei pegando no sono. Não estava com febre e achei que fosse fome. tão no meu lugar. amor. Levantei de um pulo. lamentando que Theo não estivesse mais ali..Helena. Podia ser loucura acreditar naquilo. querida. eu a acariciava contra mim e olhava o lençol amarfanhado. Ele demonstrava que ainda . Você vai ver.. Sorri para Helena e disse baixinho: . sabendo como Theo era duro e genioso. o travesseiro marcado pela presença de Theo. Mas eu sentia que havia uma esperança.a cama para amamentá-la.Papai vai voltar pra gente.. E enquanto o fazia. sentindo-o ainda ali. Eu o olhei apaixonada. ele entrou no quarto todo elegante e lindo em um terno grafite. Antes de ir para o trabalho. mas recebi um olhar seco de volta. cabelos penteados para trás. Estava acompanhado por Tia e me contive. E eu estava decidida a usar todas as armas para conquistá-lo e mostrar o meu amor. após trocar sua fralda. não resistia o quanto pensei que faria. enquanto terminava de fechar a roupa de Helena na cama. temendo em minhas esperanças. que ainda sentia ciúmes. barba aparada. .me desejava. O que houve com a minha bichinha? – Tia disse toda preocupada. Quando se abaixou para acariciá-la.Sim. mas já a mediquei. frio. Acenou com a cabeça. como se não tivesse passado a noite comigo. olhando para Helena. que estava acordada e sacudiu as perninhas. – Está melhor? .. sentando na beira da cama. mais . .Teve febre de novo? – Indagou Theo. senti o seu perfume. se inclinando para beijar a barriga dela. – Eu tinha acabado de dar o remédio dela. Desesperada. . doida para ficar mais tempo com Theo. não quisesse mais nenhum contato comigo. indaguei a mim mesma como poderia sobreviver. – Menti. fico com ela. Não pude tirar os olhos dele.Deve estar cansada. – Se quiser dormir um pouco. pois me sentia agoniada. Ele pegou Helena com cuidado.uma vez me dei conta de como era bonito e másculo. . pensando como seria se um dia realmente me expulsasse dali. .Estou bem. – Tia disse para mim. afastar aquela frieza. Ainda havia um resquício de carinho em sua expressão e fingi que era para mim. .Tá. apaixonada também pelos dois. Mordi os lábios. – Acenei com a cabeça. Era incrível como era carinhoso. . ligue para mim.acomodando-a nos braços. um sorriso se desenhando em seus lábios. como se derretia perto da filha. sua expressão se desanuviando ao olhar para ela. apaixonado. Brincou um pouco com ela e então tornou a me fitar. Mas sua voz saiu seca: .Se ela piorar. Eu ficarei aqui também. A entregou para Tia e voltou a afirmar: .. beijou Helena no alto da cabeça. se precisarem de mim. Não a deu para mim. No fim. disse algo baixinho para ela e veio para a cama. . como se não quisesse me tocar nem chegar perto de mim.Hoje as babás que contratei começam a trabalhar e podem ajudar você.Não deixem de me ligar se ela tiver qualquer coisa. . – Garantiu Tia. . deixando-me com saudade e tristeza. Theo sorriu e beijou a senhora no rosto..Vá trabalhar despreocupado. .Estou bem. Então. só um olhar sério. – Forcei um sorriso. – Disse Tia. As coisas iam ser mesmo muito difíceis. – Tia sorriu.Não fique assim. – Vai ter um batalhão aqui para cuidar da sua menina. Para mim. . deu-nos as costas e saiu do quarto. .Eu soube que Theo passou a noite aqui. . comentando: . Não vê que ainda a ama? E que aos poucos cede mais? . com um bolo na garganta.Vai passar. Eva. por Helena... . O tempo é o melhor remédio para tudo.. – E por você.Hahã.Ele me olha com tanta raiva ainda. – Sorriu e piscou um olho. .Sim.Quem? Tia deu uma risada e inclinou a cabeça para Helena em seu colo. E vocês tem uma forte aliada. .. – Desabafei. A babá chegou e nos foi . As coisas foram se acomodando naquele dia. que felizmente foi se espaçando e cedendo durante o dia.. Acabei sorrindo e olhando para minha filha cheia de amor. De manhã fui pegar um sol com Helena no jardim e Tia me fez companhia.Essa espertinha aqui vai unir mais vocês. Depois Gabi chegou com Caio e ficou toda preocupada ao saber da febre da sobrinha. Heitor e Pedro vieram ver Helena e a pegaram no colo. mulata. enquanto Tia ia fazer suas coisas e logo agradava a babá e a conquistava trazendo um pedaço de seus bolos deliciosos. cuidou de Helena e de Caio. Joaquim. que tinha quatro filhos e dizia adorar crianças. . Era uma mulher robusta de quarenta anos. Seu nome era Hilda e trabalharia na casa de segunda à sexta durante o dia.apresentada. Gostei dela e Gabi também. cabelos curtos. um belo sorriso aberto. Nos fez companhia. que seu sonho era morar na . morena clara com cabelos castanhos compridos presos em uma trança. fazendo-os de gato e sapato. disse que tinha 24 anos e gostava muito de crianças. Eu só sorria. Era magrinha. imaginando como ela teria todos aqueles homens nas mãos. À noite chegou a outra babá contratada.preocupados e cheios de mimos. Sorria e era simpática. rosto atraente. pequena. Foi um dia bom. onde parte da minha angústia passou. ainda mais por ver Helena melhorando. Gostei dela e Gabi também. No entanto. mas Gabi me disse que Theo ia contratar duas babás para a noite. mas ainda não tinha tido condições. Ficou brincando com Helena no quarto enquanto eu ia tomar banho. a babá. Cássia. Caio dormia bem e não dava trabalho. precisaria mais. E como Helena estava doentinha.capital e cursar pediatria. Prontificou-se a revezar com Helena e Caio. disse que estaria à disposição dela também. Quando saí de lá. vi Cássia toda corada . mas ela não quis. Como ela está? – Perguntou baixo. sério. tudo se tornando mais intenso e perturbador. lindo de jeans e camisa polo cor de vinho. Theo me olhou de cima abaixo. a energia pulsando. O clima pareceu esquentar entre nós. Quase não tem mais . mas fiquei com ciúmes. . para a camisola branca que me cobria. Theo estava lá. com a filha no colo.e nervosa e entendi o motivo.Bem. A moça o espiava com evidente admiração e não pude culpá-la. . Eu perambulei pelo quarto e fui olhar a noite pela janela. saudosa. para estar com os dois.Vou ficar um pouco com Helena lá embaixo enquanto a Cássia janta. Assim só o olhei. – Tive vontade de pedir que ficasse ali. Theo saiu com Helena e a babá os seguiu. . . Ele acenou com a cabeça. .febre.Tá. sentindo-me muito sozinha. Depois ela a traz de volta. Mas sabia que não adiantaria nada. mordendo o lábio. Quando a porta abriu.Foram duas horas lá e o tempo se arrastou dolorosamente. nem ler ou ver televisão. forçando-me a comer só por que amamentava. mas sem fome nenhuma. Tia pediu para uma empregada trazer meu jantar e só belisquei. meu coração disparou. Depois escovei os dentes e continuei sozinha. Mas não era Theo e sim Cássia com Helena no colo.Tem alguém aqui que quer . A moça sorriu para mim e comentou: . Não consegui me concentrar em nada. mas em Pedrosa. E estava juntando dinheiro do trabalho como babá para se mudar para Belo Horizonte. Explicou que era a mais velha de uma família grande e sempre cuidou dos irmãos. Conversamos banalidades e . por isso tinha experiência. simpática. elogiando a fazenda e a família. Minha filha já se esgoelava de tanto chorar. Não morava em Florada.mamar. estudar. Eu a peguei rapidamente e a babá puxou conversa. ter mais chances de um emprego melhor. Eu a entreguei e murmurei: .Helena já tinha arrotado e adormecido quando a porta abriu de novo. Cuide dela lá.Sim. – Rapidamente a moça veio até mim e pegou Helena.Se ela tiver febre ou precisar . Daquela vez meu coração disparou com razão. Depois a chamo.Leve Helena até o quarto dela. aquele que a Tia te mostrou. senhor. Olhou-me com aquele jeito sério e então se dirigiu à Cássia: . Passava das onze horas da noite e era Theo. . .Theo. tremendo de ansiedade. de pé perto da cama. Eva.. eu. algo o preocupava. . desejo e saudade. Então se despediu e saiu com ela do quarto.de algo. . vou cuidar dela direitinho. Eu e Theo nos olhamos. segurou a blusa polo e a arrancou pela cabeça. – Garantiu sorrindo. mas seus olhos ardiam.Não quero conversar. – E como a comprovar. .Pode deixar. . avise. Senti-me muito nervosa. Não parecia com raiva. olhei-o com fome. eu me aproximei dele e disse baixinho: . E enquanto abria a calça. . Seu tom duro não me desanimou. Sexo. E .Fique hoje também. não disfarcei tudo o que eu sentia.Adorei você ter dormido comigo de madrugada. Mas eu queria muito mais. Parei perto. desejava-o e sentia falta dele. .Eu sabia o que ele queria.Não. tomaria tudo que me desse e lutaria por mais. No entanto.Foi por Helena. . E fez. – Estava irritado e na mesma hora levei as mãos ao seu peito e o acariciei. ardeu em pura necessidade. um toque. murmurando: .Eu quero tudo que puder me dar. . colando-me a ele.Já falei que não quero conversar. Seu olhar mudou. Theo. qualquer migalha para diminuir a falta que sinto de você.murmurei: . Um olhar.Faça o que quiser comigo. . suas mãos subiram para me segurar. Pois mesmo daquela maneira os sentimentos extravasavam. uma entrega de corpo e alma. Penetrou-me de pé. os gemidos roucos de necessidade e paixão. não conseguiu. foi delicioso. Se queria provar que era só sexo. pressionada contra a parede com minhas mãos e meu rosto espalmados sobre ela enquanto me comia por trás. uma luxúria . seco. os toques eram de posse. Como sempre.Ele me devorou e nem chegou até a cama. bruto. Foi duro. Nós nos beijamos e acariciamos em volúpia e paixão. Theo. enquanto se enrijecia: . E me deixou. . Quando acabou. enfiando sua camisa.avassaladora. afastou-se de mim. Gozamos e ele usou preservativo.Não. Ainda nua. foi se vestir. eu o abracei pelas costas e pedi baixinho. .Vou mandar a babá voltar.Fique. . caminhando para a porta e dizendo sobre os ombros com uma indiferença que me magoou: . Ele não queria me dar chance nenhuma.Eu amo você. indo para o banheiro. mas eu disse assim mesmo: . Eu mordi o lábio e respirei fundo. Quando Cássia voltou.Ele abriu a porta. E isso nunca vai mudar. . E quando eu pensava que se aproximava. Não chorei. Não olhou para trás nem parou. dava um jeito de se afastar mais. mas senti um misto de esperança e decepção. Saiu e fechou a porta. brusco. já que eu ainda não me sentia preparada para deixar minha filha dormir longe de mim em outro quarto. travesseiros e edredons e a moça se acomodou. Eu voltei à cama. pensando que não havia necessidade de uma babá . Preparamos o sofá com lençol. saudável. Felizmente ela dormia tranquila e relaxada.acomodou Helena no berço e fui conferir se estava tudo bem e se a febre tinha cedido mesmo. Havia um sofá fofo perto do berço e Cássia garantiu que ficaria bem ali. dei boa noite e me acomodei na cama. mas sabendo por que Theo a contratou.durante a noite. que quase não dormia pois preferia entrar ali de noite e bater papo. Para poder fechar os olhos e rememorar várias vezes meus momentos com Theo. dizendo que era viciada em Facebook e Whatsapp. meu corpo incendiado. Para ter alguém com Helena quando ele quisesse vir de madrugada. . Eu sorri. Cássia deitou-se e ficou mexendo no celular. guardando a presença do dele. ela trocou sua fralda. aprontando-se para ir embora. .Acabei pegando no sono e acordei três horas depois com Cássia me chamando e me dando Helena para mamar. colocou para arrotar e a arrumou no berço. Consegui relaxar e dormi de novo. Pouco antes das sete da manhã levantei e a babá já sorria. Depois. Mais um dia se iniciava e com ele todas as minhas esperanças. Seu horário tinha terminado. desperta. Precisei fazer uma viagem rápida a São Paulo para fechar um contrato importante e ficar 24 horas longe de Helena foi um sacrifício.THEO Uma semana se passou e o mês de novembro se aproximava do fim. admitiria que ficar longe de Eva . O calor estava forte naqueles dias e na Falcão os negócios se expandiam cada vez mais. E se eu fosse sincero comigo mesmo. Nós tínhamos criado uma espécie de rotina. Eu ia ao quarto dela toda noite. Eva estava sempre linda e ansiosa me esperando. que me saciava e ao mesmo tempo me deixava cada vez mais preocupado. A babá já até sabia e ficava no outro quarto com Helena.também. pois se tornava uma dependência em minha vida. briguei comigo mesmo. mas sentia uma . Era uma loucura e eu tinha raiva de mim mesmo por aquela fraqueza. E quando eu entrava. Tentei resistir uma ou duas vezes. Por que eu passava meus dias faminto e só me alimentava quando a tinha contra mim. eu me sentia um drogado. era mais. só então eu era eu mesmo em minha essência. fitar todas as emoções em seus olhos e poder abraçála. que só havia aquilo entre nós. cheirar sua pele. E embora parecesse que era só sexo. Ouvir sua voz. beijar sua boca. Aqueles momentos traziam a desculpa e a oportunidade para tocar seus cabelos. muito mais.falta absurda dela. precisando da sua dose para . E isso era pior do que um vício. Mas o Theo do passado parecia ter ficado em alguma parte do caminho. com elas na cabeça o tempo todo. Ficava assustado com tamanha loucura. eu . voltar a ser eu mesmo. Na cama. Muitas vezes pensei em ir ao clube. por meu mundo girar em torno delas. quando pegava Eva.sobreviver. tentei me imaginar com outras mulheres. por nem minha decepção e minhas desconfianças serem fortes o bastante para me conter. Eu estava completamente obcecado em Eva. apaixonado por Helena. Outras vezes eu estava agoniado. suados e arfantes. no meu corpo. como se soubessem que eu era um tolo apaixonado e que não . Tinha dias que eu só queria beijá-la por inteiro e sentir sua boca no meu pau. Passávamos horas na cama entre beijos e carícias. enquanto eu ouvia suas doces declarações de amor e fingia ignorar. irritado por que meus irmãos e Tia me davam sorrisinhos. mesmo com meu coração batendo forte e minha alma parecendo alcançar locais nunca antes encontrados.intercalava momentos de ódio e amor. mas deixei passar. como se pensassem: “Lá vai ele comer na mão da Eva”. furioso.resistia à Eva. hein? Fiquei irritado. Uma vez encontrei Pedro quando saía do quarto dela de madrugada. Outra vez foi Tia e Gabi. cheias de sorrisinhos quando me viram sair da sala e dizer que ia me recolher. no corredor. O segurança apenas observou enquanto meu irmão passava com um sorriso debochado e comentava: .Divertindo-se. . Isso me enlouquecia e eu chegava cada vez mais ao meu limite. Meu instinto animal e violento vinha à tona e eu espancava sua bunda. Mas nessas ocasiões eu ainda mantinha controle sobre a minha raiva. tanto que meus orgasmos eram sempre monumentais só de assistir aos dela.Nessas vezes. onde eu quisesse. Deixava-me fazer tudo o que eu quisesse . amarrava seus pulsos na cama e a fodia sem dó. Eva me olhava com paixão. era bruto com ela. E mesmo sendo um brutamontes. não extrapolava um limite que sabia que ela não aguentaria. gemia e gozava. a enchia de mordidas e chupões. Entrei e era como .e isso só me enlouquecia ainda mais. deixou-me mais feliz do que eu poderia supor. Era uma relação que capengava entre tantas dúvidas e sentimentos contraditórios. Voltar à Fazenda naquele sábado. parar meu carro em frente ao casarão e saber que eu veria minha filha e poderia rever Eva. Por isso achei que a viagem viria a calhar e peguei meu jatinho para São Paulo. Mas passei o dia e a noite lá como um viciado privado de sua droga. Não tive paz nem dormi direito. Quase morri de tanta saudade. que trazia Caio no colo. coberta por uma touca.Chegou bem na hora do . . .Fechou o negócio? – Indagou meu irmão. descendo a escada com Joaquim. do que me fazia feliz. privado da minha vida. Ele dormia serenamente.Sim.voltar após anos de distância.Tudo tranquilo.Theo! – Gabi me cumprimentou sorrindo. . – Eu me inclinei e depositei um beijo sobre a cabeça de Caio. – Como foi a viagem? . . ..Tudo bem. – Ela sorriu. – Eu não disse o quanto estava ansioso para vêlas. – Vou lavar as mãos e já me junto a vocês. Está todo mundo na sala de jantar. Gabi.almoço. lavando as mãos e me . Ela e Helena estão lá. Mas se você. . Eu fui ao banheiro.Nós pensamos que só voltaria mais tarde e Tia chamou Eva para almoçar com a gente. só para ganhar tempo. – Gabi ficou meio indecisa quando eles vieram perto de mim e explicou: .Certo.. olhando no espelho bem sério. como não acontecia há quase dois meses. tentando estar seguro e controlado quando fosse para a sala de jantar. abrindo espaços para Eva ocupar. meu lado racional me avisou que eu estava cada vez mais sendo dominado. E eu abria mais uma brecha em minhas decisões: ia permitir que estivesse comigo e minha família ao mesmo tempo na hora das refeições. Enquanto eu ia para a sala de jantar. E decidi ficar mais alerta. . A saudade me corroía. tinha sido enganado. Irritação e saudade duelaram dentro de mim.deixar que os sentimentos e desejos não me abrandassem. . talvez esperando uma dica da filha para me pegar. decidido. Eu tinha que ter em mente a traição de Eva e que a mãe dela ainda estava à solta. Isso podia acontecer de novo. como se nada me incomodasse. aparentemente calmo. E foi assim que entrei na sala de jantar. mas segui como se fosse o dono do mundo. Eu podia estar caindo em uma armadilha. Além disso. corando. eu caminhei até a . Eu reagi de imediato e vi quando prendeu a respiração e entreabriu os lábios. Mas meu olhar seguiu direto para Eva. com o carrinho de Helena a seu lado.Theo.. fazendo o ar esquentar e estalar.Estava todo mundo da casa lá. – Falei baixo. ..Boa tarde. Ela já parecia ansiosa e seu olhar mudou quando encontrou o meu. . sentada em uma ponta. Foi como se uma corrente elétrica corresse pela sala. afetada a me ver. – Enquanto os outros me cumprimentavam. minha mão enorme em seu rosto. Helena dormia serenamente. Finalmente me senti inteiro. parecendo um anjo. virando-me de imediato para ver a minha filha no carrinho.Ela sentiu sua falta. baixinho. .ponta oposta ao meu pai e sentei ao lado de Eva. na minha casa. Com Eva. linda em um macacão branco e touca rosa. Meu peito se encheu de amor e de saudade e eu a acaricie com carinho na bochecha. . fazendo-me olhá-la. ali com ela e minha família. – Disse Eva. Acenei com a cabeça e aceitei uma bandeja de salada que Tia me entregou. ignorando Eva a partir dali.Chorou bastante. Heitor e Pedro se divertiam contando alguns casos engraçados. O ar pulsava entre nós. Retruquei secamente: . Mas de resto. O almoço foi animado. ficou bem. denso.Helena ficou bem? . pesado. Joaquim se metia .Tinha falado com emoção contida e seus olhos pareciam dizer: “EU senti a sua falta”. saudoso. o modo como parecia ligada em mim o tempo todo.para rir e falar também. mas em geral ficava na minha. E então eu não aguentava e olhava para ela. Sentia seus olhares. Tia e a enfermeira Margarida falavam sobre receita. notava seu nervosismo. Gabi puxava assunto com Eva. meu pai rosnava. lutando para não reparar em cada respiração de Eva ao meu lado. comendo. Ela não disfarçava tanto. Eu respondia quando era solicitado. Ficavam patentes as emoções e sentimentos que corriam . pois me sentia amado. Eram muitas dúvidas me remoendo e abalando. não depois do que fez. adorado. naqueles momentos. eu sentia que não era falso. fissurada em mim. Mas tinha momentos que era difícil manter minhas certezas. do mesmo jeito que eu era nela. desejado com intensidade e plenitude.entre nós e. . Só se Eva fosse uma atriz espetacular. Nunca era falso o modo como parecia apaixonada. Não podia acreditar em seu amor. como em muitos outros. Não dava para uma pessoa fingir tanto. Até que estava nervoso. . nossa incapacidade de participar do resto da conversa e se desligar um do outro. incomodado.Ficou patente o que acontecia entre nós. com raiva de mim mesmo por ser transparente. como de Tia e Gabi. Eu me sentia um inseto analisado em um laboratório. querendo cada vez mostrar mais uma coisa que eu não sentia. nos lançava olhares de riso. ou esperançosos. como de Pedro. E reparei que minha família notava. por não conseguir disfarçar o quanto Eva me abalava. Que eu aos poucos perdoava Eva e a deixava voltar à minha vida. Sentia-me um idiota e me arrependi por tê-la deixado almoçar ali com a gente. Peguei-a no colo com cuidado para não acordá-la e consegui me acalmar um pouco. quando já tinha avisado que não queria cruzar com ela quando eu estivesse na casa. . morto de saudade de senti-la e cheirá-la. Irritado. me levantei e me inclinei sobre Helena.Felizmente o almoço acabou e eu entendi o que todos deviam estar pensando. Só quando eu a procurasse. Não teve como não me abalar.Os outros falavam entre si. nervoso. da vontade de puxá-la para meus braços e .Senti sua falta.Como foi sua viagem? Eu a olhei bem sério. Eva se ergueu também e perguntou a mim: . – Murmurou. E indaguei entredentes: . seus olhos cheios de emoção. Senti-me acuado. cheio de dúvidas. Quis sair de perto dela. como se fosse só para eu ouvir.Por que quer saber? . do feitiço que parecia jogar sobre mim. puto.Theo. Assim. . Precisava de espaço.Fique aí.Dar uma volta com minha filha. me afastei.. de um lugar longe dela onde pudesse me controlar e voltar a ser eu mesmo. . saí da sala de jantar com minha filha e fui caminhar com ela no colo.Aonde você vai? . – Falei seco. acariciando-a com cuidado para não acordá-la.. admirando-a cheio . travei. na varanda. Mas me contive.tê-la junto a mim como eu fazia com Helena. . apenas deixando meus sentimentos e preocupações extravasarem. apoiei-a contra o peito e olhei as terras lá fora. Não demorou muito. Éramos um dos maiores exportadores de carne do país e de . Era só nela que eu devia me concentrar. pensativo.de amor. sentou na murada da varanda e perguntou como foram os negócios na viagem. Heitor apareceu. Depois sentei no sofá. Logo Pedro e Joaquim também vieram e conversamos sobre como a Falcão prosperava cada vez mais. Micah tem ajudado muito. Não estendemos muito o assunto . – Falei e meus irmãos concordaram. tudo andava de vento em popa e trabalho nunca faltava.Quem sabe ele goste daqui e resolva ficar de vez. . E não parece o tipo de gostar de ficar em um lugar só. animado: . .Acho difícil. – Opinou Heitor. Naquela parte.vendedores de sêmen de touros premiados. Joaquim completou. – Tem o trabalho dele na ABIN. falei com ela. Olhou-me concentrada. na certa sabendo das minhas regras.em casa. Foi uma tarde agradável e quando Helena acordou berrando. Quando Tia e Gabi se juntaram a nós na varanda. entendi que Eva tinha se recolhido a seu quarto. prestando atenção na minha voz. Almoçar comigo na mesma mesa já tinha sido uma quebra naquilo. Mas depois de um tempo voltou a . pois nosso pai não sabia ainda que Micah estava na cidade. seus olhos a coisa mais linda de se ver. eu sorri. gritar e. rindo. ansioso. tendo certeza de que ela me esperava. embora soubesse que era uma luta perdida. Finalmente tudo se aquietou e saí do quarto. nervoso. como se uma parte de mim faltasse. Aquela noite de sábado ia adentro e eu lutava para resistir ao máximo e não procurar Eva. Tia a levou para mamar. Quando abri a porta e entrei. a babá . vi Cássia. Só esperava a casa silenciar para ir ao quarto dela e matar aquela necessidade que me devorava vivo. olhos maquiados . . Estava ainda mais linda. – Passou a meu lado com minha filha adormecida. um vivo batom vermelho. como se fosse possível. E fiquei encantado. doido ao vê-la com os cabelos soltos e brilhantes. Deslumbrante. A moça ficou corada e na mesma hora se tocou que era para sair. com Helena no colo.da noite. alucinado. Eva estava sentada na poltrona e parei ao dar com ela.Com licença. enquanto eu mantinha a porta aberta para ela passar e depois a fechava. meu pau já estava completamente ereto. Vi suas unhas pintadas de vermelho. me dar o golpe final. mas mesmo assim não pude resistir. Meu coração disparava. renda colada nos seios redondos e curta. A fome que me consumia era devoradora. sua boca rubra e o animal . delicadas sandálias vermelhas de salto. com decote pronunciado.e uma camisola vermelha na cor de sangue. Conscientemente eu soube que estava pronta para me seduzir. Para completar. estonteante. Tive muita raiva do seu poder sobre mim e ao mesmo tempo soube que não havia muito o que fazer. não a atacar como eu queria. lambendo os lábios. Eva se levantou. respirar. uma realidade. tomou-me violentamente. vindo para perto como se soubesse como eu estava e que lutava uma batalha perdida. Seus olhos verdes brilharam emocionados quando parou à minha . Tentei me conter.dentro de mim rugiu. Eu era louco por ela e aquilo era um fato. Mas não avancei. . colando-se em mim. Theo. que me tocava por espelhar o que eu mesmo sentia? Nem pude pensar ou reagir.frente e falou baixinho: .Eu quase morri longe de você. mas como negar tudo aquilo que extravasava dela como uma energia viva e pura. pois já levava as suas mãos sobre a minha blusa e as subia por meu peito. nem mesmo tentar disfarçar como me abalava. Não quis acreditar. ficando na ponta dos pés para cobrir meus lábios com os seus. Agarrei sua nuca e sua cintura. Era só aquilo que eu precisava para viver. ao mesmo tempo que sentia cada palmo de sua pele junto a mim e meu coração .Senti que tudo dentro de mim gritava. finalmente encontrando meu lugar ao sentir seu gosto em minha língua e seu cheiro em minhas narinas. Encontrei sua língua e a fiz minha. crescia. se expandia sem controle. puxei-a forte para mim e a beijei apaixonado. a lambi e chupei. a envolvi. para não penar pelo mundo como um cachorro abandonado. sôfrega. mãos em meu pescoço e cabelo. a necessidade .batia descompassado. nervoso como eu. Era uma sensação única e inexplicável de saber onde era o seu lugar no mundo e o meu era ali. exigindo. parecia refletir o limite em que vivíamos. Eva me agarrou e apalpou. choramingando. alterado. minhas costas. Nós nos beijamos e tocamos como se o mundo fosse acabar e aquele fosse nosso último encontro. pedindo. gemendo. Aquela sensação era premente. meus ombros e peito. guerreando com a realidade. – Sussurrou entre beijos. exigia que eu a tivesse. E enquanto o fazia... me dominava. Eu a ajudei e tirei-a por sobre a cabeça. Era uma luta realmente perdida. erguendo os braços. mas o meu emocional era incontrolável e gritava mais alto. segurando a barra da minha blusa e puxando-a para cima.Como eu te amo. sabia que eu morreria se ficasse longe. me alertar de que ela me vencia. . Eva acariciava e beijava meu . esfomeada. Mais uma vez meu lado racional tentou reagir. se inebriando comigo.. .Porra. E suas mãos agarravam meus bíceps.peito com desejo. a deixasse fora de si. esfregando o nariz ali. beijando-me sobre os pelos. excitado. meu pau quase explodindo . lambendome como se sua fome fosse perversa. Antes que eu me desse conta e pudesse abaixar os braços.. subia a língua pelas linhas das costelas até minha axila. tentando me manter assim para continuar me cheirando e lambendo. – Deixei escapar. Fiquei imóvel e os olhos dela brilharam. meu corpo todo entrando em combustão instantânea. fitando dentro de seus olhos. Calei-me antes que eu completasse a palavra. a voz saiu baixa e suplicante: . sua mão acariciou minha barba. Então agarrei seu cabelo e a trouxe para mim.. chocado. coel.dentro da calça. como eu sempre fazia antes de descobrir sua traição. Tinha sido tão natural tê-la nos braços que quase a chamei de Coelhinha. indagando rouco: Quer me enlouquecer.. Theo. Sou sua coelhinha.Nunca mais. a razão me fazendo completar: .. . Sempre. Theo. Sou sua e só sua. eu sempre vou amar você e isso não muda. .Não. . uma dor excruciante apertando meu peito. – E repetiu o que dizia a cada vez que eu ia ao seu quarto e já se tornava um mantra: . – Rosnei.Sempre vou ser sua coelhinha. E isso nunca vai mudar.Eu te amo. Olhei dentro de seus olhos. por mais que não acredite em mim e que nunca me perdoe. indo beijar minha boca. – Pediu. . com medo de ceder mais do que eu podia ou devia. E naquele exato momento. Saboreou meus lábios e fiquei imóvel.Não atenda. lutando comigo mesmo. Por isso a soltei e dei um passo .. eu não poderia mais confiar nela. que meu amor me fizesse perdoá-la.sabendo que eu perdia feio aquela batalha.. Tive muito medo que meu ódio cedesse. sedutora. o celular em meu bolso da calça começou a tocar. por que no fundo eu sempre teria dúvidas. – Meu genro! Quem diria isso? Olhei para o visor do celular. tentando ganhar tempo e me acalmar. dando as costas a Eva e andando pelo quarto. Furioso.Oi. pegando o celular. vendo número inexistente. Corri os dedos pelos cabelos e atendi sem nem ver quem era. .para trás. .Theodoro Falcão. o todo poderoso! – Escarneceu uma voz feminina que gotejava ódio e malícia. indaguei: . me fazendo parar e enrijecer. Theo? Pelo que Eva me conta. Em todas as outras noites vai com o rabinho . é casado com minha filha. me sentindo furioso e nervoso. . . .O que você quer? Luiza riu.Quem é? – Eva perguntou nervosamente atrás de mim e virei para ela.Ora. fitando seus olhos assustados. somos da família! Afinal. Só ontem. ..Casamento que nunca existiu. você está bem empenhado em manter esse casamento. que viajou. não foi ao quarto dela.Tem certeza. – Riu de novo.entre as pernas para a cama de Eva. vai comer na mão dela. E por mais que você esperneie e grite. Theo Falcão. um fraco! Sabe com quem ela aprendeu? Com a mamãe aqui. – Interessante como uma mulher pode minar até o mais poderoso dos homens! Uma menina te fazendo de palhaço! Só rindo mesmo. querido. fingindo-se muito forte. mas sendo totalmente dominado. vai nos dar o que é nosso por direito! Eva e Helena vão vencer você! Não havia palavras para descrever o que senti no mais fundo . dominado. Traído tão duramente que fiquei sem ar. enquanto aquela bruxa debochava e eu olhava para Eva. . no meu âmago. idiota. Eu dou dicas valiosas a ela. Foi uma dor sem igual. deixar o “fodão” tão louco com a ninfetinha que realiza todas . querido? É mentira? Não. que entrou e torceu minhas entranhas. arrancado de mim mesmo.O que foi. sem chão. como usar seu batom vermelho favorito.dentro de mim. mais uma vez enganado. que me fez sentir um burro. uma apunhalada fatal. sabe que não. Eva caminhou para mim. me fez reagir em meio à decepção que me engolfava violentamente. me deixava pálido. até mesmo tonto. a ponto dele esquecer até o próprio nome. nublava meu raciocínio. perguntando de novo com voz trêmula: . Mas não é bom? Vai negar que você gosta? O ódio me engolia vivo.Quem é? Theo? Ela apoiou a mão em meu braço e acho que foi o seu toque que me despertou. Assustada.as suas taras. Eu que agarrei seu braço . sendo o todo poderoso aqui. o teto que tem sobre a cabeça.Eva só está aqui pagando com o corpo a comida que come às minhas custas. enquanto eu uso a sua filha e continuo.. Luiza.e a puxei com força contra o peito.Theo. Se é assim que a ensinou. dizendo tão friamente quanto consegui: . escondida da polícia. devia ter se empenhado mais. sim. . E por isso você continua aí no seu buraco. Nunca foi boa o bastante para mim.. – Eva arquejou. Por isso eu nunca quis comer você. com . descontrolada: . Só estou esperando você tentar. . vai fazer da minha neta uma herdeira e ainda vou pisar nessas terras como dona de tudo! . sem tirar meus olhos de Eva.Tente. a dor dentro de mim latejando. agoniada. vai ser Eva quem vai te trazer até mim! Ela vai acabar com sua raça.Desgraçado! Eu vou te pegar e te destruir! E digo mais. a traição dela doendo mais do que nunca. Por fim. gritou. – Falei seco. mas sua respiração agitada. Luiza ficou quieta um segundo.lágrimas nos olhos. . – Eva sacudiu a cabeça.Eu te odeio! Vou te matar! Eva vai te matar! Vamos destruir você! – Berrou fora de si e desligou o telefone. – Não sei o que ela disse. Eu guardei o celular de volta no bolso e soltei seu braço.. mas. sua doida? – Indaguei. . chorando. alguma alucinação. .Theo.É só isso ou tem mais alguma coisa para contar... .. – Pediu Eva.. Olhei-a com desprezo enquanto pegava minha blusa no chão e a vestia. .Deixa eu falar com ela.. – Como ela sabia tanto.Você não sabe o que ela disse? Não conversa sempre com ela? . – Caminhei até ela e agarrei seu pulso. lágrimas escorrendo pelo rosto. . não vê que . Arregalou os olhos quando caminhei para a porta e a levei atrás de mim. então? Pode me explicar isso? ...Não! Eu nunca mais. Senti-me estranhamente calmo e foi isso que mais me assustou.Eva se encolheu e abraçou a si mesma.Sabia o que? Theo. tremendo. Respondi em um tom gelado: .Entendo. O segurança nos olhou em silêncio. – Não a olhava quando voltava para a porta e saía ao corredor. catei as chaves do carro. .Não quero ouvir suas mentiras.Avise aos outros seguranças para me seguirem. alerta. te afastar ainda mais de mim? Abri a porta e saí puxando-a.. vamos conversar. . Eu não seria burra de. senhor.Sim. escute..Theo. Caminhei até o quarto que eu dormia. . . Falei ao homem diante do quarto dela: . entrei.ela quer isso. .Mas a Helena. . que parecia me proteger de uma dor atroz demais para suportar.O que você vai fazer? Para onde vamos? – Eva mal conseguia falar de tanto nervosismo. – Falei com uma frieza que vinha de dentro.. .Para onde eu devia ter levado você desde que tudo isso começou. Descíamos as escadas e chegávamos na sala.. Era mesmo uma atriz perfeita. Falei entredentes: . quando virei e a olhei em uma ira congelante. . mas que também me assustava.Está me machucando.Não use o nome da minha filha. . – Tentou puxar o braço.. Chegamos lá fora e ela gemeu. fora de mim. . correndo em seus saltos pelo terreno . .Você ainda não viu nada..Theo. à beira de uma fúria que só era contida por uma gelidez providencial. Eu a ignorei e saí de casa. Disse assustada: .Nossa filha. cego. mas eu segurei mais forte ainda seu pulso. pouco podendo fazer para contê-la quando a olhei nos olhos e falei baixo: . . Por favor. finalmente deixando a violência me consumir. me diz o que minha mãe falou... Abri a porta do meu carro e a empurrei para dentro. . suplicando: . para minha filha.Pare com isso.. Eu tenho o direito de me defender! Ela apenas.Eu estou com medo! Eu quero voltar para minha casa. Theo..Cale a boca.irregular para tentar me acompanhar. . enquanto eu batia a porta com força e ia assumir meu lugar ao volante. pálida. Nada aqui é seu. cale a sua boca! Olhou-me apavorada. Ouviu. sua puta falsa e desgraçada? Agora.Essa casa não é sua. sangrando de dor e decepção. latejando de ódio. Por bem ou por mal. Aquela vingança ia acabar.. . .) Desapaixonar é difícil Se apaixonar por traição é pior Confiança partida e corações partidos.CAPÍTULO 12 EVA “(. eu sei.. eu sei Pensando que tudo o que você precisa está lá Construindo fé sobre o amor e palavras Promessas vazias serão desgastadas. eu sei. Não .. não há nada a dizer E se você terminou de me envergonhar Você pode ir em frente sozinha. enquanto o carro corria velozmente em direção à Pedrosa e ficava claro que Theo ia me levar ao calabouço.. diga a eles(.eu sei E agora. quando tudo se foi.)” (Tradução da música Impossible. James Arthur) Eu estava com muito medo. como me beijou. me olhando diferente. apenas fiquei lá. olhando para frente. . que relutasse em confiar. Podia jurar que aos poucos Theo estava se aproximando mais de mim. abria brechas para mim. Entrou aquela noite em meu quarto e vi como me fitou.lutei. sendo seduzido. o pânico me consumindo. uma raiva absurda da minha mãe por me destruir daquele jeito. por mais que lutasse. como parecia louco para me ter junto a ele. Ele me tocava e me amava com paixão e necessidade e. imóvel. meu coração apertado e sangrando. Como era possível uma coisa daquelas? Meus olhos se encheram de lágrimas e lutei para não chorar mais. embora estivesse arrasada e com medo. me faria infeliz. que não se importava nem um pouco com a minha felicidade. sentindo-me traída mais uma vez por ela. Sempre soube que ele vivia em um limite. ainda mais com aquela ira gelada dele. E sem saber o que Theo faria comigo.Tudo em vão. para que minha mãe ligasse e estragasse tudo. que a qualquer momento . sabendo que me faria cair em sua ira. Que me marcasse de uma maneira que não haveria mais volta para nenhum de nós.poderia ultrapassar aquela linha invisível que o mantinha a beira da violência e que vi bem de perto quando me caçou e pendurou em uma árvore. Que me estuprasse ou espancasse. ou quando descobriu minha traição e agarrou meu pescoço e deu um soco na parede. Agora eu temia que seu ódio acabasse com aquela linha e ele me machucasse mais do que uma vez já fez. Não naqueles . que destruísse o pouco equilíbrio em que ainda nós mantínhamos. além do que eu podia suportar. o medo latejando premente dentro de mim. mas de verdade. sozinha.nossos jogos. esperava por algum milagre. onde o prazer sempre existia. sentindome também no meu limite. minhas esperanças no chão. queria fugir e lutar e ao mesmo tempo queria deixar que me castigasse só para não vê-lo me odiar tanto. angustiada. Tremia e rezava. prestes a despencar de vez e ser devastada. Estava perdida. Não tinha coragem de olhar para . Eu não sabia o que fazer. como se estivesse fora de si e ao mesmo tempo calmo demais. Theo? . preparado para tudo. mal podendo respirar. o pânico veio tão violento que me virei. . seguido pelo dos seguranças. fitei seu perfil anguloso e fui invadida pelo desespero.O que vai fazer comigo? Não respondeu ao estacionar.ele e testemunhar sua ira. suplicando: .Não tenho culpa de nada! Foi mentira dela! O que ela disse. Eu estremeci da cabeça aos pés. Mas quando os portões de sua casa se abriram e o carro entrou. – E me puxou tão .Você não sabia.Contou o que só você poderia falar para ela. que estava tentando me seduzir. Esqueceu que sua mãe é uma louca. – Abriu a porta e saiu. parecendo duas pedras de gelo. . Que vou a seu quarto toda noite. . por que contaria a ela? Sabendo que diria e. .Theo.. Quando veio para meu lado e segurou meu pulso.Voltou os olhos para mim. que usaria esse batom vermelho. se eu estivesse querendo enganar você. tentei me agarrar no banco.. . . tentei me soltar.Nunca falei com ela! Olhe meu celular! Veja o telefone da casa! Theo! Gritei angustiada quando entramos na casa silenciosa e foi andando decidido pelo corredor que levava ao porão. mas já batia a porta e me levava para dentro. . Eu me desesperei de vez. Eu lutei.Quem disse que quero seu .. se..bruscamente que me arrancou do carro e eu quase caí. fiquei apavorada.Não quero entrar aí! Não vou te perdoar nunca se me bater. . até eu pegar seus comparsas e jogar todos vocês na cadeia. puxei o braço. como uma prisioneira.Não! – Gritei quando me jogou em seu ombro e comecei a espernear e socar suas costas.Vai ficar agora aqui.Porra! – Ele se voltou furioso e me agarrou. . desgraçada! – Desceu os degraus . alucinada de tanto medo.perdão? Aquela sua frieza era pior que tudo e me desmanchei em lágrimas. . sua diaba. tentei me jogar no chão. lágrimas grossas pulando dos meus olhos. parei de me debater. mas continuei a soluçar.Não. Andei para trás..do porão me segurando com firmeza e fiquei com medo de cair. – Quero . . pondo-me no chão.Theo. soluçando como criança. por tudo que podia fazer comigo. só quando entrou no calabouço e bateu a porta atrás de nós. por favor! Mas ele não parou. vendo que guardava a chave no bolso da calça. – Sacudi a cabeça. . gelada. dando distância dele.. pare! Pare. assolada pelo pânico. vou te deixar aqui. Empalideci. sem usar seu veneno contra mim e minha família. Eva. sem jantares. sem Helena. aquela ruga entre as sobrancelhas lhe dando um ar de mau. E de tudo que falou.O que quer não importa.sair daqui! Quero a minha filha! . de quem era capaz de tudo. o que mais me apavorou foi dizer . Era o que eu devia ter feito desde o início. como se tivesse tomado um soco. Essa é sua nova casa. – Sua voz era gelada. E depois que eu acabar com você. sem ar. – Hoje vai me pagar tudo que me deve. .. .Não! Não pode tirar minha filha de mim. como se suas palavras ceifassem todas as minhas esperanças. sabendo a infinidade de coisas que poderia fazer comigo. Ah. fiquei alucinada. atingindo-me em cheio. . me jogassem no limbo.que eu não teria mais Helena. olhando em volta e para ele. fui para trás. E mesmo que sua voz fosse fria. Quando andou em minha direção. Isso não.. eu sentia sua ira e seu descontrole como algo palpável. vivo. meu Deus! Levei as mãos aos cabelos.. me pressionava na porta e puxava meus braços para as costas com brutalidade. Foi fácil amarrar meus pulsos e cotovelos.Theo foi direto a um armário e pegou uma corda. . socando-a. autoritário.Quero sair daqui! Foi tudo muito rápido. mas era muito forte. feroz como um animal pronto a atacar. chorando. chorei. gritando: . experiente com aquilo. esperneei. corri para a porta e tentei abri-la. decidido. Eu berrei. E mesmo sabendo que não tinha escapatória. ele vinha por trás. Em questão de segundos. Eu quase perdi as forças de tanto medo.me puxar bruscamente e praticamente me arrastar até a cama coberta com o lençol negro e gelado. Chorei tanto que meu peito doía. o nariz escorria. Quase desmaiei de tanto pavor. que nada nem ninguém impediria Theo de acabar comigo. até que eu não tinha mais movimentos. Então engasguei e soube que estava perdida. . Fui jogada de bruços na cama e ele já dobrava minhas pernas e amarrava meus tornozelos aos pulsos. as lágrimas não me deixavam enxergar direito. a respiração entrecortada. seu olhar gelado demais. sua determinação sem um pingo de culpa. Theo se levantou e só pude virar o rosto e olhá-lo quando foi até a parede e voltou com um chicote longo. Aquele era o ápice. me dar uma clareza de como tudo estava errado e não voltaria a ser como antes.Parei de me debater e fiquei tonta. o estourar do vulcão. . se romper. os cabelos no meu rosto. caída lá. Era o meu fim e algo dentro de mim pareceu se desmanchar. estalando-o no ar. o atravessar de um limite. a distância de Gabi. E Theo.Minhas esperanças foram totalmente esmagadas. os homens pegando minha mãe e eu obrigada a assistir. eu usada como uma arma o tempo todo. a infância solitária. invadindo meu coração e minha alma. a vingança sendo preenchida em mim. tudo que me foi privado. chegando e tomando conta de tudo. me fazendo a mulher mais feliz . as palavras de ódio em casa. me dando tanto amor quanto pavor. Vi minha vida passar diante de mim como num filme. assim como meus sonhos. tentando evitar a vingança e ser feliz com ele. Como fui ingênua! Não havia final feliz para mim. como fui amada e adorada por Theo durante nosso casamento e agora eu ali. mas eu sempre angustiada. sonhando com um final feliz. os medos que passei. depois de passar dois meses me contendo para têlo de volta.do mundo. o nascimento de Helena. não enquanto eu . Tudo voltou como uma avalanche. dividida. presa. aguentando tudo. pronta a ser violentada e afastada da minha filha. a felicidade suprema. vazia. Eu havia errado. esperei minha destruição. primeiro por minha mãe e depois por Theo. enfrentei minha realidade. Era como ficar oca. dominada. Só restou um desânimo . Ali eu desisti de tudo. Fechei os olhos e abandonei meus sonhos e esperanças. mas por quanto tempo mais eu teria que pagar? O que mais eu poderia fazer para não sofrer daquele jeito? Não aguentei mais.ainda estivesse no meio daquilo tudo. desprovida de tudo. sem poder ser eu mesma e respirar aliviada. Até o medo me deixou. Não chorei nem implorei. fazendo-me ouvir meu próprio coração bombeando forte. fixos . Os segundos passaram. como se merecesse aquilo. A dor física não veio. O silêncio ficou lá. pois não havia mais vida para mim. Esperei a surra.aterrador. o castigo. Não daquele jeito. para me quebrar de vez. permeando tudo. Era o ponto final e esperei que Theo acabasse com tudo. Quase me dei a eles. uma vontade de morrer logo. Abri os olhos e encontrei os de Theo. a violência. E quando esperei que atacasse. Veio até a cama e se ajoelhou sobre ela. Então entendi que mudou de ideia. que não ia mais me . paralisado. só o suficiente para desatar os nós e me soltar. mal tocando em mim.em mim. E seus olhos não saíram dos meus. Não dava para saber o que pensava. um cansaço estranho também toldou sua expressão e ele largou o chicote no chão. alto e poderoso ao lado da cama. o chicote firme em sua mão. cada parte dele dura e rígida. o que faria. que não me estupraria.. vibrando em alguma emoção violenta: .bater ou machucar. Eu estava disposto a usar seu corpo. sem poder reagir completamente. não foi sempre isso que me ofereceu enquanto mentia e me enganava? . . Nunca mais toco em você. ainda abalada. E suas palavras vieram baixas. Um alívio intenso me envolveu e abri a boca para puxar o ar.Não. afinal. sem forças.. – Murmurei.Não se preocupe. como uma verdadeira prisão.Mas me ignorou e continuou: .Mas não quero mais suas mentiras e nem você. por não ser tratada como a puta que é. sentir nada. E o pior era notar que parecia devastado também. destruída. Eu só olhava para ele. mas eu não conseguia dizer nada. Sinta-se feliz por não deixar você presa naquela gaiola. mesmo que um dia minha filha me odeie por causa disso. Eva. – Apontou para a gaiola no canto. Theo deu-me as costas e . Vou te colocar na cadeia. Suas ofensas doíam. O pânico voltou e gritei: . Eu consegui me sentar na cama e dizer baixinho: .. .. arrasada..Theo! Mas trancou a porta atrás de si e fiquei sem ar. Tirou a chave do bolso e a enfiou na fechadura. Theo. Helena vai querer mamar. Mas era a pura realidade. eu. . sem poder acreditar em tudo aquilo..Não me deixe aqui.Theo..caminhou para a porta. Abriu a porta e saiu.. Desabei na cama. Nem o que quase cheguei a fazer em meio à . até que parei em frente à janela e lá fiquei. vazio. olhando e não vendo nada. mudo.THEO Chegueiem casa e fui direto para meu quarto. Andei de um lado para outro. mas cada parte minha doía. Não queria pensar em Eva. Não queria pensar. mas ela não saía da minha cabeça. parecia aniquilada. exigia esforço. como se não fosse ela. para causar nela a mesma dor que me corroía. desabada e amarrada naquela cama. E eu prestes a espancá-la. Percebi que tremia e só podia ver Eva na minha frente. eu não tinha aquele direito. mas só por ódio. um desgraçado sem qualquer limite? Por mais que tivesse me enganado. Eu faria muito mais do que deixá-la lá. . A que ponto cheguei? De ser um covarde.minha ira. não em um jogo de prazer. Estava tão arrasado que tudo dentro de mim parecia doer. Poderia ter perdido de vez a cabeça depois de saber de mais aquela traição. Mas eu precisava agir. E agora estava perdido. também me custava. tomar uma decisão antes que me enganasse mais e me enlouquecesse. Eu me contive o quanto pude. sem saber como seguir dali para frente. Deixá-la lá sozinha. sem ter certeza de que teria coragem de .Nunca. privá-la de Helena. principalmente depois de quase me dar de novo a ela e cair nas malhas da sua sedução. me fazia sentir o pior dos homens. ela quer mamar. Fiquei lá não sei por quanto tempo. Por fim.Senhor Falcão. Assustei-me ao lembrar de Helena e caminhei rápido até me deparar com a babá no corredor. ouvi batidas na porta do quarto e um choro abafado. preocupada. .levar minhas ameaças adiante. mas por nenhum segundo ela saiu da minha mente nem parei de me preocupar. tentando colocar a chupeta na boca da minha filha. – Disse Cássia. – A dona Eva está aí? . embora isso só me irritasse mais. . . que foi para a cozinha enquanto minha filha se batia e começava a gritar.Não. . Papai está aqui. Acabei descendo com Cássia. Helena parava um pouco e então berrava mais alto. senhor. – Inclinei-me e peguei Helena. batendo braços e pernas. recusando-se a ser enganada e .. dizendo para a moça: .Prepare uma mamadeira para ela.. – Falei baixinho. irritada.Sim.Calma. acariciando-a. Não. Parecia uma sirene na noite silenciosa e andei com ela de um lado para outro.O que está havendo? – Tia desceu as escadas segurando sua camisola de algodão. preocupada. toda despenteada. . com Caio no colo. . Cássia foi preparar uma mamadeira.Helena está doente? – Gabi veio atrás. . . está com fome.pegar a chupeta. seguida por Joaquim só de short.Mamadeira? – Tia pegou . sem saber mais o que fazer. só para fazer uma careta e voltar a berrar. sabe disso. Theo. furiosa. que por um momento se calou e sugou apressada. Onde está a Eva? .Dê a ela. Tia se sentou confusa. ninando-a. – Mas cadê a Eva? Naquele momento Cássia voltou apressada com uma chuquinha de leite. .Helena do meu colo. Quer a mãe dela.Ela não gosta. Tentou colocar o bico na boca de Helena. tentando acalmá-la. sem entender nada. Eu disse Tia: . O quê? – Tia arregalou os olhos.O que está havendo aqui. Heitor perguntou animado. . .Onde ela está? – Gabi indagou. menos meu pai. Estavam todos na sala. todo mundo reunido? – Para completar.Eva não vai voltar. .. . os dois entrando na casa. preocupada. acabando de chegar da farra com Pedro atrás. .Theo? – Gabi também me olhou. – Falei friamente. pediu licença e saiu da sala. a raiva ainda pulsando dentro de mim. Eu a olhei. . mas uma angústia sem igual sendo pior do que tudo. . que assistia a tudo.ansiosa. – Theo.Cadê a minha irmã? – Insistiu Gabi.Theo. . o que.. A babá.. mas o que é isso tudo? Ela precisa da mãe! – Tia exclamou. Gabi levou a mão à boca. .Ela vai ficar em outro lugar até eu colocá-la na cadeia. tenso. – Ela quer prejudicar vocês.Mas.. Para me lembrar o quanto fui idiota e continuo sendo. pensativo. angustiada. tentando me acalmar.Luiza ligou. . Tomei uma dose da bebida. Caminhei até o bar e enchi o copo com uma dose de uísque. que vocês iam se acertar! – Exclamou Tia.Aconteceu alguma coisa muito séria..Mas por que isso? Eu achei que tudo estava se resolvendo. – Gabi respirou.. Fitei Heitor e respondi: . . . – Heitor olhou-me. – Terminei meu uísque de uma vez e bati o copo vazio no balcão. fazendo de tudo para te conquistar. que ama você. .Tem certeza.Não! Ela não faria isso! – Defendeu Tia. até me ter nas mãos e armar outra para mim.Ela sabia de coisas que só eu e Eva sabemos. .infernizar! . irmão? – Joaquim franziu o cenho. . – Tenho observado Eva todo esse tempo e o que vejo é uma mulher arrependida.Fazendo de tudo para me conquistar sim. Joaquim. . . .Exatamente! – Gabi apoiou.. muito me admira você. não contaria para a mãe. não se ia lucrar com isso. . – Completou Pedro.Theo. sabendo que essa falaria para você. que é tão inteligente. .Já fez. . – Luiza quis desestruturar vocês. – Se Eva quisesse mesmo isso. mas não é burra! Pense comigo! Ela não ia estragar os planos da filha te contando. separar.Luiza é uma porra de uma maluca! – Irritei-me.É maluca. cair numa dessas! – Pedro fitou-me. Fiquei abalado com aquela . Já pensaram nisso? . As palavras deles faziam sentido e penetraram toda a ira que me deixava cego e surdo para tudo.Pode ser alguém aqui na casa. surpresa. Analisei.Um espião? – Tia levou a mão ao peito. dando informações para Luiza. observando-os. enquanto Heitor opinava: .para que fique mais fácil para ela atacar! Deve estar procurando uma brecha para isso. E então pensei em Cássia. sabendo bem o que eu ia fazer lá. quando Cássia tinha acabado de sair do quarto e visto como Eva me esperava.Um dos seguranças? Uma das babás? Era uma grande possibilidade. Senti o coração disparar diante . vendo-me ir toda noite ao quarto de Eva.possibilidade. saindo quando eu chegava.Mas quem? – Gabi olhou-nos e baixou o tom de voz: . . E algo que aconteceu naquela noite: Luiza falou de Eva com o batom vermelho. daquela possibilidade. parecendo nervosa. eu andei rápido em direção à cozinha. Disse por sobre os ombros: . . por onde Cássia tinha ido. E enquanto Helena continuava a gritar e Gabi a pegava. Arregalou um pouco os olhos e .Alguém ligue para o delegado Ramiro e mande-o vir para cá. enquanto Heitor e Pedro me seguiam. Cássia estava sentada à mesa. tentava fazê-la mamar em seu seio até calá-la. O que só piorou quando nos viu entrar.Eu ligo. tomando um copo de água. – Disse Joaquim. empalideceu. .Mas eu não.O que Luiza ofereceu a você para nos espionar? – Fui bem direto.Posso ajudar? . Mas logo disfarçou.O quê? – Ficou agitada e se levantou. – Heitor disse mansamente... forçando um sorriso. Caso contrário. – Não sei do que está falando! . Podemos aliviar para seu lado.A polícia está chegando. as . Não sei quem é Luiza! . . dizendo apressada: .É melhor cooperar. balançando a cabeça. coisas podem se complicar para você. mofar na cadeia enquanto espera um julgamento? . temi estar sendo injusto. como se estivesse se preparando para fugir. – Pedro cruzou os braços. – Deve saber a influência que temos na cidade. lágrimas vindo a seus olhos. mas estava mais do que claro que a mulher mentia e olhava em volta.Não podem me acusar assim! – Começava a se desesperar. querendo pôr a culpa em Cássia para livrar Eva. Já imaginou. Por um momento. E a culpa me . .Senhor Falcão. medrosa. eu não a acuso formalmente quando a polícia chegar. Cássia? É a última chance que dou a você de sair dessa sem parar na cadeia.Dinheiro? Era isso que ela lhe dava? – Indaguei secamente.. sou inocente.remoía ao imaginar o desespero de Eva sendo inocente naquilo. depois para meus irmãos. acuada.Sim ou não.. – Se confessar agora. . O delegado está chegando. E por fim desabafou: . por favor. – Chorou. . Ela me olhou. Não achei que fosse nada grave. eu juro! Ela me encontrou em Pedrosa e disse que era a mãe de Eva. to juntando para me mudar pra capital.Há mais ou menos uma semana. que sentia muita falta da filha e só queria informações sobre ela para matar a saudade. achei que. mas não vi problema! E ela me dava um trocado.Quando foi isso? – Exigi. Eu juro que não queria me meter nisso. ... . .E onde você a encontrava? .Ela me ligou e marcou em uma .. – Ela se encolheu. . Foi só essa vez e.Ela me deu um número.. – Abaixou a cabeça. Tinha pedido que eu ligasse hoje e falasse sobre Eva. . . telefone. placa de carro? .Quero seu celular..padaria de Pedrosa.Como ela estava vestida e se o senhor estava com ela.Sabe algo sobre ela? – Perguntou Heitor. . . respondi a algumas perguntas e ela. Me perguntou algumas coisas.. – Onde mora. Tomamos café. me pagou. .Perguntou o quê? – Indaguei. talvez seja possível fazer um rastreamento. – Falei angustiado. mostre a ele o celular e o número. Eu o peguei e dei a Heitor. dizendo baixo: . como a tratei e humilhei. Não a deixem sair daqui até eu chegar.Olhou-me. Eu volto logo. Mas viu como a olhávamos e pegou o aparelho no bolso.Fiquem com ela. quase fora de mim de tanta culpa. estendendo-me. Como a larguei sozinha e arrasada no calabouço. Quando Ramiro vier. pensando em tudo que falei a Eva. como quase a violentei. Corri as mãos . apavorada. Vou trazer a sua mãe de volta. mas agora de puro arrependimento e raiva de mim mesmo. mais calma. Eu acariciei sua cabecinha e murmurei: . .pelo cabelo e andei apressado até a porta. xingando a mim mesmo. desesperado. Passei pela sala e vi que finalmente Helena mamava em Gabi. Saí de lá como um louco. Gabi e Tia me olharam aliviadas. CAPÍTULO 13 THEO O que eu havia feito? Como podia ter sido tão facilmente manipulado? Eu sabia a resposta. ficava o tempo . Por ser emocionalmente instável quando se tratava de Eva. Eu esperava alguma armadilha da parte dela. caindo como um bobo. e foi isso que Luiza usou. Entrei rapidamente. quase chegando ao ponto de fazer uma besteira ainda maior do que já tinha feito. O que podia significar que outras coisas também eram verdade.todo na dúvida sobre seus sentimentos e suas intenções. E deixei. aliviado por que não me enganou daquela vez. louco para puxar Eva para meus braços e apertá-la. Cheguei à minha casa em Pedrosa e vi que os seguranças continuavam lá. por que disse a verdade. nervoso. como o fato de me amar e . sentindo-me um tolo idiota e louco. de lado. Destranquei a porta e vi Eva na cama. a corda largada no chão ao lado do chicote e de suas sandálias. encolhida quase da mesma maneira que eu a tinha deixado. um garoto irracional que agia por instinto. a culpa me dilacerando.ter desistido há muito tempo da vingança. meu coração disparado. Senti a dor e a culpa ainda mais latentes . Desci ao porão correndo. não um homem feito. cabelos sobre o rosto. Ela abriu os olhos e me fitou. deixando-me levar por minhas . sua luta. deixei de ser justo. E ali no chão as provas do que quase fiz com ela.me remoendo por dentro. Nunca me senti pior na vida. fui um ogro acreditando mais em Luiza do que nela. a covardia do que fiz ao arrancá-la de casa daquele jeito. em prantos. nem mesmo quando descobri quem ela era e como tinha me enganado. seu desespero quando eu disse que não chegaria mais perto de Helena. do muito além que eu podia ter ido e a ferido. Daquela vez. com medo. se tivesse deixado todo ódio que senti me possuir. E a vítima foi Eva. Não chorava nem reagia e foi isso que fez com que eu me sentisse pior. Eva não se mexeu. falei baixinho: . meu peito doendo.desconfianças e minha aversão por ser traído mais uma vez. a injustiça que cometi me deixando doido. Caminhei até ela sem desviar o olhar. Soube que nunca me perdoaria se tivesse tocado nela.Vamos para casa. Sentei na beira da cama. Ergui a mão para segurar seu . afastando o cabelo do rosto.Estava enganado. . se arrastando para trás. Sei que não ligou para sua mãe. sua expressão estranha. E admiti: .Você não disse que nunca mais tocaria em mim? O que está fazendo aqui? Eu paralisei. empalidecendo. ajudá-la a se levantar. mas Eva me surpreendeu ao escapar.braço. . Eva. dizendo com uma mágoa que doeu dentro de mim: . até mesmo fria.Sabe? – Sentou-se na cama. não acreditaria em mim. Eva? Como. Ela era informante de Luiza. .Descobri que foi Cássia. Apertou os lábios numa linha fina. Eu me odiei demais pelo que fiz com ela e aquela sensação era horrível. Estava pálida. – Não tinha tanta certeza que fui eu? O que aconteceu? . Se não tivesse descoberto.como nunca vi. com olheiras. as pálpebras inchadas e avermelhadas de tanto chorar. depois da maneira como me .Entendi. .Como eu podia acreditar. E nunca vão contar. Theo? Você é poderoso e justo demais para perdoar uma falsa como eu. Minha palavra não é nada. .Claro.enganou e traiu? Ela acenou com a cabeça.Pode me entregar à polícia. não é. sua palidez me assustando: . Meus sentimentos não contam. Vou pagar pelos crimes que cometi. está com a razão. – Ergueu o queixo. Compreendi isso e vou facilitar as coisas para você. Nunca me deu o benefício da dúvida. . sem tirar os olhos dos meus. Ora. nervoso. Quero ir para a delegacia agora. correndo os dedos entre os cabelos. como manda a lei. – Levantei irritado. estranhando seu jeito. Eu franzi o cenho. mas não é disso que estamos falando? Além da falsidade ideológica eu não tenho que responder sobre a tentativa de homicídio? Pois então. Parecia diferente. como se .Pare de dizer besteira. . com raiva e ao mesmo tempo apreensivo.. sem a fragilidade de antes. vamos fazer tudo certinho. seus olhos enchendo-se de lágrimas.Agora você me pergunta por Helena? – Finalmente eu a vi ficar emocionada. por causa da sua raiva? Quer que eu acredite que se importa comigo como mãe dela? .E Helena? – Indaguei. – Não ia me descartar. com os seios doendo e vazando de tanto leite e ela lá.tivesse desistido de me reconquistar e de provar que havia mudado. . incomodado. com fome. me proibir de ver a minha filha? Não me deixou aqui. . chegando a estar com a pele avermelhada pelo decote. Só então reparei na camisola ensopada de leite. . . me fizeram sentir ainda pior do que eu já sentia.Suas palavras foram um baque para mim.Eu quero muito estar com a minha filha.Eva. mais do que tudo no mundo.. Imaginei a dor que não devia estar sentindo. . que tinha escorrido e colava o tecido aos seus mamilos.. com os seios quentes e empedrados. Desci meu olhar a seu peito e os vi mesmo muito inchados. vermelha de raiva. em seu limite. pois nunca a tinha visto daquele jeito. Apontou para o chicote que eu tinha largado no chão . – Você quase me estuprou! .Pode me acusar de tudo. Mas cansei disso. menos de não amá-la nem cuidar dela. jogada nos seus ombros. se tremendo toda. arrancada da minha segurança. Theo. Cansei de ser humilhada e sacolejada. furiosa.Não fiz isso! . ameaçada! – Falou alto.Quase fez! – Gritou e eu a desconheci. fora de si. .antes de sair: – Eu fiquei em pânico achando que ia me espancar e violentar! Por um triz.Eu perdi a cabeça! – Dei um passo a frente. não usou esse chicote em mim. como quando me caçou e me pendurou na árvore. mas um triz mesmo. . . nervoso.Perdeu a cabeça e a vítima fui eu! Fez o que quis comigo! Me largou aqui sozinha! Me deixou apavorada! – Estava descontrolada.Ali você jurou que respeitaria meu não! . . a respiração .Eva.. acusação.entrecortada. é um animal irracional! Faz o que quer comigo. decepção. mas chega! Está ouvindo. despejando tudo de uma vez: . Eva parecia fora de si. as lágrimas pulando dos olhos enquanto me olhava com raiva. – Você não é um homem. Um medo desconhecido me engolfou e só pude olhar para ela. .Eu cansei! Cansei de ser dominada por todo mundo. da minha mãe me criar sendo uma fraca medrosa. Theodoro Falcão? CHEGA! Seu grito pareceu vir do fundo da alma e me congelou no lugar. sem opinião própria. eu me envolvi com você e me enrolei nas minhas escolhas. – Eu não deixo mais! Sou dona de mim mesma! Não sou perfeita! Eu errei sim. despreza. que me usa e descarta. faz o que quer! Chega! Não quero mais! – Gritava. alucinada. nessa porcaria de vingança! Mas agora cansei de tentar me explicar e provar quem sou! No fundo. fazendo tudo que ela mandava! Cansei de sair das mãos dela e cair nas suas. eu menti. furiosos. vindo até mim. humilha. . que me domina do mesmo jeito. seus olhos arregalados. xinga. não se importam com os meus sentimentos. E pra que tudo isso? Se no final sempre quem mais sofre sou eu! Sou sempre a errada na visão de vocês dois. sempre cedi. E eu idiota. só pensam em vocês. só me usam pra conseguirem o que querem.você e Luiza têm muita coisa em comum. sabe por quê? Por que sempre fiz tudo o que queriam por amor. Quero que minha mãe se dane! Quero que você se dane! Quero distância dos dois! Está ouvindo? Eva empurrou meu peito com as . por que queria me sentir amada e cuidada. . Fiquei parado e me empurrou de novo.. Cerrou os punhos no meu peito e bateu nele com força. vai.duas mãos. na. Deixei que descarregasse em mim... arquejando. A Helena. soltando um grito estrangulado. como se precisasse me agredir.... descarregar seu descontrole emocional sobre mim. A Hele. enquanto gritava entre as lágrimas: . .. fazendo-me ficar arrasado e muito culpado ao ver seu histerismo.Prefiro ir para a prisão. seu animal! Quero ficar longe de você e da minha mãe! Vocês estão me matando aos poucos. a imagem do desespero.. não sou boa para ela .. não sou boa pra nada e ninguém.... . vai ter vergonha. de mim.me esquecer..... sem poder suportar ver mais aquilo.. eu . – Por que eu ... – Soluçava. sua dor tão latente e dilacerante. – Você é uma boa mãe.. eu a puxei para mim e a abracei forte. – Angustiado. e nunca... prendendo seus braços contra o corpo...Coelhinha. se tremendo tanto que seus dentes batiam. não. não sirvo. pare com isso . segurando sua cabeça contra o peito.. seus socos perdendo a força. . . .Esqueça o que eu disse. Eva. tão descontrolada estava. Nunca. eu . Helena não vai te esquecer. tirar a minha filha.Você disse.Não vou. – Estava muito nervoso. por que estará sempre com ela. Mas nunca vou tirar Helena de você.. soluçando e tendo espasmos... – Murmurei contra o seu cabelo..Você vai. – Ela mal conseguia falar... Nunca. sou a porra de um animal mesmo.. amparando-a contra mim. . agoniado.nunca disse que não era... Tem razão. disse da boca pra fora. Não. Eu. . para a nossa filha. ainda perplexo demais com tudo aquilo. nervoso. em nosso limite.Sim. Não vai para a prisão. Vai voltar para casa comigo. Vai voltar sim. confuso com meus sentimentos. por favor.. Tudo tinha acontecido como uma bola de neve e ainda estávamos abalados demais. você sabe que não pode viver longe dela.. mas me contive. . Ela precisa de você.. Eva.juro. Agora se acalme. Eu quis dizer que eu também não podia viver sem elas. Nem ela de você.. para entender . cansado. – Falei baixinho. embora sentisse uma necessidade suprema de tê-la ainda entre os braços.tudo e tomar decisões. Até que voltou os olhos muito inchados para mim. Então. Esfregou o rosto. se afastou de mim e não a segurei a força. ansioso. até seus tremores e soluços diminuírem. Eva ficou quieta. quase como um pedido.Vamos para casa. mantendo-a dentro dos meus braços. também . tentando respirar normalmente e se recuperar. limpando com os dedos. . Eu apenas a olhei. do que passar de novo tudo o que passei. Fiquei paralisado. Não vou ser mais capacho de ninguém. você e minha mãe podem se matar. Senti como .parecendo exausta. Estou fora da vida de vocês. Disse baixo: . Eva me olhava com uma frieza que me congelou os ossos. nem consegui respirar. Mas se me ameaçar de novo. eu mesma ligo para a delegacia e me entrego. Por mim.Vou voltar por que não posso viver sem minha filha. sofrendo e chorando por Helena. Prefiro ficar lá presa. Sou Eva Amaro. de dezenove anos. decidida. agora.. A dor me corroeu como um . – Não sou mais filha de Luiza nem mulher de Theodoro Falcão. Acabei de nascer hoje. Eu estarei naquela casa como mãe de Helena e mais nada.Eva. Theo. gelada. .Se não for assim. . – Ergueu o queixo. me leve para a delegacia.. A outra Eva morreu.Não quero que me toque mais. mãe de Helena.se perdesse o chão. chocado com as suas palavras. . verme. Nunca fiquei tão perdido e abalado. Olhei para aquela nova mulher à minha frente e me dei conta de como era jovem para passar por tudo aquilo. de como a levei ao seu limite e nem uma vez parei para pensar no lado dela. puxá-la para os meus braços. apesar de tudo e do fato de ainda não a perdoar. provar que era minha mulher sim e seria para sempre. Por que soube que naquela momento isso só a afastaria . Seu olhar ferido acabava comigo e minha primeira reação foi ir até ela. Eu me contive. Precisava de calma.Foi muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.mais de mim. firme. E foi isso que falei: . pensar primeiro em nossa filha. conforto. descontrolada. nervosa. segurança.Sim. muita desconfiança e muita raiva. Vamos voltar e nos acalmar. Talvez fosse melhor assim. Não do meu jeito dominador querendo tomar conta de tudo. Ela estava alerta. – Ainda me olhava. – Mas que fique claro que não quero . um tempo para nós dois. . Desisto de nós. Era um baque para mim ouvir aquilo. Desisto de tudo o que Eva e Theo um dia significou. vai ser como quiser. acenei com a cabeça. Murmurou: . Cerrei o maxilar. não quero mais ser sua mulher e nem sua amante.mais suas visitas noturnas.Tudo bem. Estava literalmente chocado. Abaixou-se. Eva pareceu então cansada. meu orgulho fazendo-me parecer frio ao responder: . pegou suas sandálias e me olhou de novo. arrasado. Aqui e agora eu desisto de você. Preciso de Helena. Meu coração doía. tive medo de perdê-la de vez. E fui dominado por um medo atroz. pior do que tudo que já senti.Vamos para casa. EVA . distantes um do outro como dois estranhos. E foi o que fizemos. Ela espera por você.. Apesar de tudo. Meu corpo parecia ter levado uma surra. . até o delegado estava ali. . Reparei nos irmãos de Theo e em Cássia sentada no sofá. tentar entender tudo o que contou para minha mãe e por que. baixando os olhos ao dar comigo. graças a Deus! – Tia . chorosa. Nem tive forças para falar com ela. um peso dentro de mim que me fazia ter vontade de me encolher em um canto e só chorar. Entrei lá com uma pedra no lugar do coração.Foi estranho voltar para casa. E vi a sala cheia.Eva. Só conseguiu dormir agora.correu para mim. como o coração disparando. Ela mamou um pouco em mim. . angustiada. Minha irmã me beijou e murmurou: . olhando meu estado. a camisola que eu vestia. seu semblante preocupado. – Foi só o que consegui murmurar..Está aqui. mas não o bastante. sexy e molhada de leite.Helena. minha filha.. emocionada. – Oh... – Gabi veio até mim com Helena no colo e na mesma hora a peguei e abracei forte. . atrás de mim. – Menti.Bem. O que sentia era mais do que raiva. Precisava me afastar dele enquanto estivesse .. Não consegui fitar seus olhos em nenhum momento enquanto nos dirigíamos até ali nem falar com ele.Vou levar vocês ao quarto. precisava ficar só com a minha filha. era mágoa. dor. . Eu não o olhei nem me importei com o fato da casa estar cheia. uma sensação de fracasso e de fim.Como você está? . – Theo disse baixo. Eu não queria falar com ninguém. pode ir comigo? . Na sala.Claro.Não. Falei enquanto me dirigia à escada: . Tia. Não me virei para ver sua reação ou como se sentiu na frente de todo mundo. Chegando ao . imperava um silêncio incômodo e tive vergonha pelo modo que estava vestida. Subi as escadas e Tia me acompanhou. Ele não disse nada.assim. Não quero que nos acompanhe. – Eu cuido delas. – Lançou um olhar como se pedisse calma a Theo. Somente então eu relaxei e apoiei a . Mas estou ensopada. .Vá tirar essa roupa. sugou forte e o leite saindo foi ao mesmo tempo um alívio e uma pontada. Meus seios doem demais. ela disse com carinho: . tomei um banho rápido. tomar um banho. Quando sentiu o mamilo na boca.Preciso amamentá-la. Fico com Helena. Por fim.quarto. coloquei um robe curto e me acomodei na cama com Helena no colo. meus olhos se enchendo de lágrimas ao fitar seu rostinho. – Ela sacudiu a cabeça.cabeça no travesseiro. – Falei séria.Já parou. Tia. Eu garanti. – Precisava ver o estado de Theo hoje. com uma certeza dentro de mim. . exausta. andando pela sala com Helena no colo... Isso tem que parar. mentindo: .Está tudo bem. . Vocês precisam. E você lá sozinha. Tia me olhava preocupada.Não está. Sentada na beira da cama. completamente perdido e desesperado. sendo acusada de algo que não fez. minha . Tudo começou errado. – E não quero saber de Theo.Como assim? ..Vocês se amam.. . Theo é louco por você! . – Falei baixo.Não quero essa loucura.Ele não me ama. .voz demonstrando como eu me sentia. sem forças. . Ele fez o que achava certo. não tinha como acabar bem.Eva. .Minha filha. como sempre. Ela me olhou meio assustada. . . Mas não vou pagar pelo resto da minha vida. Estou muito cansada.Isso não é amor. cansada de tanto chorar. E enquanto sua mãe estiver rondando. – Ela suspirou e segurou minha mão direita entre as suas. . de tanto sofrer. – Eu sentia o peito doer. O que aconteceu essa noite prova que nunca mais vai acreditar em mim e sei que a culpa é minha. mas lutei. .Eu sei. – Amor sem confiança não é nada. Muito mesmo. – Tanto você quanto Theo precisam de um tempo para digerir tudo isso. Não aguento mais isso. Tia.. Cansei de ficar entre os dois. . Vou falar isso com ele. Sabe como me sinto? Um osso.Vocês se amam..Eva. cansada. desolada.Sei que vai tentar amenizar as coisas. mas para mim acabou. A certeza em minha voz fez sua expressão ficar preocupada.Pode falar. . – Falei. Theo fica ..devem manter a calma e não se precipitar. jogado de um lado para outro em uma briga de cachorro grande. irritada. . . mas não é isso. Eu vou pagar por elas. – Hoje eu senti muito medo.Ele que fique com a loucura dele! – Desabafei e foi a raiva que me fez calar e respirar fundo. Muito mesmo. . Não vivendo acuada pelas duas pessoas que mais pensei amar e que na verdade não .. se. Tenho passado todo o tempo assim. abraçando mais a minha filha. Mas não assim. Algumas escolhas foram minhas.. me colocaram nessa situação. buscando conforto em seu corpinho. minha vida se resume em medo.louco se for enganado. Fitei Tia bem nos olhos. ela agarrou o mamilo e sugou firme. aliviada por que ela faria aquela dor diminuir. Ela me fitou com pena e eu me calei.estão nem aí para mim. – Sei que Theo às vezes pega pesado. Suspirei. perde a cabeça. Mesmo dormindo. mas . – Tia acariciou a cabecinha de Helena. para que o pegasse e aliviasse o calor e os nódulos de leite.. . por que do jeito que eu estava acabaria me lamentando e me debulhando em lágrimas. Meu outro seio doía demais e virei Helena..Mas Eva. Por pouco .Por quase dois meses. Está reagindo como sabe. dar o tempo dele para me perdoar e descobrir que o amo. – Só que hoje. magoada. se sentindo usado. . Tia. Nunca o vi assim. Não sei até que ponto a magoou. fez o que quis. Não acreditou em mim e não me ouviu.ele estava louco de tanta dor. Tive medo que tivesse feito com você algo que pudesse se arrepender depois. – Falei. foi meu limite. mas compreenda que ele está inseguro. Eu fui desrespeitada. tudo o que tenho feito é tentar entender. – Respirei fundo. E olha onde isso me fez parar. . Eu vivia na corda bamba. fazendo todas as suas vontades. Cansei de esquecer de mim para fazer o que outra pessoa quer. Sabe ..E me dei conta que não posso viver assim. Eu me arrependi da maneira como entrei na vida dele e passei todo esse tempo me remoendo em culpa.não me machucou de verdade. com medo de decepcioná-la. Primeiro foi minha mãe.. – Depois me envolvi com Theo e ele se tornou o meu mundo. desolada. Deus. isso que eu temia. .Ah. O quê? . posso fazer minhas escolhas.Sim.o que percebi? . E daqui para frente vai ser assim.. E logo toda essa confusão se resolva. Que não consigo respirar com tranquilidade. Eva. .. Eu sou uma pessoa. Não sou joguete de ninguém! . O que posso dizer? – .Está certa. . Que cansei dessa pressão toda. Só quero saber da minha filha.Ah.Que não tenho paz. estou. Chega. vou pagar o que devo e seguir a minha vida. Eu vi como vocês foram felizes durante o casamento e vejo como se amam. Mas não pode se anular por causa dele.Ele pode fazer as escolhas que quiser. Ele vai ter que encarar isso e fazer uma escolha de perdoar ou não. É patente para qualquer um. rezo para que se acertem. Só que.Tia fitou-me com carinho. . Entendo você e entendo o Theo. Que tudo isso não destrua o amor de vocês. E Theo não pode querer que pague o tempo todo por que o enganou. mesmo entendendo tudo. Não vou ficar sentada esperando. – Você tem razão. . . Tia. de corpo e alma. Sou uma pessoa! Uma mulher! – Respirei fundo. que minhas palavras me feriam. Mas se eu não desse um basta na minha infelicidade. Não sou sombra dele nem da minha mãe. mas não tinha como ser de outra maneira. – Não quero mais que ele me toque. Nem que na próxima desconfiança dele me arraste de novo para longe da minha filha e me faça sentir medo. Ninguém melhor do que eu sabia o quanto eu amava Theo. vou lutar. Eu vou reagir. percebendo que tremia. ninguém daria.Não vou me anular. Mas me sentia diferente em relação a mim mesma. erguer a cabeça e seguir em frente.Prefiro ir para a cadeia a passar por isso de novo e continuar nessa montanha russa emocional. assumir meus erros. Queria tomar as rédeas da minha vida. Eu ainda o amava da mesma maneira. Como mostrar tudo o que eu . Eu não suplicaria mais pelo amor dele. Calei-me. Não queria mais me colocar no papel de vítima nem de culpada. Pra mim chega. pois não tinha condições de dizer mais nada. não me orgulhava de mim? Tia pareceu entender como eu me sentia e me deu um tempo. se eu não respeitava a mim mesma. calada.Tia. não me amava. Seria um . Falei com sinceridade e emoção: . você fala? Nem que seja para desabafar? Eu a fitei agradecida. Por fim perguntou: . por não ter me julgado e desprezado quando soube quem eu era e o que fiz.Se precisar de mim.sentia por Theo. não sei como agradecer por tudo que faz por mim aqui. toda boba.Vocês são minha família.A senhora é uma mãezona. . de Gabi. sem graça.Eu vejo seu coração. sei como ama Theo como um filho. assim acabo chorando! . não só de Theo. Ela riu. – Sorriu. sei que é uma boa menina. Vou te .direito seu. sacudindo a cabeça. mas se arrependeu. E mesmo assim. Mas minha também. de todos eles. – Eita. . Errou. E é isso que conta. sempre me tratou bem e me ajudou. . não tinha as virtudes de Theo. bonito. nunca olhou para mim. imaginando tudo. o que o tornava cruel muitas vezes. Eu a olhava.contar um segredo.Sim. desviou o olhar. Eva. Mas é claro.. eu morria de amores por Mário Falcão. Até em uma cadeira de . pensando que Mario devia ter sido assim mesmo. – Ficou corada. . autoritário. duro.Quando era novinha. – Eu era filha da empregada e tremia cada vez que o via passar. . Ele era tipo o Theo. Mas muito mais arrogante. Eu nunca tinha conseguido me aproximar dele. a personalidade rascante. mas não o amor. mas. cuidei de todos como se .. ainda mais sabendo o que fez com meu avô.. pensativa. – Comemorei cada um dos nascimentos dos filhos dele. Nunca consegui olhar para mais ninguém.rodas ele não perdia o olhar duro. que hoje em dia as mulheres tem vários homens e seguem a vida. . E quando ele se casou com Alice e a trouxe para cá.Sei que é ridículo o que vou falar. eu perdi todas as esperanças. – Ela olhava para as próprias mãos. Estendi a mão e entrelacei meus dedos . apenas um sorriso nos lábios: . Eu morro por eles. Minha vida é essa casa e os filhos dele. E praticamente os criei quando Alice ficou doente. Mas nunca tive ninguém. Eu aceitei meu lugar. Ergueu os olhos para mim. Eu fiz escolhas.Claro que não amo Mario como antes. que considero uma parte de mim. E não me arrependo de nenhuma delas. Não me anulei. Eu estava impressionada.fossem meus filhos. se for necessário. sem mágoas. Murmurei: . Tenho 69 anos e sou tão virgem quanto o dia em que eu nasci. É feliz assim? . Mesmo surpresa.aos de Tia. . . não a julguei. O sentimento vinha independente da nossa vontade..Não. Tive vontade de dizer que Mario não merecia aquele amor.Nunca teve ninguém? Um homem? . Não me arrependo de nada.. mas me dei conta que aquilo a gente não escolhia.Muito.Mas a senhora. Mas não abrandei quando completei: . . – Mesmo que nunca mais fiquemos juntos. Isso a gente não escolhe nem consegue impedir..Esses homens Falcão. Tia. Vou ficar longe do . – Falei com certeza.E mesmo amando-o desse jeito.. – Tia brincou para desanuviar e acabamos sorrindo.O meu amor por Theo é como o seu. Ele arrebatou a minha alma.. Nunca vou amar um homem como eu o amo. Eu o quero longe de mim. não vou me anular mais. Sei disso mais do que tudo na vida. mas então a encarei. perguntando baixo: .A senhora viveu aqui muitos anos.caminho dele e quero que fique longe do meu. Conheceu meus avós e minha mãe. incomodada. – Disse. .Posso desconfiar.A senhora deve saber.Sim. . triste. .Eu não sei. mas não . . Eva. mais séria. Ela suspirou. Ficamos quietas.Acha que Mário mandou matar meu avô na prisão? . tenho certeza.Como eu disse. Sempre achei que ele fosse capaz de tudo. Suspirei e ficamos em silêncio. nunca admitiu nada. Se ele fez. . eu o julgava capaz de tudo.Entendo. Soube que teria que continuar com aquelas dúvidas. guardou para si. . sem provas. Mas como Tia. Resolvi parar de pensar naquilo e me concentrar na minha própria vida e .Mas acha que ele pode ter feito? . Mario não tinha as virtudes de Theo. nas mudanças que aconteciam em mim. principalmente quando minha mágoa diminuísse. Mas não dava mais para seguir do jeito que estava. . No dia seguinte eu pensaria com mais calma em tudo. cansada demais. Era coisa demais para tentar resolver e eu precisaria ser forte para conseguir. Não sei como resistiria a Theo. Fechei os olhos. CAPÍTULO 14 THEO Eu entrei em meu quarto quando o amanhecer já despontava no céu e a claridade começava a surgir. Não seria denunciada. mas Ramiro . implorado por perdão. o celular de Cássia foi apreendido e ela havia chorado muito. Tínhamos resolvido tudo na sala. . mesmo que exausto por tudo que tinha acontecido naquela noite e madrugada. Pensei em ligar para Micah e passar o número para ele. Agora o delegado ia tentar fazer o rastreamento do número que Luiza tinha dado para ela e da ligação. mas estava cansado demais e deixei para o dia seguinte. Esfreguei o rosto e a barba. E com a culpa ainda me remoendo.deixou claro que estaria na cola dela. Foi um alívio subir as escadas e ir para meu quarto. E é claro que a demiti. Os Carpenters começaram a cantar Solitaire e parei. mas nem isso tive vontade.sabendo que. eu não conseguiria dormir. angustiado. Pensei em tomar um banho. só para tentar me distrair e relaxar com uma música. o tempo todo pensando em Eva. um merda. bem do modo como eu me sentia. que me fazia sentir sujo. mesmo tão cansado. Liguei o ipod que estava sobre um aparador. como se a música viesse a calhar para mim. me livrar um pouco do peso sobre mim. Apenas perambulei por lá. um covarde. . )” (The Carpenters – Solitaire – Tradução: Solidão) Parei.. um homem só Que perdeu seu amor através de sua indiferença Um coração que se importasse.“Havia um homem.. sozinho. com aquele desprezo mudo. que nunca foi compartilhado Até que morresse no seu silêncio(. preocupado. Eu estava abalado com tudo que me disse e vi no seu olhar. que me golpeou . pensativo. deixava-me perdido e abalado. afastar aquela distância que havia estabelecido entre nós e era pior do que qualquer ódio. mesmo . beijá-la. Não estava acostumado a ser tratado assim e de repente me ver privado de sua adoração. Tinha uma vontade quase sobrehumana de ir ao quarto de Eva. suas tentativas de provar que me amava e sua submissão.mais do que tudo. com o modo como ficou e me tratou. de resolver aquilo tudo e obrigá-la a me olhar nos olhos. Eu não conseguia lidar com aquilo. poesias. como algumas flores secas. Sentei e a abri. Lembrei das caixas que Micah tinha me dado. da casa dela. cd. que a polícia devolveu. E de repente eu não conseguia pensar em outra coisa. um caderno amarelo de capa dura. têla um pouco comigo. pedras.sabendo que era merecido. Era uma maneira de saber mais sobre ela. vendo lá algumas coisas que já tinha observado. Peguei uma delas no closet e coloquei-a sobre a cama. Eu o peguei e abri na primeira . dvd. um cacho de cabelo. no dia do meu aniversário de nove anos. Acho que Deus ficou com pena de mim e resolveu fazer essa . nem me lembro mais. pois a última vez que recebi um. Pensei que não fosse ganhar nenhum presente de aniversário. Estava escrito: “Esse diário comecei a escrever hoje. E é meu único amigo. redonda. deparando-me com uma letra infantil e bonita. que reconheci como de Eva.página. vi um embrulho brilhante caído no chão. fiquei tão feliz. Fiquei esperando mais ou menos uma meia hora. Como não voltou e não tinha nenhum nome escrito. Na mesma hora abaixei e peguei. Quando estava caminhando para casa. pois . resolvi abri-lo e quando vi que era um diário. pra ver se alguém voltava pra pegar. mas tão feliz.surpresa na volta da escola. Respirei fundo e passei . Só esse trecho já mexeu comigo. tudo parecendo uma sintonia só. Foi isso que senti vindo daquelas letras. Solidão. e mamãe sempre me dizendo que era bobagem. Como eu me sentia. Pelo menos esse presente enviado por Deus. como a música que eu ouvia.sempre tive vontade de ter um. diminui a tristeza por ninguém aqui de casa não ter se lembrando que dia era hoje”. Mas não pude conter a vontade de conhecê-la um pouco mais em diferentes fases da sua vida. que aquilo era intimidade dela. mesmo sabendo que não devia. No início. .a página. como se ela sondasse o caderno. criasse coragem para confiar nele e desabafar. eram apenas frases soltas sobre uma revista que queria ganhar e sua paixonite por um ator adolescente. Depois vinham umas cópias de letras de músicas e poesias. E só mais a frente começava a fazer isso. saber um pouco dos seus pensamentos. Comecei a ler. como ela seria. Como em uma parte: “Hoje é dia de Natal. se poderiam ser amigas. sozinha. Estou aqui no meu quarto. Não aguento .Eva dizia que pensava muito em Gabriela. se ambas um dia se conheceriam. Vovó já foi se deitar e mamãe está no quarto ao lado com alguns dos homens que pagam pra se deitar com ela. Eu coloquei fones de ouvido e estou ouvindo algumas músicas pra me acalmar. Não aguento mais uma vida tão miserável e tão triste. Eu queria dormir e nunca mais acordar. é tudo o que mais desejo e fico tentando viver fora da realidade. Que pudéssemos sentar na mesa e conversar bobeiras e contar histórias.ficar ouvindo os sons e as palavras feias que são ditas por eles. Mas nada disso é real. Eu sinto tanto por não ter uma família normal. acho que não doeria tanto. eu queria que pelo menos no dia de hoje tivéssemos uma ceia e uma árvore de Natal com bolinhas coloridas e pisca-piscas. Se Gabriela pelo menos estivesse aqui comigo. Queria muito dizer à . sentado. Ia ser o dia mais feliz da minha vida”. concentrado em suas palavras. Eu quase podia imaginar Eva. eu iria pedir pra trazer Gabi de volta pra gente. Solidão. Se Papai Noel existisse. Foi essa a sensação que tive o tempo todo. Depois falava da avó e da mãe. Isso doeu forte dentro de mim. . apenas que elas estavam sempre ocupadas e que ela se sentia sozinha.minha irmã que a amo e sinto falta dela todos os dias. quieta em um canto. Tinham sido bem cuidadosas e usado nomes falsos. que a mãe não a queria de amizade com ninguém. Ela descrevia isso. Eva escreveu em diferentes momentos de sua vida e mesmo assim . que elas ficavam meio escondidas.uma menina loira e pequena com enormes olhos verdes. pois eu sabia que no final das contas o objetivo de Estela e Luiza era de se manterem assim para agirem mais livres na vingança futura. isolada do mundo. Não queriam ser encontradas e mapeadas. que usava aparelho e machucou sua boca.não era muito. E ao final ela dizia que beijar era muito ruim. eu fiquei com ciúmes. o garoto. mais um desabafo. seu nervosismo aos 13 anos. Vi o sobrenome da minha família ser citado ali pela primeira vez ainda . Mesmo sabendo que era ridículo. Que só aumentou quando descreveu seu primeiro beijo. dando em detalhes tudo que sentiu. Tinha um relato dela aos 11 anos dizendo que estava apaixonada pelo colega da escola e queria se casar um dia com ele. que eles querem acabar com a minha família. reclamando que odiava os Falcão: “Não aguento mais. Minha avó perdeu tudo. que por isso vivemos escondidas. Eu sei que são culpados.com 13 anos de idade. assim minha mãe . Passamos fome por causa deles. minha mãe só fala neles. E um dia juro que vou recuperar o que nos tiraram. Que Luiza fosse prostituta não me surpreendia. . O que ela teria visto? E os riscos que correu? Fiquei nervoso. sendo só uma menina. me preocupava.nunca mais vai precisar se deitar com aqueles homens”. Ela era ainda muito jovem e não levei nada disso em consideração. Mas Eva saber disso naquela idade sim. imaginando um homem pondo as mãos nela. E voltei a me sentir mal comigo mesmo. afinal havia uma diferença de idade grande entre nós. ou até uma pequena comemoração como todas as garotas da minha idade ganham.Voltei a ler. foi uma página escrita de um lado só. paralisado. me . Em vez disso. nada me preparou pra a conversa que mamãe teve comigo. Pensei que ganharia algum presente. Ela tinha 15 anos: “Hoje fiz 15 anos e me disseram que eu estava me tornando uma moça. mas o que me deixou chocado. Leio. escuto minhas colegas da escola falando.explicando umas coisas. o que ela fazia com os homens me deixou assustada. Só que . Sobre homens. vejo televisão. Meu corpo mudou e sinto coisas esquisitas. Tudo que ela falou como era o corpo masculino. Eu sempre ficava trancada no outro quarto com minha avó e só ouvia os barulhos. Não sou uma boba. E então fez os buracos na parede. Nunca vou esquecer quando me mandou olhar . E falou de coisas que achei nojentas! Eu nunca ia fazer aquilo com homens! Era horrível! Mamãe ficou com raiva quando falei isso. Vovó foi contra quando ela disse que me ensinaria tudo e eu saberia na teoria como conquistar um homem.não era o bastante. tudo e foi para o outro quarto. todo peludo. não . indo para cima e se sacudindo todo. E eu vi aquele homem entrar. barbudo. Ele ficou pelado e era muito feio! Senti tanto nojo de tudo. Pensei que sexo era com pessoas que se gostavam. de como foi bruto e puxou o cabelo dela. E ela fingindo que gostava. baixinho. com cabelo comprido e cara de sujo. vovó deixou eu parar de ver. Não acabava e comecei a chorar. me explica como devo fazer e não consigo mais olhar para ela sem a imaginar com aqueles homens. E depois veio outro e outro. Mas agora ela me obriga a olhar sempre.aquela sujeira. Não quero nunca fazer isso! Mamãe já me ameaçou várias vezes quando o assunto . Ela sempre me faz prometer que vou me manter virgem. além de nunca mentir eu não queria que me odiasse. Eu só queria o seu amor. não queria sentir mais solidão do que já sinto. que uma hora isso traria benefícios pra gente. vou . Mas fico pensando que se um dia tiver um filho. E como eu iria negar isso a ela.tratado são garotos. Vou cuidar dele e não deixar que se sinta sozinho. Tanto quanto eu quero ser amada por mamãe”. que esteja comigo. angustiado. nunca vou esquecer seu aniversário. Vai ser muito amado por mim. Eu vou beijar e abraçar muito ele. Vou querer que sorria. .fazer diferente. E nunca vou deixar que fique triste. Eu parei de ler. sendo criada daquela maneira depravada. Só podia ser louca mesmo! Respirei fundo.furioso. Senti uma pena terrível de Eva. sua própria filha. . A nos odiar e a querer tirar a mãe daquela vida. com duas malucas. acreditando que tudo era culpa nossa. sozinha. O que eu podia esperar? Foi condicionada desde cedo a pensar e agir como elas. com vontade de sair quebrando tudo e gritar de raiva pelo que aquela mulher tinha feito com Eva. Não podia acreditar que Luiza tinha chegado aquele ponto. Ela tinha crescido vendo sexo de duas formas: ora com nojo. fazendo-a se sentir em dívida. E . na verdade sem querer ler o resto. E tanto um quanto outro a deixava com a sensação de culpa. disposta a se sacrificar pela mãe que sempre sofreu para protegê-la. Entendi que era assim que Luiza a manipulava. ora com desejo. E a cada uma. quando se excitava.Passei a página. senti-me mais raivoso e revoltado. perturbado. de que a mãe fazia aquilo como última opção para sustentá-la e mantê-la segura. Senti-me mal lendo aquilo. Três. encontrar Micah e ter o apoio dele.isso ficou patente em seus relatos mais velha. se aproximar de um dos homens da família Falcão e seduzi-lo. Um. quando contava os planos delas sobre aquela vingança. de usar Gabi e fazê-la se virar contra nós. sem que soubesse quem ela era. Dois. mas esperançoso quando ela espelhava suas dúvidas: “Não consigo entender como minha mãe pôde deixar . Já vimos uma casa para eu ficar na favela Sovaco de .. Por mim íamos embora e seguiríamos nossa vida.. “Minha mãe diz que vai ser mais fácil se eu conquistar o caçula..” “Tenho medo de me meter nisso.. se sabem que são pessoas tão más . Mas como posso voltar as costas a elas?”.minha irmã com eles. Joaquim. Queria falar tudo para minha irmã e fugir com ela”.. permeando todas as suas ações.. assim como sua lealdade e sua devoção à mãe. Suas dúvidas apareciam sempre. nem vi o tempo passar .Cobra. Isso ficou notório para mim. É de lá que vou mandar os bilhetes para Gabriela e me aproximar de Joaquim. como uma pessoa manipulada desde cedo por Luiza. Estou com medo. Nervoso. disse que eu devo ter outro foco na família Falcão e . embora ela ficasse muito tempo sem escrever. Até que chegou mais recente e. seus medos e dúvidas. seus desejos e apreensões.e o dia amanhecer. “Gabriela é apaixonada por Joaquim. Ainda mais por que ela não quer saber dos nossos bilhetes. Eu lia sem parar suas palavras e desabafos. Está com novos planos. pude entender melhor tudo. Mamãe ficou furiosa. Ele tem um jeito de ser tão bravo! Tenho até medo em pensar no que ele pode fazer. com tudo que fiz com ela. sentindo-me mal com tudo aquilo. com a idade.Ah. se me pegar. mas fiquei com medo dele.falou do mais velho. Ele tem mais de quarenta anos! Podia ser meu pai! Só o vi na foto.. E também com o fato de ter sido alvo delas e cair tão fácil naquela armadilha.. – Murmurei. . . coelhinha. Consegui colocar o bilhete e as fotos na cama de Gabriela. Só que nada me deixou tão apavorada quanto .Continuava. até uma parte em que li com mais atenção: “Ontem entrei pela primeira vez naquela casa. mas senti muito medo. Fui disfarçada com peruca e óculos. acompanhando um dos contadores da fazenda em uma festa. Theodoro Falcão.encontrar com ele frente a frente. Tive muito medo e não sei explicar o que mais. Até agora não consigo . O homem que mamãe queria que eu seduzisse. Eu o encontrei sem querer e ele me olhou. O depravado que colocava mulheres na coleira. Os olhos dele pareceram sugar alguma coisa de dentro de mim. Nunca fiquei tão nervosa. é poderoso. Nunca olharia para uma garota tão simples como eu. um homem de verdade. Por que será que mamãe acha que ele poderia ter algum interesse em mim? Sendo que ele pode ter as mulheres que ele quiser. Tem uma força que assusta. Estou tentando convencer mamãe a esquecer aquilo. eu nunca seria páreo pra .esquecê-lo. Não posso me envolver com ele. tentando me lembrar daquele primeiro encontro. Para mim. a primeira vez que a vi foi quando despertei daquele atentado e acordei na favela com ela debruçada sobre mim. Só que me temia e sabia que poderia sair perdendo feio naquela história. mas não consegui. Mas ainda assim não provava nada. Eu parei de ler um pouco. comecei a ler mais: . Ansioso. Sua impressão sobre mim a havia marcado.um homem tão intenso”. Dali ficava muito tempo sem escrever. Theodoro sofreu o atentado e fui . Vovó está doente.“Não tem mais jeito. Começou e me meti de cabeça nessa vingança. meu tio Micah nunca foi encontrado. e a cada dia ela piora. se só eu tenho condições de recuperar o que nos foi tirado? Eu me sinto muito culpada. Gabriela não quer saber da gente. Como posso fugir. Eu quero fugir. Não era para ele tomar tiro nem ninguém morrer. Mas não consigo tirar esse homem da cabeça. mas não posso abandonar mamãe e nem vovó. Mesmo baleado e com . E isso me deixa totalmente apavorada. Minhas mãos estão sujas de sangue. Sei que isso está errado.conivente. E agora essa culpa não deixa meu coração em paz . as outras estavam em branco.sangue. Sempre cultivei o ódio. Abalado. Ódio do mundo. ” Depois disso. Da insegurança. só havia mais uma página escrita. Penso nele o tempo todo. ele mexeu comigo. li o último texto ali: “Eu não sei mais quem sou e o que quero. por ser privada de tanta coisa. pois nunca tive certeza de . E sinto muito medo. E ódio da família Falcão. que matou meu avô. Eu queria salvar minha mãe da prostituição e minha avó da doença. E para isso precisava me meter com eles. que tirou nossa chance de felicidade. que roubou nossas terras e Gabi.nada. nós quatro. . Se tivéssemos ido embora. nem mesmo de ser amada. Agora eu quero só que tudo isso acabe. talvez nossas vidas fossem diferentes. mesmo sabendo quem ele é e que pode nos destruir? O que faço . Mas não o fizemos. criado novas raízes. esquecido tudo.sumido no mundo. Mas e minha avó naquela cama? E tudo que minha mãe fez? Em que momento eu mudei? Por que fui me apaixonar por Theo. Deixamos Gabi ir. E agora eu queria ir também. E o que posso. meu amigo? Como . Eu sei o que quero. E o que quero é o que não posso.agora com essa vida miserável? E as dívidas que tenho com minha mãe e avó? E as injustiças que sofreram? E meu amor por Theo? Eu quero gritar! Quero fugir e esquecer! Quero rir e ser feliz sem esse peso todo! Quero só uma chance de escolher. Como vou sair dessa. As palavras se embaralharam na minha frente e tive que ler de novo.vou continuar em uma vingança para destruir o homem que invadiu meu corpo e minha alma? O homem que eu devia só odiar?”. que batia com a época em que a levei para morar na fazenda e já éramos amantes. Ela registrou ali. logo no início. o que sentia dentro de si. O que afirmava para mim sempre. vendo a data. naquele diário esquecido na casa da mãe dela. . que mesmo assim tentava se libertar e pensar por si mesma. Mas de uma jovem manipulada desde cedo. acostumada a uma realidade triste e solitária. Uma parte daquela raiva que não saía de dentro de mim desde que descobri sua traição cedeu. Deixei o diário sobre a cama e . sumiu como se um peso enorme fosse tirado de cima de mim. Eu vi ali uma parte da alma de Eva e não era de uma manipuladora sem escrúpulos que queria me enganar e matar. arrefeceu.Que me amava. me levantei. Sabia dos . me impus. Ela saiu das garras da mãe e caiu nas minhas. E eu. angustiado. Tanto meu amor quanto meu ódio se sobrepuseram aos desejos e vontades dela. apesar de ser louco por ela e amá-la. não a deixei respirar. Entender Eva só fez com que visse a mim mesmo melhor e como tinha minha parcela de culpa em tudo aquilo. bombardeado por muitos sentimentos e dúvidas. fiz o mesmo que Luiza: eu a dominei. Nunca gostei de ser contrariado e era um viciado por controle. esfregando o peito. que era uma parte de mim. comigo mesmo. Andei pelo quarto e desliguei o ipod. Por isso nunca quis me envolver com ninguém sério e me mantive solteiro por tanto tempo. com pena de Eva e uma vontade enorme de jogar tudo para o . que tocava outras músicas e só me deixava mais revoltado com tudo que li. Até perder a cabeça por Eva e me apaixonar como nunca julguei possível. minha mania de dominar. minha apreciação da violência. Convivi comigo mesmo por anos para me entender.meus defeitos. suas necessidades e. sua vida. Tudo ainda era um caldeirão fervendo. esquecer tanta mágoa. apagar o passado e começar uma nova história sem tanta coisa entre nós. cansado e preocupado. . Eva quando me enganou e eu quando usei minha raiva contra ela. Como resolver tanta coisa. quieto. doído por ela e por mim. Mas fiquei parado.alto e ir até ela. Ambos fomos além do que era permitido. perdoar? Não conseguia parar de pensar em suas palavras naquele diário. sobretudo. me olhar e beijar com tanta paixão e entrega.sua declaração por mim. o que eu faria com tudo aquilo? Como passaria por cima do meu orgulho e da minha dor? Como a faria ver que mesmo tendo pegado pesado naquela noite. como um animal ferido que avança para não ser torturado novamente. se dar a mim tão completamente como fez. ela não conseguiria fingir tão bem. machucado por sua traição. No fundo sempre soube que Eva me amava. E agora. Mas não quis acreditar. eu só me descontrolei por . amarrando-a e fazendo-a acreditar que eu a machucaria de verdade e tiraria sua filha? Arquejei. autoritário e .medo de uma nova traição? Se nem eu me perdoava e sabia que não havia desculpa para o que fiz. Não havia desculpas para aquilo. para a violência que usei arrancando-a de casa daquele jeito. sem poder feri-la. Mesmo que no final das contas e no auge da minha fúria eu tenha recuado. com ódio de mim mesmo. jogando-a no calabouço. mesmo assim fui abusivo e dominador. Eu vi como desistiu ali. retratos. mesmo errando e fazendo suas escolhas. entendendo agora que. Sua criação. Só a realidade de que eu era um animal. enfeites. o diário. E para mim não havia desculpas.amedrontador. Voltei à cama. como algo dentro dela se rompeu. olhei para as coisas de Eva dentro da caixa. . além de objetos. vasculhei a outra caixa e não vi nada demais ali. Fui ao closet. sua lealdade à mãe e à avó. havia um mundo de desculpas para ela. sua idade. com mais ou menos uns cinco anos. E então achei uma foto dela. catei meu celular. deixando a foto ali. Voltei ao quarto e andei como um animal enjaulado. nunca o deixaria se sentir como ela. sem poder encarar aquela tristeza do passado e sabendo que a tristeza do presente fui eu que causei. E lembrei-me de suas palavras de que. se tivesse um filho. Porra! – Rosnei.Porra..olhos enormes tomando o rosto. as chaves do carro e . . Por fim. sem saber o que fazer e sem conseguir ficar parado.. uma expressão de tristeza. . O carro dos meus seguranças ficou atrás do meu. Eu tinha que pegar uma chave e ir a um lugar.saí discando para Ramiro. Cheguei à casa pequena que Eva morou com Luiza e Estela. Eu estava com minha pistola e entrei sozinho. depois de conseguir a chave da porta com Ramiro. ver com os meus olhos parte do que acabei de ler. Era ainda de manhã cedo e as casas vizinhas estavam fechadas. mas fiz um gesto para que ficassem ali. sempre sozinha. sozinha. A pobreza não me incomodou. Muitas pessoas eram pobres e viviam com dignidade. enquanto passava os olhos pelo quintal maltratado com mato crescido e imaginava aquela garotinha de olhos tristes ali. Meu coração pesava. O que me deixou agoniado foi olhar em volta e ver uma parte da vida de Eva ali.Emoções violentas e ruins me engolfaram dentro dos muros fechados. mas mesmo assim destranquei a porta e entrei na sala. imaginar quantas vezes perambulou naquele lugar . cheia de sonhos e dúvidas. deixando-me doente de culpa e preocupação. Contive o ar. E enquanto eu andava por lá. em tudo que foi ensinada a acreditar. Havia uma energia ruim e pesada ali. uma vibração que me angustiou mais. como se o cheiro de dor. o que viu e presenciou. Imaginei Helena passando por aquilo e quase morri com isso. um estigma do mal entranhado nas paredes e nos móveis. de uma pena que era mais forte que tudo. solidão e ódio . era como senti-la comigo como uma sombra. bateram na boneca velha e no urso sem um olho. Na minha cabeça não saía a imagem de Eva numa daquelas camas . andando por lá com o ódio me consumindo mais e mais.. cerrando os punhos. talvez de umas poucas vezes que a mãe ou a avó resolveram presenteá-la. imaginando o quanto daquilo ela não teria ganhado já usado.Desgraçadas. . E ignorei os outros cômodos. Acendi a luz e meus olhos varreram tudo.. – Rosnei.empesteasse tudo. indo direto para o quarto meio infantil que sabia ter sido o de Eva. pouco me importando se quebravam e espalhavam cacos de vidro para todo lado. em uma fúria assassina.com fones de ouvidos para não escutar a mãe transando com os homens no quarto ao lado. enquanto me aproximava de um deles e via bem a cama diante de . Tive que respirar várias vezes para me conter. Sem cuidado eu os arranquei. jogando-os ao chão. Fitei a parede que dividia os dois ambientes e vi dois quadros pequenos lá. Eu só conseguia ver os dois buracos ali e sentia tudo dentro de mim se revoltar. obrigada a ver a mãe transando com uma infinidade de homens. cansado. minha ira concentrando-se só naquela mulher maldita que tinha pensado só em si mesma e se desfeito das duas filhas.mim. E por fim eu entendi Eva e toda revolta que senti desde que descobri quem ela era pareceu escorrer para fora e longe de mim. Espalmei as mãos na parede e fiquei completamente irado ao imaginar Eva ali. Fiquei vazio. Meu peito doeu. meus olhos arderam. . Luiza ia pagar por tudo. ainda uma adolescente. descarreguei ali o ódio que sentia. Com um grito furioso. Fui pegando tudo que vi pelo caminho naquela casa agourenta e jogando no chão. Eva tinha sido oprimida por mim e pela mãe e isso só me colocava no mesmo . a raiva por tudo que Eva passou. por ter sido um desgraçado com ela.Eu não sossegaria até acabar com ela. assim como não perdoava as de Luiza. Ao final das contas. descontrolado. Fiquei cego. Nada perdoava minhas ações. quebrando. o ódio de mim mesmo por também tê-la levado em seu limite. Parei. Eu teria que fazer mais. Quebrei os móveis. descabelado.patamar que aquela maldita. respirando irregularmente. mas alguma coisa eu poderia fazer contra aquele passado. esparramei roupas e objetos no chão. queimar a maldade ali grudada. sabendo que as lembranças estariam sempre com Eva. E mais. jurei a mim mesmo que compraria o quanto antes aquela casa. só para pôr fogo em tudo. Fui ao outro quarto e destruí tudo que pude. aos poucos voltando a . Havia ainda muito para ser feito. Saber de mim mesmo se eu poderia seguir em frente com ela. afastar o mal e a ameaça que representavam. pois apesar de tudo ainda não aceitava ter sido enganado. Mostrar a Eva que eu estava arrependido por minhas culpas. mesmo com o mundo contra nós. Prender Luiza e seu comparsa. tentar reconquistá-la. Só aquilo não seria o bastante. E lutar para que ainda estivesse disposta a tentar comigo. .mim. a minha coelhinha. Era a mulher da minha vida. As coisas tinham se invertido. Eu agora a via como uma garota e eu como um algoz. a mãe da minha filha. Angustiado. ir para casa. Eu a amava e não queria magoá-la. sentimento confusos me bombardeavam. Precisava sair dali. seu . buscar uma solução e um recomeço. papel e tecido. sua traição. sabendo que não poderia mais deixar meu gênio tomar conta de mim ao lidar com ela.Tudo pesava sobre mim. E mesmo com a diferença de idade. pisei sobre vidro e madeira. passado. mas cada vez mais enxergava a mim mesmo e tentava mudar. Eu tinha sido um ogro. . Por ela. A luta não tinha terminado. E a ter Eva comigo. Mas eu estava disposto a vencer. Eva tinha me feito um homem melhor. Uma nova batalha se iniciava. CAPÍTULO 15 EVA O dia estava lindo e caminhei com Helena no colo do lado de fora. Para mim foi indiferente. pois eu estava disposta a . Era domingo e fui informada por Tia que não havia mais necessidade de ficar em meu quarto e só sair quando Theo não estivesse em casa. Helena me olhou e fez um barulho esquisito. Assim.não obedecê-lo mais. Eu sorri e estava já dentro da sala com ela. Theo descia as escadas de banho . pois sabia que havia seguranças em volta.Agora mamãe vai te dar um banho gostoso e um leitinho melhor ainda. mas fiquei perto do jardim. como se respondesse. quando ouvi passos e ergui os olhos. Quando começou a esquentar. dizendo baixinho: . eu entrei com ela. saí para tomar um sol com minha filha. a cada vez que o olhasse sofreria um baque e me sentiria mexida. Mas junto com tudo aquilo. cabelo úmido. seus olhos azuis fixos em mim. Parou no último degrau. daquela desesperança que foi a pior coisa que senti na vida. que ainda me doía por dentro.tomado. havia muito mais. enquanto . Havia dor e uma revolta silenciosa. do medo. Eu parei também. como sempre abalada por ele. Lembrava de como fui tratada. Acho que se eu vivesse mil anos. uma blusa preta deixando-o mais másculo e lindo. pronta a passar por ele e evitá-lo em meu caminho. devagar. . Eva. sua voz me impediu: . cauteloso. Olhava-me de forma penetrante. Eu parei e dei certa distância dele antes de encará-lo. sem conseguir . Desviei o olhar e dei um passo a frente. mirando a escada.Oi.até o medo cedia espaço à desistência naquele calabouço.Oi.Preciso conversar com você. – Falou baixo. – Respondi séria. Mas ao chegar ao seu lado. diferente. . Fiquei feliz por minha filha. pois com todos os problemas. Theo baixou os olhos para ela em meu colo e seu semblante se suavizou. . Aquilo sempre me emocionava e eu sabia que era e seria um pai exemplar.disfarçar a mágoa que ainda sentia dentro de mim. Observava-me bem atento. Era impressionante como de um tigre virava um gatinho quando a olhava ou se dirigia a ela.Tenho que cuidar de Helena. Emoções me engolfaram. ela era muito amada por mim . Não adianta fugir.e por Theo. E como se lesse meus pensamentos. Era o modo como me fitou muitas vezes durante os meses do nosso casamento. quando então se deu sem reservas a mim. Já ia me afastar. Precisamos . quando se aproximou mais e disse baixo: . Engoli em seco. Mas por um breve momento quis ser olhada assim também. ele ergueu aqueles olhos intensos para mim e sua expressão ainda era carinhosa. amorosa. tentando não pensar naquilo. E por todas as pessoas da família. . parte de minha raiva voltando. parado a minha frente. .Agora não. – Parecia um tanto cansado. Estava disposta a nunca mais me rebaixar para ele. .Não até você ficar furioso com . Não vou obrigar você a nada.Agora sim.Vai me obrigar? – Ergui o queixo. sua mão indo na cabecinha de Helena e acariciando-a. enfrentando-o.conversar. . . animada. Ela se bateu.Não. sem saber o clima que pesava entre nós. Eva. Ficou surpreso. . Continuei: . – Eu sentia vontade de falar o que eu sentia. Pode me perdoar? .Eu sei que errei.alguma coisa e me arrastar por aí.Não. Tinha cansado de me calar tanto. de mostrar parte da minha raiva. um tanto abalado com minha frieza. uma decepção desconhecida. Havia uma revolta latente em meu peito. E peço perdão. uma vontade de deixar de pôr meu destino nas mãos de outras pessoas. que casei com você por amor e desisti da vingança..Não é fácil perdoar e sabe bem disso. enquanto só . Eu aceitei tudo que fez comigo achando que devia ser mesmo castigada. . – Cuspi as palavras. os sentimentos se retorcendo em meu interior.Sim.Deve entender que era difícil para mim. Você me enganou e traiu. não é. falei que me arrependi. Mas expliquei tudo. sem tirar os olhos dos dele e nem recuar. fiz isso. Theo? Quantas vezes eu te pedi perdão? Quanto tempo tentei fazer com que acreditasse em mim? . um certo desespero em suas feições. Eu extrapolei e só posso prometer que isso . mas não tiro sua razão. Só quero que me deixe em paz. Eu sabia que tinha vontade de me segurar e me sacudir. Eva.Eu entendo sua raiva.Não é raiva! . . – Mas tem uma hora que cansa. seus olhos brilhando. – É raiva e revolta. Agora não me importo mais.Não? – Franziu o cenho. .me olhava. Não quero saber se acredita ou não. mas ao mesmo tempo o sentia mais calmo do que pudesse imaginar. .. .Já prometeu antes. pois não adiantava fugir daquilo. teríamos que enfrentar.Antes de saber que você era uma Amaro. Ouvi um rosnado furioso vindo das minhas costas e dei com o olhar irado de Mario Falcão sobre mim. . sentado em sua cadeira de rodas. filha e neta dos inimigos da sua família! – Falei em alto e bom tom.Ham. ... Ham.nunca mais vai acontecer..Sou sim! Sou Eva Amaro. com . . . como se exigisse uma resposta.A.Ham! – Gritou mais alto e bateu com o punho cerrado na cadeira. apontando depois para mim. .Calma. vindos do corredor.. mas não recuei.. Por sua cara percebi que só agora sabia quem eu era. Ergui mais o queixo. . Estava ficando todo vermelho. pondo a mão no ombro dele. Ama.Sim. ro.. – Disse Tia.Tia empurrando a cadeira dele. mas não tirava os olhos de mim. balbuciando: . firme em meu lugar. Mário. sou neta de Pablo Amaro. . nervoso..– Falei em alto e bom tom.S..... – Disse Theo. Sai! – Ele gritou. Não precisa se meter.Ahhhhhhhhhhh. . mas tranquilizador. tentando gritar: .Fo. . .Ham! Sai! Sai! Estava todo vermelho.Ela é minha esposa.Ela fica. fora de si .. com raiva.. Fo. – Theo interviu. metendo-se na minha frente e na de Helena. ra! . seus movimentos desconexos ao bater na cadeira. . – Berrou.. seu tom sério. – Tudo está sendo resolvido. pai. Não fique assim. . senhor Falcão? – Eu também me sentia em meu limite e não me importava com aquele homem.Sai! .de tanta raiva. ele e Eva vão se entender e.Por que não aproveita e me diz se matou meu avô. Tia se desesperou e tentou acalmá-lo... Theo sabe o que está fazendo. – Você o matou? Matou Pablo Amaro na prisão? . usando palavras amenas: . Por ele. toda aquela tragédia estava acontecendo. segurando-o. Eu fiquei pálida.Des. truir. ro... . meu Deus! – Exclamou Tia... imobilizada. tendo a confissão como prova final de que pelo menos naquilo minha mãe e minha avó não haviam mentido... truir.. – Começou Theo.. tei! – Berrou e bateu no peito com o punho cerrado.. Ham. Des.. se voltando para mim..Sim..Ah.Eva.Ma... A.. Des. .. .. como se estivesse orgulhoso disso. . quis destruir os Amaro! – ... ma... segurando meu braço. É o que mais quero. . .Eva.. Sai! – Gritou. ia avançar para mais perto dele. – Envolveu duas famílias em ira e vingança por sua maldade! . sair daqui! Seu assassino! . sua voz firme: .S.Furiosa... mas Theo me puxou e me segurou. olhando em seus olhos. como se me expulsasse de sua casa.Eu quero ouvir! Quero saber como um homem só causou tanto ódio e tragédia! – Mal podia respirar e lágrimas sem controle vieram aos meus olhos.. . metendo-se na frente de sua visão. – Ai. apavorada quando Mário começou a arquejar e ficar todo vermelho.Pare com isso. como se estivesse tendo um ataque. Tia o abanou e Theo disse a ela: ..Pai! – Theo correu até ele.Ligue para o médico. . filha. – Pediu Tia. Tia! Fiquei imóvel. Jesus! . percebendo que Mario passava mal de verdade. abrindo o colarinho de sua camisa. Estava nervoso e foi aquilo que me fez calar e recuar.. culpada. Fui para o sofá e sentei. Eu fiquei tensa e me arrependi do meu descontrole. com lágrimas nos olhos e o peito doendo.O que aconteceu? Dali por diante os outros desceram também e correram preocupados para o quarto do pai. correndo com ele para o quarto. indagando a mim mesma quando aquela .abraçando minha filha enquanto Theo se inclinava e pegava o pai no colo. Joaquim desceu as escadas. indagando: . enquanto Tia falava com a emergência. Raiva e culpa me dominavam. E eu me sentia cansada demais de tudo aquilo. disse .tragédia toda acabaria. por fim o médico foi embora e todo mundo se tranquilizou. Meu pai foi acalmado e medicado. um aumento de pressão ocasionada pela raiva e pelo descontrole emocional. Pedi a Gabi que ficasse com Eva e Tia também foi vê-la. THEO Tinha sido só um susto. Mas mesmo com tudo. percebendo o quanto estava velho. com os cabelos todos brancos e o rosto vincado por rugas. com os braços cruzados. Agora eu estava sentado na beira da cama. com uma raiva que fazia com que apertasse as sobrancelhas e me olhasse fixamente. olhando para meu pai recostado nos travesseiros. Joaquim tinha se sentado em . Heitor olhava pela janela. com as mãos nos bolsos.que estava bem. Pedro estava recostado contra um móvel. seus olhos continuavam alertas e arrogantes. Ham.. Ham.. Papel. Pa. mas até aquele dia era só suspeita.. Era muito difícil para ele juntar . Que foi ele mesmo que deu fim em Pablo Amaro. também não poderia perguntar a ele e correr o risco de fazê-lo passar mal. Agora tínhamos uma confirmação. Ao mesmo tempo. Sempre achei que tinha sido aquilo mesmo.. Mas como se sentisse o clima...uma poltrona e parecia perturbado. ele mesmo fez força para falar: . Eu sabia que eles queriam saber o que meu pai nunca contara. Nosso pai ainda não tinha ..Quer escrever? Acenou com a cabeça. pel. Voltou e apoiou uma almofada no colo dele.Não precisa ser agora. Ham. pai. – Disse Joaquim.as sílabas e formar palavras. – Insistiu. .Pa. esperando que segurasse a caneta. . Foi ao criado mudo e pegou o bloco e a caneta que já ficavam por ali. Percebi seu ar cansado e falei baixo: .... Outra hora pode fazer isso. Indaguei: . se levantando...Eu pego. Por fim. Vários minutos se passaram e toda hora ele parava para descansar e recuperar parte da firmeza dos dedos. Ficamos quietos e deixamos que escrevesse sozinho. embora o fizesse com letras trêmulas e torcidas e devagar. se concentrou e começou. Respirou fundo. mas aprendeu a comer sozinho e escrever quando era exigido. Atirou no . Eu o peguei e meus irmãos se aproximaram para ler: “Ele tentou me matar.firmeza nas mãos. ergueu os olhos e indicou o bloco com a cabeça. lendo e relendo aquilo. as duas perdendo tudo de repente.capataz. Matou. Escolhi eu. Fim”. sem meios de lutar contra . Ramiro fingiu não ver. Abriu a cela. Acabou. Era ele ou eu. Pendurou na corda. Já tinha comprado a fazenda dele. Capataz meu entrou e matou asfixiado. Fiquei um tempo parado. Tão poucas palavras para descrever uma tragédia tão grande para duas famílias! Imaginei o ódio de Estela e Luiza. Jurou acabar comigo. Expulsei as duas. sabendo que Pablo foi assassinado. Ergui os olhos. encontrando o olhar do meu pai sobre mim. de repente muito cansado. Continuava lúcido e irritado. Não desculpava o que fizeram depois.Não foi o fim. Falei baixo: .um homem poderoso como meu pai. . Foi o começo de uma vingança. Não vi ali nenhum arrependimento. mas eu entendia como o ódio e a violência podiam destruir uma pessoa. Pela primeira vez entendi as duas. que inclusive contou com a conivência de homens da lei para cometer seu crime. enquanto nos encarávamos. fez cara feia. abriu a boca. . Por fim vi uma mudança em sua expressão e pareceu surpreso. ra. – Falei sem me alterar.. Ele fez que sim com a cabeça. balbuciou: . eu saio também..Quer a Eva fora daqui? – Perguntei.E. em silêncio. Fo. Sai. Piscou. decidido. . Sacudiu a . Meus irmãos estavam quietos..Ele não se dobrou. Arrogante. va.Se ela sair.. Ham. acima de tudo. meu.. ..Ham..... E mesmo sabendo que ele errou feio em suas ações do passado.. respeito entre nós. Nunca fui de enfrentar meu pai nem ele a mim.. fi. . Mas sou marido dela.. Elas ficam comigo.Sou seu filho. me.. – Não falei de documentos falsos nem da anulação do casamento que estava para sair.. – É mãe da minha filha. eu não perderia aquele respeito nem brigaria com ele. principalmente em . lho..cabeça que não. Havia. fi. Ele me conhecia. um tanto pálido. .sua situação..Theo. – Joaquim começou. .Deixe-os. . – Disse Heitor e ele se calou. como se não soubesse o que fazer. Joaquim. . se o senhor preferir assim. E pela primeira vez o vi realmente indeciso. preocupado com o rumo da conversa. Meu pai olhou para meus irmãos e depois para mim.Posso sair com elas. sabia que eu não era de falar nada à toa. Mas não faria suas vontades.. Não aliviei nada para ele nem me expliquei.. E quando fiz menção de me levantar. Acenou com a cabeça. que. pai? . ... sob seu . apertando os lábios com desagrado. eu mandaria construir uma casa só para nós dois e Helena. depois de tudo aquilo. perturbado.. eu e Eva nos entendêssemos. balbuciou nervoso: .. cansado.Fi..O que é. Ergui-me.Ham. Ham. Eu acenei também e pensei que. se um dia. .Elas ficam também. Não havia mais segurança em sua porta. . Subi e fui direto ao quarto de Eva.Qualquer coisa que sentir. Eva estava de pé em .olhar atento. mas a segurança em volta da casa continuava maciça. avise a enfermeira. Não havia uma verdadeira camaradagem ou amizade entre nós. Vou mandá-la entrar. Não havia muito mais que eu pudesse dizer. Entrei e vi Helena dormindo quietinha no berço. Deixei ele com meus irmãos e saí. olhando para fora. Virou-se e me encarou séria. Disse friamente: . mais forte e decidida. de ficar a noite em claro lendo seu diário e . de trazêla de volta me sentindo um merda e resolver tudo com Cássia e a polícia. sem aquele ar submisso de sempre. seu cabelo dourado iluminado pela claridade. da raiva por achar que me traiu novamente e arrastá-la para o calabouço. Depois de tudo que passei.Eu agradeceria se batesse na porta antes de entrar. de um modo novo.frente à janela. Então quero outro. Andei até ela pisando duro e parei à sua frente.Esse quarto também é meu. . fez meu sangue subir. doido para pegá-la e ensinar a ela boas maneiras. chegar ali e ser tratado daquele jeito. .A casa é minha. irritado. Tive que respirar fundo para controlar meu gênio.indo em sua casa. além de voltar e pensar que meu pai ia morrer passando mal. mas falei firme: .Então quero sair daqui! – Falou . . confessando que era um assassino. meus instintos gritando que o fizesse. Eva.alto.Não diga besteira. .Você praticamente já tinha certeza disso. Por esse motivo se meteu nessa vingança.Não quero mais morar aqui! . estressada. – Retruquei. me contendo para não segurá-la. . impaciente. Não recuou e foi além: . seus olhos brilhando. . Confessou que matou meu avô.Besteira? Aquele homem lá embaixo que você chama de pai é um assassino! Ouviu o que ele disse. . demonstrando seu nervosismo e descontrole. – Não fico mais aqui. falei: . Deu um passo para trás e se encostou na janela.Eu tenho. – Ergueu o queixo e percebi que seus lábios tremiam. Irritado.. Também matou.Eu não tinha certeza! Ele não me mandou sair? É o que quero também.Não precisa ter medo de mim. sem tirar meus olhos dos dela. Passei a mão pelo cabelo. não é. Theo? Atirou naqueles bandidos do seu . Agora vejo a quem você puxou. como se temesse minha reação. Queria o quê? Que eu ficasse quieto esperando que acabassem comigo? – Franzi o cenho. que você também é capaz de tudo. embora eu saiba muito bem dos meus defeitos. Eva.Eu só sei que.. do que posso ou não fazer. Então não me acuse de ser capaz de tudo.atentado sem vacilar.. Eu não fui capaz de fazer o que meu ódio mandava quando levei você naquele calabouço. revoltado. . .Tudo não. . enquanto apenas . Ela se calou. para resolver aquilo da melhor forma possível. Quero as duas sob meus olhos.Arrume uma das outras casas para mim. mas lutei para me manter lúcido. . Pelo menos não estarei sob o mesmo teto que seu pai.nos olhávamos. Senti que estava no limite da exaustão.Você não vai sair daqui com minha filha. . Sabe o risco enorme que estamos correndo com aqueles dois bandidos lá fora. Eu a entendia. Mas mesmo assim apertei os olhos e falei com . Por fim. Vou ficar longe do caminho de seu pai. só que é minha filha! Eva empalideceu e pareceu se dar conta das ameaças que corríamos.Já viveu esse tempo todo sob o mesmo teto que ele. – Não vejo a hora disso tudo acabar. – Piscou. nervosa. não vai nem querer saber que é sua neta. E espero que ele fique longe do meu. Pensei em suas palavras naquele . Pense ao menos em Helena. Se sua mãe puser as mãos nela.impaciência: . acho que aquilo a convenceu. .Está bem. diário. querendo de alguma maneira aliviar seu fardo. aqueles buracos na parede de seu quarto. precisando de paz. Era tudo doloroso e confuso. entendendo que ela devia estar mesmo cansada de tudo. como eu me sentia. E mesmo . sua solidão e sua dor. escolhas que precisavam ser feitas. Via em seus olhos que estava cansada e carente. mas sabendo que as coisas não funcionavam assim. Olhei-a com um desejo absurdo de que tudo de ruim sumisse como mágica. preocupado. uma mistura de emoções. Relaxei. .. tentou se afastar e passar por mim... Eva mordeu os lábios. uma mágoa em seu olhar mascarando os outros sentimentos. Quando estendi a mão. deixando-me perturbado.tendo-a ali. Estava trêmula. tive uma saudade imensa dela. nervosa.Eva. Vou descansar um pouco agora..Eu. na minha frente. Parecia perceber minha necessidade de tocá-la. mas segurei seu braço e a puxei contra o . Então murmurou: . Vem aqui. Subi as mãos por suas .. . – Murmurei perto do seu cabelo. precisando do seu cheiro. emocionado. .Sinto a sua falta. envolvendo-a pela cintura. Senti quando arquejou e estremeceu.. coelhinha. do seu corpo. quando deixou que eu beijasse sua têmpora e dissesse baixinho: .. muda por que usei seu apelido..corpo. Não lutou.Não. Enrijeceu-se na hora. dela perto de mim. Theo. como nunca fiz com pessoa nenhuma. E ter sido enganado foi demais para suportar. tanta distância. tanta necessidade. senti quando respirou fundo e apoiou as mãos em meu peito. se . mas ainda não sabia como. eu não conseguia deixar de me sentir traído. Podia ter todos os defeitos do mundo. mas tinha me dado a Eva de corpo e alma. Então. Cansado de lutar. sob seus cabelos. Eu teria que aprender a conviver com aquilo. cansado de tanta dor. eu também ainda tinha dúvidas e mágoas.costas. Como ela. Os olhos de Eva estavam secos. O que vi naquele calabouço. seu .Me solta. por isso a segurei firme. Nós nos fitamos nos olhos e havia um mar bravio de sentimentos e emoções desconexas entre nós. Precisava tanto dela que doía. E estava lá. muitas lágrimas contidas e poucos sorrisos.afastando. indo para trás. ainda latente ao olhar para mim. Minha primeira reação foi de não deixar. Theo. aquela mágoa. . Era muita dor acumulada. sua mudança. mas pareciam chorar. sem saber lidar com aquilo. Não dava para fingir que não existiam. Tudo ali no verde de sua íris.Não posso. Quero ficar sozinha. na profundidade da sua alma. pois era assim que eu me sentia. Se eu a . – Falei em um tom perdido. soube que ainda me desejava.Só quero um abraço. . Por favor. . me deixe. Senti seu corpo trêmulo. que seu amor não acabaria de uma hora para outra. Meus instintos gritavam que não. Theo. seu basta.enfrentamento. Mas e depois? Ela me acusaria de forçá-la de novo? Viveríamos naquele jogo de gato e rato? Foi muito difícil. um carinho. acabaria cedendo. mas naquele momento desejei aquilo mais do que tudo. sem poder me olhar. Tinha certeza disso.abraçasse forte. . nervosa. forçando-me a ser forte. No entanto. a encostasse na parede e beijasse a sua boca. deixei as mãos caírem e olhei-a com fome enquanto fugia rapidamente e me dava as costas. Nunca imaginei que precisasse tanto de um toque. Eva. pronto para pegá-la de volta. eu nela e ela em mim. . Então xinguei a mim mesmo em silêncio e soube que tudo era uma questão de confiança. Ela não me impediu. me chame. caminhando até a porta. Ficou imóvel no mesmo lugar. .Se precisar de qualquer coisa. – Falei baixo. nenhum contato ou sexo aliviaria nossa dor. Enquanto aquilo não houvesse entre nós.Dei um passo adiante. nos aproximaria novamente. cada passo uma dor. Saí em silêncio e em frangalhos dali. .E não me restou outra solução. CAPÍTULO 16 THEO Na segunda-feira. Micah se reuniu comigo no escritório e explicou sobre o número de celular de Luiza que pegamos de Cássia: . – Ele se sentou na beira da mesa e me observou.Não foi possível fazer um rastreamento rápido. . Eles não vão se . – Eles usaram um desses prépagos. com raiva. – Ninguém consegue descobrir onde esses dois se escondem. o que dificulta muito a coisa. . Mandei para um amigo do trabalho que é fera nisso. Não é possível uma coisa dessas! . mas vai demorar um pouco mais.Merda! – Levantei da cadeira. Não tem conta no nome de ninguém.tamborilando os dedos no tampo de madeira. Tirei meu paletó e deixei no encosto.Calma. andando pra lá e pra cá impaciente. irritado. Parecia que tudo estava em . para então poder decidir o que ia fazer da minha vida. de me sentir ameaçado.esconder para sempre. Fomos criados aqui. mas eu sentia que também tinha que pegar de uma vez os ratos que eram Luiza e Lauro. – Odeio ter que ficar com segurança para cima e para baixo. somos conhecidos. – Parei e olhei para meu irmão com a sobrancelha franzida.Preciso encontrá-los antes que preparem alguma armadilha. Não falei. E agora cada passo precisa ser monitorado. . .Com as “filhas”? – Ergueu as sobrancelhas escuras.. – Resmunguei.Entendo sua impaciência. mas o pouco que conheci dela deu pra ver que é louca.. – É minha meia-irmã. . – Micah acenou.Só o que fez com as filhas. capaz de tudo. . . Um perigo à solta. sem vontade de ficar parado.suspenso por causa deles. Voltei à minha cadeira e sentei. observando-me. – Quer dizer que já consegue ver Eva no papel de vítima como Gabi? Suspirei. Posso entender como criou a filha e fez a cabeça dela. Com voz baixa. quando cheguei à cidade? Luiza parecia mesmo furiosa com ela por estar apaixonada por você. .Vi as coisas dela nas caixas e voltei na casa que morou. falei: . . A mãe de Eva é uma puta desgraçada.Agora entende por que eu queria conversar com Eva antes de contar tudo a você.mas também não me acalmando em andar de um lugar para outro. Micah.Mas isso não apaga o que ela . – Cruzou os braços no peito. . nervoso. Porra.. – Aposto que Eva nem pensa nisso. E é minha sobrinha. Era um solitário.Esse lance de idade não tem nada a ver. Sabe. nem a conheço direito. – Ao mesmo tempo.fez. é só uma menina! Eu que nunca devia ter me envolvido com ela. à vontade.. Eu notei que havia certa emoção nele e pensei como devia ter sido difícil para Micah viver longe de tudo e de toda família. – Respirei fundo. Pensei por mais quanto tempo . Um leve sorriso se desenhou nos lábios dele. . meu irmão! . .ele ficaria ali na cidade e qual seria a reação do meu pai quando soubesse.Não. depois que tudo isso acabar? . Micah sacudiu a cabeça e riu mesmo.Tá rindo de quê? – Rosnei. Mas logo afastei esse pensamento.É o amor. . Eu já tinha coisa demais com que me preocupar.Pensa em entregá-la à polícia ainda. Acredito. fitando-o. Ela mesma nem quer mais saber de mim. Recostei na cadeira. tudo por trás disso. Micah.Não importa o que sinto.Cala a boca! . – Aquilo ainda era muito difícil de aceitar. contou um monte de mentiras. – Consigo entender como foi manipulada.. sério. – Ironizou. Ela me traiu.Cara. Mas ainda tem muita coisa entre nós. . . por que não admite logo que é louco por Eva e aos poucos está amolecendo e acreditando nela? ... me enganou. . . compenetrado. – Vou lá com a Valentona trabalhar um pouco. – Micah desencostou da mesa.Estou falando sério.Certo. Eu acenei com a cabeça.Vamos. para poder respirar aliviado e decidir o que fazer da minha vida. . – Disse com certeza. . – Afirmei.Tenho que pegar logo Luiza e o comparsa.Assim que se fala. Mas para tudo há solução.Vamos pegá-los. . .. . eu a chamo dessa maneira na frente dela também. – Piscou. . – Nunca gostei de trabalho burocrático.Pena que não sou um bom rapaz. Mas sabe.Deixe Valentina em paz. – E caminhou até a porta com seu . é uma boa moça. E é tão fácil! Vive irritada! . divertido. por isso odeio horários.Valentona? – Acabei sorrindo.Claro. – Valentina sabe que a chama assim? . me divirto tirando-a do sério quando trabalhamos juntos e nem sinto a hora passar. Ainda tinha aquela marra de bad boy. Tia e meus irmãos já estavam na casa. só que eu conseguia ver como tinha se tornado um homem melhor. Balancei a cabeça e Micah saiu. – Vou lá me divertir um pouquinho.coturno pesado. mas não a vi em lugar nenhum. Trabalhei até tarde naquele dia e voltei para casa quando já escurecia. acenando com um sorriso. . morrendo de saudade de Eva e Helena. Mas com certeza Valentina não concordaria comigo. Olhou-me séria. Mas fiquei irritado e agarrei a maçaneta. Na mesma hora . Tomei um banho rápido e fui até a suíte de Eva. Antes que reclamasse. mas vi seu nervosismo. Eva andava pelo quarto com Helena no colo. cantarolando. Respirei fundo.Eu os cumprimentei e subi ao meu quarto. bati a porta atrás de mim e caminhei até elas. abrindo e entrando. Lembrei-me dela me avisando para bater antes de entrar. seu olhar diferente ao dar comigo. tentando controlar minha ansiedade e cheguei a erguer a mão para bater. uma energia que vibrava tão logo chegávamos perto um do outro. Quero dizer. – Acho que está com cólicas.Como está tudo por aqui? . tocando-a com cuidado. chegando perto. Era muito pequena e . – Falei carinhoso. – Apertou mais Helena contra a barriga e percebi que ela estava acordada e reclamava em sua língua. independente ou não da sua vontade. Havia um calor. com sons esquisitos. fazendo caretas.Bem. ..procurou disfarçar como ficava em minha presença.Vem aqui com o papai... .. falando baixinho: . mesmo com quase dois meses. sabendo que eu falava com Helena. ninando-a.delicada.O que você tem? Diz pro papai. Eva deu-me as costas na hora. Continuei. minha voz suave: .Eu sei que não. Eva entregou-a e apoiei sua cabecinha em meu peito. Theo. .Estava com saudade da minha mini coelhinha. Mas entendo . beijando a penugem loira e perfumada...Ela não sabe falar. . Sabia que só ganhava tempo para disfarçar e não olhar para mim.. .Tia fez um chá fraquinho de erva doce. . – Andei devagar pelo quarto.sua linguagem corporal. Helena se torceu um pouco e choramingou.Xiiii..Deu alguma coisa a ela? . – Murmurei e percebi que parecia mesmo com dor. mas ela continua incomodada. . Vamos ver se melhora. observando Eva se distrair guardando as coisas que tinha usado para trocar a fralda de nossa filha. Nada.O que foi? .Fale. .Nada. – Insisti. Suspirou e sacudiu a cabeça. até que acabou adormecendo. . mas eu a encarei e indaguei: .Fale. Tentou disfarçar.Deixei que se ocupasse com outras coisas e fiquei com Helena falando baixinho. Então a coloquei no berço e peguei Eva em flagrante me olhando. Mas falou: . . Com Helena é sempre muito carinhoso.. .Estranho por quê? – Franzi o cenho. bonzinho. Theo.Eu era assim também com você em nosso casamento. que tinha aberto uma gaveta da cômoda .Sabe o que quero dizer. Eva.É estranho ver você com Helena. dando de ombros. me aproximei por trás dela.Está dizendo que sou mau? Corou e desviou o olhar.. .Parece até. .. Lembra? – Devagar. . . segurei seus braços e a puxei contra o corpo. – Menos na hora do sexo..e guardava uma toalha de nossa filha. . Tive um desejo imenso de afastar os fios dali e mordê-la no pescoço.Theo. Parei bem perto e baixei o tom da voz. Sem aguentar aquela tortura. Meu corpo todo enrijeceu com desejo. fitando seu cabelo claro e sedoso que se esparramava em seu ombro.. embora disfarçasse. Cheirei seu cabelo. rosnando perto da . excitado. agoniado com tanto tesão. Senti que ficou nervosa. Prometi porra nenhuma.Não. mas lutando contra. – Fui . – Arquejou e fechou a gaveta com força. – Você prometeu que.. esperando Helena nascer para poder te pegar assim e... Até pedia mais. Seus olhos estavam arregalados e estava claro como se sentia perturbada por mim. . escapando de mim.Mas você gostava quando eu era bruto.sua orelha: . Era sempre eu que me controlava lembrando que estava grávida.. . indo arfante para o meio do quarto. Então. . semicerrando os olhos.Para quê? Para continuarmos no meio dessa loucura toda? Você confia em mim? Não.Theo. frustrado. para que irmos adiante? – . uma certa sensação de pânico vindo dela. até me enterrar todo dentro dela e me sentir vivo novamente. – Afirmei. que me conteve.até ela. ... Parei a poucos passos e respirei fundo. pare! Pare! Foi a mágoa em sua voz. pronto para pegá-la e convencê-la através de beijos. . Eu tenho medo de você? Sim.Você quer. Vou enlouquecer! . – Não to aguentando mais isso. Eva? Já estou louco! Quem é você.E eu. – Por que não me responde de uma vez? . uma menina sofrida e submissa que entrou nessa vingança por lealdade à mãe? Ou uma garota com idade suficiente para decidir e que escolheu mentir? – Estava também irritado. nervosa. – Ou é só você que . – Ergueu o queixo. irritada.Estava alterada.Sou uma mulher que fez escolhas erradas e se arrependeu. Fui bem direto: . muita mágoa e desconfiança.Quero.pode fazer isso? Eu tentei me controlar. E embora seu corpo me contasse outra história. . eu vi como estava decidida.Quer que eu vá embora? . E lembrei como ficou alquebrada depois que a levei no calabouço e agi como um troglodita. Olhei dentro de seus olhos enquanto meu corpo ardia de desejo. mas minha razão me dizia que havia ainda muita coisa entre nós. Ela lutava com seus desejos e medos.Lutei para conter todos os meus instintos e me dei conta que. Eva tentava demonstrar aquilo. louca por mim. A pior coisa que poderia haver para mim era a indiferença. Não aquela barreira entre nós nem a mágoa em seu olhar. Acho que estava tão confusa e perdida quanto eu. .Eu vou sair. – Falei. cansado . no fundo. Tão louca de paixão como eu era por ela. mas não conseguia. Cansada. eu não suportava ser olhado daquele jeito. Eu a queria como antes. de sentir o cheiro dela. sabendo que talvez só o tempo pudesse curar minhas feridas.também. de poder murmurar em seu ouvido que nunca mais precisaria se sentir sozinha e triste. Havia também uma necessidade de carinho. mas não era só isso. Era o que meu corpo clamava. No entanto. de troca. E as de . de levá-la para a cama e esquecer o mundo. eu apenas a olhei. Sentia uma vontade louca de tocá-la e beijá-la. no mais fundo de mim ainda me sentindo traído. sendo só nós dois. baixando o olhar. – Avisei baixo.Eu chamo.Eva. – Amanhã de manhã tem consulta dela no hospital. minhas necessidades e uma ânsia que me mandava jogar tudo aquilo para o alto e simplesmente a pegar para mim. ainda mais depois dessas cólicas. . – Falei baixo. . dei-lhe as costas e saí do . parecendo cansada.Eu levo vocês. . Engoli meu desejo.Se Helena tiver qualquer coisa. Temos que levá-la mesmo. Mas respirei fundo. sim. – Acenou. me chame. as mangas dobradas. depois de cuidar dela. Ele entrou na cozinha logo depois. uma calça preta que caía perfeitamente em seu corpo e . desci para tomar café e esperar Theo. EVA Na manhã seguinte preparei a bolsa de Helena e.quarto. muito elegante em uma camisa social branca com finas listras vermelhas. tudo veio forte dentro de mim e senti uma necessidade premente de me levantar e ir para os braços dele. seu perfume delicioso amadeirado misturado ao cheiro natural da sua pele chegando até mim e me abalando. Nos olhamos através da mesa e era como se fôssemos só nós dois ali. sem a presença de Tia na pia e de Helena no meu colo. a dor me .sapatos italianos. Tinha acabado de tomar banho e seu cabelo estava úmido. amor. saudade. Desejo. paixão. Mas apenas fiquei em silêncio. a barba bem aparada. Bom dia. com aquele timbre meio rouco. – Tia sorriu para ele e foi dar um beijo em seu rosto.remoendo. Quase fechei os olhos e gemi de saudade e desespero. de como . uma angústia me aterrorizando ao imaginar meu futuro sem Theo. – Falou baixo e até sua voz grossa. Lembrei-me dos beijos que me dava de manhã. o que me fez invejá-la. filho. . mexeu comigo.Bom dia. . guerreei com a tristeza e consegui murmurar um bom dia. mas lutei para ser forte. Como está Helena? – Theo perguntou. do que tivemos e que talvez nunca mais pudesse ser recuperado. acariciar meus seios. Seus olhos azuis penetrantes estavam nos meus. agradecendo quando Tia lhe entregou uma xícara de café. Gabi e Caio iam com a gente. mas ele estava resfriado e .Melhorou. Mas não é bom deixar de ir ao médico. Era muita saudade me apertando por dentro.gostava de me colocar entre seus braços e cheirar meu pescoço. E eu me sentia arrasada. . muitas vezes nem me deixava sair da cama. . dolorida com a falta . – Terminou seu café. ainda mais saudosa quando seu cheiro delicioso me invadiu ao se inclinar e pegar Helena com cuidado.Claro que não estou ocupado. – Mas se você estiver muito ocupado. Fiquei nervosa.. mas consciente demais de sua presença. deixou a xícara na pia e veio até mim. ajeitei a bolsa com as coisas dela no ombro e me levantei. Disfarcei.Joaquim o levou ontem. Deixe que a levo. . sem olhar para Theo.. – Ajeitei minha filha adormecida no colo. que eu sentia dele. Era como morrer aos poucos. Estava mais forte e determinada. nem seu amor nem seu perdão. de desistir de tudo. Mas ao mesmo tempo Theo não saía um minuto da minha cabeça e a cada dia ficava mais difícil vê-lo e não tê-lo comigo. Não esquecia o pânico que me fez passar naquele calabouço nem a sensação horrível que senti de não ter nem vontade de lutar. Levantei e nos despedimos de Tia. Não suplicava mais nada a ele. . nublada. ele a acomodou na cadeira de bebê atrás. exatamente como o clima pesado entre nós.No carro. Na cidade de Florada as lojas abriam e o movimento da manhã começava. Fomos cumprimentados por alguns moradores que encontramos ao sair na calçada e foi Theo quem levou . E eu fui ao lado de Helena enquanto dirigia e o carro com os seguranças nos seguiam. Estava uma manhã feia. Pouco falamos durante a viagem. até deixá-la presa e firme. O hospital de Florada atendia ao SUS. mas também planos de saúde.Helena no colo quando entramos no hospital. seria atendida bem e atenciosamente do mesmo jeito. Um dos seguranças ficou no carro e o outro nos seguiu enquanto nos identificávamos na portaria. não importava se ali entraria a filha de Theo Falcão ou de um peão. Helena era a primeira consulta do dia e logo o pediatra nos chamou e o . Era excelente e soube que houve investimento da família Falcão para que fosse de qualidade. Assim. voltando à sua mesa após examinar Helena. irritada por estar só de fralda. Felizmente não era o mesmo médico que a atendeu da vez anterior ou na certa se tremeria todo com medo de Theo e nem olharia nossa filha direito.Mas e as cólicas? .segurança ficou no corredor. Eu sorri e comecei a cobri-la. enquanto Theo indagava a ele: . – Pode vesti-la. .Ela está com ótima saúde. mãe. Minha filha reclamava e fazia caretas. – Disse o senhor. quando a porta ao meu lado abriu e uma enfermeira entrou. Theo e o médico falavam perto da mesa. Primeiro foi o fato dela vir para perto de mim.. Acontece que.Isso é normal até os três meses.... sorrindo para minha filha. mas duas coisas me fizeram congelar e foi muito rápido. Mal olhei para ela.. Estava distraída. segundo foi quando o médico disse meio confuso: “Não chamei você” e ela respondeu em uma voz bem conhecida minha: . Enquanto eu arrumava Helena e fechava seu macacão. uma parte minha notando Theo sacando sua pistola e apontando pra ela. Acho que eu e Theo reagimos juntos.. Abri a boca para gritar e avancei nela. já era tarde demais. rugindo furioso. Mas tanto eu quanto ele . levados pelo instinto em proteger nossa cria. o cano encostado na barriga de Helena. Nunca senti tanto pânico na minha vida e gelei da cabeça aos pés.Vim ver as minhas meninas. Ela estava com uma arma na mão. Quando reagi e ergui os olhos para encontrar os da minha mãe. como uma navalha: . mas mirava sua arma na cabeça de minha mãe. vestida falsamente como enfermeira. .Sai de perto da minha filha. chocada.fomos tolhidos em nossa ação ao ver aquele cano preto na barriga de nossa filha e escutar sua ameaça fria: .Se encostarem em mim eu atiro. mas temendo qualquer deslize fazer seu dedo escorregar no gatilho. Theo parou também. Ele disse baixo. muito perto dela. Parei. boca aberta. com uma peruca preta. mas o que. Estávamos de frente uma para outra. a arma da minha mãe firme em sua barriguinha. as ações prestes a acontecerem.Meus Deus.Agora. Tudo se imobilizou em frações de segundos. estranhamente animada. ao lado da maca. Ela batia braços e pernas. a cena montada. eu paralisada em meu medo excruciante.. aterrorizado. E vi como se fosse um filme. . minha mão na de Helena.. O ar pareceu parar. sem imaginar o risco que corria e o pânico de seus pais. – O médico balbuciou. . alguém que precisava ser destruída. De pé. chocado. Vi a tragédia armada e quase desmaiei de tanto terror. a poucos passos de nós. da mulher a quem sempre busquei amor e aprovação. Fitei os olhos castanhos dela. que me criou baseada em ódio e maldade.O médico estava atrás de sua mesa. firme. inimiga. E ali eu não a vi como mãe. mas como algoz. Theo apontava a arma para a cabeça da minha mãe. Tudo estava suspenso e meu pavor era de que Theo atirasse nela e . o ódio vindo tão forte dele que eu podia sentir. Mas eu sabia que ele pensava a mesma coisa. que tinha agido por instinto ao sacar a arma e apontar para ela.Por favor. Ali eu me dei conta de que era mesmo uma louca.isso a fizesse disparar na nossa filha. ..Mande-o abaixar a arma. que anulou sua vida . Meus olhos se encheram de lágrimas e murmurei com cada fibra do meu ser: .. Não tenho mais nada a perder. para nos defender. mas seus olhos estavam acesos. – Avisou para mim friamente. – Supliquei em um murmúrio angustiado. – Ordenou Theo e seu tom era mortal.. ódio e ira.. . Ela iria às últimas consequências. com medo de piscar e isso a fazer machucar Helena. – Também não . .para viver em nome de uma vingança. Só atiro nela se vocês reagirem. presa aos olhos loucos da minha mãe.Tire a arma da minha filha.Leve a mim. Mas não pude olhá-lo. – Deixe minha filha. fora de si. Eu podia imaginar seu olhar de terror e medo.Vai ser do meu jeito. . Imaginava como não estava. E então.Jogue a arma na lixeira. eu o vi baixar o braço e soltei o ar.Theo.tirava os olhos dos meus e disse com desprezo: .. O silêncio pesou naquele consultório. uma tragédia prestes a acontecer. com o canto do olho. pronto a qualquer coisa para defender Helena. . O tempo congelou. Tive medo da reação dele.Mande seu Falcão desgraçado baixar essa arma. – .. . – Murmurei em um lamento. adeus pra ela.. Se reagirem. Eu morro. . perdendo parte do seu controle: .É uma Falcão.Saia daqui.É sua neta. Vamos sair todos daqui e essa pirralha vai comigo. traidora! Vá para perto dele! Não é isso que queria? E quase desfaleci quando . . mas levo essa aqui junto comigo.Ordenou minha mãe e disse a mim: .. A filha desse aí! – Ficou vermelha e empurrou mais o cano na barriga de Helena.Vou contar como vai ser. – Balbuciei em pânico. Theo ergueu novamente a arma e deu um passo para frente. mas foi tudo rápido demais.agarrou Helena e a puxou bruscamente para si. vendo que ela seria capaz de tudo. Olhou com ódio para Theo e disse entredentes: .Eu mato essa bastarda! Fiquem longe de mim. estava disposta a qualquer coisa. ameaçando com olhar de louca: . eu avancei nela. Não tirou nem um segundo a arma da barriga da nossa filha e a segurou no colo. Não tremia. coibidos. porra! Eu e Theo paramos. Quer arriscar? Atire! . meu coração disparado. o pânico me deixando a ponto de desmaiar. Estava pálido.Theo.Quanto tempo não nos vemos. sem tirar os olhos dele. Eu o olhei. . Estava tão desesperadamente com medo que minha mãe atirasse em nossa filha quanto eu.. E por isso abaixou novamente a arma. Ela sorriu. mas nunca vi tanto pavor em seus olhos como naquele momento.. minhas pernas bambas. . furioso. – Supliquei.. Ela não chorava. mas olhava curiosa para a avó. Posso até entender a obsessão de Eva. E acabar para sempre com a minha vida e a de Theo.O que você quer? – Indagou baixo. A idade fez bem a você. Meu coração sangrava. sem soltar a arma.Theo. Não conseguia respirar. eu lutava para não avançar e arrancar minha filha de seus braços. com fúria. Você tem esse poder com as mulheres. . olhos vidrados naquela arma negra que poderia destruir Helena. não é? . – .O que eu quero? – Ninou Helena no colo. sem tirar os olhos dele. respirando pesadamente como um animal prestes a atacar. .Solte a minha filha. Meu plano original era recuperar as terras que vocês nos roubaram e provar a todo mundo que seu pai matou o meu. irado. – Theo rosnou.Acha que está em posição de exigir alguma coisa? – Riu. – Vou dizer como as coisas vão ser. .Vejamos. Você vai jogar sua arma e seu celular na bolsa de . Mas logo ficou séria. tive que mudar meus planos. o que só aumentou meu pavor. Mas como essa ingrata me traiu. onde há um carro nos esperando nos fundos. Eva vai pegar e me entregar. . Luiza.Não vai escapar dessa.Ah. .O que você quer? Nos matar? – Murmurei. – Quando éramos mais novos eu nem parecia existir para você. . É assim que vai ser. com o celular dela. nunca mais vai esquecer. não é? Agora. mas parecia um esgar.Eva. Vamos sair todos daqui e você vai mandar seu segurança esperar. até o final. . lembra o meu nome? – Sorriu. Seguiremos à esquerda do corredor. querido. sem me olhar. – Sacudiu a cabeça.Agora! .Não. obcecada em Theo. – Ficou séria novamente. E foi mais firme: . . cheia de ódio.Não. Depois vemos como fica. Estou esperando colocar a arma e os celulares na bolsa. Helena e Eva ficam aqui. – Vamos fazer um passeio e seu maridinho vai fazer umas transferências para nossa conta. . – Theo disse entredentes. Agora. Elas são minha garantia de que você vai colaborar..Eu vou com você. tremendo e chorando muito: . agarrando sua arma.Helena chorou quando pressionou a arma em sua barriguinha.Filha da puta.Não! Ela vai matar nossa filha! Ele me olhou e nunca vi tanto medo e tanta dor. fora de si. Espelhavam meus olhos e tudo que eu sentia. como se entendesse que a razão deveria . soubemos que não éramos inimigos e que precisávamos salvar Helena acima de tudo.. Mas corri e me meti na frente dele.. Ali nos unimos. . Ele se acalmou. – Theo avançou furioso. Entregou-me a arma em silêncio. Não . tentei dizer com meu olhar o quanto me arrependia de um dia ter feito parte de tudo aquilo. Teríamos que cair no jogo dela e ganhar tempo para agir no momento certo. Eu segurei sua mão. E um entendimento mudo se estabeleceu entre nós. sua gana de salvar Helena. Meteu a mão no bolso e me deu também o celular. senti as cicatrizes em seus dedos do soco que deu na parede por minha causa.prevalecer sobre a emoção. nos deu forças para manter a calma e lutar. engolindo seu ódio. Não quero ouvir nada. ... furiosos.precisamos de palavras. atenta. . Eva. Traidora. Eu me virei e Theo ficou imóvel enquanto ia até a bolsa sobre a maca e jogava tudo lá. . Olha quanto trabalho teria nos poupado se tivesse sido obediente sempre. – Virou para Theo e puxou a manta de . – Seus olhos brilharam. junto com meu celular.Ótimo.Mãe. Minha mãe me olhava. Assim que eu gosto. Pegue a bolsa e saia com esse Falcão maldito. Eu saio depois com o médico. tentei ser forte..Helena. que tinha parado de chorar. Vira no corredor. Supliquei silenciosamente a . Pus a bolsa no ombro. – Eu tremia a ponto dos meus dentes baterem. – Saem na frente e você diz pro segurança esperar na porta. Ou essa pirralha aqui vai ter o destino que qualquer Falcão merece.Meu Deus. Todo mundo tranquilo. . mas não conseguia tirar os olhos de Helena. cobrindo a arma em sua mão.. pronta para abrir o berreiro. mas já se remexia incomodada. sem tentar nada. – Ordenou a louca que um dia chamei de mãe.Vamos.. Seus olhos pareciam ainda ferozes. que agarrou meu braço. – Olhei para ele. . mas havia uma determinação fria que me deu forças. . Respirei fundo e andei trôpega até ele. Agora. .Theo. Era como se me dissesse que não deixaria nada acontecer com Helena. E eu acreditei. a ponto de ter um colapso. mas a quem eu odiava mais do que tudo naquele momento.Deus que a protegesse.. Saiu do caminho. . que ainda era obcecada por ele.. doutor.. pronto a tentar ser racional. segurei-me em .Senhora. – O médico veio cauteloso até ela.Que casal lindo! – Ironizou minha mãe com fúria. mas o interrompeu bruscamente: . Vem aqui.. Olhou-o de um jeito que deixou claro que nunca o tinha esquecido.Cale a boca! Agora vamos! Respirei fundo. cheia de inveja e veneno. Tire essa cara de pânico do rosto. – Passem na frente. E salvar o homem que eu amava. senti-me pronta para agir e salvar minha filha acima de tudo.Theo. E enquanto Theo abria a porta. eu supliquei a Deus que me levasse no lugar deles. . Eu ardia. deixando-me completamente . Aquela maldita estava com minha filha no colo. apontando uma arma para ela.CAPÍTULO 17 THEO O ódio me consumia como uma chama viva. queimava. chegava ao ponto de tremer com a ira violenta que espalhava sangue em meu olhar. aprisionado. uma mulher que nem teve um pingo de sentimento pelas filhas e demonstrava menos ainda pela neta. covarde. Nunca senti tanto medo. um pavor que me entorpecia e me deixava alucinado. totalmente dependente de você para tudo. maligna. totalmente concentrado naquela mulher. Era um desespero aterrador saber que a vida de sua filha. pois qualquer ação inesperada poderia fazê-la atirar. esperando o momento certo de atacar. Um monstro. estava nas mãos de uma louca. que seria . o amor da sua existência. impotente. Eu tinha medo de não agir e colocar Helena e Eva ainda mais em perigo. tão descrente que algo tão medonho e terrível estivesse acontecendo que sentia como se minha alma estivesse fora do corpo. Abri a porta e saí do consultório ao lado de Eva. Por isso. .capaz de tudo. não tive alternativa.Espere aqui. E eu lá. ou de agir em um momento errado. tentando ser o mais calmo possível quando o segurança me olhou e falei: . a fúria no olhar. compenetrado. Cada passo que dei naquele corredor foi uma facada em meu peito. um sorriso . que podia atirar em minha filha a qualquer momento. – Ele acenou.Sim. senhor. Eu mal respirava. Eu não vivia. mas eu estava completamente dependente de Luiza.. pensando em uma saída. Olhei para trás e ela me encarava. Minha mente trabalhava. só observando enquanto eu passava com Eva e atrás vinha o médico pálido com a enfermeira ao lado carregando minha filha. Dessa vez. E você será só o primeiro. Não estou para brincadeira. . vou matar você. – Havia uma sandice . vai ser um Amaro que vai acabar com um Falcão. Theodoro Falcão. quase morrendo para fazer alguma coisa. – Falei com uma frieza que desmentia meu estado e Luiza deixou de sorrir um momento.Eu acho que vai ser o contrário. sabendo que me deixava enlouquecido de preocupação por Helena.maligno nos lábios. .Nem tente. .Antes dessa noite acabar. doído. respiração arfante.em seu olhar. Mas assim fiz. Mas ordenou irritada: . mais arrasado do que um dia fiquei por não poder agir. . seguir adiante. um desejo quase voraz de finalmente se vingar.Ande logo! Olhe para frente! Odiava obedecer e virar. dilacerado. Eva cambaleou e vi que estava branca como papel. Eu segurei seu braço. quase à beira do histerismo. era como deixar Helena com ela. Ao meu lado. Olhou-me e vi uma dor atroz. em pânico. a amparei e ela tremia muito. olhos arregalados. tinha a prova ali.Vão logo! – Exclamou. pessoas passaram por nós. Seguimos adiante pelo longo corredor. Médicos. enfermeiras. Ela me pedia com os olhos que salvasse Helena e tentei lhe dar essa certeza. seguindo suas vidas. Se eu queria qualquer certeza de que estava do meu lado e contra a mãe. mas eu ainda não sabia como sem colocá-la em risco e era isso que estava me consumindo. preocupados com seus problemas. pacientes.que se comparava à minha. pouco percebendo que . . sabendo que depois daquela porta as coisas se complicariam. Carro preto à direita. Lancei um . o comparsa dela estaria ali e seria mais difícil reagir. Porra. disfarçando para todo mundo.estava acontecendo um crime ali.Passem por essa porta. Ela ordenou: . Rápido! Eu gelei. como eu queria matar aquela mulher! Chegamos ao final do corredor e havia uma porta de serviço atrás da escada de incêndio. Imaginei Luiza com aquele seu sorriso se louca. Só podia ganhar tempo e foi o que fiz. O que eu podia fazer? O que eu podia fazer? Não teve como evitar. Passamos por uma grande lixeira e Luiza ordenou a Eva: . Empurrei a porta e saí com Eva para um galpão a céu aberto onde havia duas ambulâncias e um Siena Preto quatro portas. todo com vidro fumê. pois a desgraçada estava com minha filha no colo e apontando uma arma para ela.olhar à bolsa no ombro de Eva. com os celulares e a minha arma. Mas nada me ocorria. pensando desesperadamente em uma saída. na dúvida. Respirei fundo. Mas a mãe gritou atrás dela: .Agora! To perdendo a paciência! Ela soluçou. angustiada. tentando conter minha ira.. alucinado.Jogue sua bolsa aí! Eva parou. a ponto de perder a cabeça. buscando uma escapatória. mas lutando para manter a razão em um momento tão delicado. mas largou a bolsa na lixeira. E para piorar tudo a porta ao lado do motorista do Siena abriu e eu vi um homem alto e . – Na mesma situação. – Mostrou-me a pistola na mão. o homem que me teve nas mãos durante o atentado e podia ter me matado. Quase. você sob a mira da minha arma. Mas só via Helena na minha . Fitei com ira seus olhos frios e ele sorriu. dizendo em tom debochado: . com cabelos raspados a máquina e rosto magro com cicatrizes de espinhas sair.moreno.Bom te ver de novo companheiro. Era Lauro Alves. Eu quase perdi o controle. o comparsa de Luiza. morto. irado como a olhou de cima abaixo. jurando em silêncio que eu acabaria com aquele sorriso nem que fosse a última coisa que eu faria na vida.frente e por ela eu faria qualquer coisa.Bem vindos. eu vou com vocês. . saudades de você.Por favor. Por ela e por Eva. Por isso apenas o olhei. . Eva. seria humilhado. Por favor! . espancado. – Ela pediu. – Mas deixem Theo e minha filha aqui. Vai dizer que não sentiu o mesmo? Franzi o cenho. suplicou. olhando da mãe para Lauro. sob o cinto. . – Falei baixo.. – Mas pense pelo lado positivo.E o que vamos querer com você? – Lauro balançou a cabeça e enfiou a pistola nas costas. só você morre. eram frios e sem vida. . Tirou algo do bolso e vi uma corda. – É o seu Falcão aqui que vai fazer umas transferências generosas para nossa conta. .E depois vai nos matar. Seus olhos não sorriam.Cara esperto. se aproximando. Ao final. – Sorriu. Eva e a garotinha são da família. Vire. Vou amarrar seus pulsos..Não.prometo cuidar bem delas. Pesei .. Não sei como o mataria. Com as mãos para trás. desesperada.. Quase.Vamos logo com isso. Respirei fundo. quase fora de mim. mas eu o faria. . valentão. Anda! Eu olhei no fundo dos seus olhos com um ódio mortal. a Helena ..Filho da puta. . ... – Apressou Luiza. Lauro. . – Rosnei e Eva segurou meu braço. bem forte.Você vai ver. Na mesma hora ele os amarrou brutalmente. Por isso virei e juntei os pulsos nas costas.Vire. dizendo baixo: . – Ordenou. meu cérebro só se concentrava em salvar Helena e Eva.rapidamente minhas opções e vi que estava sem saída. sem sorrir. quando eu estiver enchendo sua cara de porrada e seu . Enquanto cada célula do meu corpo mandava eu avançar nele e acabar com aquela palhaçada logo.E agora. . valentão? Como vai dar uma de herói? . Então se virou para o médico e ordenou: .Entra aí. mas perdi as esperanças quando vi que ele puxava Eva e a empurrava para o banco atrás de mim. Rezei para que deixassem Eva com Helena e só me levassem.Vai sonhando! – Riu alto. . E quando me viu sem o movimento dos braços.Vire as costas.corpo de tiro. porra! A fúria me fez tremer. Pensei que o mataria ali quando . me empurrou para dentro do carro ao lado do motorista: . por favor. – Não faz isso com.Não.. – Suplicou Eva. AH! . – Foi mal. – Mate ele! Vai acordar e alertar todo mundo. agachando-se. à queima roupa. – Concordou. Mas deu uma coronhada na nuca dele e o homem desabou. caindo na calçada.. em lágrimas. descrever o carro! Anda! .. .Tá maluco? – Irritou-se Luiza.. .Verdade. tiozinho.o senhor virou e Lauro puxou a arma do cinto. apontando a arma para a cabeça do médico. sabendo que Luiza e Lauro seriam capazes de tudo. . sentando-se no banco de trás. Dê a netinha para a sua filha! – Lauro debochou. por uma vida inocente perdida. Eva começou a soluçar em pânico e virou o rosto.Deu um grito quando um estampido abafado eclodiu no galpão e o corpo do médico deu uma sacudida antes de se imobilizar. divertido. Apontou a arma para ela.Cale a boca! – Reclamou . por ela ter assistido aquilo.Vamos logo. . Meu coração sangrou. ao lado de Eva. cheio de expectativa e . travando as portas. irritada. Ela tinha dormido e reclamou. Eu olhava tudo aquilo. que a agarrou chorando e tremendo. minhas mãos imobilizadas. dirigindo para fora do galpão. vendo Eva e Helena sob a mira daquele homem que tinha acabado de matar o médico como se ele não fosse nada.Luiza. dando Helena para Eva. mas não acordou. Lançou-me um olhar venenoso. Luiza entrou no carro e sentou-se ao volante. o pânico me deixando alucinado. É companheiro. virando a cabeça para trás. Mas não se preocupe. Vamos dizer que você estará em . dizendo baixinho: . Já viu como Lauro tem mira boa. Depois que resolvermos o lance da grana.Vamos dar uma volta. E não tente nada.gula. Lauro sorriu para mim. . não será mais obrigado a ver seus dois amores sob a mira da minha arma. atento ao que ele fazia. Nada dura para sempre. que situação. Olhei o tempo todo para o bandido. . olhando para ela... . melhor. pegue o dinheiro e deixe Theo vivo.. Mãe.um lugar. mãe.. mas.. o que quiser. com deleite. – Por favor. – Eva tentava conter o pânico. – É um caso a pensar! ..Cale a boca! .Eu faço qualquer coisa. protegendo Helena com o corpo. Ele é o pai da minha filha! . Riu alto e Luiza fez um barulho estranho. Por favor. ..Qualquer coisa? – Lauro se divertia.Não. Mas isso podia demorar e não sabia para onde tínhamos ido nem em que carro. Mas como? E se atirasse nelas? Minha mente rodava. E soube . O segurança. Não havia pistas. em determinado momento. Se as duas não estivessem atrás.Eu estava a ponto de ter um surto. não com o médico morto. ia sentir nossa falta e procurar. sem poder contar o que tinha acontecido. eu já teria agido. chutar Luiza ao volante e partir para cima de Lauro nem que fosse para dar cabeçada. Eu pensava que nunca seríamos encontrados. Ainda era uma mulher bonita. Concentrei-me e falei baixo: . Não nos vendaram. Tinha que pensar em alguma maneira de salvar Eva e Helena e morrer lutando para isso. Resolvi ser o mais calmo possível e olhei para Luiza. a faziam parecer uma bruxa esquelética. se tivesse oportunidade. seu olhar maligno. Eu a odiei tanto que.que estávamos por nossa própria conta. quebraria seu pescoço sem vacilar. mais um sinal de que o objetivo final era nos matar mesmo. Mas seu ar de louca. Eva? Tá satisfeita agora? É tudo culpa . mas ser dona de tudo! Claro. Mas não.. Luiza? Me matar? Ela me lançou um olhar rápido. Idiota! Ensinei tanto e não aprendeu nada. teria saído dessa com uma pensão forte e um pedaço de terra. Mas ao menos se essa idiota me escutasse.Matar todos vocês e recuperar não só a terra que nos tiraram.Era isso que você queria o tempo todo. A burra foi se apaixonar. dirigindo pela estrada em direção à Pedrosa. isso levaria tempo. . não é. Pelo meu marido! Pelo homem que amo! – Gritou.Você me deixou por ele! – Apontou para mim.Faria tudo de novo por ele! Só me arrependo de não ter contado . decidida. que completou: . fora de si. – Você me obrigou a tudo isso! . – Por esse Falcão desgraçado! . furiosa. sua obsessão doentia! . mãe! – Sua voz era tremida. – Eu me arrependo de não perceber tarde demais a sua loucura.sua! – Olhou-a pelo retrovisor. mas a senti mais forte.Não. E estava tão nervosa. agora você estaria presa e não apontando uma arma para ele e para a sua neta! .Ela é uma Falcão! Sua burra! – Gritou tão alto e descontrolada. enquanto Luiza continuava histérica.Quer dizer que escolhe ele mesmo! Se estivesse com uma arma atiraria em mim e não nele. com medo de perdê-lo.antes. Se eu tivesse feito isso. sua . dividindo sua atenção entre a estrada e a filha pelo retrovisor: . Eva a abraçou e falou baixinho com ela. não é. que Helena acordou e começou a chorar assustada. Lauro? .Desgraçada! Ouviu isso. Encontrei seus . – Falei baixo. .Sim! – Eva gritou também. . com raiva.ingrata? Não é? Responda! . seguro. Estava nervoso demais. mas sabia que tínhamos que nos manter frios.Eva. .Theo. desesperada.. – Ela murmurou. tranquilo. chorosa. com essa gritaria toda. – Se acalme.. – Ele sorria.Claro. sem afastar a arma de Eva e Helena. que ainda tão jovem se envolveu comigo e entrou em .grandes olhos verdes pelo espelho retrovisor e não havia como não ver cada emoção ali. Pedia perdão por um dia ter feito parte daquilo e me enganado. Mas fitei seus olhos e tudo que vi foi o amor da minha vida. a única mulher que quis no mundo. Uma menina que foi submetida à maldade desde cedo. Por não ter me contado quem era. E por que se sentia culpada por estarmos ali. – Me perdoe. totalmente expostas. Eu sabia do que ela falava. Eu não poderia mais dizer que meu ódio e minha mágoa não existiam mais. E talvez agora o tempo se acabasse. quando era só olhar para Eva e ver a verdade explícita em seu olhar. Agora eu via. que mesmo casada e maltratada por mim continuou a me amar e tentar provar isso. seu amor.um pesado jogo de sedução. em sua devoção. que eu só queria sair dali e tê-las em minha . Enxergava sua verdade. Eu me dava conta que tinha perdido tempo demais me lamentando por sua traição e odiando-a. sua paixão sem limites. Pois talvez só saísse dali morto. tudo valeria à pena. as que ela me falou tantas vezes e nunca acreditei. ela e Helena. Mas que vinha de dentro de mim com todas as forças: . E até sobre isso eu me conformava. para me dedicar a elas para sempre. Se Eva e minha filha escapassem ilesas.vida. como se . Disse só algumas palavras. E isso nunca vai mudar. coelhinha. Não esperei mais.Eu te amo. Seus olhos encheram-se de lágrimas e Eva murmurou. fora de si.Eu te amo. fazendo o carro dar uma derrapada. – Tá maluca? . para que fizesse . mas tentei desnorteá-la mais. E isso nunca vai mudar. vou fazer uma merda! – Ela respirava irregularmente.estivéssemos sozinhos ali: . socando o volante.Cala a boca. .Se não calarem a boca.Ei. aí! – Reclamou Lauro. vermelha. furiosa. . porra! Cala a boca! – Berrou Luiza. calma. Theo. Percebi o risco daquilo. – Falei friamente. olhando-a sem piscar. Luiza? Lembra daquele banheiro quando tentou me forçar a desejar você? . – Lembro de você atrás de mim. Lembra disso.Nunca! – Berrou.Não é disso que me lembro.Por quê? Nosso amor incomoda você? Queria estar no lugar de Eva? . implorando por migalhas.Cala a boca! – Ela se tremia . se rastejando. .alguma besteira que me possibilitasse agir: . tentando me soltar. Eu tinha medo de mim mesmo. se . . batendo com as costas dela na minha cara.Para mim você não servia nem como puta. sem saber se descontrolar Luiza era uma boa ideia ou não. mas estavam firmemente amarradas. completei: .Ah! – Ela gritou e soltou a mão direita do volante. de perder o controle. No final das contas.toda. Eu torcia as mãos nas costas. O carro deu uma derrapada e Lauro gritou algo. tirando Eva e Helena da mira. Dei uma gargalhada e provoquei Luiza: . puxando-a. pois seria o momento de pular em cima dele. Luiza. se controle! Ele quer fazer o carro sair da estrada e tentar lutar comigo.Pare com isso. apontando a arma . .Vou fazer muito mais! Vou te matar! – Berrou como uma louca.inclinando para frente. porra! – Lauro gritou irritado e agarrou Eva pelo cabelo. Xinguei a mim mesmo por estar com as mãos amarradas.É só isso que sabe fazer? . para sua têmpora.Cala a boca! Quem manda nessa merda aqui sou eu! Quero os dois de bico fechado! E você dirige essa joça. . se não calar essa boca eu escalpelo sua coelhinha. – Falcão. porra! A bílis subiu. Me deixa cuidar da minha filha. Luiza! Chega de palhaçada aqui! – Disse impaciente. sem soltar Eva. .Ele não vai falar mais nada. Helena começou a chorar e Eva pediu baixinho: . olhos cravados neles pelo retrovisor. o pavor me dominou e fiquei imóvel. no caminho. o medo me dominando. e me senti um inútil. . Era o pior momento da minha vida. só de olhos neles. Eva falar baixinho com ela. tentando buscar uma saída daquela situação.Eu estava gelado. louco para matar aquele homem. com o coração batendo forte. E então lutei contra a dor dentro de mim. sem poder protegê-las. Fiquei em silêncio. me concentrando em tudo em volta. Ouvi minha filha chorar. a ira e o desespero. Lauro aliviou e desceu a arma da minha cabeça para a costela. Saímos de Pedrosa e entramos em tantas ruas secundárias que eu nem sabia mais que cidade era aquela.EVA O resto da viagem nós fizemos em silêncio. Estava imóvel e felizmente Helena parou de chorar e dormiu. deixando o cano encostado ali. O tempo todo eu vi os olhos de Theo sobre mim pelo espelho retrovisor . sua vontade de nos soltar e proteger. Ele estava disposto a agir no momento certo e percebi que era isso que queria de mim também.e nunca o vi tão carregado e tenso. tão concentrado em alguma coisa. como estar preso e com medo de nos ver sendo baleadas contendo-o. Que estivesse forte e concentrada. . apesar de tudo. Sentia seu ódio. Mas o que mais me deu certa calma foi notar sua fria determinação. para agir com ele. Soube que se estivesse sozinho já teria feito algo destemido. E que poderiam machucar Helena. Quis ser corajosa e respirei fundo. Sabia que ia tentar salvar a mim . como se dissesse a Theo com os olhos que estava pronta e ele poderia contar comigo. pois não estava amarrada. engoli meu medo.Tive vontade de chorar só de imaginar que minha mãe e Lauro iam tentar matá-lo. Eu não podia deixar. minha submissão natural. minha mania de me esconder. Teria que estar atenta. fazer o possível. Eu sabia que esse era o objetivo deles. E por eles. E vê-la apontar uma arma para minha filha. só uma bebezinha. lembrei dos anos que passei com ela. tinha sido o cúmulo. do quanto agi errado até me dar conta de tudo. Eu tentaria salvar a ele e a Helena. E se alguém tivesse que morrer.e a Helena. eu já me daria em parte por satisfeita. Só não podia pensar em sobreviver sem eles. que fosse eu. E ali eu . Se ao menos ela escapasse de tudo aquilo e conseguíssemos ajuda para ela. de como a obedeci e mendiguei o seu amor. Olhei para minha mãe ao volante. Eu poderia nunca mais ouvir Theo dizer que me amava ou ver um de seus raros sorrisos. eu o faria. mas nunca mais depois que soube quem eu era. sofri ao imaginar que não teria uma segunda chance. Ele tinha sorrido tanto para mim em nosso casamento. Não sei o que seria de mim depois. Talvez tudo se acabasse ali. Pensei na minha vida. mas eu faria o que fosse preciso. se tivesse que matá-la para defender Theo e Helena. E talvez eu não . Tudo em mim doía e sangrava por dentro.soube que. vi as minhas oportunidades. . Agarrei-me a uma ínfima esperança. sendo alegres e amados como nunca fui. talvez ingênua. Qualquer um. Assim como nunca poderia ter a chance de ver Helena crescer ou dar a ela irmãos.visse mais aquilo. mas o que eu precisava para continuar forte e lúcida. Eu via meus sonhos e esperanças prestes a acabar e me agarrei com a fé. criá-los livres e felizes pela fazenda. tendo uma família grande. Pedi firmemente dentro de mim que Deus os protegesse e que um milagre acontecesse. aterrador. o carro depois de se entranhar em estradas de barro. enquanto olhava para Theo em um misto de .Por fim. chegou a uma pequena cabana escondida no meio do mato. paralisante. .Nosso destino final. apenas uma parte das paredes cimentadas. – Minha mãe puxou o freio de mão e sacou sua arma da cintura da saia. E quando parou. absurdo. o medo me engolfou de novo. feita de tijolos aparentes. com janelas de vidro e porta de madeira. arrancando sua peruca e largando-a no carro. . Mas não se preocupe. furiosos.expectativa e raiva: . Agora. – Seus olhos brilharam. . Ela virou para trás e me olhou.Agora vamos nos divertir um pouquinho. – Agora é tarde demais.Deixe-os vivos. segurando Helena nos braços. enquanto os semicerrava. Vai se juntar a eles.. Falei bem séria: . enquanto Lauro abria a porta e saía.O que eu queria. .Mãe. Por favor. – Chamei-a. saia! Ela empurrou a porta e saiu. você não fez. . Eu faço o que você quiser. sentindo finos pingos de chuva sobre mim. rapidamente: . Respirei fundo e saí. ameaçadora.Venha! – Lauro já se inclinava e me puxava pelo braço. E Lauro foi . mas eu tinha ouvido e já sentia meu coração disparar. uma estranha fria e maligna.Olhe tudo em volta e tente me dar algo para cortar a corda. Minha mãe me apontou a arma.Tivemos milésimos de segundos dentro do carro e Theo falou bem baixo. . sabendo que seríamos nós dois contra aqueles loucos. Ia começar.abrir a porta de Theo. . Também.CAPÍTULO 18 MICAH Aquela mulher era fria como uma pedra de gelo. Eu me indagava como podia ser noiva. tinha que ser aquele maluco mesmo para aturar aquela Valentona pedante e de nariz em pé. chata. implicante. um pé no saco. Eu . nem podia imaginá-la transando. Deus que me livrasse de uma coisa daquelas! Entrei em minha sala. Vire esse mau hálito pra lá. pois com o jeito dela e o noivo cheio de transtornos obsessivos compulsivos. devia ter horário mesmo. Na certa reclamava o tempo todo: “ Não.” E tantas outras coisas do tipo. depois de . Eu ri com esse pensamento. talvez olhando para o relógio e cronometrando o tempo. Não sue em cima de mim. Não quero que despenteie meu cabelo. aí não pode. mas revoltada. tentando me fazer parecer um irresponsável. acendendo-o com o isqueiro e indo me jogar no sofá para . Tirei um cigarro do maço e pus no canto da boca. E eu só me divertia. Como sempre ela saiu pisando duro e me chamando de infantil. Ficava realmente fora de si.mais um bate boca com Valentina sobre um contrato no qual discordamos. pois no final das contas eu tinha razão. Para ela era difícil aceitar que eu pudesse já entender tanto do trabalho e que algumas coisas já soubesse antes dela. fumar em paz antes de ver o que tinha sobre a minha mesa para resolver. Ele tinha aquela mania de entrar sempre de uma vez e comentei bem humorado: . pois acompanhou Eva e Helena a uma consulta.Qualquer dia desses vai me . tirei o celular do bolso e busquei uma música legal para curtir enquanto fumava. Tinha me pedido para resolver algumas coisas para ele. Estava lá escolhendo quando bateram rapidamente na porta e logo Pedro entrava. Theo ia chegar mais tarde naquele dia. Relaxado. Theo. com o semblante carregado: . Helena e Eva sumiram. vai até pedir para participar. – Dei uma tragada no cigarro e semicerrei os olhos por causa da fumaça. do jeito que você é cara de pau.Se bem que.pegar transando com uma mulher em cima da mesa e vai ficar todo sem graça. Em vez de responder uma sacanagem. Pedro me olhou sério. . dando um leve sorriso e segurando o cigarro entre os dedos para completar: . como em geral fazia. Fui até ele. . Disse que uma enfermeira entrou e depois saiu com Helena no colo.O que está dizendo? . Pedro! .. acompanhada do .Eu soube agora e corri aqui para te avisar. Fiquei de pé e amassei o cigarro no cinzeiro na mesa de frente. Joaquim e Heitor estão vindo da fazenda e vamos todos para a delegacia.Explica isso. . o segurança ficou na porta.Estavam na consulta.O quê? Na hora parei de sorrir. Pedro parou e se voltou de . – Soltei. morto com um tiro na cabeça.Porra mesmo! – Pedro estava furioso e foi pisando duro para a porta. – Nem sinal de Eva..Porra. Helena e Theo! Não sabemos nem por onde começar a procurar.Eu sei. Vamos para a delegacia e. nervoso.. Mas demoraram muito e o cara ficou desconfiado. . de Theo e Eva. . Foi lá espiar e encontrou o médico do lado de fora do galpão. Theo disse pra ele ficar ali e seguiu pelo corredor.. .médico. Sumiram no final.. depois de Ituiutaba.imediato.Sabe? Como? Peguei meu celular de volta e liguei o GPS com rastreador especial. .? . ... Em segundos ele apitou e me mostrou um local perto do rio Parnaíba. . Pedro veio até mim e mostrei a ele. em uma região agrícola.Estão aqui.Puta merda! Mas como. mas nunca fui bom mesmo com regras. Não era legalmente permitido usar fora de serviço. coisa que usávamos em algumas missões. indo rápido até a porta e saindo na frente de Pedro. aliviado.Porra. eu já vi.Felizmente não tiraram. puta que. cacete. .Sei.. Sabendo que Luiza poderia querer sequestrar a menina e pedir um resgate ou algo do tipo. Pedi que Theo colocasse nela e não tirasse. me dando .. .Eu dei uma pulseirinha de presente para Helena. pus um rastreador no pingente da pulseira.. – Falei apressado. tá esperando o quê? . – Vamos logo. – Pedro veio atrás. E que ainda teríamos que planejar bem como cercar o local e invadir sem que eles saíssem feridos. Eva ou Helena.uma porrada no ombro. antes que fizessem alguma covardia com Theo. embora soubesse que teríamos que correr para chegar a tempo. que era a preferida por forças paramilitares e policiais do mundo e cujo modelo 9mm era de uso exclusivo .40. – Você é foda! Vamos correr para a delegacia! E eu também parabenizei a mim mesmo pela ideia. Lembrei da minha Glock calibre . tão acostumado estava com ela. Ela tinha precisão absoluta de mira e tiro. que estava em minha casa alugada. Não podia deixar de levá-la. da Polícia Federal e da ABIN no Brasil. Tinha impressão de que seria muito necessária. EVA A cabana era na verdade um .das Forças Armadas. uma arma tática e segura que parecia até uma extensão do meu corpo. que foi trancada quando entramos. só árvores e uma mata fechada. Ficava no meio do nada e eu sabia que ninguém nos acharia ali. pois havia lampiões e . Vi num canto uma pia e um armário de cozinha. com um fogão velho. fazer o que Theo tinha dito. Em volta dela. tendo quatro janelas de vidro fechadas e apenas uma porta. Não tinha geladeira nem luz elétrica ali. tentando me acalmar. Mesmo nervosa.cômodo grande com um banheiro anexo. entrei com Helena no colo e passei os olhos em volta. uma cama de casal com lençóis amarfanhados e encardidos. dizendo em tom irônico: . fazer um laço e enfiar em volta da cabeça de Theo. de onde saía um gancho. Fiquei ansiosa quando vi Lauro pegar a ponta da corda.lanternas espalhados. Cada janela de vidro tinha uma armação de madeira em formato de cruz e de uma delas uma corda foi amarrada na madeira central.Uma coleira para um cão que tá . uma mesa de fórmica entulhada de coisas. Um sofá velho encostado na parede. – Senta aí e não levanta. Mas então . friamente. nervosinho.Essa eu quero ver.Vou me soltar e matar você. E bruscamente o empurrou no chão. desequilibrando-o. com as mãos amarradas para trás. Theo caiu sentado e seu olhar era mortal ao avisar: .doido para escapar! – Theo o olhou furioso. vendo que eu e Helena continuávamos sob a mira da minha mãe e ele impotente. – Lauro riu e olhou-o do alto. Com a corda no pescoço. se tentasse se afastar demais seria enforcado. . da fazenda e das empresas.se virou. encostado na parede. Vai me falar senhas das várias contas que sei que você tem. Sabe muito bem que esse dinheiro não fica parado. – Theo disse com voz gelada e olhar cheio de ódio. – Vamos aos negócios e transferências bancárias. pegou um notebook e o ligou. sentado no chão. . . Falcão. Quero no mínimo seis milhões. foi até a mesa. pessoal. mas em investimentos.Vai ser impossível levantar essa quantia toda sem autorização dos gerentes. Enquanto eles falavam. eu olhava em volta devagar. embora meu nervosismo atrapalhasse. Não havia nada que pudesse ser cortante. . roupas e sapatos por todo lugar. não tá falando com nenhum idiota! Sei que dá para fazer transferência de dois milhões . mas minha mãe não ia deixar. louça suja.Cara. Vi que o lugar estava sujo e bagunçado. a não ser que me aproximasse da pia e buscasse uma faca. com embalagens de comida na pia. camisinhas usadas e largadas ao pé da cama. encostando-se à mesa cheia de bagulhos em cima. mantendo a arma apontada para mim. . a ponto de querer matá-lo por nunca tê-lo tido como quis. Vamos começar? – Lauro se sentou ao sofá com o notebook no colo. aposto que com bons incentivos você vai me dar as senhas certinhas.facilmente. O resto a gente enxuga de um lado e outro. não apenas pela vingança. Havia desejo e satisfação em seu olhar e ali eu vi o quanto era obcecada por ele. Minha mãe riu. mas sem tirar os olhos de Theo. olhei em volta e foi então que vi. Eram pequenos e foi isso que me animou. Demoraria a cortar uma corda. E sobre o tampo da mesa. mas eu poderia esconder na mão e dar um jeito de passar a ele. vi uma caixa com objetos de fazer unha. Respirei fundo. que me olhou de imediato e firmou .Senti repulsa e raiva dela. criei coragem e fingi cambalear para perto da minha mãe. mas me contive. tinha uma cadeira. Entre esmaltes e acetonas. Perto da mesa em que ela estava. vi uma tesourinha e um cortador. Por favor. – E sem esperar resposta.Por favor.a arma. . praticamente me joguei na cadeira com Helena no colo. . – Olheia como se estivesse passando mal e murmurei: . preciso sentar. mãe. de propósito deixando parte de sua manta cair sobre a ponta da mesa e cobrir a caixa de manicure. rosnou.Só preciso descansar. olhando-me irritada. Vou desmaiar. .Fica quieta aí! – Minha mãe.Para você não tem nada aqui! . Supliquei com voz cansada: . um copo de água. – Exigiu Lauro. por isso pedi a água. . Theo tinha observado meu pequeno teatro e então fitou o homem e Luiza. quando não tirava os olhos de mim e me seguia em toda parte? Vim para cá para passar as senhas ou ficar sendo admirado por .Cala a boca! – E voltou a concentrar sua atenção em Theo.Vai ficar aí me olhando o tempo todo? Como no passado.Diga o primeiro banco. Agora. Acho que sacou que eu a queria distraída. conta e senha. Então a provocou com uma voz insultuosa: . você? Ela arregalou os olhos e empalideceu. furiosa. Disse fora de si: . como se estivesse chocada com suas palavras e seu desprezo explícito nelas. Apontou a arma para ele e meu coração parou.Eu te odeio! Estou só pensando como vou te matar e tiro é pouco para você! Vou enfiar uma faca nos teus bagos! Ou mandar Lauro te pendurar nessa corda como vocês fizeram com . a palidez sendo substituída por um vermelhão em seu rosto. Se desencostou da mesa. sob a manta e o corpo de Helena. Senti o esmalte e então agarrei firme a tesourinha. Escondendo-a na palma. eu aproveitei o momento e meti a mão trêmula sob a manta.meu pai! Mesmo apavorada.Vou matar esse tarado desgraçado! – Olhou-me mais furiosa ainda por que Theo a olhava com cinismo. tateando rapidamente. um leve sorriso nos lábios. . Então me levantei. Meu coração disparou. pare com isso! . metendo-me na confusão: .Mãe. bradando a arma. Quis deixar Helena em algum lugar seguro.. mulher! Vamos ter tempo para isso! – Lauro brigou e apontou para Theo. com medo que ela atirasse. indo até ele com raiva. – Theo disse calmamente e minha mãe gritou. Eu mantinha a tesourinha firme dentro da mão fechada . mas não havia.Manda essa vaca parar de me olhar.Porra. Então. Entrei em pânico. a pus no cantinho do chão e ela começou a chorar. chutando suas pernas. controla seu gênio. – Fala logo a conta e a senha! . Deixe ele em paz! .Minha mãe berrou avançando em mim e andei para trás. sabendo que poderia tomar um tiro.Sai daí. metendo-me entre minha mãe e Theo. Lauro xingou um monte de palavrões e se levantou. Esbarrei nas pernas de Theo e aproveitei.Vai defender ele? Quer morrer primeiro? . . suplicando: .e corri para eles. Eva! – Theo gritou em desespero a me ver na mira da arma. sacando sua arma também. . mas seria nossa única chance. porra! – Lauro se abaixou para agarrar meu braço e me puxar.Fingi cair no chão e corri para abraçá-lo forte. senti o desespero de Theo com medo que algo acontecesse comigo e com os berros de Helena e então meti a mão por . pois estava em pânico. chorei alto de verdade.Mãe.Vem aqui.Solte ele! – Ela quase engasgou. chorando e suplicando. não faz isso! Por favor! . me jogando em seu colo: . Eu aproveitei a confusão. . Sai daqui! – Gritou com ela e me empurrou para longe.. me sacudindo: . Por uma fração de segundos apertou os meus dedos como se me desse forças.. Senti que enrijeceu e agarrou o objeto. . saia daqui! Vá cuidar da sua filha! Temos negócios a resolver.Fique longe e controle o histerismo ou eu mesmo acabo com você! Luiza. . merda! .trás dele e enfiei a tesourinha em sua mão. E então Lauro me puxou dali e me ergueu.Mas ele. avisando: . e eu sabia que já começava a esfregar a . beijando sua cabecinha. mas ela se esgoelava de tanto chorar. Amparei Helena. murmurando para que ficasse quieta. respirando pesadamente. concentrado. olhando para Theo. sentando-me no chão e pegandoa no colo.Caí de joelhos e engatinhei até Helena. Theodoro Falcão! – Minha mãe ameaçou e se afastou.E você não saia mais daí! Eu nem a olhei. Ele estava quieto.Vou te matar. olhando-me com raiva. . – Olha isso! 947 mil reais. . .pequena lâmina na corda. mas não deixou passar nada. pra conta do papai! Passou a digitar rápido. mas ao menos teríamos alguma chance.Isso aí. Theo suspirou como se estivesse derrotado e falou os números. – Lauro sorriu e comemorou ao ter acesso à conta. Não ia ser fácil. Nada mal para uma delas. Vamos lá. Ele me olhou rápido. E quando Lauro pegou o notebook e colocou nos joelhos. ansioso. exigindo a conta e a senha. Ele a encarou com frieza e cinismo e a vi apertar os lábios com raiva. Minha mãe encostou de novo na mesa e me manteve na mira.seus olhos brilhando se ambição. Ela se calou na hora ao agarrar meu mamilo e sugar faminta. o sutiã e me cobri em parte com a manta. . Helena continuava a gritar e eu sabia que estava com fome. Afastei a camisa um pouco. ainda de olhos em Theo.Feito! – Lauro comemorou. exausta emocionalmente. . Respirei fundo e encostei a cabeça na parede. – Theo na mesma hora citou os números e Lauro se animou.satisfeito. Enquanto eles se concentravam naquilo. . Sabe de cabeça? Ele não respondeu. Então ele se voltou para Theo. buscando . Ela riu de volta. – Mais uma conta.Eu falo. O homem ficou impaciente: . sorrindo para minha mãe.Quer que eu dê um tiro no pé da sua mulher para te fazer lembrar? Dizem que pé de coelho dá sorte. digitando. eu olhava em volta. um lugar seguro para deixar Helena se eu precisasse lutar a ajudar Theo. Mas não havia nenhum. E o tempo passou enquanto três transferências altíssimas foram feitas para a conta de Lauro e mais de dois milhões repassados. Comecei a rezar em silêncio. E eu tremi de medo por ela. THEO Eu me concentrava em cortar a . Já tinha visto que atrair Luiza seria fácil. além de não poder chamar atenção. voltadas para tentar me libertar. mas eu já calculava como fazer um dos dois se aproximar e então tomar sua arma. estava apertada e meus movimentos eram limitados. Era grossa. Ainda havia a corda em meu pescoço.corda só de um pulso. era só provocá-la. Mas todas as minhas forças estavam ali. Havia um programa implantado em nossas contas para evitar sequestros relâmpagos e hackers de . Falei algumas contas e senhas para distraí-los. Se isso não fosse feito. Ainda . tínhamos aquele prazo. eu tinha que liberar um código.computador. eu realmente não lembrava de números e senhas das outras e foi o que disse. o dinheiro seria remanejado de volta à conta de origem em três horas.Melhor você lembrar. Assim. Disse com frieza: . Depois de citar a quarta conta. Ao fazer transferências. Lauro se levantou e encostou o cano da arma em minha testa. Pois depois de três horas veriam as contas vazias e o negócio ia ficar realmente tenso. . Inacreditavelmente eu não tinha medo dele e nem por mim. Não me alterei e continuei tentando contar a corda grossa. E não ando com os cartões de bancos por aí.não temos três milhões e quero seis. passei para vocês. Mas sabia que só podia morrer depois que livrasse Helena e Eva do perigo. . não faça isso! – Eva se meteu e. com meus olhos nos de Lauro enquanto dizia: . sob a mesa. Tudo que eu sabia. a vi colocar Helena no cantinho do chão.Lauro.Não sou uma máquina. nervoso. meu coração falhando uma batida. dizendo fora de mim: . Ela ia se levantar e ordenei gelado: .Fique longe dela! Luiza continuou segurando sua arma enquanto Lauro agarrava de repente o cabelo de Eva e a puxava com . o pânico me envolveu como uma mortalha e esfreguei mais rápido a pequena lâmina na corda. Quando se virou para Eva já de pé e caminhou para ela.adormecida.Fique aí! Lauro sorriu friamente e se afastou de mim. Pensa que sou idiota? E alertar todo mundo? – Estava furioso e sacudiu Eva. de frente para mim.brusquidão para o meio da sala. – Só se eu ligar para o gerente ou para o escritório e.. Vi os olhos dela arregalados e o .Porra.Ou fala as outras contas e senhas.. ou adeus coelhinha! . dizendo: . eu não sei! – Gritei angustiado e era verdade. fazendo-a gemer assustada. . Encostou o cano da arma no ouvido dela e me fitou. Vai deixar isso? Eva é sua filha! Sabe que eu a amo e nunca a deixaria correr riscos! Se eu soubesse de outras senhas já teria dito! . minha mão indo forte para cortar a corda.Minha filha? Não. agora ela é uma Falcão! – Luiza rosnou. potente. por ter deixado Eva e Helena caírem naquela armadilha. apelando para um instinto materno que eu sabia que aquela maldita não tinha: .medo me engolfou forte. Tive raiva de mim mesmo por estar preso. com ódio e . Olhei rapidamente para Luiza. impotente. .Mãe. murmurando: Sempre quis comer você. Essa daí é a mesma coisa.. . mas seu marido não quer cooperar.Quando aquela Gabriela escolheu vocês. sendo extremamente indiferente: . . menina. Pensei que teríamos um tempo só nosso para matar essa vontade. Uma pena.inveja. olhando-a com mágoa e medo. eu esqueci que ela existia. – Eva arquejou.Chegou sua hora. – Lauro puxou Eva contra si e cheirou seu cabelo. olhando de mim para Eva.. Não é mais minha filha. com voz venenosa e esganiçada: . Quero ver essa praga sofrer antes de morrer. Luiza falou alto. meu coração galopando.Tire as mãos dela! – Rosnei feroz.Mate-a! Deixe-o assistir. minha respiração pesada. o ódio me fazendo forçar os pulsos separados e romper a corda que eu continuava cortando aos poucos com a tesoura pequena demais. Levantei rápido e meu instinto me fez querer ir até eles. salvar Eva.. mas a corda esticou e apertou meu pescoço. Gritei furioso e Lauro riu. . Fui o mais rápido possível com a tesoura. . preso. vendo o olhar de Lauro mudar. tentei me soltar de todas as maneiras..Sabe. Nunca fiquei tão desesperado na vida. se tornar extremamente frio. – Começou Lauro.Eva! – Berrei alucinado.. forcei os pulsos. com medo de ouvir o tiro que a arrancaria de mim. – Esse desespero todo me faz acreditar . Soube que ele agiria e foi como se uma geleira de puro pavor descesse sobre mim.sabendo que a mulher e a filha morreram por causa dele! . .NÃO! NÃO! – Berrei ensandecido.É. – Ela se desencostou da mesa. E três milhões até que é uma boa grana. . Não reclame. me debatendo com as cordas. Não acha. . a arma para baixo.que ele não sabe mesmo as outras senhas. olhando friamente para Eva. Luiza? . erguendo novamente a arma. em pânico. – Concordou Lauro e sorriu. – Foi escolha sua. Acabe logo com isso e vamos embora.A vida é feita de escolhas. Ainda em choque. Helena acordou chorando alto com o barulho.Eu fiz a minha. sabendo que era tempo que eu ganhava. mas logo voltei a tentar me livrar da corda no pulso. Lauro apontou de repente a arma para Luiza e ela só teve tempo de arregalar os olhos quando ouviu o disparo e sentiu o tiro perfurar sua barriga. Luiza largou sua arma. que bateu no chão em um baque seco. Eva gritou.. – E sem que qualquer um esperasse. caiu de joelhos e levou as mãos . Eu paralisei. .Não.. – Eva ainda murmurou e virou o rosto. que continuava estática.. Você. que...Mas..Pra que dividir com você.. puta fedida? Vou me divertir um pouco com a sua filha. com carne fresquinha.. . fechando os olhos quando Lauro disparou mais uma vez. E só acabo com ela quando quiser. .. dando um tiro na boca de Luiza e a arremessando para trás.. já não me serve mais. com a boca aberta.à barriga que sangrava. o.. . balbuciando: . – Ergueu a arma para o rosto dela. .. Vamos acabar logo com isso! Odeio passar vontade. – Eva tremia e chorava...Caiu já morta. Vou te comer e depois prometo ser piedoso. . Helena gritava sob a mesa. E Lauro foi arrastando Eva pelo cabelo em direção à cama. Um tiro pra você e outro pro Falcão.Ah. E como não . Deus. dizendo bruto. levando as mãos ao rosto. sacudindo a arma: . sobre as pernas. loirinha. Vão viver juntos no paraíso. sangue e miolos se espalhando atrás dela. enfiando a arma no cinto atrás para avançar nela e rasgar sua blusa. . vai lutar? Vai dar trabalho? Assim que eu gosto! – Riu e a jogou na cama.. – Eu gritei fora de mim. tentando se livrar. deixo a menina à própria sorte! . enlouquecido. adrenalina .. alucinado. E puxei os braços com força.AHHHHHHHHHHHHHH. finalmente sentindo a corda se romper e soltar meus pulsos. .Não! Me larga! – Eva lutou.Ah. não se apavorando diante da arma.sou covarde. correndo solta em meu sangue. dependendo de mim. Soube que ia demorar demais para conseguir desfazê-lo e englobei tudo num relance. os gritos de Eva . o ódio toldando cada parte de mim. quase me sufocando. As duas mulheres da minha vida correndo riscos. ouvi o choro sentido e estridente de Helena. mas estava a poucos metros de mim e a corda em meu pescoço não permitiu. Vi a arma de Luiza caída ao lado dela e tentei alcançá-la. Desesperado. lutei contra o nó. mas estava apertado demais. Desvairado. Não soltou. de costas para mim. Rapidamente me aproximei mais e dei outro puxão. E com uma força sobre-humana. Eu virei e segurei firme a corda presa na madeira da janela. mas tinha a blusa rasgada e tentava escapar enquanto Lauro abria sua calça com brutalidade. vendo-a sair lascas. levada pelo puro desespero e desejo de salvar Eva. dando um arrancão. mas senti a madeira fazer um barulho.que lutava. Meu coração disparou e . eu puxei-a com todas as minhas forças. um barulho abafado de tiro estilhaçou um dos vidros da janela. que parecia tonta. como se tivesse levado um tapa ou um soco na cara. exatamente no momento em que Lauro. ia se deitar sobre Eva. De repente. . Eva gritou. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Sangue espirrou do ombro dele.Agora vai saber o que é ter um homem de verdade! Olhei para trás e puxei a corda forte. Helena berrou. com a calça aberta. Lauro disse em tom de ameaça: .empreguei todas as minhas forças ali. Dei um puxou na corda e a madeira partiu. soltando-a. sem saber o que o tinha acertado. ferido. a outra se arrastando do pescoço atrás de mim. Mas já era tarde. uma das cordas penduradas no meu pulso. levando a mão às costas para pegar sua arma. que aprendi a canalizar para o . Ele só teve tempo de se virar e me olhar. que me acompanhou a vida toda. Rugi como um animal e corri para Lauro. surpreso. Aquela violência que sempre senti como parte de mim.que cambaleou para o lado. Uma . abrindo a carne. espirrando sangue. se concentrou toda em minha essência naquele momento.sexo e direcionar. E eu me tornei um animal de verdade. Pulei sentado sobre o seu peito. mas não a peguei. destroçando ossos. Eu era como uma máquina. e mais outro. arremessando-o para trás. Ergui o punho com toda força e acertei um soco brutal em seu queixo. o ódio me consumindo enquanto eu dava um murro em sua cara e outro. Lauro caiu no chão e a arma a seu lado. deslocando seu maxilar. ajoelhando em seus braços. deformado.parte minha reparou em Eva se erguendo da cama e indo de joelhos até Helena embaixo da mesa. Outra viu a porta sendo arrombada e pessoas entrando. mas não intervieram. grogue. Ele ainda estava consciente. Eles me cercaram. Soube que um deles atirou em Lauro de fora e me deu o tempo que eu precisava para me soltar. observaram quando segurei a arma que aquele bandido tinha usado para ameaçar minha mulher e minha filha. meus irmãos. Mas agora era comigo. policiais. Calados. mas . mirei na sua testa e puxei o gatilho duas vezes seguidas. e de pé ao seu lado. O . Larguei a arma no chão e olhei em volta. Levantei. agora vazios.ainda me olhando. Vi Heitor. Não havia mais ameaça contra a minha família. Alguns policiais. Pedro.Eu não disse que ia te matar? Vai para o inferno. E sem nenhum complexo de culpa. Joaquim e Micah. Continuou com os olhos em mim. sem vida. E era assim que eu queria. olhei bem em seus olhos e falei: . vidrados. .delegado Ramiro.O que vimos aqui foi a polícia invadir o local e eliminar o bandido que ameaçava pessoas inocentes. nem mesmo como legítima defesa. Eu eliminei um assassino que ia estuprar e matar minha mulher e depois me matar. quando meu pai mandou matar Pablo Amaro e o delegado Ramiro fingiu não saber de nada. E eu soube que meu nome nem seria citado como assassino. sabendo que tudo tinha começado assim. que falou logo: . Mas não senti culpa daquela vez. Encarei-o. Eu nunca duvidei que você nos salvaria. Virei e segui na direção de Eva. Theo. que estava com Helena no colo e falava com ela baixinho. .. mas falou com firmeza: . Olhou-me quando me aproximei. . Só então eu me permiti deixar todo medo que senti vir à tona.O prazer que tive com isso não contava.. Puxei-as para meus braços e as envolvi forte. Tive receio que estivesse com medo de mim.Coelhinha. Foi necessário e ponto final. seus olhos límpidos. Você me perdoa? Lágrimas pularam dos olhos dela e ergueu a mão. . acariciando Helena. acariciando minha .Prometo. nada mais vai nos separar.beijando os cabelos de Eva. dizendo baixinho com alívio e um amor incondicional: .Promete? – Eva ergueu os olhos cheios de lágrimas. mas ainda inteira. minhas coelhinhas. abalada por tudo.Vou proteger vocês sempre. Eu a amei mais do que nunca e a admirei. . E nada. E ali eu vi o quanto ela era forte e lutou comigo. . um amor.. . uma família. – Murmurou.barba.Nada. – Ela concordou. Agora Falcão e Amaro vão ser uma unidade.Estamos os dois perdoados e vamos ser felizes daqui para frente. como devíamos ter sido desde o início. . – Enfiei minha mão em seu cabelo. sem violência e sem vingança. segurei sua nuca. Eva.Só se você me perdoar. E nada vai nos separar. . falei com todo meu ser: . sem mágoas.. Sem mentiras.Somos um. Eu . Puxei-a e a beijei na boca com cada parte minha entregue naquele beijo. se aproximando mais de mim.Eu te amo.Eu te amo. como se o mundo não existisse e se concentrasse só em nós dois. E isso nunca vai mudar. olhando para Helena. murmurando: .chorando. Theodoro Falcão. Eva se dando por inteiro também. Nós nos afastamos um pouco e sorrimos. Mas alguém não gostou de ser espremida no meio e soltou um berro irritado. E isso nunca vai mudar. Eva Amaro Falcão. . – Murmurou Eva.Falcãozinha. . E o mundo era feliz e completo novamente.murmurei com amor: . .Mini coelhinha. apesar de . os riscos que havíamos corrido. que levava Helena dormindo nos braços.CAPÍTULO 19 EVA Saí daquela cabana abraçada a Theo. Ela nem imaginava tudo que havia acontecido ali. a dor que ainda se espalhava dentro de mim por ver o corpo da minha mãe no chão. era só a pessoa entrar em seu caminho e atrapalhar seus planos. . provavelmente se tivesse coragem assassinaria inclusive Helena.tudo. e depois ia me matar. Lembrei dela alertando Lauro para atirar no médico. Via como a maldade e a loucura sempre estiveram com ela. Conscientemente eu sabia que ela mataria Theo. mesmo o homem não tendo nada a ver com a história e já estando desacordado. mas o pior de tudo é que nunca pensei que ela chegaria a fazer tudo o que fez. Isso permeou a sua vida. Junto com a tristeza impossível de conter. E esperança. mas também aquele passado. lamentei. sem entender que felicidade nunca fez parte dos planos dela. mendigando seu amor. E saí de lá deixando não só seu corpo para trás.Mas eu tinha passado coisas demais para que aquilo me quebrasse. eu sentia alívio. por que era minha mãe e lembrei os anos que passei ao seu lado. querendo sua aprovação. Olhei sim para seu corpo. dizendo a mim mesma que a faria feliz. O ódio havia . Só vingança. .acabado. em momentos de pânico achava que seria estuprada. mas também não parava de agradecer intimamente a Deus por estarmos vivos. Meu rosto ardia do lado em que Lauro havia batido com as costas da mão quando tentei levantar da cama e. por ter o braço de Theo em volta do meu corpo e ter visto seus olhos sem nenhum resquício daquele ódio ou daquela mágoa que doíam tanto quando me olhava. Eu ainda me sentia um tanto trôpega e aérea com aquilo tudo. depois para Pedro.Chegamos lá fora. . . para o dia nublado. sérios. Joaquim e enfim para Micah. sem palavras suficientes para demonstrar o quanto me sentia agradecida naquele momento.Felizmente saíram vivos e sem . Estavam todos em silêncio. cercados de policiais e pelos irmãos de Theo.Obrigada. – Murmurei. Nunca vou me esquecer do que fizeram por nós. Paramos ao lado do carro de Heitor e olhei para ele. mas com a evidente sensação de dever cumprido. Coisa de agente secreto. .Como conseguiram descobrir que estávamos aqui? – Indagou Theo. – Micah fez um esgar engraçado com a boca e tateou os bolsos da jaqueta de couro preta. . indeciso entre . Sorriu e comentou: . Pedro se aproximou dele e. suavemente segurou o bracinho de Helena. – Disse Heitor. mostrando a pulseira de ouro delicada em seu pulso.Não muito secreto. Tirou de lá um maço de cigarros e uma barra de chocolate.ferimentos. .De nada. explicou: .ambos. – Ele sorriu para Theo. olhando-o em um agradecimento profundo e verdadeiro. . mas ele se virou quando atirei e por isso escapou do tiro no coração. – Theo falou com uma emoção sincera.Pus uma espécie de rastreador no pingente da pulseira e assim podia saber a localização de Helena. você daria conta do recado. Só acertei o ombro. – Mirei o bandido pela janela. Se ela não tivesse vindo com vocês. dificilmente os encontraríamos. Mas pelo que vi. .Obrigado. todos por um. – Nunca vou poder agradecer a vocês o suficiente. – Disse Theo. .O que importa é que vocês estão bem. mantendo-me segura dentro do seu abraço. .Foi o suficiente para me dar o tempo que eu precisava. – Agora . ainda com nossa filha no colo. As coisas funcionam assim para os Falcão. Tenho uma dívida com todos vocês para o resto da vida. como para os Três Mosqueteiros: um por todos..Somos irmãos. fazendo-os sorrir também. – Sorriu Joaquim. – Pedro completou. olhando-o nos olhos castanhos. – Fique um pouco mais. – Micah guardou o chocolate e acendeu o cigarro. Nem chegamos a nos conhecer direito. quer dizer meu cunhado também. – Eu finalmente falei.E eu posso voltar para o lugar de onde vim. . então é um pedido duplo de sobrinha e cunhada. você e Gabi são as únicas pessoas que restaram da nossa família.tudo vai se ajeitar e voltar ao que era sem medos e sem perigo. fique por . . dando uma baforada.Não. É meu tio. Theo emendou. Micah. Fiquei mais aliviada com isso.Temos que conversar ainda muita coisa. sem admitir recusa: . . sem discutir. . . Ele ficou meio sem graça. Heitor abriu a porta do carro: .Certo. – Acenou com a cabeça. – Explicou Micah. levo vocês para casa.Vamos. – Vão se cuidar.Eu e Pedro vamos resolver os trâmites legais na delegacia. Podem dar os depoimentos depois.favor. . coelhinha. ainda com Helena no colo.Obrigado.Faremos isso. Olhou-me com intensidade..Some daqui. Theo passou um dos braços em volta do meu ombro e deixou Helena dormindo na curva de seu outro braço. Heitor assumiu o volante e Joaquim ficou ao lado dele. Entre. E disse. seu olhar . Ele acenou com a cabeça e sentou no carro ao meu lado. – Pedro sorriu. – Theo me ajudou a me acomodar no carro e se voltou para os irmãos. emocionado: . eu mesma desejei fazer isso. Eu não iria aguentar perder você nem a Helena. sua voz soando baixa: . Sei que foi melhor assim.Eu sei disso. . mergulhando em seus olhos azuis. – Murmurei.Eu quis que o matasse. sendo correto ou não. Ele seria sempre um risco pra vocês e para nossa família e eu não iria correr o risco de passar por isso outra vez.varrendo meu rosto preocupado. Eva. Mas não pude evitar.Eu não devia ter matado aquele homem na sua frente e de Helena. . sendo sincera: . Theo. mas eram inevitáveis. – Não queria que tivesse passado por tudo isso. começamos uma nova vida. .. garanti: . Nós só lutamos por nossas vidas. .Isso tudo vai passar. mostrando seus sentimentos por mim.Eles nunca nos deixariam em paz. . Mas foi assim por que eles quiseram.Nem eu. – Seu olhar abrandou.Coelhinha. A partir de hoje. E com toda certeza que tinha dentro de mim.. – Meus olhos encheram-se de lágrimas. Que visse o fim que sua mãe teve. – Vamos esquecer toda essa dor. nada nem ninguém vai tirar essa felicidade da gente. sem máculas. E foi aquilo que mais me emocionou e me fez agradecer.Eu Acredito nisso. É só me chamar de coelhinha que acredito em qualquer coisa. Quero muito recuperar o tempo que perdemos. meu amor. – Seus olhos eram determinados. Eva. . – Murmurei e ele . exposto. Mas havia um amor neles que era franco. naquele seu jeito tão seguro que eu conhecia e adorava.Vou fazer você feliz a cada segundo.. Juro pra você. Só minha. sua barba cerrada. Pra sempre minha... me querendo em sua vida. . amor. alívio me consumindo.. ainda abalado pelos riscos que corremos. suspirando. E era verdade. Ergui a mão e acariciei seu rosto.sorriu.. me chamando daquele jeito que demonstrava o que sentia. esperança. Eu o conhecia e . Sussurrou e encostou sua testa na minha. me amando.Minha coelhinha. Só eu sabia o quanto tinha sentido falta de Theo assim. sabia que seu desespero tinha sido por mim e por Helena. E que nos ter ali era tudo que queria. Assim como ter os dois vivos e bem era o que eu mais desejava. Fechei os olhos e afastei da mente a imagem da minha mãe morta. Ia demorar até tudo aquilo passar, mas eu não deixaria que seu ódio me destruísse até na morte. Os Amaro sobreviveriam através de mim, Gabi, Micah e dos nossos filhos, mas sem vingança e sem sentimentos malignos. E me dei conta de como o destino dos Amaro e dos Falcão estavam entrelaçados: Gabi casada com Joaquim, eu com Theo, Micah tendo o sangue das duas famílias. Tudo como tinha que ser. Apoiei a cabeça no ombro de Theo e relaxei contra ele, protegida e amada, despida de culpas e mágoas, a dor sendo apenas temporária, a esperança me fazendo acreditar em dias muito melhores. Chegamos à Fazenda e fomos recebidos por Tia se acabando em lágrimas e nos beijando sem parar, Gabi preocupada e aliviada também nos beijando e por Mario Falcão que me olhou com aquela expressão de quem nunca me aceitaria, mas que ficou evidentemente aliviado ao ver Theo vivo. Era um homem duro, seco, mas ali eu vi que amava o filho, que parecia só ter voltado a respirar ao vê-lo. E acho que foi ali que o perdoei. Na verdade, ele vivia dentro de si mesmo, preso naquela cadeira, mal podendo falar, dependente de outras pessoas. Era seu castigo. Mario pagava sua própria penitência. E mesmo assim não admitia seus erros, não abrandava. Mas amava Theo. E isso para mim já bastava. Depois de assegurarmos a todos que estávamos bem, subimos abraçados para nossa suíte e Helena continuou dormindo. Eu tirei sua manta suja daquela cabana e a acomodei no berço, sabendo que logo acordaria berrando para mamar. Sentia-me cansada, pegajosa, suada. - Vem aqui. – Theo segurou minha mão e me levou para o banheiro. Parou à minha frente e me fitou dentro dos olhos, dizendo baixinho: - Vou cuidar de você, Eva. Sempre. - Sempre. Adoro essa palavra saindo da sua boca. Ele sorriu, o que o deixava lindo, mostrando seus caninos levemente maiores que os outros dentes, suavizando seus olhos sempre tão intensos. Ergueu as mãos e começou a tirar minha camisa rasgada, seu semblante se carregando muito ao murmurar: - Pensei que perderia você. - Eu estou aqui e bem. Isso que importa, Theo. - Eu sei disso. Deixei que me despisse e comecei a desabotoar a camisa dele também. O tempo todo nos olhamos, pois era a primeira vez que fazíamos aquilo em dois meses sem ódio e mágoa entre nós. Ficamos nus, não só de corpo, mas também de alma e sentimento, totalmente concentrados um no outro, ligados, conectados. Quando me puxou contra si e senti sua pele quente e firme, seus braços em volta de mim, suas mãos deslizando em minhas costas sob o cabelo, meus seios contra seu peito, meu ventre sentindo o volume rígido do seu membro, eu soube que estava no único lugar do mundo em que queria estar. Abri os lábios, arfante, apaixonada, emocionada, com tudo à flor da pele. - Havia um mundo entre nós. – Theo disse baixo, rouco, seus olhos azuis semicerrados. – Vingança, ódio, passado, dor, mentiras, a diferença de idade. Mas o tempo todo, mesmo quando fui estúpido ou disse palavras ofensivas, eu te amei, Eva. Doeu tanto por isso, por te amar sem limites. E nada disso foi o bastante para sufocar esse amor. - Eu sinto tudo isso também, amor. – Murmurei, subindo as mãos por seu peito forte, seus ombros largos, seu pescoço, adorando cada mínima parte dele. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao fitar o ferimento esmaecido de bala do atentado e beijei suavemente a cicatriz, sussurrando: - Me perdoe por isso... Fiquei na ponta dos pés e beijei a outra cicatriz perto do seu olho. - Por isso também... Segurei sua mão direita, a que ele havia quebrado e tinha algumas cicatrizes recentes. Beijei cada um de seus dedos, emocionada, lágrimas descendo. - Theo, me perdoe por isso e por tudo. Por toda dor física e emocional que causei em você. – Por fim eu o abracei e beijei seu peito perto do mamilo esquerdo, sobre seu coração, sabendo que a dor maior que ele sentiu esse tempo todo foi ali. Theo acariciou meu cabelo e apoiou minha cabeça em seu peito, suspirando. Por fim ergueu o meu queixo, buscou meu olhar, disse baixo, profundo: - Eu fui um cavalo, um insensível. Não conseguia ver o que estava aqui o tempo todo, que era seu amor. Era só olhar para você. Mas foi um golpe duro demais para mim, Eva. Inesperado, que tirou meu chão, me desnorteou. Eu te amo tanto, que imaginar que você não sentia o mesmo, que tinha mentido sobre me amar foi o mesmo que morrer. Eu me senti vazio, porque tudo o que existe dentro de mim é seu, Eva, viver sem você, sem o nosso amor, seria viver pra sempre em um purgatório, eu não tinha mais motivos nem pra respirar. - Eu sei disso, sabe por quê? Por que a única coisa que me manteve lúcida nesse período foi nossa filha, Theo. Eu me alimentava por que precisava amamentar, dormia só quando o cansaço me vencia. Era uma tristeza sem fim não poder te ver, sentir seu cheiro e seu amor. Eu só não me entreguei por que eu tinha Helena, e eu sempre prometi pra mim mesma que quando eu fosse mãe, meu filho seria a minha vida, eu não deixaria nunca ele pensar que não o amava ou que ele não era suficiente pra mim. - Eu tenho muito orgulho de você, Coelhinha. Você é forte por tudo o que passou. Nunca deixou que Luiza te tornasse uma pessoa amarga. - Vamos esquecer isso, Theo. Tudo ficou no passado. Vamos agora só construir memórias felizes da nossa família. A família que sempre pedi a Deus. - Mesmo assim vou me desculpar pro resto das nossas vidas, pois nada desculpa o que fiz aquele dia, a maneira como a arrastei para o calabouço e a acusei, quando por um triz não fiz o que poderia ter nos destruído para sempre. Não consigo me perdoar pelo medo que sentiu, pelo desespero que vi em seu olhar quando parou de lutar e pareceu deixar de ser você mesma. - Você não foi em frente, Theo. Mesmo em seu ódio, não tocou em mim. - Sou um animal, coelhinha. Sem brio, com a violência guardada dentro de mim. – Parecia um tanto angustiado e segurou meu rosto entre as mãos, prometendo ao me fitar dentro dos olhos: - Vou me desfazer do calabouço. Vou cuidar e tratar de você como merece. - Não... – Pus minhas mãos sobre as dele, sendo sincera, honesta. – Não quero que deixe de ser quem é. Foi esse animal sem brio que se soltou daquelas cordas e me salvou de ser estuprada e morta. É você, do seu jeito, que toca em mim e me faz ver estrelas. Ninguém nesse mundo é como você, Theo, e não quero que mude nem um milímetro. Amo exatamente como você é, sem tirar nem pôr. - Eva... - O calabouço não é só seu. É nosso. – Afirmei, perto de sua boca, que sempre me deixava louca só em olhar. – Amo ser dominada por você. Sem ódio, mas com essa intensidade toda que me alucina. Passou a gravidez toda prometendo tudo que faria comigo naquele calabouço e agora diz que vai fechá-lo? Theo acabou dando uma risada e me apertou forte. Eu beijei seu queixo, apaixonada. Mesmo com tudo que tinha acontecido, com a exaustão física e emocional, eu me sentia viva com ele, como sempre acontecia. - Ainda bem que pensa assim, somos perfeitos um pro outro. – Theo beijou meu cabelo, afastando-o para mordiscar minha orelha e me encher de arrepios. – Eu fecharia o calabouço por sua causa, coelhinha. Mas se é assim que quer, não vou reclamar. Sabe como sou e do que gosto. - Sei. E é assim que eu gosto, meu vampirão pornográfico. Acabamos rindo e Theo sussurrou: - To sentindo saudades do seu sangue... - Theo! – Fiquei vermelha, mas vi seu olhar safado, cheio de tesão, e o provoquei cantando baixinho: - Venha me beijar, meu doce vampiro... - Vou beijar, morder, chupar, fazer tudo o que quero com você, coelhinha. Estremeci, repleta de amor, desejo e saudade. E quando segurou minha nuca e beijou minha boca, minhas pernas bambearam, fui invadida por sensações inebriantes e o segurei como se fosse cair, forte e firme, retribuindo o beijo apaixonado e profundo. Deslizei as mãos por sua pele, seus músculos, respirei fundo e senti o seu cheiro, saboreei seu gosto, que queria ter para sempre na língua. E ali fui feliz, fui mulher, fui eu mesma, realizada, delirante, algemada àquele amor único e eterno. Estávamos suados, sujos, pegajosos. Eu queria me livrar de tudo que tinha acontecido naquele dia e que ainda estava impregnado em mim. E acho que Theo também, pois sem parar de me beijar entrou no boxe e me levou junto. E quando o jato forte de água morna bateu sobre nós, nos agarramos e beijamos mais, escorregadios, unidos como se fôssemos um. Celebrei a vida e o amor naquele beijo. Suspirei enaltecida quando fui tocada e acariciada, quando senti seus dedos nos seios e quadris, na barriga e nas coxas, não apenas sentindo, mas me adorando, sua língua contra a minha, seu corpo alto e forte dominando o meu. Agarrei seu pau longo e grosso com as duas mãos, gemi de pura necessidade contra sua boca e quase morri de tesão, quando seus dedos massagearam meu clitóris. Deixamos tudo de ruim escorrer com aquela água, nos purificar e libertar, enquanto nossos corpos ardiam e se buscavam, nossas almas se entrelaçavam em um encontro íntimo e verdadeiro, que nunca mais poderia ser rompido. Eu sabia que nada, nada, me faria deixar de amar Theo. Ele era meu e eu dele, para sempre. Não tivemos como esperar, não depois de tanta saudade e separação. Não quando seu dedo entrou em mim e viu como eu pingava e latejava por ele. Gemeu rouco e em questão de segundos me ergueu fácil, abrindo minhas pernas, buscando-me com uma necessidade suprema. Senti seu pau rígido e o busquei, tremendo quando a cabeça robusta esticou meus lábios vaginais e seus dentes mordiscaram minha boca. - Ah... – Arquejei fora de mim quando me penetrou e envolvi minhas pernas em sua cintura, sentindo-o deslizar todo até o fim, até não restar nada do seu pau fora do meu corpo. Tive espasmos e joguei a cabeça para trás em deleite, enquanto o segurava pelo pescoço e sentia suas mordidas deliciosas no queixo, seu rosnar baixo de macho me enlouquecendo. Murmurei em êxtase: - Theo... Disse o nome dele com toda emoção que transbordava e me movi sendo devorada por sua fome igual à minha, segura e dominada por ele, entregando-me toda, por inteiro. Theo agarrou minha bunda e minha nuca, encostou-me no azulejo gelado e estocou dentro de mim ferozmente, erguendo os olhos para os meus, cheios de intensidade, murmurando: - Se eu te perdesse, minha vida acabaria. Não sou nada sem você, coelhinha. Nada... Nunca vou deixar ninguém fazer nada de mal pra vocês. Amo você e nossa filha mais que a mim mesmo. E eu entendi o desespero em sua voz, pois me senti do mesmo jeito. Uma avalanche tinha arrasado nossa vida e o ápice quase nos derrubou naquela cabana, quando nos vimos diante da morte. E agora ali, nos braços um do outro, com nossos sexos unidos e nossa alma como uma, nos dávamos conta de como quase tudo acabou em um estalo. Lágrimas vieram em meus olhos e desceram, se misturando à água do chuveiro. Theo parou todo dentro de mim e a emoção era tanta, o medo tão real, que vi seus olhos marejarem também, como nunca imaginei que veria. E ele sussurrou: - Você e Helena são minha vida. - Você e Helena são minha vida. – Repeti e ergui as mãos para seu rosto, embargada, feliz como nunca julguei ser possível. – Eu te amo e isso nunca vai mudar. - Nada nem ninguém nunca irão mudar o meu amor por você, coelhinha – Theo sussurrou. Ele gemeu e saqueou minha boca em um beijo sôfrego e apaixonado, ao mesmo tempo que movia os quadris e me penetrava em estocadas fundas, duras, embriagantes. Estalei, ondulei, fui envolvida em espasmos e convulsões que me deixaram à beira de um orgasmo. Theo me segurou firme e meteu em mim em uma fome desmedida. tirando o pau de dentro de mim e pressionando entre nossos ventres. que me tirou daquele mundo e me fez delirar ensandecida. era dele. Eram sensações e emoções devoradoras demais para conter e quando entrava forte. até que gemeu rouco e cravou os dentes em meu ombro. onde despejou seu gozo quente . junto com meu amor e minha alma. eu chorei em um gozo arrasador. Gritei e gemi. até que meu corpo não era mais meu. feliz. eu com uma toalha em volta do quadril e Eva em um curto roupão . maravilhada. entregue. E nunca mais a perderia.e denso. Fechei os olhos. Eu tinha minha vida de volta. THEO Voltamos ao quarto relaxados e satisfeitos. banhando-me em seu prazer enquanto eu murmurava em seu ouvido o quanto o amava. Helena pareceu cronometrar o tempo. . caminhando de volta ao banheiro.Vou preparar o banho dela.branco. Sorri ainda mais e peguei Helena . Pode distraí-la? – Eva indagou. enquanto ela esperneava e se batia como se estivesse sendo maltratada. – Brinquei. . pois então acordou gritando e sorrimos.Posso tentar. . indo pegar minha filha cheio de amor. – Provocou Eva.Geniosa como alguém que conheço. Essa só faz o que quer. Calma. Falcãozinha. como se pesasse as opções. atenta.. murmurando: ..com cuidado. Papai está aqui. Olhou-me apertando um pouco os olhos azuis e berrou mais ainda.Minha menina mais linda vai tomar banho com o papai hoje? Hein? Vou ficar hoje em casa com você. O que acha? Foi parando de chorar. andando pelo quarto e falando com carinho: .. passear na varanda.. Foi naquele . Eu ri e a acomodei contra o peito. com raiva. . .Está na hora de aprender. . . – Eva voltou. engoliu uma feijoada. – Mas nunca fiz isso. nunca é tarde. amor. . provocando mais. vai aproveitar e limpar você. que está muito feliz hoje.momento que senti o cheiro forte e brinquei: .Não. com um cheiro desses. obrigado.Eu? – Olhei-a na hora.E o papai. Tem certeza que só toma leite? Podia jurar que.Mas primeiro temos que tirar sua fralda e te limpar. Como alguém tão pequeno podia produzir uma quantidade de fezes . Eva balançou a cabeça. divertida. mas não o bastante. Era impressionante aquela fralda cheia.Theo! – Eva riu. Em dúvida. Mas parecia um sacrilégio ter nojo de limpar a minha própria filha. – Coloque-a aqui. pegando o trocador e esticando na cama. pondo ao lado um pacote de lenços umedecidos. Tem certeza de que não quer aprender? Eu não queria.. E começou a despir Helena. deitei-a no trocador e fiquei perto. daquela? Observei Eva limpá-la fácil e rápido, nossa filha quietinha com seus olhos nela, como se soubesse que depois daquilo viria sua recompensa em forma de leite. Sorri, todo bobo por ser tão linda e esperta. Olhei as duas e não consegui parar de pensar de como quase as perdi. Era aterrador e acho que se estivesse sozinho eu choraria de alívio. Sentia um nervosismo e um alívio sem igual pressionando meu peito, fazendo-me consciente de como a vida mudava de uma hora para outra e de como deveríamos aproveitar cada momento. No final das contas, não queria sair de perto delas, até me convencer de que estavam realmente bem e comigo. Não podia deixá-las, nem para ir trabalhar naquele dia. E enquanto as acompanhava até a banheira, onde Eva passou a banhar Helena, pensei que queria um tempo só para nós, até eu poder respirar aliviado novamente. Helena se bateu, gostando da água morna, fitando Eva enquanto ela sorria e passava sabonete em sua barriguinha, dizendo baixo: - Agora o papai não vai ter do que reclamar. Vai ficar limpinha e cheirosa, não é? Eu babava em silêncio, apaixonado. Passei meu olhar por Eva, sua pele macia, seu cabelo molhado, sabendo que nada mais me impediria de amá-la sem reservas, nem mesmo a diferença de idade, na qual ocasionalmente eu pensava. Lembrei da sensação deliciosa de estar dentro dela ainda há pouco, de seu gosto e cheiro. E fiquei perdido em sensações e desejos, até que fui surpreendido com um punhado de água no peito. Fitei seus olhos de imediato e Eva sorria, dizendo inocentemente: - Foi Helena. - Essa menina... – Murmurei, mas de olho em Eva. Ela corou sob aquela intensidade, baixando os olhos. Mergulhei a mão na água, acariciei o pé da nossa filha e, surpreendendo-a, espirrei água em sua barriga. - Oh! – Eva me olhou rapidamente e riu. – Foi Helena? - Quem mais seria? Rimos quando entramos em uma brincadeira de espirrar água um no outro fingindo que era sem querer. Nossa filha batia as pernas e gritava, como se gostasse da farra, toda agitada. Eva ria ao me ver encharcado e eu não sabia como alguém podia ser tão feliz como eu com aquela brincadeira infantil, mas ao final das contas tudo estava molhado e nós três realmente felizes. Cuidamos dela e nos enxugamos. Fiquei deitado de lado com o cotovelo apoiado na cama, olhando-as enquanto Eva a amamentava, embevecido, acariciando hora a penugem loira de Helena, hora alguma parte da pele de Eva, sem condições de me manter longe. Então, falei decidido: - Vou tirar algumas semanas de férias. Eva me olhou, parecendo feliz: - Sério? - Sim. Vou tentar convencer Micah a ficar um pouco mais e me substituir no escritório com Valentina. Pedro já está atarefado demais administrando o frigorífico. Quero passar mais tempo com você e Helena, ainda mais depois de tanta coisa ter acontecido. - Eu quero muito isso, Theo. - Eu também. E se Micah ficar, além de me ajudar, vou ter tempo de tentar resolver o passado com meu irmão. Acho que só falta isso para nossa família ficar em paz. - Acha que seu pai vai aceitá-lo? - Não sei. Mas falta muita coisa ainda para ser dita, resolvida, explicada. Preciso de um tempo pra mim, pra nós. – Passeei o olhar por seus traços delicados, mais uma vez me dando conta de como era linda. – A anulação está para sair, Eva. Vamos nos casar de novo, agora de verdade. Mordeu o lábio, emocionada. Disse baixinho: - Eu já me sinto sua, Theo. Nem preciso de casamento. - Vai ter um casamento. Dois, na verdade. Quero que se chame Eva Amaro Falcão. - Com muita honra. – Esticou a mão e entrelaçou os dedos aos meus, olhando-me. – Mas dessa vez, podemos fazer algo íntimo, só a família. O que acha? - Perfeito. E depois podemos voltar à Grécia, alugar uma casa numa daquelas vilas, passar os dias apenas aproveitando. Voltaremos para cá renovados, sem qualquer resquício de tudo que aconteceu. - É o que mais quero! – Seus olhos brilhavam de felicidade. - Então, vai ser assim. - E quando voltarmos, podemos pensar em ter mais um filho. Eu a observei e franzi o cenho: - Você quer? - Muito. Passei a gravidez toda de Helena com medo que você descobrisse quem eu era e me expulsasse, nem aproveitei direito. Essa vai ser curtida desde o início. - Quando voltarmos, podemos providenciar. Mas antes faremos umas cem visitas ao calabouço, para que eu possa voltar a ser comportado durante a gravidez. Eva riu, corando, olhando-me com amor. - Fala sério? Vamos mesmo nos casar e passar um tempo longe, só eu, você e Helena? – Estava emocionada, em expectativa. - Vamos. Vai enjoar de tanto me ver. - Nunca! Sorri lento, com os olhos cravados nela. Era muito amor. E muita felicidade. CAPÍTULO 20 THEO No dia seguinte prestamos depoimento na delegacia, mas Ramiro garantiu que não haveria nenhum problema para nós. Tínhamos sido vítimas naquela história e a morte de Lauro foi declarada por ele como legítima defesa e ocasionada pela invasão da polícia. A notícia se espalhou rápido pela cidade e todos queriam saber detalhes, principalmente sobre Eva. Mas ainda naquela semana a anulação do casamento falso saiu e dei entrada nos trâmites legais para um casamento de verdade, que seria o mais rápido possível. Ninguém entendeu direito, mas me observavam na cidade com Eva e Helena, apaixonados, sabendo ao menos que o final de tudo tinha sido feliz. Cada um dizia uma coisa diferente, mas eu deixava por isso mesmo e seguia em frente, sem me importar com fofocas e especulações. Conversei com Micah e o convenci a ficar mais tempo na cidade e ajudar Valentina nos negócios, dizendo a ele que precisava de um tempo longe depois de tanta tensão e desespero. E só poderia ir tranquilo sabendo que estaria lá para ajudar. Acabou dizendo relutante: O velho vai acabar descobrindo e vai dar merda. - Não se preocupe. Ele nem sai de casa. Está tudo bem. Por fim aceitou e sorriu debochado: - A Valentona vai soltar fogos de tanta alegria! E acho que isso também pesou para que ficasse, tinha um prazer sem igual em provocar Valentina. Ironicamente tive medo de voltar de viagem e saber que uma tragédia tinha ocorrido entre os dois, pelo jeito que as coisas entre eles seguiam. Mas resolvi arriscar. Em casa meu pai quase não olhava para Eva, fingindo que ela não existia, mergulhado naquele gênio dele que o fazia sempre se achar o dono da verdade e da razão. Eva dizia preferir assim, mas eu a sentia tensa em muitas vezes ter que sentar com ele à mesa ou ser alvo de seus raros olhares, que quando ocorriam eram raivosos. Por tudo isso, em um dia daquela semana visitamos uma firma de engenharia e eu disse a ela que construiria para nós uma casa na fazenda. Ficou muito feliz, me abraçou e encheu de beijos e saímos juntos para passear pela fazenda, até parar em um terreno plano de frente para uma lagoa, rodeada de muitas flores do campo. Eva se apaixonou pelo lugar e eu também. Não era muito distante do casarão e das outras construções, mas o bastante para que tivéssemos nossa intimidade e privacidade. E ali decidimos fazer nossa casa, com uma bela vista para a lagoa. Chegamos a ver plantas de casas e discutir alguns modelos e ela parecia feliz como uma criança por que teríamos um espaço só nosso. Naquela mesma noite falamos a todos que nos casaríamos e escolhemos uma cerimônia simples e íntima no terreno onde faríamos nossa casa. Todos nos cumprimentaram felizes, menos meu pai. E depois, quando estava em seu quarto e fui falar com ele, deixou bem claro que não aceitava aquele casamento e nem iria nele. Não tentei fazê-lo mudar de ideia. Era como uma mula empacada, nunca voltava atrás em uma decisão e se achava o dono da verdade. Deixei-o com seu pensamento e segui minha vida, como sempre fiz. Convidei Micah para o casamento, mas ele negou. Então falei que seria longe do casarão, só entre nós e meu pai não iria. Quando disse que fazíamos questão de sua presença, que Eva era sua sobrinha e eu seu irmão, ficou indeciso. Por fim concordou em pensar sobre o assunto. Eu sabia que seria difícil para ele, pois há mais de quinze anos não pisava na fazenda. Mas esperava que com o tempo algumas coisas se resolvessem. E assim, no início de dezembro nos casaríamos pela segunda e última vez. Eu estava ansioso e Eva também, mas ambos muito felizes. Era como conhecer o paraíso após passar pelo purgatório. Não havia mais ameaça e nem vingança. Só amor, que se construía agora com base na verdade e na confiança, como devia ter sido desde o começo. Dormíamos e acordávamos juntos e nos amávamos com uma entrega completa, ainda mais do que antes. Sexo ficou mais intenso e urgente, como se tudo que tivéssemos passado nos fizesse consciente de como queríamos um ao outro mais e mais. Às vezes eu passava horas adorando-a com minha boca, beijando cada pedaço do seu corpo, fazendo-a gozar com beijos, lambidas, mordidas e chupões, marcando seu corpo e sugandoa em toda parte. Era lento e torturante. Eva chorava de tanto tesão e se acabava em um prazer delirante até ficarmos suados e satisfeitos. Eu adorava deixá-la sentada na cama com as pernas abertas enquanto mordia e chupava cada um de seus dedos dos pés e a fazia ter um orgasmo imediato quando parava e só encostava a língua em seu clitóris. Já estava tão doida que o prazer a atravessava com o mínimo toque e eu então a montava e comia bem gostoso, até perder o controle. Em outras vezes eu era bruto, tinha necessidades mais violentas. Disse a ela para falar “não” quando algo fosse pesado demais, mas Eva sempre dizia sim. Eu a atravessava no colo e surrava sua bunda, ou a fazia me chupar até ter meu pau todo na boca e babar, sufocar. Ou ainda a colocava de joelhos no chão e a fazia engatinhar nua pelo quarto, só para pegá-la firme por trás e estocar em seu ânus enquanto a xingava no ouvido. E mesmo nesses momentos, em que ficava toda vermelha e ardida de tanto me servir, eu ainda me controlava. Nunca era mais bruto do que ela podia gostar. Apesar de ter prometido levá-la ao calabouço, eu evitava isso. Lá eu sabia que me descontrolaria mais, teria muitos objetos para usar, sem contar que ainda me sentia desconfortável pelo modo em que a tratei da última vez naquele lugar, quase a ponto de fazer uma loucura. Depois de tudo que Eva havia passado nas mãos de Lauro, eu continha uma parte minha. E mesmo quando pegava mais pesado com ela no quarto, não era além do seu limite. Aliás, eu nem arranhava esse limite. Mas Eva me conhecia cada vez mais. Notava quando eu estava agitado e parecia que seu lado submisso vinha à tona. Chegou a falar no calabouço e dizer que queria ir lá, mas desconversei e evitei o assunto. E assim fui deixando para lá. Em compensação, aprendi a ser mais romântico. Ou pelo menos tentei. Andávamos de mãos dadas, saíamos juntos, eu estava sempre trazendo presentes e dando um jeito de mimá-la, lembrando do seu diário, quando disse que nunca nem lembravam do seu aniversário. Faria aniversário quando estivéssemos em lua-de-mel pela Grécia e comemoraríamos juntos. Mas enquanto isso era um prazer mimá-la. Tornava-se também mais independente. Pegava o carro, saía sozinha ou com Helena, ia me visitar sendo um prazer lhe proporcionar coisas boas.ocasionalmente no escritório ou resolver alguma coisa. com tudo que tínhamos direito. Eu queria que se divertisse e aproveitasse a vida. descobrir seus gostos. Eu a observava desabrochar a olhos vistos em pouco tempo e isso me fazia amá-la ainda mais. Naquela noite eu a convidei para jantar fora e minha intenção era levá-la a um restaurante chique e termos um jantar à luz de velas. admirá-la sabendo que era minha e retribuía meu . Eva tirou uma boa quantidade de leite dos seios e deixou na geladeira. Eu me arrumei elegante em um terno negro sem gravata e a esperei na varanda.amor. com o carro estacionado em frente. saindo de casa linda em um vestido preto que marcava seu corpo. Quando me encontrou lá. além de amamentá-la bem. Deixamos Helena com Tia e. caso nos demorássemos e ela acordasse querendo mamar. seus cabelos soltos e escovados. usando salto alto e um . fitando seus olhos. Estava sensual sem ser vulgar. puxei-a.Quer me fazer desistir do jantar e levar você para o quarto. Sorriu. – Cobrou.Você me prometeu um jantar à luz de velas. passando as mãos sobre o paletó em meu peito.batom vermelho vivo. dizendo com uma fome tão grande que eu não sabia como conseguiria dirigir até Pedrosa: . Estonteante. E quando veio perto. eu fiquei louco. como se soubesse o efeito que tinha sobre mim. coelhinha? . seu . Isso eu nunca escondi que era. – Eu quis ficar bonita para te agradar. – Sorriu e se afastou..olhar ao mesmo tempo ingênuo e provocante. puxando-me em direção à escada.Seu tarado. eu tinha que dar sempre . Eva riu e eu acabei me divertindo também. .Se formos ao quarto. vou mostrar o quanto me agrada. . entrelaçando os dedos da mão nos meus.. . Enquanto dirigia para Pedrosa e conversávamos. Tinha uma excelente carta de vinhos e a . mas era assim. Além de gostar de fazer isso pelo simples fato de ser linda. O restaurante era o mais caro e bem conceituado da cidade. Simplesmente nos dávamos bem em tudo. com iluminação suave e um pianista que tocava músicas clássicas. Não havia mais barreiras entre nós e estávamos sempre à vontade um com o outro. todo em madeira. Parecia um milagre. eu sempre me surpreendia com a intimidade que estávamos conseguindo estabelecer.um jeito de olhá-la. E enquanto brindávamos a nós.comida era excelente. me guardava sob a aparência de civilidade. . tentando me portar como um excelente cavalheiro. mas me continha. como sempre fazia quando percebia o quanto eu a queria. Tomei todo cuidado em sugerir tudo de melhor para ela. eu a olhava cheio de desejo e só pensava em tirar aquele batom com beijos. Mesmo assim Eva corou e lambeu os lábios. Sentamos a uma mesa coberta com toalha de linho perto da janela e pedi o melhor vinho da casa. senti seu pé roçar minha panturrilha por debaixo da mesa enquanto tomava um gole do vinho de modo lento. Pelo contrário. mas surpreendendo-me.Ela sabia pelo meu olhar. Theo.O quê? .Estou sem calcinha. – E não desviou o olhar. Eu fitei seus olhos. Pensei que disfarçaria. achando que tinha ouvido errado. sabendo que me deixaria fora de mim de . só para lamber um pouco mais os lábios.Estou sem calcinha. . disse baixinho: . – Disse baixo. ela não recuou. seu pé subindo e descendo lentamente por minha perna. Mas preferia estar tomando-o com você em outro lugar. E tão logo a surpresa passou. aprofundando seu decote.desejo. Apoiou os braços na mesa e inclinou-se um pouco mais para mim. Tendo minha total atenção. . Eu a olhava fixamente.Adorei o vinho. Era a primeira vez que me provocava assim em público. eu senti a lascívia me envolver. concentrando-me só em Eva. . ... lambendo todo vinho dele. – Seu pé subiu até minha coxa. enquanto mordia os lábios e continuava: .. E depois eu abrindo-a.nus . provocante.Adorei..eu poderia provar o vinho direto da sua pele. Theo. E seria muito mais gostoso. Meu pau enrijeceu e tive uma visão orgástica de Eva mergulhando-o na taça e depois chupando-o obedientemente.Não gostou do restaurante? . mais confortáveis.. despejando gotas da bebida rubra em sua boceta e . Mas se estivéssemos sozinhos... Mas então acenou e se afastou rapidamente. . O garçom se aproximou. Disse a Eva: . Ele quase retrucou.Quero a conta. sem tirar os olhos dela.A conta. .Senhor? – O garçom não entendeu. Quase fiquei alucinado de tanto desejo. – Falei secamente. que arfou baixinho.lambendo-a toda.Desejam fazer o pedido agora? . solícito: . corando. coelhinha. .É. . E foi o meu fim.Não devia mexer com fogo. Só quis sair o quanto .. . – Eu estava tentando ser cavalheiro. – Avisei.Mas é assim que eu gosto.Sabe o que fez comigo? . com o sangue latejando forte nas têmporas. E você está me fazendo parecer um tarado. romântico. doido para colocar as mãos nela.É isso que quer? .Vai me levar ao calabouço? – Sussurrou. Fiquei cego para todo o resto. e não queria que se controlasse ou ficasse em dúvidas quanto a me levar ao calabouço. percebia sua essência. Ainda mais agora que havia confiança entre nós.antes dali e colocar minhas mãos nela. entendia seu lado . Por que o conhecia. Eu o queria inteiro. até com suas taras. EVA Eu adorava Theo de todas as maneiras. sem meios termos. completo. terra. água.bruto e animal que estava sempre beirando a superfície. eu sempre me surpreendia por existir um homem como ele e por ser meu. tudo junto. eu não era páreo para ele. Como não desejar e se envolver em sua teia de sedução? Theo era fogo. Era uma energia pulsante e intensa que dominava tudo à sua volta. Como soube desde o início. Não era algo que me incomodava. ar. inclusive a mim. se eu soubesse que teria o direito de parar a hora que não aguentasse. Pelo contrário. Não . mas que naturalmente correspondiam aos dele. me dava uns tapas firmes . Eu amava quando se deitava ao meu lado na cama e me beijava. dizia sacanagens e que eu era dele. Mas eu também ia à loucura quando agarrava bruto o meu cabelo ou a minha garganta. ter desejos que não se baseavam em tentar segurá-lo. necessitar mais dele.sei por que se apaixonou por mim. Passava horas naquilo e eu me sentia amada e adorada. acariciando minha pele. lento e doce. Mas a cada dia me sentia crescer e desabrochar. deixando-me grogue e dominada. E embora amasse seu lado romântico e cuidadoso comigo. tara. tudo isso vivia dentro de mim. Queria que rompesse aquela . o que podia ou não fazer. desejo.como a me castigar. sempre me tomando por inteira. eu não queria que se controlasse ou vivesse resguardado evitando me levar no calabouço ou se mostrar. Já sabia quem ele era. mas o tempo todo sua essência de macho alfa estava lá. E o amava assim. inteiro. Eu nunca sabia bem como ele faria. Amor. quente.barreira de me levar ao calabouço. E achei que poderia convencê-lo do meu jeito. Estava imóvel em seu lugar atrás . Theo rapidamente rompeu a pequena distância entre o restaurante e sua casa em Pedrosa e. usando coisas das quais gostava e sendo sensual. eu senti a vagina ficar cremosa e latejar. provocativa. em expectativa. quando parou o carro em frente à porta e me lançou um olhar duro e quente. mas até que me saí bem. Ainda estava aprendendo aquilo. Mas não me neguei.Mostre que está sem calcinha. eu segurei suavemente e barra do vestido justo até os joelhos e a ergui. escaldante. denso. . Eu corei. o clima dentro do carro quente. mostrando aos poucos as coxas. sem poder evitar o nervosismo. Senti minha pele arder. E fui levantando a saia até os quadris e mais. como se a tocasse. sentindo a intensidade do seu olhar que me deixava bamba. Olhando para ele. Theo observava cada ação minha.do volante e disse baixo: . nua. Mordi os lábios. Theo encontrou meus olhos e os dele ardiam. movendo-me de leve para passar pela bunda e a acumular na cintura. o sangue correndo voraz nas veias. . ali tão exposta. em expectativa. Eu o temi e o amei. tão quieta que podia sentir e ouvir meu próprio coração disparar loucamente no peito.subindo. Fiquei vermelha quando seu olhar se fixou em minha vagina depilada. com aquela ruga entre as sobrancelhas fazendo-o parecer mau. Você vai ter tudo o que merece.excitada ao extremo. sem me tocar. Quero ver a sua bunda enquanto anda na minha frente. Mas com ele eu adorava me queimar. ordenou: . Sabia que brincava mesmo com fogo. . tremendo por dentro. coelhinha.Não abaixe a saia. E então saiu do carro. Quando abriu a porta para mim. – Disse baixo. sabendo que eu mesma tinha provocado seu lado mais animal e ansiando exatamente por isso. . Arquejei. nervosa. dando a volta. um passo diante do outro. Cada célula minha parecia viva .Fitei-o elegante naquele terno. Desci do carro e pensei que minhas pernas não me sustentariam. olhei-o com todo desejo que eu sentia e segui à sua frente. mas respirei fundo. pensando que nenhuma roupa de grife podia esconder sua personalidade marcante nem seu olhar dominador. meu corpo. como se não estivesse nua da cintura para baixo e ele não olhasse para minha bunda. Aquele era Theo e era assim que o queria. pronta e disposta a tudo. Nunca estive tão consciente de mim mesma como mulher. submissa. ardente. Então entrei e andei devagar para onde eu sabia que Theo me queria. Desci as escadas.e pulsante. sentindo seu olhar. embora o medo estivesse lá. Parei diante da porta de madeira vermelha e esperei submissa que a destrancasse e abrisse. mas nervosa demais para me . querendo ser sensual em cada passo. temperando tudo. E para onde eu mesma desejava ir. deixando-me completamente arrebatada e excitada. como se fosse um outro mundo e ao mesmo tempo tão nosso. por um desejo diferente. de como fiquei. E quando empurrei a porta do calabouço e entrei naquele mundo tão particular. apenas foram constatadas. Lembrei a última vez que tinha estado ali. único. tão íntimo. E entendi que foi isso que Theo quis evitar ao não me levar mais ao seu calabouço. Mas as lembranças não me tolheram nem me amedrontaram. da dor maior que tudo.concentrar. fui engolfada por sentimentos diversos. Agora era tudo . das esperanças que perdi. Faça tudo o que quiser . aquela força sobrenatural que dominava tudo e parecia me deixar desnorteada. E murmurei: . Virei e o olhei. Estremeci com o que vi ali. Estava mais perto do que tinha imaginado e fui engolfada pela força do seu olhar.Sou sua. não o ódio. penetrante e totalmente concentrado em mim.diferente. Entreabri os lábios. em suas mãos. disposta a tudo. Eu tinha entrado ali com minhas próprias pernas e sabia que o que nos movia era o amor e a paixão. Eu esqueci de respirar. as pernas bambearam. seco. Despiu o paletó e o largou em uma cadeira. pensei que teria um ataque cardíaco. .comigo. Com a elegante camisa branca e a calça preta. Senhor. imóvel. Passou ao meu . aproximou-se lentamente de mim. – Afirmou duro. atento a cada respiração minha. Então desabotoou calmamente seu paletó.Eu vou fazer. Meu coração disparou. Mas Theo não me tocou. com cenho franzido. Theo parecia fazer de propósito para me deixar mais ansiosa. Tomou um gole. com medo e luxúria. Observei-o ir até o bar e pegar uma taça e uma garrafa de vinho tinto. E eu lá.lado e eu o olhei. Abriu-a e despejou a bebida até pouco mais da metade. Então segurou a taça. esperando para saber tudo o que faria . nervosa. já totalmente pronta para ele. como se decidisse o que escolher. passando os dedos pelos chicotes e canes. excitada. seminua ao lado do sofá. Tremi. caminhou pensativo até seus apetrechos de tortura. Quando falou. E foi o que fiz.comigo. que tomei até um susto: . Deixei a bolsa sobre o sofá e saí dos meus saltos altos. Completamente. Não me olhava. acrescentando uma sensação às outras . meus pés nus sentindo o chão frio sob eles. Sabia que eu o obedeceria. eu estava tão concentrada em me controlar. Ele foi pegando algumas coisas e colocando sobre o carrinho. Estremeci. Levava o carrinho de rodas até outro canto da sala.Fique nua. totalmente nua. Trêmula. . sobre uma base firme de ferro. um pouco abaixo da linha da sua cintura. duro. Tirei o vestido pela cabeça e depois o sutiã preto que sustentava meus seios bem mais redondos e inchados pela amamentação. Lançou-me um olhar intenso. Theo parou ao lado de uma espécie de roda que havia ali.que já me dominavam. levei as mãos às costas e comecei a descer o zíper. de cima abaixo.Vem aqui. Então disse seco: . Afastei os cabelos dos ombros. Deite-se aí. Mesmo assim caminhei cautelosa até ele. coelhinha. E como . Antes que eu examinasse demais. Mas era impossível. Parecia muito contido e dono de si. tentando descobrir o que planejava por seu olhar. toda coragem em seduzi-lo indo por água abaixo.Eu tremia. Nervosamente obedeci. ordenou: . Olhei para ele e depois para a roda de ferro. Havia uma prancha atravessando-a ao meio e nas pontas prendedores para pulsos e pernas de couro com velcros. . Era aterrador e excitante ao mesmo tempo estar sob o poder dele. sabendo que dominava meu corpo e minha mente. meus mamilos arrepiados.se já soubesse meu destino. olhei-o de pé ao meu lado e ergui os braços para as amarras. Theo sorriu e se inclinou sobre mim: . Fez o mesmo com o outro. Ainda mais quando fechou o couro em volta do meu pulso em duas voltas e prendeu com os velcros. Eu tremia. meus músculos se contraindo incontrolavelmente.Boa menina. prendendo-o. Para que meus .Eu não podia tirar os olhos dele. fazendo minha bunda e vagina ficarem expostas. fiquei totalmente arreganhada. Quando fez o mesmo com a outra perna. deixou a taça sobre a mesa. também duas vezes. os joelhos abertos na altura da minha cintura e presos nas laterais vazadas da roda. Tomou lentamente um gole do vinho. Não disse nada ao segurar minha perna esquerda e a abrir para o lado. Eu mordia os lábios e arquejava. erguendo-a até meu joelho encostar ao ferro lateral. Ali passou o couro em volta dele. Vou comer cada orifício seu.pés não ficassem soltos. Então seus olhos azuis encontraram os meus e explicou como se falasse de uma coisa banal: . . De pé. prendeu também cada tornozelo ao ferro. Então se ergueu satisfeito e fez a roda na vertical girar e entendi melhor para que servia. longe do meu corpo nu. sua cintura ficava na altura da minha boca ou vagina. bastaria girar a roda e penetrar onde quisesse. Acariciou de leve meus cabelos e os colocou pendurados para fora. meu pau e minha língua onde eu quiser.Quer desistir? Seu olhar era agressivo. às suas lágrimas. espezinhando dentro de mim. Entendeu. o . O medo estava lá.Enfiar meus dedos. mas ele fazia parte do pacote. sem meu toque e minhas chupadas. Não haverá parte da sua pele sem nossas secreções.. e também ao meu esperma. Morder e chupar tanto seus mamilos que o leite vai espirrar e se misturar ao seu gozo. coelhinha? . até mesmo cruel. No entanto. ..Theo. pegou um controle remoto e logo as caixas de som começavam a funcionar e uma música diferente das que ele gostava começou a tocar. me domava sem controle. chamado ANGEL. Sem pressa. Era mais recente. E murmurei arrebatada: . um pop com batida sensual de Natasha Bedigfield. esse já me arrastava em sua força. dominava meu corpo e meus instintos. Era o que ele queria ouvir.Nunca. Aquilo mexeu ainda mais comigo e senti as batidas como se .desejo voraz. aquilo lhe dando um ar de poder e virilidade ainda mais potente.Quer vinho? Lembrei do que eu havia dito a . E isso só me excitou ainda mais. O olhar de Theo passou quente por meu corpo. sua mão livre indo em minha testa. acariciando meu cabelo para trás. Pegou a taça de vinho mais pela metade e fitou meus olhos.fossem dentro de mim e se misturassem as do meu coração. . sabendo que poderia usá-lo à vontade. ele no restaurante e estremeci ainda mais. grosso. cheio de veias. Longo. estava em seu auge e mexeu comigo. Abalada. fez meu coração disparar. olhos nos meus. Não a desabotoou. apenas desceu o zíper. sua elegância e civilidade sendo quebradas por aquele olhar pecaminoso e pela mão que se metia no vão da braguilha e puxava o membro completamente ereto para fora. observei-o tirar a mão do meu cabelo e levá-la até a calça. cada parte minha latejar diante . sem condições de falar. minha boca salivar. Acenei com a cabeça. banhado em vinho da cabeça até uma parte. Senti a gota de vinho cair do seu pau para meus lábios e quase morri do coração quando disse rouco. Com olhar severo e duro. .de tanta beleza e masculinidade. segurando o membro. Aproximou-se mais da minha cabeça e o mirou em minha boca. pingando. Então o puxou para fora. fascinada. hipnotizada. inclinou-a e mergulhou seu pau dentro dela. Não consegui tirar os olhos daquela cena. não deixou de se concentrar em minha expressão enquanto descia a taça e. Mas quando o fiz e seu pau entrou nela. suguei-o para dentro alucinada e excitada ao extremo.em tom autoritário: . Não pude fechar os olhos e fiquei mais louca ainda ao ver como me . movendo meus lábios e minha língua sobre ele. o gosto delicioso do vinho só aguçando o gosto delicioso de Theo. perdi o ar e a razão. Fiquei embriagada antes mesmo de abrir a boca. Gemi e choraminguei no fundo da garganta. chupando-o.Prove. adorando sua carne me enchendo. fitava asperamente. arrepiados. Estocou devagar e eu já estava bêbada. Minha vagina latejava e se melava toda. rudeza e desejo expressos em sua expressão carregada. cheia até o fundo da garganta. meus seios doíam duros. abrindo-me para recebê-lo do jeito que quisesse. Continuou segurando firme o pau pela base e moveu os quadris. minha pele ardia. querendo mais. Sensações desconexas me atacavam de todos os lados e eu sabia que precisava de algum . fazendo-me comêlo quase todo. penetrando-me mais. tensa. – Ordenou e a cabeça grande e cheia de vinho entrou de novo em minha boca. Eu o chupava sofregamente.Delicioso. . me embebedou. Banhou seu pau e quando o trouxe de novo. Foi um jogo delicioso e me deixou doida.alívio para tanto desejo. murmurei roucamente: . até não restar mais nada . mas só seria aliviada quando Theo quisesse.Gostoso? – Puxou o pau para fora dos meus lábios e o mergulhou de novo na taça larga e comprida. .Chupe tudo. . Girou a roda até que estava de frente para minha vagina totalmente aberta e sorriu com . Via sua expressão carregada de tesão. mas só podia usar meus lábios e língua.da bebida. deixou-me ainda mais ligada. tentava me soltar das amarras e tocá-lo.Agora é minha vez. mergulhava no vinho e de novo em minha boca. então Theo tirava o pau. e era o que fazia sedenta e esfomeada. Theo não saiu do lugar. – Avisou em uma voz grossa e sensual que arrastou tudo dentro de mim para a superfície. despejando uma pequena quantidade do líquido rubro e ardente sobre meu clitóris. pingando então sobre a prancha em que eu estava deitada. Quando se inclinou com a taça na mão.Theo. Sabia o que faria e foi o que fez. enquanto o líquido escorria por meus lábios vaginais e descia mais até meu ânus. eu gemi agoniada o nome dele: .. Gritei de antecipação.crueldade e satisfação.. Mas nada me preparou para a sensação deliciosa e alucinante de sua . língua indo bem no meio da minha vagina e me lambendo lenta e dura, como se fosse um gato. Gritei, estremeci, me bati em minhas amarras. Meus lábios ainda estavam dormentes de suas estocadas e do vinho, eu me sentia realmente bêbada, pesada, dilacerada por todo aquele tesão torturante. - Ai... Ai, por favor... – Comecei a choramingar quando passou a lamber mais e mais, cada canto, vagina, ânus, clitóris, até que tinha engolido todo o vinho, me limpado toda. Eu tremia, a beira de um orgasmo. E quando achei que o gozo me varreria sem piedade, Theo se ergueu e me assustou ao dar um tapa firme em cheio sobre minha boceta. Gritei: - AHHHHHHHHHHHH... Foi forte, dolorido, impactante. Ela pareceu queimar, incendiar e nem tive tempo de entender direito, pois já derramava mais vinho e descia a boca para me chupar mais. Fiquei rouca de tanto gemer e gritar, pois sua língua parecia estar em toda parte, rodeando meu ânus, entrando em mim, massageando meu clitóris. Então, abocanhava minha vagina, chupava duramente os lábios, mordia. Não tive como evitar o prazer descomunal. Gozei forte e chorando, lágrimas pulando dos meus olhos, minha pele toda vermelha e arrepiada, ali presa e à mercê de Theo. Deixou-me gozar tudo e desabar, exausta, lânguida. Quando se ergueu, achei que me daria um tempo para me recuperar. Ledo engano. Foi apenas para se despir, olhos fitos em mim, admirando-me com um tesão duro e quente, deixando-me consciente de que estava apenas começando comigo. - Theo... Eu não sabia o que dizer, ainda mole e abalada demais, só precisando dele. Admirei-o alto, forte e nu. E choraminguei quando pegou a taça com o restinho de vinho, murmurando: - Não... - Sim. Eu avisei que queria tudo hoje. - Ah... Despejou o vinho em meus mamilos e a bebida escorreu para as laterais e minha barriga. Theo deixou a taça de lado e veio até mim, seus olhos nos meus, sua força me tomando. Agarrou os ferros nas laterais da roda, perto dos meus pulsos, fazendo os músculos dos seus braços e peito se sobressaírem. Estava entre as minhas pernas e senti seu pau pesado perto da virilha. Mesmo saciada, aquele contato me fez ansiar que deslizasse mais e me penetrasse. Senti o desejo se espalhar, arder, ainda mais quando sua boca se fechou em meu mamilo e apenas o beijou, suave. Gemi e o tesão só aumentou quando o sugou firme, forte, em uma sucção bem mais poderosa do que a que Helena fazia ao mamar. - Ah, Theo... Ah, Theo... Fiquei fora de mim. Senti o leite quente sair e ele o chupar, mamando com força, sua barba roçando minha pele, seu pau pesando perto da minha vagina. Eu o quis com desespero e estremeci por inteiro, suplicando: - Por favor, mete seu pau em mim... Por favor... Mas ele queria me torturar. Ficou lá, segurando-se no ferro, sugando meu mamilo e o leite, esfomeado, cada vez mais firme e duro, fazendo meu útero se contrair em espasmos e contrações sem controle. Eu choramingava, pedia, tentava me esfregar nele. Nem parecia que tinha acabado de gozar, ansiosa por mais. Theo ergueu a cabeça e fitou meus olhos. Disse baixo: - Nunca pensei que vinho e leite fossem tão bom. – E foi ao outro mamilo, mordendo-o, chupando-o com a mesma fome. - Ai, meu Deus... – Solucei. O mamilo que ele tinha sugado primeiro parecia um chuveirinho, espirrando leite sozinho depois de ser tão estimulado, espalhando o líquido fininho em minha barriga. Theo fez o mesmo com o outro e então os dois despejavam leite e ele alternava de um a outro, lambendo, mordendo, gemendo. Eu estava fora de mim, alucinada, com lágrimas nos olhos, molhada de vinho e leite, palpitando, suplicando: - Por favor... Por favor... Theo sabia que eu queria seu pau. Mas me torturava ao se levantar e me olhar duro, dizendo bruto: - Lembra do que eu disse, coelhinha? Quero seu leite, suas lágrimas, seu gozo e meu esperma, tudo misturado. - Mas eu já... Eu... - Mais. Quero mais. E então agarrou uma haste preta e comprida com uma pá pequena e maleável na ponta, de silicone, como uma pata achatada. Seus olhos azuis estavam duros, aquela ruga entre as sobrancelhas deixando-o com ar perigoso. - Theo... - Vou espancar sua boceta até ficar vermelha e inchada, tão quente que quando meu pau entrar nela vai estrangulá-lo em um gozo que nunca vai esquecer. E mal acabou de falar, bateu em cheio com aquele objeto na minha vagina, estalando o material liso e achatado sobre ela como um tapa. Gritei, fora de mim. Não teve dó, batendo mais e mais vezes seguidas, queimando-a, fazendo-me ter a sensação que inchava mesmo e os vasos se enchiam de sangue, meu clitóris triplicando de tamanho. - Não! – Berrei e lágrimas pularam dos meus olhos, sem que eu pudesse mais suportar a ardência. – Pare! Pare, por favor! E surpreendentemente, Theo parou. Parou de bater, desceu a boca e chupou gostosamente meu clitóris sensibilizado e duro. Gritei mais ainda, chorando, alucinada, perdida em sensações delirantes onde dor e prazer se mesclavam e eu não sabia mais onde começava um e terminava o outro. Palavras desconexas escaparam da minha boca. Não pude prever o gozo, mas quando vi já vinha em ondas sobre mim e eu já não pensava, só sentia e era arrebatada. Foi então que Theo se ergueu e se deitou entre minhas pernas, segurando-se forte nos ferros, seus olhos nos meus. Gritei e meu gozo se expandiu mais quando seu pau grosso penetrou-me forte e duro, até o meu útero. Então passou a estocar firme dentro de mim, entrando e saindo, indo e vindo, enquanto eu me engasgava e tinha contrações espasmódicas e arrasadoras. Pensei que fosse morrer de tanto prazer. Não consegui escapar do seu olhar, gemi dolorosamente, ondulei fora de mim. - Minha coelhinha... – Murmurou rouco, seus olhos quentes e apaixonados, o prazer também explícito em sua expressão. E morri mesmo quando me beijou na boca e envolveu sua língua na minha. Morri de amor e de tesão, de sensações únicas e arrebatadoras, renascendo na mesma hora, beijando-o com meu ser, com minha alma, com cada pedaço meu que era dele. Foi delicioso e desabei, exausta de tanto gozar. Então Theo parou de me beijar, me fitou carregado, ergueu-se saindo de dentro de mim, agarrando seu pau. Gemeu alto e rouco, urrou em um prazer extasiante e esporrou em minha barriga e seios, espalhando seu esperma quente em minha pele, enquanto eu só conseguia olhar, maravilhada, estonteada. - Porra... – Rosnou, quando acabou, satisfeito, descabelado, uma leve camada de suor cobrindo sua pele. Estremeci ao encontrar seu olhar, desabada ali, acabada de tanto prazer. Theo sorriu sensualmente, mais lindo do que nunca, deslizando a mão em minha coxa. Murmurou rouco: - Quer mais vinho? E acabamos sorrindo ainda mais, um para o outro. CAPÍTULO 21 EVA A tenda branca balançava suavemente ao vento naquela gloriosa manhã de dezembro, junto com as folhas brilhantes das árvores em tom mais escuro que o verde das gramas sobre o solo. As flores do campo eram multicoloridas e se remexiam como se dançassem com a brisa, tudo em um movimento fluído e sincronizado, como se tivessem combinado. Não tinha muitas pessoas ali, apenas familiares e um punhado de amigos mais íntimos, como Valentina, o filho Cacá e o noivo, a secretária de Theo, Eurídice, a enfermeira de Mário, Margarida, e mais umas cinco pessoas da fazenda. Nem Abigail se encontrava ali, pois queríamos apenas paz e amor, só nós mesmos, sem nem uma rusga que maculasse aquele momento. Todos estavam de branco, até o padre Hamilton. E descalços. Assim como eu, com meus simples e leve vestido branco rendado até os pés, com uma colorida coroa de flores sobre os cabelos, que também flutuavam ao vento. No meu colo, acordada e espertinha, Helena também usava um vestido branco e balançava os pequeninos pés nus, encantada com as cores em volta, seus olhos arregalados para tudo. Havia uma delicada coroa de flores em volta de sua cabeça e eu sorria encantada para ela. Ao meu lado, Micah teve que abandonar seus coturnos e couro e usava calça branca e uma camisa da mesma cor, que poderia até lhe dar um ar de bom rapaz, se não fossem as tatuagens em seu braço e peito que apareciam e o cabelo espetado em todas as direções. Virou-se para mim e ergueu as sobrancelhas endiabradas, sorrindo e indagando: - Está pronta? - Esperei muito esse momento. – Disse emocionada e feliz, voltando meu olhar para frente, onde Theo me esperava sob a tenda, olhos fixos em mim o tempo todo. Estava lindo como sempre, todo de branco e descalço, o tecido da roupa se colando ao seu corpo que eu amava, o cabelo penteado para trás sendo desmanchado pelo vento. Eu sorri para ele e lembrei o nosso outro casamento, onde minha felicidade foi regada a lágrimas. Agora não. Eu me sentia livre e completa, pronta para seguir até ele sem culpas, me dando por inteiro. Daquela vez não havia cadeiras para convidados, nem um bufê elaborado, muito menos uma banda para tocar músicas ao som de violino. Os poucos convidados estavam de pé e formavam um corredor entre eles para que eu passasse em direção a Theo ao lado do padre. Sobre uma pequena mesa havia champanhe no gelo, morangos e flores espalhadas, além de um ipod que Gabi ligou quando me viu pronta ao lado de Micah, meu tio, meu sangue, que me levaria em direção ao amor da minha vida. Tínhamos escolhido juntos uma música cuja tradução era “Eu te amo tanto”, perfeita para nós. E ela começou linda, um complemento a mais naquele dia perfeito, o som da canção leve e romântica se juntando ao ronronar da natureza à nossa volta. I guess they understand Eu acho que eles entenderão How lonely life hás been Quão solitária a vida tem sido But life began again Mas a vida começou de novo The Day you took my hand O dia que você tomou a minha mão (And I Love So, Elvis Presley) Sorri para Micah e dei o braço a ele, mantendo Helena no colo. Ele sorriu de volta, sem aquele ar debochado, apenas feliz, como eu. E juntos nós caminhamos a pequena distância até Theo, que me esperava com um ar de satisfação e gloriosa alegria. Era assim que todos estavam, em júbilo, assistindo a vitória do amor. Pisei na grama, senti a brisa na pele, fui preenchida por sensações e sentimentos que busquei por toda a vida, que só consegui quando conheci Theo. E feliz, muito feliz, segui para ele. Eu, uma Amaro, caminhando para um Falcão. A vingança vencida e destruída, as armas no chão, os sentimentos puros e intensos gritando mais alto, derrotando um ódio que parecia invencível. Mas como não seria assim, se eu amava tanto? E se era amada de volta da mesma maneira? Gabi e Joaquim sorriam, com Caio dormindo quietinho no carrinho dele ao lado. Pedro e Heitor também sorriam, felizes por que sabiam que tudo deu certo para o irmão mais velho. Tia chorava e ria, com a mão no coração, agradecendo a Deus aquela vitória. E eu... Eu cheguei perto do meu amor, daquele homem inigualável e único que me arrebatou completamente ao primeiro olhar e que agora me olhava da mesma maneira, como se eu fosse dele. E eu era. Por inteiro, por toda vida. - Agora nada vai impedir a felicidade de vocês. – Micah disse baixo, quando paramos em frente a Theo. Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Micah beijou minha face e apertou a mão do irmão. seus dedos passando suavemente pelo meu rosto. E murmurei emocionada: . E quando me tocou. Eu não estava mais sozinha. Eu olhei para ele. Micah foi para o lado de Tia. mas acompanhada por dois meio Falcão. Theo olhou para mim. eu soube que a vida seria linda e feliz. daquela vez sem precisar ir me buscar no meio do caminho. meio Amaro: Micah e Helena. – Disse Theo.Obrigado.. que de imediato o abraçou e foi abraçada de volta. coelhinha.Você é o que sempre quis. Uma nova vida nos espera.Isso nunca seria possível. Então me fitou com seus olhos azuis. Tocou-me como se fosse seu bem mais precioso e depois a bochecha de Helena. . olhando-a da mesma maneira amorosa e intensa. passou o braço em volta do meu ombro e disse num tom rouco: .. andei até o padre. . Sorri para ele. Theo. Fui com ele.Vamos. Seria como desistir de viver. Obrigada por não desistir de mim. THEO Quando Padre Hamilton nos declarou marido e mulher. Eu tinha tudo que sempre quis. Eu tinha uma família e muito amor. Para um homem que sempre foi . Eu tinha Theo e Helena.respirei minha própria felicidade. A solidão tinha acabado. eu senti meu coração disparar e meus olhos arderem. Enfiei a mão em seu cabelo e saboreei seus lábios macios. paixão e felicidade ao olhar Eva e ver seus olhos límpidos espelhando o mesmo. que passou quarenta anos de sua vida sem acreditar no amor. um desejo . E a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Não havia uma gota de frieza em mim. Ele me marcava como uma vitória.controlado e frio em seus sentimentos. Era único. aquilo tudo era surpreendente e inexplicável. Eu ardia de amor. sabendo que nunca esqueceria aquele momento. Helena deu um grito entre nós e sorrimos com os lábios colados. lento e gostoso. Tínhamos enfrentado a dor. eu e Eva bem humorados ao olharmos para nosso tesouro. nos dando. a traição. sentindo. Afastei-me um pouco. nosso bem . As emoções nos dominaram e nos beijamos sem pressa. E tínhamos vencido tudo para ficarmos juntos. sabendo que ela não gostava de ser esquecida e reclamava. devagar. a vingança e a morte. a maior conquista da minha vida.realizado. Sorrindo..maior. .Parabéns pelo casamento.. senhora Falcão. – . Murmurei: . acomodei-a na curva de um braço e com o outro abracei Eva. aquele pedacinho de nós dois que já era tão importante e fundamental na nossa vida.Ainda bem. não é? Nunca mais vai sair dele. Acho que Helena já entendia aquela frase. . Sabe que agora não tem volta. pois sempre ficava animada quando eu a dizia. enquanto nos olhávamos apaixonados.Vem com o papai. senhor Falcão. Seu sorriso era delicioso. a beleza em toda parte. . todo meu. os sorrisos abertos. Ou era eu que me sentia assim? Olhei em volta e por um .Felicidades! – Tia gritou com lágrimas nos olhos. perfumadas e coloridas. E tudo era alegre. que voaram ao vento e se espalharam no ar.Muito amor! – Gabi emendou. segurando uma pequena cesta e jogando sobre nós várias pétalas de flores. aberto. . fazendo o mesmo que ela. Acreditando em uma vida feliz com Eva e Helena. . Realizado.momento fui preenchido por uma miríade de sensações. indo pegar o champanhe e trazendo para que eu estourasse. tendo certeza daquilo. Não havia nem um resquício de mágoa ou dúvidas dentro de mim. Devolvi Helena a Eva e peguei a . no desespero que senti e que não parecia ter fim. mas que agora não era páreo para sombrear minha felicidade. Eu me sentia em paz. sem poder acreditar em tudo que vivi.Vamos brindar! – Disse Joaquim. Não conseguia parar de sorrir e me sentia um bobo.garrafa.Ao amor e à confiança. . Falei com emoção: . . Sacudi a garrafa e soltei a rolha. tão boba e feliz quanto eu. Olhei para Eva e ela me fitava embevecida. E todos fizeram o mesmo enquanto o champanhe era servido e as taças passadas de um a outro. mas era mais forte do que eu.Ela repetiu. .Ao amor e à confiança. fazendo um barulho alto quando esta voou longe e o líquido borbulhou para fora. olhos nos meus. coelhinha. nunca. . nunca vai mudar. – Trouxe Helena mais para junto de mim. Theo.Gostei de tantos “nunca”. E isso nunca. E isso nunca vai mudar. . nós três. – E quando voltarmos das nossas férias na Grécia. Quero uma família grande e feliz com você.Eu te amo.Somos um. podemos ser mais. . falando perto da minha boca. – Sorriu e se aconchegou a mim.Puxei-a para mim e falei baixinho: .Eu te amo. . Posso pedir o que eu quiser? . – Avisei sorrindo. . – Admirei-a. – E a beijei na boca com paixão e desejo..Tudo. com amor e volúpia. . com minha alma. tomando-a para mim.Toma. . .Quero um beijo. – Murmurou. .. emocionada..Quer um beijo? .. .Helena vai chorar.Vai ter tudo o que desejar.Quero. minha mão acariciando seu cabelo.. já segurando sua nuca. Esquecendo tudo. FIM. . esquecendo o mundo e que uma vez senti raiva ou tristeza. Senti seu cheiro. E eu sorri feliz contra os lábios de Eva. E de tudo mais que elas trariam para mim. seu gosto e a tomei para mim.Fechei os olhos e vi a felicidade. Até que Helena gritou irritada entre nós. Ela era minha na forma de Eva e Helena.
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